A DINÂMICA DAS POLÍTICAS AFRICANAS CONCERNENTES AO PROCESSO DAS DEMOCRACIAS E SEPARAÇÃO DE...
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ÍNDICECAPÍTULO I - INTRODUÇÃO..............................................11.1Objectivos.......................................................2
1.1.1 Geral-------------------------------------------------------21.1.2 Específicos-------------------------------------------------2
1.2Metodologia de Trabalho..........................................21.2.1 Métodos-----------------------------------------------------21.2.2 Técnicas para colecta de dados-----------------------------2
CAPÍTULO II - Contexto...............................................3
2.1 Separação de poderes em John Locke..............................32.2 Separação de poderes em Charles-Louis de Secondat – Montesquieu.5
2.3 O Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau......................72.4 A Democracia....................................................8
CAPÍTULO III – Reflexão..............................................93.1 Democracia em Moçambique.......................................11
CAPÍTULO IV – Conclusão.............................................13CAPÍTULO V - Referências bibliográficas.............................14
5.1 Quadro Legal...................................................145.2 Suporte Electrónico (Internet).................................14
0
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
O tema da separação de poderes tem atravessado épocas, sendo
objecto de considerações por grandes autores em clássicas obras
no decorrer da história. É uma doutrina que surgiu com o
objectivo fundamental de se limitar o poder do homem, impedindo
que este o use indiscriminadamente, o que causaria uma grande
desproporção e desigualdade em relação aos que o devem
obediência.Por se tratar de assunto de fundamental importância, o
tema da separação de poderes tem sido objecto de considerações ao
longo da história por grandes pensadores e jurisconsultos, dentre
os quais podemos citar Platão, Aristóteles, Locke, Montesquieu e
quota-parte Rousseau, entre outros, que culminaram no modelo
tripartite conhecido actualmente, inclusive como princípio
constitucional no ordenamento jurídico moçambicano (artigo 134).
O modelo tripartite actual consiste em atribuir a três órgãos
independentes e harmónicos entre si as funções Legislativa,
Executiva e Judiciária.
O princípio da separação dos poderes não foi, histórica e
originariamente, um modelo binário a compreender que cada poder
tem um escopo teórico fechado, delimitado e incomunicável de
acordo com o seguinte axioma: ou é função executiva ou é função
judiciária ou é função legislativa. Além das constituições
contemporâneas atribuírem funções típicas e atípicas aos poderes
constituídos, os Poderes Executivo e Judiciário têm agregado às
1
suas competências de origem outros atributos cada vez mais
crescentes.
Nesse contexto, o presente trabalho de fim do módulo de
Pensamento Político, analisará acerca dos Princípios de Separação
dos Poderes e Processos Democráticos em África, a luz das
dinâmicas políticas africanas, o mesmo, apresenta-se dividido
cinco (5) capítulos, sendo o primeiro capítulo da introdução,
onde são levantados os objectivos (geral e específicos) e a
metodologia de trabalho, o segundo capítulo é o do contexto, onde
são levantados os diversos enfoques teóricos de Locke,
Monstesquieu e Rousseau com relação à separação dos poderes, o
terceiro capítulo é o da reflexão que se faz em torno da dinâmica
das democracias africanas tomando como pressuposto os princípios
de separação dos poderes dos autores acima descritos e de algumas
sensibilidades com relação à África e fazendo breve menção da
realidade moçambicana; o quarto que é o capítulo da conclusão
e/ou considerações finais e as respectivas sugestões e por fim, o
sexto capítulo das referências bibliográficas.
1.1Objectivos
1.1.1 Geral
Compreender a dinâmica das políticas africanas concernentes
ao processo das democracias e a separação de poderes.
2
1.1.2 Específicos
Descrever as perspectivas dos princípios de separação de
poderes em Locke, Montesquieu e Rousseau;
Refletir acerca da dinâmica das democracias nos países
africanos.
1.2Metodologia de Trabalho
1.2.1 Métodos
Para o presente ensaio, foram utilizados os métodos comparativo
que visa identificar semelhanças e explicar diferenças entre os
autores, Locke, Montesquieu e Rousseau, como também ao histórico,
pois, preocupa-se em estudar o passado das actuais formas de vida
social, as instituições e os costumes para compreender o passado,
entender o presente e predizer o futuro, verificando, não apenas
a influência do facto e do fenómeno, como também sua formação,
modificação e processos e instituições do passado para verificar
sua influência na sociedade política/democrática de hoje.
1.2.2 Técnicas para colecta de dados
Pesquisa bibliográfica
Segundo Koche (1997:122), “é a que se desenvolve tentando explicar um
problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em
livros (…) para auxiliar a compreender o problema”.Consistiu na consulta e
leitura da legislação e obras de conceituados autores
relacionados com o tema.
Análise documental
3
“É muito parecida com a bibliográfica. A diferença está na natureza das fontes, pois
está forma vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou
que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objectos da pesquisa” (Gil,
1999:66).
CAPÍTULO II - Contexto
2.1 Separação de poderes em John Locke
Segundo Mello (2001:101) abordando o Locke diz, uma vez que o
grande objectivo do ingresso dos homens em sociedade é a fruição
da propriedade em paz e segurança, e que o grande instrumento e
meio disto são as leis estabelecidas nessa sociedade, a primeira
lei positiva e fundamental de todas as comunidades consiste em
estabelecer o poder legislativo enquanto primeira lei natural
fundamental, que deve reger até mesmo o poder legislativo.Ela é,
em simesma, a preservação da sociedade e até o ponto em que seja
compatível com o bempúblico de qualquerpessoa que faça parte
dela. Esse poder legislativo não é somente o poder supremo da
comunidade, mas sagrado e inalterável nas mãos em que a
comunidade uma vez o tenha colocado; nem pode qualquer édito de
quem quer que seja, concebido por qualquer maneira ou apoiado por
qualquer poder que seja, ter a força e a obrigaçao de uma lei se
nao tiver sançao do legislative escolhido e nomeado pelo public,
porque, sem isto, a lei: o consentimento da sociedade, sobre a
qual ninguem tem o poder de fazer leis senao pelo proprio
consentimento daquela e pela autoridade recebida.
4
Este autor traz-nos a separação dos poderes em legislativo,
executivo e federativo da comunidade. Para Mello (2001:101) o
poder legislativo é o que tem o direito de estabelecer como se
deverá utilizar a força da comunidade no sentido da preservação
dela própria e dos seus membros. Como se tem de pôr
constantemente em prática as leis, que devem continuar sempre em
vigor mas que se podem elaborar em curto prazo, nao há
necessidade de manter-se tal poder permanentemente em exercício,
pois que nem sempre teria no que se ocupar.
Todavia, como as leis elaboradas imediatamente e em prazo curto
têm força constante e duradoura, precisando para isso de perpétua
execuçao e observancia, torna-se necessária a existência de um
poder permanente que acompanhe a execução das leis que se
elaboram e ficam em vigor. E desse modo os poderes legislativo e
executivo ficam frequentemente separados. (Mello, 2001:102)
Para este autor, existe outro poder em uma comunidade que se
poderia denominar natural, visto como é o que corresponde ao que
todo homem tinha naturalmente antes de entrar em sociedade,
porquanto, embora em comunidade os seus membros sejam pessoas
distintas ainda que consideradas relativamente umas às outras, e
como tais sejam governadas pelas leis da sociedade, contudo,
relativamente ao resto dos homens, constituem um corpo que se
encontra como qualquer dos seus membros anteriormente se
encontrava ainda no estado da natureza com os demais homens. Daí,
resulta que as controvérsias que se verificam entre qualquer
5
membro da sociedade e os que estão fora dela são resolvidas pelo
público, e um dano causado a um membro desse corpo empenha a
todos na sua reparação. Assim, neste particular, a comunidade
inteira é um corpo em estado de natureza relativamente a todos os
estados ou pessoas for a da comunidade. (Mello, 2001:102)
Aí se contém, portanto, o poder de Guerra e de Paz, de ligas e
alianças, e todas as transacções com todas as pessoas e
comunidades estranhas à sociedade, podendo se chamar federetiva,
se assim quiserem. (Mello, 2001:102)
Os poderes executivo e federativo de qualquer comunidade sejam
realmente distintos emsi, dificilmente podem separar-se e
colocar-se ao mesmo tempo em mãos de pessoas distintas. Visto
como ambos exigem a força da sociedade para seu exercício, é
quase impraticável colocar-se a força do Estado em mãos distintas
e não subordinadas, ou os poderes executivo e federeativo em
pessoas que possam agir separadamente, em virtude de que a força
do público ficaria sob commandos diferentes, o que poderia
ocasionar, em qualquer ocasião, desordem e ruína. (Mello,
2001:102)
Nao é necessario, tampouco conveniente, que o poder legislativo
esteja sempre reunido, mas é absolutamente necessário que o poder
executive seja permanente, visto como nem sempre existe a
necessiade de executar as que foram feitas. Quando o legislativo
entregou a execução das leis que fez a outras mãos, ainda tem o
poder de retoma-la, se houver motivo, e de castigar por qualquer
6
má administraçãoo contras as leis. O mesmo se aplica ao poder
federativo, já que este e o executivo são ministeriais e
subrordinados ao legislativo que, conforme mostramos, é supremo
em uma comunidade constituida.
2.2 Separação de poderes em Charles-Louis de Secondat –
Montesquieu
(Os três poderes)
De acordo com Bonavides (2000:176) Montesquieu distingue em cada
Estado três sortes de poderes: o poder legislativo, o poder
executivo (poder executivo das coisas que dependem do direito das
gentes, segundo sua terminologia) e o poder judiciário (poder
executivo das coisas que dependem do direito civil).
A cada um desses poderes correspondem, segundo o pensador
francês, determinadas funções.
Através do poder legislativo fazem-se leis para sempre ou para
determinada época, bem como se aperfeiçoam ou abrogam as que já
se acham feitas.
Com o poder executivo, ocupa-se o príncipe ou magistrado (os
termos são de Montesquieu) da paz e da guerra, envia e recebe
embaixadores, estabelece a segurança e previne as invasões.
7
O terceiro poder, o judiciário, dá ao príncipe ou magistrado a
faculdade de punir os crimes ou julgar os dissídios da ordem
civil. (Bonavides, 2000:176)
Discriminados assim os poderes nessa linha teórica de separação,
segundo os fins a que se propõem, entra Montesquieu a conceituar
a liberdade política, definindo-a como aquela tranquilidade de
espírito, decorrente do juízo de segurança que cada qual faça
acerca de seu estado no plano da convivência social. (Bonavides,
2000:176)
A liberdade estará sempre presente, segundo o notável filósofo,
toda vez que haja um governo em face do qual os cidadãos não
abriguem nenhum temor recíproco. A liberdade política exprimirá
sempre o sentimento de segurança, de garantia e de certeza que o
ordenamento jurídico proporcione às relações de indivíduo para
indivíduo, sob a égide da autoridade governativa. (Bonavides,
2000:176)
Consubstanciando, na linha de pensamento de Albuquerque
(2000:119-120) deve ficar claro que Montesquieu nãodefendia a
pura e simples restauração dos privilégios nobiliárquicos.A
expansão dos negócios que já abolira a mediocridade das riquezas
e, com ela, uma certa igualdade em que se baseia a república,
também já conspirava contra a permanência do papel político da
nobreza. Trata-se, portanto, de procurar, naquilo que confere
estabailidade á monarquia, algo que possa substituir o efeito
moderador que resultava do papel da nobreza.
8
Na sua versão mais divulgada, a teoria dos poderes é conhecida
como separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário)
ou equipotência, como condição para o Estado de Direito e
independência entre eles. A ideia de equivalência consistia em
que essas três funções deveriam ser dotadas de igual poder.
Monstesquieu ressalta, aliás, a interprenetação de funções
judiciárias, legislativas e e executivas. Basta lembrar a
prerrogativa de julgamento pelos paras nos casos de crimes
políticos para perceber que a separação total não é necessária
nem conveniente. A equipotência ou equivalência dos poderes
também é refutada implicitamente por Montesquieu, quando afirma
que o judiciário é um poder nulo, “os juízes (são) … a boca que pronuncia
as palavras da lei”. Monstesquieu mostra claramente que há uma
imbricação de funções e uma interdependência entre o executivo, o
legislativo e o judiciário. A separação de poderes da teoria de
Monstesquieu teria, portanto, outra siginificação. (Albuquerque,
2000:119-120)
Para Albuquerque (2000:120) trata-se, dentro dessa ordem de
ideias, de assegurar a existência de um poder que seja capaz de
contrariar outro poder. Isto é, trata-se de encontrar uma
instância indepedente capaz de moderar o poder do rei (do
executivo). É um problema político, de correlação de forças, e
não um problema jurídico-administrativo, de organização de
funções.
9
Para que haja moderação é preciso que a instância moderada (isto
é, a instituição que proporcionará os famosos freios e
contrapesos da teoia liberal da separação dos poderes) encontre
sua força política em outra base social. Montesquieu considera a
existência de dois poderes ou duas fones de poder político, mais
precisamente: o rei, cuja potência provém da nobreza, e o povo. É
preciso que a classe nobre, de um lado, e a classe popular, de
outo lado (na época “o povo” designa a burguesia), tenham poderes
independentes e capazes de se contrapor. (Albuquerque, 2000:120)
Em outras palavras, a estabilidade do regime ideial está em que a
correlação entre as forças reais da sociedade possa se expressar
também nas instituições políticas. Isto é, seria necessário que o
funcionamento das instituições permitisse que o poder das forças
sociais contrariasse e, portanto, moderasse o poder das demais.
Aproveitando o ensejo, Albuquerque (2000:120) esclarece que no
fundo, toda teoria política clássica é por natureza
contemporânea.
2.3 O Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau
Contrariamente aos anteriores autores (Locke e Monstesquieu), do
Nascimento (2000:189) refere que dentre os filósofos do chamado
século das luzes, que preconizavam a difusão do saber como o meio
mais eficaz para se pôr fim à superstição, à ignorância, ao
império da opinião e do preconceito, e que acreditavam estar
dando uma contribuição enorme para o progresso do espírito
humano, Rousseau, certamente, ocupa um lugar não muito cómodo.
10
Daí que, Rousseau, não aborda directamente a questão da separação
dos poderes mas sim, fala do Pacto/Contrato Social.
No ponto de vista de Rousseau (1974:09) procura-se saber se pode
existir na ordem civil uma regra de administração legítima e
segura, que considere os homens tais como são e as leis como
devem ser. Acrescenta que, “Nesta pesquisa, sempre tentarei aliar aquilo que
o direito permite com aquilo que o interesse prescreve, a fim de que a justiça e a
utilidade nunca se encontrem separadas.”
Acrescentando Rousseau (1974:11) a sua primeira lei é a de velar
pela própria conservação, os primeiros cuidados são aqueles que a
si mesmo deve; e, logo que atinge a idade da razão, sendo único
juiz dos meios que lhe garantem a sobrevivência, torna-se senhor
de si próprio.
Haverá sempre grande diferença entre submeter uma multidão e
reger uma sociedade. Se diferentes homens forem sucessivamente
escravizados por um, seja qual for o seu número, só vejo neles um
senhor e seus escravos.Portanto, antes de examinar o acto pelo
qual um povo elege um rei, devemos examinar aquele em que se
caracteriza como povo, porque sendo este acto necessariamente
anterior ao outro, será ele o verdadeiro fundamento de uma
sociedade. Como os homens não podem criar novas forças, mas
apenas unir e dirigir as que existem, não tem outro meio, para
sobreviver, senão agregarem-se, unirem forças que possam derrubar
os obstáculos, pó-las em jogo para um único objectivo, fazê-las
actuar harmoniosamente. (Rousseau, 1974:19-20)
11
Na perspectiva de Rosseau (2007:21) o problema fundamental que no
Contrato Social encontra solução é, o de encontrar uma forma de
associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e
os bens de cada associado e em que cada um, ao unir-se a todos,
só a si mesmo obedeça e continue tãolivrecomo antes; entretanto,
segundo do Nascimento (2000:190) a situação é bem diferente
daquela descrita no Discurso sobra a origem da desigualdade. Agora,
ninguém sai prejudicado, porque o corpo soberano que surge após o
contrato é o único a determinar o modo de funcionameto da máquina
política, chegando até mesmo a ponto de poder determinar a forma
de distribuição da propriedade da cada contaratante foi total e
sem reservas. Desta vez estariam todas as condições para a
realização da liberdade civil, pois o povo soberano, sendo ao
mesmo tempo parte activa e passiva, isto é, agente do processo de
elaboração das leis e aquele que obedece a essas mesmas leis, tem
todas as condições para se constituir enquanto um ser autónomo
(independente, separado), agindo por si mesmo. Há, neste sentido,
a separação de poderes, segundo um contrato. Ligado a esse
raciocínio, Rosseau (1974:24) refere que o corpo político ou o
soberano, cuja razão de ser só é justificada pela elevação do
contrato, nunca poderá assumir deveres, mesmo para com outrem,
que de algum modo afectem o acto, tais como alienar uma parte de
si mesmo ou tomar uma atitude de submissão perante um outro
soberano.
12
2.4 A Democracia
Segundo Ngoenha, (2011:28) pordemocracia se entende, portanto, um
sistema de partidos. Ora, este sistema tipicamente ocidental
desde há dois séculos tem vindo a provar a sua funcionalidade.
Mas a questão mais interessante é que nenhum país africano o
sistema de partidos como o proposto pela Constituição e
populações. Das duas, uma: ou o africano (e, portanto, também o
moçambicano) é geneticamente anti-democrático como sustentam
alguns eugenistas (Medeved Arison), ou então o sistema de
partidos é, talvez neste momento, um mal necessário, mas não
corresponde ao substrato cultural dos nossos povos.
Já dizia de Tocqueville (2004:11-12) que, quando o homemque vive
nospaísesdemocráticos se comparaindividualmente com todososque o
rodeiam, sente com orgulhoque é igual a cada um deles; mas quando
encara o conjunto de seus semelhantes e se situa ele próprio ao
lado desse grande corpo, é logo sufocado por sua própria
insignificância e por sua fraqueza. Portanto, o público possui
entre os povos democráticos um poder singular, cujas idéia as
nações aristocráticas nem sequer seriam capazes de conceber. Ele
não persuade por suas crenças, ele as impõe e as
fazpenetrarnasalmasporumaespécie de imensapressão do espírito de
todossobre a inteligência de cada um.
CAPÍTULO III – Reflexão
Como ponto de partida desta reflexão, importa antes, fazer menção
de Rodrigues (2013:s/p) ao afirmar que “Apesar de ser declarada como
13
consenso pelo Ocidente, a democracia vai longe de ser uma prática estabilizada no
continente africano. Mesmo que se deixe de lado Estados que pouco dialogam com a
democracia como Gabão, República Democrática do Congo e Suazilândia, está longe
de ser possível afirmar a lógica democrática como recorrente os paísesa africanos.
Para além de dinâmicas da atual política africana, esta difícil relação com o regime
democrático remonta, no mínimo, à origem dos Estados africanos. De uma maneira
geral, a estruturação de um regime plural foi um desafio não vencido à época das
independências. De Cabo Verde, com o Partido Africano para a Independência da Guiné
e Cabo Verde (PAIGC), até a Tanzânia de Julius Nyerere; os pais libertadores guardavam
muitas restrições à construção de oposições organizadas e de políticas
multipartidárias. Entre ditaduras evidentes e países com eleições, viveu a África uma
resistência constante ao debate por parte tanto de estadistas como Nyerere e Kwame
Nkrumah quanto de ditadores como Charles Taylor e Robert Mugabe. Guardadas as
devidas proporções dos erros e dos métodos destes governos, todos apelavam para o
mesmo conceito de consenso em torno de um executivo forte e presente.”
(Recuperado de http://observatoriodaafrica.wordpress.com/2012/08/
em 19 de Agosto de 2013)
Consoante os pressupostos de Locke, Montesquieu e Rousseau, nos
Estados de Direito (a maioria dos Estados africanos) a separação
de poderes é imprescindível, faz se necessário estabelecer um
contrato entre o cidadão e o Estado. Num dos trechos Locke refere
que os homens ficam em sociedade para o alcance da fruição da
propriedade em paz e segurança, e que o grande instrumento e meio
disto são as leis estabelecidas nessa sociedade, sendo esse o
poder legislativo. Não para com isso referir que não há leis nos
países africanos, mas, a maoiria delas, sãolevadas a cabopara
14
responder a interesses, nãocolectivos mas, particulares, a que
citar a situação da revisão da Constituição Keniana que favoreceu
a ala que estava na oposição, tendo para efeito, sido deposto o
presidente pelo jus solo e sanguines, logo a primeira lei positiva é
fundamental de todas as comunidades consiste em estabelecer o
poder legislativo enquanto primeira lei natural fundamental, que
deve reger até mesmo o poder legislativo.
Assim sendo, a questão democrática no continente africano vai
muito além de opções rasas de um ou outro governante, chegando
num intrincado de condições e de históricos de alta complexidade.
Porém, num contexto internacional que se dedica a exigências
democráticas de toda ordem, tais dificuldades são relegadas a
segundo plano, lançando muitos países africanos em situações
delicadas de actuação. Foi a isto que o consagrado académico
Moçambique, Severino Ngoenha disse que, “não são as culturas que se têm
de adaptar a todo o custo a modelos, que responderam ao génio próprio de certos
povos num determinado momento da sua história, mas os modelos que se têm de
forjar a partir das culturas. Isto significa que nós temos de inventar um modelo de
sociedade que nos seja próprio, um modelo que corresponda às nossas culturas, às
nossas sensibilidades, um modelo capaz de mobilizar o conjunto de moçambicanos a
participarem não só nas eleições, mas na vida integral da sociedade moçambicana.”
O que acontece na África é, talvez, um hiato histórico que se
está a viver. É que grande parte das lideranças que surgiram no
quadro do movimento de libertação nacional ainda continuam no
poder ou parte deste sistema ainda continua. Noutros termos,
15
aquando das independências africanas houve uma “conveniência” de
instituir sistemas de partidos únicos porque pensava-se que com o
fim da colonização, era preciso regimes fortes que pudessem, numa
certa medida, agrupar todas as componentes que não eram um
Estado-nação, mas destes estados que tinham sido traçados a
partir da Conferência de Berlim sem ter em conta a história
destes povos e a evolução natural que estes povos já haviam
verificado. Esta opção por sistemas de partido único não permitiu
à África construir a base de instituições fortes. Foram regimes
que assentaram mais em homens fortes, o que, em certa medida, não
permitiu uma gestão destas sociedades em termos de uma
participação efectiva das comunidades, das populações em relação
a própria gestão dos seus próprios países.
Acontece que, o que se passa é que existem de facto alguns
princípios fundamentais da democratização. Por exemplo, alguns
dos pilares destes princípios são as eleições. Ninguém pode
aceder ao poder sem ser através do voto. Mas eleições que sejam
organizadas de tal forma que não sejam contestadas. Por exemplo,
uma das grandes dificuldades da consagração das eleições em
África reside no facto de haver muita contestação depois das
eleições. Depois destas condenações não há a legitimação dos
poderes que emergem dessas eleições. Depois é também preciso que
estes sufrágios sejam claros, transparentes, justos, periódicos.
Outro grande “calcanhar de Aquilles” que se encontra é que há
estes novos ventos que sopram para que se realizem eleições mas
nem todas vão até às últimas consequências, o que quer dizer que
16
há eleições inacabadas em que após um pleito, por vários
pretextos, prolonga-se o sistema e os líderes no poder, sem
observar a cultura de mandato e sem ter em conta a periodicidade
que também é uma das exigências deste quadro de se fazer
política.
Depois temos a questão da alternância. É preciso que para uma
democratização efectiva, quando houver eleições, haja a
possibilidade de quem está no poder tornar-se Oposição e aqueles
que estavam na Oposição tornarem-se poder.
O outro problema que se levanta no quadro da organização das
eleições, onde, por várias razões que dizem respeito à própria
implantação dos partidos, aos meios que são colocados aos
partidos e esses meios muitas vezes são mesmo do erário público,
a manipulação da comunicação social faz com que os partidos no
poder tenham mais vantagens do queos outros e não se verifica a
possibilidade de alternância. Mais uma vez, a separação dos
poderes e posta em causa pois, o/os órgãos que deviam assegurar
que não houvesse desvantagem ou vantagens, mas sim justiça e
transparência, porque foram nomeados pelos governos em exercício,
sentem-se intimidados em tomar as devidas providências, o que vai
muito aquem da realidade democrática.
No caso de má administração do erário público, conforme acontece
em alguns países africanos, o poder legislativo, como entidade
suprema, tem a capaidade de retomar o poder executivo se houver
motivo. Nas realidades vividas em África, são poucos os17
juízes/procuradores que detêm a cem porcento das palavras da lei
para fazerem justiça, isso, porque esses são nomeados e não
eleitos, temendo represálias do executivo, contrariando assim, os
princípios democráticos associados a separação dos poderes.
3.1 Democracia em Moçambique
Chegados a realidade moçambicana, por conseguinte, o Poder
Executivo tem incorporado, cada vez mais, a competência
legislativa, a título de exemplo, é da competência da Assembleia
da República segundo a Constituição da República de Moçambique
(CRM) elaborar, aprovar e fixar leis, entretanto, nos últimos
tempos, as leis e dentre mais legislações, são de iniciativa do
executivo/Governo e visto que o Presidente da República enquanto
órgão é executivo, denotam-se problemas naquilo que é a separação
de poderes. Associado a isso, o Presidente da República
(executivo) nomeia o judicial (Procurador Geral da República –
PGR), nesse contexto, limitadas estarão as tarefas e/ou
competências desse, dado que não terá na sua plenitude uma
separação de poderes.
Por fim, cabe destacar que até mesmo casos marcantes de sucessos
democráticos no continente africano vêm expondo graves
fragilidades nos últimos anos. Moçambique, que, ao fim da guerra
civil, foi declarado pela UNESCO como exemplo de transição
democrática, hoje vive com eleições suspeitas de fraudes para a
eleição da FRELIMO (partido de Samora Machel, pai da
independência moçambicana), ainda que com o multipartidarismo
18
estabilizado, principalmente com a RENAMO e com o
MovimentoDemocrático de Moçambique. (Recuperado de
http://observatoriodaafrica.wordpress.com/2012/08/ em 19 de
Agosto de 2013)
Há ainda, segundo Ngoenha (2011:29) destacar que a democracia
moçambicana e o seu sistema de representação vão ter que colocar
o problema dos pressupostos. Ter-se-á que centrar os esforços
sobre a condição da democracia: a dimensão sócio-cultural. A
democracia vai exigir, como condição preliminar, uma acção
concebida a partir das realidades autênticas das nossas
comunidades autóctones, apreendidas a partir do interior.
Contudo, as eleições políticas sobre a soberania e a vontade dos
moçambicanos, consagram simbolicamente uma ruptura fundamental.
E atendendo que o Estado moçambicano, comporta a separação de
poderes e respectiva democracia por ser um Estado de Direito, que
Monstesquieu já dizia que, a separação de poderes é o elemento
chave para esse tipo de Estado, a que associar os dizeres de
Ngoenha ao referir que, para que o parlamento e já democrático,
deve respeitar três (3) princípios fundamentais: a tolerância, a
separação dos poderes, a justiça. Isto significa que uma democracia
forma, chega às desigualdades materiais entre os membros da
sociedade, mas ele deve visitar um objectivo concreto: Justiça
social.
É preciso que a classe nobre, de um lado, e a classe popular, de
outo lado, tenham poderes independentes e capazes de se
19
contrapor, ou melhor, para o exercício da democracia, faz-se
necessário que o próprio cidadão saiba tenha consciência das suas
prerrogativas, assim, mesmo que um dos poderes, quer seja
executivo, judicial o legislativo esteja a intrometer-se, saiba
expôr a sua indignação.
CAPÍTULO IV – Conclusão
Chegados ao termo do presente ensaio, há que frizar que
Monstesqueiu, comparado ao Locke e ao Rosseau, foi o que veio de
maneira descriminada e detalhada, fazer perceber a verdadeira
essência a separação de poderes. Assim, para se aprofundar o
questionamento sobre o real aparecimento da separação de poderes
é necessário, não apenas, buscar na origem das idéias dos
precursores desta teoria, tais como, Montesquieu, Locke e
Rosseau, assim como, Aristóteles e Platão, como também, alcançar
a fonte de suas inspirações, ou seja, a época em que cada autor
desenhou essas políticas.
Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário possuem
atribuições próprias, que são aquelas específicas e determinadas
a cada esfera de poder, a quem cabe exercê-las com exclusividade,
e, no fundo, toda teoria política clássica é por natureza
contemporânea (até hoje, usufrui-se de muitas teorias dos
clássicoa da política).
Em face disso, pode se concluir que, a dinâmica que as
democracias dos países africanos têm, não permitem uma separação
20
de poderesnasuaplenitide. Atendendo e considerando que a
separação de poderes é uma prescrição constitucional conhecida
como o sistema de freios e contrapesos, que consiste na prática
de delimitação de um poder por outro:
“Quer-se um Legislativo que possase enfrentar o Executivo e o
Judiciário; um Judiciário que enfrente o Legislativo e o
Executivo; e um Executivo que ache perigoso tornar o Legislativo
e Judiciário em órgãos de simples carimbo”, só assim haverá
justiça social e os fins do Estado serão alcançados.
O povo/país soberano, sendo ao mesmo tempo parte activa e
passiva, isto é, agente do processo de elaboração das leis e
aquele que obedece a essas mesmas leis, tem todas as condições
para se constituir enquanto um ser autónomo, agindo por si mesmo.
CAPÍTULO V - Referências bibliográficas
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23