A Riqueza das Nações - Apresentação

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A Riqueza das Nações Adam Smith Neylson Crepalde

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A Riqueza das Nações Adam Smith

Neylson Crepalde

• "A Riqueza das Nações" foi publicado em 1776 e é um dos livros que fundamentam a economia política.

• Entre suas influências estão David Hume e Thomas Hobbes.

Trecho em discussão

• Cap. IV - A origem e o uso do dinheiro.

• Cap. V - O preço real e o preço nominal das mercadorias ou seu preço em trabalho e seu preço em dinheiro.

• Cap. VI - Fatores que compõem o preço das mercadorias.

A ideia geral do trecho é investigar como o processo de trocas deu origem a um equivalente universal (dinheiro) e como se atribui valor às mercadorias.

Cap. IV - A Origem e o Uso do Dinheiro

Adam Smith inicia seu texto explicando como a divisão do trabalho impossibilita que o homem satisfaça suas necessidades sozinho. Isso só é possível através do processo de troca. Todo homem torna-se, assim, um comerciante.

Entretanto, nem sempre a quantidade de mercadorias de que um homem necessita corresponde à quantidade de mercadorias que ele tem a oferecer. Isso levou ao uso de diversos instrumentos generalizados de troca (gado, sal, conchas, bacalhau seco, fumo, açúcar, couro, etc.) sendo o metal o preferido entre eles.

Para Adam Smith, os metais tem as vantagens de poderem ser conservados sem perder o valor e de poderem ser divididos em qualquer número de partes. Entretanto, surgem dois inconvenientes: a pesagem e a verificação. Para evitar abusos no uso dos metais, as barras recebiam uma gravação oficial. Mais tarde, as barras gravadas deram origem às moedas que eram gravadas dos dois lados assegurando tanto o quilate como o peso. "Por isso, essas moedas eram recebidas, como hoje, por unidades, dispensando o incômodo de pesá-las" (SMITH, 1996, p. 84).

"Foi dessa maneira que em todas as nações civilizadas o dinheiro se transformou no instrumento universal de comércio, através do qual são compradas e vendidas - ou trocadas entre si - mercadorias de todos os tipos" (SMITH, 1996, p. 85).

A seguir, Adam Smith vai investigar que regras determinam o valor das mercadorias. O autor faz uma distinção entre "valor de uso" (o grau de utilidade que tem determinado objeto) e "valor de troca" (seu poder de compra em relação a outras mercadorias).

Cap. V - O Preço Real e o Preço Nominal das Mercadorias ou seu Preço em Trabalho e seu Preço em Dinheiro.

"Todo homem é rico ou pobre, de acordo com o grau em que consegue desfrutar das coisas necessárias, das coisas convenientes e dos prazeres da vida" (SMITH, 1996, p. 87).

Para Adam Smith, o preço real, o valor real de uma mercadoria é igual à quantidade de trabalho necessária para sua confecção. Desse modo, as mercadorias "contêm o valor de uma certa quantidade de trabalho que permutamos por aquilo que, na ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade igual" (SMITH, 1996, p. 87). Tudo quanto adquirimos custa uma determinada quantidade de trabalho. Se não há a possibilidade de que possamos satisfazer uma necessidade com nosso próprio trabalho, a mercadoria que compramos substitui esse trabalho. Por isso, precisamos adquiri-la trocando por ela um valor igual em dinheiro.

Para o autor, o trabalho foi a primeira medida de valor, "o primeiro preço" (ibid.).

Adam Smith reconhece a dificuldade em se medir o trabalho somente pelo tempo gasto pois diversos tipos de trabalho variam em dificuldade e grau de elaboração técnica.

"Ora, não é fácil encontrar um critério exato para medir a dificuldade ou o engenho exigidos por um determinado trabalho. (...) costuma-se considerar uma margem para esses dois fatores. Essa, porém, é ajustada não por medição exata, mas pela pechincha ou regateio do mercado, de acordo com aquele tipo de igualdade aproximativa que, embora não exata, é suficiente para a vida diária normal" (SMITH, 1996, p. 88).

Quando cessa o comércio de troca de mercadorias o dinheiro se torna o instrumento comum. Entretanto, o valor do ouro e da prata também variam com o tempo. Já quantidades iguais de trabalho, segundo o autor, não sofrem essa variação pois o incômodo sofrido, a felicidade despendida são sempre os mesmos em qualquer tempo, em qualquer lugar. Por esse motivo é que só o trabalho pode ser "padrão último" para se estimar o valor de uma mercadoria. "O trabalho é o preço real das mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas" (SMITH, 1996, p. 90).

A distinção entre valor real e nominal não é uma mera especulação filosófica mas tem aplicabilidade prática na medida em que permite identificar como o valor real sempre se mantém o mesmo e o valor nominal pode assumir grande variação em diferentes pontos no tempo. Isso se dá por causa das variações de valor do ouro e da prata.

Para Adam Smith, "no mesmo tempo e no mesmo lugar, o preço real e o preço nominal de todas as mercadorias estão exatamente em proporção um com o outro. (...) No mesmo tempo e lugar, portanto, o dinheiro é a medida exata do valor real de troca de todas as mercadorias." (SMITH, 1996, p. 93). Em outras palavras, o quanto se paga por um bem é exatamente o quanto ele vale.

Com o avanço da indústria, convencionou-se cunhar dinheiro em diferentes tipos de metais (e.g. ouro, prata e cobre) embora um deles fosse escolhido para ser a medida padrão. A proporção do valor do ouro e da prata não era estabelecida por lei, mas sim pelo mercado. Valores de dívida a serem pagos, por exemplo, se oferecidos em outra forma que não o dinheiro padrão, seriam definidos em acordo entre as partes.

Mais tarde, à medida que o mercado se acostumava com a circulação do metal padrão, alguns países começaram a estabelecer seu valor sancionando por lei proporções fixas entre o metal padrão e outros metais ou instrumentos de troca. A distinção entre o metal padrão e o não padrão se tornou apenas nominal, nesse caso. Enquanto houvesse uma proporção estabelecida por lei, o metal de maior valor determinava o valor do dinheiro.

Cap. VI - Fatores que Compõem o Preço das Mercadorias

Como já visto, Adam Smith deriva o valor de qualquer objeto da quantidade de trabalho normalmente investida nele, sendo essa quantidade de trabalho a única forma padrão de comparação entre diferentes mercadorias visando a troca. Embora o autor considere uma margem de dureza ou destreza relativa a cada tipo de trabalho, ainda assim o trabalho é o único padrão de valor universal.

Para o autor, o preço de qualquer produto se divide em 3 fatores: o pagamento do trabalho, o pagamento do lucro investido e a renda da terra.

O pagamento do trabalho consiste na remuneração da quantidade de trabalho despendida pelo trabalhador. O pagamento do lucro é devido ao investidor "pelo seu trabalho e pelo risco que ele assume ao empreender esse negócio" (SMITH, 1996, p. 102). Caso contrário, argumenta o autor, o investidor não teria motivos para investir se não houvesse alguma proporção de retorno com o montante investido. A renda da terra consiste no pagamento pelo direito de usar o que é produzido naturalmente pela terra. Essa parte componente do preço é devida ao proprietário da terra. "A madeira da floresta, o capim do campo e todos os frutos da terra, os quais, quando a terra era comum a todos, custavam ao trabalhador apenas o trabalho de apanhá-los, a partir dessa nova situação [a terra se tornar propriedade privada em todo o país] tem o seu preço onerado por algo mais, inclusive o trabalhador. Ele passa a ter que pagar pela permissão de apanhar esses bens" (SMITH, 1996, p. 103).

Considerações Finais

Talvez o que mais distinga o pensamento de Adam Smith do outro autor estudado na ocasião (Marx) seja o fato de o primeiro considerar os três fatores componentes do preço, em especial o pagamento de lucro e a renda da terra como um direito do investidor e do proprietário da terra. Marx considera devido apenas o pagamento pelo trabalho dando ao pagamento pelo controle dos meios de produção e ao pagamento do lucro (mais valia) um caráter ilegítimo.

A Nova Sociologia Econômica

Prof. Silvio Salej Higgins

Texto: A Riqueza das

Nações de Adam Smith