44 horas por semana! - Senado Federal

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Órgão Oficial de Divulgação, da Assembléia Nacional Constituinte Brasma, de 12 a 18 de outubro de 1987 - N'1 20 44 horas por semana! ADIRP/Guilherme Ran.... Ao aprovar a estabilidade do empregado na empresa, 44 horas de trabalho semanal, a impenhorabilidade de propriedade rural com menos de 25 hectares e várias outras propostas, a Comissão de Sistematização da Assembléia Constituinte começa a traçar o perfil da futura sociedade brasileira. Na semana que ·passou, os constituintes conseguiram votar todo o capítulo sobre os Direitos Individuais e Coletivos, logrando chegar a entendimento em tomo de diversos artigos e ainda decidindo pelo voto temas mais polêmicos. A Comissão de Sistematização vem trabalhando a todo vapor, se reunindo de manhã até a noite, a fim de examinar o projeto do relator Bernardo Cabral dentro dos prazos fixados pelo Regimento. em da impossibilidade de realizar um trabalho cauteloso, como deve, até o dia 8, a Comissão pediu e obteve do presidente da Assembléia, Ulysses Guimarães, uma prorrogação de mais· vinte dias. Assim, ela deverá concluir os trabalhos até o próximo dia 28, levando a Assembléia Nacional Constituinte a reunir seu plenário soberano, ·para votação do projeto definitivo a partir do dia 5 de novembro vindouro. Enquanto a Comissão de Sistematização prossegue em seu trabalho de ·discussão·e votação do projeto da futura Carta pressão da SOCiedade continuam mobilizados, realizando manifestações vibrantes junto ao Congresso Nacional, como ainda agora aconteceu com os trabalhadores rurais, que promoveram ato em favor da reforma agrária. Nas páginas 3, 4 e 5 apresentamos amplo material informativo sobre as propostas que foram discutidas, aprovadas e rejeitadas pela Comissão de Reformo AgráriQ. alvo permanente de monifesrações promovidos por entidades de trabalhadons rurais Sistematização. Greve: crime ou direito? No Brasil de hoje, cruzar os braços para reivmdicar é um gesto que ainda coloca mal o trabalhador. Mas a futura Carta deverá equilibrar o capital e o trabalho. <P'ataas 8 e 9) A estrela do plenário sobe As votações acen.deram os debates na ANC. Na prática todos os membros da grande comissão estiveram presentes e o plenário ganhou o' destaque que muitos vinham reclamando Entendimentos continuam o relator Bernardo Cabral (PMDB - AM) teve uma semana.agitada, mantendo entendimentos com Afonso Arinos e constituintes de tOdos os partidos para agilizar a votação

Transcript of 44 horas por semana! - Senado Federal

Órgão Oficial de Divulgação, da Assembléia Nacional Constituinte Brasma, de 12 a 18 de outubro de 1987 - N'1 20

44 horas por semana!ADIRP/Guilherme Ran....

Ao aprovar a estabilidadedo empregado na empresa,44 horas de trabalhosemanal, a impenhorabilidadede propriedade rural commenos de 25 hectares evárias outras propostas, aComissão de Sistematizaçãoda Assembléia Constituintecomeça a traçar o perfilda futura sociedadebrasileira.Na semana que ·passou, osconstituintes conseguiramvotar todo o capítulo sobreos Direitos Individuais eColetivos, logrando chegara entendimento em tomo dediversos artigos e aindadecidindo pelo voto temasmais polêmicos.A Comissão de Sistematizaçãovem trabalhando a todo vapor,se reunindo de manhã até anoite, a fim de examinar oprojeto do relator BernardoCabral dentro dos prazosfixados pelo Regimento. ~as,em fa~ da impossibilidadede realizar um trabalhocauteloso, como deve, até odia 8, a Comissão pediu eobteve do presidente daAssembléia, UlyssesGuimarães, uma prorrogaçãode mais· vinte dias. Assim,ela deverá concluir ostrabalhos até o próximodia 28, levando aAssembléia NacionalConstituinte a reunir seuplenário soberano, ·paravotação do projeto definitivoa partir do dia 5 denovembro vindouro.Enquanto a Comissão deSistematização prossegueem seu trabalho de·discussão·e votação doprojeto da futura Carta~agna,osgruposde

pressão da SOCiedadecontinuam mobilizados,realizando manifestaçõesvibrantes junto aoCongresso Nacional, comoainda agora aconteceucom os trabalhadoresrurais, que promoveramato em favor da reformaagrária.Nas páginas 3, 4 e 5apresentamos amplomaterial informativosobre as propostas queforam discutidas,aprovadas e rejeitadaspela Comissão de

Reformo AgráriQ. alvo permanente de monifesrações promovidos por entidades de trabalhadons rurais Sistematização.

Greve: crimeou direito?

No Brasil de hoje, cruzar osbraços para reivmdicar é umgesto que ainda coloca malo trabalhador. Mas a futura

Carta deverá equilibraro capital e o trabalho.

<P'ataas 8 e 9)

A estrela doplenário sobe

As votações acen.deram osdebates na ANC. Na prática

todos os membros dagrande comissão estiveram

presentes e o plenárioganhou o' destaque que

muitos vinham reclamando

Entendimentoscontinuam

o relator BernardoCabral (PMDB - AM) teve uma

semana.agitada, mantendoentendimentos com Afonso

Arinos e constituintesde tOdos os partidos

para agilizar a votação

Soluções que o Nordeste esperaProteção parao consumidor

Sociólogos e educadores estão exul­tantes com o progresso da formaçãoda consciência de cidadania que verga,hoje, o poder público, levando-o aacordar para as suas reivindicaçõesmais legítimas e imediatas.

Isso alenta e encoraja a todos quan­tos, representando algum segmento dasociedade, lutam pela coisa pública epelo bem comum.

A industrialização, distribuição ecomércio do bem final de consumosempre foram uma preocupação muitogrande do comprador brasileiro que,até bem pouco tempo, não tinha aquem recorrer para qualquer tipo dereclamação. Era ele tratado com ne­nhuma certeza ou proteção frente aosriscos para a saúde, segurança ou abu­so no preço do produto adquirido.

O consumidor é a razão única daempresa industrial ou comercial, poisé ele quem ressace todas as fases daeconomia - primária, secundária outerciária -, no entanto, não tem ne­nhum acesso ou meio de informaçãosobre o produto que adquire, sendoamiúde enganado por industriais oucomerciantes inescrupulosos.

É função do Estado a criação demecanismos que proporcionem meiospara que se controlem os abusos come­tidos contra o consumidor, podendointervir nas questões atinentes ao abu­so do poder econõmico desde a CartaConstitucional de 1934.

Começou, na década de setenta, ummovimento popular que culminoucom o surgimento, em 1986, do Decre­to-lei n· 9.314, criando o PROCON- Grupo Executivo de Defesa doConsumidor, afeto aos governos dosEstados que, no entanto, encontramuita dificuldade para fazer cuml?rirsuas normas, pois só pode denunCiar,não conta com nennum dispositivoque lhe dê direito de aplicar penas aosinfratores.

Necessidade faz, da criação, dentroda futura Constituição brasileira, denormas, para que, após sua promul­gação, a lei ordinária possa normatizarpreceitos buscando: proteger o consu­midor contra abusos da indústria, docomércio e da publicidade; coibir cria­ção de monopólios e cartéis que ini­bam a livre escolha de mercadorias;disciplinar a fiscalização e qualidadede produtos e serviços; fixar penali­dades; estabelecer escalas de IDdeni­zação por danos e prejuízos, etc.

Apresentei à Assembléia NacionalConstituinte, na parte relativa às Dis­posições Transitórias, proposta paraque, dentro de cento e vlDte (120) dias,após a promulgação da futura Consti­tuição, seja elaborado um Código deDefesa do Consumidor.

Passou a proposta em todas as fasesde subcomissões, das comissões temá­ticas e a~ora, na fase da Comissão deSistematização, persiste ainda e espe­ro, graças à visão dos meus pares, elalogre o êxito esperado, pela comuni­dade brasileira.

Constituinte Raquel Cândido(PFL - "RO)

EXPEDIENTE

Caminhandocom segurança

Desaguadouro de todas aspropostas e agora, também, fo­co catalisador das divergênciase tendências que nutrem o de­bate na Assembléia NacionalConstituinte, a Comissão deSistematização é o núcleo paraonde continuam convergmdoas atenções da opinião pública.O processo de votação segueno ritmo permitido pela com­plexidade dos temas em exa­~e, numa espécie de prepara­çao para o embate em tornodas questões mais polêmicas,como o sistema de governo(parlamentarismo ou presiden­CIalismo), reforma agrária, es­tabilidade no emprego e ou­tras. Acompanhando pari pos­su o andamento dos trabalhosda Comissão de Sistematiza­ção, o Jornal da Constituintededica amplo espaço à narra­ção dos lances ah acontecidos.E, paralelamente, prosseguemna realização de mesas-redon­das onde se delineiam nitida­mente as tendências que serãolevadas ao plenário da Sistema­tização. A atenção se volta,também, para o acompanha­mento da mobilização da socie­dade, que continua freqüen­tando o edifício do CongressoNacional através de suas enti­dades mais representativas,num esforço continuado paraexpor e convencer os consti­tumtes quanto às reivindica­ções das diversas categoriasecon6micas e sociais, que sãoretratadas semanalmente emnossas páginas. A polêmicaquestão dos direitos dos traba­lhadores, em especial o de gre­ve, é outro tema que o Jornalda Constituinte busca retratarnesta edição, à luz das opiniõesde constituintes experientesnas relações trabalhistas. Emmeio a toda essa intensa movi­mentação, permanece visível osinal de que tudo pode cami­nhar r.ara o entendimento que,afina , viabilizará o encontrode propostas adequadas à reali­dade e aos anseios nacionais.

Constituinte Marcelo CordeiroPrimeiro-Secret4rio da ANC

Ser nordestino é viver a inquie­tação do presente e a angústia dofuturo.

As estiagens cíclicas, as secasavassaladoras que matam as lavou­ras e as criações, não são fatos iso­lados do martírio do Nordeste.

Há para o Nordeste um desprezosecular das autoridades, que seacostumaram aos discursos cheiosde sentimento e tão pobres deação, derramando lá~masde tris­teza enquanto a reahdade afrontao seu povo com uma omissão crimi­nosa e comprometedora.

Temos feito o possível em nossaati,:idade p~rlamentar e, agora,mUito especialmente, na Consti­tuinte.

Nossas propostas, sugestões eemendas estiveram, sempre, den­tro de uma dolorosa dicotomia: oBrasil próspero e esperançoso doCentro-Sul, por onde correm oscréditos oficiais e capitais de inves­timentos e do Brasil sistematica­mente empobrecido do Nordeste.

Está evidente que a questão na­cional do Brasil, em seus aspectossociais e econômicos, é, antes detudo, a questão do Nordeste.

_As ~istorções em seu prejuízosao eVidentes.

A própria Sudene tem seu orça­mento reduzido de ano para ano,até situar-se em cifras inexpressi­vas.

O fato gritante, no entanto, éo de que região batida por tantasadversidades, para escárnio e re­volta de 40 milhões de brasileiros,é, ainda, a fiadora e principal paga­dora da dívida externa do país, de­la não tendo recebido para seu de­senvolvimento nem 0,5% dos 110bilhões de dólares que o Brasil de­ve ao exterior.

O sistema fiscal e tributário fun­ciona como uma máquina insen­sível quando se trata do Nordeste.

O mais simples instrumento detrabalho rural na região, a enxada,tem que ser importada do centro­Sul, produzida por fábricas que fo­ram montadas com os dólares queo Nordeste forneceu.

O colonialismo interno é ,piorque o colonialismo externo. E umcolonialismo fratricida, que sansratodas as nossas reservas, inclUSivee, sobretudo, as reservas humanas,a tal ponto que não resta aos cam­poneses e aos operários de nossaterra outra solução senão a deabandoná-Ia, enriquecendo com onosso trabalho outras regiões. Ain­da bem que são terras do Brasil!

Mas o fato é que essa políticafiscal, tributária, elitista nos vemtransformando numa tribo de mi­grantes, empurrados para os eitosde trabalho no sul do país, ondeo nordestino é a mão-de-obra avil­tada.

Hoje, na Constituinte, temosque lutar para restabelecer as ver­bas constitucionais que davam su­porte financeiro ao Nordeste. PorISSO, a campanha dos parlamenta­res nordestinos, independente-

mente de siglas partidárias, é a deimplantar a polltica da regionali­dade, tão necessária a um país co­mo o nosso com sua extensão con­tinental. E até porque o Nordesterepresenta o desafio secular aopatriotismo e á competência do ho­mem público brasileiro.

O presidente José Sarney,nordestlDo para quem "o Nordesteé a prioridade um", deve assumiressa enorme responsabilidade, va­lorizando a Sudene, restabelecen­do o necessário estímulo ao Bancodo Nordeste, sediado no Ceará ei,!!pedindo, com sua ação de auto­ndade, que não continuemos dis­criminados, abandonando a polí­tica de centralização e voltando-separa a política da regionalidade,atacando os problemas e buscandosoluções permanentes e definiti­vas.

Em uma das emendas que apre­sentamos ao texto constitucional,destacamos a necessidade de dotaras reBiões com Estatutos de Auto­nomia que não permitirão que es­sas regiões fiquem em grau inferioraos municípios.

A autonomia regional trará umadimensão revitalizadora à ordemfederativa, criando uma nova reali­dade institucional.

O Nordeste se beneficiaria ex­traordinariamente com a aprova­ção dessa nossa emenda, pois alise encontra encravado o maior bol­são de miséria social do TerceiroMundo.

Sem faculdades decisórias, denatureza peculiarmente autodeter­minativas, os organismos estataiscomo a Sudene e o Banco do Nor­deste, jamais cumprirão os seusfins, nem o Nordeste encontraráa solução para seus problemas.

Na conformidade da emendaque apresentamos, a autodetermi­nação regional, com um quadro decompetência a ser constitucional­mente definido por lei complemen­tar nos estatutos de organizaçãopolítico-administrativa das re­giões, deverá ser a resposta daConstituinte à solução do maisagudo problema da unidade nacio­nal em que a tragédia do Nordestesó tem como saída a fórmula polí­tica de sua autonomia.

Mas, não cuidamos apenas deinstitucionalizar a política adminis­trativa regional.

Em uma outra emenda, insisti­mos que, na execução do plano dedefesa contra os efeitos da seca noNordeste, a União despenderá,anualmente, com obras e serviçosde assistência econômica e social,quantia não inferior a três por cen­to da sua renda tributária.

E para disciplinar esse plano, umterço desses três por cento da recei­ta tributária deverá ser depositadoem caixa especial destinada ao so­corro às populações atingidas pelascalamidades, bem como em deter­minados casos e épocas, o emprés­timo a agricultores e industriais es­tabelecidos na área abrangida pelaseca.

Mas, a solução regionalizada,implica, ainda, uma valorização domunicípio que é, também, umaforma de assegurar a valorizaçãodo Nordeste.

Com esses objetivos, igualmenteformalizamos uma emenda aosubstitutivo do deputado BernardoCabral, determinando a retençãod~ 60% (sessenta por cento) dostnbutos recolhidos no municípioem benefício de sua administraçãoe população.

E por que o fIZemos? Por9ue éprecIso que a autonomia mumcipalse complete com a retenção degrande parte dos tributos arreca­dados em seu território. Não é jus­to que a União se aposse da quasetotalidade dos recursos obtidos davida produtiva do município e lherestitua um mínimo calculado em7%.

Não se diga que a retenção de60% seja muito alta. Essa conclu­são não leva em conta a possibi­lidade de a Constituição transferirpara o município parte de suas atri­buições, o que obrigaria a uma in­versão maior de recursos numapropor.ção como a que julgamosapropnada nesta proposta.

Consideramos que a forma maisprática é a de reter a porcentagemque lhe será fixada no texto consti­tucional, evitando despesas de re­passagem de uma escala adminis­trativa a outra, ordenando a opera­ção e desburocratizando os servi­ços.

Ficou evidenciado (Evaldo Cos­ta, J.B. 16-8-87) que cerca de 1milhão de nordestinos passam deduas a quatro horas por dia duran­te quatro meses do ano - mesmonaqueles não considerados de seca- empenhados exclusivamente natarefa de conseguir água para be­ber.

Mas, revela a reportagem doJornal do Brasil, que isso não pre­cisa mais acontecer, pois toda tec­nologia necessária para ajudar apopulação nordestina a enfrentara seca foi desenvolvida por um cen­tro de pesquisa brasileirO, estandopronta para ser utilizada, del?en­dendo apenas de decisão política.

Adotadas soluções definitivaspara o nordestino na época das se­~s periódicas, o nordestino passa­na a usar o seu tempo em ativi­dades produtivas.

Nossa participação no projetoda nova Constituição para o Brasilteve em vista sobretudo o Nordes­te, e o nosso sofrido ceará é sem­pre o exemplo que ergo com fé edeterminação, porque é o postoavançado das lutas progressistasq,:,e marcaram, na história da pá­tna, a nossa presença, como perso­nagens de uma constante vivênciados problemas regionais e da espe­rança de que as soluções não esta­rão distantes se estivermos unidos,solidários e vigilantes.

Constituinte Paes de AndradePrimeiro-Secretário da

Climara dos Deputados

JomaI da CoastItulDte - Veículo semanal editado sob aresponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia NacionalConstituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE:

Presideote - Ulysses Guimarães; Primeiro-Vice-PresAdeDte- Mauro Benevides; Seguudo-Vice-PresIdente - Jorge Arbage'Primelro-Secretaúio - Marcelo Cordeiro;~- Mário Maia; Ten:eiro-Sec:retmio - Amafdo Faria de Sá.SopIeDtes: Benedita da Silva, Luiz Soyer e Sotero Cunha.APOIO ADMINISTRATIVO:

Secretlirio-GenI da Mesa - -Paulo Affonso M. de OliveiraSobsecretárlo-Geral da Mesa - Nerione Nunes CardosoDirettor-Geral da Cêmara - Adelmar Silveira SabinoDiretor-Geral do SeD8do - José Passos PôrtoProduzido pelo Serviço de Divulgação da Assembléia Na­

cional Constituinte.

2 Jornal da Constituinte

Diretor Respollllllivel - Constituinte Marcelo CordeiroEdItores - Alfredo Obliziner e Manoel V. de MagalhãesCoordeDador - Daniel Machado da Costa e SilvaSeeretúIo de Redação - Ronaldo Paixão RibeiroSeeretúIode Redação AcijDDto - Paulo Domingos R. NevesCltefe de Redação - Osvaldo Vaz MorgadoCltefe de Reportagem - Victor Eduardo Barrie KnappChefe de Fotop'IIfta - Dalton Eduardo Dalla CostaDIagramação - Leônidas GonçalveslIDstnçio - Gaetano RéSecretúfo GnitIc:o - Eduardo Augusto Lopes

EQUIPE DE REDAÇAO.Maria V~ldira Be~rra, Henry Binder, Carmem Vergara,

Regina MoreIra SUZUkl, Juarez Pires da Silva, Maria de FátimaJ. Leite, Ana Maria Moura da Silva, Vladimir Meireles de AI·

meida, Maria Aparecida C. Versiani, Marco Antônio Caetano,Maria Romilda Vieira Bomfim, Eurico Schwinden, ltelvina Al­ves da Costa, Luiz Carlos R. Linhares, Humberto Moreira daS. M. Pereira, Miguel Caldas Ferreira, Clovis Senna e PauloRoberto Cardoso Miranda. .

EQUIPE FOTOGRÁFICAJoão José de Castro Júnior, Reinaldo L. Stavale, Benedita

Rodrigues dos Passos, Guilherme Rangel de Jesus Barros, Ro­berto Stuckert e William Prescott.

Composto e Impresso pelo Centro GnitIc:o do SeD8do Federal- CEGRAFRedação: CÂMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP

-70160 - Brasflia - DF - Fone: 224-1569

- Distribuição gratuita

do cidadãoÉ livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientí­

fica e de comunicação, sem censura ou licença. O fim da censuraàs artes foi o fio condutor das matérias aprovadas pela Comissãode Sistematização durante a semana, quando se esgotou tambéma votação do art. 59, do substitutivo que trata dos direitos indivi­duais e coletivos, com seus 55 parágrafos. Tratou-se ainda detemas complexos como o da propriedade privada, direito dereunião, extradição, asilo político, habeas data e habeas corpus.Tudo isso como parte do princípio clássico de que todos sãoiguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

Como ficamos direitos

REUNIÃO

HABEAS CORPUS

Todos podem reunir-se pacif.i­camente, sem armas, em locaiSabertos ao público. Conceder-se-ámandado de segurança para prote­ção de direito líquido e certo, co­mo também o habeas corpus ouhabeas data, nos casos de abusode poder.

Diz o texto aprovado:Art. 69 •••

§ 39 - Todos podem reunir-sepacificamente, sem armas, em lo­cais abertos ao público, sem neces­sidade de autorização, somentecabendo prévio aviso à autoridadequando a reunião possa prejudicaro fluxo normal de pessoas ou veí­culos.

§ 40 - É plena a liberdade deassociação, exceto a de caráter pa­ramilitar, não sendo exigida auto­rização para a fundação de asso­ciações e cooperativas, vedada ainterferência do Estado em seufuncionamento.

§ 41 - As associações só pode­rão ser compulsoriamente dissol­vidas ou ter suas atividades sus­pensas por decisão judicial transi­tada em julgado.

§ 42 - Ninguém poderá sercompelido a associar-se ou a per­manecer associado.

§ 43 - As entidades associa­tivas, quando expressamente au­torizadas, na forma de seu estatu­to, ou seu instrumento constitu­tivo, têm legitimidade para repre­sentar seus filiados em juízo oufora dele.

dos. As normas definidoras dos di­reitos e garantias fundamentaistêm aplicação imediata.

§ 44 - Conceder-se-á habeascorpus sempre que alguém sofrerou se achar ameaçado de sofrerviolência ou coação em sua liber­dade de locomoção, ou ilegalidadeou abuso de poder.

§ 45 - Conceder-se-á manda­do de segurança para a proteçãode direito líquido e certo, indivi­dual ou coletivo, não amparadopor habeas corpus, ou habeas da·ta, seja qual for a autoridade res­ponsável pela ilegalidade ou abusodo poder, estendendo-se a prote­ção contra a conduta de particu­lares no exercício de atribuiçõesdo poder público.

§ 46 - O mandado de segu-,rança coletivo pode ser impetradopor partidos políticos, com repre­sentação na Câmara Federal ouno Senado da República, organi­zações sindicais, entidades de clas­se e outras associações, legalmen­te constituídas, em funcionamentohá {'CIo menos 1 ano, na defesados mtei'esses de seus membros ouassociados.

§ 47 -' Conceder-se-á manda­do de injunção, observada a lei,sempre que a falta de norma regu­lamentadora torne inviável o exer­cício das liberdades constitucio­nais e das prerrogativas inerentesà nacionalidade, à soberania dopovo e à cidadania.

§ 48 - Conceder-se-á habeasdata:

I - para assegurar ao cidadãoo conhecimento de informações ereferências relativas à sua pessoa,dos fins a que se destinam, sejamelas registradas por entidades par­ticulares, públicas ou oficiais.

11 - para retificação de dados,em não se preferindo fazê-lo porprocesso sigiloso, judicial ou ad­

. ministrativo.

ou omissão, de atos que firam asdisposições desta Constituição.

§ 52 - As ações previstas nosparágrafos 44 e 48 serão gratuitas.

§ 53 - Serão gratuitos todosos atOs necessários ao exercício dacidadania para as pessoas reco­nhecidamente pobres, na form"ada lei.

§ 54 - O Estado prestará assis­tência jurídica integral e gratuitaaos que comprovarem insuficiên­cia de recursos.

§ 55 - Os direitos e as garan­tias expressos nesta Constituiçãonão excluem outros decorrentesdo regime e dos princípios que elaadota, ou das convenções e atosinternacionais de que o país sejasignatário e tenham sido ratifica-

popular que vise a anular ato ilegalou lesivo ao patrimônio público,à moralidade administrativa, à c0­munidade, à sociedade em geral,ao meio ambiente, ao patrimôniohistórico e cultural e ao consumi­dor. Os autores da ação previstaneste parágrafo estão isentos dascustas judiciais e do ônus da su­cumbência, exceção feita a litigan­tes .de má-(é.

§ 50 - É reconhecida a institui­ção do júri com a organização quelhe der a lei, assegurados o sigilodas votações, a plenitude de defe­sa, a soberania dos vereditos e acompetência para o julgamentodos crimes dolosos contra a vida.

§ 51 - Cabe ação de inconsti­tucionalidade nos casos de ação

Esta a Mesa que dirigir6 a Comissdo de SistemotizaçtJo

AÇÃO POPULAR

Ninguém será identificado cri­minalmente antes da condenaçãodefinitiva, garante o novo textoconstitucional, e toda pessoa físicapode propor ação popular.

§ 49 - Qualquer pessoa físicaou jurídica domiciliada no Brasilé parte legítima para propor ação

A lei ordinária deverá estabe­lecer o procedimento para desa­propriação por necessidade públi­ca ou interesse social, medianteprévia e justa indenização.

Nesse sentido a Comissão deSistematização aprovou, comemendas, o texto do § 35 do art.59 da nova Constituição, e que diz:

..A propriedade privada é asse­gurada e protegida pelo Estado.O exercício do direito de proprie­dade subordina-se ao bem-estarda sociedade, à conservação dosrecursos naturais e à proteção domeio ambiente. A lei estabeleceráo procedimento para desapropria­ção por necessidade pública ou in­teresse social, mediante prévia ejusta indenização. Em caso de pe­rigo público iminente, as autori­dades competentes poderão usarpropriedade particular, assegura­da ao proprietário indenização ul­terior, se houver dado decorrentedesse uso.

§ 36 - É garantido o direitode herança.

§ 37 - O Estado promoverá,na forma da lei, a defesa dos con­sumidores.

§ 38 - É livre a assistência reli­giosa nas entidades civis, militarese de internação coletiva, e seráprestada sempre que solicitada pe­lo interessado."

PROPRIEDADE

extraditado, salvo o naturalizado,nos crimes comuns, quando estestenham sido praticados antes danaturalização ou nos casos com­provados de envolvimento em trá­fico ilícito internacional de drogasentorpecentes, quando a forma deextradição será estabelecida emlei.

§ 34 - Conceder-se-á asilo p0­lítico a estrangeiros perseguidos'em razão de convicções políticas,de defesa dos direitos e liberdadesfundamentais da pessoa humana.

Não serão objeto de censura asatividades intelectuais, artísticas,científicas e de comunicação, sen­do livre a expressão do pensamen­to.

Diz o texto aprovado pela Co­missão de Sistematização:

Art. 59 .§ 27 - o preso tem direito a

identificação dos responsáveis porsua prisão ou interrogatório po­liciar.

§ 28 - Por motivo de crençareligiosa ou de convicção filosóficaou política, ninguém será privadode qualquer dos seus direitos, sal­vo se as invocar para eximir-se deobrigação legal a todos imposta erecusar-se a cumprir prestação al­ternativa fixada em lei.

§ 29 - É livre a expressão daatividade intelectual, artística,científica e de comunicação, semcensura ou licença. Aos autorespertence o direito exclusivo de uti­lização, publicação ou reproduçãode suas obras, transmissível aosherdeiros pelo tempo que a lei fi­xar. É assegurada a proteção, nostermos da lei, às participações in­dividuais em obras coletivas e àreprodução da imagem e voz hu­mana, inclusive nas atividades es­portivas.

§ 30 - A lei assegurará aos au­tores de inventos industriais privi­légio temporário para a sua utiliza­ção, bem como proteção às cria­ções industriais, à propriedade dasmarcas, aos nomes de empresase a outros signos distintivos, tendoem vista o interesse social do Paíse o seu desenvolvimento tecnoló­gico e econômico.

§ 31-Todos têm direito a re­ceber informações verdadeiras, deinteresse particular, coletivo ougeral, ressalvadas apenas aquelascujo sigilo seja imprescindível àsegurança da sociedade e do Esta­do. As informações requeridas se­rão prestadas no prazo da lei, sobpena de crime de responsabilida­de.

§ 32 - É a todos assegurado odireito de petição aos Poderes PÚ­blicos em defesa de direitos oucontra ilegalidade ou abuso de po­der, bem como a obtenção de cer­tidões junto às repartições públi­cas, para a defesa de direitos eesclarecimento de situações, inde­pendentemente de pagamento detaxas ou emolumentos e de garan­tia de instância.

§ 33 - Nenhum brasileiro será

Jornal da Constituinte 3

REFORMA TRIBUTÁRIA

combustíveis e sobre energia elé­trica, desaparecem, sendo integra­dos ao novo ICM - Imposto so­bre Circulação de Mercadorias,redimensionado e sob a compe­tência dos estados.

IMPOSTOS DA UNIÃO

Art. 175. Compete à Uniãoinstituir impostos sobre:

I - importação de produtos es­trangeiros;

U ,;....... exportação, J?ara o exte­rior, de produtos nacioriais ou na­cionalizados;. 111 - renda e proventos dequalquer natureza; .

IV - produtos industrializa­dos' .

V---' operações de crédito, câm­bio e,seguro, ou relativos a títulosou valores imobiliários;

VI - propriedade territorialrural.. § 19 É facultado ao Poder

. Executivo, observadas as condi­ções e limites estabelecidos em lei,alteraras alíquotas dos impostosenumerados nos incisos 1,.11, IVe V deste artigo.

§ 29 O imposto de que tratao inciso 111 será informado peloscritérios da generalidade, da uni­versaJidade e da progressividade;na forma da lei.

§ 39 O imposto de que tratao inciso IV:

UNIÃO PERDE

arts. 179, 180 e 181.Parágrafo único.. O Tribunal

de Contas da União efetuará o cál­culo das quotas referentes aos fun- .dos de partiCipação referidos noinciso 11.

UNIÃO: 67%

CONSTITUIÇÃO ATUAL

PROJETO'DE CONSTITUIÇÃO

FE: 2%C...:::.;....;...;....;·..:.. ==;;~''''

to da União sobre a propriedadede veículos automotores licencia­dos em seus territórios;

IV - vinte e cinco por cento doproduto da arrecadação do impos­to do estado sobre operações rela­tivas à circulação de mercadoriase sobre prestações de serviços detransporte interestaduais e inter­municipais e qe comunicação.

Parágrafo único. As parcelasde receita pertencentes aos muni­cípios mencionados no inciso IVdeste artigo serão creditadas con-.forme os seguintes critérios:

I - três quartos, no mínimo, naproporção do valor adicionado nasoperações relativas à circulação demercadorias e nas prestações deserviços, realizadas em seus terri­tórios;

11- até um quarto, de acordocom o que dispuser lei estadual.

Art. 181. A União entregará:I - do produto da arrecadação

dos impostos sobre renda e pro­ventos de qualquer natureza e so­bre produtos industrializado.s,quarenta e sete por cento, na fOr-ma seguinte:

a) vinte e um inteiros e cincodécimos por cento ao Fundo deParticipação dos Estados, do Dis­trito Federal e dos Territórios;

b) vinte e dois inteiros e cincodécimos por cento ao Fundo de . aos respectivos municípios vínte e .Participação dos Municípios; dcinco por cento' os recursos CJ.ue

c) três por cento para aplica- receberem nos termos do inCiSOção em programas de financia- 11 deste artigo, observados os cri­mento ao setor. produtivo das re- térios estabelecidos nos incisos I.giões Norte, Nordeste e Centro- e 11 do paTágraf9 único do art. 180.Oeste, através de suas instituições Art. 182. E vedada qualquerfinanceiras de caráter regional, de condição ou restrição à entrega eacordo com osplanos [egiOl~aisde ao emprego dos recursos atribuí- Com pequenas alterações, odesenvolvimento, na forma que a dos, nesta seção, a estados, Dis- . Substitutivo 11 do relator Bernar"lei estabelecer;' trito Federal e municípios, neles .do Cabral reproduz aS decisões.. 11 - do produto da arrecadação compreendidos adicionais e.acrés- . das fases anteriores da Constituin­do Impostosobre Prodútos Indus-cjmós relativó~aimpostos. .. te quanto à competêpcia de tribu­trializados,.dezporcento pai'aoSc: Parágrafo único. '0 dispost() tar da União, dos estados e dosestados e o Distrito Federal,pro-nesteartigo não impede a União municípios.'porcionalmenteao valor dasres-· de condicionar aen:trega·de recur- .pectiva~ ~xportaçõesde.produtQs . sos a estados, Distrito Feder,;lI e . Muitas das disposições que semdustnahzados; municípios ao pagamento de seus. .encontram.hoje rio projeto de

§19 Para efeito de cálculo da créditosemrelaçãoaessaspessoasConstituiçãoqúe está sendo vota­entrega a ser efetuada de acordo jurídíeas e respectivas entidades .dona Comissão de Sistematização'..com o previsto no inCiso I, excluir- . da administração indireta. . . para ser levadoao plenário vieram

· se-á a parcelada arrecadação.do· Art. 183. Cabe à lei colí1ple- .daSubcomissão,doSis:tema Tribu-Imposto de Renda e proventos dementar: . ". tário, Orçamento eFinanÇas.

· qualquer natureza, pertencente a I -'-definir valor adicionado pa_ No caso,da .Uriião~ dos onze tri-·estados, Distrito Federalemunicí- ra fins do disposto no incíso I do butosprevistos pela atual Consti­pios, nos termos do disposto' nO parágrafo' único do artigo 180;' tuição,.ficam l!penas s.eis:- sobreart. 179 e no inciso I do art. 180. 11 - estabelecer normas sobre importàçãoeexportação,lmp.osto

§ 19 A nenhuma unidade fe-' li entregados recursos de qúe trata .. de Renda,linpostQ. sobre Produ­derada poderá ser destinada par~ o art. 181, especialmente sobre os tos Industrializados, Imposto so­cela superior a vinte por cento do critérios de rateio dos fundos pre- .bre Operações Financeiras e Im­montante a ser entregue, nos ter- vistos no seu inci!!o I, objetivando. postoTerritorial Rural. Até o pri­mos do inciso 11 deste artigo, de- promover o. equihbrio sócio-eco_ meiro substitutivo, o ITR havia si­vendo o eventual excedente ser .nômico entre estados. e entre mu_ do destinado aos estados, voltan-distribuído entre os demais parti- nicípios; ." ·do agora para 11 União no Substi- .cipantes, mantido, em relação a . UI-dispor sobre o acompa- tutivo 11. .

· esses, o critério de partilha ali es-· nhamentó, pelos beneficiários, do. Algúns tributos de Competênciatabelecido. . cálculo das ~quotãs e da liberação' da União,cómo os impostos sobre

§ 39 Os e.stados entregarão das partiCipações previstas nos' tran,sporte, sobre lubrificantes e

dos estados. ~ .e munlClploS

Aumenta bolo

A reforma do sistema tributá­rio, uma das bandeiras mais fortesna campanha da grande maioriados constituintes, foi amplamentecontemplada pelo substitutivo aoprojeto de Constituição do relatorBernardo Cabral (PMDB ­AM.)

Fruto de acordo multipartidá­rio, o novo sistema tributário am­plia substancialmente a participa-

· ção dos estados e mumcípios nadivisão do bolo da arrecadação.

No caso dos dois principais tri­butos - o Imposto de Renda eo Imposto sobre Produtos Indus­trializados -, os 14% a que osestados tinham direito pela atualConstituição passam a 21,5%. Osmunicípios, que tinham 17%, pas­sam a ter 22,5%.

O Substitutivo 11 garantiu aindaum percentual de 10% sobre o IPIaos estados, proporcional às ex­portações dos produtos industria­lizados.

No caso do Fundo Especial,destinado às regiões carentes doNorte, Nordeste e Centro-Oeste,o relator confirmou o repasse de3% do orçamento, condicionandoseu repasse através das institui­ções financeiras de caráter regio­nal, como a Sudene, Sudam, Su­deco, por exemplo.

Em resumo, na repartição dobolo tributário, os estados e muni_ocípios passam a receber 47% con­tra os 33% da atual Constituição.

REPARTIÇÃODAS RECEITAS

Art. 179. Pertencem aos es­tados e. ao Distrito Federal:

I - o produto da arrecadaçãodo imposto da União sobre rendae proventos de qualquer natureza,incidente na fonte sobre rendi­mentos pagos, a qualquer título,por eles, suaS autarqUIas e pelasfundações que instituírem emanti- .verem; .

11 - vi.nte por cento do pr()duto .Jda arrecadação do impostoque aUnião instituir no exercício dacompetência que lhe é atribuída '.pelo ílrt. 167.·. . .. ' .•.

Art. 180. Pertencem aos inu-nicípios:· . .

· '. i -'- o .produto da arrecadação .· doimpóstoda União· sobre renda

e provehtos de qualquer natureza,incidente· na fonte sobre rendi­mentos pagos, a qualquer títúlo,por eles, 'suas autarqUIas .e pelasfundações que instituírem e manti-verem;'" .

II - cinqüenta por cento doproduto da arrecadação do impos­to do estado sobre a propriedadeterritorial rura)., relativamente aosimóveis nele situados;

.III - éinqüenta pôr cento doproduto da arrecadação do impos-

4 Jornal da Constituinte .

Na base,°respeito ao

contribuinte

I - será seletivo, em função daessencialidade do produto, e nãocumulativo, compensando-se oque for devido em cada operaçãocom o montante cobrado nas ante­riores;

11 - não incidirá sobre produ­tos industrializados destinados aoexterior.

§ 49 O imposto de que tratao inciso IV terá suas alíquotas fixa­das de forma a desestimular a ma­nutenção de propriedades impro­dutivas e não incidirá sobre peque­nas glebas rurais nos termos defi­nidos em lei federal, quando asexplore, só ou com sua família,o proprietário que não possua ou­tro imóvel.

Art. 176. A União, na imi­nência ou no caso de guerra exter­na, poderá instituir impostos ex­traordinários, compreendidos ounão em sua competência tributá­ria,. os quais serão suprimidos gra­dativamente, cessadas as causasde sua criação.

IMPOSTOS DOS ESTADOS

Art. 177. Compete aos esta­dos e ao Distrito Federal instituirimpostos sobre:

I - transmissão causa mortis edoação, de quaisquer bens ou di­reitos;

11 - operações relativas à cir­culação de mercadorias e sobreprestação de serviços de transpor­te interestadual e intermunicipale de comunicação, ainda que asoperações e as prestações se ini­cIem no exterior;

111 - propriedades' de veículosautomotores.

§ 19 Os estados e o DistritoFederal poderão instituir um adi­cionai ao imposto de que trata oart. 175, inciso 111, incidente sobrelucros, ganhos e rendimentos decapital, até o limite de 5%, do im­posto pago à União por pessoasfísicas ou jurídicas residentes oudomiciliadas nos respectivos terri­tórios.

§ 29 Relativamente a bensimóveis e respectivos direitos, oimposto de que trata o inciso Icompete ao estado da situação dobem; relativamente a bens mó­veis, títulos e créditos, o impostocompete ao estado onde se. pro­cessar o inventário ou arrolamen­to, ou tiver domicílio o doador;se o doador tiver domicílio ou resi­dência no exterior, ou se aí o decujus possuía bens, era residenteou domiciliado ou teve o seu in­v7ntário pro~es~ado, ~ competên­cIa para mstItUlr o tnbuto obser­vará o disposto em lei complemen­tar.

§ 39 As alíquotas do impostode que trata o inciso I poderão·ser progressivas e não excederãoos limites estabelecidos em resolu­ção do Senado da República.

~ ~9 O imposto de que tratao mClso 11 será não-cumulativo,admitida sua seletividade, em fun­ção da essencialidade das merca­dorias e dos serviços, compensan­do-se o que for devido, em cadaoperação relativa a circulação demercadorias ou prestação de servi­ços, com o montante cobrado nasanteriores, pelo mesmo ou outroestado. A isenção ou não-incidên­cia, salvo determinação em con­trário da legislação, não implicarácrédito de imposto para compen­s~ção daquele devido nas opera­çoes ou prestações seguintes eacarretará anulação do crédito doimposto, relativo às operações an­tenores.

§ 59 Em relação ao imposto

de que trata o inciso 11, resoluçãodo Senado da República, por ini­ciativa do Primeiro-Ministro ou de1/3 dos senãdores, em ambos oscasos aprovada por 2/3 de seusmembros, estabelecerá:

I - as alíquotas aplicáveis àsoperações e prestações interesta­duais e de exportação;

11 -'- as alíquotas aplicáveis àsoperações internas realizadas comminerais ..

§ 69 É facultado ao Senado daRepública, também mediante re­solução aprovada por 2/3 de seusmembros, estabelecer alíquotasmínimas nas operações internas,não compreendidas no inciso 11 doparágrafo anterior.

§ 7° Salvo deliberação emcontrário dos estados e do DistritoFederal, nos termos do dispostono inciso VII do § 10, as alíquotasin~er~as do imposto qe que tratao mClso 111 não poderão ser infe­riores às aliquotas interestaduais,reputando-se operações e presta­ções internas também as interes­taduais realizadas para consumi­dor final de mercadorias e servi­ços.

§ 89 O imposto de que tratao inciso 11:

I - incidirá sobre a entrada demercadoria importada no exteriorinclusive quando se tratar de bemdestinado a consumo ou ativo fixodo estabelecimento, bem como so­bre serviço prestado no exterior,cabendo o imposto ao estado ondeestiver situado o estabelecimentodestinatário da mercadoria ou ser­viço;

11 - não incidirá:a) sobre operações que desti­

nem ao exterior produtos indus­trializados, exclusive os semi-ela­borados, definidos em lei comple­mentar;

b) sobre operações que desti­nem a outros estados, petróleo,inclusive lubrificantes, combustí­veis líquidos e gasosos dele deriva­dos, e energia elétrica;

111 - não compreenderá, emsua base de cálculo, o montantedo Imposto sobre Produtos Indus­trializados, quando a operação,realizada entre contribuintes e re­lativa a produto destinado a indus­trialização ou comercialização,configure hipótese de incidência

dos dois iplpostos.§ 99 A exceção dos impostos

de que tratam o inciso 11 deste arti­go, os inciso I e 11 do art. 175 eo inciso 111 do art. 178, nenhumoutro tributo incidirá sobre opera­ções relativas a energia elétrica,combustíveis, lubrificantes e mi­nerais do País.

§ 109 Cabe à lei complemen­tar, quanto ao imposto de que tra­ta o inciso 11:

I - definir seus contribuintes;11 - dispor sobre os casos de

substituição tributária;111 - disciplinar o regime de

compensação do imposto;IV - fixar, para efeito de sua

cobrança e defmição do estabele­cimento responsável, o local dasoperações relativas à circulação demercadorias e das prestações deserviços;

V - excluir da incidência doimposto, nas exportações para oexterior, serviços e outros produ­tos além dos mencionados na alí­nea "a" do inciso 11 do § 8° desteartigo;

VI - prever casos de manuten­ção de crédito, relativamente à re­messa para outro estado e expor­tação para o exterior, de serviçose de mercadorias;

VII - regular a forma como,mediante deliberação dos estadose do Distrito Federal, isenções, in­centivos e benefícios fiscais serãoconcedidos e revogados.

IMPOSTOS DOS MUNICÍPIOS

Art. 178. Compete aos muni­cípios instituir impostos sobre:

I - propriedade predial e terri­torial urbana;

11 - transmissão inter vivos, aqualquer título, por ato oneroso,de bens imóveis, por natureza ouacessão física, e de direitos reaiss?bre imóveis, exceto os de garan­tia, bem como cessão de direitosa sua aquisição;

111 - vendas de combustíveis lí­quidos e gasosos a varejo, excetoóleo diesel;

IV - serviços de qualquer na­tureza, definidos em lei comple­mentar;

§ 19 O imposto de que tratao inciso I poderá ser progressivonos termos de lei municipal, defonna a assegurar o cumprimentoda função social da propriedade.

Sempre que possíve(os impos­tos terão caráter pessoal e serãograduados segundo a capacidadeeconômica do contribuinte. A ad­ministração tributária, especial­mente para conferir efetividade aesses objetivos, poderá identifi­car, respeitados os direitos indivi­duais e nos termos da lei, o patri­mônio, os rendimentos e as ativi­dades econômicas do contribuin­te.

Esse é um dos princípios basila­res do projeto de Constituição, naforma elaborada pelo relator Ber­nardo Cabral, relativo ao sistematributário nacional. Segundo essesprincípios gerais, cabe à lei com­plementar dispor sobre conflitosde competência, em matéria tribu­tária, entre a União, os estados,o Distrito Federal e os municípios;regular as limitações constitucio­nais ao poder de tributar; e estabe­lecer normas gerais em matéria delegislação tributária.

Essas normas envolvem a defi­n.ição de tributos e de suas espé­CIes, bem como em relação aos im­postos discriminados na Constitui-oção, dos respectivos fatos gerado­res, base de cálculo e contribuin­tes, e obrigação, lançamento, cré­dito, prescrição e decadência.

COMPULSÓRIOS

Se praticamente não há discor­dância em relação aos princípiosgerais, o mesmo não ocorre quan­do se define a questão dos compul­sórios. Segundo o art. 168 do pro­jeto, a União, os estados e o Dis­trito Federal poderão instituir em­préstimos compulsórios para aten­der a despesas extraordináriasprovocadas por calamidade públi­ca. A União poderá, ainda, insti­tuir empréstImos compulsórios

nos següintes casos: investimentopúblico de relevante interesse na­cional; conjuntura que exija ab­sorção temporária de poder aqui­sitivo; guerra externa ou sua imi­nência.

Os empréstimos compulsórios,com exceção do caso de guerra ex­terna ou sua iminência, somentepoderão tomar por base fatos ge­radores compreendidos na compe­tência tributária de pessoa jurídicaque o instituir e dependerão delei aprovada pela maioria absolutados membros do Congresso Na­cional ou das respectivas assem­bléias legislativas.

Estabelece ainda o projetoconstitucional que compete exclu­sivamente à União instituir contri­buições sociais, de intervenção nodomínio econômico e de interessedas categorias profissionais oueconômicas, como instrumento desua atuação nas respectivas áreas,podendo os estados e municípiosinstituir contribuição, cobrada deseus servidores para o custeio, embenefício destes, de sistemas deprevidência e assistência social.

VEDAÇÃO

Na parte relativa às limitaçõesdo poder de tributar, estabeleceo art. 170 que, sem prejuízo deoutras garantias asseguradas aocontribuinte, é vedado à União,aos estados, ao Distrito Federale aos municípios exigir ou aumen­tar tributo sem lei que o estabeleçae instituir tratamento desigual en­tre contribuintes que se encon­trem em situação equivalente, ve­dada inclusive qualquer distinçãoem razão de ocupação profissionalou função por eles exercida, inde­pendentemente da denominaçãoJurídica dos rendimentos, títulosou direitos.

Também é vedada aos três ní­veis de governo cobrar tributos emrelação a fatos geradores ocorri­dos antes do início da vigência dalei que os houver instituído ou au­mentado e no mesmo exercício fi­nanceiro em que haja sido publi­cada a lei que os instituir ou au­mentar. Da mesma fonna não serátolerada a utilização do tributo co­mo efeito de confisco, nem o esta­belecimento de rrivilégio de natu­reza processua para a FazendaPública em detrimento do contri­buinte..

O art. 171, por sua vez , veda'à União, estados e municípios es­tabelecer limitações ao tráfego depessoas ou bens, por meio de tri­butos interestaduais ou intermu­nicipais, ressalvada a cobrança depedágios pela utilização das viasconservadas pelo poder público,bem como instituir tributos sobrepatrimônio, renda ou serviços, unsdos outros; templos de qualquercuIto; patrimônio, renda ou servi­ços de partidos políticos, inclusivesuas fundações, das entidades sin­dicais de trabalhadores e das insti­tuições de educação e assistênciasocial, sem fins lucrativos, obser­vados os requisitos da lei comple­mentar. Não se pode cobrar im­postos de livros, jornais, periódi­c?s e papel destinado à sua impres­sao.

Jornal da Constituinte 5

Estabilidade

•Insegurança ?

SIGILONão haverá documento sigiloso

a respeito de fatos econômicos,políticos, sociais, históricos e cien­tíficos, passados 20 anos de suaprodução. Este o texto de desta­que apresentado pelo deputadoEuclides Scalco (PMDB - PR)e defendido ~Io deputado Pimen­ta da Veiga (PMDB - MG), paraquem não se justifica que aindase mantenha hoje sigilo sobre do­cumentos que datam inclusive daépoca da Guerra do Paraguai. OSigilo não se justifica - prosseguiu- principalmente quando sabe­mos que historiadores estrangei­ros têm acesso a essas informaçõessigilosas, quando pesquisadoresbrasileiros não conseguem o mes­mo direito. A proposta foi rejei­tada.

crise econômica vivido pelo Paíse o desemprego existente exigemmedidas sociais mais efetivas, odeputado Lysâneas Maciel (PDT- RJ) propôs isentar as famíliascomprovadamente pobres das ta­rifas de serviços públicos de água,esgoto e energia elétrica. Ao pediro apoio dos demais membros daConstituinte à sua proposta, o de­putado disse ser necessário que seadotem medidas práticas para me­lhorar as condições de vida da po­pulação.

A proposta foi apoiada pelo de­putado Joaquim Bevilacqua (PTB- SP), {lara quem os serviços es­senciais Incluem-se entre os direi­tos da pessoa humana. Apesar daargumentação, a Comissão de Sis­tematização optou por rejeitar aproposta, seguindo orientação dorelator-substituto José Fogaça(PMDB - RS) que entende sera matéria objeto de legislação or­dinária, até municipal, como jáocorre nos casos de Isenção de ta­rifas de passagens de transportespúblicos para idosos carentes emenores em idade escolar.

PRISÃO

O deputado Sérgio Brito (PFL- BA) defendeu emenda de suaautoria que torna obrigatório aocondenado de qualquer nível queestiver há menos de dois anos nacidade onde cometeu o delito, ocumprimento da pena em seu esta­do de origem. Com a medida, se­gundo a parlamentar, será redu­zida a superpopulação carcerárianos grandes centros, além de tor­nar mais fácil a recuperação dopreso, que ficará em área maispróxima de sua família, principal­mente com a criação de colôniasagrícolas.

O deputado Joaquim Bevilac­qua (PTB - SP) manifestou-se fa­voravelmente à proposição, consi­derando que o convívio do conde­nado com família facilitará a suarecuperação. Contra a propostamamfestou-se o deputado JoséTavares (PMDB - PR), afirman­do que não é através desse expe­diente que se resolverá o proble­ma pemtenciário. Além do mais- acrescentou -, esta não é ma­téria a ser tratada na Constituição,mas sim na legislação ordinária.

Ao se pronunciar também con­trário à emenda, o senador JoséPaulo Bisol (PMDB - RS) solici­tou ao relator, mas não foi aten­dido, que retirasse o pedido dedestaque, pois, além de a matérianão ser sequer da órbita do CódigoPenal, é flagrantemente autoritá­ria, uma vez que da forma apre­sentada não permite ao preso odireito de optar ou não pelo retor­no ao seu Estado de origem. Essamatéria - afirmou - só pode sertratada na Lei das Execuções Pe­nais.

um teto para morar. Essa é umacondição básica para a continui­dade da família, afirmou.

Embora reconhecendo que opropósito do deputado VivaldoBarbosa é o mais elevado, o depu­tado Antôniocarlos Konder Reis(PDS - SC), em nome do relatorBernardo Cabral, enfatizou que oprojeto já contempla regras subs­tantivas, com vistas a equacionaro problema da moradia, como éo caso dos arts. 20 e 200, que tra­tam da reforma urbana em diver­sos itens. A proposta foi rejeitada.

IR E VIRTodo cidadão supostamente

doente tem o direito de recusarser internado, especialmentequando se tratar de internação porproblemas de saúde mental pro­posta por terceiros. Este é o espí­rito de emenda proposta pelo de­putado Eduardo Jorge (PT - SP),para guem "internação compulsó­ria nao cura ninguém, antes con­dena quem sofre".

Ao defender sua proposta, oparlamentar paulista justificouque a legislação atual, constituídabasicamente pelo Decreto n°24.559/34, é ditatorial e da épocaem que a eugenia era corrente namentalidade dos legisladores.Destacou, inclusive, que, segundoo art. 10 do mencionado decreto,qualquer indivíduo que perturbea ordem ou a moral púbhca pode­rá ser recolhido a hospital pSiquiá­trico.

Trata-se de lei autoritária, comconseqüências danosas para aspessoas, pois qualquer interessadoem prejudicar pode denunciar al­guém por perturbação mental,afirmou, comentando que a Psico­logia avançou de tal modo que de­tectou nas tensões sociais e fami­liares as causas dos distúrbios. Poroutro lado - acrescentou - paí­ses como a Itália e a Inglaterrajá substituíram a internação pelotratamento ambulatorial, medidacuja adoção se justifica tambémpara o Brasil. A Comissão de Sis­tematização rejeitou a emenda deEduardo Jorge.

TARIFAS

Por entender que o quadro de

Antonio Mariz

judicar a economia do Brasil.Lamentando que o seguro-de­

semprego, criado pela Constituin­te de 1946 só tenha sido regula­mentado 40 anos depois de suapromulgação, o deputado Luiz Sa­lomão (PDT - RJ) lembrou quea participação dos empregadosnos lucros da empresa, criada namesma época, até hoje não foi re­gulamentada. Diante desse fatoele propôs que a redação originaldo segundo substitutivo seja man­tida, por entender que nele estãocontempladas condições mais jus­tas para o trabalhador. A seu ver,o primeiro substitutivo, ao deixarpara a lei ordinária a regulamen­tação da estabilidade, poderá dei­xar cair no esquecimento os direi­tos do trabalhador.

O relator Bernardo Cabralexortou os constituintes a votaremsem envolvimento emocional, de­vido à importância da matéria, eafirmou que seu substitutivo dariamaior garantia aos trabalhadoresque a emenda proposta.

MORADIAA Comissão de Sistematização

rejeitou proposta do deputado Vi­valdo Barbosa, que pretendia as­segurar a moradia como um direi­to fundamental da pessoa huma­na. Ao defender a medida, o de­putado salientou que sua propostarepresenta um anseio nacional, eque foi tema de três emendas po­pulares de associações de mora­dores, entidades de classes repre­sentativas, como a dos engenhei­ros e arquitetos. Vivaldo Barbosadisse que é fundamental que a fa­mília brasileira tenha asseguradona Constituição o direito de ter

José Tavares

que foi aprovada nas subcomis­sões e comissões temáticas e tam­bém que foi fruto de uma emendapopular.

Na opinião de Paulo Paim, aoconceder os mesmos direitos aostrabalhadores urbanos e rurais anova Constituição estará resgatan­do uma dívida histórica para comos camponeses brasileiros. Tam­bém o deputado Augusto Carva­lho ressaltou a importância daaprovação da medida que tem oapoio de todos os movimentos sin­dicais do país. A medida tem basi­camente o objetivo de fazer justiçaa uma classe esmagada pelo lati­fúndio, justificou, e faz jus ao arti­go que garante a igualdade de to­dos perante a lei.

EXCEÇÕESPor entender que é impossível

obter a unanimidade na questãoda estabilidade no emprego, o de­putado Antonio Mariz (PMDB ­PB) propôs que se deixasse paraa lei ordinária estabelecer as exce­ções, sem decidir pela estabilidadeabsoluta nem pela sua negação ra­dicaI. O destaque apresentado porAntonio Mariz com o objetivo deviabilizar a apreciação da matériapela legislação ordinária foi rejei­tado pela Comissão de Sistema­tização.

A favor da emenda AntonioMariz colocou-se o deputado Pi­menta da Veiga (PMDB - MG).Ele conclamou os constituintes avotarem pelo entendimento, emvirtude da relevância do assunto.Alegou ainda que, como se tratade questão que interessa tanto atrabalhadores como empregado­res, seria conveniente sua aprova­ção, dando assim oportunidade deo Brasil avançar na matéria.

Contra a emenda posicionou-seo deputado Francisco Dornelles(PFL - RJ) declarando que, sefor aprovada a estabilidade, criar­se-á um clima de insegurança noBrasil, porq;e haverá despedidaem massa dos trabalhadores. Eleentende que a preocupação básicados constituintes deve ser com ageração de emprego e com a justi­ça social, razão pela qual defendeua indenização progressiva, que fa­voreceria o trabalhador, sem pre-

/ .e garantIa ou

Ao iniciar os debates do art. 69,

a Comissão de Sistematização en­frentou o tema mais polêmico des­sa fase dos trabalhos, ao votar otema da estabilidade no emprego.O deputado Luiz Inácio Lula daSilva apresentou destaque pro­pondo a estabilidade aos 90 diasde trabalho, logo após o encerra­mento do período de experiência.Em defesa de sua proposta elelembrou que a garantia do empre­go será o divisor de águas entreaqueles que defendem os interes­ses do capital e aqueles que defen­dem os interesses dos trabalhado­res. Depois de demonstrar que arotatividade no emprego provoca­da pelas empresas é uma maneirade achatar salários, o deputado ci­tou pesquisa mostrando que, em1986, ela foi de 96% no ramo daconstrução civil, 48% no do co­mércio, 44% no da agricultura,.37% no da indústria e 35% no dosserviços.

Ao contrário do que ocorreu nocapítulo das liberdades políticas­aflfmou -, a questão social é umdivisor de águas entre aqueles quedefendem os interesses (los traba­lhadores e aqueles que defendemos interesses do capital. Não hámeio termo, até porque a estabili- .dade no emprego é a principal rei­vindicação dos trabalhadores. Emapoio à proposta, veio o líder doPDT, deputado Brandão Montei­ro (RJ), que rejeitou as acusaçõesde que a garantia do emprego que­braria as empresas. Citou depoi­mento do empresário japonêsAkio Morita, que se confessouperplexo com o nível de rotativi­dade da mão-de-obra no Ocidentee com a prática empresarial de de­mitir empregados para reduzircustos.

Contra a proposta, manifestou­se o deputado Ricardo Izar (PFL- SP). Ele disse que a estabili­dade total não serve às empresasnem aos próprios trabalhadores.Se fosse implantada - prosseguiu-, dentro de um ano os própriostrabalhadores pediriam a sua re­vogação porque as empresas nãoagüentariam, e o desemprego viriacomo conseqüência inevitável.Disse ainda, com base em expe­riência empresarial de sua família,que o empregado estável não temboa produtividade. O relator Ber­nardo Cabral manifestou-se con­trário ao destaque e defendeu otexto original do substitutivo, in­formando que o mesmo foi nego­ciado com empresários e trabalha­dores, inclusive com o próprio Lu­la.

DIREITOSA Comissão aprovou emenda

do deputado Augusto Carvalho(PCB - DF), concedendo aos tra­balhadores rurais os mesmos direi­tos dos trabalhadores urbanos. Odeputado Paulo Paim (PT - RS)defendeu a proposta afirmandoque a medida tem o apoio de umgrande número de parlamentares,

6 Jornal da Constituinte

João Calmon Haroldo Sabóia Mello Reis Itamar Franco Uzio Sathler

na base, inclusive, de coação deempregados e de pessoas humildesdaquele Estado", Paulo Paimacrescentou que espera a modifi­cação do texto, no sentido de queatenda, de fato, aos interesses dostrabalhadores do País, os quais,"apesar de tudo o que vem aconte­cendo, continuam acreditando nosseus representantes".

ESCLARECIMENTOSComo líder, o constituinte Ita­

mar Franco (PL - MG) usou deseu tempo para solicitar à MesaesclareCImentos sobre o não apro­veitamento no Substitutivo Ber­nardo Cabral de emenda de suaautoria, aprovada na Comissão daOrganização dos Poderes, que es­tabelece a competência do SenadoFederal para escolher o presidentee os diretores do Banco do Brasil.

Pelo representante mineiroconsta, do texto do relator, apenasa indicação do presidente e da di­retoria do Banco Central, excluin­do assim sua proposta. Estranhan­do que sua emenda tenha sido pre­terida, apesar de aprovada na Co­missão Temática, o constituinteinsistiu em que o assunto seja dili­genciado pela Mesa.

MUDANÇASPor sua vez, o constituinte

Adroaldo Streck (PDT - RS)preferiu abordar um assunto decaráter mais genérico. O parla­mentar afirmou querer ver apro­vado na nova Carta constitucionalum elenco de medidas que digamrespeito diretamente ao conjuntoda sociedade e disse estar surpresocom o fato de que o Substitutivodo relator da Comissão de Siste­matização não traz em seu bojoas mudanças sociais e institucio­nais exigidas pelo povo brasileiro.

Preocupado com a necessidadede modificações capazes de alterarefetivamente o perfil brasileiro, oparlamentar acentuou que; paraISSO, são necessárias medidas paraimpedir, por exemplo, que o Exe­cutivo continue concentrando95% da responsabilidade na con­dução do País, "quebrando, dessamaneira, a independência e a har­monia entre os poderes da Repú­blica".

Adroaldo Streck defendeumaior participação da comunida­de nas decisões do País, a moder­nização da Justiça e a criação demecanismos para que cada brasi­leiro possa se autopromover, atra­vés <fe um trabalho com remune­ração justa. "Sem isso não serápossível atender às aspirações re­clamadas pela sociedade", obser­vou.

A estabilidade no emprego queestava sendo votada pela Comis­são de Sistematização também foio~tro assunto que provoc~u ~ea­

çoes, como no caso do constltulDteHaroldo Sabóia (PMDB - MA),que disse preferir ver aprovada aproposta de emenda popular arti­culada pelos movimentos sindicaisnesse sentido e que contou commais de um milhão de assinaturas.

Haroldo Sabóia observou quea proposta dos trabalhadores nãofixa nenhuma estabilidade absolu­ta, mas, pelo contrário, protegeapenas o empregado não permi­tindo a demissão imotivada, auto­rizando a rescisão contratual porfalta grave, por motivo econômi­co, por força maior, excluindo oscontratos a termo, os contratos deexperiência, os cargos de confian­~. Segundo o parlamentar, o ob­Jetivo da emenda popular é o denão permitir a dispensa por qual­quer motivo.

INTERESSESTratando do mesmo assunto, o

constituinte Paulo Paim (PT ­RS), sublinhou que a proposta deestabilidade no emprego em dis­cussão na Comissão de Sistema­tização, oferecida pelo relatorBernardo Cabral no seu relatório,atende mais aos interesses dos em­presários do que dos trabalhado­res.

Depois de observar que a maté­ria contida no SubstitutIvo do rela­tor Bernardo Cabral obedeceu aospropósitos do empresariado gaú­cho, "que conseguiu nada menosque 32 mil assinaturas a seu favor,

aos 25 anos de serviço. O parla­mentar criticou o substitutivo dorelator Bernardo Cabral por nãoter consagrado tal benefício ouquaisquer outros para a categoria.Ao contrário, destacou ele, o pro­jeto de Constituição de BernardoCabral fez foi retirar uma das prin­cipais conquistas do magisténo, aaposentadoria especial.

Sólon Borges dos Reis é autorde um pedido de destaque paraemenda que concede a aposenta­doria ao magistério aos 25 anose foi para essa proposta que pediuatenção especial da parte dosconstituintes, lembrando o traba­lho já desenvolvido nesse sentidoa partir do início dos trabalhos,quando a matéria foi discutida eaprovada na Subcomissão de Edu­cação e Cultura. Para o parlamen­tar, a Comissão de Sistematizaçãonão pode deixar de considerar umdireIto adquirido em anos de lutapor parte da categoria.

ESTABILIDADE

No que dizrespeito à

educação, osubstitutivotem pontosque foram

consideradoscomo um

avanço. Jáquanto à

estabUidade,muitas críticas

tor da educação. Mas ainda assiminsistiu que nenhum projeto rela­tivo à área, no Brasil, irá produzirbons resultados se não houver umesforço no sentido de solucionaros mais graves problemas que são.-no seu enten<fer, a ignorância eo analfabetismo.

ESFORÇOFoi essa também a posição do

constituinte Lézio Sathler (PMDB- ES) ao declarar que as distor­ções existentes no setor são tãograves que somente através de umesforço extraordinário o País po­derá modificar uma realidade quese apresenta dramática e que vemimpedindo a sociedade de evoluircomo um todo para o nível de umverdadeiro progresso social.

De igual modo ainda reconhe­ceu no texto do relator inegáveisavanços na área. Entende ele Q.ueo substitutivo apresenta dispoSIti­vos que realmente irão favorecera educação brasileira. A soluçãoapresentada por Lézio Sathler éa de investimentos públicos maci­ços para a educação.

APOSENTADORIAJá o constituinte Sólon Borges

dos Reis (PTB - SP) se dissepreocupado com a situação dosprofessores e defendeu a aposen­tadoria especial para o magIstério

realidade para a educação, "por­que somente através dela o Brasilse libertará do subdesenvolvimen­to social".

PARTICULARESDe igual modo, o constituinte

Mello Reis (PDS - MG) tratouda questão educacional e sua liga­ção com o texto do relator Bernar­do Cabral. O parlamentar elogiouo Substitutivo, o qual, na sua opi­nião, está consentâneo com a aspi­ração do povo, na medida em quepromove a continuidade de os es­tabelecimentos particulares de en­sino receberem verbas públicas,desde que atendidas as exigênciasdefen<fidas em lei. Para MelloReis, entretanto, não basta que aConstituinte aprove o texto, é ne­cessário que a rede particular te­nha efetivas condições para man­ter e aprimorar a qualidade de en­sino que ministra, oferecendo ade­quada infra-estrutura física e pe­dagógica, através de investimen­tos e salários satisfatórios para ocorpo docente.

O constituinte sustentou que ofinanciamento da educação noBrasil deve ter caráter de priori­dade nacional, através da destina­ção de recursos oficiais ao desen­volvimento de um modelo demo­crático de ensino. Todavia, MelloReis destacou não ser justo per­nútir o enfraquecimento, capaz delevar ao desaparecimento institui­ções de ensino particulares, cujacomprovada eficiência, tanto doponto de vista pedagó~ico quantogerencial, deveria servIr de mode­lo aos estabelecimentos oficiais.Ainda fazendo a defesa das esco­las particulares, disse o parlamen­tar que a crítica situação financeirapor que passa a rede de ensinoprivado, diante do recrudescimen­to do processo inflacionário queprovoca reajustamentos contínuosde composição de custos, enquan­to proíbe a atualização dos valoresdas anuidades, poderá provocar ainsolvência de tradicionais e bemadministrados colégios, com pre­juízos incalculáveis para as futurasgerações.

UNIÃOO texto do substitutivo do rela­

tor Bernardo Cabral, no entanto,mereceu restrições da parte doconstituinte Hermes Zaneti(PMDB - RS), para quem o tra­balho deve ser melhorado, atravésda união de todos os constituintes,não importando a que partido per­tençam.

Hermes Zaneti, por outro lado,considerou que o substitutivo con­seguiu importantes avanços no se- _

Ensino e emprego animam debate~

Para a Comissão de Sistemati­zação continua convergindo todoo esforço da Constituinte. O ple­nário ainda vive um clima de ex­pectativa, em compasso de espera,do projeto constitucional que estásendo votado, quando, aí sim, tu­do - esforço, atenção, debates,negociações - dependerá da pala­vra final dos 559 constituintes. Assessões plenárias que se sucedem,nesse período, dessa maneira, dãolugar a que os parlamentares usemda tribuna para discutir e tratardos temas que, certamente, vãoocupar grandes espaços para a ne­gocIação. O plenário, na sessão dequarta-feira, escolheu discutir,principalmente, a questão educa­cional e a estabilidade no empre­go que, naquele dia, estava sendovotada pela Comissão de Sistema­tização.

O constituinte João Calmon(PMDB - ES) referiu-se com en­tusiasmo ao Substitutivo Bernar­do Cabral nos capítulos sobre aeducação, afirmando tratar-se deum avanço e uma possibilidade devitória para o povo brasileiro. Oparlamentar <festacou principal­mente a hipótese, a seu ver já to­mando corpo entre os constituin­tes, de consagrar na nova Consti­tuição o princípio da garantia derecursos tributários para manu­tenção e desenvolvimento do en­sino.

João Calmon observou que aemenda constitucional de sua au­toria, aprovada pelo Congresso,vinculando ao ensino um mínimode 13% da receita de impostos daUnião e pelo menos 25% da recei­ta de impostos dos Estados, Dis­trito Federal e municípios, não es­tá sendo cumprida no âmbito dosEstados e municípios. Pelo quedisse, o princípio da garantia derecursos federais à educação fez­se presente em todas as Consti­tuições democráticas brasileirasdesde 1934. Quando omitido, des­tacou, nas Cartas de 1937, do Es­tado Novo e na de 67 se seguiuum declínio acentuado das verbasatribuídas ao ensino nos orçamen­tos federais. O constituinte con­clamou a todos os senadores e de­putados para que vigiem e mobili­zem as entidades ligadas à educa­ção no que diz respeito ao cumpri­mento da norma constitucional emvigor.

O parlamentar sustentou ser ne­cessária, a manutenção dos arts.188 e 238, do Relatório BernardoCabral, que restabelecem a con­quista social de concessão de re­ceitas tributárias para o ensino.João Calmon garantiu que a Cons­tituinte vai consagrar uma nova

Jornal da Constituinte 7

crlme ouum direito?

A greve, no Brasil, ainda é tratada como umcrime. Nas civilizações mais adiantadas, ainda nos finsdo século passado, a greve já deixava de ser um crimepara se tornar uma conquista dos trabalhadores nocaminho para a liberdade. Oitenta anos depois aindacorremos o risco de ter essa liberdade boicota_da, casonão fique bem explicitado na nova Constituição o con­ceito de greve como um direito legítimo, cujo exercícioseja fielmente respeitado. A observação é do consti­tuinte João Paulo (PT- MG), ao analisar a questãodentro das disposições do projeto de texto constitu­cional elaborado pelo relator Bernardo Cabral.

Tudo parte da falta de garantia no emprego,aponta o constituinte Juarez Antunes (PDT - RJ)que expressa sua descrença nos avanços da nova Cartacom o prognóstico de que "o povo poderá ter umadecepção com a nova Constituição". Quem não com­partilha dessa expectativa é o constituinte Carlos Chia­relli (PFL - RS), para quem o projeto parece bas­tante avançado por atender a princípios mais democrá­ticos e estimular o fortalecimento sindical através daindependência dos sindicatos de toda e qualquer estru­tura de governo. Semelhante é o ponto de vista doconstituinte Albano Franco (PMDB - SE), que vêna nova conceituação de "serviços essenciais" e noincentivo à negociação coletiva instrumentos eficazespara um avanço de porte na questão do direito degreve.

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mente o binômio - mais direitose mais deveres - e, no caso, ossmdlcatos poderão, com mais res­ponsabilidade, exercitar o direitode greve Isso Implica, Inclusive,a contrapartida de a entidade res­ponder pela manutenção dos ser­ViÇOS essenciais durante o períodode paralisação Um exemplo bemclaro é o caso de greve num hos­pital em que o SIndicato da cate­gona deverá (de acordo com dis­POSItiVO constitUCIOnal) responderpela manutenção de setores comoa UTI, banco de sangue, materni­dade, pronto-socorro etc)

Carlos Chiarelli aponta comoconsagrador dos pnncíplOs esti­mulantes do fortalecimento smdl­calo dispositivo que determIna aelImmação da barreira que vedavaao serviço público o direito de gre-ve e que, no texto Cabral 11, nãosó estende a esse setor, na esferados três poderes (Executivo, Le­gislativo e Judlcláno) como o per­mite também nos três níveis da ad­mlmstração, IStO é, aos funclOná­nos da UnIão, dos estados e dos ,­municípios. A únIca vedação se li­mita à área militar, o que é lógiCO,pela própna natureza desses servi­ços cUJos pnncíplOs de organIza­ção são a disciplina e a hierarqUia.A fIgura da arbitragem é outraInovação avançada do projetoconstitucIOnal, acredIta o repre­sentante do RIO Grande do Sul,por buscar duimu os conflItos deforma mais rápida e mais econô­mica, através da entrega da ques­tão a uma terceira pessoa de IIvryescolha de ambas as partes. "Ebom lembrar - diz Chiarelli ­que a arbitragem surge no projetocomo uma faculdade, não comouma obrigação."

NEGOCIAÇÃO

O Incentivo à negOCiação cole­tiva é uma tese defendida peloconstitUInte Albano Franco(PMDB - SE), para quem "o tn­pé - direitos fundamentais naConstitUição, regras báSicas na leie conqUistas e novas condições detrabalho no contrato coletivo ­poderá levar o Brasil a um Direitodo Trabalho que melhor atendaaos Interesses das partes envolVI­das no processo de produção e cu­culação de bens". Para o senadorserglpano, o Brasil necessita mo­dermzar-se em maténa de rela­ções do trabalho A principal pro­posta sena ampliar a prática danegOCiação direta entre as partese diminUir a quantidade de casosrotineiros que, por comodismo oumércla, são levados à Justiça doTrabalho.

Presidente da Federação das In­dústrias de Sergipe por seis anos(71-77) e ex-PreSidente da Confe­deração NaCIOnal da Indústna,Albano Franco destaca o novoconceito de serviços essenCiaisdentro do projeto constitucIOnalcomo mdlcador do avanço que anova Carta prenuncia no campodas relações entre capital e traba­lho Da mesma forma; a arbitra­gem surge, a exemplo de paísesmais adiantados, como uma alter­nativa louvável na área do enten­dimento entre empregados e em­pregadores Albano Franco de­fende, por outro lado, a substi­tUição da CLT por um Código doTrabalho capaz de fortalecer as or­ganIzações de empregados e em­pregadores e de estabelecer regrasmímmas a serem suplementadas,complementadas e melhoradaspelas partes mteressadas na mesade negOCiação

Marza Valdira

Itaipu, quando o ExéfCItO chama­do a mtervu pelo Coronel NeyBraga, a pretexto de manter a or­dem, reprimIU os trabalhadoresgrevistas fenndo 16 deles a baIO­neta. Em 1979, mais um furo nodireito de greve: a promulgaçãodo Decreto-Lei n° 1.632, estabele­cendo novos serviços essenCiaiS,como os bancos, os transportes eo serviço público, restnngIU amdamais o âmbito relvmdlcatóno dostrabalhadores através de movI­mentos paredlstas

"O governo não pode mterfenrem conflitos trabalhistas", acen­tua João Paulo ao mostrar que éInteiramente mconstItuclOnal a In­terferência de um tnbunal paradetermInar a Ilegalidade da grevepor Imposição do Executivo, co­mo tem acontecido no País. "MaisInconstitucIOnal amda - salienta- é, julgada a greve ilegal, deter­mmar a repressão policial." De­pOIS de reiterar que o SIndicato éa entidade própna para a nego­Ciação e a greve o mstrumentomais legítimo, mais poderoso e efi­caz de que dispõem os trabalha­dores na defesa de seus direitos,João Paulo conclUI que "a faltade soberania no País determma otratamento deSigual que é dispen­sado ao trabalhador pelo governo,em decorrência da falta de segu­rança dos 0l?erá~los para discutirsuas relvmdicaçoes. Temos umamassa de salános Irrelevante noPaís. A pobreza e a mlséna sãofruto da debilidade orgamzativados operános brasileiros".

AVANÇO

Uma nova conceituação de ati­Vidade essencial- agora não maisabrangente em termos de empresaou or~anização alcançada mas res­trita a natureza de serviços dife­renCiados dentro de um mesmocontexto -, o atendimento a cn­ténos mais democráticos para odireito de greve, a estimulação depnncípios do fortalecimento sindi­cal e a figura da arbitragem comoalternativa para as negociaçõesentre patrões e empregados sãoos avanços mais consideráveiScontidos no Substitutivo 11 do Re­lator Bernardo Cabral apontadospelo constituInte Carlos Chiarelli(PFL - RS) com relação aos di­reitos do trabalhador no capítuloespecífico do direito de greve.

Autor de vánas obras sobrequestões trabalhistas ("SIndicatoe Contrato Coletivo de Trabalho"é uma delas), Chiarelli vê no Pro­jeto Constitucional a consagraçãode um adiantado conceito de auto­nomia e liberdade sindical que, nasua opinIão, tende a crescer combastante rapidez. Para ele, a nãodependência do SIndicato dequaisquer estruturas de governofaz com que essa organIzação tra­balhista passe a ser uma Instituiçãocoletiva, mas não pública, não ofi­Cial e não estatal. "Isto - observaChiarelli - tira a possibilidade deo governo mterfenr no sindicato,o que dá como resultado o crescI­mento da atiVidade classista".Neste ponto, o senador gaúcholembra que os corolános mais Ime­diatos da autonomia são exata-

Presidente da CNI, o constituinte Albano Francodefende a tese do incentivo à negociação coletiva.Para ele, o Direito do Trabalho deve se assentar notripé: direitos fundamentais na Constituição, regrasbásicas na lei e conquistas no contrato coletivo.

Para Juarez Antunes, o direito de greve deveser realmente voltado para os trabalhadores, aos quaisdeveria ser dado estabelecer quais são, de fato, ossetores essenciais - aqueles que não podem parar.A não ser assim, a lei será sempre coercitiva.

Carlos Chiarelli vê avanços no novo substitutivode Bernardo Cabral: a nova conceituação de atividadeessencial, a estimulação ao fortalecimento sindical ea introdução da figura da arbitragem nas negociaçõesentre os patrões e os empregados.

Jornal da Constituinte

CAPITAL & TRABALHO

"Ou se democratizam as rela­ções capItal-trabalho ou não setem democracia neste país", dizo constitumte João Paulo (PT ­MG) do alto da expenêncla deseus seis anos de mandato comopresidente do SIndicato dos Tra­balhadores MetalúrgiCOs de JoãoMonlevade (MG) e de duetor daFederação dos Metalúrgicos deMinas GeraiS, além de dedicadoobservador do smdlcalIsmo euro­peu, particularmente da Itália e daFrança. Segundo João Paulo, dotratamento que se der ao dispo­SItiVO referente à proibição da diS­pensa ImotIvada é que se poderáfazer a verdadeua avaliação doProjeto ConstitucIOnal elaboradopor Cabral. Esse ponto que estáem pauta na Comissão de Sistema­tização determinará ou não a evo­lução política no país. Muita gen­te, diz João Paulo, contmua sendocassado no Brasil por militânciasindical, o que equivale a dizer queé cassada pelo exercíCIO de um di­reito constitucIOnal. "Só em JoãoMonlevade há, no momento, maisde 800 trabalhadores pumdos emvirtude de participação no seu sm­dicato " A prova mais concretadessa Informação é que ele, JoãoPaulo, está sem receber seu saláriona Companhia Siderúrgica Belgo­Mineira, desde 1983, tendo Sidoposto num escritóno, longe da fá­bnca, cUJO acesso lhe fOi vedado.

HOJe, aqui no Brasil, amda hámúmeros juízes que se pronun­ciam nos conflitos trabalhistasconfigurando a greve como um cn­me, observa o deputado mmeuo.Num breve retrospecto do assun­to, João Paulo lembra que o direi­to de greve, entre nós, foi reco­nhecido pela ConstituInte de 1946que, no entanto, remeteu a regula­mentação do seu exercício para alei ordinána Aconteceu que, an­tes de 46, haVia um arremedo deregulamentação de uma lei e fOiesta que contmuou a ser aplicada,apesar do novo diSPOSitivo, até1964, quando a Lei n° 4.330, rela­tada por Ulysses GUimarães, pra­ticamente invlabllizou a greve.Nessa altura, o representante pe­tIsta cita o exemplo recente de

temple as aspirações populares".Antunes desmltiflca o jogo demteresses que há por trás da prio­ndade de espaço oferecido pelagrande Imprensa a temas que nãoImplicam a promoção do desen­volVimento. do país, como o man­dato presidencial, e o sistema degoverno, em detnmento daquelesque promovenam, de.fato, as mu­danças que a sociedade reclama."Além diSSO, a grande Imprensa pa­rece onentada no sentido de Infor­mar à opInião pública de que tudoo que acontece de rUim no paísé culpa da ConstItumte Se o go­verno não governa, por exemplo,a culpa é da ConstitUInte E todossabemos que Sarney não governapor mcompetêncIa. Ele está mUitopreparado para frequentar a Aca­demia Brasileira de Letras, maspara tomar atitudes em favor dopovo, não."

"O governo não pode interferir em conflitos tra­balhistas" - adverte João Paulo, inconformado coma sujeição da legalidade ou não de uma greve ao julga­mento de um tribunal. Pior ainda, diz ele, é a repressãopolicial depois que a greve é julgada ilegal.

um

nham tel!do tramitação difícil, oque torna a luta nesse sentido bas­tante decepclOnante. Na sua 0PI­mão, ISSO se deve ao fato de o Con­gresso ConstituInte ser formado,em sua malOna, por empresános,latIfundlános, banqueiros e repre­sentantes de grupos econômicosalienígenas. Suas esperanças deêXito se concentram mais no ple­náno por ser um ambiente maisaberto no qual os constltumtes ne­cessariamente se exporão mais aosseus eleitores, e ISSO ajuda a pesarmais um pouco em favor dos tra­balhadores.

O substitutiVO, para os trabalha­dores, pouca cOisa tem de nOVida­de, garante o parlamentar flumi­nense, que explica as razões porque dificilmente as emendas porele apresentadas serão vltonosas:"o dueIto de greve, na Subcomis­são dos Direitos do Trabalhador,e na Comissão da Ordem Social,saIU como pensávamos, IStO é, ostrabalhadores determmavam ossetores essenciais. Já na Sistema­tização, Cabral fez o relatóno con­forme suas conveniências, não sóquanto ao direito de greve mas emtodos os Itens referentes aos traba­lhadores A seu lado forma a gran­de Imprensa (que está do lado dogoverno) que, ao mvés de ajudarna luta pela conqUista desses duel­tos, fica se preocupando em quea ConstItumte está mUito devagarIsto não Importa e sim, que se fa­ça, dentro do prazo que for neces­sáno, uma ConstitUição que con-

8

No momento, o direito de greveestá mUito atrelado à legislaçãosmdlcal O direito estabelecidopela CLT é mUito reduzido, as li­mitações são mUito grandes, mos­tra o deputado Juarez Antunes,com a expenêncla que lhe dá otrato com essas questões obtidaem quatro anos de presidência doSmdicato dos MetalúrgiCOs deVolta Redonda e de membro dadireção nacIOnal da CUT, desdea sua fundação. O constituinteeleito pelo RIO de Janeiro mostraque uma mfimdade de serviços fo­ram sendo postos na conta de es­senciais como o setor bancáno eo de transportes, de maneira dIta­tonal, o que torna a lei de grevecada vez mais coercitiva. Para ele,os serviços essenciais devenam serdetermmados pela categoria, pelotrabalhador, desde que fique soba sua responsabilidade a manuten­ção dos serviços de setores querealmente não podem parar. Jua­rez Antunes lembra que esse tipode comportamento sempre foiadotado pelos trabalhadores filia­dos ao smdlcato de Volta Redon­da, que nunca deixaram de preser­var, mesmo em períodos grevistas,os setores essenciais da empresa,como serviços de gás, OXigênioetc

Desencantado com os rumosque a ConstituInte vem tomando,Juarez Antunes lamenta que nãosó o direito de greve, mas todasas propostas mais reclamadas pe­los trabalhadores brasileiros ve-

Greve:

PARTIDOS &TENDÊNCIAS::: PARTIDOS~TENDÊNCIAS ::: PARTIDEntre os temas mais polêmicos em debate na

Assembléia Nacional Constituinte, o sistema degoverno, sem dúvida, é o principal deles. Nestamesa-redonda, organizada pelo Jornal da Consti­tuinte, a discussão se tomou mais dinâmica nomomento em que os partidários do parlamenta­rismo e do preSidencialismo defenderam seus pon­tos de vista. Um fato se repetiu com clareza: atéagora, não se obteve o consenso desejado em tomodo sistema de governo.

.Para Carlos Alberto Caó (PDT - RJ), "o míni­mo que se pode exigir de um constituinte é queele procure traduzir, nas suas iniciativas e decisões,a vontade geral do povo brasileiro. O povo querescolher o s~u governante".

Já Saulo Queiroz (PFL - MS) afirma que "aconsciência que nos move é a certeza de que oparlamentarismo é o melhor regime de governo".E exemplifica com a Europa Ocidental: "há uma

_lemocracia plena, implantada com revezamento

de poder".Presidencialista, Roberto Jefferson (PTB - RJ)

enfatiza a tentativa de implantação do sistema par­lamentar "é um vício do autoritarismo, sem fmali­dade doutrinária ou programática. É chegar aopoder e impedir que cheguem ao poder".

Segundo Eduardo Bonfim (PC do B - AL),"no presidencialismo aconteceram 19 golpes deEstado. Não defendemos um parlamentarismoanacrônico. Defendemos um parlamentarismo emque o presidente da República tenha poderes efeti­vos e reais, de acordo com a tradição brasileira".Esse não foi o único assunto analisado pelos quatroconstituintes. Eles comentaram também o segundosubstitutivo do Relator Bernardo Cabral; a atua­ção dos grupos que se formaram no interior daANC; as questões da tortura e da censura; a inter­ferência do Executivo nos trabalhos da Consti­tuinte; como foram contempladas as reformas ur­bana e agrária e, ainda, o problema da dívida ex­terna.

 poloriztítlJo do debate sobre o sistema de govemo leva li condUSl1o de que a madria será resolvida pelo voto, em plenário

Governar, sim. Mas de que forma?JC - Como os senhores anali­

sam o segundo Substitutivo do re­lator Bernardo Cabral?

Roberto Jefferson - Acheimuito bom. Não é perfeito porqueprocura estabelecer pelo menosuma opinião média entre todos osinteresses conflitantes do País. Foium trabalho feito com muito sacri­fício, honrando sobremaneira aConstituinte, porque em Bernar­do Cabral encontramos uma pes­soa aberta ao diálogo, à negocia­ção e sempre em busca de bomsenso. Dentro do possível, nesseconflito de interesses, é minha opi­nião de que saiu muito bom o rela­tório chamado "Bernardão".

Eduardo Bonftm - Não se tratade discutir a capacidade pessoaldo nobre Relator Bernardo Ca­bral, conhecida por todos, mas oresultado r.rático do seu trabalho,que foi o 'Cabral 11". Penso queo relatório do Deputado BernardoCabral, em que pese alguns avan­ços, é fundamentalmente conser­vador. Al~umas questões não fo­ram resolVidas e, em alguns aspec­tos, regrediram, como, por exem­plo, o problema das Forças Arma­das. Nessa questão do militaris­mo, estamos assistindo agora à in­tervenção das Forças Armadas emItaipu, onde o comandante daGuarnição declarou ter recebidoordens do diretor da empresa paraintervir. Nós, que estamos diSCU­tindo o papel constitucional dasForças Armadas, defendendo que

. seu papel seja o de defender a inte-

gridãde territorial, a soberania na­cional, os poderes constitucionais,enquanto outros defendem que opapel das Forças Armadas se deveestender à questão da lei e da or­dem, estamos observando, na prá­tica, 'lue se vai extrapolando a esseprópno parâmetro, porque um di­retor de empresa convoca as For­ças Armadas para intervir numagreve ilegítima de trabalhadores.Amanhã, será um inspetor deq~arteirãoou qualquer outro cida­dao que resolverá convocar asForças Armadas para resolver umconflito até de natureza privada.Acho que com relação a esse pro­blema das Forças Armadas, dasmulheres, dos negros, da minera­ção, que abre, inclusive, um espa­ço enorme para que empresas es­trangeiras penetrem na explora­ção de recursos minerais até nasterras dos índios, acho que o pro­blema da empresa nacional pre­cisa ser resolvido com mais efi­ciência, chegando-se a um deno­minador comum, já que no relató­rio de Bernardo Cabral há pratica­mente uma abertura à penetraçãodo capital estrangeiro no Brasil.

Saulo Queiróz - O relatório deBernardo Cabral é produto, emúltima análise, da metodologiautilizada nos trabalhos para a ela­boração da nova Carta Constitu­cional. O relatório não inovou,não criou, acabou refletindo a mé­dia das opiniões existentes dentrodo corpo .da Assembléia NacionalConstituinte. Naturalmente que

Carlos AlbertoCaó: A dividaexterna é uma

questãopolftica, é

uma questão dasoberania e

deve sertratada comotal. Ela tem

de serdiscutida comum governoeleito pelo

voto popular

posições não contempladas, e as­sistimos ainda há pouco; dentrodo relatório, exercem o legítimoe sagrado direito de crítica, masreafirmo que o relatório é posiçãomédia e os choques ideológicosdentro da Constituição vão teragora, como conseqüência desserelatório, dois tempos: o tempoda sistematização, que já corre, e,finalmente, o tempo do plenário.Uma parcela ponderável das críti­cas ao Relatório Bernardo Cabralé a frustração de alguns constituin­tes, que gostariam de ter direitosautorais na Carta, não consegui­ram imprimir, como seria impos­sível que todos o fizessem, sua la­vra no documento, mas correçõeseventuais deverão ser feitas, comojá disse, nas votações.

Carlos Alberto Caó - O relató­rio do Substitutivo 11 do DeputadoBernardo Cabral poderia conteravanços significativos a se tomarpor base as resoluções das deci­sões tomadas no âmbito das co­missões temáticas. Não diria queé um documento emprestado, nãoseria correto dizer isso, mas é umdocumento que representa retro­cesso em relação a decisões quejá haviam sido tomadas pela As­sembléia Nacional Constituinte noâmbito das comissões temáticas.Vejamos alguns pontos: no que serefere à organização sindical, porvotação expressiva, a comissão te­mática da Ordem Social decidiuque a estrutura sindical brasileirase basearia no princípio da unici-

dade sindical. O Relatório Cabraldesconheceu essa decisão da Or­dem Social e se fixou no princípiodo pluralismo sindical, que é pro­fundamente desastroso para a or­ganização do movimento sindicale o papel que ele terá que desem­penhar na construção da estabili­dade democrática. Com relaçãoao problema que sempre a legisla­ção brasileira escamoteia, que asConstituições brasileiras costu­mam passar ao largo, que é o pro­blema racial, taml>ém o RelatórioCabral, o Substitutivo 11, apresen­ta um grave retrocesso. Diante deuma questão simples, que é decla­rar, como feito {)ela comissão te­mática, que o racismo constitui umcrime inafiançável, passa ao largodo problema e invoca e alega ques­tões de natureza técnica, de ordemconstitucional, para não assumira decisão toma(Ja pela comissãotemática. Outro grave, gravíssimoretrocesso, e é até um confrontocom a opinião média da populaçãobrasileira, é o duplo colégio eleito­ral que o Substitutivo 11 cria paraa escolha do presidente da Repú­blica. Ora, se há uma coisa dianteda qual a po{)ulação já se pronun­ciou, e as várias formas de aferiçãodo sentimento generalizado da po­pulação, é que não quer sabermais de colégio eleitoral para aescolha do presidente da Repúbli­ca. Mas, para não ficar só nas críti­cas, vamos apontar um ponto posi­tivo e significativo do RelatórioCabral. Parece-me que esse ponto

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Saulo Queiróz - Acho que asua observação é extremamentepertinente e completa a linha deraciocínio que venho defendendo.Temos, indiscutivelmente, ques­tões temáticas dentro da Consti­tuinte sobre as quais cada um temuma opinião independentementeda linha ideológica, de linha pro­gramática ou de linha doutrinaria.Sistema de governo é uma delas.E como o assunto em pauta eraformação de grupos, no nosso gru­po não colocamos em discussãosistema de governo. Por quê? Por­que as opiniões eram díspares na­turalmente, independentementede legendas ou de posição ideoló­gica, porque é o conceitual. Háguem ache que o presidencialismoe melhor, há quem ache que o par­lamentarismo é melhor. Na Cons­tituição havia divergências doutri­nárias importantes. Por exemplo,na Comissão da Ordem Econômi­ca tínhamos, e vamos ter, diver­gências doutrinárias importantessobre conceito de empresa nacio­nal, sobre a forma de se processara reforma agrária. Na verdade, éaí que se vai ter, uma separaçãoem linha ideológica.

Carlos Alberto Caó - Qual éa nossa posição? Vão dizer logo:o Caó assume a posição favorávelao presidencialismo porque o Bri­zola é candidato à Presidência daRepública. É evidente que Brizolaé nosso candidato à Presidênciada República, vamos trabalhar pa­ra elegê-lo. Essa é a nossa posiçãoclara. Mas a nossa posição políticaem relação ao sistema de governonão envolve apenas isso, mas simaspectos maiores, mais abrangen­tes. Achamos que o mínimo quese pode exigir de um constituinteé que ele procure traduzir, nassuas iniciativas, formulações e de­cisões da vontade geral do povobrasileiro. E essa vontade geral dopovo brasileiro já se manifestouclaramente. O povo quer escolher- depois de ter sido privado dodireito de escolher quem governaa nação - o seu governante. Enão me venham dizer que essavontade geral foi um momentoefêmero da vida política nacional.Ela continua permanentemente semanifestando, através das diferen­tes formas de aferição.

Não podemos chegar para o po­vo brasileiro e dizer o seguinte:você não vai mais escolher o chefede governo. Você vai votar em1988 ou 1989 para eleger sequera rainha da Inglaterra. Vocês vãoeleger a princesa Anne, porquequem vai escolher o chefe de go­verno é o Parlamento. Isso, comtodo respeito, afirmo e reafirmo,soa como um engodo político, co­mo uma fraude polítIca. Não setrata de discutir que o parlamen­tarismo tem apenas deméritos edesvantagens. Não colocamosdesta forma. Para nós, o que secoloca é o seguinte: a vontade ge­rai do povo é de escolher quemirá governar este país, porque fi­cou 20 anos sem escolher.

Roberto Jefferson - Temos as­sistido a uma prática do autorita­rismo. Há corrente que defendao parlamentarismo lento e gra­duaI, fazendo lembrar a distensãodo Geisel, que era lenta e gradual.Isso é um vício do autoritarismo,trazido para cá. Hoje temos assis­tido a essa discussão em torno doparlamentarismo gradual. E o queme impressiona nesta discussão éque ela não tem, na maior partedas vezes, uma finalidade doutri­nária ou programática, é poder.

soai à sua colocação. Essa questãose refere exatamente ao rumo quea Constituinte está demonstrando,que a linha divisória não é de natu­reza ideológica. Tenho cá as mi­nhas convicções ideológicas. Cadaum de nós tem as suas convicçõesideológicas, mas temos que partirdo pressuposto que não serão asminhas convicções ideológicas,isoladamente, capazes de impor orumo, o perfil da nova Carta. Ne­nhum partido político, nenhumagrupamento político terá capaci­dade de determinar o que será anova Constituição. E vimos clara­mente isso, agora, no início dostrabalhos da Comissão de Siste­matização: a questão da tortura.A emenda foi aprovada com oi­tenta e três votos dos noventa etrês da Comissão de Sistematiza­ção. Ainda não podemos indicarque foi direita, esquerda ou cen­tro. O determinante, aí, foi a posi­ção democrática. Então, para mimpessoalmente e para o meu par­tido o PDT, o que é que nós quere­mos, o que é que desejamos danova Constituição? Que ela sejacapaz de instituir as bases para aconstrução da democracia políticaem nosso país.

Eduardo Bonfim - A questãoda tortura foi tratada na Comissãode Sistematização, de forma extre­mamente avançada. Avançou-semais do que na Argentina, e issoé um fato interessante, porque, naArgentina, os generais que foramos autores intelectuais da tortura,alguns até foram autores materiaisda tortura, foram responsabiliza­dos. Se mantido o texto da Comis­são de Sistematização, no referen­te à tortura, na futura Constitui­ção brasileira, os generais serãoresponsabilizados como tortura­dores. Os comandantes das guar­nições, por exemplo. Necessaria­mente, a tortura não r.recisa serexecutada num 9uarte , e muitasdas vezes não o e. Não só o tortu­rador, mas aquele que tem a -dire­ção, a autoridade maior sobre ossubordinados que torturaram. Is­so é um avanço. E, mais do queisso, a tortura será consideradacrime imprescritível e inafiançá­vel.

Carlos Alberto Caó - Voltandoao tema que estávamos discutin­do, na própria Comissão de Siste­matização, tivemos outro momen­to de confluência, de convergênciade opiniões, que foi a decretaçãoconstitucional da extinção da cen­sura de qualquer espécie.

Pela votação havida, nota-seque houve uma confluência. Apartir daí creio que podemos dizerque a linha divisória na Consti­tuinte é profundamente flexível,os ingredientes de natureza ideo­lógica passam para segundo plano,e a linha divisória será naturezapolítica. Será a distinção entre osque querem construir uma demo­cracia política baseada na predo­minância da ordem civil, da ordemconstitucional e aqueles CJ.ue que­rem manter esse círculo tntermi­nável de regimes autoritários.Acho que, em função disso, é quese formarão vários grupos, váriasarticulações que começarão e aca­barão dentro do texto que estare­mos discutindo. Eu, por exemplo,com relação ao meu amigo, consti­tuinte Eduardo Bonfim, estou ir­remediavelmente afastado emfunção do sistema de governo. Emrelação a outros temas - liber­dades individuais e direitos e ga­rantias individuais - estaremosjuntos.

Eduardo Bonfun:não há a menordúvida de que a

Constituinte,desde o início,

vem sendocerceada do

ponto devista de umPoder quedeveria ser

livre esoberano eassim foi

convocado

quis dizer de fato não é isso, aparticipação do povo pode ocorrerem todos os instantes. O que euquis dizer é que não posso conce­ber que se vote na Constituiçãosobre pressão ou que algum cons­tituinte abandone as suas idéiasem função de uma manifesação degaleria. Na verdade, contestavauma posição endossada pelo cons­tituinte Eduardo Bonfim. Achoque cada um de nós irá votar aquide acordo com os nossos valores,as nossas convicções, a nossa cons­ciência e não consigo entender co­mo uma mobilização popular,dentro da Constituinte, seja capazde modificar conceitos, idéias quedevem estar estratificadas em cadaum de nós que está aqui represen­tando uma parcela do povo brasi­leiro.

Carlos Alberto Caó - Vejabem, a segunda questão que que­ria destacar creio que vai na dire­ção de uma resposta minha pes-

tuinte Saulo Queiróz, vejo que éimportante destacar dois aspectos.O primeiro em concordância como constituinte Roberto Jeffersondo meu Estado, o Rio de Janeiro,fazer uma Constituição num regi­me ditatorial, num regime militarpode-se fazer em uma ou duas se­manas, basta apenas que se convo­quem dois ou três sábios ilumina­dos e fazem a Constituição deacordo com a encomenda do dita­dor de plantão. Já no sistema detransição para a democracia, efe­tuar a elaboração de uma Consti­tuição é um trabalho que não podeser tão rápido como se deseja. Asdiscussões têm que ser submetidasa um período de maturação, têmque ser aprofundadas, embora to­dos tenham o maior apreço peloprincípio de representação, temosque nos abrir à participação popu­lar, ouvir o povo, sem que issorepresente uma fragilidade emnossas convicções.

Saulo Queiróz - ConstituinteCarlos ALberto Caó, o que eu

Carlos Alberto Caó - Consti-

o próprio Tancredo Neves defen­deu que seu mandato seria de qua­tro anos.

Outro problema seria o do plu­ralismo sindical, que divide as pró­prias esquerdas. Defendemos aunidade sindical, pois achamosque ela é um elemento fundamen­tai para que as classes operáriase dos trabalhadores se armem po­liticamente dessa unidade, paradefender seus direitos. A divisãodo movimento sindical significaenfraquecimento da classe operá­ria. São questões que dividem aesquerda também e que dividemos chamados setores liberais e ossetores conservadores.

Um elemento fundamental é amobilização popular. Sem isso te­remos uma carta anacrônica, ina­dequada à realidade brasileira.Nossa realidade exige transforma­ções.

Saulo Queiróz - Parece-meque ocorreu a formação de doisblocos importantes nos trabalhospreparatórios ao relatório doconstituinte Bernardo Cabral.Vou chamá-los de o grupo dos 32e o grupo do consenso. Participeido grupo do consenso' e tenho ab­soluta convicção de que ele foimuito importante para afirmaçãode alguns pontos consensuais den­tro do primeiro e do segundo rela­tório do constituinte Bernardo Ca­bral. Havia dentro do grupo a con­cepção de que, em primeiro lugar,se devia, desde já, buscar esse en­tendimento para dar um razoávelnível de organicidade ao trabalhodo relator Bernardo Cabral. Mastínhamos também consciência quea partir da votação da Comissãode Sistematização dificilmente es­ses blocos se manteriam unidos.Era uma probabilidade pequenae que, na minha opinião, se confir­ma. Na Comissão de Sistematiza­ção começa a valer nas votaçõescomo regra, e a exceção só servepara confirmar a regra, as posiçõesmais à direita ou mais à esquerdaou ditas progressistas ou ditas mo­deradas, e elas, com toda certeza,nortearão a votação da Constitui­ção daqui para frente, porque ospontos de conflito, em situaçõespeculiares, são importantíssimos.Já tivemos aqui manifestações dedois constituintes que defendem aunicidade do sistema-sindicato.Eu, por exemplo, defendo a plura­lidade como no relatório. E nãohá como imaginar que os grupospossam influir nessa posição, do­ravante. Existem conflitos de opi­nião que, na Comissão de Sistema­tização e depois no plenário, serãodecididos simplesmente pelo votoe pela posição majoritária. Nãoquero acreditar em duas coisas co­locadas pelo constituinte EduardoBonfim. Primeiro, de que umagrande mobilização popular possainfluir no ânimo e nas convicçõesdos membros da Assembléia Na­cional Constituinte, porque isso,em última análise, seria admitir afragilidade, a incompetência da­queles que estão aqui representan­do a sociedade brasileira. E, aci­ma de tudo, não quero, em nenhu­ma hipótese, participar da opiniãode que as eleições em dois turnos,sendo que o segundo turno seriauma eleição congressual, tenhamqualquer possibilidade de seraprovadas, seja na Sistematiza­ção, seja no plenário, porque essa,sim, é uma posiçâo de convergên­cia e de convergência para der­rubar.

positivo - altamente significativo- se refere ao direito de greve.Aí o relatório adota uma posiçãode conformidade com a legislaçãomais moderna que tem vigêncianos estados democráticos maismodernos de todo o mundo.

JC - Durante os trabalhos daConstituinte foram formados gru­pos buscando o consenso em tornode temas polêmicos. Esses gruposestão influindo nas liberações daComissão de Sistematização?

Roberto Jefferson - A Consti­tuinte é formada de grupos. Hágrupos de esquerda, de centro-es­querda, os de centro e centro-di­reit_a, e lo&icamente e~s~s gruposestao tnflutndo na deftnlção atra­vés da Comissão de Sistematiza­ção e do próprio relatório do de­putado Bernardo Cabral. Temgente que acha que essa Consti­tuinte está demorando muito, queos prazos estão sendo desrespei­tados, mas levaram vinte e tantosanos desmoralizando a ordem ju­rídico-institucional e constitucio­nal do Brasil. E nós temos quearrumar tudo em três ou seis me­ses? O que é que há? Quer dizer,acabaram com todo o ordenamen­to político durante vinte anos eagora a Constituinte tem obriga­ção de consertar o que demoliramnesse tempo? A pressa é inimigada perfeição.

Eduardo Bonfim - Evidente­mente que os grupos continuam'atuando na Comissão de Sistema­tização. O que penso é que oexemplo das recentes votações naComissão demonstra que, além deuma formação de grupos que sãocomuns em posições políticas,doutrinárias e ideológicas, nós te­mos constituintes, que, indepen­dentemente de sua condição ideo­lógica, vão adotando uma posiçãoem função de seus princípios e nãodos grupos. Tivemos na votaçãoda questão referente à tortura umamesclagem muito grande de seto­res tidos como conservadores, quevotaram com posições avançadas.Penso que a definição e o estabele­cimento a priori de dois grandesblocos na Comissão de Sistema­tização, na verdade, visam a impe­dir a modernização da Carta. Aperspectiva de avançar é bastantepossível. É claro que questões co­mo a que se refenu o constituinteCarlos Alberto Caó, como o colé­gio eleitoral, que nós condena­mos, o Partido Comunista do Bra­sil condena o colégio eleitoral queestá no relatório do deputado Ber­nardo Cabral. O problema das di­retas em 1988 está mais ligado aum problema conjuntural do quepropriamente constitucional, umaâiscussão doutrinária, mas está li­gado a uma transição política, à

'interpretação de uma transiçãopolítica, ou, se formos mais além,do que é ou não direito adquiridoou se o Presidente Sarney teria es­se direito adquirido, se a naçãoexige diretas em 1988 e, quando

1lIIJI-dI~'E~AATIDOS&. TENDÊNCIAS ::: PARTIDOS & TENDÊNCIAS :::PARTIDOS & TENDÊNCIAS::: PAII

Jornal da Constituinte 11

fundiário que vai chamar as ForçasArmadas para proteger o seu lati­fúndio porque não quer, digamosque seja um usineiro que não quei­ra pagar o salário do bóia-fria. De­poiS de amanhã será a Ford quenão quer que a greve dos metafúr­gicos seja vitonosa, então chamaas Forças Armadas. Depois uminspetor de quarteirão que achaque tem uma confusão no seu bair­ro e não resolve, chama as ForçasArmadas. Quer dizer, as ForçasArmadas se desmoralizam peran­te a nação no seu papel essencial,constitucional, diante do direitoconstitucional. Portanto, a pres­são é intensa, há pressão do Go­verno Sarney.

JC - Estudiosos dizem que aquestão urbana é tão grave parao Brasil como a reforma agrária.O substitutivo cuidou bem e, afundo desse assunto?

Carlos Alberto Caó - O substi­tutivo, em relação ao projeto daComissão de Sistematização con­té~ um inegável ~vanço a~ per­mitir a desapropnação de terrasurbanas com títulos especiais dadívida pública, assim como ao re­duzir consideravelmente o perío­do de aquisição do domínio de pe­quenos fotes através do usucapião.Apresentamos, levando em contaa realidade do Rio de Janeiro,uma emenda a um dos artigos quese refere a essa questão da reformaurbana, reduzmdo de 5 para 2anos a aquisição do domlnio dolote de terra por quem esteja mo­rando nele sem qualquer oposi­ção. Temos uma experiência noRio de Janeiro que demonstroucabalmente, durante o períodoqu~ exercemos o cargo de secre­táno do XX Trabalho e Habita­ção, que a partir do momento emque você permite que uma famíliapobre, que mora naquela favelana periferia, tenha o titulo de pro­priedade, 5 ou 6 meses depois,sem nenhuma interferência do Po­der Executivo, aquela própria fa­mília encontra meios de Investirna melhoria das condições da qua­lidade de habitação. Creio que is­so não se trata apenas de uma ex­periência no Rio de Janeiro, atéporque, segundo as estatísticas,em termos de construção habita­cional em nosso país 20% perten­cem ao mercado formal de cons­trução com ação do Poder Públi­co, das empresas, 80% é mercadoinformal, a própria famfiia, reu­nindo de forma precária seus pró­prios recursos, sob regime de mu­tirão, de ajuda múltipla, constróia sua própria casa e melhora a suacondição habitacional. Achamos,para fazer justiça ao Relator Ber­nardo Cabral, que no que se refereà questão urbana, o substitutivoavançou. É preciso que se saibaclaramente que 80% da populaçãobrasileira hoje habita as cidades.O reordenamento do crescimentodas cidades, o planejamento docrescimento das cidades, uma cer­ta disciplina no crescimento das ci­dades está se tornando fundamen­tal para que as cidades brasileiras

. não se tornem, de modo cabal edefinitivo. ingovernáveis.

Roberto Jefferson - No que to­ca à reforma urbana no Rio deJaneiro, avançaram muito, por­que, até então, era um assuntocompletamente desconhecido erelegado a segundo plano. Temosesta convicção, não pretendemospermitir que a propriedade urbanaseja apenas reserva econômica, étambém uma violência permitirque a propriedade urbana exista

tegração, com efeitos financeiros,o Exército não acatará.

.Como também é abusivo queexatamente no momento em quediscutíamos a reorganização domundo do trabalho o presidenteda República envie ao Legislativo,que praticamente não está funcio­nando, um projeto de lei dispondosobre a organização sindical. Estátentando atropelar, evidentemen­te, a Assembléia Nacional Consti­tuinte,

Roberto Jefferson - Não vejo,sinceramente, ingerência algumado Poder Executivo na Constituin­te. Pelo contrário, todas as vezesque o Presidente Sarney tem seposicionado as coisas saem sempre<Jiferentes do que quer e pensa.E vou mais longe, quando ele dizque é presidenCialista, está defen­dendo o Poder. Se é Iobby de to­dos, o Poder, inclusive o instituí­do, tem também que exercer pres­são.

Quanto ao General LeônidasPires Gonçalves, houve aqui atéuma discussão dura na ocasião,mas ele não declarou nada dissoà imprensa. Numa reunião de mi­nistros - isso já ficou esclarecido- ele colocou seu ponto de vista:"Eu não tenho como pagar. Se ti­ver que pagar 25 anos, são 50 bi­lhões de cruzados; não pago".Mas alguém da reunião disse pe­rante a opinião pública não o queo ministro dissera numa entrevis­ta, num recado aos jornalistas,mas numa discussão fechada como presidente da República e os mi­nistros. Acho que estamos dandouma dimensão brutal a um fatoque não tem esta dimensão. Esta­mos querendo dizer que fomosconstrangidos, que a soberania daConstituinte foi ameaçada. Coisanenhuma. Iremos votar tudo issoindependente.

Eduardo Bonftm - Não há amenor dúvida de que a Constituin­te desde a sua instalação vem sen­do cerceada brutalmente{!o pontode vista de um Poder que deveriaser livre e soberano e assim foiconvocado, embora eivado de er­ros o processo de sua convocação.A interferência dos segmentos mi­litaristas da sociedade - e aquifaço um aparte - é porque os se­tores reaCIonários e conservadoressempre tentam imputar àquelesque denunciam o militarismo nasociedade brasileira como pessoasque são contra a existência dasForças Armadas. As Forças Ar­madas são instituições necessáriase imprescindíveis a qualquer na­ção e ao Brasil. A defesa da sobe­rania nacional, a defesa da Pátriaestá ligada a duas questões funda­mentais: a primeira é a consciênciado povo na defesa da sua Pátriae, a segunda, as Forças Armadascomo instituição armada - o no­me já diz muito bem - que devegarantir a integridade do territórionacional. Mas acontece que os se­tores militaristas da socie<Jade bra­sileira querem, aí sim a essênciada doutrina do militarismo, é atransformação de uma instituição,q,ue não deveria se imiscuir na so­CIedade civil, em um partido polí­tico armado. Esta que éa questão.Aí está a definição clara do milita­rismo. Desde o primeiro momen­to da instalação da AssembléiaNacional Constituinte que refina­rias são invadidas, deveria ser pa­pei de polícia, até da Polícia Mili­tar. Agora invadiram a binacionalItaipu porque havia uma greve detrabalhadores lutando por melho­res salários. Amanhã será o lati-

RobertoJefferson: Achouma violêncianão se'ouviro Judiciário

na questão daimissão

imediata daposse. Não

se deveafastá-lo de

uma questãofundamental:

a posseda terra

essa atitude?Saulo Queiróz - Teoricamen­

te, a todo cidadão brasileiro nãose pode negar o direito à opiniãoe a influir, seja da forma que en­tender válida - para mim a formaválida foi o voto no dia 15 de no­vembro de 1986 - nos trabalhosda Assembléia Nacional Consti­tuinte. O que temos de evitar éa formação do lobby do&Oderdentro dos trabalhos da onsti­tuinte.

No que falávamos há pouco ­só para pegar um exemplo - siste­ma de governo, um tema políticocentral e que interessa todo mun­do que faz política, não há porquedeixar de observar e de consideraruma participação cada vez maisativa dos governantes ou das for­ças que governam este país dentrodos trabalhos da Constituinte. Re­torno à tese que há pouco defendi:acredito que todo membro desta·Assembléia tem força e opiniãopara se resguardar de qualquer ti­po de pressão, desde a pressão ~~

pular mobilizada, até a pressão doPoder Executivo. Pode até ser queo Poder,por isso, termine pressio­nando. Quero carregar comigo adúvida do resultado dessa pressão.

Carlos Alberto Caó - Em certamedida, a Assembléia NacionalConstituinte, nesse estágio que es­tamos vivendo, deve estar abertae ser submetida a pressões da so­ciedade, através de suas diferentes·formas de organização. ·Pressãodos trabalhadores, pressão dosempresários. Aí se forma o espec­tro deniocrático. Agqra, um Po­der agindo sobre a COnstituinte,CJ.uer seja o Executiyo, o Judiciá­no, o militar, deixa de ser pressãopara assumir características até decoação. As declarações do minis­tro do Exército, General LeônidasPires Gonçalves, são abusivas. Ele.não poderia" de forma alguma, di­zer que, caso a ANC vote a emen­da concedendo:a anistia com rein-

Ihador discute a inflação.Agora, poder político discutem

as elites, porque vão ficar eterna­: mente nessa discussão - o poderé nosso. Então, quando se discute

. sistema de governo, reforma agrá­ria, direito das mulheres, a supe­ração da desigualdade dos ne$rosna sociedade, está se discutindopoder político. O presidencia­lismo tem 98 anos no Brasil. Nopresidencialismo, aconteceram 19golpes de Estado. No Brasil, opresidencialismo nasceu ao ladodo militarismo, ao contrário dopresidencialismo nos Estados Uni­aos, que nasceu de uma revolu­ção. O presidencialismo nasceu deum acordo fruto de um processode libertação, tanto que a Supre­ma Corte nos Estados Unidos tempoder que em canto nenhum nopresidencialismo tem.

Não defendemos um parlamen­tarismo anacrônico. Nenhum regi­me pode ser criado sem se obser­varem as condições reais daquelasociedade. Defendemos um parla­mentarismo em que o presidenteda República tenha poderes efeti­vos e reais, de acordo com a tradi­ção da sociedade brasileira.

Saulo Queiróz _. Apreciei a for­ma vibrante e competente comque o deputado Eduardo Bonfimdefendeu o parlamentarismo. Ficona periferia daquilo que ele nãofocalizou e q,ue foi focalizado pe­los outros dOIS deputados. Primei­ro, o aspecto de que o povo nãoquer o parlamentarismo. Achoque é um argumento falso. Enten­do que podemos avançar nessaConstituição, com a implantaçãodo sistema parlamentarista de go­verno. Vivemos o presidencialis­mo ao longo de 91 anos, com umpequeno interregno, em que seImplantou um parlamentarismofalsete, onde se buscava, em últi­m~ análi~c:, resolver uma crise po­lítica e militar. Agora, não. O con­ceito é implantar um parlamenta-rismo definitivo. O conceito é, aci­ma de tudo, a avaliação de queo parlamentarismo é um sistemade governo mais eficiente e eficaz.Quem o defender, por isso, nãotem a preocupação de aval da p0­pulação, porque defende o parla­mentarismo exatamente na dire­ção da população. A consciênciaque nos move é a certeza de queo parlamentarismo é o melhor re-gime de governo. .

Depois, há de se convir, em pes­quisas recentemente feitas, não háuma diferença tão grande da po­pulação brasileira em torno desse .assunto. Uma pesquisa feita pelaFolha de S. Paulo indica que 43%preferem o presi~encialismo ~33% o parlamentansmo. Há mUI­ta gente neste país que prefere oescuro à luz que está aí; que prefe­re, de fato, mudar, porque há atomada de consciência de que opresidencialismo, como regime,não deu certo. O resto do mundoé exemplo. Onde se tem gravesproblemas para a manutenção dademocracia? Basicamente nos paí­ses de regime presidencialista. Poroutro lado, nos países que já prati­cam o parlamentarismo, não setem esse tipo de crise. Em todaa Europa OCidental há uma demo­cracia plena, implantada com re­vezamento de poder, com a J;>ers­pectiva de que as várias doutnnas,os vários programas, um dia, se­jam apoia<Jos pelo povo.

JC - Comenta-se muito a in­fluência ou interferência do PoderExecutivo nos trabalhos da Cons­tituinte. Até que ponto é legítima

É chegar ao poder e impedir quecheguem ao poder.

Para o PMDB - e é até desa­gradável colocarmos assim já quenão há nenhum representante dopartido aqui - mas há um grupogrande do PMDB que quer parla­mentarismo agora por dois moti­vos. Primeiro, para isolar definiti­vamente o Presidente Sarney. Se­gundo, J>?rque vai perder a eleiçãode preSidente, e sabe disso, comocomeça a perder a eleição de pre­feito na capital, a realizar-se noano que vem. Estão repetindo tu­do.

As. Câmaras Municipais, nopróximo ano, estarão com seisanos de mandato e decidirãoquem será o prefeito da cidade.Quer dizer, para não perder o po­d~r. É um casuísmo. E uma i.ndi~­mdade o que temos assistido aquI.E vou f!1als longe: falar em parla­m~nta!1smosem que a opiniao pú­bhca tivesse tomado alguma deli­beração sobre a matéria, porqueninguém aqui pode defraudar averdade. Isso aqui não é Assem­bléia Constituinte e sim CongressoConstituinte - ninguém colocouem prática essa discussão, nem oPC do B, nem o PCB, nem o PDT,nem o PTB e nem o PFL.

É uma luta de poder que nãorepresenta o pensamento da socie­dade brasileira. Aliás, a imprensatC:J!l publicado pesquisas de opi­mao, e o povo quer saber comoestá o pre~ do aluguel, que disse­ram que Iam regular e estão au­m~ntan~oem 270%; se o governoV8l continuar com o arrocho brutalde salário que ele está vivendo'como fica a mensalidade da escol~de seu filho.

Eduardo Bonfim - A eleiçãoera ideológica mas tinha um {>ro­grama, situações táticas e conJun­turais. E se formavam frentes deacordo com quem se achava na­quela frente, em função de avan­ços ou de recuos. Com relação aoPC do B, ele distribuiu milharesde livros contendo todo o seu pro­grama na Constituinte. E uma dasquestões estratégicas do PC do Bnaquela época era a defesa do par­lamentarismo como sistema de go­verno. Consideramos que a dis­cussão sobre a estrutura da socie­dade brasileira, do poder polítiCC2é a questão fundamental hoje. bverdade que a luta econômica dasociedade, a luta do trabalhadorpor melhores condições de vida éa discussão premente, que lhe afe­ta mais no dia-a-dia. Mas é precisobuscar os mecanismos para a supe­ração das suas contradições. E aíos setores conservadores, commuita habilidade, setores da im­prensa ligados ao objetivo de queo trabalhador não busque a suasaída política, que defimrá sua .si­tuação econômica, tentam rebai­xar o nível da consciência políticado tra~alhador, fazendo a seguin­te máxima: trabalhador só discutea greve: trabalhador discute o pre­ço da carne, 9ue realmente estáhorrível e preCIsa melhorar; traba-

~-o-'~B~AATIDOS&. TENDÊNCIAS ::: PARTIDOS &. TENDÊNCIAS :::PARTIDOS &. TENDÊNCIAS::: PAI•

12 Jornal da Constituinte

Por último, creio que nesse casoFidel Castro tem razão: nós já pa­gamos esta dívida.

moratória, adotamos uma posiçãode apoio a ação do Governo, massob reservas, porque não acreditá­vamos que aquela moratória, maisimposta pela incapacidade do Go­verno em administrar as reservascambiais, pudesse fazer com quea partir dela se desenvolvesse umapolítica de negociação soberanada.dívida ~xterna. Achamos quehOJe a díVida externa, não só noque se refere ao Brasil, mas deum modo geral em relação aos paí­ses do chamado Terceiro Mundo,o ponto de estrangulamento dodesenvolvimento sócio-econômi­co desses países e da afirmaçãodo Estado-Nação desses Países.Portanto, para nós, do PDT aquestão da dívida externa nã~ émeramente econômica, que deve

. ser ent~egue a sua negociação, ouencammhamento de soluções, aum grupo de tecnocratas brilhan­tes ou ao ministro da Fazenda. A~ívida externa é uma questão polí­ttca, é uma questão da soberaniae deve ser tratada como tal. Pensa­mos que o atual Governo, por nãocontar com a legitimidade e tam­pou~o ~m 0_ apoio da populaçãobrastlelra, nao tem condição deadotar as soluções políticas maisadequadas ao desenvolvimento dopaís e afirmação da soberania na­cional do que se refere a dívidaexterna. Recebemos, até, com al­gum alívio e satisfação, a infor­mação de que os credores deixa­rão para discutir conosco a dívidaexterna depois de promulgada aConstituição. Achamos - e essaé a nossa posição - que a dívidaexterna deve ser discutida, devemser definidas posições com um no­vo governo, um governo legítimoe legitimado pelo voto popular,porque esse Governo - e não im­porta quem tenha sido eleito parapresidente da República no presi­dencialismo brasileiro modificado- terá condições de falar em no­me da nação, em nome do povobrasileiro. Dívida externa só se ne­gocia falando em nome da nação,do povo, náo em nome de um par­tido ou em nome de um grupo deinteresses econômicos que nadatêm a ver com os interesses do po­vo brasileiro. Começamos por de­fi!lir algu!,!as prel~minares no quedIZ respeito à díVida externa. Pri­meiro, saber que dívida é essa?O que é que nós devemos real­mente? Hoje ninguém sabe. Daíser necessária a auditagem da dívi­da externa: o que nós devemos,o que nós pagamos. Os juros acu­mtilados, Já pagos pelo governobrasileiro, pela sociedade brasilei­ra, pelo povo brasileiro, porquetodos nós estamos pagando essadívida com sacrifícios enormes. Osjuros.acumulados montam, talvez,a m3ls do que o principal que nósd~vemos. Essa é a primeira preli­mmar: A segunda preliminar é amaténa de natureza ~nstitucio­

nal. Daqui por diante, depois dep~o~u1gada a hova Con~tltuição,nao IDlporta que o Governo con-

o servador, centro-direita, centro­esquerda, não pode negociar e re­negociar, de forma ampla, a dívidaexterna. Nós temos que formar onosso bloco, ter uma ação coorde­nada entre os devedores para che­garmos a uma solução para a dívi­da externa compatível com os inte­resses de desenvolvimento econô­mico e de afirmação da soberanianacional desses países do TerceiroMundo.

Roberto Jefferson - Consti­tuinte Eduardo Bonfim, o quepensa da imissão imediata de pos­se?

JC - Que o eleitor RobertoJefferson formule uma perguntapara o constituinte Eduardo Bon­fim.

Eduardo Bonfim - Acho queo problema da reforma agrária éum problema de resolução de umaprofunda contradição que vai exis­tir e existe na sociedade brasileira.São milhões, dezenas de milhõesde homens que não conseguematravés da posse de um pedaço deterra exercer a sua atividade, pro­duzir riquezas para o país. A mar­ginalização desses cidadãos na so­ciedade gera uma contradiçãoque, se não for resolvida democra-

. ttcamente - e nós, na Constituin­te, estamos trabalhando para re­solvê-Ia democraticamente - comcerteza, concordo com o consti­tuinte Roberto Jefferson, só seráresolvida pela violência. Ao ladodisso! do problema da reformaagrána e de dezenas de milhõesde homens sem direito à posse daterra, existe. o.problema d~ ~gri­cultura brastlelfa e sua deflmçãopara exportação. Isso está ligadoao problema da posse da terra qu~exige uma discussão mais profun­da. Porquanto acho que a questãoda posse da terra é, acima de tudo,uma questão social, uma questãoestratégica da sociedade brasilei­ra. Discordo da argumentação quea UDR levanta sempre de que a

o propriedade rural no Brasil, sejade que tamanho for, é o santuárioda pátria. Acho que o santuárioda pátria é o homem e a desti­nação social dessa terra para o ho­mem. Há uma inversão típica dequem imagina o problema da terrado ponto de vista das capitaniashereditárias. Do ponto de vistadoutrinário, essa é a visão do Par- o

tido Comunista do Brasil e creioque é também a visão da maioriado povo brasileiro: democratiza­ção da posse da terra; reforma o

agrária dentro de uma perspectivasocial e não dentro do ponto devista de negócios econômicos,porque se corre o risco de, na futu­ra Constituição, que é melhor bar­ganhar com o Governo do pontode vista da entrega daquela terraatravés da indenização, se não fordefinida criteriosamente, do queficar com a mesma, porque o valorda indenização e as circunstânciasque a cercarão serão muito maisvaliosos do que se permanecercom a terra. Coloco, assim, a ou­tra face do problema. Aínão have­rá destinação social da proprieda­de, haverá especulação da pro­priedade rural para fins de enri­quecimento, então não estaremosnos referindo mais à reforma agrá­ria, estaremos nos referindo a umnegócio altamente lucrativo, den­tro da perspectiva do sistema capi­talista. Acho que essa é a outraface da moeda, a qual o nobreconstituinte Roberto Jefferson to­cou no primeiro ato e que' estoutocando no segundo. A resolução,de forma pemocrática, com acui­dade dest~ problema, é que pode­rá dizer que tivemos efetivamenteuma vitória na aplicação da refor­ma agrária.

Eduardo Bonfim - Perguntariaao deputado Carlos Alberto Caó,como ele vê o próblema da dívidaexterna.

Carlos Alberto Caó .,..- Quandoo Presidente Sarney decretou a

Saulo Queiróz:O relatórionão inovou,

não criou, masrefletiu amédia dasopiniõesexistentesdentro do

corpo da ANC.As correções

eventuaisdeverão serfeitas nasvotações.

reito, no mérito da Justiça?Roberto Jefferson - Sou contra

~ vou colocar minha posição, aliás,Já transparente, dentro da filoso­fia glasnost, já bem transparente.Acho uma VIOlência não se ouviro Judiciário na imissão imediatade posse. Como está colocado, aimissão de posse se afasta comple­tamente do Judiciário, uma ques­tão fundamental, 'tue é a questãoda posse da terra. E curioso, isso.Se é um ato administrativo, nãohá nem o que se questionar sobreo posicionamento do juiz, porque,no momento em que a Imissãoimediata se faz com o juiz só tendouma alternativa - a de se mani­festar a favor - ela cerceou com­pletamente a liberdade de decisãodo Poder Judiciário e o direito dedefesa do produtor rural. Então,como está, ela vai gerar crises, nãovai avançar, porque acho que areforma agrária tem um aspectocapitalista muito importante, por­que, no momento em que fixa ohomem à terra, dá a ele título de

propriedade, transforma-o numprodutor, economicamente numpequeno empresário, ela é um veí­culo do capitalismo. Essa é a ques­tão de se desapropriar a terra pro­dutiva. E está lá, colocado no rela­tório do relator Bernardo Cabral:se em 90 dias o Judiciário não semanifestar, está consagrada aimissão imediata da posse. E, mes­mo que o produtor venha provarque as terras são produtivas, o queele vai receber é o dinheiro à vista.Ele não quer isso. Não se podedesorganizar um sistema que é or­ganizado no país e sustenta estanação. E o decurso de prazo con-

. tra ele em 90 dias, não é nem poração, omissão dele, mas de tercei­ro. Imissão de posse após decisãodo Judiciário, que pode decidir pe­la manutenção de Imissão ou não,porque, como está colocado, oJUiz não tem outra condição alémde homologar a imissão - estáno t~xto constitucional.

JC - Que o eleitor Carlos Al­berto Caó faça uma pergunta aoConstituinte Saulo Queiróz.

Carlos Alberto Caó - O depu­tado Saulo Queiróz já se definiuaqui como parlamentarista. Nãoacha o deputado Saulo Queirózque os problemas cruciais, em lu­gar de residirem no sistema de go­verno, residem exatamente na es­trutura do Estado brasileiro, que,desde que foi criado, é altamentecentrahzado e autoritário?

Saulo Queiróz - O Estado bra­sileiro é centralizado e autoritário.Só que eu imputo isso ao sistemade governo. O parlamentarismo,na minha opinião, tenderá a resol­ver os aspectos relacionados como autoritarismo e centralização.Diria que outros aspectos mais,como a ineficácia e ineficiência domodelo de governo.

O presidencialismo conduz, aíjá é questão doutrinária, pela con­centração de poder que efe enseja,algumas posições inadequadas àsociedade moderna, como a cen­tralização da economia nas mãosdo governo através da in~erência,

cada vez maior, do própno gover­no no sistema econômico. Eu diriaque, e acima de tudo, isso é muitoimportante de ser entendido numpais como o Brasil, uma federaçãomúltipla. Uma das coisas que mui­to me preocupam hoje é que opresidencialismo só se sustentaatravés de eleições diretas, pois fo­ra isso é a antidemocracia, é a cer­teza de que ele conduzirá ao co-

mando de toda a federação pelosgrandes Estados. Não tenho ne- o

nhuma dúvida de que a meio doperíodo nós vamos chegar a umdeterminado instante em que a ex­ceção neste país será termos umpresidente da República que nãoseja de São Paulo. O que assisti­mos a~ui, hoje, dentro do Parla­mento. De fato, já é o processode comando polítiCO dos grandesEstados em função naturalmente,se grande, da sua importância eco­nômica, e se grande, da sua impor­tância eleitoral. O que nós sería­mos, hoje, no regime presidencia­lista? Uma tendência de que, Es­tados como São Paulo, Minas eo seu Estado do Rio de Janeiro,se unidos, eles fazem ad eternumo presidente da República, o que,aliás, é apenas uma repetição daHistória, porque, durante, a Ve­lha República, o que se tinha nestepaís era a democracia café-com­leite - era um presidente de SãoPaulo e outro de Minas Gerais,um de Minas e outro de São Paulo.O parlamentarismo vai ensejai aoportunidade, porque o parla­mentarismo é, acima de tudo, acapacidade política inerente a ca­da um, para· que outros Estados,os menores Estados, de fato, pos­sam ascender a uma participaçãoefetiva do poder.

JC - Gostaríamos que o eleitorSaulo Queiróz fizesse uma I'er­gunta ao constituinte Roberto Jef­ferson.

Saulo Quelróz - Não aborda­mos aqui, ao longo desta reunião,um assunto extremamente polê­mico dos trabalhos da Constituin­te, que diz respeito à reformaagrária. Não tenho nenhuma dúvi­da de que o deputado, como osdemais constituintes, entende quea reforma agrária tem que ser fei­ta, é indispensável que se faça.Mas, pergunto-lhe: é a favor oucontra a imissão imediata da possesem a manifestação prévia, no di-

apenas como uma reserva econô­mica sem finalidade social, temque ter finalidade social também.Na minha maneira de ver, temoscondições de estabelecer impostosprogressivos, mas que haja mstru­mentos legais que realmente per­mitam isso e impostos progressi­vos que num espaço de cinco anostomem o imposto igual ao valorhistórico, valor venal do imóvel.Se está vazio, se o dono está espe­culando, então o imposto vai inci­dir sobre isso, porque não podeacontecer que, no momento emque as pessoas não têm lugar raramorar e a construção civil est emcrise, 'está numa débâcle no mo­mento, permitir-se que uma mino­ria possa fazer reserva econômicacom a casa própria. Isso é umaviolência e acho que a Constituin­te avançará no momento em queestabelecer a função social tam­bém para a propriedade urbana.

Saulo Queiróz - A questão ur­bana tem aspectos importantes ealguns já ressaltados pelos depu­tados Carlos Alberto Caó e Ro­berto Jefferson, que representaminquestionavelmente um avanço.Basicamente o texto foi ali coloca­do, nasceu daquilo 9ue colocamosem reuniões pré-Sistematização,quer dizer, a busca do consenso.Na verdade, quase toda a redaçãonasceu de uma troca de informa­ções, de sessões ocorridas dentrodesses grupos. O que me pareceimportante ressaltar é que ela, aotempo em que inova e avança,mantém um razoável nível de fle­xibilidade, para que a questão ur­bana tenha os tratamentos dife­renciados conforme a região doBrasil e conforme, naturalmente,a própria pressão urbana, em fun­ção do tamanho da cidade. Osprincípios de tal ordem e as execu­ções tratadas na legislação ordi­nária que pode ser a nossa lei, alei federal, mas que eventualmen­te possa ser a lei municipal, adap­tando-a a circunstâncias e locali­zadas.

Eduardo Bonfim - Concordocom as observações feitas peloscolegas constituintes ~ penso queo problema da reforma urbana étão grave quanto o problema dareforma agrária e o rroblema dademocracia no Brasi . Não se ad­mite que em uma sociedade comoa nossa milhões de trabalhadoresse vejam alijados do direito inalie-.nável da habitação, quando existeuma extraordinária especulaçãoimobiliária, quando existe um des­leixo e um descaso com relaçãoà questão da viabilização urbanados trabalhadores brasileiros.Penso que se não for feita umaefetiva reforma urbana e que sea nova Constituição não garantirque essa reforma seja efetivada,teremos, aí sim, um dos problemasmais graves da sociedade brasilei­ra. O problema da reforma urbanaestá ligado à questão da prioridadesocial na estrutura da sociedadebrasileira.

~~'B~1\RTIDOS&. TENDÊNCIAS ::: PARTIDOS &. TENDÊNCIAS :::PARTIDOS &. TENDÊNCIAS::: PAI,I

Jomal da Constituinte 13

BOituva, 31 de jUlho de 1987.

AtenCiosamente,

grl:i.t;o

]21 t?U fd..:k4 ti,( ~:~~Marcos T.adeu de Lorenzi

J- CADEIA, OuCOLA~INHo BRAN:O.,Co PagO Pelo B~lso

aos srs. responsáveis pela reds<"O do Jornal da COnsti'"­inte.,

Sou es tUdos te de 2. gr.".. e co". es '''ses viVendo umper{od, de ,"onsiç"O de,scrátiCa e da cons truçã

o

de uma '!!

Va COSSti'uição, gSstaria de estar be. inrormado, e atr..ves de U:nprOfeSsor de

minha escolét deSCobri qUe há o Jor

nal daCOnstituinte,

então reSolVi por rneio desta, Se não

for do illCÔ/llOdo dos senhores,pedir par.. qUe :De enYiassemeS'e jornal. Pois eu acho 'Ue coso brasil.iro devo se in­

rormsr sobre o 'Ue rs,.. P'ra .s.eeurar o rUturo do nosso,

Pals.

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REE'., IMPLANTJ\CAo 00 EXTENSIONIS"O UROANO

Um dos """ores en'raves ao fonolecl"",n,o c dcscnvolvln n,o d,. Clos_

Scs o"'· '""<1"S 'm Icrocmprcsoh los, 'rOb.l /I'au..rcs c ""'IU~""s ,.r'"lu'orcsrurais' ê .1 fal,o dc consclcntlzooão, gerada pelo molor problema bra_sJleiro qu(' C o CUltural.

Tôn,o os 'robalhadorcs como Os pequenos prOdu'orcs rurais, apesar

PelegUlsn", prcdoml"an'e, es'ão COm os seus movI"",ntos clasSistasritmo crescente, COm trabalhos ue basc assOClatlVlstas.

A classe mlcroempresarlal, qUe é a maIoria absolu'a e o bOluar'e da

~o'''''" ,,;,,~•• , '"'"",~"" 'o, ••0'''""" .,,"'" ,.,~,,,....~"'do ,,1,1"0, vivendo Umo Sltuao50 hU"'llha",c c SubmISsa a minoria formo_

da Pelo yrande ca"l'al c Pelos dcsmondos pOlitiqUeiros dos nossos go_vcrn.Jlltes.

'-. ~,·..'o , .. "."••~, .,,~",o " '''"'''0 "'''''' ....,,~,presârlos "elo SCU IndIVidualismo 'em uma parcela mUllo Slyn!flco'lvade Cu 'Pel.

Uma <1.18 aller"atlvos ViáveIs par" Um 'robalho de consclentlzao,;o e de

edUC.10.io ""SOCla, IVlsta . " ImpI"",.o';o Jn'Cdiota do c",CUSlonlsn", Ur_

bo"o .; "dcroe",prcSârlos, o cXcmplo do bcm SUcedido Cxtcnslo"lsmo ru_

ral, o"uc Os mlcroempres';rlos teriam aSSiStênCIa e Orlentaoão 'êcnlca

pcr",a"C·"l,. c que o exte"slo"lsta urbano passarIa a Conviver o dia_a_dia dcs,cs "guerrClros do pr<>9re

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SC"do Só po,· or", ao InteIro djspOr para os CSclarccl""",Os quc Sc

flzcrcm ncccSsárlos c cspcranooso quc Sc tome mcdldas dCSsa naturczac n,;o .1S f>.lllatlvas, antecipO Os mcus agradcCIll1Cntos.

Antonio Marcos dc Souza Icx-mlcrocmpres';rlOJ

Rua Estefano José VanOlJj n9 1214 _ Oalrro Sáo88JOO - (TJ\JAI _ se

Srs. (!CJIl~lllutnt<:'s.

netraçâo. ente. obte~do a perepresen-" está. gradatlva~unto a entldade~ cada diaO J...... d. Cd:~'p::;'~~rioop.~m:::'I,çó<'di~:;::;;,~, A~m:

d,,,j'd~ ';:~, d,"" P'~~~:'i' dili,id' '~,~'~O p'im'iro'~~~~,"".~, , d, oo"OIpo I~, G"m" , " , ••d",,, lhomaior o v?lun~ Constitumt~'e~tbria do Jornal. ~i~de perto, o traábg~nahlé', N".o d,ilO" ..h", m , d, oe", P ,

;;1~; i~'~';'~~ ~~~::::~~:~.:.ooo::r~:~~~:::':;:'c:p~s~:~~~n~s~~~~d' Constitumte. har a repe!cus~ r com a opmlaon~o só para teste~~~proximaçaomaIOpara incentivar uvocê também.

.14 I.. nal da ConstituintecJUr .

Ronielma pedi", ao home~ que tenha dó, não acàbe com a vida! Q. seu apelopatético está numa cartinha de linguagem simples e direta, cOmo só ascrianças sabem escrever. E com ela a menina de Ponta Grossa,-no Paraná,venceu o concurso promovido pelo programa de televisão ZY B Bom. Comoprêmio ela sanhou o direito de entregar pessoalmente ao presidenteda Constitumte a sua carta em defesa da Amazônia. "O mais belo depoimentoem favor do futuro do nosso planeta", disse o presidente Ulysses Guimarãesao ouvir, emocionado, a leitura da mensagem. "Eu fico muito comovido.Inveja é um pecado e peço a Deus perdão para esse pecado, mas eu estoucom muita inveja de você. Eu gostaria de ter escrito esta carta, de tero meu nome nesta carta", completou Ulysses.

Homem; não acabe com a vida!ADlRPlCuuo Jdnior---------..,...,. A sessão da Constituinte estava

quase chegando ao fim quando oPresidente Ulysses Guimarães in­terrompeu seus afazeres para re­ceber em seu gabinete Ronielmade Miranda, 10 anos, a meninavencedora do concurso de cartassobre a defesa da Amazônia naConstituinte, promovido por umaemissora de TV de São Paulo.Acompanhada da orientadora pe­

.dagóglca do programa, jomabstaLenita Miranda de Figueiredo, dodiretor Vicente Burger e do apre­sentador Jefferson Binas, Roniel­ma, sorridente e descontraída,cumpriu sua missão: Leu a carta,conversou com o Presidente, bei­jou-o. Ulysses prometeu enviarcópia da carta a todos os consti­tUlDtes, para que o apelo nela con­tido seja transformado em realida­de. A solenidade foi gravada peloprograma ZY B Bom. Se o ho­mem continuar destruindo nossasmatas, as crianças que vierem de­pois de Ronielma saberão ao me­nos o que é uma rosa ou o mico­leão?

Eis a sua carta-mensagem:

"Ponta Grossa, 19 de agosto de1987

Olá turma do ZY B Bom!Meu nome é Ronielma e tenho

10 anos de idade. Eu ~ostaria quena Constituinte existisse uma lei.contra os homens que acabamcom a natureza, contra as árvoresque são derrubadas, contra os ani­maizinhos serem mortos, enfimcontra a fauna e a flora que estãoacabando.

O homem não corta as árvoresporque J)recisa, mas por ganânciae maldai:le. Será que o homen es­queceu de Que sem a vegetaçãonão há vida~ Será que o homenesqueceu que devemos nossa vidaa mais alta árvore e até o ·,simplesbotão de rosa? De manhã quandoacordo eu abro a janela de meuquarto e vejo a rosa montada doorvalho da noite e penso' que seo homem não parar de desmatarnossas florestas talvez nem a rosasobreviva!

O ~omem só pensa em si pró­prio quando desmata nossas flo­restas, traz lucros no momento,mas ele não pensa em nós, crian­ças. Talvez nós nunca poderemosver uma floresta ou anIMais comoo mico-leão que já está em extin­ção.

Então eu peço ao homem quetenha compaixão! Não derrubenossas árvores, não acabe com avida!

Ronielma P. de Miranda

Rua Jandaia do Sul - 515

Vila Cipa - Ponta Grossa - PR"

Jomal da Constituinte 15

ADIRPlWilli.... Prescon

Não pára aluta dos"sem-terra"Sem terra. mas dispostos aobtê-la. trabalhadoresrurais liderados pelopresidente da CONTAG.José Francisco da Silva.estiveram com UlyssesGuimarães, presidente daANC. Eles querem veraprovada a emenda dereforma agrária apoiadapela CONTAG. CUT eCGT. Ulysses Guimarãesdestacou a legitimidadeda pressão dos sem-terrae garantiu que a novaCarta será voltada paraas questões sociais.

Amparo aoensino e a

•quem ensinaAposentadoria aos 25 anos,plano unificado paraevitar desigualdade naremuneração domagistério, e destinaçãode verbas públicas sópara as escolas públicas:estes os principaisobjetivos que trouxerama Brasília uma caravanada Confederação dosProfessores do Brasil.Reunida nas dependênciasda Câmara, a classemostrou que quer o melhornão só para eles, maspara o ensino do País.

ANC preocupada com radiação em Goiânia

16 Jornal da Constituinte

o presidente da Comissão Nacional de EnergiaNuclear (CNEN), Rex Nazareth, prestou escla­recimentos aos constituintes sobre o episódioda contaminação radioativa na capital de

Goiás, informando que a situação está sob con­trole. O assunto foi tema de muitos pronuncia­mentos na ANC, na Câmara e no Senado. Estevai instalar uma Comissão para investigar oacidente.