A utilização da informática como recurso didático nas aulas de Matemática

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ACTA SCIENTIAE – v.7 – n.1 – jan./jun. 2005 25 A utilização da informática como recurso didático nas aulas de Matemática Cláudia Assis Hendres Carmen Teresa Kaiber RESUMO Este artigo apresenta uma investigação realizada junto aos professores de Matemática do Ensino Fundamental e Médio das redes particular, municipal e estadual da cidade de Canoas/RS, objetivando identificar as condições de utilização da informática como recurso nas aulas de Matemá- tica, bem como seus efeitos sobre os alunos e suas aprendizagens. Foram pesquisados aspectos relativos às condições de acesso ao computador e a softwares educativos pelos professores, dificul- dades e expectativas em relação ao uso de tais mídias e aspectos referentes à influência sobre os alunos segundo a ótica docente. Acredita-se que a informática é um recurso que tem muito a contri- buir para uma melhoria no processo de ensino e aprendizagem da Matemática, proporcionando aos professores e alunos a oportunidade de um trabalho atual, inovador e rico em possibilidades. Palavras-chave: informática educativa, softwares educativos, ensino-aprendizagem. ABSTRACT This article presents an investigation done with Mathematics teachers working in Elementary and High schools in private, state, and municipal nets from Canoas city/RG, and it has as objective to identify the condition of using of computer science as resource in Math classes, as well the effects of this utilization in students and their leanings. It was researched aspects relative to the conditions of access to the computer and educational softwares by teachers, difficulties and expectations directed to the use of such medias, as also, referring aspects the influence of this use on the pupils under the optics of the teachers. It is given credit that the computer science is a resource that has much to contribute to the improvement of the Mathematics process of education and learning, providing to the professor and pupils the chance of a current work, innovator and rich in possibilities. Key words: educative computer science, educative softwares, teach-learning. Cláudia Assis Hendres é Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA. E-mail: [email protected] Carmen Teresa Kaiber é Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia de Salamanca/Espanha e professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA. E-mail:[email protected] 1 Introdução A tecnologia, hoje, mais do que nun- ca, influencia a sociedade e as relações en- tre professor, aluno e informática são cada vez mais freqüentes. Por esse motivo, tor- nou-se necessário um estudo que possibi- lite analisar em que medida e como a Canoas v.7 n.1 p. 25 - 38 jan./jun. 2005 ACTA SCIENTIAE

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ACTA SCIENTIAE – v.7 – n.1 – jan./jun. 2005 25

A utilização da informáticacomo recurso didático nas

aulas de Matemática

Cláudia Assis HendresCarmen Teresa Kaiber

RESUMO

Este artigo apresenta uma investigação realizada junto aos professores de Matemática doEnsino Fundamental e Médio das redes particular, municipal e estadual da cidade de Canoas/RS,objetivando identificar as condições de utilização da informática como recurso nas aulas de Matemá-tica, bem como seus efeitos sobre os alunos e suas aprendizagens. Foram pesquisados aspectosrelativos às condições de acesso ao computador e a softwares educativos pelos professores, dificul-dades e expectativas em relação ao uso de tais mídias e aspectos referentes à influência sobre osalunos segundo a ótica docente. Acredita-se que a informática é um recurso que tem muito a contri-buir para uma melhoria no processo de ensino e aprendizagem da Matemática, proporcionando aosprofessores e alunos a oportunidade de um trabalho atual, inovador e rico em possibilidades.

Palavras-chave: informática educativa, softwares educativos, ensino-aprendizagem.

ABSTRACT

This article presents an investigation done with Mathematics teachers working in Elementaryand High schools in private, state, and municipal nets from Canoas city/RG, and it has as objective toidentify the condition of using of computer science as resource in Math classes, as well the effects ofthis utilization in students and their leanings. It was researched aspects relative to the conditions ofaccess to the computer and educational softwares by teachers, difficulties and expectations directedto the use of such medias, as also, referring aspects the influence of this use on the pupils under theoptics of the teachers. It is given credit that the computer science is a resource that has much tocontribute to the improvement of the Mathematics process of education and learning, providing to theprofessor and pupils the chance of a current work, innovator and rich in possibilities.

Key words: educative computer science, educative softwares, teach-learning.

Cláudia Assis Hendres é Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática daULBRA. E-mail: [email protected] Teresa Kaiber é Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia de Salamanca/Espanha eprofessora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA. E-mail:[email protected]

1 IntroduçãoA tecnologia, hoje, mais do que nun-

ca, influencia a sociedade e as relações en-

tre professor, aluno e informática são cadavez mais freqüentes. Por esse motivo, tor-nou-se necessário um estudo que possibi-lite analisar em que medida e como a

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informática educativa vem sendo inseridanas aulas de Matemática.

O uso do computador no ensino daMatemática é uma necessidade atual edeve, cada vez mais, ligar-se à rotina didá-tica dos professores e à escola em geral. Emdecorrência disso, a utilização crescente dainformática tem gerado discussões e refle-xões acerca de como vem ocorrendo noensino e aprendizagem de Matemática.

Segundo Moreira (2000, p.2), há umanecessidade crescente de conhecimento deinformática e novas tecnologias, porém,grande parte das escolas não propicia umensino voltado a viabilizar, através desseconhecimento, a inserção social plena dosestudantes. Assim, a necessidade de tra-çar políticas educacionais que integrem asnovas tecnologias no currículo escolar deveser preocupação de todos os envolvidos noprocesso educativo.

Groenwald, Silva e Mora (2004, p.45)consideram que as tecnologias devem serincorporadas como ferramentas cotidianasintegradas aos demais recursos didáticos eestratégias de ensino que tenham comoobjetivo melhorar consideravelmente o tra-balho escolar, tanto dos estudantes comodos professores.

Nesse contexto, este artigo apresentareflexões a respeito da inserção dainformática nas aulas de Matemática base-adas em uma pesquisa junto aos professo-res de Matemática da educação básica dacidade de Canoas. A investigação buscouapontar as condições de utilização dainformática como recurso didático nas au-las de Matemática, seus efeitos dessa utili-zação sobre os alunos e suas aprendizagens,bem como dificuldades e perspectivas.

Entende-se que incluir o computadorcomo recurso didático nas aulas de Mate-mática é um desafio para professores e alu-nos. Ao professor cabe a tarefa de utilizá-lo de forma criativa e inovadora de tal for-ma que potencialize as aprendizagens dosalunos. Para o aluno a utilização dainformática surge como um estimulador

de inferências sobre o que observa e umfacilitador na construção de hipóteses quecolocam à prova seu intelecto, auxiliando-o a consolidar idéias, conceitos e esquemas.

2 Tendências atuais dainformática educativaA inclusão da informática na educa-

ção tem ocorrido de modo muito acentua-do através da utilização de softwareseducativos. Os softwares podem ser classifi-cados conforme o enfoque educacional a serseguido, ou seja, agregados à métodos ali-nhados a uma postura tradicional em edu-cação ou a posturas que privilegiem o de-senvolvimento de habilidades de pensamen-to, manipulação de informação e constru-ção do conhecimento. Assim, é necessáriopropor uma discussão sobre os diferentesparadigmas educacionais que norteiam ouso da informática no processo educativo,bem como uma apresentação dos diferen-tes tipos de softwares educacionais que es-tão à disposição dos educadores.

Os softwares que vêm sendo incluídosna sala de aula possuem características asquais os situam em dois paradigmas, no quese refere a sua utilização no processoeducativo: o paradigma algoritmo-instrucionista e o heurístico-construcionista.

O paradigma algoritmo-instrucionistaé aquele em que o computador é visto comouma máquina de ensinar e o aluno comoreceptor de informação. No paradigmaheurístico–construcionista, o computadoré utilizado como uma ferramenta, um meiopara aprender em um ambiente aberto, ten-do como principal finalidade a exploração,a construção de significados e conceitos.

Os softwares ligados à correnteinstrucionista são utilizados para instruiros alunos de maneira individualizada,algorítmica e programada. São desenvol-vidos para uma área e nível específico, sen-do que os conteúdos referem-se aos con-ceitos trabalhados em uma disciplina e em

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um determinado momento, não alteran-do ou interferindo na metodologia de en-sino que está sendo desenvolvida. Nessecontexto, o professor é treinado para usarum software, mantendo a sua atuação emsala de aula praticamente a mesma. Asmudanças são mínimas, o que minimizacusto e riscos.

Na corrente construcionista, os estu-dantes são incentivados a tomarem inicia-tivas tornando o aprendizado uma evolu-ção e não uma mera aquisição, onde fazer,refazer, repetir e refletir são componentesdo ciclo interativo de aprender. Ossoftwares, sob essa óptica, vão além da trans-missão dos conteúdos, visando à explora-ção e construção de conceitos significati-vos, desenvolvimento de habilidadescognitivas como estratégias de solução deproblemas, criatividade, manipulação deinformações em ambientes ricos e situaçõesque permitam aos alunos conjecturar, com-provar suas hipóteses, chegando a sínte-ses e conclusões.

Segundo Papert (1993, p.125), oconstrucionismo é gerado pressupondo queas crianças farão melhor descobrindo porsi mesmas o conhecimento específico deque necessitam. A atitude construcionistatem por meta ensinar de forma a produziruma aprendizagem maior a partir do míni-mo de ensino.

Segundo Valente (2002, p.51), ossoftwares relacionados ao paradigmainstrucionista podem ser divididos nas ca-tegorias tutorial , exercício- e- prática, jo-gos e simulação.

Para Litwin (1997, p.86), essas cate-gorias são chamadas de modalidades àsquais acrescenta a linha instrucionista, ossoftwares de demonstração. Salienta, ainda,que essas classificações podem assumiroutras, pois um mesmo programa, por suanatureza, pode estar inserido em outrasmodalidades. Por exemplo: um software desimulação ou um jogo pode ter caracterís-ticas tais que possa ser incluído noparadigma construcionista.

Essas categorias de softwares atendema uma linha comportamentalista que temcomo chave a modificação do comporta-mento. Assim um software de tipo tutorialapresentará informações ou conceitos no-vos ao aluno, substituindo aulas e livros.Serve de apoio ou reforço para as aulas,para preparação ou revisão de atividades eainda pode ser usado pelo aluno com difi-culdades ou que perdeu alguma aula e pre-cisa alcançar o grupo (STAHL, 1990, p.38).

Esse tipo de programa atua como uminstrutor, dá a informação e, a seguir, pormeio de pergunta, verifica se houve a com-preensão. Em caso de acerto o processocontinua, do contrário, a lição pode serrepetida. Oferece como recurso a avaliaçãoquantitativa e acumulativa, sendo que cadaquestão possui um peso. À medida que ograu de dificuldades aumenta, o peso daquestão também aumenta, mantendo umescore na pontuação.

Os softwares de exercício ou prática sãoprogramas que se restringem a uma área de-terminada. São utilizados para revisar conteú-do, possibilitando a memorização e repetição,como aritmética e vocabulário. Tais progra-mas verificam as respostas, oferecem exem-plos de ajuda, registram as respostas corretase incorretas quantitativamente. Propiciam ofeedback imediato, explorando característicasgráficas e sonoras do computador. O profes-sor tem um aliado nesses programas, uma vezque oferecem uma gama de exercícios, os quaiso aluno resolve conforme seu grau de conhe-cimento e interesse.

Os softwares de jogos educativos sãoutilizados em qualquer área, dispondo deestratégias e habilidades para alcançar umobjetivo. Neles, os conceitos e informaçõessão pouco utilizados, sendo necessáriashabilidades como motricidade, atenção ecriatividade. Seu objetivo é que o alunoaprenda se divertindo.

Segundo Stahl (1990, p.40), um jogoeducativo por computador é uma ativida-de de aprendizagem inovadora na qual ascaracterísticas do ensino apoiado em com-

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putador e as estratégias de jogo são inte-gradas para alcançar um objetivo educaci-onal específico. Os jogos educativos podemser altamente abstratos, ou mais concretos,representando situações de vida.

Para Valente (2002, p.104), os jogoseducativos por computador respeitam umciclo descrição-execução-reflexão-depura-ção-descrição, característica herdada dossoftwares do tipo tutorial. Como possuemesse perfil a categoria jogos educacionaisestá vinculada ao paradigma instrucionista.

Já os softwares vinculados ao paradigmaconstrucionista têm por objetivo proporcio-nar o aluno um aprendizado construído apartir das situações propostas e de conheci-mentos prévios. A construção se dá de ma-neira individual, explorando atividades, in-vestigando até que o aluno chegue à desco-berta. As categorias de software vinculadasao paradigma construcionista possuem al-guns princípios: a construção do conheci-mento, o controle pelo próprio estudante, aindividualização determinada pelo estudante,um “feedback” rico, gerando aprendizagensa partir da interação com o ambiente deaprendizagem e não pelo sistema. Os softwaresna abordagem construcionistas estão dispos-tos em linguagem computacional ou de pro-gramação, sistemas de modelagem, simula-ções e sistemas de autorias.

A categoria linguagem de programa-ção utiliza o computador como uma ferra-menta cujo ambiente é aberto, propician-do a construção de projetos. Não há umaseqüência a seguir, pois o aprendizadoocorre à medida que o aluno utiliza a lin-guagem para desenvolver algo.

Conforme Litwin (1997, p.89), as lin-guagens de programação constituem umaferramenta que permite melhorar o pen-samento e acelerar seu desenvolvimentocognitivo. Essa modalidade é constituídade ferramentas de uso polivalente que são,geralmente, conteúdos de ensino nas au-las de computação. As linguagens de pro-gramação mais ensinadas como conteúdode ensino no laboratório de informática

são PASCAL, BASIC, DBASE e, na educa-ção, a linguagem LOGO.

Os simuladores apresentam situaçõesreais e condizem, didaticamente, com aimpossibilidade da experiência real. Exis-tem programas que simulam, de maneiraestática, e o aluno apenas assiste. Nas si-mulações interativas, o aluno participa ,estabelecendo hipóteses, realizando expe-rimentos, aprovando ou reconsiderandosuas suposições.

De acordo com Valente (2002, p.102),os simuladores envolvem a criação de mo-delos dinâmicos e simplificados do mun-do real. Esses modelos permitem: a explo-ração de situações fictícias, de situaçõescom risco, como manipulação de substân-cia química ou objetos perigosos; experi-mentos que são muitos complicados, ca-ros ou que levam muito tempo para se pro-cessarem, como crescimento de plantas;situações impossíveis de serem obtidas,como um desastre ecológico.

Para Litwin (1997, p.88), os simula-dores permitem confrontar um modelo sin-tetizado mediante simulação com outromodelo real associado, analisando-o oucontrolando-o.

Os softwares de simulação têm a pos-sibilidade de desenvolver hipóteses, testare analisar resultados, chegando a um con-ceito hipotético. Podem trabalhar em gru-po, confrontando e explorando seus acha-dos, explorando textos, imagens de vídeo,som, animação e gráficos, e, nesse caso, ocomputador passa a ser usado como umaferramenta que promove aprendizagem.

Litwin (1997, p.89) destaca, ainda, asferramentas , que podem ser processadoresou editores de texto, banco de dados, fo-lhas ou planilhas de cálculo, programas degráficos, sistemas especializados, progra-mas de estatísticas e telemática. Essas fer-ramentas, bem como as diversas categori-as ou modalidades de softwares, podem serutilizadas no processo de ensino e apren-dizagem das mais diversas áreas do conhe-cimento.

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Quando o professor de Matemáticaconhece e reconhece, em um determina-do software, o paradigma em que o mes-mo se encontra, fica segura acerca dos ob-jetivos as quais quer alcançar, não se frustadiante do trabalho desenvolvido com osoftware e não espera nada além do queele pode oferecer.

3 Professores e astecnologias em buscade novas metodologiasde ensino para aMatemáticaO professor de Matemática lançou-se

a uma trajetória sem volta. Influenciadopelas dificuldades dos alunos em apren-der os conceitos matemáticos, em perce-ber a utilidade e aplicação do que apren-dem , além de cansado de procurar umculpado, busca métodos de ensino quesupram as necessidades do aluno e dele .

Segundo Borba (2004, p. 261), ao pro-fessor de Matemática cabe o papel de va-lorizar essa disciplina, tornando-aprazerosa, criativa e útil, garantindo a par-ticipação e o interesse dos alunos, a fim deproporcionar um aprendizado eficiente ede qualidade.

As crescentes pesquisas emmetodologias na área da Matemática mos-tram a possibilidade de obter a modifica-ção das práticas pedagógicas nas aulas des-sa disciplina. As modificações podem serproduzidas a partir da metodologia de en-sino e sua associação à informática. Dentreessas metodologias pode-se destacar a mo-delagem matemática e a resolução de problemas.

Neste sentindo Borba, (2001, p.39)destaca que busca integrar a experimenta-ção com tecnologia ao trabalho de modela-gem nas aulas de Matemática como meiode expandir a investigação em sala de aulaem direção a temas mais gerais, para que otrabalho se desenvolva numa perspectiva

que vá muito além dos aspectosinternalistas da Matemática.

A modelagem matemática, segundoBassanezi (2002, p.16) pode ser uma es-tratégia de ensino-aprendizagem, que con-siste na arte de transformar problemas darealidade em problemas matemáticos eresolvê-los interpretando suas soluções nalinguagem do mundo real.

Outra metodologia que pode utilizarrecursos tecnológicos é a resolução de pro-blemas. Para Groenwald, Silva e Mora (2004,p.40), a resolução de problemas possibilita aoaluno dedicação de maneira independen-te e autônoma, buscando as melhores idéi-as e estratégias para alcançar uma soluçãoadequada a um problema originalmenteproposto, atingindo, dessa maneira, umvalor didático e pedagógico importante.

De acordo com Borba (2004, p. 225),ao utilizar o computador na resolução deproblemas que visam à introdução de umnovo conceito, o processo subseqüente deformalização dos conteúdos matemáticosapresenta-se amplamente facilitado, devi-do a essa abordagem empírica e experimen-tal que o computador possibilita.

Os trabalhos desenvolvidos e que uti-lizam informática como recurso o fazem,em grande parte, através do uso de softwareseducativos.

Nesse contexto, os softwares são incor-porados ao trabalho por proporcionaremuma interatividade, bem como a consecu-ção de objetivos de natureza matemática eeducacional. Utilizando-os, os alunosvivenciam situações de aprendizagem qua-se reais, pois jogam, simulam, criam mo-delos, confrontam resultados, apresentamsoluções e as interpretam.

Algumas das principais conclusõesestabelecidas a partir desse trabalho dizemrespeito ao fato de que as novas tecnologiaspodem transformar a Matemática que éabordada em sala de aula, pois ampliam aspossibilidades de mudanças na forma dedesenvolver, organizar e aplicar o conheci-mento. Assim há possibilidades harmôni-

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cas entre a prática pedagógica e a utiliza-ção de novas tecnologias, porque o com-putador pode auxiliar no desenvolvimen-to cognitivo dos alunos, viabilizando a rea-lização de novos tipos de atividade e denovas formas de pensar e agir.

4 A pesquisa realizadaAs escolas estaduais, municipais e

particulares de Ensino Fundamental eMédio do município de Canoas que pos-suem Laboratório de Informática foramescolhidas como população para esta pes-quisa. Salienta-se que, nesta região, as es-colas municipais estão sendo beneficiadaspor uma ampla implementação de Labo-ratórios de Informática, uma vez que das40 escolas municipais, 32 possuem Labo-ratório de Informática e todas as escolasda rede particular também o possuem.Durante o levantamento realizado com acolaboração da 27ª Coordenadoria Regio-nal de Educação do Rio Grande do Sul,foram encontradas, em Canoas, apenasduas escolas da rede pública estadual comLaboratório de Informática em funciona-mento. Para a realização da pesquisa, fo-ram selecionadas 15 escolas e uma amos-tra de 43 professores.

Buscando realizar uma leitura da rea-lidade no que se refere à utilização dainformática nas aulas de Matemática,metodologicamente, prevaleceu o enfoquequantitativo, coletando-se os dados atra-vés de um questionário. O questionárioaplicado é composto de um total de 32questões que estão agrupadas consideran-do os objetivos específicos propostos. Oreferido instrumento de pesquisa consta devinte (20) questões fechadas de escolha sim-ples e múltipla, dez (10) questões compos-tas de uma escala de freqüência do tipoLickert (intervalo de cinco pontos, organi-zados em ordem crescente nas afirmaçõespositivas) e duas (2) questões de escolhamúltipla com ordem de prioridade.

A organização, análise e interpretação dasinformações obtidas com a aplicação do ques-tionário permitiram um aprofundamento sig-nificativo em relação às questões investigadas.O software utilizado para a análise estatísticafoi o SPSS (Statistical Package for The SocialScience), versão 10.0.

5 Apresentação eanálise dos dados

5.1 A formação do professorem relação à informática

A pesquisa apontou aspectos signifi-cativos do perfil dos professores na sua re-lação com informática educativa. Um des-ses aspectos refere-se à formação dos pro-fessores. Constatou-se que 95% dos entre-vistados possuem curso superior, sendoque 65% possui, como formação específi-ca, Licenciatura Plena em Matemática, oque evidencia o nível de capacitação dosprofessores de Canoas. Os dados revelamque 63% dos professores entrevistados par-ticiparam de cursos de atualização ecapacitação na área de informática nos úl-timos 3 anos, expressando, também, o de-sejo de realizar cursos de especialização naárea de Matemática, sendo que dos 43 pro-fessores entrevistados 6 possuem especia-lização na área de informática.

Quando questionados sobre os meiosmais utilizados para informar-se sobre asnovidades da informática, apontaram osjornais (69%), seguidos de revistas e perió-dicos (61%), Internet (39%) e troca de in-formações na escola (30%).

Dos meios apontados, o jornal possuialgumas características que o diferenciam,atingindo um grande número de leitores,já que possui grande circulação, sendo eco-nomicamente mais viável, o que o torna omeio mais informativo para os professores.

Os professores também foram solici-tados a citar o nome da revista ou periódi-

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co mais consultado em relação àinformática educativa. Nesse aspecto, arevista Nova Escola é a mais citada, segui-da da revista da SBEM e a Revista do Pro-fessor de Matemática.

Os dados apontam para um crescen-te interesse dos professores pela atualiza-ção, na área de informática, o que certa-mente está relacionado à implantação deLaboratórios de Informática nas escolas darede municipal.

5.2 Tecnologia Educativa:condições de acesso e utili-zação pelo professor

Com relação ao acesso, os dadoscoletados mostraram que os professorestêm acesso ao computador em vários lo-cais, tais como, em casa (91%), na escola(91%) e nas Universidades (23%). Dos en-trevistados, todos apontaram pelo menosum local de acesso, sendo que 91% apon-taram a escola como local. Esses dados in-dicam que a questão de acesso está sendovencida e que os esforços devem estar vol-tados para as formas de utilização datecnologia.

Segundo declarações dos professores,foi possível constatar que a utilização docomputador nas aulas de Matemática,quando é feita, ocorre de maneira a explo-rar softwares educativos, pesquisas de con-teúdo, explorar jogos, digitação de texto enavegação na Internet.

Quando questionados sobre a fre-qüência com que utilizam o computadornas aulas de Matemática, 30% dos entre-vistados declararam que não utilizam ocomputador em suas aulas e 30% utilizamoutra freqüência que difere das sugeridas(Tabela 1). Esses dados mostram que , ape-sar de haver Laboratório de Informáticanas escolas, há professores que ainda nãoo utilizam de forma sistematizada, a qualindique uma efetiva incorporação às aulasde Matemática.

Mesmo não utilizando a informáticanas aulas de Matemática ou fazendo-oeventualmente, os professores responde-ram às questões relativas à preferência ecategorias recomendadas de softwares.

A quase totalidade dos professoresentrevistados declararam que não investempessoalmente em softwares, ficando a car-go da escola o fornecimento dos mesmos.Declararam, também, que em suas insti-tuições não participam na escolha dossoftwares matemáticos a serem adquiridos.

Quando solicitados a indicar como éutilizado o computador nas aulas de Ma-temática, percebeu-se que essa utilizaçãoocorre de diversas maneiras, como explo-ração de softwares educativos, realização depesquisas educacionais e a exploração jo-gos educativos .

Neste sentido, Borba (2004, p. 205)considera que os softwares específicos me-lhoram e favorecem o processo de ensi-no-aprendizagem, daí a importância dosprofessores conhecerem e se posicionaremfrente a categorias para a melhoria do en-sino e aprendizagem nas aulas de Mate-mática.

Quando interrogados sobre a catego-ria de software de sua preferência, demons-traram uma diversificação, pois as catego-rias que se acentuaram foram os jogoseducativos , programas de exercício-e-prá-tica , tutorais , simulação e modelagem(Tabela 2).

Tabela 1 - Freqüência com que utiliza o computador nassuas aulas de Matemática

Resposta Nº Professores %

Não utiliza 13 30

1 vez a cada 2 meses 5 12

1 vez por mês 5 12

2 vezes por mês 1 2

1 vez por semana 2 5

Outros 13 30

Não respondeu 4 9

Total 43 100Fonte: Pesquisa.

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Os jogos educativos, que figuram comoos preferidos pelos professores, na visão deValente (2002, p.104) respeitam um ciclodescrição-execução-reflexão-depuração-des-crição, característica herdada dos softwares dotipo tutorial. Como possuem esse perfil, ascategorias jogos educacionais estão vincula-das ao paradigma instrucionista.

A segunda categoria de software emreferência, os programas de exercícios-e-prática, aliada à utilização e jogos educativos,evidenciam uma postura dos professoresalinhada com o paradigma instrucionista.Isso porque utilizar jogos e exercícios-e-prá-tica permite fazer uso da informática semque sejam necessárias modificações signifi-cativas no currículo estabelecido. O traba-lho no Laboratório, via de regra, não estáarticulado às demais atividades desenvolvi-das, sendo visto como um complemento,uma atividade diferenciada ou de lazer.

Quando solicitados a recomendar softwareseducativos específicos para utilização nas au-las de Matemática, os professores indicaram oCabri-Géomètre, o LOGO, o Graphmath, oWinplot, entre outros (Tabela 3).

Salienta-se que o software mais reco-mendado, o Gabri- Géomètre, é umsoftware de geometria dinâmica que per-mite a simulação em Geometria Plana e osoftware LOGO, um software de linguagemde programação na educação, ambos in-clusos na corrente construcionista.

Essa indicações, provavelmente, estãoligadas ao fato de que os softwares mencio-nados são mais conhecidos do que propri-amente utilizados. O fato dos professoresterem indicado jogos e exercíco-e-práticacomo categoria de softwares de sua prefe-rência e em seguida terem recomendado oCabri-Géomètre e o LOGO permitem con-siderar uma certa incoerência que pode serconseqüência do fato de não trabalharemou trabalharem muito pouco cominformática educativa.

Referente ao item outros (46%) , for-mam uma variedade de softwares que nãocaracterizam sozinhos um percentual ex-pressivo, alguns deles são: Adoro Matemá-tica, Matemágica, Geospace, Derive, Posi-tivo, Descobrindo a trigonometria, Tom ea trigonometria, Despertar, Semear, Guiado estudante, Cidade Matemática,Fracionando e Geometrando.

Para Sandholtz (1997, p.49), utilizarnovas tecnologias como uma abordagem amais é poder substituir antigos hábitos,pois essa substituição leva a estágios deexposição, adoção, adaptação, apropriaçãoe inovação . Na opinião do autor,

os alunos que se formam no ensino médio de-vem ter o domínio de habilidades de: organi-zar recursos, trabalhar com outras pessoas,localizar, avaliar e utilizar informações; en-tender sistemas complexos de trabalhar comuma série de diferentes tecnologias. Ao intro-duzir as tecnologias como uma abordagem emsala de aula, as interações dos alunos possibi-litam um melhor aproveitamento escolar, au-mentando a auto-estima, motivação e auto-orientação. (SANDHOLTZ, 1997, p.58)

Nesse sentido, surge uma necessidadesocial de incluir as tecnologias em sala de

Tabela 3 – Softwares mais recomendados pelos professores

Softwares Recomendados Nº Professores %

Cabri-Géomètre 7 27

LOGO 3 12

Graphmath 2 8

Winplot 2 8

Outros 12 46

Total 26 100

O total refere-se ao número de professores querecomendaram algum software. Fonte: Pesquisa.

Tabela 2- Categoria de Software de preferência do professor

Categoria de softwareNº Professores

indicaram o item %

Jogos educativos 16 37

Programas de exercícios-e-prática 10

23

Aplicativos 8 19

Programas ( tipo LinguagemLOGO) 7

16

Programas Tutorais 5 12

Simulação e Modelagem 5 12

Uso de multimídia na Internet 4 9

Base 43 -

Questão de escolha múltipla. Fonte: Pesquisa.

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aula, não como um instrumento a mais, esim como um recurso didático emetodológico necessário e significativo paraauxiliar a desenvolver habilidades pessoaise competências a serem utilizadas na vida.

Verificou-se, através da pesquisa, quenão há evidências de utilização sistemáti-ca, as quais indiquem uma incorporaçãoda informática à prática pedagógica, massim uma utilização eventual. O significa-do do uso da tecnologia nas aulas de Ma-temática não se restringe à troca de ambi-ente informatizado pelo da sala de aula. Oprofessor que leva o aluno ao Laboratóriode Informática com o simples objetivo detrocar de ambiente, sem um planejamentoprévio específico, acaba não gerando con-tribuições significativas à aprendizagemMatemática.

5.3 Visão do professor sobrea utilização da informáticanas aulas de Matemática

Investigar a visão do professor sobrea utilização da informática nas aulas deMatemática é fundamental, pois a ele cabea tarefa de realmente observar os efeitosdessa utilização, que são significativos àmedida que alteram ou causam modifica-ções as quais favoreçam a aprendizagem.

Segundo Brandão apud Lollini(1991), o uso da informática gera algunsaspectos consideráveis como instrumentode ensino e aprendizagem. Isso porque ocomputador estimula os alunos a desen-volverem habilidades intelectuais, concen-trando-se mais, promove cooperação eambos, professor e aluno, passam ainteragir melhor na busca do conhecimen-to contínuo alicerçado na pesquisa.

Nesse sentido, buscando identificar,junto aos professores, os aspectos que con-sideram significativos no que se refere aosefeitos da utilização da tecnologia sobre asaprendizagens dos alunos, foram apresen-tadas dez questões (Tabela 4), que deveri-am ser respondidas seguindo uma EscalaLickert de concordância. Na escala, o 5 está

relacionado com a concordância máxima,fazendo com que as médias apresentadassejam satisfatórias, quanto mais próximasde 5 estiverem.

Assim, foi estabelecido o seguinte cri-tério para análise dos dados apresentadosna tabela 4:- médias superiores a 3,5 indicam que

o professor concorda com a questão;

- médias entre 2,6 e 3,5 mostram umaindiferença ou indecisão do professorcom relação à questão;

- médias inferiores a 2,6 indicam que oprofessor discorda da afirmação apre-sentada.

Identificou-se como significativo paraos professores o fato dos alunos ficaremestimulados diante do computador (mé-dia 4,4), solicitação de idas ao Laboratóriode Informática (média 3,8), melhor com-preensão da realidade por parte do aluno( média 3,7) e uma melhoria na comunica-ção e expressão (média 3,6).

Considera-se que o entusiasmo dos

Tabela 4 – Quadro da visão do professor sobre autilização da informática nas aulas de Matemática

Pergunta MédiaDesvio-padrão

Os alunos ficam estimuladosdiante do computador. 4,4 0,7Os alunos pedem para irem aolaboratório de informática. 3,8 1,3O computador ajuda o aluno acompreender melhor arealidade e o futuro. 3,7 1,2O computador ajuda o aluno ase comunicar e expressarmelhor. 3,6 1,1Os softwares ajudam nosproblemas de aprendizagem. 3,4 1,0Os alunos aprendem "mais"com software. 3,2 1,0Consigo dar sentido aosconteúdos com a ajuda dainformática. 3,2 1,1Os softwares resolvemdificuldades matemáticas doaluno. 3,1 1,1A escola me cobra idas aolaboratório de informática. 2,1 1,4O computador é uminstrumento de fuga ealienação. 1,8 0,6Fonte: Pesquisa.

34 ACTA SCIENTIAE – v.7 – n.1 – jan./jun. 2005

alunos possa estar relacionado, muitas ve-zes, ao fato de que o contato com a máqui-na lhes dá sensação de poder. Relacionamas idas ao Laboratório de Informática aoseu envolvimento com as atividades e cre-ditam a ele o sucesso de terem criado e pro-duzido com pouca ajuda do professor, o quelhes dá a sensação de independência e com-petência. Nesse sentido, Sandholtz afirma:

Os alunos reagem bem diante de trabalhosno computador, pois o mesmo se constitui empoderosa fonte de informação, o que gerauma sensação de domínio das situações peloaluno. (SANDHOLTZ,1997, p.169)

As respostas às questões relacionadasespecificamente às aprendizagens dos alu-nos mostram uma postura de indecisão doprofessor, indicada por médias entre 3,1 e3,4. Tais indicativos mostram que os profes-sores não possuem uma opinião formadasobre os efeitos da utilização da informáticasobre as aprendizagens dos alunos, o quedemonstra mostra coerência com os demaisposicionamentos que a investigação reflete.Realmente, se o professor não utiliza ainformática como recurso aliado às demaisestratégias de ensino , realmente não podeavaliar a influência sobre as aprendizagens.

A pesquisa oportunizou, também,analisar as médias mais baixas (menores que2,6). A maioria dos professores admitemque a escola não cobra idas ao Laboratóriode Informática (média 2,1) e entende queo computador não é um instrumento defuga e alienação (média 1,8). Considerarque a utilização de tecnologias não se cons-titui em atividades que tornem um alunoum robô que tem apenas o ato de apertarbotões já significa um avanço em relação àquestão. Até bem pouco tempo, a grandemaioria dos professores considerava o usoda tecnologia, especialmente calculadorase computadores, como instrumento de ali-enação, que possibilitava ao aluno resolversituações sem ter que pensar.

Ao não utilizar, ou utilizar muito pouco

as novas tecnologias como um recurso didá-tico efetivo, articulado às demais estratégiasde ensino, o professor perde a oportunidadede levar ao seu aluno um trabalho atual, ino-vador, potencialmente criativo e rico em pos-sibilidades de desenvolvimento de compe-tências e habilidades que a sociedade atualnecessita. Para Sandholtz,

a tecnologia fornece uma excelente platafor-ma, um ambiente conceitual, no qual os estu-dantes podem coletar informações em váriosformatos e, então, organizar, ligar e descobrirrelações entre os fatos e eventos. Os alunos po-dem usar as mesmas tecnologias para comuni-car suas idéias a outras pessoas, para discutir ecriticar suas perspectivas, para persuadir e en-sinar outras pessoas e para a acrescentar níveismaiores de compreensão a seu conhecimento emexpansão. (SANDHOLTZ, 1997, P.168)

5.4 Dificuldades encontradaspelos professores de Mate-mática quanto ao uso docomputador na suas aulas

Os professores influenciados pelasdificuldades dos alunos em aprender bus-cam, em metodologias diversas, oportuni-dades de gerar conhecimento. Ainformática é um recurso que pode geraraprendizagens, mas também algumas difi-culdades, tanto no âmbito pedagógicocomo técnico. Ao professor de Matemáti-ca cabe conhecer essas dificuldades, paraque consiga soluções ou até mesmo saibalidar com as surpresas.

A pesquisa aponta algumas das difi-culdades enfrentadas pelo professor duran-te a utilização da informática como estra-tégia de ensino nas aulas de Matemática.As principais dificuldades do uso do com-putador referem-se ao fato de que as tur-mas, geralmente, são numerosas, existempoucos equipamentos disponíveis, poucamotivação dos professores e a estruturacurricular é rígida, havendo necessidadede apoio de um especialista e acesso aossoftwares (Tabela 5).

ACTA SCIENTIAE – v.7 – n.1 – jan./jun. 2005 35

O currículo de Matemática é orga-nizado, via de regra, de uma forma mui-to conservadora, mantendo a estruturalinear dos conteúdos, a aula expositiva edialogada, como procedimento básico ea avaliação como medida. Integrar no-vas tecnologias a essa estrutura é umgrande desafio para os professores que,como foi possível perceber, têm feito ten-tativas, que não se traduzem, ainda, emações efetivas.

Mesmo estando atualizados na área deinformática através da realização de cursosespecíficos, as dificuldades quanto à utiliza-ção se mantêm, o que pode estar ligado aofato de que, geralmente, os cursos são cur-tos. Nos cursos de curta duração, nem sem-pre se trabalha com profundidade e muitosprofessores retornam para sua prática comalgumas dificuldades, que com o passar dotempo, se acentuam pela falta de reflexão ediscussão dos problemas encontrados.

Algumas dificuldades foram menosapontadas, considerando-se que inseguran-ça e desinteresse dos alunos não caracterizamproblemas para os professores entrevistados.

De modo geral, as dificuldadesapontadas são de caráter estrutural , daorganização do ensino , como número dealunos por turma, apoio técnico e liga-das à pouca intimidade que o professortem com o uso da tecnologia. O profes-sor, aliado aos demais segmentos do pro-cesso educativo, tem condições de encon-trar meios para a superação das dificul-dades e o desenvolvimento de ações efe-tivas que integrem as novas tecnologiasàs aulas de Matemática.

5.5 Perspectiva quanto à uti-lização do computador comometodologia nas aulas deMatemática

Os computadores geram perspectivasacerca de sua utilização. Ao utilizá-los, emsala de aula, o professor procura tirar todoproveito em beneficio da aprendizagem,podendo os mesmos substituir antigos

Fica evidente a conexão entre turmasnumerosas e pouco equipamento, já queambas possuem como característica a de-pendência econômica.

A desmotivação dos professores estáligada, muitas vezes, ao fato de que osmesmos não se encontram preparados parafazer uso dos equipamentos em suas aulasde forma significativa. A utilização dainformática traz consigo uma possibilida-de de risco, de se deparar com algo novoque o professor não domina.

Outra dificuldade apontada refere-sea problemas técnicos que interferem no tra-balho, gerando desconforto para o profes-sor e desapontamento par os alunos. Essesproblemas fazem com que os professores de-sistam da utilização dos equipamentos esoftwares e, por isso, muitas vezes julguem anecessidade de um especialista para apoio.

Outro fator a ser considerado é o cur-rículo. Em função do currículo de Mate-mática, e os professores não estão devida-mente preparados para introduzir e inte-grar as novas tecnologias ao currículo, oque gera preocupação e desafio para osprofessores.

Dificuldade quanto ao uso docomputador

Números deprofessores

que indicaramo item

%

Turmas grandes 23 54

Pouco equipamento 15 35

Currículo 13 31

Compreender o software 8 18

Necessidade de apoio de umespecialista 10

23

Acesso ao software 10 23

Despreparo na utilização doequipamento 9

21

Pouco tempo de permanênciano laboratório 7

16

Material ultrapassado 7 16

Desmotivação 14 33

Insegurança 3 7

Desinteresse dos alunos 6 14

Base 43 -

Questão de escolha múltipla. Fonte: Pesquisa.

Tabela 5 - Dificuldades encontradas pelos Professores deMatemática quanto ao uso do computador nas suas aulas

36 ACTA SCIENTIAE – v.7 – n.1 – jan./jun. 2005

hábitos, pondera Sandholtz (1997, p.49).Nesse sentido, a pesquisa permitiu

conhecer as principais perspectivas dos pro-fessores de Matemática em relação à utili-zação da informática em suas aulas. As maisconsideradas são mudança na rotina, apren-dizagem, avanço, interesse e informação.

A mudança na rotina é a principal ra-zão para a busca de novas metodologias parao ensino, pois as tecnologias alteramsignificamente o trabalho de giz e caderno,propiciando o lúdico, o novo, a ruptura como tradicional e favorecendo, dessa forma, aaprendizagem. Os professores acreditam queas máquinas geram interesses e que, nomundo atual, estar bem informado geraperspectiva de novas formas de obter infor-mação e gerar conhecimento.

Apesar de, no momento, não utilizarema informática de forma sistemática como re-curso ou um caminho metodológico, os pro-fessores entrevistados admitem que é umanecessidade e vêem na utilização possibili-dades de melhoria no processo de ensino eaprendizagem.

6 Considerações finaisA pesquisa realizada demonstrou a

possibilidade de continuar caminhando nosentido de uma formação continuada, res-paldada pela procura pessoal e espíritoinvestigativo de todo professor em atuação.

Percebeu-se que os professores possu-em um bom nível de capacitação, pois amaioria tem formação específica em Licen-ciatura Plena em Matemática. Logo a edu-cação não se faz mais com profissionais deáreas diversas. É importante observar queesses mesmos professores demonstram in-teresse em continuar se aperfeiçoando.

A pesquisa, também mostrou que osprofessores já dominam o equipamentocomputacional, pois muitos já o utilizamno seu dia-a-dia, diante das necessidadesatuais. Assim, atitudes planejadas farãocom que os mesmos passem a utilizar oscomputadores como um recurso didático,de apoio ao seu trabalho.

Evidenciou-se que o principal proble-ma dos professores é, hoje, o principal ob-jetivo do professor pesquisador: os profes-sores não vêem em softwares um caminhometodológico para introduzir os equipa-mentos à aula de Matemática. Eles reque-rem tempo, planejamento para o trabalho.Conhecê-los em todo o seu aspecto é re-quisito principal para a sua utilização, docontrário , gera dúvidas e decepções parao professor e aluno. Dessa forma, conhe-cer os softwares em toda a sua potencialidadeé sinônimo de muito trabalho e de mudan-ças de hábitos.

Muitos softwares de boa qualidade cir-culam no meio educacional, e a maioria dosprofessores já os conhecem. Diante dessedado é que se evidencia a necessidade deum trabalho que legitime o uso dainformática através de softwares para o en-sino e aprendizagem da Matemática.

As opiniões são positivas frente aosefeitos que o computador produz no alu-no. Logo, oportunizar opções para que oaluno busque alternativas conceituais emoutras formas de fazer e aprender é uma

Tabela 6- Perspectivas dos Professores tendo em vista autilização da Informática como uma metodologia de

ensino nas aulas de Matemática

Perspectivas Nº Professores %

Aprendizagem 9 21

Interesse 5 12

Aprender 4 9

Novas experiências 4 9

Internet 3 7

Ensino 3 7

Informação 3 7

Mudança na rotina 3 7

Agilidade 2 5

Avanço 2 5

Novos recursos 2 5

Novos rumos 1 2

Trabalho 1 2

Jogos 0 0

Futuro 0 0

Desenvolvimento 0 0

Moderno 0 0

Independência 0 0

Base 43 -Questão de escolha múltipla. Fonte: Pesquisa.

ACTA SCIENTIAE – v.7 – n.1 – jan./jun. 2005 37

saída educacional frente às crises que a edu-cação enfrenta para se ensinar a aprender.

Espera-se que essa investigação pos-sa contribuir para um repensar e um pla-nejamento de introdução das tecnologiascomo um recurso que produza conheci-mento e torne as aulas de Matemática maissignificativas, respaldadas por um conteú-do compreensível e construído pelo pró-prio aluno.

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