Artigo Científico - Artes e culturas orientais no ambito academico brasileiro

28
Título: As artes e culturas orientais no âmbito acadêmico brasileiro Title: The oriental art and culture in the brazilian academic ambience. Autoria: Sérgio Paulo Tückumantel de Almeida – Licenciado em Educação Artística pelo CEUCLAR (Claretiano) em 2011. Email: [email protected] – Tel.:(11)9478-8731 RESUMO Fronteiras territoriais, barreiras culturais e diferenças sociais ainda estão em nosso cotidiano, sob um ponto de vista globalizado, porém, sabe-se que estamos em um estado em constante transição que, inclusive, caminha para um mundo onde pessoas se comunicam a qualquer instante com qualquer outro de qualquer outro lugar do planeta, aproximando-se assim de culturas, crenças, fatos e ideologias de qualquer local ou povo. Um mundo onde culturas se misturam formando uma cultura local, como a nossa, a brasileira, inserida em meio a um povo tão miscigenado, tão global, com parentescos em todo e qualquer lugar. Tratando-se da cultura oriental no Brasil, o que se constata são lacunas e mais lacunas, uma acomodação ao Eurocentrismo e ao Ocidente que não condizem com nossa realidade social multiétnica e multicultural. Por hora, diante de tal atraso, nos resta pesquisar para constatar que ainda pouco existe de fato para romper certos paradigmas e cânones ocidentais e ingressar em um novo rumo estético-acadêmico, menos hermético e culturalmente mais humano. Palavras-chave: Cultura oriental, arte, orientalismo, multiculturalismo, ensino. Territorial boundaries, cultural barriers and social differences are still in OUR DAILY, in a globalized point of view, however, we know that we are in a constant state of transition, moving to a world where people talk to each other

Transcript of Artigo Científico - Artes e culturas orientais no ambito academico brasileiro

Título: As artes e culturas orientais no âmbito acadêmico brasileiro

Title: The oriental art and culture in the brazilian academic ambience.

Autoria: Sérgio Paulo Tückumantel de Almeida – Licenciado em Educação Artística pelo CEUCLAR (Claretiano) em 2011. Email: [email protected] – Tel.:(11)9478-8731

RESUMO

Fronteiras territoriais, barreiras culturais e diferençassociais ainda estão em nosso cotidiano, sob um ponto de vistaglobalizado, porém, sabe-se que estamos em um estado emconstante transição que, inclusive, caminha para um mundo ondepessoas se comunicam a qualquer instante com qualquer outro dequalquer outro lugar do planeta, aproximando-se assim deculturas, crenças, fatos e ideologias de qualquer local ou povo.Um mundo onde culturas se misturam formando uma cultura local,como a nossa, a brasileira, inserida em meio a um povo tãomiscigenado, tão global, com parentescos em todo e qualquerlugar. Tratando-se da cultura oriental no Brasil, o que seconstata são lacunas e mais lacunas, uma acomodação aoEurocentrismo e ao Ocidente que não condizem com nossa realidadesocial multiétnica e multicultural. Por hora, diante de talatraso, nos resta pesquisar para constatar que ainda poucoexiste de fato para romper certos paradigmas e cânonesocidentais e ingressar em um novo rumo estético-acadêmico, menoshermético e culturalmente mais humano.

Palavras-chave: Cultura oriental, arte, orientalismo,multiculturalismo, ensino.

Territorial boundaries, cultural barriers and socialdifferences are still in OUR DAILY, in a globalized point ofview, however, we know that we are in a constant state oftransition, moving to a world where people talk to each other

anytime at any place in earth, approaching the cultures,beliefs, facts and ideologies of any place or people. A worldwhere cultures blend to form a local culture, like the Brazilianculture, inserted among a people so interbred, so global, withkinship in any place. In the case of Eastern culture in Brazil,which notes are gaps and more gaps, an accommodation toEurocentrism and to Ocident that do not match our social realitymultiethnic and multicultural. For now, due to such a delay,what remains is searching to realize that, in fact, there arenot many obstacles to break some paradigms and Ocidental canonsand join a new course academic-aesthetic, less culturallyhermetic and more human.

Keywords: Oriental culture, art, Orientalism, multiculturalism, teaching.

AS ARTES E CULTURAS ORIENTAIS NO ÂMBITOACADÊMICO BRASILEIRO

Atualmente nos encontramos em um mundo extremamente versátil

e interconectado por inúmeros meios, nos proporcionando

influência, participação e apreciação de culturas do mundo todo,

dentre as quais também está a cultura oriental, que de anos para

cá tem nos afetado cada vez mais intensamente, seja nas artes,

na moda, no entretenimento, na filosofia, na medicina, ciências

e em nosso estilo de vida. No entanto, não somente no estudo das

artes e de sua história, como também na história que aprendemos

na escola, somos apresentados a uma versão extremamente

ocidentalista, que marginaliza a história realmente universal,

onde podemos ver em livros com títulos como "História da Arte

Universal" que se limitam a Europa e América. De tempos para cá,

a história da arte no Brasil, na América Latina e na África tem

sido redescoberta para que não percamos nossas raízes culturais

mais próximas, no entanto, a Ásia ainda tem se mantido distante

neste quesito, sem deixar de levar em consideração que,

diferentemente de quando se fala de Ocidente, ao se falar de

Oriente, estamos falando na verdade de três orientes distintos,

aquele que envolve os países árabes e Israel, os que envolvem a

região da Ásia Central, como a Índia, e ainda o extremo oriente

conhecido como os países do leste asiático, China, Coréias e

Japão.

Nosso sistema educacional e seus currículos (seja no ensino

básico, seja no superior) ainda são cegos para o Oriente,

enxergando apenas a ciência, as descobertas, os triunfos, a

filosofia, a história, a arte e a cultura do Ocidente. A

matemática que nasceu nos povos antigos, evoluiu apenas no

Ocidente, as grandes navegações trouxeram os primeiros ‘não-

índios’ ao continente americano, porém, estudos recentes

comprovam que os chineses tiveram contato com o Novo Mundo, no

mínimo, setenta anos antes dos espanhóis e portugueses, sem

contar que, se levarmos em conta o título Grandes Navegações

como algo em esferas globais, estaríamos equivocados por não

terem sido estas (as Européias) a terem feito as maiores viagens

e descobertas geográficas de todos os tempos. O título “1421, o

ano em que a China descobriu o mundo” de Gavien Menzies, é

somente um dos que, através de pesquisas, comprovam que a

superioridade ocidental jamais existiu e que em toda a nossa

história, talvez tenhamos visto o mundo de forma parcial, fato

este que tende temporalmente a se desfazer com a aproximação

entre povos e culturas através dos novos tempos da Era da

Informação e também do fim das fronteiras físicas como

limitadoras do intercambio entre pessoas de qualquer local do

globo.

Acredita-se que a formação buscada nas escolas, que procura

tornar o aluno mais consciente da diversidade cultura existente

hoje no Brasil não pode mais se limitar ao Ocidente, na medida

em que todos hoje somos afetados pelas mais diferentes culturas

do mundo, e que para não somente respeitar, mas conhecer afim de

se evitar um pré-conceito, um menosprezo das culturas orientais,

estabeleça-se um contato maior entre elas dentro do âmbito

educacional.

Para que se chegue a algum resultado nas escolas de ensino

básico, é necessário, porém, verificar e analisar de antemão o

currículo dos cursos superiores ligados a formação artística e

de arte-educação. Neste sentido, procurou-se coletar e analisar

algum dos parâmetros curriculares dos mais conhecidos cursos

superiores desta área, afim de se apontar um fato concreto: a

formação acadêmica em artes ainda está presa ao Eurocentrismo da

Arte do Ocidente.

Embora o Brasil esteja situado dentro do continente

americano, na região ocidental do globo, é bem verdade que em

muitas situações não nos sentíamos muito próximos da cultura

dita Ocidental, em muito propiciado por nossa herança cultural

advinda dos povos indígenas e africanos, e também pela

discrepância sócio-econômica em que estivemos inseridos nos

últimos séculos em relação aos países do norte ocidental (Europa

e América Anglo-Saxônica). Essa noção ocidental, no entanto, era

evidente em nosso estilo de vida, na nossa percepção estética,

na herança filosófica e religiosa advindas predominantemente da

Grécia Antiga e do Cristianismo, e no contato artístico entre

nossos artistas, a Europa e os Estados Unidos. A constatação é a

de que, colonizados por portugueses, nossa aproximação com o

mundo ocidental iniciou-se a mais de quinhentos anos atrás e

atravessou o tempo até os dias de hoje.No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, pudemos

assistir ao ressurgimento - de maneira ainda mais universal- da interpenetração de culturas, o que levou as nações -pela primeira vez na História -  a interagirem em nívelglobal, mal-grado sua menor ou maior resistência. (HANANIA& SPROVIERO, 1998, p.9)

Após este período, Estados Unidos e União Soviética

dividiram, praticamente, o mundo em dois e através de suas

disputas em diversos campos da ciência muitos avanços

tecnológicos foram desenvolvidos, tanto no âmbito civil como no

militar, como por exemplo é o caso da internet. O objetivo

militar da ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do

Depto. De Defesa dos EUA) era criar um sistema de comunicação

invulnerável, e através dos avanços da comunicação e sistemas,

aliado ao anseio humano de interagir com o maior número de

pessoas e de acessar cada vez mais informação acelerou a

evolução da internet. (MONTE, 2010)

Se as mídias em geral já propiciavam um contato inter-

cultural sem precedentes na história da humanidade, com a

internet todo este processo se acelerou em escalas geométricas.

Juntando este fator temporal com o estigma histórico da ruptura

Ocidente/Oriente, podemos mapear então, os três canais pela qual

se construiu este momento de intercâmbio entre culturas tão

distintas: os meios de mídia, os meios de telecomunicações e o

fator humano, propiciado no Brasil principalmente pela

miscigenação e presença de colônias de diversas nações do

Oriente. Todo este sistema intercultural espontâneo gerado pela

globalização no entanto, será minuciosamente analisado

posteriormente, após verificar-se, brevemente, do que se trata a

já tão citada cultura oriental e seus componentes filosóficos,

estéticos e históricos.

No que então se consiste o Oriente? Por qual razão fala-se

em um só Ocidente e em vários Orientes? Para aproximar-se do

conceito atual de Oriente / Ocidente é necessário que analise-se

o conceito segundo o sinólogo SPROVIERO (1998):Conforme o enigmático autor René Guénon (1886-1951),

crítico acérrimo do Ocidente moderno, pode-se perfeitamentefalar de uma mentalidade oriental oposta em seu conjunto àmentalidade ocidental mas não se pode falar de umacivilização oriental como se fala de uma civilizaçãoocidental e já que há várias civilizações orientaisnitidamente distintas, teríamos, assim, uma civilizaçãoocidental e várias orientais. Por outro lado, a unidadecultural da civilização ocidental moderna só repousaria numconjunto de tendências que constituem uma certaconformidade mental, uma simples unidade de fato, semprincípio, desde que o Ocidente rompeu com a Cristandade,

seu princípio constitutivo até a Idade Média. Enquanto queas civilizações orientais, por mais diversas que sejam,cada uma repousando sobre um princípio de unidadediferente, trazem todas certos traços culturais comuns,principalmente quanto aos modos de pensar, o que permitedizer que existe, de um modo geral, uma mentalidadeespecificamente oriental. (SPROVIERO, 1998, p.49)

Sendo este parágrafo acima a primeira parte para se entender

a relação Ocidente/Oriente, em linhas gerais, compreendendo

também a existência de uma cosmo-visão oriental, e distinguindo

o Ocidente dos Orientes, SPROVIERO (1998) adiciona ainda mais

três partes contextuais para a construção deste entendimento:

Geográfico, Mitológico, Etimológico e Cultural.

Se por um lado o ponto de partida para se caracterizar os

dois lados desta ruptura global está no fator geográfico, onde

Ocidente é fundamentalmente a Europa, e o Oriente é

fundamentalmente a Ásia, excluindo-se de certa forma África,

América e Oceania. Para muitos historiadores, claro que não sem

contestação, a Ásia deu princípio as primeiras civilizações

humanas, baseado inclusive no relato do historiador italiano do

século XIX, Cesare Cantù (1804-1895), que afirma ser a Ásia o

berço do gênero humano e da civilização, sendo não só a parte

mais extensa do mundo como também a mais favorecida pela

natureza (aos olhos dos pesquisadores daquela época), tendo como

fato constatado que as primeiras grandes civilizações nasceram

no limite geográfico entre os continentes Africanos e Asiáticos,

indo do Egito à Mesopotâmia. (SPROVIERO, 1998)

A relação entre Ocidente e Oriente, Europa e Ásia é tão

próxima que até etimologicamente podem-se constituir como

sinônimos, na medida em que se entende que no latim, Oriente é o

local onde o sol nasce e Ocidente onde o sol se põem,

significados semelhantes aos das origens etimológicas de Europa

e Ásia vindas do acádio.A palavra oriente vem do latim oriens, ‘o sol

nascente’, de orior, orire, ‘surgir, tornar-se visível’,palavra da qual nos vem também ‘origem’. A palavra ocidentenos vem do latim occidens, ‘o sol poente’, de occ-cidere, deop, ‘embaixo etc’, e cadere, ‘cair’. Seríamos induzidos aseguinte analogia: da mesma maneira que o sol nasce noOriente e morre no Ocidente, assim também a cultura nasceno Oriente e morre no Ocidente. (SPROVIERO, 1998, p.51)

Porém, o que faz do Ocidente uma unidade e do Oriente não,

em termos culturais? Para isso é necessário entender o conceito

de grandes culturas apresentados por SPROVIERO (1998):

Quando se procura caracterizar o que seja uma grandecultura, não se pensa em primeiro lugar num critériovalorativo. Uma grande cultura não é necessariamente umacultura superior. É, porém, certamente uma cultura que querexpandir-se, que quer totalizar seu espaço geo-político.Por exemplo, a cultura que surgiu na confluência do RioAmarelo e do Rio Wei, na China, acabou por dominar todo oespaço da China. Esta tendência à expansão, que podemosperfeitamente chamar de imperialista, ou seja, de quererimperar universalmente, é um traço característico do que sedenomina uma grande cultura. (SPROVIERO, 1998, p.51)

A diferença, em suma, está aí. O Ocidente se constituiu de

uma grande cultura originada da confluência entre três culturas:

grega, romana e judaica. Que assimilaram e se transformaram

dentro de culturas germânicas, eslavas e a mais complexa delas:

a Greco-bizantina, como afirma SPROVIERO (1998):O Império Romano do Oriente e o posterior Império

Bizantino são por assim dizer o Oriente ocidental, o"Oriente Europeu", mas não o que chamamos propriamente deOriente. Poderíamos dizer que suas duas capitaishistóricas, Roma e Constantinopla, hoje estão representadaspor Washington e Moscou. (...) Deve-se constatar que foi aRússia que se expandiu para a Ásia. No entanto, estatendência começa a inverter-se em favor da China.(SPROVIERO, 1998, p.52)

Já o Oriente não, este não é uma unidade cultural formada

pela assimilação e transformações, pois neste universo podemos

separar em três blocos formados basicamente por três sistemas

culturais diferentes, dando origem assim aos “Três Orientes”,

classificados convencionalmente através de suas proximidades com

a Europa.

(Figura 1 - SPROVIERO, 1998, p.52)

Analisando o mapa, pode-se analisar o que define a

existência destes três orientes. O primeiro deles, o Oriente-

Próximo, demarcado em lilás no mapa, é conhecido hoje pela

cultura Árabe (embora nem sempre tenha sido assim, devido a

outras culturas que lá dominaram em determinados períodos

históricos). Para SPROVIERO (1998) no entanto, é necessário

entender que deve-se atentar para essas convenções pelo seguinte

fato:Temos que assinalar que hoje confunde-se o Próximo-

Oriente com o Oriente-Médio, principalmente no Brasil.Havendo um conflito na Palestina nossa imprensa e mídiaeletrônica falam de um conflito no Oriente-Médio, enquantoque a televisão alemã, em relação ao mesmo conflito serefere ao Próximo-Oriente (Konflikt in Nahosten). É como seo Próximo-Oriente não existisse mais! (SPROVIERO, 1998,p.52-53)

Para MACEDO (2006) é nesta região em que um fato no início

deste milênio ressurge a discussão da ruptura entre Ocidente e

Oriente. O fato citado, é o atentado ao World Trade Center em 11

de setembro de 2001, tornado pelos Estados Unidos o estopim para

uma cruzada do Ocidente contra o Oriente terrorista, veiculada

internacionalmente por canais midiáticos como a CNN de forma

vazia dentro dos estudos sociais, culminando em invasões

americanas em territórios Afegãos e Iraquianos noticiados pelos

canais internacionais como mera supremacia do Ocidente neste

choque de civilizações.

Não perdendo o foco, dentro dos contextos geográficos, este

primeiro oriente engloba ainda os “confins” da Europa, o norte

da África e se espalha pelo leste da Ásia através,

principalmente do Islã e dos muçulmanos, cujo maior país

representante, por exemplo é a Indonésia, situada

geograficamente mais distante que outros países muçulmanos em

referência com o continente europeu.

Afastando-se mais da Europa, chega-se ao verdadeiro Oriente

Médio, constituído basicamente pelo universo cultural Hindu, com

a Índia no papel central, compreendendo em sua unidade vários

povos de etnias bem diversas, bem maiores que as diferenças

encontradas em toda a Europa. Porém, ainda assim esses povos

possuem uma unidade através da cultura e da língua culta: o

sânscrito, expandindo-se para o leste, em países como Mianmar,

Camboja e Tailândia, sendo sua maior influência dada através do

budismo, em grande parte da Ásia central e oriental. (SPROVIERO,

1998)

Por fim, o Extremo Oriente, sistema cultural cuja unidade se

encontra justamente no sistema lingüístico chinês, espalhando-se

pelo leste asiático a países como Vietnã, as duas Coréias, e a

própria China. Além destes, está o Japão, muito próximo desta

unidade, mas que possui uma cultura diferenciada em vários

aspectos da cultura chinesa, mas muito próxima em outros,

encaixando-se por isso neste terceiro oriente.

Desta forma, passa-se a entender a existência de um Ocidente

e três Orientes, que em, linhas gerais, ao se integrarem geram

dois fenômenos, o da globalização, já mencionado, e o do

multiculturalismo a ser explicado a seguir.

Com o advento e formidável desenvolvimento dos sistemas de

informação e das telecomunicações, o mundo do saber - agora

muito mais integrado -  aproximou, necessariamente, as

realidades culturais existentes, exigindo uma dimensão mais

ampla dos estudos em pauta e estimulando, sobremaneira, a

integração, por exemplo, de universidades, no sentido da

comunicação total do saber humano. Não pretende-se enfocar aqui,

no entanto, a pluralidade do saber em sua ampla complexidade,

apenas considera-se como momento essencial para situar a

multiplicidade cultural, âmbito no qual se acham inseridas as

culturas orientais. (HANANIA & SPROVIERO, 1998)

Colocando o Brasil neste panorama internacional e receptor

desta cultura advinda de locais tão distantes e povos tão

diferentes, pode-se analisar a terceira via por onde perpassa

este intercâmbio que tanto afetou nossa sociedade, cultura e

modo de vida. No caso dos meios multimídias e da

telecomunicações temos a tecnologia como principal

intervencionista para a existência deste multiculturalismo,

porém, nesta terceira via, temos o próprio ser humano dentro de

suas relações sociais, no caso do Brasil, mais precisamente

através das tradições e culturas passadas adiante através de

imigrantes, descendentes e curiosos.

Em caráter de registro, vale a pena apresentar alguns

números quanto a imigração oriental no Brasil:

Imigran

tes

População de imigrantes no Brasil nos primeiros anos do

século XXI

Árabes “A população árabe ou de origem árabe no Brasil é hoje de

quase 10 milhões, e de árabes-muçulmanos, aproximadamente 1

milhão.” (IMIGRANTES BRASIL, 2008).

Japones

es

“A população japonesa do Brasil está estimada em um milhão e

quinhentas mil pessoas, sendo a maior população nipônica

fora do Japão. Do total, 12% são nascidos no Japão (issei) e

o restante divididos entre nissei (filhos de japoneses),

sansei (netos), yonsei (bisnetos) e assim por diante”

(NIKKEYPEDIA, 2011).

Chinese

s

“Estima-se que atualmente vivem no Brasil cerca de 200 mil

chineses e descendentes, dos quais um número superior a 130

mil moram em São Paulo.” (IMIGRANTES BRASIL, 2008).

Coreano

s

“Atualmente estima-se cerca de 250 mil coreanos e

descendentes no Brasil. Os coreanos são um dos grupos de

imigrantes a vir mais recentemente ao país. Cerca de 92% no

estado de São Paulo. Destes, 90% moram e trabalham na

capital paulista.” (IMIGRANTES BRASIL, 2008)

Indiano

s

“Por volta de 375 famílias vivem no Brasil, com maior número

em São Paulo.” (CONSULADO GERAL DA ÍNDIA, 2011)

Armênio

s

“Segundo dados do governo da República da Armênia, são

aproximadamente 40 mil armênios e armeno-descendentes por

todo o Brasil, mais de 80% destes vivendo em São Paulo.”

(LIMA, LOBÃO, VELLOSO e FILIPO in: Etni-cidade, 2011)

Sem adentrar nos pormenores de cada corrente migratória,

constata-se a importância de tais colônias no Brasil na

transmissão de valores e tradições culturais que através do

tempo se misturaram com características nativas do Brasil, e

também advindas de outras correntes migratórias européias.

Interligando a imigração, com o poder que estas grandes culturas

hoje possuem em nossa sociedade, podemos colocar as colônias

árabes e japonesas como as maiores semeadoras, justamente por

crescerem no Brasil de forma unida, muito fechada no caso

nipônico, prosperando dentro desta população tão miscigenada sem

se perderem totalmente de suas culturas e tradições natais.

E os sinais deste intercâmbio espontâneo não param de

crescer. Por exemplo, no caso da cultura Coreana, segundo a

Associação dos Coreanos no Brasil, tem aumentado o número de

comércios e até de igrejas no Bom Retiro (já são mais de 20, uma

católica e várias protestantes). E em São Paulo, que a cada dia,

parece caminhar para se tornar uma capital internacional, cujo

um dos programas preferidos é comer fora, o número de

restaurantes coreanos aumentou cerca de 30% nos primeiros cinco

anos do século XXI. (YURI, 2005)

Além da imigração e, hoje, do comércio de produtos vindos do

Oriente, a comunicação sempre teve papel essencial nos processos

de conhecimento cultural e disseminação de seus produtos porque

as mídias são os pontos de referência básica que as pessoas tem

disponíveis para perceber o mundo. É através dos meios de

comunicação que conhecemos o mundo que está fora do alcance de

nossos olhos, de nossa convivência. Hoje, a importância da

internet como meio de comunicação aumenta por possibilitar

relacionamentos em uma modalidade virtual. Mesmo quando não há

divulgação oficial de produtos culturais estrangeiros pelos

meios de comunicação tradicionais (rádio, TV ou jornais), pode-

se encontrá-los na internet. É o que acontece com a música, onde

bandas de pop e rock Japonesas e Coreanas começam um grande

processo de invasão do mercado fonográfico informal brasileiro,

tanto através dos downloads na grande rede, como também através

de grandes shows realizados no Brasil. (MOTA, 2009)

Por outro lado, temos a importância da introdução cultural

do oriente ocasionado pela mídia tradicional, como por exemplo

ocorreu por aqui com a cultura japonesa através dos animes e

mangás; e com as culturas árabe e indiana nos atingindo tão

fortemente através do cinema, e mais recentemente através das

telenovelas (de forte presença e influência na sociedade

brasileira).De um lado, os bonzinhos, do outro, os perversos. Não

é de hoje que a civilização vê o mundo sempre dividido emdois. E nessa divisão, o Oriente acabou levando a fama. Masnão se pode negar o quanto eles vêm ensinando e despertandopaixão e curiosidade nas pessoas que vivem do lado de cá.Terapias alternativas, meditação, yoga, cromoterapia, vastuvidya, astrologia védica… O desprendimento com as coisasmateriais, a maneira como encaram a vida, os valoresdiferenciados, a busca do equilíbrio. É fato que o Orientehá muito vem contribuindo com sua sabedoria, ideologia e,por aqui, foi se compondo e ganhando espaço. (PEREIRA,2009, p.39)

Ainda ligado a mídia e às produções audiovisuais, os

resultados alcançados com a publicação de filmes, quadrinhos e

séries de animação consolidaram a fórmula de sucesso dos

desenhos japoneses, baseados tanto na versão escrita quanto na

cinematográfica. Atualmente é possível afirmar que o mangá e o

anime tornaram-se um forte novo elemento do universo infantil

brasileiro, seja em meio à comunidade japonesa ou entre os não-

descendentes. Porém, a linguagem por eles utilizadas, além de

complexa é carregada de extrema simbologia e o empenho de

tradutores em transmitir aos leitores a intenção do autor

encontra uma série de dificuldades no fato de não haver como

traduzir, em pequenas palavras, não só a parte escrita da obra

original, mas também a mensagem contida nas imagens. Desse modo,

os fãs deste gênero de entretenimento e cultura procuram se

aproximar não só da língua japonesa, através das escolas, como

também da própria cultura. (LOPES, 2008)

No entanto, apenas saber da existência desta vertente

cultural dentro de nossa própria cultura não basta ao se tratar

da cultura oriental pelo simples fato da estética oriental ser

diferente da que conhecemos no Ocidente. Apresentar este

contexto interpretativo e analítico da linguagem estética

oriental exige uma abordagem muito desafiadora e diferenciada. A

argumentação sobre arte e seus significados na cosmo-visão do

mundo oriental supera uma forte resistência ao próprio uso do

termo “estética”, pois sob vários aspectos esta forma de estudo

do ocidente não apenas se desvia da proposta do pensar artístico

oriental, como também oferece uma lógica argumentativa que

talvez não se coadune com a essência dos experimentos de arte

contidos nos fundamentos da cultura do extremo oriente

principalmente, extremamente associada aos aspectos

contemplativos e transcendentes do Ser – de fato, uma ontologia

fenomenológica por excelência. (MIKLOS, 2008)

O dilema recorrentemente estudado em aspectos formais e

analíticos sobre quando e como a experiência plena da arte se

manifesta, se apresentou tanto para os ocidentais como para os

orientais também, porém, no oriente apresentou-se a questão

estética associada a um processo de relação prática entre como

percebe-se o objeto e suas condições interpretativas. Sendo

assim, a abordagem oriental como um todo não se preocupa

demasiadamente com conflitos de termos e simbologias, ou entre

figurativismos e abstracionismos, não se desenvolvendo portanto

no estudo da arte no oriente uma ciência propriamente filosófica

(analítica) para a experimentação da arte. Antes, a experiência

estética subjaz a experiência do Ser, e implicitamente afirma

que o senso de arte não poderia ser diferenciado do senso de

atitude em relação ao que é percebido. (MIKLOS, 2008)

No entanto, no estudo filosófico e estético ocidental, cujo

um dos principais expoentes é o filósofo alemão Hegel, deixa-se

ao oriente o papel de pré-história da filosofia, já que de

acordo com a visão de Hegel, a Ásia seria o começo e a Europa o

fim. Sua obra “Fenomenologia do Espírito” classificou os passos

orientais como um pensamento puramente abstrato, sem progressos.

Nesse aspecto, não percebeu que mesmo a reflexão religiosa na

Índia e na China, por exemplo, nunca foram um bloco monolítico e

estático. (ROHDEN, 2009)

Tornando paralelas a ciência, a filosofia e a estética

oriental, podemos entender alguns conceitos e visões se

utilizando, por exemplo, do estudo da manifestação de arte Zen

Budista. No centro das argumentações filosóficas zen, existe a

concepção de que a experiência de consciência e percepção

fundamenta-se no conceito de Vazio (o zero que os gregos não

aceitavam). Sob a ótica básica do Zen, um objeto de arte é sem

significado se for interpretado apenas a partir de suas

propriedades e conseqüências artísticas formais concretas.

Antes, todo objeto deve ser interpretado e avaliado a partir da

proeminência de “ma” (jap. lit. intervalo, lacuna) em sua realidade, e

será através da sutilíssima percepção de ma que a mente

apreenderá o estado de arte implícito no objeto. Esta

experiência, justamente por estar associada ao intervalo

inefável entre dois momentos espaço-temporais (uma ruptura entre

o Ser e o Não-Ser), permitirá interpretar o Vazio, ou a pureza

de significados (kuan-ching, ou manter o olhar na pureza), do objeto.

Quando somos capazes de apreender o significado natural e

intrínseco do objeto, e acessar o aspecto conforme e natural que

este objeto apresenta aos nossos sentidos, conseguiremos captar

a sua arte. Esta arte pode se manifestar tanto em uma ação

concreta, como em sua simples indicação abstrata (ou indireta).

(MIKLOS, 2008)

Entender a estética e a arte oriental se faz então uma

tarefa extremamente complexa em território brasileiro,

acostumado com o pensamento ocidental. Sem que haja a

necessidade de se estender citando obras que discutem o conceito

de Orientalismo, que coloca o Oriente como invenção do Ocidente,

criado pelo autor Edward Said ou o texto “As muitas vias do

Orientalismo” do especialista em cultura e língua árabe da USP,

Prof. Mamede Jarouche, que vai de encontro a este conceito com

outra visão, nota-se que a discussão acerca do Oriente e dos

modos de se ver e entendê-lo estão nos meios acadêmicos a tempo

suficiente para já se ter iniciado uma visão acadêmica mais

abrangente dentro das ciências humanas e no estudo da arte, não

havendo portanto ‘porquês’ para se esvaziar esta questão dentro

de escolas e universidades.

Portanto, o que se propõem neste estudo não é suscitar um

orientalismo dentro de escolas e universidades e sim, evitar o

Eurocentrismo obsoleto que ainda prejudica nossa concepção de um

mundo pluralizado e igualmente rico, sem a ruptura capaz de

gerar preconceitos como os que ainda são gerados fomentando uma

equivocada supremacia Ocidental.

No entanto, encaixar a educação neste sistema

pluriculturalista é uma proposta complexa já que deve infiltrar-

se anteriormente em âmbito universitário e acadêmico para

caminhar em outros terrenos, como no da educação básica sendo

capaz de preparar a juventude para este cenário de múltiplas

culturas com as quais já tem contato através dos meios

multimídia, da internet e do intercâmbio cultural e comercial

entre etnias, colônias e pessoas interconectadas.

Para HANANIA & SPROVIERO (1998):Já no caso das várias culturas, a própria pluralidade

pode constituir-se em valor, uma vez que o homem se adapta avárias condições e é permeável a várias soluçõesexistenciais na reprodução de sua vida material e cultural.Pode-se afirmar que a pluralidade de culturas éenriquecedora pela complementaridade que acarreta e não porsua oposição, como no caso das ideologias. (HANANIA &SPROVIERO, 1998, p.10)

Fato que comprova estas premissas é a vinda ao Brasil da

exposição de arte oriental “A Sedução do Oriente: A Arte Asiática na coleção

do MNH” no ano de 2009 marcando  a realização de uma grande

mostra anual com acervo da própria instituição, com o objetivo

de dinamizar as coleções em reserva técnica e propiciar ao

público a oportunidade de apreciar relevantes conjuntos de peças

que servem de fonte de estudos e induzem à reflexão sobre a

nossa história.

O MNH não é o único, diante de inúmeros museus e fundações

que possibilitam de forma museológica uma aproximação mais

íntima de culturas. Outro caso é o da Fundação Cultural Emma

Gordon Klabin com um núcleo destinado somente a Arte do oriente:“Este núcleo abrange objetos procedentes das várias

culturas orientais, do oriente próximo às Ilhas doPacífico, como Turquia, Pérsia, Índia, China, Japão eSudeste Asiático. São tapetes, esculturas, pinturas,gravuras, peças de mobiliário e objetos de uso decorativo ecerimonial. Entre as culturas citadas, predominam osobjetos procedentes da China, incluindo um conjunto debronzes rituais das Dinastias Shang (Séc. XIV / XI a.C.) eZhou (Séc. X / III a.C.), figuras funerárias em cerâmica daDinastia Tang (Séc. VIII) e esculturas em madeirapolicromada da Dinastia Ming (Séc. XIV / XVII).” (FUNDAÇÃOCULTURAL EMMA GORDON KLABIN)

Por último, o caso mais instigante e que arremata a questão

da importância que a presença da cultura e arte oriental está

recebendo em nosso país atualmente, inclusive através dos

museus, a doação de milhares de peças orientais do diplomata

Fausto Godoy ao acervo do MASP, que a partir do ano de 2012 deve

crescer em importância cultural, artística e museológica em todo

o mundo, como prenuncia a análise abaixo postada no Jornal

ESTADÃO de março de 2011:“Sem exagero, trata-se de uma coleção que vai colocar

o Masp no patamar do Metropolitan de Nova York. O museuintegra desde 2008 o "Clube dos 19", que congrega os 19museus com os melhores acervos da arte européia do século19, como o Museu D"Orsay, o Instituto de Arte de Chicago eo próprio Metropolitan. De imediato, Godoy entrega emcomodato por 50 anos quase 2 mil peças que resumem séculosde história das civilizações asiáticas. Seu empenho, diz odiplomata, é "criar massa crítica no Brasil para ocontinente que se afigura como o mais importante do século21". Assim, não se trata apenas de doar uma coleçãoconstruída nas últimas três décadas, mas de estabelecer omarco zero de um futuro centro de estudos asiáticos. Aos 65anos, Godoy diz ter canalizado para o continente asiáticosua carreira na diplomacia por estar convencido do papelque países como a China, a Índia e o Japão iriamrepresentar no século 21. "Mais da metade da população viveali", lembra o diplomata, concluindo: "É fundamental nossainteração com esses países, cujo papel é decisivo naformatação do mundo globalizado". (ANTONIO, 2011)

Não se limitando aos museus, existem hoje no Brasil, feiras,

eventos culturais, entretenimento, festivais e festas típicas

completamente voltadas a cultura oriental em suas diversas

formas. Um dos destaques foi o primeiro evento oriental

multiétnico do Brasil, realizado em 2010 em São Paulo (Mart

Center) chamado Ásia Fest, integrando culturas da China, Índia,

Japão, Coréia e Tailândia através não somente de exposições de

artes plásticas, cênicas, danças, musicais, como também através

de workshops, da culinária e da própria interação social de

descendentes destas regiões. Outros eventos se espalham por todo

o país, seja através de associações ligadas a imigração, seja

através de instituições brasileiras como o SESC, que em 2011

realiza o evento multicultural “Oriente-se”:Com uma tradição milenar, a cultura oriental sempre

despertou interesse e fascínio em todos nós, trazendonoções diferentes daquelas que nós temos sobre a vida e ocomportamento humano. O programa Oriente-se tem comoobjetivo contribuir para a qualidade da saúde física emental do público da terceira idade, trazendo informação eentretenimento através de exercícios físicos, vivências derelaxamento e um contato com a arte oriental, que ajuda adesenvolver virtudes como a paciência e a concentração.(Portal SESC, 2011)

Tendo em vista toda esta junção e mistura interculturais,

onde toca-se o âmbito educacional nesta questão? O que parecemos

ver é que o mundo e a sociedade estão se transformando em

velocidade vertiginosa, na qual o sistema educacional parece

longe de acompanhar de certa forma, justamente pela estagnação

em que se encontram muitos dos profissionais envolvidos no

processo, completamente isolados em suas rotinas e presos em um

cotidiano empobrecedor principalmente ao professor, que ainda é

desvalorizado e para que consiga se manter financeiramente ativo

acaba tendo de aceitar uma realidade exploradora que não lhe

permite tal caminhada junto às transformações nas quais caminham

seus alunos.

No entanto, sem entrar muito nesta questão, HANANIA &

SPROVIERO (1998) inter-r relacionam a questão do

pluriculturalismo e a educação, mais sensivelmente na

universidade:

“Agudamente, no mundo de hoje, as culturas estãoobrigatoriamente em contacto, ocorrendo, por isso, váriosproblemas com vistas a sua mediatização, o que tornaimprescindível a reflexão e o saber universitários para aintegração das mesmas (lamentavelmente, o mundo tende a umaempobrecedora monocultura global, sustentadatecnologicamente pela Mídia, o que alerta, ainda mais, parao papel que deve cumprir a Universidade.). Mais do queisso: verifica-se hoje uma integração tal das universidades

(propiciada amplamente pela comunicação eletrônica) que seespera, em breve espaço de tempo, a formação de uma únicaUniversidade, com sede no mundo... (HANANIA & SPROVIERO,1998, p.10)

Sem levar em consideração a idealização de um novo conceito

de Universidade, opiniões e fatos já convergem para uma nova

realidade em relação a formação de monocultura mundial, no

entanto, levando em consideração prós e contras, é necessário

que os povos aprendam a manter e a cultivar suas próprias

culturas, também aprendendo a respeitar, a conhecer e a conviver

com culturas distintas. Isso é a monocultura que deverá se

construir em um futuro mais longo.

Sendo assim, a Grande Universidade tenderá, então, a

assimilar de modo cada vez mais acentuado, o serviço humano na sua

globalidade. A pluralidade de culturas - em contato - é,

certamente, fermento de criatividade. Nesse ponto, o Oriente, em

suas múltiplas facetas culturais, constitui uma dimensão

essencial na recomposição da unidade humana, superando - espera-

se - o estigma histórico da ruptura Ocidente/Oriente... (HANANIA

& SPROVIERO, 1998).

Mas nas faculdades e universidades brasileiras, esta

superação já está ocorrendo, ou será que estamos correndo atrás

para não ficarmos a margem das mudanças globais? Transpondo isso

para a realidade universitária dos cursos ligados as Artes,

nota-se que essa transformação não está ocorrendo, e tratando-se

de um campo diretamente ligado a produção cultural, ao próprio

conceito de cultura, a estética, a educação e aos conceitos de

mono e multicultura, a conclusão a que se chega é a de que

conceitos do estudo da arte precisam ser revistos para que a

Universidade não tarde nesta questão, além de que já é passada a

hora de abandonar o conceito Eurocêntrico que permanece no

estudo estético e da própria história da arte.

Para que tal afirmação tenha algum embasamento, buscou-se

pesquisar a grade e a possibilidade de se obter estudos que

abandonem esta visão ocidental da Arte, dentro dos cursos de

Arte nas principais universidades do Brasil, e a constatação não

fora das mais animadoras. Dentre as universidades pesquisadas

estão: Escola de Comunicação e Artes (USP), Universidade

Estadual de São Paulo (UNESP), Universidade Federal de São Paulo

(UNIFESP), Faculdade de Belas Artes (BA), Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fundação Armando Alvares Penteado

(FAAP), Faculdade Paulista de Artes (FPA), Escola de Belas Artes

(UFRJ) e o Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR).

Analisando a grade dos cursos de Artes, Educação Artística,

Artes Visuais e História da Arte das instituições supracitadas,

em apenas duas delas encontrou-se alguma referência em relação a

possibilidade ou obrigatoriedade de se estudar e se aproximar da

cultura, das artes, e do estudo da história e estética do

Oriente. Na UFRGS, no Rio Grande do Sul, há a possibilidade de

durante os estudos, ingressar no núcleo de Artes e Tradições

Orientais do Instituto de Artes de UFRGS. Já na Universidade

Federal de São Paulo (UNIFESP) , em seu programa curricular para

o curso de História da Arte, há a seguinte constatação:Considerando-se o objetivo de formação do estudante

pela construção do conhecimento básico em História da Arte,por meio do domínio dos métodos de trabalho e da capacidadede apresentar este conhecimento de forma factual elingüisticamente adequada, foram definidas três grandesáreas para a estruturação do curso: a) Arte ocidental; b)Arte do Oriente, da África, do mundo árabe e indígena. c)Estudos visuais e da imagem. (UNIFESP, 2010)

E o programa ainda vai além ao não transformar a arte

oriental em um aglomerado de artes místicas e “curiosas” sendo

analisadas como algo não-ocidental, separando cada estudo de

forma séria e comprometida com a seguinte premissa de:“...uma História da Arte que rompe com o

Eurocentrismo e o Nacionalismo e estabelece uma leitura daarte ocidental que abrange a arte latino-americanaincluindo a arte brasileira a partir do século XVI eanalisa, ainda, a arte da África, da Ásia, do mundo Árabe edo Islã.” (UNIFESP, 2010)

Nos outros cursos pesquisados (referências no âmbito da Arte

no ensino superior brasileiro) não há qualquer menção em seus

programas, além de não constar em nenhuma disciplina listada

dentre as obrigatórias ou optativas da grade curricular

proposta, o que nos deixa então as seguintes questões

reflexivas: se o estudo da arte no âmbito da Universidade, no

Brasil, encontra-se ainda quase que completamente embebida no

Eurocentrismo, como é que a educação e todo o seu sistema

poderão estar em ritmo paralelo, ou seja, caminhando em harmonia

com as alterações sociais e globais que rumam para uma

confluência cultural através dos meios de comunicação e de

intercâmbio cultural? Como se romperá com a perpetuação destes

cânones ocidentais no ensino e prática da Arte, assim como sua

história e estética, se todo aquele que embarcar em uma carreira

acadêmica ou artística se defrontará justamente com a manutenção

destes paradigmas a cada dia mais obsoletos e pré-conceituosos?

Como a sociedade e a academia superarão a ruptura

Ocidente/Oriente neste ambiente acadêmico ainda tão engessado?

Será que a negação ou simples indiferença por parte da

Universidade em relação ao Oriente e toda sua riqueza artístico-

cultural que já estão em meio ao nosso cotidiano, aonde quer que

iremos, não confirmam as constatações de superioridade ocidental

empreendidas por Said em sua obra “Orientalismo” segundo TEÓFILO

apud MACEDO (2006) onde:

tenta provar que o Ocidente construiu a sua própriaidentidade por oposição à do Oriente. Ao longo desseprocesso identitário foi consolidada a idéia de que adiferença entre o Ocidente e o Oriente é a racionalidade, odesenvolvimento e a superioridade do primeiro. Ao segundosão-lhe atribuídas características como aberrante,subdesenvolvido e inferior. (MACEDO, 2006, p.9)

CONCLUSÃO

Utilizar o termo ‘multicultural’ para definir o país dofutebol, do carnaval, da alegria e de tantas culturas etradições não é exagero algum. Pessoas que deixaram seus paísesde origem e partiram para a terra verde e amarela em busca denovas oportunidades, fincando por aqui raízes profundas,construindo famílias, comunidades e espalhando suas culturas tãodistantes da nossa de norte a sul do Brasil. Mais multiculturalainda após a internet e a Era da Comunicação, capaz deinterconectar países, pessoas, culturas e tudo que asacompanham, rompendo limites e fronteiras físicas que antesseparavam e institucionalizavam a ruptura entre nós, pseudoOcidente aos Orientes.

Neste panorama, chega-se a conclusão de que, em linhagerais, a instituição acadêmica em geral está em um grandeatraso no que diz respeito a essa aproximação Orientes eOcidente, na elucidação das cosmos-visões orientais no modo devida ocidental e do entendimento de toda a estética orientalpelo ocidente. Por outro lado, se este atraso encontra-seinserido em todo o Ocidente (América e Europa) cabe a outroestudo mais amplo e aprofundado, mas que não justificará aposição de nossa nação neste sentido, a partir do pressupostoque como país independente, democrático, multi-étnico eglobalizado, o Brasil não segue mais as “tendências” acadêmicasdo primeiro mundo e nem mais se esconde atrás de tais nações.

Levando-se ainda em consideração que a globalização e acomunicação entre povos e culturas está em um estágio inicial,na medida em que se entende que a grande maioria da populaçãomundial ainda não tem acesso a educação e a tecnologias do fimdo século XX e que mais de metade da população do planeta estáno que consideramos Oriente (Próximo, Médio e Extremo),contabilizando quase 4 bilhões de pessoas no total e que doisdos seus países expoentes, a China e a Índia, estão entre ospaíses que mais crescem e que mais devem continuar crescendo naspróximas décadas, fazendo com que o mundo todo, inclusive o

Brasil – que tem a China como seu maior parceiro comercialatualmente -, entre ainda mais em contato com seus traçosculturais, há ainda tempo o suficiente para que nosso sistemaeducacional (do básico ao superior) se prepare e se adéqüe anova realidade que nasce juntamente do redescobrimento doOriente, coincidentemente, termo relacionado ao local onde o solnasce a cada dia, e não somente uma única vez.

Para nossas instituições de ensino superior, o despertar de uma nova ordem mundial, com a China recebendo todos os olhares do mundo, seja, talvez, um tarde momento para buscar esta aproximação e encerrar assim esta a ruptura Ocidente e Oriente, demasiadamente obsoleta, mas que cedo ou tarde deverá deixar de existir na medida em que o homem inicia sua caminhada no reconhecimento de uma verdadeira humanidade, igual em suas diferenças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTONIO, G. F. Ásia no MASP. O Estado de São Paulo, 28 mar.2011. Disponível em site da internet:<http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,asia-no-masp,698061,0.htm>. Acesso em: 29 mar. 2011.CONSULADO GERAL DA ÍNDIA. Site da internet disponível em:<http://www.indiaconsulate.org.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.ETNI-CIDADE. A Cidade Multi-Étnica. Site da internet disponívelem: <http://www.etni-cidade.net>. Acesso em: 18 mai. 2011.FUNDAÇÃO CULTURAL EMMA GORDON KLABIN. Arte Oriental. Site dainternet disponível em: <http://www.emaklabin.org.br/arte-oriental>. Acesso em: 19 mai. 2011.HANANIA, A. R. & SPROVIERO, M. B. Os Estudos Orientais no Âmbitoda Universidade. Revista de Estudo Orientais, São Paulo, v. 2,p. 17-22, 1998.IMIGRANTES BRASIL. Site da internet disponível em:<http://www.imigrantesbrasil.com>. Acesso em: 15 mai. 2011. LOPES, V. F. O Transbordamento da Influência: Brasileiros Não-Descendentes e a Imigração Japonesa. In: Ensaios sobre a HerançaCultural Japonesa Incorporada à Sociedade Brasileira. FundaçãoAlexandre Gusmão. Brasíla: FUNAG, 2008.MACEDO, H. A. M. Oriente, Ocidente e Ocidentalização: DiscutindoConceitos. Revista da Faculdade do Seridó (RN), v1, jan./jun.2006.MIKLOS, C. Uma Introdução à Estética Oriental: Forma, conteúdo esignificados na abordagem artística Zen Budista. Artigo de Mestradoem Ciência da Arte – UFF/RJ: Rio de Janeiro, 2008.MONTE, S. A Presença do Animê na Televisão Brasileira. Laços:São Paulo, 2010.MOTA, T. C. Jumun: pensando o sucesso ocidental da cultura popasiática através da boyband sul-coreana Dong Bang Shin Ki. UNESP:Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicação XXXII Congresso Brasileiro de Ciências daComunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009NIKKEYPEDIA. A Enciclopédia da Comunidade Nikkey. Site dainternet disponível em: <http://nikkeypedia.org.br/>. Acessoem: 15 mai. 2011.

PEREIRA, E. De braços abertos para o Oriente. Revista Estar Bem,1ªed, ano 1, Cosmos: Santos, 2009.PORTAL SESC. Oriente-se no SESC. Disponível no site de internet:<http://www.sescsp.org.br>. Acesso em: 18 mai. 2011.ROHDEN, H. O Espírito da Filosofia Oriental. 1ªed. MartinClaret: São Paulo, 2009.SPROVIERO, M. B. Oriente e Ocidente: Demarcação. Mirandum,Pamplona, v. 4, p. 49-58, 1998.UNIFESP. Universidade Federal de São Paulo. Projeto Pedagógicodo Curso de Graduação em História da Arte – p. 19 – UNIFESP: SãoPaulo, 2010.YURI, D. Paisagem Diferente. Revista da Folha, fev. São Paulo:2005.