einformaçao legislativa - Biblioteca do Senado Federal

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REVISTA -" E INFO RMA ÇAO LEGISLATIVA SEN.A.-DO FE-DEH.A.L SERVIÇO DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA -.JUNHO - ANO NÚMERO 2

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EINFORMAÇAOLEGISLATIVA

SEN.A.-DO FE-DEH.A.L

SERVIÇO DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

-.JUNHO - ANO I· NÚMERO 2

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SEN.A.~'O FI-:1I#EDAL

SERVIÇO DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

FUNDADOR:

SEKADOR Auno MOURA A:'>.'"DRADE

Presidente do Senado Feder~.~

SUPERVISOR:

DR ISAAC BROW:-:

Secretario-Geral da Presldéncia

DIREÇAO:

LULA CAi'>TF.LLO BnA[";CO RA~Gt.L

CHEFE no SERVIÇO ORAFICO

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ClImposU e Impressa nllSem~lI Grá:t'lco do Senad(l I'ederal

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SUMÁRIO

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O 12oCDJ&.. 4a lIOberan1a. aI:IIolu1a e a.realid&de lntemac1Doal - (Jb;.84Judor bthw 341Uo1)

Inqdrtt,os peWamctaJ'el - (Df'. Jodoct.!I O~4 Filho,

O oontl'ato na Adminiltta.. P\lbUca.-' (Dr. Hrit(1r Lu Filho)

:Mll1tues: cUrelto de mto e In.elegibjll­dadea - (PtutJo de FigUeIredo)

PA.1Cn~to de lP'he - (Deputado Uq,.,fU

Gumlar4u)

DOCUMINTA.Ç.lOCtt~ sObre a organ!ra.çI.o e

f011DaÇi.o politka du colentuh~-6Jnerlcanase daiNd~meerdota!l do Sul - (Led4; JfdrlcClU'doIo NlIucf)

PESQUISA(Rogério Co.tta

LIG15LAÇ.lO

Ca.D8elho dlt Detea dOI Direi teMIlIWnal10Is

Blelçlo do PJealdente e do V1.ce­~~ da Repdblle& peloCoopeuo Nacional

K1aboraçIo. orçamentáriaProWnento de carro- pdb11eos~ du re!1na.rl.uTabelllDetlto de aluguétlD1NUlo .ele fJNYe

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OBRAS PUBLICADAS PELO

SERViÇO DE

INFORMAÇAO LEGISLATIVA

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Ao Serviço de lnformaçtio V"gislativa, cria­do pela Resoluçüo n." 20, alterada pela de n."27, de 1963, compete coligir e fornecer aos Se­nadores e órgüos técnicos do Senado dadoselucirkltivos e elementos de interêsse para ela·boração legislatilXl e esclarecimento das ma­térias em tramitaçâo na Casa ou no Congres­so, na forma das instruções que seiam baixa­das pela Cornissâo Diretora.

(Resolução n,o 38, de 1963 ­art. 7. 0 DCN - Seção II ~20-12-63 ~ pág. 3953) .

o ART. 64 DA

CONSTITUIÇÃO

E O PAPEL

DO

SENADO

Jodal'h{~f 1flarinho

Senador pela Bahia

COLABORAÇÃO

I - O art. 64 da Constituição e os pro­blemas que suscita. 11 - Conceito desentença definitiva. 111 - Valor do pre­cedente - Variação da jurisprudência- O Regimento e a Súmula do S. T. F.IV - Sistemas de declaração de incons­titucionalidade - O regime brasJleiro.V - Funçõo do Senado - Forma de pro­cedimento - Apreciação da conveniên­cia para suspensão de lei ou de decretoinconstitucional - Poder de iniciativada suspensão. VI - Conclusão.

A Consfituição de 1946 estabelece, em seuart. 64, que

"Incumbe ao Senado Federal suspendera execução, no todo ou em parte, delei ou decreto declarados inconstitu­cionais por decisão definitivo do Su­premo Tribunal Federal.1/

A aplicação dêsse preceito vem obedecendoa orientação mais ou menos uniforme. Comu­mente, desde que o Supremo Tribunal Federaltransmite o teor da decisão declaratória de in·constitucionalidade, o Senado suspende a exe­cuçõo do ato atingido.

O mandamento da lei Maior envolve, porém,algumas indagações, que exigem exame, poroque o Senado delimite, seguramente, a área desua competência.

Que é sentença definitivo, para efeito decumprimento da cláusula constitucional? A de­cisão definitiva do Supremo Tribunar federa/.qualquer que seio, obrigo o Senado a suspendera vigência da lei ou do decreto sôbre que recaira declaração de inconstitucionalidade? Pode oórgão legislativo apreciar a conveniência da me­dida suspensiva? ~ lícito 00 Senado tomar ainiciativa, independentemente de provocação doSupremo Tribunal, de suspender a vigência dalei ou do decreto em que incidiu a decisão deinconstitucionalidade?

11

Não fixo o fexto o conceito de decisãodefinitiva, nem as seus intérpretes oferecemesclarecimentos maiores sôbre as condições em

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que o Senado deve suspender, total ou parcialmente, a execução de lei ou decreto,por vício de inconstitucionalidade proclamado pelo Supremo Tribunal Federal.

De importante, no particular, a Constituição aperias acrescento o que se encerrono art. 200:

"Só pelo voto do maioria absoluto dos seus membros poderão os tribunaisdeclarar o inconstitucionalidade de lei ou de ato do poder público. If

Aplicada essa norma à eminente funçôo política do Supremo Tribunal Federal,a decisão definitiva se corporifico no I/voto da maioria absoluta dos seus membros",declaratório da inconstitucionalidade de lei ou decreto.

~ o que está expresso, aliós, no Regimento do Supremo Tribunal Federal:"Art. 87 - O julgomento de matéria constitucional far-se-á com a presença,pelo menos, de oito Ministros efetivos, incluindo o Presidente, que votarápor último, ainda que não haja empate.§ L° - Se houver seis votos, pelo menos, no sentido do inconstituciona­lidade, será esta proclamada.§ 2,° - Se houver seis votos, pelo menos, no sentido do constitucionali­dade, o Presidente anunciará que foi reieitada o argüição de inconstituciona­lidade." (Diário da Justiça de 30·7·62 e 12·3·63.)

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Tôda decisão judicial, porém, ainda o de caráter definitivo, vario de autoridade,no tempo, pelo firmeza, pelo objetividade de seus fundamentos, por sua compatibilidadecom o pensamento iuridico predominante no interpretação do tese apreciada. Daío mérito relativo do precedente, mesmo para a magistratura. ~ advertência de PedroLessa que "uma decisão judicial só vale como argumento paro um juiz pelos razões,pelos raciocínios que encerro, e nunca pelo decreto \udicial". (Re.,. de Direito ­Vol. 59, pâg. 308.)

Demais, por fundamentados e lúcidos que sejam, os decisões estão sujeitos,continuamente, 00 poder e ao critério revisionista dos juízes e tribunais, inspiradosna mutação dos circunstâncias históricos ou no influxo das idéias novas.

O Supremo Tribunal Federal mesmo, à luz da experiência adquirida, disciplinoua forma de revisão de suo jurisprudência. No redação atualizado de seu Regimentoe fazendo remissão aos dois dispositivos acima transcritos, prescreve no mesmo art. 87:

"§ 6.0 - No hipótese dos parágrafos 1.° e 2.°, a decisão será obrigatório,nos cosas futuros, para as Turmas e para o Tribunal Pleno, sorvo, quantoo êste, se o Senado Federal nõo tiver decretado suspensõo do execução dolei ou decreto (Constituiçõo Federal, art. 64), e, em votação preliminar, porproposta de qualquer dos Ministros, houver três votos, pelo menos, emfavor do reexame da matéria." (D. J. dt.)

Mais recentemente, introduziu novas alterações em seu Regimento. No Segundaemenda, que acrescentou 00 Regimento o capítulo referente à Jurisprudência e àelaboração da Súmula da Jurisprudência Predominante, assim dispôs:

1/Art. S.() - Serão inscritos no Súmula enunciados corresponrlen1es:I - Às decisões do Tribunal, por maioria qualificada, que tenhom concluído

pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade de lei ou ato do poderpúblico (Reg., art. 87, § 6.°)."

7JUNHO - 1964~~~---------

Mos o próprio emendo esclarece que não é automático a inscrlçao, no Súmula,do entendimento firmodo nos condições do art, 5.°, I. O ort. 6.°, que é norma geralquanto à organização do Súmula. prevê, claramente:

11 A inscrição de enunciado no Súmula será decidido pelo Plenário, por propostoda Comissão de Jurisprudência, ou de qualquer dos Ministros, com o parecerda Comissão. )f

Assim estipulando, o Supremo proclamo, o nosso ver, que nem tôda decisõo pormaioria quolificada toma, por isso só, o configuração de enunciado indicativo defurisprudência predominante,

Poder-se-á dizer que a inclusão, na Súmula, do enunciado dos decisões sôbreconstitucionalidade e inconstitucionalidade decorre, necessàriamente, da obrigatorie­dade de tais julgados, poro os casos futuros, declarado no art. 87, § 6.°, do Regi­mento. Admito-se o compreensão. Nem por isso o enunciado se torno imutável, im­peditivo de reforma do jurisprudência. Também o segunda emenda preceitua:

"Art. 8,° - Sempre que o Plenário decidir em contrário ao que constor doSúmula:

I - Será cancelado o respectivo enunciado, até que de nôvo se firme oiurisprudência no mesmo ou em outro sentido.

II - Em matéria constitucional, será substituído o enunciado pelo que resul­tar do voto do maioria qualificado (art. B7, §§ 1.0 e 2.°),"

Demais, o "explicação preliminar" do Súmula publicada contém esta observaçãoesclarecedora, da "Comissão de Jurisprudência":

"O Supremo Tribunal Federal tem por predominante e firme a jurisprudênciaaqui resumida, emboro nem sempre tenho sido unânime a decisão nosprecedentes relacionados na Súmula. Não est6, porém, excluída Cl possibili­dade de alteração do entendimento da maioria, nem pretenderia o Tribunal.com a reforma do Regimento, abdicar do prerrogativa de modificar suaprópria [urisprudência." (Súmula da Jurisp. Predominante do SupremoTribunal Federal - 1964.)

Vê-se, pois, que o Alta Côrte procuro coniugar o necessidade de consolidaçãode sua ;urisprudêncio com o prudente critério de não imobilizá-Ia, Assegura.lhe, dessaformo, o continuidade de suo função revisória e criadora. E, por vêzes, o SupremoTribunal pode cumprir essa formidável tarefa, exatamente "se o Senado Federal nãotiver decretado suspensão do execução do lei ou decreto", como refere o art. 87, § 6.°,do Regimento mencionado,

A flexibilidade dos critérios assentados repousa, em parte relevante, na própriaexperiência de variaçõo constante do exegese judicial, muitos vêzes por quorum quenão define, seguramente, a construção de uma doutrina, nem o fixaçõo de iurispru­dêncio.

Agora mesmo, ° Ministro Edgard Costa, relembra a observação de Ruy, feitono curso de defeso do Juiz Alcides de Mendonta limo, sôbre a controvérsia no"hermenêutica" de uma clóusula do direito escrito:

"No aplicação do mesmo lei, do mesmo texto, o juízo dos magistrados variacontínuo e incalculàvelmente de um juiz poro êle mesmo, de uma instância

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para outro e, no mesma instância, no mesmo tribunat da mOlona poro aminoria, Não há talvez uma só, das muitas questões lô sentenciadas noSupremo Tribunal acêrca de leis inconstitucionais, em que o decisão fôsseunânime." (In Edgard Costa: 05 Grandes Julgllmentos do Supremo Tr",una'Federal - Rio. 1964 - 1.0 vol .• pág. 71.l

A enumeração dos casos, em que se baseio a observaçõo, pode desdobrar-se, notempo, pelo multiplicação dos hipóteses semelhantes. Destas, muitas refletiriam asduvidas e os inconvenientes resultantes dos decisões sóbre inconstitucionalidade pormaioria inconsistente,

IV

Ao defender o Anteprojeto da Constituição de 1934, que exigia o quorum de doisterços poro declaração de inconstítucionolidade (art. 57, § 1.°), João Mangabeiracondenou o Substitutivo da Assembléio Constituinte, exatamente por incidir "no êrronorte-americano das decisões five to four, ou, entre nós, das inconstitucionalidades porseis contra cinco votos". Acrescentou o grande jurista:

"Não colhe afirmar que os tribunais só declaram a inconstitucionalidade,quando está fora de qualquer dúvida razoável. Ab initio. não pode haverinconstitucionalidade mais duvidoso do que aquela repelida pela Assembléia,rejeitada pelo Presidente da República, na sanção, e, no Supremo Tribunal,impugnada por cinco dos seus onze Ministros."

E depois de ilustrar sua afirmativa com a variação da jurisprudência, semprepor cinco contra quatro votos, no coso do income tax, nos Estados Unidos, asseverou:

"Numa democracia, os podêres eletivos, os únicos que representam o povo,não devem ter a manifestação de sua vontade, consubstanciado na lei,anulado 00 sabor de uma maioria efêmera, precária ou ínfima do SupremoTribunal. Poro que o decisão désse grande órgão mereço, em coso detamanho gravidade, o acatamento da Nação, é preciso que o voto de umamaioria respeitável assegure a todos a certezo de que, dentro da razoabili­dade humana, dúvida não pode haver sõbre a jurídicidade do julgamento,Somente assim o aresto se imporá à consciência nacional, calando a dignidadedo protesto nos outros dois Podêres, emudecidos e submissos, ante Q ma­jestade da justiça. Tal fôrça nõo terá jamais a decisõo por um voto," (EmTôrno da Constituição - Sáo Paulo, 1934 - págs. 112 a 118.)

~ certo que a Constituição vigente mantém o critério da maioria qualificada(art. 200). Ao Supremo Tribunal, por isso mesmo, nõo cabe responsabilidade pelosistema adotado.

Sõo irrecusáveis, porém, os inconvenientes do sistema. Tornaram-se tanto maisvisíveis e ponderáveis depois da luta que se travou entre o Presidente FranklinRoosevelt e a Suprema Cõrte, por efeito do filosofia e do alcance do New Dea!.

Entre nós, aliôs, o Supremo Tribunal, sensível ao problema, vem estabelecendonormas redutoras de tais inconvenientes, Daí a exigência da presença, pelo menos,de oito Ministros efetivos, poro julgamento de matéria constitucional (ort, 87 do Reg.).

JUNHO - J964 9

Daí o cuidado de s6 excepcionalmente admitir a convocação de Ministro do TribunalFederal de Recursos, para completar o quorum, na apreciação dêsses casos (Reg., art. 87,§§ 4. 0 e 5.°). Daí, enfim, a prvdência com que disciplina O processo de revisão dosprecedentes firmados (Reg., art. 87, § 6.°).

Mas, em verdade, o Côrte Suprema, não podendo alterar o sistema, tem apenasoportunidade de reduzir os inconvenientes dêle, com a adoção de fórmulas protetorasda segurança das julgamentos e da autoridade dos precedentes estabelecidos. Taismedidas não modificaram o alcance dos arestos para torná-los normas substitutivasda lei ou do decreto.

Prevalece em nosso regime, como doutrina atual. a lição de Ruy:

"Os tribunais só revogam sentenças de tribunais. O que êles fazem aosatos inconstitucionais de outros podêres é coisa tecnicamente diversa. Nãoos revogam; desconhecem-nos. Deixam-nos subsistir no corpo das leis, oudos atos do executivo; mas a cada indivíduo, por êles agravado, que vemrequerer contra êles proteção, ou reparação, que demanda a manutençãode um direito ameaçado, ou a restituição de um direito extorquido, a cadalitigante que usa, com êsse fim, do meio judicial, os magistrados, em ho­menagem à lei, violada pelo govêrno, ou à Constituição, violada pelo Con­gresso, têm obrigação de ouvir, e deferir." (A Constituição e os Atos Incons·titucionais do Congresso e do Executivo - Rio, 2.a ed. - pág. 101.)

~ o que está na Constituição de 1946, sobretudo nas cláusulas enunciativos dacompetência do Supremo Tribunol Federal (ort. 101).

O constituinte brasileiro não adotou o princípio consagrado pelo regime italiano(Const1"art. 136), de fazer c.essar o vigência do lei no dia seguinte ao do publicação )da decisão declaratório de ilegitimidade constitucional. A Corta em vigor não contém,sequer, norma equivalente à da Argentina de 1949 (art. 95), impositivo de aplicaçãoobrigatória, pelos juízes e tribunais nacionais e provinciais, da interpretação dadapela Côrte Suprema ao texto constitucional, em recurso extraordinário, e aos códigose leis, em recurso de cassação.

Aqui, apenas o Regimento do Supremo Tribunal declara que "a decisão seróobrigatória, nos casos futuros, para os Turmas e para o Tribunal Pleno", e ressalvando,"quanto o êste, se o Senado Federal não tiver decretado sus~ensõo da lei ou dodecreto" (art. 87, § 6.°). Assim, a disposição de obrigatoriedade não vincula os outrostribunais. Restringe-se ao próprio Supremo Tribunal Federal.

Enfim, e como frisou o Ministro Pedro Chaves em acórdão de 1962,

"o Poder Judiciário, em regra, só conhece da inconstitucionalidade incidentertantum" -

ou seja,

"em Causa ou litígio, regularmente põsfo a seu alcance, para solução docaso concreto." (At. Sup. Trib. Fed., na Rep. n.o 512, do t... Norte - Ju. l­risprudência - Diário da Justiça de 26 de setembro de 19 3.)

10 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA.----

De regra, pois, o decisão iudiciária não examina a lei ou a decreto no conjuntode suos motivações e de seus fins. Aprecio-os em um ou em alguns de seus aspectos,circunscrito, quose sempre, às linhas marcontes da demanda, alem da qual não produzefeitos.

~ verdade que o Constituição, no art. 8.°, parágrafo único, cria o poder de de­claror inconstitucionalidade mediante representação do Procurador-Geral da República,admitindo, excepcionalmente, pronunciamento em lese. Loureiro Júnior considero, até,presumimos que no ângulo judiciário, "o inovação mais interessante da atual cartapolítica", por "imprimir inconteste predomínio a certos princípios basilares do regimeconstitucional instituído." (O Contrãle da Constitucionalidade das Leis - São Paulo,1957 - pó,. 118,)

Trota-se, porém, de medido excepcional, cujo efeito direto, específico, é o inter­venção federal no Estado ou a suspensão do ato argüido de inconstitucionalidade(art. 8.°, parógrafo únic, e art. l3). Além disso, obedece a disciplino distinta. Tontoque, no caso de bastar, "poro o restabelecimento da normalidade no Estado", o pro­vidência suspensiva de execuçõo do ato declarado inconstitucional, a competência édo Congresso Nacional (art. 13), e nõo do Senado.

v

Oro, se o Supremo Tribunal procede com rigoroso prudência, como visto e exposto,o Senado hó de ser igualmente cauteloso, senão mais exigente. E por vários motivos.Primeiro, porque, órgão do Congresso Nacionol, lhe cabe zelar, na medida possivel,pelo eficácia e pelo prestígio dos atos legislativos, dos quais o lei é expressão eminente.Segundo, porque enquanto o decisão íudicial abrange, apenas, comumente, os direitosdíscutidos no coso concreto, o deliberação do Senado, suspendendo, no todo ou emporte, a execução de lei ou decreto, é de caráter genérico, opera erga omnes. Valedizer: o ato suspensivo pode atingir, embora momentâneamente, o sistema de umapolítico legislativo, talvez instituiào por imperiosas razões de ordem geral. Podeatingi-lo e, assim - o que é mais -, vedar ao Supremo Tribunal o reexame de seuentendimento, tontas vêzes necessário no apreciaçõo das grandes teses, sobretudona esfera do direito público.

Logo, poro _ser procedimento compatível com o responsabilidade e a independênciade um Poder, o ato de suspensão requer fundamentação seguro. Nõo deve consistir,passivamente, no reconhecimento de efeito incondicional da sentença judiciária. Comoacentua Alfredo Buzaid:

"Não se hQ~Q de operaçõo ou ofkio purQmen~e metônko, que Teduz oSenado o simples cartório de registro de inconstitucionalidade." (Da AçãoDireta de Declaração de Inconstitucionalidade no Direito Brasileiro - SãoPaulo, 1958 - pág. 89.)

Trata-se, em sumo, de ato refletido e motivodo do próprio Senado.

Precisamente porque é assim, não nos parece procedente a conclusão do ilustreescritor, segundo a qual. "concorrendo todos os requisitos legais, não pode o Senador~cusar a suspensõo, ainda sob o alegação de que o lei devo ser mantida por necessá·na ao bem-estar do povo, ou à defeso do interêsse nacionol" (ob. citfpág. 89). Ora,

JUNHO - 1964 IJ

os "requisitos legais", ~ que 5e refere, 550: "cplicação in casu, não em tese", e"existencia de q.onnn, no forma prevista no art. 200 :!o Constituiç50" (PÓ9. 89).Diflcilmente tais requisites faltarão ao julgado, ::!iante da atençãc com cue os observaa (Órte. Vedar a aprec:oção ~os conseqüências politicas e sociais do iulgado. nãoparo afrontá-lo ou al'erá-Io, mos para aizer do co~venié~tia e da oportunidade desuspender o executoriedade do le i ou do decreto, é, pràticamente. constranger a Senodc"o s:mp;es cartório de registro de inconstitucionalidade".

Em conseClüêndo, sem desrespeito às otrib'Jicões soberanos do Supremo TricuflclFederal, nem desconsideroçjo ó competência e à correção de seus i:vsHes Ministros,subsistem os razões que impõem ao Senado proceder cautelosamente no processo desuspensão do execl.çôo ce lei ou decreto, per vicio de inconstitucionalidc de.

. Aliós, no Supremo TribullOl mesmo, ésse problema fc i exomi nado recentemente.No iulgamento do recurso de Mondado de Segurança n.o 7.248. c::e São Paulo, oMinistro Vic10r Nunes Leal, su~tenTando aue não e obrigatória a suspensão de vigênciada lei de:lorado inconstitucional, argumentou, ccnr inegável procedência:

" ... entendo que pode o decisão dêsse Tribunal ter sido tomada oor maior'"oocosicnal, inclusive por maioria constil uida pelo VOTO de juizes SUbst'ltutoS.O Senado apreciará estas circunslâncias, porque o Tribunal decide iA casu,enquanto que éle. Senado, delibero, in genere, suspendI! (I e.xecução do lei.Só o deve fazer, pon:mto, quando nào haio dúvida de que o oensamentoníTido e firme do Tribunm é pel~ inconstitucionalidade."

E, opondo-se, ainda, à exegese do Ministro Ribeiro do Costa, aditou,

" ... meu entendimento, nesse oonto, sempre foi ro sentido ce que o Senadonão é um outõmoto; compe1e-lhe ponderar sóbre a canveniéncia de doreficácia gene rica o um pronunciamenro de Supremo Triounal ell caso cor:­ereto. pelo menos para ~erifi(.ar se não se trato de umo decisão ocas;Ofwl,que eventu almente não ell.primo o ~erdodeiro pensamento ::0 Tribunol."

No mesmo aresto, o Ministro Ga.ntalves de Oliveira acentuou que o Senado"poáe se abster, o9~ordondo o rromento mais oportuno."

Por seu turno, o Min istro Ary Franco afirmou:"Não pod~ ter atitude comissiva. mas pode ter atitude omissiva." !Jurispru­dência - Diário da Justiça de 4 de G'bril de 1963.)

A legitimidade c.o atitude :lmissivo do Sen ado, dias, esta reconhecida peloSupremo, em sel: Regimento, Cluondo ressalvo a p05sioilidade de reexame da questóoconstitucional, se nôa houver sido consumaoo o suspensão de vigência do lei o~'

do detreto.

De outro lado, é lógico ~ue ~ ato suspensivo não depende necessarlomente deprovocaçóo ou comunkação do Supremo Tribunal. O ato é do competência doSenado, cemo ell.presso no ort. 64 da (Mstituiçá:, Clue, entretanTo, não estabelecea formo de suo execução A prática em vigor, r;elo qual o SJpremo oficia 08Senado sóbre o inconstituc'onolidade reconheciaa. é adequado. pois facilita ccumprimento da regra constitucional. Se a Comtitu;ção, porém, não disciplino oprocesso de ap!icoçóo do '1ledido, nem há lei que o üetermi na, nad8 impede queo Senado procedo li suspensão, 1'0 r :niciativa sua ou de outro fonte.

12 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

No particular, e a propósito da declaração de inconstitucionalidade da Leinúmero 2.970, de 1956, o Senador Cunho Melo, em parecer apresentado à Comissãode Constituição e Justiça, sustentou, exatamente, que

"o Senado não fico subordinado à comunicação sôbre a decisão proferida.Pode êle exercer suo missão, no assunto, por iniciativa de qualquer dosseus membros, por comunicação do Procurador-Geral da República, atépor meio de representação de quem quer que seja, interessado ou não nadecisão proferida (ort. 141, § 37}."

Invocando ésse parecer, em 1957, como Procurador-Geral da República, CarlosMedeiros da Silva o aceitou. E, tendo em vista o caso que apreciava, sustentou- o que hoje também não se discute - a competência do Senado paro suspendera execução de leis estaduais e municipais. (Parecer no Recurso de Mandado .deSegurança n.o 3.667, da Bahia.)

VI

Por essas razões, concluímos que não é obrigatório, poro o Senado, a suspensãoda vigência de lei ou decreto que o Supremo Tribunal declore inconstitucional, emdecisão definitivo.

Ao Senado, no exerCICIO do poder legítimo de interpretar os limites e osresponsabilidades de sua competência, cabe verificar, em cada coso, pelo conhe­cimento da decisão ;udicial e das circunstâncias políticas e saCIOIS, se convémproceder, e imediatamente, ou não, à suspensão da execução da lei ou decreto,sõbre que incidiu o declaração de inconstitucionalidade.

O ôrgão do Congresso, a que se refere o art. 64 do texto constitucional,não contradita nem anula os decisões que produzem seus efeitos normais nashipóteses ;ulgadas. Apenas o Senado pode omitir-se de proclamar a suspensãoproposta, ou reservar-se para fazê-lo quando lhe parecer oportuno, inclusive peloverificação de que se tornou "predominante" a jursiprudência. Nesse entendimentonão hó excesso algum. Princípio incol'\troverso de direito público assegura a cadaPoder do Estado o prerrogativa de interpretar a Constituição para traçar as raiasde sua competência. ~sse postulado se insere na compreensão do art. 36 daConstituição, pois se o princípio da separaçõo de podêres "s\gnifica alguma co\so"

pon de ra Francisco Campos:

"significa exatamente a discriminação de competência, e não pode haverdiscriminação de competências onde uma única competência absorve, petasua universalidade, as demais competências com ela e em face delainstituídos." (Direito Constitucional - Rio, 1956 - 11 Vol., pág. 120.)

Por iguais razões de competência, pode o Senado, independentemente decomunicação do Supremo Tribunal Federal, promover a suspensão de executoriedadedo ato fulminado de inconstitucionalidade, seio de caráter federal, estadual oumunicipal.

Princípio bósico de direito público ensina e assegura que a outorga de umpoder expresso envolve a concessão dos meios indispensáveis à sua prática erealizaçõo.

A iniciativa do Senado depende, apenas, dos motivos de conveniência, queinvestigar e admitir.

JUNHO - 1964 J3

ATO

INSTITUCIONAL

CONSIDERAÇÕES

SOBRE OS ARTIGOS

3.0 E 4.0

Senador .:AlonJo .7'frínoJ

1 - O artigo 41 da Constituição de 1946 esta­belece que a Câmara dos Deputados e o SenadoFederal deverão se reunir em sessão conjunta,obrigatOriamente, nas seguintes quatro oportu­nidades: r - para inaugurar a sessão legisla­tiva; ti - para elaborar o Regimento Comum;li! - para receber o compromisso do Presidenteda República, e IV - para deliberar sôbre oveto. Como bem observo PONTES DE MIRANDA,no comentário ao referido art. 41, das quatrohipóteses "0 Regimento Comum é Q única opor­tunidade de trabalho em conjunto". Realmentedos outras três, duas são puramente cerimoniais,enquanto que a terceira, o do veto (sobre a qualvolfaremos adiante), não constitui propriamenteCaso de elaboração legislativa. Mas, mesmo ocolaboração na feitura do Regimento Comum étarefa marginal e, até certo ponto, secundário,entre aS que são cometidos 00 Poder Legislativo.Podemos, assim, considerar, a rigor, que o fun­çõo legislativa se exerce, pera Constituição de1946, por meio da colaboração dos duas Casasdo Congresso, funcionando porém cada quol se­paradamente da outro.

2 - Observemos desde logo que esta forma detrabalho separado das duas Câmar.as é habitualna tradição do Direito brasileiro. A Consti­tuiçõo do Império dispunha a respeíto o seguinte:"Art. 18. A sessõo imperial de abertura serátodos os onos no dia 3 de mo;o. Art. 19. Tam­bém será imperial o sessão de encerramento, etanto esta como a de abertura se farão emassembléia-geral, reunidas ambas aS Câmaras,"Como se sabe, o Parlamento do Império (concur·so das duas Câmaras) era chamado pela Consti­tuição Assembléia-Geral. A importância dassessões con;untas (chamadas imperia is) estavaem que a elos o Imperador comparecia, e nelaseram proferidas as denominadas Falos do Trono,que correspondiam, mais ou menos, às Mensa­gens anuais do Presidente da República. Mos,pelo regime parlamentar, então vigente, aquêlesdiscursos imperiais davam lugar, por vêzes, asérias discussões políticas, nas quais a confiançano gabinete se confirmava ou se abalava, vistoque as falas do Trono eram obra do Conselho deMinistros e não do Imperador, individualmente.PIMENTA BUENO ("Direito Público Brasileiro", ed.de 1857, página 126), e JOAQUIM RODRIGUES DESOUZA ("Constituição Política do Império do

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Brasil", vaI. I, pagma 170), salientam os pontos que vimos de mencionar. Ainda noart. 103, a Constituiçõo do Império previa o reunião conjunto da Assembléio-Gerol noimportante cerimônia do aclamação de um nôvo Imperador. Cumpre, assim, ossinalaro caráter excepcional dos sessões conjuntos no Constituiçõo do Império, bem comoo circunstância de que elos não tinham finalidade legislativa, mos sim cerimonial epolítica. O ún ico caso Em que o Assembléia-Geral trabalhava em conjunto era o doart. 61. que trota de pro:etos emendados, sôbre o qual falaremos adiante.

3 - A Constituição de 1891 troçava o seguinte norma: "Art. 18. A Câmara dosDeputados e o Senado trabalharão separadamente e, quando não se resolver o con­trário por maioria de votos, em sessões públícas. As deliberações serão tomadaspor maioria de votos, achando-se presente, em cada uma das Câmaras, a maioriaabsoluto dos seus membros." O princípio da separação era, assim, a regra. Asexceções eram somente três, nas quais o Congresso se reunia em sessão conjunto:a) tomar conhecimento do mensagem presidencial, no dia do inauguração da sessãolegislativo (art. 48 0.° 9); bl apurar o eleição do Presidente e do Vice-Presidentedo República (art. 47, § 1.°); e c) dor posse o essas duos autoridades (art. 44).Nôo havia, portanto, nenhuma tarefa legislativo que fôsse reolízoda em sessão con­junta. AURELlNO LEAL, discorrendo sôbre a obrigação do trabalho separado dos duasCasos, escreve: "O funcionamento em separo do dos duas Cosas do Poder Legislativofederal constitui, antes de mais nado, uma conseqüência lógica do sua divisão. Aação conjunta anularia positivamente o instituiçõu dupla do Senoclo e do Cômara,desaparecendo a possibilidade de exercer cada um dos ramos as suas funções pri­vativos, e, mais do que tudo, a razão de ser de uma segunda Casa do Congresso.":"Teoria e Prático do Constituição Federal", comentario ao art. 18.) Fixemos estareflexão final do ilustre constitucionalista. BARBALHO, depois de se referir 00 arl. 61do Constituição imperial, confirmo o intenção dos constituintes de 1891 de salva·guardar o autonomia do Senado, nestas incisivas palavras: liA Constituição repu­blicana não admitiu êsse cerceamento ao dualismo estabelecido e estabeleceu anorma invariável dos deliberações não-promíscuas, com o que se evita a anulação,nos fusões de Câmaras, do menos numeroso delas." ("Constituição Federal Brasileiro",comentário 00 art. 18.)

4 - Na Constituição de 1934, o Senado não exercia plenamente atribuições legis­lativas. Colaborava, apenas, em certos leis, com o Câmara dos Deputados, de acõrdocom as disposições do art. 91. O Senado nem mesmo figurava no capítulo do Poderlegislativo. e suas atribuições, como é sabido, estavom consignadas em capituloespecial chamado "Da Coordenaçõo dos Podêres". Mesmo assim, a Constituição de1934 manteve a tradição republicano 00 consignar. no art. 28, os quatro únicoscasos em que os duas Cosas se reuniam: inauguração do sessão legislativa, elaba­raçõo do Regimento Comum, compromisso do Presidente do República e eleiçiíoindireto do Presidente no coso de vogo no fim do período.5- Como vemos, a tradição republicano de trabalho legislativo separado era rigo­roso, mais que a do Império, que, apesar de predominante, admiti0, contudo, o reunióodas Casos para deliberar sôbre projetos de uma, emendados pela outra. A razão domaior rigor do sistema republicano está no cuidado de se preservar o influência doS,enado na tarefa legislativa, coisa menos importante no Império, porque, neste, oEstado era unitório, enquanto que entre nós é federativo, sendo o Senado, por defini·~âo que vem desde os constituintes de Filadélfia, o órgão garantidor da Federação.Por isto, os precedentes norte-ameriCC'fl05 scio no mesmo sentido. Nos Estados Unidossôo também excepciol1o's os reuniões con\untos do Congresso _ Segundo '1erítkomos

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no manual dassic "Connon'~ Proced JTe in the House of Representa~ i'~es" ':ed. de1949, pógs. 179'180.\, o oportunidade mais usado é quando o Presidente desejaendereçar uma mensagem DO Co~gresso, e o és'e corrparece pessoalmente. Entôo areunião teM lugar na ':àmoro, sob a presidência do Presidente (Speoker: desl0.Os se~odDres Hm asse~tos especiais, r.os "fómeiros filas de todeiras. O Vice-Pre·sidente (Presider.te da Senedol comparece. "eit:r a leitura da rrensogerr pelo Presi·de'lte da Repúbl:co, nó: se se9~e nenhum debete, e o Chefe de Estaco se retiro.sendo suspensa a sessõo. Quon do c Presidente en'~io sua mensagem, mos não CJm·parece, é elo lido s.'!poradoJr.ente em ca~u :osa. Aforo O tOSO citad·J. so de raro emraro se reúnem C1S duas ((J 50S, e sempre em sessões cerimoniais, :omo se deu, parexemplo, poro hOl1enogeor o Presidente Fronklin Roosevelt. quando do seu falecimento.

6 - InDvaI'ldo no trad ição de [g5JCO) fazer trobCl1 ho legislativa promísc~o, o Cons­tituição de } 934 introduziu, COf"'lO vimos, () elaboração em coniunto do RegimentoComum. Trotava-se, oinca ::ssirr·, contudo, de Uf:'1O lei interno, nôo ircluido no legis­lação ge ra I, A Constituição de 1946. enrreTO nto, trouxe Jutra inovaçãJ e esta im­portante, ao dispo.', no art. 41. que .) Congresso de libera em conjunta sôbre o velo.JOSl DUARTE nos fornece a/cuns d(ld~s 'nte-essa::+es sébre a adoção de tal Jreceito.A principio, cogitou-se de rrõnter a narmo do Corstitui;ãc· de 1934, :lU se,a, i~cluir;:mo uni'.:o trabalho em conjunTO o elaborcçãa do Reg~me-n10 Ccmum O ontepro­ieto da Comissão Constitucionat sofreu, porem, no ponto em exame. emendas queI/isovorr ô existênciCl de sessões conjuntos poro (IOrec'ação do veto A estas emendasa subcomissão espec íal deu parecer contrario. sob fundamento de q~ e "0 sessãe con­junta para julgamenro do veto c.locaria o Suado em situação de inferioridllde",O 'eputado Gustavo Capanema op;noü mesmc no sentido de que o próprio RegimentoComu:n devia ser votado separadorrente, porque o tra~alho conjunto anulario oSeno :la. (nA eon stituiçõo Brasileira de 1946", camentório ao art. 41.) ComJ nãoexiste disposiçõo :on~titucio~ol Ilorticular sõbre o maneira de se votar o veto, omais razoável seria que, nas sessões conjuntas para sua apreóaçõo, votassem sepa­radamente senadores e deputados, Assim se e~itaria o -isco assinalado pela sub­cemissoo espe::ial, nu Assembléia de 1946, e se ~oria (I~licaçàa analógica ao ais­posto nJ art. 42, rnoàvelmente aplicrivel 00 co~o, e pelo qual as deli beraçãessõo tomadas pela maioria de votos aos membros das duas Cosas. Sahemos queisto não se d6. Nas ~essóes de '..eto, n~o havendo urnas separadas e sendo a votaçãosecreto, é cloro que (] de!iberoçào ~ode ser 10mado 5em levar em conta os votas dossenadores. r.. vi~ta dos precedentes referidos creio que o sisl ema vigente, emboradificilmente modificoveJ hoje em dia, contrario ~ espírito do Constituiçõo.

1 - O Ato Instl1uciona I de ti de abril de 1964 di5põe lno ar~. 4.°, que "O Presidentedo Rep~blica poderé enl/ior ao Congresio Nacional crojetos de lei sóbre quc:lquermaTéria, os quais de ..erão ser apreciados dentro de 30 Gias, a contar do seu rece­bimerto no Cómora c'os Oe~utados e de igual prozo no Senado Federal; coso :o~·Ircri. serãa tides como aprovodos. Parágrafo único: O Presiaente da República, sejulgar urgente a rnedi:lO, podera solicitar que a :precioçõo da p~ojeto se faço em30 dias em sessóo conjunto do Congresso Nocion.::!, tiO forrr.o previsto neste artigo."

8 - O Ato lns'jlutionol veio, nos ~ermos ocimo, acrescentar um nôvo coso desessôo conjunto co Congre!>so, oos j: existentes pelo or-. /·1 do Constituição.Este n6vo caso é muil0 Il'ais i~portante do que cs outros, porqL1e prevê J ocorrênciaIJe trabalho de eloboração legisloti~o ovti-ntico (coisa qL'e ate agora "õo se verificawJnos sessões c01;untasl e.. o que ti mais, eiaboroçõo legislativu deoic:do o importcm1ese urge~tes assuntos, sem o ql1e n~o se conceberia [) r.ipótese pre'~ista no ar~. 4.0

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do Ato Institucional. É, assim, matéria delicado o disciplinamento regimental, peloCongresso, do formo de execução do referido inciso da lei constitucional revolucio­nário, O que deve ser feito por meio da adequado adaptação do Regimento Comum.

9 -- Procuremos, agora, esclarecer o conteúdo do art. 4.° do Ato, No texto do•J artigo se diz que os projetos do Presidente, que venham sem CI cláusula de urgênci..

serão apreciados separadamente pelas duas Cosas, tendo cada uma delas o prazo de30 dias para isso, Apreciar, portanto, no sentido da lei, significa, para cada Câmara,receber o proieto em Mesa, distribuí·lo às Comissões competentes, paro obter-lhes ospareceres respectivos e votá-los em plenário, tudo no prazo de 30 dias cada uma. Nãoserão proibidas os emendas aos projetos presidenciais, desde que não incidam navedação do art. 5.° do Ato, ou seja, desde que tais emendas nõo criem nem aumentemdespesa público. Todo o problema regimental está em que a apresentação e votaçãodas emendas deve se confinar, sempre, ao prazo fatal de 30 dias. Se não houveremendas, mos se o projeto fôr reieitado dentro do prazo, é evidente que a iniciativapresidencial não prevalece, pois nada no Ato impõe ao Congresso a obrigação deaprovar os projetos do Presidente, ficando, portanto, íntegra a competência de cadaCâmara de reieitar os proíetos que lhe são apresentados, caso nôo os adote (Cons-

-\ tituição Oft. 68) nem os emende ~ art. 69). Serã um caso de reieição deprojeto de iniciativa presidencial, idêntico aos que podem ocorrer no aplicação doart. 67 da Constituiçõo. O primeiro cuidado do Regimento Comum reformado deveser, pois, o de estabelecer as normas para o andamento dos projetos presidenciaisde apreciaçõo separada, fixando os prazos de tramitação, inclusive poro as emendas.No minha opinião, os emendas náo deviam ser apreciadas pelos Ilenórios, nestescasos, mos somente pelas Comissões competentes das duos Casos. Com efeito, nadana Constituição obrigo a que os emendas sejam votados em .Ienório. Pelos artigos68 e 69 o que se aprova ou rejeita são os projetos, emendados ou não. Paro quese possa combinar os prazos impostos pelo Ato com as formalidades da elaboraçãolegislativa, torno-se necessório que estas sejam reduzidos o mais possível, sempreque a redução não firo o texto constitucional. Penso, assim, que se deve limitarao âmbito dos (omissões a apresentação, exame e votação das emendas aos proietosdo Presidente. Seria restabelecido assim, com o maior procedência, a norma doart. 61 da Constituição do Império. Nada O impede,

10 - Outro aspecto. No coso de o Cômara dos Deputados deixar passar o prazo de30 dias sem apreciar o proieto presidenciaL não se segue que êle esteía ipso fadooprovado. A conclusão lógica que se deve tirar do art. 4.° do Ato, é que, passadosos 30 dias de prazo concedidos à Câmara dos Deputados, sem que esta o?rede oproieto, perderá o mesma (ômara a oportunidade de fazê-lo, passando entôo o projetoao Senado, que o deverá apreciar em igual prazo, inclusive adotando-o, rejeitando-oou, ainda, emendando-o, sem que suas emendas seiam devolvidas à Câmara, cuioprazo se esgotou. Se fôr o Senado que exceder o prazo concedido, então o projetoserá enviado à sClOção, passados os segundos 30 dias, tal como veio da Câmara,inclusive com os emendas desto, que não serão apreciadas pelo Senado.

11 - Entremos, agora, no exame do parágrafo único do art. 4.° do Ato. O primeiroponto que se deve ressoltar é que o Congresso é solicitado, nos casos de urgência, ofazer a aprecia,ão coniunta dos projetos presidenciais, no prazo de 30 dias. O emprêgodo palavra "apreciação" indica, desde logo, tal como se observou no tocante ao capuldo artigo, não apenas o momento da votaçõo dos projetos, mos todo ° procedimentoda suo tramitaçôo. Portanto, apreciação conjunto significa apenas o prazo redozidoe o votação em sessão coniunta, mas com tramitação separado, dos proietos, no que

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concerne ao estudo das Comissões, apresentação de emendas etc. Aq~ portanto, os ,\,problemas de distribuição da matéria entre os duas Cosas e fixação dos prozos nafase de tramitação, devem ser objeto de exame ainda mais rigoroso do que nos casosda parte inicial do artigo. Creio que nada impediria que, nos casos em tela, fôssemcriados comissões mistas de deputados e senadores (ou fundidos os Comissões perma­nentes, acaso já existentes, incumbidos de estudar os projetos do Govêrno) e queêsses órgãos fizessem em conjunto o trabalho de tramitaçõo, inclusive adotandoemendas, que nõo precisariam ser votados em plenário, tal como sugerido maisacima. Uma vez preparados os projetos, seriam êles, dentro do prazo marcado,submetidos ao Congresso, que os votaria em sessão conjunta.

12 - Chegamos, agora, o outro ponto importante dêste estudo: o que diz respeitoao processo de votaçõo nas sessões conjuntas do Congresso. Penso que a votaçõodos projetos se deve dor separadamente, em chamado nominal de deputados e sena­dores, ou em urnas separados, em coso de projetos que exijam votaçõo secreto,porque somente assim estará garantido o aprovação pelas duas Casos, exigido pelopróprio Ato, além de ser inerente 00 sistema bicameral, especialmente nos EstadosFederais, em virtude das funções específicos do Senado. Que a aprovação pelas duasCasas é exigido pelo próprio Ato, é foto demonstrado pelo final do parágrafo únicodo art. 4.°, no ponto em que diz que a apreciação do proíeto se fará em sessõoconjunta "na forma prevista neste artigo". Ora, a formo previsto no art. 4.° éexatamente a do apreciação pelas duas Casas, como se vê do seu texto, transcritono início dêste trabalho. Que a aprovação per ambas é inerente ao sistemabicamerol, consta do texto da Constituição, que foi mantido pelo Ato.

13 - Releva, finalmente, acentuar que muitos dos proietos enviados pelo Govêrnopoderão dizer respeito aos interêsses federativos, acentuando-se, então, o aspectodas funções especificas do Senado, acima referidos. Nêio se deve, o nosso ver, demaneiro nenhuma, repetir, no caso das sessões conjuntas destinados à apreciaçãodos projetos do Govêrno, o êrro cometido nas sessões de apreciação do veto, porqueaqui as conseqüências, paro o Senado. e portanto para o Congresso e o própriaConstituição federativa, seriam bem mais graves. Se, nas sessões conjuntos, umaCasa aprovar e outro rejeitar o projeto, estará é/e rejeitado. Se não houver quorumnas duas Cosas, e passarem os trinta dias, estó o projeto aprovado. Se houverquorum em uma das Casos mas faltar em outra, esta perderá a oportunidade deintervir, tal como sugerimos acima (n.o 10), e o proieto deve ser tido igualmentepor aprovado. São estas algumas reflexões e sugestões que desejava submeter àDIta competência dos meus ilustres colegas do Comissão de Justiça do Senado, a fimde que sirvam eventualmente de modestos subsídios à reforma do Regimento Comum.

14 - Para termino r, recordarei aqui estas palavras, de interêsse sempre atual, comque a Suprema Côrte dos Estados Unidos definiu a importância e a amplitude dopoder do Congresso de traçar as normas do seu Regimento; "No exercício do seupoder constitucional de determinar suas regras de procedimento, as Casos do Con­gresso não devem ignorar as limitações constitucionais, nem violar direitos funda­mentais, e deve haver uma relação razoável entre o método de procedimento esta­belecido pelo regra e o resultado que se espera seja atingido. Mas. dentro dêsseslimites, todos os métodos sóo abertos à determinação das Casas. O poder de troçarregras de procedimento nõo se exaure com o próprio exercício _ ~ um poder contínuo,sempre sujeito o ser exercido pelas Casos e, dentro dos limites sugeridos, é absoluto elivre do contrôle de qualquer outro órgõo constitucionaL" ("Estados Unidos contraBALl1N", 1892).

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1. As Constituições dos Estados-membros

Os Estados-membros têm as suas Constituiçõesou os seus Diplomas Magnos, denotando o suaautonomia constitucional e enunciando os troçosbósicos de suo vida política. Seria assim interes­sante proceder-se a um ligeiro estudo dêstesDiplomas básicos, sobretudo comparando os Cons­tituições dos Estados-membros brasileiros e os dosStates americanos, sôbre os quais, aliás, existeuma amplo bibliografia (1).No que concerne oos Estados Unidos, salientaBRYCE que elas são muito antigas, e mesmo oque há de mais antigo no história política norte·americano, "porque são o continuação das cortosrégias coloniais, pelas quais os primeiros estabe­lecimentos inglêses do América foram criodos, esob as quais seus vários governos locais foramorganizados" (2).Tais cartas coloniais enunciavam o estruturo dosgovernos e eram leis fundamen~Qis. sobrepoifandoacima dos legislaturas, pois apenas podiam sermodificadas ou revogadas pelo Parlamento inglês,juntamente com a Coroa britânica, de sorte quejá existia uma dupla ordem legal desde os 'emposcoloniais.Sobreveio a revolução da independência, substi­tuindo a soberania da Inglaterra pela soberaniado povo norte-americano, modelando-se Consti­tuições que, à maneiro das cartas coloniais, eramleis bósicas diante do legislador ordinário ou doexecutivo.Conquanto a vigente Constituição federal nãoexija que os Slales se organizem regulados porConstituições, no entanto os Estados Unidos, quesão reolmente a terra das Constituições, viram onascimento de inúmeras Cortas básicos de suasunidades divisionárias.A princípio alguns Estados adotaram mesmo assuas próprias (ortos coloniais. como os deConnecticut e Rhode Island, que tiveram validadeno primeiro até 1818 e no segundo até 1842,eliminando naturalmente o juramento de fideli­dade ao rei do Inglaterra.A propósito da história dos Constituições norte­americanos, sabe-se que o Congresso Continentalde 1777 sugerira os colônias emancipadas que se

ASCONSTITU1ÇÔESDOS

ESTADOSNO

REGIMEFEDERATIVO

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organizassem, e êste apêlo foi atendido pelos treze Estados originá­rios e fundadores, que promulgaram Constituições precedendomeSmo ao Diploma federal de 1787.

Connecticut e Rhode lsland adotaram os Cartas coloniais. EmNew Jersey, Virginia e South Carolina foram os seus DiplomasMagnos elaborados por Assembléias que não possuíam a devidaautorização e não foram ratificados pelo voto popular. Tambémnão receberam essa sanção popular do eleitorado as Constituiçõesde New Hampshire, Delaware, Georgia e New York, ao passo queem três States, Maryfand, North Carolina e Pennsylvania, a ra­tificação popular foi simplesmente informal. Somente um Estado,o de Massachusetts, convocou uma convenção constituinte especial,mas em Massachusetts isto assim aconteceu porque a suo primeiroConstituição elaborado foi rejeitado pelo povo, por ter sido obrade uma legislatura ordinário, e essa o razão pelo qual foi depoisconvocado uma convenção constitucional, autora do Constituiçõode 1780, ratificado em referendum, numa prático que, segundoBROMAGE, foi depois difundido em todos os Estados-membros (3).

A princípio estas Constituições eram muito breves e curtos, o seucontexto ero pouco extenso, como a de Virginia, que continhaapenas 1.500 palavras, aproximadamente, tôdas refletindo o sis­tema liberal de contrôle do govêrno pelos seus representantes,porém mais tarde foi eloborada o Constituição Federal com umasuperior técnico, que influenciou o feitura dos novos Constituiçõesdos States.

No Brasil, antes mesmo de promulgada a Constituiçõo Federal de1891, diversos Estados-membros passaram o organizar os suasConstituições e o promulgá-los; porém, tais Diplomas tiveram vidaefêmera, logo substituídos diante dos novos situações de fôrçasocasionadas pelo renúncia do Marechal DEODORO DA FONSECA.

Durou cêrca de ano e meio o processo da constitucionalização doPois, sendo a último Constituição a do Estado da Paraíba, de 30 de;uJho de 1892. A vida constitucional dos Estados acompanhou deperto a próprio vída do União, perdurando afé 1930.

Depois da Constituição Federal de 1934, também durou cêrca de18 meses o processo de constitucionalizaçõo das unidades divi·sionárias, sendo cronorógicamente o primeira o Constituição daParaíba, de 12 de maio de 1935, e a última, a do Rio Grande doNorte, promulgada em 22 de fevereiro de 1936.

Em seguida à Constituição Federal de 1946, os Estados-membrosbrasileiros foram promulgando os suas respectivos Constituições,sendo o dos Alagoas promulgada em 9 de julho de 1947, o doAmazonas em 14 de ;ulho de 1947, o da Bahia em 2 de agõsto de1947, a do Ceará em 23 de junho de 1947, a do Espírito Santoem 26 de junho de 1947, a de Goiás em 20 de julho de 1947, a

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do Maranhão em 28 de julho de 1947, a do Mato Grosso em 11 dejulho de 1947, a de Minas Gerais em 14 de iulho de 1947, a doPorá em 8 de julho de 1947, a da Paraíba em 11 de junho de1947, o de Pernambuco em 25 de julho de 1947, a do Piauí em22 de ogôsto de 1947, a do Rio Grande do Norte em 25 de no­vembro de 1947, o do Rio Grande do Sul em 8 de julho de 1947,a do Rio de Janeiro em 20 de junho de 1947, a de Santa Catarinaem 23 de julho de 1947, a de Sõo Paulo em 9 de julho de 1947e a de Sergipe em 16 de julho de 1947. Como se vê, tôdas asConstituições foram promulgados em 1947, sendo o primeira odo Estado da Paraíba e a última a do Rio Grande do Norte.

Assim sendo, tôdas as Constituições dos Estados-membros brasilei­ros são recentes. Já com respeito ao texto primitivo das Consti­tuições estaduais norte-americanas, o seu velho texto está pràtica­mente desaparecido, mas da época a que mais durou foi a deRhode Island, revogado em 1842. Tonto os (onstitulc;ões dosEstados-membros brasileiros, como as dos norte-americanos, sãomuito longas. Algumas Cartas norte·americanas têm cêrca de75 mil palavras, como a de Louisiana, e outras mais de 100 páginas,como a do State de Oklahoma. Elas debatem inúmeros problemasque são devidamen1e regulados em umo verdadeira es1ru1uroracionalizada.

Qual o conteúdo das Constituições estaduais norte-americanas?Examinando-se o seu contexto, verifica-se que elas se compõem deum preâmbulo, do declaração de direitos. do próprio C.OfPO doConstituição, das medidas sôbre reformas e das disposições tran­sitórias.

No que concerne aos preâmbulos, tôdas as Constituições dos Statesos possuem, exceção feita dos Estados de New Hampshire. Vermonte West Virgínia, alguns preâmbulos muito prolixos, como os deMassachusetts, e outros breves, como os do Arizona.

As Constituições dos States têm também as suas declaraçães dedireito ou bill of rights. Tais declarações de direíto também suoprevistas no corpo da Constituição Federal, de sorte que os cidadãosdos States se encontram protegidos por duas ordens legais funda­mentais, a da União e a dos Estados-membros.

Já o corpo da Constituição regula a organização e" a estrutura dogovêrno, o divisõo dos podêres, o processo legislativo. espraiando-sepor vários domínios, com disposições sôbre O direito eleitoral, oestatuto dos corporações, a educação popular, a vida financeira,o regime de dívida pública, o direito do trabalho, os serviços deutilidade público, o vida municipal etc.

Todos os Estados também têm suas provisões sôbre o reformaconstitucional, que regulam o processo de emenda e as medidasnecessárias que dizem respeito ir própria mudança do texto cons­titucional. que não tem caróter de eternidade.

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Enfim. vêm os disposições transitórios, mecanismo que assume onome de Schedule, prevendo o inicio do vigência da Constituição,data de instalação do Govêrno ou outras de conteúdo transitório.

As Constituições dos Estados-membros brasileiros têm também umaconfiguração pouco mais ou menos idêntica. Tôdas elas possuemum preâmbulo, normas relativos à organização do Estado, as suasdeclarações de direitos, os normas sôbre reformas e as suasdisposições transitórios.

No tocante aos preâmbulos, tôdas se referem ao nome de Deuse têm um conteúdo sintético fazendo parte da própria Constituição,possuindo também um caráter programático.

As declarações de direitos reasseguram a inviolabilidade dos direi­tos fundamentais de acôrdo com a Constituição Federal, estandoassim geralmente com um caróter sintético e breve. Nas declara­ções de direitos também se incluem os preceitos relativos à ordemeconômica e social em tôdas as Constituições dos Estados-membros,isto é, os chamados direitos econômicos e sociais, as provisõessôbre educação e cultura, também em todos os Estados. os sôbrefamilia e sua proteção em todos os Estados, exceto os de Goiás,Piauí e Rio Grande do Norte, havendo assim duas ordens legais debifl of ri9"'$.

O corpo da Constituição regula também o organização e a estruturado Govêrno, a divisão dos podêres, a vida orçamentária, o minis­tério público, a organização municipal, o funcionalismo público, acompetência tributária, o orçamento etc" numa extensão bemampla e profunda.

Já no que diz respeito ao processo do emendo, tôdos as Constitui­ções estaduais têm provisões concernentes à matéria, o que é dese supor, pois nenhuma Carta Magna tem pretensão de eternidade,

Enfim vêm os chamados disposições constitucionais transitórias ouAtos das disposições constitucionais transitórias, agregados aofim dos Constituições estaduais e regulando determinados aspectosmomentâneos da vida dos Estados.

Seria agora interessante salientar a evolução das Constituiçõesestaduais. A princípio, tanto os Constituições dos States norte­americanos como os dos brasileiros eram muito sintéticas. brevese mesmo lacunosas. Mais torde elas se forom estendendo e mesmotêm hoje um conteúdo racionalizado. Não abrangem só a estruturado Govêrno e a divisõo de podêres, mos nelas se assiste o umaexpansão no seu contexto, abrangendo diversos problemas de na·tureza cultural, econômico e financeira. Assim, os mais variadasquestões, mesmo as da vida municipal ou comuna', problemas dotrabalho e econômicos em geral, funcionalismo público, polícias,têm sido reguladas pelos novos Constituições. O mesmo aconteceem algumas das recentes ConstitUições das Repúblicas Federadas doAlemanha, como as dos Estados Nordrhein·Westfalen, de 28 de

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junho de 1950, e com 91 artigos, a Constituição da Baviera, de2 de dezembro de 1946, com 188 artigos, a Constituição do Hesse,de 1.° de dezembro de 1946, com 108 artigo1, aiora a de ou1rosEstados alemães (4).

No América do Norte cogito-se mesmo de criar uma espécie deConstituição-modêlo do Estado, e há cêrca de 20 anos que a LigaMunicipal Nacional 'Iem fornecendo o. e~bôço do que se deve olhorcomo uma Constituição-modêlo. O primeiro modêlo apareceu em1921, retificado em 1928, 1933 e 1941, sendo que esta últimaConstituição-modêlo ideal abrange 116 seções organizadas em13 artigos, trotando de uma declaração de direitos, sufrágio eeleições. o. ramo legislativo, o legislação, direta, o executi'lo, oscôrtes, finanças, govêrno local, serviço civil, bem-estar público,relações intergovernamentais. revisão constifucional e disposiçõestransitórias, tendo a Constituição um tamanho moderado (5).

A fim mesmo de aprimorar entre os americanos as suas instituiçõesconstitucionais, o Prof. MUNRO, em seu estudo Uma COlIstitulçãoEstadual Ideal (6), sugere modificações segundo oito pontos de vistaprincipais: 1.0, as Constituições estaduais devem limitar·se à essên·cio de sua organizaçõo política; 2.°, as declarações de direitosdevem ser reduzidos 00 mínimo; 3.°, a e1truturo gO'lemomen1o\necessita ser simplificado; 4.°, o poder do executivo necessita deuma ampliação; 5.°, os juízes do Suprema Côrte Estadual devemser nomeados pelo .,e.ecutivo e durante longo tempo; 6. 0

, grandeporte ~as leis ordinárias incorporados aos Diplomas Mognos e comvalor lonstitucional deve ser transferido poro um código, comvalor intermediário entre a Constituição e a lei ordinário; 7.°, ge·neralidade do legislação direto; 8.0, previsão pelas próprias Cons­tituições estaduais de métodos alternativos de revisõo ou reformas,quer por iniciativa do eleitorado ou da legislatura.

Claro que nem tôdas as sugestões se aplicam ao Brasil, algumasmesmo devem ser entendidos de maneira inversa. Por exemplo,no Brasil, o governador do Estado, representando a tradição docapitõo-mor todo poderoso, tem excesso de podêres, que devemser diminuídos em favor do legislatura ou do eleitorado, ao con·trário da América, onde o governador sempre foi pouco influente,e cujo fôrça e prestígio ultimamente vêm se ampliando,

Seria interessante ogora discutir os problemas relativos à reforma,à revisão ou à emendo constitucional. Nos Estados norte-america­nos, o maioria das Constituições prevê os processos de reforma,porém 12 Constituições são omissos na regulação dos técnicas darevisão geral de seu texto por meio de convenções. Nada obstante,a prática tem admitido a re'li1ão gerol do contex.to.

~ verdade que, o respeito do assunto, o princípio a Suprema Cêrfede Rhode Island, em 1883, decidiu que não era possivel convocar·senenhuma convenção para rever a Constituiçõo no ausência do texto

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constitucional, mos êste critério foi modificado peta mesmo Su­prema Côrte em 1935, quando, em advisory opinion, decidiu con­tràriamente, sustentando a validade da revisão, o ser reguladopor lei ordinário, no silêncio da Constituição. Ainda em 1917,a Supremo Côrte de Indiano justificou legalmente a convocaçãode uma convençõo constituinte, que nõo era prevista na Consti·tuição estadual, desde que esta convençõo fôsse antes aprovadopelo eleitorado.

Nos primeiros momentos da história constitucional norte-america­na, nem sempre se cogitava do problema da reforma dos Constitui­ções estaduais. Somente os Constituições da Georgia, Pennsylvaniae Massachusetts previam no seu texto as futuras alterações.

Outros Constituições, como as de South Carolina, Delaware eMaryland, permitiam 00 legislador ordinório introduzir as emendasparciais necessórias. A maioria das Constituições estaduais silen­ciava a respeito.

Paulatinamente, o situação foi mudando e as técnicas dos conven­ções para a revisão total ou das emendas parciais foram aospoucos sendo adotados. Em 1818 e em 1819, respectivamente, osEstados de Connecticut e Alabama exigiram a ratificação popularporo os emendas adotados pelos legislaturas, ratificaçõo popularque mais tarde foi adotado poro todos os States. Desde 1835, quasetôdos os Constituições seguiram as sugestões dos Estados deDelaware e South Carolina, regulando o processo de emendo e derevisão, 00 posso que no século xx surgiu a técnico de reformoconstitucional através da iniciativa popular ratificado pelo refe­rendum.

O processo de emendo por um ato do legislatura é o mais usuale está regulado em 47 Constituições, de sorte que só 00 mesmofaz exceção o Estado de New Hampshire, que só permite o reformopor convenção especial. Diversos requisitos se exigem poro oadoção dos emendas constitucionais, segundo informo CHARLESC. ROHlFING. Tais emendas estão assim condicionadas: a) em16 Estados (California, Colorado, Georgia, Idoho, lIlinois, Kansas,louisiana, Maine, Michigan, Mississipi, Montana, Texas, Utah,Washington, West Virginia e Wyoming) o emenda depende do votoqualificado de dois terços da legislatura, ratificada por referen­dum; b) em nove Estados (Arizona, Arkansas, Minnesotta, Missouri,New México, North Dokota, Oklahoma, Oregon e South Dakota)do voto simples da maioria do legislatura, seguido de referendum;1:) em sete Estados (Alabama, Florido, Kentucky, Maryland, Ne­braska, North Carolina e Ohio) a emenda está condicionada à vo­taçõo de três quintos do legislatura e sucessivo referendum; d)em nove Estados (Nevado, New Jersey, lndianna, lowa, Pennsylva­nia, Rhode Island. Virgínia e Wisconsin) a emenda deve ser apro­vado pelo voto do maioria simples do legislatura, em duas reuniõessucessivos, exigindo-se a aprovação posterior por referendum; e)em cinco Estados O processo é varióve!. e não incluso nas cofego-

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rias acima, pois Connecticut prescreve uma votação prévia commaioria simples da Câmara, aprovação qualificada por dois terçosda Câmara e do Senado, no sessão seguinte, e referendum, assimtambém acontecendo nos Estados de Vermont e Massachusetts,ao posso que em South Carolina deve haver uma segunda aprovaçãoda legislatura seguidamente 00 referendum, e enfim Tennesseeprestreve duas aprova~ões sutessivas da legislatura, o último pardois terços.

Assim, o processo da emendo aprovada pelo legislatura e aprovadapor referendum é muito usual. Se o princípio as emendas cons­titucionais dependiam quase sempre das legislaturas, é verdadeque com processos formalísticos mais tomplicados, desde 1818 seadotou o ratificaçõo do referendum poro os emendas constitucio­nais, processo hoje universal, poís apenas o Estado de Delawaredispensa o referendU; No que concerne 00 número de eleitoresque devem votar no referendum, Q maioria dos Estados-membrosrequer apenas que só a moioria do eleitorado se manifeste sôbrea emenda, porém em 10 Slotes se prevê a ratificação apenas pelamaioria dos eleitores que comparecem ao referendum. Deve-seadvertir que freqüentes são as emendas dos Constituições dosEstados-membros; de 1900 o 1935 foram aprovados cêrca de 2.500emendas.

Estudemos agora o problema da revisão geral do Constituição, quedifere da emenda na qualidade de mudança parcial da Constitui­çõo, processo que estó previsto em 36 Constituições, os outrosnõo regulando o assunto, mos a revisão sendo permitida pelaprática jurisprudencial. A propósito da emenda e da revisão,escreve OSVALDO TRIGUEIRO (ob. ciq pág. 62): "Em teoria, a re­visão constitucional difere da emenda em ser não simples revoga­ção dêste ou daquele artigo, O\l acréscimo de um ou outro dispo­sitivo, mas uma reforma substancial da Constituição, por meio denôvo texto. A prática americana, contudo, tende a suprimir qual­quer distinção essencial entre os dois métodos. Assim é que, emcertos casos, a obro do convenção é vasada não em nôvo textocorreto e melhorado, mos em grupos de emendas, com o intuitode facilitar a ratificação parcial do reforma, quando há pontosde aceitação duvidosa. Além disso, o processo de emenda temsido empregado para revisões gerais, com o intuito de evitaF areunião das convenções."

O processo de revisão é mais lento e mais complicado que o daemenda, justifico-se, porque a revisão é uma mudança total daConstituição, mas o emenda é uma mudança parcial, e daí os cau-"telas conseqüentes. ~istõricamente, a primeira convenção tom.­titucional se reuniu em Massachusetts, em 1780, e até 1940 ráse realizaram 189 convenções, dos quais 126 empreenderam a re­visão geral da Constituição, segundo informa o Prof. HAROlDZINK (7), em todos os Estados, menos Rhode Island.

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Nos dois Estados da Georgia e Maine, as convenções constitucio­nais são convocadas por simples deliberação qualificada da legis­laturo, porém geralmente, como acontece em 34 Estados, os votosdo legislatura estão condicionados ao referendum, e em alguns alegislatura delibera por maioria simples.

Normalmente, as legislaturas convocam uma convençõo quandobem entendem, porém em alguns Estados, em número de oito, asaber: lowa, Morylond, Michigan, Missouri, New Hampshire, NewYork, ahio e Oklahoma, fazem-se consultas 00 eleitorado comdeterminados intervalos fixos, para argüi-lo sõbre o conveniênciado convocação do convenção.

O tamanho das convenções constitucionais é varióvel, porém nor­malmente menor que o dos Assembléias Legislativos ordinários.

Muito freqüentemente o seu trabalho é feito através de comissõesescolhidos na convenção ou por meio de comissões extraparlamen­tares ou comitês técnicos extra parlamentares, que apresentam osanteprojetos.

A respeito das relações entre as convenções e as legislaturas, estascorrespondentes às Assembléias legislativas brasileiras, muito sediscute, o propósito, existindo três pontos de vista característicos,oro se afirmando a obediência da convençõo às idéias revisionistasdesenvolvidas pelas legislaturas, ora se afirmando a liberdadepleno de ação do poder constituinte estadual representado peloconvençõo, o qual apenas será limitado pelo Constituição Federal,oro se admitindo uma posição conciliatória, a mais normalmenteseguido, outorgando à convenção plenos podêres poro a revisãoconstitucional, porém sem interferir no funcionamento normal doGovêrno ou nos atribuições cotidianos das Assembléias.

Feita a revisão, ela é submetida à ratificação do povo, podendoapresentar-se 00 eleitorado o projeto total de revisão, ou então,a fim de evitar os perigos de uma desaprovação do projeto, apenasse encaminham paro apreciação do eleitorado, em blocos separados,determinados grupos de emendo que possam causar maiores con­trovérsias. Esta última solução pode, entretanto, comprometera obro geral ou o plano de conjunto do projeto, apenas servindoporo superar perigos de uma desaprovação total.

r de advertir-se a cautela da revisão, pois sôbre ela interfere oeleitorado sucessivos vêzes em quase todos os Estados, quando éconsultado sôbre a oportunidade do revisão, quando escolhe noeleição primória os representantes dos partidos que deverão serconvencionais, quando a êstes elege definitivamente e afinalquando referenda a Constituiçõo projetada.

Ainda pode realizar-se a revisão da Constituiçõo através da ini­ciativa popular, instituição de origem suíça, iniciado por SouthDakota, em 1898, no legislação ordinário, aplicada, em 1902, por

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Oregon 00 plano constitucional e hoje em dia admitida por 14Estados da Federação.

A iniciativa popular para a revisão da Constituição começa poruma proposta do eleitorado, feita por um grupo ou parcela dbte,que é apresentada ao secretário de Estado, o qual deverá submetê·laa referendum na próxima e primeira eleição. O número de eleito·res a assinar a petição varia, ora é prefixado no mínimo, 10 milem North Dakota e 25 mil em Massachusetts, ora representa umapercentagem do eleitorado, por exemplo, 8% no California, 15% emNebraska etc.

Alguns Estados, em número de 11, o saber: Arizona, ArkonsQs,California, Colorado, Michigan, Mississipi, Missouri, Nebraska, Ohio,Oklahoma e Oregon adotam um processo direto de iniciativa,segundo o qual a proposta de emenda é imedlotamente submetido00 povo, o referendum bastando poro a sua aprovação, porémoutros Estados, em número de três, Massachusetts, Nevada e SouthOakota, exigem que a emenda seja também aprovada pela legisla­tura, e, neste caso, South Dokoto determina que o aprovação dalegislatura venha depois do referendum, ao passo que Nevada eMassachusetts determinam que venha antes.

A influência do eleitorado na revisão constitucional aumenta oconteúdo democrático de influência do povo, salientando BROMAGEque ela é "a marca dóguo da participação popular no Govêrno" (8).

Vejamos agora como as Constituições dos Estados-membros brasi·leiros determinam o processo de revisõo, visto que até agora seconsiderou o caso americano. A ConstituiçãoM Alagoas tart. 156)determina que a emenda seja apresentada por um têrço, no míni­mo, dos membros da Assembléia legislativa, ou mais da metadedas Câmaras municipais, pela maioria absoluta dos seus membros,devendo ser aprovada em duas discussões pela maioria absolutada Assembléia, em duas sessões legislativas ordinárias consecutivas.

Na Constituição do Amazonas (art. 135) a proposta de emenda deveser apresentado pela quarta parte no mínimo dos membros de suolegislatura, ou mais da metade dos Céimaras municipais, no decursode dois anos, revelando-se pela maioria dos seus membros, sendoaprovado pelos mesmos processos que na das Alagoas. A Consti­tuição da Bahia (art. 26) também prevê a apresentação da propostapor um têrço, pelo menos, da Assembléia, ou por 20 Camarasmunicipais, manifestando-se a sua opinião no decurso de doisonos, por maioria absoluta dos vereadores, sendo aprovada pelosmesmos trâmites do de Alagoas, ou ainda mais ràpído.mente,considerada logo aceita, se a emenda obtiver o voto de dois terçosda Assembléia nos discussões da primeira sessão legislativa. NoCeará, conforme o art. 174 da sua Constituição, a emendo deveser apresentada por dois quintos, no mínimo, dos membros dalegislatura, ou mais da metade das Câmaras municipais, pelamaioria absoluta dos seUs membros em cada uma delas, sendo

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aprovada, se fôr aceito em três discussões e em dois anos con·secutivos, pela maioria absoluta dos membros do Assembléia. Alémdo emenda, o Constituição prevê o revisão ou o mudança totaldo Constituição, depois de cinco anos de suo promulgação, commaiores formalidades e mais dificuldades. A Constituição doEspírito Santo prevê um processo idêntico 00 de Alagoas, apenaso opinião das Câmaras municipais devendo revelar-se no decursode dois anos, como se vê do arf. 74 do seu contexto básico. AConstituição de Goiás, no art. 184, prevê tonto a revisão como aemenda, desde que apresentada pela quarta porte, no mínimo,dos membros do Assembléia, e aceita quando aprovado em trêsdiscussões por dois terços da Assembléia, em dois anos conse­cutivos. A Constituição do Moranhão prevê também tonto o emendacomo a revisão, o proieto de emendo devendo ser requerido porum têrço, pelo menos, dos membros do legislatura, sendo aprovadodesde que obtenha o voto da maioria dos deputados presentes emduas discussões anuais em dois anos consecutivos, ou mais ràpida­mente, se fôr aprovado no ano da apresentação, em três discussões,por dois terços do número dos membros da legislatura. Isso notocante à emendo, mos no que diz respeito à revisão, o propostadeverá partir de dois terços do número dos membros do legislaturaou da maíoria das Câmaras municipais, e se fôr aprovada pelamaioria dos deputados presentes terá o seu anteprojeto elaborado,poro ser submetido à deliberação do ono seguinte, reputando-seaprovado se obtiver, em três discussões, o voto da maioria absolutodo Assembléia.

No Mato Grosso, pelo art. 139 de seu Diploma Mogno, se consideratanto a emendo quanto a reformo, propondo-se a modificaçõo dotexto por um têrço dos membros da Assembléia, no mínimo, eaceita em três discussões pela maioria absoluta dos seus membrose em duas sessões legislativas ordinários e consecutiyas, ou aindapelo têrço parte das Câmaras Municipais, ou ainda por 20% doeleitorado, em petição à Assembléia Legislativa, cabendo a esto de·cidir sôbre a alteração solicitada, pelo maioria absoluta dos seusmembros e em três discussões. Por suo vez, a Constituição de Mi­nas Gerais, M art. 150 a 153, prevê a reforma por iniciativa daAssembléia, pelo têrça parte, no mínimo, de seus membros, ou pelomaioria dos Câmaras Municipais, sendo aprovada, se aceita em duasdiscussões pelo maioria absoluto do legislatura, em duas sessõesordinários e consecutivos, ou ainda numa só sessõo ordinária se ob­tiver o voto de dois terços dos membros, em duas discussões. PeloConstituíção do Pará, em seu art. 128, o processo é o mesmo que ode Alagoas, apenas o metade das Câmaras Municipais devendo opinarfavoràvelmente no decurso de dois anos. Pelo Constituição do Pa­raíba, conforme o art. 142, poderá o Constituição ser emendadopor proposta do governador ou de um têrço, pelo menos, do As·sembléio Legislativo, ou por mais de dois terços dos Câmaras Mu­nicipais, manifestando-se cada uma delas pelas maiorias dos sem

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membros, sendo aceitas, se a emenda fôr aprovada em duas dis­cussões pela maioria absoluto dos membros da Assembléia, em duasreuniões legislativas ordinários e consecutivas, mos será aprovadamais ràpidamente e no mesmo ano, se obtiver o voto de três quartaspartes dos membros em três discussões. Já pelo Constituiçõo doParaná, em seu art. 177, o processo é idêntico ao da Constituiçõodo Espírito Santo.

De acôrdo com o Constituição de Pernambuco, em seu art. 182, aemendQ deverá ser de proveniência da Assembléia Legislativa,sendo aceita, se reunir os votos da maioria absoluta dos membrosda Assembléia em três discussões, com o intervalo mínimo de 72horas, sendo considerado definitivamente aprovada se, no ano se·guinte, em três discussões, obtiver dois terços dos votos da tota­lidade dos membros da Assembléia. reunidos especialmente paraêste fim, e no caso de aprovação deve ser remetida a uma comissãoespecial, nomeada pelo Presidente da Assembléia para a redaçãofinal, que será discutida e votado em um turno, em sessão da As­sembléia, pela maioria dos membros presentes. ~ste era o primitivotexto da Constituição, que foi modificado, a fim de se permitir aemenda da mesma em um só ano, emendando-se a Constituição notocante 00 seu próprio processo de emendo, do que resu\'aramvivos debates na aludida corporação, tomando parte saliente nasmesmos o 'eputado ClODOMIR MORAIS.

Pela Constituição do Piauí, a Constituição poderá ser emendada, seapresentada pela quarta porte, no mínimo, dos membros da As­sembléia Legislativa ou mais do metade das Câmaras Municipais.revelando-se cada uma delas pela maioria dos seus membros. dan­do·se por aceita o emenda, se aprovada em duas discussões pelomaioria absoluta da legislatura em duas sessões legislativas canse·cutivos, dando-se porém ·Imediatamente por aceito, se obtiver o votode dois terços dos membros da Assembléia em duas discussões. Adita Constituição ainda cogita do revisão, que somente poderá serapresentada depois de cinco anos do doto da promulgação do Di­ploma Mogno, mediante proposta apresentado pelo maioria absolutada Assembléia ou de dois terços das Câmaras Municipais, e se aproposto fôr aceito pelo voto de quatro quintos do legislatura, estamesma legislatura designará uma comissão de deputados, para ela­borar o projeto, o qual, na legislatura seguinte, seró submetido atrês discussões e votações.-Pelo Constituição do Rio Grande do Norte, o Constituição poderáser emendado ou reformada, segundo os arts. 137 o 140 da mesma,se a proposta de emendo ou reforma fõr apresentada pelo quartaparte, no mínimo, dos membros da Assembléia, e será aceita, seaprovada em três discussões, pela maioria absoluto da Assembléia,consecutivamente. em duas sessões legislativos, ou mais ràpida·mente numa só sessão legislativo, se obtiver o voto favorável de doisterços, no mínimo, dos membros do Assembléia. Conforme a Cons­tituição do Rio Grande do Sul, segundo o art. 249, o processo é

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idêntico 00 do Espírito Santo ou do Porá, permitindo-seI poréml uma 'emenda mais rápido, se o proposta obtiver na mesma .essão legis·lotivo o voto de dois terços do Assembléia em três discussões. Jóo processo de emendo da Constituiçõo do Rio de Janeiro, no seu art.163, é idêntico 00 do Estado do Rio Grande do Sul.

PEdo Constituiçõo do Estado de Santo Catarina{ se verifica, com (] ,leitura do art. 208 da mesma, que o seu processo de reformo seidentifica com os dos Estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,Esp!rito Santo e Pará. Já o art. 136 da Constituição de São Paulomostro como, tanto a reforma como a emendo, são possíveis, me­diante proposta da quarta parte, no' mínimo, dos membros da As·sembléia, e seró aceita quando aprovado em três discussões pormaioria absoluta, em dois anos consecutivos. Enfim, na Constituiçãode Sergipe, o Diplomo Mogno será emendado se o projeto de re·formo ou de emenda conseguir ser proposto pelo quarto porte dosmembros da Assembléia legislativa, ou por ma;s do metade dos Câ­maras Municipais, estas pela maioria dos seus membros e em doisanos consecutivos, sendo aprovado, se aceito pelo maioria absolutodos membros da Assembléia legislativo, em duas sessões legislativosordinários consecutivos.

Verifica-~e, assim, que, no estudo comparado das Constituições es­taduais brasileiros, quanto ao seu sistema de reforma ou de emenda,as leis constitucionais e estaduais têm uma superioridade intrín·seca ou formal sõbre as leis estaduais ordinárias. Somente commaiores dificuldades técnicos poderõo os primeiros serem modifica­dos, enquanto as segundas o são por maioria simples dos membrosdo Assembléia. Geralmente a proposto da emenda cabe tanto àAssembléia legislativa quanto às Câmaras Municipais, somente 01·guns Estados, como os de Pernambuco e São Paulo, vedando tal atri­buição às Comunas, e o único Estado brasileiro a permitir a pro­posto pelo governador é o do Paraíba, sendo também singularidadea Constituição de Mato Grosso, que admite o iniciativa popular paroa revisêio.

Não se admite a emenda ou a reforma do Constituiçõo duranteo Istada de 'ítio ou no vigência da \ntervençõo federal, a emendo Jsendo promulgada pela Mesa da Assembléia Legislativa e aditada00 texto da Cqnstituição, todos os Estados brasileiros, sem nenhumaexceçõo, cogitando em seus Diplomas Magnos dos medidas ou pro­visões de reforma, que, em geral, se assemelham.

2. O Poder Legislativo nos Estados-Membros

Os Estados-Membros têm naturalmente um poder de organizaçãopolítica, que se revela imediatamente no suo competência exclusivo \de organizaçõo dos seus podêres, tonto o ~gislativo quanto o 1xe- .cutivo. Por isso, todos têm os suas Assembléias Legislativos ou le- .gislaturos, dos quais o primeira Assembléia instituído na Américafoi a do Virgínia, em 1619, quando ela era ainda colônia inglêsa.

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Pouco e pouco tais Assembléias foram s~ popularizando nas colô·nias britânicas, e na opinião de GRAVE,,9), eram miniaturas doParlamento inglês, pois o Assembléia reproduzia aproximadamentea Câmara dos Comuns, tomando paulatinamente grande somo depoder.

A principio, as Assembléias legislativos, no desenvolvimento da his­tória polltica norte-americana, tiveram um grande re\êvo. tram O!l

únicos órgãos do poder durante a luta da independência • concen­traram mesmo todos os podêres do Govêrno desde a revolução daindependência em 1789. Delas partiu a decisão para a convocaçãodo Congresso Continental, de cujas decisões proveio o Confederaçãonorte-americana das 13 colônias recentemente emancipadas e entãotransformadas em Estados independentes. E da Confederaçéío surgiuposteriormente, como se sabe, a presente Federação norte-ame­rícana.

No início do história política norte-americana, as legislaturas tinhamuma influência decisiva, pouca era a importância do governador,que nem sequer possuía o direito de veto e outros funções adminis­trativas de importância, visto que as Assembléias nomeavam osiuízes e a maior parte da burocracia estadual. Bem o disse MA­THEWS, na obra American StOfe Governmant, que elas foram "ini­cialmente quase onipotentes, tanto sob O ponto de vista legislativo,como também administrativo, e mesmo, em alguns Estados, sob oponto de vista constitucional".

Pouco e pouco, entretanto, a situação mudou. Os governadores fo­ram eleitos pelo povo e não mais pela Assembléia, ganhando pres­tígio popular. Ganharam o direito de veto, influindo na legislação.Começaram a nomear grande parte do funcionalismo. Dal a conse·qüência exposta por BATES e FIRO na conhecida abra 6."&'\\0 dO\Estados·Membros: "Emergindo da luta revolucionário como deten­toras da confiança do povo. as legislaturas dos Estados têm tidouma história de prestígio e poder constantemente decrescentes." (10)

Na organização legislativa dos States, li Guase totalidade dêlesadotou o sistema do bicameralismo, isto é, a organização da As­sembléia legislativa dividida em duas Câmaras. Transformadas ascolônias em Estados, a maioria dêstes orientou-se pelo bicamera·lismo, à exceção de Georgia, Pennsylvania e Vermont, adotando aprática unicameral, porém os dois primeiros logo a abandonaramem proveito do bicameralismo, o que aconteceu também com Ver­mo"t, em 1836. Hoje em dia, todos os Estados norte-americanos têmum legislativo dual, salvante Nebraska. que desde 1937 se orientoupelo unicameralismo.

Louva-se bostante o bicameroJismo. porque permitiria uma melhorrepresentação do povo, conquanto também muitos doutrinadores seinclinem poro o unicameralismo (11). De modo geral, nos States,a Câmara alta compõe-se de menos membros. o seu mandato é mais

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longo, é renovada parcialmente, os seus delegados representamsubdivisões territoriais. Entretanto, os seus membros têm a mesmaremuneração e pràficamente hó equilíbrio de funções legislativas.

Quol é a designação das Assembléias legislativas? O ~oder legislo- ~tivo tem o nome de legislatura em 22 Estados, de Assembléi" Geral C­

em 20 Estados, de Assembléia legislativa em Montona, Oregon eNorth OOKota, 00 passo Que Mossachusetts e New Hampshireaceitam a designação de (ôrte Geral, proveniente dos temposcoloniais.

Quanto à designaçõo da (âmara Alta, ela é uniforme e chamado deSenado. Já a Câmora Baixa é chamada de (asa dos Representantesem 40 States, Assembléia em quatro, (asa dos Delegados em doise Assembléi4 Geral em um. ao numero de membros dos Câmaras é variável, porém em geral éem menor Quantidade nos Estados do Oeste, com representaçãobaseada nos condados e maior nos Estados da Novo Inglaterra comuma representaçõo baseada nas cidades. Delaware e Nevada têm34 e 40 representantes na sua Câmara, enquanto no outro extremo,New Hampshire, tem 400 membros, a média nos Estados variandoentre 75 o 150 deputados.

No que diz respeito ao Senado, em geral êles têm 38 membros. Osdois Senados menores são os de Nevada e Delaware com 17 mem­bros em cada um, e o maior é o de Minnesota com 67 membros.

Presidente noto do Senado é o vice-governador do Estado, quandofunciono a instituição, nos demais a direção cabendo a um presi­dente pro tempore, as (âmaras sendo presididos por um speaker,designado em cada reuniõo legislativa.

(om respeito ao prazo ou têrmo do mondato, êle varia desde umo quatro anos. Em 15 Estados o mandato dos senadores e depu­tados é de dois anos, em cinco é de quatro anos, coincidindo assimos têrmos do mandato. Em geral se atribui um mandato mais longo00 senador do que ao deputado, pois enquanto em 26 Estados omandato do senador é de quatro anos, nos mesmos Estados, o dodeputado é de dois anos. O menor prazo do mandato dos deputadosocorre em New York e New Jersey, onde os deputados são eleitosanualmente, mas em New York os senadores sõo eleitos por dois anose em New Jersey por três. Poucos Estados, como os de Alabama,louisiana, Maryland e Missíssípí, dão quatro anos aos seus depu­tados, 00 passo que 31 Estados prescrevem um mandato de quatropara os senadores.

Em 42 Estados os legislaturas se reunem de dois em dois anos,geralmente em ianeiro dos anos ímpores, mos em New York, NewJersey, Massachusetts, Rhode Island e South Carolina, isto é, emcinco States, as reuniões são anuais, interessando ao estudioso osingularidade de Alabama, cujo poder legislativo se reúne de quatroem quatro anos para funcionar sàmente 50 dias.

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No que diz respeito à duração dos trabalhos legislativos, tambémela é varióvel, pois em 21 States tal duração não é legalmente Iimi·todo. Nos demais, a lei os limito, desde 40 dias em Oregon o 51semanas em New Hompshire, enquanto na California, Georgia eWest Virginia, o legislatura se reúne no época legal, apresenta todosos seus projetos 00 funcionar por alguns dias, suspende imediata·mente os seus trabalhos. reabertos meses depois poro deliberação,o isso se chamando de split sessiolt.

O mandato é sempre remunerado, e hoje não mais se justifica o man­dato gratuito. Em New Jersey e IlIinois, que são os Estados pa­gando melhor ()s seus representantes, os salórios sóo de seis mil ecinco mil dólares por biênio, ao passo que outros, como Connecticut,pagam apenas 300 dólares por biênio. Kansas e Tennessee pagamsó três e quatro dólares aos seus legisladores por dia durante operíodo em que a legislatura estó em sessão, havendo assim Es·todos onde os subsídios se baseiam nos dias de trabalho, variandoentre três a 10 dólares. New Hampshire remunera na razão de 200dólares por têrmo. Em geral, os congressistas recebem indenizaçãopelas suas despesas de viagem, que varia de acôrdo com a distanciaentre a residência do delegado e a capital. Salienta O Prof. HAROlDZING (ob. cit.ipág. l22), que "as despesas Incidentais por viver nacapital do Esfado podem exceder o subsídio pago por muitos Es·todos, exceto se o legislador se alojar em uma pensõo e restringir-sea uma vida muito simples".

No uso de suas funções, os legisladores têm imunidades parlamen.tares, não podem ser perseguidos, nem coagidos, nem presos pelassuas opiniões expendidas por efeito da sua posição de delegado dopovo. Entretanto, o dita imunidade só é respeitada durante o fun­cionamento da legislatura e não prevalece nos crimes de maiorgravidade.

A representação se foz através de pequenos círculos uninominais, egeralmente cada distrito elege um mandatário, porém em IlIinoiscada distrito designa um senador e três deputados, êstes por votocumulativo. A representação no Câmara se realizo em função deum critério conciliando a densidade demográfica e o divisão geo­gráfica e geralmente o condado é a unidade eleitoral. Também orepresentação paro o Senado é fixado no critério de um senador porcondado.

A divisão por dístritos eleitorais se organiza periàdicamente por leiordinário, ocorrendo o que se chama de gerrymandering, conformeà qual o partido no poder discrimina em seu proveito os distritoseleitorais, o que, agravado com os deficiências do divisão em dis­tritos pequenos e 00 voto plural, apresento graves inconvenientes.

Segundo informa OSVALDO TRIGUEIRO, "os legislaturas sempre fo­ram dominados por uma maioria de procedência rural, e essa maioriatem conseguido impor-se até ho;e, apesar da maioria da populaçóoter·se deslocado paro as áreas urbanas. Impondo-se a representaçõo

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por critério geográfico, e limitando-se o critério à proporcionalidadecom as respectivas populações, cometem·se injustiças dos mais fla­grantes. Pode·se exemplificar com a cidade de los Angeles, que,tendo 40% da populaçõo de tôda a California, elege apenas umsenador, entre 40. Tendo mais da metade do população de Illinois,Chicago elege apenas um têrço dos deputados. No Wayne Countyse concentram 40% da população do Estado de Michigon, que, en­tretanto, elege apenas um quinto da legislatura. Em grande nú­mero de Estados, apontam-se facilmente desigualdades dêsse gê­nero",

~ interessante assinalar nos Estados Unidos a existência de uma ins­tituição, que é o do profissionalismo dos lobbies. E uma palavra in­glêsa significando sala de espera, vestibulo, saguão, e por analogiase designa a atividade realizado nas antecâmaras e salas do Con­gresso, a fim de influenciar os deliberações dos parlamentares. Emtôda a parte naturalmente isso pode ocorrer, pela pressão de de­terminados interêsses econômicos, financeiros e ideológicos. Daío nascimento do lobby que se organiza, o fim de pôr-se a serviçode grupos determinados, trabalhado profissionalmente, o fim deobter o apoio dos legisladores para determinados providências, deinterêsse das pessoas paro quem trabalham, poro o que os "Iobbis­tas" empregam todos os seus recursos técnicos, fornecendo discur­sos, panfletos, estatísticas, livros, favoráveis às suas pretensões enão raro recorrendo a processos escusos.

A respeito, afirmo BROMAGE (ob. ciq pág. 232): "Os métodos dosfobbyisf são legião. Cabalar, aparecer diante das comissões, distri­buir trabalhos escritos, agitar o eleitorado nos distritos, freqüentaros círculos sociais, trabalhar junto aos amigos do legislador, pro­mover encontros com deputados e senadores, recorrer à emoção,à insinuação ou a razõo, todos êstes sõo os ardis do perfeitolobbyist. Pouco importa 00 inescrupuloso how the frick is turned.O principal é poder comunicar aos interessados que a legislaçãodesejado passou, ou que o indesejável foi enterrada no comissõo."

Por isso se procurou em certa época regular a atividade dosLubyisf. Em 1877, Georgia sujeitou-o mediante uma leí a umasanção criminal, Mossachusetts regulou a matéria legislativamente,em 1890, assim também aconteceu com Wisconsin, em 1899 e 1905,salientando CRAWFORO, em seu estudo sôbre O Govêreo Estadual,que 32 States têm a atividade dos lobbyist reguladt'41l). Assim ~sendo, êles trabalham legalmente para diversos organizações, cívi­cas ou comerciais, e segundo informa GRAVES (ob. cit.' póg. 267), )em New York se podem mencionar as seguintes, poro os quais tro­balham: Anti-Saloon league, New York Civic League, State (haritesAid Assodation, Y. W. C. A. I State federatioR 01 Labour, Soeietyfor Prevention of Cruelty lo Animais, American Birth (onfrol League,League of Women Voten, Slate Medicai Society, Otis ElevalorCompany, Weslern Union Co, Insuranee Federation, N. Y. TelepltoneCompany. N. Y. Central Railroad.

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Será interessante agora analisar o problema no regime constitucio­nal brasileiro. paro mostrar que as nossas Assembléias Legislativasnunca tiveram a fôrça de expressão das legislaturas norte-ameri­canas. No regime estadual brasileiro, o governador sempre foi afôrça mais atuante, representando o tradição do capitão-mor todopoderoso; o órgão legislativo foi um dos que mais falharam na vidapolítica brasileira. Histôricamente, assiste-se a uma marcha inversaface às instituições norte-americanas, pôsto que as Assembléias Le­gislativos vão conseguindo lentamente uma situação de maior pres­tígio e influência, ao mesmo tempo que se limitam constantementetanto o prestígio quanto o poder efetivo dos governadores.

Durante a primeira República brasileira, os Estados-membros se or­ganizaram oro com o legislativo dual, ora com o legislativo unica­meral. Diversos Estados adotaram o Poder legislativo com duasCômaras, entre êles Paro, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Geraise São Paulo, porém, em seguido à Constituição de 1946, o totalidadedos Estados se orientou pelo sistema do regime unicameral.

A designação oficialmente dada ao órgõo legislativo dos Esta­dos-membros é a de Assembléia legislativa. par fôrça do própriaConstituição Federal. de sorte que elas têm uma designação uniforme,à maneiro inversa do que ocorre nos Estados Unidos. ~ de outrolado, variável o número de representantes ou delegados, geralmenteem Assembléias bem numerosos, sendo normalmente o mandato fi­xado pejo prazo de quatro anos, que é o máximo possível, ex vi doDiploma Magno da Federação.

~ cloro que tem de funcionar correlativamente o sistema do tempoou da duração dos trabalhos legislativos, e, ao contrário do queocorre nos States, o critério é diferente do Brasil, pois os legislatura!'>duram. em todos os Estados, quatro anos; no entanto, é variável aduração dos trabalhos legislativos no decorrer do ano. Em Alagoas,a duração dêsses trabalhos vai de 21 de abril a 21 de dezembro; noAmazonas. Ceará, Espírito Santo, Pernambuco e Rio de Janeiro asAssembléias Legislativos se reúnem o 15 de março de cada ano efuncionam até 15 de dezembro; na Bahia, se reúne a 7 de abril epeltl espaço de 8 meses; em Goiás e Santo Catarina, desde 15 deabril a 15 de novembro; no Maranhão, de 3 de maio a 28 de iulho;em Moto Grosso, de 13 de junho o 13 de dezembro; em Minas Ge·rais, de 15 de março a 15 de setembro; no Poró, de 15 de agôstoo 15 de setembro; no Paraíba, de 1.0 de iunho o 30 de novembro;no Paranó. de 1.0 de maio a 30 de setembro; no Piaui, de 21 deabril a 21 de outubro; no Rio Grande do Norte, de 1.° de agôsto a30 de setembro; no Rio Grande do Sul, de 21 de abril a 15 dedezembro; em São Paulo, de 14 de março a 14 de dezembro, e emSergipe, duas vêzes 00 ano, desde 1.° de moia a 3 \ do mesmo mêse de l.O de setembro a 30 de novembro, reunindo-se, independente­mente de convocação, porém havendo possibilidade de convocaçõoextraordincirio.

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o mandato também é remunerado, como é de praxe no democraciorepresentativo moderna; os legisladores têm as clássicos imunidadesparlamentares, e a representação se realizo através da técnica darepresentação proporcional, critério proporcional que é geral, pôstoque o competência para legislar em matéria eleitoral é do Uniãobrasileiro, 00 contrário de ser atribuída aos States, como na Norte­América, variando o número de deputados de conformidade com apopulação do Estado.

Vejamos agora, numa análise de conjunto, os podêres e funções dolegislativo estadual, que se resumem nas seguintes categorias: fun­ções constituintes, legislativas, executivos e judiciárias.

No categoria das funções constituintes, se subsumem todos os pro­blemas relativos à revisão dos Constituições, que nos States norte·americanos deverõo ser geralmente ratificados pelo povo, porémno Brasil independem de tal ratificaçõo, pois não se desenvolveramas praxes da democracia mista .

. No plano legíslativo propriamente dito, cabe às Assembléias elaboraro Direito escrito. Nos Estados Unidos. a competência legislativa dosStates é importante, sobretudo à medido em que a Common Lawperde terreno, porém no Brasil a competência legislativo da União ébem mais ampla que a dos Estados.

No plano executivo estão aquêles atos legislativos meramente for­mais, mas aos quais se apontam caráter diretorial, como os atos degestão financeira e supervisão dos serviços públicos no Brasil e naNorte-América, bem como nos States a aprovação dos servidores no­meados pelo governador é feita pelo legislativo.

No plano judicial, os Assembléias funcionam especialmente nos casosde impeaehment, no Brasil havendo legislação federal a respeito, en­quanto que nos Estados Unidos cabe à Câmara Baixa a instauraçãodo processo, porém se atribui ao Senado o julgamento final.

A tarefa legislativo é, em geral, enorme, os legisladores realizamuma obro de envergadura, muitas vêzes em qualidade, porém, sobre­tudo em quantidade, salientando DODD, no livro O Govêrno dos Es­tados-Membros (ab. cit., pág. 203), que, de 1900 a 1925, se apre­sentaram 850 mil projetos nos legislaturas dos States, dos quais220 mil foram aprovados.

Analisemos sumàriamente o processo legislativo norte-americano.

Ele começa pela sua apresentação ou introdução, que é individualou coletiva, doí seguindo para uma primeira leitura em plenário,que normalmente se limito õ mençõo do titulo e número da projeta,o quol vai em seguido paro a comissão própria, que o estudará,dondo o seu parecer. Depois do parecer, processa-se uma segundaleitura do projeto, sendo apresentadas, discutidas e votados asemendas apropriados e, se aprovadas as emendas, vai o projeto parouma nova redoção, na chamada sala de engrossment. Depois da

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nova redação, ainda se faz uma terceira leitura ou reading, dis­cutindo-se todo o projeto englobadamente, com o voto final sôbreo mesmo. sempre nominativo.

Percorrido numa Câmara, o projeto é encaminhado a outra. ondesegue o mesmo roteiro nas comissões e discussões etc.• e, se nãohouver emendas, é enviado para exame do chefe do Executivo apóso votação final da segundo Câmara, sancionando-o ou vetondo-o ogove rnodo r .

Pode ainda ocorrer o foto de a segunda Câmara emendar o projeto,e, na hipótese. torna-se necessário o seu retôrno à Câmara inicial.

Esta pode aceitar os emendas e então o biU é encaminhado aogovi!rnador. porém. se as emendas não são aceitas, ou tudo separalisa. ou então o bill é encaminhado para uma discussõo coniuntados duas Câmaras. Daí advém a funçõo conciliatório dessa comissãoconjunta ou conferente comi"ee, que. se acho a fórmula interme­diário. a encaminho para a aprovação total da proieto em ambosos Câmaras. Se nenhuma conciliação é encontrado, o projeto estáperdido, pois ambos as Câmaras têm prerrogativas semelhantes.

A fim de facilitar o papel legislativo das Assembléias, além dotrabalho extraparlomentar dos lobbyists, se encontram agências deinformaçóes e pesquisas legislativas. instituídas. por exemplo. peloEstodo de Wisconsin em 1901, New York também mantendo umcorpo de técnicos paro CI redação de leis, com o escopo de auxiliaros legisladores. Tudo isso é justificável pelo enorme número deprojetos apresentados. mencionando BATES e FIElD. no livro OGoYêrno dos Estados·Membros (pág. 204), que em 1923 foram apre­sentados 3.862 projetos na Assembléia Legislativo de New York.

Nos Estados Unidos, o processo legislativo tem assim um ritmodesatualizado, e se afirma que os três 'eituros em plenário sãodispensáveis. Na prática, êste anacronismo está superado, porqueprocessos novos desatendem ao cumprimento rigoroso dessa forma­lística, pois, às vêzes. informam BATES e FIELD (ob. cit.• pág. 209),lêem-se simultâneamente vários projetos de leis numa leitura reali­zado por diversos funcionários, que transformam o trabalho legisla­tivo em um pandemônio. A votaçõo nominal das deliberações tom·bém retarda vivamente o processo legislativo, às vêzes numa obraespetacular, pois, menciono DDDD (ob. cit.• pág. 186), só em 1914 aCâmara dos Deputados de New York realizou 204 votações nominaisnum dia de trabalho legislativo, apesar de composta de 150 depu­todos. Para superar tal canseira, cogitaram os legisladores do usode aparelhos elétricos registrando imediatamente a votação, de sorteque os legisladores apertam botões elétricos nas suas carteiras,assinalando sim ou nã. em quadros ao lodo da mesa, com lâmpadasde duas côres diferentes ao lado de cada nome.

Nos Estados brasileiros, as suas Constituições cogitam das elabora­ções dos projetos de leis e resoluções. o iniciativa de tais projetosde leis cabendo ora à Assembléia legislativo, por qualquer dos seus

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membros ou comissão, ora 00 governador nos casos de sua compe­tência exclusivo. Apresentado o projeto de lei e discutido peloAssembléia, com ou sem parecer, em hipóteses determinadas, êle éencaminhado poro O governador poro apreciação do mesmo, podendoo chefe do Executivo sancioná-lo ou vetá-lo, porém em coso de vetoé possível ainda à Assembléia legislativo superá-lo, ou com maioriaabsoluto ou qualificada.

~ importante ainda o atividade das comissões parlamentares oucomissões legislativas, pois tanto no Brasil como nos Estados Unidosos Câmaras estão divididos em comissões. O Prof. ZINK mostraa existência de várias comissões, como comissões permanentes,comissões especiais, comissões temporárias, comissões conjuntas,que têm um relêvo importante na vida legislativa, a ponto de sedizer que na verdade o poder legislativo está concentrado nascomissões (l2).

O número de comissões é bastante numeroso, conquanto se assinaleuma tendência para O suo diminuição nos recentes anos. Baseando-senos trabalhos de ZINK, BATES, FIElD, MACDONALD e outros, po­der-se-ia informar que, por exemplo, o Senado de Norte Dakota,com 4S delegados, tem S3 comissões permanentes, enquanto oCâmara de Deputados da Flórida tem 69 comissões, Em 1931, omédio geral era da existência de 32 comissões por Senado e 39 porCâmara, das quais o Senado que dispõe de menor número de co­missões era o de Wisconsin, com nove comissões, e a Câmara commenor número de comissões era a de Rhode Island, com 14. Muitoscomissões pouco trabalham, ao contrário de outros, que têm umaatividade alarmante, porém ZINK salienta que elas não são elimina­dos pelo fato de que os membros das Assembléias querem ser pre­sidentes das comissões, sejam elas importantes ou nõo (J 3).

Um deputado pode pertencer a vârios comissões, mencionando-se osingularidade de, às vêzes, êle se incluir em 30 comissões, outrostantas vêzes o comissõo corresponde o quatro quintos da Caso, epode ainda acontecer que tôda o casa legislativo seja transformadoem comissão, o que se apresento aparentemente como uma esquisiti­ce, mas no realidade não o é, pois então, transformando-se emcomissõo, o Câmara pode esquivar-se a muitas formalidades, e nessahipótese a Câmara é presidida pelo Chairman da comissão, e nãopelo 5peaker. Citando-se alguns dados estatísticos, pode-se dizerque no Tennessee cada deputado pertence a nove comissões per­manentes, em Illinois o senador pertence em média a 18 comissões,excepcionalmente a 30 comissões.

No tocante ao tamanho dos comissões, êle varia bastante. No reali­dade, esta variação vai desde o tamanho médio nas comissões comcinco representantes em Nevada a 35 em Georgia, sendo que êstesdados valem poro as Câmaras, e tombém no Senado é variâvel otamanho médio das comissões: por exemplo, no Senado de NewJersey o médio é de três senadores por comissõo, mas no de IIlinoiselo é de 23.

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Comissões importantes na vida política norte-americano são os cha·madas conference committees, tendo em visto superar as divergên.cios dos dois ramos legislativos, (I fim de transacionar fórmulaslegais paro os projetos, os seus membros sendo designados especial­mente paro cada coso, Comento-se que elos foram por assim dizeruma super-Câmara, funcionando secretamente, e desde que redigidopela mesmo um projeto, ficam ambos as Câmaras na obrigação deaprová-lo ou rejeitó-Io em globo.

Funciona também nos Slates o que se chamo de comissão perma·nente dos duas Câmaras, ou joinl committees, adotados por trêsEstados do Novo Inglaterra, o saber, Maine, Massachusetts eConnecticut. Elos representam uma grande simplificação dos tra­balhos legislativos, pois o dito comissão dá parecer sôbre o projeto,destinado as duas casas legislativos, evitando assim o trabalhoduplicado dos pareceres e hearings das duas casos.

No Brasil também os comissões têm um popel importante: o trabalholegislativo é realizado à base dos comissões parlamentares, cujosmembros têm importância decisivo na votação dos pareceres dosprojetos, cujo aprovação preliminar pelas comissões é um possoimportante no próprio aceitação do projeto de lei pelo plenário.

No tocante à comparação entre o legislativo norte-americano realiza­do nos Slates e nos Estados-membros brasileiros, verifico-se umasituação oposta. Os governadores norte-americanos representaramhistoricamente o exemplo clássico de um executivo fraco, e só nosderradeiros onos êles passaram o ter uma influência mais importantena vida política. Enquanto isso, as legislaturas dos State. sempreforam poderosas, porém a suo influência vem diminuindo com otempo, em proveito do maior prestígio conferido ao governador eda maior influência dado ao eleitorado.

Segundo informo OSVALDO TRIGUEIRO, "explica-se facilmente aimpossibilidade material, em que se encontram os governadores, decolocarem os deputados e senadores debaixo de seu comando. Ogovernador não controla os eleições, nem decide de seus resultados.

Também não pode influir no escolha dos candidatos de seu partido,que são indicados através dos eleições primárias. Além disso, nãodispõe das polícias municipais paro exercer pressão, o que, de resto,é de todo incompatível com o grau de cultura politica do país. Porsua vez, o deputado, em regra, nôo precisa do govefl1odor poro serescolhido candidato; não preciso de sua influência poro ser eleitoem seu distrito; não precisa de seu apoio para ser reconhecido.

Acresce que o govêrno estadual americano nõo é uma cornucópiade empregos e favores materiais, num país em o,ue as outros prel­fissões e carreiras são mais rendosos e sedutoras do que o burocra­cia, os cartórios ou o advocacia administrativa".

No Brasil a situação é diferente. O governador represento o tradiçãodo capitão-mor todo poderoso e dos presidentes de Província tão

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atuantes no Império. Essa tradição consistiu em enfeixar uma con­siderável soma de podêres nos mãos dos governadores no primeiroRepública. Tão grande foi o sua influência, que se falava de umapolítico dos governadores, decisiva nas sucessões presidenciais.

Essa tradição continua com o regime dos intervenções durante oditadura varguista, e só, recentemente, a influência do governadorcaiu em reloçõo 00 seu prestígio e podêres anteriores. A criaçãodo serviço civil, de órgãos de fiscalização de contos e outras medidastendem a diminuir o seu poder, decrescente em face das legislaturas,órgõo que sempre falhou no início do nossa história republicana,e que ultimamente se emancipo, paulatinamente, da tutelo práticaque o executivo sempre exerceu sôbre ela.

A evolução política brasileira deve ser assim orientado no sentidode precaver-se dos desmandos do poder executivo, limitando o suaautoridade constitucional, para fortalecer os legislaturas e a justiça,e nisso deve consistir o orientação da nossa vida constitucional (4).

3 . O Poder Executivo nos Estados·membros

Os Estados-membros têm naturalmente o seu Poder Executivo, con­centrado nas mãos de um governador ou de um presidente, sendomais usualmente empregado a palavra governador. Na história dopresidencialismo, êste cargo é o mais antigo de todos, pois lORDDElAWARE, primeiro governador do Virginia, foi nomeado em 1609,00 passo que a primeira Assembléia Legislativa norte-americana,também o de Virgínia, instaiou-se em 1619, isto é, 10 anos depoisdo instituição do cargo de governador.

Tais governadores, representantes do poder executivo local, tam­bém representavam a Coroa britânico. Por esta eram nomeados,exceto em Connecticut e Rhode Island, onde o governador colonialera eleito. Representavam símultôneamente a (oroa brifânica e acomunidade local, dando-se assim o identidade física em um sóórgão.

Como êles eram delegados da (oroa britânico, cujos interêsses fre­qüentemente contradiziam-se com os dos colonos, êles exerciam umaopressão político, muitos vêzes se excedendo em desmandos, e daío interêsse dos primeiros constituintes em limitar suas funções. Porisso mesmo algumas Constituições iniciais, como a de Pennsylvaniade 1786, cogitou de um executivo plural integrado por um con­selho de 12 pessoas, eleitas na razão de uma por condado, aolado de um legislativo unicameral e um conselho de censores desig­nados pelo prazo de sete anos poro guardar a Constituição frenteàs possíveis violações, conquanto a revisão constitucional de 1790do aludido Estado tenha extinguido tanto o executivo plural comoo conselho de tensores.

No princípio da história constitucional norte-americano, desde oindependência até o democracia jacksoniana (1830-1840), tantaseram os limitações aos governadores, que êles não passavam de

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simples figuras decorativas, e MADISON os chamou de autênticoszeros. ~Ies eram designados pelo Assembléia, que assim os con·trolava pràtitamente, e eleitos pelo tempo de um ano, excetoem New York.

Nôvo período é o que vai desde a demotracia iocksoniana (1830­1840) até a tuerro de .ecessão, quando se fortalece o poder exe­cutivo, mediante várias causas, entre elos se salientando a eleiçãodo governador pelo povo, outorgando-lhe assim maior prestigiopopular, a atribuição que se lhe deu do poder de veto, a duraçãomais longa do seu mandato, que às vêzes se prolongou até quatroanos, e a abolição do conselho executivo.

Terceiro período se i'ltercala entre a .uerra de fecessão e a tri­'meira ~uerra f1undial, quando os governadores passaram a seros chefes dos respectivos partidos e, como líderes partidários,possuíam naturalmente maior influência no seio do legislatura.

O derradeiro período é aquêle que vem de 1917 em diante, quandoo Estado de lIIinois reorganizou o seu mecanismo administrativo,numa sugestão seguida por outros States, contribuindo paro a pro­jeção política do executivo estadual.

No Brasil poder-se-ia citar a existência de duas fases simbolizandoa fôrça e atuação dos governadores. A prímeira vai da primeirarevolução republicana,' oté 1946, quando o prestígio e o fôrça deatuação fanto do governador quanto do interventor são imensas,enquanto a segunda vem de 1946 aos nossos dias, quando a com­petência do governador vem sofrendo constantes limitações consti­tucionais, aumentando correlativamente o poder da legislatura eda justiça.

Vejamos agora a posiçõo constitucional dos governadores na vidapública norte-americano. Atualmente, como bem o diz CHARlES A.BEARD, no livro Govirno e Política Norte-Americana, "0 governadoré a figura central na política e na administração do Estado-mem­bro. tle nóo é mais um simples funcionário presidente, comoJEFFERSON desejava que fôsse, uma não-entidade ou um servo dalegislatura, como em tôdas as primitivas Constituições estaduaisprocuravam fazê-lo, exceto as de New York e Massachusetts. rleogoro gozo de podêres constitucionais de uma elevado ordem. Eleé, ao menos na opinião pública, responsável pelo complexo trabalhotécnico e administrativo de vital significado para {) bem-estar pú­blico. Quase tOda convençõo constitucional nova, procura alargar seuprestígio e autoridade" (15).

O governador é, atualmente, nóo só o lider do partido, como o intér­prete da opinião pública e também um presidente potencial, e estamesmo situação tende a repetir-se no que toca à pragmática davida público brasileiro.

Nos Estados norte-americanos, os condições poro a elegibilidadedo governador sôo mais ou menos uniformes. Abrangem a cidadania

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americano e no próprio Estado, que é sempre estipulada, segundoinformo ZINK. Uma residência de duração razoável no Estado tam­bém é prescrita, geralmente de cinco anos, e também afora êstedomicílio local se exige uma idade mínimo, usualmente de 30 anos.

Normalmente os governadores, quando eleitos, já têm uma certaexperiência política, tendo servido anteriormente como delegadosnos convenções políticos, deputados ou senadores, attorneys, ouvice-governadores, antes de sua ascensõo ao cargo de governador.

Geralmente todos os governadores dos States sõo eleitos por sufrá­gio direto, exceção feito de Mississipi, onde o método é igual 0(\

do eleição para presidente. Gemlmente a maioria relativo dos votosbasto paro a escolha do governador, porém em Georgia, Maine eVermont se exige a maioria absoluto, e quando esta não se realiza,então a escolho do governador se encaminha à legislatura. NoEstado de Mississipi, o eleição é feito da seguinte maneira: cadadistrito eleitoral ou condado tem tantos votos quantos 05 seus re­presentantes na Câmara estadual, e se nenhum candidato não obtémsimultâneamente a maioria de votos do povo e de votos do segundograu, a própria Câmara estadual designa o governador entre osdois candidatos. mais votados ao, cargo. Deve-se consignar quegeralmente essas eleições se processam no mês de novembro dosanos pores, ao mesmo tempo que os demais eleições federais, esta­duais e municipais, havendo uma coincidência entre elos e as elei­ções federais de presídente e vice-presidente.

Quol o duração do mandato governamental? tle varia bastante ese abandonou o prazo onual de antigamente, em proveito de umprazo mais longo. Hoie em dia, 24 Estados fixam o prazo domandato governamental em quatro anos, 00 passo que 23 o fixamem dois anos. Massachusets abandonou, em 1920, a prátíca doseleições anvois. Sàmente New Jersey fixo um prazo de três anosporo o mandato do governador _ Observa-se historicamente a ten­dência paro o aumento do mandato, New York tendo abandonadoo prazo de dois anos para o de quatro anos, desde 1937.

No tocante às reeleições, usualmente elas são permitidos nos Esta­dos cujo mandato é bienal. New York, Michigan e Wisconsin dãoexemplos de mais de duas reeleições sucessivos, no Arizona o seuprimeiro governador foi eleito sucessivamente durante sete biênios,e Maryland oferece o coso de um governador que ocupou tal posiçãodurante 16 anos, segundo informa BROOKf GRAVES, no livro OGovêmo Estadual Norte-Americano (16). Mesmo em Estados commandatos quatrienais, verificam-se excepcionalmente exemplos dereeleições permitidos, porém, em geral, essas reeleições nõo sõopermitidas nos Estados de longos mandatos, evitando-se tambémem geral as segundas reeleições.

Os governadores recebem um salário, seja fixado pela Constituição,seja pelo próprio legislatura estadual, salário que varia. Em 1950,14 Estados pagavam salários ou vencimentos aos seus governadores

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variando entre 10.500 a 25.000 dólares, em 10 Estados os venci­mentos eram de 7.500 dólares, que é também a média para osEstados da Federação, em dois Estados, inclusive o de Soutn Dakota,é bastante modesto, pois é de três mil dólares anuais, sendo maiselevado o de New York, fixado em 25.000 dólares anuais. Alémdisso, os governadores recebem uma verba para representação aofodo do subsídio e muitos dêles têm residência oficial (17).

O substituto eventual do governador é o vice-governador ou lieu·tenant·governor, que também é presidente do Senado na maioriados Estados, o qual serve geralmente pouco tempo nos negóciospúblicos, exceto em alguns Estados como o de louisiana, onde êleé um agente político e simultâneamente administrativo, pois dirigeum dos grandes departamentos administrativos. O vice-governador,na qualidade de presidente do Senado, nêle tem um voto de de·sempate.

Em três quartas portes dos Estados, ou mais exatamente em 3SEstados, o vice-governador é eleito juntamente com o governndorpara o mesmo prazo do mandato. ~ o substituto automático dogovernador, cabendo entretanto salientar que nos Estados onde ine­xiste o cargo de vice-governador, a substituição do governador cabeprimeiramente 00 presidente do Senado e em segundo lugar aopresidente da Câmara (18).

O cargo de vice-governador dota dos tempos coloniais e, comose disse, encontro-se em 35 Estados da Uniôo. Nos demais 13 Q

sucessão é dada ao presidente do Senado, 00 secretário de E'Sta~~

ou 00 presidente do Câmara. Em alguns Estados, com a vaga per­manente do governador, o próprio vice-governador torna-se gover­nador, porém, em outros, apenas governador interino. Em cêrca de12 Estados êle também é um membro de determinadas agênciasadministrativas (19).

No tocante 00 processo da eleição, a mesma técnico escolhida paraa designação do governodor é adotado para o vice-governador ede modo gerol se exigem paro ambos os mesmos requisitos, a fimde que possam ser candidatos oos respectivos cargo:;.

No que cancerne à estrutura do poder executivo, ela não refletede modo geral a organizaçôo federal, pois, segundo ensina JOHNA. FAIRllE (20), só em poucos Estados todo o poder executivo éatribuído aos governadores. Em vez dessa centralização, há antesum fracionamento entre os vários órgõos de govêrno, dando mar­gem a um autêntico executivo plurot como assinala DODO (ob.cit. póg. 230): "Criando um grupo de funcionários constitucionais,todos popularmente eleitos da mesma maneira, as Constituiçõesdos Estados criaram, de fato, um executivo plural, embora a teoriado govêrno estadual americano pressuponha uma só cabeça nodepartamento executivo."

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Quanto ao cargo de secretário de Estado, êste é um dos mais im­portantes, e além dêle existem o attorney.general, o tesoureiro, oauditor, e outros chefes de departamentos técnicos, como os deeducação, rodovia etc.

O Cargo de secretário de Estado é proveniente de eleição popularem 36 Estados do federação, nos outros sendo eleito pelo legisla­tivo ou nomeado pelo próprio governador ad referendum do legis­lotivo. Entre as funções dos secretários de Estado se mencionama de autenticar o assinotura do governador nos atos públicos e su­perintender os eleições. Ele é também guardião dos papéis doEstado e exercita diversos funções um tonto desconexas umas dosoutras (21).

A propósito da designação do secretário de Estado, podem-se obser­var três tendências no vida política norte-americana, que assimdestoam da prático brasileiro, onde o secretário de Estado é sempreum agente de confiança do poder executivo centralizado, e de­missível pefa vontade do governador.

Assim, segundo a Constituição do Arizona, o governador nomeioa seu secretariada com a aprovação do Senado. Variante dêssesistema é o dos Estados de Virginia e Maíne, quando tal designaçãodeve, ora ser ratificada por uma assembléia-geral formada peloCâmara das representantes e Senado, ora está subordinada a umaaprovaçõo do conselho governamental, eleita pelo legislativo.

Numa segunda tendência constitucional, adotada pela California.Florida, Nevado e mais de 30 outros Estados, tanto o governadorcomo os secretários sõo eleitos pelo povo, sendo que em New Yorkalguns secretários são eleitos pelo povo e outros designados pelopróprio governador.

Enfim. terceira solução é adotada por certos Estados que admitemsejam os secretáríos do Govêrno eleitos pelo próprio legislativo.

Assim em New Jersey, o "secretário de Estado" é eleito por umasessõo conjunta das duas Casas do congresso; no Tennessee o "se­cretário de Estado" e o da "fazenda" também sõo eleitos pelocongresso reunido, sendo que o "secretário da Justiça" é eleito poroito anos pela "Supremo Côrte" estadual. E na Carolina do Nortehá um "sistema de gabinete administrativo", com podêres restritosdo governador, que nem sequer tem direita de veto.

O carga de a"omey-general é encontrado em todos os Estadas daFederação, igualmente como o de governador. E êle é eletivo em42 States. Se a sua função hierárquica é inferior ao de secretáriode Estado, pois a êste pode caber eventualmente a sucessõo 00 cargode governador em alguns States, no entanto as suas funções são bemmais complexas, maior é a sua responsabilidade, a sua funçõo cor­respondendo de modo geral à dos secretârios de Interior e Justiçado Federaçõo brasileira, servindo além disso como consultor iurídicoe procurador-geral (22).

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~ importonte também a função do tesoureiro, que existe em 47Estados da Federação, sendo suprimido em New York desde 1937,numa funçáo correspondente 00 secretário da Fazenda dos Estadosbrasileiros. Em 42 Estados norte-omericanos o cargo é eletivo, otesoureiro é independente do governador, tanto de direito como defato, porém em porte subordinados aos chamados auditores oucOlllptrollers, que se encontram em 45 Estados do Federação ianquee em quase todos sendo eletivo (23).

Verifico-se assim um enfraquecimento do autoridade do poder exe·cutivo au dos governadores, num verdadeiro fracionamento dasfunções dêsse poder executivo, uma auténtica desconcentração emagências, comissões ou boa"s. completamente independentes dogovernador. Existe uma pluralidade de serviços autônomos, usual­mente providos por agentes eleitos pelo povo e com mandato maislongo que o dos governadores, ou às vêzes chefes de departamentosdesignados por têrmos fixos. Tudo isso provota naturalmente oenfraquecimento do executivo, como se verifica dos seguintes exem­plos: em IlIinois existiam cêrca de 100 departamentos, boards ecomissões antes da reorganização do Estado; em New Vork, antesde 1925, se encontravam 187 departamentos administrativos autô­nomos; em Massachusetts ia além de 200, enquanto os pequenosEstados possuem cêrco de 50 unidades autônomas dêsse tipo.

O Prof. BEARD, na obro A_eriça. Govemlllent and PoUtics, mostroa existência de dois tipos de organização política nos Estadosnorte-americanos, de acôrdo com a relação entre o governador e aadministraçáo, dos quais chamam de tipo consolidado e de tipodescentralizado.

O tipo consolidado é aquêle que se encontra em alguns Estados quereformaram o sua administração, como 111 inois, Idoho. Nebrasko,Massachusetts, Washington, Onio, Catitom;e, Merylond, Pennsy\va­nia, Tennessee, Vermont, Minnesota, South Dakota, New York, Vir­ginia, Maine. Georgia, Nortn Carolina (em porte), Indiana, Colorado,Kentucky e Rhode Island, e dos quais o modêlo é o de Rhode Island.e onde há uma concentroção do poder nos mãos do executivo.

Em Rhode Island, por exemplo, o governador é verdadeiramente Oagente principal responsável pela administração. pois tonto o aflor­ney-general como o tesoureiro e o secretôr;o de htado, não obstanteescolhidos pelos eJeitores, têm apenas funções limitadas. constituindotrês departamentos entre os II existentes no Estado, dos quais osoutros oito chefes são designados pelo governador (24).

No chamado tipo descentralizado. que é o mais comum, o gover·nadar não tem a fôrça nem a atuação atribuída aos governadoresnos Estados do tipo consolidado; o governador ai é apenas umentre vários agentes políticos de categoria, não é mesmo chefe doadministração geral do Estado, pois o auditor, o secretôrio deEstado, o tesoureíro e outras autoridades estatais importantes nãosôo nomeadfs pelo governador, nem êle pode demitj-I~s, e os seus

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podêres estão prescritos pela lei, havendo, inclusive, uma falta decooperação na admínístração (25).

Façamos agora uma ligeira análise do toder lxecutivo na vidaconstitucional brasileira. Ela difere profundamente da prático nor­te-americana, pois o governador dos Estados brasileiros, cujo tra­dição de fôrça e poderio remonto 00 capitão-mor ou governadordo Capitania e ao antigo presidente de Província, é um órgão autên­tico de poder, uma realidade política estável e predominante, quenunca foi controlada satisfatàriamente pelos outros órgãos.

A tradição brasileira se consolida no princípio de um executivo uno,ao qual se atribui o inteiro poder administrativo, numa organizaçãosemelhante à da Argentina e do México, tendente a um possívelcaudilhismo, e assim discrepante, seja da forma suíço, onde o govêr­no dos cantões é colegiado, seja dos formos canadense, australianoe alemã, de natureza parlamentarista, seia do tipo norte-americano,onde existe, freqüenfemente, um executivo plural nos States.

A designação atualmente usado é o de governador. A Constituiçãode 1891 não lhe dava título oficial, de sorte que ora se adotavao nome de presidente ou de governador. Durante o período cons·titucional de 1889 a 1930, os Estados de Amazonas, Porá, Piauí,Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Paraná e SantaCatarina usavam a designação de governador, os outros Estodospreferiam a de presidente, porém se Paraná e Rio ~ronde do Norteadotaram o princípio o nome de governador, depOIS passaram aode presidente.

Os governadores na primeiro República sempre imitavam o papelpolítico do Presidente da República e exercíam prerrogativas esta·duais semelhantes às do dito Presidente da República, tinham umpalácio para sua residência, exerciam o comando das fôrças pú.blicas, eram o chefe da política local e formavam uma miniaturade gabinete com o seu secretariado estadual.

Atualmente as condiçães de elegibilidade do governador dos Estados·membros do Federação brasileiro são mais ou menos idênticas.

Exige-se a cidadania nata brasileiro, o uso e gôzo dos direitospolíticos e outras formalidades prescritas pela legislação eleitorale uma idade mínima entre 30 e 35 anos. Os Estados de Alagoas,Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina eSão Paulo exigem 35 anos mínimos paro candidatura 00 cargo degovernador. Já os Estados de Amazonas, Bahia, Cearó, Mínas Gerais,Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Río de Janeiroe Sergipe prescrevem 30 anos, enquanto o do Maranhão determinaa idade mínimo de 2S onos.

Geralmente todos os governadores são eleitos pelo sufrágio direto,o que se justífica em face de uma própria determinação do DiplomaMogno federal, de sorte que é impossível, constitucionalmente, Q

eleição indireta do governador pela legislatura.

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No tocante ao prazo do mandato governamental, êle é mais uni·forme que o do Norte-América, pois não pode ser superior o cincoanos, por fôrça da Constituição federal. Nos Estados de Alagoas,Maranhão, Moto Grosso, Paraíba, Porá, Rio Grande do Norte eSanto Catarina o mandato governamental é de cinco anos. NosEstados do Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Sonto, Goiós, MinasGerais, Pará, PernambuCO', Piauí. Ria Grande do Sul, Rio de Janeiro,São Paulo e Sergipe, o mandato governamental é de quatro anos.

Em todos os Estados brasileiros é proibido o reeleição do governador.

Normalmente, os seus salários são fixados pela própria legislaturae se lhes concede um palácio para o sua residência oficial, tendo ogovernador prerrogativos oficiais importantes decalcados do modêlofederal.

A substituição dos chefes dos executivos estaduais cabia tanto 00

vice-presidente ou 00 vice-governador estaduais durante o DiplomoMagno de 1891, mos êste sistema foi abolido com a Constituiçãode 1934, confiando a substituição do governador, nos seus impedi­mentos e vogas, aos presidentes dos Assembléias legislativos. Já oCorta de 1946 criou o designação oficial de governador, deixandomargem, entretanto, o que as Constituições estaduais adotassemou não a figura constitucional do vice·governador,

A maiorio dos Estados·membros do Federação brasileiro criou estaentidade constitucional. Assim acontece com os Constituições es­taduais de Alagoos, Ceorá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, MotoGrosso, Minas Gerais, Paní, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte,Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe, qlJe criaram o dito cargo device-governador. Já as Constituições estaduais do Amazonas, Bahia,Paranó, Pernombuco, Rio Grande do Sul e Santo Catarina, não cria­ram a dito função _ Mas nos casos em que elo exi~1e, os condiçõesde elegibilidade do vice.governador se identificam com os dogovernador.

O mandoto de vice·governador tem o mesmo prazo que o de gover·nodor, de quatro ou de cinco anos, conforme o coso, e semelhante·mente ocorria no período de 1889-1930, onde o mandato quadrienalse adotou em todos os Estados, tonto poro o governador como poroo vice-governador, poro o presidente como poro o vice-presidentedos Estados, exceto no Rio Grande do Sul, onde o mandato ero decinco anos.

Alguns Estados-membros, como o de Pernambuco, cuja Constituiçãonão cogitava do cargo de vice-governado, vieram, mediante umaemenda constitucional, a admitir a função de vice-governança, ocoso em Pernambuco tendo sofrido reparos de diversos comentado;,­tas e jurisconsultos.

A emendo constitucional cogitou do criação do cargo de vice-gover­n~dor de Pernambuco, que seria eleito pelo própria legislatura enao pelo voto direto, tendo a Assembléia designado ao deputado

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OTAVIO CORREIA DE ARAUJO poro o dita função. As oposições co­ligadas divergiram dêste roteiro, procurando, através do orientaçãodo Sr. CID SAMPAIO, depois eleito governador do Estado em rumo­rosa campanha, justificar a inconstitucionalidade desta eleição porprocessos indiretos, admitindo tão-somente o possibilidade da eleiçãopelo voto direto.

Justificava-se esta opinião, 00 sentir dos comentaristas que debate­ram o problema em Pernambuco, pelo foto de que o Constituiçãofederal brasileira estabelece em seu art. 134 a exigência do votodireto, acompanhado pelo Código Eleitoral no art. 46, bem como acompetência para legislar em matéria eleitoral é da União e nãodos Estados-membros. A legislação constitucional do União e a le­gislação federal constante do Código Eleitoral adotando o sistemado voto direto, seria razoàvelmente de admitir que só fôsse possí­vel a eleição direto e não indireto do vice-governador de Pernam­buco, que, porém, foi designado indiretamente pelo AssembléiaLegislativa do Estado.

Entretanto, jó o Supremo Tribunal Federal havia decidido em cosoquase semelhante, quando discutiu a matéria do Constituição doCearó, que atribuiu à Assembléia Legislativa, na primeifIJ investidura,o eleição do vice-governador.

Foi relator do acórdão relativo ao Ceará o Ministro ANIBAL FREIRE,que votou favoràve!mente à constitucionalidade do eleição de vice­governador pela Assembléia Legislativa, acompanhado dos votos dos~nistros HAHNEMANN GUIMARÃES, GOUlART DE OLIVEIRA, ORO­ZIMBO NONATO, CASTRO NUNES, BARROS BARRETO e LAUDO DECAMARGO. Votaram em favor da inconstitucionalidade, e acertada·mente, os "inistros RIBEIRO DA COSTA, LAFAYETTE DE ANDRADA eEDGAR COSTA (vide acórdão em Direito, 1947, vol. XLVII, páginas153-194) .

(omo se disse, o vice-governador é o substituto eventual do gover­nador, nos Estados onde existe tal cargo. Onde não existe o cargode vice-governador, o substituto do governador é o presidente doAssembléia legislativa, no Amazonas (e depois dêste O vice-presidenteda mesma Assembléia e o presidente do Tribunal de Justiça); opresidente e o vice-presidente da Assembléia Legislativa, no Paraná;o presidente do Assembléia Legislativa, no Rio Grande do Sul e opresidente do Assembléia Legislativa (e depois dêste o presidentedo Supremo Tribunal de Justiça), em Santo Catarina. Na Constituiçãoda Bahia dá-se a eleição pela Assembléia Legislativa em caso devogo, o que nos parece um dispositivo inconstitucional, ao passo quenos cosas de licença, falto ou impedimento, o governador é substi·tuído pelo presidente ou vice-presidente da Assembléia Legislativa,e afinal pelo presidente do Tribunal de Justiça.

Nos demaís Estados da Federaçõo onde há o cargo de vice-governa­dor, nos casos de vogo do dito vice-governador, êle é substituído pelopresidente da Assembléia Legislativa nos Estados de Alagoas, Ceará,

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Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Parafba, Pa·raná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, SãoPaulo e Sergipe. Na falto, ausência ou impedimento do presidentedo Assembléia Legislativo, o figuro constitucional convocada é o2.o-vice-presidente do Assembléia Legislativo ou o presidente doTribunal de Justiça do Estado.

Debatendo o problema do poder do governador no ~rasi\, saDe-seque êle é tradicionalmente contrário ao executivo plural. O própriogovernador designo o seu secretariado, entre êles os mais importan­tes, sendo os secretários da Fazendo, Interior e Justiça, Agricultura,Viação e Obras Públicas, Saúde, Educação etc. O secretariado énomeado pelo governador e pelo mesmo demissível de acôrdo coma vontade do governador.

Quando se organizou constitucionalmente o Rio Grande do Sul, umdos seus dispositivos constitucionais declarava que somente osmembros da Assemb\éia legislativa poderiam exercer os funções dechefe do secretariado e que os secretários de Estado dependeriamda confiança da Assembléia legislativa, devendo demitir-se quandotal confiança fôsse negada pelo própria Assembléia. O SupremoTribunal Federal Brasileiro, em acórdão pronunciado a respeito,opinou pela inconstitucionalidade dos tais dispositivos. Não nosparece de todo acertada a rigidez doutrinária desta ortodoxia pre­sidencialista, que se procuro impor aos Estados brasileiros. Noregime presidencial norte·americano, que é a pátrio do presidencia­lismo, verifica-se como diversas constituições estaduais exigem Q

retificação do secretariado por uma Assembléia-geral formada doCâmara dos Deputados e do Senado ou a própria aprovaçóo só doSenado. No Brasil, seria viável esta alternativa, de ratificação dosecretariado por parte da Assembléia Legislativa, e seria mesmoum dos processos mais adequados para a diminuição do exageradopoder executivo que se tem atribuído aos governadores dos Estadosbrasileiros. Nõo se trota de instituição parlamentarista, porém demedido compatível de existência com o presidencialismo, e mesmonecessária 00 melhoramento do presidencialismo brasileiro.

A respeito dos governadores brasileiros, escreveu o Prof. OSVALDOTRIGUEIRO, em seu livro A Descentralização Estadual (págs. 65-66):

"Decorridos 400 anos de vida política, a situação do .oder .xe­cutivo local permanece de certo modo inalterada. Em tódo Q nOSSQ

história, o ,oder ,xecutivo é o único poder de fato, inamoldávela tôdas as tentativas de equilíbrio ou de coordenação com osdemais. Sob os várias transformações políticas, por que tem pas­sado o país, êsse fato nâo sofreu mutações substanciais. Querseio nomeado pelo Govêrno central, quer seja localmente eleito(o que era, de certo modo, uma forma de nomeação indireto,revogável por deposição ou intervenção), o poder dos governadoresfoi sempre enorme, e contra êle as fórmulas de contrôle legalsempre se revelaram ineficientes.

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Em certo sentido, o poder dos governadores era maior que o dospresidentes, porque êstes tinham que ceder à resistência passiva eàs críticas dos órgãos legislativos, sempre de standarel cultural maisalto que o dos órgãos locais, e curvaram-se eventualmente às de­cisões supremas do .oder ludiciário. Isso é tonto mais certo quantoera, em via de regra, menos arriscado ficor em oposição à políticafederal do que à situação do Estado em que se desejasse viver empaz. Um observador europeu escreveu que se deve à América latinaa invenção dos presidentes, o que, sendo embora uma contingêncianatural das condições do seu desenvolvimento político, constituiusempre o maior obstáculo ao aperfeiçoamento das instituições re·presentativos. A observação de ANDR~ SIEGFRIED não saiu do campopropriamente presidencial, e ai é/e talvez haia sido generalizador emdemasia. Se êle, todavia, houvesse ampliado seu estudo até a cenados governadores, sua crítico teria sido decerto mais acerba, e semdúvida fundada em melhores razões."

Veiamos agora a maneira como pode um governador perder o seumandato tanto no direito público norte-amerícano como no brasileiro.

No direito público brasileiro conforme os casos da renúncio volun·tária e do impeachment, aos quais se agrega o do recall no direitopúblico norfe-americano.

O recall apenas funciona no direito estadual norte-americano, sendoum processo de afastamento do governador ou de outros agentes,destituídos por eleição popular, sem que lhe seio imputado nenhumato delituoso. ~le é utilizado em cêrca de 12 Estados pore a desti­tuição dos principais agentes políticos, mas não se trato de armade utilização eficaz, salientando-se que apenas um governador foiafastado por êsse processo, o de North Dakota, em 1921.

O impellchment, ou impedimento, existe em todos os Estados norte­americanos, com exceção do Oregon, que veda o seu uso. Na Américado Norte, cabe à Câmara dos Deputados apresentar formalmente oacusação contra o governador, enquanto que o Senado realiza ojulgamento. Esta é o norma dos Estados norte-americanos, comalgvmas exceções. Por exemplo, em New York a Câmara acusa maso órgão de julgamento se compõe do Senado e da Côrte de Apelação.

Já em Nebraska, que tem o singularidade do regime unicameral, oúnico Estado assim organizado nos E.U.A., a Câmara acuso, masquem julga é a Côrte Suprema Estadual.

Segundo informam BATES e FIRD (ob ciq póg. 240), "em nossahistória, apenas 10 governadores, até o presente, foram submetidos00 impeachment. Cinco dêsses casos podem ser considerados, de cer·to modo, anômalos, pois que se verificaram no tumulto da reconstruoção, nos Estados do Sul. Os casos mais recentes foram os de Sulzer,de New York, em 1913: de Ferguson, de Texas, em 1917; de Walton,de Oklahoma, em 1923. Em alguns casos, os governadores anteci.param-se 00 julgamento, renunciando em virtude da .acusoção".

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REVISTA DE 11IIFORMAÇÃO LEGISLATIVA

No Brasil, durante o regime da Constituição de 1891. nos Estados;bicamerois, adotavam êles. freqüentemente, a acusação pela Câmarados Deputados e o julgamento pelo Senado, 00 passo que nos Esta­dos unicamerais a acusação era feita pela Assembléia Legislativae o julgamento era pelo Superior Tribunal de Justiça de cada Estadoou por um tribunal misto especial.

As recentes Constituições estaduais. em seguida ao movimento demo­cratico de 1946, também cogitaram da responsabilidade do gover·nador e dos secretarias de Estado. Em algumas Constituições. comoa de Alagoas, a acusação provém da Assembléia Legislativa e ojulgamento é feito pelo Tribunal de Justiça do Estado, em outras,como (I do A.mazonas. o julgamento é feito pela pr6pria AssembléiaLegislativa. tanto quanto a acusação. Já na Bahia. a acusação porteda Câmara baixa e o julgamento é feito por um tribunal especialcomposto de cinco desembargadores e de cinco deputados. Nos de­mais Estados. o processo de impeachment. de modo geral. seque taismodelos de acusação pela Câmara dos Deputados. e o julgamentodo governador, pelo Tribunal de Justiça ou por um tribunal especial,cabendo entretanto consignar que existe uma legislação federalsôbre o impelrchment, a cujos pressupostos básicos deverão estarsubmetidas as normas estaduais concernentes ao íu\gamenl0 po\\lito.

Quanto às funções dos governadores, podem elas ser tripartidasem executivas. legislativas e administrativas. Esta mesmo distinçãose aplica tanto aos Estados-membros brasileiros como aos Statesamericanos ou às Províncias argentinas.

As funções executivas "são as que o governador exerce como headoI the Slate, representando-o como um todo em sua capacidadecorporativa. bem como exercendo supervisão quanto à realizaçãoda político formulada e decretada pelo romo legislativo do Govêrno",no informação de BATES e FIELD (ob. tit.1 pág. 242). Elos abrangemnaturalmerrte o própria personificação do Estado em suas relaçõescom a União, os demais Estados e outras corporações de direitopúblico interno, o comando das fôrças armadas estaduais. a cor­poríficação cerimonial do Estado etc.

Nos Stutes norfe-americanos os governadores podem também comu­tar penas e conceder perdão aos criminosas comuns. Era uma prer·rogativa real que aos mesmos se transmitiu. Isto tem importância naAmérica do Norte. pois o direito penal é da competência dos Esta­dos-membros, e nõo do União. como no Brasil. Em alguns Estadosnorte-americanos. como em Tennessee e Vermont. o governador podeperdoar sem nenhum obstáculo ou formalidade. Em 20 Estados, ogovernador concede indulto, porém devendo justificar a sua açãoperante os legislaturas, e em 16 Estados o poder de conceder in­dultos depende da manifestação formal de outros agentes. que sãogeralmente constituídos por um board de perdões. Muitos abuso~

foram cometidos pejos governadores, prejudicando a repressõo da cri­minalidade. como em Arkansas, onde o governador DAVIS perdoouuma pessoa por dia, em média. durante oS seus seis QI"IOS de (Jovêfl'\o.

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No Brasil, durante a primeira República, também os governadorespodiam indultar criminosos e comutor penas, entretanto, atualmente,êste poder já não lhes é concedido.

No domínio administrativo, os governadores supervisionam de ummodo geral os serviços públicos, nomeiam e demitem os servidorespúblicos, têm uma atuação básica na supervisão administrativalocal. Q poder de nomear ou de demitir está hoje regulado pornormas concernentes ao servíço civil, Iimitar,do tal poder e tambéma demissão de funcionários, que se tornam estáveis, como no Brasil,através de dispositivos constitucionais. Em muitos Slates, os agentespolíticos mais importantes são eleitos, ao passo que também altosfuncionários têm também caráter eletivo, entretanto, no Brasil, osecretário de Estado é da confiança do próprio governador. NaAmérica do Norte, o poder de nomeação está desconcentrado entrevários órgãos e autoridades, e, segundo a informação de HQLCOMBE(ob. cit.\ pág. 334), havia em New York 17 maneiras diferentes dedesignar os chefes de serviço e oito de demit.'los, antes da reor­ganização administrativa datada de 192' Ainda nos Slales, asdemissões, em regra, devem ser aceitas e ratificadas pelo mesmomodo pelo qual se fazem as nomeações. De outro lado, tem crescidobastante nos States a influência do governador na gestõo dos di­nheiros públicos.

Agora deve-se examinar o competência legislativa do governador, nasua cooperação com as legislaturas na elaboração das leis, queconsiste sobretudo na apresentaçõo de mensagens, na convocaçãode sessões especiais ou extraordinários e no poder de veto, agre­gando-se ainda, nos States, o poder que é dado ao governador paraadiar as reuniões legislativos e, no Brasil, a iniciativa de determí­nados projetos de leis.

Nos Estados Unidos, os mensagens podem ser de diversos tipos,entre elos se discriminando três modalidades, isto é, a mensagemde abertura dos trabalhos legislativos, mensagens especiais e men~

sagens de encerramento. A primeira abrange uma vista geral dosnegócios públicos e as recomendações para resolvê-los, enquantoas mensagens especiais cogitam de assuntos extraordinórios eurgentes, e os mensagens de encerramento são empregadas porocasião da suspensão dos trabalhos legislativos, quando o gover­nador assim os tem por necessários. No Brasil, o governador tema competência de remeter mensagens às Assembléias, por ocasiãoda abertura da sessão ordinária, dando conta da situação doEstado e solicitando as providências que iulgar necessárias. Nadaobsta a que também êle encaminhe mensagens especiais, conquantonõo estejam previstos no texto das Constituições estaduais comoas primeiras, mas não lhe é possível deliberar para a suspensãodos trabalhos legislativos com mensagem de encerramento paraêste efeito .

Nos States, o chefe do executivo pode convocar as Assembléiaslegislativas poro as sessões especiais; em alguns dêles, a iniciativa

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depende exclusivamente do governador; em outros, a convocaçãopelo Executivo está ainda subordinada à aprovoção de certo nú­mero de legisladores. devendo consignor-se a hipótese especlol de ogovernador convocar apenas o Senado para aprovação dos atosda governança. Já na Brasil, pode O Executivo convocar extraor­dinariamente a Assembléia Legislativa. que assim funcionaró alémdos seus prazos regulares de trabalho.

Em nenhum dos Estados-membros da Federaçõo norte-americana oubrasileiro pode entretanto o chefe do Executivo dissolver os legis­laturas. Esta instituição é próprio do parlamentarismo e não dosgovernos presidenciais. Entretanto, em alguns States norte-ame­ricanos, em muitos dêles mesmo, pode o governador adiar o fun­cionamento da legislatura quando o Senado e a Câmara nóo seacordem sôbre a data de encerramento.

Enfim, é interessante examinar o poder de veto, que representauma ampliação do poder executivo em face do poder legislativo,visto que a princípio êle nõo se encontrava no maioria dos Estadosnorte-americanos, na época de suo revolução da independência.

O veto pode ser definido como a desaprovaçõo dado pelo cnefedo Poder Executivo a um proieto de lei vindo da legislotura. ~

uma alto prerrogativa constitucional do governador e lhe aumentaconsíderàvelmente os podêres diante da legislatura.

Nos Estados Unidos, inicialmente, só os primeiras Constituições deNew York e Massachusetts adotaram o veto. Depois êle passoua ser utilizodo em todos os Estados, exceto o de North Carolina.

Nove Constituições estaduais admitem s6 o veto total, isto é, oveto deve ser empregado contra o projeto em sua totalidade.

Entretanto, êste dispositivo do veto total, também adotado pelaConstituição Federal, não funciona isoladomente, pois, em 1861. aConstituição dos Estados Confederados admitiu a espécie do vetoparcial. ~sse veto parcial utilizado contra os orçamentos de des­pesas foi imediatamente adotado pela Georgia. em 1861. pejoTexas, em 1866. e hoje é permitido em 38 Slales; entretanto deve­se salientar que o veto parcial se refere tào-só aos orçamentos, àmatéria orçamentária, exceçào feita dos Slales de South Carolinae Washington, onde o veto parcial pode ser admitido pora tôda ale·gislação, orçamentária ou não-orçamentário. Acontece ainda que. emalguns Slales, o governador, em vez de vetar parcialmente o orça­mento, extinguindo determinadas despesas, apenas procuro redu­z)-Ios: a Suprema Côrte da Pennsylvania admitiu a legalidade dêsseprocesso, porém em outros Estados o iudi~iário reputou esta medidacomo inconstitucional.

As legislaturas aprovando os projetos, tornam-se êstes projetos emleis atrovés da sançõo governamental, ou do seu silêncio, se o

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governador não se pronuncia dentro de um determinado curtoprazo. Dentro dêste prazo pode vetá-lo P. devolver o dito projetoÓ legisfatura, o qual, entretanto, poderá reieitar o veto do fXe­cutlVO, geralmente podendo fazê-lo por maioria qualificado. Arespeito do destino dos proietos de lei enviados 00 governador,variam os princípios relativos ao mesmo: em alguns Estados, seo governador nõo aprova o projeto, êle é tido como vetado, ese lhe dá o nome de veto de bôlso (poef!et veto', mas em outrosEstados a inverso funciono, isto é, se o governador nôo veta oprojeto no prazo constitucional, êle se transforma em lei. Em Vir­gínia, Massachusetts e Alobama admite-se a seguinte situação:o governador pode aceitar um projeto em linhas gerais, mas di­verge dos detalhes e então encaminha o projeto novamente poroas Cômaras, com as suas sugestóes de emenda, e se a Cômara asaceita por maioria simples, o projeto volta normalmente à sançãodo ,xecutivo_ Já com respeito ao número de veto feito pelo Exe­cutivo, varia êle de acôrdo com o prestígio do governador dianteda legislatura, em alguns Estados o montante tem atingido cêrca deum sexto ou um quinto dos projetos de lei passados pela legislatura.

No Brasil, durante o regime de 1891- os Estados, em sua maioria,adotavam o princípio do veto global, mas as legislaturas poden­do reieitá-Ia por maioria qualificada; alguns Estados porém per­mitindo " veto parciol para tóda a legislação, orçamentário ounão. Sob o regime de 1934, os Estados adotaram o veto parcial, eêste é o sistema admitido presentemente no país. Tôdas as Cons­tituiçóes Estaduais posteriores o 1946 aceitam o princípio do vetototal ou parcial. Entretanto, os Assembléias legislativos podempronunciar-se contra o veto do governador, o maioria dos Estadosbrasileiros exigindo pronunciamenfo do maioria qualificada da legis­latura, com exceção de três, Pernambuco, Piouí e Rio Grande doSul, admitindo a maioria simples. ~ desaconselhável esta prático doveto parcial usado desbragodamente, pois mutilo os projetos de lei,e nem mesmo a prótico norte-americana o inspira, pois nela ge­ralmente o veto parcial se aplica só em matéria orçamentário.

Através do veto tem aumentado vigorosamente o poder do gover­nador, e mesmo a concessõo dêsse direito de veto representa umamarcha da ampliação da fôrça e do prestígio do Executivo, que, noBrasil, sempre existiu, o partir inclusive do regime de 1891.

Outra prerrogativa básica da governança é o exercício do poderregulamentar. Admite-se geralmente o doutrina da separaçõo oudistinção de podéres, vedando-se a delegação da autoridade legisla-.­tiva ao tader Ilxecutivo. Entretanto, permite-se uma legislação admi-1nistrativa no decretação de normas subsidiários e complementares, "de conformidade com os pressupostos e os limites troçados pelopróprio f*:lder legislativo.

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Daí odvém a explicação da natureza do poder regulamentar, o fimde preencher os detalhes da legislação, exercido pelo próprio ,odertxecutivo. JAMES HART conceituo o poder regulamentor como "oautoridade legal, de funcionários administrativos ou agenciais degovêrno. de prescrever regras discricionárias e regulamentos de apli­cabilidade geral e efeitos legais, ou de determinar a existência dascondições sõbre que leis contingentes devem tornar-se operan­tes" (26).

~ claro que se necessita dessa complementaçõo, pois o ,oder A3gisla­tivo nõo pode prever uma legislaçõo perfeita em seus detalhes, algu­mas lacunas subsistem, surgindo automàticamente a urgência da suacomplementação. O exercício do poder complementar tem mesmocrescido nos últimos anos, à medido em que se torna mais amploo domínio da atividade estatal. Se o ,oder legislativo é exercitadoa fim de elaborar os normas legislativos gerais, já o ~oder fxecutivoelabora os regulamentos e ordinances, prevendo os diversos modosde execuçõo das leis ou os detalhes do seu processo, possibilitandomesmo uma administração mais flexível, nesta época de interferênciado Estado na vida social. Afirma-se, então, que não existe pro­priamente senão uma legislação regulamentar, própria do .xecutivo,e não exatamente uma delegação legislativa.

Isto acontece tanto no plano federal coma no plano estadual, numaumento gradativo desde o século XX. Em 1936, o Govêrno federalnorte-americano já havia concedido a 115 autoridades federais opoder regulamentar, êste exercício do poder regulamentar estandodiscriminado em cêrca de mil provisões legais e mais ou menos 70proclamações executivas. No plano estadual norte-americano, istoé, no regime dos Stales, o poder governamental, entretanto, é menosconferido a um governador, porém freqüentemente está descentra·Iizado em vórias autoridades ou agências administrativas. Já noregime estadual brasileiro. é atribuição do governador expedir de­cretos, regulamentos ou instruções para a fiel execução das leis,previsto nos diversos textos das Constituições estaduais.

Importo agora salientar a posição política dos governadores dosEstados no regime presidencial. Na América do Norte, Q sua posiçãopolítico era de relativa fraqueza e, com o correr dos tempos, passoua ser prestigiada. No Brasil, os governadores sempre gozaram deum grande prestigio e fôrça política.

MADISON dizia no Convenção de Filadelfia, em 1787, o seguinte:

"A experiência demonstra uma tendência em todos os nossosgovernos de lançar todo o poder no vortex legislativo. Os executivosdos Estados sõo pouco mais do que zeros. As Legislaturas são oni­potentes. Se nenhum freio efetivo fôr encontrado para as usurpaçõesdestas, uma revolução será inevitável" (27). Ainda, em 1846, seafirmava no Convençõo Constitucional de New York: "0 chefe doExecutivo é uma espécie de governador nominal. que se mantém

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desligado dos negócios e interêsses do Estado, de braços cruzados,olhando poro frente, como uma sentinela" (28).

Hoje em dia, entretanto, esta posição já está bastante mudado ecada dia se fortalece a posição político do governador, em faceda reorganização administrativa dos SIGles, da liderança partidáriae do próprio prestígio do executivo, aumentado um tanto em funçãoda perda de influência das legislaturas. Muitos governadores mesmo,sobretudo aquêles que assumiram tal posiçõo em Estados estraté­gicos, como New York, Ohio, Indiana e outros, podem aí encontrara suo escada de ascensõo poro o presidência da República. Assimaconteceu com CLEVElAND quando governador de New York;McKINLEY, na governança de Ohio; WILSON, como governador deNew Jersey e FRANKLlN DELANO ROOSEVElT, como governador deNew York, cujo eleição em 1928 lhe assegurou a ascensão à CosoBronco, todos êles despertando o interêsse nacional pelo sua atuaçãona governança estadual.

No Brosil, é enorme a fôrço político dos governadores, e, duranteanos, no regime de 1891-1930, desenvolveu-se uma política dosgovernadores controlando as eleições presidenciais nacionais. Estadosestratégicos como os de São Paulo e Minas Gerais dominaram nesteperíodo a político nacional, ao contrário do que ocorreu durante oImpério, quando os premiers eram, sobretudo, do Norte. De Minasvieram presidentes como AFONSO PENA, WENCESLAU BRAZ e ARTURBERNARDES; de S. Paulo, outros figuras de renome como RODRIGUESALVES, PRUDENTE DE MORAIS, CAMPOS SAl.ES, WASHINGTON WfS(êste, fluminense, mos tendo feito carreira política em São Paulo);do Rio Grande do Sul proveio GETÚLIO VARGAS, todos êles tendosido, antes, governadores de Estado. A fôrça político dêsses Estados,o seu grande eleitorado e a sua vitalidade econômico-financeiraforam naturalmente o suporte dessas candidaturas, apoiadas nasmáquinas partidárias dos grandes Estados, em desproveito sobre­tudo dos Estados do Norte.

Cotejando a sitvaçõo político do governador no América do Nortee no Brasil, afirmou OSVALDO TRIGUEIRO, em brilhante obro sôbreo assunto, intitulada O Regime dos Estados na União Americana(pág. 171):

"Bem pesadas as condições da vida político estadual, e comparadosos governadores com seus predecessores da Colônia, ou com seushomônimos da América Latino, o conclusão a tirar é que, no ambi­ente americano, há completo inexistência de causa e condiçõescapazes de permitir o uso, e, sobretudo, o abuso do poder pessoal.

o governador americano nõo exerce qualquer espécie de ascendênciasôbre o toder tudiciário, que é, em geral, eletivo. ~-'he igualmente \/impossível dominar a cena eleitoral, pois que lhe faltam meios deutilizar o dinheiro ou a fôrça nas eleições, ou de deturpar os seus

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resultados. Para a dispensa de favores, êle não está conve:lientementeaparelhado: por si só, êle quase nenhuma autoridade possui no querespeita ao provimento dos corgos, 00 contrôle dos pagamentos ouaos contratos com a administração. Além disso, ciosos de suasatribuições, os legislaturas jamais lhe delegam poder poro abriro mais insignificante crédito, ou para fazer a mais inocente trans­ferência de dotação orçamentária. E tudo o mais é nesse estilo.

Nõo possuindo o poder que pago e que prende, os governadoresamericanos não possuem, dessa funçõo, realmente, senão o título,o prestígio simbólico e a dignidade hierárquico. Tem·se de certomodo o impressão de que os americanos vêem sempre diante de sio espectro dos governadores coloniais, poro impedir que êles per·mitam concentrar numa sá pessoa uma somo substancial de podêres.

Assim, os governadores americanos desiludem, por completo, osvoluptosos da autoridade e os teoristas que só acreditam no pre­sidel1cialismo como sinônimo de braço forte. Os Estados americanosdemonstram, em exemplo, que só não é paradoxal por ser anglo·saxão, que o bom govêrno não estó necessàriomente ligado à ideiodo poder sem freios, confiado aos homens providenciais./I

4. O Poder Juditiário nos Estados·membros

No regime constitucional da separação de podêres, outorgando-se00 Estado-membro o poder da auto-organização, automàticamentese lhe atribui ainda um poder judiciório, funcionando ao lado doexecutivo e do legislativo. As Constituições estaduais assim prevêemsempre o funcionamento do poder judiciário e isto, no Brasil, jáacontece de longa dato.

Entretonto. o iudiciário no Brosil, ao contrário do que ocorre naAmérica do Norte, nõo tem tido o prestígio que deve ter pelo exer­cício de suas sábias funções. Foi provàvelmente o poder judiciárioum dos que mais falharam em nosso história republicana, um poderfraco, sem o prestigio outorgado aos demais podêres, especialmentenos Estados-membros, onde sempre vingava um pagamento minguadodos vencimentos dos juízes, vivendo numa situação prática de ser­vidão econômico.

A Constituição de 1946 procurou superar estas deficiências do apo­relhamento judicial dos Estados brasileiros, garantindo-lhe determi­nados prerrogativas e vantagens previstos no próprio texto daConstituição federal, isto é, no seu art. 124.

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NOTAS

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1 - A respeIto das Estados-membros nort.c-americanos e de sua estrutura, vide a seguintebibliografia: FRANK G. BATES e OLIVER r'IELD, State Government, New York, 1939;ARTHUR BROMAGE, State Governrnent and Adrninistratlon In the United States, NewYork, 1936; A. E, BUCK, The Reorganization of State Governrnents in the United States,New York, 1938; WILLIAM CARPENTER e PAUL STAFFORD, State and Local Governrnf'ntin the United States, New York, 1936; FINLA CRAWF'ORD, State Government, New York.1934: JOHN DICKINSON. Administratlve Justiee and the Sl1premaey or Law, Cambrldge,1927; WALTER F. DODD, State Go,'ernment, Ne..' York, 1928; F .. K. GOOCH, Manual orGovernrnent In the United States, New York, 1939; W. BROOKE GRAVES, ArnericanState Governrnent. New York, 1936: ARTHüR HOLCOMBE, State Governrnent In theUnited States, New York, 1931; AUSTIN F. MACDONALD, American State Governrnentand Administratlon, New York. 1936, e Federal Ald, New York, 1928; JOHN M. MATHEWS,Arnerlcan State Governrnent. New York, 1934. e Principies of American State Admlnlstration,New York. 1927; JAMES POLLOCK, Readlngs on American Governrnent, New York, 1927;PAUL RElNSCH, Readings on Arnerican State Gon?rnment, Boston, 1911: SCHUYLER C.WALLACE, Our Governmental Machine, New York, 1924. Sõbrc a Constituição e o regimedos Estados, vide também: WILLIAM BENNET MUNRO, The Governrnent of the Unlted states,New York, 1946. págs. 589·756, e EARL L. SHOUP, The Government or Amerlcan Peole, Ginnand Company, Baston etc., 1946, págs. 637-826. Sõbre o Direito Público dos Estados Latino­americanos, vide: MANUEL ANDRADE. Constitución Política Mexicana, México, 1941;DANIEL ANTOKOLETZ, Derecho Público Constitucional y Administrativo, Buenos Aires,1939; PABLO CELIS BRICE:NO, Elementos de Derecho Constitucional y Constituclón dela Repôblica, Caracas, 1939; J, A. GONZALEZ CALDERóN, Derecho ConstitucionalArgentino, Buenos Aires. 1923, bem como Introdución aI Derecho Público Provincial,Buenos Aires, 1913, e Curso de Derecho Constitucional, Buenos Aires, J943; JUAN P.RAMOS, El Derecho Público de las provincias Argentinas, Buenos Aires, 1915-1916; RAFAELBIELSA, Derecho Constitucional, Buenos Aires, 1954.

2 - JAME8 BRYCE, Tbe American Commonwealth, New York, 1933, pág. 297.

3 - BROMAGE, State Government and Administration in the United States, New York,1936, pago 14.

4 - Vide; GELLER - KLEINRAHM, Dle Verrassung des Landes Nordrheln-Westfalen, Goettingen,1950; ZINN-STEIN, Die Verrassung des Landes-Hessen. Berlin, 1954; NEBINGER, Kommentar'Zur Verfassung fuer Wuerttemberg-Baden, Stuttgart, 1948; NAWIASKYLEUSSER, DieVerlassung des Freistaates Rlyern von '2. Dezember 1946, Muenchen, 1.Q vol. em 1948 e2,° voI. em 1953.

5 ~ HAROLD ZINK, A Survey of American Governrnent, New York, 1950, pág. 584.

6 - WILLIAM MUNRO. An Ideal State Constitution, in The Annals of The AmerlcanAcademy of Politiçal and Social Sc!ence, 1935; vol. 181, pii,g, 1.

7 ~ Vide; CHARLEB C. ROHLFING, Amendrnent and Revlslon of State Constitution, In TheAnnals, 1935, vol. 18], pág, 180; HAROLD ZINK, ob. cit, pago 585.

8 - BROMAGE, State Government and Admlnlstration in the United States, New York.1936, pág. 97. A respeito da reforma, revisão e emenda da.s Constituições, vide: W. L.BRANDSHAW, Missouri's Proposed New Constitutlon, Amerjcan Political Science Revlew,vol. XXXIX, págs. 61 e segs., fevereiro. 1945; C. N. CALLENDER, E. W. CARTER e C. C.ROHLFING' The State Constltutlon of the Future, Annals oi the American Academyoi Polit/cal and Soci2.1 Science, vol. CLXXXI, setembro, 1935; J. Q. DEALY. The Growthoi Arnerlcan Statc Constltutions, Baston. 11115; W. F. DaDD, The Revision and Amendm<:?ntaf State Constltutions, The Johns Hopkins Press, Baltlmore, 1922: W. L. GODSHALL eoutros. State Constltutional D~velopment, Amerlean Polltical Selenee Revlcw; ROGERHOAR, Constltutional Conventions: Thelr Nature, Powers, and Limitations, Little, Brown& Company, Baston, 1917: M. B. McCARTHY, The Widening Seope of AmerlcanConstttutions, Cathollc {Jnlversity of American, Washington, 19211; W. McCLURE, StaieConstitution.l\laklng, NRSbv1l1e, 11116; V, A. O'RODRRE e D. W. CAMPBELL. Constitution­Maldng in a Democracy; Theory and Practice in New York State, Baltimore, 1943: C. C.ROHLFING e E. W. CARTER, State Constitut!ons, Provlsions for Amendmf'nts ~nd

Conventions, Couneil of State Governments, Chicago, 1935; A. B. SAYE, Georgia'sProposed New Constitutlon, Amerlcan Pollti....l Science Review, vol. XXXIX, pags. 459c segs., Junho de 1945; República dos Estados Unidos do Brasil. Constituições federal eesta<1uats, Textos vIgentes. Ministério da Justiça e Negócios Interlores. Serviço deDoCUmentação, RJo, ]952.

9 - W, BROOKE GRAVES, American State Government, pu!';. 171; MATHEWS. "-merlcanState Governrnent, New York, 1934, pag, 214.

la - FRANK BATES e OLIVER FIELD, State Government, pág. 174.

11 - Vide: GEORGE W. NORRIS, The One-Rouse Legislature, in The Annals of the AmerlcanAcademy o, PoliUca1 and Social Science, 1935, vol. lB1, PÍl.g. 50.

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12 - Vide ZINK, ob. cito pág. 630 e segs.

13 - AUSTIN F. MACDONALD. Amerlcan State Government and Admlnlstration, New York,.1936, pâg. 217.

14 - A respeito <1a Importância do poder legislativo nos Estados-membros, eecreve R. V.SHUMATE, In A Reappraisal of State Leg1slatures, Annals of the Americ&n Academyof POlitieal and Social Sclences, vol. 195. Janeiro. 1938. pág. 196: "But even a practicalendmeratlOn of the functlons which are stlll pertormed by the States should convincean objecttve student tltat the state leglslature Is as important now as lt ever was, andthat lt wUl remaln lmportant as long as we retain even a vestlge Df the fede~ sllltem."SObre o ...8Sunto do poder legislativo: W. BRCOKE GRAVES. Our state Lec1l1latures,Annals Df the American Academy of Politlcal and Social Sclences, vol. 195, Janeiro, 1838;ROBERT LUCE. Leglslatlve Assemblles, Houghton MlIfiln Company, Bóston, 11124, Chapa.2, 5, 10-16; D. E. Mc HENRY, A New Leglslature of Modern Callfornla, Haynes Foundatlon,Los AngelB5. 1940; B. C. UTECHT, The Leglslatnre and the Texas People, Naylor Company,Ban Antonio, 1937; HARVEY WALKER, Law-making In the United States, New York,19a4, Chaplõ. S. 19; A. E. BUCK, Modeml11ng Our State Legblatures, AmerlQ.D A.cadelnlof Politlcal and Social Sclence, Phlladelphla, 1936; J. P. CHAMBSRLAIN, Leglslative Pro­cesses; National And State, New York. 1936. capltulos 6, 8, lO-lI, 14, 16; ROB:s:RT LUCI!:,Leglslative Procedure, Baston. 1922. capltul08 5-8, 9-10, 21-22, 25; T. H. RUD, Legislaturasanei Lerislative Problems, Uninrslty of Chicago press, Chicago, 1933; C. I. WINSLOW,State Legislatlve Commlttees, The Johns lIopklns Press, Baltlmore, 1931; ALBI!:RICOFRAGA, Do Poder Legislativo, Bahl.... 1928, com uma minucIosa analise do problema naprimeira República Dras\1elra.

15 - CHARLEB A. BEMO. Amenean Government and PoHtlcs, New Yor\!::, 1946. pago 623.

16 - BROOKE GRAVES. American State Government, pago 300.

17 - Sóbre o subsidio dos governadores, vide ZINK, ob. clt., pág. 592, BRESSLY 8. SIKES eJOHN E. STONER, Bates anei Field's state Gavernment, New York, 1954, pág. 271: "At thepresent time, abaut one-foorth recelve 510.000; seven receive between $4.500 .nd $10.000,and the remaloder range up".;ud to a Jnaximum of ~O.OOO pald the govel'Jlor of Ne". York."

18 - ZINK. ob. clt., pág. 613: "Three fourths of the states provlde Heutenant governors whoare chosen In the same manner must possess the same general qualllications noted Inthe case of the governor. It mlght be supposed Irom thelr title that these offlclals wouldbe charged with assisting lhe chie! executive bot this Is not the actual sUuation inmost Instants. L1eut~hant governors succeed to the post of governor In cases where theperson electeei to that pOsltlon dies ar ls entlrel.,. lncapacltated; they mal take over theresponsabUities of the oUice temporarUy if the chieI executive bas to absenth1mself ftomthe state lor any purpose, though thls 1s not always the case. Tbe chief fnnction of thelIeutenant governor In most of the states where he Is encountered is to .e"e as pre­sldlul officer of the senate, and hence he is ordlnarlly occupled In pnbilc duties oolya comparatlvely short time every two years. However, Indiana has made him a luH-time

~ state employee, glvlng hlm the headship of one of the major administrative departments."

19 - CHARLES A. BEARD, ob. clt., pago 642: "About three-Iourth 01 the states have a i1eute­Dant governor ",ho Is lhe legal succes~or of the governor in case of the death, impeach­ment, or dlsabllity of the latter. The i1eutenant governar Is aiso generally presldent of lhesenate, witn a vote ih case of a tle. In those stares where there Is no Ueutenant governor,lt 15 the common practlce to designate the presldent of the senate as the suecessor Incase of a vacancy In the offlce of governar."

20 - JOHN FAIRLIE, The ExecuUve Power in the State ConsUtuent, In The Annals of theAmerlcan Academy of PollUcal and Social Selence, 1935, vol. 181. pago 59.

21 - BEARD. ob. cit.. págs. 642-643.

22 - BEARD, ob. clt., pág. 643.

23· - Vide OSVALDO TRIGUEIRO. O Rel1me dos Estados na União Amencana, pAgo 158 e segs.

24 - O assunto foi pacientemente examinado por BEARD, 00. clt., plLgs. 626-63a.

25 - Vide ainda BEARD, ob. clt.. págs. 628-633. A respeito da poslçAo do governador, vide:C. J. RORR, The Governor of l\Iaryland; A Constltutlonal Stndy, Johns HopkinA 8tudlel,in History and Social Sclence, vol. I, pAga. 303-475. Baltlmore, 1935; LESLIE LIP80N. TheAmerlcan State Governar, Unlverslty 01 ChlcalO Press, Chicago, 1939; J. A. PBRKINB.American Oovernors, 1930·1940, Nat Mun. Rev .. XXIX. março 1940, piLgs. 178-UI4; R. B.CHEEK, The Pardonlng power 01 the Governor of North Carolina, Duk.e Unlvculty ~e"',

Durham, 1934; C. JEN8EN. Tbe Pardonlng Power In American States, Unlverslty of Chieal'oPress. Cb1cs.go 1922: C. P. PATTERSON, American Government, Boston, 1933. capitUlo 34.

26 ~ JAMES HART, The Exerclse of Rule-Maklng Power, In Presldent's Commlttee 01 Admi.nistrative Management. Washington. 1937, pág. 319.

27 - Apud PAUL S. REINSCH, Readlnlls of American 8tate Government, Baston, llHI. pll.g. 18.

28 ~ CRAWFORD, State Government, New York, 1934, pág, 1112.

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o DOGMA

DA SOBE~ANIA

ABSOLUTA

E A REALIDADE

IN:ERNACIONAL

.:-1 ri 1)111' ,"anto,'EX-Sellfldor peiol'a.rane:

o sécdo YiMo:.', cu, mos precisamente. o Pri­meiro Gronce Guerro, foi um <itvisor de águos entro:::ois mundes difere0les.

A ordem po:ifica já nõo se fundo integ "almentenos cor.qUlstas generosos des direitos individuaisinalienáveis, que c Revolução Francesa trouxe nocrista de> ondas, sob o êgice do ortodoxia libero. A.crdem e:onó-nica não se crecesso mais sob os olhosdisplicentes do Estado Gendarme, simples mantenedorco ordem, e que no "Iaisscl foire, laissez passer".afirmava o seu olheamento ro jógo des interêsses~ umanos. A ordem sociol, ocr suo vez, néio encontrano propriedade quiritár:a, corr, seus Irrestritos atricu.tcs de jll$ utelldi, fruendi et Qbutet'ldi, o suo pecr.::longulor e inVOCQOOD os princípios do justiça d;stributj·vo, ~estringe-Ihe o exercício, em neme do bem comum

O próprio conceito tradicional de soberorJio quefechova os naçõcs dentro de um nac cnali moa O;Jres­5;"0. sem o reconhecimento do igualdade iuridica do~

ES'acios, cedeu vez c ccm'~nioode democratica dosna~ões que, na sE'g'.Jronço coletivo, na neutrolicodevigilante e judicotivo c no justiça nternociono, ~us­

co~ os fundamentos de uma novo ordem jurídica

E coma ~e nôo bastasse essa revolução, no ccm­po das conquistas espirit~ois, ql.C desfiguraraM com­pletcmente os institutos juridicos, ",esmo os ce 'n­dole mais tradicionalista, a técnica e a (i&leio mu­ooram cc fond en tomble as condições de vida dohomem no supedície da terra, olteronoo-Ihe os ca­tegorias '\'lorais e rrateriois, numa subversão de vo­lôres, conceoçães, esti'os e rr~r1talidoc!~.

É um mundo nôvo l

A Paz é o sup,emo ospiraçco des povos. Ertre-­tanIa. as duas grandes guerras, a ,sim -chamados pe­las suas proporções c efe:tos co tostróficos, não ~s­

taram pora ossegur6-la. Os imperio :ism05 totalitório,nõo foram ainda vorrico~ 00 superf;cie do terra, epor isso o hU'l"lO'1idode ainda nõo c:1controu os ca­minhos Co Paz.

É na organ ;zaçco polí~ica des EstadOS cue sedeve buscar a e.igem dos omeaços de -;;uerras, sobcujo signo vivc'l'l os gerações.

Ainda nôo se haviam calado es canhfjes doprimeiro confiograçco européic, e l~ os noções ven­cedoras fundavom. em Genebra, a Sociedode cosNJções, bJseada no principio da i~ua dode juricicados Estcdos e de jus·iço interneciornl, co.'" q~e oidealismo de Wilson rcace~d!.J os esperancos dospovos sacríficeóos no conflito. .

Entretanto, fOI à stm::ra dessa in,ti luição queo Alemanhc se reormeu, posseal'do novamente SUQS

legiões por territórios toJeros pelo suo o~biçõo, "c­duzndo os ~oções livres do E~rDpa Centro à d~­

grad:;çõo moral e a escravicão. A Assemblêia Ge­nebrina nâo foi obstáculo à eclesão do fascismo, à

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c:)momo­

judi-

ccnqubta do Abissinia, a') eixo Romo-Ber­lim-T équio ou à guerra civil da Espanho,primeiro episódio d:-, segu~.d·) cc,nf!ito <nu"­dia!.

E~magodo~ OS ditoclo'es, que Simboliza­vam o~ regimes abornin6veis, pela arreme­toda dos soldados do dem::lcrocia, volveram­se os estadistas para o fórmula rnilogrelfodo Sociedade dos Noçôe5 e no Conf€:rénciade Dumborton Ooks, em Washington, de 7de outubro de 1944, lan;aram as bac,es do"Orçani l.açõo Internacional .- As NaçõesUnidos" ... cuia carta fund:Hnenlol toi as·sinada, no cidc.de de Sco Francisco, C05 26oe junho de 1945.

Como do primeira vez, houve reafirmaçãoce vontodes em bu;ca de um alto objetivo.Mos o sistema politico funciona mal, emper­rada por deteitos congênitos, incapaz de rea­lizor por si 56 o ,uo trnal:ciode, que é a ma­~utenção da Paz.

Hei um dogma que precisa se, superadoe que, não obstante ~ imperatIvo de rea­lidade ineluteivel, contin~a, aindo, pela fôr­ea de mércic ou reação Qa rotina, o Impe­d" a marcho \'igoro,a das Idéias nova~, nocampo da Direita Intemoci~:na': -- o dogmado soberani::: absoluta.

A concepção democrótica do Estado fun­do-se no poder ,oberonú ua na~õu, n.:jovontade onipotente nãu enccntra limitesdentro do território onde exerce a sua ju­ri~diçõo, revestido de atributos de supre·macia, autode:erminoçõo e inafJenabilidodedominando o complexo de suo ação i1imitcdoe irrestrita. E CO!l"'O os Estados. pela necessI­dade de sua defesa, tornaram-se cada vezmais fortes, como ;xJtencia mi litor e econô­mIca, o sua expansão não esbarraria em ou­tros óbices que os ditados pelo, seus apetites(' in terê,se>,

Constrangê-lc~ à ,ido em comur,hão 11')­

ternacional apenas ~ubrnelld"s a regras deconduta moral, sem obed,ênCia a uma I,,:internacional, imposta p:;r órgão rE'vestidode sanção, é utocia tão desmarcado comopensar Que os homens poderIam viver er'1sociedade, orient:::.dos por princ;piDs éticos Oureligiosos, ~em subordinação ecrigalória lJ leiinterno, cujo inobservãncia Ires acarretaônus e penalidades.

Dentro do dogma ntocóvd cio soberaniaabsoluta não hó coma Integrar () Fstado emuma organização político, tenóente a esta­bilila! suas relaçõe, Internocic,nais, cem oobservância de compromissos sociois, mili­tares e econômicos, que tran,c:endem, rrui·tas vezes, aos seus pr6prio> interesses, embe"e~"cio da comunhão ,nternac.ünal.

o primado do soberania é fruto do na­cionalismo, conceito. de si Mesmo, agressivoporque tra<: em seu bOlO as concep<'õc-,; deauto-suficiência e aula 'quia. O nac,onalismoe exclusivista, e subcrdlna 05 direitos alheiosac drreito incantrolóvE'1 c absoluto ce cadaEstado.

Ninguém admitiria lJrT:a ordem intemo emque cada individuo pudesse fazer lUda o quebem entendesse, ;ob o fundamento de queassim convinro ao seu peculiar Irltenhse Aorevé" o Estado, consid2rand:J a gU.Jldode detodos peroro te a lE'i, ccnd:cionJ o Ip/re exer­cicio do,; direitos ind;vidu.1\s a:l re~lJeito Q.

Iguais direitos por par:r. dos outros cidodciüsA liberdade sem limites e apen.Js su~~rdjnJ­

da à vontade do agente, seriJ elemenlo de­sagregaCcr da ordem sociol

Ésses princípios, trans?IGntados poro op'ano internacional, demcnstrom que o dC~­

rra da soberania absoic;t:J nõo re::>resentamais o ideal humano, nem pode ser c h.n­dome~10 da ordem juridica que pre5ide aêomunhco dos nações, og-:.Jpodas C'Tl socie­dade.

Em nota expre»ivo, de '7 de dezembro de1945, ó Chancelaria Uruguaic, o Itamaralifixava assim o nosso pento de visto:

"Sem dúvida, a evolucco do cons·ciência iuridico internce,ona\ ;6 nóopermite o um Estado af,-m:)r o suo;oberanio contre os mo,S cltos int>?­rêsses do cooperaç60 entre a~ noçõese do aperfeiçoamento moral e maTe­rial de human:dode.

Do mesma forma que o indivíduoJó mio pode fazer prevalecer seus in­terêsses pcs>oa,s contra os inter6ssesda COletividade, torno-se cada vezmais necessória uma limiTação das;;abc ran ias em "ista de melro r ccn­vivêflcia ent'/:' 05 povos."

11

Dois novos in,tit"l.;s al:rmam ·se\undamentals na Dirello Inlcrno<iCl"\O\demo: o da neutralidade vigilante ecativa e <) do seg .... rança coletivo.

Tão perem;>lo como o dogma da sobe­rania absoh..:to, e " conceito da neutrali­dade irrestrito.

Nu'Tl mundo que surge poro o organiza­ção federat jva das na, óes, não há J~ ça rpara o neutrolidode.

O Brasil reivindico poro Ruy Barbosa, "apredestinação de seu gê.... io, o gl6rio de ler

JUNHO - 1964 61

sido um dos pioneiros dessa doutrino ge­nerosa. Quando Ruy foi nomeado nossoembaixador, nas festas das comemoraçõesdo Centenário do República Argentino,eram incertos os rumos da vitória nos bo­tolhas da Primeiro Grande Guerra.

O seu discurso foi de um iluminado,sustentando a tese central que a neutrali­dade inerte e surda-muda cedeu vez àneutralidade vigilante e judicatívo.

Dizia êle:

"Enunciando essas funções tôo be­nignas, tão salutares, tõo conciliado­ras, o neutralidade atual cometeria omais lamentável dos erros: imolariaao egoísmo de uma comodidade pas­sageiro, de uma tranqülidade mo­mentônea e aparente, o futUro deroda a espécie humano, os interêssespermanentes de todos os Estados.Desmoralizando a obro dos cortes docivilizaçõo, celebrados em Haya, inu­tilizaria, de agora poro sempre, todosos tentames ulteriores de organiza­ção do legalidade internacional, e dei­xando triunfar, sem sançõo alguma,tôdas as enormidades, todos as ab­surdidades, tôdas as monstruosidadesconcebíveis cOntra o lei consagrado, in~

correria em uma cumplicidade exce;J­cionalmente grave, senõo em verdadei­ro co-autoria com os réus dessa anar­quia estupenda nos relaçoes entre osEstados."

E concluía no fulgor do sua eloqüência:"A imparcialidade na justiça, a solida­riedade no. direito, a comunhão namantença dos leis escritos do comu­nhão: eis a nova neutralidade que, sederiva positivamente dos Conferênciasde Hoyo, não decorre menos imperati­vamente dos condições sociDi~ do mun­do moderno. A neutralidDde recebeunovo missão e tem agora uma defini­ção novo. Nõo é o expressão glacialdo egoísmo. É a reivindicação moral dolei escrito. Sert pois, o neutralídodearmada? Não: deve 'ser o neutralidadeorganizada, não com o espada, parausar da fõrça, mos com o lei, poroimpor o direito. O direito não se com­põe somente com o pêso dos exércitos.Também se impõe, e melhor, com apressão dos povos."

Clemenceau resumiu a tese de Ruy numasíntese admirável:

"Não pode haver neutralidade entre odi reito e o crime."

Hoje, notadamente depois da SegundaGrande Guerra, o conceito de neutralidadeirrestrita tornou-se uma concepção caduco.

Foi protegido por aquêle arcaísmo que aItália Fascista conquistou a Abissínia e queo Alemanha de Hitler anexou a Áustria,USurpou territórios do Tchecoslováquia, in­vadiu a Polônia, talou a Bélgica e a Ho­landa, e pretendeu escravizar o mundo. E,ainda hoje, no sistema de comunidade po­lítico dos Estados, ainda repontam sintomasalarmantes de suo sobrevivência.

Os maiores crimes contra a civilização hu­mana consumaram-se sob a égide da dou­trina suicido da neutralidade, hoje repudia­do nos textos das Cortas e dos Convençõesinternacionais.

A América (honro lhe seja feíta') anteci­pou-se 00 continente europeu. Em vóriasConferências Pan-Americanas e Reuniõesde Consulto dos Ministros dos Relacões Ex­teriores das Repúblicas Americanos' o sen­timento jurídico dos povos cOntinentais afir­mou-se, em textos de Convênios e de Con­venções, no sentido de um compromissocoletivo contra o violação do direito, deporte de qualquer Estado.

O ato de Chapultepec, assinado na Con­ferencio do México de 1945; o Trotado deAssistência Recíproco do Rio de Janeiro e oIX Conferência Pan-Americana de Bogotó,em 1948, são pontos altos do sistema juri­dico-internacional americano, hoje consa­grado no Carta do Organização qos Esta­dos Americanos, diplomo que foz honro àcivilização e cultura dos povos livres dês tehemisfério.

A Corto das Noções Unidos, por suo vez,proclamo, no art. 2°, nO 5, do Pacto deSão Francisco, o princípio vitorioso:

"Todos os membros darõo às NacoesUnidas tôda o assistência em qualqueração o que elos recorrerem de acõrdocom o presente Carta e se absterão dedor auxílio o qualquer Estado contro oqual os Nações Unidas agirem de modopreventivo ou coercitivo."

A América antecipou-se à Europa emoutro relevantíssima capítulo do novo Di­reito Internacional: o do seguranCa coletivo.Quase com os mesmos palavras, ~ Pacto doAtlôntica Norte acolhe o definição de agres­são do Trotado de Assistência Reciproco doRio de Janeiro e da Corto da Organizaçãodos Estados Americanos, cumprindo-se as­sim, mais uma vez, o vaticinia de Canningsôbre o pr~destinaçõo do Novo Mundo.

62 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

11I

Ao falar dos tendêncías modernos do Di­reito Internacional e dos Trotados Interna­cionais do após-guerra, não há como esque­cer o gênese do pon-americonismo e do suacontribuição o essa obro civilizadora.

O hemisfério que Colombo revelou 00

mundo, não obstante as suas diversidadesfísicos, os seus múltiplos e frisantes con­trastes, as diferenciações topogróficas, ra­ciais e econômicos de suas diversos regiões,tem uma característico moral comum, osmesmos ideais de vida democrático e esti­veram sempre subordinooos 00 mesmo prO­cesso de aperfeiçoamento, numa quase pre­destinação de unidade espiritual.

O foto pai ítica fundamental do históriamoderno, no conceito de Francisco Nitti,foi o movimento americano que se inicioucom o declaração dos direitos enunciadospor Jefferson em 1774 e culminou atravésda Declaração da Independência em 4 dejulho de 1776, na Constituição demacróticade 1787.

Há cento e sessenta e sete anos que osestilos de organização político sofreram ra­dical e profundo metamorfose oriundo do re­gime que os descendentes dos primeiroscolonos do roça anglo-soxóníca criaram noNôvo Mundo poro reger os destinos de umpovo que, em menos de três séculos, domi­nou um território quase igual à Europa, fun­dando uma noção cujo formaçõo histórico éo mais formal desmentido às teorias de su­premacia dos raças puras.

As tre1.e colônias que se fizeram inde­pendentes e que conquistaram polmo apalmo o direito à vida autonômica no terri­tório imenso, limitado pelos dois oceanos, eque os pioneiros audazes desbravaram, numapágina épica de galhardia e audácia ­encontraram no Canvençõo de Filadélfia oscondutores gloriosos que forjaram no Cons­tituição mais livre do mundo o sistema pre­sidencial, monumento imperecível de sabe­doria politica: Washington, Madison, Ben­jamin Fronklin, Gerry, James Wilson, Ale­xandre Hamilton.

A maré montante dessas idéias genero­sos, cansubstonciadas como verdades evi­dentes no Declaração da Independência de1776, iria espraiar-se no Brasil e nos colô­nias espanholas do América do Sul, dividi­dos nos vice-reinados do México, de NovoGranada, do Peru e de Buenos Aires e no>capitanias gerais, despertando-lhes o sentidode autonomia, já que a soberania do povo,os governos cuja autoridade emano do con­sentimento dos governados e os direitos

inalienáveis referentes à vida, à liberdadee ó felicidade eram franquias vencedoras nopróprio continente e na velho Europa reju­venescido pelo Revolução Francesa.

No primeira década do século XIXj6 existia por todo o continente oque\aincoercível ~onspiroçõo do pensomento cen­tro o qual são impotentes os armas da ti­rania e que, pela oçõo de mestiços indomá­veis, faria nascer, uma a uma, dos antigoscolônias, as atuais nações americanos nosimpressionantes jornadas libertadoras ondeesplendem os glórias de Francisco de Mi­randa, cavaleiro andante do ideal de liber­dade poro os povos hispono-americonas ecuia nome aparece gravado em pedra noArco do Triunfo entre os trezentos heróiS queNapoleão Bonaporte julgou dignos dêssenome; Simão Bolivar, figura de legenda;Sucre, o general invicto de Ayocucha; SanMartin, o vencedor de Chocabuco e deMaipu; O'Higgins, o campeador chileno;Correras, no Argentino, Miguel Hidalgo,Mariano Moreno, Saavedra, Belgrano; noUruguai, o imortal Artigos, e Francio, noParaguai.

Não foi, nem poderio ser, mero coinci­dência histórico o série sucessiva e crono­lógica dessas arrancados libertórias sob oégide dos mesmos princípios que afirmavama liberdade como direito impastergável dospovos e que, no consentimento dos governa­dos, assentava o legitimidade do poder,

No Brasil, êsses episódios tiveram amesma fisionomia e culminaram no Incon­fidência Mineira, nos movimentos nativis­tos, na Revolução Pernambucano de 1817,até o Grito do Ipiranga com a definitivoimplantação de um govêrno autônomo,

E mais ainda - independência, repú­blica, democracia, liberdade, foram, em ter­ras americanos, e)(pressões correlatos quese somaram no sistema presidencial criadopelos artífices do grande naçõo norte-ome­ricana como o único processo de democraciacompatível com os aspirações dos povosdêste continente.

A exceção braSileiro foi um ocidentetransitório.

A circunstóncio especialíssimo de o repre­sentante- da dinastia da metrópole ter sidoo instrumento da emancipação trouxe comoconseqüência o implantação do monarQuia,como formo de governa, ainda que de tipoconstitucional representativo e embebido dopensamento da Revolução francesa.

JUNHO - 1964 63

De resto, um fato providencial!O trono foi o garanti0 da unidade nacio­

nal e sem êle seria inevitável a nossa frag­mentação territorial em repúblicas enfra­quecidas e rivais, conforme assinalará Eva­risto da Veiga,

Daí - a componho de bloqueio conti­nental que por largo tempo sofremos injus­tamente, malgrodo a lisura da política in­ternacional do Império, quanto ao supostoimperialismo do Brasil e da incompatibili­dade entre o existência do trono brogantinoe as tendências francamente popurares dodemocrocia americano.

Em 15 de novembro de 1889 reatamosa tradição continental, reconciliadas as ten­dências sentimentais com Q Proclamação daRepública, a Federação e o Regime Presi­dencial.

Nõo tardaria a concretizar-se em diplomopolítico, logo após o brado emancipodor daúltima colônia do hemisfério ocidental, opensamento de sua defeso coletivo contraqualquer atentado ou ameaça estrangeira.

A mensagem do Presidente James Mon­roe, de 2 de dezembro de 1823, foi a pri­meiro advertência americano contra as pre­tensões recolonizadoras. Afirmava:

"Os continentes americanos, por sualivre e independente condição atual,não podem de agora em diante con­siderar-se objeto de futura colonizaçõopor porte de nenhuma potência euro­péia,"

Apesar da clareza meridiana dessas pa­lavras, nõo hó negar Que interpretoções ca­vilosos de algumos de suas expressões de­ram à doutrina de Monroe um sentido dedefesa exclusiva dos Estados Unidos, mar­cando-o com a eiva de suspeiçõo e de in­terêsse uniloterais.

Nado deteria, porém, o marcha vitoriosado concretização político do pensamentoamericano!

Em 1826, Bolivor tomava a iniciativa deconvocar os Nações Americanos em umaassembléia no istmo do Panomó paro ounião efetivo de suo s.?berania, debaixo damesma estrutura político. O Mundo Nôvo- dizia o Libertador - constituir-se-ia denações independentes, ligados todas poruma lei comum que fixasse as suas relaçõesextemas em um congresso geral e perma­nente.

Jó era a reação contra aS deforlTlQçõ€sda nacionalismo agressivo que tem levadoos povos ao isolamento, à autarquia e àguerra, como observa Emery Reves no seuirrespondível manifesto democrático e a ins­tituição de um organismo continental que

harmonizasse os interêsses antagônicos, di­rimindo conflitos internacionais, dentro dofórmula de uma Sociedade das NaçõesAmericanas, mais tarde lembrado pelo ma­logrado Baltasar Blum, no Quarto Confe­rência Pan-Americono.

Seria êsse o quinhão da América, con­substanciado por Elihu Root nos dnco gran­des contribuições continentais para a civili­zaçóo humana:

19 - e principal - a substituição doguerra pelo discussão e arbitra­mento, como meio de resolver-seos litígios entre nações;

29 o mois largo tolerôncia religiosa;3 9 o sufrágio popular;4 9 demonstração da aptidão de uma

grande variedade de raças poro oliberdade;

59 - difusão do bem-estar materialentre os populações americanas,

A êsse ideal pan-americano chantado noterritório banhado pelos Oceanos Atlônticoe Pacífico, o Brosil tem mantido fidelidadeexemplar desde os dios incertos da SantaAliança até hoje.

Para quebrantar, porém, as inevitóveisequívocos nascidas quase sempre de precon­ceitos nacionalistas mais que da entrecho­que de interêsses próprios, os conferênciaspon-omericanas, a primeira das Quais reuni­da em Washington em 26 de outubro de1889, realizaram uma obra notável de pro­selitismo, de compreensão e de entendi­mento, cujo resultado inequívoco é o climade unidade espiritual em que vivem os no­ções americanos, igualmente orientadas nossetores do político internacional.

Toda a evolução histórica do pan-ameri­conismo processou-se no fixação de seu sen­tido pai ítico.

Ainda na Convenção de Hovana de 1928,o função político do União Pan-Americanafoi expressamente negada.

Com a criação do Instituto de Consulta,na Conferência de Buenos Aires em 1936,os declarações de Lima de 1938, os Reso­luções assentados nos reuniões dos Minis­tros das Relações Exteriores no Panamá, em1939, em Havana em 1940, no Rio de Ja­neiro em 1942 e no Conferência do Mé­xico em 1945, é que se acentuou a forma­ção de um sistema político-jurídico entre asnações americanos.

Mos foi somente no Ato de Chopultepecem que se definiu o conce;to de segurançacoletivo e solidariedade continental, que o

64 REVISTA DE INfORMAÇÃO LEGISLATIVA

pan-americanismo passou a ser uma catego­ria política, pelo acôrdo dos altas partescontratantes, no redação de um Tro'odo (;om° definição de agressão, acrescido das me·didas coercitivas para a preservaçõo da paze segurança do Continente.

tsse ínstrumen'o jurídico foi O Tra'adode Assistência Reciproca do Rio de Janeiro,resultante da Conferência para a M1nuten­çào da Paz e da Segurança do ConHnentee assinada em Petrópolis no dia 2 de se­tembro de 1947, pelo qual criou-se, no Di­reito Internacional Americano, a figura ju­ridica da legítima defeso colet"lva, quandoa inviolabilidade ou integridade do territo­rio ou a soberania ou o independência polí­tico de qualquer dos Estados fôssem afeta­das por um ataque armado ou por umaagressão, que não seja ataque armado, OU

por um conflito entre dois ou mais EstadosAmericanos ou por qualquer outro fato ousituação que possa pôr em perigo o paz daAmérica.

Essa definição de agressão foi acolhida,integralmente, para honra da América, noPacto do Atlântico, firmado pelas nações doEuropa, situados ao norte do Oceano Atlân­tico, os Estados Unidos e o Can:::Jdá.

Nõo escapou 6 sabedoria do Sr. RaulFernandes, eminente Chanceler do Brasil,

'êsse aspecto do Tratado do Rio de Janeiro,~quando assim se pronunciou;

"Os Estados Americanos torcem nestepasso os caminhos do Continente - e,esperamos, mais tarde, os do mundo,para destinos mais altos, mais huma­nos e mais generosos; fixam o data his­tórica em que se lançam Os fundamen­tos de um genuíno Direito Interna­cional."

Finalmente, no IX Canferênci:l Inter­americana de Bogotá - Assembléia Cons­tituinte Internacional das Américas ~ comoa chamou, em sintese admirâvel, o ilustreEmbaixador Sr. João Neves d:J Fontoura,chefe da Delegação do Brasil, os naçõeScontinentais se associaram sob o designa­ção de Organização das EstadoS America­nos, para firmar normas juridicas e politi­cas, que presidam às suas relaç3es de SJli­

doriedode e de cooperaçõo e defin:lm os ór­gãos que as expressem e exec:Jtem. E vo­taram o Pacto de Bogotá, isto é, um truta­do interamericano de solução pacifica decontrovérsias, pelo qual os Estados signo­târios reafirmando solenemente seus com­promissos, criados par anteriores convênios

e deliberações internacionais, assim comopelu Carta das Nações Unicias, convêm noabstençõo de ameaça e uso de fôrça arma­da ou qualquer outro meia violenta parosolução de suas controvérsias e adotam ossoluções e procedimentos pacíficas.

A Carta da Organi~ação dos EstadosAmericanos, assentada no Tratado de As­sistência Recíproca do Rio de Janeiro e noSistema Interamericano de Paz seró, emsíntese, o monumen'o ;mperec;vel de jus­tiça internacional e das aspirações democrâ­ticas dos povos livres do continente colom­biana.

IV

O fracasso da Liga dos Nações, criaçõodo ?acto de Versalhes, nasceu da falta depreparaçào espiritual ou, antes, do ausênciade sinceridade, por parte dos Estadas signa­tórios, em orientarem-se pelas novos tendên­cias do Direito Internacional. Ela fai fun­dado na base do equilíbrio de potências ou,mais precisamente, no direito do fôrça, sema infrllência determinante de 'um penSQ­menta jurídico orientador de suas atividadespoliticas,

De Wilson a Franklin Defana Roosevelt,porém, muita água passou por debaixo daponte e a aspiração dos povos em uma or­ganizaçõo poHtica poro a manutenção doPa:l, que não fôsse mera abstração do Di·reito, mas uma reolidade palpitante, cap01:de assegurá-Ia, ganhou corpo e vida naconsciência universal.

A idéio de que a guerra não é um epi·sódio normal das relações internacionais, se­não um crime contra o humanidade, adqui­riu foros de cidade e estó cristali:loda comoverdade indiscutível.

Mas não bosta.Uma Federação de Estodos regidos por·

lei suprema, só terá funcionamento perfeitoquando todos êles forem governados por sis­temas democráticos' a cujos imperativos es­tejam submetidos na sua órbita de ação in­terna. ~ que o Estado não é mais o únicosujeito de Direito Internacional, cujos inte­dsses irrestritos e absolutos cabe-lhe pro­teger, mas o indivíduo, titular de direitosinalienáveis à vida e à liberdade, como atri­butos essenciais o dignidade do pessoa hu­mana, que devem ser preservados.

A renovação é substancial e profundo.

A Corta do Atlântico, declaração de prin­cípios feita pelo Presídente dos Estados Uni­das da América e o Primeiro-Ministro doReino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do

JUNHO - 1964 65

Norte, a bordo de um navio de guerra,ainda no fragor das batalhas, dotada de 14de agosto de 194 r e a adesõo que lhe de·ram, em 1,° de janeiro de 1942, os demoisnoções do mundo, inclusive o Brasil, forammarcos definitivos consagradores de umanovo mentalidade o presidir os relações in­ternocionais.

Um e outro desses diplomas proclamamo compromisso de garantir as liberdades fun­damentais, inerentes Ó dignidade da pessoahumana.

Diz a Corta do Atlântico:

"Depois da destruição completo do ti­rania nazista, esperam que se estabe­leça uma paz que proporcione o tôdosos noções os meios de viver em segu­rança dentro de suas próprios fronteiras,e aos homens, em tôdas os terras, ogaranti0 de existências livres de temore de privação,"

E o Declaração dos Noções Unidos:

"Convictos de que, paro defender avida, o liberdade, o independência e oliberdode de culto, assim como poropreservar o justiça e os direitos huma­nos nos seus respectivos paises, bemcomo em outros, é essencial alcançara vitória absoluta sôbre seus inimigos;e convictos de que se acham atual­mente empenhados numa luto comumcontra fôrças selvagens e brutais queprocuram subjugar o mundo - ade­rem 00 programa de propósitos e prin­cipios incorporados Ó Corta do Atlân­tico. 1r

Comento, com muita propriedade, o Pro­fessor Jorge Americano, citado por limarPenna Marinho, na suo obro "Característi­cas Essenciois do Nôvo Direito Interna­cional":

"Certo, os Quatro princípios enunciadosno Corto do Atlôntico não constituempropriamente novidade, O homem vem,há longos séculos, pugnando pelo li­berdade de pensamento e de religião,que já tem lugar, como prerrogativareconhecido, no Direito Público, emtôdas os constituições nacionais queinserem uma declaração dos direitosdo homem. Vem pugnando, através daEconomia Pai itica, pelo estabelecimentode normas jurídicas assecuratórios dalibertação do penúria (Direito Social).

E vem pugnando, através da políticointernacional (Tratados de Arbitra­gem, Acôrdos Políticos), etc. e de umaextenso literatura, pelo estabelecimentodo paz no mundo. O que hó, entre­tanto, de fundamentalmente novo, noCarta do Atlõntico, não é o afirma­ção de princípios básicas do dignidadehumano. t: o transposição desses prin­cípios paro o plano internacional, poisforam afirmados, agora, já não no ar­dem interno de cada pais, mos emfoce de uma guerra mundíal, como ele­mentos bósicos para o paz mundia1."

A organizaçõo intemacional denominadade "Noções Unidas", cujo corto fundamen­tai foi assinado em 26 de junho de 1945,em São Francisco da Califórnia, nasceu 00­feiada pelas esperanças dos povos livres emum regime de paz, garantida por categoriasjurídicos, poro que os homens pOSsam vivera salvo do opressão e da miséria.

O preâmbulo de seu diplomo constitucio­nal é o consagração dos ideois democráticose das mais altos aspirações de liberdade e dejustiça.

Assim proclamo:

"Nós, os povos dos Nações Unidas, re­solvidos o preservar os gerações vin­douras do flagelo dos guerras que, porduas vezes, no espaço de nosso vida,trouxe sofrimentos indiziveis à huma­nídade, e o reafirmar o fé nas direitosfundamentais do homem, na dignidadee no valor do ser humano, no igual­dade de direita dos homens e dos mu­lheres, assim como das noções grandese pequenos; e o estabelecer condiçõessôbre as quais o justiça e o respeita ósobrigações decorrentes de Trotados ede outros fontes do Direito Internado­nol possam ser mantidos; e a promovero progresso social e melhores condi­cões de vida dentro de uma liberdade~ois ampla; e porCl hlis fins praticaro tolerância e viver em paz, uns comos outros, como bons vizinhos, e uniras nossas fôrças para manter o paz eo segurança internacionais, e o garan­tir, pelo aceitação de princípios, e o ins­tituição de métodos, que a fôrça ar·modo não será usado a nôo ser no in­teresse comum; a empregar um meca­nismo internacional poro promover oprogresso econômico e social de todosos povos. Resolvemos cClnjugarnossos esfor'lf0S poro Q consec u'lféio dosobjetivos,"

66 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Falando em nome de seus povos, e nãode seus governos ou de Estados, os repre­sentantes das Noções Unidos reafirmaram afé nas direitos fundamentais do homem, nosua dignidade como pessoa humano, assu­miram solenes compromissos de assegurar aliberdade na órbita in,ema e compromete­ram-se no criação de um órgão internacio­nal poro manter o paz, proscrevendo o usodo fôrça armada, o não ser no interessecomum, o fim de promover o progresso so­cial e melhores condições de vido,

Os propósitos dos Noções Unidos consa­gram os princípios generosos pelos quais fi­lósofos e estadistas vem se batendo no afãde garantir paro o humanidade uma exis­tência digno do condição do ser humano.

Nõo é, pois, nos seus objetivos ou nosfins o que se propõe realizar que se vão en­contrar os folhas e deficiências do nôvo or­ganismo in~ernaclonal, mos, principalmente,nos resíduos decorrentes do dogma do sobe­rania absoluta dos Estados e na preeminen­cio do direito da fôrça sóbre a fôrça do di­reito, Que a'lnda viC"lam o sistema dos Na­ções Unidas.

Apesar de dispor, no seu artigo 2,°, queo Organização é baseado no princípio daigualdade política de todos os seus mem­bros, já a Conselho de Segurança, que é oseu órgão executivo e cujos funções são asmais relevantes, é constituído permanente­mente por cinco grandes potências e maisseis outros membros, eleitos temporária­mente, pelo prazO de um o dois anos, dentreos demais Estados signatários.

De resto, esse não é o mal maior.

O vicio fundamental está no artigo 27,número 3, que dispóe ~ôbre os decisões doConselho de Segurança, mondando que elossejam tomados pelo voto afirmativo desete membros, pelo menos, inclusive osvotos de todos os membros permanentes.~ o célebre direito de veto, pelo qual umdos cinco Estados pode invalidar tôdas osdecisões, ainda aquelas proferidos pela uno­nimidade dos outros !:stados-membros.

É certo que a Corta não poderia realizar,desde logo, o milagre da igualdade pol iticadas noções associados e, por isso mesmo, opreceito deve ser encarado como fórmula detransação até que a O. N, U, ganhe pres­tígio e autoridade, definitivamente integra­do no patrimônio juridico dos povos civili­zados.

O mal não é, porém, irremediável. A so­luçóo, para ilidir-lhe os efeitos, está no co-

pítulo VII r, artigo 52, da Carta, Que admiteos Acôrdos Regionais, in verbis:

"Nada na presente Corto impede oexistência de acôrdos ou de entidadesregionais, destinados o trotar de as­suntos relativos Ó manutençóo da paze da segurança internacionais que fo­rem suscetíveis de uma ação regional,desde que tais acôrdos ou entidadesregionais e suas atividades sejam com­patíveis com os Propósitos e Princípiosdos Noções Unidas."

Foi êsse texto prov'ldencial da Corta dasN:lções Unidos que permitiu a Organizaçàodos Estados Americanos, firmada na IX Con­ferência Pon-Americana de Bogotá, o Pactodo Atlôntico Norte, alem de outrOs acôrdosregionais, da mesma finalidade.

v

Do regime de isolamento em que vive­ram, no passado, indiferentes à sorte deoutros povos, ainda que escravizados à maisbrutal dos tiranias, pelo respeito á não-in­tervenção, fruto das soberanias absolutas,passaram os Estados, <'través de pactos in­ternocionais, a suborclinar-se à comuni­dade das noções, com compromissos formaisde preservação do paz e salvaguarda dosdireitos da liberdade. Pouco a pouco, a Or­ganização dos Nações Unidos, com o em­brião de seus órgãos, legislativo e executi­vo, vai impondo autoridade em suas delibe­rações, algumas dos quais jó proferidos, comcaróter coercitivo, a Estados-membros queinfringiram os normaS institucionais.

O princípio de autodeterminação dos po­vos assento num pressuposto democrático:o da vontade popular, livremente manifes­tado, de dispor de seu próprio destino e deescolher o govêmo de sua preferência.Nunca serviró, porém, para justificar a im­plantação de ditaduras que negam os di­reitos fundamentais do homem e as catego­rias democráticos que informam o CartaConstitucional dos Noções Unidos.

De nosso porte, mais fócil estó sendo avida em comunhão internacional, integradosno grande corrente de pensamento de quesó o democracia, evoluído do conceito pri­mitivo de "liberdade do individuo contra odomínio do Estado, paro participaçõo do in­divíduo no poder do Estado", como observoKelsen, i1uminaró os caminhos da humani·dade nos dias futuros.

JUNHO - 1964 67

VI

No imenso forjo em que se elaboro o ar­cabouço de um mundo nôvo, 00 crepitor dosforno lhos onde desaparecem as velhos cons­truções, nõo há rUgar para pessimismo. Foisempre assinalado por lágrimas, suor e son­que a ."ia c:ruc:is da humanidade, no comi­nho do perfeição. Coda etapa foi conse-.guida com o sacrifício de gerações, otravésde mil vicissitudes. Per aspera od astral

A submissão dos Estados 00 primado dolei internacional, o respeito integral aos di­reitos ligados à dignidade do pessoa hu­mano, o livre acesso às matérias-primas eaos bens de produção, a consolidação deuma ordem econômica fundado na justiçasocial, deixaram de ser meras obstroções oudevaneio de sonhodor~s, para se imporem,como problemas objetivos, que não encon­tram solução nos círculos de ferrenhonacionalismo, aos artífices da Organiza­çõo Federativa dos Continentes, senõo domundo.

O Brasil nada tem a temer dessas novastendências e imperativos do Direito Inter­nacional. tle nasceu poro o vida de naçõosoberano sob a égide da democracia, CUiasentido marcou os movimentos nativistasque precederam suo independência. O pon-

americanismo como político de solidariedadecontinental, foi uma constante de suas re­l:Jçôes internacionais e resultou em patri­mônio que o Império legou à República. Aproscriçõo dos guerras de conquisto já erauma tendência espiritual de nossa gente,antes de ser escrito como texto inapelávelno nossa Carta Constitucional. O arbitra­mento, processo pacífico de solução de con­trovérsias, constituiu-se em norma de leiconstitucional e instrumento com o qual di­rimimos nossos dissídios fronteiriços. EmHaya, a Brasíf fêz-se paladino da igualdadejurídica dos nações, grandes ou pequenas,ricos ou pobres, e em Buenos Aires, pelamesmo voz oraculor, defendeu o conceito,a~é então repudiado, de que neutralidadenão pode ser imparcialidade entre o direitoe o crime, menos ainda, cumplicidade comas violações da legalidade internacional.

E, finalmente, nas duas grandes guerrasem que tôdas essas categorias morais, con­cepções e estilos de vida sofreram a provode fogo, pagamos tributo de sangue porasua defesa e pela sua vitória.

Felizes dos povos que podem transpor ospórticos da novo ero, fiéis 05 suas tradiçõeshistóricas e na plena consciência de seusgloriosos destinos!

Com o artigo "O Dogma da Soberania Absoluta e a Realidade Internacional",do Prol. Arthur Santos, a REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA inicia a pu­blicação de trabalhos de ex-Senadores.

Do nosso interesse em ter essa colaboração e da nossa satisfação em recebê-la,dirão os têrmos da carta que a solicitou:

"Brasília, 5 de março de 1964.

Eminente patrício.

De sua passagem pel.o Senado Federal, guardam os Anais da. Casa registros quenão poderão ser esquecidos, motivos que são, para toaos nós, de constante egrata evocação.Sobremaneira agra.dável nos seria reatar um convívio que nos assegurasse a per­manência da sua presença entre nós, através das lições do seu saber, da suaexperiência e do seu amor ao Brasil.tsse convívio, a "Revista de In/armação Legislativa", cujo primeiro númeroeste mesmo correio lhe entregará, está em condições de nos proporcionar.'Ê a sua aquiescencia nesse sentido que ~'enho pedir e que, por meu intermédio,lhe pedem os Senadores de hoje.Diga-nos, pois, quando poderemos começar a receber sua colaboração, que seráa continuaçã.o daqueles trabalhos que o Senado e o Pais lhe ficaram devendo,quando de sua passagem por esta Casa.Com a estima e o aprêço de sempre, o patrício e admirador,

AUllO MOURA ANDRADE."

O primeIro a atender ao pedIdo foi o Prof. Arthur Santos. Na representaçãodo Estado do Paraná pnmelro na Câmara dos Deputados <1934 a 1937), depois noS~ <1947 a 1951), e em seguIda not;amente na Cámat'a <1951 a 1955) -, S. Ex".deixou bem marcada .a .sua passagem pelo Congresso Nacwnal, quer como homem decultura e cultor do Dlrmto, quer como tribuno. Desde 1955, S. Ex". dirige a Carteira deCrédito Geral do Banco do Brasil. onde se revelou tão brilhante administrador como o/õra legislador.

68 REVISTA DE INFORMAÇÁO LEGISLATIVA

INQUE:RITOS

PARLAMENTARES

Dr. Joào d~ 01ll'âra ~ilho

Ex-Presidente do Instituto dosAdvogados Brasileiros

I

Resumo histórico sôbre ComissõesParlamentares de Inquérito

A primeira vez que se iIl5t1tuiu comissão Par­lamentar para investigar fatos que interessavam aoParlamento, foi em 1689, na Inglaterra (HALLAN"History of England", voI. III, p. 143). Já se co­nhecia a transformação de Câmara em comissãopara ouvir depoimentos e tomar informações dire­tas. Constituir, porém, seleta comissão de seusmembros, "select committees", para estudar deter­minado caso, foi novidade que a Guerra da Irlandatrouxe, e que veio a ser, no conceito de LASKY("Parliamentary Government in England", p. 152) ,uma das técnicas mais vitais que o sistema parla­mentar trouxe para a metodologia do govêrno re­presentativo.

O modo defeituoso, diz ANSON ("Loi et Prati­que Constitutionnelles de l'Anglaterre", p. 435), peloqual foi conduzida aquela guerra, fêz com que aCâmara dos Comuns nomeasse comissão de tal na­tureza para averiguar os fatos.

Desfavoráveis os resultados ao coronel Lundy,governador de Londonderry, a Cámara pediu à.Coroa a vinda do indiciado à Inglaterra para serjulgado por crime de traição.

:a:s&e direito de inquérito que, conforme ANSON(op. cit. e oó. IOC.l, veio a ter, depois, uso freqüente.não poderia, entretanto, ser exercido eficazmentesenão na medida em que os privilégios parlamen­tares conseguissem o comparecimento por meiocompulsório das testemunhas e, por meio tambémcompulsório, a exibição de documentos, livros etc,

As numerosas decisões sObre o assunto fonnamá história das comissões parlamentares de inquérito.constituem a jurisprudência parlamentar e Judiciá­ria sôbre o poder de investigar que compete ao Po­der Legislativo.

A exemplo da metrópole, as legislaturas colo­niais na América também formaram. algumas vê­zes, comissões de investigação. Proclamada sua ín­dependência em 1789, durante a Confederação e,depois, com a Federação, sob a Constituição atéagora vigente, multas comissões foram instituidas,nada obstante a Constituição ser omíssa sóbre odireito de qualquer Casa do Congresso poder criarcomissão para investigar fatos que Interessem aosseus membros.

Admitida a investigação pelo uso (HORWILL,"The Usages of the American Constitution", p. 119),a Suprema Córte dos Estados Unidos da América,no célebre caso McGRAIN vs. DAUGHERTY("Leading Consto Decisious", de CUSHMAN, P. 285).declarou que o poder de se assegurar informaçõespor meio de investigações ou quaiSquer outros, era,segundo a prática legislativa até então seguida,atributo do Poder Leg1SJativo, assim tendo sido tra­tado pelo Parlamento Britânico e pelas legislaturascoloniais antes da Revolução Americana. Acentuou

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Que, como tal, prevaleceu e veio sendopratIcado por ambas as Casas do Con­gresso e por muitas das legislaturas es­taduais.

Surgiram diversos incidentes, dando ori­gem aos diversos julgamentos da Supre­ma Côrte sôbre êsse meio eficaz de con­trôle do Poder Executivo pelo Poder Le­gislativo.

Na França, desde 1832, as Câmaras co­meçaram a nomear comissões de investi­gação, ora para averiguação de abus9s daadministração, ora para sindicâncias sôbreatos do Govêrno, ora sôbre a situação daagricultura, do comércio e da indústria.(EUG~E PIERRE, "Traité de Droit Po­litique Electoral et Parlamentaire" , n.O584,)

Dos inquéritos sôbre atos do Govêrnoou sóbre O funcionamento de tal ou qualserviço público, as Câmaras passaram aosinquéritos sôbre eleições irregularmentefeitas.

Foi somente em 23 de março de 1914 queuma lei veio dar às Câ.maras o direito denomearem comissões de inquérito, de­terminando-lhes os podêres. (DUGUIT,"Traité de DroU Constitutionnel", voI. IV,pág. 391.)

Adotado.s os inquéritos na Alemanha, na.Bélgica e em outros países euro~us, naAmérica do SUl vieram a ser praticados,largamente, na Argentina, desde 1872.(JORGE M. MAYER, "Las ComissionesParlamentarias de Investigación", 1936,p. 12.)

Admitida, no Brasü, pela Constituiçáo de1934, s6 para a Câmara dos Deputados, oparágrafo único do artigo 36 mandava Quese aplicassem nesses inquéritos as normasdo processo penal indicadas no RegimentoInterno.

Com a inclusão do Senado e com a subs­tituição da disposição dêsse parágrafo poroutra, istO é, a de que na organização des­sas comissões se observará o critério esta­belecido no parágrafo único do art. 40 ­"assegurar-se-á tanto quanto possível arepresentação proporcional dos partidosnacionais que participem das respectivasCâmaras" -, o dispositivo sôbre as comis­sões de inquérito fícou o seguinte: - "ACâmara dos Deputados e o Senado Federalcriarão comJssôes de inquérito sôbre fatodeterminado, sempre Que o requerer umtêrço dos ,seus membros,"

Lei especial, a de n.O 1.579, de 18 de maiode 1952, veio dispor sôbre as Comissões deInquérito.

Vamos reproduzi-la para, a seguir, verifi­carmos quais os casos Que ela resolveu,quais as omisSÕes e como deverão estas serresolvidas.

As Comissões Parlamentares de Inquéri­to. criadas na forma do artigo 53 da Cons­titUição Federal, terão ampla ação nas pes­qUisas destinadas a apurar os fatos deter­minados Que derem origem à sua forma­ção. (Art. 1.°,)

A criação de Comissão Parlamentar deInquérito dependerá de deliberação plená­ria, se não fór determinada pelo têrçoda totalidade dos membros da Câmara dosDeputados ou do Senado. (Par. único doart. 1.0.)

No exercício de suas atribuições. poderãoas Comissões Parlamentares de Inquéritodeterminar as diligências que reputaremnecessárias e requerer a convocação de Mi­nistro de Estado, tomar o depoimento dequaisquer autoridades federais, estaduais oumunicipais, OUvir os indiciados, inquirirtestemunhas sob compromisso, requisitar,de repartições públicas e autarquias, infor­mações e documentos, e transportar-se aoslugares onde se f.lzer mister a sua presença.(Art. 2.°.)

Indiciados e testemUnhas serão intima­dos de acõrdo com as prescrições estabele­cidas na legislação penal. <Art. 3.°,)

Em caso de não-comparecimento da tes­temunha sem motivo Justificado. a sua in­timaçáo será solicitada ao juiz criminal dalocalidade em que resida ou se encontre, naforma do artigo 218 do Código de ProcessoPenal. (Par. único do art. 3.°.)

Constitui crime (art. 4.°);

Impedir, ou. tentar impedir, medianteviolência, ameaças ou assuadas, o regularfuncionamento de Comissão Parlamentarde Inquérito, ou o livre exercício das atri­buições de qualquer dos seus membros.Pena - a do art. 329 do Código Penal.(N.o 1 do art. 4.°,)

Fazer afirmação falsa. ou negar ou ca­lar a verdade como testemunha, perito.tradutor ou intérprete, perante a ComissãoParlamentar de Inquérito. Pena - a doartigo 342 do Código Penal. (N.o Ir doart. 4.°.)

As Comissões Parlamentares de Inquéri­to apresentarão relatório de seus trabalhosà. respectiva Câmara, concluindo por pro­jeto de resolução. (Art. 5.°.)

Se forem diversos os fatos objeto do in­Quêrito, a Comissão dirá em separado, sô­bre cada um, podendo fa.zê-Io antes mesmode finda a investigação dos demais. (§ 1.0do art. 5.°.)

70 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

A incumbência da Comissão Parlamentarde Inquérito termina com a sessão legisla­tiva em qUe tiver sido outorgada, salvo de­liberação da respectiva Câmara, prorro­gando-a dentro da legislatura em curso.(§ 2.° do art. 5.°.)

O processo e a instrução dos inquéritosobedecerão ao que prescreve esta lei, e, noque lhes fôr aplicável, às normas do pro­cesso penal. CArt. 6.°.)

Esta lei entrou em vigor na data de suapublicação, revogadas as disposições emcontrário. (Art. 'r.o,)

Numerosas Comissões de Inquérito foramnomeadas. A que mais rumor produziu foia constituida para apurar os empréstimosobtidos pelo jornal "última Hora" noBanco do Brasil, ensejando incidentes queforam resolvidos pelo Poder Judiciário.

Não tendo a Lei n.o 1.579, de 18 de maiode 1952, feito referência às Comissões deInquérito das Assembléias Legislativas dosEstadoo e das Câmaras Municlpais, {oiapresentado um projeto de lei sõbre o as­sunto. Tomou o n.O 3.507, sendo seu autor oDeputado Herbert Levy. Submete as Co­missões de Inquérito. criadas pelas Assem­bléias Legislativas Estaduais ou pelas Câ­maras Municipais, ao disposto na Lei n."1.579, de 18 de maio de 1952, que regula ofuncionamento das Comissões Parlamenta­res de Inquérito.

As Comissões de Inquérita, criadas pelasAssembléias Legislativas dos Estados ou pe­las Câmaras Municipais, por deliberaçãoplenária, se não forem determinadas pelotérço da totalldade de seus membros, apli­car-se-ão, nos respectivos Estados ou Mu­niclpios, os dispositivos da Lei n.O 1.579, de18 de maio de 1952. (Art. 1.0.)

Quando os relatórios. quer das ComissõesParlamentares de Inquérito. quer das AJ;­

sembléias Legislativas, quer das CâmarasMunicipais, concluírem pela prática de atosprevistos e punidos como crimes pelas leispen8.1s, serão ll.presentados em duas vill-S,sendo uma encaminhada, conforme o caso,ao Procurador-Geral da República, ao Pro­curador-Geral do Estado ou ao PromotorPúblico da· Comarca, para o inicio da açãopenal. <Art. 2.0,)

Não apresentada a denúncia dentro detrês meses, caberá a iniciativa da ação pe­nal a qualquer cidadão no gôzo de direitospolftícos comprovado por titulo eleitoral.(Art. 3.°.)

II

o direito de o Congresso investigar

Acha-se implícito no poder de legislar odireito que Qualquer Casa do Congressotem de investigar fatos determinados.

Regra geral, que deriva da coexistênciahumana, julgada necessária ou convenientepara sua subsistência, nos têrmos em quea maioria deseja, a lei se justifica comolegitima e justa, qUlJDdo se baseia em fatosverificados pela observação.

Um legislador pode, com efeito, apreen­der certa situação de fato a ser reguladapor lei. Entretanto, fatos existem que so­mente por meio de investigação mais am­pla podem ser compreendidos na sua justamedida, influência. repercussão.

Os fatos econômicos são dessa natureza.O câmbio, a importação, a exportação, emQue medidas, ou em que condições produ­zem bem ao Pais e em que circunstânciasproduzem mal. Sem dúvida que existempessoas que podem surpreender a detur­pação dêsses fatos. Investigação, porém,ampla, em tôrno do caso, pode esclarecer oque está oculto e com manobras diversasproduzindo seus danosos efeitos.

A Suprema Côrte dos Estados Unidos.no caso McGRAIN vs. DAUGHERTY em1927, disse, com justeza, que na atual prã.t1­ca legislativa o poder de colhêr seguras in­formações por meio de depoimentos e do­cumentas, compulsõriamente conseguidospara o fim de poder o Legislativo exercersua função avisada e efetivamente, tem si­do considerado atributo do poder de le­gislar.

A ciência do Direito, escrevia PEDROLESSA ("Filosofia do Direito", p. 316), es­tuda a necessidade social da coexistênciaharmônica das liberdades individuais, doeqUllibrio das liberdades individuais. Ainvestigação, dizia, das leis a que está su­jeito o fenômeno social - a restrição dasatividades - precisa ser feita, tendo-se ematenção as condições de vida e progressoda Sociedade e de seus membros. A inves­tigação, nesses têrmos, continuava o pre­claro jurisconsulto, é a única que intere5lla,é a base da ciência que pode inspirar aformulação de normas jurídicas conveni­entes, porque conforme à natureza huma­na, individual e socialmente considerada.

A doutrina que - acentuava Pedro Les­sa -, para a formUlação das limitações dasatividades, abstrai das condições de con­servação e progresso da sociedade e seusmembros, é um formalismo vazio, em quese podem vazar todos os preconceitos, todos

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os erros, todos os caprichos do despotismode um homem, despotismo que é ainda maisperigoso. quando das multidões.

O Direito se ocupa com a restrição dasatividades sob o aspecto da conservação eprogresso da sooiedade e do indivíduo. Seo direito é um conjunto de regras, que de­vem traduzir, sob a forma de preceitos ar­tísticos. verdades científicas, o melhor ór­gão revelador do Direito é a lei. Em tese,o poder legislativo, composto dos eleitos danação, tem mais competência do que o con­junto dos cidadãos para a árdua tarefa.<PEDRO LESSA, op. cito p. 405,)

O estudo da formação dos usos e costu­mes. em suma, feito pelos melhores histo­riadores e jurisconsultos, que se aproveita­ram dos dados ministrados pelas mais pro­fundas investigações contemporâneas, pa­tentou, irrefragàvelmente, a completa una­nimidade das doutrinas dos glosadores epós-glosadores, que fundavam o direitocostumeiro na convenção tácita dos mem­bros de uma nação. (Op. cito pg. 413,)

A formulação das normas juridicas nãoé uma tarefa do empirismo. mas um tra­balho cientifico. Não basta pesquisar isola­damente, e no momento de formular cadanorma, ou de criar cada instituição jurídi­ca, as verdades particulares que devem ser­vir de molde à regra de Direito. Importaelevar-se aoo princípios. às verdades geraisfundamentais. (Op. cit: pg. 472,)

Direito é a ciência que tem por objetoo conjunto orgânico das condições de vidae desenvolvimento do individuo e da socie­dade, dependentes da vontade humana, eque é necessário sejam garantidas pelafôrça coercitiva do Estado. (Op. cito p. 86.)

Se quisermos precisar a natureza dos fa­tos sociais. que constituem o objeto daciência da política, ou de cuja observaçãoe comparação se induziram as verdades ge­rais da politica, seremos forçados a con­clUir, diante do que ensina a história e aobservação direta dos fenômenos, que sãodo dominio da política os fat;oo sociais emcUja produção é dado intervir, modificando­os, aos dois podêres públicos. o legislativoe o executivo. Estudam-se tais fatos, parase lhes conhecerem as leis, e c:om estas sefornecer ao estadista indicações que o au­torizam a modificar-lhes a produção, ad1rigi-la, em benefício da sociedade. (Op.clt. pg. 153.)

O Poder de nomear comissões, dizBLACK ("Constitutional Law", ChapterXIII, § 136). e definir suas atribuições parainVestigar, é derivado de expressa disposi­ção ou de necessária decorrência das cons­tituições.

A questão, portanto, relativa ao direitode investigar que os legisladores têm, quersejam do Congresso Federal, das CâmarasEstaduais ou das Câmaras Municipais, nãoé posta em dúvida, por sua evidência. Asquestões marginais que surgiram em tôrnodesse direito se referem ao poder coerciti­vo que essas CâmarRl!. ou as Comissões porelas nomeadas, tenham para conseguir asinformações necessárias ao seu objetivo.

O Poder Legislativo. porém. quer sejafederal, estadual ou municipal, usa do po­der de investigar com os meios que a leilhe dê ou com os meios que o Judiciáriolhe reconheça legitimos para usar, na au­sência da lei.

São dois, conseguintemente, os proble­mas que existem no poder de investigar,- o primeiro, da sua legitimidade, o se­gundo, o da sua eficiência. Aquêle nãodepende da lei ou da jurisprudência, poisestá implícito no poder de legislar; o se­gundo depende da lei ou da jurisprudência,pois está em relação com as prerrogativasque a lei dê às Casas do poder legislativofederal, estadual ou municipal.

III

Os fatos investigáveis

São investigáveis todos os fatos que pos­sam ser objeto de legislação, de delibera­ção, de contrôle, de fiscalização, por partede quaisquer órgãos do Poder Legislativofederal, estadual ou municipal.

Não são fatos investigáveis pelo Congres­so aqueles qUe sejam criminosos, salvoquando estejam sujeitos à sua competênciaj urisdiciona].

O Poder Legislativo não tem o direitojurisdicional de decidir, impor penas, apli­car leis. Tem o direito de verificar tudoquanto ocorra no Pais e que possa inflUirnas suas iniciativas de legislador.

Além dessa 1imitação. de ordem geral,hâ delimitações de ordem especial. A Cons­tituição limita, com efeito, os podêres decada Casa do Poder Legislativo.

Limitação especial é a que ocorre comcompetência privativa de uma das Câma­ras do Congresso.

Competem ao Congresso Nacional diver­sas atribuições (art. 65 e art. 66, da Cons­tituição). Privativamente, porém, algunscasos competem à Câ.mara dos Deputados(art. 59 da ConstitUição). Privativamente,outros são da atribuição do S~nado

(art. 62).Fora da competência cumulativa de am­

bas as Casas do Congresso e fora da com­petência de cada Casa do poder Legisla­tivo, qualquer fato emergente escapa do

72 REVISTA DE I"'FORMAÇÃO LEGISLATIVA

âmbito de seu poder de investigação pormeios compulsórios. Investigação compul­sória é a que obriga o comparecimentode testemunhas ou impõe exibição de do­cumentos.

Poder Legislativo investigador e poderLegislativo legislador são hoje dUM mani­festações distintas do Poder Legislativo.Talvez, mesmo, o congresso investigadortenha adquirida maior significação que olegislador. (ROBERT K. CARR e outros,"American Democ. in Theory and Pratice".1951, p. 335) Nos Estados Unidos o Con­gresso tem realizado uma série de espeta­culares investi.gações, iOll8.t\do 1\17. sôbTevariedade de assuntos do mais alto inte­rêsse para o público. Ordinàrlamente, dizemêsses autores, o têrmo "investigação" é usa­do para se referir a especial estudo de par­ticular problema ordenado pelo Congresso,distinto das investigações de rotina que ascomissões permanentes fazem por sua pró­pria iniciativa.

Sóbre educação, sóbre condições das fá­bricas, sóbre leis relativas A pobreza, sóbremecanismo do govêrno, sóbre reorganizaçãodas fôrças armadas, sôbre limites dos po­dêres dos ministros, sôbre princípios con­cernentes A taxação, as investigaçóes têmprofundamente afetado os contornos da po­lítica. (LASKY, op. cito pg. 152.)

Não importa que o fato esteja relaciona­do com determinados indivíduos ou comdeterminadas emprêsas de ordem privada.

O CongreSllo não tem um poder geral defazer inquéritos sôbre alguns ou sôbre to­dos os negócios privados dos cidadãOS(MATHEWS, "American ConstitutionalSystem", p. 108). "There exists a strongtemptation to transcend the proper limitsof a public inqUire and a great dispositionto enter the domain of prlvate life. Thedoar is open to an indefinlte search afterevidence; and the suspension of the usualrules of evidence and of judicial procedu­re has often transformed the legislativecommitee into a tribunal of inquisition."(George B. Galloway, "Investigations Go­vernmental", in "Enc. of the Social Scien­ces", vol. IV, pg. 251 a 259.) Relacionado,porém, que algum negócio particular estejacom tôda e qualquer forma de abuso dopoder econômico, inclusive, nos termos doart. 148 da Constituição, as uniões oUagrupamentos de emprêsas individuais ousociais, seja qual fôr a sua natureza, e quetenham por fim dominar OS mercados na­cionais, eliminar a concorrência e aumen­tar arbitrAriamente os lucros, sôbre êssesnegócios privadO/> a Câmara ou o Senado

podem estabelecer comissões de Investiga­ção ou de inquérito, já que é função da leireprimi-las.

Trate-se de fato relacionado com o pú­blico, em geral, trate-se de fato relacio­nado com alguma peSlloa, em particular,desde que incida sóbre o âmbito da legis­lação, do contrôle, da fiscalização, da apro­vação. do julgamento das duas Câmaras oude uma delas, é fato investigável por co­missão de inquérito, pois, como julgou aC6rte Suprema dos Estados Unidos nocaso McGRAIN vs. DAUGHERTY, "o po­der de inquirir com processo de compul­são é e~n.cl.a\ e 'ol.>n:~pti.~~ 'iI.\lxl.\i'il.l dafunção legislativa." (MATHEWS, op. cit.p. 109.)

IV

o caráter das investigações parlamentares

As investigações parlamentares não têm,porém, caráter judiciário, não servem parajulgar, não servem para fundamentar pro­ceSllo por crime comum ou de responsabi­lidade. salvo quando se trate de compe­tência da Câmara dos Deputados. paradenunciar, e do Senado, para julgar oscrimes de responsabilidade. As investiga­ções são instrumentos pa.ra qualquer -câ­mara supervisionar, inspecionar, averi­guar, invesUga.r qualquer fato determina­do que tenha relação com a função quea Câmara tem de deliberar por Resoluçãoou Lei. O prinCÍpio da separação dosP?dêres não permite que as invesUga­çoes parlamentares se dirijam à apuraçãode determinada culpabilidade, salvo quan­to à Câmara dos Deputados e quanto aoSenado, com relação aos crimes de res­ponsabilidade e os Ministros de Estado noscrimes da mesma natureza conexos comos daquele, como processa.r e julgar MI­nistros do Supremo Tribunal Federal e oProcurador Geral da República, nos crimesde responsabilidade.

1!: incorreção da Lei n.o 1.579, de 18 demaio de 1952, referir-se a indiciado, como ofêz no art. 2.°, - "ouvir indiciados", ouno artigo 3.°, - "indiciadO/> e testemu­nhas".

No momento em que há indiciado de cri­me comum ou de responsabilidade, salvoos casos de competência do Senado, oprosseguimento de qualquer investigaçãoinvade a zona do Poder Judiciário.

A investigação de fato, porém, sem in­tuito indiciário algum, mesmo que se acheele em investigação polic1a1 ou judiCiária,pode ser feita, paralelamente, pelas Câ­maras, pois ambas as investigações terão

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objetivos diferentes, aquela visando averi­guar o fato para servir ao seu objetivo delegislar. ao passo que o inquérito policial oujudiciário visa a culpa, para servir de baseà. imputação e julgamento.

As Câmaras não são obrigadas, escrevePIERRE (op. cito n.o 585), a esperar que umjulgamento venha a ser definitivo para en­trar na investigação do fato, mesmo Quan­do êste chegue ao seu conhecimento pelorelatório dos debates de algum processo­crime.

Nenhuma investigação parlamentar pode,por conseguinte, a não ser nos casos decompetência para jUlgamento do Senado,ter objetivo penal.

Por isso, terminada a investigação, sedela constar a existência de algum crime,as Câmara.s não podem determinar que seenviem cópias autênticas dos depoimentose dos papéis ao Ministério Público.

A Pol1cia, ex ollido, ou o Ministério PÚ­blico, é que podem, baseados no relatóriopublicado, iniciar procedimento criminalcontra os indiciados de qualquer crime, naforma constante do inquérito.

Se qualquer das Câmaras enviar, oficial­mente, cópia do inquérito, ficará patenteque seu intuito foi o de apurar CUlpabili­dade de alguém em crime de qualquer na­tureza, O que lhe é vedado.

A Comissão, pois, não pode concluir pelaexistência ou pela caracterização de algumcrime, pois essa não é sua função, invadin­do, caso o faça, a competência de outropoder, o Poder Judiciário.

O poder de investigar, diz DUGUlT("Traité" vol. 4, p. 394), deriva do poder decontrôle. Não pode ter maior extensão queêste. Atendendo-se rigorosamente a êsseprincipio, resolvem-se fàcilmente tôdas asdificuldades que se apresentam sôbre o pa­pel e os podêres das com~s de inquê­rito.

Uma Câmara, escreve DUGUIT, podeperfeitamente nomear uma comissão de in­quérito encarregada de examinar como fun­ciona um serviço judiciário, que é um ser­viço público. Mas essa comissão de inqué­rito não poderá praticar nenhum ato denatureza judiciária, não poderá dirigir ne­nhuma injunção aos magistrados. não po­derá tocar em qualquer deliberação judiciá­ria.

O aspecto da investigação tem relevân­cia sôbre o dever das testemunhas. Desdeque o inquérito tem Dor finalidade ajudaro legislador, a testemunha pode recUSar-sea depor Sóbre alguma questão que não sej aconcernente a êsse fim (MATHEWS, op.cit. noto 3, p. 109) .

A investigação ordenada por uma Casado Congresso para o mero fim de descobrircertos fatos, ou por fins políticos, não co­nexos com alguma pretendida lei ou algu­ma matéria sôbre a qual a Câmara possaagir, não é procedimento legislativo, e atestemunha não pode ser compelida a com­parecer e a responder a tais questões.<BLACK, op. cito § 136).

Deve ser lembrado. outrossim, que ésempre privilégio da pessoa escusar-se deresponder a questões, cujas respostas pos­sam incriminá-la ou fornecer indicio de evi­dência criminal contra ela. (BLACK, ap.cito § 136),

Supervisor. inspecionador, averiguador.investigador, qualquer dessas funções fazparte das atribuições do Congresso, desde,porém, que o fato determinado esteja re­lacionado com o objetivo de qualquer re­solução ou lei do Congresso.

Com relação ao Poder Executivo, a in­vestigação parlamentar pode ser feita comatinência a qualquer fato determinado,desde, porém. que não entre no campo decompetência daquele Poder.

Os podêres dos Comuns de criticar osatos do Executivo e de obrigar os ministrosàs contas, não devem ser confundidos coma ingerência direta nos atos do Executivo.ingerência que resultaria, naturalmente, deinvestigações que o Congresso viesse a fa­zer sôbre os negócios com relação aos quaisos Ministros estejam em vias de se ocupa­rem. (ANSON, op. cito p. 438).

O modo pelo qual, porém, o Executivoexecuta a lei. pode ser investigado pelasCâmaras. (BEARD, "American Govern­ments and Politics", p. 125) .

A teoria da separação dos podêres nãosignifica que em um momento em que umarepartiçâo ou um serviço seja criado, fiqueêle tão-somente subordinado ao Presidentee emancipado de qualquer fiscalização doCongresso. Não tem sentido dizer que oCongresso pode, à sua vontade, organizar eextinguir departamentos e serviços, e nãopossa investigar ou inquirir sõbre suas ope­rações. (BEARD op. cito p. 126)'.

A investigação pode ser necessária e po­de ser conveniente. Não é essencial, pois,que seja necessária à legislação. (ROBERTC. KARR e outros, op. cito p. 336) .

v

Espécies de Investigações

Os fatos determinados podem ser de na­tureza legislativa, eleitoral. política. Os deordem política podem se referir ao contrôle

74 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA-~~~~~--

das Câmaras sôbre a marcha do govêrnoou ao preparo de elementos para a denún­cia de crimes de responsabilidade,

l!: a classificação de ARNITZ ("Les En­quêtes Parlementaires d'Ordre Polítique",p. 11-21).

Il: a mesma classificação de DUGUlT (op,cito vaI. 4, p. 390),

DIMOCK. em sua muito citada obra.classifica as comissões investigadoras emtrês categorias: as que se referem aos mem­bros do Congresso (eleições. conduta. vio­lação de Imunidades); as que têm finsrelativos a qUelitões de interêsse público(emprêsas de utilidade pública, "trusts",greves, sedições. funcíonamento de organis­mos especiais); as que vigiam o PoderExecutivo. as que investigam suas finanças.as denúncias que possam dar um juizo po­lítico, a conduta e 9-té a política do Po­der Executivo. e a correção das eleiçõespresidenciais.

MAYER (op. cit. p. 16), pondera que seessas classificações são úteis para catalo­gar as comissões. para estabelecer com quefins são nomeadas, e para buso::ar mais fà­cilmente seus antecedentes. não servem,entretanto, para solucionar as dificuldadeslegais que originam seus trabalhos.

Sugere êsse autor que se classifiquem ascomissões de inquérito em comiSSões inves­tigadoras governativas e comissões investi­gadoras particulares, segundo as investi­gações se realizem em departamentos go­vernamentais ou em emprêsas particulares.

De acôrdo com nossa Constituição, ascomissões de inquérito poderão ser sôbrefatos de ordem pública e politica e sôbreordem econõmica e social.

De ordem pública, com relação aos fatosQue devam originar leis ou resoluções doPoder Legislativo; de ordem política, quan A

to aos seus membros e resp1!Ctivos direitOll,quanto às pessoas sôbre as quais tenhamatribuição jurisdicional de julgamento po~

lítico; de ordem econômica. com relação àintervenção da União no dominio econôAmico e na repressão do abuso do poder eco­nômico; de ordem social, quanto às profis­sões. oU ao trabalho, à familia, à educaçãoe cultura.

VI

Pessoas que podem e que não podemser convocadas

Os principios da independência dos Po~

dêres e os da não-intervenção nos Estadose Municipios impedem, o primeiro, que asComissôes de Inquérito intimem o Presi~

dente da Repilblica, o Vice-Presidente da

República, os funcionários federais a.dml~

nistrativos ou Subordinados à Presidênciada Repilblica, o Presidente do SupremoTribunal Federal e dos demais TribunaisFederais. os seus Ministros e Juizes, fun­cionárlOll da Justiça; o segundo, OS Oo~

vernadores de Estados, seus Secretários,funcionários estaduais, desembargadores.juizes, órgãos do Ministério Público, depu­tados, iuncionárioo das Assembléias Legis­lativas, Prefeitos e funcionários munici­pais.

O "Chie! Justice" da Suprema Côrte dosEstados Unidos, citado para depor, es­cusou-se, alegando o principio da separa­ração de podêres, declarando, porém, queestaria disposto a considerar, por escrito.perguntas que, porventura, lhe {óssemfeitas.

Somente permitida a intervenção federalnos casos e na forma específicados 'noart. 7.Q da Constituição Federal, não po­dem, outrossim, os Estados intervir nosMuniCÍpios, senão nos casos estatuídos naConstituição, art. 23.

'= natural êsse fato nas federações. Nasfederações os seus membros são autôno­mos. Reúnem-se sob um govêrno comum econcedem a êsse govêrno algUmas atri­buições. Constituem estas a competênciada União. A União, porém, pelo seU 00­vêrno Federal não pode intervir nos Esta­dos senão, atualmente, para manter a in­tegridade nacional, repelir invasão estran­geira ou a de um Estado em outro, pondotêrmo à guerra civil, garantir o livre exer­cicio de qualquer dos podêres estaduais,assegurar a execução de ordem ou decisãojudiciMia. reorganizar as finanças do EsAtado que, sem motivo de fôrça maior, sUSApender, por mais de dois anos consecutlv·os,o serviÇO da sua dívida externa fundada,assegurar a observância dos princlpios daforma republicana representativa, lnde~

pendência e harmonia dos podêres, tem·porariedade das funções eletivas, limitadati. duração destas à das funções federaiscorrespondentes, proibição da reeleição degovernadores e prefeitos para o períodoimediato, autonomia municipal. prestaçãode contas da administração. garantias doPoder Judiciário.

Decretada a intervenção por lei federal,em uns casos, em outrOll por decreto doPresidente da República, submetendo-a,quando não seja requisitada pelo SupremoTribunal Federal ou pelo Tribunal Supe­rior Eleitoral. à aprovação do CongressoNacional, não é possivel admitir-se Que aintervenção da União se faça, nos Estados,

JUNHO - 1964 75

por meio de alguma Comissão de Inquéritoeleita por alguma Casa do Congresso Na­cional.

Pode a Comissão de Inquérito intimarcidadãos residentes nos Estados para viremprestar seus depoimentos perante a Comis­são na Capital Federal, ou para onde elase locomover.

Não podem os Estados ou os Municípiosimpedir que M Comissões de Inquéritoexerçam suas funções dentro dos respectl~

vos territórios. :t que a União compreendeos Estados, o Distrito Federal e os Terri­tórios. Poder da União, o Congresso Na­cional, em qualquer local do território na­cional pode, êle ou sUas comissões, exercersuas funções. Não pode, porém, interferirna administração dos Estados e dos Mu­nicípios, e interferência será se pretenderouvir autoridades estaduais e municipaissóbre fatos determínados ocorridos nos Es­tados ou nos Municipios em que as auto­ridades não tenham, ou tenham tomadodeliberações.

O artigo 53 da Constituição, em que sedispõe que a Câmara dos Deputados e oSenado Federal criarão Comissões de In­quérito sõbre fato determinado. sempreque o requerer um têrço dos seus mem­bros, não ultrapassa a competência do Po­der Legislativo da União, não dá a taiscomissões poder absoluto de pesquisa sóbretudo e sóbre todos, nem poder de coerçãosôbre todos, cidadãos e autoridades, mem­bros dos podêres estaduais e respectivosfuncionârios, órgãos da administração mu­nicipllJ e respectivos funcionários.

O fato determinado, sôbre o qual a Co­missão de Inquérito possa inquirir pessoas,sob comparecimento coercitivo, é o queesteja dentro das atribuições da Câmarados Deputados ou do senado para servirde base à legislação, ao seu contrôle, à suaaprovação, ou à sua desaprovação.

Nos Estados Unidos o principio da sepa­ração dos podêres se estende aos que dei­xam o exercício dos cargos. Não se tratade imunidade de pessoa, mas de imunidadedas funções, que as pessoas não podemdela se despojar, nem quando exercem oscargos, nem quando deles se retiram. Atransitoriedade das pessoas não importaem se seccionar de urna em uma a inde­pendência dos podêres, de que elas foramdetentoras. o compromisso, que assumem,do cumprimento dos seus deveres, projeta­se lIJém do término das sUas funções. Se,como o Presidente Buchanan declarava.cada Presidente tem o dever de fazer comque "nunca sejam víolados em sua pes-

soa" os direitos e prerrogativas na exe­cução do seu mandato, mas "passá-los aseu sucessor inalterados por algum prece.,dente perigooo", admitir que depois de ter­minado o mandato pudesse o ex-mandatá­rio ser compelido a publicar aquilo que,como Presidente, não o estava, será que­brar O principio do segrêdo de Estado,que, como o segrêdo profissional, só pOdeser quebrado sob a responsabilidade doseu detentor, sem coação de quem querqUe seja. O perjúrio é impulso natural, ainquisição será o resultado de uma fra­queza ante os sofrimentos.

O eX-Presidente Truman, nos EstadosUnidos, sustentou que "se tem algum va­lor a doutrina da separação dos Podêrese a independência da Presidência, deve serigualmente aplicável a um Presidente de­pOis de cumprido seu mandato. quando setrata de interrogá-lo sôbre atos ocorridosdurante sua Presidência".

A doutrina assim sustentada está ex­pressa em uma carta ao Presidente daComissão:

"Apesar de meu desejo pessoal de coope­rar com sua Comissão - disse o eX-Pre­siàente Truman -, vejo-me obrigado, pormeu dever para com o pOvo dos EstadosUnidos, a declinar do cumprimento daintimação."Ao fazê-lo, cumpro com as estipulaçõesda Constituição dos Estados Unidos esigo uma longa linha de precedentes, quecomeça com o próprio George Washin­gton, em 1796."Desde essa data, os Presidentes Jeffer­son, Monroe. Jackson, Tyler, Polk, Fil1­more, Buchanan. Lincoln, Grant, Haves,Cleveland, Theodore Roosevelt, Coolidge,Hoover e Franklin D. Roosevelt se nega­ram a atender as intimações ou os pedi­dos de informação de vários tipos, peloCongresso."A razão que fundamenta esta dou­trina constitucional, claramente estabe­lecida e universalmente reconhecida. foiapresentada sucintamente pelo ProfessorCharles Warren, uma de nossas princi­pais autoridades constitucionais, da ma­neira seguinte:

"Nesta longa serle de lutas do PoderExecutivo pata manter sua integridadeconstitucional, tiramos uma conclusãolegítima de nossa teoria de govêrno ...Sob nossa Constituição, cada ramo doGovêrno está destinado a ser um re­presentante, coordenado, da vontade do

76 REVISTA DE INFORMAÇÃO lEGISLATIVA

povo... A defesa de seus direitos cons­titucionais pelo Poder Executivo se con­verte. portanto. e em verdade, na de­fesa d05 direitos populares', defesa dasfaculdades Que o povo lhe conferiu."Foi neste sentido que o PresidenteCleveland falou de seu dever para como povo; o dever de não renunciar anenhuma das faculdades de seu grandecargo. 40 mesmo se refeJ1a o Presiden­te Buchanan quando declarou que opovo tem direitos e prerrogativas naexecução de seu mandato pelo Presi­dente, e cada Presidente tem o deverde fazer com "que nunca sejam viola­dos em sua pessoa" mas "passá-los aseu sucessor inalterados por algum pre­cedente perigoso"."Ao manter seus direitos contra umCongresso que excede os limites desua competência, o Presidente não serepresenta. a si mesmo, mas o povo."O presidente Jackson repeliU umatentativa do Congresso de anular a se­paraçã.o dos podêres, com estas pala­vras:

"Quanto a mim, repelirei tódas astentativas dêsse gênero como atenta­dos contra a justiça, assim comocontra a Constituição, e estimareique é meu sagrado dever para como povo dos Estados Unidos resistir,como resistiria ao estabelecimentoda inquisiçáo espanhola."

"Poderia recomendar-lhe - continuouTruman - a leitura da opinião de umad~s comissões da Câmara dos Deputados,de 1879, relatório 141, datado de 3 demarço de 1879, 45,0 Congresso, 3,a Sessão,no qual li Comissão de Justiça da Câmaradisse o seguinte:

"O Poder Executivo é independentede cada uma das Câmaras do congres­so, como cada Câmara do Congresso éindependente do Executivo, e aquelesnâo podem exigir os arquivos da açãodeste, nem tampouco de seus funcio­nários. contra seu consentimento, talcomo O Poder Executivo não pode pe­dir nenhum dos arquivos ou as atasda Câmara OU do Senado."

"Otwe ser óbvio para você, pois. Que, setem algum valor a doutrina da separa­ção dos podêres e da independência daPresidência, deve ser igUalmente aplicá­vel a um Presidente depois de cumprido

seu mandato, quando se trata de inter­rogá-lo sõbre atos ocorridos durante suapresidência. A doutrina se esboroaria e oPres~dente, contràriamente à nossa teoriabãsica do govêrno constitucional, se con~

verteria em um mero braço dos ramoslegislativos do Govêrno, se soubesse queao fim de seU mandato cada um de seusatos poderia estar sujeito a uma inves­tigação oficial e a uma possivel deforma~

ção, para servir a propósitos políticos."Não obstante, se sua intenção é inves­tigar meus atos como individuo, seja &.n­tes ou depois de minha presidência, des­de que não estejam relacionad05 com ne­nhum de meus atos como Presidente, comprazer comparecerei ante sua Comissão,Sinceramente a) HarT'Y S. Truman,"

o caso do Presidente Buchanan se refe­ria ao protesto que fêz, dirigido à Câmarados Deputados. Votara esta uma resolU­ção, nomeando uma comissão de cincomembros, para investigar se o Presidenteou algum alto funcionário do Govêrno te­ria, por dinheiro, sinecuras, ou por qUal~

quer outro melo impróprIo, exercido in­fluência sõbre a ação do Congresso ousôbre alguma comissão para ou contra apassagem de alguma lei relativamente aosdireitos de alguns Estados ou Territó­rios.

Excetuado o caso singular, dizia êle, emseu Protesto de 28 de março de 1860, diri­gido à Câmara dos Deputados, do "1m­peachment", em nenhum outro a Consti­tuição investiu a Câmara dos Deputadoscom poder, jurisdição, ou supremacia s:>breo Presidente.

Não protestava em virtude de razõespessoais relativamente a êle próprio, Pre­sidente, mas pela razão de ser violação dosdireitos de um hannõnico executivo Tamodo Govêrno, e subversivo de sua constitu­cional independência. ("Messages and Pa­pers of the Presidents", voI. V, ps. 614/625.)

Em outra mensagem de 22 de junho de1860, voltando sôbre o mesmo assunto, f~uma declaração relevante. se em invesU­gação legislativa fica provado que o inte­resse público requer a demissão de algummembro do Govêrno, nenhum Presidentetem existido que, depois de lhe dar a de­vida atenção, tenha hesitado em aplicar oremédio. "l( ln a leg1s1ative investigaUonit shoUld appear that the public 1nterestrequire the removaI of any officer of theGovemment, no President has ever existedwho, atter giving him a fa1r hearing,would hesitate to apply the remedy,"

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17

o Vice-Presidente da República, alémde ser órgão do Poder Executivo, faz partedo Senado, como seu Presidente nato, e,como parte, participa das imunidades par­lamentares que cabem aos membros doCongresso Nacional, não somente aos depu­tados e senadores. Não podendo ser con­duzido debaixo de vara, não está obrigadoa comparecer compulsàriamente.

Os Ministros de Estado se, nos EstadosUnidos, estão a coberto de intimação, noBrasil, porém, desde que podem ser con­vocados e são obrigados a comparecer pe­rante a Câmara dos Deputados, o SenadoFederal ou qualquer das sUas comissões,quando uma ou outra Câmara os convocarpara, pessoalmente, prestar informaçõesacêrca de assunto previamente determina.do (Const, art. 54), evidentemente podemser convocados pelas Comissões de Inqué­rito.

Funcionarios públicos, porém, da União,podem se negar a comparecer, desde queo Presidente da Repliblica o proiba, assu­mindo a responsabilidade dos atos dosmesmos. Nos Estados Unidos muitos altosfuncionários se negaram a comparecer,alegando tratar-se de segrêdo de· Estadonas relações exteriores. Em outros casos,os Presidentes determinaram que nenhu­ma comunicação fôsse feita sôbre o as­sunto.

Não tem o artigo 53 da Constituição am­plitude excedente da competência constitu­cional de cada uma das Casas do Con­gresso Nacional, nem por êle a Cámarados Deputados ou o Senado se tornou opoder supervisor, controlador, fiscalízadorde todos os outros, o Executivo e o Judi­ciário, ou o poder supervisor, controlador,fiscalizador dos Podêres dos Estados, suasautoridades, e das funções dos administra­dores dos Municípios e de seus funcio­narios.

Dentro da sua função já é grande oseu poder de inquirir sõbre fatos determi­nados.

Ultrapassar, porém, o âmbito de suacompetência, é o que o artigo 53 da Cons­tituição não deu nem à Câmara dos Depu­tados, nem ao Senado.

VII

Inquirir testemunhas sob compromisso

A inquirição de testemunhas sob com­promisso qualifica-as para o crime de falsotestemunho, como dispõe o art. 4.°, n.o lI,da Lei n.o 1579, de 18 de maio de 1952:- "Constitui crime fazer afirmação falsa,

ou negar ou calar a verdade como teste­munha:'

Não podem ser admitidos como testemu­nhas, Cód. Civ. art. 142, os loucos de todoo gênero, os cegos e surdos, quando a ciên­cia do fato, qUe se quer provar, dependados sentidos, que lhes faltam, os menoresde 16 anos, o interessado no objeto do li­tígio, bem como o ascendente e o descen­dente, ou colateral, até o terceiro grau dealguma das partes, por consangüinidade ouafinidade, e os cônjuges.

Ninguém, outrossim, pode ser obrigado adepor de fatos, a CUjo respeito, por es­tado ou profissão, deva guaroar segrêdo.(Cód. Civ., art. 144.)

O art. 200 do Código de Processo Pe­nal dispõe que a testemunha não poderáeximir-se da obrigaçáo de depor. Pode­rão, entretanto, recusar-se li. fazê-lo o as­cendente ou descendente, o afim em linhareta, o cônjuge, ainda que desquitado, oirmão e o pai, a mãe, ou filho adotivo doacusado. salvo quando não fôr possível,por outro modo, obter-se ou integrar-se aprova do fato e de suas circunstàncias.

Entendemos que, nas Comissões Parla­mentares de Inquérito, não prevalecemessas regras, exceto quanto aos loucos, aosmenores, porquanto nos casos determina­dos não há partes, nem acusados, não setrata ali de pleitos, nem de inquéritos comfins judiciais, senão de fatos sóbre os quaispossa se exercer as funções de cada umadas casas do Congresso Nacional. No mo­mento em que o inquérito ultrapasse suafinalidade de auxiliar efetivo ou potencialda legislação, cessa o dever de depor datestemunha.

Não nos parece, porém, constitucional adisposição que qualifica crime "calar averdade". Hoje a Constituição asseguraser inviolável a liberdade de consciência(art. 141, § 7.°).

Outrora, a expressão liberdade de cons­ciência significava liberdade de culto, li­berdade de religião, liberdade de crença.A Constituição de 1891 não se referia à. li­berdade de consciência. Foi na de 1934 queapareceu essa explícita garantia. Distintada liberdade de crença, pois o texto esta­belece que "é inviolável a liberdade deconsciência e de crença"; por liberdade deconsciência se entende tudo quanto o in­dividuo saiba sõbre algum assunto, e poderse calar ou não se calar a respeito dêsseassunto,

Não pode ser crime, portanto, calar averdade como testemunha.

A Declaração Universal dos Direitos doHomem, adotada em 1948 pela As.iIembléia

78 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Geral das Nações Unidas, estabelece noart. 18 que rodo homem tem direito à li­berdade de pensamento, consciência e re­1igião.

Distinta a liberdade de consciência dasdemais liberdades que, outrora, estavamincluidas no seu lato sentido, tornou-sehoje liberdade, com sentido próprio, a decalar OU a de não calar o que dentro daconsciência de cada um se achar.

Aquilo. porém, que a testemunha digapode ser falso, quer por deturpar a ver­dade, quer por negar a verdade.

Nestes caSos, como a pessoa se mani­festou, sua manifestação pode ser averi­guada em face da verdade: conforme sejaesta apurada, tal declaração da testemu­nha pode ser considerada.

Diferente é o nosso direito estatuido dodireito inglês, por exemplo, devendo ointérprete se premunir dessa diferença.Na Inglaterra, como diz PIERRE (op. citp. 618). leis que remontam a Jorge lU atri­buem ao Parlamento podêres ilimitados emmatéria de inquéritos. Tôda pessoa citadapor uma Comissão de Inquérito é obriga­da a comparecer, exibir suas escriturações,contratos oU papéis que sejam reclama­dos; a Comissão tem o direito de direta­mente prender e tr9-zer diante dela a tes­temunha recalcitrante. Sob ordem do Pre­sidente, o oficial encarregado prende apessoa do delinqüente e procede ao seuencarceramento. Contra a testemunha querecUSa atender à citação parlamentar,a Câmara impõe a multa que lhe aprazafixar; pode decidir que sua sentença sejaouvida de joelhos pelo delinqüente, à barr1lda mesa. Milhares de pessoas foram assimprêsas e punidas por ordem das Câmarasinglêsas no correr de três séculos.

Pela nossa lei a testemunha é intimadapor ordem do Presidente da Comissão.Em caso de não comparecimento sem mo­tivo justificado, a sua intimação será so­licitada pela Comissão ao juiz criminal dalocalidade em que resida ou se encontrea testemunha, para, por sua vez, requi­sitar da autoridade policial a apresentaçãoda testemunha, ou determinar que sejaconduzida por Oficial de Justiça, que po­derá solícitar o liuxílío da Fôrça Pública.

Embora a lei estabeleça que "o processoe a instrução dos inquéritos obedeçerãoao que prescreve esta lei, e, no que lhes fôraplicável, às normas do processo penal",há que se fazer distinção quanto à.5 pe~

nalidades. pois a lei sómente se referiUao art. 218 do Código do Processo Penal.Não se referiu ao art. 219 do mesmo Có­digo. O Juiz não poderá, portanto, impor

à testemunha faltosa prisão até 15 dias,sem prejuízo do processo por crime dedesobediência, e condena-la no pagamentodas custas da diligência. Se a lei tivessesomente declarado que as testemunhas se·riam intimadas de acôrdo com as prescri­ções estabelecidas na legislação penal,tâdas as disposições relativas a essa inti­mação seriam aplicadas. Referiu-se, po­rém. expressamente, no caso de não com·parecimento sem motivo justificado. aoart. 218 do Código do Processo Penal.

No caso Wainer, o Juiz condenou-o a 15dias de prisão. concedendo-lhe "habeascorpus" o Tribunal de Justiça do DistritoFederal.

Nos Estados Unidos, como nos informao eminente autor argentino CarlOS MariaBidegain, "El Congreso de Estados Unidosda América", pág. 162, às pessoas citadaspara declarar OU exibir documentos. quenão compareçam voluntàriamente ou qUe,havendo comparecido. se neguem a res­ponder a pergunta pertinente. podem serpenalizadas com multa não menor de 100dólares nem maior de 1.000 e prisão emcárcere comum por não menos de um mêsnem mais de doze meses. As testemunhasnão podem negar-se a declarar sob pre­texto de que seU testemunho ou exibiçãode documenros poderia. prejudicá-los dealgum modo com nota de infâmia. Pro­duzido o desacato pela testemunha. osfatos devem ser expostos ao l:onhecimentoda Câmara; o Presidente do Senado ouda Câmara (SPEAKER), segundo o caso,certificam essa circunstância, sendo obri­gação do fiscal do distrito de Colúm'ota.denunciar o acusado ante o GRANDJURY. Já se tem visto que êsse procedi­mento legal pode ser deixado de lado pelasCâmaras, se preferirem castigar elas mesmoo desacato."

Nos Estados Unidos, como em nosso Pais,a finalidade da investigação é a de obterinformação pa.ra seu emprêgo nu funçãolegislativa.

No caso Kilbourn vs. Thompson a CôrteSuprema entrou na cogitação da infrutuo­sidade da investigação para fins de legis­lação. Como diz BIDEGAIN (op. citop. 165). com isso a Côrte significou que ainvestigação devia referir-se à matériasôbre a qual o Congresso tivesse jurisdi­ção, como. outrossim. vinculando·se com oexercício de suas funções legisJatlvas. de­via resultar evidente que seu propósito erao de recolher informações para legislar.

Há. corrente de opiniâo no sentido de sepre.sumír propósito de legislar em tôdaabertura de inquérito parlamentar.

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o auxílio direto à ação legislativa dádireito à investigação, decidiu-se nos Esta­dos Unidos no caso Sinc1air vs. UnitedStates.

Os efeitos produzidos pelas leis podemser objeto de investigação, para O fim de oCongresso os conhecer, como salienta BI­DEGAIN (op_ cit., p. 165), citando Mc­GEARY, NELSON ("The Development ofcongressional Investigative Power"), e· AN ­DREOZZI MANUEL, em "Faculdades Im­plícítas de Investigación Legislativa y Pri­vllegios Parlamentares", págs. 166/8.

A doutrina da "presunção do propósitolegislativo" significa, como foi dito nocaso Townsend vs. United states por umaCâmara Federal de Distrito, Que "a facul­dade de uma comissão designada pela Câ­mara dos Representantes para realizar au­diências ("hearings") não deve medir-sepela existência ou ausência de recomenda­ções de legislação".

No caso United states "s. Norris (1937)a Côrte Suprema declarou que "o Senadoao adotar a resolução pela qual se auto­riza a uma comissão especial a investigargastos de campanha dos candidatos sena­toriais, número de pessoas contribuintes.montante das contribuições, métodos egastos e rodos os fatos relacionados comos mesmos, não excedem seus podêres,desde que o Congresso pode, dentro de suaprovincia constitucional, iniciar investiga­ções e compelir à produção de provas comfito ao possível exercicio de sua funçãolegislativa ou ao possivel cumprimento deseu dever de determinar a validade daeleição de seus membros". (BIDEGAIN,op. cit. p. 166.)

No caso Sinclair vs. United states ficoubem assentado que as perguntas devem serfeitas à testemunha com o fito de auxi­liar a função legislativa.

"Conforme nossa opinião em MacGrainvs. Daugherty - lê-se naquele caso -,duas proposições foram estabelecidas defi­nitivamente: uma, a de que as duas Câma­ras do Congresso, em suas relações separa­das, possuem SÓ 08 podêres que lhes estãoexpressamente concedidos pela Constitui­ção, senão também os podêres auxiliaresque sejam necessários e apropriados parafazer efetivos os podêres expressos; e a ou­tra, que nenhuma Câmara está investidade um poder geral para investigar nos ne­gócios particulares e obrigar a exibir pro­vas, senão sõmente do poder limitado deinvestigar que exista quando se aplique aregra de interpretação que acabamos deestudar. ~e caso demonstra que se bemo poder de investigar seja auxiliar essen-

clal e apropriado da função legislativa,deve ser exercido com a devida conside­ração pelos direitos das testemunhas, eque uma testemunha pode recusar-se le­galmente a responder quando os limites dopoder são excedidos, ou Quando as per­guntas feitas não são pertinentes à ma­téria investigada."

BIDEGAIN (op. cito p. 167) extrai dosjulgamentos da Suprema Côrte dos Esta­dos Unidos os seguintes principios:

1) as faculdades de investigação podemexercitar-se não só quando as Câ­maras atuam em sua capacidade ju­risdicional, senão também em auxí­lio de sua função legislativa;

2) o "propósito legislativo" de uma in­"estigação deve julgar-se com crité­rio amplo;

3) quando os direitos e liberdade deum cidadão se a.chem em jôgo, asCâmaras não são juízes finais deseus direitos e privilégios e a legali­dade de sua ação pode ser Questio­nada ante os tribunais;

4) as testemunhas podem negar-se aresponder perguntas que não esti­mem pertinentes à matéria in"esti­gada ou que impliquem uma acusa­ção contra si mesmo e possam sub­meter a decisão dos tribunais aquestão acêrca da pertinência. dapergunta; porém o érro de direitonão constitui dirimente para a apli­cação da penalidade por desacato.

VIII

As conclusões dos inquéritos

Razoàvelmente destinados ao auxilio dalegislação, os inquéritos, porém, têm fina­lldades especiais - umas políticas, outraspara levar ao conhecimento da opiniáopública certos fatos, que precisam ter re­percussão nela, outras para habilitar asCâmaras ao jUlgamento de certo procedi­mento de algum ou de alguns de seusmemoros, incompativel com o decôro par­lamentar, outras genUinamente legislati­vas. Conforme a finalidade, assim as rel)­pecti"as conclusões.

Terminam sempre os inquéritos, diz alei, por projeto de resolução.

];:ste Projeto de Resolução é que as Câ­maras podem aprovar ou não.

a relatório não é submetido à aprova­ção, como se fósse um parecer.

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o relatório é peça da Comissão, não ca­bendo às Câmara.s mandar excluir ou in­cluir parte no relatório.

No caso da "última Hora" pretendeu-seque til Câmara dos Deputados mandariaexcluir do relatório a parte relativa aoPresidente da República, Dr. Getúlio Var­gas e a outras personalidades.

Quando a finalidade do inquérito con­sistir em se apreender bem um fato parase fazer alguma lei sóbre o assunto, a con­clusãO pode conter um projeto de lei, oupode conter a indicação para se enviar oprocesso à. comissão parlamentar perma­nente para preparar o projeto de lei.

Se a finalidade principal foi de trazerao conhecimento da opinião pública certosfatos, o projeto de resolução pode consis­tir em que se faça ampla publicação doprocesso, ou então que seja remetidQ a al­guma comissão permanente para, compleno conhecimento dêle, sugerir à Câ­mara o que ocorra de útil para sanar osmales encontrados.

O Que não pode fazer objeto de reso­lução é a remessa do relatório à justiçacomum para proceder criminalmente con­tra pessoas que tenham cometido crimesapurados nos inquéritos.

Não cabe ao Poder Legislativo ou a cadauma de suas Câmaras indiciar criminososou considerar certos fatos como crimes.

Pode uma conclusão declarar que a Mesada Cimara, à vista do que consta no in­quérito, deverá remeter cópia do relatórioou de papéis às autoridades policiais, aoMinistério Público, ou às autoridades judi­ciá.rias, a fim de procederem como de di­reito.

A própria comissão pode fazer essa re­messa. As Câmaras, porém, são as que nãopodem deliberar sôbre isso, para que nãoinvadam o principio da não intervençãonas justiças do Estado.

Essa cautela é para se evitar conflitoentre o Poder Legislativo da União e asautoridades policiais, Ministério Público,ou judiciários dos Estados, que poderãoagir por forma diferente da sugerida, emvirtude daquele princípio.

Os inquéritos podem, outrossim, apurarfatos que constituam crimes de responsa­bilidade dO Presidente da República, oUdos Ministros de Estado.

A conclusão, pela comissão, de inquéritodessa natureza pode consistir em artigosde acusação para o processo do "impea­chment". PUTNEY, "QUI' ConstitutionalLaw", p. 222, traz o texto dos artigos de"impeachment" contra o Presidente An­drew Johnson, dos Estados Unidos.

l!: da natureza dos crimes de responsabi­lidade que os artigos do "impeachment",processo político, que é, sejam apresenta.dos por um ou mais deputados, ou por al­guma Comissão Especial oU permanente daCâmara dos Deputados. A Lei n. 1079,de 10 de abril de 1950, que define os cri­mes de responsabilidade e que regula oseu processo, permitiu a qualquer cidadãooferecer denúncia. Não tornou, porém,privativo do cidadão o oferecimento de de­núncia por crimes de responsabilidade.

Seria inconcebivel que SÓ o cidadão pu­desse denunciar o Presidente da Repúbli.ca pelo crime de responsabilidade de ten­tar dissolver o Congresso, ou o de impediro funcionamento de qualquer das suas Câ~

maras, ou o de violar as imunidades dosmembros do Congresso. OU o de decretar oEstado de Sítio. estando reunido o Con­gresso, ou, no recesso dêste, sem haver co­moção interna grave, nem fatos que evi­denciem estar a mesma a irromper, o Pre­sidente decrete o Estado de Sitio.

Seria, com efeito. absurdo que um depu.tado, ou uma comissão da Câmara dosDeputados não tivesse o direito de apre­sentar a denúncia.

AURELINO LEAL, em SUa "Teoria ePrática da Constituição", pág. 437, deacôrdo com a doutrina norte-americana,consignou que "a denúncia contra o Pre­sidente e os seus Ministros, nos crimesconexos, pode ser dada à Câmara porqualquer cidadão, deputado oU comissãoda Câmara",

Tratando-se de responsabilidade políti­ca, aos representantes dos podêres politi­cos é que compete. por natureza, a inicia­tiva da ação. Aos cidadãos, em particular,s6 a lei, por disposição eJtpressa, é que 'PO­deria dar tal direito.

Nos Estados Unidos a denúncia pode serapresentada por qualquer membro da Cà­mara, pelo Presidente da República, emmensagem, pelas legislaturas dos Estados,ou por qualquer parte interessada. "Im~

peachment procedure may be set in mo~

tion when a charge 1s made against acivil officer by a member oI the House.by the legislature of a state, or by otherinterested parties." (JOHNSON, "Govern­ment in the United States", pág. 345.)

Por qualquer membro da Câmara dosDeputados. ensina MUNRO ("The GOvern~

ment of the United States", pág. 299),"The accusation is made by some memberof the House of Representatives from theíloor (}f that OOdy".

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o inquérito é mesmo a forma ou o ele­mento para poder o representante prepa­rar os artigos da denúncia. "U is necessa­rily empowered to act as an inquest inpreparing the articles which take place Dfan indictment." (HARE, "American Const_Law", lI, pãg. 855).

TUCKER ("Const. Law", I, p. 423) ,MACOONALD ("American State Govern­ment and Administration", p. 191), KlM­BALL ("The National Government of theUnited States", p. 289), referem-se o pri­meiro aos membros da Câmara dos Repre­sentantes e à comissão, enquanto os outrossOmente aos membros da Câmara dosDeputados. "When an officer, diz TU­CKER, is suspected of being guilty Dfimpeachable offense, a member, 01' a com­mittee of the House (as in the case ofBelknap), reports the facts to the Housewith a resolution either to draw up artíclesof impeachment 01' to appoint a committefor doning it." MACOONALD diz que"any member of that body may offer aresolution of impeachment, which is atonce to and appropriate committe ." Oensino de KIMBALL é nos seguintes tér­mos: - "lmpeachment proceedings arecommenced in the House when somemembcr moves - as a question of thehighest privilege - the impeachment ofsome officer."

2:ste privilégio dos membros da Câmarados Deputados ou de Comissão dessa Câ­mara, deu-o nossa lei também aos ci­dadãos.

A Comissão Parlamentar de Inquéritopode, pois, apresentar, quando seja caso,como resolução, os artigos de denúnciacontra o Presidente da RepÚblica. ou con­tra seus Ministros, nos crimes conexos como do Presidente.

Podem, outrossim, as conclusões conteruma resolução que expresse os sentimentosda Câmara relativamente, por eXemplo, aocumprimento de determinadas leis, como ado jõgo. Cumprindo às autoridades esta­duais manter em vigor essa lei. obrigá-lasa Câmara dos Deputados ou o Senado, nãoo podem. Manifestarem, porém, ambas,ou cada Casa do Congresso, um apêlo paraque seja a lei cumprida, objeto é de reso­lução. cada Casa do Congresso pode ma­nifestal", por resolução, seus sentimentosrelativamente a determinado assunto. (BI­DEGAlN, op. cito n.O 404.)

Não só por meio de lei o Congresso sedirige à, Nação. Por resolução ou por IDO-

ção pode também se dirigir à Nação, damesma forma como o Presidente da Re­pública, por manifesto, o faz quando en~

tenda oportuno.

IX

A competência judicial para conhecer dosatas das Comissões Parlamentares

de Inquérito

A competência judicial para conhecerdos atos das Comissões Parlamentares deInquérito, qUe ofendam direitos de tercei­ros, ou de quem não se sinta com obriga­ção de atender às suas injunções, é do Su­premo Tribunal Federal, como foi por êsteresolvido no caso Samuel Wainer.

Requerido "habeas corpus" ao juiz co­mum, recorrendo êste para o Supremo Tri­bunal Federal, adotou a Egrégia Côrte ovoto do Ministro Mário Guimarães: "Nãotenho dúvidas em reivindicar, para estaCôrte, a competência originária. Reconhe­ço que os textos legais não são expressos.Mas recentemente ainda, no julgamentodo Mandado de Segurança n.a 1.959, aceitouêste Tribunal a sua competêm:ia para co­nhecer do pedido quando proviesse a vio­lência de ato de qualquer das Câmarasdo Poder Legislativo." Assim argumentouo notável aresto, que foi relatado peloSr. Ministro Luiz Gallotti: "Se compete aoSupremo Tribunal Federal conhecer doMandado de Segurança contra a to daMesa de uma Câmara Legislativa, compe­tente também hâ de ser, por mais forterazão, jã que outro Tribunal superior aêle não existe, por conhecer do pedidoquando o ato impugnado é da própria Câ­mara."

"Não há distinguir" - continuou o MI­nistro Mário Guimarães, cujo voto é notá­vel pela síntese magnífica que fêz dasdoutrinas e assuntos atinentes às comis­sões parlamentares de inquérito -, "nãohá distinguir, para êste efeito, entre Câ­mara e Comissão. A autoridade de qUeemana a violência, num e noutro caso, ésempre o Poder Legislativo."

"Não são, assim, as comissões parla­mentares de inquérito um órgão distinto,criado pelo Congresso. São o próprio Con­gresso que, por motivos de economia eeficiência de trabalho, funciona com redu­zido número de membros, conservando oaspecto representativo de sua totalidade,tanto que dessas comissões devem fazerParte elementos de todos os partidos ­art. 53, § único, da Const."

82 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

o CONTRATO NA

ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA

Dr. Udtor L!./I'l FilhoProcuradfJf do S.A.P.S.

Poro uma conceituação do que seja o contratono administração público, suo classificaçõo, caracte­rí slicos, natureza intrí nseca e extrínseco, seusas~ectos formais e materiais, impõe-se uma noçãomai5 profuncla da teoria dos atos administrati­vas. Como problema de fundamental importônciano direito administrativo, essa teoria, que tem preo­cupada os maiores autores, necessito de ser enten­dido em seus múltiplos aspectos. A matéria, pordemais extenso, resultante da ampla atividade doEstado em todos os campos das relações humanos~ sociais, econômicas e iurídicas ~, quer quantoao direito público, de que é titular, quer em relaçãoao direito privada, tem ensejado os maiores diver.gências doutrinórias.

Themistocles Cavalcanti, tratadista dos maio.res no estudo do direito administrativo, informo que,dado a suo estruturo político, o Estado tem de pra­licor atos Que, pelo suo natureza, devem possuircaracterísticos prelimínares.

Os atos administrativos só se revestem de na­tureza de atos juridicos quando visam, de imediato,a adquirir, resguardo r, transferir, modificar ou ex­tinguir direitos. Ao contrório, quando destituidos deefeitos jurídicos, inscrevem-se como simples atosadministrativos, podendo ser anulados ou revogadospelo própria Administraçõo, sem outros conseqüên­cias que nõo os de ordem administrativa, isentos 00

conlrôle jurisdicional. Dêles, porém, nõo cogita °direito administrativo, por isso que, ausentes do cons­trução jurídico-administrativo, nenhuma repercussãopossuem no campo dos relações de direito público ouprivado.

No primeiro coso, porém, em que pêse o sin­gularidade de suas característicos, os atos adminis­trativos hão de possuir, poro o suo validade, emforma e conteúdo, os pressupostos definidos no leicivil.

Na suo definição, em virtude mesmo daquelasdivergências, os dificuldades se avolumam de talformo que, muitos vêzes, a noção de ato administro­tivo se confunde com o de foto administrativo. E issoporque, sendo ° ato a expressõo de vontade indivi­duai, produzindo, sempre, conseqüências jurídicosquandc cria, modifica ou extingue direitos, o suodistinçõo parece residir, somente, em um conceito deordem subietiva, de que o fato adminiMrativo seriao expressõo material.

Nõo se pode, assim, afastar o noção de atoadministrativo, no sentido de englobar uma decla­raçõa especial de vontade do Estado, do conceitogeral de ato jurídico, de que aquête é o espécie.

Enquanto no direito comum o ato jurídico re­presenta a afirmação de um interêsse particular ouprivado, no direito público o ato administrativo serevelo como a atividade formal ou material do Es­tado, conforme o órgõo de que emana, ou o fina!i-

JUNHO - 1964 83

dade a que objetiva, visando ao interêsse sa­cio/ na realização de seus próprios fins.

Com respeita ao fato administrativo,entendo ser êle a consubstanciação do atoadministrativo no seu aspecto material.Nesse sentido, aproveito a lição de SEA8RAFAGUNDE5, filiando-me, também, à COrren­te objetivista em que repontam, como ex­poentes, ARNALDO DE VALLES e MATTOSDE VASCONCELOS. Paro o primeiro, o fa~o

administrativo é tôda atividade material Queo Estado 'pratica, por meio de seus prepos­tos, objetivando resultados práticos no in­terêsse de sua próprio pessoa. Paro o segun­do, o fato administrativo é umo conseqüên­cia do ato administrativo. É o ato em açõoou na suo expressão concreta, na sua fase

dinâmica.

De qualquer maneira, diz BIELSA, "doponta de vista jurídico, a atividade admi­nistrativo, Qualquer Que seja a forma queassuma e as efeitos que produza, concretiza­se em fatos e atos admfnistrotivos. O critériodo distinção entre atos e fatos é, em prin­cípio, o que serve para distinguir os atos efatos jurídicos em direito privado" (DerechoAdministrativo, vaI. 11, pág. 1, ed. 1955).

Fixados, de modo sumário, os princi­pais aspectos doutrinários do ato e do fatoadministrativo, assim como o suo distinção,surge, como de primordial interêsse, o ne·cessidade da classificação dêsses atos paroo estudo do contrato no administração pú­blica, dados os diversos aspectos com que seapresentam.

Como tôda classificação, também a dosatos administrativos oferece reais dificulda­des, considerando a variação de forma econteúdo dêsses atos, principalmente no Quediz respeito 00 seu agrupamento dentro deum sistema que reúna os Caracteres comunsde cada ato.

BRANDÃO CAVALCANTI considera atarefa insuperável, face às divergências exis­tentes. Todavia, para nós, a que merecemaior acatamento, senda aceita, inclusive,pela maioria de nossos juízes na solução dosproblemas administrativos, é a de DUGU1T,Que considera o ato administrativo sob três

aspectos: o ato-regra. a ato-condição e oato-subjetivo. Enquanto o primeiro é de or­dem gerar, como a leí, os estatutos sociais,os regulamentos, não se dirígindo objetivae particularmente o nenhum individuo, masa todos, o ultimo, a ata-su1tjetivo. ao con­trário, dá origem a situações jurídicas in­dividuais, criando direitos subjetivos. O ato­cQndiçQQ, de sua vez, visando a aplicar 00

individuo as disposições legais da oto-~e9ro.

crio para êle uma condição jurídica indivi­dUJI ~ um status - dentro do qual deveagir e comportar-se, usufruindo de direitos eparticipando de obrigações.

A substôncia dessa classificação deDUGU IT está contida nos efeitos dos atosiurídicos.

GASTON JEZE, que adota, emboracom diverso nomenclatura, o princípio bá­sico do classificação de DUGUIT, íncluimais um aspecto dos atos administrativos:os que determinam uma situação juridicageral, . individual ou um fato. São os atasju risd icionois.

De tudo a Que está exposto pelos me·Ihares tratadistas, estrangeiros e brasileiros,relativamente à classificação dos atos admi­nistrativos, parece-nos que, no condizente aocontrato no administração pública, Q me·Ihor classificação é o Que segue a próprioconceituação de ato administrativo quantoaos seus aspectos formal e moterial.

•••Ultrapassada a fase de sua assinatura,

aprovação e homologação, o contrato perdeo sua característico de ato administrativoformal e se reveste do condição de fato ad­ft'Iinistrotivo. revelando-se como ato jurídicoperfeito e acabado. Nesse ponto êle se con­funde com o ato administrativo material,que é, no dizer de MATTOS DE VASCON­CELOS, o ato em ação, no suo expressãoconcreto, no sua fase dinâmica.

Nessa condição, apesar das discussõesque ainda persistem, entendemos Que o con­trato se apresenta, não só como fato admi­nistrativo, como também como oto com­plexo, uma vez que, para a suo formaliza­çõo, se fundem, numa só unidade volitiva

84 REVISTA DE INFORMÁÇAO LEGISLÁTIVA

de sentido e objetivo, os vontades indivi­duais dos contratantes, inicialmente contra­postas, dêle resultando direitos e obrigações.Dessa contraposiçõo inicial de' vontadessurge uma integração volitiva poro o mes·mo fim, uma cooperação de duas ou maispessoas, tódas de direito público, ou dedireito público e privado, pora o mesmoobjetivo de interêsse público ou soc·lal. Emface dessa configuração é que entendemosser o contrato um ato complexo igual, istoé, em que os vontodes se nivelom no mes­mo valor jurídico. t. a vontade da adminis­tração público conjugada com o de umsuieito de direito privado, para um fim de­terminado, com a criação de uma situaçõojurídica. Na hipótese, ° heterogeneidade depessoas não pode ser óbice 00 instituto docontrato bilateral na administração público,de ve::t Que o essencial paro a existência dacontrato é o acôrdo de vontades, o fim de­terminado e o interêsse comum de suo exe­cuçõo.

Todavia, como ato jurídico, ao lado doselementos essenciais à sua formação e àsua validade, como a capacidade dos con­tratantes ou dos agentes, o objeto lícito,o formo não prescrito ou não defeso em lei,o consentimento, o objeto e a causo, o con­trato, no Campo do direito administrativo,está suje'lto, ainda, o normas administrati­vos. A inobservôncia dessas normas nõopode resultar na anulação pleno jure docontrato, se nêle e':.tõo potentes tôdos asformalidades essenciais à validade dos atosjuridicos. Quando muito, dar-se-á a suo onu·labilidade. E, nessa circunstôncia, subsistiráa responsabilidade odministrativa, dado Que,não sendo nulo o ato, mos apenas anulóvelpor inobservância de simples normas cujaausência não vicia o ato, o direito 00 res':.ar­cimento se impõe.

• • •

Embora com a repúdio de olguns autoresque entendem só haver contrato no direitoprivado, não se pode, diante do direita mo­derno, excluir dessa categoria de atos juri­dicas as contratos de direito público e os

contratos administrativos, considerando osua figura in abstrato, o que lhe emprestoum com::eito geral, identificado com a teariogeral do direito.

É o pensamento de KELSEN e, entre nós,o de MARIO MA5AGÃO e CRETELLA JU­NIOR.

Não fóra assim, se se limitasse o enten­dimento à órbita dos preconceitos privatís­ticas, como querem GIANNINI, VELASCOC,4.LVO, ROGER BONNARD e outros, camase poderiam solucionar as situações jurídicosem que o Estado é parte, como vontadeconcorrente, na criação de direitos com ter·ceirOs em matéria administrativo e, mes­mo, no campo do direito comum?

A presença, no contrato de direito pú­blico, de todos os requisitos e elementosessenciaiS do contrato, como ato jurídico,não o caracteri::to, forçosamente, como umcontrato de direito privado. E isso porque,além de estar suieito, também, às normasadministrativos previstas no Código de Con.tabilidade Pública, encerra, igl,.lalmente,principias oriundos de teorias de direito pú­blico cujas roí::tes se encontram não só nodireito administrativo como no direito cons­titucional.

A definição de 8lElSA é a que moís fiel·mente retrata essa espécie de contrato,Quando diz que Ué o convenção que, comfim público, o Estado, como pessoa de di­reito público, realiza com outro pessoapública ou privada". (Principias de DerechoAdmini'i>trativo.)

A impugnação de que no contrata há li­berdade de os portes discutirem 05 c1óusu·las, da mesma forma que não pode ser 01.terado unilateralmente, estando as portesem absoluta igualdade - o Que nóo se ve­rificaria em relação ao Estado -, não temhoje qualquer substância jurídico, mormen­te em nosso País, onde a Constituição osse­guro a igualdade de todos perante o lei e aresponsabilidade civil do Estado.

Não hó dúvida, portanto, de Que a ad­ministração pública pode celebrar controtos.Na verdade, o fa1: todos os dias. E quondoo faz, assume a posiçõo de porte contratan­te, em igualdade de condições com o con­tratado, subordinando-se ora ao':. cânones do

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direito comum, oro aos princípios do direitopúblico, conforme o notureza jurídica dacontratado, se pessoa de direito privado ou

pessoa de direito público.

No primeiro caso, situam-se os contratos

com particulares paro prover os serviços ad·ministrativos e suprir os SU<lS necessidadesquanto a fornecimentos, transportes, aquisi­ções, alienações, aluguéis ou serviços rela­tivos aos diversos departamentos da admi­nistração público. ~sse tipo de contrato, ad­mitido pelo Regulamento-Geral de Contabi­

lidade Público na categoria de "contratoadministrativo", regulo-se pelos mesm06principias gerais dos contratos de direitocomum. Melhor seria, porém, a denomina­ção de contrato administrativo de lIatllrezaprivada, eis que, celebrado por entidade dedireito público, englobando as característicosde ato e fato administrativo de aspecto for­mai e material, se rege pelos princípios dodireito comum, face à natureza de pessoa

de direito privado da outra parte contra­

tonte.

No segundo caso, quando são observados,apenas, os princípios de direito público, onatureza puramente administrativa do con­trato dado a categoria da outra porte, tam­bém pessoa jurídico de direito público, aclassificaçõo que, a nosso ver, melhor seajustaria, é o de contrato administrativo denatureza pública.

Não comungamos, assim, com o pensa­mento de ANDRÉ DE LAUBADERE quandoafirmo que "todos os contratos do Admi­nistraçõo nõo são controtos administrativos",fazendo distinçõo entre contratos adminiS­trativos propriamente ditos e contratos dedireito privado do Administroçõo_

A nós nos parece, como de melhor téc­nico, considerando que tôda atividode, querformal, quer moterial, da Administração, se

expressa par meio de atos e fotos adminis­trotivos, que todo e qualquer contrato ouconvenção firmado pelos podêres públicosé, por sua essência e substóncia, generica­mente, um contrato administrativo comoe.pécie, variando, tôo-sOmente, a sua na­tureza, conforme o objeto e as partes que

nele intervêm: pessoa física ou jurídico de

direito privado e pessOQ jurídica de direitopúblico.

Esse entendimento, tomado em razão dapessoa ou sujeito, mais consentóneo com adoutrina francesa e aceito por BIEL5A, não

invalido outras conceituações, as mais res­

peitáveis e autoriladas, inclusive o queconsidero os contratos administrativas co­mo especiolidade dentro das contratos ci.vis, e a que os têm, simplesmente, comocontratos públicos.

A verdade, porém, é que, embora os pri­

meiros sejam regidos pelo direito comume os outros sujeitos à jurisdição contencioso­

administrativo, nenhum deles poderá deixarde ser apreciado pelo Poder Judiciário,quando se manifeste qualquer lesão de di­reito dos partes, quer sejam elos, apenas,pessoas de direito público ou não, por isso

que casos há em que dois ou mais órgãosda administração, direto ou indireto, fe­deral, estadual ou municipal, litigam entresi pe ra nte os tri bunais.

Pode acontecer, todavia, que num "con­trato administrativo de natureza privado"- aquêle firmado entre a Administração eum particular -, se estipulem cláusulas nasquais o particular renuncie ao direito co­mum e se submeta ao regime jurídico es­pecial do direito público. Nesse caso, ob­servada a teoria da consentimento, da ma­nifestação expressa da vontade na liberdadede contratar, sem que isso importe na pre­ponderôncia da vontade do Administração- imperium -, o contrato paSSQ a situar­se no categoria dos "contratos administra­tivos de natureza público". com os portesno mesmo nível e em posiçõo de igualdade.Seria o caso das concessões de serviço pú­blico, das odministrações de obras públicos,dos contratos de cidadania, de serviços téc­nicos ou científicos com estrangeiros, de

opção de nacionalidade etc. Nessa hipótese,o contrato, como ato administrativo no seuaspecto formal, se reveste da característicade ato-condiçiío (DUGUITl para se subme­ter às disposições legais que estejam con­tidos no lei ou regulamento - ato-regnl

86 REVISTA DE I~FORMAÇÁO lEGISLATIVA

-, impondo ao indivíduo particular, pessoa

fisica ou jurídica, um stotus. cujos direi­

tos e obrigações se hão de conformar comos principias gerais do direito público.

Essa situação, entretanto, nõo retiro do

individuo o seu direito de recorrer ao Judi­ciário, com base no direito comum, se ocor­rer qualquer lesão ou violação de direitoseu, por ato comissivo ou omissivo do Ad­ministração, decorrente da relação jurídica

estatuida.

Admitido, portanto, a tese de Que todosOs contratos com a Administração sôo con­

tratos administrativos, variando, apenas, asuo natureza, conforme o pessoa ou o su­jeito, em contrC;;posiçõo com os que aceitamsemente o contrato civil, seria de lndagar­se; qual o comportamento do Estado diantede uma situaçõo de fato que viesse impedirque o particular, como contratado, ficasseimpossibilítado de dor integral cumprimen­

to 00 pactuado?

O fato imprevisível, a fôrça maior, po­dem ser alegados como causo suficiente pa­ro as novações contratuais? Há de prevale­cer, na hipótese, o interêsse do pessoa ju­rídico de direito público, uma vez que elo

represento a coletividade e pretende a umfim social? Tem cabimento o teoria da im­previsão na direito administrativo para oplena aplicação da rebus si~ stantibus noscontratos ajustados com a Administração?Ou se há de exigir que se observe, ainda, oprincípio do pacta sunt servanda. da imu­tobílidade dos manifestações de vontadesopostas consagrado no DIGESTO e erigidoem norma legal no Código Civil Francês?

Diante da dinômica dos fatos sociais, doinstabilidade das fenômenos econômicos efinanceiros, do velocidade das manifestaçõespolíticas, de todo êsse acervO de fatos ecircunstôncias, emanados, principalmente, d~

própria natureza do espírito humano e doampla e profunda ação do Estado em todosos setores da atividade humana, há de com­portar-se a direito administrativo alheio atudo, com normas e formas imutáveis, fora

do prápria realidade social e juridica, au­sente dos princípios que comandam os pró­prios atos e fotos administrativos?

Entendemos que não. A Administraçõo,nas suas relações de negócio, embora man­tida dentro das características de pessoa dedireito público, quando contrata com O par­

ticular submetendo-se aos cônones do di­reito comum, o êle se nivelo paro os efeitos

civis das relações juridicas pactuados.

A teoria da imprevisão, que hoje não en­

contra mais opositores no campa do direitaprivado, está sendo admitida, tombem, por

iguais razões jurídicos, no direíto público.E isso porque a teoria do imprevis.õa, iaee.à amplitude e à profundid:Jde de SU:I reper­

cussão em todos os ramos da ciência jurí­dica, nlio se limito 00 ômbito do direitoprivado. Melhor se situo dentro da teoriageral do direito.

Considerando oquelos condições da diná­

mica dos fotos, o evolução dos sistemas po­liticos, das estruturas jurídicos, sociais eeconômicos, tudo se submetendo o eventosfuturos e incertos, não mais encontra apoioa tese do inalterabilidade dos contratos ad­mi nistrati vos.

As regras de direito, ajustando-se, tam­bém, no tempo e na espaço, às condiçõesnovas surgidas por imposição de fatos im­previsíveis e estranhos à vontade do ho­mem, revelam que as normas e obrigaçõesestabelecidas nos contratos, qualquer que5e1<l o sua natureza, nõo podem permane­cer intangíveis por lorgos períodos.

Se, dadas as circunstôncias d.) caso, oproposta de contrato desobrigo o proponen­te, com maior razão essas mesmos circuns­tôncias - que não podem, todavia, con­sistir em simples alegaçõo, mas em fotosuperveniente, imprevisível e estronho àvontade das partes -, deverõo ser conSide­radas, quer paro a efetivaçêio de oheraçÕ€scontratuois, quer para a suo resoluçõo to­tal, sem que isso importe em inadimplemen­to. O fato, o circunstância, todavia, deveser inesperado, excepcional e determinantede condições tais Que o continuidade doobrigação assumido ocorrete, poro o porte,

um estado de plena insolvência. Há de sersuperior 00 risco comum, que é o aconte­cimento cabível, suportável, normal, inca-

JUNHO - 1964 87

paz de, por si só, resultar na rumo econô­mica ou financeira.

O fato extraordinário, porém, para exi­mir-se o obrigado à satisfaçõo plena do quepactuou, é invacável, apenas, pelo parti­cular que contrata com a Administração.Não o pode ser pelo Estado, mesmo que acontinuação do pacto venha a resultar numdesequilibrio de ordem administrativo. Ateoria do imprevisão nõo tem aplicação emfavor do Estado, embora os contratos queajuste com o particular estejam sujeitosaos princípios civilistas. Isso decorre do fatode ser a teoria da imprevisão de fundo subs­tancialmente econômico. As circunstânciasoriginadas par leis, regulamentos ou outrosatos administrativos, de sua iniciativa ~fato do príncipe ~, que interessem cu in­cidam diretamente sôbre o contrato ou oseu objeto, afetando-o, quer na sua conti­nuidade de execução, quer na substânciade suas cláusulas, não podem ser tidas co­mo excepcionais. O evento alc:Jt6rio deiniciativa da Administração asseguro aocontratada, portanto, quer por meios ad­ministrativos, quer contenciosos, o direitoao res~arcimento dos prejuízos. A compen­sação patrimonial, decorrente do fato deter sido o contratado obstado no cumpri­mento de sua abrigaçõo, se justifica plena­mente. É que, não se interrompendo nemextinguindo a pessoa jurídico de direito pu­blico, quer em suas atividades, quer emsua existência juridica, qualquer que sejao órgão, dada a continuidade do Estado, ofato aleatório de sua iniciativa não podeser invocado Cama capaz de e,.imi-la d:Jobrigação.

A aplicação, porém, da rebus sie stanti.bus, como evento imprevisível nos contra­tos administrativos, não pode s~r feit:J aosimples arbítrio. Há de exigir-se o recotlhe­cimento de condíções essenciais, bce 00 ine­quívoco interêsse público dos contratos des­sa natureza. Se o contratada não pode nemdeve sofrer pre;uizos que poderiam capi­tular-se como injustos, e que teri~m orig("",,apenas, em situações políticos, administra­tivas, econômicas ou financeiras criadas pe­los responsáveis pela Administroção, nõo sehá de admitir, também, que o poder públi­co fique à mercê do particular, sob a ameo­ça de ver as serviços paralisados se nãoatender a despropositados reivindicações.

É necessório, portanto, que se prove -o que se faró pelo contencioso administrati­vo ou mediante vistoria judicial precedid:Jde notificação, paro resguardo, conservaçãoou ressolvo de direitos - que o evento foi,obso!utamente, imprevisivel e q'.Je o dese­quilíbrio econômico acarretará um deficit

capaz de comprometer a estabi lidode daemprêso. Deve ser provado, ainda, que aexecução do contrato nos bases ajustadostornou-se de todo impossível; que houve boa­fé por ocasião de suo lavratura; que ospreços convencionados eram justos e reais;que não houve locupletamento ilícito naexecução do contrato ou falha na adminis­tração do negócio. Finalmente, é de provar­se o ausência de dolo ou culpa de qualquernatureza por parte da contratado.

No Brasil, face à instabilidade política esocial que se vem verificando desde 1930e às naturais decorrências dêsse estado deefervescência, com profundos repercussõesna vida econômico e financeiro do País,como dos indivíduos, isolados ou em gru­pos, a teoria da imprevisão nos contratosadministrativos vem sendo aceita como aunico maneira de se dar continuidade àsobras públicas e aos negócios com o Es­tado. E JÓ se torna comum, nos contratos,a inserção da cláusula da imprevisibilidadeou, mesmo, de reajuste automático, tõda vezque, por decorrência de fatôres estranhos aoscontratantes, Se verificar alteração substan­cial nas relações sócio-econômicas do País_A inclusão dessa cláusula nos contratos coma administração público, quebrando a rigi­dez clássica do pocto sunt servDnda aindaencontro, porém, resistência no Tribunal deContos, Que se nego o aprovar e registrarêsses contratos da administração direta. Éuma posição, o nosso ver, de intransigência,que não se coaduna com a realidade sociale juridica de nossos dias. Já na adminis­tração indireta ou autórquica, cujos con­tratos não necessitam de ser registrados na­quele Tribunal, em virtude de possuíremeconomia própria e autonomia financeiro, aaplicação da teoria da imprevisão não en­contro obstáculos. Os administradores fi­Cam, apenas, sujeitos a ter os suas con­tos impugnadas pelo Tribunal, quando le­vadas ó sua aprovação por determinaçãodo item 11 do art. 77 da Constituicão Fe­dera!, se nelas houver despesas d~corren­tes do execução de contratos com cláusulade reajustamento. O impasse, todavia, seráde ordem administrativa, entre o adminís­trador e o Tribunal, sem repercussõo norelação jurídico-contratual já executada en­tre o autarquia e o particular.

Do exposto se observa que, apesar dasdivergências doutrinários, o Direito Admi.nistrativo Brasileiro, no campo dos contra­tos, pelo entendimento de nossos juristas,lá se apresento cOm certa uniformidade,com fundamentos pr6prios, esboçando-se aformação de uma nova doutrina, de lomaescola própria, capaz de influir, poderosa­mente, no pensamento oHenigeno.

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MILITARES:

DIRE1TO DE VOTO E

INELEGI BILlDADES

Uma das questões políticas mais controvertidasda atualidade é a referente ao direito de votar ede ser votado, por parte dos militares.

Em quase todos os paises, no Brasil inclusive,êsse problema tem merecido a atenção de todos,partiçularmente dos estudiosos da ciência políticae dos próprios mUitares, ocasionando debates detôda ordem, não raro veementes, e dividindo oshomens em grupos antagônicos.

Pela sua singularidade, delicadeza e complexi­dade, o tema, sem dúvida sedutor, deve entThr napauta de cogitações de quantos se interessam pelosproblemas poUticos, cabendo, aos que o examinarem,encontrar, para êle, um equacionamento racional eajustável às nossas peculiaridades, a fim de sealcançar uma solução satisfatória.

A questão tem de ser "focado." de maneiraobjetiva e corajosa, sem que se busquem, para asdificuldades encontradas, as saídas falsas dos sofis­mas e das evasivas.

O militar, como o médico, o advogado, o pro­fessor, o operário, O engenheiro, o comerciante, (}industrial ou o servidor público civfl, é, também,um cidadão, e, nesta qualidade, participa das an­gústias, das ansiedades e das aspirações de todobrasileiro, no tocante ao desenvolvimento, à segu­rança e à grandeza da Pátria. Quer dizer: sente epensa em têrmos poUticos, considerada li. palaVTapolítica em sua autêntica concepção aristotélica.Mas, como profissional, e tanto quanto os profis­sionais citados, tem um status, que lhe dá, no com­plexo social a que pertence, uma posição própria,inconfundlvel, nem inferior nem superior à do civil,porém, diferente desta.

Tentando uma compreensão universal do pro­blema, procuraremos obtê-la através de uma análisedas diversas maneiras como foi êsse problema en­quadrado nas Constituições dos diferentes países.

Sendo, as Constituições, estatutos pol\t\eot>nacionais, e estatutos básicos, onde se expressam,cristalizadas em principios e normas, as realidadestotais e fundamentais dos povos, é lógico que omodo pelo qual, em cada Estado, elas disciplinemessa importante matéria. dará a tônica do pensn­mento de cada povo sôbre o assunto, o Q;ue seTa.de grande utilidade para uma tomada de posição,diante das correntes em choque.

Colocando a questão nesses têrmos, veremoscomo a entendem povos sujeitos El. organizaçõespoliticaf- de tipos diferentes - democráticas, socla~

Ustas, totalitárias; povos de culturll sedimentadaou de civilização ainda rudimentar; povos favo­recidos pela extensão e riqueza de seus territórios,e poVO~ que vivem em espaços limitados e OOrrasagrestes; povo.s de tradiçóes e povos ainda noscomeços de sua vida histórica - e isso servirá para

JUNHO - 1964 89

um melhor juízo do problema, face àscaracterísticas de nossa gente e do nossolio10.

Resta, antes de prosseguir, esclarecer queforam grandes as dificuldades que tivemosde enfrentar em nossas pesquísas, por faltade elementos. Assim, baseamo-nos nasConstituições estrangeiras que nos foi pos­sível compulsar, muitas das quais, talvez,já estejam modificadas. De qualquer modo,tooas essas Constituições, mesmo as já alte­radas, valerão, pelo menos, como pontosde referêncía, pois têm um valor históricoinegável.

ENQUADRAMENTO cüNSTITUClüNALDO PROBLEMA

A) Na Europa

Na busca do pensamento médio domi­nante sôbre a matéria, comecemos pelaEuropa, onde estão, em maior número, asnações de maior cultura e tradição.

Obedecido o critério alfabético, princi­piemos pela Albânia.

A Constituição albanesa, de 12 de ja­neiro de 1946, é clara e taxativa. No artigo14, onde regula o direito de eleger e deser eleito, dispõe, de modo inequivoco, que"êste direito é reconhecido igualmente aoscidadãos que servem nas fôrças armadas",desde qUe tenham atingido a idade de 18anos, qualquer que seja a sua raça, a suanacionalidade, o seu sexo, o seu grau deinstrução.

Passemos à Alemanha. Tanto na Repú­blica Federal Alemã (Constituição de 23de ma.io de 1949), quanto na RepúblicaDemocrática Alemã (Constituição de 7 deoutubro de 1949), não há nenhuma dispo­sição expressa sôbre a matéria: na pri­meira, diz a Constituição (art. 48), que"ninguém pode ser impedido de aceitar oude exercer um mandato de deputado", e,na segunda, a Constituição (art. 52, n.D 2>estabelece ser "elegíVel todo cidadão com21 anos completos". Não existe, nas Cons­titUições das duas Alemanhas, outro pre­ceito qualquer proibindo o mílitar de votarou de ser votado, devendo o assunto, na­turalmente, estar afeto à legislação ordi­nária.

Na Bélgica, igualmente, a Constituição(de 7 de fevereiro de 1831, modificada em1823, 1920 e 1921) determina que "ne­nhuma outra condição de elegibilidadepode ser exigida" além das fixadas no ar­tigo 50, e, entre elas, nenhuma consta,OpOndo-se aos direitos politicos do militar.

A Constituição da Bulgária (de 4-9-1947)repete a da Albânia, dispondo, no artigo 3.D,

que "os militares em atividade no exércitopOpular gozam do direito de eleger e deser eleitos, do mesmo modo que todos osoutros cidadãos"_

A Constituição da Dinamarca (de 5-6­1915, modificada em 10-9~1920) regula amatéria nos artigos 30, 31, 34 e 35, nãofazendo ao mUitar nenhuma restrição es­plOcial. Em tese, são elegíveis, para a Câ­mara Popular (Folketing) e para a Câ­mara Alta (Landsting), todos os cidadãoseleitores, respeitadas determinadas condi­Ções exigidas em lei.

A Constituição Espanhola (Lei Consti­tutiva das Côrtes, de 17 de julho de 1942)estabelece (art. 2.°) que "as Côrtes se com­põem de procuradores de direito e poreleição, a saber:

.............................. ,;' .....il as pessoas designadas pelo Chefede Estado, em número não superiora 50, em razão de sua ordem na hierar­Quia eclesiástica, militar, administrati­va ou social ou em razão de serviçoseminentes que tenham prestado à Es­panha."

Admite, assim, a presença do militar dealto põsto na Assembléia (Cõrtes), por de­signação do Chefe de Estado.

No artigo 3.°, onde enumera os requisitospara ser procurador junto às Côrtes, nãofaz nenhuma outra referência aos milita­res.

Na Finlándia, a Constituição (de 17 dejulho de 1919) declara (§ 17) que "a orga­nização e as atribUições da Câmara dosRepresentantes são reguladas pela lei or­gânica da mesma", e esta (Capítulo I, §§,e 71, considerando "elegível deputado todoeleitor", isto é, "todo cidadão finlandês,homem ou mulher, tendo feito 24 anos noano da eleição", estipula que "00 militaresem atiVidade não são elegiveis".

A Constituição francesa (de outubro de1958\ prescreve (art. 34) que a lei fixará"as regras concernentes ao regime eleito­ral das assembléias parlamentares e dasassembléias locais", "as garantias funda­mentais concedidas aos funcionários civiSe militares do Estado", enquanto diz, noartigo 25, que "uma lei orgânica. fixará aduração dos podêres de cada Assembléia,o número de seus membros, sua indeniza­ção, as condições de elegibilidade, o regi­me das inelegibilidades e das incompatibi-

90 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

lidades", E a lei (Ordonnance) n.O 58-998,de 24 de outubro de 1958, em seu artigo 6.°,dispõe:

"Ne peuvent pas être élus dans toutecirconscripUon comprise duns le ressortdans lequel ils exercent, ou dans le­quel ils Qnt exercê leurs fonctions de­puis moins de six mois :

.a' ••••••••• , ••••••••••••••• o"

5.0 _ Les officiers des armées de terre,de mer et de l'air exerçant un com­mandement territorial."

Por conseguinte, "si les militaires santéligibles comme ils sont élect'õurs, certainsd'entre eux, tels les officiers dotés d'uuC'ommandement territorial, ne peuventpas être êlus dans le ressort de leurcommandement" .

Segundo a Constituição grega (de 1 dejaneiro de 1952). para ser eleito deputado,basta "ser cidadão heleno, ter 25 anoscompletos e possuir a capacidade legp.l deeleger". Nenhum outro dispositivo consti­tucional trata da matéria.

Na Hungria, a Constituição (de 20-8­1949) considera elegível (art. 65) todo ci­dadão que goze do direito de voto.

A constituição da Irlanda (de 1-7­1931) nenhuma proibição expressa contém,quanto à elegibilidade dos milWJ.res, sejapara a Câmara dos Representantes (Dai!Eiream), seja para o Senado (Seanad Ei­ream).

O mesmo se verifica na Islândia (Cons­tituição de 17-1~1944, arts. 33 e 34).

A Constituição da Itália (de 1 de ja­neiro de 1948), em seu artigo 65. delegaà lei ordinária o exame dos casos de ine­legibilidades e de incompatibilidades, nadafalando sôbre os militares.

Já a de Luxemburgo (modificada por leisde 1919 e 1948) reza que "o mandato dedep~tado é incompatível com os militaresde carreira, em atividade" (art. 54. ~ 1."t.

Omissa. sõbre o assunto, é a Carta Magnado Principado de Mônaco (de 5-1-1911, mo­dificada em 1917),

Nenhuma restrição, na espécie, faz, tam­bém, a Constituição da Noruega (de 17-5­1914) .

A Constituição da Polônia ("Carta daLiberdade e dos Direitos do Cidadão", de22-2-1947) estabelece para os cidlldãos emgeral amplos direitos de votar e seremeleitos.

Em Portugal, o assunto foi deferido àlei especial (art. 85. § l.", da Constituição

de 11-4-1933. modificada por leis de 1935.1936, 1937, 1945, 1959 e 1961), não existindo,no texto constitucional, nenhum impedi­mento para os militares.

A Constituição da România (17-5-1948) épositiva: admite a eleição dos militares.Seu artigo 18 está assim redigido: "Todosos cidadãos, sem distinção de sexo, de na­cionalidade. de raça, de religião. de edu­cação, de profissão, aí compreendidos osmilitares. os magistrados, os funcionáriaspúblicos, são. de direito, eleitores e elegi~

veis, para todos os órgãos do Estado."

A Constituição do Sarre (15-12-1947) nãoinclui os militares entre os inelegíveis,considerando eleglveJ (art. 69) todo elei­tor com a idade de 25 anos e permitindoo direito de voto (art. 66) a todos os sar­renses maiores de 20 anos.

Na Suécia, nenhuma proibição constitu­cional existe, também, na Constituição (de6-6-1809, revista em 1810 e em 1866), masa Lei Orgânica do Riksdag (Parlamento)estabelece, como exceção (art. 3."), que oparlamentar, "sendo militar. poderá, emtempo de guerra, uma vez designado peloRei para o serviço do Estado, ser impe­dido de exercer suas funções no Pllrla­Inento".

Na Suíça, a Constituição (de 24-5-1814.,modificada em 11-9~1949) não dispõe demaneira especial sôbre a matéria, conside­rando (art. 75) elegível membro do Con­selho NacionaI todo cidadão suíço no gôzodo direito de votar.

a mesmo sucede na Tcheco-Eslováquia(art. 4.° da Constituição de 9 de janeiro de1948) ,

Na Turquia (Constituição de 20-4-1924)n~nhum preceito constitucional obsta aeleição dos militares.

A Constituição da União Soviética, talcomo as de outros países da área socialista,permite. de modo expresso (art. 138), aeleição dos militares, assim determinando:"os cidadãos servindo no Exército verme­lho gozam do direito de eleger e de sereleitos, igual ao de todos os cidadãos".

Idêntica disposição contêm a Constitui­ção da Iugoslávia (31-1-1946).

B) No Oriente Próximo e noMédio Oriente

Compulsadas as Constituições européias,vejamos, agora, as dos paises do Próximoe do MédIo Oriente.

No Aiganistão. a Constituição (31-10·1931), que regula o assunto nos artigos 12e 29, nada proíbe.

JUNHO - 1964 91

o mesmo acontece no Egito <Constitui­

ção de 16-1-1950, arts. 6.7 e 114).

A Constituição da Eritréia <de 10-7-1952),

transfere a solução do problema à lei or­dinária, mas considera inelegíveis (art. 42,

letra d) os funcionários, "salvo se pediramdemissão no momento em que apresenta­ram sUa candidatura", o que faz supor sejadefesa a eleição do militar - que tambémé funcionário - pelo menos, se em ativi­

dade.

Também a Constituição da Etiópia (de4-11-1955, art. 96, letra c) incumbe a leieleitoral de disciplinar a matéria, nenhumanorma especial fixando a respeito.

No Iraque, os militares não estão incluí­dos nos nove itens do artigo 30 da Cons­tituição, onde se enumeram os casos deinelegibilidade <Constituição de 7-7-1924,

alterada em 27-10-1943), o mesmo seobservando no Irâ (Constituição de 30­

12-1906, emendada em 1907).

Em Israel, a Lei n.Q 1.951, relativa às

eleições à. segunda Assembléia Legislativa(Knesseth) considera elegível à mesma

"tôda pessoa nascida antes ou durante o

ano de 1929, que não entrou em Israel

fraudulentamente e que, à. data da apre­

sentação da lista dos candidatos, em que

figura seu nome, é inscrito como residente".

Na Jordânia, para ser senador (Consti­tuição de 1-1-52, art. 64) exige-se, entreoutras condições, "ser oficial da reserva,da categoria de general de brigada, no mí­nimo", o que faz crer não possa o militarem atividade, ser eleito, e só o poder, oda reserva, se possuidor daquela alta pa­tente. No tocante à eleição para deputado(arts. 70 e 175), nenhum impedimento.

A Constituição do Líbano (de 23-5-1926,

modificada em 17-10-1927, em 8-5-1929, em9-11-1943 e 21-1-1947) defere (art. 29) à. leicomum o exame do caso, mas determina(art. 7. Q

) : "todos os libaneses são iguais pe­rante a lei. :l!:les gozam igualmente dos di­r3itos civis e políticos e são igualmentesujeitos aos cargos e deveres públicos, semdistinção nenhuma".

A Constituição da Libia (de 7-10-1951),

não inclui os militares entre os inelegíveis,porém deixa o capitulo das inelegibilidadespara ser cogitado na lei eleitoral (arts. 96

e 103).

No Sudão, nenhum óbice constitucionalhá aos direitos políticos do militar (Cons­titUição de 1-1-1956, art. 48), o mesmoocorrendo na Síria (Constituição de 5-9­

1950, art. 39).

C) América Latina

Passemos, a seguir, em revista, as Cons­tituições dos países latino-americanos.

Na Argentina, a Constituição (de 1-3­

1949) trata do assunto nos artigos 43 e 47,

em nenhum deles se fazendo qualquer res­trição ao direito do militar, nem de votar,nem de ser eleito, ao senado ou à Câmara.

N~ Bolívia existe, peremptôriamente, im­pedImento constitucional à. eleição do mi­litar em atividade, pois assim dispõe aConstituição (17-11-1947) em seu artigo 50:

"Os servidores civis, militares em exercícioa~im como OS eclesiásticos com jUrisdição:nao podem ser eleitos representantes na­cionais, com exceção dos catedráticos deUniversidade:'

Na Constituição colombiane. (de 16-2­

1945), na qual, diga-se de passagem, exige­se alta qualificação para o candidato asenador (precisa ter desempenhado algunsdestes cargos: Presidente da RepÚblica,Membro do Congresso, Ministro, Chefe deMissão Diplomática, Governador de Depar­tamento, Juiz do Tribunal Superior, Con­selheiro de Estado, Procurador-Geral, Pro­fessor Universitário ou ter exercido umaprofissão líberal, com título universitário),nenhuma proibição particular existe rela­tivamente aos militares, no concerne~te aodireito de votar e ser votado.

Positiva é a Constituição de Costa Rica(de 7-11-1949), que estatui, no artigo 109:

"não podem ser eleitos deputados nem ins­

critos como candidatos para essa função:

5) os militares em serviço ativo".

No Chile, a Constituição <de 18-8-1925.

reformada em 23-11-1943) não coloca mi­litares na lista dos inelegíveis <art. 28,n.o, 1, 2, 3 e 4).

Como a de Costa Rica, também a Cons­tituição da República Dominícana (de 10­

3-1947) proibe, terminantemente, a eleiçãodos militares, prescrevendo, no artigo 81,

que todos os cidadãos têm direito ao su­frágio, exceto (§ 2.°) "os que pertencemàs Fôrças Armadas e aos Corpos de Po­lícia" .

A Constituição do Equador (31-12-1946)

nada proibe.

Já na Guatemala, a Constituição (de 11­

3-1945), considera inelegíveis (art. 113,

n.o 6) "os militares em serviço ativo".

Do mesmo modo, a Constituição do Haiti(de 25-11-1950) restringe os direitos políti­cos dos militares, estatuindo <art. 149)

92 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGlSLA"TIVA

que, quando em atividade, "nlio podem serchamados a nenhuma outra função pÚ~

blica" .

Igualmente, a Constituição de Honduras(de 28~3-1936, a.rtigo 97. 6.°) não aceita aeleição de milltares em serviço.

A Constituição do México (de 1-5-1917)segue a. mesma. linha., determinando <arts.55 e 58) que, para ser deputado ou senador,o cidadáo não pode estar em serviço ativono exército federal.

Na Nicarágua <Constituição de 1-11-1950)nenhuma proibição entrava a eleição dosrnilltares.

MJ Constituições do Panamá (de 1-3­1946) e Paraguai (de 10-7-1940) tambémnada prolbem.

A do Peru, todavia, declara não seremelegíveis deputados nem senadores, "senão deixam o cargo seis meses antes daeleição", os "membros das Fôrças Arma­das que se achem em serviço", determi­nando, ainda, que "os membros das Fôr­ças Armadas que pertencem ao Congres­so não podem ser promovidos às classesde general-de-divisão, vice-almirante,general-de-brigada, contra-almirante, co­ronel e capitão~de-navio, enquanto durarseu mandato", proibição que cessacontudo, se o militar, "com o prévioconsentimento de sua respectiva Câmara,reingressar no serviço, em caso de guer­ra nacional" <Constituição de 9-4-1933,arts. 99, § 4.°, e 218).

A Constituição de Salvador (de 7-9­1950) proíbe, também, a eleição do mili­tar (art. 35, § I,O).

Rigorosa. e pormenorizada é, na espé­cie, a Constituição do Uruguai (26-10­1951). Assim, em seu artigo 77, diz que "to­do cidadão é membro da soberania danação, e, como tal, é eleitor e elegível, noscasos e formas previstas" i! determina queo sufrágio se exercerá na forma estabele­cida em lei, porém, sõbre as seguintes ba­ses:

"4.° - os militares em ativi-dade, qualquer que seja a sua catego-ria e os deverão abster-se, sob pena de demissão e inabilita­ção, de dois a dez anos, para ocuparqualquer emprêgo público, de tomarparte de comissões ou clubes políticos,de subscrever manifestos de partidose, em geral, executar qualquer outroato público ou privado de caráter pC.

Utico, salvo o voto:'

No artigo 91, 2.°, a Constituição reza quenão podem ser representantes (deputados)"os servidores militares, salvo se a{aste.dosou jubUados", e, no artigo 92, impede quesejam candidatos "os mUltares na regiãoem que tenham o comando de fOrça ouexerçam em atividade alguma função mi­litar, salvo se renunciarem ou se cessaremsuas funções com três meses de antece­dência à eleição".

Idênticas disposições <art. 99) aplicam­se aos senadores.

Na. Venezuela (Constituição de 11-4-1953,art. 56), "os membros das Fôrças Arma­das náo podem exercer o direito de sufrá­gio, pertencer a partidos polfticos, nemtomar parte em atividades dêstes, enquan­to permanecerem em serviço ativo".

Dl Estados Unidos da América do Norte

Segundo a Constituição dos EstadosUnidos da América do Norte <de 1789)não poderá ser representante (deputado)nenhum cidadão que não tenha comple­tado vinte e cinco anos de idade, que nãoseja, há sete anos, cidadAo dos EstadosUnidos e que, ao tempo de sua eleição, nãoresida no Estado por onde se há. de eleger.

Para ser senador, é preciso que o cida­dão tenha 30 anos de idade, nove de ci­dadão, e, à época da eleição, resIda no Es­tado que pretenda representar.

Finalmente, para ser Presidente, é ne­cesst.ri.o, entre outras coisas, que o candi­dato seja americano nato e tenha pelo me­nos trinta e cinco anos.

Em nenhum outro artigo da Constitui­çáo se faz qualquer restrição a direitospoliticos de militares.

E) Brasil

A Constituição do Império, de 25 de mar­ço de 1824. dava o direito de "serem eleitose votarem na eleição de deputados, sena­dores e membros dos conselhos de provin­cia" a "todos os que podem votar na as­sembléia paroquial" e considerava hábeis"para serem nomeados deputados", "todosos que podem ser eleitores", não coloca.n­do, nas exceções, os militares de nenhumacategoria (arts. 90, 91, 92, 94 e 95).

A limitação da capacidade politica domilitar apareceu, mesmo, foi na constitui­ção republicana de 24-2-1891, a qual, no

JUNHO - 1964 93

artigo 70, § Lo, n.O 3 e § 2.°, assim dispu­nha:

"Art. 70 - São eleitores os cidadãosmaiores de 21 anos que se alistaremna forma da lei.

~ LO - Não pOdem alistar-se eleitorespara as eleições federais ou para asdos Estados:

3} As praças de pré, excetuados osalunos das escolas militares de ensi­no superior.

§ 2.° - São inelegíveis os cidadãosinalistáveis."

Mais tarde, o Decreto n.o 14.631, de 19de janeiro de 1921, tornou inelegíveis parao Congresso Nacional (art. 63, 1, letra e)os Chefes e Subchefes do Estado-Maiordo Exército e da Arma.da.

A Constituição de 16 de julho de 1934incorporou em seu texto o dispositivo doreferido decreto, pondo, por conseguinte.no quadro dos inelegiveis, os Chefes e Sub­chefes do Estado-Maior do Exército e daArmada, mas retirou os sargentos da zonaproibida. A hipótese estava prevista nosartigos 108 e 112, onde se lia:

"Art. 108 .Parã,grafo único - Nã.o se podem alis­tar eleitores:

b) as praças de pré. salvo os sargen­tos, do Exército, da Armada e dasFôrças Auxillares do Exército, bemcomo os alunos das Escolas Militaresde Ensino Superior, e os aspirantes aoficial."

"Art. 112 - São inelegiveis:

b) os Chefes e Subchefes doEstado-Maior do Exército e da Arma­da.

dI Os que não esth'erem alistadoseleitores."

A carta outorgada de 1937 (art. 117.parágrafo único, letra b) proibia os mili­tares, em geral, do serviço ativo. de se alís­tarem eleitores, mas, não obstante isso.concedia aos oficiais, mesmo em atividade,o direito de serem eleitos:

"Art. 121 - São inelegíveis os inalis­táveiS, salvo os oficiais em serviço ati­vo das Fôrças Annadas, os quais, em­bora inalistáveis, são elegíveis."

A Constituição de 1946 dã à matéria umtratamento mais explicito e extenso. As­sim, determina:

"Art. 132 - Não podem alistar-se elei­tores:111 .Parágrafo único - Também não po­dem alistar-se eleitores as praças depré, salvo os aspirantes a oficial, ossuboficiais, os subtenentes, os sargen­tos e os alunos das Escolas Militaresde Ensino Superior."

No artigo 138, considera "inelegíveis osinalistáveis e os mencionados no parágra­fo único do artigo 132".

No artigo 139 diz serem inelegíveis, atétrês meses depois de cessadas definitiva­mente as funções, para Presidente e Vice­Presidente da República (1, letra c), "oschefes de Estado-Maior", e para Gover­nador (lI, letra e) os "comandantes dasregiões militares, os chefes e os coman­dantes de polícia" e "os que forem inele­giveis para presidente da República", ine­legibilidades essas que prevalecem, igual­mente (IV), para a Câmara dos Deputadose para o Senado Federal.

As diretrizes constitucionais sôbre a ma­téria se fazem ainda mais precisas no ar­tigo 182, § 4.°, da Constituição, que dispõe:

"O militar em atividade que aceitarcargo público temporário, eletivo ounão, será agregado ao respectivo qua­dro e somente contará tempo de servi­ço para a promoção por antiguidade,transferência para a reserva ou refor­ma. Depois de oito anos de afasta­mento, contínuos ou não, será trans­ferido, na forma da lei, para a reser­va, sem prejuízo da contagem detempo para a reforma."

TR:/tS POSIÇÕES

Do confronto das Constituições cítadas,pode-se, de pronto, deduzir três posiçõesnitidas em tôrno do problema: a doS paí­ses totalitários, particularmente os soda­listas; a dos países da América Latina ea dos países politicamente mais amadure~

cidos.

Observa-se que, enquanto em algunsEstados da chamada Cortina de Ferro, ousujeitos à sua influência - URSS, Iugos~

lávia, România, Bulgária e Albània -, sereconhece, expressamente, ao militar dequalquer pôsto e em qualquer condição, odireito de eleger e de ser eleito, o mesmosucedendo na Espanha, relativamente aos

94 REVISTA DE INFORMAÇÁO LEGISLATIVA

militares de alta categoria, nas naçõeslatino-americanas procura-se, com maiorou menor rigor e amplitude, restringir ou,mesmo, anular êsse direito - como ocorrena Bolivia, em costa Rica, na RepúblicaDominicana, na Guatemala, no Haiti, emHonduras, no MéJtico, no Peru, no Uru­guai e na Venezuela, e, nos demais paises,principalmente europeus, &5 Constituiçõestransferem às leis comuns o ordenamentoda matéria.

Não é, certamente, por acaso, que ospalses assim grupados assumem, frente àquestão, posições definidas.

A permissão, nos Estados totalitários, daparticipação ampla do militar, mesmo emserviço ativo, na vida política, talvez en­contre explicação já nas velhas investiga­ções realizadas por Spencer, que, estudan­do as sociedades nacionais da Rússia, doDaômei, de Esparta e dos Incas (Peru).constatou estreita ligação entre o milita­rismo e um certo tipo de organização so­elal, despótico, centralizado e hierarquiza­do.

A propósito, cumpre salientar que o fe­nõmeno já foi observado, entre outros.por Pontes de Miranda:

"Aliás - diz o eminente jurisconsulto~, o problema tem, naje, de ser versa­do segundo o caráter da orgamzaçãopolítica (Estado Wlipartidário, oU to­talitário, Exército e Marinha partidá­rios; Estado pluripartidário, Exércitoe Marinha SÓ assistentes; ou com ca­pacidade eleitoral ativa \."

E mais:........ onde não se resvalou no EstadoWlipartidário, as fõrças armadas nãose devem envolver nas lutas partidá­rias. E o Exército ou a Armada danação há de assistir às lutns, e nãoacendê-las ou auxiliar as facções."

Por outro lado, o radicalismo de certasConstituições latino-americanas, no senti­do impeditivo, talvez se explique pelo de­sejo de neutralizar tendências caudilhes­cas, tão comuns nos povos do Nóvo Mun~

do, de origem espanhola, e que melhor secristalizam, por óbvias razões, em figurasmilitares,

Já entre os povos politicamente maisdesenvolvidos, o problema não apresentanenhum aspecto particular de gravidade,moUvo por que com ele não se preocupou.de maneira esp~cia), o constituinte, quepreferiu deixar fi. sua disciplinação à. leicomum, onde melhor se· pode, inclusivecom abundância de minúcias. cuidar damatéria, atendendo às condições existen­Ciais especificas dos diferentes povos, cri-

terio que, por melhor se ajustar às reali­dades. é realmente, sempre mais aconse­lhável.

As linhas políticas que Indicam o cami·nho a seguir nesse terreno não estão, noentanto, traçadas de maneira igual, comrigidez e clareza, havendo, mesmo, patsesda área socialista onde se proibe ao mi­litar o direito de eleger-se. e outros, daárea democrática, em que os militares têmacesso, sem maiores objeções, aos cargoseletivos.

Dessarte, as diversas sociedades nacio­nais, por diferenciações em sua formaçãosocial e politica, em seu processo econômi­co, em suas características étnicas, em suahistória, enfim, tendem para essa ou aque·la solução, mas sem obedecerem a umaregl'1i. invariável de conduta capaz de di­vidi-las e classificá-las em entidades ab­solutamente opostas,

DIRETRIZES BRASILEIRAS EDEMOCRATICAS

Themistocles Cavalcanti, comentando oartigo 132 da Constituição, na parte emque se proíbe o voto às praças de pré,explica que a razão dessa proibição "é aobediência hierárquica, a subordinação aocomando, a disciplina militar".

E José Duarte, historiando os Iatos, de·pois de esclarecer que :'l fonte do atualdispositivo constitucional é o parágrafoúnico do artigo 3.° do Anteprojeto, citapalavras de Ivo de Aquino, Cl,ue, justifican­do o texto, lembra ter o mesmo respeita­do o "que tem sido tradição do nosso di­reito polftico", acrescentando que "onegar-se o voto às praças de pré - e pra­ças de pré são tôdas aquelas que não sãooficiais de patente - decorre de motivode disciplina, dentro das corporações mi­litares" .

1l:sse modo de ver é, por sinal, defendidopOr conceituados publicistas, como, entreoutros, León Duguit, que, Rnalisando a an­tiga Constituição francesa, vigente em1924, expunha:

"Aucun militaire ou marin, faisantpartie des armées actives de terre oude mer, ne peut, quels que soient songrade ou ses fonctions, être élu mem­bre de la Chambre des Députés oumembre du Sénat."

E comentava:

"Le législateur a três sagement agi endéclarant inéligibles les mUitalres detout grade e de tout emploi; il est in·dispensable, dans l'intérêt de l'arméeet du pays, qu'ils restent complete­ment étrangers à la l:oolitique,"

____ . __~_..~ __ JUNHO - 1964 95

Tal era, entre nós, também, o pensa­mento de Barbalho:

"AB exceções estabelecidas nos dife­rentes números do § l.~ fundamentam­se na falta de independência e de isen­ção dos excetuados. :G:stes, com efeito,pela sua condição, não podem fazerUso consciente, discreto e voluntáriodo direito de voto, que assim, em suasmãos, perderia tôda significação e va­lar:'

Contra êsse ponto de vista colocou-se,na última Constituinte, Caires de Brito,que pugnava pelo voto dos militares emgeral, assim se pronunciando: "Conceden­do o direito de voto ao soldado, conside­rando o soldado merecedor dessa prerro­gativa de eleitor, estamos elevando, aindamais, o Exército. Temos o exemplo dossoldados americanos - homens que podemescolher os seus dirigentes sem que incor­ram em indisciplina. A subordinação hie­rárquica não exige subordinação de cons­ciência, dada, mesma, a compreensão quecada um tem de seus deveres."

Idêntica posição assumiram outros es­tudiosos do assunto, sendo de destacar opronunciamento, bastante fundamentado,de José Honório Rodrigues, feito nos se­guintes têrmos:

"Nem se poderia negar também o votoàs praças de pré, as quais primeiroforam excluidas por lei ordinária, re­duzindo direitos políticos que a Cons­tituição de 1824 consag(01)."

E prosseguindo:

"Dêste modo, pode-se dizer que impe­dir o voto das praças de pré significauma exclusão ignominiosa. Então ser­ve o S<Jldado para derramar o seu san­gue em defesa da Pátria, cumpre omais sagrado e elCtraordinário direitodo cidadão e não pode cumprir o maiscomum, que é votar?"

Chegamos, agora, ao ponto crucial doproblema: o da tomada de posição. A ma­téria, justamente por ser de tão alta im­portãncia política, tão complexa e tão di­fícil, sobretudo tão discutida e contro­versa, reclama, de todos, um pronuncia­mento claro, objetivo, corajoso, não sendoadmissível, na hipótese, nem o indiferen­tismo, nem a neutralidade, nem a dubie­dade, pois só pelo debate franco e amplode opiniões se podera encontrar um cami­nho certo a seguir.

Enfileiramo-nos - digamos logo - nacorrente dos qUe se batem pelo voto am­plo e pela ampla elegibilidade de todos osmilitares, de qualquer pôsto, apenas exi­gindo, para o pleno exercicio do direitode ser eleit<Js, que sejam afastados da ati­vidade.

Estamos com Pontes de Miranda. quan­do, depois de salientar que "a exclusãodas praças de pré, como se achava nasConstituições de 1891 e 1934, constituiareminiscência de distinçôes de classe, que,infelizmente. volveu em 1946", aponta oseguinte rumo: ,. A verdadeira soluçãopara o problema está nos extremos: ou oExército e a Armada absolutamente afas­tados da capacidade eleitoral ativa. ounão afastados e, pois, sem exclusões."

Afigura-se-nos conveniente ressaltar queexiste uma profunda diferença entre odireito de votar e o direito de ser eleito,não nos parecendo necessária a relação,que tantos insistem em proclamar, entreum e outro.

Todos os militares, marechais ou praçasde pré, em serviço ou na inatividade, de­vem, em nossa opinião, ter pleno direitodc voto.

Sim, por que proibir a praça de pré devotar? As razóes alegadas para tanto ser­viriam para justificar a proibição do votoa todos os militares, pois as praças de préestão para os tenentes como êstes paraos capitães, os capitães para os majores.êstes para os coronéis, os coronéis paraos generais, êstes para os marechais.

Se coação pUdesse haver, nas consciên­cias das praças de pré Ce a aceitação des­sa coação seria um insulto ao caráter dooficial) por parte dos superiores, tambémse poderia fazer sentir, pelos me:;mos mo­tivos, nas consciências dos demais oficiais,sempre sujeitos a um comando, dentro dahierarquia dos quadros militares.

Ademais, por que se excluir do direito devotar somente a militares, quando, em tô­das as demais atividades, públicas ou pri­vadas, existem superiores e subordinados?

Os funcionarios públicos subalternos, su­jeitos a uma infinidade de "comandos",não estão impedidos de votar nem de sereleitos. Teoricamente, qualquer "barnabé"pode atingir aos mais altos escalões eleti­vos do Brasil.

Os sacerdotes, cuja ascendência sôbreseus "rebanhos" é indiscutivel, nenhumalimitação sofrem em seus direitos politicos.

Votam livremente, e livremente são v(\­tados, os professôres - que formam opi-

96 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

niões - e os alunos, cujas opmlOes, emprincipio, são formadas pelos professó~

res ...Elegem e são eleitos, sem maiores cons­

trangimentos, os que manejam dinheirospúblicos ou particulares e OS que dêles de­pendem - presidentes e diretores de Ban­cos, oficiais ou particulares; de CaixasEconômicas; de Institutos de Previdên­cia; de autarquias, fundações e socieda­des de economia mista poderosas, como aPetrobrás, a Companhia Siderúrgica Na­cional, a Fundação Brasil Central etc. -,e nem por isso ninguém tentou, até hoje,enxergar um mal no ex.ercicio dos direitospol1ticos fundamentais, por parte de taiscidadãos, apesar das tremendas irregulari­dades e proclamadas imoralidades que nes­ses órgãos têm ocorrido, por motivos po­llticos.

Não vemos, portanto, por que se devatornar defeso o direito de voto ao militar,seja de que grau fôr, mesmo em serviçoativo.

Entretanto - assinalemos, de pronto -,achamos que o voto esgota o direito poli­tico do militar em atividade. Por isso, nãoreconhecemos, nesse militar em atividade,o direito, também, de ser eleito.

Como miUtar puro, não deixa o militarde ser cidadão; mM, no momento em quedeseja ser eleito, em que se faz candidatoa um cargo eletivo, ai, nesse momento,êle faz uma opção: deixa de ser militar,para ser político, e por isso entendemosque, para o exercício dêsse nôvo direito,o de ser elegível, carece o militar de afas­tar~se do serviço ativo.

Como candidato, êle o seria por um par­tido, e não deve, portanto, ser permitidaatividade polft1co-partidária nos quartéis,como não o deve ser nas igrejas, nem nossindicatos.

Assim como não' deveriamos privar aspraças de pré de votarem, por exemplo,para Presidente da República, num Ca­xias, também não deveríamos permitir queum militar, mesmo do porte de Caxias,se dedicasse às atividades pol1ticas sem,antes, afastar-se de suas funções milita­res.

O militar, enquanto em atividade, há deabster-se da polftlca.

Como o funcionário civil, o militar é umservidor do Estado, e, por isso, não con­cordamos possa ser Imposta aos militares,na espécie, nenhuma proibição não exis­tente para os civis.

O servidor civil, seja qual fôr o grau desubordinação, ativa oU passiva, em que se

ache situado nos quadros burocráticos doPaís, não está limitado em sua capacidadepolítica e nem é obrigado a aposentar-se,caso pretenda candidatar-se a um cargoeletivo, estando sujeito, tão-somente, a cer­tas normas que, se de um lado, acautelamos interesses do serviço, por outro ladovisam ao resguardo dos direitos do servi­dor. Dessarte, "só por antiguidade poderáser promovido em exercício de mandatolegislativo" o servidor, mas "será compu­tado como de efetivo exerclcio o tempo emque desempenhar função legislativa daUnião, dos Estados e dos Munlcipios". Ou­trossim, passando a perceber subsídiO!> eoutras vantagens. "perde o vencimento ouremuneração quando no exerciclo de man­dato eletivo remunerado, federal, estadualou municipal". Não estando, também, aserviço de seu cargo, "não tem ajuda decusto o funcionário que em virtude de man­dato eletivo deixar ou reassumir o exer­cício do cargo". Finalmente, para evítarperseguições, o funcionário civil, candi­dato a cargo eletivo, não pode, consoantea lei, "ser transferido ou remOvido seismeses antes e três meses depois de cadaeleição, nem quando estiver em cargo ele­tivo".

Aos militares, a nosso ver, bastaria aaplicação, mutatis mutandis, de tais nor­mas, e é por pensar assim que considera­mos satisfatória, em principio, a orienta­ção constitucional sôbre a matéria.

Para nós, os dispositivos da Constituiçãode 1946, relativos ao assunto, Imprimem umrumo certo, democrático e patriótico, aoproblema.

Nossa única discrepância está em quenão vemos nenhuma razão para recusaràs praças de pré o direito do voto, e, emconseqüência, o de ser elegível, uma vezfora da atividade.

Impedidos os militares, quando em ser­viço, de se imiscuírem em coisas da poll­tica, sem prejuízo do direito de escolher,pelo voto, como qualquer cidadão, os seusrepresentantes à Chefia da Nação. ao Par­lamento e às diversas Câmaras legU>1ati­vas, estamos que a liberdade de consciên­cia e a disciplina dos militares estariamperfeitamente resguardadas, nada justifi­cando que, afastados da atividade, conti­nuassem impossibilitados não só de esco­lher livremente seus candidatos aos cargoseletivos como, também, de disputar as pre­ferências do eleitorado.

Nem se alegue que, uma vez eleito. e,assim, tendo participado ativamente daslides políticas, fique o militar sem condi-

JUNHO - 1964 91

ções para retornar ao serviço ativo, parao qual teria perdido aquelas condições psi­cológicas inerentes ao exercicio normal docargo militar. Pensamos, pelo contrário,que a experiência adquirida pelo militarno exercício de um mandato eletivo lheabrirá novos horizontes cUlturais, ampli­ando-lhe a visão das coisas, e isso s6 lhepoderá ser útil em suas tarefas normais.

Quanto ao perigo de, retornando à ati­vidade, o militar procurar agir em proveitodessa ou daquela ideologia, ou dêsse oudaquele partido, não existe, pois os regu­lamentos têm dispositivos bastantes paraenqua<1rá-Io, evitando distorções em suaconduta funcional.

A verdade é que não há nenhuma razãopoderosa, pelo menos não neutralizável,capaz de justificar seja o militar, oficialou praça de pré, privado do direito de vo­tar e de ser eleito, pois isso, se, de umaparte, o dispensaria da responsabilidadede participar da escolha dos representan­tes do povo aos cargos eletivos, por outrolado privaria o Pais de contar com os ser­viços do militar, em cargos políticO$, mes­mo quando êle, por seus altos merecimen­tos, estivesse em condições de, no Parla­mento oU na alta administração, realizargrandes coisas em beneficio do País.

Para nós, as disposições coru;titucionaisvigentes sôbre a matéria são suficientespara resguardar as atividades do mí1ítarde possíveis influências politico-partídárias,e, ao mesmo tempo, os direitos do militar,eventualmente servindo em postos eletivos.

O que se quis, na Constituição, foi des­ligar o servidor, civil ou militar, quandoeleito, do seu mandato, isto é, desvincularo servidor do político, sem se ferir seusdireitos fundamentais de cidadão, e iSso,parece, foi conseguido pelos preceitos, jámencionados, da Constituição e dos Esta­tutos dos Funcionários Públicos Civis daUnião.

Destinam-se, as Fôrças Armadas, a de­fender a Pátria e a garantir os podêresconstitucionais, a lei e a ordem.

Ora, como eleitor, e$colhendo, pelo voto,o Presidente da República. ou seus repre­sentantes ao Parlamento, ou, como eleito,exercendo o poder ou participando, noCongresso, da obra legislativa, o militar,com maior experiência da coisa pública,terá fortalecido a sua consciência de cida­dão, porque, direta ou indiretamente, teráadquirido uma compreensão mais verda­deira da natureza e da função das leis edo funcionamento dos podêres constitu­cionais, melhor se capacitando, portanto,

para garanti-los, e, assim, defender a Pá­tria.

A história nos ensina que o Brasil, aocontrário das demais repüblicas latino­americanas, não precisa, como fizeram es­tas, precaver-se contra tendências auto­cráticas de militares, pois os mUitares,aqui, só compartilham de lances políticospara livrar a democracia das pretensõesdos eventuais caudilhos.

BIBLIOGRAFIA

Manual de Sociologia, de Jay Rumneye Joseph Maier

Comentários à Constituição, de Pontesde Miranda •

Les Constitutions Europénnes - Mir­kine Guetzérvitch

Le:s Constitutions du Proche et duMoyen Orient, de J. E. Godch

Traité de Droít Constitutionnel, deLéon Duguit

Constituição Federal - João Barbalho

A Constituição Brasileira de 1946 ­José Duarte

O voto do analfabeto e a tradição bra­sileira - José Honório Rodrigues,publicado no "Jornal do Brasil"

A Constituição Federal Comentada, deThemistocles Cavalcanti

Estatuto dos Funcionários PúblicosCh'is da União

Codice Constitu.~ionale deHa. RepublícaItaliana - A. Giuffré Editore

Constitution Lois Organiques etOrdennances re/atives aux Pou­voirs pub/ics - Jornaux Offlciels

Organisation Politique, Administrativeet Sociale de la France - La do­cumentation française - Secréta­fiat Général du Gouvernement

Constituição Politú;a da Repúblú;uPortuguésa

Constitution de la Républíque Popu-laire Hongroise Revue Hon-groise

Constitution de La République Socia­liste Fédérative de Yougslavie ­Sécrétariat à l'information Prés leConseil Executif Federal.

Comentarios a las Constituciones Po­liticas de lberoamerica - LuisMuno:>:.

DIREITO

DEGREVE o:'

PARECER

Parecer proterid,() na Comissão de Consti·tuição e Justiça da Câmara dos Deputadossôbre as emendas (substitutivo) do Senado aoProjeto de Lei da Câmara 11,,0 t.471.D.49 (11,.0

24, de 1958 - no Senado Federal) que regulao direito de greve, na forma do artigo 158 daConstituição Federal.

PARECER

Omitida nas constituições brasileiras, na doImpério, em 1824, e na República, nas de 1~1 e1934, a greve aparece pela primeira vez em nossasCartas Políticas, no estatuto outorgado em 1937,s~ndo proibida:

"Art. 139 - A greve e o ~ock-out são decla~

rados recursos anti-socilJ.is nocivos ao trabalhoe incompatíveis com os superiores interêsses daprodução nacional."A interdiçã.o foi justificada por entenderem

seUs propugnadores serem incompossiveis direitode greve e justiça do trabalho, notadamente por­que esta tem jurisdição normativa, com o que de­cide in genere e não in casu, colhendo tôdauma categoria profissional, mesmo aquelas que lheforem contrárias OU permaneceram indiferentes.Se há uma justiça especializada, de composiçãoparitária pela representação de empregados e em­pregadores, com missão conciliadora e, frustradaesta competência contenciosa, além do mais exa­rando sentenças normativas, o que configura de­legação legislativa, entendem comentadores quecoincidentemente não poderá haver direito de gre~

ve, inclusive para que, em certas ocorrências. nãose enseje o desacato à decisão judicial. Assinale~

se que as Constituições de 1934 e 1937, respect1~

vamente nos ar~. 122 e 139, instituíram a Justiçado Trabalho, mas a segmentaram da Justiça co­mum e não a instrumentalizaram com as preuo~

gativas de paridade, normatividade e pré-instân­cia pacificadora.

A Constituição de 1946 assim SOa, no art. 158;":ll: reconhecido o direito de greve, cuio exer~

cicio a lei regulará."O texto impóe algumas conceituações, como

pressupostos necessários ao parecer que o relatordeve exarar.

1) Não pertence o art. 158 à categoria dos pre~

ceitos auto-aplicáveis, auto·executáveis ou sei/­acting vale dizer, aquêlcs cuja exeqüibilidade in­depende de complementação legislativa.. A dinl\­mica da norma - seu "exercício" será regulado"por lei", segundo sua própria confissão assim atipifica. Logo, sem lei reguladora náo há exereicio do

(') Vicie a obre. "Direito de Greve" - editada peloServiço de Informação Legislativa, em Janeiro de 1964-, que contém o histórlc.o. a leglslaçA.o, a. jurispru­dência e a tramitação legislativa da matéria relativaao direito de greve. anterIor ao presente Parecer.

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direito de greve, cUja existência passaria aser latente ou pOtencial, proclamado naConstituição, mas não instrumentalizadopela lei.

2) HÍlltàricamente, a greve teve no Bra­sil a evolução que, em geral, teve no mun­do: greve-fato, greve-direito (sancionadaem leil e greve-instituto (categorizada naConstituição), Ontem, como hoje, a greveé, acima de tudo, o "fato". :t tatual suacontextura, conjuntural sua natureza."Greve é a ação direta", explica Hauriou.Greve "acontece", Tal congenialidade nãopode ser esquecida por quem queira social­mente conhecer o fenõmeno ou tenha amissão de juridicamente discipliná-lo. OEstatuto civico brasileiro se serviu da ter­minologia tecnicamente acertada ao procla­mar, no art. 158, que o direito de greve "éreconhecido".

A lei, na espécie, necessàriament~ há deser fort.€, inclusive em sua atualidade, paraamparar a luta reivindicatória do proleta­riado, mas sabia e forte, também para dis­criminar os abUS08 e puni-los. Só se salva­rá, pelo respeito e para a aplicação, se fôrjusta, socialmente justa.

A imanência do "fato" na greve a situana área restrita da defesa privada, na com­panhia de espécies que lhe são afins, comoa legitima defesa, o direito de retençãoetc. :e: exceção à regra da substituição dadefesa pessoal, pelas próprias mãos, pelaautoridade pública. Essa regra vem consa­grada no art. 345 do Código Penal, quandoclassifica como conduta delituosa "fazerjustiça pelas próprias mãos, para satisfazerpretensão, embora legítima. salvo quando alei o permite".

A greve é um dos melhores exemplQS decomo, no campo social, tôda ação provocareação desigual e em sentido contrário. Ahistória dos fenômenos sociais costuma serpendular, saltando de um para outro exa­gêro, é oscilatória de uma para outra de­masia. Excomungada, como o foi na, Cartade 1937, e canonizada na Magna Cartade 1946 com universalidade que lhe atestaa substância cristã e popular, t.€m inspi­rado exegeses distorcidas, ora como um di­reito incontrastável e incondicional. Prou­dhon a anatematizou, na violenta e histó­rica polêmica com Marx, como o "direito àchantagem", e Sorel arvorou-a em "mitosocial", um dos espigões da hÍlltória, equi­parável como sacrifício e exemplo à cruci­ficação de Cristo. O qUe é inquestionável éque ela marchou dos tempos heróioos darecusa ao trabalho mal pago nas concen­trações espontâneas na Place de Greve,

em Paris, às margens do Sen'l. e ao lado daPrefeitura, da qual herdou o nome. parase hierarquizar nas Constituições de quasetodos 08 povos, até no preâmbulo, qUe ésUa síntese. de uma delas, a da França,situando-a entre os "droits inalienables etsacréstí" e "les principes fondamentaux re­counus par les lois de la Republique", para,com elastério semelhante ao preceito na­cional, afirmar que "o direito de greve seexerce no quadro das leis que o regÚlamen­tam." (Preâmbulo da Constituição Fran­cesa de 1946.)

3) A Constituição de 1946 diz "direito degreve" (art. 158). Se é "direito", não podeser arbitrio ou licença. li: insito ao direitoser limitado, pois não há direito ilimitado.Não há direito absoluto, incontrastado. Se­ria a negaçáo do próprio direito, que é dis­ciplina de relação. Ouça-se Calamanàrei:"Se é direito, automàUcamente tem limite."O direito de alguém termina onde começao direito de outrem. Por igual. o direito aca­ba onde principia o abuso no seu exercício.O direito é consectário de convivência, éregra de convívio. impossível onde cada. umpossa fazer o que queira e não o que deva.A sociedade, tôda ela. é um condominio,sendo condóminos todos os cidadãos, quemoralmente têm e legalmente devem terdireitos e simultâneamente obrigações de­correntes da condição humana. Quando al­guém é titulado ~om um direito, concomi­tantemente terceiros ou a coletivida.de sãotitulados com li segurança de que as obri­gações correspondentes serao cumpridas.Por isso, uma de suas mais belas definiçõesé a do "jus est quod jussum est", isto é, odireito é a ordem, a classificação dos indi­viduas e das coÍllas em seus lugares pr6~

prios.Sendo direito, a greve tem pré-requisi­

tos e condicionamentos, dos quais enume­rarei alguns;

a) Pela titularidade. l1: exercido peloempregado, pelos sindicatos, federaçõesou confederações obreiras e não porqualquer cidadão. Pressupõe um contratode trabalho, exige a figura do emprega­dor. Por ÍllSo, uma de suas melhores de­finições é a de "recusa concertada detrabalho nas condições desejadas peloempregador", Indisfarçàvelmente, a gre­ve é episódio da luta de classes, entre opatronato e os despOssuidos, atraVés daqual o operariado intervém na dialéticada produção. A palavra tem mau em­prêgo técnico, doutrinário e legal quandose refere a greve de estudantes, de do~

nas de casa, de prisioneiros, da fome, de

100 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

enfermos, de contribuintes. De conse­guinte. na titularidade se surpreende umlimite ao direito de greve.

b) Pela pluralidade. ~ um direito co­letivo. plural. sindical, não um direitoindividual. Uma pessoa só não pode fa­zer greve.

c) É "meio" e não "fim". l!: meio dereivindicações obreiras. Utilizada comotim, é revolucionária, instrumento deagitação, arma de subversão do regimevigente. l!: importante sublinhar que agreve não tem critérios imutáveis, variano tempo e no espaço, modifica-se con­forme o povo e os estágios de civilização,subordina-se a pressupostos filosóficos,ideológicos, éticos e sociais de quem aexamina e do Estado que a regula. Emsua ortodoxia. greve é meio para me­lhoria de contrato de trabalho e essavinculação é um de seus pré-requisitosfundamentais.

d> Greve é direito que convizinhacom outros direitos, por igual, de estru­tura constitucional. com os quais deveconviver. Comecemos pelo art. 94 daConstituição Federal, no inciso V, cata­logando a Justiça do Trabalho como ór­gão do Poder Judiciário. para, no art.122, organizá-la escaloná-la, e, no art.123, de importância capital. fixar-lhe jU­risdição conciliatória contenciosa. nor­mativa e estabelecedora de condições detrabalho como a seguir se lerá em sualinguagem textual:

"Art. 123 - Compete à Justiça doTrabalho conciliar e julgar os dissí.­diaS individuais e coletivos entre em­pregados e empregadores, e as demaiscontrovérsias oriundas de relações dotrabalho regidas por legislação espe­cial.~ 1.0 - Os dissídios relativos a aci­dentes do trabalho são da competên­cia da justiça ordinária.~ 2." - A lei especificará os casosem que as decisões, nos dissídios cole­tivos, poderão estabelecer normas econdições de trabalho."eJ A greve sendo direito, não poderá

desacatar decisão da justiça.

Na tricotomia do art. 36 da Constituição,o Judiciário é um dos podêres da União.Suas sentenças têm elastério "erga omnes".são de obediência compulsória e inexcep­tuável, sob sanção até de intervenção nosEstados, para fazê-los obedientes CQmo ga­rante o art. 7.°, Inciso V. e de crime de res­ponsabilidade do Presidente da República.na voz do art. B9, inciso VIII. O art. 141,

~ 3.°, da Constituição, interdita a lei deprejudicar "a coisa julgada". O Poder Le­gislativo, assim, está. constitucionalmentesujeito ao decidido pelo Judiciário, sendocensurável, como nula, a lei que editar des­respeitando-o. A sacralidade dos arestos édogma da República, configurando Itn'Üte â.greve, que não poderá afrontá~la, como nãoo podem os cidadãos. os Estados, o PoderLegislativo, o Presidente da República. opoder administrativo enfim.

A coexistência do judiciário trabalhista,apetrechado de competência normativa,com o direito de greve. imposição de nossoCódigo PoUtico, tornou mais diflcil a regu­lamentação do instituto. Há quem vejanisso wna "contraditío in terminis". Se háum poder apto a conciUar, decidir. maisdo que isso, a expedir normas compreensi­vas de tôda uma categoria profissional e,por delegação constitucional, investir-se nafunção legislativa de 1nstituir "condiçõesde trabalho" (Constituição, art. 123, § 2.°),sendo incontroverso que tais manifestaçõessão de cumprimento forçado, como e porquê o direito de greve? - perguntam.

A indagação, que comportaria réplicadoutrinária, no Brasil é disputa bizantina,uma vez que "legem habemus". Os artigos158 e os atinentes ê. Justiça do Trabalho,bem como a legislação complementar sub~

seqüente, devem ser harmonizados, a fimde que nos dissidios coletivos operem, com~patibilizados, o direito de greve e a com~

petência dos pretórios especializados. nãosó em aplicá-lo, como ainda em elaborá-lonormativamente.

A coincidência de preceitos de idênticasoberania jurjdica e disciplinatórios dosmesmos fenômenos sócio-econômicos, éuma das peças da mecânica dos freios econtrapesos, pressupostos filosófico e ins~

titucionlJ,1 de todo regime democrático. Naprincipiologia da Constituição de 1946, aregra do contraste, do controle e do limiteé SUbjacente à universalidade de seus man~damentos.

Ninguém - homem, grupo ou instituição~ pode tudo sôbre o que ou quem quer queseja - eis a suprema segurança da demo~

cracia contra a prepotência em qualquerde suas formas; pes:soal, econômica ou po­lítica. Nela, a Constituição é a técnica doscontrôles, método de compartimentação depoder e de funções, a impossibilidade dedireitos ou prerrogativas absolutos, con­trastando os próprios podêres da Repúblicanuma dinâmica de interpenetração e fis­calização mútua, a fim de que o Executivoparticipe da ela\:)oração legislativa, o legis-

JUHHO - 1964 101._._-- --- ---- -_._---~----_.----

lativo se corresponsabilize pelo govêrno, ojudiciário anule leis e atos de ambos, vi­ciados de inconstitucionalidade ou ilegali­dade. Nela, o Estado, para que não esma­gue o homem, é contido pela muralha dasgarantias individuais, e o egoismo do ho­mem e das emprêsM, inclusive da pro­priedade, é contido pelo primado do bem­estar social.

Acrescente-se que o art. 158 admite aparalisação temporária do trabalho, o art.145, da Constituição, disciplina o traba­lho como "obrigação social", que nenhumcidadão poderá ser impedido de prestar.Garante o art. 141, § 2.°, que "ninguémpode ser obrigado a fazer ou deixar defazer alguma coisa". Portanto, no caso"sub specie juris", assegura que ninguémé obrigado a aderir à greve ou esta obstarque alguém prossiga prestando seus ser­viços. O direito de aliciar, peculiar à gre­ve, não pode vulnerar a inviolabilidade dapropriedade, patrocinada pelo art. 141,nem se extralimitar em abusos de calú­nia e injúria contra companheiros, em­pregadores ou autoridades, condenados noart. 141, § 5.°.

A incolumidade da propriedade, contraatentados e depredações, está no "caput"do art. 141 e repetida no seu parágrafo16, estando a correspondente "sanctio ju­ris" enunciada nos arts. 200 e 202 do Có­digo Penal, quando se trata de crime con­tra a organização do trabalho.

4) Oponha-se reparo à omissão no art.158, do "lock-out". A Carta de 37, no art.139, não incidiU nessa censura. O "lock­out" é o "pendant" da greve, sendo o pa­tronato o titulado. A legislação do Pais,através do Decreto-Lei n.o 9.070, disci­plinou a extensão análoga, embóra a es­pécie seja diferente. O substitutivo doG~nado, no art. 33, reporta-se à cessaçãode atividades por parte do empregador.~ óbvio que o silêncio da Constituição, naespécie, não significa vedação a que a leiordinária o quebre, ordenando semelhan­te manifestação de protesto patronal. AConstituição desconhece o "lock-out", masnão o proíbe.

5) ~ muito dificil regular o exercício dodireito de greve. sempre o foi, aqui ou emqualquer país. A Constituição da França écontemporãnea da nossa - 1946 - e, comoa nossa, enfatizou a greve. Ate agora nãocomplementou os textos magnos, tendo secircunscrito, em 1950, na lei de 11 de fe-

vereiro, estranha ao assunto e assim mes­mo após árdua batalha parlamentar, anela inserir o art. 4°, assim escrito:

"A greve não rompe o contrato de tra­balho, salvo falta grave imputável aoassalariado."

O preceito se impunha para obviar di­vergências interpretativas confligantes, quepodiam decretar o rompimento do contratode trabalho, como sanção à greve, com oconseqüente não-pagamento dos dias falto­sos e até demissão dos grevistas. Portariaministerial francesa de 22 de março de 1950enUmerou as "faltas graves", assim mesmoexemplificativamente, deixando aos tribu­nais campo para dirimir dÚvidas, ao men­cionar "as ViM de fato, a violência para im­pedir a liberdade de trabalho, a destruiçãode material".

Tentemos, agora, assinalar algumas ba­lizas no terreno explosivo e cinzento quea lei complementar ao artigo 158 terá quedemarcar:

(J,) A Constituição reconhece o direitode greve. Mas não é o único. Proclamaoutros, que com êle convizinham, con­vivem e interpenetram. ~ missão da leireguladora da greve garantir o livreexercício dêsses direitos, para que nãose hostilizem nem se choquem.b) O art. 158 ordena que a lei reguleo exercício do direito de greve. A lei nãopoderá "encurtar" o mandamento cons­titucional. Com O propósito de "regular",não poderá "eliminar" o direito ou em­baraçar-lhe o exercício, contra a "menslegislatoris" e a "mens legis" do art.158. O direito de greve é "reconhecido",diz o art. 158. A lei, as autoridades e ojudiciário não podem, válidamente, "ir­reconhecê-lo", negar aos respectivos be­neficiários seu exercício, porque êstesestão titulados a tanto pela própriaConstituição. Não haja dúvida: o art.158 faculta, por lei, o Regulamento dagreve e não a Permissibilidade dagreve. A redação do art. 158 discrepada que a Constituição Federal de 1946deu à maioria das normas não auto-exe­cutáveis ou "self-acting", por isso mesmode exeqüibilidade dependente de com­plementação legal posterior. Em geral,"na forma da lei" (art. 131), "na formaque a lei estabelecer" (art. 134), "me­diante lei especial" (art. 146) e até"a lei estabelecerá as condições" (artigo137), são as locuções empregadas, cadaUma delas assinalando maior ou menorelastério do diploma suplementar.

102 REVISTÁ DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

1l: êste o tombamento dos artigos daConstituição qUe exigem lei comple­mentar:

Regido por legislação especial - art.123, § 2.°.Na forma que a lei estabelecer arts.

134, 141, ~ 14, § 15, art. 168, IV.A lei estabelecerá - art. 137.Na forma que a lei preceituar - art.

141, § 5,°.Na forma da lei - art. 141, § 7.°, 10

e 32 - art. 153, 154 ~ art. 162.Pelo tempo que a lei fixar artigo

141, § 19.NOII casos expressos em lei artigo

141, § 20.Nos casos previstos em lei artigo

141, § 22.Com a organização que lhe der a lei

- art. 141, § 28.A lei pe1Ull regulará - art. 141, § 29.A lei disporá sôore - art. 14.1, ~ :U ­

art. 106, parágrafo único - artigo 149 eart. 151.Regulados por lei federal - artigo 15,n.o VI.

Estabelecidos em lei federal - artigo15 § 2.°.

Por lei especial - art. 65. IV.A lei regulará - art. 108, § 2.° - art.

119, art. 158, art. 161 - artigo 179 § 2.°.A lei específícDrá - art. 123 § 2.° ­

art. 180, § 1.0.A lei organizará - art. 125.Respeitados os preceitos de lei - art.

142.Mediante lei especial - art. 146.A lei reprimirá - art. 148.A lei criará - art. 150.Exigidas pela lei - art. 153, § 3.°.A lei facilitará - art, 156.Nos têrmos e pela forma que a lei de~

terminar - art. 157, IV.Nos casos e condições previstos em lei

- art. 157, V.Reguladas por lei - art. 159, art. 165

- art. 205.Observados OS impedimentos e as pres­

crições da lei - art. 163, § 1.°.A lei instituirá - art. 164.Respeitado.s as leis que o regulem ­

art. 167.A lei promoverá - art. 174, parágrafo

único.Dentro dos limites da lei - art. 176.Que a lei determinar - art. 179, § 1.0.Nos têrmos e sob as penos da lei

art. 181.Que a lei estabelecer - art. 181, § 1.0

- art. 184.

Com os direitos e deveres definidos emlei - art. 182, § 3.°.No art, 158, o direito de greve ê reco~

nhecido. definindo esse reconhecimentosuperlegal1dade constitucional invulnerávelpor preceitos de hierarquia juridicl\ ordi­nária. Titulou com o Direito de Greveos trabalhadores. Uma veZ reconhecido,seu exercício é Que se desenvolverá noquadro (para usar a expressão do Preâm­bulo da Constituição Francesa) da legali­dade. Tem pureza constitucional. assim,o Capítulo III, do TitUlo I, do Substitu­tivo do Senado. quando admite a grevenos chamados serviços fundamentais ­água, luz, gás, transportes etc. - expres­samente proibida pelo Decreto-Lei n.o9.070, de 15 de março de 1946. Com a su­perveniência da Constituição de 1946, me­ses depois êsses e outroo artigoo conflitan­tes Com o Código supremo tiveram a vi·gência casaada. Se B. Lei Maior não 00­criminou entre trabalhadores em atlvida~des acessórias e fundamentais, reconhe­cendo que todos têm o direito a greve,como vàl1damente estaria a lei comumapta a f~·Io?

A lei complementar ao art. 158 da Cons·tituição terá de evitar dois abusos: o deescamotear direito outorgado pela Cons­tituição e o de tolerar arbítrio extralimi·tações, prepotência no pseudo-exerciciodêsse direito.

cJ A greve não se opõe só ao empre­gador. Habitualmente. também, se anta­goniza ao Estado. É êste que fixa o sa­larArio-mínimo e até o profissional, a.duração da jornada de trabalho e re­pouso sema.nal remunerado, as férias, alicença. a aposentadoria. o risco de vida,a higiene e salubridade do trabalho ­enfim, tôda a matéria-prima das gre·ves. O Estado está em causa, portantoé personagem do conflito, o que impõesua presença e autoridade atravét. delei disclpl1natória. Não pode omitir-se,máXime quando se pondera que o dirí­gismo é imperativo da épOCa, notada­mente a crescente intervenção nas re·lações econômicas. Há outro pressupOStoimpeditivo de que o Estado relegue àspartes dissidentes os atritos trabaUtis­tas. C1àssicamente havia na greve doisprotagonistas em choque: patrão e em­pregado. Hoje há a massificação da pro­dução, que tem proporções regionais oUnacionais, e não meramente locais, dan­do categoria de litisconsorte a um ter­ceiro figurante no pleito. o consumidor,representado pelo Estado oU pela lei.Porque ê atingida, a opinião pública mo-

JUNHO - 1964 103

derna é muito sensível às greves, infor­mando-se e reagindo, com a condenaçãoou com o aplauso, não sOmente comomanifestação desinteressada de justiça,mas para operar como poderoso grupode pressão, exigindo a rápida e equânimesolução da pendência de que é vítima nasua segurança, na sua economia, no seubem-estar, na sua subsistência, Aeficiência da greve, como remédioheróico para que os obreiros re­cuperem a fôrça aquisitiva de seus sa­lários ou conquistem condições mais pró­prias de trabalho, deflui dos prejuizosque a cessação concertada da atividadeprofissional acarreta, tanto assim quelhe é imanente a interdiçâo da substi­tUição dos grevistas por outros assala­riados, ainda que só durante o dissídio,a não ser quando se trata de serviço in­suscetível de solução de continuidade.Também é interditado o seguro contra agreve, para que esta não se despoje dopoder de dano temporário,Pelo que se leu, e haveria mais, não fôra

o mêdo de alongar o presente parecer, per­cebe-se por que é universalmente precáriaou inexistente a legislação permissiva econtroladora da greve, pois sua elabora­ção terá que transitar indene entre as se­duções da demagogia, a malícia revolucio­nária, o ranço do reacionarismo ancoradono "statu quo" e o autoritarismo ou a par­cialidade cúmplíce da ação governamen­tal. Significa busca a equilíbrio difícil, ár­dua procura de eqüidistância sábia, maspor isso mesmo indispensável, porquantofermentos sociais tão violentos e perigo­sos não podem ser confiados à manipula­ção arbitrária e incontrastável dos empre­gados, empregadores, co~umidores, todosresponsáveis pela ordem e pela segurança.

Redigidos os pressupostos do parecerque me cumpre exarar, que reputo conve­niente explicitar para tornar claros meuscritérios informativos na apreciação damatéria, como manda o Regimento, exa­minarei isoladamente as Emendas produ­zidas pelo Senado ao Projeto n,a 1.471,originário da Câmara dos Deputados. En­tendo que a base para o debate e votaçãona Câmara revisora deva ser o Substitu­tivo do senado, que desenvolveu maiscompridamente o assunto, fazendo-o em36 artigos. quando o da outra Casa doCongresso tem somente 14. Haverá, assim,material mais vasto para a opção queagora, conclusivamente, o legislativo iráfazer.

Considerarei singularmente cada artigodo Substitutivo do Senado, para aconse-

lhar aprovação, reJelçao, parcial ou total,supressão de palavras ou alterações reda­cionais. Nem a Constituição nem o Regi­mento impedem semelhante procedimento.A redação é a oportunidade final paracorrigir erros ou contradiçõ?s evidentes,preservar a lógica e a unidade do sistema,ofendidas por enunciados assimétricos,capturar a verdadeira "mens legislatoris"distorcida e até traida por linguagem in­feliz, A redação se descategoriza quandose pretende minimizá-la a simples habili­dade de catar sinônimos ou restabelecer oimpério da regência e da concordância.Tal servilismo é abominado até pela tra­dução, que, para ser boa, há de ser leal aoespírito e não à letra do t~xto para quenão sofra a maldição de "tradutore tra­ditori" .

Tanto a redação dos diplomas não émecânica, importando em ensejo para apri­morar a elaboração legislativa, exprimindocom pureza o espírito ou a intenção fi­xados na votação que a mesma é subme­tida ao plenário, portanto sujeita a seremendada ou recusada.

A hermenêutica do relator tem assenta­mento nas preceituações disciplinadorasda espécie, como a seguir se lerâ.

ART. 69 DA CONSTITUIÇAO FEDERAL

"Se o projeto de uma Câmara fôremendado na outra volverá à pri­m?ira para que se pronuncie acêrcada modificação, aprovando-a ou não.§ 1,0 - Nos têrmos da votação final,será o projeto enviado à sanção."

ART. 150 DO REGIMENTO INTERNODA CAMARA DOS DEPUTADOS

"O Substitutivo da Câmara a projetodo Senado será considerado como sé­rie de emendas e votado, separada­mente, por artígos, parágrafos, núme­ros e letras, em correspondência aosdo projeto emendado.Parágrafo' único - Proceder-se-á damesma forma com relação a substitu­tivos do Senado a projeto da Câ­mara,"

O Relator confessa entender o Substi­tutivo do Senado suscetível de reformula­ções, inclusive para aditamento de maté­ria nova. Contudo, a Constituição e o Re­gimento na etapa de tramitação em quese encontra a proposição, assinalam com­petência meramente opcional à Câmarados Deputados, Sua intervenção, material­mente, é mais judicante do que legife­rante, pois irá julgar entre o que aprovou

104 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

inicialmente e posteriormente emendou oSenado. Escolherá. entre aquilo que já foiaprovado, numa ou em out~a Casa doCongresso não lhe sendo defendo mtrod~­

zir matéria nova, de vez que se as~nm

agisse também se abriria oportunidade paraa outra Casa emendar, o que perpetuanao trânsito do projeto.

A votação final, que agora se dará, for­malizará um dêstes resultados:

a) aprovação, "in totum", das Emen­das do Senado, com a conseqüente re­jeição, "in totum", do projeto aprovadopela Câmara;

b} rejeição, in totum, das Emendasdo Senado. o que implicará na aprova.­ção in totu.m do projeto aprovado pelaCâmara;

c) conjugação de artigos do projetoaprovado pela Câmara com Emenda.soferecidas pelo Senado.8ó têm tempestividade constitucional e

regimental alterações redacionais Que eX­primam a mens legislatoris, sendo fun­damental para que isso suceda Que não seperca de vista que wn diploma, como oque se quer editar, é um conjunto, um sis­tema, devendo sua linguagem preservll.rêsse espirito de unidade e harmonia. Éóbvio que nenhuma matéria nova poderáser introduzida. O Judiciário poderia ful­minar como inconstitucional semelbantelicença.

Reconhecendo o esfôrço inicial da Câ­mara., abrindo perspectivas e vencendo aprimeira etapa para pronunciamento doCongresso sôbre problema que renteia coma ordem e o bom funcionamento social doregime, ao qual se somou o do Senado,que meritõriamente desenvolveu a maté­ria, com a vantagem manifesta de quemfala por último, o relator confessa queaceita o possivel em face da emergênciaregimental que dita a sorte do projeto.Seguramente sugeriria emendas, e muitas,não fõra a interdição a um tempo cons­tituciona.l e regimental. Traduz sua posi­ção a alternativa realista do "Quand oun'a pas ce que l'on alme. 11 faut aimerce que I'on a".

Adotadas as modificações redacionaisque postula, crê que a regulamentaçãomelhora a legislação vigente, facilitandoposteriores acrescimos e aprimoramento.

O relator passará, agora, ao exame dasEmendas do senado.

EMENDAS DO SENADO

"Art 1.0 - O dIreito de greve, assegu··rado pelo art. 158 da Constituição Fe-

deral, será exercido nos têrmos da pre­sente Lei."

PARECER

Trata-se de texto remissivo, pois repeteo art. 158 da Constituição Federal. subs­tituiu "reconhecido", da linguagem cons­titucional, por "assegurado". Creio que atroca não deve prevalecer por duas razõesprincipais:

a) é da !ma técnica da legislação re­missiva que se atenha à redação da quese conecta, para obviar Inconvenien­tes, que às vêzes os sinônimos acarretam;

b) como já foi dito neste Parecer, aLei Magna fOi feliz quando se serviu dapalavra "reconhecido". porquanto é aque bem traduz a caracteristica de"fato", de "acontecimento", peculiar àgreve. O direito de greve foi "reconhe­cido" pelo art. 158, pois assim êste seexpressa.. O art. 1.0 do SUbstitutivo,quando expressamente se reporta aotexto da Lei Magna, deve reproduzir-lhea elocução.

EMENDA

Art. 1.°:

Onde está:"assegurado",

eSCreva-se:"reconhecido" .

ARTIGO 2. 0

"Art. 2." - Considerar-se-á exerciciolegitimo do Direito de Greve a suspen­são coletiva e temporáría da prestaçãode serviços a empregador, por delibe­ração da assembléia-geral qe entida~e

sindigal representativa da categoflaprofissional, interessada na melhoriaou manutenção das condições de tra­balho vigentes na emprêsa ou emprê­sas correspondentes à categoria, totalou parcialmente, com a indicação pré­via e por escrito, das reivindicaçõesformuladas pelos empregados, na formae de acõrdo com as disposições pre­vistas nesta Lei.

Parágra.fo único. Não se inclui noconceito de greve a diminuição Injus­tificada do ritmo de produção."

PARECER

Artigo de capital importância. Define agreve, fixando-lhe o continente. Entre ~s

pré-requisitos da greve, para que seJa 11­cita, figura a. "melhoria oU manutenção

JUNHO - 1964. ----_._-------~-----------------

105

das condições de trabalho". lt a greve pro­fissional. De conseguinte, quando não hou­ver motivação profíssional. vale dizer, pos­tulações salariais ou de condições de tra­balho mais benéficas, a greve não se situanos quadros legais. Repita-se, em home­nagem ao signifícado da formulação emexame: o art. 2.° define o exercício lega!,portanto permissível, da greve. Descreve­lhe os requisitos. "A melhoria ou manu­tenção das condições de trabalho", é umdêles.

A redação sugere ao relator as seguin­tes ponderações:

a) l!: impróprio dizer: "exercício legí­timo do Direito de Greve". l!: impossívelo exercício "ilegitimo" de um direito.São duas palavras que se "hurlent de setrouver ensemble". O próprio Substi­tutivo diz corretamente no Capitulo lI,na epígrafe, "exercício do Direito deGreve". Incensurável, por igual, o "exer­cício do Direito de Greve", refel'Ído noart. 6.°. "Exercício legítimo do Direitode Greve" é iterativu, configura tauto­logia, que a emenda proposta a seguirbuscará corrigir.

b) O art. 2.° admite a greve para"melhoria ou manutenção das condiçõesde trabalho". E para a criação de novascondições? l!: justa a luta para lográ-las,inclusive através de greve. Inequivoca­mente houve omissão. Parece ao relatorque a lacuna se suprírá através de exe­gese que situe a espécie na "melhoria dascondições de trabalho".

cl O parágrafo único do art. 2.° deveser suprimido. "Diminuição injustificadado ritmo de produção" não é greve.Greve é a "suspensão", a "cessação tem­porária" da prestação de serviços. Oparágrafo é conceitual meramente. Aregulamentação Que se quer editar cuidada greve e de seu exercicio regular. Oque não fór greve não necessita e nãodeve ser tratado. Porque o que fôr exer­cício legítimo, a futura lei expll.citamenteafirmará. O parágrafo único poderá en­sejar ambigüidades, como, por exemplo,compreender no conceito de greve a di­minuição "justificada" da produção. Paraque se configure a greve, ante a dou­trina e a legislação comparada, impõe­se a suspensão coletiva do contrato detrabalho, a paralisação da atividade porparte dos empregados. :e, aliás, o quecom boa técnica e melhor doutrina,enuncÍa o Substitutivo do Senado. Clau­dicou, assim, com a superfetação do pa-

rágrafo único, com a agravante de seprestar a exercícios futuros de exegese,divorciados da mens ~egisl<ttoris. O De­creto-Lei n.O 9,070, de 15 de março de1946, no art. 2.°, parágrafo 2.°, sujeitaàs prescrições atinentes à greve a "dimi­nuição sensível e injustificada" do ritmode trabalho. Mas foi censurado pela im­propriedade conceitual. O texto agoraapreciado reproduz a preceituação obje­tada, bem como, e aqui verbis o pará­grafo único, do art. 30, do anteprojetodo Ministro Geraldo Bezerra de Menezes.

EMENDAS AO ARTIGO 2°

1.".1 Onde está:

"Consíderar-se-á exercício legítimodo Direito de Greve"

escreva-se:

"Considerar-se-á exercício legítimoda greve."

2." I Suprima-se o parágrafo único.

ARTIGO 3."

"Art. 3.° - Só poderão participar domovimento grevista, em tódas as suasfases, as pessoas fisicas que prestemserviços de natureza. não eventUal aempregador, sob a dependência dêste emediante salário.

Parágrafo único - São consideradaslícitas as greves reivindicatórias visan­do à melhoria das condições contra­tuais e as vinculadas ao exercicio deatividade profissional."

PARECER

Define o que seja "empregado", paraefeIto de considerá-lo titulado com o Di­reito de Greve, l!: quem "preste serviços denatureza não eventual a empregador, soba dependência déste e mediante salário".É claro: a "continuidade" na prestação doserviço é que condiciona sua "suspensão".vale dizer, a greve. Precisamente o queesta evidencia é o desejo, explícita é a in­tenção dos assalariados em prosseguiremservindo o mesmo empregador, só que nascondições que reivindicam. l!: a suspensãotemporária, não o abandono deUnitivo. É aconfirmação, não a rejeição do empl'êgo,por ser pressuposto necessário à prestaçãode serviço "continuo" ou "permanente"portanto não "eventual", é que a greve"suspende o contrato de trabalho" lart.22, paràgrafo único, do Substitutivo do Se-

106 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA'--~~---

nado I. A redação apresentada motivaestas considerações:

a) o art. diz "movimento grevista" oque, aliás, o Substitutivo repete em outrospassos. Contudo, também se vale da pa­lavra greve, com tõdas as conotações quea mesma implica, com a vantagem mani­festa de precisada na doutrina e na le­gislação. Não é de boa técnica, nummesmo diploma, servir-se de palavras di­ferentes para enunciar fi mesma coisa.Por que "movimento grevista"? Pareceque será vantajoso uniformizar, em todoo Substitutivo para "participar da gre­veH~

bl por que "em tôdas as suas fases"?Quem não tiver a qualidade de empre­gado, na defínição do próprio artigo,não participando de "tôdas as fases" dagreve, poderá participar de qualquerdelas? Isso significaria possibilitar a in­tromissão de terceiros não qualificados.Retirando-se a ciáusula expletiva, ficaráclaro que sendo empregado legitimamen­te interessado na greve, poderá interfe­rir em tôdas ou em "qualquer" fase dagreve;

c) o parágrafo único é repetitivo. Oart. 2.° fixou que será legítima a greveque reivindique "melhoria ou manuten­ção das condições de trabalho". O pri­meIro inconveniente é ser iterativo. E oé incompletamente pois omite "manu­tenção", mencionada no art. 2.° e, comoêste, se esquece da "criação de novascondições de trabalho". Neste passo,pois, a redação em exame padece dedois males: repete e repete incompleta­mente. Continua o texto: "e as vincula­das ao exercicio de attvidade profissio­nal". Isso também está compreendido nadefinição do art. 2.0 quando estipula serpré-requisito da greve "a suspensão co­letiva e temporária da prestação de ser­viços ao empregador", para "melhoria oumanutenção das condições de trabalho".Para corrigir a lacuna premencionada,no art. 2." a Comissão de Constituiçãoe Justiça poderá aceitar a reiteraçãoque o parágrafo único do art. 3.0 im­porta, mas ficando na conceituação ge­nérica a de "greve profissional", comoserá oferecido em emenda.

EMENDAS AO ARTIGO 3.°

L"' No caput:

Onde 118tá;

"Só poderão participar de movi­mento grevista",

escreva~se;

"Só poderão participar da greve."

2.8 ) Suprima-se;

"Em tõdas as suas fases."

3.8 ) Suprima-se o parágrafo único.

ARTIGO 4."

"Art. 4.° - t: vedada a extensão domovimento grevista a outras emprêsas,estabelecimentos, seções ou atividadesda mesma categoria profissional, sema prévia deliberação da assembléia-ge­ral da entidade sindical, que tiver au­torizado a greve originàriamente, ouda entidade sindical que represente acategoria profissional interessada naextensão do movimento grevista."

PARECER

A redação "veda a extensão da greve".Não há por que falar em "extensão". l!:conceituação estranha à sistemática doSubstitutivo. Nêle, o fundamental para alicitude da greve é a reivindicação profis­sional, é estar em caUSa, através de pos­tulações salariais ou de condições de tra­balho: salubridade, férias, jornada de tra­balho, salário-famUia etc. Com a superve­niência da motivação justa, os órgãos declasoo estarão legalmente habilitados apromover a greve. Não há por que falarem "extensão". Pondere-se, também, nadisjuntiva "ou", marcando a intervençãoadmitida, a titulo de "extensão", do sin­dicato que originàriamente deflagrou agreve ou da entidade sindical interessadana "extensão do movimento grevista". Oque parece insuscetível de equivoco, comodecorrência da filosofia e dos pressupostosque informam ao Substitutivo do Senado, éque, irrompida Uma greve, outras poderãosurgir desde que adimplementem os requi­sitos legais, entre éles, a melhoria do con­trato de trabalho que jurIdicamente vin­cula o empregador ao empregado. A no­ção de "extensáo" é estranha, notadamen­te pela maneira pela qual foi tratada: ­vedada no início do artigo e admitida de­pois com c1ausulamento ambíguo. Datavênia, reputo desaconselhável, por defeitode "mise au point",

JUNHO - J964 107

EMENDA AO ARTIGO 4.u

Suprima-se o art. 4.° do Substitutivo.

ARTIGO 5.°

"Art. 5.° - O Direito de Greve nãopode ser exercido pelos servidores daUnião, Territórios, Estados, Municí­pios e autarquias salvo se se tratar deserviço industrial e o pessoal náo re­ceber remuneração fixada por lei ouestiver amparado pela Legislação doTrabalho."

PARECER

A matéria versada neste art. 5.° é umdos punctum prurtons do material ex­plosivo que estamos manipulando. Os fun­cionários e servidores públicoo são titula­res do Direito de Greve. O art. 5.° res­ponde "não", no que, de resto, é acompa­nhado pela maioria da legislação de ou­tras nações. Os propugnadores da interdi­ção arrimam-se nas seguintes razões:

a) a funçáo pública é de naturezacontinua. Não é suscetivel de soluçã.o decontinuidade. Interpreta a ordem, a se­gurança, a presença do Estado e da Lei.Os hiatos valem como acefalia, comoanarquia, como ausência de comando ouou de atividade exercida em nome detodos para o benefício de todos, por issomesmo impossfvel de paralisação, aindaque temporária. Seria o vácuo, aindaque episódico, da aut.oridade do Estado;

b) a funçrio pública, via de regra, mo­nopoliza certa atividade. Só o Estado,por intermédio de seus agentes, podeexercê-la. Suprime ° apêlo ao sucedâ­neo, o que, via de regra, não sucede coma greve nas atividades empresariais,onde a paralisação, por exemplo, das fer­rovias, admite a locomoção pelo trans­porte rodoviário, aéreo, maritimO, ou,mesmo, através do voluntariado parti­cular como recentemente sucedeu emSão Paulo, quando da greve dos táxis;

c) a ininterruptibilidade da ação ad­ministrativa do tipo, por exemplo, dae~erCÍda pela Polícia, pela Justiça, pelasFôrças Armadas, pelos marinheiros e tri­pulantes, quando em alto mar;

d> a administração, o Estado, nãoantagoniza o sindicato, não pode, insti­tucionalmente, ser "contra" mesmo por­que ela se exercita pela lei. No quetange aos seus agentes, é a lei que criaos cargos, atribui-lhes direitos e obriga­ções, estipula a paga. E a lei é a ema-

naçã.o da vontade do povo, pelo menosda maioria. enunciada por representan­tes livremente credenciados. De conse­guinte, na hipótese, seria admitir a gre­ve contra a Lei;

e) o argumento principal, contudo, éo qUe informa estar o funcionário e oservidor pÚblicos vinculados à adminis­tração por uma relação estatutária le­gal, e não contratual. Mesmo os quevêem na nomeação vinculação contra­tratual, categorizam-na como "de di­reito público", pela preeminência do in­terêsse do Estado. Rafael Bielsa consi­dera, na espécie, "impossible toda asi­milación a un contrato civil". (Dere­cho Administrativo, t. lI. págs. 102usque lOS). Stainof ensina no "LeFonctionnaire" (pág. 53) : "c'est le contratde droit. public, contrat administratif oucontrat de fonction publique. On luili donné divers noms dans les diverspays et chez les divers auteurs, maisau fond tous comprennent sous cesdivers dénominations ce même contratqui, d'aprés eux, doit être soigneusementdistlngué du contrat de droit civil, ducontrat de louage de services". Os queperfilham a tese de ser estatutária a re­laçáo, observam que o funcionário no­meado, quando voluntàriamente aceita anomeação, aceita os deveres e os direitos~ixados no Estatuto, na lei geral, a queele na verdade "adere" e não "cria"qualquer dos elementos anteriormente elegalmente fixados. Carlos MedeIros Sil­va, contraditando ser contratual, aindaque de direito público, a relação, asser­toa que "não encontra mais eco nostempos modernos, em que o interêsse pú­plico domina o individual" <Diário Oji­cial da União, de março de 1954, páginas3.523 a 3.527). Vai-lhe nas pegadasContreiras de Carvalho, na pág. 59 doseu "Estatuto dos FuneionárJos PúblicosInterpretado": - "Inegàvelmente, a teo­ria da relação contratual está, hoje, su­perada, tal a evidência da supremacia dointerêsse do Estado sobre o funcionário".Conclusão: não há contrato de trabalho.A função pública não suporta a suspen­são pela greve.

A redação do art. 5.° propicia estasobservações:

aI Não é feliz quando soa: "O di­reito de greve não pode ser exercido".Se é direito, pode ser exercido. Na hi­pótese, para os funcionários e servidores,não é direito, na conceituação do subs­titutivo. Se não há o "direito", comocausa, não pode haver o "exerckio",

108 REVISTA DE I~FORMAÇÃO LEGISLATIVA

como efeito. Crê o relator que a inten­ção do legislador se registra com maisfidelidade na redação que sugere ememenda.

bl O art. 5.0 fala em "servidores daUnião, Territórios, Estados, Municipiose autarquias". E os funcionários públi­cos? Será "dcspeciendo" reeditar aqui adistinção, por não serem sinõnimas asduas palavras. Além da voz unânime dadoutrina e da jurisprudência, "legemhab€mus", o que, para efeito de cumpri­mento, elimina qualquer controvérsia.De fato, define () art. 2.° do Estatuto dosFuncionários Públicos Civis da União edos Territórios: "Para os efeitos desteEstatuto, funcionário é a pessoa legal­mente investida em cargo público; ecargo público é o criado por lei, comdenominação própria, em número certo,e pngo pelos cofres da União."

Já o servidor desempenha função enão cargo, não é nomeado, é contrata­do. O mensalista, o horista, o diarista,o tarefeiro, o credenciado são servidores.:é: rotineira a abrangéncia de ambas asqualificações de funcionário e de servi­dor - em uma só dessas designações.A emenda oferecida propõe-se fi identi­ficar as espécies através de seus nomessingulares e legais, em benefício da cla­reza e da verdade.

Cl O art. 5.°, na enumeração exaus­tiva e não meramente exemplliicativaque faz, de vez que exprime interdição,chega até "autarquias". Exclui as "so­ciedades de economia mista". Pelo art.5°, a greve é admitida nas sociedadesde economia mista da União, dos Ter­ritórios, dos Estados e dos Municípios,sendo que as federais ora existentes são:Banco do Brasil S. A., Centrais Elétri­cas BrasHeiras. Sociedade Termoelétricade capivari (Sote1ca). Banco de créditoda Amazônia, Banco do Nordeste doBrasil, Companhia de Eletricidade deManaus, Companhia de Navegação doSão Francisco, Centrais Elétricas doMédio São Francisco, Companhia Hidro­Elétrica de Campo Grande, Usina Ter­moelétrica de Figueira, Companhia Na­cional de Seguros Agrícolas, companhiade Eletricidade do Alto São Francisco,Rede Ferrovüiria Federal S. A., FabricaNacional de Motores, Instituto de Res­seguros do Brasil, Companhia Siderúr­gica Nacional, Companhia Nacional deAlcalis. Companhia Usinas Nacional ­Companhia Vale do Rio Dôce, Campa-

nhia Hidro-Elétrica do São Francisco,Petróleo Brasileiro S. A. (Petrobrás).­(Organograma organizado pelo DASP.em 1962). A publicação oficial não men­ciona a COSIPA e o Banco Nacional doDesenvolvimento Econômico, também so­ciedades de economia mista. Nas em­prêsas incorporadas ao patrimônio daUnião, administradas por Superinten­dência subordinada ao MinistérIo da Fa­zenda, não-catalogadas na vedação doart. 5.°, pode haver a suspensão concer­tada de trabalho.

O relator concorda com as dimensõesdo art. 5.°. A sociedade de economiamista tem maioria do capital oficial,mas tal peculiaridade não a despoja danatureza de sociedade por ações, "em queo poder público é acionista como qualqueroU,tro, em igualdade de condições e dl­reltos. Se se tratasse de atividade públf­cS:, genuma.. a co-parti.cip~ parUcularnao seria exeqüível. A condição de ma­joritário do Estado não outorga êsse"status" de funcionários oU servidorespúblicos aos empregados dêsse tipo desociedade, sendo os mesmos regulados,ou devendo ser por imperativo de orto­doxia, pela Consolidação das Leis doTrabalho. Via de regra, ê emprêsa in­dustrial. como qUalquer outra sujeita àparalisação pela greve.

d) Preceitua o art. 5.°: a greve é viá­vel quando se "tratar de serviço indus­trial e o pessoal não receber remunera­ção fixada por lei ou estiver amparadopela legislação do trabalho". ~ certasorte a alternativa "ou estiver amparadopela legislação do trabalho" é expletíva.Se a lei não regula, especificamente. osvencimentos e, com êles, os direitos atri­buições e deveres, a Consolidaç~ dasLeis do Trabalho é o regime geral. Sen­do declaratório, e com Incontestável mé­rito de eKplicitação, sou pela man\1~n­

ção da adendo.

EMENDAS AO ARTIGO 5.°

Onde está:"O Direito de Greve não pode ser exer­cido pelos servidores",

redija-se:"a greve não pode ser exercida pelosfuncionários e servidores".

ARTIGO 6.°

"Art. 6. o - O exercício do direito degreve deverá ser autorizado por deci­são de assembléia-geral do sindicato

JUNHO - 1964 109

que representar a categoria profissio­nal dos associados. por 2/3 (dois ter­ços), em primeira convocação e por1/3 (um têrço) em segunda convoca­ção, em escrutínio secreto e por maio­ria de votos.~ 1.0 - A Assembléia-Geral instalar­se-á e funcionará na sede do Sindi­ca to ou no local designado pela Fede­ração ou Confederação interessada, po­dendo, entretanto, reunir-se, simultâ­neamente, na sede das delegacias e se­ções dos Sindicatos (Consolidação dasLeis do Trabalho, art, 517, § 2.°), sesua base territorial fôr intermunicipal,estadual ou nacional.~ .2,° - Entre a primeira e a segun­da convocação deverá haver o inter­regno minimo de 2 (dois) dias.~ 3.° - O quorum de votação será de1/8 (um oitavo) dos associados em se­gunda convocação, nas entidades sin­dicais que representem mais de 5.000(cinco mil) profissionais da respectivacategoria,§ 4.° - Sempre que o irrompimento dagreve tenha sido autorizado por asso­ciados em número inferior à metadedos profissionais da categoria, fíliadosà entidade sindical e interessados nareivindiCação, ao empregador é fa­cultado impetrar ao Ministério do Tra­balho e Previdência Social a realiza­ção de plebiScito na emprêsa. fábricas,estabelecimento ou seção afetados pelomovimento grevista, no prazo de 5(cinco) dias, a partir da notificação(art. 11), de acôrdo com as formali­dades previstas nesta lei.~ 5.° - O empregador e seus prepos­tos diretos não participarão do plebis­cito, sob pena de nulidade."

PARECER

Ocorre ao relator dizer o que se seguea propósito da formulação pré-transcrita:

ai No "caput" do art. 6.° está escrito:"Assembléia-Geral do sindicato". "Enti­dade Sindical", como vem enunCiado noart. 2.0 e no art. 4.0 do Substitutivo pa­rece ser a melhor redação. Primeiro,pela vantagem da uniformidade, usandoas mesmas palavras para as mesmas coi­sas ou situações. Segundo, porque não é sóo sindicato o instrumentalizado para for­malizar a greve. São-no também as fe­deraçôes, confederaçóes, o Departamen­to Nacional do Trabalho ou o Departa­mento Regional do Trabalho, nos doisúltimos casos quando da inexistência de

entidades sindicais de qualquer grau.~ o que reza o art. 10 do Substitut.ivo,repetindo, aliás, a solução sucessivamen­te substitutiva do art. 857, da Consolida­ção das Leis do Trabalho, cujo parágra­fo único consolida acréscimo consubs­tanciado na Lei 2.693, de 23 de dezem­bro de 1955.

Vale dizer que não é só o Sindicatoo apto para promover a Assembléia-Ge­ral para decidir da greve. Se os empre­gados interessados não forem, ainda, sin­dicalizados, poderão fazê-lo a Federaçãoou Confederação representativas da CIl­tegoria. Na ausência destas, o Departa­mento Nacional ou Regional do Traba­lho. Quando, assim, o art. 6° cuida daAssembléia-Geral decisória da greve nãodeve isolar-se na espécie "sindicato"como féz mas genericamente referir-se a"entidade sindical", como, com acêrto, ofizeram os pré-transcritos arts. 2.° e 4.".Observe-se que o § 3.° do mesmo art.6°, com acêrto e uniformidade. retornaà locução "entidades sindicais". Embora,por amor à concisão, se pude~se sinte­tizar: "na sede das entidades sindicais",quando o § 1.0 do art. 6.0 di~ "na sededo sindicato ou no local designado pelaFederação ou Confederação interessada",a decomposição analítica obvia a imper­feição que macula a redação ora "subcensura".

bl O art. 6.° ordena que a decisão daAssembléia-Geral seja por 2;3 (dois ter­ços.. em primeira convocação e por 1/3(um têrço) em segunda convocação.Pergunta-se: 2/3 ou 1/3 de quê? Dosasso(;iados? Dos presentes? A redação si­lencia. Porém mais adiante, "in fine",conclui o art. 6°; "em escrutínio J5ecl'et.oe por maioria de votos". Conclui~se, deconseguinte, que 2/3 ou 1/3 é "quorum"para votação e não "quorum" de vota­ção. A exigência é de dois terÇoS, emprimeira convocação, e um têrço em se­gunda convocação, dos associados, paraque a assembléia se instale, para que osvotos possam ser colhidos. Dentro dêsse"quorum" de presença é que a decisãose tomará por maioria de votos.

O que é incontroverso é que o art. 6.°afirma que a decisão da Assembléia­Geral será respectivamente, por 2/3 e1· 3. ltsse é o quorum de votação, de pro­nunciamento. É implicito que se trata de2·3 ou li3 de votos dados por associados,porque este é, repita-se, o quorum paravotação e não de votação, número depresentes para instalação da assembléia.O art. 524 da Consolidação das Leis do

110 REVISTA DE INFORMA.ÇÃ.O LEGISLA.TIVA

Trabalho exige que os associados estejamquites, para que os resultados não p;J3­S9.m s~r manipulados o que se daria coma vot3.ção de trabalhadores de fato afas­tados da entidade sindical, inclusive pelonão-pagamento. Essa condição consta doart. 5.°, letra "d", do anteprojeto do Prof.Manuel Cavalcanti de Carvalho. O Subs­titutivo devia ter abrigado semelhantecautela.Resta saber:

Essa "maioria de votos" contida no art.{lo, se conecta com o ~ 4'" do mesmo ar­tigo, para, uma vez atingida nas vota­ções colhidas na Assembléia Geral, sendofavorâvel à greve, elidir que o empre­gador impetre o plebiscito? Só por inter­pretação se poderia chegar a tal con­clusão. As palavras não o dizem. Aomissão é simultânea: o art. 6.° não€xplica qual a finalidade de semelhantequorum, inútil para captar a vontade dosempregados quanto à abstenção ao tra­balho, para o que, repita-se, os númeroshábeis são 2;3 ou 1;3; o ~ 4.° abre a viaplebiscitária, quando a anuência fõr de"associados em número inferior à m~ta­

de doS profissionais da categoria", nãofazendo qualquer remissão ao quorumconstante do art. 6.a De outro lado nãoexplicita não sendo ésse o quorum, quan­do e como o mesmo seria registrado porAssembléia-Geral? Outro embaraço des­ponta: de qUe tipo é a "maioria de votos"do art. 6.~? Absoluta ou relativa? É a re­lativa, isto é dos presentes à Assembléia,metade mais um dos mesmos? Ou amaioria dos aSSQciados? Quorum não sepresume, quorum se enuncia. Eis o pe­cado de técnica da redação. Tanto as­sim é que o do * 4.° é de maioria abso­luta, uma vez que se compõe da metademais um "dos profissionais da categoria,filiados à entidade sindical e interessa­dos na reivindicação". A condição é deautorização do "sim" d-l maioria dos pro­fissionais "filiados" e nd.o de profissionais"presentes". Conclusão: a maioria sim­ples do art. 6.0 existe mas não tem en­dcrêço, e a do ~ 4° tem end~rêço, masn-lo existe. De qualquer sorte, como orelator é pela ellminação do principal, noepisódio, isto é, o plebiscito, como adiantese lerá, tal entendimento. como preHmi­n~r, retira a única "chance" de apro­veitamento do obscuro quorum mensio­nado, "in fine", no art. 6.°,

c l A comp::'tência que o § 1.° do art.6.° confere à federação ou à confedera­ção interessada de designar local paraassembléia geral há de ser entendida em

conexão com o art. 10, vale dizer, só seconfigura quando da inexistência de sin­dicato.

d) O relator recebeu ponderaçõesqu~nto à existência do interregno de doisdias entre a primeira e a segunda con­vocações, estipulado no § 2.° do art. 6.°.O receio é a coincidência do transcursodo prazo com feriado oU dias em quejornais não circulem. De fato, o Subs­titutivo consagrou o prazo de cinco dias(In sua sistemática. Contudo, a proposi­ção não pOde, na fase de tramitação emque se encontra, sofrer emenda de mé·rito.

el O relator aconselha a rejeição dosparágrafos 4.° e 5.° do art. 6.", porque:

1.°) O plebiscito é instituto estranho àleffislação trabalhista. A entidade sindi­cal, que tem categoria constitucional, éo órgão hábil para instrumentalizar asreivindicações da classe. Inclusive por·que pode ser punido por abusos ou irre­gularidades.

2.°) O § 4." não menciona como seconstitui a mesa diretora do plebiscitonem o quorum para decisão, que n~ces~

sàriamente deveria ser superior ao veri­ficado na aSS€mbléia que agora, atravésde manifestação plebiscitária, se queranular. Circunscreve-se a admitir o ple­biscito se a greve for autorizada "por as·sociados em número inferior à metadedos profissionais da categoria". Seriadislate pretender que veredictum plebis­citário revogasse manifestação sindicalanterior com número inferior de votan­tes.

3.°) O § 5.° não define quais os em­pregados que possam ser havidos como"prepostos diretos". A participação dés­tes, importando em nulidade do plebis­cito, fácil será prever a interposição derecursos para a competente declaração,sempre que o resultado do plebiscito con­trarie o da assembléia-geral. Com a va­gueta da expressão - "prepostos dire­tos" - proliferarão as ações. Isso ocor­rendo surpreendem-se novas emissões:- Quem sentenciará a nulidade? O Mi­nistério do Trahalho? O Tribunal Re­gional do Trabalho? A Justiça ordi­nária? E em que prazo? São perguntasQue 03 paràgrafos 4.° e 5." não respoD­d€m. A questão do prazo é fundamental,porquanto os mesmos se articulam na sis­temática do Substitutivo. Havendo nuli­dade, a repetição do plebiscito quebraráa concatenação cronológica dos cinco oudez dias para a deflagração da greve(art. 111, dos cinco dias \lara conciliação

JUNHO - 1964-~---------~--- --~----~~--~-

111

(art. 13), ainda dos cinco dias para ainstauração do dissídio coletivo, por in­conciliáveis as partes (art. 26) ,

4,°) A instância plebiscitária signifi­cará a complicação de um mecanismo,que deve ser rápido e simples, Sendo agreve anomalia, evidenciando crise gravenas inter·relações patronais e operárias,cumpre à lei estabelecer meios expeditospara recuperação da normalidade. Con­sidere-se, também, o teste de prestígiopara o sindicato que o plebiscito desen­cadeará, inspirador de incidentes e vio­lências. Gurvithe informa que nos Esta­dos Unidos a manifestação censitária éadotada. Mas os principios que a infor­mam são outros, pois através dela sequer apurar se os trabalhadores não es­tão constrangidos pelo poderio das"unions". Propriamente, o que se colima,naquele país, através do plebiscito, nãoé amparar o empregador, mas os operá­rios, instituindo forma de decisão forada área sindicalista. A propósito, assina­le-se que a polêmica e famosa Seção B,do Taft-Hartley Act, de 1947, organizaproteção do trabalhador contra a ação,até constrangedora, do "unionism". Mui­tas greves, nesse país, foram acionadaspara obrigar à sindicalização (tradeunionism), com apelo ao "picketing",sendo que a legislação "yankee" admiteque as organizações trabalhistas respon­dam por danos e perdas em ação de in­denização.

EMENDAS AO ART. 6.0

1.") No art. 6,°:

caput:

onde esta:

"assembléia-geral do sindicato",

escreva-se:"assembléia-geral da entidade sin­dical" ,

2."1 Suprimam-se os parágrafos 4.° e 5.°,

ARTIGO 7.°

"Art, 7.° ~ A Assembléia~Gera] seráconvocada pela Diretoria do Sindicato,com a publicação de edítais nos jornaisdo local da situação da emprêsa, coma antecedência mínima de 10 (dez)dias.~ 1.0 - O edital de convocação con­terá:a> indicação de local, dia e hora pararealização da Assembléia-Geral;

bl designação da ordem do dia, queserá exclusivamente destinada à dis­cussão das reivindicações e delibera­ção sôbre o movimento grevista.~ 2° - As decisões da Assembléia-Ge­ral serão adotadas com a utilização dascédulas "sim" e "não".* 3.° - A mesa apuradora sera presi­dida por membro do Ministério Públi­co do Trabalha ou por pessoa de no­tória idoneidade, designada pelo Pro­curador-Geral do Trabalho ou Pro­curadores Regionais:'

PARECER

a) O prazo de dez dias, para a publi·cação de editais convocatórios, para ins­talação da Assembléia-Geral. foi argüi­do de excessivo, máxime em face do im­perativo de etapas rápidas para o pron­to restabelecimento da normalidade. Defato, a começar por amor à uniformida­de. o interregno poderia ter sido de cincodias, Emenda nessa direção, contudo, se­fia regimentalmente inepta, como foi di­to quando da apreciação da exigüidadedo prazo fixado no art. 6.°, ~ 2."-

b) O art. 7.°, caput, estatui que a "Di­retoria do Sindicato" é a competente pa­ra a convocação da Assembléia·Geral.Mas não é só a "Diretoria do Sindicato·,que dispõe dêsse poder. Quando inexis­tir o sindicato, nos térmos do art. 10 erespectivo parágrafo, têm-no as Federa­ções ou Confederações, Cumpre corrigir aredaç.ão, adotando a expressão genérka"entidade sindical interessada". inclusivepor recomendação de boa técnica legisla­tiva, porquanto essa ê a designação con­sagrada no substitutivo. Quando inexis­ta, em qualquer grau, entidade sindicalrepresentativa da categoria profissional,a redação do art. 7.° deVerá, apenas re­missivamente, se reportar às autoridadesadministrativas nominadas no paragrafoúnico do art. 10.

e) Na letra b do art, 7.0, por motivosde técnica e de uniformidade lingüística,"movimento grevista" deve ser substituí­do por "greve".

d) No ~ 2,° do art, 7.°, é estabelecidoque a votação se faça com cédulas "sim"e "não". Conseqüentemente, são interdi­tados outros métodos de votação - o sim­bólico, por aclamação, o oral. A votaçãocom cédUlas. inidentificáveis, decorre daexigência do escrutínio secreto. ordena.dopelo art. 6,°, Parece ao relator que o ~ 2.°do art. 7.° ganhará em repetir a cláusulado pronunciamento reservado ou sigiloso,

112 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

instituído no al'L. 6.0 por ser momentopróprio para fazê-lo. tratando-se de meraremissão.

e) Atente-se qUe o ~ 3.U do art. 7.° re­fere-se à "Mesa Apuradora", que serápresidida por membro do Ministério Pú­blico do Trabalho ou pessoa de notóriaidoneidade. Trata-se de "mesa. apurado­rR" e não "mesa diretora" da Assembléia­Geral. Esta será integrada pela Diretoriada entidade sindical. Já se está na faseda apuração, que será presidida pelo fun­cionaria especificado ou quem lhe faça asvê<les. legalmente designado. O provimen­to quer escoimar de dúvidas a verifica­çiío do votado pela Assembléia-Geral.Para dirimi-las, o Substitutivo agasalhaes tas cautelas principais: fixação nítidado número para validar as decisões; es­crutínio secreto, assegurador de autono­mia de vontade do eleitor, não o desco­brindo contra eventuais vexames ou coa­ção; impede a convocação-surprêsa, as­sinalando-lhe prazos e o requisita de am­pla publicidade; votação com cédulas"sim" e "não", para obviar os equivocase abusos decorrentes da aclamaçáo ouda votação simbólica; os trabalhos daAssembléia-Geral serão acompanhado.~

por delegados do Ministério do Trabalhoe Previdência Social (art. 9."); a "mesaapuradora" será presidida por "membrodo Ministério Público do Trabalho ou porpessoa de notória idoneidade" (~ 3.° doart. 7."). A designação será do Procura­àor-Geral do Trabalho, quando a Assem­bléia fôr no Distrito Federal oU in~!­

regional. ou dos Procuradores Regionaisem cada uma das regiões em que, paraefeito de jurisdição e comp2tência tra­balhista, se divide o País. Os membrosdo Ministério Público do Trabalho que,pelo ~ 3.°, estão habilitados são o Pro­curador~Geral do Trabalho, em cada re­gião o respectivo Procurador Regional,bem como os Procuradores-Adjuntos e osSubstitutos dos Procuradores-Adjuntos<arts. 736, 737, 740, 741 e '142. da Conso­lidação das Leis do Trabalho I .

EMENDAS AO ARTIGO 7.0

1.'" Onde está, no caput do art. 7.0 ,

"Diretoria do Sindicato",escreva-se"entidade sindical interessada".

2.'" Na letra b, onde está,"0 movimento grevista".redija-se'"a greve".

ARTIGO 8.°

"Art, 8.0 - Apurada a votação e lavra­do. a ata, o Presidente da Assembléiaprovidenciará a remessa de cópia au­tenticada do que foi deliberado pelamaioria ao Ministério do Trabalho ePrevidência Social, ou ao DelegadoRegional do Trabalho".

PARECER

São alternados os destinatários descri­tos no art. 8.0 : "Ministério do Trabalhoe Previdência Social ou Delegado Regio­nal do Trabalho,"

A destinação motiva estes reparos;

a I Na verdade, são dados dois nomesa um mesmo destinatário. O artigo 8.°diz "Ministério do Trabalho", que com­preende as Delegacias Regionais do Tra­balho. Não falou "Ministro", mas sim"Ministério", do qual as Delegacias Re­g-ionais são partes.

bl O ~ 1.0 do art. 11 remissivamenteafirma "autoridades mencionadas no art.8.0", sendo que no § 2.°, do mesmo arti.go, se fala em "Ministro". A remissão,assim, é imprópria, uma vez que no art.8.° está "Ministério" e não "Ministro",

c) O certo serã, no art. 8.° e no § 2.°do art. 11, repetir as autoridades que aredação feliz do artigo 13, relaciona: Di­retor do Departamento Nacional do Tra­balho ou Delegado Regional lia Traba­1110. Resumirei os argumentos que mili­tam pela substituição redacional propos­ta:

I ~ Uniformizar as designações, oque o Substitutivo não fêz.

Ir -- O Diretor do Departamento Na­cional do Trabalho e os Delega­dos Regionais do Trabalho, nosEstados, são o "executivo" do Mi­niStro do Trabalho e PrevidênciaSocial para os assuntas trabalhis­tas. Acompanhe-se na Consolida­ção das Leis do Trabalho o vastorol de suas atribuições, até de ju­risdição administrativa, para quese verifique que tal qualidade orespectivo Diretor a tem, náo sóde fato, mas "de jure", por pre­ceituação legal, independente­mente do arbitrio do Ministro. Seassim é, será conveniente escla­recer logo que a cópia da ata(art. 8.°) e da notific:~ção (art.lu sejam, de pronto, encami-

JUNHO - 1964 113

nhadas ao Diretor do Departa~

menta Nacional do Trabalho. sea greve fór no Distrito Federalou de lastro plurirregional, ou aoDelegado Regional do Trabalho,quando de amplitude estadual.Com isso, além de outras vanta­gens. se ganhará tempo, pois fi

legislação persegu3 o objetivo so~

cial de colocá-lo a serviço da rá~

pida solução da pendência. Se agreve ê no Piauí ou em MatoGrosso, por que a notificação doart. 11, como manda seu ~ 2.0

, iraté o Ministro. em Brasília ou noRio, para que êste de torna-via­gem, a recambie para o Procura­dor Regional do Estado interessa­do, como o competente para sUs~

citar, de ofício, o dissídio coleti­vo? Admita-se o trânsito direto,da entidade sindical para o Pro­curador-Geral do Trabalho ou aoProcurador Regional do Traba­lho do respetcivo Estado, mesmoporque, recebida a notificação, aautoridade administrativa terá dedespachá-la para o MinistérioPúblico do Trabalho, não tendoopção para fazê-lo, ou não, na.linguagem conclusiva adotada pe­lo § 2,0 do art. 11. Contudo, asimplificação impediria, que asatas fôssem da conhecimento dasautoridades do Ministérío do Tra­balho, com competência para asprovidências difere:ltes da provo­cação do dissídio (artigo 11, § 2. O),

como por exemplo a tentativa deconciliação, rllferida no art. 13.

UI - Pelo art. 13, o Diretor do De­partamento Nacionfll do Traba­lho ou o Delegado Regional doTrabalho empreenderá lliligénciaspara conciliar empregados e em­pregadores. Tem para tanto "cin­co dias, a partir da deliberaçãoda Assembléia-Geral, que tiverautorizado o irrompimento dagreve". Necessita. assim e comurgéncia, ser cientificado da de­liberação pró greve e do teor dasreivindicações, para que possaagír junto ao empregador. Os do­cumentos hábeis. porque autênti­cos, sâo as cópias da ata da As­sembléia que concluiu pela greve(art. a.o) e da notificação dela aoempregador (art. llJ. Ora, se aDiretor do Departamento Nacio­nal do Trabalho ou o Delegado

Regional do Trabalha recebe êssespapeis para as diligéncias do art.13, eurial será que o faça para. osdemais efeitos da lei. A retifica­ção redacional do art. 8.0 se es­tenderá ao ~ 2.0 do art. 11. Obser­ve-se que essas duas autoridadessão as nominadas no parágrafoúnico do art. 10. A futura lei ga­nhará pela uniformidade.

EMENDA AO ARTIGO B.o

Onde está:"Ministério do Traballio e PrevidênciaSocial ou ao Delegado Regional doTrabalho",

escreva-se :

"Diretor do Departamento Nacionaldo Trabalho ou Delegado Regional 'doTrabalho".

ARTIGOS 9.0 E 10

PARECER

Parecer favorável.

ARTIGO 11

"Art. 11 - Aprovadas as reivindica­ções e deliberado o irrompimento dagreve, a Diretoria da entidade sindi~

cal notificará o empregador, por es­crito, assegurando-lhe o prazo de 5(cinco) dias para a solução pleiteadapelos empregados, sob pena de absten­ção pacífica ao trabalho, a partir domês, dia e hora, que mencionará nanotificação, com o interregno minimode 5 (cinco) dias, nas atividades aces­sórias e de 10 (dez) dias nas ativi~

dades fundamentais,~ 1.0 - A Diretoria envíará copIas au­tenticadas da notificação às autorida~

des mencionadas no art. 8.° desta Lei,a fim de QUe adotem. providências pa­ra a manutenção da ordem. garantin­do as empregados no exercício legíti­mo do direito de greve e resguardan­do a emprêsa de quaisquer danos.~ 2.Q - Recebendo a comunicação pre­vista no parágrafo anterior, o Ministrodo Trabalho e Previdéncia Social. atransmitirá ao Ministério Pública doTrabalho, que poderá suscitar, deofício. dissidio coletiva para conheci­mento das reivindicações formuladaspelos empregados, sem prejuízo da pa­ralisação do trabalho",

114 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

PARECER

a) No art. 11 se diz: "deliberado oirrompimento da greve". O relator, empassagens anteriores, propôs a unifor­mização da designação "greve". Supri­mam-se, assim, locuções como "movi­mento grevista" ou O agora "irrompi­mento da greve", até de vernacul1dadeduvidosa. Diga-se sempre "greve", na glo­balidade de sua acepção, com definiçãodoutrinária e legal, ao invés de sinôni­mos ou da segmentação de qualquer deseus tempos.

bl No prazo de cinco dias, o empre­gador optará: atende às reivindicaçõesaprovadas na Assembléia-Geral, negociaacôrdo ou a greve eclodirá. O art. 11 nãofixa o momento de transcurso do prazodos cinco dillS, que deve ser, é óbvio, odo recebimento da notificação. Se estatarda em lhe chegar ao conhecimento,não é admiSsivel que seja prejudicadopor mOfa pela qual não é responsável. Alegíslação, a praxe e fartas decisões ju­risprudenciais tornam incontroverso queo prazo começa a contar da data do re­cebimento da notificação pelo' emprega­dor.

e) A notificação, está escrito no art.11, mencionará mês, dia e hora para aparalisação do trabalho pelos grevistas.o que se surpreende na prescrição é queela se entrosa na determinação do Su­bstitutivo, revelada em vários passos,ad cautelam, exigindo que os procedi.mentos pré, durante e post greve sejamclaros, anunciados, fiscalizados, paraimpedir surprêsas ou enganos par partedos principaiS protagonistas do evento:empregadores, empregados, sindicato eautoridades, nestas se incluindo as ju­diciárias. O jÓgO é limpo - o patrão sa­be, com antecedência e dentro de têr­mos certos, que se não concorda ou con~

cHia, sobrevirá a greve, com prenúncioparticularizado até quanto a hora.

d) O interregno mínimo para a esti­pulação da hora, dia e mês. para ini­elo da greve, será de "cinco dias. nasatividades acessórias e de dez dias, nasfundamentais". Também aqui não se ex­plicita a partir de quando correrá oqülnqUldio oU os dez dias: da respostanegativa do empregador? Ou correm si­multâneamente, tanto para o emprega­dor decidir como para o principio dagreve, quando aquêle diz "náo", As rei­vindicações? A interpretação conduz à.última hipótese, isto é, da simultaneida­de dos dois interregnos. A prefixação demês, dia e hora, com prazo mínimo decinco ou dez dias, conforme sejam aces-

s6rias ou fundamentais tIS atividades, fi­nallsticamente collma evitar a surprêsa,o imprevisto, Ora, quando o emprega­dor inteira~se da notificação, concomi­tantemente se convence de que SUa dJs~

cordância acarretará a greve. Ficaráprevenido e essa é a Cautela que leal­mente a lei pretende assegurar. Portan­to, do recebimento da notificação defiui.rão duas conseqüências: 1.R} dentro decinco dias. o empregador se manifestasóbre as postulações de seus operários;2.a) a partir de cinco dias, nas atividadesacessórias, e dez, nas fundamentais, aabstenção ao trabalho começará, em ho~

ra, dia e mês, explicitamente menciona­dos na notificação.

e) O § 1.0 do art. 11 fornece seguran­ça pública às partes que se antagoni­zam: proteção ao exercicto legitimo dagreve e resguardo da emprêsa contradanos. Surge a argüição: 3 garantia deque necessita o empregador não se cir­cunscreve a sua pessoa, não se limite. àemprêsa. Há outras: por exemplo, tê-lapara ingressar na fábrica. O enunciadoganharia em precisão se genéricamenteassim se manifestasse: - "garantido oexercício legitimo da greve". Estaria di­to tudo. O Substitutivo organizou o elen­co do direito e das obrigações, do que élicito e do que é defeso. Se a Câmara,contudo, preferir a decomposição anaU­tíca do parágrafo 1." do art. 11, pOderámnntê-Ia, pois quando se reporta ao"exercicio legitimo do direito da greve"situa o fenômeno social em seu conti­nente juridico, proibindo e punindo asextralimitações, venham de onde ou dequem vierem, não só das partes oponen­tes, como de terceiros, inclusive autorI.dades arbitrárias. A redação em causaenfatizou, no complexo, empregados, deum lado, e, do outro, danos à emprêsa.De qualquer sorte, como já foi propostoanteriormente, deve ser podada a super­fetação do "exercicio legitimo de direito".O Diretor do Departamento Nacional do

Trabalho ou o Delegado Regional do Tra­balho receberá da entidade sindIcal duascópias autenticadas: do que foI deliberadona Assembléia-Geral que se decidiu pelagreve (art. lI.o , citado com a emenda apre­sentada); da notificação ao empregador(art. 11). O § 1.0 escreveu "enviará .às autoridades mencionadas no art. 8.0 ".

O plural, na espécie, não determina a con­comitância da remessa, isto é, às duas aU­toridades citadas, mas a alternatividadede uma delas, a que tenha jurisdição ad­ministrativa sôbre a ocorrência, pela re­gra do locus regit actum. Semelhante en-

JUNHO - 1964 115

tendimento surge nítido, espancando qual­quer hesitação, pela remissão ao art. 8.°,por fôrça da disjuntiva "ou", O § 1.0 doart. 11 coloca a greve, no que tange à se.­gurança, sob a responsabilidade das auto­ridades competentes. Não se trata de con­vocá-las para conjurar abusos ou restau­rar a ordem. Preventivamente, automàti­camente, já está sob sua tutela a legitimi­dade da greve. Repita-se: pelo § 1.0, aconvocação da segurança é preventiva enão repressiva meramente. A autoridaderesponsável será prevenida, pelo menoscinco ou dez dias antes do início da gre~'e

(art. 11 e § J.O do art. 11). Se o dispOSitivoda ordem falhar, é cabível a promoção deresponsabilidade, inclusive por danos eperdas. O Estado poderá responder civil­mente por êles. A emprêsa danificada,ainda que não tenha pedida garantia, tem­na automàticamente pela lei. Se o Estadonão lhe a forneceu, poderá ser judicial­mente compelido a indenizar os prejuízos.Par igual, autoridades omissas ou prepo­tentes com relação aos empregados, po­derão ser castigadas (arts. 21 e 32, incisoVII).

j) No § 2.° do artigo 11, quem rece­berá a notüicação será o Diretor do De­partamento Nacional do Trabalho ou oDelegado Regional da Trabalho, por fôr­ça das emendas redacionais oferecidasanteriormente, com o duplo objetivo, quese confirma na providência ora consig­nada: uniformizar a designação das au­toridades e suprimir etapas burocráti­cas supérfluas. Na linguagem do texto,a remessa da notificação ao MiniStérioPúblico do Trabalho ê imperativa. O Mi­nistério do Trabalho, no episódiO, é me­ra repartição expedidora. "Transmitirá",ordena categàricamente o texto. Ora, seas duas autoridades pré-mencionadas re­cebem êsses mesmos papéiS para outrosefeitos, cumprirão com maior facilidadea diligência da expedição. As autorida­des receberão, não pràpriamente a "co­municação" prevista no parágrafo ante­rior, como está escrito, mas a cópia au­tenticada da notificação, poiS a issO éque o mesmo se refere. Impõe-se a reti­ficação, estritamente redacional.

O § 2.° do art, 11 optou pela referênciagenérica: "Ministério Público do Traba­lho". Pela Lei Orgânica do Ministério Pú­blico da União (Lei n." 1. 341, de 30 de ja­neiro de 1951 e art. 13 da Lei n.'" 3.342,de 13 de agôsto de 1957), nêle se com­preende o Ministério Público do Traba­lho, que tem d~as Procuradorias: a daJustiça do Trabalho e a da Previdência

SOcial (art. 737 da Consolidação das Leisdo Trabalho). Portanto, na área traba­lhista, o Ministério Público do Trabalhoé a Procuradoria da Justiça do Trabalho,é o seu nome coma espécie. A Procurado­ria da Justiça do Trabalho se subdivideem Procuradoria-Geral, chefiada pelo Pro­curador-Geral e Procuradorias RegionaiS,correSpOndentes às Regiões em que o Paísse divide, chefiadas estas pelos Procurado­res Regionais.

Andou bem o § 2.° em preferir a nomen­clatura genérica "MiniStério Público doTrabalho", para não descer a cas\ÚSmos,deixando que a legiSlação própria regulecada ocorrência, para que se infira a hie­rarquia do procurador que receberá a có­pia da notificação, para os efeitos do §2.° do art. 11, conforme a greve seja re­gional ou inter-regional, em Estado ou noDistrito Federal. Não será na Lei de Greveque se irá estruturar a competência daProcuradoria da Justiça do Trabalho. Oque, porém, se impõe é que o Substituti­vo se fixe na designação genérica "Minis­tério pUblico do Trabalho", a não serquando circunstância especial contra-indi­que. Assim não se conduziu o Substitutivo,o que ensejará retificações.

O Ministério Público do Trabalho, rezao § 2.°, recebida a notificação, "poderá sus­citar, de oficio, dissídio coletivo". O pre­ceito encerra facultatividade. O MiniSté­rio Público do Trabalho, ao seu Duto, sus­citará ou não o dissidio. Já no art. 26, ainstauração do dissídio é obrigatória, des­de que fracasse a conciliação tentada nostêrmos do art. 13. A in tenção do legisla­dor é abrir uma via de economia de tem­po, permitindo logo que a Justiça do Tra­balho ajuize o dissídio. Se o MinistérioPublico do Trabalho o fmer, reduzirá oumesmo suprimirá a instância conciliatóriainstituida no art. 13. Sim, porque a tem­pestividade da suscitação, com base no §2.° do art. 11, será dos mesmos cinco diasque o Diretor do Departamento Nacionaldo Trabalho ou o Delegado Regional doTrabalho dispõe para pacificar as par­tes. O art. 26 é preciso; o art. 13 assinalaà instância administrativa cinco dias paratentaI:' a acomodação. Esgotados, a instân­cia judiciária será a competente, obriga­toriamente efetivando gestões conciliado­ras por duas vêzes, como oportuno tem­pore se verá. Logo, se a Justiça do Traba­lho se valer da opção registrada no § 2."do art. 11, ela suprimirá a instância ad­ministrativa de harmonização. Entende orelator que a disciplina aventada no Subs­titutivo deve ser mantida, uma vez que aeliminação será mais formal do que real,uma vez que os esforços pró soluçâo pací-

116 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA~-~-~----~-~--------~----~----- ------ -~

fica continuarão, dominarão todo o anda­mento do processo e em qualquer de suasfases poderá ser suscitada. A Jm;tiça doTrabalho, estando convencida de que 98­sim servirá melhor o dissldio, colooa-o depronto em sua 1urtsdiçáo, inclusive porquesuas decisões obrigam à obediência (art.25, inciso IV). O anteprojeto do MinistroGeraldo Bezerra de Menezes assim versoua matéria:

"Art. 33 - ll: licita a declaração dagreve, desde que atendidas as seguin­res condições:

aJ fi abstenção somente se poderá ve­rificar depois de transcorrido o prazoda notificação, que será de dez diasnas atividades não-fundamentais e,de vinte dias, nas atividades funda­mentais;

b) a paralisação do serviço deve re­vestir-se de caráter de simples absten­ção ao trabalho, considerados ilegaisos atos de violência contra pessoas oucoisas e a ocupação do estabelecimen­to ou local de trabalho.

Parágrafo único - A notificação far­se-á por escrito, devidamente datada,com indicação precisa dos motivos dagreve e dos objetiVOS visados, e seráentregue 80 destinatário ou enviadapor via postal, com recibo de volta,correndo da entrega os prazos da alí­nea a dêste artigo."

o Substitutivo do Senado, que em mui­tos passos até transcreve preceituaçóes doanteprojeto Bezerra de Menezes, bem te­ria andado se também o tivesse feito comrelação à cuidadosa regulamentação àosprazos no que tange ao balizamento de suafluência.

EMENDAS AO ART. 11

l.a) Ao art. 11, caput:

Onde está:

"deliberado o irrompil1lento dagreve",

redija-se:"autorizada a greve".

2.") Ao art. 11:

Onde está:

"que mencionará na notificação",

escreva-se:

"que nela mencionará".

3,a) Ao * La do art. 11:

Onde esta:"no exercício legitimo do direito aegreve",

diga-se:"no exercicio legítimo da greve".

Onde está:"O Ministro do Trabalho e PTevi­dência 80cial",

escreva-se:"O Diretor do Departamento Nacio­nal do Trabalho ou o Delegado Re­gional do Trabalho."

ARTIGO 12

"Art. 12 - A greve não excederá oprazo de 30 (trinta) dias, nas ativi­dades fundamentais, e de 60 (sessen­ta) dias, nas atividades acessórias,não se computando nestes prazos operlodo de tramitação do processopara o julgamento."

O artigo deve ser suprimido. Eclodidaa greve, o Ministério do Trabalho temcinco dias para obviá-la, através da con­cil1ação (art. 13). Esgotados, nutomàtl­camente instaura-se o dissidio coletivoperante a Justiça do Trabalho e com orito descrito na Consolidação das Leis doTrabalho (art. 26). Não havendo conci­liação, a greve terminará com a decisãojudiciária de obediência obrigatória. Semsentido, pois, os prazos referidos no ar­tigo 12. Teriam sido assinalados ao Judi~

ciário? Não o diz. Mesmo porque há le~

gislação específica regulando a concate·nação e o entrosamento dos prazos paratrânsito e julgamento do dissldio. seeventualmente, nos interregno!'. do art. 12,a Justiça do Trabalho não prolatou seuveredicto? O art. 12 não prevê o queocorrerá. A volta dos grevistas ao tra­balho? Não está dito. Nem Beria possi~

vel, de vez que o feito pende de decisãodo judiciário. que por fôrça da Constitui~

ção é armado do poder de se fazer aca­tado erga omnes. Verifique-se, tam·bém, que, além de silenciar quanto aosdestinatários dos prazos. não estipulasanções ou conseqüências pelo seu desa­tendimento. Pela supressão, pois .

JUNHO - 1964 117

ARTIGO 13

"ArtigO 13 - O Diretor do Departa­mento Nacional do Trabalho ou oDelegado Regional do Trabalho ado­tará tôdas as providências para efe·tivar a conciliação entre empregadose empregadores, com a assistência daProcuradoria da Justiça do Trabalhoou do Ministério Público local, ondenão houver representante do Ministé­rio do Trabalho, no prazo de 5 (cin­co) dias, a partir da deliberação daAssembléia-Geral, que tiver autoriza~

do o irrompimento da greve"

PARECEB

o artigo 13 foi objeto de apreciaçãonos comentários ao artigo 11, § 2.0 . Abrigasagaz e meritória perseguição de maisum ensejo para que se realize a con­córdia das partes, a grande e constantepreocupação de rodas aS autoridades notrato da greve. Há uma circunstãnciasingular militando pela inovação: o dis­sídio só se instaura perante o TribunalRegional do Trabalho. As Juntas de Con­ciliação e Julgamento são incompetentes,como adiante se dirá, na oportunidade decorrigir impropriedade do artigo 26. Por­tanto, quando a greve ocorre em muni­cípio distante da Capital, onde está se­diado o Tribunal, ali mesmo. localmente,com mellior ambiência e maior rendimen­to. se processarão as gestões administra­tivas para composição amigáve1. Acer­tadamente o artigo 13 substitUi O Minis­tério Público do Trabalho pelo MinistérioPüblico da Comarca, inexistindo aquele(artigo 866). A Consolidação das Leis doTrabalho faculta ao Presidente do Tribu­na] Regional do Trabalho atribuir a au­toridades locais a conciliação. Entende­se por "autoridades locais" a Junta deConciliação e Julgamento ou, na sua fal­ta, o juiz de direito da Comarca (artigo122, § 3.0 , da ConstitUição). Três passarãoa ser, obrigatoriamente, so!} pena de nu­lidade, aS tentativas de conciliação dosdissidentes; a administrativa {artigo 13)e as duas preceituadas na Consolidaçãodas Leis do Trabalho logo após a contes­tação e antes do julgamento, depois deproferidas pelas partes razões finais(Alonso Caldas Brandão: "Consolidaçãodas Leis do Trabalho", pâg. 638, comen­tários ao artigo 764). Anote-se qUe peloartigo 860, é de dez dias o prazo' para aconciliação, sendo de cinco o fixado noartigo 13. A redução tem por si a cir­cunstância de significar acréscimo de

mais uma instância pacificadora numadiscórdia em que o alvo social a ser atin­gido é dirimi-la o quanto antes.

EMENDAS AO ARTIGO 13

1.a) Onde está:

"Procuradoria da Justiça do Tra­balho",

redija-se:

"Ministério Público do Trabalho".Justtfícativa:Uniformizar o nome dêsse órgãoauxiliar da Justiça.

2R } Onde está:

"representante do Ministério PÚ­blico do Trabalho",

escreva-se:"representante daquele".

Onde está:"que tiver autorizado o irrompi­mento da greve",

substitua-se por:"que tiver autorizado a greve".

ARTIGO 14

"Artigo 14 - Consideram-se funda~

mentais as atividades nos serviços deágua, energia, luz, gás, esgotos, co­municações, transportes, carga oudescarga, serviço funerário, hospitais,e maternidades, venda de gêneros ali­mentíCios de primeira necessidade,farmáçias e drogarias, hotéis e indús­trias básicas ou essenciais â defesanacional.Parágrafo único. O Presidente daRepública, ouvidos os órgãos compe·tentes, baixará, dentro de 30 (trin­ta) dias. decreto especificando as in­dústrias básicas ou essenciais à de­fesa nacional, cuja revisão só serápermitida de 2 (dois) em 2 (dois}anos. rf

PARECER

A enumeração do artigo é taxativa enão exemplificativa. Portanto, só se repu­tam "fundamentais" as atividades nomi­nadas. O Substitutivo admite greve nosserviços ditos "fundamentais" enquantoque o Decreto-Lei n.O 9.070, de 15 de mar­ço de 1946, a proibia. A vedação foi co­lhida pelo eJastério do art. 158 da Consti­tuição Federal. ~ste não discriminou asatividades, para efeito de ensejar ou in-

118 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

terditar a greve. O Decreto·Lei n.~ 9.070tem sido considerado em vigor por cau­dalosa jurisprudência dos tribunais doPais, naquilo, é curial, em que não confli­ta com ° Código Supremo. "Constitui jU­risprudência Iterativa do Supremo Tri­bunal Federal que o Decreto-Lei n.~ 9.070é perfeitamente conjugável com a atualConstituição (STF - 2." T. Ag. Inst.21.314 Al ". "Não sendo de reconhecer ainconstitucionalidade do Decreto-Lei nú­mero 9.070, de 1946, devem seus precei­tos ser aplicados. contudo, em harmo­nia com a norma do artigo 158 da Cons­tituição" (Tribunal Superior do Traba­lho ~ Pro 191-56 - D.J. de 20 de julhode 1956). A Justiça do Trabalho temexpedido decisões de caráter normativopara greves em atividades fundamentalsapós a promulgação da Constituição de1946.

O elenco do artigo 3° do Decreto-Lein.~ 9.070 inclui, como atividades funda­mentais, as desempenhadas nos mata.­douras, na lavoura e na pecuária, noscolégios, escolas e bancos, não abrangidosno artigo 14. A enumeração do Decreto­Lei é mais completa, notadamente quan­do não se circunscreve, como o faz o ar­tigo 14, "é, venda de gêneros alimentíciosde primeira necessidade". E a produçãodêles, não é serviço essencial?

Emendas suprimidoras da omissão se­dam regimentalmente ineptas, ra~ porque ° relator está inibido de suscitá-las.

"Comunicações" é gênero, do qual sãoespécie os serviços telefônicos, telegráfi­cos, de teletipo e outros da mesma na­tureza. Por igual, "transportes" é com­preensivo do aéreo, marítimo, fluvial eterrestre.

O art. 34, § 2.", do anteprojeto Bezerrade Menezes, preferiu a redação analítica.Mas pagou a conseqüência do risco daenumeração incompleta ao omitir o trans­porte fluvial. Melhor é a sistemática doart. 14 adotando designação genérica.

No parágrafo único, não há razão paraa cláusula linaI: "cuja revlsão só serápermitida de dois em dois anos". As in­dústrias "básicas ou essenciais à. defesanacIonal" não o são por decorrência dotempo. Sua natureza, sua conceituaçãoatê legal as definem assim. Com a velo­cidade dos inventos, não será prudentedesaparelhar o Govêrno da prerrogativade reconhecê-las por decreto. "Reconhe­cer" é o têrmo, porquanto a qualldade deessencialidade ou báSica deflul da indús­tria em si mesma, é inconstitucional oucongênita. Se o Executivo abusivamente

capitular com o "essencial" ou "báSica"indústria que não o é, o recurso estaráno Judiciário. tste destruirá a extralimi­t9.ção ilegal na especificação que a admi­nistração baixará dentro de 30 dias, emcumprimento ao parágrafo único do art.14, dela retirando as ativIdades não "bá­sieas ou essenciais". Por igual asslm aglránas revisões. Não será a tempestividadedos 30 dias ou de dois em dois anos, re­gistrada no parágrafo único do art. 14,por si só, que garantirá a fidelidade à na~

tnreza "essencial" ou "básica" a determina­da Indústria. Exclusivamente o Judiciário.em qualquer circunstància, restabeleceráo império da conceituação correta. Con­tudo, a cláusula protege a declaração de"fundamental" de atividade em greve, s6para aliviá-la ou coartá-la.

ARTIGO 15

"Art. 15 - Na atividade em serviçode transporte (terrestre, marítimo eaéreo) a para1isação do trabalho emveículos em trânsito e dos respecti­vos serviços, só será permitida após aconclusão da viagem, nos pontos ter­minais,'"

PARECER

Com modificações meramente redacIo­nais, louvou~se no art. 34, ~ 2,~, do ante­projeto Bezerra de Menezes:

"~ 2,° - Nas atividades consistentes emtrabalhos de transportes, terrestres, ma~rltimos ou aéreos a paralisação do traba­lho em veiculas em trânsito e dos ser­viços que lIles digam respeito, somentepoderá realizar-se após a chegada aospontos terminaís."

A redação do art. 15 é melhor, maisenxuta. Contudo, omite o transporte flu­vial, num Pais de uma das maiores pota­mografias do mundo. JJ: verdade que "na­vegação maritima", por RSseme1hação,absorve a "fluvial". A enumeração seria,assim, exemplificativa e não taxativa.Sendo exclusivamente tedacional, paraconferir clareza ao enunciado. o relator sóvê vantagens em explicitar o transportepor via fluvial. De meritis, de tõda opor~

tunidade e justiça li exigência do art. 15,pois seria inadmissivel abandonar atédoentes, velhos, senhoras e crianças nomeio da rota, possivelmente sem recursossuficientes parll enfrentar desPesas super­venientes e imprevistas. Pela aprovação,pois, do texto.

JUNHO - 1964- -~~~~_._~.._._--- --~ ----_._-~----- 119

EMENDA AO ARTIGO 15

Após "maritimo", continue-se "nuviar',e substitua-se "na atividade em serviço detransporte" por "nos transportes".

ARTIGO 16

"Art. 16 - Nas atividades fundamen­tais, que não possam sofrer paralisa~

ção, aS autoridades competentes po­derão fazer guarnecer a empresa porterceiros e determinar o funciona­mento dos respectivos serviços."

PARECER

O art. 42 do anteprojeto Bezerra de Me-nezes diz:

"Art. 42 - Em se tratando de ativi­dades fundamentais que não possamsofrer paralisação em seu funciona­mento, as autoridades competentespoderão fazer guarnecer e funcionaros respectivos serviços por terceiros."

O te:x;:to Bezerra de Menezes tem supe­rioridade evidente sôbre o art. 16. A fun­ção dos "terceiros", no episódio, não seráexclusivamente "guarnecer a empresa".Essa atribuição é da policia, das autorida­des responsaveis pela ordem e pela segu­rança. O art. 11, § l,O, diligencia sôbresemelhante proteção. O "guarnecer" doart. 16, que repete o do art. 42 do ante­projeto Bezerra de MeneZes, significa"aparelhar", "munir", sendo indivisivelsua cone:x;:ão com o funcionamento, queessa mesma "guarnição de "terceiros" irápromover. Do jeito qUe o art. 16 está es­crito, poderia surgir a interpretação deque as "autoridades competentes", pode­rão determinar o funcionamento dos ser­viços pelos grevistas. Portanto, grevistasou terceiros poderão ser requisitados.

Aqui atingimos o divorti1l.m aq1l.ar1l.mentre a greve nas atividades acessórias enas fundamentais. Nas primeiras, pelasistemática do substitutivo, a paralísaçãoé inexceptuável. A lei não admitirá a rea­lização dos serviços interrompidos, inclUsi­ve por terceiros. Adimiti~lo, seria subtrairda greve a maior e mais eficaz componen­te de sua fôrça de pressão. O prejuízo éa substância coatora da greve, certas le­gislações proibindo que seja coberto porseguro, para não esvaziá-la déle. Há,países e em vários projetos, entre nós(art. 8.° do anteprojeto Cavalcanti deCarvalho, pág. 44, do volume 24, do Reper­tório Enciclopédico do Direito Brasileiro,

de Carvalho Santos), que classificam deilicitas greves que afetem "serviços públi­cos e serviços de interêsse coletivo". ODecreto-Lei 9.070 perfilhou entendimentoproibitivo. Decisões jurisprudenciais, con­tudo, sentenciaram a derrogação dêssepasso do Decreto-Lei n.o 9.070, pelo art.158 da Constituição Federal.

O Substitutivo e o anteprojeto Bezerrade Menezes encontraram solução para aca­tar o art. 158, que titula os grevistas derecusarem pacifica e temporàriamente. tra­balhar em serviços reputados fundamen­tais, sem que êstes sofram solução de con­tinuidade, porque indispensáveis à coleti­vidade. Aquilo que não é admitido nas ati­vidades acessórias, o é nas fundamentais:a substituição dos grevistas por terceiros,não em caráter definitivo, somente en­quanto dure o movimento. É: a intermedia­ção insuscetível de censura por inconstitu­cionalidade, o que ocorreria insistindo-sena vedação consignada no Decreto~Lei

n.O 9.070, de 15 de março de 1946, anterior,como a confrontação mostra, à Constitui­ção Federal de 18 de setembro de 1946.

Recordada a antologia da preceituaçãoque se pretende expedir, é indispensál'elque se patenteie, no enunciado, que asemprêsas serão guarnecidas por terceirospara que os mesmos a faç.am funcionar.A rigor, ê expletivo mencionar "guarne~

cer", pois quando a lei assinala os fins,jmplicitamente da os meios, bastando men­cionar que, na espécie, as autoridades orde­nariam terceiros pôr em funcionamento aemprêsa.

O art. 16 do Substitutivo segue aspegadas do art. 42 do anteprojeto Bezerrade Menezes. Em ambos vem dito: "autori­dades competentes". Pelo Substitutivo, ofato de ser fundamental náo implica, inex­cetuàvelmente, que o respectivo serviçopessa continuar a ser prestado por tercei­ro. O art. 16 é inequivoco: serão as "ati­vidades fundamentais, que não possam so­frer paralisação". Logo, há as que possamsofrê-la, não sendo. nelas, admissível otrabalho de terceiro. Pelo art. 16, assim,"as autoridades competentes" são arma­das de dois podêres: a) considerar, nagreve, quais as atividades fundamentaisque "não possam sofrer paralisação; b) fa­cultativamente, "poderã.o" acioná-las. Masse a emprêsa não pode sofrer para­lisação, não deveria ser opcional, masimperativa. compulsôria, a ordem pa­ra continuidade do funcionamento. Se asautoridades consideram que a popUlaçãonão pode prescindir de determinados ser­viços, necessàriamente deverão provê-los.

120 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Por lógica e coerência, semelhante inter·ligação deverá desencadear uma. providên­cia como conseqüência da outra.

Omitem, o art. 16 do substitutivo e o 42do anteprojeto Bezerra de Menezes, a no­minação de "autoridades competentes".Quais serão elas? As do Executivo? Nestecaso, o Ministro do Trabalho, o Diretordo Departamento Nacional do Trabalho,o Delegado Regional do Trabalho, o De­legado dos Maritimos? Poderão ser as es­taduais, os Governadores? Ou da Justiçado Trabalho? O Substitutivo deveria dis­criminar a autoridade. Sendo agora regi­mentalmente impossivel fazê-lo, a soluçãoserá oferecida pelo art. 8.0 da Consolida­ção das Leis do Trabalho:

"As autoridades administrativas e aJustiça do Trabalho, na falta de [1js­posições legais ou contratuais, deci­dirão, conforme o caso, pela Jurispru­dência, por analogia, por eqüidade eoutros princípios e normas gerais doDireito, principalmente do Direito doTrabalho, e ainda, de acêrdo com osusos e costumes, o Direito Comparado,mas sempre de maneira que nenhuminterêsse de classe oU particular pre­valeça sõbre o interêsse público.Parágrafo único - O direito comumserá fonte subsidiária do Direito doTrabalho, naquilo em que não fôr in­compatível com os principias funda­mentais dêste."

A norma é conhecida. O juiz cível nãopoderá, invocando lacuna ou obscuridadeda lei. eximir-se de proferir despachos ousentença.s (Código do Processo Civil, art.113). Na processuaUstica do Direito doTrabalho, a decisão é imperativa por partedas autoridades administrativas ou da jus­tiça especializada, mesmo na falta ou am­bigüidade da legislação ou do contrato detrabalho.

O Tribunal Superior do Trabalho m. J.de 18 de abril d~ 1951) decidiu como preen·cher os vazios da vewatio legis. Os juizesdo trabalho, dotados de dilatada margemde arbitrio judicial, em casos excepcionais,não se devem subordinar àl; regras comumdo Direito escrito, podendo interpretar eaplicar os preceitos legais com preocupaçãohumana e social. E o Supremo TribunalFederal, no Acórdão de 12 de agôsto de1947, Revista Foreme, Vol. CXVII, pág. 426,interpreta com atualidade que: "o Direitodo Trabalho constitui ramo especial, comfundamentos doutrinários diferentes e li.mites próprios. :tt um Direito de vanguar~

da, impregnado de espírito socializador".

o relator considera que a flexibilidadedo art. 8.° da Comolidação das Leis doTrabalho deve funcionar a favor da Jus­tiça do Trabalho. l!: o poder imparcialafeito à problemática trabalhista. nêle háa voz do representante dos empregados esuas decillões obrigam à. obediência. Deofício ou provocada, a Justiça do Traba­lho deverá, com base no art. 16, decidirse a atividade fundamental afetada pelagreve pode ou não sofrer paralisação, e,na hipótese negativa, convocar terceirosoU grevistas para que isso não ocorra.Tempo haverá para tanto, de vez quecontará com os 10 dias do art. 11.

Há serviços insubstituíveis. O de energiaelétríca, por exemplo. OUtros, embora es­senciais, comportam, conforme as circuns­tâncias, sucedâneos. O transporte aéreo,em região onde haja o rodoviário, já éinsuscetivel de paraUsaçáo, quando é oúnico meio de acesso, A dessimetrla dacontinuidade da atividade competirá "àsautoridades competentes" (art. 16).

EMENDA AO ARTIGO 16

Redija-se assim o artigo 16:"Nas atividades fundamentais, que nãopossam sofrer paralisação, as autoridadescompetentes farão guarnecer e funcionaros respectivos serviços por terceiros."

ARTIGO 17

"Art. 17 - A requerimento do empre~

gador e por determinação do Tribunaldo Trabalho competente, os grevistasorganizarão turmas de emergência. como pessoal estritamente necessário à.conservação das máquinas e de tudoque, na emprêsa, exija assistência per­manente, de modo a assegurar o rel­nleio dos trabalhos logo após o térmi­no da greve."

PARECER

Na sistemática do Substitutivo, no queconcerne às atividades fundamentais, agreve origina três situações diferentes:1.a ) a paralisação, por entenderem M

autoridades competentes que não é neces~

sária a convocação àe terceiros, prevElle~

cendo a classificação para outros efeitos,como, por exemplo, prazo de dez dias paraa notificação (art. 16); 2.a) continuidadedo serviçO executado por terceiros ou pe~

los próprios grevistas, exclusivamente en~

quanto durar a greve (art. 16): 3.a ) ospróprios grevistas, por determinação daJustiça do Trabalho, assegurarão a assls~

JUNHO - 1964------------ 121

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tência indispensãvel para que o traba­lho possa ser reiniciado, assim que a gre­ve termine.

Em certas indústrias, há setores que,desassistidos, Os danos poderão ser irrepa­ráveis. Assim, o resfriamento de fornosde fundição, porcelana ou fabricação devidro. Mesmo qUe o restante do conjuntopare, tais seções não podem ser abando­nadas, sob pena de, quando o retõrno aotrabalho se der, o funcionamento ser im­possível, pela imprestabilidade de máqui·nas fundamentais.

A assistência será requerida pelo empre­gador. :/;;ste poderá, por igual, provocar asautoridades de direito, para as providên­cias do art. 16. A determinação será do"Tril:nmal do Trabalho competente". Oart. 17 preferiu a designação genérica àanalítica, que seria a referência ao Tri­bunal Regional do Trabalho ou o TribunalSuperior do Trabalho, que são os doisúnlcos em grau de colegiado existentesnessa justiça especializada (Incisos I e IIdo art. 122 da. ConstitUição Federall. Pro­cede a referência global, porque há gre­ves que transcendem a jurisdiçáo dos Tri­bunais Regionais do Trabalho, cobremárea geográfica da competência do Tri­bunal Superior do Trabalho. O art. 702da ConsoUdação das Leis do Trabalho,entre as atribuições dO colegiado supremo,inclui as de:

"b) conciliar e julgar os dissidios coleU­vos que excedam a jurisdição dos Tribu~

nais Regionais do Trabalho, bem comoestender ou rever suas próprias decisõesnormativas, nos casQI; previstos em lei;

*2° letra al julgar, em única instância,os conflitos de jurisdição entre Tribu­nais Regionais do Trabalho e os que sesuscitarem entre juízes de direito OU jun­t3.S de conciliação e julgamento em re­giões diferentes."O art. 17 fala em "pessoal estritamente

necessário ... ". O advérbio - estritamente- contingência o número de grevistas àpreservação da indústria, proporciona·o àconservação de condições na emprêsa, queimpeçam uma segunda paralisação, senãoimpo.ssibilidade de trabalho: a primeira,pela greve, e a segunda, pelo desarranjode máquinas desmlsistidas. "Estritamente"enfatiza que a convocação dos emprega­dQl; não será para pôr em funcionamentoo serviço, todo êle, mas para garantir aconservação daqueles setores indispensá­veis à pronta retomada da atividade, logoapós o término da greve. Quem dará a

medida do "estritamente necessàrio"? OTribunal do Trabalho competente_ O em­pregador. no requerimento provocador dopronunciamento do Tribunal, deverá ex­pressar o número de p~ssoas qUe reputasUficiente. Com isso, inclusive, salvaguar­dará sua responsabilidade e se credencia­rá, se desatendido e as conseqüências fo­rem ruinosas, para os competentes proce~

dimentos pela via judicial. O Tribunalconcordará com o quantitativo, conside­rando-o justo ou o dimensionará pelo me­tro do art. 17. Recorde-se que os entendi.mentos devem processar-se com a entidadesindical patrocinadora da abstenção pa­cifica do trabalho. O art. 17, quando serefere a "grevistas", evidentemente sin­tetiza a expressão "entidades sindicais gre­vistas". De efeito, são estas que realizamas assembléias-gerais decisôrias da para­lisação, suas diretorias ê que expedem asnotificações e, em nome dos associados,transacionam, confabulam, com os em­pregadores, autoridades administrativasmantenedoras da ordem, judiciárias, nastentativas para a conciliação. "Os grevis­tas", na linguagem do art. 17. têm umcorpo que os representa, que por êles legal·mente capacitado para tanto: o organis­mo sindical respectivo.

O bom senso, a lógica, a legislação emvigor e o próprio sistema do Substitutivoesclarecem que a decisão por extenso é"entidades Sindicais grevistas". Inclusiveestas são suscetiveis de serem responsabi­lizadas, o que não ocorre com a mas:;ainorgânica de indivíduos.

É fácil compreender por que são recru­tados grevistas e não terceiros, corno ofaculta o artigo 16, para semelhante assis­tência. Primeiro, porque sáo conhecedoresdo trabalho, êle não pode ser realizadocom êrro, não pode haver o risco da im­provisação, pois as conseqüências poderãoser perigosas para todos; empregador eempregados. &tes porque não terão con­dição, de, com o retôrno, possibilitar O rei­nício do funcionamento. Segundo, a greve,paradoxalmente, é um testemunho de in­tenção de continuar na mesma emprêsa,tanto que postula melhores condições. Nãose trat3. de abandono. pedido de demissão.Assim sendo. os grevistas não querem aruina da indústria, seu perecimento. por­que isso seria seu desemprego. Está nalinha de seu interêsse fazer com que, ter­minada a greve, a emprêsa, de imediato,se ponha em ação. Nisso a greve se dis­tingue de boicote, racket ou sabotagem.

Parecer favorável.

122 REVISTA DE ItolFORMAÇÃO LEGISLATIVA

ARTIGO 18

"Art. 18 - Será de 72 (setenta e dua.s)horas o pré-aviso para a deflagraçãoda greve, nas atividades fundamen­tais e nas acessórias, quando motivadapela falta de pagamento de salário nosprazos previstos em lei ou pelo não-'cumprimento de decll;ão proferida emdÍSsidio coletivo, que tenha transitadoem julgado."

PARECER

São efetivamente graves as duas irre­gularidades, praticadas pelo empregador,motivadoras da redução, para o pré-aviso,dos prazos de cinco ou dez dias (art. 10,conforme se trate de atividade acessóriaou fundamental, para 72 horas; o não-pa­g'amento dos trabalhadores oU o desacatoà decisão judicIal. O desacato é capitula­do como crime, no art. 32, inciso III, doSubstitutivo, sujeito à pena de seÍS mesesde reclusão, cumulativamente com a mul­ta de Cr$ 5.000,00 a Cr$ 100.000,00. Pare­cer favorável.

ARTIGO 19

"Art. 19 - Decorridos os prazos previs­tos nesta Lei, e sendo impossivel aconcilia~ão preconizada no art. 13, osempregados poderão deixar de exer­cer a sua atiVidade profissional, de­socupando o estabelecimento da em­presa.

Parágrafo único. As autoridades ga­rantirão livre acesso ao local de tra­balho aos que queiram prosseguir naprestação de serviço ao empregador."

PARECER

A fiel observância dos prazos é essencialpara a legalidade da greve. "Decorridosos prazos previstos nesta Lei", fala o ar­tigo 19. Todos êles. de conseguinte, inex­ceptuàve1mente. Na greve, li conciliação éo primeiro dos objetivos que a Constitui·ção e a legislação em vigor assinalam aosempregados, empregadores, autoridades ad­ministrativas e judiciárias. O artigo 19 en­fatiza tal dever r.om a palavra "impossí­vel" : "sendo impossível a conciliação pre­conizada no art. 13." Só então, a grevejá autorizada (art. 6.°), pode ser defla­grada legalmente. Como foi escrito ante­riormente, na instância. administrativa.. eobrigatoriamente tentada duas vêzes na

do judiciário trabalhista, em qualquer fase,voluntàriamente, pelas partes, a harmoni­zação é o "goal" socialmente sempre pro­curado.

Em lugar do circunlóquio: "os emprega­dos poderão deixar de exercer a sua ativi­dade profissional" a linguagem direta ga­nha em tõrça e concisão: "os empregadospoderão deixar o trabalho."

Verificada a impossibilidade da pacifica­ção. nos têrmos do art. 13, a greve poderáeclodir (art. 19), com a conseqüente ins·tauração do dissi1io coletivo (art. 26). Or~dena o artigo 19 que os grevÍStas abando­nem o estabelecimento da emprêsa. Proj~

be, assim, a chamada "greve SUl le tas"ou "grêve SUl' place", por igual ilegal naFran~a (Juris Cla.sseur, 36}.

I!;' emanação do clireito de proprieda­de que o local de trabalho não seja ocupa­do indevidamente. Não é permitido, »01'­tankJ, que os grevistas nêle permaneçam.Inclusive, para preservação do mesmo,poupando-o ad cautelam, a danificações,

O parágrafo único tem o respaldo dosarts. 141, § 2.° e 145, parágrafo único, daConstituição Federal, respectivamente ga­rantindo que "ninguém pode ser obrigado~I fazer ou deixar de fazer alguma coisasenão em virtude de lei" e que o "traba­lho é obrigação social". Se é "obrigação",imposta pela sociedade e não pela pOlicia,o mandamento máximo será violentadotôctn vez que se pretender, por meios vio­lentos, obstar que alguém trabalhe. SãodoÍS direitas em confronto; o de não tra­balhar e o de trabalhar, ambos protegi­dos pela Constítuiçii,o Federal.

É claro que a garantia de trabalho ede ingresso no estabelecimenkJ se estendeao empregador, aos diretores, a terceirosque ali tenham assuntos a tratar, como,por exemplo, pagar ou receber, fazer en~

comendas ou obter informações. A redaçãose comporta, pelo que se vê, lacunosamen­te. Para que tenha abrangência maior,convirá eliminar a referência "ao emprega­dor". A supressão é aconselhável; a) paraevitar iteração, pois é curial que a pres­tação de serviço pressupõe que seja aoempregador; b) afastada a limitação, sebeneficiam com a proteção os empregado­re;, diretores e terceiros. Com a correçãoficará incontroverso que quem desejarprestar serviços à entidade em greve po­derá. fa4lê-Io, seja qual fôr sua Quali­dade, exceto substituir grevistas, (l. não sernos casos admitldos em lei.

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EMENDAS AO ARTIGO 19

P) Onde está;"00 empregados poderão deixarde exercer a sua atividade pro­fissional",

escreva-se:"os empregados poderão aJ:)ando·nar o trabalho."

2.a I No parágrafo único, suprimam-se,in tine, as palavras "ao emprega­dor."

ARTIGO 20

"Art. 20 - Os grevistas não poderão pra­ticar quaisquer atos de violência contrapessoas e bens (agressão, depredação, sa­botagem, invasão do estabelecimento, in­sultos, afixação ou ostentação de cartazesofensivos às autoridades ou ao emprega­dor ou outros de igual natureza), sobpena de demissão, por falta grave, semprejuízo da responsabilidade criminal,de acõrdo com a legislação vigente."

PARECER

O art. 20 compatibiliza o direito degreve com os demais direitos QUe possibi­litam um padrão de convivência numa'sociedade organizada. Num "Estado dedireito", como no Brasil, ti violência, oabuso, o arbítrio, a onipotência unipes­soaI, sejam físicos ou morais, estão pros­critos. Precísamente porque são a nega­ção do Direito, portanto, li negação dopróprio Estado.

O direito de greve subsiste enquantonão atropela outros direitos, a fim deque fique intacta a estrutura jurídica doEstado, para pôr a fôrça a serviço dajustiça e da lei.

Isso não ocorrendo, implanta~se o "es­tado de necessidade" ou "de fato", comoperários, empregadores e autoridade fa­zendo o que querem e não o que devem.A vontade pessoal de cada um passa aser a lei.

O caput do art. 20 coloca a violênciana área do ilícito. Usa até o e~lettvo

"quaisquer" para enfatizar que seja elaqual fôr e de quem fõr. Defende, con­tra ela, não apenas as pessoas, mas tam­bém os bens. A seguir, faz enumeraçãomeramente exemplificativa, colocando-aentre parênteses, como recomenda a téc­nica legislativa .

Os insultos, injÚrias, calúnias - diZe­res "ofensivos", na terminologia global pre­ferida pelo substitutivo -, são catalogadoscomo "violência", e, como tal, proibidos.

o art. 20 se conecta com os artigos 21,incisos r e Ir e com o art. 25, inciso 1, noque diz respeito ao aliciamento. &te éconsectário da greve.

É a Uberdade de palavra (art. 141 § 5.°da Constituição), de reunião, respeitada aordem pública (art. 141 ~ 11 da Constitui­ÇãOf para efeito de propaganda, a fim deque a greve atinja seus fins, principalmen~

te convencendo o maior número possívelde obreiros a participar dela. O aliciamen­to é axioma de liberdade de expressão, depensamento. Pickets, pOdem ser mobi­lizados, mas paclficamente. É inglêsa a ori­gem da designação - picket - sendoque na Inglaterra e nos Estados Unidosda América do Norte é legalmente admiti­do o peacejul piclceting - (aliciamentopacifico I . Nestes paises, o blackleg ou ostrike-breaker (o "fura greve"), não podeser vítima de coação. A debatida Seção 8,do Taft-Hartley Act, de 1947, confirmadoapesar do veto de Truman, preocupou-seem defender o operário como indivíduo, acomeçar do poderio das unions,

O relator teve, fortuitamente, ensejo deobservar, certa' feita, em Nova York, naprática, como atua o peacejul picketing.Estava em greve o pessoa.l do famoso res­taurante Jack Dempsey. Em sua frente,em CÍrculo, movimentavam-se homenscom cartazes concitando a que não seentrasse naquela casa, ao mesmo passoque faziam apelos verbais. Na porta,outro homem agia de maneira opos­ta, conclamando a que se penetrasse noestabelecimento, aduzindo razões em vozalta, entre elas ser injusta a greve. Noscartazes, nas palavras e na ação, nenhu­ma violência, invectiva ou ofensa.

In tine, o art. 20 estatui as sanções.Pela aprovação.

ARTIGO 21

"Art. 21 - São garantias do direito degreve:

I - o aliciamento e a propagandapor quem pertença à categoriaprofissional e preste serviços àemprêsa;

II - a coleta de donativos e o usode cartazes de propaganda, pe­los grevistas, desde que náoofensivos e estranhos às reivin­dicações da categoria profissio­nal;

UI - proibição de despedida do em­pregado que tenha participadopacificamente de movimentogrevista;

124 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA------------ --- ------------

IV - proibição, ao empregador, deadmitir novos empregados emsubstituição aos grevistas.

Parágrafo único - Nos períodos depreparação, declaração e no curso dagreve, os empregados que dela parti­ciparem não poderão sofrer constran­gimento ou coação por parte do em­pregador ou de autoridade pública,direta ou indiretamente."

PARECERLO - O Capítulo V tem por epigrafe:

"Das garantias dos grevistas" _ Já o artigo21, Cllput, l;e enuncia: "São garantiasdo direito de greve". Mas o rol discriml~

nado a seguir se circunscreve aos direitosdos grevistas - não são tôdas as garan­tias, mas parte delas, as que amparam osgrcvistas. Peca, pOis a redação do caput,por genérica demais. Deve reproduzir aepígrafe, mais fiel à matéria logo apósversada.

2.0 - Sendo, por imposição legal, pacl­ficos o aliciamento e a propaganda, quenão pOderão, sob pena de sanções, degene­rar em violências pessoais, materiais e mo­rais, não entendo justa qualquer limitação.Ser\Í. vulnerar o dogma da liberdade depalavra, proclamado pelo art. 141, § 5.°,da Constituição Federal. Além do mais,semelhante discriminação será inexeqüível.Como impedir que um parlamentar ouqualquer cidadão, na. tribuna, no rádio ouna televisão, considere acertada determi­nada greve, conclamando até a pOpulaçãoa que com ela. se solidarize e prOpOrcionerecursos, víveres e entrevistas favoráveis?Que um sacerdote o faça, até do púlpito?Estudantes, em passeatas e comícios auto­rizados? Jornalistas, abrindo campanha?Operários, em reuniões ordeiras sob a égidedo art. 141, § 11, da Constituição Federal?Aí estão os principais motivos, entre êlesos de estrutura COlll5titucional, que respal­dam a propaganda respeitosa.

3.Q- O inciso lI, do artigo 21, quando

se refere à propaganda por cartazes, é du­plamente repetitivo; o artigo 20 e o incisoI, do artigo 21, cuidam da espécie. A únicanovidade, é a proibição de cartazes "estra­nhos às reivindicaçóes da categoria profis­sional", com o obietlvo fàcilmente identi­ficável, de evitar promoções revolucioná­rias.

4.0 - No inciso !II, o advérbio "pacifi­camente" campendia as obrigações dos gre­"istas, para Que não possam, com animolegal. ser despedidos. Se agiram "violenta­mente", estão fora da lei, cometeram "faltagrave", suscetível de demissão, "sem pre­juizo da responsabilidade criminal" (art.201.

5.0 ~ Chegaram ao relator ponderaçõesde que o inciso IV vulnera o princípio daliberdade de trabalho ou da liberdade decontrato. Pondere-se que a interdição équanto à admissão de substitutos dos %re­vistas. Se isso fór permitido, a greve nãomais será um direito, porquanto possibili­tará que quem a faça possa perder suacolocação. Além disso, ensejará a não~pa­

ralisação das atividades da empresa, como que esvaziará a greve do poder de pres­são. A exceção que o Substitutivo admi­te, de resto adotando procedimento damaioria dos países, é a não-paralisação dasatividades fundamentais, executando-aspOr terceiros (artigo 16). Nos Estados Uni­dos, a Cõrte Suprema considerou constitu­cional lei autorizando o Govêrno a proibirgreve que atinja todo um tipo de indús­tria, pondo em risCo o bem-estar ou a se­gurança da nação. Bernard Schwartz,professor da Faculdade de Direito da Uni­versidade de Nova Iorque, no "Annuairede Législation Française et "t.trangere", de1960, páginas 146/7, se repOrta ao arestojurisprudencial com as seguintes conside­rações:

"Une décision de la Cour SUprême, d'Unintérêt tout partlculler pOur les compa­rants, déclare valable une loi qui auto­rfsc le Gouvernement à interdire une gre­ve affectant une industrie tout entiêre,ou une partie importante de celle-c1, etmet en danger la santé ou la sécurité dela nation. En l'espêce une interdictlon decette nature fut prononcée cantre unegreve de portée nationale dans l'industriede l'acier. (United Steelworker vs. 'OnitedStates, 361 U. S. 39 1959). Cette affairemontre bien le róle essentiel du juge dansle systême américain. C'est le pouvoir ju­diciaíre qui regle les connits qui s'élévententre les actes du gou"ernement et les rê­gles du droit, et il le fait en employant lesformes techniques d'Wl proces. AucUllequestion alors même que l'exfstence de laRépublique en dépendrait - n'est tropimportante pour étre tranchée sulvant la.loi du pays. Une lutte pour le pouvoir, quidemande en Europe des régiments de trou­pes, nécessite aux Etats-Unis des ba­taillons d'avocats."

Suprima-se no art. IV, o objetivo "no­vos". Se se trata de "admitir", como rezao texto, há de ser, obviamente, quem nãoseja empregado da firma. Tanto assimque o faria para "substituir" operários emdissídio. Pelo enunciado a "contrariosensu", se poderia interpretar como per­missível a contratação de "antigos" em­pregados, "ex-empregados". O que é deci­sivo, contudo. é que "admitir" e "novos"

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abundam no mesmo conceito, acarretandoredundância que precisa ser erradicada.

6.° - O parágrafo único, do art. 21, in­terdita a coaçáo ou o constrangimento dosgrevistas "por parte do empregador ou deautoridade pública, direta ou indiretamen­te". Contudo, não podem ser vitimas deviolência de quem quer que seja. Não só­mente "do empregador oU da autoridadepública". Também de terceiros, de outrosoperários. Como está no uso de um di­reito, este não pode ser turbado, "ergaomnes".

EMENDAS AO ARTIGO 211.a - Redija-se assim o "caput" do ar­

tigo 21: "são garantias dos grevistas".2.a) Redija-se assim o inciso I - "o

aliciamento pacífico". Justificação: o sis­tema do SUbstitutivo só admite o alicia­mento paclfico. Será inconstitucional cir­cunscrever propaganda.

3.R) - Suprima-se, no inciso IV, a pa­lavra "novos",

4.R - No parágrafo único, elimine-se afrase "por parte do empregador ou de au­toridade pública, direta ou indiretamente".

ARTIGO 22

"Art. 22 - A greve lícita não rescin­de o contrato de trabalho, nem extin­gue os direitos e obrigações dêle resul­tantes.parágrafo único - A greve suspendeo contrato de trabalho, assegurando­se aos greVistas o pagamento dos sa­lários durante o periodo da sua du­ração e o cômputo do tempo de para­lisação como de trabalho efetivo, sedeferidas, pelo empregador oU pelaJustiça do Trabalho, as reivindicaçõesformuladas pelos empregados, total ouparcialmente."

PARECER

O artigo 22 conceitua a boa e cláSsicadoutrina, sôbre o contrato de trabalho afe­tado pela greve. 1!:ste não é "rescindido",mas "suspenso", enquanto não é decididapor acOrdo ou por sentença judicial. Porigual, nela, os trabalhadores não "a.bando­nam" o trabalho, mas coletiva e temporã­riamente "suspendem" a prestação de ser­viÇO (art. 2.°). Se há conciliação ou vere­dito favorável pela. Justiça do Trabalho,as faltas são abonadas com o conseqüentepagamento.

Isso não ocorrerá, se a greve fôr consi­derada injusta ou ilegal. O artigo 22, decerta sorte, abrange, se não torna ocioso, oinciso UI, do artigo 21. De fato, se ogrevista continua parte válida do contratode trabalho, que apenas se suspende, não

pode ser demitido. Mesmo porque aindaque a decisão do Judiciário seja contráriaaos grevistas, a demissão continua a serin"ldmissivel, a não ser nas hipóteses deviolência ou transgressão da lei. Se a par­ticipação foi pacifica, ainda que a justiçadê ganho de causa ao empregador, as san­ções serão a perda de salário, nos dias deparalisação, e a não-contagem do res­pectivo tempo. Pela aprovação.

ARTIGO 23"Art. 23 - A Comissão de ImpõstoSindical (CIS) , utilizando a receita doFundo Social Sindical, reservará,anualmente, pelo menos 50% (cin­qüenta por cenro) da sua receita parao atendimento exclusivo das necessi~

dados decorrentes do não-recebimentode salários por parte dos grevistas.~ 1.0 ~ Cessada a greve e voltando ostrabalhadores ao serviço, a entidadesindical representativa da categoriaprofissional enviará à Comissão do Im­pOsto Sindical (CIS) , as relações dasdespesas efetuadas durante o movi~

menta grevista, com os respectivoscomprovantes.~ 2.° - O empregador poderá descon­tar dos salários dos trabalhadores osadiantamentos efetuados pela Comis­são do Impõsto Sindical (CIS) , porsolicitação da entidade sindical, noprimeiro mês subseqüente ao irrompi­mento da greve."

PARECERManifesto-me pela rejeiçào do art. 23 e

r,spectivos parágrafos. O Impôsto Sindicaltem destinação legal espeCÍfica (art. 592,da Consolidação das Leis do Trabalho).Não será conveniente sobrecarregá-lo comnovos encargos. Além disso, fácil será adi­antar os abusos que poderá ensejar, devez que o contrôle dos gastos será muitodifícil de ser apUrado em prestações decontas meramente formais.

O ~ 2.0 fixa o reembõlso através dedesconto salarial, "no primeiro mês sub­seqüente ao irrompimento da greve". Con­tudo, esta ainda pode não ter terminadoe, conseqüentemente, os operários não es­tarem recebendo. De qualquer sorte, tudocontra-indica a diversifica.ção que o art. 23quer introduzir na aplicação dêsse tributosocial. Pela rejeição.

ARTIGO 24"Art. 24 - Os membros da Diretoriada entidade sindical, representativa dosgrevistas, não poderão s~r presos oudetidos, salvo em flagrante delito ouem obediência a mandado judicial."

126 REVISTA DE INFORMAÇÁO LEGISLATIVA

PARECER

o sindicato é administrado pOr uma Di­retoria. e por um Conselho Fiscal. eleitospela Assembléia-Geral (art. 522, da Con­solidação das Leis do Trabalho). A Dire­toria terá., no máximo, sete membros, den·tre êles elegendo seu presidente (art. 522 eseu ~ 1.0

, da CLT). No máximo sete. por­tanto, em cada entidade sindical em greve,serão os líderes protegidos pela imunida­de criada no art. 24. A imunidade terá aduração da greve, enquanto a entidadesindical fôr "representativa dos grevistas".na linguagem do texto. Logo, não haven­do mais grevistas a representar, não maissubsistirão as exceções às normas penaisque sujeitam o comum dos cidadãos. Enpassant, recorde-se Q.ue a normalidade napunição enseja o cumprimento de dispo­sitivos protetores dos próprios sindicaliza­dos, porquanto a legislação é severa contraabusos, nota.damente em matéria de di­nheiro, praticados por administradoressindicais. O art. 552. por exemplo, da Con­solidação das Leis do Trabalho. prescreveque "os atos que importem em malversa­ção ou dilapidação do patrimônio das as­sociações sindicais ficam equiparados aoscrimes contra a economia popular e serãojulgados e punidos ni\. conformidade dosartigos 2.° e 6.°, do Decreto~Lei n. O 869, de18-11-1938". Parecer favorãvel.

ARTIGO 25

"Art. 25 - A greve será reputada ile­gal:

I - se não atendidos os prazos edesprezadas as condições esta­belecidas nesta lei;

11 - se tiver por objeto reivindi­caçóes julgadas improcedentespela Justiça do Trabalho. emdecisão definitiva, há menosde 1 (wn) ano;

III - se deflagrada por motivos po­líticos, partidários, religiosos,sociais, de apoio ou soHdarie­dade, sem quaisquer reivindi­caçóes Q.ue interesse, direta ee legl.timamente, à categoriaprofissional;

IV - se tiver por fim alterar con­dição constante de acórdo sin­dical, convenção coletiva detrabalho ou decisão normativada Justiça do Trabalho, emvigor, salvo se tiverem sidomodificados, substancialmente,os fundamentos em que seapóiam;

v - se o Tribunal Superior do Tra­balho, a requerimento de. Pro­curadorla.~Geral do Tr&balho.decidir por 2/3 (dois terÇOS)dos seus membros, que a gre­ve irrompida não atendeu aosprazos e condlçóes desta Lei,determinando o retômo dosgrevistas à ativ1dade profissio­nal, no prazo que fixar e sobas cominações que o prescrever."

PARECER

1.0 - O inciso I fala em "prazos" e"condições" como elementos integradoresda legalidade da greve. Quanto aos pri­meiros, pelo seu caracteristlco enunciadomatemático, bastará ler 00 fixados noSubstitutivo. Quanto .à.8 "condições", slíoas que pela sua importância viciam de nu­lidade a greve. como: não ter como rei­vindicação a manutenção ou a melhoriadas situações de trabalho (art. 2.° e parê.­grafo único do art. 3.°); exercida por fun­cionários e servidores públicos (art. 5.°);desrespeitar o quorum de 2/3 ou 1/3, con­forme se trste de primeira ou de segundaconvocações (art. 6.0); o escrutinio não sersecreto e registrado em cédulas (art. 6.° e~ 2." do art. 7."); a não-publicação doedital convocatório da assembléia-geral oufazê-lo maliciosamente, sem as formaUd.a~

des devidas (art. 'l.o e § 1.°); a mesa apu­radora da votação verificada na assem w

bléia-geral não ter a presidência exigidapelo § 3.° do art. 7.°; a não~dtstlnção,

para 05 devidos efeitos. entre serviçOS,acessórios e os fundamentais .etc. A enu­meração é exemplificativa, na tentativa decaracterizar o que sejam "condições", paraas graves conseqüéncias do inciso I, doart. 25.

2.0 - O inciso II zela pelo acatamentoàs sentenças judiciária~. Ftxa·lhes o prazode um ano, pais impõe~se evitar renova­ções de dissídios postUlando reivindicaçõesjá averbadas de injustas pelo órgão judi­cante especializado. Caso contrário. êstenão exerceria sua competência, sté insti­tucional, de representante do Estado compoder de se interpor no conflito entre em­pregador e empregados, para pôr-lhe cô~

bro, inclusive pelos prejuízos que ocasio­nam à. coletividade. Pouco depois de pro­latado o veredito, através de nova greveou lock-out, a parte inconformada vol­taria à carga, a ele. retornando sucessiva­mente. Pudesse apresentar emenda, estaseria no sentido de vincular o prazo a in­dices técnicos de custo de Vida. O incisoII diz "decisão definitiva". Não confundir

JUNHO - 1964 127

"sentença concluBiva" com "sentença defi­nitiva" ou "sentença final". A primeirase caracteriza como palavra derradeira doJudiciário, esgotadas tôdas as instâncias

e tôdas as convocaçóes para novas senten­ças, e torna a coisa julgada. "Sentençadefinitiva" ê a prolatada, de meritis,pela instância competente, em geral asse­curatória da execução do julgado, semprejuízo de apelos a instâncias superiores,pelos instrumentos hábeis. Assim, precei­tUa o art. 893, § 2.°, que "a interposiçã.ode recurSQ para o' Supremo Tribunal Fe·deral não prejudicará a execução do jul­gado", e {) artigo 895, ambos da Consolida­ção das Leis do Trabalho, admitindo "re­curso ordinário para instância superior":

aJ das Decisões Definitivas das Juntase Juízos ...

b) das Decisões Definitivas dos Tri·bunais Regionais ...3.° ~ O inciso UI é, ao lado da lati·

tude do aliciamento ou dos "piqUetes", avexata questio da lei que se quer ela­borar. Por pressupostos filosóficos, ideo­lógioos ou programáticos, há áreas sociaisno Brasil, com representação no Congres­so, inconciliáveis na dos1metria da greve.O inciso 111 é consectário do sistema con­substanciado no Substitutivo, é axiomáti­co, par filiação direta, do art. 2.° e doparágrafo único do art. 3.°. De fato, {)art. 2.° define o que seja o exercício legí­timo da greve, como expressão do direitode híerarqUia constitucional proclamadono art. 158 do Estatuto Cívico da Repú­blica. São êstes, anallticamente, pela de­finição do art. 2.°, alguns dos componen­tes da legitimidade da greve :

a) suspensão coletiva do trabalho,pois se trata de um direito plural e nã.osingular;

b) suspensáo temporária da prestaçãode serviços, pois se trata de interrupçãoe não cessação dos mesmos;

c) deliberação da assembléia-gemI daentidade sindical representativa da ca­tegoria profissional interessada;

d) reivindicar melhoria ou manuten­ção das condições de trabalho;

e) indicação prévia e por escrito dasreivindicações.De conseguinte, as postulações admiti­

das são as profissionais, as que se encar­tam em beneficiar diretamente os traba~

Ihadores de determinada categoria no tra­balho que prestam. Como corolário, a gre­ve não é, pelo Substitutivo, instrumentolegal para outras reivindicações, como po­líticas, religiosas, partidárias etc. O que oinciso In "implicito" está "explicita", noart. 2.", sendo, o primeiro, colorário, remis-

são, complementação do segundo. As gre­ves com fundamentação alheia aos exclu­sivos interêsses profissionais, têm as se­guintes argüições contrárias:

a) e arma, defensiva e ofensiva, debenefício profissional e não de outrostipos de lutas, que têm, na mecânica doregime, instrumentos hábeis;

b) são protagonistas da greve, alémdos empregados e empregadores, certasautoridades administrativas e a Justiçado Trabalho, as duas últimas represen­tando o Estado, que interpreta os inte­resses e até a segurança da coletividadeou dos consumidores, também em causa.O art. 13 abre vias de conciliação, orde­nando que a promova o Diretor do De­partamento Nacional do Trabalho, ou oDiretor Regional do Trabalho. Nãoobtendo resultado, instaura-se perantea justiça especializada o dissídio, quedirimirá a contenda conclusivamente,sendo obrigatório o acatamento pelaspartes em litígio (art. 26 e inciso II doart. 32). Assim soa o art. 123 da Cons­tituição :

"Art. 123 ~ Compete à. Justiça doTrabalho conciliar e jUlgar os dissí­dios individuais e coletivos entre em­pregados e empregadores, e as demaiscontrovérsias oriundas de relações dotrabalho, regidas por legislação espe­cial.~ 1.0 ~ Os dissídios relativos a aciden­tes do trabalho são da competênciada justiça ordinária.~ 2.° ~ A lei especificará os casosem que as decisôes, nos dissídios cole­tivos, poderão estabelecer normas econdições de trabalho."

Infere-se Que a criação dessa justiçaparitária foi para "conciliar e julgar"controvérsias oriundas das relações de tra­balho. No § 2.° do mandamento constitu­cional é outorgada a essa justiça a com­petência legislativa de "estabelecer nor­mas e condições de trabalho". No parti~

cuJar, assim, têm presença, na mesmaárea, o legislativo e o judiciário trabalhis~

tas. Ora, se a greve não se motiva emrelações de trabalho, mas sim em posi~

ções políticas. religíosas, partidárias,ocorrerão:

a) li. administração competente doMinistério do Trabalho não poderá exer­citar a missão legal da conciliação, umavez que a pendência se situará em es­feras onde, de regra, não pode atuar,freqüentemente. Govêrno Estadual. Pre­sidência da República ou Congresso Na­cional;

128 REVISTA DE INFORM"'ÇÁO LEGISLA.TIVA

b} a Justiça do Trabalho é expelidada greve. Não tem condições para apre­ciá-Ia, uma vez que a polêmica nãoversa sôbre relações de trabalho. Comisso, inexistirá órgão com categoria te­gal para pesquisar a justiça, decretá-la,sua decisão ser compulsoriamente obe­decida, pondo fim à greve, com a vitó­ria, pardal ou total, do patrão ou dooperário. Se a greve é pró ou contra anomeação de ministro ou presidente deautarquia, a questM é insuscetivel deexame e resolução pelo poder creden­ciado a tanto pela Carta Magna, isto é,o judiciário trabalhista;

c} o empregador é protagonista dagreve. Diretamente interessado nela.Sendo sua Causa reivindicações traba­lhistas, tem papel a desempenhar, po­dendo com elas concordar, no todo ouem parte. Contudo, se são outras as ra­zões, nada poderá fazer, passa de per­sonagem a espectador, é parte passiva,quanto aos reflexos imediatos no fun­cionamento de seu estabelecimento e emseu patrimônio, mas é despojado da qua­lidade de parte ativa, pOdendo influen­ciar na anormalidade, inclusive decisi­vamente, concordando com as preten­sões, se opcionalmente pudesse fazê-lo.Nada lhe é argüido, qUanto a saláriosou condições de trabalbo. Mas é vitima,sem que lhe seja inculpada qualquer in­justiça quanto a sua posição frente aseus operários. A instância administra­tiva, prImeiro, depois a contenciosa, têmpoder constitucional para convocar aspartes conflitantes, conjurá-Ias para quese componham. Isso será inelteqüivel,por inócuo, se as mesmas perderem ca­pacidade suasóría ou decisória transfe­rida para outras entidades, como Parla­mento ou Presidência da República, porexemplo. Semelhante el'Ctralimitação ge­ra problemas, mais do Q.ue legais, por­que constitucionais;

d> na Inglaterra, a €reve socíal é con­siderada fim e não meio, é revolucioná­ria: "Social general strike which is amass strike of workers designed to bringabout a social revolution and the esta­blishment of a works society, (Enciclo­pédia Britânica, V. 21, "Labor Law,)

Sintetizando: O art. 25, nO) inciso TH.orgânica e simetricamente se insere noSubstitutivo, ao ratificar que a greve,para Que seja admitida como legal. terápor motiVl\ÇM "reivindicaçáo que inte­resse, direta e legitimamente li categoriaprofissional". Se, contudo. os motivosenvolverem reivindicações que "iuteres-

sem, direta e legItimamente, à categoriaprofissional", não haverá vicio a impu­tar.

4.D) Se há B.CÔrdo sindical, convençáo

coletiva de trabalho, ou decisão normativado trabalho, adverte o inciso IV, se osmesmos estão em vigor, se resultarem devoluntária contratação ou de decisão deórgão constitucional apto para tanto ­como regra não é admissível que qUalquerdas partes contratantes se insurja contrao que se obrigou por livre convenção oUcontra norma expedida pela Justiça doTrabalho, em que a obediência é institu­cional. Mas, prudentemente, o dispositivoabriu uma válvula. para adaptar·se àsmutações originárias da inflação, cada vezmais velozes, na previsão realista de queos reajustes financeiros absorvem pràt1ca­mente a totalidade dos recursos à parali­sação do trabalho. Quando tenham "sidomodificados substancialmente os funda­mentos" que ditaram as situações enume­radas no caput do inciso IV, a greve serálegal. Não são sinônimas as expressões"greve ilegal" e "greve justa". A greveilegal tem mácula. liminar, podem atéser justos seus objetivos, mas desaten­deu a cominações legais, como, por exem­plo, a não-convocação por edital, ainexistência de quorum apto, a votaçãonão ter sido por sufrágio secreto etc. Agreve pode ser legal, mas injusta, isto é,indeferida pelo Judiciário. E 1Usta. valedizer, atendíVeis suas reivindicações, masliminarmente condenadas a serem recha­çadas, porque se processou fora ou contra00 cânones legais. Pergunta-se: no inci­so IV, Quem apurará se os "fundamen·tos", primeiro, foram "modificados", para,80 depois, mensurar-se "substancialmen­te" a fim de que a greve seja havidacomo licita ou não? A Justiça do Tra­balho. Não se contradizem os incisos IIe IV, quando aquêle demarca o interreg­no de um ano para as decisões da justiçatrabalhista, dentro do qual não pode ha­ver greve, e êste admite, sem prazo, queelas ocorram apesar de sentença judiciá~

ria, pela superveniência de alterações&ubstanciais? Não há discrepância, devez que, no inciso lI, se trata de "deci~

são definitiva", isto é, casuística, como éda indole do Poder Judiciário. Já nojr,ciso IV, a decisão é normativa, criacondições de trabalho, o Judiciário nãose limita. a apl1cElr a norma, mas écompetente para elaborá-la. Assim, comono comportamento rotineiro do Legislati­vo, que através de uma lei revoga ante­rior, sem condicionamentos temporais, as

JUNHO - 1964 119

normas editadas pela justiça trabalhistapor esta podem ser modificadas. O incisoII deveria ter tido a perspectiva de realis­mo que marca o inciso IV pela conjuntu­ra inflacionária a erodir os salârios.

5.") O inciso V deve ser rejeitado. In­fringe a autonomia das instâncias, que éa substância da hierarquia e da organiza­ç.ão do Poder Judiciário. A competênciaque o inciso V pretende outorgar ao Tri­bunal Superior do Trabalho, tem-na o Tri­bunal Regional do Trabalho. Por que, pois,desaforar os feitos grevistas? A Justiçaregional tem melhores condições para de­liberar, notadamente sôbre matéria tãofactível, circunstancial. qual seja a greve.Está colada aos acontecimentos. Além domais, o preceito é mortalmente omisso. Aavocação do processo para a instância su­prema susta ou impede o andamento domesmo na esfera regional?

A inovação irá agravar o congestiona­mento da pauta do Tribunal Superior doTrabalho, e, na maioria dos casos, acarre­tará delongas; se êste rejeita a liminar dailegalidade, devolve-se a competência aoTribUnal Regional que decidirá de meritis.Acrescente-se que o quorum qualificadode 2/3 é mais uma barreira formal difi·cilmente transponível. Pela rejeição, pois,do inciso V. Suprima-se, como supérflua,a palavra "desprezadas", no inciso r.

EMENDAS AO ART. 25a) Suprima-se o inciso V.b) Suprima-se, no inciso I, a palavra

"desprezadas".

ARTIGO 26"Artigo 26 - Caso se não efetive aconciliação preVista no artigo 13, aProcuradoria da Justiça do Trabalhoou o representante do Ministério Pú~

blico local comunicará a ocorrênciaao Presidente do Tribunal do Traba­lho da Região ou ao Presidente daJunta de Conciliação e Julgamentocompetente, instaurando-se o dissídioColetivo, nos têrmos preVistos na Con­solidação das Leis do Trabalho."

PARECER

Revelando-se impotente a instância ad­ministrativa, através do Diretor do De­partamento Nacional do Trabalho ou doDelegado Regional do Trabalho, nos têr­mos do artigo 13, para promover a paci­ficação. surge a via jUdiciária, O texto emexame admite êstes reparos:

Q} para uniformizar a nomenclatura,ao invés de "Procuradoria da Justiça doTrabalho", redija-se "Ministério Públicodo Trabalho";

b} suprima-se a referência ao "Pre­sidente da Junta de Conciliação e Jul­gamento competente". Os dissídios co­letivos, e é dêles que se cogita, só se ins­tauram perante o Tribunal Regional doTrabalho (artigo 856 da Consolldaçãodas Leis do Trabalho). As Juntas deConciliação e JUlgamento são incompe­tentes para conhecê-los. Para que, pois,comunicar-lhes a oportunídade da ins­tauração do dissídio coletivo? Quando odissídio ()Çorrer Iora da sede do Tribu­nal, reza o artigo 866 da Consolidaçãodas Leis do Trabalho, poderá o presi­dente delegar à Junta local as atribui­ções de designar a audiência de conei­liação, com a competente notificaçãodos dissidentes (art. 860 da CLT) e naaudiência convidar êstes para que sepronunciem sôbre as bases da concilia­ção (art. 862 da CLT). São as interven­ções permissiveis ao órgão local da Jus­tiça do Trabalho, ainda assim por dele­gação e em matéria exclusivamente pro­cessual. A inserção da Junta no meca­nismo do dissídío, pela. maneira feitapelo artigo 26, constitui impropriedadeque exige correção.

EMENDAS AO ARTIGO 261,R) Onde está.:

"Procuradoria da Justiça do Tra­balho",

escreva-se;"Ministério Público do Trabalho".

2. li) Suprima-se;"ou ao Presidente da Junta deConciliação e Julgamento compe­tente".

3.") Redija~se:

"Presidente do Tribunal Regionaldo Trabalho".

ARTIGO 27"Artigo 27 - Sempre que o atendi­mento das reivindicações dos assala­riados importar em revisões tarifáriase majorações de preços das utilidades,o Ministério Público do Trabalho pro­moverá a realização de perícia conta­bil para verificação da aplicação to­tal dos aumentos obtidos nas majo­rações salariais contratadas, ou indi.cará ao Poder Execu ti vo a reduçãodos aumentos concedidos, segundo oapurado pela perícia.Parágrafo único - Não devem serconsiderados os aumentos deferidosaos Diretores e auxiliares diretos daemprêsa, os créditos de companhiassubsidiárias ou a conversão da divjdaem moeda estrangeira, com o propósi­to de reduzir os lUcros e onerar a des­pesa."

130 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

PARECER

Quer o preceito que os aumentos tarifá­rios, concedidos para cobrir majoraçõessalariais, sejam efetivamente por estas ab­sorvirloll. Com isso, objetiva cOibir abusode emprêllas, que chegam a estimular gre­ves, para se beneficiarem indevidamentecom sobrepreço. O desfecho de dissídiosou acõrdos, muitas vêzes, tem sido o ope­rario ganhar mais, e com justiça, paraacompanhar o custo de vida, mas o em­presário também, pelo desmedido aumen­to no preço de sua produção, o que é in­débito. O artigo 27 quer proporcionar osdois crescimentos: o da paga ao trabalha­dor e o da venda das utilidades, para queo empresário não tenha prejuízo, mastambém não passe a fruir sobrelucro. Aprovidência moralizadora, que atuará noprincipal laboratório da inflação, qual se­ja, as majorações descomedidas a pretex­to de melhor retribuição obreira, não secircunscreve às tarifas, que dependem daautorização do poder publico, por se tratarde serviço concedido. Policiará qualqueralteração no valor das utilidades, desdeque em decorrência de greve ou concilia­ção entre as partes, trate-se de tarifa ounão. Quando tarifa, a ,administração, queadmitiu o acréscimo, reduzi-la-á às di­menSões corretas, louvada na perícia con­tábi�. Nos demaiS casos o poder publico,através da SUNAB e outros órgãos indica­dos pela legislação do País, efetivará acorreção indispensável. na defesa do con­sumidor. O Ministério Público do Traba­lho terá, no feiro, material para a busca doaumento justo, assessorado por técnicos,como manda o preceito. uma vez que oproporcionamenro dos acréscimos salarü\Ísao custo de vida investiga o custo da pro­dução no estabelecimento em causa, peloreUeJ{o nêle da componente "mão deobra", trazendo os empregadores valiosossubsídios contábeis, para se defenderem deque sejam excessivos. Da contenda, deconseguinte, sairão proporcionados doisaumentos; o que o empregador passará B.

pagar ao empregado e o que o consumidorpassará a pagar pela respectiVa produção.na eJ{ata medida do primeiro. -e importan­te o art. 27 na luta do Estada para poli­ciar os preços e combater a especulação,que também costuma se camuflar em no­bres propósitos sociais. O art. 27 deve so­frer estas modificações:

al suprima-se "contratadas", após"majorações salariais". A adjetivação

é ociosa, porquanto "majorações sala­riais" já diz tudo;

b' substitua-se a disjuntiva "ou" an­tes de "indicará ao Poder Executivo",

pela coordenativa "e". Não se trata defaller uma coisa ou outra. A cientlfica­ção das autoridades do abuso é conse­qüência da per1cia.

cl Onde está, in fine, "aumentos con­cedidos", escreva-se "aumentos excessi­vos". O que se busca é equacionar asmajorações.Se houve extraJimitação, será apontado

seu volume, para que possa ser podado,ser restabelecida a normalidade. Tantoassim, que o texto se enuncia; "indicaráao Poder Executivo a reduçãO dos aumen­tos conceadidos". Emprega a palavra "re­dUção", vale dizer. diminuição, no aumen­to, da demasia especulativa. O dever doMinistério Público do Trabalho, na espécie,será evidenciar ao poder público, clara­mente, aquilo que 10i acrescido indevida­mente, seu quantum, ou seja, os "aumen­tos excessivos", como sugere a substitui·ção redacionaJ.

EMENDAS AO ARTIGO 27

1.a ) SUprima-se "contratadas", após"majorações salariais".

2.l') Substitua-se "ou" por "e", antes de"indicará ao Poder Executlvo".

3.l') Onde esta "redução dos aumentosconcedidos", esvreva-se "redução dos au­mentos excessivos".

ARTIGO 28

"Art. 28 - A greve cessará:I - por determinação do Tribunal

Superior do Trabalho (art. 25,Vl:

II - pelo atendimento parcial 0\1total das reivindicações for­muladas pelos grevistas;

111 - por deliberação da maioriados associados, em Assem­bléia-Geral;

IV - por RCÓrdO dos interessados,diretamente ou perante aJustiça do Trabalho;

V - por decisão adotada pela Jus­tiça do Trabalho, em dissfdiocoletivo pertinente às reivin­dicações que constituiam oseu objetivo.

PARECER

Pouco há a dizer quanto ao art. 28. l!:formal, meramente remissivo. l!: o tomba­mento das formas pelas quais a greve se('ll;tingue, previamente instituidas no Subs­titutivo e na legiSlação em vigor. Nãoinova nada. Sua redação sugere as se­guintes modificações;

a' Se a Câmara acompanhar o rela­tor quando aconselha a rejeição do in-

JUNHO - 1964 131

ciso V, do art. 25. censuravel até porimperfeição inconstitucional (Art. 122,inciso lI), pois invade a independenciada instância regional, aforando feitosdos Tribunais Regionais do Trabalho,com o que, de quebra, eliminará para aspartes uma instância, pois julgado peloTribunal Superior do Trabalho, certosremédios juridicos serão suprimidos, re­jeitado o premencionado inciso V doart. 25, por via de conseqüência desapa­recera o inciso I, do art. 28, apenas re­missivo.

b) Os incisDS II e lV parecem ser re­petitivos. O atendimento do inciso lI,pressupõe o acôrdo do item IV. Melhorserá adotar a linguagem constitucional.legal e recomendada pBla doutrina, Queconsagrou a palavra "conciliação". Nãoimporta, na espécie, se o atendimento foitotal, parcial ou mesmo se não foi da­do ou, ainda, se houve outras compen­sações. O que importa, finalisticamente,é que a contenda cessou, os litigantes seharmonizaram, o pleito se tornou deser­to, a greve tenninou ou não foi defla­grada.

Houve a "conciliação", enfim.Por clareza e fidelidade à linguagem

constitucional, substituam-se os dizeresdos i.nI:isos II e IV pela locução: "pelaconcilíaçáo".

c) Constata~se que a greve. que foiautorizada por 2.:3 ou mais de 1/3 daassembléia-geral (art. 6.°). poderá serrevogada pela. maioria da mesma. "Maio­ria dos associados", diz com acerto otexto.

EMENDAS AO ARTIGO 28

1." I Rejeite-se o inciso I.2.") SubstitUam-se os incisos II e IV,

redacionalmente, pelo seguinte inciso queserá o I: - "por coneíliação".

3.") O atual inciso III passará a II, comfi mesma redação.

4."l O atual inciso V passara a III, comidêntica redação.

ARTIGO 29

"Art. 29 ~ Cessada a greve, e com oretôrno dos empregados ao serviço nor­mal, nenhuma penalidade poderá serimposta pelO empregador ao empregadopor motivo de participação no movi­mento coletivo."

PARECER

Ê também de natureza remiSSiva êstetexto. Reiteradamente foi ratificada a segu­rança de que a greve, sendo direito, seuexercicio licito não acarreta punição. O

relator sugere estas alterações redacio­nais:

a) Rejejte-se a intercalada: "e com oretârno ao trabalho normal".

É claro. A greve só se diz tenninadaquando a retomada da atividade se dãoIsso não ocorrendo, a greve prossegue.As leis devem ser expungidas das excres­cências inúteis. A cláusula tem seme­lhante defeito técnico. Mesmo porque ad­jetiva como "normal" o "serviço". Por

quê? São as razões que militam pela re­tificaçã-ü redacional do preceito.

bl Onde está "participação", diga-se"participação pacífica". E repetição dalinguagem do inciso UI, do art. 21. Sócom ela não haverá lugar à. punição.como reiteradamente acautela e garanteo Substitutivo e a legislação em vigor.

EMENDAS AO ARTIGO 29

l.a) Rejeite-se a expre.ssão: "e com oretôrno dos empregados ao serviço nor­mal".

2.a) Onde está: "participação", escre­va-se: "participação pacífica".

ARTIGO 30

"Art. 30 - Pelos excessos praticadose compreendidos no ámbito da disci­pUna do trabalho, os grevistas pode­rão ser punidos com uma das seguin­tes penalidades:

a) adverténcia ;

b, suspensão, até 30 (trinta) dias;

c l demissão.

Parágrafo único - Se imputada aoempregado, no decorrer da greve, aprática de ato de natureza penal, aoempregador será licito afastá-lo doemprego, até final decisão da justiçacriminal, Se o empregado for absol­vido, terá direito de optar pela voltaao emprêgo, com as vantagens, ou pelapercepção, em dôbro, dos salários cor­respondentes ao tem})() do afastamen­to, sem prejuízo da indenização legal."

PARECER

O art. 30 arrola como penas disciplina­res a advertência, a suspensão e a demis­são. A Consolidação das Leis do Traba­lho, em vários passos, disciplina a espécie,havendo sôbre ela copiosa e oscilante ju­risprudência. A exegese dos dispositivossubordinados ao Título VIII, da CLT,quando envolvem sanções, principalmenteo art. 723, é contraditória no que diz res­peito à autoridade competente para apli­cá-Ias.

132 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

"O art. 723 da CLT estabelece as p~­

nalidades em que incorrerão os em­pregados que abandonarem o ser­viço ou desobedecerem a qualquerdecisão proferidll em dissídio. Nãoestabelece a lei, no entanto, quala autoridade que deve aplicar essaspenas, princípalmente em se tra­tando de pena de demissão indivi­duaI. Entendemos que esse poderê da empresa e êle não será trans­ferido aos tribunais. Aos tribunaisé justo, apenas, apreciar, julgar, ajustiça ou Injustiça da aplicação dapenalidade e a êles é !fcito graduarpenas, quando aplicadas pelas emprê­sas." (Tribunal Superior do Trabalho- pro 5.053/47, Diário da Justiça, de3-8-1948.) O Supremo Tribunal Fe­deral, no Agravo de Instumento 13.527- Diário da Justiça de 1-12-1949 - eno Agravo de 'Instrumento 14.219 ~

~ Diário da Justiça de 26-1-1952 -,sentenciou diferentemente: "As pena­lidades contidas no Título VIII daCLT são impostas pelos órgãos da Jus­tiça do Trabalho."

O art. 30, por Igual, peca por omísso.Não explicitou a autoridade apta a decre­tar os castigos disciplinares que institui.Pelo artigo 31, contudo, por via indireta,se infere que seja o empregador, de vezque como dispõe a competência da Jus­tiça do Trabalho - de examinar e julgaras penas impostas aos grevistas "pelos ex­cessos praticados". Portanto, excluiu dajustiça trabalhista, expressamente. o po­der de punir disciplinarmente, que seráexercido pela emprêsa. Acertada a fixaçãodo teto de trinta dias para a suspensâo.A Consolidação das Leis do Trabalho con­sidera resc1são ilegal do contrato de tra­balho a sUllpensão superior a trinta dias:

"Art. 414 - A suspensão do emprega­do por mals de trinta dias consecuti­vos importa na rescisão injusta docontrato de trabalho. A suspensão portempo indeterminado, s6 na hipótesereferida no art. 494: "O em1)regadoacusado de falta grave poderá ser sus­penso de suas funções, mas sua des­pedida só se tornará efetiva após oinquérito em que se verifique a pro­cedência da acusação.Parágrafo único - A suspensão, nocaso dêste artigo. perdurará até a de­cisão final do processo."

O art. 30 se refere à demissão. A Con­solidação das Leis do Trabalho consagroua denominação "rescisão": rescisão semculpa do empregado (art. 481); por culpa

reciprOCa (art. 484); durante o periodo doavtso 1)révio (art, 490 e 491) etc. O Subs­titutivo do Senado deveria ter adotadoidêntica nomenclatura. O paràgralo únicotambêm discrepa da designação consagra­da, ao considerar oomo "afastamento" deempregado o que é "suspensão". Na espé­cie, é a suspensão por tempo indetermi­nado, enquanto durar o inquérito. O art.495, da CLT, ordena a reintegração do em­pregado, verificada a inex.isténcia da faltagrave, com o conseqüente pagamento dossalários atrasados. O parágrllfo único doart. 30 arbitra o pagamento em dObro dossalários correspondentes ao tempo da sus­pensão. sem prejuizo da indenização legal,sendo o empregado absolvido.

EMENDAS AO ARTIGO 30

1.8) Redija-se assim a eltra c: "rescisãodo contrato de trabalho".

2.$) No parágr1l.fo único, onde está"afastá.-Io do emprêgo", escreva-se "sus­pendê-lo"; e onde está "ao tempo doafastamento", diga-se "ao tempo da sus­pensão".

ARTIGO 31

"Art. 31 - As penas impostas aos gre~

vistas pelos excessos praticados pOdemser examinadas e julgadas pl!la Jus·tiça do Trabalho."

PARECER

Reconhece-se a Justiça do Trabll.lhocom­petente para julgar as punlçOes disciplina­res descritas no art. 30. Como consta decomentário anterior, semelhante julga·menta ê de "penas impostas", na lingua­gem textual do art. 30. Logo, não sendo ajustiça a encarregada da imposição dassanções disciplinares, caberá ao patrãofazê-lo.

ARTIGO 32

"Art. 32 - Alêm dos previstos no Ti.tulo IV, da Parte Especial do CódigoPenal, constituem crimes contra a or­ganização do trabalho:

I - promover, participar ou insu­flar greve ou lock-ou t, comdesrespeito às condições pre­vistas nesta Lei;

II - incitar desrespeito à. sentençanormática da Juatlça do Tra­balho que puser têrmo à gre­ve, ou obstar a SUll execução:

In - deixar o empregador, mali­ciosamente, de cumprir deci­sões normatiVas da Justiça doTrabalho, ou obstar a suaexecução;

JUNHO - 1964 133

IV - incitar à greve ou lock-out,ou aliciar participantes quan­do estranhos à profissão ouatividades econômicas;

V - onerar a despesa com dívidasfictícias ou, de qualquer mo­do, alterar maliciosamente oslançamentos contábeis paraobter majoração de tarifas oupreços;

VI - adicionar aos lucros ou fazerinvestimentos com os rendi­mentos obtidos com revisãotarifária, ou aumento de pre­ços, especificamente destina­dos a aumentos salariais deempregados;

VII - exercer coação para impedira greve:

Pena - reclusão de 6 (seis) meses a1 (um) ano e multa de Cr$ 5.000,00

(cinco mil cruzeiros) a Cr$ 100.000,00

(cem mil cruzeiros). Ao reincidenteaplicar·se-á a penalidade em dôbro.Parágrafo único - Os estrangeirosque infringirem as prescrições destaLei, serão passíveis de expulsão do ter­ritório nacional, a juízo do Govêrno."

PARECER

O artigo 32 relaciona condutas delituo­sas contra a organízação do trabalho.Conforme a técníca para as normas pe­

nais nos incisos I usque VII, descrevea a~ão típica (preceito), para, ao final,estipUlar a sanção cabível {sanctio juris.}

Começam a revigorar os artigos 197 a207 do Código Penal, atinentes "aos cri­mes contra a organiZação do trabalho",a seguir incorporados a êste Parecer, paracomodidade dos que queiram consultá-los:

"Art. 197 - Constranger alguém, me­diante violência ou grave ameaça:

I - A exercer ou não arte, ofício,profÍSsáo ou indústria, ou atrabalhar ou não trabalhardurante certo periodo ou emdeterminados dias:

Pena - detenção, de um mês a umano. e multa de Cr$ 500,00 (quinhentoscruzeiros) a Cr$ 5.000,00 (cinco milcruzeiros), além da pena correspon­dente à violência;

II - A abrir ou fechar o seu esta­belecimento de trabalho. ou aparticipar de parede ou pa­ralisação de atividade eco­nômica:

Pena - detenção, de três meses a umano, e multa de Cr$ 500,00 (quinhen­tos cruzeiros) a Cr$ 5.000,00 (cinco

mil cruzeiros), além da pena corres­pondente à violência.

Art. 198 - Constranger alguém, me­diante violência ou grave ameaça, acelebrar contrato de trabalho, ou anão fornecer a outrem ou não adqui~

rir de outrem matéria-prima ou pro­duto industrial ou agrícola :

Pena - detenção, de um mês a umano, e multa de Cr$ 500,00 (qUinhen.tos cruzeiros) a Cr$ 5.000,00 (cincomil cruzeiros), além da pena corres­pondente à violência.

Art. 199 - Constranger alguém. me­diante violência ou grave ameaça, aparticipar ou deixar de particípar dedeterminado sindicato ou associaçãoprofissional :Pena - detenção, de um mês a umano, e mUlta de Cr$ 200,00 (duzentoscruzeiros) a Cr$ 1.000,00 (um mil cru­zeiros), além da pena correspondenteà violência.Art. 200 - Participar de suspensão ouabandono coletivo de trabalho, prati­cando violência contra pessoa ou con­tra coisa:Pena - detenção, de um mês a umano, e multa de Cr$ 500,00 (qUinhen­tos cruzeiros) a Cr$ 5.000,00 (cincomil cruzeiros), além da pena corres­pondente à violência.Parágrafo único - Para que se con­sidere coletivo o abandono de traba­lho é indispensável o concurso de, pelomenos, três empregados.

Art. 201 - Participar de suspensão ouabandono coletivo de trabalho, provo­cando a interrupção de obra públicaou serviço de interêsse coletivo :Pena - detenção, de seis meses a doisanos, e multa de Cr$ 2.000,00 (dois milcruzeiros) a Cr$ 10.000.00 (dez milcruzeiros) .Art. 202 - Invadir ou ocupar estabe­lecimento industrial. comercial ou agrí­cola, com o intuito de impedir ou em­baraçar o curso normal do trabalho oucom o mesmo danificar o estabeleci­mento ou as coisas nêle existentes.

Pena - reclusão. de um a três anos.e multa de Cr$ 1.000.00 (um mil cru­zeiros) a Cr$ 10.000.00 (dez mil cru­zeiros) .Art. 203 - Frustrar. mediante fraudeou violência, direito assegurado pelalegislação do trabalho:Pena - detenção, de um mês a umano, e muita de Cr$ 2.000,00 (dois milcruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (dez mil

134 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

cruzeiros), além da pena correspon­dente à violência.Art. 204 - Frustrar, mediante fraudeou violência, obrigação legal relativaà nacionalidade do trabalho:Pena ~ detenção, de um més a umano, e multa de Cr$ 2.000,00 (dois milcruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (deO': mil cru­zeiros), além da pena correspondenteà víolência.Art. 20~ ~ Exercer atividade de queestá impedido por decisão administra­tiva:Pena - detençao, de três meses a doisanos, ou multa de Cr$ 1.000,00 (ummil cruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (dezmil cruzeiros l •

Art. 206 - Aliciar trabalhadores parao fim de emigração:Pena - detenção, de um a três anos,e multa de Cr$ 1. 000,00 (Um mil cru­zeiros) a Cr$ 10.000,00 (dez mil cru­zeiros) .Art. 207 - Aliciar trabalhadores como fim de levá-los de uma para outralocalidade do território nacional:Pena - detenção, de dois meses a umano, e multa de Cr$ 500,00 (quinhentoscruzeiros) a Cr$ 5.000.00 <cinco milcruzeiros) ."

O art. 201, do Código Penal. na partereferente a "serviço de interêsse coletivo",convertido em lei o Substitutivo, será der­rogado pelos seus artigos 11, 14, 16 e 17.Passará a ser possível a participação degreve em serviços dessa categoria.

O inciso 11 pune o "incitamento" ao des­respeito à sentença. normativa da Justiçado Trabalho e não cogita do desrespeitoconcretizado.

O art. 723 da Consolidação das Leis doTrabalho cuidou dessa conduta delituosa.desde que os empregados atuem coleU­vamente :

"Art. 723 - Os empregados que, co­letivamente, sem prévia autoriO':açãodo Tribunal competente, abandonaremo serviço, ou dewbedecerem a qualquerdeCisão proferida em dissídio, incorre­rão nas seguintes penalidades :

a f suspensão do emprego atê seis me­ses, ou dispensa do mesmo:

b) perda do cargo de representaçãoprofissional em cujo desempenho es­tiverem;

cl suspensão pelo prazo de dois anosa cinco anos, do direito de serem elei·tos para cargo de representaçâo pro­fissional."

Cotejando-se o inciso II do art. 32 doSubstitutivo, com o acima transcrito, ve­rificamos:

a) que o primeiro pune "íncitar" àdesobediência, enquanto o segundo punea efetivação desta;

b) o inciso II se refere à sentençanormativa da Justiça do Trabalho, si­lenciando quanto às decisórias de dissi­dia, sem serem normativas (art. 123,~ 2° da Constituição Federall. Se sepondera que não o fez precisamente emface do art. 723 da CLT, prevalece aobjeção de que aqui a sanção é menosrigorosa do que a preconizada no art. 32,embora se trate de crime perpetrado enão de mero induzimento. AliáS. a penade reclusão, proposta pelo art. 32, émais grave do que a prescrita em todoo Título IV da Parte Especial do Có­digo Penal, que é sempre a de detenção.O parágrafo único do art. 32 enseja

estas observações:u) torna os estrangeiros infratores da

lei que se elabora "passlveis de expul­são" e mais benigno do que a linguagemimperativa do art. 725 da CLT, efeti­vamente ordenada a expulsão, depoisde cumprida a pena a que estão sujei­tos. O Decreto-Lei n.O 9.070, de 15 demarço de 1946 cujo art. 14 inspirou oart. 32 do Substitutivo, que dêle trans­iada até expressões, também conclusiva­mente penaliza com a expulsão. A fór­mula "passivel" é a de qUe se serviu oDecreto-Lei n.a 479, de 8 de junho de1938, que também arvora o Govêrno emárbitro da expulsão. através do art. 8.°:

"Art. 8,0 - O Presidente da Repúblicaserá o único juiz da conveniência daeltpulsão ou da sua revogação, as quaisse farão por decreto e serão processa­das no Ministério da Justiça e Negó­cios Interiores. de ofício, por iniciati­va da polícia ou mediante representa­ção fundamentada."

A rejeição da frase "11 juizo do Govêr­no", no parágrafo único do artigo 32, nãoresolve a dificuldade, primeiro porque nãose expressaria qUllI a autoridade para de­cidir sóbre a "passivel", depois porque aomissão subordinaria a espécie ao pré­mencionado Decreto-Lei n.O 419, princi­palmente seu art. 8.°, que sujeita o cas­tigo ao nuto do chefe da administração.

A expulsão tem estrutura. transnacionalou de direito das gentes e é imanente àsoberania. Na Constituição Federal de1891, no art. 72, foi assegurada a brasilei­ros e estrangeiros, residentes no País, ainviolabilidade dos direitos concernentes àliberdade, à segurança individual e à pro-

JUNHO - 1964---_._-- 135

priedade. Não havia referência à expul­são. A reforma constitucional de 1926,para dirimir divergências, acolheu a ex­pulsão, embora assinalando-lhe limites.Na tradição brasileira, é mais medida po­lítica, não é pena, tanto assim que o Có­digo Penal, entre elas não a incluiu, nemcomo principal nem como acessória. Oato de expulsão, contudo, há de respeitaras preceituações legais, principalmentequanto à defesa. Se não o fizer, poderáser cassada pelo Supremo Tribunal Fe­deraL

O que é certo é que o texto é regimen­talmente inSillicetivel de emenda, não de­vendo ser rejeitado, pois confirma li regrada expulsão para as transgressões da fu­tura lei, perpetradas por estrangeiros.

Observe-se que o art. 32 considera cri­me a inobservância das "condições pre­vistas nesta lei", quando o art. 25, inciso I,se repOrta a "condiçoos" e "prazos". Maislato, de conseguinte.

Melhor andaria o art. 32 se estipulassea mUlta em função do salário-minimo,para evitar que a inflação a esvazie desua vis punitiva.

ARTIGO 33

"Art. 33 - A paralisação total da ati­vidade da empresa, por iniciativa doempregador flock-out), aplicam-se asdisposições desta Lei."

PARECER

A Constituição, não disciplinou o lock­out, mas também não o proibiu. A legis­lação ordinária pode admiti-lo e regulã.­lo. Na doutrina, através dos autores, e nasleis, no Brasil, e em outros países, a re­cusa à atividade por parte do empregadoré simultâneamente tratada com a greve.Aquela é o pendant patronal desta. ODecreto-Lei n.a 9.070 de 15 de março de1946, que presentemente disciplina a es­pécie, trata do lock-out no art. 4.°, sen­do que no artigo 11 comina o pagamentodos salários em dóbro, Quando o mesmodesatende às prescrições legais, bem como,pela voz do parágrafo único dêste mesmoartigo, o Tribunal competente poderá or­denar a ocupação do estabelecimento,quando fór essencial sua atividade. O Su­bstitutivo deveria também, aqui, ter se­guido as pegadas do Decreto-Lei n." 9.070,reproduzindo semelhantes prescrições,principalmente em face do art. 35, que ex­pllcitamente o revoga.

A Consolidaçáo das Leis do Trabalho, noart. 722. relaciona penalidades aos empre­gadores que suspenderem o trabalho, en­tre elas a multa, iã desatualizada pela in-

flação, e no § 3.° obrigando ao pagamentodos salarios, correspondentes ao interregnodo lock-out, Como o Decreto-Lei nY 9.070.sendo de 15 de março de 1946, é posteriorao Decreto-Lei n.O 5.452, de 1.0 de maiode 1943 (Consolidação das Leis do Traba­lho), o parágrafo único do art. 11 daquelederrogoU o § 3.° do art. 722 dêste, preva­lece até o presente momento o pagamentodos salários em dóbro.

ARTIGO 34

"Art. 34 ~ Tõda autoridade, policialou administratíva, que impedir ou ten­tar impedir o legítimo exercício dodireito de greve, será responsabilizadana forma das leis em vigor.

PARECER

Trata-se de texto remissivo. Se as leisestão em vigor, é óbvio que deverão sercumpridas. Como a futura lei quer siste­matizar a matéria, a linguagem remissivatem cabimento. Será conveniente retirar alimitação "policial ou administrativa".Não deve haver disCriminação. Se a aUto­ridade, por exemplo, fór legislativa, depu­tado ou senador, ou judiciária, não ficaráimune à punição por haver turvado o nor­mal exercício do direito de greve.

EMENDAP) Rejeite-se a expressão "policial ou

administrativa. "2,&) Suprima-se "do direito."3.a ) Rejeite-se por expletivo o adjetivo

"tóda".4. a) Suostitua-se das "leis em vigor"

por "da legislação em vigor". Puramen~

te redacional a ajustagem.

CONCLUSAO

Síne ira ac estudio, é o parecer. Signi­fica a leal contribuição de quem tudo deude si para que a lei e a iustiça presidamas relações de trabalho no Brasil, a fimde que não se sujeitem às Interpretaçõespessoais e a excessos desorganizatórios daeconomia nacional, perpetrados por em­pregadores, empregados ou pelo poder pú­blico. A Câmara, como instância revisora,conclusivamente decidirá, em nome do Le­gislativo, o que melhor consultará aos in­terêsses do Pais.

Sala Afrânio de Mello Franco, 10 de ou­tubro de 1963. - Deputado Ulysses Gui­marães, Relator.

Vide, na 8eçào "Legislação", clêste nú­mero da REVISTA DE INFORMAÇÃO LE­GISLATIVA.. a lei que regula o direito degreve.

CONSIDERAÇÕES

SOBRE A

ORGANIZAÇÃO E

FORMAÇÃO

POlíTICA DAS

COLONIAS HISPANO­

AMERICANAS

E DAS REDUÇÕES

SACERDOTAIS

DO SUL

12((/a 'fllaria C(lNi(~,!('J 'l{al/(i

Pesquisa.dora do Serviço de

In/ormação LegÍ8lati1J(l.

DOCUMENTAÇÃO

Os conquistadores da América, tanto portuguêsescomo espanhóis, sempre tiveram consciência daformidável fôrça que representava o índio.

Usando métodos diferentes, procuraram, tantouns como os outros, valer~se desta fôrça, transfor­mando-a em elemento servil e útil a seus interês­ses. A rebeldia e o sentimento de liberdade dos sU­vícolas, entretanto, constituiriam sério obstáculo aessas pretensões, ocasionando as perseguições maisa trozes, as mortandades mais cruéis e a destruiçãoquase total das civilizações ameríndias.

Apesar das grandes vozes que se levantaram emfavor dos indígenas, as leis e bulas de proteçãobaixadas na Europa não vigoraram realmente dolado de cá do Atlântico. Dai regulamentar ° 00­vérno de Castela a escravidão, estabelecendo siste­mas de escravização que foram segUidos e obedeci­dos muito mais do que haviam sido as Leis de pro­teçáo baixadas pelas Cônes.

Na América espanhola o Govérno ficou compostodas seguintes repartições e autoridades;

Adelantados - eram nobres que, por meio decontrato, recebiam terras para colonizar, com aobrigação de conquistá-las aos indios. O primeiro"adelantado" na. América foi Bartolomeu Colombo,irmão de Cristóvão Colombo.

Encomiendas - Eram grandes lotes de terradoados por duas gerações. Os favorecidos com taisdoações (encomenderos) eram obrigados a explorara terra à sua custa e promover a catequese dosindígenas, iniciando-os também em algum oficio.Por este benefício devia o indio, além do trabalhoobrigatório, pagar detenninada taxa em produtos(mita).

Nas encomiendas havia os repartirnientos (ar­mazéns) onde os indios tinham que comprar poralto preço aquilo de que necessitavam.

Audiencias - era o alto poder judiciário dascolônias, constituindo, às vezes, o conselho Consul­tivo dos Vice-Reis, cuja autoridade limitavam. Osjuizes de primeira instância denominavam-se "al­caides", senda "alca.ides-mores" os nomeados dire­tamente pelo rei.

Ayuntamiento ou caNldo - foi a Câmara deVereadores das colônias. Determinava as medidaspoliciais e zelava pelos direitos do povo. O inícioda marcha de independência dos países hispano­americanos deve ser procurado nestes cabildos.

Virreys (Vice-Reis) - eram a autoridade máxi.ma, os representantes do rei. A divisão administra~

tiva dos vice-reinos previa maior ou menor númerode governadores.

C~a de Contrataciôn - órgão supervisor docomércio nas colônias.

Conselho das lndias - órgão máximo da. admi­nistração. Sediado em Madri, a êle estavamsubordinadas a Casa de Contratación e tôdas asautoridades da colónia. Sua jurisdição abrangiaassuntos tanto de ordem civil, politica e militar,como questões comerciais e econômicas.

JUNHO - 1964 137

Como se organizaram as colônias ame­ricanas e como se formaram politica­mente?

A princípio, no que tange às colôniasespanholas, o govêrno foi fazendo conces­sões para reconhecímento e descoberta deterras, sendo que várias conquistas foramempreendidas sem a licença governamen­tal, Havia um clima de relativa liberdade:os conquistadores chegavam e fundavamvilas e organizavam a administração.Longe da Metrópole, tinham que atuar porsi mesmos. Com a chegada do Governador,Capitão-geral ou conquistador, os poucoscolonos que com êle vinham, aclamavamali uma assembléia popular (cabildo) atra­vés da qual se estabelecia uma certa liga­ção entre povo e govêrno,

Desde o instante em que grande partedo território hispano-americano foi desco­berto e reconhecido, entretanto, o govêrnofoi suspendendo as concessões, surgindomatizei! absolutistas com a progressiva su­bordinação das colônias que foram setransformando em Vice-Reinos e Capita­nias-Gerai:>.

Os Vice-Reinos abrangiam grandes re­giõe:> e o:> Vice-Rei:> podiam imprimir acada uma de :>ua:> colônias uma parcela desua autoridade. Apesar disso, Governado­res e Vice-Reis estavam submetidos à Co­roa Espanhola, devendo cumprir leis, sen­do que, ao deiXar o govêmo, deviam pres­tar contas públicas a um residente (fun­cionário nomeado pelo Rei para inspecio­nar a administração das colônias).

Assim como os Vice-Reis e Governado­res, também os clérigos e os bispos eramnomeados pela Coroa que obtivera, na Es­panha, a emancipação de sua Igreja.

O que restou, pois, de popular na admi­nistração hispano-americana? O cabildo.Apesar de não poder legislar (tinha a fun­ção espEcifica de dar conselhos ao govêr­no e organizar tropas para a defesa daregião) constituiu, posteriormente, umadas principais células plasmadoras da in­dependência.

Com a importância crescente doo Vice-.Reinoo e Capitanias-Geraü;, a Coroa Es­panhola foi subtraindo, lentamente, os po­dêres do cabildo, visando a implantar naAmérica uma autoridade única,

Na América portuguêsa a sítuação foianáloga. A principio, o govêrno fêz doa­ções a particulares, vigorando a cláusUlada autoridade como uma reedição do feu­dalismo: foram as capitanias hereditárias.A medida que estas terras cresceram emimportância, a Coroa nomeou govemado­res-g~rais e suprimiu a concessão a par­ticulares, iniciando-se um período absolu­tista, muito semelhante ao ~pano-ame-

ricano, tornando-se caricatos os conselhoscomunais.

As colônias estavam distantes da metró­pole, porém, e, muitas vêze:>, os titularesnomeados para exercer o govêrno care~

ciam de autoridade. Isto veío ocasionar amiséria político-administrativa das colõ­nias, situação que, na América Latina, seprolongou até a independência dos Esta­dos americanos. Talvez seja esta uma dascausas dos fatos sócio-políticos que aindahoje ocorrem, conservando-se a AméricaLatina em um estágio de subdesenvolvi­mento que não condiz, absolutamente, como seu potencial econômico e territorial, oque nos faz pensar na herança, nem semprepositiva, que nos legaram nossos coloniza­dores.

ESTRUTURA DAS SOCIEDADESEURO-AMERICANAS

o Conselho das índias, a:> reduções sa­cerdotais e a formação intelectual daque­les que constituiram as colônias são ostrês principais elementos de estudo dassociedades euro-americanas.

O Conselho das lndias ~ Surgido naEspanha, em conexão com a Casa da ín­dia em Portugal, enfeixou grande podere responsabilidade na colonização espa­nhola, Foi o órgão que regulou a con­quista espanhola na América, tendo in­fluência, igualmente, na colonização por­tuguêsa, dada a dominação espanhola emPortugal 0580-1640).

Até o ano de 1525, os assuntos relacio­nados com as índias estavarn confiados aum Ministério, por sua vez confiado aoConselho Real de Castela, subordinado àCasa de Contratación de Sevilha, órgãoformador do Conselho das índias.

Em 1525, Carlos 11 transferiu o poderimperial relativo às índias ao Conselho,dando-lhe atribuições, e organizou codifi­cações até que o Conselho das índias en­feixasse todo o poder legislativo, executi­vo, judiciário e eclesiástico das colônias.

Os Vice-Reis, os governadores, os capi­tães-gerais, as audiências, os bispos, os pá­rocos e os cabildos eram nomeados porêste Conselho, reunindo, esta entidade, po­dêres que talvez nenhuma outra conseguiuna Espanha.

Na organização da sociedade americanao Conselho não abriu mão de nenhum po­der e todo o edificio da colonização ame­ricana e das sociedades que nela viveramnêle repousa.

O Conselho das índias abrangeu discri­cionàriamente o panorama econômico, in­dustrial, comercial, cultural e, até mesmorecreativo das colõnias, e as sociedades se

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acostumaram a obedecer até que o pêsodêste poder trabalhou no espírito da co­lônia os primeiros rumores da indepen­dência..

Os insurretos a esta autoridade sufo­cante, transformados mais tarde em diri­gentes, não souberam, todavia. governa~

senão como tinham sido governados. Dalo surgimento das unidades estatais e oespirito caudilhesco dominante, ainda hoje,em tão grande escala, na América Latina.

As reduções sacerdotais (misiones)exerceram enorme influência sôbre a vidana América que os europeus plasmaram.

Não surgiram as reduções ou aldeamen­tos como simples núcleos populacionais. Afinalidade que conduziu à organização efuncionamento dêstes aldeam~ntos trouxemodificações profundas para a sociedade.

Desde que se anunciou a conquista, sa­cerdotes de várias ordens deliberaramconstituir as reduções. Undo em. vista ascondições antícristãs que os cristãos es­tavam implantando no Nôvo Mundo.

Assim, as Missões trouxeram no seubõjo, entre outras finalidades;

a) a preservação do índio contra íl bru­tal perseguição para submetê-lo, ex­plorá~lo e matá-lo:

uJ o chamamento do índio à civilizaçãocristã, através do ensino e da cate­quese;

ri a transformação dos aldeamentos empontos de referência a serem postosem prática em campo mais amplo.com sua generalização pela AméricaLatin:!.

Nos primeiros dias da colonização his­pano-americana (Espaniola ainda comocentro vital de colonização. com poucasincursões por Uhas vizinhas) já os domi­nicanos punham-se em campo contra asbarbáries cometidas contra os indios. Gran­des homens de letras da Espanha e sacer­dotes como Bartolomeu las Casas, leVan­taram sua voz, o que veio dar lugar à fun­dação de colônias experimentais, onde taisexcessos não fôssem cometidos.

A legislação espanhola. votada às colô­nias, incentivou a constituição de núcleosindígenas assistidos por cristãos, onde osindios tivessem tratamento humano, multi­plicando-se, desta forma, as reduções.

A Companhia de Jesús, notadamente,tornou-se campeã na tarefa em que sedestacaram, igualmente. franciscanos edominicanos, dominando tribos ferozes ee.ldeando-as e constituindo as células quederam origem a vilas e cidades,

Para Que os índios fõssem integrados nacivilização cristã os padres tiveram queaprender as linguas indigenas. Fundando

escolas, ensinaram religião e rudimentosde civilização que os índios pudessem apre­ender, segundo os padrões de vida euro­peus.

Se os crimes cometidos na conquista aferro e fogo empreendida por um Pízarro,por um Almagro, ou pelos repartimientosde Colombo nos revoltam, não podemosesquecer a obra de construção das mis­sões religiosas.

Embora não concordando com o métodode impor uma civilização cristã e euro­péia ao livre indígena americano, não épossível esquecer o imenso legado que ês­tes sacerdotes deixaram, relativo às 110­guas e os costumes indígenas, com tãograndes reflexos na história e na etno­grafia de nosso continente.

Na primeira metade do século XVI aAmérica do Sul viu a fundação das seguin­tes cidades; Assunção, do Paraguai, e Bue­nos Aires, em 1536 (esta última recons­truida em 15BO) , Santa Fé, de Bogotá, em1538, e Salvador, da Bahia, em 1549.

No ano de 1626 os primeiros jesuítas es­panhóis entraram no território do RioGrande do Sul, que denominaram "Provin­cia deI Tape". Um dos mais antigos mapa:>jesuiticos, o do Pe. Luís Ernot (632) ca­racteriza o atual território do Rio Grandedo Sul como "adjacências do Paraguai".

Antes da definitiva fundação dos conhe­cidos Sete Povos das Missões Orientais,surgiram alguns aldeamentos, ligados,também, à dominação espanhola. Ataca­dos e destruidos sucessivamente, êstes al­deamentos foram desaparecendo, começan­do o período da fundação dos povos, cujasruínas eJ{istem até hoje.

Para mostrar as condições que apresen~

taram os Sete Povos das Missões na épocaaurea de seu florescimento, recorremos àdescrição do viajante francês Saint-Hi~

laire que, já em 1821, p~rcorreu o territó­rio. Em sua "Voyage à Rio Grande do Sul",diz, com referência ao Povo de São Níco­lau, primeiro estabelecido na região dasMissões, em 1626:

"Antes de entrar na aldeia, passei porum caminho bordado em confusão porpessegueiros e árvores sil vestres, pre­venindo-se-me que eu h ver ruinas.Entrei numa rua larga, orlada de casascircundadas por galerias absolutamenteiguais às de São Borja; não sendovistos habitantes em nenbuma casa.onde as portas foram arrancadas eonde os tetos e as paredes cairam paratodos os lados. São Nicolau {oi cons­truída segundo uma planta igual à deSão Borja. A igreja era voltada parao Norte e construída sôbre uma praçaregular, cercada de casas, com um

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pórtico, dois lados mais baixo, duassacristias e (interiormente) três alta­res. Já não existia o campanário, nemo côro. As paredes eram feitas de pe­dras e barro, o arco cruzeiro e colu­nas <interiores) de madeira. O colé­gio, como em Sáo Borja, ficava dolado ocidental da igreja; aí penetran­do. achamo-nos num pátio cercado degalerias formadas pelo prolongamentoda coberta da igreja. Atrás do colégio,um grande jardim cercado de muros;no mesmo colégio, havia um edifícioformando um claustro, destinado aosoperários. AY, casas da aldeia não erammais do que quarteirões de edifíciosQuadrilongos, cobertos de telha e cujoteto era sustentado por pilares, for­mando em derredor uma larga galeria.A igreja era menos alta que a de SãoBorja. O pórtico, pelo qual aí se en­trava, tinha uma úníca fila de co­lunas. Contei 96 passos da porta prin­cipal até o altar-mor e 34 de umaparede lateral à outra. Os baixos re­levos eram separados da nave por oitoarcadas, sustentadas por colunas daordem composta.A talha dos altares era guarnecida dedourados. Que se elevavam até a abó­bada, como em Sáo Borja; porémmais frescos e com melhor gõsto. Aigreja era também quadrilátera, po­rém mais regular.A abóbada era pintada de arabescosgrosseiros, mas qUe, reunidos. produ­ziam uma vista agradável.As fontes oatismais estavam numapequena capela pertencente à igreja eornada com muito bom gôsto; existiaai um teto formado com zimbório emoito Painéis, em cada um estava pin­tado um emblema referente ao batis­mo, com o competente distico.A praça tinha perto de 200 passos deleste a oeste, sôbre 157 de comprido.Defronte da igreja havia um edifícioregular e assobradado com um andar,tendo oito janelas à frente e um tetoà italiana. O andar térreo apresentavatrês arcadas que deixavaro ver pelaretaguarda do edifício uma rUa longae cercada por uma ala de laranjeiras aterminar numa capela.Do lado oeste, as três ruas que con­vergiam à praça estavam bem. conser­vaçl.as, mas restavam duas ruas do ladode leste e uma única do lado norte.A rUa que do lado oriental convergiapara o meio da praça 1azia frente auma capela quadrada, cercada de al­pendres, e à qual se chegava por uma

ala de laranjeiras, acompanhada deuma contra-ala. O vel'de~escuro dessasárvores e a sombra que projetavamsôbre a capela inspiravam um religiosorecolhimento, recordando a idéia doslucus antigos."

Sóbre o Povo de São Miguel, fundado em1632, que depois de São Nicolau foi a ca­pital das Missôes Orientais, diz saint­Hilaire o seguinte:

"Jazia colocado na chapa de uma co­lina, quarteada em alguns bosques,entre os quais serpenteavam abundan­tes mananciais que, por fim, iam con­fundir-se no rio Jucaripy, distante umquarto de légua; das abas dela se es­tendiam viçosas campinas. Na frentede uma larga praça quadrangular, naqual desembocavam nove ruas, via-seo Templo, bem que de paredes de pe­dra e barro, mas muito grossas e bran­queadas de taba.tinga; era voltado parao Norte e nêle se entrava por um al­pendre de cinco arcos, sustentados porcolunas de uma pedra branca e verme­lha, rematado por uma vistosa ba­laustrada, e sôbre uma gradaria damesma pedra (da qual eram tambémos frisos, cornijas e figuras) que coroa­va o frontispício, elevava-se a imagemde São Miguel, e, dos lados, as de seisapóstolos.A igreja era de três naves, de trezen­tos e cinqüenta palmos de compri­mento e cento e vinte de largura, comcinco altares de talha dourada e exce­lentes pinturas; ao entrar da portaprincipal via-se, à direita, uma Capela.com seu altar e pia batismal, sendo abacia de barro vidrado de verde, as­sentada sôbre uma moldura de talhadourada.A tôrre era também de pedra, comseis sinos. Imediata ao lado da Capela­mor, achava-se a sacristia, daí se­guiam-se os cubículos dos padres, queeram muitos e cômodos; pegava logoum lanço de quartos que olhavam pa­ra um grande pátio, com alpendradacm roda, destínados a escolas de ler,escrever, música vocal e instrumental;dele se comunicava para outro seme­lhante, formado de vári,as Casas, numadas quais trabalhavam vinte e quatroteares, e as outras eram oficinas deourives, entalhadores, pintores, umagrande ferraria, muitos armazéns, euma casa forte, que servia de prisão,tudo com admirável ordem; uma es­paçosa varanda, sustentada sôbre co­lunas de pedra lavrada de vinte e cin­co palmos de alto, olhava para uma

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horta murada de pedra e barro, comruas alinhadas, e plantadas de pi­nheiros, laranjeiras, limoeiros, mar­meleiros, pessegueiros e outras muitasárvores e arbustos, tanto indígenas co­mo exóticos. Contíguo, ficava um reco­lhimento de viúvas e donzelas, comum só portão e um pátio no meio.Entretinham nesta Missão mil e Q.ua­trocentas familias, que viviam em co­mum, passando, aliás, miséria, mor­mente de vestuário; do seu trabalhose utilizavam os jesuitas para exten­síssimas plantações e colheitas deerva-mate, algodão, trigo, mandioca,cana-de-açúcar, batatas, ervilha, fa­vas, feijões, abóboras etc. Havia em­pregados nas olarias, nos curtumes, notráfego e custeio das estâncias de ani­mais vacum e cavalar etc. Tanta eraa magnificência e abastança em queviviam êstes regulares!"

Descrevendo as ruínas dos Sete Povos,presta~nos Saint-Hílaire precioso teste­munho da importância das Missões queatingiram o máXimo de seu desenvolvi­mento cem anos antes da época de suaviagem, precisamente em 1732, quandochegava a 39.343 o número de seus habi­tantes.

Coube aos Sete Povos, desde a época desua fundação, a defesa de grande regiãocompreendida entre o Uruguai, o Prata eo litoral Atlântico.

Além da defesa do território contraportuguêses e tribos não cívilizadas, cabiaaos índios aldeados a vigilância perma­nente contra as incursões das bandeiraspaulistas.

Os trabalhos de fortificação de BuenosAires e Montevidéu, o fornecimento defôrças a setores governamentais do Pratae do Paraguai, foram fatõres que pertur­baram sempre a vida econôn'lica dos Po­vos, com o desfalque de braços úteis àlaVoUra.

Apesar de tais percalços, contando igual­mente com a indolência e fi lmprevisãonatural do indigena, souberam os jesuítaSimplantar um regime expressivo, não sóna sua forma econômica mas, l>rinci­palmente, do ponto de vista do govêrno eda cultura.

Com referência à obra jesUítica, assim~e eltpressa Aurélio Porto:

"Erguendo suas aldeias, procuraramos padres dar-lhes, em linhas funda­mentais, a organização social, politi­ca e religiosa de que era padrão a fa­mília crÍ5tã da. épOCa. E náo faltou,mesmo, a essas incipientes sociedadeshumanas, divisão das castas que com-

punham, no século. os aglomerados so­ciais. Encontram, para isto, na pró­pria organização das tribos prúnitivasos elementos iniciais para a formaçãode uma nobreza hereditária que partedos caciques e se desdobra por gera­ções continuadlUl, através de temposimemoriais. Nos Últimos anos ainda,encontram-se, nos livros de batismosde São Borja, nomes de vários caci­ques que são descendentes diretos deoutros, fundadores das reduções doTape. A êsses, como li. outros que maisse distinguem por ações relevantes,concedem os governadores espanhóis,em nome del-rei, o uso do designativode Dom, que lhes antecede os nomes.Cabe-lhes, principalmente, a direçãopessoal de um grupo de famílias, deque são os chefes naturais. São, tam­bém, na organiZação poJltico-adminis­trativa, dos Povos, os elementos repre­senta.tivos que ocupam aS mals salien­tes posições, ou cabos-de-guerra, co­mo essa familia dos Neenguirú queenchem século e meio da história dasMissões, como capitães-generais, emseus fastos guerreiros.Cardiel, em sua preciosa Relación Ve­ridica, nos dá interessantes in10rmessôbre a organização social, politica ereligiosa dos Povos, com cujos ele­mentos jogaremos nesta eXPQsição.Os Povos eram governados por auto­ridades civis recrutadas entre os 1n­dios de mais merecimento e prestigio.A administração de cada Povo com­punha-se de um corregedor, dois al­caides-mores, de primeiro e segundovotos, um tenente de corregedor, umalteres real, quatro regedores, umaguazil-mor, um alcaide da Irmanda­de, procurador e escrivão, os quaisconstituíam o cabildo ou ajuntamlen­to. Os cabildos eram eletivos, proce·dendo-se à escolha no primeiro diade cada ano, sob a direção do curaque dirigia os respectivos trabalhos eexaminava as conveniências de suaorganização, com o aproveitamento dosmelhores elementos da poVoação. Rea­lizada a eleição, era a ata respectivaremetida ao governador que a apro­vava, confirmando, a.ssim, o votopopular.

Revestia-se de excepcional solenidadea posse dos cargos de administraçãoda comuna. Em dia determinado tôdaa população se reunia junto ao pórticoda igreja, onde se colocava uma ca­deira para o padre e uma grande me·sa sôbre a qual se viam o bastão do

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corregedor, as varas dos alcaides e asmais insígnias dos outros membros doCabildo. Figuravam, ainda, sôbre amesa, o simbólico compasso do mes­tre de música em uma bandeirinha deseda, as chaves da porta da igrejaque pertencem ao sacristão, as dos ar­mazéns que cabem ao mordomo e ou­tras insígnias de oficiais econômicos.além das bandeiras, bastões e outrosdistintivos dos oficiais-de-guerra, quetodos também são confirmados em cadaano ou mudados, como os componentesdo Cabildo. Em duas filas de bancosque ficam fronteiros aos lados da me­sa, à proporção que vão sendo cha­mados, tomam assento os membros daadministração e cabos-militares queforam eleitos.

A tudo preside o cura wm seu com­panheiro e outros padres que se en­contram no Povo, porque em cada umhá dois ou mais conforme a necessi­dade. Faz aquêle wna preleção, depoisde ler os textos do Evangelho, em queexplica a significação do ato, e osmales que advirão da falta de cum­primento dêsses deveres funcionais, etermina por chamar o primeiro doseleitos, isto é, o corregedor, para quetome posse de seu cargo. A cada posseos músicos com suas chirimias e cla­rins tocam alguns compassos de umamarcha festiva, enquanto os chamadosvão tomando assento nos bancos quelhes são destinados. A tudo preside ocontentamento do povo em geral. Aêstes sucedem na chamada os que fa­zem parte da administração da igre­ja, sacristão etc., e, por último, os ca­bos e mais oficiais-militares, compo­nentes da milfcia missioneira, aosquais, como aos primeiros, são entre­gues os seus distintivos.

Todos os Povos dividem-se em classes,tendo, cada uma delas, os seus alcai­des privativos. Al;sim, os tecedores, oferreiro, os carpinteiros, pedreiros emais ofícios de monta e de maior ne­cessidade. As mulheres têm tambémos seus alcaides: são velhos de con­duta exemplar e de grande devoção,que cuidam de todos os seus trabalhose avisam em sUas desordens. O mesmoacontece com os rapazes de sete anospara cima, cujos alcaides os obrigam air juntos para a doutrina, atos devo­cionais, e outros que importam em seubem espiritual e temporal, .assim co-

mo trabalhar nas lavouras do Povo,para que desde pequenos aprendam aprover a sua subsistência e se acos­tumem ao trabalho. Al; mulheres, de!>­de sete até quinze anos, idade em quecostumam casar, têm também as suasaias, espécies de alcaides, que as acom­panham à igreja, ensinam e fiscalizamos trabalhos que lhes sio peculiares.

Cada Povo está dividido em váriasparcialidades que levam nomes desantos: Santa Maria, São José, SantoInácio etc., e que constam de oito adez, conforme a população de cadadoutrina, e cada uma dessas parciali­dades têm quatro a seis cacicados, deque são chefes membros do Cabildo.Os caciques constituem a casta. nobredo povo, reconhecidos pelo rei e t~m

o tratamento de Dom. Cada caciquet€m trinta, quarenta ou mais vassalos,que o acompanham ao trabalho, pres­tando-lhe obediência e respeito, au­xiliando-o a fazer a sua casa, lavourase serviços da comunidade, mas nãoprestam vassalagem de tributos espe­ciais, porque os caciques, embora con­siderados como nobres, não se eximemde trabalhar como qualquer um deseus vassalos. Os indios que se desta­cam pela prática de qualquer ofício,como sucede com os carpinteiros, es­tatuários, pintores e outros, ficamlogo colocados em plano superior,que lhes dá certas prerrogativas denobreza.

Desde o corregedor até o último vassa­lo se confundem no trabalho. Culti­vando as terras da comunidade ou assuas próprias; fazendo as colheitasque são alí de junho a dezembro decada ano; beneficiando a erva do Pa­raguai' ou carregando, para transpor­tar madeiras dos matos a fim de fa­zer as construções de casas etc., e emtodos os mais trabalhos vão sempreconduzidos pelo seu chefe ou maioral.

Há todo o gênero de oficios mecâni­cos necessários a uma povoação de boacultura. Vêm-se ali ferreiros, carpin­teiros, tecedores, estatuârios, pintores,decoradores, fabricantes de rosários,torneiros, mareiros (que são os que fa­bricam o mate, (cuia) vasilha em quese toma a erva do Paraguail, e atéfabricantes de sinos e chapeleiros exis­tem em alguns Povos. Alfaiates o sãotodos os indios para sua própria rou­pa. Mas para os ornamentos da igreja,

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vestidos de gala dos cabildantes, cabos­militares etc., são os sacristãos, ha­vendo também sapateiros especiaispara fabricar o calçado dêstes. O in­dia, propriamente, de pouco necessitapara si. porque como a terra é quentee só nos meses de junho e julho háalgum frio, usam pouca roupa e nadaajustada ao corpo. Esta se compõe decamisa, colete de cór ou branco, dealgodão. ceroulas e calções. e um pon­cho que, no inverno, é de lá e, noverão (que é quase todo o ano). dealgodão. Poncho é uma peça de duasvaras e meia de comprimento por duasde largura, com uma abertura no cen­tro por onde enfiam a cabeça. e quelhes serve de capa. Seu uso está ge­neralizado por t'5da parte, principal­mente no Chile e Peru, até pelos es­panhóis que não desdenham de tê-losdos mais ricos, cheios de bordados eadornos, chegando a atingir a mais detrezentos e quatrocentos pesos o seupreço. Os indios, em sua pobreza, usamos mais simples. Na cabeça trazem co­mumente um gorro, e outros, de maisposses, dão-se ao luxo de usar cha­péu, sendo freqüente, também, o usode um lenço com que cobrem a ca­beça. Não suportam meias, nem sapa­tos, e quando calçam aquelas trazem­nas sempre caídas. sem atar; mas sa­patos. por mais que se lhoS recomen­dem, não há forma de que os ponhamnos pés. Sómentc nas festividades oufunções públicas, quando compreen­dem que o calçado faz parte da indu­mentária de gala, e que se animam aculçá-lo.

A instrução de fundo religioso foi, des­de os primeiros tempos, uma das gran­des preocupaçóes dos padres da Com­panhia. vendo nela a base de tõda asua organização social e religiosa. Erapor meio da infância. educada emprincípios rigorosos de moral cristã,que os fundadores dessas aldeias ain­da selvagens procuravam penetrar nocoração doS índios. E eram as criançasque, ao retornar à casa, levavam aospl\is uma pequem"\ parcela do que ha­viam aprendido nessas escolas em quea par de outras disciplinas, ensinava­se o catecismo na própria línguamaterna.

Na organização dos Sete Povos as es­colas de ler, escrever e de música ocu­pam um lugar de destaque na praçaprincipal, ao lado dos aposentos dosp<lctres. Ficam elas no primeiro pátío,

que é o dos padres. a fim de que pos­sam ser melhor fiscalizadas. Não sãoos padres os seus mestres. porque têmde atender a outros múltiplos afaze­res e ministérios, mas, sim, alguns in­dias especializados no ensino que con­seguiram cultura superior à comum. edemonstram notável vocação para oensino. Freqüentam essas escolas emque, além de ler, escrever e contar, en­sinam-se música e dança reU~iosR,

principalmente os filhos dos caciques,dos vereadores (cabildantesl, dos mú·sicos. dos sacristãos, dos mordomos edoS oficiais mecânicos, que constituema nobreza do Povo, e também os maisindios, quando solicitado pelos pais.Com seu gênio imitativo, principal­mente na rec6pia caligráfica, essascrianças sáo inimitáveis. Há trabalhosinexcediveis em letras de fôrma, deque existem originais na Coleção deAngeliS, que demonstram a perfeiçãocom que são feitos. E note-se que êssesoriginais são de ex-alunos dos padres,feitos muitos anos depois da expul­são dos jesuitas. Admirando esses tra­balhos, dizia o padre Cardiel que fa­ziam tão boa letra de fôrma e com talperfeição que levavam os pa.dres, mui­tas ve:.les, a julgar que se tratasse dealgum trabalho tipográfico de algumaboa imprensa.

Além do guarani que oS padres redu­ziram a língua escrita, organizandogramática e vocabulários, aprendiamas crianças o espanhol e muitos o la­tim, o que levou Cardiel a afirmar"que alguns lêem com notável destrezalingua estranha melhor do que nós".Eximios na imitaçáo, não tinham. noentanto, qualidades cria.doras. Os quetinham melhor registro de voz eram,desde fi escola, destinados à música eao canto. Mas tóda a sua p~rícia es­tava em ler a música que se lhes dava.o que faziam com incrível destreza eprecisão absoluta. Não iam, porém.aiém das expressões musicais que apauta traduzia. E pela mesma razãode não terem gênio criador, jamais seconseguiu Que se dedicassem à poesia.TocaVam, entretanto. com execuçáoperfeita, vários instrumentos, entre osquais se destacavam o órgão e oviolino.

Notáveis as bandas e orquestras quetinham em cada Povo, consti tuidas detrinta, quarenta e mais figuras, exe­cutam\o em todos os instrumentos da

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época. Eram os mais comuns aos Po­vos: violinos, de que havia, em cadaum, quatro ou seis; baixos e chirimias(uma espécie de oboêl, seis ou oito;violões, dois ou três; harpas, três ouquatra; clarins, dois ou três e um oudois órgáos."

Quanto à expansão econômica das Mis­sões, é ainda Aurélio Porto quem infor­ma, dizendo

"que a criação de gado constituiu umadas principais preocupações dos je­suítas na fase inicial da fundação dosSete Povos. No apogeu de seu flores­cimento, chegaram os povos a contarem suas estâncias número aproximadoa um milhão de cabeças de gado detõda espécie, principalmente bovinos .. .. As suas principais lavouras eram demilho, batatas, mandioca e legumes,e outrOlj grãos em menor escala. Amandioca de que faziam uma espéciede páo, era o seu principal alimento.Além da lavoura particular de cadafamília, que denominavam abambaé(aba - indio, mbae - coisa), haviatambém a lavoura da comunidade, o tu­pambaé (coisa, propriedade de Deusl.E a esta organização pertenciam tam­bém as grandes estâncias dos Povos eos ervais nativos que exploravam emconjunto."

A respeito do tupambaé assim se expres-sa Pablo HernlÍ.ndez:

"O tupambaé era, em idioma guarani,/! fazenda de Deus, a fazenda dos po­bres; o campo comum com seus fru­tos e gado, que tomou seu nome dosfins mais nobres entre os vários a queestava destinado, a saber, da repara­ção e ornamento das igrejas e da pie­dade para com os desvalidos.Elegia-se o campo comum dos terre­nos mais saneados do Povo, e de su­ficiente extensão para que nêle se pu­dessem semear os frutos necessáriosem abUndância: milho, mandioca, le­gumes e algodão e as outras plantasúteis de que era capaz a qualidade daterra.

O modo de cultivar e8ta propriedadefoi sempre o mesmo. Houve ocasiõesem que se emprega vam neste trabalhocomo jornaleiros uma porção eleita deindios que por sua atitude pUdessemassegurar o bom resultado do traba­lho. "Se escojen... los indios que mássaben de labranza. y los sobrestantesde mayor capacidad y más diligentes.que atiendan ai beneficio de ia tierra,

cultivo de los sembrados y buen cobrode los frutos; los cuales se recojendespués en grandes percheles y gra­neros para socorrer... ~ A los quetrabajan en estas sementeras del co­mún se les paga su jornal justo conlos bienes deI pueblo:'

Outras vêzes participavam dêste tra­balho de utilidade comum todos os vi.zinhos do Povo, os quais, durante aépoca de lavração, trabalhavam nosoutros dias da semana em suas chá­caras, prestando serviço no Tupam­baé às segundas e sábados. Excetua­vam-se dêste trabalho os oficiais deartes mecânicas, os quais, naquelessete meses, interrompiam parcialmen­te sua assistência às oficinas. repartin­do o tempo da semana entre seu ofí­cío e o trabalho de seu Abambaé, semtomar parte no cultivo do Tupambae.Dêste campf>, destinado para os des­validos, para os ocupados no serviçodo Povo e para todos os necessitadosem geral, se tirava o necessário parasocorrer aos enfermos do PO\'O, às viú­vas e órfãos, e para edificar e manteros templos. Com seus frutos provia-seaos gastos daqueles que, em benefíciodo Povo, eram enviados a outros pon­tos em suas viagens por terra ou porágua, como aos que iam trazer erva­m3.te ou conduzi-la para o tributo;também ao sustento das crianças en­quanto trabalhavam nos campos co­muns. Constituía êle, ainda, o supri­mento de alguma outra redução, queo necessitasse, durante o ano, ou dealguns indios que nada houvessem re­servado para semear. o que era fre­qüente, dada sua voracídade e habi­tual imprevlsáo.Ao Tupambaé pertenciam. igualmen·te, os rebanhos de gado ovino e bo­vino que se procurava formar em ca­da reduçáo.Finalmente, ao Tupambaé pertencia otrabalho da erva-mate que 52 colhia,tanto para o uso diário dos indios,como para o pagamento de tributo.

O DIREITO DE PROPRIEDADENAS REDUÇÕES

Qual era o carater da propriedade nasReduções?

Segundo Pablo Hernandez.Ué necessario considerar-se, primeira­mente, a propriedade dos bens mó­veis. cuja consideração não admitedúvidas sôbre a existência da Pl'Oprie­dade privada nas Reduções."

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" ... Simples, em verdade, em peque­no número e pouco valor, eram reco­nhecidos como bens próprios dos 1n­dioo os seus utens1lios. como pratos,cântaros de barro, arcas, os bancosque usavlUll para sentar, as caixas eobjetos de madeira que, com sua habi­lidade e paciência, fabricavam, comoainda os objetos que adquiriam dosvizinhos mediante troca. Constituiabem próprio, também, o salário peloqual se alugavam aos habitantes deSanta Fé ou outras povoações."

Quanw à propriedade de imóveis, dizPablo Hernández:

"Indiretamente ou em usufruw, o in­dio ou chefe de familia usava a casaperpetuamente enquanto vivesse. Des­frutava, também, de seu campo parti­cular, onde era dono de todos os fru­tos nele colhidos como milho, mandio­ca e batatas. Era dono, igualmente, daerva-mate. do fumo e da cana-de­açúcar que plantasse."

Sõbre a propriedade de bens imóveiscom domínio direto, diZ Pablo Hernã,ndez.os informes são vagos e incerws:

"Era indubitável que os jesuitas nãoprofessaram a doutrina errônea queconstitui o comunismo, a saber: queos bens materiais sejam comuns compropriedade positiva por direito na­tural, de maneira que ninguém pos­sa, sem violar a lei natural, possuirem propriedade algum bem do qualexclua os demais."

Diz, entretanto, o auwr:

"Faltam provas certas e claras de quepossuíssem os indios bens imóveis par­ticulares com domínio dlreto. Os atoscom os quais mais patentemente secomprova êste dominio, que são atransmissão por venda ou transmissãohereditária, não constam. E, ainda,existindo o dorrünio privado direto nasMissões, tais atos talvez nunca se ti­vessem verificado."

Tecendo considera;;<ies a respeito do as-sunto, continua:

"diremos que se se trata de comunis­mo, estabelecido pelo errõneo princi­pio de negar o direito da propriedadeprivada, tal não houve jamais nM Re­duções. Se se trata de comunismo naprática, em razão da comunidade debens, não se pode dizer, em verdade,que nas Reduções se praticasse o co­munismo, põsw que não somente exis­tia a propriedade privada reconheci­da como direito, mas também pratica-

da de fato. E se em alguns casos nãoera praticada ou não encontramos fa­tos que a provem, isto se explica muitobem pelas circunstâncias do tempo ecomunicações dos Povos e pela indoledos Guaranis; mas, ao mesmo teJnll(l,estava aberto o caminho para que és­te:; fatos tivessem lugar em qualquermomento que os quisessem executaros indivíduos, sendo que os missioná­rios os impulsionavam a isto.

A circunstância de cada Povo possuírbens comuns em seu Tupambaé e dis­por dêles para pagar o tributo. socor­rer aos enfêrmos e indigentes e cons­truir edifícios públicos não dá motivopara que se considere praticado o co­munismo, pois, neste caso, se consI­deraria em regime comunista qualquernação que tivesse um fundo comumpara sustentar seus magistrados e em­pregados, bens comuns em seus naviose armamentos de guerra, rendas co­muns em suas aduanas e terras co­muns que vende a seu tempO e de cujoproduto não pode legItimamente apro­priar-se nenhum particular."

Continuando, diz ainda Pablo Hernández:"O fato de ser comum o rebanho nadatem de particular, senão a lndole dosindios, da qual não se podia conseguirtrabalho próprio. Foi um dos tanwsdetalhes que impõs a necessidade (enão Q sistema preconcebido, que eratotalmente contrário), tendente a fo­mentar a propríedade, sem ter cessadonunca os seus esforços, mesmo usandoo meio mais imperfeito."

O problema do direiw de propriedadenas reduções jesuíticas tem provocado di­vergências entre vários estudiosos doassunto.

Dos nomes citados por Pablo Hernández,faz o autor reparos aos estudos especiaispublicados por Peramás que afirmam ex­pressamente o seguinte: nas Reduçõestudo era comum.

CharlevoiJt, outro nome citado por P.Hernández, afirma o mesmo, sendo queVaniere, citado também na obrEt por nósconsultada, tratou as reduções "como co­munistas, comparando-as engenhosamenteà república das abelhas".

Diz Pablo Hernández, entretanw, que li

matéria foi exposta com precisão cientí·fica pelo Padre Domingo MUriel, da Pro­víncia do Paraguai e seu último Provin­cial, quem, em seu Tratado de DireítoNatural e de Gentes, propõe a seguinte

JUNHO - 1964 l45

qUestão: qual era a norma de direito pelaqual se governa o Tupambaé dos Guaranis.E resolve:

"O Tupambaé, ou possessão comumdas Doutrinas ou Reduções, foi adqui­rido por direito e dominio primitivo deocupação, que era próprio de cadaPovo, com comunhão positiva. não po­dendo U8a-lo um particular sem o be­neplãcito do Cabildo; o Tupambaé ti··nha seu exemplo nos antigos Vacceose Vetones na Espanha e, nos temposmodernos, nos moradores do campo dePalencia e nos de Salamanca." S~gun­

do o testemunho do Pe, Muriel, "emTamames seu povo (pertencente aocampo de Salamancal conservava apastagem comum à qual levavam seugado os vízinhos, guardando certa pro­porção. E também o campo comum. doqual tomava cada vizinho a porçâoque quisesse para arar, semear e co­lhêr, com a condiçâo de intervir o con­sentimento dos deputados do Cabildosecular que julgassem não ser ClT) pre­juízo do povo". Junta, ainda, "o exem­plo do campo comum estabelecido pelorei Est-anislau, em Lorena e, se pudes­se acrescentar, nos séculos XIX e XXIJ de vários povos da Espanha ondecomo acontece em Aragão, é comwn omonte para o aproveitamento de lenhRe recolhimento de glandes de carva­lho, e comum a terra própria de pasta­gens, onde cada vizinho leva os ani­mais a pastar. E, tocando no ponto dapropriedade de imóveis na,') Reduções,afirma que nelas uns bens s10 comunse outro8 próprios de cada um, sendo oscomuns introduzidos pelo Conselho dasíndias, denominando-se o regime depropriedade dos guaranis de regímemisto de bens comuns e de proprie­dade privada".

Na impossibilidade de apres2ntar conclu­sões qUe s6 a pesquisa detalhada de do­cumentos poderia revelar, e sendo nos.~o

objetivo apenas tecer considerações sóbreassuntos que estão li exigir estudos emmaior número que os já existentes, fina­lizamos êst~ trabalho. enwnerando os se­guintes pontos, merecedores, a nosso ver,de uma investigação mais completa:

1. A organização sócio-politica e sócio­econômica das Missões apresentouaspecto de República orientada porsacerdotes com poder està\·el.

2. O Cabíltlo elegia regcdores e alcai­des e os indios, inte:J;rando-se nacivili~ação cristã, em tribos sujeitas

a caciques, foram obrigados a esco­lher dirigentes.

3. A direção sacerdotal bifurcou-se emdois planos: o espiritual e o temporal.

4. Quanto à vida financeira e econô­mica do grupo, tinham de recolheraos celeiros todos os produtos agri­colas e de pequenas indústrias ma­nufatureiras. l!:stes produtos eramdistribuidos a todos, sendo expor­tado o excedente para o rio da Pratae remetidas para a Coroa, anual­mente, avultadas quantias dos im­postos recolhidos,

5 . A mentalidade dos índios aldeados,entretanto, não se metamorfoseou.permanecendo no indigena a "mino­ridade relativa e a incapacidadeparcial", segundo um dos estudios(J,~

do assunto.

Com o aniquilamento das reduções (aCompanhia de Jesus foi eXtinta em 17681yoltaram os índios à selvageria, sendo osadministradores leigos que sucederam aospadres incapazes de continuar a obra da.~

Missões.Exifl;iria mais tempo o enquadraIDl'nt.f)

do indígena na civilização cristã de cunhoeuropeu? Seria esta estranha e impossivelde ser implantada em terras da América?Era o indigena americano um ser inferiore incapaz de civilização, ou foram errôneosos métodos empregados?

Tendo em vista as grandes civilizaçõespré-colombianas existentes na América.como a civilização asteca e a incaica, econsiderando o fim melancólico da civilí­:ilação jesuitica, permitimo-nos uma últimaquestão: contando os sacerdotes jesuítascom inúmeras restrições por parte do go­verno e por parte dos colonos que deseja­ram sempre escravizar os índios. teriampodido êles realizar o que se propuseram?

REGIME DAS REDUÇõES: O REGULA·MENTO GERAL DAS MiSSÕES

JESUiTICAS

Efetuada a redução dos indios guaranisem povos, foi necessário observar as cir­cunstâncias especiais dêste empreendi­mento.

A princípio bastaram instruções parti­culares que cada Padre Provincial da Vil.

aos missionários. Destas instruções algu­mas foram conservadas até o presente,como a elo Pe. Mastrílli Durán <1622-1628),

Dilatando-se em poucos anos o raio deação dos Missionirios, chegando a milha­res os guaranis reduzidos e crescendo o

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número de povos, sentiu-se a necessidadede um regime estavel aprovado pelo Su­perior-Geral da Companhia: foi o que ex­pressou a Congregação Provincial, celebra-

,:·tia em 1632, dirigindo ao Pe. Mucio Vitel­lesehi um pOstulado do seguinte teor:"Que atento que el gobierno de las dichasreducciones ha de ser diverso en muchascosas que el ordinario de las otras casas ycolegios, Vuestra Paternidad les dé regiasy estatutos acomodados a su gobierno ybuena direccióD."

A resposta foi que na primeira Congre­gação qUe se celebrasse, seriam designadosos Padres mais experientes nas Doutrinasou Reduções e êstes prOpOriam à Congre­gaçáo as coisas que julgavam necessârioobservar, as quais, discutidas e aprovadaspor esta Congregação, fôssem enviadas aoSuperior-Geral para sua aprovação defi­nitiva.

Assim, na sell:ta Congregação (1637) fo­ram escolhidos e nomeados os Padres An­tônio Ruiz de Montoya, Francisco DiasTano, Claudio Ruyer e Miguel de Ampueroque propuseram seus capitulas os quais,discutidos e acrescidos de modificações,tôram enviados a Roma pela Congregação.

Esta foi a primeira Regulamenta.ção detôdas as Doutrinas ou RedUções, formandoum regime ou sistema de govêrno, que,aprovada pelo Superior-Geral, foi postaem execução.

Nos anos seguintes continuaram os Pro­vinciais a elaborar novas disposições, se­gundo os casos e dúvidas que se iam apre­sentando, sobressaindo-se o Padre AndréRada pela abundância de regulamentaçãoapresentada.

Enviado ao Paraguai como visitador eVice~Provincial (1664), deu uma detalha­da instrução aos Missionários e outra aoSuperior, nas quais, talvez com mais ar·dem que em nenhum outro Regulamentodos que se conservam, estavam tratadostodos os pontos que abrangia o govêrnodas Missões, tanto no plano espiritualcomo no temporal, ajuntando, ainda, osusos e costumes comuns a tôdas as dou­trinas.

Esta regulamentação estava contida emcartM (quase tôdas pUblicadas no Boletimda Academia de História de Madri, em1900), tornando-se difuso o seu conjunto.Dal ter ordenado o Superior Geral queestas ordens fôssem organizadas em com­pêndios, o que foi feito pelos Padres Agos­tin de Arag6n e Cristóbal GÓmez.

As ordens ou disposições elaboradas peloPadre Rada, entretanto, deixavam algumascoisas vagas e pouco definidas, pendentesmuitos pontos, entre os quais o de fixaros castigos nos delitos mais graves. Poresta razão, o Provincial Pe. Tomás Donvi­das eS})ecl1icou, em carta cirCUlar de 13 deabril de 1687 a série de penas que se deviaaplicar, nos diversos delitos, graduadasestas penas, segundo a maioria de votosde uma Junta constituída por Padres dasMissões, designada para discutir o caso,sendo que, em 1688, o Superior-Geral TirsoGonzález determinou a reunião de novaJunta.

Chegando-lhe, mais tarde, o resumo detôdas as Ordens postas em vigor desde oprincípio e que se julgava convenientemanter, e juntamente com o resultado damaioria de pareceres da Consulta sôbre aspenas, o Superior-Geral as aprovou, comodiz em carta de 31 de janeiro de 1696:

"Aprobé en el despacho de 1691 el re­sumen 6 recapitulac1ón de Ordenes querernitió su antecessor de V.R. (el P.Donvidas) de los que los PP Provin­ciales habían puesto en las Reduc­ciones para su gobierno en 10 espIri­tual y temporal." Resolve, pois, êsteSuperior·Geral, que êste despacho é oque permanecerá em vigor, revogadastôdas as demais ordens não contidasnêle, para que se consiga a simplifica­ção e diminuição de regras.

:G:ste é o Regulamento Geral que vigorouaté o fim da administração dos jesuitas

1637 - REGLAMENTO DE DOCTRINASHECHO POR LA 6.a CONGRE­GACIÓN PROVINCIAL DEl. PARA·GUAY Y APROBADO POR EL PE.GENERAL MUCIO VITEI.LESCHI

"Jhs.

"Ad majorem Del gloriam eiusque Ge­nitricis Mariae"

ORDENES QUE HIZO LA DEPU­TAClóN QUE SE SE8ALó por ordende nuestro P. General para eI gobiernode las Reducciones dei Paraguay, apro­badas de la Congregación Provincial.

En un Memorial que I1ev6 el P. JuanBautista Ferruflno, Procurador generalde esta Província, se propuso à nuestroPndre lo seguiente:

Que siendo eI gobierno de las Reduc­ciones diferentísimo que eI de los cole­gios y demás casas de la Cornpania, sehall:an regIa!) y instrucciones comunes

JUNHO - 1964 147~-_._.- -- --- --------------------

que todos hayan de guardar. A lo cualrespondió Nuestro Padre asi: Eu la pri­mera COngregación provincial se nom­bren dos ó tres Padres deputados de losmás experimentados en las Misiones delas Reducciones, y que juntamente seanpersonas de caudal, prudencia y ceIo: ya ellos se les encomiende que dü;:ponganlas órdenes que juzgaren por convenien­tes, para que se guarden en las dichasReducciones. Estas se vean eu la dichaCongregación: y trãtese si sera bieu quese entablen. Y en aprobándolos anil. senos remitan: que yo veré si es bien con­firmarIas. En el interin se observen losque los Padres Provinciales han dejadoen las Visitas. Y habiéndose Ilombradopor deputados en la Congregación que secomenzó este ano de 1637 en 18 de Julioá los Padres Antonio Ruiz, ClaudioRuyer, Miguel de Ampuero y FranciscoDiaz '!'afio, les pareció hacer los órdenessiguientes:

1. Aunque el oficio de! Superior detodas las Reducciones y su modo degobierno es diferentisimo deI de loscolegios; con todo eso, nUestro PndreGeneral. en una de 30 de Novíembre,dice asi aI P. Provincíal: Vuestra R.publique que el Superior de las Re­ducciones, aunque no tenga patentemia de SU oficio, pera que para consus súbditos tiene plena y entera po­testad interior y exterior, como la go­zan los Rectores con los suyos.

2. Porque el Superior de las Reduc­ciones pueda acudir á todas las Re­ducciones, asi de la Sierra, como de!Paraná, y responder fácUmente á losSuperiores inmediatos, y Padres delas Misiones: asista de ardinario, enla Reducción deI Caró ó Candelaria:donde puede con facilidad tener avisode todas partes y ordenar lo que con­viniere aI buen gobierno de las Mi­siones.

3. EI Superior de las Misiones visi­tará todas las Reducciones una vez aIafio: si no es que ocurra algún casourgente: y ésta basta no más.

4. En las Visitas que el Superior hi­ciere de las Reducciones, conviene queno sea de paso, sino que vaya de pro­pósito y esté en cada una de las Re­ducciones el tiempo que fuere necesa­rio para Ver cómo se ejercitan nues­t.ros ministerios v administran los san­tos Sacramentos: y vea por ojos la

distribución de tiempo de cada Reduc­ción, y cómo se guardan las regIas yInstituto: y que si hubiere algunafalta la remedie.

5. Entable el dicho Superior de lasReducciones la uniformidad en todoen todas las Reducciones, asi en laadminístración de los Sacramentos,como en celebrar las fiestas: y paraesta uniformidad, disponga el PadreProvincial un modo uniforme en todaslas Reducciones. el cual modo procura­rá el P. Superior de las Reduccionesse entable en el1as.

6. En todas las Reducciones se sena­len cuatro personas de espiritu, cela yprudencia, las cuales sean ConsultoresdeI dicho P. Superior de las Misiones:y esros mismos serán Padres espiri­tua1es de todos: á los cuales podránescribir cartas tocantes á. su consueloespiritual sin ser registradas, llevandoen el sobrescrito dos CC por sena],Y los dichos Padres espirituales, cuan­do se juntan en las Bestas de algunaReducción, pueden acudir personalmen­te aI consuelo de los Padres.

7. E! Superior de todas las Reduc­ciones no podrá mudar á ningún Su­perior inmediato de los que fueren se­nalados por el Provincial, sin consul­tarIa con los Consultores deI distritodonde estuviere la Reclucción, y avisaI'primero aI P. Provincial de la causade la mudanza, esperando la respues­ta: si no luere en caso ±an urgente,qUe no se pueda esperar, avisandoluego dello aI P. Provincial.

8. EI Superior de las Reducciones mi­rará por la autoridad de cada uno delos Superiores inmediatos. para quelos indios de cada Reducci6n tengan aISuperior inmediato della el respeto,sujeción y obediencia que conviene.Y asi, lo qUe el Superior de las Re­ducciones hubiere de hacer ó mudaren cada Reducción, será por media deISuperior inmediato de la misma Re­ducción, y de modo que entiendan losíndios han de tener recurso aI Supe­rior de todas las Reducciones.

9. Los Superiores inmediatos de JasReducciones procuren con suavidr.dcada uno en su Reducción entablar al­guna cosa de comunidad. en la cuaj losindios tengan alguna cosa propriasuya, con que puedan acudir á las ne­cesidades comunes de su pueblo, y

148 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

tengan con que comprar miei, sal,lana, algodón, Y cosas con que ves­tírse, y acudir à los enfermos y po­bres, y enterar sus tasas: y con quepuedan comprar algunas cosas parasus Iglesias, como se usa en el Perú.Y porque no en todas las Reduccio­nes hay una misma cosa en que sepueda entablar esta comunídad, \'eanla que conviene, avisando aI P, Pro­vincial para que lo confirme ó mo­dere: y lo que se juntare, se pongaaparte, con cuenta y raron de entraday salida, para que en todo tiempoconste.

10. El Superior de todas las Reduccio­nes no podrá sacar lo que es propriode una Reducclón para dar à otra, nilo que los indios compran con cosasproprias, Ó ofrecen de limosna, comoN. P. lo ordena en una de 30 deEnero de 633; sino que el Superiorinmediato de la Reducciôn lo distri­buya con los pobres y ... (ilegible> desu Reducción.

11. Para que se eviten los inconve­nientes que suelen resUltar de caSar­se en unas Reducdones los indios quese han reducido á otras, y se aclarenlas dudas que suelI'. baber en ma teriade matrimonios y otros Sacramentos,ningún Padre, aunque sea SuperiorJnmediato, casará jndio ó india quehaya estado en otra Reducción, aun­que .sea infiel, sin avisar primero alSuperior inmediato de la Reducciõndonde primero eswba. Y si hubierealguna duda, antes de casar los di­chos indios, .se avise aI Superior detodtls las Reducciones, el cual, consu1­tando a sus Consultores, y á otl.'as per­sanas de ciencia y prudencia que juzga­rI'., ordene lo que conviniere: y esta seejecute. Y 10 mismu se haga en otrasdudas tocantes aI buen gobierno y ad­ministración de todos los Sacramentos.

12. Para que se guarde lo que Nues­tro Padre manda en una de 8 deAgosto de 634 acerca de la Iimosnaque da S.M. á los Padres Misioneros,en la cual dice asi: La administmci6nde la limosna que dn. el Rey a las Mi­siones, y de la hacicnda que esta apli­cada â ellas, tenga á su cargo el Su­perior de las dichas Reducciones: y élse entienda Gon los Procuradores elela Provincia y otros colegios para Quele remita lo nccesario para ,~us súb-

ditos. sin que para 1'.110 haya menesteraguardar orden deI Provincial, comohace cualquier Reetor en su colegio,que sin dependencia deI dicho Provin·cial tiene cuidado de proveer su caSade lo que necesita, y es administradorde los bienes de su colegio: 1'.1 Supe~

rior de todas las Reducciones envíeorden y memoria á los Procuradoresde 10 que le han de comprar para lasReducciones, y tome cuentas cada afiode lo que se ha cobrado y gastado: ylos Procuradores se las den.

13. Para que con tiempo se a\'ise aI~rocurador que está en Buenos Airesde lo que ha de comprar para los Pa­dres, el SUperior de las Reducciones,cuando las visitare, vea lo que los Pa­dres han menester, Ó les avise por es­crito si fuere necesario antes, le denpor escrito de lo que cada Superiorinmedüüo tiene necesidad para suReducción; para que vistas todas lasme.morias particulares, haga una me­moria que envie aI Procurador: el queno comprará cosa alguna que no fuereeu la memoria deI Superior y con 01'­

den suya. Y procúrese que esta memo­ria se envie eon tiempo aI ProcuradoraI Puerto, antes que entren los navios,para que no se pierda ocasión.

14. Y por cuauto N.P. ordena poruna de 30 de Enero de 1633, que destalimosna que da S.M. (y lo mismo seha de entender de otra cualquiera quese dé á las ReduccioUCll), se acuda átodos los Padres. asi de las Reduceio­nes que tienen seflalada Hmosna porS. M" como de las que no la tle­nen; y en el modo que hasta ahora hahabido en la distribución della. dandoá IaS Padres lo que habían menestercuando e110s lo pedían, solamente sehan experimentado muy grandes In­convenientes, y padecido los PadresBTandes necesidades: 1'.1 que se jUl,gaser más acertado, Y la experiencía lollá ensefi.ado, es que en lIegando lalimosna empleada en especies confor­me las memorias, 1'.1 Superior de todaslas Reduccíoues saque dei monton 10que és necesario precisamente paracomprar vino, sal, mieI. azúcar y algu­nos dulces para las Reducciones: y lodemás lo reparta entre todas las Re­d'.l-::ciones. asi nuevas como antiguas,rala por cantidad lo que á cada unanlcanzare, entrando el Superior de

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todas en esta distribuciõn como unaReducción para los gastos comunes yen sus caminos etc.: con esta adver­tencia, Que como le consta por las me­marias particulares que le han dadolos SUperiores irunediatos de cada Re­ducción lo que han menester cadauna, y muchas veces unos habrán me­nester una cosa y otros otra. que Iacantidad que se le ha de dar á cadauno sea en aquéllo que ha menestrr.Para lo cual ayudará mucho que elP. Procurador, todas las veces que en~

viare rapa, y las demás cosas que hacomprado, envíe memoria con los pre­cios ã que se pagó cada cosa.

15. Con esto no se quita Que si algúnSuperior inmediato alguna vez pidiere,y juzgare que lo que cabe aquel afio.ó parte dello, se le libre en plata. paracomprar alguna cosa para la iglesia,y culto divino, constando que tiene ensu Reducción lo necesario para aquelafio para sí y su Compafiero. el Supe­rior de las Reducciones le dé libranzapara el P. Procurador, para qUe lI:!compre lo que ju.zgare convenir para.su Reducción, enviando la memoria delo que pide. la cual vaya registradapor el Superior de todas las Reduc­ciones y firmada de su nombre.

16. Y porque algunos anos sucede queno se cobra la limosna enteramente,sino parte della, y á veces en canti­dad que no se puede comprar lo quehan menester todas las reducciones, yse pide en la memoria se advierta aIP . Procurador que no pierda ocasiónde ir llenando la memoria en lo quepudiere: despuês de lIena. habiendocobrado lo demãs, se remita todo paraque se reparta entre todos conforme8. la necesidad que hay."

Lau.rea.no Sobrinho, Secretário.

1689 - REGLAMENTO GENERAL DE DOC­TRINAS ENVIADO POR EL PRO­VINCIAL P. TOMÁS DONVIDASY APROBADO POR EL GENERALP. TIRSO

Órdenes para todos 10$ reducciones, ap~·

bados por N. P. General

1. Aunque sea día de confesiones ó re­conciliaciones, no se abrirá la puerta dela igIesia hasta que con la luz deI dia sepuedan conocer las personlls. Y las l1aves

de la iglesia y portería, todo el tiempoque han de estar cerradas las puertas,han de estar en el aposento deI Padreque cuida de la Doctrina: aI cuaI tocavisitar todas las neches dichas puertas.Y dispóngase qUe desde la iglesia ó caIleno se vean nuestros aposentos ni oficinas,poniendo siquiera un cancel Que impldala vista.

2. La cerca de la casa y huerta ha deser por lo menos de tres varas en alto.3. Nunca se hable á mujer alguns. sinque estê delante alguno de los Nuestros,ó dOll índios de toda satisfacción.

4. Ninguno saldrá de noche sin linter­na encendida, y acompafiado de algllnenfermero, y otros dos indiOll de satis­facción. Y de dia llevarán el mismoacompafiamiento. Y á los indios, indus­trieseles que estén siempre á la vista deIPadre: y si el rancho estuviere oscuro,se encenderá la candeIa que para esteefecto se Uevará siempre preparada.

5. Cada quince dias, si no hubiere plá­tiea. habrá una conferencia, Ó lecciónde algún libra apropósito. como el P.Alamo Rodriguez etc. Y la semana queno hay esta pIática ó conferencia. seleerá algo deI Instituto. ó de los órde­nes etc. La conferencia de CIlSQS será.cada acho dias, ó en su lugar se leeraalgún libra de Moral que el Superior se­iíalare, para lo cual se tocará la cam­pana a ella.

6. No se permitan cuelgas. etc.: ni quelos Padres tengan caballos, ni sUlas, nimulas, como cosa propria, ni Ias Ilevenconsigo cuando se mudan.

7. CUando hiciere ausencia el Cura, ledejará aI Compafiero la llave de su 1'.po­sento. y de las oficinas. Y si 10 hiriereel Compafiero, le dejará la de su apo­sento. Y ninguno innove en lo Que haila­re entablado, así en lo espiritual comoen lo temporal. de la Doctrina, especial­mente en materia de estancia. chácaraó huerta; ni introducirá usos nuevos, nihará obra alguna sin licencia deI Supe~

rior, fuera de 100 reparos necesarios,como retejar etc.

8. Los Padres que cuidan de la Doctrinatienen facultad paTa contratos que noexcedan el valor de 2Q arrobas de yerba,y para dar á otras Doctrinas lo que noexcedieTe del valor de seis pesos. Lo cualno ha de ser ni tantas veces, ni de losgéneros que se siga dano considerable lila Doctrina, ni dê quê notar á los indios.

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9. EI P. Superior tendrá cuatro Consul­tores en el Paraná: y otros cuatro el P.Vicesuperior en el Uruguay: y asimlsmoun Admonitor cada uno de los Superio­res. Y cuando como á tales se les escri­biere alguna cosa tocante á su oficio, sepondrá aI pie deI sobrescrito de la cartaó biHete una A mayúscula·. y el Superioró Vicesuperior no las poórán leer.

10. Para los casos urgentes de guerrahabrá cuatro Superintendentes seflaladospor el P. Provincial: uno en el Uruguay,hacia arriba: otro en el mismo rio haciaabajo: otro de la otra banda dei Uru­guay: y otro por el Paraná arriba. Ycada uno de ellos tendrá dos Consultorespara las cosas de guerra.

11, No se despache balsa ni canoa algu­na sin licencia deI Superior: y los Pa­dres que cuidan de las Do-::.trinas deItapúa y Yapeyú visitarãn todas las bal­sas y canoas: y si hallaren cartas en­cubiertas que no estén selladas con elsello dei P. Superior. las enbargarán rremiUrán 11,1 Superior. Y las cartas Que ádichos Padres ,se remitieren abiertas. lasregistrarán, y no hallando inconveniente,las cerrarãn y dejarán pasar.

12. Asi el Cura como el Compafierc.tienen licencia de ir de una Doctrina aatra, y podrím dormir una noche en ellaMas nunca se ha de dejar la Doctrina sinPadre Que pueda satisfacer á los minis­terias.

13. No se convide Padre de otra Doctn­na antes de tener para ello licencia deISuperior.

14. En el celebrar las nestas, las Dactn­nas de Loreto, Corpus, y San Ignacio se,:orresponderân ~ntre si y no con otras.Las de Santa Ana, Candelaria y Ytapúase corresponderân entre si y no conotras. Las de San Javier, los Mártires ySanta Maria se eomunicaran entre sí yno con otras. Los Apóstoles se correspon­derán con la Concepeion y no con atrasoSan Nicalás, San Luis y San Miguel secorresponderán entre si y no eon otras.Asimismo Santo Tomé y Ban Borjà secorrespanderán entre si y no eon otras;y lo mismo La Cruz y Yapeyu.

15. No se conviden para las fiestas losacólitos ni los musicas de otras Doctri­nas, sino solas do.s ó tres vaces buenas, sila Doctrina en que se celebra la Hestacarece de eHas. Los Corregidores y genteprincipal de las Doetrlnas que se corres­ponden se podrán convidar; pero no Slj

permita que algunos de ellos se asienteen el presbiteria, ni en silla, y menosque se le dé la paz. Ni aI Alferez: aIcual se le padrá dar silla fuera deI pres­biterio. Ni se permitan entremeses ui co­medias en especial de noche, fuera decasa, donde concurran indias. Tampoco sepermitirá que de cada Doctrina neve elPadre más que tres índios de razón quele acompafien. Y ni en estas ocasionesui entre afio, duerman los indios grandescon los muchachos, ni estén despacio ennuestros aposentos; en que se excusaránhurtillos etc. Nuestra comida. en esta yotras semejantes fiestas, no excedera 8. 10Que se suele dar en los dias de Pllscuaen nuestros refectorios.

16. En la adminístración de los Sacra­mentos, se observará el Ritual romano,como lo manda la 9." Congregación ge­neral, decreto 19, canan 22.

17. Ninguno case á persana de olra Doc­trina sin tener testimonio in scriptis deICura de ella

18. Los bs.utillados por algún indio óindia, se han de rebautillar sub condi­none. Y haya siempre en cada pueblo dosó tres viejos sefialados para que ellossolos sean padrinos en los Bautismas.

19. En las Cuaresmas, se trocarán losPaares de las Doctrinas, porque sus feli·l?reses se puedan contesar com mÍls li·bertaÓ.

20. Los easamientos ti", los indios, co­mÚffiente habJando, no se harán hastaque los varones tengan diez y siete afiosy las hembras quince, si no hubiere cosaque obligue à antlcipar el easamiento ajuicio deI Superior.

21. Haya aparte cementerio cercado Vcerrado, para Que se conserve la iglesiacon la debida decencia.22. Los cantores en ninguna Doctrinapasarán de euarenta; y procúrese mino~

rar este número, especialmente en lospueblos pequenos. Los monaguillos nopasarán de selS, de diez á quince anos; ysean virtuosos. Y para las fiestas, etiammayores, bastan estos seis, y no mas.

23. También SErán seis y no más losmuchachos que sirvan en casa. Los cua­les tendrán aparte su dormitaria; y fuerade él no dormira alguno dellos. Tendré.también cada uno su hamaca de por si.Y tendrán todas las noches vela encen­dida que pueda durar hasta la mafiana.Y vísiteseles algunas veces después deacostados, stn tener dia ni hora fija, por-

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que no se aseguren. Y procúrese qUel1iempre tengan que hacer, como tam­bién los oficiales de casa; y no se tengaen eIla indio que no sea de buenas cos­t'..Ul1bres.24. Los que están en las estancias y ch~~­

caras, aunque estén lejos, acudirán á oirMisa á su Doctrina ó á la más cercanade la estancia; repartiendose de maneraque acudan unos dias los unos, Y otrosdias los otros.25. No se obligue á trabajar á los indios,aUTIQue sean de paca edad, en los diasque son de fiesta para los espanoles.26. Las danzas en ninguna fiesta pasa­rán de cuatro; y no entrarán en eIlasmujeres, ni muchachas, ni varones entraje de mujeres.27. Los enfermos que hubiere de peli­gro se han de visitar todos los días poralguno de los Padres. Y en casa todoslos dias se hará una buena alIa para re­partir á loS enfermos cou un buen pe­dazo de pano

28. No se hagan presentes á personas defuera, como parientes, amigos etc., delos géneros que adquieren ó hacen loslndios para si ó para el común de suspueblos. Y ni el Superior ni el Provin­cial permitirán semejantes dádivas, quepueden ocasionar murmuración ó des­crédito de nuestras Doctrinas.

29. Los entierros de los indios se hagancon solemnidad, yendo por el difunto á sucasa, Ó á algun sitio de la plaza apare­jacto para eUo, poniendo cuatro velas en­cen<:l.idas alrededor deI féretro; y de nin­guna manera se traigan á la puerta dela iglesia, sino eu caso de necesidad etc,30. A los caciques principales no se cas­tigue en público, y precedan algunasamonestaciones: á los cuales se procuremostrar estimación, honràndo]os con ofi­cios, y en el vestido con alguna singula­ridad más que sus vasaUos. Y á los Cor­regidores y AlcaIdes, no se podrá castigarsin licencia deI Superior. A los cuales sinsu orden no se ha de deSpOjar de susoficios: praecipue cuando están confir­mados por los Gobernadores.

31. Tenga cada Reducción un libra don­de se escriban los órdenes generales yparticulares; Y Dtro donde se escriban lasa]hajas de las sacristia y casa; y otroen la ig1esia donde se asienten CDn dis­tinción los Bautismos, casamientos y elcatálogo de los difuntos.

32. La visita de los Ooispas Y Visita­dores en lo tocante a Sacramentos, pila

confradías y cosas tocantes aI oficio deCuras, nadie se las puede quitar, por serde derecho. Pera si quisieren visitarnosde vita et moribus, no se ha de permitir,sino estorbarlo con todos los requerimi­entos posibles en virtud de nuestros pri­vilegias y Cedula de S. M. Pera si per­sistiesen en publicar el auto con dichascircunstancias, de moribus et vita, seaconsejarâ á nuestros indios qUe de nin­guna manera les den avia ninguno parapasar adelante en la Visita de nuestrasDoctrinas.

33. Acerca de la paga de los lndios, seobserve lo siguiente: Por la iglesia, porsumptuosa qUe sea, no se debe pagar,porque se debe hacer á costa suya, y nodeI Cura. Tampoco se debe de la casadeI sacerdote; por general costumbre delas Iudias por ordenaeión Real: y así nose pa.gará. Como ni tampoco de los via­jes que haeen los indios en pro de la Re­ducción, porque todo lo manda el Padrehaciendo las veces deI Corregidor y Jus­ticia, qua había de mandar aquello parael bien camún. Aunque para tnayor edi­ficación es justo que en tales obras seles dé algo con que tenetlos contentos;y procuren los Padres no acostumbrar­los á pagar de antemano, ni hacerlos taninteresados que no se meneen sin paga;porque es bien criarlos más politicamen­te; pues todo lo que tenemos y trabaja­mos es para ellos.

34. Cada sacerdote dirá una Misa cadames por el Rey nuestro Senor, como tangran benefactor de nuestras Reduccio­nes.

35. No se pida limosna á los índios,cuando van por yerba, para obra pública,aunque sea para iglesia, sin licencia deISuperior, con quien comunicará... elCura lo que ha de hacer. Ni tampoco sepedirá cosa á persona de fuera. ni á losProcuradores y Reetores de los c01egios:ni se insinúe que hay necesidad, sín ex­presa licencia dei Superior y con su fir­ma.

36. Los ejercicios espiritliales tenga.n elprimer lugar, y se antepongan á cual·quieta otra ocupación temporal. Y paraque la lección espiritual y el Rosario ten­gan su lugar, no se abra la puerta. des­pués de mediodía hasta las dos. Y paraque haya cancierto en la distribución,el que cuida de la Doctrina tocara ;i le­vantar y acostar, y el Compafiero á en­trar y salir de oración, vele contra. Ylos Ejercicios anuales se tengan de Re­surrección â Setiembre; por parecer este

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tiempo más acomodado. Los cuales Eier­cicios se tendrán en la propria Doctrina,ó con licencia deI Superior donde mejorpareciere.

37. Cúidese mucho de la clausura en nu­estras casas, de suerte que se eche de verque lo son de la Compania; y no éntremujer ninguna de Ia puerta adentro; nise les dé á besar Ia mano; ni nadie cas­tigue por su prapria mano. ni asista ocu­larmente á castigo de mujer, ni en ellugar donde se hace el castigo, por la in­decencia; dándose á venerar y respetarcomo dice su regIa: (})n,nis se integríta­tis ei gravitatis exemplum praebat.

38. Haya especial vigilancia en que losCongregantes de Nuestra Senara y Can­tores, que más inmediataInente sirven aIaltar, vivan virtuosa y honestamente. Ysi dieren escândalo, y castigados y cor­regidos algunas veces no se enmendaren,los echarân de la congregación ó Mú­sica; sin que vuelvan á ella sin ordendeI Superior, que con notable enmienda,la podrá dar; y si aconteciere que algúnindio Maestro vaya á alguna Reducciónnueva, sea de conocida virtud, á eIeccióndeI mismo Superior; y si diere mal ejem­pio, lo volverá á su puebIo (sin aguardarmás) el Padre que cuida de la Reducción.

39. Si algún indio diere escândalo no­table en otra Reducclón, el que Ia tiene âsu cargo, con parecer de su companero, lepuede castigar conforme aI delito, paraquitar el escândalo. Pero no haga casti­go grave, sin convenlr en él ambos com­paiieros; y no cOl\viniendo, se recurriráaI Superior.

40. No haya más varas de Justicla quelas que tieuen los Cabildos espafioles; yno sean muchachos los que se eUgen; ymucho menos los fiscaIes de las mujeres.

41. A los ninos de la Doctrina se les dêcon faeilidad licencia para ir con sus pa­dres á las chácaras, en tiempo de ca1'­piclón y de la cosecha de maiz. Y cuan­do llegaren á edad de diez y seis afios,y saben la Doctrina, no se les obliga1'áá que entren á ella más que sábado ydomingo. Pero si no la saben, se les ohE­gará á que entren todos los dias.

42. Podrá haber cuatro asuetos en elafio, de tres â tres meses; en el cual pue­den los Padres de las Doctrinas más in­mediatas senalar puesto en el camino, ójuntarse en alguna de las cercanas: pre­vinlendo slempre cualquier pelíg1'o quepueda haber.

43. Alguna diferencia suele haber entrelos Padres por causa de los indlos quehabitan en otra Reducción, dejando lasuya. Y asÍ, para que haya toda con­formidad, se observe \o siguiente: si elmarido vive en una parte y la mujer enotra (porque suelen dividirse). la mujerdebe ir donde el marido tiene su proprlahabitación, y los hijos que todavia es­Um debajo de la tutela de sus padres,han de ir con elIos; y asi aquel lugar essu domicilio. Mas á los gentiles, se lesha de dejar Ir á la Reducc!ón que gus­taren, aunQue los traigan los Padres. Pe­ra á los indios asentados ya en una par­te, habiendo tenldo un afio de hablta­clón en ella, se procuren conservar alli.Y cuando se van á otras Reducclones ópueblos. cooperarán los Padres á quevuelvan.

44. Si á nuestras Reducciones vinierenindios ó indlas de otras ó de los pueblosde los espafioles, se les persuada que sevuelvan á sus tierras. Y en caso que sequede alguno ó alguna, muestren los Pa­dres gusto que los lleven sus Doctrlnerosó encomenderos.

45. Ninguno escriba aI Rey ó Consejoscontra Oblspos ó Gobernadores, ni contraalguna otra persona, sin enviar las cartasai Provincial.

46. En las Reducciones nuevas donde nohay cristianos, ó donde hay pocos, nohaya castigo de ningún género; y disi­mulen con paciencia, por no hacer odio­sa la fe á estos Infleles. Y en las Re­ducciones antiguas. si estan en provlnclade infieles, donde se espera su conve1'·sión, no haya castigos sin direcclón deISuperior de las Reducciones. Y procu­ren los Nuestros cuando los haya, ganarnombre de padres amorosos, templandola justicia con la misericordia en los cas­tigos ordinarios.

47. Los Padres Compafieros estân y de­ben estar â la obediencla de los quecuidan por Curas de las Doctrinas, ytienen obllgación de obedecerles, sin ha­ber en esto igualdad, pero no mandarâncosa con precepto. Mas si el Compaiierodijere aI Cura la palavra no quiero, estádeclarado por caso reservado: porque N.P. General les dá á los Curas lo mismoque tienen los Ministros en este parti­cular.

JUNHO 1964 153

48. El benefício de la yerba se aca.barápor todo el mes de Abril, por los danosque ocasionan los frios á los indios.

49. Guárdese el Catecismo Limense apro­bado por el Sinodo deI Paraguay.

50. No vayan los indíos ti hacer contra­tos con los infieles sin expresa licenciadeI P. Superior.

51. EI precio de los caballos que se com­pran á los infieles será a peso por ca­beza, después de invernadas.

52. El precio de legumbres sea: Maíz,tres pesos fa.nega; y todo gênero deCumandás, á cUatro pesos. De trigo, sepodrán socorrer ad ínvicen dando veíntehanegas de limosna. Y se pasare de ahíla necesidad, se concertarán en la paga,á juicio deI Superior.

53. Los castigos de los indios se asig­nen deI moao siguiente. Por el nefandoy bestialidad, siendo bien probado e1 de­lito, tres meses de encerramiento, sinsalir más que á Misa; y en dichos tresmeses se les den cuatro vueltas de azotesde ti veinte y cinco por cada vez; y es­tará todo este tiempo con gríllos. EIque diere yerbas venenosas y polvos, siaI paciente se le siguiere la mUerte, serápuesto en carcel perpetua como él quecometió homicidio. Pera si no se le si­guiere la rnuerte, llevará la pena arribadicha. En los demás delitos de incestos,así de consanguinidad, y de entenadoscon madrastas y suegras etc., y abortoprocurado, se les encerrará por tiernpode dos meses, en grillos, y en este tiem­po se les darân tres vueltas de azotes.Y nunca se pasará de este número. Yá los que incurrieren en esto, se les pri­vará. totalmente de ofícios. Y â las mu­jeres se les dará el castigo proporciona­do á su sexo, exceptuando á las prena­das, que por ningún caso se las castigaramientras lo estân. Y nunca se les cor­tará el cabello, sin que primero haya li­cencia deI P. Superior.

54. A los tejedores se les pague por sutrabajo, por cada pieza que llegare ópasare de 150 varas, cUatro varas deliemm.

55. A los indios que trabajan en otraspueblos, ó van li hacer retablos ó otracosa semejante; sóIo sea obligado el pue­bJo que pidió el tal oficial, à. pagarle sutrabaJo á êl y á su familia, que debe te­ner consigo. Pera si el dicho oficial hi­ciere tanta falta en su pueblo, que por

su ausencia pierde el pueblo notables in­te reses, podra el P. Superior sefialar 11.1­guna recompp-nsa que pague el pUebloen cuya obra se ocupa á áquel de dondevina, según mayor ó menor fuere el in­terés que pierde su pueblo por su aU­sencia.

56. Todos los sabados por la mananahabrá Doctrina cuando en el siguientedomingo ha de haber sermón, para quepor lo menos una vez la haya cada achodias á todo el pueblo.

57. No se permita que nuestros indiostengan en su casa armas de fuego, niusen de eIlas como suyas, y si algunotuviere alguna, recójase y póngase en laarmeria común. Y cuando van á algúnviaje, no las llevarân sin licencia deI Pa­dre que cuida de la Doctrina ó deI Su­perior.

58. La renovaciôn de! Sefior se hará entiempo de invierno cada quince dias: yen verano, cada ocho dias. Y fi. los en­fermos se llevará en público dos vecesaI mes, si hubiere ocasíón para ello."

Em 1743, um ato solene do Rei de Es-panha aprovou o sistema de administraçãoexercido pela companhia de Jesus nas re­duções jesuiticas: foi a Cédula Real, ex­pedida em Buen Retiro.

Desde o inicio da fundação das Redu·ções (1610) que se vinham fazendo vá­rias sindicâncias contra os Missionários.De tódas estas sindicâncias, entretanto,saíram justificados os jesuítas, como provaa CédUla Real de Felipe V, dirigida aoProvincial do Paraguai.

Dos Vários pontos abordados, como onúmero de reduções, o número de indiosaldeados, os tributos, produção e comér­cio, a língua, a justiça, as artes e oficios.as anuas e minas, os dízimos etc., trans­crevemos o Capítulo IV, qUe trata do Di­reito de Proprieda.de.

Com a transcrição déste capitulo, fina­lÍl;:amos este breve trabalho B::'bre a orga­ni2:açâo das reduções sacerdotais, esperan­do possa ele servir de subsidlO a um es­tudo mais profundo que se queira fazersôbre o assunto.

IV - DERECHO DE PROPRIEDAD

"El cuarto punto se reduce á si los in­dias en SUB bienes tienen particulaJ'dominio, ó si este, ó la administraciónde eUos corre á cargo de los Padres.

154 REVISTA DE INFORMAÇÁO LEGISLATIVA~-~- ._~-~---~~~-----~----

Sobre cuyo asunto consta por los In­formes, conferencias y demás documen­tos de este expediente, que por la in­capacidad y desidifl de estos indiospara la administración y manejo dt'las haciendas, se senala a cada unouna porción de tierra para lubrar, tifin de que de su cosecha pueda mun­tener su familia, y Que ef resto de se­mentera de Comunidad, de granas,raices, comestibles y algodón, se admi­nistra y maneja por los indios diri­gidos por los Curas en cada pueblo:como también la yerba y ganado: yque deI todo de este importe se hacentres partes, la una para paJar el tri­buto a mi Real Erario, de que sale elsínodo de los Curas: la otra para eladorno y manutenclón de las igleslas;y la tercera para el sustento y vestidode las v;udas, huérfanos, enfermos yimpedidos; y finalmente, para socor­rer a todo necesitado: pués de la por­ción de tierra aplicada á cada unopara su sementera, apenns hay quientenga bastante para el ano: Que deesta administración l1evan una pun­tual c\lenta y razón en cada pueblo losindios Mayordomos, Contadores, Fis­cales e Almaceneros, por la cual vie­nen en conocimiento por sus libros delas entradas y salidas de los produc­tos de cada puebl0, con tanta forma­lidad, que aun para cumplir con elprecepto Que bajo de graves penas haydei General, para que no se puedanvaler los Curas de cosa alguna per­teneciente á los indios de una Doctri­na para otra, ni por via de limosna ,préstamo á otro cualquer motivo, danla cuenta aI Provincial: Y asi aseguracl Reverendo Obispo que fué de Bue­nos Aires Fr. Pedro Fajardo, que vi­sitá dichas Doctrinas, no haber vistoen su vid2. cosa mas bien ordenadaQue aquellos pueblos, ni desinterés se­mejante aI de los Padres Jesuítas, puéspara su sustento ni para vestírse, decosa alguna de los indios se llprove·chan: Y conviniendo con este Informeatras noticias no de menor fidelidad.y especialmente las dadas últimamell­te por el Reverendo Obispo de BuenosAires, Fray Josef Peralta, elel Ordende Santo Domingo, en carta de achode Enero de este presente ano de milsetecientos y cuarenta y tres, dandoeucnta de la Visita que acabnba de

hacer en los pueblos de estas Doctri­nas, asi de su jurisdicc!ón, como enmuchas deI Obispado deI Paraguay,con permiso deI Cabildo Sede vacante,ponderando la educación y crianza delos indios, tan instruidos en la Reli­gión, y 'en CUanto conduce a mi realservicio y su buen gobierno temporal,que dice le causá pena el apartarse dedichos pueb10s: Por cuyos motivos:

"Es mil real ânimo no se haga nove6

dad alguna en el expresado manejode bienes: sino antes bien que secontinúe lo practicado hasta ahorad.esde la primem redueciÓ1J; de estasindios, con cuyo consentimiento ycon tanto beneficio de ellos se hanmanejado los bienes de comuni­dad, sirviendo sólo los Curas Doctri­neros de directores. mediante cuyadirección se embaraza la distribu­ción y malversación que se experi.me1~ta en casi to<ws los pueblos deindios de uno y otro Reino:'Y aunque por Cédula dei afio de seis­

cientos y sesenta y uno se mandó Quelos Padres no ejerciesen el cargo deProtectores de los índios; eomo quieraque esta providencia resu1t6 de haber­les síndícado á los Padres haberse in­troducido en la jurisdicción eclesiásticay secular, y que impedían. con el títulode Protectores, la cobranza de tributos,lo que resulta ser incierto, y jUstifi­cándose lo contrario por tantos medios,y que sólo la protección y amparo espara dirigirIas y gobernarlos en cuantoconviene á sus conveniencias espiri­tuales y temporales:

"He tenido por conveniente decla­rarlo asi, y mandar (como lo hago) ,no se altere en cosa alguna el mé­tOM con que se gobiernun estas pue­blos en este particular."

Fontes de Referêntio:

I , História das Missões Orien tais do Uruguai,AUTéUo Porto. vol. I. Imprensa Nacional,Rio de Janeiro. 1943.

2. Mislones deI Paraguay - Organlzaclónsocial de las doe trinas guaraníes de laCompaiíia d2 Jesus. Pablo HernilP.dez,Barcelona, OustavO Oilí, editor.

3 _ Processo administrativo Ibero-americano,EulaUa Maria Lal1meyer Lobo. BibUotecado Exército - Edltôra, 1962.

4. Terra Gaúcha, J. Simões Lopes Neto.Coleção Meridional. 1955.

5 ~ Revista do Museu e Archlvo Público doRio Grande do Sul - PÔrto AlegreBrasLL - 19ZIl.

CINEMA

NACIONAL

'RO(lá'lo Co,~fa 'Rcdr1(1urJ

Pesquisador do Serviço de

Informação Legislativa

PESQUISA

A indústria cinematográfica brasileira vem sen­do, cada vez mais, objeto de cor,~tante preocupaçãcpor parte dos órgãos governamentais. O reconhe­cimento internacional da maturidade de algumasproduções brasileiras na área da chamada sétimaarte fomentou a defesa dêsse valioso patrimônioeconômico e cultural, do qual poderemos auferir,num futuro muito próximo, extraordinários rendi­mentos perante os mercados nacional e interna·cional.

Inúmeros motivos tornam árdua a luta do nossoprofissional de cinema que, em virtude da enormediversificação dos obstáculos que encontra paraplanificar, realizar e fazer exibir os seus filmes,acaba por se sentir materialmente desestimuladoante a lide pela continuidade do cinema no Brasil.Quais são tais impasses, o que foi feito para conhe­cé-los e combatê-los? Quais as providências das es­feras legislativa e executiva que se fazem mister?

O Congresso Nacional vem assistindo de pertoos problemas do cinema brasileiro através da Co­missão Parlamentar de Inquérito, criada na Câmarados Deputados pela Resolução n.o 28, de 1963, quevisa a investigar as atividades da indústria cinema­tográfica nacional e estrangeira, Colhendo, paratal, depoimentos de produtores, diretores, atores,técnicos, distribUidores, exibidores e críticos cine­matográficos, além de representantes de órgãossindicais que abordam diretamente a atual con­juntura do cinema, procurando cotejar as medidasjá adotadas no Brasil com os resultados das ex­periências bem sucedidas no estrangeiro.

Entre os pI'incipais pontos salientados pe­rante a referida Comissão destacamos as criticasfeitas à disparidade existente entre o regime deimportação de filmes virgens e impressos. Tal si­tuação, exposta detall1adamente no relatório doGEICINE, transcrito adiante, faz clamar por umaliberação de certos impostos ou taxas alfandegá­rias, a fim de beneficiar a entrada do filme virgem.e gera o apélo para o lançamento de condições qUetornem exeqüível a formação de um ramo da in­dústria nacional destinado à sua fabricação.

Também em relação á importação do materialtécnico destinado às melhores condições do traba­lho de iluminação, sonorização, montagem e prá­tica de laboratório especializada, foi solicitado pe­rante a C.P.I. um regime de menores dificuldadesalfandegárias.

Outro ponto que vem motivando os depoimen­tos é a inexistência de escolas e centros experi­mentais de cinema no Brasil, tendo sido citadosos exemplos de diversas nações européias e os bonsresultados obtidos através dessas excelentes prá­tícas na formação dos jovens cineastas,

16Q REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Criticas foram fpitas ao excesso de im­portação de filmes estrangeiros, políticaessa que acarreta enorme dispêndio de di­visas, por um lad:), e dificuldades para olançamento interno do produto nacionaLpor outro.

O produtor Osvaldo Massaiani apontoucomo os mais importantes obstáculos aodesenvolvimento do cinema brasileiro afalta de mercado de capitais desUnados àprodução: a ausência de fiscalização deaplicação das leis de proteção ao cinemanacional e a inexistência de disciplina naimportação do similar estrangeiro. Refe­re-se, ainda, o depoente, a um Memorialenviado ao Presidente da Republica e subs­crito pela quase totalidade dos militantesda indUstria cinematográfica, solicitando aretormulação da legislação vigente relativaà obrigatoriedade da projeção dos filmesnacionais nas casas exibidoras existentesno País.

Para o diretor Anselmo Duarte, a fim deamparar o cinema nacional, ha necessi­dade de: tratamento de reciproddade comos países que recebem, ou não, filmes bra­sileiros: limitação da entra.da de fílmesestran~reiros no Pais: liberação de taxas al­fandegárias e impostos na entrada de fil­mes virgens; amparo oficial aos produtores,em dinheiro, que poderl\ ser arrecadado,em parte, pela taxação de importação depeliculas estrangeiras; fiscalização do cum­primento das leis existentes e oportunidadepara que os jovens cineastas tenham umlocal onde aprendam e exerçam a sua pro­fissão. Sugere que seja criada, à margemou anexada ao Instituto Nacional do Ci­nema, uma escola para produção de do­cumentários, a exemplo do que se faz naItália,

Como conseqüencia da criação do Esta­do da Guanabara e da transferência da Ca­pital Federal para Brasília, a censura defilmes, até então realizada pelo ServíÇO deCensura de Diversões Publicas do Depar­tamento Federal de Segurança Pública, vá­lida para todo o território nacional, foi des­centralizada, ca.bendo aos Estados da Uniãorealizá-1a, com o objetivo de liberarem asproduções cinematográficas para efeito deexibição estadual. De uma só censura pas­sou-se, portanto, a vinte e duas censurasvirtuais, o que não apenas dificulta a li­beração das pelícnlas, como em muitoonera as obrigações do produtor. Advogll­da perante a C.P.!., foi também a concreti­zação da censura única (federal), afir­mando o produtor Herbert Richers "comn. censura não unificada não na o cumpri­mento da lei, porque não há um órgáo

com fôrça suficiente para fazer cum·pri-Ia",

Excelente contribuição para o estudo daatual conjuntura da nossa indústria cine­matográfica ~ de sua problemática encon­tra~se no já citado relatório do GEICINE,enviado à C.P.I. por seu president..e. o Sr.F1ávio Tambellini. que abaixo reprodu.zimos:

GRUPO EXECUTIVO DAINDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

I, A indústria nacional de cinema, parapod~r afirmar-se artística e industrial­mente, precisa ver solucionados três as­pecros fundamentais:

a) igualdade de concorrência entre ofilme nacional e o estrangeiro:

bl crIação de um mercado de capitaispara aplicação na produção de mmesbrasileiros;

cl elevação do nível de renda dos fil-mes brasileiros.

II, Antes de se estabelecer em face dopublico, a concorrência em cinema se es­tabelece em face do exibidor, tendo emvista:

1) a participação do exibidor na re­ceita da bilheteria;

2) o tempO de permanência do fnmeem cartaz.O produto nacional arca, assim, com dois

{atôres de inferioridade na concorrência:a) a necessidade de amortizar. no

mercado interno, custo de produçãomuito superior ao custo da impOrtaçãode um fi1me estrangeiro, desde que omercado interno lhe é básico, enquantopara o filme estrangeiro o mercado bra­sUeiro é sup1ementar:

b) a necessidade de se opor a um vo­lume de produção extremamente maior.apresentado pelo concorrente estrangeiro.Tôda a legislação brasileira serve antesa uma política de fomento da importaçãoque dê estímulo à produção; assim é que:

a \ a importação do filme cinemato­gráfico impresso se processa sem cober­tura cambial, livre do depósito prévio,enquanto o filme virgem está sujeito atodos os õnU8 decorrentes da coberturaantecipada e do depósito correspondente:

bl o filme impresso pa.ga uma tarifairrisória de Cr$ 1,00 por metro linear, nocaso da cópia negativa. e Cr$ 1,50 pormetro, no caso da cópia. positiva., en­quanto o fílme virgem está sujeito à ta­rifa "ad-valorem" de 5%;

cJ o filme impresso está isento do Im­põsto de Consumo, enquanto o film~ vir·gem paga 10%;

JUNHO - 1964 161

d) a. taxa de censura é de apenasCr$ 0.40 pOr metro linear, fixada emdezembro de 1939.Para propiciar igualdade de condições

entre o filme nacional e o estrangeiro, oGEICINE propôs várias medidas, a saber:

a) estabelecimento da cobertura cam­bial prévia e, conseqüentemente, da obri­gatoriedade do depósito prévio, para im­portação de filmes cinematogrâficos im­pressos, mediante a fixação dos preçosmínimos de US$ 4,00 por metro de fil­me prêto e branco, e US$ 6,00 Pür me­tro de filme em côres;

b) elevação da tarifa adUaneira paraimporta.ção de filme cinematográfico im­presso;

c) redução da tarifa "ad-valarem" re­lativa à ímportação de filmes virgens;

d) dispensa do depósito prévio paraimportação de filmes virgens;

e) elevação do impôsto sôbre a re­messa para o exterior dos rendimentosda exibição de filmes estrangeiros;

f) criação do Impôsto de Consumo só-bre filme cinematográfico impresso.

lU. A formação de um mercado de ca­pitais para aplicação na produção de fil­mes brasileiros, foi proposta pelo GEI­CINE através da:

a) instituição do financiamento cine­matográfico pela Carteira de CréditoAgrícola e Industrial do Banco do Bra­sil S. A.;

o) elevação de 25% para 40'; do im­pôsto sõbre remessa de rendimentos defilmes estrangeiros, ficando o contribuin­te com o direito de optar pelo depósito,em conta. bloqueado, no Banco do Bra­sil, de 40% do impõsto devido. para uti­lizar na produção de filmes no Brasil;

c) criação do Impôsto de Consumosôbre tilzne cinematográfico impresso,CUjo produto será destinado à criação deum fundo de fomento ao cinema nacio­nal, sendo que até 2/3 do impõsto de­vido poderá ser aplicado, pelo própriocontribUinte, na produção de filmes bra­sileiros.

IV. A elevação do nivel de rt'nda dosfilmes brasileiros foi equacionada peloGEICINE na seguinte base;

a) liberação dos preços dos ingreSSosde cinema;

b) proposta aos organismos competen­tes para a criação de uma receita adi­cional, através da premiação sõbre arenda obtida por filmes em mercadoscomo o Estado da Guanabara e outrosMunicipios;

c} melhor acesso dos filmes nacionaisàs salas exibidoras.

V. Das medidas p r o p o s tas peloGEICINE foram aprovadas:

a) a redução de 10% para 5'7, da ta­rifa aduaneira relativa ã. importação defilme virgem;

b) elevação de 25';' para 40% do im­põsto sôbre a remessa para o exteriordos rendimentos de filmes estrangeiros.consubstanciada no artigo 45 da Leí n.o4.131, de 3-9-62 (Lei de Remessa deLucros). regulamentado pelo Decreto n.o52.405, de 27~8-63;

c) criação do financíamento cinema­tográfico pela CREAI, numa base de até60% de orçamentos máximos deCr$ 30.000.000,00.

VI. Quanto às demaís medidas, algu­mas não puderam ser postas em prática,outras dependem de leis ou medidas emexame. Assim é que:

a) a obrígatoríedade da cobertura cam·bial prévia não pôde ser estabelecida,uma vez que, com a existência de doismercados de câmbio, seria vantajoso aosimportadores elevarem o valor dos fíl­mes a importar, recebendo divisas a umataxa mais favorável, que poderiam sernegociadas no mercado livre;

b) a elevação da tarifa adUaneira sô­bre filme impresso tornou-se tambémdifícil, uma vez que depende de renego­ciação com o GATT, a qual já foi pe­dida ao Conselho de Politíca Aduaneira;

c) a dispensa do depósito prévio paraimportação de fihnes virgens foi pedidaao Conselho da Superintendência daMoeda e do Crédito, através da Carteirade Comércio Exterior;

d) a criação do Impôsto de Consumodepende de lei, a qual já foi propostapelo GEICINE ao Ministério da Ind1is­tria e do Comércio; o assunto encontra­se, presentemente. em estudos no Minis­tério da Fazenda:

e) a liberação dos preços dos ingressosfoi propasta pelo GEICINE à ComissãoFederal de Abastecimento e Preços; oassunto encontra~se em estudos na su­perintendência Nacional de Abastecí­menta;

fl a premiação sôbre a renda vemsendo proposta a vários Municípios (oproblema é da alçada municipal, umavez que o ímpôSto de diversões públicasestá afeto aos Municípios). ~(\m a as­sistência do GEICINE;

g) o melhor acesso dos filmes na~io­

nais às salas exibidoras poderã ser con­seguido pela elevação de 42 para 56, dO

162 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

número de dias de exibição compulsória,já proposto pelo GEICINE 110 Ministé­rio da Indústria e do Comércio.

VII. Em resumo, as medidas em prolOI) desenvolvimento do cinema nacional,que podem ser ràpidamente colocadas emprática, sã.o as seguintes, cujos estudosanexamos ao presente:

1) criação do lmpôsto de Consumo sô­bre filme impresso - o estudo doGEIC1NE foi encaminhado ao Ministé­rio da Indústria e do Comércio peloOfício 33/63, de 15-4-63, o qual, consti­tuindo o processo MIC-l1063 ' 63, foi en­caminhado ao Ministério da Fazendapelo Aviso n,o 124, de 30-4-63;

2) aumento do número de dias de exi­bição compulsória de 42 para 56 - aproposta do OEICINE, consub5tanciadano Ofício 89/63, de 3-10·63, foi encami­nhada ao Ministério da Indústria e doComércio; segundo informação do Gabi­nete do Sr. Ministro, a proposta serásubmetida à aprovação do Excelentissi­mo Senhor Presidente da República;

3) dispensa do depósito prévio paraimportação de filmes virgens - a pro­posta do GEICINE, con:stante do Ofído91/63, de 10·10-63, foi encaminhada àCarteira de Comércio Exterior.

VIII. Por fim, desejamos salientar quea experiência prática do GEICINE, nosseus dois anos e alguns meses de existên­cia, demonstrou que somente um órgãocom maiores podéres executivos, abarcan­0.0 todos os setores de cinema (principal­mente a censura de filJnes) poderá exercerefetivamente controle sobre o mercado decinema, visando a um maior desenvolvi­mento da indústria cinematográfica na­cional.

Por esse motivo, propu;;ernos em 23-8-63(Oficio 60/63), ao Senhor Ministro da In­dustria e do Comércio. a criação do Insti­tuto Nacional de Cinema, cujo estudo (có­pia anexa) foi encaminhado ao Ministérioda Reforma Administrativa.

Flávio Tambelini ~ Presidente.

ANTEPROJETO DE LEI, DE AUTORIADO GEIClNE, QUE CRIA O

INSTITUTO NACIONAL DE CINEMA

Capitulo 1

Art. 1.° - É criado o Instituto NaCionalde Cinema UNC) com o objetivo de pro­mover e estimular o desenvolvimento dasatividades cinematográficas no Pais, bem

como executar, fiscaliZar e propor leis deestimulo ao cinema nacional.

§ 1.° - O INC, subordinado ao Minis­tério da Indústria e do Comércio, ê pes­soa jurídica com autonomia técnica, ad­ministrativa e financeira, nos têrmos dapresente LeL

*2." - O INC terá sede na Capital daRepública, e será representado ?'Cio seuPresidente, em juízo ou fora dele, ativa epassivamente.

Art. 2.° ~ Compete precIpuamente aoINC:

a) aplicar as normas de proteção à in­dústria cinematográfica naclonal;

b) estudar as questões relativas à ci­nematografia brasileira, imprimindoa êsse setor da indústria nacionalorientação capaz de assegurar o seudesenvolvimento;

Cl fiscalizar com a colaboração dos in­teressados, a aplicaçáo das normaslegais sobre a garantia dos direitosautorais e artísticos e de proprie­dade, no tocante à indústria e aocomércio cinematogrâficos;

d) sugerIr normas referentes à impor­tação, nomenclatura aduaneira, re­visão de tarifas e classificação demercadorias ;

e.l estimular o funcionamento de enti­dades cUlturais de cinema;

jJ preparar mão-de-obra especializadaUécnicos e atores., em articulaçãocom órgãos públicos e pl·ivados, li­gados ao assunto, no Pais e no es­trangeiro;

g) promover e;;tudos sobre as entidadestndustriais de cinema do Pais, noque diz respeito às suas condiçõestécnico-financeiras, propondo aS me­didas necessárias ao seu desenvol­vimento;

h) promover, junto aos Governos esta­duais e municipais, estudos de me·didas para o desenvolvimento da in­dústria nacional de cinema;

il realizar a censura de filmes cine­matográficos, de acordo com normasa serem fixadM',

j l instituir normas para a distribuiçãoe exibição l:ompulsória de fUro!'5brasileiros de longa e curta metra­gem, em todo o território nacional;

1) propor às entidades oficiais, especi­ficamente incumbidas de prover cré­ditos, critérios de financiamentopara a indústria c!nematografica epara a produção de filmes;

JUNHO - 1964 163

m) fixar a política nacional de preçosde ingressos, tendo em vista as ne­cessidades da produção, distribuiçãoe exibição de filmes no Brasil;

n> promover e fiscalizar a cobrança detaxas e obrigações relativas às ativi.dades cinematográficas;

O) selecionar os filmes brasileiros des­tinados a festivais e congressos in­ternacionais;

p) promover e executar acõrdos de co­produção cinematográfica com ou­tros países, bem como estabelecernormas para a realização ele produ­ções estrangeiras no Pais;

q) promover estatisticas de tôdas asatividades relacionadas com o' ci­nema.

CAPíTULO II

Da organização do Instituto

Art. 3.° - O INC terá a seguinte orga-nização na Administração Central:

a) Presidência;b) Conselho Técnico;c) Conselho Fiscal;dl Departamento Técnico;e) Departamento do Filme Nacional;j) Departamento de Censura:g) Departamento de Administração.

Parágrafo único - A Presidência teráum Gabinete, o Conselho Técnico e o Con­selho Fiscal uma secretaria cada um. e osDepartamentos tantas seções quantas fo­rem necessárias à execução de suas fina­lidades, cujas atribuições serão definidasno Regimento do INC.

Art. 4.° - O INC será dirigido por umPresidente, indicado pelo Ministro da In­dÚstria e do Comércio, e nomeado peloPresidente da República, com os venci­mentos eqUivalentes ao padrão l-C.

Art. 5.° - A execução dos serviços doINC far-se-á por meio de uma Adminis­tração Central e de órgãos locais que fo­rem criados por proposta de seu Presi­dente.

Art. 6.° - O Conselho Técnico seráconstituido dos seguintes membros. todosbrasileiros:

a) Presidente do INC:b) representante do Ministério da Fa­

zenda;c) representante do Ministério das Re­

lações Exteriores;d I representante do Ministério da Edu­

cação e Cultura;

e) representante do Ministério daJustiça e Negócios Interiores;

j) representante da Superintendênciada Moeda e do Crédito;

9 I representante da Carteira de Cré­dito Agrícola e Industrial do Bancodo Brasil SI A;

h I representante da Carteira de Co·mércio Exterior do Banco do Bra­sil S/A;

Í) representante do Conselho de Poli­tica Aduaneira;

j I representante do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico.

Parágrafo único ~ Os representantes aque se refere o presente artigo serão in,dicados pelos respectivos órgãos.

Art. 7.° - O Presidente do INC exerce­rá a direção de tôda a organização;

Parágrafo único - Em seus impedimen­tos eventuais ou em sua falta, o Presidentedo INC será substituído pelo Diretor doDepartamento do Filme Nacional.

Art. 8.° - Compete ao Conselho Técnico:a I propor alterações na legislação de

cinema;b I decidir sôbre normas regulamentares

a serem fixadas pelo INC;c) examinar, em grau de recurso. as de­

cisões da Presidência do INC;ct f examinar os assuntos que lhe sej am

submetidos pelo Presidente do INC.~ 1.0 - As resoluções do Conselho

Técnico serão tomadas por maioria abso­luta de votos, presentes. pelo menos, 6 deseus membros.

~ 2.° - O Presidente do INC será oPresidente do Conselho Técnico, onde teráapenas o voto de desempate.

Art. 9.° ~ O Conselho Fiscal, órgão defiscalização financeira. será constituido decinco membros, nomeados por Decreto doPresidente da República, os quais exerce­rão por três anos o mandato. que poderáser renovado.

Art. 10 - Ao Conselho Fiscal competepronunciar-se sõ!)re qualquer matéria fi­nanceira e emitir parecer sõbre a presta­ção de contas da administração.

Art, 11 - O Departamento Técnico,além de elaborar os estudos e planos geraisrelacionados com os objetivos do INC rea­lizará tarefas técnicas através das seguin­tes divisões:

a) divisão de Estudos Técnicos;b) divisão de Legislação e Pesquisas;cf divisão de Estatística.

Art. 12 - O Departamento do FilmeNacional cuidará, especialmente, do filme

164 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

produzido no Brasil, através das seguintesDivisões:

a) Divisão de Fiscalizaçáo;b) Divisão de Acôrdos de Co-produçãf);c I Divisão de Exame de Projetos de

Filmes;dl Divisão de Fomento à Exportação.

~ 1.0 - Fica criado, junto ao Depar­tamento de Filme Nacional, um ConselhoConsu1tivo. integrado pelos seguintes mem­bros:

a) representante da critica cinemato­gráfica;

b) representante dos produtores de ci­nema;

Cl representante de emprésas industriaisde cinema;

d I representante de emprésas de curtametragem;

cl representante de técnicos e atôres decinema;

j) representante de entidades culturaisde cinema;

g) representante de exibidores de ci.nema;

h) representante de distribuidores decinema.

~ 2." - Os membroo do ConselhoConsultivo serão nomeados pelo Ministroda Indústria e do Comércio, dentre os in­dicados em lista tríplice, para cada vaga,pelas respectivas entidades de classe, commandato de 2 (dois) anos, renovável, desdeque novamente incluído em lista trípliceorganizada pela classe representada.

~ 3." - As resoluções do ConselhoConsul tivo serão tomadas por maioria devotos, presentes, pelo menos, 5 (cinco) deseus membros.

~ 4.° - O Diretor do Departamentodo Filme Nacional será o Presidente doConselho Consultivo, onde terá apenas ovoto de desempate.

§ 5.° - compete ao Conselho Con~

sultivo manifestar-se sôbre assuntos de in­terésse do cinema nacional, quando solici­tado pelo Departamento do Filme Nado­nal ou pelo Presidente do INC.

§ 6.° - A função de membro do Con­selho Consultivo será considerada de ser­viço público relevante, não remunerada.

Art. 13 - O Departamento de Censuraterá função executiva através das seguin­tes Divisões:

a) Divisão de Documentação;b} Divisão de Taxas e Tributos.

~ 1.° - Fica criado, junto ao Depar­tamento de Censura, o Conselho de Cen­sura, cujas finalidades e atribuições se­rão definidas no Regimento do INC.

~ 2.° - O Conselho de Censura serácomposto por representantes do Ministérioda Educacão e Cultura, do Juizado de Me·nores, da crítica cinematográfica, das en­tidades culturais de cinema. de distribui­dores, de diretores de cinema e de escrito­res, os quais seráo indicados pelas respectl·vas entidades representalillb.

§ 3.° - Os censores serão designndospelo prazo de 2 (dois) anos, renovável, Ul)

máximo, por um mandato.§ 4.° - Os censores perceberão wn

pro labore, por filme julgado, a ser fIxadopelo Conselho Técnico no inicio de cadaexercido.

§ 5.° - Cada entidade poderá indi­car mais de um censor, desde que o volumede filmes por censurar assim o exija, de­vendo, porém, cada Grupo do Conselho d~

Censura ser composto de um representantede cada entidade indicada no § 2." do pre­sente artigo.

§ 6,° - Os serviços adminIstrativosdo Conselho de Censure. serão realizadospelo Departamento de Censura.

S 7!' - Das decisões do Conselho deCensUra caberá recurso ao Presidente doINC.

Art. 14 - A censura de filmes cinema­tográficos, para todo o território nacional,será da exclusiva competência da Uniãoe exercida através do INC.

Art. 15 - O Departamento de Adminis­tração terá a seU cargo os serviços de ad­ministração geral e de contabUidade, ecompreenderá trés Divisões:

a) DiviSão do Pessoal;b) Divisão do Material;c) Divisão de Orçamento e Contabili­

dade.Art. 16 - A direção dos Departamenkls

Técnicos, do Filme Nacional. de CensUra ede Administração, será exercida por umDiretor-Geral e a de cada Divisão, por umDiretor. os quais perceberão vencimentosequivalentes, respectivamente, aos padrões3-C e 4-C, todos nomeados em comissão,pelo Presidente da República, por indica­ção do Presidente do I.N.C. ao Ministro daIndústria e do Comércio.

Art. 17 - Os membros do Con:.elhoTécnico e do Conselho Fiscal perceberão,por sessão a que comparecerem, uma gra­tificação de presença, até o máximo de 120sessões por ano, para o primeiro e 48, parao segundo.

Parágrafo único - A gratificação de pre­sença será fixada por ato do Presidente doINC, até o máximo de 1/5 (um quinto) domaior sal(Í.rio-rninimo vigente no País.

CAPíTULO UI

JUNHO - 1964

CAPíTULO V

165

Do Património e de 8ua Utilização

Art. 18 - O patrimônio do INC seráformado:

a) pelos bens e direitos que lhe foremdoados ou por êle adquiridos;

b) pelos saldos de rendas próprias.

Art. 19 - A aquisição de bens patrimo­niais por parte do I.N.C. independe de au­torização do Govêrno Federal, mas a alie­nação dêsses bens sàmente poderá ser efe­tuada depois de autorizada pelo Presidenteda República. Num e noutro caso, seráimprescindível o pronunciamento favoráveldo Conselho Técnico, à vista de pareceI' doconselho Fiscal.

CAPíTULO IV

Dos recursos e da sua aplicação

Art. 20 - Constituirão fontes de recursopara a manutenção e desenvolvimento dosserviços do I.N.C., conservação, renovaçãoe ampliação de suas instalações:

ai a contribUiçáo anual que constar doAnexo do Orçamento-Geral da União,atinente ao Ministério da Indústria edo Comércio;

b) a renda resultante da cobrança dataxa de censura cinematográfica, emque fica transformada a atual taxacinematográfica para educação po­pular (criada pelo Decreto n.O 21.240.de 4 de abril de 1932);

c) as doações, le!1:ados e outras rendasque, a êsse título, receber de pessoasfísicas ou jurídicas.

Parágrafo único - A taxa de Cen$Ur8.será cobrada na base de 0,1 ':~ do maior sa­lário-minbno vigente no País, por metrolinear de filme censurado, para a primeiracópia e 0,05% do maior salário-minimo vi·gente no Pais, por metro das demais có­pias.

Art. 21 - A contril)uição a que se refe­re a alínea a do artigo anterior ficará, umavez publicado o Orçamento-Geral da União,automàticamente registrada no TesouroNacional, e será depositada, em SUa tota­lidade e de uma só ve2:, no Banco do Bra­sil S.A., à disposição do I.N.C.

Parágrafo único - A movimentação dosfundos será feita mediante a assinaturaconjunta do Presidente e do DiretOr-Geraldo Departamento de Administração.

Do Regíme Financeiro

Art. 22 - O regime financeiro do I.N.C.o'uedecerá aos seguintes preceitos:

(1.) o exercício financeiro coincidirá como ano civil;

bl a proposta de orçamento será orga·nízada pelo Presidente, com a colabo~

ração do Departamento de Adminis­tração, justificada com a indicaçãodos planos de trabalho correspon­dentes;

c) os saldos de cada exerCÍcio serão lan­çados no fundo patrimonial ou emfundos especiais, salvo o relativo à.contribuição de que trata a alínea ado art. 19, que será recolhido ao Te.souro Nacional;

dI durante o exerCÍcio financeiro pode­rão ser abenos créditos adicionais,desde que as necessidades dos servi­viços o exijam e haja recursos dis­poniveis.

Parágrafo único - A proposta do orça­mento será encaminhada ao Ministro daIndústria e do Comércio para a definitivaaprovação.

Art. 23 - Para a execução de planosque excedam a um período financeiro, asdespesas previstas serão aprovadas global­mente, consignando-se nos orçamentos se­guintes as dotações parciais relativas aoexercicio.

Art. 24 - A prestação global, anual, decontas ao Ministério da Indústria e do Co·mércio será feita até o último dia útil domsê de fevereiro, e con:sLará, úlem de ou­\.fOS, dos sev,uintes elementos:

a) balanço patrimonial;b) balanço econômico;c \ balanço financeiro;d) quadro comparativo entre a receita

estimada e a receita realizada;e) quadro comparativo entre a despe­

sa fixada e a despesa realizada.

Parágrafo único - Também até o últi­mo dia útil do mês de fevereiro, o I.N.C.apresentará seus balanços à Contadoria­Geral da República. para que sejam pu­blicados juntameme com os balanços-ge­rais da União.

CAPíTULO VI

Disposições Gerais e Tran8itórias

Art. 25 - O LN.C. organizará seu Regi­mento Interno, no qual serão estabelecidasas normas gerais para desempenho de seUEencargos, e elaborará, para aprovação do

166 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Govêrno, o projeto de regulamento da ?re­sente lei.

Parágrafo único - O regulamento dis­porá sõbre a estruturação dos Departa­mentos, Divisões, Setores e demais órgãosprevistos nesta lei, bem como sôbre asformas de admissâo e regime de trabalhoe de pagamentos, as atribuições, vantagense deveres do pessoal, atendidas as seguin­tes disposiÇÕes:

a) o 1.N.C. praticará, sob sua exclusivaresponsabilidade, todos os atos pe­culiares ao seu funcionamento;

bl as condições gerais de requisição, de­signação, licenciamento, demissão eaposentadoria dos servidores públicosà disposição do 1.N.C. são os estabe­lecidos na legislação federal;

c) o I.N.C. poderá admitir pessoal não­caracterizado como permanente ouextranumerário, para melhor conse­cução de suas finalidades, com remu­neração nunca superior à que perce­bem servidores de igual categoria doserviço público federal.

Art. 26 - São incorporados ao I.N.C. ossetores de cinema dos Ministérios civis, in­clusive o Serviço de Censura e DiversõesPúblicas do Departamento Federal de Se­gurança Públita, tom exceção do setor daAgência NacIonal, do Ministério da Justiçae Negócios Interiores e do Instituto Nacio­na! de Cinema. Edu~ativo.

Parágrafo único - Dentro de trinta dias,a partir da vigência do regulamento dapresente lei, os bens pertententes a essasrepartições serão entregues, depois de de­vidamente inventariados, ao I.N.C.

Art. 27 - O pessoal lotado, na data davigência desta lei, nos serviços menciona­dos no art. 25, passa à disposição do I.N.C.

Art. 28 - A partir da vigência do regu­lamento do I.N.C. ficam revogados os arti­gos 5.° e 39 e seus parágrafos, do Regu­lamento aprovado pelo D()(;reto n." 20.~93.

de 24 de janeiro de 1946.Art. 29 - I!: abolida a taxa cinemato­

gráfica instituída pelo art. 31 do Regula­mento baixado pelo Decreto nO 20.493, de24 de janeiro de 1946.

Art. 30 - O l.N.C. gozará de tõdas as re­g'alias e vantagens outorgadas à União,Quanto à prescrição, ao pagamento de im­postos. taxas, direitos adUaneiros e jurosmoratórios, à impenhorabilidade dos benspatrimoniais. à franquia postal e telegrlÍ­fica. ao fôro e tratamento nos pleitos ju­diciais, e aos transportes.

Art. 31 - As atribuições conferidas aoI.N.C. por esta lei poderáo ser exercidas por

autoridades estaduais e municipais, ou ou­tras entidades, mediante convênio.

Art. 32 - Quando a arrecadação darenda ficar a cargo de autoridade local, asações propostas para sua cobrança serãoajuizadas na comarca do domicilio do rÉ'U.

Art. 33 - Todos os cinemas existentesno território nacional ficam obrigados aexibir filmes nationais de longa metragem,em número de dias por ano determinadopelo I.N.C.

§ 1.0 - No caso da exibição de pro­gramas duplos, em que conste, além do fil­me nacional, um filme estrangeiro, a con­tagem do tempo para os efeitos dêste arti~

go ficará reduzida à metade.§ 2.° - As exibições obrigatórias de

filmes nacionais far-se-âo pelo prazo mí~

nimo de permanência norma! dos filmesestrangeiros, em cada casa exibidora.

§ 3.° - O I.N.C. poderá aumentar onúmero de dias de exibição obrigatória defilmes nacionais, à medida que o determi­nar o desenvolvimento da. produção nacio~

nal verificada em tada ano,Art. 34 - Não serão aprovados os pro­

gramas cinematográficos sem que sejamapresentadas pelo exibidor as provas documprimento dos dispositivos legais sôbre ocinema brasileiro.

Art. 35 - Da tomprovação de Que tratao artigo anterior deverão constar obrigato­riamente os seguintes dados e documentos,que serão remetidos às autoridades com­petentes imediatamente após a exibição decada filme nacional:

a) o título do filme nacional de longametragem programado;

b I recibo, em duas vias, que demonstreo pagamento da renda do filme aoprodutor ou seu distribuidor;

c) duas vias do programa impresso nadata da última exibição do filme na­cional;

dl duas cópias da fatura do distl'ibui­dor e duas cópias do "bordereau" debilheteria, firmadas pelo bilheteiro epelo gerente do cinema, referente aofilme nacional apresentado.

el comprovantes das despesas realizadascom a publicidade do filme nacional,expressamente autorizada pelo pro­dutor, acompanhadas das respectivasprovas de pagamentos.

Art. 36 - Todos os tontratos de distri­buição de filmes nacíonais estão sujeitos aregistro no I.N.C.

Art. 37 ~ A falta de filmes nacionaispara o cumprimento desta lei deverá seracusada pelo exibidor, por escrito, ao LN.C.,

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o qual se entenderá com os competentessindíeatos de produtores nacionais, bemcomo divulgará, por todos os meios ao seualcance, essa falta, para conhecimento detodos os interessados.

Parágrafo unico - A falta momentâneade filme nacional para exibição não isentaos cinemas da obrigatoriedade de incluí-losem seus programas, somente cessando essaobrigatoriedade se o quadrimestre se escoesem que o filme nacional seja fornecido aoexibidor.

Art. 38 ~ Fica o I.N.C. autorizado a reu­nir os cinemas existentes no território na­cional, em grupos, para contr61e da exibi­ção e distribuição obrigatória de fílmes na­cionais de curta metragem.

Art. 39 - As emprêsas produtoras, dis­tribUidoras e exibidoras só poderão exerceratividades no País depois de registradas noI.N.C.

Parágrafo único - As emprêsas exibido­ras deverão registrar todos os cinemas desua propriedade oU arrendados.

Art. 40 - O preço mínimo de locaçãode filme de longa metragem (art. 34 doDecreto-Lei n.O 1.949, de 30 de dezembro de1939, será de 50% (cinqüenta por centolda renda de bilheteria.

Parágrafo único - Para o cálculo darenda prevista neste artígo, deduzil'-se-áda renda bruta, a metade das despesas, de­vidamente comprovadas, com os demaisfilmes do programa e com a respectiva pu­blicidade.

Art. 41 - Aos produtores, distribuidorese exibidores que iutringirem qualquer dis­positivo desta lei, será aplicada, pelo I.N.C..multa variável de 10 a 100 vêzes o maiorsalário-minimo vigente no Pais, elevadaao dóbro no caso de reincldência.

Art. 42 - Ficam transferidos para oI.N.C. os saldos das verbas orçamentáriasdo atual exercício, referentes aos serviçosincorparados na forma do artigo 25.

Art. 43 ~ l!: assegurado ao I.N.C. exollido, ou por reclamação do sindicato dosprodutores, o direito de examinar, parcial­mente, a escrita comercial dos exibidores edos distribUidores, para verificar a exatidãoda renda atribuida a determinado filmenacional.

Art. 44 - Nenhum programa cinemato­gráfico será aprovado pelas autoridadescompetentes, sem que do mesmo conste umfilme de curta metragem brasileiro classi­ficado de boa qualidade pela censura.* 1.0 - A exibição de filme brasileirode longa metragem não isenta o eXibidorrio cumprimento do disposto neste artigo.

~ 2,° - O preço minimo de locação dofilme nacional de curta metragem será do

valor de oito ingressos, por sessão, dos demaior preço do cinema exibidor.

Art. 45 - Caberá ao I.N.C. estabelecer asnormas e regulamentos para execução dosdispositivos relativos à fiscalização da exi­bição obrigatória de filmes nacionais delonga e curta metragem, bem como dos pa­gamentos relativos à renda dos produtor~.s.

Art. 46 - Fica Q I.N.C. autorizado a emi­tir e distribuir li todos os cinemas, para usoobrigatório, ingresso-padrão, a fim de pos­sibilitar levantamentos estatísticos.

Parágrafo único - Para facilitar a fis­calização do uso do ingresso-padrão, oI.N .C. poderá criar sorteio periódico entreos usuários dos cinemas, na forma quevier a ser estabelecida por decreto do Exe­cutivo.

Art. 47 - O I.N.C. poderã também deter­minar, para fins estatísticos, o uso obriga­tório, por todos os cinemas existentes noPaís. de "bordereaU" padrão.

Art. 48 - Fica aberto o crédito especialde CrS 100,000.000,00 (cem milhões de cru­zeiros) para as despesas de instalação emanutenç.ão do I.N.C. no presente exer­cício.

Art. 49 - Esta lei entrará em vigor nadata de sua publicação, revogadas as dis­posições em contrário.

ANTEPROJETO DE LEI

De autoria do GEICIME. que dispões{lbre a dístribllíçõo compulsória de fil.mes nacionais por tôdas as distribui.doras do País.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1.0 ~ As firmas distribuidoras cine·matogrâficas instaladas no território na·cional só poderão funcionar provando quedispõem de, pejo menos, um filme nacio­nal inédito. de longa metragem. produzidonos térmos do Decreto n,o 51.106, de 1."de agosto de 1961.

Art. 2.° - Em cada grupo de dez filmesestrangeiros que apresentarem, inéditos oucensuradas em renovação, as firmas dis­tribuidoras cinematográficas instaladas noterritório nacional apresentarão, sempre,um filme nacional inédito, de longa me­tlagem e produzido nos térmos do referidoDecreto, ou segundo acõrdos de co-produ­ção assinados entre o Brasil e outrospaíses.

Paragrafo único - De dois em dois anosa proporcionalidade estabelecída neste ar­tigO poderá ser alterada por Decreto doExecutivo, de acôrdo com as possibilidadesde desenvolvimento do cinema brasileiro.

Art. 3° - Nenhum certificado de cen­sura podera ser expedido em favor de fil-

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mes apresentados por firmas distribui.do­ras einematc'b!á1icas instaladas no territó­rio nacional, sem o cumprimento rigorosodQ dhpm;to na P!esente Lei.

Art. 4.° - Esta Lei entrará em vigor oitomeses apó$ a sua publicação, revogadasas disposições em contrário.

xxxEncontram-se em tramitação nas duas

Casas do Congresso Nacional os seguintesprojetos de lei:No Senado Federal - Projeto de Lei da

Câmara n.O 1, de 1954 - Cria o Insti­tuto Nacional de Cinema, e dã outrasprovidências. (Autoria da Poder Exe­cutivo.)Projeto de Lei da Càmara n.O 144, de1963 - Concede isenção de direitosaduaneiros, impósto de consumo etaxas aduaneiras, exceto a de previ­dência social, para importação de ma­quinaria para fabricação de filmes vir­gens e respectivas matérias-primas.(Autoria do Poder Executivo.)

Na Câmara dQ!i- Deputados - Projeton.O 3.386, de 1961 ~ Concede, pelopraw de 24. me5es, isenção de direitosalfandegários, impôsto de consumo etaxa de dCBpacho aduaneira para im­portação de equipamento e materialdnemat.%!áHço. <Autoria da PoderExecutivo,)Froiem n.O 4.W3, de 1962 - Autorizaa União a estabelecer wn convêniocom a Funüil-I<'ii.o Cinemateca Brasileira,e dá outras providências. (Do Sr.Cunha Bueno e outros.)Projeto n.o 803, de 1963 - Institui aCompanhia Brasileira de Cinema ­CINEBRAS. <Do Sr. Orlando Bértoli.)

PROJETO DE LEI DA CÂMARAN.o 1 - 1954 (*\

Crio o Instituto NocíonGI de Cinemo,e 66 outros providências.

O congresso Nacional decreta:

CAPíTULO I

Dos tins e da competência do InstitutoNacional de Cinema

Art. LO - ~ criado o Instituto Nacionalde Cinema a.~.c.) com Q objetivo de pro­mover e estimular o desenvolvimento dasatividades cinematográHcas na pais.

~ L" - O I.N.C .• subordinado ao Minis­tério da Edu~çã.o e Cultu1'a, ê pessoa juri­dica com autonomia técnica, administrati­va e 1inam:eil'R, nos têrmos da presente lei.

I') PubU'I.W~ no Diátio do Congresso Na­clonal, de 20 de Janeiro de 1954.

§ 2.0 - O I.N.C. terá sede na. Capital daRepública e será representado peJo seuPresidente, em juizo ou fora dêle, ativa oupassivamente.

Art. 2.° - Compete preclpuamente aoI.N.C.:

u) estUdar as questões relativas à c1ne~

matografia brasileira, imprimindo aêsse setor da indústria nacional,orientação capaz de assegurar o seudesenvolvimento;

b) aplicar as normas de proteção à ln~

dústria cinematográfica nacional, demodo a garantir a sua estabilidadeeconômica e a trair para este setoros capitais de que necessita;

c) fiscalizar, em todo o território na­cional, o cumprimento da legislaçãoreferente ao cinema, podendo, paraêsse efeito, solicitar a colaboraçãodos sindicatos interessados e de aU~

toridades federais. estaduais e muni­cipais;

d) funcionar, em articUlação com ou~

tros órgãos públicos ou entidadesprivadas, como órgão de defesa dopatrimônio artístico, moral, cultu­ral, literário e histórico do pais, emassuntos e obras a serem filmadas:

eJ fiscalizar, com a colaboração dosinteressados, a aplicação das normaslegais vigentes sôbre a garantia dosdireitos autorais e artlsticos, no to­cante à indústria cinematogrà!lca;

j) fiscalizar a importação, exportação,distribuição e exibição de fllmes .im­pressos e a importação e distribui­ção de filmes virgens, com a colabo­ração. em ambos os casos, das auto­ridades públicas e dos sindicatos in­teressados;

g) promover e estimular o desenvolvi­mento da arte cinematográfica, fa­vorecendo, por todos os meios ao seualcance, a produção, a distribuição ea exibição do filme nacional;

h) realizar documentários de interêssesocial. capazes de elevar o nível deeducação do povo, mediante a utili­zação de modernos métodos cinema­tográficos;

il realizar a censura cinematográficabaseada em critérios morais e deconveniência pública, proibindo aexibição de filmes rejeitAdos:

jl estAbelecer padrões técnicos e artis­t-icos para filmes nacionais c estran­geiros, classificando cada filme deacõrdo com ésses padrões n fim deesclarecer o público sôbre li quali­dade dos filmes exibidos;

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k) conceder, anualmente, prêmios aosmelhores filmes brasileiros, mediantecondições que forem estabelecidasem normas especiais;

/) promover e estimular a formação eo aperfeiçoamento de artistas, dire~

tores e demais técnicos do cinema,inclusive pela criação de cursos bá~

sícos e especializados e instituiçãode bôlsas de estudo;

m) promover e fiscalizar a cobrança detaxas e impostos relativos às ativi­dades cinematográficas;

n) funcionar, como órgão consultivo,nos assUntos relativos ao registro depatentes, títulos e marcas comer­ciais, relacionados com a indústriacinematográfica, bem como nas im­portações diretas, pretendidas poremprêsas produtoras ou laboratórios,de materiais relacionados com aque­la indústria;

o) promover e estimular o financia­mento de produções nacionais decurta e longa metragem e do equi­pamento de estúdios e laboratórios.

CAPíTULO II

Da Organização do Instituto

Art. 3.° - O I,N.C. terà a seguinteorganização na Administração Central:

11 ) Presidência;b) Conselho Deliberativo;c I Conselho Fiscal;d) Departamento Técnico;el Departamento de Administrilção

Att. 4.0 - O 1. N .C . será dirigido porum presidente nomeado, em comissão, peloPresidente da República, com os venci­mentos equivalentes ao padrão CC-l.

Art. 5-" - A execução dos serviços do1. N .C. far-se-á por meio de uma Admi­nistração Central e de órgãos locais queforem ulteriormente criados, por propostade seu presidente, ratificada pelo Conse­lho Deliberativo, ou yice-versa.

Art. 6.° - O Conselho Deliberativo seráconstituído dos s~guintes l11embro.s, todosbrasileiros:

aI três membros, designados, como seusrepresentantes, respectivamente pe­los Ministérios da Educação e Cul­tura, da Justiça e Negócios Interiorese do Trabalho, Indústrla e Comércio;

til t.rês membros, representantes dosprodutores. dois dos quais de em­prêsas com capital realizado náoinferior a CrS 5.000.000,00 (cincomilhões de cruzeiros);

c) três membros, representando, res­pectivamente, a Associação Brasilei­ra de Cronistas Cinematográficos, osexibidores e os distribuidores na­cionais.

1.0 - Os membros do Conselho De­liberatívo serão nomeados por decreto doPresidenk da República, e exercerão portrês anos o mandato, que só poderá serrenovado por mais um período, para osrepresentantes dos Minístérios. A renova­ção do mandato dos demais membros doConselho, mesmo por um só periodo, de­pende da respectiva inclusão na lista trí­plice organizada de acôrdo com o parágra­fo seguinte.

~ 2.° -- O Govêrno escolherá os mem­bros do Conselho, mencionado,5 nas alíneas"[1" e "c", dentre os indicados, em listastríplices, para cada vaga, pelas respectivasentidades de classe.

Art. 7.° --- O Presidente do I.N.C. exer­cerá a direção de tõda a organização eserá responsável pela execução das reso­luções do Conselho Deliberativo.

Parágrafo único - Em seus imp-edimen.tos eventuais ou em sua falta. o Presidentedo I. N .C. será substituído pelo represen­tante do Ministério da Educação e Culturano Conselho Deliberativo.

Art. 8." - Ao Conselho Deliberativocompete, além da orientação geral das ati­vidades do r. N .C., aprovar os planos detrabalho para cada exerCÍcio, a respectivaproposta orçamentária e, bem assim, apre­ciar os relatórios da presidência, resolven­do sõbre a destinação dos saldos que severificarem em cada exercicio financeiro.

~ 1.0 - As resoluções do Conselho De­liberativo serão tomadas por maioria abso­luta de votos.

~ 2,° -- O Presidente do I.N.C. será oPresidente do Conselho Deliberativo, ondeterá apenas o voto de desempate.

Art. 9.° - Das resoluções do ConselhoDeliberativo, as part.es interessadas e oPresidente do I .N.C . poderão recorrerpara o Ministério ela Educação e Cultura.

Parágrafo único - 'rerá efeito suspensi­vo o recurso interposto pelo Presidente dor.N.C.

Art. 10 -- O Conselho Fiscal, órgão defiscalização financeira, será constituido decinco membros, nomeados por decreto do

170 REViSTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Presidente da República, os quais exerce­rão por tri"" 1'1.1\0"" o mandato, que poderáser renovado.

Art. 11 - Ao Conselho Fiscal competepronunciar-se sóbre qualquer matéria fi­nanceira e emitir parecer sõbre a presta­ção de contas da administração.

Art. 12 - O Departamento Técnico,além de elaborar os estudos e planos ge­rais relacionados com os objetivos doL N.C ., realizara tarefas técnicas e risca­lizadoras através das seguintes Divisões:

a I Divisão de Pesquisas e Planeja­mento;

bl Divisáo de Contrõle. Censura e Fis­caU~<)',

C) Divisão Cultural e de Documentários.

~ 1. o ~ A direção do Departamento Téc­nico será exercida por um diretor-gerale a de cada Divisão por um diretor, osquais perceberão vencimentos equivalentes,respectivamente, aos padrões CC-3 e CC-4,todos nomeados, em comissão, pelo Pre­sidente da República.

~ 2.0 - Para efeito da elaboração dosestudos e planos previst{)s neste artigo,bem como para a sua execução e fiscaliza­ção. uma vez aprovados pelo Conselho De­liberativo, poderá ser requisitado, na for­ma da legislação em vigor, o pessoal ne­cessário, ou contratado pzssoal técnicoespecializado, nacional ou estrangeiro, decomprovada idoneidade, podendo, ainda,ser instituidas comissões consultivas es­peciais.

Art. 13 - O Dei)attamento de Adminis­tração terá a seu cargo os serviços deadministraçáQ geral e de contabilidade ecompreendera três divisões:

a) Divisão de Pessoal;b) Divisão de Material;c) Divisão de Orçamento e Contabili·

dade.

Parágrafo UIUCO - A direção do De·partamento de Administração será exer·cida por um diretor-geral e a das Divisõespor três diretores, os quais perceberão ven·cimentos equivalentes, respectivamente, aospadrões CC-3 e CC-4. todos nomeados, emcomissão, pelo Presidente da República.

Art. 14 - Os membros do Conselho De­liberativo e do Conselho Fiscal perceberão,por sessiio a <!,lJ.e oomparecerem, uma gra­tificação de presença. até o máximo de120 sessões ;mr Il.fiO, para u primeiro, e 48­pn ta o segundo.

CAPíTULO !I!

Do Património e da Sua V tílizução

Are. lã - O patrimônio do 1. N .C. será.formado:

a) pelos bens e direitos que lhe foremdoarlos ou por êle adqUiridos;

b) pelos saldos de rendas próprias.

Art 16 - A aquisição de bens patrimo­niais, por parte do I. N. C., independe deautorização do Govêrno Federal, mas aalienação dêsses bens só poderá ser efe­tuada depois de autorizada pelo Pt€sidenteda República. Num e noutro caso será im­pre'5cindivel o pronunciamento favoráveldo Conselho Deliberativo à vista de pare­'cer do Conselho Fiscal.

CAPíTULO IV

Dos Recursos e da Sua Aplicação

Art. 17 - Constituirão fonte de recursopara manutenção e desenvolvimento dosserviços do r. N. C., conservação, renova~

ção e ampliação de suas instalações:

a \ a contribuição anual que constar doanexo do Orçamento Geral da União.atinente ao Ministério da Educaçãoe CUltura;

b) a renda resultante da cobrança dataxa de censura cinematogrfúica. emque fica transformada a atual taxacinematográfica para educação po­pular, criada pelo Decreto n.o 21.240,de 4 de abril de 1932;

c) a renda proveniente do impôsto deque trata O art. 29;

d) a renda proveniente da exibição dedocumentários realizada pelo !.N.C.em circuitos privados;

el a renda resultante da exibição dedocwnentários estrangeiros obtidospor compra ou por permuta comdocumentários realizados pelo I.N.C.;

I' a renda proveniente da venda ou 11:'­cação. para o estrangeiro, de do­cumentários de propriedade do I.N.C.

g) a renda auferida com a venda decópias de efeitos fotográficos e so­noros de propriedade do I. N. C, ;

h.l as doações. legados e outras rendasque, a êsse título, receber de pessoasfísicas ou juridicas;

il a renda da aplicação de bens patri­moniais.

Art. 18 - A contribuição a que se re­fere a alínea a do artigo anterior, ficará.uma vez publicado o Orçamento Geral daUnião, automàticamente registrada peloTribunal de Contas e distribuída ao Te-

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souro Nacional e será depositada, na suatotalidade e de uma só vez, no Banco doBrasil, à disposição do 1. N .C .

Parágrafo único ~ A movimentação dosfundos será feita mediante a assinaturaconjunta do Presidente e do diretor-geraldo Departamento de Administração.

CAPíTULO V

Do Regime Financeiro

Art. 19 - O regime financeiro do I.N.C.obedecerá aos seguintes preceitos:

aí o exercício financeiro coincidirá como ano civil;

b.l a proposta de orçamento será orga­nizada pelo Presidente com a cola­boração do Departamento de Admi­nistração, justificada com a indica­ção dos planos de traba~ho corres­pondentes e examinada, para apro~

vação pelo Conselho Deliberativo;cl os saldos de cada exercícío serão

lançados no fundo patrimonial ouem fundos especiais, na conformi­dade do que, a respeito, resolver oConselho Deliberativo, salvo o relati­vo à contribuição de que trata aalínea a do art. 17, que será recolhi·do ao Tesouro Nacional;

d) durante o exercicio financeiro po­derão ser abertos créditos adicionaisdesde que as necessidades dos servi­ços exijam e haja recursos disponí.veis.

Parágrafo único - A proposta de orça­mento, depois de ratificada pelo Conselho,sera encaminhada ao Ministério da Edu­cação e Cultura para definitiva aprovação.

Art. 20 - Para realização de planos cujaexecução exceda a um período financeiro,as despesas previstas serão aprovadas glo­balmente, consignando-se nos orçamentosseguintes as dotações parciais relativas aoexercício.

Art. 21 - A prestaçáo global anual deconta:s ao Ministro da Educação e Culturasera feita até o último dia útil do mê:s defevereiro e constará, além de outros, dosseguintes elementos:

a) balanço patrimonial;b1 balanço econômico;c I balanço financeiro;dl quadro comparativo entre a receita

estimada e a receita realiZada;e\ quadro comparativo entre a despesa

fixada e a despesa realizada.

~ 1.0 - A prestação de contas referenteao emprego das dotações orçamentárias, edos demais recursos oriundos de outras

fontes será apresentada ao Tribunal deContas, pelo Presidente do I.N.C., até oúltimo dia útil do mês de fevereiro.

~ 2° - Até o último dia util do mês defevereiro o L N. C. apresentará todos osseus balanços à Contadoria Geral da Re­pública, para que sejam publicados junta­mente com os balanços gerais da União.

CAPíTULO VI

Disposições Gerais e Transitórias

Art. 22 - O 1. N .C. organizará seu re­gimento interno, no qual serão estabeleci­das as normas gerais para desempenha deseus encargos, e elaborara, para aprovaçãodo Govêrno, o projeto de regulamentaçãoda presente lei.

Paní.grafo único - O regulamento dis­porá sôbre a estruturaçáo dos Departa­mentos, Divisões, Setores e demais órgãosprevistos nesta lei, sôbre os requisitos econdições para a concessão de aUldlios des­tinados à realização de cursos ou pesqui­sas e, ainda, sôbre as formas de admissão,o regime de trabalho de tempo integrale de pagamentos, as atribuições, vantagense deveres do pessoal, atendidas as seguin­tes disposições:

ai o I.N.C. praticara, sob a sua ex­clusiva responsabilidade, todos os atospeculiares ao seu funcionamento;

b) as condições gerais de requisição,designação, licenciamento, demissãoe aposentadoria dos servidores pú­blicos à disposição do I. N .C. são asestabelecidas na legislação federal;

c I o r. N. C. poderá admitir pessoal nãocaracterizado como permanente ouextranumerário, para melhor exe­cução de seus objetivos, com remu­neração nunca superior ao que per­cebem servidores de igual categoriado serviço público federal;

d) os servidores publicos requisitadospelo 1. N. C. não poderão receber, aqualquer titulo, maís do que rece­biam nas repartições em que esta­vam lotados.

Art. 23 ~ São incorporaàos ao I. N .C .os setores de cinema dos ministérios civis,inclUsive o setor de cinema do Serviço deCensura de Diversões Públicas do Depar­tamento Federal de Segurança Pública,com exceção do setor da Agência Nacional,do Ministério da Justiça e Negócios Inte­riores, e do Instituto Nacional de CinemaEducativo, do Ministério da Educação eCultura, que passa a denominar-se Insti­tuto Roquette Pinto.

171

§ 1.0 - Dentro em trinta dias, a partirda '1ig~nci.a dI} r~g\ll'ilmento da presentelei, os bens pertencentes a essas rep~rti­

çõel> l>erã\} ~ntreg\leB, depois de devida­mente inventltriados, (la I. N. C.

~ 2." - aerão transferidos para o I.N.C.os filmes atualmente em poder de outrosórgãos da administração publica federal,que não disponham de recursos para con­serva~los.

§ 3.° - Será, uutrossim. transferido omaterial cinematográfico da Agencia Na­cional que não seja indispensável ao de­sempenho das atividades de que trata oart. 25.

Art. 24 - O pessoal lotado, na data davigência desta lei, nos serviços menci.ona~

dos no art. 23. passa a servir à disposiçãodo I.N.C.

Art. 25 - Continuará a cargo da Agên­da Nacional a produção de jornais cine~

matográficos ou atualidades cinematográ­ficas e de todos os film'2s de curta me~

tragem que apresentem ocorrências deordem iornaU!!.ttca, tenham elas caráteroficial ou não.

Art. 2G - O 1.N .C. poderá obter daAgência Nacional. sem ônus e medIanteyequi""il;~l), i\)n.""'~"" \lê atualidades realiZa·dos por essa repartíção, e dar-lhes novacoorden-a~á() cinelurr\,o;'.ruEca, destacando,a seu critério, fatos ou ocorrências que lhepareçam de maior intel'êsse para a feiturade nôvo jornal de atualidades, o Qual pus­sarà lt constituir propriedade sua.

Art. 27 - A partir do início da vigênciado regulamento do I. N . C., ficam revoga­dos os arts. 5. o e 39 e seus parágrafosdo regulamento aprovado pelo Decreton.o 20.493, de 24 de janeiro de 1946.

Art. 28 - As medidas constantes da le­gislação em vigor Que visem, pOr qualquerforma, à proteção doS filmes nacionais decurta metragem. serão aplicadas exclusiva­mente em favor dos documentários e fil­mes educativos., segundQ :;ua:; categorias ena forma que fôr estabelecida pelo I.N.C.

Parágra{o únkQ - Consideram-se do­cumentários Os filmes de rnodalidade di­versa dos iOl"nz,Y3 dnematogré.1icos de ca­ráter meramente jornalistico e que revelamfatos, ocorrênc1as. aspectos da realidade,em seus múltiplos setores, concatenadoscinematogl'à1icamente por um fio condutorde ação e com objetivos específicos de di­vulgação e educação.

Art. 29 - Jl: criado o impósto de sêlocom a denominação "sêlo cinematográficopara a educação popular", no Valor deCr$ 0,30 (trinta centavos), o qual incidirá

sôbre cada bilhete de ingresso em se.la.s deprojeção cinematográfica.

Art. 30 - A título de amparo e estimuloà cinematografia nacional, o I.N.C. apli­cará a receita provinda do tributo criadono art. 29, da seguinte maneíra:

a) dois terços na construção, eqUipa­mento e funcionamento da. Cidadedo Cinema:

bl um têrço na concessão de prêmiosnos rermos do art. 55.

§ 1.0 - A Cidade do Cinema compreen~

derá serviços de assistência social ao pes­soal do cinema e de assistência técnicaaos produtores nacionais. bem como esco­las e cursos de base e de aperfeiçoament,o,nos têrmos do regulamento que, para êssefim, vier a ser baixado pelo Poder Exe­cutivo.

§ 2.0 - Logo depois de baixado o re­gulamento, o I. N . C. formulará os planos.projetos e orçamento da Cidade do Cine­ma, com o esquema de sua realização,submetendo-os à prévia aprovação do Mi­nistro da Educação e Cultura.

Art. 31 - As películas estrangeiras pa­garão taxas cobradas pelo 1. N .C. à razãode Cr$ 1,50 (um cruzeiro e cinqüenta cen~

tavos) por metro linear em cada cópia ouCr$ 1,00 (um cruzeiro) quando as cõpill8forem confeccionadas em laboratório bra~

sUeiro.~ 1.° - Alêm das taxas previstas neste

artigo, o importador do filme estrangeirorecolherá ao 1.N .C ., a fim de obter a res­pectiva licença de importação, uma impor­tância fixa, de acôrdo com a seguinte ta­bela:

a) filmes com mais de SOOm Cr$ .....20.000.000:

b) filmes não superiores a. 500m Cr$2,000.000.

~ 2.° - Para efeito da cobrança previstaneste a.rtigo, o filme de 16mm equivale aduas vêzes e meia a metragem do filmede 35mm.

Art. 32 - e abolida a taxa cinematográ­fica, instituida pelo art. 31 do regulamentobaixado pelo Decreto n.o 20.493, de 24 dejaneiro de 1946.

Art. 33 - O I.N .C. gozará de tôdM asregallM e vantagens outorgadas à União,quanto à prescrição, ao pagamento de im­postos, taxas. direitos aduaneiros e jurosmoratórios. à impenhorabilidade dos benspatrimoniais, à franquia postal e telegTá~

fica, ao foro e tratamento nos pleitos ju~

diciais e aos transportes.Art. 34 - AJJ atribuições conferidas ao

1. N.C. por esta lei poderáo ser exercidas

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por autoridades estaduais ou municipais,ou outras entidades, mediante convênio.

Art. 35 ~ Quando a arrecadação da ren·da ficar a cargo de autoridade local, asações propostas para sua cobrança serãoajuizadas na comarca do domicilio do réu.

Art. 36 ~ Todos os cinema.s eXistentesno território nacíonal ficam obrigados aexibir filmes nacionais de longa rnetrageme entrechos classificados de boa qualidade,na proporção minima de um filme na­donal por exibição de cada oito programasde filmes estrangeiros de longa metragem.

~ 1.° - Para os efeitos dêste artigo serácontado como nôvo programa de filmesestrangeiros a repetição ou prorrogação domesmo programa além do seu periodo ha­bitual.

~ 2.° - As exibições obrigatórias de fU­mes nacionais de longa metragem e deentrecho far-se~ão pelo prazo de perma­nência normal dos filmes estrangeiros, emcada casa exibidora, e deverão abrangerno total o minimo de 42 dias por ano, dosquais, obrigatoriamente, dois sábados edois domingos em cada quadrimestre.

§ 3.° - O I.N .C. poderá aumentar onúmero de filmes nacionais obrigatórios àmedida que determinar o desenvolvimentoda produção nacional, verificada cada ano.

~ 4.° - :Ê: o I. N .C. autorizado a baixaras necessárias instruções para o fiel cum­primento do disposto neste artigo, in­clusive de modo que a proporção legal sejaobservada em cada' quatro meses do ano.

Art. 37 ~ A falta do filme nacional,quando tiver êste de ser exibido nos têr­mos do art. 36, não menta os cinemas daobrigatoriedade de inclui-lo em seus pro­gramas. Neste caso, a apresentação se farádentro do quaàrimestre em que se verifi­cou a falta do filme nacional, só cessandoaquela obrigatoriedade se o quadrimestrese escoar sem que o filme nacional sejaforneciclo aos exibidores.

Art. 38 - Não será daàa aprovação aosprogramas cinematográficos sem que se­jam apresentadas, pelo exibidor, as pro­vas do cumprimento dos dispositivos le­gais sôbre o cinema brasileiro.

Art. 39 - Da comprovação de que tratao artigo anterior, deverão constar obri­gatoriamente:

a 1 o título da filme nacional progra~

mado;b} recibo, em duas vias, que demons­

tre o pagamento da renda do fil­me ao produtor oU seu distribuidor;

c) duas vias do programa impresso nadata da última exibição do filmeobrigatório;

àJ copla da fatura do produtor oU seudistribuidor e dos "bordereaux" debilheteria referentes ao último fil­me obrigatório apresentado;

eJ comprovante das despesas realiza­das com a publicidade de quaisquerfilmes que tenham sido exibidoscom o filme nacional obrigatório.

Art. 40 - Todos os contratos de distrí­buição de filmes nacionais estão sujeitosa registro no I.N.C.

Art. 41. - A falta de filmes nacionaispara o cumprimento desta lei deverá seracusada pelo exibidor, por escrito, às au­tal'idades competentes, acompanhada dedeclaração expressa, nesse sentido, docompetente sindicato de produtores. Sea declaração fôr negada, deverá o exibi·dor fazer constar da comunicação êssefato.

Art, 42 - Os produtores ou seus distri­buidores passarão, em três vias, os recibosdas locações de seus filmes de curta oulonga metragem: uma para o exibidor eduas para a autoridade competente dolugar em que o filme fôr apresentado.

Art. 43 - Estará sujeito à penalidadeprevista no art. 120, letra a, do regula~

mente baixado com o Decreto n.o 2Q.493,de 24 de janeiro de 1946, o produtor quefornecer filmes nacionais de curta ou lon­ga metragem por preços inferiores à ta~

bela oficial e com inobservância do dis­posto nos §~ 5.° e 6.° do art. 24 do mes­mo regulamento e dos arts. 31 e 33 do De­creto-Lei nO 1. 949, de 30 de dezembro de1939.

Parágrafo único - Comprovada a in­fração de que trata o artigo anterior, po­derá também ser suspenso O funciona­mento do cinema por prazo até 12 meses(art. 118 do regulamento baixado com oDecreto nO 20.493, de 24 de janeiro de1946). Ao distribuidor será aplicada mul­ta até CrS 5.000,00 (cinco mil cruzeiros).

Art. 44 - Os filmes produzidos pelosórgãos governamentais. quando conside­rados de divulgação imprescindivel.. serãodistribuidos pelo I.N.C. a preços mínimos,sem prejuízo da exibição simultânea daspeliculas nacionais de longa ou pequenametragem.

Art. 45 ~ Executada a censura, sem aqual nenhum filme poderá ser exibido, osfilmes serão obrigatoriamente registradosno I.N.C .. bem como os respectivos con­tratos entre produtores. distribuidores eexibidores.

Art. 46 - Os produtores, distribuidorese exibidores só poderão exercer atividadeno País depois de registrados 110 I.N.C.

174 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Art. 47 O fílme nacional, após o re-gistro no I.N.C., entrará obrigatória epreferentemente nos circuitos dos distri­buidores e exibidores, sem outras exigên­cias que as das nonnas uniformes dos con­tratos.

Art. '48 - O preço minimo de locaçãode filme de longa metragem (artigo 34,do Decreto-Lei n.o 1.949, de 30 de dezem­bro de 1939) será do valor de cinqüentapor cento da renda da bilheteria.

Parágrafo único ~ Para cálculo darenda Jtlrevista neste artigo, deduzir-se-á darenda bruta a metade das despesas, devi­damente comprovadas, com os demais fiI·mes do programa e com a respectiva pu­blicidade.

Art. 49 ~ A percentagem da renda doprodutor de fílme nacional de longa me­tragem, se a sua !ocação distender-sealém do prazo habitual de exibição deum programa, não poderá ser inferior atrinta por cento da renda liquida da bi­lheteria, respeitado o que estatui o pa­rágrafo único do artigo anterior.

Art. 50 - O pagamento, pelos eJ{íbldo­res, da locação de quaisquer fílmes deve­rá ocorrer no prazo de 10 dias a contardo último dia da exibição.

Art. 51 - O distribuidor apresentará,obrigatoriamente, ao produtor, demons­tração mensal da renda líquida até o dia.15 do mês seguinte àquele em que foi amesma realizada, efetuando o pagamentodentro em 5 (cinco) dias após eSSa apre~

sentação.Art. 52 ~ O preço minimo da locação,

por sessão de filme-complemento naCÍo­nal, será do valor de 8 cadeiras das demaior preço do cinema exibidor.

Art. 53 - Consideram-se cinemas lan~

çadores os qUe exibem o filme pela pri~

meira vez, nas cidades onde existem maisde cinco cinemas.

Art. 54 - Não se aplicam \lOS prédiosconstruídos especialmente para cinemaoU teatro as restrições estabelecidas noDecreto n.o 24.150, de 20 de abril de 1934,relativamente à utilização do imóvel parao mesmo ramo de negócio explorado pelolocatário, cujo contrato não seja renovado.

Art. 55 - O I.N.C. promoverá, nos têr­mos do regulamento interno, um concur­so anual, com prêmios para os três me­lhores fílmes nacionais de longa metra­gemo

~ 1.0 - Haverá também prêmios paraos três melhores filmes nacion<lis de pe­quena metragem.

$ Z." - Os prêmios serão assim dístri­buídos: 40';< ao produtor; 20S~ ao dire­tor; 15~~ ao fotógrafo; 15"',. ao cenam­ta e 10 ~;; aos técnicos de som.

~ 3.° ~ Serão igualmente premiados osauoores de argumenoos e de partituras,figUrinistas e artistas considerados os me­lhores do ano.

Art. 56 - Aos produtores, distribuido­res e elCibidores que infringirem qualquerdispositivo desta lei será aplicada mUltavariável de Cr$ 20.000,00 (vinte mil cru­zeiros) a crS 50.000,00 (cinqüenta milcruzeiros!, elevada em dóbro no caso dereincidência.

Art. 57 - Ficam transferidos para o!.N .C. os saldos das verbns orçamentáriasdo atual exercido, referentes !lOS serviçosincorporados na forma do art. 23.

Art, 58 - ~ assegurado ao InstitutoNacional do Cinema, ex otlicic ou por re­clamação do sindicato dos interessados, odireito de examinar, parcialmente, a es~

crita comercial dos exibidores e dos dis­tribuidores para verificar a exatidão darenda atribulda a determinado filme bra­sileiro.

Art. 59. ~ A partir desta lei, não seráconcedida licença para funcionamenoo decinema, sem que o I.N.C. aprove a qua­lidade da projeção. a reprodução do som,a visibilidade do espectador e as condi.ções de escoamento do público em casosde alarme.

Art. 60 ~ Dentro dos seus recursos or­çamentários, o I.N.C. criará e manteráuma Cinemateca Central.

Art. 61 - t: criada a caderneta do fil­me cinematográfico, que será fornecidapelo I.N.C, no ato de aprovação, pela cen·sura, de cada filme nacional. de curta oulonga metragem, para facilitar a fiscali­zação do uso do filme e de sua renda.

Art. 62 - O I.N.C. colaborará com I)

govêrno federal, governos estaduais e mu­nicipais e entidades particulares especia­1izadas sem fim lucrativo, para a cons­trução de cinema em localidades commais de 1Q.OQO habitantes. Essa colabo­ração será dada, de preferência, pelo for­necimenoo do equipamento técnico patacinema, e de estudos, plantas e proJeoosdo edifício.

Parágrafo único - Os cinemas cons­truidos em colabora.ção com o I.N.C. nãopoderão ser vendidos e só poderão ser ce­didos, alugadas ou arrendados a parti­culares, mediante concorrência pública.

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Art. 63 - O filme brasileiro de longametragem permanecerá em cartaz, nos ci­nemas que exibam um filme por sema·na, enquanto a renda média nos três pri­meiros dias da semana alcançar a rendamédia anual do mesmo número de diasno ano anterior.

Art. 64 - Nenhum programa cinemato­grMico será aprovado pelas autoridadescompetentes, sem que do mesmo consteum filme-complemento brasileiro, sonoroou falado e classificado de boa qualidadepela censura.

Parágrafo único - A exibição do filmebrasileiro de longa metragem não isentao exibidor do cumprimento do dispos:oneste artigo.

Art. 65 - As emprêsas industriais ci­nematográficas produtoras de filmes delonga metragem, devidamente registradasno I.N.C., serão concedidas seis "faixas"de cinejornais de atualidade. Essa con­cessão será. feita pelo praw de três anos,renovável, tendo em vista o maior núme­ro de produção de filmes de longa metra­gem em periodo imediatamente anterior.

Parágrafo único - Os concessionáriosde cada wna das faixas de cinejornaisde atualidade terão de incluir, quando so­licitados, uma reportagem oficial, forne­cida pela Agência Nacional, em cada umdos seus cinejornais.

Art. 66 - Só é permitido contrato deprogramação de filme brasileiro para cadasala de exibição ou grupos de salas deexíoição de uma mesma emprêsa. devi­damente registra.dos no DepartamentoNacional de Indústria e Comércio, no sin­dicato dos interessados e no I.N.C.

Art. 67 - O I.N.C. poderá celebrar con­vêniOll com emprêsas estrangeiras, quemais forneçam filmes para o mercadoconsumidor brasileiro, a fim de qUe pro­dUZam. em nosso território, películas quecelebrem os fatos históricos e as obras­primas da literatura nacional. ou distri­bUam filmes brasileiros dêsse tipo, no ex­terior. com o objetivo de tornar, uns e ou­tros. conhecidos e apreciados em diferen­tes palses.

Art. 68 ~ Durante dez anos, a partirda vigêncía desta lei, o material técnicoimportado por emprêsas de produção ci­nematográfica constituidas, exclusivamente,de capitais e sócios brasileiros, e destina­do á instalação ou ampliação de seuslaboratórios e estúdios, estará isento dequaisquer taxas e impostos, exceto a taxade previdência.

Parágrafo único ~ A prova dos requi­sitos de nacionalidade da emprêsa e seus

sócios e de destinação do material seráfeita mediante certidã,o fornecida peloI.N.C.

Art. 69 - Esta lei entrará em vigor 45dias depois de publicada, salvo no con·cernente às medidas administrativas, quevigorarão a partir de sua publicação, re·vogadas as disposições em contrário.

NOT!\ - PI'ojeW de autoria do Poder Exe­cutivo (Mensagem n.o 312/52 j,aprovado em 5 de novembro de1953. na Câmara dos Deputados12.383/52) . No SenadQ FederalIPLC n.o 1, de 1954}, recebeu pa­receres das Comissões de Justiça eEducação e aguarda. presentemente.o pronunciamento da Comissão deSel'viço Público Ci~il. tendo sidoredistrlbuido ao SI'. Senador Memde Sá.

PROJETO 1'01..0 3.386 - 1961

Concede. pelo prazo de 24 meses,isenção de direitOf o'fa"degór;o5, Im­pôsto de Consumo e taxo de despachoadljoneiro poro importação de equipo­mento e mQteriQI cinemotog~ficos.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1.° ~ É concedida. pelo prazo de24 (vinte e quatro) meses, Isenção de di­reitos alfandegários, Impôsto de Consumoe taxa de despacho aduaneiro, para impor­tação de equipamentos e materiais parainstalação e ampliação de estúdios cinema­tográficos para os seguintes setôres: som,luz, câmara, montagem e trucagem.

Art. 2.° - A concessão dos favores pre­vistos no artigo anterior é extensiva àsimportações anteriormente feitas e despa­chadas mediante têrmo de responsabilida­de, observadas as condições previstas napresente lei, e dependerá de aprovação dosprojetos de instalação e ampliação dos es­túdios cinematográficos pelo Grupo Exe­cutivo da Indústria Cinematográfica.

Art. 3.° - A isenção de que trata oart. 1,0 desta lei não se aplica a equipa­mentos e materiais com similar de fabri­cação nacional registrado.

Art. 4.° - Esta lei entrará em vigor nadata de sua publicação, revogadas as dis­posições em contrário.

MENSAGEM N." 46161 ~ DO PODEREXECUTIVO

Excelentissimos Senhores Membros doCongresso Nacional.

De acôrdo com o artigo 67 da Consti­tuição, tenho a honra de submeter à deli­beração de Vossas Excelências, acompa­nhado de Exposição de Motivos do GrupoExecutivo da Indústria Cinematográfica, oincluso anteprojeto de lei, qUe concede,

176 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

pelo prazo de 24 meses, isenção de direitosalfandegários, Impôsto de Consumo e taxade despacho aduaneiro para importação deequipamento e material cinematográficos.

Brasília, em 25 de agôsto de 1961. ­Jànio QuadroS'.

EXPOSIÇAO DE MOTIVOS DO GRUPOEXECUTIVO DA INDúSTRIA

CINEMATOGRAFJCAExcelentissimo Senhor Presidente da Re­

pública.Entre as medidas que devem ser toma­

das para incentivo à produção brasileirade filmes cinematográficos, se inclui, comprioridade, o reaparelhamento e a instala­ção de modernos estúdios cinematográfi~

cos, capacitados a dar a necessária assis­tência técnica, material e artística aos pro­dutores nacionais.

2. Uma boa parte dos equipamentosque compõem um moderno estúdio cine­matográfico, tais como aparelhagem desom, luz, câmara. montagem e trucagem,devem ser adquiridos no exterior e suaimportação está gravada por uma taxaçãonduaneira que varia entre 30-:<'· e 50% "adlia/orem", em média.

3. Para possibilitar uma redução subs­tancial nas inversões necessárias à monta­gem de estúdios cinematográficos, e cornomedida de incentivo governamental a essaatividade, o GruI>O Executivo da IndústriaCinematográfica, na sessão de 14 de agô,s·to último, resolveu recomendar a remessade mensagem ao Congresso Nacional isen­tando de direitos alfandegários, Impôstode Consumo e taxa de despacho a.duanei­ro, exceto a de previdência social, a im­portação de materiais e equipamentos ci­nema tográficos.

4. J!: pensalnento dêste Grupo, e daí asugestão de que os projetos sejam apro­vados pelo GEICINE, que a isenção nãodeve abranger indiscriminadamente a im­portação de quaisquer materiais, mas, ape­nas, aquêles, sem similar nacional, destina­dos à ampliação e instalação de estúdiosintegrados e de alto nível técnico.

5. Aproveito o ensejo para renovar aVossa Excelência os meus protestos de ele­"ada estima e respeitosa consideração.Flávio Tambellini, Presidente.

NOTA - Projeto de autoria do Poder EXe­cutivo (Mensagem n.o 461/61). NaCâme.rll, <los DeJ;lutado& (Projeton.o 3.386, de 1961), oom parecerpela constl tuclonalldade, na 00­missão de Constltulçâo e Justiça,e parecer com emenda, na COmis­sAo de Economia. Na Comissão deFinanças, presentemente, pendentede dl"t,-I bulçilo.

PROJETO H.o 4.603 - 1962

Autorjza a União a estabelecer UIY

convênio com a hndação CinemateccBrosileiro, e dá outros providências.

(Do Sr. Cunha Bueno e outros)

O Congresso Nacional decreta:Art. 1.0 - Fica a União autorizada a

estabelecer um convênio com a Funde.çãcCinemateca Brasile\.ra, para conservaçãcde filmes e difusão cultural cinematográ­fica.

Art. 2.° - O Convênio terá a vigênciade 10 (dez) anos e será firmado pelo Mi·nistério da Educação e Cultura e pelo re·presentante legal da Fundação Cinemate­ca Brasileira.

Art. 3.° - O Convênio preverá a for­ma de a,plicação de recursos e de presta­ção de contas e disporá expressamente sô­bre as atividades a serem desenvolvidaspela Fundação Cinemateca Brasileira, nosentido de preservar e ampliar o seu acêr­'1'0 e utUizá-lo para "fins educativos e cul­turais.

Art. 4.° - A Fundação CinematecaBrasileira gozará de isenção de tributosalfandegá.rios e fica dispensada de qual­quer formalidade para importação de fil­mes impressos, desde que encaminhadospor governos estrangeiros, ·entidades con­gêneres ou associações de produtores ci~

nematográHcos, para e:tibições de estudoou de divulgação cultural.

Art. 5.° - A Fundação Cinemateca Bra­sileira gozará de iSenção de direitos, adi­cionais, impostos de consumo, taxa de des­pacho aduaneiro e demals formalidades,exceto a relativa à previdência social, pa­ra importação de equipamentos. materiais(' filme "Virgem, destinados à preservaçãoe difusão cultural cinematográfica.

Art. 6.° - A Fundação Cinemateca Bra­sileira gozara de isenção de censura paraprojeções cinematográficas por ela promo­vidas ou patrocinadas em qualquer partedo território nacional.

Art, 7." - Fica fixada em Cr$ .50.000.000,00 (cinqüenta milhões de cruzei­ros) , a subvenção mínima anual a seratribuida à Fundação Cinemateca Brasi­leira, para execução do convênio.

Parãgrafo único - O orçamento consig­nará, na parte relativa ao Ministério daEducação e Cultura, dotação destinada aoC'umprimento dêste artigo, que poderá serreajustada, tendo em vista as necessida­des da Fundação Clnemateca Brasileira, ena decorrência de aditamentos que foremfeitos ao convênio originaI.

Art. 8." - Para atender à execução des­ta lei, no presente exercicio finance\ro.

JUNHO - 1964 177

fica o Poder Executívo autorizado a abrir,pelo Ministério da Educação e Cultura,um crédito espeCÍal de Cr$ 50.000.000,00<cinqüenta milhões de cruzeiros).

Art. 9.° - Esta lei entrará em vigor nadata de sua publicação, revogadas as dis­posições em contrário.

Sala das Sessões, em 31 de julho de1962. Deputado Cunha Bueno.

NOTA - Publ1cado no D.e.N. (Seçiío ri. de16 de agõsto de 1962. Redistribuldona Comissão de Con5tltulçiío eJustiça da Câmara d05 Deputadosem 2 de abril de 1964. ao Sr.CelestIno FUno.Arquivado no~ têrmos do § 2.0do art. 5.0 da Resoluçã.o da Oil­Inara dos Deputados n.O 30, de1964 (Adapta o Regimento Inter­no à~ disposições do Ato Institu­cional, dispõe sôbre a apresenta­

çii.o de emendas e dã outras pro­vldênclas. D.C.N. de 25·4-64.

PROJETO DE LEI DA CÂMARA N.!) 144,DE 1963

Ca"c~e isenção de direitos adua­neito.s, impôsto de COnsumo e taxasaduaneiras, exceto a de previdênciasocial, para importação de maquina­rio poro Fabricação de filmes virgense respectivos matérias-primas.

o Congresso Nacional decreta:

Art. 1.° - lS concedida, pelo prazo de 36(trinta e seis) meses, isenção dos impostosde importação e de consumo, e taxassduaneiral;, exceto a de previdência so­cial, para importação de equipamentos deprodução, com os respectivos sobressalen­tes e ferramentas, destinados às indús­trias de fabricação de filmes virgens, paratodos os fins, bem como, para produçãode matérias-primas indispensáveis à fa­bricação de filmes virgens.

Art. 2.° - A concessão dos favores pre­vistos no artigo anterior dependerá deaprovação dos projetos industriais peloGrupo Eltecutivo da Indústria Cinemato­gráfica.

Art, 3.° - Os favores desta lei não seaplicam a máquinas, equipamentos e fer­ramentas com similar nacional registra­do.

Art. 4.° - A isenção concedida somentese tornará efetiva após a publicação. noDiário Oficial da União, de portada bai­xada pelo Ministro da Fazenda, discrimi­nando a quantidade, qualidade, valor eprocedência dos bens isentos.

Art. 5.° ~ Esta lei entrará em vigor nadata de sua publicação, revogadas as dis­posições em contrário.

MENSAGEM N.ú 387 - DO PODEREXECUTIVO

Excelentissimos Senhores Membros doCongresso Nacional:

De acôrdo com o art. 67, da Constitui­ção. tenho a honra de submeter à delibe­ração de Vossas Excelências, acompanha­do de Exposição de Motivos do Grupo Exe­cutivo da Indústria Cinematográfica, o in­cluso anteprojeto de lei, que concede isen­ção de direitos aduaneiros, impôsto deconsumo e taxas aduaneiras, exceto a deprevidência social, para importação demaquinaria para fabricação de filmes vir­gens e respectivas matérias-primas.

Brasilia, em ~ de agôsto de 1961.Jânio Quadros

EXPOSIÇAO DE MOTIVOS DO GRUPOEXECUTIVO DA INDúSTRIA

CINEMATOGRAFlCA

Rio de Janeiro, 18 de julho de 1961.Excelentíssimo Senhor Presidente da

República:Como medida imediata de incentivo à

possivel instalação de uma fábrica de fil­mes virgens no Brasil, o Grupo Executivoda Indústria Cinematográfica deliberousugerir a Vossa Excelência a remessa aoCongresso Nacional de projeto de lei con­cedendo, pelo prazo de 36 (trinta e seis)meses, isenção de direitos aduaneiros, im­pâsto de consumo e taxas aduaneiras, ex­ceto a de previdência social, para impor­tação de máquinas e equipamentos parafabricação de filmes virgens e respectivasmatérias-primas.

O consumo brasileiro de fílmes virgens,tanto para fotografia e cinematografia,corno para raios X, é totalmente baseadona importação, despendendo o Brasil cêr­ca de US$ 5.000.000,00 <cinco milhões dedólares) por ano. Trata-se, p<.Jrtanto, demercado amplo que justifica plenamentea instituição de indústria da espécie.

Aliás, o interêsse na fabricação dêssematerial, no País, não se manifesta apenasdo ponto de vista econômico, pela poupan­ça de divisas estrangeiras, mas, e princi­palmente, do ponto de vista social e desaúde pública pois permitirá urna utiliza­ção, em maior escala, de produto indis­pensável aos hospitais e casas de saúde doPaís. Além disso, não nos devemos esque­cer dos aspectos cultural e técnico, poisa fabricação de filme virgem permitirá ummaior desenvolvimento da fotografia e ci­nematografia brasileiras.

Os estudos feitos pelo Grupo Executivoda Indústria Cinematográfica indicam serpossível a fabricação dêsse material no

178 REVISTA DE IWFORMAÇÁO LEGISLATIVA

Brasil, uma vez que as principais maté­rias-primas (triacetato de celulose, gela­tina, nitrato de prata, plastificantes, colo­rantes, endurecedores etc.) pOderão, maiscedo ou mais tarde, ser obtido no Pais.

Justifica-se o prazo relativamente lon­go da isenção sol1citada, pelQ fato de quea maquinaria de uma fábrica de filmesvirgens é altamente especializada, e suaimPQrtaçáo não poderá ser feita imediata·mente.

EJÚstem manifestações concretas de in­teressados na fabricação de filmes virgens,na dependência, apenas, de dispositivoslegais, como o presente, que pennitam a

materialização dos projetos em condiçõeseconômicas.

Anexo, à presente, cópia do estudo pre­liminar elaborado pelo Grupo Executivoda Indústria Cinematográfica sôbre a pos~

sibilidade da fabricação de filmes virgensno Brasil.

Queira Vossa Excelência aceitar os meusprotestos de elevada estima e consldera~

ção. - Flávio Tambellini, Presidente.

NOT.'\ - Projeto de autorla do Poder Exe·cutivo (Mensagem n.o 387/61).Aprovado na Câmara dos Deputados(Projeto n.O 3.272. de 19611. em 28

tie novembro de 1963, e encaminha­do ao Senado Federal em 13 dedezembro de 19113.

ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A FABRICAÇAO DE FILMES VffiQENS

Ref.: Nota Presidencial n." GP/ IC-2, de 11-4·1961Consumo

O consumo brasileiro de filmes virgens é totalmente baseado na importação. Alinha­mos, a seguir. as médias das importações no periodo 1956-60, dos. diversos itens referentesl'l filmes virgens:

ESPECIFICAÇAO IPlacas e chapas, não de vidro, inclusive para Raio X., \

Rolos de filme, inclusive para Raio X (não inclui cine-matográfico) .

Kgs

196.058

100.772

US$ CIF

2.016.695

1. 048. 399

320.032

102.475

Papel sensibilizado para fotografia .

Filmes cinematográficos virgens I\

-~ - ~------~OT:;."~·.~.~I-~19.33;-~-"

I

860.374

794.965

4.740.433

No ano de 1960, as importações acusaram os seguintes números:

US$ CIF

1.141.267

1.981.994

KgsESPECIFICAÇAO

-- -._----_._- .- ---~.~---

\I

--~-_._-- -- --'- -'. --~- -~ ---~-'~~-----'-

Placas e chapas, não de vidro. inclUl>ive para Raio X ..) 183.080

IWIO~~~:i~~~Cl~~i~~..~~~~. ~~~~.~.~~ã~..i~~l~.i. ~~~~~ I 96.665

I

::~~:n~;::::~ 1:':::;'~~~~~~~_:~~~I_ ~~__TOTAIS........ I 738.254 I 4.835.005

I I-----,---,-- - ---_ .. _---.- -_...- -

JUNHO - 1964 179

Nota-se uma pequena elevação no totaldo ano de 1960, em relação à. média de1956-1960. Na realidade, porém, o levanta·mento do COIll3umo nacional através da es­tatÍStica oficial de importação é precário,uma vez que nesse setor é grande a aqui­sição do produto estrangeiro através docontrabando, principalmente na parte re·lativa aos rolos fotográficos e filmes ci~

nematográficos. Por outro lado, o consu~

mo é muito comprimido, em face das di.ficuldades de importação, sujeitas a limi~

tadas quantidades de divisas.Assim, poderiamos dizer Que o consu­

mo nacional mínimo seria de cêrca de 750mil quilos e US$ 5.(01).000,00, por ano. Aeventual produção nacional, certamente,elevaria substancialmente êsse montante.Verifica-se, sempre, que a produção noBrasíl de certos produtos traz como con­seqüência a elevação do consumo a niveismuito superiores aos da importação. As­siln foi com os produtos siderúrgicos, ci­mento, produros qUÍmicos e farmacêuti­cos, veículos, automóveis etc.

FABRICAÇAO DO FILME VIRGEMA produção do filme virgem pode ser

dividida em 3 grandes setores:

1) preparação do suporte do filme(base) e fabricação da emulsão;

2) emulsionamento da base;3) acabamento, corte e embalagem.

A fábrica poderia ser instalada dentrode dois esquemas:

1) aquisição de uma instalação com­pleta, abrangendo 05 três setores si­multâneamente; ou

2) instalação da fábrica por sewres,iniciando pelo acabamento e corte,passando para o emu1l;ionamento eterminando por fabricar as maté­rias-primas no País.

Na segunda hipótese seria ímportadaprimeiro a instalação de acabamento ecorte. A fábrica, por uns tempos. traba­lharia com filme virgem, importado em ro­los. Numa segunda fase seria importado oequipamento de emul.sionamento, traba­lhando a fábrica com a base e a emulsãoimportadas do exterior. A emulsão seriaadquírida desidratada, para ser mistura­da com água, no País. Por fim, seriamproduzidos, no Brasil, o suporte do fil­me e a emu1l;ão, diretamente pela pró­pria fábrica ou por terceiros (hipóteseem que a terceira fase poderia ser fundi­da com a segunda).

Esta solução nos parece mais adequadae econômica, pois as seçóes seriam adqui­ridas Duma seqüência que permitiria que

a indústria fôsse se consolidando gradati­vamente, bem como daria tempo para otreinamento do pessoal. Teriamos assim aprodução de artigo com um grau de na­cionalização cada vez maior, a exemplo doque foi feito na implantação de outras in·dústria.s no Brasil. Em hipótese alguma,porém, pode-se admitir que a fábrica deixede completar as instalações pela não-im­portação de tôda a maquinaria necessária,a fim de que se reduza ao mínimo a de­pendência de matérias-primas estrangeiras.

MAnRIAS-PRIMAS

As principais matérias-primas para fa­bricação do filme virgem poderão, maiscedo ou mais tarde, ser obtidas no Pais.O suporte do filme é de triacetato de ce­lulose (mais comum) ou polistireno. O su­porte deve ser quimicamente puro, poisdisso vai depender a qualidade do filme.A Rhodia já fabrica no Brasil o acetatode celulose e poderá produzir o triacetatode celulose, desde que haja mercado, mes­mo QUe para isso seja necessário adquirirnovos equipamentos. Devemos salientarque a Rhodia vem realizando, ultimamen­te, grandes investimentos no Brasil, paraampliação de suas instalações. Não acre­ditamos que o problema da obtenção dosuporte do filme seja de diffcil solução.

A emulsão é composta de gelatina qUi­micamente pura, misturada com algunsprodutos Químicos (nitrato de prata, co­lorantes, endurecedores etc.) . A sua obten­ção no Pais dependera de entendimentoscom fabricantes de produtos químicos.Eventualmente poderá ser impOrtada de·sidratada, para acabamento no Pais.

INVESTIMENTO A SER REALIZADO

O tamanho de uma fábrica de filme vir­gem é medido principalmente pela sua ca­pacidade de emulsionamento. O filme vir­gem é normalmente fabricado em rolos de1m a 1,20 m de largura. A fãbrica paraatender o atual consumo brasileiro deveráter uma capacidade aproximada de 10 me­tros de filme virgem por minuto. Assim,uma fábrica désse porte, trabalhando 8horas por dia e 250 dias por ano, produ~

zirá 120.000 metros por ano, com 1 m a1,20 m de largura.

Uma unidade dêsse tipo custaria cêrcade US$ 2.000.00Q,OO. A fixação do valorexaro da maquinaria a importar depen~

derá do estudo do projeto definitivo, umavez que poderá ser conveniente a instala.ção de uma unidade com uma capacidadeum pouco maior ou de duas unidades comcapacidades individuais mais reduzidas.As despesas em cruzeiros podem ser orça­das em cêrca de Cr$ 800.000.000,00, entre

180 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

terreno, edlficios etc. Assim, calculando odispêndio em moeda estrangeira emCr$ 600.000.000,00 (à, taxa de Cr$ 300/d61a­res) teríamos um investimento total daordem de Cr$ 1.400.000.000,00.

ASSOCIAÇAO COM GRUPOSESTRANGEIROS

A fabricação de filme virgem exige umatécnica muito apurada, pois, se bem queteóricarnente é possível obter tôdas as ma­térias-primas, bem como é possível impor­tar a unidade fabril do exterior, a mani­pUlação da matéria-prima para obtençãoda emulsão, o emulsionamento da base eo acabamento, devem ser feitos dentro detécnica especial, poiS o filme não pode terfalhas que prejudiquem o resultado da re­velação.

Assim, o ideal para a instalação de umafábrica no Brasil será a associação degrupos nacionais com fabricantes estran­geiros de reputação internacional, a fimde que a firma estrangeira fique respon­sável pela técnica de fabricação e pelo for­necimento da maquinaria, a qual deveráser, de preferência, importada sem cober­tura cambial, como participação do fabri­cante estrangeiro, de modo que tambémele corra o risco do empreendimento. Amaquinaria deverã ser tóda nova. Dessamaneira teremos uma fábrica moderna,aliadfl a uma técnica já desenvolvida. Ogrupo nacional entraria com o capital ne­cessário à aqu1.sição do terreno e constru­ção da fábrica. Eventualmente o Estadopoderá suplementar os recursos, em cru­zeiros, através de empréstimos por entida­des oUciais. A importação da maquinariadeverÍl gozar de isenção de direitos atra­vés de lei a ser proposta pelo Executivo aoCongresso Nacional.

PARECER 1'1I.0 92, DE 1964, DA COMISSÃODE ECONOMIA, SOBRE O PROJETO DE LEI

DA CAMARA N.o 144, DE 1963Relotor: Sr. José Feliciano

O projeto concede, pelo prazo de 36 me~ses, isenção dos impostos de importaçãoe de consumo, mantida a taxa de despa­cho aduaneiro para importação de equi~pamentos de produção, com os respectivossobressalentes e ferramentas, destinadosàs indústrias de fabricação de filmes vir~gens, para todos os fins. bem como para.produção de matérias-pri.Inas indispensá­veis à fabricação de filmes virgens.

A concessão dêsses favores, todavia, se­gundo outro dispositivo da proposição "de­penderá da aprovação dos projetos indus­triais pelo Grupo Executivo da IndústriaCinematográfica" .

()j; favores fiscais previstos na proposi­ção foram solicitados ao Congresso, peloPoder Executivo, através de mensagem as­sinada ainda pelo Presidente Jânio Qua­dras, emitida em 2 de a.gôsto de 1961..

Na area do Executivo, o processo rela­cionado com o assunto foi suscitado poruma exposição de motivoo originada doGrupo Executivo da Indústria Cinemato­gráfica, na qual se -procurou demonstrar.com dados estatísticos e informações ou­tras, a conveniência da medida.

O documento em aprêço chama a aten·ção para o fato de que o "consumo bra­sileiro de filmes virgens, tanto para fo­tografia e cinematografia, como para raioX, é totalmente baseado na importação,despendendo o Brasil cêrca de .US$ 5.000.000,00 (cinco milhões de dóla­res) por ano" na aquisição dêsse mate­rial.

Aliás - diz, ainda, o documento a queestamos aludindo -, o interê.sse na fabri­cação de filme virgem no Pais não se ma­nifesta apenas do ponto de vista econô­míco, pela poupança de divisas estrangei­ras mas, e principalmente, do ponto devista social e da saúde pública, pois per­mitirá uma utili2ação, em maior escala,de produto indispensável aoo hospitais ecasas de saúde do País. Além disso, maiordesenvolvimento da fotografia e cinema­tografia brasileiras propiciará.

A Câmara, ao aprovar o projeto, intro­duziu modificações no texto que receberado Executivo, restringindo a amplitudedas medidas néle previstas.

()j; argumentos aduzidos pelo GrupoExecutivo da Indústria Cinematográfica,em favor da isenção formUlada no projeto,são convincentes. Poder-se-ia mesmoncrescentar que, visto o problema de umponto de vista que considere exclusiva­mente os interêsses técnicoo, culturais esociais do País, impossível será não reco­nhecer até mesmo a urgência da medidaem tela.

Todavia, largo ~paço de tempo decor~reu desde que a Mensagem do ExecutivOsolicitando a medida foi emitida, e fatosnOvos, de diferentes categorias. muito vie­ram a modificar nesse período o quadrogeral do Pais, em particular no que diZrespeito à situação econõmico~financeira.Assim, pela circunstância mesmo de a pro~posição ter implicações financeiras, seráoportuno, em nosso entender, conhecer aatual pOSição do Ministério da Fazendasilbre O assunto.

Propomos. pois, seja o projeto baixadoem diligência àquele Ministério, para. queo pronunciamento que li. mencionada. Se-

JUNHO - JU4 181

cretaria de Estado vier a fazer sôbre amatéria, sirva de base ao futuro parecerconclusivo dêste órgão, sóbre a mesma.

Sala das Comissões, em 23 de abril de1964. - Ermírw de Moraes, Presidente. ~José Feliciano. Relator. - ANUo Fontana,- Irineu Bornhausen ~ Adolpho Franco- Melo Braga.

NOTA - o parecer da Comissão de Eco­nomia foi publicado no D.C.N " &­çll,o n, em 28-4-1964, pág. 960.

PROJETO N,o 803, DE 1963

Institui a Companhia Brasileiro deCinema - CINEBRÁS.

(Do Sr. Orlando Bértolil

(Às Comi5$ôes de Constituição e Justis:a,de Ec:onomio e de Finanças)

O Congresso Nacional decreta:Art. 1.0 - Fica a União autorizada a

constituir, na forma desta lei. uma Socie­dade por ações, que se denominará Com­panhia. Brasileira de Cinema e usara asigla ou abreviatura de Cinebrás.

Art. 2.° - A Companhia Brasileira deCinema - Cinebrás - terá por objeto apromoção do desenvolvimento do cinemanacional, podendo, para êsse fim, finan­ciar e co-participar de produções parti­culares, adquirir ações de capital de em­presas têcnicamente aparelhadas e prati­car todos os demais atos necessários à exe­cução do.s seus fins.

~ 1.0 - A Cinebrás não poderá reali­zar produções cinematográficas, salvo do­cumentários.

~ 2.° - A Companhia Brasileira de Ci­nema - Cinebrás - terá. o monopólio daimportação de filmes estrangeiros. da ex­portação dos filmes nacionais e da distri­buição de ambos no território brasileiro.

Art. 3.° - O Presidente da Repúblicanomeará o representante da União nosatos constitutivos da Sociedade.

~ 1.0 - Os atos constitutivos serão pre­cedidos:

I - pelo estudo e aprovaçãD do projetode organização dos serviços básicosda Sociedade e, bem assim, das suasatividades-fins, à vista da expe­riência do Grupo Executivo da In­dústria Cinematográfica - Geicíne;

II - pelo arrolamento, com tódas as es­pecificações, dos bens e direitosque a União destinar à Integraliza­ção do seu capital;

II! - pela elaboração dos Estatutos esua publicação, para conhecimentogeral.

* 2° - Os atos constitutivos compreen­derão:

r - aprovação das avaliações dos bense direito.s arrolados para constituí­rem o capital da União;

II - aprovação dos Estatutos;nr - outras medidas julgadas necessá­

rias à plena esquematização da em­prêsa, inclusive planos de transfe­rência de serviços que tenham depassar para a Cinebrás.

§ 3.° - A constituição da Sociedade seráaprovada por decreto do Poder Executivoc sua ata será arquivada, por cópia autên­tica, no Registro do Comércio.

Art. 4.° - No.s Estatutos da Sociedadeserão observadas, em tudo que lhes fôraplicável, as normas da Lei de SociedadesAnônimas.

Art. 5.° - A Sociedade terá, inicial­mente, um capital de Cr$ 500.000.000,00(quinhentos milhões de cruzeiros). dividi­do em ações nominativas de Cr$ 10.000,00(dez mil cruzeiros) cada uma, permitida aemissão em títulos múltiplos.

Art. 6.° - A União subscreverá em açõesordinárias, inicialmente, a totalidade docapital, integralizando-o com bens e ser­viços e reCUrsos de crédito especial, atéperfazer o montante de 20C;c. subscreven­do, em todo o aumento de capital, açõesque lhe assegurem, pelo menos, 5l"~ docapital votante.

Parágrafo único - Fica o Poder EKe­cutivo autorizado a abrir crédito especial,até o montante necessário para o cumpri­mento deste artigo.

Art. 7,° - O saldo do capital subscritoe o seu aumento de capital serã.o integra­lizados pejo produto da arrecadação dastaxas criadas por esta lei.

Art. 8.° - Fica criada a Taxa de De­senvolvimento do Cinema Nacional, qUeincide em 20% (vinte por cento) sôbre opreço dos ingressos de cinema, em todo oterritório nacional, pelo prazo de 10 (dezfanos.

Parágrafo único - A Taxa de Desen­volvimento do Cinema Nacional será co­brada pelas PrefeiturM Municipais, junta­mente com a Taxa de Diversões Públicas,em nome e a crédito da Cinebras (contade capital) que se reembolsará da seguin­te forma:

a) anualmente, até o mês de março, asPrefeituras Municipais comunicarãoà Diretoria de Rendas Internas aimportãncia arrecadada no ano an­terior;

184

Lei n.o 713, de 29-'1-49

Lei !l.o 790, de 25 -8-49

Lei n.o 929, de 23-11-49

REVISTA DE I"'FORMAÇÃO LEGISLATIVA

Autoriza o Ministério da Educação e Saú·de a adquirir projetores cinematográficospara revenda a estabelecimentos de ensinoe di outras providências. 0.0. 5-8-49.

Concede isenção de direitos e taxas adua~

!leiras para importação de mawrial des­tinado à indústria cinematográfica. 0.0.1-9-49.

Faculta ao Instituto Nacional de CinemaEducativo prestar serviços remunera.dos aparticulares e a entidades de caráter pú­blico. D.O. 1-12-49.

Decreto n.o 30.179, de 19-11-51

Decreto n.O 30.435. de 23-1-52

Decreto n.O 30.700 de 2-4-52

Decreto n,o 30.795, de 30-4-52

Decreto n.O 44.853, de 13-11-58

Decreto 11.° 47.466, de 22-12-59

Decreto n.O 49.575. de 22-12-60

Decreto n,o 50.278, de 17-2-61

Decreto n.O 50.293, de 23-2-61

Decreto nO 50.518. de 2-5-61

Decreto n.o 50.633, de 20-5-61

Decreto n.O 50.639. de 20-5-61

Dispõe sôbre a exibição de filmes nacio·nais. D.C. 20-11-51.

Aprova instruções para execução da Lei n.'773, de 29-7-49, que autoriza O Ministérioda Educação e Saude a adquirir projetorescinematográficos para revenda a estabe·lecimentos de ensino e dá outras provi­dências. D.O. 24-1~52.

Dá nova redação ao art. 1.0 do Decreton.O 30.179, de 19-11-51. 0.0. 4-4-52.

Altera a redação do art. 93 do Regula­mento do Serviço de Censura de DiversõesPúblicas do Departamento Federal de Se­Gurança Pública, aprovado pelo Dec, n."2G.493, de 24-1-46. D.C. 3-5-52.

Constitui, no Ministério da Educação eCultura, o Corpo de Estudos da IndÚStrir.Cinematográfica. D. O, 18-11-58.

Dispõe l;ôbre a exibição de filmes nacio­nais. 0.0. 28-12-59.

Cria li Escola Nacional de Cinema. 0.0.26-12-60.

Cria o Grupo Executivo da Indústria Ci­nematográfica e dá outras providênciasD.O. 17-2-61.

Cria o Conselho Nacional de Cultura e düoutras providências. 0.0. 23-2-61.

Dispõe: sóbre a fiscalização e contrôle icfilmes cinematográficos destinados à pro­jeção nos cinemat6grafos e pela televisãoe da outras providências. D. O. 2-5 -61.

Altera a redação do art. 2.0 do Dec. n."50.278, de 17-2-61. D.O. 20-5-61.

Modifica o Dec. n.o 50.278, de 11-2-61, quecria o Grupo Executivo da Indústria Ci­nematográfica. 0.0. 22-5-61.

JUNHO - 1964 185

Decreto n.O 50.667, de 30-5-61

Decreto n.O 50.765, de 9-6-61

Decreto n.o 50.766, de 9·6-61

Decreto n.o 51.106, de 1-8-61

Decreto n.o 51.239, de 23-8-61

Decreto n.o 751, de 19-3-62

Decreto n.O 1.023, de 17-5-62

Decreto n.o 1.134 de 4-6-62

Decreto n,o 1.243, de 25-6-6~

Lei n.O 4.131, de 3-9-62

IJe<:reto n.D 1.462, de 18-10-62

Decreto n.o 2.131, de 22-1-63

Resolução da Câmara dos Deputadosn.D 28, de 1963

Decreto n.O 52.405, de 27-8-63

Decreto n.O 52.745, de 24-10-63

Torna sem efeito o dispositivo do Dec. n °50.633. de 20-5-61. D.O. 30-5-61.

Proíbe a propaganda comercial nos cine­matógrafos e dá outras providências. Da9-6-61.

Altera dispositivo do Dec. n.o 50.293 de23-2-61, que criou o Conselho Nacional Ol:Cultura. Cria a Comissão Nacional de Ci­nema. D.O. 9-6·61.

D2fine o que possa ser considerado filmebrasileiro para os efeitos legais e dá outrasprovidências. D. O. 1-8-61.

Institui a Campanha Nacional de CinemaEducativo e dá outras providências. D.O.de 23-8-61. Ret. 24-8-61.

Transfere para. jurisdição do Ministério daIndústria e Comércio o Grupo Executi.vo da Indústria Cinematográfica. D.a20-3-62.

Altera e revoga dispositivos do regula­mento aprovado pelo Dec. n.o 18.527, 0('10-12-28 e dá outras providências. D. O.17-5-62.

Revoga o Dec. n.o 50.518, de 2-5-61. D.a.de 4-6-62.

Regulamenta a publicidade nos cinema;.D.O. 25-6-62.

Disciplína a aplicação do capital estran­geiro e as remessas de valôres para o ex­terior e dá outras providências. (Art. 45 í .IJ,(). 27-9~62. Ftet. 29-9-62.

Reorganiza o Grupo Executivo da Indús­tria Cinematográfica (GEICINEí. D. O.19-10-62.

Regulamenta a exibição em todo o terri­tório nacional do jornal cinematográfico"ATUALIDADES A. N." e dos documen­tários cinematográficos da Agência Nacio­nal. D.O. 24-1-63.

Instituí Comissão de Inquérito para inves­tigar atividades da indústria cinematogro:'.­fica nacional e estrangeira. D.C.N. 26-7­1963. Supl. e 17-8-1;3.

RegUlamenta o artigo 45 da Lei n,o 4.131,de 3-9-62. D.O. de 2-9-63.

Dispõe sóbre a exibição de filmes brasilei­ros. D.C>. 6-11-63.

186 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

DECRETO N.o 20.493, DE 24 DE JANEIRODE 1946

Aprovo o Regulamento do Serviçode Censura de Diversões Públi~(ls doDepClrtClmento Federol de SeguronçoPública.

o Presidente da República, usando daatribuição que lhe confere o art. 74, letra a,da Constituição, decreta :

Art. 1.0 - Fica aprovado o Regulamentodo serviço de Censura de Diversões PÚ­blicas do Departamento Federal de Segu­rança Pública, que com êste baixa, assi­nado pelo Ministro da Justiça e NegóciosInteriores.

Art. 2'<' - O presente decreto entrará emvigor na data de sua publicação, revogadMas disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1946,125. 0 da Independência e 58.0 da República.

JosÉ UNHARESA. de Sampaio Dória

REGULAMEHTO DO SERViÇO DE CEHSURADE DIVERSõES PÚBLICAS DO DlPARTA­MEHTO FEDERAL DE SEGURANÇA PÚBLICA

(A que se refere Q Decreto n." 2D.493,de 24 de janeiro de 194'1

CAPíTULO I

Disposições Preliminares

Art. 1.0 - O Serviço de Censura de Di­versões Públicas do Departamento Federalde Segurança Pública (D.F.S.P.l, direta­mente subordinado ao Chefe de Polícia edirigido pelo Chefe do mesmo Serviço, tema seu cargo, além da censura das diver5~e5

públicas em geral, as demais atr1tmiçõesque lhe são conferidas neste Regulamento.

Art. 2.° - O Serviço de Censura de Di-versões Públicas é constituído:

aJ do Gabinete do Chefe do Serviço;b) da Secretaria;cl da Censura;dJ da Seção do Expedien te ;e I da Fiscalização.

Art. 3." ~ Ao Chefe do Serviço de Cen­sura de Diversões Públicas compete;

a) distribuir, equitativamente, pelos cen­sores, os encargos da Censura, res­salvadas as necessidades do serviço;

b i dar instruções aos censores, a fim deunificar a orientação da Censura, deacõrdo com o Chefe de Policia;

c) determinar, dentro de suas respecti­vas atribuições, OS encargos dos de­mais funcionários, consoante a con­veniência do serviço;

ti) despachar os requerimentos de acór­do com êste Regulamento;

e) impor as penalidades estatuidas noCapitulo XI dêste Regulamento;

j) avocar, perante os efeitos de revisão,qualquer matéria afeta às deUbera­ções dos censores, inclusive a já cen­surada, quando haja manifesto de&a­côrdo entre os atos do censor e 08preceitos regulamentares e instruç6estransmitidas;

g) decidir, dentro de 48 horas, dos re­cursos interpostos, pelas partes, dasresoluções dos censores;

hl dar parecer, prêviamente, sõbre asQ.uestões concernentes aos serviços daCensura, que forem submetidas à de­cisão do Chefe de Policia;

jJ solicitar ao Chefe de Policia. tôdas asprovidências que julgar necessáriasao andamento dos serviços da Cen­sura e ao fiel cumprimento dos dis­positivos constantes dêste Regula­mento;

j) designar, por Portaria, um funcioná­rio do S.C.D.P. para servir como seuSecretário, que poderá. substitui-loeventualmente em seus impedimen­tos ocasionais, mediante autorizaçãoescrita;

k> requisitar das demais autoridades PO­liciais as providências que jUlgar con­venientes às deliberações da Censurae ao funcionamento do S.C,D.P.

CAPíTULO II

Da Censura Prévia

Art. 4." ~ Ao Serviço de Censura de Di­versões Públicas compete censurar previa­mente e autorizar;

I - as proJeçoes cinematográfi-cas; (')

H - as representações de peÇiUl tea­trais;

IH - as representações de variedadesde qualquer espécie;

IV - as execuções de pantomimas ebailados;

V - as execuções de peças declama­tórias;

VI - as execuções de discos cantadose falados, em qualquer casa de

diversão pública ou em localfreqüentado pelo público, gra­tuitamente Oll mediante paga­mento;

JUNHO - 1964 187

VII - as exibições de espécimes tera­tológicos;

VIII - as apresentações de préstitos,grupos, cordões, ranchos etc. eestandartes carllavalescos ;

IX - as propagandas e anuncias dequalquer natureza, quando fei­tos em carros alegóricos ou defeição carnavalesca, ou, ainda,quando realizados pOr propa­gandistas em trajes caracterís­ticos ou fora do comum;

X ~ a publicação de anúncios naImprensa ou em programas e aexibição de cartazes e fotogra­fias, quando se referirem taisanúncios, cartazes e fotografiasaos assuntos consignados nosnúmeros anteriores dêste artigo;

XI - as peças teatrais, novelas e con­gêneres, emitidas por meio derádio;

XII ~ as exibições de televisão.

CAPíTULO III

Do Cinema

Art. 5.° - Nennum filme poderá serexibido ao púbUco sem censura prévia esem um certificado de aprovação fornecidopelo Serviço de Censura de Diversões Pú­blicas do D.F.S.P.

Parágrafo único - FiCam isentos de cen­sura os filmes produzidos pelo InstitutoNacional do Cinema Educativo, do Minis­tério da Educação e Saúde, e demais ór­gãos oficiais.

Art. 6.° - A censura de filmes será feitaquando requerida pelo menos 24 horas an­tes de sua projeção, salvo caso excepcio­nal, a critério do Chefe do Serviço de Cen­sura de DiverSões Públicas e devidamentejustificado, por escrito, pelo requerente.

Art. 7.D- O certificado de aprovação

requerido no artigo 5. o será fornecido apósa projeção de filme perante os censoresdo S.e.D.p.

§ 1.0 - O certificado de aprovação auto­riza a exibição do filme em todo o terri­tório nacional, isentando-o de qualquer ou­tra censura ou pagamento de novas taxas,durante o periodo de sua validade.

f 2.° - Os certificado,<; de aprovação ex­pedidos pelo S.CD.P. são válidos por cincoanos, a contar da data da aprovação dofilme, não sendo permitida prorrogação deprazo.

§ 3.° - O filme censurado há mais decinco anos fica sujeito a nova cem;ura.

Art. 8.° - Se existirem várias cópias domesmo filme, apenas uma será submetida

ao S.C.D.P., expedindo-se, porém, tantoscertificados quantas forem as cópias de­claradas no pedido de censura.

Art. 9.° - Os filmes considerados impró­prios para crianças ou para menores sópoderão ser exibidos, em aviso, com ca­racteres bem legíveis, colocados na bilhe­teria, nos cartazes e nos anÚncios de dis­tribuição interna ou externa, ou publicadona Imprensa, se declarar expressamente arestrição estabelecida pelo S.C.D.P.

Art. 10 - Não podem ser expostos nempublicados cartazes, desenhos, fotografiasetc., que reproduzam cenas, retiradas dofilme, com;ideradas impróprias para crian~

ças ou para menores.Art. 11 - Todo material de propaganda

<cartazes, fotografias etc..', relati\'o aos fil­mes considerados impróprios para criançasoU para menores, será submetido ao examedo S.C.D.P., para que seja autorizada aexibição do que, a juízo da censura, puderser apresentado ao público.

Art. 12 - Serão com;iderados educativos,a juízo do S.C.D.P., os filmes que divulguemconhecimentos instrutivos, moraís ou artís­ticos ou contribuam, de diversas maneiras,para aprimorar a formação espiritual, aeducação social e (I valor intelectual ouartístico da assistência.

Art. 13 - Poderão ser recomendadospara menores, ou para a juventude, osfilmes capazes de despertar os bons senti­mentos, as tendências artísticas, a curiosi­dade cientifica, o amor à Pátria, à fami­lia e o respeito às instituições.

Art. 14 ~ A impropriedade dos filmespoderá ser declarada para. crianças até 10anos, para crianças até 14 anos, ou paramenores até 18 anos, a juizo do S.C.D.P. etendo em vista preservar o espírito infan­til ou juvenil de impressões excitantes, oudeprimentes, e de influência perturbadorade sua formação moral ou intelectual

Art. 15 ~ Não poderão constar, no pro­grama de espetáculos cinematográficos paracriança ou para menOres. filmes, anún­cios ou trailers de fitas julgadas impró­prias para uns e outros pelo RC.D.P.

Art. 16 - Tôdas as operações e quais­quer despesas decorrentes da exibição parao S.e.D.p. correrão por conta e risco dosinteressados.

Art. 17 ~ No próprio boletim de requi­sição de censura, o Serviço de Censura deDiversões Públicas do D.F.S.p. lançará asua decisão, aprovando ou não, ou deter­minando as restriçôes que julgar conve­nientes.

Art. 18 - Entendendo o Serviço de Cen·sura de Diversões Públicas Que o filme

188 R.EVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

examinado deve sofrer cortes, serão de·claradas no mesmo boletim quais as cenasa serem retiradas para a exibição pública.

Art. 19 - No boletim de censura serátambém dedarado se o filme examinadodeve ser classiíicado como "educativo","recomendado para crianças", "recomen­dado para a juventude", ou, tratando-sede filme nacional, de "boa qualidade" e"livre" para exportação.

Art. 20 - O Certificado de Aprovação.que precederá obrigatOriamente a exibiçãodo filme, deverá conter, na parte que deveser projetada na tela, em letras bem gran­des, bem legiveis, a decisão do S.C.D.P.relativa ao filme, o número de ordem, otitulo original do filme e sua tradução, adesignação do produtor e os dísticos "apro­vado pelo S.C.D.P.", "válido até ... de ...de 19... " e a assinatura do Chefe do Ser­viço de Censura de Diversões Públicas doD.F.S.P.

Art. 21 - O Serviço de Censura de Di­versões Públicas terá um registro dos da­dos referentes aos filmes censurados e oresultado do julgamento.

Art. 22 -- Poderá ser exclulda da auto·rização para exibir um filme determinadaregião do território nacional, onde, porcircunStâncias ou condições locais, essa elti­bição possa ser contrária ao interêsse pú­blico.

Art. 23 - Serão obrigatoriamente reco­lhidas ao S.C.D.P. tôdas as cópias dos fil­mes interditados, que serão inutllizatms se,no prazo de dois anos, não forem reexpor­tadas.

Ar t. 24 - Cada programa de cinema quecontiver um filme de metragem superior amil metros só poderá ser exibido quandodêle fizer parte um filme nacional de "boaqualidade", sincronizado sonoro ou falado.natural ou posado, filmado no Brasil, econfeccionada em laboratório nacional, commedição minima de 180 metros lineares.

~ L" - Na metragem mínima, só seráocontadas nas cenas ou vistas, excluindo osletreiros, marcas e titulos, os quais náopoderão exceder de 20% das cenas vistas.

* 2.° - A exigência do parágrafo 1.0, ajuizo do S.C.D.P., será suspensa por 60dias, prorrogáveis, se fôr verificada ainexistência ou insuficiência de filmes na­cionais que preencham as condições paraexibição obrigatória.

~ 3. ° - A exibição de um filme nacio­nal, natural ou de enrêdo, de metragemsuperior a dois mil metros, isenta o exi­bldor da inclusão, no programa, do filmen:lcional de exibição obrigatória.

§ 4.° - Dos programas publicados naImprensa, ou para distribuição e em car­tazes, constará, obrigatàriamente, o nomedos filmes nacionais, e espec1!tcando o as~

sunto, mesmo que essa especificação sejafeita em subtítulo.

§ 5,° - O preço minimo da locação, porsessão, de filme-complemento (art. 33 doDec.~Lei n." 1.949, de 30~12·39) será o va­lor de 5 cadeiras das de melhor classe docinema exibidor.

§ 6." - O preço mfnimo de locação dofilme de longa metragem (art. 34 do Dec.­Lei n.o 1.949, de 30-12-39l será do va­lor de 50% da renda da bilheteria.

§ 7.° - Para o cálculo da renda pre­vista no parágrafo anterior. deduzir-se-áda renda bruta a metade das despesas,devidamente comprovadas, com os demaisfilmes do programa e com a respectiva pu~

blicidade.§ 8.° - A percentagem da renda do pro~

dutor de filme nacional de longa metra·gem, se a sua locação distender-se alémdo prazo habitual de exibição de um pro­grama, não poderá ser inferior a 30% darenda líquida da bilheteria, respeitado oque estatui o parágrafo anteri(lr,

§ 9,° - Fica. o Chefe do S.C.D.P. auto­rizado a aumentar a proporção de !1lmesnacionais de grande metragem obrigató·rios, referidos no artigo imediato, de acOr­do com o desenvolvimento da produção epOSSibllldades do mercado.

Art. 25 - Os cinemas são obrigados aexibir anualmente, no mínimo, três filmesnacionais de entrecho e de longa metra­gem declarados de boa qualidade pelo ser­viço de Censura de Diversões Públ1cas doDepartamento Federal de Segurança PÚ­blica.

§ 1.0 - Os filmes de entrecho e de longametragem censurados e aprovados, sem ne·nhtnrm restrição, antes de 1& de dezembrode 1945 (Portaria do D.N.I') , satisfarão au­tomà.ticamente as condições de "boa qua·lidade" até o término do prazo estipuladono respectivo boletim de censura.

§ 2." - Para efeito da observA.ncia dodisposto neste artigo, é o ano civil divididoem períodos de quatro meses, sendo obri­gatória, em cada um dêsses períodos. aexibição de um fUme nacional nas condi­ções determinadas por êste Regulamento,em tôda.s as 5\l.las de ex1bição dnemato­gráfica de freqüência pública, autorizadas afuncionar no território nacional.

§ 3.° - Para os efeitos dêste Regula­mento, não será computada a repetição defilmes já exibidos no mesmo cinema.

§ 4.° - Os filmes nacionais de longametragem serão obrigatOriamente progra­mados nas mesmas condlçôes em que o

JUNHO - 1964 189

forem as melhores produções estrangeiras,devendo percorrer os circuitos dos cine­mas que os tenham lançado, nos têrmosdo ~ 3.° do art. 3.° do Dec.-Lei n.o 4.064,de 29-12-42.

~ 5." - No caso de não existir em de­terminado cinema filme nacional inéditoe que satisfaça as condições exigidas paraa exibição obrigatória nos têrmos dêsteRegulamento, fica o dito cinema isento daexibição obrigatória no periodo em que ahipótese se verificar.

~ 6." - Os cinemas ditos lançadores nãoserão obrigados a exibir filmes já apresen­tados em outro de igual categoria e namesma cidade.

~ 7.0 - A falta de cumprimento de qual­quer dispositivo dêste Regulamento, refe­rente aos filmes de longa metragem a quese refere êste artigo, será punida peloS.C.D.P. com as penalidades previstas nocapitulo correspondente.

Art. 26 - O S.C.D.P., ao examinar osfilmes nacionais, julgará da sua qualidade.para efeito de exibição obrigatória, tendoem Vista os requisitos de sonoridade, sin­cronização, correção do texto, técnica dearte, exigíveis neste gênero de produção.

Art. 27 - Os filmes nacionais que con­tiverem propaganda comercial, industrialou particular não serão considerados de"boa qualidade", para os efeitos do dis·posto no art. 24, salvo se essa propagandafôr de interêsse nadonal, a juizo doS.C.D.P.

Art. 28 - O filme nacional que rór in­cluído em programa, para cumprimento doart. 24, poderá ser exibido, no mesmo dia,em mais de um cinema, na mesma cidade,desde que, independentemente dêste filme.conste dQ programa outro fUme nacionalnas condições previstas para a obrigato­riedade.

Art. 29 - OS produtores nacionais po­derão requerer, antes da fabricação de umfilme, o exame do respectivo cenário, de­vendo, para isso, entregar ao S.e.D.p., emduplicata, a descrição integral do filme ea prova do pagamento da taxa de Cr$ 50,00.

Parágrafo único - A aprovação préviado cenário não exime o filme da censura.

Art. 30 - Nenhum filme nacional po­derá ser exportado se não tiver sido con­siderado "livre para exportação", pelos.e.D.p.

Art. 31 - Fica instituída a "taxa cine­matográfica para educação popular", queserá cobrada por metragem, à razão deCr$ 0,40 por metro linear e por cópia, go­zando da isenção dessa taxa os filmes na-

cionais educativos e pagando os demaisfilmes nacionais Cr$ 0,40 por metro linear,qualquer que seja o número de cópias. n

~ 1.0 - As cópias de filmes estrangeiros,qualquer que seja o seu número, ficamisentas do pagamento da taxa cinemato­gráfica, desde que sejam reveladas noBrasil.

Art. 32 - Da renda da "taxa cinemato­grMica para educação popular" será reti­rada anualmente importância nunca infe­rior a Cr$ 200.000,00, para distribuição deprêmios ent.re os produtores de filmes na­cionais.

Art. 33 - Para efeito de pagamento da"taxa cinematográfica para educação po­pular", no caso de filmes importados, seráaceita a metragem constante dos documen­tos consulares correspondentes.

Parágrafo único - Os filmes que nãovierem acompanhados de documentos con­sulares, que provem a metragem, serão me­didos no Serviço de Censura de DiversóesPúblicas.

Art. 34 - Os certificados de censura pa­garão, de impôsto de sêlo, Cr$ 10,00 pelaprimeira via e Cr$ 5,00 pelas demais.

Art. 35 - Ao S.C.D.P. e ao Juizado deMenores incumbirá a fiscalizaçã.o das exi­bições eínematográ.ficas em todo o terri­tório nacional, cabendo àquele a imposi­ção de multas e outras penas estabelecidasneste Regulamento.

Parágrafo único - Os exibidores de fil­mes são obrigados a apresentar ao S.C.D.P.,sempre que lhes fôr exigido, os certifica­dos de censura.

Art. 36 - Nenhum operador cinemato­gráfico de tomada de vistas (cu7neraman)estrangeiro, não residente no Brasil, pro­fissional ou turista, poderá utilizar apare­lhos cinematográficos no País, sem licençaespecial do S.C.D.P.. sob pena de apreen­são do aparelho e dos filmes.

Art. 37 - Nenhum filme brasileiro na­tural ou de entrecho, em positivo ou ne­gativo. poderá ser exportado sem licençaespecial do S.C.D.P,

~ 1.0 - Em se tratando de filmes nega­tivos, deverão ser revelados e copiados noBrasil, para a prévia censura.

~ 2.° - O S.e.D.p. negará a licença, se ofilme fi ser exportado contiver "7istas des­primorosas para o Brasil, estiver ma] fo­tografado ou não recomendar a arte na­cional no estrangeiro, ou ainda se conti­ver vistas de zonas Que interessem à de­fesa e segurança nacionais.

Art. 3B - Os importadores de filmes ci­nematográficos, dos chamados jornais ouatualidades e naturais. ficam obrigados a

190 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

adquirir anualmente no mercado cinema­togrãfico nacional, para exportação, filmesdêsse gênero, na proporção de 10% dosmetros que importarem anualmente.

Parágrafo único - :E:sses filmes serãoexaminadas previamente pelo S.CD.P., quedecidirá da conveniência ou não de seremexportados.

Art. 39 - Os produtores e operadores ci­nematográficos nacionais deverão ser re­gistrados no S.e.D.p.

§ 1.0 - Os produtores cinematográficosobterão o seu registro no S.C.D.P., medi­ante requerimento acompanhado dos se­guintes documentos; ficha de registro for­necida por êste serviço, devidamente pre­enchida, certidão de registro no Departa­mento Nacional de Indústria e Comércio,do MiniStério do Trabalho, ou em JuntaComercial da localidade onde funciona afirma produtora; prova de quitação do Im­pôsto de Indústrias e Profissões; prova dequitação do impôsto de localização (Pre­feitura); prova de quitação de impôsto sô­bre a renda; prova de obediência à lei dosdois terços.

§ 2.° - Os operadores cinematí\gráficosserão registrados também mediante reque­rimento instruído com os seguintes do­cumentos: ficha de registro fornecida peloS.C.D.P., devidamente preenchida; dois re­tratos de tamanho 3 x 4; carteira profis­sional.... , "' , '.' .

CAPíTULO XI

Da Fiscalização

Art. 107 - A fiscalização do S.e.D.p.será exercida por quatro fiscais, direta­mente subordinados ao Chefe do mesmoServiço.

Art. 108 - O Chefe do S.e.D.p. distri­buirá, eqüitativamente, entre os fiscais, osencargos da Fiscalização.

Art. 109 - Os fiscais deverão remetersemanalmente, ao Chefe do S.C.D.P., umrelatório indicando aS casas de diversõespúblicas fiscalizadas, as ocorrênCias que,por ventura, se tenham vel'ificado e (luaisos programas exibidos, nesse período, pe­las referidas casas de diversões.

Art. 110 - Os fiscais são obrigados acomparecer diàriamente ao S.C.D.P., a fimde receberem instruções do Chefe do re­ferido Serviço.

Art. 111 - Para os efeitos da fiscaliza­ção, a cidade fica dividida em quatro zonas,que serão oportunamente delimitadas, emPortaria, pelo Chefe do S.C.D.P,

Art. 112 - Cabe aos fiscais, sempre queconstatarem alguma infra<yá.O, lavrar o res­pectivo auto de infração, nos têrmos doart. 126, em duas vias, por êles assInadas.

Parágrafo único - Quando o infratorrecusar-se a assinar o auto de infração, ofiscal certilicará tal circunstância na viado auto de infração li ser encaminhada,dentro do prazo de vinte e quatro haras,ao Chefe do s.e.D.p.

CAPíTULO XII

Das Infrações ~ Das Penalidades - DoProcesso

Art. 113 - AO Chefe do S.C.D.P. com~

pete a imposição das penalidades previstasneste Capítulo.

Art. 114 - Das imposições de penalida­des e demais decisões proferidas pelo Chefedo S.C.D.P., caberá recurso da parte parao Chefe de Polícia do D,F.S.P.

Art. 115 - Os recursos referidos no ar­tigo anterior deverão ser interpostos, porescrito, dentro do prazo de 48 horas, acontar do momento em que a parte fôrnotificada da decisão determinante do re·curso.

Art 116 - A inobservância de qualquerdos dispositivos dêste Regulamento sUjei­tará o infrator à multa de Cr$ 100,00 aCr$ 5.000,00, elevada ao dôbro na reinci­dência.

Art. 117 - Aos empresários, Presidentesou Diretores de companblas teatrllols, cine­mas, cassinos, circos e de quaiSquer ou­tros estabelecimentos de diversões públicas,aos artistas em geral, chefes de orquestrae músicos e aos auxiliares teatrais, poderáser aplicada, alternativamente, a multaprevista no artigo anterior ou a pena desuspensão por oito dias a um ano.

Art. 118 - As emprêsas de diversões pú­blicas poderá ser aplicada, alternativamen­te. a multa prevista no artigo 116 ou asuspensão de funcionamento por oito diasa um ano.

Art. 119 - As companhias, sociedades ouemprêsas radiodifusoras (estações de rá~

dio) poderá ser a.plicada, alternativamen­te. a multa prevista no artigo 116 ou apena de suspensão por uma hora a 90dias.

JUNHO - 1964 191

Art. 12ú - Aos eXibidores clnematográ­ficos, além da penalidade previSta no ar­tigo 116, poderão ser aplicadas as seguin~

tes:

ai apreensão do filme;o) suspensão do funcionamento por 8

dias ti 1 ano;Cl cassação da licença para que seu es­

tabelecimentQ funcione.

Art. 121 - Aos produtores, comerciantese locadores de filmes poderá. ser aplicada,alternativamente, a multa prevista no art.116 ou a penalidade estatuida na alínea ado artigo anterior.

Art. 122 - A desobediência a qualquerdeterminação legal do S.C.D.P. será pu­nida com a mUlta prevista no art. 11.

Art. 123 - Serão também aplicadas, peloS.C.D.P., mais as seguintes penalidades:

a) por execução de obra musical nãoprogramada, multa de Cr$ 50,00 aCr$ 200,00 cada vez;

b) por ex.ecução de obra musical nãoautoriZada pelo autor - multa deCr$ 200,00 a Cr$ 500.00 cada vez;

c) por qualquer representação de peçateatral não programada - multa deCr$ 500.00 a Cr$ 1.000,00 cada vez;

d) por qualquer representação de peçateatral não autorizada pelo autor ­multa de Cr$ 1.000,00 a Cr$ 2.000,00cada vez.

Art. 124 - As penas pecuniárias esta­beleCidas neste capítulo são estipuladas;

al a favor da Casa dos Artistas, quan­do as infrações forem praticadas porartistas ou auxiliares teatrais, emteatros, cassinos e circos;

o) a favor da Associação Brasileira deRádio. quando se tratar de ÍIÚraçõ€spraticadas pelas companhias, socie­dades ou emprêsas radiodifusoras(estações de rádio) ou sem artistas,durante as irradiações.

Art. 125 - As infrações levadas ao co­nhecimento do S.e.D.p.• par intennéóio derepresentação escrita do interessado, serãoencaminhadas ao Chefe do mesmo Serviço.Que intimará o indiciado a apresentar jus­tificativa, por escrito, no prazo de 48 horas.

~ 1.0 - Se na justificativa apresentada.a juizo do Chefe do S.e.D.p., ficar plena­mente evidenciada a inculpabilidade do in­diciado, ou que motivo de fôrça maior de­terminou a infração, a representação serásumàriamente arquivada.

~ 2.° - Para o efeito do disposto noparágrafo anterior, nas infrações decor­rentes da obrigatoriedade da execução dosserviços contratados, são considerados mo­tivos de fôrça maior: doença atestada,nojo por falecimento de cônjuge. pais oufilhos, sevicias ou falta de recebimento desalários.

~ 3.° - Se, porém, não ocorrer um doscasos previstos no parágrafo 2.° dêste ar­tigo ou o indiciado desatender à intima­ção, o Chefe do S.C.D.P. mandará laVraro respectivo auto de infração, e baiXaráPortaria impondo a penalidade que Cou­ber, e o processo terá curso normal, nostêrmos do estatuido nos artigos seguintes.

Art. 126 - Quando a infração fór cons­tatada pela Fiscalização do S.C.D.P., o Fis­cal lavrará o competente auto de infração,em duas vias, uma das quais será entregueao infrator, e a outra encaminhada, den­tro do prazo de 24 horas, ao Chefe dos.e.D.p.

Art. 127 - As penalidades cuja impo­sição seja de competência do Chefe doS.C.D.P. serão cominadas por meio dePortaria, da qual poderão constar: o nomedo infrator, causa e local da infração, va­lor da multa, se se tratar de pena pe­cuniária, ou qualidade da pena, com es­pecificação de suas modalidades, quandose tratar de punições que não sejam pe­cuniárias.

Art. 128 ~ Autuada a Portaria, com orespectivo auto de infração, será o infratornotificado, por mandado, para, no prazoimprorrogável de 48 horas, a contar dadata em que fór feita a notificação, darcumprimento à cominação imposta, ouapresenta.r defesa.

Art. 129 - Apresentada a defesa, que sósera admitida. tratando-se de pena pe­cuniãria, quando acompanhada da provado depósito prévio da importância da mul­ta na tesouraria do Departamento Federalde Segurança Pública, será proferida adecisão final, confirmando, reduzindo, ourelevando a multa ou penalidade imposta,devendo ser fundamentados os motivos dadecisão.

Art. 130 - Confirmada a penalidade, enão sendo interposto recurso, será ela ime­diatamente executada, se não fór de natu­reza pecuniária, e, quando fór, será o de­pósito convertido em pagamento.

Art. 131 ~ No Caso de redução ou derelevação da multa pecuniária, restituir­se-á o excedente, no primeiro caso, e a

192 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

totalidade, no segundo caso, ao infrator,mediante requerimento seu, cumpridas asnecessárias formalidades.

Art, 132 - Quando o infrator deixar defazer o dePósito a que alude o artigo129 e a multa fôr, afinal, confirmada, se oinfrator não entrar com a importânciadentro do prlizo que lhe fõr marcado, oehefe do S.C.D.P. fará extrair certidã'Jdo despacho de condenação e, por ofício,a remeterá ao Procurador-Geral da Repú­blica para a competente execução.

CAPíTULO XIII

Disposições Finais

Art. 133 - Ficam revigorados o Decreton.o 5.492, de 16~7-1928, e o Decreto n.O 18.527,de 10-12-1928, e os demais dispositivos le­gais que se referem à censura das casasde diversões públicas, ao direito autoral eà locação de serviços teatrais, nos pontosque não colidam com os dispositivos dopresente Regulamento, ou que por êste nãofiquem revogados.

Art, 134 - A função gratificada. de Chefedo S,C.D.P. será exercida por um dos cen­sores, designado por Portaria do Chefe dePolicia do D.F.S,P. (')

Art. 135 - Os censores do S.e,D.p. usa­rão distintivo idêntico ao dos delegadosde Polícia, com os seguintes dizeres:"D.F.S.P. - Censura".

Art. 136 - Os casos omissos serão re­solvidos pelo Chefe do Serviço de Censurade Diversões Públicas, ouvido o Chefe dePolicia.

Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1946.

A. de Sampaio Dória

NOTAS

(I) Art. 4-", I _. Vide Decreto n." 1.134, de" d.e junho de 1962 ~ D.O. de 4-6-1962.

(2) Art. 31 - Passa a ter a seguinte reda­ção, pelo Decreto n," 22,014 de 31 de outu­bro de 1946:

"Fle& lnstltuida a "tal<l>. cinematográflcapara li educação popUlar", que será Cabra·da por metragem. à razão de Cr$ 0.40 pormetro linear. qUiLlquer que seja o númerode cópias.~ \." - 500 isentos dessa taxa 05 filmesedUcativos.§ 2." - 05 pedidos de revlsll.o ficaro su­jeItos à tau ':le Cr$ 0,20 por metro li-near."

{3) Art, 134 - Alterado pelos Decretos24.9lJ. de 6-~-48 ('l.O. de 6-0-48). e 26.964, de27-7-49 ID.O. de 29-7-491. este ultimo ~creto

dO. a a tliaI redação:

"Art. 134 - A função gratlflca<1a de Chefe(lo S,C.D,P. sera exercldll por servidor daUnião. designado por Portaria do Chefede P"licÍll.."

DECRETO H.o 30.179, DE 19·11-195\

Dispõe sôbre a ellibiç(Ía de filmesnacionais.

O Presidente da República, usando daatribuição que lhe confere o artigo 87 daConstituição e para melhor execução dedispositivos constantes dos Decretos-Leisn."> 1.949, de 30 de dezembro de 1939,8 .462, de 26 de dezembro de 1945, e De­creto n.O 20.493, de 24 de janeiro de 1946,decreta:

Art. 1.0 - Todos os cinemas existentesno Território Nacional ficam obrigados aexibir filmes nacionais de longa metra­gem, na proporção mínima de um nacionalpor oito estrangeiros.

§ 1.0 - Para os efeitos dêste artigo,será contada como exibição de filme es­trangeiro nôvo a apresentação repetidado filme estrangeiro além de seu períodohabitual.

§ 2.0 - A locação, no programa cine­matográfico, de filme nacional de longametragem, far-se-á pelo prazo de per­manência normal dos filmes estrangei­ros em caela casa exlbidora e abrangerá.obrigatoriamente. sábado e domingo, quan­do fór o caso.

Art. 2." - A falta do filme nacional,quando tiver êste de ser exibido nos têr·mos do arUgo LO, não isenta os cinemasda obrigatoriedade de inclui-lo em seusprogramas, Neste caso, a apresentação sefará dentro do quadrimestre em que se ve­rificou a falta do filme nacional, somen­te cessando aquela obrigatoriedade se oquadrimestre se escoar sem que o filmenacional seja fornecido aos exibldores.

Art. 3.° - As autoridades incumbidasda censura em todo o território nacionalnão darão visto e aprovação aos progra­mas cinematográficos, sem que lhes sejamapresentadas, pelos exibidores. as provasdo cumprimento do disposto nos artigosanteriores.

Art, 4.° - Da comprovação de que tra­ta o artigo anterior, deverão constar obri­gatoriamente:

a) o título do filme nacional progra­mado;

b) recibo, em duas vias, que demonstreo pagamento da renda do filme aoprodutor ou seu distribuidor;

c) duas vias do programa impresso nadata da última exibição do filme1)briga tório;

JUNHO - 1964 193

dI cópias da fatura do produtor ouseu distribuidor e dos bordenlUxde bilheteria referentes ao últimoiilme obrigatório apresentado;

eJ comprovantes das despesas realiza­das com a publicidade de quaisquerfilmes que tenham sido exibidos como filme nacional obrigatório.

Art. 5." ~ Todos os contratos de dis­tribuição de filmes nacionais estão sUjei­tos li reglstro no Serviço de Censura deDiversões públicas do Departamento Fe­deral de Segurança pública.

Art. 6." - A falta de filmes nacionaispara o cumprimento dêste decreto deveráser acusada pelo exibidor. por escrito, àsautoridades competentes, acompanhadade declaração expressa, nesse sentido, porpart.e do Sindicato das Emprêsas Cinema­tográficas do Rio de Janeiro ou de seusrepresentantes. Se a declaração fôr nega­da devera o exibidor fazer constar da co·municação êsse fato.

Art. 7." - As autoridades estaduais in­cumbidas de visar os programas, parao efeito de execução dêste decreto, deve­rão remeter as primeiras vias ao serviçode Censura de Diversões Públicas do De­partamento Feàeral de Segurança Púb1i­ca, arquivando nas repartições locais assegundas viM,

Art. 8.° - Os produtores ou seus distri­buidores passarão em três vias os reci­bos das locações de seus filmes de curtaou longa metragem: uma para o exibidore duas para autoridade competente do lu­gar em que o filme fôr apresentado.

Art. 9.° - Estará sujeito à penaUdadeprevista no artigo 120, letra a, do regula­mento baixado com o Decreto n." 20.493,de 24 de janeIro de 1946. o produtor quefornecer filmes nacionais de curta oulonga metragem por preços inferiores àtabela oficial, e com inobservància dodisposto nos parágrafos 5." e 6.° do artigo24 do mesmo regUlamento e dos artigos31 e 33 do Decreto-Lei n.O 1.949, de 30de dezembro de 1939.

Parágrafo úníco - Comprovada a in­fração de que trata o artigo anterior, po­derá também ser suspenso o funciona­mento do cinema por pra~o até doze me­ses. Ao distribuidor será aplicada multaaté cinco mil cruzeiros.

Art. 10 - O Serviço de Censura de Di­versões Públicas do Departamento Federalde Segurança Pública entrará em enten­dimentos com as autoridades estaduais,

para a fiscalização e contrôle da apresen­tação de filmes nacionais nas áreas res­pectivas. provendo relatórios quadrimes­trais, com a informação relativa à apre­sentação dêsses filmes nas diversas loca­lidades do Pais.

Art. 11 - O Serviço de Censura de Di­versóes Públicas do Departamento Fede­ral de Segurança Pública não permitiráa exibição de filme estrangeiro do tIpo"Atualidades", "Jornais", ou "Naturais",sem que Os interessados provem o cUln­primento do que se acha disposto no ar­tigo 38 do regulamento baixado com oDecreto n}' 20.493. de 24 de janeiro de1946.

Art. 12 - l!:ste decreto entrará em vi­gor na data de sua public.ação, revogadasas disposições em contrário.

Rio de Janeiro, em 19 de novembro de1951; 130." da Independência e 63," daRepública.

GETÚLIO VAIlGAS

Francisco Negrão de Lima

!'OT,\ - o art. L" do D~creto nO 30.179. de19 de novembro de 1951, teve lOL suaredação al terada pclos Decretos30.700. de 2-4-1952 m.o. 4-4-i952r;47.466. de 22·12-1959 lV.O. 28-12­1959), e finalmente o de n." 52.745.de 24 de outubro de 1963 (D.O.6-11-1963). que determina:

"Art. 1." - O art. L" do Decreton." 30.179. de 19 de novembro de1951, passa a ter a seguInte re­dação:

"Art. 1.0 - Todos os cinemas exis­tentes no Pais ficam obrigados aexibir filmes nacionais de longametragem dUrante, pelo menos,cinqüenta e seIs dias por ano,compreendendo. obrigatoriamen­te, por quadrimestre, o mjnimode quatorze dias, e. nes:;e total,dois sábados c dois domingos.

~ 1." ~ No caso da exibição d.programas dc;plos em que cons.te, além de filme nacIonal. umfilme estrangeIro. a contagemdo tempo, para os efeItos dêsteartJgo ficará, reduzida à me·tade.

~ 2." - As exibIções obrigatóriasde filmes nacionais far-se-áo peloprazo rnininlO de perrnanencianormal dos fi.1n:tes estrangeiros emcada casa eXibidora.

§ 3.° - De acôrdo com o desen­volvimento da produção nacional.será modificado o nÚmero de dias<\e exIbição obrigatório. de filmesele que trata éste Decreto."

194 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

DECRETO N.o 49.575, DE 22-12-1960

Cria a Escola Nacianal de Cinema.

o Presidente da República usando dantribuiçã.o qUe lhe confere o artigo n.o B7,ítem I, da Constituição, decreta:

Art. 1.0 - Fica criada. no Instituto Na­cional do Cinema Educativo, do Minis­tério da Educação e Cultura, a EscolaNacional de Cinema eERC.).

Art. 2.0 - A E.RC. ministrará ensinot~cnlc<l, de grau. médio, visando à. habili­tação, de modo geral, para o desempenhode atividadee. l'K\S diverros setores da artee d~l indústria do cinema.

Art. 3.° - A direção dn E.N.C. ficaráa cargo do Diretor do mencionado Insti­tuto. auxiliado por um Secretário.

ArL 4.° - A estrutura dos cursos daE.N.C., e bem assim as condições de ma­trícula e Q regime escolar, regUlar-se-ãopor Portaria do Ministro de Estado, oqual expedirá M demais instruções que setornarem necessárias para execução dêsteDecreto.

Brasilia, em 22 de dezembro de 1960;139." da Independência e 72.a da Repú­blica.

JUSCELINO KUBITSCHEK

CIÓ1>is Salllado.

O~CRno N.<) 51.106, DE 1-8-1961

DeHne o que POlSlI ser conside,odofilme brasileiro, paro 05 efeitos legais,e dó outnlS providencios.

o Presidente da República, usando d~s

atribuições que lhe confere o artigo B7,item I, da Constituição, e

Considerando ser indispensavel. para osefeitos legai~, a definição õo que possaser considerado filme brasileiro;

Considerando que, na falta dessa defi­nição, cumpre ao Govérno fazê-lo, a fimde melhor orientar a sua politíca cinema­togniJica, decreta:

Art. 1.0 - Para os efeitos legais, sàoconsiderados filmes brasileiros os que, noseu conjunto, contiverem as seguintes ca­racterísticas :

aI fár produzido por firma brasileira,regular e lcgaimf'nte estabt."lecida noBrasil :

b) fóI' falado em portugues:cl apresentarem, em sua ficha artística

e técnic:a, dois terços de brasíleiros

ou de estrangeiros residentes noBrasil há mais de dois anos:

di upresentar, em seu elenco, duastêrças partes de intérpretes brasilei­ros ou estrangeiros residentes noBrasil há mais de dois anos;

e' o que realizar tódas as cen1s deestúdio no Brasil;

.t) o que apresentar as trilh(ls sonorase a mixagem gravadas no Brasil;

g loque apresentar todos os negativose cópias para exibição no territ6rionacional revelados em laboratóriosbrasileiros.

Artigo 2.0 - Consideram-se componen­tes da ficha artlstica a que faz alusào 8

alinea e deste decreto, o produtor, di­retor, roteirista, argumentista, diretor defotografia, cenógrafo, diretor musical, edi­tor, engenheiro de som, coreógrafo, con·sultor de córes e figurinista.

Artigo 3.° - Entendem-se integrantes eloelenco, a que iaz referência a alínea ddeste decreto, todos os intérpretes de pr~­

senÇa marcante no mme ou que dêle par­ticipem em, pelo menos, uma seqüênciadialogada.

Art. 4.° - O filme brasileiro ficará su­jeIto a tõdas as exigências das leis, decre­tos e regulamentos, federaís e estaduais,alusivos à censura prévia estabelecida pe­la Constituição.

Art. 5.Q- :tl:ste decreto entrará em vi­

gor na data da sua publicação, revogadasas disposições em contrário.

Brasília, D. F., 1,0 de agõsto de 1961;140.0 da Independência e 73.° da Repú­blica.

JÂNI0 QUADROS

Oscar Pedr080 Horta.

iD.O. ~ 1-8-l96l ~ p,ig. 6.1171.)

DECRETO M.o 1 . 134 - DE " DEJUNHO DE 1962

Re>'oga o Decreto n.o 50.518, de 1d~ maio de 1961, que dispõe sôbre 11

fiscolíza~ão de filmes cinemotográficO$,e dó novo 'edo~õa.

o Presidente do Conselho de Minis­tros, usando das atribuições que lhe con­fere o art. 18, n? IH, do Ato Adicionalà ConstitUição Federal, decreta:

Art. LO - Fíca revogado o Decreto nú­mero 50.518, de 2 de maiO de 1961.

JUNHO - 1964 195~~-----_._-~-- _. ~- --_.-

LEI H.o 4.131, DE 3 DE SETEMBRO

DE 1962

Art. 5.0 - :tste decreto entrará em vi­gor na data de sua publicação, revogadasas disposições em contrário.

Art. 4.° - A falta da documentaçao exi­gida no artigo anterior importará naapreensão dos filmes, nos têrmos do De­crew n.O 39.499, de 3 de julho de 1956.

Brasília, em 4 de junho de 1962; 141."da Independência e 74.0 da República.

TANCREDO NEVES

Alfredo Nasser.

DECRETO H.o 52.405 - DE 27 DE

AGõSTO DE 1963

Art. 1.° - Os rendimentos oriundos daexploraçâo de pelícUlas cinematográficas.excetuados os dos exibidores não-impor­tadores, ficarão sujeitos ao desconto doimpôsto à razão de 40% (quarenta porcento), tendo o contribuinte direito aoptar pelo depósito no Banco do Brasil,em conta especial, de 40~J, (quarenta porcento) do impõsto devido, e podendo apli­car esta importância, mediante autori:l:a­ção do Grupo Executivo da Indústria Ci­nematográfica (GEICINE), criado peloDecreto número 50.278, de 17 de fevereirode 1961, na produção de filmes no País.nos têrmos do Decreto n.a 51.106, de 1."de agôsto de 1961.

Regulamenta o disposto no art. 45do lei n,o 4. 131, de J de S'etembrode 1962.

<0.0. 27-9-1962. Ret. 29-9-1962)o artJgo 45 da LeJ li. O 4.131, de 3-9-1962, foi

regulamentado pelo Decreto n.o 52.405, ele27-8-1963.

o Presidente da Repüblica, usando daatribuição que lhe confere o artigo 87,itero l, da Constituição, decreta:

nematografica (GEICINEl, criado peloDecrew n.O 50. 27B, de 17 de fevereiro de1961, na produção de filmes no País, nostêrmos do Decreto n.o 51.106, de 1.0 deagôsto de 1961.

pâg. 6.116.)(D.O. - 4-ô-1962

Art. 3.° ~ Somente o certificado de cen­sura federal a que se refere o artigo 5."do Decreto n? 20.493, de 24 de janeirode 1946, e a sua exibição pública jun­ta.mente com o filme censurado, consti­tuem a prova legal do cumprimento doartigo anterior.

Art. 2.° - Para os fins previstos noart. 4.°, item 1, do Decreto n.O 20.493,de 24 de janeiro de 1946, e do art. 146,item 1, alínea a, do Decreto número37.008, de 8 de março de 1955, fica oServiço de Censura de Diversões Públicas,do Departamento Federal de SegurançaPública, com podêres de exigir tóda a do­cumentação indispensável, sobretudo adua­neira, devidamente registrada no Bancodo Brasil, referente aos filmes cinema­tográficos, quer em positivo, quer em ne­gativo.

Disciplina a aplicaçéio do capitalestrangeiro e as remessas de valôrespara o exterior e dó outras providências.

Art. 45 - Os rendimentos oriundos daexplora.ção <te pellculas cinematográficas,excetuados os doS exibidol'~s não-impor­tadores ficam sujeitos ao desconw do im­pôsto à razâo de 40"~ (quarenta por cen­to), mas o contribuinte terá direiw aoptar pelo depósito no Banco do Brasil,em conta especial de 40% (quarenta porcento) do impõsto devido, podendo apli­car esta importância, mediante autoriza­ção do Grupo Executivo da Indústria Ci-

Parágrafo único ~ O contribuinte queusar o direito de opção previsto nesteartigo, deverá. comprovar o recolhimentodo depósito, dentro do prazo de recolhi­mento do impôsto, perante a respectivarepartição lançadora.

Art. 2.0 - A Fiscalização Bancária doBanco do Brasil S.A. sõmente autorizaráremessas de rendimentos para o exterior.a titulo de participação estrangeira naexploração de películas cinematográficasno País, após a comprovação do recolhi­mento do respectivo ImpJsto de Rend'l,bem como do depósito de que trata O artigoanterior, quando fôr o caso.

196 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Art. 3.° - Para obter a liberação do de­pósito o contribuinte deverá, no prazomáximo de 36 meses, a contar da datado recolhimento ao Banco do Brasil S.A.,apresentar ao GEICINE o proJeto de apli­caçâo dos recursos bloqueados, acompa­nhado dos seguint2S documentos:

a) certidão da repartição lançadora.do Impõsto de Renda, do seu do­micílio fiscal, de que foi efetuadoregularmente o recolhimento a quese refere o parâgrafo único do art.1.0, e de que a pessoa jurídica nãotem débito para com o Impôsco deRenda, o impósto adicional de rendac os adicionais restituíveis, ressal­vados os débitos pendentes de deci­são na esfera administrativa ou ju­dicial;

b) projeto de produção de fUme cine­matográfíco, obedecidas as exigên­cias do Decreto n.O 51.106, de 1.° deagôsto de 1961, ou acôrdos de co­produção, assinados entre o Brasile outros países, dentro de roteiroque fôr estabelecido pelo GEICINE.

§ 1.0 ~ O GEICINE somente apreciaráprojetos apresentados com a necessáriaclareza, quanto aos seus aspectos técnicose financeiros e com informações concre­tas sôbre a sua estrutura, que asseguremcondições para a SUa plena execução.

§ 2.° ~ O GEICINE terá o prazo de 63(sessenta) dias, a contar da apresenta­ção dos documentos e completa instruçãodo projeto, para manífestar-se sôbre opedido e autorizar o levantamento dos de­pósitos, até o limite do valor do projeto~provado.

} 3.° ~ Depois de aprovado o projetopelo GEICINE, o interessado terá o prazode 12 meses para efetivar e comprovar,perante aquêle órgão, a execução do fil­me proposto, bem como a exata aplicaçaodo depósito liberado.

Art. 4.° ~ A não-aplicação dos depósi­tos na produção de filmes no Pais, deacôrdo com as disposições do artigo 3,0déste Decreto, implicará na sua conver­são em receita da União, mediante comu­nicação, pelo GEICINE, á repartição lan­çadora do impósto.

Parágrafo unico ~ Caso o depósito, jáliberado pelo GEICINE. não venha a serapliClldo na produção do filme aprovado,o contribuinte deverá promover O seu re~

colhimentú à repartição arrecadadora,como diferença de impõsto acrescida da

multa devída pela falta do recolhimentono prazo legal, sob pena de cobrança ju­dicial, mediante ação executiva, feita acomunicação, pelo GEICINE, do não-cum­primento do projeto aprovado.

Art. 5." ~ Os contribuintes que tenhamoptado pelo depósito no Banco do BrasilS. A., poderão se associar, entre si oU comoutros produtores nacionais ou estrangei­ros, para a produção de filmes no Brasil,desde que obedecidas as condições impos­tas pelo Decreto n.O 51.106, de 1.0 de ag&­to de 1961, ou acôrdos de co-produçãoassinados pelo Brasil com outros paises.

Art. 6.° ~ Ao GEICINE e à Divisão doImpôsto de Renda compete, no 11mbltode suas atribUições privativas, expedir asinstruçôes que se fizerem necessárias àboa execução do presente Decreto.

Art. 7.° - :€ste Decreto entrará em vi­gor na data de sua. publicação, revogadasas diSpOSições em contrário.

Brasília. 27 de agôsro de 1963; 142." daIndependência e 75.° da República.

JOÃo GOULARTCarvalho PintoEgydio Michaelsen.

(0.0. - 2-9-1963.)

DECRETO H.o 1.462 - DE 18 DEOUTUBRO DE 1962

Reorganiza o Grupo Executivo daIndústria Cinemcltográfica <GEICINE).

O Presidente do Conselho de Mlnls­tros, usando da atribuição que lhe con­fere o art. 18, item IIJ, do Aro AdlcJonalà Constituição Federal, decreta:

Art. 1.0 ~ O Grupo Executivo da In.dústria Cinematográfica (GEICINE), cria.do pelo Decreto n," 50.278, de 17 de feve­reiro de 1961, e sob Jurisdição do MiniS­tério da Indústria e do Comércío, nostêrmos do Decreto número 751, de 19 demarço de 1962, passa a ter a seguinte or­ganização.

Art. 2.° - São membros do GEICINE:

I - representante do Ministério daIndústria e do Comércio, que seráo seu presidente;

II - representante do Ministério dasRelações Exteriores;

UI ~ representante do Ministérío daEducação e Cultura;

JUHHO - 1964 197

IV ~ representante do Ministério daJustiça e Negócios Interiores;

V - representante do Banco Nacionaldo Desenvolvimento Econômico;

VI - representante da Carteira de Cré­dito Agricola e Industrial doBanco do Brasil S, A.;

VII ~ representante da Superintendên­cia da Moeda e do Crédito;

VIII - representante da Carteira de Co­mércio Exterior do Banco do Bra­sil S. A.;

IX - representante do Conselho de Po­]fUca Aduaneira,

Parágrafo único - Os representantes aque se refere o presente artigo serão indi­cados pelos titulares dos respectivos ór­gãos.

Art. 3.° - O GEICINE tem como finali­dade e atribuições:

al propor às entidades oficiais, especlfi­camente incumbidas de prover crédi­tos, critérios de financiamento paraa indústria cinematográfica e paraprodução de filmes;

b} sugerir normas referentes à importa­ção, nomenclatura aduaneira, revi­sào de tarifas e classificação de mer­cadorias;

cl preparar mão-de-obra especializada(técnlcos e atores), em articulaçãocom órgãos públicos e particulares, li­gados ao assunto no Pais;

d) estimular o funcionamento das enti­dades culturais cinema tográficas;

el promover estudos sôbre as entidadesindustriais de cinema do Pais, no quediz respeito às suas condições técni­co-financejras, propondo as medidasnecessárias ao seu desenvolvimento,dentro dos planos nacionaiS cinema­tográficos;

f) promover, junto aos governos esta­duais e municipais, estudos de medi­das e sugestões que venham a facili­tar os planos naCionais de cinema:

gl supervisionar, por iniciativa própria,ou em colaboração com outro~ órgãosdo Govêrno, a execução de diretrizese projetos relativos à indústria de ci­nema;

h) sugerir normas para a censura de fil­mes e para a fiscalização das leis deestímulo ao cinema brasileiro;

i) definir a política nacional de preçosde ingressos, tendo em vista as neces­sidades da produção, distribuição eexibição de filmes no Brasil.

Art. 4,° - Das decisões do GEICINE ca­berá recurso, com efeito suspensivo, parao Ministério da Indústria e do comércio,desde que impetrado no prazo de dez diasda comunicação do ato recorrido.

Art. 5.° - A execução orçamentária des­tinada ao funcionamento do Grupo seráefetuada mediante plano de aplicação,apresentado pelo presidente do GEICINEe aprovado pelo Ministro da Indústria e doComércio.

Art. 6,° - O presidente do Grupo seráassistido por dois assessores e pessoal au­xiliar que solicitar ao Secretário da Indús­tria,

Parágrafo umco - Os estudos de natu­reza técnica e os serviços administrativosindispensáveis aos trabalhos do GEICINEserão realizados pela Secretaria da Indús­tria, através de seus órgãos permanentes,

Art. 7.° - Compete ao Presidente doGEICINE:

aí superintender e dirigir os trabalhosdo GEICINE e representá-lo oficial­mente;

bl promover e coordenar medidas relati­vas ao desenvolvimento da indústriacinematográfica nacional, submeten­do à decisão do GEICINE as que fo­rem da competência dêste;

Cl compor, em caráter excepcional e aprazo certo, grupos de trabalho paraestudo dos projetos submetidos aoGEICINE;

di convocar e presidir as reuniões doConselho Consultivo do GEICINE.

Art. 8,° - O GEICINE será assistido porum Conselho Consultivo, constituido porrepresentantes de setores relacionados coma indústria cinematográfica, a saber:

I - representante da critica cinema­tográfica;

II - produtor de cinema;

In - representante de laboratórios eestúdios cinematogràficos;

IV ~ representante de emprêsas decurta metragem;

V - representante de técnicos e ato­res de cinema;

198 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

VI - representante de entidades cultu­rais de cinema:

VII - representante de exibidores de cí-

nema;

VIII -- representante de distribuidores decinema:

Puigrafo único - A designação dosmembros do Conselho Consultivo doGEICINE é feita pelo Ministro da Indús­tria e do Comércio.

Are. 9." - Compete ao Conselho Consul­tivo:

a) manifestar-se sõ!;)re GuaisQuer assun­tos da competência do GEICINE,quando solicitado pelo seu presidente:

b I sugerir medidas convenientes às ta­refas do GEICINE.

Art. 10 ~ Todos os órgãos da Adminhitra­~ão Federal deverão prestar ao GEICINErt colaboração que lhes f6r solicitada, in­clusive sob a forma de trabalhos técnicos.

Art. 11 - O GEICINE aprovará o seuregimento interno.

Art. 12 - kste decreto entrará em vigorna data de sua publicação, revogadas asdisposições em contrário.

Brasília, em 18 de outubro de 1962; 141"da Independência e '74" da República.

HERMES UM/\ .- Jodo Mangabeira - Pe­dra Paulo de Araújo SnzUlUl - AmauryKruel - Miguel Calmon - Hélio de Al­meida - Darcy Ribeiro - João PinheiroNeto - Reynaldo de Carvalho Filho -­Eliseo Paglioli - Octávio AugU8to DiasCarneiro - Eliezer Batista da Silva _.Celso Monteiro Furtado.

(D.O. - 19-10-62 - pá!;. 11.011.)

CONCLUSÃO

Concluindo o seu relatório sõbre as in­vestigações realizadas pela Comissão Par­lamentar de Inquérito, instituida na Câ­mara dos Deputados p.11'.l estudar o pro­blema da Indústria Cinematográfica Na­cional e estrangeira, a.~sinalou o SenhorEwaldo Pinto que "o cinema brasileiro éhoje um problema de interesse nacional,é um problema do Govêrno'·.

Foram as seguintes as Conclusões damencionada Comissão:

a \ a medida fundamental para que seconsolide e prosp2re a Indústria Ci­nematográfica Né'.cional reside na

r..doçã.o, por ]Jarte do Governo, deuma POLíTICA CINEMATOGRA­FICA BRASILEIRA baseada na de­fesa efetiva do mercado nacional,preferencialmente para o filme bra­sileiro e no oferecimento de substan­ciais €stimulos fínanceiros à produ­ção de filmes nucionais;

b) o Governo poderá, de imediato, ado­tar as seguintes medidas:

I - criação do Instituto Nacionalde Cinema, nos termos doproposto pelo Grupo Exe­cutivo da Indústria Cinema­wgráfica;

II - aprovação do projeto quevisa criar condições para aimplantação da indústria defilme virgem no Brasil (emtramitação no Senado);

UI - aprovação do Projeto nú­mero 3.386, de 1961, relativoà importação de equipamen­tos cinematográficos (retidona Câmara);

IV ~ aprovação do anteprojeto. delei que dispõe sóbre a dis~

tribuição compulsória de filomes nacionais por tôdas asdistribuidoras do Pais (ela­borado pelo GEICINE e ain­da não enviado !la Con­gresso Nacional);

V - aprovação do anteprojeto delei que visa estabelecer a ín­cidência do Impôsto de Con­sumo sõbre filme impresso;

VI ~ aplicação de medidas agres­sivas com Vistas à exporta­ção doS filmes brasileiros:

VII - providências que facilitem,temparàriamente, a importa­ção de filme virgem. en­quanto não se inicia a faori­cação do filme virgem noPais:

VIU -- fixação de censura única,federal;

IX - medida de apoio efetivo àampliação e desenvolvimentode cinematecas;

x - desenvolviment o e amplia­ção de prêmios municipais,estaduais, aos produtores defilmes brasileiros.

CONSELHODEDEFESADOSDIREITOSHUMANOS

LEGISLAÇÃO

LEI N.o 4.319 - DE 16 DE MARÇO DE 1964

C,ia o Conselho de Defesa dos Direitos daPessoa Humana.

Faço saber que o Congresso N:lcianal decretoc eu sanciono o seguinte lei;

Art. 1,° - Fica criado no Ministério da Justi­ca e Negócios Interiores o Ccnselhc de Defesa dosDireitos da Pessoa Humano,

Art, 2.° ~ O C.D.D,P,H. seró integrado pelosseguintes membros: Mínístro da j ustíço e NegócíosInteríores, Presidente do Conselho Federal dCl Or­dem dos Advogados do Brasil, Profess:Jr Catedróti­co de Direito Constitucional de uma dos FaculdadesFederaís, Presidente da Associaçõo Brasileira de im­prensa, Presidente do Associocão Brasileiro de Edu­cacão, Líderes do Maioria e da Minoria na Cómarado~ Deputodas e no Senodo.

§ r.o - o Prafessor Catedrático de DireitoConstitucional será indicado pelos demais membrosdo Conselho em sua primeiro reunião,

§: 2,0 - A Presidência do Conselho caberá 00

Ministro do Justiça e Negócios Interiores e o Vice­Presidente será eleito pelo m::liOria dos membros doConselho,

Art. 3° - Os membros do C.D,D.P,H. e osecretário que fôr designado pelo Ministro do J us­tiça receberão o jeton de presença de Cr$ 500,00(quinhentos cruzeiros) por sessão, até o máximo dequatro sessões mensais.

Art, 4,° - Compete 00 Conselho de Defesados Direitos da Pessoa Humana:

10- promover inquéritos, investigações e

estudos acêrca da eficócia d.:ls norm:Js oS5<,gurodo­f as dos direitos da peSSOa humana, inscritos naConstituição Federal, no Declaração Americana dosDir~·itos e Deveres Fundamentais do Homem (1948)c· na Declaracão Universal dos Direitos Humanos(1948); ,

2.° - promover o divulgaçao d'J conteúdo eda significação de cada um dos dire'tos do pessoahumano medi<:mte conferencias e debates em univer­sidades, escolas, clubes, associaçoes de classc e sin­dicatos, e por meio da imD,cnD, d; rádio, da tele~

visão, do teatro, de livros c folhe~'-'s;

3.c _ promover na:;; orC:JS G,U:'- apresentemmaiorcs índices de violoção dos dir2itüs hum:Jnos:

(I) a realização de inquêritos poro íll"/estigoras suas causas e sugeri r rnedid~s tendentesQ assegurar Q plenitude do gó>o daquelesdireitos;

b) componho de esclarecimen i'" e divulgação;4.° - promover inquerltos c investigações

nas áreas onde tenham ocorrido fr::UG0S 2!citoroisde maiOres proporções, paro ° fim de sugerir asmedidas capazes de escoimor de vícios os pleitosfuturos;

5° - promover a realização de cursos diretosOU por correspondência que cancorr~m paro o oper-

200 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA-~--~----~

feiçoamento dos serviços policiais, no Queconcerne ao respeito dos direitos do pessoahumano;

6° - promover entendimentos com osgOvernos dos Estados e Territórios cujos au­toridades administroti ...as ou policiais se re­velen1, no ~odo ou em porte, incapazes decssegurar a proteção dos direitos da pessoahumano, poro o fim de cooperar com osmesmas no reformo dos respectivos servi­cos e na melhor preparação profissional e~ívica dos elementos que os compõem;

7,° - promover entendimentos com 05

governos estaduais e municipais e com odireção de entidades autórquicos e de ser­viços autônomos que estejam, por motivospol iticos, coagindo ou perseguindo seus ser­vidores, por qualquer meio, inclusive trans­ferências, remoções e demissões, a fim deque tais abusos de poder não se consumam

ou sejam, afinal, anulados;

8° - recomendar ao Governo Federal eaos dos Estados e Territórios o eliminação,do quadro dos seus serviços civis e milita­res, de todos OS seus ogen~es que se reve­lem reinciden~es na prótica de atos violado­res dos direitos do pessoa humana;

9,° - recomendo r o aperfeiçoamentodos servicos de polícia técnica dos Estados eTerritóri~s, de modo a possibilitar a compro­vação da autoria dos delitos por meio deprovas indiciários;

10 - recomendar 00 Governo Federal oprestação de ajuda financeira aos Estadosque nõo disponham de recursos para a reor­ganização de seus serviços policiois, civis emilitares, no que concerne à preparaçõo pro­fjssional e cívica dos seus integrantes, tendoem vista a canclliaçõo entre o exercício da­quelas funções e o respeito aos direitos dopessoa humano;

11 - estudar e propor 00 Poder Exe­cutivo a organização de uma dí ...isãaministerial, íntegradu também por órgãosfçgionais, poro o eficiente proteçõo dosdi r~itos da pessoa humano;

12 - estudm a aperfeiçoamento do le­gislação administro1iva, penal, civil, proces­sual e trabalhista, de modo a permitir aeficaz repressão das violações dos direitos dopessoa humana por porte de particulares oude servidores públicos;

J3 - receber representações que conte­nham denúncias de violações dos direitos dapessoa hum:Jno, apurar sua procedência etomar providências capazes de fazer cessaros abusos dos particulares ou das autorida­des por êles responsÓveis.

Art. 5° - O C.D.D.P.H, cooperarácom a Organizaçõo das Noçães Unidos noque cancerne à iniciativa e à execução demedidas que visem a assegurar o efetivorespeito dos direitos do homem e dos liber­d;Jdes fundamentais,

Ar!. 6.° - No exercício das atribuiçõesque lhes sáo conferidos por esta lei, pode­rão o C.D.D,P,H, e 05 Comissões de Inqué­rito por êle instituídos determ'lnar os dili·gências que reputarem necessários e tomaro depoimento de quaisquer autoridades fe·derais, estaduais ou municipais, inquirir tes­temunhos, requisitar às repartições públicasinformações e documentos, e transportar-seaos lugares onde se fizer mister sua presen­ça.

Art. 7.° - As testemunhos serõo inti·modas de acôrdo com 05 normas estabeleci.das no Código de Processo Penal.

Parágrafo único - Em caso de não com­parecimento de testemunhas sem motivojustificada, a sua intimação será solicitadoao Juiz Criminal da localidade em que resi­da ou se encontre, no formo do art, 218 doCódigo de Processo Penal.

Art, 8,° - Constitui crime:

1 - Impedir ou tentar impedir, meô'lonteviolência, ameaças ou assuodos, oregular funcionamento do C,D.D.P,H,ou de Comissão de Inquérito por êleinstituído ou o lillre exercido dosatribuições de qualquer dos seusmembros,Pena - o do art. 329 do CódigoPenal.

II - Fa~er afirmação falso, negar ou co­lar a verdade como testemunha, pe­rito, tradutor ou intérprete peran~e

(I C.D.D,P.H. ou Comissõo de In­quérito por êle instituída.Peno - o do art. 342 do CódigoPenaL

Art, 9° - No Orçamento da Uniõo se·rei incluida, anu;Jlmente, a verba de ",.Cr$ 10,000,000,00 (dez milhões de cru·zeiros), para atender às despesas de quol.quer natureza do Conselho de Defesa dosDirei tos da Pessoo Humano,

Art. 1O-A presente lei entrará emvigor na doto de sua publicoçõo, revogadosas disposições em contrório,

Brasília, em 16 de março de 1964; 143,°da Independência e 76° da Repúbllco.

JoÃo GOULART - Abelardo Jurema.

D.O. 20-3-64,

JUNHO - 1964 201

ELEIÇÃO DO

PRESIOENTE E DO

VICE-PRESIDENTE

DA REPÚ BLlCA

PELO CONGRESSO

NACIONAL

LEI :"Lo 4.321 - DE 7 DE ABRIL DE 1964

Dispõe sôbre a eleição, pelo Congresso~acional, do Presidente e Vice-Presi.dente da República.

o Presidente da Clmara dos Deputados,no exercício do cargo de Presidente d~ Repú­blica,

Faço saber que o Congresso :':acionaldecreta e en sandono a seguinte lei:

Art. 1.0 - Vagando os cargos de Presi­dente e Vice-Presidente da República, na se­gunda metade do período presidendal, far­se-á eleição pejo Congresso :\aeional, paraamhos os cargos.

Art. 2.0 - Para essa eleíçao, o CongressoNacional será convocado por quem se encon­tre no exercício da Presidcncía do Senado,mediante edital publicado no Diário do Con­gresso Nacional, com a antecedcncia de, pelomenos, 48 <quarenta e oito) horas, e do qualdeverá constar a data e hora da sessão.

Art. 3,° - A sessão, sob a direção dai\-tesa do Senado Federal, será aberta na huramarcada e, logo (lHe se verificar a presençada maioria dos Congres8istas, inidar-se-á achamada para a votaçao.

Parágrafo único - A sessão não deixarúde ser aberta nem será suspensa por falta elequorum, devendo prosseguir até que este severifique, vote, pelo menos, a mencionadnmaioria e termine o proc.:esso de votaçao, coma proclamação dos eleitos.

Art. 4.0 - A eleiçáo processar-se-á me­diante voto secreto e em escrutínios distintos,o primeiro para Presidente, c o outro, paraVice-Presidente.

Art. 5, () - Observar-se-ú na votação oseguinte:

(I) as cédulas poderão ser impressas oudatilografadas e l'onterão apenas a de­signação da eleiç3.o e o nome do can­didato;

202

1» o Congressista chamado receberáuma sohrecarta opaca, ingres­sará em gahinete indevassável ecolocará na sobrccarta a c(\lulade sua es(;olha;

c) ao sair do ~ahillete exihirá paraa ~r.esa a sobrecarta fechada e,verificando-se ser a mesma quelhe foi r'ntn'guc, a dqmsitar:l nauma.

§ 1.0 - Antes de aberta a urna po­derá votar (\ualquer memhro do Con­gresso quc não o haja feito quando(;hamado.

§ 2,° - As sobn'cartas distribuídasdeverão ser rigorosamente uniformes.

§ 3.° - Concluída a chamada e ha­vendo votado li maioria ahsoluta dosCongressistas, a ~,ifesa, na presença de{Im Senador e de um Deputado, con­vidados para escrntinadores, proce­derá à apllfação.

§ 4.° ~ O Presirkntc da Mesa ahri­rú a sobrecarta e leú cada cédula, cu­lJendo aos secretários c escrutinado­l'es a contagem e anotaçw d'os votoslidos.

§ 5.0 - Considerar·,~('-á eleito o can­didato que alcançar () voto da maio­ria ahsoluta dos memhros do Con­gresso Nacional.

§ 6,0 - I\'ão sendo obtida a maio­ria absoluta, por 'fual<luer dm candi­datos, repetir-se-á o escrutíllio,

§ 7.° - Se, apús dois escrutínios,nenhum candidato alcans'ar a maio­ria absoluta dos sufr{lgios, ('onsiderar­sc-á eleito aCludc ({tlt'. tiO terceiro, ob­tiver a maioria dos \'otos apurados c,no casO de empate. o mais idoso.

§ 8.0 - Proclamado o resultado d,leleição, suspender-se-ú imediatamentea sessão pelo tempo lH:'l'Pssárío a quese lavre a respectiva ata, a qual, rea­hertos os trabalhos, serú submetida úaprovação dos Congressistas, indepen­dentemente de quo l'fI11I ,

9,9,lJ -: A ata da sessão da eleiçãoregIstrara os nomes dos Congressistas

que votaram e os dos que deixaramde votar.

§ 10 - Antes de encerrados os tra­balhos, o Presidente da Mesa cnnvo­eará o Congresso Nacional a fím dereceber o compromisso do Presidentee do Vice-Presidente da República, naforma do art. 41, item IH, da Cons­tituição Federal.

Art. 6.° - Sinnente da matéria daeleição do Presidente e do Vice-Pre­~idente da Repú\)\ica se poderá tratarna sessão a ela destinada.

Art. 7.0 - Nos casos omissos, obser­var-se-á o disposto no Regimento Co­mum do Congre,~so Nacional.

Art. 8.° - Esta Lei entrará em vi­gor na data de sua publicação, Tt'­vogadas as disposições em r:ontrário.

Brasília, 7 de abril de 1964, 143. ()da Independência e 76.0 da República.

RA:-iIERI MAZZILU

Luís Antônio da Gama e Silva~~-

0.0. 8-4-1964.

ATO INSTITUCIONAL

Art. 2.° - A eleição do Presidentec .do Vice-Presidente da Hepública,cUJos mandatos terminarão em trintae u~ (31) de janeiro de 1966, seráreahzada pela maioria absoluta dosmembros do Congresso l\acional, den­tro de dois (2) dias a contar desteAto, em sessão pública e votação no­minal.

§ l.~ -.Se não f~r obtido o quorumna pnmelfa votaçao, outra realizar­se-á, no mesmo dia, sendo consideradoeleito quem obtiver maioria simplesde. votos; no caso de empate, prosse­~nr-~e-á na votação até que um doscandIdatos obtenha essa maioria.

§ 2.° - Para a eleição regulada nes­te artigo, não haven'l inelegibilidades.

0.0. - Seçâo r, Parte r - 11 de abrll de111M, pág. 3.251.

JUNHO - 1964 203

ELABORAÇAO

ORCAMENTARIA,

lEI N.O 4.320 - DE 17 DE MARÇO DE 1964 (*)

Estatu; NorjyJo$ Geraís de Direito Finonc:elroporo elo&oroC;éio e c:ontróle dos orçamentos ebalonc:os do União, dos Estados, dos Munic:í·pios ~ do Distrito Federal.

Faço saber que o Congresso Nacional decre~a eeu sanciono:

DISPOSiÇÃO PRELIMINAR

Art. 1.0 - Esta lei estatui normas gerais deDireito Fin"Jnceiro paro elaboração e contrô\e dosorçamentos e b:dancos da União, dos Estados, dosMunicípios e do Distrito Federal, de ocõrdo com odisposto no arL 5°, inciso XV, letra b, do Cons­tituição Federal.

TiTULO

Do lei do Orçamento

CAPITULO

Dísposições Gerais

Art 2." - A Lei de Orcamenta conteró a dis­crimin:tção da receita e desp~so, de forma o eviden­ciar o polihco econômico-financeiro e o programode tr(Jbalho do Govêrno, obedecidos os princípios deunidade, universalidade e anual idade,

§ 1.0 ~ Integrarõo a Lei de Orçamento:I - sumório gerol da receita, por fontes, e, do

despesa, por funções do Govêrno;II - quadro demonstrativo da Receita e Des­

pesa, segundo as Categorias Econômicas, naforma do Anexo n,a 1;

III - quadro discriminativo da receita, por fon­tes, e respectiva legislação;

IV - quadro dos dotações por órgãos do Govêr­no e do A.dministraçõo.

§ 2.0 - Acompanharão o Lei de Orçamento:I - quadros demonstrativos da receita e planos

de aplicação dos fundos especiais;11 - quadros demonstrativos da despesa, na for~

ma dos Anexos n.0s 6 o 9;1II -- quadro demonstrativo do programa anual

de trabalho do Govêrno, em térmos de rea­lizacoo de obros e de prestação de serviços.

Art, 3.0 -- A Lei de Orçamento compreenderátôd,as os receitas, inclusive os de operações de cré­dito autorizados em lei,

Porógrofo unico - Vetado [1).

I") Em 4 de maio de 1964, o Sr. Presidente da Repú­blica promulgo\, as partes vetadas e mantidas peloCongresso Nacional 10.0. 5-5-1964).

11) Veto l'ejeltado p ..lo Congresso. F a seguinte a reda-ção do parágrafo único:

"Não se consideram. para os fins dêste artigo.RS operações de crédito por antecipação de re­ceita, as cmissões de papel-moeda e outras en­nadas compensatlvas no a.tivo e passivo flnaIl­ceiros."

204 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Art. 4.0 - A Lei de Orçamento corn­Çlreender<Í tôoos os despesas próprios das ór­gõos do Govêrno e do administraçõo cen­tralizado, ou que, por intermédio dêles, sedevam realizar, abservudo o disposto no ar­tigo 2.0.

Art. 5° - A Lei de Orçamento nó.>consignará dotações glebais destínadas .:l

o~ender indlferentem2nte a despesas de peso5001, material, serviços de terceiros, trans­ferências ou qu:úsquer outras, ressalvado odisposto no ortigo 20 .~ seu parágrafo único.

Art. 6.° - Tódos as receitas e despesasccnstarão do Lei de Orçamento pelos sewstotois, vedadas quaisq:Jer deduções.

§ 1.0 - As cotas de receitas que um(Jcntid:Jde pública deva transferir o outra, in­cluir-se-õo, como despesa, no orçamento docn~idade obrigado ô tlansferência e, comoreceito, no orçamento do que os devo re­ceber.

§ 2° - Vetado (:!l.

Art. 7° - A Lei de Orçamento poderáconter autorização 00 Executivo para:

I - Abrir créditos suplementares atédeterminado importância (vetCl­do) (:{).

II -- Realizar, em qualquer mês doexercício finu(lceiro, operações decredito por antecipação da receit·.J,para atender a insuficiências decoixa.

§ 1.0 - Em casos de defic:it, o Lei deOrçamento indicaró us fontes de recursosque o Poder Execwtlvo fico autorizado autilizar para atender ~ wa cobertura.

§ 2° -- O produto estimado, de apera­coes de crédito e de uilcnaçõo de bens imó­veis, somente se incluirá no receito quandoumas e outras torem especificamente auto­rizados pelo Poder legislativo em formoque ;urldicamente possibilite ao Poder Exe­cutivo realizó-las no 2xzrcícia.

§ 3. 0 - A autorização legislativa aqiJe se refere o poró](ofo anterior, no to­cante a operações de crédito, poderá cons­tar da própria Lei de Orçamento.

( 2) Veto rejeitado pelo Congresso Nacional.É li seguinte a redaçlio do § 2.0 doart. 60:

"Para cumprimento do disposto no pa­rágrafo anterior, o cl!llculo das cotasterá por base os dados apurados nobalanço do exercício anterior ~queleem que sc elaborou a proposta orça­mentária do aovêrno obrigado à trans­ferência."

( 3} Veto rejeItado pelo Congresro Ne.clonal.Jt 1\ segu In te 1\ redaçáo do incLso 1 doart. 70:

"Abrir créditos suplementares até de­terminade. lmportànela, obedecidas asdisposições do artif(o 43."

Art. 8° - A discrimInação da receitogeral e da despesa (je cada órgão do Go­vérno ou unidade administrativo, o que serefere a artigo 2°, § I?, incisos 111 e IV,cbedeceró à forma do I'nexo n,o 2.

§ 1.° - Os itens do discriminação dareceito e da des;:Jeso, mencionados nos ar­tigos 11, § 4,0, e 13, serão identificados pornúmeros de códig) decimal, no formo dosAnexos n.o' 3 e 4.

§ 2.° - Complet:lõõo os números do có­digo decimal referido no parógrafo ante·rior os algarismos coracterizadores do clas­sificação funcional da despesa, conformeestabelece o Anexo n." 5.

§ 3.0- O código geral estabelecido

nest:r lei nó:> prejudicClrá o adoção de Có'digas locais.

CAP[TU:..O 11

Da Receito

Art. 9.° Vetado (4).

Art. lO - Vetado (~).

Art. 11 - A receito classjficar-se-á nasseguintes categarias econômicos: ReceitasCorrentes e Receitas de Capital,

§ 1.° - São Recel tos Correntes as re­ceitas tributário, patrimonial, industrial e di·versos e, ainda, os provenientes de recursosfinanceiros recebidos de outras pessoas de dj·reito público ou privado, quondo destina·das o atender desPçsas classificáveis emDespesas Correntes,

§ 2.0 - Sõo Receitas de Capital asprovenientes do realizaçõo de recursos fi­nanceiros oriundos de constituiçõo de dívi­das; d.::J c:nversão em espécie, de bens e di­reitos; os recurs~s recebidos de outras pes­scos de direito público) ou privado destina·dos o atender despesas classificóveis emDespesas de Capital e, ainda, o supero"itdo Orçamento Corrent~.

§ 3.° - O supera ...it do Orçamento Cor­r.mte resultante do balanceamento dos to­t:lis dos receitas e despesas correntes, apu­rado no demonstração o que se refere oAnexo n.° 1, não constituirá item do re­ceito orçamentário.

(4. Veto rejeitado pelo Congre:;so Nac1oue.1.É e. seguinte a redaçáo do art. 9.0:

"Tributo é a receita derivada, lneti­tuidl\ pelas entidades de direito pú­bliCO. compreendendo os Impostos, astaX9.8 e contribuições, nos térmos daConsUtuiçl\o e das leis vigentes emmatéria flnanceira, destinando-se o IlCUproduto ao custeio de atividades ge­rais ou especiC1C&s, exerclde.s por essasentidades. "

( 5) Veto mantIdo pelo Congresso NacIonal.

JUNHO - 1964 205

§ 4.° - A classificação do receito porfontes obedecerá 00 ~eguinte esquema:

RECEITAS CORRENTES

Reeeita Tributária

ImpostosTaxasContribuições de Melhoria

Receita Patrimonial

Receitas ImobilióriasReceitas de Valôres MobiliáriosParticipações e DividendosOutros Receitas Patrimoniais

Receito Industrial

Receito de Serviços 'ndustriaisOutros Receitas Industriais

§ 2. 0 - Classificam-se como Transfe­rências Correntes as dotações poro despesas,ás quais nõo corresponda contraprestaçãodireta em bens ou serviços, inclusive paracontribuições e subvenções destinadas aatender u manutençõo de outros entidadesde direito público ou privado.

§ 3.° - Consideram-se subvenções, parocs efeitos desta lei, as transferências desti­nados o cobrir despesas de custeio das en­tidades beneficiados, distinguindo-se como:

I - subvencões sociais, os que Se des­tinem -o instituições públicos ouprivadas de caróter assistencialou cultural, sem finalidade lucra­tivo;

II - subvenções económicas, os que sedestinem a emprêsas públicos ouprivados de caráter industrial, co­merciai, agrícola ou pastoril.

§ 4 0 - Classificam-se como Investi­mentos os dotações por:! o planejamento eo execução de obras, inclusive os destina·dos a aquisição de imoveis considerados ne­cessários à realizaçõo destas últimos, bemcomo poro os programas especiais de tra·bolha, aquisição de instalações, equipamen­tos e material permanente e constituiçã::> ouaumento do capital de emprêsas que n6asejam de caróter comerciol ou financeiro.

§ 5.° - Classificam-se como InversõesFinanceiras os dotações destinados à:

Transferêncios Correntes

Receitos DiversosMultasContribuiçõesCobrança do Dívida AtivoOutros Receitas Diversos

RECEITAS DE CAPITAL

Operações de CrédituAlienação de Bens Móveis e ImóveisAmortização de Empréstimos ConcedidosTransferências de CapitalOutras Receitas de Capital.

CAPITULO III

Do Despeso

Art. l2 - A despesa será classificadanas seguintes categorias econômicos:

DESPESAS CORRENTES

11

111-

aquisição de imóveis, ou de bensde capital já em utilização;aquisição de títulos representati.vos do capital de emprêsas ou en­tidades de qualquer espécie, jáconstituídas, quando o operaçãonão importe aumento do capital;constituicõo ou aumento do capi­tal de e~tidades ou emprêsas quevisem o objetivos comerciais oufinancei ros, inclusive operaçõesbancá ri os ou de scg uros .

Despesas de CusteioT ronsferênCias Correntes

DESPESAS DE CAPITAL

InvestimentosInversões FinanceirasTransferências de Capital

§ 10 - C1assificam~se como Despesasde Custeio os datações poro manutenção deserviços anteriormente criados, inclusive osdestinados o atender o obras de conserva­ção e adaptação de bens imóveis.

§ 6°. - São Transferências de Capitalos dotações paro investimentos ou inversõesfinanceiros que outros pessoas de direito pú­blico ou privado devam realizar, indepen­dentemente de cantraprestaç60 direto embens ou serviços, constituindo essas trans­ferências auxílios ou contribuições, segundoderivem diretamente d:J Lei de Orçamentoou de lei especial anterior, bem como osdotações paro amortização do dívida pú­blica.

Art. 13 - Observadas as categorías eco­nômicos do art. 12, o discriminação ou es-

206 REVISTA DE II'lFORMAÇAO LEGISLATIVA

pecdicoçôo do despesa por elementos, emcad:.J unidade administrativa ou órgão degoverno, obedeceró 00 seguinte esquema:

DESPESAS CORRENTES

Despesas de Custeio

Pessoal CivilPessoal MilitarMat~rial de ConsumoServicos de TerceirosEnca rgos Diversos

Transferências Correntes

Subvenções SociaisSubvenções EconômicasInativosPensionistasSalário-Família e Abono FamiliarJuros do Divido PúblicaContribuições de Previdência SocialDiversas Transferências Correntes

DESPESAS DE CAPITAL

Investimentos

Obras PúblicasServiços em Regime de Programação Es-

pecialEquipamentos e InstalaçõesMaterial PermanenteParticipação em Constituição ou Aumen­

to de Capital de Emprêsas ou Entidades In­dustriais ou Agrícolas

Inversões Financeiros

Aquisição de ImóveisParticipação em Constituiçõo ou Aumen­

to de Capital de Emprêsos ou Entidades Co­merciais ou Financeiras

Aquisição de Titulas Representativos deCapital de Emprêsas em Funcionamento

Constituição de Fundos RototivosConcessêío de EmpréstimosDiversas Inversões Financeiras

TrQnsferências de Capital

Amortização da Dívida PúblicaAuxílios para Obras PúblicasAuxílios para Equipamentos e InstalaçõesAuxílios para Inversões FinanceirasOutras Contribuições

Art. 14 - Constifui unid:Jde orçamen­tário O agrupamento de serviços (vetado) (ll)

a que serõo consignadas dotações próprias.

i 6) Veto rejeitado peLo Congresso Nacional.É a seguinte a redação do art. 14:

"Constitui ullidade orçamentária oagrupamento de serviços subordinadosao nlesmO órgáo ou r~pnrtição '8. queserão consi.gnadas dotaçõe~ próprias."

Parágr:Jfo único ~ Em casos excepcio­nais, serôo consignadas dotações a uni­dades odministr:Jtivas subordinad:JS ao mes­mJ órgão.

Art, 15 - Na Lei de Orçamento o dis­criminação da despesa for-se-ó (vetodo) (')por elementos,

§ 1.0 _ Vetado (X).

§ 2,0 - Poro efeito de classificação dadespesa, considera-se material perm:Jnente ode duração superior o dais anos.

SEÇÃO I

Dos Despesos Correntes

SUBSEÇÃO UNICA

Dos TrClnsferênciQs Correntes

- Das Subvenções Sociais,

Art. 16 - Fundamentalmente e nos li­mites das possibilidades financeiras, o con­cessão de subvençães sociais visaró à pres­tação de serviços essenciais de assistênciasocial, médica e educacional, sempre quea suplementação de recurSOs de origem pri­vada, aplicados a êsses abjetivos, revelar-semais econômica.

Parágrafo único - O valor das subven­ções, sempre que possivel, será calculadocom base em unidades de serviços efetiva·mente prestados ou postos à disposição dosinteressados, obedecidos os padrões mínimosde eficiência, previamente fixados.

Art. 17 - Somente o instituição cujoscondições de funcionamento forem julgadassatisfatórias pelos órgõos oficiais de fisca­lização, serão concedidos subvenções.

IJ - Das Subvenções Econômicas.

Art, 18 - A cobertura dos deficitsde manutenção das emprésas públicas, denatureza autárquica ou nõa, far-se-ó me­diante subvenções económicas expressomen­te incluídas nas despesas correntes do or­çameMo da União, do Estado, do Muni­cípio ou do Distrito Fedeml.

( 7) Veto rejeitado pelo Congresso Nacional.É a seguinte a redação do art. 15:

"Na Lei de Orçamento a discriminaçãoda despesa far-se-á, no mlnlmo, pore\.ementoo. t

'

l 8) Veto rejeitado pelo Congresso Nacional.t a seguInte a redaçlio do § 1.0, do art. 15:

"Entende-se por elementos o desdobra­mento da despesa com pessoal, mate­rial, servlçoo~ obras e outros meios deque se serve a adminlstraçf.o -púbHcapara consecução dos seus fins."

JUNHO - 1964 201

Parógrafo único - Consideram-se, igual­mente, como subvenções econômicas:

o) as dotações destinadas a cobrir o di­ferença entre os preços d e mercado eos preços de revenda, pelo GO"êrno,de gêneros 01 imenticios ou outros ma­teriais;

b) os dotações destínadas ao pagamentode bonificações a produtores de deter­minados gêneros ou materiais.

Art. 19 - A Lei de Ortamento nãoconsignará ajuda financeira, a' qU:Jlquer ti­tulo, o empréso de f)ns lucrativos, salvoquando se trotar de subvenções cuja con­cessão tenho sido expressamente outori zadaem lei especial.

seçÃo 11

Das Despesas de Capital

SUBSEÇÃO PRIMEIRA

DO$ Investimentos

Art. 20 - Os investimentos serão discri­minados na lei de Orçamento segundCl osprojetos de obras e de outros aplicações.

Parágrafo único - Os programas especiaisde trabalho que, por suo natureza, nõCl pOs­sam cumprir-se subordinada mente às normasgerais de execução da despesa, poderão Sercusteados por dotações globais, classificadasentre as Despesas de Capital.

SUBSEÇÃO SEGUNDA

Das Transferências de Capital

Art. 21 - A Lei de Orcamento nõo con­signará auxílío para inve;timentos que sedevam incorporar ao património dos emprê­sas privados de fins lucrativos.

Parágrafo único - O disposto neste artigoaplico~se às transferências de copitol à contode fundos especiais ou dotações sob regimeexcepcional de aplicação.

TíTULO \I

DQ Propo$ta Orçamel1téiriQ

CAPíTULO I

Conteúdo e Forma da PropostaOrço mentária

Art. 22 ~ A proposto orçamentório, qLlea Poder Executivo encaminhará 00 Poder le~

gislativQ nos prazOS estabelecidos nOS Cons­tituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios,compor-se-á de :

I ~ Mensagem, qLle conteró: exposi­cão ci rcunstonciada da situacõo~conõmico~financeira, documen'ta­do com demonstraçõo do divida

fundado e flutuante, saldos decrÓdltos especiais, restos a pagare outros compromissCls fin::Jnceirosexigíveis; exposiçõo e justificaçõodo político económico-fin::Jnceirado Govêrno; justificacão do re­cei ta e despesa, p::Jrticularmenteno tocante 00 orcamento de co-pit;]!; ..

II Projeto de lei de Orçamento;

I1I tabelas explicativos, das quais,além das estimativas de receito edespesa, canstarCia, em colunasdistintos e para fins de comporo­çõa:

a) a receita arrecadado nOStn?s últimos exercícios ante­riores àquele em que seelaborou o proposto;

bl O receito prevista paro oexerci cio em que se ela­bora a proposta;

cJ o receito previsto poro oexercicio a que se referea proposta;

d) o despesa reali zada noexercício imediotamente an­terior;

e) o despesa fixado poro oexercicio em que se elo­boro o proposta; e

f) o despesa prev isto po ra oexercício a que se referea proposta.

IV - Especificação dos programas es­peciais de trabalho custeados pordotações globais, em termos demetos visados, decompostas emestimativo da custo d::ls obras O

realizar e dos serviços Q prestar,acompanhadas d? justificaçãoeconômico, financeira, social eadministTotivo_

Parógrafo único - Constaro da propostaorcamentório, poro cada unid:ide adminis­tr~tjvo, descriçõo sucinto de suos principaISfinalidades, com indicação d::l respectíva le­gísloçõo.

CAPiTULO /I

Da Eloboroção do Proposta OrçolnentóriQ

SEÇÃO PRIMEIRA

Das Previ$ões Plurianuais

Art. 23 - As receitas e d?spesas de co­pi tal serão objeto de um Quadro de Recursose de Aplicação de Capital, aprovado por de­creto do Poder EXecutivo, abrangendo, nomini mo, um trjênio,

208 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Porógrato unPco - O Quadro de Recursose de Aplicação de Capital seró anualmentereajustado, acrescentando-se-Ihe as previsõesde mais um ano, de modo a assegurar aprojeçõo continua dos períodos.

Art. 24 - O Quadro de Recursos e deAplicação de Capital obrangeró:

I - as despesas, e, como couber,também as receitas previstas emplanos especiais aprovados emlei e destinados a otender a re­giões ou a setores da adminis­tração ou da economia;

II - OS despesas à conta de fundosespeciais e, como couber, as re­ceitas que os constituam;

III - em anexos, as despesas de ca­pital das entidades referidas noTítulo X desta lei, com indica­çõa das respectivas receitas paraas quais forem previstas trans­ferências de capital.

Art. 25 - Os programas constantes doQuadro de Recursos e de Aplicação de Ca­pital, sempre que possivel, serõo correlo­cionados a metas objetivas, em têrmos derealização de obras e de prestaçõo de ser­viços.

Parógrafa único - Consideram-se metosos resultados que se pretel1dem obter cema realização de cada programa.

Art. 26 - A proposta orçamentória con­terá o programo anual, atualizado, dos in­vestimentos, inversões financeiras e trans­ferências, previstos no Quadro de Recursose de Aplicação de Capital.

SEÇÃO SEGUNDA

Das Previsões Anuais

Art. 27 - As propostas parciais de orça­mento guardarão estrita conformidade coma política econômico-financeira, o programaanual de trabalho da Govêrno e, quandofixado, o limite global máximo para o orça­mento de cada unidade odministrotivo.

Art. 28 - As propostos parciais dosunidades administrativas, organizadas emformulário próprio, serão acompanhadas de:

I - tabelas explicativas da despesa,sob o formo estabelecida no ar­tigo 22, inóso 111, letras d, e, e fi

" - justificação pormenorizada de cadadatação solicilada, com a indico­ção dos atos de aprol/ação de pro­jetos e orçamentos de obras pú­blicas, para cujo inicio ou prosse­guin1enta elo se destina.

Art. 29 - Caberó aos órgõos de conta­bilidade ou de arrecadação, organizar de­monstraçães mensais da receito arrecadado,

segundo as rubricas, para servirem de boseà estimativa do receita, na proposto orço­mentÓria.

Parógrafo único - Quando houver órgõocentral de orçamento, essas demonstraçõesser-Ihe-ão remetidas mensalmente.

Art. 30 - A estimativa da receito terápor bose os demonstraçoes o que se refereo artigo anterior, a arrecadoção dos três ul­timas exercícios, pelo menos, bem como ascircunstâncias de ordem coniun~uml e ou­tras, Que possam afetar a produtividade decada fonte de receito.

Art. 3 1 - As propostas orçomen~óri osparcia'ls serão revistas e coordenadas naproposta geral, considerando-se o receita es­timada e os novas circunstâncias.

TfTULO 111

Da Eloboração da Lei de O,,,amento

Art. 32 - Se nõo receber a propostaorçomentória no prazo fixado nos Consti­tuições ou nas Leis Orgânicas dos Municí­pios, o Poder legislot'lvo considerará comoproposto o Lei de Orçamento vigente.

Art. 33 - Nõo se admitirão emendas 00

projeto de lei de orçamento que visem a :

a) alterar a dotação solicitada poro des­pesa de custeio, salvo quando provada,nesse ponto, Q inexatidão do propos'o;

b) conceder dotaçõo paro o início de obrocuia projeto nõo esteja aprovado pelosórgõos competentes;

c) conceder dotação poro instalação oufuncionamento de serviço que não es­teja anteriormente criado;

dl conceder do,oção superior aos quanti­tativos previamente fixadas em reso­lução do Poder legislativo, poro con­cessão de auxilias e subvenções.

TfTULO IV

Do bereicio Financeiro

Art. 34 - O exercicio financeiro coinci­dirá com o ano civil.

Art. 35 - Pertencem 00 exercício finan­ceiro:

I as receitas nêle arrecadadas;II - as despesas nêle legalmente em­

penhadas.

Art. 36 - Consideram-se Restos o Pagaros despesas empenhados mos nõo pagos atéadio 31 de dezembro, distinguindo-se osprocessados dos não processadas.

Parógrofo único - Os empenhos que cor­rem à conta de créditos com vigência pluria­nual, que não tenham sido liquidados, sáserõo computados como Restos a Pagor noultimo ano de vigência do crédito.

JUNHO - 1964 209

TiTULO VI

Da Exel:u~õo do Orçamento

CAPiTULO I

Do Pr09romoçõo do Despesa

Art. 47 ~ Imediatamente após a pro­mulgação do Lei de Orçomento e com basenos limites nela fixados, o Poder Executivoaprovaró um Quadro de cotas trimestrais dadespesa, que cada unidade orçamentório ficaoutorizoda a utilizar.

Ar~. 43 e seus porógrabs - Vetados (\I)

Art. 4-4 - Os créditos extraordináriosserão abertos por decreto do Poder Executivo,que dêles daró imediato conhecimento 00

Poder legislativo.

Art. 45 - Os créditos adicionais terãovigência adstrito ao exercício financeiro emque forem abertos, salvo expressa disposi­ção legal em contrário, quanto aos especiaise extraordinários.

Art. 46 - O ato que abrir crédito adi­cionai indicaró a importôncia, o espécie domesmo e a c:lassificoção do despesa, atéonde fãr possí I'e!.

Veto rejeitado pelo Congresso Nacional.É a seguInte a redação <10 art. 43 e seusparágrafos :

"Art. 43 - A abertura dos crédItos suoplementares e especiaIs depende daexistência de recursos disponiV'eis paraocorrer à despesa e será precedida deexposição justificatiV'a.~ 1.0 - Consideram-se recursos, par:a,oS fins dêste artigo, desde que não com·prometidos :I ~ o super:.vit financeiro apuradoem balanço patrimonial do exercícioanterior~

II - os proV'enlentes lJe ell:cesso de ar­recadação;lU - os resultantes de anulação par·cial ou total de dotações orçamenta­rias ou de créditos adicionais autori­zados em le!;IV - o produto de operações de cré­dito autorizadas. em forma que juridi­camente possibilite ao Poder Executivoreallzá-Ias.§ 2.0 _ Entende-se por superav1t fi­nanceiro a. diferença posItiva entre oatlV'o financeiro e o Passivo financeiro,conjugando-se, ainda, os saldos doscréditos adicionais transferidos e asoperações de crédito a êles vinculadas.~ 3.0 _ Entende-se por excesso de ar­recadação, para os fins dêste artigo. osaldo positivo das diferenças, acumu­ladas mês a mês, entre a. arrecadaçãoprevista e a realizada, considerando-se,ainda, a tendência do exerc!cio.~ 4.0 - Para o tim de apurar os re­CUrSOS utllizáveis, provenientes de ex­cesso de arrecadação, deduzir-se-it aimportância dos créditos extraordiná­rIos abertos no exercício."

(g)

TíTULO V

Art. 42 - Os créditos suplementares eespeCIaiS serão autorizados por lei e aber­tos por decreto executivo.

Art. -40 - São créditos adicionais os au­torizações de despesas não computadas ouinsuficientemente dotados no lei de Orça­mento.

Parógrafo único - As importóncias dostributos e demais rendas nôo sujeitas a lan­çamentos ou não lançadas, serõo escritura­das como receita do exercíCio em que foremarrecadadas, nas respectivas rubricas orça­mentárias, desde que até o ato do recebi­mento nõo tenham sido inscritos como Di.vida Ativo.

Art. 41 - Os créditos adicionais classi­ficam-se em :

Dos Créditos Adicionois

suplementares, os destinados o re­fôrço de dotação orçamentária;

II ~ especiais, OS destinados a despe­sas para as quais nóo haja dota­çõo orçamentária específica;

III - extraordinários, os destinados adespesos urgentes e imprevistas,em coso de guerra, comoçõo in­testina ou calamidade público.

Art. 37 - As despesos de exercícios en~

cerrados, para as quais o orç~mento res­pectivo consignava credito próprio, com saldosuficiente para atendê-Ias, Que não se te­nham processado na época própria, bem co­mo os Restos a Pagar com prescriçõo inter·rompido, e os compromissos reconhecídosapós o encerramento do exercício correspon­dente, poderão ser pagos à conto de dotaçãoespecífica consignado na orçamento, discri·minada por elementos, obedecido, sempreQue possivel, a ordem cronológico.

Art. 38 ~ Reverte 6 dotação o impor­t6ncio de despesa anulado no exerC'Clo;quando o anulação ocorrer após o encerra­mento dêste, considerar-se-á receita do onoem Que se efetivar.

Art. 39 ~ As importâncias reioNv'os atributos, muitos e créditos da Fozend-::l Pú­blico, lançados mos nôo cobrados ou não re­colhidos no exercício de origem, cOnsti tuernDívida Ativa, o partir da data da sua ins­crição.

210 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Art. 48 - A fixaçâo das cotas a quese refere o artigo anterior atenderá aos se­guintes objetivas:

o) assegurar às unidades orçamentárias,em tempo útil, o somo de recursosnecessários e suficientes ó melhorexecução do seu programa anual detrabalho;

b) manter, durante o exerci cio, no me­dida do possível, o equilibrio entre areceita arrecadado e a despesa reali­zada, de modo o reduzir, 00 mínimo,eventuais insuficiencias de tesouraria.

Art. 49 - A programação do despesaorcamentária, para efeito do disposto noartigo anterior, levara em conta os créditosadicionais e os operações extra-orçamen­tários.

Art. 50 - As cotas trimestrais poderãoser alteradas durante o exercíc'IO, observa­dos o limite da dotação e o comportamentod~ execuçõo orçamentária.

CAPiTULO II

Da Receita

Art. 51 - Nenhum tributo seró exigidaou aumentado sem que a lei o estabeleça;nenhum seró cobrado em cada exercício semprévia autorização orçamentária, ressalvadosa tarifa aduaneira e o imposto lançado pormotivo de guerra.

Art. 52 - São objeto de lançamento osimpostos diretos e quo'lsquer outras rendascom vencimento determinado em lei, regu­lamento ou contrato.

Art. 53 - O lançamento do receito éato do repartição competente, que verificoo procedência do crédito fiscal e o pessoaque lhe é devedora, e inscreve o débitodesta.

Art. 54 - Não sera admitida a com­pensação da obrigação de recolher rendasou receitas com direito creditório contra aFazenda públíca.

Art. 55 - Os agentes da arrecadaçãodevem fornecer recibos das impartôncias quearrecadarem.

§ 1.0 ~ Vetado (10).

§ 2.0- Os recíbas serão fornecídos em

uma única via.Art. 56 - O recolhimento de tôdas os

receitos far-se-á em estrita observância 00

princípio de unidade de tesouraria, vedadaqualquer fragmentação para criação decaixas especiais.

(LOl Veto rejeitado pelo COllgresso Nacional.É a segulnte a redação do ~ LO, do art. 55:

"Os recibOs devem conter os nomesda pessoa que paga. " soma arrecadada.proveniência e claS8lt!cação. bem Comaa data e assinatura do agente arreca­dador."

Art. 57 - Vetado (11), Serão classifi­cadas como receito orçamentária, sob os ru­bricas próprias, tôdas as receitas arrecod::i­das, inclusive as provenientes de operaçõesde créd'lto, oíndo. Que nõo previstos no or­çamento.

CAPfTULO 111

Da Despesa

Art. 58 - O empenho de despesa é oato emanado de autoridade competente, Quecria para o Estado obrigação de pagamentopendente (vetado) (12) de implemento decondição.

Art. 59 - O empenho da despesa nãopoderá exceder ° limite dos créditos cOnce­didos.

Art. 60 - É vedada a realiz:ação de des­pesa sem prévio empenho.

§ l.o _ Em casoS especiais, previstos' nalegislação específico, será dispensada aemissão da nata de empenho.

§ 2.0 _ Será feito por estimativo o em­penho do despesa cujo montante não sepossa determinar.

§ 3.0 _ ~ permitida o empenho globalde despesas contratuais e outros, sujeitas aparcelamento.

Art. 61 - Para cada empenho será ex­traído um documento, denominada "nota deempenho", que indicará ° nome do credora especificação e a importância da despesa,bem como a dedução desta do saldo da do­tação próprio.

Art. 62 - O pagamento do despesa sóseró efetuado quando ordenado após sua re·guiar liquidação.

Art. 63 - A liquido.ção da despesa con·siste na verificação do direito adquirido pelocredor, tendo por base os títulos e documen.tos comprobatórios do respectivo crédito.

§ 1.0 _ Essa verificação tem por fimopuror:

I o origem e a objeto do que sedeve pagar;

1/ o importância exata a pagar;1\\ O quem se deve pagar o impero

tância, para extinguir a obrigação.

(11) Veto reJ ei tlldo pelo Congresso N/l.clonal.E a seguinte a redação do art. 57 :

"Art. 51 - Re&lalV&do o dispO&w noparágrafo único do art. 3.°, desta leI.serão classificadas como receita orça­mentária, sob ll.S rubricas próprla.s. W­das a.s receitas arrecadadas, Inclusiveas provenientes de operações de cré­dito, ainda que não previstas no or­çamento."

(12) Veto rejeitado pelo CongresllQ Nac1onll,).É 11, seguinte 11, redaçll.o do art. 58 :

jiO empenho de despesa é o ato ema­nado de autoridade competente, quecria para o Estado obrlgaçlio de paga­mento pendente. ou nw. de ImIllemen­to de condlçllo."

•JUNHO - 1964 211

§ 2.0 - A liquidação da despesa, porfornecimentos feitos OU serviços prestados,terá par base:

o contrato, ajuste ou ocôrdo res­pectivo;

11 a noto de empenho;III os comprovantes da entrego do

material ou da prestação efetivodo servico.

Art. 64 - A ~rdem de pagamento é odespacho exarado por autoridade competen­te, determinando Que o despesa seja pago

Parágrafo único - Vetado (la).Art. 65 - O pagamento do despesa será

efetuado por tesouraria ou pogadoria regu­larmente instituí dos por estabelecimentosbancários credenciados e, em cosas excep­cionais, por meio de adiantamento.

Art. 66 - As dotações otribuidos os di­versos unidades orçamentários poderão,quando expreSSamente determinado no leide Orço menta, ser movimentados por órgâoscentrais de administração geral.

Parógrafo único - É permitido o redis­tribuição de parcelas das dotações de pes­soal, de uma para outro unidade orçamen­tário, quando considerada indispensável cmovimentação de pessoal, dentro das tabe­las ou quadros comuns às unidades interes­sadas, e que se realize em obediência àlegislaçõo especifico,

Art, 67 - Os pagamentos devidos peloFazendo Pública, em virtude de sentençajudiciária, far-se-Cio no ordem de apresen­tação dos precatórios e à conto dos crédi­tos respedjyos, sendo proibido a designaçCiode casos ou de pessoas nos dotacões orca­mentários e nos créditos adicio~ais ab~r­tos pa ra esse fim.

Art. 68 - O regime de adiontamento eaplicável aos casos de despesas expressa­mente definidos em lei e consiste no entre­go de numerário o servidor, sempre prece­dido de empenho no dotação própria, poroO fim de realizar despesas que não possamsubordinar-se 00 processo normal de apli­cação.

Art. 69 - Não se fará adiantamentoo servidor em alcance. (Vetado) (l~).

Artigo 70 - A aquisição de material,o fornecimento e a adjudicação dE' obrase serviços serõo regulados em lei, respeita­do o principio da concorrênci~.

í 13) Veto rejeitado pelo Congresso Nacional.É a seguinte a redação do parágrafo únicodo art. 64:

"A ordem de pagamento só poderá serexarada em documentos proceSSadospelos serviços de contabilidade."

(14) Veto rejeltado pelo CDn~resso Nacional.Ê fi seguinte a redação do [lrt. 69 :

"Não se fara adiantap1ento a servidorem alcance, nem a responsável por doiSadíantamentos. "

TíTULO VII

Dos Fundos Espel;iais

Art. 71 - Consti tu i fundo especi o I oproduto de receitas especificados que, porlei, se vinculam á realizacão de determina­dos objetivos ou serviços, -facultado o ado..çôo de normas peculiares de aplicação.

Art. 72 - A aplicação dos receitas or­çamentários vinculados a fundos especiaisfar-se-á através de dotaçõo consignada noLei de Orçamento ou em créditos adicionais.

Art. 73' - Solvo determinacão em COtl­trário do lei Que o instituiu, o saldo positi­vo do fundo especial apurado em boi ancaserá transferido para o exercício seguinte, -ocrédito do mesmo fundo.

Art. 74 - A fei que instituir fundo es­pecial poderó determinar normas peculiaresde controle, prestação e tomado de contos,sem, de quolquer modo, elidir o competên·cio especifica do Tribunal de Contos ou ór­gõo equivalente.

TiTULO VIII

Do Contrôle do Exel;ução Orçamentória

CAPíTULO 1

Disposíções Gerais

Art. 75 - O contrôle da execução or­çamentória compreenderá:

I ~ a legalidode dos atos de Que re­sultem o arrecadacão do receitoou a real izaçõo do despesa, onascimento Ou o ext'lnCÕO de di-reitos e obrigaçóes; ~

II - o fidelidade funcional dos agentesdo administração, responsáveispor bens e Yalôres públicos;

III - o cumprimento do programo detrabalho, expresso em têrmos mo­netários e em têrmos de realiza­cão de obras e prestocão de ser­viços.

CAPíTULO II

Do Contrôle Interno

Art. 76 - O Poder Executiyo exerceróos três tipos de contrôle a que se refere oartigo 75, sem prejuízo dos atribuíçoes doT ribunol de Contos ou órgõo equivalente,

Art. 77 - A verificação do legalidadedos atos de execução orçamentário será pré­via, cancomi~ante e subseqüente.

Art. 78 - Além da prestocão ou toma­do de coMas anual, quando instituí da emlei, ou por fim de gestão, poderá haver, oqualquer tempo, levantamento, prestação outomada de contos de fados OS responsóveispor bens ou valores públicos,

212

•REVISTA DE INFORMA.ÇÃO LEGISLATIVA

Art. 79 - Ao órgõo incumb'lcio da ela­boração 00 proposto orçamentária ou o ou­tro indicodo na legislação, caberá o con­trole estabelecido no inciso III do artigo 75.

Parógrofo único - ~sse controle for-se-ó,quando fôr o caso, em têrmos de Ur1id::desde medida, previamente estabelecidos paracada atividade.

Art. 80 - Compete aos serviços decontabilidade ou órgãos equivalentes verifi­car a exata observância dos limites das co­tas trimestrais atribuídas a cad::> unid:ldcorçamentária, dentro do sistema que fôrinstituí do paro esse fim.

CAPITULO 111

Do Contrôle Ellterno

Art. 81 - O controle da execução or­çamentário, pelo Poder Legislativo, terá porobjetivo ver'.ficar o probidade do adminis­tração, a guarda e legol emprego dos di­nheiros públicos e o cumprimento do Lei deOrçamento.

Art. 82 - O Poder Executivo, anual­mente, prestará contas ao Poder Legislati­vo, no prazo estabelecido nos Constituiçãesou nos leis Orgõnicas dos Municípios.

§ 1.° - As contas do Poder Executivoserào submetidos ao Poder Legislativo comparecer prévio do Tribunal de Contas ouórgão equivalente.

§ 2.° - Quando, no Município, não hou­ver Tribunal de Contos ou órgão equiva­lente, a Câmara de Vereadores poderá de­signar peritos contodores para verificaremos contos do prefeito e sàbre elas emitirempareCer.

TrTULO IX

Da Contobilidade

CAPíTULO I

Disposições Gerois

Art. 83 - A contabilidade evidenciaráperante a Fazenda Público a Situação de~odos quan'os, de qualquer modo, arreca­dem receitaS, efetuem despesas, adminiS­trem ou gU.:Jrdem bens a ela pertencentesou confiados.

Art. 84 - Ressalvada a competênciado Tribunal de Contas ou órgão equivalen­te, a tornada de contas dos agentes respon­sáveis por bens Ou dinheiros públicos serÓrealizado ou super,ntendido pelos serviçosde contabilidade.

Art. 85 - Os serviços de contabilidadeserão organizados de forma a permitirem oacompanhamento do execução orçamentó­ria, o conhecimento da composição patrimo­nial, a de~erminação dos cmtos dos ser/Iças

industriaiS, o levantamento dos balanços ge­rais, o análise e a interpretação dos resul­tados econômicos e financeiros.

Art. 86 - A escrituração sintética dosoperações financeiras e patrimoniais efetuar­se-á pelo metodo das partidas dobradas.

Art. 87 - Haverá contrôle contábil dosdireitos e obrigações oriundos de o;ustes oucontratos em que a administraçõo públicafór parte.

Art. 88 - Os débitos e créditos serãoescriturados com individuação do devedor oudo credo, e especificaçõo do natureza, im­portância e dota do vencimento, quando fi­xada.

Art. 89 ~ A contabilidade evidenciaróos fotos ligados ó administração orÇamen­tória, financeiro, patrimonial e Industrial.

CAPITULO"

Da Contabilidade OrçQmenuria e Financeiro

Art. 90 - A contabilidade deverá evi­denciar, em seus registros, o montante doscréditos orçamentários vigentes, a despesaempenhado e o despes:l realizada, Ó contodos mesmos créditos, e os dotações dispo­niveis.

Art. 9' - O registro contábil da receiota e da despesa far-se-ó de acôrdo com osespecificações constantes da Lei de Orça·menta e dos créditos adiciona·ls.

Art. 92 - A dívido flutuante compre­ende:

os restos a pagar, exclui dos osserviços da dívida;

11 os serviços da dívida a pagar;111 os depósitos;IV os débitos de tesouraria.Parágrafo único - O registro dos restos

a pagar for-se-á por exercído e por credor,distinguindo-se as despesas processad:)s dosnão processadas.

Art. 93 - Tôda6 as operaçó€s de queresultem dêbitos e créditos de ....otureza fi­nanceira, nõo compreendidas no execuçõoorçamentária, serõo também ob;eto de re­gistro, individuaçáo e contrôle cantÓbil.

CAPfTULO 111

Do Contobilidode PCttri",ollio\ e Industrial

Art. 94 - Haveró registros analíticosde todos os bens de caráter permanente,com indicação dos elementos necessórios pa.ra a perfeita caracterização de cJda umdeles e das agentes responsáveis pela suaguarda e administração.

Art. 95 - A contabil"ldade manteró re­gistros sintéticos dos bens móveis e imóveis.

Art. 96 - O levantamento geral dosbens móveis e imóveis terá por base o in·

JUNHO - 1964 213

ventórío analitico de cada unidade admi­nistrativa e os elementos da escrituraçãosintética na contabi lidade.

Art. 97 ~ Poro fins orçamentanos edeterminaçõo dos devedores, far-se-á o re­gistro contábil das receitas patrimoniais, fis­calizando-se sua efetivação.

Art. 98 ~ (Vetado) (l5).

Parágrafo único - A diVido fundado se­rá escriturada com individuação e especifi­cações que permitam verificar, a qualquermomento, a posição dos empréstimos, bemcomo os respectivos serviços de amOrt iza­çõo e juros.

Art 99 - Os serviços públicos indus­triais, ainda que não organizados como em­prêsa pública ou autórquica, manterão con­tabilidade especial paro determinação doscustos, ingressos e resultados, sem prejui:wda escrituração patrimonial e financei ra co­mum.

Art. 100 - As alterações do situaçõoliquido patrimonial, que abrangem Os re­sultados da execução orçamentória, bem co­mo os variações independentes dessa exe­cução e as superveniências e insubsistênciasativos e passivos, constituirão elementos doconta patrimonial.

CAPiTULO IV

Dos Bolo"ços

Art. 101 - Os resultados gerais doeXerClCJO serão demonstrados no BalançoOrçamentório, no Balonço Financeiro, noBalanço Patrimonial, no Demonstração dosVariações Patrimoniais, segunda os Anexosnúmeros 12, 13, 14 e 15 e os quadros de­monstrativos constantes dos Anexos núme­ros 1,6, 7,8,9, 10, 11, 16 e P.

Art. 102 - O Balanço Orçamentáriodemonstraró as receitas e despesas previs­tos em confronto com os realizadas.

Art. 103 - O Balanço Financeiro de­monstrará a receita e a despesa orçamentá­rios, bem como os recebimentos e os paga­mentos de natureza extra-orçamentário,con;ugados com os saldos em espécie pro­venientes do exercício anterior, e os que setransferem para o exercício seguinte.

Parógrafo único - Os Restos a Pagardo exercício serão computados na receitaextra-orçamentária, para compensar sua in­clusão na despesa orçamentária.

(15) Veto rejeitado pelo Congresso Nacional.É a seguinte a redação <lo art. 98:

"A dívida fundada compreende Os COm­promissos de exigibllldade superior adoze meses. contratdos para. atender odesequilibrio orçamentário ou o flnan­ciamento de obras e serviços públJcos.'·

Art. 104 - A Demonstraçõo das Va­riacães Patrimoniais evidenciaró as altera­çõe's verificados no patrimônio, resultantesou independentes da execução orçamentária,e indicará o resultado patrimonial do exer­cício.

Art. 105 - O Balanço Patrimonial de-monstrará:

I o Ativo Financeiro;11 o Ativo Permanente;

'11 - o Passivo Financeiro;IV - o Passivo Permanente;V o saldo Patrimonial;

VI as Contas de Compensação.

§ 1.0 - O Ativo Financeiro compreen­derá 0s créditos e valôres realizáveis, inde­pendentemente de autorização orçamentória,e os volôres numerórios.

§ 2.° ~ O Ativo Permanente compre­enderá os bens, créditos e valôres, cujo mobi lização ou alienação dependo de autOriza­ção legislativa.

§ 3° - O Passivo Financeiro compre­enderá as dívidas fundadas e outros, cujapagamento independa de autorização orça­mentária.

§ 4° ~ O Passivo Permanente compre.enderá as dívidas fundadas e outras quedependam de autorização legislativa paraamortização ou resgate.

§ 5.° - Nas contas de compensaçãoserão registrados os bens, valóres, obriga­ções e situações não compreendidas nos pa­rágrafos anteriores e que, mediata ou indi­retamente, possam vir a afetor o patrjmô­nio.

Art. 106 - A avaliação dos elementospatrimoniais obedecerá às normas seguin­tes:

I - Os débitos e créditos, bem comoos títulos de rendo, pelo seu valornominal, feita a conversão, quan~

do em moeda estrangeira, à taxade câmbio vigente na data do ba­lanço;

11 - os bens móveis e imóveis, pelovalor de aquisição ou pelo custode produçõo ou de construçõo;

I \ I - os bens de almoxarifado, pelopreço médio ponderado das com~

pras,

§ 10 - Os valâres em espécie, assimcomo os débitos e créditos, quando em moe­da estrangeira, deverão figurar ao lado doscorrespondentes importâncias em moeda na­cional.

§ 2. 0- As variações resultantes do

conversõo dos débitos, créditos e valôres emespécie serão levados à conta patrimonial.

§ 3° - Poderão ser feitas reavaliacõesdos bens máveis e imáveis. .

214 REVISTA DE I»IFORMAÇÃO LEGISLATIVA._-----_..------

TiTULO X

Das Autarquias e Outras EntidadesAr!. 107 - As entidades autárquicas ou

paraestatais, inclusive de previdência so­cial ou investidas de delegação para arre­cadação de contribuintes parafiscais daUnião dos Estados, dos Munidpios e do Dis­trito Federal, terão seus orçamentos aprova­dos por decreto do Poder Executivo, solvose disposição legal expressa determinar queo sejam pelo Poder Legislativo.

Parágrafo tinico - Compreendem-se nes­ta disposição os empresas com autonomiafinanceira e administro'ivo cuio capi'o\ per­tencer, integralmente, ao Poder Públrco.

Art. 108 - Os orçamentos dos entida­des referidos no artigo anterior vincular-se­ão ao orçametno do União, dos Estados, dosMunicí pios e do Distrito Federal, pela in­clusão:

I - como rece'lta, salvo d'lsposição le­gai em contrário, do saldo posi­tivo previsto entre os totais dasreceitas e despesas;

11 - como subvenção econômica, nareceito do orçamento da benefi­ciória, salvo disposição legal emcontrário, do saldo negativo pre­visto entre os totais dos receitase despesas.

§ \.0 _ Os irwestimentos ou inversõesfinanceiros do União, dos Estodos, dos Mu­nici pios e do Distrito Federal, realizados porintermedio das entidades aludidos no arti­go anterior, serão classificados como re­ceita de car--ital destas, e despesa de trans­ferência de capital daqueles.

§ 2° ~ As previsões para depreciaçôoserão computados paro efeito de apuraçãodo soldo líquido dos mencionados entidades.

Art. 109 - Os orçamentos e balançosdas entidades compreendidos no artigo 107serão publicados como complemento dos or­çamentos e balanços da União, dos Estados,dos Municipios e do Distrito Federal, o queestejam vinculados.

Art. 110 - Os orçamentos e balançosdas entidades iá referidos obedecerão aospadrões e normas instituídos por esta lei,ajustados as respectivos peculiaridades.

Parógrafo único - Dentro do prazo quea legislação fixar, os balanços serão reme­tidos ao érgão central de contabilidade doUnião, dos Estados, dos Municipios e doDistrito Federal, poro fins de incorporaçãodos resultados, solvo disposição legal emcontrário.

TfTULO XIDisposições Finais

Art. 111 ~ O Conselho Técnico de Eco­nomia e Finanças do Ministerio da fazenda,

alem de outras apuraçÓ€s, poro fins esta­ti sticos, de interésse nacional, organizará epublicará o balanço consolidado dos contasda União, Estados, Munícípios e DistritoFederal, suas autarquias e outros entidades,bem como um quadro estruturalmente idên­tico, baseado em dados orçamentários.

§ 1,0 ~ Os quadros referidos neste ar­tigo terão o estrutura do Anexo número 1.

§ 2. 0 - O quadro baseado nos orça­mentos será publicado ate o último dia doprimeiro semestre do próprio exercicio; e obaseado nos balanços, ate o último dia dosegundo semestre do exercicio imediatoaquele o que se referirem.

Art. 112 ~ Para cumprimento do dis­posto no artigo precedente, a União, os Es­tados, os Municípios e o Distrito Federalremeterão 00 mencionado 6rgão, ate 30 deabril, os orçamentos do exercicio, e até 30de junho, os balanços do exercício anterior.

Parógrafo único ~ O pagamento, peloUnião, de auxílio ou contribuição a Esta­dos, Municípios ou Distrito Federal, cuiaconcessão não decorro de imperativo cons­titucional, dependerá de provo do atendi­mento ao que se determina neste artigo.

Art. 113 - Para fiel e uniforme aplica­ção dos presentes normas, o Conselho Téc­nico de Economia e Finanças do Ministerioda Fazendo atenderá a consultas, coligiráelementos, promoverá o intercâmbio de do­dos informativos, expedirá recomendaçõestecnicos, quando solicitadas, e atualizará,sempre que julgar conveniente, os anexosque integram a presente lei.

Parógrafo único - Paro os fins previs­tos neste artigo, poderão ser promovidas,quando necessário, conferéncías ou reuniõestecn;cas, com a participação de represen­toMes dos entidades abrangidos por estasnormas.

Art. 114 -- Os efeitos desta lei sãocontados o partir de 1 de ;aneiro de 1964.

Art. 1 15 ~ Revogam-se as disposiçõesem cOntrario.

Brosilia, em 17 de março de 1964, 143 0

do Independência e 760 da República.JoÃo GoULART - Abelard<J Jurema ­

Sytvio Borges de Souza Motta ~ Jair Ri­beiro - João Augusto de Araújo Castro

- Waldyr Ramos Borges - Expedito Ma­chado - Oswaldo Costa Lima Filho - Jú­lio Furquím Sambaquy - Amaury Sílva- Anysio Botelho - Wilson Fadul - An­tônio Oliveira Brito - Egyd.ío Mich.ael$en.

D.O. 23-3-1964.

NOTA - Seguem Anexos, contendo tabelas.publicados no "Diário Oridal" de23-3-1964 (Seçáo 1).

JUNHO - 1964 215

PROVIMENTO

DE

CARGOS

PÚBLICOS

LEI N.o 4.326 - DE 26 DE ABRIL DE 1964

Estabelece prazo pora o p~ovimel'lto de cargospLiblicos.

o Presidente da República:

Fa~o saber que ° Congresso Naçional mantevee eu promulgo, nos têrmos do § 3.°, do art. 70, daConstituição Federal, o seguinte lei:

Art. 1.° - Verifiçada vaga em cargo público

regularmente criado em lei, o respectivo provimentoseró feito, por ato do Presidente da República, noprazo de 30 (trinta) días.

Parágrafo único - Será dispensada a nomeoçêio,

se o Presidente do República, no mesmo prazo, en­

viar mensagem 00 Congresso Nacional com projetode extinção do cargo, por desnecessário.

Art. 2. 0- Se o provimento depEnder de indi­

cação de outro órgão, ou de concurso, ° prazo refe­rido no artigo anterior contar-se-á da data em quefôr entregue ao Presidente da República a indicação

ou o resultado do conçurso, com a habilitação ouclassificação dos candidatos.

Parógrofo único - Ficorá suspenso o curso doprazo, até final decisão, se houver recurso adminis­trativa contra a regularidade do indicação ou doconcurso.

Art. 3. 0- Se a vaga se verificar em cargo cujo

provi menta dependo de prévia aprovação do Senado(Constituição, arl. 63, n.o n, o nome proposto seráencaminhado pelo Presidente da República aquelaCosa do Congresso Nacional, no prazo previsto noartigo prirneiro.

Art. 4.° - Comunicado ao Presidente da Re­públ ica o pronunciamento do Senado, se éste fôr fo­vorável, seró de 10 Idez) dias O prazo paro nomea­ção; se for contrário, começará a COrrer novo prazode 30 (trinta) dias para o mensagem corn a propostode outro nome.

Art. 50 - Aplica-se esta lei, no que couber,às autoridades qu~ tenham competência constitucio­nc;l para prover cargos públicos.

Art. 6° - Esta lei entrorá em vigor na data

de suo publicação, revogadas as disposições em con­trário.

Brosília, 26 de abri! de 1964; 143 0 da Inde­pendência e 76° do República.

H. CASTF:LLü BRAKCQ

D.O. 21-4-1964.

216 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLA1'IVA

- DESAPROPRIAÇÃO

DAS

REFINARIAS

DECRETO N.o 53.701 - DE 13 DE MARÇODE 1964

Declara de utilidade pública, para finsde desapropriação em favor da PetróleoBrasileiro S. A. - PETROBRÁS, em cará­ter de urgência, as ações das companhiaspermissionárias do refino de petróleo.

O Presidente da República, no uso dasatribuições que lhe confere o artigo 87, in­ciso I, da Constituição, atendendo ao dispostono artigo 24, da Lei n,o 2.004, de 3 de outu­bro de 1953; nos artigos 2.0 e 15 e seus pará­grafos, do Decreto-Lei 0. 0 3.365, de 21 dejuoho de 1941, alterado pela Lei n.o 2.786,de 21 de maio de 1956; na conformidade coma expressa permissão contida noS artigos 39e 46 da citada Lei n.O 2.004. e

Considerando a deliberação do ConselhoNacional do Petróleo, aprovada em sua 1.222.aSessão Ordinária, realizada a 22 de janeirode 1964, que recomendou a integração do mo­nopólio estatal do refino de petróleo, no exer­cício da competência de superintender as me.didas concernentes ao abastecimento nacionalde petróleo, bem como discíplínar a pro­dução, a importação, a refinação, o transporte,a distribuição e o comércio de petróleo e deseus derivados, de acôrdo com o que dispõema Lei n.o 2.004, de 3 de outubro de 1953, oDecreto-Lei n. o 538, de 1 de julho de 1938,c o Decreto n,o 4.071, de 12 de maio de 1939;

Considerando que, nos termos do Decreto­Lei n.o 395, de 29 de abril de 1938, a refina­ção do petróleo nacional ou importado é de­clarada serviço de utilidade pública, e, por issomesmo, imprescindível à segurança nacional;

Considerando (lue constitui monopólio daUnião, na forma do prescrito no inciso II, doartigo 1.0

, da mencionada Lei D. O 2.004, a refi­naçào do petróleo nacional ou estrangeiro;

Considerando que inçumbe à PetróleoBrasileiro S. A. - PETROBRÁS, de acôrdocom o estabelecido no inciso lI, do artigo 2.°,da citada Lei n.o 2.004, a execução do mono­pólio estatal do petróleo;

Considerando (lue a referida Lei nY 2.004,no seu artigo 46, permite ~ Petróleo Brasi\eiro

JUNHO - 1964 217--- ._~.~.. ~.-~._~~---~-~-_._--

S. A. - PETROBRÁS, independente·mente de autorização legislativa, tor­nar-se acionista das empresas permis·sionárias da refinação do petróleo,cujos títulos de autorização foram de­feridos anteriormente ao advento damencionada Lei n.o 2.004;

Considerando que o disposto noartigo 39 da citada Lei n,o 2.004 fa­culta à Petróleo Brasileiro S. A. ­PETROBRÁS operar diretamente ouatravés de subsidiárias;

Considerando que, para efetivar-seo cumprimento da disposição ex­pressa no artigo 46 da Lei n.o 2.004,de 3 de outubro de 1953, a forma le­gaI hábil é a desapropriação das açõesdas companhias permissionárias dorefino do petr6leo, consoante o dis­posto no art. 1.0 do presente Decreto,nos têrmos do Decreto-Lei n.o 3.365,de 21 de junho de 1941, alterado pelaLei n.o 2.786, de 21 de maio de 1956;

Considerando o incremento do con­sumo de produtos petrolíferos, indis­pensável ao desenvolvimento eco­nômico do País, e a necessidade desolucionar adequadamente o abaste­cimento nacional de petróleo, tendoem vista o interêsse nacional;

Considerando que a referida Lein.o 2.004, na disposição do seu artigo45, proíbe às companhias permissio­nárias do refino de petróleo o aumentode sua atual capacidade de refinação;

Considerando que a ampliação dasinstalações dessas refinarias, em lugarde construção de novas, resulta emsubstancial economia para o País;

Considerando que o conflito estru·tural entre o regime jurídico mistovigorante no parque nacional de re·fino de petróleo e a lógica econômicaa que deve submeter-se a própria ex­pansão das capacidades das refinariaspara suprir, pelos menores custos, osdiversos mercados regionais do País,recomenda a integração do monopólioestatal do refino; e

Considerando os inarrcdáveis com­promissos do Govêrno com a políticade emancipação econômica nacional,cuja construção há de ser realizadapela expansito e fortalecimento domonopólio estatal do petróleo; decreta:

Art. 1.0 - Ficam declaradas de uti­lidade pública, para fins de desapro­priação em favor da Petróleo Brasi­leiro S. A. - PETROBRÁS, as açõesde propriedade de todos e quaisqueracionistas das companhias permissio­nárias do refino de petróleo: Refina·ria e Exploração de Petróleo "União"S. A., Refinaria de Petróleo de Man­guinhos S. A" Companhia de Petró­leo da Amazônia S. A., Indústrias Ma­tarazzo de Energia S. A., Refinaria dePetróleo Ypiranga S, A. e DestilariaRio-Grandense de Petróleo S. A.

Art. 2. 0 - Para fixar-se o valor dasações, adotar·se-á o critério do § 1.0,do artigo 107, da Lei de Sociedadespor Ações, Decreto-Lei n.o 2.627, de2.6 de setembro de 1940,

Art. 3,° - A Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRÁS, assistida peloConselho Nacional do Petróleo e soba supervisão do Ministério das Minase Energia, promoverá, no prazo detrinta (30) dias, a desapropriaçãoobjeto dêste decreto, e a executaráamigável ou judicia.lmente, com seusprópríos recursos.

Art. 4.0 - A desapropriação de quetrata o presente decreto é declaradade natureza urgente, para os efeitosdo artigo 15, do Decreto-Lei 11.° 3.365.de 21 de junho de 1941, alterado pelaLei n.o 2.786, de 21 de maio de 1956.

Art. 5.° - Êste decreto entrará emvigor na data da sua puhlicação, re-vogados os atos e disposições emcontrário.

Brasília, 13 de março de 1964; 143.0da Independência e 76. 0 da Repú.blica,

JOÃO GOULART

Antônio de Olir:eira Brito

D.O. 16-3-1964.

218 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

DECRETO N.o 53.702. - DE 14 DE MARÇODE 1964 (O \

Tobela os aluguéis de imóveis no territórillnacional e dá outrllS providências.

TABELAMENTü

ALUGUÉIS

o Presidente d(] República, usando do atribuiçãoque lhe confere o artigo 87, I, e art. 2.0, VI, da lein.o 1.521, de 26-12-51, decreta:

Art. 1.0 - Ficam tabelados os aluguéis de imó­veis e respectivo mobiliário, em todo o território na­cional, que se acham atualmente desocupados ouque vierem o vogar, de ocôrdo com os itens seguintes:

a) aluguel de um quarto: até 1.' 5 do salório­mínima loca!;

b) aluguel de habitaçôo de qU:Jrto e cozinhaou quitinete: ate 2/5 do salário-mínimolocal;

<:1 aluguel de habitação de sola, um quarto ecozinha ou quitinete: até 3/5 do salório­minimo local;

d) oluguel de habitação de sola, um quarto,cozinha e dependências de empregado: até4! 5 do salário-minimo local;

e) aluguel de habitação de s':\la e dois quor­tos, com serviço de empregados: até I sa­lório-mínimo locali

f) aluguel de habitação de solo, 3 quartos,com serviço de empregados: oté 1 e 1/2salário-mínimo local;

g) aluguel de mobiliário completo: até 20 %do valor do aluguel mensal do apartamento;

§ 1.0 - Cada peça a mais dos contempladasno presente tabelamento autorizará o aumento até1! 5 do salório-mí nímo local.

§ 2.° - Os valôres acima expressos serõo redu­zidos de 20 % na zona suburbano.

§ 3.° - Compreende-se como quarto ou sola,para efeito do presente tabelamento, a dependênciapredial que tiver um mínimo de 2,8001 por 3,50m.

Art. 2.° - Sõa mon~idos inalterados os valôresdos aluguéis amparados pela Lei do Inquilinato.

ArL 3.° ~ O ComIssariado de Defeso da Eco­nomia Popular faró o levantamento dos prédios de­socupados, poro· observância do disposto no art. 9.°,VI, da Lei 1.521, de 26-12-1951, em virtude doqual constitui contravenção ter prédio vazio por maisde 30 (trinta) dias, havendo pretendente que ofereçacomo garantia de lacaçõo importância correspon­dente a três meses de aluguel.

Parógrofa único ~ Verificada a con~raYençõo deque tra~a êste artigo, o processo será encaminhado àsautoridades policiais competentes para formação daação criminal, poro aplicoção da pena de prisão sim­ples de 5 (cinco) dias o seis meses e multa de 1 a 20mil cruzeiros.

( O) Encontra-se nu prelo o trabalho Inqullinalo, ela­borado pelo Servlço de Informação LegislatIva.

JUNHO - 1964 219

Art. 4.° - As diórias dos hotéis e pen­sões deverõo ser ajustadas, a requerimentodo interessado, dentro de 30 (trinta) aios,de modo que cubram as despesas e inversõode capital, cOm lucro não excedente de20% anuais.

Parágrafo único ~ Caberó às autorida­des municipais arbitrar, de acordo com ocritério estabelecido neste artigo, o aluguela ser cobrado pelo apartamento ou quarto,quando se tratar de estabelecimentos licen­ciados como hotéis ou pensões, nos têrmosdo § 2.° do art. 6,° do Lei n C 1.300, de28-12-1950.

Art, 5.° - O Comissariado de Defesada Economia Popular, dentro de 90 (noven­ta) dias, enviará ao Ministério da J ustiçoc Negócios Interiores a re\açõo dos pré­dios e apartamentos desocupados, paro es­tudo dos providências necessárias à desa­propriaçõo por utilidade social.

Art, 6,° - O Comissariado de Defe5éldo Economia Populor solicitará o coopera­çõo das emprêsas jornalísticas, no sentidode só publicarem anúncios de locação deprédios dos quais conste o respectivo preço,de acôrdo com o presente tabelamento.

§ 1.0 - Os anúncios imprecisos, sem es­pecificação do objeto da locaçõo, represen­tom cooperoção com os contraventores .

§ 2. 0 - São proibidos os anúncios delocação em moeda estrangei ro, de ocórdocom o art. l.0 do Decreto n." 23,501, de27 de novembro de 1933.

Art. 7.° - As seções de cadastro dasPrefeituras enviarão 00 Comissariado de De­fesa da Economia Popular, dentro de 30(trinta) dias, a relação dos imóve'IS locados,com os nomes dos respectivos propriE'tários,formando lista especial pora Os que possui­rem mais de Uma unidade residencial.

Art. 8° - O Comissariado de Defes~

da Economia Popular e os Delegocios Poli­ciais competentes fiscalizarõo o execuçao dopresente decreto, que entrará em vigor nadato do sua publicação, revogadas os dis­posições em cOntrário.

Brasi lia, 14 de março de r964; J 43° daIndepen.:jência e 76° do República.

Jo.~O GOULARI

Abelardo Jurema

D.O. UI-3-1964.

DECRETO N.9 53.845 - DE 25

DE MARÇO DE 1964

Aprovo os normas paro a execuçãodo Decreto n.9 53.102, de 14-3-1964,que tabelo os aluguéis de imóveis.

O Presidente da República, usando doatribuição que lhe confere o art, 87, nO I,do Constituiçõo Federal, decreto:

Artigo único - Ficam aprovados os nor­

mas poro a execuçõo do Decreto n,o 53.702,de 14 de março de 1964, que com êste bai­xam, assinados pelo Ministra de Estado da

Justiça e Negócios Interiores,

Brasília, em 25 de março de 1964; 143 0

da Independência e 760 da República.

JoÃo GOULART

Abelardo Jurema

NORMAS PARA A EXECUÇÃO DO

DECRETO N.'? 53.702, DE 14 DE

MARÇO DE 1964

Art. 1.0 ~ O Comissariado de Defesodo Economia Popular, criado pelo Decreton, o 53678, de 11 de março de 1964, e osDelegacias Policiais competentes fiscalizo­roo a oplicoçõo do Decreto n,o 53.702, de14 de março de 1964, de acordo com osnormas adiante especificados.

ArL 2.0 - O volor tabelodo inclui oImpósto Prediol vigente nos Orçamentos de1964 ,

Art. 3.° - Incumbem ao inquilino astaxas de serviços e os despesas que se re­ferirem 00 uso do imóvel, de ocórdo com alei do Inquilinato.

Art. 4,° - As taxas de serviços e des­pesas da habitação deverao ser especifica­dos no recibo mensal de aluguel,

Art, S,o - Tendo o inquilino dúvidasõbre o veracidade dos taxas, ou íustiça dasua divisão entre os diversos locatários deum mesmo prédio, ou sôbre a veracidadedas despesas efetuadas, poderá solicitar overificação pelo CODEP.

2.20 IlEVISTA DE I~FORMAÇÃO LEGISLATIVA

§ 1.0 - O CODEP intimará o locador aprestar declarações e comprovar os parcelas

cobradas do inquilino.

§ 2.° - Verificada a inexatidão dos lan­çamentos, o locador será processado na

forma da L.ei.

§ 3.° - As despesas que nõo tiyeremligação direta com os serYiços prestadas aosmoradores do prédio não são cobróveis dosinquilinos.

Art. 6.° - Excluem-se do presente tabe­lamento:

a} os habitações de alto luxo;

b) as residências em chócaras e sí tios daszonas urbana e suburbano;

c) os mansões;

d) os residências de área superior a 120metros quadrodos, localizadas em aye­nidas à beira·mor e beneficiados comserviços 'de pavimentação, abasteci­mento d'água e saneamento, bemcomo os que, com a mesmo metra­gem, estejam situados em praias deveraneio e estanôas hidrominera·ls.

Parágrafo único - Considero-se habita­çõo de alto luxo o imóvel cujo meho qua­

drado de construção seja de custo atual su­perior ao preço médio vigorante no comér­

cio imobiliário.

Art. 7.° - Os síndicos de condomínio eos porteiros de edifícios deverõo notificor osautoridades policiais sôbre a existência deapartamentos vagos por mais de 30 dias,logo que se esgotar êsse prazo.

Arl. 8° - O candidato à locoção dekabitação \logo há mais de 30 dias deveráindicá-lo à autoridade policial, que registro­ró o denúncia, fornecendo protocolo ao in­teressado, o Qual serviró para comproyar oprioridade na locação, havendo mais de um

interessado na mesma habitaçcio, em igual­dade de condições.

Art. 9.° - Recebido o denúncia, a au­toridade policial, dentro do prazo do Lei,intimará o proprietário ou seu representan­te, para prestar declarações.

Art. 10 - Configurando-se a situaçõoprey'lsta no art. 9.°, VI, da Lei n.o 1 .521,de 26- 12-1951, o proprietário seró proces­sado no forma da Lei.

Art. l I - O síndico do edifício provi­denciará para que, na entrado do mesmo,seia afixado relação dos apartamentos vo­gas, com a dota da desocupaçõo, preço doaluguel, enderêço do proprietário ou de seurepresentante e indicaçõo do pessoa e dolocal onde se encontra o respectiva chave, ofim de facilitar a visita dos pretendentesa locatários.

§ 1.° - Vago o imóvel, paro definiçõode responsabilidade, o síndico da edifíciocomunicará, por escrito, ao CODEP, nopralO de 48 horas, a recusa do proprietá·rio ou de seu representante em fornecer asinformações paro o fiel observância dêsteartigo.

§ 2.° Às cosas residenciais desocupa·dos estende-se o Que preceituo êste artigo,ficando sob a direta responsabilidade doproprietário o inteiro cumprimento das dis­

posições nêle contidos.

Art. 12 - Poro os efeitos da letra g,do orl. 1. 0, do Decreto n.o 53.702, de14-3-64, somente seró considerado o mobi­

liário completo de tódos os dependências doimóvel.

Art. 13 - A alegação do proprietário,de Que o imóvel se encontra à vendo, nõoobstará a aplicaçõo do lei penol, queobriga o alugá-lo, quando desocupado pormois de 30 dias, havendo pretendente à lo­cação.

Parágrafo unlco - Findo aQuêle prazo,o autoridade policial considerará a alegoçõode estar o imóyel à venda como recuso 00

cumprimento do disposto nesta regulamen­tação.

Art. 14 - A solução dos casos não pre­vistos na presente regulamentaçõo seró daalçada do Ministro da Justiça e NegóciosInteriores.

Abelardo Jurema

D.O. 30·3·1964~

JUNHO - 1964~~---------~-~----------~'-'-'~-'-'---- - --

I.EI 1'01.0 4.330 - DE 1 DE JUNHO DE 1964

221

DIREITO

DE

GREVE

Regulo o direito de greve, no formo do art.

158. do Constituição Federol.

o Presidente da República:Faço saber que o Congresso Nacional decreta e

eu sanciono a seguinte lei:

TíTULO I

Do Direito de Greve

CAPITULO I

Conceito e Extensão

Art. 1.° - O Direito de Greve. reconhecido peloart. 158 da Constituição Federal, será exercido nostérmos da presente lei.

Art. 2.° - Considerar-se-á exercício legítimo dagreve a suspensão coletiva e temporária da pres­tação de serviços a empregador, por deliberação deassembléia-geral de entidade sindical representa­tiva da categoria proflssional interessada na me­lhoria ou manutenção das condições de trabalhovigentes na emprêsa ou emprêsfls correspondentes àcategoria. total ou parcialmente, com a indicaçãoprévia e por escrito das reivindicações formuladaspelos empregados, na forma e de acôrdo com asdisposições previstas nesta lei.

Art. 3.° - Só poderão participar da greve aspessoas fisicas que prestem serviços de naturezanão eventual a empregador, sob a dependência dêstee mediante salário.

Art. 4.° - A greve não pode ser exercida pelosfuncionários e servidores da União, Estados, Ter­ritórios, Municípios e autarquias. salvo se se tratarde serviço industrial e o pessoa] não receber remu­neração fixada por lei ou estiver amparado pelaLegislação do Trabalho.

Art. 5° - O exercício do Direito de Greve deveráser autorizado por decisão da Assembléia-Geral daentidade sindical, que representar a categoria pro­fissional dos associados. por 2/3 (dois terços), emprimeira convocação. e por 1'3 (um têrçol, emsegunda convocação. em escrutínio secreto e pormaioria de votos_

222 REVISTA DE I~FORMAÇÃO LEGISLATIVA

~ L" - A Assembléia-Geral instalar-se-á e funcionará na sede da Sindícato ouno local designado pela Federação ou Confederação interessada, podendo, entretanto,reunir-se, simultàneamente, na sede das delegacias e seções dos Sindicatos (Consolida­ção das Leis do Trabalho, art. 517, § 2.°), se sua base territorial fôr intermunicipal, es­tadual ou nacional.

~ 2.° - Entre a primeira e a segunda convocação deverá haver o interregno mi­

nimo de 2 (dois} dias.

~ 3.° - O quorum de votação será de 1/8 {Um oita voJ dos associados em se­gunda convocação, nas entidades sindicais que representem mais de 5.000 (cinco mil)profissionais da respectiva categoria,

CAPITULO II

Condições para o ExercícÍ{) do Direito de Greve

SEÇÁo I

Das Assembléias-Gerais

Art. 6." - A Assembléia-Geral será conyocada pela Diretoria da entidade sindicalinteressRda, com a publicação de editais nos jornais do local da situação da emprêsa,com a antecedência minima de 10 <dez} dias.

1.0 - O edital de convocação conterá:

al indicação de local, dia e bora para a rel\lização da Assembléia-Geral;

b I designação da ordem do dia, que será exclusivamente destinada àdiscussão das reivindicações e deliberação sôbre o movimento grevista.

* 2.0 - As decisões da Assembléia-Geral serão adotadas com a utilização das cé­dulas "sim" e "não".

~ 3.° ~ A Mesa apuradora será presidida por membro do Ministério Publico doTrabalho ou por pessoa de notória idoneidade, designada pelo Procurador-Geral do Tra­balho ou Procuradores Regionais.

Art. 7.° ~ Apurada a votação e lavrada a ata, o Presidente da Assembléia provi­denciara a remessa de cópia autenticada do que foi deliberado pela maioria ao "Diretordo Departamento Nacional do Trabalho ou Delegado Regional do Trabalho".

Art. 8. o ~ l1: vedada às pessoas físicas ou jurídicas, estranhas à entidade sindical,qualquer interferéncia na Assembléia-Geral, salvo os delegados do Ministério do Tra­balho e PrevidênCia Social, especialmente designados pelo Ministro ou por quem o re­presente.

Art. 9.° - Não existindo Sindicato que represente a categoria profissional, a Assem­bléia-Geral sera promovida pela Federação a que se vincularia a entidade sindical ou,na hipótese de inexistência desta, pela correspondente Confederação.

Parágrafo único - Quando as reivindicações forem formuladas por empregados.ainda não representados por Sindicatos ou entidade sindical de grau superior, a Assem-

JUNHO - 1964 223-------~-~-_.~---_.- ---- -- -~ '~.--- _.- -- ------

bléia~Geral será promovida pelo Diretor do Departamento Nacional do Trabalho, no Dis­trito Federal, e pelos Delegados Regionais do Trabalho, nos Estados, a requerimento dosinteressados .

SEÇÃO 11

Das Notificações

Art. 10 - Aprovadas as reivindicações profissionais e autorizada a greve, a Dire­toria da entidade sindical notificará o empregador, por escrito, assegurando-lhe o prazode 5 (cinco) dias para a solução pleiteada pelos empregados, Sob pena de abstenção pa­cífica e temporária do trabalho, a partir do mês, dia e hora que nela. mencionará, como interregno minirno de 5 (cinco) dias, nas atividades acessórias e de 10 <dez) dias nasatividades fundamentais.

§ 1,0 - A Diretoria enviará cópias autenticadas da notificação às autoridadesmencionadas no art. 7.° desta lei, a fim de que adotem providências para a manutençãoda ordem, garantindo os empregados no exercício legítimo da greve e resguardando aemprêsa de quaisquer danos.

§ 2.° - Recebendo a comunicação prevista no parágrafo anterior, o Diretor do

Departamento Nacional do Trabalho ou o Delegado Regional do Trabalho a transmitirá

ao Ministério Pilblico do Trabalho. que podera suscítar, de ofício, dissídio coletivo para

conhecimento das reivindicações formuladas pelos empregados, sem prejuízo da para­lisação do trabalho,

SEÇÃO UI

Da Conciliaçáo

Art. 11 - O Diretor do Departamento Nacional do Trabalho ou o Delegado Re­gional do Trabalho adotará tôdas as providências para efetivar a conciliação entre em­pregados e empregadores, com a assistência do Ministério Público do Trabalho ou do Mj­

nistério Público local, onde não houver representante daquele, no prazo de 5 (cinco)dias, a partir da deliberação da Assembléia-Geral que tiver autorizado a greve.

CAPíTULO III

Das Atividades Fundamentais

Art. 12 - Consideram-se fundamentais as atividades nos serviços de água, energia,

luz, gás. esgotos. comunicações, transportes, carga ou descarga, serviço funerário. hos­pitais, maternidades, venda de géneros alimentícios de prímeira necessidade, farmáciase drogarias, hotéis e indústrias básicas ou essenciais à defesa nacional.

Parágrafo único - o Presidente da República, ouvidos os órgãos compet,entes, bai­

xará, dentro de 30 (trinta) dias. decreto especificando as indústrias basicas ou essen­ciais à defesa nacional, cuja revisão será permitida de 2 (dois) em 2 (dois) anos.

224 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Art. 13 - Nos transportes (terrestre, marítimo, fluvial e aéreo) a paralisação dotrabalho em veiculos em trânsito e dos respectivos serviços, só sera permitida após aconclusão da viagem, nos pontos terminais.

Art. 14 - Nas atividades fundamentais que não possam sofrer paralisação, as

auwridades competentes farão guarnecer e funcionar os respectivos serviços.

Art, 15 ~ A requerimento do empregador e por determinação do Tribunal do Tra~

balho competente, os grevistas organizarão turmas de emergência, com o pessoal estrita­mente necessário à conservação das máquinas e de tudo que, na empresa, exija assistênciapermanente, de modo a assegurar o reinício dos trabalhos logo após o término da greve,

ArL 16 ~ Será de 12 (setenta e dUas) horas o pré-aviso para a deflagração dagreve, nas atividades fundamentais e nas acessórias, quando motivada pela falta depagamento de salário nos prazos previstos em lei, ou pelo não-cumprimento de decisão,proferida em dissídio coletivo, que tenha transitado em julgado.

CAPiTULO IV

Do Exercício do Direito de Greve

Art, 17 - Decorridos os prazOs previstos nesta lei, e sendo impossível a conciliaçãopreconizada no art. 11, os empregados poderão abandonar, pacificamente, o trabalho.

desocupElndo o estabelecimento da emprêsa.

Parã.grafo único - As autoridades garantirão li~·re acesso ao local de trabalho aosque queiram prosseguir na prestação de serviço.

Art. 18 - Os grevistas não poderão praticar quaisquer atos de violência contrapessoas e bens (agressão, depredação, sabotagem. invasão do estabelecimento, insultos,afixação ou ostentação de cartazes ofenshos às autoridades ou ao empregador ou outrosde igual natureza), sob pena de demissão, por falta grave, sem prejuÍZO da responsabllldade

criminal, de acôrdo com a legislação vigente.

CAPíTULO V

Das Garantias dos Grevistas

Art. 19 - São garantias dos grevistas:

I - o aliciamento pacífico;

II - a coleta de donativos e o uso de cartazes de propaganda. peJos grevistas,desde que não ofensivos e estranhos às reivindicações da categoria pro­fissional;

lU - proibição, ao empregador, de admitir empregadOS em substituição aosgrevistas.

Parágrafo único - Nos períodos de prepllração, declaração e no curso da greve, ost'n1pregados que dela participarem não poderão sofrer constrangimento ou coação.

JUNHO - 1964

Art. 2{) - A greve Iicíta não rescinde o contrato de trabalho. nem extingue os direi­tos e obrigações dêle resultantes.

Parágrafo único - A greve suspende o contrato de trabalho, assegurando aos gre­vistas o pagamento dos salários dUrante o período da sua duração e o cômputo dotempo de paralisação como de trabalho efetivo, se deferidas, pelo empregador ou pelaJustiça do Trabalho, as reivindicações formuladas pelos empregados, total ou par­cialmente.

Art. 21 - Os membros da Diretoria da entidade sindical, representativa dos gre­vistas, não poderão ser presos ou detidos, salvo em flagrante delito oU em obediênciaa mandado judicial.

CAPiTULO VI

Da Ilegalidade da Greve

Art. 22 - A greve será reputada ilegal:

1 - se não atendidos os prazos e as condições estabelecidas nesta lei;

II - se tiver por objeto reivindicações jUlgadas improcedentes pela Justiçado Trabalho, em decisão deflnitiva, há menos de 1 (um) ano;

UI - se deflagrada por motivos políticos, partidários, religiosos, sociais, deapoio· ou solidariedade, sem Quaisquer reivindicações que interessem, di­reta ou legitimamente, à categoria profissional;

IV - se tiver por fim alterar condição constante de acôrdo sindical, conven­ção coletiva de trabalho ou decisão normativa da Justiça do Trabalho,em vigor, salvo se tiverem sido modifica·dos substancialmente os funda­mentos em que se apoiamo

T(TULO 11

Da Intervenção da Justiça do Trabalho

CAPITULO 1

Do Dissídio Coletivo

Art. 23 - Caso não se efetive a conciliação prevista no art. 11, o MinJstério Públicodo Trabalho ou o representante local do Ministério Público comunicará a ocorrência aoPresidente do respectivo Tribunal Regional do Trabalho, instaurando-se o dissidiocoletivo, nos têrmos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho.

CAPITULO 11

Das Revisões Tarifárias e Das Majorações de Preços

Art. 24 - sempre que o atendimenta das reivindicações dos assalariados importarem revisões tarifárias e majorações de preços das utilidades. o Ministério Público do

226 REVISTA DE I....FORMAÇÃO LEGISlA.TlVA---~---

Trabalho promoverá a realização de perícia contábil para verificação total dos aumentos

obtidos nas majorações salariais e indicará ao Poder Executivo a redução dos aumentos

excessivos, segundo o apurado pela perícia.

Pará.grafo único ~ Não dev€m ser considerados os aumentos deferidos aos Diretores

e auxiliares diretos da emprêsa, os créditos de companhias subsidiarias ou a conversão

da dívida em moeda estrangeira, com o propósito de reduzir os lucros e onerar a despesa.

CAPITULO III

Da Cessação da Greve

Art. 25 ~ A greve cessará:

I - por deliberação da maioria dos assocíados, em As.sembléia~Geral;

II - por conciliação:

UI ~ por decisão adotada pela Justiça do Trabalho.

T:,L~

Art. 26 - Cessada a greve, nenhuma penalidade poderá. ser imposta pt;;1o empregador

ao empregado por motivo de participação pacífica na mesma.

TITULO 111

Da Intringência Disciplinar e do Infração lIeglll

CAPITULO I

Das Sanções Disciplinares

Art. 27 - Pelos excessos praticados e compreendidos no âmbito da disciplina dotrabalho, os grevistas poderão ser punidos com;

(l \ advertência;

b) suspensão até 30 (trinta) dias:

C) rescisão do contrato de trabalho.

Parágrafo único - Se imputada ao empregado, no decorrer da greve, a prática de

ato de natureza penal, ao empregador será licito suspendê~lo até decisão final da justiça

criminaL Se o empregado fôr absolvido, terá direito de optar pela volta ao emprêgo,

com as vantagens devidas, oU pela percepção, em dóbro, dos salários correspondentes

ao tempo da suspensão, sem prejuízo da indenização legal.

Art. 28 - As penas impostas aos grevistas, nos termos do artigo 27, poderão ser

examinadas e julgadas pela Justiça do Trabalho.

JUNHO - 1964

CAPiTULO Il

Dos Crimes e Das Penas

227

Art. 29 - Além dos previstos no TnULO IV da Parte Especial do Código Penal,constituem crimes contra a organização do trabalho:

I ~ promover, participar ou insuflar greve ou loc.1c-ou t com desrespeito aesta lei;

II - incitar desrespeito à sentença normativa da Justiça do Trabalho que pusertêrmo à greve ou obstar a suo. execução:

UI ~ deixar o empregador, maliciosamente. de cumprir decisões normativas daJustiça do Trabalho, ou obstar a sua execução;

IV - incitar à greve ou lock-out, ou aliciar participantes, quando estranho àprofissão ou atividades econõmicas;

v - onerar a despesa com dividas ficticias ou, de qUalquer modo, alterarmaliciosamente os lançamentos contábeis, para obter majoração detarifas ou preços;

VI ~ adicionar aos lucros ou fnzer investimentos com os rendimentos obtidoscom revisâo tarífária ou aumento de preços especificamente destinadosa aumentos salariais de empregados;

VII - praticar coação para impedir ou exercer a greve.

PENA: Reclusão de 6 (seis) meSBS a 1 (Um) ano e multa de CrS 5.000,00 (cincomil cruzeiros) a Cr$ 100.000,00 (CEm lTIil cruzeiros). Ao reincidente aplicar-se-á apenalidade em dôbro.

Parágrafo único ~ Os estrangeiros que illfringirem as prescnçoes desta lei serãopassíveis de expulsão do território nacional, a juizo do Govêrno.

Art. 30 - Aplicam-se, no que couber. as disposições desta lei à paralisacão daatividade da emprêsa por iniciativa do empregador (lock-outJ.

TITULO IV

Disposições Finais

Art. 31 - A autoridade que impedir oU tentar impedir o legítimo exercicio dagreve será responsabilizada, na forma da legislação em vigor.

Art. 32 - ReVogam~se as disposições em contrário, especialmente ü Decreto-Lein." 9.070, de 15 de março de 1946.

Brasília, P de junho de 1964; 143.° d.l Indep~ndência e 7ô.o da República.

H. CASTELLO BRANCO

Arnaldo Sussekinã

Milton Campos

228 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

Le 9 janvier 1962 le projet de loi omendontla \oi sur la réforme fonciere a été opprouvé porle cansei I des ministres et il fut immédiotementnotifié ou ministere de I'ogriculture pour appli­cation.

CHAPITRE I

Article 1

Les express'lons utilisées dons ta présente loi, oupoint de vue de I'application de la dite loi, sontdéfinies comme suit:

REFORMA

AGRÁRIA

NOIRAN

1 - Agriculture - Comprend la production desrécoltes por des opérotions ogricoles et dejardinage.

2 - Paysao - Celui qui n'est pas le propriétairede la terre et qui, en possédant un Ou plu­sieurs éléments agricoles, se livre personnelle­ment et directement ovec le concours desmembres de so fomi Ile, à I'ogriculture sur uneterre opportenont Ô un propriétaire et remetou propriétoire une por~ie de lo recohe eoespéces ou en nature.

3 - Fermier - Celui qui n'est pos le propriétoirede la terre ct qui, en possédan~ un ou plu­sieurs éléments agricoles, utilise des ogricul­teurs ou des ouwiers ogricoles qui se livrentà des activités ogricoJes sur une terre appar­tenant à un propriétaire et qui livre ou pro­priétoire une partie de la récolte en espécesou en noture.

4 ~ AgricuJteur - Celui qui n'est pas le pro­priétoire de la terre et d'outres éléments agri­coles et qui, contre des prestotions en trovoilogricole paur le compte du propriétaire ou dufermier, a droit à une portie de la récolte.

S ~ Ouvrier ogrícole - Celui qui n'est pos lepropriétoíre de lo terre e~ d'autres élémentsogricoles, et qui, contre des prestotions dé­terminées de trovoil ogricole reçoit un soloireen espéces ou en noture.

6 Chef de famille - Celui qui a lo charge d'unefomi!le.

7 Fomillc - Comprend la femmE" ct les en­fants à la charge ou sous lo tutelle clu chelde fornille et qui, ou sens des dispositions delo presente loi, est comptée comme une per­sonne.

8 - Propriétaire ~ Celui qui a la propriété de laterre sons se livrer personnellement à uneaç~ivité ogricole.

9 - Les personnes mentionnees à lo presente loicomprcnnent oussi bien les personnes physi­ques que les personl1es furidíques.

JUNHO - 1964___c .~ · ._._

229

10 - Villoge - Le village est le centrede résidence et de travai I d'un Cer­tain nambre de familfes qui se li­vrent Ô I'agriculture sur les terresde ce village, dont le revenu de lamojorité d'entre elle pravient def'agricufture et qui est reconnucomme étant un villoge par les lois.

1I - Terre ~ Une terre, ou sens de Joprésente loí, est une terre cultivéeou en jachére utilisêe pour une ouplusieurs catégories d'opérationsagriçoles.

o) Une terre en jachére est une terrequi reste ou maximum trois anssons être cultivée.

b) Un paturage est une terre setrouvant en mantagne ou en plai­ne oú pousse nature\lement deI'herbe et dont choque hectareest suffisont pour alimenter, oumoins pendant une saison, troismoutons ou I'équivalent en bé­tail.

c) Bocoge - Le bocage est uneterre sur laquelle des arbres nonfruitiers ont été plantés et dontle nombre d'arbres dépasse unmillíer por hectare.

d) Jardin fruítíer - C'est une terresur faquelle des arbres fruitiersou des vignes ont été plantés etdant le nombre d'orbres ou deplantes n'est pos inférieur à Centpar hectare, et s'il s'ogit dedattíers ou d'oliviers, ce nombrene sera pos inférieur à dnquontepar hectare.

CHAPITRE \I

Limites de lo Propriété

Article 2

Le maximum de la prapriété agricole d'unepersonne dons taut (e pays est d'un villogeen toute propriété.

Les propriéta;res Qui possédent plus d'unviJJoge peuvent choisir, camme ils le veulent,un village pormi ceux qu'ils possedent. Lesurplus sera réporti selon les disposítions dela présente loi.

Remearque 1 _ Ceux qui passedent, enplus d'un ou de plusieurs villoges en toutepropríété, des terres en taute propriété ounon, disseminées en plusieurs points, peu­vent, si les dites terres disséminées sont

équivolentes ou supérieures ô un village enroute propriété, choisir des terres dissémí­nées représentont la rnoyenne en toute pro­priété déterminée por lo présente loi au lieude lo parte qui leu r revient en applicationde }'articJe 2.

Remarque 2. Celui qui posséderait desterres disséminées représentant plus queI'unité en toute propriété, peut conserve rpor devers lui des superfícies ne dépossantpas l'unHé en toute propriété.

Remarque 3. Les propríétaires Qui sontfrappés par les dispasitions des remarques ret 2 doivent, iusqu'à la dote du communi­Qué du Ministere de I'Agriculture concer­nont le partage du surplus dons leur région,remettre ou ou aux poysans du dit .,.iI10ge,le surplus de leurs terres. Dons le controire,le dit surplus dépossont les limites légales,sera oeheté par le gouvernement selon lesdispositions de la presente loi et portogéconformément à un réglement Qui seráopprouvé par le conseil des ministres.

Remarque 4. En ce qui concerne Jespropriétés érigées en fondations jusqu'ou14-9-1338, privées ou publiques, elles con­serveront ce caractere dans les limites de loprésente lo;. Le montant provenont de tavente du surplus des terres de la fondation,sera affecté, sous le contrôle de I'adminis­trotion des fondotíons, à I'achat d'autresbiens, conformément aux díspositions de )'or­ticle 90 du code civil.

Remarque S. A compter de la doted'approbation de la présente loi, toute me­sure destinée à échopper à I'applicotion desdispositions de lo présente loi, même sousle couvert de transfert, d'arrangement àf'omioble, de création de fondotion, etc. etvisant les villages défendus, sero considéréecomme nulJe et non avenue.

Remaf4lUe 6. En te qui concerne lesfondations porticuliéres, les oblígotions qui,en vertu de lo présente loi, sont à lo chorgedu propriétaire, le seront à celle de sessuccesseurs ou de leurs fondés de pouvoir.

Article 3

Les exceptions oux dispositíons de I'orti.ele 2 soM les suivontes:

1 - Les jardíns fruitiers, les plontotionsde thé et les bocages dont lo terreet les plantations apportíennent à unpropriétaire resteront 50 propriétéselon lo couturne.

2 - Les terres qui, à la date d'opprobo­tíon de la présente loi, sont exploi-

230 REVISTÂ DE INFORMÂÇÃO LEGISLÂTIVÂ. --- -.--'-- ----~~,_.~.- ---

Article 8

Dons toute région choisie avec l'opproba­tion du conseil de lo réforme fonciére paurétre le théátre du portoge des terres, leministre de I'Agriculture publiera 6 deUl(;reprises dons un journal 'ocol à grond tjragedeux avis à jntervalle de dix jours ou utili­sera les outres moyens usuels de communi­cotioo oux interesses.

Dons un délai d'un mais à compter de ladate de la publication du dernier avis, ceuxdont les terres en propriété dépassent lesnormes mentionnéO!s à I'article 2, doivent lementionner dons des formuloires imprimésmis á leur disposition par te mlnlstére deI'Agrículture et preciser les carocterístiquesde leurs proprjétés por ropport oux ditesnormes, ainsi que les exceptions prévues àl'article 3. Ils Y Joindront lo copie certifiéeconforme de leurs documents de propriété oule certificot de leur propriété et 'es re­mettront oux outorités prévues par le mi­nistére de "Agriculture, contrO! reçu.

Si lo remise de la dite dêclarotion n'estpas eHectuêe dons les délais importis ou si

Aux fins de déterminotion de lo politiquegénérale, de rédaction des réglements né­cessoires et de contrôle de la bonne exé­cution et des obligotions de lo présente loi,un canseil dénommé Cansei! de lo RéfarmeFonciêre sera constitué. 11 sero présidé porle ministre de I'agricu[ture et comprendra lechef de ['office de la réforme fonciére etQuatre fonctionnaires du ministére de I' Agr'l­culture qui seront ou moins djrecteurs géne­roux ou administroteurs-délégués d'offices.

Les réglements qu'il rédigera seront appli­qués oprés leur opprobation par le conseildes ministres.

Remorqlle 1. l'opplico~ion des décisionsdu dit consei! sera confiée à une orgoniso­tion dénommée Office de la Réforme Fon­ciére dont le dírecteur sera nommé por f'ir.man Império I sur proposition du ministre del'Agriculture. Les pouvoirs du dirccteur decet office et I'organisatjon du dit office fe·rcnt I'objet d'un réglement qui sera approuvépar fe ministre de I'ogriculture.

RemQrque 2. les prévisions des créditset l'opprobohon du budget seront de locompétence du conseil de lo reforme fon.ciére et le dit budget sera dépensé por 'edirecteur de l'affice.

tées mécaniquement sons le concoursdes poysons por des auvriers ogrico­les, feront exception oux dispositionsde I'orticle 2 et des remarques l,2, 3 tont qu'elles resteront explai­tées de cette façori .

Si I'exploitotion de ces terres 50rt ducadre de lo mécanisatiori agricolepar des ouvríers ogricoles, 'es ditesterres seront soumises oux disposi­tions de I'orticle 2 et des remo rques1, 2, 3.

Remarqlle. L'Office de lo Réforme Fon­ciére peut, à I'exception des terres cultivéeset en jachere, les installations et bàtimentsse trouvont sur ces terres, les canaux d'irri­got\on e~ les vaies publiques, oins\ Que lespoturages, procéder ou portage des autresterres se trouvont à I'intérieur des vilJogescanfo,mément à un réglement qui seraopprouvé par le cansei I des ministres et lesvendre oux requéronts qualifiés pou, qu'ilsse lívrent à I'agriculture et à I'élevoge.

Ârticle 4

A compte' de lo dote d'opprobation de loprésente loi, la cession ou lo vente de terresen surplus des limites prévues aux articles2 et J de la présente loi, à qui que ce soit,est dbfendue.

Article 5

A compter de la dote d'exécution de lopresente loi si, à lo suite d'un controt oud'une tronsaction quelconque, I'ensembledes propriétés apportenont a qui que ce soitdéposse le rnoximum fixé pa' les orticles 2et 3 de lo présente loi, le surplus sera remisgrotuitement à la disposition de l'Office delo Réforme Fonciére pour être portagé. Sices terres lui sont porvenues sons so volonté,le surplus sera ocheté et distribué selon lesdispositions de lo présente loi.

CHAPITIl.E 111

Les Terres à Djstribuer et les Dispositíons

r.'y Ap,pliquont

Article 6

Les terres qui, selon les dispos'ltions de loprésente 10i, seront partagees ct cédées, sontle suivontes:

o) Les terres des villoges qui, en appli­cation des disposjtions des art;cles 2et 3 de lo présente loi, dépossent leslimites fixées, que lo requête d'enre-

gistrement ait émanésieurs propriétoires.

bl Les terres en friche.

Article 7

d'un ou de plu-

Si la valeur estimÊee n'est pas suffisantepour payer I'ensernble de la dette ou créan­cier, y cornpris \es dommages et intérêts lé­gaux, le Créancier recourro oux moyens lé­goux pour obtenir le solde de 50 créonee.

Remarque. Si le créancier ne demandepos I'exécution de la soisie, I'oftice de la re­forme foneiere doit, ou nom du créoneier,lo demande r et opp\iQuer la loi, mais I'octiondu dit offiee dons lo demande d'exécutianet la poursuite des opérohons d'exécutiondépend du fait Que I'ensemble ou une partledes propriétés, objet des dites transoctions,soit soumis oux dispositions de lo présenteloi.

bJ Si I'ensemble ou une portie despropriétés, objet du portoge, fait \'obJet,apres le 14-9-1338, d'une transoctial1 hypo­thécoire ou d'une transaction ovec droit dereprise, le propriétaire doit dons les six maisqui suivent la date du début des operationsde portage dons cette région, dégoger lesdites propriétés de leur hypothéque, cor ou~

trement le gouvemement versero ou créan­eler ie montant de la dette du propriétairejusqu'à la concurrence de lo valeur des villo­ges estimée selon les dispositions de I'orticle10 et le fera conformément à l'ortic1e 11.

Dons ce cos, les dites propriétés serontlibérées immédiotement et les dispositionsde lo présente Joi s'y appliqueront, Le cré­oncier pourro reeourir à la loi pour le rem­boursement du solde de sa créonce.

Au ca5 ou le montont de la eréonce serainférieur à ja valeur estimée, la différencesero vcrsée ou propriétaire selon les díspo­sition, de I'article 1 1 .

Si les tronsoctíons mentionnées à I'al',néoa sont reconduites ou révisées opres la dateei-dessus indiquée, les terres seront soumisesoux dispositions de lo pré sente loí.

CHAPITRE IV

Estimation et Paiement de la Valeurdes Terres

Article 11

Lo voleur aínsi €stimée selon les disposi­hons de I'article 10 sero versée en dixanuités por le gouvernement.

Article 10

Artic:le 9

Dons toute reglon dons laquelle I'ordrede partoge o été rendu, la commission deI'odminístrotlon de I'ogriculture doit, aprésavoir déterminé les limites de la propriétéselon les dispasitions de la présente loi ets'étre prononce sur les terres Ó partager, éta­blir lo voleur des terres ó portager, sur labase de I'irnpôt sur la propriété cultivée eoprenant en considérotíon le eoeffkient desoperations sur res dites terres et tenantcompte de la date des dites opérations, dela nature des eultures, du portoge des re­coJtes et des droits du propriétoire dons cho­cune des régions détermínée par le minis­tere de I'Agriculture. Lo dite voleur seronotífiée selon les dispositions de i'orticle 13.

Les terres soumises OUX dispositions departage prevues à 10 présente loi ne grou­pent pas celles qui le 14-9-1338, ovaientelé louées officiellement, mais à eonditionqu'à cette date, I'échéance de la locationne dépassât pas cinq ans, et dons ee easel\es eanserveront leu r statut de terres louées,Si le controt de location dépossait cinq am,il sera abrogé pour la période dépassanteinq ons et les dites terres seront soumisesou portoge.

JUNHO - 1964 j 231

erre est ~~Iemmen~~on~roire 6 lo vérite, timatio~d~O oleur se ~~ro: ~: présenceI'outeur de lo dite déckuation, selon la dé- du créoncier et du débiteur, Apres la ré-císion du conseil de lo réforme fondere, sero doction du document de tronsfert, SI le pro-condomné à une amende de cent mille rials, priétoire n'o pas verse sa créonce 6 50n

eNte amende sera perçue selon le rég\ement créancier et n'o pos libére sa propriété, lesur I'exécution des octes officiels et 50n gouvernement Doiero la dette du propriétairemontant sera consacré 6 couvrir les dépen- jusqu'à concurrence de la valeur des ví\lagesses concernont I'opplicotion de lo presente qui ont été estimés selon les d'lsposítions deloi. Dons de tels cas, I'administration de lo présente loi. Le surplus sero rernis auxl'ogric:ulture établi ra lo liste et les carocté- paysans.ristiques demondées.

Artícle 13Article t2

a) En ce qui eoncerne les propriétés qui,ovont le '4-9-1338 ont fait I'objet de tran­sactions ofticielles hYDothécoires ou de droitde reprise, si le déloi de paíement de lacréance n'est pas échu, les forrnolités d'es-

Aprés ovoir déterminé les propríétés quidevrant être partagées, I'offiee de la ré formefonciére informera les propriétaires interessésoux adresses mentionnées dons leurs déelo­rotions, de lo valeur fixée, Un exemploi rede 50 décísíon sero publiée dons les jour-

232 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

naux. locaux et affichee dans les lieux dé­termines por le ministére de \' Agriculture.

Les dits propriétaires voulont protestercontre les propriétés désignées ou lo valeurestimée, s'adresseront ou ministere de I'Agri­culture pendant un délai rna)<imum de dixjou rs à com pte r de ce tte da te.

Les protestotions porvenues ou ministerede l'Agriculture ouxquelles seront íoints lesdocuments de I'évaluation, seront remises àune commission composée du premier mi­nistre, des ministres de l'Agriculture, de laJ ustice et des Finances et de trois expertsagricoles choisis pour choque région por lecansei! des ministres.

Lo dite commission examinero la plainteen présence du représentant des protesta­taires et prendra des décisions définitives àlo mojorité des voix.

Si le réprésentant des protestataires ne sepresente pos dans le délai imparti à I'exa­men des protestations, la commission exo­minera le cas en son absence et rendro 50

décision définitive.

Remarque 1. Si la valeur fixee n'estpas occeptée par I'affice de la réfarme fon­ciere, le dit affice paurra exciper de la der­niere portie de l'article 13.

Remarque 2. Quelle que ce soit laphase atteinte dons I'opplicotion de lo pré­sente loi, si le proprietaíre décede ou n'aplus le droit d'interven'lr, les phoses ufté­rieures seront réolisées en tenant au courantle procureur du tribunal local, sauf si lesheritiers ou le représentont légol du pro­priétoire sont connus.

Article 14

Apres lo decision définitive des autoritéscompetentes, I'office de la réforme fondéreinvite par écrit par ovis offiché dons le lieude partage le propriétaire pour la transmis­sion des documents de propriété ou nom dugouvernement (ministere de "Agriculturel etj'encoissement de la valeur des terres (selonles dispositions de la presente loi).

Si, dons un déloi de quinze jours à comp­ter de la dote du dit ovis, le propriétoire ouson représentant légal ne se presente paspOur le transfert et I'établissement des do­cuments, I'office de lo réforme fonderesignero les documents de transfert, dons undéloi d'une semoine, en informant le prO­cureur du tribunal local ou son représentant,et le fera ou nam du propriétaire.

Remarque. Dons le cos de transfert deproprietés ou gouvernement, si lo procédure

d'emegistrement es~ ~erminée mais \es ti·tres de propriété ne sont pos emis, le bureoud'enregistrement, opres la reolisotion de laprocédure prescrite, émettro des titres deproprieté au nom du gouvernement (minis­tere de I' Agricu\tureL

CHAPITRE V

Di,position, Concernant le Portag. ef laCenion de, Ternrl

Article 15

Le ministere de I'Agriculture doit cédersans déloi les propriétés visées à ceux quidoivent Jes recevoir en vertu de lo présenteloi, au prix d'ochot ovec un supplémentmoximum de dix pour cento Le dit montantsera perçu par lo Banque Agricole pendontun délai de quinze ans et por annuitéségoles.

Article 16

Les terres qui, en opplication de la pré­sente loi, seront partogées, seront remisesaux. chefs de fomilles et les priorités sui­vantes s'appliqueront dons la dite cessiondes terres:

a) Les poysans de choque lIillage se li­vront à de I'agriculture sur les terresdu dit village et étant résidents donsle dit village.

b} Les ogriculteurs se livrant à I'ogrjçul­ture dons le dit village.

cl Les ouvriers ogricoles residant dons lola région du portoge.

d) Ceux qui veulent se livrer à des opé-rotions agricoles.

Remarque, Les terres c:édées selon lesdispos'ltions de la presente loi seront remí­ses à c:eux qui, ouporovont, ont accepté loquaJite de membre de la societé coopérativedu dit village.

Artide 17

La cession des terres à ceux qui remplis­sent les conditions exigees à I'orticle 15 sefero de lo maniere suivante:

Les terres du viJloge, objet du portoge,seront cédées en tenont c:ompte de la di­vision sur la base de I'exploitation ogricoleet en commun aux paysans. Dons les cosjugés nécessaires por \'office de \0 réformefonciére, les terres du villoge feront I'objetd'un relevé de terrains et ensuite, confor­mément aux principes de I'exploitation ogri­cole, ils seroM divises et cédes oux paysons.

JUNHO - 1964-----_.-..__._.2.33

Remarque 1. Les terres irriçuées serontrédees selon les djspositiotls de lo présenteloi avec: leurs oménagements konoux, ri­viere etc.) aux paysans. La détermin'ltionde la quantité d'eau affectée aux différentesterres irriguées sur I'ensemble de I'eau àleu r disposition s'étoblira selon les coutu­mes focoles en prenant en consideration lesterres en iachere. Quant aux canoux d'irri­gation des propriétés communes, iIs se­ront répartis selon les besoins des terres cé­dées aux paysans. Les terres irriguées par uncour d'eau constituant une propriété commu­ne bénéficieront d'une alimentation en eouselon leurs be.oins. La surveiiJance, I'en­tretien er les aménagements de ces sourcesd'irrigation seront à la charge des sociétéscooperatives.

Remarque 2.. Si les terres irriguées res­tent à la disposition du ou des propriétai­res et une partie d'entre elles est cédee àun ou plusieurs poysans en opplication desdispositions de la présente loi, et en gêné­rol toute propriété en commun irriguée,possédant un ou plusieurs canoux, des puitsprotonds ou des ruisseoux seront odminis­trées, en ce qui concerne I'alimentation eneau por la mojorité des propriétoires ounom de tous les propriétoires. Chacun d'euxnéanmoins subviendra aux frais communsdons les limites de so pelrt. A la re­quête de la majorité des propriétai res leconseíl pour la salution des différends res­semblera la rêcolte. La ma;arité des pro­priétaires s'entend en raison de la majoritédes terres.

CHAPITRE VI

Reglementation Concemont Les Terres

Distribuées

Artic:le 18

Tout ce qui en vertu des dispositions de lapré sente loi, est partogé et cédé aux ayant­droi~ fera "objet d'une émíssion de titresde propriété ou nom des bénéficiai res desdites c:ess1ons. Les terres cédées seront hy­pothéquées au profí~ du ministere de 1'09ri­culture pour garanti r I'encaissement desonnuj~és à verse!.

Artic:le 19

Toute tronsoction portont sur fes terrescédees qui entrainerait une division des di­tes terres en lot$ plus petits que le mini·mum fixé par le minístere de I'agriculture

pour choque région, est interdite et seroonnulée.

Si un payson décede et si ses héritiersne peuvent pos s'entendre sur l'adminis­tratian de la propriété, i1s pourront, en ob­servont les dispositions de la premiere par­tie de cet article, vendre leurs parts à d'au­tres paysans et dons Ce cos, le versementdes onnuités dues sero Q la charge des nou­veoux acheteurs.

Tout poyson peut, jusqu'à la eotleurrencedu double du minimum fixé à I'artiele 17de la presente 10i, acheter des terres oppar­tenant seu!ement à un village.

Remarque 1. Si les paysons auxquelsles terres sont cédées ne peuvent pas col­laborer oux activités de production et dedévefoppement économlque selon le pro­gromme étobli par la société coopérative etréoliser oinsi leurs obligations, la sociétécoopérotive peut decide r de les exc!ure deses membres et agi r envers les terres qui leu ront été cédées conformément à la demi,hepartie de "artiele 28 de la présente loi.

Remarque 2. Si les terres cédées ser­vent à des utilisations autres que l'agricul­ture et dont le revenu est plU5 considérableque celui provenant de I'agriculture, le mi­nistere de l'agriculture, opres exomen delo situotion, pOUTra en autoriser le morcel­lement ct la vente.

CHAPITRE VII

Les Rapports Entre Paysans et Proprietaíres

Artie;Je 20

(I) A compter de lo date d'opprobotionde la présente loi, les obl igations, les rop­ports entre paysans et propríétoires et lonature du portoge des récoltes dons toutesles régions du poys serant conformés aux dis­positions suivantes:

1 - le versement des trais de réparo­tian et d'entretien des conaux d'ir­riçatian, comprenant le nettoyage,le forage, le dragage, le dévelop­pement et en géneral toutes lesmesures destinées à maintenir lesconQuX en état, de même que lesfrais d'entretien des puits d'eau,des cours d'eou des ruisseaux, desCOnOUX cimentés, des barroges etdígues et semblobles seront so'~mis

oUx dispositions locales.

2 - Le versement des frais concernentles moteurs, les pompes el I'irrigo­tion se fero selon les coutumes lo~

cales, mois en chercnont à utiliser

234 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

les moyens modemes d'irrigation.Remarque. Dons les cas Ou unoccord porticulier aurait éte eta­bli entre paysans et propriétairessur le paiement des frais et I'utili­sation des pompes et des moteurS,ce sont les d;spositions de cet ae­cord qui s'appliqueront.

3 - L'abtentian de semences de bannequalité, selon les coutumes 'Iocoles,sera à la chorge du propriétaire.

4 - Dans les régions qui le prévoient,les paysans collaboreront à I'ame­liaration des semences.

5 - Lo réalisation des autres obliga­tions determinées ou à déterminerpor les lois et ,églements, selonles coutumes locales, sont à lochorge des propriétaires.

b) Les obligatians des paysans sont lessui'Vontes:

1 - Realisotion des activités agricolestelles que préparation de la terreà la charrue, cultures, recoltesetc., selon les coutumes (ocales.

2 - Preparation des semences necessai­res dons les régions Ou la dite pré­parotian est à la charge des pay­sons.

Remarque. Si à la date del'ap­probatioo de lo présente loi, desdispasitians spéciales sont en vi­gueur entre proprietaires et poy­sans concemont les opératians ci­dessus elles s'y oppliqueron1 etpaur I'ovenir, les parties peuventégalement condu,e des accordsentre elles.

c) Les obligations communes des pro­priétaires et des paysans sont les suivantes:

1 - Surveillance, sauvegarde ct entre­tien des canaux, des puits, desbassi ns, des f;mi tes de I' irriga ti on .Efforts et décisions pour prévenirle gaspiltage de I'eou et pour pro­voquer une meilleure utilisation def'eau dans les exploitations ag,;co­les.

2 - Versement des frais nécessairespaur les engrois chirniques et talutte contre les parasites des plan­tes.

RemClrque. Chacun des pra­priétaires et des paysans qui con­tribue au versement des fraisd'achat d'engrais chimiques et de

lutte contre les parasites des plan­tes, peut, ovant le partage de lorécolte, se foire rembourser les ditshois.

3 - Le paiernent des traitements dwmaire, des surveillantes des chomps,de ceux Qui partogent l'eou entreles propriétés se fera selon lescautumes locales.

4 - Surveillance dans lo sauvegarde etl'entreflen des a rbres, des ja,rdins,ainsi que des institutions d'wtilitépublique telles qu'écoles, réservoirsd'eau etc.

5 - Remise aux fonctionnaires du mi­nistére de I'agriculture de tautesles informations nécessaires sur lescentres de produc~ion, les Ques­tions agricoles et soôales du vil·foge, réolisation des instructionstechniques des dits fonctionnaireset de leurs directives paur étendreles surfaces cultivées et améliorerI'exproitation agricale.

Remarqu.e. A compter de lo dote d'op­probation de lo présente loi il est interditde modifier le systéme de la jachére desterres. Sere reconnu comme poysan celuiqui aura en 50 possession en I'exploitant loterre (cultivée ou en jochére) sur laquelleil se trowvera à la date de l'approbation dela presente loi.

Article 21

Si un propriétaíre n'agit pas, au mameMvoulu, confonnément ô I'ensemble ou à uneportie de ses obligations, le paysan, sur or­dre de lo cammission de solutian des dif.férends prévue à I'article 33 de lo presente10i, versem les frais nécessaires dons les li­mites de ses possibilites et entreprendra di­rectement I'exploitation agricole. Dons cet­te hypothése, la part du propriétaire ne seraque des deux pour cent de l'ensemble delo récolte. Cette proportion sera maintenuet:mt que re propriétaire n'aura pas versétous les frais payés par le poysan et n'agirapas selon ses obligations.

Remcorque. Les commrsslons de solu·tion des différends, dans les cas mentian­nés ci-dessus, examinerant ces questions eodehors de leur ordre du jour et emettrontleurs décisions.

Article 22

Les paysans qui, à la date d'approbotionde la présente 10i, se lívrent, dons un vil­laçe, à J'exploitotion agricole, sont recon·

JUNHO - 1964 235

nus comme résidents dons le dit villoge. Au­cun propriétoire n'o le droit, seus oucunpretexte, d'expulser un poyson du villogeou des terres sur lesquelles i I travoi lIedons I'ogriculture, ou de I'ernpécher depoursuivre ses activités ogrícoles.

Remarque 1. Lo réolisation d'octiv'ltésogricoles par le propriétoire sur des terresen possession de poysans ou sur lesque!lesil dispose d'in~tollotions ou outres, est outori­sée opres ovoir obtenu le consentement despoysans et I'ochot de ce qui leu r oppartientsur les dites terres par acre officiel.

Remarque 1. Dons les terres qui res­tont à lo disposition du propriétoi re, ce der­nier peut se lívrer à toute octivité possiblepaur ougmenter les revenus des dites ter­res. I1 peut, s'il le veut, ovec le consente­ment des poysans du villoge et si ces der­niers le lui refusent, avec celui de lo com­mission de soJution des différends, ocheterle droit des dits poysons.

Remarque 3. Si le propriétoire de tellespropriétés ne peut pos exploíter les terresqu'il posséde comme if le fout, le rnínistérede l'agriculture peut ocheter ces terres oupropriétoire conformément oux dispositionsde lo présente loi et les céder à un ou piu­sieurs paysons.

Remarque 4. Le réglement d'opp\ico­tion des remarques 1 et 2 sero étobli parle conseiJ de lo réforme fonciére et opprou­vé par le conseil des ministres.

Artide 23

Si un poyson s'obstient de cultiver lo ter­re qui est so propriété ou 5';1 agit controire­ment oux obligotions qu'i1 doít assume r envertu des dispositions de \0 présente loi, lepropriétaire s'adressero à lo commiosion desolution des différends prévue à I'arflcle 33de lo présente loi.

D:Jrls le cos prévu à \0 premiére partiede cet article, la dite commission, aprésétude de l'attitude du poysan, lui retirerolo propriété de so terre.

Artide 24

Lo part du paysan et du propriétoire surla récolte quelle qu'elle soit, leur sera re­mise selon les coutumes locales, mais àcompter de lo dote d'approbotion de la pré­sente loi et dons toutes les régíons du pays,le propriétaire doit ougmenter lo port ogri­cole des poysans de cinq pour cent dons lesterres irriguées et de dix pour cent dansles terres orrosées noturellement qui serontprélevées sur le revenu net de sa part depropriétoire.

Remarque. Dons les régions ou la li­vraison des éléments d'ogriculture est à lachorge du propriétaire ou du fermier et letravo; I ogricole à celle du poyson, les aug­mentations prévues ou present orticle béné­ficieront ou poyson,

Article 2S

Les amél;aration5 apportées par le paysanoux installations se trouvont sur les terreslui oppartiennent et il peut les foí re enre­gistrer en son nom et en abtenir un titrede propriété, mais toute améJioratíon nou­velle dépend de I'opprobotion écrite du pro­priétoire.

Remarque Si dons les villoges qui nesont pos soumis oux dispositions de trans­fert et de portoge, lo mojorité des poysonsveut construire des nouvelles moisohs, lespropriétaires doivent remettre grotuitementaux requérants un maximum de cinq centsmétres por POYSOf\ paur leur permettre deconstruire des moísons, des hangars et desétobles, ainsi que des terres en suffisoncepour la construcbon de mosquées, de boins,d'écoles et d'outres semblobles en un lieuopproprié, détermíné por \'odministrotion deJ'ogriculture. Les dits poysons doivent, donsun délai moximum d'une onnée à compterde la date de lo cessian des terres, procé­der oux dites constructions en observont lescondltions d'nygie'11l! et conformément ouxplons qui reur seront remis por le ministé­re de I'agriculture, outrement les terres cé­dées seront rétrocédées oux propriétaires.

CHAPITRE VIII

Dispositions Financieres

Artíde 26

Les crédits nécessoi res Ó lo réol isotion delo présente 10\ et les dépenses concernantI'odministration et les opéroNons de réformefonciére seront prévus ou budget gênérolet plocés à \0 dispasition de I'odrnínistro­tion de lo ré forme fonciére.

Article 27

Les recus et les versements provenont de)0 vente ~eront remis en dépót ó la BanqueAgrícole de l'lron et lo dite bonque, ogis­sont ou nom du ministére de I'agricultureencoissera les tronches des dettes des pay­sons versées ou titre du paiemen~ de la va­leur des terres. Avec I'oppel éventuel ouconcours du gouvernement qui mentionnerotou~s les onnées en monton~ Ó:ln5 Stns bud­Qets, ellc versera les créonces des proprié-

236 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA---

taires au titre de la voleurs de Jeurs terres,conformément aux dispositions de la présenteloi.

Article 28

Si un paysan auquel une terre a été ce­dée ne verse pas trois annuités sur sa det­te, sons excuse valable selon lo BanqueAgricole et s'il refuse d'effectuer ces verse­ments même apres un ordre d'execution dubureau d'enreg·lstrement, la dite terre, con­tre versement du solde de la dette du paysansera remise ou ministere de I'Agriculturepour être cédée à quelqu'un d'outre con~or­

mément aux dispositions de la présente loi.

Article 29

Toutes les operations d'enregistrementconcernont les cessions effectuées selon lesdispositions de la présente loi et dont tegouvernement est porfie (émission des ti­tres de propriété, réalisation, sommotionsetc.), seront gratuites et exemptées du paie­ment du droit d'enregistrement et de toutesoutres taxes. De même, les requêtes, lesdéclorations, les engogements, les titres d'en­trée en possessíon, lo rêdaction de copiesde titre, ou de tOut outre document concer­nant Jes dites cessíons établis par les outo­rités oHiciel\es ou \es notoíres publics soMexemptés du paiement des impôts, des taxeset du droit de timbre. le versement desdroits revenont aux notaires publics seraeffectué à ports égoles par les parties.

CHAPITRE IX

Dispositions Conc:ernant l'Auistance Technj·

que et la Protection de. Agriculteul'$ et

des Paysans

Article 30

le gouvernement créera, tOut en réo\ísantles opérotions de partage de terres et donschoque régíon, une organisation ogricoJe bienéquípée destinée à ocquérir et à répartir lessemences et les boutures de bonne quolité,le bétail paur la reproduction, á assurer lesiocílites nécessoires à I'oc~roi de prêts, àcommercialiser les récoites et à dévelapperles nouvelles méthodes d'agriculture dons lesdites régions.

Article 31

Dons les viUages ou les terres sont por­tagées entre les p<lysons, si les maisons d'ha­bitation et autres constructions tellesqu'écuries, entrepãts etc., sont en la pos-

session des paysans mais appartiennent oupropriétaire, elles seront cédées aux paysansqui pourront demander I'émission de titresde propriété en leurs noms.

Article 32

les questions communes concernant lesvil/ages distribués telles que I'entretien desconaux ct des ruisseoux, I'utilisotion desmachines, les opérations de lutte cantre lesparasites des plantes et des animaux etc.,seront confiées oux socíétés coopératíves.

Article 33

La solution des dissensions entre proprié­taires et paysans concernant I'agrículturesera confiée à la commíssian de solution desdifférends agrícoles.

La dite commissian se composera danschoque district du sous-préfet, du juge depaix lou du representant du ministere de laJusticel du représentant du ministere deI'Agriculture (ou de I'Administration Agri­cole lacalel. La décísion de \o dite commis­sion est définitivc et sera appliquée par Jestribunoux compétents.

Article 34

Si des fonctíonnaires du gouvernement ouceux charges de I'application des dis?Qsít;onsde la présente loi se rendent coupobles d'ac­tes contra ires à la présente loi ou de con­traventions administratives, íls seront happésdes pe·lnes moxima prévues dans Jes lois.

Article 35

L'ochat des propriétés en succession d'ls­mael Ghochghai sera soumis aux dispositiansde la présente loi à compter de lo dated'opprobation de la présente loi.

Article 36

Les tronsactions possées et futures de laBanque Agricale de I'lran, de même queles limites des obJigations à la charge de ladite banque en opplica~ion de lo presenteloi et lo détermination des pouvoirs et descrédits la concernont, ferant I'objet d'un re­glement spécial Qui sero approuvé por leconseiJ des ministres.

Artkle 37

Les ministéres de l'Agriculture, de la Jus­tice et de l'lnterieur sont chargés de I'appli­cotion de la présente lai et ih soumettrontà l'opprobation du cansei I des ministres lesréglements d'application qu'ils auront ré­digés.

JUNHO - 1964 237

Artide 38

Le gouvernement soumettra à l'approba­

tion du Parlement, apres I'inauguration de

sa nouvelle session, la presente loi omendant

la loi du 26-2-1339.

LOI AMENDANT LA LOI SUR LA

RÉFORME FONCIERE

le 17 jonvier 1963, le Conseil des

Ministres a approuvé la loi suivonte

amendant la loi sur lo réforme fon­

ciere:

Article 1

Dons le cas des villages et des terres qui

ne sont pos soumis ou partage prévu à la

loi emendont la loi sur lo réforme fonciére

et qui se trouvent en état de propriété in­

dividueile, leurs propriétaires doívent agir

selon une des trais dispositions suivontes:

o) les propriétai res loueront leurs pro­

priétés contre des versements en espe­

ces oux poysans se trouvant sur ces

propriétés sur la base de la moyenne

des revenus des dites propriétés ou

eours des trais dernieres années, sons

prendre en eonsidération le montant

des taxes et eonformément aux tra­

ditions locoles.

L'OHiee de la Réforme Fonciere déter­

minera sur cette base le coeffícíent duloyer de la region.

la durée du loyer ci-dessus sera de

trente ans et le montant du dit loyer

pourra être révisé tous les einq ans.

b) les propriétaires peuvent, à compter

de cette date, vendre leurs terres par

accord mutuel oux poysons. la récolte

encore sous terre et la productíon du

printemps (riz, betteroves, produits de

culture estivale etc.), qui serent ense.

mencées avant la vente, seront par­

tagées, eomme auparavont et confor­

mément aux arrangements antérieurs,

entre les poysans et les propriétaires.

c) les terres arrosées noturellement ou

irriguées seront partagées entre les

paysans et le ou les propriétaires COn­

formément à lo port du propriétaire

qui est troditionnelle dons lo region.

Lo part du ou des propriétoi res com­

prenont les terres arrosées naturelle­

ment et irriguées sero separée et celle

des paysans et les installatlons otte­

nantes sera repartie entre tous les poy­

sons conformément aux traditions ogri­

coles locales.

Remarque 1. les frais cOmmuns du

village seront répartis selon leurs parts en­

tre les particípants.

Remarque 2. Les deux cinquremes de

la valeur des propriétés qui sont ainsi remi­

ses aux paysons, seront versés por les pay­

sons sur la bose du coefficient local le plus

élevé, aux propriétaires en dix annuités

égales.

Remarque 3. La Banque Agricole aCCOr­

dera à celte categorie de propriétaires des

prets à long terme pour leur permettre de

developper la part qui leur revivent.

Remarq\le 4. Les terres exploitées me­

maniquement dons les villoges ne sont pas

soumises aux dispositions de cette loi à con­

dition qu'elles ne dépassent pos cinq cents

hectares.

Remarque S. Exceptionnellement, Ics

disposltions de la Remarque 4 s'oppliqueront

oux terres qui ont été exploitées mécani­

quement à compter de la dote d'approba­

tion par le Porlement de lo loi sur la ré forme

fonciére.

Remarque 6. Les propriétaires peuvent

conserver, iusqu'à concurrence de trente

hectores, leurs rizieres en observont les dis­

positions de I'un des deux alinéas a et b.

La superficie dépossont trente hectores sero

répartie entre les paysons. La valeur de

rizíére vendu aux poysons sera détermi née

sous le contrôle de l'Office de la Reforme

Fonciére sur la base des derniers ímpôts

payés jusqu'en Dez 1340 en oppliquant le

coefficient de lo reforme fonciere.

Artic:le 2

Les terres appartenant à des fondotions

publiques seront louées aux paysons des di­

tes fondotions pour quatre-vingt-dix neuf ans

contre des versements en espéces et en te­

nant compte des intérêts des dites fondo­

tions. Lé montont de la location paurra être

révisé une fois tous \es cinq ons.

Artic:le 3

Les propriétoires qui vouóront oppliquer

une des trois dispositions mentionnées à I'or­

tiele 1 devront communiquer leur décision

ou ministere de I' Agriculture dons un délai

d'un mais à compter de la dote onnoncée

par le dit ministere. La communicatíon se

fero à l'Office locol de lo Réforme Fonciere.

Artiele 4

Le délaí de versement du prix estimé des

propriétes prévu à I'orticle 10 de lo loi sUr

238 REVISTA DE INfORMAÇÃO LEGISLATIVA

la reforme fonciere sero de quinze ons oulieu de dix.

R.e"'Q~qlSe. Les proprié~és ochetées parle gouvernement juSqu'Ó cette date serantsoumises oux dispositions du présente arti­ele à I'exception des reçus qui ont été né­goci és íusq u'à cette da te.

Artide S

Le réglement d'opplication de lo présenteloi sero établi par le ministére de I'Agri­culture et oppliqué opres son approbationpar le consei I des ministres.

DECRET-LOI SUR LA NATIONALlSATIONDES fORETS

Approuvé le 17 jonvier 1963 par IcConseil des Ministres.

Artide 1

A compter de la dote de I'opprobationdu présent décret-Ioi tautes les farets, em­placements et améliorotions, les paturages,les terres recouvefles de buissons na~urels

et les terres forestieres font partie des bienspublics et appartiennent ou gouvernement,meme si ovont cette date, ils ont été pris enpassession por des gens qui oM abtenu destitres de propriété.

Artic:le 2

La sauvegarde, I'entretien et le développe­ment des éléments ci-dessus, ainsi que leurexplaitation, sont à lo charge de l'Office desGardes-Forestiers de l'l.on.

Note 1. L'Office des Gardes-Forestierspeut exploiter directement ces richesses oucondure des contrats cedont I'explaitotionà des tiers.

Note 2. Les groupes d'arbres forestiersentourEis de champs cultives se trouvont donsles zones forestiéres du ploteou nord du poysct compris dons Ics titres officiels de pra­priété privée, ne sont pas saumis oux dis­positions de I'orticle 1 du présent décret-Ioi,mais leur exploito~ion doit etre conforme ouxdispositions genérales de la loi sur les forêtsct Ics paturoges.

Note 3. Les cmplocements ct installa­tions, les maisons des paysans, oinsi que lesterres cultivées et les jardins fruitiers CO(1"l­

pris dons les titrcs de propriéte de forêtset de poturoges, aménoges jusqu'o la doted'opprobation de la présente loi, ne sontpos soumis oux dispositions de I'orticle 1de la préscnte loi. Les bureoux d'enregis­lrement peuvcnl, opr~'s détermination et

approbotion écrite de l'Office des Gordes­Forestiers de 1'1 ron, enregistrer séporementou nom des proprietoires \es emplecementset les oméliorotions.

Article 3

Les mantonts ci-dessus semnt versés àceux Qui disposen~ de titres de propr\été deforêts, qui ont obtenu d'instances judicioiresdont les décisians sont défjnitives des titresde propriété de foréts ou qui ont obtenu desdéeisions détinitives des commissions d'en­quete sur les propriétés cédées mentionnontexpréssement les forets:

al Cinq cents rials par hectare pour lesforêts du nord dons une zone commen­çant à Astara et se terminant dons larégion de Kelidoghi.

bl Cent riels por hectare paur les Ol.ltTesforêts et terres recouvertes de buissonsdons le pays.

c:) Cent rials par hectare seront verses àceux qui possédent des forêts à I'jn­térieur de leurs propriétés et canfirméspar des titres de propriété et ó ceuxse tmuvant dons lo meme situationconfirmée par des jugements ou dé­cisians définitífs d'instonces judicioiresou des commissians d'enquete sur lesprop ri étês cédées.

Article 4

Les dispositions suivontes s'applíquentaux paturoges plantés d'arbres:

\ ~ Ceux qui possedent des paturagesplantés d'arbres dons le codre deleurs propríétés et confirmés par destitres de propriété, ceux qui ont destítres de propriété o(ficiels séporésmentíonnant leurs poturoges plontésd'orbres et ceu,,- qui pas~dent desoctes émis por des iostances judiei oi­res en derniers ressort confirmantleur propriété sur des paturagesplontés d'orbres ou par une eom­missian d'enquete sur les propriétéscédées, obtiendront ce",t ria\s parhectare dons les régions du nord (dela zone d' Astara à celle de Kelido­ghil, et cinquonte riols por hectaredons les outres régions de l'lran.

2 - Les dispositions suivantes s'oppli­queront oux poturages nan plontésd'arbrcs :

a) S'il s'agit de paturages non plon­tés d'orbres enregistrés dons lestitrcs de propriété comme des po­turages, qui, en opplico~ion de la

JUNHO - 1964 239

loi sur lo réforme fonciére 1340dépClssent la limite autorísée delo propriété foncíére et ont étécédées ou gouvernement ou le se­ront a I'avenir, les díts poturogesresteront a lo disposition de l'offi­ce de lo réforme fonciere qui lescédero oux sociétés coopérotiveslocoles ou oux unions de sociétéscoopératives.

le príx de ces poturoges nOri

plontés qui seroM remis ou gou­vernement en opplicotion desdispositions de cet article sero dudécuple de lo voleur du fourogetelle qu'elle est fixée par le dé­cret 1'1°2..432/12 du 13-9-1339.

b) Les poturoges non plontés d'ar­bres qui, en opp\ication de la loisur la réforme fonciére de 1.340restent aux mains des proprié­toi res, ainsi que les paturoges1'101'1 plontés d'orbres se trouvontà I'intérieur de propriétés culti­vées, à la date d'approbotion dela présente loi, et dont le statutest confirmé par les titres de pro­priété ou des jugements et dé­cisions définitifs d'instonces Judi­diciaires er des commissions d'en­quête sur les propriétés cédées,ne sont pos soumis oux disposi­tions de la présente loi.

Mote 1. L'Office des Gordes-Forestierspeut outoriser chocune des fomilles vivontdons les forêts a faire poitre quatre tétes debétail ou I'équivolent en onimoux plus peti­tes dons les poturoges, sons precevoir dedroit de pecoge, pour certoines périodes etdons certaines régions en prenont en c:on­sidérotion les possibi lités de poturoge etconformément oux conditions qu'il jugeopportunes. Choque téte de bétail corres­pond à frois onimaux plus petifS.

Artic:le 5

Dons le cos des richesses natureJJes men­fionnées à I'orfíele 1 donf les fitres de pro­priété n'ont pos été émis à la dote d'oppro­bofion de la pré sente loi aux nams de par­ticuliers, mais don! la demande d'enregis­trement a été occeptée et dont la procédured'enregistremenf a été réolisée jusqu'6 laphose d'émission du fitre de propriété ouquí est en couts, les dispositions de l'arti­ele 3 de la présente loi s'appliquerant surprésentotion d'un certificat du bureau d'en­registremenf selon lequel I'émission du litrede propritété ou nam du requéront ne seheurte a aucun obstacle. Le certificat du

dit bureou sera considere pour le paiementde I'índemnifé comme un aete de propriété.

Si les richesses naturelles mentionnées àI'ornele 1 fom I'objet de contestotions de­vant les instances judiciaires ou des com­missions d'enquete des propriétés cédêes,opres lo décision définitíve des instonces iu­diciaires ou des commissions d'enquête despropriétés cédées, I'indemnité prévue par lapré sente loi sero versée à I'ayont-droit.

Attide 6

Toutes les opêrotions hypothécoires ouprévoyant un droit de retrait qui ont eupour objet les biens publ ics mentionnés alo présente loi et qui se sont dérouJées entreporticuliers, sont nuls et non avenus aeompfer de \'opprobation de la présente 10L

les créonciers dons de telles opérotionspeuvent, en tanf que représentonfs de leursdébiteurs. s'adresser à l'Offiee des Gardes­Forestiers de l'lran et obfenir sur les mon­tants à verser en applicotion de la présenleloí et a concurrence de leur, créances, lessommes qui leur sont dues, en suivant loprocédure prévue. Au cos oú les difs mon­tonts ne suffiroient pos ales indemniser deleurs créances, ils pourront demande r ler ver­sement de solde sur les outres ovoirs des dé­bíteurs.

Article 7

Dons le cos des forêts et des poturogesmeMionnés a la présenfe loi dont I'explaí­totíon se faif en vertu d'octes oHiciels ounon oHiciels ou sous tout outre pretexte pordes particul iers, les dits octes sont nuls etnon avenus à compter de la date d'appro­botion de la presente lo•.

Ceux qui exploitent les farêts qui souhoi­teroient paursuivre leur octivité dons les di­tes forêts ou dons les poturoges s'odresse­ront a l'Office des Gardes-Forestiers pour lacanelusíon des controts nécessaíres.

Note. les exceptions oux dispositionsde cet orticle sont les suivantes:

1 ~ L'Office des Gordes-Forestiers peut,en ce qui concerne les projets d'en­fretiens des forets qui à lo dated'approbafion du présent décref-Ioionf été conc:édés à des tiers, en res­pecter les fermes pour un périodede cinq on5 à compter de Jo ditedate sur la base du prix des arbresdéterminé dons le cantrot.Si I'exécutant de tels projefs est lepropriétaire de I'ensemble ou d'unepartie de la farêt, le di! propríétaires'adressera à l'OHice des Gardes-Fo­restiers pOur sa part de 501'1 anciennepropriété et le dit OHice est auto-

240 REVISTA DI: INFORMAÇÃO LEGISLATIVA

r"ISe, sons appliquer les dispositionsde procedure prévues ou regJementsur les tronsactions gouvernementa­les et en prenant en considérationles frois entrainés par l'applicationdu projet, à conclure un contrat avecle dit proprietai re concernant la per­ception de la part du propriétaire.

la duree de la voridi~é de ters con·tro~~ ne dépassero pas cinq ons.Dons tous les cas, si les exécutantsde projets ne veulent pios, dês 1342et par la suite exploiter les forêtsconformément ou projet d'exploita­tion, ils vetseront Ó l'OHíce des Gar­des-Forestiers le montont de lo portdu propriétoire établie par des li­cences définitives qui s€ront émisesà compter de ceHe onnée.

Si les exécutonts des prOiets ne peu­vent pas Jes oppriquer pour diffé­rentes raisons ou s'ils interrompentlo dite exécution, l'Office des Gar­des-Forestiers les som mera de lefoíre en leur fixant un délai moxi­mum. A lo fio du dit dela; et si lesexécutants ne s'jnclinent pas devantlo sommation, ['QUice des Gordes­Forestiers paurro en assumer la res­ponsabilité lui-meme ou en cédér"exploitotion à des tiers par adju­dicatkm. Dons ce cas, le précédentexp!oi~ont n'obtiendra pos le poie­ment des frais qu'il o consentisjusqu'olors.

2 - Ceux qui, en applicotion de l'article24 de lo loi sur les forêts et les po­turages ont obtenu une licence d'ex­ploitotion des forêts jusqu'ou 8-6­1341, de meme ceux qui ont obtenuune licence offídelle de productionde dlOrbon de bois conformémentaux dispositions du décret n.O 42738du ) 8-9- )34 I à condition qu'ilssoient les propriétaires de forêts etles exploitent, pourront continuer Õbénéficier de leurs licences jusqu'ôla fin du délai de volidité des ditesficel'lces et gratuitement.

5'ils ont obtenu du propriétoire d'unefarêt, en '1ertu d'un octe oHic'lel, ledrait d'exploitation, ils pourront con­tinuer lo dite exploitotion jusqu'àI'échéonce prévue à I'acte et ilsdevrant poyer lo pari du propríé1oi,eà !'ayoot dro·lt.

Article 8

A compter de lo dote d'opprobotíon delo présente loi, l'Office des Gordes-Fo,estjers

est outorisé à accorder des licences d'ex­ploitation de forêts destinees oux besoins despoysons hobitonts !es forêts et les vi/rogesvoisins des forêts, en prenont en considéro­tion leurs besoins réels et sons percevoir deport de propriétaire.

Artic:le 9

Ceux qui, por I'application de la présentefOí, abtiennent des montonts quelconques,doivent, dons un délai maximum d'une an.née à compter de la date de la publicotionde l'avis de l'OHice des Gardes-Forestiers,s'odresse, ou dit Office pour lui rédometles montonts determinEis dons lo presenteloi, en presentont leurs titres de propriétéet un plon approuvé por I'administrotion deI'enregistrement precisant exoctement lessupe rficies demandees.

A I'échéonce de ce deloi, aueune suitene seta donnée oux requêtes présentées etles di ts montont5 ne pau rront pl us être exi­gés.

Les personnes mentionnées Ô I'artiele 5Duront un dêloi d'un on à compter de lodate de l'êmisslol1 du certiticot de \'admi­nistrotíon de I'enregistrement ou du juge­ment défil'litif d'une outorité judiciaire.

Articlll 10

Les montants, mentionnés à la présenteloi seront versés en dix onnuités égoles auxoyant-droits.

Article 11

Le gouvernement mettro à la disposítionde I'Office des Gordes-Forestiers cinquantemillions de rials pur onnée pendant di~ anspour les paiements prévus à la présente loi.

Artide 12

Le ministére de I'Agriculture rédigero lerégiement d'opplicotíon de la présente loiqui sera oppliQué opres SOn opprobation parle gouvernement.

Artide 13

Les ministéres de I'Agrículture et des Fi­nonces sont chorgés de I'opplicotion du pré­sent déeret-Ioi.

Article 14

Le ministére de "AgriclJlture soumettro àI'opprobotion du Parlement le présent dé­cret-lai O\,lssitôt oprés lo réunion des Chom­bres.

ARQUIVO

RECONHECIMENTO DO IMPÉRIO DO BRA51L

TRATADO DE PAZ ENTRE O BRASIL E PORTUGAL

29 DE AGOSTO DE 1825

AUTOR: Visconde de Inhambupe (Ant6nio Luiz Pereíra da Cunho),Conselheiro de Estado, em 1826 - falecido em 1837,

ESPÉCIE: Oficio de 5·7-1826 encaminhando um exemplar.

ASSUNTO: Exemplar do Tratado de Paz, entre o Brasil e Portugal, r:ktadode 29-8-1825, assinado por Carlos Stuart (Cavalheiro Britânico),Luiz José de Carvalho Melo (Cons. de Estado), Bat'ão de St. O

Amaro (Ministro dos Estrangeiros) e Fc.o Vilela Barbosa(Min~stro do Império), reconhecimento do Império do Brasil.

Esta seção se deuina Q' dlvulgor 05 documentoshistóricos pertencentes 00 Arquivo do Senado Fedel'1lll,cujo valioso Qcervo foi frqnqueado õ REVISTA DEINFORMAÇÃO LEGISLATIVA por Slio eficienteDiretoftl. D. ÁureCI de Barros Riga.

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