Literaturas africanas, lingua portuguesa e pos-colonialismos.
Transcript of Literaturas africanas, lingua portuguesa e pos-colonialismos.
ItinerdnciqsPercu rsos e tlepreser rtogÒesdo Pós-coloniol idodeEleno Joono Andreio Morie-MqnuelleBRUGIONI PASSOS SARABANDO SITVA
JourneysPostcolon io I Trcjectoriesond Represontoi ions
IrhuuIl
llhtftr!ld.{! *i illrhrI Èrh, , {È I t r [ r t= | i i l |nr1l : l r , , !
,TURAS AFRICANAS,LíNGUA PORTUGUESA E
LONIALISMOS-
E se tudo é diftrenqa e se a diferenqa estó- em toda..a parte'
oid, ,ríao as diftrengas que fazem a diferenqa?joào Arriscado Nunes
Yetlanguageisnotevervthing'r!Jr;;:r"!r7#i":I:r::
Gavatri ChkravortY SPivak
I . I INGUAS, FRONTEIRAS E TRADUQAO
O tltulo deste ensaio pretende sugerir uma ambiguidade e-um movimento'
f p"tiq- intermédia qot " ""p'Itsào
"língua portuguesa" ocupa nele' e a
onrissào (temporànea; ìa preposigào que geralmente conecta as "literatu-
rss africanas" à "língua pàttuguesai na tào consagrada quanto polémica
àesignagao de "literaturas africanas de língua portuguesd'tl' agonta Para
o papel de fronteira que a língua desenvolve na configuragào de objectos
,1. onanr", óreas d" estudo e p-erspectivas teóricas' sugerindo-se' portanto'
lt"t t "-Utguidade
das fronteiras' {luer o movimento das teorias'
(ìonvoca-se, port;;;;' "
p'od"ti"idade de uma categoria transversal
Bos clcbates contemporàn"o', qo"' em torno da redefiniqào de conceitos
.1" .t',lturu e identidade, jó impensóveis sem a nogào de fronteira' quer' e
,i,t r"ruao, no que diz respeito à chamada transigào paradigmótica' e seus
àpt'los para a revisào, qr.,u"do nào. a diluiÉo' de vórios tipos de fronteiras'
,irtr. u, clttais as fronteìras disciplinares' E' de facto' nas articulagóes entre
on tliscursos sobrc cultura e idÀtidade, e as instàLncias de reconfiguraqào
. l ialf tcxl(f i lrs('fc sc ttttttt i t Pcstltt isa mais ampla e ainda in progress' no àmbito de um proiecto
rlr ' h'x l)ottlotlt l lctl l() i l l l i l t l l i l( l() "Oatcgorias em viagem: putu tr-" cartografia dos estudos de
l l l , ' t , t l r t t , t r , l l t l r , l l r ' l \ t l r ' l i l tgtrr Iot l t tgt tesrt ' l
| ,,,, i ,r ,. n r l i lr., i l , io r lr r lr.rtoil l i t t i t5rtr t " l i l( ' I i l l t l l i ls r fì ' icitt l l ts t lc cxpressào/língua pOrtuguesa" tópico
ì :" , i ; . , ; l ; ; , ; ì ì ; ' l ' ; ì , ; ; ; ;1, , , , , r r . \ r . t , , , i r r t 's ,vr i i rst ,M,rrrr i r . ( ler ì i , ) ; l ,aranjeira(1989)eRosir io
JESSICA FALCONI
dos quadros dos saberes, que se tem originado um espago privilegiado par.a operacionalizagio da categoria da fronteirar2r, de que o surgimento ckrsBorder studies, tal como a proposta para uma nova riteratura comparadirelaborada por Spivak (2003), sào exemplos paradigmóticos.
Diversamente de outros contextos linguísticos, principalmente o rlt.língua inglesa, onde a nogào de fronteira se desdobra emiistingóes tcrminólogicas e conceptuais nem sempre consensuaisr3r, o uso dapalavr,r"fronteira' em portugués mantem, de modo geral, a complexidade e irsambivaléncias do conceitottl, o que torna especialmente pertinente a refl,,xào de Rui cunha Martins sobre a dimensào heteronímicada fronteira c1rrt.,aliada à dimensào contextual, implica precisamente recusar a tendéncia a st,extirparem as vertentes mais "incómodas" do conceito (Martins, 2001: 59)A fronteira, assim, permanece como nogào suscetível de manter activos,no seu interior, os paradoxos e as tensóes que lhe sào inerentes. É possívcl,portanto, equacionar o lugar intermédio ocupado pela língua portugucsirem relagào aos outros tópicos propostos no título - as literàturas afri.a,r,,,e os pós-colonialismos - explorando esta dimensào heteronímica, e as rcnsóes que permite activar a cada contextualizagào do uso deste conceit., rr'intuíto de reflectir sobre impasses e potencialidades inerentes às frontcn.irslinguísticas.
Este lugar intermédio e logo central, atribuido à língua, pretende c.rryocar a sua fungào de fronteira na medida em que, por um lado, eìa rrrrrciona como princípio diferenciador, quer das literaturas africanas, enqs:r r I rr Iobjecto e órea de estudos, quer dos pós-colonialismos, sendo estes cl.rrrinios geralmente definidos e diferenciados pelas línguas.
No caso dos pós-colonialismos, as línguas - europeias _ en(ìuilntrlsignificantes de contextos emergidos das antigas g"ogt"fi"r colouiais, s,rr,um dos factores que possibilitam esta declinagào no plural de um pro,(.( r'originariamente elaborado e pensado a partir de um determinad. t.rrtexto geogrófico, cultural e, inevitavelmente, linguístico. De faclo, rorrrné sabido, uma contradigào amplamente debatida em relagào aos /),s/r rrlrrnial studies reside precisamente na dificuldade de a sua vocagio c rrrrlri5,rritransdisciplinar e transnacional se traduzir também numa prritieir lririt,i
2 Sobreasrelagóesentrecul tura, ident idadeefronteira,veja-sc,porcxcnrPlo,Ri l )e i lo( , ' Í r { r . , }
3 Refiro-me à dificuldade da tradugào para outras línguas c corìlcxlos rlirs rlislirrl,r,r r,nr r1!11-,.enfre frontier, boundary e border/bordeland, a qrrc ltrrr virrtkr ir rorl.sporrrh.r pt.trl,r., ti\f,_eparadigmasdist intosemvóriasircas<krsnbt,r , t lcst l t , r r l r is t r t r . r l . r1tr , ,1, , , l ,1,1, j , , , , ì , r , . , , . t ,aspecto veja-se, por exemplo, Yitz.r.o (Z0lt7\ c Sillvirt it i ( ,ll)O,r ).
4 Veja-se,porcxcnrPl0,s iurr0s:nArrossrr l r r r r r r . i r , r r i \eí l t t t t t r r r t , t l t , t r l t t , i l r . ) r l r l r i l , l r t l r r i r , ,(2002: 47t) \ , Mir l t ins ( . l lX) | )
AtRtcANAS. rírucun poRrucuESA E Pos-coLoNlALlSMos
Wrsal a diferentes contextos intelectuais, geogróficos e linguísticos, onde o
blnómio geografia/língua continua a projectar os antigos esPagos criados
pclos impérios. Esta situagào tem dado origem às muitas viagens da teoria
iós-coloniul, e aos necessórios fenómenos de apropriagào e traduqào, que
for rou vez, tèm descentralizado e alargado as pefspectivas pós-coloniais,
inriquecendo-as, ao trazerem à discussào outros loci deenunciagào. É tam-
bém neste sentido que, em sintonia com a indicagào de Amselle (2009),
podemos falar de pós-colonialismos também para nos referirmos a um con-junto mais amplo de paradigmas e pensamentos que tèm vindo a ques-
ilonut "
hegemonia das geografias e narrativas da modernidade ocidental'
elaborando epistemologias e saberes alternativo aos vórios oritentalismos,
prMlegiando-se, assim, uma visào contrapontística das produgóes teóricas
c intelectuais desenvolvidas em contextos distintos.
como aponta o modelo (reconsiderado) de said, as tradugóes das teo-
rias pós-coloniais também operam desvirtuando a rebeldia original deste
projècto. Trata-se, como é evidente, da ambivalència constitutiva do pró-
prio process o da traduEao, em que actuam impulsos domesticadores ou
ie e*tre-izagào da diferenga, e cujo desafio se coloca na criagào de um
espago discursivo inédito, entre a invisibilidade e a visibilidade, a assimila-
qab e o estranhamento, o apagamento das fronteiras e a sua radicalizagào.
É porturrto evidente que a língua, a fronteira e a tradugào participam de
um enredo de paradoxos e. de fungóes anólogas, por serem instrumentos
e domínios de circulaqào, mediagào ou separagào, quer a nível teórico e
metóforico, quer no plano da materialidade de todo o tipo de relagào. Cada
uso da língua, da fronteira e da tradugào é suscetível de se tornar num acto
de violéncia e manipulagào, ou de articulagào dialógica, um exercício de
poder (Bianchi et al., 2002; Venuti, 1998) e/ou uma ptértica de auto-desco-
nhecimento - a tradugào como medium do amor (Spivak, 2007: 126), <<o
amor, essa forma de desconhecimento)tsl.É na dimensào material e simbólica do trinómio língua-fronteira-
tradugào que também se equaciona a questào da recepgào de literaturas e
teorias em geral, e de literaturas africanas e teorias pós-coloniais em par-
ticular, pela centralidade, em ambos estes domínios, deste trinómio e das
suas rnúltiplas dimensóes.Na gcneralidade dos contextos de que emer$iram as literaturas afri-
ciìtìi1i, it língua impóe-se como fronteira, por ser central na constituigào e
excrcicio cla atrtoriclatlc colonial, na sua produgào de diferenciagào e'efeitos
r i Vr t , i r r r , l i l r r l l r l r r i l r ' t " r l r ' I ' l t t t t * r , i , ' At t r t N' l r t l r t l r l r t I r ' l l r '
I \ \ t ( A lAl( ( )Nl
itlqrrtit.iri.s (llhabha, 200r: r57). <As the very ground of colonial relations>(lrcrrcira, 2007:Zlt), a língua europeia é, na perspectiva da autoridade colo-
'ial - cspecialmente patente nas políticas de asilmilagào - uma fronteira-
.l'ronlier, cuja transposigào e apropriagào por parte dos sujeitos colonizados,cr)quanto dimensào inaugural da mimicry, é uma contra-expansào simbó-lica-que instaura um processo sempre informado, em ultimalnstància, peratradugào. Tal como a crítica feminist a e os Translation studiestém salientadoo carócter partilhado de cópia e imitagào imperfeita, atribuído por discur-sos dominantes à mulher -à mulher colonizada em particular i e à hadu-9ào, a crítica pós-colonial tem desconstruído a analogia entre esta nogào detradugào e a falalescrita do outro colonizado, ressemantizando o processoda tradugào e o seu resultado na perspectiva do agenciamento, àa resis-tència, e da negociabilidade da identidade, e modificando radicalmente omodo como hoje equacionamos a relagào colonizador-colonizado, e a rela-gào original-tradugàoiel. Nesta perspectiva, e claramente antes do discursopós-colonial, a apropriagào da língua colonial tem um obiectivo emanci-patório nos projectos nacionalistas, em cujos discu*o, . iíngu" europeiaé construída como fronteira-mediagào de outras fronteiras - linguísticas,culturais, identitórias - imaginada, portanto, como espago de arliculagàodas diferenqas internas aos territórios que haveri* d" se tornar nagóes.Trata-se, mais uma vez, de uma fronteira ambivalente, na medida em que oaspecto emancipatório desta apropriagào da fronteira linguística colonial é,contudo, inseparavél do carócter regulador que a nacionalizagLo da línguacolonial adquire - via políticas linguísticas, por exemplo - ,r", questóes deacesso à cidadanial'1.
É portanto evidente que a questào da língua como fronteira multi-pla se configura como problemótica da pós-coionialidade, na med.ida emque, recorrendo noyamente às palavras de Ana paula Ferreira, <as the veryground of colonial relations and their reproducibility after independence,the European language then and noú there and here is what àn hardlybe avoided: it constitutes the very fabric of (post)coloniality> (idem,2g),passando a ser a língua ex-colonial uma fronteira-bordeilond em que searticulam, a vóÍios níveis, narrativas nacionais de países independentes enarrativas pós-imperiais de ex-metrópoles, originando as conúóversas nar_rativas das comunidades linguísticas, onde, como afirma Iain chambers.
6 O feminismo pós-colonial salienta a dupla subalternidade da mulher colonizada, que nestaperspectiva seria tradugào da tradugào, cópia da cópia, ou até, intraduzível enquanto invisível.
7 sobre a tenseo entre emancipagào e reguragào, inerente ao conceito de fronteira, veia-se Mar-tins (2001).
..dentro do abrigo do (aparentemente neutro) material linguístico, hó uma
Iuta contínua pelo sentido' (2010:22).
Como é sabido, as geografias traqadas pelas línguas marcam de modo
relevante o campo da produgào literória africana, no duplo sentido da sua
inclusào/exCtrsio de circuitos culturais, académicos e comerciais, sendo
hegemónicos os que 'toincideni' com as comunidades linguísticas' o (lue
torna central, a vórios níveis, a questào da tradugào'
Nas comunidades linguísticas como a anglofonia, a francofonia' a luso-
fonia,aslínguasoperam'obviamente,comofronteirasexternas'diferen-ciando entre elas as vórias comunidades transnacionais a que se referem, e
como fronteiras internas, no sentido de se constituirem como terrenos de
articulagào e mediagào entre distintas realidades nacionais - por sua vez'
em muiios casos, linguistica e culturalmente heterogéneas. Relativamente
ao campo da produgào literória îfricana, uma das consequéncias do modus
oprronàida língua- como-fronteira é, portanto, a necessidade de se torna-
rem visíveis ", -últlpl"r
fronteiras e os múltiplos processos de tradugóo. que marcam os espagos construídos como unitórios, tal como a nagào e/ou
a comunidade linguística transnacional.
2. LITERATURAS AFRICANAS, LÍNGUAS E FRONTEIRAS
os problemas relativos às fronteiras, às línguas e à construqào de geogra-
fias hegemónicas e homogeneizadoras, tèm constituído uma constante
,r" .orr"figor"gào dos pataàigmas teóricos e críticos dos estudos literó-
rios africanos. Como é sabidà, a década de 60, marcada pela maioria das
independéncias africanas, é um momento decisivo para a consolidagào e
difusào das literaturas africanas, em vórias línguas, como objecto especí-
fico dos estudos literórios académicost8l. Antes desta década, as abordagens
críticas inserem-se, por um lado, no contexto geral da produgào do saber
colonial, equacionando-se as escritas literórias das colónias como variantes..regionais'il mitagóes,portanto, mais ou menos imperfeitas, das literaturas
8 R.l"tiuorn..rte às multiplas origens da crítica e dos estudos de literaturas africanas, Mateso
aborda formas diversas de crítiia oral (1986). Alfred Gérard (1980) identifica também outros
àmbitos de estudo e abordagens das literaturas africanas: os estudos de linguística e estudos de
folclore, vocacionados parais literaturas de expressào oral (sobre este asPecto, veia-se também
okpewho, 1994); estudos orientalistas (principalmente italianos e alemóes)' dedicados à litera-
tura escrita da Etiópia jó no século xvltI; ot estudos das literaturas escritas em órabe' Sobre o
papel dos missionórios na "invengào' da literatura africana, veja-se Mudimbe (1985; 1988) e o
trabalho ii referido de Mateso.
nìr'lro[)()li l i ltrasl"l. Sc i'verdaclc quc esla visào cxigc as l'rotllciras lìnguisti-
tits, nir rrrcdicla clìì qtlc as lítlguas irnpcriais representam o original/cànonc
ir $cr lrîduz,ickr/irnitado, tarnbérn é verdade que o facto de esta atitude ser
(.()r'f ruf ìì a clif'crcntes contextos culturais e geogróficos, acabapor diluir estas
rììctilììas lronteiras, originando, em última istància, um "paradigma colo-
niul" partilhado e, se quisermos, translinguístico'Por outro lado, em aberta conflitualidade com este paradigma colonial,
() conjunto heterogéneo das reflexóes sobre cultura e literatura produzidas
rro àmbito da opoiigao anti-colonial constitui claramente outra matriz das
coufìguragóes críticas e teóricas das literaturas africanas, uma matriz que
articula instàncias simultaneamente específicas e transversais, cuja abor-
clagem volta a convocar a centralidade da tradugào (sanches, 2011)' Neste
ca;, de facto, se as fronteiras linguístico-culturais operam como signifi-
cantes diferenciadores de discursos e projectos políticos elaborados a partir
de distintos contextos de dominagào - o panafricanismo, a negritude - elas
nào deixam de operar como terrenos de articulagào entre saberes, cuja
heranqa marca a fàse crucial da institucionalizagio académica das literatu-
,us afiicarras. Se esta heranga origina uma certa tendència a se reproduzir
uma visào de Africa como um todo, traduzida pela construgào de objec-
tos de anólise suscetíveis de representarem' por metonímia' uma suposta
identidade africana comum (okunoye, 2004)t'01 baseada numa subjectivi-
dade negra de carizessencialista, por outro lado, as vórias abordagens de
conjuntò, quer de literaturas escritas na mesma língua em países distintos,
qo., d. literaturas escritas em vórias línguas, sào também emblemóticas de
u- esforgo comparativo característico desta primeira fase (Gérard' 1980:
73), sendo as fronteiras linguísticas, portanto, funcionais à desconstrugào
de visóes homogeneizadoras.como é sabido, a consolidaqào dos estudos literórios africanos em vórios
países, bem como a crescente intervengào de críticos e académicos africanos-ru
ur"n" dos debates teóricos tem dadp origem a uma relativa diversificagào
dos paradigmas subjacentes às abordàgens críticas, permancendo centrais
uma certa;luta pela geografid' e o carócter ambivalente de todo o tipo de
fronteira - linguística, regional, nacional, étnica, de género, etc'
g ocasodavisào"ul t ramarjna"dal i teraturamoqambicanaéanal izadoporApa(1997).
10 okunoye reitera este tipo de crítica em relagào à maioria dos paradigmas subjacentes aos
estudos literórios afiicanos, apontando, na conclusào da sua reflexào, para a necessidade da
perspectiva de cariz étnico, o que no caso das literaturas africanas de língua portuguesa nào
deixaria de levantar alguns problemas'
Neste quadro geral, de que seria necessória uma anólise mais aprot'un-
dada e diferenciada q* ptì t-ues óbyil nào cabe na presente reflexào'
as literaturas ufri.""u' làihmitadas' pela língua portuguesa' n1 sua consti-
i"il"l"q"*r" objecto de estudo' tÀbotu partilhando de muitos tratos e
dinàmicas comuns, ,è,,l;ì,ii;o' oo*o laào' uma certacondigào de "iso-
lamento", assiràlada,;i t-l"ti da década de'60' pelo título t:-"'- *tito
de Gerald Moser: 'African Literature in Portuguese: the First Written' the
Last Discove r"et' @puAi;iL;;' 2007:3)' úa década de 7o' Hamilton
discutiaamarginalidadedestasliteraturasnosestudoscríticosdaaltura'identificando as causas desta situagào no menor prestígio da língua portu-
guesa em.o-p"'uqao"to* o i"gfèt "
o francès' bem como na dificuldade de
acesso à obras pro<luzidas pelo-s escritores africanos de língua Poltuguesa;
nos efeitos negativos da prolongada situagào de dominagào colonial sobre
o desenvolvimento a" pi"a"qaó [teraria e na consequente percepgào' por
parte de muitos ur'itoíi'iu" de uma suposta marcalolonial generalizada
ainda present" tu' "'l'-it"'
em.questào' É po'tuttto significativa a tentativa
deHamiltondeintegrarestasliteraturas,salientandoassuasespecificida-des e diferengas' na ti"itl-pf" categoria da chamada Neo-African Litera'
ture,formttlada por iJ*' prt" pu:'u designar o ::l'-t"to
das literaturas
africanas escritas .- lí,,g,,", "o,op"iu'
(Hamilton, 1975)'
Se o estado au *l""utitral re'n"la algumas mudanqas' é verdade tam-
bém que esta situaqal;; deixado éese r"ptoduzir' como demonstra
a generalizada auséncia, com raras excepgóes' de abordagens destas litera-
turas no quadro, po' "o-plo'
de conjuntos regionaistr'l' Olhando' inclusi-
vemente, para os fóruns académicos internacùnais' onde periodicamente
sào debatidas as literaturas africanas' este espago de certo modo 'butro"
"."pJ" pau,
"flt"à"' sobre as produqóes em língua portuguesa torna-se
especialmente evidente' tal comó' em contraparttl" 1 t::lresenqa habi-
tualemfórunsrig"a",,,""i..oumenosdirectamente'aoesPagolusófono.Como é natural, as razóes sào diversas' tendo as suas raízes em fenóme-
nos que se dóo "*;;;
ór*s dos estudos literórios africanos. De facto' a
consolidagàoa"o-"ireadeestudosespecificamentededicadaàsliteratu-ras africanas d" H";;;;;tog"t'a d" que abordarei mais adiante algumas
tendèncias e caracérís;icas' ial como a ainda frógil institucionalizaqào dos
11 veja-se, entre muitos exempros, " ""o1T:.1'-:t:p.:il:ìT?l!'.t"til:,:ltlHlH:;i'l'Jveí, da contradigào de se apostar num paradlgmal
nacionais e translinguísticos, identificóveis no conjunio heterogéneo das produgóes culturais e
artísticas a" ar"u a"rgi"ul"o 'iJ ri*tlyrirt, pura depois .r"- ,àqo"t se mencionar a existència
das literaturas aao"'iiuì*"'" t'"gundo a iluminatitt rltÀtr"qu" ae Ribeiro & Semedo' 2011)'
apesar de o pu" op"'"t""'os mapis incluídos neste estudo'
estudos literàrios nos países africanos de llngua portuguesa, tém acabad<-lpor alimentar, de formas distintas, a situagào descrita.
Uma legltima resisténcia e oposigào a discursos tendencialmente homo-geneizantes relativos às produgóes culturais africanas, como é o caso do jó
referido 'paradigma ultramarind', tem orientado a constituigào desta órea,sendo uma tarefa prioritória, em primeira instància, o reconhecimento dasrupturas e da afirÀagào de sistemas literórios autónomos em relagào à lite-ratura colonial e metropolitana. Trata-se, de resto, de uma tendéncia trans-versal aos estudos literórios africanos, em que se afirma de forma difusa,jà a pafiir da década de 80, um enfoque de catiz nacional, em parte her-dado também da j|refefidaabordagem crítica da literatura promovida pelo
nacionalismo anti-colonialtt2l.Voltando aos estudos de literaturas africanas de língua portuguesa, o
processo natural de singularizagào de cada uma destas literaturas, aliado à
generalizagito do enfoque crítico nas relagóes entre literatura e identidadenacional e na estruturagào e consolidagào dos sistemas literórios nacionais,téne originado uma efectiva desfuncionalizagio das abordagens de con-junto. A própria designagào de "literaturas africanas de língua portuguesd',como foi referido em abertura, é objecto de críticas reiteradas, por vririasrazóes, entre as quais, o facto de as cinco literaturas jó nào partilharem dosmesmos tragos, e de esta designagào reproduzir uma visào homogeneiza-dora de contextos de produgào literória marcados pela presenga de outraslínguas, patente inclusivemente em muitos textos literórios de que a "língua
portuguesa" seró sempre um descritor parcial.Contudo, uma dimensào marcadamentelusófona continua a informar,
a vórios níveis, a configuragào desta iírea de estudos. A questào acima refe-rida, relativa aos foruns de discussào destas literaturas, é um sinal evidentede uma cefialusofonla da disciplinatl3l, cuio risco é, entre outros, projectaras literaturas africanas e o seu estudo como disciplinas da Lusofonia. É neste
sentido que a língua portugues&Parece actuar como fronteira criadora de
um espago cuja única condigào de existència residiria, em úItima instància,apenas na própria llngua, isto é, no uso e na partilha da língua.
Se no que diz respeito ao conceito e ao discurso da Lusofonia, comoafirma Ana Isabel Madeira, "somos entào confrontados, nào com a matéria
12 Como confirmam os jó mencionados Gérard (1980), Mateso (1986) e Okunoye (2004), para-
lelamente ao enfoque de cariz nacional, consolidam-se também abordagens monogróficas de
autores e obras, ou anillises de carócter genológico que abrem caminho para articulagóes entre
literaturas escritas e orais. Veja-se, a este respeito, também Olaniyan & Quayson (2007).
13 O uso desta expressào deve-se a Sanches (2007).
da llngua, mas com os conteúdos de que a llngua se serve para ocuPar este
espago-tempd' (Madeira, 2004: 10)' relativamànte as [teraturas africanas' a
"matérid' da língua, e os 'tonteúdos" de que a língua é investida sào ques-
tà", ."ià"","-àt" rerevantes na estruturagào e nas dinàmicas de circuitos
decircufagàoerecepgàoliterória'Nestesentido'sugironoutrareflexàol' ' l 'qo. .- reiagao à ciiculagào das literaturas africanas de língua portuguesa
no mercado lusófono, a Lusofonia se configura-como.versào localizada
de fenómenos globais d. *"r."do, izagio di "diferengd' (Huggan, 2001)'
funcionando como código de atribuiqào de valor a produtos percepciona-
dos como .butros,,:
^ ouíro mesma língua é wa frontelra simultaneamente
activa e diluída, uma experiència de tradugào sem tradugào: ql: tott"
possível a percepgào . I tott"""o da diferenga: O,p*u|* do trinómio
língua-fronteira-tradugào opera neste contexto dando origem a uma forma
de "exótico lusófono", fatente' por exemplo' na recepgào crítica de um autor
como Mia couto. Nesie sentido, u, unólir", críticas (tal como os textos lite-
rórios), que' em .or,,'"p"'tiaa' tornam visíveis os mecanismos contraditó-
rios subjacentes à ilusàà da transparéncia, ou à celebragào da'transgressào"
il;;;;;, "Postand;;;;*t l"
p-ossibilidade do agir nalingua (Spivak'
2007) equivale* "
fo'ma'de tradugóo que se opóe à tradugào "simbólicd'e
domesticadora operada pelo discurso da Lusofoniallsl'
Contudo, u .r",tt*" ambiguidade das fronteiras da Lusofonia - a
ambiguidade inerente à 1íngua-c-"omo-fronteira - tem vindo a determinar
o facto paradoxal de a crítíca da Lusofonia' tépico recorrente- no àmbito
dos estudos Iiterarios africanos de língua portuguesa, nào ter impedido a
lusofoniada própria órea disciplinar'
3. NOVAS E VELHAS FRONTEIRAS' NOVOS RUMOS
Numa reflexào motivada pela necessidade de se problematizar o horizonte
"pirt"rrrofOgico dos
"""aot [terórios africanos' Lourengo do Rosario' ao
,i"q* "t"
ú.f"rrgo ao l"'"t'"olvimento e do mapa dos estudos dedicados às
literaturas africanas de língua porÍrguesa' passa a focar a relagóo entre cate-
gorias de aniilise "
p'oi""g?t'ìa"ntiìay;1a crítica Portuguesa e brasileira'
consideradas, p"r,";;: ;;o ..escolas". "o pós,-coloniali' e "a dióspord' sào
identificadas.o,,'o.u't"go,iasdominantesnasabordagensdasuniversidades
iLl,it"ruto.u, africanas,língua poltuguesa e as narrativas da lusofonid' (no prelo)
","3#,,Tffii6;u'.,;;;:*:u;":fi ,:Î::iff;tLìijl;,'ll"illxl ::"f :E:"*' i"J:gioni (2009).
i l sU(A tAt( oNl
portuguesas e brasileras, respectivamente, apontando-se para a possibilidadede os crlticos africanos, formados em grande parte por estas duas escolas,fazerem a síntese e se colocarem como terceiro vértice do triàngulo. Ape-sar de ser referida a crescente internacionalizagio dai,r.ea e a consequentecontribuigào de estudos produzidos em países nào lusófonos (Franga, Ingla-terra, Itólia, Estados Unidos, etc.), a imagem do triàngulo Portugal-Brasil-Africa vem suportar uma dimensio lusófona da órea, que encontra umacorrespondéncia no plano da abordagem crítica, na medida em que é reco-nhecido o papel que os lagos históricos desenvolvem na equagào do objectode estudo, ao produzirem projecgóes identitórias que investem e informamas categorias de anrílise. O discurso de Rosório abre um espago de interro-gagào fundamental para a auto-reflexividade disciplinar, jó que alimenta apercepgào de que, em fungào da fronteira da língua, esta órea de estudos seconfigura como uma esfera de dinàmicas, interacgóes e relagóes - locais etransnacionais - inseparóvel da esfera das configuragóes críticas e teóricas.Neste sentido, uma das interrogagóes que se nos colocam, e que diz respeitoao papel dalínguaportuguesa como fronteira, e à dimensào heteronimica dafronteira, é a seguinte: até que ponto a língua é uma fronteira-limite activadapara proteger espagos políticos, sociais ou simbólicos consolidados, e atéque ponto é uma fronteira como espago de transigào, onde sujeitos distintosentram em relagào, colocando em jogo e modificando as suas identidades(Mezzadra,2005)? Por outras palawas, estaremos no domínio de outra ver-sào de um sentido comunitório baseado na língua e na história, e de re-escrita e re-formulagào do passado e do presente (Chambers, 2010:.23-24)?
Por outro lado, e a partir de outro ponto de vista, cabe também per-guntarmo-nos de que modo esta dimensào lusófona interage com a dinà-mica geral da globalizagào académica, que nas palawas de Claudia de LimaCosta (2003: 255), tenderia a enfraquecer cada vez mais o elo entre a teo-ria e suas raízes linguísticas e culturais? Por outras palawas, que espagosde abertura e de prefiguragào dé mudangas se vào criando, também emrazào das viagens das teorias e da sua tradugào, bem como da jó referidatransigào paradigmótica? Trata-se de questóes flue permanecem em aberto,podendo-se entretanto assinalar algumas tendéncias de carócter geral quevào em direcgào à uma reconfiguragào dos mapas em que se inserem asliteraturas africanas de língua portuguesa, reconfiguragào possível tambémpela recepgào e tradufào de teorias elaboradas noutros contextos geogrífr,-cos e intelectuais.
Esta possível reconfiguragào dos mapas estó, e estaró, ligada aos cres-centes fenómenos de globalizagào de teorias e mobilidade de fronteiras
i l l tRAlt lRA$ AtRl( ANAs, t lNr, t tA I 'oRlt lc 'L lFtA r Pot coloNlAt l ìMt)r
disciplinares que proporcionam a oportunidade de modificar as geografias
dos saberes. Se, por um lado, toda a contextualizaqào de qualquer teoria' tal
como a constituigào a" oU;"ttot de estudos se prende com a necessidade de
seanalizaremesalientaremdiferengaseespecificidades_comoéocasodasiit.r"t rr", hfricanas e dos pós-colonialismos, que emergem de contextos e
".p.tt*li"t diversificada' - pot outro lado' e na perspectiva market-orien-
irà p*lJ"npor Graham ttuggan, as tradugóes e localizagóes das teorias
u"*'À',"t"UZm em diregào à'i""ottfig.tragào das fronteiras e dos mapas
subjacentes aos circuitos ào *"r."do académico, criando espagos de circu-
iuqi" "A"r"ativos", baseaàos em lógicas de viíria ordem - linguístico-cultu-
,i., ,"giorr"is etc., de certa forma rlntabilizand o a diferenqa - e as retóricas
""..p.íorrufistas - dos seus contextos de enunciagào' Tiata-se'Portanto' de
mapas - teóricos e comerciais - em constante movimento' e estabelecer
uma relagào únivoca de causa-efeito entre as distintas instàncias subjacen-
tes a estes -upu,
p"r..e uma tarefa pouco vióvel' Um dos efeitos produzidos
por estes fenómenos, é a insergào àe objectos de estudos em paradigmas'
;;p;;. mercados distintos' Vejam-se' neste sentido' os pós-colonialismos
de língua francesa e portuguesa, ou a recepgào das teorias pós-coloniais no
domínio dos estudos latinlamericanos. Nestes processos, as línguas, entre
outros factores, funcionam como fronteiras' quer num sentido de media-
;t;, qt"t e sobretudo, como fatto'"s de exclusào - pense-se na quantidade
de línguas de que "
p*" as quais nào haveró tradugào' De facto' pensando
nas próticas e políticas de tradugào strictu sensu"'aluta pela geografid' das
tt"ógo"t e da partilha dos saberes é ainda uma questóo urge-nt:'
Contudo, embora recente, a recepgào das teorias pós-coloniais nos
estudos de literaturas africanas de língua portuguesa, a consequente refle-
*ào ,oUr. as especificidades e a p'otoi" dè articulagóes com outros arqui-
voseparadigmasvémcriandocondigóesfavoróveisparadeslocagóesdefronteiras, .o;o pot"rr.iJ, no sentido da formulagào de novas cartografias'
estó ainda por investigar' As articulagóes e os contrapontos entre os con-
ceitos de nagào como"narragào, pós-otimismo no romance africano pós-
colonial, múltipla r.rbult""tiú"deàa mulher colonizada (para citar algumas
dasformulagóesquemaistèmcirculado)easdiversasprodugÓesliterríriasafricanas, vèm.proporcionando outras perspectivas PT" ?
abordagem do
binòmio literatura/nagào, apontando para a necessidade de se equaciona-
rem outras dimensóls'e lugares de enunciaqào cultural, dentro e para além
da nagào.Por outro lado, e mais concretamente quanto à abertura Para outros
espagos do "mapa lúsofono' em que se inserem as literaturas africanas'
I t55t(A tAtcoNl
algumas tendéncias dos estudos brasileiros apresentam solicitagóes quese. prendem com a geografia múltipla em que se insere o Brasil: o espagoatlàntico e caraíbo da dióspora n"gr",
" o continente ratinoamericano. Neste
sentido, é significativa a reflexào de Laura padilha, que ao equacionar olugar da crítica pós-colonial através do conceito de eitre-Iugarie Silvianosantiago, vem, de facto, form'lar uma instància de outras caitografias, defi-nindo o exercício da crítica das literaturas africanas ..um trànsiìo por fron_teiras... múltiplas fronteiras, internas ou externas", sendo a sua tarefa criaras conexóes desejadas (padilha, 2007).
_ Se estas solicitagóes respondem também a instàncias culturais, políticase disciplinares internas ao contexto brasileirorr.r, por outro ruao, rri que terem conta também que o espago latinoameric"rro, ,"pr"r.nta um lugar deenunciagào e um mercado alternativos para a circulagào das teorias, como,de facto, demostram os debates e as artiiulagóes entre estudos latinoameri-canostttl, crítica cultural e a proposta de um pós-colonialismo para o espagode língua portuguesa formulada por Santos (200|1tat.Um aspecto interes_sante, a meu ver' decorrente destas articulagóes, diz respeitoàs próticas dereactivagào de arquivos e_re-operacionarizagio de conceitos que de factoproporcionam a oportunidade de se equacionarem mapas mais dinàmicos,nào apenas de tradugóes e rocarizagóes, mas també m ie contrapontos: pen-se-se, nesta perspectiva, em conceitos como transculturagào, mestigagemou hibridez.
voltando às literaturas africanas, é evidente, à luz deste contexto, quenovas possíveis cartografias, de carócter também translinguístico e orien_tadas por instàncias em direcaào a um'tomparatismo do sul'i referem-sesobretudo às literaturas ligadas ao espago atldntico, sendo de facto a litera-tura angolana e caboverdiana geralmente privilegiadas, por óbvias razóeshistóricas e identitiírias, pelo olhar dos estudos biasileiràs, gue, por outrolado, nào desfuncionaliza, entretanto, a triangulagào atrànticaìuroforru por-tugal-Brasil-Angola como espago fara aborlagens de cariz comparativo.
como defendi noutra reflexào (200g), uma vertente índica da literaturamogambicana, embora carecendo de um d.imensionamento teórico, temvindo a ser assinalada (Leite, 2003) e esporadicamente operaciorralirad"
16 Refiro-me à legislagào que torna obrigatório o ensino da História da Africa e de conteúdos' ligados à cultura afro-descendente, beÀ como aos debates relativos aos estudos culturais e lite-ràrios, à literatura comparada (Coutinho) e aos estudos africanos (pereira)I 7 veja-se, por exemplo, o Grupo Latinoamericano de Estudos subarternos.18 Veja-se, a este respeito, as observagóes de Ferreira (2007) e Martins (2009).
t | | [ RAtt ,RA5 At-Rt( ANAs, I lNt , t tA tx lRl l t t , tJt sA I PÓ5 ( o l oNlAl l \Mo\
através de experiénci"rtrrl, qu€, a meu ver, confirmam um certo papel de
fronteiras-sefarugao das línguas, reconvocando, por um lado, o problema
da traduqào tt irtu sensu, qtte de facto nào deixa de ser uma condigào fun-
damental pa{a a construgào de novos espagos de circulagào e reflexào para
as literatuids africanas; por outro lado o problema das competéncias lin-
guísticas relativas às línguas do Sul que Spivak defende como condigào sine
qua non paraasua proposta de um diólogo renovado entre literatura com-
parada e Area Studies (Spivak, 2003).É evidente que estas possíveis configuragóes convocam hipóteses de car-
tografias que reformulem quer os cruzamentos de antigas rotas marítimas,
qrr., ur conexóes de fluxos de circulagào de objectos, ideias e culturas do
passado e do presente, transformando os oceanos em arquivos, e proporcio-
nando um dirílogo necessariamente mais fluído também entre disciplinas
e saberes, até hoje, no domínio aqui focado, ainda fragmentrírio. Por outro
lado, e atendendo a solicitagóes que Permenecem centrais' quer em proPos-
tas literórias, quer nas preocupagóes que orientam os discursos e as próticas
desenvolvidas nos países africanos em questào, o panorama actual parece-me
requerer uma multi-lo calizagilo crítica destas literaturas, orientada por uma
articulaqào entre rotas e raízes, segundo a conhecida formulagào de Gilroy,
e por uma cartografia mais inclusiva dos-contrapontos teóricos' para que'
pirafraseando as epígrafes a esta reflexào, a língua nào seja'tudo", e'hs dife-
renqas que fazem a diferenga" se tornem ferramentas para "um pensamento
crítico exercido na fronteir d' (Ribeiro & Ramalho, 1999: 7 6).
REFERENCIAS
Aùrselrn, |ean Loup (2009) 11 distacco dall'occidente, trad. Antonio Perri, Roma,
Meltemi.
Are, Livia ( 199 7) "1 emergenza di una letteratura post-coloniale: il caso della letteratura
mozambicana", Palaver, n. l0' pp. 37-51.
BnrsHe, Homi (2001) I luoghi della cultura, trad. Antonio Perri, Roma, Meltemi.
BreNcru, Cinzia; DtnrAnn, Cristina e Nnncleno, Siri (a cura di) (2002), Spettrí ilel potere'
Ideologia identità traduzione negli studi cuhurali, Roma, Meltemi'
BrucroNr, Elen a(2009) Mia Couto, o contador dehistórias ou a travessia da interpretagóo
da tradisno,Tese de Doutoramento, universidade do Minho, disponível em http:/i
repositorium.sdum.uminho.P
19 Refiro-me ao congresso 'A hibridagào nas literaturas do oceano lndicd', Universitat Autonoma
de Barcelona,23- 25 Abril de 2009.
IFS5ICA FAICONI
cHeunnns, Iain (2010) " poder, llngua e a poética do pós-colonialismdl via Ailantica17,pp.r9-28.
cosrl, clóudia de Lima (2003) 'As publicagóes feministas e a política transnacional da. tradugào'l Reyista de Estudos Femínistas, vol. lI, n. l, pp. 254_264.
FALcoNr' fessica (zoo8) tJtopia e conflittualità. Ilha de Mogambique nella poesia mozam_bicana contemqtoranea,Roma, Aracne.
Fnnnerne, Ana Paula (2007) "specificity without Exceptionalism: Towards a criticalLusophone Postcoloniality" in pa*lo de Medeiros (ed,.) postcolonial rheory andLusophone literatures, Utrecht, portuguese Studies Centre.
GÉneno, Albert, (1980) 'The study of African Literature: Birth and Early Growth of aNew Branch of Learning'i canadian Review of comparative Literature,voi. 7, n. l,pp.67-92.
Heurr.rox, Russell (2007) "Tribute to Gerald M. Moser,,, Research in African Literatures38, no. l : l -4.
- (1975) voices from an Empire: a hktory of Afro-portuguese riterature,university ofMinnesota.
Huccew, Graham, 200r, The postcoronial Exotic: Marketing the Margins. London,Routledge.
Lnrrr, Ana Mafalda (2003) Literaturas Africanas e Formulagóes pós-coloniais.Lisboa.Colibri.
LeneN;nrne, Pires (1989) 'A cumplicidade luso-brasileira na identidade e identificagàodas literaturas africanas", in o Fenómeno Literório nos parses Lusófonos- cadernosdo Povo-Reyista Internacional da Lusofonia, S _14, 147 _156
Meorru, Ana Isabel, (2004), 'A bandeira da língua como um arquétipo de pótria: ficaóes dalusofonia em contexto pós-colonial'i vIII congresso Luso-Afio-Brasileiro de ciénciassociais, coimbra. Disponível em www.ces.uc.ptl1ab2004/pdfsrAnaMadeira.pdf.
ManrrNs, Ana Margarida, (2oo9) The postcolonìal Exotic in the work of paulina chizianeand Lídia lorge, phD Thesis, University of Manchester.
Menuxs, Rui Cunha, (2001) "O paradoxo da Demarcacao Emancipatoria,l R evista Críticade Cièncias Sociais,59,37-63. .t
Mernso, Locha (1986) La litterature africaine et sa critique,paris, ACCT-Karthala.MEZZADRA, sandro (2005)'confini, migrazioni, cittadinanza" in silvia salvatici (a cura di)
Confini: mstruzioni" attraversamenti, .rap7traentazioni Soveria Mannelli, Rubbettrno.Mouni'o, Fernando de Albuquerque (19g5) "o problema da autonomia e da denominaso
da literatura angolandl in Les Litteratura Africaines de Langue portuguais,pafis,Fundagào Calouste Gulbenkian, l}l_131.
Muorunr, valentine Y. (1985) "African Literature: MÉ or Reality?" in Tejumola olanryane Ato Quayson (orgs.) (2007) African Literature: an Anthology of criticism and rheory,Oxford, Blackwell, pp. 60-64.
i lTtRAtt ,RAs Af Rtt ANAs, t lNt , t tA l 'ot l l tJ(r t l l \A t PÓ! ( otoNlAl l tMos
- The Invention of Africa, trad. Giusy Muzzopappa, Llinyenzione dellAfrica, Roma,
Meltemi,2007 [1988].
NrwEr.r., Stephanie (2006) west African Literatures: ways of reading, oxford university
prg$.
oruxoyp oyBNryr, (2004), <The critical reception of modern African poetrpr , cahiers
détudes africaines, n". 4: 7 69-79L.
or.enrv,rN, Tejumola e Ato QuevsoN (orgs.) (2007) African Litetature: an Anthology of
Criticism and Theory, Oxford, Blackwell.
Peorr,r1l, Laura cavalcante (2007) "um trànsito por fronteiras" in Pires Laranjeira, Lola
Geraldes xavier, Maria Ioóo Simóes (orgs.) cinco poyos cinco nagóes, Lisboa, Novo
Imbondeiro.
- (2005) "Da construgào identitória a uma trama de diferengas - um olhar sobre as
literaturas de língua portugrses{, Revista Crítica ile Cièncias Sociais' 73,pP' 3-28'
Rrsrrno, António sousa e Maria lrene Reuelno (1999) <Dos estudos literarios aos
estudos culturais>, Revista Crítica de Cièncias Sociais,52153' 6I-83'
Rrsrrno, António Sousa (2002), <A retórica dos limites. Notas sobre o conceito de fron-
teira> in Boaventura de Sousa Santos (org.) A Globalizagao e as Cièncias Socials' S'
Paulo, Cortez, PP. 47 5-50I.
Rrsrrno, Margarida Calafate e Odete da Costa Sprr.moo (2011) As Literaturas da Guiné-
Bissau. Cantando os escritos dahistória, Porto, Afrontamento.
RosAnro, Lourengo do, (2010) "Literatura escrita e oral: aproximagào e distanciamento,
uma revisitagào ao aparato teórico"'in Carmen Lúcia Tindó Secco, Maria Teresa
Salgado e Sílvio Renato forge (org.) Pensando Africa. Literatura, Arte, Cultura e
Ensino,Rio de Janeiro, Fundagào Biblioteca Nacional.
- 2007 Singularidades 11, Maputo' Texto.
Ser,vrrrcr, Silvia (a cura di) (2005) Confini: costruzioni, attraversamenti, rappresentazioni,
Soveria Mannelli, Rubbettino.
SrNcnes, Manuela Ribeiro (2011) Malhas que os impérios tecem,Lisboa, Edigóes 70.
- (2007) "Reading the Postcolonial: History, Anthropology, Literature and Art in a
"Lusophone context
"
in Paulo de Medeiros (ed.) Postcolonial Theory anil Lusophone
literatures, Utrecht, Portuguese Studies Centre.
slNros, Boaventura sousa (2002) "Entre Próspero e caliban: colonialismo, pós-colonia-
lismo e inter-identidade, in Maria Irene Ramalho e António Sousa Ribeiro (org.)' Enfre
ser e estar. Raízes, percursos e discursos da identidade. Porto: Afrontamento' 23-85.
- (1993) "Modernidade, Identidade e a cultura de Fronteira", Tempo social,vol.5'
n. l-2,pp.31-52.
Servex, Gayatri Chakravorty (2003) Morte di una disciplina,trad. Lucia Gunella, Roma,
Meltemi.
i,f sst(.A FALCONT
- (2007).,1a politica della rraduzione,l in Mahas,,, . -nttl.
*"ooli, Filema, [rgg2]. ' --- ""'rqsw€ta Devi, Invisibili, trad. Ambra
"-1'l;,i'iJà'lllj1li?"1:::'"re e connni: prospenive antuoporogiche,,in Aressandro.,,",..Y],To, il ;r:,:#' l{7""'
nettbtà moderno' un ,où,onto ii iu,,r,,n",' !rì u r r, Lawrence (2005), Gli scandati della traduzioneAnnarisacrea,RoberraFabbrier*,;;#;;,J;1,"t?::^f:lr!#,renza,trad.
L|T_ERATURAS AIR|CANAS DE LíNGUAPO RTUG U ESA: D Es LocArra IrirósMaria Nazareth Soares Fonseca
A minha poesia é angolana ferozmente.
Escrevo com medo e com raivae forga e ritmo e alegria
Escrevo com fogo e com terra
Escrevo sempre como se comessefunje com as màos
mesmo quando utilizogarfo e faca.
loao Melo
:#:ì:"rT:"r:î,ffi .. es que venho di s c utin do sobre pro ces s o s de tens i o _
signosedesentiàoil'J:::'fiT::l*:,T:1.,H#n::;*:*r"","Xsido pensados por mim com a ajuda;;;;;r_., drrlorom"rito-J *ig*gau,vistos como significantes a.
"tttutegi", i"^ionui, que se mostru- rrro up"_nas na escrita do texto mas tambéi em suiquestóes se mostram na escrita de textos o"l;r"#o#;::?,1ilff:,H',ilportuguesa e caracterizam o esforgo de vórios escritores para trazerpara otexto escrito a espontaneidade da au, or roì, da oraridade e também a sin_taxe das narrativas orais com,"u,
";;;;;;ir"rrto, e repetigóes. Recursos clcnarragào expressam' portanto, os deslocamentos dos signos da oraridadc ca tentativa detrazer para o texto escrito a ambientagà";;;;r;;lu, O"r_formances de que se vaf; o narrador p-" *r"-o as fungóes do contaaor.
, - ^ 3it- :tt-tatégias explicitam, *- .É;;;iarrativa s fi ccionai s, os r" cl.s
.i:,:.Ì::""t'o de que î1.lt.r'1T
incu"rsoes peto histórico e o culturat. Nurrrteatro' quc se al-ìrcsclìta conr difcrent"r.",ri.,c rìrcsrììo corros crr$rrocrì_$c c^r pcrcurs"rì,:i,î;;:,,i:,il:i:1,,i,:il::,,cvcrì los t l ls l r i l l r ; rs rot t !s ly l iorr i t is . ( )s tnovi l t tcrr los t lc r r . lPtopr. i i t ( i lo i r t l r . r rs i l i r i t r r r .s t ' . r r r* l r .n rrrrgtr , tgr . r t r re t l t ie r i r l r r r i r r iz*rr t 's r t i r r r i r ! i * t r t ,s, i t r rp l l1 'g2115
affiijii