a tragédia da Chapecoense através das capas de jornais ...

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ISSN 2175-6945 1 Dos gramados aos céus: a tragédia da Chapecoense através das capas de jornais brasileiros 1 Raniery Soares LACERDA (Mestrando) 2 Fabiana Cardoso de SIQUEIRA (Doutora) 3 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB Resumo Considerada uma das maiores tragédias da história do futebol mundial, o acidente com o time da Chapecoense, em 2016, estampou as capas dos jornais impressos e dominou a pauta jornalística em todo o Brasil. O presente trabalho propôs analisar de que forma cinco jornais de maior circulação no Brasil abordaram o acontecimento. Foi realizada a análise de conteúdo das capas dos jornais Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, Daqui e Super Notícia em 30 de novembro de 2016, o dia seguinte à tragédia. A análise foi realizada com base nas categorias: assunto de destaque na capa, contexto das imagens utilizadas e espaço dedicado ao assunto. Foi constatado que embora os veículos tenham formatos diferentes (tabloide e standard) e públicos diversos (notícias populares ou tradicionais), a queda do avião da Chapecoense foi o assunto principal (nas manchetes e subtítulos). As imagens representaram perspectivas de comoção isolada ou ampla e também a dimensão da tragédia. Mais da metade do espaço de cada capa foi destinado ao assunto no dia analisado. Palavras-chave: Jornalismo; Mídia impressa; Análise de conteúdo; Futebol; Chapecoense. 1 Introdução Em um país onde o noticiário jornalístico diariamente destaca assuntos econômicos e políticos, fatos de grande relevância agregados ao esporte podem mudar esta lógica, desde que estejam inseridos em contextos que envolvam alegria, tristeza, entre outros aspectos que causem impacto na vida das pessoas ou comoção. No dia a dia da cobertura esportiva pela mídia, o futebol é o que ganha mais evidência detrimento das demais modalidades. Em finais de campeonato e durante a copa do mundo, geralmente, recebe um espaço de destaque nas capas dos jornais de maior circulação no 1 Trabalho apresentado no GT História da Mídia Impressa, integrante do 12º Encontro Nacional de História da Mídia. 2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Jornalismo (PPJ) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Comunicação pelas Universidade Federal de Pernambuco/Universidade Complutense de Madrid. Professora dos Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e do Curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba, jornalista. E-mail: [email protected].

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Dos gramados aos céus: a tragédia da Chapecoense através das capas de jornais

brasileiros1

Raniery Soares LACERDA (Mestrando)2

Fabiana Cardoso de SIQUEIRA (Doutora)3

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB

Resumo

Considerada uma das maiores tragédias da história do futebol mundial, o acidente com o time

da Chapecoense, em 2016, estampou as capas dos jornais impressos e dominou a pauta

jornalística em todo o Brasil. O presente trabalho propôs analisar de que forma cinco jornais

de maior circulação no Brasil abordaram o acontecimento. Foi realizada a análise de conteúdo

das capas dos jornais Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, Daqui e Super

Notícia em 30 de novembro de 2016, o dia seguinte à tragédia. A análise foi realizada com

base nas categorias: assunto de destaque na capa, contexto das imagens utilizadas e espaço

dedicado ao assunto. Foi constatado que embora os veículos tenham formatos diferentes

(tabloide e standard) e públicos diversos (notícias populares ou tradicionais), a queda do

avião da Chapecoense foi o assunto principal (nas manchetes e subtítulos). As imagens

representaram perspectivas de comoção isolada ou ampla e também a dimensão da tragédia.

Mais da metade do espaço de cada capa foi destinado ao assunto no dia analisado.

Palavras-chave: Jornalismo; Mídia impressa; Análise de conteúdo; Futebol; Chapecoense.

1 Introdução

Em um país onde o noticiário jornalístico diariamente destaca assuntos econômicos e

políticos, fatos de grande relevância agregados ao esporte podem mudar esta lógica, desde

que estejam inseridos em contextos que envolvam alegria, tristeza, entre outros aspectos que

causem impacto na vida das pessoas ou comoção.

No dia a dia da cobertura esportiva pela mídia, o futebol é o que ganha mais evidência

detrimento das demais modalidades. Em finais de campeonato e durante a copa do mundo,

geralmente, recebe um espaço de destaque nas capas dos jornais de maior circulação no

1 Trabalho apresentado no GT História da Mídia Impressa, integrante do 12º Encontro Nacional de História da Mídia.

2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Jornalismo (PPJ) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail:

[email protected].

3 Doutora em Comunicação pelas Universidade Federal de Pernambuco/Universidade Complutense de Madrid. Professora

dos Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e do Curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba, jornalista.

E-mail: [email protected].

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Brasil. Raramente em outras circunstâncias ocupa esse espaço. Uma das exceções foi um

episódio ligado a uma tragédia, que fez o futebol ter mais relevância do que as notícias

políticas e econômicas. Considerado um dos maiores desastres na história esportiva, o

acidente aéreo ocorrido no dia 29 de novembro de 2016 com a Associação Chapecoense de

Futebol, envolveu profissionais e diretores da agremiação esportiva, além de jornalistas e,

estampou as capas dos jornais impressos, dominando a pauta jornalística em todo o mundo.

O episódio tomou grandes proporções, pois era um time que estava vivendo o melhor

momento de toda a sua história e estava diante de uma final da Copa Sul-Americana, onde

enfrentaria o Atlético Nacional da Colômbia.

Este estudo teve como objetivo geral analisar como os jornais brasileiros trataram esse

assunto que marcou a história da cobertura jornalística no país por meio da análise de

conteúdo das capas. Buscamos averiguar os elementos visuais e compreender como o fato foi

apresentado na primeira página dos seguintes periódicos: Folha de São Paulo, O Globo, O

Estado de São Paulo, Daqui e Super Notícia.

A análise de conteúdo “consiste na manipulação de mensagens, para que se possa

enxergar mais além do que, aparentemente, está dito no texto” (CORREIA, 2007, p. 98). A

manipulação aqui referida pelo autor está relacionada a investigação do que é apresentado e

não na adulteração das mensagens empregadas.

O método é definido por Bardin (1977) como:

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por

procedimentos objetivos e sistemáticos de descrição do conteúdo das mensagens,

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

(BARDIN, 1977, p. 48).

É um conceito que se aproxima do entendimento de Herscovitz (2007, p. 126), que o

descreve como:

método de pesquisa que recolhe e analisa textos, sons, símbolos e imagens impressas,

gravadas ou veiculadas em forma eletrônica ou digital encontrados na mídia a partir

de uma amostra aleatória ou não dos objetos estudados com o objetivo de fazer

inferências sobre seus conteúdos e formatos enquadrando-os em categorias

previamente testadas, mutuamente exclusivas e passíveis de replicação

(HERSCOVITZ, 2007, p. 126).

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Os periódicos que tiveram as capas analisadas foram escolhidos por serem os cinco

jornais de maior circulação do país (ANJ, 20019). O estudo foi realizado levando em

consideração as publicações do dia 30 de novembro de 2016, ou seja, o dia seguinte ao

acidente envolvendo o time brasileiro.

2 O jornal impresso e suas capas

O surgimento do jornalismo, a começar pelo meio impresso, fez com que as

civilizações pudessem se informar sendo a porta do surgimento da comunicação de massa.

Existente desde antes de Cristo, como relata a Associação Nacional de Jornais (ANJ)

em sua página na internet4, a primeira iniciativa considerada como jornal foi a Acta Diurna,

criada em Roma em 59 a.C. O imperador Júlio César tinha o intuito de tornar público os mais

consideráveis fatos políticos e sociais, mas para que mais pessoas tivessem acesso a essas

informações, ele ordenou que fossem produzidas grandes placas brancas e que fossem

expostas em locais públicos das principais cidades.

No Brasil, o marco da origem dos jornais aconteceu em 1808, através da Coroa

Portuguesa com a publicação do Gazeta do Rio de Janeiro. Segundo Sodré (1999), a

publicação se limitava a curtas informações relacionadas à família real e seus agregados,

desprezando o momento pré-republicano que o país vivia naquele momento. O autor ainda

destaca que três meses antes, Hipólito Costa já editara o Correio Braziliense, mas que não é

considerado o primeiro jornal brasileiro, pois apesar de circular no Brasil, era editado em

Paris, na França. Assim como na Europa, as publicações brasileiras também apresentavam

um perfil voltado para o formato textual.

Canga Larequi (1994, p. 19, apud SOUSA, 2005, p. 340) elencou quatro principais

detalhes para confirmar esta simetria entre os impressos jornalísticos e literários:

a) Os primeiros “jornais” eram apresentados com o formato dos livros, embora

geralmente apenas possuíssem quatro páginas; b) Na primeira página das publicações

periódicas usualmente surgiam apenas o título, a data e o nome do impressor, tal e

qual como nos livros; c) Frequentemente, a segunda página ficava em branco,

começando o texto na terceira, sob um título genérico e com uma letra capitular; d)

Geralmente o texto era composto a um só tipo de caracteres, a toda a largura da página

ou, eventualmente, a duas colunas [...] (CANGA LAREQUI, 1994, p. 19, apud

SOUSA, 2005, p. 340).

4 Associação Nacional de Jornais (ANJ). Disponível em: http://www.anj.org.br/jornais-breve-historia-2/. Acesso em: 31 de

março de 2019.

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A semelhança pode ser explicada por Barnhurst (1994, s.p. apud GRUSZYNSKI,

2010, p. 3), onde o teórico entende que “o surgimento dos jornais está ligado à estratégia de

utilizar o investimento, já existente na indústria para a fabricação de livros, para reproduzir

notícias de ocorrências públicas da maneira mais econômica então possível”.

Essa observação nos leva a entender que manter esta similitude servia como forma de

atrair o público-leitor para um produto parecido com outro, que já circulava há mais tempo

entre a sociedade.

Destarte faz-se perceptível que o conteúdo das notícias sempre foi o mais importante

no contexto do jornalismo impresso, mas que em seus primórdios, ainda não havia uma

cultura voltada para o pensamento sobre como expor este conteúdo em uma primeira página.

Sobre às capas, Sousa (2005) trata a mudança inicial deste segmento como ‘primeira

revolução gráfica’, que segundo ele, fez com que as páginas de abertura dos periódicos

ganhassem um novo formato, inclusive se diferenciando dos livros literários e assumindo um

modelo específico enquanto produto de imprensa.

Se for feito um paralelo com as revistas é possível compreender através de Scalzo

(2003) que a primeira página de um periódico sempre será a parte mais planejada da referida

publicação. A autora afirma que não há uma boa revista sem uma boa capa e assim, o jornal

segue de forma congruente. Nas palavras de Scalzo (2003, p. 62), “o resumo irresistível de

cada edição, uma espécie de vitrine para o deleite e a sedução do leitor”.

3 Chapecoense: do oeste catarinense à fenômeno mundial

Fundada em 10 de maio de 1973, a Associação Chapecoense de Futebol é o clube

mais jovem entre os mais tradicionais do futebol brasileiro e nasceu pela necessidade de

Chapecó, cidade do interior de Santa Catarina, ter um time profissional. Antes da sua criação,

o futebol se concentrava apenas na capital Florianópolis, através de times como Figueirense

e Avaí. Segundo o site oficial da Chapecoense:

A Associação Chapecoense de Futebol [...] é o maior, mais vitorioso e bem

estruturado time de futebol profissional da região oeste de Santa Catarina. Sua origem

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está ligada ao fato de que, na década de 1970, a região possuía apenas alguns times

amadores, sendo inexpressiva em relação ao futebol profissional. 5

O que é contado através dos seus criadores é que a Chapecoense sempre teve um

considerável apoio da população da cidade, exatamente por ter surgido após provocar a união

dos dois principais times de futebol da cidade: Clube Independente e Clube Atlético de

Chapecó, ambos amadores.

O ano de 2015 ficou marcado na história do time, pois pela primeira vez disputara

uma competição internacional, sendo um dos representantes brasileiros na Copa Sul-

Americana. Eliminado na terceira fase, o Verdão do Oeste (como é conhecida a Chapecoense)

buscou repetir o feito em 2016, quando esteve presente no mesmo campeonato. O

desempenho foi surpreendente, levando a equipe brasileira à final.

O grande jogo, marcado para o dia 30 de novembro de 2016, não chegou a acontecer

em razão do acidente ocorrido na madrugada do dia anterior. O avião 2933 da empresa aérea

boliviana LaMia (que transportava o time da Chapecoense, jornalistas e convidados do time

brasileiro) caiu na região conhecida como Monte Gordo, em Rionegro, na Colômbia,

matando 71 pessoas que estavam a bordo6 e restando seis sobreviventes: os jogadores Alan

Ruschel, Jakson Follmann e Neto, o jornalista brasileiro Rafael Henzel, e os tripulantes Erwin

Tumiri e Ximena Suarez.

Jornais do Brasil e do mundo noticiaram a tragédia, que ganhou grande proporção,

por ser considerada o maior acidente aéreo envolvendo uma agremiação esportiva em toda a

história.

4 A análise de conteúdo da tragédia da Chapecoense

Para se ter uma dimensão de como o acidente aéreo com a Chapecoense repercutiu

no cenário nacional, foram selecionadas as capas dos cinco maiores jornais em circulação no

Brasil, segundo o último levantamento publicado no site da Associação Nacional de Jornais7

5 Trecho da seção ‘Nossa História’, publicada no site oficial da Chapecoense. Disponível em:

https://chapecoense.com/pt/nossa-historia. Acesso em: 31 de março de 2019.

6 Disponível em: http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/chapecoense/noticia/2016/11/imprensa-colombiana-diz-

que-aviao-que-transporta-chape-esta-desaparecido.html. Acesso em 08 de abril de 2019.

7 A ANJ é uma associação com fins não econômicos, constituída por 137 sociedades jornalísticas de todo o país. Disponível

em: http://www.anj.org.br. Acesso em: 31 de março de 2019.

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(TABELA 1). A amostra foi composta pelas publicações do dia 30 de novembro de 2016, um

dia após o acidente envolvendo o time brasileiro.

Tabela 1 – Ranking dos maiores jornais em 2015

Ranking Título UF Média de

Circulação

1 Super Notícia MG 249.297

2 O Globo RJ 193.079

3 Folha de São Paulo SP 189.254

4 O Estado de São Paulo SP 157.761

5 Daqui GO 153.049

Fonte: Associação Nacional de Jornais (www.anj.org.br)

Os itens a serem analisados nos jornais escolhidos foram organizados em três

categorias: assunto de destaque na capa, contexto das imagens utilizadas e espaço dedicado

ao conteúdo na capa. Acreditamos que esse recorte seria suficiente para alcançar o objetivo

de compreender de que forma o tema foi abordado a partir dessas diferentes perspectivas.

Esse formato, chamado de análise categorial, é reforçado por Bardin (2016), quando o autor

afirma que as categorias são classes e que através de um título genérico, agrupam

características e elementos em comum.

Em relação ao espaço dedicado ao conteúdo na capa, compreendemos que os cinco

jornais possuem tamanhos diferentes de circulação, o que em tese, possibilita a maior ou

menor inserção de informações e imagens. O Super Notícia e o Daqui são impressos no

formato tabloide e a Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo circulam no

formato standard, que é maior. Apesar dessa diferença, como a análise da referida categoria

envolve o espaço dedicado ao conteúdo na capa, levando em consideração o todo apresentado

individualmente, a diferença no tamanho do papel não é considerada um impeditivo.

Observamos a disposição do conteúdo no espaço dedicado por cada um.

4.1 Super Notícia (MG)

A primeira capa analisada foi a do jornal Super Notícia, de Minas Gerais (FIGURA

1). É um periódico de caráter popular, vendido atualmente por R$ 0,50, o que proporciona

ser um dos mais comercializados no território nacional.

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Figura 1 – Capa do Super Notícia do dia 30 de novembro de 2016

Fonte: Ver Capas (www.vercapas.com.br)

Pela relevância do fato, o jornal optou por utilizar o acidente como o assunto de

destaque na capa. Um trecho da manchete (“Brasil de Luto”) foi inserido dentro de uma faixa

preta, um elemento usualmente utilizado quando se refere a morte.

Apenas uma imagem foi publicada sobre o acidente. A escolha foi uma fotografia em

plano aberto para que o leitor pudesse ter uma ideia geral, privilegiando um ângulo que

mostrasse os destroços do avião, além de profissionais que participaram do resgate.

O assunto teve um relevante espaço na capa, entretanto o Super Notícia não tratou o

tema com exclusividade, pois na parte superior há uma manchete referente à atriz Cléo Pires,

falando que a mesma não poderia mais desfilar na escola de samba Portela, durante o

Carnaval 2019 e na parte inferior um anúncio publicitário.

Em relação ao espaço dedicado ao acidente da Chapecoense, o jornal priorizou três

espaços à direita da foto, com informações adicionais à tragédia como: “Seis pessoas

sobrevivem”. Logo em seguida, um pequeno texto explica que três jogadores se salvaram e a

informação de que um deles teve uma das pernas amputadas já era confirmada. Depois, foi

exibida a seguinte informação: “CBF suspende competições”, tendo em vista que, por causa

do acidente, as rodadas da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro foram adiadas.

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Também teve destaque o seguinte texto: “Nacional abre mão do título”. A informação era de

que o time que seria o adversário da Chapecoense na Copa Sul-Americana já havia se

pronunciado, adiantando que a Conmebol confirmasse a equipe brasileira como campeã do

torneio, mesmo sem ter disputado o jogo em questão.

4.2 O Globo (RJ)

A segunda capa analisada também utilizou o acidente com a Chapecoense como a

principal manchete na página, trazendo de forma secundária outros conteúdos, assim como o

Super Notícia. Em O Globo, o assunto secundário foi sobre a aprovação no Senado Federal

do “teto de gastos” do governo. Há também um anúncio publicitário.

A imagem e a manchete se unem em um contexto através da palavra tristeza,

mostrando uma criança desolada com uma camisa do time, sentada solitariamente na

arquibancada do estádio Arena Condá, em Chapecó (FIGURA 2).

Figura 2 – Capa de O Globo do dia 30 de novembro de 2016

Fonte: Ver Capas (www.vercapas.com.br)

A primeira página em questão também ampliou a visão a respeito da repercussão do

fato por meio de três assuntos relacionados, que explicam de forma detalhada a tragédia ao

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leitor: “Queda de avião que levava Chapecoense mata 71 na Colômbia”, apresentando um

balanço com o número de vítimas; “Tragédia comove o planeta e deixa futebol mundial de

luto”, mostrando a consternação provocada pela tragédia, e “Falta de combustível na

aeronave da LaMia é a principal suspeita”, apontando a primeira linha de investigação

referente ao acidente.

Por ter mais espaço na página, provocado pelo formato de papel diferente do primeiro

jornal analisado, O Globo ainda trouxe junto à manchete seis artigos produzidos por

jornalistas do periódico, com abordagens diferentes sobre o tema.

4.3 Folha de São Paulo (SP)

O terceiro jornal analisado segue um perfil semelhante ao segundo, onde a escolha foi

dividir a capa com outros assuntos relevantes do dia, a exemplo de atos contra o presidente

da República, trabalho na Câmara dos Deputados, política internacional e uma decisão do

Supremo Tribunal Federal sobre o aborto (FIGURA 3), porém mantendo o acidente da

Chapecoense como o assunto de destaque na página. Há ainda um anúncio. Assim como O

Globo, a Folha de São Paulo também agregou à manchete, opiniões dos seus colunistas sobre

o fato.

Figura 3 – Capa da Folha de São Paulo do dia 30 de novembro de 2016

Fonte: Ver Capas (www.vercapas.com.br)

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A abordagem da manchete é simples, direta e literal: “Queda do avião da Chapecoense

mata 71; 6 sobrevivem”. Diferente dos outros jornais, a Folha de São Paulo foi o único que

utilizou duas imagens para contextualizar o momento. A primeira, na parte de cima da página,

apresenta pessoas reunidas em uma celebração religiosa em homenagem às vítimas do

acidente, realizada na cidade de Chapecó, em Santa Catarina. A segunda cena segue a mesma

proposta do primeiro jornal analisado, proporcionando ao leitor uma visão geral do avião pós-

acidente, através dos destroços e profissionais que trabalharam no resgate.

Como o jornal é comercializado dobrado ao meio, por conta do formato standard, o

uso da foto na parte superior permite a visualização da imagem em destaque pelo leitor.

4.4 O Estado de São Paulo (SP)

O quarto jornal analisado foi O Estado de São Paulo. Sem muita diferença em relação

ao seu principal concorrente no mercado paulista (Folha de São Paulo). A capa também

trouxe um conteúdo dividido e o assunto de destaque na capa direciona o leitor também para

o acidente com o avião que transportava a Chapecoense (FIGURA 4).

Figura 4 – Capa de O Estado de São Paulo do dia 30 de novembro de 2016

Fonte: Ver Capas (www.vercapas.com.br)

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A foto segue a mesma linha das que foram utilizadas na Folha de São Paulo e no Super

Notícia, que através de um plano aberto, mostra uma visão geral do acidente, porém O Estado

de São Paulo utilizou a imagem em um tamanho maior e consegue mostrar melhor a situação

da aeronave após o acidente.

Um subtítulo foi utilizado para trazer informações curtas, porém relevantes: a) a

quantidade e ocupação dos seis sobreviventes; b) a morte de 20 profissionais da imprensa; c)

a informação de que o time estava viajando para Medellin (Colômbia) para disputar a Copa

Sul-Americana, com o intuito de situar o leitor que ainda não sabia nada a respeito; d) a

informação acerca da causa do acidente, possivelmente atribuída à falta de combustível.

Em manchetes secundárias, o anúncio para uma reportagem “Luto em Chapecó:

Cidade chora por seus heróis” sobre a tristeza da população da cidade localizada em Santa

Catarina e o pedido do Atlético Nacional da Colômbia para que a Conmebol concedesse o

título à Chapecoense.

O espaço dedicado ao assunto na capa foi também superior a metade da página, a

exemplo dos demais. Duas linhas foram utilizadas para indicar uma separação dos outros

assuntos, que foram: o dia a dia no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, como

também um posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que disse que o aborto até

o terceiro mês não pode ser considerado crime. Há também um anúncio.

4.5 Daqui (GO)

Com um perfil popular e o mesmo formato de tamanho (tabloide), assim como o Super

Notícia, o Daqui priorizou o acidente da Chapecoense como o assunto principal da capa.

Entretanto, diferentemente do primeiro jornal analisado (e seguindo a tendência dos

periódicos que possuem mais espaço na página), dividiu o espaço com outros assuntos

relacionados a cotidiano e política: “Detran quer acionar donos de carros que estão devendo”,

“Após protesto e tumulto, senadores aprovam PEC” e “Represa perto do reservatório do João

Leite seria irregular” (FIGURA 5). A exemplo do Super Notícia, também traz a informação

sobre uma atriz na capa e como os demais, há presença de um anúncio.

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Figura 5 – Capa do Daqui do dia 30 de novembro de 2016

Fonte: Ver Capas (www.vercapas.com.br)

O jornal destacou em seu subtítulo que o time foi o que “[...] mais cresceu no futebol

brasileiro nos últimos anos” e finaliza informando o acidente ocorrido na Colômbia. Em três

manchetes secundárias, o jornal traz que jogadores sobreviveram e o goleiro amputou a perna,

além da falta de combustível (tema já abordado pelos outros jornais), além de aproximar os

leitores do estado de Goiás (que é onde o periódico circula) com o fato, destacando a morte

do jornalista goiano Ari Júnior.

A imagem e a manchete trazem um contexto de dor, com uma mulher chorando

próximo de uma bandeira e velas acesas, em homenagem às vítimas do acidente. É o elemento

central, para onde se voltam os olhares ao visualizar a capa, embora em termos de espaço o

referido jornal tenha sido o que mês espaço dedicou ao assunto.

5 Considerações finais

Embora tenha sido constatada a presença de outros assuntos que destoem da tragédia

na capa de todos os jornais, o destaque nos cinco periódicos jornalísticos de maior circulação

no Brasil (no dia seguinte à tragédia) foi o acidente aéreo com a Chapecoense. As manchetes

e a maioria dos subtítulos foram dedicadas ao assunto.

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Entendemos que, por possuir capacidade informativa, a presença da imagem na

primeira página dos impressos é de grande importância nos meios de comunicação. Nesse

contexto, o presente estudo traz à tona a discussão sobre a contribuição do fotojornalismo na

construção da informação, a partir da interpretação das abordagens que os jornais impressos

utilizaram para representar este acontecimento do esporte mundial.

As imagens foram apresentadas em diferentes contextos. Folha de São Paulo, Super

Notícia e O Estado de São Paulo trouxeram fotografias de um mesmo ângulo, mostrando a

destruição do avião.

Daqui e O Globo mostraram cenas que representaram, de maneira isolada, a emoção

das pessoas impactadas com a queda do avião. O primeiro com a imagem de uma criança

sentada na arquibancada do estádio da Chapecoense e o segundo com a fotografia de uma

mulher chorando diante da bandeira do time e de velas.

A Folha de São Paulo foi a única a apresentar, em uma perspectiva mais ampla, a

comoção causada pela tragédia, por meio da imagem de várias pessoas emocionadas e

reunidas uma celebração religiosa em homenagem às vítimas.

Quanto ao espaço dedicado, mais da metade das capas foram voltadas para notícias

referentes ao tema, independentemente de o formato do jornal ser tabloide ou standard. Outro

fato observado é que embora os veículos tenham conteúdos produzidos para públicos

diferentes, a queda do avião da Chapecoense ganhou evidência em todas as publicações, sem

importar se eram de circulação regional (o Daqui é de Goiás e o Super Notícia de Minas

Gerais) ou nacional (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo) ou voltados

para notícias populares (Daqui e Super Notícia) ou não (Folha de São Paulo, O Estado de São

Paulo e O Globo).

REFERÊNCIAS

ANJ. Associação Nacional de Jornais. Disponível em: http://www.anj.org.br/jornais-breve-

historia-2/. Acesso em: 31 de março de 2019.

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