A blenorrhagia come causa impediente ao casamento : - NLM ...

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THESE

FACULDADE DF MEDICINA DA BflhIA

THE5EAPRESENTADA A

FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIAEM 31 DE OUTUBRO DE 1912

Para ser defendida por

erasnw Jo$c da Cunha CimaAuxiliar da clinica civil do cirurgião Dr. IGNACIO DE

Menezes, technico do seu Gabinete de Microscopia e do Dr. LeoncioPinto, ex-auxiliar da Saude Publica

no 14.' Districto da Capital e ex-auxiliar do Serviço de Prophylaxiada Febre Amarella

DRTURRL Q’E5TE ESTFJDO

AFIM DE OBTER O GRAU DEIDOTTTOR EM

DISSERTAÇÃO.A. ZBlenorrlisigúa, como causa im-

ped.len.te ao casamento

PROPOSIÇÕESTres sobre cada uma das cadeiras do curso de

sciencias medico-cirurgicas

BAHIAGRANDE ESTAB. GRAPHICO G. ROBATTO

98—Rua das Grades de Ferro—98

1912

FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIADIRECTOR-Dr. AUGUSTO CEZAR VIANNA

Secretario—Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLESSub-Secretario—Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA

PROFESSORES ORDINÁRIOS

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...» »

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pediaLuiz Anselmo da Fonseca HygieneJosino Correia Cotias Medicina legal e toxicologiaClimerio Cardoso de Oliveira. .

.

. Clinica obstétricaJosé Adeoctato de Souza ' » gynecologicaLuiz Pinto de Carvalho » psychiatrica e de moléstias ner-

vosasAurélio Rodrigues Vianna Pathologia medicaAntonino Baptista dos Anjos

....

» cirúrgica

PROFESSORES EXTRAORDINÁRIOSOS DRS.: j CADEIRAS:

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e apparelhosClementino da Rocha Fraga Júnior . . Clinica medicaCaio Octavio Ferreira de Moura ... » cirúrgicaAlbino Arthur daSilva Leitão.... » dermatológica e syphiligraphicaAntonio do Prado Valladares . , . Pathologia geralFrederico de Castro Rebello Koch . . TherapeuticaJosé de Aguiar Costa Pinto , . . . HygieneOscar Freire de Carvalho Medicina legal e toxicologiaMenandro dos Reis Meirelles Filho . Clinica obstétricaMario Carvalho da Silva Leal ... » psychiatrica e de moléstias ner-

vosasAntonio do Amaral Ferrão Muniz . . | Chimica analytica e industrial

PROFESSORES EM DISPONIBILIDADEOS DRS.:

Sebastião Cardoso | Deocleciano RamosJoão Evangelista de Castro Cerqueira j José Rodrigues da Costa Doria

A Faculdade não approva nein reprova as opiniões emittidas nas theses quelhe são apresentadas.

PROEÍDIQ

A’ velha arte de curar, não tarda muito que substitua, emgrande parte, pelo menos, a admiravel arte de prevenir — a pro-phylaxia. Taes tendências scientificas revelam-se para nós, comoindícios de um grande progresso da MEDICINA.

Na convivência de alguns annos com o nosso illustre amigoDR. IGNACIO DE MENEZES, nosso primeiro mestre da SCIEN-CIA MEDICA, a quem somos devedor de perenne gratidão pelomuito qlie nos guiou em nossos estudos e pelas exhuberantes pro-vas de amizade fraternal, que por mais de uma vez deu para com-nosco ; acompanhando pari-passu a sua clinica civil, tivemos occa-sião de observar grande numero de doentes, preponderando entreelles de modo bem frisante, os blenorrhagicos

Não nos foi difflcil ver dentro em pouco tempo, cegos, estereis,arthriticos e nevropathas, que taes infermidades só deviam aogonococco.

Muito pouco tardou que iivessemos noticia de mortes por ble-norrhagia, decasaes, que esterilmente se confinavam n’um martyrioeterno, porque á virgindade da noiva , consentira a ignorância me-dica, que qual presente de núpcias lhe offerecesse o noivo umaBLENORRHAGIA.

Tão funestas consequências e a incurabilidadc da moléstia, emmuitos casos, nos fizeram comprehender a impot ncia do seu es-tudo e pasmar ante o pouco que lhe ligavam não só os leigos comomuitos doutores.

Assim pensávamos, quando a felicidade de ouvirmos o emi-nente PROF. DR. FONSECA, nas suas admiráveis prelecções sobreHYGIENE, discutindo com proficiência rara, tal moléstia, não sósob o ponto de vista medico como sob o ponto de vista social, nosdeliberou finalmente a contribuir tanto quanto permittisse a nossaforça, para sua maior divulgação.

Serviu de assumpto a nossa these para obter o grão de doutorem Medicina e oxalá não se limite sómente a tal desideratum e possa,se por outros fôr lida, além dos mestres, esclarecer o quanto é pe-rigosa e grave esta infecção.

O Autor.

D155ERTFIÇR0A Blenorrhagia como causa impediente

ao casamento\

CADEIRA DE HYGIENE

CAPITULO I

BLENORRHAGIA EM GERALSua etiologia meàico-social e âemonstraçãa ào ualor âo

seu âiagnostico e õoconhecimento àe suas complicações

AMAIS as moléstias nos abandonaram e com o ho-mem nasceu a pathologia, disse brilhantemente

Chantemesse.Na luta extrema pela vida, do homem das cavernas

até os esboços das civilisações antigas, não restavatempo para occupar-se das moléstias, áquelles que cons-tantemente deveriam se enfrentar com tão outrospoderosos inimigos.

Mas, já no exercício de seus delicados misteres,entregue aos labores de uma vida accidentada e detrabalho ou no delongado repouso de uma existênciafaustosa, sempre a moléstia acompanhou o homem, tru-cidando-o de continuo.

Quer no desempenho dos seus deveres sociaes,quer no comprimento de actos physiologicos, ha sempre

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causas, que favorecem as entidades mórbidas, o ensejode penetrarem em nosso organismo para ahi se assesta-rem, provisória ou definitivamente.

Desde as lesões grosseiras, oriundas de traumatis-mos, largas portas á infecção, desde a miséria organica,physiologica ou pathologica, terreno safaro á sementedas moléstias e as causas exteriores e dependentes domeio, até os nossos proprios orgãos, onde se albergaminnumeros parasitos, são constantes as ameaças sobrenós, de perturbações da saude, ás vezes, não pequenas.

Ora, é o phantasma horrível da tuberculose, docancro ou da lepra, que se nos apresenta nestas pobresvictimas, que depois de algum tempo de martyrio, nãoraro, são ceifadas pela morte, ora são outros malestraiçoeiros, que não fazem alarma,nem alardeiam seus pe-rigos e se encarnam sobre mil formas seductoras, queprovocam o homem a sorver o veneno terrível, que lheha de pôr termo a existência ou entremear-lhe a vidade torturas.

Agora, é o alcoolismo para excitar ou abafar pai-xões, mais tarde são as moléstias venereas, que se ofíe-recem por entre sorrisos cor de rosa ou assetinadosolhares sensuaes, que lançam os homens nos braços damoléstia, que lhes fará arrastar uma penosa existência,até depor-lhe sobre a fronte o beijo gélido da morte.

E de todos os meios onde o perigo existe, no ar,no solo, na agua, será talvez aquelle contra o qual me-nos se previne a humanidade, a reunião intima dossexos, na celebração destas cerimonias physiologias doculto de Venus, donde proveio todaella.

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Entretanto, se as moléstias venereas, graves comosão na sua maioria e grandemente espalhadas, como seacham, por todos os povos, principalmente entre os me-nos educados a zelar da saude, teem todas uma origemmicrobiana, material, teem também uma etiologia moralou psychologica, mal estudada ou pouco conhecida,cujo esboço tentaremos por nossa vez traçar no decursodo estudo nosologico da blenorrhagia, que se seguirá aestas breves considerações.

Blenorrhagia

Definir a blenorrhagia pelos seus symptomas im-mediatos e communs, sobrevindos de suas localisa-çõesas mais frequentes, fazendo abstração de suas con-sequências e complicações, seria imperdoável para nós,que nos abalançando a interpretal-a, não nos limitaremosa estudal-a com a indifferença de um bacteriologista oupathologista, para quem bastaria, o quadro morbidopara esteou a historia natural do microbio para aquelle.

Para nós, á luz da hygiene, desta sciencia medicosocial, primorosa educadora das nações civilisadas daactualidade, deveria ser ella muito outra e deixar pre-conceber na sua essencia, os conceitos de sua alta gra-vidade.

E assim é, que de tal modo corhprehendendo a im-portância do assumpto, não tentaremos formular umadefinição, pois que, entre ligeiros apontamentos, quetomamos, das aulas magestosas do admiravel mestrede Hygiene, desta Faculdade, o eminente e sapientis-

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simo Prof. Snr. Dr. Luiz Anselmo da Fonseca, en-contramos aquelle que se refere a prelecção sobre esteponto, assim iniciada pelo illustre hygienista:

«O estudo da blenorrhagia perante a Hygiene, talé o assumpto da licção de hoje.

«Nas suas formas mais simples e iniciaes, a blenor-rhagia é uma inflamação, no homem, da mucosa do canalda urethra ou da glandi, na mulher, da vulva da vagina,do collo uterino ou do canal da urethra, determinandoum fluxo muco-purulento e eminentemento contagioso.

«A blenorrhagia, que quando limitada ás partes maisexternas dos canaes genito-urinarios do homem e damulher ou da glandi, no primeiro, é simplesmente umamoléstia assás incommodo eacomponhada de depressãomoral, se o respectivo virus invade, o que nada tem de-raro, as partes profundas de taes apparelhos, inclusiva-mente o rim; se se propaga, na mulher até o peritoneo,ou é transportado por qualquer modo a certos outrossitios: ou penetra no sangue, já determinando uma ver-dadeira bacteriemia, já pela corrente circulatória indoestabelecer colonias nos orgãosessenciaesávida, éumamoléstia de alta gravidade, muitas vezes incurável e deprognostico sombrio e mortal, tanto para especie pelaconsequente esterilidade, como n’um prazo mais ou me-nos longo, para o proprio indivíduo.»

Enfeixando todos os modernos conhecimentos sci-entificos sobre a blenorrhagia e suas deducções quantoaos perigos da moléstia, estes brilhantes períodos queacabamos de transcrever, sejam pois a definição, que

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nós daremos deste mal, infelizmente muito poucas vezesencarado comtãojusta feição.

A blenorrhagia será talvez tão velha quanto a hu-manidade e se bem que,seu estudo medico-scientifico sejarelativamente novo, com tudo a moléstia foi conhecidade ha muito.

Os povos civilisados da antiguidade, reconhece-ram-lhe a especificidade e a transmissibilidade e esfor-çaram-se nos limites das suas poucas luzes paraevitar-lhe o contagio.

Infelizmente, porem, não tardou muito que se des-prezasse estes estudos e mais tarde se chegasse aconfundil-a com todas as moléstias venereas e especi-almente com a syphilis, de cuja existência como moléstiadistincta, somente no século XV, a humanidade come-çou a ter consciência.

Formou-se assim a theoria do identismo e permane-ceu até o século XVIII, em que se ouviu o primeiro gritode revolta, lançado por BALFOUR, que debatia-se pelaseparação das duas entidades mórbidas.

Lutou por estas idéas, até que HUNTER veio comba-tel-as, consolidando as opiniões antigas, porque obtevea syphilis, contaminando um indivíduo com o pús ble-norrhagico de um outro.

Não admira, porem, que nesta epoca, ainda não sepudesse bem comprehender, a possibilidade da con-cumitancia n’um só corpo, de moléstias de origensdiversissimas.

Estas doutrinas, que ainda perduraram por algumtempo, não resistiram aos poderosos argumentos de um

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sabio venereo logo, o prof. RlCORD, que de um modo defi-nitivo, separou as duas moléstias, se bem que, recon-hecendo um virus para syphilis, não encarasse á ble-norrhagia, mais que a uma banalidade, que um abusode bebidas alcoólicas, a copula com mulheres atiingidasde leucorrhéa, ou um excesso de prazeres venereos,poderiam despertal-a.

Contra este modo de ver, também adoptado porFOURNIER e LANGLEBERT, que pertenciam á escola dosavirulistaS, se arregimentaram os virulistas a cuja frentese notavam GOSSELIN, DlDAY, Guerin e outros.

Accenderam-se as discursões e de parte a parte,se allegaram razões tendentes a demonstrar cada uma dasduas hypotheses, até que, só em 1879, Neisser, desco-brindo o microbio, que hoje leva seu nome, proclamou-seavictoria dos virulistase dahi pordiante, jamais foi postaem duvida a origem microbiana da blenorrhagia.

O Gonococco

Um diplococco similhante a duas sementes de feijãooppostas pelas faces côncavas, tal é quanto á forma ogermen da blenorrhagia.

Muitas vezes, como a divisão do microbio se effe-tue, no sentido perpendicular ao seo maior eixo, encon-tra-se quatro elementos agrupados em conjuncto, aná-

logos a um tretacocco de forma caracteristica, neste caso.Segundo as phasesde seu desenvolvimento, variam

naturalmente as dimensões do gonococco, que quandoem seu maior tamanho attinge as de l,6,u de compri-

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mento sobre 0,8,u de largura, em media porém, estasdimensões oscillando entre 0,6,u a 0,7,u.

Em entremo exigente quanto aos meios de cultura,necessita, princlpalmente, para sua multiplicação, dealbumina não coagulada.

A geloseordinaria ou glycerinada, a gelatina e atémesmo o soro sanguíneo de Lceffer, não lhe são favo-ráveis meios á existência e nelles não se logra o desen-volvimento do microbio.

E’ aerobio e a privação do oxygenio livre não lhepermitte desenvolver-se bem

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A humidade é um elemento que lhe parece indis-pensável, razão porque é de bôa technica bacteriológica,que os seus meios de cultura, sejam mais ou menoshúmidos.

As altas temperaturas lhe são tão desfavoráveis,que não prolifera além de 39°, sendo a sua temperaturaeugenesica, aquella em que melhor se encontra, a de36° a 37°, analoga, como se vê, a do corpo humano.

A fidalguia do microbio tem suscitado innumerosestudos quanto aos meios de cultival-o e desde o sorôdeBumm, o meio de Christmas, agelose de Kral WlD-BOLTZ, Heimamm, ABBÉ, PFEIFFER e outros de que tãolargamente tratam as bacteriologias, sempre foram os me-lhores, ode WERTHEIM (gelose fundida e sôro) princi-palmente se se substitue o sôro por outro exsudatoalbuminoso, tal como o liquido d’ascite, do hydrothoraxou da hydrocele e a gelose-sangue de Bezançon e Gri-FFON, onde certamente se observa o seu melhordesen-volvimento.

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Os sôros animaes, porem, não dão idênticos resul-tados, ainda mesmo, que se tome o cuidado de destruirseu poder bacterecida por um aquecimento a 55°, distin-guindo-se entre elles o sôro do porco de mistura coma gelose nitrosada.

Os meios líquidos, são também recebidos compouco appetite, devendo-se nestes, substituir a gelosepelo caldo e acidifical-os, emquanto para os outras nadamais bastaria, que um certo gráo de alcalinidade.

Biologicamente estudado, o gonococco é um micró-bio muito frágil, sensibilíssimo a deseccação, bastandouma exposição de algumas horas ao sol, das roupase objectos contaminados pelos pús blenorrhagico, paraque fiquem estes esterilisados. Entretanto, podem tor-nar-se essencialmente contagiosos se permanecerem hú-midos, o que facilita o desenvolvimento do microbio.

Como temos dito acima, a temperatura elevada épor tal modo funesta ao gonoccoco, que a intercurrenciade pyrexiasno curso de uma gonorrhéa, provoca muitasvezes, uma suspensão do corrimento purulento.

Sem resistência á acção dos antisepticos, nadamais facil haveria do que curar-se uma blenorrhagia,por qualquer d’elles, se os gonococcos em grande partee muitas vezes, não se alojassem no fundo das glân-dulas.

Esta fragilidade do germen, cujas exigências vãoao ponto de lhe crearem as maiores dificuldades paraa manutenção da vida, mostra que o seu habitat, será omais restricto possível, sendo que elle se limita, ex-clusivamente ao corpo humano, onde vive, não como

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saprophyto, mas sempre como elemento etiologico dedifferentes estados morbidos.

O microbio segrega uma endotoxina de elevadaimportância pathogenica, como havemos de analysar,no decorrer deste estudo.

Esta endotoxina, que produz bem determinadosphenomenos na especie humana e que mostra o seumaior gráo de virulência, principalmente quando ori-unda do caldo de cultura, se nelle morreram gono-coccos e que, por desagregação a produziram em maiorquantidade, não é especifica para os animaes, que aella reagem, simplesmente com symptomas geraes;febre e tumefação dolorosa da pelle e dos ganglios.Outro tanto acontece com o microbio, que só em nossoorganismo, produz a moléstia de que é responsável.

Meios de penetração do germem

Para installar-se no organismo, o gonococcoconta com quasi todas as mucosas, salientando-sealgumas de maior receptividade, alem d’outras, quevariam, já com a idade, já com a delicadeza de suaestructura.

Será de todas ellas, a de maior predilecção,quer para o homem, quer para a mulher, a mucosaurethral, delicadissimo epithelio, jamais exposto aattrictos e onde pode o germem installar-se indepen-dentemente de lesões preexistentes, como poderiatalvez ser necessário para mucosas outras de menordelicadeza.

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Após esta, segue-se a conjunctiva, de mimosatextura, cuja sensibibilidade a tal infecção é parti-cularmente demonstrada nos recem-nascidos, por issomesmo que de 1000 cegos de nascença, 800 devema sua cegueira ao gonococco.

A mucosa vaginal, mais facilmente infeccionavelnas virgens, que em mulheres outras, chegando atéa ser mais ou menos refractaria nas multiparas, épassível de explicação, attendendo-se ao seu funccio-namento durante o acto da copula e do parto, quelhe augmentam a expessura, graças a uma hyper-trophia resultante de uma hyperfuncção, quer á suaprópria constituição histológica, pois o epithelio ex-tratificado pavimentoso, que a forma, não facilita apenetração dos germens para as partes profundas.

Nestas ultimas, a mucosa mais facilmente infec-cionavel é a uterina, outro tanto não se dando comas virgens e nulliparas, nas quaes a estreiteza doorifício do collo, difficulta notavelmente a localisaçãodo microbio no endometrio.

No recto, cuja mucosa pode ser infectada emtodas as idades, observa-se rectites blenorrhagicas,consequentes a actos de pederastia ou por propa-gação na mulher, da blenorrhagia vulvar, urethral ouvaginal, alem de meios outras de contaminação.

A mucosa vesical é attingida muitas vezes ealem desta, pode-se ainda observar stomatites gono-coccicas, em certas occasiões resultantes á praticaimmoral do coito ab-ore, e rhinites da mesma natu-reza.

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Para attingir estas portas de entrada, dondedepois pode propagar-se de proche en proche aosorgãos mais visinhos ou aquelles mais distantes,directamente ou por suas toxinas, pela correntecirculataria ou pela cadeia lymphatica, são necessá-rios factores que o venham pôr em relação com oorganismo e estabelecer o contagio.

De todos os modos possíveis de transmissão dablenorrhagia, é o mais commum a copula, justamen-te porque* a mais frequente séde da moléstia é nosorgãos genito — urinários.

As variadas pervesões deste acto physiologico,são também meios de contagio, como acontece paraa syphilis e emíim para todas as moléstias venereas,pois que em todas ellas compartilhando um dos allu-didos orgãos, se infeccionado, facilmente transmittiráa moléstia de que é portador.

Porem, o contagio directo, como se poderiachamar este, não se limita somente a estas praticase ainda se pode observal-o, nas ophtalmias blenor-rhagicas dos recem-nascidos ou nas suas vulvo-va-ginites, quando do sexo feminino, uma vez que a mu-lher, que os traz ao mundo, tenha a infecçãolocalisada nestas partes por elles percorridas duranteo trajecto do parto.

E já não se ignora, o quanto frequentemente estesolhos innocentes, que demandam a luz, para encher-gar nossos enlevos e fraquezas, para orientar-se nestaespinhosa estrada da existência, não logrem conhecerseus genitores, que lhe deram as írevas logo ao

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nascimento, graças á acçâo maléfica deste germenmaldicto.

Os objectos contaminados pelo germen blenorrha-gico, taes como roupa, esponjas, toalhas, banheirasetc, constituem os elementos do contagio indirecto.

Não admira pois, que quando protegidos á des-seccação e á antisepsia, disseminem no seio da fa-mília, entre virgens, muitas vezes, a blenorrhagia,que sempre em taes casos, passará como manifestaçõesde leucorrhéa.

Por idêntico mechanismo, originam-se epidemiasgonococcicas, de preferencia observadas em collegiosou agremiações outras.

Pensemos agora nas consequências, nas alteraçõesda paz domestica, quando alguém, por perversão ouignorância, não praticando os preceitos hygienicos, vaeespalhar o terrível mal, que se julgará uma banalidade,quando preciso não fôr o seu diagnostico ou provocarámaculosas suspeitas quando se lhe desvendar a na-tureza.

As mãos são também causa de contacto indirecto,não só para o proprio blenorrhagico, que por meiodelias, pode adquirir, principalmente, a ophtalmo-blenorrhéa, como para pessoas outras, no comprimentodeste clássico signal de amizade e cortezia, que é oaperto de mão.

Instrumentos cirúrgicos, taes como sondas, cathe-ters, urethrotomos e muitos outros da clinica urolo-gica, principalmente, podem, graças a imperícia ou des-

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cuido dos seus manejadores, médicos ou enfermeiros,tornarem-se causas diffundidôras da moléstia.

Profusos, como são, os meios de contrahir-se agonorrhéa, é claro, ser ella uma moléstia eminente-mente contagiosa, podendo propagar-se a todas asclasses, de mães para filhos, entre esposos, entre irmãos,de servos a patrões, de amigos para amigos, do homempara a sociedade.

E infelizmente, assim acontece de modo muito maiscommum do que seria possível imaginar-se, e a diffu-

. são sempre crescente das gonococcias, ao envez deimplantar o temor e suscitar os cuidados de prote-cção á integridade, muito pelo contrario, provoca o risoalgumas vezes e cada novo blenorrhagico, que apparece,é um elemento de consolo para os que já existem.

A explicação de tamanha indifferença, só n’um es-tudo particular da sociedade sobre este ponto, se pode-ria encontrar, apreciando-se-lhe o modo de encarar estasquestões, principalmente entre os povos, para os quaesainda a hygiene permanece como um doce consolo.

Etiologia Social

Dentre as innumeras causas sociaes, que contri-buem ao progresso das moléstias em geral, destacaremos especialmente, as que, sempre se encontram entreos muitos factores de propagação da blenorrhagia.

Rompidas as peias da infancia, fugidos ás vistasconstantes do lar paterno, gozando de liberdade na ju-ventude, phase em que inicia a sua vida commercial, a

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frequência de gymnasios, de escolas de industrias etc.e que se sentem meio absolutos, na convivência decollegas, geralmente todos nesta quadra primaveril daexistência, em que o organismo, nas vicissitudes physio-logicas, que experimenta, sente a necessidade de vibrarem sensasões estranhas e desconhecidas, é o rapaz lan-çado ao mundo dos amores

, encarando-o, como ospoetas, por entre tardes floridas ou dias nebulosas.

A não ser que um platonismo exagerado invada-lhes a alma e muitas vezes os conduza a hábitos solitá-rios, é fatalmente a meretriz quem lhe ha de ouvir nosprimeiros momentos, quem lhe desvendará os mysteriosda intimidade extrema dos dois sexos.

E é frequente que até esta epoca, em que o cer-cam imperiosos desejos, jamais tivesse ouvido falardas consequências possíveis destas praticas amorosase a não ser os versos apaixonados de algum Romeuou as cartas sentimentaes da Dama das Camélias, outracousa não lesse, em que pudesse formular idéas sobre aunião do homem e da mulher e os perigos que deliapodem resultar, tão facilmente.

E’ esta a primeira causa, é a ignorância, que reve-la-se desta maneira, que deixa em illusões permanecer,estes jovens, que hão de pagar caro tributo, pela faltados seus conhecimentos n’um assumpto, em que talveznem de leve lhe tocaram.

A’ esta inconsciência se vêm ainda juntar, a indiffe-rença de mais velhos, experimentados já, ás custas depenosos soffrimentos e o orgulho com que muitos crean-

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çolas contam seus males venereos, indubiíaves provasdas suas aventuras amorosas.

E a educação errónea, que tantos males origina,esta inadvertência obstinada de paes e mestres, que jul-gam offender a castidade de seus pudicos filhos ou dis-cípulos, se nesta idade de transição, nesta phase deli-cada da puberdade lhes fizerem prelecções sobre a fun-cção sexual, esclarecerem-lhes que apezar de inclusanos limites physiologicos, pode, como muitas outras,em certas circunstancias, acarretar perigos, é sempreo primo-movens, dos primeiros infortúnios.

Não podendo elles comprehender, já pela sua ins-trucção deficiente e defeituosa, como conseguem mu-lheres que se entregam a prazeres sensuaes, seremportadoras de moléstias e transmitil-as com afagos,não soltando um unico lamento, que denuncie seu sof-frer, são inteiramente incautos que se atiram nosbraços da prostituta, que muitas vezes deixa-lhes comorecordação da primeira prova de virilidade, uma blenor-rhagia, que até 25 annos mais tarde, pode tornal-osestreitados, se antes disso não lhes provocar, uma endo-cardite ou meningite, que roubem-lhes a existênciadentro em pouco.

E entretanto, já alguns se teem condoído destasmisérias, já em alguns despertaram-se sentimentos decompaixão por estas victimas innocentes, e FOURNIERrevelou-se um scientista humanitário, quando escreveueste livrinho de relevante mérito «Pour nos fils quandils auront dix-huit ans».

Não é mister que se lhes apresente a mulher como

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um compendio de venerologia nem que se fomentecontra ella, o repudiamento ou temor, como tambémnão é preciso, para corrigir taes consequências, des-crever estes males por entre phantasias, que longe deevitar os precipícios, mais depressa a elles lançariam,estas almas excitáveis.

Aproveitar-se das mais felizes occasiões, em queuma leitura, uma visita de hospital, a morte de umamigo, despertando a attencão do adolescente, torna-omais apto a comprehender o motivo das observações,que em taes momentos deveriam fazer-lhes paes emestres.

Desgraçadamente, só um espirito superior podecomprenhender a importância destes pricipios e prati-cal-os com a convicção de executar um grande devercivico.

A vida penosa, que em muitos logares arrasta ameretriz, onde só a sua approximação aos. homens, podegarantir-lhe a subsistência, onde só o commercio inin-terrupto do seu corpo, pode furtar-lhe ás grandes pri-vações, é também uma das poderosas fontes de origemde todas as moléstias venereas.

Recebendo dos que a frequentam, agora o cancrohunteriano ou a blenorrhagia nem lhe resta tempo paralamentar seu infortúnio ou combatel-o pelos meiosefficazes da sciencia, e a miséria, que constantemente aameaça, incumbe-lhe o criminoso dever de continuar napropagação destes males, que lhe legaram perversos ouignorantes.

Desamparada, como se acha, esta infeliz creatura,

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em nosso meio, n’uma sociedade, que se não a repelle,não procura também mitigar-lhe as desventuras, resta-lhe, quando victima das moléstias ou o isolamento namiserável encherga de um hospital improprio ou aofferta do seu corpo a damnificação do mal e de suaalma ao remorso deste crime da transmissibilidade con-sciente.

Como não seria vantajoso, que entre nós se ado-ptasse o regimen da prostituição regulamentada, que,se em verdade, não é um meio perfeito de prophylaxia,é, sem duvida, um poderoso attenuante á propagaçãode taes moléstias.

A creação de casas de tolerância, de lupanares,em que, por visitas periódicas, examinando as mulhe-res ahi existentes, pudessem os médicos, conhecendo omal, debellal-o de principio e excluir o contagio.

Contra a blenorrhagia, a que tudo, que acabamosde dizer, bem se adapta, seria um valoroso meio, e acontagiosidade excessiva da moléstia, as suas terríveiscomplicações, desde a morte individual á morte da es-pecie, justificariam peremptoriamente a grande neces-sidade de se collocal-a entre as moléstias de declaraçãoobrigatória.

Ao lado da ignorância, ao lado da miséria, jun-tam-se ainda a incredulidade e a confiança.

A blenorrhagia, moléstia subtil e traiçoeira, queapós rapidas manifestações exteriores, some-se naspartes profundas do apparelho genito-urinario e ahiesquecida, passa ignorada ao paciente, especialmente namulher, é das moléstias venereas a que menos se cara-

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cteriza externamente, em certas phases, e um blenor-rhagico em circunstancias taes pode apparecer na socie-dade como um exemplar modelo de saúde.

Assim acontece com a gotta-militar, esta affecçãoperigosissima, cujo symptoma externo se restringe a esteligeiro exsudado urethral, que pela manhã liga os bor-dos do meato, assim succede com as endometrites gono-coccicas, cuja chronicidade não lhe deixa revelar-se pornenhum signal esclarecido.

Mas, esta latencia, se assim nos podemos exprimir,nem de longe exclue a possibilidade do contagio, e atéo diffunde mais ainda, sob esta mascara apparente deintegridade, que ostentam suas victimas.

Em taes casos, a mulher não desperta suspeitas, ohomem não inspira receio e estabelecem-se oscontactos,nas doçuras da tranquillidade.

A confiança mantem-se quasi inabalavel, apoian-do-se nas difficuldades, que sentem os individuos, emcomprehender a existência e a transmissibilidade de umamoléstia, que se não denuncia por symptoma algum.

Só um espirito advertido, certamente, poderá inter-pretar o mechanismo da infecção e como uma simplescongestão das mucosas exagera-lhes a receptividade eos excessos de alimentação, o abuso de bebidas alcoóli-cas, a fadiga, originam a predisposição.

Mais lamentável que todas estas causas, mais criminosa que todos estes meios, è a incredulidade quandonão resultante da ignorância.

Ha quem zombe das averiguações, que a scienciadeclama ao mundo inteiro, ha quem tenha um sorriso

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desdenhoso para as affirmações daquelles, que julgama blenorrhagia uma moléstia gravíssima e mortal, epeza-nos dizer que entre estes espíritos obsecados e re-trógrados existam médicos e que se tornem os princi-paes propagandistas da moléstia, negando-lhe o perigo,e imbuídos do seu charlatanismo, annunciem a cura ra-pida e terminante de tão espalhado mal.

Pessoas devidamente advertidas, cônscias dos pa-decimentos da mulher com que desejam entreter amo-rosas relações, não hesitam na satisfação dos seus de-sejos, porque não acreditam que um contacto rápidoseguido d’uma antisepsia immediata, possa tornar-seoriginatario da moléstia.

Estas imprudências, que quasi se confundem comos limites da perversão, são muito menos raras do quese poderia julgar.

Os annuncios, cartazes, escandalosos reclames demedicamentos de um falso valor, imputados como pode-rosos debelladores da blenorrhagia, aptos a cural-a em62 horas, quando muito, todos espargem illusões, mas-caram a extensão do mal e apregoam mentirosas idéasá sociedade, a quem falta dedicados esclarecedores.

Quer por via interna, quer por via externa, abun-dam os recursos do charlatanismo, que muitas vezeschega a apoiar a sua exploração, com attestados demédicos, que não pensam na monstruosidade do seucrime, favorecendo, no seio da própria Medicina ,

o de-senvolvimento de tão terrivel serpente.

Todas estas causas, agregam-se, associam-se, e,ou pela confiança ou pela incredulidade ou por qualquer

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outro modo, augmentam as prohabilidades do contagioe constituem as bases da pathogenia social da go-norrhéa.

Diagnostico

Signaes clínicos existem, tão caracteristicos dasprimeiras phases da moléstia na sua localisação genito-urinaria, a mais commum, que scientistas ha, que os jul-gam sufficientes para diagnostical-a.

A’ apparição de um corrimento purulento da ure-thra, após relações sexuaes, é evidentemente bem pro-vável, que se attribua uma origem gonococcica, tantomais quanto a mulher frequentada, tenha uma vidasuspeitosa.

Os symptomas outros que a estes se veem juntar,as dôres agudas, que se manifestam no canal urinárioe se propagam até a região perineal, os ardores ámicção, penosas erecções, juntos a presença, algumasvezes, de uma ou varias adenites, parecem constituirpara muitos, manifestações indubitáveis e pathognomo-nicas da infecção neisseriana.

E, apoiados em tão falhiveis razões, julgam bana-líssimo formular-se o diagnostico das urethrites blenor-rhagicas, o que entretanto está bem longe de assimacontecer.

Innegavelmente, na grande maioria dos casos, estessymptomas manifestam-se em toda sua complexidadeapós a penetração do gonococco na mucosa da urethra,mas, nem só, podem elles acompanhar corrimentos pu-

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rulentos urelhraes de causas outras, como francas everdadeiras blenorrhagias podem existir com a suaausência.

No grande grupo das urethrites microbianas nãogonococcicas, ás vezes algumas se evidenciam poridênticos symptomas, que resultantes, como são, daacção irritante e dos impecilios trazidos ao funcciona-mento do orgão, pela presença de agentes pathogenos,não se podem differenciar tão nitidamente, para esta oupara aquella especie microbiana, a ponto de simplesinspecções bastarem para determinar o germem causa-dor, e ser mister fazer-se a applicação de meios prope-dêuticos outros de maior critério.

Nas reincidências de velhas blenorrhagias, como talnão consideradas pelos seus portadores e sim comonovas infecções do mesmo mal, é frequente que não seobserve este conjuncto de symptomas, tão commum nosprimeiros ataques do microbio.

Na mulher, principalmente se se trata daquellas,cujo estado, as põe ao abrigo de previas suspeitas, osembaraços ao diagnostico, tornam-se ainda maiores,já attendendo-se ao pudor natural do sexo, que lhesimpede de fazer juncto ao medico precisas declarações,já o receio do clinico, que esquecendo as possibilidadesdo contagio indirecto, teme formular hypotheses queoffendam os milindres da honradez.

Acresce ainda a isto, um historico indeciso da mo-léstia, feito pelas doentes, que em geral tendem a ligai-aa perturbações menstruaes.

Estas causas, que difíicultam o diagnostico da ble-

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norrhagia na sua forma aguda, quasi que o cercam deimpossibilidades quando a moléstia tem passado paraos períodos chronicos.

Falhos pois, como são, os signaes clínicos, restaapenas o microscopio, que será o arbitro desta questãoque jamais deveria deixar de depender de sua uecisão.

E ainda assim, o microscopio, o prodigioso revela-dor de muitos dos nossos invisíveis inimigos, que nosguia quanto as suas naturezas, que nos ensina a conhe-cel-os na forma e nos costumes, nem sempre poderádesvendar o gonococco e dahi as mil difficuldades emque se encontra a solução de problemas, nos quaes aetiologia deste ou daquelle symptoma, necessita pre-cisar-se.

Medica, social e hygienicamente, o diagnostico dablenorrhagia, qualquer que seja a sua localisação ésempre de extraordinária importância, pela gravidadeda moléstia e sua difíicilima therapeutica em que aintervenção precipitada ou retardada de um medica-mento, pode leval-a ao estado chronico ou nada maisadiantar á sua cura, e pelos meios de contagio, que tantomaisse alargarão quanto maior for o periodo das duvidas,durante o qual, pode pairar no espirito do doente oudas pessoas que por elle se interessam, suspeitas ouinfundamentados juizos que bem desagradavel torna-rão todo este tempo.

Entretanto o diplococco de NEISSER, estudado aomicroscopio, é relativamente facil de se diagnosticar,pela sua morphologia typica e pelas suas especialissi-mas propriedades de disposição.

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Quando encetando o estudo da etiologia bacte-riana da gonorrhéa , fizemos referencias a forma dogermen, e aqui nos limitaremos a estudar quanto a esteponto, apenas as relações guardadas entre elles e ele-mentos outros, dignos também de attenta observação,para a evidencia do microbio.

E’ aspecto commum dos frottis de pús blenorrha-gico, encontrarem-se os gonococcos inclusos nos leu-cocytos, algumas vezes até, occupando-os enteiramente.

Se outros germens, por acçâo analoga, de phago-cytose, se podem encontrar no interior destas cellulas,mesmo assim, ainda será possível destinguir o gono-cocco, graças ao seu feitio caracteristico.

Esta disposição, resultante da acção globular, comomuito bem se explica pela ausência de cilios no diplo-cocco, se evidencia pelos processos de coloração vital,que em nada mais consistem, do que em fazer agir oslíquidos corantes sobre preparações não fixadas, sendoneste caso o corante, absorvido apenas pelos elementosfigurados intracellulares.

Mas, esta relação dispositiva, guardada pelo mi-crobio, possível é de modificações, que mais ou menosse prendem aos diversos períodos da moléstia, podendopor mais esta razão, estabelecer as primeiras bases paraum diagnostico chronologico.

Assim é que nos primeiros dias do corrimento, éreduzido o numero de germens intracellulares e encon-tra-se grande numero disperso, na phase aguda, emsua maior intensidade, quasi todos, se conservam inclu-sos nos polynucleares, que também abundam nesta

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epoca, para depois decrescerem nos períodos finaes,como também augmentar a liberdade dos microbios,que neste tempo acham-se agrupados entre as cellulas.

Servem-lhes todas as côres da anilina, mas, sobre-sahem, de modo mais bello e com maior realce, quandosobre elles faz-se agir o azul de LOEFFER, em soluçõesdilluidas, porque a sua extraordinária avidez para absor-ver os corantes e a lentidão com que estes, tingem osprotoplasmas cellulares, fazem com que se os destingacom uma cor carregada n’um fundo azul-celeste.

Innumeros são os processos a que pode recorrer atechnica, para a coloração destes germens e além do dePlCK JACOBSON, um dos melhores, que consiste em fazeragir sobre a preparação, durante 8 a 10 segundos,uma mistura de XV gottas da solução de ZlEHL, VIIIde uma solução alcoolica saturada de azul de methylenoe 20 cm 3 de agua destillada, citasse ainda como bonsos de Neisser, May, Steinchneider,Nicolle, Plato,Wahl e outros.

Porem, acima de tudo isto, destaca-se nos diplo-coccos NEISSERI, uma propriedade que lhes é inteiramen-te peculiar, tanto assim que se não a encontra em nen-hum dos demais coccos e que só ella, portanto, serásufficiente para destruir duvidas e precisamente esta-belecer a identidade do microbio.

Corando-se os coccos, em geral, pelo methodo deGRAM, faz excepção á regra ogonococco, que em lingua-gem bacteriológica, diz-se, não toma o GRAM.

Adquire tal phenomeno, elevada importância, parti-cularmente no exame do pús urethral, em que nenhum

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outro germen se encontra, capaz de portar-se de talmodo á acção do methodo corante.

Os caracteres culturaes podem trazer ainda algu-mas luzes ao diagnostico e será sempre util empregaro cultivo do microbio, nos casos complicados, ficandocomtudo bem patente, ser o microscopio, o elementoindispensável, o processo de escolha, o unico meio capazde fornecer dados para um juizo precizo e seguro daetiologia da moléstia.

Como homenagem aos modernos processos docito-diagnostico, encarando-se certas modificaçõespathologicas, que se passam para o lado do sangue,seria de tentar provas nesse sentido, que juntas aexames outros, constituiriam apoio as conclusões resul-tantes da bacterioscopia.

Partícularisando-se ao sangue o processo, notar-se-hia quanto aos globulos brancos uma leucocytoseprogressiva com a duração da moléstia e suas complica-ções, acompanhada de uma eosinophilia dos mesmoscaracteres dotada.

Quanto as hematias, revelariam os hematimetrosuma hypoglobulia como os hemoglobinometros denun-ciariam uma diminuição da hemoglobina.

Estas conclusões, além da contribuição, que trari-am ao exame bacterioscopico, poderiam fornecer argu-mentos a novas interpretações clinicas da moléstia,qile revelando-se com um caracter anemiante, deixariaentrever a possibilidade de embaraços á nutrição, jápela hypoglobulia, já pela diminuição da hemoglobina,influindo taes causas, sensivelmente, sobre os phenome-

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nos da hematose e assim compromettendo a integridadeorganica.

Será pois mais um argumento, que com vantagemse poderá juntar aos que sustentam a extraordináriagravidade da blenorrhagia.

Complicações

O incommodo banal, que a injecção de sulfato decobre faria desapparecer ao terceiro dia, que era apenasa expressão de um pouco feliz successo de conquistaou a recordação de uma estravagancia, nem sempre étão fugaz e é bem commum que se costume demorar,para a principio lembrar de modo alegre façanhas eró-

ticas e mais tarde transformar-se na sombra de umremorso, que ha de perseguir o desgraçado, que porignorância ou imprudência, facilitou-lhe a perpetuidade-

Os gabinetes de venerologia, onde accodem diariamente grande numero de blenorrhagicos, recebem entreestes, reduzidissima proporção de casos de blenorrhagiaaguda, emquanto que a gonorrhéa chronica appareceem todas as clinicas, de médicos ordinários ou venero-logistas, de gynecologistas ou dé cirurgiões.

Explodem nas asepticas salas da obstétrica, phe-nomenos consequentes á blenorrhagia, revelados desdeo aborto ás septicemias postpartum.

Cortam os urethrotomos estreitamentos de origemblenorrhagica, o bisturil vae desde os abcessos áslaparatomias, pela acção do goncocco, avia-se nas

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pharmacias desde ás injecções ás formulas complicadaspara combater á infecção neisseriana.

Das nephrites ás neurasthenias, das peritonites áscardiopathias, todas têm sido meios de consumar-se agonorrhéa.

E entretanto, por mais absurda que possa parecera frequência da blenorrhagia chronica e de suas compli-cações, tudo se pode explicar por duas razões, a suaextraordinária tendencia á chronicidade depois de umperiodo agudo relativamente curto e a pouca importân-cia, que geralmente a ella se liga nos seus primeirosdias de apparecimento, sendo talvez esta, o mais pode-roso dos factores.

E se muitas vezes as complicações da blenorrhagianão matam ou invalidam a infeliz victima, a tornam inútilou perniciosa á sociedade, como havemos de melhorestudar, occupando-nos dos effeitos sociaes de talmoléstia.

As complicações, innumeras como são, variam deaccordo com o modo porque se podem executar, com omechanismo pelo qual se assestam neste ou naquelleponto e poder-se-hia dividil-as em directas e indirectassendo as primeiras, aquellas que se executam como abalanite ou a bartholinite e entre as segundas as nevro-pathias, principalmente resultantes, ao que é provável,das gonotoxinas.

Communs aosdous sexos, existem grandes compli-cações geraes; particulares a cada um delles, cita-secomo principaes, para o homem, a cowperite, a prostati-

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te e a orchite; para a mulher, a metrite, a salpingite e aovarite.

Entre as grandes complicações geraes, salientam-seas septicemias e as arthrites, incuráveis quasi as pri-meiras e de difficil therapeutica as segundas.

Relativamente a constância com que ellas se apre-sentam, seriam, raras, frequentes e frequentíssimas, vari-ando tudo isto com causas múltiplas que vão do trata-mento ao abandono, da cultura medica ao estadoconstitucional do doente.

Não sendo as complicações, todas ellas de igualgravidade, poder-se-hia agrupal-as em banaes, gravese gravíssimas, exemplificando-se paralellamente pelavulvite e a balanite, pela esterilidade masculina e femi-nina, pelas nephrites, as endocardites e peritonites.

Muitas outras ainda, são as consequências dablenorrhagia, taes como, dermatoses, arterites e peri-ostites, ás quaes faremos muitas vezes allusão, nestetrabalho e julgamos bem poder-se na expressão de umasó phrase, mencional-as todas, dizendo-se que a blenor-rhagia pode estender-se ao organismo inteiro, a todosos orgãos e tecidos, a todos os apparelhos e systhemas

Se algumas destas complicações podem facilmenteserem combatidas pelos meios therapeuticos, a cura dealgumas entretanto é difficilima e outras ha que não securam.

Curáveis umas, pouco curáveis outras e incurá-veis muitas, são sempre de elevada importância paraa sociedade e o medico, que convictos deveriam comba-

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ter na defesa de um principio, baseado principalmentena educação moral dos povos.

A’ depressão moral, á hypocondria, ás profundasalterações organicas efunccionaes do systhema nervoso,ás peritonites, ás localisações cardíacas, ás meningites,ás septicemias gonococcicas, que remedio util antepõea therapeutica, que intervenção segura, aconselha acirurgia ?

A resignação e a esperança de mais felizes dias,em que talvez, a banalidade blenorrhagica assuma asproporções de uma moléstia, conheça-se-lhe a gravidadee adopte-se-lhe uma cura de hygiene, ao envez da indus-triosa criação de illusorios preparados.

Novas auras advirão aos povos nesse dia, maislimpida estará a consciência therapeutica, desafogadada mentira e espargindo a luz sublime da verdade.

Effeitos sociaes da blenorrhagia

Sentiu-se blenorrhagico, o pús se apresenta, apósas sensações dos dias anteriores, já não pode havermais duvida, a moléstia é evidente e entretanto a curaé das mais fáceis, como assegura o cartaz ali da esquina,o pharmaceutico da freguezia, o companheiro do escri-ptorio ou o collega da Faculdade ou do Lyceu.

Começa a cura, ora guiada pela leitura dos annun-cios, ora pela experiencia dos conhecidos consultados.

Passou-se algum tempo, vem chegando a descrençae agora só o especialista pode curar, debellar os pade-

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cimentos, que já affligem de modo mais importuno doque d’antes.

O mal está chronico, a cura é delongada, é precisoo repouso, installa-se o regimen e podem advir gravesconsequências.

Que resta? O abandono dos deveres ou o desprezoda moléstia?

A irregularidade nas obrigações, as interdições domedico, que afugentam do trabalho e os conselhos die-theticos, que accrescem as despezas, desenham-se comoprimeiros traços da perspectiva futura, que lentamentefoi traçando esta moléstia, apparentemente tão simplese tão commum.

Censuras, economias, que se esgotam, impaciênciae desanimo são os primeiros effeitos, que marcam a longaestrada dos que se hão de seguir desde á miséria até ámorte.

Mas, não importa, ha riquezas, ha ociosidade, faltaapenas o desapparecimento do incommodo e a persis-tência nos methodos do especialista ha de por fimconseguir.

Decorreram-se mezes, completaram-se annos detratamento e a pertinácia é a mesma, o mal não aban-dona, não é possivel a cura, nasce o abatimento, gera-sea neurasthenia, aguilhôa a mente a desoladora idéa deconservar toda uma vida uma moléstia incurável, depoisde sacrifícios, que foram do dispêndio á suffocação depaixões e á abstinência de prazeres.

Agora, mais nada. Volta á vida livre e feliz dos

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outros tempos, acabaram-se as interdicções dos sportse dos amores.

Não obstante, ha resentimentos contra a meretriz,será melhor casar-se e na paz do lar, com os carinhosda esposa, completar-se-á a felicidade desejada.

Não tardam em emmurchecer as pétalas da rosa, éesposa, ha quinze dias e é profunda a pallidez, que lheinvade o rosto, a lua de mel é também adornada pelasdores e como é triste quando julgava ser tão feliz,como soffre e lamenta-se, quando sonhava apenas comsorrisos.

E assim, empobrecendo, pervertendo, espalhando amorte, os effeitos sociaes da blenorrhagia não serãomenos graves do que as complicações delia.

Nestas, podem os males confinarem-se a um só,naquelles vão desde os proprios sacrifícios e os daesposa, á morte da prole, á destruição da familia.

Não os soffre somente o blenorrhagico, soffre-mol-os todos nós, que nos havemos de resentir dosdesequilíbrios, da insatisfação de compromissos peladeficiência de recursos, da definhação de organismosconsumidos e inutilizados pelo mal, da decadência dageração, que não progride, que ha de sepultar-se semdeixar herdeiros.

CAPITULO II

BLENÒRRHAGIA CHRONICA

Consequencias e compTicações por eTIa proàuziàas sobreo homem, a muftier e a profe.

EPOIS de um cyclo evolutivo bem determinado,curam-se algumas vezes expontaneamente, muitas

moléstias infectuosas e até para não mais reproduzirem-se, quando no organismo se passaram os phenomenosda immunidade.

Outras ha, que chegadas aos períodos chronicos,não são mais susceptiveisde recrudescências e em certasdelias, nesta phase já não se lhes nota os perigos docontagio.

Nem uma nem outra hypothese entretanto, podeobservar-se quanto á blenòrrhagia.

A expontaniedade de sua cura, não é facto comque scientificamente se possa contar como meio thera-peutico natural e a ausência do contagio na sua chro-

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nicidade é ideia, que só illusoriamente é possiveiacalentar-se.

«Começa uma blenorrhagia, quando se terminará,só DEUS o sabe», dizia RlCORD, affeito, como estava, aobservar a tenacidade da moléstia, mas, particularisandoa sua phrase aos casos em que o mal attingira já aoestado chronico.

E presagiando -os horrores da sua futura vida dealém-tumulo, com remorso entrevia nos infernos, estequadro desolador, em que se lhe afigurava estar cerca-do destas innumeras victimas de blenorrhagia, queincessantemente o maldiziam por lhes não haver curado.

A blenorrhagia chronica nem sempre é a sequenciade um periodo agudo da moléstia. Bem pode e não tãoraramente, manifestar-se de principio, sem que os cara-ctères, que denunciam a forma aguda, jamais tenhamexistido sobre o paciente.

Também, nem sempre será a delongada persistên-cia da moléstia, que a levará ao estado ch.ronico e nãosão poucos os casos, em que se tem observado a suamanutenção em acuidade por muitos mezes.

Portanto, o tempo, a menor intensidade de colo-ração do corrimento, a diminuição da sua quantidade,não constituem por si sós elementos sufficientes paraclassificar-se como chronica a infecção.

Ao lado destes signaes, a possibilidade das micçõese das erecções tornarem-se indolentes, faz o conjunctonecessário, segundo GUYON, para estabelecer-se juizosobre a chronicidade do mal.

Abandonando as partes superficiaes, aprofun-

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dando-se nas camadas diversas das mucosas, ondeprimitivamente estabeleceu a infecção, o gonococcopassa a viver em taes sitios, num estado de latencia,que quasi o torna despercebido.

Varias causas facilitam-lhe esta marcha através dostecidos e são ellas dependentes de condicções locaes, defaltas hygienicas, dos estados constitucionaes, de des-cuidos ou erros nos methodos therapeuticos.

Como causas locaes, citam-se desde a fragilidadedas mucosas atacadas ou a presença nellas de lesõesanteriores, que bem poderiam ter sido blenorrhagicas,até malformações anatómicas, como a hypospadia e oestreitamento do meato.

As faltas hygienicas resultam do pouco asseio, doabuso de bebidas alcoólicas ou da pratica de actosvenereos durante a moléstia, e os descuidos therapeu-ticos ou os erros veem do deleixo nos methodos demedicação ou do uso de remedios contraindicados oupelo menos inactivos ou prejudiciaes nesta ou naquellaphase da moléstia.

A debilidade organica, os estados cacheticos, afadiga, emfim, as grandes causas depressoras do orga-nismo, que a tudo predispõem, que a todos os germensfavorecem o poder morbigenico, certamente não pode-riam deixar de offerecer melhor campo ao gonococco doque os organismos de completa integridade physiologica.

Assim constituída, a blenorrhéa denuncia-se muitasvezes, no homem, por uma simples gotta, que pelamanhã liga os bordos do meato ou visivel depois da

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expressão da urethra; na mulher por ligeiros corri-mentos, facilmente confundiveis a perdas brancas.

Assemelhando-se então, a um incommodo muitosimples, vae em silencio devastando o organismo, pro-pagando-se aos orgãos mais visinhos ou então ganhandoa torrente circulatória ou avia lymphatica, assestar-seem departamentos outros do nosso corpo.

No homem, a blenorrhéa complica-se commum-mente de prostatite e de cystite, podendo haver propa-gação do virus e ir até os testículos ou os rins.

Na mulher, além da possivel nephrite blenorrhagica,ainda pode a moléstia estender-se desde a vagina aoutero e dahi ás trompas e aos ovários, donde pode pas-sar ao peritoneo.

Antigamente, estes factos eram ignorados e quandoapós certos casamentos, surgiam perturbações de talordem, attribuia-se-lhes como origem os excessos dasprimeiras intimidades exponsaes, as fadigas da viagemde núpcias, nos paizes onde este habito era usado ecomo ainda em muitos se mantém.

E foi NCEGGERATH, lutando embora contra a incre-dulidade de eminentes scientistas, quem destruiu estashypothesese creou novas interpretações para explicar-semelhor e mais scientificamente taes phenomenos.

As suas conclusões modificaram os erroneos con-ceitos, que então reinavam no campo scientifico e vul-garisou-se, um pouco, o conhecimento do perigo dablenorrhéa, especialmente para a mulher, em quem setorna ella, mais temível que a syphilis, na sabia affirma-ção de innumeros autores e em quem provoca a esteri-

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lidade e intervenções cirúrgicas, que nem sempre seacompanham de felizes resultados.

Já não é mais tempo de julgar-se das moléstias, sópela exageração dos seus symptomas e bem patentedeve ter-se a idéa das infecções lentas, que sò muitotardiamente se declaram.

Tal succede a blenorrhéa, que muitas vezes porlongos annos entretida, sem o menor dos accidentes,vae depois demonstrar o seu perigo,'originando, emcertos casos, affecções mortaes, como são as meningites,como são emfim as gonococcohemias.

Deveria, pois, ser sempre objecto de attenciosoestudo estes corrimentos de apparencia banal, aosquaes, em geral, não seattribue grande importância.

Se para a blenorrhagia aguda, é importante a ques-tão do diagnostico, ella ainda o é mais para a formachronica.

As difficuldades, que o cercam, são ás vezes muitograndes, conforme procuramos salientar no primeirocapitulo deste modesto trabalho e deixar bem provado,que só o microscopio, pode resolver o problema comsegurança.

Aqui, as observações se devem dirigir, não somenteaos exsudatos, mais a todos os outros meios, que comoos filamentos, por exemplo, podem conter o gonococco,apezar da sua raridade em similhante phase.

E é até medida aconselhada nestes casos, parafacilitar o diagnostico, provocar a acuidade, despertandoa virulência do microbio, por causas multipias, querdirectamente ás custas de irritações locaes, quer indire-

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ctamente, graças a outros meios, que exacerbam o mal,como para exemplificar, podemos distinguir o uso debebidas alcoólicas, como principal.

Algumas vezes o semeamento de elementos sus-peitos, nos meios de cultura mais favoráveis ao gono-cocco, muito pode adiantar ao diagnostico.

Emfim, sem mais querermos insistir sobre os diffe-rentes processos, que podem trazer resultados para aelucidação da moléstia, desejamos comtudo, affirmarainda a necessidade de sempre precisar-se rigorosa-mente a natureza das affecções, suspeitas de origemgonococcica.

E além das muitas causas medico-sociaes, quetemos procurado trazer em apoio de tal necessidade,bem poderiamos salientar a magnanimidade do assumpto,quando ligando-se ás questões do matrimonio.

A blenorrhéa, quer para o homem, quer para amulher, apresenta, como principaes propriedades, poderexacerbar-se, produzir complicações e recrudescer nopoder contagionante, como bem discute JULLIEN.

A uma scentelha, que se conserva e pode reatearo incêndio, compara elle a blenorrhéa.

São as inobservâncias das regras hygienicas, asalterações do regimen diethetico e therapeutico, que afazem recrudescer e são bem frequentes os casosemque, por ter, durante muito tempo, passado ignora-da, se considere as suas recrudescências como effeitosde novos contágios.

Vem dahi o desanimo, o pessimismo, com quemuitos se accusam de má sorte e tristemente se lasti-

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mam de a cada approximação sexual, lhes appareceruma blenorrhagia.

A concumitancia de affecções outras, locaes ougeraes, sem grande reacção febril, entretanto, podemtambém despertal-a.

De grande valor são certas causas psychicas emtaes casos, como a recordação de prazeres venereos,pensamentos lascivos etc., nos indivíduos voluptuosos.

E na mulher, a própria menstruação, dando-seaindamesmo, de modo essencialmente physiologico, despertaa moléstia pelas congestões, que provoca nas partesgenitaes.

Resumindo, emfim, todas as causas irritantes, con-tribuem á reactivação da blenorrhéa.

A quantos tecidos e orgãos, quer no homem, querna mulher, pode estender-se a blenorrhagia aguda egerar complicações, também pode ir a forma chronica,produzindo idênticos resultados.

Tanto gera no homem a prostatite, como provocana mulher a endometrite, tanto origina a orchite ou aovarite, como pode causar as cystites, as nephrites eas septicemias.

E depois d’estas ligeiras referencias aos extremosdas complicações da blenorrhéa, passemos a apreciar oseu poder de transmissibilidade.

Mesmo afóra as causas que a fazem exacerbar-see voltar a acuidade é extraordinariamente contagiosaa blenorrhéa.

Contamina facilmente um ou outro sexo e o con-tagio, tanto pode ser directo como indirecto, sendo que

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este é immensamente mais frequente do que pensam ovulgo e os médicos pouco instruídos.

Seria então, para concluir-se, attendendo-se a taespropriedades, ser a blenorrhagia chronica, mais perigosaainda que a aguda, pois que além de uma therapeuticadifficil, é tão contagiosa e tão temivel nas suas com-plicações, como a primeira, tendo sobre ella a vantagemde occultar-se sobre as apparencias de um mal benigno.

E demais será, talvez, juntar a isto, phrases, quetendama demonstrar a elevada importância do assumptoe a necessidade imprescendivel de se estudal-a meti-culosamente, maxime quando a elle se ligam as deli-cadas questões do matrimonio, que tanto interessam áhygiene social.

Esterilidade

Em ambos os sexos pode observar-se a esterilidadede origem gonococcica.

Destroe a prole pelos seus dous elementos gera-dores, aniquila a familia, invalidando os esposos, ames-quinha a sociedade, dissipando-lhe as esperanças denovas auras, roubando-lhe o direito de progredir com asgerações vindouras.

Supprime, pois, o principal fim do casamento e deum grande bem geral, transforma-o n’um simples actode egoismo.

E jamais estes casaes de blenorrhagicos verão nos, seus lares desolados, os filhos, fonte da sua maior

felicidade, que divinisam o matrimonio e engrandecemas esperanças de um povo.

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Confinar-se-ão n’um affecto mutuo, verão morrercomsigo toda esta amisade, que os manteve unidos ese extinguirão sem deixar um herdeiro ou continuadorda existência.

Comparativamente encarada, quer no homem, querna mulher, pode a esterilidade manifestar-se por causasindirectas e directas, que estudaremos no continuardeste capitulo.

Justificamos taes qualificativos, attendendo aos pro-cessos pelos quaes ella se manifesta, já por pheno-menos mechanicos, que impedem no homem ou namulher o encontro das cellulas fecundantes ou pelasdifficuldades creadas ao desenvolvimento do ovulofecundado, no seio já pela destruição das pró-prias glandulas sexuaes, alterando-as ou destruindo-as,determinando a azoospermia ou suprimindo a ovo-genese.

Algumas vezes, a esterilidade não é logo de prin-cipio e vem a succeder o nascimento do primeiro etalvez unico filho, graças a facilidade, que após o partoencontra o gonococco de poder introduzir-se no utero edahi caminhar até as trompas e ovários, acabando porprovocar em todo seu trajecto a apparição de processosinflammatorios ou destruidores.

Em testemunho disso, veem as muitas observaçõesde casaes, cuja descendencia limitou-se a um filho unico,nos quaes as esposas foram continuamente attingidasde affecções genitaes, como vaginites, metrites, salpin-gites, etc e os maridos trazem na sua historia mórbida

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as reminiscências da blenorrhagia, que foi insufficiente-mente tratada ou mesmo se não curou.

Deixada á margem a etiologia longínqua da este-rilidade blenorrhagica, que aqui não discutiremos, pornoutros pontos já nos termos referido a seu respeito,desde logo começamos a encarar as causas, que se nosdeparam para explical-a uma vez estabelecida.

Assim vejamos as causas indirectas:

NO HOMEM—Como primeira, citemos a impo-tência, resultante, como quer a maioria dos autores, daprostatite ou como ainda pensam outros, de lesões testi-culares, apezar da possibilidade por muitos admittida.de erecções independentes das funcções do testículo,uma vez que não se trate da ausência congénita doorgão ou dos seus attributos.

A existência da impotência, seria talvez desneces-sário dizer, implica na impossibilidade da copula, semcopula é difficil a fecundação e sem fecundação nãoha prole.

Para que o spermatozoide attinja o ovulo é misterque a secrecção spermatica esteja em contacto com oorifício do collo uterino, para dahi, na cavidade desteorgão, seguir em demanda do ovulo e tal circumstanciasó occorre quando a ejaculação se executa com certaintensidade.

Nos casos de estreitamentos de origem blenorrha-gica, quer se trate do estreitamento estricto ou da varie-dade larga, não mais se pode preencher a alludidacondição, porque, na primeira forma, a diminuição do

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calibre da urethra não permitte desembaraçadamente aejaculação e na segunda, a falta da elasticidade de suasparedes não auxilia a evacuação do sperma.

Além destas causas, que reputamos como princi-paes, ainda se poderia citar as deferentites, as spermato-cystites etc.

NA MULHER —As estenoses e a obliteração docollo do utero oppõem-se a penetração do liquido sper-matico na cavidade uterina e assim aniquilam a hypo-these da união das cellulas vitaes e consequentementea fecundidade.

As alterações do epithelio das mucosas do utero edas trompas, extraordinariamente difficultam a migraçãodos elementos fecundantes, que em taes casos exce-pcionalmente se encontrarão.

Os desvios do ovário, produzidos pela ovaritegonococcica, impossibilitam a queda dos ovulos nasfimbrias tubarias, furtando estes elementos ao encontroda cellula masculina, destruindo os meios de geração eestabelecendo a esterilidade.

Portam-se de modo idêntico as alterações relacionaes destes dous orgãos, que succedem a pelvi-perito-nite blenorrhagica.

Mas, entretanto, pode dar-se a fusão da cellulamasculina e da feminina e os phenomenos, que logo aella se succedem, serem interrompidos pelas difficulda-des, que encontram em executal-os, graças a má con-dibção do meio, como succede nos casos de alterações damucosa do endometrio.

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Resumidamente, assim apreciadas as causas indi-rectas da esterilidade, occupemos-nos das directas, maisimportantes e mais graves, talvez.

NO HOMEM—A complicação testicular, acompa-nhando-se de uma neoformação de origem conjunctivaou de destruição dos proprios elementos cellulares dotestículo, pode trazer como consequência, profundasalterações ao funccionamento do orgão.

Lesada então forçosamente a spermatogenese, esta-belece-se a azoospermia.

E não pára ahi só a destruição testicular, quemuitas vezes se termina pela necrose da glandula.

NA MULHER —Sob a acção do gonococco o ováriotorna-se sédede um intenso processo inflammatorio, quetanto mais grave se torna quanto mais reforçada é avirulência do microbio pelas infecções visinhas, comoas salpingites e as pelvi-peritonites, que muito habi-tualmente o acompanham ou precedem,

O processo, estendendo-se a toda glandula, desde oseu stroma ao proprio parenchyma, provoca pheno-menos irritativos, que podem despertar uma prolife-ração conjunctiva ou suscitar a destruição das cellulasovarianas.

Na primeira hypothese, a neoformação invade aglandula e destroe as cellulas próprias á funcção daovogenese e na segunda, a mortificação logo inicialdestes elementos, attinge a idêntico fim e estabelece-se

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por tal modo a esterilidade feminina de causa directa ede origem blenorrhagica.

E eis como a blenorrhagia aniquila a geração ecomo hygienica e socialmente constitue-se uma grandecausa, quepode impossibilitar o casamento, muitas vezes.

Aborto

Quando ainda não estabelecida a esterilidade, con-seguem-se juntar as cellulas fecundantes e iniciando agerminação começam a elaborar um novo ser, nem porisso é garantida a prole, que ainda poderá ser aniqui-lada pelo microbio de Neisser.

Se a syphilis é poderosa origem do aborto não oé menos a blenorrhagia, afíirma SCENGER.

E la vêm em apoio disso, as fúnebres estatísticasde FRUHINSHOLZ ede Nceggerath.

Ou porque a fecundação intercorra durante umablenorrhagia ou porque venha a blenorrhagia depoisdelia, sempre é explicável e possível a hypothese deque directamente por si, possa o gonococco occasionaro aborto, agindo sobre os annexos fetaes.

E se germens outros da mesma natureza, como ostreptococco, o staphilococco, etc, podem conseguir apenetração na placenta, nada ha que exclua tal poder aogonococco, tanto mais quanto furtando-se á resistênciadefensiva da rôlha mucosa do collo uterino, pode mar-char sob oepithelio, fazendo então livre trajectoria desdea vagina até ao endometrio.

Lá chegado, para attingir a caduca resta apenas

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muito pouco e o gonococco passa a occupal-a não tar-dando em provocar lesões deciduaes e placentarias eaté mesmo o descollamento da placenta. Estendendo ásmembranas sua acção, também pode produzir a rupturaprecoce do sacco.

Praticamente tudo isto tem sido demonstrado eFABRE, WlNCKEL DRAGH1ESCU e alguns outros, conse-guiram evidenciar o gonococco nos detrictos placen-tarios.

Depois do aborto, depois de ter sacrificado o maisbello producto do amor conjugal, inicia as complicaçõespuerperaes e augmenta-as, despertando a virulência demicrobios, que até então ahi se achavam gozando apenasde uma mera existência saprophytica.

Pode, portanto, o gonococco depois de ter roubadoa vida ao feto, levar á morte a sua genitora, se nosquizermos lembrar da alta gravidade, que encerram ascomplicações do puerperio.

*

* *

E se taes razões já não fossem bastantes para consi-derar-se como extremamente temíveis, não só as com-plicações conjugaes, como ás concernentes á prole,muitas outras ainda seria possível citar, geradas pelablenorrhéa.

Assim, as localisões submucosas do microbio,ondeos antisepticos não o podem attingir e a cura torna-sede mais a mais difficil e que lhe permittem augmentara

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virulência, todas as vezes que tal lhe facilitam, as causasirritantes.

Occupando as camadas profundas da urethra, ador-mece nos periodos de acalmia, para despertar á pri-meira imprudência, que lhe fará de novo repullular ásuperficie dotado até, algumas vezes, de maior gráo devirulência.

Continuando, noutros casos, a sua travessia, ganhaos corpos cavernosos, dando origem a pennites e vem ácamada sub-cutanea para formar abcessos pennianos.

Disto pode resultar a retracção dos corpos caver-nosos, os desvios do orgão e embaraços bem sérios assuas funcções, entre ellas ao erotismo.

A facilidade com que o microbio se desenvolve e setransmitte, tal como se fosse semeado em novo meio,rico e até então inhabitado e onde as fontes a aurir asubsistência, são pródigas em offerecer-lhe as melho-res condições .vitaes.

As toxinas ainda não inpregnaram o meio e podeo germen segregal-as sem reservas e bem longe doperigo de ser victima dos seus proprios productos.

A pertinácia com que se localisa em certos pontos;na mulher, por exemplo, nas glandulas de BARTHOLIN,onde a menor irritação o desperta. JULLIEN cita o casode uma mulher em quem por varias vezes interviu paraa cura de bartholinites, que quasi se succediam a cadacopula.

As perturbações nervosas, que se apresentam desdeas nevrites ás psychopathias, que notavelmente influ-em sobre a cohabitação e a descendencia.

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Para que a vida sexual tenha plena satisfação eresultados fecundos, não basta a integridade anatómicae plysiologica dos orgãos sexuaes, faz-se mistér asanidade psychica.

A influencia do cerebro sobre os phenomenos geni-taes, é facto indiscutível e commummente observadonas alterações que nelles se passam após certos factosmoraes.

A depressão moral, que causa a blenorrhéa, aneurasthenia e emfim esta syndrome psychopatica decertos blenorrhagicos chronicos, podem infelicitar umaunião e prejudicar a descendencia.

Explicam-n’as uns allegando as congestões prosta-ticas, cujos effeitos se refletem sobre o systhema ner-voso, e as attribuem outros a predisposições nervosas.

Mas, não é só isto que produz a blenorrhéa quandose propaga até tão delicado systhema.

Os phenomenos de vaginismo, que substituem asensualidade pela dor e que resultam de causas múlti-plas, folliculites para-urethraes, como querem CHARRIERe DEBOUT, de bartholinites como pensa SCANZONI, daneoformação conjunctiva peri-vaginal como explicaGAILLARD ou então de simples erosões do collo uterinocomo acha possível TRELAT, são causas impedientes acopula e que a transformam em doloroso martyrio.

Evitam-se ou mesmo excluem-se, em taes circumns-tancias, as approximações sexuaes, por tal modo éintenso o sofrimento.

Ganhando a medulla, não muito raro attinge neste

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orgão o centro da erecção e a myelite gonococcica,neste caso é origem da impotência, cujos commentarios,já fizemos, relativamente ao matrimonio e a geração.

E em ligeiros traços, embora, tendo procuradosalientar as mais frequentes e as mais graves das com-plicações da blenorrhéa, quanto ao modo pelo qualencaramos a moléstia, suppomos ter esclarecido o seuperigo e a sua influencia funestissima para o casamen-to e para a prole.

CAPITULO III

PROPHYLAXIA MATRIMONIAL

FJpreciações geraes sobre sua importância e especiaí-mente no Paiz, seus

conceitos quanto a bfenorrhagia

OMPÔE SE a nossa vida social de tão elevados eextensos deveres, que sobre ella reflectindo gerações

inteiras de sábios e philosophos, talvez os não tivessemainda precisado de um modo bem lúcido e concordante.

Educando-se os povos á modernisação progressivados costumes, ensinando-se-lhes' a aurir as vantagensdulcíssimas da civilização nem sempre se tem resolvidoo problema difficil da felicidade humana.

O homem, uma eterna creação do meio, amolda-se-lhe inteiramente, ás mais das vezes, maxime quando,nelle não se encontram bem esparsos os princípios damoral e da educação, vexatórios para os espiritos cor-rompidos pela maledicência de tempos precedentes.

Apto a acompanhar a evolução dos génios, nestas

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concepções admiráveis, que se reflectem nas grandesidéas, quantas vezes também se não deixa seduzir pelaillusoria possibilidade de uma vida sem falhas, de umarealisação completa dos nossos sonhos chimericos dosmomentos de optimismo.

Quanto mais se espalham as verdades da SCIENCIA,já nas irradiações luminosas dos sábios, emanadassobre nós por suas descobertas, estudos pacientes paraa clarividência dos factos, já na vulgarisação de prin-cípios concebidos, tanto mais deveria a nossa almaadaptar-se a comprehensão delicada destes enlevos edas fraquezas de que é susceptivel a nossa especie.

E se difficilima a tarefa de educar-se os povos, masnão impossível, quanto entretanto não lhe augmentamas difficuldades, aquelles que magoados por ingratidõesou sorridentes pelas doçuras d’uma existência feliz, jul-gam da humanidade só por suas impressões pessoaes,afastando-se da verdade dos factos da vida do con-juncto.

E assim espalhadas as idéas optimistas e pessi-mistas, por entre elogios e qualificativos da bondade epor meio de phrases despeitadas que declamam aepopéa do mal, congregam-se-lhe em torno, centenas desectários que a ellas se apegam como a decretos immuta-veis e tornam-se obsecados á visãodistincta da realidade.

Os esforçados, que em todas as épocas, cogitandodo bem dos homens, foram desprezados ou repellidos,muito mais se deveriam revoltar contra estes pretençoseducadores, que a espalhar idéas falsas, incutiram estenegativismo formal, que tanto difficulta a propagação do

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bem, que contra os ignorantes que lhes não comprehen-deram.

A descrença nos recursos da SCIENCIA, a eterna du-vida de que cada vez mais nos possamos approximarda perfectibilidade, são decerto os factores contra osquaes entreterá a maior luta, quem pretender na divul-gação de meios educativos ou melhoradores.

Estes elementos, productos exclusivos do pessi-mismo, consomem o tempo em debatidas inúteis atéque tragam o desanimo, que fará succumbir as idéasdaquelles a quem faltar uma tenacidade hercúlea.

O optimismo, por caminhos diversos, por meios di-fferentes nos conduz ao mesmo fim.

Convencer-se um povo, ás vezes despresado, aquem falta os indispensáveis elementos á vida de umser, de que se encontra fóra da orbita da miséria, queos seus soffrimentos podem ser transformados em pra-zeres sem os recursos da revolta e sim com os sacrifí-cios da resignação, é perpetuar-lhe a desventura e cer-rar-lhe larga venda, que jamais lhe permittirá orientar-seentre as amontodas desgraças, que o cercam.

Taes razões, justificariam as transformações do serhumano no desvio de certas funcções naturaes, comoas da vida sexual, explicariam a sua decadência e bempatenteadas diffundiriam melhor o interesse, que se im-põe ao homem de profundamente conhecer-se sem asmais leves illusões.

** *

N’um estudo comparativo geral entre a plysiolo-

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gia humana e a dos animaes, muitos capitulos attesta-riam as corrupções da nossa especie, oriunda em muitoscasos, de injustificáveis opposições á natureza.

Para garantia da superioridade humana é misterque as expansões do talento ao envez do arraigado in-tento a novas criações se manifeste também na interpre-tação dos preceitos naturaes.

Quando os sentimentos puros da inclinação dossexos despontam e se patenteiam no complexo de phe-nomenos psychicos, que constituem o amor, entrevê-seo casamento, o supremo liame, que unirá os apaixonadoscorações, que se confundirão nos doirados sonhos doidéal.

Não tarda que o amor dos esposos prolongue-seaos filhos, symbolo material, que deveriam sempre serda união sincera de bem comprehendidos corações.

Quanto timidas e ainda creaturinhas innocentes res-ponsabilisam-se por nós os nossos paes, quando jovense na adolescência, comprehendendo a relevância daeducação, que nos ministraram paes e mestres, come-çamos a responsabilisarmos-nos por nós mesmos, atésentir mais tarde as doçuras supremas de sermos res-ponsáveis por estes anjinhos, que serão os nossosfilhos.

Mas, não será somente o interesse paterno umegoismo do homem, será muito antes um grande devercivico para com todos nós, que em breve receberemosem nosso meio mais este ser, que se ha de comnoscopromiscluir, para a solução dos problemas bem difficul-tosos da existência.

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Desde que o homem sentiu-se civilizado, que sem-pre mereceu de si dedicada attenção as novas gerações,que lhe deveriam substituir.

E’ bem verdade que antigamente os homens castigavam muito e educavam pouco, procurando debellareffeitos sem conhecer causas.

Assim é, que em Sparta, os frágeis ou defeituososmorriam logo após ao nascimento, se bem que as vistas,que tanto se voltavam para a prole, se não dirigissemtambém a procura das causas que a originavam de-feituosa ou irresistente.

Dos attributos da humanidade, é de certo um dosmais nobres o da reproducção.

toda serie animal e vegetal, ella se manifestaprotegida e acariciada por disposições physiologicas,que todas tendem a assegurar-lhe a facilidade de exe-cução.

Nos animaes superiores, cercam-se as funcçõesreproductoras d’um conjuncto de sensações, que nohomem, principalmente, transformam-se em valiososexcitantes, que o induzem ao cumprimento delias.

Assim, nasceu a paixão, assim gerou-se o amorentre o homem e a mulher, elementos que outros finsnão têm senão dulcificar a intimidade sexual e salientara grandeza da funcção reproductora.

Macho e femea compartilham para a procreação,contribuem a ella com as suas energias vitaes, masserá o macho, o predestinado, aquelle a quem fez a na-tureza depositário dos seus sublimes desígnios.

Nos animaes inferiores, em muitos delles, após os

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phenomenos da copula, satisfeita a necessidade da fe-cundação, succumbe o macho, parecendo ter assimattingido o termino dos seus destinos.

Assegurado em extremo ao homem o direito dareproducção, pelo numero extraordinário e a admiravelresistência vital de suas cellulas fecundantes, será elle omais poderoso agente da procreação, avantajando-seá mulher, para a qual são bem menores as garantias*que todas se restringem á secrecção mensal de umasó cellula, o ovulo.

Princípios estes, concebidos e admiravelmente in-terpretados por povos, que ha muito nos precederam navida terrestre e que reconhecendo a indispensabilidadedo homem ao augmento da especie, permittiam-lhe quese unisse a mais de uma mulher, já para corrigir pri-meiras ligações estereis ou mesmo para accrescer onumero de seus filhos, multiplicando assim a geraçãohumana.

Não muito antigamente, em alguns paizes, dizNYSTORN, que a importância aos filhos vae a tal ponto,que na hypothese de dúplice união, si da primeira nãoresultaram filhos, os da segunda são como tal conside-rados pela primeira mulher, a quem assiste direitos edeveres de maternidade.

E não é, entretanto, que queiramos, como poderiaparecer, proclamar a polygamia na actualidade, se bemque não deixemos de reconhecer-lhe as virtudes naalludida epoca, mas, apenas a trouxemos a baila denossos estudos, para tornar bem frisante a importânciada sanidade da prole, que em nossos dias se confunde

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com a do matrimonio, justamente por ser elle a maisnobre origem delia, particularmente nos paizes civi-lisados.

Indiscutível será, que muito raramente, é somente odesejo de reproducção, que leva o homem á procura damulher, e sim muito mais a necessidade de satisfazer osseus sentimentos intimos.

E’ somente a idéa do prazer e do goso, que o levaá copula, o que felizmente, mesmo assim, éum poderosomeio de progressão da raça, mas, é lastimável quedepois de ter transformado estas funcções, quasi queexclusivamente em deleite, tenha desprezado ou esque-cido o objecto a que ellas se destinam e delle nãocuidem com carinho e desvello.

Em outros animaes, em que as approximações sãoraras, periódicas, suscitadas por causas, que só em talepoca se manifestam e com este unico intuito, veemdelias, quasi sempre, resultados fecundantes.

No homem, onde estas ligações são o mais possívelrepetidas e em geral só se deteem algumas vezes emcertas épocas, como as menstruaes, por um feliz pre-ceito hygienico, como reconhece HERICOURT, contrarioao que se passa nos animaes outros, os quaes só poroccasião do cio estabelecem a intimidade sexual, nemsempre a fecundação as acompanha, ainda mesmo ha-vendo certos requisitos, que pareciam tornal-a inevi-tável.

Cuidar de taes assumptos, procurar desvendar-lhesclaramente a origem, taes os fins a que se destina prin-cipalmente a prophylaxia matrimonial.

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Porque os cuidados recíprocos dos cônjuges, emgrande parte se confundem com os preceitos geraes daprophylaxia individual, apenas agravando-se nelles asprohabilidades do contagio, em consequência á coha-bitação.

Não obstante, nem por isso desmerece a sua ele-vadíssima importância e é bem justificável sempre, ointeresse extraordinário tributado pela SCIENCIA ao seuestudo.

Mas, os filhos, que nos hão de continuar, deveriamsempre ser creaturas sãs de corpo e de espirito e ca-pazes de, comprehendendo as nossas intenções, muitasvezes melhoral-as ou corrigil-as.

Para o homem, uma vez no seu espirito bem arrai-gado este principio, deverá pensar no elemento indis-pensável que lhe é a esposa, para a realização de tãoelevados misteres e delia exigir as qualidades puras deseu corpo e de sua alma, que juntas aos esforços, resul-tantes de suas convicções, vivificarão seu idéal, namimosa creaturinha, para quem se voltarão todas assuas attenções e que será o objecto desta adoraçãosuprema, que desperta um filho.

Para a mulher, será tudo isto, junto á comprehensãodos abnegados sentimentos do amor de mãe.

A pureza das almas, dos seres que se amam, quealmejam unir-se num interminável idylio de esposos,teem cantado poetas e romancistas, em todas as épocas,

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resaltando sempre a importância da sanidade destescorações.

Da saúde do corpo, teem-se occupado médicos ehygienistas, já velando pelos interesses do casal, jápensando nos perigos de uma prole degenerada e mes-quinha, se são seus paes susceptiveis de lhe ofíerecerema desgraçada herança de um mal, que lhes faça vir aomundo fracos ou doentes.

E, se causa dó uma prole degenerada e sem força,causa-nos terror que doscasaesjá não resultem filhos,faz-nos tremer a esterilidade.

E estes perigos, sempre atemorisaram o civilizado,nunca lhe deixaram duvidas um só momento, sobreo valor social que encerra o acto do matrimonio.

Entre todos os povos, barbaros e instruídos, semprehouve leis que o protegesse, fosse qual fosse a suaforma, ceremonias que o solemnisassem, e sempre nellese encarou com as vistas conscienciosas da reflexão afonte nobre da prole.

E se delia não é a unica origem, parece indubitável,que realizado em suas normas, constitua a mais per-feita.

E mesmo admittindo-se que as crianças que veemao mundo de ligações illegitimas, como entre nós acon-tece, preponderem sobre os filhos de casal, ainda assim,as vantagens do casamento se demonstrariam pelasmaiores garantias á existência, de que dispõem estesúltimos, aos quaes se dirigem as vistas de dois entes,que lhe velam, de constante.

Um dos elementos básicos, que sempre consti-

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tuiu para a sociedade, o casamento, nelle se entreviucontinuamente com esperançosa ancia, as gerações vin-douras, capazes de corrigir as faltas de uma epoca,continuar o progresso, melhorar os costumes, trazernovas idéas.

Quando alquebrados pela velhice, desilludidos pelasfraquezas dos nossos similhantes, cançados de uma lutacontinua e muitas vezes sem um unico momento de vi-ctoria, é para a mocidade que volvemos nossos últimosolhares, entregando-lhe a obra de correcção, confiadosno seu vigor e na pureza de suas intenções.

Todos estes factos, alliados ainda a muitos outros,de um grande valor social, taes como sejam oaugmentoda amisade conjugal, o maior incentivo ao trabalho,para assegurar o futuro da familia, cada vez tnais,induziram as leis á protecção do casamento.

Attendendo ás regalias e aos conceitos, que deviamusufruir os cônjuges, estabeleceram-se leis ditando-lhesdeveres e direitos, regulamentando-lhes a fortuna, esta-belecendo-ihes a herança, mas sempre melhor agra-ciando os casaes, que se multiplicam pelos filhos.

Muitas religiões apregoando a castidade, conside-rando-a como suprema virtude, mesmo assim não pu-deram deixar de abençoar o casamento e de santificar amaternidade.

Harmonizam-se, pois, todos os elementos sociaes eprocuram proteger a união dos sexos.

Modernamente, as leis do casamento procuram emprimeiro logar assegurar a saúde e a vida dos cônjugese dos futuros filhos e só então em seguida garantir-

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lhes direitos outros, taes como os de posição e defortuna.

E assim é que cogitam de particularíssimas condi-ções, relativas sobre taes pontos, como veremos naapreciação da nossa lei.

Entre os seus artigos, ha um, exclusivamente dedi-cado a tal fim, no qual se patenteiam as insinuaçõesque desejariam fazer nossos legisladores, aquelles quese recebem em casamento, e, procurando salientar assuas responsabilidades reciprocas e os seus deverespara com os filhos, estabelece valorosos preceitos.

Vejamos e ana!ysemol-o detalhadamente.Art. 20 daLei do Casamento Civil, promulgada pelo

decreto n. 181, de 24 de Janeiro de 1890.Os pais, tutores ou curadores de menores ou in-

terdictos, poderão exigir do noivo ou da noiva de seufilho, pupillo ou curatellado, antes de consentir no casa-mento, certidão de vaccina e exame medico, attestandoque não tem lesão que ponha em perigo proximo a suavida, nem soffre de moléstia incurável ou transmissívelpor contagio ou herança.

Nas linhas do presente artigo encerram-se por as-sim dizer, todas as bases de uma prophylaxia verda-deiramente scientifica do matrimonio.

Os direitos offerecidos aos que hão de consentir naunião dos futuros esposos são sobremodo tão comple-tos, que se não poderia trepidar em consideral-os cri-minosos, todas as vezes que os abdicassem, dahi resul-tando desgraças, que seriam evitadas se delles se tives-sem usado.

64Social, na polidez de suas phrases, mais depressa

poderá ser considerado como uma preciosa advertência,do que como um rigoroso principio de lei que o trans-formaria n’um attentado á liberdade.

Vulgarisando a preciosidade dos preceitos pro-phylaticos, mas, afastando a idéa da obrigatoriedade,mais apto se acha a tornar-se de impresumivel utilidade,pois isenta-se das fraudes, que perfidamente lhe po-deria crear a malicia dos que se quizessem furtar á suaimposição.

Prevendo grande numero das probalidades que po-deriam infelicitar o casamento ou tornal-o desastroso,solicita aos cônjuges e á prole, os mais extensos cui-dados para a consolidação da familia.

Entretanto apenas apella para aquelles que hão deproferira palavra de consentimento decisivo, para aquel-les que muito deveriam reflectir antes da solução ultimado importante problema, esquecendo-se talvez, quemuitos delles não se encontram na altura da compre-hensão de tão elevados preceitos.

Dirigir á autoridade social tão grande advertcncia,talvez também fosse improfícuo, attendendo-se ás suasattribuiçôes que não se estendem ao ponto de permittir-lhe discutir tão delicadas questões de hygiene privada.

A todos aquelles que cogitassem do matrimonio oumais claramente a todo homem ea toda mulher que pre-tendesse contrahir os não pequenos compromissos docasamento, ainda mesmo independente do consentimentode quem quer que fosse, deveria egualmente advertir,offerecendo aos proprios noivos estes direitos, que, Se

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afinal não lhe são negados, também não lhe são paten-teados.

A defesa que por acaso poderia levantar-se, expli-cando a necessidade de protecção, aquelles que, não seguiam ainda por sua exclusiva vontade, não seria cabí-vel, porque somente o conselho é fornecido aos seus go-vernantes, que necessariamente terão a razão da maiori-dade tanto quanto os que se exposam com o numero deannos sufficiente, pela lei, para regulamentar seus pró-

prios actos e dirigir suas acções.Mesmo assim, não se desvaloriza, ao menos para

nós, que julgamos o valor das leis pela bem intencio-nada interpretação que se lhes dá.

A sua primeira parte, dedicada a protecção conju-gal, tenta evitar a variola, amais grave das febres eru-ptivas, e evitando-o as custas da vaccina, diminue asprohabilidades da contaminação da moléstia, não sópara os cônjuges, como para a sociedade, pois quantomaior o numero de sãos, menores os meios de propa-gação para toda e qualquer entidade mórbida infectuosa.

Prevendo as demais moléstias transmissiveis,cuidaassim principalmente dos princípios geraes da prophy-laxia social, mas bem poderia especialisar as molés-tias venereas, de contagio inevitável, nesta vida inti.na *

da cohabita^io.E’ a syphilis, é a blenorrhagia que se deveria

reputar como as mais perigosas, as de mais gravesconsequências, já pelos resultados, que, por si, podemprovocar, já pela latencia em que, por largo tempo,podem perdurar, mascaradas por symptomas ligeiros,

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algumas vezes, quando mesmo occultas se não achamem longínquas dependencias do organismo.

A apparente sanidade, a ausência de causas re-veladoras, que evidenciem a existência de taes males,que em certas condições somente uma narração fielda vida pregressa pode estabelecer a luz, suscita outrastantas difficuldades, que não podem ser previstas pelalei e só delias se podem occupar os meticulosos capí-tulos da Hygiene.

Que importa que se diffundam por todos os meiosos conceitos scientificos sobre a blenorrhagia e sobre asyphilis, qne se apregoe incessantemente o horror dainfecção luética, demonstrádo desde as chagas ulce-rosas á monstruosidade deformante dos seus produ-ctos, que se esclareça esforçadamente que a banalidadegonococcica mata o homem e a especie, se a ignorân-cia tem, pelo menos, psychicamente ensurdecido a maiorparte deste povo infeliz?

Adoptar o systhema obrigatorio, crear, como acon-selham alguns, um poder governamental estendendo-seaté á intimidade do lar, refreando os impulsos uo cora-ção humano, destruindo de grosseiro modo as illusões

.e os sonhos do amor, lima vez que a simples opiniãoofficial de um medico dennnciasse a incompatibilidade,talvez nem de longe prevista?

Não; tal maneira, indigna e attentadora á liberdade,jamais conseguiria melhorar a situação desoladora emque marchamos, pois que excepções não faltariam áobediência da lei, e o desprezo á cultura moral, não

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permíttiria comprehender-lhe a utilidade e sim simples-mente reconhecel-a como vexatória imposição.

Que adiantam a povos incultos artigos ou codigos,se nunca serão lidos e se nestes logares servem apenasas leis, como diz um erudito mestre, o DR. FONSECA,de alimento ás traças?

Mas, emquanto se não refrear a ignorância, em-quanto não se puder estabelecer á força da persuasão anecessidade do amor entre os homens e a futura descen-dência, continuará a inutilidade do nosso precioso ar-tigo, que só conseguirá aproveitar aos que excepcio-nalmente reagindo a exiguidade do meio, teem adqui-rido alguma illustração.

** *

Não será, porém, a imaginação isolada de umhomem, a sua unica attenção dedicada aos cuidados,que manteria uma relativa integridade á sua própriasaúde e a de sua futura geração, que poderá servir desustentáculo ou elemento básico a uma prophylaxiabem comprehendida e proveitosa.

E’ mister associarem-se todos os elementos, queconvictos trabalhem sem um instante de duvida econfiem n’uma regeneração, que ha de remediar tãograndes males e que será indubitavelmente conseguidapela diffusão do ensino.

A tuberculose, que dia a dia vae progressivamenteaugmentando em nosso meio o numero de suas vi-ctimas, como demonstram as successivas estatísticasdemographicas destes últimos annos, a syphilis, cuja

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gravidade, embora por meio explorador, até nos recla-mes se discute, o alcoolismo, cujos sinistros effeitos seannunciam por todos os modos, incursos nas previ-sões do artigo, que ora analysamos, não só pela conta-giosidade reciproca dos cônjuges, como pela transmis-são hereditária, são talvez os únicos contra os quaesse levantam algumas precauções.

A devastação aterrorisadora destes males, o cy-nismo com que devastam uma sociedade inteira, mos-trando-se em certas occasiões, por symptomas com-plexos em miséria, irrefutavelmente delles oriundos,traduzem do mais exuberante modo suas propriedadeseminentemente mortíferas.

Mas, a prophylaxia destes elementos será já al-guma coisa de aproveitável, não esquecendo-se, entre-tanto a grandeza de se obedecel-os com escrupulosorigor, quando tão desprezada não se acha a educaçãocivica e os cuidados geraes dá prophylaxia social, quese não restringem a desinfecções destruidoras ou pre-ventivas deste ou daquelle microbio, na eliminação doálcool, e sim vae mais além, cuidando da alimentação,do ar, da luz, das aguas e dos climas.

Ter e procurar augmentar o numero de homensfortes de corpo e de espirito, qualidades que muitolonge de serem antagónicas, admiravelmente se com-binam para assegurar o progresso de uma raça.

Volver os olhos á historia e destruir as illusões,que só encarnam o talento na fragilidade, que o julgamprivilegio de amesquinhados organismos, esquecendo

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que a funcção do cerebro, mais que qualquer outro,necessita de grande vitalidade e resistência.

Receiando os desastres da viuvez, medindo a inten-sidade da desolação a que condemnam os pesadoscrepes que velam o rosto desta mulher, que já não temo valoroso apoio do companheiro de seus dias, adverteainda o artigo a possibilidade de lesões, que perigandoa vida, abreviem o fatal desenlace do casal.

E para o homem, em muito melhores condições deenfrental-a, é extraordinariamente penosa; no caso maissimples, vindo a morte roubar o precioso objecto desuas delicadas affeições, quando a isto não se junta oindescriptivel soffrimento de ouvir no lar deserto ossoluços da orphandade.

Entretanto, verdade seja dita ordinariamente pre-vistos em nosso meio tão lamentáveis accidentes, emmuitas occasiões ou escapam ás previsões por circum-stancias varias, que lhe mascaram a evidencia ou con-cebidos não se procura evital-os, levados por causas asmais diversas, das quaes não deixaremos de commentarpelo menos a mais importante.

A ambição humana, a sede ardente de acumulargrandezas ou o desejo de simples garantias á manuten-ção sem o rigor dos meios do trabalho tem sido apon-tada, muitas vezes na historia, como a causa de muitos ee monstruosos crimes.

Nos paizes retrogados, em que a emancipação damulher é muito mal comprehendida e apenas se a encaracomo uma usurpação aos direitos do homem, esquece-setambém, que, á mulher, podesse ser doadas profissões,

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que lhe assegurem a existência independente do auxiliodelle e muito menos dos recursos da deshonra,

Não é mister mercadejar o corpo ou vendel-o a umsó homem para poder resistir as difficuldades davida e assim excusar-se á miséria, esmagando paixões,olvidando desejos, sufíocando idéas destruindo insi-nuações da própria natureza.

Não; bem se póde, é verdade, muito mais garbosa-mente enfrentar os embates da vida.

Pois bem, afóra os casos de desenfreada paixão,são estes sentimentos que se tornam os factores etiolo-gicos deste crime, que vae não muito raro, consentirem que se una a senilidade mórbida a juventude sadiae formosa embora a felicidade fuja espavorida de juntodestes entes, embora se nullifique a geração, mas, queas riquezas advenham, que se sacie a ambição e sepossa escarnecer da miséria, apezar de envolto no en-lameado manto da deshonradez doirada.

Voltando ainda, a continuação desta ligeira critica,que ora entretemos sobre o referido artigo, apreciaremosagora a hypothese da incurabilidade em que em si in-clue, não só a existência de irremediáveis lesões orgâ-nicas, como também moléstias, que por suas difficul-dades therapeuticas possam em certos períodos torna-rem-se incuráveis.

Entre estas ultimas nenhuma que melhor possaentre ellas collocar-se do que a blenorrhagia, este mal,cuja cura incerta, algumas vezes no periodo agudo équasi impossível na chronicidade.

Em quasi todas as clausulas do artigo se poderia

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adaptal-a, já reconhecendo o seu extremo poder decontagio em qualquer dos seus períodos, já pela possi-bilidade de provocar lesões eminentemente mortaesquando se localisa em pontos como o coração, o sys-thema nervoso, o apparelho renal e serosas importan-tes, como o peritoneo e ainda quanto a descendencia,contaminando os filhos logo ao nascimento, levando-osaté a cegueira ou ainda mais esfacelando a familia peloaborto e a esterilidade de que pode tornar-se causadora.

E entretanto as poucas concepções até hoje creadassobre a sua gravidade, estão muito aquem do que de-veriam ser e mesmo quando esparsas não conseguemattingir os fins a que se destinam, por causas múltiplas,como já temos procurado demonstrar em capitulosoutros deste livro.

Reconhecida a importância da gravidade da syphi-lis, comprehendido o perigo alcoolico, evidenciado opoder maléfico da tuberculose, mais uma vez aindaafíirmamos, são os únicos, talvez, que se procura reco-nhecer na prophylaxia matrimonial emquanto despre-zados se acham muitos outros, que attendendo-se a suaprópria natureza e possíveis desgraças, que poderiamsuscitar, jamais deveriam passar despercibidos, comoacontece principalmente para a infecção gonococcica,que de modo habitual não inspira cuidados.

CAPITULO IV

BLENORRHAGIA E CASAMENTO

Das conòicções em que se òeue consentif-o ou não, nos

casos âe infecção gonocaccica.

jfljUlJ""" R E NI.)EM-SE á MEDICINA os mais sérios proble-

mas da humanidade.A saude e a vida confiam-lhe os homens, de apre-

goara moral e a educação tem muitas vezes lhe en-carregado a sociedade e de sua dedicação muito podedepender o futuro de um povo.

Estudando desvelladamente o homem, desde a anatomía até as mais delicadas questões de sua psycholo-gia, aggrega grande numero de suas instrucções nesteconjuncto admiravel de idéas scientificas, que constituea HYGIENE.

E a HYGIENE, advertindo e aconselhando, occupa-se não só das gerações presentes como das futuras,procurando o mais possível melhorar-lhes as condiçõesda existência.

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E entre os muitos assumptos de que se occupa,como a alimentação, á habitação, as garantias á saúde,é sem duvida um dos de mais importância, a repro-ducção, de grande complexidade no seu estudo, quevae desde o casamento aos proprios descendentes.

Neste capitulo, embora de modo resumido, mastanto quanto permitte o nosso esforço na grande de-dicação, que votamos ao assumpto, pela magna impor-tância, que lhe attribuimes, procuraremos esclarecercertos principios, que bem patentes deveriam ter os mé-

dicos todas as vezes, que tivessem de estabelecer juizonos casos em que ao casamento se antepõe uma ble-norrhagia.

Para deliberar entre o casamento e a blenorrha-gia, necessário se faz conhecer o periodo em que seencontra a moléstia e particularmente a maneira por-que tem evoluído no organismo.

Se localisada ou generalisada, para este ou paraaquelle ponto de maior ou menor gravidade, taes sãoas questões, que primeiramente se deve elucidar paraestabelecer decisões precisas sobre o assumpto.

Portador de blenorrhagia aguda ou chronica, nãotendo ainda sido submettido a tratamento algum oujá havendo sido medicado de modo conveniente ouerrado e nocivo, dotado de educação e de espiritoesclarecido ou alheio a toda idéa do dever, comme-dido ou incontinente, casado, solteiro, sem pretensõesa casamento ou candidato a mudança de estado, civilou militar, pobre ou rico, asseiado e dessasseiado, cada

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doente de blenorrhagia é para o medico conscienciosoum problema distincto e que requer solução adequada.

O poder de produzir infecõão geral, atacando esteou aquelle orgão de elevadas funcções physiologicas,originando moléstias, que se agrupam entre as car-diopathias ou no dominio das nevroses, que requeremcuidados médicos ou intervenções cirúrgicas, leva aindamais alta, a importância da solução do problema.

Todas as razões, que temos procurado trazer comoelementos justificativos dos falsos conceitos sobre amoléstia, altamente perniciosos para a sociedade, emgeral, ainda mais o são para o caso particular do ca-samento e para o qual não muito raro nem o medicoé consultado ou si o é não tem habilitação para bemorientar o doente.

Considerando a blenorrhagia nas suas duas for-mas, a aguda e a chronica, no seu tratamento e pos-sibilidade de cura e em suas complicações, passamosa estudal-a em relação ao casamento nos trez seguintesparagraphos.

Blenorrhagia aguda

Para alguns optimistas, a educação e os conhe-cimentos scientificos, entre nós, são cousas tão disse-minadas, que nada mais banal para elles do que cogi-tar-se de uma questão como esta, a qual tanta impor-tância ligamos.

Se em verdade um pequedo numero de indiví-duos pode comprehender a contagiosidade da blenor-

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rhagia aguda e consequentemente deduzir a possíveltransmissão do mal, muitos haverá que não conheçamestes factos e que portanto sejam carecedores de umaelucidação sobre o assumpto.

E quando o mesmo se dê a primeira hypothese, éjncontestavel que a ignorância sobre os seus perigos,sem querermos falar noutras causas, não impede taesindividuos de propagar indifferentemente a moléstia,tanto mais quanto confiem n’uma cura, vulgarmenteconsiderada das mais fáceis.

E como por uma ou por outra razão não dimi-nuem as funestas consequências, que podem resultarda imprudência de um consorcio, tratando-se da con-taminação de um dos cônjuges, ou de ambos, é dereal interesse esclarecer-se sempre a conducta medicarelativamente a blenorrhagia e o casamento.

Não só no homem como na mulher a existênciada blenorrhagia aguda é uma causa indubitável deinterdicção ao casamento.

Dos muitos motivos que poderiam vir em apoiode tal interdicção, basta citar a transmissibilade exces-siva pelo exercício das funcções genesicas, o que alémdisto, difficulta a cura e facilita as complicações.

E pela possibilidade destes dous últimos factos,mesmo tratando-se da existência da moléstia nos dousnoivos, ainda se torna inconveniente a união, scienti-ficamente falando.

Firmada, então, rigorosamente o diagnostico deblenorrhagia, pelos mais preciosos processos, que jádiscutimos noutro capitulo, é claro que o consenti-

77

mento medico jamais poderá ser dado e a interdicçãoao matrimonio ha de estabelecer-se, provisoriamente,é certo, mas se mantendo comtudo até a data em quea cura se der.

Só quando tenham cessado os corrimentos e des-apparecido os symptomas da moléstia, aguardando-seo tenipo necessário para a verificação da cura e du-rante o qual se deve tentar provas de maior certeza,adequadas a cada caso, como um regimen alimentar

'composto de substancias, que exacerbem a virulênciado gonococco, o uso de bebidas alcoólicas, uma inje-cção de medicamento irritante como o nitrato de prataou o sublimado em dose elevada a 6 ou 10 % e aindaalguns exames microscopicos em busca do germen nomaterial suspeito e que tudo manifeste resultado ne-gativo, poder-se-ha suspender a interdicção e consen-tir no consorcio.

Blenorrhagia chronica

E’ crença nos individuos pouco affeitos á lingua-gem medica, que a palavra chronica seja synonimode incurável

, accepção, que como se vê, muito se affastado seu verdadeiro significado em terminologia scien-tífica.

De modo que geralmente em se tratando de ble-norrhagia chronica, arraigada a idéa da incurabilidadee além desta a do pouco perigo da moléstia, é frequenteque se não procure as opiniões medicas a seu respeito,ainda mesmo nos casos referentes ao casamento.

78

Discutir a gravidade de tal falta, relembrar as te-míveis consequências, que advirão para punil-a, de-monstrar como é frequente observar-se tão criminosodescuido, seria repetir aqui grande parte do que temosdito paginas adiante.

Se a blenorrhagia aguda é poderosa causa de inter-dicção ao casamento, não o é menos a forma chronica enella ainda ? são de maior responsabilidade as decisõesmedicas, pela incerteza de sua cura.

Figurado o caso da blenorrhéa, devem-se logo di-rigir as observações para o exame microscopico dagotta matinal, exame que varias vezes se deve repetir esempre procurando observar ogonocco ou os leucocytospolynucleares neutrophilos, indices que sempre são daexistência do microbio.

Attenuada ou desapparecida a gotta, merecemainda grande cuidado os filamentos, que ás vezes con-teem o gonococco e que acompanham quasi sempre ássuas localisações prostaticas, ás da urethra posterior ouás cystites.

Emfim, sendo muito raro que se lhes note a pre-sença fora dos casos de moléstia, jamais deixam demerecer particular attenção e constituírem um sympiomaque emquanto não se precisar a etiologia deve impos-sibilitar o casamento.

Na mulher, o exame cuidadoso das mucosidadesvaginaes, deve ser praticado, afim de observar-se a pre-sença do microbio e precisar-se a etiologia de vulvi-tes, vaginites ou metrites chronicas, que por acasoexistam.

79

Negativo o primeiro exame, não segue-se que dahise possa concluir a não existência da moléstia e umaserie delles se deve seguir, indo desde a observaçãomicroscópica aos processos de cultura, até que emfimse evidencie o microbio ou se possa com a maior segu-rança garantir a sua ausência.

Apurada a existência da moléstia, constituirá ellaum impecilho ao casamento; temporário até a epoca dacura, se por um feliz acaso esta se der, e definitivo, sebaldados os meios therapeuticos tem-se chegado a crerna incurabilidade.

Complicações

A blenorrhagia, na sua forma aguda ou chronica,pode muitas vezes, como vimos, ser impecilio, apenastemporário, do casamento, e por muitas de suas com-plicações, entretanto, constitue-se um eterno e indestru-ctivel impecilio, que a luz da sciencia jamais permittiráo consorcio.

Umas, as mais simples, como a vulvite ou a bala-nite, difficultando o matrimonio pelo seu poder conta-gionante, são emfim curáveis e somente o impossibilitampor algum tempo; outras, gravíssimas, fulminantesquasi, taes sãs as peritonites, as meningites, de todoafastam a idéa do casamento, e algumas ha, além destas,que mesmo curadas, deixam no organismo indeleveistraços, reliquats, que se transformam em grandes pade-cimentos e inutilizam não só o homem como a mulher,para as elevadas funcções do matrimonio.

80

Assim é a esterilidade, manifestando-se sobre todasas suas formas, desde a impotência á destruição dasglandulas sexuaes, assim, as endocardites, arthrites enephrites, de cura difficillima, se na verdade não sãoincuráveis.

Sabida, pois, que seja a existência da blenorrhagia,será dever profissional procurar desvendar taes compli-cações e iniciar exames, que sobre ellas informem.

O liquido spermatico será levado ao microscopio ese procurará os spermatozoides, cuja ausência indubi-tavelmente permitte formularr se o diagnostico de este-rilidade, e na mulher a presença de ovarites, metritesou salpingites, dão logar a idêntico juizo.

Conclusão de tal ordem, é claro, que em rigorscientifico deveriam impedir para sempre o casamento,uma vez que o seu fim é a procreação.

Perante a sociedade, entretanto, não se poderialevar tão longe a interdicção e casos particulares haveráem que seja possível consentil-o. Taes, aquelles emque se levantando interesses de honra, por exemplo,é possivel satisfazer as funcções sexuaes, embora existaa esterilidade.

Para as outras complicações procurar-se-ha firmar odiagnostico, se curáveis, ditar-se-ha interdicções tempo-rárias, e se incuráveis ou eminentemente mortaes, seràlavrada a entristecedora sentença de impossibilidadeeterna.

Desde as primeiras linhas de tão simples e des-

81

pretencioso trabalho, que nos temos esforçado por dei-xar bem claro o quanto é grave uma blenorrhagia, dequantos desgostos, desillusões e crimes pode tornar-seoriginaria e agora mesmo acabamos de tirar as ultimasconclusões, tendentes a demonstrar como se torna ellacausa impediente ao casamento e com que severidadescientificamente se deve a julgar.

Não serão, talvez, idéas novas o quanto aquidissemos, mas é também certo que bem poucas vezesse tem juntado estes conhecimentos scientificos, paraencarar a moléstia sob o ponto de vista da HYGIENESocial.

E, muito embora não tenhamos feito mais do quecongregar conhecimentos, que são já de pleno dominioda SC1ENCIA, pensamos que os reunindo e concatenando

.com o fim de chegar à importantíssima conclusão,a quechegamos, não nos limitamos a cumprir somente umdever escolar, mas também cumprimos um dever civico;qual o de esclarecer a sociedade sobre um assumptoque muito lhe interessa e ella geralmente conhece mal,do que são provas os lamentáveis desastres, que quoti-dianamente se observam.

PROPOSIÇÕES

Tres sobre cada uma das cadeiras do curso*

. de sciencias medico-cirurgicas

IF^OIFOSXÇÔES

Anatomia descriptiva

I

A urethra é um canal musculo-membranoso, dotadode curvas e infexões, variando de calibre e apresen-tando nas suas paredes orifícios glandulares.

II

De todas as partes da urethra é a prostatica a queapresenta maior numero de glandulas.

III

A blenorrhagia localisando-se nestas glandulasataca especialmente a próstata.

Anatomia Medico-Cirurgica

I

A blenorrhagia chronica marcha da mucosa paraas camadas profundas da urethra.

II

Nesta marcha, todos os orgãos são invadidos

86

III

Entre estes orgãos a próstata feminina.

Histologia

I

A forma das cellulas epitheliaes está de accordocom as suas funcções e não raro podem apresentar va-riações.

II

A mucosa urethral nos dá exemplos disto.

III

Nas alterações profundas da mucosa, nos casos deblenorrhagia, estas cellulas adquirem a keratina e tor-nam-se analogas ás cellulas corneas da pelle. Os callosda urethra teem muitas vezes esta origem.

Bacteriologia

I

O gonococco, germen responsável pela blenorrha-gia, é um microbio essencialmente aerobio e que resistemuito pouco ao calor.

II

Esta sensibilidade ao calor vae ao ponto de lhe pa-ralysar o desenvolvimento a 39° .

87

III

Por esta razão, quando durante uma blenorrhagiaintercorrerem pyrexias, observa-se a suspensão do cor-rimento.

Anatomia e Physiologia Pathologicas

I

As albuminúrias de origem renal coexistem coma limpidez da urina e uma baixa densidade.

II

As urinas turvas revelando albumina correspondemquasi sempre a lesões das vias urinarias inferiores.

III

Estas albuminúrias, muito propriamente chamadascirúrgicas ou leucocytarias, tiram sua origem, na grandemaioria dos casos, de alterações dos orgãos alcan-çados pela blenorrhagia.

Physiologia

I

O funccionamento normal de um orgão garante-lhe uma maior nutrição e resistência contra os agentesexteriores.

II

O funccionamento moderado do apparelho genital

88é uma garantia para a conservação das funcções e parasua integridade.

III

O excesso de funccionamento, neste particular (co-pula), abre porta ás infecções, verbi-gratia a blenor-rhagia.

Therapeutica

Ii i - ■ ■

Na urethrite gonococcica um dos saes mais em-pregados é o permaganato de potássio.

II

Na u’rethrite chronica, onde é encontrado o mi-crococco fallax, o carbonato acido de sodio dá excel-lentes resultados.

III

A dosagem deste sal para as lavagens é, conformeos casos, de 5 a 8 %0 .

Hygiene

I

E’ de grande interesse a prophylaxia das molés-tias venereas.

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• II

Entre ellas, destacam-se a syphílis e a blenor-rhagia.

III

O melhor meio de prophylaxia destes males éincontestavelmente o casamento.

Medicina Legal e Toxicologia

I

E’ costume nos paizes civilizados o exame medicodos noivos.

II

Resultando de tal exame a conclusão da existên-cia de moléstias contagiosas, mortaes ou transmissívelpor herança, não se deve consentir o casamento.

III

Em taes casos se encontra a blenorrhagia, queembora não se transmittindo por herança, tem tambémacção funesta sobre a prole, porque provoca a este-rilidade e o aborto.

Pathologia Cirúrgica

I

O gonococco pode atacar as articulações e nellasoriginar a arthrite.

90

II

De ordinário, ataca mais de uma articulação, demodo que commummente o que se observa é umapoly-arthrite blenorrhagica.

III

Esta complicação, que nada tem de rara, é muitorebelde a todos os methodos therapeuticos.

Operações e Apparelhos

I

As lesões esclerosantes do canal, que são com-muns na blenorrhagia, resistem ao processo therapeu-tico da dilatação.

II

O mesmo se pode dizer em relação á urethro-tomia.

III

Como processso seguro a empregar, são as exci-sões do callo, em uma palavra, as urethrectomias.

Clinica Cirúrgica (2.a cadeira)

I

Uma das complicações frequentes da urethrite pos-terior é a cystite.

91

II

Esta é devida á propagação do gonococco ao re-servatório urinário.

III

Quando aguda, é uma das complicações maisfacilmente curáveis; cede geralmente aos desinfectantesurinários.

• - #

Clinica Cirúrgica (1.® cadeira)

I

Nas cystites agudas, provenientes de blenorrhagia,devem ser interdictas as lavagens vesicaes.

II

Nestas, vale muito o repouso, especialmente nasformas blenorrhagicas.

III

A urotropina internamente e as congelações da be-xiga externamente dão bons resultados.

Pathologia Medica

I

Os microbios atacando o endocardio, nelle pro-vocam a endocardite.

92

II

Um dos que mais commummente ahi se encontra,produzindo tal lesão, é o gonococco.

IIIA blenorrhagia complicada de accidentes arti-

culares, se acompanha em dois terços dos casos deendocardite, localisada ás mais das vezes no orifícioaortico.

Clinica Propedêutica

I

O melhor processo de diagnostico da blenorrha-gia é o exame microscopico dos elementos suspeitos.

11

No pus das urettrites chronicas encontra-se umoutro germen, que morphologicamente se confunde como gonoccoco; é o raicrococco fallax.

I I IO diagnostico differencial é facil de fazer-se, em-

pregando o methodo de GRAM, que é negativo para oo gonococco e positivo para o fallax.

Clinica Medica (2. a cadeira,)

IA simples cessação do corrimento urethral não

indica cura compteta da blenorrhagia.

93

11

Muitas vezes são unicamente os filamentos daurina, que accusam a existência da affecção.

III

Em alguns casos, pode-se fazer o diagnostico, so-mente pelo exame da secrecção obtida pela massagemda urethra e da próstata.

Clinica Medica (1. a cadeira)

I

A massagem da urethra e da próstata é um dosmeios mais racionaes de tratamento da blenorrhagiachronica.

I I

Salvo casos excepcionaes, a blenorrhagia chronicapode ficar reduzida a — affecção glandular.

I I I

A massagem tem por effeito desembaraçar asglandulas de sua secrecção, arrastando por sua vezos germens, para o exterior.

Matéria medica, Pharmacologia e Arte deformular

1

A copahiba é obtida de varias especies de copa-hiferas da familia das leguminosas.

94

11

Apresenta-se sob a forma de um liquido oleagi-noso, viscaso, de sabor acre e mal tolerado pelo esto-mago, em fortes doses.

IIIE, empregada em MEDICINA para a cura da ble-

norrhagia, debaixo de differentes formas: poções, opiá-ceos, bolos, capsulas e pérolas.

Historia Natural Medica

I

A essencia de therebentina é obtida de quatro es-pecies vegetaes.

II

A mais commum destas especies é a pinus ma-rítima (conifera).

III

Absorvida pelas mucosas respiratória e digestivaelimina-se pelo pulmão e pela urina, aproveitando, porisso, particularmente aos blenorrhagicos.

Chimica Medica

I

O protargol é um albuminato de prata.

9511

Apresenta-se sob a forma de um pó amarellado,pouco solúvel na glycerina e muito solúvel n’agua, aqual lega uma coloração castanho-escura.

IIIO seu alto poder antiseptico e sua pouca toxidez

lhe permittem ser preconisado em todas as formas dablenorrhagia e em differentes gráos de concenteação.

Obstetrícia

IAs lesões gonococcicas dos conductos spermaticos

em alguns casos impedem ou retardam a marcha dosspermatozoides.

I IEste facto não é sem importância sob o ponto de

vista da fecundação.

I I I

Quando a lesão destes duetos éobliterante accarre-ta a degeneração testicular, que tem como resultado aesterilidade (caso por nós observado).

Clinica Obstétrica e Gynecologica

I

A blenorrgagia tanto actua em profundidade comoem superfície.

96

11Na mulher ella tendo inicio na vagina ou na ure-

thra, propaga-se facilmente a todos os departamentosdas vias genitaes externas.

I I IIsto nos explica porque na occasião do parto dá-se

a contaminação dos olhos ou da vulva dos recem-nascidos de mães blenorrhagicas.

Clinica Pediátrica' 1

A blenorrhagia não respeita sexos nem edades.

I I

Por isso se a tem observado em crianças dosdous sexos, devido provavelmente a um contacto inui-recto.

III

Nestas a cura torna-se muito difficil, especialmentenos meninos, pela exiguidade do calibre da urethra.

Clinica Ophtalmologica

I

A blenorrhagia propagando-se aos olhos produzophtalmias.

II

Estas são rebeldes e necessitam de uma medica-ção especifica e intensa.

97

111

A destruição completa do orgão por este germentem sido muitas vezes observada a despeito dos maisseveros cuidados therapeuticos.

Clinica Dermathologica e Syphiligraphíca

1As lesões da glandi ou balanites teem quasi sem

pre sua origem de uma blenorrhagia.

IINestas lesões muitos germens podem ser encon-

trados concumitantemente, compilando-as.

IIIA hygiene do meato, nos casos de blenorrhagia

aguda, consfltue um dos meios seguros contra estamoléstia tegumentar.

Clinica Psychiatrica e de Moléstias nervosasI

A neurasthenia reconhece sua etiologia em diffe-rentes infecções.

II

A blenorrhagia chronica é incontestavelmente umdos seus maiores factores.

III

Por esta razão é muito util, nestes estados o exameda urina e o das vias urinarias inferiores.

tu,i/ci da 'jlcicídda.-clc' de SUCedicênei da

SI)a/iia, 3/ de (Ou/adi o, de 19/2.

0 Secretario,

lH/J-í. Qy/llenanfÁú <Áá Ç/dled Gslfe/ie/Icâ-.