Arquitetura escolar e sustentabilidade: uma abordagem considerando o Autoritarismo Educacional -...

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95 Arquitetura escolar e sustentabilidade: uma abordagem considerando o Autoritarismo Educacional - Disciplinamento (Panóptico) e a Educação Libertária Silvia Kimo Costa*, Milton Ferreira da Silva Junior** RESUMO O presente artigo aborda a relação entre Arquitetura Escolar e Sustentabilidade, tanto na concepção do projeto como na construção da edificação, considerando dois pólos pedagógicos: o Autoritarismo Educacional e uma Educação Libertária. Verifica-se que a Arquitetura Disciplinar destinada a atender o Autoritarismo Educacional, corrobora os indícios do Panoptismo, como a vigilância hierárquica e o disciplinamento do corpo no contexto (neo) liberal. A rigidez estrutural inviabiliza práticas de ensino e aprendizagem que se baseiem na construção do conhecimento conjunto (professor + aluno). Em contrapartida, observa-se a fluidez e plasticidade das edificações projetadas para escolas que se propõem a práticas de ensino e aprendizagem mais libertárias, em contraposição ao ensino tradicional. Aliada ao conceito de sustentabilidade, as edificações projetadas para as Escolas Libertárias explicitamente postulam uma concepção completamente diversificada e interada não só com o ambiente natural, mas também com a cultura e história do local onde estão inseridas. Palavras-chave: Arquitetura Escolar, Autoritarismo Educacional, Escola Libertária, Sustentabilidade. ABSTRACT This paper discusses the relationship between Architecture and Sustainability School, both in the design and the construction of the building, considering two poles teaching: Authoritarianism Education and Educational Libertarian. It appears that Architecture Discipline designed to meet the educational Authoritarianism, corroborates the evidence of panopticism as hierarchical surveillance and disciplining of the body in the context of (neo) liberalism. The structural rigidity prevents learning and teaching practices that are based on knowledge construction set (teacher + student). In contrast, there are fluidity and plasticity buildings designed for schools that intend to practice in teaching and learning more libertarianas opposed to traditional teaching. Allied to the concept of sustainability, buildings designed for the Libertarian Schools explicitly have a completely diverse and interactive concept not only with the natural environment, but also with the culture and history of the place they were built. Key-words: School Architecture, Authoritarianism Educational, Libertarian School, Sustainability. * Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UESC, BA) - Bolsista FAPESB; Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA); graduada em Arquitetura e Urbanismo (UFV, MG). Professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). E-mail: [email protected] Publicações: REIS, R. N.; COSTA, Silvia Kimo.; REGO, N. A. C.; SILVA JUNIOR, M. F. Avaliação das potencialidades geoturísticas da serra geral, Bahia, Brasil . Revista Nordestina de Ecoturismo, Aquidabã, v.5, n.2, p.2845, 2012. COSTA, L. E. B.; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SILVA JUNIOR, M. F. Gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos, domiciliares e perfil socioeconômico no município de Salinas, MG. Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais, v. 3, p. 73-90, 2012. COSTA, Silvia Kimo; SILVA JUNIOR, M. F.; RANGEL, M. C. O processo de intervenção em espaços públicos urbanos dos usuários: praças públicas. Rede: Revista Eletrônica do Prodema, v. 4, p. 25-35, 2010. MATHIAS, A. G. C; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SANTOS FILHO, H. A; SANTOS, J. W. B. dos. Análise da disposição final de resíduos sólidos urbanos no município de Vitória da Conquista - BA utilizando a Soft System Methodology. Diálogos & Ciência (Online), v. 8, p. 77-90, 2010

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Arquitetura escolar e sustentabilidade: uma abordagem considerando o

Autoritarismo Educacional - Disciplinamento (Panóptico) e a Educação Libertária

Silvia Kimo Costa*, Milton Ferreira da Silva Junior**

RESUMO

O presente artigo aborda a relação entre Arquitetura Escolar e Sustentabilidade, tanto na concepção do

projeto como na construção da edificação, considerando dois pólos pedagógicos: o Autoritarismo

Educacional e uma “Educação Libertária”. Verifica-se que a Arquitetura Disciplinar destinada a atender

o Autoritarismo Educacional, corrobora os indícios do Panoptismo, como a vigilância hierárquica e o

disciplinamento do corpo no contexto (neo) liberal. A rigidez estrutural inviabiliza práticas de ensino e

aprendizagem que se baseiem na construção do conhecimento conjunto (professor + aluno). Em

contrapartida, observa-se a fluidez e plasticidade das edificações projetadas para escolas que se propõem

a práticas de ensino e aprendizagem mais “libertárias”, em contraposição ao ensino tradicional. Aliada

ao conceito de sustentabilidade, as edificações projetadas para as Escolas Libertárias explicitamente

postulam uma concepção completamente diversificada e interada não só com o ambiente natural, mas

também com a cultura e história do local onde estão inseridas.

Palavras-chave: Arquitetura Escolar, Autoritarismo Educacional, Escola Libertária, Sustentabilidade.

ABSTRACT This paper discusses the relationship between Architecture and Sustainability School, both in the design

and the construction of the building, considering two poles teaching: Authoritarianism Education and

“Educational Libertarian”. It appears that Architecture Discipline designed to meet the educational

Authoritarianism, corroborates the evidence of panopticism as hierarchical surveillance and disciplining

of the body in the context of (neo) liberalism. The structural rigidity prevents learning and teaching

practices that are based on knowledge construction set (teacher + student). In contrast, there are fluidity

and plasticity buildings designed for schools that intend to practice in teaching and learning more

“libertarian” as opposed to traditional teaching. Allied to the concept of sustainability, buildings

designed for the Libertarian Schools explicitly have a completely diverse and interactive concept not

only with the natural environment, but also with the culture and history of the place they were built.

Key-words: School Architecture, Authoritarianism Educational, Libertarian School, Sustainability.

*Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UESC, BA) - Bolsista FAPESB; Mestre em

Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA); graduada em Arquitetura e Urbanismo (UFV, MG).

Professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). E-mail: [email protected]

Publicações: REIS, R. N.; COSTA, Silvia Kimo.; REGO, N. A. C.; SILVA JUNIOR, M. F. Avaliação das

potencialidades geoturísticas da serra geral, Bahia, Brasil. Revista Nordestina de Ecoturismo, Aquidabã, v.5, n.2,

p.28‐45, 2012.

COSTA, L. E. B.; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SILVA JUNIOR, M. F. Gravimétrica dos resíduos

sólidos urbanos, domiciliares e perfil socioeconômico no município de Salinas, MG. Revista Ibero-Americana de

Ciências Ambientais, v. 3, p. 73-90, 2012.

COSTA, Silvia Kimo; SILVA JUNIOR, M. F.; RANGEL, M. C. O processo de intervenção em espaços públicos

urbanos dos usuários: praças públicas. Rede: Revista Eletrônica do Prodema, v. 4, p. 25-35, 2010.

MATHIAS, A. G. C; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SANTOS FILHO, H. A; SANTOS, J. W. B. dos.

Análise da disposição final de resíduos sólidos urbanos no município de Vitória da Conquista - BA utilizando a

Soft System Methodology. Diálogos & Ciência (Online), v. 8, p. 77-90, 2010

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**Doutor em Educação (UFBA); Mestre em Sociologia Rural (UFRGS); especializado em Desenvolvimento e

Gestão Ambiental pela Gesellschaft Fur Technische Zusammenarbeit, GTZ, Alemanha; graduado em Engenharia

Agronômica (UFPE). Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais e do Programa de Pós-

Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA). E-mail: [email protected]

Publicações: SILVA, N. B.; SILVA JUNIOR, M. F. Educação ambiental e práticas pedagógicas comunicativas

no ensino fundamental do caic em vitória da conquista - BA. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação

Ambiental, v. 29, p. 1-14, 2012.

BONFIM, D. A.; SANTOS, J. O.; SAMPAIO, R. J.; SILVA JUNIOR, M. F. Considerações sobre as mudanças

climáticas e os impactos na sub-bacia do rio catolé para o município de Vitória da Conquista-BA. Revista

Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 29, p. 1-16, 2012.

SANTOS, G. P.; REGO, N. A. C.; SANTOS, J. W. B.; DELANO JÚNIOR, F.; SILVA JUNIOR, M. F. Avaliação

espaço-temporal dos parâmetros de qualidade da água do rio Santa Rita (BA) em função do lançamento de

manipueira. Revista Ambiente & Água, v. 7, p. 261-278, 2012.

REIS, R. N.; COSTA, S. K.; REGO, N. A. C.; SILVA JÚNIOR, M. F. Avaliação das potencialidades

geoturísticas da serra geral, Bahia, Brasil. Revista Nordestina de Ecoturismo, v. 05, p. 28-45, 2012.

COSTA, L. E. B.; COSTA, Silvia Kimo; REGO, N. A. C; SILVA JUNIOR, M. F. Gravimétrica dos resíduos

sólidos urbanos, domiciliares e perfil socioeconômico no município de Salinas, MG. Revista Ibero-Americana de

Ciências Ambientais, v. 3, p. 73-90, 2012.

SILVA JUNIOR, M. F.; MENDES, S. A. F. Percepção de risco no uso de agrotóxicos na produção de tomate do

distrito de nova matrona, Salinas, Minas Gerais. Caminhos de Geografia (UFU), v. 12, p. 226-244, 2011.

COSTA, Silvia Kimo; SILVA JUNIOR, M. F.; RANGEL, M. C. O processo de intervenção em espaços públicos

urbanos dos usuários: praças públicas. Rede: Revista Eletrônica do Prodema, v. 4, p. 25-35, 2010.

SILVA, A. J.; SILVA JUNIOR, M. F. Representações sociais e agricultura familiar: indícios de práticas

agrícolas sustentáveis no vale do bananal - Salinas, Minas Gerais. Sociedade & Natureza (UFU. Impresso), v. 22,

p. 524-538, 2010.

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Introdução

Este artigo objetiva abordar a relação entre Arquitetura Escolar, Sustentabilidade e o

caráter das Práticas de Ensino e Aprendizagem, considerando que o “edifício escolar deve ser

analisado como resultado da expressão cultural de uma comunidade, por refletir e expressar

aspectos que vão além da materialidade” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 1) e que vem sendo

projetado em função de dois pólos pedagógicos: o Autoritarismo Educacional que corrobora

indícios do Disciplinamento – Panoptismo (FOUCAULT, 2011) e as Práticas de Ensino e

Aprendizagem que seguem abordagens Humanistas (NEIL, 1963); Cognitivo-interacionistas

(BRUNER, 1969); Socioculturais (VYGOTSKY, 1984; FREIRE, 2011), aqui consideradas de

cunho “libertárias”.

O texto está organizado em 3 partes: a primeira caracteriza a estrutura arquitetônica do

Panóptico, e os indícios da vigilância hierárquica e do disciplinamento que se materializam nas

estruturas arquitetônicas das escolas; a segunda trata das concepções arquitetônicas das escolas

cujas práticas de ensino e aprendizagem contrapõem o ensino tradicional; e a terceira aborda a

relação entre as práticas de ensino e aprendizagem da escola não tradicional e a

sustentabilidade presente não só nas estratégias bioclimáticas, construtivas e uso de materiais,

mas também na concepção do partido arquitetônico (forma) da edificação escolar.

1 O Panóptico e os indícios da vigilância hierárquica e do disciplinamento que se

materializam na arquitetura escolar

O Panoptismo foi criado por Jeremy Bentham, no século XIX, e objetivava uma

observação total, e uma integração absoluta do poder disciplinador na vida de um indivíduo.

Segundo Foucault (2011, p. 189), o começo do século XIX foi marcado pelo surgimento

de uma série de Instituições tais como: o asilo psiquiátrico, a penitenciária, a casa de correção,

o estabelecimento da educação vigiada, hospitais. Tratava-se da “técnica de poder própria do

quadriculamento disciplinar”. De “projetar recortes finos da disciplina sobre o espaço confuso

do internamento, trabalhá-lo com os métodos de repartição analítica do poder, individualizar os

excluídos, mas utilizar processos de individualização para marcar exclusões” no contexto de

emergência do capitalismo (neo) liberal.

Havia (ainda há) a necessidade de submeter o indivíduo a uma divisão constante entre o

normal e o anormal. Mas o que é “normal”? Segundo Canguilhem (1995), na sua crítica a

acepção usual do termo, principalmente no âmbito das ciências da saúde, é aquilo que é

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conforme a regra regular; que é como deve ser, algo determinado e que pode ser medido

constituindo um modelo padrão, ao qual todos devem se adequar.

Dessa forma, ainda de acordo com Foucault (2011), foram criados conjuntos de técnicas e

de Instituições que deveriam medir, controlar e corrigir os “anormais”. Ou seja, dispositivos1

disciplinares para marcar e modificar o “anormal”.

Nesse contexto surgiu o Panóptico (figuras 1, 2 e 3) – dispositivo do disciplinamento –

uma estrutura arquitetônica composta por uma construção em anel na periferia e, no centro,

uma torre vazada por janelas que se abrem sobre a face interna do anel. O anel periférico era

dividido em celas. Cada cela tinha apenas duas janelas: uma na parede externa do anel

dimensionada, para permitir a entrada da luz do sol e a outra, na parede interna do anel voltada

para a torre no centro.

1 (...) um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas,

decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais,

filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode

estabelecer entre estes elementos (FOUCAULT, 2012, p. 244).

Figura 1: Panóptico Hexagonal

Fonte:http://therioblog.blogspot.com.br/2012/0

2/os-panopticos-de-jeremy-bentham as.html

Figura 2: Desenho projetivo de um

Panóptico.

Fonte:http://therioblog.blogspot.com.

br/2012/02/os panopticos-de-jeremy-

bentham as.html

Figura 3: Panóptico Retangular

Fonte:http://therioblog.blogspot.com.br/2012/02/os-

panopticos-de-jeremy-bentham as.html

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Sendo assim, bastava colocar apenas um vigia na torre central e trancar individualmente,

em cada cela do anel periférico: loucos, pessoas doentes, criminosos e até mesmo trabalhadores

ou estudantes.

O dispositivo Panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e

reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes,

de suas três funções – trancar, privar da luz e esconder – só se conserva a primeira e se

suprimem as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a

sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha (FOUCAULT, 2011,

p. 190).

O Panoptismo representa a “disciplina-mecanismo” – “dispositivo funcional que deve

melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das

coerções sutis para uma sociedade que está por vir” (FOUCAULT, 2011, p. 198). “Está por

vir”: sociedade do século XIX, XX e atual.

Cada um está em seu devido lugar, visto apenas pelo vigia, e sem contato com o “colega”

que está na cela ao lado. O que está na cela é visto, mas não vê. Sendo assim, através do

princípio do Panóptico (o que não implica necessariamente na estrutura arquitetônica em si) era

possível induzir detentos, loucos, operários, estudantes a “um estado consciente e permanente

de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder” (FOUCAULT, 2011, p.

191). Nas escolas, o objetivo do princípio Panóptico – disciplina/mecanismo - era fortalecer a

criança, torná-la apta ao trabalho mecânico no futuro; fabricar indivíduos úteis. A sociedade do

século XIX, XX e atual, mesmo nos aspectos de um “capitalismo tardio” e periférico, é

marcada pela Disciplina.

Um tipo de poder, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de

instrumentos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos; ela é

uma “física” ou uma “anatomia” do poder, uma tecnologia. E pode ficar a cargo seja

de instituições “especializadas” (as penitenciárias, ou as casas de correção do século

XIX), seja de instituições que dela se servem como instrumento essencial para um fim

determinado (as casas de educação, os hospitais), seja de instâncias preexistentes que

nela encontram maneira de reforçar ou de reorganizar seus mecanismos internos de

poder; seja de aparelhos que fizeram da disciplina seu princípio de funcionamento

interior; seja enfim de aparelhos estatais que têm por função não exclusiva, mas

principalmente, fazer reinar a disciplina na escala de uma sociedade (a polícia)

(FOUCAULT, 2011, p. 203-204).

E, segundo Foucault (2011), produz sujeitos heterônomos, economicamente produtivos e

politicamente dóceis.

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O Panóptico está presente em várias Instituições até os dias de hoje. Não se trata do

partido arquitetônico em si (o anel periférico com celas e a torre central), mas do princípio da

vigilância hierárquica; do esquadrinhamento do corpo; do moldar/ normalizar o “sujeito

anormal”; da Disciplina como fabricação de sujeitos apropriados ao sistema vigente. Trata-se

de uma arquitetura que permite o controle interior, que torna visível àquele que nela se

encontra, “uma arquitetura que seria o operador para a transformação dos indivíduos”

(FOUCAULT, 2011, p. 166), que age sobre o indivíduo, domina seu comportamento, oferece o

conhecimento e o modifica, torna-o dócil e o reconduz a uma outra identidade pelos efeitos

coercitivos e ou sedutores, sujeitados pelos macro (governamentalidade2) e micropoderes

(técnicas disciplinares3).

Numa escola, o Panóptico – disciplina/mecanismo - está implícito na disposição

individualizadora dos ambientes; na configuração “militar” das salas de aula (alunos olhando as

costas um do outro), ao invés de ver os rostos de cada um, em situação de semi – círculos; na

organização do mobiliário; nos mecanismos de segurança (figuras 4, 5, 6 e 7).

2 “Conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem

exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de

saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança” (FOUCAULT,

2012, p. 409). 3 Tratam-se: da vigilância hierárquica, pois o “exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo

do olhar: um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios

de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam”; da sanção normalizadora: as disciplinas

“estabelecem uma “infrapenalidade”, quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e reprimem um

conjunto de comportamentos”; e do exame: “um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar,

classificar e punir” (FOUCAULT, 2011, p. 165-177).

Figura 5: Distribuição das salas de aula ao longo de

um extenso corredor de circulação.

Fonte:http://www.escola.sed.sc.gov.br/eebastrogild

oodon/estrutura/

Figura 4: Carteiras dispostas em fileira de frente

para o professor (década atual).

Fonte:http://folhasdecampomaior.blogspot.com.br/

2011/04/o-professor.html

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Segundo Tragtenberg (1985, p. 262), a disposição das carteiras dentro da sala de aula

reproduz as relações de poder; “o estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes

sentados em cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de montagem industrial,

configura a relação “saber/ poder” e “dominante/ dominado”.

Assim como a disposição modular das salas de aula à direita ou à esquerda de um extenso

corredor, que desemboca em uma das extremidades em alguma secretaria ou coordenação e na

outra ou na mesma em banheiros (feminino e masculino).

Dentro dos banheiros a disposição dos boxes para vasos sanitários possuem meias-portas,

para que seja possível ver os pés dos usuários. As portas das salas de aulas apresentam visor,

para que o coordenador ou diretor possa observar o professor e os alunos sem que estes

percebam que estão sendo observados. As janelas, na maioria das vezes, possuem um sistema

de esquadrias basculantes subdividas, com vidros pouco translúcidos, de maneira que ao abri-la

o aluno não se distraia com o exterior, mas que permita que possam ser observados pelo lado de

fora.

Configurados para o disciplinamento, os ambientes escolares viabilizam uma abordagem

em que o ensino é centrado no professor e em disciplinas previamente estabelecidas, sendo o

estudante um receptor passivo que deve armazenar o maior número de informações possível

(ELALI, 2002). A utilização de práticas pedagógicas que seguem abordagens em que o ensino

deixa de estar centralizado no professor e o aluno deixa de ser um receptor passivo, passando a

ser um colaborador, que deve buscar/ criar conhecimento junto ao professor, tornam-se

restringidas ou inviabilizadas diante da rigidez da arquitetura disciplinar.

Figura 6: Carteiras dispostas em fileira de frente

para o professor (meados do século XX).

Fonte:http://educador.brasilescola.com/estrategia

s-ensino/uso-filmes-na-aula-historia.htm

Figura 7: Câmeras de vigilância.

Fonte:http://dispositivodevisibilidade.blogspot.co

m.br/2008_08_01_archive.html

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2 A arquitetura das escolas que contrapõem o Ensino Tradicional (Disciplinar)

As escolas que contrapõem o Ensino Tradicional são aquelas em que há o discurso4 ou

práticas discursivas5 educacionais libertárias; uma “Pedagogia Libertária”, que segundo

Machado (2004), objetiva preparar indivíduos para superar as condições de exploração e

dominação que sustentam a sociedade, através do desenvolvimento da responsabilidade,

autonomia, respeito, solidariedade, cooperação e criatividade.

De acordo com Mafra da Silva (2008, p. 2),

A pedagogia libertária se expressa pelo questionamento de qualquer relação de poder

estabelecida no processo educativo e das estruturas que possibilitam as condições para

que estas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares. Não há

desenvolvimento da autonomia do educando em um ambiente onde prevaleça o

autoritarismo do educador. A pedagogia libertária se caracteriza por eliminar as

relações autoritárias presentes no modelo educacional tradicional e por permitir alterar

os caminhos do processo de ensino e aprendizagem, quando estes se mostrarem

insuficientes ou quando estes caminhos evidenciarem resultados inimagináveis.

A escola que contrapõe o Ensino Tradicional segue princípios pedagógicos cujas bases

residem principalmente em teóricos tais como: Dewey e Kilpatrick (Escola Nova –

Instrumentalismo); Decroly (a sala de aula não deve ser limitada por paredes); Montessori

(substituição do ensino verbal pela manipulação de materiais na escrita, na aritmética e nas

ciências; livre escolha das atividades; auto-silêncio para maior controle da mente e do corpo;

exercícios de vida prática; valorização da ginástica; educação dos sentidos e pelos sentidos);

Rudolf Steiner (baseou-se no fundamento Antroposófico – valoriza o aluno como um todo

preparando-o para o trabalho, atividades domésticas, cultivo de hortas, vida social; exige

intensa participação dos pais tanto na escola como em casa); Vigotsky (alertou que o controle

consciente do comportamento e a ação voluntária são fruto da carga genética e historicamente

definidos à partir da relação homem-mundo); Freinet (Método Natural, onde a aprendizagem

se dá pela vida, pela intuição, afetividade e pela troca que o sujeito faz na sua vida social e

meio escolar, progredindo de acordo com suas condições individuais); Jean Piaget (definiu os

quatro estágios do percurso evolutivo do desenvolvimento humano, e preocupou-se com a

estrutura da cognição e desenvolvimento moral do homem); Paulo Freire (defendeu o

4 “Um conjunto de enunciados, na medida em que se apóie na mesma formação discursiva; ele não forma uma

unidade retórica ou formal, indefinidamente repetível e cujo aparecimento ou utilização poderíamos assinalar (e

explicar, se for o caso) na história; é constituído de um número limitado de enunciados para os quais podemos

definir um conjunto de condições de existência” (FOUCAULT, 2012, p.143). 5 “Um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em

uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou lingüística, as condições de

exercício da função enunciativa” (FOUCAULT, 2012, p. 144).

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engajamento social e político como base para a sua educação; além disso, criou e difundiu um

método para alfabetização de adultos que emprega recursos áudios-visuais); Bruner (retomou

as ideias de Vigotsky e Piaget); Gardner (a educação não deve privilegiar apenas as

habilidades mais evidentes no indivíduo, mas estimular suas outras capacidades através da

realização de atividades que tenham enfoques múltiplos); Feuerstein (partiu de conhecimentos

montessorianos e desenvolveu uma seqüência de experiências cujo objetivo é ensinar a pensar)

(ELALI, 2002, p. 75-82).

A Arquitetura da Escola Libertária está além da padronização da forma, da modulação da

estrutura, do layout interno dos ambientes, do tipo de mobiliário, materiais e cores (figuras 8, 9,

10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17).

Figura 8: Sala de aula com mobiliário flexível (carteiras

móveis)

Fonte:http://www.arquiteturaescolar.com.br/site/lima-

castro-arquitetura-escolar-242.html

Figura 9: Escola Aadharshila Vatika em Delhi, India - Ideia Geral

Fonte:http://www.designshare.com/index.php/projects/adharshilavatika/images@5032

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Figura 10: Escola Aadharshila Vatika em Delhi, India - Ideia Geral

Fonte:http://www.designshare.com/index.php/projects/adharshilavatika/images@5032

Figura 11: Escola Fugi Kindergarten, Tachikawa,

Japão - Planta baixa geral

Fonte:http://www.bbc.co.uk/news/business-

14975270

Figura 12: Escola Fugi Kindergarten, Tachikawa, Japão

Fonte: http://www.bbc.co.uk/news/business-14975270

Figura 13: Escola Fugi Kindergarten, Tachikawa, Japão –

sala de aula.

Fonte:http://www.bbc.co.uk/news/business-14975270

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Quanto mais flexível for a construção do conhecimento (conjunta: professor + aluno),

mais plástico será o partido arquitetônico. Tudo é possível! As mais diversas formas, as cores, a

flexibilidade dos espaços, do layout dos ambientes e até dos mobiliários!

3 A Escola Libertária e a Sustentabilidade das edificações

Coelho (2009) expõe que a Arquitetura Sustentável resulta da evolução da Arquitetura

em função da proteção do meio ambiente; uma reflexão e conscientização acerca dos impactos

ambientais da construção (estratégias construtivas e materiais) no ambiente natural ocupado

pelo homem.

Figura 14: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia

Waldorf – Maquete eletrônica

Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educa

cional_anaba.html

Figura 15: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia

Waldorf – Maquete eletrônica

Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_ed

ucacional_anaba.html

Figura 16: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia

Waldorf – Maquete eletrônica

Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educa

cional_anaba.html

Figura 17: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia

Waldorf – Maquete eletrônica

Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educa

cional_anaba.html

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Segundo Brunetta e Anjos (2003), o termo “Arquitetura Sustentável” envolve a

elaboração e construção de edificações que considerem não só menor impacto ambiental e

fatores/ estratégias bioclimáticas, mas também as características culturais do local onde serão

inseridas.

Corbella e Yannas (2009, p. 19), afirmam que a Arquitetura Sustentável:

É a continuidade mais natural da Bioclimática, considerando também a integração do

edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto

maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de

vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrando com as

características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia

compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as

futuras gerações.

Quando se trata da sustentabilidade aplicada à elaboração de projetos arquitetônicos e

construção de escolas, Kowaltowski (2011. p. 190), afirma que a Arquitetura Sustentável é uma

das chaves para projetos de alto padrão de desempenho e “que deve ser explorada como uma

ferramenta de ensino sobre a importância dessa prática para o planeta”. A autora cita alguns

aspectos gerais que devem ser considerados:

Uma abordagem que minimize os impactos da construção nas características naturais

do terreno; os recursos energéticos da terra; utilizar materiais recicláveis que não

causem problemas de saúde pela emissão de vapores tóxicos; minimizar o consumo de

água do edifício, capturando e reutilizando água da chuva, reduzindo assim as erosões

no terreno (KOWALTOWSKI, 2011, p. 190-191).

Ainda de acordo com a autora, no Brasil a sustentabilidade do ambiente construído se

apóia na arquitetura bioclimática.

Sendo assim, as edificações escolares que adotam uma concepção sustentável procuram

fazer uso de estratégias tais como: construção utilizando processos e materiais sustentáveis,

passando pela gestão de resíduos; uso racional de água e de energia elétrica; adoção de sistemas

alternativos como captação e reaproveitamento da água das chuvas e aquecimento solar da

água; telhado verde; partido arquitetônico (forma da edificação), dimensionamento e locação

das aberturas que permitam ventilação cruzada, contribuindo para moderar o microclima dos

ambientes internos.

O Colégio Estadual Erich Walter Heine, em Santa Cruz, Rio de Janeiro (figuras 18 e 19),

inaugurado em maio de 2011, é um exemplo de edificação projetada e construída, no Brasil,

segundo tais estratégias bioclimáticas e foi considerada a 1ª escola Ecológica do país. A

edificação possui o selo Leed (Leadership in Energy and Envorimental Design), sendo uma das

107

120 escolas reconhecidas pelo Green Building Council, entidade regulamentadora da

certificação. A escola trabalha os conceitos e práticas de sustentabilidade aliadas às disciplinas

profissionalizantes (o ensino se dá de maneira tradicional).

Mas a sustentabilidade das edificações escolares vai além da aplicação de estratégias

bioclimáticas na concepção do projeto arquitetônico e construção. Em alguns lugares há uma

nítida relação entre sustentabilidade, arquitetura, cultura local e práticas de ensino e

aprendizagem numa abordagem Libertária. A Green School em Bali, Indonésia e a METI

School localizada no vilarejo rural de Rudrapur, em Bangladesh são alguns exemplos.

A Green School6, localizada em Bali, Indonésia (figuras 20, 21, 22, 23 e 24), foi

construída com um material local, natural e renovável: o bambu. O partido arquitetônico (forma

da edificação) considerou a fluidez e a interatividade com seu entorno natural imediato e a

diversidade cultural da população da Ilha. A estrutura é aberta com pouquíssimos elementos de

vedação (paredes). Todas as edificações que compõem a escola são alimentadas por algumas

fontes de energia alternativas, incluindo água quente e serradura de bambu sistema de

cozimento, um gerador de vórtex hidro-motorizado e painéis solares.

6 A escola foi desenha pelos Ambientalistas e designers John e Cynthia Hardy.

Figura 18: C E. Erich Walter Heine, em Santa

Cruz, RJ – Maquete eletrônica – 1ª escola

Ecológica do Brasil

Fonte:http://www.araujosam.net/2011/05/rio-de-

janeiro-inaugura-primeira-escola-ecologica-do-

pais/

Figura 19: C E. Erich Walter Heine, em Santa Cruz,

RJ – Telhado verde – 1ª escola Ecológica do Brasil

Fonte:http://www.araujosam.net/2011/05/rio-de-

janeiro-inaugura-primeira-escola-ecologica-do-pais/

108

A escola possui uma estrutura curricular que enfatiza a educação verde e a Ecologia.

Trabalha práticas da agricultura sustentável, irrigação tradicional, análise da pegada de

carbono, estudos da água, agricultura biológica e jardinagem. O conhecimento é construído

juntamente com o professor e segue os processos pedagógicos desenvolvidos por Rudolf

Steiner, também conhecidos como Pedagogia Waldorf.

No cotidiano da escola, a cada aluno é atribuída uma horta e cada classe tem seu jardim

de flores cujo design é elaborado pelos próprios estudantes. Os estudantes colhem, preparam e

se alimentam do que plantam. As práticas e estudos com enfoque em sustentabilidade são

associados às matérias acadêmicas tradicionais como: matemática, Inglês, ciências, juntamente

com as artes criativas.

Figura 20: The Green School, Bali, Indonésia. Construída em Bambu

Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-bamboo-construction-in-

indonesia/

Figura 21: The Green School, Bali, Indonésia.

Construída em Bambu

Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-

showcases-bamboo-construction-in-indonesia/

Figura 22: The Green School, Bali, Indonésia. Construída

em Bambu - arena

Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-

bamboo-construction-in-indonesia/

109

Em Bangladesh, no vilarejo rural de Rudrapur, foi construída uma escola (figuras 25, 26,

27 e 28) pela própria comunidade local formada por artesãos, professores, pais e alunos.

A METI School (Modern Education as Training Institute)7 foi projetada numa abordagem

sustentável tanto no partido arquitetônico e construtivo da edificação quanto nos objetivos

pedagógicos (práticas interativas; de construção do conhecimento e desenvolvimento da

criatividade). A edificação foi construída utilizando em torno de 400 toneladas de barro e

bambu, que são recursos abundantes na região e representam menor impacto ao ambiente local.

7 A escola foi projetada pelos arquitetos Anna Heringer e Eike Roswa.

Figura 23: The Green School, Bali, Indonésia.

Construída em Bambu – sala de aula

Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-

showcases-bamboo-construction-in-indonesia/

Figura 24: The Green School, Bali, Indonésia.

Construída em Bambu – Planta de implantação

Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-

showcases-bamboo-construction-in-indonesia/

Figura 25: Escola construída pela comunidade utilizando

terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh.

Fonte: http://africaedicoes.com/blog/novos-formatos-de-

escolas-parques-e-bibliotecas/ Figura 26: Escola construída pela comunidade utilizando

terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – sala de aula

Fonte: http://africaedicoes.com/blog/novos-formatos-de-

escolas-parques-e-bibliotecas/

110

O que se observa em ambas as edificações é que a sustentabilidade engloba não só a

utilização de estratégias bioclimáticas e prima pela utilização de materiais naturais abundantes

(renováveis) em cada local, objetivando a redução do impacto ambiental, do custo de

construção e interação com o entorno natural, mas também considera aspectos culturais e

privilegia a fluidez, plasticidade, flexibilidade espacial e o lúdico no partido arquitetônico,

permitindo dessa forma, abordagens pedagógicas que se caracterizam pela construção do

conhecimento conjunto (professor + aluno).

Considerações Finais

O disciplinamento está presente na sociedade desde o final do século XVIII objetivando

preparar sujeitos altamente produtivos, especializados e dóceis, imprescindíveis para atender à

demanda do sistema econômico vigente. As práticas pedagógicas que vão de encontro ao

disciplinamento, defendem que o sujeito deve desenvolver autonomia, capacidade

empreendedora, criatividade e um pensamento livre, (in) dependente das forças econômicas e

imposições do Estado (governo) para que dessa forma ele se torne não só produtivo

economicamente, mas consciente ambientalmente e politicamente ativo.

O pólo pedagógico seja o Autoritarismo Educacional (Disciplinar) seja a Educação

Libertária se refletem na Arquitetura das escolas. No primeiro, os partidos arquitetônicos,

mesmo aqueles mais elaborados, apresentam resquícios do Panoptismo (FOUCAULT, 2011),

como a vigilância hierárquica, a fragmentação dos ambientes internos em “celas”, baseados

Figura 27: Escola construída pela comunidade utilizando

terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – sala de aula no 1º

pavimento.

Fonte:http://style.greenvana.com/2012/escola-

sustentavel-feita-totalmente-a-mao/

Figura 28: Escola construída pela comunidade utilizando

terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – espaço para

brincadeiras e leitura.

Fonte:http://style.greenvana.com/2012/escola-

sustentavel-feita-totalmente-a-mao/

111

num programa de necessidades e fluxogramas setorizados. As salas de aula são projetadas para

que o professor seja o transmissor absoluto do conhecimento e os alunos os receptores

passivos. Algumas edificações apresentam estruturas tão rígidas que o docente fica

impossibilitado de realizar atividades que não demandem o layout tradicional.

Nessas edificações, a sustentabilidade pode ser constatada através de: processos

construtivos e uso de materiais alternativos objetivando redução do impacto ambiental; gestão

dos resíduos sólidos originados da construção; uso racional da água e da energia elétrica;

adoção de sistemas alternativos como captação e reaproveitamento da água das chuvas;

captação de energia através da instalação de painéis fotovoltaicos; concepção do partido

arquitetônico considerando o estudo bioclimático do local onde serão inseridas.

Já no segundo pólo pedagógico, os partidos arquitetônicos exploram a máxima

flexibilidade dos ambientes e em alguns casos não há qualquer elemento de vedação (paredes).

Os espaços são projetados para a descoberta e atividades que induzam à criatividade,

autonomia e construção do conhecimento junto ao professor.

Aliada ao conceito de Sustentabilidade, a Arquitetura da Escola Libertária “desmonta/

desestabiliza” a rigidez da Arquitetura Disciplinar e o tradicionalismo construtivo; aplica não

só estratégias bioclimáticas em suas concepções, mas resgata a cultura, história, e utiliza

materiais abundantes, renováveis do local onde será inserida. Seu partido arquitetônico parece

nascer daquela terra e moldar-se ao material e ao entorno natural imediato. E em alguns casos,

convida literalmente a comunidade a (re)construí-la contínuamente. Afinal se todo processo de

ensino-aprendizagem é um fluxo, cabe praticá-lo como algo definido, mas jamais definitivo.

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