Boletim Educacional n.2 _Os desafios da educação brasileira

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BOLETIM EDUCACIONAL OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA v.2, n.2, abr. 2010 Apresentação Prezado leitor, você está recebendo a segunda edição do Boletim Educacional, editado e distribuído pela Unidade de Prospectiva do Trabalho do Departamen- to Nacional do SENAI, que tem como objetivo a disseminação de informações sobre a situação atual e futura da educa- ção no Brasil e no mundo aos represen- tantes do SENAI. Tais informações são apresentadas em blocos com uma linguagem simples e direta, o que possibilita uma rápida com- preensão de seu conteúdo. Os temas abordados referem-se a características sociodemográficas da população em idade escolar, cobertura educacional, eficiência e rendimento escolar, situação de aprendizagem, grau de concorrência da educação profissional e indicadores comparáveis internacionalmente. Espera-se que esta série auxilie os repre- sentantes dos Departamentos Regionais e das escolas do SENAI no processo de planejamento da oferta dos cursos. Introdução Este Boletim Educacional traz informa- ções sobre o Sistema de Avaliação da Educação Básica – (Saeb), que coleta informações sobre o desempenho aca- dêmico dos estudantes brasileiros em lín- gua portuguesa e matemática. Por meio dessa avaliação é possível identificar o que os estudantes sabem e o que são capazes de fazer em três momentos de seu percurso escolar: ao término da 4ª e da 8ª série do ensino fundamental e ao final da 3ª série do ensino médio. O Saeb é aplicado pelo INEP/MEC, a cada dois anos, a uma amostra proba- bilística de estudantes provenientes de escolas públicas e particulares, repre- sentativa por Unidade da Federação e dependência administrativa.

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BOLETIM EDUCACIONAL

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

v.2, n.2, abr. 2010

Apresentação

Prezado leitor, você está recebendo a segunda edição do Boletim Educacional, editado e distribuído pela Unidade de Prospectiva do Trabalho do Departamen-to Nacional do SENAI, que tem como objetivo a disseminação de informações sobre a situação atual e futura da educa-ção no Brasil e no mundo aos represen-tantes do SENAI.

Tais informações são apresentadas em blocos com uma linguagem simples e direta, o que possibilita uma rápida com-preensão de seu conteúdo. Os temas abordados referem-se a características sociodemográficas da população em idade escolar, cobertura educacional, eficiência e rendimento escolar, situação de aprendizagem, grau de concorrência da educação profissional e indicadores comparáveis internacionalmente.

Espera-se que esta série auxilie os repre-sentantes dos Departamentos Regionais e das escolas do SENAI no processo de planejamento da oferta dos cursos.

Introdução

Este Boletim Educacional traz informa-ções sobre o Sistema de Avaliação da Educação Básica – (Saeb), que coleta informações sobre o desempenho aca-dêmico dos estudantes brasileiros em lín-gua portuguesa e matemática. Por meio dessa avaliação é possível identificar o que os estudantes sabem e o que são capazes de fazer em três momentos de seu percurso escolar: ao término da 4ª e da 8ª série do ensino fundamental e ao final da 3ª série do ensino médio.

O Saeb é aplicado pelo INEP/MEC, a cada dois anos, a uma amostra proba-bilística de estudantes provenientes de escolas públicas e particulares, repre-sentativa por Unidade da Federação e dependência administrativa.

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Comparabilidade dos resultados Os dados obtidos com a aplicação dos testes aos estudantes permitem acom-panhar a evolução de seu desempenho, os quais são comparáveis entre as séries avaliadas, os anos, as redes de ensino, as regiões, os estados e os municípios.

Esses resultados são apresentados em uma escala de proficiência que aponta os distintos graus de desenvolvimento das habilidades, competências e aquisição de conhecimentos pelos estudantes ao longo dos anos de estudo. Cada uma das disciplinas possui uma interpretação específica da escala, que é única para cada série avaliada.

A escala varia entre 0 e 500, mas sua interpretação tem início no nível 125 e é acumulativa. Isso significa que os estu-dantes classificados em uma escala de 250, por exemplo, sabem e são capazes de fazer o que foi descrito nos níveis anteriores. Dessa forma, ordenam o desempenho dos estudantes do menor para o maior nível de proficiência em cada disciplina avaliada.

As escalas de língua portuguesa e de ma-temática não são comparáveis, pois cada uma delas foi obtida a partir dos itens de testes de cada disciplina aplicados aos estudantes.

Os resultados do Saeb são balizados por matrizes referenciais constituídas por

um conjunto de descritores que repre-sentam os conteúdos mais relevantes das competências e das habilidades passíveis de medição em avaliações de larga escala.

Resultados

A comparação dos resultados do Saeb em 2007 com o realizado em 1995 evidencia a queda no nível de desempenho dos estudantes nesse período.

Deve-se salientar que os resultados aqui apresentados constituem a média alcançada pelos estudantes de todas as regiões do país, de escolas públicas e privadas, excluídas as federais, que foram submetidos à avaliação do Saeb.

Como o conceito de média é afetado pelos valores extremos, os resultados individuais mais baixos são “compensa-dos” pelos mais elevados e, com isso, obtém-se o resultado médio do conjunto dos estudantes avaliados.

Desempenho em língua portuguesa

O desempenho dos estudantes em língua portuguesa é medido prioritariamente em termos de habilidade de leitura, onde são avaliados os seguintes tópicos:

• Procedimentos de leitura: avalia-se a habilidade do estudante em localizar informações explícitas e implícitas em um texto;

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• Implicações do suporte, do gênero ou do enunciador na compreensão do texto: medição da capacidade do estudante de estabelecer relações en-tre informações provenientes de fontes diversas, de identificar a finalidade de textos diferentes e as relações entre o gênero do texto e sua função comuni-cativa;

• Relação entre textos: mede-se a capa-cidade do estudante de comparar textos que expressem opiniões diferentes so-bre um mesmo fato ou tema e a relação entre o modo de tratamento do tema e as condições de produção, recepção e circulação dos mesmos;

• Coerência e coesão no processamen-to do texto: é avaliada a habilidade do estudante em identificar a linha de coerência do texto, o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa;

• Relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido: é exigido do es-

tudante o conhecimento de diferentes gêneros textuais para que se possa construir e antecipar a construção de significados a partir de recursos ex-pressivos, como a ortografia, a ironia, o humor, a pontuação e outras notações promotoras da leitura, para além dos elementos presentes na superfície do texto;

• Variação linguística: é medida a ca-pacidade do estudante de identificar as manifestações da fala no discurso direto e indireto por meio do reconhecimento das marcas linguísticas identificadoras do locutor e do interlocutor no texto.

A escala de proficiência do SAEB em língua portuguesa varia entre 125 e 500, conforme pode ser observado na Figura 1. Ela nos mostra que os estudantes da 4ª série do ensino fundamental são ava-liados até o nível 300 de proficiência em língua portuguesa, enquanto os estudan-tes da 8ª série são avaliados até o nível 375 e os da 3ª série do ensino médio, até o nível 500.

125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500

EF(4a série

EF(8a série

EF(3a série

125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500

EF(4a série

EF(8a série

EF(3a série

Figura 1 – Saeb: Escala de Proficiência em Língua Portuguesa

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O Quadro 1 apresenta os resultados de proficiência em língua portuguesa dos estudantes da 4ª e da 8ª série do ensino fundamental e da 3ª série do ensino mé-dio das escolas urbanas, excetuando-se as federais, no período 1995-2007. Por meio de sua leitura, é possível perceber que houve deterioração dos níveis de desempenho dos estudantes avaliados nessas séries em todas as regiões bra-sileiras.

Quadro 1 – Saeb: Médias de Proficiência em Língua Portuguesa – 1995/2007

Região4a série E.F. 8a série E.F. 3a série E.F.1995 2007 1995 2007 1995 2007

Máximo esperado 300 300 375 375 500 500

Norte 175 164 239 227 275 245

Nordeste 183 162 232 222 265 248

Sudeste 197 184 267 240 298 269

Sul 196 184 263 241 297 275

Centro-Oeste 196 180 257 236 296 263

Brasil 192 176 257 235 290 261

Fone: Inep/MEC Elaboração: UNITRAB/SENAI-DN

Os resultados indicam que a região Sul foi a que obteve o melhor desempenho em língua portuguesa nas três séries avaliadas, os quais foram superiores às médias nacionais em 2007. Contudo, esses resultados foram inferiores às médias obtidas pelo conjunto dos estu-dantes da amostra do país em 1995.

Os estudantes da região Nordeste obti-veram os índices mais baixos de profici-ência em língua portuguesa na 4ª e na 8ª

série do ensino fundamental em 2007. Na terceira série do ensino médio foram os estudantes da região Norte que obtive-ram os resultados mais baixos. Nas três séries avaliadas, os níveis de proficiência alcançados pelos estudantes dessas regiões ficaram abaixo das médias nacio-nais nos dois períodos analisados.

Mesmo situando-se em um patamar mais elevado da escala de proficiência comparativamente às outras regiões do país, ainda é grande a distância entre o que os estudantes da região Sul sabem e o que eles deveriam saber nessa etapa da educação básica em língua portuguesa. Em 2007, por exemplo, a distância entre o nível de proficiência máximo da escala de língua portuguesa para a 4ª série do ensino fundamental e os resultados al-cançados pelos estudantes da região Sul foi de 116 pontos. Na 8ª série do ensino fundamental essa distância foi de 134 pontos, e na 3ª série do ensino médio, de 225 pontos.

Conclui-se, portanto, que as distâncias entre o que os estudantes sabem e o que deveriam saber são ainda maiores do que aquelas observadas em 1995, já que de lá para cá os índices de proficiência em todas as regiões se deterioraram.

Mas, o que isso significa?

Para responder a essa questão precisa-mos compreender qual é a interpretação em cada nível da escala de proficiência em termos de desempenho.

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Primeiramente é preciso entender que a escala de desempenho do Saeb não possui limites determinados, isto é, um valor inicial e final definido, como nas escalas geralmente usadas para avaliar os alunos em sala de aula, cujo limite inferior é zero e o superior é dez.

Dessa forma, a escala de proficiência do Saeb em língua portuguesa deve ser interpretada como uma função contínua, dividida em onze níveis para fins de in-terpretação.

Em 2001, a partir da divulgação dos es-tudos denominados “Qualidade da Edu-cação: uma nova leitura do desempenho dos estudantes”, o INEP/MEC apresentou

uma classificação desses níveis em cinco estágios de aquisição dos conhecimen-tos, já que a média pura e simples não informava o que os estudantes haviam, de fato, aprendido e apreendido.

Foram construídas cinco categorias de desempenho a partir da estrutura da escala dos níveis de proficiência dos estudantes, as quais foram divididas em: muito crítico, crítico, intermediário, adequado e avançado, conforme apre-sentado no Quadro 2. A caracterização de cada intervalo foi realizada por meio da interpretação dos itens âncora, que revelam as habilidades cognitivas neces-sárias para que o estudante responda corretamente aos itens.

Lingua portuguesa 4a série do EF 4a série do EF 4a série do EF

Nível 0 0 125 Muito crítico Muito crítico Muito crítico

Nível 0 0 125 Muito crítico Muito crítico Muito crítico

Nível 1 125 150 Crítico Muito crítico Muito crítico

Nível 2 150 175 Crítico Muito crítico Muito crítico

Nível 3 175 200 Intermediário Crítico Muito crítico

Nível 4 200 225 Intermediário Crítico Crítico

Nível 5 225 250 Intermediário Crítico Crítico

Nível 6 250 275 Adequado Intermediário Crítico

Nível 7 275 300 Adequado Intermediário Intermediário

Nível 8 300 325 Avançado Intermediário Intermediário

Nível 9 325 350 Avançado Adequado Intermediário

Nível 10 350 375 Avançado Adequado Intermediário

Nível 11 375 ou mais Avançado Avançado Adequado

Fone: Inep/MEC Elaboração: UNITRAB/SENAI-DN

Quadro 2 – Interpretação da Escala do SAEB segundo os Níveis de Proficiência e as habilidades em Língua Portuguesa

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Com base nessa caracterização, foi pos-sível redistribuir os resultados do Saeb por níveis de acordo com a proficiência, possibilitando uma outra forma de aná-lise dos resultados. Como os resultados da distribuição dos alunos por níveis de acordo com a proficiência ainda não foram divulgados para 2007, apresen-tamos, nesta publicação, os últimos resultados disponíveis nesse formato, que são de 2005.

Os dados indicam que 43% dos estu-dantes brasileiros que chegaram à 4ª série do ensino fundamental em 2005 apresentaram médias de proficiência em língua portuguesa compatíveis com o nível intermediário, o que significa que estavam apenas começando a de-senvolver as habilidades de leitura mais próximas do nível exigido para a 4ª série do ensino fundamental.

Na 8ª série do ensino fundamental esse resultado foi ainda pior, pois 51,9% dos estudantes encontravam-se no nível críti-co de proficiência em língua portuguesa, o que significa que ainda não eram bons leitores, pois as habilidades de leitura que apresentaram estavam muito aquém das exigidas para esta série. O mesmo ocorreu na 3ª série do ensino médio, onde 46,5% dos estudantes encontra-vam-se no estágio crítico de proficiência em língua portuguesa, conforme pode ser observado no Quadro 3.

Esses dados são ainda mais alarmantes se observamos que os resultados piora-ram no período 1995/2005, uma vez que diminuiu o percentual de estudantes no nível intermediário e aumentou o per-centual de estudantes no nível crítico de proficiência em língua portuguesa, tanto na 8ª série do ensino fundamental quanto na 3ª série do ensino médio. Na 4ª série do ensino fundamental pode-se dizer que a proficiência também foi pior, embora a maior parte dos estudantes (43,4%) tenha permanecido no nível intermediário de proficiência, pois hou-ve queda na quantidade de estudantes nesse nível situados nesse nível no período.

Apenas 5,2% dos estudantes da 4ª série do ensino fundamental alcançaram o ní-vel adequado de proficiência em língua portuguesa e 0,4% o grau avançado em 2005, resultados que também foram inferiores aos obtidos em 1995, quando 9% dos estudantes estavam no nível adequado e 1,2% no nível avançado. Deve-se destacar que os resultados dos estudantes da 8ª série do ensino funda-mental e da 3ª série do ensino médio se-guiram a mesma trajetória descendente no período.

Constata-se também que os resultados de cada uma das regiões do país são bastante semelhantes aos resultados nacionais.

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Desempenho em matemática

Em matemática, o desempenho dos es-tudantes, constituído prioritariamente por situações voltadas à resolução de proble-mas, é medido nos seguintes aspectos:

• Espaço e forma: avalia-se a capaci-dade do estudante de compreender, descrever e representar o espaço físico e os objetos, bem como de analisar suas formas, medidas, localização e movimentação;

• Grandezas e medidas: são medidas as habilidades do estudante relaciona-das à estimativa, à análise, ao cálculo e à resolução de problemas que envol-vem grandezas e medidas;

• Números e operações/álgebra e fun-ções: exigi-se do estudante os conheci-mentos relacionados à compreensão, à representação, ao cálculo e à resolução de problemas no âmbito das diversas categorias numéricas (números natu-rais, inteiros, racionais e irracionais);

RegiãoMC MC CR CR IT IT AD AD AV AV

1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005Norte4a Série 13,4 16,6 37,2 46,1 45,1 35,4 4,1 1,9 0,3 0,18a Série 10,0 11,7 47,9 60,5 39,0 26,4 3,1 1,4 0,0 0,03a Série 9,7 20,5 39,4 54,7 48,2 24,4 2,7 0,4 - -Nordeste4a Série 10,9 22,0 33,3 45,0 49,3 30,7 5,7 2,2 0,9 0,28a Série 15,3 17,4 46,6 57,6 34,5 23,4 3,5 1,5 0,1 0,03a Série 12,0 21,4 44,0 49,8 40,8 28,2 2,3 0,6 - -Sudeste4a Série 6,4 10,0 24,9 31,8 56,0 50,1 11,4 7,5 1,4 0,78a Série 3,0 11,4 31,5 48,3 54,4 35,4 10,9 4,9 0,3 0,13a Série 3,5 14,1 27,1 44,1 64,1 40,4 5,3 1,3 - -Sul4a Série 7,2 7,9 25,6 35,5 56,1 50,5 9,7 5,8 1,5 0,38a Série 3,0 11,4 31,5 48,3 54,4 35,4 10,9 4,9 0,3 0,13a Série 4,5 8,4 25,2 41,9 65,2 48,5 5,1 1,2 - -Centro-Oeste4a Série 4,7 12,1 26,2 37,6 58,2 44,8 9,0 5,2 1,9 0,38a Série 5,4 11,6 38,9 52,2 47,9 33,8 7,6 2,3 0,03a Série 3,6 12,6 27,9 47,1 63,7 39,3 4,9 1,0 - -Brasil4a Série 8,0 13,6 28,1 37,4 53,7 43,4 9,0 5,2 1,2 0,48a Série 6,3 12,8 36,7 51,9 48,4 31,9 8,3 3,3 0,2 0,13a Série 5,8 15,8 31,2 46,5 58,5 36,7 4,5 1,0 - -

Fone: Inep/MEC Elaboração: UNITRAB/SENAI-DN* Escolas urbanas, sem federais.Legenda: MC= Muito crítico; CR= Crítico; IT= Intermediário; AD= Adequado, AV=Avançado.

Quadro 3 – Saeb: Distribuição Percentual dos Estudantes de acordo com a Proficiência em Língua Portuguesa – 1995/2005*

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• Tratamento da informação: requer do estudante habilidades relativas à capacidade de interpretar e de com-preender as representações de dados organizados em gráficos e tabelas.

A escala de proficiência do Saeb em matemática varia entre 125 e 500, con-

forme pode ser observado na Figura 2. Ela nos mostra que os estudantes da 4ª série do ensino fundamental são avalia-dos até o nível 350 de proficiência em matemática, enquanto os estudantes da 8ª série são avaliados até o nível 400 e os da 3ª série do ensino médio até o nível 500.

O Quadro 4 apresenta os resultados de proficiência em matemática dos estudan-tes da 4ª e da 8ª série do ensino funda-mental e da 3ª série do ensino médio das escolas urbanas, excetuando-se as fede-rais, no período 1995–2007. Por meio de sua leitura, é possível perceber que houve deterioração dos níveis de desempenho dos estudantes da 8ª série do ensino fun-damental e da 3ª série do ensino médio, enquanto a média dos estudantes da 4ª série do ensino fundamental permaneceu inalterada.

125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500

EF(4a série

EF(8a série

EF(3a série

125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500

EF(4a série

EF(8a série

EF(3a série

Quadro 4 – Saeb: Médias de Proficiência em Matemática – 1995/2007

Região4a série E.F. 8a série E.F. 3a série E.F.1995 2007 1995 2007 1995 2007

Máximo esperado 300 350 400 400 500 500

Norte 175 179 235 236 264 253

Nordeste 183 179 233 233 261 258

Sudeste 200 202 263 253 287 280

Sul 195 203 259 257 290 292

Centro-Oeste 196 196 254 250 288 275

Brasil 193 193 254 247 281 273

Fone: Inep/MEC Elaboração: UNITRAB/SENAI-DN

Figura 2 – Saeb: Escala de Proficiência em Matemática

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Embora não possam ser considerados bons, os resultados da avaliação em matemática foram mais auspiciosos que os demonstrados em língua portuguesa, onde a média dos estudantes das três séries caiu em todas as regiões.

Prova disso é que na 4ª série do ensino fundamental, excetuando-se a região Nordeste, cujo resultado foi inferior ao apresentado em 1995, e o da região Centro-Oeste, cuja média foi mantida, todas as outras regiões apresentaram melhoria dos níveis de proficiência.

Nas demais séries, os ganhos foram menos uniformes, mas as perdas foram menores que as observadas em língua portuguesa, cuja média brasileira caiu 16 pontos na 4ª série, 22 na 8ª série e 28 na 3ª série do ensino médio. Na avaliação de matemática, a média dos estudantes brasileiros foi mantida na 4ª série, mas caiu 6 pontos na 8ª série e 8 pontos na 3ª série do ensino médio. Isso significa que houve uma melhoria nos índices de proficiência de nossos estudantes, ainda que de forma lenta e de maneira bastante irregular entre as séries e as regiões do país.

Também em matemática, a região Sul obteve o melhor desempenho nas três séries avaliadas em 2007, os quais foram superiores às médias nacionais em 2007 e em 1995.

Os estudantes das regiões Norte e Nor-deste obtiveram os índices mais baixos

de proficiência nas três séries avalia-das, sendo que na 8ª série do ensino fundamental os resultados da região Nordeste foram inferiores aos da região Norte. Já na 3ª série do ensino médio essa situação se inverteu. Na 4ª série do ensino fundamental as médias foram praticamente as mesmas.

Nas três séries avaliadas os níveis de proficiência alcançados pelos estudantes dessas regiões ficaram abaixo das médias nacionais nos dois anos analisados.

Mesmo situando-se em um patamar mais elevado da escala de proficiência comparativamente às outras regiões do país, ainda é grande a distância entre o que os estudantes da região Sul sabem e o que eles deveriam saber nessa etapa da educação básica em matemática. Em 2007, por exemplo, a distância entre o nível de proficiência máximo da escala de matemática para a 4ª série do ensino fundamental e os resultados alcançados pelos estudantes da região Sul foi de 147 pontos. Na 8ª série do ensino fundamen-tal essa distância foi de 143 pontos e na 3ª série do ensino médio, de 208 pontos. Conclui-se, portanto, que em 2007 essas distâncias são ainda maiores do que aquelas observadas em 1995.

A escala de matemática, assim como a de língua portuguesa, possui uma interpre-tação para cada nível de proficiência em termos de desempenho, os quais foram divididos, para fins de interpretação, em 13 níveis.

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A caracterização de cada intervalo foi realizada por meio da interpretação dos itens âncora, que revelam as habilidades cognitivas necessárias para que o estu-dante responda corretamente aos itens, conforme apresentado no Quadro 5.

Quadro 5 – Saeb: Interpretação da Escala segundo os Níveis de Proficiência

em Matemática

Lingua portuguesa 4a série do EF

4a série do EF

4a série do EF

Nível 0 0 125 Muito crítico Muito crítico Muito críticoNível 1 125 150 Crítico Muito crítico Muito críticoNível 2 150 175 Crítico Muito crítico Muito críticoNível 3 175 200 Intermediário Muito crítico Muito críticoNível 4 200 225 Intermediário Crítico Muito críticoNível 5 225 250 Intermediário Crítico CríticoNível 6 250 275 Adequado Crítico CríticoNível 7 275 300 Adequado Intermediário CríticoNível 8 300 325 Adequado Intermediário CríticoNível 9 325 350 Adequado Intermediário IntermediárioNível 10 350 375 Avançado Adequado Intermediário

Nível 11 375 375 Avançado Adequado Intermediário

Nível 12 400 375 Avançado Avançado Adequado

Nível 13 425 ou mais Avançado Avançado Adequado

Fone: Inep/MEC Elaboração: UNITRAB/SENAI-DN

Como os resultados da distribuição dos alunos por níveis de acordo com a profi-ciência ainda não foram divulgados para 2007, apresentamos, nesta publicação, os últimos resultados disponíveis nesse formato, que são de 2005.

Dos estudantes brasileiros que chegaram à 4ª série do ensino fundamental em 2005, 46% apresentaram médias de pro-ficiência em matemática compatíveis com o nível intermediário, o que significa que

desenvolveram algumas habilidades de interpretação de problemas, aproximan-do-se do esperado para a 4ª série.

Na 8ª série do ensino fundamental a maior parte dos estudantes situou-se no nível crítico de proficiência em matemática (54,1%), o que significa que desenvol-veram algumas habilidades elementares de interpretação de problemas, mas não conseguiram transpor o que foi solicitado no enunciado para uma linguagem ma-temática específica, estando, portanto, muito aquém do exigido para a 8ª série. Além disso, constatou-se que conseguiam resolver expressões com uma incógnita, mas não interpretavam os dados de um problema por meio da utilização de sím-bolos matemáticos específicos e desco-nheciam as funções trigonométricas para resolução de problemas.

O mesmo ocorreu na 3ª série do ensi-no médio, onde 58,7% dos estudantes encontravam-se no estágio crítico de pro-ficiência em matemática. Neste estágio, os estudantes desenvolveram algumas habilidades elementares de interpretação de problemas, mas não conseguiram transpor o que havia sido solicitado no enunciado para uma linguagem matemá-tica específica, estando, portanto aquém do exigido para a 3ª série do ensino médio, conforme pode ser observado no Quadro 6.

No período 1995/2005 a classificação dos estudantes piorou, passando de crítico para muito crítico.

11Boletim Educacional, v.2, n.2, abr. 2010

RegiãoMC MC CR CR IT IT AD AD AV AV

1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005Norte4a Série 3,6 10,4 49,9 48,3 44,7 38,2 1,7 3,1 0,1 0,08a Série 19,3 28,2 65,3 57,8 15,0 13,3 0,4 0,7 0,0 0,03a Série 21,6 32,9 66,4 58,5 11,5 8,7 0,5 0,0 - -Nordeste4a Série 3,1 16,4 43,6 45,7 47,7 33,7 5,5 4,2 0,1 0,08a Série 25,8 31,1 56,4 54,7 16,6 12,7 1,1 1,5 0,0 0,03a Série 21,6 32,9 66,4 58,5 11,5 8,7 0,5 0,0 - -Sudeste4a Série 1,2 6,6 29,4 28,1 57,5 51,0 11,8 14,3 0,2 0,18a Série 9,3 19,7 52,0 52,4 35,0 24,7 3,6 3,2 0,2 0,03a Série 11,7 20,5 64,1 58,9 21,7 20,6 2,6 0,0 - -Sul4a Série 2,0 5,4 31,7 26,1 58,4 56,1 7,8 12,3 0,0 0,08a Série 9,4 13,2 56,6 55,4 31,4 29,2 2,6 2,2 0,0 0,03a Série 8,4 11,4 68,0 61,4 21,5 27,2 2,2 0,0 - -Centro-Oeste4a Série 1,8 6,0 30,1 34,7 58,2 50,4 9,9 9,0 0,0 0,08a Série 12,8 21,6 56,5 56,2 27,6 20,3 2,9 1,9 0,2 0,03a Série 11,7 21,1 62,4 60,0 20,7 19,0 5,2 0,0 - -Brasil4a Série 2,0 9,3 34,8 34,6 54,3 46,0 8,8 10,0 0,1 0,08a Série 13,6 22,6 54,8 54,1 28,9 21,0 2,7 2,3 0,1 0,03a Série 14,4 23,4 64,7 58,7 18,6 17,9 2,4 0,0 - -

Fone: Inep/MEC Elaboração: UNITRAB/SENAI-DN* Escolas urbanas, sem federais.Legenda: MC= Muito crítico; CR= Crítico; IT= Intermediário; AD= Adequado, AV=Avançado.

Quadro 6 – Saeb: Distribuição percentual dos estudantes de acordo com a proficiência em matemática – 1995/2005*

Na 4ª série do ensino fundamental, ape-nas 10% dos estudantes situaram-se no nível adequado de proficiência em matemática em 2005, resultado que foi ligeiramente superior ao de 1995, quando 8,8% dos estudantes estavam no nível adequado nesta série. Na 8ª série do ensino fundamental e na 3ª série do en-sino médio a distribuição percentual dos estudantes caiu de 2,7% em 1995 para 2,3% em 2007 e de 2,4% em 1995 para 0% em 2007, respectivamente.

Nenhum estudante alcançou o nível avançado de proficiência em 2007, per-centual que não foi muito diferente do resultado de 1995, quando apenas 0,1% dos estudantes obteve média de profici-ência compatível com esse estágio de proficiência.

Os resultados de cada uma das regiões do país são bastante semelhantes aos resultados nacionais.

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Considerações finais

Após a análise desses dados, o leitor poderia estar se perguntando qual seria a utiliza-ção dos resultados do Saeb na educação profissional, ou ainda, se haveria alguma intercessão entre esses dois mundos que aparentemente são tão distintos.

Acreditamos que sim, já que os conhecimen-tos adquiridos pelos egressos da educação básica constituem a base para a formação profissional.

Neste sentido, os baixos índices de profi-ciência dos estudantes poderão interferir diretamente na estrutura de custos dos cursos de educação profissional do SENAI, implicando, por exemplo, na adição de mó-dulos ao curso de educação profissional para nivelar os conhecimentos de matemática e/ou português.

Além do custo adicional, essa questão pode in-terferir no planejamento da oferta de educação profissional pelo SENAI, que poderá ter que rever sua carga horária em função da adição dos módulos de nivelamento e, talvez, contra-tar professores temporários para ministrar tais disciplinas. Isso significa que, além de ficar um pouco mais caro, o curso poderá ficar um pouco mais longo, o que também pode gerar prejuízos aos próprios alunos, às empresas, que deverão esperar por um tempo maior para receber os egressos no mercado de trabalho e ao crescimento econômico e social do país, que carece de mão de obra qualificada.

Isso é ainda mais grave se levarmos em consideração o contexto demográfico atual, em que o número de pessoas com idade po-tencialmente ativa encontra-se em processo de ascensão.

O Brasil possui atualmente 34 milhões de pes-soas na faixa etária de 15 a 24 anos, que é, em geral, a idade de ingresso no mercado de trabalho. Esse contingente tende a diminuir a partir de 2010. Por isso, há uma oportunidade em curso de aproveitamento desse contingen-te populacional para dinamizar a economia. Contudo, para que isso ocorra, essas pessoas precisam estar preparadas em termos edu-cacionais e possuir uma qualificação profis-sional para poder se inserir em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, tanto internamente quanto externamente.

A sabedoria popular indica que “não se come-ça a construção de uma casa pelo telhado”. Assim, se a base em termos educacionais é frágil, conforme atestam os resultados do Saeb, as estruturas que nela se apoiarem poderão apresentar rupturas que, em algum momento, precisarão de reparo.

Isso reflete a preocupação do Serviço Na-cional de Aprendizagem Industrial – SENAI com a educação básica e a inserção dos seus egressos na educação profissional e, posteriormente, em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente com a formação da mão-de-obra.

EXPEDIENTE: Boletim Educacional é uma publicação da Unidade de Prospectiva do Trabalho – UNITRAB, do Departamento Nacional do SENAI. Elaboração: Denise Cristina Corrêa da Rocha (SENAI/DN). Revisão Técnica: Luiz Antonio Cruz Caruso. Coordenação, Editoria e Supervisão Gráfica: Caroline Rocha e Maria Clara Costa (ACIND). Normalização: SSC/ACIND. Tiragem: 600 exemplares. Revisão Gramatical: Ronaldo Santiago. Ende-reço: SBN, Quadra 1, Bloco C, Edifício Roberto Simonsen, 4º andar, CEP 70040-903 – Brasília – DF, Tel.: (61) 3317-9802. E-mail: [email protected]

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