ANDRÉ MALRAUX

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æ——-—¦—¦¦ ' —.5 DURANTE séculos, no mun- do inteiro, a poesia foi um dos elementos da pintura. E, mais do que isto, cm certas épocas, a pintura passou a constituir, para ela, o J meio privilegiado de ação. Morto Dante e não nascido, ainda, Shakespeare que são os poetas da cristandade diante tle Piero delia Francesca, de Angélico, de BotticelU, de Pie- ro di Cosimo, de Leonardo, de Ticiano, dc Miguel Ângelo? Que versos contemporâneos dc Watteau serão dignos dele? A distinção que hoje se faz entre os processos específicos da pintura e seus meios poéticos é tão artificial como a que se es- tabelece entre forma e conteu- do. Houve indivisível doml- nio. E' pela poesia que as cores de Leonardo são "dispostas nu- ma certa ordem". "A pintura escreve êle é uma poesia que se vê". E, até Delacroix, a própria Idéia de grande pintura foi as- sociada à de poesia. Poder-se- ia crer que Duccio, Giotto, Fou- quet, Grunewald, os grandes renascentistas italianos, Velas- quez, Rembrandt, Vermecr, Poussin e a Ásia tivessem conhecido a poesia por descui- do? Quando os contemporâneos nossos pretendem proscrever a poesia da pintura, o que eles proscrevem, na verdade, é a pintura de assuntos, em parti- cular a do século XIX, isto é, o realismo do imaginário; a submissão da pintura a um es- petáculo romanesco ou senti- mental, muitas vezes ligado à história. Assinalei, já, que ela rejeita o Napoléão na estrada lamacenta do "1814", de Méis- sonier, e não o "Vieux Roí", de Rouault. Se os assuntos de 1850 são sucedâneos, é porque, longe de ser suscitados pela arte dos que os pintam, constituem mo- delps a que essa arte se sub- meteu, supostamente. Ticiano não "reproduzia" espetáculos imaginários: arrancava Venus a noite de Cadore. Em vez de excluir a poesia da pintura, seria preferível ob- servar-se eomo toda grande *ra plástica lhe é ligada, » W^/Wy'^^^^Êâi^\ gp!s3m mmWí^^^^ummm^a^^i^^^mmmmw^mW^^M&^Ê} ^fl ÈÊm^rnm BE^*-^' **MMMX&r&Sf&Q^Êmm% flBb$Ií^3í-^8 B&. '^^E^^^^ ^*^^^^^ Bfr*'.^ \""'" --**fl Sa WgÊÈ&ç y^^^^^^^ÊÊ^^^f^^^t^^^Ê Kffiffijffi*^^fl^fls H Ss-* ' '"^sBHEshjSifiJPiBB?£.'¦'¦' /v'.*.."^'s'-^,í>'-mt ' BSHH&- ^*z9flBa mMvSsSStaSÊBKF^¦" <^Hk ¦ lll^i IfSü^^Ss^ç '"'Jaí fl£jflr fl K^nB SEwíraiÈll |SB^''¦¦'-'¦''Hsdl fl ^^^^^^SÍ^!«HH&'^^:*;?^^^rff^B^^Ç^?"Bí^awv^^r«lflBflP ^O HWJBsffiB^^R -->ÜfflflJflflflfll Sflu Aline, a mulata DELÁCROIX PINTURA E POESIA descobrimos nas -naturezas mortas de Braque, tanto quan- to nas féeries de ChagalL.Quan- do um realista tem gênio, ela o encontra sem que êle a pro- cure. Como não sentir a poe- sia dc Ycrmeer, Çhardin, ou ANDRÉ MALRAUX mesmo de Brueghel e dos grah- des Courbets? Pretendemos admirar a côr, em Jerôniino Bosch, cm Ticiano; mas essa côr é um meio dc expressão da poesia desses pintoras; pivra s;'- pararmos côr e poesia, no caso, seria preciso admitir que a ar- te deles fosse uma técnica da representação. Por-mais rea,T lista que pareça, ela une o "Escamoteador" às "Tenta- ;;ões"; as árvore? do melhor Ti- ciano pertencem também à leme. Ora a fécne dc Ticiano não é acrescentada à sua pin- tura: e menos apartávcl dela quanto o fantástico o seria da pintura dc Bosch. E ela não procede do gosto de Veneza como a escrita de suas com» posições decorativas: nasce so* mente de sua arte. Isso se tor- na evidente com o desenvolvi* mento da reprodução, e com a circulação das obras primas que são emprestadas para as expo* .ições de conjunto, porque a côr, mais do que o desenho, foi j meio de expressão da poe* sia. Em "negro", Ticiano, um dos maiores poetas do n.undo, muitas vezes não será mais de >iue um mestre da tapeçaria.: Sem duvida haverá, dentre oi nossos pintores, os que dizem preferir um Ticiano sem Ve* nus. Isso significa que deseja* viam naturezas mortas onde Vcnus foi tão presente quanto no Prado, mas onde cies não a reconheceriam. Como se Laura Di Dianti, Venus e Adonis, a Calipso, de Viena e até A Nin- fa e o Pastor pertencessem ao mundo de Cezanne ou dc Rc* noir! Não será apenas * dife- rença entre duas palhetas o que separa os retratos dc Rem- brandt de quase todos os de liais? E também o que separa os "Regentes" dos "Arcabu- zeiros"? Dessa espécie dc poesia, a pintura sempre foi pelo menos) cúmplice, e a pintura religiosa não o foi menos do que a nos* «a. E, da Renascença a Dela* croix. tornou-se mais do que cúmplice: ligou-se a ela como se tinha ligado à fé. Leonardo» Rembrandt, Goya procuram o descobrem a expressão poética» tanto quanto a expressão piás* tica, e muitas vezes ao mesmo tempo; os enforcados de Pisa- nello, o longínquo noturno de Leonardo, o longínquo noturno de Bosch, a luz de Rem- brandt, os fantasmas dc Goya pertencem a uma e outra. A "Rainha dc Sabá" é suscitada pela arte de Piero, o 'Filho Pródigo", pela de Fcmbrandt, "Cythèrc" pela de Watteau. as "Aparições" pela dc Goya.: Essn arte é poesia, tio mesmo modo que uma planta floresço..

Transcript of ANDRÉ MALRAUX

——-— ¦— ¦¦ ' —. 5

DURANTE

séculos, no mun-do inteiro, a poesia foium dos elementos da

pintura. E, mais do que isto,cm certas épocas, a pinturapassou a constituir, para ela, o

J meio privilegiado de ação.Morto Dante e não nascido,ainda, Shakespeare — que sãoos poetas da cristandade diantetle Piero delia Francesca, deAngélico, de BotticelU, de Pie-ro di Cosimo, de Leonardo, de

Ticiano, dc Miguel Ângelo?

Que versos contemporâneos dcWatteau serão dignos dele?

A distinção que hoje se fazentre os processos específicos da

pintura e seus meios poéticos étão artificial como a que se es-tabelece entre forma e conteu-do. Houve aí indivisível doml-nio. E' pela poesia que as coresde Leonardo são "dispostas nu-ma certa ordem". "A pintura— escreve êle — é uma poesiaque se vê".

E, até Delacroix, a própriaIdéia de grande pintura foi as-sociada à de poesia. Poder-se-ia crer que Duccio, Giotto, Fou-

quet, Grunewald, os grandesrenascentistas italianos, Velas-

quez, Rembrandt, Vermecr,Poussin — e a Ásia — tivessemconhecido a poesia por descui-do?

Quando os contemporâneosnossos pretendem proscrever apoesia da pintura, o que elesproscrevem, na verdade, é a

pintura de assuntos, em parti-cular a do século XIX, isto é,o realismo do imaginário; asubmissão da pintura a um es-

petáculo romanesco ou senti-mental, muitas vezes ligado àhistória. Assinalei, já, que elarejeita o Napoléão na estradalamacenta do "1814", de Méis-sonier, e não o "Vieux Roí", deRouault. Se os assuntos de 1850são sucedâneos, é porque, longede ser suscitados pela arte dosque os pintam, constituem mo-delps a que essa arte se sub-meteu, supostamente. Ticianonão "reproduzia" espetáculosimaginários: arrancava Venusa noite de Cadore.

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Aline, a mulata — DELÁCROIX

PINTURAE POESIA

descobrimos nas -naturezas

mortas de Braque, tanto quan-to nas féeries de ChagalL.Quan-do um realista tem gênio, elao encontra sem que êle a pro-cure. Como não sentir a poe-sia dc Ycrmeer, dç Çhardin, ou

ANDRÉ MALRAUX

mesmo de Brueghel e dos grah-des Courbets? Pretendemos sóadmirar a côr, em JerôniinoBosch, cm Ticiano; mas essacôr é um meio dc expressão da

poesia desses pintoras; pivra s;'-

pararmos côr e poesia, no caso,

seria preciso admitir que a ar-te deles fosse uma técnica darepresentação. Por-mais rea,Tlista que pareça, ela une o"Escamoteador" às "Tenta-;;ões"; as árvore? do melhor Ti-ciano pertencem também à

leme. Ora a fécne dc Ticianonão é acrescentada à sua pin-tura: e menos apartávcl dela

quanto o fantástico o seria dapintura dc Bosch. E ela não

procede do gosto de Venezacomo a escrita de suas com»posições decorativas: nasce so*mente de sua arte. Isso se tor-na evidente com o desenvolvi*mento da reprodução, e com acirculação das obras primas quesão emprestadas para as expo*.ições de conjunto, porque acôr, mais do que o desenho, foij meio de expressão da poe*sia. Em "negro", Ticiano, umdos maiores poetas do n.undo,muitas vezes não será mais de>iue um mestre da tapeçaria.:

Sem duvida haverá, dentre oinossos pintores, os que dizempreferir um Ticiano sem Ve*nus. Isso significa que deseja*viam naturezas mortas onde

Vcnus foi tão presente quantono Prado, mas onde cies não areconheceriam. Como se LauraDi Dianti, Venus e Adonis, a

Calipso, de Viena e até A Nin-fa e o Pastor pertencessem aomundo de Cezanne ou dc Rc*noir! Não será apenas * dife-rença entre duas palhetas o quesepara os retratos dc Rem-brandt de quase todos os deliais? E também o que separaos "Regentes" dos "Arcabu-

zeiros"?

Dessa espécie dc poesia, apintura sempre foi pelo menos)cúmplice, e a pintura religiosanão o foi menos do que a nos*«a. E, da Renascença a Dela*croix. tornou-se mais do quecúmplice: ligou-se a ela comose tinha ligado à fé. Leonardo»Rembrandt, Goya procuram odescobrem a expressão poética»tanto quanto a expressão piás*tica, e muitas vezes ao mesmotempo; os enforcados de Pisa-nello, o longínquo noturno deLeonardo, o longínquo noturnode Bosch, a luz de Rem-brandt, os fantasmas dc Goyapertencem a uma e outra. A"Rainha dc Sabá" é suscitadapela arte de Piero, o 'Filho

Pródigo", pela de Fcmbrandt,"Cythèrc" pela de Watteau. as"Aparições" pela dc Goya.:Essn arte é poesia, tio mesmomodo que uma planta floresço..

Urina 2 LETRAS É ARTES Domingo, 20-8-1950

;V:--.-'v

A MAGNÍFICA página deMarco) àtousfc sóbreDal/ac, que aqui oíere-

cemos aos ntssus lelioies, foidivagada liá pouco pelo "FI-garo Llttcralie", e pertsnc.aaos cscr.;of inéditos do a:.torde "A l.v rcciierchc du tempsperdu", cm poder de Mme, Ge-rard Monto*Proust.

Não precisamos encarecer omérito dessa página, em queProust icvcia o senso ertUco

Íicnetrante que nc!c prevalecia

untamente com as faeulda-.escriadoras dn romancista.

Ba'zac, jicssuinío sob certosaspectos, um csU'o inorgânico,poder-se-in crer que nio pro-curou oi-jetivar a linguagemdos seus personagens, oirquan-do a tornou objetiva não pòdcdei- ar de acentuar, a todo mo-menío, o que ela continha departrcular. Ora. dá-se justa-mente o contrário, Esse ho- #mera que revc!a. Ingenuamente,•eus pnn'o.s de vista históricos,

1 artistic-s etc, esconde seusmais profundos propósitos edei-:a fa'ar por si mesma o ver-dade na linsuarreni dos seuspcrfcnafítno, prcccilcndo de ma-licira tão sutil, que essa ver-dade po:ío passar dcsncrccbida,não procurando o romancistaem nenhum dct*lhc assinala-Ia... O próprio L*;cien de Ru-bcmnré, era seus anartes, temexatamente a alerria vulgar, oJiálfto da inocrdafle inculta quedeve aTruí!ar a Vautrin. "En-tão. riciiiou L**ricn, ele conhe-Ce o logo" "Ei-lo enrascado".

Na rci-li^ade, Vautrin não é« unco a intore7sar-?c por Lu-cien de ilub-mnrc. Oscar Wil-de, a quem a vi tia deveria en-*inr": mais larde t^ne há dores

;*mais pungentes oue as que nosdão os Hvrcs, dizia, na sua pri-

EA LE ficara com um cigarropreso nos beiços, às ve-zes apagado, balançando-

Se na rede, até tarde. Seu quar-to era como os demais da pen-tóo: peoucno, o assealho rajadode manchas, o tabicue e a pa-rede lambuzadas de uma corramarelecida. No telhado, umaclaracoia permitia a filtragemde uma toalha de luz. Muitos•pregos cravados na parede su-

"".\ que enforca-Vam rcunas. No lugar da cama!levantavàm-se pilhas de jor-uai, ao lado, uma mesinha su-portando a moringa e uma du-da de livros.

Não consentia que a empre-gada fizesse a limpeza, e aos•sábados ele buscava uma vas-eouva, enxotando do quarto aspontas de cigarro, as pucumãs

ique desciam das telhas.I Tipo esquisito, de esqueleto/«norme e sisudez desproposital.Jííunca falava com os outrositiospedes.1 — Seu Salustiano, o senhorj|juer tomar café?

Ele resmungava qualquer coi-ca e ia sentar-se à ponta damesa. Seus olhos quase não se^moviam nas órbitas profundas,éempre fitando um ponto,qualquer coisa que o alheiassedas conversas. Todos na pen-São estranhavam a atitude dê-ie. Zézé era a única, que porHão entender, ia sorrir-lhe, mos-trar-lhe os bonecos quebrados,puxar-lhe pelo paletó, salien-tendo os dentinhos alvos, Osolhos rasgados como os de umChinês. Ele continuava masti-gando o pedaço de pão, segu-rando a chicara com uns de-dos comprimidos, magros. De-pois, descia os quatro lances daescadarias e somente í egressa-va à boca da noite para engu-Mr outra qhicara de café, tran-car-se nó quarto e ficar fu-mando e lendo.

A rede, então, começara atranger. Uma, duas, três horas,aaté de madrugada, r. Manda•ficara apreensiva, mesmo ner-Vosa,- ouvindo os armadorescantarem vai--vens bem nitidosHa calma da noite. D. Man-da rebolava na cama, mudavade posição, ia à sala de jantartbeber dois dedos de água, en-quanto a sua côr rosada cedialugar a uma palidez nue chega-Va % 'enibrar a de PaMiMiano.Durante o dia D. Manda pas-

BALZAC VISTO PORMARCEL PROUSTmÊÊmmimi^íiar*mmmmmmimiÊmÊmmmmmmÊHmmmmm^mmmmmimmmma^tÊmmm*m»mm*mmimmmÊa^^mi^

UMA PAGINA INÉDITA DO AUTOR DE "ALBERTINE DISPARIU"

meira fase (a fase cm que eleafirmava: "Só depois dos poe-tas "lakislas" passou haver ne-bllna no Tâmisa): "O maiordesgosto de minha vida? Foi amorte de Lucien de Rubempré,em ••Esplendores e misérias dascortezãs".

Existe, aliás, algo de parti-cularmente dramático nessapredileção e nesse enterneci-mento de Oscar Wilde — notempo de sua vida brilhante —pela morte de Lucien de Ku-bempré. Sem duvida, o poetaenternecia com ela, como todosos leitores, colocando-se no pon-to de vista de Vautrin, sque éo ponto de vista de Balzac. EWilde era um leitor particular-mente escolhido e eleito paraadotar semelhante ponto devista, muito mais do que amaioria dos leitores. Não pode-mos deixar de pensar que, ai-guns anos depois, seria, o pró-prio Wilde, Lucien de Rubem-pré. E o fim de Rubempré, naConciergcric, vendo toda suaexistência mundana desmoro-nar-sc ante a prova incontes-tavel de viver ele na intimida-de de um forçado, não era se-náo a antecipação — depconhe-cida, 6 verdade, de Wilde — doque devia precisamente acon-tecer a cie, Wilde.

Nessa últ'ma cena da Tetra-logia de Balzac (pois em Bal-

zac raramente o romance cons-tltul a unidade; a obra é cons-truida num ciclo de que umdes romances representa sem-pre apenas uma parte) cadapalavra, cada gesto, possui cer-tos "dessous" sobre os quaisBalrac não adverte o leitor cque são de uma profundidadeadmirável. Revelam uma psi-cologia tão sutil, nunca obser-vada em ninguém, a não serem Balzac, que se torna muitodelicado indicá-los. Mas tude,desde a maneira pela qual Vau-trin detém no caminho Lucien,a quem não conhece c cujo fi-sico somente poderia interessa-Io, até os gestos involuntáriospelos quais cie lhe toma o bra-ço, etc., não trai o sentido dl-ferente c muito preciso dasteorias de dominio com que ofalso Kcrrcra mascara aosolhos de Lucien e talvez aos delepróprio um pensamento incon-fessávcl? O parentesis a propó-sito do homem que tem a ma-nia de comer papel não é umtraço de caráter admirável deVautrin e de todos os seus se-melhantcs, uma de suas teo-rias favoritas, por onde se dei-xa escapar algo de um pensa-mento. secreto?

O mais belo, porém, sem con-testação, é o maravilhoso tre-cho cm que os dois viajantespassam pelas ruínas do castelo

MEDOConto de BRENO ACCIOLY,

sava cochilando pelos cantos,esmurrada.

XXXNaquela noite Salustiano não

tomou café. Chegou da ruacom as feições congestionadas,os olhos vermelhos se fechan-do sóbre umas palpebras crês-cidas. Deu duas voltas nachave e caiu na rede como acoisa mais insignificante domundo.

Escondeu as mãos sob os ca-belos e começou a olhar para ocanto da parede como se esti-vesse vendo alguém. No ba-nheiro, um pingo, em seguidaoutro, esborrachava-rse no la-drilho, caindo do chuveiro, ca-denciado. A penumbra que sefazia no quarto vinha de umaluz distante. Talvez da cozi-nha. Apesar de ser hora dejantar, poucas falas vibravamna pensão. Salustiano percebeque noite horrível irá ser aque-Ia. Insonia? Pesadelo? Talvezuma eólica hepática. Para Sa-lustiano, o canto da parede fo-tografa Constantino se lasti-mando, dizendo-lhe o numerodos filhos, balançando a cabe-ça antes de as palavras brota-rem de dentro de soluços.

— Quase dez anos, Salustia-no. Faltavam somente vintedias para eu ficar efetivo.Sempre cheguei na hora, mes-mo morando como ainda estou,no subúrbio. Levantava-meainda com sono para pegar oprimeiro bonde. Nem uma car-ta de recomendação me deram.

Salustiano ficara com os de-'dos suspensos sóbre o tecladoda máquina, querendo melhorcompreender O que Constanti-no dizia—- Quando o despedi-ram? — a voz de Salustianosaiu abafada.

Hoje. Ihdagorinha. —• EConstaritJ&p. continuou falandpda mulher, dos nove filhos, en-quanto amassava o gorro daCompanhia entre as máos.

Salustiano não pôde traba-lhar o resto do dia. Deixou oescritório alegando doença edirigiu-se para o cais do norto.Ficou sentado no atracamento3

de Rastignac. Chamo a Isso a"Trislcssc d'Olymplo": "Elequis rever o tanque perto dafonte". Sabe-se que Vautrin,na pensão Vauqucr, no "FèrcGoriot", teve, inutilmente, sô-bre Rastignac, o mesmo propó-sito de dominio que alimentaagora com relação a Rubem-pré. Fracassou, mas nem porIsso deixou de envolver-se navida de Rastignac. Vautrin fezcom que assassinassem o filhode Talllefer para levar Enge-nio a desposar Vltorina. Maistarde, quando Raetignac tor-na-se hostil a Rubempré, Vau-trin, mascarado, recordar-lhe-ácertas passagens da pensãoVauquer e constrange-lo-á aproteger Lucien. Mesmo apósa morte de Lucien, Rastignacvárias vezes terá encontros comVautrin cm vielas escusas.

as pernas dependuradas para ooceano, imaginando. O arma-zem 2 deserto; ao largo algunsvapores fumegavam. Toda atarde Salustiano passou fitan-do o oceano, parecendo ouvir ossoluços de Constantino—viremcom a brisa. Não se lhe move-ram os lábios uma só vez, se-quer. Estalavam-lhe na ca-beca os miolos enquanto a suaimaginação assassinara, um porum, os diretores da Companhia .que demitiram Constantino.Batiam-lhe os dentes como se oseu rosto estivesse com febre;as mãos se apertavam, nervo-sas.

Sempre de cabeça baixa, oesqueleto emborcado, Salustia-no não podia divisar as nuvensaltíssimas.

Salustiano, via, sim, Constan-tino desempregado, apertando ogorro da Companhia, frisandoo numero de filhos, soluçandodiante, a voz rouquenha lasti-mando-se compassada.

— Faltavam vinte dias paraeu ficar efetivo, Salustiano.-Sempre eu fui um bom empre-gado. Tenho de começar outravida. E as lagrimas molharam-lhe a face, as rugas do rostode Constantino lembrando veiosde intermináveis íontes.

Salustiano continuou a mo*vimentar aquela cena. Pareciaver Constantino atiraAdo-sesobre a mulher, esbordoando osfilhos, procurando desanuviar asua enorme mágoa aos socos eponta-pés; algum vizinho ten-tando acalma-lo, dizendo con-selhos para um homem difé-rente que ainda ontem suavatrepando nos postes altos, con-sertando fios elétricos. Um ou-tro COnstantino, de têmporasgrisalhas, beirando os quarenta,apontado, para ser um vaga»bundo, ficar depois vivendo*4-num presidio. E Salustianonão sentiu a frieza que desceucom a noite. A fumaça que osvapores derramavam se esgar-cava, perdia-se. O primeiroguarda começou a vigiar assombras do cais. Salustiano ti-nha os membros dormentes das

• * *Tais efeitos não são possíveis

senão graças a admirável in-venção de Balzac em haverconservado os mesmos perso-nagens em todos os romances.Assim um raio partindo do fun-do da obra, passando por todauma vida, pode vir a tocar, comseu clarão melancólico e per-turbador, aquele castelo deDordogne e a parada dos doisviajantes. Sainte Benve nãocompreendeu absoluta mentenada desse processo de conser-

horas que ficara sentindo abrisa, sentado no atracamento,prevendo misérias na vida da-quele homem. As águas come-çaram a voltar, os arrecifes fl-cavam submersos, as estrelasdesceram com a faixa de luz doFarol de Olinda. , O guardapasseava, parando, andando denovo, vendo üm vulto na noi-te. Os vapores fumavam para océu.

Imóvel, olhando para o'cantoda parede Salustiano está como corpo emborcado dentro darede, as mãos engulidas peloscabelos. A luz apagada deixauma penumbra vir de fpra. Ospingos do banheiro continua-vara caindo, sistematicamentecaindo. Cadenciados. Por quenão deixaram Constantino em-pregado? Por que aquela demis-são sem motivo, quando falta-vara, apenas, vinte dias paraele ficar efetivo? Salustiano nãocompreendia tamanha injustiça,achava tudo aquilo absurdo,nem a sua intima pergunta sa-bla responder.

Noite de muitas estrelas e ovento corria ligeiro convidandoa uma caminhada solitária.

No andar térreo, entre lata-das de croton, um condutor debonde chama das cordas de umviolão alguma coisa que relem-bra. Nos pés da espreguiçadeirado condutor as duas filhas brin-cam! Lá fora, a rua estende-se silenciosa, mesmo sepulcral.como se tudo no mundo estives-se certo.

Bem que Salustiano pensounuma eólica hepática. Sente adôr chegar de manso, depoistodo o figado arder em plenainflamação. Levantasse <*# re-de, deixa o quarto e vai até àsala. Quase não anda. Arras-ta-se. O fígado doído força-oa dar uns j passos curtos, abrirmecanicamente as pernas comose elas estivessem aleijadas. Aperna esquerda arrasta-se. Orosto reflete a dôr interna coma pressão dos dentes no lábioinferior. D. Manda estava fa-zendo croché e levantou-se afli-

var os mesmos personagens;"Essa pre tensão conduziu-o íi-nahnento a uma Idéia das maisfalsas e das mais contrárias aointeresse da obra; refiro-me &idéia de fazer reaparecer, semcessar, de um roro&nce paraoutro, os mesmos personagens,como comparsas Já conhecidos.Nada poderia enfraquecer maisa curiosidade ' produzida pelonovo e o encanto do imprevis-to, que constitui o atrativo doromance. Encontramo-nos sem-pre, no fim de tedas as jorna-das, ante os mesmos rostos".

E' a idéia genial de Balzac,inteiramente despercebida porSainte Bcuve nesse julgamen-to. Podcr-se-á dizer, sem dú-vida, que ela não acorreu a Bal-zao ao iniciar a "Comedia Ilu-

t mana". Certas partes dessesgrandes ciclos não se ligaramsenão mais tarde. Que Impor-ta? "O encantamento de Scx-ta-Fcira Santa" é um trechoescrito por Wagner, antes delehaver pensado em compor o"Parsifal", e depois introduzi-do nesta ópera. Mas os acres-cimos, as belezas Incorporadasposteriormente, as contribui-ções novas apreendidas pelo ge-nio entre as partes separadasde sua obra, e que se juntam,vivem e não poderão^mais se-parar-se. Não estarão aí asmais belas das intúieôes? A ir-má de Balzac disse—nos da ale-gria por êle experimentada nudia em que teve essa Idéia e eua julgo tão grande, tal comose a idéia lhe ocorresse antesde começar a obra. Foi um raioa surgir e vindo pousar naspartes até a'i pálidas da suacriação, unindo-as, fazendo-asviver, ilumlnando-as; mas esseraio nos deixou por isso de par-tir do pensamento do autor.

ta quando olhou para êle: —seu Salustiano, o que é isso?— E não disse mais nada. Depé, ela assemelhava-se a umamúmia, pela ausência de san-gue, as rugas imóveis cortando-lhe profundamente as boche-chás, a cabeça luzindo naque-Ia brancura, uma forma degesso. Depois, as pontas doadedos oomeçaram a tremer en-quanto cansado o corpo senta»ra-se na cadeira mais próxi-ma. Salustiano também se sen-tou e viu que aqueles soluçostraziam consigo muita dôr,além de lágrimas que lhe la-vavam as rugas, desciam-lhopelos braços feitas cordão. Porfim, Salustiano falou a D.Manda. A voz rouquenha, com-passada.—D.'Manda, a senhora podeme dar uma dose de homeopa-tia para o figado? Não é nadanão. Somente o figado estadoendo. D. Manda não respon-deu. Levantou-se ainda ire-mendo e voltou da salinha dacopa com uma tintura aver-melhada em dois dedos deágua- Depois de beber a tin-tura de jurubeba, Salustianolargou um riso para D. Man.-da e claudicando P^rpu a ja-nela.

Fazia-lhe bem aquele ar pu-ro-

O condutor maltratava ascordas. As duas meninas dei-xàram as bonecas espalhadassobre a esteira e foram deitar-se com o chamado 4a niae. Aslatadás de croton balançavamas íôlnas verdes, o céu enchia-se de olhos, estrelas acordan-do, e o vento lembrava «mamão acariciando p mundo.

Salustiano baixa os olhos e«rê no terraço dp andar térreo ocondutor fazendo nusica, comuma camiseta de algodão e acalça que vai trabaí&ar ama-nhã, o condutor esquecia-sedas duas - filhas. 4a mulherfranzina que lav» e engoma"para os pensionistas do pr»-meiro e segundo andar. Wnoites de folga ele rompia asserenatas, tocando sozinho,trautpando, a voz detendo-senuma douçura. O violão re-lembra enquanto nuvens pa$*sam e o sono custa a chegar.Salustiano ouve a melodia quosobe mais fraca,, mais doce.Sons ternos saltam daquelasnotas e todos eles chegam aosouvido* de Salustiano como a

(Conclui na 8." pagv). "

Domingo, 20-8-1950 LETRAS E 'ARTES Página~ i

NAO

estaremos nós, por-tuguitacs, a ler mal apoesia brasileira? Será

tão pouso Importante hoje cmdia a fvnétlca da lingua cmquo os pootas do Brasil se cx-primem que nos seja lícito leros seus versos como lemos o*nossos — com a nossa fonéiloasurda, as nossas síiabas fecha-das, o empastamenío próprioda nossa dicção, cuja tendên-cia é, talvez, u,üa das razõesda nossa íidcLdado à tradiçãomóíriea clássica: medida rlgo-rosa, acento ciefiíiido, cesuramarcada, rima soante?

A publicação rc.cnte cmFrança do livro de André Spl*re, "Piaisir Poéíique et plaísilmuscalairc," onüe se pretendidemonstrar a Intcrdcpendên-cia estrita entre o sgmficatí*poeíico do verso e os movi-mentos musculares quj êle de*termina no aparelho fonador,permite-nos refletir sobre oproblema, uma vez que, cscla-recido êle, talvez se pudessevir a desfazer certos mal cn-tendidos que se levantam en-tre a crítica portuguesa e apo sia brasileira.

Evidentemente que a tese deAndré Spirc, aüás apresenta-da já, antes dele, pelo PadreMareei Jousse, tese cara aquantos especialistas se dedl-cam a estudos fonéticos, não é,quanto a mim, tese de rcsul-tados seguros senão na medi-da em que pode vir a confir-mar os juízos de gosto ou deIntuição. Num século de apo-teose da técnica, século emque se pretende tudo demons-trar por fórmulas matematl-cas, admite-se, como não po-dia deixar de ser, que os cx-perimentadores dos laborato-rios fonéticos julguem pronun-ciar a última palavra em ma-teria de poesia — a arte lite-rária mais precariamente ads-trita *à lingüística. A nós cabe,porém, a nós, homens de gostonão homens de ciência, a nwcabe travar o andamento he-roico da técnica, mostrando

, aos cientistas os despenhadei-, ros de ridículo onde tantos ca-maradas seus se precipitaramjá com a pretensão de intro-duzir o método dai ciênciasem departamentos da ativida-de humana por natureza re- jlapsos ao rigor e à precisão d-entíficas.

Ridículo nos parece, comefeito, que se pretenda de-monstrar a superioridade deum verso sobre outro apenaspelo fato de serem infinita-mente mais equilibrados e har-moniosos os movimentos dalíngua na pronunciação doprimeiro que na do segundo. Apoesia não pode ser, nem é»mero prazer muscular. No en-tanto, se admitirmos que ou-tros fatores intervém na ela-boração desse fenômeno que êo prazer da leitura poética,bom será não excluirmos docomplexo psico-fislológico queesse fenômeno encerra o fatorfonético propriamente dito.

Eis porque nos atrevemos aehamar a atenção dos leitoresportugueses para a importân-cia que deve atribuir-se aosvalores fonéticos inerentes apronuncia da língua portugue-sa pelos brasileiros sempre queentre nós, em Portugal, solêem os poetas do Brasil Inu-til frisar que o mesmo se re-comenda aos leitores brasilei-ros de poesia portuguesa. .. ..

Bem sei que entre nós, emPortugal, não se perdeu o cos-tume de ler certos poetas doBrasil — um Catulo, um Jor-ge de Lima, o Jorge de Limados "Poemas negros", mesmoManuel Bandeira e RibeiroCouto — sem imprimir à lei-tura o sotaque brasileiro. Istoapenas acontece, porém, quan-do a natureza dos versos seapresenta nitidamente popu-lar — quando a poesia é umaIntervenção de costumes, mo-dos, sentimentos ou reações decaráter etnográfico. Já o mes-mo se não verifica no caso dascomposições iidas ou recitadasserem do numero das poesiaide expressão emocional erudita.Então raramente — é licito di-ser mesmo: nunca — então,nunca o leitor português se

Fonética e poesia ou o "RetratoNatural" de Cecilia Meireles

JOÃO GASPAR SIMÕESlembrará de que o compostofonético, quo tem perante sicm nada ou quase nada se as-semelha aos compostos fone ti-cos que são as poesias portu-gu:sas.

Não me foi dado fazer qual-quer estudo do fenômeno, Oque sei dizer, porém, é que,desde que o problema se for-mu!ou no meu espírito, muitacoisa se esclareceu na minhavalorização da moderna poe-sia brasileira, sobretudo desdeque os poetas brasileiros prin-cipiaram a desertar dos ar-raiais versi-Iibristas, para sedarem ao culto de uma estru-tura poética que nem é o ver-sl-librismo cultivado até aquinem a métrica rigorosa dostratados de metrificação tra-dlcionais da nossa língua.

Que é que se me apresentasurdo, Incolor, a-mnsical nasúltimas composições de Ceei-Ha Meireles, esse astro da poe-sia brasileiro dia a dia maissubmerso sob os espessos véuscom que vai cobrindo a nudez,outrora resplandecente, do cor-po dos seus versos? CecíliaMeireles, à medida que se temafastado da métrica tradiclo-nal da poesia portuguesa, mé-trica essa muito mais patentenos versos da sua "Viagem"do que noi da sua "Vaga mú-sica", embora ainda muitomais no de "Vaga música" doque nos de "Retrato natural",aproxima-se de uma nova con-cepção prosódica, que não é aconcepção tradicional da línguacomum nem a concepção quefez fortuna na poesia brasileirade entre duas guerras. Veja-sepor exemplo, como Cecília Mel-reles versejava entre 1927 e 1937,em "Viagem"!

Estou tão cansada, tão cansa-[da,

estou tão cansada! Que fiz eu?Estive embalando, noite e dia,um coração que não dormiadesde que o seu amor morreu.

Na fase mais clássica da suapoesia, a estrutura do seu ver-so, mesmo quando se permitia

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JÉWmWim< ííCECÍLIA MEIRELES

liberdades reprovadas pela mi-trica, como por exemplo:

Entre MIM e mim há vasti-[does bastantes

para a navegação dos meus- de-[sejos aflieidos.

Descem pela água minhas na-[ves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar.

[e Investiga o elemcl.to quu »| atinge.

guardava fosse o que fosse damodclação rítmica tradicional.Dlr-se-la que o wcsqucma rlt-mico" — expressão de MareeiJousse — dos versos mais ver-sl-libristas de CccHia Melre-les, como, aliás, dos demaispoetas brasileiros, conservamo andamento fonético — apausa respiratória — incren-te á lingua portuguesa. Por is-so mesmo a leitura das suaspoesias não demandava, danossa parte, portugueses, qual-quer esforço de adaptação fa-vorávcl à apreensão da sua es-sência. Posto a fonética da lin-gua portuguesa falada no Bra-sil de há muito tivesse as suascaracterísticas próprias — asua dicção mais plástica, a suaacentuação mais luminosa, asua estruturação mais articula-da —, o certo e que a tradiçãométrica genuinamente portu-guesa continuava a dominar aprosódia dos seus poetas. Dir-se-la que eles se não haviamdescoberto ainda, sob o pontode vista fonético, poetas de"outra" língua. E é assim quenos versos de Cecilia Meirelesde "Vaga música" (não será otítulo deste livro a confissãode quem se descobre envolto nu-ma sonoridade verbal poéticaque não é a sonoridade verbalda prosa, e não sabe como ex-plicá-la senão considerando-a"vaga música"?) qualquer coi-sa a principia s. afastar, pelomenos ao nosso ouvido de por-tuguêses, do sulco aberto pe-Ias suas primeiras composições— esse sulco de uma plasticl-dade e de uma misicalidade le-gitimamente lusíi ias.For exemplo:'

1W Mil Ül M^áfMKé I ;,,^r4Í tíMfflmfiíWf ri ^ Y>Sr^^^^^^;^.^^^Siy^ iM^UnrfI ríiyM i/ w • i 11 11 kIIII ltlllul 1111 lif.sy/ • •*•* v / / / xu u Z/'^*'.' . i, ,i 'í *i; MhwiHHfHn\wm X/LL r^ fc?í~•-. - jgsp^itiir ' -\IP *i 7 II II Hh.lV I) III linlin .••>"• /v\PH£x7Nffl. »• ••'' S^l o. . \l ' •llL ^'i•** ' H IttWlti Hl ••• • -J^tí^t'-:". a Édni I • -üP -1w WiWi 01 ;:f^p^St%=*; 511^ Mi\\ y »,7N^inttfntrr imiív/iII 'i/ f •/ \ f' H\Tv ífeii

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&~CÍM mlWiM\\M\btf ^ifyffim \l:^\ //^fu3ll^ri^^ -

, ÍffliklDllf[WMm* |ÉiÍlÍi|iÍ^. ^|,fCiíCDesenho de LÍVIO ABRAMO

Primeiro foram os verdeso águas e pedras da tarue,e meus noniios de perdei-uo meus sonhos de encontrar*

rte.,«hias uepuis nouve caminhospelas florestas lunares,e. mortos em meus ou "Idos,mares brancos de palavras.

Não é preciso li mais longe,Flquemo-noh pelo?, " marcibrancos de palavras". Eis oque a poesia de Cecilia Mclre-les começa a ser, pelo meno<ipara nós, portugueses, j. partirde determinado momento. Eiso que ela é aeentuadamenteagora, no seu último livro,"Retrato natural" — um "marbranco de palavras". Por que?Forque, tendo tomado, talvez,consciência do valor fonéticoda lingua que usam. os poetaido Brasil cnsurdcccram o mu-sicalidade dos seus versos acel-tando, inrlusivamentc. a medi-da tradicional do verso lusia-da, amputado da acentuação eda rima. uma vez que descobri-ram que a fonética dos seusversos não era a fonética dosversos portuerueses. Surdos pa-ra nós, que os lemos com a nos-sa fonética baça. para êlcs. bra-slleiros. que os escrevem e lêemcom uma fonética colorida, taisversos não são surdos — náotêm "vaga música" — mas so-noros. têm a sonoridade pró-pria da sua própria dicção.

Claro que a música não é tu-do na poesia, sobretu Io desdeque morreu Verlaine. o poetamais musical da poesia moder-na, mas ainda é muito, ainda 6alguma coisa, aceitemos ou nãoa tese de André Spire. De fato,quando um poeta aborda a poe-sia pela sua margem menosplástica — e a música, no ver-so. assim o demonstraram oi"simbolistas", insinua-se pelolado oposto ao da plasticidade—, o movimento embalatóriodos "esquemas rítmicos" quesão os versos, detêm, pelo me-nos. oitenta por cento da suacapacidade de sugestão. l'or is-so mesmo, na poesia de u.na Ce-cilla Meireles, muito mais mu-sical que plástica, se a .trquite-tura do verso, parece cinerir-seàs leis clássicas da versificacãoportuguesa, o certo é que. uma>ez que foneticamente a pala.-vra empregada não tem o mes-mo valor, a música que se des-prende dessa construção rítmi-ca é inteiramente diversa daque dela se desprenderia se oseu conteúdo fonético fosse ge-nuinamente português. E, as-sim, musical a poesia de CeciliaMeireles só musicalmente acer-tara na mouche, produzindo asugestão inerente à sua estrutu-ra rítmica, quando, em verdade,seja lida po rum aparelho fo-nador fiel aos movimentosmusculares inscritos na pro-nunciação brasileira.

Fizemos à experiência. Aexperiência deu ótimos resul-tados. Entre os resultados obti-dos ressalta este, que é jaríicu-larmente significativo: a- apa-rente a-musicalldade de certascomposições de Cecília Meircvles desaparece por completoPodemos dizer mesmo que asua poesia, quando lida com osotaque próprio, se personalizaa ponto de adquirir sexo. Mas-cuiina, senão neutra, quando II-da à portuguesa, torna-se fe-minina, diabólicamente femi-nina, quando lida à brasileira.

Desvantagem, dirão os apoio-gistas da poesia assexuada.Vantagem, direi eu, pois quuestou persuadido de que nãohá poesia sem sexo. Os versosde um Antônio Nobre são fe-mininos; os de um Antcro mas-culinos: os de uni FernandoPessoa, pronunciadamert le neu-tros, isto é, entre os dois se-xos. Sim, não se me vá atribuira perversidade de querer dar aCecilia Meireles um epíteto quolhe não reconheço — o do"poetisa". Não. A autoia do"Retraio natural" é um "poe-ta", um dos maiores poetas dolíngua portuguesa de todos ostempos. Isso não nos impede,contudo, de atribuir à sua poe-sia o sexo que êla, «de fato,tem.

Música e sexo. fnnétiea e se-(Conclui na 10.» página) .

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Página — 4 LET RI S E ART ES

FRANK Harris, um dos

grandes biógrafos d clingua inglesa, e Ocor-

ses Bernard Shaw, tiveram mui-ias vezes, durante sua longuls-•ima amizade, — Harris morreuA 26 de agosto de 1931 com 76•nos de idade e Shaw comemo-rou recentemente o seu 94.°aniversário — inúmeras rus-gas, ora motivadas pela coiúie-cida irreverência do famoso es-critor o dramaturgo irlandês,ora pelo desossombro e rudezacom que aquele se referia aosl>ontos fracos deste.

Uma dessas rusgas teve orí-mem numa coincidência: am-lios estavam escrevendo umdrama sobre Joana d'Are.Chaw, que jamais se conside-ivou inferior a Shàkespeare,•segundo seus biógrafos, nãogostou de que alguém tambémcom talento, explorasse o mes-no tema que escolhera paratuna de suas peças. E, quandoi vecebeu o drama de FrordcHarris, arrasou-o, em carta a

lêle dirigida. Harris, por suavez, em resposta, arrasou,Igualmente, o trabalho deBhaw.

São essas duas cartas, cheiasde ironia e azedume, que a se-guir reproduzimos. Eis a car-ta de Bernard Shaw:

j "Caro Frank Harris:i La Romée acaba de chegar.

1 Antes de mais nada, perguntocomo pode você ser tão rombo,comercialmente falando. Sim,pois justamente quando eu

(acabava de reabrir no teatro omercado (por sinal bem lucra-tivo) dos santos medievais,não é que você traz para és-se mercado a única santa queeu havia monopolizado?

No entanto, o seu propósitofoi evidentemente artístico,embora você se tenha engana-do quanto ao gênero. Eu s$n-pre quiz aproveitar o assuntopara um drama, quanto maiormelhor. Você quiz sempretransformá-lo num conto,quanto menor melhor. O fatode ter eu feito um drama so-

hre Joana ofendeu o seu ins-

O^FOLCLORE não é sò-mente uma ciência emformação com perspec-

Uvas grandiosas. Os foicloristassão cavalheiros servidores deuma disciplina essencialmentehumana: ensinam a seus con-cidadãos o amor da pátria, e'professam, apesar das incerte-nas e angústias da hora pre-sente, o dogma da fraterniâa-de universal. Dia virá em quetodas as religiões fundadas sô-bre o amor lhe pedirão argu-mentos e apóstolos". Estas pa-lavras ãe uma conferência dogrande mestre francês Sainty-ves, merecem ser recordadas,Quando se celebra, a 22 deste,um aniversário a mais da cria-ção da palavra FOLK-LORE ese procura esclarecer os espiri-tos quanto à necessidade de in-centivar sem estudos, pois acultura do folk é um elementoessencial para o conhecimentodo caráter nacional de um pais.Disciplina de amor, sem dúvi-da, na intenção que deve ani-mar os foicloristas; no des-prendimento que exige a suapratica; na solidariedade im-prescindível às pesquisas, nacolaboração para os seus estu-dos. O contato com o povo, pa-ra colher diretamente de suaboca as expressões de sua sabe-doria, suas crenças, suas histó-rias, suas diversões, seus ritos,seu lirismo e seus trabalhos, sô

—se fará dentro ãe um clima ãeconfiança e~simpatia, de inte-rêsse e paciência, que só os in-tuitos amorosos permitem.Também as relações entre ospesquisadores e estudiosos, pa-ra a troca de impressões, o con.Jronto dos trabalhos, o ajus-te de opiniões, sobretudo noBrasil, onde os elementos ^o-Ihidàs .ainda são escassos e su-jeitos a retificações, será fe-cundo apenas dentro de um es-pírito compreensivo e largo, emque possamos ter a coragem "dedespir as vaidades, abandonara corrida das competições, aarc seu para a obra comum, sem-pre com desprendimento e boavontade. E deve ser ainda dis-

Troca de mordacidades e irreverênciasentre Bernard Shaw e Frank Harris^¦¦^¦¦^¦¦¦¦¦¦¦¦¦MHBHftMlISMSMHHHHHBHMHBSM^^

DOIS GRANDES ESCRITORES BRICAM POR UM TEMA

tinto; vocô se achou na obri-gaçoo de aproveitá-la para fa-zer coisa inteiramente dlfc-rente, mas não compreendeuque essa coisa devia ser umconto e não outro drama. Oresultado é desagradavelmen-te híbrido. Por que não jo-gá-lo no fogo e escrever oconto? Você nfto levou emconta a Idade Média, a Igre-ja, a Inquisição e o sistemafeudal, e reduziu o assunto àhistória de uma jovem purita-na da Virgínia, uns quantosbeócios, dois salafrários c umcarrasco americano muito mo-derno que diz desaforos a umlorde inglês e zomba do San-to Oficio (que o teria queima-do em dois tempos por he-resia). Típica obra de O. Hen-ry. nem para Maupossant nempara você. Pique pelo séculodezenove. Nem um homem degênio e de fôlego para longashistórias, como Anatole Fran-ce, pôde com a Donzela. SuaVie de Jeanne d*Are foi a gafemais absurda da literaturamoderna, até que você apare-ceu com a sua estúpida LaRomée, avantajando-o em in-sensatez. Não se deixe enga-nar pelos que não querem bri-gar com você: não há nada afazer senão jogar tudo na ces-ta de papeis inúteis com umagargalhada de bom humor epedir desculpas à posteridadepelos exemplares que sobra-rem.

Dirá você que eu me tor-nei totalmente insensível aosseus sentimentos, como aossentimentos alheios em geral,e, sem-cerimônia, o vou en-xotando do meu terreno, comose você fosse um vagabundoqualquer. A explicação é que

minha mi tule afinal cedeu; hádois meses que estou doente oencontro-mc agora em meiaconvalescença. A parte de mi-nha pessoa de setenta anospara baixo está completomen-te morta. Eu sou uma ruínaviva; leve isso em conta aojulgar a minha opinião.

Minha letra está ruim de-mais para que o obrigue a de-cifrá-la.

Seu. meio vivo,O. Bernard Shaw".A resposta de Frank Har-

ris, rude e irônica, foi a se-guinte:"Meu caro Shaw:

Recebi sua carta sobre LaRomée. Que extraordináriacarta você me escreveu! Lem-bro-me do choque que tivequando vi, na sua critica aomeu Shàkespeare, que você seapropriara da minha desço-berta de que a Condessa deRousillon era a mãe de Her-bert. irmã de Sydney, acres-centando que eu me recusavaa admiti-lo. No entanto, eramestas as minhas textuais pa-lavras: "Creio que Shakes-peare se inspirou nesse mag-nífico modelo quando criou »velha Condessa Rousillon".Em seguida fazia algumaschacotas à minha custa, pre-tendendo que eu havia ditoque Shàkespeare se inspiraraem sua própria mãe — tudopura invenção.

Agora essa sua critica à mi-nha Joana d'Arc não é menosalucinante. A parte da suapessoa que tem setenta anospara baixo é a que ainda estáviva, no que êla tem de pior.Eu escrevi minha peça antesde ter visto a sua. Joana

,4'Arc, como Jesus, estava na

minha cabeça há vinte anos; osó compreendi como sua almase formara depois que pudever que, do fundo do seu jar-dim em Domremy, ela avista-va a igreja. No entanto, aúnica coisa que você encontrana minha obra e que carras-co é um americano modernis-simo porque ousa dizer desa-foros a um lorde inglês ezombar do Santo Oficio.

Você se considera dono do"terreno Joana d'Are" e querenxotar-me dele. Isto me levaa dizer-lhe algumas verdadessobre a sua obra e no seupróprio estilo. Nas internü-náveis quatro horas que duraa representação, só há doismomentos em que você tentouinsuflar alguma vida a Joanad'Are. A sua camponesa diri-ge-se ao rei tratando-o de"Carlinhos* diante da corte —um anacronismo tão notóriocomo o epílogo; e você faz asua heroina rasgar a sua ab-juração, o que foge à verdadehistórica, mas é um belo re-curso teatral. Isto no que tocaà caracterização da heroina.Mas ainda não é tudo. O seuInquisidor-mór faz um discur-so de mil e quinhentas pala-vras, que pode ganhar vidagraças a um ator excepcio-nal, mas que, a não ser assim,só provoca bocejos. Em segui-da você senta três homens emvolta de uma mesa para dize-rem, durante trinta e dois in-toleráveis minutos contados arelógio, tudo o que você sabesobre a França do principio doséculo quinze, mos que nãodizem nada que desperte o mi-nimo interesse. E a isto cha-ma você um drama!

O conceito que você tem de

FOLCLORE, DISCIPLINA DE AMOR

ciplina ãe amor, porque os foi-cionstas precisam aesperta-ioem todos os espíritos, a fim ãeque considerem e prezem a sa-bedoria e as artes populares co-mo um patrimônio comum,cujo estudo não é um bisanti-nismo, mas uma necessidaáe sequisermos penetrar a alma ãanossa gente, onáe se estruturae se continua a nacionalidade.

RENATO 'ALMEIDA

E ainda precisa ãe amor parase suportar o riáiculo e a zom-baria dos que negam o valor aofolclore e menosprezam o es-forço ãe seus cultores.

E não poucos têm verificadoque, para âiminuir os estados detensão tão responsáveis pelaimensa desordem internacional,o folclore será fator preponde-rante, porque, sendo a mais na-

cionai de todas as expressõescoletivas de uma nação, é amais internacional. As vozes decada povo têm sempre uma re-percussão de outros mereãia-nos não raro muito afastadose, nesse sentido, abre-se umcampo de comparações larguís-simo, dentro ão qual se podemver as granáes uniãaáes huma-nas, que os governos e as elites

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Vinheta de SANTA ROSA

A INÚTIL ESPERAÁs formes do corpo nuSe desfazem e se enlacemMergulham mornas,E se dissolvem,Em brumas de sonhos, «arVlias,Lassidão, amargura.

Ah! Porto felizDe imaginária ilha:— Sedento de prazeres renovadosCada beijo colhido,Ainda é a ansiada esperaE a ausência amarga do ambicionai

Aquele amor talvez, que redimispeUm dia.

Todas as penas do caminho agreste,;E transformasse em luz,Som, harmonia límpidoDe azul e pássaro,A insatisfação pesando imensa;— Terra e Universo,

Ter como alentoA cerração-muralha.

E um coração de pano,E os braços vaziosNa espera inútil...

DIRÇEU QUINTANILHA

Domingo, 20-8-1950

um oim-..- v. iu#.wt ijUü Jcãubtrato a Pilatos do "meu ve-Jho" e dê duos horas de ca-vaco a Caifás c seus amigos.Nosso desacordo, como vê, ofundamental. Você acha queos Cauchons, os Inquisidoresc mais seres vulgares mere-cem ser pintados de corpo in-teiro. Mas esses, como os po-bres do Evangelho, andam poraí aos montes e não precisamde um Shaw para pintá-los.Plnero, Henry Arthur Jones euma dúzia de outros escrito-res já o fazem. Porém emJoana d'Are há uma grandepersonagem, uma alma herói-ca como as que mais o tenhamsido; queremos sobretudo sa-her como ela veio a ser o quefoi e como foi tratada peloshomens. Você se esquiva aoproblema principal: há maisforça criadora nas três pri-meiras páginas do meu traba-lho do que em todas as suasquatro horas de drama. Noque eu fiz você devia pelo me-nos ter encontrado um esfor-ço para compreender Joanad'Arc; e devia perceber quenão ganha nada com um es-cárnio barato.

Que extraordinária escassêsde poetas há hoje na Ingla-terra em comparação com operíodo sobre o qual estou es-crevendo, o de minha vida nofim do século passado 1 Vou;é a meu ver a principal figu-ra de 1895 a 1905, como Wll-de o foi nos anos anteriores.

Lembro-me sempre do pra-zer que me deu sua Cândida,um prazer semelhante ao queeu esperava proporcionar-lhecom a minha Joana. Falhei,parece; mas o difícil é deter-minar se o malogro é meu ouseu. Recordo-me de ter lidoque quando Cervantes. depoisde haver elogiado Lope de Vegapelas suas excelentes comedi-as, lhe mandou o seu Dom-Quixote, Lope respondeu quonada podia fazer por êle. poisnão havia o menor sinal detalento naquele livro.

Sempre seuFrank Harris.

poderiam aproveitar se o mun-do único fosse na realidade oseu sonho. Se se quisesse amaro povo e não mistificâ-lo paraas guerras, a serviço de insóli-tas ambições e ão âesvario deideologias frenéticas, mais va-teria estudá-lo a fundo, auseul-tar suas tendências e pendores,servir suas necessidades, com-preender sua existência verda-deira. E, para isso, mais doque discursos, valeria o conta-to direto com a gente simples,para lhe compreender os an-seios e problemas. Entre nós,por exemplo, que lição seria pa-ra a higiene o conhecimentoseguro ãe tôãa a nossa medi-cina popular, a fim áe com-bater pela peisuasão crendicese ábusões não raro perigosas eaté fatais.

Por outro lado, o conhecimen-to direto do povo, nos trará avantagem de conservar, comohá pouco se deveria afastar, tu-ão o que revela a sabeãoria e abeleza áe suas práticas, áe suasartes e áe seus costumes. Ve-mos, no Brasil, a regressão con-tinua ão fator tradicional nofolclore. Muitas festas desapa-recém porque são abandonadasà mingua ãe estimulo, quandonão ostensivamente proibidas.'Não morre o folclore, que o po-vo é eterno e transformará in-cessantemente as sobreviveu*cias que lhe hão-âe chegarsempre. Mas, o nosso ãever «guarãar na sua alma a conti-nuiãade nacional,. evitando oseu âesaparecimento, já que dcivilização mecânica e as c°n"áições ãe vida que determinasão fatores irremoviveis dessedesgaste.

A defesa do folclore não de-ve contudo nos levar a conside-rá-lo um regionalismo pitores-co, ou um exotismo interessan-te. Não é fazendo nas cida-des festas regionais, nem comas duplas caipiras ão râãio,que salvaremos coisa alguma,porque tudo isso é artificial «o trabalho tem áe ser feitoprotegendo o povo contra os

, jÇonclul na 10.» página);

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Domingo, 20-8-1950 LETRAS E ARTES Págins

TEL-AV1V, agonio tVla "AirFrance") — Continuando a rc-portagem fiel do meu encontrocom Max ürod, direi que de-pois da longa conversa «obreKarko, de que dei conta naoutra correspondência, Brod foientão que passou a interrogar-mo sobre a minha palestra comIlcldegger.

Ouando lhe mostrei a foto-grafia quo havia tirado do fi-ló«-.ofo na Floresta Negra, uaãiigo de Kafka exclamou:rtToí sempre ansm que eu Ima-ginrl esse diabo!"

Jnicrrogcu-mc depois sobre avida cultural no Rio, principal-mento o teatro c a música; eeu não pude melhor informá-lodo que lhe mostrando vãriosnumeras de "Letras e Artes".Por sua vez, dliw-ire cie quecomposições de Vila-Lobos ha-viem sido ccccüíaffos neTa or-questra s'nfôn'ea de Tcl-Aviv,cr.m grande socossoj que a mú-sita desempenhava um papelextraordinário m v'da do novoEstado; que o TCihulz (c-péclede habitações curais calcMvas)do Ein Gov, às margens do !a-go Tiberíadcs, estava cm v?asür. torna----" o Salzburgfó doOriente Mérito.

Sobre'teatro, disse-me haverali dois. ambos de una ímnor-tância toterwisioiia!: o Hr.b-mac o Ohel. Ele próprio Gcupa ocarro de leitor d*> pr*mc"ro. es-tando ònc4trre?ado de aíieiiar,de nrocirar e de recusar peçasc'(ran":e»vas. Entre as peéíis dorrncrtórío figirçáiQ: "OeV.'?Mente Serráí", de Ercamie!r.')!ss, a ^Pn*sln r*s7críue".-s"-." e "D'ív lil^e tev/n", diThortõn Wíldcrí I? alçranas pecas naclí>"àí'' também, da melhor qualidade;

A JUVENTUDE DE ISRAEL

Os escritores jovens ane-gnm-ürc à tradição semita e lie*braica e vòlía^-sc para a cul*tura ocidental?

E-cre7cfB tedos em hebrai-co e procuram adauirir nmasó!?da cultura hebraica. Rias égrantle o número dos oue estu-catam nas univerridides fran-coras, inglesas, americanas, cfc.e conservam es métodos depensar, a maneira de abordaros problemas, prónrias dos res-péeiivòs paísea.. Queremos pro-gredir em estreita l5ga»"âo ecompreensão cm o mundo osl-dentai, mas não im?tá-lo. Es-pe:amos que venha logo o diaem que possamos apreciar acultura brasifc'ra, graças a re-lações mais íntimas e assíduas.

A VIDA UNIVERSITÁRIAPode dar-me alguns as-

pectos da vida univcristária eraIsrae??

4 ¦— Grandes professores deixa-ram suas universidades no es-trangeiro para ensinar nasuniversidades de Jerusalém eTcl-Aviv. O irr^.tiíto de ouí-mjca de Rehovoth é o primei-ro do mun3o. mercê dos esfer-cos do prof. Clia*m Weizmann.Grandes sábios em arqueologialecionam entre nós. O prof es-sòr Martin Bufcer en?ina filo-sofia em Jerusalém. Quanto amocidade, mostra-se ela tão se-denta de saber que não há pa-ra ela lugares suficientes nasuniversidades. Em Kihutzin,nas aldeias agrícolas, depois dotrabafho, numerosas são aspessoas uue eáíudam música,história, línguas, filosofia e éum grande problema orientar esatisfazer e?ses anetitefc. Mas,vá ver Martin Bulrer, em Je-rusalém e ele o informará nes-se assunto, me^r do que eu.

UM ROMANCE SOBREJESUS CRISTO

rode dizer-me algo do seupróximo livro?

E' um romance, em queJesus será o personagem prin-cipal, desenrolando-se a açãona Galiléa, às margens do la-go Tiberíades, onde, segundoSão Mateus, Jesus foi pesca-dor. Não posso dizer-lhe o te-ma do romance, mas aludireia uma história subsidiária quenele figura: a história de Pon-cio Pilatos, epicurista, quezomba mesmo de Platão, eama a cultura, a vida fácil eabandona o paganismo ae con-

EM ISRAEL, CONTINUANDOA PALESTRA COM MAX BROD

"KAFKA NÃO DEVE SER ENCARADO POR UM ÂNGULO ESTÉTiCO" —D!Z O GRANDE AMIGO DO AUTOR DE "O PROCESSO"

11 '•¦

taclo de Cristo. O livro intl-tular-se-á "Jesus do Nata-reth", 011 "O mestre".

VOLTANDO A KAFKA

Mas, agora, a palestra retor-na a Kafka.

Qual a atitude de Kafkaem face do individualismo e docoleíivismo?

No seu 70.° aforismo, Kaf-ka errereve: "O indestrutível éum; cada homem é esse imíes-trutivel e o conjunto dos ho-mens o ó tambrm. O indestru-tivel lhes é comum; é o queliga un3 aos outros". Aliás, es-creveu cie também: "Não sepode contar o que se ignora,ir/to é. uma mentira; sementeno co^açfio pode transpacsafuma certa verdade".

A substância do homem e doCosmo era idêntica para Kaf-ka. Pensava ele eme as almassão como vagas de um únicomar, separadas por um mo-mento mas que se perdem, emseguida, de novo, umas nas ou-trás. Não foi, assim, nem indi-vidualista, nem coletivista. Pen-aava oue o grupo, o povo, ahumanidade se abrem, natural-mente, para aquele que encaracem seriedade a si mesmo. Aexperiência vivida do eu e aexneriêncfa da coletividadeeram para ele uma só coisa.A oposição não seria mais queilusória.

KAFKA E LAO-TSE

Falou-se muito da lkacãode Kafka e Lao-Tse, ao "BemCaminho". Por outro lado,abordando o problema do sen-timento religioso de Kafka,Pierrc Klossowski escreveu:"Solicitado pela confiança cris-tá, como pela esperança judai-ca, Kafka não pôde participarnem de uma nem de outra".Que pensa o senhor-disso?

Kafka estava persuadidode que a existência do mundoespiritual possui qualquer coisade indestrutível. Tinha a con-vicçâo e não a esperança dessemundo. Sabia que não era pre-

LOUIS WIZNITZER

ciso procurar esse inundo, nemse empenhar cm atingi-lo, umavez que ele estava ali, juntoconsigo, no momento cm que oreconhecia. Ao professor Ru-dolf Stcin. fundador da antro-prosofia, Kafka confessava quetinha visões. Escreveu ele:"Corpo a corpo como o céu.Paz, reconciliação, esqueclmen-to" Os que procuram um Ca-minho, Kafka os encarava comdesconfiança e achava que cs-tes não procuram senão umpretexto. Dizia mesmo: "O queeles chamam Caminho não émais do oue lentidão e con-temporizacão". Kafka estavatão imbuído do divino que che-gava a excluir o milagre. Parao ciente não pode haver mila-gre, da mesma maneira oue nãohá estrelas durante o dia.

Quanto a Klossowski, pode-mos lhe ser gratos pdr três coi-sas: compreendeu que Kafkanão era de maneira absolutaum pessimista e sublinhou aaversão indubitavcl do mesmopor toda sistematização do de-sespero. Mostrou a preocupa-Cão de Kafka em atingir omundo divino Afinal, estabe-leceu a impossibilidade de en-carar-se Kafka por um ânguloestético. Para Kafka a arteera um melo de exprimir-se aVerdade. Fora desses três pon-tos, não estou absolutamente deacordo com Klossowski-

Num aforismo ainda inédito,Kafka escreveu: "devemosaprender a suportar todo o so-frimento. Cristo sofreu pornós; devemos, agora, sofrer porele". Queria dizer com isso queo homem não será salvo senãoquando identificar-se com oque há nele de indestrutível etiver plenamente atingido omundo espiritual. Não encon-tramos, propriamente em Kaf-ka a esperança cristã nem aesperança judaica mas umaconvicção monoteista, judaica,apoiada também nos mais pu-ros textos de Platão e dos Upa-neshads, dos quais se pode di-zer que são a fonte escrita detoda verdade..."

E Max Brod repete a frase

de Kafka, erguendo o Index:"O que chamamos caminho nãoó senão retardamento". Mas,de repente, como que ilumina-do, diz-me: "Agora, estou meIrmbrando. Kafka falou umdia: "O divino é uma infini-dade de relâmpagos dispersosatravés do mundo. A tarefa dohomem será a de reuni-los".

A lembrança dessa frase vle-ra à memória de Brod, á forçade falar no amigo.

KAFKA E OS COMUNISTAS

Os comunistas censuramKafka de haver pregado um ri-tual sem religião; uma obe-diência cega e a completa acei-tnção da miséria do homem

Não compreenderam, ab-solutamente, Kafka. Direi, aocontrário, que o meu amigopregou uma religião sem rituale nada lhe causava mais hor-ror do que a miséria do ho-mem, tanto a miséria espiritualquanto a material-

O AMOR — O VERDADEIROCAMINHO

Haverá algum aspecto de>Kafka que tenha permanecido,na sua opinião, pouco, conhecido,esquecido?

Certamente, não se temcansado de insistir no seu de-sespero. mas é o seu humor,sobretudo, que eu admiro e doqual me lembro com ternura.Costumava ele sempre brincarconsigo mesmo, principalmenteno domínio religioso, em que oseu humor, pode-se dizer, erainesgotável. Costumava mos-trar a diferença existente en-tre o verdadeiro mundo divinoe a imagem apressada que delefaz o homem. Devemos tendertodos os nossos atos para océu, mas não Imaginá-lo deuma maneira falsa. *

Um dos processos do humorde Kafka era o de tomar narigorosa acepção da palavraaforismos, provérbios e ditospopulares, e construir em tor-no deles uma situação que setornava forçosamente absurda,

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Desenho de OSWALDO GOELD1

c.tiel horrível. O oliefe do es-critório, em "Meiamoríose'*.diü ao empregado que esie nãoé lenao uma verminn e eis t\uoeste se transforma cm vcnnl-na. Um provérbio alemão diiser a única experiência a queí...'iu;o> cm nosso próprio cor*po c a máquina da Colônia l»c-nitenelárla. no "Processo", es*creverú, com uma agulha, nopeito do culpado, a sentençaque lhe deram, antes mesmo decomeçar a tortura. O humor doKafka era, precisamente, sua"stlmneunç", o "humor meta-fisico". Não podemos Identifl-sejo a um otimismo nem aum pessimismo. E* uma dialc-tica de forma poética.

HORROR AO CEL1BATONa maior parte de suaa

obras Kafka fez da mulher um»espécie de intermediário entroo mundo celeste e o homem.Julgava ele estar a mulhermais perto de Deus do que nos?Ser ela capaz de salvar-nos?

Não; Kafka não julgava amulher mais pióxima da dlvin-dade, mas com a capacidade doprovocar no hnmem o amor desi mesmo. Nunca acreditou elecm intermediários. Mas acre-ditava numa felicidade aqui naterra, notadamente pelo casa-mento. Não escreveu ele? 'Ca-sar, fundar uma família, cri-»rfilhos e conservá-los nestemundo incerto, guiá-los, é, naminha opinião, o que o homempode fa/er aqui na terra demais elevado". Tinha ele, co-mo já disse, profunda aversãopelo celibato. E não escreverauma frase que desmente todasas interpretações a Camus:"Sisifo era celibatário?" A cha-ve de Kafka, para mim, não 6nem o desespero nem a angus-tia, mas o amor. A palavraamor aparece raramente nasua obra. Seus livros estão, aocontrário, cheio de castigos, daexecuções, de punições, porqueos heróis pecam por falta doamor.

AS PREDILEÇÕES DEKAFKA

Quais eram os autoresparticularmente apreciados porKafka?

Flaubert, Tolstoi, Novalis,Thomas Marn. Lembro-me doque Kafka relia-mc, com deli-cia, a primeira frase de umanovela de Thomas Mann, pu-blicada em 1904: "Silêncio, ago-ra vamos contemplar o interiorde u'a alma". Pcdlu-me várií*vezes, permissão para reler e«-sa frase. ¦¦_ _

Além das cartas de Kaf-ka, cuja publicação o senhoranuncia, existem ainda inédl-tos dele?

Sim. numerosos desenho»que publicarei um dia, par»servirem de "mapa cartografa-co" a fim de melhor compre-ender-se a obra de I. afka. Es-ses desenhos são notáveis peloseu paralelismo com as quali-dades do narrador. Até ao pre-sente, não publiquei senão umpequeno número deles, acompa-nhados de uma biografia deKafka da minha autoria. Ne-les, como nos romances, Kafkaharmoniza o realismo maiscruel à fantasia mais alta. Ospersonagens que o romancistadesenha, cemo os que descre-veu, permanecem numa au-ra de mistério; não poderaoavê-los senão de fora.

Kafka nunca aceitou a psi-cologia como meio de explica-ções. porque ela tende semprea tudo explicar facilmente.Conseqüência: nada explica..„

Parece que era o bastante.-Eu já abusara da paciência deMax Brod. ,t Não podia fazê-lofalar pela noite a dentro sobroKafka. Haveria também motl-vos para levá-lo a falar de ri.Brod é igualmente um filosofoe homem de grande cultura.Seu pensamento se enquadranas linhas de um novo plato-nismo, abordando o problemacia sobrevivência da alma, damorte da liberdade da mate-

Mas há quatro horas queconversamos. A filosofia ctqBrcd ficaria para outra veas, ,

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Pagina — 6 • L C 7 /? W .9 É '.4 J? 7 E S Domingo, 2U-U-1950

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'LETRAS E A R TES Pagina — 7

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|Gilberto Amado viaja para o Brasil

Depois ao uma longa permanência nos'stados Unidos e na Europa acaba de par-.ir pnra o Brasil o escritor Gilberto Amado.Jentro de poucos dias, o autor da "Cha-

o de Salomão", quo viaja no "Andes",irá acolhido efusivamente pelos numero-jr anilgOB o admiradores com que contaíüta Capital. Gilberto Amado Jú reviu as.-ovas do seu último romance "Mnrlqul-nas Camacho", cujo aparecimento se dará

.ainbém dentro cm pouco.

1 A volta de José Cândido de Carvalhoy José Cândido de Carvalho, que em 1938 revolucionou os

niclos literários brasileiros, apresentando-se em "Olha parao céu, Frederico", como o mais Jovem dos romancistas na-cionais de então, subitamente desapareceu da vida intelõc-tuat, solicitado por outras atividades. ...

Agora, o romancista fluminense, que projetou cm senlivro de estréia uma pungente história dos canaviais de semSetado natal, está novamente ás voltas com a literatura, m-cluslve publicando crônicas nas edições semanais deA MANHA.

Consta que José Cândido de Carvalho possui, inédito, umyromance, intitulado "Porto de Angústia". Assim sendo, émais do que possível que em breve o Jovem escritor flu-' iimse o lance.

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Goethe só escrevia de manhãGoethe dizia a Ekermann:

"Nao posso escrever senáo nas pri-melras horas do dia, quando me sintoreanimado e fortificado pelo sono e as to-lices da vida quotidiana ainda náo me as-;al taram".

B referindo-se à composição do "Fausto*ilzla ter este começado, ao mesmo tem-

.-jo que o "Werther"."Quando retornei de Weimar Já o"ruzla comigo"

^^^^^^^^^fe^S^^»^^SCorrespondência de Charles du Bos e André

CideVerdadeiro acontecimento literário é a publica-

cão das cartas de Charles du Bos a André Gide.com as respostas deste último. Essa importante cor-respondência vem revelar passagens muito curiosasdas relações de ambos, bem como traços psicológicosfundamentais dos dois grandes espíritos.0 "Morro dos Ventos Uivantes" em francês

Uma nova tradução do "Morro dos Ventos Ui-vantes" em francês. Assina-a Luise Servien, fazen-do a indicação de que se trata de uma tradução in-tegral .Convém lembrar que uma das últimas trans-posições do livro de Emily Bronte para o francês foifeita por Jacques Lacretelle.

Mais traduções francesas de obras-primasMais três traduções dignas de nota para o fran-

cês: "Jude 1'Obscur", de Thomas Hardy, liyro que,como se sabe, foi há pouco, também vertido parao português; "Le Jugement de Ia Mer" e "Consola-ta", duas novelas empolgantes de Gertrude Von LçFont, famosa escritora alemã.

As dedicatórias de Ferreira de Castro emfrancês

Ferreira de Castro esteve, há pouco, em Paris,para escrever as dedicatórias do seu romance "A lãe a neve", traduzido para o francês com o titulo"Le brebis du Seigneur". Por essa ocasião uma desuas admiradoras pediu-lhe que escrevesse a dedi-catória em português o que levou Ferreira de Castroa considerar sorridente: •"—A senhora me presta um grande serviçocom esse pedido, porque eu só tinha formulado qua-tro dedicatórias em francês e estava cansado de re-peti-las".

0 presidente da França leitor de BalzacDivulga-se que o presidente da República Fran-

cesa é, um leitor apaixonado de Balzac, aproveitan-do todas suas horas de folga para mergulhar nosromances do autor de "Père Goriot". Acrescenta-seaírtda possuir êle uma predileção especial pelo "Cou-sin Pons", obra que considera-: ''Du Balzac at-tendré". " ¦ :.. - ¦

O último livro de KeyseríingO último livro deixado pelo conde Keyserling. e

escrito pouco antes da morte do filosofo, acaba deaparecer em tradução francesa, sob o título: "DeIa pensée aux sources de Ia vie"-

As edições esgotadas de Betem do Parál/m prosador o um poeta brasileiro que, Juntos, estivo-

rum recentemente cm quai-o todos os Estados do norte, oncou-liaram numa livram de Belém do Pará varias primeiras ecil-i;6ts do uutorca que,* nu porta do J'#iô Olymplo. proclamam

nos quatros ventos quo seus livros estão esgotados.A ílm de solucionar o impasse, esmagadoramente provoca-

do pelos estoques vistos, os mencionados escritores tonciul-ram quo so deveria adotar uma nova linha do ação diantedcssai- afirmações um pouco levianas. Assim, quando X., dis-seno que seu livro csrá esgotado, caberia a ressalva: "Nao en»Belém do Pará".

Novo livro de KravchenkoContinua a sra. Maria Helena Amoro-

so Lima Genlse a tradução de "Escolhi aJustiça", o novo livro de Victor Krav-chenko, cujo "Escolhi a Liberdade" causouum dos mais sensacionais sucessos de 11-vraria Já verificados neste século em todoo mundo.

Como o voiume anterior. "Escolhi aJustiça" será lançado pela Editora A Noite.

"O Romance Brasileiro"Os estudos reunidos no número especial que a "Revista

do Brasil" publicou em 1941 sobre o romance brasileiro de-verfio aparecer agora em livro, nas edições "Cruzeiro", com;o acréscimo de mais dois ensaios; de Eugênio Gomes sobreXavier Marques, e outro de Brito Broca sobre Coelho Neto.O volume, que terá o titulo "O Romance Brasileiro" aparece#ob a responsabilidade de Herberto Sales e Aurélio BuarqueKle Holanda. f

*"Sargento Fortuna e outros contos"

A Biblioteca do Exército Editora publicará proxi-mamente o livro "Sargento Fortuna e outros contos",de autoria do sr. Rubens Mário Jobim. O livro em quês-tão, que foi selecionado pela Comissão Diretora de Pu-blicação da mencionada Biblioteca, consta de três partes,assim distribuídas: Contos históricos, Instantâneos da"«"da Militar e Contos de Vida e Morte.

O novo número de "Trópico"

Já se encontra em circulação novo número da re-vista "Trópico", editada pela Divisão de Expansão Cul-tural da Prefeitura de São Paulo. O número em apreço,que se refere aos meses de junho e julho passados, trazcolaborações de Alcântara Silveira, João Pacheco, He-lena Silveira, Nuto SanfAna, Ernani Silva Bruno, JoãoCaldeira Filho e outros.

•A Biblioteca Militar estimula os estudos de

sociologiaAcaba de ser lançada peia faiuiicteca Militar a segunda

edição do precioso trabalho "Introdução ao Estudo da Ama-zonia", de autoria do escritor Osório Nunes. Com essa edi-

ção, que é de sete mil e quinhentos exem-'*$ .ares e se destina aos seus subscritores, a-,H. biblioteca Militar acolheu um ensaio de

: cciologia e economia regionais reputado o-: iiclhor até hoje lançado sobre aquela ex-

;ensa e riquíssima região do Brasil, visan-.o torná-la melhor conhecida de nacio-tais e estrangeiros.

Esgotada que está a primeira edição-Io livro de Osório Nunes, que se sagroujm dos mais autorizados conhecedores daAmazônia e de seus problemas, deverá,Jentro em pouco ser lançada a terceira,melhorada e acrescida de novos documen-Los, uma vez que a segunda foi reservada,aos subscritores da Biblioteca Militar.

Com essa terceira edição da "Introdução ao Estudei" daAmazônia Brasileira", o livro perfaz um total de treze mil equinhentos exemplares em circulação.

Osório Nunes é um dos mais brilhantes colaboradores des-te suplemento que já deu divulgação a vários ensaios de suaautoria.

f ielding e Tom JonesHenry Fielding é um dos grandes criadores ffo ro-

mance inglês è um dos maiores mestres da literaturauniversal. Em sua obra vamos encontrar um laboriosoe lúcido trabalho de fixação da sociedade do seu tempo

e mais do que isso um espelho fidelíssimo de caractereshumanos, reproduzidos com seguros traços de análise.Fielding soube descer e elevar-se, em sua arte, segundoas oscilações da natureza humana, da humildade ou doorgulho dos tipos que lhe coube retratar, conservandoporém em toda a essência do seu pensamento a admi-rável precisão de um observador nato. Começou pelodrama. Escreveu peças. E até uma certa medida viveuum pouco do teatro, instrumento de que se utilizou paramais se identificar com as camadas anônimas do povoe com a psicologia coletiva, uniforme e marcante, davelha e puritana Inglaterra da sua época. Mas a suagrande força artística encontrou expressão máxima no* romance. E sobretudo na pitoresca e comovente ""His-tória de Tom'Jones". livro que os brasileiros conhecemagora numa esplêndida tradução de Otávio Mendes Ca-jado, lançado pela Editora Globo.. Com essa obra, Fiel-ding abriu perspectivas para a renovação que se seguiude toda a prosa inglesa e particularmente de todo o ro-rmance ingfês moderno que encontra nessa obra um lu-minoso ponto de partida. O leitor tem de tudo nas pági-nas da •'História de Tom jones". Uma arte sóbria denarrar. TJm amontoado de temperamentos humanos, ca-da um sendo um modelo, uma sumuia de vida. Um és-píritg criador por excelência, utilizando na sua obra osingredientes mais sedutores do processo de elaboraçãomental. E sobretudo o )»"»no-»r. qiie é a nota constantebo desenvolvimento de sua narrativa. —— A,

HA CEM -ANI), EM PARIS,MORRlIsALZAC

Há cem anos, no dia 18 deugôsto de 1850, na sua casa da ruaFortunce em Paris, morria ilono-ré de Balzac. Extinguiu cm plenoapogeu da sua capacidade criado-râ, quando ainda podia legar-nosmuitas obras do mesmo pulso dasque compõem a sua monumental"Comédia Humana".

Nada mais triste do que o fimdessa vida prodigiosa. Balzac con-sumiu-se no trabalho criador, ¦'es-golou-sc numa existência que nun-ca teve um momento de repouso efoi toda ebulição espiritual, ativi-dade enérgica.

A paixão pela Condensa Haus-ka, o último romance sentimentaldesse grande amoroso, levou-o áRússia, onde o ciima inhospitoconcorreu para agravar o mal quejá o minava. A 14 de março de1850 Balzac casa-se em Kiew comEveiina Hauska; unia-se, assim,definitivamente, à mulher quehavia sido até ali o seu maior

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amor. Logo em ¦'.ida, os doisesposos s<: iiõem Raminho para

raris. Balzac sentia-se cada vozmais doente e a viagem se torna-va penosa por estradas quase in-transitáveis.

Afinal, no dia 21 de maio che-gam a Paris e dirigem-se à casada rua Fortunce, onde deviam ha-bilar, mas onde os espera, logode início uma surpresa bem de-sagradável. O criado, que os es-perava tinha enlouquecido repcn-tinnmente e tornou-se necessáriochamar um serralheiro para abrira porta. Balzac vai para o leitoextenuado: a 31 de maio declara-seuma peritonite e o doente sofreatrozmente. A 18 de agosto, entraêle em agonia, tendo recebido aextrema unção. Victor Hugo, queo visitou nesse dia, narrou os úl-timos momentos do romancista, nolivro "Choses Vues". E foi igual-mente quem falou no cemitérioPère Lachaise, quando o corpo deBalzac foi dado á sepultura.

"Antologia de Poetas da Nova Geração"t

A "Antologia de Poetas da Nova Geração", organizada porAlcides Pinto, Raimundo Araújo e Ciro' Colares, que acaba deaparecer, em edição Pongettl, revela-nos uma pleiade de poe-tas Jovens, muitos dos quais não haviam até agora entradoem comunicação com o público. Álvaro Moreira, prefaciandoo livro, situa os poetas na literatura brasileira moderna. Nãopoderíamos nesta nota citar nomes, sem o risco de cometerInjustiças. Diremos que nas 23 figuras que aparecem na"Antologia" encontramos multas possibilidades e esperanças.

•Os continuadores de Catulo

Não deixa de' ser interessante observar-se, na literaturabrasileira, a existência de uma linha poética sertaneja quepossui ura alto. prestígio Junto áo grande público. A íitniramais importante desse domínio lírico é Catulo da Paixão Ccvrense, que formou uma bagagem de sugestivo categoria.Agora, Ary de Lima, em seu livro de estréia "E o sertão res-suscitou", firma-se como \ira continuador do bordo de"Luar do Sertão". Possuindo originalidade de inspiração etalento pessoal, Ary de Lima revela ter qualidades própriaspara desenvolver o sertanlsmo lírico.

Enigmas populares de caráter surrealistaApreciando o importante "Enigmas Populares", livro que

:o:viorista Jcsé Maria de Melo acaba de lançar, o criticoérgio Milliet salientou que algumas das adivinhas ali reco-lidas possuem indiscutíveis traços surrealistas, como se oipirlto anônimo do povo houvesse lido André Breton, Pica-

, Cocteau e outros.As citadas adivinhas pertencem ao populário do povo¦goano.

jean Ciono e a guerra passadaO romancista francês Jean Giono, autor de alguns ro-

lances poéticos, que decorrem quase todos em ambienteampesino, descritos com grande lorça de evocação, foi pre-

nos primeiros dias da guerra passada, por haver rasgado"irtazes de mobilização, fiel ao seu ardente pacifismo. En-arcerado no forte Saint Jean, em Marselha, conseguiu, en-retanto, recuperar a liberdade, graças ã intervenção da ra-

-mãe da Bélgica,Mais tarde, viu-se censurado por haver publicado um

omance em jornal colaboraclonista.

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/ielding em português

Retrato de André Breton*ARlE-BERTHÊ gRNST

O famoso romanca de Pivlding "Tom Jones" acaba de sereditado em pm-iu ,u... cm dois volumes, traduzido por Men-des Cayado e incluído na Biblioteca dos Séculos, da editoraQlobo. Esse romance, quo André Gide considerou uma vmla-de; a obra prima no prefácio da tradução francesa, é do maisalto interesso lltcrãrlo, pois marca uma etapa avançada naevolução do gônero. Em pleno século 17, Fluldlng so anteci-pava prodigiosamente na t&nlca do romance, dando-nos umaobra só comparável ao "Dom Qulxote".

Lições sobre o existencialismoFoi, recentemente publicado, na França o livro -neçons

mir rexlstenclallsme et ses formes princlpales", de autoria doescritor católico Rogcr Vcrnaux. No tru-

¦ .iho em referência, o autor focaliza aKlosoíia existencialista sub as suas váriasformas, acentuando o pensamento doaseus principais doutrinadbres, desde Kler-kcgaard até Jean Paul Sartre, passandopor Husserl, Helddeger, Jaspers, GabrielMareei. Falando sóbre esto livro, AlcântaraSilveira escreve: "Naturalmente, aparecen-do depois de "Introductlon aux exlsten-clallsmes", de Mounicr o da "Petit hlstolrode rexlstenclallsme", de Wahl. o livro de

Verneaux t:rla de se basear cm parte sobre os citados, ecmque esta circunstância lhe retire qualquer parte do valor,pois de maneira clara e sintética fez obra de divulgação, atomuito censurável no Brasil, onde se exige que todo escritordeve ser necessariamente uin criador, um homem que pre-cisa escrever sem fazer a menor citação de outros autores..."

I • *"A técnica do romance em Proust"

E' esse o título da tese com que o critico Álvaro Lins seapresenta candidato em concurso á cadeira de literatura doColégio Pedro II. Álvaro Lins tem como concorrentes, entreoutros, o ensaísta Afranio Coutinho e o sr. Felllpe VieiraSouto, conhtteido pelos seus trabalhos de pesquisa literária.

Charles du Bos contra Julien BendaNo seu "Journal", Charles du Boa assim se exprime ft

respeito de Julien Benda: "E* impossível aliar vulgaridademais completa a maior pretensão. Benda tem a baixeza daalma e toda sua preocupação é desenrolar diante dela umapseudo grande inteligência pela qual quase todo mundo sedeixou seduzir". ¦

Outra definição de Benda, esto do comedlografo HenrlJanson: "Benda é um melancólico pretérito perfeito".

•Correspondência de Jean Coo

A correspondência de Jean Cocteau c Max Jacob, noperíodo de 1919 a 1944, acaba de ser reunida em volume,despertando grande interesse nos circulos literários fran'ceses.

"Joaquim Nabuco e o Pan-americanismo'Será lançado dentro de breves dias na conhecida coleção

de estudos brasileiros da Companhia Editora Nacional, o li-vrb de Olímpio de Souza Andrade. "Joaquim Nabuco e o Pari-

Americanismo". Trata-se de um percuci-ente ensaio de interpretação da obra deestadista do grande abolicionista brasileiroe de sua atuação na política exterior donosso pais, através da qual se tornou umaos campeões do paiv-americanismo. Es-eritor elegante e analista seguro dos fenõ-xienos políticos e sociais, Olimpio de Sou-a Andrade, que atualmente integra o cor-po de redatores de A MANHÃ, teve o seuivro premiado no concurso interameri-:ano da seção brasileira da "UNESCO" em1949, do qual participaram numerosos, con-correntes nacionais e estrangeiros. O apa-recimento agora desse ensaio em volum»

constitui, por isso mesmo, um aconteci-mento de real interesse para a culturabrasileira.

"Assuntos econômicos e sociais"Resumindo interessantes artigos relativos a problemas

econômicos e sociais, divulgados esparsamente na imprensabrasileira, A. J. Reuner acaba de publicar, em edição daLivraria do Globo, "Assuntos Econômicos e Sociais . Conhe-cedor profundo das questões econômicas e sociais do melobrasileiro, não só por estudá-las, de longe data, nas melhoresfontes, mas principalmente pelo contacto direto com taisProblemasl A. J. Reuner consegue, neste seu livro, oferecervaliosa contribuição ao melhor conhecimento dos assuntosem referência.

Um romancista norte-americanoí Thorton Wilder ocupa, presentemente, posição de relevo

no panorama da moderna literatura norte-americana, mercode seus explêndido3 romances. A Editora Globo, enrique-cendo sua apreciada coleção- Nobel, vem de publicar, em,tradução de~ Rolmes Barbosa, novo romance de ThortonWilder "O céu é meu destino". Neste romance Wilder fo-caliza a história de Jorge Brush, calxeiro-viajante tido portodos como um simplório idiota, que irritado o mundo com:suas atitudes e convicções religiosas. Para Brush, nao é eleo louco, mas sim os seus semelhantes, o mundo. E' um ro-mance empolgante, cômi'co e. trágico* ao mesmo tempo. ,

"Antologia do negro brasileiro*Reunindo estudos de ilustres escritores brasileiros sobre

o negro, nos vários aspectos de sua atividade, de sua forma-ção e do seu comportamento no meio social, o soclólgo EdsonCarneiro publica um livro precioso para os qiie se interessam,por problemas desta natureza*; Neste volume é estudada, çc-rn,peentração e simpatia, a' influência do negro nos diversossetores da vida nacional, como na* política, literatura, veil-gião, folclore, ciências e artes, etc. "Antologia do negrobrasileiro" aparece em bem cuidado volume de mais de .qua-trocentA.8 páginas, sendo publicação da Editora Globo, tioPorto Alegre,.

Bl, iflitJp M^ÈMmWÍk yMMMmMm^m&mm

Juliún Green não é um escrítoibilingüe

Interrogado há pouco, sobro aqu-jlaque considerava, verdadolrn mento sualíngua nativa. Julien Green declarou logoser o francês. Embora escreva perfeita-mente em inglês é no francês que encon-tra o seu veiculo natural do cxpress&o,como escritor.

— Não suporto um escritor bilingüedeclarou- ele — Considero-o uma verdadclra monstruosidade.

"0 Barranco", de José Ferreira Landim"O Barranco", de José Ferreira Landim, um dos roman-

cei contemplados com o prêmio da revista "A Cigarra", ocabade ser apresentado ao público pelo editora "Cruzeiro". E' umromance forte, vivido, que alia a fixação dos caracteres uum estudo de costumes, no pano do fundo da paisagem bra-sllelra. Como se sabe, o Júri desse concurso foi compostopelos srs. Álvaro Lins. Ciro dos Anjos e Marques Rebelo.

•¥¦** Lendas e Superstições '"Lendas e Superstições" é o titulo de um grosso volumo

de cerca de selscentoa e cinqüenta páginas, em que o escritorAdemar Vidal oferece uma valiosa contribuição para o conhe-cimento do folclore do Nordeste. Soube éle tornar o leiturada obra amena e pitoresca tanto quanto possível. O livrofoi editado pela "Cruzeiro".

•Biografia de uma mulher

O poeta Domingos Carvalho da STT-a, depois do êxito de seu livro "PraiaDculta". recentemente premiado pela Aca-iemla Brasileira de Letras e6tá empenha-lo na fatura de uma biografia de car->ara Heliodora, uma das figuras mais sin-;uiares da Inconfidência Mineira. Con6ta

porém que, nesse livro, o lírico caminharájunto com o biógrafo, possuindo a obratanto um alto cunho de veracidade comoalgumas tonalidades poéticas.

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A probidade artística de TurgueneivA probidade artística de Turguqneív era extra-

ordinária. Poucos_ escritores levariam tão a serio suafunção criadora quanto êle. Dizem que antes de trans-por para o livro o herói do seu mais famoso romance"Pais e Filhos" — Bazarof — manteve um diário,no qual registrava todas as suas impressões quoti-dianas, colocando-se no ponto de vista do persona-'gem Infelizmente esse diário — o diário de Baza-roí — perdeu-se, o que é de lamentar-se, pois se-ria de leitura bem proveitosa para os críticos.

Moliére triste ou alegre?Na última representação de "L'Ecole dos íem-

mes", a famosa peça de Molière, em Lausanne, Jou-vet lembrava para alguns amigos, no seu camarim aprimeira vez que montara essa comédia .

—• Logo depois do espetáculo recebia a visita doconde Tolstoi, que me disse: — "Nunca ri tanto naminha vida" .Daí a momentos Henry Bernstein en-trava-me pelo camarim a dentro, exclamando: —"E* a peça mais trágica que já vi".

Mantendo a palavraUm jovem poeta francês lamentava-se a Jac-

quês Prevert das dificuldades com que lutava paraconseguir receber o adiantamento dos direitos au-torais prometidos pelo editor.Não se inquiete — dizia Prevert — êle é ümhomem, de palavra, conheço-o bem, o que prome-te, mantém.Sim, mantém de tal forma — respondeu opoeta — que não o larga .A máquina impressora mais antiga do mundo

Poucas pessoas saberão onde se encontra a ma-quina impressora mais antiga do mundo. Acha-seera Palma de Májorcá e pertence a um descendentedaquele que a instalou. O jornal local "La UltimaHora" è nela impresso e o seu diretor proprietáriodessa maquina, verdadeiro monumento histórico,foi recentemente condecorado.

O espírito de CotegipeNa mocidade, Cotegipe apresentara a Câmara

um projeto sobre o casamento civil, que não tiveraandamento. Em ÍB87, muito mais tarde, foi a vez doVisconde de Taunay bater-se pelo casamento civil-E apelou para a coerência do presidente do Conse-iho, então Cotegipe, iembrando-lhe o velho projetoabandonado. Cotegipe, porém, fez-lhe oposição, ad-vertindo-o; ,. .' —' "Naquele tempo eu tinha tanta experiênciaquanta tem agora o nobre senador",

mÊMMmMÊiÊsmmmÊÊam^mmmmmm

•na 8 LETRAS E ARTES

SERIA curioso realizar-se

uma anto.oiia de u^stra-ções, lapsos dos grandes

escritores. Voita-rc deu-sj a se-melhante trabalho no seu tem-po. organizando um "Sotisier"dos mais interessantes. E en-tre nós, Agripino Orleco è dosque apreciam extraordinária-mente esse esporte Ul erário.

Aqui vão aisuiis exemplos,que poderiam figinar na refe-rida antologia. Comecemos porBalzac. Ercrevendo prodigiosa-mente, como escreveu, era na-tural que Baízac recaísse emdelito de distração. Aqui estáum exemplo: no "Cousin Pons"aludindo a um leque informao leitor: "Era uma obra pri-ma que Luis XV encomendaraa Watteau paro Mme. Pompa-dour".

Vai riisso um anacronismopnlmar: Watteau morreu em

(Conclusão da 2." pãff.)

própria voz de Constantlno quecontinua queixosa, amarga den-tro de sem cuvldos. emboraqueixando-se maciamente. umlamento ou? se dilui nus cor-das do violão dizendo oo^assuavest mas todas elas bemcheias de uma suavidade tri&be.A claridade do cáu desceu parao mundo uma poesia velha. Alua arrastava-se. o vento cor-rendo pela cidade convidava,mas sem niníuem estavam osbancos dr.s pragas e a muradado rio -era uma murada deser-to.

Sálústiânò sente outra chun-cfraclã .A resiáo hepátlca sen-éimifésuftâ. Temendo uma ou-tra crise, êle volta para o quar-ta caminhando com dificulda-de deixa-se cair na rede. Osossos da cábena parecem guar-dar caroços d 2 milho, cheia acabeça doi; e todo o sanguedeve estar circulando nos mem-bros inferiores. Os olhos vi-drados são as partes menosamadurecidas de todo o rosto.Começam a ranger os armado-res.

A rede vai, volta, torna u ir,torna a voltar para o lado dotabique. O pá direito, de Sa-lustiano ritma o embalo dospunhos. Nem o próprio Salus-tiano sabe quando terminaráde se balançar. Lá fora, osdedos negros do condutor con-tinuam incansáveis. O violãose estraga rompendo a musicade uma modinha antiga. Salus-tianOj somente muito depois,

*-percebe que está se balançandoao compasso das cordas. Tam-bém associa aquela dolência àtristeza que brotava das pala-vras de Constaritino. Outro ei-garro começa a flutuar na luzerrante. Os armadores cantan-do cruels-ran-ran, a musicado condutor subindo mais doce,evocando, tornando a subirnuma evocação trespassada,humilde.

Saiústiano não tinha nadacom aquilo, mas ao mesmotempo sentia-se culpado, umcúmplice. A pergunta feria-lhe os sentidos, maltratava-lhea memória. "Por que demiti-ram Constantino?" Saiústianosentia as idéias fugirem, perde-rem-se no vácuo. A íêde indoe voltando nos punhos retesos,o violão de musica monocórdicainconsoia^el

As contingências cercam, su-focam Saiústiano. Nervosos, osdedos arrancam o cigarro e noassoalho, a pouco e pouco, aluz vai morrendo. • A perguntavolta, avoluma-se, derrama-sede corpo afora. "Por que demi-tiram Constantino?" Os pul-môes se trancam, a linguacompleta a boca numa grossu-ra doente, Ioiiííü, o nariz dupli-ca o canudo de carne. Aquelasua tara adormecida desabro-cha com força. 'Saiústiano sen-te-se preso a uma vontade queíüíncà lhe há via aprisionadotão rudemente. A vontade eradè sé vingar, vlngar-sé dos ho-xhehTs que haviam demitidoConstantino. Conhecia Cons-ftahtinò eòmõ conhecera o-, óü-trás empregados da fabrica.¦Nenhuma forte amizade pstthia. Mas demitir emprega-•tíos de nove anos e onze mesesfie picareta em punho, matar

A DISTRAÇÃO DOSGRANDES ESCRITORES

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"PÉROLAS" DE BALZAC, CEORGE SAND, ZOLA E OUTROS

1721, no mesmo ano em quonasceu Antonicta Poisson, queseria, no futuro, Mme. de Pom-padour.

Na "Muse du Departement",uma criada, depois de vendaros olhos de uma pessoa paraImpedir que ela veja, faz-lheesta recomendação cômica, queBalzac lá colocou a sério, pordistração: "Esteja atenta, nãoperca de vista nenhum dosseu:; sinais".

uma vida que se acordava comos pássaros, que se lavava desuor, enquanto os diretores daCia. colecionavam selos, bor-boletas, moedas antigas! Cons-tantino não seria o ultimo, nãose podia afirmar que morrendoo ultimo operário de uma ge-ração, a próxima não sofressetanto. Saiústiano esquecia-sede tudo que o cercava. Numinstante a figura de Constanti-no enchia-lhe os olhos, enchia-os para desaparecer depressa,pois uma outra figura se en-gordava no volume do diretorda companhia. Depois, ambasse apagavam, vazios, os olhosdistanciaram-se descendo osdois andares, cortando ruas,vencendo o asfalto das pontes

Recife era uma cidade mor-ta. Nem às esquinas os guar-das viviam, nenhum vagatun-do repousando ao relento. Can-teiros dormiam as flores nascorolas fechadas e, por todasas ruas que Saiústiano andou,debruçavam-se dos sobradosenormes manchas nadavam aolongo das sarjetas pedaços dejornal, restos de manchetesmentindo na tranqüilidade das

Passemos agora a GeorgoS«nd.

Esta, quando prefaciou o II-vro de Charles Poncy. deviaestar 110 mundo da lua ou nummundo mais alto, pois confun-tííu Herodes com Pilotos: "Ecomo Herodes, eles lavam asmãos de todas as inlquidadcssociais".

Plaubert, tão meticuloso, quenão escrevia um período semrefletir longamente, deu tam-bém os seus escorregues. Diz,

MEDOletras. As pernas não se cansa-•vam. Saiústiano não queriaque elas se cansassem e cadavez mais ligeiros os sapatos pi-savam outros ladrllhos. Equando eles começaram a chiarnas pedras miúdas, Saiustía-no os deteve. Pescou do bolsoum lenço, enxugou a testa,limpou das mãos aquele visgoque lhe untava cs dedos. Adez passos um palacete eqoili-brava-se na rigidez de umascolunas de mármore. As mãos,se quisessem, podiam arrancarpara Saiústiano rosas abertas emais brancas ficarem se co-ihessem cravos brancos. Tam-bém podiam se azular nos fio-cos das hortências, avermelha-rem-se colhendo boninas. To-davia, Saiústiano não se detevesiquer um instante diante doscanteiros. Deteve-se mais adi-ante,_náo para colher flores.Deteve-se, sim, como certos ho-mens que antes de ajustar con-tas, param sem saber porque.Sim, êle parou, mas não se de-teve. Os sapatos não pisaramno mármore de todos os de-graus. Rápidos, os pés fize-ram-no chegar logo à porta.

em "Madame Bovary", que Kc-nault deu a Carlos em paga-mento. pelo perna curada, "se-tenta e cinco francos em moe-das de dois francos", o queconstitui, sem dúvida, um pro-blcma de dlficil solução.

Em "Bouvard et Pecuchet",o escritor faz celebrar a mis-sa do galo na noite de 25 dodezembro.

De Ponson du Terrall são fa-mosas as distrações. Lembre-mo-nos destas: "O general, com

Dj dentro da sala escoava-seuma nuança de azul e oranco.Não se sabia bein a côr daquelaluz. Sabia-se que ela era umaluz que somente os ricos a po-diam possuir. Por um segun-do Saiústiano quisera recuar.Defronte dele subiam estantesde lombadas douradas.^ as pare-des eram coisas verticais, su-portando quadros, pratos delouça, flechas, outras velharias.No meio da sala, um mostrua-rio. Saiústiano chegara a tos-sir. A sua voz parecia haver seperdido em alguma cartilagemda garganta. Tentara outravez. Nada. Defronte dele o di-retor da Companhia era umrobe vermelho tendo nas mãosborboletas varias. Cuidava dasua coleção de lepidopterosquando Saiústiano mostrou-lhea face rigida, como se em pe-dra houvesse sido talhada. Omaxilar inferior dirigia-se paraa frente como um osso quehouvesse avançado demais.Mais.uma vez a voz se lhe ne-gou a ecoar. O diretor daCompanhia recuou, um passo.Saiústiano avançou meio metro.Quem principiou a suar foi Sa-

SÃO FRANCISCOGABRIEL DE LUCENA

A primeira lágrima vertida da montanha,No pranto singular que antecede a origemNa mística de todos os inicias,Veio encontrar um'outra lágrima deixadaDo último pingo da chuva...:

E num abraço, tontas de saudadaJuntaram, de vez, as suas vidas,Num corpo só, as duas almas...

E adeante, num recesso da mataiUm'ouíra lágrima surgiu. . .O ch valho da noite que findara,Que escorrera da face dó sereno,Na neblina sutil da madrugada!

E juntaram, de vez, as suas vidas!E fundiram, de vez, as suas almas!

No caminho inteiro, nessa ruga,Outros lágrimas vieram se juntarAo todo que rolava na descida,Na vertigem da soma dos esforcOiDo'impulso inicial!

E um dia,Na concha aberta das montanhas.Lá onde se tocam lado a ladoAs paredes oblíquas da psdra.Rolou selvagem, impetuosa o brava*A caudal de todos os lamentos.Dás lágrimas de todas as esoécies,No corpo agitado do rio!

E o rio se formou.. „E o rio foi-se embora, c*

•Salgou a Crista dos penedos,IE estendeu a toalha branca das espumasNa quedo dos corredeiras!

E nas praias desconhecidas, ..:;•De areias amorenadas,Dormiu silencioso e calmo,No esconderijo confidente dos remados*

Bebeu sôfrego a candidez da luaNas noites virginais de plenilúnio!Ê o canto dos pássaros e a côr das floresE o cheiro dp mato e o gosto das raízes,E a tinta dos' barrancos e o uivo dos trovõesO ruído infernal da ventania.Ds tudo isto se opossou o rio ,Que foge sempre sem saber de que,Arrastado 00 troplsmo dns destinos!

São Francisco, rio manso,Que rezas sempre um lamento,Tu és a lágrima vertidaDo bojo da intensidadeDa terra do meu Brasil!

São Francisco, rio bravo,Que saltas em Paulo Afonso,Que rojos de mar a dentroAs águas do oceano.

Tu, liberto das selvas,Das terras do meu Brasil,Prende os teus pulsos, São Francisco*A escravatura das rodas,Na força dos seus engenhos!

São Francisco, rio manso,Das noites enluaradas...São Francisco, rio bravo,Da fúria das cachoeiras. „ 0

Prende os teus pulsos às rodas,À força do seus engenhos,E, rm dia, ó São Francisco,Na ercravafura d-js águas,Liberta rês meu Brasil.

Domingo, 20-8-1950

os braços cruzados atras dascostas, passeava a ler um jor-nal"; "Sua mfto estava iria,como a de uma cobra". Na"Jeunesso du Rol Henri", umpersonagem, perdido na cs-curklão da noite, percebe, fi-naimente, que se achoí diantoda fachada do Louvre. que foiconstruído duzentos anos maistarde.

Em Zola, a distração leva-oa acacianísmos, como este: "Oprazer, esta sensação agrada-vel". Alphonse Daudet, no"Tartarin de Tarrascon", atri- „bui aos árabes mandíbulas fe-nomenais: "Quatro mil ambascorriam atrás do camelo,, des-calços, gesticulando, rindo comoloucos c fazendo reluzlr ao solos seus selscentos mil dentesbrancos".

Puxa, que já é dente demais!

lustiano. Recuava o diretor daCompanhia anroximando-se dasestantes, sentindo também umainexplicável dificuldade paragaguejar.

O aue é que o sr. deseja?Mas Saiústiano não lhe res-

pondeu; somente as su>s par-nas funcionavam, somente osseus dedos lembravam r,?.lo3 seagitando. O lã'Mo inferior pu-lou para íora, também rs oílriscresceram como se quisessempular fora das órbitas.

As mãos assemelhando-se anervosas caudas de peixes; der-rcadas. as orelhas escutavamaquelas perguntas.

O que é que o sr. deseja?Saiústiano deteve-se. Se as

pernas avançassem, o psito es-premeria todas aquelas banhes,toda aquela enorme barriga queo robe vermelho ensedava.

Saiústiano queria falar, masas palavras que lhe ferviam acabeia se lhe negavam a obc-decer. Saiústiano falaria as-sim:

"Olhe, seu saco de banha,prepare-se que eu vou lhe daruma surra". Quebra-se parafora o lábio inferior, a gargan-ta como se estivesse sufoeaaade gases, pois a respiração tor-nara-se-lhe ofegante, entretan-to avacalhando seu peito, en-quanto uma onda de sangue lhequeimava as orelhas.

Se pudesse, Saiústiano falariaassim*_ "Vou lhe matar, ouviu?Você merece mais do que isso'.

Onde estaria a sua voz? Sa-lustiano procurava, mas o que&e ouvia era o peito roncando.6 diretor da Companhia suje-ria uma barrica. Descorados,desciam-lhe os braços supor-tando aquelas mãos sedosas,brunidas de unhas, mãos queeram pequenas para engaioiarborboletas de asas enormes, ascostas do diretor da Compa-nhia vestiram-se de vidro, es-tavam coladas às. estantes to-das as duas ésrjaduàs,

Sa.ustiano tenta falar pelaultima vez. Borbulha-lhe em re-dor da boca uma e3puma quen->fce, toda a boca lembrando urnaorla marinha. E de repente, uminevitável, uma vingança mva-de-lhe o corpo. As mãos de sa-lustiano avançam, enchem asdo diretor da Companhia. Asborboletas estalam, -rias elasse dissolvem e nadando ficamos pelos no concavo das mãos.Porém, Saiústiano nâo realizouo que pretendia. Ouviu muitobem que o corpo gordo lhe sus-surrava e fitando-lhe aquelerosto limrjo de sulcos, jogou-lh€dentro dos olhos uma funamesclada de vingança. Mas c]pescoço do Diretor da Compa-nhia nem fora tocado. Salus-tiano afasta-se, aproxima-se dajanela. Limpa as mãos jogan-do fora as borboletas que cam-do nas águas de um repuxo,ficam boiando, lembrando ca-noas despedaçadas, antes deafundar. -«Enquanto as borbole-tas mergulham, Saiústiano sol-ta os braços, e imóvel, fica aomeio da sala, silencioso, humil-de, como se estivesse admiran-do os livros, calmamente rtdmi-rando o diretor da companhiaperder a razão. -

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Domingo, ZC-B)^jO LETRAS B ARTES Página — 9

ÜC/í.Vü

í/ü ".V//.s/eno «"c/írfidi-i Drood", dc Dt-ckens, constitui até hoje

um verdadeiro enigma i/iera-rio. Seduzido pelo evito de V/d"Jcie Collins, que realizava umadas primeiras tentativas dc ro-mance policial, a "Dama flran-caM c em outras novelas. Di-ckens quis mostrar como seriacapaz de brilhar também nomesmo terreno, não sentindo,talvez, que isso pouco méritolhe traria por tratar-se de umgênero indiscutivelmente infe-rior.

Assim, começou a escrever oromance "Mistério de EdwtnDrood" em fasciculos anuncia-dos com grande rumor, o pri'meiro dos quais apareceu em1870. Quando a obra se acha-va no meio o romancista veio

(CONCLUSÃO

convicção é que há necessidadede fixar preliminarmente umdeterminado número de quesi-tos a serem, de maneira irrevo-gável, preenchidos para cadabiografado, bem como um cer-to número de determinações aserem rigorosamente obedecidaspelos colaboradores. Sem isto,»s biografias estarão irregula-res, alongadas em qualificati-vos elogiosos sem nenhum va-lor objetivo, cheias de repeti-ções algumas, outras omissas dedados essenciais.

Outros problemas, de rclati-va facilidade, são, por exem-pio, o da determinação dos ele-mentos iniciais dos verbetes(pronuncia, etimologia, classifi-cação técnica); a sistemáticageral das abreviaturas, assina-turas de colaboradores e desig-nação dos acrescentamentosfeitos pela Comissão Central;critérios de recenseamento bio-grafico de pessoas vivas; crité-rios de registração dos nomespróprios (o biblioteconomico; o"popular", como na "Enciclo-pedia Italiana", dando o no-me em que o biografo é geral-mente conhecido; abrasileira-mento de nomes latinos e gre-gos e de outras línguas ainda);o problema da bibliografia dosassuntos. Outras questões, ain-da, escapam completamente ãminha competência, de si tãofrágil, como o da grafia das pa-lavras que não se utilizam doalfabeto latino; tradução depalavras técnicas, etc.

TAMANHO DA ENCICLO-PEDIA — Não me é possíveldeterminar com absoluta segu-rança qual o tamanho da obraque se está projetando agora.Ele depende principalmente dascondições financeiras nacionais,e só mesmo com a assistênciadireta de um representante au-torizado do sr. ministro daEducação poderá a comissão doplano básico se decidir a res-peito.

Mas por tudo quando expusatrás, minha opinião pessoal «que não poderemos fazer uma"Enciclopédia Brasileira" dereal utilidade e valor naciona.,se a obra não somar de dez adoze volumes, mais ou menosdo tipo da "Enciclopédia Bri-iànica", contendo de mil a mile duzentas páginas cada um.

Os volumes serão fartamenteilustrados, por todos os proces-sos ilustrativos que tenhamreal validade educacional e nãopesem demasiado no custo daobra. Por mim me confessobastante cético a respeito dasilustrações coloridas. Na repro-dução de obras de arte, a nãoser com certos processos carfe-simos e de pequena tiragem, asgravuras coloridas são muitoIncertas como verdade. Quan=do foi dos meus cursos na Uni-versidade do Distrito Federal,•«"iz demonstrações aos meusouvintes sobre a irregularidadefcatieducacional dessas ilustra*

UM ENIGMA LITERÁRIOO CASO DO "MISTÉRIO DE EDWIN DROOD"» DE DICKENS

o falecer. O "Mistério de EdwinDrood" tomou-se, então, um ti-tulo duplamente expressivo,porque ficou sendo também ummistério para o público o des-fecho que Dickens pretendiadar à intriga policial.Essa intriga é a seguinte:

Edwin e Rosa, noivos desdea infância, em virtude de umpacto de família, casam-se qua-se sem amor. Edwin tem umtio, Jasper, que se apaixonaloucamente pela moça, e como

e um indivíduo torpe, viciado,freqüentador dos "bas fonas"londrinos, embora oculte esselado de sua existência, náo he-sita em planejar o assassiniodc Edwin pata casar-se comRosa. Atrai o sobrinho às tme-dlações de uma catedral e ai oestrangula, escondendo o cada-ver numa cova da cripta, ten-do o cuidado de cobri-lo intel-ramente com cal, a fim de queassim se consuma o corpo.

Mas como a cal não âestrôi

os metais, Jasper retira antes orelógio e outros objetos de me-tais que o sobrinho trazia con-sigo, abandonando-os nas proxi-miâades de uma ponte, onde avitima, antes do delito, tiverauma altercação com NevilleLandles. Neville é preso; asprovas, porém, não são convin-centes e ele recupera a liber-dade. o romance ficou inter-rompido nesse ponto. Agora,• começam as interrogações. Se-ria Jasper desmascarado? Sim

ENCICLOPÉDIA BRASILEIRA

MARIO DE ANDRADE

ções, apresentando o mesmoquadro, reproduzido em trêsobras especializadas sobre pln>tura, de edições caríssimas. Ocolorido divergia sensivelmen-te de uma para outra reprodu-efto. O melhor será usar-se agravura colorida com multadiscrição, de preferência emmatéria científica, História Na-

tural principalmente, em que.por se usar cores primárias oumais simples em sua composl-ção, a reprodução consegue sermais verdadeira.

Quanto aos processos de gra-vura em branco e preto, todosos modernos são mais ou me-nos aconselháveis. Nas páginasfora de texto, de matéria geo-

gráfica por exempio, as repro-duções de fotografias terão pre-ferência. Nas páginas de texto,ainda prefiro a tradição con-servada pela "EnciclopédiaBritânica" na sua última edi-ção, o desenho a traço. Alémdesta separação permitir parao texto papel mais barato e nasgravuras de pequeno tamanho

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Wv^ WZ^^KMmmWKÊÊÊÊkmI L^W^2^áB B^^Pil r ¦——^ eflflilB IIlustrarão de Yjjen Kerr, para o livro de contos "O homem de duas cabeças", de

Almeida FischerI I

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— ti a conclusão a que chega-mos pela estampa que CharlesCollins, amigo e parente de Dt'ckens, havia desenhado para acapa do romance.

Mas como se daria a desceoerta do crime? Talvez por meiode um anel de noivado, ocultono bolso de Edwin, que naofora retirado, e resistira à açãoda cal. Figura também no rc~mance uma megera, proprietâ-ria de certa "fumerie" de opto,freqüentada por Jasper. perso-nagem na qual muitos críticosviram a futura denunciante doassassino. Seria possivelmentea mãe de Jasper que, despre-zada pelo filho, passaria a odiá-lo, tirando essa vingança. Ocerto é que até hoje o "Misté-rio de Edwin Drood" continuainsolúvel,

o desenho a traço ser bem maisnítido que a fotografia, êle émais educativo na reproduçãode objetos, de motivos estllisti-cos, e talvez mesmo de exem-piores de História Natural. Afotografia, com seus efeitos delos, com a esperteza de colhera.coisa em seu melhor ângulode visão, é orna deformadorasentimental. A deformação dodesenho a traço é de ordem In*telectual. Ele é um artificlalis-mo, uma convenção instintivado ser psicológico, pois aparecenas Infâncias do homem, tantoentre os povos primitivos e ospre-históricos como na crian-ça das nações civilizadas atuais.Além disso, evitando as defor-mações e a insuficiência de lu-zes e sombras, êle permite de-monstrar claro os elemento* es-senciais, traços e formas espe-cificos da coisa. Sou franca-mente favorável a êle nas pá-ginas de texto.

CONCLUSÃO — Eis o queme pareceu útil comentar nes-te ensaio. A "Enciclopédia Ita-liana" levou, em estudos prcll-minares e trabalhos, cinco anospara tirar o seu primeiro voíu-me. Esperemos que da constl-tuição definitiva do plano bâ-sico à publicação do primeirovolume, a "Enciclopédia Brasi-leira*' demore apenas êsse mes-mo rápido tempo. Junto com o"Dicionário da Língua Nacio-nal", que a completa, ela ê umeometlmento de enorme utilida-de e patriotismo verdadeiro*Mas é também uma corajosaaudácia. Há que nos cercarmosdc funcionários e de colabora-dores muito escolhidos — gen-te enérgica, fiel aos seus com-promissos e capaz de dedica-ção apaixonada. Não será pos-sivel pedirmos a colaboraçãogratuita de ninguém, pelo queisto acarreta de delicadezas eirresnonsabilldades.

Deveremos ainda fugir dos"medalhões", bem como doshomens já excessivamente re-brilhantes de encargos e traba-lhos, na direção dc comissões esubcomissões de assuntos. Nogeral, esses homens são já sé-res usados pela vida, tomadospor múltiplos interesses, inca-pazes de dar ao cometimentoque o Instituto Nacional do Li-vro vai iniciar, a dedicação, otempo e também a humildadeque êle exige. Quem não tivera coragem de se sacrificar e aenergia de aceitar a relativaimperfeição de uma obra gigan-tesca, que vai, por muitas par-tes, abrir caminho, como a " En-ciclopédia Brasileira", não po-dera nunca fornecer a audá-cia, a rapidez, o trabalho quea empreitada exige de cadaum.

Eis o que é possível iníor-mar aos leitores do "O Ob-servador", em primeira máo,sobre o estado em que se achamos trabalhos preparatórios d»organização de uma EnclcIonA-dia Brasileira»

'-V A :'*«^l' -*_¦ t WI^M.».*JW4ffME5^»3SWIWW|'!

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Página — 10 LETRAS E ARTES Domingo, 20-8-195o

EMÍLIO DE MENEZES

não chagou, como *<*«abe, a tomar posse da

sua cadeira na Academia u.a-sllclra de Letras, para a qualjol eleito na vaga de Salvadorúe Mendonça, por ter laieciaoantes do dia em que se deviarealizar essa solenidade. Já ha-via, porém, escrito o discursode recepção que. submetido adiretoria, sofreu vários cortespor se encontrarem nele tre-chos aberrantes das praxes aca-demicas.

Emílio fazia alusões pérfidasa muitas pessoas, inclusive aospróprios membros da Acade-mia. como Afrànio Peixoto.Mesmo com os cortes, o á'srur-sn continuou a ser muito pes-soai po's é quase di si que Orccip!cn<:ár<o fn'a, defendendo-se da pecha de indivíduo des-

UM DISCURSO QUENÃO FOI PRONUNCIADO

iMMBBIMBWMMBPMMWMWMMMMMWaB n.inn ¦ MM*miÊÊimm***mmmmmwm*mÊ&mÊmÊÊm»*mmÈÈÊ^mamtimmmm*É*m*******+^*

ÍMILIO DE MENEZES DEFiNDc-3E DA ACUSAÇÃO DE BOcMiCregraáo e boêmio que lhe ati-ram.

Sendo pouco conhecido essediscurso, aqui resolvemos trans-crever, para a curiosidade dosnossos leitores, precisamente otrecho em que Emilio aborda aquestão da boêmia,"Quando começou haver umaquase certeza da minha eleicao— escreve ele — os inimigosrancorosos, muitos dos quais sóo são por coisas cuja paterni-dade me foi emprestaria, retío-braram áe esforços demolido-

res. Boêmio e desregrado...Boínúa e desregrado porque,

7ios momsntos decisivos, faz oque qualquer homem medana-mente digno tem obrigação defazer.

uocmio c aesrcyraao, quenunca foi v'sio cm espeluncas.

Boürio e desregrado q-ie, co;?imais úe trinta aros ds rsslden-cia vi no. não íibs o qun sejaum desses celebrizados bailescarnavalescos, onde o nv.ane-rio s" ercitn d", jogo c condi-mcnla cie álcool.

Boômio e dcsrcgmdo Jfo? /fl-zer a sua hora à mesa ae umcafà ou de uma confeitariatrocando idüas, dizendo ou ou-vindo versos e frases de fspi-rito. como faziam e fazem a:n-de alguns dos que muito brilhoemprestaram e emprestam áscadeiras que entre vós ocupam.Posso garavtir-vos serem ale-grns confr.lmla^õcs literárias,aper.nr ria dose da "vjhiskv" ouda dnua de um côvo, ou deambos juntos, segundo a for-

mula aceita c consagrada M,eminente clinico baiano SJSviais inocentes, mcm tfoffvos, menos demolidoras aQSLas reuniões do ecrias poSJfp:enrcs, d espera da nm«e'desova, enquanto não apar*cem as obras nascitcras se vancontentando em demolir os aZjá fizeram uma reputação*;

E pouco mais adiante:"A esses fa Academia wieperdoará o eviprerjo do um ro.cabulo qus, aTd?» de mau Uiquufino da nossa lingua. é d" m»ria sô agazatháâo 7W0 rafVa-rio policial), a wrs Hp'.vc*$s"da literrtfvra. junta-se íw/alwvel e. diariamente, fia mc::r»n<ihoras c à mesma soletra v^aclasc* dez vezes ma^ re*mo-sa. E' n doi mrhnn ivéd:los áforça de publicidade".

(Conclusão da 4.* pág.)elementos dissolvenlcs da suatradição, o folclore não è dis-dplina de amor, apenas na suapesquisa e no sen estudo, masna salvaguarda do patrimôniopopular. EUa não se faz co-letando e enchendo museus, dis-cofccas. bibliotecas, diseote^as earquivos, porque aquele patri-mõnio é vivo. está na alma dagente e dentro ãéla é que. de-verá perdurar. Folc1ore não carqueolonia. Se devemos estu-da-'o não é simplesmente piraconhecer, mas conhecer paraproteocr e resguardar, porquea \in*dade das v.anões está maisva alma de seus povos do quenas instituições da sua politl-ca ou da sua economia.

Quando se defav.de com ar-dor o aproveitamento do foi-clore na educarão não é varavulgarizar apenas o seu conhs-cimento, mas pa-^a revelar o seui>n'or didático e, nas escolas rn-ra;s, ondn mais prov":to*o setómàrá, deve va'orizar os co-nliecimcntos e práticas ponula-res, íncev.tivc.r o artesanato emb(ts~s trcliclc^ais, exvlicar ocaráter das reniões velo seu foi-clore, em suma. fazer a liga-ção do homem à terra. Na ai-fahetização e edueacão ãe adul-tos, em pnrtienlar. que não de-ve ser ahnndonaâa por acar-retar ma1 es. vias estes é auedevem ser snverades para quea idéia triunfe inteiramente, o¦jrictnre. pode ser elemento pon-áerâr>el, se o ensino for feitodentro dn maldade ãe cadaquadro qconrá^ico no qual secslivr professando o que o co-nhecimento dn, cultura nopularfavorecerá sobremaneira.

O folclore e disciplina deamor vorque é disciplina ãe vi-da Muita nente não conseauever que importância possa teruma lenda, uma quaárinha ouuma cantiga ão interior. Já oysava, em 1346, William JohnTlioms na sua carta famosa,criando a nalnvra FOLK-LORE,quando d'sse que tais élemen-tos, tomados separadamevte pa-recém trhr.nis e insíqnificantes,mas quando consideraãos em

(Conclusão da 3.* página)atualidade — eis coisas íntima*mente conexas. Um exame cui-datloso aos valores fonéticos deuma lingua pode permitir, pen-so. es^beleccr a identidade se-xual dessa mesma língua. Setal estudo se fizesse, estou cer-to de que a língua portuguesa,tal qual como a pronunciam osportugueses, daria mais provasde masfuünidade que a línguaportuguesa tal qual como apronunciam os brasileiros. Maiscálfda mais voluptuosa, maisterna, mais molhada, mais sa-borosamente deglutida, infinl-tamente mais carinhosa, a nos-sa língua, quando pronunciadapor brasileiros, pelo menos pa-ra nós, ganiria acentos de umafeminilidade que lhe deseonhe-ciamos. E é por isso que en-contramos na história da poe-sia brasileira alguns dos do-cumentos poéticos mais sen-suais da nossa língua, e essesdocumentos são obras de mu-lacres, não de homens

FOLCLORE, DISCIPLINA DE AMORconjunto aáquirem um valor

com o qual muitas vezes nemsnohou quem primeiro os reco-Vi eu. Dai o interesse dos foi-cloristas pelas variantes de umdado folclórico, no tempo e noespaço. Não se trata de clnne-sice, mas de observar os pro-cessos espirituais que as deter-minaram. E, nesse particular,as anhegas á ps'cologia, à lin-girstica, às artes, por exemplo,são consideráveis e preciosas.

.'•í? fosse ainda preciso ms-tif'cnr o amor com que se deveestudar o folclore e defender a

cuitura popular, bastaria citaro seu valor como insviração ar-nstica nu musica. De há timséculo, c.cLd? Glinka c de C'io-pin. que a vnísfca p:puiar temsido a mais aoundante fontedo lirismo musical, quer noaprove.iar;ie;ito direto dos seustemas. rv.nr no cmnrésbmo aesues cansttnctas ou de suascélulas melo-rifmieas, quer nainfluência d^s prcrhos decantar e tcear do povo. quernn c.n^nõ.o fln nm clima naeio-nal pira tí/,j""'t*o'i'?r a cria-

ão artística. No Brasil, desdeçao

o prenuncio de Brasilio Itiberô,em 1369, com a SERTANEJA,onde utilizou mot.vos de umfandango da sua terra natal, oParaná, seguido por AlexandreLevy e mais dee's'vamcnte porAlberto Nepomueeno. até a fio-racüo da escola moderna de?wssa música, o folclore foi oelemento, poderíamos dizer, dasua estrutura, a força mais po-deresa da sv.n er.nrèssão a rfl-rantia da sua universalidade.F, determinou a'nda o estvãoapurado dn rnssa folcmfisiea,com os trabalhos de Luciano

SEGUNDO ANIVERSÁRIODE "REVISTA BRANCA"

LETRAS E ARTES não po-dia deixar de referir-se ao nu-mero comemorativo ão segundoaniversário de "Revista Bran-ca", que acaba áe aparecer, comoitenta páginas ãe texto e maisde vinte ilustrações, reprodu-Ções áe trabalhos inéditos aeartistas brasileiros. Marca ês-se fato a segunda etapa áe umciclo ininterrupto áe atividadeliterária e artística áe elevadosentlão, como talvez, entre aspublicações ãe sua categoria,não se encontre exemplo maisexpressivo, não somente em vir-tude dessa existência regular,senão tambfcm pela posição in-telectual que "Revista Branca*'conquistou nos círculos mais re~presentativos da cultura brasi-leira, e particularmente entre anova geração, de que é um dosmais poderosos veículos. Aolado ão estimulo que vem pro-porefonando aos jovens escrito»res ãe toão o país, tem "Revls-fa Branca" desenvolvido umprograma de edições que, pelarepercussão que vem tendo, in.clusive no estrangeiro, como naFrança, Portugal, Itália e Es-

FonéticaNatural"

Nada sensual na sua expres-são, pelo menos sem sensuali-dade à flor da pele, muitomais intelectual do que qual-quer outra escritora da nossalíngua, Cecília Meireles, que, li-da á portuguesa, sobretudo des-de que os seus versos adotarammetros clássicos tratados à mo-derna — a rima branca e o rlt-mo surdo — parece sem sexo,desprendida de corpo e alma doque no corpo e na alma é fré-mito terrent; desde que lida abrasileira, logo ganha corpo ealma, corpo e alma de mulher,tão muscularmente carnal é,no fim de contas, a música dosseus versos.

Mistério que é em sua maisgenuina essência, a emoçãopoética, se não é de modo ai-«um, como quer André Spire,

taãcs Unidos, bem atesta a im-porlíir.cia de szus empreenái-mentes. São exemplos desse

Saldanha Coelho

êxito editorial a "Antologia deContos áe Escritores Novos doBrasil" e a "Proustiana Bra-sileira". Sobre o grupo áe "Re-

vista Branca", áirigida pelocontista Saldanha Coelho, figu-ra expressiva âa nova ficçãobrasileira, já se manifestaramelogiosamente nomes ilustres ãenossas letras. Desse grupo fa-zem parte: Haroláo Bruno,Bráulio do Nascimen-to, Fausto Cunha, RochaFilho, Linnêo Séllos, Alberto daCosta e SUva, Renato Jobim, eNataniei Dantas. Com o 12.*número, adota "Revista Bran-ca" uma posição de luta cons-trutiva das mais avançadas, en-cetanâo por outro laáo uma re-visão ãe valores, que se iniciacom o poeta Felippe ã'Olivei-ra, estuãaão por Fausto Cunha,itessaltem-se, entre os diversosartigos desse número, o trabalhode Walda Menezes sobre a tem-porada teatral Renaud-Bar-rault e de Octacílio AlecHmsobre estudos proustianosalém áe criticas assinadas porReynaldo Bairão, Nilo Pereira,Bráulio ão Nascimento, Costa eSilva, e os estudos áe J. P.Moreira ãa Fonseca e Ary Vas-concelos.

e poesia ou o "Retratode Cecília Meireles

uma emoção de raiz muscular,quaisquer que sejam os liga-ções entre o aparelho fonador oo aparelho auditivo, não hádúvida que não pode ser, domodo algum, o produto de umasimples impressão intelectual.Entrando pelo espírito, a poesiatem de passar, de fato, pelaporta dos sentidos. E' impres-sionando, primeiro, o corpo, quea poesia chega à alma. Eis arazão porque a leitura dos ver-sos de uma Cecília Meireles nãopode ser levada a cabo com in-teiro proveito do. leitor desdeque feita inadequadamente. E'inadequada a leitura de umpoeta, quando alguns dos valo-res mais importantes da suaexpressão — os valores fone-ticos, ou seja, os valores musi-cais propriamente ditos — fo-mm indevidamente aproveita-»

dos. Indevidamente aproveita*dos são, em verdade, os valo-res fonéticos de qualquer poesiadesde que o leitor não está emcondições de repetir, na suapureza nativa, o jogo muscularque a pronuncia das suas pala-vras pressupõe, jogo esse ver-dadeira fonte originária daemoção poética."Retrato natural", o livromais brasileiro, de Cecília Mei-reles — assim me parece, pelomenos — não pode ser lido sócom os olhos, não pode serpercebido só com o cérebro, nãopode ser sentido só com a alma— tem de ser lido, percebido o

, sentido com os olhos, com o cê-rebro, com a alma, e, sobretu-do, com o corpo, com os mus-culos que no corpo humanorecebem a modelação das pala-vras, convertendo-as em músi*

Gallet e a obra de erudição gamor do grande, Mário de An>drade, dando-lhe particular xu~,levo na nossa cultura jotao-rica.

A literatura aliás já o vintiafazendo, quer em simples cua-aros de acscriçòes }o:cioricas,como em Manoel José áe Ai-melãa ou Macedo, quer cm íô«di a obra regionalista úe ins-plração folclórica, coro no ro-mance de Bernardo Guimarães,nos contos de Simõ"s T.opnsNeto e de Afonso /iri- i 'no"Malazarte" de Graça Ar:mhate em tantas e tão numerosasobras aue, por muito conheci-das. não é preciso menc-viar.Cabe rorém especial referenciaa MAVTJNAIMA, de Mário deAndrade, que é uma rwnsódiado folclore brasileiro, e em ge-ral a toda n obra d» mern «d° ficção desse esnntor ()naepalpita semjpre a influência riagartes de nosso povo. Tambéma pintura moderna brasile'ratem procurado nos motivos foi-clóricos a ardente inspirarãodas fontes nativas dn. gentebrasileira.

Eis porque o folclore, comobem disse Gilberto Freyre, alémãe ser elemento valioso para areconstituição das oriyeri", ao-ciais e de cultura ãe um grupo,é valioso também para o,s ten-tativas ãe estabelecer relaçõese explicar o homem através desuas situações e relações noespaço e no tempo sociais.

A obra ãe renovação de nos-sos estudos folclóricos e o es-forço para despertar o interês-se pelas artes populares sc vemfazendo, em todo o Bravi deforma muito auspiciosa. De umlado, o trabalho dos eruditos,,a contribuição dos pesquisado-res, e de outro o desnêlo aequantos procuram revelar t3ssepatrimônio e a emoção dos auenele se insviram para altas rea-lizaeões artísticas. E há-de seresse clima aue permitirá atm-gir-se a condições mim W>o»ráveis para dar aos foicloristasbrasileiros meios para um tra-balho mais eficiente, e os ins^trnmentos para p*smvsa. «o-cumentacão e dívulaaeão orfiro-nizaãas cientificamente.

ca, tal qual como as teclas deum piano, percutidas, reprodu-zem em som os sinais inscritoisobre a partitura. Se CecíliaMeireles, em "Viagem", viaja--va, se em "Vaga música" ouviapela primeira vez os sons heto-róclitos de uma música de con-tornos imprecisos, em "Retratenatural" auto-retratou-se, de-senhando na música própria oscontornos mulheris da sua poe-sia, poesia que se, pela forma,pelo corpo, é mulher, pela subs*tâncla, pela alma. é homem.Um perfeito hermafroditismoeleva a obra do Cecilia Meire*-les àquele nivel de perfeição fi-siológica em que a humanfda«de inteira — homens e mulhe*res — se sente retratada. "Re=trato Natural" de Cecilia Mei-reles e de nós todos — eis o qmé a poesia deste poeta, o casemais notável da poesia feminí*na de língua portuguesa, e unados casos mais notáveis de poe*sia das letras brasileiras donosso tempo.

CascaisCasa do Dragão — Portugal '

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Domingo, 20-8-1950 TETRAS E -ARTES Página — 11

Ministros acadêmicos eacadêmicos ministros

ft»s«»»sReaiuiiua nos t,*»* qu..i»ros

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süuuouitoh è U..V4...U quo aAcademia pttrko».tfe ..e.â..c...e-lUtttnOi pOl' ime.i-iJUiO UO btíiiüli..ws nUoiiVS W^uím.uj, ua v.aapuuiica ni» &»-*• *w u-*-° u"uj, uc.ej.iu-*o reoriàtar para agua tu"»!»*"*»•*> u8 *>*ff******* n*aí8reur^cutatiVttB ua i.~..»..a ua-tio.iui, e eApucavcl wiliüom ofato ue ir a akcaucaw*», ve^ porouua, uu&tur oa faeus uus u.íospos.os ua política c ua aumi-insuuçáo. i''oi assim que uaAv.iiui.iina ingressiaram a»^unsiii.o.snos ue jçistauOj cm p.c.iocw.cns.o ue feda atividade pu-buca (o Barão uo *vio *j.ui»co,Lauro íuui.cr, i-cáx jrac.icco, eO.avio Mangatoeira, quanuo mi-mstios nas ivciaçuw Lixterio-rcs;; Damas Barreto tunmstroua Guerra); aoao Luia aívcs(quando ministro da justiça) calu um A'ivsiueiue ua i.epuuli-ca (o sr. lietuno Vargas).

Entretanto, bem maior temsido o numero ue meinoros daAcademia que, embora nela in-grcssanUo sem a investítiüra dopoiicr pubiico, tém siuo cha-mudos a ocupar a.tos postos napolítica e na administração doBrasil, já ocuparam pastasministeriais no Governo da fte-pública os seguintes acauémi-cos: Ruy barbosa (Fazenda);Domicio da TGama (RelaçõesExteriores); J. C. MacedoSoares (licíações Exteriores cJustiça); Anibal Freire (Fa-zenda); João Neves da Fon-toura (Relações Exteriores);Pedro Calmon (Educação eSaúde).

Acadêmicos outros ocuparamaiada altos postos na vida pú-biica do país, como ministrosda Suprema Corte (Ataulfo dePaiva, Pedro Lessa, Lúcio deMendonça,. Rodrigo Otávio,Anibal Freire); governadoresde Estado (Otávio Mangabei-ra, J. C. Macedo Soares, Bar-besa Lima Sobrinho); embaixa-dores (Domicio da Gama, Car-los Magalhães Azeredo, JoãoNeves da Fontoura, J. C. Ma-cedo Soares, Luiz GuimarãesFilho); ministros plenipoten-ciários (Hélio Lobo, RibeiroCouto); reitores da Universi-dade (Fernando Magalhães e

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Ministrosacadêmicose acadêmicos Ministros

Pedro Calmon), o sr. Uiemcn-tino Fraga singulurlzou-re porum fato único na história po-litica do Brasil: recusou a pas-ta da Agricultura para que fô-ra convidado pelo PresidenteLinhares. Por aí se vê comotem sido Intensa, extensa epermanente a atuação des aca-demicos, em todos os tempos,na vida pública do Brasil.

Embaixador Carlos Maga-Iháes de Azeredo

De volta da Europa, apósuma longa ausência, chegou aoRio o embaixador Carlos Ma-galhãcs de Azeredo. O embai-xador Magalhães de Azeredo éo único fundador da Academiaque sobrevive, c o seu regresso,ao Brasil foi festejado no PetitTrianon com grande e unânimejúbilo.

O professor BernardoHoussay na AcademiaNa última quinta-feira a

Academia recebeu a visita doilustre prof. Bernardo Huus-say, Prêmio Nobel de Filosofiae membro da Academia Argcn-tina de Letras.

Depois de tomar chá com osacadêmicos, foi introduzido nasala das sessões por uma co-missão composta dos senhores

DIOGENES LAERCIOAtaulfo de Paiva, Aloísio doCastro e Rodrigo Otávio Filho.

Saudo-o, em nome da Ata-demia, o acadêmico PeregrinoJúnior, respondendo em agra-decimento o professor BernardoHoussay.

Novo livro de LuizEdmundo

O sr. Luiz Edmundo acabade publicar um novo livro -—e um novo livro sôbrc o Riodo Janeiro. Ilustrado, de belaapresentação grafica, o novolivro do ilustre acadêmico foirecebido pela crítica e pelopúblico com o interesse comque costumam ser recebidostodos os livres do sr. Luiz Ed-mundo.Prêmios "Francisco Alves"

de 1952A Academia Brasileira de

Letras torna público que noano de 1952 concederá os se-guintes prêmios:

a) -— Um prêmio de Cr$ ..10.000,00; um de CrS 5.000,00 eum de CrS 3.000,00, destinadosa autores de Monografias sô-bre o melhor modo de divulgaro ensino primário no Brasil,que obtiverem, respectivamen-te, o 1.°, 2.° e 3.° lugares;

b) — Um prêmio de CrS ..

10.000.00; um de CrS 5.000,00 eum de Cr$ 3.000,09, destinadosa autores de Monografias sò-bre a Língua Portuguesa, quoobtiverem, respectivamente, o1.°, 2.° e 3.° lugares.

As inscrições aos prêmios in-cucados estarão abertas desdeIo. de Janeiro de 1052 até 31 deMarco de 1952.

Concursos literários de1950

A Academia Brasileira de Le-trás torna público que no anode 1950 concederá os seguintesprêmios:

— Prêmio Machado de As-sis, da Academia Brasileira deLetras, de CrS 10.000,00 peloconjunto de obra literária deescritor brasileiro que tenhapublicado pelo menos um livroaltamente recomendável, notriênio de 1947-1949.

II — Nove prêmios de Cr$4.000,00 cada um, destinados alivros inéditos ou publicadosem 1949. em língua portuguesa,de autores brasileiros.

Os prêmios são os seguintes:a) — Prêmio Olavo Bilac, da

Academia Brasileira de Letras,para Poesia;

b) — Prêmio Coelho Neto, daAcademia Brasileira de Letras,para Romance;

UMA DAS ULTIMASCARTAS DE JÚLIO DINIZ

"SEJA O QUE DEUS QUISER" — ESCREVE O ROMANCISTA DOENTE

A TACADO pela tuberculo-se, quando ainda mui-to moço, Júlio Diniz, o

popular romancista português,andou por vários lugares em

L*=!

Últimas edições inglesasMARIA EDGEWORTH - P.H. Newby e ANTHONY

TROLLOPE — Beatrice Curtis Brown (Barker) — Duasnovelas regionais que mantêm o elevado padrão da sene"Engiish Novelists." Naquela, o Autor nos apresenta o tra-balho pioneiro de Maria Edgeworth, desenvolvendo o ter-reno da ficção, lançando a novela regional, iniciando a ex-ploração literária da psicologia infantil, e permitindo as mu-lheres da história do livro participação relevante na vidapública. , , .

Já em Trollope o caso é diferente. Após um período de-cadente, êle surge sem necessidade de propaganda para con-seguir leitores. Dedica-se, pois, a Autora, lnteiramnte, acrítica da obra. E' excelente o estudo de Miss Brown, mor-mente das novelas políticas, sendo de lamentar, apenas, aausência de documentação biográfica.

THE BRITISH POLITICAL TRADITION — (Kaye) «•O primeiro volume contém o debate sobre a Revolução Ame?ricana, de 1761 a 1783, compilado por Max Beloff; o segun-do trata da Revolução Francesa, no período de 1789 a 1800,e é compilado por Alfred Cobham. Aquele nos apresentaambos os aspectos do grande debate sobre o direito do Go-vêrno Britânico de tributar as Colônias Americanas. O dr.Cobham revive a ampla e histérica controvérsia tfa Revota-ção Francesa e sua influência no pensamento da Gra-Bre-tanha.

SEL-GOVERNMENT FOR THE COLONIES m íAIUmUnwin) — W.R. Croker interessa-se pela atitude mental daMetrópole para com as dissidências que estão se desenvql-vendo nas colônias de diversos países. Focaliza aconteci-mentos recentes na África Equatorial Francesa, em Mada-gascar, e na África Oriental e Ocidental Britânica, e insis-te ser a essência dessas agitações antes política do que eep-nômica, devendo ser enfrentada como '•problema de mirnorias". u

THE MARINES WERE THERE — Sir Robert BruceLockhart — (Putnam) — História dos Navais britânicos nasegunda Guerra Mundial, narrada com singeleza por Sir Ro-bert Bruce Lockhart. Embora confesse que, anteriormente,"possuia apenas uma idéia muito vaga das funções de umNaval", apresenta-nos um livro com algumas soluções decontinuidade, mas que não empana nunca a tradição debravura dos "Jollies", desde Arakan até às costas da No-ruega.

busca de bom clima, fixando-se, afinal, na ilha da Madeira,onde, apesar de tudo, não con-seguiu restabelecer-se.

A carta que abaixo reprodu-zlmos é uma das últimas que fi-guram na correspondência divul-gada do romancista. Destina-se a um amigo íntimo, e porela se vê o desânimo, em quejá mergulhara o espírito do es-critor, cujo falecimento se davacinco meses depois:

"Funchal. 19 de abril de 1871.Meu caro Passos.Não te escrevi nos vapores

passados porque, em parte malpodia escrever e, em parte por-que entendi que era melhornâo carregar de sombras es-curas os teus pensamentos, queeu já previa estivessem sob ainfluência habitual e complexaque inclina à melancolia. Creioque não me enganei muito Bomfoi. pois. que não te escreves-se e talvez bom' seria que ain-da desta vez seguisse o mesmoexemplo.

O meu estado de saúde iacada vez pior; sentiar-me des*>falecer de diá para dia e jánão tinha coragem para memirar a um espelho. A idéiada dissolução orgânica aterra-me. Fiz um esforço; abraceiuma das únicas medidas queme tem salvado. Mudei de re-sidência. Deixei o centro deFunchal, procurei um quartoem um hotel inglês nos subúr-bios desta cidade e onde é maisfaeil passear e gozar das van-tagens do campo.

Principiei a comer melhor,deiteí-me ao vinho fraco e for-te, à cerveja, aos pvos e ao lei-te e consegui cor e mais força(que em parte também é ie-bre). Dizem que vou melhor eaplaudem-me a resolução. Ago-ra, o reverso. Na aparência,reeorjhego todas essas yanta?geris. A tosse e a expéctoraçãocontinuam, porem; os intesti-nos estão caprichosos e de noi-te o calor e o suor não medeixam. Respiro pior do querespirava e canso às subidas.

Está empenhada a luta. Ve-remos o que resulta até 20 do

maio. Estou com a resoluçãode aguardar tranqüilamente ooutono em algum buraco dossubúrbios do Porto. E seja oque Deus quiser'*.

C) —• Prêmio Afonso Arinos,da Academia Hrasdcira de Le-trás, para Conto e Nuvela;

dl — Prêmio Silvio Homero,da .Academia Brasileira de Le-trás, para Critica e HistóriaLiterária; v

e) — Prêmio Joaquim Na-buco, da Academia Brasileirade Letras, para História So-ciai, Política ou Memórias;

f) — Prêmio Artur Azevedo,da Academia Brasileira de Le-trás, para Teatro;

gl — Pr."mio João Ilihciro,da Academia Brasileira de Le-trás, p.ira Filologia, Etnogra-fia e Folclore:

h) — Prêmio Jüm; Veríssimo,da Academia Brasileira de Le-tr.ts, pata Ensaio e Erudição;

I) -— Prêmio Carlos de Laet,da Academia Brasi.eira de Lc-trás, para Crônica*. Viae.cns oquaisquer outros gêneros quese não enquadrem preeisamen-te nas alíneas precedentes.

III — Prêmio liamos Paz, deCrS 2.500,00, destinado à obraoriginal e inédita, de autor lira-sileiro ou português, de qual-quer rauiu de literatura emgeral, especialmente do Brasil,dando-se preferencia, em igual-dade de condições, aos autoresmais jovens.

"A inútil espera"Oferecendo o novo livro no

sr. Dirceu Quintaiiilha à Bi-blioteca da Academia, o senhorPeregrino Júnior pronunciouas seguintes palavras: "Reccn-temente premiado pela Acade-mia, onde obteve o PrêmioAfonso Arinos (contos c nove-Ias) com seu interessante livro"Novos Mundos em Vila Tefé-sa"'. o sr. Dirceu Quintaiiilhaé um infatigávcl trabalhadorintelectual —- e .já nos dá agorauma nova obra Esta, porem,é de porsras: c o seu poema —"A inútil espera **. Poeta defina sensibilidade, cie. encantapela variedade de seus ritmosc pela frescura matinal do seulirismo.

E' com viva satisfação queofereço à Biblioteca da Acade-mia este delicioso livro de poe-mas — "A inútil espera", emque o sr. Dirceu Quintaiiilhaconfirma brilhantemente a suabela vocação literária, apare-cendo-nos na ple-dtiide dosseus dons de poeía"

/£eíraseAriesDIREÇÃO

DE

JORGE LACERD/SCOLABORADORES:

Adonias Filho, Afrânlo Coutinho, Alcântara Silveira, Alceu AmorosoMina, Almeida Fischer, Aliuciua Sales,AlpüoiiausOiuiuiaiács Filho, AivaroGonçalves, Anibal machado, Auor uullei Maciel, Autuiu.* lutn^i lian-deira, Asceadino Leite, Atílio MUanu, Au^u^to 1'roucnco schmidt,Augusto iVACyei, Batista ua costa, úicnu ACiua, uniu uvucà, canusDrummond de Auuraue, Cassiano KicarUu, Cecília tvluireies, enris-tiatio Martins, Cito dós Anjos, clarisse latipèctor, Clamou T. bar Do-sa, Dalton Trcvisan, Damaso Rociia. uantas tvlo a, oiaaii s. deQueiroz, Eugênio Gomes, feuryaio Canaorava, Fernanuo rerreira deLoanda» Frankün de Oliveira, Geraldo Ferraz, Gaõriei Munhoz daAocua, Guerreiro Ramos, Gustavo üarroso, ühociui F.çyre; nerocriParentes Fortes, llerraan Lima, Jayme Auoui ua cantara, <ioao con-dé, Joaquim Ribeiro, •). F. Moreira da Fonseca, J/osè cuis do RcgóiJorge de Lima, José F. Coelho, José Geraldo Vieira, Juue SiiaeauLeal, José Tavares de Miranda, Josué ue tãõivo, Josué ivioiueuo.Leony de Oliveira Machado, Ledo Ivo, Ligia Fagunues leias, LuuisWiznitzer, Lopes de Andrade, Lúcio Caruosu, cmz járUini, ívianueii-to de Ornelas, Manuel Bandeira, Marcos Rondei Heis, Mano ua SiivaBrito, Mario Quin.ana, Marques Rebelo, Murilo Mendes, Noveili Ju-nior, Nelí Dutra, Newton de Freitas, Octavio de Fa.ia, Olímpio íwou-râo Filho, Oliveira e Silv33 Otto Maria Carpeaux, i'auio Menaes caiu-pos, Paulo Ronai, Peregrino Júnior, Pendes da Silva líamos, Rena-to Almeida, Renzo Massarani, Ribeiro Couto, Rodrigo M F de An-drade, Roger Bastide, Rogério Çprçâo, Roland Corbísier, Rosário Fus-co, Rubem Biafora, Santa Rosa, Sérgio Milliet, Servuio de Melo, Sii*vio EUa, Sylvio da Cunha, Sônia Regina, Tasso da Silveira, Tcnmto-cies Linhares, Thiers Martins Moreira, Umber o Peregrino, Van Jaia,Vicente Ferreira da Silva, Wilson Figueiredo. Willy Lcwin, XavierPlacer, Haidée Nicolussi, Mietta Santiago, Guido Wiünar Sassi eJorge Barroso Filho»

ILUSTRADORES:

Alfredo Ceschlattl, Armando Pacheco, Athos Bulcao. MarceloGrassmann Marcier, Fayga Ostro%ver, Ibero Camargo, Luiz Jarinn,Noemia, Oswaldo Goeldi, Paulo O Flores, Paulo Vlncent, ReniruKàtz, Percy Deane, Santa Rosa, Van Rogger e Ylien Kerr.

X Página — 12 \ LETRAS E ARTES Domingo, 20-8-1950

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Ilustração de SANTA ROSA

FUGA L DOS CENTAUROS(tradução de A. HERCULANO PE CARVALHO),

FOGEM, ÉBRIOS DE CRIME E DE REBELIÃO,PARA 0 MONTE ESCARPADO ONDE ESCONDEM SEU

[FORTEO MEDO OS PRECIPITA E, FAREJANDO A MORTE,

'PRESSENTEM PELO AR UM CHEIRO DE LEÃO.

ATRAVESSAM, PI SAN DO A HIDRA E 0 ESTELIÃ0,AS TORRENTES, OS VALES E ABISMOS, DE TAL SORTEQUE JÁ VÊEM NO CÉU, DESENHADO, 0 RECORTEDO OSSA, DO OLIMPO OU DO NEGRO PELIÃO.,

DE VEZ EM QUANDO ALGUM DA BÁRBARA MA-[NADA

DE SÚBITO SE EMPINA, A CABEÇA VOLTADA,,E NUM SALTO REGRESSA AO GADO FRATERNAL,

/AO VER QUE A LUA CHEIA, A ARDER NO CÉU- [SUSPENSA,

ATRÁS DELES PROJETA, ESPANTALHO FATAL,O GIGANTESCO HORROR DA SOMBRA HERCÚLEA,

[IMENSA.

jOSE' MARIA DE HEREDIA•a»-

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