A natureza do golpe e do regime
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TRÊS QUESTÕES
1. Como nomear o
movimento de 31 de março
de 1964 e o regime político
que se seguiu a ele?
MOVIMENTO DE 31 DE MARÇO/1 DE ABRIL
golpe militar,
golpe civil-militar (Daniel Aarão Reis),
golpe político-militar (Martins Filho, Caio Toledo, Codato),
golpe de Estado,
golpe de classe (René Dreyfuss),
“Revolução” (direita conservadora, militares),
contra-revolução preventiva (Florestan Fernandes, O Estado de S.
Paulo),
contra-golpe preventivo (Élio Gaspari)?
REGIME POLÍTICO
situação autoritária (Juan Linz),
regime autoritário (Fernando Henrique Cardoso),
regime militar (O Estado de S. Paulo, O Globo),
Estado burocrático-autoritário (Guillermo O’Donnell),
Estado de Segurança Nacional (Maria Helena Moreira Alves),
colonial-fascismo (Hélio Jaguaribe),
fascismo dependente (Theotonio dos Santos)
democracia relativa (General Ernesto Geisel),
ditadura militar (João Roberto Martins Filho, Adriano Codato)
ditabranda (Folha de S. Paulo, Marco Antonio Villa)?
A CRONOLOGIA POLÍTICA
2. Qual a periodização
política mais adequada para
determinar quando a
ditadura começou e quando
acabou?
início
1964? [ruptura constitucional]
1965? [fim dos partidos políticos]
1968? [AI-5]
fim
1974? [anuncio da distensão; vitória do MDB]
1979? [revogação do AI-5]
1985? [fim do ciclo de governos militares]
1988? [promulgação da Constituição]
1989? [eleições diretas para Presidente da República]
O REGIME POLÍTICO
3. Quais deveriam ser os
indicadores utilizados para
determinar a mudança de natureza
do regime e a forma de
funcionamento das instituições
políticas no pós 64?
INDICADORES POLÍTICOS PRESENTES NA LITERATURA
1. a quantidade de violência política empregada pelos sucessivos governos militares?
2. a possibilidade de participação social e de oposição política admitida nas diversas fases de desenvolvimento do regime?
3. a estrutura de autoridade, o tipo de legitimidade, enfim, a forma de obter obediência política?
INDICADORES POLÍTICOS PRESENTES NA LITERATURA
4. a presença ou a ausência de certas instituições políticas?
• Há partido único? parlamento? eleições? mobilizações? ideologia unificadora dos agentes do regime?
5. a orientação geral da política de Estado?
• pró-monopolista? desenvolvimentista? excludente?
6. a natureza dos grupos (políticos, militares, sociais) que controlam os centros decisórios fundamentais do regime?
7. a orientação política e ideológica das facções militares que se sucederam no controle da Presidência da República?
• radicais, moderados, nacionalistas, internacionalistas?
A HISTÓRIA O REGIME DITATORIAL-MILITAR NO BRASIL
PODE SER DIVIDIDA EM CINCO GRANDES FASES:
• Uma primeira fase, de constituição do regime político
ditatorial-militar, corresponde, grosso modo, aos
governos Castello Branco e Costa e Silva (de março de
1964 a dezembro de 1968);
• Uma segunda fase, de consolidação do regime
ditatorial-militar (que coincide com o governo Médici:
1969-1974);
• Uma terceira fase, de transformação do regime
ditatorial-militar (o governo Geisel: 1974-1979);
• Uma quarta fase, de desagregação do regime
ditatorial-militar (o governo Figueiredo: 1979-1985); e
por último,
• A quinta fase de transição do regime ditatorial-militar
para um regime liberal-democrático (o governo Sarney:
1985-1989).
• Por essa cronologia, o regime
durou 25 anos, de 1964 a 1989
e teve seis governos – incluindo
um governo civil.
UMA TEORIA EMPÍRICA DA MUDANÇA POLÍTICA
1.O que muda?
2.Como muda?
3.Por que muda?
4.Em que direção muda?
O QUE MUDA? • Isto é:
que instituições políticas são suprimidas, restauradas
ou transformadas nesse processo de evolução
política?
Essa primeira pergunta – o que muda no regime ao longo do
tempo? – pede que se defina melhor a natureza (conservadora,
liberal, radical) e a amplitude (maior, menor) das transformações
político-institucionais introduzidas no modelo político pela elite
militar dirigente.
COMO MUDA? • Isto é:
qual a natureza do processo que governa a mudança?
Essa segunda pergunta – como muda o regime? – equivale à exposição da
ação dos "atores estratégicos" e na reação dos outros "atores estratégicos"
diante da ação dos primeiros.
Não basta indicar que a auto-reforma do regime resultou de uma decisão do
Presidente militar para enquadrar a burocracia militar, como parece ser o caso
da compreensão de Elio Gaspari (2003; 2004).
Posto em movimento, o processo de reforma do regime ditatorial-militar tende
a superar (para o bem ou para o mal) o projeto original.
POR QUE MUDA? • Ou seja:
quais as razões da substituição de um modelo político por outro?
Essa terceira pergunta – por que o regime muda? – remete ao entendimento das contradições do próprio modelo político e suas dificuldades de:
legitimação política;
organização interna;
evolução institucional.
A natureza e amplitude da mudança estão condicionadas ao tipo de resposta que a elite detentora da iniciativa deu a eles.
EM QUE DIREÇÃO MUDA? • Ou seja:
qual o significado mais amplo que se pode atribuir à
mudança política?
A última pergunta – qual a direção da mudança política? – exige que se distingam
certas alterações (de grau) que podem ser introduzidas no regime político,
sem implicarem a transformação do regime no seu oposto (uma mudança de
natureza, por assim dizer).
A cúpula militar que dirige o processo de transição tem todo o interesse apenas na primeira
alternativa. Ela equivale à institucionalização do regime ditatorial, mas sob outra forma
política. Trata-se, paradoxalmente, de um autoritarismo sem ditadura .