Arte_ Poética Q. Horacio Flacco - Forgotten Books

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e/te grande Lyrico padej'e dev er aj? Jia v entura ,

que v etfos naõ cantaria a o/Zentar a v aidade da [na

eleiçaõ ! M as

.

ejía fortuna a mim ne que elle a de

v e fazendo-o mais feliz entre os Portuguezes do

[que o fora entre os [eus Romanos. E que mayor

felicidade para elle que lzufcar eu a V. Excellen

cia para Proteétor de lzuma nov a Ediçaõ dajita

Poe tica aquella obra que lze af or do mais 116

til e delicado que tem a Arte Div ina ? As razões ,S ennar para ejZa minha eleiçaõ concorrem a tropel

e v ejo-me perplexo em r_

tjínalar as que mais me obri

gaõ. M as de certo que em tanta concorrencia de

motiv os , naõ me lev aõ it prefença de V. Excellen

cia - aquelles de que o M undo cojtuma fazer tanto

apreço e que tem a mayorjorça no juizo dos que

cjcolnem Patronos para as_fllí lS obras.

A gíejím acaõ-fe v ulgarmente osnomens pe

lo que reprekntaõ e naõ pelo que faõ efcol/zem

fe os que e/taõ no auge do poder das dignidades ,

das Izonras e que de todos recebem o obpequio' de

num forçado refpeito . Entre e/íes f aquelles que go

zaõ de p erto da benigna arajem do fav or do Princi

pe e faõ as mãos com as quaes a Regia liberali

dade errama as f uas graças ej'es faõ os que das

D edi

D edicatoria? lev aõ todo o, incenfo. Se eu quizera

contarme no numero de/bes Aut/tores , naõ.

p oderia

(ainda que quízej'

e bufcar para Patrono dejíe Li

v ra outro que naõfafe. V. Excellencia. A razaõ

inutil b e prov a!/a : a nobreza dafeu fangue , o alto

caracter da Dignidade e o mais que a modejtia

de V. Excellencia naõ quererá ouv ir , porque o naõ

quer (yíentar todas ejas circzuyí'ancias me obriga

riaõ dejzyíiça a bufcar a poderofafombra do eu pa

trocinio .

M as eu Senb or Excellentg'

ji ino jgo maxi

mas bem al/zeyas dos ambicí ofos ínterej'

es do fecula,e lev aõ-me todo o refpeito outras reprefentações mais

poderofas. Bco a V. Excellencia ,naõ como illuf-í

tre , mas como zelofo M ini/bro , naõ como poderojo ,

mas como fabio ; efe V. Excellencia padeje deixar

de ter a grandeza a que o elev araõfeus dif inã'os

merecimentos , eu certamente com mais prej'

a corre

ra a s carfeu amparo no gabinete dosfeus e/ludas,

que no do feu M inMerio. mefmo faria Hora.

cio b omem que mais dlímou ao feu M ecenas como

fabio que como v alido mais como bom Cidadaõ ,

t odo occupado nos interejes dafiat Patria , que ambí

ciafa Politico , cuidando nos a tgmentos dafuaFamzlª

a.

Se

Se aqueª

lle famofa Poetacantaj'e nejta idade

e v ide em V . Excellencia quem defde os primeiros

annos fora bem v ijlo das M ufas e depois refpeita

do mas Academias ; fe o v ij'e enriquecer 0fet: enten

dimento com v a,/tos ejbudos e apoderarfe do tbejyuro

de toda a erudiçaõ fe o v ije bonrar [empre os fa

b ios e fav orecer em todo o tempo aos ejtudiofos e

dep ois àforça dos clamores defeus merecimentos Izir

flybentar nas Cortes_á rangeiras com tanto decoro,

e politica 0 caraóler de bum Regio M ing/ira jim

S ennar ,fe Horacio v ij'e em V. Excellencia bum Pa

tricio taõ digno daf ia Republica e que ao augmen

to della facrjjíca de dia e noite asjaus projundas

meditações teabo por certo que V. Excellencia_R

ria naõ[o'o Patrono mas o objeéto de feus v erfos.

Com mais v erdade diria elle de V. Excellen

Que de fo rtes nafcem fortes , e que as aguias

naõ coHumaõ gerar pomb as. Deos quiz dar Fa

milia de V. Excellencia o dom daquella fabedoria

que conferv a os po'v os em paz ejtuliça ; de manei

ra que os lugares dos primeiros Tribunaes do Rei

no pareciaõ herança defous .Afcendentes e com efta rejlexaõ aponta

—fe para V. Excellencia como paa

ra lzum digno f uccej'or de

taõ raro M orgado. Efte

te'

ponto atm cbanmndo por pen/za dijz:/a e eu

com honra entrara no ajump to , je o [of rera i no

deraçaõ do genio de V. Excellencia que até nos

fabe dar exemplo de appareeer humilde quando o

rodêa tanta gloria.

Ao conjderar em V. Excellencia alas v irtudes

em tanta amzfade e uniaõ cordejb que pupilo de

tanta grandeza de alma grandeza f uperior que

Homero quiz dar aos feus D eqfes dizendo del/es ,

que com bum [o'pai o mediaõ toda a extenjaõ dos

mares. Se aquel/e grande Epico fe perfuadio que

com e/Za imagem pintav a bem a grandeza dos feus

Numes , eu creyo que com ella fe naõ po'de reprefen

tar a de buma alma como a de V. Excel/encia ,

que fabendo t ocar na extremidade da gloria , e logo

na da mode/Zia fabe'

a bum mefmo tempo chegar

a duas extremidades entrej mais diy/tantes do que

faõ as do immenfo Oceano.

Ei/aqui Senb or os titulos porque t oda“

afor

ça da razaõ e/iá pedindo“

, quefe efcrev a ne/Ze Liv ro0 nome de V. Excel/encia : b e obra de Horacio e

dev ia eu defcobrirlbe Pejoa que bem emparelb twe nocaraã

'er com M ecenas feu antigo

ª

Patrono : lze obra,

9118 feinpre'

fe ca/Mderou como buma fonte do per

feito

D ISCURSO PRELIM ENARD O T R AD U CT O R .

A muitos feculos q ue os homens dedicados às b o asArt es v eneraõ com efpecial ref

peito osPo etas do feculo deAuguito ; masentre todos nenhum t em reputaçaõ mais

diftinéla ,do q ue Ho racio , e talv ez ne

nhum t em ouv ido iguacs louv o res , naõ menos de fa

b ios m odernos , q ue ant igos. Petronio admirou nel

le huma particular arte em dar às mat erias , de q ue

tratav a , h umas co res v iv illimas ; e Quint iliano confeWa q ue elle he q uali unico Lyrico digno de fe

ler ; porq ue he ch eyo de b ellezas , de v ariedade de

figuras e de huma feliciflima ab undancia de expref

sões no b res efp ecialment e nas Odes At Lyri

eormnHoratiusferê falas [cgi dignas . Nam do“ in

f urgit aliquanclo (aº p lenas eji jucuna'itat is (7ª

grat ite (aº v ariir í gurit (aº v erb is felici/Wmê audax.

Po rém M o nf'

. de la M o t te no feu D ifeurfa [abrea Poena em geral deixo u

-nos em mais exaâo deicnho e em co res mais v iv as hum fiel ret rato delle

intigne Po eta. Tev e Ho racio (diz elle ) hum efp iri

t o grande e ado rnado naõ menos de v ariedade , q ue

de delicadeza. Nafceo igualmente para a fatyra e

p ara o elogio ; po rq ue as fuss inv eõliv as penetraõ tan

t o mais q uanto faõ mais finas , q ue as dos o utros ; e

tens lo uv o res liv res de lifonja dev eriaõ agradar

àq uelles meimo a , q ue naõ lh os naereciaõ. Era exa

õlo e rico em (mas deferipções às quaes dav a hunst oq ues taõ v iv os ,

q ue q uali as fazia v iú v eis. No mo

ral o rdinariament e inllrue de maneira taõ fina e ar

t ificio fa, q ue parece , q ue naõ he elfe o feu fim ; e

q uando rev eflido da v ehemencia e autho ridade de

Cenfo r, lev anta às v ezes a v oz

,ceniurando o s v i

ii cio s

juizo de Mr.

B aeler fohre

a Po etica de

Horacio .

'lmpugnado o

res de Ho ra

eins dos Romanos fempre tempera as fuas inv eéliv as

com hum certo agro-doce , q ue faz com q ue naõ fe

delgo tlze dellas. Em fim Ho racio foy hum Engenho ,

q ue l'

o ub e fempre t ratar q ualq uer alfump to po r hum

m odo no v o o u fo lie p ela no v idade no ufo das figu

ras , o u p ela das eXprcfsões , igualmente felices e

atrev idas.

Em menos palav ras recco igual elogio a elle

Principe daLyrica Lat ina o excellente Po eta M onf.

Ro ndeau dizendo

Lefeu ! Horace eu t ous genres excelleD e Cyt b e

're'e exalte lesfav eurs

Gb ante les D ieux les Heràf les Buv eum'

D ef fots Ant b ears b erne les v ers inep tesNeuf iii/lruijlant par gracieuxp récep t esEt par S ermons n

'ajoio antidote

's .

Baita de elogios q ue (e nos o fiºereceriaõ a milhares

fe q uizelletnos andar mendigando pelos Crít icos mais

judicio fo s o q ue deixaraõ efcrito fo b re o merecimen

t o de Ho racio . Falfemos a dizer o q ue nos occo rre

a refpeito da (uaArte Poet ica q ue h e de luas o b ras

a p o rçaõ , q ue tomamos, para a eç

ª—(po r , e illuílrar a

mocidade Po rtugueza no (eu pro prio idioma.

C reyo q ue ninguem me duv idará de q ue en

tre todos o s efcrito s deite Po eta tem o primeiro lugar

a (ua famofaEp i/Zola aos Pisõer em q ue dá adm ira

v eis p receitos para a Po efia efpecialmente D ramma

tica. M oni“

. D acier,hum do s feus mais digno s llluf

trado res confeila q ue dcfco b re nella humas b ellezas

taõ no v as , huns p receitos taõ fo lidos e hum juizotaõ pro fundo e feguro , q ue a Ant iguidade em t o

dos o s teus efcrit os naõ nos deixou em hum Tratado

taõ b re v e hum igual th efouro .

Com tudo naõ faltaraõ homens (maischeyo s deerudiçaõ q ue de b om go lio ) o s q uaes defraudaraõaHo racio de taõ merecida gloria. Aflim o fez C lau

Claudio Ver dio Verderio ; po rém o feujuizo fo b re o merecimenderio . t o delta Arte he taõ indigno ,

e ch eyo de igno ran

cias q ue M oroiio dille , q ue fe env ergonhav a de[

o

tran

tranferev er. Porém q uem fohre todo s lev antou mais a

v oz contra Ho racio foy Julio Q efar Elcaligero ,

chamando a ella Po et ica Ar t e [em ar t e. He v erda

de , q ue nelle Tratado naõ ha aq uella o rdem e me

rhodo , q ue no ni elmo aflump t o o b ferv o uA riíª

to t e

les ; po rém ella mefma' falta no ju ízo de M o nf. le

Fe v re contém huma efp ecial graça ,e lib erdade ,

p ro p ria de huma Epiíªto la q ue he o q ue Ho racio

q uiz fazer , e naõ hum T ratado m ethodico . Po r itlo

o fab io D acier naõ pô de (ofirer a l'

ent ença daq uelles ,

q ue afli tmaõ q ue t ranfpo ndo- í e alguns v erfos li

caria ella Art e huma o b ra int eira , e perfeita. M as

da o rdem q u e Heiniio lhe p retendeo dar clara

m ente diz o mefmo lllu ílrado r Francez , q ue (ó fer

v e para melho r fe co nh ecer a b ondade da defordem,

com q ue o Po eta difco rreo .

Po rém to rnando aEfcaligero fendo elle Efcrito r

hum homem fab io , e b em v erlado no s efcritos do s

b o ns Antigos faz admiraçaõ o ch egar a efcrev er ,

q ue ella Po e t ica (ó poderá agradar a menino s e

q ue nenhum o utro juizo poderá t irar della pro v eito . (Li e ont ra o b ra deite genero na Antiguidadenos mo ílraria elle mais p ro v eito l

'

a para acrit ica v er

dadeira (ab re a Po efia ? Em q ual o ut ro v io decisões mais acertadas ju ízo s mais fo lidos , e v erda

des mais defent ranhadas da natureza das co ufas , de

q ue t rata ? Em Ho racio (diz D acier com t odos o s

b o ns C rí t ico s ) tudo he grande , e tratado com ex

acçaõ , Naõ ha fegredo na Po etica q ue naõ mani

fe í le naõ ha p receito neceil'

arzo q ue lhe el'

q ue

celle e o q ue naõ illuflra àclara luz femp re o

mo ílra com algum rayo , q ue tal chamo aq uella b re=

v idade e fuccinto ellylo com q ue às v ezes fere

v iv ament e as coufas. Tanto he exaélo,e co p io fo

em (nas regras , rev elªtidas de ar p o et ico , q ue ain»

da h oje da o b lerv ancia dellas dep ende inteiram en

t e a b o ndade e merecimento de q ualq uer Po ema.

Quem p rat icar (ab iamente t odo s o s feus preceio

tos, tenha po r certo , q ue ha de

'

fer Poeta, te ram »

b em

Julio CefarEfcaligero .

Seus Befen

fores.

juizo de Mr.leFev re.

Juizo de Juelío Gefar Ef

caligero .

Juízo de Mr.

acier.

juizo daPo et ica dcEfca 1

gero.

Bernardino

Parthenio .

b em a natureza lhe fo r b enigna. O contrario lhefuccederá (e eftudar fó mente p ela v o lumofa Po et i

ca de Efcaligero . Nella em o b feq uio da v erdade

co nt'

ellamos q ue ha huma erudiçaõ infinita , hum

b ello met ho do e hum ellylo no b re co ncifo e

co nv enient e amateria , de q ue trata. Com t udo no

fo lido , e fundamental falta ; po rq ue tudo funda fo

b re mao go llo e fo b re humas certas miudezas ,

q ue mais p ertencem ao G rammat ico do q ue ao

Po eta. Quati nenhum p receito da'para a grande

Poeha nenhum caminh o ab re ao ignorant e ,e ne

nhum focco rro minitlra a hum engenho , q ue fe q uerinílruir. Nelle naõ fe acha co ufa

, q ue elev e o ef

p irito e q ue o difpo nha ao enthufiafmo . Em fim

nelle Autho r , compo ndo hum enorme v o lume , naõ

fe pô de dar com aq uella fonte ,de q ue falla Ho

racm

Undeparentur opor quit! alat formetquep oetam;Quid decent , quia

'non , qnd v irt ur, quôferat error .

E cite ab undante mananctal he ev ident e , q ue o acha

mo s em huma Po et ica de 47 6 v erfos. Po r illo o s fa

b io s , q ue tem paladar exq u ifit o eflimaõ mais a li

çaõ de p oucas regras de Ho racio , q ue t oda a v o lu

mo la do utrina de Elcaligero na (na Art e como

p ro v a com erudiçaõ taõ co p io fa como juizo profundo o feu famo l

'

o impugnado r Bernardino Part he

nio ,em teus excellentes C ommentario s q ue t em o s

em grande ellimacgaõ , p o is delles t ellifica o grande

Filologo M o re llo , q ue huma fó v ez o s v ira e q ue

t endo rev o lv ido q uafl t o do s o s C atalogo s das liv ra

rias pub licas , em nenhuma o s delco b rira. Po rém

naõ o b llzant e tanta raridade ( accrefccnta o mefmo

Erud i to ainda he mais rara a erudigaõ , o juizo ,

e do ut rina , com q ue Parthenio v inga aHo racio das

injurias de Efcaligero . A mefma no b re empreza t o

Vv alio , Vo f maraõ W allio nos feus Poemas Vo llio t ratando dos

flo , cD acter. Poet ar Lat inos , e B aeler no p rincip io ,e fim das

luas No tas àPoet ica de q ue t ratamo s.

D eixando po is eita mat eria q ue p edia largo

difcur

naõ para aq ui com“

as luas conjeéªturas.

Pretende, q ue po r co nta do Inflituro della Af

femb lea t omara Ho racio a occaliaõ de el'

crev ere lla fua Ar te Poet ica , p ara mo llrar aos po uco inftroados , o em q ue co nlitlem as riq uezas daElo q uen

cia p o et ica e naõ menos o s feus v icios. Se ifto

allim foy q ue no b re exemplo para eliimular aq uel.

les Academicos da onila idade , q ue palfaõ a v ida

fem inftruir o pub lico nas contas , q ue p ertencem

ao feu'

Inllituto ,e à fua o b rigaçaõ ! Naõ ha entre

nó s Academia q ue naõ tenha h um / meme para dar

o s preceitos da O rato ria e outro para o s da Po e«

t ica ; e q ue fins glo rio fo s para o s Academico s e

para a Patria v imo s q ue p ro duziÍTem elles Intlit u

t os ? D e tanto s mellres q ue o b ras lemos em q u e

nos mo flrem de huma maneira fo licla e co nfo rme

às do utrinas dos b ons Ant igos o em q ue conlitlemas riq uezas da Elo q uencia e da Po eâa ; q ue he o

q ue v erdadeiramente fó rma e nutre o s O rado res ;

q ue he o _ q ue faz huma crit ica judicio fa e em

q ue v ícios pó de declinar ? Em fim o nde t emos

q uem nos inlttua do div erfo merecimento do s Ef

crito res antigo s , de q ue foy taõ ab undant e G recia

e Roma , e naõ m eno s do s no llos q ue no feculo

de q u inh ento s enno b receraõ a fua lingua na p raia ,e no v erfo O p eyo r he q ue elles hoje na o p i

niaõ de muitos pallaõ po r'

huns engenh o s inculto s ,e o s q ue lhes fazem mais h o nra co rifeflaõ q ue

feriad excellentes , fe v iv ellem em no ll'

o s dias.

Perdo efe—me ella digrellaõ q ue ma infp irou o

zelo de defejar q ue as unti'ns Academias flo reçaõ

como muitas das eltranhas , dando frutos maduros ,com q ue o ut ro s Engenho s fe alimentem e naõ p a

rando em flo res de huma , o u o utra compo flçaõ

p o et ico das q uaes huma grande parte ainda ch ei

ra àq uelle almtfcar de Hefpanha q ue deita a p er

der a cab eça.

E t o rnando a Horacio , he certo , q ue ou fo lie

como homem pub lico ,ou como particular , o g

en

m

Em”

na Poetica foy dar aos-Romanos em Tratado

fuccinto o melhor , q ue fohre hum tal argumento ef

cre v era Arifio t eles , Criton Z eno n ,D emocrito e

Neop to lemo de Paro s do q ual efp ecialmente fe

v alco , fazendo huma compilaçaõ dos (eus melhores

preceit os , como adv ertio Po rphyrio dizendo : 1 71

q uem [fórum conjecit precepm Neop t olemi deArte

Poetica nan quidem amm'

a , jed eminem íyíma.

Pallando a dar ao leito r alguma no ticia dos

Commentado res q ue tem illu íirado efia Ar te , de

Vemo s confe ÍTar q ue faõ muitos em numero e

p o ucos em merecimento . Com a liçaõ , q ue t iv e

mos de b afªrantes achamo s , q ue com muito fun

damento (lille M onf. D acier q ue Ho racio na fua

Po etica tem fido mal entendido e q ue os Int er

p retes mais lhe desfiguraraõ do q ue illufiraraõ os

feus melhores lugares : mas q ue ifio naõ dev e canº

far admiragaõ l'

ab endo -fe , q ue a mayo r parte da

gente mais at tende à autho ridade pat rocinada po rh um grande numero de Autho res , do q ue à fo rça

da razaõ . Impo rta po uco q ue ella diõie humaco nfa b aíia e [o b ra para logo a crerem q ue a

diga hum Efcrito r e q ue a co nfirmem muito s.

Façamos indiv idual memo ria naõ de todos os

C ommentado res mas do s q ue v imos e o'oferv á

mos. Aaron , e Porp /ayrio ant igos Grammat ico s ,illuftraraõ a Ho racio mais no fenrido grammat ical ,mytho logico e h ifiorico do q ue no p oetico . Se

o ut ro s depo is naõ tomall'

em a m efma emp reza ,naõ

p erceb eríamo s o s fo lidos e'

occulto s preceitos , q uedá aos Po etas na fua admirav el Arte. Naõ he lóHo racio o infeliz com os Interpret es ant igo s.

Pedro Nmmz'

a Alemariano famofo profefl'o r

deHumanidades nos efludo s de Lo v aina v endo q ue

o celeb re Lev ino To rrencio naõ expozera a Poe ti

ca de Ho racio t endo —lhe interpretado as demaiso b ras com applaufo dos Sab ios t omou a fi a em

preza ; mas o s Crí t ico s co nh ecem no tav el differen

ça de hum a outro Commentador. Com tudo de»

, v eº l'

e

Commentado res da Poc

t ica de Ho ra:cio .

Acro n, cPoro

phyrio .

Pedro Nan

nic&lcmaiia

v e -f'e a Nannio a engenho l

'a'

intelligencia"

dexalguns

lugares da dita Fo et ida p elos q uaes até o feu tem

p o fe t inha pafl'ado fem reflexaõ ; como ent re ou

t ros a intelligencia q ue dá ao v erfo P í ã'oriôw

a t que a q ual nó s , imitando a D acier_ ,

feguimo s na no ffa I lluftraçaõ . Se elle —Expo fito r fo

ra igual em tudo ,darnoshia hum Commento com

p leto po rém ent ende humas co ufas mal o u t ras

q ue neceíiitav aõ muito de fer illufiradas deixa-as

no efcuro e em o utras demo ra,

,te com erudiçaõ taõ

enfado nha como inutil. Ifto facilmente o b ferv arã

o leito r crit ico q ue o no lfo fim naõ he fermos

pro lixos , indiv iduando lugares.

Pedro Gualter Clmáot q uerendo tamb em o r

denar hum Commento ao no ffo Po eta amonto o u

tanta confa q ue he hum procell'

o infinito . Arma

a fua indigelªta erudiçaõ em div erfas clafl

'

es illuf

t rando o Po eta no grammatico no lyrico e no

rheto rico mas nada no q ue he v erdadeiramente

p o et ico . Po r ill'o M o ro fio com razaõ diz delle

q ue Commentarí or confarcz'

nav í t nímí á'(T pla]

qzzam pe dagogica diligent ia.

D iony/í a Lamó íno efcrev eo tamb em huns Commentario s '

pro lixo s como lh eschama o citado M o ro

fio . M ureto feu co nt empo raneo o reprehendia de ter

explicado mu itos lugares de Ho racio taõ mal q ue

era o ludib rio do s intelligentes p o rém elle excel

lentemente fe defendeo ,dizendo , q ue allim o s acha

ra en tendido s nas o b ras do mefmo M urero . Veja—fea Thomafio de Plag. Litera ,

o nde fe achará a Lam

h ino no numero do s plagiarios. No q ue t ev e mais

m erecimento foy no re v o lv er muito s m . f. e con

fro ntar as v arias lições q ue hav ia nas o b ras deHo

f acio fazendo mençaõ dellas no feu Commento .

No mais commummente naõ explica ao Po eta com

v erdadeira , e fina int elligencia. Omit te lugares prin

cipaes pall'a p elos difficulto fo s e demo ra- fe em

o ut ro s de po uca ent idade com defperdicios de

erudiçaõ q ue muitas v ezes naõ faz ,para o

(

e

j

aro .

om

Com tudo traz muitos b em illufi rados com a dou

t rina de Arifio teles e com a prat ica dos ant igos

Po etas , allim Gregos ,como Lat inos.

Guilherme X ilandro pub lico u igualmente hu

mas co p io fas Anno rações ao no flo Po eta , e exafias

emendas , as q uaes o s Erudí tos eflimaõ em mu ito .

Foy h omem dout iflimo e de erudiçaõ efco lhida ,

p o rém Ho racio naõ lhe dev e a elle mais do q ue

já naõ dev ell'e a o utros.

jacaré Cruqm'

o M eí em'

o pelos fcus Commen»

tarios Ho racianos naõ t em merecido do s Sab ios ef

p eciaes lo uv o res ; antes Tenaq uil Fab ro nas fuas

Ep ifto las , e Barthio Adv erf. fallaõ delles com

b em po uca honra de feu Autho r. C om t udo ainda

q ue o Po eta naõ lhe dev a no tav el o b rigaçaõ no q ue

refpeita a explicar o q ue h e p o et ico femp re lhe

e itao b rigado em rev o lv er m . e edições ant igas ,

p ara emendar o s erros no t ema e em pub licar

co ufas pert encent es ao mefmo Po eta como a fua

v ida , e algumas No tas feitas p o r Autho res ant igo s

fohre div ertos lugares das fuas o b ras.

Francz'

fca Luz'

Jâna ,àinti ancia de Paulo M ann»

cro , efcrev eo hum excellente , e co p io fo Commen

t o àPo et ica Ho raciana. Efla o b ra he geralmente

refpeitada ; po rq ue env efie às difiiculdades e as ex

p lana com juizo , e erudiçaõ . Aºs v ezes eita he de

mafiada e como efie Interprete t ev e largo s efiu

do s das Leys Romanas muitas v ezes h e faft idio

fo em q uerer illufirar com eilas muitas pafl'

agens

da Poet ica. Naõ foge commummente às difiºteultla

des , o nde as acha , explica-fe fempre com os exem

p lo s daAnt iguidade naõ menos Lat ina q ue G re

ga , em cujasx

fo ntes mo f'tra q ue fempre b eb era.

Guilherm e

X ilandro .

Jacob Crua

q u io

nio .

F; :'ícifco Lui

BRO.

yafan de Norer naõ fe pode negar q ue foy Jafar: as no

hum Interpret e de grande merecimento . Como talªªª“

o t rata o Apat iíia no s feus Progyírafmi Poet ica, al:legando a cada palio com elle ; o q ue naõ hc po u

co po rq ue foy hum C ritico muy diHicil de co nt entar. Tev e No res toda a erudiçaõ p recifa p ara

Com

Cnmmentador , e gafiou-a ta talv ez prodigamente )

em explanar ao feu Po eta. Em alguns paffo s delleco pia o q ue muito s já hav iaõ dito , coftume fre i

q nente e q uafi indifp enfav el nos q ue tomaõ 0 o fficio de Interpretes , naõ co rrendo mais terra

, q ueaquella , q ue o u t ro s trilharaõ .

jaeoá Grifola fez tamb em a fua Expo í içaõ. Ent re OS

'Sab iOS he t ido po r hum homem muit o eru

dito nas letras Lat inas, e Gregas : po rém os C om

nientadores Luifino , e No res algumas v ezes o cenfuraõ fo hre a má intelligencra em div erfos lugaresda Poet ica , q ue interpreto u. He certo q ue nella

p aífa po r hum grande numero de pafl'

o s diãicult o

fo s como fe nenhum delles necefh taÍTe de expofi

çaõ e naq uelles , q ue cominenta geralmente naõ

fatisfaz ao leito r allim"

po r fer efcuro emb araça

do , e às v ezes prolixo nas autho ridades como por

naõ ter entendido t oda a fo rça dos p receitos do

t exto ,nem as materias div erfas de q ue falla o Po e

ta, co nfundindo v . g. as regras q ue elle dá para a

Tragedia com o utras q ue fó applica à C omedia ;e nefte grav e defeito t amb em cahirãõ alguma v ez

os citados No t es e Luií ino .

Cb rzjz'eonõ Landim . Vimos a (na Expo í içaõ a

todas as o b ras de Ho racio . Pe lo q ue refpeita àPoe

t ica , parece-nos claro ,

e l'

eguro na interpretaçaõ ;mas he muy parco de autho ridades claflicas e de

exemplos de Po etas , com q ue fe p ro v em as regras ,

q ue dá o texto confa precifa para a intelligencia

do po etico e muy louv av el q uando he com judicio fa eco nomia. Baillet no feu ? zzgemem der feao rmy o lo uv a como b om Commentado r ; e com ef

feito he de merecimento a lua b rev e illultraçaõ e

digna de fe aconf'elhar efpecialmente aos p rinci

p iantes q ue defejaõ entender a Po etica de Ho ra

cio q uanto b alte para dep o is paflarem a comp re

h ender po r o utros Autho res t odo s o s fegredos da

Po efia , q ue fe occultaõ no dito Tratado .

Henrique Glereano efcrev eo humas b rev iÁlimas

uno

Anno tações a clªra Arte. Tomou nellas por efp ecral

emprezaconfut ar fo rtemente o ant igo Comment o de

Acro n fe acafo elle G rammat ico he o feu v erdadeiro

Autho r de lco b rindo -lhe muito s erros , o ra na intel

ligencia do Po eta o ra nas lições co rrup tas do t exto ,admit t idas po r genu ínas. Po rém o s b o ns Crít ico sfem defenderem a Acro n centuraõ em muitas co ufas a cenfura de Glareano e os melho res illufirado res de Ho racio naõ fe accommodaõ em muitos

lagares com a fua interp retaçaõ.

Theodoro M o r/ilio. D eite homem erudito v i

mb s igualment e humas b rev iflimas Anno tações àmcf

ma Po etica. Naõ o b liante ferem fuccintas ha nel

las naõ pouca erudiçaõ e luz para ent ender ao

Po eta ou teja p elos b ons exemp los , q ue aponta ,

o u p elas co rrecções ao t exto . Com tudo como

alfeétou muita b rev idade e Horacio h e muy co ncifo , e às v ezes — efcuro nos teus preceit os naõ he

M arí ilio b allante Interprete para q uem he ainda hof

p ede nas regras da Po efia. Quanto mais q ue o s

patins difficulto fos apenas o s t oca e 3a mais os

exp lana , como p ede a ('na difficuldade.

ACM /ler Ejí afo illuflre Efcrito r Po rtuguez ,h e geralmente refp eitado pela fua e

'

xpofiçaõ a efia

Po et ica. Ho racio dev e- lhe muito , particularmente

emendando - o de muito s erros , caufado s pelas div er

fas co pias no q ue t ev e grande t rab alho confe

rindo muitos e exafto s m .—f. Naõ lhe dev e me

nos em p ro v ar com o s Po etas G regos efpecial

ment e D rammat icos , e com o s antigos q ue ofere

v eraõ fo b re o s p receito s po et icos , t odas as regras ,

q ue apo nta Ho racio nelle feu O pufculo . Só q uem

allim faz ( diz D acier no fim das fuas No tas he

q ue fab e dignamente interpretar ao Lyrico Latino .

Toome'Cor rea naõ menos celeb re Po rtuguez ,

q ue o ant ecedente explano u com grande lo u v o r a

Ho racio , como telªtificaõ o s melho res Crí tico s e

o mefmo M urero feu emulo 0 ch egou a confefl'

ar ,

como refere o Apatilia no tomo 3 . dos teus Progynofmi

T heodo ro

Marmita;

Achilles Etta

90.

Thomé Coro

rea.

Amdt é D âcícr.

errrffrri'

Poet iei e Spaeh'

io no feu Nomenclar. Plailojojl Com tudo comparada ella I lluflraçaõ com a

de Ellaço , dá—fe a efte a p rimazia do m erecimento ,

fe ho u v ermos de efªtar p ela antho ridade do citado

Apat ilia.

.Á mlre'D arrier ent re todos os Commentadó

res q ue deixamos apo ntado s pode- fe dizer fegu

rameut e , q ue o s excede nas fuasco p io fillimas No tas

aHo r—acio . Nellas reina hum ju izo p rofundo , huma

erudiçaõ v alliflima na faculdade p o etica e humaexq unita liçaõ pelos melho res Autho res da Ant iguidade G rega e Lat ina. Naõ deixa paffar diíhculda

de e b elleza no Po eta q ue magifiralment e naõ

explane , de modo q ue o leito r fica lat isfeito ,fem

t er mais q ue defejar. Commummente caminha po reflrada q ue o utros naõ t rilharaõ explicando hunsmytlcrios em Ho racio q ue o u naõ fe alcançav aõ o u

eleuramente fe entendiaõ. Se excep tuarmos a Vo ltai

re , t odos o ench em de elogio s , e po r todos b afiatá

q ue lhe faz M o ro tin , dizendo Vir erudirzjímurD aer

'

erirzrHom zí um in o em aeulamfermonem tm n/'

f mlí t ('e non [aliam in p eefgenda uoer í ore 'v iza

Horat ii [crip t om mqrze ferie jztxtrz temp orum ra .

t ianer colloczmda oeerzpatm f ait fed (yºampli/F

mir Commenmriir ita exam en/m dedit eu m e v o

cum fzgm'orrmrqzre , (a

º ep it /oet om m fedrtla errada

t io nee ferzfm allegor íci ev olu t io neque arloo ad

o erôom m ou t art ir explicat iorzem guiequam jure(ie/idem”pojit .

Ricardo B ent lei pub licou eruditas No tas e

emendas ao texto de Ho racio . Fab ricio falla della

o b ra com difiltlfi'

a honra ,e o Padre Sanado u ,

fa

b io jefuita tanto a ellimou q ue nas fuas emen

das a ediçaõ.

q ue pub lico u do mefmo Po eta em

q uafi tudo fegue as lições de Bentlei q ue elle

fegundo diz achara nos m. f. mais authent icos.

Te v e Bentlei muitos impugnado res àreferida o b ra ,

naõ fe p odendo accommo dar h omens fab ios , como

Johnll'

on , Cuningham ,e D acier a muitas das fuas

emen

chcs BroccoFroircifco Sorreb er B rocevfe : foy hum celeb re

Grammat ico e hum igual Commentado r po rq ue

e ntendeo perfe itament e os Autho res Lat inos. Ho o

facio dev e—lhe hum b om Commentario aArte Poe«rica e como tal faz delle diflinõia

memo ria M o .

ro fio e Nico lao Anto nio . A empreza de Sanch es.

nellas Anno tações fo y apontar o q ue o utros naõ ha

v iaõ dito para p erfeita intelligencia do s preceitos

de Ho racio , e fegundo os b ons intelligentes ennfe

guio-o em grande part e.

Eíles faõ o s Efcrito res q ue v imos , o s q uaes

illullraraõ a Po et ica de Ho racio . Bem fen'

timo s ter

fé no t icia de outro s como Fraizcifco Rooor tello ,

Pedro Viáforio Vicente M edio Paulo B eni e o

no ll'

o Bent o Pereira erudito jefuita , de q uem dizo Antho r da B io/iot/oeca Societat ir , q ue compoze

ra em do us tomo s huns Commentarios ao noffo Poe.

ta, mas naõ accrefcenta , fe v iraõ a luz pub lica.

Parece-nos q ue naõ ferá confa fó ra delle af

fump to , fazermo s igualmente mençaõ das Traduc

ções q ue v imos defla Arte em div erfas linguas

p ara q ue o leito r curio fo enfafliado da q ue lhe o f

ferecemos , po ffa nellas refarcir o temp o , q ue p er

dera com a liçaõ da no lla.

Os Italianos t em div erfo s Traduóto res como

Ludov ico D olce Scip iaõ Porrze Ludo v ico Lep a

reo Loreto M atcei Serraria Quat tromoni Pan

dalfo Spamzocb i e B enedet to Pafqualigo. ATraduc

çaõ defle ult imo h e certamente amais fiel e como tal

foyefco lhida entre as out ras pelo D outo q ue faz em

M ilaõ a grande Collecgaõ dos Po etas Lat inos , acom

panhados deTraducções em Italiano . A do D olce

t em pouca reputaçaõ , por faltar freq uentemente a

fidelidade. A de Ponze po r fer em o itav a rima

naõ he tamb em muy feliz faltando lhe , po r con.

ta da ferv il p rizaõ dos confoantes aq uella lib erda

de ,e v iv eza , q ue pede Ho racio , e accrefcentando

algumas co ufas , q ue o Po eta naõ difle , nem diria.

Com tudo fempre elle Traductor merece fer lido

p orq ue traz huma b oa eXpofiçaõ dos lugares mais

efcuro s.

Ent re o s Francezes tamb em ha b aflant es Tra

ducções e de mu ito merecimento , naõ meno s em

p ro fa q ue em v erfo . Vimo s a de M oraller , da

q ual po r fer em pro fa fe q ueixa Ho racio no cri

t ico liv ro le Parnaâe re'forme

', dizendo : Voila

'ler

oeaux emp loir de cet te nou v elle S eí ie de Track/dla

urr . Ne p or/v om d e'/ev er jafga

'2: mm ily nom?

aoaijent jufc/ à eux nor/cfont Tampe?“ comme

der mifem ô lef . Parce quº

il leur e.”iwp ojió/e de

faiv re notre rop idite'

gui ler eii tm ine , ilr now ef .

H'op ient da" p o r un deferi r de jugement ou de

v eine poet ique ilr met t emf t out en p rofe jufgu'à

nor clmnfom .

Alon]? de M art igizactraduzio tamb em em pro

fa ella Po et ica , o q ue fez , como teflemunha Bail

let , com fidelidade , exacçaõ , e limpeza. Naõ en

t ra em duv ida q ue elle Traduã o r excede a todos

o s q ue antes delle emprehenderaõ mermo t rab a

lho fem ainda exceptuar mefmo M ont”

. de M a

ro lles cuja traducçaõ he eílimav el, naõ ob liante

ccnfura q ue acima t ranferev emos.

M onf. Prepet it de Grammont q uerendo mof

trar , q ue tamb em em v erfo Francez fe podem v er

ter os Po etas Lat inos , traduzio nelle a Po et ica deHoracio . Suppo íla a efcrav idaõ da

'

rima conferv a a po fliv el fidelidade ; mas naõ fe pô de deixar

de dizer q ue po r conta della prizaõ faz dizer ao

Po eta em muitos lugares o q ue elle naõ q uer. Af

Hm o julgamo s por b aflantes pallos delle Trado

élo r, q ue t ranfere v e o utro q ue modernamente to

mou mefmo t rab alho na lingua Pranceza ; e b em

fent imo s naõ p oder ler t oda a fua Traducçaõ , para p odermo s fazer mais feguro juizo .

Hum Anonyma no anno de 1 75 2 imprinuo emPariz huma Verfaõ Franceza de todas as o b ras deHo racio em cinco v o lumes de 1 2 . Pelo q ue ref

p eita aArte Poet ica , q ue b e o que fé nos pertenaaaa cc,

T radu&o resFrancczcs.

Marolles.

M i rtignacã

Prepetit de

Grammont.

Anonymo a

Vicente Efpinel.

ce a Traducçaõ he b afiantemente fiel em expri

m ir o lourido do Po eta mas naõ em imitar a

b rev idade e v iv eza do feu ellylo p o is para t ra

duzir (eis v erfos do t exto p o em dezafeis na v er

faõ. Ob ferv e o o leito r e v erá como illo he nel

le t riv ial. Todos co nfeffaõ q ue he im pofliv el às

línguas v ulgares exprimirem-fe com a mefma preci

faõ com q ue fe explica a Lat ina e G rega , mas

tamb em t odo s pret endem de hum Traduâo r , q ue

mo ilre elle defeito o menos q ue poder , fem r ede

ólirem q ue primeiro clid fer fiel ao fent ido do

q ue fe traduz , do q ue ao fuccinto eflylo , em q ue

a tal co ufa fe dilfe . Ella fegunda circundancia a

cada palio fe eli -â fazendo imp ofliv el pela po b re

za de t odas as linguas v iv as a rel—

peito da G rega ,6 Latina ; po rém o faltar à fidelidade do t eatro he

confa fummamente repreh enfiv el , p o rq ue todo s o s

«Traduél o res em q ualq uer lingua podem e de v em

p raticar o contrario o b ferv ando rigo ro fa fidelida

de em q uanto a lingua o permit t ir ; p o is muitas ,e muitas v ezes naõ t em ella t ermos , com qu e p in

t e ao v iv o huma e o utra exprelfaõ do t exto . E

já Q_uint iliano fe .q ueixav a della po b reza na lingua

Latina o lhando para a riq uiflima ab undancia da

Grega. D izemos iflo p o rq ue defendendo nella

parte a Traducçaõ Franceza v imos igualmente a

defender a no lfa ; pollo q ue nos parece , q ue ab u

zámos muito menos da licença.

Os Hefpanho es tamb em t em feus Efcrito res

q ue t omaraõ a mefma empreza de q ue eflamos

fallando . Vimos a Traducçaõ de Vicente Efpinel ,e ainda a naõ v imos peyor. He em v erfo fo lto

fummatnente efcab rofo fem nelle imitar em algu

ma parte alguns longes da indo le de Horacio . O

p eyo r he q ue naõ entendeo muito do s teus luga

res mais principaes , nem traduzio muitas eXp ref

sões fem as q uaes fica languido o Po eta e fem

aq uella gala :, q ue he pro pria do

feu Vivo eflylo .

Naõ produzimos exemplos para pro v a di íio : er

pq ua

q ualquer pagina“

facilmente os acharã o leitor; Vi

mo s igualmente a Traducçaõ em pro fs de_7 06 0

Villen de B iedma. He huma interpretaçaõ . literal

do Po eta em q uanto ao grammat ico e effa com

b allant es defeitos. Pelo q ue refp eita ao p o et ico

em muy po uco co nduz para o Po eta p erceb er b em

o s p receito s de Ho racio . Cança—fe em explicar as

Fab ulas q ue occo rrem p elo t exto co flume muyfreq uent e daq uelles Interp retes q ue fe t entaõ a

tomar huma tal empreza fem medirem fuas fo r

ças com pezo : ab raçaõ o q ue facilmente fe achaem infinit os Antho res e fogem de fe meter a ex

por o fent ido genu íno e o s lugares difiicultofos

daq uelle , a q uem interpretaõ . A inda afhm incom

parav elmente Biedma he melho r , q ue o feu ferv il

co p iador aquelle q ue na no ffa lingua fez humalit eral interp retaçaõ a Horacio para ufo dos q ue

p rincip iaõ a conllruir o b ra q ue merecia fer p ro

b ib ida p o rq ue faz dizer ao Po eta coufas , q ue naõ

lhe podiaõ pairar p elo penfamento e fe acafo as

diifelle , como q uer elle Interprete feria hum pel

fimo mefit e de Po efia.

M as já he t empo de adv ogarmos a nolTa caufa paffando a dizer alguma co ufa fohre arno ll

'a

Traducçaõ e .No tas a mu itos lugares do texto .

Em q uanto à p rimeira parte faõ nos Críticos judicio fo s muy div erfas as fentenças fo b re as o b riga

ções de hum Traduélo r. Huns q uerem q ue leiahum fiel co p iado r naõ fó

'

das exprefsões , mas até

das mefmas p alav ras daq uelle a q uem t raduz : o utros

daõ mais lib erdade dizendo , q ue dev e v ellir comas galas da fua lingua aq uellas exprefsões ciegan

cias e fó rmas part iculares de dizer , q ue m lingua

do texto apparecem com adorno . Os primeiros q ue

rem q ue Traduôlo r exh ib a as mefmas palav ras do

o riginal p o r conta e o s fegundos p or“

pezo . Efles

p ara allim fe defenderem do imp ert inente efcrt u

lo dos outros , t em a fuprema autho ridade dos dous

mayores juízos da Antigu idade , Horacio na Po etieasier ii ca ,

ca e Cicero no Tratado de Op t im. Gerzer .

o nde fallando das Orações de Efch ino e D emo f

thenes , q ue t raduzira diz aflim '. Traduzi -ar , coa

fer v audo naõ menor ar mefmar [enter/ipa; e diferenter fo

'rmar de dizer que ar fgurar mar ex

p liqueirne jfeguudo o nagô cojlume julgando que

anã era precifo t raduzir palav ra p or p alav raÉQIÚJ ÉÍ ZÍO confer v ar a força e propriedade dor t ermor p orque entendi que ijlo de t raduzir nadlie dar ao leitor ur coujat p or conta mar p or p ezo

Co ndições D elta authoridade claramente fe colhe , q ue aPrºº f” para Traduc a b b re if ue c nfera b o aTraduc. çao p ra er oa , e p e o , q o v e

tªõ o com a fidelidade po lli v el t odo o caraãier , e indo le

do t exto , fem q ue, feja neceffario moflrarfe de hum

certo modo fuperflicio fo em co p iar o feu painel to

q ue po r t o q ue , como fez Erafmo nas fuas Traduc

ções do G rego po llo q ue com diflinfto mereci

mento .

Fidelidade. Nó s po r f delidadcnaõ entendemos o traduzir

literalmente , mas fim o exprimir q uanto fo r p o f.

fiv el ) fentença p o r fentença e figura po r figura

naõ accrefcentando coufa , q ue naõ fe lea no o rigi

nal e naõ menos t irando , o u mudando coufas q ue

nelle efiejaõ . Elle req uiftto fe acha em hum grau

de numero de Traducções e com efp ecialidade o s

confefl'a Pedro Nannio em Theodoro Gaza t radu

zindo a Ariflo teles.Caraâer. O carací ler , o u indole conflito em fab er confer

v ar na Traducçaõ“a mefma gala o mefmo ar , no

b reza e affe títos com q ue fe exprime o texto ,a

cuja circundancia p rºpriament e chamav aõ o s Ant i.

go s Corey. D e forte q ue para hav er fidelidade

h e p recifo fciencia e para hav er ella indole he

neceífario elo q uencia.

Q ialq uer delles req uifitos he muy difiictl de

co nfeguir e q uem fe diflingue em hum dríiicul

Exemplo s de t o famente tem o s o utros. Pro v emos iflo com alguns

13

3 3:d

exemplos de homens b enemeritos no M undo litera

rio ,

rio . Fraucifco Philelfo'

nas fuas Traducções foyFfªmºifcolª'h í

fuperflicio fo em naõ deixar de traduzir p alav ra doº fo'

t exto , po rém no exprimir com fidelidade o s p en

famentos , exprefsões , , e caraêler do o riginal , paffa

p o r.

muy defeituo fo ; de q ue he p ro v a b em ev iden

t e a Traducçaõ de X enofo nt e.

Pelo contrario [Vlarulio Ficiuo traduzindo aPla. Marâlío rící

taõ , eXprimio b em o s p enfamento s delle Filo fofo ,

"º'

e elle religio famentccuidou muito em v erter na lin

gua Lat ina t odas as palav ras do texto porém a

indo le , iflo he , aq uella mageflade e elegancia de

Plataõ dizem o s b ons C rí t icos q ue de nenhumm odo a p intara na fua co pia.

Po r outra parte o b ferv a Pedro Namnio q ue rapa Flo rcn.

Lupo Florent ino nas luas Traducções fo ub era de “ºº'

algum modo defenhar a indo le ou caraéler do o rt

ginal mas q ue naõ pallara de fazer h uma mo rte

co r , po rq ue fo ra mais feliz em exp rimir na v erfaõ

as palav ras e os conceitos do q ue o «3 0l do

Author traduzido .

Po rém naõ o b flante a fumma difi'iculdade , q ue

ha em fe unir em hum Traduc'l'

o r as citadas circunllancias ainda alli

'

m t emo s alguns no s q uaes

as adm iramos p rat icadas com efp ecial ditlincçaõ .

M onf. Baillet no feu gu izo foóre or b omeur [autor ,aponta alguns onde falla do sTraduélo res Francezes

nó s além delles q ue fazem hum lo ngo catalogocom part icular glo ria da linguaFranceza ,

accrefcentaremo s alguns do s ant igo s como Erapuo ,

B'

udeo , En fim ,,

Angelo Policiauo Hermola'o B aróaro Rodo/fo (leº

,.

Ang—elo

Agricola , e o utro s. Todos elles fat isfizeraõ felicif 5123332fimarnente às o b rigações de Traduflo res - exp rimiu Barliaro Í Rodo com grande cuidado naõ fé a fo rça das pala f

ºªfº lªg—“ºº"

v ras m as a dos penfamentos , e a do caraéle t efpeª'

cilico daq uelles a q uem t raduziraõ. D iílingne- fe

entre t odo s Po liciano , porq ue v iv iflimamente repre

fenta em tudo a figura , e indo le do Efcrito r , q ue

t raduz. E. fe algum defeito fe lhe aponta he o

de v encer a fua cop ia ao o riginal , naõ fe contentando

Razaõ p or

q ue fe fez ef

ta Traducçaõ

em v erfo fo l

(O.

tando com igualar mas com exceder de fo rte

q ue commummente pelo Traduõtor le defp reza o

t raduzido .

Suppo lla o b rigaçaõ q ue tem todo o que to

ma ella ardua empreza de fer fiel em exprimir naõ

fó os p enfamentos mas o mefmo caraã er e in

do le do Aut ho r traduzido confeflamos q ue fize

mo s q uanto cab e em no ll'

as fo rças e naõ q uanto

p ode a riq ueza da no ffa lingua ) po r fat isfazer a ef

t es req uifito s. Parece -nos q ue exprimimos 51 Po r.

t ugueza t odo o fent ido de Ho racio e p o r aq uel

le modo q ue he pro prio do (eu ellylo excep .

tuando aq uella precifaõ e b rev idade , com q ue el

le (e co ítuma explicar p orq ue iílo em q ualq uer

das linguas v iv as julgamolo por impofliv el trada

zindo -fe em v erfo . Boa pro v a diPto temos em tres

T raducções I talianas , duas Francezas e huma In

gleza nas q uaes o s v erlos v ulgares fempre exec

dem muit o em numero ao s Lat inos. Po r illo at t en

dendo à fumma diHiculdade q ue ha de t raduziu

v erl'

o Lat ino em v ulgar'mu it os lab ios Francezes

refo lv eraõ—fe fazer fuas Traducções em p ro la ;idea q ue t odav ia naõ appro v amos e as razões jáas deixamo s apontadas nelle D ifcurfo q uando fal

ª

lamo s de M oni"

. de M aro lles.

Como todo o no (lo empenho foy expo r comlib erdade e clareza o s p enfamento s e caraã er de

Ho racio q uanto co ub e nas p oucas fo rças do no (To :

engenho , el'

co lhémos para ella Traducçaõ o v erfo '

fo lt o como o mais p ro porcio nado para elle fim

p o rém como illo talv ez parecerá mal a alguns b om

fera q ue o s p erfuadamos mo lh ando -lhes b rev e

m ente o como a rima foy muy p ernicio fa à lib er

dade da Paella e efpecialmente o he e fempre o

fera em T raducções.Naõ ha q uem naõ faib a q ue os Grego s e

Lat inos le v araõ a Po eí ia ao auge da p erfeiçaõ. Na

Epica efpecialmente o s Po emas deHomero , e de

Virgilio ('e hav emos de confelfar a v erdade fa

zem-nos

O

Naõ he no íl'a tençaõ reprov ar geralmente o

u l'

o da rima antes co nfell'

amos q ue augmenta a

graça às compo í ições lyricas , e aquellas b rev es po e

í ias , q ue ferv em à mulica po rém corre muy div erí

'

a razaõ para naõ fe dev er ufar della naq uellas

o b ras , em q ue o Po eta falla e muito mais nas

x

o u

t ras em q ue elle fe efconde como he o «D ram

ma. Em o b feq uio da v erdade dev e-te clarament e

dizer q ue com a int roducçaõ da rima pallo u pa

ra os o uv idos aq uelle deleite q ue ant es cantav a a

Po efia ri o - entendimento ,e à imaginat iv a , pagando

[e o s homens muito de hum fom material , e de

huma efpecre de mulica p leb ea como lhe chamaG rav ina no feu Tratado de la Ragion Poet ica.

He v erdade , q ue h ouv e Po etas muy faceis e

naturaes em rimar mas naõ o b ftante toda a fu-

a

naturalidade , a rima o s fez ufar de certos rodeyo s

de exp refsões e de v ozes fem lignificaçaõ a

fim de armarem ao co nfo ant e. I íto fuppo lto co

mo era p o lli v el q ue podelfe a fua dicçaõ igualar

a de Homero ,e Virgilio e imitar com ella a p u

reza do feu ellylo? Só q uem pratica o efludo p_

o e

t ico naõ ellando p reoccupado he q ue pô de di

zer q uantas . v ezes a rima he caufa de naõ fe ex

p rimir tudo o q ue fe e daq uelle modo , com

q ue fe q uereria dizer antas v e zes fe naõ pode

p intar huma imagem com aq uellas co res q ue pe

de a lib erdade po etica ; p o rq ue a rima p rendeo o s

p enfamentos e o difcurl'

o em hum certo efpaço

det erminado ? D onde v em fer impolliv el , q ue (alémdo fallio q ue canta a perpetua unifo rmidade dosaccento s naõ (

'

e p erca a lib erdade de rep refentar

v ariamente as coufas , e de exprimir com v iv eza os

affeét o s.

C onheceraõ em Em a fo rça della v erdade as

Nações mais cultas. D eixando po r o ra a Italiana ,

o nde he mais ant igo o ufo do v erfo fo lto ,introdu

zido ha mais de duzentos e trinta anno s p elo feu

famofo Trzji na a Ingleza ufa delle naõ í ó

P

em

oe

Poetia D ramatica, mas tamb em na Ep ica de q ue

h e t e í l emunha o celeb re Po ema do Paraijo perdi

da. Os Francezes cedendo a necellidade uzaõ do

Verl'

o rimado p o rq ue os feus mefmo s co nfeffaõ

q ue naõ tem lingua q ue po lia co nferv ar a grav ida

d e p o et ica fem o arrimo dos co nfoant es. Entre nó s

t amb em houv e eile ufo em melho r feculo ,naõ (6

em D ramas , como aTragedia a í ro do no li“

cFer

reira mas em Po efia narrat iv a como o Naufrá

gio do Sepztlv eda p o r Jeronymo de Co rte eReal. Af

lim elle Aurho r naõ diminuille grande parte do feu

merecimento compondo em v erfo rimado as fallas ,

q ue int roduz no dito Poema.

Po rém naõ receb eraõ elle b om uzo todos os

no lTos Po etas diflinétos p o rq ue muitos fe perfua

diraõ , que o v erfo , em lhe faltando a rima tal

tav a lhe a grandeza , e graça e ficav a naõ menos

languido q ue faílidio fo . Erradamente fe perfuadi

raõ, po rq ue o v erfo fo lto he mais diílicil

, q ue o

rimado allim o mo llra naõ menos q ue o lafigue

Salv ini em hum dos feus D ifcurfar Academicor , o

M arq uez M affei no (eu Tam /t ro i taliana o fariiofo Po pe no feu Bafaya foóre a cr í t ica e o Tra

duõto r do Canto I . da liinda em I taliano , imp ref

fo ha poucos anuos em Lo ndres. A razaõ , em q ue

fe fundaõ elies Sab ios he porq ue a rima he b em

como as polluras no m ito das mulheres , q ue enco

b rem muito s defeitos porem o v erfo fo lto , como

naõ t em a q u e fe t o rne para caufar deleite , fenaõ

a b elleza v erdadeira ,faz q uanto pô de para fer i

'

a

t rinfeco o feu v alo r. Po r illo diz 0 Au tho r Inglez

do Socrater moderno , fallando delle ponto , q ue os

Verfos p uros fem a mafcara da rima ,feriaõ a me

lho r p edra de to q ue , para experimentar o v alo r de

hum Po eta ; p o rq ue no v erfo, q ue h e rimado , co f

tuma—fcdisfarçar muito ; p o rém no fo lto q uali naõ

fe fo ti'

re huma lev e mancha e huma (ó palav ra q ue

naõ í igniliq ue introduzida para ench er o v er .lo Os

rimados faõ muitas v ezes como os Latinos de mao

(e;

feculo ,nos quaes naõ ha de v erl

'o fenaõ o me

tro ; po rém o commum da gente naõ ella po r iílo ,

p erfuadindo-fe q ue naõ fe dá Po efia o nde naõ ha

aq uella unifo rmidade de fimilcadencias.

D o q ue deixamos dito co ncluímo s , q ue fe ari

ma he taõ fatal â lib erdadcdo Po eta q uando ia

v enta , muito mais o he , q uando traduz po rq ue

ella'x ligado a penfamentos , e exprefsões alheas. Po r

ilTo todas as traducções q ue co rrem com credito

no mundo dos Sab io s , fe l'

aõ de Po e tas faõ em

v erfo folto , como b em p ro v a hum infinito numero

delles , q ue ha efpecialment e em Italia e Ingla

t erra. Em feculo menos illullrado p elo b om go ílo ,

conheceo tamb em a tyranna int roducçaõ da rima em

t raducções o no licLeo nel da Co tta faco dindo o

jugo q uando v erteo em Po rtuguez as Belagar de

Virgilio e cuido q ue as Comedias de Terencio

q ue co nferv av a m. f. na ('na felecia liv raria nullo

grande amigo PD Jo feph Barb o fa Religio fo Theat ino q ue fo ub e luzir com dillincçaõ em huma Ç afa de Sab ios . Se o utros no (To s Traduct o res fizellemo me i

'mo feriaõ mais felices em funs emprezas

efp ecialmente ]oaõ Franco Barreto na fua Eneida

P ortugueza na q ual po r certo , q ue naõ feria in

ferio r à celeb rada l l'âdUCçJõ de Aniôal Caro fe

naõ uzara da ourav a rima.

Elfaq u i o s fundamentos po rque efcolhemos o

v erfo folto para a no ll'

a t raducçaõ . Só com ella li

herdade he q ue entendemo s , q ue po deriamos ralle

jar em exprimir aHo racio com t ermos fieis , e q ue

naõ defdiÍTeflem do feu caract er. Para mais o imitar

ate'fizemo smuito por naõ uzarmos de v erfo s fono ros

e nimiamente art ificio fo s ; ant es lhe demos hum cer

t o ar de proza , para allim exprimirmo s no pofliv el

o eflylo , e met t o do o riginal q ue he o q ue uni ª

camente conv em às Satyras e Ep ilto las. Largamen

t e o mo flraraõ Blo ndel e G rocio ,cenfurando com

razaõ aq uelles q ue daõ b em a co nh ecer o feu pcf

ilmo difcernimento naõ comprehendendo a efpe

cial

cial graça e b elleza Poetica q ue da'Horacio às

fuas Satyras , e Epifio las com huma certa efiudada

negligencia no metro ,e com hum ar de proza no

efiylo . Ella efp ecialidade do no fl'

o Po eta he taõ dif

ficil de entender como de imitar. (b anto s tem

emprendido imitarlhe o eflylo E q uanto s o co n

feguiraõ ? Po r certo , q ue muitos feriaõ ("

eus imita

do res , fe b aflafle í implefmente fazer v erfo s p rofai

cos , como diz o mefmo Po eta na Satyra 4 . do liv . I .

Naque enim concludere v erfumD ixerir ej

'

efat ir negueÁquirfcriôat u ti nor,Sermonip rop iom pu ta; b um ej? partam .

Ultimamente refta dizermos alguma confa ao

Leitor pelo q ue refpeita àno (lalllunm faõ'ao Tex:

t o ._Aflim

como na t raducçaõ feguimos a M r.

/

D a

cier allim nasNo tas caminhamos p ela eflrada q ue

de no v o ab rio elle fab io Francez , para o s q ue q ue

rem chegarap erfeita intelligencia della Po et ica. C om"

tudo com a mefma ingenuidade com q ue efcre

v emos iflo , confeÍTamo s igualmente , q ue o naõ fe

guimb s em tudo nem co piamos a (na do utrina à

maneira de Traducto r. A'

cada palio (como fe p oderá o b ferv ar fazendo —fe a confrontaçaõ ) accrefg

centamos mais luzes à intelligencia do Texto o ra

fazendo juízo do q ue dideraõ o s outro s Commen

tado res o ra co rro b o rando as doutrinas do Po eta

com .hum grande numero de Autho res Clafiico s

femnos efq uecermos dos da noÍlla Naçaõ q ue po

diaõ'

fazer nefle theatro no b re figura como b ons

imitado res de Ho racio . Igualmente o nde nos pare»

ceo precifo , cenfurámo s o s lugares de div erfo sAutho res a llim eílranhos como nacio naes repro

v ando nelles aq uelles v ícios q ue rep rehende o

Po eta ; o q ue tudo faz , com q ue as no flas Anno

t ações fejaõ em muitas part es div erfas das de D a

cier ; po llo q ue em o utras naõ podiamo s deixar de

o feguir tanto a elle como ao s o utro s b o ns Inter

p retes , fo b pena de entendermos mal aHo racio . Se

cab imos nellaculpa, temo s docilidade para confefai ai “

ll far

far o erro ; quando x no

'

lo prov e'

L eitor judiciofoe inl'rruido em materias po et icas. E fe com elie no f

fo t rab alho del'

pertarmos algum dos no ífos muito s

e grandes engenho s a t omar a melma empreza jul

gando no s de fracas fo rças para t amanho pezo , eu

t aõ daremo s o no (ib t empo po r mais b em emprega

do , v endo q ue fomos caufa de qu e a M ocidade

Po rtugueza para q uem unicamente efcrev emos

v ielfe a ter plena e p erfeita inlªrrucçaõ de humaArte q ue he a fo nte do v erdadeiro b om goâo da

quencra naõ menos poet ica , q ue o rato ria.

Ultimamente refia co nfeifarmo -no s com 0 Lei

t or de hum no v o efcrupulo , q ue agora nos occor

re. Ao t raduzirmos os v erfos'In v erb is criam t enu í f cautq zeferendí fD ixerir egregiê notav a cal/ida v eráum

Reddider í tjwnã um nov um

Tomamos a lib erdade de v ariar de methafo ra ef

co lhendo antes o v erb o forjar do q ue o de femear ; po rq ue reparamos em q ue a palav rajunã'm'a naõ fe appro pria b em , àmethafo ra elco lhi

da p elo Po eta , mas fim. à q ue defco b rio o Trada

êto r. O mefmo pareceo a div erfos amigos no lTos

q ue nella materia faõ b ons Co ntralies efp ecialª

m ente alguns de q ue fe compo em a Arcadia La

jí tzznfa Academia q ue honrará a. Naçaõ com inª

v eja àde Roma , q uando feus Paílo res pub licarem[nas o b ras.

C om tudo nó s po r ev itarmos a cenfura de ai

gum C rit ico nimiamente efcrtipulo fo refo lv emo

no s a traduzir fé para elle o lugar fob redito dia

zendo

No femear de. v ozey peregrina;Te mop m m

'f tamáem dzfcret o eparca

E dim'r muito b em fejudiciofa

Enxer tando datar v ozes ia'

faóidarCom dejreza

'

farmaref [um a nov a.

C om e ífeito o s int'

elligentes t iv eraõ p o r feliz eíia

traducçaõ po íto q ue ajulgaraõ defneceliaria; Ocer

certo b e q ue nella ha mais fidelidade , e ojunã ura do Po eta explica-fe com v iv eza a q ual em t

'

e

melhante palav ra naõ fe pô de defco b rir no texro

naõ fe fab endo , q ue connexaõ p o lia ter a v ozjanã'um v alendo -fe Ho racio dame thafora do femear.

O enxer tar parece q ue he fé o q ue a ella pô de

conv ir , por ficar conferv ando a melma translaçaõ ,

feudo v oz q ue pertence à agricultura.

Igualmente receamos , q ue algum efcrupulofo

em p onto de metrificagaõ tenha por duro o p rimer

ro v crfo da pag. 1 2 9 .

Veye E claylo depair e maír [zonejia (aºc.Po r hum v erfo naõ efiamos para fazer em fua dc

fenfa huma D ilTertaçaõ , mais facil nos he emendal

lo,dizendo

E cbylo depair zºeyo (j

ºe.

Os demais erro s q ue fe encontrarem faõ certamente da imprelfaõ , o nde laõ inev itav eis , po rmais

diligencia q ue fe ponha como co nfeÍTa todo aq uel

le q ue cab io na t entaçaõ de imprimir algum li

v ro , efp ecialment e q uando a letra he miuda ; po r

q ue nas pro v as fogem do s o lhos o s erros , e mui

t o mais em authoridades de linguas ellrangeiras.

Arto Poetica.

D e memb ros de'

animaes —de toda a efpecie ,

D e forte que mulher de b ello afpcéio

Em t orpe , e negro peixe remataffe ,V ó s chamado s a v er elia p intura

O rifo fo ifrerieis ? Po is comv o fco

Aflêntay õ Pisões , que a hum quadro delics

Se

a falta de í implicidade e unidade p o rque o v ariar he q ue cau fa,efpecial b elleza nas compo fi qões . Ou t ro s ha , que ent endem fero tal defeit o confa de muy p ouca ent idade e p o r ifi

'

o (quali defco nfiando da falta de experiencia da v o li

'

a v erde idade credito ,croa'onoo ajonmy oanav ofoa o p orfaadíws b om do que VOS digo e

naõ deis credit o às falfas dou t rinas do s m ão s Po etas. He p recifoadv ert irm o s que fe b em do v erfo v int e e q uat ro deita Arto fe

co lha , q ue Ho racio falla com o s P irã o: pay e filho s,com tudo

dev e—fe en t ender q ue (6 dirige eita falla e ainda t oda a Epift o la immediatament e ao s filho s como m anceb o s e neceiii tado s

de inftruccaõ,o que naõ co nv inha à au th o ridade , e b om go fto

do pay. J á no t em po do Commentado r Po rfirio fe ent endia iPt o

m efm o dizendo : Scriar? aa'Pz

'

fonos funfar nobile: dojortofgno patrono,Caº

]í lz'

os ºv al nt alii fv alnnt aol P ífanosfratres.P ífanos : Fam ilia illu ítre de R oma

,div idida em v ario s ra

m o s cujo t ronco era Calp o filho de BlRey Numa ; e daqu i

Vem o ferem chamado s Calpurnio s . C omm entado r ho u v e q ue

efcre v eo q ue Ho racio dirigia a fua Arte a Cuco , e M arco fi

lho s de Cneo Pifaõ , marido dePlancina, a qu e fe m at ou a fi mcf

m a p o r fer accufada de dar v eneno a G ermanico . Po rém“

naõ

p odem fer e íªtes o s Pisões de que falla o Po eta aliim p o rque o

p ay era de hum natural feroz e v io lent o fegundo Tacit o o

q ue naõ co nco rda com o caract er fuav e qu e lhe dá Ho racio

nella Ep iíªro la como po rq ue o s fi lho s no t em p o em que elle

efcrev ia , eraõ de muy t enra idade ,e p o r ifi

'

o ainda p ouco ac

comm odada p ara inftrucgões. D e quem falla p o is he do s Pi

sões filho s de Pifaõ chamado Cofinz'

a, defcendent e do Cenfo r Ln

cio Pifaõ , pay de Calpurnia , mu lher de Julio Gefar . Foy Con

ful com D rufo Lib o no anno de R oma 7 38 e t ev e grande v ali

m ent o com Augu fªt o , e Tib erio . Veja—fe a D ion ca Tacit o .

Mi manha faro [iarana p orjí n n'

lenz: N aõ fe contenta Ho racio

com dizer , q ue fem elhant e a cit e m onfiro ferá t o da a o b ra em

q ue naõ hou v er í implicidade e unidade mas que ferá nany/onze”annie ,

6 D e Arte Poetica.

Per/Zmílem , cujas v elar regríjamnitz v amo

Fioga/nurjpecíes ut necpes neccaput uni

Redrz'aturforma; . Piã aribus atque Paetis

Quid/Met andenrlí jampa/”

jim? regua petalas.

S ellnas 67 bane v enirzm perímufque, damn/que v ícijím

Sed .

llaante, para t irar ao s Pisões t oda a duv ida q ue p odeffem t er , e

p ara q ue naõ fe deixafTem allucinar do cont rario q ue lhes infp iraffem o s maos Po etas.

Llarnm : Ainda que clªra do u trina fe v erifique em t oda a o b ra,

de qualquer natureza que feja com tudo o feu int ent o he fallar

efpecialm ente do"

.Po ema Ep ico e D ramat ico ; p o rque fó deflas

duas efpecies he que t rata com mais part icularidade ,e da Po efia

Theatral ainda mais que da Epica po r fer comp o í icaõ que t o

do s o s dias fe o u v ia e a q ue mu it o s engenho s fe incliuav aõ e

p o r iíl'

o digna da p enna de taõ grande Crit ico .

Velmª

(egri famnz'

a : Bem fcfab e quanto faõ deprav ado s v a

rio s ext rav agantes e p ouco fegu ido s o s fo nh o s p ela co nfufaõ

das idéas p o iS'naõ fe cont enta Ho racio de fazer a comparaqaõ

com o s fonh o s de quem eitafaõ m as com o s do enferm o p o r

q ue o s humo res p erturb ado s ainda o s fazem fer mais difparatados,e meno s feguido s.

Vanoe eÁaerz'

os : I íªto he, ideas v ãs , de coufas q ue naõ fe achaõ

na natureza fó fe daõ na cab eça do s enfermo s do s louco s e

do s m it o s Po etas. Acho alguns C omm entado res q ue afiirmaõ

fallar Ho racio nefªte lugar fo b re a dwaajçaõ p o rém quanto a.

m im erraõ p o rq ue fó falla da inv ençaõ como fe co lhe claram ent e das palav ras , q ue fcfegu em : Ut necpor noa rapaznní reel

datnrfarme . Se o Po eta t rataffe aqui da difp o fi qaõ m onftruo fa

faria co nfi ft ir a m onítruo fidade em ter a figura v . a cab eç a

no lugar dos p és e elles no lugar fuperio r para elle m o do

m o itrar huma difpo í i çaõ cont raria anatureza. Po rém o q ue Ho

racio dá a entender clarament e he , q ue fó falla da inv encaõ m o nf

t ru o fa , em q ue o s p és e a cab eça naõ fe p ro po rcio nao a fôrma.doco rpo t o do . Veja-fe aJafaõ de N o res , e o co nfirma Lamb i

no Ut nallam aorparls memornm aol unam aliqnam latin: corporisfor

Arte P oetica."

7

Será muy femelhante aquelle liv ro ,

No q ual idées v ã s fe reprefentem ,

(Quaes o s fonhos do enfermo ) de tal modo ,

Que nem pés nem cab eça a huma fó fó rmaCo nv enha. D e fingir ampla licença

Ao Poeta , e Pinto r fempre foy dadaº

Allim he ; e entre nó s tal lib erdade

Pedimo s mutuamente e concedemo s ;

mam referrí pají t 'v el at nallam carparís membrana ani farma prapartiano rejaana

'eat .

P iz-Torloni , orgao Paotz'

s : D acier co p iando aPedro N annio , a

Jafaõ de N o res a Lamb ino e ou t ro s diz que o Po eta faz aqu i

h uma efpecie de D ialogo , fingindo q ue elias palav ras faõ humainfªtancia que lhe faz algum adv erfario foh re a lib erdade que

t em de fingir t ant o o s Pin t o res com o o s Po etas. Finge p o is

q ue lhe diz alguem Os P lnr'

ares e as P oetas fompro tlnoraõ iguallicença deje atrev orom a empnena

'er tada e nunca t ev e alguem a

lib erdade de lhes p ergun tar _a razaõ de feu at rev iment o .

Scimnr : R efp o nde Horacio , nom afey , nem o meu animo he

o pp o rme ao s grandes p riv ilegio s do s Pint o res e Po etas em in

v entar. D epo is de ter dit o frimar q u eria cont inuarfool nan ifto

h e , mas naõ ha de fer tanta a lib erdade y qu e po rém o s m

m o s im pugnado res o interromperaõ cont inuando a dizer :

Et Íaano 'v enz'

am pet ímafaae damafaae 'v z'

ozf ím : Com o fe diíTef

fem e naõ v o s adm ireis p o rque praticamos kama confa , ane appro

v amor nos ann a: . O s ant igo s Comm entado res en t enderaõ elle v er

fo de ou t ro m odo com o q ual naõ p oderaõ co nco rdar o s melho res m o derno s. D iziaõ elles , que Ho racio com o Po eta p edia a

dita perm idaõ Hana v eniam pa lmas e como Crit ico que tam

b em mu tuam ent e a dav a D ama/ano p ior:/mªm . Po rém eita intelli

gencia naõ m e parece genu ína p o llo q ue o Padre Sanado a

de contrario parecer 5'

p o rque como odia Ho racio p edir licen

ça para a dita lib erdade , fe elle fe nao confiderav a com o Po eta

nem já mais efcrev eo Po ema Ep ico o u D ramat ico com o elle

m efm o diz em ou t ro lugar- della Art e nz

'

lforiaens z'

pfo Q uant o

m ais q uem fo r prat ico do e í lylo de Ho racio v eraq ú e elle ef

cu ro m o do de int roduzir dialogo he muy co nfo rme ao caraéler

do feu dizer. M onf. D acier quali que dá a entender '

que h e o

8 D eArte Poetica.

Seal nan ut placidia oaeant ímmí tz'a nan ut

S erpentes ânions geminentur tígribus agnz'

.

I ncaptís graaibus plerumque nª

magna prafçãls

Pur

engenhofo inv ent o r della intelligencia p o rém cem anuo s antes

delle a t inha dado com o adiffe )Pedro N annio a quem naõ

allega, com o b em lhe m o ffra o Padre Sanado u .

Sea'nan at plarz

'

olz'

s oae'

ant Ago ra he Ho racio o que ref

p onde Se q uereis Po etas que v o s dê efi'

a am pla lib erdade ,

eu de b o a v o ntade v o la do u , mas com a condieaõ que naõ ha

v eis ab u far della , p ertendendo unir o agrefle com o fuav e , as

p ent es com as av es e o s co rdeiro s com o s t igres . Tenho para m im q ue Ho racio (fuppo f

ªro o exemplo do s Pint o res para a

nimia audacia do s Po etas fe lemb rou das p inturas de gru t efco ,

em queaan

fantalia deprav ada p int a figu ras humanas rematando em

fo lhagens ferpentes em t ro nco s e o u tras femelhant es ext rav a

gancias q u e ainda hoje v emo s e que Vit ru v io já tant o cenfura'n o c. do liv . 7 . q ueixando -fe do s que p o r hum t al m odo fo

gem de p intar aq uellas v erdades regulares e ideas v ero fimeis

p ara fegu irem fantaí ias m onfªrruo fas. Aº

maneira defies Pint o res

faõ o s mao s Po etas a art e de huns e o u t ro s con í i fie na im ita

çaõ da natu reza p o rém em lugar de p intarem o q ue he o u v c

ro fim ilment e p ôde fer , paffaõ a ab ufar da fua arte , occupando- fe

em p inturas incompat ív eis , que de ílro em o u a v erdade o u a v e

ro femelhanqa. A caufa p o rque huns t aes Po etas peflimament e

aconfelhado s pela fua eflragada imaginat iv a fe affaf'taõ do s feusali

'

ump t o s p ert endendo unir coufas ent re fi incompat ív eis he

ara m o f'trarem ab undant e riqueza de ideas div erfas ; femelhantes

aquelles v iandantes , que dev endo fegu ir o cam inho direit o fahem

fó ra da cifrada , p ara v erem font es , b e fques , e rio s. N o s fegu in

t es v erfo s do no ílb Poeta t emo s huma p ro v a , que co rrob o ra o fob redit o .

Inoreptz's gra

femas,aleramqae (a

ºmagna ,

arafejír D epo is de daro p receit o geral pall

'

a ao part icular apontando o exemplo da

v ariedade , q ue co ndemna. Q iantas v ezes diz elle em affumpt o s fub lim es e marav ilho fo s defcahe o Po eta efmerando -fe em

deferev er v .g. hum b ofque o altar de D iana o curfo do R he

no

'Arte Poetica.

M as naõ ha de,fer tanta , que fe ajunte

Agrefle com fuav e , e queira unirfe

Av e a ferpente cordeirinho a t igre .

Commummente a'

princípios de G grav es ;E que tratar promettem grandes co ufas ,

no o arco Celelªce &Cc. S emelhant es deferipeões faõ ju lia:m ente com o o s remendo s de pu rpura em hum v ef

ªt ido fim fao

de b ella v ifªta, mas faõ remendo s , q ue nunca aju ílaõ b em com o

t odo . N elºre lugar naõ p o ffo deixar de m e lem b rar de Ario fto :

cant a elle no leu Orlando a guerra de Carlo s , e de Agramant e fo

b re Pariz , Argum ent o grav e , e illu í i re , iílo he inerep tis grav i

bar , Caº magna profeyz

'r p o rém efq uecido da grandeza delie afl

'

um

p t o enche a fuaEp o p eia de infinit as digrefsões , o u t edio fas p ela

ext enfaõ o u defconv enientes p ela alt eraqaõ da unidade . Algu

mas fim faõ b ellas e agradav eis mas demafiadament e cont inua

das e alheyas da em p reza principal iPco he cam lara: Egºara

D iana , 6976 . e d aq u i v em o ferem dignas de reprehenfaõ p o r

q ue naõ o b fªtan t e t erem alguma b elleza parparoas latoaai/plandear ana: alt er af o itar ,

aannar o lugar naõ era p ro p rio para.

fazer o it ent aç aõ dellas Sea'nano nan orar lais lara: feudo fó ac

comm odadas p ara no v ellas o u para p oe fia Com ica e Satyrica ,e naõ para Ep ica. Fiq ue p o is adv ert ido o Po eta p rincipiante , em

q ue a v ariedade das co ufas fim augm enta a b elleza p o et ica , e de

leita mu it o ao leit o r , mas ha de fe u far com art e e difcrieaõ

delta v ariedade de maneira q ue pairando—fe a dizer co ufas naõ

m uit o neceffarias nem p ro prias do argum ent o v eja—fe que fe

falla dellas naõ fo rçadam en t e , e fem ju izo mas com m o t iv o o p

p o rtuno e co nducent e a materia p rincipal. He term inante a

dou t rina de Vida no liv . da fua Po et ica.

Qaanalogaia'em nt v ariamfi t opa: [namaao indo v alaplar

Graia v enir renas] nan nfaae noeroair in iifdern .

Verano aai v ir animir v ariarjireoarrore fejir ,lngreolerifaae nov asfarias , roramaao figurarPaulatim rap ta primir a

'elaaoro eceptir

Tempore nee pajlis inn! v ialentia robar.

Omnia[aontefaa v oniant lateataae v agandi

D alai: amar canelamgae polen: laaar accalat

1 0 D eArtePoe'tica.

Purpurezts late qui fplendeat unas alter

.Ajuítur pannas cam lucas , ara DianaEt praporantis aqure per amamos ambitus agras'

Aurflamen Rhemma, aut pluv ius dejcrí bitur arcas.

Sed nuncnon erat his locus : CTfortwo cztprrj am

Scisjmulare . Quid Izac ji fraáiis enatacear/pes

Na

Cam lacas Caºara D iana; Segu indo a Theodo ro M arcilio

entendo, qu e Ho racio naõ falla aq ui de qualquer b o fque , e altar

confagrado a D iana m as determ inadamente do b o fq ue , e altarde D iana Á ricina ou Nomorenfo. A razaõ que t e v e para ella ef

co lha era fer o dit o b o fque o rdinario affump to do s Po etas R o

mano s e até O v idio o pinta no 3 . dos Fadas.d at flamen R/aenam Ufamo s do epithet o decantada p o rque

fem duv ida allude aqu i o Po eta às mu itas deferipgões do Rhenofeitas po r occafiaõ de fe celeb rar as v iõto rias de Augu fto no dito

lugar e fegundo o feu fatyrico co fiume zomb a aqu i do s m eio s

Po etas lemb rando - fe das ditas p ro lixas deferipgões com que

tanto cangav aõ ao s leito res.

d at,alav ias dofcrioitar arcar : Os ignorantes de Po efia em t en

o occafiaõ de deferev er huma co ufa q ue o s admira , para b em

a exp rimir , parecem-lhe p oucas t odas as palav ras exp refsões

e conceito s e daõ em huns t erm o s ou taõ inchado s o u taõ ri

diculo s que a afªf'

eâaqaõ com pete com a puerilidade . Haõ de

v . g. defcre'

v er o arco Iris e adm irado s da b elleza e v ariedade

de fuas co res para exprim ir t aõ b ello fenomeno ent endem ,

q ue fera p ouco t odo hum Po ema intei ro fem aprenderem da

p rudente econom ia de Homero ,e Virgilio . Amb o s t iv eraõ cem

v ezes occafiaõ para defe rev er o I ris e amb os o fizeraõ fempre

em b rev es claufulas. Virgilio naõ occupa mais que dous v erí os.

Ergo [rir craceirpor creiam rofcida p ennirM ille rralaens v arias adv or/ofale calores ,

Como ('

e parece ifªt o com as p ro lixas deferi

'

pqões do no íl'o M ano el

Thomás naõ m eno s na fua lnfalana que no feu Fonix da L

nza,occupando o itav as , e o itav as em deferev er coufas , q ue ape

nas mereciaõ quatro v crfos. N ella materia faõ intolerav eis (

%s

Hc

iz D eArte Poetica.

Nav iôus cere dato qui pingitur ? ampbara ccepit

Imaruí carrente rolê cur urceus exit >

D eniquejit quad v is ,jimplex dumtaxat , ta'unam

iM axima pars v an/m pater G

'

jnv enes patre digni

D eci

ferv e a hum Po eta fab er fazer paffageiram ente hum a defcripcgaõ,fe t oma

po r em p reza cantar huma illu ftre acqaõ x

Ho racio allu

de aq u i aq uelles Pint o res q ue p in taõ o s paineis a q ue nó s hojechamam o s de milagre e a q ue o s R om ano s dav aõ o nom e de ta

b ella v otiv a , o fferecendo —a a alguns D eo fes (efpecialm ent e a N e

p runo ) o s q ue efcapav aõ de algum naufragio . Allim o t efiificao np Po eta : M e taenla facer . Vativ a parier indicat laamida

Safpendzje potenti Vejiimenta mari: D ea. Eju v enal na Satyr. 1 4 .

M er/d rate naufragar af emD am rogat , Ca

º

piêidfe t emp o/iate taetar.

Amphora coopit injlitai , carrente rata',car arcear exit ? Aqu i tea

mo s fegunda imagem t irada do o fficio de Oleiro ,e digamo s af

fim o u tr a m onlºtru o lidade igual àdo laamana capiti Gc. e do

ferpentos av iaar , õaºc. po rq ue amploara e arcoar faõ do u s v afo s de

fó rma b em div erfa. O p rim eiro lignifica huma grande t alha e

fegundo hum p equeno .jarro . O ra dizHo racio , q ue hum Po e

t a q ue dep o is de t er com eçado a cant ar fu b lim em en te ,defcahe

em fazer defcripeões q ue faõ o b ras prº prias de p rincip iant es

h e b em com o hum O leiro q ue com eçando a fo rmar hum gran

de v afo ,acab a fazendo hum jarro p eq u eno .

D eniqaejt qaad v is angelax damtaxat isºanam N e íle fó

v erfo inclue Ho racio q uan t o at é aq u i t em dit o conclu indo , q ue

o aflitm p t o no Po eta dev e fer amplos e fazem [o'com o fem pre

Vem o s o b ferv ado em Homero ,So focles e Virgilio Efiacio e

o u t ro s nella parte naõ fe dev em im itar. R eo do m efmo delielo

h e o no fl"

o M ano el de S oufa M o reira no chamado Po ema que

com p oz do s t rab alho s deHercules p o rque nelle naõ fe fill'

JC

onde citaa"unidade e í implicidade da Acqaõ . A refpeit o dellª

tao

.Arte Poetica.

1 ;

Se por preço ajuflado te encommendaõ

Pintar hum naufragante q ue fe v eja ,

R o to o b aixei , a diferiçaõ das ondas ?

Começo u—fe a fo rmar hum grande v afo

E porque hum jarro fab e , fe a roda gyra ?

III .Seja o que feefcrev er hum corpo fimples

Hum co rpo fó . Poetas q uali t o do s

(O'pay e de hum pay tal o dignos filhos

taõ p recifa e recomm endada unidade h e necefl'

ario adv ert ir ao

leit o r que a fab u la p o et ica p ó de t er partes int rinfecas e ex

t rinfecas. As int rinfecas e neceffarias faõ aquellas coufas q ue

p recifam ent e conco rrem a comp olla b em com o o s memb ro s

conco rrem p ara fo rm ar o co rp o fe dellas part es t irarm o s ou

m udarm o s alguma, b em fe v ê q u e ficará a fab ula taõ mudada ,e div erfa com o o co rp o mudando fe—lhe o s m emb ro s que re

ê tam ent e o comp o em . Part es ext rinfecas , e accidentaes da fab u

la faõ aquellas cou fas , qu e fó lhe ferv em de o rnat o affim com o

no co rp o o s v eftido s e ado rno s o s qu aes naõ lhe p odem def

t ru ir a extruótura t irada alguma dellas p artes fem pre a fab ula

fica p ermanecendo in t eira p o f'to que às v ezes fem formofura.

Eu m e exp lico mais claramente com a fab ula de Efigenia : N ef

t aAcçaõ o fer ella infeliz defiinada para facrificio , o t er defappa

recido de Aulide e fer lev ada para t erra eflranha ; o p o rfe a fa

crificar o s efirangeiro s que chegav aõ ao dit o paiz o chegar aella feu irmaõ O relies , e finalm ent e o fugirem am b o s da referi

da t erra , tudo ifio faõ part es int rinfecas defªra fab ula p o rém a

loucu ra de O re íi es , o m odo da fua chegada e ou t ras femelhan

tcs'coufas faõ part es ex t rinfecas da acçaõ iíªto h e

, ep ifo'dio s ,

e a clics naõ fe o ppo em Ho racio no fob redit o p receit o ,mas fim

à falta de unidade no q ue co nfiitue as part es int rinfecas da fab u

la. So b re ella m ateria v eja—fe o que efcrev em o s largamente na

no fl'

a Á rte P oetica .

P ater Caº

jav aner D u -Hamel nas fuas no tas a Ho racio en

tende e íle lugar co n tra o commum do s interp ret es que t emo s

v iflo . D I Z que p o r ,oater fe ha de entender , naõ Pifaõ o pay m as

Ennio , como p ay dos Poetas Lat ino s e que porjav enes fe enâen

em

1 4 D eArtePoetica.

D ecipimnr [pecie reáii brev is ej'e laboro

Olyfcurus fia. Seótantem [av ia nerv i

dem os b ons Po etas moderno s e naõ o s filho s de Pifaõ accref

centando , que he igno rancia a commua in telligencia , q ue ou t ro s

C ommentado res daõ p o rque Ho racio naõ hav ia co ntar no nu

m ero dos Po etas nem info rmar do s p receito s da Po efia a hum

h omem como Pifaõ já cheyo de annos e de dignidades . Po

rém nó s feguindo aHenrique Glareano ,a Francifco Lu ií ino

P edro N amnio ,e ou t ro s , naõ aceitam o s ella int erpretaçaõ . N aõ

fab emo s onde M onf. D u -Ham elachou , q ue Ho racio nefªca paffa

gem alludia a Ennio : o v erfo q ue ap onta do m efm o Po eta :

Enniar ipfe patar namgnam ninpatas ad arma

Pronlait dicenda

b em'

fe v ê q ue naõ p ro v a mais fcnaõ que a Ennio p or Po eta

ant igo lhe dav aõ o nome de Pay. S e fe enco fªtou à au tho ridade

.de Acro n ,della naõ fe co lhe fenaõ q ue Ho racio ent endeo pa

tar p o r nte/tre ejav encs p o r difcipalas o que naõ dev e fazer p e

2 0 p o rque Acro n he muy p ouco coherente nas fuas in t erpreta

ções , com o já. adv ertio o referido G lareano . Í taqae adpo trem La

ciam Pifonam acaja: jilios fatis claret exfeaaentioas P oetee v arais

p at er , ju v e'

nes pat re digni : aai inap to meojadicto Á cro axponit ,m agifier difcipuli. no initio aatem loajas Operis idem exponit ,ad pat rem ,

filium v el u t alii dicunt ad frat res. Hoacilla

adao nilail apud lannccerti of . Ultimamente naõ defprezando

I erpretaqaõ de D u -Ham el fegu im o s a co rrente do s m elho res illu ftrado res de Ho racio q ue apont ámo s e além delles a Jaco bC ruqu io que claram ente diz allim na expo ficaõ delle lugaEji apojropna ad P ifones , Eg

ºordo c# : O

'patar , 69

jav aner patro di

gni nos maximapars v atam decip imarÁaecio rect o Cfc. D onde fe v ê

con t ra o Commentado r Francez , que Ho racio aqu i naõ p ert ende

info rmar a Pifaõ o v elho do s p receit o s p o et ico s , nem ainda im

m ediatam ent e a feus filho s : o q ue faz he m o firarlhes em ap o li t o

fe o q uan t o a mayo r part e do s Po etas fe enganaõ com a apparen

cia do b om , e ifto naõ he querer in ílru ir a hum homem v elhoh e fallar com elle como a peffo a a quem dirigia a f ua o b ra.

D ecipimarjoecie reil i Para cap tar a b enev o lencia do s leito

res conta- fe Ho racio no numero daquelles Po etas q ue fe enga

naõ com a imagem do b om . Jaco b G rifo lo comm entando eltas

p alav ras diz , q ue o Po eta p alia aqu i a difco rrer fo b re a parte dos

co fium es e da fentença m as engano u- fe , como b em no ta Lam

b ino e D acier. Ho racio naõ pertende dar aqui hum no v o precei

t o

Arte Poetica.

C o”apparencia do b om nos enganamos.

Se faço por fer b rev e , fico efcuro ,O que

t o ; mas fim ageral razaõ do s defeito s que deixa apontado s. D iz

p o is que nas o b ras da art e co fiuma hav er grande engano allu

cimando -no s o m ão com a apparencia do b om ilio h e entende

hum Po eta q ue com huma deferipcaõ faz b ella e p omp o fa a

f ua o b ra , e mu itas v ezes deita—a a p erder. Ella interpretaçaõ h e

q ue tenho p o r genu ína. D aqu i fe t ira tamb em p or confequenci

quanto he diHicil o citado p o et ico p o is q uando queremos fugir

de hum p erigo encon tram o s logo com ou t ro .

B rev is laoaro aafcnrasfia Po r naõ mo l'trar arrogancia

t o rna a p ô r em fi o s defeit o s de que t rata , p ara com eita m odef

t ia int roduzir m elho r a fua dou t rina._]afaõ de N o rcs diz , que

Ho racio confeffa aqui ingenuament e a efcu ridade do feu eftylo ,

p o r amar m uit o a b rev idade com o confeliª

av a Graffo fegundo

C icero Hocv ideo dam brev itor v olaorim dicere difí am ame d a

paalo oa/cariar. O cert o he que a b rev idade no dizer fim he hu

m a das m elho res b ellezas que p ôde t er o difcu rfo mas b ellezas,

q ue facilmente p erdem t o do o feu b rio com a efcuridade . D efªte

v icio he argu ido Tucidedes ent re o s G rego s e Perfi o entre o s

Lat ino s . A Po efia de Hefpanha no feculo paliado q u ali q ue t oda ado ecia do m efm o m al que com o cont agio fo p afi

'

o u tamb em

a nó s,e inficiono u a infinito s Po etas m as p refent em ent e o nof

fo Parnafo já refpira ar m ais faudav el. A b rev idade digna de louv o r e q ue Ho racio recommenda h e aquella a q uem fempreacom panha a clareza , a

'

q ue naõ ufa de palav ra, q ue naõ feja neceíl

'

aria, nem de t erm o s ocio fo s , e exub erantes m as fómente do s

p recifo s. Os p rincipaes exemplares defªra v irtude faõ Gefar , Ci

cero efpecialmente no t ratado de Samaia Scip ionir e o grandeVirgilio . Todos elles fe explicaõ com a m ayo r b rev idade p orém de modo que ninguem deixa de o s perceb er. A efªtes m ei?

t res fegu iraõ na p ro fa e no v erfo o noffo Jacint o Freire , 6 Pr.Bernardo de Brit o Vieira nas Cartas quant o fo ífre a mat eriaFr . Lu iz de S ou fa na p ro fa e feb re t odo s D iogci Bernardes emfuas Po efias C D uarte R ib eiro na Vida da Imperatriz T/aeodoraob ra nefce genero de fummo merecimento .

Seftantem lev ia,nerv i deficiant : A cada v irtude anda junt o o

feu v icio . O Po eta que quer dar ao s feus v erfo s e exprefsões

grande fo rça arrifca—fe a parecer arrogante e a mo ílrar quet em M ufa gro ffeira ; p elo contrario o q ue n im iament e cuida em

p olir as fuas ob ras b ufcando a muita delicadeza cahe infenfiv elmente

at é D eArtePoética"

:

D eficizmt animique : profana grandia target

v elmente na froxidaõ . So b re cite p o nto allim efcrev ia o noffo judielofo Ant onio Ferreira a feu am igo o fuav ifiimo Bernardes

M ar diligente a lima af im reformaTea v erj) , one naõ entre p elafaõTornando em v ez do arnalla entao

"

disforme.

O v icio, que fo da

'ao P intor

, gae _

a mao

Na/õfaae orgaer da taaoa foge a graça

Tiraõ girando alganr caidaõ ano a mais daõ.

Roanda o tri/ie v er/o como traça ,S omfangne a deixao

'

fem efpirto e v ida

Ontro o parto femfarma traz apraça .

Ha nas coa/arnam jim na tal medida

Que qaanto paja oafalta della lae v iciaHe necejaria a emenda oem regida .

N eceí aria no (confeí a)a artificioM as ajeitada ampere à tenra planta

0 muito mimo a maite b enefcia.

r

.d's v ezes o que v em primeiro tanta

Naturalgraça traz que kama das nov e

D eo/as parece ano a inÁoira e canta .

D aqui fe t ira q ue a affeõtaqaõ de nim iamente p olir as o b ras he

caufa de as deixar fem efp irit o e fub ltancia. Tem o s (fegundoN o res) hum claro exem plo na Ode de Pe trarca , q ue princip ia :

Amor mº

na pano comofegno aljirola, fi c.

N ella o b ferv ará o leit o r hum p o liment o t aõ elludado e excefli

v o , q u e lh e parecerá a dita Po efia como hum co rpo defanimado .

Pelo cont rario em o u t ra , que com eça :

Rott'e l

l

alta colona eº

l v erde laaro (aºc.

Verá hum eftylo o rnado e po lido mas igualmente ro b u fªro à

m aneira daquella naõ m eno s o rnada que nerv efa o efcrlpqaõ de

Virgilio no 6 . da Eneida .

P rincipio calam acterras campafaae liqacnter,a entemaae gloaam Lanta, flytaniagaaafiraSp iritus intas alit , Cde.

'Hrta Poetica?

O que fe cança em nimio polimento ,

Perde a fo rça , e furo r , o que fe elev a

Palfa de fer fub lime a fer inchado ,C

Po uco he p recifo para conhecer , que nefies v erfo s ha tanta delicadeza , e o rnat o como efp irito e grandeza v irtudes fam iliare

s

do grande Ep ico Lat ino p o r quem fe dev e ler femp re para nao

fe cahir no v icio ap o ntado p o r Ho racio .

P rofejurgrandia turgot : Quando p retendem o s fallar com t er

m o s fub lim es, he fumm am ente diHicil naõ cah irm o s em exp ref

sões inchadas p o rque a affeétaçaõ he o v ício que citap ro X

m o agrandeza no dizer . Jacint o Polo , celeb re fau t o r da v icio fa

grandilo q uencia nas fuas Academ ias chamou aguia ao gyrafq lse Pelª/ament o do: manto: appellidou Anaya ao gamo , p o rém o Princip e de L igne no Panegyrico a B lRey D . Pedro ainda diífe mais,

chamando - lhe pon/amento com pollo . (h mm t em ligaõ do s Poetas

do feculo pali'

ado b em fab e quant o he nelles v ulgar chamar ao

S o l ardente coraçao"

da Cao a hum rio farpante de prata ao o rv a

lho daau ro ra lagrimas das e/lrellar e ou t ras femelhant es ridícularias cah indo nelles defpenhadeiro s quando p retendiaõ f

ub lr.

Ent re o s ant igo s naõ faltaõ exemplo s fem elhant es a elles 6:pcralment e em Eílacio e Lucano . A elles feguem femp re (oudizendo melho r ) adiantaõ —fe no s atrev imento s põet ico s o no ífo

B o telho no feu Alfeu/o Henriq ues G omes no San/on Nazareno ,

e o u t ro s q ue o s de b om go flo b em co nhecem , Po etas q ue da

r iaõ largo afl'

ump t o à cenfura de Ho racio fe v iv eíl'

em na

idade . Conv em p o r ult im o adv ertir ao s p rincip iant es qu e a in

flagaõ , de que o Po eta falla nefªt e lugar , p ôde proceder de mu i

t o s e div erfo s p rincipio s com o v . g. de conceit o s hyperb o li

co s, em q ue mu itas v ezes p ecca o Ario ft o o u de cont extura de

v ozes, que façaõ hum num ero po et ico nim iament e at rev ido ,

ou

t amb em de perifrafes muit o efquadrinhadas de m etafo ras muyfrequent es , de epithet o s mult iplicado s , e de com parações amiudadas. Igualmente p óde nafcer humas v ezes de rep e t ições dehuma m efma confa p o r div erfo s m odo s o u tras de ufo de v o zes

no v as, o u ant igas ufando -fe dellas fem econom ia e fem ju izo .

(luem fo b re ella materia qu izer larga in ít rucqaõ lêa o eflimadifEmo t ratado do Sublime que efcrev eo Longino e o P .Bouhurs

naM aniere de bienpenfer.

1 8 D e Arte Poetica.

Serpit mani tatus nimium timiduf/ue procallee.

Qui v ariare cupit rem prodigialiter nuam

D ella/imunefylv is appiugit jluô

'

libus apram

I n v itima duair Clllp rejllgtl ,ji carai: arte.

IV.

E mi/iam circa ludumfaltar iznus 67 ungeis

Sarpit lzumi tutu; nimium : R ecommenda aqu i a mediania , p ara fe ev itar o s ext rem o s do s v ício s. O i ndicio fo ]afaõ dcN o res

nella p aíl'agem : Opartot igitur poetam omnium eaait tjimajudicio p er

pandora na dum madiocram leniorem teguaoilioram dicendi rationem

p erkguetur , in languidam ,mallem enerv atam d olutamgue incurrat,

rurfufgua ne dum fuolimia grandiorav e proí tetur turgidiarem ia

jlatiaremguofe precaeat . Ho racio dizem o u t ro s) para exp rim ir v iv am ente a b aixeza de eflylo , q ue ha em alguns com mu ita p ro

p ri edade fe v al de huma m etafo ra t irada dos nav egantes com o

fe dilfeffe : A Po e lia he hum m ar o s p rudent es q ue o fulcaõnem emp ro aõ mu it o p ara o largo , nem co fieaõ m u ito p o rquede hum modo p o em

- fe a rifeo de naufragarem nas altas ondas e

de ou t ro metem—fe no p erigo de dar em fecco . M o nf. D acier diz,

q ue lhe parece melho r , q ue Ho racio nelle lugar fe v al de m eta

fo ra t irada do s paffaro s , q uando v o aõ t erra t erra , naõ fe atrev eu

do a v o ar alto na occafiaõ de v en t o s rijo s e p o r ifl'

o t radu zio af

lim E —colui—la'pour ev itar l

'enjluro e n

º

a/ant sl

elev er de p our do

fe pardre dans les nue'

r,dev iont trop rampant . Ab raçamo s ella in t el

ligencia , fem defprezarmo s a anteceden t e . Talv ez pó d'

e fer hu

m a, e ou tra co nfa p o rém o fent ido , q ue dá a eft e v erfo o In

t erprete Francez co nco rda mu it o melhor com o forp it laumi doO riginal.

Qui v ariaracupit Caºc. Efles v erfo s b em m o í

'traõ q u e o

Po eta ainda cont inua a fallar cont ra a inv encaõ m o nflru o fa e

q ue naõ t em a p recifa unidade . Perfuadem —fe o s m it o s Po et as

q ue v ariando o feu adump t o p o r m eyo s m arav rlho fo s o u fejaõp o r defcrip ções muy p omp ofas o u p o r o ut ro s p rincip io s q ue

í icaõ ap ontados allim v em a confeguir o fazer huma b ella p intura

aº : D e Arte Poetica.

Exprimer molleis imitaltitur tera cap illas ,

I nfelix operisfummâ quia ponere t otum

Nefciet . Hunc ega me j quid camponere curam

Nou magis aja v elim quim: pro v a v iv era nafa

Speélandmn nigris aculis nigroque capillo .

V .

Sumite matariam v ajiria qui fcribitis taquara

efculp indo com delicadeza cab ellos e unhas era infeliz emacab ar , e difpo r o t odo da e íªratua. A comparaqaõ h e b clliflima ,

p ara exp rimir o p ouco m erecim ent o daquelles Po etas , q ue o fiom o flrem alguma arte nella ou naq uella part e do feu Po e

m a, com tudo naõ merecem eflimaqaõ p o rque o t odo da p intura naõ he p erfeitament e defenhado acab ado e co rreõto . E mi

lium ludum, q uer dizer a cfgrima do Emilia allim chamada p o r

nella enfinar ao s gladiado res hum cert o Em ilio Len tulo . Lu ifino

interpreta de ou t ra maneira dizendo q ue o chamarfe Em ilia àefgrima naõ hcem razaõ do mcf'rre della mas em eflarn a rua

do s Em ilio s cque delles t omara a dita denom inaqaõ p o rém o'

cont rario t em a feu fav o r o s m elho res C ommen tado res feja o

que fo r hcconfa de p ouca ent idade. Po lio q ue mu it o s difco rem na intelligencia da palav ra [mas , nó s com Lamb ino N o res

,

D acier , e o u t ro s , entendem o s p o r ella , que o talEfcult o r m o ra

v a no fundo do C irco , p egado acfgrima de Em ílio . Ella v erda

de co lhemo s de v ario s lugares do mcfmo Ho racio em q ue t oma

a v o z [mus p o r cou fa , q ue fica p o lia na ínfima part e como na

Ep if'co l. I do liv . I quando diz HaºcYunusfummus ao ima per

docot ifto hc, cxpo em N o rcs infumma ia“injima parte pontas.

Quant prav o v iv era nah : O nariz hco que mais apparcce no

ro llo . Po r mais fo rmo fo s, que fejaõ o s o lho s p o r mais engra

çada a b oca e p o r mais b ranca a co r fe o nariz he disfo rm e ,

certo he q ue fará p erder a b elleza dellas feições e co nflitu irá.

huma cara feya. O mcfmo fe dev e dizer de hum Po ema p or

m ais b ellas que feiaõ as fuas part es , t omada cada huma de per fi

fe t odas naõ cíi iv crem entre fi b em difp o fªras guardando p ro

p orqaõ humascom ou tras fera. femp re hum disforme Po ema.

Arte Poetica;

Sey de Efcultor , q ue explica b em no b ronze

Le v es cab ello s delicadas unhasM as a efiatua no todo naõ v al nada.

Se eu cuidara em compo r tanto quizera

Parecerme com elle quanto oufara

Jaõl'atme de cab ello s e

-

o lho s negro s ,

Se a cara me affeaffe hum nariz torpe,

V .

Vó s outros que efcrev eis b ufcay materia

N igris oralis m'

grogue oap illo Os olho s e o cab ello negro .

eraõ efpecialmente celeb rado s entre o s R omano s p or fí naes dif-z

t inót o s de fo rmo fura. O no íl'

o m efm o Po eta na Ode 3 2 . do liv . I .Et lyoum nigris ooalir nigrogue criao decoram e na Epiítola 7 . fal

lando do s cab ello s : N igro: angu/iafronte oapillos. E tanto e íªtima

v aõ eita cor, que Catullo no Ep igramma 4 1 . p intando huma ca

ra feya diz ali im Salv e neo minimo paella aajo neo oellap ode nec

aigris ooellir. En tre o s G rego s hav ia o mefm o go flo e faõ mui

t as as au t h o ridades do s feus Po etas que p ro v aõ , qu e as mulheresart ificio fam ent e faziaõ negro s o s cab ellos com o fe co lhe entre

ou t ro s de Naumach io ,e da Antho logia.

Sumite matariam , Coªr. C oncluindo quanto at é aqui tem dito;

dá o fundamen tal p receit o , de , que cada hum fó t ome p o r aH'

um

p t o aqu illo com que puder o feu talent o e o s feus e íludo s e

q ue nefte p ont o cu ide .huma e mu itas v ezes. Naõ b afta fazer

b em huma D ecima para hav er arrojo de int entar hum Sonet o

nem compo r b em hum Sonet o para defemp enhar huma Ep op eia. C onheço p effoa q ue p o r fazer huma Loa paffageira , em

p rendeo logo huma Comedia que fez com o efp erav aõ o s que

conheciaõ as p oucas fo rças de feu au tho r. Pôde fer , que Virgilio fizefi

'

e mal huma Ode e Ho racio hum Po ema. Com e ífeit o

o no ffo Francifco Rodrigues Lo b o foy felicifiimo no Paflo ril , e

infeliciílimo no Ep ico de fo rte q u e mais h onra lhe faz huma

fua Ecloga que t odo o feu Canolo/iam . Todo s o s dias citamo s

v endo defles exemplo s e facilm ent e o s ap on taríamo s fe nos

q u izefl'

emo s fazer odio fo s. Tudo fe ev itav a,fe cada hum p ezaffe

fuas fo rças com o p ezo da mat eria , qu e t oma para difco rrer

como fegu indo aHoracio recommenda largamente Jeronãnão

1 ª

22"

D e

'

Arte'

Poetica.

Viribus , «J'nerfate diit quidferre recufent

Quid v aleaut áumerz. Cui leã'a potenter erit res

N60f acundia deferet nunc neclucidus arda.

VI .

Ordinis mec v irtus erit Venus ,

"

aut ego faller

Ut jam nuncdicut ,jam nuncdebentia dici

Plera

Vida no [ . liv . da fua eftimav el Po et ica , e o noffo judiciofo Bergardes naC arta I O .

Naõpaâarey daqui tema que af ronteIndo a diante mais ; forças naõ tenho

Que badem afuáir taõ alto monte.M ateria dignafo

de teu engenloo

He e/ia que tocav a tu a trata

Eu com agr/enefrauta nem me av en/oa.

M l ºv ezes cane , quem fe naõpreoata

Quem a tudo o que cuida feita a penna

M uitas t ou/as enfeixa poucas ata.

E na Carta I ; . refpondendo ao mefm o B ernardes dá AntonioFerreira. femelhante p receit o .

Cada loum para feufim eªu/Zajeu meyo

Quem naõ fabe do ojí eio , naõ o trata ;D os que[em faoerferv em ,

o mundo lee eleeyo.

Q le b em o b ferv ou Ho racio em fi o p receit o q ue dá p o rque

rogando- lhe Agrippa q ue cantafl

'

e as fuas acções m ilitares , ref

p o ndco- lhe , p ro po ndo

—lhe a Vario como mais hab il para a ditaempreza.

Serioeris Vario fortis loop iumVitter M a onz

'

i earminis '

alite

Quam rem eumqueferox nav ious aut equis

M iles te duoe gef erit .

No: Agrippa neque b oê ó'dieere neo grav em

P elidee ftomao/aum eedere ne/Z iiNeo our/us dupliees por mare Ulyj

'

ei ,Neefaoam P elopis domam

Arte Poetica.”

251

Igual a Vo il—

as forças : lo ngo t empo

Na mente rev olv ey que pezo po ffaõ

Lev ar , e q ual recufem v o flb s h omb ro sSe efco lherdes afiim em v o íTo s v erfo s

Sempre v ereis luzir facundia , e ordem .

VI .

D a o rdem toda a graça (ou eu me engano )Naõ fómente confi íle em dizer co ufas

Que naõ fo ffrem'

demora em referirfe

Conamur tenues grandia dum pudor

fmbel/ifque lyra mufa potent *v etat

Laudes egregii Cafaris C? tuasCulpa deterere ingenii.

N o: oonfv iªv ia nos p reelia Virginum

S eãiis injuªv enes unguibus atrium

Camamu: v aoui, i

'v e quid urimur ,

N on preeter [olitum lev es.

Ordinis leao v irtus erit , foºVenus

,aut egofallor : Explica Ho

racio o em q ue confí fte a v irtude e graça da o rdem que hum

Po eta dev e fegu ir na difp o fí q aõ do feu argum en t o e accrefcen

ta , aut egofallor , m o í't rando afiim m odeflia, v ií

ªt o fer no v o o p re

ceit o q ue dá p o is fé o defcob rio na p rat ica do s m elho res Ep ico s da ant igu idade e naõ na efpeculaqaõ do s que efcrev eraõ da

Po et ica. O m efmo Arifco t eles (fegundo D acier) naõ t rat ou deft º Pºn t º ; 6 fe 0 t rat ou foy em t erm o s taõ b rev es como efcu e

ro s. O no v o p receit o v em a fer :

Ut jam nuno dieat jam nuno deoentia diei pleraque diferat , (Sºc

Elle lugar he mu it o mal entendido pelo comm um do s Comm en

tado res . As palav ras denentia diei ferv em para o s dou s v erb o s di

oat,

dzf erat ; de fo rte , q ue a f ua genu ína confiru içaõ fegun

do D acier he eita : Ut jam nuno dieat denentia dioijam nuno ple

faqu e dif eratjam nuncdeoent ia diei Afiim o ent ende igualm ent e o

C ommen tado rN o res , a q uem v io o In terp rete Francez. l ilo fup

p o fto nefªt es v erfo s defco b re Ho racio hum do s mais impo rta

nt es

fegredo s da Poefia. E v em a fer ; q ue a o rdem que o Po eta EPI“

co dev -e guardar na difp ofxgaõ dos feus argumentos , dev e ferEm

tu º

241. D eArte Poetica.

Pleraque djerat U'

pra/eus in tempus omittat ;

V II.

Hocamet aocjperuut promiji earmiuis auí ior.

t udo div erfa da do h ifto riado r. E íte com eça a narrar as coufasdefde o feu p rincípio , e o Po eta p elo meyo ,

m etendo com o ep i

fodio a o rigem ,e co ufas q ue precederaõ àAcçaõ p rimaria. D e

m aneira, q ue deixa para t empo o p po rtuno pleraque diferat , couEi s q ue fegundo a o rdem hií

ªt o rica dev ia dizer logo no p rinci

p io iam nuno debentia diei . Po r exemplo Hom ero t om ou p o r

ali'

ump t o as peregrinações de Ulyfl'

es na fua Odij'

ea p o rém naõ

com eçou a cantar o s fuccefl'

o s que aconteceraõ ao feu Heró e

dep o is da expugnaçaõ de Troya começou a Fab ula p o r deixarU lyíl

'

es a Calipfo e o mais in troduzio — o como ep ifodio na falla

do mefmo Heró e a ElRey Alcino o . D o m efmo m odo Virgilio

fó p o r incident e h e que faz narrar a Eneas no liv . z.. a deftru içaõ

de Tro v a , e começa 0 Po ema p ela part ida do feu Heró e do p o r

t o de S icilia. Fundado neftes exemplo s e no p refente p receito

de Horacio h e q ue Vida deixou efcrito no liv . z.. daPoetica :

P lerumque a mediu arrepto tempore , fariInoipiunt ubi faã

'a 'v identjam earmine digna

Inde minutatim gedarum ad limina rerum

%ndentes primá repetunt a originefattum .

Veja—fe o mais que diz fo b re efte p onto , princip iando-fe do v er?»

fo : Haudfapienr quifquam annales [eu eongerat , [Iii Csºe. Prat icaõ

o s Po etas e ita b ella o rdem art ificio fa para allim caufarem v arie

dade , e mayo r deleite ao leit o r com o b em adv ert io Efcaligero

no liv . da fua Po et ica Pra terea eum alias o P oeta quam ab

.Hileras arda in/lituatur id omnino prop ter*v arietatem fatiam ejl.

Et enim Homerus anno: illor det em Í eget exequutus nihil aliud

quavn pre liir preelia alii; alia aocumulajet . Quare in det imo omnia

eju"modi ge/la eompleãlitur. Quod jquid antea ev enit repetitur per

narratzonem.

Hocamet b oo fpernat promiyi earminis auã or : As intelligencias'

fo b re e í'ce v erfo q uali faõ tantas , e taõ div erfas como o s Com

m entadores.

ArteP oetica”

2 5

M as tamb em em deixar para o utro t empo

O u tras mais , que igual preífa eflaõ pedindo .

V II .

Elle incidente efcolha deixe aquelle ,

Quem Po emas ha muito nos promet te.

D

m entado res . Ent re tan ta co nfufaõ fegu im o s a gu ia de M onf. D a

cier , parecendo-no s m elho r , q ue Ho racio falla aq u i do s inciden

t es , com q ue o Po eta dev e o rnar o feu Po em a. D á—lh e p o r p re

ceit o , que efco lha huns e q ue deixe o u t ro s p o rque nem t odo s

t em igual b ondade , e o s q ue conv em àEp o peia , commummen

t e naõ fe accomm odaõ à Tragedia. Em Po efia Ep ica p odem t er

m ayo r ext enfaõ na Tragica haõ de fer b rev es p orque faõ ac

çõ es de muy div erfa du raçaõ . Para Ho racio m o ftrar o quant o

h e p recifo unir judicio fam ente o s incident es com a Acçaõ , p o r

iffo falla delles e da fua b oa efco lha logo que acab a de fallar

da o rdem , / que fedev e guardar naAcçaõ p o et ica. E aflim como

nella o rdem recomm enda q ue humas coufas fe digaõ logo e

o u t ras fe guardem para t em p o m ais o p po rtuno as q uaes pare

ciaõ q ue fe dev iaõ dizer fem dem o ra allim ago ra nelle p recei

t o do s incident es ep ico s m anda q u e fe dê a cada hum o feu mais

dev ido lugar , p o is nella efco lha he em q ue co nfi íle a fua p art icular b elleza. N aõ b afta efco lher huns e rejeitar o u t ro s , he p recifofab er p ô r a p intura na fua v erdadeira luz p ara qu e faça t odo o feu

e ffeito . Huma m efma confa p o lia em differen tes maneiras faráeffeit o s different es. Eita

, quant o a m im,b e a v erdadeira intelli

gencia defªte v erfo

,certam ent e hum do s mais difhcu lt o fo s e ef

curo s deita Art e . P romo]? earminir. Alguns dizem , qu e o Po eta.naõ entendeo p o r promi/í fenaõ promet tido : p o rém (fe naõ m e en

gano ) ella v o z t em aq u i mais algum enfafe,e promzji carmi

'm'

s v alo m efm o q ue Po ema ha mu it o efperado e q ue he a expeêlacaõda curio íidade do pub lico . Achey em M adio ella int erpretaçaõ ,dizendo promi/i id e li longi prolixi carmim: aufior e t raz p ara

iPCO o exemplo de promij'

a áurea promi/i tapilli, Egºr. D acier h e do

m efmo parecer p o lªco qu e naõ cita a M adio nem faz m ençaõ

do t ermo m etafo rico e fé diz q ue pode fer q ue Ho racio t iv effe na idea ao efcrev er e íte v erfo aEneida Po ema efperadot aõ longo t em po 3 p o r o nde fe diffe delle muitos annos antes

N efeia quid main: nafoitur ]liade,

2 6 D eArte

I n v erbis etiam tenuis cautq uejerendis

D ixeris egregie notumj cal/ida v erbum

Reddiderit junátura nounni . S iforte neeeje eji

I ndiczts moiwrare recentibus abdita rerum

Fingere cinã utis non exauriita Cetdegis

Continget , dubiturque lieentia fumpta pude/iter ,

ln v ereis etiam tennis D epo is de t er fallado da inv ençaõ do

afi'

um p to ,da o rdem q ue nelle dev e hav er , e da efco lha do s inci

dent es paffa a t rat ar da locuçaõ o u (dizendo m elho r) a mo v er

a q uefªtaõ fe he lícito ao Po eta o fo rmar v o zes no v as ; e refo lv e

q ue lim ,com t ant o que feja com parcim onia

, e difcriçaõ . C on

t ra o parecer de N o res, e feguindo o de Lu ií ino como genu íno ,

adv ert imo s q ue o Po e ta p o r v erb is ferendis naõ entende v o zes

t ranslatas m as p alav ras no v as e he m etafo ra t irada do Lav ra

do r q ue femea para reco lher no v o s fru t o s. N ó s na t raducçaõ

u fám os da m etafo ra do forjar , e à v ozjunã'ura appro priámo s o

foldar lib erdade q u e naõ haõ de rep ro v ar o s amantes de Ho ra

cio p o rque fe explica o junt'

tura com alguma v iv eza.

v erbum reddiderit junêtura nov um As palav ras

n o v as o u p odem fer fí m plices , o u compo llas , unindo —fe , o u m e

t afo ricament e fo ldando -fe huma v oz com ou t ra como v .g. Le

gislator , Omnipotens grandiloquus alti/onus e infinitas ou t ras que

t em a lingua Lat ina. C icero no 3 . liv ro de O rat o r : Nov ari au

t om v erba quie ab eo qui dioit ipfo gignuntur ao fiunt v el t anjun

gendis v erb is,v elune oonjunã ione. Conjungendis v ereis nov antur , ut

lea o tum pav or fapientzam miloi amuem ex animo expeótorat . An non

v is nuius me v erfutiloquas malitias ?Si forte neoeí e e/i Co

ªt . Falla ago ra da inv ençaõ das palav ras

fim plices a q ue C icero chama v erba ]í tta iflo he que nunca

n inguem o u v io . D iz p o is que fe o Po eta fe v ir neceílitado a ex

p rim ir co ufas defco nhecidas p oderá inv entar huma palav ra no

v a , que dê a conhecer a t al confa v . g. a p o lv o ra o e íªcrib o

e o utras femelhantes q ue os ant igo s naõ conheceraõ nefte cafo

Pº“

28 D eArte Poetica.

VIII .Et nov a ]íe

'taque uuper Izabebzmt v erbai dem ji

Greece fonte cudant parce detorta. Quid autem

Cieeilio Flautoque dabit Romanus ademptum

Virgilio Varioque ? Ego eur acquirere pauca

Si pd itm iizv ideor ? Cian lingua Catonís Enni

Ser

v ellir , de q ue ufaraõ feus av ó s naõ v e íliaõ tunica ,com o cou

fa , q ue emb araçav a m u ito e fé ufav aõ de t oga e de hum p an

no fo b re ella, q ue lançado p elo hom b ro efquerdo ,

e co b rindo —o s

p elas co fias o s cingia de maneira que lhes deixav a nú o b raço

direit o e a e lle com o cingedou ro chamav aõ ointtusGab inus , e ao s

q ue delle ufav aõ einfluti . O Po eta naõ dá elle ep ithet o a Ce

t hego como para mo far delle taõ ant igo t rage fegundo algunsent enderaõ mas em final de v eneraçaõ e de refpeit o p o rq ue

o eint'

t'o Gabino era v e ilido ordinario com q ue ap pareciaõ nas fuas

funçõ es o s C onf ules e Pret o res"

, com o fe co lhe do 7 . da Eneida.

lpfe Quirinali trabea, einttuque gabino

lnjgnis referat jiridentia limina 7anus.Greecefonte

'

eadant : l ilo he, palav ras q ue t em a fua o rigem

no G rego e fe ado p taõ dando fe- lhes a inHexaõ e det erm ina

çaõ Lat ina com o V .g. p ippium At rato b orum Pant b re/tumP eripetafmata e o u t ras innum erav eis q ue fe achaõ em C icero

,

e no m efm o Ho racio com o Symfonia ,D iota

, Amy/lis B alanus ,

(de. Ella deriv açaõ do G rego foy caufa de q ue o s R omano s na

fua m efma lingua deriv afl'

em humas palav ras de o u t ras e allim

C icero de beatus fo rm ou b eatitas M ell'

ala de reus fez reatus ; Au

gu llo de munus deriv ou munerarius e o no ffo m efm o Po eta de

claras fez elarare e de inimieus inimieare. Bem fe v ê que ella

lib erdade'

t em qualquer na fua lingua mu ito efpecialmente o s

Po etas com effeit o t omaraõ- na ent re nó s , além de o u t ro s Bar

ro s Vieira B rit o Cam ões e G ab riel Pereira ; p o rém e lles

dous Po etas certam ente o fizeraõ fem eco nom ia apro v eitando—fe

do dabiturque lieentia e defprezando o fumpta pudenter . Elle ln

gar naõ h e para p ro v ar o dit o excefl'

o , p o rque le v aria lo ngas pa

ginas. Aos o b ferv adores da nofi

'

a lingua naõ parecerá no v o o q ue

igo .

Arte Poetica.

V III .Ellas no v as palav ras inv entadas

Seraõ b em receb idas fe da pura

Fonte G rega nafcerem fem v io lencia.

Po is fe as pô de inv entar C ecílio e Plauto ,

Po rq ue naõ ha de ter V irgilio e Vario

A mefma lib erdade en tre o s R omano sª

Se Ennio e Cataõ fo rmando no v as v o zes

Parte detorta R eflexaõ muy neceflaria em t odo'

o t empo

efpecialmente na no ffa idade em q u e t aõ p ouco fe o b ferv a a dou

t rina de Ho racio . Sim fe p o dem ado p tar palav ras no v as na no li'

a.

língua , mas haõ de fah ir da Lat ina com o m iiy , allim como Ho

racio q ueria , qu e as Lat inas no v as fe deriv afl'

em daG rega , dif

t inéta p ela fua mageflade e riq ueza e além“

diílo dev e hav ercu idado em q ue as ditas v o zes naõ fe deriv em com v io lencia

q ue naõ v enhaõ t o rcidas nem de o rigem m uy remo ta efcu rae co nfufa qu e naõ fe lhe p erceb a ; e mu it o m eno s q ue fejaõde p ro nunciaçaõ afpera de longas fyllab as de t erm inaçaõ def

agradav el , e de fent ido equ iv oco . Tudo ifto he o q ue p rop ria

m ent e ligniâcaparcedetorta .

Ca eilio,Plautoque dabit : Com o fe diífeffe N aõ fe pôde alli

nar div erfa razaõ p o rq ue naõ fe ha de co nceder a Virgilio ,e

Vario a m efm a lib erdade de inno v ar p alav ras q ue fe p erm it t io

a Plau t o ,e Cecí lio ant igo s Po etas Com ico s. C om igual argu

m ent o de paridade p ro v ou Cicero o m efm o q uando difl'

e Si

Z enoni lieuit eum rem aliquam inv enijet inauditam 69”inujtatam

ei rei nomen imponere eur non lioeat Catoni Ho racio p o r Plau t o

e Cecí lio t oma aqu i t odo s o s Po etas an t igo s e p o r Virgilio e

Vario t odo s o s m oderno s q u e no feu t em p o lograv aõ m ais dif

t inõto merecim ent o com o fazendo def'te m o do hum argumento

de minori ad maius . Pail'

ando em fi lencio a Virgilio com o Po e ta.

t aõ conhecido ,fó direm o s , q ue Vario foy na Tragica Po efia taõ

infigne com o o M antuano na Ep ica e v eja- fe com o delle falla

Q i in t iliano a refp eit o de huma fua Tragedia int itu lada Tb ie/lesVarii Tb iedes euilibet Gra t orum comparari p ote/i

ª.

Cum lingua Catani: Enni C o nt inua com a m efma quali

dade de argument o ; com o dizendo S e Cat aõ fendo hum O ra

dor inculto e Ennio fendo hum Poeta de p ouca arte a

f

íl'

íqn

a a

go D e Arte Poetica.

S ermonem patrium ditav erzt , G'nov a rerum

Nomina protulerit Licuít'

, fé lnperque licebit

A

S ignatum preefeute nota procudere nomen.

falla de amb os C icero ) faõ muy louv ado s p orque enriqueceraõ

a lingua pat ria inv entando mu itas palav ras ; po rque me haõ de

cenfurar a m im fe inv ent o huma o u ou t ra q uando p o íl'

o ufar

da m efma lib erdade q ue elles t iv eraõ Aqu i cahe o q ue—diz

Quint iliano : Quod natis pojlea eoneW m ejl quando denit lieere ? Seo lhafl

'

em p ara elles exemplo s o s fup erílicio fo s da pu reza da nof

fa lingua , naõ feriaõ taõ efcrav o s della com o rep rehen í i v elmen

t e faõ naõ fe at rev endo a inno v ar huma fó palav ra ant es fó

ufando religio fament e daquellas q ue achaõ no s no ílo s Au th o resmais puro s. O q ue daq ui fe t ira he naõ fe enriq uecer a línguacom o s v ocab ulo s —de q ue necefiit a como t em enriquecido as

fuas mu itas Nações cultas efpecialmente a Ingleza. N aõ fou

de taõ b om paladar , q ue go íªte de q ue fe inv ent em palav ras fem

neceflidade como fez q uem diíl'

e af ares p o r negocio s abando

nar p o r defamparar garantir p o r afiiançar e ou tras mu itas de

q ue naõ quero fazer catalogo p o rém hav endo neceílidade , naõ

fey quem p offa deixar de app ro v ar a hum co rpo Academ ico de

au t ho ridade e a hum Efcrit o r de credito q ue inv ent em pala

v ras , o u q ue as ado p tem ,indo —as b ufcar a ou t ras linguas , efpe

cialment e àLat ina, quando puder fer , mu it o mais tendo para ef

t a lib erdade b ons exemplo s em no ffo s ant igo s. D izerem que

q uando naõ tem o s v oz p ro pria m elho r he u larm o s de lo nga cir

cum locuçaõ em lugar de int roduzirmos huma v o z no v a , q uan

t o a m im he confa , que naõ t em fundam ent o he q uererm o s fer

efcrav o s da no li'

a lingua q uando ella he q ue no s dev ia ferv ir a

nó s e co nferv alla em p o b reza quando largamente a p odiam o s

enriquecer com palav ras de que t em falta allim como em ou

t ras he ab undant iflima.

Lieuit femperque lieebit Po rém fe o que deixamos dito p ara

alguns naõ he m enos , q ue v io lar o fagrado da lingua , refpondem o s—lhes com o p refente lugar , de q ue foy lícit o e fempre 0 ha

de fer efpecialmente ao Po eta o ufar de Vozes no v as com as

limi

.Arte Poetica. 31

Enriqueceraõ muito o patrio idioma ,

Eu t omara (ab er , com que ju liiçaSe accrefcent o huma o u o urra ,

me cenfuraõ ?

Sempre lícito foy , e ferá fempre

Com o cunho v ulgar b ater palav ras.

limitações q u e Ja deixam o s ap on tadas. Ho racio nella pafl'agem

ufa m arav ilho fament e de m etafo ra t irada do cunhar a m o eda , di

zendo Signatum preefente nota'p roeudere nomen p o rque aflim co

m o o dinheiro cunhado ferv e para focco rrer as neceflidades daR e

pub lica allim a palav ra no v a cunhada com o u fo ferv e para

ler às necefiidades da lingua. Ella m et afo ra he muy u fada po r

div erfo s Au tho res , o s q uaes t ranferev e Theo do ro M arfi lio b af

t a—no s ap on tar fé a au t ho ridade de Qu int iliano q ue diz Utendum ed planefermone , ut nummo , cui pub/it a forma eji ; e a de C ice

ro a q ual cu ido qu e t ev e Ho racio no fent ido Verbis enim uten

dum ejl , ut nummis publica monetdjgnatisl Tenho para m im que

o Po eta dizendo pra/ente notd naõ allude às palav ras que o u fo

t em receb ido ; p o rque ifto b em efcufado era adv ert illo ,naõ ha.

_v endo q uem du v ide dizer aq uellas v o zes , que faõ u fuaes. Aflim

o ent enderaõ alguns Expofi t o res p o rém t enho p o r mais p ro v a-g

v el , e co nfo rm e amat eria de que Ho racio t rata , que p o rprafent e notei eunb o v ulgar fe dev em ent ender v o zes no v as mas com

p ro nunciaçaõ e t erm inaçaõ v ulgar , ifªto h e t erm inaçaõ Lat ina ;

p o is de ou t ro m odo naõ paíl'

aráõ como naõ paffa o dinheiroq ue naõ t em o cunho co rrent e . Aílim he , q u e faziaCefar (como

b em no ta G lareano ) q uando int roduzia na fua lingua palav ras no

v as t iradas do G rego . Joaõ Bau t ifªca Pigna o co nfi rma. D eriv antur

v erb a v el litteras addendo v el detrab endo v el oonjungendo div er

jas v oees v el unamjatis _mut ilando v eljllaboe aut elementi comma

tatione. N otat autem Glareanus barbara nomina ad Gra eam Ortb ogra

p b iam e Gee/are dedutt a , moxque Latina reddi ta . C om o s o lho s'nefta dou t rina e au t ho ridade he q ue Tafi

'

o deixo u dit o no llV . 4 ,

do s D iícurfo s fo b re 0 Po ema Hero ico : D ee il Poeta p igliar le pafrole jiraniere daquelle lingue le quali anno qualob e jimilitudine oon la

mara eom'ê la Spagnuola e la Franeeze ji v eramente eb e lorji

dia iljine delle paroleTofeane ad imitazione di Cefare ed altri i qua

li alle parole barbare diedero la terminazione Latina Cde.

32 D e Arte Po ética.

Ut fylv eejoias pronos mutantur in armas

Prima cada/zt ita v erborum v etus iuterit a tas ,”

Et juv enti/n ritu f orent modo nata , v igentque .

D ebemur mort í nos nojlraque jo e recep tus

Terro? Neptu/zus , Cluj/eis .Aquilo/zibus aroer

Regis opus Ãerilifv e diii pa,/us aptaque remis ,

Vicinas urbeis ulit 67 grav efentit drutrum

Ut fylv a foliis : Pro po em , como he do caracter do feu eftylo ,o u tra comparaçaõ , p ara p ro v ar mais a razaõ com qu e fe inno v aõ

as palav ras. Ufa de fem elhança t irada das arv o res e diz delica

dam ent e que allim com o a ellas cahem as p rim eiras fo lhas e

em feu lugar v em o u t ras no v as a(lim igualment e acab a a ant iga

idade das palav ras , e v em o u t ras , q ue apenas nafcidas logo flo

recem e t omaõ v igo r. Quem o b ferv ar a infancia , ado lefcencia ,e

-

v irilidade da lingua Lat ina v erá huma dem o n ítraçaõ deita v i

cefiitude das p alav ras ; e en tre nó s o b ferv ará o m efmo, confro n

t ando o s Po etas do Caneioneiro de R efende com Camões e elle

com o s m oderno s . Po is fe o s ant igo s p oderaõ deixar humas pala

v ras , e receb er ou tras em feu lugar , que ley t em os nó s que no s

p roh ib a o m efm o ?

D ebemur morti nos , no/lraque Se o s edificio s mais fo lido s , fe

nó s e tudo o que he no íl'

o ha de ult imam ent e acab ar b em fe

v ê , que inju ílam ente p retendemo s , q ue naõ acab em as palav ras ,e q ue naõ percaõ a fua graça e v igo r. Os exem p lo s qu e o

Po eta p ro p o em nos cinco v erfo s fegu intes com o de confus , que

fen t iraõ em fi taõ grav e alteraçaõ ferv em com fumma energia'

a dar fo rça à conclufaõ,nedam v erborumjlet b onos.

Siv e reeeptus (sºo. Allude ao p o rto ju lio feito naquelle ef

p aç o de t erra q ue fepara do mar o s lago s Lucrino e Av erno .

D eu —fe a elle p orto o nome dejulio p or ter lido p rincipiado

p or

Arte P oetica .

IX .

Allim como a flo refla perde as fo lhas

Quando declina o anno allim a idade

D as palav ras acab a : o u tras fuccedem ,

ue nafcidas apenas , já florecem

Em b ella mocidade e tomaõ fo rça.

Nó s , e tudo o que he noffo amorte ellamos

O b rigado s : o u entre pela t erra

O mar (o b ra real) para dar portoAo s b aixeis e dos v ento s ab rigallos ;O u a q ue muito t empo foy e lleril

Lagô a accommo dada para remos

As v ifinhas C idades alimente ,

E

p o r Julio Cefar , p o llo que conclu ido p o r Augufto ,como lemºS

em Suetonio . Faz igualm ente mençaõ deita grande , e u t il ob ra

Virgilio no z.. das Georgieas

.au memorem portas luerinoque addita elaa/traAtque indignatum magnisjtrido ibur requer ,

7ulia qua p onto longejaoet urgq'a refufo

Veja o leit o r ao feu C omm entado r erv io expondo elle lugªr ) º

nelle achará o m o t iv o q ue t ev e Gefar para a dita o b ra o que

naõ co p iamo s p o r naõ ferm o s p ro lixo s.

Regis opus He p recifo adv ert ir que a v o z Regis 13 0 3 0 q ue

fe refere a Gefar naõ ufo u dellaHo racio para lhe chamar Rey

p o rque delle m odo darlheh ia hum t itu lo q ue mu it o » aggrav a

r ia po r fer o dio fi íiimo ent re o s R omano s. E allim Regi—l º?“

q uer dizer Obra Regia p ela grande defpeza e digna de b um

Rey , e naõ do Rey fazendo —fe ella palav ra finonym o de Cªfª ?”

S terilifque diapalus bºo . Allude a ou t ra o b ra de Augu flº a

t raçada igualm ente p o r julio C efar ifªto he o mandar fecal“

9

lagô a Po nt ina , fazendo—a fert il t erreno o q ue execu t o u P . Co r

nelio .Cethego fendo Co nful no anno de R oma Acro n com

m on tando ePte lugar , cab io em hum grav e erro entendendo p or

flerzlis palus o p o rt o Lucrino e o u t ro s mandado s fazer p ela grªn“

deza de Augu ílo para t razer a ab undancia do s mant iment ºs às

C idades v ifinhasj Naõ reparou , que o grav efentit aratrum fÓ%9

ia

34 D e Arte Poetica.

S eu eli/jam mutav it irziqz'

zumfrugibus amais

D oí í us iter nte/ius : mortalia faõft'a peribunt

Nedum fermomzm jfet b ones , O'

grlatiu v ir/ax .

M ulta renafce/ztur qzue jam cecidere cudentque

Qzue mmcfunt in b ouore v ocabula ,j v aler up s ,

Quem peues arbitrium gt , Ujus ; O'norma loquena

'i.

Res ge/lie Regumque D ucumque 67 trjiia bella

Qdia deno tar a lagô a Pont ina q ue he a

que“

Gefar mandou fecare reduzir a t erra de

'

femen teira e para aílim o ent ender , b altaria

q ue leíl'

e a Liv io no 1iv . 4 .

Seu eur/um mutav it (de. D acier illu flrando elle lugar fuf

p ei ta que nelle allude o Po eta a alguma o b ra que Augu iizomandaria fazer no Tib t e para impedir fuas inundações ; de fo r

t e que , pela incerteza com que falla v enho a perceb er naõ v io

a Suet onio, o nde falla das o b ras pub licas de ite Príncipe ,

e diz

Ad eoereendas inundationes nlv eum Tyberis laxav it ao repurgav it t om

pletum olim ruderibus Egºredijioiorum prolap/ionibur eoarttatum . Em

Acron lem o s o m efmo e a elle fe refere N o res q uando illu f

t rou allim elle p affo : fZ'

ibris ante p erVelabrum infejus frugibusfluebat . Á ugudijuju Agrippa eum in alv eum deduxit quo nuno deeurrit .

M ortalia fatia peribunt . Saõ o b ras m o rtaes haõ de acab ar.

Lemb ra—m e o q ue diz C icero na O raçaõ p ro M arcello N ib il

e/l opere aut manufaêtum quod non eonjieiat eonfumat v eta/las.Po rém ainda m ais me lemb ra o que Ho racio efcrev eo na ult ima

Ode do liv .

Exegi monumentum eere perennius

Regaliquei tu Pyramidum altius

Quod non imber edan , non Aquilo impotensP ojit diruere aut innumerab ilis

Annorum feries Caº

fuga temp orum .

I ílo fuppollo , parece que fe cont radiz com o Já. pareceo aFr

qn

cnco

D e Arte Poetica.

Quo fcribi pajear numero mou/brava Homerus.

Vewbus impariterjurzélis querimonia primitmPajb et íum inclufa ejt v otiRuteutia campos.

Quis tamen exiguas elegas enufzrit auôlar

Grammatici certa/zt (D'adline [libjudice lis eft

q ue t ocaõ âPo elia. Princip ia p elo Po ema Ep ico o qual t em

p o r argumento as acções hero icas de Reys e Cap it ães illu llres.M o nf. D acier dá a elle lugar hum a int erp re taçaõ b em eltranha ,dizendo que naõ he necell

'

ario que a Acçaõ da Ep o p eia fejagrande per li m efma

,mas lim b aita , q ue o feja p elo caraéter da

quelles , a q uem fe at t rib ue . Como naõ fab em o s , em q ue au t hor idades e exemplo s fe fundou o C ommentado r Francez , fegu im o s a fentença commua do s melho res co rro b o rada com o s exem

p lo s do s p rimeiro s Ép ico s dizendo, q ue o v erdadeiro

'

all'

um p t o“

da Ep o peia he huma acçaõ b araita fó p ro pria daquelles grandesh om ens q ue pelas faas lingulares em prezas m ereceraõ o nom e

de Heró es. Ella acçaõ como hero ica dillingue—fe daTragicada Com ica ; p o rq ue a Tragedia fó im ita huma acçaõ illudre , e a

C omedia huma ordinaria . O v erfo que p ertence aEp o peia he o

Hero ico de q ue ufo u Homero ,e depo is delle t o do s o s demais

Ep ico s. He p recifo adv ert ir , q ue commumm ent e o s p ouco inft ru ido s confundem o v erfo Hero ico com o Hexamet ro q uando

na v erdade ent re hum e o u t ro ha grande dilferença. Pedro N an

n io expondo elle lugar , apo nta a div erlidade , dizendo , que v er

fo Hexam etro he aq uelle em q ue O v idio efcrev eo o s feus m eta

m o rfo fes p o rém que Hero ico he fó aq uelle em que fe can taõ

as b ellico fas acções de Cap it ães illu ltres , como o do s Po emas de

.Homero o da Eneida e ou t ras Ep o peias. N aõ eltou p o r e lladilªferença, e fundo —me com D acier nos v erfo s de T erenciano .

Hexametron dicunt fed nan Heraiean omnem

Namfeu pedes inW nan erit fatis.

Lages quippe datas b eraiea oarmina pofeunt

Quis abba Homerus b eraum quum foriberet .Fernbus a/tendit quas aque[ermo LatinusCujladit omnes .

D e forte que t odo o v erlo Hero ico he v erdadeiramente Hexa

metro

Arte P oetica; 37

E trilles guerras nos moflrou Homero .

Em v erfos deliguaes antigamente

Os prantos fe exprimiaõ : depo is v eyo

A ferv ir efie m etro a alegre aflh mpto .

M as q uem do s curto s v erfo s da Elegia

Au tho r fo lie ,o s G ramm atico s difpu taõ ,

E inda pende indecifo elle lit ígio .

m et ro p o rque t em feis p és , p o rém o Hexam et ro naõ fe p ôdecham ar Hero ico ; p o rque o que t em elle nom e h e aquelle em

q ue ha aspeat/aemz'

meres,e cejaras no feu dev ido lugar , com as de

m ais leys q ue fe p odem v er no s que efcrev eraõ da Art e M et ri

ca. D e m aneira q ue fem fe o b ferv arem as ditas regras naõ ha

v erfo Hero ico,e em hav endo feis p és enlaqado s com o q uer q ue

fo rem, já p ro priament e ha v erfo Hexamet ro , com o v .g. o prin

cip io do sAnnaes de Tacit o Urbem Romam aprincipioReges habaere.

Veejays z'

mparí terjamais : I íºto he v erio Hexametre

,e Penta

metre. T rata da o rigem da Elegia e diz q ue no p rincípio fer

v ia p ara afl'

um p t o s t rifles ; ( t alv ez t endo (na o rigem no p rant o

p ela m o rt e de Ado nis p o rém q ue depo is alt erado e íªte ufo fer

v ia para argum ent o s alegres . D e hum a co ufa e de ou t ra t em o s

exem p lo s em O v idio .

Quis tamea exíguº; elegos z O v erfo Pentam etro he p ro p riamen

t e o v erfo Elegiaco e com o t em hum pe'de m eno s , q ue o He

xame t ro q ue lhe precede p o r iffo Ho racio lhe chama exígaam ,

h e p equeno . Eita h e huma das v ant agens q u e a Elegia

G rega, e Lat ina t em à no íTa em q ue t odo s o s v erfo s faõ Hende

cafyllab o s . Eifaqu i a fo rça , q ue nelle v erfo t em a v o z exígaor , e

naõ a que lhe daN o res qaàa'e'

nam'

a gaaa'am ía lamentatioaiáasja

ã eatar .

Grammat íez'

eertaat : Aqu i parece q u e Ho racio efcarnece da

nim ia diligencia do sG rammat ico s em inv efligar o s inv ent o res das

coufas . Para naõ cahirmo s na m efma'

cenfu ra naõ no s cancarm o s

'

em efpecular q uem fo fl'

e 0 Au tho r da Elegia b ailando —no s

dizer q ue huns at t rib u em efªta inv ençaõ a T heocles ou t ro s a

Arch iloco o u t ro s a T erp randro e ou t ro s a Callino o e hum

delles he'

o no fl'o Po eta fegu indo a T erenciano M au ro

P entametram elab í taat quis primasjaxerí t auã or.Qaz

'

a'am noa elabz

'

taat difere Calliaoam.

D eArte Poetica.

Az'cáíloczmz próprio rã bíes armav ítjambo.

Hime ]b ecí cepere pedem , grandefque cothurni ,

Alter/ds apamz[ermoní bus 67 p opulareis

Á relailaeam proprio rabz'

er armam? ? ambe Arch iloco fam o fo

nas fatyras maledicas : p o r ellas o expu lfaraõ o s Lacedemom o s da

I lha de Paro dep rav ando a m ocidade com o s feus infames cieri

t o s. Em v erfo s Jam b o s Fez huma fatyra t aõ m o rdaz co ntra feu

fogro L icamb e , errou Po rârio em lhe chamar genro ) p o r naõ

lhe q uerer dar fua Elha p o r m u lher que foy caufa de q ue am

b o s ('

e matafl'

em com hum laço ao p efco ço . Am -

o lemo s em o

nofl'

o Po eta no liv . 1 . das Ep iPt o las efcrev endo a M ecenas :

N eefoeeram gaara“

, quem'v ewaas ablz

'

aat atrás ,N ee[v oa/ee laqaeam famofacarmine aeã í t .

Archiloco p ro priam ent e naõ foy inv ento r do v erfo Jamb o p o r

q ue já antes o hav ia , dizem mu it o s q ue inv ent ado po r huma mulherchamada? ambe. Anim ia m o rdacidade com que nelles fatyrifa

v a,a q ual depo is t emperou Safo e Alceo he q ue foy a cau ia de

o co nfiderar a ant igu idade como inv ent o r delles e p o r iíTo Ho ra

cio fe exp rim io com grande enfafe , dizendo raóz'

es armaºv z'

t me

t afo ra t irada da fanha do s cães N aõ m e lemb ra , que ant igo diz

Latrare dicaatar laemz'

aes eam per iadígaat í oaem Ioaaaatar .

Haaefoeei , (pºe. A Po efia Tragica , e C om ica ufaraõ do v er

fo Jamb o . Pela palav ra p eri ent ende-fe a C om edia e p o r co

tb arm'

a Tragedia p o rque ao calçado de q ue u fav aõ o s repre í'

en

t ant es Com ico s , chamav a- fefocco , e ao do s Tragico s , cotharna

confa b em fab ida.

Altem ir ap tam fermoaiaas z D á aq u i Ho racio a razaõ p orque a

C omedia,e Tragedia t omaraõ o v erio Jamb o ; e a p rimeira he ,

p o r fer muy p ro p rio para a co nv erf'

aqaõ e para hum fallar na

t ural em difcurfo co rrent e . Quem b em adv ert ir , v erá , q ue q uaii fe naõ p ôde fallar em Lat im fem infenfi v elm ent e cah ir em

fazer algum v erfo Jam b o o m eimo he no G rego . Veja—fe a C i

cero no liv . de O rat o r. ? ambam Egºtrarb zeam frequentem fe

gregat ab Oratore Á rií oteles aai aatarâ tamea íaearraat ía Orat í o

nem ,/ermaaemaae iza/iram . Ver/asfzep e ía Oratioae per imprudeat íamdieimar

, qaôa'v elaemeater fv itz

'

ofam . Seaarz'

es v erb 69”Hípponaã eos ef

fugere <v z'

x p qí amas magaam enim partem7ambis no./ira coa/ía! Orana

"Arte Poetica; 9

A raiv a he quem armo u de v erfo s Jamb osA Archiloco ; depo is ufaraõ delles

Os Comico s e Tragicos na (cena

Ao mutuo difcorrer como mais ap t os

E naõ menos a ter at temo o po v o ,

t io. O m efm o fuccede com o s no fl"

o s v erfo s de arte meno r , fen

do muy facil cahirem em qualquer p erí o do p o rtugu ez , efpecial

m ent e no clªcylo do nofl'

o infign'

e Jacint o Freire , e de feus im itado res . Huma pagina , que lêa o leito r b afiará para fe conv en

cer defia v erdade . Logo o p rincipio da Vida de D . ]oaõ de Caft ro o confirma

E/Zre'v erey a VielaD e D om ? oaõ de Caf ra.

Ha ou v ido s nim iam ent e delicado s ou efcrupu lo fo s na harmonia

da dicqaõ q ue naõ acab aõ de fat isfazerfe de hum efiylo defpe

gado , CUl t O e qu e fe funda em mu ita fimet ria e dizem q ue iftonaõ fe achará em Vieira Fr . Lu iz de Soufa D uarte R ib eiro ,

e o u t ro s ao m eno s com tanta frequencia.

Et populares v íaeeat em #rep itas Neíªte lugar v ariao mu i t o o s

Exp o í i t o res . Huns dizem q ue a razaõ p o rqu e o Jamb o ferenav a o m o t im do p o v o no theat ro era p o r fer grav e e fo no ro

p o rém co nt ra CPECS efia a au tho ridade de C ícero no feu Orador

o nde diz Diamaamfreaaentá/ímam W ia ii: gaze demzf e ae hami

lz'

fermoae dieaatar . Ou t ro s dizem que a Po efia Tragica e G0

m ica com o era em v erfo s]amb o s agradav a de maneira ao p o

v o, q ue apenas e í

ªte v ia no theatro ao s act o res logo fe aqu ieta

v a para ou v ir. Ou t ro s ent endem -no p o r div erfo m odo p o rém

com nenhum delles p o fl'

o co nco rdar e en tendo que Ho racio

o que q uiz dizer foy , q ue o v el io Jam b o a razaõ po rque he p ro

p rio para aq u ietar o m o t im do p o v o no theatro he p o rqu e o

difcu rfo feit o neli es v erfo s parece- fe mu it o com o m odo p o pu

lar, com q ue commumm ente fe falla e aflim dav aõ at t encaõ

huma coufa q ue ent endiaõ . Com eflºeito a exp eriencia m o íªt ra

q ue o p o v o naõ co ftuma at t ender focegado aqu ellas cou í'

as que

perio res à fua comprehenfaõ com o faõ difcurfo s em Po e

í ia harmonio fa e rimada , q u e fó achaõ at t enqaõ em peíl'

o as in

t elligentes . A falta defics jamb o s no theatro m oderno he hum

grav e defeito e no Francez ainda mais p o rque ufa de v erio de

arte mayo r , e rimado . 0 I taliano v ay como p ôde fer co herente ,

D e Arte Po'

e'

tica.

Víacerztem/Zrepitus , cª

natum rebus agendís.

M ufa deditj rlí bus D iv as puerofqzze D eorum

Et pugilem“

v ídí or'

em (7 6 71111172 certamine primam

Et juv emmz curas 67 lí óera v ina referre.

rente , p o rq ue fó fe ferv e do fo lt o q ue he o unico q ue pôde re

m ediar a falta do Jamb o a fim de que feja o v erio alterm'

r apram

fermoaibas populares v imentem #repilas com o era o ant igo

D rammat ico . Veja—fe o q ue nella m ateria efcrev em o s na t raduc

çaõ da fam o fa Aferope.

Et aatam rebas ageaa'ís z A t erceira qualidade do v erio Jam

b o h e fer p ro prio p ara co nduzir huma Acqaõ rep refent ada. Ho

f aci'

o t irou ella o b ferv aqaõ de Ariflo t eles , o q u al diz na fuaPo e

t ica que o 'v erfa 7améo e o Tetrametrofab"

proprio: para dar mov i

meato ; ef e a dança e aquelle aÁ eçaõ D rammatz'

ea . A razaõ p o r

q ue o Jamb o he efpecial para e lle m inillerio a acham o s em (l uin

t iliano dizendo : Freqaeat íorem qaaf palfam b aaet ala emm'

aus par

tiam íafargí t Caºà árev z

'

bas ia longas aititar Caº crefez

'

t . Sen í i v el

m ent e fe co nhecerá iiªto comparando hum v erio Jam b o comh um Trocheo . Efte h e fempre mais v agaro fo po r co nta de co

m egar p o r huma fyllab a longa , e aq uelle m ais expedito e ap ref

fado em razaõ de p rincip iar p o r huma b rev e . E com o a T ra

gedia e a C om edia naõ faõ mais q ue humas im i tações das ac

ç ões do s hom ens, p o r ifl

'

o t omaraõ com p ro priedade para fi hu

m a efpecie de v erfo expedit o e v elo z com o t aõ accommoda

do à Acçaõ t heat ral , q u e fó q uer hum t ecido de v erfo s , que na

t uralment e pareqaõ perío do s de p ro fa.

M afa dedit , Falla da Po efia Lyrica e do s afi'

ump to s ,

que lhe faõ p ro p rio s. Flo receo mu it o ent re o s G rego s p o is

con taõ no v e Po etas Lyrico s p rincipaes com o faõ Pindaro Si

m o nides , Slelicho ro Ib yco Alcman Bacchilides , Anacreo n

t e , Alceo e Safo . Ent re o s R omano s ho u v e p o uco s , e o Prin

cipe delles he o n'o fi

'

o Po eta (endo co nfiderado ent re o s feus

como Pindaro ent re o s G rego s , e elle m eim o em algumas part es

faz alarde da fua excellencia. Naõ fe ifab e ao cert o quem foy o

inv ent o r della efpecie de Po eiia e p arece q ue p o r con ta delladu v ida h e q u e Ho racio dá a huma das M ufas a ho nra da inv ençaõ , fegundo a intelligencia de D acier talv ez mais engenho í

'

a

q ue

Arte P oetica. 41

ue a conduzir a acçaõ repreí'entadaº

A M ufa deu aos Lyrico s Poetas

Po der cantar do s D eo fes , do s feus filhos ,D o v encedo r A thleta do cav allo

lX/Iais v elo z na carreira , do s lafciv o s

C uidado s juv enis e do s b anquetes.

F

q ue v erdadeira p o rq ue fe p o derá dizer q ue M ufu nefle v erfo

naõ í ignifica m ais q ue Numeu tu telar q ue p re í ide à Lyrica , com o ou t ras M u las às ou t ras efpecies de Po efia

D iºv os puerofgue D earum : A Lyrica inclue em fi quat ro

caflas de Po emas com o faõ o s Hymno s o s Panegyrico s as

N en 'as e o s v erfo s Bacch iq o s. Com o s Hymno s fe celeb rav aõ

o s D eo fes e o s Heró es a que o Po et a ( à maneira do s G re

go s ) chama das D ee/es ep ithet o que já lhes t inha dadoq uando difle : D imm 69

“Á leidem , puerofaue Ledee . Po rém com

m umment e p ara o s Heró es (ó ferv iaõ o s Panegyrico s e naõ rhe

no s para o s R eys celeb rando luas v irtudes —e para o s v encedo

res no s jogo s G rego s ; Egº

p ugilemºv iâioremx Adv ert imo s q ue 0 8

Po e tas Lyrico s naõ fó lou v av aõ ao cav alleiro , q ue v enciana car

re ira m as tam b em ao cav allo q ue lhe alcançara a v iõt o ria e

a illo he q ue allude o equum certamine primam.

Et juueuum curas : I lªt o he ,

o s am o res , q ue Faõ quail toda a

occupaçaõ da idade ju v enil. B eiles exem p lo s eflá cheya aLyrl

ca G rega , Lat ina , e m oderna ; tant o q ue p refentement e parece,

q u e naõ lhe compete o u tro argum ent o efpecialmente entre o s

I taliano s , gu iado s pelo feu grande Pe t rarca.

Et libera v iria referre Naõ fó aq u i allude ao s b anq uetes

mas geralm ent e a t odo s o s div e rt im en t o s de lib erdade , com o jo

gog, danca , mu lica , &Cc. Verá tam b em o s exemplo s difto q u em

ler p elo s Lyrico s G rego s e p o r algumas Odes do no fTo Po eta.

E a elles aíl'

um p t o s com o igualm ent e ao s am o res da m ocidade

he qu'

e chamav aõ argum ent o s Baer/aims , te'fazem huma dasd af

fes da Po efia Lyrica com o acima difl'

m o s. Adv ert im o s q ue

naõ ['

aõ fóm ent e elles q uat ro argum en t o s o s q ue t omaõ o s Lyri

co s para ail'

ump t o s do s feu s v erlo s t em lib erdade m ais ampla ,dada p o r Pindaro Saph'o Anacreo nt e e o no íTo Po eta po is

t odo s t rataraõ lyricam ent e de ou t ro s div erfo s ail'

ump t o s ; e fun

dado niflo he q ue Efcaligero diz q u e t oda a mat eria q ue pôdecab er em hum b rev e e harmoniofo Po ema pertence à Lyric

?D e

42 D e Arte Po ética.

D efcríptas ferv a/'e v ices , operumque colores

Cur ega,_jí nequeo ignoraque Poeta faÍutor i

Cur tie/eira pude/is prav e quam dJcere malo ?

Ver/ibus expo/ui tragicis res comica non v ult ;

I adigaatur item priv atis acpropefacco

D igais carmiuilms narrari cana Tigre/Zee.

D e/Çirip tasfeware v ices Egºr. Ho racio dep o is de fallar dos

1 crentes argumento s e div erfo s caraâeres do Po ema Ep icoda Elegia , do v erfo Jamb o e da Po efia Lyrica conclue com o

impo rtant iflimo p receit o de q u e q uem qu izer m erecer o nome

Po eta , naõ ha de confundir e i'tes different es caraét eres. C omelf

cito quem fizer huma Ep o p eia em e ílylo lyrico huma Ele

gla em t om epico huma Ecloga com penfam ent o s de Ep igramm as

, e derramar em huma Ode q ue dev e refp irar mage íªtade e

dº çura , o fel , q ue pertence àfatyra , q u em naõ dirá q ue he humpe ílimo Po eta ? C onv em p o is fab er o b ferv ar b em o caraâler e

airump t o p ro prio de cada Po ema, e iílo h e o q u e lignifica

ºv iees

deferip tas o u p o r ou t ro modo v ices ailtributas aJ/É'

guaias. E naõ

h e menos precifo p o nderar b em que e í lylo e o rnat o s p edem

as ob ras ; p o rque fegundo a differença do s Po emas anim h e dif

ferent e o eflylo a que o no íl'o Po eta chama delicadam ente ape

rum colares m etafo ra t irada da p intura ; p o rq ue fe o co lo rido com

q ue fe p intal hum paiz ,naõ he o mefm o ,

com q u e fe forma hum

ret rat o . ; tamb em o ellylo v . g. da Ecloga ha de fer div erfo do da

Elegia. Quem b em fe fundar nella infalliv el regra, fe ler o s no f

fo s Po etas entaõ p ezará b em o feu merecimento . Verá q ue o s

p aflores de D iogo Bernardes faõ mais p aflo res q ue o s de Lu iz

de Camões : q ue Francifco Rodrigues Lo b o t em com jufliça nom e no feu paflo ril mas que no Epico naõ m erece fer lido q ue

Antonio da Fonl'

eca na fua Filis defmerece t anto o nome de Ep i

co como merece,

o de b om Lyrico em ou tras ob ras fegundo o

gor

ao, D e ,Arte Poética.

S i/zgula queer/rue locum teneantjortita decenter,

I /zterdum milieu O'v oeem comeedia tallit

I M ayotte C/zremes tamído dz'

lz'

tigat ore ;

Et tragicus plerzmzque dolet fermone peddiri

Siagula quague [oram õgºe. Q lint iliano illu ílra e íle lugar

o nde diz : Sua caique propo/i ta lex ,fuus decor ejz'

aee Com edia iar a

tlouruos ajurgit aee contra tragediafoeoo iugreditur . A m efm a natu

reza he q ue po em e lla ley, p o rqu e , com o já deixamo s dit o ,Ac

ções hum ildes p o pulares e p ert encent es à v ida civ il q ue faõ

as q ue daõ afl'

ump to à C omedia, cert o he q u e naõ fe dev em

t ratar com aq u elle efªtylo q ue p edem as m iferias e m o rt es dePrmcipes , o s cafo s at ro zes as m udanças de alta fo rtuna o s laft im ofo s naufragio s a dellru içaõ de R eino s e o u t ras fem elhan

t es coufas q ue ent raõ na Tragedia. I ílo fup p o flo confidere o

leito r q ual feraent re o s int elligent es o m erecim ent o do s Po e tasD rammat ico s de Hefpanha, co nfundindo no feu t heazro o t ragico com o com ico , do q ue refulta hum m o n ilro q ue caufa t an t o ;

rifo como caufaria o de Ho racio ,fe o Vifl

'

emo s p intado comoelle o imagina no princip io della Arte .

laterduuz romeu : Com t udo às v ezes a Tragedia e Comedia'

p erv ert em ella o rdem . Faz Ho racio e íla refiexaõ para q u e naõ

ent endaõ o s ignoran tes q ue feia erro na C om edia hum a ou

o u t ra exp re í lªaõ t ragica e na Tragedia alguns m odo s de fallar

comico s. Amb as ellas Po efias faõ im itações das Acções hum a

nas : logo o eflylo nellas dev e co rrefp onder ao q ue a natu reza en

taõ infpi'ra. Exemplo d

[rara/que Lloremes o no Heaaioutimorumeaos de

T erencio o q ual p erceb endo a“

am o ro fa inclinaçaõ de Clinia e

Bacchides , gafla quafi t odo o qu int o A& o em enfado s e rep re

h ensões . O ra nefte cafo p edia a natu reza que elle p ay com o

irritado,fallafl

'

e com eX p refsões fo rt es , grav es , e no b res , inipi

rando - lhas naturalmen te a fua m efma paixaõ . Po r iíl'

o diz na.

Scena qu inta do ult imo A&o :

item , ut aiuat M iueruam eye ex_70ªv e edcaafdmagis

Patiar , Clitip loo jiagiiiis rais me iafauiem]ieri .

Arte Poetica; 45

D ê- fe a cada Po ema o feu decente

Lugar. Com tudo às v ezes a Comedia

Le v an ta a v o z ,e Chrem es agaílado

T oma t ragico tom para enfadarfe .

A Tragedia o u tras v ezes fe lamenta

Em b aixo ellylo : hum po b re deflerrado ;Como

Ou t ro exem p lo no s dá o m efm o Terencio ,fazendo fallar em ter

m o s no b res a D em ea na primeira Scena do u lt im o A&o do sAdel

pao;

Heu ru ilai quidfariam quid agam?quid elamem

? aut querar ?

O'eoelam ! t eri a ! omaria N eptuui !

E n a Com edia do Euuaelao fe acharáõ igualmente algumas exp refl

sões dignas da Tragedia , ditas p o r Cherea ; p o rém em occafiaõ

em q ue e ltav a o feu co raçaõ occupado de grande alegria ; po r

q u e e lla p aixaõ , com o t ranfpo rta nat uralmen t e faz romp er em

aifeó i o s arreb atado s à m aneira da co lera e de t o das as p aixõe s

v io lentas . Saõ t o q u es excellent es m as didicu lt o fo s e fé p ro pri o s

do pºncel de grande m e ilre'. M affei na fua grande M erope o s dá.

adm irav eis fazendo fallar em occafiaõ o pp o rt una a Adm/lo em

t erm o s com 'co s e ao ru ft ico P olidoro com exp refsões t ragicas

p o rq ue a m efma licenç a , q ue fe dá à C omedia de lev antar o t om ,

fe dá igualm en te àTragedia para o ab aixar , como m o ílra Ho »

facio no s fegu int es v erfo s :

Et tragicus plerumoue dolei : Ou t ras v ezes p o llo q ue muitºm eno s q ue as q ue t em a Com edia as Figu ras t ragicas fallaõ ern t erm o s comm uns , e p o pu lares efpecialment e no affeõlodç m o v er acom p aixaõ , pela m iferia em q ue alguns fe v em (30

m o T elepho e Peleo , o u exp rim indo a paixaõ de hum anim o o p

p rim ido de angu il ias com o exprim io So phocles o de Eleâra

fazendo —a dizer dep o is de mu it o p rant o em t ermo s hum ildes e

fam iliares : [giro/cite , malieres jiªv ideor mulzis quere/lis uimium v oª

b is diforueiari v is me doloris leao faeere iuªv iram eogir. Q uem q u izer

mais exemplo s , lêa a allegada Tragedia do in í igne M affei e ad

m irará o com o o b ferv a na p effo a de M erope , e de ]fmeue elle

ceit o de Ho racio ,e com q uan ta eco nomia em o b ferv ancia da

ma regra , p o rque e lla lib erdade acha-fe mais no s Po etas C om i

co s , q ue no s T ragico s , e nelles quafi fó no s afi'

eõlo s de excitar â

p iedade . Porémadv irta—fe , que nem fempre nellas paixões infpira

a na:

D eArte Poética.

Telepaus 67 Peleus cum poupar (7 exul uterque

Projicit ampal/as 67 fefquipedalia v erba

Si curat cor fpeáiantis tetigij'

e querelá.

XI .Nou fatis cy? pulchra d e Poemata : dulcia fimto

a natureza í implicidade de t ermo s , p o rque ha do res , q ue p odemfer elo quentes ; e p o r iífo he que o Poeta fe explicou po r pleram

que e naõ po rfamper.

*

Telepbas , EgªPeleas D a dou t rina precedente no s ap onta hum

exemplo t irado"

fegundq -fu fpeitaõ o s Int erpret es das Tragedias de Euripedes em quê : ,

ª

fêprefento u as m iferias de T elepho e

Peleo . Como ellas o b ras fé'

perdei'aõ parece q ue fe co lhe def

tiCS v erfos de Ho racio qu e Euripedes nellas fazia fallar a e lles

Príncipes com ,

exprefsões emp o lladas e'fo b erb as confa t o tal

ment e. imp ro pria na b oca de hung dellerrado s e mendigo s co

mo elles dousReys ,q ue ,éX pulfo s

'

do s feus R eino s pediaõ focco rro

XG reeia propondo-lhe o feu m iferav el citado para a m o v er â

compaixaõ. Achamo s em Theodo ro M arfrlio , q ue elle v erfo de

Pªpracio fe naõ lê como dev e fer p o rque a fua liçaõ genu ína he

a :

Telephus, CgºPeleus tam pauper , Cg

”exul uterqae

.Projieit , Cgºc

E a razaõ he ; p o rque T elepho p eregrinou p elaThefi'

alia p ob re

mas naõ dellerrado e Peleo pelo co ntrario de ilerrado , mas naõ

po b re . Po rém clarament e fe enganou M arfi lio e delle engano

no s. o fferece huma dem onílraçaõ Arif't o fanes na fua C omedia das

Rã s , na; q ual faz dizer aTelepho : Tu bem v ês quefay expalfo de

minha ett/a r

; fem trazer comigo quem me acompaubaje eferªv iâe. O

melmo fez dizer Ennio ao dit o Principe

Regnum reliauifeptas mendit iffald.

Proyteit. ampallar Cgº

jefquipedalta v erba Ampullas iílo he

t ermo s affeólado s e empo llado s u fou aq ui o Po eta de metafo

ra,t irada do m odo com que fe fazem as redomas de v idro , que

he àfo rça de fo rtes aff0 pro s. Na Epiilo la ufou da mefma

t ranslaçaõ

Aa tragitd de/Zeºv it (g

ºampullatar ia arte ?

Se/ouipedalia 'v erba He tam b em metafo ra t irada de m edidas ex

p rimindo p or palav ras de pé e meyo aquellas q ue faõ de mf

u i

l

t

l

as

Y ª“

C omo P eleo e'

Telepho querendo

Mlo v er a compaixaõ naõ ench e a b oca

D e longas v ozes de empollados termos.

XI.Naõ b aila, que 0 Poema feia b ello ,

fyllab as , as quaes p o llo q ue façaõ hum dizer grav e , e p omp ofo ,

p ro prio da Tragedia com t udo nem femp re p roduzem e íle ef

feit o po rque faõ ridiculas e fummamm ent e aífeéladas na b oca

de hum homem , que quer parecer angu iliado e mo v er ou tros àcom paixao .

N oah tis ejâ D acier illuf't rajudicio famente elle lugar di

zendo , q ue nelle dá o Po et a a razaõ do p receit o . Naõ b aila fó

m en te q ue huma Po efia feja b ella he precifo tamb em que fee

ja agradav el iílo he que faça impreíl'

aõ no s ent endimento s

Horacio occultamente falla aqui cont ra aquelles ignorantes, que

t em para li , q ue fazem huma excellent e Po e í i'a t oda a v ez que:

com maõ prodiga derramaõ nella t odas as Ho res da eloquencia ,

e t o da a p om pa de o rnat o s. Po is faib aõ (diz o Po eta) que nada fazem em q uanto naõ fizerem com q ue a t al o b ra mov a

t o q ue no interio r e faça impreíi'

aõ no s ent endiment o s com as

coufas q ue diz , p o rq ue elle dev e fer o feu fim principal. A'

m aneira do Pint o r que ainda que p onha na figura quehum b ello Cºlo rido e a o rne de excellen tes roupaslhe der huma acçaõ v iv a

, e hum como mo v imento v italt e q ue pareça animada , naõ confegu io o Em q ue t em a p intu

ª

ra : agradará mas naõ ha de m o v er. O mefm o h e 0 Po ema

naõ b aila q ue feia b ello pule/oram h e p recifo tamb em q ue—ª

feia agradav el dulce b ello p elo eflylo e agradav el p elo s alle

&o s. ]afon de N o res nef't e lugar : Pult lora igitur iatellige ad armªr-ªmeuta figura/q ue Oratiouis , guious expolitam ef e P oema debet— z daleiaad af eã ioues animaram eom itaudas eafque maxime quee ad iai/ef ícardium Ãoeã am . E a razaõ a deu Arifto t eles no 1 . liv ro da fua

R heto rica dizendo iu ipfo. laã a ito lat rj'mis iae/i

ª

auidam foufas fv a

lap tatis. E p o r iffo em Homero lem o s,mu itas v ezes : Et jieudi dulé'

t odine pertulit omnes. D aq u i fe t ira q u e ao s Po etas naõ he meno s

necell'

aria a Rhet o rica q ue ao s Orado res p ois huns , e o u tro s

fe dev em ferv ir do feu artiíicio já que t em o b rigaçaõ de mo v er

para agradar.

D e 'Arte Poetica.

Et quocumque v ole/zt , animam auditoris agunto.

Ut ridentibus arrident ita jientiozts adjient

Humani v ultos. S i v is mejiere dolendum ey?

Primina ip?/i tibi tunc tua me inferiº

r;/tia leedent .

Telepáe v el Peleu mala,/i mandam loquêris

Aut dormitaio aut ridebo. Tryiia mee/dum

Si v is mejlere , Egºe. (l uando aO raçaõ Pat he t ica fe faz com

as fuas de v idas circun íªtancias

, t ransfo rma o s anim o s p o r hum m o

do adm irav el. Pelo cont rario naõ ha co nfa q ue m ais ab o rreça

ao leit o r , o u o u v int e q uant o a frialdade com q u e fe exp rime

h um affeâo . O rem edio eiiicaciflim o para naõ cah ir nelle v icio ,h e o q ue ap o nta Ho racio iíºto h e fazer cada hum pro p rio s

aq uelles affeélo s que deferev e em o u t ro s . N aõ h e fé do no il'

o

Po et a he de t o do s eita dou trina. Qu int iliano no liv . 6 . Summa

circa map eados af eitas in loot ata ed , ut mov entur ip] Nam laãlas ,

ig”iraº Cg

”indignat ionis aliqaando ridicula fuerit imitatio v erba

waltamgue tantum non etiam animam aeeommodav erimus. N aõ he

m eno s t erm inan t e a do u t rina do grande O rado r R omano no liv .

2 . de O rat . N egue fieri pote/i at dolent is qui audit , ut oderit , ut

inv ideat , ut pert imefeat aliquid ut adjleói um ,mip rioordiamaue deda

catar , ni/i omnes ii motas in ipfo Orat ore imprejí atque inadifv ideaun

tur , âgºe. Ariflo teles allim na Rhe t o rica com o na Po e t ica rep e

t e mu itas v ezes e ita im po rtant iílima dou t rina , e lou v a diftinõla

ent e a hum cert o reprelentant e l

chamado Theo do ro , p o r ae

co mm o dar t ant o as palav ras gello s e acções a q ualidade do s

affeél o s e à'

condiçaõ das p efl'

o as im itadas p o r elle q ue parecia

a t o do s fer elle o v erdadeiro fujeit o , q ue fingia.

.l/laleji mandata loguerís Quer dizer S e naõ fizeres b em

aq uelle papel q ue t e manda rep refentar o Po et a au tho r da Tra

gedia , fab e , q ue o u me hey de rir p elas mu itas parv o íces q ue has

de fazer,o u h ey de do rm ir p elo frio m odo com q ue recit as e

fent es em t i o q ue rep re l'

entas. l ilo m efmo já t inha dit o C icero ,

elcarnecendo de Callidio Niji jingeres Callidi ta ijia ad eam

mo

Dev e fer perfuafi v o de maneira

Que as paixões que q u izer no o uv inte mo v a.

A ílim como“ do s homens o femb lante

R i , fe v ê o u t ro s rir fe ch o rar chora,Aflim , fe me q uereis m o v er a pranto

Hav eis m o v erv o s v ó s prim eiro a elle ,

E en taõ fent irey do r de v o ffo s males.

O,

Telepho , e Peleo , fe o teu caraóler

Finges indignamen t e a fomno o u rifo

Só me farás mo v er. Ao ro lªto trifie

G Trifl

modum narrares ? Somnum me um a ijio lot o fuia teneaamus .

anata mee/iam , (gºt . D epo is da reprehenfaõ dá a regra que

fe ha de guardar'

nasefallas das p effo as que compo em hum D ram

m a , a fim de q u e elle naõ fó feja b ello mas pathet ico para fe

fazer fenh o r do anim o d o audit o rio Et quorumgue u olent animam

auditoris agnato . (l ual h e o caraóler de huma figura theat ral , « talh e o aíi

'

eét o q ue dev e m o v er e aiiim com o tal o u tal paixao

p ede tal o u t al v o z a(lim tamb em p ede taes ou t aes palav ras.

C icero no liv . de O rat . Á liud v ot is genus iracundia f oifumitatutum

, inoitatum ,oreorà incidem , Cg

ª'e. aliud miferatio ao mteror

jiexioile , p lenum , Cgºo. aliud metas , demijum Cg

º [acei tam . D onde

fe co lhe, q u e fe a v o z

'

dev e fer ou t ra o u t ras dev em fer tamb em

as palav ras. Encheríam os longas p aginas fe qu izeffem o s apo ntar

exemplo s de Po etas efpecialm ent e D rammat ico s que naõ fou

b eraõ o b ferv ar efªta ley p o r naõ q u ererem fegu ir as p izadas de

Hom ero,de Virgilio de S o

'

phocles , e o u t ro s mas fim o ímpeto

cego do feu dep rav ado go íºt o . Ab ra o leit o r effes D rammat ico s

do fecu lo paílado e v erá v . g. q u e para rep refentarem hum ho"

m em t rifle e angu fliado o fizeraõ de maneira que Ho racio ,

fe o o u v iffe certament e o u lhe dav a o fomno ou o rifo t an

t as faõ as aii'

eõlações , o s p enfam en t o s frio s efquadrinhado s , hy

p erb o lico s e tantas as com parações e imagens refinadas ridi

culas,e rem o tas O Ep ifo dio de D o na Ignez de Caílro em Ca

m ões iá pareceo a hum Crit ico efcrup u lo fo coufa muy efludada

p elo Po eta ao feu b o fete , e q ue nenhum a com paraçaõ t em com o

da m ãy de Eurialo em Virgí lio . , p o rém t omara eu q ue q ualquer

Po e ta moffo quando qu izeffe rep refentar hum efpirito cheyo'de

do r ,

so D e'

Arte Poetica.

Valiu m v erba decent , iraram plena minaram

Ladearem lzy'civ a : fev eranz feria dióiu.

do r , e angu illa , lizelfe huma p intura taõ v iv a , e pathet ica , co

m o ella do ii o lfo grande Epico que ou tro s Crít ico s lou v aõ comju lliça.

I ratam plena minaram Ao q ue ella irado conv em palav ras

taõ furio fas , como o afpeól o e hum dizer t runcado ,e ex aarup

t o. Veja—fe como falla Juno em div erfos lugares da Eneida , cl

p ecialrnente no liv . I .

M e ne inaep to dej/lere ºv ií tam ?

Neepajé Italia Teat roram av ertere Regent ?

Quippe*v etor fatis Eg

ºr.

N ella b rev e falla o b ferv ará o leito r como ella D eo fa p o r caufa

da fua co lera ent ra a fallar fem algum exo rdio mas ex abrupto e

p o r modo de interrogaçaõ . Nada p ro po em e fó fuppo em aquel

le ineeeptam o q ual naõ declara naõ fó p o rque falla com ligo

m efma mas p o rq ue a ira com q ue ella, naõ lhe dá tem po pa

ra explicações. D ido no liv . 4 . naõ daexemplo s m eno s no b res ,e o s q ue M affei no s pro po em na pel

'fo a de M erope humas v ezes

igualaõ o s ant igo s e ou t ras certam ent e o s excedem . Illo haõ

de confeffar ainda o s mefmo s apaixo nado s de Seneca de q uem

com razaõ diz D acier : Seneguefait tres fou v ent parler fes perfonnages les plus furieux d

i

ane maniere gui fait d*

aoord fentir qu'ils ont

pajé la nuit à mediter, Cg

º

preparer leur fureur .

Ladentem lafeiªv a : Ao s alegres co nv em ellylo jo v ial. O mcfm o Achilles fe no theat ro fizer pap el de amante conv em —lhe

com t oda a p ro p riedade aq uelles t erm o s agradav eis t ernos e

delicado s q ue co lluma infp irar a paixaõ am o ro fa. N em illo he

co nt ra o caraóler da Tragedia de que Ho racio v ay fallando

p o llo que alguns entendem p o rém m al) que elle nelle lugar al

lude às gracio lidades da Comedia parecendo- lhes q ue no t hea

t ro t ragico naõ pó de cab er elle p receit o : m as cab e , p o rq ue def

t e m o do.

v em a ler mais pathet ico v ehement e e ho rro ro fo a

catallro fe da Tragedia , b em com o na pintu ra o claro e efcuro .

N aõ faltaõ dillo exem plo s no s T ragico s ant igos , e no s m oderno s

em M affei em algumas fallas de Adm/lo e [fmene mas com ef

p ecialidade nas de Polifonte. Aº

grav idade da Epºp eia t am b em fe

concede ella licença , naõ lendo o ufo frequente elpecialmen t

f

e

e

513 D eArte

'

Poe'

tica.

Format enim natura prius nos intus ad omnem

Fortutzarum habitam jattal aut impellit ad iram

Aut ad damam moerore gram deducir e'angit

Pq/l ref eri animi motas interprete lingua.

Si dieentis eraurfarinais aõfona dicºia

Romani tollent equites peditefque cachinnum

que elle naõ entendejê que pondo- lhe os olhos l/oe pedia fooeorro ou

v ingança contra tanta of enfa . Na Rodoguna Ant íoco ellando fum

m ament e agitado diz q ue a e/p erança naõfe po'de extinguir onde

arde taõgrandefogo o qual lhe da'luz parajulgar mel/oor . N o Hora

t io dia elle a Tu llio A minina maõ bem faõeria liv rarmo de toda a

v ergonha mas o meafangue naõ fe atreªv e apart ir fem caja licença.

B em fe v ê q ue e lles co nceit o s q uando mu it o ló le p o deriaõ

fo ffrer em huma Ode ou em ou t ra fem elhante compo liçaõ per

t encent e ao ellylo Lyrico p o rém de nenhum m odo na Trage

dia e na b oca de pell'

oas a q uem p ela grav idade do feu cara

él er, pela grandeza do alfump t o e p ela v ehem encia de paixões

fo rtes naõ po diaõ lemb rar co u las taõ frias e efq uadrinhadas e

p o r ilfo pueri's,e cont rarias ao p receit o do no ffo Po e ta que fe

gundo o dou t o D acier , efp ecialmente allude nelle lugar a hunstaes v ício s.

Format enim natura prius , igºr. Ella razaõ que Ho racio t i

rou t alv ez de Plat aõ no feu Sopnzfa no q ual difco rre T heo élet es

da melma maneira aclara b em a fo lidez do p receit o p recedent e .

N e lles q uatro v erlo s marav ilh o fo s m o llra , que p ara exp rim irmo s

v iv ament e as paixões no s deu a natureza duas efpecialillimas

co ufas : a p rimeira h e hum co raçaõ capaz de fent ir em li toda.

a

m udança da nona fo rtuna , e a fegunda huma língua para exp ri

m ir o s div erfo s fent iment o s do co raçaõ . N ó s p ro p riam ent e fo

m o s hum in llrum ent o an imado,com p o llo p ela nat u reza de m u i

t as co rdas de div erfo fo m,cada huma das q uaes refpo nde a hum

dos m o v imento s do no ll'

o co raçaõ . Allim o efcrev ia C icerof

no

eu

Arte Poetica.

Sim ; porque a natureza interiormente

Capazes'

no s difpo z para fent irmos

O s div erfo s effeito s da fortuna.

Ella he q uem no s ajuda , o u no s impelle

A'co leta e ºpprimido da t rifieza

A'terra no s ab ate o ro ilo aFHiâo ;

E logo a fer interprete do aflºeõio

Que (ente o co raçaõ ,enfina a lingua.

Se as v ozes defco rdarem da fo rtuna

Que finge cada aóªcor , pleb eo s e nob res

T o dos haõ de foltar altas rifadas.

M ui

feu O rado r Omni: enim motu: anini i fuuni auendani a natura babel“

v alium 69“fonunz is

º

ge/iuin 5 totunzaue corpus hominis Coª(jus om

ni: v alias omnefaue 'v oces ut nerv i in]idious itafanant at a quo.

que aniini motu fani pal/ee .

? uv at aut impellit ad iram paraHo racio m oPcrar com v iv a.

eX p reH'

aõ o ím pet o com q ue a ira no s lança em algum p recipi

cio,naõ fe con t entou com dizer q ue d i a p aixaõ no s ajuda= a

defpenharm onos juv at , mas qu e no s impelle a ifto ,impellit .

Aut ad b umum nzaeroregraªv i dedueit : Os ant igo s quando fe v iaõ

em grav e ai ccaõ arraftrav aõ o ro fto p ela t erra,e ench iaõ o s

cab ello s de p ó immundo . Afiim no s p in ta Homero a Achillesq uando An t ilocho lhe deu a no t icia da m o rt e de Patroclo . D o

m eim o m o do no s rep refenta Virgilio a M ezencio . Ho racio com

d ia b ellifiima exp refTaõ e naturaliílima im agem de hum homem

h um ilhado e ai ólo m o íira com b em v iv eza q uant o he ridi

culo p intar a T elepho , e Peleo (endo huns mendigo s , e defiert ado s lançando ampullas Eg

º

fefguip edalia p erna ift o he ufando

de t ermo s pompo fo s , e de o rnat o s rhet o rico s.

S i dieentir erunt Cã o. Se as palav ras e p enfament o s naõ

guardarem p ro po rcaõ com o s affeâ o s q u e fe reprefent aõ fe o

irado naõ Fallar co lerico fe o ferio naõ m o ílrar grav idade e o

t riíªte naõ rep refentar a fua aFHiccaõ com t erm o s do lo rofo s o

applaufo , q ue ha de o uv ir o Pint o r de íias mo n ílru o fidades hadefer o defprezo e rifo de t odo s . Po r e fia razaõ dizia C icero p o rb oca de An tonio no z.. liv . do (eu O rado r : Si dolor aêfuijet meu: ,non modonon miferaoiiis fed etiain irridenda fuijet Orazio mea

54 D eArte'

Poe'

tíca.

XII.I ntererit maltam div as ne [oqaatar an lzeros

M ataras ne fenex an adaacflorente jav entâ

Ferr/idas : an matrona potens an [%dzzla nutria:

M ercator ne v agas cultor ne v irent is agelli

Colchas an Ajyrias : Taeois natritas an Argis ,Aat

Intererit multum Cde. O fallar pode—fe confiderar em dous

mºdos ou como locuçaõjmples ou com o morata . Aquella dizrefpeit o -às co nias e cita às pefi

'

oas exp rim indo o s feus co ítumes. Em q uanto ànmples t odo s v em q ue a m efma fôrma dedifco rrer t em hum ferv o como o u tro ,

hum pay com o hum iilhº e o mercado r de hum lugar , com o o de ou t ro , p o rq ue todo s v em a concordar nos ellylo s pelo s quaes fe entendem as coufas. Po rém em q uanto à locu çaõ morata naõ h e afiim o eflylode hum v elho , como hom em maduro he em tudo div erfo do dehum manceb o

l, como hom em a quem falta a experiencia e af

fen to . Finalmente cada hum t em eftylo mais ou m eno s lou v av el,fegundo o feu caraõter a fua idade e a fua pat ria. G u iado p o r

e ita regra v erá o leit o r v . g. em Terencio a diii'

erenqa de ellylo ,

q ue ha entre D av o e Sim o ent re N au fi f'trata , e So fro nia ma

t ronas grav es e qualquer das o u t ras do nzellas q ue fazem papel

de amant es. Ob ferv e em Ariflo phanes no C o ro da (na Com edia

int itulada aPaz , e v erá com o falla hum ru ft ico ; e em S o phoclesv eja com o fe exprim e hum mercado r na Tragedia P loilottetet .

Eurip ides no feu Ore/ies intro duzindo a fallar hum h omem de na

çaõ Phrigio ,dá huma p erfeita idea do com o o Po eta dev e p in

tar em cada hum o caraêter da fua naqaõ . Naõ he m eno s excel

lente o exemp lo de Arifto phanes na (na Lin/iram int roduzindo

hum Athenienfe e de S o p hocles no sx

feus Có ro s de mulheresAthenienfes , e Theb anas. Cada naqaõ tem o s feus co flumes p ro

p rio s e fegundo elles , o ('

eu ellylo div erfo como já adv ert io

Q u in tiliano : Nam Cs? gentibus more; fun! proprii nee idem in Bar

bara [talo EgºGrietaprobabile eji . O nofi

'

o Bernardes no s deixou

a mefma dou t rina na (ua Carta a D . G o ncalo Cou t inho .

Aguella lee mairforma/a e rica M ufa ,Que fempre nasfiguras e palav ras

Conforme aofu./eito , e ufo afao

Arte Poetica. 5'

XII.M uit o dev e at tenderfe , fe quem falla

He Numen , ou Heró e ; prudente v elho ,

Ou fogofo manceb o ; au tho rifada

M atro na , o u ama amante ; v agab undo

Negociante , o u cultor de po b re campo ;

Se he natural de Colchos o u da Aíi'

yria ,

Ejia'taõmal a b um pajlor de cabra:

Tratar de A/irologia e M edicina

Como a hum grande Rey degado e lav ras.

M aiara: nejenex Para q ue o leit o r v eja o co ftume de hum

v elho v iv ament e p intado lêa ao no ffo grande Ep ico no Canto

4 . onde na pe íl'

oa de hum homem de pro v eõta idade repreí'

entaa figura do v ulgo , q ue igno rando o s fegredo s do s Príncipes , dif:co rre como lhe parece nas refo lu qões delle . Ob ferv ará como a

maneira do s v elho s he fent encio fo p rudent e e p refum ido de v er

o s'fu turo s. Naõ t ranferev emo s algumas Efiancias po r ferv ir

m o s aq uella b rev idade q u e pedem humas N o tas.

An adlouejiorentejuv enta C o rneille e R acine fegu indo as

p izadas de S o p hocles , exp rim irao marav ilho famente em fuasT ra

gedias a linguagem da idade ju v enil ; p orém M affei no feu Egi/loh e v erdadeiram ente incom parav el.

An mairona potent , anfedula nutrix Creyo que Horacio tev e

no fent ido o Hippolyto de Euripides o nde Phedra e a (na ama.

fallaõ b em difi'

erentem ent e . C omb ine tam b em o leit o r o eftylo

de matrona na p eíi'

oa de N au í i ílrata em o Ploormiaõ de Terencio ,e o de Euryclea ama de Telemaco na Odyf za .

M ercator ne ªv agus Chama—lhe v agabundo po rque b em fe fa

b e que a v ida de muito s negociantes he co rrer t erras e pafi'

ar

m ares para lucrarem . Achamos alguns Int erp ret es , q ue fe p er

fuadiraõ q ue Ho racio fazendo aq u i m enq aõ deita clafie de pcf

fo as alludia àCom edia, e naõ à Tragedia ; p o rém naõ (ey como

tal ent enderaõ q uando So p hocles no P loilofletes int roduziohum negociant e e Eurip ides hum camp o nez logo na primeira

Scena da (na Eleti ra.

Colt/our, an Ájfyrius , Cã o. : Os natu raes de Co lcho s eraõ b ar

b aro s, e fero zes , o s da AÍTyria luxurio fo s e aíiºem inado s o s de

Theb as ei'cupidos falla o Poeta de Theb as Boet ica ) e daqu i

v em

D e“

ArtePoetica.

Aat famam jequere azztjbi cono elzien iajilzge

Scrip tor. Honoratmnj forte'

reponis Aclzíllem

Impiger iracundas inexorabilis , acer ,

Jara ncget jibi nata ni/zil non arroget armis.

Sit M edea ferox ,inv iõtaqae jleoilis I no

Vem o pro v erb io G rego Enolit a natas aere q ue t raz C icero

p ara deno tar hum hom em fem engenho algum . O s de Argo s eraõfo rt es t enazes em naõ largar o p o íl

'

u ido e amb icio fi ílim o s dedominio s com o b em p int o u Hom ero em Agam emno n . EmAri fl0 phanes fe acharáõ excellen tes exemp lo s de o b ferv ar cada.aélzo r naõ fé o e llylo p ro prio do feu ciliado da fua idade e dafua pro fiffaõ m as tam b em o do feu paiz naõ confundindo jámais hum Scytha e hum Perfa com hum At henienfe .

Aut famamfeauere , igºr. D epo is de t ratar do e llylo e lin

guagem que conv em a cada huma das p e ílo as q ue ent raõ emhum Po ema D rammat ico paffa a fallar do s caraã eres p rºp rio sdos dit o s aôl

/

o res confa certam ent e a m ais e í'fencial naõ m eno s

no D ramma que na Ep o p eia. O s Po etas naõ t em para exp ri

m ir no theat ro ,fenaõ do us caraõlceresº; iílo he , ou hum caract er

conhecido com o o de Achilles Ulyíl'

es &Cc. ou defco nheci

dº, p o rq ue inv entado de no v o pelo Po et a. O caraâer co nheci

do já p ela Hif't o ria naõ adm it t e alteraç aõ alguma e ha de fe

repreí'

entar v . g. a Ayax como Homero o p int ou e eifaqu i o

q ue q uer dizer aut famamfeouere o caraõler defeo nhecido iílo

e no v amente inv entado de v e em tudo cingirfe ao s p rece i t o s

do v ero fim il e co nv enient e a t al p eífo a rep refentada e iílo he

O que Ho racio q uer dizer nas palav ras aut pa eonv enientia jinge.

Hero do t o reprefent o u v alero fa a Artem ifa cingindo- fe a v er

dade daHilto ria ; p o rém fe h ou v efl'

e de p intar naõ a ellaHe

ro ina nem a Fulv ia C lelia ou o u tra alguma mulher v alero fam as o commum das mulheres hav ia eX p rimillas t ím idas, e cov ardes p o rq ue afiim o pedia o v ero í im il como fez Vi rgilio

q uando difl'

e de Cleo pat ra [liam inter [ f ila! pallentem mortefutuYâ, Cº

ºk Quem q u izer v er caract eres co nhecido s , e defco nhecr

dos , pintados com as co res mais v iv as , e naturaes aiiim do v er

dadeiro ,

Arte Poetica: 57

Se em Argos ; b u fe em Theb as foy criado .

O u feguir de v es a corrente fama ,

O u fingir co ufas que entre (i conv enhaõ .

Se acafo t orna Scena o ho nrado Achilles ;Seja irado incançav el furdo a rogo s

D efprezado r das leys , e q ue a ju íliçaT o da efpere das armas. InfleXiv el

h

Feroz feia M edea , Ino cho ro fa ,

H

dadeiro como do v ero fim il, lêa com reflexaõ o Cataõ do celeb re

Addiíi'

o n.

Reponir Aeloillem : Po em efte Heró e po r exemplo de huns doscaraõteres co nhecido s , e já div ulgados pela fama recomm endatido ao Po eta

, que o p int e , como fezHomero ,co lerico , V i o len

t o , refo lu t o implacav el , e inju ílo . I í'to quer dizer ropanis ; p o rq ue Homero q ue foy o primeiro que afiim reprefent ou a Ach illes pofuit Aeloillem e o Po eta que o p o zer no theatro com as

mefmas q ualidades reponit .

j'ara neget ji li nata Achilles na Ilíada pretende que as

leys naõ fe en tendem com elle,e p o r iífo naõ q uer o b edecer

Agamemnon antes o injuria e ameaça com info lencia.

N ib i] non arroget armis I ílo h e naõ efperaju fliqa fenaoda fua efpada. Po r ifTo chegou a defem b ainhalla para matar a

Agamemnon, o que M inerv a naõ co nfent io . L éa—fe a Homero

v erfe-ha como reprefenta a efie Capitaõ fiado fempre nas fuasarmas e naõ com o o u t ro s em do lo s

, aftucias e eflratagemas.

Sit Adedeaferox : (lual a rep refen ta Ap o llo nio na fuaÁ rgonau

tita ift o he a mais b arb ara de t odas as m u lheres cujo caraõlert emo s p erfeitam ent e p intado po r Eurip ides em huma Tragedia ,em que t omou p o r affump t o a crueldade della Princeza. O mcfmo argument o t omo u S eneca , e O v idio , cujo D ramma fe perdeo e delle diz Qu int iliano : Ov idii M edea v idetur mihi ojiendere ,quantum

'v ir ille pra/fare potuerit , ji ingenio fuo temperare guàm indulgere maluií et .

Flelilis [no Hou v e huma Tragedia de Eu rip ides com ef'tenome . M o nf. D acier para p ro v a d iilo allega com Plu tarco o u

de fe lem alguns v erfo s delle Tragico fo b re o dit o afl'

ump t o . Porem damais cert eza a au tho ridade de Hygino q ue no liv ro dasfuas Fab ulas p o em como certa ella Tragedia no cap .4 . : D e [none Eurip idis. P er

D e ArtePoetica.

Perí cias I xion I o v aga tri/it'

s Org/les.

XIII .Si quid inexpertam fcenee committis andes

Perp namjormare nov ata ferv etar ad imam

Qualis ab incapto procefwrit Ujbi con/let .

D ifícilc672 proprie communia dicere ; taqae

Perfidus Ixion [a v aga tri/tis Gredos A perfidia de Ixiondeferev eo Efchylo em huma Tragedia do mefmo nom e e Euri

p ides em ou t ra , como fe co lhe de Plu tarco . A errante v ida de Io

rep refent o u o meimo Efchylo . N enhuma dellas Tragedias chegaraõ a nó s.

'As furias de O relªtes achamo s marav ilho famente pin

t adas po r Eurip ides em hum D ramma do m eimo nome e para.

t odas e íl'

as Tragedias , q ue deixam o s ap o ntadas as q uaes efcapa

raõ ao naufragio q ue no s feculo s b arb aro s padeceraõ as let rasreme

'

t t em o s

'

o leit o r eurio fo p o is que elle genero de o b ra naõ

no s p erm it te aquella ext enfaõ, q u e defejam o s.

S i quid inexpertum jZ enee eommit tis At é aqu i explicou Ho ra

cio a p rimeira part e do v erfo ant famam feguere if'to he , o caract er daquellas p efTo as q ue já a fama geral t em div ulgado o u p o r

b om o u p o r m ão ago ra pafi'

a a exp licar a fegunda parte aut

fui eonv enientia finge , ifto he o s caraélteres daqu elles fujeit o s , queo Po eta inv enta do s quaes naõ fallaõ as Hifto rias. Ella inv en

çaõ he p erm it t ida ao Tragico ,como claram ente diz Ariílo t eles ,

t razendo p o r exemplo huma Tragedia compo lla de p erfonagensdefconh ecido s , que com p oz Agat hon , a qual mereceo o ap plau

fo de todo s naõ o b fªtante

/ fer inv entada. Ora a refpeit o deita

fegunda clafi'

e de caraõleres diz o no ffo Po eta , que taes q uaes o s

rep refentou no princípio o feu inv ento r taes o s dev e cont inuar

até o Em do D ramma o u da Epo peia que igualment e para ella

h e eita regra. A razaõ deita igualdade t aõ recommendada he

p o rque as mo ll'as o peraqões pela mayo r part e pro v êm dos no fi

'o s

hab it o s e elles naõ co fªtumaõ facilment e arrancarfe do animo

fem hav er em nó s huma grande mudança de v ida. Ella regra

tem fua excepqaõ v . g. no s m enino s nas_mulheres e naq uellas

p eíl'

oas que tem po r caraóler p rop rio o ferem mudav eis com p

ant i

6 o D e Arte Poetica.

Reáí ias I liaoam carmen deducís in, acºlas

Qaam proferres ig'

nota , indic'taqae primas

Publica materias priv atijuris et it ji

Neccirca nilem patalamqae moraocris orlem ;

cap . 9 . decide , que o Po eta naõ t em o b rigaqaõ de fe m o ílrar taõ

efcrupulo fo , q ue naõ adm it ta fenaõ argum en t o s receb ido s p ara as fuas Tragedias , m as q u e p ôde inv entar Fab u las no v as. Pot êm o np Po eta aconfelha com o mais fegu ro q ue fe p o

nhaõ no theat ro aíl'

um p t o s fab í do s , e q ue para ifto fe v aõ b ufcar”31 I líada , e à Odyjea q ue amb as citas Ep o peias q uer igualmente

comp rehender Ho racio nas p alav ras l liacum carmen p o rque a

Odyffea tamb em t oca em co ufas q u e p ertencem àguerraTroyana. Po rém p odem

— fe co nco rdar e lles dous div erfo s co nfelho s

confiderando —fe o Em q ue t iv eraõ efªtes dous M e itres p ara aflim o s dar. O fim de Ariít o t eles foy fó fallar daquellas Fab u las,

que p odem caufar deleite ao s o u v intes , e h e cert o q ue tant o

p odem deleitar o s Argum ent o s inv entado s com o o s fab ido s. O

fim de Ho racio foy fó fallar do Aíl iun p t o , q ue he facil , o u dif

ficil, e as Fab ulas inv entadas faõ mu ito mais difiicultofas , p o r

q ue nos caract eres deitas p o r í il'

o mefmo q ue naõ co nilaõ da

Hiflro ría,ou da fama

, pre tendem t o do s t er au th o ridade para jul

gar fe e ílaõ b em ou mal p int ado s p o rém no s caraõleres dos

Argume nt o s fab ido s naõ he aflim p o rque fe liv ra o Poetade

t oda a cenfura , t oda a v ez que o s exprim ir co nfo rme a Hi fio ria,e a fama ferv índo —lhe ellas de gu ia para naõ t ro peçar ª

.

C.

ºn'

t ra ella regra geralm ent e receb ida naõ p o dem citar o s Crí t icos

Cfcru pulofo s. N em faça m arav ilha dizer Ho racio , q ue as Fab u

las t ragicas fe podem t irar da Ilíada e O dyfl'

ea p o rque Arif

t o t eles e Plataõ efcre v eraõ que Hom ero h e hurnPo eta t ragico e que o s feus do us Po emas t em tanta connexao com a Tra

gedia , com o o feu M argites com a Com edia.

D educis in attus : ]afon de Nores adv ert ío na particular einer

gia,

. .Arte Poetica. 6 1

Dignamente fo rmar o s caraâeres ,

ue todo s de inv entar t em lib erdade.

M uito melhor farás fe o s argumento s

Fo res b ufcar a Homero do q ue expores

Outros nunca tratados , nem o u v idos.

X IV .

Farás t eu elle affump to co nhecidoSe ao s tragico s lim ites o cingires

Naõ feguindo o tecido da Epopeia.

gia , com q ue o Po eta ufou do v erb o deduco , e diz afiim : Hora-3

t iu: non dicit t rahis fed deducís gua/i dicat quodÃoontej'

equitur ,cam p enedimidio laáoris Homerus te liberaºv erit .

P uálica materies &gºc. D ado o preceit o ou confelho de

q ue m elho r fará o Po eta em b ufcar no s Po emas de Hom ero o ar

gument o para a fua Tragedia com o fez Seneca excep tuando

a Ottawa pafi'

a a enfinar de q ue m odo ha de fazer feu o af

fump t o q ue t iro u de ou t ro s , a fim de que naõ caya (com o era.

m uy natu ral ) em huma im itaçaõ b aixa e ferv il. Eu rip ides t i

ro u de Hom ero a fuaHecuoa Andromaca lploigenia e

C h iyfiipo t irou de Eurip ides a Fab ula para a fua M edea e hum

e o u t ro fizeraõ feus efies aíl'

um p t o s execu tando o que Ho racio

ap o nta no fegu inte v erfo, q u e v am o s a íllu flrar.

Neccirca *v ilem Na diflicil in t elligencia def'te lugar

faõ quafi tan tas as fent enqas com o o s Comm en tado res . N o res

efcuram ente diz q ue Ho racio falla aq u i da inv ençaõ v ícío fa da.

Tragedia com parando-a a hum cí rcu lo , que fendo p er li a fi

gura mais p erfeita p ó de fer de m at eria t aõ v il qu e naõ fe at

t enda âperfe í qaõ da fua figura. B em fe v ê q uant o elle Interp re

t e cílav a lo nge do conceit o de Ho racio . A int elligencia de N an

nio ainda he m ais exo t ica dizendo q u e o Poeta allude aq u i ao s

q ue accumulaõ Centâer t irado s do s dous Po emas de Hom ero ,

Lamb ino p o r f ugir à díflicu ldade ap enas t oca elle p o n t o . Hein

ii o p retende q ue orlem ºv ilem patulum lignifica hum circu lo

v icío fo de palav ras q ue nada fazem p ara o afl'

um p t o e naõ m e

no s t odo s agnelles ep ifodio s q ue naõ lhe conv em , p o r lhe ferem

e ílranho s. M as po r mais q ue fe empenha em querer p ro v ar íft o ,tenho p or cert o q ue

,quanto diz naõ fe p ôde accommodar ao

p on

62 D e”Arte Po

'

e'tica.

Nec v erbum v erbo caraliis reddcrejidus

I nterpres , necdejlzes imi tator in ateiam

Unde pedem proferrcpador v etet aat operis

p ont o de que Ho racio t rata. S ó o fent ído que lhe dá D acier

p arece o mais confo rme ao Po e ta e po íio q ue elle q uali nunca

aponta aq uelles q ue lhe daõ luz para cam inhar feguro o nde

ha t rev as , he certo , q ue lhe ab rio a e ílrada o q ue diz nella paf

[agem Francífco Lu ifino ainda q ue p o uco e naõ com t o da a

clareza. Saõ e llas as (nas palav ras Reúteimit aeeris (gºimitations

v incos ji non auxinsfueris in v ertendo t ota orõe id eji toto Poema

t is corpore P er orõem igitur univ erfum P oema intellige ojus P oeta:

guem imitaris , Cg”cum quo contendir. G u iado de lla p ouca luz diz o

Commentado r Francez q ue Ho racio depo is de aconfelhar , q ue

fe t ire para Pro t ogon ífta daTragedia algum do s perfo nagens do s

P o emas de Homero,co mo v . g. Agamemnon Ach illes , Hele

na &Cc. paffa a m o ilrar as cau t elas com q ue fe dev e v aler o

P o e ta de huns taes aff um p t o s. A p rim eira he naõ fe m eter em

h um circulo v il e manifedo a t o do o mundo í ilo he fazendo

com q ue entrem na Tragedia t odas as part es da I líada o u da

O dyílb a e im itando t o da aqu ella u niaõ e enlaqam ento que

Homero deu às fuas Ep o peias , v .g. p rincip iando o D ramma p e

las q ueixas de Ach illes e Agam emno n e acab ando com o fu

neral de Heitor. Eifaq u i o q ue q u er dizer : N eccirca v ilem, pa

tulumaue moraõeris ornem . Com razaõ lhe chama o Po eta v ilem, Cs“

p atulum com o co ufa fó p ro pria de hum v il engenho q u e naõ

fab e o s lim ites q ue t em hum D ramma e q ue aqu illo q ue na

E p o p e ia faz ju lia grandeza na T ra edia gé ra m o n itruo fidade .

Arillo t eles na ('

na P oetica co nfirma efªexp o fi qaõ ,dizendo So

õre tudo dev e—fzcuidar muito como tantas v ezes tenho adv ertido) em

que naõfe dê aTragedia o tecido e urdidura da Epopeia. C hamo à,o rganizaqaõ ep ica hum t ecido de mu itas Fab u las o q ual naõ

co nv em ao D ramma.

N ecv erbum v erea, Co

ªt . A fegunda cau tela , que dev e t er 0

Au t ho r das 'I'ragedías he naõ t raduzir fielm ent e palav ra p o r pa

lav ra o q ue t irar da Ilíada mas im itar a de ílreza de Efchylo

S o phocles e Eu rip ides q u e fem t raduzir a Homero fe v aleraõ

dos teus p enfament os , e eX p refsões. Elie preceito he geral paá'a

t o 0

D e Arte Poetica.

Necjic incipies at Scrip tor Cyclicas olim :

m o ftrará í ílzo com clareza. Supponhamo s , que hum Po eta querfazer

'

huma Tragedia fo b re a ira de Achilles e o b ferv ar o s p rim eiro s dous preceit o s de Ho racio í llo he nem q uer m et er no

feu D ramma t o da a Ilíada , nem roub ar as exprefsões a Homero .

inge—fe 'un ícamente —ao que pert ence ao feu argument o mas

eifq ue querendo o b ferv ar illo fujeita—fe a rep refentar t odas as

circun ítancias da co lera deite Heró e q ue fe achaõ p intadas naI líada de maneira q ue at é o int roduz na Scena defem b ainhan

do a efpada para*

matar a Agamemnon e M inerv a no m efmo

t em p o p egando- lhe p elo s cab ello s affaí

ªtallo para naõ execu

t ar a m o rte . Se o Po eta reprefentar efie paífo q ue t aõ b ello ,

'

e

m arav ilho fo he na Ilíada fará no th eat ro huma co nfa ridicu la

e co nt raria ao s p receit o s da Tragedia o nde as m aqu inas delta

claflª

e faõ taõ ab o rrecidas . E e ífaq u i q uant o a m im o q ue Ho

facio qu iz dizer nelle feu t erceiro co nfelho que certament e me

rece t oda a at t enqaõ e o b ferv ancía.

N ecpcincipies Os Po etas para ganharem logo no p rincíp io

fuas T ragedias a at t enqaõ do s ou v intes , co ílumav aõ no t em

p o de Ho racio com eçar co m exp refsões emp o lladas e p ompo

fas perfuadíndo- fe q ue afiim dav aõ hum a idea grande do feu

D ramma. ]u fiam en te co ndemna iflo p o r erro , p o rque o p rinci

p io aiIím do Po ema Tragico com o Epico dev e fer fim p les e

m odello . Jero nym o Vida no s deixo u na [na excellent e Po et ica o

m efmo preceito :

[ncipienr odium fagita facilefgue legentamN il tumidus demulce animos necgrandiajam tum

Conv enit,aut nimium tultam ojientantia fari

Omnia fed nadir prope erit fas promere v erb is.

O b ferv e—fe a Pro p o fi q'aõ daEneida , e v eia- fe como he limples

e m odelªm . N aõ lo u v a Virgílio ao feu Heró e em excefl'

o e fó

diz , q ue fo ra ínfigne no v alo r e na p iedade naõ lhe efpecifica

acções e fé ap onta q ue padecera mu it o p o r m ar e t erra. O

e ltylo b em fe_

v ê q uant o he fingelo e m oderado com o quem

fab ia q ue a natu reza co mmummente naõ co ftuma fer p omp o fa

lo go no p rincí p io das fuas p ro ducqões . N aõ deixe o leit o r de

v er o co m o princip iou Eitacio a fua Á cloi/leida Lucano a fua

P ilar/alia , Cornelio Flacco a lua Argonautica e Claudiano o feu

Rap tus

.Arte Poetica.

XV .

Naõ entres a cantar , como fizera

Hum Cyclico Efetitor antigamente

I

Rap tu: Proferpinee . Com efªta liçaõ confe íi'

ará a eno rme diiiancía,

q ue v ay do grande Epico Lat ino a e íies inchado s Po etas , femelhantes ao de q ue faz mençaõ Ho racio no fegu inte v erfo : Forta

nam Priami cantaõo , 69“noõile õellam , p ro p o fi çaõ inchada , e monf

t ruo fa p o rque em lugar de t ratar de huma ió Acçaõ p ro p o em ,

q ue q uer ab arcar,naõ menos que t o da a h iílo ria de Priam o def

de o feu nafciment o at é à fua m o rte àmaneira de Efiacío que

int roduzio no feu Po ema t oda a v ida de Ach illes.

Ut Scrip tor Lyclica: olim Aqu i ha duas coufas que explicarhuma h e q ue fe dev e ent ender p o r Po eta Cyclico e a o u t ra ,

q u em feria elle Po eta a q ue Ho racio allude . Primeiram ent e

defprezando como frív o las as interpretações de alguns C ommem-l

tado res , he de fab er , q ue en tre algumas efpecies de Po emas cha

mado s Cyclico: ha huma q ue he aq uella em que fe t rata em

v erfo de 'huma h iílo ria defde o feu p rincip io até o fim como a

Á chilleida ,de que acima fizem o s m en çaõ , aT/oefeida , de que fal

la Ariilo teles e a Tb eõaida de Ant imaco . A elles , e fem elhan

t es Po etas chamav aõ o s ant igo s Cyclico: p o rque can tando t oda

a v ida de hum Heró e como hum as acções fe v aõ encadeando

com ou t ras v em a fo rmar dellas hum com o circulo . Ella caíla

de Po emas h e q ue Ho racio aqu i v itupera com razaõ p o r fer a.

dita mu lt iplicidade de acções taõ cont raria aunidade q ue dev e

t er a Fab ula Ep ica o u D rammat ica. Po r iffo com grande ad

v ertencia e ju íliça naõ diz P oeta Cyclica: mas Script or . Po

rém quem fo il'

e elle Elcrit o r , a que elle allude naõ he facil av e

riguar , fendo tant a no s Au th o res a v ariedade de fent enças. Al

guns fe p erfuadiraõ , q ue Ho racio t iv era no fen t ído a S ta/imo , po refcrev er huma I líada e ent rar no num ero do s Po etas Cyclico s

fegundo parece fe co lhe de Ariflzo phanes. Po rém parece que

naõ pode fer cite , p o rque o p rincíp io do feu Po ema fegundo o

t raduz M arfi lío naõ t em nada de emp o llado , nem de arrogante

dizendo modeflamen te :

Arce: [ liaca: cano , D ardaniamaae nitentem.

Ou t ro s entenderaõ a M ev io q ue efcrev era hum Poema fo b re a.

G uerra de Troya onde inclu íra t o da a v ida de Priamo defde o

feu nafciment o até à fua m o rte p o rém o adv erb io olim de que

ufa Horacio mof'tra que elle allude a outro e naõ a M ev io

em

6 6

Fortunam Priami cantab o nob ile b ellum.

Quid dignam tantoferet dicpromij'or lziata >

Parturient montes nafcetar ridiculas mas.

Quanto reõiia: ac qui nil molitar ineptê—l

em qu em fe naõ v erificav a a círcun ílancia de mu it o ant igo . Emfim o u t ro s inclinaraõ—fe para o u t ro Po eta parecendo

—lhes p rov av el

, q ue Ho racio alludifl'

e a Ant imaco , ant igo Po eta Cyclico ,com o lhe chama Arifªto t eles e de hum cítylo taõ inchado e

arrogante , q u e delle diz Catullo :

At popalas tumido gaadeat Antimacloo

p o rém efie Po eta naõ efcrev eo da G u erra Troyana , mas daTheb ana e o p rincíp io do feu Po ema nada t em de em po llado , p o is

p rincip ia fegundo o s Int erpret es G rego s D icite Satarniz_70v i:

magnijiliee . (l uant o a nó s o q ue no s parece m ais v ero fim il he

q ue Ho racio alludio nelle lugar a algum daquelles Po etas q uecompo zeraõ hum co rp o de P oemas Cyclicos , em q ue t ratav aõ def

de o p rincip io do M undo at é à m o rt e de Ulylies com o fo raõ

Left/ae: , Á ri'

tino , Rumelio,e o u t ro s. O dit o co rp o p o et ico ,

ain

q ue fo ffe com po ílo de v ario s Po emas , com tudo (com o p ro

v a Cafaub ono co ftumaõ o s ant igo s citallo com o o b ra de humfó

, e hum fó Po ema Cyclico .

P arturient montes , nafcetur ridiculas mas Lemb ro u -fe aqu i o

Po eta do ap o logo de Efo p o p ara efcarnecer do t al Efcrit o r Cyclico q ue p rom et tendo arrogant e can tar t ant as coufas naõ fah io

da p romelfa , fenaõ hum part o ridiculo , q ual o do s m ont es em

p arirem hum rat inho q uando o s ru fªt ico s do camp o efperav aõ

hum B riareo fegundo aFab ula Efo p ica. C om fumma elegancia

acab o u Ho racio efªt e v erfo no m ono fyllab o mas para afiim ex

p rim ir com energia o v il e ridículo effeit o da fo b erb a p romef

fa do tal Po eta Cyclico . Qu int iliano no liv . 8. cap . 4 . fo b re ef

t e lugar : Ri/imur meritonaper P oetam , aai dixerat : Pr'x textam in

cífiâmures ro fere Camilli at Virgilii miramar illud Seepe exi

guu s mus nam epitloeton exiguu s aptum proprium epicit neplas'expett aremas (a

ºolaa/ala ip/a unia: fyllaõae non ajtata addidit gra

tiam. Imitata: atramaueHoratia: : nafcetur rídiculus mus.

—x D e Arte Poetica.

D icmihi M ufa v irum captae poll temporaTrom ,

Qui mores hom inum multorum v idit urb eis.

Nonjimam ex f ulgore , fed ex fama dare lacem

Cogitat at fpeciofa d'

eb ino miracula promut

.Antipbaten Scyllamqa'

e o”

emu Cyclope Cbarybdin.

'

Necreditam D iomedis ab interita'

M eleagri

h um do s Crí t ico s mais delicado s , e fev ero s que t ev e aAntigu idade dev eria refrear aq uelles m oderno s que defco b rem clara

m ent e a fua igno rancia , q uando p retendem defco b rir em Home

ro mu itas faltas de arte , e deju ízo .

N on fumam exfulgore , Cã o. : Acomparaçaõ naõ p ó de fer mais

Vi v a e expre íliv a. O s p rincíp io s arrogant es e qu e promet tem

m ais do que depo is daõ diz judicio fament e Ho racio q ue faõ

como aquellas m aterias em q ue facilment e p ega fogo lev antaõ

logo lav areda , mas ella dura po uco ,e depo is tudo he fumo co

m o v emo s na palha e o u tro s fem elhant es comb u íliv eís . Pelo

contrario ,o s p rincipio s m odefto s , q ue daõ m ais do que p romet

t em parecem-fe com aquellas materias fo lidas q ue com eçaõ a

arder po r hum rande fumo e naõ lançaõ chammas fenaõ de

p o is de b em í—n ammadas e conferv aõ p o r mu it o t emp o hum

fogo claro e int enfo . C om ella eco nom ia , e judicío fa o b ferv a

çaõ da natureza , q ue faz p receder o fumo à Chamma nas mate

rias fo lídas dá Homero p rincíp io à lua Epo peia para depo is

p oder p intar com p ro priedade aq uelles lum ino fo s Ep ifo dio s , co

m o o de An t iphat es o de Po lifem o , ,o de Scylla Caryb des

& c. a que Ho racio dá o nome de efpecio fo s p rodígio s e Lo n

gino C rit ico da p rimeira claffe chama com engenho fa delica

deza Sonb os de yupiter . O no íI'

o Cam ões mais q ue G ab riel Pe

reira m erece nella parte aq uelle diil inét o lo u v o r q ue fe lhe

dev e em o u tras p o rque p rincip ia a Lap ada com mu ita m odef

t ia p o fto q ue p rom et t e cantar mais de humaconfa) referv andot oda a fo rça do p incel para as v iv as p inturas dos feus Ep ifodios ,como o marav ilhofo de Adamaílzor , e outros

Arte Poetica.

Canta - õ M afa , o Varaõ que conqaijiatla

Troya v io longas terras e div erjb sCq/lames obferv oa de muitos pov os .

Elle Epico naõ q uiz , q ue precedefi'e

A Chamma ao fumo mas o fumo Chamma,Para poder depo is raro s portento s

R eferir , como Antiphates e'

Scl a ,

A Caryb des v o raz e Po lifem o .

A cantar naõ começa de Diom edes

A Vinda defde morte de M eleagro

Antipbaten : Foy hum R ey do s Leflrígões p o v o s q ue'

fe ali

mentav aõ de carne humana. Veja—fe elle ep ifodio no liv . I O . da

Odyjea , e o retrat o do b arb aro R ey.

Scyllamgae Bem fab ido he o q ue entre o s ant igo s era Scylla ,e Carybdes. Hom ero no liv . 1 1 . as rep refenta do us monílro s hor

ro ro fo s.

Cam Cyclope : I ílo—he Po lifemo R ey do s Cyclopes hab ita

do res naqu ella parte de S icília q ue ellajunt o do p rom ont o rio

L ilyb eo cu ia h iflo ría he hum do s m ais excellent es Ep ífodío s de

t oda a Odyfl'

ea. Bailav a de lla o liv c p c, em q ue fe lê ella incom =

p arav el deferip çaõ para fe av aliar a fantafia no b reza , e enge

nho de qu e fingularmente foy do t ado Homero .

N ecreditam D iomedi: Ho racio depo is de enfinar com o ex

em pio da Odyíl'

ea , o quan to dev e o Po e ta fugir de t oda ajaõlancia e alfeõlaçaõ no exo rdio do s feus Po emas p aíl

'

a ago ra a*mof

t rar que naõ dev e fugir m eno s de fundar a dita Pro po í i çaõ dan

do princip io a Fab u'la pe la fua ant iga o rigem . Propo em p o r ex

em plo v icio fo 0 Po ema de Ant imaco fo hre a v inda de D iomedes,com eçando a deferev er o s fucceffo s delle Heró e , defde a m o rte

de feu t io M eleagro . Qu e Ho racio :

nelle lugar allude aAnt ima

co he confa certa fegundo Acron , e Pro ph irío , a qu em fegu io

D acier , e M arfi lio . Os q ue diíl'

eraõ, que a allufaõ era a Hom e

ro erraraõ p o rque elle Epico naõ efcrev eo 'fo b re a v inda deD iomedes . E afiim o que Ho racio qu er dizer he que Hom ero

no feu Poema fo b re a v inda de Ulyf es naõ fizera ridiculam ente

como Ant imaco no feu fo hre a v inda de D iomedes , com eçando a

cantar os feus acontecimento s defde a morte de M eleagro , cujf

a

Hi

D e Arte Poetica.

Necgemzno bel/am Trozanam orditar ab ov o.“

S emper ad ev entam fejinat e?”

in medias res

Hill o ria naõ refiro , p o r naõ querer encher paginas com coufas

fab idas.

Necgemino b ellum , &gºc. Cont inua a p ro po r aHomero como

exemplar da p erfeita Pro p o li çaõ Po et ica, dizendo , que nella naõ

fi zera, como igno rantement e p rat icara 0 Au tho r da pequena Iliada p rincip iando a Acçaõ defde o s dous o v o s de Leda

, _ de hum

do s q uaes nafceraõ Callo r , e Po llux e do ou t ro Clytemnellra

e Helena , q ue. foy a caufa da G uerra Troyana. O s Au tho res da

Heracleida e da T/oe/eida cahiraõ no mefm o v icio ao s quaes fe

gu io o u excedeo Ellacio , p o rque naõ fe cont entando de come

çar a lua Tb ebaida p elo incelluo fo nafcim ent o de Et eocles e Po

linices , foy b ufcar o s p rincíp io s de T heb as , e p rincip ia 0 Po ema

p o r Euro pa , p rim eira caufa da dita fundaçaõ . Quem cham ou a

M ano el Thomás no feu Fenix da Lujtania v erdadeiro difcipulo

de Ellacio ,fez- lhe ju ll í ça, acertando - lhe com o nome .

Semper ad ev entumfe/iinat : Homero no s feus Po emas naõ per

de t emp o em m o llrar , que caminha para 0 lim do feu Argum en

t o ,e Acçaõ . O fim da Odyfea he 0 v o ltar Ulyll

'

es para fua cafa,e defcançar de tant o s t rab alho s , e para que fe v ille , q ue encam i

nhav a o feu Heró e a elle lim logo no p rincípio int roduz hum

confelho de D eo fes , fo b re o m odo com que Ulyll'

es hav ia v o ltar

p ara a Pat ria de maneira q ue parece ao leit o r q ue naõ póde

t ardar 0 lim daAcçaõ . O co nt rario faz Ellacio ,e Ario llo no feu

Orlando , demo rando —fe am b o s em m il Ep ífodio s , q ue nada fazem

p ara o cafo p o r naõ ferem memb ro s que digaõ com o co rpo

da Fab ula.

Et in media: res €9ºc. Elle'lugar he naõ meno s imp o rtante ,

q ue diliicult o l'

o . Alguns , como N o res , M arlilío G lareano , e

Lu ili no , pall'

araõ —no em claro ou t ro s perfuadiraõ-fe

, que Ho

facio dá aqu i o p receit o de que o Po eta dev e dar p rincip io a

narraçaõ do feu Po ema p elo m eyo daAcçaõ . He cert o que cl

t e m o do artijicial de unir a Fab ula p o ndo—fe o meyo em p rimeiro

lugar , e dep o is o p rincip io e fim fegundo v emo s p rat icado na

Eneida e Odyjea he a o rdem mais p ro p ria , q ue p ede a Ep o

p eia e a Tragedia , allim como a u íªdidura natural he a q ue mais

co nv em àHillo ria. Po rque fegu iraõ e lla o rdem Lucano S ilio

I talico Valerio Flacco e o u tros .p or ill'

o faõ mais aquelles

que

ya D eArte Poetica.

Non feens de notas aaditorem rapit C?”

D ek erat tradiata nitefcere poj'e relinqait .

Atª

que ita mentitar_jic v eris falfa remzfcet ,

Et quee deÁoerat Cgºc. Aquellas co ufas q ue o Po eta naõ p o

der t ratar c'om aquelle art ílicio e regras q ue pede a b o a Po elia,

dev e deixallas p o rque o q uerer defculpar o s erro s ou inepcias

dizendo q ue o o b rigara a necellídade h e fegundo Arillo teles ,defcu lpa infufliciente , po rq ue m elho r he naõ t ratar de huma coufa do que t ratalla mal e p retender depo is q ue lhe defculpemo s erro s . Ho racio para dar ella dou t rina co nt inua a t razer p o r

exemplo a Homero e na v erdade , diz o Filo fo fo na lua P oe

tica ) q ue taõ admirav el he elle Ep ico no q ue dí lfe com o no

q ue deixou de dizer , o q ue naõ deixaria o u t ro Po eta, q u e naõ

fo lfe da fua esfera. N o res o deixo u no tado dizendo : Odyjeamconjingens non [ane cuntia gare Ulyji acciderunt in eam conjecit ,v .g. fauciumfaije in Barnajõ Eg

ºin ducam colleõlionejmulaje infa

niam , €9ºc. Sab em os v . g. p elos Hillo riado res que Achilles t an

t o q ue foub e , que Agamemnon lhe ro ub ara Brifeide co rreo 10

o com o s feus a v ingarfe delle aggrav o o q ue p erceb endo%llylfes , conv oco u o s p rincipaes Cap i t ães , e fez ret irar aAchilles. O ra nada dillo refere Homero , v endo q ue eraõ co u fas , que

narradas naõ fariaõ aquelle no b re effeit o q ue de li pede gra

v idade ep ica e o deco ro do feu Heró e. Se Cam ões fegu íra ef

t a dou t rina de Ho racio naõ reprefentaria ao illullre G ama p re

zo , e pedindo a feu irmaõ que lhe mandall'e fazenda com que

o refgatall'e . Igualment e elle p receito Ho raciano comprehendc

aq uellas coufas , q ue de li naõ fe p odem exprim ir com todo 0 po

liment o e p intar com t odo s aquelles v iv illimos t o ques q ue lhe

faõ dev ido s e nelle cafo no s culina, que o melho r he deixar de

fazer a p intura do que fazella digamo s allim de m o rte co r.

A”maneira do celeb rado T imant es , que p intando o facrilicio de

I phigenia , reprefent ou t rille ao Sacerdo t e Calcante , mais trílle

aUlyll'es , e aftligidiílimo a M enelao , po rém naõ p odendo im it ar

com o p incel a ext rema angu llia de Agamemnon com o pay da

facrilicada co b rio —lhe o ro llo com hu nr lenço . Tamb em com

p reb ende Horacio nella regra o naõ fe dev er tratar em Pora

lia

Arte Poetica. 7

Palfe po r humas coufas já fab idasQue Fab ula cantada precederaõ .

E o que digno naõ he da magellade

Epica ,naõ o diz : em lim he tanto

Seu engenho em fingir , e o Verdadeiro

C o'falfo allim millura que o principio

daqu ellas coufas as q uaes para hav er de fe exprim irem haõ de

defagradar ao s ou v ido s p ela fua b aixeza , e fo rdidez , e p o r co n

feq uencia manchar a p recifa b elleza em hum Po ema. Elle foy o

m o t iv o fegundo Pedro Viõlo río po rque Virgilio nas G eo rgi

cas t ratando de tan t o s animaes naõ fallou do s po rco s dome lli

co s e de ou t ro s p o r v er que nella mat eria naõ p o dería conferv ar o índifpenfav el ,

deco ro'

p o et ico . Po r í lfo tam b em lem o s em

Arillo t eles no 3 . da Rhet o rica q ue S imonides feudo v io lentadoa celeb rar o s machos v encedo res na carreira p o r naõ proferir

hum nome p ouco h onello ent re o s G rego s , dille :

Av ete celerip edum filii eauorum .

Ataue ita mentitar Egºc. N inguem loub e ment ir illo he

fi ngir m elho r que Hom ero . Po r illb delle dizArillo teles q ue .

b e o mejire , que enjna a todos o comoje dev e mentir . Elle fingimenç

t o he a alma do Po ema Ep ico e fem elle naõ ha aquelle mara

v ilho fo taõ p recifo na Ep o peia que p o r faltar elle requ ili t o em

m u it o s Po em as naõ faõ co ntado s feus Au t o res no numero do sÉ p ico s. Po rém ha de fe adv ert ir com Sant o Ago llinho no liv .

2 . do s feus Solilloaaio: , que o s Po emas com elles feus fingimento s ,e m ent iras naõ no s p re tendem enganar : lim faõ m ent iro fo s mas

nao enganado res p o rque na fua Fab u la naõ p ret endem[fenaõ

compo r hum lingíment o p ara u t ilidade e deleite . He falfo f

o

q ue o s Po etas lingem mas tamb em he v erdade que a t al coufa

p odia , ou de v ia allim fucceder. Eifaqui o que elles p retendem

p erfuadir , b ufcando p o r meyo de huma m ent ira o m o do paraZ er app rehender «huma v erdade a qual ap p rehendída que fejanaõ fó nos caufa deleit e mas tamb em u t ilidade . D eleita-no s

Ilíada em q uanto ao marav ilho fo t ecido daFab u la fo b re a ira deAchilles co ntra Agamemno n

,e inllru e—nos em q uant o no s mol:

t ra, que a uniaõ co nferv a o s ellado s e a dífco rdia o s arru ina.

Sicv erisfal/a remifcet Eu lina ago ra com o m elm o exem plodo Ep ico G rego q ue a licçaõ dev e fem p re acompanhar com a

v erdade naõ ló moral, mas h illorica. So b re a v erdade daGuer

ra

74 D e ArtePoe'tica.

Prim?) ne mediam medio"

ne difcrepet zmam.

XV I .

Ta quid ego ta'populas mecum dejderet

Si plaaforis'

oges aaleea manentis ca'afqae

ra Troyana fundou Homero a ficçaõ da Ilíada para delle m odoa fazer mais v ero lim íl fazendo -a nafcer de huma coufa v erdadeira. E Virgilio quando int roduzio a Sinaõ no 1 . da Eneidafezcom q ue elle G rego ellab elecelfe o feu lingiment o fob re hum as v erdades taõ fab idas q ue naõ p odendo duv idar dellas o s

Troyanos , v iell'

em delle modo a crer o mais que elle lhes fingiaFundo aligaidp forte tua: perv enit ad aures

B elidee nomen Palamedis Caºinclita famd

Gloria, quem falsci fab proditione P ela/gi

Infontem infancia indicia guia b ella v etabat

D emifere neci nunccafam lumine lugent .

He precifo adv ert ir aqu i que ha duas efpecies de v erdadeiro

humq uecom elfeít o he , ou foy e o u t ro qu e v ero/imilmente foy,o u p odia e dev ia fer fegundo as fo rças da nat u reza. V . g. he

v erdade , que o s Chrillã o s lib ertaraõ Jerufalem do poder do s Bar

b aro s , fendo Capitaõ G o fredo , mas que nella co nqu í lla fe achaf

v alero fa Clo rinda e q ue h ou v effe hum fo rt illimo Sarraceno

chamado Argan te illo he fó v ero lim íl. N aõ he v erdade certa ,

q ue elles Indiv íduo s fe achalfem na di ta Acçaõ , mas he p ojiv el,naõ hav endo coufa , que no s co nv ença do co nt rario . O ra huma,

e ou t ra efpecie de v erdadeiro dev e acom panhar fem pre naõ m eno s

Po elia Ep ica q ue àD rammat ica e m illurando —fe huma v er

dade com o u t ra , illo he , a v erdade da(ícçaõ com o v ero lim íl do s

accidente: e ep ífodío s jcv eri: fal/'

a remifcens delle modo fe

co nfegu irá o im itarle a Homero e aos Ép ico s qu e fe lhe fe

guiraõ .

Primone medium Cfc. Teremos hum m o nllro q ual o que

nos p inta o Po eta no p rincí p io della Art e , fe a ficçaõ no Po ema

naõ andar fempre millarada com o v erdadeiro o u v ero lim íl, de

m aneira que naõ fe v eja a p recifa uniaõ e igualdade q ue dev e

h av er entre as t res part es principaes que o rganizaõ o co rpo da.

Ep o peia. He p o is necefl'arío , que o meyo , que he o nó daFab ula,

Co rrefponda ao principio e o_fim q ue he a fo luçaõ co rrefpon

da ao meyo e ao principio . Se fe ufar da licçaõ fomente em hu

ma

D e Arte Po'

e'

tica.

Sam i doneccantor Vo s plaudite dicat

Á ªitatis cas qae notandi f unt tibi mores

M obilis qae decor nataris dandu: (7 anais.

Reddere qui v ocesjam fait puer t?º

pede certo

Signat lzamam gq iit paribus colladere 69'iram

Colligit acponit temere Oº

mutatar in boras.

I mberbisjuv enis tandem ca/iode remoto

tallant aalaa Britani. E allim ao defcer a dita tapeçaria finalde com eçar a reprefentaçaõ chamav aõ auleea premere , com o lem o s em Ho racio na lua celeb re Epillo la I . do liv . z. Quatuor

aut plure: aalten premuntur in b ora: e ao fub illa final de t er acab ado o D ramma chamav aõ auleea tollere como v im o s em V ir

gilio . Hoje o np t heat ro p rat ica o co nt rario , p o rque o delcer9 panno he que he linal de t er acab ado a reprefentaçaõ digoI fÍ O para q ue o leit o r p ouco in t elligent e naõ caya naq uelle erro

q ue com et t eo cert o Au tho r no llb q ue del'

crev endo o apparat ode huma Tragedia Lat ina q u e fe rep refentara p o r certa funçaõ

p ub lica t omo u o premere auleea pelo lev an tar do panno da b ocado theat ro

, ao começar do D ramma.

E tati: cuja/gue Gc. Já hav ia t ratado do s co llum es em

q uant o v ero lim eis famamfeguere , em q uan t o co nv enien t es con

v enientia finge , e em q uant o íguaes ferv etar ad imum quali : ab in

ceep to procey'erit : faltav a ago ra fallar delles em q uant o b em p inta

do s, e exp rim ido s , notandifant t ib i mores , p o rq ue cada idade t em

feus efp ecíaes co llumes“com o adv ert ia C ícero no feu O rado r

N on omni: ceia: eadem aut v erborum genero aut fententiarum tratlan

da e/l. Ella p intura no Po eta o u Ep ico o u D ramm at ico dev e

fer taõ v iv a, q ue o leito r ou ou v inte , v endo

-a , diga para logo

Elle q ue falla he hum manceb o aquelle he hum v elho : q ue b em

p intado tyranno q ue b em exprimido amb icio fo av aren t o ,in

conllant e co lerico &Cc.

M ob ilibufque decor naturis dandas , C9ºanni: Quan to com a ida

e fe muda o co rpo ,o u t ro t ant o fe muda o animo de maneira ,

que ella mob ilidade de inclinações no homem naõ he fómenâe

e

Arte Poetica: 77

E a pedir v enha o C o ro o s. no lfo s v iv as

Dev es muy b em no tar de t o da a idade

O s co llum es e de indo les mudav eis

Pintar a inclinaçaõ confo rme ao s anuos.

O m enino q ue em v o zes expeditas

Já refpo nde , e cam inha liv remente ,

Fo lga com feus iguacs de fazer b rinco s ,Taõ deprelfa fe agalla como o enfado

D epo em fem reliexaõ e a cada inllante

M uda. O moço , q ue ainda naõ tem b arba ,

de huma para o u t ra idade mas tam b em de huns para ou tro s an

no s defagradando v . g. no fim da ado lefcencia o que agradav a.

no p rincíp io della. I llo he o q ue v erdadeirament e q uer d izer

Ho racio nelle v erfo , para q ue o Po eta laib a a part icular o b ri

gaçaõ q ue t em de conhecer b em ellas efpeciaes mudanças.

Reddere qui v oces , (aºc. Ent ra a efp ecilicar a lua do u t rina por

t odas as idades , e p o r í llb p rincip ia p ela Infancia a qual rarilli

m a v ez faz p ap el em Epo p eia , o'

u Tragedia. Po r ella razaõ Arif

t o teles naõ fez mençaõ della idade , q uando na fua Po e t ica trat oudas o u tras e das inclinações q ue lhes faõ p ro p rias. Po rém naõ .

dev e aq u i fer cenfurado Ho racio p o rq ue o s co llumes q ue dá.à Infancia igualm ente fe accomm o daõ à Á dolekencia . Acro n illu llrando elle lugar diz q ue reddere v oces lignifica lim plesm en

t e o m enino q ue já fab e fallar p o rém erro u p o rq ue lignifica.aq u i o menino que já fab e refp onder allim com o em Virgiliºo v erlo

Car dextrtejangere dextrdmN on datar , acv eras audire Ca

ºreddere v oces

E em Catullo no feu Ep ithalam ío , q uando dill'

e :

Necmija: audire queant necreddere v oces.

[ram colligit , Coªt . C om o o cereb ro do s m enino s he mu ito

m olle e p o r ella cau fa taõ dep reli'

a fe lhe im prim em o s o bje& o s com o fe lhe apagaõ , p o r í lfo com a m efma facilidade

,com

q ue fe agallaõ com a mefma depo em o enfado fem precederrellexaõ e illo he o q ue quer p ro priam ent e dizer ponit temere.

Cu/iode remoto Pinta ago ra o s co llum es da idade ju v enilq uando já ellá liv re da opprell

'

aõ do mellre ou do ayo . Parece ,

que

D e Arte Poetica.

Gaadet aqui: canibafqae eeº

ap rici grainine campi

Cereas in v itium jleá'

ii monitoribas (z./per

Utilium tarda: provy'

or prodigus ceris

q ue Horacio allude aquelle lugar na Andria de Terencio em

q ue S imo falla allim de Pamph ilo

Nam i: pojlauam extrait ex epb ebi: Sofia ,Liberia: v iv endi fait pote/ias , nam antea

Qui fcire poj'

et aut ingenium nofcereD am a tas

,meta: magi/ier prob ibebant .

Gaadet equis B c. Allim fe queixav a o melmo pay na refe

rida Comedia , dizendo

Quod picrique omnes faciant adoleji entuli ,Ut animam ad aligaodjiadiam aa

'jangant , aut equos

Alere aut cane: ad v enandum.

Virgílio lemos nob remente p intado elle co llume -na peli'oa

de AfcanioAt paer Afianiu: medii: in v allibu: acri

Gaudet equo jamg'ue leo: curfu jam pra terit illos ,

Spumantemque dari pecora inter inertia v oti:

Optat apram aut fulv am defcendere monte leonem.

Et aprici gramine campi Por ellas palav ras quer o Po eta li

gnílicar o campo .Marcio, o nde a m ocidade R omana fe exercita

v a em jogar as armas em andar a cav allo e em ou tro s exerci

cio s pelo s q uaes fe lizelfe fo rte e ro b u lla para depo is fo lfrer

o duro t rab alho da gu erra. Chamav a—fe a elle campo M arcio p or

fe confagrar a M art e dep o is de fe conlifcar ao s Tarqu inío sa qu em antes p ert encia. Ho racio dá- lhe o ep itheto de aprici

q uali apirici illo he campo muy ex o llo ao So l. Elles exercicios da m ocidade ellav aõ muito em u 0 no tempo do noll

'

o Poe

t a,

So D e Arte Poetica.

Sublimis , cupidafqae O'amata relinqaercpernix.

Conv er/ísjladas 69 d animafqae v irilis

Qaterit opes 69'amicitias inferv it b onori ,

Commi/ije cav et quod mox matare laboret .

M alta fenem circamv eniant incommoda : v el quod

Qzuerit 67 inv entis mJer ab/iinet ac timet ati ,

Vel quod res amueis timide gelideqae mini/irat

D ila

Sublimis : I llo he , alt iv o e at rev ido . D elle co llume no s dei

xou Virgilio huma excellente p intu ra na pelfoa do manceb o Pyr

ro , retratando- o allim no a. da Eneida :

Vejiibalum ante ipfum primogae in limine Pyrru:

Exultat telli:“Caºluce cora/cus aena

ualis ubi in lucem colaber mala gramina pajlasFrigidafab t orram tamidum quem bruma t egebat

N uncpontis nov u: exuv iis,nitidufquejuv entci

Lubrica conv olv it fublato p ottore torgaArduas aa

'falem €9

ºlinguis micat ore tri/ulcis.

Cupidas , [aºamata relinquere pernclv : C omo as p aixões da mo

cidade faõ mais v iv as do q ue grandes p o r ill'

o o s manceb o s

ada pall'

o ellaõ m udando de alfeél o s à maneira do enferm o com

o s feus div erfo s appet it es , com o b em o b ferv ou Arillo t eles quan

do dille Sant enim eorum acata non grav ia magnav e admodam

dejderia : quali: e/l'

in eegroto plerumquep ri: aut fames . Po r ella ra

zaõ na Andria de Terencio diz D av o acerca do manceb o Pam

p hilo , que no s“m oço s a paixaõ amo ro fa , q uando mu ito , naõ du

ra mais q ue dou'

s o u t res dias ab o rrecendo -l'

e facilmente hojedo m efmo

, q ue hom em amaraõ .

Conv eru: ]iadiis , Cde. Pall'a Ho racio à idade v iril , cujo s co f

t umes t em o feu lugar ent re o s da m ocidade e o s da v elhice , e

p o rq ue co nli llem nelle m eyo , p o r ilI'

o co llumaõ fer o s mais p erfe i t o s. E lla idade ama as riq uezas naõ p o r av areza com o os

.Vºlhºs nem p o r prodigalidade como o s manceb os mas para

p o r

Arte Poetica.

Tudo .o que v ê cub iça como larga.

Trocado s o s cuidado s com a idade ,

O animo já v iril b ufca riquezas

E am igo s , ferv e ho nra e fe acau tela

Em naõ comet ter confa , de que po lia

Arrependerl'

e logo . Ao v elho cercaõlll ll cuidado s o u feia porq ue anciofo

Lida po r adquirir e miferav el

Naõ galla e t eme ufar do já ganhado ,O u po rq ue nada faz , fem q ue fe mo llre

T imido e fem ardor , irrefo luto

L

p or ellas co nfegu ir amifades e honras preferindo o u t il ao ho

nello , ou , dizendo m elho r co ncordando humacoufa com «p u t ra.

Commipje ca,v et âg

ºc Como o v araõ emenda com o ju izo ,

e prudencia , o que he v iciofo no sco llumes , p o r ilfo cu ida mu ito

em naõ fazer co nfa da q ual fe haja depo is de arrepender. P on

dera maduram ent e as co ulas e [

prev ê as luas confequencras,

co

m o Virgilio p inta a Eneas

Atque animam nuncb uccelerem nuncdiv idit illac

ln parte/que rapit v aria: porque omnia v erfat Egºc.

Po r ill'o no Ore/ie: de Eurip ides diz Eleélra aHelena : Nuncfer)

reã efenti: quee tuncdomo: turpiter religuijii.M ulta fenem , Cg

ºc. O s co llumes da v elhice faõ em tudo cone

t rario s ao s-

da mocidade. O v elho cu ida em am ont oar riquezas ,e dellas naõ fe atrev e a gallar : Que ru Cg

ºinv enti: mijar abjlinet ,

actimet uti - e o m anceb o tarde co nlidera no q ue lhe he u t il e

fó cuida em fer p rod—igo do que po llue Utilium tarda: prov ifor

prodigas a ris . Horacio na p intura de t odo s elles co llumes em ca

da huma das idades fendo hum fi el co p iado r de Arillo teles nella

do caraôler da v elh ice clarament e fe v ê q ue em nada fe aparta.

do defenho do Filo fo fo como poderá o b ferv ar quem ler o fe

gundo liv ro da lua Rb etorica .

Vel quod res amuei: Egºr. Humas das mayo res incommodida

des da v elhice he o geral t emo r, com que ella faz q ualq uer cou

fa, p o r lhe faltar o ardo r dos efp irit os. Allim o dizia Ev andro

na Eneida fallando de li

D e Arte Poetica.

D ilator pe longas iners av ide/aef utari

D if ícilis queralas laudator temporis aiii

Se paero cenfor ccylzgatorqae mznoram .

Z Walta

Sed mib i tarda gela [teclifque ef e tafeneã'

lnv idet imp erium fereeqae ad fortia v ires.

E em outro lugar

Sed enimgelidus tardantefenettdSanguis b abet frigentque ef e tue in corpore v ires.

Spe longa: : Po r illo melm o q ue o s v elho s naturalmente faõt ím ido s , h e q ue faõ t ardo s em conceb er efperanças , defco nliandode t udo p o r experiencia

'

que t em em o u t ras co ufas. Tem o s clt a pela v erdadeira intelligencia delle lugar ainda q ue Lamb inoalfente q uefpe longa: q uer dizer que Os v elho s femp re ellaõ a

efperar. Allega para í llo hum lugar do mefm o Ho racio , t oman

do nelle fent ido [oem inclooare longam p o rém“

ella palfagem naõ

v em para o p onto p orque [oe longa e [oe longas naõ he o m ef

m o , como b em no t ou D acier , para quem no s rem e t t em o s . Francifco Lu í lino fav o rece ella no lfa int elligencia dizendo co nt ra

Acron a quem fegu io Lamb ino : (Spclonga: ) id diª

,non diafpe

rans,nam b ocjuv enum

'

e/l fed tarda: adfperandum .

Av idafquefaturi : N elle lugar v ariaõ igualm ent e o s Exp o fl

t o res. ]afo n de N o res t em para li que q uer dizer qu e o s v e

lhos femp re ellaõ appetecendo o fu turo já m ais co nt entando -fe

com o

'

p refente p o r fe p erliiadírem q ue o m elho r h e fem p re o

q ue ellapo r v ir. O mefm o fegue Lu ilino e N annio po rém

eu t enho po r melho r o fent ido q ue lhe dá Lamb ino p ro v ando

Arillo t eles o nde exprime o s co llumes da v elhice , que av idus futari he o m efmo q ue v itae cupida: p o is q ue o s v elho s tantomais ellimaõ o v iv er q uant o mais fe v em chegado s ao fim da

v ida , b em com o aqu elles que t endo p erdido grande parte da

lua fazenda , ficaõ com mu it o apego a pouca q ue lhes rella.

D ipicilis , queralas : I llo he , int ratav el , e fem p re a q ueixarfe .

Saõ o s v elho s de mao hum o r, p o rque como mu itas v ezes t em li

:do enganado s , fufpeitaõ mal de tudo o q ue fe lhes diz : e ellao

fem pre a q ueixarfe p ela razaõ que daC icero Contemni fe putant , defoici , Eg

ºilladi . N aõ alcanço a razaõ , em que le fundou

Jacob Grifolo para efcrev er q ue Horacio dizendo guerulas lóq u iz

D e Arte Poetica.

M altajerant anni v enientes commoda fecam ,

M alta reeedentes adimant : nefortefeniles

M andentur jav eni partes paeroqae v iriles

Semper in adjanélis , cer/oque morabimar aptis.

XV II.

?Aat agitar res in fcenis aut aála refertari

M ultaforant anni v enientes (de. Elle lugar em alguns C ommentado res acho -o mal entendido . Para a lua int elligencia he

p recifo adv ert ir q ue o s R omanos 5. idade v iril v . g. at é t rintae cinco ou q uarenta anno s , chamav aõ anni v enientes num eran

do —o s na conta p o r addiçaõ e ao s que pall'

av aõ v . g. do s q uarenta chamav aõ anni recedentes co ntando —o s p o r fub tracçaõ. Elleera o m odo v ulgar , com qu e contav aõ as idades e q uem dillo

q uizer mais larga no t icia, v eja aM onf.D acíer íllullrando na Odedo liv ro a. a pall

'

agem

Et illi , qui tibi dempferí tApponet anna: , Cg

ºc.

Ne forte(miles, Conclue , q ue o Po eta dev e elludar comt oda a reflexaõ p elo s co llumes

,e paixões q ue acompanhaõ a cada

idade, para naõ cahir no erro de rev e llir hum manceb o do caraéler

de hum v elho,nem hum m enino das inclinações p ro p rias do s an

no s v iri's. Com e lle p receit o deHo racio fe fez fo rt e Udeno Ny

li eli para cenfurar em So phocles o p in tar no feu Pb iloftet es aNco pt o lemo com o s co llum es naõ de manceb o mas de v araõ e de v e

lho . Po rém q uem allim crit ica,m o llra q ue naõ fab -

e, q ue p intar

hum manceb o com p rudencia , grav idade eju ízo naõ h e o m ef

m o q u e rev e llillo do caraõler de hom em de idade m adu ra o u

p ro v eõla. Po llo q ue em anuo s v erdes commummep t e naõ fe de

a madu reza, e p rudente ju izo com tudo e llas qualidades b em fe

v ê que le compadecem muitas v ezes com os anuosjuv enis

.;ri

«Arte Poetica:

He rígido Cenfo r. Em quanto crefcem

Os annos , muitos b ens trazem comligo ,Po rém q uando declinaõ m uito s males.

Demo s a cada idade o que lhe toca,

O u como v erdadeiro , o u v ero lim íl ,

Senaõ de v elho , e mo ço , home, e menino

Neremos confundido s o s co llumes.

XV II.As coufas no theatro o u fe recitaõ

C omo palfadas , ou fe reprefentaõ

Arillº teles para p ro v ar illo a N icomacho no liv ro 7 . de morib .

apo nta p o r exemplo ao N eo p t o lemo de So p hocles.Semper in adjunttis rev ogue

: morabimar ap tis N ores merece,

q ue delle façam o s aq u i m encaõ p ara q u e v eja o leit o r o mal

q ue entendeo elle v erfo . Qaamobrem diz elle )p mper in adjuntlis,rev ogue morabimar ap tis loocejl in iis , v el commodis v el incommodis

,

gate anitaique a tat i adjungifolent . O q ue Ho racio q uer dizer h e ,

q u e no exprim ir o s co llum es dev e o Po eta naõ p erder de Villaallim o s que andaõ annexo s a cada idade , com o tam b em o s que

lhe faõ pro prio s. N e lla regra naõ faz mais q ue co p iar a Arillot eles o nde diz q ue nos cofiamos ou b a de bufcar o necW rio ou

o v eronmil. N ecelfario he ao q ue Ho racio chama adjuntla eev o

i—llo he aqu illo que necell'

aríam ent e anda annexo a cada idadee v ero lim íl he ao q ue elle chama ap ta eev o illo he tudo o quev ero litn ilmente co nv em a cada idade , e fe l

-he accommoda legun—ª

do a natureza.

Aut agitar re: infceni: Egºc. D epo is de fallar das peli

'oas ,

que comp o em a Po elia D rammat ica fegundo a dilferença dasidades paffa a t ratar das co u las que o u fe dev em rep relen tar ,ou fómente recitar no th eat ro . He p recifo adv ert ir , . q ue naT ray

gedia , e C om edia ha humas coulas , q ue t em o leu lugar na Viv a.reprefentaçaõ e ou t ras , q ue fé o tem na recitaçaõ do s afto resáR ep refen taçaõ he tudo aq u illo que na fcena fe exp o em ao s o lhosdo audit o rio , e recitaçaõ tudo o de que o info rm aõ , fem que 0

v eja p o rque ha div erfas coufas q ue (6 dellas fe dev e dar no t iCia p or meyo de informaçaõ , e naõ de reprefentaçaõ .

86 D eArte Poetica.

Seguiu: irri ta/zt animos demíjíz per darem

t am 91146 [zt/zt oculz'

sj?:bjeãtajdelí lms G

''

quà

Ipfejlrí tradirfpeã ator. Non tame/z íntus

D igna geri promes infcenam : multaque tol/es

Ex oculís , que mox narretfacundía pne/km .

Segním irritam ( mimos, He cert o

, q ue aquellas co ufas ,

que nos co ntaõ naõ nos comm o v em tant o

, com o as q ue v emo s.

or outra parte he'igualment e cert o que o s o lho s faõ'm u it

'

o

m ais incredulo s , que'

o s -ou v ido s,e

.mu it o mais diHiceis a p erf

dir. D aqu i Vem 'q ue de v e o Po et a fer muy de ílro e judicio foem Ver o que ha de exp o r ao s o lho s do audit o rio e o que

'

lhe

ha de referv ar'

fómente para o s o u v idos.

libus O epithet o dejiez'

r

'

ao s o lho s aõ p ôde ferma e

'

eX p re íiiv o p o rq ue elles reprefentaõ as co'

ufas —co

m o em.

õ do m efm o m odo q ue chamamos fiel ao efpelho

p orque no s m o ftra o s“

o bjeé'

to s da m efm'

a maneira que em li os

receb e , que he có mo na realidade faõ .

Et gua—'

a'íp/ejái tradii q ã ator Ef'ta eXprefl

'a'

õ tamb em naõ

p ôde fer mais feliz po rq ue na'

rep refentaqaõ o audit o rio ap t ed

de p er fi m efmo inPcru indo —fe ocu larmente v de t udo o q ue fucce

de no th eatro . Pelo cont rário na recitaqaõ naõ aprende p er fim as immediatamente po r hum t erceiro , q ue o info rma da confa

'

,

v endo - fe deite m odo precifado a fo rmar della aqu ella idea que

lhe q u izer dar o info rmant e . D aq u i v em aquelle“

dit o de Plau t o

P lus v alet acalmar tejí z'

s m ma guàm aurí t í derem .

'

No”tame”im ; digna gen“: RecommendaHo racio ao Po eta

D ramma'

t ico hum particular cu idado em naõ exp o r ao s o lho s do s

o u v intes humas tantas co ufas '

que fó t em feu dev ido lugar dent ro

do theat ro ,

como v . g. o s fact o s , em q ue haja alguma desho neftiá

dade, o s q ue de fi

'

faõ at ro zes, e o s n im iament e lamentav eis . Ef

t es , e o ut ros femelhant es cafo s ficaõ referv ado s «

para a recitaqaõ ,exp o ndo

- o s a elo quencia de algum dos”

aét o res e iílo he o q ue

í ignificafacundia pne/em p orq ue a tal narraqaõ dev e fer-n

ª

ny.pas

t Ct lca ,

D eArtePoetica.

Necpueras coram popula M edea trucía'et

Aut huma/za palam coquat exta nefaríus Atreus

Aut in av em Progne v ertatur Cadmus in anguemº

Quodcumque Mendis mi/zíjc íncredulus odi.

a compaixaõ e t emo r (endo v iv ament e recitados do que re

p refentado s p o rq ue na reprefentaeaõ com o'

b em adv erte M az

zo ni) naõ v em o Po eta a m o llrar t ant o art ificio,nem p rimo r de

arte em qu e dev e t er efpecial cu idado .

Necpueras com m pºpulo , Para exemplo de hum expeéta

culo'

at rociflimo apo nta o no fl'

o Po eta o fab ido faéto de M edea ,d izendo , q ue naõ fe dev e exp o r ao s o lho s do s exp eélado res p o r

fer co ufa fummament e b arb ara v er huma m ãy naõ fó m atar , mas

fazer em p edaço s ao s p ro p rio s filho s a que Ho racio chama pue

ras,lendo a frafe do s G rego s. Elle preceit o (como ou t ro s mu i

t o s defp rezou o m áo go ito de Seneca na (naM eda; mas q ue

im po rta efªt e e femelhantes exem plo s para o Tragico b em inf

t ru ido nas v erdadeiras leys do t heat ro ? Accio no (eu D ram

m a fo b re'a b arb aridade de At reo p rat icou o co nt rario infer

m ando o audit o rio de tanta tyrannia p or m eyo de narraçaõ e

p ôde fer q ue a efte Tragico alluda Ho racio no v erfo aut humaml pulam p o is que naõ co nila de o u t ra alguma Tragediafo b re e íte Argument o fe b em fe co njeét ura q ue S o phocles ot ratara.

Aut in dev em Prague (pºr. N efte lugar mo it ra que naõ (6

o s cafo s que em fi cont enhaõ at rocidade , mas igualmente aquel

les em q ue hou v er inv ero í im ilhança , naõ fe dev em rep refentar

Vifta do s o u v int es ; p o rque fe aquelles faõ muy ho rro ro fo s pa

ra v iílo s , elles faõ m uy ridiculo s p o r incriv eis . Na Ep o peia fe

m elhant es m etam orfo fes fo llºrem -fe

,e lou v aõ- fe , co mo em Vir

gilio a t ransfo rmaqaõ das nao s em N infas , p o rque he confa , que

fe narra ; p o rém em Po efia D rammat ica he fummament e rep re

h en fi v el v er v . g. a Cadm o conv ert ido em ferpente Progne em

ando rinha Ph ilomela em rouxinol &Cc. 5 p orque faõ t ransflo rmaçõ es

Arte Poetica.

NaõI

defpedace a b arb ara Miedea

Em“

prefença do po v o o s— t enros filhos ;Nem de entranhas humanas faça palioNa [cena o b ruto Arreo ; o u Progne em av e ,

Ou em ferpente Cadmo fe conv erta.

T udo o que deile modo me mo llrares

Sab e , que naõ to fo ffro ,e q ue o naõ creyo

mações inv ero fimeis em hum lugar em ue as coufas fe rep t e

fentaõ fegundo a natu reza. R o b o rt ello fdbre a Po et ica »de Arif

to teles [a Tragwdz'

a, Ca

ºComwa

'z'

a ímitatz'

o eji laemíaam agentz'

am ali

gaia'feezma

'am naturam . Epopeez

'

a alígaz'

afadmit tit gaale illua'qaóa'

narratar a'e Círee de S írem

'

bas a'e Cyclapz

'

ám . Trageea'z'

a b eee nan re

eip í t , gaia non per anaamz'

atioaem fit f eat Epopeez'

a . ln anaamz'

at ía

ne autem malta , quamfuís admirana

'a Eg

º

pneter fielem b omínum pefnarrare

'

quee aliogai agi ab agemz'

bm eoram Áv eã aatz'

bas nonpofz'

nfeeaa .

Qaedaamqae ojí ena'ís

, (sºe. (luem reprefentar no theat ro ef

tas atrocidades e inv ero fim ilhanças o fru t o que t irará do feut rab alho ferá o odio e a incredulidade do audit o rio o o dio v en

do co ufas fummamente ho rro rofas com o as b arb aras acçõ es de

M edea e de At reo e a incredulidade v endo t ransfo rmações

inv ero fimeis com o Cadmo t ransfo rmado em ferpente e Progne

em av e . Po r eita regra b em claramente fe v ê quant o he digno

de cenfura , o u de defprezo hum D ramma , que t emo s int itulado

Variedades de Prothea ; fem qu e b aPte a defculpa de fe dizer , que

foy o b ra para rep refentarem figuras inanimadas , porque o que

(eu Au tho r pret endia ou dev ia fegundo a Art e p re tender era

ângir ao audito rio q ue a dita Fab ula de faélo fe reprefentav a ao

v iv o ; e de o u tro m odo punha no t heat ro huma o b ra para fim

plices e m enino s q ue fe co ntentaõ com a fat isfaçaõ do s o lho s.S e 0 Au t ho r foub era as regras da Po efia D ramm at ica , nem ha

v ia tomar hum tal argum en t o nem exp o r ao s o lho s do p o v ot antas t ransfo rmações e taõ incriv eis e ridiculas , com o Pro

t heo t ransfo rmado em relogio cantar hum m inuete e ou t ras fe

m elhantes ridicularias q ue tanto app laufo t iv eraõ ainda daquelles que prefumem entender dascoufas.

9 0 D e Arte Poética.

XVIII .

Nev e mininº quinto neají t proclzzáí ior aãlze

Fá bula quee pofcí v ultº 67

[pediam reponí .

Nev e minor, Cg

ºel Pafi

'a Horacio a fallar de huma das partes

de q uant idade da Fab ula D rammat ica ifto h e do num ero do s

feus A& o s e refo lv e com a p raxe de t o do s o s T ragico s ant igo s ,

q ue naõ dev em fer mais nem m eno s de cinco . M u ito s como

Lamb ino M azzo ni o P . D onat o G o nqales de Sales e out ro s

ti v eraõ e íªte num ero p o r arb it rario p retendendo p ro v ar q ue o s

ant igo s fó t inh aõ p o r A&o p erfeit o o terceiro naõ fazendo ca

fo do q uarto ,e q u into ; e para ifto allegaõ a C icero na Epiilo la

ú lt ima do liv ro 1 . aa'Quím. Fratr . O certo he q ue Ariíto t eles

naõ deixou efcrit o co nia alguma fob re ella p recifa div ifaõ po

t êm deu -nos algumas maximas fo b re aju í ta eX tenfaõ do sPo emas.

A Epo peia p ede mayo r grandeza do q u e a T ragedia e Come

dia e nob rement e explica—ifl* o o Filo fo fo com o exemplo do s

ammaes dizendo q ue em grandes e p eq u eno s a fua p erfe iqaõ

confi fªte em t erem as (nas part es p ro po rcio nadas a(na grandeza ,o u pequenhez. Segundo

'

ef'ta do u t rina a Ep o peia com o ant iga

mente fe recitav a p o r mu it o s dias adm it t ia m ayo r ex tenfaõ

além de ou t ras razões q ue ha para hav er de fer mayo r ; p o rém o

D ramma , com o fe reprefenta-em p oucas ho ras , p o r co nt er em fi

Fab u la de m eno r grandeza naõ adm it t e de ext enfaõ mais q uefingido t empo de hum dia ; e deite m odo o s C inco A& o s ficao

fendo part es p ro po rcionadas ao t odo da Acçaõ . Se elles fo ifem

meno s , ficaria o D ramma com — taõ p ouca ext eni'

aõ que naõ Vl

ria a perceb erfe b em afiim como o s animaes muy p eq ueno s naõ

parecem b ello s , p o rque as co ufas»m in

'

imas naõ fe perceb em p er

feitament e em m inim o efpaqo de t empo Se o s A&o s fo íl'

em

mais, t eria entaõ a Fab ula huma t al grandeza que naõ a com

p rehenderia a memoria b em como — o s animaes muy _corp ulen

t os ,

9 2 D eArte Poetica.

NecD eus inferi r ni/Ãdigaas v ma'ice nadas

I nciderit : nec quarta [aqui perfeita laborer.

Nee D ea; iaterjt , (sºe. Efªte p receito he firm

-

mament e imp o rtant e . N elle o q ue qu er dizer Ho racio he qUe a

'

fo lu qaõ donó o u enredo da T í'agedia

- ha de proceder de coufas in trinfecasà,Fab ula ou fe fo rem ext rinfecas , ao m eno s co nv enhaõ aAc

çaõ , fegundo o neceiTario , o u v ero lim íl. O s lances e incident es haõ de ir enlaçado s huns com ou t ro s de maneira q ue q uandofo r necefi

'

ario ao Po e ta m o ílrar a fo luqaõ do enredo naõ fe v a;do focco rro de alguma D iv indade como fez Eu rip ides na

M ea'ea

, enfinado fegundo a'

dou t rina de Francifco Patrizi)hum

cert o Carcino Po eta Trágico , q u e foy o p rim eiro , q ue:oduzio u as Alaqaâaar no theat ro , iíto he ,

. D iv indades defcendo

.

do Geo a'defat ar o enre do q uando o Poeta p or fo rça -p ro

pria .o . naõ pô de defemb araqar. Para naõ cah ir em taõ grav e v iem m o ftrando hum . engenho de p o uca inv ençaõ - dev e urdir afita Fab ula do m odo , q ue v o luntariamen t e naõ av enhaa reftrin

gtrfcent re Scylla , e Caryb des q uando a mefma Fab ularlh e dãzhum cam p o efpaq o fo para cam inhar fem .

apert o . C om tudoº

al—e

gama o Tc-cafiaõ ha eq ue fe p ermit t em as M aquinas . no t heatro ,.e hC '(dizAriíto t eles)q uando fe , fazem p recifas ou parap redizer fu turo s

,o u para p erf uadirem

'coufa q ue naõ pó de confe

guirfe pelo s confelho s do s.homens . Po r iffo ne ile cafo naõ h e .cenf urado So phocles quando 'no feu Plailoãletes int roduzio a div indadede .

—Hercules—adm o e íªcando aPh iloêltetes q ue part ifi

'

e paraT noya

coní'

a que ant es,de nenhum m odo puderaõ confegu iiz

f -

nefn o s ro

go s de N eo p t o lemo z, nem o s am eaqo s de Ulyíl'

es. Em quant o a

int roducqaõ de algum D eo s a lim de. p redizer confas. qu e do ou—v

m odo naõ fe .p od'

eriaõ fab er temo s ent re o u tro s,exemplo s.

appro v ado s o de'Eurip ides no feu Orefí es , onde int roduz a Ap o l

lo'

manife ílando cou fas, q ue naõ fe ,p od

-iaõ fab er a refpe it o do

roub o de Helena e na ( na Eleã m igualmente Cait o-r e Po lluxª

p redizem mu itas cou fas a —T eoclymenes .

N ip dignas v índz'

ee nadar : Naõ acho no s Commentado res ex

p licada com clareza a in telligencia deitas palav ras. Pedro N an

n io pafi'

o u p ela diiiiculdade , e'Lamb ino naõ diz coufa para o ca

fo u Só . Lu ifino, e No res apontaraõ ao lo nge . o q ue b ait ou para.

D acier pô r em claro ,

a enge

fhofa delicadeza que ha neíte lugª

r.

e

Poetica. 9 ,

Na fo luçaõ,

do nó naõ appareçaõ ,

Salv o fe julio fo r , queª

defça hum Numen

A diíTolv er o enredo : nem lfe cance

Quarto A&or a fallar na mefma fcena.

He de (ab er , que o D ireit o R omano chamav a v iadieem hominem

aquelle que punha hum efcrav o em fua lib erdade e com eita

allufaõ diz Ho racio que . fe dev e t er com o hum efcrav o :aqu elle

Poet a, que/

ao u rdir o feu D ramma , m o ftrou t aõ pouco engenho,e d eítreza , que naõ fo u b e encam inhar aFab ula de m aneira que

a fo lu qaõ , d0 feu enredo fo ffe natural e v io —fe precifado a b uf

car huma D iv indade q ue o fo ltaífe da prizaõ em qu e fe achas .

v a,

—com a lib erdade p erdida. D e fo rt e q ue o no ffo Poeta naõe fç

t ranha aq u i a concurrencia de algum D eo s p ara hav er a fo lu qaõ

já q ue po r o u t ro m odo fe n

'

aõ . p óde co nfegu ir. , cenfura fim o

D rammat ico de .t aõ pouca ,

inv engaõ qu e naõ foub e difpo r as

coufas de maneira q ue naõ fe v ille o b rigado a v alerfe d e tal fcc

co rro , que fem pre fe o pp o em ao marav ilho fo da Acçaõ , po rquea lua fo lueaõ com o jít diíl

'

emo s com Arillo teles , ha ,de nafcér nai

ruralment e da fua m efma u rdidura ou por m odo neceffario ou.

v ero íimil.

quarta lagaz'

perfena [adorei Parece—me que ab fo lu teâaí

ment e naõ p rohib e aqu i o fallarem q uat ro A&o res ao m efm o t em e

p o»

, mas fim, q ue a quarta

'

figura falle tant o com o as. t res e p o r

iíTo co m energia diffe [adorei . Com effeito no s ant igo s T ragicoâdefcu b ro alguns exem plo s e deixando o s q ue t raz Eícalig

'

eiºo'

,t irado s de Arifto phanes b aila o de Sophocles no feu P /az

'

leã'etes

o nde int ro duz a cite a“N eo p to lem o ao C o ro e a Ulyfl

'

es

'

na

me fma (cena , fe b em q ue cita q uarta figura falla p ouco a Emde ev itar confufaõ no dialogo q ue h e o .m o t iv o do preceito deHo racio . O s exemplo s q ue ap o ntaLam b ino de Terencio , e

Plau t o naõ fazem para o cafo , p o rqu e faõ de Com ico s , aos quaesfe concede mais alguma lib erdade , do q ue t em

'

os T ragi'

co s , como diz D acier , refpo ndendo aEfcaligero , q uando ap on taexem

p lo s de Ariílo phanes. Alguns ho uv e , q ue fe allucinaraõ comeft e lugar , enfinando , q ue nelle naõ q u izera Ho racio o u t ra confa,fenaõ determ inar o numero do s rep refen t an tes q ue haõ de fallarem to do hum D ramma

,dizendo q ue naõ haõ de p affar de tres,

p o rem e ita int elligencia dev e fer defprezada como

coufa, que

naõ tem fundamento.

A&orís

D eArte Poética.

XIX .

Aã orís part eis chorus ojfcíumque v irile

Defender»

nezz'

quid medias í iztercz'

nat aáí us

Quod nan praq ta conducat O'Ízaereat ap te.

I l/e bozzísfav eatque concílietur amicis ,

Et regar iratos O'amet peccare tímenteis ,

A&arí : parte; : elaaras , €9ºe. D á aq u i Ho raciã ) p receit o , que

acho u na Po e t ica de Ariílo teles que diz , fer precifo que 0 Cara

faça tambem a parte a'e [eam afiar

, fenda [eam a'as reprefemaates da

D ramma . D e it a au t ho ridade claram ent e fe co lhe , q ue T u rneb o ,e Heinii o naõ ent enderaõ o p refent e lugar t omando a palav raºv irile com o adv erb io ift o h e p o r o irí lit er q uando aáfez

'

am 'v z'

rz'

le

naõ lignifica o u t ra coufa , fenaõ q ue o C o ro t am b em ha de fa

zer no theat ro o papel de hum reprefentante e a e ita tal figura

cham av aõ o s G rego s Camp/aaa iílo he p effo a q ue fallav a em

gar de t odo o Co ro p o r ev itar a confufaõ de mu itas v o ze

N ea quid medios intercz'

aat afiar Aq ui já o Po eta faz

m ençaõ de o u t ro o flicio do Co ro . N o v erfo precedent e fallou

de huma das fuas funções , ifto he , de fazer com o s demais a par

t e de rep refent ante em nom e de t o do o C o ro ago ra ap onfa—lhe

o u t ra o b rigaqaõ q ue he a de cantar no fim de cada hum do s

A&o s para deite m odo p erceb er o p o v o o s interv allo s do D ram

m a. O ra recommenda aqu i Ho racio q ue o C o ro nelle feu fe

gundo o fficio naõ cante co nfa , qu e naõ diga relaçaõ ao Argumen

t o D rammat ico , o q ue ju iªtament e ja cenfu rara Arifto t eles , cha

m ando Canções enxerz'

elas e q ue conv iriaõ a qualquer ou tra T ra

gedia aq uellas q ue no q ue cantaõ naõ fe co nfo rmaõ com a

Fab ula. Efcaligero t rat ando delle p ont o na fua'

Po et ica clara

m ente m o ftro u q ue naõ t inha co nheciment o de So phocles c

Eurip ides dizendo q ue cite o b ferv ara e'

aquelle defp rezara as

regras do p erfeit o Co ro quando t o talm ent e he o co nt rario

p o rq ue o modelo , q ue nefta parte fe dev e im itar , he fóm ent e So

p h ocles , com o clarament e eniina Ariíizo reles e naõ Eurip ides ,a q uem p elo s feus Co ro s v icio fo s p o rq ue fem relaqaõ immedia

ta com o Argument o ,m o rejon Arifto phanes , como fe p ôde v er

no

D e Arte Poetica.

I l/e (lapes lander menfae brev is : ille falzzbrem]zyiztzam legefqne 69

' “

apertis otia portisI /le regat

ª D eojqzze precetzzr , O'oret

Ut fedeat m iferls alienefortunafzrperlais.

Tibia non , ut nunc orie/za/co v ináia tubeeque

à lml

l/le olaper [andei (pºr. I ito he m o lhe

q uant o he mais e iiimav el o v iv er parcam ent e em m ediano citado do que com o pulencia em alta fo rtuna com o b em m o iira o Co ro do T/oiejier deS eneca : Siet qaieamgne

ªv olei poienr Aalae ealmine [abrira M e

dulcis jararei quier. Oafoaro pontas loco Leni perfraar oria

a lir nota Quiririm: xi itas p er incitam jiaat . Sie eam tranjorint mei N ulla earn firepiia a

'ier P leaeiar mariar fanax . A fo

b riedade no comer era m uy recommendada do s b ons An t igo s e

o m eimo Ho racio a louv a mu it o na Ode P erjeor oa'i paer appara

tar,e em div erio s lugares das Satyras.

[lle falaaremjajiiiiam Egºr. Eiie m eimo epithet o lh e deu

Pindaro no Ode 8. dizendo q ue aiiim com o a faude co nferv a o

co rp o allim aju ii iqa as C idades. Eita excellente v irtude lem os

fummam ent e lou v ada pelo C o ro da Á na'ramaeb a de Eu rip ides

p o rém mu it o mais no do Ea'ipa de S o phocles chamando às leys

leuma D iv indade p odera/a aaa triunfa n'a noja injafi iça e à v iolen

cia , may dos procedimentos injajiar 6975 .

Et apartir azia part ir O C o ro no Aiax de So phocles dará aoleit o r curio fo hum excellente exemplo fo b re a felicidade da p az

p o rém o de Eurip ides ainda he mais no b re , e f ub lime,o nde cha

m a à paz a Rainaa das riquezas e a mais bella de todas as D eofar.lega! commif a , Cã o. Hum do s p rincipaes aii

'

ump t o s do

C o ro era recommendar a fidelidade ,e fegredo , e diiio fe p odem

apo nt ar div erfo s lugares no s T ragico s ant igo s como v irtudes

q ue fu iientaõ t odo o v ero iim il da Fab ula. Entre ou t ro s remet te

m ono s para o Co ro no Pb ilaã eter e no da Iphigenia in Taaria'e de

Euripides. Po ito q ue nelle faz eiie Tragico comet t er à ditaPrin

ceza huma ab om inav el periidia , com tudo o Co ro , q ue fe com

p o em de mulheres G regas , lhe guarda fegredo ,e fidelidade pe

la q ual iicaraõ t o das exp o iias ao furo r de Tho as e feriaõ m o r

t as , fe M inerv a naõ as focco rreil'

e .

Ut redeat miferir , Cã o. : O fim po rque o Co ro fe dev e empre

nos aifump to s, q ue Horacio deixa apontados naõ he ou t r

í

p ,

C

Arte Poetica. 9 7

D e parca meia lo uv e as iguarias ,E a faudav el juiiiça , can te a doce

Segurança da paz , guarde QL fegredos ,E rogue ao s fumm os D eofes q ue a fortuna

Torne a feguir o s b ons do s mão s fe aparte.

XX .

Naõ era a franta ant iga como agora ,

O rnada de lataõ ,nem da t romb e ta

Com

fenaõ para q ue a fo rtuna figa o s m iferav eis , e naõ acompanhe o s

p erv erfo s . Euripides ne iia part e m ereceo cenfura e S o phocleslou v o r do s an t igo s Crí t ico s .

Tibia non ai nano,

0 53 dezo it o v erfo s fegu intes faõ.

taõ

efcuro s q ue nelles naõ fe p óde at inar com o q ue Ho racio q u iz

dizer. .O s Comm entado res huns com o Lamb ino fogem à difficuldade , ou tro s , como N annio

', occu paõ

—fe em coufas inu t eis

e ou tros com o Lu iiino , e N o res afii rmaõ que Ho racio depo is

de t er t ratado das qualidades da Fab ula t ragica. da fua dicgaõ ,e do s co llum es das idades e citado s q ue nella p odem t er lugar ,

p ai'fa a fallar daM anoa q ue igualmen te e ra

,huma part e da, _

Po e

Ha D rammat ica. Po rém a —int elligencia do dou t o D acier fo b re ef

ta paifagem ,he a que me parece mais natu ral , ou t alv ez a v erda

deira , com o elle p retende . S im v em a conco rdar em parte com

o fent ido de N o res e Lu iiino p o rém defco b re de mais huma

efp ecial in t elligencia, q ue o s ou tro s naõ. alcançaraõ .e he que

para Ho racio m o iirar claramente a mudança q ue hou v e na mu

iica , e no s v erfo s da Tragedia , ferv e- fe de hum exemplo t aõ accommodado

, q ue nenhum ou t ro daria huma ide'a taõ dii

ªtinõta ,

e clara deiia mudanca. D iz p o is que aiiim como o s Co ro s do s

D rammas R omano s mudaraõ da antiga franta , pequena ,e fem

algum o rnat o ,ao pail

'

o q ue o p o v o Romano mudou de co itumes,q uando fe v io p odã

'o i'

o e rico caufando o luxo , e riq uezas nos

v erfo s e mu iica do theat ro as m efmas mudanças , qu e no s co itu

mes , allim o s v erfo s , e mu iica q ue an tes eraõ iimp lices no s Co

ro s da Tragedia G rega pouco a p ouco fub iraõ de harm onia , e

grandeza ao paii'

o q ue o s G rego s fe h iaõ fazendo mais pompo

fos e alt iv o s com as riquezas do s fenh o rio s.Oriealeloa v iní ia O ricalcho he huma efpecie de lataõ que

t inhaõ osAnt igos , metal que achav aõ na terra e o t inhaõ em

tanta

'

D eArte

.Áâmula , fed tennis jimplexque joramine pauco=

Ajpirare ca'adeje c/zoris erat utilis a tque

Nanda/n fpij'a nimis complere fedilia jiatn

Quojane popular nnmerabilis utpote parv as

Etji ngi , czyiztflue v erecundufque caibar.

tanta cit imaçaõ q ue fegundo Plinio naõ duv ida-v aõ p referil—10 ao o u ro . Co rn elle o rnav aõ a frau ta do theat ro ailim como

hoje a de que u fam o s na mu iica , fco rna de p rata marfim &Cc.

Acho Commentado res com o N o res e o u t ro s , que ent endem a

palav raªv inã

'a dcdiv erfo m odo dizendo que ant igam ent e a

franta conitav a de dous tub o s em huma fó emb ocadura , ao s q uaes“

prendia o o ricalcho , de fo rte q ue cite naõ ferv ia para o rnato ,'

m as para ncceil'

aria p rizaõ das duas p eças . Po rém nó s naõ app ro

v amo s cita intelligencia , feguindo o s melho res Int erpre t es , cfpc

cialment e a Francifco Lu iiino que a refuta impugnando ajafondcN o res.

Taba que temida : Pouco a pouco o s mu iico s theat raes chama:do s Tiaieines p o zeraõ a frau ta ant iga em tal p onto de perfeiqaõ ,

que difp tltav a parelhas com a t rom b eta , inftrumcnt o muy fono

ro en tre o s Ant igo s. Po r iiTo ent rou a t er lugar na mu iica dos

Co ro s da T ragcdia , cfpecialmcnt e no fom D oria, cLidia ferv -in

do cite para exp rim ir as coufas t riftes , e aquelle as hero icasSed tenuis jmplexque : A v o z tenuis o ppo em Ho racio ao tuda:

e dmplex ao orieale/ao ºv iniia . Pedro N annio ent ende p or

pmplex tiêia aquella q ue naõ fccompunha de fete canudo s da

q ual falla Virgilio na Ecloga z. .

Ed mi/oi difparibus feptem eompaiia eiautis.'M oni

'

. D u—Ham el quaii q ue fegue o m efmo fe b em q ue em al»

guma coufa difco rda dizendo tibia olim pauois arundininur t ampa

ã ee erant , pojimodum pluribus oriealelooquejunói'isfai

-iª

te funt . Po rém

nó s t emo s po r m elho r a no iTa int erp retaçaõ com o p ro v ada p elo

P. M ontfaucon na fua Antiguidade explicada o nde no s dá citam

pada a fôrma da ant iga fran ta t heat ral e da q ue dep o is fe n io u .

ramine paut a'

I fto he naõ t inha fcnaõ t res furo s b u rn

p ara o fom grav e , o u t ro para o agudo ,o u t ro para o circum iicxo .

Acron allega com Varraõ no 3 . liv ro da lingua Latina q ue fc

p er

D e Arte Poetica.

Paiquam coepit agros extendere v iáiar (9ª

urõem

Latior ampleí ii taurus , v inoqzte diurno

Placari Genius fejis impune dielvus ,

Acaju“numerifque modifque licentia maiorª

I ndoót'us quid enim faperet liderque laborum ,

"

Rzyiicus urbano confzJus turpis done/toª

Sic prijhcmotumque o'lztxuriam addidit arti

Tibicen traxitque v agas per pulpita v g/iô'm .

P ojiguam ocepit agro: extendere, Eg

ºr. Entrou o p o v o R oma

no a extender o s fins do feu Imperio v encendo mu itas N ações ,e a fazer mais ampla a C idade de Roma para receb er nella o s

p o v o s fujeito s p o rq ue já entaõ naõ era populus numeraailis ut

p ote parv as e'

ailim hum do s cifcito s deita o pulencia , foy darfea fe itas , b anquet es , e o u t ro s div ert iment o s no s dias folemnes o

que antes era p ro hib ido de m aneira q ue já naõ era frugi ea]:tufque , p ereoundufque. D e ita div cr iidadcde co itumes e deita li

c'

cnça de cada hum fat isfazer ao genio p ro eedeo tamb em a mu

dança no theatro naõ m eno s em quant o amant a q ue ao s'v er

fas e baile p o is em hum e ou t ro fent ido fcp óde entender a

p alav ra numerus.

Indoftus quid enimjaperet , 69"o. Que mu ito he diz ago raHo

racio ,o u feja dcfculpando o u cenfurando q ue fe int ro duz

fem p rudencia nem circunfpccçaõ tan ta lib erdade na mu lica c

v erfo s theatraes fcnaqu elle t empo fem diit incçaõ co nco rria aos

ail'

cnto s do theat ro o igno rant e ru ftico ociofo ,e gro i

'fciro ,

com'o Cidadaõ p o lido e h onefto Para ev itar e ita m iitura determ i

nou depo is L . R o fcio Trib uno do po v o lugares diit inót o sno

t heatro para nob res cpleb co s fegundo as inas div crfas clail'

es ,

como lemo s em Cicero na Oraçaõ pro M arantz. Com o feu cof

fumado ju izo at t rib ue Ho racio a lafciv a mudança q ue t ev e aant igamuiica e pociia theatral à ignorancia à ocio iidade a

grof

Arte Poetica. .í o i

Pore'm tanto que entrou por feus triunfos

A crefcer em dominio e de amplos muros

A C idade cingio , tanto que o G enio

Foy com v inho nas feitas celeb rado

To do o dia ,e fem pena que o v edafl

'e ,

C refceo entaõ na m ufica , e nos v erfos

Lib erdade mayor. E que fe hav iaEfperar , fe ignorantes , e ocio ios ,

R u itico torpe , Cidadaõ honcito ,

T udo fe confundia no theatro ?

Deite m odo o frau t iita da arte antiga

Ao cait o fom requeb ro s e laiciv ia

Accreicentou e v eltes defufadas

Arraff

gro iTaria,e t o rpeza da p leb e , que o s po lido s”

Cidadão s R omanos

adm it t iaõ com iigo ant es da Ley R o fcia fcm diftincçaõ de luga

res

'

p o rq ue com o, j'ai—,ant es; t inhaõ adv ert ido Socrat es e Pla

t aõ fó cfp irito s igno rantes ent endimentos gro ifeiro s ,.

cco ra

ções co rrup t o s hcq ue p odem app í o v gra mu fica aifcm inada c

laiciv a , p o rque fomenta a_

s fuas”

v iciofas, paixões.

Siepri/eee motumquejEgº luxuriam addidit arti Po r eita caufa

,

ifto hc com o aaplcb .e; _deu em ,app ro v ar; a, mudança na ant iga

m u fica o ranged'o r da“

fra_

u ta po ragradar a cite mayo r num ero

de o u v intes , prev ari'cou a am elodiad o p rim it iv o C o ro que era

cafta cfcv cra dandO'

ao s v erfo s ou b ailes hum no v o m o v i

m ento e à mu fica huns t ons lafciv o s , A palav ra motus co rreiª

p onde a numerir e luxuria refere— ie a modis do v erio antecedentePlinio tamb em o pp oz com o Ho racio à Gmplicidade e

m odcit ia da mu lica ant iga a v ariedade e lafciv ia da moderna,

dizendo : Cum adiouojmp liei rna/ oa uterentur p arietais aeee/it(aºt antas quaque luxuria.

Traxitque p agas p er pulpita tie/iene : Eita affem inada lafciv ia ,

que Ho racio condemna na mu fica , na p ociia , e no s geito s theat raes pail

'

ou tamb em ao s v citido s do s m efmo s mu fico s,e repre

i'

cntantes niando delles taõ comprido s q ue arraitrav aõ mu it o

p elo t ab lado . D onat o explicando a palav ra [arma , declara mu ito

b em eftclugar Syrmata dietafunt ai ao quad tralauntur guie res

D eArte Poé tica.

Sic etiamjidiôns v oces crer/erefez/cris ,

Et tulit eloquium infolitumfacundia preeceps ,Utilizan

nô fcenicd luxuriá injiituta e/i . D onde fe co lhe q ue [yrma he —o

m eimo que cauda no v e itido o q ue com pro v a M arcial fallando

do s t rajes das mu lheres

Qua fua calcandoºv efiigiafyrmate p errunt .O ep itheto

fungus , que Ho racio ap plica ao Tibicen , naõ t em facil

intelligencia. Lam b ino com ou t ro s diz q ue nefta palav ra allu

de aq uelles falt o s e m o v im ent o s , que fazia no Co ro o que t an

gia a frau ta q uando fccantav aõ as S troplaas , e Anti/iroplaas . Po

rem naõ fe faz v cro fim il , q ue p odcii'

e faltar , o ra para huma , o ra

p ara o u t ra part e do t heat ro q ue no fcnt ido de Lam b ino hc o

q ue iigniiica«v agas ) hum hom em v eit ido de m o do q ue arraftra

v a cauda. O u t ro s Comm entado res qu erem q ue Ho racio p elo

v e it ido do frau t iita t omara o do s aõt o rcs o s q uaes no v e itir eraõ

fummamentcpo nipo fo s com o fe p ôde v er em Plu tarco na Vi

da de Ph ocio . Po rém nó s ent re citas int erp retaçõ es e o u t ras

q u e p o r b rev idade om it t im o s fcgu im o s a daqu elles que dizem

alludir o Po eta na palav ra p agus ao s div erfo s e v ariado s fo ns de

q ue ufav aõ o s frau t iftas para m o it rarem a fua fciencia cdeit rc

za , e cita hca int elligencia do no ffo in iigncAchilles Eitaço ,

de R o b o rtello a q ual fcacha igualm ent e em N o res Tibicen'v agus foni v arietute traxit 'v ejiem p er pulp ita . G efncro no feu T/oe

faurus ling. Lat . com hum exem p lo de C o llumcla diz t amb em ,

q ue*v agur v al o m eimo qu e lib idinofus e allim naõ no s o ppo rc

mo s a q uem o q u izer ap plicar nefte iignificado ao Tiaicen , p o r

q ue no s Ant igo s achará mu itas au th o ridades q ue lhe comp ro v em

a int erpretaçaõ declamando co ntra o s v ício s da gente do t heat ro .

Sicetiamjia'iaur Cg

ºc. Aq u i temos a applicaçaõ do exemplo

ant ecedente , ilto he diz o Po eta) o q ue fuccedeo à fran ta do s

n o ii'

o s Co ro s , acont eceo igualmente à lyra , de q ue o s G rego s fe

ferv iaõ no s Co ro s das inas Tragedias. Em nó s hou v e eita mu

dança q uando a Repub lica ent rou a engro ii'

ar em dom ínio s e

p o v o e a do s G rego s t ev e a m efma o rigem degenerando o fe

v ero e lim p ies fom da fua lyra em o u t ro mais elev ado tant o

qu e o p o v o p o r fe v er o pulent o criou alt o s efp irito s , mudan

do dos antigo s co itumes que o faziaõ temperado e,modeito .

1 04 D e Arte Poetica.

Utiliumque [aguas rerum ef div ina f uturi

Sortilegis noa difcrepuit fententia D elp/zis.

XXI.'

Carmine qui tragico v ilela certav it al) dirrum

rumgue mujirorumºv alubilitate miredeleã ªabantur . Jacob G rifo lo v ay

p o r o u t ro atalho , q u erendo m o itrar , q ue Ho racio na palav rapra

reps alludia aquella como p recip itaçaõ , com q ue hum eftylo m o

derado q ual o do s primeiro s T ragico s iub io b rev iiiimam ente a

fub limcp o r b enefí cio de So phocles , e Euripides. Po rém N o res,

e D acier pat rocinaõ a no il'

a div erfa intelligencia , e allim inftru ido s

p o r Lo ngino cQ i int iliano entendemo s p o r facundia prtecepsaq uella clo qu encia t emeraria

, e at rev ida que fe gu inda at é às

nu v ens e nefte fcnt ido he que (hi int iliano chama a Efchylo [ub limis ufgue ad 'v itium e dá a cites at rev iment o s da falfa elo quen

cia o nome de prmripit ia . N o t heat ro Hcfpanho l q uan to s exem

p lo s fe p odem allegar Quaii t ant o s com o o s v erfo s de q ual

q uer dos feus D rammas.

Utiliumque fagax rerum, Eg

ºr. Para b em fe en tender cite paf

fo naõ fe ha de confultar o u t ro Int erprete fcnaõ o tantas v c

zes allegado D acier. Já nos m o itron Ho racio q ue huma das

principaes funções do Co ro era dar ao p o v o p rudentes docu

m ent o s para a v ida confo lar o s angu itiado s refrear o s co leri

co s e promo v er as v irtudes p ara fcm erecer a aiiiitencia dos

D co fes. I ito fcfazia ant igament e cm eftylo no b rem en te fim ples,e digno da Tragedia e com effeito acha—fe felizment e p rat ica

do p or Efehylo e S o phocles. Po rém cita grav e fimplicidadc

naõ durou mu ito t empo e ent rou o Co ro com o p ret ext o de

dar document o s u teis , e de p redizer fu tu ro s fó p ela lim plcs con

jcét ura do p rci'

entc coufas q ue eraõ da o b rigaçaõ do feu o fficio

ent rou , digo , a affeót ar p ro fecias e a exprim irfc p o r hum m o

do cfcuro e como enigmat ico p ara conciliar a p leb e que fó

co ituma ap pro v ar o q ue naõ entende .

Sartilegis non difrrepuit , Egºr. C ompara e ita no v a linguagem

do Co ro à do s Oraculo s fazendo—a em nada different e da que

u fav aõ o sPro fetas do Templo de D elfo s. O no fib judicio fo Bernardes cenfurando igualmente a cfcuridade de alguns Po etas do

feu t empo m o itron b em q ue fab ia e q ue o b ferv av a o fru to

q ue fe dev e t irar deita Critica de Horacio dizendo na iua Carta27 . Nunca

Arte Poetica. 1 0 5

D e dar u teis do u trinas , e o s fu turos

Predizer , fcinv entou no v a linguagem

Semelhante à da tripo de de Delfos.

XXI.Aquelle , que hum v il b ode receb era

Nunca deº

efcuros'v erforjiz ejiima

Sempre porque me entenda'a'

fallo claroP reze-fe , quem quizer , de[er enima.

Queria a poucas v oltas dar nafaroD a[entrara quejaz no p er/o inclufa

Que o muito radejar cujia-me cara.

E mais ab aixo cont inua na mefma cenfura

Eu lija'

ªv er/or que para entendellas

Compria [er M erlim ou Negromante ,Ou andar com Apollo aos cabellos.

Carmine gui tragico , Egºr. Como naõ ha poeiia mais triite e

grav e , do que he a Tragedia , p o r nella fe exprim irem efpccial

m ente o s dous affeâto s do t erro r cda compaixaõ para aliv iar

o p o v o de taõ feria at tcnçaõ cdiv ert irlhca t riftcza caufada pe

la Tragedia introduziraõ o s G regos a Satyra theatral , que era

h uma efpecicde D ramma Tragico p o rém menos grav e c que

occupav a o lugar ent re a Tragedia p ro p riament e tal , e a Come

dia. D e todas citas o b ras fatyricas , excep tuando algum fragmen

t o naõ pafi'

ou a nó s fcnaõ o Cyclope de Eurip ides , o b ra que pc

la fua b elleza fuav ifa a falta das ou t ras e b aita paracompro v ar

o q ue Ho racio aqu i diz. Segundo fe co lhe do p refentc v erio

p arece que faz a Thcfpis inv ento r deita no v a efp ecie. de D ram

m a confo rm e fentem alguns Commentado res po rém do mcf

m o v erio t iramo s nó s q ue Ho racio naõ p retende dar a entender

t al e fundam o -no s no v erb o rertaªv it , de que ufou p o is hccer

t o que no t empo de Thefp is ainda naõ hav ia o co itumc de dar

p rem io àqucllc, que o merecera em fazer melho r Tragedia , com o em t ermo s claros diz Plu tarco na Vida de S o lon . O que fe

faz v ero lim íl hc q ue Ho racio falla do Po eta Pratinas , o q ual

fegundo Suidas fez t rinta e duas o b ras fatyricas para o theat ro

logo depo is da m o rte de T hefp is chctam b em o primeiro , que

fcfab e difpu tara em pub lico o p rem io da ,Tragedia. N em def

tcs D rammas T ragico s nem do s Satyrico s no s ficou mais quehuma efcura memo ria.

Vilem certa'v it ob loiroum O Poeta que no pub lico certamefica«

1 06 D eArte Poetica.

M ox etiam agrejieis Satyros andav it , afper

I acclami grav itate jorum tentar/it : ea quõd

I llecebris erat O'gratz? nov itate morandus

Speõiatar funõtufque farris ta'potus ta

'exlex.

XXII .

Veritm ita rifares ita commendar—

e clicares

ficav a v iét o rio fo , receb ia p o r p rem io hum b o de e com o cit e nalingua G rega chama—fe tragos daqui t omou o nom e a Tragedia.

Po ito que alguns ant igo s G rammat ic-

o s fcjaõ dcdiv erfa ºp iniaõ

fegu imo s eita com D iomedes no liv . de Paemat . Generiaus. Cha

ma Ho racio .

fail ao dito p rem io ou refpeitando à qualidade do

animal o u àq uant idade do intercffc v il certamente olhandop ara a fumma difficuldade da comp o li çaõ . N aõ p o ifo deixar do

m e adm irar de ]afo n de N o res e o u t ro s cfcrcv endo q ue Ho

racio ufara do referido epitheta app licando - o à efp ecicde Po eiia

p orque fe dav a o p rem io . Para cah ir neite ab i'

u rdo ,naõ fclem

b raraõ que Arifto t elcs na fua Po et ica claram ent e chama a Tra

gedia compo li çaõ grav iilima cfup erio r à Ep o peia.

Agro/ieis Satyros nudav it l ito he, p oz no theat ro hum C o ro

de Satyro s nú s do s q uaes era cab eça o v elho Sileno , q ue hc o

m eimo, q ue dizer , qu e int ro duzira na fcen—a o b ras fatyricas com

alguma apparencia de t ragicas p o is rep refentando huma acçaõ

celeb re de algum Heró e m iitu rav aõ com ella o s Satyro s cSi

lcno alguns lou v o res a Raccho (D eo s tu telar da prim it iv a T ra

gedia) e dito s naõ m eno s graciofo s q ue p ican tes e'cita hc a

fo rça q ue tem o aÁoerjarum tentav it . C om tudo naõ eraõ citas

gracio iidades tacs , que defdiil'

cifcm da gra v idade t ragica , do que

h e clara p ro v a o Cyclope de Eurip ides o nde Sileno graceja p icant e

,mas no b rem ente com Ulyii

'

es . Veja-fe eita o b ra namoderna,e b ella t raducçaõ do P . Carmelli.

Arte Poetica.

Na miitura de ferio com joco fo ,

Em q uanto a Div indade o u Home illuitrc,ue v imos de o uro , e purpura v eitido ,

Naõ palfar a fallar naquelle eftylo

Que amais b aixa Comedia fó pertence ,

dizer neite v erio conv em fab er que o s G rego s em huma dasfeitas a Raccho , em que hav ia o s pub lico s cert am es de q u e aci

ma fe fez m ençaõ punhaõ no t heat ro q uat ro Tragedias , em t o

do s os dias da feita e a ult ima era fatyrica para alegria do po v o .

A t o do s cites q uatro D ram dav aõ o nom e de Tetralogia co

m o fe t odo s iizcil'

em hum fó . Em quant o aFab ula fatyrica , eo f

t umav aõ commumment e o s Po etas t omar p o r afi'

um p to para el

la aq u elle m eimo Pro tago niit a ou p erfonagcm p rincipal da fc

ria Tragedia rcprefentada no s dias ant ecedent es com o v . g. a

Ulyii'

cs , Achilles , Pandio n O rcitcs , &c. de q ue t em o s exem

p lo s na Orediade de Eichylo e na Pandionide de Ph ilocles. O ra

ifto p rcfupp o ito diz Ho racio q ue cita t ranfmu raçaõ de Fa

b ula fé ria para joco fa naõ ha de ter t anta lib erdade q ue aq uelle m eim o Heró e que ha p ouco iit o h e na grav e Trage

dia do dia an tecedente ) apparccera com a decencia dev ida ao feucaraét er

,no D ramma fatyrico ap parcça e falle com t an ta indi

gnidade cb aixeza com o fe fo il'

chuma Comedia taum-

narra a

Atel/ana em q ue o dit o Heró e ap parcce . Em huma palav rarecomm enda o Po eta q ue a Fab ula Alte/lana (p o is co rrcfp o ndiaen t re o s R om ano s à. Satyrira do s G rego s ) co nferv e hum m eyoent re o fub limcda Tragedia v erdadeira c o b aixo da C om edia,e para cite fim naõ fó t inha hum eftylo part icu lar mas tamb em

p art iculares v erfo s .

M gmt in ob/raras /aumili fernzone tabet'nas : A mayo r parte do s

Comm en tado res de Ho racio ent enderaõ m al e lle lugar , do mcfm o m o do q ue o ant eceden te e he p ara adm irar as citranhasconias ue dizem fo h re cite p o n t o . O Po e ta , com o já acima diffemo s

,a ludc na palav ra tabernas às C omcdias chamadas taberna

rias, as q uaes dep o is das Farças a q ue dav aõ o nom e de Exodia ,

eraõ as mais v is ent re o s Romano s N o b res e C idadão s tan t o

q ue no t heat ro de itas C om edias fe adm it t iaõ tav ernas cdellashe que lhes v eyo o nom e . O s fcus Argument o s eraõ acções p lchcas , ailim como o s das Pretextatas eraõ t irados da clail

'

e da gen

te civ il, e nob re . Aut

1 08 D e Arte Poética.

Canv elzíet Satyros ita v ertere [erizz lado ;Ne quíczmzque D eus , quícumque ad/zí bebí tur Áeros

Regalz'

conjpeãtus in aura naper e? o/iro

M igrar“z

'

n obfcuras áumilí fermana tabernas

mas fó lhe he perm it t ido ufar daquellas em que o ferio fe mifture com o b urlefco fo íi

'

riv el im v ertere feria lado o u dizendom elho r daquellas em que o graciofo occupa o lugar do grav e .

Eita he a genu ína int elligencia deitas palav ras e naõ a q ue lhedeu hum Au t ho r de grande m erecimen t o dizendo que figniíicaõ mudar em ridiculo as acções que de faõ fé rias. pro v a dofeu engano faõ o s v erfo s q ue logo fe feguem Po rém faz—fe

p recifo fat isfazer a hum reparo que poderá fazer o leit o r crit ico e v em a fer : Se o sR omano s naõ ufav aõ da fatyra theatral,que fim fe occupa Ho racio em lhes dar p receit o s fo b re e íla

efpecie de Po é fia G rega fab endo q ue lhes faõ inu t eis A eitao bjecçaõ he facil a repo í

ªta dizendo que dá o Po eta e í

ªres pre

ceit o s para que o s feus o s ob ferv em nas fuas Fab ulas theat raesa que chamav aõ Á tellam r

,as quaes eraõ femelhant es (diz D iom eu

des )às Satyricas do s G rego s Tertia [pecies eji fabularum Latinamm que àciv itate Ofcarur/zAtalla? iii gua primam cwpm , Á tellame

diã'aefi m! argumentir diã ifguejacularibm jmiles fatyricis fabulisGHZ CÍ I . Eifaqu i como o s p refent es p receit o s eraõ u teis ao s R o

manos, e fe lhes faziaõ p recifo s , p o rq ue nas fuas At ellanas (con

t inda o meim o D iomedes ) int roduziaõ naõ fó p e íi'

o as ridícu lamente fatyricas , como eraõ Aatolyca Barris , b

ºt . mas t amb em

o b fcenas com o M arco , e ou t ro s. Verdade he , q ue a l íªt o fe o p

p o em o fab io Vo flio p ret endendo , que as palav ras perpuice aâfceme

, de que ufou D iomedes , fe haõ de ler , perfome Ofize rito he ,act o res

, que fallaíl'em na antiga linguagem de Ofea , ou fe1a

cana.

N e guimmque D em Egºr. As Fab ulas Atellanas à maneira

das Satyricas G regas adm it t iaõ o s grandesp erfo nagens daT ra

gedia , como o s D eo fes o s R eys e o sHer'

o es. E po ílo que M a

rio Vict o rino parece q ue nega ifto t emos a au th o ridade de.

H.

o ra

cio , q ue t ira t oda a du v ida , e hum e laro exemplo em Eu rip ides,

int roduzindo no feu Cyclope ao Heró e Ulyfl'

es com o p erfonagem

principal. Para que perfeitamente fe entenda o que Horaciodq uer

izer

n o D eArte Poetica.

Aut dum v itat lzzmzum nubes O'indaia copiei .

Ejªlzt ire lev els indigna trage dia v erfus ;

Ut jºe/lis matrona mov erí jzja diabos ,

I iztererí t Satyris paulina pudibzmda protetº

r/is ,“

Non ego inornata G'domina/aia nomina [olam

Verea

Aat dam witat b amam m aes Caºm ma t ap tet : M o ftrado p o is,

q ue aFab ula Atellana dev e fugir da b aixeza com ica dá—lhe ago

ra Ho racio o u t ro p receit o ,e he q u e fe guarde mu it o ao ev itar

o eftylo rafªt eiro de naõ fub ir tant o em linguagem fu b lim e

, q ue

( digam o s aflim ) v enha a p erderfe nas nu v ens . D o nde fe co lheclaram ente q ue o lugar do (eu eftylo como acima diílem o s )h e o m eyo en t re o t ragico e o com ico p o r nella rep refen tar

po íªt o q ue em ar ioco fo ) aq uelle Heró e q ue naTragedia an t e

cedent e àAtellana apparecera v efªt ido de pu rpu ra e cub e t t o de

o u ro , como co nv inha ao feu p ro prio caraâer p o is !q ue o s R o

m ano s fe b em naõ t inhaõ nas fuas feitas aq uellas q uat ro rep re

fentaqões a q ue o s G rego s chamav aõ Tetralogia , com o já explicam o s com tudo fem pre àim itacaõ da Satyra G rega dep o is

da Tragedia Grav e punhaõ'no t heat ro huma Atellana t oman

do nella p o r aíTum p t o ridiculo o m eim o Heró e q u e ant es dera

argum en to a Fab ula p ro priam ent e t ragica.

Ef atire lewis , Coªt . Ho racio naõ falla aqu i com o mu ito s

Int erpret es perfuadiraõ )daTragedia v erdadeiram ent e tal,

fim da chamada At ellana co rreipo nden t e en t re o s Lat ino s

à Satyra t heat ral ent re o s G rego s como b aitant em ent e deixa

m o s m o f't rado . Eíi imav aõ o s R omano s t ant o ellas Fab ulas , em

q ue ent rav a o joco fo e fatyrico fem defdizer do grav e q u e ao s

q ue nellas reprefen tav aõ naõ o s inclu íaõ no num ero do s Com e

diant es nem o s o b rigav aõ com o ao s demais Com ico s , a t irar a

m aicara q uando rep refent av aõ m al. Em fim naõ co nt rah iaõ

desho nra , e p o diaõ fer aliílado s para a guerra o que ao s o u t ro s

C o m ediantes naõ era co ncedido . O ra e lfaqu i a razaõ p o rq u e o

Po et a diz , q u e o s v erfo s raileiro s e hum ildes naõ conv em à Satyra. G rega , e At ellana p o is de fi faõ grav es e h o nefio s.

Utfejlis matrona 6976 . Eitacomparagaõ m o fira v iv ifiimamen

t e ,

Arte Poetica. 1 I x

Nem por fugir tamb em de fer raileiro ,

uizer tanto fub ir , que chegue às nuv ens.

Inda (endo fatyrica a T ragedia

Naõ quer fOppo rtar v erfo s fem grandeza

E muito fe env ergonha , fe a m iíluraõ

Com petulantes Satyro s : imita

D e m odefia matrona o eafio pejo

Que nas feilas [6 dança por preceito .

t e , com o he eo fium e emHo racio qual feja o v erdadeiro caract er,q ue o Po eta dev a dar ao s Satyro s in t ro duzido s no D ramma Sa

tyrico . Para m o flrar que naõ de v em fer p e tu lant es , e o b fceno s,(com o commumm ent e fe reprefen taõ o s Satyro s em ou t ras com

p o í i qõ es ) nem au fªt ero s , e p ruden t es com o o s rígido s E&o ico s ,compara huma Tragedia defªta efp ecie em q ue elles fazem pa

p el , a huma honefia m at ro na q u e naõ faz p ro fi ílã õ de dançar

e quando dança h e quando a manda o co itumc e a o b ediencia ,

Para m elho r fe v er a delicada b elleza deita comp araqaõ conv em

adv ert ir , q ue p oPto q ue (6 as do nzellas m ocas Fo fTem as efco lhi

das para dançarem nas fe íias do s D eo fes com t udo algumas ha

v ia em que o s Pont iâces nom eav aõ cafadas com o p o r exemplo

nas fe íias de Cyb elles m andando — lhes q ue dancaffem e eifaq u i

p o rque Ho racio dizjaja . jaco b G rifo lo paffou em claro ePte ln

gar como fe nelle naõ h ou v e íl'

e p receit o q ue adv ert ir e b elleza q u e apontar. Lamb ino quafi q u e t om o u o mefm o co nfe

lh o e o mefm o fez G lareano . N o res gaíiando mu itas regras

q uafi nada diz para o caio e Pedro Chab o t ext endendo —fe tam

b em mu it o , como fem p re co llum a , am on t o a,à maneira do s p e

dan t es mu it as au t h o ridades, e erudigaõ p elas q uaes naõ fe v em

a fab er o fen t ido de Ho racio Po rém o co n t rario dev em o s dizer

do s do us ant igo s Commentado res ao s q uaes fegu iraõ N annioe D acier.

N oa ego inornata , Pelo difcu rfo della Arte t erá o b ierv ado o leit o r q ue Ho racio t em p o r co íi um e dizer as co u fas em

geral , e depo is efp ecificallas com m iudeza com o fe v io ent re

o u t ro s lugares naqu elle em qu e efpe-cialifa o s co fiumes p ro prio s

de cada idade,depo is de t er ap ontado em geral a difference q u e

v ay de hum v elho a h um m o ço ,& e . Ago ra nefie pafTo p rat ica,

o (eu co íªtume p o is t endo dito acima m ediania de eílylo ,

Pq ue

o oe

31 1 2 D e Arte Poetica.

Verôague Pifones Satyrorum [criptor amelia

Nee jc enitar t ragico (l_if

'

erre colori

Ut nihil inter/it D av ufne loquatur o'audax

Pyt/zias , emmzáfo lucram Simone talentum

ÍA/z ett/los famalq ue D ei Silenus alumni

o Po eta dev e guardar na fatyra theat ral ent ra a efpecificar em

q ue haja de co nfi ít ir a tal mediania. D iz po is fallando com o s

Pisões q ue fe elle compozera delle genero de efcrit o s , naõ ha

v ia aã'

eõlzar tanta in enu ídade que diíl'

e í'fe as conias fem o rnato

algum , ferv indo—fe lgómente de palav ras dominantes iíi o he p ro

p rias ; p o rque (6 e llas he q ue dom inaõ as co ufas que figuificaõ ,exprim indo

-as com v iv eza. Como fe difl'

e íl'

e Ho racio . D iíto

fe fegu iria além de muita b aixeza de eftylo , p ro ferir muitas

o b fcenidades niando de v o zes pro prias em lugar de figuradas

como commumment e v ejo p rat icado p elo s Po etas do m eu t em

p o . D eita recommendada m odefªtia acharem o s mais de hum exem

p lo no Cyclope de Eu rip ides efpecialment e o nde o v elho Silenofalla do v inho e p o ndera em Helena 0 go í

ªtar de mudar de ma

rido coufas q ue ditas em t ermo s pro prio s feriaõ para o s ou v i

do s huma info p po rtav el o b fcenidade.

N et i canita/ ,Ifto he nem me affaftara tanto do efty

lo t ragico q ue p erde íl'

e a mediania que a fatyra dev e t er ent re

a pu ra Tragedia , e a C omedia. Ha de part icipar de hum , e ou

t ro ejylo a q ue o s Lat ino s chamav aõ color e he o mefm o a q ue

o s Pinto res daõ o nome de maneira de p intar , chamando a div erfa co r e e llylo v . g. da efco la de Roma , de França de Flandres e do s t em p o s b arb aro s maneira R omana Franceza Flam enga , e G o th ica. Para p ro v a della m ediania de eflylo ,

ou (dizendo melho r do lp receito , de que o Poeta naõ fe dev e efquecer ,

ao

1 14 D e Arte Poetica."

XXIII .Ex noto Jie

'í nm carmenjequar ; ut jibi quiv is

Speret idem f udet multum frzylraque laborer

Anja: idem : tantumjé ries junôlnraqzze pol/et

Tentam de media fump tis aceedit honoris.

noto fií tam Ci e. D epo is de fallar Ho racio da locda fatyra palfa a t ratar da fua inv ençaõ . O Commentadorfino diz q ue o Po eta pela palav ra noto qu izera deno tar q ue a

dita inv ençaõ ha de fer fo b re coufa de fi v ulgar e hum ilde , e

naõ exqui-fi ta p o rq ue o s Satyro s de fi faõ mais fimplices do

aíluto s. Po rém naõ o b ftantceita fua int elligencra e p re

t ender pro v alla com huma au tho ridade dcC icero , he _

cert o, que

naõ entendeo a Ho racio ; po rque ne ii e pali o o intent o delle he

condemnar aq uelles Po etas que naõ u rdiaõ o s feus D rammas fa

tyrico s foh re faét o s fab ido s , ifto he t irado s de alguma h iíio ria

ia conhecida mas inv entav aõ aiii im p t o s no v o s afemelhança

do s da Com edia. Em huma palav ra da aqu i para a Tragedia.fatyrica o mefmo preceit o q ue já dera para a feria e v erdadeira , q uando diÍl

'e :

Remzi ; [Íls'i í'llm carmen tlea'zt t is in (167745 Coªt .

'E para compro v ar efia regra de Ho racio t em o s a Eurip ides ,

que t irou da Gama o argument o para o feu Citologia t an tas v e

zes allegado .

Ut jiôi ame is , (aºc. Eiles aiTump t o s t irado s de P êlo s fab ido s

parecem faceis e q ualquer imagina q ue p oderá difeo i rer nel

les. Q uem V.g. ler a Tragedia fatyrica de Eu rip ides com o t ira'da de Hom ero ha de t er para fi q ue e ra cap az de fa er o u t ro

tanto ; p o rém engana—fe e fe fizer a exp eriencia , v era q ue fua

mu ito e q ue t rab alha em v aõ porq ue femel'nant es argum en tos

fab id'

o s tant o t em .de faceis p o r natu raes e já t rat ado s como

t em de difiicu lt o fo s pela fua diip o íicao , e enlaç am en t o de cou

fas que na T raº edia feria ap p—areciaõ em

'

hum p o nt o de luz t o

t alment e div erfo daq uelle , q ue comp et e afatyrica. E aflim (diaHoracio eu fe efcrev eífedellras fatyras , o aíl

'

ump to naõ hav ia

êe

-Arte P oeticaº I I ;

XXIII .O argumento fatyrico

'

do Dramma

Eu t irara“

de b ilio ria conhecidaD e fo rte , q ue q ualq uer fe perfuadiffe

Que faria ou tro t ant o mas tentando - o,

V iii'

e , q ue em v aõ fuara : tanto pó de

A co ntextura e o rdem ; taõ capazes

Saõ de b elleza as Fab ulas fab idas'P ii

fer inv entado p o r m im , p o r naõ me expo r a faltar ao natural e

v ero lim íl p o rq ue D gfzi

t ile of proprie communia a'it ere ; mas hav ia ir

b ufcallo a h ifªt o ria já po r o u t ro s t rat ada p o rém tal o rdem tal

u rdidura lhe hav ia dar , que pareceífe no v o o m eu argument o 6

Vide , quem o t iv effe po r fácil, q ue era b em diflicil fazer o u tro

t ant o . A ef't e p rºpo fi t o dizia Cicero no feu O rado r Orationis

fabtilitas imitabilis illa aaia'em 'v ia

'etar exi/í imanti fea

'nihil experientít

minar.Tantamferias : O Po eta naõ intende aqu i a palav raferia: mee

t amente p o r diÁoo/içaõ como p ret ende Lu ifino allegando a _C i

cero q uando lou v a a b ella o rdem q ue o O rado r Ant onio oh

ferv ara em feus difcurfo s m as t omaferias p ela difp o fiçaõ do s incidentes n a Tragedia fatyrica iílo he do s fucceffo s q ue acontece ao Heró e della. O au tho r de taes D rammas [im he v erda

de que inv enta inteiramente o s taes incident es p o rém ata- o s,

de maneira com o p rincipal da h iíªt o ria fab ida de que fe v alco

p ara o affump t o q ue ailim v em a fazello s v ero limeis e frizane

t es : e eifaq u i o q ue p ro priam ent e figh ifica nelle lugar o feries , eojané

'

tara t ermo s taõ m al ent endido s de mu ito s Commentado res

Taatizm a'e medio famp tis , Co

ªt . A

'q uelles affump t o s , q ue di

games affim ) efia na maõ de t o do s o t omallo s po r ferem fab i

dos de t o do s a e ii es he q ue Ho racio chama argument o s ele me»

dio famptir ; com o v . g. a Paaa'ioaia'e

,a Ore/liaa

'e o Cyclope e ou

tras ant igas Tragedias fatyric'as em - q ue Ph ilocles Efchylo e

Euripides t omaraõ po r mat eria dellas Acções , o u Perfonagens ,de q ue já a Hiiªt o ria o u a Tragedia grav e t inha dado no t icia.Lamb ino fegu ido de alguns , dá a elle lugar div erfa int elligencia dizendo D e medio fampt is ia

'of ,

non loagainqao art aj tis ,fed mea

'iofamptis porém eita interpretaçaõ naõ concorda com

o que

1 1 6 D eArte Poetica.

Sylv is dedmfii cav eant mejudice Fanni ,

Ne v elar innati triwzs acpaneforenfesAnt nimium tenerisjav enentar v ezjbus unqzzam ,

Aut immzmtla crepe/tt ignominiofaque alicia.

O_f endantar enim onibus eji equus CTpetter 6

7res

o q ue Ho racio at é aqu i t em dit o ,e t enho p o r genu ína a de D a

cier , e de D u—Ham el em q ue t omaõ a palav ra famp tis ele medio ,p o r v algariaar , iílo he notis com o acima lhe cham o u Ho racio

quando diffe : Ex noto jic'

tam carmen feaaar .

Sylv is a'ea'aã i cav eant

, fâc. O s Po etas igno rantes ao compo ras fuas fatyras efq ueciaõ

- fe,de que o s Fauno s q u e nellas in t ro

duziaõ eraõ nafcido s no s b o fques e nelles hab itado res p o rque

o s faziaõ fallar de m odo que naõ co nv inha ao feu ru flico cara

éter. I íªco h e o q ue cenfura Ho racio efpeciâcando ne íi e lugar

o v erdadeiro eftylo q u e com pet e ao s reprefentantes da Tragedia fatyrica e p o ít o q ue já de lta mat eria fallaífe nos v erfo s an

t ecedentes N on ego inornata Caic. com t udo ago ra t rata dellacom mais alguma efpecialidade fallando naõ fé do e llylo mas

do deco ro , q ue na fatyra fe dev e guardar naõ cu idando fóm en

t e em agradar ap leb e na q ual p elo commum ha p ouca h onef

t idade e m ode íi ia.

Ne *v elat innati trip as Cgºc. Aponta dous ext remo s v icio fo s

,

em que pôde cah ir a Po efia fatyrica. O p rim eiro «contém o p re

fente v erfo, e co nfi íte em fe fazer fallar o s Satyro s como hom ens

de C o rte,naõ lhe conv indo femelhante

"

ellylo p o r fer a p o licia,e cult ura im pro pria da gent e ru ftica, e cam p oneza. A efia p ro

p riamente compet e—lhe o caraâer de fimplicidadc a q ual occu

p a o meyo ent re o p o lido e gro íl'

eiro , q ue fó reina nas Cidades

h um ent re o s n ob res ou t ro ent re a p leb e .

d at nimiam t eneris jav cnentar *v erjbas E ífeit o do referido

v icio h e p ô r na b oca de _h uns taes Act o res v ozes e exprefsões

demaí iadam ente t em as , e flo ridas , q uaes as de q ue u faõ o s man

s eb os em faas p o efias , cujos aíi'

ump tos q uali fempre faõ amaro

n os ,

1 1 8 D e Arte.Poética.

Nec ji quidfricfli ciceris probat G'aneis ein/ator

Á guia accipiant animis donantae coronâ.

Syllaba longa breaijzêjeãla , wear—

ar t ambas ,

Pes citas : ande etiam trimetris acerefcerejtwic'Namen zamlteis ; cam fenos reddere): iolas ,

Primas ad extremumjmilisjibi. Non ita pridem

Tardior at paulo , grav iorqae aeniret acl aareis

Spondeosjialiileis injura paterna recepit

Nec ji qaidfricli ciceris Cfc. O audit o rio de qualquer das

fo b reditas o rdens , como b o nello e intelligent e , naõ co ilum—a ap

p ro v ar nem applaudir o q ue fó acha aceitaçaõ na ínfima p leb e

ifto —he naq uelles q ue no t heat ro co mp rav aõ erv ilhas e no zes

fritas como era co fªtum e ent re o v ulgo R omano e a Mªto he ,

ue allude M arcial o nde diz : Vendit aai maa'ia'am cicer corona .

Syllaba longa areªv i Gc. D epo is de t er difco rrido Ho racio

fo b re a locuçaõ , q ue co nv em às duas efpecies de Tragedia, paffa a dizer alguma eo ufa foh re o m et ro que he iníirumento da

dit a locu çaõ ifto he , do v erfo Jamb o ,v erfo o mais p ro p rio p a

ra o t heat ro , pelas razões q uejá deixo u apo ntadas no princípiodeita Arte

Hanc]bcci cepero pedem , grandc/'

ane cotb arni

Alterais aptamfermonibar populares

Vincentem #repitas , Egºnatam renas agena

'is.

Pes citas : O p é Jamb o b em fe fab e , q ue fe com p o em de duas

fyllab as , a p rimeira b re v e , e a fegunda lo nº a. A e íte p e

'dá Ho

facio o ep ith et o de apreí aa'o,e v eloz naõ fo em comparaçaõ com

o Efp o ndeo q ue h e t ardo po r fe com po r de duas longas ,mas

em razaõ de começar p o r huma fyllab a b rev e , q ue de fi faz p ref

t eza m p ro nunciaçaõ . T erenciano M auro de ixo u -no s b em CX p ll

cada a natureza do s l im b o s, dizendo na m efma efpecie de v erfo s

ÁcieJ/io iamne Draper 69

“tai tenax

Vigorie adcle concitam celer pedem .

Unicetiarn trimetris (Bªc. A natural preflzeza do Jamb o faz,

com

Arte Poetica. 1 1 9

Pois elles naõ co liumaõ com paciencia

R eceba ,/ ef que approv a a b aixa pleb e.

X XV .

D e huma fyllab a b rev e e de o utra longa

Se fó rma o Jamb o , pé v eloz ; a fua

Prelieza deu -lhe o nome de T rimet ro

Po lio que de feis pe's iguacs conilaffe.

Ella de puro s Jamb o s co nt exturaNaõ duro u lo ngo tempo po is querendo

Agradar com mais no b re melo dia

Enfeou do s Efpondeos a grav idade ;

com que t endo elle v erfo feis p és naõ o b ft antc fe lhe dê o no

me de Ti'

inzetro ifto he de tres p és como b em fab em ainda os

p rincip ian t es da Art e M e t rica Lat ina , e po r iii'

o temo s p or inu

t il occupai t emp o com exem plo s .

nam /eno; redderet iãªas Para a int elligencia da palav ra it

ªim,

he p recrfo fab er , qu e o s Am igo s para m edirem o s v erfo s ufav aõ

com o de hum cert o com paífo q ue faziaõ o u co m o s p és o u com

o s dedo s . Affim 0 lemo s em k u in t i liano no liv . 9 . cap . 4 . O ra,

como o t rim et ro jam b ico contªta de feis p ., s efi es explicaHora

cio p o r feis p ancadas , o u comp/alles feitos ií ias.

.

P Í'HHHS acl extreme/ntami/is f oi (LUCYdizer , q ue o Jamb o an

t igo t inha t o do s o s feis p é s ent re ii igu aes e fe melhantes i í'toh e t o do s eraõ amb os lem m ift ura de o u t ro

l

gum p é ; e aos

v erfos de hu ma t al co nt ex t u ra ch ªmav aõ o s Po e tas yame'

os para:

Í ara'ior at part .

/o, C

fc. Po rÇm v endo —fe q o jamb o def

ºra;

efp ecie t inha demafiada v elocidade e lige ireza e p o r ifl'

o p oueo acet amin odado ao grav e e m age ilo fo da T ragedra ent rou

fe a miicu rarjam b o s com Efp ondeo s para q ue o t i rdo defies

emendafie a p recip itaçaõ daq uelles .

D á Ho racio ao s B ipondeo so epith eto de rj,/

l

av ei; p o rq u e em razaõ das duas lo ngas igualm ente fe fo item o qu e naõ fucce de

'

ao jam b o po rque quafícoxea p ela deiiguallade das fyllab as .

Commoa'as,

693

patienr Eg'ª

c. C o rn eiªta ado pçaõ do s Efpo ndeo s cedendo o jamb o do f

º

u direito antigo , ifio=he

,da p o iTe de

n aõ admit tir companheiro , ficou afiim mais accommodado àp er

cepcaõ

1 2 0 D e Arte Poetica.

Commorlas , ef pat iens non ut de fede fecundaGederet aut quartafocialiter. Hic to

”in Acci

Noôililius t rimetris apparet raras epª

Enni.

I nfcenam mijos magno cam pondere aerfas ,Aut operee celeris nimiam curtir/ae carentis ,

Aut ignoratte premir? artis crimine tarpi.

Non quit/is v iolet immotlalata poem-

acajudex

cepçaõ e mageftade do s argument o s ; p o rém naõ foy tanta a fua

p aciencia nella no v a fociedade q ue cedpffe t o do o feu direito ao s

Efpo ndeo s. D iv idio - o am igav elmentg'

e, e referv ando para li o fe

gundo , o q uarto e o fext o pé deu ao focio o p rimeiro o t er

ceiro e o q uinto . E ift o he o q ue í ignificaõ as palav ras N on“

at de fea'efecana

'a cea'eret aat qaartafocialiter . O que melhor con

firmaTerenciano

At aai Cotloarnis regios acta; lev am ,

Ut fermo pompa regiaº capax

'

foretM agis magifgae latioriba: foni:P ea'esfreqaentant , legejerv at ti tamen ,

D am perfecana'as

, qaartas , (gºnov ijz

'mas

Semper a'icatas ani jamboferv iat .

D onde"

claram ente fe V ê que o s Po etas R omano s fó para aTra

gedia he que adm it t iraõ a referida m ií'tu ra dando fempre ao

Jamb o o nume ro par em o rdem à m ayo r firmeza do t rim et ro

e naõ meno s à conferv açaõ da grav idade do v erfo . Pelo cont ra

rio o s Po etas”

Comico s a fim de fazerem o s feus v erfo s femelhan

t es ao fallar fam iliar p o zeraõ o s Efpondeo s no s num ero s pares

ifto he , no p é fegundo q uart o e fext o lugares que na Tragedia

indifpenfav elm ente competem ao Jamb o . Veja-fe o mefmo

TerencianoSecl aai pade/iros _fanalarfocco premantUt qaee loqaantar fampta a

'e *v ita pate:

Viciant i'

amnon trafiiaar ],oonclaicir ,Et in fecana

'o 69

“ca terir cegar) locir.

Fia'emaae fiftis dam procarant fanalis

In metra peccant arte non infcitici.

1 2 2 D e Arte Poética.

Et data“

Romanis v enia di indigna poetis.

I dcirco ne anger fcribamgae licenter ? an amacia

Vi]aros peccata pacem mea tatus ta'intra

Spem v enia: cantas ? v itaradeniqae culpam ,

Non [andem meriti. Vos exemplaria Greeca

nu—tonomafia chama P oetas Romanos paíl'

aõ fem cenfura antes

em lugar della q ue mereciaõ com ju ít iça , faõ ou v ido s com a pz.

p lau fo julgando —fe a fua m etrificaçaõ p o r harm o nio fa q uando

ta v erdade fo raõ nim iament e apreífado s em fazer o s v erfos e

pouco efcrupulo fos em o s limar.

[clcirco o ne 'v ager fcribamaae licenter? Po is po r v entura nado

es exemplo s hum Po eta deju izo ha de—defprezar o s“

p recei

t o s da Arte que manda na Traged-ia a alt ernat iv a do s jamb os

'

com o s Efpo ndeo s ? Po r im itar o s ant igo s T ragico s ha de'

efcre'

í

Ver at ô a ifto he fazer t ant o cafo em p ô r hum Jamb o no p ri

ineiro p é , com o no fegundo , e hum Efp ondeo no terceiro cog

in o nfae

quart o? Eita he a energia do

toager ailim com o o licenter

fi fhiíí ca p rºp riam en t e o co nt rario de licitam , e p o r iíl'o C icero

dizendo licenter in legas errare q uer explicar a t ranfgrefl'

aõ das

leys ; e no mefmo fent ido o t omaHo racio e naõ no q ue lhe p re

tende darJafo n de N o res dizendo Licenter ici e/i cam licentza ,'ií't o h e referindo cite adv erb io ao v erfo ant ecedente Et (lata

'

Romanis , Caºc.

Tatas Cpºintra [oem v enia ig

ºc. Efªta expreffao . nao co rre

b em entendida nos C ommentario s a Ho racio ,e fÓ'Ba t l feliz

m ent e a explica , cujo fent ido fegu im o s naT raducçao .

Hum h o

m em p o ito intra[oem v enia”, he hum homem q ue nao_

conceb e

o u tra efperança fenaõ a do p erdaõ p o rque a p alav ra intra , fe

gundo t o da a fua fo rça deno ta q u e o t al fe'met e dent ro do s 11

m it es do p erdaõ e q ue delles naõ q uer p affar. E afiim q uando"L . Flo ro cham ou a acçaõ do celeb re Homero h om ic'da de fuairmã fabians intra gloriam naõ quiz dizer que a acçaõ nac

ffo

ga

g ori

Arte Poetica. 1 3

Por iii'o eítes Po etas tem achado

uem com nim ia indulgencia o s fav oreça.

Po is eu Gado niito , negligente

Hey de efcrev er à tô a naõ querendo

As regras o b ferv ar ? O u po r v entura

C rerey , q ue to do s v em o s m eus defeito s ,E com t udo darmehey po r m uy i feguro

No aiylo do perdaõ ? Inda que eu t odas

As regras o b ferv aiTe , ev i taria

C enfuras , mas louv ado naõ feria.

11

glo rio fa como en t endeo M oni. D acier mas fim digna de lou

v o r , e como fe diifei'fe , dentro dos termos dagloria p o r lhe t er da

do mo t iv o o b em do pub lico . D eite m odo fica b em clara a in

t elligencia de ite lugar dizendo o Po eta Po r v entura hey def

p rezar as leys da Art e p ondo t oda a m inha efperanqa no perdaõ

dos o u v int es e'

dando -me p o r muy fegu ro dent ro do s termos

deite afylo fem p ret ender mais coufa alguma ienaõ q ue fe me

p erdo em as m inhas faltas , e negligenciasVitaw

'

danigue culpam , Cô r. Eite lugar inclue hum p receitofummamen te impo rtant e para o s Po e tas e he para admirar o co

m o pail'

o u p o r alt o ao Int erpret e Lu iiino ; m as mu it o mais 0“

co mo o ent endeo mal Pedro Nannio . D iz .Ho racio q ue h ur

m

Po eta , q ue no s feus v erfo s o b ferv a t o das as regras fim naõ nie-ª

rece cenfura , mas tam b em naõ merece lou v o r ; p o rque para delle

.

fe fazer digno naõ b aita ev itar falt as he p recifo mais algu

macoufa , co rno faõ aq uellas b ellezas e p erfeições , qu e fe achaõ

no s grandes Po et as o s quaes em feus v erfo s re trat araõ v iv amen

t e a natu reza circun itancias já b em ap ontadas po r Ho racio em

div erfo s lugares de ita Arte .

exemplarz'

a Greca, ig

ºr. A'q uelles Po etas que em (eus

Po emas afpiraõ àperfeiqaõ inculca Ho racio naõ a Accio e

Ennio q ue cah iraõ em m il defeit o s —'ou p o r n egligencia , ou p or

igno rancia mas ao s Au tho res G rego s com o m odelo s perfeit

im o s do b om : Po r exemp lo a Plat aõ e a Hom ero grandesexemplares para a v erdadeira e xp reiTaõ do s caraét eres e affe

â o s da Tragedia e da Ep o p eia a So phocles , e a Eu rip ides

para a diipo fiqaõ , regularidade e v ero iemelhanga daFab ula e

1 24 D e

Noôí zzrnâ W arfare mmm v erfczt e diurnâ.

.Ar zzryírz'

praaw'

Plaut ínos e?”

numeros e?

Laudawre fales nímium patienter zztrumrjueNe clicamjiulrê mim a ; mad?) ego CT v os

Scizmzs inurbanum lepio'o fepozzere drã o

Legí timrtmquefommz digitar cállemus e)”

aura.

naõ menos para a v iv eza, energia e fub lim idade do s p eniam en

t o s a Ariito phanes e o s demais C om ico s an t igo s para as v er

(lade iras leys da Comedia ; p o is com fe e itudar fómente p o r citesAu t ho res da ant iga C om edia ,

fe fará mayo r p ron fTOz,'

dº q uee itudando p o r M enandro e o u t ro s Com p o ii t o res da Com edia no a

Va. im itay, õ Pisões , cites hom ens iniignes ; rev o lv ey inas o b rasdã dlª , e no ite

, , e naõ façais cafo de q ue ou t ro s lou v em tant o

e applaudaõ os Lat ino s q ue p o it q , q ue m'

! intentatum nojí ri ligue-ire p º

'

e'

tae g Com tudo naõ igualaraõ o s G rego s p o rque Gm íz'

s ínfgem

'

am, Gm íis dedz

'

t ore rotundo M at/á [aqui com o fe lerá ao dianª

te onde faz o feu juizo foh re o m erecimento deitas duas Na

ções.

Ai m/275promzi Plam'z'

nor numeros Egºr. M onf. D acier dá

cit e lugar huma int elligencia , qu e naõ fey ,fe h e t aõ v erdadeira;

como engenhofa ao m eno s he muy accommodada ao caraéter re eitylo de Ho racio . D iz p o is q u e no s p refent es v erfo s ha humoccult o dialogo entre o s Pisões e Ho racio fçm elhant e a o u t ro

q ue deixamo s exp licado em o p rincip io deita Art e no v erio P iã'prz

'

ám atqueP aêt ír , E aiiim ,com o Ho racio recomm endara

ao s Pisões a liçaõ do s G rego s , dizem- lhe ago ra cites E para

q ue he recomm en—dares—no s o e itudo p o r eiTes Au t ho res fe n o f

i'

o s M ayo res t ant o lou v araõ o s v erfo s , e gracio iidades de Plau t o ?

D eite modo fem ir taõ longe , t em os ent re nós exemp lar a quem

N imz'

am patim ter utmmque Cdr. R efponde ago ra o Po eta àreferida o b iecçaõ com o dizendo N o ifo s av ó s celeb raraõ a ciCom ico

, p o is p or cert o fe nó s fom o s b onsju izes q ue h u

ma tal admiraçaõ nafceo de nimia b ondade , p or naõ dizer ignoranma.

»1 2 6 D e“

Arte Poetica.

XXVI.Ignotum tragíece genus i/weníje Cameme

D ieí tur plan ris v exíje poemata'

s ejpís

s ae eanerent agerentque perunáí í ífcecí bus em .

Po lume perfume , pal/regue repertor b onejíce

da perfeita harmonia do s v erfo s theatraes p o r certo que o s Ant igo s naõ

"

fe m o itraraõ judiciofo s em celeb rar tanto as Comedias

de Plau t o .

lgizatum tmgíee , €gºc. Tratou até aqu i Ho racio de tudo o que

p ert ence«à Tragedia .da difpo ii qaõ

u da fua Fab u la do s feus di

v erfo suca'

raéteres , e do feu eitylo comp et en t e . P-

edia a o rdem nas

eu ral q ue diii'

eii'

e algumaco nfa da C omedia p o rém como feus

p rincip io s faõ muy efcu ro s , contenta—fe fómente com dizer , q u e

t iv era a m efma o rigem da Tragedia. C om effeit o no s p rim it iv os

te mpo sªaiiim o s D rammas T ragico s , com o Com ico s. fe compre

h endiaõ deb aixo do - n-ome geral de Tragedia '

com o b em co nita

de Ariftº t elcs na Po et ica. T hefpis he certo q ue'

naõ foy : o ln

v ento r d'

eites Po emas theat raes p o isjá an tes o s hav ia , o u inv entado s p orEp igenes , ou p elo s D o rico s ; com tudo com o elle foy

q u em o s reduzio a alguma forma div erfa paii'

a por. au tho r da.

T ragedia , e C om edia q ue com o já diii'

emo s ) tudo era humam efma coufa no s tem po s da infancia do t heat ro , p o is -nelle naõr

fe repr'

ei'

entav a o u t ra'cou i

'

a fenaõ lou v o res a Baccho ,e Ou t ros

argument o s b u rlefco s fem ordem nem eitylo circunitancias ;

que depo is fe dev eraõ a Efchylo .

'

El plea/iris 'v exzf e'

paemem Tee/pis igºr. Aifaitando -no s de

t odo s o s Commentado res que v im o s po remo s aqui a interpre

t aqaõ de D acier com o defco b rido r de mais alguma coufa na in

t elligencia deite lugar. T hefp is naõ fó inv en to u hum carro

em que , com o t h eat ro p ortat il fe rep rei'

entail'

e nas praças pub li

cas , mafcarando -fe o s reprefentant es com unturas de fezes de v i

nho mas int roduzio no C o ro que era o de que iim plefm ente.

conitav a a ant igaTragedia) hum no v o A&o r, q ue narraÍTe algu

m a acçaõ de p erfo nagem illu itre , para deite m odo,naõ parando

:

º t heat ro p ode-

r defcançar o Co ro do feu cont inu o t rab alho . Eif

t a he a iina int elligencia das palav ras que eemerent agerentque : o

meerem refere—fe ao Co ro iit o he ao co itumado div ert im ento ,

q ue fe o iferecia ao, pub lico e o egerem ao no v o Aôtor iito h e ,a in

Arte Poetica.11 27

XXVI .Thefpis (fegundo dizem ) de T ragedia

Huma efpecie inv entou defco nhecicla ,

Introduzindo A&o res que com fezes

Desfigura'

ndo a s caras , recitaifem

E cantaifem feus v erfo s fohre carros.

à inv entada reprefentaqaõ de algum faéto illu it re .

P o]? lam e per/ame , Egºr. Com-

e ita inv ençaõ de Thefp ís co a

m o h e facil accrefcent ar alguma coufa ao já inv entado , , p o z Ef

chylo o theat ro º em fô rma m ais decent e . Int roduziu maicara ho

neita lançando fó ra aou t ra com o immunda. E aiiim entendo

P er/one p o r maicara e naõ p o r hum A&ar com o ent enderaõ

Lam b ino ,e N o res. Sigo a M o ni. Prepet it de G ramm ont na fua

t raducqaõ Franceza a D acier Luiiino e a M inturno na [uaPo etica p o rém

'có nfeifamo s q ue a v ulgar int erpretaçaõ do s

C ommentado res -

naõ he p ara defprezar p o is no s conitajpo ifArift o t eles , q ue Efchylo int roduzira fegundo A&o r

,ailim como

T hefp is o p rim eiro . Além da maicara v eit io o s reprefent—ant es de

v e itido s grav es , e v iito fo s , p o is o s de q ue ufav aõ eraõ de linho ,

e mu ito iim p lices. Calçou- o s de co thurno s armou -lhes hum'

th eatro mais decente e fez com —

que deixado o -feu e itylo b ur

lefco fallail'

em com feriedade e no b reza. Po rém naõ fo raõ fó

eitas as no v idades int roduzidas p o r Efchylo ; p orque tamb em di

minu i'o

—o cant o do C o ro e fez com q ue na T í'agedia h ou v e ffe

hum p rim eiro papel.'He para no tar q ue Arifto te lcs faça m en

q aõ deites inv ent o s e nada diga do s q ue ap onta Ho racio , de

o q ue o s qu e lemb raraõ ao Filo fo fo efqucceraõ ao Po eta ;e o s de q ue faz m em o ria o Po eta , defp rezo u o Filo fo fo . Po rém »

Horacio em t ratar de itas int ro ducções m eno s imp o rtantes , me

rece defculpa p o is naõ foy feu anim o efcrev er huma comple

t a Art e Po et ica mas fó humas reflexões C rit icas e Atiito t eles, em fazer m encaõ fó das m udanças co n iiderav eis daT ragedia

por b eneficio de Efchylo cum prio com a ob riga/

qaõ q u e t inhat omando p o r

ai'fump t o o efcrev ercompletam en te daPo eiia.

Pallwgue : I ito he , huma com o t oga v eitido m agnifico e

p omp o fo . C om cite nome hav ia duas v eitiduras div erfas huma;

chamadapalmgellz'

eam , q ue era curta e della falla M arcial :

D imialz'

as W ie: gellz'

m palla fª it .

5 2 3 D eArte Poetica.

Ãfeáylas 0ª

modicís izzjtrao í t palpita tignis

Et docaí t magnmnque [aqui ní tí que cotª

/turno.

Szzeceí ít etus his Com tedia non_jine multâ

Lande : fed z

'

n m tmm liberªtas excidí t , (aº

v im

A”o u tra dav aõ o nome de latina o u fyrnta que ch egav a a fa

zer cauda, e della faz mençaõ O v idio no n . . do s M etamo rfofes[lle t aparjí a

ªoant laaro Fam a

./ide v inã nnzVerrit nantarn .

D eite v eit ido t heat ral já fallámos em out ra no ta illu itrando o

lugar , traxitqne v agas per palpitafue/tent

ª

.

[njí raªoz'

t palpz'

ta t ignt'

s : Vit ru v io no liv . f . da fua Á relaí teã ara

explica b em t odas as p art es q ue com punhaõ o ant igo theat ro .

E aiiim palpz'

ta era hum lugar fuperio r àort/oejí a ,—no qual fe rep re

fentav a : co rrefp onde hoje ao que nó s chamam o s tablado e o s

G rego s dav aõ o môme de logieon . Efchylo arm ou —o m o derada

m ent e com p oucas tab o as e diz iito Ho racio para diiªferenqa

do t ab lado que depo is introduziu S ophocles maqu ina efpaço

fa e rica.

Snçt ejz't v etar b is Contaedt

'

a âgºe. Heinii o p ret ende fem fun

dam ent o q ue cites quat ro v erfo s naõ e itaõ no feu com petentelugar e q ue fe dev em feguir ao s pali

'ado s em q ue Ho racio —fal

la da fatyra t heat ral po ndo—o s logo depo is do v erio E nnis at t i

pz'nnt ant

'

nt t'

s donant ºv e corona. Vejamo s como o Commentador

Francez im pugna a fatalidade deita fent ença. Ho racio em dizer ,

q ue a ant iga Com edia fuccedera às Tragedias de Thefp is , e Ef

chylo naõ no s q u iz dar a entender q ue ella nafcera do s dito s

D rammas T ragico s mas a i'

ua ide'a foy en iixnarno s q ue a C o

m edia fó com eço u a t er cultu ra dep o is q ue a Tragedia fe v io

em p erfeiqaõ . Vem p o r eite m odo Ho racio a dizer o mefmo

que p ela m efma o rdem deixara eicrito Ariito t eles na Po et ica , di

zendo Á ; ntndançar que tev e a Tragedia'ª

, foraõ tnnyfenjcv et'

s porém a Comedia t ont o defoonb eet

'

da naõ exp erimentou o mefwa, porquenaõ fe oaídon della defde o principio conto da W agedia. Tarde no , queo ,Mant

'rado mandon cantar em theatro Coros Comico: e reprefentar

acções caja; d ólares_

lt'ª

ores e v oluntarios naõ obfernaªv aõ ordem.

P on

1 30 D eArte Poet ica.

D iguam lege regi. Lex (yzaccepta c/zorufqueTurpzter obticuit fulvlatojure nocendi.

XXVII .

Nil intentatum myiri liquere Po'

e'

t te

Nec minimum meruere decus ediigia Greeca

Alt/i deferere 67 celebrat e dome/Zicafaí ia

Vel qui p lº

tetextas v el qui docuere regatas.

Edpolz'

r atque Cratz'

nus Á rijtopbane/que poeta:

Atªque alii quorum Comaedza pri/ca v iraram edStaut; erat dignas defcrt

'

m'

, quod malu; aut fur ,Quod machu: foret aut jcariur aut alioguz

'

n

Fumoff u,multá cum liaertate notaoant .

Po rem no t em p o de L ifandro q uerendo p o ricremedio a tanta lih erdade

, p ro h ib io - fe o nomearfe o s nom es daquellas p eifo as de

q uem fe rep refen tav aõ as acções. Ainda aiiim produzio p oucofru to eita ley ; p o rq ue o s Po etas fe b em naõ declarav aõ p o r feus”091 6 8 aq uelles , que t omav aõ p o r acçaõ da fua Com edia , v inga

Vª P 'fe . em lhes p intar o caraét er de maneira q ue naõ p odeii'

emdeixar de fer co nhecido s. Eita he a C om edia a q u e chamav aõmediª ; e —t ant o deita , com o da antiga no s deixou algumas Ariito

Ph'

fmcs. D eitru ido s o s Theb ano s p o r Alexandre , e com tal co n

q u'ÍlQ feguro e ite Principe no Im perio da G recia , iit o foy a cauia de fe ir refreando a maledicencia da Comedia media e int roduzm -fe a nov a a qual naõ adm it t ia ou tro s argum ent o s fenaõas acções da v ida civ il, fem declarar nomes de peiTo as , nem _

p in

tar caraét eres de de t erm inado s indiv íduo s , mas fóment e o s VlClOS

em commum e as defo rdens do pub lico coniideradasem geral.

D eite m odo ceifou a petulante m ordacidade do theatro e deitault ima mudança he que falla Ho racio

, q uando diz :Chora/gue

iurpiter oátz'

cuz'

t : I ito he, p rohib io

—fe in teirament e o Co ro da (, o

m edia media, o q ual nas fuas Parana/es he qu e mais co rtav a p elas

acções do s hom ens conhecido s e p elas determ inações do go v ervno . Com ei

ªfeito naõ hav ia eite Co ro nas Comedias de M e

nandro

Arte Poetz'

ca; I 1:

M as defcahio em v icio a lib erdade ,

E mereceo das leys o iuito freyo .

Com elle emudeceo ,naõ fem v ergonha

O Coro , e de infamar perdeo a po iie .

X XV II .

Nada o s no ifo s D rammat icos Po etas

D eixaraõ de intentar ; nem lev e fama

M ereceraõ deixando refoluto'

s

O s v eitigio s do s Gregos e lo uv ando

As R omanas acções , o u inVentaifem ,

R ii

nandro ,Plau t o ,

e Terencio , po rque eraõ m oraes e de ail'

umpt o s tingido s dirigidas a initru ir e naõ a infamar fegundo o

fyitema daCom edianov a, fohre o qualcompo zeraõ citesCom ico s.

N il intentatum , &gºc. N efte v erfo t eit iiica o Po eta , que o s

R omano s naõ fó im it ando o s G rego s , com pozeraõ C om edias em

q ualq uer das referidas efpecies m as tam b em fe apartaraõ delles

t omando po r argument o s acções domeiticas do feu mefm o Paiz,no que m ereceraõ naõ pequeno lou v o r. Com effeit o entre o s

R omano s hou v e Comedias com t oda a maledicencia da antiga e'

com t odas as p icantes gracio iidades da media ufando igualm ente

e «Co ro à “

maneira das de Arifto phanes dando -lhe lugar nas

chamadas Atellanas .

Vel gui praºtextar *v el qui docuere togatar : N aõ fe p óde du v i

dar , que de t o do s o s lugaresºdeita Art e , cite he o mais diilicil de

entender ; e t oda a diilí culdade co nii ite fohre fe a palav ra prmtex

tas allude à Tragedia, ou à Comedia. O P .5 anadon com ou t ros

refolv em qu e fe refere à Tragedia , p o r co nv ir fé a ella a pre

texta v eit ido p recio i'

o que fóment e p ertencia às p rim eiras pcf

fo as da R epu b lica e como t al era im p ro p riiiiim o para a Come

dia, na qual unicam ent e fe perm it t ia a t oga com o . v eitido o rdi

nario do po v o . Po rém eu inclino -me mu it o à int erp retaç aõ de

D acier q ue fegu io ao Comm entado r Lu iiino ainda que o occultou

, para fazer mais p lau ii v el a fua fent enqa. Tenho po is p orcert o

, q ue Ho racio na palav rapre textas q u iz iigniiicar C omedias

pretextatas com o

,

foraõ as duas de Pacu v io huma int it ulada Pau

Í”! ºu lit aTuniculart'

a e outras duas de Aecio , huma com o

u

t

l

ir

Q

1 3 2 D e Arte Poé tica.

Nec v irtute joret clarzfque p otentius armis

Quem lingue? Latium_ji non r

_wf entleret unlim

Quemque po'

e'

taram limcejabor (7 mora. Vos

Pompi

t ulo de Brutus , e ou tra de D eciur. D e t odas fé nos ficou a me

m oria , cfoy perda co niidcrav el ; p o rém de huma Carta de C icero a Po lliaõ co lhem o s que citas Comedias com o nome de prétextatas t inhaõ po r afi

'

ump t o acçaõ grav e e féria quaii feme

lhante ada Tragedia fc b em qu e lhe faltav a a mageitadc e

grandeza deita e fó na feriedade dos caraót eres h e q ue hav ia alguma femelhança. .M uit o comp ro v a a int elligencia q ue dam os

aprefente paifagcm do no ii'

o Poeta huma au tho ridade de Feito,

que dev em os ao iniigne Pedro Vict o riº » Togatarum duplex e/i£

ge

nu: preetextarum b omz'

num fadigi quaejt'

cappellantur quod tegis

prmtext ís rempuolz'

cam admínzyí rarent tabernarz'

arum guia kommt“

;

óus excellentious et íam loumt'

les p ermiut t'

. D onde ie v ê q ue togatze

h e genero que ab raça as different es efpecies das C omcdias Ro

manas ; e que prcetextze faõ huma das efpecies comprehendidasno genero . C om qu e hav ia D rammas p retextat o s na o rdem dos

T ogado s ; logo dev emo s dizer , que eraõ Comedia, p o isjá maish o uv e Tragedia chamada togada.

Vel qui docuere togatas : Ailim como o s R omano s chamav aõ

pretextatar aquellas C omedias ue p ela fua feriedade e p om

a de v eitido s arremedav aõ b aãantement e a Tragedia ailim

aquellas que eraõ m eno s grav es e rep rei'

entav aõ fact o s de meno s imp ortancia , fuccedido s a C idadão s , chamav aõ togadas. D ef

t as Comedias inv entou M eliil'

o huma t erceira efpecie a q ue deu

o nome de Traoeata e t enho para m im q ue a chamou ailimo,

p o r nella reprcfentar acções de gent e de guerra e de cav allei

ro s,a quem p ert encia o v eit ido chamado Tranca . Em fim hou

Ve ou tra efpecie de Comedia com o uome de Tabernart'

a p o rque

nella o Po eta naõ im itav a, fenaõ fuêceii'

o s familiaresop ertcncen

t es à iimples gente do p ov o ; p o ito que algumas hawa com citenome contendo argument o s mais fo lido s como b em pro v a JoaoSav io na fua Apo logia ao Pa r

Quam lingud : Ho racio naõ deno ta p ela palav ra lzngud a elo

quencia em geral como alguns p retendem mas fim a q ue p er

tence

134 D e”

Arte Poetica.

Pompilius fanguis carmen reprehendite quod non

M ulta dies G'multa litura coercuit atque

Prcefeó'

fum decies non ca/ligav it ad unguem.

XXVIII.

Ingenium mzferâ quidjortunatius arte

Credit , o'excludit

'

fanos Helicone po'

e'tas

D emocritus bona pars non ungueis ponere curat .

Vo: P ompiliusfanguís : Aiiim chama ao s Pisões p or ferem

dcfcendentes de Calp o ii lho do R ey Numa—

Pom p ilio . O p ô rHo racio em nominat iv o o nome B ompilz

'

us em lugar de v ocat i

v o,he co ufa v ulgar no s Po etas e ent re ou t ro s exem plos lem

b ramo s o de Virgílio : Corm'

ger HeÁoeridum ]luwus regnator aqua

rum .

Carmen repreb ena'z'

te quod non multa dies Cg“multa litura ig

ºc

C o rrei'

po nde o multa litura ao lima labor do v erio antecedent e

e o multa dies_

ao mora. Temo s o b ferv ado , que coufa nenhuma re

commenda tanto Ho racio em mu it o s lugares das inas o b ras co

mo há o rifcar huma , e mu itas v ezes q uando fe e itá compo ndo .

N aõ fó neite v erio,mas no 7 2 . da Satyra I O . do liv . e no

1 6 7 . da Epiito la 1 . do liv . de ixo u b em p ro v ada cita neceil'ida-s

de . Bite grande preceito naõ he fó delle he de t odo s o s m ef

t res ; e Quint iliano t em a co rrecçaõ p ela parte m ais u t il do s

e it udo s Emendatio parsjludz'

orum utilií ima negue enimjne caufacreditum e/l ,jlylum non minas agere , cum delet .

m eã um decier, (a

ºc. Aqu i u fa de m etafo ra t irada do s Ef

cult o res em marmo re, made ira &Cc. o s quaes co itumav aõ paf

far a unha pela o b ra, p ara aiiim v erem fe citav a b em p o lida , e as

junt u ras b em unidas. Hoje naõ fab emo s,fe ainda co nferv aõ cite

co itumc: he cert o , q ue o t inhaõ o s R omano s e o s G rego s , en

t re o s q uaes (com o acho em Braimo ,e M anucio ) para expr

rem q u e huma o b ra citav a p erfeita hav ia o ada

gio Pajb u a

ueba por ella. Por iii'o dizia Po lycletes , que a cou a mais diiiicrl

em

Arte Poetica.

I 35

Po r longo tempo . O'v ó s de Numa Éitirpc,

R eprendey t o do aquelle ,M uitas v ezes rifcar o feu

Nem fepultallo em ir po r lo ngo s dias ,E dez v ezes limallo , até q ue chegueA darlhe o mais perfeito po lim ent o .

XXVIII.Po rque crera Democrito que o genio

Valia m uito mais para a Po eiia ,

Que a miferav el Arte e do Parnafo

Excluíra os Poetas de juizo ;

em huma o b ra hc q uando ult imamente fe ha de paii'

ar po r ella a unha. Efcufado he dizer p o r fer coufa clara que o Po etana palav ra decio: t om ou hum numero de term inado p o r

'

hum indet erm inado efco lhendo o de dez p o r fer ent re todo s o mais

p erfeit o .

lngenz'

um mz'

ferd , Cgºc. Tendo at é aqu i m o itrado Ho racio , que

a Poeiia pede fumm o e itudo ,e igual; cuidado no co rregir de v a

gar , o que nella fccom po em poderia o p po rfe alguem a cita

do u t rina com a au tho ridade de D emocrit o,o qu al defendia, que

ao Po eta para fer b om b aitav a-lhe t er cn thu iiafm o e que fen

do do tado p ela natureza deite fu ro r , naõ impo rtav a que igno rais

[e a Arte . Para zomb ar da fu t ilidade deita dou trina ou da ina“

m á intelligencia faz huma galan t iíi ima p intu ra daquelles , q ue

p o r falta de ju ízo ent endem as co u fas às av eii'

as o u ao pé da le

t ra. D em ocrit o fegundo Cicero de D ininationc fó afiirmav a

q ue fem fu ro r naõ fe dav a Po eta : N ogat enim jine furore D emocrá

tus quemquam p oetam magnum empoí e. O m eim o p ro v a S ocrat es

no feu [on . O ra o s mao s Po et as do t empo de Ho racio entenden

do mat erialm ent e o furo r , de que fallav a o dito Filo fo fo p erfua

diaõ —fe q ue era precifo m o itrar exterio ridades de lo ucos param erecerem no Parnafo o lugar q ue naõ fcconcedia ao s iizudo s.

E aiiim naõ cu idav aõ em co rtar as unhas nem fazer a b arb a ,nem lav ar o co rpo . Bufcav aõ

_

o s lugares fo litario s e de ite m o

do ent endiaõ que alcançav aõ o nome e repu taçaõ de Po etas ,mo itrando que o enthu flaimo o s fazia andar ab itrahidos.

D e Arte Po'e'

tica.

Nou barba/n : feereta petit loca btt/neu oitat .

Nancifcetur enim pretium nomear/ue poe'tce

S í tribus Anticyris caput infanabile nunquam

Ton/ari Licino commikrit . O'ego leenas

Qui purgar bilemjul) v erni temporis b oram !

Non aliusfaceret meliora poemata : v erizm

Nil tauti eji. Ergojitngur v ice cotis acutum

Reddere qzueferrum v aler exfors ipfafecaudi

Si tribus Anticyris Aqui dá o t oque mais v iv o que tem ci

t e ret rat o do s Po etas loucos. C onii ite a v iv eza em tingir t rest icyras q uando he cert o q ue fó eraõ duas onde fe dav a o

leb o ro fam ofo remedio para a loucu ra. Como dizendo Se

h ouv era t res Ant icyras t odo o helleb oro dellas naõ b aitaria pa

ra curar citas cab eças loucas no q ue v em o Po eta a dar humav iv iílima idea do conceit o que fazia deita caita de gente . M ui

t os Commentado res naõ alcançaraõ eita delicadeza.

Toni ni Licino EitcLicino foy hum b arb eiro em R oma a

quem Augu it o elev ou adignidade de Senado r p or fab er que

t inha odio a Pompeo . Eite he o meimo a q uem fcfez cite ia

tyrico epitafio , alludindo a hum magnifico tumulo que manda

ra lav rar para ii .

M armoreo tumulo Licinusjacet at Cato nullo

P ompeias parªv a. Quis putet ([e D eos ?

Ob ego leeo us gui purgor b ilem Egºn : Para mais cfcarneccr dos

loucos ieq uazes de D emocrito Horacio ironicamente fe r

fprãen e

D e Arte Poetica.

M unus , U'(mieium uil fcribens ipfe docebo.

Unale parentur apes quid alat formetque poetam

Quid deceat , quid non : quo v irtua , quõjerat error.

XXIX .

Scribencii reátefapere e]? 67 principium , ta'fans.

Rem t ibi S ocraticee poterunt (yiendere cbartce ;

Verbaque prov ifam rem nou inv ita fequentur.

N ilfcribens ipfe D o meimo modo eu (diz o Pocta)eniinareya outro s o s preceit o s da Po eii a , p o ito q ue nada efcrev a iito hc,

q u ? naõ comp onha. nem Po ema Ep ico nem D rammat ico de

cujas regras hcq ue efpccialm entc t rat o ncita m inha Arte . T alv ez alludio ao q ue deixou efcrit o Cicero no liv . de Finibus a

refpeito da mcfma mat eria Á bfurdum non ejt , ut guipoemata/críª

b ore non p ig/it illius tamen rei pojit tradere preecepta.

Unde parentur opes Eitas riq uezas da Po eiia faõ cfpecralmen

t e a Inv ençab'(em a qual (dizTullio ) ferá qualquer o b ra ina

fonitus o erborum .

Quid alat, formetguepoetam Ho racio ajunta aqu i as qualida

-z

des q ue v em da natureza'e da arte para a fo rmaçaõ de hum

b om Po eta. Anatureza o forma , e a art e o alimenta . 0 com o hu

m a e ou t ra faz.

o feu o fiicio iil'

o largament e t em mo itrado a

p'

rei'

cntcEpiitola , cnaõ m eno s o cont eúdo no v crfo que fe fe

guc: Quid decoat , quid non : quo v irtus , quoferat error .

Scrib endi reí tefapere ejt , Egºc. I ito q ue Ho racio ago ra

diz,

hchuma rcpo ita ao s meio s Po e tas que como louco s dao nas ex

t rav agancias q ue deixa ap ontadas entendendo'que as dev em

fazer para ferem receb ido s das M ufas. Com o dizendo Vo i

Ou tro s entendeis q ue p ara fer Po eta hcp recri'

o fer louco [3 033

fah ey que para o fer he ncccifario fab er b em ,e t er b om ]u i

zol gfcribendi reitefapere e/t Eg

º

principium , fºu-f. Tºdª a Pºd i ª,

Arte Poetica.

I 9

Se Po emas naõ faço o s feus preceitos

Eniinarcy , mo itrando da Poeiia

As occultas riquezas ; o que fô rma

E alimenta o s Po e tas ; o q ue he digno ;O u indigno da M ufa , e q ual v arcda

A'v irtude co nduz ,

e q ual ao v ício .

XXIX .

He de b em fe cfcrev er , principio e fonte

O juizo e liçaõ ; ampla mat eria

D efco b riras de Socrates nas o b ras

E huma v ez , q ue t iv eres hum affump to

B em co nceb ido , as v ozes fcmx v io lencia

V erás q ue naõ tcfaltaõ no difcurfo .

S ii Aquel

qucnaõ p roceder deita font e , fcrá o b ra , que merecerá o defprc2 0 do s int elligent es q ue naõ excluem fanor Helicone P oetar. Amcfma dou t rina dav a ao feu Bernardes o no ii

'

o judiciofo Ferreirana Carta 1 3 .

D e bem efcrev er ,jabor primeiro lee fonte ,Enriquece a memoria de doutrina

D o que b um cante outro enjne outro te conte.

Rem tibi Socraticee , Cgªc. Aponta ago ra o Po eta a fonte e a

o iiicina , em q ue fe ha de fo rmar o ju ízo ,e adqu irir a dou t rina

,

rcm e t tcndo o leit o r para a Filo fo iia dcSocrates iito he a Filo

fo fia Academ ica como aquella que fab ia m elho r hab ilitar humefp irit o p ara conhecer a v erdade e adqu irir o s b ons co itumes.

N ella fcfo rmav aõ excellent es aquelles q ue aip irav aõ à p erici

çaõ em q ualquer fciencia, ou arte com o lem o s no liv . de Fi

nibus fazendo - lhe Pifaõ cite elogio . Ut ad minora v eniam : M a

tb ematici Poet te M ujci M edici denique exªb ac

,tamquam ex omnium

artium qáicind , profeftifunt . Po rém neite lugar allude Ho racio ci

pccialment e à dou t rina m o ral taõ precifa ao Po eta para a p intura do s caraét ercs

,na q ual Socrates cxccdeo ao s demais Filo io

fo s.

Verbaque prov ifam rem, Q uando nó s temo s b em ccnce

b ido huma co u ia he facil o exprim illa e paracite fim promptamente oceorrem '

as palav ras , como dizia Cicero lp/e res v erbHb“.

1 40 D e“

Arte Poetica.

Qui didicit patria: quid debeat , O'quid amicis ;

Quojit amore parens quofrater amandus , 69'liofpes ;

Quodjt eon/cripti quodjudicis ojiezum ; qzue

Partes in bellum mi] ? duais : ille prcfeeºlo

Reddere perfou te feit conv enientia caique .

ReJÇoieere exemplar v ita: morumquejubebo

rapiunt e Aiinio Po lliaõ citado p elo s dous ant igo s Int erp retesPorphirio cAcro n : M aleb erclê ev eniat v erbis nin rem[equantunO meim o deixou efcrit o S ocrat es dizendo D e re nonfat is per/lp er

ºlaneminem reót êjudicaturum Egºoratione explicaturum . R eparem

b em ncitas do u t rinas aq uelles , q ue em inas com p o iições naõ b ufcaõ v ocab ulo s para o fent ido mas arraitraõ o fent ido para o s v ocab u lo s. E deites q uant o s ha !

patria , Egºc. Go ufa nenhuma he taõ precifa ao

Et h ica, a fim de fab er p intar com cxacçaõ , e v e

ro iim ilhança o s caract eres daq uelles q ue t oma p o r argum ent o

p o rq ue cita icicncia hcqu e m o it ra o fo rt e ,e o fraco das paixões

h umanas e q ual feja a o b rigacaõ do homem fegundo o feu eitado

,o feu o fficio

,e o feu caraõter.

Redderep er/oncefcit conv enientia caique I ito he fó fab erá dara cada pcii

'oa aq uelles co itumes , q u e lhe co n v em , o u com o v er

dadeiros o u v ero iim eis , q uem fo r b em in it ru ido neita Filo fo fia

m o ral : q uem fo ub cr o amo r, q ue fcdev e ao s pays , a o b rigaçaõ ,

q ue fctem à Pat ria e ao s am igo s , q uem naõ igno rar as leys in

v io lav eis da ho fpitalidade e q ual feja o caraêtcr de hum Cap i

t aõ na guerra , de hum Senado r no Senado cde hum Ju iz no feu

t rib unal. Como a cada hum deites co nv em cipeciacs co itumes ,o Po e ta q ue o s t emº b em eitudado s p ela Et hica naõ ha de

confundir huns com o u t ro s p intando hum homem de armas

como »hum de letras. Em t oda cita Art e cite p o nt o do Hel re t rat o do s caraõtcrcs t em dev ido a Ho racio cipccial m emo ria em

mu lt iplicado s lugares ; donde fe v ê o q uant o cite citudo he fum

mam entcp recifo ao Po eta , p o r fer como alma da PocHa.

Refpicere exemplar v ita Egºc. O s lllu itrado rcs neit e lugar

quafl fe unem todos a entender por exemplar v ita moramgue

f

a r

ã.n a

t 4a D e Arte Poetica.

D oí ium imitatorem 67 v eras b itte ducot e v oces.”

I nterclum fpeciofa locís morataque reáte

Fabula nullius Veneris jine pondere ta'arte.

Valdiits obleótat populum meliijque moratur

Quinn v erpts inopes rerum nugeeque canorce.

XXX .

Graiis ingenium Grau s dedit ore rotundo

M ufu [aqui preeter laudem nullius av aris.

Roma

[nterdumÁoeciofa locis , Egºc. D aqu i fe p ro v a b em o q uant o a

Filo fo iia do s co itumes hcp reciii iiima naFab ula Com ica , da qualHo racio co nt inúa a fallar. He taõ ncceii

'

aria diz elle ) q uehuma Comedia, em q ue hou v er lugares cfpecio fo s , iito he , b ellas i

'

cnt enças b o ns p enfamcnt o s cco itumes b em exp rim ido s ,ainda q ue lhe falt e a galantaria e arte ha de agradar at é ao

meimo p o v o mu it o mais do que o ut ra q ue t enha v erfo s muyharmo nio fo s , mas falt o s de cxprefsõcs , q ue p int em b em cite ,

ou

aquelle co itumc. M oni. D acier nas fuas excellen tes N o t as àPo e

t ica de Arifto t elcs m o it ra illu itrando o cap . que cite ju ízode Ho racio fó tem lugar na Fab ula Com ica e naõ na Tragicao nde o s co itumes cpenfamcnt o s naõ faõ taõ neccfi

'

ario s , com o

a difp o ii çaõ da Acçaõ .

Quàm v er/us inopes rerum augnano canorte I ito he v erfo s

cm q ue fó ha huns b rinqu inho s fono ro s p o r caufa dchuma b ella

m et riiicaçaõ e huns incidentes frív o lo s que naõ paii'

aõ do ou

v ido ao co raçaõ cdeititu ido s ao meimo tempo de p intu ras de

co itum es e de fent iment o s infp irado s pela natureza. O no ii'

o

go tt o a refpcit o do t heat ro com ico hctaõ deprav ado q ue iim

p lei'

ment e p o r huns v erfo s harmo nio i'

o s po r humas agudezas

p u eris , e p o r humas gracro iidades aifcôtadas (cxcellcncias daC om edia i-Iefpanh ola) trocaõ aquelles v iv o s ret rat o s de div erfo s ca

raét eres que o s de b om go it o louv aõ nas Comcdias de M o lic

re

Arte Poetica. 143

Que nunca aparte a v ilta do modelo

D a v ida ,e

'

do s co itum es , c que delle

Saib a extrahir o s to ques v erdadeiro s.

Huma Comedia às v ezes t endo b ellas

Sentenças e co itumes b em pintado s

Inda q ue arte naõ tenha graça e m etro ;Agrada m uit o mais e encanta o po v o

D o q ue huns v erfo s fem fucco cde palav ras

Hum jogo , que naõ t em m ais q ue harmo nia.

XXX .

.A M ufa deu aos Gregos no b re engenh oE fub lime linguagem ; nem fe m o itraõ

Amb iciofos fenaõ de alto s louv ores.

re , de G o ldo ni de Amcnta e o u tro s im itado res do s Ant igo s.

Bem dcfcjam o s q ue ent re nó s defpert e hum engenh o feliz q ue

o s im it e , para no s inco rp o rarm o s neita p arte com as N ações cu l

tas ct irarm o s daComedia aquellas u t ilidades , de q u e ella h e ca

p az cait igando o s m eio s co itumes com o s p ô r em ridiculo na.

p rcfcnça do p o v o em pu b lico theat ro .

Graiis ingenium Graii; dedit ore rotundo Egºc» : Quem ler as

o b ras de Ho racio , efpccialmentccita Arte b em ha de conhecera m erecida paixaõ q ue t inha p elo s Efcrito rcs G rego s , p ro pondo—o s huma e m uitas v ezes como fo nt es de t oda a b elleza , e

b ondade da Po eiia. E q ue b em fcparecem com elle cert o s m o ;

derno s, com o o Ap at iit a e ou t ro s q u e fcempenharaõ em ci

q uadrinhar defeitos no s p rim eiro s Po e tas da G recia e defeit o sna fua elo q ucncia à qualHo racio chama nob re p o lida agradav el e harm o nio fa que tudo iit o deno ta o ore rotundo com

q ue fcexprim e frafe t irada do s m efm o s â rego s com o lemo s

em Ariito phancs , q u e fallando de Eu ripides , diii'

c Ego rotunditate ejus orir fraer para dizer que go itav a m uit o da b elleza e

graça das inas exp refsõcs.

P ra ter lundem nullius auaris : O s que commentaõ cite v erfo,

entendendo q ue Ho racio chama ao s G rego s av arento s em dar

lo uv o res, certament e o ent endem mal. Aqu i av aras v al o m eimo

que av idas Ufª deita translaçaõ como já fizera nasEp iit o las ,dizen

D e Árte Poe'ticãÉ

Romani paeri longis rationibus ajem

D ifcutiunt iu partes centum deducere. D icut

Filius Albani j de quincunce remota c/i

U/zcia , quidfitperat ? Peterus dixij'

e : triens. Eu ,

Rem poterisferv ore taum. Redit uucia : qus fc>

S emis. At Izaªc animos terugo oª

cura peculi

Cian femel imbuerit jperamus carminaf ugi

Pqí e linenda cedro to”

[a v i ferv anda cuprejo

dizendo Animam laudis av aram. D e m odo q u e lou v a o s G re

go s aftirm'

ando delles que ió o s lo uv o res b ufcaõ com am b içaõ

p ara anim cenfurar o s feus R omano s q ue [(S eraõ amb icio io s de

riq uezas , com o já fi zera na Ep iito la I . a M ecenas

O'civ es cine: qua renda pecunia primam e]!

Virtus po/t nammor : [763 6 ? anasfummos ab imoP erdocet b eecrecinuntju'v enes diãtata fenefqaeLeev o fufpenj loculos , tabalamgue lacerto.

Á i êm di/cant in partes t entam deducere : Pareccmcm elho r com]afon de N o rcs Pedro Namnio e o u t ro s q ue o Po e ta t om ou

ajem p o r pezo e naõ p o r dinheiro . Segundo eita int elligencia

v al o m eim o q ue huma libra , a q ual t inha do ze onças , huma o u

ça o it o dragmas , hum dragma t res grammar hum gramma dous

ob olos , hum o b o lo q uat ro cb eracior hum cheracio dous cale/oo: c

cite era a m inima parte do p ezo e aiiim af em in partes centum

deducere v al o m eim o, que dizer fem encareciment o , quot in cb al

eb es libra div idatur . Eifaq u i (diz Ho racio em q ue fe occupa a

m ocidade R omana q uando a G rega fó aip ira a m erecer lou v o

res p elo s feus no b res citudo s. E feudo ailim ,ha de efperarfcdo s

no ii'

o s m anceb o s q ue com o t empo v enhaõ a produzir o b ras di

gnas da imm o rtalidade ?

D icat Filius Á /b ini repent e com q ue o Po eta faz cita

p ergunta tem cfpccial v iv eza , imitando ao s mcitres de efco la ,

q uan

D e Arte Poetica.

XXXI.

.Á ut prode e v olant aut deleátare Poetre ,

Aut /ímul egª

jucunda O'idonea dicere v itae.

Quicquia'prrecipies ejia brev is ut

ª -cito dieta

Przecipiant rtnimi dociles teueant quejfdeles.

Omne fuperv aruum pleno de peã ore manat .

Field v oluptatis cruz/â,jm“

proxima v eris.

Nec quodrumque v olet pofcat jbifabula Credi

Nett

Aut prodrf e v olunt, Eg

º. T em—fe errado mu ito fo h re o fen t i

do genu íno deite v erio . Alguns fc p erfuadiraõ q ue Ho racio

fallara aq u i das different es o b ras do s Po etas. O Z ani na fuaPo et ica pretende que o prodej

'e e o deler

'

t'are naõ fe haõ de en

tender disjunét iv amcnt e , mas po r m odo co pulat iv o como dizen-a

do, que o s b o ns Po etas q u erem no meim o t empo in itru ir , e de

leitar. O q ue t enho p o r cert o he q ue Ho racio naõ qu iz mais

do que apo ntar o s div erfo s fins q ue p odem t er o s Po etas em

fcus efcrit o s , iito'

hc o u de quererem caniat initrucçaõ ou diª

v ertim ent o , o u amb as as con iasjuntas. Para t odo s cites Em dia

feus preceit os ; p o rém lou v ando mu it o m ais o t erceiro iito he

aquelle fim , q ue une o deleit e com a initrucçaõ .

Quidgaid preecipies , ejia brev ir , Egºr . Rite he o p rimeiro p re

ce it o para o s que ,fó p ret endem in itru ir. Q icm t em cite fim ,

ha de fer b rev e, p ara q ue a in itruccaõ facilm ent e fe po ii

'

a com

prehendcr e re ter. E p o rq ue em Thco pomp o naõ hav ia eita

Vi rtude , p o r iii'

o delle dizia Ifocrat es q u e neceiii tav a de freyo ,

e o m eimo ju izo faz Laercio de Theo fraito .

Omnefuperv acuum Egºr. Hchuma b ellii

'

iima me tafo ra t ira

da de hum v aio q ue p o r citar cheyo naõ p ó dc receb er maislico r e tudo o q u e fclhe deit a de mais p erde

—fc p o rque o

lança p o r fó ra. O u t ro s Exp o ii t o res com o N o rcs p retendem

q ue cita m etafo ra alluda ao eitomago que q uando eitacheyo ,

eX puli'

a tu do o m ais q ue receb e p o r força, porém a no iia intel

ligencia he a ieguida pelo s melhores.

Arte"

Poetica 14 7

XXXI.O u caufar initrucçaõ o u dar deleite ,

O u unir co nias Ut eis a jacundas ,O Po eta pre tende . Se initruirdcs

A b re v idade amay , para q ue po il'a

Perceb erfc, e re tcrfc o que eniiuardes

T udo o q ue hc demaiia , faõ fo b ejo s

Perdido s,de hum juizo q ue citei cheyo .

Se div ertir q uizerdes v cro iim eis

Sejaõ v o das ficções , ccuiday muito ,

Em naõ fiar da fcena , q uanto pede

T 1 1

Fitta v oluptatis causa, Egºr. Ago ra fcgucm

- fe o s preceito s para o s Po etas que t em p o r Em o div ert ir e recomm enda-lhesHo racio q ue para o confegu irem nunca fe apartem do v ero li

m il p o rque o b ras feitas para deleitar , naõ haõ de conter cou

fas incriv eis. He p recifo adv ert ir que cites p receito s naõ faõ

dado s geralment e ao s Po etas mas em p art icular ao s C om ico s ,com o s q uaes m u it o ha q ue falla. Fazem o s eita adv ert encia im

pugnando a Pedro Nannio que t ev e para ii q ue Ho racio deracitas regras geralment e para t odo o Po eta , t o rnando o s ero t ico s ,o s clcgiaco s , co s cp igrammat ico s pelo s Po etas , que t em p o r Em

o div ert ir o s didafcalico s com o Em pedo ,cles M anilio e ou

t ro s , p elo s que faõ initruõt iv o s , e a Hcii odo ,Lucrecio ,

e Vir

gilio nas Georgicar p elo s q ue unem a initrucçaõ com o deleit e .

Eit a naõ he a ment e do Po eta com o b em p ro v a o exemplo

q ue logo ap on ta.

Pitta : Eita p alav ra naõ dev e pail'

ar fem efpccial no ta po rque

nella daHo racio b em claram ent e a entender , q ue o s Argum en

t o s para a C om edia dev em ferf ugidos como eraõ t odo s dep o is

que ella i ub io àp erfeiçaõ aiiim como o s da Tragedia fe dev emt irar de h iito ria conhecida , fegundo deixou apontado em ou tra

p art e .

N ecquodrumgue v olet , p ofrat f bifabula credi Para b em exp or

cite lugar he p recifo reco rrer àjudiciofa int elligencia de D a

cier , o qual p o it o que a achou em N o res , com tudo tem o m ez

rccimento de explicar cite v erio corn mayor clareza. Aquelles

q ue

D e ArtePoet ica.

Neu pra/Ja: Lamar v iv am puerum extrabat alv o.

Ceuturim feuiorum agitant expertia frugis

Celaprretereunt azyiera poematrzRhamnes.

Olnue tulit punõtum qui mtfruit uti/e dulci

Lerºte

q u e diiTeraõ q u e Ho racio naõ q u iz dizer nelle o u t ra co ufa,fc.

naõ q u e o zí rgamento o u feja Fab u la Com ica , naõ p ede , quep lb e

rreya tudo o que ella quizer rep refentar no tb eatro ent enderaõ mu it o

m al cite v erio . E a razaõ ja o Po et a a deixou em o u tro lugarapo ntada dizendo q ue q ualq uer argum en t o drammat ico tan t o

dev e p ret ender q ue fe lhe crcya t udo o q u e rep reien tar q uenaõ dev e p ô r na fcena co ufa q ue naõ feja crí v el. Além de q ue

naõ fey ic p o dercy dizer b em em Lat im pofro loocmib i credi ,q uerendo dizer , peço quefe me dê crledit ofobreato . S endo p o is cert o

, q ue Ho racio naõ hav ia dizer hum a co u fa t an t o co nt ra as inasdo u t rinas

,dev em o s int erp retar o credi , naõ p o r crer , mas p o r

far,e fica ent aõ nat uraliiiimam en te dizendo o v erio

, q u e b um Áj/um

p to com ico naõ pede quefeficdelle quanto quereria a materia .

Para t o tal int elligencia , já o Po e ta,fallando daTragedia hav ia

dit o q ue nella fe naõ hav iaõ rcprelcntar conias incriv eis e horrorofas :

N ecpueror roram popalo M edea trucider.

Aut in av em P rogne v ertatur , Cadmus in auguem ;

a dcamqae ojtendis miloijc, incredalas odi.Ago ra dá o m eim o p receit o ,

t rat ando da Com edia , para que os

P o etas naõ fcp erfuadii'fcm q u e ella adm it t e o q ue a Tragedia

naõ fo ifre . Se ne ita naõ dev em ent rar conias incriv eis e m o nf

t ruo fas, o meim o fe ha de o b ferv ar na C om edia p o rq ue as

lcysdo v ero lim íl t em nella a mefma fo rca. O exemp lo qu e le le

gue demonit ra a v erdade de ita int erp re taçaõ .

N eu praa/ee Lamire Aiiim com o fe Bugio q u e h av ia hum

Lama Rey dos Lcltrigões q ue icfu iten tav a de carne h um ana ,

fcfingiu , q ue reinav a na Líb ia hum a R ainha chamada La

mia, q ue de v o rav a m enino s , de cujo nom e fc v al:aõ as amas pa

ra aqu ie tarem as crianças o u m et erlhes m edo .

—O ra e ifaq u i hu

rua das coufas q ue o s Po etas naõ dev em arrifcar no theat ro ,

f

o u;

ºlª

450 D eArte Poetica.

Leblorem d'

eleát ando pariterque mov endo.

Hic meret tera liber Souis ; b ic ta'mare treinar,

Et longam noto fcrip tori prorogat erv um.

XXXII.

Sunt deliáta tamen quibus ignov tje v elimus

Nam neõ'c/zordafam? reddit ,quem v ult manas, eg

º

menS,

Pofceutique grav em per/repe remzttzt acutum

Necfemper ferier quodrumque minabitur arcus.

Verimt ubi plura nitent in Carmine nou ego pauris

zer infcparav el o init ruõt iv o do deleit o fo . Eita he t oda a fo rça

do pariter , ifto h e naõ ha de initru ir em hum lugar ,—cdeleitar

em o u t ro ha de o deleite acompanhar femp re a initrucçaõ . O s

q ue fab em a Hiito riaR omana b em alcançaõ que nefte v erio a

p alav ra puní tum v al o m eimo que fuf ragia fendo co itumc do s

R omano s dar o s feu s v o t o s p o r p ont o s. Para pro v a diito lemb ra

no s 0 q ue diz C icero p ro M uraena. Tamen admonitus re ipfa re

cordar quantum lote que/tienes in Senata habiter punõtoram nobisferreidetraxerint .

Hicmeret tera liber SoJõis , Eg

ºr. Os So ii o s fo raõ dou s irm ão s ,

famo fo s liv reiro s deR oma iito he tant o encadernado res , como

efcrcv cnt es de liv ro s 3 p o rque entre o sRomano s o s mcfmo s, q ue

cº p iav aõ as o b ras do sAu tho res , eraõ o s mefmo s , q ue as v cndiaõ

já cozidas , e p reparadas em ro lo s fegundo a ant iga fô rma q ue

ie co itumav a dar ao s liv ro s.

Sant delifta tamen, Eg

ºr. Po ito que hum Po eta Com ico i

'

c

q uer lucro fama e co ncurfo a ou v ir inas C omedias haja dein itru ir , cdeleitar nellas ao meim o t em po 3 com tudo dev emfe

lhe p erdoar algumas faltas e fo ifrer , fcnaõ fab em b em unir o

initruõt iv o com o deleitav el. A mayo r parte do sCommentado

res illu itraõ cite lugar ent endendo q ue nelle falla Ho racio de

t odo o Po eta em q ualq uer efpecie de Po e iia ; mas naõ co nco rda

mos com elles p o rque hccerto (como fegue o excellente In

t erprete

Arte Poetica.

E juntamente agrade , eife hc que lev a

0 v o t o uni v erfal ; eifes Po emas

Enriq uecem liv reiro s paifaõ mares

E daõ ao feu au thor immo rtal nome.

XXXII .

Ha com tudo defeito s , que fe dev em

D efculpar facilm ente , po rque a corda

O tom nem fempre dá , q ue a maõ pretende ,Antes pedindo hum b aixo , fere hum tiple

Nem defpedida a fe i ta po r maõ déilra

Sempre no que ameaça , acerta o t iro .

t erpret e Francez tantas v ezes allegado ) que Ho racio ncitclus'»

gar ainda e itat ratando da Po e iia C om ica.

Nam neque rb ordafonam ,Egºc. Po rém como nem t o das as fal

tas fe dev em perdo ar , apon ta ago ra o Po e ta q uaes fejaõ as dignasde p erdaõ niando de hum iim ile taõ excellent e e cngcnho fo ,

q ue b aita dizer qb e he dcHo racio . Os defeit o s q u e m erecemdefculpa haõ de fer da caita daquelles q ue naõ deicom po emharm o n ia do t odo aiiim como huma co rda defafinada em q ual

q uer initrum en t o ma ii eo o u p o r falfa o u po r mal t emperada

fim faz diii'

o nancia , mas t al q u e a disfarçaõ ou a iup primcm as

o u tras co rdas em t om p erfeitamente aju it ado .

N erfemper feriet , Egºr. R efo rça a com paraçaõ antecedente

com o u t ra dizendo q ue aitim com o o hom em mais dé itro no

t iro de fet ta erra algumas v ezes a p on taria aiiim o m elho r Po eta nem femp re p óde acertar.

Verum ub i plara nitent, Eg

ºr. As o b ras do engenho fao como

o s hom ens , o s m elho res faõ o s que t em m eno s defeito s Nam

v itiis nemop ne nafcitar op timus ille e/l qui minimis urgetur . E aiiim em huma Po eiia onde as conias q u e m erecem lo u v o r faõem grande numero e fé ap parcce huma o u o u tra falta tev enenhum Crit ico

, q ue t iv er p rudencia , e ju izo a dev e cenfurar,

po niiderando que das mão s dos homens naõ p ódcfahir tudo perCi tº .

31 52 D e Arte Poetica.“

Qf eudar maculis quas aut incuria_fizdit ,

.Á ut humana param cav it natura . Quid ergo>

Ut fcriptorj peccat idem librarius ufque

Quamv is rg/i monitus , v eniri caret , egº

cit/zorredus

Ridetur cb ordâ qui [emper oberrat eâdem.

S ic mibi , qui multum refuta, _jit C/zrerilus ille ,

Quem bis terque bouum rum rifu miror egª

idem

I ndi

,Quas aut in'

ruria fudit aut b umana Egºr . Q s defeit o s o u p o

dem p roceder de alguma negligencia naõ fe podendo cu idar em

t udo o u de nat u ral fraq ueza do ent endim ent o humano e aiiim

p o r q ualquer deit es p rincip io s fcdev em disfarçar na Po eiia as lc

v es imperfeições. Longino no cap . 30 . co nfe ifa q ue o s defeito s ,

q ue ap onta em Hom ero cem o u t ro s grav iiiim o s Au th o res de

nenhum m o do lho s at t rib ue a igno rancia , mas lim a eiquccimcn

t o , e negligencia efcapando—lhes da p enna com o conias lev es

p o rcitarem com o e nt endiment o t odo occupado em coufas gran

des.

Quid ergo ? D epo is de t er dit o Ho racio q ue naõ cenfura no s

b o ns Po etas aq uelles defeit o s , q ue p rocedem de natu ral inadv er

rencia faz a ii m eim o cita o bjecçaõ quid ergo Com o dizen

do Po is fe ail'

entarm o s n i ilZO q ue he o q u e ie ha de cenfu rar?

Po is de q ualq uer defeit o fcp oderá dizer q ue p rocedco de negli

gencia , e incu ria , o u de fraqueza de ent endim ent o , q ue naõ pó

dccitar acau t elado em tudo .

Utfrrip tor Í p errat idem librarius ,Egºc. R efp o nde à o bjecçaõ

dizendo , q ue o s defeit o s q ue naõ dev e perdo ar hum cenfo r ju

d iC io io iaõ aq uelles em q ue fe cahe com freq uencia fem ha

v er em enda da parte de q u em o s comet t e : do m e im o m odo q ue

a hum co p iita de liv ro s (q ue i it o iignifica frrip tor jibrarius ) fcnaõ p erdo a hum erro de efcrit a , q ue com ert e mu itas v ezes t en

do iido em endado o u t ras tantas ; nem a h um rangedo r de in it ru

m ento s fe defaiina femp re na m efma co rda naõ feudo já iltonatural incuria

,mas Vieio ia negligencia.

1 34 D e Arte Poetica.

I zzdiguor qzzuudaque bonus dormztat Homems.

Verizm apere in 10.1

n fas e/i obreper'

e p mnum.

XXXIII .

Ut piã ura Po'

ejs erit : qzue ji propiusjfes

temere um de iududriu id eoutin/ ê rideo : Quôd*v erôjiulti: homini

uur uliguuudô“b om ªv er/us iu uueeum fluam mecum ip/e mirar .

Et idem iudiguor , C'

de. D o m efm o m odo q ue efcarneço e

me admiro q uando v ejo q ue hum mao Po eta faz algumas v e

zes hum, o u o u t ro v erfo b om ; a(iim naõ p o fl

'

o fo ífrer que hum

Po etaexcellent e como Homero inadv ert idament e e naõ- J

po r

igno rancia , caya em algum defeit o . N aõ p o dia Ho racio dar ao

grande Ep ico G rego hum lo u v or mais fino e delicado p o is

delle fe co lhe q ue o s defeit o s em Homero faõ t aõ raro s como

Os acertos no s Po etas o rdinario s. He“

para adm irar , q ue alguns

C o mmentado res ent endeífem que o Po eta cenfuraífe aqu i aHo

mero e t aõ v ulgar h e e ita int elligencia q ue neite fent ido paf

fa p o r pro v erb io q uando he ev iden te.

, q ue o q ue Ho racio qu iz

zer he, q ue hum Po eta m áo com o Cherilo fe acerta em al

guma confa caufa rifo e efpant o p o rém fe hum b om como

Homero cahe em algum defeit o,caufa indignaqaõ , p o rq u e he

fem preb om e rariflim a v ez mao aflim com o Cherilo h e fem

p re m ao, e rari

Quuudugue : Naõ (igniâca aqu i algumas v ezes como errada

m ent e o ent endeo mais de hum T raduót o r e Int erpret e m as

v al o mefmo , q ue quemdoeumque , guoties , Na m efma acep qaõ

õ lemos na,Ode a juli

'

o Ant onio

Comme: maiore P oem pleã roEae/m em

, quuudague tm b et feroees Egºr.

Verum apere iu longa , Gºe. .D efculpa o s. defeit o s de Homero ,

dizendo q ue'em. hum Po ema taõ dilatado e de taõ arduo t rab a

lh º , como o feu , p erm it t e—fe 'hum ,

ou o u t ro de fcu ido . D e lle

p o nt o t rat o u Q uint iliano com aqu ella b o a dou t rina q ue co ílu

ma, no cap . I . do liv . I O . p ara o nde remet t em o s o leit o r.

U; p iã um Po'

ef r ari; Ci e. Eike lugar he'certamente hum

Arte'

Poetiea. I 5 5

E naõ poH'

o deixar de enfurecerme

T oda a v ez q ue dorm ita o b om Homero ;M as disfarça

-fe em o b ra dilatada

Naõ eliar fempre alerta hum grande engenho .

XXXIII .

A'Pintura a Po eiia fe affemelha ;

Em amb as go ílarás mais de humas co ufas

U ii

do s mais recomm endav eis defia Art e 3 mas no mefm o t emp o hf:hum do s mais mal ent endido s. Jaco b G rifo lo com o fe nelle nao

h ou v era nada q ue int erpre tar paífou- o em claro e Francrfco

Lu ií ino entendeo —o mal, dizendo q ue Ho racio compara a Po e

[i a à Pin tura ; p o rque aHim como neíta ha quadro s b ons e mão s ,afIim na Po eiia ha o b ras de m erecim ent o e o u t ras que apenas

m erecem fer lidas . N ada difto quer dizer o Po eta , nem taõ p ou

co h e o feu int ent o comparar geralment e huma Art e com ou tra ,

como ent endeo Lamb ino e Nannio . O q ue pretende m o ft rar

com efia com paraqaõ fummament e engenho fa h e que na Po e

fia aílim com o na Pintura ha div erfo s p ont o s de v ifªta dent ro

do s quaes he q ue fe ha de julgar do merecimen to do o bjecto .

Hum faz b om e ífeito em huma diítancia ou t ro em o u t ra:, fe

gundo a luz , q ue lhe compete. AsN o tas feguintes deixarão meho r illu itrado efte p o nt o .

Que ,/i prop iur/ier : Ha p inturas defenhadas e p intadªt a o lo nge ; e fegundo a diíºtancia , que v ay do s o lho s ao lugar ,em que as p o em afiim h e a p ro p o rqaõ do s feus o bjeõto s o

cm pafªt o

, e a fo rça da luz. Ha o u t ro s paineis que faõ para o

p ert o ,e citesjá p edem ou t ra art e

,ou t ra fo rça de claro ,

e efeu

ro,e ou t ro acab ament o . 0 m efmo acont ece na Po eiia ha nel

la quadro s q ue fe q uerem v iflo s de lo nge e ou t ro s o b ferv a

do s de p ert o para huns , e ou t ro s naõ p erderem a fua graca e

regularidade q ue lhes dá o div erfo p ont o de v ifta. l iªt o m efm o

dizia C icero a Bru t o p erfuadindo—lhe q u e na .O raqaõ dev e ha

v er o art ificio ,

que pede a p in tura , po is q ue nella nada faz o de

v ido effeit o fe naõ eflá na (na p ro p o rcionada didancia , e lugarcompet ent e . Q uem ne íla materia qu izer larga in ílrucqaõ lea o º

cap . do ult imo liv ro do Tratado fohre 0 Poema Epico que efcrev eo o fab io P. le Boufi

'

u .

D erA'

rte Poetica.

Te capiet magia:

G'

qzuedum ;j [origins uõ/Zes.

Haec amat obfeurum : v olet fzzecf uô luce v ideri,

Judieis urgutum quae nan jormídut acumen.

Heee plueuit femel lzcecdecies repetiu: plueebit.

XXXIV.

O'maiorjuv enum quamv is , e?

”v oce puterud

“Fingeris ud reã'um

"

epª

per tefupis , Ízoe riifi didíum

Toile memor : certis medium 67 toleruliile reõus

Reã e coneedi Conf ultusjuris (9ª

afiar

Et quíedum ,j laugiur ub/ies :*Com e ífe it o em Homero ,

e Vir

gilio ha cert as _p in t u ras e defcrip qões o u de imagens ou e

reflexõ es , q ue certament e p areceráõ ridicu las fe as p o zerm o s.

v iiia de t odo s e lhe t irarm o s aq u elle lugar difiant e em q ue

eftes Poe tas as p o zeraõ , para ferem v ifias com o de paíTagem . Ef

?nt o fó p erfeitam ent e o perceb eráõ aquelles q ue t iv eremo'ªfino da Po et ica.

Hf â' ámá f oufcurum , Cde. Aíi im como quem p o ze íl'

e aclara

luz hum painel p in tado para lugar efcuro faria huma grande

inju ria ao Pint o r ; p o rque às clai as pareceriaõ grav es defe it os

aq uellas co u fas que receb endo p o uca luz ,feriaõ p erfeiçao da ar

t e aiiim farfehia inju íi iqa a hum Po e ta fe em t oda a claridade

fe lhe q u izeffe exam inar aqu ellas p in turas q ue art ificiofamente

fez fé para ferem v idas em p ouca luz . Pelo co nt rario ha o u t ro s

q uadro s na Po e iia em q ue feu Au th o r fe efm ero u muit o para

q ue fo íl'em v iít os de p erto e íles fe o s po zerem longe ficará

inu t il t o da a fua delicadeza , e acab am ent o .

He aplucuit [eme] 6976 . D o m efmo m odo q ue as p in turas

q ue p edem fi t io efcuro agradaõ p o llo q ue po r hum a fó v ez

p o rque naõ fe lhe pôde ,o b ferv ar tudo e as q ue faõ feitas p ara.

lugares claros muitas v ezes v illas femp re agradaõ po rq ue,a.

uz ,

t e

gd

D e Arte Poetica.

CuzJurum mediocris ade/i birtute difertiM aju/ie ecfeit quantum CM elim Á ulus

S ed tumefz iu pretia e/i : mediocrilrus efe Poetis

Nou Izomiues,um D ? nou coneejsêz

ie eolumme.

Ut grutas infer menf us ]ymp/zoniu difeors

D iferti MW M : Falla de Valerio M ell'

ala Co rv ino famofoO rado r R omano o qual foy Co nful no anno de R oma 7 2 2 e

h e o mefm o a q uem tanto cant'

ou T ib ullo e celeb ro u C iceroem muit o s lugares das fuas o b ras , efpecialmente na fua Carta

a B ru t o . D elle igualmen te deixou efcrit o Quint i

nitidus , Egªeumdidus (a

º

quodammodo prwkferem iu dieeudo uoáilitutem ,

Cujelius Á ulus : Foy hum do s mais fab io s e elo quentesJurifco nfult o s do feu t em po . D elle ent re o u t ro s faz dillinéla m e

m o ria Valerio M axim o , referindo o lingular co nceit o q ue delle

fazia o famo fo Ju ril'

confult o Scev o la. D elle Aulo Callelio naõ

ex ilico b ra alguma fenaõ hum fó Tratado com o t itulo Bouedi

fiorum.

iWediocriour efe Po'

e'

ftis Ainda que hum O rado r naõ chegueà elo quencia de M ell'

ala nem hum ]u rifco nfult o ao merecimen

t o de Calfelio ainda allim m erece e lt imaqaõ p o rque em qual

q uer dellzas facu ldades fe fo ffre o fer m ediano p o rém no Po eta

naõ he allim fe o s feus v erfo s naõ faõ excellen tes faõ mao s .

C icero no feu Orador he de o p iniaõ div erfa dizendo : Num iu

Poêtir uau Homero foli locus e/i ui de Gneeis loquur , uut Archiloco

uu! Soploooíi , um Pindaro [ed loorum v el/eeuudis 'v el otium infrafêeuudos . Ella au tho ridade t ranferev e Lam b ino como fent enqa ,

q ue im pugna a de Ho racio p o rém ella o p iniaõ de C ícero naõ

fe Oppo em àdo no lfo Po eta ; p o rque muy b em fe p ôde dar q uem

feia inferio r do us grão s a Homero Arch iloco So phocles e

Pindaro ,e com tudo naõ eltar na elali

'

e de Po eta mediano ,mas

lim fuperio r àmediocridude.

N ou loomiues,uou D i 69

76 . Tudo fe confp ira contra o s Po e

t as m ediano s : o s hom ens , o s D eo fes , e o s .p ilares das e llradas pu

b licas . O s hom ens defprezando- o s o s D eo fes como Apo llo

Raccho e as M u fas naõ o s focco rrendo com as influencias , e

degradando—o s do feu commercio e as columnas , ou p ilarís

lpuleos

Arte Poetica: 1 59

E de cauras patrono le a M ell'

ala,

Se a Call'

elio naõ chega nem po r ill'o

Deixa de ter b om nome ; mas Po etas

M ediano s , illª

o hei /

eo ula q ue naõ fo l'frem

Nem o s homens nem D eo fes nem columnas.

Allim como em b anq ue te defagrada

M ulica dilfonante , o leo cheiro fo

b lico s naõ fo ffrendo que delles fe dê no t icia av ifando ao p o v o

do dia e lugar em que haõfde recitar f uas Po elias . Ella pala

lav ra eolumme t em lido div erfam ent e en t endida. Alguns ant igo s

C ommentado res dizem q ue p o r ella fe haõ de ent ender aquelles

p ilares ubi P oêtze p oneoum pit tuciu indicamos quo dre reeimturi e]?

fêm. Francifco Lu ilino dá-lhe div erliflima intelligencia dizen

do, q ue po r eolumme fe haõ de ent ender as co lumnas do s theat ro s,

o u at rio s , em que . o s Po etas co itumav aõ recit ar feus v erfo s. M e

dioerimtem iu P oétir neeforum columme iu i b eutris ereã ce : colummr feufum triuuit more P oêzurum . Po rém en tre e llas fen tenqas a

q ue receb em o s com o mais pro v av el , he a de Pedro N ah uio,en

t endendo a referida palav ra p o r huns cert o s p ilares em q ue o u o s

Po etas o u o s Liv reiros punhaõ cartazes em qu e dav aõ no t iciade algum liv ro no v o como nó s ainda hoje co llumam o s. Elia,int elligencia fe compro v a com o v erfo de Ho racio na Satyrado liv . I

Nulla tuueruu meo; b uoeut ueque pila libellor.

E allim a interpretaçaõ referida que dá Lu ilino que he a mel;

a de G rifo lo,e quali a m efma de N o res parece muy Vio len

t a , e com o t alarep u taõ b o ns m oderno s como D efpreaux D a.

er, e M enzini na fua Po e-

t ica.

Ut grutas imer meu/us , O s Ant igo s co ll'

umav aõ, como

ainda en t re no s o s grandes Senho res u far de mu lica no s feus b an

q uetes. Além delle co llum e, t inhaõ tamb em o de fe untarenz

com confeiqões ch eiro fas com o entre ou t ro s Au tho res fe co lhede C icero dizendo de M amura : Nou muzue it

, uuã us eu, ueouuuif.N o s feus b anquet es t inhaõ po r delicio fa certa com ida com po llade grão s de do rm ideira b ranca m il'turado s com m el O ra tudoí lto he muy ellimav el em hum conv ite ; mas fó

'

fe he tudo ex..

cellente ; p o rq ue de ou t ro m odo , fe o tal manjar naõ he fab o ro ª

fo fe os cheiro s, faõ co rrup tos _e fe a mulica he defalinada ,

D eArtePoetica.

Ei eroj'um unguentum ca

'. Surdo cum mel/e papav er,

% udunt poterut duei quiu ceeuujine ijiis

S ic ( mimis narum mueutumque poemajuv uudisº X º o

S t puulizm u jimma dijeçji t v erga: ud imum.

XXXV.

Ludere qui nefeit cumpe/iribus ulyiiuet armis ,

I udoeºi que pide , difeiv e troeuiv e quief u

'

t

naõ fe p ôde fo lfrer femelhant e conv it e ; p o rq ue fe p odia dar mu itob em hum b om b anqu ete , e fazerfe hum b om fellim fem nenhu

madellas coufas p o rq ue naõ faõ ellenciaes para _hav er div ert im ent o . D o m efmo m odo a Po elia com o fe inv ent o u para t e

creaqaõ do efp irito fe naõ he excellen t e naõ fe p ó de ,fo f

frer. N ella naõ ha m ediania o u ha de fer o p t ima , ou pellima :

S i poulum àfummo difoqyit ºv ergit ud imum : e a razaõ v em a fer ,o rq ue fem ella Art e mu it o b em fe p óde go v ernar huma R epu

glica allim com o (em mu lica fem b alfamo s“

cheiro fo s e fem o

p rat o de do rm ideiras t em peradas com mel fe p ó de dar ab fo lu ta

m en t e huma b oa mefa.

Et Surdo cum mel/e pupuªv er : O mel de Sardenha t inha a rara

p ro priedade de fer am argo fo em razaõ de ferem amaras as her

Vas delta llha , como no s diz V irgilio na Ecloga 8.

[mmo ego Surdaisfv idour t ibi umurior Ioeruir.

«

.As do rm ideiras para a co nfeiqaõ de q ue falla Ho racio hav iaõ

de ler b rancas,e da fem ent e dellas t o rrada e t em perada com

m el doce ,he q ue fe fazia a dita com ida q ue dav aõ o s R o mano s

n o Em da mefa para co nciliar o fomno ao s co nv idado s . Plinio

no liv . I 9 . cap . 8. Pupuv erir t rio geuem euudidum eujusfemeu to

jium iu fecunda meu/u eum me/le apud umiquos duuutur .

Ludere qui joe/oii fri o . Quem naõ fab e daq u ellas artes em

q ue fe exe rci ta a m ocidade no cam po M arcio ,com o v . g. 0 m o n

t ar a cav allo, o lu t ar b randir a lança jogar a pela , a b arra e

o truque chamado de pe”

(de. naõ fe mete a jogar e contenta

1 62 D e Arte Poética.

Ne fpijie rifum tollant impune COÍ'ÚníÉ

Qui uefcit v erfus tamen audet jingere. Quid ni

Liber o”iugenuus prcefertim eenfus equryirem

Summum nummorum v itioque remotus ab omni.

Tu nihil inv itâdices fueíefoe Minerv a“

I d tibijudicium gi ea mens. Si quid tamen olim

Seripferis in M etz: defeendutjudicis aures,

res) he certo , que o naõ tomou Ho racio ; po rque nelle lugar fófalla daq uelles exercrcro s , jogo s em q ue a mocidade R omana

rav a as fuas fo rqas e deltreza como o da pela da b arrada lança , & e .

Qui uefcit ,'v erfus tumen uudei i ngere : App lica ago ra o argu

mento : quem naõ fab e das artes e jogo s q ue fe exercitaõ no

campo M arcio naõ fe mete a ent rar nilto p o rém em quant o

a exercitar aArte Po et ica he tanta a arrogancia dos igno rant es,

q ue fem pejo do s dou t o s fe at rev em a fazer v erfo s.

Quid m'

l ilo he inlta o Po etacom b em crit ica ironia) p o is

p o rque. naõ haõ de fazer v erfo s o s igno rantes ? Elles nafceraõ de

pays liv res , e no b res ? Liber , 69“ingeuuur. Naõ tem aqu ella fom

ma necel'

faria para ent rar na o rdem equelªt re ili o he , q uat rocen

t o s m il fellercio s ) e naõ faõ homens de b om procediment o?

P ree/erzim eeufur oque/irem fummum uummorum *v itioque remotur ab

omni . Como fe b allall'

e fer rico no b re e b em procedido para

p oder fer Po eta. D eltes de que Horacio aq u i efcarnece naõ

faltaõ ainda nella idade .

Tu iii/oil iuv itd'

dices , Cde. Como dizendo : Faqa cada hum o

que

Contente fé de v er , para que a roda

D o po v o impunemente fe naõ ria

E q uem do q ue faõ v erlo s , nada fab e

A fazello s le atrev e prelum ido

M as porque naõ ? Se he liv re ,no b re , rico ,

E v iv e fem a no ta de algum v icio ª í

Pelo q ue t oca a t i , fico feguro

Que naõ has de dizer , o u fazer confa ,

Se o genio o naõ pedir ; tanto confio

D o teu difcernimento : mas fe acafo

Ho uv e

'

res de compor , o u v e a fentença

D e l'vlecio de teu pay e tamb em minha

X u

q ue qu izer ; confie na lua nob reza na lua o pulência e nos feus

b ons co llumes entendendo q ue ifto b aliza para fazer v erfo s

q ue em q uant o a t i o Pifaõ cert o elton q ue ainda que feiast aõ illu ltre rico e b em m o rigerado naõ has de fo rçar o t eu

natural dizendo ºu fazendo coufa contra elle . D e forte q ue

illo naõ he co nfelho (como alguns entenderaõ )mas louv o r , que

dá Ho racio”

ao Pifaõ mais v elho a fim de lhe int roduzirmelhoro prece i t o legu int e .

Si_quid tumeu olimferipferir Edo. Po llo

'

que tu t enhas ju izopara efco lher o b om (ifto quer dizerjudicium ) e ent endiment o

para execu tar o que o ju izo determinou , e iíto í ignilica memcom tudo fe houv eres de efcrev er alguma confa m o lit a-a fem

pre a b onsju ízes .

Iu Hum delles ju izes l'

eja Spurio M CClO

hum dos mayo res Crí t icos do t empo de Ho racio ,e hum daq uel

les ju ízes o u Academicos nomeado s p o r Augu llo parajulgarem o m erecimento dos Poetas como deixamos dit o no PrologodeltaTraducqaõ .

D e Arte Poet ica:

Et Pain s G'Iza/iras nonumque prematur

ª in anuum

M embranis intus pig/iris ; delere lieeõit

Quod nou ediderzs : ncit v ox mija rev erti.

Et Patris ,Egºnodrar Ou v e igualmente a fent ença de teu Pay.

Tamb em elle era hum do s fo b redit o s Academ ico s do Templode Apo llo e na fab ia Co rte de Augu l

'ro era refp eitado p o r hum

C rit ico muy judicio fo'

. N o numero delles Juizes aco nfelhado s

ao manceb o Pifaõ tamb em Ho racio fe met e a fi e naõ fe p óde dizer q ue illo he nelle p refumpçaõ e arrogancia p o rque

m odelltament e fe p o z em t erceiro lugar o qual naõ hav ia t er ,fe o co nfelho fo ll

'

e dado p o r ou t ro Po eta q ue t iv effe b om ju ii2 0 po rque Ho racio naõ t ev e q uem o excedell

'

e no difcernir o

mereciment o de qualquer o b ra p ert encente àPo et ica. Todas asp alav ras faõ poucas , para recommendar aos .no ll

'

o s Po etas a exa

âa o b ferv ancia delle confelho de Ho racio . Allim o p erfuadiajáaos

'

do feu t empo o no íi'

o Ant ó nio Ferreira efcrev endo a D iogo

Bernardes.

Naõ mude ou tire , ou ponha fem primeiroVir àr orelbas do prudente e efpertoÃmigo naõ in'v ejofo ou lifonjeiro.

Engana—fe o amor proprio ,fal/

'

o, incerto

Tambemje engana o medo deprazer/&Em ambos erro ba quad igual, e certo.

P or lee bom remedio as v ezes leffeA dous , ou tres amigos ; o bom pejoAlone/io ajuda cuid ó melhor a fuer/e.

O mefmo efcrev ia Bernardes a D . G onçalo Coutinho na fuata 27 , que merece t erl

'

e de memo ria.

Quemji» teme deji quem/of re emendaNaõ tem de que temer , nem da

'motiv o

.Que nelle aeloe a malícia que reprenda.

D eixa depois. de morto nome 'v iªuo,

E ornakur efcritos de brandura ,Comfer contra mefmo duro e efquruo,

mque prematur in annum : To rna a repet ir o co nfelho de

lahir logo hum author com a ob ra que compozera. Em

q uant

1 66,

D eArte"

Poetica:

XXXVI

Silugireis lzomines facer I ntelrprefque D eorum

Credibus (º'niálu f indo deterruit Orpheus

D ie'lus 06 hor: lenire tzgrezs rabidoflue leones.

D iálus 69'

.Ampuion T/zebanee conditor areis

Saxa mor/ere forro te/iudiuis O'prece blandd

D ueere que v el/et . Fuit neeefapientia quondam,

Silv ejireir loominer Egºn : Ho racio receando ter defanimado a

P ifaõ com lhe t er at é aqu i p ro po lªto as muitas dilliculdades q ue

h a para hum Po eta co nfegu ir a p erfeiçaõ na fua arte p ret ende

ago ra animallo pro pondo—lhe a nob reza daPo elia e as diltinét as

h onras q ue t iv eraõ o s p rimeiro s Po etas como O rfeo Am ph iaõ'

,

&c. Heinli o ent ende elle lugar po r hum m odo b em ext rav agan

t e , q ue p oderá v er o leit o r curio fo e depo is julgará q uanto henatural e enlaçada com o mais que fe t em dito a no li

'

a int elli

gencia , patrocinada p o r Lu ilino po lªco q ue naõ a expoz em

t anta clareza com o o dou t o D acier.

Sacer , lnierprefque D eorum Chama Sagrado a Orfeo o u at

t endendo afua geraçaõ div ina , o u a fer o inv ento r do s facrifrcro s

ao s D eo fes ou em razaõ de t er lido Sacerdo te Como lhe cha

rna Virgilio ou em Em p o rque o s Po etas eraõ rev erenciado s cc

m o gen te fanta e geraçaõ do s D eo fes ainda ent re o s m efmo s

b arb aro s. Igualmente lhe chama Ho racio Interpres D eorum ou'

p o r t er lido p erit illimo no s v at icinio s co_

mo criaõ o s Ant igos

(fegundo teltilica Plinio o u p o rque na o piniaõ de Plataõ o s'Po etas no s extalis da (na fantalia interpretaõ com o s v erlos a

linguagem do s D eo fes.

Gudinas Egºv iã u fado Eg

ºr. O mefmo já hav ia dito Arif

t o phanes efcrev endo que no s temp os ant igos fe dev era a O rfeoo refrear o s homens de comet ter hom icídio s. Bem fe v ê q ue o

Po eta falla aq ui de hum O rfeo'

mu it o ant erio r ao q ue v iv ia no

t emp o dos Argonautas p orque entaõ he certo que os homensja.

«“ArteP oetica

XXXVI .Aquelle facro Interprete do s D eofes

Orfeo po rque domara a b ruta gente

Fera no trato , fera no fullento ;Por ilfo fe diz delle , q ue amançara

D e tigres e leões a b rav a_

fanha.

Naõ menos de Amphiaõ porque excitandoC om elo quencia o s homens a Theb ana

To rtaleza fundou , fe diz , que ao to que

D a lyra dera as pedras m o v imento ,

E a rogb s as lev ara onde quizera.

ja t inhaõ cultura, a qual negaHoracio no tempo do Orfeo de

q ue falla.

Lenire tigres m oído/que leoner Segundo alguns Interp retesHo racio para dar huma v iv a ide

'a da b ru talidade e fereza daquel

ª

les homens , que fe fu llen tav aõ de carne humana , compara- o s ao s

t igres , e leões. Po rém ou tro s fundado s em huma au t ho ridade dePalephato , Au tho r muy ant igo t em p o r m ais p ro vav el que o st igres , e leões lignificaõ aqui as furio fas Bacchant es as q uaesO rfeo amançara com a harmonia da fua lyra. Seguimos a p rimeira in terp retaçaõ com o mais natural e fegu ida.

D ií lus Egi Á mploion , Egle. Em O v idio e Heli odo t emo s queCadmo he que fundara Theb as Vinte e cinco o u t rinta annos

antes de Amph iaõ . Elle o que fez fo_y cerealla de muralhas

fundar huma cidadella e p o r iíl'

o h e que diz Ho racio , Thebançe

conditor arris . Para ella o b ra perfuadio com fua elo quencia ao s

cam ponezes , que conco rreffem com o leu t rab alho ; e daqu i naf

ceo a fab ula de fe dizer q ue elle ló com o in itrument o da fualyra m o v ia as p edras fazendo com que o feguiffem para ferv i

rem ao edificio .

Fait b eer fapientia quondam , Egºr. Princip ia o Po eta o elogio

da Po e iia p elo s exercicio s q ue t inha na fua p rimeira idade , dando a mo ltrar , que nella o s Po etas eraõ p ro p riamen t e huns Filofo fo s qu e p o r meyo do deleite p ret endiaõ introduzir faudav eisdiõtames e nob res ideas no s animos do s hom ens.

—O feu fim era

inliruillos em moderar as paixões em ob edecer às leys ,ª —

em ref

p eitar

D eªÁrteª

Poétical

Publica prioaris ferernere , farra prryiznis ;

Conrubitu prob ibere v ago ; darejura maritis ;

Oppida maliri ; leges incidere ligne.

S ic b onor ta'nomen dininis v atibus , atque

Carminibus v enir. Prái bos ilgí gnis Homerus ,

Tyrtreufque mares animos in M'

artia bella

Verjbus exaeuzt : diaria: per carminafortes

p eitar as co ufas fagradas naõ as m illurando com as p rofanas em

cu idar. no b em pu b lico e naõ meno s no p art icular , em quant o

ao go v erno eco nom ico e em dar regras ao s cafado s , para q ue fe

nferv all'

em em paz , e Edelidade . A marido e mulher compre_h ende Ho racio na palav ra maririr e qu em a t raduzio entendeu

d o —a lo p elo v araõ naõ ent endeo ao Po eta , nem v io o s Commen

t ado res. He muy. t riv ial entre o s Lat ino s chamarfe marita à mu

lher calada. Ho racio na Ode 8. Nerjt marita quee rotundiori

bus onuda barir ambulet .Leger inridere ligno : N elle lugar ou quer dizerHoracio (co

m o p ret ende No res com a au tho ridade de Su idas ) q ue o s Po etas

o s p rimeiro s legislado res ou (com o he mais v ero lim íl

allude às primeiras leys do s Gregos que fo raõ em v erlo e elí

culp idas em m adeira de carv alho o s R omanos he que mudarao

,

dep o is paraco b re . S o lon tamb em pub licou em metro as luas leys,e dellas apontaõ alguns Interpretes de lla Po et ica os dous primei

ro s v erfo s que t raduzido s dizem : Roguemos antes de tudo aogrande

Rey _7upirer que abençoe efias leys e faça com que t odos as refpeitem .

Sir b onor , Egºnomen

, Egºr. Eifaqu i o m odo , com que aPoeli a,

e o s Po etas logo no feu p rincipio—fe ellab eleceraõ e confeguiraõ

h onra ent re o s homens p o rq ue os o b rigav a aR eligiaõ âcultu ra à t emperança ao b ediencia , e à econom ia. D onde fe v ê ,

q u e fe o s Po etas no p rincípio cuidal'fem meramente em deleitar

o s

f

ent endimentos, nunca chegariaõ a merecer tanta ellimaçaõ , e

re pei to .

1 70 D eArte Poetica,

Er v ine mofyirata v ia qi ; ca'grafia regum

Fieras tentara modis ; ludufque repertus

Et langarum operumf ais : neforte pudori

Sir tibi M ufu lyree [olers G'cantor Apollo.

O racu lo s àp rim eira idade daPo elia,e naõ afegunda como aqu i

diz Ho racio . E com elfeit o p ela Hilto ria no s co u lta (com o b em

m o li t a o in ligne R o llin na lua Hifioria Grega q ue o s O raculo s

fo raõ m u it o an t erio res a Homero . M as e lias duas fen t enças t al

v ez fe po dem co nco rdatª dizendo, q ue na p rimeira idade daPo e:

lia o s O raculo s refpo ndiaõ em p ro l'

a,—e na fegunda em v erlo . Ai

lím o ent ende o fam o fo Salv ini em hum a das luas P ro/as Yofranas ,e naõ t ranferev emo s fuas razões po r ferv irmo s âquella b rev ida

de, _q ue p edem humas N o tas.

Er v itae mondrara *v ia e/i : M u it o s fe perfuadiraõ q ue Ho ra

cio fallara aq u i da Filo fo lia M o ral p o rém jafon de N o res com

o u t ro s q ue allim o ent enderaõ naõ adv ert iraõ qu e de lle m o í

do v inha o Po e t a a cont radizerfe , at t rib u indo a e lla legunda idai

de da Po eiia hum elindo q u e já lhe dera na p rim eira. O q ue

Ho racio q uer dizer he , q ue do t em p o deHom ero fe en t rara t

b em a t ratar de m at erias Fylicas , exp licando—fe em v erlo s o s oc

culto s fegredo s da natu reza à q ual chamaºv ita p o r fer ella a

q ue a tudo dá v ida. Pedro N ah u io , q u e fegue ella m efma int el

ligencia , t raz p o r exemplo 0 Po ema Fylico de Em pedocles.

Er<graria Regum : Com feu s v erfo s ganharaõ t amb em o s Po e

tas a graça do s R eys e Perfonagens illu llres o ra elogiando—o s

.,

o ra dedicando —lhes feus efcrit o s. Bem fab ido he q uant o Euri p i

des fo r—a aceit o a Archelao ,Efchylo e Anacreo n t e aPo lycrat es ,

Theocrit o a T o t o leo & e . C om razaõ diz D acrer nelle lugar.,

q ue tant o q ue a Poe iia ent rara a fazer Co rt e ao sG ra ndes deR ai

nha q ue antes era palfara a fer efcrav a.

Ludufque regerias Igualment e fe emp rego u a Po eiia em_

re

crear o p o v o com Tragedias grav es , e fatyricas , com C omedias,e o u t ras o b ras t heat raes a fim de o aliv iar do t rab alho no s dias

felliv os, como deixam os já dit o em o u t ra.No ta. E p o llo q ue alª

guns

'

:Z rte Poetica.

A b ellico l'o s feito s ; o s Oraculos

D av aõ repo lla em metro ; tamb em nelle

Se expoz da natureza o occulto elindo ;Em v erfos fe capto u do s R eys a graça ,E fe inv entaraõ D rammas para aliv io

D e animo s opprimidos do trab alho .

D igo - te ilto , o Pifaõ para que pejoNaõ tenhas de feguir. Apo llo e M ufas.

Y u

guns daõ a ludus div erfo fent ido ,eu fegu indo ao dou to C omm en

t ado r Francez que fe enco ltou a Nannio e Lu ilino ent endo

p o r efta palav ra naõ fó aquelles jogo s feitos à honra de Baccho ,em q ue femp re entraraõ muitos v erlos ; mas o s div ert imentos

t heat raes.

N e forrepudori D aqui fe colhe claramente , que elte elogio ,

que Ho racio fez aPo eiia naõ foy para o u t ro lim fenaõ como

já dill'

em o s em o u t ro lugar) para animar a Pifaõ a que fe delle a

t aõ no b re Art e , naõ o b ftantcas grandes dilliculdades , que nella.

ha p elas q uaes p oderia ter p ejo de emprehende-r

hum “

eltud'

o

em que naõ fahiria eminente v ilto naõ fe darem Po etas m edia

no s. Pro po z—lhe toda a no b reza delta Arte , para allim o eltimu

lar como no b re q ue era. Naõ p odemo s conco rdar com aquel

les que t omaõ o puder p o r v ergonha como dizendo Ho racio

D igo- te ilto õ Pifaõ para que naõ te env ergo nhes de exercitar

h uma Arte que hoje elta'. em defprezo . A Poeiia no t emp o de

Ho racio citav a em grande repu taçaõ e ilto he coufa q ue“

naõ

igno ra q uem t em huma lev e t intu ra da h ilto ria literaria do s R o

m ano s. N o s feculo s mu it o p o lterio res he qu e foy defcah indo deconceit o p o r caufa do s meio s Po etas e houv e t emp o em que

foy defprezada. Se fo ra v ergonha fer Po eta no tempo de'

Ho ra

cio quem lhe conhece o caraéter b em ha de v er q ue naõ era

o feu genio deixar elte p onto fem alguma rel-lexaõ crit ica em

hu m lugar taõ o ppo rtuno com o elte . Allim como nelta Arte

naõ p erdo ou ao s m ão s Po etas que em fuas loucuras dislu ltrav aõ

a mageltade da Po elia allim fe efta fe defp rezall'

e naõ lhe efª

q ueceria a inv eét iv a contra o s feus igno rant es adv erfario s'

,e lhes

p ro po ria p o r grande exem plo o exercitalla o mefmo Augu lto ,e to dos o s lab io s da lua Corte.

5 72 D eArte Poetica.

XXXVII .Naturr

'i fieret laudabile carmen da arte ;

Qzuçjitum q l : ego nec/iudiumfine div ite nenê.

Nee rude quid pro/it v ideo ingenium alt eriusjic

Altera pofrit apem res O'conjurar amiee.

Qui jiudet ºptaram curfu contingere metam ,

.M ulra tulir ferirque puer jidao it o'al/ft

Abd/nuit Venere ta'v ino . Qui Pyrlzia cantar

Naturdfieret ,Egºr. He muy ant iga a queltaõ le a Po elia v em:

da natureza o u da art e e com o Ho racio dirige a hum mance

b o e lles feu s p receit o s p oct ico s v io - fe p recifado a t ocar o p o n t o ,

e fent enciar e ita cau la. D ecide p o is qu e nem a art e faranada

fem a nat ureza nem a natu reza fem a art e h e necell'

ario q ue

h uma feja com panheira infeparav el da o u t ra , para fazerhum b om

Po eta. N ib i! rredimus ef e perfeã'um ninubi natura rurr

i

juo etur

dizia Qu int iliano ; e o m efm o o no lio tantas v ezes allegado Fer

reira na fuajudicio fa Carta 1 3 .

.Que/inofoyja'de muitos diíoutada

S e obra em «v er/0 a arte mais fe a natureza ;

Hama fem outra ªv al ou pouro ou nada .

M ar eu tomaria antes a dureza

D agnelle que o traba/b o e arte abrandou ,

Que de ejouzro a t orrent e e 'v a pre/leza .

Elte Po eta parece q ue fe declara m ais p ela art e dº que Rºlª

natu reza a fen t ença mais fegu ra b e a de Ho racio em q ue Cill

q ue huma ha de ajudar a ou t ra ; p o rq u e a art e fem a natu reza he :

rude e lleril e leca e a nat u reza lem a art e he huma nao fe im

ilo t o q ue fé p o r m ilagre naõ padecera nau fragio . Para fazer;

em fenfi v el a necellidade delta uniaõ v ale—le o Poeta, com o hf »

feu co llume,dos fegu intes exemp lo s.

Tibicen , didieit prius entimuirque mogi/iram.

Nuncfarºis e/i dixije : Ego mira Po emata pango

Occuper extremum (cab les : mih i turpe relinqui elt,Et quod non didici fanê nefcire faret i.

XXXVIII.

Ur p rrero ad merceir turbam qui cogit emendas

t e t o que com o de repo lta às ditas Canções as quaes chamav aõPythias , p o r fe all

'

emelharem ao s Hymno s q ue le eantav aõAp o llo na C idade de Pyi b a. Tudo ilto co u lta de huma au t ho ri

dade de D iom edes. Quando enim rb orus ranebat rb oriris tib iis id

cb orauliris artifex ronrinebat . [n rantiris autem Pytb aules

Pytb iris rejjponfabat . A eites frau t iftas Pyth aules h e q ue allude

Ho racio p o rque nelta clalfe he

ªque hou v e homens in í ignes em

exprim ir e execu tar t odas as di culdades que t inhaõ'

as Can

ções Pytb ias. E aliim conco rdando com D acier difco rdam o s e

t alment e do s o u t ro s Illu ltrado res q ue t omaraõ cites frant i as

Pyt hio s p o r aquelles q ue t ocav aõ no s celeb res jogo s dedicado sa Apo llo Pyth io . Pela h ilto ria nos conlta q ue neltes tangedo

res naõ hav ia lingularidade alguma que m erecelfe a at tençaõ de

Ho racio : além de que p retendendo elle dar a P ifaõ hum exem

p lo , que lhe fo li'e fenli v el, naõ o hav ia ir b ufcar aG recia t eu

do —o no theat ro R omano no s de ítrillimo s frau t iftas Pythaules.

Nunrfatis e/i dixiye , Egºr. C om o dizendo o no li

'

o Po eta : Em

nenhuma arte ha fer meltre fem primeiro t er lido difcipulo

e

i

fó na Po elí a fe altera efta regra p o rque hoje para ler Po etab aita cada hum dizer at rev idamente Eu faço admirav eis v er/osnaõ me q uero t er em meno s conta do que o s ou tro s e ficar at raz

delles co nfeliando q ue naõ fey o q ue naõ aprendi. E deites"

q uant os ha em no ffo s tempo s e fempre houv e pretendendo

t er o nom e de Po etas na idade de eltudantes , e igualar com feus.

v erfo s aquelles homens cançados no difiicil e ítudo daPoeGa. D ill :

t o já fe q ueixav a o nolfo Bernardes na fua Carta dizendo a:

D . G onçalo Coutinho

Primeiro fo ffreo mellm,e lo ngo elindo ;

Só para fer Po eta nella idade

Balla dizer : Eu faço nobres v erfosS er ultimo Íie dgdouro fe

ya cou/aHe para mimgirar atraz dos outros ,

E o que naõ aprendi dizer , ignoro.

XXXVIII.Allim como o q ue v ende , o pregaõ lança ;Para t entar o po v o a que lhe compre ;

Eu , Sen/gor , ja'podera ter b ifnetos ,

D ep ois que romerey a fazer trov as ,E ainda bem naõ rayo nos Sonetos .

E v ejo muitos que ainda as pennas nov as ,Com quefab em do nin/oo , naõ mudaraõ ,E querem de P oetas fazer prov a: .

P or manas emprezas que tomaraõ

Taofraou efriamente procederaõ

Que em v ez de b onra gun/ear ,fe desb onraraõ.Creaper extremum frab ies : Elt e pal

'

fo he difi cil de entender,

e peyo r de t raduzir ; p o rq ue igno ramo s, qu e haja na no ll

'

a lingua.

exp rell'

aõ deco ro fa q ue lhe co rrelp o nda. Allude aq u i Horacio ahum cert o jogo pueril em q ue ficav a v encedo r o q ue m ais co r

ria ; e ao q u e ficav a at raz de t o do s rogav ale- lhe a p raga q ue

dizia Sar'

nento Áeja o ultimo p o rq ue o s Ant igo s como adv erte

N annio ) t inhaõ p o r co llume em leu s jogo s caltigar ao s que p er

diaõ o u co m p enas , o u com ignom inias. C om mu ita pro prieda

de ufo u Ho racio delta expr'

ellh õ pueril , para melho r deno tar o

atrev im ento do s manceb o s emem prehenderem Po emas , e a p re

fumpçaõ de q uererem fazer figura de Po etas com o fe a Po elí afo lie hum jogo de rapazes.

Relinqui Val o m efmo que ficar at raz do s o u t ro s , e he t er

mo t irado do q ue le p rat icav a no sjogo s pub lico s de co rrer ; po rq ue o s Ant igo s para dizerem que b um

fuenrera ao rontendor di

Z iaõ E mulam reliquit , como b em p ro v a Celio R odigino nas luasLirções Antigas.

Ut prrero ad merreis ,Egºr. All

'

entado p o is que para fer b o rn

Poeta he necellario , que anatureza concorra com o s feus do t es ,e ª.

1 76 DeArtePoét ica

Ajentatoresjubet ad lucram ire Po'

e'td ;

D iv es ag

i

ris div es pig/iris infrenare nummm

Si v er?) e]? uní ium qui recªir ponere pgjir ;

Et fpondere lei/i pro paupere O'eripere a tris

Liribus impliritum mirabor ji feier inter

Nofrere mendaeem v erumque beatus amirum.

Tu feu donaris feu quid donat e v ales cui ,

Nolito adv ersas tibifaáios durere plenum

e a arte com o feu t rab alho mo ltra ago ra Ho racio ao manceb o

Pifaõ q ue ainda eltes req uili to s naõ b altaõ p o rque'

cada hum

fe engana muy facilmente com o s parto s do feu engenho t en

do - o s fempre p o r p erfeit o s e allim he necell'

ario q ue t enha amigo s naõ lifo njeiro s mas lab io s e lincero s q ue lhe apontem

feus erro s e defeit o s. M ascomo eltes amigo s fi eis faõ muy ra

ro s , e ditticulto fos de conhecer pelo s Po etas rico s e p o dero fo s'

,

como o s Pisões p o r ill'

o lhes adv ert e q ue v ejaõ b em de q uem

fe naõ p o rq ue Po etas rico s e dilt inõto s na R epu b lica chamaõ

a li tant o s lifo njeiro s como com prado res o p ub lico prego eiro .

Tudo nelles fe lo uv a o lhando —fe para feus efcrito s naõ com

o lho s da v erdade , mas da lifonja , at tendendo -fe au t ilidade pro

p ria e naõ ao m ereciment o alheyo .

Si v ero eji unã um Egºr. Po is fe o Po eta rico e p odero fo he

m agnifico em dar b anquetes em v aler como fiado r ao s po b res

e p romp t o ,em fe int erell'

ar p elo o pprim ido com pleit o s entao

(dizHo racio)ló po r m ilagre fe p oderá difcernir o v erdadeiro am i

go do falfo adulado r. Os Commentado res deixaõ aqu i pafl'

ar hu

m a coufa b em engenho fa q ue Ho racio quer dar a ent ender e

li e hum elogio ao s Pisões p elo m odo mais fino e natural que fe

Pó dª dar ; como dizendo -lhes Vó fou t ro s q ue p rat icais ilto ,

q ue fois lib eraes nos conv ites que foccorreis os neceliitado s e

patro

Laetitia ? clamabit enim pulc/ne bent: z'eã ê

Pallefret fuper b is : etiamjiillabit amiris

Ex orulis rorem juliet tunder pede terrain,

Ur qui conduo'li plorant injiinere , dicunt

Et fariunt prope: plura dolentibus ex animo :jic

D erifir v ero plus laudatore mov etur.

Reges diruntur mulris urgere culullis

Et torquere mero quem perfpexije laborent ;ÍAn/ir amicitiri dignus. Si carmina condes

Nunquam tef allant animi fub nulpe latentes.

Ut qui ronduã i pioram in funere : Entre o s R omano s hav iacomo ent re nó s em o ut ro t empo )peffoas , que fe allugav aõ pa

ra chorar no s funeraes. O ra delta b ellillima comparaçaõ

racio dizendo que a

'

melma differença q ue ha ent re as lagri

m as deltas carpideiras e as do s v erdadeiro s enojado s he a m el

ma que fe daent re o lifonjeiro e o v erdadeiro am igo . Elte diz

o que fen te em feu interio r allim com o o enojado cho ra do coraçaõ e o adulado r lou v a tudo com o s olhos no int erell'e allim

como cho raõ p o r conta do lucro os q ue t em p o r o fficio o cars

p ir no s enterro s antes allim como eltes derramaõ mu itas maislagrimas q ue o s parentes do defunt o allim o s lifonjeiro s mais

facilment e fe mo v em para o s lo u v o res do que o amigo lincero ,

nero laudatore que fó appro v a o que lhe parece b em .

D erifor Com,

efpecial enfafe t oma o Po eta efta v ozop o r li

nonymo de adulador ; po rque elte at é louv a o que fe dev ra V i tu

p erar ; e delle m odo o feu lou v o r pro priamente v em a ler elcar

neo no ju ízo do s lincero s.Reges diruntur ,Eg

ºr. O Po eta quenaõ quer confundir o s am i

gos v erdadeiros com os tingidos dev e examinar muy b em o

âpa

ra er

ue attrahido da dadiv a o u promell'a ,

D irá : Que b ella coufa l que art iHCio !D e palmo mo ltrará pallido o ro llo

C ho'

rará de ternura dará (alto sE b aterac

'o ipê fazendo applaulo .

Allim como o s chamado s por dinheiroA carpir no s enterro s quali mo ltraõ

M ais dor , q ue os v erdadeiros enojado s ;Allim o adulador , mais que o lincero ,

C o ltuma prompto eltar para o s lo uv o res.

D izem que o s pode'

rofo s para h o nraremC om fua graça a alguem prov aõ primeiro ;Fazendo ª lhe b eb er c0 piofo v inho ,

Se o fiado fegredo exto rquem delle.

T u fe fizeres v erlo s naõ te enganem

O uv int es disfarçados em rapo l'

as.

Z ii Se

raéter daquelles , a q uem mo ítra feu s v erlos para“

q ue o s jul

guem ; do melm o m odo que o s Reys e grandes Senho res , ant es de fav o recerem alguem com a fua am ifade o faziaõ emb ria

gar , para aliim v erem, fe lhes defco b ria o fegredo q ue lhe com

m unicaraõ q uando eltav aõ em fe'

u ju izo . D elta art e dizem

, q ue ufav a Tib erio antes de admit t ir alguem a(na graça p o r“

que (com o diz Theognes nos feus v erlo s m oraes )naõ fe expo

rimenta mais o ouro prata , e ferro na fo rja , do q ue os homens

com o v inho . D aqu i v em o p ro v erb io Libera v ina e o ter dit o nasEp iftolas o no ll

'o Po eta :

Quid non ebrietas defignat aperta rerludit .Animzfub v ulpe latentes : Allude à fab ula Efo pica da rapofa

com'

o co rv o ; como dizendo Se algum dia fizeres v erfo s , exam ina antes o caráct er daquelle , q ue efco lheres p o r ju iz delles,

'

e

nao te enganem louv ores de lifo njeiro s q ue faõª 'com o o s q ue a

rapo la deu ao co rv o chamando - lhe mais b ranco que o cyfne.

B em fab ido he elte apo logo e quem o quizer v er tratado comfumma graça , delicadeza , e dou t rina , v eja- o nas excellent es Fb ulas deM ónl. de laFontaine ob ra que fummamente eftimaria

a An

13 0”

D eAi'téª

'

POet

tiCâ

Quintilioji (quid recitares corrige ]odes ,

Hor ajebat , t?“

b oe. M elius te poje Ilegales

Bis terque expertumjay/ira? delere jubebat

Et male tora-atos inrudi reddere v etf is;

Si defendere deliãium quam uertere , mal/es ,

Ant iguidade G rega, ou Romana , fe foll'

e efcrita naquelles fab ios t em pos.

Quintilio Í quid reritares , Egºr. Po r exemplar de hum am igofincero

, e de hum b o m ju iz das o b ras alheyas p ro p o em a Qu in

t ilio Vario , da O rdem Equelt re p arente de Virgílio e int imoam igo de Horacio

, que cho ro u fua mo rte na O de com ex.

p reisões pro prias do feu ju izo e da lua p ena. Foo ll lntO

IllOh om em do tado de huma fina critica e de igual ingenu idade em apontar o s defeit o s daq uellas p o elias q ue fujeitav aõ aofeu exame . C om lib erdade mandav a emendar humas co ufas , rifcar o u t ras e dar a ou tras div erfa fó rma. Tal pinta o no ll

'

o Ferreira a hum feujudiciofo amigo imitando , nob remente aHºraciº

_nefte lugar

Quando eu meus wer/os lia ao meu Sampayo,M uda dizia )e t ira b ia e t ornav aInda

, diz na fentença b em naõ rayo.

O que mais doremente meforrv aO que me eurb in o efpirto p or meio t inba.E o que me de/prazia me louv ana.

Et maletornatos inrudi reddere : O Apat ilta nos feus Progymnafmas Poetiros , como Crit ico rigo ro fo e às v ezes p ouco fo lido acenfura a Ho racio de ufar em h um melmo v erfo,

e parahuma.

m elma confa de duas metafo ras inteiramente different es humat i rada do o flicio de To rneiro e ou t ra do de Ferreiro . N aõ hefo efte Crit ico a mefma cenfura lem o s em Av erani º Lªmb i11 0 Cºmfô lla q ue as me tafo ras faõ different-es ; p o rém he cert o

,q ue naõ ha fundamento paracrit icar ao Poeta, porque e íte nao

niou

figa D e ArtePoetica;

Nulla/n ultrav erbum q ue operam [ranebat inanemg

Quin,n'ne riunii teque n

ª

tua fofos amares

XXX IX .

Vir bonus , tº”

prudens v erá s reprebendet inerteis

Ver/us repreb endet inerteis : Eftes cinco v erfo s faõ fummamente

imp o rtantes , p o rque nelles fe inclue a part e mais p rincipal dqq ue deixaraõ efcrit o aquelles M o ltres , que t rataraõ fundamentalm ente daCrí t ica. D iz p o isHo racio q ue oju iz q ue t em b onda

de , e fciencia (qual era (lu int ilio Vario )ao julgar alguma p o efia,fe acha alguns v erlo s froxo s e p ro faico s ju ltamente o s repre

h ende , como coufa taõ cont raria a linguagem p oet ica. Na Cri

t ica de Lu ilino pall'

a por froxo'

e inert e elte v erfo de Catullo

Qui modomefalam atque uniram amirum b abuit e na de (lu int iliano m ereceo a m elma fentença elt ou tro P reetextam in rijtd maresrefere Camilli . Bem fe v ê q ue em nenhum deites v erfo s ha aquel.lo ar de graça, e no b reza q ue dev e fer indifp enfav el na lingua

gem da Po eiia. Po lto q ue o no lfo Cam ões nelta p art e h e mais

igno de lou v o r q ue de repreh enfaõ com t udo no feu Po ema

lemo s alguns v erfo s p ouco numero fo s como entre ou tros os fcº .

guintesP ero Rodrigues b e do Alandroal.

Efrretze afeu irmaõ que lb e mandajêAfazenda rom quefe re/Çgataje.

M as ilto faõ lev iliimas manchas ; p o rque Camões fo entre t odos.o s Poet as do feu t empo o que fez v erlo s mais ai

't ili

l

ciofo s , e foro s. N a Po eiia Franceza acho mais commum O referido defei

t o . Temo s a maõ aquella celeb re Ode em que fe louv a aLu izo Grande p o r fundar a fam o fa Academ ia das Sciencias e co n

f fªmOS q ue aos nolfos ouv idos nos. p arecem periodos de £ap es

Naõ'gafiav a,

comt ígo mais palav ra

C omo trab alho v aõ e lib erdade

T e dav a para amares a teu falv o

Sem fnflo de riv al o s teus efcritosi

XXXIX.

'

Quem tem b ondade , e critica prudente“

;

R eprende os v erfos froxos ; culpa o s duros ;

ples profa muitos ramos della, como entre ou tros elle

D em em auge/le Aeaelemie ,D e na: fçezªeam l

'b eureux fejaiir ,

Lei P len ue e l'Á/lrereomie

Av eclui regem era eejour .

ep lei que les gremiesfeierieesP ar mille

,e mille exp erience;

Surprennent lesglm carieux ágªr.

Entramos em duv ida, fe o ar de p ro fa que Julgamos nefles v erfo s , e em ou t ro s mu it o s que p o r b rev idade om it t imo s feria defeit o do s no íi

'

o s ou v ido s co llumados à numero fa harmonia dosnofi

'

o s v erfos ; mas o Ab b ade de Regnier fav o rece a nofi'

a op iniaõ , fallando aílim do s feus nacionaes na Satyra a Rapin :

Nullª

eguillarz eliªv iii n

'eleªv e leur eaurezge

I ls rampent bejemem“

fail/les ef iiweritieri ,Et n

'afent peu leerelis temer ler: fiã

'iaris

Froid: a l'imaginer , mr s

'il: fon quelque eb a/ê

C*

eji prefer ele lei rime e rimer ele

Se o lugar o fo ffrera , p oderíamos dizer mais e faríamos niflo ef

p ecial b eneficio âm ocidade Portugueza p o rq ue o s defeit o s do s

grandes homens faõ o s q ue merecem fer nº tados ; p o is como ef

t es faõ o s que fe p ro po em p o r m odelo s do b om co rre grande pe

rigo de fe t omar por v irtude , o que na realidade he v icio .

D eArte”

Poética

Clzlpabír duros : incompris allínet atrzim

Trrznfoerfo cal./imo zgnzmz: nmlzíriofrzrecidet

Cie/,onoit elnros Os v erfo s duro s naõ faõ meno s rep rehen í i

v eis q ue o s fro xo s . A du reza pode confi ftir o u nas p alav ras e

co nt ex tura do v erfo ,o u tamb em

na fentenqa. Em q uant o a efla

du reza , feria neceíl'

ario grande v olume para t ranferev er as infini

t as exp refsões duras q ue ha no immenfo numero de Po etas : o

leito r curio fo , que nefle p o nto fe q uizer initru ir , lea ao P. B ou

ho urs no feu excellent e Tratado ele ln M nniere ele oien pen/er dansles onv rnges ef eÁorit ; e naõ meno s o mu it o , que fe tem efcrit o fo

b re a afpera e dura locuçaõ da Comedia de D ante . Em quant o

àdureza no v erfo , p eccaraõ mu it o o s no íl'

o s ant igo s Po etas , femexcep tuar Ant onio Ferreira , D iogo Bernardes e ou t ro s b ons da

fua idade , entre o s quaes fe inclue Cam ões q ue p o flo q u e'

a t o

do s excedeo na harmonia m et rica com tudo naõ faõ p ouco s o s

feus v erfos duro s , talv ez p o r culpa do s Co p iflas e Im p re ífo res.

nô p o demo s fer contra agnelles que neite numero apontarem

o s feguintesFnrn

'fer v á o ornoezn, eonzone v enore.

N eo“

v e”: Ianni ajuntamento ele e/irnngeiroê

Naõ matou n quarta part e oforo M orte)

Éele; entra.

nlei ei

ne iz ejin oorrefoonele

S olae ele; large; terra lonrnn longo ponte .

a o porno contra o v eneno urgente.'

A dureza no s p rimeiro s t res v erfo s p rocede da demafiada lib erda-Í

de em fazer í inalefa dep o is de confoantes ou dos noffo s chamados dithongo s. A dureza no s ou t ro s t res v erfo s v em de naõ t e

rem paufa, ou accento agudo no feu dev ido lugar.

Incompris nllinet atrnnz O ju iz rect º naõ cenfurará menos o s

v erfo s fro xo s e duro s do que aquelles que naõ ap parecerem com o

feu co m pet ente o rnat o ant es tant o fe declarará contra elles que

o s rifcará com o indigno s daPo efia. Ao Po e ta naõ b aila dizer Os

m eus v erfo s naõ e itaõ errado s , para aflim m erecer lou v o r ; e b em

claramente o deixou já dito Horacio nella Arte Vitnw'

denigíe

eu

1 86 D eArte Po'

e'

tica.

Ol'/lamenta : param claris lacem dare caget

Al'

guet ambigue mutanda nofabit

Fiel? .Arí arenas ; necdicet C ur ego amicum

Offendam in nugis? Ine nugee feria (lucent

I n mala , derzjzmzfemel excep tumque

Param claris laoeni clare roger O difcu rfo naõ t em v icio mais

ab om inav el q ue o da efcuridade ; e po r e itacau fa b em m ereceoPerfi o q ue S .jeronym o o laiicaffe nas chammas . A mefma feng

t enga merece G o ngo ra e huma grande parte do s Po etas D ra

mat ico s q ue no fecu lo pafi'

ado fo raõ a adm iraqaõ de Hefpanb a.

Ap refentar p ro v as para e ita fentença feria hum p roce íTo infi

nito e enfado nho para o judicio fo Leit o r p o rq ue facilment e

achará'exemp lo s a m ilhares para p ro v a deita v erdade ; e fe dos

Hefpanho es p afi'

ar a nó s defcub rirá infinit o s , efpecialment e no

Alo/amp de B o telho , q ue fe no emp o llado h e huma qu in ta“

e lien

cia de Eflacio no cfcu ro naõ t em exem plar em nenhum Ep ico

antigo . As delicias deite Po et a (aliàs erudit o , e engenh ofo )eraõas cont inuas m etafo ras fem adv ert ir , q ue eflas uzadas com m o

deraqaõ ,e a feu t em po ,

fazem a o racaõ clara ; p o rém com fre

q uencia a fazem efcura e co nt inuadam ent e a t ransfo rmaõ em

enigma. He do ut rina de (l uint iliano no liv . 8. cap . 6 . Ut nioa'iens atque op ortunis translat ioni: ufas illa/lrat Orationem ita freaaensobfearat continuas «v ero in allegoriain Eg

ºenigma exit . So b re e ita mai

t eria remet t emo —no s para o q uart o D ialogo daM aniere a'e oien p en

fe r do P. . B ouhurs onde diffuzament e e com fi na crit ica fe

achará explanada.

Arguer amb igaediriam Com razaõ p oz Ho racio a amfib o lo

gia dep o is da efcuridade ; p o rque o amb ígu o efiamuy p roxim o

ao cfcu ro . Em Quint iliano lem o s b em recommendado o p refen

t e preceit o p ondo p o r ley univ erfal Vitana'a inprimis ambigui

tar e em Arifto telcs no liv . da fuaRhe t o rica t em o s t o do s o s

m odo s em que fe pôde dar am b igu idade na O racaõ . Efte v icio

naõ he muy frequente p o rqu e he o mais facil de co nhecer en

t re t odo s aq uelles em que p ôde cah ir o po eta com t udo al

gum defco b rem o s efcrupu lo fo s i em Perí i o ,fem fer daquellas am

fib o logias q ue naõ faõ rep rehenfi v eis p o r aiiim o p edir a ma

t eria co mo algumas de q ue uza O v idio e t ranfcrev e N'

o res

e nó s po r modeftia om it t imos.

Arte Poetica.

D uv idofo fe oppo em ; . em fim aponta

T udo o q ue ha de mudarfe : .o u tro AriíiarchoSe mo fira , e já mais diz : Ao meu amigo

Porque hey o'e defgojlar em lev e coufa

>

A grav es padaráõ as lev es faltas

Se huma v ez o enganares lifo ngeiro ;

Aa ii

M aiana'a notaoit Alguns entenderaõ q ue a palav ra mama

da naõ figniíica aq ui fenaõ aq uellascoufas q ue fe dev em mu»

dar do feu lugar como im pro prio p o rém o fent ido de Ho ra

cio naõ he elle : h e fim com prehender em huma palav ra o que“

div ididament e já t inha expo fto p o is o u o s v erfo s fejaõ fro uxo s ou duro s ou efcuro s o u am b iguo s o u falt os o u e x

CCHlVOS no o rnat o t o da a em enda co nfi fle no madar . E ailim

mafanela notaeii v al o mefmo q ue dizer .Em huma palav ra o b omC rit ico fazendo final com a p enna no tará t udo o que necefgfi tar de mudança p o r q ualqu er p rincip io q ue feja.

Fiet Á riâarob ai': Foy Arií

'tarch o hum hom em de engenho

t aõ p erfp icaz q ue o s G rego s lhe chamaraõ a'z'oino. Flo receo no

t emp o de Callimaco e he fama q ue fora hum Crit ico fumma-em ent e fev ero e judicio fo . M u it o perdem o s em naõ fe falv aremo itenta , e mais v o lum es q ue efcre v era , illu itrando , e emendam-gdo a Homero Ari ílo fanes e t o do s o s po e tas G rego s do s

t o s erro s q ue cont rah iraõ nas co p ias e de ou t ro s q ue fó fe

p odiaõ im pu tar a p rºp ria negligencia e falta de lima.

Amieane of endam in nagis : Eifaq u i a linguagem o rdinaria do

am igo que quer adular e com p razer : para q ue heyde defgof-e

tar ao meu am igo no tando - lhe defeit o s de po uca impo rtanciaN aõ o del

'

co nfo lem o s fa zendo - lhe com que perca o amo r ao s

feus v erfo s q ue ama como fi lho s do feu engenho . Aflimfalla o l fo njei ro m as naõ hum ju iz fe v ero e lincero com o

o p rudent e C rit ico de que falla Ho racio .

Ha nagee feria olaeent in mala : Enganaifv o s refponde ago

ra o Po eta a huns tacs adulado res fe naõ lhe no tardes eli'

es defeit o s

, a q ue cham a is m inim o s cahirá ce rtam en t e em grav es v en

do a v o ifa lifo njeira condefcendencia e v indes de ite m o do a fercau fa de que efi

'

e p o eta feia o V IC ÍO de t odo s cah indo em er

ro s de im p o rtancia. Naõ podem o s co nco rdar com o Commentado r Lu ií ino fo b re a int elligencia da .palav ra nagar t omando —a

p or finonymo de v erfos quafi o s v erfos fo ii'

em hum b rinco de m

nino s

1 88 D eArtePoe'

tica.

Ut ínala , quemjcabies , aut morlms regius urget

.Aut fanaticus error 67 íraezmda DianaVefanum tet ígjje timent jizgízmtqzze poeta/m

Quifapizmt : agita/zt paeri , m eal/tique fequzmtur.Hic dum fuoll

'

meís v erfizs ruáiatz/r e'errar

,

nino s na ºp iniaõ de alguns Sant aai earrnina nagar patent . Po rém

ifto naõ he o q ue Ho racio q uer dizer e fé t oma o referido v o

cab ulo na fignifªie aqaõ de defeit o s m inim o s na p o efia como v . g.

huma ou o u t ra frouxidaõ dureza e efcuridade no s v erfo s , e

a falta o u demaí iad e o rnato em huma o u o u t ra expreffao

Ccu ias q ue no ju ízo do s adulado res e igno rant es paíi'

aõ p o r ni

nharias .

Ut mala qaene feaoier O homem p rudent e naõ foge meno sde hum mao po eta do q ue de hum lepro fo de hum em ferm o

de t iricia de hum p o fi'

u ido das furias e de hum louco frenet i

co . To das ellas enferm idades ent endiaõ o s ant igo s q ue eraõ

co ntagio fas ; e p o r ifl'o naõ communicav aõ an tes fugiaõ da

q uelles qu e as t inhaõ .

as regia; l ilo he, o m al da t 1r1C 1a ao q ual fe chama

regia ; p o rqu e fegundo no s diz C elfo o curav aõ o s ant igo s re

ceitando ao enfermo q ue Eze íl'

e huma v ida delicio fa q u e v ef

t iffe de purpura e fe dé íle a tudo aq u illo q u e co fluma alegrar

o anim o para delle m odo affugentar hum mal , q ue p rocedia de

m elanco lia.

Fanationr error Val o m efmo q ue energum eno ent re nó s

p o rqu e o s ant igo s criaõ q u e as furias ent rav aõ em alguns co r

o s e t irannament e o s v exav aõ com o foy O refles fegu indo%,uripedes e Aiax fegu indo So phocles . A v o z fanat icos naõ

v em de Fantaja com o q uer N o res comm entando elle lugar ,m as fim de Fannin q ue iignifica homem infp irado p o r efp iritº ,

div ino q ue p rogno flica o s fu tu ro s e com o eita catia de gen

t e fazia m il co nt o rsões com o s m em b ro s ant es de p i o fe t izarem

e o s lo uco s man iaco s e furio fo s o s im itav aõ nefles t rejeit o s , p o rifi'

o lhe chamav aõ fanaticos.Ant iraeanela D iana A

'q uelles a q uem as fu rias v exav aõ po r

ordem de D iana chamav aõ Lanatieos e padeciaõ mayo r fo râga

e

190 D e ArtePoética.

Sí v elutí merulis infenz'íls decidir atteeps

I n puteum fov eamque : [feet fuccurrite longam

Ciamet I o civ es , nonjit qui tollere curet .

Si quis curet opemferre e”demitt erejimem ;

Qui fois aa prudens bue je dejecerir atque

Serv irá nolit ? clicam Siczzlique Poeta:

Narraba interitum. D eus immortalis lzalyeri

D am capit Empedocles ardentem frigidus fEtnani

I zMIuír. Sitjus liceatgue perire poetis.

Inpateani ,fov eamaae Pôde fer q ue nelle lugar fe lem b raf

fe Ho racio da q ueda do Filo fo fo Thales em occaliaõ em qu e

o b ferv av a o s alt ro s cah indo em hum p o ço fegundo Plataõ in

T/oaet ou em huma co v a co nfo rme Laercio in v ita T/oalez. O

cafo h e b em fab ido dizendo —lhe galantem ent e humacriada que

fe admirav a de que naõ v ille huma co v a na t erra q u em t ant o

v ia no Ceo .

Haefe dejeeerit Porque naõ ha loucura de q ue hum mao

Po e ta naõ feja capaz e p ro v a b em clara (co nt inúa Ho racio )heo q ue fuccedeo ao Po eta Empedocles natural de Sicilia lançan

á

do - fe nas chammas do Etna para allim dar a entender q ue

fo ra arreb atado ao Ceo naõ hav endo q uem t iv cfie p refenciado

a fua mo rte e p o r elle m odo co nfegu ir que o ado rafi'

em como

D iv indade . Segu io Ho racio ella fab u la defcre v endo co mo hum

louco a Empedocles de quem Arillo t eles em tan t o s lugares faz

h o nrofa mem o ria com o infigne Po eta t endo cant ado em hum

Po ema a fam o fa expediçaõ de X erxes . Qu eim ou fua fi lha o u

Irm ã ella o b ra depo is da fua m o rt e que fe o rigino u da q ueda

de huma carro ça em q ue q ueb ro u huma perna com o t eft iíica

Neanthes de Cyfico allegado p or D acier.

Arte'

Poetica. 1 9 I

Lhe fucceder cah ir em poço ou co v a ,

(Bem como o q ue emb eb ido em caçar melros ,Cahe fem v er o s perigo s ) a v alerlhe

Ninguem fe chegará , ainda q ue eliejaLo ngo tempo a clamar : Quem me [occorraE fe eu v ille , q ue alguem lançando corda ,Pre tendia acodirlhe , me Opporla

D izendo —lhe : q ue fab es fe ella queda

D eo elle , po rque q uiz , e teu focco rro

Naõ q uer? E para pro v a lhe co ntara

D e Empedocles a mo rte :”

q uiz fer t ido

Po r hum Deo s immo rtal e acaome t tido

D e frio ho rro r precipito ufe do Etna

Na fragoa ardente . Licito ao s Po etas

Seja po is o matarfe : dar a v ida

Araenieni frigidasE tnam : Acho elle lugar entendido p o r v a

rio s m o do s fo b re a accep çaõ da palav ra frigidas. N annio diz

q ue v al o m efmo q ue jialtas e a razaõ q ue dá , he Nam quien:

fangais eyifrigielior cerile fani pleraniaae ªoeeora'iore. Lamb ino v ay

p o r o u tra v ereda , dizendo q ue Ho racio chamara frio a Empe

docles em razaõ da fua at ra b ile a qual de fl he frigidifiima.

O u t ro s fu fªtentaõ q uefrigidas lignifica o mefm o que ent re nó s

afangaefrio. N enhuma dellas fentenç as fegu im o s a de N annio ,

p o rq ue he fria a de Lamb ino p o rqu e he v iolenta e muy ef

q uadrinhada. A t erceira p o llo que parece mais natural comtudo naõ a t emo s p ela melho r p o rque huma acçaõ taõ ext raor

dinaria naõ fe p ôde dizer q ue fe faz a fangue frio . Temo s p o is

p o r mais p ro v av el a int erpretaçaõ de Lu ifino de q ue fe v alcoD acier mas dando —lhe com feu engenho mayo r b elleza p ro

p ria d—o caraéter de Ho racio . Efte no referido ep ithet o q u iz exa

p rim ir v iv am ente a ex t rav agant e loucu ra de Em pedocles ; como

dizendo fam o fo lo uco q u iz fer D eo s e m o rreo de pav o r.

Que b ello p rincip io para D iv indade ,efco lher huma m o rt e , que

faz gelar o fangue com o fu lto ! Ella in telligencia tem mais fale energia para a qual concorre . tamb em a antithefe frigia

'ar e

ardentem. In

D e“

Arte Poetica.

I nv itum quifer-

uai idem facit occidentí .

Necfemel lioofeeí t : nec ji retraí ius erit jam

Fier homo 69'ponerfanzojee mortis amarem.

Necfatªis apparet cur v erfus faí litet : utrum

]lfinxerir in patrios cineres an tri/ie bidental

M ov erit incejius certef urit ac v elar Lufus

Objeáios cav ete v aluitjí frangere ciar/tros ,

[n*v itum gui/(tre at (jºe. Ella maxima como b em no t a o

inflg'

ne C omment ado r Francez naõ fe de v e t omar em fent ido

u niv erfal mas fim em p art icu lar de fó rt e q ue na palav ra ia

v itam ha de fe ent ender poetam q ue he de q uem e llafallando

Ho racio . Com o fe diíi'

e ífe a o u t ro q ualquer melanco lico dev e

m o s focco rrer , fe fe q u izer matar ; p o rqu e p refum imo s q ue pa

ra o fu turo naõ cah irá em ou t ro ab furdo : mas de hum p o et a lou

co naõ dev emo s efperar tal em enda p o rq ue he incu rav el a fua

loucura. Huma v ez que fe lhe m eteo na cab eça o m at arfe , ain

da que o liv rem em huma occaí iaõ para o u t ra ha de in t ent ar o

m efmo querendo q u e a fuam o rt e feia fam o fa p o r t odo o m u n

do Nee Í retraã us erir jamjiet loama Egº

panet famafàe mortisamarem e allim melho r he naõ lhe acudir e deixallo m o rrer

p o rque no feu ju izo o darlhe a v ida neite cafo he o mefmo q ue

darlhe a m o rte .

N eefatis apparet Coªt . He fummamente engenho fa e p i

cante e ita reflexaõ . N aõ fe p ó de b em at inar no crim e, q ue com

m et t eriaõ huns taes p o etas na p refença do s D eozes para e lles

o s caftigarem com a loucu ra de fazer v erfo s . Para efcarnecermais

delta gente entra a co njeéturar Ho racio no deliét o para t aõ gra

v e cait igo . Talv ez fera(diz elle ) p o rquem ijali'

em na fepu ltu ra

de feus p ays B em fab ido he q ue o s R o mano s t inhaõ p o rgran

de imp iedade fazer . o fo b redit o no lugar de alguma fep ultura

POI"

D e Arte Poetica.

I nclaáium rloóiumque fugaz? recitator aeerlaus.

Quem v ero arripuit tener oeciditque legenda

Non mijitra autem nyi plena cruoris hirudo .

em q ue fe prendem as feras. E allim conclue Ho racio dizendo :

Eu naõ fey , q ue deliôto comme t t eraõ con t ra o s D eo fes e ítes

mao s p o etas fey que elles o s caiiigaraõ fazendo- o s taõ fu rio fo s

,

q ue dou t o s e igno rant es naõ fogem meno s delles do qu e de

hum Urfo que p ôde q ueb rar as grades da p rizaõ em que o t i

nhaõ .

Quem'v erô arripzunt Co

ºe. D e hum fallado r femelhante de

cujas m ão s naõ p ôde efcapar Ho racio t emo s hum b elliffimo re

trato na fuaSatyra 9 . do li v . 1 .

Conjit e namgue in/iat fatum mihi tri/ie , Saoella

Quadpuera ret inir div ina mata anus urna :

Arte Poetica.

Igno rantes e doutos e fe acafo

Acha algum de b om geito naõ o larga ;E com v erfo s o mata femelhante

A,

tenaz fanguefuga , que fe cheia

D e fangue naõ ella naõ larga a pelle.

Hunt negue a'ira ªv enena nee b ajiieus auferet enjis ,

N ee laterum a'alar aut tq nee tara

'apodagra

Garrullus laune quando eanfumet t umgue laauaeesS ifapiat *v itet amulatgue aa

'oleuerit tetas.

Ella he a ilu itraçaõ q ue no s pareceo fazer fo b re a P oeticade Ho racio o b ra de fummo m erecim ento ent re as m elho res daAnt igu idade . O Leit o r judicio fo fentenciará fe defem p enha

m o s cite afl'

ump t o , t ratado p o r m u it o s mas p o rmuy p ouco s de

m odo que faça honra a Ho racio como largamente deixamosm o ltrado no Pro logo .

SU PPLEM ENTOA'S N O T A S ,

Ara mayo r initrucçaõ da M ocidade Po rtugueza que fedá ao e itud

'

o po et ico e dez—eja regular o feu juizo . ao ,

compo r o u em v erfo ou em p ro fa t omam o s no v o

t rab alho addicionando as N o tas q ue fizem o s a e ita

Arte Paetiea . N ellas naõ q u izem o s lançar as'au tho ridades q ue

ago ra co piarem o s p o rq ue faríam o s huma lllu íi racaõ enfado nha ,ajunt ando o q ue ago ra damo s a ler com o q ue Ja efcrev em o s

q uanto m ais q ue naõ co nt eria cada pagina fenaõ N o tas e

apenas ficaria lugar para hum v erfo do t ext o e a da t raducçaõ

fe u—niíl'

emo s ellas Anno tações às pall'

adas p o rque as q u e ago ra

fe feguem faõ- efpecialm ent e pali'

o s dilatado s da Po e t ica de Vi

da de D e/preaux , e do Enfayo fo b re a Crí t icade Pap e au tho res

do ju ízo mais lino e exact o ent re t o do s o s q ue deraõ p receit o s

para o Po eiia cam inhando p elo s v efligío s de Ho racio . Faça o

eito r feria reflexaõ e fe p oder , mande a m emo ria cada huma

das feguintes au tho ridades ; p o rque faõ humas cryf'tallinas v eas

dimanadas da pura fo nte della Á rte P oetica as quaes defcub río a

no íl'

a liçaõ p or taõ ínfignes M ell

Sumite materiam Coºe. O B ifpo Jeronymo Vida im itando a

Ho racio dá o m efmo p receit o no liv . 1 . da fua ellimadí liima

P oetica.

S ea'negue inexpertas rerumjam texere longas

Á udeat ]liaa'as paulatim ajuefeat Co

ªante

I neipiat grat iles pafiarum inflara cit aras.

? am paterit enliais numerisfera a'irerefata

Á ut quanta edielerit certaminefulmineus musFunera in argutus Co

ºamantes laumia

'a turmas

Ora'iri o e a

'olas Co

ªretia tenuis uranai .

Jaco b Pontano v aleo -fe delle lugar dizendo no liv . 1 . cap . 2 .

P oet . ln/iit . Canfultum prainele efl nanfuoita l liaelas Cºª Gigantª

maelaias cap ture argumenta inanam aperofa longa

iol enim quiri aliuelfuerit quam eereis pennisfv alitare Res ludieras

principio eanamus ipa auaaue eulieem nop rum ant araneolum aut

farmieam aut batraoamyamaoniam aut apalogas Áífapioos laaaeamus.N o judicio fo D efpreaux acham o s a m efma im itaçaõ de Ho racio

dizendo no princípio da fua famofa Po et ica

Supplemento as N atas.

Entretient dans /os v ers commerce av ecles D ieux ,

Aux atlaletes dans P ife Coªc.

D efcrip tasferv are v ices Coºc. : Em O v ídio no fim do liv .

de Remed. amor . t em o s hum b elliíi ímo lugar q ue illuflra b em eft e de Ho racio

Á t tu quicumgue es guem najira licentia leedit ,Sifapis ad numeros exige aun quefuas .

Fortia M eeonio gaudent pede nella referriD eliciis illicquis locus ef e pote/l ?

Grandefanant tragici tragicas docot ira cotlaurnasVerp ous emediis faccus laaoendus erit .

Liber in adv erfos laadesjiringatur“

famous

8eu celer extremumfeu tra/aut ille p edem.

B landa plaaretratas elegeia ountat amares

Et lev is arb itrio ludat amica fua.

Callimacni numeris nan eji dicendus Achilles :Cydippe non ed aris Hamere tui.

Quisferet Andromac/oesp eragentem Tb aida partes ?P eccat in Á ndramac/oe Tnaidanguis agat

Telephus Coª

_Peleus Coºc. Excellen temente im itou Bo i

leau aHo racio dizendo no Cant o

Que dev ant Troie enjiamme Hecuoe défole'e

N e v ienne pas p au/er une plaint e ampaulle'e

N i fans raifan de'crire ou quais af reux pays

P ar jep t b ouclees PEuxin reçoit le Tanays :Tous ces p ompeux amas d

º

exprejiansfriv olesSant d

í

un declamat eur amoureux de paroles.

l lfaut dans la douleur que v ous v ous aoaiyí ezP our me tirer des pleurs ilfaut que v ous pleuriez .

Ces grands mots dont alors l'aóieur emp lit fa b out /oe ,

N e partent paint d*

un cmur quefa mifere t our/ae .

Intererit multum Coªt, O q u e fo b re elle im po rt ant e p ont o

deixou efcrí to no liv .

2 . daPo et ica o infignejero nym o Vida,m e

rece efpecial reflexaõ p o rque com o exemp lo de V irgílio heq u e p ro v a o div erfo eftylo , q ue pedem div erfo s caraélteres. N aõ

m e cenfure o Leit o r em t ranfcre v er t aõ lo nga au tho ridade , por

q ue tudo he p recifo para fe p erceb er e go itar b em della

[dino v arios maresque laaminum marefgue animantum ,

Á ut/iudia imparious div erfa tetat ious ap ta

Ej'í ngunt facie v eroorum Co

ªimagine reddunt .

Quá tardasouefenes deceant juv enefaue v irentes,

Feemz'

neumaue genus quantum auaque rura calenti

Aut famula eli/let regum alta afanguine cretus .

N am mi/ai non placeat tenerosnp t grav is annas.

D'an nouv feaux per/annage inv entez v ous l

'idee ?

.Qu'en tout av ecfai—meme ilp -montre d

'accord

—Et qu'ilfaitjufq

'aa i aat tel qu

'en l

*

a v u d'aiard.

Fidus lnterpres Coºc. C ícero no feu Tratado de optim. gen.

orat . fallando de duas O rações de Efe-h ino e de D em o f

ªthenes

q ue elle t raduzira no s dá hum í llu íªt re exem p lo p ara co rro b o rar

e lle lugar. Necconv erti ut interpres [ed at orator fententiis iifdem Co

ªaarum formis tamquam jigaris v eri is ad na/iram ronfue

tadinem aptis in quiius non v eriam p ro v eria nereje naini reddere

fedgenus omnium v eri orum v imque ferv ati non enim ea me enu

merare iriluri parav i apertere fed opp ondere.

N ec_ncinripies Co

ªr. V íperani no liv . z. cap . da fuaPo e

t ica : Nilatlmagno fonandam in propajtione non elata v eria non

promií a grandia p ne af ectam diligentia ane ulla ingenii aut do

tirinre v enditatione at grav it er Coªornatefemp er infurgat aratio.

Quid dignam tanto Coºr . Vida excellent ement e fo b re elle

lugar dizendo no liv . z..

N ec ji magnafones cum nandum adprrelia v entum

D ejirias medio irrifus certamine ram res

Pojt'ulat ingentes animos v iresque v alentes.

P rincipiis p otias femper maiora fequa'ntur

P ratinus il/eflasfucrende cupidine mentesEt ]iudiam leõlorum animis inneiie legradi .

D ir mii i .M ufa Viram Coªr. Co

ªr. O mefmo Po eta il

lu ílrando elle lugar

í am v era'cum rem prop ones nomine nunquam

P radere conv eniet manifedo femper apertislndiciis longeCo

Dv ariaram amiage p et ita

S ignificant umiraqae oidurunt inde tamen

Sui lu/iri neiula rerum tralaret imago

Clarias Coº certis datar omnia cernerejignis.

f íincÍ dara milaipaí as dicendus UlyjesN on illum v erô memorai o nomine fed quiEt m o res hom inum mult o rum v idit urb es ,Naufragas ev er/aº po/i fa v a incendia Yi

'oyre .

Addam alia angu/it'

s compleii ens'

omnia dii'

tis .

Naõ he m eno s excellente a dou t rina q u e fo b ro cit e important e

p ont o no s dá D efpreaux im itando aHo racio com o exem plo

naõ de Hom ero m as de VirgílioO”

quejº

aime i ien mieux ret Auteur plein dº

aeQuifansfaire d

'aiord deÉ i autepromwjê

.M e dit d'un ton aife doux jmple laarmonieux :

Je chant e les co m b at s e'ce t h omm e p ieux

Qu i des b ords Phrygiens condui'

t dans PAufonie ,

Sapplemento às N atas.

I lfait il v ient il parle ilpleure ilfaute d'ai/ê

Sans rai/on d'i eure en laeure il s

ª

e'meut Co

ªf apaife.

lmieri isjuv enis Coªr. Tamb em naõ h e menº s co p iado r do

nofl'º Pº eta q uandº deferev eº º s cºi

ªtumes de hum manceb o

dizendo

(3r0%n lº

nge eu av ant fansjoins degouv erneur ,Relev e

'courageux , Co

ª

rap ide d'i onnear

[l,/e plait aaa; c/aev auar aux claiens à la campaigneFucile au v ire il b ait, les v ieux Co

ªles dedaigne

Rude a', qui le reprend parcjieux rtjon i ien

P rodigue de'penjer il ne conferv e rien

Hautin audirieax con/ê iller defoi-memeEt d

'un crear oijiine

's'a/aeurte a re qu

*

il aime.Pºrém º judicíº fº D efp reaux com mais e legancia e em termºsm ais cºncifº s nºs dá em quat rº v erfºs huma b ella cºpia deite ret rato de Ho racio .

Unjeune i amme toujours i odillant dans[es capricesEd p romp t a recev oir l

'imprqúí on des v ires

.E/t; v ain dans.fes difcours v olage enfes dêjrsRe't tf it la cen/are

Couv eras jiudiis Coºr. D eixaremo s de allegar a pafl

'agem do

Ab b ade R egnier na Satyra em q ue ferv ilm en t e im ita o p refen

t e lugar e fó cº.píaremºso de D efpreaux como mais fuccint o liv re

"

,e engenhofo

L'a'ge v irilplus mar infpire un air plus[age ,

S e paayê aupres des Grands s'intrigue fe menage

Contre les roaps du fort ci errb e a[e maintenir ,Et loin dans le prefent regarde l

º

av enir .

M ultajênem rirrumv eniant incommoda Coªr. O referido Re

guier no lugarjá citado gai'to u dº ze v erfº s para exp rim ir o pr

e

fente caraõter de hum v elhº q ue nºs deixºu Hº raciº pº rem .

D efp reaux p o lidí fIimº e judicíºfº Pºeta redu ziº epgenhº fa

m ente elia pinturaa quat ro v erfºs mais cºmº im itaçao dº que

cop iaLa v ieilleji claagrine inrejamment amajeGarde non pas pourfoi les trefors qa

*

elle entajêM urrlae en tousfes deyêins d

'un pas lent Co

“glaje

'

Toujoursplaint le pre/ent Co"v ante le paje

'

Igualmente aHºraciº im itºu M axim ían Eleg. 1 . dizendº que o

VelhoLauda! prreteritos prrefentes defpicit annasHor tantum reilam quodfacit ipk patat .

E v oque maraiitur ap tis O mefmo Bo ileau nº Canto z..

Nefaites point parler v os Acteurs au iazard

.Supplemento às Natar; ao ;

Un v ieillard enjoane'

i a'inme , u

'

njean'

e hommee'n“v ieillard.

Nan tamen intus digna geri Coªr. N aõ fe efquecf

'

eo dit ºHº

raciº F t ancez de imitar 0 Lat inº nelle ímportant iflímô p receitº

para o Theatro .

Ce qº

on ne doit point v iir qu'un re

'cit nous Piropo/

'

e

Les yeux en le v oyant faijront mieux la ri o/eM ais il eji des oijefts que l

'artjudici

'

eux'

D ait of rir it [*

oreille Co“reculer desyeux

Immunda rrepent Coºr. N o t antas v ezes '

cí tâdo Po'

etaFran;

cez temºs a mefma dºu t rina

j7'aime fur le Theatre an agreai leAuteur

cQuifansje dif amar auxyeux dafpêã dtearP lait par la raifanfeule Co

º

jamais ne la c'

loaque

M ais p our unfaux plaifant àgrojiere e'quiv oque

Qui p our me div ertir n'a que lafalere

'Coªr.

Vos exemplaria Graca Coºe . Em Pºpe achº excellentemene

t e im it ado elle lugar accommodando'—o efpecialmente em lou

Vo r de Hºmero

Concev ezpour B ameri un v eritaile amóar

M editez— le la riait lifez—le tout lejourLai/eti lp eut v ous ronduire

'

a[es g'

rot te'

sfurrie'

s

oufim lain des mortels les M u/es retire'e'

s.

Carmen rep relaendite Co'ªc. Vida na Po et ica liv ;

N ecfemel atretlarefatis v eram anine quotannis'º

Torque quaterqae opus ev olv endum v eriaq'

u'

ê v erasE ternam immutanda coloriius -

omnefrequente”

Sape rev i/endumfiudio perjingulã carmen.

Quod non una dies fors ef eret altera Coªa

Nulla olim jiudio nulla olim incarmine c'

ura

D eprenfre p erje prodentur t empo'

r'

e iulpre

Qua que latent v arier denfa inter nui i/a partes.Srriiendi rerte Co

ºr. D efpreau

'

x illuitrando elle lugar no

Cantº I . da fua Arte.

Aimez. donr la razfon. Que toa'

jãars v os éc'

rits

Emprutent d'ellefeule Co

ºleur la/ire Co

ªleur prix.

La plupart emp ortez dºune fougue infenfe

'e

Toujours loin da droit fens v ont ci errlaer leurpenfe'e

[ls croiraient s'ai ia[7

'er dans leurs v ersmandraeax

ils pen/b ient re qu'aut

'

re a pd pcnfer comme“

eax ,

É v itons ces exce's laií ons a l

'l ta/i

'e

D e tous cesfaux irillans lº

erlatantefolie.

Tout doit tendre au i onsfens mais p oar y parv enirLeci emin ejl gltyant Co

ª

p enii le a t enir Coºc.

Veriaqueprov ifam Coªr. O me

ém º

glioeta no citado Canto

c,u

Supplemento às Natas.

ll e/t'certains eforits dont les fomires pen/e

'es

Sant d'un ndage e

'pais toujours emiaraj/ê

'es.

Lejour de la rai/on ne lefauroit p ercer .

A v ant doncque d'écrire apprenez e penfer .

S olon que notre ide'e e/i plus ou moins oifcure

L'exprefion lafait ou plus net te ou plus pure.

Ce que l'on conqait i ien s

'enonce clairement

Et les mots pour le dire arriv ent aifement .

Veras laincdacere v oces Co'c. O

,

m odº cºm q ue º M ef'rre daPoet ica Franceza im itºu efie lugar de Hº racio pode

—lhe ferv rrde commento .

Que la Nature donrfoit v otre e'tude unique ,

Auteurs qui pretendez aux i onnears da Comique.

Quicanque v oit i ien l'laomme Co

“d'un eforit profond

D e tant decrears carlae's a penetre

Ie fonds

Qui fait i ien ce que c'eft qu

'un prodigue un av are

Un honnete laamme unfat an prodigue un iizarre

Sur anefrene laeareufe ilpeut les e'taller ,

Et lesfaire a nas yeux v iv re agir Co"

parler.P rezentez—eu par

- tout les images nai v es

Que rlaaranyfait peint des rouleurs les plus v iv es.La Naturefeconde en i izarres portraits

D ans chaque ame eji marque'e ade diferem traits.

Unge/le la de'cauv re un rien lu fait paroitre

M ais tout aferir n'a pas des yeux pour la ronnoitre.

Agitant expertia frugis Cºm igual engenhº e fo rça imitouº citadº Pº eta a p refent e paíl

'

agem dizendº nº Cant o 6 .

Auteurs , pre'tez l

'oreille à mes infiraã ions

Voulez —v ousfaire aimer v as ric/aesjiti ions ?

Qu'enfav antes lerons v otre M ufefertile

P ar t oatjaigne au plaifant Iefolide , Coºl'utile.

Un leti eurfagefait un v ain amufement ,Et v eut mettre à profit font div ertií ement .

Hicmeret 63 7 62 Sajis , Coir. O m efmo nº Cantº

Heureux qui dansFes v ersfait d'une v oix lege

're

Pager da grav e au doux du plaifant au fev e're

S on liv re aime'da Ciel Co

ªob iri des leti eurs ,

Ejifouv ent chez Buri in entouré d'aci etears.

Verum opere in longo Coºc. Qu int iliano no C . I . dº l. 1 0 . fal

landº fo b re e i're p ºnt o nºs dá huma iudício fa dºu t rina dizen

do Neque idfiatim legenti perfuafum fit omnia quee magni aatlaares

dixerint utique (Mf e perfefla. Nam Coª laiuntar aliquando Co

ºoneri

cedunt , Coªindulgent zngeniorumfuorum v olup tati necfemper intendunt

animam,Co"nonnumquamfatigantar quam Ciceroni dormitare integ

ra

a.

2 06 Supplemento'

às Natas.“

Paulatim exaerit , frota/'

que aiolerit amaremcuramque alia tradaxerit omnem .

D elere licei it , Co'r. N efte lugar m erece que fe faça efpecíal

memºria da delicada elegancia , cºm q ue D efp reaux o parafrazíºu

no Cant º I da fua Arte Unindº o p refen t e p receit º cºm º o u

t ro carmen reprelae'

ndite quod non Adulta dies Coºmulta litara coer

cuit e cºm ºu tro da Satyra t o do liv . I '. Sape/t'ylum v ertas ite

ramque digna legifint fcrip tarus. Ab range tudº iftº º grande C rit i

t o Francez com o feu co llumadº magiíleriº e engenhº , dizen

Trav aillez r'r loi/ir , quelque ordre qui v ousprejiz

Et ne v ouspiquezí point d'anefolle v it ej

'

e.

Unflile/i rapide Coo

qui court en rimant

M arque moins trop d'eforit , que peu dejugement .y'aime mieux un ruiy

'

ena,

º

qaifur la molle are'ne

D ans un pré pleint de fleurs lentement fe promeut ,Qa'un torrent de

'i or

'

de'qui d

'un cours orageux

Roule plein degrav ier fur un terreinfangeux.

Vingt foisfur le métier remet tez v otre ouv rage

Hatez - v ous lentement Coª

fans perdre couragePal ez Co

ªle

'

repolijêz ;Ajoutez quelquefois Co

'fouv ent ef arez.

Naturafloret laudai ile carmen Co'c. N elta quei

'raõ que m o

v e Ho racio,fe declara D efp reaux a fav o r da N atureza dizendo

no princíp io da luaPo'et ica

C'eji env ain qu

'au Parnajê un te

'méraire Auteur

Pen/ê de l'art —des v ers at teindre la laauteur ,

S'il nefont point da Ciel l

'influenre ,ferret te

S ifon a/ire en naW nt ne l'riforme

'P iêt e

D ans fon:

genie étroit il e/i t oujouri cap tifP our lui Plae

'ius eft fo

'

urd Co'P e'gaÁe efi re

't if

Ego nec/ladiump ne div ite v ena , Ci r. Ho racio Judiciºfamente

fentencêa q ue para hum Pºeta fer b om fe haõ de cº nfp í rar a

feu fav o r a Arte , e a Natureza _e della , diz Pºpe na Cantº 1

C'ed la rêgle la fin le principe

'

de l'

_

Art

Sans elli t out :

eftfaux tout irillant n'eji que

'

fard.

Point de genieª

laeareux que celui qu'elle in/p ire

Av ecelle tout plait , tout'v it Co

'tout rrfpire.

Fallandº da Arte diz igualmen t e :

L'art da

'ns ce

'

rici efond a droit de s'ufortir

ll ordonne ilfait toutfans fe faire fent irl ifecache toujours , Co

't oujours il domine :

Tello dans un i eaa corps , cette flamme div ine ,L'dme enferret fournit les eforit

'

s

Supplemento às N atas. 2 07

Forme les mauv emens donne aux nerfs leur v igueurSans paraitre au deloors par fes rjetsjenf ile ,Aux feu/s yeux de l

'efprit elleje rend v inile.

Pallefret faper lais Cdr. (lue b em illuftra D efpreaux e íªce lu-l

gar , dizendo nº fim dº primeirº Cant o !

Aimez. qu'on v ous confeille Co

ªnon pas qu

'on v ous loue

Unflat teur auji- tôt ri erclae r'tfe recrier .

Cloaque v ers qu'il entend lefait extaf er .

Tout efl charmant div in aucun mat ne le i lejêI l trépigne dejoi

'

e il pleure de t endre] ?I l v ous romile partout d

'eloge fadueux .

La v e'rite

'n'a point ret air impetueux .

Vir i onus , Co'prudens , Co

'c. C ºnt inua º mefmo Poeta , como

b ºm difcipulº deHº racio , a darno s v iv as cºp ias do s º riginaes de.

feu M eitre . Veja—fe no citado Canto como im i t ou eita paífa

gem .

Unfage ami , toujours rigoureux , injiexiile ,Sur v os fautesjamais ne v ous laií e painilefl ne perdonar point les endroits ne

'glige

's.

l l renv oie en leur lieu les v ers mal arrange's

I l reprime a'es mots l

'ami itieufe empi afe

]ri lefens le cloaque ; Coº

plus loin r'eji la pi ra/ê .

Votre canjiruilianfemi le un peu s'oifrarrir

Ce terme ed e'quiv oque il lefaut eclairrir .

C'eji aind que v oux parle un ami v eritaile.

M as ob ferv e- fe comº pail'

a a dar nº v o s t º ques a clªra cºp ia, cºm

º s q uaes

o riginal.

a faz taõ v iv a que Hºraciº , fe a v ira , a t eria por [eu

M aisfouv ent fur fes v ers un Auteur intraitaileA les proteger tousfe croit inte

'ref e

'

Et d'ai ordprend ru main le droit deFaf en/e.

.D e ce v ers , direz—v ous , l'expre/z

'on ej? iaj

'

e

Ah M ºn ii eu r , p ºu r ce v ers ie v o us demande grace.Repandra

— t —il d'ai ord ce mot mefemilefroid

? e le retranclaerois. C'ef't le plu s b el endro it .

Ce tour ne meplait pas . Tou t le m onde l'admire.

Ainnt oujours confiant ane point dedire

Qa'un mot dansfon ouv rage ait para v ous ile/er,

C'eji un t itre rlaez lui pour ne paint l

'ej'

arer .

Amiiriojareridet ornamenta Coªr. To rna º grande Pope a ii

—ª

lu flrar aHºracio e diz no Cantº da fua Crit ica imitando elle

paíl'

o

M ais un genie oatre'dans/%sfougues altieres ,

Admet le: faux irillanspour de v iv er lamieras.

2 08 Supplemento as Natas;

D e ce qui peut fraper uniquement e'pris

D e traits v ifs , Coªnouv eaux ilfimefes e

'rrits

C'efi un ci aos luifant , un ameis de pense

'es

Et fans ordre , Co'fans onoia Co

ª

fans garit enVous v oyez le Porte Co

ªle Peintre ignorant

lncapailes da v rai donner dans l'apparent .

'

S'ilfaut av ecdouceur peindre les Gracas nues ,

Et prefenter fansfard leurs i eautes ingénues ,I ls ci argent leursportraits d

'or

, Coªde diamans

Et caclaent leur peu d'art fous defaux ornemens.

Recitator arerius , Coªr. R emat emo s em fim ellas imitações

que defco b rimº s nºs t res m elhº res difcipu lº s de Ho raciº , como

fo raõ Vida D efpreaux e Pºp e cºm hum lugar femelhante a

elle , que t raz º m efm º D efpreaux nº Cant º 4 da fua Arte.

ºQuelques v ers toute fois qu'Apollon v ous infoire

En tous lieux audi—tot ne courez pas les lire.Gardez- v ous d

'imiter re rimeurfurieux ,

Qui de fes v ains e'rrits leci eur loarmonieax

,

Ai orde en reritant quiconque lefallie.Et pourfazt de fes v ers les paf rzns dans la rue.

I l n'efl Temple faint des Anges refpeité ,

Quifoit contrefa Adufe un lieu de sarete'.

OBSERVAçóEs D O TRAD UCTOR

fobre as v arias Lições defla .Arte

Poetica.

E ArtePo'

e'

tira : M uitºs Au thº res pret endem q ue a ef

t e Tratado de Hº raciº naõ fe dev e dar º referidº t i

t ulo mas fó º de Eptjiola ad Pífanos allim cºmº º

m efmº Pºeta dirigíº ºu t ras Ep ifto las a M ecenas o u

t ras a Juliº Flo rº e huma a Augu liº e qu e º t er t ratadº das

regras da Po et ica naõ he º que b aila , para fe lhe dar hum t í tulº ,

q ue naõ lhe deu feu Au thºr , cºmº h e prº v av el. Temºs p ºr cer

t o q ue cita ºb ra he prº priament e huma Ep i/lola cºm o as ante

cedent es m as tamb em t emº s p o r muy v erº lim íl q ue Ho racio

accrefcentafl'

e de Arte Poetica para a difcingu ir das ºu t ras em

q ue fó de paíl'

agem deu alguns preceitºs fohre a Pºeiia. Aº me

nos

2 1 0 Ob/erv arõ'es daTradaá

'

r'or

v eri is etiam tennis Coªr. Ap prº v ºu ift o D u—Hamel na fua ediçaõ

Parizíana de [744 . Veja—fe o cºm º D acrer nas inas N º tas co nlut a taõ e lt ranha im aginaç iõ ,

m o f'rrandº ºs div erfe s errºs, em q ue

cahiº : B ent le í na eX pIicaçaõ de ite lugar fu ppº l't a a t rºca q ue

p retende .

.Et He liçaõ d'

e D acier D u -Hamel Lamb ino e o u t ro s m u i t ºs p o rém B eo t le í e Sanado u app ro v ando ºs

ln . de Fab ricm ,lem faria em lugar de f ila .

Prorud'ere nomen N a liçaõ de iie lugar differ

-em mu it º os

C ommen t adº res . Cºmmumment e lê —fe producere e naõ pracudere,e de lta º p iniaõ h e Lu ií inº D u -Ham el e o u t rº s . Po rém mu i

t º s m . f. de au t h o ridade citadºs p o r Lam b ino N o res e o nº fl'

o '

E lla-çº t em pro-cu'dere v erb º , que genu inam ente fe accomm oda

à metafo ra dº cunhar m ºeda de q ue fe v al Hº raciº . Verdade

h e, q ue Bent le í para mais demºnl't rar a t ranslaçaõ q uer q ue naõ

fe lêa nomen m as nammam como igualment e p re tende Lu ilinº .

Segu io—º º mefmº Sanado u ,

e D u -Ham el ; p º rém cºnfº rme D a

cier e it a. liçaõ naõ t em fundament º p º rq ue nem t odo s t em lí

b erdade para b at er mºeda nº v a ainda q ue t enha a imagem ºu

armas: do Príncipe mas t ºdºs t em licença para inv entar v o zes"

no v as fendº_cºm aq uella cau tela que Ho raciº culina.

Ut fylv e foliis pronos mutantur Coªr. Elle v erlo anda em di

Verfas edições e m . f. fummam ente desfigu rado ; p o rque º acham ºs

,com t o das e llas mudanças Ut folia injylv is utjylv isfolia ;

jylv re ut quamfaliis ; priv os em lugar de pronos , e nudantur ºu v i

duantar em lugar de mutantur . O s q ue lem ,ut folia in fylv is t em

a au t hº ridade. de D iºmedes G rammat ico , co m q ue fe defendaõ

he liçaõ mais lim ples a q ue nó s fegu im ºs he m ais figurada

p o et ica ; p ºrém naõ h e efte º fundament o , p º rq ue a ab raç am ºs ;

mas p o rq ue allim fe lê na co rreõ'cifií ma ediçaõ de Hº raciº em Pa

riz em '1 70 3 e em q uali t ºdo s º s m elhº res m . f. cºmº t e liiâ

ea 0 T radué'tº r Francez de íie Po eta na fua m ºderna ediçaõ de

r7yz.

S terzlifque dia palus : Hum grande num erº de C ºmmentadº res

concº rriaõ , em q ue e lie v erfº eltá defeitu º fo ,e q ue naõ h e p ro

v av el q ue Ho racio deflª

e a pulus a fegunda b rev e . D u -Ham el

naõ t ev e du v ida a refo lv er , q u e Qui ult imam i ujus v ocaiuli i rev em

fariunt le i rev r'

íªimos e'jê p oet ices Lat ina tyrones manife/iant ; e alien

ta cºm Beo t ici , q ue e lle v erfº fe ha de ler , S terilrfqae palusprius,ap taque rea is. O P . Sanado u en t re div erfas cº rrecçõ es q u e t raz

C uningham t em tamb em a fo b redita p ela m ais cº nv eniente

mudando —fe º prius em dadam . Po rém nó s t emº s p º r m elhº r , º u

p º r genu ína a liçaõ commu a q u e dá a palas a fegunda b rev e

fundando -no s naauthºrídade dºs ant igºs G rammat icºs que— t ra:

zen:

Oiferv aroes doTradaã or. ai r;

zem ef'r'e exemplº de Hºraciº para p rº v arem q ue a fegund

lab a do dit º v ocab ulº nem femp re he lºnga : e lem b ra—no s

cialmente o lugar de Serv io qu e comment ando o v erfº '6

da Eneida : Teneirofa palas Aclaeronte refafo no ta, q ue fe V írg

ºilio

deu a citada palav ra a ult ima lºnga , Hºracio .na fua Po et ica a ii

zera b rev e e allega com º p refent e v erfº .

M ortaliafaita periiunt Bent leí em lugar de fafia emendou

muita ; mas cºm q ue necefiidade Ab raço u ella em enda D n ª

Ham el fazendo -lhe mais fºrça a au thºridade de hum C ommea

t adº r mu itas v ezes q u imericº dº q ue a de tantºs tex—t o s im

p reifº s e m . f. q ue lem fatia , como palav ra mais accomm odada

aºs exem plº s q ue p rºduz o Po eta.

Etjus , Coºnorma loqaendi : D u —Ham el quer , q ue em lugar de

jus fe lea v is . Elle allim º fegue e accrelcen ta em huma nº ta

Qui legant jus pod arb it rium non p lane div erfa oi trudunt . Ufa:efl tyrannus , cujas mira efl in v eri oram delefiu v is . Pº rém C ru quio

defende a no fi'

a liçaõ dizendº Jus ; f r omnes frrip ti liiri non au

tem v is ut v ulgati aliqui .

Teneant fort ita decenter Hum an t iq u ifi'am o m . f. allegado pºr

C ru q uio t raz decentem e D u -Ham el feguiº e lla liçaõ . A de q ue

ufamº s he a cºmm umm ent e receb ida º leit o r p oderá ab raçar

q ual q uizer ; p ºrq ue huma , e ºu t ra t em lugar fem a m ínima v iolencia.

[ta jientiius adjient : Ham . em que fe lê adjitnt , º u tro s ad

jnt , e ºu t rº s addant . Eita ult ima liçaõ t em Sanadou p ºr genu i

na ; m as a nº íi'

a he a fegu ida p º r D acier, q ue examino u b em as

mu itas ediçõ es e m . f. da feleéta,e co p io fi íiima liv raria de El

R ey de França.

P editefqae carloinnum Bent le í em penha-fe em mº íirar q ue

efia liçaõ h e v icio fa e inepta e q ue fe ha de em endar º podites

em patres . A razaõ q ue dá he ; p º rq u e o pº v o denº t adº nº pedi

t es h e hum ju iz m u it o m 㺠p ara fen t enciar as cºufas de q ue

aq u i falla Hº raciº . O cºnt rariº eflá m o lh ando a exp eriencia t o

do s º s dias nº Theat rº , o nde fe v ê, q ue o p o v º h e hum ju íz ca

pací ílim º para julgar fo b ro a v erdadeira p intura dº s affeót o s ; p o r

q ue a natu reza para t ºdo s he a m efma. Quan t o mais , q u e fegun

do a em enda de Bent leí en taõ he q ue a liçaõ feria v iciºfa ; p o r

q ue l-Iº raciº na p alav ra equites inclue tam b em patres iftº he º s

S enadº res e em Em t ºda aq uella claíi'

e q ue he fuperiº r àdº

p o v º , cºm º elle mefmº ath rma na Satyra 1 0 . dº 1. I . Nom fat isefi equitem milai plaudere. Veja—fe a B ae ler impugnando a Bent le í .

D iv us'

n

'

e loqaatur , anHeros .

'

Os Expº í i t o res mudaõ elle v er

fº pº r div erfº s m ºdo s. Huns lem D av e,/s ne loqaatur an Heros ;

ºutrºs D av us ne loqaatur an Eros entendendº a Eras pºr hum

D d ii b om

2 1 2 Obfe'

rvarões do Tradztóior.

b om criadº,e a D av a p º r hum mao“cºmº ºs p intºu M enandro

nas faas Cºmedías. Po rém e ita liçaõ naõ t em fundamentº em

q ue fe ef'trib e pº rque Hº raciº naõ falla nelle lugar da pºefiacom ica e além difto com º adv erte D acier ) a dilferença de'h um criado a ºu t ro naõ he taõ cºnliderav el q ue ºb rigalfe o

Pºeta a lemb rarfe della eitab elecendº hum preceit º a q u e elle

chama muito impºrtante . O u t rºs em fim lem D av us ne loqaa

tur noras ne e ou t ro s D iv es ne loqaatur an lrus. A p rim eiraliçaõ p odería adm it t írfe , fe Ho raciº t ratall

'

e aq u i da C ºm edia ; a

fegunda dev e-fe defprezar ; p ºrq ue lro naõ he periºnagem q ue

ent re em huma Tragedia, q ue h e a mat eria de que p refent emen

t e falla o Pºeta cºmº he b em ev idente e p º r í lTº fó t emº s a

nofl'a liçaõ pela melhºr a q ual igualmente he de Lu ilino N o

res D acier e ou t rºs . Cºm efi'

eito , eita parece a mais v ero lim íl,e fe comprº v a cºm ºu t rº v erfº deite Po e ta Ne quiramque D eus,

quicamqae adi ii ei itar Heros cuja p intura de caraõteres he t aõ im

p ºrtante , cºmo div erfa : e q ue º s ant igº s T ragicºs int rºduzí íI'

em

na fcena D iv indades cºm Heró es í í'fº fé º negará q uem nunca

leu a So phocles e Eurip ides.

lí onoratum Í fortê repanis Ari illem Bentle í que (como diz

M onf. D acier) em emendar Hº raciº ab ufou m u it º dº feu ju ízº ,

e deu toda a lib erdade à fua imaginaçaõ naõ q uer q u e fe lêa

laonoratum mas fim Homereum ºu Homeriacum e as razões em'

q ue fe funda, faõ taõ frí v o las , cºmº repugnant es a hum b ºm ju iO p eyo r he , q ue o fegu íº º P . Sanado u tendº p o r genu ína

a dita cº rrecçaõ fem refleét ir , q ue o ep ithet o laonaratus aAch illes t em t anta energia que nella fó palav ra comº b em adv erte

D acier) fez Hº raciº aquelle Cap itaõ G regº º mais díflínõtº elº

gio . E a razaõ he p ºrque allude àqu ella efpecíal hºnra cºm

q ue o dí ftingu ira Jup it er v ingando- º da grande affro nta q ue

lhe fizera feu inim igº Agamemno n fazendº cºm q ue ºs Troyano s 0 v encell

'

em nº cam pº e caft igando º s G regº s cºm mu it ºs

m ales naõ lev antandº o aço ut e fem q ue ºs m efmºs , que º ag

grav araõ lhe dé fl'

em a dev ida fat isfaçaõ . D efie m odº Hº racio :

naõ fez,mais , que fegu ir aHºm erº , q ue na Ilíada falla de Ach il

les co'

mo de hum Heroe fummament e hºnradº p º rju prt erxN ecv eriam v eria : O P . Sanadºn p retende q ue dev e dize

r

fe N ecv eria v eriam e q ue allim o achara nº s melho res m . f. e

nas m ais excellent es edições ant igas e naõ m enº s m ºdernas . O s

C rí t icºs, q ue naõ faõ f uper íi iciºfºs chamaõ a cl

ªra emenda cºu

fa de muy p ºuca im pº rtancia.

C'

uningham Sanado u Lamb ino e ou

t ro s lem refe rre em lugar de proferre. Allegaõ para ilio hum a au

t hºridade de Gefar nº 1. r . de Bell. G all. em que ufa de p edem

2 1 4 Oiferv ações doTraduí ior.

Et concilietur amiris Cruqu iº affi rma q ue em t ºdºs ºs rn . f.fe lê amicê e naõ amiris. A cº rreê

'tiflim a ediçaõ de Pariz de

[ fo g tamb em cº nfirma ella em enda e fundadºs ncitas au thº ri

dades a feguiraõ D u—Hamel, Sanadou e ou t ro s. A refpeit o dº

concilietur ,Lu iiinº G rifo lº N o res Lam b ino e ºu t rºs lem

connlietar e e lle u lt imº In terpret e afli rma q ue allim o acharaem dez m . f. O cert o he , q ue º s mais exaõ

'tº s v ariaõ mu it º nef

ta liçaõ t razendº huns conf lietar amiris ºu t rº s ronfoletar cºm o

adv erte ]afo n de N o res ; e ºu trºs lem dº m ºdº q ue fe v ê nº

nºffo textº fegu indo a D acier o q ual du v ida mu it o q ue em

b ºa lat inidade fe ache exem plº de ronf lietar amiris, pº r dar cºn

felho s a am igº s e q ue em q uant o naõ lhº m º lt rarem ,femp re ha

de ler concilietur v erb o”

, q ue tant o fe accomm o da ao ºfficio do

C o ro da Tragedia.

Et amet p ercare timentes Bentleí fegu idº p ºr Sanado u quer

q u e timentes fe haja de t rºcar em tamoules e p ercare em parare ; e

allegaõ p ara ifto duas excellent es ediçõ es e alguns m . f. mas

naõ º s efpecificaõ . A razaõ em q ue fe fundaraõ p ara t erem po r

genu ína ella liçaõ he p o rque e ita exp reilaõ percare timont os

v em a dizer º mefmº q ue a antecedent e i onisfav eur. Aº P.

G alluciº pareceº b ºm elle fundam ent º dizendº Fav ero i onis

Coªeos amare qui p ercutam reformidant idem plane v idetur qffciam ef:

fe. M as fe fegundº elles C rí t icºs v em Hº raciº a dizer duas v e

zes huma mefma confa hav endº de fe ler , Co? amet percare t imentes tam b em lendº—fe cºmº elles q u erem v êm º Pº eta igual

m ent e a dizer huma m efma confa duas v ezes pº rq ue regat ira

tos e parare tamentes v em a fer o m efm º a p ezar da engenhºfa

differença q u e lhe q uer dar º P . Sanado u . O leit o r fará º feuju ízo que nó s naõ refº lv em º s ; ufam º s da liçaõ q ue t ernº s p º r

melhº r , e ilrib adº s em quali t ºdas as edições e mu it ºs m . q u e

allega N icº lẠParthenio .

Oric/aalco v inã'a A ediçaõ Paríziana de 1 70 3 t razjuniia em

lugar de v iní ta . Ab raçaraõ a em enda Sanado u e Bent leí e di

zem q ue allim º acharaõ em mu it º s m . f. Pº rém D acier diz

galantem ent e q ue fem fe m o li t ar huma frau tajunila oriclaalco naõ

fe pôde fazer ju izo cert o fºb re qual h e a liç aõ genu ína. Cºnfra

no s indub it av elm ent e q ue nº ant igo Cº rº fe ufav a de fran ta

q ue t inha humas p eças ºu encaixo s de lataõ que—ª

prendiaõ e

º rnav aõ º tub º ; naõ cºnfia º u t ra cºufa.

Latior amplert i marus O u t ras edições t razem laxior mas fé

º achamº s nas m o dernas , fegu indº a de Beh rleí . Elle fab iº In

t erpre t e talv ez fe perfuadíº q u e latas fem pre lignifica o largº ,

e nunca º ex t enfº mas cºm o q uer q u e no s b º ns Lat inºs fe

acha latas na í igníficaçaõ de laxus , efoatiofus como latas rampqs,

e a

Offerv ações do Traduã or.

e lem; ager em Virgilio nenhuma necefiidade t inha de emendarhuma palav ra , q ue t antas edições receb eraõ com o p ro pria.

ln feemzm mem; He infi o com Theodo ro M arli lío p ret en

dem que fe emende em:/as em mijar. Ado p to u ef'ta liçaõ o P .

Sanado n co nt ra a t o rren t e de t o das as ant igas ediçõ es , que nalee

raõ do s m . mais co rreâo s. D acier ainda aflí m defpreza—a ; mas

naõ he para ifl'

o ; p o rq ue a v erdade he , q ue com a emenda pare

ce mais co rrente a in t elligencia do q ue q uer dizer o Po eta.

An omnes fui/ares peem tez, Egºr. Ben t le í e Cuningham [diz o

P . S anado n ] em lugar de em omnes , lem ut omner ; e a edicao de

D u —Ham el em enda 0 at em E? . Cuningham ainda faz m ais ; p o r

q ue t em para E q u e o v erfo vai/Zero; Cgºe. fe dev e ler delle m o do

Vi/aros p ercam parem guôdmm; Caºím'm , Ci e. Po rém naõ achamo s,

q u e fe lhe ab raç aÍTe a ide'a a q ual naõ pat rocina ediçaõ algu

m a de credit o nem ainda m . f. excep t uando hum ou dous

q ue le t em p o r fufpeit o í'

o s .

At ne,/M prom

-z“ O Ho racio Pariziano de I fO ; e ou t ras

mu itas edições ant igas e ainda a m ayo r p art e do s m . afli rma

S anado n , q ue t razem fv ef ri em lugar de nají rí . O Po eta neite

p aÍTo o q ue q u iz , foy cenfurar em geral aq u elles , q ue com go ílo

p o uco delicado adm iraraõ em t udo o engenho de Plau t o ; e af

fim quem naõ v ê, q u e mais co nv em ao fim do Po eta que fe lea

no/í rí do q ueªv e/impraaº

v i Se ufafl'

e do ªee/m'

v inha efpecíal

m ente a cenfurar o mao go flo do s av ó s do s Pisões e do Emílimo ju izo de Ho racio naõ (

'

e p o dia efperar q u e lhe efeapaíTe hu

ma palav ra em deido u ro daq uelles m elin o s a q uem dirigia a fua

o b ra. Em q uan t o àrazaõ , q u e o u t ro s daõ para naõ (e ler emfim,q ue v em a co n íi llir em —fer Ho racio filho de hum ll l t o e co

m o tal naõ t er av ó s ; fat isfaz—fe dizendo q ue mjí n'

preewi fe t oma aq u i p elo s R omano s em geral. M o nf. D acier [com o já deixam o s dit o nas no fl

'

as N o tas dá a e lle lugar huma intelligencia

t o talm ent e div erfa da q ue (e lê no s o u t ro s Interp re tes ent en

dendo o mjm, co m o p alav ra , naõ dit a p o rHo racio mas fim p e

lo s Pisões o u p elo po v o R omano em geral. N aõ refo lv emo s

fe e lla in t elligencia h e genu ína he certo que he engenho fa , e

pro pria do Po eta.

N imz'

am pat ienter utmmgae : Sanado n fiado em Cuningham lê

N e a'z'

eezmjí u? O s m efm o s t rocaõ o ne em nen e e itaõ p a

ra ella em enda ao n o flo Ach illes Efiaço q u e t e íliâca achallo

aflim em hum excellen t e m . A difpu ta fo b re qu al feja a licaõ

v erdadeira, he m uy renh ida , p o r fer de grande im p o rtancia , p o is

m odiâca no tav elm ente o ju izo de Ho racio a refpe it o do m ereci

m en t o de Plau t o . E fe h o uv effemo s de dar a no iTa fentença dl"

2 1 6 Obferv aç'ô'es doTraduã or.

diríamos q ue o P . Sanado u naõ tev e fo lido fundament o para lev antar tant o a v o z cont ra o s q ue lem ,

ne clicam po rque com ef

feit o a au tho ridade de hum (6 m f. naõ parece b aílant e para derogar a fé de t odo s o s o u t ro s exemp lares naõ menos imprefl

'

o s ,

q u e m . q ue fe o pp o em à liçaõ de Eflaço .

Qua,eemerem Bent le í fegu ido, p o r D u -Hamel e Sanadon

em enda 0 eme em qui . Qualq uer dirá q ue o fent ido Eca dellem odo m u it o V io lent o ; e fab endo q ue e íªce Commentado r naõ fe ,

funda em alguma au tho ridade m ais q ue na do feu capricho , pa

rece—nos q ue ha de defprezar a dita liç aõ .

Preefeã um eleez'

es : Cru qu io , M o rat o ,D u -Hamel D acier

,e

t odo s o s o u t ro s C omm entado res de diílinélo conceit o ent re o s

C rí t ico s judicio l'

o s t em affentado q u e de nenhum m o do le de

v e ler perfeêh zm o u pnefeã um mas fim preefeflum ,e o co nfirmaõ

com a au t ho ridade do s melho res m . e q ue o naõ fe ler deíªte

m o do em alguns foy certam ent e p o r igno rancia do s Co p iflas

o u p o r defcu ido ,(endo muy facil p ô r hum f

em lugar de hum f.

B em fab ido h e , q ue o s Lat ino s diziaõ preefeã'us unguís , para deno

t arem huma unha b em feita,em q ue naõ ha deligualdade alguma.

Vem ; b im dacere v eces Se confult arm o s a Cru quio e B ent

lei e naõ mengs a ediçaõ Paríziana de ryo g q u e q uali t odas as

ou tras ant igas , acharem o s q u e fe ha de ler«v iv as

,e naõ 'v em s e

p ara mayo r co nfirmaçaõ t ePcifica Cru qu io q ue aflim o t razem

t o do s o s m . f. Po rém D acier fazendo m ençaõ della emenda ,naõ

a appro v a antes defco b re na p alav ra v em : huma efpecíalimmado u t rina deHo racio a qual naõ fe p ôde b em deduzir de mm s.

Po r naõ fe b ufcar a e lle excellen t e C ommen tado r , v eja—fe o qu e

diffemo s , q uando illuflrám o s efte lugar.

At lame animos zemge Cde. Ha edições e m . q ue t razem

acl leme e o u tro s elt [aeee cuja liçaõ ado p t o u D acier fegu indo a

m u it o s. Cuningham fundado fómente na ( na au th o ridade afl'

en

t ou q ue fe dev ia ler isº[aeee e E&aço referindo - fe a t res m . l

'

.

do s mais ant igo s p retende q ue fe efcrev a em [aeee o qu e feguro

B entleí , Sanado n , D u -Ham el e aT raduccaõ Franceza impref

faem Pariz em 1 7 3 1 .

Omnefuperw euum : Elle v erfo naõ cab io em graca a Bent le i,e_a Sanado u

,e amb o s t em p ara ii q u e naõ he de Ho racio ,

mas

í im enxerido p o r algum Co pifªta. N e ila p reoccu paçaõ nao o p º

º

.

zeraõ nas fuas edições p o rém naõ fo raõ fegu ido s ; p o rqu eb em

fe v ê q ue a com paraçaõ q ue co nt ém elle v erfo , he excellent e,e muy p ro pria do eftylo de Ho racio .

N ee, quodeumque

ºv o/et O P. Sanado u diz q ue o s m . (É mais

ant igo s t razem ne,e naõ m eno s as p rim eiras edições. Na de Pa

riz de Iyo ; lemos : Nee quadeumqueºv elit .

2 1 8 Obferv czçõ'es do Trdduã or:

lmipejam angu,/io ºv erfccs componerecom o

[fique t ico: igner dure Poe'

tei ªoeni.

E p o f'co q ue B ent le í cenfu rafl

'

e a D acier em t omar igno: p orforanalha, o u fo rja , dev endo —o t omar po r am o r ; a repo f

'ca do Comm entado r Francez mo ílra b em a fut ilidade da impugnaçaõ .

FiecAri/lomb as necdicer O referido Bent leí mudou o necem non e lemo s efta emenda na ediçaõ de D u -Hamel de 1 744.e naõ adv ert io elle fab io que naõ hav ia neceflidade/

alguma para.

deÍ'

prezar o nec, q ue he a liçaõ co rrente .

Sublime: v er/cc; f icti on” Allim diz o no íl'o Ellaço ) t razem

t odo s o s m . D onde fe v ê q ue naõ he b em ef'tab elecida a li

çaõ daquelles q ue mudaõ [ablimes em fulalimir referindo —fe a al

gum m . f. Se em algum fe acha tenho po r cert o que naõ elªtá.

fccolimis em nominat iv o mas em accufat iv o fegundo a ant iga o r

thografia.

Hocfe dejeceric Na ediçaõ de Aldo de I fO I acham o s projec'

e

rit e B ent leí Cuningham e Sanado n dizem q ue conco rda a

emenda com t odo s o s m . mais ant igo s. Naõ o b liant e D acier ,D a-Hamel , Lamb ino N o res e ou tro s mu it o s fav o recem a no ?

fa liçaõ .

Car v er/itsfo ã icec Em lugar deit e v erb o achou Eftaço nos

m . diiiitet e he fegu ido p o r Sanado u Cuningham e o u tro s.

C om tudo naõ ellaõ p o r ella liçaõ D acier , D a -Hamel, e mu it o s

is , no q ue co nferem com N o res Lamb ino e Nannio .

Ellas faõ as v arias lições , q ue nos pareceo apontar : naõ du—ª

Vidamo s , q ue fe enco nt rem algumas mais mas haõ de fer muy

p oucas , e q uafi t o das de nenhuma ent idade , e como tacs defpreza

das pelo s b o ns Crí t ico s que le empenharaõ m odernamente em

emendar as o b ras deHo racio,humas v ezes fundado s em lições an

t igas de grande au tho ridade , e o u tras em fo rt es co njeõturas , q ue

p o rjudicio fas naõ faõ para defprezar. Po r ifl'

o nó s nella mat eria

ap o ntamo s o que ou tro s fent iraõ naõ defprezando o s feu s funda

m ent o s , fenaõ q uando clarament e fe co nhece , q ue faõ o u fu teis,o u ext rav agantes. O leit o r judicio fo fegu irá nelle p onto aquella

liçaõ que lhe parecer m elho r , allim como nó s fegurmo s a de D a

cier , t endo—a p ela mais b em fundada ; p o rque foy hum Int erpre

t e q ue rev o lv endo a fam ofa B ib lio theca de B lRey de França

t ev e meyo s mais que t odo s o s ou tro s Illu í'tradores para fe fe

gurar nas lições genu ínas ou para Fazerju izo p rudente a refpei

t o das du v ido fas. Ainda allim naõ damo s p o r infalli v eis t odas,

,as fuzis decisões fo h re ella materia e p o r ifl'

o t omamo s o t rab a

lho de apontar aquillo em que ou tros fab ios diíl'

erem delle.

F I'

M .