A Era da Ciberpolítica Globalizada
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós Graduação em Ciência Política
Disciplina: Os novos regimes internacionais
Professor: Dawisson Lopes
Aluna: Cinthia Lopes Henriques
Título - A era da ciberpolítica globalizada
Abstract:
A ciberpolítica evidencia dois outros conceitos importantes para o entendimento do
recente processo de articulação social através da internet, o cibercidadão e o
ciberativismo. O processo de identificação, mobilização e articulação de causas sociais
é potencializado e projetado pela internet, através do que conhecemos como redes
sociais. O desenvolvimento das mídias sociais digitais alterou o comportamento dos
indivíduos nas relações humanas. As ferramentas tecnológicas permitem a formação de
redes em defesa de interesses em comum estruturadas em uma nova forma de cidadania
da era globalizada. O relato de experiências como essas não são novos. O que diferencia
os últimos protestos é a intensidade com que os usuários utilizaram a rede para
mobilizar e projetar as informações em nível global. São reinvindicações diversas em
cada região, mas com formas de atuação muito similares e desencadeamento de uma
solidariedade de massa, mútua e global. A novidade estaria na facilidade para as
testemunhas compartilharem informações por meio dos dispositivos móveis, o fato de
terem tornado este conteúdo público, por meio da internet, e a partir daí a formação de
um fluxo paralelo de informações. Esta característica tem atraído a atenção dos regimes
internacionais sobre a normativa da Internet e reestruturado a forma como governos se
relacionam com a sociedade.
INTRODUÇÃO
Em 2011, países do mundo árabe foram notícia entre as páginas dos principais jornais
do mundo desde que o jovem tunisiano Mohamed Bouazizi imolou o próprio corpo
como forma de protesto pela apreensão de suas mercadorias. O ato desencadeou uma
série de revoluções no norte da África e no Oriente Médio, que representavam um
descontentamento em massa com os governos autoritários da região.
Revoluções começaram a se articular em países como Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, e
alcançaram a Europa, a América do Sul e os Estados Unidos. Os motivos que
provocaram os protestos foram diferentes, mas as formas de mobilização foram bastante
semelhantes: através da rede.
Este artigo propõe-se a discutir a projeção dos movimentos sociais e a relação
estabelecida com a esfera pública, neste caso intermediada pela internet. Procura-se
entender qual é a apropriação que os movimentos sociais fazem da internet, como
espaço de difusão e compartilhamento de informações e mobilizações.
Historicamente as insurreições políticas surgem da insatisfação social com o Estado no
atendimento às demandas populares. As ocupações são mecanismos de pressão política
de massa que contribuem para mudanças políticas e de transformação da sociedade. A
partir disso, compreende-se a organização dos movimentos sociais da última década.
Ao perceberem o alcance das redes, os Estados procuram estabelecer contato através da
web com os diversos atores da sociedade e/ou monitorar o uso da internet. Essa relação
é delicada, pois adentra a questão da privacidade dos indivíduos e o uso de mecanismos
de vigilância, que podem ser utilizados de forma coerciva pelos governos.
1 MOVIMENTOS SOCIAIS E A INTERNET
Com o desenvolvimento da internet as relações sociais foram alteradas. O processo de
identificação, mobilização e articulação de causas sociais que ocorre no cotidiano é
potencializado nas e pelas redes.
A constituição da internet, em que muitos compartilham informações de outros muitos,
sem precisar passar pela mídia de massa, é a lógica que opera na divulgação e
articulação dos movimentos sociais.
Analisando a relação da internet com os movimentos sociais percebe-se que a sociedade
já alfabetizada pelo uso da rede utiliza intensamente os mecanismos proporcionados
pela rede, que projetam os protestos em dimensões que os tornam movimentos globais.
Os movimentos sociais precisam ser analisados de acordo com a ótica da globalização,
pois são fenômenos da Era da Informação (Castells, 2003). Ainda deve-se ressaltar que
cada época apresenta um sistema de comunicação responsável por mobilizar a
sociedade. A internet e as redes móveis apresentam-se como as estruturas da Era da
Informação e são decisivas para a articulação dos movimentos. As redes permitem que a
informação circule diretamente, simultaneamente e espontaneamente, sem intermédio
da mídia tradicional e em nível pessoal.
Os cidadãos têm autonomia na expressão política e social, tornam-se cibercidadãos
estruturados em uma rede de cidadania da era globalizada. Isto é o mesmo que afirmar,
cibercidadãos conectam-se por uma causa.
O segundo traço que caracteriza os movimentos sociais na sociedade em rede é que
ele tem de preencher o vazio deixado pela crise das organizações verticalmente
integradas. Os partidos políticos herdados da Era Industrial. Os partidos políticos de
massa, quando e onde ainda existem, são conchas vazias, mal ativadas com
máquinas eleitorais a intervalos regulares. (CASTELS, 2003, p. 118)
Esta ocorrência foi relatada em pesquisa anterior sobre os conflitos do Oriente Médio
em 2011, denominados Primavera Árabe, que ampliou o debate sobre o uso das TICs
como ferramenta de mobilização e visibilidade para “movimentos sociais organizados
ou de livre manifestação cidadã na sociedade da informação” (FÁTIMA, sd, p.1 apud
LOPES, 2012)
[...] A Primavera Árabe foi e ainda é uma revolução de povos insatisfeitos com
modelos de governos instaurados e que se utilizaram das redes sociais como
ferramentas de organização e mobilização de protestos que culminaram na ocupação
pacífica, na maioria dos casos, de ruas praças, bairros e espaços públicos das
maiores cidades e pequenas vilas do Norte da África e Oriente Médio. (FÁTIMA,
sd, p. 3. apud LOPES, 2012)
O processo de identificação, mobilização e articulação de causas sociais que ocorre no
cotidiano é potencializado nas redes sociais digitais. Os indivíduos ampliam o debate e
os canais de difusão reforçando, sensibilizando e projetando problemáticas. O
ciberativismo cria relações construídas em torno de interesses em comum.
Na dinâmica das redes, os fenômenos que popularmente conhecemos como “efeitos
cascata ou em cascata” são exemplos de ação coletiva que pode ser induzida pelo
poder público, principalmente em situações onde a resolução do problema comum
depende de uma adesão do maior número de atores sociais possível. A importância
dos fluxos de informação para a realização de ações coletivas coordenadas também
aparece claramente em regimes totalitários, onde o direito à reunião e ao trabalho
dos jornalistas são normalmente diminuídos ou eliminados, como estratégia de
combate aos opositores. A sequência de eventos conhecida como “Primavera
Árabe”, onde em vários países, ditaduras antigas tem enfrentado oposição nas ruas, é
um exemplo das possiblidades de análise com um olhar interdisciplinar que envolva
teorias de Rede e de Comunicação. A utilização de redes sociais para contornar as
restrições de comunicação nesses cenários e potencialmente gerar mudanças em
escala e velocidade inéditas também reforça o interesse desse tipo de abordagem e
sua utilidade para a compreensão de situações e sistemas de considerável
complexidade. (SANTOS, 2012, p.68)
O que diferencia os últimos protestos é a intensidade com que os usuários utilizaram a
rede para se mobilizarem e projetarem as informações em nível global. Em artigo
publicado pela revista Veja em 2011, Jady Pavão Júnior e Rafael Sbarai (2011) fazem
um levantamento histórico do uso das TIC no mundo todo:
2001- Filipinas - Milhares de pessoas trocam mensagens de texto no celular (SMS)
para coordenar protestos que culminam no impeachment do presidente Joseph
Estrada.
2004 - Espanha - Mensagens de texto acusando o premiê José María Aznar de
mentir sobre o atentado ao metrô de Madri influenciam a eleição e impõem derrota
ao primeiro-ministro nas urnas.
2006 - Bielorrúsia - A tentativa de revolução começa por e-mail, mas não vai longe:
o protesto não têm força para derrubar o ditador Aleksandr Lucashenko, que em
seguida tenta controlar a rede.
2009 - Irã - Ativistas usam celulares e redes sociais para coordenar protestos contra
fraudes nas eleições. Em resposta, o governo bloqueia o acesso ao Twitter e ao
Facebook.
2009 - Moldávia - Ações na web reúnem mais de 10.000 manifestantes anti-
governo, que responde com perfis falsos no Facebook para atrapalhar os
manifestantes.
2010 - Tailândia - O movimento Red Shirt, que se opõe ao governo militar que
comanda o país, usa redes sociais para coordenar suas ações. A ação é esmagada e
dezenas de pessoas morrem.
2011 - Tunísia - O ditador Zine El Abidine Ali cai após convulsão popular. As redes
sociais são usadas como meio de comunicação entre os manifestantes.
2011 - Egito - Motivados pelos acontecimentos da Tunísia, os egípcios saem às ruas
contra o ditador Hosni Mubarak, que tenta bloquear o Twitter, ferramenta de
coordenação do movimento. (PAVAO JR. e SBARAI, 2011)
2 O USO DO TWITTER NOS PROTESTOS BRASILEIROS
Em junho de 2013, o Movimento Passe Livre organizou uma passeata no centro de São
Paulo contra o aumento das passagen na cidade. O movimento foi organizado pela
internet como uma ação local. Mas os conflitos com a polícia e o uso desproporcional
da força rapidamente foram denunciados em diversos vídeos pela web. Os protestos
ganharam força e adeptos em diversas cidades do país e do mundo. Sempre organizados
pela web, as manifestações repercutiram durante vários dias em diversos locais, até que
no dia 20 de junho, durante a realização da Copa das Confederações, 120 cidades
reuniram 1,4 milhão de pessoas.
Um estudo dos pesquisadores Andrés Monroy Hernández e Emma Spiro realizado pelo
Microsoft FUSE Labs, centro de pesquisas e desenvolvimento de projetos de mídias
sociais, aponta o impacto do microblog Twitter na projeção das manifestações. A
pesquisa analisou 1,5 milhão de tweets entre o período de 01 de junho a 22 de junho de
2013 e observou um conjunto de hashtags específicas, palavras chave antecedidas pelo
símbolo cerquilha (#) ou jogo da velha como é popularmente conhecido na internet,
que estão conectadas com outras informações, relacionadas com os protestos.
Figura 1- Gráfico com número total de Tweets por dia durante o período de 1 a 22 de junho de 2013
Fonte: http://blog.fuselabs.org/post/54384449224/how-is-the-brazilian-uprising-using-twitter
A pesquisa destaca que o ápice dos protestos coincidiu com o maior pico na internet. No
dia 17 de junho de 2013, no horário local brasileiro de 20h, o Congresso Brasileiro foi
invadido pelos manifestantes. Na mesma data e horário, as mensagens publicadas no
Twitter alcançaram o pico de 96.531 tweets.
Figura 2- Tweets por hora
Fonte: http://blog.fuselabs.org/post/54384449224/how-is-the-brazilian-uprising-using-twitter
É perceptível na imagem acima o pico que começa na noite do dia 17 de junho e
amplia-se no decorrer do próximo dia repercutindo e atualizando os acontecimentos da
noite anterior. As tags investigadas pela pesquisa foram: vemprarua; mudabrasil;
changebrazil; changebrasil; passelivre; protestosrj; ogiganteacordou; copapraquem;
PimientaVsVinagre; sp17j, consolação e acordabrasil.
Castells (2003) avalia que a rede tornou-se pulverizador das ações propostas pelos mais
diversos movimentos sociais. Novas características operam nos movimentos sociais, a
auto-organização, a autonomia e a divulgação em escala.
Neste contexto, a comunicação de valores e a mobilização em torno de significados
tornam-se fundamentais. Os movimentos culturais (no sentido de movimentos
voltados para a defesa ou a proposta de modos específicos de vida e significado)
formam-se em torno de sistemas de comunicação – essencialmente a Internet e a
mídia – porque é principalmente através deles que conseguem alcançar aqueles
capazes de aderir a seus valores e, a partir daí, atingir a consciência da sociedade
como todo. (CASTELLS, 2003, p. 116)
A pesquisa do Microsoft Fuse Labs ainda aponta que, metade dos tweets analisados
foram originados do horário de Brasília, a outra metade veio de outros países. Foram
registrados tweets localizados nos seguintes fusos, Santiago, Groelândia, Mid-Atlantic,
Hawaii, Quito, Atlantic Time (Canadá), Eastern Time (EUA e Canadá), Londres,
Pacific Time (Eua e Canada), Central Time (EUA e Canadá), Istambul e Buenos Aires.
Conclui-se assim que, a comunidade internacional influencia na geração de posts
durante a semana do dia 17 de junho, data que apresenta o maior número de tweets
sobre as manifestações brasileiras.
Ainda sobre a rede de solidariedade mútua que a internet proporciona, os dados da
pesquisa registram uma importante observação, concomitante, aos protestos no Brasil a
Túrquia passava por um processo de mobilização muito semelhante com
reinvindicações para as causas sociais e alta insatisfação política.
Os dados revelam que os tweets com origem no fuso horário de Istambul foram
publicados com atraso de algumas horas. Esse dado sugere que as informações foram
publicadas na Túrquia depois da repercussão das notícias do movimento no Brasil. O
pico dos tweets em Istambul acontecei às 2h do dia 18 de junho, com 434 tweets. .
Figura 2- Tweets por hora de usuários com fuso horário de Istambul - 15-22 junho
Fonte: http://blog.fuselabs.org/post/54384449224/how-is-the-brazilian-uprising-using-twitter
Geograficamente, a Turquia está bem próxima dos países do mundo árabe, que
participaram da Primavera Árabe. A onda de movimentos pró-democráticos de 2011 se
propôs a derrubar governos ditatoriais em países do norte da África e do Oriente Médio.
Com características muito semelhantes de mobilização e de reinvindicações, os
protestos mudaram a ordem das relações entre o governo turco e esses países.
Embalados pela Primavera Árabe, ambientalistas foram as ruas contra uma proposta que
previa a transformação de uma praça de Istambul em shopping center. Em poucos dias,
milhares de cidadão estavam nas ruas contra as ações conservadoras do governo de
Tayyip Erdogan, que nos últimos anos abriu espaço para o islamismo. É importante
salientar que a Turquia não tem um governo ditatorial, a eleição que colocou Erdogan
no poder foi realizada em 2002.
3 O CONTROLE DA INTERNET
A internet e suas aplicações como às redes sociais provocam uma nova discussão sobre
o espaço das soberanias nacionais. As próprias características do ciberespaço alteraram
as relações humanas e impactaram a organização social e política da
contemporaneidade. Os resultados alcançados pelo uso da rede em fenômenos como a
Primavera Árabe, Occupy Wall Street, Indignados na Espanha e mais recentemente o
caso dos protestos na Túrquia e no Brasil colocam a internet em categoria estratégica
para os Estados, destacando a importância da Governança da Internet.
Na compreensão dos regimes internacionais voltados para a internet é importante
considerar as diferenças entre governo e governança. Como aponta Rosenau (2000) a
governança diferentemente do governo não depende de força coercitiva para sua
existência.
A internet é um mecanismo de comunicação global. A partir desta informação, é
possível afirmar que a sociedade contemporânea tem uma importante dimensão
midiática e por isso precisa de normativas globais que norteiem o uso e as ações
realizadas na rede. Krasner (2012) defende que a Governança este definida por
princípios que norteiam a tomada de decisões dos vários atores internacionais.
A partir dessa definição, compreende-se como o uso intenso das TICs em insurreições
de movimentos como o Wikileaks intensificou a preocupação dos Estados com a
Governança da internet. Se por um lado, existe preocupação com o controle da rede por
parte dos governos, por outro, existem iniciativas positivas que contribuem para a
gestão transparente e o diálogo entre entidades públicas e a sociedade.
A Governança da internet é um assunto novo nas discussões da agenda internacional,
atores e propostas devem convergir para a elaboração de uma “Constituição da Internet”
– que deve apontar para direitos e deveres que norteiem toda iniciativa de
regulamentação da rede.
A análise dos protestos brasileiros permite uma exemplificação de como os governos
buscam enfrentar a problemática do uso das redes em situações de conflito. As
proporções que as manifestações alcançaram foram tão importantes que diferentemente
dos países do mundo árabe, que restringiram o acesso à internet, o governo brasileiro
lançou semanas após as manifestações uma rede social voltada para a produção de
conhecimento com participação e mobilização, voltada para a juventude: o
Participatório – Observatório Participativo da Juventude, e um canal de comunicação
com os governantes brasileiros o Gabinete Digital, na tentativa de estabelecer uma
comunicação direta com os internautas.
Entretanto, ainda durante as manifestações o Agência Brasileira de Inteligência – Abin
– montou uma rede para monitorar atividades em redes sociais. De acordo com dados
do Gabinete de Segurança Institucional, o objetivo da ação de monitoramento foi captar
a formação de novos protestos assim como qualquer outro dado relevante sobre os
movimentos sociais.
O monitoramento das redes sociais seria realizado por um programa de observação
popularmente conhecido como Mosaico. A ferramenta capta dados das redes sociais
mais populares como Twitter, Facebook e Instagram. Em geral, a ferramenta monitora
dados abertos que podem ser avaliados por qualquer pessoa, já que são informações
postadas em caráter público.
Mas o Mosaico rastrearia também dados do Whatsapp, aplicativo de mensagem
instantânea via celular, que tem caráter privado. Sobre isso, Castells (2003) destaca as
características das tecnologias de vigilância.
As tecnologias de vigilância são de um tipo diferente, mas muitas vezes se baseiam
em tecnologias de identificação para localizar o usuário individual. As tecnologias
de vigilância interceptam mensagens, instalam marcadores que permitem o
rastreamento de fluxos de comunicação a partir de uma localização especifica de
computador e monitoram a atividade de máquinas 24 horas por dia. Tecnologias de
vigilância podem identificar um dado servidor na origem de uma mensagem.
Depois, por persuasão ou coerção, governos, companhias ou tribunais podem obter
do provedor de serviços da Internet a identidade do réu potencial pelo uso de
tecnologias de identificação ou simplesmente procurando em suas listas, quando a
informação está disponível. Uma vez que dados são coletados em forma digital,
todos os itens de informação contidos no banco de dados pode ser podem ser
agregados, desagregados, combinados e identificados de acordo com o objetivo e o
poder legal. Por vezes, trata-se simplesmente de fazer perfis agregados, como em
pesquisa de mercado, seja para o comércio ou para a politica. Em outros casos trata-
se de visar indivíduos, já que uma dada pessoa pode ser caracterizada por um grande
corpo de informação contido em seus registros eletrônicos, de pagamentos por
cartão de crédito a visitas websites, correio eletrônico e chamadas telefônicas.
(CASTELLS, 2003, p. 141-142)
Mackinnon (2012) mostra que a vigilância das redes é uma tática comum entre os
governos. O autor revela que, a vigilância das mídias sociais realizada por governos da
Primavera Árabe foi utilizada como forma de coerção e repressão.
Logo depois do presidente egípcio, Hosni Mubarak, ser derrubado do poder no ano
passado, os manifestantes invadiram a sede da segurança nacional egípcia, onde
estavam guardados os registros policiais. Alguns egípcios encontraram arquivos que
as autoridades tinham compilado sobre eles. Outros descobriram arquivos com foco
em amigos e colegas. Havia transcrições de escuta, fardos de impressões com
interceptação de e-mails e mensagens de celular, comunicação que se pensava ser
privada. Como se vê, a tecnologia American-made ajudou Mubarak e seu governo
de segurança a coletar, compilar e analisar grandes quantidades de dados sobre os
cidadãos comuns. Em suma, a mesma tecnologia não só auxilia os administradores
de rede na busca de atacantes e invasores, mas também pode ajudar os governos a
patrulhar as atividades online de seus cidadãos. (MACKINNON, 2012, p. 1,
tradução nossa)
CONCLUSÃO
Em caráter conclusivo, destaca-se que o uso da rede em processos de mobilização social
vão além do uso da rede, são características da sociedade contemporânea. Certamente,
outros movimentos acontecerão pelo mundo com características de articulação
similares.
Nesta perspectiva, compreende-se que a internet representa posição estratégica para os
governos. A internet rompe as fronteiras da soberania nacional e, as identidades
nacionais são substituídas por identidades globais.
Ainda que a rede represente uma mudança na hierarquia do fluxo de informações, com
autonomia dos cidadãos, sem intermediários como a mídia tradicional, os Estados são
detentores de importantes ferramentas de vigilância das informações.
Em âmbito global, as negociações sobre a Governança da Internet avançaram pouco nos
últimos anos. Os Estados devem assegurar uma normativa específica para regulamentar
as ações da internet e garantir a liberdade de expressão e a privacidade online,
garantindo que haja segurança sobre os dados dos usuários e impedindo o rastreio de
informações em ações com finalidades coercitivas.
Quanto a análise da pesquisa realizada por pesquisadores do Microsoft FUSE Labs
representa uma primeira conclusão sobre o caso. Outras pesquisas devem ser realizadas
para avaliar mais profundamente o impacto do uso das redes nos movimentos
brasileiros.
É importante ressaltar que a rede é apenas o instrumento para a demonstração da
insatisfação popular com a situação política, econômica e social dos países. Em outras
épocas, existiam outros recursos de mobilização. Esse movimento representa apenas
uma retomada da articulação popular e o uso de uma ferramenta de nossa época para
mobilizar e repercutir as ações dos movimentos sociais.
REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet; Reflexões Sobre a Internet, os Negócios e
a Socieadade. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2003.
HENRIQUES LOPES, CINTHIA. Jornalismo Participativo e A Morte de Muammar
Kadafi, 2012.
HERNANDEZ, Andrés Monroy e SPIRO,Emma, How is the Brazilian Uprising Using
Twitter? Blog Microsoft Research Fuse Labs, 2013. Disponível em
<http://blog.fuselabs.org/post/54384449224/how-is-the-brazilian-uprising-using-
twitter>
KRASNER, S. “Causas estruturais e consequências dos regimes internacionais: regimes
como variáveis intervenientes”. Revista de Sociologia e Política, 2012.
MACKINNON, R. “A Clunky Cyberstrategy”. Foreign Affairs. 2012.
ROSENAU, J. e CZEMPIEL, O. Governança sem Governo. EdUnB, 2000.
SANTOS, Márcio Carneiro dos. Pessoas Conectadas Podem Mudar o Mundo? Uma
abordagem sistêmica baseada na Teoria das Redes para a modelagem de ações
coletivas. Revista GEMInISano 3 - n. 1, p. 51 – 70, 2012.