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16 ALFRED SCHÜTZ: SITUAÇÕES DE CRISE E REALIDADES MÚLTIPLAS NO MUNDO DA VIDA DE TODOS OS DIASPatricia Paperman e Joan Stavo-Debauge A obra de Alfred Schütz constituiu, nos anos 1970-1980, um suporte para os sociólogos que procuraram modelos alternativos às teorias que ocupavam posições centrais nas Ciências Sociais, as funcionalistas nos Estados Unidos e as estruturalistas na França. Ela contribuiu com o desenvolvimento da problemática da “construção social da realidade” por intermédio de Peter Berger e Thomas Luckmann (1966), ambos alunos de A. Schütz. Suas ideias sobre a Sociologia foram retomadas como um programa de pesquisa pela etnometodologia e, em particular, por Harold Garfinkel. Elas inspiraram mais ou menos covardemente a análise dos empregados de altos cargos de Erving Goffman e as correntes de pensa- mento que se preocuparam em levar a Sociologia francesa à problemática da ação e/ou do “sentido”. Articulando M. Weber e E. Husserl, A. Schütz preconiza uma Sociolo- gia em que o ator conhece e experimenta o mundo social, uma Sociologia do “mundo da vida de todos os dias”. Essa reinterpretação da Sociologia com- preensiva, que se torna uma Sociologia do conhecimento do senso comum centrada no ator, parecia suscetível de permitir considerar perspectivas ignoradas pelas Sociologias dominantes, permanecendo no contexto de uma ciência positivista e, em particular, aquelas relacionadas à dimensão do gênero na organização social da experiência e do conhecimento. Ora, nossa leitura de Schütz nos leva a sugerir que nem o gênero ou nenhum outro eixo de diferenciação social pode ser considerado nessa O_genero_nas_Ciencias_Sociais__(MIOLO)__Graf-v5.indd 263 08/08/2014 11:22:27

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16 ALFRED SCHÜTZ: SITUAÇÕES DE CRISE E

REALIDADES MÚLTIPLAS NO “MUNDO DA VIDA DE TODOS OS DIAS”

Patricia Paperman e Joan Stavo-Debauge

A obra de Alfred Schütz constituiu, nos anos 1970-1980, um suporte para os sociólogos que procuraram modelos alternativos às teorias que ocupa vam posições centrais nas Ciências Sociais, as funcionalistas nos Estados Unidos e as estruturalistas na França. Ela contribuiu com o desenvolvimento da problemática da “construção social da realidade” por intermédio de Peter Berger e Thomas Luckmann (1966), ambos alunos de A. Schütz. Suas ideias sobre a Sociologia foram retomadas como um programa de pesquisa pela etnometodologia e, em particular, por Harold Garfinkel. Elas inspiraram mais ou menos covardemente a análise dos empregados de altos cargos de Erving Goffman e as correntes de pensa-mento que se preocuparam em levar a Sociologia francesa à problemática da ação e/ou do “sentido”.

Articulando M. Weber e E. Husserl, A. Schütz preconiza uma Sociolo-gia em que o ator conhece e experimenta o mundo social, uma Sociologia do “mundo da vida de todos os dias”. Essa reinterpretação da Sociologia com-preensiva, que se torna uma Sociologia do conhecimento do senso comum centrada no ator, parecia suscetível de permitir considerar perspectivas ignoradas pelas Sociologias dominantes, permanecendo no contexto de uma ciência positivista e, em particular, aquelas relacionadas à dimensão do gênero na organização social da experiência e do conhecimento.

Ora, nossa leitura de Schütz nos leva a sugerir que nem o gênero ou nenhum outro eixo de diferenciação social pode ser considerado nessa

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Sociologia do “mundo da vida de todos os dias”. O uso da noção de “cons-trução social” pelas análises de gênero parece-nos muito distante das ideias centrais do pensamento de A. Schütz, que não se interessou pela orga-nização social do conhecimento sob o ângulo do gênero, nem sob outros aspectos que marcariam a importância de hierarquizações sociais. A ideia de uma “construção social”1 que serviu de suporte para numerosas análises críticas em termos de gênero não é uma noção schütziana em si. Ela é o resultado da interpretação feita por Berger e Luckmann da Sociologia do conhecimento impulsionada por A. Schütz. Em nosso ponto de vista, a Sociologia schütziana não pode transformar-se em uma fenomenologia do gênero, como também não pode tornar-se uma fenomenologia de situações de “crise”, por exemplo, quando a pertença a uma mesma comunidade não aparece. Pois seria, então necessário encarregar-se dos elementos substan-ciais que se encontram fora do alcance dessa Sociologia. Essa indiferença aos conteúdos substanciais da atividade de pensamento ordinário é patente no estudo que toma a situação “típica” do estrangeiro como objeto. Para compreender as consequências de uma tal indiferença, é necessário voltar-mos ao projeto dessa Sociologia do senso comum.

Uma Sociologia do senso comum

Alfred Schütz (1899-1959), que havia assistido às conferências de Max Weber em Viena em 1918, dedicou-se a uma leitura de seus textos meto-dológicos, tentando fornecer-lhes os fundamentos de uma “Antropologia filosófica” (Céfaï, 1998). Ele retoma, sob uma perspectiva fenomeno-lógica, a ideia do “sentido subjetivamente pretendido pelo ator” e seu corolário “metodológico”, o ideal-tipo, ferramenta weberiana por exce-lência. Ao retrabalhar essas noções-chave da Sociologia compreensiva, é o próprio projeto da Sociologia que se encontra completamente reconfigu-rado como Sociologia do conhecimento. O conhecimento do senso comum do mundo da vida de todos os dias torna-se o objeto privilegiado da Socio-logia, pois ela é constitutiva do mundo social:

1 Ela agora se impõe como um elemento do “senso comum”, fazendo com que não seja mais suficiente para criticar (Stavo-Debauge, 2003; De Fornel; Lemieux, 2007).

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O objetivo das Ciências Sociais é a explicação da “realidade social” a partir do momento em que é apreendida por uma pessoa cuja vida cotidiana desen-rola-se no interior do próprio mundo social (...). As Ciências Sociais devem tratar a conduta humana e sua interpretação pelo senso comum na realidade social. (Schütz, 1987, p.42)

Alfred Schütz procura constituir uma “Sociologia distanciada”, que consistiria em uma Sociologia da Sociologia das pessoas, pois, como ele o afirmava, “nós” seríamos “todos sociólogos na prática”.

Essa reabilitação do conhecimento do senso comum abriu novas pers-pectivas para uma Sociologia que (no contexto francês em particular) é marcada pelo imperativo da ruptura epistemológica, oferecendo assim uma alternativa ao trabalho dos sociólogos estruturalistas e críticos sobre o conhecimento que os agentes possuem do mundo social e as consequências de suas ações.2 Com a ajuda dessa fenomenologia do mundo social seria outra vez possível afrontar a possibilidade de considerar o conhecimento ordinário, de fazer justiça às capacidades dos atores, de voltar à ruptura, radicalizada pelo positivismo, entre conhecimento científico e conheci-mento ordinário (Paperman, 2001).

Alfred Schütz se propunha a fazer uma teoria do “mundo da vida cotidiana”, de suas “situações”, de suas “províncias de sentido” e da “multiplicidade” de suas “realidades”. Ele se preocupava com um tipo de conhecimento do mundo social informado principalmente por uma orientação prática que supunha conceder aos atores capacidades de agir das quais eles pareciam ter sido privados pela Sociologia crítica. Não foi ele quem reconheceu a distinção e a compreensão da ação segundo os “moti-vos tendo em vista” [motifs en vue de] e os “motivos por que” [motifs parce que]? Uma tal distinção oferece espaço para a consideração das razões que presidiriam as condutas e não somente das causas que as determinariam. Ela abre, assim, a análise da racionalidade dos agentes, destinados pelas teorias funcionalistas e estruturalistas (sejam elas críticas ou não) a não serem nada além de vetores (mais ou menos bem socializados) da ordem

2 Esse conhecimento é falso, parcial, deformado, ilusório, necessariamente deficiente e as consequências de seu agir estão escondidas de seus atores percebidos como brinquedos de forças e de causas que os ultrapassam ou como sujeitos de disposições incorporadas que são inacessíveis à sua reflexividade.

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social e dos mecanismos de reprodução ou de integração. Esse programa de uma Sociologia do mundo da vida cotidiana poderia fazer acreditar que as experiências e os pontos de vista sobre o mundo social reduzidos ou ignora-dos poderiam, enfim, conquistar seu espaço.

As duas principais teses de A. Schütz fornecem as bases de uma reabi-litação das capacidades dos atores em avaliar a realidade social? A primeira tese defende que o mundo social é percebido como uma evidência, taken for granted: o conhecimento do senso comum do mundo da vida de todos os dias (o Mundo-Vida ou a atitude natural) é um sistema de construções de sua tipicidade. A segunda tese aborda o caráter comum e compartilhado do mundo conhecido pelo autor. Esse Mundo-Vida é um mundo comparti-lhado com uma multiplicidade de outros indivíduos, que vivem e que agem em seu âmago em atividades comuns e mutualmente imbricadas. O sistema das construções da tipicidade é amplamente aceito como óbvio, mesmo se um ou outro segmento daqueles construídos pode ser periodicamente ques-tionado. Para isso, as teses fundamentais constitutivas do próprio mundo social – sua “taken for grantedness” e sua “commonness” – permanecem não tematizadas nos contextos da vida cotidiana (Zaner, 1970).

Ao defender a ideia de que esse conhecimento do mundo da vida de todos os dias é imediatamente um conhecimento de sua tipicidade, A. Schütz afirma que antes de constituírem-se ferramentas do conhecimento científico sob a forma de tipos (ideais ou não), as construções da tipicidade são elaborações do senso comum, que se tornaram disponíveis em “reser-vas de experiências”, “receitas” práticas e “repertórios” de “tipificações”. A tipificação “consiste em uma igualização de traços pertinentes para o objetivo particular em curso, para o qual o tipo foi formado, ignorando as diferenças particulares dos objetos tipificados que não são pertinentes para esse objetivo” (Schütz, 1964, p.234). Trata-se, então, de um processo através do qual alguns traços das situações ou dos objetos, configurados segundo objetivos práticos, são retidos e tomados como elementos deci-sivos do tipo, pela diferença com outros que são rejeitados, considerados insignificantes.

A análise desse processo avalia a eliminação de significados e de expe-riências que não convergem necessariamente para uma mesma apreensão das circunstâncias e que seriam associadas a posições assimétricas constitu-tivas de uma relação de “dominação” não justificável?

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Gênero e dominação

A ausência de consideração das dimensões do “poder” na teoria de A. Schütz poderia explicar o pouco interesse pela Sociologia de análise dos gêneros. É o que Patricia Lengermann e Jill Niegrugge (1995) sustentam em um artigo que explora, sob uma perspectiva feminista, as possibilida-des de extensão das análises schützianas da intersubjetividade, de maneira que seja possível levar em consideração a questão da “dominação”. Mas essa possibilidade se revela limitada, pois para dar conta do modo como a “dominação” pode ser construída na intersubjetividade, a análise é realizada para mostrar como tal relação pode ter uma forma particular e distorcida, de acordo com a expressão de Lengermann e Niebrugge (Ibid., p.28), da relação intersubjetiva por excelência para A. Schütz – “we-relation”.

Nessa relação de reconhecimento mútuo, cada um se centra nas com-preensões comuns que o religam ao outro e reconhece no outro uma subjetividade independente. A relação de “dominação” é compreendida, então, como uma relação na qual se exige do outro a partilha total da percep-ção e o projeto de cada um. Nesse caso, a “reciprocidade das perspectivas” não é mais pressuposta, como afirmam as autoras do artigo, já que existe somente uma única perspectiva, a do “dominante”: o subordinado renuncia ao direito a uma subjetividade independente, ele serve somente para ouvir o projeto do dominante. Gostaríamos de concluir deste relato que as relações de “poder” não são conflitantes com uma análise em termos de intersubje-tividade conforme a proposta de A. Schütz, já que a tese da “reciprocidade das perspectivas” não é, em si, sustentável. Mas Lengermann e Niebrugge, por sua vez, não concluem de um modo tão radical os limites da análise de A. Schütz. Elas deslocam a questão da “dominação” do nível intersubjetivo para o nível das estruturas de maior escala, e apoiam-se, então, nas análises de Dorothy Smith (1987; 1990) fundamentadas a partir de diferentes fontes (marxismo, etnometodologia) e que as conduzem ao desenvolvimento de uma “etnografia institucional” (2005).

Portanto, a hipótese da “reciprocidade das perspectivas” é central para a análise da intersubjetividade do mundo vivido praticada por A. Schütz: ela é uma “idealização” através da qual, apesar da diversidade das experiên-cias da realidade social, apesar das diferenças “biográficas”, constitui-se e percebe-se um “mundo comum”, “objetivo” e acessível a “qualquer um”:

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A tese geral das perspectivas recíprocas conduz à apreensão dos objetos as-sim como de seus aspectos atualmente conhecidos por mim e potencialmente por vocês ou por qualquer outra pessoa. Um tal conhecimento é suposta-mente objetivo e anônimo, ou seja, separado e independente de mim e da definição da situação por meu semelhante, nossas circunstâncias biográficas particulares e os objetivos atuais e potenciais dos quais dispomos ao nos sentir-mos incluídos. (Schütz, 1987, p.18)

É essa maneira de conceber o conhecimento do mundo comum que nos parece dificilmente compatível com uma perspectiva feminista ou qualquer outra perspectiva de análise do mundo social que sustentaria a possibilidade (e a validade) de um conhecimento (situado, e não genérico ou universal) que ancora-se em uma variedade de lugares e de modos de apreciação do mundo. Nesse caso, ele justifica-se a partir de uma decisão, metodológica e política, que consiste em fazer dessa constituição do “comum”, do “nós” e do “mundo da vida de todos os dias”, um caso problemático, como o sustenta Smith (1987; 1990). Mas uma tal decisão implica, segundo Smith, uma ruptura radical com a perspectiva da intersubjetividade, pois ela apoia-se em uma epistemologia e uma metodologia diferentes, uma teoria do “standpoint” (1987, p.18). Ela implica o rompimento com o pressuposto de um mundo comum previamente dado e conduz à realização da etno-grafia de sua fabricação. Uma tal etnografia parte de um ancorar corporal situada do sujeito do conhecimento. Ele atribui-se a tarefa de restituir a articulação do ponto de vista ligado a esse ancorar com o mundo “comum”, e seu desaparecimento através de formas objetivadas do conhecimento, inclusive sociológico. Para Smith, restituir o mundo da vida cotidiana é mostrar como constitui-se e mantém-se a distância entre os conhecimentos situados e o conhecimento dito “comum” do mundo social.

Pertinências principais e menos importantes (ou realidades múltiplas): o trabalho teórico e as tarefas domésticas

Para A. Schütz, portanto, o mundo da vida de todos os dias também não é um caso homogêneo: ele é “estratificado”, articulado em “realidades

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múltiplas” ou províncias concluídas no sentido de uma coexistência no fluxo da consciência (Schütz, 1987). Poderíamos esperar, então, que essa análise dos estratos diferenciados restitua essa capacidade em apropriar-se e a viver o “mesmo” mundo de maneiras diferentes. Efetivamente, esse é também o fato que encontra-se no ponto de partida do questionamento filosófico de A. Schütz sobre um fenômeno que chamou a atenção de William James em ter-mos psicológicos. Já que não estamos mais interessados, em cada instante, por todos os estratos do mundo nem por todas as outras realidades simul-taneamente, Schütz empenha-se em analisar a “função seletiva de nosso interesse” que organiza e estrutura o mundo em esferas de pertinência (por exemplo, a principal e a menos importante). Cada uma das realidades ou províncias de significações nas quais o ator pode encontrar-se comprome-tido simultânea ou alternadamente, caracteriza-se por um estilo cognitivo diferente que possui uma coerência própria. Por exemplo, o estilo cogniti-vo próprio ao mundo do trabalho teórico e o estilo cognitivo de atividades do mundo do trabalho cotidiano mobilizam diferentes níveis da personalidade:

São unicamente níveis muito superficiais de nossa personalidade que em-penham-se em realizações como nossas “tarefas domésticas” habituais, ou mesmo quase automáticas, ou no fato de comer, de vestir-se e, também, (para adultos normais) de ler e efetuar operações aritméticas simples. Evidente-mente, quando voltamo-nos para esse trabalho rotineiro, as atividades que lhe são associadas são constituídas em temas, exigindo e recebendo nossa total atenção, mesmo se é somente por um curto instante. Mas efetuamos essas ati-vidades ao mesmo tempo e apesar das grandes crises em nossas vidas. (Schütz, 1970, p.11)

Segundo Smith, “a atitude do óbvio apoia-se no trabalho das mulhe-res (...), nas relações de trabalho daqueles que fornecem a logística da existência corporal do filósofo (...), (aqueles) cujo trabalho permite a um outro eliminar toda a atenção à localização corporal da consciência” (1987, p.83). Prosseguindo nessa mesma linha, Lengermann e Niebrugge (1995) estimam que o que, para alguns, vale como mundo evidente, é um mundo de problemas para aqueles/aquelas cujo trabalho (visto mas não obser-vado) consiste precisamente em produzir essas soluções que fazem surgir o mundo como uma evidência.

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Mas para que a produção dessas soluções torne-se visível, “tematizável” em linguagem schütziana, é necessário que ela surja como um problema no terreno da consciência do adulto plenamente estimulado, conectado com o mundo do trabalho. E isso – “evidentemente” – exige condições particu-lares: por exemplo, que as experiências desses outros e o conhecimento do mundo social que elas implicam, sejam reconhecidas como válidas e não sejam tratadas como secundárias ou insignificantes. Ora, as atividades de manutenção das “rotinas” da vida cotidiana, ao mesmo tempo que consti-tuem o objetivo da análise fenomenológica que as valoriza como elementos essenciais do “mundo da vida”, desaparecem do horizonte e da visão dos sociólogos.3 Efetivamente, segundo Smith:

a etnografia da consciência de Schütz vê o processo somente por um lado. Ele não vê o complemento essencial desse trabalho da consciência, a organização social dessa área, nem seu caráter discursivo ou sua textualidade essencial. Pois se o sujeito conhecedor de Schütz deve negligenciar sua vida profissional e local, o que existe, então, no mundo no qual ele entra, que o torna capaz desse esquecimento, que fornece-lhe um mundo de ser e de agir no qual sua existên-cia particular e local não tem lugar, que o puxa para fora de si próprio? (Smith, 2005, p.53-54)

Posicionando-se em oposição a A. Schütz, que postula uma unidade da consciência do ator, Smith fala de uma “bifurcação da consciência” – expe-riência comum à posição das mulheres – segundo a qual o conhecimento oriundo do enraizamento na vida local e corporal (que Smith chama de “vida de todos os dias e de todas as noites”) é dissociado do conhecimento do mundo social produzido e defendido pelas instituições do mundo “comum” através das relações de dominação (ruling). A noção de “posi-ção das mulheres” (women’s standpoint) é, assim, um lugar para começar a investigação sobre o conhecimento do mundo social.

3 Os quais, como o mostra Marc Breviglieri, são mais inclinados a preocupar-se com os “fun-dos tenebrosos” das “rotinas” (Breviglieri, 2006).

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As “idealizações” schützianas diante do estrangeiro

Sabemos que A. Schütz foi forçado a deixar a Áustria nazista para instalar-se primeiramente em Paris, onde ele morou durante apenas um ano, depois nos Estados Unidos, onde permaneceu até sua morte, em 1959. Podemos, então, afirmar que a experiência pessoal do recém-chegado conduz A. Schütz a considerar as situações de crise como se não permitis-sem mais ter como adquirida a compreensão em comum, a objetividade do mundo ou ainda a partilha de experiências vividas e que se referem ao mundo como sendo inquestionáveis? Teria sido a análise da “situação típica do estrangeiro” (Schütz, 2003) que incitou A. Schütz a considerar as experiências do mundo social, permitindo observar atores envolvidos em situações nas quais a realidade social não é dada previamente e na qual ela possa constituir-se objeto de revisão ou de transformação? Ou teria esse autor orientado seu olhar para situações que não são sempre já “tipificadas” e cuja consideração revela a ideia schütziana de que nada será suscetível de problematizar a objetividade do mundo vivido pelos atores?

A imagem do recém-chegado permite questionar as capacidades morais e de avaliação que o autor confere aos atores, de maneira que seja possível encarar situações problemáticas questionando o caráter comum do mundo e sua dimensão de objetividade.4 O recém-chegado abre espaço para essa questão quando a pertença lhe faz falta, e quando também é ele que não dispõe necessariamente das capacidades exigidas para criar uma comuni-dade com as pessoas que ele aborda, que se mantém em um mundo que não é o seu e do qual se apropriaram para seus próprios fins. Do mesmo modo, seu surgimento leva aqueles que o veem a se perguntarem se são capazes de conviver com seu estrangeirismo. Sua chegada mede também a capacidade dos atores em recebê-lo e acompanhá-lo na pertença, preparando-lhe um lugar e ajustando seus modos de agir para que ele possa sentir-se integrado. A consideração do estrangeiro por A. Schütz fornece um poderoso reve-lador do alcance descritivo e do interesse das ferramentas teóricas que ele forjou em seu trabalho.

4 Os elementos apresentados aqui de maneira sucinta são mais amplamente desenvolvidos no primeiro capítulo da tese de Joan Stavo-Debauge (2009).

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Quando lemos o texto de A. Schütz sobre o estrangeiro, constatamos ra-pidamente que o centro de sua Sociologia é pouco atingido pela imagem do recém-chegado. Isso não se deve ao fato de a Sociologia resistir à pro-va do estrangeiro, mas é a imagem do estrangeiro da qual o autor dispõe em The Stranger (tradução francesa, 2003) que lhe permite esquivar a con-sideração de situações que desestabilizem as próprias bases da Sociologia. Seu texto fala de um estrangeiro que se revela in fine bem pouco estrangei-ro, descrito como um “adulto de nossa época e de nossa civilização” (Ibid., p.6). A decisão de A. Schütz consiste em excluir “voluntariamente” de sua investigação: (a) o visitante ou o convidado que procura estabelecer um sim-ples contato provisório com o grupo; (b) a criança ou os povos primitivos; e (c) as relações entre indivíduos e grupos de diferentes graus de civilização (Ibid., p.8). Assim, seu foco na pálida imagem do estrangeiro que resiste a essas três exclusões minimiza muito a possibilidade de ver emergir o caráter real e perigosamente problemático da conduta a adotar em relação ao estran-geiro (assim como a conduta do estrangeiro). O que é “típico” do estrangeiro é definido por A. Schütz de um modo monológico e curiosamente seletivo.

Portanto, é esse próprio reconhecimento da problemática do comércio com o recém-chegado que teria permitido ver em ação a eminente questão prática e moral colocada pelo estrangeiro: a da hospitalidade – temática ausente do texto de A. Schütz. Praticamente, essa questão interfere desde a desordem provocada pela falibilidade e pela infelicidade das relações entre o “estrangeiro” e aqueles que auxiliam sua vinda. Os quais devem, então, fazer muito esforço para protelar seus incômodos ou dificuldades, ou para esconder as suas próprias, e auxiliar a sua vinda. E isso, sem poder necessariamente usar recursos com os quais eles normalmente contam (as “soluções práticas” habituais, os modos ordinários que possuem um sentido colocado nessas “reservas de experiências” e outros “esquemas de tipicidades”), já que elas não são suficientes para fundarem um acordo, por menor que seja, sobre as propriedades comuns da situação.

Ao sair do terreno de sua investigação, “situações” que oferecem às pessoas implicadas, assim como ao sociólogo, o êxito de uma distância tão consequente que deixa entrever profundas assimetrias suscetíveis de minar a realização do pressuposto prático de “reciprocidade das perspectivas” e de “intercambialidade dos pontos de vista”, tão central em sua Sociologia, como se A. Schütz se privasse da possibilidade de deixar-se incomodar pela

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questão, indissociavelmente analítica, ética, política e prática, colocada pelo estrangeiro. Os casos excluídos por sua decisão “metodológica” são precisamente tributários dessas “situações” confundidas por uma assimetria e o aprofundamento de uma distância entre pessoas consideradas, apesar de tudo, pela necessidade prática de entreter e de manter uma orientação de atenção comum, mesmo em aparência.

Ora, é precisamente quando as pessoas se confrontam com tais “situa-ções” que elas devem considerar sua capacidade em suportar os incômodos do estrangeirismo e mostrar-se, ou não, particularmente hospitaleiras ou com profundas divergências. Devido ao fato de não querer considerar tais situações, A. Schütz parece, assim, diminuir fortemente o estrangeirismo do estrangeiro, o qual parece, então, mais ou menos sempre um semelhante quando não for um igual. O que lembra o relato de uma consciência que um sujeito carrega e que será despojado do conhecimento adquirido pelo seu enraizamento corporal e local na situação.

Seria Alfred Schütz capaz de introduzir no palco de sua investigação um personagem diferente desse estrangeiro que o é tão pouco? São os postulados mais enraizados de suas análises, assim como as orientações mais profundas de sua teoria, que impediram-no de atribuir-se uma visão mais penetrante e, por isso, mais inquieta, sobre o tormento da chegada do estrangeiro na comunidade, assim como sua capacidade de questioná-la e transformá-la. Podemos quase afirmar que o estrangeiro – como vetor de novidade e ativador de distâncias – seria uma das pessoas que pode atrapalhar mais decisivamente as teorias de A. Schütz, pois elas endossam a pertença a um “mundo comum” e estabelecem que uma “inter-subjetividade” essencial é sempre previamente dada

desde o início é um mundo intersubjetivo (...). Ele é intersubjetivo porque vive-mos nele como homens entre outros homens, sofrendo as mesmas influências e trabalhando como eles, compreendendo os outros e sendo compreendidos por eles. (Schütz, 1987, p.15-16)

Ao prestarmos bastante atenção, seus textos fazem sempre surgir “seme-lhantes” e “contemporâneos”. Inclusive, cada um deles é considerado por estar em “excelentes condições”, “condições” essencialmente comuns e compartilhadas, que todos possuem e estão disponíveis para qualquer um.

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Tentemos caracterizar como o homem adulto, em excelentes condições físi-cas e mentais, observa o mundo intersubjetivo da vida cotidiana dentro do qual e sobre o qual ele age como um homem entre seus semelhantes (...). Qualquer interpretação desse mundo funda-se em uma reserva de experiências prévias, as nossas próprias ou aquelas que nos foram transmitidas por nossos pais ou professores; essas experiências sob a forma de “conhecimentos disponíveis” funcionam como esquemas de referência. (Ibid., p.12)

Um “nós” encontra-se, então, sempre disponível. De tal modo que o essencial, o pano de fundo de um mundo comum acessível a todos, já cons-titui um objeto de partilha. Certamente, essa partilha não é necessariamente imediata, mas as “reservas de experiência” (os “esquemas de tipificações” etc.), que mediatizam sua constituição intersubjetiva e asseguram o caráter reiterável dessa constituição, são bem colocadas como sendo comuns e compartilhadas.

Imediatamente, nós, os atores no palco social, experimentamos o mundo no qual vivemos como um mundo ao mesmo tempo natural e cultural, não como um mundo privado, mas como um mundo intersubjetivo, ou seja, como um mundo comum a todos nós, seja ele dado, seja ele potencialmente acessível para cada um. (Ibid., p.71)

Como assinala Jürgen Habermas, A. Schütz “tende a descartar a cons-tituição do mundo da vida e partir imediatamente de um mundo da vida intersubjetivamente constituído” (Habermas, 1987). Habermas percebeu que essa abordagem não permite conciliar, com tal descrição, a maneira pela qual o “mundo da vida” torna-se problemático, em particular pelo exercício da crítica instaurado pelos atores (Boltanski; Thévenot, 1991).

Se as capacidades críticas dos atores são menosprezadas, as “idealiza-ções” propostas por A. Schütz procuram resolver apenas um problema de coordenação da atenção bastante limitado. Elas referem-se somente ao ajuste da única questão da orientação mútua de “perspectivas” posicio-nadas em um espaço geométrico plano e homogêneo. Pretendem apenas assegurar a presunção de uma troca recíproca do “aqui” de um e o “lá” do outro, para que um e outro possam reconhecer que cada um vê as mesmas “coisas”. “Coisas” que são neutralizadas por seu caráter estritamente físico

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e pela especificação do lugar, uma simples questão de espaço, a partir do qual elas são consideradas. Desse modo, ele pode escrever que “nós dois vemos o mesmo pássaro voar, apesar da diferença de nossa posição espacial, nosso sexo, nossa idade e o fato de você querer atirar nele e eu, apenas des-frutar dessa visão” (Schütz, 1962, p.316).5

Mas o que acontece, então, quando a atenção dos atores ancora-se em outros lugares que não sejam “lugares” vazios, situados em um sistema de coordenadas espaciais homogêneas que, em si, os torna essencialmente equivalentes e intrinsecamente intercambiáveis? A. Schütz não menciona essa questão, pois as “situações” que ele considera não instauram proble-mas providos de tanta profundidade, em particular política ou moral, que tornaria a resolução de tais problemas delicada. Portanto, essa situação não representaria colocar o estrangeiro verdadeiramente à prova?

A inflexão pragmática da sociologia de A. Schütz, em nossa opinião mais lexical do que efetiva, assim como sua ampliação da etnometodologia, tentava sugerir que os atores dispõem de um amplo espectro de compe-tências para poder orientar-se no mundo, compreender-se, agir junto ou coordenar-se. Contudo, nenhum desses desenvolvimentos permite resti-tuir aos indivíduos ou aos seus membros as capacidades de avaliação que os fariam ver e apreciar esse “mesmo” mundo de outro modo, ou sob aspec-tos que não se encaixam com os pressupostos normativos inerentes a um tal conhecimento do senso comum: “O conhecimento que todos aqueles que compartilham nosso sistema de pertinência supostamente possuem em comum é o modo de vida considerado como natural, justo e certo para os membros do grupo” (Schütz, 1987, p.19).

O estrangeiro de A. Schütz surge como o revelador de uma perspec-tiva de análise indiferente às particularidades concretas das situações, às experiências diversas que elas suscitam e à diversidade das perspectivas no mundo social cujo caráter comum não é imediatamente dado, mas constituído. Aqui, sua constituição parece efetuar-se ao preço de um desaparecimento da pluralidade das formas de conhecimento que são des-providas da autoridade desse “nós” [nous], ao mesmo tempo igualitário,

5 É, inclusive, com esse mesmo exemplo que Lengermann e Niebrugge (1995, p.28) apresen-tam a constituição do “nós” segundo Schütz.

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anônimo e típico – um “nós” que possui, por consequência, todos as carac-terísticas de um pronome indefinido [On].6

O On sobre o qual A. Schütz constrói a Sociologia é problemático por-que ele é cego às diferenças e aos princípios de diferenciação hierarquizante. Ele atenua o mútuo estrangeirismo (fonte de atração e de repulsão simulta-neamente) que se impõe, não somente entre o estrangeiro e os nativos, mas também entre os homens e as mulheres. Em outras palavras, sua incapaci-dade em pensar o estrangeiro e em tematizar a distância característica de suas relações, leva-nos a pensar que sua Sociologia não possui ferramentas para considerar essa outra distância que caracteriza as relações sociais orga-nizadas em função do gênero.

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6 Há aqui um paralelismo linguístico irreproduzível em português. A autora se refere ao nous, pronome pessoal equivalente ao “nós”, e ao on, pronome pessoal que pode ser usado tanto como substituto do “nós” quanto como pronome indefinido. (N. E.)

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