ACESSO À TERRA E QUALIDADE DE V - Repositório ...
-
Upload
khangminh22 -
Category
Documents
-
view
4 -
download
0
Transcript of ACESSO À TERRA E QUALIDADE DE V - Repositório ...
ANA HELOISA MAIA
O PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO NO MUNICÍPIO DE
NOVA XAVANTINA-MT: ACESSO À TERRA E QUALIDADE DE VIDA DAS
FAMÍLIAS?
Ilha Solteira
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA
DEPARTAMENTO DE FITOTECNICA, TECNOLOGIA. DE
ALIMENTOS E SÓCIO-ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA
“O Programa Nacional de Crédito Fundiário no município de Nova Xavantina-MT: acesso à
terra e qualidade de vida das famílias?”
ANA HELOISA MAIA
Orientador: Prof. Dr. Antonio Lázaro Sant’Ana
Tese apresentada à Faculdade de Engenharia -
UNESP – Campus de Ilha Solteira, para
obtenção do título de Doutor em Agronomia.
Especialidade: Sistemas de Produção
Ilha Solteira – SP
2016
Campus de Ilha Solteira
DEDICO
A minha mãe, carinhosamente chamada de “coroquinha”, Maria Expedita Maia,
grande mulher e guerreira. Ao meu querido e amado pai Miguel Maia “in memorian”.
Sem palavras para descrever minha admiração por vocês, sabiamente me passaram seus
valores, o amor a família, a humildade, o sacrifício em relação ao próximo, o apoio
incondicional que me fez seguir sempre em frente. Vocês sempre serão meu exemplo de
vida.
OFEREÇO
Ofereço esta conquista a minha linda filha Alexandra, embora uma menina ainda,
sapeca, mesmo sem entender o que estava fazendo, sempre me disse “vai mamãe, você
consegue...”. Por você me esforcei para ser uma pessoa melhor, uma mãe melhor. Depois
de tantos erros e acertos, hoje compreendo os motivos de ter sido escolhida para ser sua
mãe entre tantas mulheres. Essa dádiva divina a mim concebida me faz a cada dia refletir
o quão especial sou. O meu amor infinito é para você meu anjinho da guarda. Te amo
infinitamente minha menina!
AGRADECIMENTOS
A Deus por estar sempre ao meu lado, que me concedeu o mais divino dos presentes
(ser mãe) e mesmo com todas as dificuldades e inseguranças, sempre me guiou pelo caminho
da luz.
Ao meu pai (in memorian) Miguel Maia que me mostrou a beleza do mundo rural, que
me ensinou a admirar o trabalho e o esforço do agricultor familiar para permanecer na tão
amada terra. Hoje consigo compreender seus sacrifícios, a sua necessidade de trabalhar tanto
por um futuro melhor para os seus filhos. Hoje consigo compreender a sua partida tão
dolorosa e repentina... o meu pai...por muito tempo sofri com sua partida, mas agora consigo
compreender os propósitos de Deus em nossas vidas...seu “pé de boi” mantém a fé de um dia
nos encontrarmos novamente, poder te abraçar e tocar suave nas palmas de suas mãos.
Obrigada por tudo!
A minha mãe Maria Expedita Maia, minha “coroquinha” linda, que mesmo me
querendo próxima a ela, nunca impediu a minha partida... depois de tantos choros... sem
compreender o que estava estudando, sempre me apoiou incondicionalmente. A você minha
velha guerreira, exemplo de mulher, agradeço imensamente por tudo e principalmente por ser
sua filha “rapinha do tacho”... o privilégio é todo meu.
Aos meus irmãos de sangue e alma que me apoiaram de diversas formas e fizeram
com que a realização do Doutorado fosse possível: Dito, Maria, Marcelo, Silvia Helena, Luís,
Marcos, Joaquim, José, Luciana e Eulália. Embora estejamos longe uns dos outros, sei que
posso contar com essa turma, afinal de contas um laço Maia não se desfaz por qualquer coisa.
Tenho orgulho da nossa família e de nossas lutas.
Ao meu anjinho da guarda, minha filha Alexandra, que tem me feito seguir em frente,
permitiu que eu conhecesse o amor maior, o significado dos sacrifícios feito pelos filhos.
Minha princesa, obrigada por fazer com que a minha vida seja mais agitada e muito mais
prazerosa com as novas descobertas.
A Dinda, Cavarcanti, Cuitelinho, Cabeça de Gir, Zé Lelé...etc... essa irmã que Deus
me presenteou de uma maneira única, embora sempre me achei mais simpática... teimosa que
só... tem minha admiração, por suas lutas, por sua perseverança...Deus reserva algo
maravilhoso a você e embora agora nada faça sentido, tem sim aquela luz no final do túnel, o
pote de ouro no final do arco-íris ... que vai chegar... “Desejo que o seu melhor sorriso, aconteça
incontáveis vezes pelo caminho. Que cada um deles crie mais espaço em você. Que cada um deles
cure um pouco mais o que ainda lhe dói. Que cada um deles cante uma luz que, mesmo que ninguém
perceba, amacie um bocadinho as durezas do mundo (Ana Jácomo)”.
Ao meu mais que amigo Manoel (carinhosamente chamado de Manu), que tive o
privilégio de conhecer na posse do concurso da UNEMAT. Parece que nos conhecíamos
desde sempre... obrigada pela paciência, pelo apoio, pelas horas de terapia, por fazer com que
os dias em “tão tão distante” sejam mais felizes.
À minha amiga eterna, Jacqueline, pela amizade ímpar que me acompanha desde a
infância, obrigada pelo apoio.
A minha amiga Tici, pelo apoio e pela amizade construída. Tenho uma grande
admiração por você e sei que na hora certa seus sonhos se tornarão realidade, torço muito para
que as coisas se acertem. Muito obrigada pela ajuda e confiança.
Ao meu amigo Douglas “Maldonato”, mesmo distante, guardo você no meu coração...
obrigada pelas horas maravilhosas que passamos juntos, você sempre terá a minha eterna
gratidão.
Ao meu querido professor e orientador Antonio Lázaro Sant’Ana, que me acolheu no
meu último ano de graduação, acreditou em mim e me apoiou sempre. Sentirei saudades das
nossas longas conversas...Você professor é minha inspiração profissional. Te admiro por
inúmeras coisas, mas principalmente por essa sensibilidade tão sua para enxergar além das
aparências...Obrigada por tudo, pelo apoio, pela tranquilidade, enfim por acreditar nessa
menina simples que só precisava que alguém acreditasse nela... não me arrependo em nenhum
momento de minha escolha, afinal de contas foi você quem me escolheu e serei eternamente
grata por isso.
A querida Nil que mesmo distante sempre torceu por nossa vitória... com seus dons
culinários, suas palavras sinceras e seu sorriso cativante. Com o tempo pude conhecer um
pouquinho mais de você e admirá-la pela pessoa que és. Muito obrigada pelo carinho e que
sua jornada seja repleta de realizações.
À professora Maria Aparecida Anselmo Tarsitano, Cidinha, pelo carinho, por sempre
nos apoiar, pelas sábias palavras que levarei sempre comigo, muito obrigada por tudo.
Ao professor Gilmar Laforga pelo incentivo durante o tempo que convivemos na
UNEMAT de Nova Xavantina. Tem minha eterna admiração como profissional e pessoa.
A Muito obrigada pelo auxilio nas horas que mais precisei. Agradeço também a Ana
que me ajudou após o nascimento da minha filha, dando conselhos e passando sua
experiência, com toda a paciência do mundo. A esse casal maravilhoso, só tenho a agradecer e
não teria palavras suficientes para descrever o quão grata sou a vocês por tudo.
As professoras Silvia Maria Almeida Lima Costa e Rosangela Aparecida de Medeiros
Hespanhol e ao professor Omar Jorge Sabbag pelas correções e contribuições a este trabalho,
muito obrigada mesmo.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia, aos seus coordenadores e
professores, pela compreensão, auxílio e acolhimento, porque souberam compreender todas as
minhas dificuldades e só assim foi possível o término deste trabalho. Aos funcionários da
Pós-Graduação Onilda, Márcia, Graciele e Rafael (in memorian), pela atenção.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo
apoio financeiro, concedido através da bolsa de pesquisa.
A todos os professores e funcionários da Faculdade de Engenharia da UNESP de Ilha
Solteira que me auxiliaram passando os conhecimentos necessários para a minha formação
profissional.
A UNEMAT – Campus de Nova Xavantina, pela oportunidade dada e por permitir que
eu realizasse meu sonho de ser professora.
Agradeço imensamente a todos os agricultores familiares que contribuíram para
realização desse trabalho. Me receberam sempre com um sorriso no rosto, deixando seus
afazeres de lado para enriquecer meu mundo e a pesquisa com seus valiosos depoimentos.
São pelos que labutam na terra e que acreditam na agricultura familiar é que continuamos o
nosso trabalho. Os meus sinceros agradecimentos.
A todos (as) que diretamente e indiretamente contribuíram na conclusão do meu
trabalho meu profundo agradecimento.
Meu caminho é feito de uma alma com os pés
valentes, mesmo quando cansados arriscam
mais um passo. É essa doce valentia que me
trouxe até aqui.
Ana Jácomo
Aquele que se conforma com a injustiça é tão
injusto quanto aquele que a pratica.
Nara Rubia Ribeiro
RESUMO
O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) foi criado com o intuito de
favorecer a aquisição de áreas pelos agricultores sem terra ou com pouca terra por meio de
financiamento. Em função da carência de estudos que contemplem uma análise mais apurada
sobre as repercussões do programa no cotidiano dos assentados beneficiados, esta pesquisa se
propôs a investigar o PNCF, enquanto política de acesso a terra nos assentamentos rurais Pé
da Serra e Beira Rio, no município de Nova Xavantina-MT, buscando verificar se o mesmo
tem proporcionado as famílias condições para iniciar os processos produtivos nos lotes,
garantindo melhorias na qualidade de vida. A metodologia utilizada incluiu consulta a dados
de fontes secundárias, levantamento de dados socioeconômicos e outras informações
relevantes para pesquisa, por meio da aplicação de questionário e entrevistas realizadas com
os produtores dos dois assentamentos já referidos e instituições de ATER. A partir dos
resultados da presente pesquisa, pode-se perceber que o PNCF é uma política importante de
acesso à terra para os agricultores familiares do município,pois diante da falta de condições de
comprar a terra com recursos próprios, a aquisição da área via crédito fundiário, tem garantido
maior agilidade na conquista da terra por parte dos agricultores. De uma forma geral,
ocorreram melhorias significativas na qualidade de vida das famílias, após o acesso à terra via
PNCF, não somente em relação à aquisição de bens duráveis, mas também em relação a
aspectos como moradia, poder de compra, lazer, segurança e perspectivas futuras.Além do
fato dessa política propiciar o sentimento de pertencimento a um lugar/território que, embora
possua diferentes significados para os assentados, constitui-se no espaço de um sonho
realizado. Entretanto, o êxito do Programa ficou comprometido pela descontinuidade das
ações propostas, pela falta de apoio técnico - organizacional e gerenciamento dos recursos
financeiros nos lotes, aliado ao fato de que o acesso ao Pronaf pelos agricultores foi
inadequado em função do projeto técnico imposto às famílias, o que acaba comprometendo o
desenvolvimento dentro desses assentamentos.
Palavras-chave: Agricultura familiar. PNCF. Políticas públicas. Assentamentos rurais.
ABSTRACT
The Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) was created in order to encourage the
purchase of areas by farmers without land or with little land through financing. Due to the
lack of studies that include a more thorough analysis of the program the impact on the daily
lives of beneficiaries settled, this research aims to investigate the PNCF, as a policy of access
to land in rural settlements Pé da Serra and Beira Rio in the municipality Nova Xavantina-
MT, seeking to ensure that it has provided the families conditions to start the production
processes in batches, ensuring improvements in quality of life. The methodology used
included query data from secondary sources, survey of socioeconomic data and other
information relevant to research, through the application of questionnaires and interviews
with the producers of the two settlements already mentioned and ATER institutions. From
the results of this research can be seen that the PNCF is an important policy of access to land
to family farmers in the municipality, because given the lack of conditions to buy land with its
own resources, the acquisition of the area via credit land has assured greater agility in the land
of conquest by farmers. In general, significant improvements in the quality of life of families,
after access to land via PNCF, not only in relation to the acquisition of durable goods, but also
in relation to aspects such as housing, purchasing power, leisure, safety and future
perspectives. Besides the fact that policy promote the feeling of belonging to a place /
territory, although it has different meanings for the settlers, it constitutes the space of a dream
come true. However, the success of the program was compromised by the discontinuity of the
proposed actions, the lack of technical support - organizational and management of financial
resources in lots, coupled with the fact that access to Pronaf by farmers was inadequate due to
the technical design tax to families, which ends up compromising the development within
these settlements.
Key words: Family farming. PNCF . Public policy. Rural settlements.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Número de famílias assentadas por ano (em mil) no Brasil ................................... 35
Figura 2 . Percepção de melhoria para Muito Melhor ou Melhor na condição de vida após o
Assentamento (em %). Brasil, 2010......................................................................46
Figura 3. Diagnóstico qualitativo do PNCF 2003-2005no Brasil .......................................... 48
Figura 4. Participação percentual, em termos de número de beneficiários (quantidade)
e de recursos,das mulheres no PNCF. Brasil ........................................................ 60
Figura 5. Estado do Mato Grosso e em destaquea Microrregião Geográfica de Canarana....62
Figura 6. Município de Nova Xavantina-MT, com indicação dos municípios limítrofes ...... 66
Figura 7. Vista parcial do Rio das Mortes e da área urbana de Nova Xavantina-MT ............ 67
Figura 8. Casa do Coronel Vanique. Nova Xavantina-MT .................................................... 69
Figura 9. Casa histórica em Nova Xavantina-MT .................................................................. 70
Figura 10. Croqui do Assentamento Pé da Serra. Nova Xavantina-MT ................................ 74
Figura 11. Croqui do Assentamento Beira Rio. Nova Xavantina-MT ................................... 75
Figura 12. Faixa etária dos titulares e cônjuges dos lotes pesquisados .................................. 79
Figura 13. Escolaridade dos moradores dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio ........... 82
Figura 14. Exploração animal nos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio, Nova Xavantina-
MT..........................................................................................................................................87
Figura 15. Produção de farinha de mandioca nos assentamentos Pé da Serra (A e B) e
Beira Rio (C e D) .................................................................................................. 88
Figura 16. Cultivo de hortaliças em lotes do Assentamento Pé da Serra ............................... 90
Figura 17. Percepção comparativa sobre as condições de vida das famílias pesquisadas
após o acesso à terra via PNCF nos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio,
Nova Xavantina-MT ............................................................................................. 100
Figura 18. “Prainha” dos assentamentos Pé da Serra e Beira Rio. Nova Xavantina-MT ...... 103
Figura 19. Percepção dos assentados do Pé da Serra e Beira Rio quanto a produção no
lote ser suficiente para manutenção das famílias. ................................................. 108
LISTA DE QUADROS
Quadro1. Dados sobre o PNCF nos anos de 2013 e 2014 para as linhas CPR e CAF.
Brasil.. ................................................................................................................... 57
Quadro2. Dados gerais sobre o PNCF nos anos de 2013 e 2014 para a NPT. Brasil ............ 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Avaliação da qualidade de vida dos beneficiários do PNCF – linha CAF nos
estados do Mato Grosso e Rio Grande do Sul ...................................................... 49
Tabela 2. Linhas de financiamento e enquadramento no PNCF no Brasil ............................. 54
Tabela 3. Valores totais (em milhões de R$) dos recursos contratados pelos beneficiários do
PNCF (2002-2012). Brasil ................................................................................... 56
Tabela 4. Novos limites de renda e patrimônio para o PNCF, a partir de agosto de
2015. Brasil ........................................................................................................... 60
Tabela 5. Linhas do PNCF e atualizações de renda e patrimônio em agosto/2015.
Brasil ..................................................................................................................... 61
Tabela 6. Dados gerais do Programa Nacional de Reforma Agrária na MRG de
Canarana-MT ........................................................................................................ 64
Tabela 7. Dados gerais do Programa Nacional de Reforma Agrária no município de
Nova Xavantina-MT ............................................................................................. 71
Tabela 8. Dados gerais dos assentamentos rurais de crédito fundiário no município de
Nova Xavantina-MT ............................................................................................. 71
Tabela 9. Tempo de trabalho na condição de agricultor ......................................................... 77
Tabela 10. Número de pessoas pertencentes a família que trabalham no lote ....................... 81
Tabela 11. Avaliação das políticas públicas dirigidas aos assentamentos Pé da Serra e
Beira Rio. Nova Xavantina-MT ........................................................................... 94
LISTA DE ABREVIATURAS
AMM - Associação Matogrossense dos Municípios
APP - Área de Preservação Permanente
APROSOJA - Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso
ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural
ATES - Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária
BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BT - Banco da Terra
CAF - Consolidação da Agricultura Familiar
CCU - Contrato de Concessão de Uso
CDT - Cédula da Terra
CEDRS - Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável
CMDRS - Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável
CONDRAF - Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável
CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura
CPR - Consolidação da Agricultura Familiar
CPT - Comissão Pastoral da Terra
CUT - Central Única dos Trabalhadores
EMPAER - Empresa Matogrossense de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural
FETRAF - Federação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
FHC - Fernando Henrique Cardoso
FTRA - Fundo de Terras e da Reforma Agrária
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
ICMS - Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
INCRA - Instituto Nacional de Reforma Agrária
INDA - Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário
INDEA - Instituto de Defesa Agropecuária
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário
MIRAD - Ministério Extraordinário de Assuntos Fundiários
MLT - Movimento de Luta pela Terra
MRG - Microrregião Geográfica
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MT - Estado de Mato Grosso
NPT - Nossa Primeira Terra
NX - Nova Xavantina
PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
PCB - Partido Comunista Brasileiro
PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNCF - Programa Nacional de Crédito Fundiário
PNRA - Plano Nacional de Reforma Agrária
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
RAN - Reforma Agrária Negociada
RL - Reserva Legal
SAT - Subprojeto de Aquisição da Terra
SEDRAF - Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar
SIB - Subprojeto de Infraestrutura Básica e Produtiva
SIC - Subprojeto de Investimentos Comunitários
SNA - Sociedade Nacional da Agricultura
SPI - Serviço de Proteção ao Índio
SRA - Secretaria de Reordenamento Agrário
SRB - Sociedade Rural Brasileira
SUDECO - Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste
UDRA - União Democrática Ruralista
UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso
UTEs - Unidades Técnicas Estaduais
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 16
2 A QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA...................................................................22
2.1 Alguns antecedentes da questão agrária até o fim da ditadura militar .................. 22
2.2 As políticas de reforma agrária a partir da Nova República ................................... 30
2.3 Políticas públicas de acesso a terra ............................................................................. 37
2.4 Assentamentos rurais e qualidade de vida das famílias ........................................... 41
2.5 O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) ............................................... 51
2.5.1 Aspectos gerais .............................................................................................................. 51
2.5.2 Números do PNCF e atualizações ................................................................................. 56
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................62
3.1 Características da Microrregião Geográfica de Canarana e do
município de Nova Xavantina-MT, na qual está inserido ........................................ 62
3.2 Caracterização dos assentamentos Pé da Serra e Beira Rio .................................... 74
3.3 Caracterização dos agricultores familiares dos dois assentamentos
pesquisados ................................................................................................................... 78
3.4 Caracterização da infraestrutura e das explorações existentes nos lotes ..................... 86
3.4.1 Caracterização da infraestrutura ................................................................................... 86
3.4.2 Exploração pecuária e agrícola ..................................................................................... 88
3.5 Acesso ao crédito, assistência técnica e outras políticas públicas ............................ 92
3.6 O acesso à terra por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário ............... 96
3.7 Qualidade de vida dos agricultores ............................................................................ 101
3.8 Avaliação geral do PNCF ............................................................................................ 112
3.9 Programa Nacional de Crédito Fundiário X Programa Nacional de Reforma
Agrária..........................................................................................................................115
3.9.1 Análise geral das estratégias utilizadas pelos agricultores familiares dos Assentamentos
Pé da Serra e Beira Rio.................................................................................................121
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 130
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 134
APÊNDICE A – Questionário da Pesquisa ............................................................... 153
APÊNDICE B – Roteiro de entrevistas aos atores externos ao Assentamento ...... 162
APÊNDICE B – Roteiro de entrevistas (Secretaria da Agricultura – NX) ............ 163
16
INTRODUÇÃO
Historicamente o reconhecimento da agricultura familiar no Brasil surgiu tardiamente e
essa enfrentou um quadro macroeconômico adverso, marcado pela instabilidade monetária e
inflação elevada, presença de uma política agrícola dirigida aos produtores patronais em
detrimento de iniciativas voltadas para a agricultura familiar, além de políticas comerciais e
cambiais desfavoráveis e serviços públicos de apoio ao desenvolvimento rural deficientes
(BUAINAIN; ROMEIRO; GUANZIROLI, 2003).
O aumento da produtividade agrícola incentivado pela modernização conservadora da
agricultura na década de 1960 trouxe consigo a exclusão de diversos trabalhadores rurais,
favorecendo os grandes proprietários de terra. Face a este tipo de modernização, a estrutura
fundiária continuou altamente concentrada, intensificando as disputas por terra, trazendo em
seu bojo os movimentos sociais em prol da reforma agrária e outras lutas que visavam o
acesso à terra.
A discussão referente ao acesso à terra, com vistas à redução da pobreza rural,
favoreceu a implementação de políticas públicas relacionadas à distribuição de terras, que
ganharam força durante a década de 1990, alcançando resultados expressivos pelo menos no
que se refere ao número de famílias assentadas e hectares destinados à formação de
assentamentos rurais (GUEDES, 2010). Para os agricultores, a conquista da terra possui
significados que vão desde o resgate à cidadania até a melhoria da qualidade de vida pela
aquisição de bens, produtos e serviços (SOUZA-ESQUERDO; BERGAMASCO;
OLIVEIRA, 2013). Para Souza e Bergamasco (2007) a questão da qualidade de vida está
atrelada ao sentimento de pertencimento a um sistema produtivo o qual, em muitos casos, lhes
havia sido tirado.
O surgimento das políticas de acesso à terra, por meio da compra e venda, durante o
governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), como foi o caso da Cédula da Terra (CDT),
restrito a alguns estados do Nordeste, e o Banco da Terra (BT), tiveram como objetivos,
segundo o Banco Mundial (1997) acelerar a realização da reforma agrária ao eliminar a
burocracia e longas disputas judiciais concernentes aos processos de desapropriação por
interesse social, permitindo que os trabalhadores rurais pudessem escolher as terras desejadas
para aquisição e realizar a negociação dos seus preços, eliminando os confrontos, além disso,
essas políticas possuem custo inferior ao processo de desapropriação, fato esse que facilitaria
a sua ampliação.
17
Estes programas apoiados pelo Banco Mundial tiveram forte oposição de vários
setores da sociedade, especialmente dos movimentos sociais de luta pela terra que
consideravam que a estratégia do governo era substituir a desapropriação por interesse social
pela lógica da oferta e demanda de terras, a chamada reforma agrária assistida pelo mercado
(PEREIRA; SAUER, 2011). Neste contexto surgiu o Programa Nacional de Crédito Fundiário
(PNCF)com o objetivo de substituí-los.
Herdado da política agrária do governo FHC, o Programa Nacional de Crédito
Fundiário (PNCF) inspirou-se também nas diretrizes agrárias do Banco Mundial e foi
propalado pelo governo Lula como um mecanismo complementar à reforma agrária. Passou a
contar com o apoio político e operacional de parte do movimento sindical representado pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e a Federação Nacional
dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (FETRAF), ligada à Central Única dos
Trabalhadores (CUT), cuja participação está prevista no Manual de Operações do referido
programa (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDA, 2002).
De acordo com o MDA (2014), o Programa permite a incorporação de áreas que não
podem ser desapropriadas e é executado de forma descentralizada, nos estados, tendo como
Órgão executor as Unidades Técnicas Estaduais (UTEs). Com sua gestão intermediada pela
Secretaria de Reordenamento Agrário do MDA, permite também a aquisição e estruturação de
imóveis rurais, bem como a implantação de projetos produtivos, voltados ao aumento da
renda familiar e da produção de alimentos.
Há ainda poucos estudos que permitam uma análise mais apurada a respeito das
repercussões do PNCF no cotidiano dos assentados beneficiados (SILVA, M., 2012).Por
outro lado, há dificuldades na obtenção de dados consistentes em relação à situação das
famílias assentadas pelo PNCF, que permita ter uma visão geral dos resultados dessa política
adotada no Brasil.Diante deste fato, esta pesquisa se propõe a investigar o PNCF, enquanto
política de acesso à terra nos assentamentos rurais Pé da Serra e Beira Rio, no município de
Nova Xavantina-MT, buscando verificar se o mesmo tem proporcionado as famílias
condições para desenvolver os processos produtivos nos lotes, garantindo melhorias na
qualidade de vida das famílias.
Diante do exposto são apontadas duas hipóteses para o desenvolvimento deste
trabalho:
1) O PNCF é uma política importante de acesso à terra para os agricultores familiares do
município de Nova Xavantina-MT, no entanto, o êxito do programa fica
18
comprometido pela ausência/inexistência de acompanhamento das ações propostas
pelas instituições de ATER.
2) O acesso à terra por meio do PNCF tem promovido melhorias da qualidade de vida
das famílias.
A tese resultante dessas hipóteses é que embora o PNCF permita o acesso à terra aos
agricultores familiares e trabalhadores rurais com menor grau de sacrifício e maior rapidez, é
uma política que exige maior apoio técnico e organizacional aos agricultores, por meio de
serviços qualificados e dialógicos de ATER, e da dotação de infraestrutura produtiva
adequada aos assentamentos, devido à menor área dos lotes e à necessidade de gerar
excedentes não só para garantir o desenvolvimento das famílias, como também para o
pagamento da terra e dos créditos concedidos.
Neste contexto, visando alcançar os objetivos propostos, a primeira etapa da
investigação constituiu-se no levantamento bibliográfico acerca de temas de interesse da
pesquisa, por meio de uma análise geral da questão agrária brasileira, da qualidade de vida em
assentamentos rurais, das políticas públicas de acesso a terra e das particularidades do PNCF.
Já na segunda etapa da pesquisa, realizada a campo, teve o intuito de aprofundar a
compreensão sobre o PNCF no município de Nova Xavantina-MT,por meio de vários
procedimentos metodológicos, tendo como objeto de estudo os assentamentos rurais Pé da
Serra e Beira Rio, instalados por meio desta política pública.
Os aspectos relacionados ao entendimento das melhorias na qualidade de vida dos
agricultores pesquisados foram orientados pelo conceito de Barbosa (1996, p.150), que
considera possível entender qualidade de vida como “o somatório das condições objetivas e
subjetivas do ser, expressas no cotidiano dos indivíduos em decorrência das macro e micro
transformações sócio-ambientais que a sociedade atravessa”.Esta qualidade de vida seria
norteada por três eixos, sendo que um primeiro eixo diz respeito ao acesso e à satisfação
quanto à qualidade de bens básicos como sistemas de educação e saúde eficientes e que
atinjam seus objetivos; sistema de transportes coletivos satisfatórios; saneamento
ambientalmente adequado; alimentação e salários condizentes com as necessidades do
indivíduo e de sua família. O segundo eixo diz respeito ao acesso aos bens fundamentais para
complementação da vida dos indivíduos como cultura; lazer; relações afetivas e sexuais
plenas; relações familiares fundamentais; relação com a natureza; relações plenas com o
trabalho. E, por último, o terceiro eixo, relacionado ao acesso às informações que dizem
19
respeito à vida do agricultor, colocadas de forma clara e objetiva, a participação política e o
envolvimento nas causas coletivas, participação na gestão local (BARBOSA, 1996, p.150).
No presente trabalho foram analisados os aspectos da “qualidade de vida”
relacionados à moradia, saúde, alimentação, educação, lazer, poder de compra, segurança e
infraestrutura após o acesso à terra via PNCF, além de aspectos relacionados à renda gerada
no estabelecimento, acesso a crédito, demais políticas públicas, a participação política, na
gestão local e o envolvimento nas causas coletivasque possam permitir melhorias na
qualidade de vida das famílias, com vistas a sua reprodução e permanência nos lotes.
Buscou-se também a análise das estratégias utilizadas pelos agricultores, levando em
conta a contextualização das possíveis melhorias promovidas pelo PNCF, de modo a permitir
uma reflexão sobre os problemas enfrentados, as perspectivas futuras e ao mesmo tempo uma
compreensão sobre as ações dessa política pública no cotidiano das famílias. Para Sant’Ana
(2003) a análise das estratégias tem o intuito de privilegiar as ações dos sujeitos na construção
de suas trajetórias de vida, mas sem desprezar os condicionantes e as limitações (que são
dadas pelas condições gerais da sociedade envolvente ao nível imediato e sincrônico, mas que
também podem ser cambiantes ao nível diacrônico) relativas às características das famílias, ao
contexto da sociedade envolvente e ao processo histórico mais geral.
Bourdieu (1994) sugere a divisão das estratégias de reprodução em grandes classes
como: estratégias de investimento biológico, dentre essas são relevantes as de fecundidade e
profiláticas (cuidado com o corpo); as estratégias sucessórias, as estratégias de investimento
econômico, combinadas com as estratégias de investimento social e matrimoniais; as
estratégias de investimento simbólico e as estratégias educativas (que envolvem as estratégias
familiares de educação e escolares). Ainda segundo Bourdieu (1994) ao longo do tempo uma
estratégia pode substituir a função de outra ou ser mais importante do que outras em
determinado contexto ou de acordo com o ciclo/trajetória de vida da família.
Foram realizados levantamentos e sistematizações de dados gerais sobre o município
de Nova Xavantina, particularmente de aspectos ligados ao meio rural e a agricultura familiar,
e, por meio de visitas específicas, foi feita a caracterização dos Assentamentos Pé da Serra e
Beira Rio e de seus moradores. Também foram coletados dados de fontes secundárias de
instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Empresa
Matogrossense de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural (Empaer), Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Nova Xavantina, Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA),
Prefeitura de Nova Xavantina (Secretaria de Agricultura Municipal) e o Conselho Municipal
de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS).
20
A escolha dos assentamentos citados como objeto do presente estudo, se deu devido
ao fato dos mesmos terem sido criados no mesmo período (2009) a partir do Programa
Nacional de Crédito Fundiário. Este aspecto ajuda a entender suas características atuais e a
comparação das ações desenvolvidas pelo Programa ao longo dos anos em ambos os
assentamentos.
Com o intuito de captar os aspectos almejados na pesquisa foi aplicado um
questionário específico(Apêndice A),com perguntas abertas e fechadas (GIL, 2008),
direcionado aos agricultores familiares dos assentamentos mencionados. De um total de 45
produtores, foram entrevistados 17 do Beira Rio e 26 do Pé da Serra (apenas dois produtores
do Assentamento Beira Rio ficaram fora da pesquisa porque não foram encontrados para
responder o questionário).
Os questionários visaram realizar a identificação do produtor e captar dados
referentes à família, de modo a caracterizar aquelas que trabalham no lote; verificar fontes de
renda agrícolas e não-agrícolas e identificar a ocupação do responsável por tal renda; levantar
informações sobre a utilização de mão de obra de terceiros e a sua periodicidade; e sobre a
infraestrutura geral do estabelecimento, por meio da identificação das fontes de água, do
levantamento das benfeitorias, máquinas e equipamentos existentes no lote. No que se refere
às explorações agropecuárias, foi realizada a caracterização da bovinocultura de leite
(tamanho do rebanho, produtividade, tipo de suplementação da alimentação e destino da
produção) e das explorações vegetais, especialmente a área ou o número de pés das
respectivas culturas plantadas, a quantidade produzida, o destino da produção, bem como, a
utilização ou não de fertilizantes químicos e de agrotóxicos. Buscou-se, ainda, por meio da
pesquisa verificar as dificuldades e restrições enfrentadas pelos agricultores, suas perspectivas
e o que esperam das políticas públicas e de outros atores não governamentais nas atividades
que realizam. Em relação à tecnologia investigou-se como utilizam as bases tecnológicas
vigentes e se empregam inovações ligadas ao uso sustentável dos recursos disponíveis, além
de verificar as diferentes estratégias criadas pelas famílias para permanecer no campo.
Na segunda fase da pesquisa, o número de produtores entrevistados foi definido a
partir do levantamento inicial com 43 produtores (que responderam ao questionário),
buscando considerar a diversidade existente em termos das características das famílias e da
unidade familiar como um todo. A entrevista foi gravada, seguiu um roteiro semiestruturado
(GIL, 2008) e foi realizada com cerca de 10% dos agricultores. Os entrevistados foram
selecionados entre aqueles agricultores que participaram de todas as etapas de implantação
desses assentamentos e também em função do grau de diversidade dos mesmos em relação às
21
experiências vivenciadas. Teve o intuito de captar todos os aspectos não explicitados durante
a aplicação dos questionários e que poderiam contribuir para o entendimento e obtenção de
informações relevantes para a pesquisa, incluindo a mobilização e os eventos que resultaram
na implantação dos assentamentos.
Foram realizadas também entrevistas gravadas com as lideranças do Sindicato de
Trabalhadores Rurais do município, Secretaria da Agricultura e instituições de ATER que
atuam diretamente nos assentamentos, buscando apreender a visão dos atores externos sobre o
processo de desenvolvimento dos assentamentos, sobre o PNCF, as possíveis diferenças entre
os assentamentos de crédito fundiário e de reforma agrária, as formas de atuação e aspectos
que apontariam para melhorias nas condições de vida das famílias e para a redução da
concentração fundiária em Nova Xavantina-MT. O número de instituições de ATER
pesquisadas foi definido a partir do questionário aplicado aos agricultores, sendo escolhidas as
instituições que atuaram diretamente na articulação/mobilização das famílias e no processo de
implantação desses assentamentos.
Em seguida, os dados dos questionários foram tabulados, utilizando-se tabelas e
gráficos, além da análise quantitativa e qualitativa das informações de fonte secundária e das
entrevistas, a partir das categorias teóricas já mencionadas (qualidade de vida e estratégias).
Com base na bibliografia consultada e na sistematização das experiências foram
apresentados os resultados e realizada a discussão da referida pesquisa. Inicialmente foram
tratadas as características do município de Nova Xavantina e dos Assentamentos Pé da Serra e
Beira Rio, além das características gerais dos agricultores familiares que fizeram parte da
pesquisa, destacando, ao mesmo tempo, alguns resultados específicos referentes aos
agricultores e lideranças que compõe este universo. Em seguida foi feita uma abordagem
centrada no Programa Nacional de Crédito Fundiário, visando avaliar os aspectos
relacionados ao acesso a terra, à qualidade de vida, à geração de emprego e à renda na área
rural, além da análise geral das estratégias de permanência na terra por parte dos atores
envolvidos.
22
2 A QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA
2.1 Alguns antecedentes da questão agrária até o fim da Ditadura Militar
A terra e suas formas de dominação social, desde o início da colonização portuguesa,
configuram uma complexa questão que tem sido responsável pelas desigualdades sociais e
políticas que demarcaram, durante séculos, a face da sociedade brasileira (LEWIN, 2005).
Durante o período colonial no Brasil a organização social se baseava na grande
propriedade fundiária, a monocultura de exportação e o trabalho escravo. A agricultura
familiar no país existia desde esse período, entretanto a produção familiar tinha um papel
secundário em relação a grande propriedade, produzindo basicamente produtos alimentícios
(cereais) para abastecimento de pequenos comércios locais e para o autoconsumo das
famílias, uma vez que as grandes áreas produziam somente a cana-de-açúcar com destino a
Portugal (MIRALHA, 2006).
A política agrícola brasileira estimulou a grande propriedade por meio de incentivos a
sua modernização e reprodução. Assim a agricultura familiar ocupava um lugar secundário,
comparada ao campesinato de outros países, tendo um histórico de lutas para alcançar um
espaço frente às políticas públicas brasileiras (WANDERLEY, 2001).
Após 28 anos da extinção do regime de sesmarias1, surge a Lei de Terras, em 1850,em
comum acordo do governo e dos fazendeiros de café, em um período cujas pressões para a
abolição da escravatura eram iminentes. Com essa Lei era possível conseguir a posse da terra
somente por meio da compra (em dinheiro). No entanto, mesmo com essa possibilidade de
posse, era uma forma de manter a estrutura fundiária (a maioria da população não possuía
condições financeiras para adquirir terras) e resolver o problema da mão-de-obra para o
cultivo do café (MULLER, 1994).
Segundo Martins (1997), no século XIX, surgiu a questão agrária brasileira:
[...] surge a questão agrária quando a propriedade da terra, ao invés de ser atenuada
para viabilizar o livre fluxo e reprodução do capital, é enrijecida para viabilizar a
sujeição do trabalhador livre ao capital proprietário de terra. Ela se torna instrumento
da criação artificial de um exército de reserva, necessário para assegurar a
exploração da força de trabalho e a acumulação. A questão agrária foi surgindo, foi
ganhando visibilidade, à medida que escasseavam as alternativas de reinclusão dos
expulsos da terra (MARTINS,1997, p.12).
1 O regime de sesmarias imposto durante a colonização de Portugal mantinha o direito a posse da terra pelos
agricultores e o rei mantinha o domínio sobre elas. Assim, quem detinha as maiores posses de terras eram os
senhores de engenho, enquanto a grande maioria da população nessa época (escravos e índios) não possuía área
para cultivo.
23
Para Martins (2000):
A questão agrária é, em termos clássicos, o bloqueio que a propriedade da terra
representa ao desenvolvimento do capital, à reprodução ampliada do capital. Esse
bloqueio pode se manifestar de vários modos. Ele pode se manifestar como redução
da taxa média de lucro, motivada pela importância quantitativa que a renda fundiária
possa ter na distribuição da mais-valia e no parasitismo de uma classe de rentistas.
Não é manifestamente o caso brasileiro, ou não o é especialmente, embora também o
seja de um modo indireto (MARTINS, 2000, p.99).
Com a crise de 1929, que trouxe o declínio da monocultura cafeeira, principal gerador
de divisas para economia brasileira, a partir de 1930 a indústria passou a ser o motor de
alavancagem da economia e, neste contexto, a reforma agrária começou a ser vista como
necessidade. Era preciso reduzir a concentração fundiária, considerado um empecilho para o
desenvolvimento do capitalismo, embora não fosse uma posição majoritária entre os
diferentes segmentos da sociedade (GUEDES, 2010).
A partir da década de 1930, com a reestruturação da economia que se deu em função
da formação de novos pólos de produção agrícola e da industrialização interna facilita o
processo de migração no sentido rural-urbano e intrarurais principalmente nas regiões
Nordeste e Minas Gerais em direção ao Estado de São Paulo (SORJ, 1998).Essa migração
trouxe reflexos diretos na ocupação de mão de obra no campo e cidade, além de trazer
consigo problemas sociais ligados a manutenção da qualidade de vida de parte da população
brasileira.
Segundo Medeiros (2003) a primeira proposta de reforma agrária manifesta-se no
interior do tenentismo (movimento formado por jovens integrantes do exército que lutavam
pela democratização dos processos eleitorais). Esse movimento analisava que o controle
político estava vinculado a existência dos latifúndios, assim a mobilização visava garantir
condições para a reforma agrária na Constituição de 1934.
Na constituição de 1946, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) apresentou dados da
concentração de terra existente no Brasil, com base no recenseamento de 1946, denunciando o
caráter semicolonial da economia brasileira, além de apontar, na época, a partir dessas
informações, a posição do Brasil de maior concentrador de terras do mundo, quando
comparado à estrutura fundiária de outros países (STÉDILE, 2005).
Em oposição ao PCB, a igreja também coloca o seu posicionamento, em 1950, mais
preocupada com os problemas sociais gerados no campo, do que propriamente com a questão
agrária, reconhecendo por intermédio do documento de Dom Inocêncio (Bispo de Campanha -
24
MG)o risco político das migrações e o êxodo rural rumo as cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro (MARTINS, 2000).
Ao final da década de 1950 e início de 1960 começam a surgir no campo os
movimentos sociais de trabalhadores rurais, a partir da luta dos camponeses pelo acesso à
terra, com as Ligas Camponesas, presentes no Nordeste, espalhando por todo o país o
movimento em prol da reforma agrária (PACHECO; PACHECO, 2010).
As ações dos movimentos sociais foram importantes impulsionadoras da discussão
sobre a reforma agrária durante os primeiros anos da década de 1960, permitindo que essa
voltasse a reassumir uma posição de destaque no cenário nacional. Para Medeiros (2003, p.
18) “os movimentos sociais adquiriram grande força política nos anos de 1960, por
intermédio de suas ações de resistência, manifestações de ruas, greves, etc.”.
Segundo Grzybowski (1994):
A quase totalidade dos movimentos populares rurais atuais no Brasil surgiu como
resistência a um processo econômico e político que provocou a rápida modernização
da agricultura. Os problemas vividos pela maioria da população rural, em particular
os trabalhadores assalariados, os camponeses e as suas famílias, por trás das variadas
formas de sua integração, exploração e marginalização, que aprofundam a
desigualdade, não são devidos à “falta” de desenvolvimento, mas, pelo contrário, ao
“sucesso” do modelo modernizador. Na verdade, a desigualdade e a exclusão no
campo existiam desde antes do processo de modernização, mas através deste
processo reproduziram-se em escala ampliada (GRZYBOWSKI, 1994, p.290).
Tupinambá Neto (2001),citado por Ataíde Junior (2006),também aponta a importância
dos movimentos sociais no contexto histórico da reforma agrária.
[...] é inegável a importância dos movimentos sociais nos contextos social e político
do Brasil e do mundo, em nosso país representando a última esperança para os
despossuídos, miseráveis ou excluídos, dada à falência e falta de compromisso
social das instituições oficiais e políticas no que tange ao atendimento das
necessidades básicas da população, como moradia, seguridade social, educação,
vestuário, trabalho e subsistência, ou mesmo, alimentação (TUPINAMBÁ NETO,
2001, citado por ATAÍDE, 2006, p.150).
Avaliação semelhante também é realizada pela MST:
(...) se não há movimento camponês, não há Reforma Agrária. A Reforma Agrária
nunca acontece porque as pessoas, os governos a fazem de boa vontade, mesmo que
esteja em seus programas, porque sem dúvida significa custos políticos, significa
dificuldades e resistências (...) (JORNAL DOS SEM TERRA, 2001, p. 05).
Este papel fundamental dos movimentos sociais é ainda destacado pela tese de Bem
(2006), de que:
25
Em cada momento histórico, são os movimentos sociais que revelam, como um
sismógrafo, as áreas de carência estrutural, os focos de insatisfação, os desejos
coletivos, permitindo a realização de uma verdadeira topografia das relações sociais.
Tanto sua forma como seu conteúdo são condicionados pela específica constelação
histórica, razão pela qual não se pode compreendê-los sem remissão direta às
determinações históricas macroestruturais. Os movimentos sociais deixam entrever
mais do que puras carências percebidas e demandas interpostas; eles permitem, de
fato, o conhecimento do modelo de sociedade dentro da qual se articulam, cujas
feridas se tornam, por intermédio deles, materialmente visíveis [...] Neste sentido, os
movimentos sociais produzem efeitos que extrapolam o limite das demandas
localizadas, ampliando e universalizando o campo formal do direito para todo o
conjunto da sociedade (BEM, 2006, p.1138).
Existiam diferentes propostas de reforma agrária, no final da década 1950 e início da
década de 1960,o que acabava dividindo as elites, mas também os camponeses. Alguns
queriam reformas sociais, outros, como as Ligas Camponesas tinham um posicionamento
mais radical a respeito da reforma agrária, conforme o slogam “reforma agrária na lei ou na
marra” (ANDRADE, 2002). Antes do Golpe Militar de 1964, os que se identificavam com as
ideias do PCB entendiam que tinham questões precedentes em relação à reforma agrária e a
ela se sobrepunha a regulamentação das relações de trabalho no campo. Esse ponto de vista
permanecia vigorosamente entre militantes e intelectuais de esquerda, e ainda permanece em
alguns casos, o que foi um dos motivos da objeção do PCB ao trabalho da Pastoral da Terra,
ocorrida posteriormente e, até mesmo, motivador do aparelhismo que o atingiu (MARTINS,
2000).
Havia também movimentos contrários à reforma agrária, frente a necessidade de se
defender a propriedade da terra por parte dos latifundiários, como a Sociedade Nacional da
Agricultura (SNA) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB). Segundo Mendonça e Stédile
(2010), a SNA foi fundada na cidade do Rio de Janeiro em 1897, atuando de forma
estrategicamente em diversos momentos da história das lutas – sobretudo em sua dimensão
entre as classes dominantes – em torno da agricultura e de políticas agrícolas brasileiras no
decorrer do século XX, tendo funcionado, ao longo desse período, como espécie de espaço
institucional privilegiado no diálogo com a sociedade política brasileira.
ASRB, fundada em 1919, em São Paulo, participou ativamente em diversos debates
em nível nacional a respeito da reforma agrária, manifestando os interesses e o
posicionamento da elite agrária brasileira, como de empresários ligados aos setores
frigoríficos, industriais e grandes empresas (nacionais e estrangeiras) que passaram a investir
em terras, em São Paulo e em outros estados brasileiros. Embora defensoras das mesmas
propostas, as disputas entre essas sociedades em relação à posição de principal defensora da
classe dominante eram marcantes (MENDONÇA; STEDILE, 2010).
26
A partir de 1950 inicia-se também o incentivo ao desenvolvimento tecnológico do
meio rural, via financiamentos de maquinários agrícolas aos grandes proprietários de terras
para o desenvolvimento da produção agropecuária. Ligado a essas transformações, os
incentivos fiscais do governo à modernização da agricultura, que teve sua consolidação a
partir da década de 1960, com a adoção de inovações tecnológicas no processo produtivo e a
constituição de complexos agroindustriais, gerando uma nova configuração socioeconômica
para o meio rural (MATOS; PESSÔA, 2011).
Para Graziano da Silva (1996), o termo modernização da agricultura é utilizado para
caracterizar as mudanças ocorridas na base técnica da produção agropecuária no pós-guerra,
as intensas alterações da produção no campo e das relações capital versus trabalho, período
marcado pela sujeição ao mercado externo dos meios de produção.
Conforme afirma Delgado (1985) o processo de modernização da agricultura apresenta
dois momentos históricos distintos:
O primeiro refere-se ao aumento dos índices da tratorização e do consumo de
fertilizantes de origem industrial. A utilização de forma ampla de bens, baseada na
importação de bens de capital, modificou o padrão tecnológico da agricultura
brasileira. Depois, a demanda de insumos e máquinas era satisfeita via importação.
O segundo fenômeno refere-se à industrialização da produção agrícola com o
surgimento, no final da década de 50, das indústrias de bens de produção e insumos
(DELGADO, 1985, p. 35).
Ao tratar da realidade brasileira como exemplo dessa racionalidade, Oliveira e Moura
Filho(2002) afirmam que:
O modelo concentracionista e excludente da política desenvolvimentista que o
Estado adotou se por um lado industrializou o país e produziu sua presença mais
diversificada no comércio internacional, por outro expandiu a pobreza e as
desigualdades regionais, além de ter se constituído numa importante ameaça à
sustentabilidade (OLIVEIRA; MOURA FILHO, 2002,p.11).
Sob a ótica do pensamento reformista que prevalecia nos anos de 1950 e 1960, a
reforma agrária era idealizada como um movimento global de transformação da sociedade
objetivando: a democratização política, a redistribuição da riqueza e da renda e a formação do
mercado interno. Entretanto, a modernização conservadora da agricultura demonstrou que não
era necessária a reforma agrária para realizar a modernização tecnológica do campo, onde a
terra e a riqueza continuaram concentradas em benefício das classes dominantes da elite
agrária brasileira e das novas propensões agroindustriais (LEITE; AVILA, 2007).
Frente à profunda crise econômica brasileira, no imediato pré-1964, eram colocadas
como exigências do desenvolvimento capitalista brasileiro, três questões gerais: o combate à
27
inflação, a alteração da política externa e a modernização da agricultura. A primeira, o
governo atuou com uma política de “recessão calculada” que, em sua política de combate à
inflação, incluía a exploração seletiva da força de trabalho e o arrocho salarial, além da
proibição de greves e a repressão. Quanto à política externa, intensificou-se de forma
definitiva a tendência até então já delineada de alinhamento aos Estados Unidos. Já em
relação a “modernização”, colocava-se, à época, como inevitável, a reforma agrária
(FERNANDES, 2001).
As pressões dos movimentos se intensificam durante o governo João Goulart, e passa a
ser considerada a necessidade de uma ampla reforma agrária, que foi quebrada com o golpe
militar de 1964, mantendo assim inalterada a estrutura fundiária no país.Embora o programa
fundiário do governo João Goulart não se propôs, em momento algum, a derrogar o
latifúndio, e nem sequer realizou investimentos consideráveis nas conhecidas reformas de
base, norteando-se pelo “reformismo populista” (BRUNO, 1997).
Em 1964, durante a ditadura militar foi promulgado o Estatuto da Terra, promulgado
no governo Castelo Branco, que constituiu efetivamente a primeira lei brasileira de Reforma
Agrária, entretanto com um viés de reduzir as manifestações dos movimentos sociais e apoio
à capitalização do campo do que propriamente a realização de uma reforma agrária equitativa.
Segundo consta no Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964) sobre
a reforma agrária:
Art. 1- § 1° Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a
promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua
posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de
produtividade.
Para Martins (1985):
O próprio Estatuto da Terra foi elaborado de tal forma que se orienta para estimular
e privilegiar o desenvolvimento e a proliferação da empresa rural. O destinatário
privilegiado do Estatuto não é o camponês, (...) o destinatário do Estatuto é o
empresário, o produtor dotado de espírito capitalista, que organiza sua atividade
econômica segundo os critérios da racionalidade capitalista (MARTINS, 1985, p.32-
33).
O Estatuto teve como principal intuito o desenvolvimento da agricultura,
especialmente a partir da concepção empresarial e capitalista de políticas agrícolas, uma vez
que “fora concebido no marco de uma política de reforma agrária destinada a impulsionar o
desenvolvimento do capitalismo” (STÉDILE, 2005, p.152). Criticado pela maioria dos
autores por seu caráter antipopular e, sobretudo, por não incorporar os trabalhadores rurais no
28
processo de reforma agrária, o Estatuto da Terra, no entanto, teve seus componentes liberais e
até mesmo distributivistas postos de lado (BRUNO, 1997).
Segundo Palmeira e Leite (1997) o estabelecimento dos conceitos de latifúndio,
minifúndio, empresa rural e outros descritos no Estatuto da Terra abriu precedentes que
engessa os programas do governo e a ação da justiça em desapropriações. Esses mesmos
autores revelam que as mudanças ocorridas na legislação agrária a partir do Estatuto alteraram
a dinâmica de luta e ação política e a relação existente entre o governo, proprietários de terra e
trabalhadores rurais.
As reformas sociais, durante o governo Castelo Branco, adquiririam uma nova
configuração, a começar pelo fato de virem a se concretizar não mais por intermédio de uma
frente com os setores populares, e sim através da repressão ao conjunto do movimento social
e da lenta destruição dos canais institucionais de mediação entre Estado e sociedade civil
organizada. Com precisão, a reforma agrária castelista, tida como “democrática e cristã”, era
voltada para o aumento da produção e produtividade, assim como para solidificar a
propriedade privada no campo, ainda que amparada pelos ideais da técnica e da ideologia do
planejamento e da racionalidade (IANNI, 1976).
Sob a perspectiva institucional, a modernização promovida após 1964 substancializou-
sena divisão de trabalho entre novas – e antigas, redefinidas – agências do Estado, separando,
na prática, a questão agrícola da questão agrária. A criação do Instituto Nacional de
Desenvolvimento Agrário (INDA) – subordinado ao Ministério da Agricultura – e do Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) – ligado à presidência da República traduziam uma
disputa pela intervenção sobre a questão, em que o IBRA representaria a ênfase na política de
reforma agrária e o Inda, na política agrícola (GRAZIANO da SILVA, 1993).
Com a extinção do INDA e IBRA em 1972, sendo substituídos pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), ocorreu uma ressignificação da reforma agrária
no contexto de “modernização” da agricultura: no lugar da reprovação à estrutura fundiária,
estabelecia-se uma nova alternativa via ocupação de terras públicas em fronteiras, o que
tornava a reforma agrária similar a “colonização”(MARTINS, 1984).
Até meados de 1980, o tema questão agrária e reforma agrária é militarizado e
silenciado, caracterizando o referido tema como de segurança nacional. Em 1980 a igreja
católica firmou seu posicionamento a favor da reforma agrária, a partir do documento “Igreja
e Problemas da Terra”, após a criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A expansão da
fronteira agrícola, principalmente em regiões do Cerrado, e a modernização da agricultura,
que concentrava mais o capital nas mãos dos grandes proprietários de terras, favorecia o
29
agravamento dos conflitos fundiários e as pressões dos movimentos em prol a reforma
agrária, mesmo durante o período militar, o que impôs ao governo o apontamento de novas
formas de tratamento da questão agrária (GRAZIANO da SILVA, 1978; MARTINS, 1980;
GARCIA JUNIOR, 1983; MARTINS, 2000).
No início da década de 1980 a reforma agrária volta a ser colocada em pauta,
principalmente em função do aumento dos conflitos fundiários e da revitalização do
movimento sindical, com Congressos a respeito do tema, como o da Confederação Nacional
dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e do Sindicato de Trabalhadores Rurais e o
surgimento da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra - MST (GONÇALVES NETO, 1997). É criado o Ministério Extraordinário de
Assuntos Fundiários (MIRAD), neste mesmo período, emergindo no período de transição
“democrática” o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que teve como reação dos
latifundiários, a fundação da União Democrática Ruralista (UDR) (MARTINS, 2002).
Os reflexos do novo arranjo da ordem econômica e política brasileira são marcados
pela estagnação do crescimento econômico no início da década de 1980 e da ditadura militar
(1985). No que se refere à questão agrária a década de 1980 é um período de “transição” e
“contradição”, pois com o fim da ditadura militar os movimentos sociais após décadas de
repressão passam a ter mais espaço para mobilizarem-se (DELGADO, 2003).
2.2 As políticas de reforma agrária a partir da Nova República
Delgado (2003) relata que de 1965-1982 a agricultura brasileira passou por um longo
período de modernização, sem mudanças na estrutura agrária. Entretanto, a partir da década
de 1980 o Brasil passa por longos períodos de estagnação da economia, com restrições de
ordem interna e externa, impostas principalmente pelo grande endividamento externo, assim a
agricultura passa a ter um papel importante nas estratégias macroeconômicas em busca da
possível “solução” a esse endividamento, o que em tese só reforçou a concentração de terras e
a especulação fundiária no país. Ainda conforme esse autor, com a abertura política surge o
MST, a CONTAG se reestrutura, a CPT é fortalecida pela igreja e passam a surgir diversas
ONGs em apoio ao “Fórum Nacional pela Reforma Agrária”. Com isso a reforma agrária
passa novamente a fazer parte da agenda política do Estado levando o Presidente Tancredo
Neves inaugurar a Nova República, traduzida depois no I Plano Nacional da Reforma Agrária.
Além disso, esse período de transição é demarcado também pela Constituição Federal de 1988
que legitima a função social da terra.
30
Em 1985 o governo apresenta o primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária
(PNRA), que gerou várias discussões e polêmicas relativas à questão agrária brasileira,
entretanto legitimou a luta pelo acesso à terra como direito de todos que nela labutam e dela
retiram sua renda, produzindo alimentos para autoconsumo e para a população. Esse primeiro
plano não atendeu às necessidades/interesses básicos dos camponeses, não resolvendo a
situação desses pelas leis que o norteiam e as promessas, consideradas demagógicas por
diversas lideranças (GONÇALVES NETO, 1997; STEDILE ; MENDONÇA, 2010).
O não atendimento dos interesses/necessidades dos trabalhadores rurais sem terra
durante o governo Sarney se deu principalmente ao baixo percentual de desapropriações em
relação às metas estabelecidas pelo governo. No I PNRA era previsto o assentamento de 1,4
milhões de famílias até o ano de 1989, e 7,1 milhões até 2000, entretanto, foram assentadas
125.412 famílias até 1989 (somente 8,9% da quantidade total de famílias prevista para esse
período) (DATALUTA, 2010). Ainda assim, as áreas desapropriadas representaram 79% dos
assentamentos implantados na Nova República (SANTOS, R., 2010).
Durante esse período as desapropriações começam a acontecer com maior frequência
em relação ao período da ditadura militar que, em três décadas, implantou 728 assentamentos,
sendo que desse total apenas 22% ocorreu em áreas desapropriadas. Todavia, Souza (2011)
sugere cautela ao se realizar comparações do período de ditadura com outros períodos,
justamente porque ter sido um período de repressão e privação da liberdade, em que a luta
pela terra por parte dos trabalhadores rurais era limitada.
Assim o debate a respeito da reforma agrária foi incorporado ao cenário político
nacional, provocando discordâncias na sociedade brasileira. Embora influenciados por
pensamentos diferentes, partidos políticos de esquerda, intelectuais e movimentos sociais
atuaram para evidenciar a problemática histórica da questão agrária no Brasil, destacando as
dificuldades de proporcionar o desenvolvimento e a industrialização nacional diante de uma
estrutura agrária herdada do período colonial e fundamentada no latifúndio agroexportador
(GUANZIROLI et al., 2000).
A União Democrática Ruralista (UDR), criada em 1985, é considerada uma defensora
da elite agráriae da burguesia agroindustrial, paralela ao sindicato patronal, ao qual sempre se
recusou a filiar, tendo em vista sua “subserviência ao Estado e seus interesses” (CAIADO,
1986). Segundo Martins (2000), a emergência da UDR, de forma imprevisível, e seu
crescimento após o lançamento do PNRA tornariam as disputas entre as classes que
defendiam os interesses dos latifundiários cada vez mais tensas.
31
Sua emergência, algo imprevisível e inusitado, viria à tona tornando ainda mais
complexo o jogo político intraclasse dominante agroindustrial em face da reforma
agrária. Ela viria a aguçar, nas teias de disputas e conflitos vigentes entre inúmeras
entidades de organização dos interesses agrários vigentes, definindo, para junto a
eles afirmar-se, uma dada estratégia de atuação contra qualquer ataque ao sagrado
direito da propriedade, que faria com que a nova entidade se tornasse a mais
“visível” dentre as demais, com as quais – em momento de crise de representação
política – viria a lutar pela liderança inconteste – e única – da “classe” (MARTINS,
2000, p.39)
Delgado (2011) analisa que a emergência de uma política pública de reforma agrária
estaria exatamente na necessidade de reduzir a subordinação do setor agropecuário à balança
comercial brasileira. A reforma agrária é também colocada como uma necessidade em função
da redução dos conflitos e melhor distribuição de terras e da pressão dos movimentos sociais
por mudanças na estrutura fundiária brasileira.
Não se trata mais de uma política entre outras, que pode ou não ser acionada pelos
governantes. É uma demanda social que eles não podem ignorar. É uma questão
socialmente imposta. Daí a dificuldade que têm de se livrar do tema, mesmo quando
ele se torna politicamente inconveniente. Mas o peso dos interesses agrários no
interior do Estado é suficientemente grande para imobilizar qualquer tentativa nesse
sentido. O governo da "Nova República" elaborou planos de reforma agrária,
arquivou-os e continuou falando de reforma agrária. A Constituinte inscreveu-a no
texto da nova Carta, mas a inviabilizou ao introduzir a noção de "propriedade
produtiva", isenta de desapropriação (PALMEIRA, 1989, p.42).
A Política Nacional de Reforma Agrária tem no Instituto Nacional de Reforma Agrária
– INCRA - seu principal executor. As orientações estratégicas estabelecidas para sua
execução definem compromissos pautados na criação e a implantação de assentamentos
rurais, em que a competência para sua realização deverá ser alcançada por meio do
estabelecimento de parcerias, assim como mediante a articulação com outros atores e com as
demais políticas públicas pertinentes nesse âmbito (OLIVEIRA, 2009).
A reforma agrária empreendida pelo Estado para atender aos anseios por terra dos
trabalhadores rurais utiliza-se de mecanismos como compra de terras, doação, regularização,
mas principalmente da desapropriação por interesse social, a modalidade mais efetiva de
intervenção na propriedade por parte do poder público, como instrumento para a obtenção das
terras necessárias ao assentamento das famílias (GUEDES, 2010).
A desapropriação por interesse social é aquela que condiciona a propriedade da terra ao
cumprimento da sua função social2, que só se verifica, segundo a Constituição Federal de
1988, art. 146 e 148, quando simultaneamente, favorece o bem-estar dos que nela vivem,
2O Estatuto da Terra reforça a ligação entre a terra e cumprimento de sua função social: Art. 2° É assegurada a
todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista
nesta Lei.
32
mantém níveis satisfatórios de produtividade, assegura a conservação dos recursos naturais e
observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho (BRASIL, 1988).
Segundo Freitas (2004):
Para atender sua função social, a propriedade deverá andar junto com os interesses
coletivos, não podendo sobrepor-se a eles. Se, por um lado, as limitações à
propriedade interferem no exercício do direito de propriedade, a função social é um
princípio que condiciona e afeta a propriedade em sua estrutura. Ela é condicionante
do próprio direito de propriedade, e não apenas do seu exercício (FREITAS, 2004,
p.22).
Fernandes (2003) enfatiza que a reforma agrária é considerada como uma política de
desenvolvimento que assegura a territorialização dos trabalhadores rurais sem terra, indo além
da conquista de terras; essa territorialização reflete a ampliação das relações de poder no
espaço geográfico e o conflito entre o latifúndio e a propriedade familiar.Assim, a obtenção
de terras não deve ser o objetivo final da reforma agrária, e deve-se pensar os assentamentos
como uma proposta de desenvolvimento, na qual seria gerada a agricultura de base
camponesa (CARVALHO, 2013). Neste caso, a reforma agrária deve ser vista enquanto
decisão política do Estado para resolver uma questão agrária que impede o desenvolvimento
do país (SOUZA – ESQUERDO; BERGAMASCO; OLIVEIRA, 2013).
Durante o governo Collor, na década de 1990, houve uma estagnação no processo de
reforma agrária, que com o governo FHC e as pressões dos movimentos sociais passou a
entrar novamente no cenário da política brasileira, aumentando o número de desapropriações
e implantações de assentamentos rurais, com seu ápice no ano 1999, voltando a diminuir no
ano seguinte (STÉDILE, 2004).
De acordo com Azevedo (2012), o governo FHC teve como objetivo a constituição de
um Estado (neo)liberal, integrado ao mercado globalizado. Neste contexto, uma política de
reforma agrária sólida não foi implantada e os problemas relacionados à estrutura fundiária
brasileira, em tese seriam resolvidos com a modernização da agricultura. Entretanto, depois
dos massacres de agricultores sem-terra em Corumbiara (1995) e Eldorado dos Carajás
(1996), ambos em decorrência de conflitos agrários, e das crescentes mobilizações do MST3,
ocorreu um impulso na execução da reforma agrária, com desapropriações mais frequentes,
3A Marcha Nacional pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça ocorrida em Brasília no dia 17 de abril de 1997
aglutinou cerca de 100 mil pessoas e constitui um exemplo dos marcos de uma luta política mais ampla. Esta
mobilização marcou o término da marcha dos sem-terra, uma caminhada de dois meses que percorreu a pé vários
estados do país. A caminhada dos sem-terra teve como propósito chamar a atenção da sociedade não só para a
necessidade da reforma agrária, mas também para o problema do desemprego nas cidades e para a impunidade
dos crimes e violências cometidos contra trabalhadores rurais na disputa por terras no Brasil (CHAVES, 2000).
33
que dobrou a área de terras obtidas para reforma agrária (de 2% para mais de 4%), porém esse
processo de aceleração praticamente se paralisou em 2002 e 2003 (AZEVEDO, G., 2012).
A desapropriação por interesse social, embora permaneça sendo a forma mais justa de
resolver o problema de concentração de terras, na maioria das vezes apresenta uma trajetória
demorada e onerosa aos cofres públicos, além do fato de ser aplicada somente a propriedades
com mais de 15 módulos fiscais. Neste contexto, visando “resolver” essa problemática foram
propostos pelo governo outros mecanismos, como a compra de terras por meio do crédito
fundiário (CAMARGO, 2003).
Durante o governo FHC, foi instituída uma “reforma agrária de mercado”, por meio do
apoio do Banco Mundial, que buscava substituir o instrumento tradicional de reforma via
“desapropriação por interesse social”, para utilizar-se dos instrumentos “de mercado” por
compra-direta e financiamento de aquisições de terras pelo crédito fundiário (“Banco de
Terras” – distribuição de terras orientada ao mercado),tentando descentralizar a distribuição
de terras e com isso reduzir a capacidade de ação coletiva dos movimentos sociais. A
estagnação em relação à reforma agrária, por parte do governo, coincidiu com a
desvalorização da moeda nacional em 1999, que favoreceu as exportações do agronegócio,
elevando o preço de mercado da terra, em consequência, reduziu as oportunidades de compra
de terra por parte do Estado e o seu financiamento por crédito fundiário (CAMARGO;
MUSSOI; CAZELA, 2005).
Com eleição do presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2002, houve grandes
expectativas por parte dos movimentos sociais para uma efetiva implantação da reforma
agrária. No entanto, este governo não implantou uma reforma agrária com o fim de
transformar a estrutura fundiária da terra, mantendo-se a política compensatória de
assentamentos para o desenvolvimento capitalista do campo, com ênfase principalmente na
reestruturação de assentamentos já consolidados, e desapropriando novas áreas, em função da
intervenção e mobilização dos movimentos sociais. Buscou-se conciliar dois modelos
agrícolas: de um lado, elaborando uma política de assentamentos rurais e estímulo à
agricultura familiar com a produção de alimentos para o programa de combate à pobreza; e de
outro, injetando investimentos econômicos no agronegócio, para produção em grande escala e
exportação (ENGELMANN; GIL, 2012).
Segundo Carvalho, F. (2010), embora com todas as críticas e interesses envolvidos, o
governo Lula teve um diálogo mais aberto com os movimentos sociais, além do apoio
financeiro (embora em proporções menores do que ao agronegócio) para a consolidação dos
assentamentos e promoção de programas de educação e desenvolvimento ao meio rural.
34
Houve um aumento do crédito rural destinado aos agricultores familiares, o orçamento do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), quadruplicou-se entre
as safras de 2002/3 e 2009/10, atingindo dez bilhões de reais, assim como os recursos
destinados ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e suas parcerias
com universidades públicas e escolas técnicas, que passaram de uma média anual de dez
milhões de reais antes de 2003 para 35,4 milhões nos últimos anos de seu governo. O autor
também destaca a ampliação dos programas de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à
Reforma Agrária (ATES), que triplicou sua cobertura depois de 2003, e o Programa Luz para
Todos de eletrificação rural.
Para Carter (2010) os movimentos sociais do campo viam na figura de Lula um aliado
histórico, contribuindo na formulação do II Plano Nacional de Reforma Agrária(PNRA), em
2003. No II PNRA o governo federal estabeleceu como meta assentar 400 mil famílias e
regularizar terras de 500 mil famílias, em quatro anos (2003-6), mas não foi cumprida. O
autor confere essa incapacidade de implantar o II PNRA ou qualquer outro programa que
atendesse minimamente às demandas dos movimentos sociais por acesso a terra, às escolhas
políticas do governo e às alianças com partidos e setores conservadores da sociedade
brasileira, como uma maneira de vencer as eleições ao poder Executivo Federal e sustentar a
“governabilidade” da gestão.
Conforme dados divulgados pelo MDA, por meio do INCRA, nos dois mandatos de
Lula (2003- 2010), 519 mil famílias teriam sido assentadas. Enquanto que, nos oito anos
(1995-2002) do governo FHC, segundo o INCRA, foram assentadas 524.380 famílias
(GONÇALVES, R., 2006). Porém, se compararmos somente os dados, a princípio não se
verifica grande diferença entre a política de reforma agrária do governo de FHC e Lula,
embora no governo FHC tenha sido iniciada a reforma agrária de mercado, continuando
também no governo Lula.
De acordo com Santos (2010), no primeiro mandato do governo Lula, 55% dos
assentamentos rurais criados tiveram como política de obtenção a desapropriação da terra,
21% o reconhecimento, 14% a regularização fundiária, 6% a compra de terras e 4% a doação.
Por meio da análise dos números apresentados, pode-se afirmar que 45% do total de
assentamentos rurais criados provêm de políticas de reconhecimento/regularização. Já em
relação à área dos assentamentos rurais, 74% da área provêm da política de regularização
fundiária, 13% desapropriação, 10% reconhecimento, 2% compra e 1% doação. Estes dados
reafirmam que em relação à área, ou seja, ao tamanho em hectares dos assentamentos rurais
35
“criados” no primeiro mandato de Lula, a regularização fundiária se sobressai amplamente em
relação às outras políticas de obtenção.
Segundo dados do Incra (2014) de 2011 a 2014, 107.354 famílias foram beneficiadas pelo
governo federal, um número muito inferior aos governos Lula e FHC. A área total incorporada
para a reforma agrária foi de 2,9 milhões de hectares de terra em quatro anos. A média de famílias
assentadas por ano no governo Lula foi aproximadamente 76 mil e no governo Dilma 25 mil
famílias. Os números deste último Governo chamam ainda mais atenção em função do apoio
histórico que o partido recebe de movimentos sociais ligados aos direitos dos trabalhadores
rurais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e de setores da igreja católica
ligados à CPT (Comissão Pastoral da Terra) (Figura 1).
Figura 1 – Número de famílias assentadas por ano (em mil) no Brasil.
Fonte: Reis e Ramalho (2015).
Apesar das limitações da política de assentamentos rurais, a quantidade de famílias
assentadas tem provocado mudanças relevantes do ponto de vista social, econômico, político
e espacial nos locais em que foram implantados, pois, o aumento do número de pessoas
morando no espaço rural cria demandas que se refletem no espaço urbano mais próximo, com
resultados positivos para o comércio local, em função da aquisição pelos assentados de
produtos industrializados, pela comercialização de produtos originados nos assentamentos
(leite e seus derivados, mandioca, frutas, hortaliças, etc.) e pelo aumento da demanda por
infraestrutura, equipamentos e prestação de serviços públicos (CARVALHO, L., 2013).
36
No entanto, outros estudos demonstram que mesmo com o número significativamente
maior de projetos de reforma agrária implantado, a estrutura fundiária do Brasil, avaliada pelo
o grau de desigualdade na distribuição da terra, continua praticamente inalterada. O índice de
Gini da distribuição da posse da terra, calculado com base nos dados do Censo Agropecuário
de 1995/96, foi de 0,843 em 1998, um dos maiores do mundo (HOFFMANN, 1998).
Considerando apenas os estabelecimentos em que o produtor é proprietário da terra, o índice
de Gini cresce de 0,836 em 1995/96 para 0,849 em 2006, ao mesmo tempo que a área média
por estabelecimento cai de 73 para 67 hectares e a área mediana passa de 10,1 para 9,7
hectares. Em 2006, os 50% menores estabelecimentos ficam com apenas 2,3% da área total
ocupada, ao passo que os 5% maiores ficam com 69,3% da área (HOFFMANN; NEY, 2011).
Dada a conjuntura da política econômica do Governo Federal, durante o governo
Dilma, a execução de uma política de reforma agrária efetiva não foi muito favorável, com os
cortes de gastos expressivos e a redução do orçamento total da União com a reforma agrária,
além do fato do governo não apresentar uma proposta oficial do III PNRA, o que representou
um retrocesso no processo de reforma agrária brasileira. As ações dos programas
governamentais têm sido insuficientes para permitir o acesso à terra de forma equitativa e
justa aos diversos trabalhadores rurais, além de garantir a geração de renda e produção às
famílias beneficiadas (CPT, 2016).
Continua sendo válida a afirmação de Veiga (1991) de que é necessário a superação da
extrema desigualdade na estrutura fundiária por meio de uma política de reforma agrária,
através da implantação de assentamentos rurais (acompanhada de crédito para custeio e
investimento e assistência técnica), que ofereça terra para parceiros e arrendatários sujeitos as
grandes propriedades e que torne os minifundistas produtores com maior acesso à terra,
juntamente com as devidas condições para o assentado possa produzir de forma viável.
2.3 Políticas públicas e acesso à terra
No Brasil o processo histórico de distribuição da posse da terra evidenciada pelo
latifúndio foi o aspecto predominante de distinção social. O regime escravista e o modelo
agroexportador, baseavam-se na grande propriedade rural, sustentada por dispositivos legais
ou econômicos e que, na prática, dificultava o acesso à terra pelos trabalhadores rurais.
Associadas a grande propriedade por meio de diferentes formas (parceria, meação e
propriedade), foram- se constituindo pequenas produções, com o intuito principal de fornecer
elementos para a grande produção e alimentos para as populações urbanas. Ainda hoje no
37
setor agropecuário há predomínio da concentração de terras, centralização de capitais e da
propriedade, sustentando pelo alto nível tecnológico. Em contraposição a esse processo estão
os movimentos sociais pela reforma agrária e pela manutenção e viabilização da agricultura
familiar (SOUZA; LIMA, 2003).
Lima, V. (2012) ao tratar da questão da terra destaca que o século XX foi marcado por
uma forte preocupação com o conteúdo social da propriedade. Estabeleceram-se tratados
acerca do tema, no intuito de garantir o direito à propriedade já sob a perspectiva da função
social e do direito à moradia. Dentre esses tratados temos: a Declaração Universal dos
Direitos do Homem; a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e o Pacto
Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais, retratando que o problema
histórico do acesso a terra, tanto no Brasil com em outras partes do mundo, tem sua origem na
maneira como as políticas públicas fundiárias foram conduzidas ao longo do tempo, com
caráter extremamente individualista e excludente.
Para Palmeira (1989):
O reconhecimento social, operado legalmente pelo Estatuto do Trabalhador Rural, e
a possibilidade, aberta pelo Estatuto da Terra, de uma intervenção direta do Estado
sobre os grupos reconhecidos como compondo o setor agrícola ou a agricultura,
permitiriam a elaboração e aplicação de políticas próprias para cada um desses
grupos. O camponês - o trabalhador rural - tornou-se objeto de políticas, o que até
então era impensável, criando-se condições para o esvaziamento das funções de
mediação entre camponeses e Estado, até então exercida pelos grandes proprietários
ou por suas organizações (PALMEIRA, 1989, p.129).
Nas últimas décadas as políticas públicas alcançaram importância na área do
conhecimento, por algumas razões, entre as quais merece destaque: 1) a adoção de políticas
públicas que restringem os gastos; 2) a nova perspectiva governamental que substituíram as
políticas keynesianas4 do pós-guerra, assumindo uma postura de defesa das políticas
restritivas de gastos, vinculando as políticas públicas ao cumprimento do ajuste fiscal e do
equilíbrio orçamentário entre receita e despesa; 3) devido ao fato de que nos países em
desenvolvimento, de democracia recente,no geral, ainda não se adquiriram formas de
coalizões políticas, que sejam minimamente eficazes em criar políticas públicas que possam
impulsionar o desenvolvimento econômico e favorecer a inclusão social da maior parte de sua
população (SOUZA, M., 2007).
4As políticas keynesianas consistiam em ações do poder público distribuídas em múltiplas áreas de forma a
sustentar o investimento, a demanda e o emprego.A teoria do keynesianismo, baseava-se nas ideias do
economista inglês John Maynard Keynes, que defendia a intervenção do Estado na economia com o objetivo de
atingir o pleno emprego (CARVALHO, 1999).
38
Souza, M. (2006) pensa que o movimento do real, não pode ser analisado a partir de
uma única perspectiva, a colaboração das várias vertentes das teorias sobre políticas públicas
e, em consequência, sua análise, como acontece com todo referencial teórico, é necessária
para ter a percepção adequada sobre quando e como utilizá-las. Isso porque, avaliar políticas
públicas significa, muitas vezes, estudar o “governo em ação”, razão pela qual nem sempre os
pressupostos existentes se adaptam a essa análise. A mesma autora enumera as características
da política pública:
A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que,
de fato, faz. A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja
materializada através dos governos e, não necessariamente, se restringe a
participantes formais, já que os informais são também importantes. A política
pública é abrangente e não se limita a leis e regras. A política pública é uma ação
intencional, com objetivos a serem alcançados. A política pública, embora tenha
impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo. A política pública envolve
processos subsequentes, após sua decisão e proposição, ou seja, implica também
implementação, execução e avaliação. Estudos sobre política pública propriamente
dita focalizam processos, atores e a construção de regras, distinguindo-se dos
estudos sobre política social (SOUZA, M., 2006, p.33).
Abramovay (1997) enfatiza a importância da adoção de políticas públicas
descentralizadas, principalmente, no que se refere à gestão dos recursos, no entanto, considera
que a descentralização de tais políticas não depende apenas da disposição do governo em
adotá-la, mas também, da capacidade de mobilização das instituições representativas dos
agricultores familiares (no caso em que analisava).Para Carneiro (1997) a descentralização
deve ser pressuposto das políticas públicas e utilizada na definição dos tipos de agricultores a
serem beneficiados. Sob esse ponto de vista, a autora salienta que ao se considerar as
potencialidades locais ampliam-se a noção de agricultor de modo a incorporar também
aqueles que combinam a agricultura com outras atividades.
Por outro lado, há autores, como Arretche (1996) que relatam que somente a
descentralização não garante maior participação e atendimento das demandas sociais.
Não se trata (aqui) de defender (ou não) - a partir de um ponto de vista normativo - a
descentralização das estruturas administrativas no Brasil, mas de examinar as
condições sob as quais tal reforma tem se processado. Na verdade, este é um
processo já em curso no Brasil, dados i) a crise do Estado Desenvolvimentista e de
suas bases de sustentação - especialmente do papel de planejador, financiador e
propulsor do desenvolvimento desempenhado até muito recentemente pelo governo
federal - e ii) o processo de consolidação democrática, no qual novos atores
políticos, dotados de recursos políticos e institucionais relevantes, disputam com as
instituições federais o papel de condução do processo político (ARRETCHE, 1996,
p.3).
39
[...] não existe uma garantia prévia, intrínseca ao mecanismo da descentralização, de
que o deslocamento destes recursos implique na abolição da dominação. Deslocar
recursos do "centro" para subsistemas mais autônomos pode evitar a dominação pelo
"centro", mas pode permitir esta dominação no interior deste subsistema
(ARRETCHE, 1996, p.6).
Em geral, o acesso a políticas públicas é bastante desigual no Brasil, sendo dificultado
em áreas rurais, principalmente em regiões mais carentes do país. Como exemplo destas
disparidades entre população rural e urbana é o fato de as políticas públicas e os direitos
trabalhistas terem chegado tardiamente ao contingente de trabalhadores rurais e inerente as
mulheres rurais esse processo de inclusão/reconhecimento da condição de trabalhadoras
aconteceu ainda mais tarde (BRUMER, 2002).
Quando se trata da agricultura familiar um aspecto central em termos de políticas
públicas, é o acesso à terra, sendo que este pode assumir diferentes significados. Para Linder e
Medeiros (2013) a conquista da terra para um assentado simboliza a idealização de um “novo
território”, de um espaço de apropriação, ou seja, significa a reterritorialização desse
indivíduo e de sua família.Como afirma Lewin (2005) a terra e suas formas de dominação
social, historicamente, tem sido responsável pelas desigualdades sociais e políticas que
caracterizam a sociedade brasileira.
Não obstante essa realidade de predomínio dos grandes latifúndios tem gerado
concentração de renda e poder por parte dos grandes proprietários, e o aumento de conflitos
com a luta dos camponeses pelo acesso à terra e com as reivindicações indígenas de seus
territórios de ocupação tradicional (PACHECO; PACHECO, 2010).
Para Sauer (2010) as lutas dos movimentos sociais em prol da reforma agrária não
fazem parte dos resquícios do passado, mas são lutas correntes pela constituição da cidadania
no meio rural. As disputas pelo acesso à terra e pela legalização/reconhecimento de territórios
tradicionais, devem ser considerados como processos sociais, culturais, econômicos e
políticos de progresso da sociedade brasileira.
A terra, desse modo, vem a ter um valor simbólico e sua posse possibilita a
invocação da condição de “produtor autônomo”, dando novos contornos à
identidade social antes de sem-terra, visto que há uma relação direta entre o acesso à
terra e a busca de um “trabalho livre” – a questão central da luta pela terra não vem a
ser a aquisição da propriedade privada da mesma, mas a busca do direito ao
trabalho. A terra é assim entendida e representada como um “meio e um lugar de
trabalho” capaz de proporcionar a sobrevivência e reprodução familiar, a realização
de uma vida digna, com acesso a direitos humanos fundamentais, sendo que a posse
ou a propriedade é a condição necessária para a liberdade e o exercício autônomo de
suas atividades e de seus direitos (SAUER, 2010, p.22).
40
A terra não deve ser considerada meramente como um fator de produção, mas de
riqueza, prestígio e poder. Assim, sua distribuição possibilita o crescimento do poder político
e da participação social de uma parcela considerável de famílias, antes desprezadas (LEITE;
AVILA, 2007). Assim o acesso à terra é um instrumento importante de manutenção da
agricultura familiar e da produção agropecuária, como destaca documento do INCRA (2010):
Do ponto de vista econômico, o acesso à terra é um instrumento de fortalecimento
da agricultura familiar, setor dinâmico que emprega a maior parte da mão de obra no
meio rural e produz grande parte da alimentação que o brasileiro consome no seu dia
a dia. Do ponto de vista político, é fundamental para a modernização do
ordenamento territorial do país e o avanço da regularização fundiária, que garantem
soberania nacional e segurança jurídica para a produção. Também porque a reforma
agrária ajuda a diminuir a histórica concentração da propriedade da terra que ainda
vigora no Brasil. Do ponto de vista social, é uma política de combate à pobreza e de
ampliação de direitos, como o acesso à moradia, alimentação, saúde, educação e
renda. Finalmente, sob o aspecto ambiental, as políticas de reforma agrária e
ordenamento fundiário abrem caminho para uma produção agrícola diversificada,
livre de agrotóxicos e capaz de ajudar a preservar as riquezas naturais do país
(INCRA, 2010, p. 2).
Neste contexto, a democratização do acesso à terra, mais do que uma simples política
social compensatória de combate à pobreza, retrata a resistência dos trabalhadores rurais sem
terra aos abusos do grande capital e a predominância política e cultural vigente, frente a
perspectiva de construção de identidades e cidadania no campo. Incorporada a esse processo,
a identidade camponesa aparece como um importante componente agregador presente na
questão agrária brasileira (AZEVEDO, 2012).
No intuito de reduzir os conflitos fundiários e os fluxos migratórios campo - cidade,
foi necessário repensar as ações governamentais por meio de políticas de acesso à terra via
desapropriação de áreas improdutivas para a criação de assentamentos rurais e incentivos
destinados à compra e venda de terras para os trabalhadores rurais (FERREIRA, W., 2005).
2.4 Assentamentos rurais e qualidade de vida das famílias
No contexto da reforma agrária brasileira, o termo assentamento correlaciona-se a um
espaço fundamental em que uma população será instalada, desse modo, consiste em uma
transformação do espaço físico, tendo como principal objetivo o estabelecimento das famílias
na área e a exploração agropecuária(BERGAMASCO; BLANC - PAMARD; CHONCHOL,
1997). Para Fernandes (1996, p.181): “O assentamento é o território conquistado, é, portanto
um novo recurso na luta pela terra que significa parte das possíveis conquistas. Representa
sobretudo a possibilidade da territorialização”.
41
As discussões acerca da implantação de assentamentos rurais no Brasil provocam
controvérsias ao privilegiar a eficiência econômica de tais intervenções. Por um lado, tem-se a
perspectiva de que a divisão do território em pequenos lotes seja suficiente para proporcionar
a reprodução social das famílias assentadas, gerando aberturas que facilitem a dinâmica do
comércio local e a interseção do poder público no local onde estão inseridos no intuito de
corrigir as limitações relacionadas às infraestruturas materiais e sociais emergidas pela
demanda social da nova realidade. Por outro lado, alega-se que esses projetos apresentam
decréscimo na produtividade e em consequência, baixa eficiência econômica, buscando assim
deslegitimar as ações que objetivam a desconcentração de terras no território brasileiro
(STAEVIE, 2005).
A maioria das pesquisas (BERGAMASCO; NORDER, 2003; FERRANTE, 2004;
BELEDELLI, 2005), no entanto,têm apontado a influência dos assentamentos no local em que
se inserem, retratando que mudanças substanciais têm ocorrido com a criação dos mesmos. As
repercussões positivas em função da criação de assentamentos rurais, ou da regularização da
posse de agricultores familiares e trabalhadores rurais, resultam em mudanças econômicas,
políticas e sociais que impactamos beneficiários, envolvendo outros atores e instituições, com
aspectos dinamizadores em nível municipal, como a diversificação da produção agropecuária,
a ampliação do mercado de trabalho e a consolidação da agricultura familiar.As
particularidades na inovação das experiências nos assentamentos rurais também são
fundamentais para o desenvolvimento das habilidades humanas e das ações dos agentes
sociais envolvidos (LEITE; ÁVILA, 2007).
Segundo Leite et al. (2004) os assentamentos, mesmo que não provoquem alterações
significativas na economia nacional, têm efeitos consideráveis na expansão e diversificação
econômica dos municípios onde são criados, especialmente no que diz respeito à magnitude
da produção agropecuária (aumento da produção agropecuária municipal no período posterior
à criação dos assentamentos), à estrutura produtiva agropecuária (maior diversificação de
produtos), no mercado de trabalho (redução do desemprego), no comércio local (aumento de
vendas de bens de consumo – vestimentas, calçados, material de construção, etc. - e insumos
agropecuários - adubos, agrotóxicos, sementes, etc.), na geração de impostos e na
movimentação bancária (decorrente de recursos canalizados pelo Estado aos assentados –
Pronaf especialmente). É importante salientar que os efeitos econômicos contribuem muito
para a legitimação social, política e simbólica dos agricultores assentados e da própria
bandeira política da reforma agrária.
42
Ramalho (2002), estudando os assentamentos rurais no município de Mirante de
Paranapanema – SP verificou que a criação dos assentamentos permitiu para uma população
de baixa escolaridade e que enfrentava no momento anterior uma instável e precária inserção
no mundo do trabalho rural/agrícola, a oportunidade de canalizar suas estratégias de
reprodução familiar e manutenção no próprio lote. Ainda que de forma precária, passaram a
ter acesso à moradia, saúde e escola.
Leite et al. (2004) constataram que em diversos locais os assentados (e os
assentamentos) alcançaram o reconhecimento social e político pelos demais segmentos
sociais, superando uma tensão inicial, apontada por uma ótica equivocada de que os
assentados eram “forasteiros” ou “arruaceiros”, principalmente em locais onde os
assentamentos rurais foram oriundos de ocupações de terra. Em alguns casos estes projetos
passaram a ser vislumbrados como uma saída para a “crise” da agricultura local. Quando a
análise vai além das questões econômicas, verifica-se que se criam novos atores sociais e
resgata-se a dignidade de uma população historicamente excluída.
Segundo Ferrante e Bergamasco (1995) vários benefícios são constatados após a
implantação de um assentamento de reforma agrária, tanto para o próprio assentado –
melhoria na alimentação, saúde, educação dos filhos, moradia (FERRANTE;
BERGAMASCO, 1995), como para a região onde está localizado – revitalização do comércio
local, aumento da arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços -
ICMS (BERGAMASCO; NORDER, 1999).
A preocupação em relação à qualidade de vida é cada vez mais crescente, entretanto,
bem antes de se pensar o estabelecimento de parâmetros para sua mensuração já existia entre
as civilizações antigas a preocupação quanto à manutenção dessa qualidade. Neste caso
específico, as civilizações buscavam a qualidade de vida na satisfação imediata de suas
necessidades (SOUSA et al., 2005).
Para Brito (2004), no Egito, a adoção de uma vida nômade nas margens do rio Nilo,
com o deslocamento em bandos; a descoberta da agricultura, que permitiu a permanência do
homem na terra; a condução da vida pela mitologia, depois pela religião e política, revela que
na época, qualidade de vida significava “subsistência e segurança”. Assim, “durante séculos a
qualidade de vida estava em não ser ameaçado pelos deuses, nem ser surpreendido pelas
intempéries, e ter força para resistir aos inimigos naturais ou humanos. A vida era a rotina, a
qualidade dela era não quebrar a rotina” (BUARQUE, 1993, p.1).
Já na idade média entendia-se que a qualidade de vida estava vinculada a seguir os
preceitos colocados pela igreja católica, em que a melhor qualidade de vida era obtida por
43
conseguir seguir o que era recomendado para não ocorrer punições e alcançar o tão almejado
“paraíso” (BRITO, 2004).Na modernidade, com as revoluções ocorridas principalmente nos
países como França e Inglaterra, em função das desigualdades existentes na sociedade,
começou a se pensar na questão da qualidade de vida pela ótica das classes sociais, em que
essa se apresentava de forma diferenciada para os pobres e ricos. Neste caso, o quadro de
pobreza, miséria e insegurança alimentar limitava a qualidade de vida das classes menos
favorecidas, sem a possibilidade de satisfação das necessidades mínimas para subsistência
(SALOMON; SAGASTI; SACHS-JEANTET, 1993).
Nos últimos tempos o interesse pela qualidade de vida tem crescido em nível mundial,
principalmente quando a mesma se relaciona à percepção do indivíduo a respeito desse
aspecto no seu cotidiano, mesmo de forma subjetiva. Neste sentido tem ampliado os
conceitos/definições a cerca da qualidade de vida ganhando contornos diferentes em função
de cada sociedade (BARRETO; COUTINHO; RIBEIRO, 2009).
Para Minayo, Hartz e Buss (2000) a qualidade de vida está vinculada ao modo de vida
das pessoas e a ideia de desenvolvimento nas suas diferentes vertentes/concepções.
A noção de qualidade de vida,eminentemente humana, transita em um campo
semântico polissêmico por estar, de um lado, relacionada ao modo, condições e
estilos de vida e, de outro, às ideias de desenvolvimento sustentável, de ecologia
humana, de desenvolvimento, de direitos humanos e sociais. Tem sido aproximada
“ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à
própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural
dos elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-
estar (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000, p.8-10).
Segundo Brito (2002, p.31):
A qualidade de vida é somatório de todos os fatores positivos ou a menos de parte
significativa dos mesmos, que determinado meio reúne para a vida humana em
consequência da interação sociedade - meio ambiente, e que atinge a vida como fato
biológico, de modo a atender as suas necessidades somáticas e psíquicas,
assegurando índices adequados ao nível qualitativo da vida que se leva e a do meio
que a envolve.
Na avaliação dos parâmetros materiais de qualidade de vida é utilizado mais
comumente, indicadores como o acesso a serviços de saúde e educação, assim como outros
parâmetros mensuráveis de longevidade. A qualidade de vida é uma noção que depende de
construções sociais e culturais, assim como do momento de vida do indivíduo e do grupo. As
pessoas conseguem perceber diferentes possibilidades para si mesmas quando avaliam
diferentes fatores que têm um impacto na sua qualidade de vida (AZEVEDO, 2004). Segundo
a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida é definida como “a percepção do
44
indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele
vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1997, p.01).
Entretanto, para Souza e Carvalho (2003) ainda que critérios materiais sejam utilizados
para mensurar a qualidade de vida, os fatores subjetivos também devem ser considerados para
que se tenha uma percepção integral do conceito de qualidade de vida. De acordo com Rueda
(1997) a qualidade de vida é condicionada de forma complexa e envolve diversos fatores,
sendo possível mensurá-la a partir de parâmetros objetivos, por meio de indicadores, no
entanto, a vivência e /ou reconhecimento que o sujeito ou grupo social pode ter de si mesmo é
também um fator de relevância para dimensioná-la.
Segundo Moreira (2000):
A qualidade de vida e a busca pela melhoria da qualidade de vida é uma procura
incessante do ser humano. Ao se afirmar isto, está-se partindo da tese de que uma
das características fundamentais da nossa espécie – o que provavelmente nos
diferencia dos demais animais – além de nossa capacidade teleológica em relação ao
trabalho, é a eterna necessidade de querer viver bem, de constantemente vislumbrar
novas condições para melhoria do cotidiano, de tentar superar as condições mais
adversas por outras um tanto melhores, mesmo que esta tentativa possa ser vista
pelas demais pessoas como inexpressiva (MOREIRA, 2000, p.28).
Para Santos et al. (2002) a qualidade de vida tem sido uma preocupação cada vez mais
constante na vida dos indivíduos, passando a caracterizar-se como um compromisso de ordem
pessoal, na qual a procura pela qualidade de vida está estreitamente relacionada ao bem-estar
individual ou coletivo que é indissociável das condições e modo de vida que envolvem
aspectos como a saúde, habitação, educação, lazer, infraestrutura, liberdade, entre outros.
Qualquer que seja a definição a respeito de qualidade de vida deve-se considerar a
promoção do bem-estar do ser humano. Também não se pode isolar qualidade de vida de
desenvolvimento, por se tratar de dois conceitos que não se excluem, ao contrário
complementam-se e refletem o bem-estar da sociedade como um todo.
O meio rural representa atualmente um local propício para o estímulo a qualidade de
vida no que concerne à preservação ambiental, o reconhecimento da cultura local e o
incentivo a relações sociais mais saudáveis. Sistemas produtivos que favorecem a promoção
da qualidade de vida devem priorizar a preservação ambiental, a valorização do agricultor, da
cultura local e do saber tradicional produzindo alimentos de forma sustentável. Todos esses
aspectos se inter-relacionam na discussão sobre melhorias na qualidade de vida (AZEVEDO;
PÊSSOA, 2011). Nos países industrializados, a questão da qualidade de vida tem-se refletido
pela maior procura por “produtos frescos e por produtos limpos”, nesse enfoque a agricultura
45
familiar é apontada como o principal segmento social no fornecimento desses alimentos, com
vistas ao atendimento dessa demanda de mercado (CANUTO, 1998).
Para Oliveira, J. (2010)é fundamental que a qualidade dos assentamentos seja tratada e
analisada a partir de uma perspectiva mais ampla (além dos enfoques tradicionais relativos à
infraestrutura e situação econômica - renda). Deve-se levar também em consideração aspectos
relacionados à saúde, educação, meio ambiente, organização, assistência técnica, crédito, o
que representa um avanço na compreensão sobre qualidade, sustentabilidade e
desenvolvimento dos assentamentos e de uma política pública de acesso à terra bem sucedida.
Vários assentamentos foram implantados sem que houvesse condições reais para o
desenvolvimento das áreas destinadas para tal e/ou sem o apoio necessário, dificultando
sobremaneira o alcance da autossuficiência que permitisse a independência daquelas famílias,
frente às políticas de caráter agrário (CONDÉ, 2006). No entanto, diversos estudos têm
apontado que, de forma substancial, os assentamentos têm proporcionado melhorias na
qualidade de vida, em aspectos relacionados, à moradia, educação, crédito, entre outros, e que
representam de certa forma um novo espaço de vida e de trabalho (BERGAMASCO;
BLANC-PAMARD; CHONCHOL, 1997).
Pesquisas realizadas pela FAO (1990), em assentamentos, nas mais diversas regiões
do País, comprovam uma substancial melhoria em todos os indicadores sociais pesquisados
relativos à moradia, educação, saúde, mortalidade infantil e lazer. Benefícios esses que são
mesclados ao acréscimo da renda monetária acessível, à qual deve-se agregar o consumo de
produtos de origem agropecuária conseguidos pela própria família na propriedade (Valor
Bruto da Produção Agropecuária) (SÁ et al., 2000).
Sousa, Khan e Passos (2002) estudando a qualidade de vida em assentamentos rurais
de reforma agrária em Mossoró – RN concluíram que os indicadores que mais contribuíram
para mensurar a qualidade de vida dos produtores foram: habitação, educação e bens duráveis.
O Incra realizou em 2010 uma pesquisa sobre qualidade de vida com auxílio de
pesquisadores das Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Pelotas
(UFPel). O levantamento dos dados foi realizado entre os meses de janeiro e outubro de 2010
abrangendo todas as 804.867 famílias assentadas entre 1985 e 2008, totalizando 16.153
entrevistas em 1.164 assentamentos em todo o país. A pesquisa constatou, conforme dados
apresentados na Figura 2, que a percepção das famílias quanto à melhoria para “muito melhor
ou melhor” na condição de vida após o assentamento, abrange principalmente aspectos
relacionados à moradia (73,5%), alimentação (64,86%), educação (63,29%), renda (63,09%)
e,com menor ênfase, saúde (47,28%) (INCRA, 2010).
46
Figura 2 - Percepção de melhoria para Muito Melhor ou Melhor na condição de vida após
o Assentamento (em %). Brasil, 2010.
Fonte: INCRA (2010). Adaptado pelo autor (2015).
Em relação à moradia Frankenberg (1999, p.17), afirma que a “primeira moradia
proporciona ao ser humano uma sensação agradável de prazer e de posse”. Essa percepção de
prazer e posse fomenta as aspirações da população brasileira, independente de situar-se no
meio urbano ou rural. De acordo com Freire (1979, p.12) “a casa é um lugar a partir do qual
se configura e se expande, podendo ser estudado como habitação e ponto de partida e
referência das descendências (...)”
Quando se analisa a educação no meio rural, especialmente em assentamentos rurais,
as pesquisas têm demonstrado substanciais mudanças em relação à escolaridade dos jovens,
geralmente mais escolarizados do que os adultos, sinalizando para uma ampla modificação
educacional entre gerações (MOLINA, 2004). Diversos estudos também apontam que os
assentamentos rurais contribuem para escolarização das novas gerações (BERGAMASCO et
al., 2005; LEITE et al., 2004; CASTRO, 1999).
Já em relação à saúde, Silva, A. (2000) relata que o avanço ocorrido na oferta dos
serviços de saúde, favorece o fortalecimento da cidadania e o aumento da auto-estima,
propiciando o crescimento da produtividade, do bem-estar físico-orgânico, emocional e
psicológico, explícito por meio do aumento da expectativa de vida e da melhoria da qualidade
de vida dos agricultores e de seus familiares.
47.3
73.5
64.963.3 63.1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Saúde Moradia Alimentação Educação Renda
%
47
Quanto ao aspecto alimentação Simonetti (2011) percebeu que com o passar do tempo
a realidade foi mudando: os assentados, de posse de suas terras, passaram a plantar num
primeiro momento para sua própria subsistência com o objetivo de melhorar a alimentação.
Como resultado direto os adultos passaram a produzir também para o comércio, as crianças
passaram a ter uma alimentação mais saudável diminuindo os riscos de doenças, o que
contribui com a qualidade de vida das famílias. Essa mesma autora aponta que:
(...) a qualidade de vida tornou-se uma meta a ser atingida por sociedades,
populações, indivíduos. Torna-se preciso estar inserido neste mundo transnacional
seja através dos meios de comunicação ou do consumo de bens e serviços. Mas a
qualidade de vida vai além disso, as pessoas preocupam-se de como se alimentam,
como estudam, as condições de sua habitação, como estão os serviços de saúde...
Enfim tudo o que possa lhe dar uma “boa qualidade de vida” (SIMONETTI, 2011,
p.141).
Moreira (2000), assim como Barbosa (1996), reflete que a qualidade de vida tem uma
relação direta com o bem estar, no entanto, ressalta que “a forma como este bem-estar vai ser
sentido pela pessoa não depende, unicamente, de uma dimensão subjetiva, mas está também
relacionada a uma dimensão histórico social” (MOREIRA, 2000, p.15).
Em diagnóstico realizado pelo MDA (2009) no intuito de analisar as condições dos
assentamentos rurais criados pelo PNCF nos anos de 2003 a 2005, no Brasil (Figura 3),
constatou-se em relação a moradia, no Projeto em 2003, que apenas 8% do total de
agricultores pesquisados moravam no local; em 2005, houve um aumento para 58% do totalde
moradores. Quanto ao tipo de moradia (casa de alvenaria) em 2003, 43% dos entrevistados
possuíam casa de alvenaria, e dois anos após a implantação do Programa 99% dos moradores
possuíam casa de alvenaria. Em relação ao aspecto de qualidade da água (boa) passou de 59%
(2003) para 75% (2005) de agricultores que consideraram a água de boa qualidade para o
consumo. E a quantidade da água passou a ser considerada suficiente para mais 20% (2005)
de agricultores. Após dois anos de implantação do PNCF pode-se perceber significativas
melhorias na qualidade de vida das famílias nos assentamentos rurais criados via crédito
fundiário.
48
Figura 3 – Diagnóstico qualitativo do PNCF 2003-2005no Brasil.
Fonte: MDA (2009).
Vieira, Castro e Lima (2011) realizando amplo estudo a respeito do perfil dos
beneficiários do PNCF da linha de Consolidação da Agricultura Familiar - CAF nos estados
de Mato Grosso e Rio Grande do Sul analisaram também, entre os vários objetivos do estudo,
os impactos da participação desta, sobre a qualidade de vida das famílias dos beneficiários,
avaliadas a partir dos das seguintes variáveis: condições de moradia, transporte, saúde,
alimentação, acesso a bens, ganhos, acesso a serviços, educação dos filhos, e patrimônio da
família. Os entrevistados foram solicitados a avaliar as mudanças nas suas vidas com respeito
à essas várias dimensões antes e depois da adesão ao Programa por meio da linha CAF,
através de uma escala de cinco pontos: 1= piorou muito; 2= piorou um pouco; 3= está igual;
4= melhorou um pouco; e 5= melhorou muito. Os resultados do estudo estão descritos na
Tabela 1.
8%
47%
59%
50%
66%
99%
75%70%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Moradia no projeto Tipo de moradia
(alvenaria)
Qualidade de água
(boa)
Quantidade da água
(suficiente)
%
de
ag
ricu
lto
res
2003 2005
49
Tabela 1 – Avaliação da qualidade de vida dos beneficiários do PNCF – linha CAF nos
estados do Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Qualidade de vida
(Variáveis)
Mato Grosso Rio Grande do Sul
Adimplente Inadimplente Adimplente Inadimplente
Moradia da família 3,7 3,7 4,1 3,9
Transporte da família 2,6 3,0 3,6 3,5
Saúde 2,7 2,8 3,3 3,3
Alimentação 3,3 3,5 3,6 4,0
Acesso a bens domésticos 2,8 2,9 3,4 3,7
Ganhos da família 2,8 2,7 3,7 3,3
Acesso a serviços públicos 3,1 2,7 3,4 3,6
Educação das crianças 2,6 3,3 3,8 3,8
Patrimônio da família 3,6 3,3 4,0 3,8 Fonte: Vieira, Castro e Lima (2011). Adaptado pelo autor (2015).
Pela pesquisa e os dados apresentados na Tabela 1, os autores identificaram que de
uma forma geral no estado de Mato Grosso, as avaliações dos beneficiários inadimplentes do
PNCF-CAF indicam melhoria na moradia, alimentação, educação das crianças e patrimônio, e
pioras em relação aos aspectos com saúde, ganhos e acesso a serviços públicos. Quanto à
variável acesso a bens duráveis basicamente permaneceu quase inalterada. Já para o Rio
Grande do Sul as variáveis apontadas pelos beneficiários adimplentes foram melhorias nas
condições de moradia, patrimônio, educação das crianças e alimentação, coincidindo com as
percepções dos inadimplentes. Apontando também para melhorias quanto aos ganhos e
transporte da família. Esses autores ainda concluem que de uma forma geral os beneficiários
do RS apontaram melhorias substanciais após a adesão ao PNCF linha CAF quando
comparado aos beneficiários do MT, usufruindo de uma melhor qualidade de vida após o
acesso a terra pelo Programa.
Os assentamentos rurais se configuram em processos de mudanças às famílias
assentadas, pelo sentimento de pertencimento e possíveis melhorias na qualidade de vida.
Neste sentido, se faz necessário entender como as políticas públicas, em especial, no caso
desta pesquisa, o PNCF tem permitido tais melhorias, de maneira a satisfazer as necessidades
básicas das famílias para a sua permanência na terra, com reflexos diretos na reprodução
social e econômica da agricultura familiar. Para Teófilo (2002), muito mais do que o acesso
aos serviços básicos de qualidade, é necessário também confrontar os aspectos determinantes
da qualidade de vida em toda a sua magnitude, o que demanda políticas públicas
50
adequadas,com uma verdadeira articulação intersetorial do poder público e a mobilização de
todos os atores envolvidos.
Cazella et al. (2015) apontam que:
[...] é fundamental contar com uma ampla variedade de instrumentos de fomento
produtivo capaz de prestar serviços de qualidade aos produtores. Essa situação
representa um grande desafio, muitas vezes difícil de concretizar. Nessa perspectiva,
a possibilidade de desenvolver modelos de auto-organização, baseados numa relação
contratual entre Estado e sociedade civil, que sejam capazes de operar em uma
lógica de redes sociais, tem um alto potencial (CAZELLA et al., 2015).
2.5 O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF)
2.5.1 Aspectos gerais
A criação de um projeto de crédito fundiário estava, há tempos, na pauta de vários
setores envolvidos na questão agrária e no desenvolvimento rural. Uma das primeiras
iniciativas foi o Projeto São José, no Estado do Ceará (em 1997), e o Projeto Cédula da Terra,
implantado em cinco estados, sendo quatro do Nordeste e um do Sudeste (Minas Gerais), que
beneficiou cerca de 16.000 famílias em cinco anos (1998 a 2002). Estes projetos pilotos
testaram uma abordagem baseada na demanda comunitária, em que potenciais grupos de
beneficiários negociam diretamente com proprietários interessados na venda de suas terras
(VIEIRA; CASTRO; LIMA, 2011).
No período pós-redemocratização começa-se, por parte do governo juntamente com a
participação dos agricultores familiares e movimentos sociais, a elaboração da proposta de um
novo mecanismo de acesso à terra diferente do processo de reforma agrária, estimulado por
um mercado de compra e venda de terra acessível a esse público. Essa nova forma,
denominada por alguns autores como Reforma Agrária Negociada (RAN), ou mesmo
Reforma Agrária de Mercado, desenvolveu-se ao longo da década de 1990 como uma
adequação da reforma agrária tradicional à nova realidade econômica e conjuntural desse
período. No Brasil, a RAN está sendo implantada desde 1997, com parte dos recursos
proveniente do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), segmento
do Banco Mundial que proporciona empréstimos e assistência para o desenvolvimento a
países de rendas médias com bons antecedentes de crédito (SPAROVEK, 2008).
Por intermédio da Lei Complementar 93/98, de 04/02/1998 (BRASIL, 1998),
regulamentada pelo Decreto 3.027, de 13/04/1999, foi criado o Fundo de Terras e da Reforma
51
Agrária, na época denominado Banco da Terra, com o objetivo de financiar programas de
reordenação fundiária e de assentamento rural.
Posteriormente, nova regulamentação foi associada ao Fundo de Terras e da Reforma
Agrária, por intermédio do Decreto nº 4.892, de 25.11.2003 (BRASIL, 2003), interrompendo-
se, a partir de então, a contratação de financiamentos à égide do Banco da Terra e criando-se o
Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). De acordo com Vieira, Castro e Lima
(2011), para a elaboração deste Programa, durante o primeiro semestre de 2003, a Secretaria
de Reordenamento Agrário (SRA) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), gestor
do Fundo de Terras e da Reforma Agrária, estabeleceu um amplo processo de consulta com as
organizações do movimento sindical, em particular a CONTAG, mas também com a
FETRAF-Sul, os estados e associações de municípios que conviveram ou participaram dos
projetos Cédula da Terra e Combate à Pobreza Rural. Dessa experiência de elaboração de
política pública com a participação efetiva da sociedade civil e apoio do Banco Mundial,
resultou o Programa Nacional de Crédito Fundiário – PNCF.
O PNCF é uma política pública do Governo Federal criada para que os trabalhadores
rurais sem terra, ou com pouca terra, possam adquirir imóveis rurais para exploração em
regime de economia familiar. Financiado com recursos do Fundo de Terras e da Reforma
Agrária e do Subprograma de Combate à Pobreza Rural, pode ser executado em todo o
território nacional. De acordo com MDA (2014), o PNCF permite a aquisição e estruturação
de imóveis rurais, bem como a implantação de projetos produtivos, voltados ao aumento da
renda familiar e da produção de alimentos, a melhoria das condições de vida das famílias
beneficiárias e à dinamização das economias locais. O Programa é uma ação complementar à
Reforma Agrária, permitindo a incorporação de áreas que não podem ser desapropriadas,
favorecendo a redistribuição de terras no Brasil visando o fortalecimento da agricultura
familiar. É executado de forma descentralizada nos estados, tendo como órgão executor as
Unidades Técnicas Estaduais, com sua gestão intermediada pela Secretaria de Reordenamento
Agrário do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A base de atuação do PNCF direciona-se a áreas que não poderiam ser contempladas
por mecanismos de reforma agrária tradicional (propriedades inferiores a 15 módulos fiscais
ou produtivas). Os beneficiários do PNCF são classificados como integrantes da reforma
agrária, e, portanto, recebem também prioridade nos demais programas de acesso às políticas
de financiamento/apoio a reforma agrária e a agricultura familiar (MDA, 2012).
Em contraponto, os movimentos organizados criticam sua concepção central de
mercantilização da reforma agrária e sinalizam que esta política poderá agravar as
52
desigualdades sociais tão comuns ao rural no Brasil (BUSSONS; BATISTA; LIMA, 2010). A
crítica abrange o modelo como um todo, inclusive na sua forma redistributiva, havendo a
necessidade de uma nova abordagem para superação dos problemas de ordem fundiária
brasileiro (GUEDES, 2010).
Para Pereira (2004):
Mesmo se funcionassem (...) mesmo que ocorressem transações de mercado a preços
razoáveis e os beneficiários pudessem de fato pagar pela terra por meio de sua
produção agrícola, tais programas seriam absolutamente insuficientes para absorver
a pressão social sobre uma estrutura de propriedade altamente concentrada, ainda
mais em sociedades que experimentam há anos uma regressão social e econômica
provocada pelas reformas estruturais (PEREIRA, 2004, p.246).
A questão principal é que o PNCF não foi formulado para ser uma política de
desenvolvimento da agricultura familiar de maneira mais ampla, mas para ser uma ação
complementar a reforma agrária e, ao mesmo tempo, uma forma de redução dos custos de
reprodução social das famílias sem terras, envolvidas na agricultura (superação da pobreza
rural).
Quanto ao funcionamento operacional do Programa, o Instituto Interamericano de
Cooperação para a Agricultura - IICA (2010) destaca:
O PNCF é executado com recursos provenientes do Fundo de Terras e da Reforma
Agrária e outra parte oriunda do Orçamento Geral da União, que no caso da linha de
Combate à Pobreza Rural e do adicional Nossa Primeira Terra/CPR, destina recursos
para o financiamento não reembolsável dos investimentos comunitários, assim como
para a capacitação, a difusão e a avaliação do Programa. A execução do Programa é
descentralizada e de responsabilidade dos estados, com participação da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG, FETRAF-Sul
e Federações Estaduais de terras. A elaboração da proposta é feita pelas próprias
associações dos grupos de beneficiários, com mediação do Estado, as quais têm
autonomia na seleção de integrantes e definição e execução dos seus projetos (IICA,
2010, p.14).
Com o intuito de atingir seus objetivos, o PNCF conta com um arranjo institucional
descentralizado composto pelo MDA, Unidades Técnicas Estaduais (UTEs), Conselhos de
Desenvolvimento Rural Sustentável, Redes de Apoio e Agentes financeiros. Este tipo de
arranjo descentralizado consiste num dos principais diferenciais do PNCF quando comparado
com o modelo tradicional de reforma agrária.
As operações do Programa iniciam-se por meio da assinatura de um acordo de parceria
e cooperação entre o MDA e os Estados interessados em receber os recursos. O MDA é
responsável pela elaboração do Plano Operativo do Programa que contempla as estratégias,
metas globais, e origens e destino dos recursos a serem aplicados. Adicionalmente, tem como
53
atividade a articulação com outras políticas governamentais de Desenvolvimento Agrário,
como por exemplo o Pronaf, PAA, entre outras. Finalmente, a fiscalização, o controle, o
monitoramento e a avaliação da execução do PNCF também são atribuições do MDA (PNCF,
2005, p.61).
As UTEs são responsáveis pela execução do PNCF nos estados. Realizam a análise
das propostas de financiamento apresentadas pelos candidatos a receberem os recursos do
Programa, ou seja, verificam a elegibilidade do beneficiário, a elegibilidade da terra a ser
adquirida e os preços acordados entre as partes envolvidas na negociação, a proposta do plano
de produção e, depois, o encaminhamento para aprovação nos Conselhos Estaduais de
Desenvolvimento rural Sustentável (CEDRS). Adicionalmente, é a instituição que assegura a
liberação dos recursos financeiros e supervisiona a aplicação destes pelos beneficiários
(MDA, 2013).
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF) é
responsável pelo estabelecimento, em âmbito nacional, das diretrizes globais e metas do
Programa, além de aprovar seu regulamento operativo e os Manuais de Operações,
assegurando a harmonia entre estes e os demais programas de reforma agrária e de
desenvolvimento rural. Já os Conselhos Estaduais de Desenvolvimento Rural Sustentável
(CEDRS) constituem as principais instâncias decisórias do Programa em âmbito Estadual.
Aprovam os planos Estaduais de implantação do PNCF, as propostas de financiamento
encaminhadas pelas UTEs e as transações de compra e venda de propriedades com recursos
do PNCF. Outra importante atribuição do CEDRS é avaliar e aprovar as solicitações para
cadastro de entidades e empresas prestadoras de assistência técnica no âmbito do PNCF
(LIMA, 2011).
Os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDRS) são responsáveis por
verificar a elegibilidade dos beneficiários e opinam sobre as propostas iniciais de
financiamento, antes de encaminhar para os CEDRS. São, portanto, a primeira instância
consultiva e de monitoramento. O CMDRS deve assegurar a articulação do Programa com
outras políticas locais e busca garantir que os beneficiários sejam incluídos nessas políticas
(PNCF, 2015, p. 68).
A Rede de Apoio do PNCF é formada por técnicos, instituições e organizações
juridicamente constituídas para prestar serviços de capacitação, assessoramento e assistência
técnica. Estas instituições devem ser avaliadas e licenciadas pelo CEDRS para prestar tais
serviços aos beneficiários do Programa (PNCF, 2015, p.71). Os Sindicatos dos Trabalhadores
Rurais também fazem parte da rede de apoio do PNCF. E, finalmente, os agentes financeiros
54
são os responsáveis para que os recursos do PNCF cheguem aos beneficiários e aos
proprietários da terra.
O PNCF possui duas linhas básicas de financiamentos (Tabela 2), respeitando os
critérios de elegibilidade do Programa, sendo estas: Combate à Pobreza rural (CPR),
Consolidação da Agricultura Familiar (CAF). A linha CPR beneficia os trabalhadores rurais
mais pobres, enquanto a CAF abrange os agricultores familiares sem-terra ou com pouca
terra. Para fortalecer e incentivar a participação de jovens, mulheres e negros no Programa, a
linha de Combate à Pobreza Rural prevê um adicional (não reembolsável) para implantação
de projetos de interesse desses públicos, desde que estejam organizados em associações.
Tanto na linha CAF quanto na CPR, as terras financiadas não podem ser consideradas
improdutivas e sujeitas à desapropriação e não podem superar quinze módulos fiscais (MDA,
2015).
Tabela 2 - Linhas de financiamento e enquadramento do PNCF no Brasil.
Linhas de
financiamento Renda anual
Patrimônio
(R$) Forma de acesso
Investimentos
p/ estruturara
propriedade
SIC/SIB
CPR Até R$ 9 mil Até 15 mil SAT individual ou
coletivo SIC coletivo Não
reembolsável
CAF Até R$ 15 mil Até 30 mil SAT individual ou
coletivo
SIB
Individual ou
coletivo
Reembolsável
Fonte: MDA (2015).
Nota: SAT (Subprojeto de Aquisição da Terra), SIC (Subprojeto de Investimentos Comunitários) e SIB
(Subprojeto de Infraestrutura Básica e Produtiva)
Os recursos adicionais na linha CPR incluem: a) Nossa Primeira Terra (NPT): é
destinada a jovens rurais, filhos e filhas de agricultores, estudantes de escolas agrotécnicas e
centro familiares de formação por alternância, com idade entre 18 e 29 anos, que queiram
viabilizar o próprio projeto de vida no meio rural, com juros de 2% ao ano e prazo de até 35
anos para pagar a terra. b) PNCF Mulher: incentiva a participação de mulheres organizadas
em associações formadas somente pelo público feminino como beneficiárias titulares do
Programa. Recurso adicional incluído no SIC de até R$1.000,00 por beneficiária do grupo
organizado em associação. c) Terra Negra Brasil: atende às demandas dos grupos de
trabalhadores rurais negros não quilombolas organizados em associações. Recurso adicional
incluído no SIC até R$1.000,00 por beneficiário do grupo organizado em associação. d) Meio
Ambiente: Adicional de até R$3.000,00 por família organizada em associação para solucionar
problemas ambientais já existentes no lote ou para melhorias ambientais na propriedade,
55
como: conservação do solo, recuperação e reflorestamento de áreas de preservação (Área de
Preservação Permanente - APP e Reserva Legal - RL), introdução de sistemas agroflorestais
ou agroecológicos e conversão para a produção orgânica(BRASIL, 2015).
Conforme descrito no Manual Operacional do PNCF (BRASIL, 2009), o Subprojeto
de Aquisição de Terras (SAT) é uma proposta de financiamento dos pretensos beneficiários
elegíveis, para a aquisição de terras, sendo reembolsável, repassados por meio de contrato de
financiamento a ser firmado entre os beneficiários. Os recursos destinados para este fim são
oriundos do Fundo de Terras e da Reforma Agrária - FTRA, instituído pela Lei
Complementar n° 93, de 4 de fevereiro de 1998, e regulamentado pelo Decreto nº 4982, de 25
de novembro de 2003, e pelo Regulamento Operativo do Fundo de Terras e da Reforma
Agrária. As propostas de SAT poderão ser apresentadas de forma individual ou coletiva. Em
relação aos financiamentos de que trata o SAT poderão ser destinados a associações,
cooperativas ou outras formas de organização, desde que haja manifestação favorável do
Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável por meio de análise de cada caso.
Os Subprojetos de Investimentos Comunitários (SICs) tratam-se de projetos de
infraestrutura básica e produtiva apresentados pelas associações de trabalhadores rurais
beneficiários do crédito fundiário, contendo os respectivos planos de aplicação de recursos,
cronogramas de execução e desembolso das parcelas previstas para liberação de recursos não
reembolsáveis. Os recursos são oriundos do Subprograma de Combate à Pobreza Rural, sendo
estes não reembolsáveis e não caracterizados como operação de financiamento. São
repassados por meio de contrato específico de transferência de recursos, a qual será
constituído de dotações consignadas no Orçamento Geral da União e em seus créditos
adicionais, com recursos oriundos do Tesouro Nacional ou operações de crédito e doações de
instituições nacionais e internacionais, conforme Decreto nº 6.672, de 2 de dezembro de 2008
(BRASIL, 2008). O acesso ao SICs se dará apenas por trabalhadores e trabalhadoras rurais,
organizados em Associações, que adquiriram crédito fundiário, por meio de SAT, na forma
descrita no Manual (MDA, 2009).
2.5.2 Números do PNCF e atualizações
A implantação do PNCF tem como premissa básica a participação efetiva das
comunidades envolvidas,pois as mesmas possuem autonomia para formular propostas de
financiamento, escolher imóveis e realizar a negociação dos preços. Assim, a participação
social tem sido uma das principais características do Programa, desde a sua criação até a sua
56
efetiva consolidação, não só por parte do público alvo, mas também dos estados, sindicatos
representantes dos trabalhadores rurais e demais atores envolvidos (SPAVOREK, 2008).
Segundo dados da Secretaria de Reordenamento Agrário - SRA, em 2012 foram
beneficiadas 46.591 famílias pela linha de CPR, totalizando uma área de 958.903 hectares
destinados pelo PNCF, já pela linha de financiamento CAF foram 46.958 famílias
beneficiadas, com cerca de 597.104 hectares destinados à agricultura familiar. As maiores
demandas concretizadas em projetos,em 2012,ocorreram em Mato Grosso (12,86 mil
famílias), Piauí (9,44 mil famílias), Maranhão (8,4 mil famílias), Tocantins (6,6 mil famílias),
Rio Grande do Sul (4,87 mil famílias), Minas Gerais (4,3 mil famílias) (BRASIL, 2012).
A análise dos valores totais dos recursos contratados pelos agricultores beneficiados
pelo PNCF revela que, aproximadamente, 61% foram utilizados pelos agricultores da região
Nordeste, seguido pela região Centro-Oeste e Norte, com 17% e 12% de participação,
respectivamente. As regiões em que os agricultores menos utilizaram os recursos foram o
Sudeste e o Sul, com apenas 5% cada (Tabela 3).
Tabela 3 -Valores totais (em milhões de R$) dos recursos contratados pelos beneficiários do
PNCF (2002 - 2012). Brasil.
Região 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 20121
Norte - - - 1,9 6,8 44,1 21,2 13,9 11,3 13,5 -
Nordeste 36,1 57,5 69,7 74,5 112,6 129,3 105,6 54,2 86,1 35,7 8,3
Sudeste - 0,7 10,0 10,7 13,8 17,2 26,6 15,6 16,6 12,6 2,4
Sul - - 3,7 73,2 230,9 202,3 128,4 106,9 70,1 17,1 46,6
Centro-
Oeste
- - - 3,1 22,1 104,8 72,4 32,6 37,5 15,7 6,5
Brasil 36,1 58,2 83,4 163,4 386,2 497,7 354,1 223,4 221,6 94,7 63,7
Fonte: Brasil ([s.d.]).
Nota:1 Até junho.
Dados gerais apresentados por Ferreira (2015) sobre a atuação do PNCF durante os
anos de 1998 - 2015 demonstram que são mais de 138 mil famílias beneficiadas pelo
programa nesse período e foram cerca de 3,8 bilhões de recursos investidos no crédito
fundiário, sendo 500 milhões em recursos não reembolsáveis e três milhões de hectares
financiados atendendo dois mil municípios. Os estados do Piauí e Rio Grande do Sul possuem
o maior número de famílias beneficiadas (na faixa de 12 a 29 mil famílias). Em termos gerais
são valores modestos, considerando o número de agricultores sem terra ou com pouca terra e
para a dimensão territorial do Brasil.
57
Conforme observa-se no Quadro 1, no ano de 2013, para a linha CPR, foram
executadas 64 operações, beneficiando 557 famílias, sendo que 8.169 de hectares foram
incorporadas ao PNCF com um pouco mais de nove milhões investidos em SAT. Já em 2014,
houve um aumento significativo da atuação do Programa, foram 176 operações, 787 famílias,
área de 13.947 hectares e mais de 12 milhões investidos em SAT.Os números relacionados a
linha CAF nos dois anos são superiores a CPR, sendo, em 2013, 867 operações e famílias
beneficiadas, área de 20.252 hectares e mais de 49 milhões investidos em SAT. Em 2014 os
valores foram inferiores ao ano anterior, com 542 operações e famílias beneficiadas, 4.440
hectares e um pouco mais de 36 milhões investidos em recursos do SAT (SRA, 2015).
Quadro 1 –Dados sobre o PNCF nos anos de 2013 e 2014 para as linhas CPR e CAF. Brasil.
Linha Combate a Pobreza Rural - CPR
Ano Operações Famílias Área Valor SAT
2013 64 557 8.169 9.878.116
2014 176 787 13.947 12.960.905
Linha Consolidação da Agricultura Familiar - CAF
Ano Operações Famílias Área Valor SAT
2013 867 867 20.252 49.682.656
2014 542 542 4.440 36.154.758
Fonte: SRA (2015).
Desde sua implantação, mais de 35 mil jovens já acessaram terra pelo PNCF,
representando cerca de 40% das 138 mil famílias beneficiadas pelo Programa, até 2014.
Destes, 46% estão no Nordeste, 33% na região Sul e os 21% restantes nas demais regiões de
atuação do Programa (MDA, 2015). Nos anos de 2013 e 2014 com a linha Nossa Primeira
Terra (Quadro 2) foram um total de 152 operações e famílias beneficiadas, em 1.354 hectares,
com mais de 10 milhões de recursos investidos no SAT.
58
Quadro 2 –Dados gerais sobre o PNCF nos anos de 2013 e 2014 para a NPT. Brasil.
Linha Nossa Primeira Terra - NPT
Ano Operações Famílias Área Valor SAT
2013 12 12 109 844.746
2014 140 140 1247 10.064.989
Total 152 152 1356 10.909.735
Fonte: SRA (2015).
Barcelos (2016) ao resgatar o processo de formulação/implantação e debates entre
diferentes atores sociais a respeito da linha NPT nos últimos anos concluiu que desde a sua
implantação em 2003 e mesmo diante das alterações nas normas operacionais e ampliação dos
recursos de crédito disponibilizados aos jovens rurais, a avaliação entre os diferentes atores
ainda é negativa. Relata ainda que essas alterações “são avaliadas como ineficazes por um
conjunto de atores e estão produzindo uma série de demandas reprimidas devido aos entraves
inter-burocráticos e políticos produzidos pelas instituições na execução dessas políticas
públicas”(BARCELOS, 2016, p.90). São, portanto, consideradas insuficientes para permitir o
acesso às políticas públicas de forma efetiva pelos jovens rurais.
Segundo o MDA (2015) no PNCF 14,5% dos participantes são do sexo feminino e
85,5% do sexo masculino. A Figura 4 apresenta o número de mulheres e os recursos
destinados as mesmas, sendo que a participação feminina alcançou seu ápice em 2011 com
21,6%, reduzindo nos anos posteriores, mas voltando a crescer em 2014, atingindo 20,4%.
Em relação aos recursos destinados às mulheres, percebe-se que ocorreu aumento da
quantidade de mulheres, entretanto a participação nos recursos do PNCF é um pouco menor; e
ainda continua sendo amplamente minoritária.
59
Figura 4–Participação percentual, em termos de número de beneficiários (quantidade) e de
recursos,das mulheres no PNCF. Brasil.
Fonte: SRA (2015).
Esta diferença marcante remete a uma questão de gênero quanto se trata do acesso à
terra e aos recursos pelo PNCF, embora deva-se reconhecer avanços em termos das políticas
públicas, como destacam Heredia e Cintrão (2006):
Embora um longo caminho ainda reste para atingir a equidade social, tanto entre
cidade e campo quanto entre homens e mulheres rurais, pode-se dizer que nos
últimos 10 anos diversas medidas importantes foram tomadas pelos gestores das
políticas públicas, no sentido de melhorar as condições de vida das trabalhadoras
rurais. Como tentamos demonstrar, essas políticas são de fato respostas a demandas
e reivindicações efetivas dos movimentos sociais das trabalhadoras rurais em suas
diferentes formas de manifestação e organização. No entanto, ainda que essas
políticas sejam sem dúvida passos importantes, são ainda insuficientes frente às
grandes demandas e desigualdades existentes. Ao mesmo tempo, muitas dessas
políticas são muito recentes e estão ainda em fase de implementação, o que impede
de fazer uma avaliação sobre os impactos que de fato terão quando implementadas
ao longo do tempo (HEREDIA; CINTRÃO, 2006, p.11).
O Comitê Permanente do Fundo de Terras e do Reordenamento Agrário realizou
mudanças no Regulamento Operacional e nos manuais do PNCF - previstas na Lei
Complementar 145/2014. A alteração foi realizada com base no Projeto de Lei Complementar
(PLP) 362/006, sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, que estabeleceu novas regras para
financiamentos do programa. A medida vem solucionar uma demanda antiga e recorrente na
agricultura familiar - que é um herdeiro poder comprar a fração partilhada dos demais e com
isso permanecer na terra - fortalecendo o processo de sucessão no rural brasileiro (MDA,
2015).
60
Antes de ser instituída a Lei Complementar 145/ 2014, pelo decreto 8253/2014, o (a)
jovem herdeiro(a) que desejava permanecer na terra, entretanto, sem condições financeiras
para adquiri-la via financiamento, acabava optando, junto com os demais, pela vendado
imóvel rural a terceiros. Com a regulamentação da lei passa a ser permitido ao herdeiro de
parte de uma propriedade rural (objeto de partilha),a obtenção de recursos do Fundo de Terras
para financiar a compra da área dos demais herdeiros (BRASIL, 2014).
O Decreto nº 8.500 publicado em 12 de agosto de 2015altera os limites de renda e
patrimônio para fins de enquadramento no PNCF, passando de R$ 15 mil e R$ 30 mil, para
R$ 30 mil e R$ 60 mil, respectivamente. Em caso de áreas a serem adquiridas provenientes de
herança e o comprador for um dos herdeiros, o valor do patrimônio pode chegar a R$100 mil
(Tabela 4).O limite de crédito é de 80 mil/beneficiário e prazo de financiamento de 20 anos e
três anos de carência. O órgão gestor do Programa considera que os novos limites favorecerão
o acesso ao Programa por mais agricultores, principalmente nas regiões Sul e Sudeste (DCF,
2015), mas o limite de 80mil por beneficiário ainda é um entrave no Sul e Sudeste, devido ao
preço da terra.
Tabela 4 – Novos limites de renda e patrimônio para o PNCF, a partir de agosto de 2015.
Brasil.
Limites atuais Novos limites
Renda anual Patrimônio Renda anual Patrimônio
Até R$ 15 mil Até R$ 30 mil Até R$ 30 mil Até R$ 60 mil*
Fonte: MDA (2015)
Nota: Esse valor pode chegar a R$ 100 mil, quando a área a ser adquirida for proveniente de herança e
o comprador for um dos herdeiros.
Em função da persistência dessa limitação do teto, em maio de 2016 na IV Reunião
Extraordinária do Comitê do Fundo de Terras e do Reordenamento Agrário5, realizada em
Santa Catarina, foi realizada a discussão para retomada das proposições de atualização dos
valores do Crédito Fundiário, já previstas na Lei Complementar 145/2014, que propõe a
mudança do valor do teto de financiamento para até R$ 200 mil e regulamenta o prazo de
pagamento para até 35 anos.
5 Criado pela resolução Nº 34, de dezembro de 2003, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural
Sustentável (CONDRAF), sendo formado por representantes dos ministérios do Desenvolvimento Agrário,
Fazenda e Planejamento; INCRA; dos governos estaduais; dos movimentos sociais de trabalhadores e
trabalhadoras rurais e da agricultura familiar; e de entidades outras organizações sociais. Dentre suas atribuições
destaca-se a formulação e análise de propostas de políticas públicas nacionais de reordenamento agrário, em
especial que promovam o acesso à terra e as ações de regularização fundiária (FETRAF, 2016).
61
Conforme descrito na Lei complementar Nº 145, de 15 de maio de 2014.
Art. 7º. O Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra - financiará a
compra de imóveis rurais com prazo de amortização de até 35 (trinta e cinco) anos,
incluída carência de até 36 (trinta e seis) meses.
1oOs financiamentos concedidos pelo Fundo terão juros limitados a até 12% a.a.
(doze por cento ao ano), podendo ter redutores percentuais de até 50% (cinquenta
por cento) sobre as parcelas da amortização do principal e sobre os encargos
financeiros durante todo o prazo de vigência da operação, observado teto anual de
rebate por beneficiário, a ser fixado pelo Poder Executivo.
§ 2oConforme estabelecido em regulamento, a carência de que trata o caput poderá
ser estendida para até 60 (sessenta) meses, quando a atividade econômica e o prazo
de maturidade do empreendimento assim o exigirem(BRASIL, 2014).
A Tabela 5 apresenta um quadro geral das linhas do PNCF com as respectivas
atualizações de renda e patrimônio conforme o decreto Nº 8500.
Segundo a proposta da Secretaria de Política Agrária da CONTAG, com a
regularização do aumento do teto para até 200 mil, o intuito é ampliar os benefícios a todos os
estados brasileiros. O RS e Piauí são os estados que possuem o maior número de famílias
beneficiadas pelo crédito fundiário, com 28.584 e 18.084 famílias, respectivamente, já no
estado de Mato Grosso são cerca de 7.584 famílias (SILVA, 2015).
Tabela 5 – Linhas do PNCF e atualizações de renda e patrimônio em agosto/2015. Brasil.
Linhas de crédito Taxa de
juros Renda anual Patrimônio
Experiência na
agricultura
Combate à Pobreza Rural
(CAD-Único) 0,5% Até R$ 9 mil Até R$ 15 mil 5 anos
Nossa Primeira Terra
(entre 18 e 29 anos) 1,0% Até R$ 30 mil Até R$ 60 mil 5 anos
Consolidação da
Agricultura Familiar 2,0% Até R$ 30 mil Até R$ 60 mil 5 anos
Fonte: Silva (2015). Adaptado pelo autor(2016).
Embora esses avanços do Programa Nacional de Crédito Fundiário representem a
extensão dos benefícios aos agricultores, principalmente aos jovens rurais, ainda é necessário
se pensar em outras mudanças para que o acesso à terra via PNCF possa englobar um
considerável número de famílias a curto, médio e longo prazo, assegurando que os benefícios
dessa política possam efetivamente garantir melhorias significativas na qualidade de vida,
geração de emprego e renda no campo. Vale ressaltar também que há uma certa carência de
informações atualizadas e detalhadas, referentes ao número de assentamentos, linhas
acessadas e famílias do PNCF, entre outros aspectos, que dificultam analisar o real alcance
dessa política na realidade agrária brasileira.
62
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Características da Microrregião Geográfica de Canarana e do município de Nova
Xavantina-MT, na qual está inserido
A Microrregião Geográfica de Canarana (Figura 5)apresenta predominância dos
biomas Cerrado e Floresta Amazônica, além de áreas de transição Cerrado- Amazônia. Possui
uma área total de 60.323,950 km², abrangendo os municípios de Nova Xavantina, Água Boa,
Campinápolis, Novo São Joaquim, Santo Antônio do Leste, Nova Nazaré, Canarana e
Querência (IBGE, 2014).
Figura 5 - Estado do Mato Grosso e em destaque a Microrregião Geográfica de
Canarana.
Fonte: SEPLAN Mato Grosso (2015).
A região apresenta características produtivas diversificadas. Em 1985, a forma de
ocupação do território dividia-se claramente entre as tipologias de área de fronteira com
exploração pecuária (Alto da Boa Vista, Querência e Ribeirão Cascalheira); área de transição,
com tendência de expansão da agricultura comercial (Água Boa, Campinápolis, Canarana e
Nova Xavantina); e de área consolidada, com tendência para a expansão da pecuária, nos
municípios de ocupação mais antiga (DAL PAI, 2013).
63
Para Bernardes (2012), apesar da Microrregião de Canarana possuir raízes arraigadas à
pecuária tradicional desde o início das atividades agrícolas, a partir da pavimentação da BR-158,
houve uma mudança de postura na forma de produzir, acarretando em novas organizações e
relações sociais, o que levou à constituição do que o autor chama de "sociedade da soja".
A participação do setor industrial, no sentido da sua transformação de produtos e da
sua interferência na produção ou reordenação do território foi, até recentemente, pouco
relevante, embora estivesse sempre ligada ao padrão de crescimento regional (MORENO;
HIGA, 2009). Com a expansão e modernização do setor agropecuário, a agricultura alcançou
elevados índices de produtividade e intensa capitalização. Nesse processo, antigas fazendas
foram abandonando práticas tradicionais de produção, substituindo-as por inovações
tecnológicas, novas relações de trabalho e de produção, com a integração entre os setores
agrícola e industrial, possibilitou o crescimento do setor agroindustrial ligados
predominantemente ao complexo alimentar de grãos e carne, ao aproveitamento da madeira
e,secundariamente, ao setor mineral (HOGAN; CARMO;CUNHA, 2002).
A MRG de Canarana apresentou uma redução no perfil locacional no uso de terra por
matas e florestas plantadas: em 1980 registravam-se 13 estabelecimentos com práticas
florestais, em 1995 perfaziam 10 estabelecimentos, ou seja, de um total de 17.306,87 ha em
1980 de matas artificiais, em 1995 essas totalizaram 138,7ha (IPEA, 2012). Já Hogan, Carmo
e Cunha (2002) apontam que a Região Centro-Oeste registrou significativa redução em sua
vegetação original, cerca de 35% da vegetação foi convertida em pastagens, lavouras
temporárias (soja, milho, arroz) e permanentes, como eucalipto e pinho, além de terras
destinadas ao uso urbano, como reservatórios de água e depósitos de lixo. Além da extração
de madeira em áreas virgens da Amazônia Legal e queimadas em todo território
matogrossense.
O processo de ocupação territorial da MRG de Canarana foi efetivado a partir da
incitação à colonização privada e à exploração de terras devolutas em bases empresariais.
Destacam-se como fatores de indução a esses movimentos, os programas de apoio técnico e
financeiro e a ocupação das fronteiras agrícolas. Esses programas viabilizaram a infraestrutura
viária e energética, bem como avanços tecnológicos que permitiram a correção e adaptação do
solo, anteriormente considerado infértil (HOGAN, CARMO, CUNHA 2002; ABREU, 2001).
Segundo Ferreira (2001) o grande incentivo à exploração de terras púbicas na região atraiu
agricultores sulistas e do Estado de Goiás, com experiência na agricultura, relativamente
capitalizados e habituados às inovações tecnológicas impulsionadas pela revolução verde,
com a dita “agricultura moderna” (FERREIRA, J., 2001).
64
No final da década de 80 e início da década de 90 tem-se a intensa ocupação de áreas
por posseiros, ocorrendo principalmente em comunidades como Serrinha, Jatobazinho,
Borecaia e Santa Maria. Com essas ocupações, a população dessa região composta
principalmente por sulistas passa a integrar também pessoas de outras regiões como os
nordestinos, goianos e mineiros. A partir da pressão dos agricultores ocorreu a regularização
dessas áreas, com a criação de novos assentamentos rurais na região (FERREIRA, G., 2015).
Segundo dados do Censo Agropecuário IBGE (2006) na Microrregião de Canarana, a
agricultura familiar abrange 3.897 estabelecimentos agropecuários, representando 68,73% do
total, o que corresponde a uma área ocupada com a agricultura familiar de 272.834 hectares
(7,37% da área total ocupada com estabelecimentos agropecuários). Já a agricultura patronal
abrange cerca de 1.773 estabelecimentos, o que representa 31,27% dos estabelecimentos
agropecuários da Microrregião, ocupando 3.430.529 hectares (92,63% da área total).
Em termos de assentamentos rurais de reforma agrária são 18 localizados na MRG de
Canarana com aproximadamente 3000 famílias assentadas, contemplando uma área total de
aproximadamente 100 mil hectares destinados a reforma agrária (Tabela 6).
Tabela 6 - Dados gerais do Programa Nacional de Reforma Agrária na MRG de Canarana-
MT
P.A.
Município Nº de
famílias
Área
(hectares)
Data de
criação Forma de obtenção
Santa Maria Água Boa 219 14.548 19/05/1997 Desapropriação
Jaraguá Água Boa 400 20.021 08/05/1998 Desapropriação
Gleba Martins Água Boa 54 3.848 24/08/1987 Compra e venda
Jatobazinho Água Boa 230 15.057 28/05/1987 Desapropriação
Vitória Campinápolis 177 17.443 02/12/1996 Desapropriação
Santo Idelfonso
Guatapara
Campinápolis
Campinápolis
493
116
18.735
6.830
31/10/1996
11/06/2012
Compra e venda
Desapropriação
Rio dos Cocos Nova Nazaré 76 12.921 14/08/1987 Desapropriação
Jandira Nova Nazaré 149 9.471 11/05/1987 Desapropriação
Maragatos Nova Nazaré 41 2.488 14/08/1987 Desapropriação
Boa Esperança Nova Nazaré 62 5.007 23/09/1987 Desapropriação
Vanda Nova Nazaré 10 426 11/05/1987 Desapropriação
Estrela Nova Nazaré 38 2.090 15/05/1998 Desapropriação
Ilha do Coco Nova Xavantina 27 2.723 14/08/1987 Desapropriação
Mello Nova Xavantina 29 2.314 14/08/1987 Desapropriação
Piau Nova Xavantina 106 7.511 12/11/1992 Compra e venda
Rancho Amigo Nova Xavantina 119 8.194 01/09/1995 Desapropriação
Safra Nova Xavantina 390 29.319 28/05/1987 Desapropriação
Santa Célia Nova Xavantina 238 9.984 09/09/2003 Desapropriação
Fonte: Incra (2015).
65
O processo recente de redistribuição fundiária, no entanto, não modificou a extrema
concentração da posse da terra: 1,8% dos estabelecimentos, todos com mais de 10.000 ha,
ocupam 35% do território regional; enquanto que os estabelecimentos com menos de 100 ha
(27,3%) ocupam 1,0% da área. No conjunto da MRG de Canarana, a área média dos
estabelecimentos é de 1.438,4 ha, enquanto para o total do Estado é de 780,5 ha (INCRA,
2009). Estes dados revelam que a estrutura fundiária na Microrregião é composta
fundamentalmente de grandes propriedades, em detrimento da agricultura familiar, embora o
número de estabelecimentos familiares tenha aumentado, a desigualdade na distribuição de
terras permanece praticamente inalterada.
Apesar da forte concentração fundiária, na Microrregião de Canarana a ocupação da
mão de obra é maior (54%) na agricultura familiar do que na agricultura não familiar (46%),
segundo o Censo Agropecuário, IBGE (2006). Além de ser responsável por grande parte da
produção de animais domésticos (suínos e galinhas) e de seus subprodutos (carne e ovos),
além da produção de leite (MORAES et al., 2012). Dados esses que corroboram a importância
da agricultura familiar na produção de alimentos na Microrregião analisada (assim como no
âmbito da agropecuária brasileira).
O município de Nova Xavantina (Figura 6) situa-se na Mesorregião Geográfica
Nordeste do Estado de Mato Grosso, na Microrregião Geográfica (MRG) de Canarana, e
apresenta as seguintes coordenadas geográficas: Latitude 14° 40' 0'' Sul e Longitude 52° 20'
45'' Oeste. Tem como limites os municípios de Água Boa, Araguaiana, Barra do Garças,
Campinápolis, Cocalinho, Novo São Joaquim e Nova Nazaré (FERREIRA, J., 2001).
66
Figura 6. Município de Nova Xavantina – MT, com indicação dos municípios
limítrofes.
Fonte:<www.cidade-brasil.com.br/municipio-nova-xavantina.html>
Possui uma população estimada de 19.475 habitantes e uma área total de 5.573,68
km2, com densidade demográfica de 3,52 hab./km². Caracteriza-se pela predominância da
exploração agropecuária, com áreas de expansão da cultura da soja, rodeada por terras
indígenas da etnia Xavante e importantes reservas ambientais, além de inúmeras cachoeiras e
a Serra do Roncador. É considerado o centro geodésico do Brasil, com o predomínio do
bioma Cerrado (IBGE, 2014).
A porção localizada na margem direita do Rio das Mortes (Figura 7), conhecida como
Xavantina Velha ou Setor Xavantina, é um bairro predominantemente residencial, com um
pequeno comércio e que abriga as instalações administrativas da Prefeitura Municipal,
Câmara Municipal, Fórum e o Campus da Universidade do Estado de Mato Grosso
(UNEMAT), além de algumas construções históricas do município.O lado esquerdo do rio é
mais desenvolvido chamado de Setor Nova Brasília, onde se localizam a maioria dos
estabelecimentos comerciais, rede bancária e demais prestadores de serviços. Neste setor o
processo de urbanização chegou rapidamente, trazendo alguns problemas relacionados a
infraestrutura (MOCELIN, 2011).
67
Figura 7 -Vista parcial do Rio das Mortes e da área urbana de Nova Xavantina-MT.
Fonte:www.interessantenews.com.br (2015).
O processo histórico de surgimento do município de Nova Xavantina se deu a partir de
1944, com a chegada da Expedição Roncador-Xingu6, incentivada pelo governo Getúlio
Vargas na chamada Marcha para o Oeste7. No dia 14 de abril de 1944, o coronel Flaviano de
Matos Vanique lançou a pedra fundamental de Xavantina, na margem direita do Rio das
Mortes8, o nome escolhido pela Expedição foi em homenagem aos índios Xavantes9,
6 Portaria nº. 077 de 03/06/1943 determinava a organização da Expedição Roncador Xingú, considerando as
seguintes necessidades: criar vias de comunicação com o Amazonas através do interior do país; e explorar e
povoar o maciço central do Brasil nas regiões cabeceiras do Rio Xingú. A portaria declara que a Expedição é um
passo decisivo para a realização do Programa do Governo, sintetizado na Marcha para o Oeste. Assim, os
objetivos da Expedição eram: a) partindo da cidade de Leopoldina, sobre o Rio Araguaia, em Goiás, seguir na
direção geral de Noroeste rumo a Santarém, sobre o Amazonas; b) procurar o ponto mais favorável sobre o Rio
das Mortes e fundar um estabelecimento de colonização; c) continuar a marcha galgando a Serra do Roncador e
fundar no ponto mais conveniente, que ofereça condições de clima, terras próprias para agricultura e facilidade
para estabelecimento de um campo de aviação, um núcleo de civilização que servirá de ponto de apoio para o
prosseguimento da expedição e exploração do território; d) invernar nesse local, preparando o campo de aviação
e iniciando trabalhos agrícolas e de construção (CARPENTIERI, 2008). 7 Na verdade, a expedição comandada pelo cel. Flaviano de Matos Vanique, alardeava a Marcha para o Oeste, de
Getúlio Vargas, mas escondia o projeto de trasladar a capital do Brasil, do Rio de Janeiro para um quadrilátero
na bacia fluvial do Xingu, se assim fosse necessário (PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA XAVANTINA,
2006, p. 38). 8 A “reputação assustadora” dos índios xavantes para defender seu território foi usada para justificar o nome Rio
das Mortes palco de sangrentas lutas entre brancos e indígenas (FRANÇA, 2000). 9 Os Xavantes chegaram ao rio Araguaia entre 1820 e 1870 e vieram fugindo de perseguições, maus-tratos e
mortes ocasionados pelos brancos, que os acuavam cada vez mais. Pressionados novamente, eles deixaram a
68
habitantes originais do local (MOCELIN, 2011). Todos os componentes da Expedição são
tidos como os fundadores dessa Vila, inclusive, os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas
Boas.
França (2000) relata que a historiografia de Nova Xavantina apresenta grupos
advindos para iniciar a ocupação como os integrantes da Expedição Roncador Xingu, os
Pioneiros10 e os Gaúchos11 como colonizadores a partir do governo Médici.
Conforme Fernandez (2007), até meados de 1950 o estado de Mato Grosso era
povoado por aproximadamente 50 etnias indígenas com culturas, rituais e línguas distintas
não caracterizando o território como “espaço despovoado” como mencionado por Getúlio
Vargas na época. No caso específico de Nova Xavantina, os índios da etnia xavante
habitavam o território desde 1820.
No livro intitulado “A Marcha para o Oeste”, lançado em 1994 os irmãos Villas Bôas
relatam que a Expedição Roncador-Xingu possuía a atribuição específica de iniciar o contato
com os índios existentes na região. Segundo Oliveira (2010) esse contato foi bastante
sangrento sendo que na década de 1930 foram mortos dois padres salesianos que tentaram
aproximação aos índios xavantes e em 1941 um grupo do Serviço de Proteção ao Índio (SPI)
foi dizimado (o SPI tinha o objetivo de delimitar as áreas indígenas), chefiado pelo
engenheiro Genésio Pimentel Barbosa, também morto no mesmo ano. O contato pacífico
ocorreu somente em 1946, para os índios xavantes foram eles que pacificaram os brancos e
não o contrário.
Após o ano de 1945 a Expedição Roncador-Xingu se transforma na antiga Fundação
Brasil Central, integrada em 1967 à extinta Superintendência do Desenvolvimento do Centro-
Oeste (SUDECO)12, consolidando assim a ocupação do Centro- Oeste (CARPENTIERI,
2008).
aldeia na qual tinham se estabelecido a beira do Araguaia e partiram em direção ao rio das Mortes (OLIVEIRA,
N., 2007). 10 Cabe destacar que esta ocupação pioneira enquanto nucleação urbana ocorreu no território da população
nativa, os índios xavantes. 11 Norberto Schwantes e Orlando Roewer, aproveitando os incentivos governamentais lideraram um grupo de
pequenos agricultores de Tenente Portela (RS) a emigrarem para o Leste mato-grossense em busca de melhores
condições de sobrevivência.Este movimento motiva a vinda de mais grupos de sulistas que fomentam a criação
de cooperativas e estimularam a criação de vários municípios como: Água Boa, Canarana e Querência (vizinhos
à Nova Xavantina) e contribuíram para o desenvolvimento de cidades existentes como Barra do Garças,
Campinápolis e Nova Xavantina (CARPENTIERI, 2008). 12 A SUDECO foi criada em 1967 (Lei Nº 5.365, de 1 dezembro de 1967) com o objetivo de promover o
desenvolvimento econômico do Centro-Oeste e foi extinta em 1990 durante o governo Collor.A regulamentação
para sua recriação ocorreu durante o governo de Dilma mediante o Decreto Nº 7.471, de 4 de maio de 2011
(SUDECO, 2015).
69
A Lei nº 2.059, de 14 de dezembro de 1963, criou o distrito com sede no sítio de
Xavantina, mas com a denominação de Ministro João Alberto, pertencente ao município de
Barra do Garças. Em 03 de dezembro de 1971 é inaugurada a ponte sobre o Rio das Mortes,
representando a integração da Amazônia. Posteriormente, a Lei nº 3.759, de 29 de junho de
1976, criou o distrito de Nova Brasília, com sede na margem esquerda do Rio das Mortes. Em
1977 existiam dois povoados, que na prática eram uma só comunidade separadas pelo rio. A
cidade emancipou-se através da Lei nº. 4.176, de 3 de março de 1980, quando realizou-se a
fusão dos dois povoados, formando-se o município Nova Xavantina.
Atualmente, ainda é possível identificar algumas casas históricas (Figuras 8 e 9)
construídas pelos expedicionários, no Setor Xavantina. Com o tempo sofreram alterações em
suas estruturas e faltam incentivos do governo municipal na restauração/conservação desse
patrimônio histórico. Algumas casas ainda existentes têm sido ocupadas por famílias carentes,
o que gera uma preocupação não somente em relação a segurança dessas famílias abrigadas
no local, mas também na conservação do patrimônio histórico e cultural xavantinense.
Figura 8 - Casa do Coronel Vanique. Nova Xavantina – MT.
Fonte: Do próprio autor (2015).
70
Figura 9 - Casa histórica em Nova Xavantina-MT.
Fonte: Do próprio autor (2015).
A rodovia BR-158 constitui o principal eixo viário estruturador do município e
região(IBGE, 2014). A BR-158 atravessa o Brasil de Norte a Sul, inicia em Altamira, no Pará,
e termina em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, já na fronteira com o Uruguai.
Os seus 3.864 quilômetros de extensão passam pelos estados do Mato Grosso, Goiás, Mato
Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A implantação definitiva da rodovia
aconteceu no fim da década de 1970, mas sua abertura teve início em 1944, dentro do projeto
de interiorização idealizado pelo então presidente Getúlio Vargas (DIÁRIO DE CUIABÁ,
2016).
Outro modal em discussão é a instalação de uma hidrovia no Rio das Mortes que corta
a cidade, proposta oriunda das pressões de grupos políticos que querem viabilizar o
escoamento da produção de grãos na MRG de Canarana e em todo Vale do Araguaia
(APROSOJA, 2015). Isso tem gerado polêmicas no âmbito regional, pelo impasse entre a
conservação ambiental e o estabelecimento da navegabilidade comercial no município, onde
surgem opiniões contrárias e favoráveis a efetivação da hidrovia.
O histórico da colonização de terras nas diversas regiões do Estado de Mato Grosso a
partir de incentivos do governo federal iniciou-se com a referida “Marcha para o Oeste” onde
foram implantados na década de 40 várias colônias no intuito de tirar o foco da reforma
agrária de outras regiões já consolidadas no Brasil e desarticular os movimentos sociais de
luta pela terra. A partir da década de 1970 com a efetiva ocupação do centro-oeste foram
incentivados a criação de projetos de colonização públicos – privados e assentamentos rurais
(GIRARDI, 2015; MORENO, 2007). Muitos desses projetos de colonização e assentamento
acabaram se tornando municípios, como é o caso de Nova Mutum, Sinop, Sorriso, Lucas do
71
Rio Verde, Colíder, Vera, Alta Floresta, Cláudia, Carlinda, Juína, Cotriguaçu e Colniza o que
favoreceu a ampliação do agronegócio e a concentração fundiária, intensificando o processo
de luta pela terra por parte dos movimentos sociais em meados da década de 90 (MORENO,
2005).
Sobre esse período Moreno (1999) relata que:
A terra, que já era alvo de especulação e disputa, passou a ser abertamente
franqueada aos grandes grupos econômicos, através da definição de uma política de
regularização fundiária que privilegiava a implantação dos chamados projetos de
“colonização empresarial” (projetos agropecuários, agroindustriais e minerais) e de
colonização oficial e particular [...] A implantação da colonização foi
estrategicamente concebida para a viabilização desses projetos e para aliviar as
tensões sociais no campo, provocada pela forte concentração de terras em outras
regiões [...] Nas décadas de 70/80, foram implantados em Mato Grosso 268 projetos
de “colonização empresarial”, muitos destes não foram executados. Todos serviram
de pretexto para a privatização de grandes áreas, muitas vezes avançando sobre
territórios indígenas ou áreas ocupadas por antigos posseiros, provocando o aumento
de tensões e violências no campo e o fortalecimento da concentração fundiária no
Estado (MORENO, 1999, p.15)
A partir da mobilização social ocorrida no campo pelos trabalhadores rurais sem terra
em meados da década de 90 e com a criação do PNRA em 1985 foram criados projetos de
assentamentos em regiões do estado de Mato Grosso e também ocorreu a regularização de
algumas terras indígenas. Entretanto, a colonização particular de terras devolutas do estado
serviu apenas para consolidar a estrutura fundiária altamente concentrada (MORENO, 2005).
Neste contexto de disputas foram desapropriados alguns latifúndios no município de
Nova Xavantina e região. Somente em Nova Xavantina entre os anos de 1987 a 2003 ocorreu
a criação de seis (06) assentamentos rurais, contemplando aproximadamente 1000 famílias,
com área total de mais de 60 mil hectares destinados a reforma agrária (Tabela 7).
Tabela 7- Dados gerais do Programa Nacional de Reforma Agrária no município de Nova
Xavantina – MT.
Projeto de Assentamento
(P.A.) Nº de
famílias Área
(hectares) Data de
criação Forma de obtenção
Ilha do Coco 27 2.723 14/08/1987 Desapropriação Mello 29 2.314 14/08/1987 Desapropriação Piau 106 7.511 12/11/1992 Compra e venda Rancho Amigo 119 8.194 01/09/1995 Desapropriação Safra 390 29.319 28/05/1987 Desapropriação Santa Célia 238 9.984 09/09/2003 Desapropriação
Fonte: Dataluta (2014).
72
Após o ano de 2003 não houve outras desapropriações para fins de reforma agrária em
Nova Xavantina apenas a formação de assentamentos de crédito fundiário. Atualmente
existem em Nova Xavantina três assentamentos criados com recursos do crédito Fundiário
(Tabela 8), representando 1070 hectares de terras adquiridos por essas políticas, assentando
105 famílias, um número bastante inferior ao número de famílias e hectares destinados a
reforma agrária nesse município.
Tabela 8 - Dados gerais de assentamentos rurais de crédito fundiário no município de Nova
Xavantina – MT.
Nome do Assentamento Nº de
famílias Área
(hectares) Ano de
criação Forma de obtenção
(Programa)
Banco da Terra 60 570,00 2002 Banco da Terra
Pé da Serra 26 370,00 2009 PNCF
Beira Rio 19 200,00 2009 PNCF
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Segundo Moraes e Sant’Ana (2015) o Assentamento Banco da Terra, localizado no
município de Nova Xavantina foi criado em 2002 pelo programa de crédito fundiário Banco
da Terra , extinto em 2003. Possui uma área total de 570 hectares, com cerca de 60 famílias
distribuídas em lotes de 8,9 hectares cada e duas associações (Deus é Amor e Vale do
Araguaia). Já os Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio, objetos desta pesquisa serão
caracterizados posteriormente.
A estagnação após o ano de 2003 nas desapropriações de terras para fins de reforma
agrária em Nova Xavantina, não significa que no município os conflitos de luta pela terra não
tenham ocorrido, muito pelo contrário, tem surgido outros movimentos sociais, como o
Movimento de Luta pela Terra (MLT) que mantém cerca de 120 famílias acampadas na BR-
158 e outras 50 famílias próximo às margens do córrego Antártico. As famílias pleiteiam as
áreas das Fazendas Nova Viena (18.835 ha) e Andorinha (3500 ha), respectivamente, ambas
situadas no município de Nova Xavantina. Segundo o MLT (2016), o caso específico da
Fazenda Nova Viena (proprietário Eduardo Alves de Moura) baseia-se na Portaria Conjunta
Nº 12, de 21 de maio de 2014 que prevê a desapropriação de áreas com dívidas com a União.
Art. 1º Esta Portaria regula, em caráter complementar ao estabelecido na Portaria
AGU nº 514, de 09 de novembro de 2011, o procedimento de adjudicação de bens
imóveis rurais penhorados em ações judiciais de execução propostas pela União ou
por autarquias e fundações públicas federais, visando a destinação dos imóveis para
fins de reforma agrária [...] Art. 3º O interesse sobre o bem imóvel rural penhorado,
visando a sua destinação para o Programa Nacional de Reforma Agrária, será
73
demonstrado por escrito e de forma fundamentada pelo Superintendente Regional do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, em ofício
encaminhado à Procuradoria responsável pelo processo judicial. Parágrafo único. A
manifestação de interesse será fundamentada através da análise dos dados cadastrais
do imóvel rural constantes do banco de dados do INCRA, complementada por
informações colhidas em vistoria técnica para levantamento preliminar de dados e
informações (BRASIL, 2014, p. 1).
No município de Nova Xavantina há cerca de 1.410 estabelecimentos agropecuários
que ocupam uma área de 428.794 hectares. Ao se considerar cada família assentada uma
unidade de produção, são cerca de 1.060 estabelecimentos agropecuários (75% do total de
estabelecimentos do município), segundo dados do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE. A
população das áreas reformadas representa mais da metade da população residente do
município (INCRA, 2014).
No que concerne à agricultura familiar, a cadeia produtiva do leite é considerada uma
fonte de renda muito importante para as famílias, movimenta a economia local e garante a
renda de diversas famílias. Desde 2014 o município faz parte do Programa de
Desenvolvimento Rural Sustentável – DRS por intermédio do Banco do Brasil, Secretaria da
Agricultura, Associações e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Empaer e agricultores do
município. Segundo Batalha (2012) esse programa tem por objetivo contribuir para o
Desenvolvimento Territorial Sustentável, através da estruturação de cadeias produtivas de alto
impacto social, facilitando o acesso a tecnologias sociais e comercialização para o
desenvolvimento produtivo.
Em depoimento, o atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e o ex-
Secretário Municipal da Agricultura mencionam a importância dos assentamentos rurais para
manutenção da atividade agropecuária, principalmente a produção leiteira no município.
Pra mim o principal fator que proporciona o desenvolvimento rural é a formação de
assentamentos e o incentivo a produção leiteira por meio do DRS (70% dos
assentamentos rurais daqui fazem parte). Além da mandioca, o leite é que mantém as
famílias trabalhando nos lotes e mesmo que a inadimplência quanto ao Pronaf seja
grande isso não afeta o DRS para o município. Então é uma forma de garantir a
renda dentro dos assentamentos. (M.F.P, PRESIDENTE DO SINDICATO DE
TRABALHADORES RURAIS - NX, GESTÃO 2012-2016)
A produção agropecuária é um importante vetor de desenvolvimento, sem ela o
município não gira a economia. Basicamente como temos ela como principal
atividade no município as políticas voltadas para esse setor são necessárias para o
desenvolvimento municipal. Os assentamentos rurais são fundamentais para
impulsionar a atividade agropecuária, principalmente a atividade leiteira, que tem na
agricultura familiar do município seu principal abastecimento (B. B. F., EX-
SECRETÁRIO DA AGRICULTURA- NX).
74
3.2 Caracterização dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio
Os Assentamentos Pé da Serra (Figura 10) e Beira Rio (Figura 11) objetos da
pesquisa, localizam-se no município de Nova Xavantina, criados em agosto de 2009, com
recursos do Programa Nacional de Crédito Fundiário, a partir da articulação de 45 famílias
ligadas a Associação Beira Rio e apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do mesmo
município.
Figura 10. Croqui do Assentamento Pé da Serra. Nova Xavantina, MT.
Fonte: Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Xavantina – MT (2015).
75
Figura 11 - Croqui do Assentamento Beira Rio. Nova Xavantina - MT.
Fonte: Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Xavantina – MT (2015).
As fazendas Beira Rio (área total de 200 hectares) e Pé da Serra (área total de 370 ha)
foram adquiridas por meio do PNCF, dando origem posteriormente aos dois assentamentos.
No Beira Rio foram instaladas 19 famílias e no Pé da Serra um total de 26 famílias, sendo que
possuem em comum a Associação Beira Rio, com sede localizada na área comunitária dos
dois Assentamentos.
76
A fazenda Pé da Serra possuía originalmente uma área total de 620 hectares, 17,50
hectares de APP e 129,50 hectares de área de reserva Legal, mas da área total apenas 370
hectares foram destinados à venda pelo antigo proprietário. Já a fazenda Beira Rio foi
adquirida integralmente pelo Programa, tendo como divisas o Rio das Mortes e o Córrego
Voadeira, possui cerca de 70 hectares de área de reserva legal e 18,60 ha de APP.
A localização estratégica dessas áreas tinha como aspecto principal o potencial para
desenvolver o ecoturismo, em função da prainha que se forma na sede da Fazenda Pé da Serra
(atual sede da Associação Beira Rio) em períodos de estiagem. Além disso, a colonização
permite o investimento em atividades turísticas, além da associação, em que os próprios lotes
servem como base para o desenvolvimento dessa atividade dentro dos assentamentos
mencionados.
A aquisição da área se deu mediante a articulação das famílias com os antigos
proprietários, sendo que as lideranças da Associação Beira Rio entraram em contato com o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais para a efetivação da compra da terra. Após a aprovação
do CMDRS e encaminhamento de toda documentação à SEDRAF, foi autorizado o
financiamento e a entrada das famílias na área em agosto de 2009. Conforme verifica-se no
depoimento a seguir do Presidente da Associação:
Primeiramente entramos em contato com o Sindicato. Tinha mais pessoas
interessadas no Programa, que também queriam acessar a terra, alguns eram
acampados, outros já viviam da atividade agropecuária, e tinha gente também que
sempre teve o sonho de ter uma terrinha. Montamos a Associação e cada família
organizou a documentação necessária para passar pela SEDRAF. O Sindicato
organizou os papeis e fomos visitar a área com algumas famílias, tivemos muita
ajuda do prefeito, se não a área não ia sair e os fazendeiros tinham interesse de
vender a área. Alugamos um caminhão pra poder levar mais gente. Decidido a área,
foi feito o projeto para as famílias interessadas. Isso passou pelo Conselho e depois
foi encaminhado pelo sindicato todas as documentações necessárias, quando liberou
a verba na conta pudemos fazer a compra da área e do restante pra montar a casa,
cerca e outras coisas e estamos aqui a sete anos já (J.P., 60 ANOS, PRESIDENTE
DA ASSOCIAÇÃO BEIRA RIO)
O tamanho dos lotes no Pé da Serra é de aproximadamente 14,5 hectares e no Beira
Rio 10,5 hectares incluindo as áreas preservação permanente e reserva legal, destinadas
individualmente para cada beneficiário.A critério do PNCF cada família financiou
individualmente a terra, com o valor de crédito disponibilizado de R$ 40 mil, incluso o
crédito para moradia, cerca, rede elétrica (Programa Luz para Todos) e estradas pela linha de
Combate a Pobreza Rural (CPR), sendo o valor financiado em 20 anos, contando os três anos
de carência, com parcelas anuais no valor de R$2.650,00. Conforme consta no Manual
Operacional da CPR:
77
Para a aquisição do imóvel o limite de crédito a ser financiado é de até R$ 40.000,00
(quarenta mil reais) por beneficiário, podendo abranger até 100% (cem por cento) do
valor dos itens objeto do financiamento, desde que demonstre a viabilidade técnica e
econômico-financeira da atividade rural a ser explorada no imóvel rural pretendido,
conforme previsto na Resolução CMN n.º 3.231, de 31 de agosto de 2004, do
Conselho Monetário Nacional (BRASIL, 2009, p.23).
A garantia no caso do financiamento individual é o valor da parcela que deverá ser
pago pelo beneficiário. “No caso de financiamento de aquisição do imóvel, contratados de
forma individual, ou seja, por pessoa física, a garantia do financiamento ficará apenas sobre a
parcela do imóvel adquirida que cabe ao beneficiário individualmente” (BRASIL, 2009,
p.24).
Deve – se inicialmente reconhecer que os agricultores tem um capital investido na
aquisição da terra, mas não há ainda um capital de giro próprio suficiente que permita
visualizar o retorno do investimento, que no caso da terra é a longo prazo. Segundo Souza, A.
(2003) o investimento constitui a troca de algo certo (recursos econômicos) por algo incerto
(fluxos de caixas a serem gerados pela aplicação do capital), é o comprometimento de
dinheiro ou outros recursos na expectativa de colher benefícios no futuro, assim para
quantificar o tempo para que o valor de investimento seja recuperado exige uma análise mais
apurada do empreendimento.
3.3 Caracterização dos agricultores familiares dos dois assentamentos pesquisados
As famílias do assentamento Pé da Serra e Beira Rio são todas de origem rural e
possuíam experiência anterior na atividade agrícola, que é um dos critérios exigidos pelo
PNCF (mínimo de 5 anos de experiência com a agricultura).
Ao se analisar o tempo de trabalho na agricultura (Tabela 9), verifica-se que nos
assentamentos Pé da Serra e Beira Rio a maior parte dos entrevistados possui experiência em
termos de desempenho das atividades agrícolas na faixa entre 11 a 20 anos. Entre os titulares
dos lotes (38,5% Pé da Serra e 47,1% do Beira Rio) declararam que trabalham há pelo menos
11 anos como agricultor.
78
Tabela9 -Tempo de trabalho na condição de agricultor.
Tempo (anos) % de agricultores
Pé da Serra
% de agricultores
Beira Rio
05 a 10 19,2 17,6
11 a 20 38,5 47,1
21 a 30 26,9 29,4
Acima de 30 15,4 5,9
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Outros 42,3% dos produtores do Pé de Serra e 35,3% do Beira Rio possuem mais de
20 anos de experiência na atividade agropecuária. Como esta pesquisa foi realizada em 2015,
na época de criação do assentamento estes produtores tinham, no mínimo, 14 anos de lida
nessa atividade.Foram observados, também, dois casos no Assentamento Pé da Serra em que
os agricultores, embora tenham nascido no campo, exerceram, durante certo período,
profissões alheias ao meio agrícola e que posteriormente retomaram a condição de agricultor.
A trajetória das famílias de modo geral se revelou marcada pela migração, pelo
assalariamento, seja ele rural ou urbano, mas quase todos viveram situações muito parecidas
com o modo de vida das famílias do campo, principalmente em suas origens, onde nasceram e
foram criados como agricultores em terras de terceiros.
Sempre morei na roça, trabalhava com meu pai desde cedo, depois casei e fui pra
cidade, mas tinha casa na cidade e trabalhava na fazenda pros outros.(M.S., 58
ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Sempre trabalhei de empregado na roça, desde sempre fui criado assim. (H.O.L., 60
ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Trabalhei muito na roça, a vida era muito dura naquele tempo... depois fiquei um
tempo na cidade como motorista e voltei pro sítio. (M.R., 53 ANOS, ASSENTADO
PÉ DA SERRA)
Existe, entre os assentados de maneira geral, um passado na terra, vivido por eles
mesmo e também por seus antepassados. O processo de modernização do campo foi o mote
da desterritorialização de muitos, perdendo-se sua condição de agricultor familiar,
principalmente ao longo das décadas de 1970 e 1980, para serem assalariados rurais e/ou
urbanos (ABRAMOVAY, 2005), vivências nas quais seu conhecimento agrícola foi relegado.
Para Duval, Ferrante e Valencio (2008), referindo-se aos assentados da região de Araraquara
(SP), a precarização do trabalho daí imposta engendrou um processo de empobrecimento que
repercutiu no tipo e regularidade de acesso a alimentos, gerando uma memória de privação
79
dos meios de produção e exercício de habilidades correspondentes que reflete nas condições
físicas do sujeito e sua família.
A fim de se caracterizar as famílias pesquisadas foram levantados dados sobre o
número de pessoas que residem na área, como também, o número de pessoas pertencentes à
família que trabalham nos lotes. Além disso, a análise da composição e estrutura familiar
(número de filhos, faixa etária dos membros da família e gênero) também contribuiu para
compreensão das estratégias de permanência desses agricultores no meio rural.
Verificou-se que o número de assentados por lote varia de uma (1) a quatro (4)
pessoas, em ambos assentamentos, sendo a maioria das famílias constituídas apenas pelo
marido e a esposa. Cinco das famílias do Pé da Serra tinham filhos que moravam com eles no
Assentamento e todos ainda eram menores de idade, essas famílias também são as que
apresentam membros com menor faixa etária, o que explica o fato da família ter um número
maior de constituintes. Em outras famílias, que tinham filhos maiores de idade,geralmente
estes não moravam no Assentamento, tinham saído em busca de melhores oportunidades na
cidade. Este fato revela uma tendência de queda do número de filhos na agricultura familiar.
Já no Assentamento Beira Rio apenas em duas famílias os filhos moravam junto aos titulares
dos lotes, e também eram menores de idade.
Resultados semelhantes foram encontrados em outras pesquisas realizadas em
assentamentos rurais (SPANEVELLO et al., 2011).Atualmente, devido às maiores facilidades
de acesso à escola e a maior valorização atribuída à educação formal, há uma maior
preocupação dos pais no sentido de garantir o estudo dos filhos, sendo este também um dos
fatores dos filhos deixarem a propriedade (MENEZES, 2003).
Quanto à faixa etária dos titulares e cônjuges que trabalham nos lotes pesquisados,
nota-se, pela Figura 12, que 88,4% dos entrevistados possuem entre 33 e 62 anos
(Assentamento Pé da Serra), concentrando a metade (50%) na faixa etária entre 53 a 62 anos e
outros 11,5% apresentam idade superior a 62 anos. No Assentamento Beira Rio, a realidade é
semelhante, com 88,2% com faixa etária inferior a 62 anos, entretanto, a maior parte é um
pouco mais jovem, com 47,1% dos titulares e cônjuges se encontrando na faixa etária de 43 a
52 anos.
80
Figura 12 - Faixa etária dos titulares e cônjuges dos lotes pesquisados.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Ao comparar os dois assentamentos pesquisados, a maioria dos assentados encontra-se
em faixa etária compatível com as exigências do trabalho que é exercido no estabelecimento,
demonstrando que o PNCF tem permitido o acesso à terra mais cedo para muitas
famílias,entretanto os dados também revelam que há também um encontro tardio do agricultor
com a terra, o que traz reflexos diretos na permanência das famílias na área e em
consequência nas ações dessa política.Coelho (2014, p. 237) menciona que entre as diversas
experiências de luta pela terra é preciso refletir no “quanto homens e mulheres são privados
da terra de trabalho, ou que teriam a oportunidade de conquistar seu pedaço de chão mesmo
que tardiamente”.
Fernández e Ferreira (2004) pesquisando assentamentos rurais do Estado de Mato
Grosso localizados nos municípios de Campo Verde (P.A. João Ponce), Confresa (P.A.
Confresa), Cáceres (P.A. Tupã), Tapurah (P.A. Eldorado I) e Colíder (P.A. Novo México)
verificaram que a média de idade dos titulares dos lotes era superior à média de idade da
população rural do estado de Mato Grosso, considerando apenas as pessoas com mais de 20
anos de idade. Segundo esses autores, a população rural do estado com idade que variava de
20 a 40 anos, correspondia a 57,7% das pessoas com mais de 20 anos de idade. Para os
titulares dos lotes, as pessoas com menos de 40 anos correspondiam a 37,5%, já os indivíduos
com mais de 40 anos, que correspondiam a 42,3% da população rural com mais de 20 anos,
representavam 62,5% dos titulares dos lotes.
0
10
20
30
40
50
60
33 a 42 anos 43 a 52 anos 53 a 62 anos Acima de 62
anos
% d
e fa
míl
ias
Faixa etária dos titulares e cônjuges
Pé da Serra
Beira Rio
81
O trabalho na propriedade é desenvolvido principalmente pelos membros da família e
alguns casos (quatro lotes no Pé da Serra e dois no Beira Rio) são utilizados mão-de-obra de
terceiros (diaristas) para auxílio nas atividades desenvolvidas nos lotes. Nenhum dos
pesquisados declarou utilizar mão-de-obra permanente. Em depoimento um dos entrevistados
mencionou a dificuldade de obtenção de mão-de-obra para manutenção/expansão das
atividades no lote:
Aqui falta mão de obra, eu e minha esposa não conseguimos dar conta de todo o
serviço que tem, e não acha quem está disposto a vir pra cá pra fazer o que tem que
ser feito. Antigamente trabalhava na roça e parava só pra almoçar, agora com esse
calor, não tá fácil de aguentar a lida na roça (I.M, 65 ANOS, ASSENTADO DO PÉ
DA SERRA).
Além da dificuldade de encontrar mão de obra disponível para o trabalho na
agricultura, o valor das diárias resulta em um custo maior do que as condições de pagamento
da maioria das famílias (já que 37% produzem principalmente para autoconsumo, gerando
pouco excedente para comercialização).
A Tabela 10, mostra o número de pessoas pertencentes a família que trabalham nos
lotes. No Assentamento Pé da Serra em 65,4% dos lotes pesquisados duas pessoas estão
envolvidas nos trabalhos realizados e no Assentamento Beira Rio são 70,6%. Geralmente
ficam envolvidos nas atividades o casal ou pai/filho.
Tabela 10 - Número de pessoas pertencentes a família que trabalha no lote.
Nº de pessoas Pé da Serra (% Lotes) Beira Rio (% Lotes)
01 15,4 17,6
02 65,4 70,6
03 11,5 5,9
04 7,7 5,9
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Em relação às atividades desenvolvidas dentro dos lotes foi verificado que 90% das
propriedades pesquisadas tinham a figura masculina como principal e mesmo nos
estabelecimentos que as mulheres desenvolvem atividades de maneira igual aos homens, em
alguns casos, as próprias mulheres não reconhecem a sua importância. No meio em que vivem
o exercício de tais atividades pelas mulheres não é reconhecido como trabalho, sendo
considerado como auxílio/ajuda ao marido.
Apesar de todas as mudanças que aconteceram dentro das leis, à realidade dos
assentamentos ainda mostra que a atividade agrícola é mais voltada para os homens, e que as
82
mulheres muitas vezes são reconhecidas apenas como ajudantes, embora muitas vezes
exercem as mesmas atividades, além da dupla jornada de trabalho, aliando o trabalho
doméstico ao agrícola. Os homens totalizam 85,6%, enquanto que as mulheres continuam
sendo apenas exceção (BERGAMASCO, 1994).
Segundo Schmitz e Santos (2013) o trabalho das mulheres na agricultura em geral,
embora realizem dupla ou tripla jornada (atividades domésticas, agrícolas e não- agrícolas) a
maioria não recebe nada pelo que faz e muitas vezes seu trabalho é reconhecido como ajuda.
“[...] O homem é considerado o chefe da família e é ele quem tem poder para tomar as
decisões referentes à unidade de produção, tanto em relação à administração, quanto ao
gerenciamento do dinheiro” (SCHMITZ; SANTOS, 2013, p. 350).
Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar – PNAD revelam, para o ano
de 2012 que as mulheres representam 9,8% da população ocupada nas atividades agrícolas.
Desse total, 72,6 % estão classificadas como trabalhadoras não remuneradas ou como
trabalhadoras na produção para o próprio consumo. Apenas 6% possuíam carteira assinada,
15% são autônomas e menos de 1% declararam ser empregadora. Dentre homens e mulheres
envolvidos em atividades agrícolas, 61,5% das mulheres não recebem nenhum tipo de
compensação financeira pelo seu trabalho (IBGE, 2012).
Quanto ao nível de escolaridade dos assentados do Pé da Serra e Beira Rio, observou-
se que 92,4% e 94,1%, respectivamente, não ultrapassaram o ensino fundamental, sendo que a
maior parte estudou no máximo até a 4ª Série (atual 5º ano)do Ensino Fundamental. Apenas
7,7% do Pé da Serra e 5,9% do Beira Rio declararam ter frequentado o ensino médio.
Considerando-se os dois assentamentos há um grande percentual de assentados que não
frequentou a escola (são analfabetos ou aprenderam informalmente noções básicas de leitura e
escrita) (Figura 13).
83
Figura 13 -Escolaridade dos moradores dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
Em pesquisa realizada por Bertolini et al. (2008) em Guaraniaçu – PR em relação a
escolaridade dos agricultores familiares pode-se verificar que do total de participantes 52,38%
não concluíram o ensino fundamental e apenas, 15,38% concluíram o ensino médio,
demonstrando o baixo grau de escolaridade dos agricultores. Entretanto em estudo realizado
por Souza-Esquerdo, Bergamasco e Oliveira (2013) revelam que em uma análise temporal
constatou-se que a escolaridade dos agricultores assentados vem aumentando ao longo dos
anos em todo território nacional e o acesso à escolarização dos filhos está entre as primeiras
demandas das famílias ao serem assentadas.
De acordo com Bergamasco, Souza e Chaves (2005), numa pesquisa sobre o grau de
escolaridade, realizada nos assentamentos do estado de São Paulo, o nível de escolaridade dos
responsáveis é maior do que a de seus antecedentes. Deve-se reconhecer que a situação
educacional nesses novos espaços é melhor que a média da população rural, em que a
incidência de analfabetismo é superior e a escolaridade alcançada menor (DI PIERRO, 2006).
Em relação aos filhos dos agricultores nenhum dentre os familiares que moram nos
lotes, está incluso entre aqueles que nunca chegaram a frequentar a escola, neste caso muitos
já se encontram no mesmo nível de escolaridade dos pais, outros já ultrapassaram este nível.A
inexistência de escolas e de oferta de ensino nos assentamentos ou no seu entorno levam
obrigatoriamente os jovens a se deslocarem para os centros urbanos, percorrendo de 5 a até 15
km de distância de suas residências, sendo que em épocas de chuvas intensas a dificuldade de
deslocamento dos estudantes aumentam.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Não frequentou 1ª a 4ª série E.F 5ª a 8ª série E.F. 1ª a 3ª série E.M
% d
e lo
tes
Pé da Serra
Beira Rio
84
Resultados semelhantes foram encontrados por Sant’Ana e Costa (2004) investigando
os agricultores familiares de três municípios da mesorregião de São José do Rio Preto – SP,
onde esses autores verificaram que embora o grau de escolaridade dos pais seja muito baixo,
houve uma evolução na escolaridade dos membros da família, quando se compara a
escolaridade entre pais e filhos, a maioria dos pais pesquisados frequentaram até a quarta série
do ensino fundamental e os filhos ensino médio completo.
Oliveira e Andrade (2011) apontam a necessidade da escola dentro do assentamento,
não só como espaço de convivência, mas também um local onde possa viabilizar um projeto
educacional que contemple as especificidades dos sujeitos, a peculiaridade do trabalho
agrícola e os processos culturais enquanto uma matriz escolar.
Em relação à renda monetária recebida pelos agricultores a grande maioria das
famílias situa-se na faixa de até dois salários mínimos. A principal fonte de renda é
proveniente do trabalho externo à propriedade (agrícola e não-agrícola) e de benefícios
governamentais, como aposentadoria/pensões.Devido à necessidade de complementar a renda
familiar, cerca de60% dos assentados pesquisados desenvolvem atividades ou possuem rendas
não agrícolas. Atividades estas que constituem uma importante estratégia de manutenção e
permanência das famílias nos lotes. Em oito famílias pelo menos um dos membros
desenvolve trabalho externo, com ocupações diversas (prestação de serviços de pedreiro,
frentista, diarista, etc.), outro tipo de renda não agrícola citada provém de aposentadorias e
recebimento de aluguel. Cerca de 40 % dos lotes possuíam rendas exclusivamente agrícolas.
Stefanoski et al. (2013) em pesquisa realizada no Assentamento Banco da Terra , em
Nova Xavantina - MT, verificaram que apenas 15,38% das famílias do Assentamento vivem
da renda exclusivamente oriunda de atividades desenvolvidas nas propriedades. A grande
maioria (84,62%) vive com a renda conseguida na propriedade, somada à outra fonte de renda
externa ao Assentamento (pensão, aposentadoria ou trabalho fora).
Fato esse que chama a atenção e já foi também verificado em trabalho realizado por
Nunes et al.(2006) quanto as ocupações não agrícolas de Serra do Mel, no Rio Grande do
Norte. Segundo esses autores a partir do momento em que as atividades não agrícolas se
tornam a principal fonte de renda permanente da família, além de alterar a divisão do trabalho,
redefine-se, também, uma série de relações intrafamiliares de hierarquia como o poder
patriarcal, a divisão sexual do trabalho e a própria sistemática de reprodução do grupo
familiar. Neste sentido, inverte-se o papel que historicamente desempenharam as atividades
não agrícolas em sociedades camponesas: o de ser um rendimento complementar e esporádico
(SCHNEIDER, 1999).
85
Brito (2002) afirma que as fontes de renda das famílias devem permitir que as mesmas
atendam suas necessidades básicas, garantindo assim, as condições mínimas de qualidade de
vida, aumentando assim a satisfação dos trabalhadores e o bem - estar familiar.
Em relação ao tempo de moradia na área,do total de famílias pesquisadas (43)
trabalham e residem na área há cerca de cinco anos, os que residem a menos tempo nas
propriedades, são novos beneficiários do PNCF. No Assentamento Pé da Serra há mais casos
de desistências do que no Assentamento Beira Rio, foram relatados nove casos no Pé da Serra
e quatro no Beira Rio. Segundo depoimento de um dos assentados os motivos da desistência
são principalmente pela inadimplência e problemas de saúde.
Os antigos proprietários desistiram não aguentaram pagar as parcelas, mas tem
outros aqui que estavam muito velhos, com problemas de saúde e não aguentaram
ficar no lote. (M.C.,39 ANOS, ASSENTADO DO BEIRA RIO)
A pessoa acha que é fácil viver da terra...firmou compromisso com o banco e não
aguenta pagar e acaba indo embora. (M. S, 60 ANOS, ASSENTADA DO PÉ DA
SERRA)
A desistência nos lotesé motivada principalmente pela falta de investimentos que
poderiam ter sido adquiridos com a aplicação adequada dos recursos. Houve casos de
moradores não aplicaram corretamente os recursos e acabaram caindo na inadimplência. O
fator relacionado a problemas de saúde é mais comum em lotes cujos titulares possuem idade
avançada para o tipo de trabalho que executam.
Tem bastante desistente aqui, porque não aguentou pagar, mas tem mais casos de
problema de saúde, isso nos mais idosos. É difícil trabalhar sozinho quando não tem
filho pra ajudar no trabalho duro.(V.S. O,56 ANOS, ASSENTADO DO BEIRA
RIO)
Aqui tem muito caso de gente que não paga, às vezes recebeu orientação pra não
pagar que o governo vai perdoar a dívida, só que isso acaba prejudicando a gente, a
associação, se não vai morar, não vai pagar, dá pra quem quer produzir...quer morar
na roça pra não ter sacrifício no trabalho, fica difícil. (M.R.S., 58 ANOS,
ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Tem algumas pessoas que utilizam o acesso a terra para se beneficiar do
financiamento e acabam abandonando o lote (A.J.S., TÉCNICO DA EMPAER-NX)
Conforme regulamento previsto para o PNCF, em caso de desistência ou exclusão de
beneficiário, a associação deverá realizar a sua substituição ou assunção do beneficiário,
sendo submetido o substituto aos mesmos trâmites de análise de elegibilidade dos
participantes do PNCF, devendo-se apresentar proposta que será analisada pela UTE. Esta
86
certa rigidez é considerada necessária para evitar as vendas/trocas de lotes feitas de forma
irregular em alguns casos, principalmente no início.
No começo tinha gente que pegou os recursos, desistiu do lote e vendeu pra outro, a
gente ficava sabendo depois. Só que não adianta porque pra passar o nome pra outra
pessoa, tem que fazer o mesmo processo que a gente fez, daí demora mais pra
adquiri outros créditos e outra, a pessoa fica irregular aqui dentro, sem acessar nada
(J. P., PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BEIRA RIO)
3.4 Caracterização da infraestrutura e das explorações existentes nos lotes
3.4.1 Caracterização da infraestrutura
A caracterização da infraestrutura existente nos lotes se deu a partir das benfeitorias,
máquinas e equipamentos presentes. Verificou-se em ambos os Assentamentos que todas as
casas são de alvenaria, com tamanho padrão de 36 m2. Estas foram feitas com recursos do
Programa por empresa terceirizada do município de Cuiabá,com término das casas no prazo
de quatro meses. Todas as residências possuem energia elétrica, cujo padrão de energia mais
utilizado é o monofásico, atendendo as necessidades das famílias e com a vantagem de ser de
baixo custo de implantação, manutenção e operação. Outras construções presentes nos lotes,
são os currais (presentes em 9 lotes no Pé da Serra e 5 no Beira Rio), depósitos e paióis,
citados por quatro dos entrevistados do Pé da Serra. Todos os lotes possuem cercas que
delimitam suas divisas.
Há um grande déficit de máquinas e equipamentos, o triturador está presente em
apenas três lotes do Assentamento Pé da Serra e em dois no Beira Rio. Apenas um dos
entrevistados possui trator (Assentamento Pé da Serra) e nenhuma das famílias possui
ordenhadeira, equipamento de irrigação ou outros equipamentos que são importantes no
desenvolvimento das atividades produtivas nos lotes. Assim, esses agricultores ficam na
dependência de máquinas alugadas ou disponibilizadas pela Prefeitura, o que é tido como um
entrave na produção, já que nem sempre se pode pagar por tais máquinas e equipamentos.
Souza Filho et al. (2010) analisando a agricultura familiar e o acesso a tecnologia no
Brasil constataram que existe uma correlação entre nível tecnológico e nível de vida dos
produtores. Para esses autores a adoção de tecnologias é uma estratégia de criar oportunidades
diferenciadas aos agricultores, assim a medida que ocorrem os investimentos em tecnologias é
possível produzir mais, melhorando a renda nos estabelecimentos com reflexos diretos na
qualidade de vida dos agricultores.
87
É importante ressaltar que o acesso a tecnologias que exigem menores investimentos
por parte dos agricultores, como por exemplo, uma análise de solo, facilitaria bastante o
aumento da produtividade baseando-se nas necessidades de cada cultura.
Das famílias pesquisadas 70% possuíam algum tipo de veículo de locomoção utilizado
para o lazer e trabalho, sendo estes carros (6 no Pé da Serra e 4 Beira Rio), moto (15 Pé da
Serra e 12 Beira Rio) e bicicleta (3 no Pé da Serra). Algumas famílias (2 no Pé da Serra)não
possuem nenhum tipo de veículo.
O tamanho dos lotes, como já mencionado, é cerca de 14,5 hectares (no Pé da Serra) e
10, 5 ha (no Beira Rio) incluindo as áreas de RL e APP, mas nenhum dos entrevistados soube
dizer a área exata ocupada por reserva e APP, a maioria se referia ao tamanho da parcela
excluindo essas áreas, considerando apenas a área útil em valores aproximado.
A principal fonte de água para consumo familiar é o Rio das Mortes, localizado ao
fundo dos Assentamentos, sendo citado por 65% dos pesquisados. No Beira Rio 15% dos
moradores retiram a água do Córrego Voadeira e 20% do total de famílias utilizam poço
semiartesiano, estas fontes também são a principal fonte de água para os animais. Muitas
famílias se queixam das dificuldades no abastecimento de água nos lotes, uma vez que a
maioria tem que buscar a água no rio ou córrego, em carroças, carrinhos de mão ou em
veículo próprio e a distância percorrida da fonte de água até o lote é longa para muitas delas.
3.4.2 Exploração pecuária e agrícola
Entre as famílias pesquisadas do Assentamento Pé da Serra e Beira Rio a
bovinocultura está presente em quase todas as propriedades, com um número médio de 10 a
12 cabeças por estabelecimento e, na maioria dos casos, é a principal fonte geradora de renda
da propriedade, exceto em duas propriedades de cada assentamento, nas quais a principal
exploração é vegetal (pequi e mandioca). Todas as famílias do Beira Rio revelaram que só
utilizam o leite para o autoconsumo e duas famílias do Assentamento Pé da Serra, além do
autoconsumo realizam também o processo de transformação do mesmo em derivados para
comercialização (queijo e requeijão). Normalmente ocorre a venda de bezerros e dos animais
adultos. Em relação a sazonalidade de produção de leite poucas famílias souberam informar a
média observada no período das águas e seca, com uma média aproximada de 10 litros no
período seco e um pouco mais no período das águas, mas sem mensurar valores. Outras
criações também foram mencionadas pelas famílias de ambos assentamentos com
predominância da avicultura (cerca de 100 cabeças/lote), criação de carneiros em dois
88
estabelecimentos do Pé da Serra (20 a 30 cabeças), porcos (8 lotes do Pé da Serra e 3 do Beira
Rio) e Piscicultura (em três estabelecimentos do Assentamento Beira Rio).
Figura 14. Exploração animal nos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio,
Nova Xavantina (MT).
Fonte: Do próprio autor (2015).
Além disto, os animais representam também uma “reserva” para gastos maiores
quando necessários e, especialmente, nas situações imprevistas. Vários assentados relataram
que vendem uma vaca, por exemplo, quando surge uma emergência ou precisam fazer um
investimento no lote. Em alguns casos, essa reserva serve também para garantia de pagamento
do financiamento da terra.
Eu quando a coisa aperta e preciso fazer um investimento aqui no lote, vendo um
porco, galinha, vaca pra garantir isso. Mas também pra garantir o pagamento da terra
tenho as vacas que trazem um bom retorno. (D.M., 60 ANOS, ASSENTADA DO
PÉ DA SERRA)
Esse ano tenho umas vacas gordas pra vender, vai me garantir pagar o banco.
(V.S.O., 56 ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Em relação à exploração vegetal, há uma grande diversidade de culturas, com média 4
a 5 culturas diferentes.Este dado confirma a diversidade típica da exploração agropecuária da
agricultura familiar, que no caso desses assentamentos pode ser explicada pela experiência
anterior dessas famílias e pela obtenção de crédito via Pronaf, cujo financiamento contemplou
a pecuária e as explorações agrícolas.
Dentre as principais culturas desenvolvidas nas propriedades, a mandioca é a mais
cultivada, presente em 38 estabelecimentos, sendo 23 do Assentamento Pé da Serra e 15 do
89
Beira Rio, sendo utilizada principalmente para produção de farinha (Figura 15) e alimentação
animal. Esta tem sido uma das culturas de maior importância nesses assentamentos, sendo a
maior responsável pela geração de renda e manutenção das famílias. Há um caso no
Assentamento Beira Rio em que o agricultor já está cadastrado para fornecimento da
mandioca e farinha para Merenda Escolar, via Programa Nacional de Alimentação Escolar –
PNAE.
Figura 15. Produção de farinha de mandioca nos assentamentos Pé da
Serra(Fotos A e B) e Beira Rio (Fotos C e D).
Fonte: Do próprio autor (2015).
Segundo dados da Secretaria da Agricultura (2015), a produção deste derivado da
mandioca responde por 85% do que é produzido neste tipo de cultura do Estado, destinando-
se à alimentação humana e constitui-se na base da economia dos agricultores familiares de
muitas regiões. Ainda que haja uma intensificação da exploração da soja, a cultura da
mandioca persiste por ser responsável pela ocupação da maior parcela da força de trabalho
das famílias rurais, além de ser a base alimentar dessas famílias e seus animais.
90
Em seguida as culturas mais citadas foram o milho e a cana. O milho verde é utilizado
para comercialização em feiras e supermercados, e em alguns casos para suplementação
animal (seco). Já a cana é a principal fonte de suplementação do rebanho bovino durante o
período seco. O feijão também é semeado, mas ocupa pequenas áreas, utilizado somente para
autoconsumo. Áreas destinadas às pastagens estão presentes em todas as propriedades
pesquisadas e a área média corresponde a cerca 10 hectares. Entre as áreas de pastagens, há
apenas dois tipos de espécies forrageiras, a mais citada refere-se a Urochloa spp., presente na
maioria dos estabelecimentos, e o Estylosanthes sp. cultivado em apenas um dos
estabelecimentos pesquisados, no Asssentamento Pé da Serra (neste caso específico em
consórcio com a Urochloa decumbens).
As frutíferas (manga, coco, limão, laranja e banana) foram mencionadas em 10
estabelecimentos, sendo cinco em cada assentamento, ocupando pequenas áreas, destinados
principalmente para o autoconsumo. Um dos produtores do Pé da Serra destina a produção de
banana para comercialização na feira do município. O pequi está presente em quatro lotes do
Assentamento Beira Rio, sendo destinado para comercialização do fruto in natura e também
em conservas.
O cultivo de hortaliças (Figura 16) é encontrado em todos os estabelecimentos
pesquisados, em pequenas áreas, destinado apenas para o autoconsumo. O que é uma
importante fonte de alimento para as famílias, envolvendo aspectos relacionados a qualidade
de vida e segurança alimentar, sendo necessário pouco espaço e quantidade de insumos, baixo
nível de investimento, além de não exigir maiores conhecimentos técnicos para o
desenvolvimento dessa atividade, sustentado basicamente pelos conhecimentos tradicionais
dos agricultores.
91
Figura 16 - Cultivo de hortaliças em lotes do Assentamento Pé da Serra.
Fonte: Do próprio autor (2015).
Um dos agricultores mencionou as dificuldades em relação à comercialização em
função da falta de mão de obra, o que limita o aumento da produção. Neste caso específico,
para o aumento das áreas produtivas é necessário mão de obra disponível para garantir a
manutenção das culturas implantadas, refletindo diretamente nos aspectos relacionados à
produção/colheita e quantidade do produto a ser comercializada. Outros fatores relacionados à
falta de transporte, além das barreiras para comercialização de produtos de origem animal
também foram mencionados.
Eu aqui não encontro mão-de-obra, consegui um crédito para montar uma farinheira,
mas aqui não consegue mão-de-obra, se montar aqui ninguém quer vir trabalhar... aí
fica difícil de aumentar a produção...o povo não quer trabalhar...queria criar porcos
pra vender, mas a vigilância barrou, porque aqui no município ainda não tem o SIM
- Selo de Inspeção Municipal. (I.M, 54 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Nós tínhamos que ir junto à vigilância sanitária cobrar, cobrar o SIM para que as
pessoas possam comercializar. Tem muita gente que poderia produzir o leite, o
queijo, o frango caipira, mas se chegar na cidade pode ser barrado. (A.C.,43 ANOS,
ASSENTADO BEIRA RIO)
Em relação ao preparo do solo para a implantação das culturas existentes nos lotes, a
aração foi realizada em 34 dos lotes pesquisados e gradagem em apenas 11. Quanto à
utilização de adubos e fertilizantes químicos sintéticos nas culturas mencionadas, de uma
forma geral (65%) os agricultores declararam que utilizam em pelo menos uma das culturas
existentes no lote, dentre essas a mais citada foi o milho (10 produtores). Também foi
pesquisada a utilização de agrotóxicos nas culturas e constatou-se que os agricultores quase
92
não utilizam agrotóxicos, indicando uma consciência ecológica que poderia servir de base
para processos de transição agroecológica, se apoiada por ações de ATER. Esta consciência
entre os agricultores familiares do Assentamento Pé da Serra e Beira Rioé de extrema
importância ao desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável, que pode ser uma
alternativa viável às famílias de modo a proporcionar melhorias na qualidade de vida da
comunidade. Para Carmo (1998) a produção familiar, dada as suas características de
diversificação/integração de atividades vegetais e animais, e por trabalhar em menores
escalas, pode representar o lócus ideal ao desenvolvimento de uma agricultura
ambientalmente sustentável. É fundamental, porém, que seja alvo de uma política estruturada
e implantada para este fim.
3.5 Acesso ao crédito, assistência técnica e outras políticas públicas
Além do acesso ao crédito fundiário para aquisição da terra, todas as famílias
obtiveram recursos do Pronaf Investimento no valor de R$ 20.000,00 (em três parcelas),
sendo que deste valor total R$1500,00 foi destinado à assistência técnica.As queixas das
famílias quanto à elaboração/contratação dos Projetos referem-se à afirmação de que houve
imposição do que seria produzido, sem considerar as especificidades das famílias.
Segundo depoimento dos moradores:
Aqui foram 13 famílias que pegaram Pronaf para a pupunha, ninguém nunca mexeu
com isso, o técnico disse que era bom, as mudas não vingaram, não tinha irrigação e
nem fez análise da terra. A gente perdeu nosso investimento. (A.D, 39 ANOS,
ASSENTADO DO BEIRA RIO)
O meu Pronaf foi pra seringa [cultura da seringueira], mas as mudas vieram doentes
e perdi tudo. (M.S., 60 ANOS, ASSENTADA DO PÉ DA SERRA)
O acesso ao Pronaf nas condições mencionadas constituiu-se em mais um grave fator
limitante, pelo grau de endividamento que pode gerar, além da dependência do mesmo para
alavancar os processos produtivos nos lotes, que em situações como esta pouco auxilia o
produtor.
Para o técnico da Empaer que acompanhou o processo inicial de formação desses
assentamentos, como membro do CMDRS, a aquisição/destinação do Pronaf da forma que foi
realizada, favoreceu o aumento da inadimplência.
Foi feito um projeto em cima da pupunha e se tem um ou dois pés de pupunha ainda
é muito... realizar um financiamento do Pronaf, onde as famílias não têm experiência
93
com a cultura é dinheiro perdido, só leva ao aumento da inadimplência, porque se o
intuito é alavancar a produção inicial, ocorreu exatamente o contrário para muitas
famílias e o que ficou foi a dívida pra pagar. (A. J. S. TÉCNICO DA EMPAER-
NX)
Em pesquisa realizada por Bonato et al. (2011), em que analisa assentamentos do
PNCF, o autor afirma que é comum a desconsideração, na elaboração da proposta, não apenas
do conjunto de aptidões, trajetória anterior, experiência e interesses dos associados, mas
inclusive das características físicas e ambientais da região e das potencialidades do mercado
local para aquela proposta produtiva. Muitas vezes, as escolhas das linhas produtivas e a
indicação de parcerias ocorrem segundo os interesses pessoais do técnico.
A escolha do técnico de assistência técnica para os dois Assentamentos foi feita por
meio da indicação do Sindicato que acompanhou a organização do grupo. Conforme Galindo
et al. (2015) majoritariamente esses profissionais pertencem a empresas privadas de
assistência técnica cadastradas nas UTEs, sem esse cadastro não é possível prestar esse tipo de
serviço às áreas de assentamento do crédito fundiário.
Embora as famílias tenham pago pelo serviço de assistência técnica, a grande maioria
das famílias (14 do Beira Rio e 24 do Pé da Serra) revelou que esse serviço não é realizado e
que raras vezes o engenheiro agrônomo responsável apareceu no assentamento. Quando
questionados em relação à qualidade da assistência técnica, quatro (três do Beira Rio e um do
Pé da Serra) dos entrevistados qualificaram como boa, enquanto 38 (14 do Beira Rio e 24 do
Pé da Serra) consideraram ruim e apenas um do Assentamento Pé da Serra disse que a
qualidade da assistência técnica é ótima.
De acordo com as normas de funcionamento do Programa, cada técnico contratado é
remunerado em 8% do valor do SIC (Subprojeto de Infraestrutura Comunitário13), para um
prazo de 18 meses de trabalho, e, para projetos do Pronaf A, a remuneração é de R$ 1.500 por
família, por um prazo de quatro anos.
Para Bonato et al. (2011) essa normativa acaba criando uma lógica semelhante entre
empresas, cooperativas e ONGs que passam a mobilizar esforços institucionais para atender
ao maior número possível de famílias, pois assim receberão mais recursos financeiros.
Contudo, essa ampliação do número de assentamentos e de assentados por técnico tem levado,
de um modo geral, à redução da assiduidade, continuidade e qualidade das ações realizadas.
13SIC: projetos de infraestrutura básica e produtiva apresentados pelas associações de trabalhadores rurais
beneficiários do Subprograma de Combate à Pobreza Rural, contendo os respectivos planos de aplicação de
recursos, cronogramas de execução e desembolso das parcelas previstas para liberação(DECRETO Nº 6.672, de
2 de dezenbrode 2008).
94
Esta lógica é confirmada pelo depoimento do técnico responsável pela ATER nos
Assentamentos pesquisados.
No começo estive muito presente, mas a gente sempre esbarra na aptidão das
famílias, e na área que já tinha um histórico de degradação e improdutividade,
obviamente que o compromisso firmado fica mais complicado quando se tem um
número maior de famílias para atender (A.L.B., ENG. AGRÔNOMO
RESPONSÁVEL PELA ATER)
Outro problema mencionado pelo técnico de ATER nesses assentamentos é a
utilização dos recursos “A culpa sempre cai no técnico, mas há muito desvio de recursos por
parte de algumas famílias, além da falta de envolvimento nas atividades”.
Por outro lado, a maioria das famílias relata que a ausência da assistência técnica, tem
dificultado a manutenção dos processos produtivos nos lotes.
Aqui não tem ninguém pra orientar a gente, não tem assistência, o técnico veio uma
vez aqui e depois nunca mais voltou, é difícil conduzir as coisas sem orientação, ou
tentar outra alternativa pra produzir. (D.V.,47 ANOS, ASSENTADO DO BEIRA
RIO)
A gente não tem assistência e passamos muita dificuldade pra continuar produzindo.
(M.S., 60 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Embora o técnico revele a sua presença nos assentamentos (fato esse não confirmado
na presente pesquisa) e as dificuldades na prestação de assistência às famílias, essas alegações
não justificam as falhas encontradas durante todo o processo de definição das atividades
produtivas e na elaboração dos projetos de Pronaf junto aos assentados do Pé da Serra e Beira
Rio. A ausência ou precariedade dos serviços de assistência técnica é apontada por diversos
autores (BERGAMASCO, 2012; MAIA et al., 2012; MORAES et al. (2013); SILVA, 2012;
SILVA et al. 2010), como um dos entraves a reprodução socioeconômica da agricultura
familiar. Resultados semelhantes foram encontrados Lima (2011) em pesquisa sobre o PNCF
na região Sul do país, onde também se constatou poucos casos de assistência técnica no
campo que demonstraram uma ação não integrada e comprometida dos profissionais ligados
às empresas.
Em relação à participação em outras políticas públicas, apenas um dos produtores do
Beira Rio mencionou a realização do cadastro para participação no Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE).
Quando questionados em relação à avaliação das políticas públicas dirigidas aos
Assentamentos, 95% dos entrevistados revelaram que é necessário ampliar/melhorar a
95
qualidade, principalmente em relação ao crédito em relação ao crédito. O acesso as políticas
públicas de crédito de custeio, assistência técnica e comercialização a resposta que prevaleceu
entre as famílias foi inexistente/ não tiveram acesso. Já as políticas públicas voltadas a
habitação, educação e infraestrutura geral foram consideradas suficientes e de boa qualidade
pela maioria dos moradores dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio (Tabela 11).
Tabela 11 - Avaliação das políticas públicas dirigidas aos Assentamentos Pé da Serra e Beira
Rio. Nova Xavantina – MT.
Política pública
Suficiente/boa
qualidade
Ampliar/melhorar a
qualidade
Inexistente/não teve
acesso
Pé da Serra Beira Rio Pé da Serra Beira Rio Pé da Serra Beira Rio
Crédito de investimento 02 02 24 15 ---- ----
Crédito de custeio ---- ---- ---- ---- 26 17
Assistência Técnica 01 03 01 02 24 14
Habitação 25 14 01 03 ---- ----
Comercialização ---- ---- 00 01 26 16
Educação 21 14 05 03 ---- ----
Infraestrutura geral* 23 16 03 01 ---- ----
Fonte: Elaborado pelo autor (2015).
*Nota: Estradas e equipamentos públicos instalados nos assentamentos para produção e lazer.
Para os moradores do Pé da Serra e Beira Rio o acesso à assistência técnica, além da
integração do PNCF com as ações dos programas ligados à Segurança Alimentar e
Nutricional e ao fortalecimento dos mercados institucionais (Programa de Aquisição de
Alimentos - PAA, Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE, etc.) e a outras
políticas públicas (agroindústrias familiares, artesanato, turismo rural, etc.), favorecerão a
gestão participativa e democrática dos beneficiários, configurando-se em um importante elo
entre as mesmas, contribuindo para melhorias na qualidade de vida das famílias.
A integração das ações do PNCF com as demais políticas públicas de apoio e fomento
a agricultura familiar são imprescindíveis para valorização dos agricultores familiares,
enquanto agentes de desenvolvimento. Além disso, há necessidade de se repensar a política de
ATER nos assentamentos de crédito fundiário, no intuito de garantir a contratação de
profissionais competentes e comprometidos com os interesses dos agricultores, com
capacidade na utilização de métodos de trabalho participativos que considerem as
especificidades da agricultura familiar, de forma a facilitar a organização social das famílias e
viabilizar as ações de ATER dentro dos Assentamentos.
96
3.6 O acesso à terra por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário
O acesso a terra remete a sentimentos de pertencimentos diversos, em que as famílias
assentadas no Pé da Serra e Beira Rio encontraram no PNCF uma estratégia para
consolidação de um sonho envolvendo diferentes trajetórias e experiências de vida que se
interligam nas relações cotidianas dentro desses assentamentos com vistas a reprodução social
desses agricultores.
Naquilo que distingue os assentados de outros agricultores familiares, há a história de
destituição da terra e migrações, onde subjaz a experiência de um assalariamento precário no
trabalho sazonal. Entretanto, antes de trabalhadores volantes, outras categorias sociais foram
por eles experimentadas, como, por exemplo, meeiros, colonos ou pequenos proprietários,
categorias que tradicionalmente residem em glebas de terra onde produzem seu próprio
alimento. Naquilo que os aproxima, volta a ser no assentamento o cultivo de determinados
alimentos conforme seus gostos e preferências, que foram culturalmente adquiridos e o
habitus14 de cada família, com o qual ela se vale para manejar o lote agrícola, na
temporalidade própria de um fazer tradicional (DUVAL; FERRANTE; VALENCIO, 2008).
Em relação de como se deu o acesso ao PNCF a maioria dos entrevistados relatou que
soube por amigos/familiares ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova
Xavantina, mas apenas dois entrevistados eram diretamente ligados ao Sindicato e
mobilizaram as famílias para aquisição da área. Durante o processo de adesão ao Programa foi
realizada entrevista com as famílias a fim de atender os critérios do programa por intermédio
do Sindicato, Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar - SEDRAF e
Unidade Técnica Estadual. Após a entrega da documentação, a cada quinze dias eram
realizadas reuniões para as negociações/informações quanto ao andamento da proposta. A
processo foi aprovado pelo CMDRS e encaminhado para SEDRAF e posteriormente ao
Banco do Brasil para liberação do financiamento aos beneficiários. Segundo um dos
entrevistados todo o trâmite demorou cerca de três anos para finalização, até que se deu a
entrada das famílias na área.
Pela pesquisa pode-se verificar que a maioria dos moradores não entende bem o
processo de acesso ao PNCF, houve certa dificuldade nos esclarecimentos quanto aos valores
financiados, a linha do PNCF acessada, as documentações exigidas, além de todo o processo
14 Segundo Bourdieu (1989), o habitus é um sistema de predisposições culturais adquiridos social e
historicamente, podendo se fazer notar, por exemplo, através de práticas ou comportamentos, que são
transponíveis a novas realidades na medida em que os lugares as comportem.
97
de construção do Projeto de financiamento. Embora as lideranças tivessem mais
conhecimento de todo o processo, nem sempre todas as informações ficaram claras para os
beneficiários.
Em depoimento um dos moradores do Assentamento Pé da Serra e outro do Beira Rio
relatam a suas trajetórias para entrada na terra.
Eu fiquei sabendo por meio da minha cunhada que tinha essa terra, fui atrás do
Sindicato e eles me orientou do que tinha que fazer. Arranjei toda a documentação e
tinha as reunião pra conversar e ver o que tinha que fazer pra financiar a terra. Foi
três anos de luta... consegui minha terra só com minha documentação, não precisei
de mais nada, foi uma benção tudo isso aqui. (M. S., 60 ANOS, ASSENTADA DO
PÉ DA SERRA)
Eu não sei como foi dado o andamento do crédito, a gente não tinha muita
informação, sei que era muita burocracia e precisava tá tudo certo com o nome pra
conseguir a terra ... entreguei meus documentos, e tinha as reunião com as famílias
pra ver se ia dar certo, se a proposta ia ser aprovada, depois de alguns anos a gente
conseguiu o crédito.(A.V., 47 ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Percebe-se pelos depoimentos que as famílias não estavam integradas no processo de
aquisição da terra e tão pouco na escolha da empresa que prestaria assistência técnica. Todas
as etapas foram realizadas com as lideranças da Associação, por intermédio do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais e os esclarecimentos às famílias era feito em reuniões específicas.
Ressalta-se que é indispensável que os agricultores tenham o conhecimento de todos os
aspectos relacionados à aquisição da terra até mesmo para manter o compromisso do
pagamento do empréstimo adquirido no banco.
Para Buainain et al. (1999):
A desinformação sobre o programa não se restringe aos associados. [...] Exceto os
Bancos - com regras próprias e relativamente inflexíveis diante das especificidades e
necessidades dos produtores rurais mais pobres - nos demais órgãos governamentais,
apesar do empenho e da boa vontade, é grande o desconhecimento das normas legais
e dos possíveis desdobramentos. Face a algum impasse, os técnicos têm dificuldade
para decidir qual o melhor encaminhamento. Normalmente o conhecimento mais
aprofundado fica sob a responsabilidade de uma só pessoa. O restante apenas
cumpre tarefas. Além do mais, são poucos os que conseguem perceber quem são os
associados e qual o perfil das associações. O contato entre os técnicos e associados é
restrito ao presidente e quando muito, à diretoria (BUAINAIN et al., 1999, p.109)
Consta no Manual de Operações do Programa Nacional de Crédito Fundiário, na
Linha de Financiamento Combate à Pobreza Rural, no item 1.12, a seguinte orientação sobre a
elaboração das propostas de financiamento:
98
A proposta de financiamento não constitui um estudo detalhado de viabilidade
econômica, porém deve fornecer as indicações técnicas necessárias e pertinentes à
avaliação da exequibilidade do projeto, em particular sobre o potencial do imóvel e
sua adequação com os projetos produtivos sugeridos pelos beneficiários e os seus
impactos potenciais (MDA, 2009, p.42).
Nota-se pela pesquisa realizada e em outras investigações feitas sobre o PNCF (LIMA,
2011; GALINDO et al., 2015) que a proposta inicial de financiamento tem se ocupado mais
em reunir a documentação exigida do que em avaliar e planejar de forma adequada as
possibilidades produtivas da área junto às famílias.
Segundo informações do antigo Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais que
articulou juntamente com as famílias a aquisição da área, todo o procedimento deu-se da
seguinte forma.
Primeiramente as famílias interessadas em participar do PNCF procuraram o
Sindicato de Trabalhadores Rurais, que levantou as informações sobre a renda e
patrimônio de cada candidato e disponibilizou um comprovante “atestado a
elegibilidade do candidato”. Em seguida, as famílias requerentes de crédito, através
da Rede de Apoio ao Programa, contratou a Agroplan (empresa especializada
cadastrada na UTE) para solicitar a elaboração da proposta de financiamento. Para
isso, o PNCF prevê uma porcentagem total quando liberado o financiamento para
remunerar este serviço prestado (não foi mencionada a porcentagem recebida).
Quando contratou a empresa a terra a ser adquirida já tinha sido escolhida e
negociada entre os requerentes de crédito e o proprietário da terra. Depois disso a
proposta de financiamento foi encaminhada para aprovação pelo CMDRS, e também
os comprovantes de renda e patrimônio de cada família, que as torna elegível ao
PNCF. Após a aprovação pelo CMDRS, a documentação foi encaminhada para a
UTE, que envia a documentação para a SEDRAF (que agora é CEDRS) e faz a
vistoria do imóvel a ser adquirido. Depois de aprovadas a documentação das
famílias e do imóvel, a Sedraf solicitou a liberação dos recursos para a efetivação da
compra do imóvel por intermédio do Banco do Brasil. (B. B. F., ANTIGO
PRESIDENTE DO SINDICATO DE TRABALHADORES RURAIS DO
MUNICÍPIO DE NOVA XAVANTINA – MT)
Diferente da situação encontrada nesses assentamentos, em estudo realizado por
Bonato et al. (2011) na constituição do Assentamento Coroatá, município de Campo Maior
(PI), os relatos das famílias revelaram que o ex-proprietário procurou as famílias para propor
a venda da terra para o PNCF, o que causou certa desconfiança entre os beneficiários durante
o processo de aquisição da área.
Em entrevista para esta pesquisa, o ex-Secretário Municipal da Agricultura de Nova
Xavantina foi questionado a respeito do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural
Sustentável - CMDRS, responsável dentre outros aspectos pela aprovação dos projetos de
crédito fundiário no âmbito municipal. Segundo informações do mesmo, o Conselho existe,
mas as ações ainda são tímidas e quase inexistentes. Apenas três moradores dos
Assentamentos mencionados têm conhecimento a respeito do CMDRS, estes justamente por
99
serem as lideranças da Associação Beira Rio, e com críticas negativas ao conselho: “Existe só
no papel, ainda não há nada efetivo” (J.P., 66 ANOS, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
BEIRA RIO)
Segundo depoimento do Técnico da Empaer, na época da aquisição das áreas pelas
famílias o Conselho era ativo e criado em 2003 pela lei orgânica municipal, sendo queo
mesmo era representante da instituição no CMDRS: “O Conselho existe desde 2003 e na
época era ativo, quando foi passado o projeto para aquisição da área desses assentamentos eu
fui contra, área improdutiva e muito pequena para a quantidade de famílias”(A. J. S,
TÉCNICO DA EMPAER- NX).
O CMDRS do município de Nova Xavantina foi criado pela Lei municipal nº 1.015 de
12 de maio de 2003, com alterações descritas na Lei municipal n.º 1.739, de 26 de agosto de
2013.Atualmente (2016) o Conselho foi reativado com a nomeação de novos membros através
da Portaria Nº 7432 de 31/03/2016, as reuniões são mensais realizadas na sede do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais. Segundo informações da Prefeitura Municipal, ainda não foi feita a
indicação do nome para o atual Secretário da Agricultura.
Segundo o ex- secretário da agricultura “Na composição do CMDRS há representantes
das entidades governamentais (EMPAER, INDEA, Banco do Brasil, UNEMAT) e não
governamentais (Sindicato Rural e Associações de Agricultores Familiares), sendo
paritário”(B. B. F., EX- SECRETÁRIO DA AGRICULTURA- NX).
Consta no Art. 2º da Lei municipal n.º 1.739/2013 que:
O Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável será composto por
pelo menos 50% (cinquenta por cento) de entidades representantes de agricultores
familiares e preferencialmente por:
a) Prefeitura Municipal;
b) Câmara Municipal de Vereadores;
c) Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município;
d) EMPAER-MT e/ou outra empresa de Assistência Técnica, aprovada pelo
CEDRS;
e) INDEA-MT;
f) Agente Financeiro (Banco do Brasil S.A.);
g) Empresa de Assistência Técnica Privada;
h) Associação Comercial;
i) Sindicato Rural;
j) Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT-NX.
Na portaria publicada, em outubro de 2013, pela Associação Matogrossense dos
municípios (AMM-MT) com a nomeação dos membros do CMDRS segue a seguinte
especificação:
100
1- ENTIDADES GOVERNAMENTAIS E SOCIEDADE CIVIL
ORGANIZADA: a) Prefeitura Municipal de Nova Xavantina; b) Câmara Municipal
de Vereadores; c) EMPAER – NX; d) INDEA – NX; e) Banco do Brasil; f)
Sindicato Rural de Nova Xavantina; g) UNEMAT - Campus de Nova Xavantina; i)
Empresa de Assistência Técnica Privada; h) Câmara de Dirigentes Lojistas. 2 –
REPRESENTANTES DA AGRICULTURA FAMILIAR:a) Sindicato dos
Trabalhadores Rurais; b) Banco da Terra; c) Associação das Mulheres e Associação
dos Produtores do Piau; d) Associação dos Produtores da União da Ilha; e)
Associação dos Produtores da Gleba Rancho Amigo; f) Associação dos Produtores
Rurais do Banco Safra; g) Associação dos Produtores Rurais da Gleba Araés; h)
Associação dos Produtores Rurais da Ilha do Coco; i) Associação dos Chacareiros
de Nova Xavantina (MATO GROSSO, 2013).
Segundo o ex-secretário municipal de Agricultura não foi elaborado o Plano
Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável - PMDRS de fato, portanto o
questionamento acerca das propostas voltadas aos assentamentos segundo as informações
estaria prevista para a nova gestão municipal: “Consta como proposta da gestão atual a
elaboração do plano e o incentivo aos agricultores familiares do município, principalmente os
assentados que contemplam grande parte desse público”.
O PMDRS é um documento de utilidade pública que deve subsidiar e direcionar todas
as políticas públicas e programas de âmbito rural/agropecuário fomentadas pela Prefeitura,
demais órgãos governamentais e outras instituições envolvidas. Foi mencionado por uma das
lideranças que quando foi solicitado o acesso ao plano para verificar as propostas e se as
mesmas contemplam os assentamentos rurais não houve retorno nesse sentido: “Não tivemos
acesso ao plano, quando pedi as propostas para os assentamentos... ninguém falou muita
coisa”. (I.A.,63 ANOS, TESOUREIRO DA ASSOCIAÇÃO BEIRA RIO)
3.7 Qualidade de vida dos agricultores
Os produtores também foram questionados sobre como ficou a vida após o acesso a
terra via PNCF, em relação aos aspectos moradia, saúde, alimentação, educação, lazer, poder
de compra, segurança e perspectivas. A grande maioria das respostas aponta para melhores
condições de vida, merecendo destaque para a moradia, segurança, lazer e poder de compra e
perspectivas futuras, com 100% das respostas como melhor (Figura 17). Em nenhuma das
respostas foi considerado que ocorreu piora nas condições de vida.
101
Figura 17 -Percepção comparativa sobre as condições de vida das famílias pesquisadas após
o acesso à terra via PNCF nos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio, Nova
Xavantina, MT.
Fonte: Do próprio autor (2015).
Para os moradores de ambos os Assentamentos, o aspecto moradia melhorou bastante,
pois todos possuem casa de alvenaria construída com recursos do Programa. Além disso, 15
entrevistados mencionaram a importância de não pagar aluguel.
A minha morada melhorou muito, eu vivia de aluguel na cidade e o que eu ganhava
não dava pra muita coisa ... agora eu pago uma coisa que vai ser minha...minha
terra...com a minha casa. (M.S., 58 ANOS, ASSENTADA DO PÉ DA SERRA)
A construção das casas resultou em importantes alterações na dinâmica e estrutura
desses Assentamentos. As famílias passaram a permanecer nos imóveis adquiridos, a
infraestrutura (principalmente de moradia) melhorou significativamente, a produção agrícola
individual, o que gerou mudanças nas condições de vida das famílias, basicamente em função
dos investimentos oriundos do SIC.
Destaca-se ainda, que é notável a importância do direito à moradia para a consolidação
de todos os outros Direitos Humanos, principalmente, devido à natureza interdependente dos
mesmos. O direito à moradia é uma garantia essencial ao desenvolvimento social dos
102
indivíduos, pois possibilita melhorias na sua condição de vida e, ainda, uma maior liberdade
para se autodeterminar (LIMA, 2012).
Para Silva (2001):
O direito à moradia ‘significa ocupar um lugar como residência (...). No ‘morar’
encontramos a ideia básica de habitualidade, o permanecer ocupando uma
edificação, o que sobressai com sua correlação como o residir e o habitar, com a
mesma conotação de ocupar um lugar permanente. Quer-se que se garanta a todos
um teto onde se abriguem com a família de modo permanente, segundo a própria
etimologia do verbo ‘morar’, do latim morari, que significava ‘demorar’, ‘ficar’. A
casa própria constituiu o meio mais efetivo de efetivação do direito à moradia, cujo
conteúdo envolve não só a faculdade de ocupar uma habitação, mas também a
habitação de dimensões adequadas, em condições de higiene e conforto e que
preservem a intimidade pessoal e a privacidade familiar (...) (SILVA, 2001, p. 15)
Os aspectos relacionados a saúde, segundo os assentados melhoraram principalmente
em função do local em que vivem, uma vez que para eles o meio rural proporciona hábitos
considerados “mais saudáveis” relacionados tanto a alimentação quanto a qualidade de vida,
“ar puro”, “tranquilidade” e o convívio com outros agricultores, diferente da vida na cidade, o
que reflete diretamente na saúde e bem-estar dos indivíduos. Mesmo que esses assentamentos
não disponham de atendimento médico e agente de saúde específico para a comunidade (as
famílias se deslocam até cidade para recebimento desses serviços)e o trabalho na propriedade
possa ser exaustivo, o modo de vida rural proporciona condições que são essenciais à saúde.
Corroborando com Scopinho (2010), que investigando as condições de vida e saúde do
trabalhador em um assentamento rural da região canavieira de Ribeirão Preto – SP concluiu
que o sentido que os trabalhadores rurais atribuem à saúde-doença expressa-se, via de regra,
na contraposição, direta ou indireta, do modo de vida rural com o urbano, em relação à
existência e à qualidade da alimentação e do trabalho e ao caráter das relações sociais e
interpessoais.
Para o aspecto alimentação, os assentados destacaram melhorias quanto a qualidade
dos alimentos produzidos, justamente em função da não utilização de agrotóxicos, aditivos
e/ou outros produtos químicos que normalmente são utilizados para aumento da produtividade
e antecipação da produção. Floriano (2009) realizando uma pesquisa em áreas rurais do
município de Major Vieira com o intuito de identificar às formas e indicativos de qualidade de
vida para os agricultores houve predomínio da resposta alimentação, mencionada por 21
entrevistados, seguida pela saúde, citada por 17 entrevistados.
Scopinho (2010) menciona que a questão da alimentação no meio rural além da
própria qualidade dos alimentos produzidos,tem um custo menor, quando comparado as
103
cidades, onde o alto custo impossibilita o consumo de certos produtos, além da falta de
confiança dos consumidores quanto aos métodos de produção e validade dos produtos
colocados no mercado.
Em relação à educação, os moradores relatam que não houve mudanças, ficando na
mesma condição anterior, porque não há escola nos assentamentos, e as crianças precisam se
deslocar para a cidade. Muitas delas andam quilômetros para pegar o transporte escolar e em
épocas de chuva, fica praticamente intransitável em alguns locais, mas isso não é
impedimento para que os filhos continuem estudando.
Em depoimento um dos moradores do Assentamento Pé da Serra (local onde há mais
dificuldades de tráfego durante o período chuvoso), menciona que em alguns locais as pessoas
chegam a ficar ilhadas, sem ter como passar. Ainda assim, consideram que o acesso a
educação ocorre mais facilmente que na época em que eram jovens.
Aqui no período da chuva fica difícil passar...criança fica sem ir na escola, tem pai
que anda mais de 10 km pra levar o filho no ponto de ônibus mais perto...é
difícil...se tivesse uma escola aqui era mais fácil pra todo mundo...mas a situação
ainda é melhor do que antigamente, hoje meus filhos tem como estudar. (N. M. F.,
47 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
A análise de todas as condições e combinações de características encontradas indicam
que a distância e o acesso podem oferecer limites para a consolidação de assentamentos e para
o estabelecimento de relações organizacionais e institucionais adequadas, como o acesso às
políticas públicas e a outros programas sociais e produtivos, mas não se colocam como
determinantes para seu sucesso ou insucesso.
Resultados semelhantes foram encontrados por Carvalho, L. (2013), em assentamentos
rurais da região de Andradina-SP, onde a dificuldade de transporte, as estradas em péssimas
condições, a necessidade de acordar de madrugada e as chuvas, não foram impedimentos para
que os assentados buscassem as escolas para melhorar sua formação. A autora ressalta, no
entanto, que a luta precisa continuar, visando que sejam implantadas escolas nos
assentamentos, com projetos político-pedagógicos voltados para o homem do campo, que
respeitem e fortaleçam a cultura camponesa e promovam uma formação voltada ao
desenvolvimento rural sustentável.
Os artigos 23 e 28 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) determinam que
sejam realizadas as adaptações curriculares e organizacionais necessárias à adequação do
ensino às condições da vida do campo, incluindo o ajuste do calendário escolar às fases do
104
ciclo agrícola e às condições climáticas, situação essa que não ocorre nos assentamentos
pesquisados (BRASIL, 1996).
Há necessidade de ampliação do direito à educação e à escolarização no campo e “pela
construção de uma escola que não apenas esteja no campo, mas que sendo do campo, seja
uma escola política e pedagogicamente vinculada à história, à cultura e às causas sociais e
humanas dos sujeitos sociais do movimento do campo” (ARROYO; FERNANDES, 1999,
p.40).
Quanto ao lazer todas as famílias colocaram como principal ponto a “prainha” (Figura
18) localizada na área comunitária desses assentamentos. Este é um espaço para reuniões e
principalmente lazer. Durante os finais de semana é possível aproveitar o local, além disso, há
perspectivas de se trabalhar o turismo rural nesses Assentamentos15, no intuito de explorar de
forma sustentável os recursos naturais e gerar renda às famílias. No caso da exploração do
turismo rural, é necessário que todas as famílias estejam de acordo, para que os recursos
oriundos dessa atividade sejam distribuídos entre os moradores, além do fato de que o
planejamento da atividade não restrinja o acesso das famílias à “prainha”.
Figura 18. “Prainha” dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio.
Fonte: Do próprio autor (2015).
15 Os agricultores desses assentamentos consideram que o local tem potencial para o desenvolvimento de
atividades turísticas, a partir dessa demanda, foram iniciados alguns trabalhos no início de 2016 por
pesquisadores da UNEMAT e alunos do Curso de Turismo da referida instituição para verificar as
possibilidades destas atividades, bem como, o potencial turístico dentro desses assentamentos.
105
Martignoni e Corona (2013), com relação a democratização desses espaços de lazer,
apontam que é fundamental o aprofundamento da questão, pois o avanço da racionalidade
econômica moderna, que intensifica a forma de mercadoria do lazer e privatiza os espaços,
permite acesso somente aqueles que tem melhores condições socioeconômicas.
Para Carvalho, L. (2013) o lazer nos assentamentos vai além de um momento de
descontração e de “passa tempo”, sendo também um fator importante para a permanência,
principalmente dos jovens, no campo. A atuação do Estado nesse setor é essencial, à medida
que proporcione infraestrutura para que os assentamentos prosperem e seus integrantes
tenham vontade de permanecer na terra.
Quanto ao poder de compra, depois de assentadas as famílias mencionaram aspectos
como maior acesso a bens duráveis que antes seriam incompatíveis com sua renda, como:
geladeira, máquina de lavar roupas, freezer, televisão, antena parabólica, veículo próprio,
além de um aumento significativo dos que possuem motocicletas e em alguns casos carros.
Segundo Heredia et al. (2001) o volume de crédito que circula em função dos
assentamentos traz também impactos no comércio local e regional, bem como na dinamização
de atividades como a construção civil. Assim, a construção de assentamentos rurais promove
o desenvolvimento local, além da ocupação de mão-de-obra no campo, reduzindo o êxodo
rural.
A presença dos assentamentos provocou, em vários municípios analisados por Leite et
al. (2007), o crescimento da oferta, diversificação e rebaixamento dos preços dos produtos
alimentícios, o que trouxe repercussões especialmente nas feiras livres, com o aumento do
espaço físico e do número de dias de ocorrência das feiras. Esses autores também verificaram
uma importância relativa das vendas nos próprios assentamentos (para outros assentados),
revelando que eles podem, em alguns casos se tornar, consumidores desses produtos,
especialmente onde há maior densidade de famílias instaladas.
Lima (2011) analisou três grupos amostrais (beneficiários, novos beneficiários e não
beneficiários) do Programa Nacional de Crédito Fundiário. Essa autora revela que os dois
grupos que receberam recursos do SIC pelo PNCF, obtiveram aumento na renda familiar,
muito superior aos não beneficiários, atingindo 42,2% no caso dos beneficiários e 32%
quando se compara com novos beneficiários. Já os não beneficiários obtiveram cerca de 5,2%
de aumento na renda familiar, sendo que essa variabilidade das rendas das famílias pode ser
atribuída aos efeitos do Programa.
O aspecto segurança refere-se principalmente à distancia da cidade (local em que os
roubos/furtos são mais frequentes), garantindo de certa forma a segurança dos moradores.
106
Aqui não tem roubo...é seguro, a gente pode dormir de janela aberta, a única coisa
que pode entrar é bicho, além da tranquilidade que aqui é, isso não tem preço...
(A.C., 51 ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Quanto às perspectivas futuras foi apontada pelos moradores a possibilidade de
expansão das áreas de cultivo, obtenção de novos créditos e a exploração do turismo rural.
Entretanto a falta de assistência técnica e a quase que total inexistência de organizações
produtivas e políticas entre os assentados, interferem de forma negativa nas expectativas das
famílias, bem como na concretização de seus projetos de vida.
Eu quero aumentar minha área ... plantar mais mandioca, plantar milho, variar mais
pra não faltar, mas não tem assistência, a Prefeitura não ajuda, e a associação tá só
no papel, ninguém tá nem aí.... (V.S.O., 57 ANOS, ASSENTADO NO BEIRA RIO)
Observou-se que os agricultores, com frequência, mencionam suas organizações
(Associação, Sindicato) como se não fizessem parte das mesmas, como se a responsabilidade
pela mobilização ou melhor organização fosse exclusiva dos presidentes ou lideranças destas
organizações. No caso da Associação Beira Rio seria necessário que suas formas de
organização passassem por um processo de reestruturação. A Associação, em tese, tem um
papel crucial de orientação aos agricultores, além de atuar como facilitadora na solução de
problemas específicos dos agricultores (a exemplo do acesso ao mercado). Poderia servir
também como instrumento de articulação/aproximação da comunidade com outras instituições
de interesse dos agricultores, contribuindo para melhorias nas condições de vida dessas
famílias.
Quando questionados a respeito das pretensões dos filhos em relação ao futuro
profissional, nenhum dos entrevistados mencionou a possibilidade de dar continuidade à
produção no lote. Dentre os entrevistados que possuem filhos adolescentes ou adultos apenas
um mencionou que o mesmo reside com os pais, entretanto trabalha na cidade. A grande
maioria dos filhos em idade para o trabalho mora na cidade, e segundo os pais não tem
pretensões de dar continuidade às atividades no lote.
[os filhos] São acostumados só na cidade, acho que eles não vão querer mexer com
isso. (M.S., 58 ANOS, ASSENTADA DO PÉ DA SERRA)
Meus filhos não moram comigo, não sei se eles têm interesse, porque eu nuca
perguntei. Mas acho que quando a gente tem interesse em alguma coisa a gente corre
atrás e eles estariam aqui comigo e não morando na cidade né. (H. O., 60 ANOS,
ASSENTADO DO BEIRA RIO)
107
Com relação às perspectivas das famílias em termos de local de moradia e trabalho
todos os entrevistados revelaram que vão continuar morando e desenvolvendo a produção
agropecuária no Assentamento.
Eu fico aqui e não saio, eu consegui a terra que era meu sonho e ainda vou fazer isso
aqui produzir muito, não tenho preguiça de trabalhar. Isso aqui é minha vida. (I.M.,
59 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Aqui mesmo é o lugar que a gente tem. Toda a vida teve vontade de ter uma terra
pra trabalhar. Tem que pelejar e lutar com a vida. (E.L.,53 ANOS, ASSENTADO
PÉ DA SERRA)
Trabalhei demais na vida pros outros, meu pedaço de chão ninguém me tira. Eu e
meu marido trabalhamos de sol a sol pra manter minha família aqui e aqui que a
gente vai ficar. (M.S., 56 ANOS, ASSENTADA BEIRA RIO)
A terra significa um emprego. Enquanto tiver saúde e conseguir pagar as prestações
eu quero ficar aqui. (J.P., 66 ANOS, ASSENTADO DO BEIRA RIO)
Pra mim aqui é tudo, fui criado plantando, fui criado em roça de toco. (H.O.L., 60
ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Em estudo realizado por Guedes (2010) aponta que a localização do imóvel é muito
importante para a avaliação das condições de vida de determinada população, tanto em termos
financeiros quanto sociais. Quanto ao aspecto financeiro, a aquisição de terra numa localidade
mais distante da sua região de origem implica despesas com o deslocamento para a família
adquirente, todas por conta do mutuário. Sob o ponto de vista social, além de representar a
realização do desejo da maioria das pessoas de continuar residindo onde sempre viveram,
tendo em vista que, normalmente, quando há necessidade de se decidir entre ir ou ficar, as
raízes do povo “falam mais alto”, as pessoas costumam criar laços na comunidade na qual se
inserem, muitas vezes, difíceis de romper.
Leite et al. (2007) analisou os efeitos econômicos locais e regionais derivados da
implantação de projetos de assentamentos rurais em seis regiões brasileiras: Sul da Bahia,
Sudeste do Pará, entorno do Distrito Federal, Zona canavieira nordestina, Oeste Catarinense e
Sertão do Ceará. Os autores constataram entre os assentados entrevistados, que ao comparar
suas condições de vida anteriores ao assentamento com as atuais, 91% dos assentados
consideraram uma melhoria depois da chegada ao assentamento.
Para Melgarejo (2001) a implantação de infraestruturas básicas, tais como habitação,
estradas, energia elétrica, água, saneamento básico, dentre outras, constituem elementos vitais
para o sucesso dos assentamentos, assim como o acesso a serviços sociais básicos como saúde
e educação, constituem-se também em fatores fundamentais tanto para a manutenção das
108
famílias nos assentamentos quanto para o consequente desenvolvimento dos mesmos, o que
confere um caráter de grande complexidade à condução de uma política de acesso a terra bem
sucedida.
Spavorek et al. (2003) analisando assentamentos do crédito fundiário concluiu que
houve significativa melhoria na qualidade de vida das famílias em relação à situação anterior
ao financiamento, em praticamente todos os itens analisados (condições de moradia, rede
elétrica, esgoto, coleta de lixos, telefone, acesso a computador, geladeira, televisão e veículos
próprios).
A Figura 19 apresenta os dados referente a percepção das famílias quanto à produção
de alimentos no lote. Cerca de 38% das famílias pesquisadas do Assentamento Pé da Serra e
32% do Beira Rio relataram que a produção é suficiente apenas para a manutenção da família,
com sobra muito eventual para venda; 20% das famílias do Assentamento Pé da Serra e 5%
Beira Rio mencionaram que a produção é suficiente para a família e que ainda sobra grande
parte para comercialização e 2,5% do total de famílias entrevistadas em cada assentamento
revelaram que a produção é bem pouca e que a maioria dos produtos compra-se no comércio
varejista. Estes últimos, principalmente em função de possuírem outras rendas não agrícolas
para manutenção no lote.
Figura 19. Percepção dos assentados do Pé da Serra e Beira Rio quanto a produção no lote
ser suficiente para manutenção das famílias.
Fonte: Do próprio autor (2015).
109
A composição da renda total do agricultor com a utilização da renda não agrícola
aliada a renda agrícola garante melhorias em relação a qualidade de vida, uma vez que nem
sempre a renda baseada somente na atividade agrícola é suficiente para manutenção das
famílias nos lotes, já que essa atividade sofre influência de fatores como a sazonalidade de
produção, perecibilidade dos produtos, pragas e doenças, entre outros, que dificulta o alcance
de uma produção razoável para comercialização e maior rentabilidade ao produtor. Godoy et
al. (2010) ao realizarem um diagnóstico da realidade rural no município de Santa Rosa – RS
concluíram que a pluriatividade contribui para a qualidade de vida dos agricultores familiares
e na reprodução social desse segmento no referido município.
Outro fato a ser considerado é a produção para autoconsumo que tem sido importante
para a manutenção das famílias nos lotes. Ainda que pequena parte dessas comercializem seus
produtos, para Duval, Ferrante e Valencio (2008) no modo de vida ali constituído, o
autoconsumo ganha destaque como uma estratégia de reprodução social das famílias e como
forma de redução de situações de risco alimentar. Esses mesmos autores revelam que o
autoconsumo é visto como um elo necessário para uma compreensão dos modos de vida dos
assentados que se distancia de abordagens que possam reduzi-lo a um indicador de
sucesso/fracasso das experiências de assentamentos ou de sua integração às economias
regionais.
Os aspectos mencionados também apontam para outro problema, explícitos em outras
pesquisas como de Alencar (2005) e Guedes (2010). Para estes autores a grande maioria dos
mutuários não consegue produzir o suficiente nem para a alimentação da família, muito
menos um excedente que lhe possibilite pagar a terra adquirida. Isso se verifica, sobretudo,
porque, ao adquirir a terra, faltam-lhe os recursos necessários para o investimento em
benfeitorias e custeio das culturas a serem implantadas, oriundos de outra política pública, no
caso, o Pronaf A.
Quaisquer que sejam as estratégias utilizadas pelas famílias para garantir condições
favoráveis a melhorias na qualidade de vida, se não é possível as outras famílias
compartilharem dos mesmos benefícios a partir de uma organização coletiva, as relações
sociais e o convívio em comunidade fica prejudicado. As iniciativas dentro desses
assentamentos para que a Associação Beira Rio possa buscar novas fontes de financiamento
ou a participação em outras políticas públicas ainda são incipientes, permanecendo limitadas
aos recursos específicos do crédito fundiário.
110
Carvalho, L. (2003) destaca que o associativismo rural tem como missão redução dos
custos de comercialização, garantia de regularidade do abastecimento, maior poder de
negociação e obtenção de escalas mais viáveis de produção, além de contribuir para
organização dos produtores rurais na busca do aperfeiçoamento profissional e o aumento da
qualidade de vida. Esse mesmo autor revela que a maioria das propostas de desenvolvimento
no Brasil são baseadas no associativismo, entretanto, em diversas regiões essa prática e
incipiente.
Os problemas ocorridos pela inadequada aplicação dos recursos do crédito para a
produção provocou um aumento da inadimplência entre as famílias dos Assentamentos Pé da
Serra e Beira Rio, o que gera um profundo constrangimento aos agricultores beneficiados pelo
crédito fundiário, em função da dívida bancária adquirida e os reflexos na organização
familiar e comunitária.
Falta união, mas acho que isso nunca vai ter. (J. P., 60 anos, PRESIDENTE DA
ASSOCIAÇÃO BEIRA RIO)
Falta organização interna, associação mais ativa pra estimular e organizar. Assim
dava pra conseguir se inserir no mercado. Pressionar o governo pras coisas
acontecer. (A.L., 60 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
A gente assentou e já adquiriu o Pronaf, mas tem muita gente devendo e o banco não
libera mais por causa disso, os outros ficam devendo e nem mora aqui e a gente é
que paga o pato. É difícil... (I. S., 59 ANOS, ASSENTADA DO BEIRA RIO)
Constatou-se pelos depoimentos que os assentados têm consciência sobre a
importância do trabalho coletivo para o desenvolvimento do Assentamento e da consequente
melhoria da qualidade de vida para todos, no entanto, embora a compra da terra tenha se
efetuado de forma coletiva, conforme mencionado por Sperry, Carvalho Junior e Mercoiret
(2003) verifica-se que os mutuários não vêem o trabalho de forma coletiva como uma prática
possível de se desenvolver em todo no percurso de suas vidas, em razão, sobretudo, do seu
ingresso em uma associação fundada na “lógica finalística e instrumental”. Segundo Vegro e
Garcia Filho (1999), essa lógica não é construída a partir dos interesses da comunidade, o que
acaba limitando o desenvolvimento do trabalho coletivo de forma mais consistente.
Pode-se destacar, nesse contexto, que a precariedade da organização e a falta do
consenso pela prática conjunta das atividades influenciam diretamente na economia do lugar,
pois com a união dos trabalhadores para realização do trabalho de forma coletiva, áreas
maiores poderiam ser cultivadas em menor quantidade de tempo e com custo bem menor, fato
111
que aumentaria a produtividade e a renda dos assentados no ato da comercialização
(CARVALHO, L., 2013).
O trabalho coletivo exige várias alterações no modo de vida das famílias, o que o torna
difícil de ser implementado nas ações cotidianas, mas a organização coletiva para atividades
específicas, como a comercialização, também pode oferecer vantagens econômicas
importantes aos agricultores, além de estimular a cooperação e o estreitamento das relações
sociais.
Floriano (2009) realizando uma pesquisa em áreas rurais do município de Major
Vieira, no intuito de identificar o que é qualidade de vida esta população reforça que “para
que um indivíduo desfrute de qualidade de vida, a amabilidade e atenção, o cuidado e a
cooperação, a justiça entre outros, precisam estar presentes na vida e no dia-a-dia de
indivíduos e coletivos”(FLORIANO, 2009, p. 106).
A questão da sociabilidade entre os agricultores estimula o desenvolvimento da vida
em comunidade e é também uma forma de garantir a qualidade de vida nas áreas de
assentamentos rurais. As relações estabelecidas com a vizinhança, os laços de amizade, o
incentivo a participação e organização comunitária são elementos que garantem melhorias na
qualidade de vida das famílias envolvidas incorporando possibilidades de organização futura,
maior integração e seu reconhecimento como agricultor.
Sousa et al. (2005) analisando a sustentabilidade da agricultura familiar em
assentamentos rurais de reforma agrária em Mossoró, Rio Grande do Norte concluíram que é
necessário um maior direcionamento das políticas públicas visando o incentivo na criação de
empreendimentos de pequeno porte que possam valorizar os assentados, criando uma rede de
colaboração/confiança mútua entre os agricultores e o poder público o que proporcionaria
condições para melhorias na qualidade de vida dos agricultores.
Para Queiroz Pessoa e Alchieri (2014) ao avaliarem o trabalho na agricultura orgânica
familiar e a sua relação na qualidade de vida dos agricultores no município de Lagoa Seca –
PB concluíram que a percepção desses agricultores a respeito do trabalho e a qualidade de
vida no desenvolvimento de tais atividades foi positiva quanto aos aspectos relacionados a
vida pessoal e familiar, remetendo a sentimentos de esperança, prazer/satisfação e sonhos
com considerável presença do trabalho coletivo nas ações desses agricultores.
112
3.8 Avaliação geral do PNCF
A avaliação do PNCF por parte das famílias de um modo geral é boa (93%), sendo
apontados como aspectos positivos, a possibilidade de escolher a terra onde comprar e a
infraestrutura, o menor tempo de espera em relação à desapropriação para reforma agrária,
tornando possível o sonho de trabalhar na terra.Entretanto, o alto endividamento aliado à falta
de assistência técnica e de recursos para dar continuidade aos processos produtivos nos lotes,
tem sido apontada como um dos entraves para manutenção das famílias nesses
Assentamentos.
Aqui as famílias escolheram a área pra comprar...montamos no caminhão pra olhar a
área e defini onde ia fazer o assentamento ... com o crédito fundiário tem a
possibilidade de garanti a terra pra quem não tem condições de comprar...além disso
é mais rápido pra conseguir do que enfrentar a vida difícil debaixo da lona. (M.R.S.,
58 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Ter acesso ao crédito fundiário me ajudou a conseguir a terra, mas falta muita ajuda
aqui, não tem assistência, falta dinheiro pra investir, mas tá bom daqui a pouco as
coisas vão melhorar pra nóis. (L.H.O., 56 ANOS, ASSENTADA BEIRA RIO)
O programa na prática e técnica não é inviável. É o único Programa que o assentado
tem acesso à terra mais rápido. (I.A., 62 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Em relação ao contrato de financiamento da terra há um número significativo de
famílias que estão com o pagamento atrasado, sendo que o nível de inadimplência é de 42%
(no Assentamento Pé da Serra é de 50% e de 30% no Beira Rio). Nenhum dos entrevistados
mencionou renegociação (principalmente em função da burocracia e documentação exigida) e
o restante dos assentados estão com o pagamento da parcela em dia.Quanto às condições para
pagamento do financiamento da terra descritos no Manual de Operação do PNCF, todos os
entrevistados mencionaram que é boa, entretanto ainda possuem dificuldades para o
pagamento da parcela anual. Entre as dificuldades mencionadas para ficar em dia com o
Banco foram mencionadas: a baixa renda produzida no lote e a falta de união entre os
assentados, além do projeto do Pronaf que foi feito sem considerar as especificidades de cada
agricultor, conforme descritos nos depoimentos a seguir:
O cara não tem a noção do que fazer... a primeira coisa é pagar as dívidas, você tinha
que ter olhado antes de pegar para não se decepcionar e sair do lote ou não produzir.
A terra tem que olhar cada local e ver o que dá pra produzir. Teve um técnico que
fez o Pronaf da pupunha e não deu certo, mas porque fez pra todo mundo, cada lugar
é diferente. (H.O.L., 60 ANOS, ASSENTADO DO BEIRA RIO)
113
O projeto foi imposto não houve uma discussão (J.P., 66 ANOS, ASSENTADO DO
BEIRA RIO)
Para Ramos Filho (2008) existe um conflito entre as condições materiais de geração de
renda disponíveis para a comunidade e a obrigatoriedade de pagamento da anuidade do
financiamento contraído. Tal conflito acaba por configurar uma situação na qual a renda da
terra é apropriada pelo capital financeiro, sem que seus gestores se dediquem, em nenhum
momento, a avaliar, juntamente com os mutuários, as possíveis causas da inadimplência. De
certa forma isso pode gerar alguns conflitos dentro desses assentamentos, uma vez que a
inadimplência de uns afeta a adimplência de outros na captação de recursos.
Para o atual presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais o principal problema do
crédito fundiário é a inadimplência, tanto para a parcela do financiamento da terra, quanto
para o Pronaf, além da falta de aptidão das famílias.
Projetos produtivos foram pensados conforme os contribuintes que fizeram o
assentamento e não de encontro aos trabalhadores.
(...) eles assentaram e já adquiriam o Pronaf A, não tem como expedir outra DAP
por conta da inadimplência. Não cumpriu o compromisso, apresentou 3% de
inadimplência corta para todas as famílias. Além disso, as terras não são adequadas
para o tipo de cultura que foi projetada pra desenvolver. Se tivesse desenvolvido
coisas pro mercado e terras adequadas... Foi um projeto só pra acontecer e as
famílias não tinham aptidão e não conseguem manter a subsistência na área.
(M.F.P., PRESIDENTE DO SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS -
NX, GESTÃO 2012-2016)
O discurso do Presidente do Sindicato questiona o projeto técnico elaborado, tanto do
ponto de vista da adequação agrícola, como em relação à aptidão das famílias. Sem dúvida,
um dos grandes gargalos encontrados foi a elaboração de projetos produtivos em desacordo as
experiências e trajetórias dessas famílias, o que foi uma das causas do alto endividamento dos
beneficiários. Entretanto, o problema não pode ser atribuído à falta de “aptidão”, mas sim à
falta de acompanhamento da assistência técnica nas demais fases do trabalho, pois os
agricultores poderiam ter adquirido uma formação específica para trabalhar com as atividades
propostas no Projeto. A pesquisa mostrou uma experiência média das famílias com produção
agrícola acima de 10 anos e todos declararam experiência superior a cinco anos.
Quando questionados em relação a importância do PNCF para o município, percebe-se
pelos depoimentos que a importância está relacionada a possibilidade de permanência no
campo, além da circulação dos recursos do Programa no município, contribuindo para o
desenvolvimento local.
114
O Programa é importante porque quando tem o crédito, movimenta o comércio,
além disso ajudou a gente a ficar no campo e perto da família...O crédito fundiário é
uma forma de conseguir manter as famílias de origem rural aonde é o lugar delas,
quando a gente conseguiu a área teve muito comércio que ganhou muito, porque
querendo ou não são 43 famílias comprando e isso ajuda a movimentar a cidade.
(J.P., 66 ANOS, ASSENTADO DO BEIRA RIO)
É muito importante pra movimentar a cidade, garantir serviço pras famílias e manter
elas ocupadas. Tem que trabalhar pra produzir. (T.C., 38 ANOS, ASSENTADA
BEIRA RIO)
O PNCF ajuda a manter as famílias no campo... (M.R., 58 ANOS, ASSETADA PÉ
DA SERRA)
O PNCF é uma saída pras famílias que querem adquirir uma terra, é importante para
o município porque os assentados compram no comércio local e ajudam na
movimentação dos recursos, isso ajuda na dinâmica do local. (H.O.L.,60 ANOS,
ASSENTADO DO BEIRA RIO)
De certo modo para os agricultores que em muitos casos não tinham nada, os reflexos
do Programa passam a ser positivos pela possibilidade de permanência no campo e por
permitir o resgate da identidade de agricultor, que em muitos casos havia sido perdida. Além
da possibilidade de circulação dos recursos no próprio município. Entretanto, as melhorias
poderiam ser mais expressivas quando se ocorresse uma assistência técnica efetiva e o acesso
às políticas públicas integradas ao Programa, contribuindo para maiores transformações na
realidade em que vivem esses agricultores.
Esses aspectos são visíveis no depoimento do Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, quando avalia o que precisa ser mantido e o que necessita de
mudanças, quanto ao PNCF.
No PNCF é importante a descentralização porque as famílias têm maior liberdade
para adquirir a área e podem participar mais ativamente do processo de aquisição de
terras. Outro ponto que é fundamental é a associação, só que as famílias precisam se
unir e compreender melhor o trabalho em grupo. Só que em muitos casos as famílias
ficam de mãos atadas porque não tem com que produzir. Precisa de um
acompanhamento maior, um técnico que instrua para que elas consigam manter a
subsistência na terra. (M.F.P., PRESIDENTE DO SINDICATO, GESTÃO 2012-
2016)
Para o antigo Secretário da Agricultura do município:
O PNCF precisa ser revisto para permitir que as famílias consigam autonomia pra
manter a produção nos lotes. Ainda falta muita coisa pra ser melhorada. Muita gente
tem saído pra trabalhar fora e pro assentamento desenvolver é preciso trabalhar nele,
produzir. Outra coisa é o endividamento que está alto. Criam-se dívidas e não
conseguem pagar, porque às vezes os agricultores não têm condições pra produzir.
As políticas que fazem parte do programa demoram um pouco pra ter acesso...mas
115
ainda assim ele é uma saída pra quem quer conseguir a terra, sem ter que disputar
por ela. (B.B.F., SECRETÁRIO DA AGRICULTURA - NX, 2014-2015)
Esta argumentação está de acordo com o que foi apontado por Ramos Filho (2008).
Para esse autor os projetos de reforma agrária de mercado, apesar de proporcionarem o acesso
a terra aos mutuários, não lhes garante as condições materiais necessárias para terem
assegurada sua sobrevivência e a da sua família, bem como o pagamento da dívida assumida
no banco. As famílias precisam, ainda, subordinar suas forças de trabalho a demandas de
produção capitalista no campo e/ou depender de políticas de combate à pobreza. Isto denota a
incapacidade do PNCF como uma política eficaz para a eliminação desse tipo de relação.
3.9 Programa Nacional de Crédito Fundiário X Programa Nacional de Reforma Agrária
3.9.1 A visão dos agricultores dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio e dos agentes
externos sobre as (des)vantagens do PNCF em comparação ao Programa de Reforma
Agrária
Para Medeiros (2007) a entrada no assentamento provoca a emergência, ainda que
difusa, de uma noção de “direitos”. Essa mudança é mais perceptível e sensível
particularmente entre aquelas famílias que tiveram a possibilidade de adquirir as terras onde
viveram e trabalharam durante parte de suas vidas. Nessas circunstâncias, esse processo
assume um importante significado simbólico, na medida em que tais famílias passam a ser
reconhecidas socialmente, resgatam e ressignificam seu passado e atualizam seu
pertencimento a um espaço social marcado por histórias partilhadas coletivamente.
O PNCF é uma ação complementar à reforma agrária, surgindo no intuito de
reduzir/eliminar a burocracia e longas disputas causadas pelos processos de desapropriação.
Assim conhecer o pensamento das famílias assentadas pelo crédito fundiário, que não se
envolveram em conflitos abertos, como ocorre nas ocupações de terra, pode significar o
caminho para o aprimoramento dos programas de acesso a terra, uma vez que os aspectos
positivos e negativos são apontados pelos principais atores envolvidos no processo acesso a
terra. Quando os produtores foram instigados a avaliar o PNCF em relação à política de
reforma agrária, parte dos moradores (35%) não souberam responder a respeito. Outros
mencionaram aspectos relacionados ao tempo menor ou à maior agilidade do processo de
obtenção da terra (53%) e o acesso a crédito com mais facilidade (12%) pelo PNCF.
116
Aqui a gente não teve que enfrentar beira de estrada, polícia e anos pra conseguir a
terra...vida de sem terra é muito sofrida, conheço gente que gastou tudo o que tinha e
não tinha pra ficar debaixo do barraco e acabou que a terra não saiu.(J.P., 60 ANOS,
ASSENTADO BEIRA RIO)
Ah, nem se compara, o povo de reforma é muito sofrido, luta pra conseguir e luta
muito mais pra ficar, os créditos demora muito e o povo fica lá, esperando...
esperando...até sair e aí não tem condições pra ficar e acaba vendendo. Aqui
liberouaté que rápido, mas agora não sai mais nada. Tô trabalhando fora pra ver se
consigo manter a mulher e os filhos aqui. (I.M., 60 ANOS, ASSENTADO PÉ DA
SERRA)
Pelo Programa é mais fácil e a seleção das famílias segue critérios, mas é preciso
reestruturar melhor. Em menos de 10 anos não se faz um assentamento de reforma
agrária. (S.R., 62 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Para o ex-secretário municipal de Agricultura:
A criação dos assentamentos de crédito fundiário facilitou o acesso a terra de forma
mais rápida para os agricultores sem terra, além do que as famílias auxiliam a
movimentação do comércio local, o que gera um retorno pra economia do
município.(B.B.F., SECRETÁRIO DA AGRICULTURA - NX, 2014-2015)
Essa demora na obtenção da terra por meio da reforma agrária mencionada nos relatos
pode ser explicada pelo fato de que com a obtenção da terra, as famílias, na grande maioria
dos casos, são assentadas provisoriamente até a criação do assentamento. A obtenção é então
a data em que as famílias têm acesso legal a terra, aguardando apenas a regularização do
assentamento. Todavia, existem casos, em que o período, entre a obtenção e a criação do
assentamento, compreende mais de um mandato de governo, e há casos em que as famílias já
estão na terra há várias décadas, como nos assentamentos oriundos da regularização fundiária
de posseiros, ribeirinhos, populações tradicionais (FERNANDES, 2008). O que acarreta
também a morosidade no acesso a crédito, infraestrutura e outros benefícios governamentais,
esta soma de fatores demonstra a importância da implantação de uma política de reforma
agrária efetiva que garanta a autonomia das famílias, bem como o desenvolvimento
socioeconômico dentro dos Assentamentos.
Conforme afirma Brandão (2000), a lei centralizou no governo federal não somente a
incumbência de realizá-la, mas, sobretudo, o poder de decidir quando, onde e como fazê-lo.
Dessa forma, hoje, os Estados não dispõem de mecanismos legais e eficientes que lhes
permitam uma participação mais contundente no processo de reforma agrária em seus
territórios.
117
Outros autores como Pereira (2006), fazem uma crítica ao modelo de reforma agrária
de mercado em oposição ao modelo convencional, conduzido pelo Estado. Para esse autor a
crítica ao modelo tradicional é:
[...] feita de maneira abstrata, homogeneizadora e universalista, deslocada daanálise
empírica dos conflitos sociais que definiram a natureza, o grau, a extensão, o ritmo,
a direção e mesmo o refluxo ou a desconstituição das políticas de reforma agrária,
sempre muito homogêneas entre si. [...] O núcleo da critica do BIRD à reforma
agrária “conduzida pelo Estado”realmente não tem consistência empírica. Em
primeiro lugar, a reforma agrária, onde ocorreu, jamais foi “dirigida pela oferta”,
pois sempre foi impulsionada, em maior ou menor grau, pela “demanda” por terra
provocada pela luta social do campesinato e das coalizões políticas que o apoiam.
Em segundo lugar não é válido atribuir o suposto “fracasso” das reformas agrárias
ao seu caráter coercitivo e centralizado, uma vez que, nessa matéria, existe
historicamente uma associação positiva entre grau de redistribuição, sanção estatal e
centralização político-administrativa. Em terceiro lugar, a lentidão na execução de
políticas de reforma agrária sempre tendeu a ser maior onde os mecanismos de
mercado foram privilegiados, em detrimento da ação compulsória do Estado. Em
quarto lugar, não é correto atribuir eventuais supervalorizações concedidas aos
proprietários ao caráter mais ou menos “estadista” da reforma agrária, mas sim à
corrupção e, fundamentalmente, a minimização do poder desapropriatório do
Estado, em geral inversamente proporcional ao poder político e social dos grandes
proprietários de terra. Em quinto lugar, é falsa a ideia de que os casos de corrupção
nos processos de reforma agrária se devem ao seu caráter “estadista”, como se, na
prática, o agente corruptor por excelência não fosse o “mercado”, i. é., os grandes
proprietários interessados na supervalorização de suas terras. Em sexto lugar, é
igualmente falso atribuir à reforma agrária responsabilidades que não lhe competem
exclusivamente uma vez que ela não é, nunca foi e jamais será uma panaceia
(PEREIRA, 2006, p. 33-34).
Para Favareto (2007) as razões para esse insucesso estão atreladas, principalmente, ao
fato de que na maior parte das instituições executoras dessas políticas e programas há, apenas,
a incorporação de temáticas, relativas a essa nova visão de desenvolvimento, “onde, sob nova
roupagem, velhos valores e práticas continuam a dar os parâmetros para a atuação dos agentes
sociais [...]”(FAVARETO, 2007, p.141).
Ferrante e Barone (2006) criticam as avaliações dos assentamentos baseadas em
expressões de sucesso/ fracasso e consideram necessária a utilização de metodologias de
análise voltadas à apreensão dos dilemas destas experiências – identificados em sua
diversidade, em espaços sociais distintos – na constituição de um novo modo de vida,
abrangendo as dimensões cultural, econômica e política dos agentes envolvidos.
Para os agricultores os pontos positivos da reforma agrária devem-se principalmente
ao tamanho das áreas e a não obrigatoriedade de pagamento da terra anualmente.
Eu acho que é melhor, porque eles não têm que pagar todo ano e as áreas são
maiores (H.O. L.,60 ANOS, ASSENTADO DO PÉ DA SERRA)
118
A diferença é grande. É difícil conseguir, mas quando consegue as áreas são
maiores. Eles não têm obrigação de pagar todo ano. (J.P.,66ANOS, ASSENTADO
DO BEIRA RIO)
No assentamento de reforma agrária as pessoas não têm que pagar a terra, as áreas
são maiores, dá pra produzir mais, mas também depende da terra que pega. (M.R.,
58 ANOS, ASSENTADA DO PÉ DA SERRA)
Em depoimento o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município
relata a importância da reforma agrária e pontua alguns aspectos em relação ao PNCF e ao
PNRA.
Não tenho dúvidas que a reforma agrária vem resolver os problemas sociais. Mais de
um lado há muitas falhas do governo federal. Muitos assentamentos, com mais de 30
anos com assentados que não tem a CCU, porque ocorreu a transferência para
terceiros. Além do comodismo de algumas pessoas. Sou assentado pelo PNRA
desde 1982 e tem gente que se acostumou, às vezes desvia recursos e também não
busca poder aquisitivo pra cumprir com suas obrigações. Agora quanto ao PNCF as
famílias podem escolher a área que vão comprar, ficam mais próximo dos
familiares, isso ajuda bastante... só que a seleção das famílias em alguns casos é
falha, mediante interesse de pessoas que estão envolvidas na aquisição da terra, pode
ser rápido pra conseguir, mais aí vem o endividamento e gera mais um outro
problema social. (M.F.P., PRESIDENTE DO SINDICATO DE
TRABALHADORES RURAIS - NX, GESTÃO 2012 - 2016)
Para o técnico da Empaer de Nova Xavantina, responsável pela ATER pública nos
assentamentos rurais de reforma agrária do município, quando compara-se o PNCF com a
reforma agrária, mesmo com todos os problemas desta considera que a reforma agrária é a
forma mais viável de acesso a terra.
A reforma agrária é mais viável, porque não adianta acelerar o processo de acesso a
terra se as pessoas não têm aptidão. Muitos tem utilizado o acesso a terra pelo
Programa para se beneficiar do financiamento e acaba gerando um problema maior
para o município, principalmente em relação a inadimplência nesses assentamentos
(A.J.S., Técnico da EMPAER-NX)
O mesmo posicionamento favorável em relação à reforma agrária também é
mencionado pelo técnico responsável pela ATER nos dois assentamentos “Na reforma agrária
a área é maior, os recursos são maiores, mesmo demorando. Já no crédito fundiário o
enquadramento das famílias dificulta a seleção e quantidade de recursos é pouca pra fazer
tudo proposto no projeto”.
Os assentados do Pé da Serra e Beira Rio quando questionados se os programas de
acesso à terra (reforma agrária e o crédito fundiário) têm alterado a disputa por terras na
região e trazidos mudanças para o meio rural , 90% dos entrevistados responderam que sim.
119
Citaram como mudanças, o número de pessoas ocupadas no campo, o número de
assentamentos no município e a quantidade de pessoas acampadas. Conforme depoimentos a
seguir:
A mudou muita coisa, o número de pessoas disputando a terra era bem maior e a
gente fica sabendo dos conflitos. Agora é bem menos. (I.A., 62 ANOS ,
ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Depois que criou esses dois assentamentos de crédito fundiário, muitas famílias que
estavam na rua, sem emprego, teve aonde ficar e trabalhar na própria terra. Aqui até
que tem um número bom de assentamentos, de reforma é maior, que financiado,
muita gente deixou de ficar debaixo da lona pra ficar disputando a terra. (A.C., 47
ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Somente 10% dos entrevistados relatam que não houve mudanças nas disputas por
terras, principalmente por causa do número de sem terras no município.
Tem um acampamento grande aqui, mais de 100 pessoas e outras famílias que
estavam acampadas na beira do córrego Antártico que ocuparam uma fazenda aqui
perto. Então acho que não mudou muita coisa.(J.P., 66 ANOS, ASSENTADO DO
BEIRA RIO)
As disputas ainda existem porque o acesso a terra é demorado e demanda mais
envolvimento do poder público (H.P., 52 ANOS, ASSENTADO DO PÉ DA
SERRA)
A importância de ambas políticas é apontada pelo ex-Secretário Municipal de
Agricultura: “Embora tenha um maior número de assentamentos de reforma agrária aqui no
município, as duas políticas são importantes para movimentar a economia local, de um lado
tem a demora no processo e de outro tem a agilidade, mas a importância é a mesma”.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais não houve grandes mudanças
quanto às disputas por terras no município de Nova Xavantina e região:
Ainda tem muita gente acampado disputando áreas no município e na região[...] não
tem onde colocar todos esses trabalhadores. Tem gente ganhando com isso, iludindo
os trabalhadores com áreas que dificilmente serão desapropriadas. Vem surgindo
novos movimentos aqui que acabam com o propósito de uma reforma agrária séria e
justa para todos. Tem surgido outros movimentos no intuito de aglomerar pessoas.
(M. F. P., PRESIDENTE DO SINDICATO DE TRABALHADORES RURAIS -
NX, GESTÃO 2012 - 2016)
Neste contexto, os críticos questionam a necessidade de um novo modelo para
superação do problema fundiário brasileiro:
120
Mesmo se funcionassem e, mesmo se ocorressem transações de mercado a preços
razoáveis e os beneficiários pudessem de fato pagar pela terra por meio de sua
produção agrícola – tais programas seriam absolutamente insuficientes para absorver
a pressão social sobre uma estrutura de propriedade altamente concentrada, ainda
mais em sociedades que experimentam há anos uma regressão social e econômica
provocada pelas reformas estruturais (PEREIRA, 2004, p. 246).
Considerando os resultados do presente trabalho, apesar das limitações frente a
obtenção de recursos pelo PNCF e ainda que os reflexos diretos não sejam mencionados por
todos, as famílias que residem na área viram nessa política uma forma de garantir o acesso a
terra, uma vez que a conquista da terra recria um processo de reterritorialização no “novo”
lugar, que refletem a melhoria nas condições de vida e pelo significado que essa conquista
tem as famílias assentadas. Entretanto, quando se analisa a questão da reforma agrária no
município e os problemas sociais concernentes dessa política, há um quadro de pobreza rural
alarmante, além da dependência gerada por recursos governamentais, que quando combinada
com a falta de assistência técnica, trazem sérios problemas de ordem social.Há um jogo de
interesses políticos que acabam por tornar as ações pouco efetivas, tornando os assentamentos
apenas meros aglomerados de pessoas, com vistas a reduzir os conflitos por disputas de terra
na região. É necessário repensar as ações destinadas aos assentamentos rurais em ambas
políticas públicas, no intuito de contemplar modelos adequados a realidade da agricultura
familiar e integrados as demais políticas públicas voltadas a agricultura familiar, permitindo a
autonomia das famílias e a continuidade das atividades nos estabelecimentos agropecuários.
3.9.2 Análise geral das estratégias utilizadas pelos agricultores familiares dos Assentamentos
Pé da Serra e Beira Rio
No intuito de captar e exemplificar as estratégias utilizadas pelos agricultores
familiares dos Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio baseando-se nos conceitos de
estratégias de Sant’Ana (2003) e Bourdieu (1994) foram analisadas as estratégias fundiárias; a
pluriatividade; a diversificação da produção; a agregação de valor aos produtos; a produção
para o autoconsumo; as estratégias sucessórias e educacionais.Para aprofundar essa reflexão
tomou-se como base a produção e comercialização de produtos agropecuários, além da
composição dos membros da família, estrutura e renda familiar.
Ressalta-se que as estratégias segundo Bourdieu (1994) dependem principalmente da
disponibilidade de instrumentos de reprodução (leis de herança e sucessão, mercado de
trabalho ou sistema escolar) e da quantidade e potencial de capital (econômico, social e
121
cultural) do grupo e a representatividade de cada um na formação do patrimônio, sendo
construídas de forma diferente de uma família para outra.
A formação de assentamentos rurais é o principal resultado das estratégias fundiárias
utilizadas pelos agricultores familiares, que origina-se de um processo de luta pela terra e são
constituídos pelas ações dos movimentos sociais e trabalhadores rurais sem terra e/ou com
pouca terra (no caso específico do crédito fundiário). Para a agricultura familiar o acesso à
terra sempre se apresentou como um importante fator de atendimento às necessidades
familiares, tanto em relação a produção e renda, quanto a quantidade de terra disponível para
os futuros herdeiros e consequentemente para o processo de continuidade das atividades nos
estabelecimentos familiares (MULLER, 2007).
A posse da terra pelos agricultores familiares dos Assentamentos Pé da Serra e Beira
se deu pelo PNCF que foi uma estratégia importante de acesso a terra, de forma mais “rápida”
e mais segura, conforme mencionado em depoimentos dos agricultores, já que não precisaram
passar pelo processo de disputa fundiária para sua aquisição.Consiste enfatizar que o processo
se deu por meio de compra da terra, o que de certa forma garante a autonomia para escolha da
área. Outra questão apontada nessa pesquisa é a localização estratégica da terra adquirida
(próxima a 13km do centro de Nova Xavantina, além de ser rodeada por diversos cursos
d’água), que é propício ao desenvolvimento de ações que garantam a sustentabilidade dos
recursos naturais e das unidades familiares.
A importância dessa posse também se evidencia no processo de reprodução social,
pelo fato do agricultor contar apenas com a terra para oferecer um futuro aos filhos
(WANDERLEY, 2001). Wanderley (1995) afirma que as estratégias de acesso e ampliação da
terra é uma das principais estratégias utilizadas na agricultura familiar para continuidade
desse segmento.
A adoção de estratégias pluriativas nos estabelecimentos familiares tem favorecido a
reprodução social dos agricultores familiares. Para Carneiro (2005) as famílias se tornam
pluriativas buscando diversificar suas fontes de renda para conseguirem melhorar a condição
de vida e se manterem no local de origem, assim passam a se dedicar a outras atividades fora
do estabelecimento, aliando as fontes de renda agrícola e não-agrícola.
A renda não agrícola tem sido uma estratégia utilizada pelas famílias dos
assentamentos pesquisados, que tem permitido um aumento na renda do produtor. Entretanto,
mesmo que a renda não agrícola seja maior que a renda oriunda da atividade agropecuária,
esse aumento não representa uma melhoria significativa na situação do agricultor, porque nem
sempre essa renda permite a sua capitalização para maiores investimentos na propriedade, o
122
que em tese tem permitido apenas a manutenção básica da família e em outras situações tem
favorecido o abandono dos lotes, a fragmentação familiar e das unidades produtivas através
da migração campo – cidade.
Eu e meu marido mantém nóis aqui porque nós trabáia fora, na cidade, minhas filhas
ficam aqui e vão estudar a tarde, nóis mesmo só fica junto de domingo. (N.P., 52
ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Tem muita gente que não mora aqui, trabalha fora e vem só de final de semana, no
Beira Rio, dá pra contar nos dedo quem fica...aqui tem mais gente que mora, mas
tem muito lote abandonado... (J.C., 69 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Eu vivo aqui com minha aposentadoria e meus filhos manda um dinheiro pra ajudar.
(S.R.S., 65 ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Segundo Dantas (2011) a renda obtida com a produção agrícola depende
majoritariamente, ou mesmo integralmente,da mão de obra familiar ativa, ao passo que o
tamanho da propriedade e a parcela destinada ao cultivo agrícola também costuma estar em
função da composição e do consumo familiar.
Eu vivo aqui mais minha mulher com nossa aposentadoria, não tenho muita força
mais pra trabalhar,...Os filhos estão criados e moram em outra cidade... (J.A., 66
ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Por outro lado, basicamente com a garantia da renda não-agrícola é possível a
manutenção e permanência das famílias nos lotes e essa tem sido um componente importante
da renda total do agricultor em ambos assentamentos, o que não acontece com famílias com
rendas exclusivamente agrícolas, que geralmente apresentam rendas inferiores em função de
fatores como: sazonalidade de produção, perecibilidade dos produtos agropecuários, oferta e
demanda de mercado, entre outros.
Nóis vive só da renda do gado e às vezes o preço ta bom e outras num ta...aqui no
assentamento tem muita gente aposentada e aí consegue ter uma renda maior..mais
garantida...nóis depende muito do mercado (M.G., ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Vários autores têm demonstrado que as rendas das famílias pluriativas e
exclusivamente não-agrícolas que vivem no meio rural são maiores que das famílias
exclusivamente agrícolas (LIMA, 2009; GRAZIANO DA SILVA; DEL GROSSI, 2002),
assim os estudos apontam a importância da renda não-agrícola nas estratégias de políticas
123
para redução da pobreza no meio rural (VEIGA et al., 2009; NASCIMENTO; CARDOSO,
2007).
Para Wanderley (1995) a relevância desses trabalhos externos não se resume apenas à
reprodução social da família, mas também, para a reprodução do próprio estabelecimento
familiar.
A diversificação da produção é também uma estratégia que está diretamente
relacionada ao aumento da renda agrícola. Segundo Souza (2006, p. 09) “Quanto maior a
diversidade e a integração dos subsistemas de produção, maior é a renda agrícola do
agricultor”. No caso específico desses assentamentos, as famílias possuem uma diversidade de
cultivos (hortaliças, frutíferas, animais domésticos, entre outros) utilizados principalmente
para o consumo da família.
A gente planta pro gasto, ainda não dá pra comercializar, mas o que a gente produz
aqui dá e sobra pra dividir com nossa fia que mora com a família em outra cidade.
Mandamos uma parte pra ela e a outra parte nóis consome aqui mesmo.O que nóis
produz aqui é mais pra nosso sustento... Se fosse ter que comprar tudo no mercado
não ia dar pra sobreviver, isso ajuda muito pra manter a família aqui...ainda bem que
a gente tem esse lugar aqui, pra morar, pra produzir, se fosse viver na cidade não
dava pra sobreviver. (M.J.C., 66 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
O que garante a renda no lote é minha aposentadoria, no mais o que produz é mais
pra sustento mesmo...a gente produz muita coisa aqui e num precisa comprar
mistura, verdura..essas coisas...que acabam ficando cara porque tem que comprar
quase todo dia...aqui se precisa de carne, mata uma galinha, um porco e dura
bastante, verdura tem na horta e tem a mandioca que ajuda muito, porque rende e dá
pra fazer muita coisa com ela...minha mué gosta mesmo dela frita, mas cuzida
também dá uma sopa e tanto (S.R.S., 64 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Pra manter a renda e a produção no lote eu presto serviços pra terceiros e o que
produz aqui dá pra sustentar a família e ajuda pra melhorar as condições da gente
aqui no assentamento. (M.P., 56 ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Percebe-se pelos depoimentos que embora a produção para autoconsumo não garanta
um aumento da renda total do produtor, a mesma possui sua valorização pelos membros da
família, por ser uma estratégia que assegura à manutenção das mesmas nos lotes, e em
consequência a reprodução das unidades familiares. Esse tipo de produção garante a
preservação da cultura dos agricultores, no modo de fazer e consumo dos produtos, que em
muitos casos é passado de uma geração a outra, além disso aspectos relacionados a qualidade
desses alimentos, isentos de agrotóxicos atendem os princípios que norteiam a segurança
alimentar e a qualidade de vida das famílias nesses assentamentos rurais.
Para Grisa; Schneider (2008, p.483)“o autoconsumo faz parte de um modo de
organizar a atividade produtiva e reflete um repertório cultural que caracteriza a sociabilidade
124
e identidade destes agricultores”. Esses mesmos autores relatam que: “Há a compreensão de
que produzindo os próprios animais para o consumo familiar assegura-se a qualidade,
derivada do conhecimento de como criá-los e do manejo mais natural a que são submetidos
estes animais vis-à-vis aqueles comprados”(GRISA; SCHNEIDER, 2008, p. 503).
Sacco dos Anjos et al. (2004) e Peyré Tartaruga (2005) analisando a produção de
autoconsumo em diversas regiões do Rio Grande do Sul concluíram que a mesma integra o
conjunto de estratégias e ações dos agricultores familiares com vistas a redução da
insegurança alimentar e a pobreza rural.
É comum também entre os agricultores dos assentamentos pesquisados as trocas com a
vizinhança de diferentes produtos, como sementes, frutos e/ou produtos pouco disponíveis
nos lotes. Aspecto esse que favorece a sociabilidade e as relações entre os agricultores com
vistas ao convívio em comunidade, favorecidos também pela produção de autoconsumo.
Aqui acontece uma troca entre os vizinhos...quando um tem uma coisa diferente já
traz uma semente ou outra coisa...dá pra gente plantar...esse quiabo de corda mesmo
foi seu Ivo que trouxe a semente pra mim prantá...um vai ajudando o outro a viver
melhor aqui. (M.R., 58 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
O autoconsumo passa também a ser uma forma de economizar com os gastos na
compra de produtos em mercados, porque o que se produz na propriedade serve para o
consumo familiar e o produtor deixa de gastar esse equivalente em supermercados com os
recursos financeiros advindos de seu trabalho. Outro fato a ser considerado é a preferência
pelos cultivos/criações, que podem ser utilizados tanto para comercialização quanto para o
consumo da família, o que passa também a ser uma estratégia utilizada pelos agricultores
desses assentamentos para aproveitarem as situações favoráveis de preço e mercado para a
comercialização de seus produtos, além do autoconsumo.
“Aqui pra gerar um dinheiro eu crio as galinhas e as vacas, precisando eu posso
vender um frango, uns bezerros que garante uma renda a mais...o frango limpo
vendo a 22 reais...e ele serve também pra garantir a carne do dia a dia...a própria
mandioca eu faço farinha pra vender também e é o que eu mais consumo em casa.”
(M.R., 58 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Segundo Garcia Jr. (1983) citado por Grisa e Schneider (2008) os agricultores
preferem os cultivos que apresentam uma característica de “alternatividade”, onde tem-se a
possibilidade de serem consumidos e vendidos, também chamados de “lavouras de
subsistência”, justamente por garantir o consumo familiar e/ou a venda, o que acaba
compensando, uma vez que investimentos em “lavouras comerciais” limita-se somente para
125
comercialização e dependendo das condições climáticas e economia de mercado, o agricultor
pode não obter grandes retornos.
Além disso, o reconhecimento da identidade de agricultor também é favorecido pela
produção de autoconsumo, onde a família ao ganhar autonomia para produzir o que consome
e manter as necessidades básicas com tal produção, passa a reconhecer o papel dessa
produção diante do seu processo de reprodução social. Segundo Brandão (2000, p. 79) “há um
certo orgulho entre casais de lavradores e camponeses em provar que quase tudo o que a
família usa e consome é obtido ali mesmo e como resultado do trabalho da família sobre a
terra.”
Outra estratégia importante utilizada pelas famílias dos Assentamentos Pé da Serra e
Beira Rio é a agregação de valor aos produtos agropecuários. Dentre as estratégias de
agregação de valor utilizadas vale destacar o processamento artesanal de produtos nas
unidades familiares. O processamento mínimo que envolve a limpeza, corte e embalagem dos
produtos é realizado predominantemente na mandioca e frango. Processamentos de forma
mais complexa são realizados em produtos lácteos e também na mandioca (farinha).
Eu faço queijo pra vender, faço farinha também, tem gente que vem de longe pra
comprar porque já conhece. Eu coloco um preço melhor porque sei da qualidade do
meu produto e dificilmente alguém fais igual, aprendi com minha falecida mãe, mas
ela tinha o jeito dela de fazer e eu o meu...cum tempo a gente aprende a melhorar o
produto, coloca uma coisa a mais pra ficar gostoso. (M.R.S., 58 ANOS,
ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Eu levo a mandioca pra feira discascada e cortada porque o povo acha melhor pra
comprar do que a mandioca crua...fica mais fácil pra fazer é só lavar e cuzinhar ou
fritá também fica bom...e dá pra ganhar uma renda com isso (I.M., 60 ANOS,
ASSENTADO BEIRA RIO)
Percebe-se pelo depoimento que a agregação de valor permite ao agricultor enfrentar
algumas situações imprevistas, garantindo uma renda adicional, uma vez que ele tem a
autonomia para negociar o preço e decidir a valoração do produto, envolve ainda os aspectos
relacionados a confiança entre produtor-consumidor e a qualidade dos produtos oriundos da
agricultura familiar (sem a adição de conservantes e/ou outros aditivos). Essa estratégia
também faz parte de algo mais amplo que contempla o resgate das tradições familiares, do
“saber próprio” que é transmitido de geração a geração e das tecnologias tradicionais, de
modo que a identidade rural seja preservada.
Silva et al. (2009) analisando as estratégias de comercialização de agricultores
familiares da microrregião de Andradina-SP concluíram que cerca de 44% dos agricultores
126
entrevistados realizam algum processo de agregação de valor aos produtos comercializados
diretamente ao consumidor e/ou ao varejo/mercado institucional. Dentre esses, 22,7%
realizam o processamento mínimo ligado sobretudo à limpeza, corte e embalagem de produtos
como a mandioca e frango e 21,3% realizam um processamento mais completo,
predominantemente em produtos lácteos e cárneos. Os processos de agregação de valor foram
aprendidos em sua maioria com os pais/avós ou por experiência própria.
Quando analisamos a sucessão, pode-se perceber pela pesquisa que poucas famílias
têm a perspectiva de continuidade das atividades por parte dos filhos. No geral, os filhos
moram e estudam em outros locais e dos filhos que moram são poucos que mencionaram a
intenção de permanecer na propriedade, e houve casos em que o interesse é expresso pelo
filho(a) de menor escolaridade.
Os filhos estão criados e moram em outra cidade...não vão vir pra cá...só tem eu e
minha mulher pra dar conta de tudo. (J.A., 66 ANOS, ASSENTADO DO PÉ DA
SERRA)
Ah eu tenho o sonho dos meus filhos vir pra cá cuidar do sítio, isso aqui também é
deles, mas tão tudo fora estudando e aí num sei como vai ser depois.(I. P., 62
ANOS, ASSENTADA BEIRA RIO)
Não sei se tem interesse, nunca perguntei...talvez o menino que não quis mais
estudar...o que interessa mais é ele e pode ser que um dia ele assuma a propriedade.
M.J.C., 66 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Os aspectos mencionados nos depoimentos remetem a insegurança em relação a
continuidade da agricultura familiar na localidade, onde o planejamento e a escolha do
sucessor por parte dos agricultores passa a ser um desafio pela falta de comprometimento das
novas gerações exigindo uma reestruturação nas estratégias de reprodução, conforme
Bourdieu (1979) denomina de “reconversão”16. Parte dos agricultores tem idade relativamente
avançada e não possui força de trabalho suficiente para manutenção dessas atividades.
Portanto, a renda gerada na propriedade fica comprometida e as famílias acabam recorrendo a
outras fontes para permanência nos lotes como: benefícios governamentais (aposentadoria,
bolsa família), aluguel, contratação de terceiros para os trabalhos na propriedade, entre outros.
Dotto (2011) analisando os fatores de permanência dos jovens rurais na agricultura
familiar no Mato Grosso do Sul, relata que quando os agricultores projetam a vida dos seus
filhos no local em que vivem, a orientação é de permanência na propriedade, entretanto, se há
16Transformação de uma espécie de capital em outra, podendo ocorrer verticalmente, quando o produtor passa de
pequeno para grande empresário, ou transversal, quando passar da atividade agrária a profissão liberal
(BOURDIEU, 1979 citado por TRIGO, 1998).
127
um número significativo de agricultores com tendência a orientar seus filhos para outras
profissões, fora da propriedade, existe a grande probabilidade da agricultura familiar sofrer
com a ausência de sucessores. Vale ressaltar que o trabalho no campo é árduo e há uma
tendência dos agricultores desejarem aos seus filhos uma vida diferente dos pais, e os jovens
também passam a não ver perspectivas de continuidade nas atividades em função dos reflexos
patriarcais.
Eu mesmo nunca falei pros meus fios ficar aqui, quando consegui a terra os fios já
estavam casados e eu mesmo sempre trabalhei na roça, é duro isso, mas eu gosto do
que faço, nunca incentivei muito porque é sofrido...trabalha de sol a sol...tem que
gostar muito pra continuar aqui...eu gosto...eles foram criados mais na cidade, onde
as condição são mió. (D.M.A.S., 61 ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
O próprio estímulo dos pais para que os filhos estudem e trabalhem fora, faz parte das
estratégias utilizadas pelos agricultores desses assentamentos para manterem-se na terra e
garantir melhorias nas condições de vida, embora comprometa o processo de sucessão.
Acredita-se que com esse estímulo, os filhos possam auxiliar no custeio das despesas dentro
da propriedade.
Os meninos tem que estudar e trabalhar fora mesmo porque eles conseguindo as
coisas pode também ajudar aqui...falta gente aqui pra ajudá no trabalho...mas falta
dinheiro também. Então acho que eles vão ajudar mais estando fora daqui porque me
manda um pouco de dinheiro pra ajudar nas despesas.(A.C., 53 ANOS,
ASSENTADO BEIRA RIO)
Meus filhos foram pra fora estudar e agora me mandam algum dinheiro pras
despesas mais urgente... isso ajuda aguentar um pouco as pontas ( A.M.S., 59
ANOS, ASSENTADA PÉ DA SERRA)
Percebe-se pelos depoimentos, que o incentivo aos filhos a se especializarem garantem
maior segurança a unidade familiar, principalmente em relação a questão financeira. Esse
aspecto pode ser positivo quando se analisa a diversidade nos estabelecimentos e a
necessidade de superação de situações desfavoráveis quando se desenvolve a atividade
agropecuária.
Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira e Braga (2011). Esses autores
analisando as estratégias educativas utilizadas por agricultores familiares do município de
Nova União, Rondônia concluíram que as chamadas “estratégias de encaminhamentos os
filhos” no caso estudado possui duas vertentes: a primeira está relacionada ao investimento na
acumulação ou manutenção de terras (formação do capital fundiário) e a segunda seria
investir na educação dos filhos que envolve a formação do capital cultural. Basicamente a
128
primeira está no interesse dos pais que os filhos estudem um pouco e permaneçam na terra e a
outra é o investimento para que os filhos continuem os estudos, para que consigam uma
profissão que permita melhorar as condições de vida da família, também denominada de
estratégia de promoção social17.
Sen (2000) relata que o aumento da renda e da melhoria das condições de vida está
diretamente relacionado à expansão das liberdades individuais em consequência da
possibilidade de acesso aos diferentes padrões de vida. Assim, o acesso a esses diferentes
padrões de vida pelos filhos é permitido após a saída da propriedade, que gera certas
expectativas por parte dos pais de acesso a outros bens, que estejam relacionados às melhorias
na qualidade de vida proporcionados pelo retorno dos investimentos na formação e
profissionalização dos seus filhos.
Há também casos em que a intenção dos pais é proporcionar condições favoráveis para
que os filhos permaneçam na propriedade, utilizando de uma estratégia que reflete
diretamente nos aspectos da qualidade de vida, como é o caso da reforma da casa que garante
o conforto dos filhos e da família no local.
Eu tô reformando minha casa, aumentando os quartos e pondo uma varanda pra ficar
mais gostoso pro meu filho vim morar comigo...ele gosta de lugar espaçoso...e os
pedrero tão quase terminando a área. (M.R., 58 ANOS, ASSENTADA PÉ DA
SERRA)
Reformei tudo quando soube que meu menino ia morar aqui comigo, agora tem mais
espaço e ele pode ficar mais a vontade aqui no sítio ... ele gosta bastante.(A.C., 56
ANOS, ASSENTADO BEIRA RIO)
Outra estratégia importante para estimular a permanência dos herdeiros na
propriedade, é a remuneração do trabalho do filho(a) mencionada por um dos agricultores
entrevistados.
“Ele recebe um dinheiro pra me ajudar no sítio, dependendo de quanto eu tiro,
consigo dar um pouco mais pra ele...assim vejo que ele se empenha mais no
trabalho” (D.S., 43 ANOS, ASSENTADO PÉ DA SERRA)
Corroborando com os resultados encontrados por Reckziegel (2011) ao analisar as
estratégias de reprodução na propriedade Weizmann no município de Forquetinha – RS. Essa
17Estratégia de promoção social é aquela em que a aspiração dos pais é dar aos filhos uma educação superior
para que consigam uma profissão com um status social mais elevado (STANEK, 1998).
129
autora aponta que a remuneração do trabalho do filho, além de indicar uma estratégia por
parte do patriarca para estimular que o filho permaneça na propriedade, também demonstra
através da remuneração, o reconhecimento do trabalho exercido pelo filho.
Carneiro (2001) revela que à medida que a renda na propriedade não é dividida entre
os filhos que auxiliam nas atividades agrícolas, os mesmos ficam desestimulados em
permanecer na propriedade.
Silvestro et al. (2001) analisando o conhecimento tácito adquirido ao longo dos anos e
no espaço de trabalho por parte dos jovens no oeste de Santa Catarina, indica que mesmo com
baixa escolaridade, principalmente dos filhos e em menor proporção das filhas, esse
conhecimento permite ao filho gerir a propriedade, mediante as experiências relacionadas aos
aspectos e técnicas produtivas, aos diferentes canais de comercialização e a vivência no meio
rural.
Assim, esse reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo filho(a), é uma das
premissas básicas para permanência na terra e na atividade agrícola. Esse reconhecimento do
“conhecimento tácito” (adquirido no ambiente de trabalho e das atividades desenvolvidas) por
parte das novas gerações facilita a transferência da propriedade ao ganharem autonomia para
gerirem seu trabalho e serem recompensados por isso, o que concerne em uma estratégia
importante para reprodução da agricultura familiar.
130
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos resultados da pesquisa permite identificar que as famílias do
assentamento Pé da Serra e Beira Rio são de origem rural e possuem experiência anterior na
atividade agrícola, com predomínio na faixa entre 11 e 20 anos. A trajetória das famílias, de
modo geral, se revelou marcada pela migração, pelo assalariamento, seja ele rural ou urbano.
Em ambos os assentamentos há predomínio do trabalho familiar, realizado principalmente
pelo casal e a maioria dos assentados encontra-se em faixa etária compatível com as
exigências do trabalho que é exercido no estabelecimento. A maioria dos beneficiários possui
baixa escolaridade, embora tenha ocorrido uma expressiva evolução na escolaridade dos
membros da família, quando se compara a escolaridade entre pais e filhos.
Os agricultores utilizam-se de diferentes estratégias para garantir a sua permanência e
manutenção na unidade familiar como: as rendas não agrícolas (alguns por meio da
pluriatividade), a diversificação da produção e outras estratégias produtivas; a agregação de
valor aos produtos; a produção para o autoconsumo; as estratégias sucessórias (incentivos a
determinado filho para permanecer no lote) e educacionais(apoio à maior escolarização dos
filhos). A análise do conjunto das estratégias mostra que os agricultores familiares dos
Assentamentos Pé da Serra e Beira Rio, de forma predominante, são diversificados, com
baixa renda obtida na exploração das atividades agropecuárias e com forte dependência de
rendas não agrícolas (principalmente a aposentadoria) e agrícolas externas à propriedade na
composição da renda total da família.
A principal produção animal é a bovinocultura, presente em quase todas as
propriedades, sendo que os animais representam também uma “reserva” para gastos maiores
quando necessários e, especialmente, nas situações imprevistas. Em relação à exploração
vegetal, há predominância das pastagens, justificada pela bovinocultura, mas há também uma
grande diversidade de culturas, em média quatro a cinco explorações diferentes, e entre as
principais encontram-se a mandioca, o milho, a cana (para alimentação dos bovinos),
frutíferas (banana e pequi) e hortaliças. Constatou-se que os agricultores não utilizam
agrotóxicos, em parte em função de uma consciência ecológica que poderia servir de base
para processos de transição agroecológica, se apoiada por ações de ATER. A produção é
destinada principalmente para autoconsumo, com grandes dificuldades de gerar renda a partir
da comercialização da produção agropecuária.
A avaliação do PNCF por parte das famílias de um modo geral é boa (93%), sendo
apontados como aspectos positivos, a possibilidade de escolher a terra onde comprar, a
131
infraestrutura inicial e o menor tempo de espera para aquisição da terra. Apesar de todos os
problemas apontados, pode-se perceber que o PNCF é uma política importante de acesso à
terra para os agricultores familiares do município de Nova Xavantina - MT, pois diante da
falta de condições desses agricultores familiares para comprar a terra com recursos próprios, a
aquisição da área via crédito fundiário, tem garantido maior agilidade na conquista da terra
(em comparação ao tempo que os assentados da reforma agrária precisam esperar para
conseguir a terra). Entretanto, é preciso considerar que o número de assentamentos rurais e
famílias assentadas pela política de reforma agrária, em comparação ao crédito fundiário no
município, são expressivamente maiores, o que denota a importância da reforma agrária e da
ação dos movimentos de luta pela terra em uma região com predomínio de grandes
propriedades rurais.
De uma forma geral ocorreram melhorias significativas na qualidade de vida das
famílias, após o acesso à terra via PNCF, não somente em relação à aquisição de bens
duráveis, mas também em relação a aspectos como moradia, poder de compra, lazer,
segurança e perspectivas futuras. Além do fato, dessa política propiciar o sentimento de
pertencimento a um lugar/território que, embora possua diferentes significados para os
assentados, constitui-se no espaço de um sonho realizado, de esperança, de construção de uma
identidade coletiva e de busca de novas oportunidades de inserção socioeconômica que
assegure maior grau de autonomia às famílias beneficiadas pelo Programa.
Outros aspectos que refletem na qualidade de vida das famílias como, a participação
política, na gestão local e o envolvimento nas causas coletivas são incipientes, principalmente
no que diz respeito às infraestruturas coletivas de produção, formas de organização social
(baseada na Associação Beira Rio) e a interação dessa organização com a comunidade
assentada. As ações foram tímidas e restritas apenas a formação inicial dos assentamentos.
Constatou-se pela pesquisa que os assentados têm consciência sobre a importância da
organização e/ou trabalho coletivo para o desenvolvimento do Assentamento e da
consequente melhoria da qualidade de vida caso isso se concretize, no entanto, esses não o
vêem como uma prática possível de se desenvolver em função da finalidade que a Associação
foi criada (aquisição da terra com recursos via PNCF). Seria necessária uma reestruturação
dessa organização para que os interesses/demandas da comunidade fossem defendidos, para
isso os associados precisam visualizar a organização coletiva como possível no seu cotidiano,
o que nas condições encontradas dentro desses assentamentos ainda não ocorre.
O estímulo inicial mediante os recursos do SIC permitiu investimentos na estruturação
das unidades produtivas, entretanto, o êxito do Programa ficou comprometido pela
132
descontinuidade das ações propostas, pela falta de apoio técnico - organizacional e
gerenciamento dos recursos financeiros nos lotes, aliado ao fato de que o acesso ao Pronaf
pelos agricultores foi inadequado em função do projeto técnico sugerido às famílias, que
inviabilizou o bom desempenho dos projetos produtivos, bem como, a sua implantação.
Decorre daí a grave situação de inadimplência observada nesses assentamentos, pois grande
parte dos beneficiários não conseguiu organizar a sua produção de modo a garantir o
pagamento das parcelas da terra e do crédito rural a partir da atividade agropecuária
desenvolvida no lote, comprometendo o desenvolvimento dentro desses assentamentos.
Observa-se, portanto, a necessidade de se repensar a política de ATER nos
assentamentos de crédito fundiário, no intuito de garantir a contratação de profissionais
competentes e comprometidos com os interesses dos agricultores, de forma a facilitar a
organização social das famílias, viabilizando as ações propostas pelo PNCF. É necessária
também uma fiscalização maior por parte da UTE, para dar maior legitimidade ao Programa e
evitar o uso inadequado dos recursos. Considera-se importante, que esses recursos não sejam
captados por agricultores que não se enquadrem nos critérios de elegibilidade, de modo a
garantir a consolidação dos assentamentos de crédito fundiário.
A articulação das diferentes políticas públicas com as ações do PNCF é necessária,
para que possam atender os novos arranjos produtivos, buscando continuamente a melhoria
dos serviços prestados, por meio de políticas públicas adequadas a realidade dos agricultores.
Neste tipo de política pública, é fundamental o fortalecimento da produção nos
estabelecimentos, de modo que esta seja suficiente não só para o autoconsumo, mas também
para garantir uma renda que assegure o pagamento das dívidas adquiridas. Assim os
assentados devem buscar apoio, e também a capacitação para o desenvolvimento de sua
autonomia, para a geração de renda e maior inclusão social para a consolidação desses
assentamentos.
Percebeu-se que as estratégias construídas a partir da entrada na terra, além da
experiência acumulada ao longo dos anos, indicam que o viver na terra cria vínculos de
reconhecimento social e que os agricultores buscam construir seus projetos de vida a fim de se
apropriarem da terra e torná-la sua fonte de renda e bem-estar familiar. Ao analisar as
experiências dos agricultores familiares nesses assentamentos, é válido compreender como as
estratégias são construídas e/ou aperfeiçoadas para maior integração ao sistema produtivo, o
que de certa forma contribui para o enfrentamento das adversidades encontradas no meio
rural. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos agricultores e mesmo que os filhos não
tenham a pretensão de dar continuidade aos processos produtivos nos lotes, esse sentimento
133
de pertencimento a um lugar/espaço próprio faz com que as famílias permaneçam na terra
com vistas a consolidação da agricultura familiar.
Ao se considerar os resultados do presente trabalho, apesar das limitações frente a
obtenção de recursos pelo PNCF e ainda que os reflexos diretos não sejam mencionados por
todos, as famílias que residem na área viram nessa política uma forma de garantir o acesso a
terra. É preciso considerar também que, por serem assentamentos relativamente novos, com
aproximadamente seis anos de criação (no período em que se deu a pesquisa de campo), o
retorno dos investimentos ainda não foi suficiente para consolidação de estratégias de geração
de renda, considerando que as famílias acessaram uma única linha (Pronaf) de fomento as
atividades produtivas, além do fato de serem consideravelmente descapitalizadas, o que
implica na dependência dessas, para alavancagem das atividades geradoras de renda, sendo
necessário a captação de recursos próprios para manutenção dessas atividades, o que reflete
no alto grau de endividamento.
Quando se analisa a questão da reforma agrária e o crédito fundiário no município há
um quadro de dependência gerada por recursos governamentais, que quando combinada com
a falta de assistência técnica, trazem sérios problemas de ordem social. É necessário repensar
as ações dessas políticas de acordo com as especificidades da agricultura familiar e que o
resultado desse processo de luta pela terra, possa de fato assegurar a dinâmica produtiva
dentro dos assentamentos, criando condições que viabilizem o desenvolvimento das
atividades no intuito de alcançar melhorias significativas na qualidade de vida das famílias
dos agricultores.
134
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Paradigmas do Capitalismo Agrário em questão. In: SEMINÁRIO
NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL,1,1997, Brasília.
Anais... Brasília: PNUD,1997. p.29-35.
ABRAMOVAY, R. Juventude rural: ampliando as oportunidades. Raízes da Terra –
parcerias para a construção de capital social no campo, Brasília, v.1, n.1, p. 45-52, 2005.
ALENCAR, F. A. G. de. Uma geografia das políticas fundiárias no estado do Ceará.
2005. 149f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Departamento de Ciências Sociais e Filosofia,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.
ANDRADE, M. C. de. O movimento dos sem terra e sua significação.Mercator, Fortaleza,
v.1, n. 2, p.13-26, 2002.
APROSOJA . Aprosoja e Movimento Pró-Logística discutem viabilidade de hidrovia.
Disponível em: <http://www.aprosoja.com.br/>. Acesso em: 14 jan. 2016.
ARRETCHE, M. T. S. Mitos da descentralização. Mais democracia e eficiência nas políticas
públicas? Revista Brasileira de Ciências Sociais,v. 31, n.11, p. 44-66,1996.
ARROYO, M. G.; FERNANDES, B. M. A educação básica e o movimento social do
campo. 1.ed. Brasília: Articulação Nacional por uma Educação Básica do Campo, 1999, 67p.
ATAÍDE JUNIOR, W. R. Os direitos humanos e a questão agrária no Brasil: a situação do
sudeste do Pará. 1. ed. Brasília: UNB, 2006. 308 p.
AZEVEDO, E. As relações entre qualidade de vida e agricultura familiar orgânica: da
articulação de conceitos a um estudo exploratório. 2004. 132f. Dissertação (Mestrado em
Agroecossistemas) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2004.
AZEVEDO, F. F.; PESSÔA, V. L. S. O programa nacional de fortalecimento da agricultura
familiar no Brasil: uma análise sobre a distribuição regional e setorial dos recursos.
Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 23, n.3, p. 483-496, 2011.
AZEVEDO, G.D.de.Os Movimentos Sociais e a Democracia: O Caso do Movimento
Xingu Vivo para Sempre. Cadernos Gestão Social, Salvador, v.3, n.2, p. 205-219, 2012.
BANCO MUNDIAL. Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1990. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1997. 200p.
BARBOSA S. R. da C. S. Qualidade de vida e suas metáforas: uma reflexão
socioambiental. 1996. 135f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.
BARCELOS, S.B. O crédito fundiário e a linha Nossa Primeira Terra em debate no Brasil.
Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 19, n. 1, p. 71-92, 2016.
135
BARRETO , L.M. dos S.; COUTINHO, M. da P. L.; RIBEIRO, C. G. Qualidade de vida no
contexto migratório: um estudo com imigrantes africanos residentes em João Pessoa - PB,
Brasil. Mudanças – Psicologia da Saúde, São Bernardo do Campo,v. 17, n.2, p. 116-122,
2009.
BATALHA, M. O. (Org.) Gestão agroindustrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 800 p.
BELEDELLI, S. A cultura dos camponeses sem terra e a organização do território dos
assentados. 2005.137f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
BERGAMASCO, S. M. P. P. A família nos assentamentos rurais: trajetórias e conquistas. In:
SEMINÁRIO INTERNACIONAL MULHER, FAMÍLIA E DESENVOLVIMENTO
RURAL, 1, 1994, Santa Maria. Anais...Santa Maria: UFSM, 1994. p. 12-18.
BERGAMASCO, S. M. P. P.; NORDER, L. A. C. A alternativa dos assentamentos rurais:
organização social, trabalho e política. São Paulo: Terceira Margem, 2003. 191p.
BERGAMASCO, S. M. P. P.; BLANC-PAMARD, C; CHONCHOL, M. E. Por um Atlas
dos assentamentos brasileiros: espaços de pesquisa. Rio de Janeiro: DL/Brasil, 1997.52p.
BERGAMASCO, S. M. P. P.; NORDER, L. A. C. Os impactos regionais dos assentamentos
rurais em São Paulo (19960-1997). In: MEDEIROS, L. S. de ; LEITE, S. (Org.). A formação
dos assentamentos rurais no Brasil: processos sociais e políticas públicas. Porto Alegre/Rio
de Janeiro: UFRGS/CPDA, 1999. p. 27- 42.
BERGAMASCO, S. M. P. P.; SOUZA, V. F.; CHAVES, T. A. B. A formação escolar em
assentamentos rurais: desafios para as novas gerações. IN: FERRANTE, V. L. S. B.; ALY
JUNIOR, O. (Org.) Assentamentos rurais: impasses e dilemas (uma trajetória de 20 anos).
Brasília: INCRA, Araraquara : UNIARA, 2005. p. 389-404.
BEM, A. S. do. A centralidade dos movimentos sociais na articulação do Estado e a sociedade
brasileira nos século XIX e XX. Educ. Soc., Campinas, v.27, n.97, p.1137-1157, 2006.
BERNARDES, J. A. Fronteiras em mutação nos espaços agrários do Vale do Araguaia
mato-grossense. Rio de Janeiro:Núcleo de Estudos Geoambientais - NUCLAMB/ UFRJ,
2012. 1-13p. Disponível em: <www. Nuclamb .geografia. ufrj.br/ arquivos%
5CTrabalho%20Julia.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2014.
BERTOLINI, G. R. F.; OLIVEIRA, E.; REIS, M. R.; OLIVEIRA, E. D.; SOUZA, A. M.
Perfil e dificuldades da agricultura familiar na cidade de Guaraniaçu/PR. In: SEMINÁRIO
DO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS, 7, 2008, Cascavel. Anais... Cascavel:
UNIOESTE, 2008. p. 66 - 84.
BONATO, A. A.; TORRENS, J. C. S.; MIELITZ NETTO, C. G. A.; GOMES, E. J.; PIRES,
I. C.; HERNANDEZ, M. C. O Programa Nacional de Crédito Fundiário: uma análise
qualitativa (2003-2010). Disponível em:<< http:// www. deser. org.br/ publicacoes/
reordenamento_agrario_7.pdf>. Acesso em: 5 abr. 2016.
BOURDIEU,P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; São Paulo: Difel, 1989.
315p.
136
BOURDIEU, P. Stratégies de reproduction et modes de domination. Actes de la Recherche
en Scienses Sociales, Paris, v.105, n. 1, p. 3-12, 1994.
BRANDÃO, W. A reforma agrária solidária no Ceará. In: SISNANDO, P. L. (Org.) Reforma
agrária e desenvolvimento sustentável. 1 ed. Brasília: NEAD/MDA, 2000. p.
BRASIL. Reforma agrária para todos (2015). Disponível em: <www.mda.gov.br>.Acesso
em: 12 set. 2015.
BRASIL. Lei complementar nº 93, de 4 de fevereiro de 1998.Institui o Fundo de Terras e da
Reforma Agrária - Banco da Terra - e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF , 4 fev. 1998. Disponível em:<http: //www. planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp93.htm>. Acesso em: 25 nov. 2014.
BRASIL. Lei complementar nº 145, de 4 de maio de 2014. Altera dispositivos da Lei
Complementar no 93, de 4 de fevereiro de 1998, que institui o Fundo de Terras e da Reforma
Agrária - Banco da Terra. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
4 de maio 2014. Disponível em:< http:// www. planalto. gov. BR /ccivi l_ 03 /leis/ LCP/ Lcp
145.htm>. Acesso em: 25 nov. 2014.
BRASIL. Decreto nº 4.892, de 25 de novembro de 2003. Regulamenta a Lei Complementar nº
93, de 4 de fevereiro de 1998, que criou o Fundo de Terras e da Reforma Agrária, e dá outras
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 nov.
2003. Disponível em: < http://www2.camara.gov.br/legin/fed/decret/2003/ decreto-4892-25-
novembro-2003-497525-norma-pe.html>. Acesso em: 15 nov. 2014.
BRASIL. Decreto nº 6.672 de 2 de dezembro de 2008. Regulamenta o art. 6o da Medida
Provisória no 2.183-56, de 24 de agosto de 2001, que trata do Subprograma de Combate à Pobreza
Rural, instituído no âmbito do Programa Nacional de Reforma Agrária, e dá outras
providências.Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 dez. 2008.
Disponível em:< http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/Decreto/D6672.htm>. Acesso em: 10 jun. 2015.
BRASIL. Lei N. 4504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá
outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30
nov. 1964. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm>. Acesso
em: 12 jan. 2015
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:< https:// www.
planalto. gov. br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 12 jan. 2016.
BRASIL. Portaria Conjunta Nº 12, de 21 de maio 2014. Regulamenta o procedimento de
adjudicação de imóveis rurais em favor do Programa Nacional de Reforma Agrária em
execuções propostas pela União ou por Autarquias e Fundações Públicas Federais. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 22 maio 2014. Disponível em:<
file:///D:/ Downloads/ release _ do_dou_de_2205.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2016.
BRITO, M. A. Qualidade de vida e satisfação dos associados à Cooperativa
Agroindustrial de Brejo Santo Ltda – COOPABS, no Estado do Ceará. 2002. 96 f.
137
Dissertação (Mestrado em Economia Rural) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2002.
BRITO, M. A. de. Qualidade de Vida e Satisfação dos Associados da Cooperativa
Agropecuária de Brejo Santo - Ceará. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v.35, n.4,
p.500-524, 2004.
BRUMER, A. Previdência social rural e gênero. Sociologias, Porto Alegre, v. 4, n.7, p. 50-81,
2002.
BRUNO, R. Senhores da terra, senhores da guerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1997.178p.
BUAINAIN, A. M. ; SILVEIRA, J. M. F. J.da; ARTES, R.; MAGALHÃES, M. M.; BRUNO,
R. R. Avaliação preliminar do Programa Cédula da Terra. Brasília: NEAD/World Bank,
1999. 320p.
BUAINAIN, A. M.; ROMEIRO, A. R.; GUANZIROLI, C. Agricultura familiar e o novo
mundo rural. Sociologias, Porto Alegre, v. 5, n. 10, p. 312 – 347, 2003.
BUARQUE, C. Qualidade de vida: a modernização da utopia. Lua Nova Revista de Cultura
e Política, São Paulo, v.4, n. 31, p. 157-165, 1993.
BUSSONS, N. de L.; BATISTA, I. N.; LIMA, A. M. C. Análise socioeconômica do
Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF): um estudo de caso no município de Sobral-
Ce. In: WORLD CONGRESS OF RURAL SOCIOLOGY – ALASRU, 8, 2010, Porto de
Galinhas. Anais... Buenos Aires: ALASRU, 2010.p.12-20. Disponível em: <http:// www.
alasru. org/ index.php/congresos>. Acesso: 22 abr. 2016.
CAIADO, R. Memória Roda Viva(1986). Disponível em:< http:// www. rodaviva. fapesp.
br/materia/693/entrevistados/ronaldo_caiado_1986.htm>. Acesso em: 30 jun. 2016.
CAMARGO, L. O Banco da Terra em Santa Catarina: da crítica às possibilidades. 2003.
102f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Universidade Federal de Santa Catarina,
Santa Catarina, 2003.
CAMARGO, L.;MUSSOI, E. M.;CAZELLA, A. A. O caráter de complementaridade do
banco da terra frente a reforma agrária. In: SIMPOSIO LATINO-AMERICANO SOBRE
INVESTIGAÇÃO E EXTENSÃO EM SISTEMAS AGROPECUÁRIOS – IESA, 5.e
ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO – SBSP,
5., 2005, Florianópolis. Anais... Florianópolis: Epagri, 2005. p. 1- 12.
CANUTO, J. C. Agricultura Ecológica en Brasil – Perspectivas socioecológicas.1998.100f.
Tese (Doutorado em Agroecologia) – Instituto de Sociología y Estudios Campesinos (ISEC),
Escuela Superior de Ingenieros Agrónomos y Montes (ETSIAM), Córdoba, 1998.
CARMO, M. S. "A produção familiar como locus ideal da agricultura sustentável". In:
FERREIRA, Â.; BRANDENBURG, A. Para Pensar Outra Agricultura. Curitiba:UFPR,
1998. p.92-113.
138
CARNEIRO, M. J. Política pública e agricultura familiar: uma leitura do Pronaf, Estudos
Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v.1, n. 8, p. 70-82, 1997.
CARNEIRO, M. J. Herança e gênero entre agricultores familiares. Revista Estudos
Feministas, Florianópolis, v.9, n.1, p.22-55, 2001.
CARNEIRO, M. J. Pluriatividade da agricultura no Brasil: uma reflexão crítica. In:
CÓLOQUIO AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL, 1, 2005,
Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: UFRGS, 2005. 1 CD-ROM.p.165-185.
CARPENTIERI, A. O portal do roncador. Nova Xavantina: Tipoalfa, 2008.32p.
CARVALHO, L. H. As condições de vida dos assentados da região de Andradina: a
realidade e os indicadores de avaliação da política pública de reforma agrária.2013. 228 f.
Tese (Doutorado em Serviço Social) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,
Universidade Estadual Paulista, Franca, 2013.
CARVALHO, F. J. C. Reformas financeiras para apoiar o desenvolvimento. Textos para
Discussão,Brasília, v. 4, n.14, p. 1-8, 2010.
CARVALHO, F. C. Políticas econômicas para economias monetárias. In: LIMA, G.T.;
SICSÚ, J. e PAULA, L.F.R.( Orgs). Macroeconomia moderna: Keynes e a economia
contemporânea. Rio de Janeiro: Campus, 1999, 179p.
CARTER, M. Combatendo a desigualdade social: o MST e a reforma agrária no Brasil. In:
CARTER, M (Org.).Combatendo a desigualdade social no Brasil. São Paulo: UNESP,
2010. 564p.
CASTRO, E. G. de. A escolarização nos assentamentos rurais: uma caracterização
comparada. Estudos Sociedade e Agricultura,Rio de Janeiro,v.2, n.12, p. 80-103, 1999.
CAZELLA , A. A.; BÚRIGO,F. L.; GOMES,C. M. P.; RODRIGUES,G. B.; SANTOS,R.
Governança da terra e sustentabilidade: experiências internacionais de políticas públicas
em zonas rurais. Blumenau: Nova Letra, 2015. 360p.
CHAVES, C. de A. A Marcha Nacional dos Sem-Terra — um estudo sobre a fabricação do
social. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.
CHECHIA, V. A.; ANDRADE, A. dos S. O desempenho escolar dos filhos na percepção de
pais de alunos com sucesso e insucesso escolar.Estud. psicol.,Natal,v.10, n.3, p.431-
440, 2005.
COELHO, F. A alma do MST? a prática da mística e a luta pela terra. Dourados-MS : Ed.
UFGD, 2014. 290 p.
CONDÉ, P. A. A. O Acesso à terra e a visão do público não mobilizado em
acampamentos: o crédito fundiário no município de Caçador (SC). 2006. 142f. Dissertação (
Mestrado em Agroecossistemas) - Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
139
CPT – COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Conflitos por terra (2016). Disponível
em:<http://www.cptnacional.org.br>. Acesso em: 20 fev. 2016.
DAL PAI, C. Dinâmica do uso de terras e a organização espacial de Mato Grosso: uma
aplicação dos índices de análise regional. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 4, 2013, Rio Grande do Sul. Anais...Rio Grande do
Sul: UNISC, 2013. p.1-21.
DANTAS, T. S. Desafios da agricultura familiar camponesa e estratégias de resistência
territorial na Comunidade São Pedro de Cima. Disponível em:< http:// www. ufjf. br/
latur/ files/2011/07/Monografia-Tha%C3%ADs-em-pdf3.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2016.
DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra, LAGEA/NERA, 2014.
DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra, LAGEA/NERA, 2010.
DELGADO, G. Especialização primária como limite ao desenvolvimento. Desenvolvimento
em debate, Brasília, v. 1, n. 2, p.111-125, 2011.
DELGADO, G. A Questão Agrária no Brasil, 1950-2003. Disponível em:< http://
disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/126539/mod_resource/content/2/Guilherme%20%20Del
gado%20Quest%C3%A3o%20Agr%C3%A1ria.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2016.
DELGADO, G. C. Capital Financeiro e Agricultura no Brasil. São Paulo: Ícone-
UNICAMP, 1985. 240 p.
DCF. Departamento de Crédito Fundiário. 2015. O Programa Nacional de Crédito
Fundiário. Disponível em: < http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/sra-crefun/sobre-o-
programa>. Acesso em: 25 out. 2015.
DIÁRIO DE CUIABÁ (2016). Rodovia tem mais 3,8 mil km. Disponível em:<http:// www.
Diáriode cuiaba.com.br/detalhe.php?cod=346659&edicao=12415&anterior=1>. Acesso em: 4
jul. 2016.
DI PIERRO, M. C. Situação educacional dos jovens e adultos assentados no Brasil: uma
análise de dados da Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária. In: REUNIÃO
ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
EDUCAÇÃO,29, 2006, Caxambu. Anais .... Rio de Janeiro: ANPEd, 2006. p.1-14.
DOTTO, F. Fatores que influenciam a permanência dos jovens na agricultura familiar,
no estado de Mato Grosso do Sul. 2011, 113 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento
Local) – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2011.
DUVAL, H.C.; FERRANTE, V. B.; VALENCIO, N. F. L. da S. Produção de autoconsumo
em assentamentos rurais: princípios da agricultura sustentável e desenvolvimento.
Disponível em:< http://www.sober.org.br/palestra/9/683.pdf>. Acesso em:12 jan. 2015.
ENGELMANN, S. I.; GIL, A.D. A questão agrária no Brasil: a política agrária do governo
Lula e a relação com o MST. Revista eletrônica do CEMOP, Sumaré,v.1, n.2, 2012.
140
FAVARETO, A. Paradigmas do Desenvolvimento Rural em Questão.São Paulo: Iglu,
2007. 220p.
FERNANDES, B. M. Espacialização e territorialização da luta pela terra: a formação do
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra em São Paulo.1996, 102f.
Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
FERNANDES, B. M. Questão Agrária, Pesquisa e MST. São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção
Questões da Nossa Época, v. 92)
FERNANDES, B. M. Inserção sóciopolítica e criminalização da luta pela terra: ocupações de
terra e assentamentos rurais no Pontal do Paranapanema. In: BERGAMASCO, S.; Pereira, M.
P.; AUBRÉE, M.; FERRANTE, V. L. S. BOTTA. (Org.). Dinâmicas familiar, produtiva e
cultural nos assentamentos rurais de São Paulo. Araraquara:UNIARA, Campinas:
UNICAMP/FEAGRI, São Paulo: INCRA, 2003.16-34p.
FERNANDES, B. M. Entrando nos territórios do território. In: PAULINO, E. T.; FABRINI,
J. E. Campesinato e territórios em disputa. São Paulo: Expressão Popular, 2008. p. 273-
302.
FERNÁNDEZ, A. J. C. Do Cerrado à Amazônia: as estruturas sociais da economia da
soja em Mato Grosso.2007, 262 f. Tese (Desenvolvimento Rural) - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul,Porto Alegre, 2007.
FERNANDEZ, A. J. C.; FERREIRA, E. de C. Impactos socioeconômicos dos assentamentos
rurais em Mato Grosso. In: MEDEIROS,L. S. de; LEITE, S. P. (Orgs.). Assentamentos
rurais: mudança social e dinâmica regional. Rio de Janeiro: MAUAD, 2004. p. 187 – 228.
FERREIRA, W. B. Educação Inclusiva: será que sou a favor ou contra uma escola de
qualidade para todos? Revista da Educação Especial, Brasília, v.3, n.40, p. 1-16, 2005.
FERREIRA, J. C. V. Mato Grosso e Seus Municípios. Cuiabá: Buriti, 2001. 660p.
FERREIRA, G. C. V. Assentamentos rurais no Vale do Araguaia mato-grossense:
adaptação e permanência. 2015, 118f.Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) -
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2015.
FERRANTE, V. L. S. B.; BERGAMASCO, S. M. P. P. Censo de assentamentos rurais do
estado de São Paulo: análise e avaliação dos projetos de reforma agrária e assentamentos do
estado de São Paulo. Araraquara: Multicamp/Unesp, 1995.29p.
FERRANTE, V. L. S. B. Retratos de Assentamentos. 2. ed. Araraquara: UNIARA, 2004.
209 p.
FLORIANO, C. O. Identificação da qualidade de vida no meio rural no município de Major
Vieira. Ágora, Mafra, v. 16, n. 1, p.99-107, 2009.
FRANÇA, M. S. C. de. Xavantes, Pioneiros e Gaúchos: relatos heroicos de uma história de
exclusão em Nova Xavantina. 2000. 128 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) -
Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, 2000.
141
FRANKENBERG, L. Seu Futuro Financeiro. Rio de Janeiro:Campus,1999.82p.
FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.111p.
FREITAS, J. C. Dos direitos de vizinhança e o direito urbanístico.In: FILOMENO, J. G.
B.;WAGNER JÚNIOR, L. G. da C.; GONÇALVES, R. F. (Orgs). O Código Civil e sua
interdisciplinaridade: os reflexos do Código Civil nos demais ramos do Direito. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004. p. 39-46.
GIRARDI, E. P. Uma leitura da questão agrária no Mato Grosso (2015). Disponível em:<
https://confins.revues.org/10446?lang=pt>. Acesso em: 2 abr. 2016.
GALINDO, E.; RESENDE , G. M.; CASTRO, C. DE; CRAVO, T. A. Programa Nacional
de Crédito Fundiário (PNCF): uma avaliação de seus impactos regionais. Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA , 2015. Disponível em:< http:// repositorio.ipea.gov.br/
bitstream/11058/3511/1/td_2042.pdf>. Acesso 16 ag. 2015.
GARCIA Jr., A. O Sul: caminho do roçado. 1983.112f. Tese (Doutorado em Antropologia
Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1983.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. Atlas: São Paulo. Brasil, 2008.
GONÇALVES NETO, W. Estado e agricultura no Brasil: política agrícola e modernização
econômica brasileira 1960-1980. São Paulo: HUCITEC, 1997. 245 p.
GONÇALVES, R. Assentamentos como pactos de (des)interesses nos governos
Democráticos. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, n. 65, p. 33- 42, 2006.
GRAZIANO DA SILVA, J. (Coord.). Estrutura agrária e produção de subsistência na
agricultura brasileira. São Paulo: Hucitec, 1978. 267p.
GRAZIANO DA SILVA, J.; DEL GROSSI, M. E. A evolução das rendas e atividades rurais
não- agrícolas no Brasil. In: SEMINÁRIO SOBRE O NOVO RURAL BRASILEIRO: A
DINÂMICA DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS E NÃO-AGRÍCOLAS NO NOVO RURAL
BRASILEIRO: FASE III DO PROJETO RURBANO, 2., 2001, Campinas. Anais...
Campinas, 2001.p26-52. Disponível em:< http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/> . Acesso
em: 10 abr. 2016.
GRAZIANO da SILVA, J. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas:
Unicamp.IE, 1996. 217p.
GRAZIANO da SILVA, J. O que é questão agrária. São Paulo: Brasiliense, 1993.88p.
GRZYBOWSKI, C. Movimentos populares rurais no Brasil: desafios e perspectivas. In:
STÉDILE, J. P. (Org).A questão agrária hoje. Porto Alegre: UFRGS, 1994. p. 285-297.
GUANZIROLI, C. E.; CARDIM, S. E. de C. S; ROMEIRO, A. R. ; DI SABBATO,
A.;BUAINAIN, A. M.; Rezende , G. C. de ; BITTENCOURT, G. A..;VIEIRA, P. de T. L.;
BARBOSA, M. D.; FERRAZ, E. P. ; ALVES, M. A.;BAMPI, G. Novo retrato da
142
agricultura familiar: O Brasil redescoberto (2000). Disponível em: <http:// www. incra. gov.
br/ Sade/ doc/ AgriFam.htm>. Acesso em: Jul. de 2014.
GUEDES, M. V. C. Avaliação do Programa Nacional de Crédito Fundiário município de
Morada Nova - CE. 2010. 138 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Avaliação de
Políticas Públicas) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010.
HEREDIA, B. M. A. de; MEDEIROS, L.; PALMEIRA, M.; LEITE, S.; CINTRÃO, R.P.
(Coord.). Os impactos regionais da reforma agrária: um estudo sobre áreas selecionadas.
Rio de Janeiro: CPDA/UFRRJ-Nuap/PPGAS/UFRJ, 2001. 215p.
HEREDIA, B. M. A. de; CINTRÃO, R. P. Gênero e acesso a políticas públicas no meio rural
brasileiro. Revista Nera, Presidente Prudente, v.9, n.8, jan./jun., p. 1-28, 2006.
HOFFMANN, R. A Estrutura fundiária do Brasil de acordo com o cadastro do INCRA:
1967-1998. Campinas: INCRA/UNICAMP, 1998.136p.
HOFFMANN, R.; NEY, M. G. Estrutura fundiária e propriedade agrícola no Brasil
(2011). Disponível em:<http://www.nead.gov.br/portal/nead/publicacoes/>. Acesso em: 12
out. 2015.
HOGAN, D. J.; CARMO, R. L. do; CUNHA, J. M. P. da. Migração e ambiente no Centro
Oeste. Campinas: Núcleo de Estudos de População/Unicamp: PRONEX, 2002. 329 p.
IANNI, O. A classe operária vai ao campo. São Paulo: Brasiliense, 1976.82p.
IBGE. Censo agropecuário (2006). Disponível em:< http:// www. ibge. gov. br/ home/
estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/>. Acesso em: 13 fev. 2013.
IBGE. Municípios de Mato Grosso (2014). Disponível em: <http:// www. ibge. gov. br>.
Acesso em: 12 out. 2015.
IBGE. Pesquisa PNAD (2012). Disponível em:<www. ibge. gov. br/ home/estatistica/
populacao/.../pnad2012/default_sintese.shtm>. Acesso em 10 jun. 2016.
INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Histórico da questão
Agrária. Disponível em: <http:// www. incra. gov. br/ index. php/ reforma-agraria-2/
questaoagraria/ historico-da-questao-agraria>. Acesso em: 09 jan de 2014.
INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Qualidade de vida em
assentamentos rurais (2010). Disponível em: <http:// www. incra. gov. br/ >. Acesso em: 09
jan. de 2015.
IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Base de dados regionais. IPEADATA.
Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 29 jun. 2015.
IICA. Edital de Concorrência nº239/2010. 2010.
JORNAL DOS SEM TERRA. A reforma agrária. XIX, n. 207, 2001, p. 5.
143
KHAN, A. S., PASSOS, A. T. B. Reforma agrária solidária, assistência técnica e
desenvolvimento rural no Estado do Ceará. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v.
33, n. 3, 2002. p.593-614.
LEITE, S.; HEREDIA, B; MEDEIROS, L.; PALMEIRA, M.;CINTRÃO, R.Impactos dos
assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro. São Paulo:
UNESP/NEAD/INCRA/MDA, 2004. 394p.
LEITE, S. P.; AVILA, R. V. de. Reforma agrária e desenvolvimento na América Latina:
rompendo com o reducionismo das abordagens economicistas. Revista de Economia e
Sociologia Rural, Brasília, v. 45, n. 3, p. 523-551, 2007.
LEWIN, H. Uma nova abordagem da questão da terra no Brasil. In: LEWIN, H.; RIBEIRO,
A. P. A.e SOUZA E SILVA, L(Coords.). O caso do MST em Campos dos Goytacazes. Rio
de Janeiro: 7 Letras, 2005. 176p.
LIMA, J. R. F. de. A evolução das rendas e atividades não-agrícolas na Paraíba dos anos
90. 2002. 86f. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) – Departamento de Economia e
Finanças, Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande, 2002.
LIMA, D. F. P. Avaliação de impacto do Programa Nacional de Crédito Fundiário na
Região Sul do Brasil. 2011.141f.Dissertação (Mestrado em Ciências)-Escola Superior de
Agricultura Luz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2011.
LIMA, V. A. F. Ocupações Urbanas: As políticas públicas de acesso à terra no Brasil e o
papel do Judiciário e do Executivo na efetivação do direito constitucional à moradia. Revista
do CAAP , Belo Horizonte, n. 1, v. 18 , p. 145 – 174, 2012.
LINDER, M.; MEDEIROS, R. M. V.. A luta pela terra e a recriação dos espaços de vida de
assentados na Campanha Gaúcha. Confins, v.1, n.19, p. 1- 25, 2013.
MAIA, A. H.; SANT’ANA, A. L.; LAFORGA, G.; SILVA, F. C.; SILVA, E. A. Produção
sustentável em assentamentos rurais: o caso do assentamento Pé da Serra, Nova
Xavantina – MT. Disponível em:< http:// www. uniara. com. br/ legado/ nupedor/ nupedor
_2012/ trabalhos/sessao_6/sessao_6E/02_Ana_Maia.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2015.
MATOS, P. F.; PESSÔA, V. L. S. A modernização da agricultura no Brasil e os novos usos
do território. Revista Geo UERJ, Rio de Janeiro, v. 2, n. 22, p. 290-322, 2011. Disponível
em:<http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/2456>. Acesso em: 14
jun. 2014.
MARTINS, J. de S. A sociedade vista do abismo. Petrópolis: Vozes, 2002. 228p.
MARTINS, J. de, s. Reforma agrária o impossível diálogo sobre a História possível. Revista
de Sociologia, São Paulo, v.11, n.2, p. 97-128, out. 1999 (editado em fev. 2000).
MARTINS, J. de S. A questão agrária brasileira e o papel do MST. In: STÉDILE, João Pedro
(Org.). A reforma agrária e a luta do MST. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 27- 42.
MARTINS, J. de S. O Poder do Atraso: ensaios de sociologia da história lenta. São Paulo:
Hucitel , 1995. 174p.
144
MARTINS, J. de S.A Reforma Agrária e os limites da democracia na “ Nova República”.
São Paulo: Hucitec, 1985. 160p.
MARTINS, J. S. A militarização da questão agrária no Brasil. Petrópolis: Vozes,
1984.136p.
MARTINS, J. S. Expropriação e violência: a questão política no campo. São Paulo: Hucitec,
1980. 181p.
MARTIGNONI, L; CORONA, H. L. M. P. Lazer e a ruralidade contemporânea para além da
racionalidade capitalista. Desenvolvimento Regional em debate, Canoinhas,v. 3, n. 1, 2013.
MATO GROSSO (Estado). Portaria s/n. Associação Matogrossense dos Municípios - AMM-
MT.Diário Oficial [do] Estado de Mato Grosso, Cuiabá, MT, 18 dez. 2013. Disponível
em:<http:// www.jusbrasil.com.br/diarios/ 83392464/amm-mt-18-10-2013-pg-102>. Acesso
em: 12 jan. 2016.
MDA. O Programa Nacional de Credito Fundiário (2014). Disponível
em:<www.mda.gov.br>.Acesso em: 14 jan. 2015.
MDA. Dados do PNCF (2013) . Disponível em:<www.mda.gov.br>.Acesso em: 14 jan.
2015.
MDA. Reforma agrária: um compromisso de todos. Brasília: Presidência da
República/SECOM, 2002. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/REFAGR.HTM>. Acesso em: 12 de ago.
2015.
MDA. Estudos de Reordenamento Agrário : Avaliação de Impacto do Programa Nacional
de Crédito Fundiário. Perfil de Entrada da Linha de Financiamento Combate à Pobreza Rural.
Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Reordenamento Agrário, Coordenação
Geral de Planejamento, Monitoramento e Avaliação. Projeto Crédito Fundiário e Combate à
Pobreza Rural. Brasília: MDA, 2007. 176 p.
MDA . Estudos de reordenamento agrário: Guia metodológico das avaliações dos
programas da secretaria de reordenamento agrário. Brasília: MDA, 2007. 276 p.
MDA . Manual Operacional do Programa Nacional de Crédito Fundiário – Linha
CPR.Brasília: MDA, 2009.60p.
MEDEIROS, L. S. de. Social movements and the experience of market-led agrarian reform in
Brazil. Third World Quarterly, Florida, v. 28, n. 8,p. 1501-1518, 2007.
MEDEIROS, L. Reforma Agrária no Brasil: historia e atualidade da luta pela terra. São
Paulo: Perseu Abramo, 2003. 104p.
MELGAREJO, L. O Desenvolvimento, a Reforma Agrária e os Assentamentos – Espaços
para contribuição de todos.Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto
Alegre, v. 2, n. 4, p. 58-68, 2001.
145
MENDONÇA, S. R.; STÉDILE, J. P. A questão agrária no Brasil: a classe dominante
agrária – natureza e comportamento 1964-1990. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
200p.
MENEZES, A. M. F. A autonomia e os recursos tributários municipais no Brasil: uma análise
à luz das Constituições Republicanas. Bahia Análise & Dados, Salvador, v. 13, n. 3, p. 802-
824, 2003.
MINAYO, M. C. de S.; HARTZ, Z. M. de A.;BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um
debate necessário. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.5, n.1, p. 7-18, 2000.
MIRALHA, W. Questão agrária brasileira: origem, necessidade e perspectivas de reforma
hoje. Revista NERA, Presidente Prudente, v. 9, n.8, p. 151-172, 2006.
MLT. Movimento de Luta pela Terra. MLT prepara desapropriação da Fazenda Nova
Viena, em Nova Xavantina (2016). Disponível em:<http:// interessantenews.com.br/
index.php?pag=exibir_news&id=8076>. Acesso em: 10 jun. 2016.
MOCELIN, A.C. Diretrizes para o plano diretor de Nova Xavantina – MT: uma
contribuição à gestão pública municipal. 2011. 163f. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Regional) - Faculdade Alves Faria, Goiânia, 2011.
MOLINA, M. C. O Pronera como construção prática e teórica da educação do campo. In:
ANDRADE, M. R.; DI PIERRO, M. C.; MOLINA, M. C.; JESUS, S. M. S. A. de (Orgs.).A
educação na reforma agrária em perspectiva: uma avaliação do Pronera. São Paulo:
Ação Educativa; Brasília: PRONERA, 2004. p. 61-85.
MORAES, M. D. de; SANT’ANA, A. L.Características Socioeconômicas do Assentamento
Banco da Terra, Nova Xavantina (MT): uma análise sob a ótica da adoção ou construção de
conhecimentos Revistade Economia e Sociologia Rural,Brasília, v.53, n.4, p.589-606, 2015.
MORAES, M. D. de; SANT’ANA, A. L.; OLIVEIRA, L. C. de; GONZAGA, D. A.; SILVA,
E.A. Agricultura familiar e não familiar na Microrregião de Canarana/MT: quo vadis?
Disponível em: <http: //www. uniara. com. br/ legado/ nupedor/ nupedor_ 2012/
trabalhos/sessao_5/sessao_5C/04_Murilo_Moraes.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2016.
MORAES, M. D. de;SILVA,F. C.; GONZAGA, D. A.;SANT’ANA, A. L. Política nacional
de assistência técnica e extensão rural e o caso da microrregião de Andradina-SP. Retratos de
Assentamentos, Araraquara, v.16, n.2, p.71- 90, 2013.
MOREIRA, M. M. S. Trabalho, Qualidade de Vida e Envelhecimento. 2000. 100 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências) – Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, 2000.
MORENO, G. Terra e poder em Mato Grosso: política e mecanismos de burla: 1892- 1992.
Cuiabá: Entrelinhas, 2007.127p.
MORENO, G. Políticas e estratégias de ocupação. In: MORENO, G. e HIGA, T. C.
S. Geografia de Mato Grosso: território, sociedade e ambiente. Cuiabá: Entrelinhas, 2005.
p.34-51.
146
MORENO, G. O processo histórico de acesso a terra no Mato Grosso. Geosul, Florianópolis,
v.14,n.27, p.67-90, 1999.
MORENO,G.; HIGA,T. C. S. Geografia de Mato Grosso. Cuiabá: Entrelinhas, 2009, 295p.
MÜLLER, G. São Paulo – o núcleo do padrão agrário moderno.In: STÉDILE, J. P. (Org.). A
questão agrária hoje. Porto Alegre: UFRGS, 1994. p. 221-237.
NASCIMENTO, C. A.; CARDOZO, S. A. Redes urbanas regionais e a pluriatividade das
famílias rurais no Nordeste e no Sul do Brasil, 1992-1999 e 2001-2005. Revista Econômica
do Nordeste, Fortaleza, v. 38, n. 34, p. 637-658, 2007.
NOVA XAVANTINA. Lei nº. 2.059 de 14 de dezembro de 1963. Nova Xavantina. p.7,
1963.
NOVA XAVANTINA.Lei nº. 3.759 de 29 de junho de 1976. NovaXavantina. p.9, 1976.
NOVA XAVANTINA. Lei nº. 4.176 de 3 de março de 1980. Nova Xavantina. p. 7, 1980.
NOVA XAVANTINA.Portaria Nº 7432 de 31/03/2016. Nova Xavantina. p.2, 2016.
NOVA XAVANTINA.Lei nº 1015 de 12 de maio de 2003.Nova Xavantina. p. 9, 2013.
NOVA XAVANTINA.Lei nº 1739 de 26 de agosto de 2013. Nova Xavantina. p.1, 2013.
NUNES, E. M.; SOUSA, A. C. de; RODRIGUES, J.F., COSTA, G. C. da. Renda rural e
desenvolvimento em áreas de intervenção estatal do nordeste: o caso de Serra do Mel/RN.
Teoria e Evidência Econômica,Passo Fundo,v. 14, n. 27, p. 126-144, 2006. .
OLIVEIRA, V. B. V. de; BRAGA, G. M. Estratégias educativas de agricultores familiares
em Nova União, Rondônia (2011). Disponível em:< http:// www. sbhe. org. br/ novo/
congressos/ cbhe1/ anais/156_vania.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2016.
OLIVEIRA, A. U. O governo Lula dá adeus à reforma agrária (2009). Disponível em:<
http://antigo.brasildefato.com.br/node/3444>. Acesso em: 20 out. 2014.
OLIVEIRA, J. T. A., ANDRADE, M. R. de O. Juventude e projetos de vida:desafios e
perspectivas para a agricultura familiar de assentamentos paulistas In: BERGAMASCO, S.
M. P. P., OLIVEIRA, J. T. A., ESQUERDO, V. F. de S. Assentamentos rurais no século
XXI: temas recorrentes. 1 ed. Campinas: INCRA, 2011. p. 341-364.
OLIVEIRA, N. A. de. Xavante, Pioneiros e Gaúchos: identidade e sociabilidade em Nova
Xavantina/MT. 2010. 189f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, 2010.
OLIVEIRA, J. T. A. (Coord). Segurança alimentar no campo: redesenhos agroecológicos
da produção em áreas de assentamentos e remanescentes de quilombos. Campinas:
Feagri/Unicamp, 2010. (Projeto de pesquisa, Edital CNPq/MCT 19/2010, Processo
559493/2010-0).
OLIVEIRA, N. A. de. Lugares de memória, lembranças e esquecimentos: um novo olhar
147
para o turismo em Nova Xavantina – MT. Nova Xavantina, 2007. 40 f. Monografia
(Bacharelado em Turismo) - Departamento de Turismo, Universidade do Estado de Mato
Grosso, Nova Xavantina, 2007.
OLIVEIRA, E. R.; MOURA FILHO, J. A. de. Desenvolvimento local e sustentabilidade:
cidadania em construção. Revista Organizações Rurais e Agroindustriais, Lavras, v.4, n.1,
p. 1-10, 2002. Disponível em: <http://www.dae.ufla.br >. Acesso em: 5 jan.2015.
PACHECO, R. A. S.; PACHECO, C. R. Questão agrária e regularização fundiária: a ação do
Estado e o conflito de interesses entre trabalhadores rurais sem terra e povos
indígenas.Planejamento e políticas públicas, Brasília, v.20, n. 34,p. 259-288, 2010.
PALMEIRA, M. Modernização, Estado e questão agrária. Estudos Avançados,São Paulo,
v.3,n.7, p.1-22, 1989.
PALMEIRA, M.; LEITE, S. Debates econômicos, processos sociais e lutas políticas:
reflexões sobre a questão agrária. Rio de Janeiro: CPDA/DEBATES, 1997. 52p.
PEREIRA, J. M. M. Neoliberalismo, políticas de terra e reforma agrária de mercado na
América Latina. In: SAUER, S.; PEREIRA, J. M. M. (Orgs.). Capturando a terra. São
Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 13-25.
PEREIRA, J. M. M. O modelo de reforma agrária de mercado do Banco Mundial em
questão: o debate internacional e o caso brasileiro. Teoria, luta política e balanços de
resultados (2004). Disponível
em:<file:///D:/Downloads/O%20modelo%20de%20reforma%20agraria%20de%20mercado%
20do%20banco%20mundial%20em%20questao.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2016.
PEREIRA, J. M. M.; SAUER, S. A “reforma agrária assistida pelo mercado” do Banco
Mundial: dimensões políticas, implantação e resultados. Revista Sociedade e Estado,
Brasília, v. 26, n.3, p.587- 612, 2011.
PEREIRA, E. C. M. O estado novo e a marcha para oeste.História Revista, Goiânia, p.113-
129,1997.
PEYRÉ TARTARUGA, I. O papel da produção para o autoconsumo na segurança
alimentar das populações rurais: um pouco da diversidade da agricultura familiar. In:
COLÓQUIO AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL, 1, 2005,
Porto Alegre: PGDR/UFRGS, 2005. 23 p.1CD-ROM
PNCF. Manual de operações da linha de financiamento Combate à Pobreza Rural. M. D.
D. Agrário. Brasília – 2015.
PNCF. Manual de operações da linha de financiamento Consolidação da Agricultura
Familiar. M. D. D. Agrário. Brasília – 2005.
PRADO JUNIOR, C. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1990.47p.
PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA XAVANTINA. Agenda 21 local de Nova
Xavantina – MT: a comunidade decidindo seu futuro. Nova Xavantina – MT. 2006.
148
QUEIROZ PESSOA, Y. S. R.; ALCHIERI, J. C. Qualidade de vida em agricultores orgânicos
familiares no interior Paraibano.Psicologia: ciência e profissão, Brasília, v.34, n.2, p.330-
343, 2014
RAMALHO, C. B. Impactos socioterritoriais dos assentamentos rurais no município de
Mirante do Paranapanema – região do Pontal do Paranapanema – SP. 2002.156f.
Dissertação (Mestrado em Geografia) - Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma
Agrária, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2002.
RAMOS FILHO, E. da S. Questão agrária atual: Sergipe como referência para um estudo
confrontativo das políticas de Reforma Agrária e Reforma de Mercado (2003 2006). 2008.
152f. Tese (Doutorado em Geografia), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade
Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2008.
RECKZIEGEL,S.A. de M. Sucessão geracional na agricultura familiar: estudo de caso da
propriedade Weizmann, Forquetinha, RS. 2011. 61f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Tecnólogo em Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural)-
Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Picada Café,
2011.
REIS, T.; RAMALHO, R. Dilma assentou menos famílias que Lula e FHC (2015).
Disponível em:<http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/03/dilma-assentou-menos-familias-
que-lula-e-fhc-meta-e-120-mil-ate-2018.html>. Acesso em: 12 fev. 2015.
ROMEIRO, A.R. Reforma agrária e distribuição de renda. Boletim da Associação
Brasileira de Reforma Agrária – ABRA, n.1, 1991.
RUEDA, S. (1997). Habitabilidad y calidad de vida: aproximación al concepto de calidad
de vida. Disponível em:<http://habitat.aq.upm.es/>. Acesso em: 12 jan. 2014.
SÁ, J. M., T. S. LEITE, R. P. SILVA JR & J. P. PIETRAFESA. Indicadores sócio-
econômicos de assentamentos de reforma agrária, em Goiás. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 38., 2000, Rio de
Janeiro.Anais... Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 2000,
628 p.
SACCO dos ANJOS, F.; CALDAS, N. V. GRISA, C. NIDERLE, P. SCHNEIDER, E.
Abrindo a caixa-verde: estudo sobre a importância do autoconsumo na agricultura familiar
gaúcha. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 42,
2004, Cuiabá. Anais... Cuiabá: SOBER, 2004. p.1- 22.
SALOMON, J. J.; SAGASTI, F.; SACHS-JEANTET, C.Da tradição à modernidade. Estudos
avançados, São Paulo, vol.7, n.17, p.07-33,1993.
SANT´ANA, A. L. Raízes na terra:as estratégias dos produtores familiares de três
municípios da mesorregião de São José do Rio Preto (SP). 2003. 246 f. Tese (Doutorado em
Sociologia)- Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara,
2003.
SANT'ANA, A. L.; COSTA, M., V. M. H. de. Produtores familiares e estratégias ligadas à
terra. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 42, n.4, p.663-683, 2004.
149
SANTOS, S. R.; SANTOS, I. O. C.; FERNANDES, M. G. M.; HENRIQUES, M. E. R. M.
Qualidade de vida do idoso na comunidade: aplicação da escala de flanagan. Revista Latino
América de Enfermagem,Ribeirão Preto, v. 10, n. 6, p. 757-764, 2002.
SANTOS, R. de O. C. dos. Estudo das políticas de obtenção dos assentamentos de
reforma agrária no Brasil entre 1985 e 2009. 2010. 92f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Geografia) - Faculdade de Ciência e Tecnologia. Universidade Estadual
Paulista, Presidente Prudente, 2010.
SAUER, S. "'Reforma agrária de mercado' no Brasil: um sonho que se tornou dívida".
Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, p. 98-125, 2010.
SCHMITZ, A.M; SANTOS,R. A. dos. A produção de leite na agricultura familiar do
Sudoeste do Paraná e a participação das mulheres no processo produtivo. Terr@Plural,
Ponta Grossa, v.7, n.2, p. 339-355, 2013.
SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e industrialização: pluriatividade e descentralização
industrial no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 1999, 120p.
SCHNEIDER, S. Rurbanização e pluriatividade: o mercado de trabalho não-agrícola e a
pluriatividade das famílias em áreas rurais. In: CARVALHO, F; GOMES, M.M.; LÍRIO,
V.S.(Org.). Desigualdades sociais: pobreza, desemprego e questão agrária.Viçosa:UFV,
2003. p.87- 93.
SCOPINHO, R. A. Condições de vida e saúde do trabalhador em assentamento rural. Ciência
& Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.15, n. 1, p.1575-1584, 2010.
SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO. Análise da
conjuntura agropecuária, Mandioca safra 204-2015. Disponível em:< http:// www.
agricultura. mt.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/mandioca_2014_15.pdf>. Acesso em:
12 abr. 2016.
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.416p.
SEPLAN – MT. Mato Grosso e municípios. Disponível em:<www.seplan.mt.gov.br>.
Acesso em: 12 abr. 2016.
SILVA, F. C.; SANT’ANA, A. L.; MODENESE, V. da S.; MAIA, A. H. Geração de renda e
de novas sociabilidades dos produtores familiares, a partir de estratégias diferenciadas
de comercialização (2009). Disponível em:< http://www.sober.org.br/palestra/13/878.pdf>.
Acesso em 2 jan. 2016.
SILVA, F. C. ; SANT´ANA, A. L. ; MAIA, A. H. ; KOGA, P. S. L. ; MODENESE, V.S.
Fatores relacionados à assistência técnica enquanto limitantes no processo de tomada de
decisão de produtores familiares. In:SIMPÓSIO SOBRE REFORMA AGRÁRIA E
ASSENTAMENTOS RURAIS, 4., 2010, Araraquara. Anais..., Araraquara: UNIARA, 2010.
p. 1-11.
SILVA, F. C. Agricultura familiar em duas microrregiões do noroeste do estado de São
Paulo: uma análise comparativa entre as explorações agropecuárias e as políticas
150
dirigidas ao segmento. 2012. 147 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Departamento
de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Socioeconomia, Universidade Estadual Paulista,
Ilha Solteira, 2012.
SILVA, M. F. da. “Reforma Agrária de Mercado” ou Atualização do Clientelismo? O
Programa Nacional de Crédito Fundiário e o assentamento de famílias sem terra no Cariri
Ocidental paraibano. 2012. 123f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Centro de
Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande , Campina Grande, PB, 2012.
SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Malheiros, 2001.926p.
SILVA, A. K. M. da. Perfil sócioeconômico e nível de qualidade de vida dos produtores
rurais do município de Mossoró-RN. 2000. 55 f. Monografia (Graduação em Engenharia
Agronômica) - Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Universidade Federal Rural do
Semi-Árido, Mossoró, 2000.
SILVESTRO, M.L. ; ABRAMOVAY, R.; MELO, M. A. de; DORIGON, C.; BALDISSERA,
I. T. Impasses Sociais da Sucessão Hereditária da Agricultura Familiar. Brasília: Epagri;
NEAD, Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2001. 118 p.
SIMONETTI, M. C. L. Assentamentos rurais e cidadania: a construção de novos espaços
de vida. Cultura Acadêmica,São Paulo, n .1, v.1, p.170-188, 2011.
SORJ, B. Reforma agrária em tempos de democracia e globalização. 1. ed. São Paulo:
Novos Estudos CEBRAP, 1998. p. 23-40.
SOUZA, A. B. Projetos de Investimento de Capital: Elaboração, Análise e Tomada de
Decisão. São Paulo: Atlas, 2003.
SOUZA, R. A. de; CARVALHO, A. M. Programa de Saúde da Família e qualidade de vida:
um olhar da Psicologia. Estudos de Psicologia, Campinas, v.8, n.3, p.515-523, 2003.
SOUZA-ESQUERDO, V. F. de F.; BERGAMASCO, S. M. P. P.; OLIVEIRA, J. T. A.;
OLIVEIRA, E. de S. Segurança Alimentar e Nutricional e Qualidade de Vida em
Assentamentos Rurais. Revista de Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, v.20,
n.1, p. 13-23, 2013.
SOUZA FILHO, H. M. de; BUAINAIN, A. M.; GUANZIROLI, C.; BATALHA, M. O
(2010). Agricultura familiar e tecnologia no Brasil: características, desafios e obstáculos.
Disponível em:<http://www.sober.org.br/palestra/12/09O442.pdf>. Acesso em:10 jun. 2016.
SOUZA, V. F. ; BERGAMASCO, S. M. P. P. Trajetórias e redes sociais em assentamentos
rurais do estado de São Paulo: o impacto dos assentamentos na vida dos assentados. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 13., 2007, Recife.Anais..., Recife: UFPE,
2007. CD-Rom.p. 1-17.
SOUZA, P. M.; LIMA, J. E. Intensidade e Dinâmica da Modernização Agrícola no Brasil e
nas Unidades da Federação. Revista brasileira de Economia, Rio de Janeiro: Fundação
Getulio Vargas, v. 57, n. 4, p. 795-824, 2003.
151
SOUZA, M. A. Educação do campo: propostas e práticas pedagógicas do MST. Petrópolis:
Vozes, 2006.136p.
SOUZA, M. A. A pesquisa sobre educação e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-
Terra (MST) nos Programas de Pós-Graduação em Educação. Revista Brasileira de
Educação, Rio de Janeiro, v. 12, n. 36, p. 443-461, 2007.
SOUSA, M. C. de; KHAN, A. S.;PASSOS, A. T. B.; LIMA, P. V. P. S. Sustentabilidade da
Agricultura Familiar em Assentamentos de Reforma Agrária no Rio Grande do Norte.
Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 36, n. 1, p. 39 – 47, 2005.
SPAROVEK, G.; MAULE, R. F. Negotiated Agrarian Reform in Brazil: principles and
practice. In: BINSWANGER, H.; BOURGUIGNON, C.; MOYO, S. LandRedistribution:
Towards a Common Vision.Washington: The World Bank Institute, (2008). p. 109-115.
SPAROVEK, G. (coord.). Avaliação dos projetos do Programa de Combate a Pobreza
Rural - Crédito Fundiário. Brasília:MDA/IICA, 2003. 20p.
SPAROVEK, G. Avaliação de impacto do Programa Nacional de Crédito Fundiário.
Brasília: IICA/MDA/PCT/Crédito Fundiário, 2008. 132p.
SPANEVELLO, R. M.; AZEVEDO, L. F. DE; VARGAS, L. P. MATTE, A. A migração
juvenil e implicações sucessórias na agricultura familiar. Revista de Ciências Humanas,
Florianópolis, v. 45, n. 2, p. 291-304, 2011.
SPERRY, S.; MERCOIRET, J. Associação de pequenos produtores rurais. Planaltina, DF:
EMBRAPA Cerrados, 2003. 47p.
SRA – SECRETARIA DE REORDENAMENTO AGRÁRIO. MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Programa Nacional de Crédito Fundiário (2012).
Disponível em:< sra.mda.gov.br/>. Acesso em : 12 jan. 2015.
SRA – SECRETARIA DE REORDENAMENTO AGRÁRIO. MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. O Programa Nacional de Crédito Fundiário (2015).
Disponível em:< sra.mda.gov.br/>. Acesso em : 12 jan. 2015.
STAEVIE, P. M. Reforma Agrária e os Impactos Regionais dos Assentamentos Rurais no
Desenvolvimento Socioeconómico o Caso Brasileiro. Textos & Debates, Roraima, v.1, n. 9,
p. 229 – 256, 2005.
STEDILE, J. P. (Coord.). A questão agrária hoje. Porto Alegre:, Editora da UFRG, 1994.
112p.
STEDILE, J. P. (Org.). A questão agrária no Brasil: o debate tradicional: 1500-1960. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2005. 500p.
STEDILE, J. P. “El MST y las disputas por las alternativas en Brasil”. Observatório Social
de América Latina (Osal),v.5, n. 13, p. 31-40, Buenos Aires: CLACSO,2004.
STEDILE, J. P.; Mendonça, S.R.A questão agrária no Brasil: a classe dominante agrária -
natureza e comportamento 1964-1990.2 ed., São Paulo: Expressão Popular, 2010, 200p.
152
STEFANOSKI, D. C.; LAFORGA, G.; CUSTÓDIO, A. M.; SILVEIRA, W. S. Inovação
tecnológica: análise no assentamento banco da terra, em Nova Xavantina – MT. Revista
Extensão Rural, Santa Maria, v.21, n. 3, 2013.
SUDECO. Apresentação SUDECO. Disponível em:< http:// www. sudeco. gov. br/ web/
guest/apresentacao#.V3mcwtIrJdg>. Acesso em: 01 jun. 2016.
TEÓFILO, E. A necessidade de uma reforma agrária, ampla e participativa para o
Brasil. Brasília: MDA, 2002. 114p.
TRIGO, M. H. B. “Habitus, campo, estratégia”: uma leitura de Bourdieu. Cadernos
CERU,São Paulo,v. 9, n. 2, p. 45-55, 1998.
VEIGA, J. E da. Fundamentos do agro-reformismo. Lua Nova, São Paulo,v.1, n.23, p. 39-65,
1991.
VEIGA, J. E. da; FAVARETO, A.; AZEVEDO, C. M. A.; BITTENCOURT, G.;
VECCHIATTI,V.; MAGALHÃES, R.; JORGE, R. O Brasil rural precisa de uma
estratégia de desenvolvimento. Brasília, DF: FIPE, 2001. Disponível em: <
http://www.nead.gov.br/>. Acesso em: 3 jun. 2015.
VEGRO, C. L. R.; GARCIA FILHO, D. P.Cédula da Terra e Projeto São José: estudos
preliminares sobre a renda familiar e da capacidade de pagamento dosfinanciamentos.
Brasília: NEAD/MDA, n.3, 1999.149p.
VIEIRA, L. F.; CASTRO, A. M. G. de; LIMA, S. M. V. Perfil do Beneficiário
do Programa Nacional de Crédito Fundiário – Combate à ... (2011). Brasília:
NEAD/MDA, n. 8., 2011, 154p.
VILLAS BÔAS, C; VILLAS BÔAS, O. A Marcha para Oeste. 5 ed. São Paulo: Globo,
1994. 585p.
WANDERLEY, M. de N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, J. C.
Org.).Agricultura Familiar: realidades e perspectivas. 3. ed.Passo Fundo: UPF, 2001. p. 63-
78.
WANDERLEY, M. N. B. A agricultura familiar no Brasil: um espaço em construção.
Reforma Agrária, Campinas, v. 25, n. 2/3, p. 37-57, 1995.
153
Apêndice A – Questionário da Pesquisa.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP ILHA SOLTEIRA
DEPTO DE FITOTENIA, TECNOLOGIA DE ALIMENTOS E SÓCIO-ECONOMIA
PESQUISA: “O PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO NO MUNICÍPIO DE
NOVA XAVANTINA-MT: acesso à terra e qualidade de vida das famílias?”
Nº do questionário: ________ Data do levantamento: _____/___________/__________
1. IDENTIFICAÇÃO
1.1 Nome do produtor: __________________________________________________
1.2 Endereço: _______________________________________ Telefone: ____________
1.3 Há quanto tempo trabalha como agricultor? ______________ E nessa área? ________
1.4 Quais os tipos de trabalho (profissões) que já exerceu, além de produtor(a) rural?
___________________________________________________________________________
2. DADOS DA FAMÍLIA
2.1 Qual o número de pessoas da família que moram no lote? ____________________
2.2 Características das pessoas da família que trabalham no lote:
Nome (incluir o entrevistado) Parentesco Idade Escolaridade
2.3 Há pessoas da família que possuem rendas não-agrícolas (proveniente de trabalho,
aposentadoria, pensão, aluguéis, bolsa família, etc.)? Não ( ) ( ) Sim, especificar quem e
tipo de renda:
2.4 Utiliza mão-de-obra de terceiros para ajudar no serviço da propriedade/lote? ( ) Não
( ) Sim:
( ) empregado permanente ( ) diaristas ( ) troca-de-dias ( ) outro
tipo___________________
2.5 Renda bruta mensal dos beneficiários
( ) Até 1 salário mínimo
( ) Até dois salários mínimos
( ) de 2 a 5 salários mínimos
( ) Acima de 5 salários mínimos
154
3. CARACTERÍSTICAS E INFRA-ESTRUTURA EXISTENTE NO LOTE
3.1Total de áreas próprias: ______ ha 3.2 Total de áreas que arrendou de terceiros:__ ha
3.3Total de área arrendada para terceiros: _________ há
3.4 Benfeitorias (nº) 3.5 Máquinas e equipamentos
(nº)
Casa de moradia ( )A ( )M ( )L Trator
Curral Triturador
Paiol Veículo [ ]
Depósito/tulha Equipamento de irrigação
Ordenhadeira mecânica
3.6. Fonte de água:
Para o consumo familiar: ( ) poço semi-artesiano ( ) poço cacimba ( ) açude
( ) rio
Para os animais: ( ) poço semi-artesiano ( ) poço cacimba ( ) açude
( ) rio
4.EXPLORAÇÃO ANIMAL
4.1. Caracterização da Bovinocultura de leite
4.1.1. Total de cabeças do rebanho: ________________________
4.1.2. Vacas em lactação: __________________ Vacas secas: _______________________
4.1.3. Produção de leite:
4.1.3.1 Média no período das águas: ______ l/dia 4.1.3.2 Média no período da seca:
______ l/dia
4.1.4. Quantidade média de autoconsumo: ____________ litros/dia
4.1.5. Suplementação da alimentação do rebanho no período seco:
( ) Cana-de-açúcar ( ) Napier ( ) Silagem
( ) “Briquete” ( ) Rolão de milho
( ) Concentrado (soja, ração concentrada, etc.) ( ) Outro: __________________________
4.1.6 Número de animais vendidos (último ano): __________________________________
4.1.7 Destino da produção (leite e carne): _________________________________________
155
4.2. Outras criações
Espécie Quantidade Autoconsum
o
Destino da produção comercializada
Aves (nº de cabeças)
Suínos (nº de cabeças)
Ovinos/Caprinos (nº
cab)
5. EXPLORAÇÃO VEGETAL
5.1. Área (ou nº de pés), quantidade produzida e destino da produção das culturas e
forrageiras
Culturas e forrageiras Área ou
nº de pés Produção
Utiliza Destino da Produção
Fer
tili
zan
te
s q
uím
ico
s
Ag
rotó
xic
os Auto-
consum
o
Comercialização
(especificar para
quem)
6. ACESSO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS
6.1 Crédito Agrícola e/ou pecuário
6.1.1Possui financiamentoagrícola vigente (para pagar ou pagando)?
( ) sim ( ) não: Motivo: _________________________________________________
6.1.2(Em caso afirmativo)Utilizou o crédito para qual finalidade_____________________
6.1.3Qual a linha de crédito? ( ) Pronaf ( ) Outra: ______________________________
6.2 Assistência técnica e extensão rural (ATER)
6.2.1 Recebe assistência técnica? ( ) Não
( ) Sim: ( ) regularmente ( ) esporadicamente Empresa: __________________________
6.2.2 Qual a sua opinião sobre a assistência recebida?
( ) muito boa ( ) boa ( ) razoável ( ) ruim ( ) outra resposta: _______________
156
Motivo: ____________________________________________________________________
6.3 Nos últimos anos, participou e/ou recebeu benefícios das seguintes políticas públicas?
( ) Microbacias hidrográfica ( ) Território Rural
( ) PAA ( ) PNAE (...) Outra: _______________________________
7. ACESSO A TERRA e o PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO
7.1Como o acesso à terra pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário? (descrever como
soube e como foi o processo)
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7.2 Como ficou sua vida e da sua família após o acesso à terra via PNCF quanto à:
Aspecto considerado IGUAL MELHOR PIOR
Moradia
Saúde
Alimentação
Educação
Lazer
Poder de compra
Segurança
Perspectiva de futuro
Em geral
7.3 O que a renda gerada no estabelecimento lhe permite garantir?
( ) Alimentação ( ) Educação ( ) Saúde – remédios, exames ( ) Lazer – diversão,
viagens
( ) Transporte – aquisição de veículos, motos ( ) Aquisição de novos/renovação de
eletrodomésticos
( ) Investimentos na infraestrutura do lote ( ) Outras: ____________________
7.4 Em relação à produção de alimentos no lote:
( ) é suficiente para a família e ainda sobra uma grande parte para comercializar
( ) é suficiente apenas para manutenção da família, com sobra muito eventual para venda
( ) é bem pouca, a maioria dos produtos para a alimentação da família compra-se no
comércio varejista
( ) outra resposta: _________________________________________________________
157
7.5 Há espaços de lazer e/ou de cultura no assentamento? ( ) Não ( ) Sim
7.5.1(Caso sim) Quais as atividades desenvolvidas?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7.5.2 Os assentados participam regularmente dessas atividades?
( ) Sim. De que maneira? _____________________________________________________
( ) Não. Por quê? _____________________________________________________________
7.6 Em relação ao contrato de financiamento da terra qual a sua situação atual?
( ) pagamento regularizado ( ) pagamento atrasado
( ) em renogociação ( ) Outra situação: ___________________________________
7.7 Quais as dificuldades que você encontra para ficar em dia com o Banco?
( ) Baixa renda produzida no lote
( ) Despesas muito grandes do produtor para produzir e/ou com a família
( ) Falta de união/colaboração entre as famílias assentadas
( ) Recebeu orientação para não pagar a dívida
( ) Outra: Qual? _____________________________________________________________
( ) Não há dificuldades
7.8Qual é sua opinião sobre as condições do contrato do contrato para pagar a terra?
( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim
Comentário: _________________________________________________________________
( ) Não tenho conhecimento dessas condições
7.9 Desde o contrato inicial, já houve alguma renegociação?
( ) Não. Por quê? ( ) Não se interessou ( ) Muita burocracia e documentação
( ) Faltou orientação sobre como fazer ( ) Outra razão:___________________
( ) Sim. Para quê? ___________________________________________________________
( ) Não sei / não lembro
7.10De modo geral, qual a sua avaliação sobre o PNCF?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7.11 O que você acha do assentado a reforma agrária?
158
7.12 Quais as principais medidas os órgãos públicos deveriam tomar para contribuir com a
melhoria da qualidade de vida no assentamento?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8 AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS DOS AGRICULTORES
8.1 Em relação às seguinte políticas públicas dirigidas ao assentamento:
Política pública Suficiente/boa
qualidade
Precisa
ampliar/melhorar a
qualidade
Inexistente/não teve
acesso
Crédito de
investimento
Crédito de custeio
ATER
Habitação
Comercialização
Educação
Infraestrutura geral*
* Estradas e equipamentos públicos instalados no assentamento para produção e lazer.
8.2 Qual a sua avaliação com relação à política de reforma agrária?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8.3 Quais as pretensões dos seus filhos em relação ao futuro profissional?
(somente para famílias com filhos adolescentes ou adultos)
( ) dar continuidade à produção no lote
( ) ter um lote em outro assentamento de reforma agrária
( ) ter um lote em outro assentamento de PNCF
( ) adquirir uma propriedade rural e desenvolver a produção agropecuária
( ) concluir uma faculdade e trabalhar na profissão escolhida
( ) ir para a cidade e tentar se inserir no mercado de trabalho urbano
159
( ) Outra: _____________________________________________________________
8.4 Com relação às suas perspectivas em termos de local de moradia e trabalho, o
senhor(a) pretende:
( ) continuar morando e desenvolvendo a produção agropecuária neste assentamento
( ) deixar de ser assentado e trabalhar como assalariado rural
( ) deixar de ser assentado e ir para a cidade tentar se inserir no mercado de trabalho
urbano
( ) outra: ___________________________________________________________
9 Você acredita que os programas de acesso a terra (PNRA e PNCF) tem alterado as
disputas por terra na região? (Caso não ) Por quê
(Caso sim) quais mudanças?
10OBSERVAÇÕES:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
160
Apêndice B – Roteiro de entrevistas aos atores externos ao Assentamento.
ROTEIRO DE ENTREVISTA AOS ATORES EXTERNOS AO ASSENTAMENTO
(Sugestões para entrevista com líderes do Sindicato Rural, CMDRS, INCRA, EMPAER)
Nome: _______________________________________________ Telefone: _________
Profissão: ______________________________ Função: _______________________
Cidade: ________________________________________________________________
1- Na sua visão, qual o principal fator que proporciona desenvolvimento rural no
município?
2- Quais os efeitos (positivos e/ou negativos) que a implantação de assentamentos rurais
de reforma agrária traz para o município?
3- Quais os efeitos (positivos e/ou negativos) que a incorporação de novas áreas
destinadas ao crédito fundiário aos agricultores familiares traz para o município?
4- Em relação ao PNCF:
4.1 Qual a sua avaliação dos projetos produtivos propostos?
4.2 Qual a sua avaliação dos resultados da implantação destes projetos produtivos?
4.3 Quais aspectos devem ser mantidos e/ou reforçados no Programa?
4.4 Quais aspectos devem ser mudados?
4.5 Quais os efeitos desse Programa na condição de vida das famílias?
5- Em sua visão, quais os principais motivos que levam à desistência de famílias do lote?
6- A inadimplência em relação ao financiamento agrícola nos assentamentos tipo PNCF
tem crescido.
6.1 Na sua interpretação, quais os motivos desse problema?
6.2 Quais as consequencias para agricultura familiar no município?
7- O que as redes de apoio, como instituições de ATER e os movimentos sociais, têm
feito para consolidação do PNCF no município?
8- De modo geral o cenário é de pobreza rural nos assentamentos rurais. O que é
necessário para mudar essa situação, garantindo às famílias beneficiadas uma boa qualidade
de vida e o desenvolvimento sustentável dos assentamentos?
9- Você acredita que os programas de acesso à terra têm alterado as disputas de terra na
região?
- (Caso não) Por quê?
- (Caso sim) Quais as mudanças?
161
Apêndice C – Roteiro de entrevista (Secretaria da Agricultura-NX)
ROTEIRO DE ENTREVISTAS(SECRETARIA DA AGRICULTURA DO MUNICÍPIO
DE NOVA XAVANTINA-MT)
1. Quando foi criado o Conselho de Desenvolvimento Rural do município e como é
composto?
2. Quais as competências do Conselho de Desenvolvimento Rural?
3. O Município elaborou o Plano de Desenvolvimento Rural?
(Caso não) Por quê?
(Caso sim) Quais as principais prioridades e metas previstas?
4. O Plano de Desenvolvimento Rural do município inclui propostas que contemplam os
assentamentos rurais?
(Caso não) Por quê?
(Caso sim) Quais as principais?
5. Quais medidas a Prefeitura Municipal têm adotado para incentivar a agricultura em geral e,
em particular, os assentamentos rurais do município?
6. O senhor sabe quais os incentivos que o Governo Federal ou Estadual tem realizado para
dinamizar e fortalecer a agropecuária e, em particular, os assentamentos rurais do município?
7. Como o senhor avalia as perspectivas de desenvolvimento da agropecuária no Município?
8. Na sua opinião, quais os efeitos que a implantação de assentamentos rurais de reforma
agrária traz para agricultura e o espaço rural do município?
9. Na sua opinião, quais os efeitos que a implantação de assentamentos do PNCF traz para
agricultura e o espaço rural do município?
10. Como você analisa a situação atual dos assentamentos do PNCF no município, em termos
de:
10.1 Produção agropecuária?
10.2 Capacidade de reprodução social dos agricultores?
10.3 Perspectivas de desenvolvimento