Apresentaca TGP 1 parte

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Princípios Gerais e Tutela Constitucional do Processo A ciência processual fixou princípios fundamentais que darão sustentação aos sistemas processuais. Esses princípios tem aplicação no campo de processo penal e processo civil. Os princípios processuais encontrados na Constituição Federal de 1988 permitem a elaboração do que chamamos de

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Princípios Gerais e Tutela Constitucional do Processo

A ciência processual fixou princípios fundamentais que

darão sustentação aos sistemas processuais. Esses princípios

tem aplicação no campo de processo penal e processo

civil. Os princípios processuais encontrados na Constituição Federal de 1988 permitem a

elaboração do que chamamos de Teoria Geral do Processo.

Princípio da Imparcialidade do Juiz

O princípio da imparcialidade é aquele que coloca o juiz entre as partes e acima delas, visando ao tratamento igual e à justa decisão.

A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes.

A questão é tão essencial que a imparcialidade foi alçada a pressuposto para que a relação processual se instaure validamente (pressuposto processual subjetivo do juiz). Para que essa imparcialidade seja assegurada, a Constituição Federal estipulou garantias aos juízes, prescreveu-lhes vedações e proibiu juízos e tribunais de exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII, da Constituição Federal/88).

O Direito Internacional Público sob a garantia dos Direito fundamentais do homem (Declaração Universal das Nações Unidas 1948) como os direitos inerentes à personalidade humana o direito ao juiz natural.

Tribunais de exceção: são aqueles que têm competência estabelecida após a ocorrência do fato e por finalidade julgar um caso que ocorreu antes de sua competência. Fere o princípio da imparcialidade do juiz, na medida em que o órgão jurisdicional já fica predisposto para o caso concreto.

Juiz natural: é o juiz que integra o Poder Judiciário, investido de jurisdição, contrapondo-se ao juiz de exceção que foi constituído, não por contingências gerais, mas sim por contingências particulares, ou seja, para um determinado caso concreto.

Promotor natural: o Supremo Tribunal Federal decidiu pela existência do princípio do promotor natural, aplicando-se as mesmas regras e os mesmos fundamentos do juiz natural, em razão da expressão processado, constante do artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal/88.

Princípio da Isonomia ou Igualdade Igualdade perante a lei é a premissa da afirmação da igualdade perante o juiz.

De acordo com esse princípio constitucional, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (artigo 5.º, caput, CF).

Portanto, os iguais são tratados conforme seus pares e os desiguais conforme os seus, cada qual na medida de suas desigualdades.

Princípio do Contraditório O princípio do contraditório é o princípio que

assegura às partes, tanto no processo judicial quanto no administrativo, bem como aos acusados em geral, o direito constitucional à ampla defesa, bem como todos os meios e recursos a ela inerentes, proibindo ao órgão decisório a prolação de qualquer sentença sem ouvi-los, sob pena de nulidade processual.

Portanto, a dialética do processo, isto é, a contraposição das verdades (do autor e do réu) é que leva o juiz a uma justa decisão, extraindo da tese e da antítese, a síntese.

A prova emprestada, isto é, aquela que foi trasladada de outro processo para aquele que produzirá efeitos, só tem significado se as partes forem às mesmas desse novo processo, por haver necessidade de observância do princípio em estudo, com oportunidade para contraposição da prova.

Obs: O inquérito Policial não ofende o contraditório uma vez que trata-se de um procedimento administrativo que visa à colheita de provas, nesta fase não há acusado e sim indiciado, após esta fase surja o conflito de interesses art. 5º, inc LV/CF.

Princípio da Demanda ou Princípio da Ação

é à vontade da parte que instaura o processo, movimentando a máquina judiciária para apreciar determinado caso concreto. É relativo à propositura da ação.

O princípio da demanda tem como decorrência o fato do juiz não poder agir de ofício, devendo aguardar a provocação das partes, restando vinculado aos fundamentos trazidos por elas na peça inicial (causa de pedir).

Neste princípio o juiz não pode tomar providencias que superem o pedido trata-se do brocado “ne eat iudex ultra petita partium” (vide art. 459 e 460 CPC).

É adotado tanto na esfera Civil (CPC art. 2º, 128 e 262) quanto Penal (CPP, arts. 24, 28 e 30), há exceções ante a inércia dos órgãos jurisdicionais – execução trabalhista art. 878 da Consolidação das Leis do Trabalho e em matéria falimentar – art. 162 Lei das Falências.

Princípio Dispositivo (Civil) e da Indisponibilidade (Penal)

Princípio dispositivo é aquele que confere às partes poder para dispor do processo, delimitando os pontos controvertidos, exigindo a inquirição de testemunhas e a produção de outras provas.

Portanto, versando a ação sobre direito disponível, compete à parte a produção das provas, trazendo elementos de convicção ao julgador.

Não é nem função e nem ônus do juiz a produção de provas não requeridas pelas partes.

Porém o Código de Processo Civil estabeleceu em seu artigo 130 que pode o juiz determinar as provas necessárias à instrução do processo, podendo fazê-lo, inclusive, de ofício, ainda que a matéria tratada verse sobre direito disponível.

É de rigor observar que a jurisprudência admite a intervenção apenas de forma supletiva aos litigantes, e desde que não seja a prova produzida, de antemão, benéfica a apenas uma das partes, como corolário do princípio da imparcialidade, a seguir definido.

Já pelo Princípio da Indisponibilidade ou obrigatoriedade

trata-se do inverso do anterior, utilizável em processo criminal, em que o crime sendo uma lesão irreparável ao interesse coletivo, e a pena reclamada para restaurar a ordem jurídica lesada, o Estado tem o dever de punir. Cabe aos órgãos penais a persecução penal oficial. Há exceções ao princípio na fase da persecutio criminis nos crimes de ação privada (admite-se renúncia, perdão e perempção art. 49, 51ss e 60 do CPP).

Princípio da Oralidade

O processo deve realizar-se verbalmente, adotando-se a forma escrita apenas com caráter subsidiário.

O grande objetivo é a celeridade da prestação jurisdicional.

A maior parte dos termos e atos do processo é oral. Essa oralidade, no entanto, é relativa, visto que os atos praticados oralmente são imediatamente reduzidos a termo.

Contrapondo-se ao princípio da oralidade temos o princípio da documentação, cujo objetivo é a conservação por escrito de alguns meios de provas, para garantir a segurança jurídica.

No regime dos Juizados Especiais Cíveis, a oralidade é mais intensa, visto que são poucos os atos reduzidos a termo, havendo, inclusive, a utilização de gravações em fita K7 ou CD dos atos praticados oralmente.

Há quatro subprincípios que tem em comum a mesma finalidade, qual seja, fazer com que o juiz fique o mais próximo possível da instrução, da coleta de provas. São eles:

Imediação: exige do juiz um contato direto com as partes e com as provas, para que receba, sem intermediários, todos os meios necessários para o julgamento. É o juiz do processo quem irá coletar as provas. No entanto, em casos de carta precatória ou carta rogatória não será possível que o juiz do processo acompanhe as provas. Essa produção de provas por carta é uma exceção ao princípio da imediação. Todo e qualquer tipo de prova poderá ser realizado por carta.

Identidade física do juiz (art 132 CPC:

o ideal do sistema processual é que o mesmo julgador que inicie a instrução em audiência deve concluí-la para julgar o caso concreto.

Porém, nosso sistema determina apenas que o juiz que encerrar a instrução estará vinculado ao processo, ficando obrigado a proferir a sentença, ainda que não esteja mais na Comarca.

Quando o juiz preside uma audiência em que haja produção de provas, ficará vinculado ao julgamento. Em que pese à previsão legal, existem situações em que o juiz se desvincula do processo. São elas:

quando é convocado para atuar como auxiliar dos Órgãos Superiores (exemplo: os integrantes do Conselho Superior da Magistratura/SP são o Desembargador-Presidente, o Desembargador 1º Vice-Presidente e o Desembargador Corregedor-Geral; os 25 Desembargadores mais antigos integram o Órgão Especial da Magistratura de São Paulo, que faz às vezes do Tribunal Pleno).

quando é licenciado por motivo de doença (licença-paternidade ou maternidade não desvincula o juiz); quando é aposentado; quando é promovido; quando é afastado; quando é removido. O juiz removido de qualquer Comarca para outra também se desvincula do processo, conforme orientação do Tribunal de Justiça de São Paulo. Nos outros Estados a orientação poderá ser distinta.

Concentração: a audiência de instrução no processo civil é sempre una e indivisível. Porém, isso não significa que a audiência deverá ser feita no mesmo dia. Se houver necessidade de nova data, será marcada uma audiência em continuação.

Irrecorribilidade das decisões interlocutórias:

pelo sub-princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias assim denominada por expressiva doutrina, entende-se que, no que tange à sua aplicação no processo civil, como regra geral, os recursos contra as decisões interlocutórias somente não têm efeito suspensivo. O referido princípio encontra integral acolhida no processo do trabalho, em que não há, efetivamente, recursos das decisões interlocutórias nele proferidas.

Princípio da Motivação das Decisões Judiciais

É um princípio constitucional disposto no artigo 93, inciso IX, que estabelece “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, ...." Passa, inclusive, a ser corolário da ampla defesa, assegurando às partes a legalidade e a justiça das decisões e a imparcialidade do juiz.

Princípio da Publicidade O princípio da publicidade é, sem dúvida, uma das maiores garantias do indivíduo no exercício da jurisdição. Visa assegurar a fiscalização popular sob o trabalho dos juízes, advogados e promotores públicos, tendo em vista a livre consulta dos autos por todos, bem como a presença pública em audiências. Obviamente que o princípio goza de exceção nos casos em que o interesse social ou mesmo particular venham a exigir discrição e anonimato.

Portanto, a publicidade é restrita, nestes casos, para não ensejar violações a direitos constitucionais.

Encontrado desde a Declaração Universal dos Direito do Homem de 1948 art. 10º e hoje assegurado em nível de lei ordinária CPP, art. 792; CPC art. 155 e CLT art. 770 na CF/88 art. 5º, inc. LX, art. 93, inc. IX.

Princípio do Duplo Grau de Jurisdição

O princípio do duplo grau de jurisdição tem por objetivo possibilitar a reapreciação ou revisão da decisão judicial por outro órgão, de superior hierarquia, do Poder Judiciário, em grau de recurso, visando evitar decisões injustas e equivocadas do juízo de primeiro grau.

Não é garantido constitucionalmente de modo expresso, mas na CF existe atribuição como a competência recursal (art. 102, 105 e 108 ca CF) já nos Códigos de Processo Penal, Código Processo Civil e na Consolidação das Leis Trabalhistas encontramos. Pela Lei 9.099/95 em seu art. 41, par. 1º – Lei dos Juizados Especiais há previsão de recurso por um órgão colegiado composto de juízes de primeiro grau.

Princípio Dispositivo e Princípio da Livre Investigação das provas

Princípio Dispositivo trata-se da regra de que o juiz depende na instrução da causa somente da iniciativa das partes quanto às provas e as alegações para fundamentar sua decisão, mas isso hoje em dia não significa que fique inerte como no processo civil moderno e no processo penal com a transformação do inquisitivo em acusatório não ficou completamente a margem a disponibilidade das provas.

Princípio do Impulso Oficial Pelo qual uma vez instaurada a relação processual compete ao juiz mover o procedimento de fase em fase até exaurir a função jurisdicional.

Princípio da Persuasão Racional do Juiz

Indica que cabe ao juiz formular livremente a sua convicção quanto à apreciação e avaliação das provas apresentadas. Mas isso não significa que haja de forma arbitrária uma vez que seu convencimento deverá ser sempre motivado art. 93, inc, IX da CF.

Princípio da Lealdade Processual

Significa que todos aqueles que participam do processo sejam juízes, partes, auxiliares da justiça, ministério público e advogados devem agir com moralidade, probidade, nunca agindo de forma desleal ou fraudulenta.

Princípios da Economia e da Instrumentalidade das Formas

Sendo o processo um instrumente não pode se exigir dispêndio exagerado em relação aos bens que são objeto de disputa. Sendo assim recomendado o princípio da economia o qual preconiza o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades processuais (Teoria Geral do Processo. ARAÚJO CINTRA; GRINOVER; DINAMARGO, 2003, p. 72-73.

UNIÃO DAS ESCOLAS SUPERIORES DE RONDÔNIA (UNIRON)

TEORIA GERAL DO PROCESSO E DA JURISDIÇÃO (TGP)

PROFESSOR PEDRO HENRIQUE MOREIRA SIMÕES