2012 11 04 Reverse Logistics

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO ALINE STANGE NÍVEL DE MATURIDADE DAS COMPETÊNCIAS EM LOGÍSTICA REVERSA NO SETOR BRASILEIRO DE ELETRO-ELETRÔNICOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

ALINE STANGE

NÍVEL DE MATURIDADE DAS COMPETÊNCIAS EM LOGÍSTICA REVERSA NOSETOR BRASILEIRO DE ELETRO-ELETRÔNICOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Rio de Janeiro

2012

ALINE STANGE

NÍVEL DE MATURIDADE DAS COMPETÊNCIAS EM LOGÍSTICA REVERSA NO

SETOR BRASILEIRO DE ELETRO-ELETRÔNICOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração, Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

Orientador: Alexandre Medeiros Rodrigues

Rio de Janeiro

2012

NÍVEL DE MATURIDADE DAS COMPETÊNCIASEM LOGÍSTICA REVERSA NO

SETOR BRASILEIRO DE ELETRO-ELETRÔNICOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Aline Stange

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração, Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

Aprovada por:

Prof. Alexandre Medeiros Rodrigues, Ph.D. – Orientador

(COPPEAD/UFRJ)

Prof. Victor Almeida, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)

Prof. Francisco Gaudêncio Freires, Ph.D. (UFBA)

Profa. Lúcia Helena da Silva Maciel Xavier, Ph.D. (USP)

Rio de Janeiro

2012

FICHA CATALOGRÁFICA

Stange, Aline

Nível de Maturidade das Competências em

Logística Reversa no Setor Brasileiro de Eletro-

eletrônicos: Um estudo exploratório / Aline Stange.

Rio de Janeiro: 2012

126 pgs.

Dissertação (Mestrado em Administração) –

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto

COPPEAD de Administração

Orientador: Alexandre Medeiros Rodrigues

1. Logística. 2. Logística Reversa. 3.

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, pelo apoio à

difícil decisão de mudar de vida, de cidade e ficar longe para

cursar o mestrado. Apoio dado sem questionamentos e com todo o

amor e parceria que sempre demonstraram. Sem eles, nada do que

conquistei seria possível. Também ao meu irmão, que sempre

oferece observações perspicazes em momentos inusitados.

Ao meu orientador, pelas ideias, sugestões, discussões e

pelo ânimo dado todas as vezes, nas quais me faltava o

empenho.

A todos os entrevistados, que gentilmente disponibilizaram

seu tempo e abriram as portas de suas empresas para me

receber, respondendo a todas as minhas perguntas com

paciência.

Aos professores do COPPEAD, que sempre tentaram dar o

melhor de si durantes as aulas e fora delas. Mostrando as

melhores práticas dos conceitos ensinados.

Aos funcionários do COPPEAD, que auxiliaram para que tudo

funcionasse respondendo aos muitos questionamentos feitos.

A todos os amigos maravilhosos que fiz no decorrer do

mestrado, que mudaram minha vida e agora são parte de mim.

Amigos para a vida toda, com os quais tenho orgulho de ter

estudado e passado tantos momentos difíceis e maravilhosos.

Aos meus amigos, que fiz em meu caminho, que sempre

participaram das minhas conquistas e que estão presentes,

mesmo à distância.

A todos que fazem parte da minha vida, muito obrigada!

RESUMO

Stange, Aline. Nível de Maturidade das Competências em

Logística Reversa no Setor Brasileiro de Eletro-eletrônicos:

Um estudo exploratório. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação

(Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O objetivo deste estudo é verificar o nível de maturidade

das competências em logística reversa de diferentes players

envolvidos com processos de retorno de eletro-eletrônicos. Com

base nessa análise poderá ser possível compreender a

importância de cada uma das competências avaliadas, no cenário

brasileiro.

Para realizar a pesquisa, sete competências foram

selecionadas com base em um estudo anterior e aplicadas na

avaliação de um fabricante, um prestador de serviços e uma

recicladora. Com base nas informações levantadas, foi feita

uma descrição de cada organização, seguida da avaliação das

competências.

Em conclusão, o nível de maturidade dos participantes do

estudo pode ser considerado intermediário. Os resultados

parecem ainda confirmar a existência de diferenças entre as

principais competências necessárias em cada posição da cadeia

de suprimentos. O direcionamento dos esforços a algumas dessas

competências aparentemente varia de acordo com o foco

estratégico e o interesse organizacional.

O presente estudo valida a metodologia de avaliação do

nível de maturidade das organizações em logística reversa e

demonstra que é necessário considerar as diferentes áreas de

atuação das empresas avaliadas para definir a relevância de

cada uma das competências envolvidas. Foi possível perceber

que algumas delas são irrelevantes, se consideradas

individualmente, havendo a necessidade de estudar suas

interligações. O estudo ainda pode ser utilizado como

orientação ao meio gerencial, ajudando na compreensão das

competências mais importantes para cada tipo de organização e

em cada cenário, facilitando decisões de direcionamento

estratégico.

Palavras-chave: logística, logística reversa,

competências, nível de maturidade, setor de eletro-

eletrônicos.

ABSTRACT

Stange, Aline. The Maturity State of Reverse Logistics

Capabilities in the Brazilian Electrical and Electronic

Industry: An Exploratory Study. Rio de Janeiro, 2012.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

The objective of this study was to evaluate the maturity

level of different players of the reverse logistics supply chain

in the Brazilian electrical and electronic industry. This

analysis enables a deeper comprehension of the relevance of

each capability considered important by international

literature in our national context,

In order to research this subject, seven capabilities were

defined having a previous study as basis and used in the

evaluation of a manufacturer, a service provider and a

recycling company. Case studies were conducted in these

companies, along with visits in the operation. Internal

documents with strategy and financial returns information were

also verified.

Based on the information collected, a description of each

company was made, followed by an evaluation of each

capability. The maturity level of the involved organizations

might be considered as medium. The results seem to confirm the

existence of differences between the main capabilities needed

for each different position in the supply chain. The efforts

towards some of these capabilities seem to change according to

the strategic focus or the company interest.

Key-words: logistics, reverse logistics, capabilities,

maturity state, electrical and electronic industry.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Gestão da cadeia de suprimentos (ROGERS, et al,

2002)........................................................22

Figura 2: Explicação da metodologia do modelo diagnóstico

(JANSE, 2008)................................................28

Figura 3: Relação entre o comprometimento dos recursos

com a logística reversa e o desempenho do programa

(Daugherty, Autry e Ellinger, 2001)..........................31

Figura 4: Foco da operação da Empresa B nos clientes (Site

da Empresa B)................................................83

Figura 5: Processo de logística reversa da Empresa B.

(Site da Empresa B)...........................................85

Figura 6: Sumário da análise da Estratégia e

administração de retornos....................................99

Figura 7: Sumário da análise de Stakeholders..................101

Figura 8: Sumário da análise de Integração da cadeia

reversa.....................................................104

Figura 9: Sumário da análise de Administração do ciclo de

vida do produto.............................................105

Figura 10: Sumário da análise de Evitação e Gatekeeping......107

Figura 11: Sumário da análise de Retrabalho e

recuperação.................................................109

Figura 12: Sumário da análise de Avaliação de desempenho....110

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Métricas comumente utilizadas na avaliação da

logística reversa...........................................55

Quadro 2: Resumo da revisão de literatura...................61

Quadro 3: Resumo da análise................................113

LISTA DE SIGLAS

Abrelpe – Associação Brasileira de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais

CLRB – Conselho de Logística Reversa do Brasil

EPR – Extended Producer Responsibility

ERP – Extended Resource Planning

EVA – Economic Value Added

IEC – International Electrotechnical Comission

KPI – Key Performance Indicator

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

RoHS – Restriction of Hazardous Substances

SCOR – Supply Chain Operations Reference Model

TMS – Transportation Management System

TCO – Total Cost of Ownership

WEEE – Waste Electrical and Electronic Equipment

WMS – Warehouse Management System

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................12

1.1 Relevância do estudo...................................12

1.2 Objetivos do estudo....................................15

1.3 Delimitações do estudo.................................15

1.4 Organização do estudo..................................16

2.1 Responsabilidade corporativa...........................17

2.1.1 Motivações para Logística Reversa..................17

2.1.2 Legislação.........................................18

2.2 A Logística Reversa....................................21

2.2.1 Tipos de Logística Reversa.........................25

2.3 Competências da Logística Reversa......................26

2.3.1 O modelo diagnóstico...............................27

2.3.2 Estratégia e administração de retornos.............27

2.3.3 Stakeholders..........................................31

2.3.4 Integração.........................................33

2.3.5 Administração do ciclo de vida do produto..........36

2.3.6 Evitação e gatekeeping...............................40

2.3.7 Retrabalho e recuperação...........................46

2.3.8 Avaliação de desempenho............................52

2.4 Quadro resumo da revisão de literatura.................56

3 MÉTODO....................................................61

3.1 Propósito e pergunta da pesquisa.......................61

3.2 Método da pesquisa.....................................61

3.3 Escolha dos Casos......................................63

3.4 Coleta e análise dos dados.............................64

3.5 Limitações.............................................64

4.1 Caso Empresa A.........................................66

4.1.1 Histórico da empresa...............................66

4.1.2 Descrição do caso..................................67

4.2.1 Histórico da empresa...............................80

4.2.2 Descrição do caso..................................81

4.3 Caso Empresa C.........................................90

4.3.1 Histórico da empresa...............................90

4.3.2 Descrição do caso..................................91

5 ANÁLISE DOS CASOS.........................................96

5.1 Estratégia e administração de retornos.................96

5.2 Stakeholders...........................................97

5.3 Integração.............................................99

5.4 Administração do ciclo de vida do produto.............100

5.5 Evitação e gatekeeping..................................101

5.6 Retrabalho e recuperação..............................102

5.7 Avaliação do desempenho...............................103

5.8 Quadro resumo da análise..............................105

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................111

6.1 Sumário do estudo.....................................111

6.2 Contribuições do estudo...............................112

6.2.1 Contribuições acadêmicas e sugestões de pesquisa. .114

6.2.2 Implicações gerenciais............................114

REFERÊNCIAS................................................116

12

1 INTRODUÇÃO

1.1 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A logística reversa é um tema de extrema importância para

diversas empresas nos dias atuais. Independente do setor de

atividade, tamanho, posição na cadeia de suprimentos e valor

dos produtos vendidos, o retorno, através de diferentes canais

de distribuição e para destinações variadas vem ocupando

espaço no planejamento estratégico das organizações. De acordo

com uma pesquisa realizada pelo Conselho de Logística Reversa

do Brasil – CLRB, existem inúmeras razões para esse aumento,

entre eles a redução de custos, diferenciação no mercado,

satisfação dos clientes ou simplesmente o reforço da imagem

corporativa ou de marca (LEITE, 2011).

Outras situações também contribuem para a relevância do

tema, como o aumento nas taxas de retorno vivenciado pelas

indústrias, que em 2002 podia chegar a 50% das vendas; o

aumento das receitas obtidas com a venda de produtos em

mercados secundários; a criação de leis referentes ao retorno

de produtos pós-consumo; a pressão dos consumidores para que

as empresas se responsabilizem pela disposição de seus

produtos; e finalmente a limitação e o aumento dos custos

referentes à capacidade de aterros sanitários (PRAHINSKI;

KOCABASOGLU, 2006).

Essa lista pode ser acrescida ainda de motivações éticas,

como recall de produtos defeituosos; melhoria nos serviços ao

consumidor, tais como reparos pós-venda e retornos de produtos

13

na garantia; e legislação específica de embalagem ao fim da

vida dos produtos (SIMPSON, 2010).

Por fim, existem necessidades rotineiras de devolução de

produtos, como mercadorias defeituosas ou tecnologicamente

defasadas, falta de conhecimento dos usuários a respeito da

utilização dos produtos, sobras não absorvidas pelo mercado,

retorno de ativos, entre outros. No entanto, a pesquisa do

CLRB supracitada informa que a principal área de atuação

mencionada pelas empresas é o retorno para descarte. O

resultado é compreensível, dada a quantidade cada vez maior de

produtos sendo colocados no mercado, os quais precisam ser

destinados de forma correta ao final de sua vida útil (LEITE,

2011).

A nova lei criada para tratar o assunto relacionado ao

destino dos resíduos sólidos no Brasil trouxe complexidade ao

processo reverso nacional. Poucas empresas de varejo estão

eficientemente preparadas para essa nova realidade. As

relações com os fabricantes, também, nem sempre são

eficientes, e nenhum dos elos da cadeia quer assumir a

responsabilidade pelos produtos (HARRIS; PERIM, 2011).

A lei brasileira no 12.305, de 2 de agosto de 2010 que

institiuiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS,

trata da responsabilização de fabricantes, importadores,

distribuidores ou comerciantes pelo ciclo de vida dos produtos

que fabricam ou comercializam. Esse tipo de medida segue uma

tendência internacional já estabelecida na Europa e em alguns

estados americanos e busca organizar o processo de destinação

14

dos materiais sem possibilidade de reaproveitamento após o

consumo (BRASIL, 2010).

A regulamentação da PNRS obrigará fabricantes de diversas

indústrias a desenvolver planos de coleta e destinação

adequada aos produtos. As primeiras indústrias que deverão

apresentar seus projetos são as de embalagens de agrotóxicos,

de óleos lubrificantes, pilhas e baterias, pneus, eletro-

eletrônicos, lâmpadas e medicamentos. Segundo entrevista de

Paulo Roberto Leite, presidente do CLRB, para o Jornal Brasil

Econômico, o custo atual da logística reversa, que é de R$ 18

bilhões por ano, pode dobrar devido à nova política

(LOGÍSTICA, 2011).

A Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais (Abrelpe) estima que houve um aumento de cerca de 7%

na geração de resíduos em todo o país no ano de 2010, quando

foram gerados 61 milhões de toneladas de resíduos sólidos

urbanos. E o diretor-executivo da organização afirma que 40%

dos cerca de 2,4 mil municípios brasileiros não têm coleta

seletiva e 11% de toda a população brasileira não é atendida

por nenhum tipo de serviço de coleta (BERTACHINI, 2011).

Apesar de a PNRS não estabelecer uma metodologia de

aplicação e controle, muitas indústrias já iniciaram as

preparações para atender a essa nova diretriz (HARRIS; PERIM,

2011). De maneira geral, o retorno de mercadorias apresenta

alta complexidade e requer a criação de condições essenciais,

desenvolvidas para cada tipo de produto retornado e cada

motivador de retorno. No caso dos retornos pós-consumo, a

situação é ainda mais complicada, pois exige dos fabricantes e

15

da cadeia produtiva uma conscientização empresarial, tanto

devido à exigência da legislação, quanto na busca pela sua

própria sustentabilidade e manutenção da imagem perante os

clientes (HARRIS; PERIM, 2011).

Essas mudanças no ambiente fazem com que as organizações

sejam forçadas a reestruturar seus processos logísticos e

buscar formas de se adequarem às normas em vigor, minimizando

os impactos de custos que esse ajuste pode gerar. Para que a

logística reversa seja otimizada, cada um dos elos da cadeia

deve desenvolver competências específicas relacionadas ao

processo. Os fabricantes, por exemplo, podem fortalecer sua

competitividade, recuperar valor para si e para seus clientes

e ainda construir uma imagem sustentável, muito valorizada

pelos consumidores.

Apesar disso, muitos fabricantes ignoram a existência de

impactos positivos, direcionando sua atenção aos custos que o

processo agrega à cadeia logística. Seu foco é,

invariavelmente, a adequação legal, o que pode acabar

corroendo os lucros organizacionais e desgastando seu

relacionamento com fornecedores, atacadistas, varejistas e até

stakeholders (HARRIS; PERIM, 2011).

A literatura trata algumas competências necessárias para

atingir um alto nível de maturidade na implementação do

processo de logística reversa, porém, elas não necessariamente

podem ser extrapolados fielmente para todos os tipos de

indústrias. Setores diferentes têm demandas diferentes, que

requerem um conjunto de competências específicas para atingir

um melhor desempenho.

16

Um estudo realizado nesse sentido sobre a indústria de

eletrônicos e conduzido por Janse (2008) agrupou competências

consideradas essenciais para a logística reversa, com base na

perspectiva de negócios. De acordo com o autor, avaliando-se

cada uma das competências, é possível verificar o nível de

maturidade, no qual o processo de retorno de produtos se

encontra.

A realização dos processos de logística reversa no Brasil

ainda está sendo organizada pelas indústrias, durante

encontros periódicos de seus representantes para escolher as

melhores alternativas junto ao governos. Sendo assim, seria

interessante avaliar o nível de maturidade da logística

reversa de algumas empresas do setor de eletro-eletrônicos

brasileiro, utilizando-se uma análise das competências

identificadas no estudo supracitado. Além disso, pode haver

diferenças entre a importância de tais competências para

fabricantes ou outros players da cadeia logística nacional, que

estão iniciando sua busca por adequação à PNRS.

Neste cenário de dificuldades inerentes ao processo e sua

implementação, uma compreensão profunda das competências

consideradas mais importantes na indústria e das diferentes

percepções entre alguns elos da cadeia em questão, traria

benefícios às organizações envolvidas. Os resultados obtidos

poderiam ser utilizados para a realização de ações mais

assertivas, facilitando a busca por melhorias e alto

desempenho nas empresas.

17

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo sobre logística reversa busca

primeiramente investigar a aplicabilidade do modelo de Janse

(2008) e com base nele investigar o nível de maturidade das

competências relevantes para essa prática no contexto da

indústria brasileira de eletro-eletrônicos. Pretende-se ainda

entender as diferenças entre os resultados de tal análise para

três participantes da cadeia logística, avaliando o grau de

importância dessas competências para cada uma deles. A

literatura internacional avalia algumas delas como

estratégicas para o sucesso da operação de retornos, mas as

necessidades dos diferentes elos da cadeia e as

características de cada país podem influenciar seu nível de

importância.

Para conduzir essa pesquisa, a pergunta utilizada é: “Qual

o nível de maturidade das competências de logística reversa e

sua relevância para diferentes integrantes da cadeia de

suprimentos responsáveis pelos retornos do setor de eletro-

eletrônicos de consumo no Brasil?”.

Uma investigação sobre o nível de maturidade das

competências e sua importância percebida pelos executivos da

área para o resultado da operação pode ainda ajudar a

direcionar os esforços de implementação de um processo

reverso. Além disso, é possível que surjam novas competências

estratégicas ainda não tratadas pela literatura disponível,

mas relevantes no contexto operacional brasileiro. Esse fato

tornariam essa análise de maturidade da logística reversa mais

18

completa e agregaria conhecimento à atual literatura

brasileira relacionada ao tema.

1.3 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

Serão utilizados como base para o estudo de caso as

competências relevantes para a logística reversa relacionadas

por Janse (2008), devidamente apresentadas com suas

fundamentações teóricas presentes na literatura. O autor

identificou 72 competências, agrupadas em 27 categorias. Como

algumas pareciam tratar os mesmos temas e detalhá-los em muita

profundidade elas foram reorganizadas em 7 grandes

competências, que incluíram características relacionadas.

Dessa forma, foi possível facilitar o estudo, que não pretende

contradizer o modelo desenvolvido.

A pesquisa original foca especificamente em produtos

acabados dos setores de eletro-eletrônicos de consumo. O

contexto do presente estudo de caso terá o mesmo

direcionamento, pois tais equipamentos estão incluídos na

Política Nacional de Resíduos Sólidos.

As pesquisas serão realizadas em três tipos de

organizações: uma fabricante, uma prestadora de serviços de

logística reversa e uma recicladora.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O trabalho está organizado da seguinte forma: inicialmente

foi apresentada a relevância, a descrição do problema e sua

19

importância, que contém as razões que motivaram a elaboração

dessa pesquisa. Em seguida, são tratados os objetivos gerais

da pesquisa e a pergunta que orientou sua condução. Em

seguida, o escopo da pesquisa é delimitado e a relevância

teórica e prática discutida.

A revisão de literatura é o tópico seguinte, no qual são

tratadas inicialmente as motivações para a criação de um

programa de logística reversa nas organizações. A legislação

vigente, principal delas, é discutida em um tópico à parte.

Finalmente são apresentados os conceitos da logística reversa

e seus tipos. O modeo de Janse (2008) também é abordado,

juntamtene com cada uma das competências, agrupadas para o

estudo.

No capítulo quatro são apresentados cada um dos casos

realizados, descrevendo-se as empresas e as competências

dentro de suas realidades. Os casos estão seguidos da análise,

que confronta as observações descritas em face à literatura.

Por fim, os resultados obtidos são discutidos, abordando as

contribuições acadêmicas, sugestões de pesquisa e as

implicações gerenciais.

20

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 RESPONSABILIDADE CORPORATIVA

A responsabilidade social e ambiental corporativa é um

tema muito discutido na atualidade, sendo considerada uma

demanda não apenas dos clientes e da sociedade, mas também de

regulamentos governamentais. Os próximos tópicos discutem as

diversas razões pelas quais uma empresa se engaja no processo

de logística reversa de pós-consumo e algumas das principais

legislações a respeito do tema na Europa, nos EUA e no Brasil.

2.1.1 Motivações para Logística Reversa

Existem diversas razões para uma empresa se empenhar em

ações de logística reversa para produtos em final de vida.

Muitas descobriram que os materiais e componentes dos mesmos

podem ser retrabalhados, substituindo peças novas nos

processos de reposição ou na remanufatura.

Esse tipo de ação gera redução considerável nos custos de

produção e ainda promove uma imagem organizacional e de marca

ambientalmente responsáveis, ponto de extrema importância para

as empresas. Aumentar a utilização de materiais recicláveis na

produção e tornar-se líder no desenvolvimento de práticas

relacionadas são ações percebidas como as maiores

influenciadoras na decisão de compra dos consumidores (BARKER;

ZABINSKI, 2010).

21

Também é relevante a necessidade das empresas de proteger

seu aftermarket, ou seja, mercados responsáveis pelas vendas de

peças e acessórios que mantêm ou compõem a venda inicial –

peças de reposição. Esse canal é considerado muito lucrativo

para certas organizações. Prover peças de reposição para

modelos ultrapassados é uma forma de reter consumidores

(BARKER; ZABINSKI, 2010).

A logística reversa possui benefícios adicionais,

relacionados à proteção da propriedade intelectual. Algumas

empresas utilizam esse processo para prevenir que tal

conhecimento caia nas mãos de competidores (BARKER; ZABINSKY,

2010).

Finalmente, muitas empresas desejam simplesmente reduzir

as pressões de novas legislações melhorando seu próprio

desempenho ou buscando a imposição de requerimentos mais

rigorosos para todos os membros da indústria, por meio de

ações das suas associações comerciais. Sobretudo, nota-se uma

resposta das empresas à criação de legislações obrigando esse

tipo de ação (TOFFEL, 2004).

2.1.2 Legislação

Políticas e legislações a respeito do correto

gerenciamento dos resíduos eletro-eletrônicos vêm se

proliferando em muitos países. Em sua definição, os resíduos

eletro-eletrônicos são constituídos por componentes,

subconjuntos e materiais que fazem parte do produto no momento

do descarte. É necessário que tais produtos sejam desmontados,

22

e consequentemente destruídos, para realizar a reciclagem do

lixo eletrônico (ROBINSON, 2009).

A União Européia está entre os primeiros grupos a se

mobilizarem, desenvolvendo legislações e metodologias

pioneiras para seu correto processamento. As medidas criadas

buscam prevenir a geração de resíduos e promover a

reutilização, a reciclagem e outras formas de recuperação após

o consumo. Mas o principal objetivo dos incentivos é reduzir o

volume a ser descartado e ao mesmo tempo aumentar o desempenho

dos envolvidos em sua administração (DEAVES, 2003).

A mais importante das diretivas, chamada WEEE – Waste

Electrical and Electronic Equipment –, se aplica a eletrodomésticos,

equipamentos de TI, de telecomunicações, de consumo, de

iluminação, ferramentas elétricas e eletrônicas, brinquedos,

equipamentos de lazer e esportes, dispositivos médicos,

instrumentos de monitoramento e controle e distribuidores

automáticos (EUROPEAN UNION, 2010).

Essa diretiva encoraja os países participantes a

desenvolver produtos considerando processos de desmontagem

fáceis para futura recuperação, especialmente no sentido de

reutilização e reciclagem dos resíduos. Outro tema tratado é a

oferta de coleta seletiva dos resíduos, minimizando o volume

de materiais não separados enviados a aterros sanitários. Essa

oferta deve ser sem custo para os proprietários finais e

distribuidores (EUROPEAN UNION, 2010).

A diretiva aborda ainda a obrigatoriedade de aplicação do

melhor tratamento existente para a recuperação dos produtos,

incluindo a remoção de fluidos e seleção do processo mais

23

adequado de acordo com uma lista de opções constante no Anexo

II da diretiva. As fabricantes são responsáveis pelo controle

dessa operação, seja ela realizada no país de origem ou em

qualquer outro, membro ou não da União Européia (EUROPEAN

UNION, 2010).

A recuperação de produtos também é controlada pela

diretiva, sendo necessário o desenvolvimento de sistemas de

recuperação, no qual os pesos dos resíduos que iniciam o

processo e o deixam recuperados ou reciclados devem ser

registrados. Existem metas de taxas de recuperação revisadas

periodicamente e controladas pelo governo (EUROPEAN UNION,

2010).

Um cuidado tomado na elaboração da WEEE é a de

responsabilizar o fabricante pelo financiamento de toda a

logística reversa de seus resíduos. Todo e qualquer produto

colocado no mercado atualmente deve sair com uma garantia de

responsabilidade pela gestão dos resíduos e com a informação

para o consumidor a respeito do tipo de equipamento eletro-

eletrônico que está comprando. Tal informação é relevante para

identificar os componentes e materiais presentes no produto e

para notificar os consumidores sobre a necessidade de coleta

especial do resíduo (EUROPEAN UNION, 2010).

Com o objetivo de controlar esse sistema de gestão de

resíduos, todos os Estados membros da União Européia devem

providenciar um registro dos fabricantes e manter informações

a respeito das quantidades e categorias de equipamentos

eletro-eletrônicos lançadas no mercado, coletadas, recicladas

e recuperadas em seus territórios.

24

A RoHS – Restriction of Hazardous Substances –, diretiva com o

mesmo escopo da WEEE, busca minimizar a quantidade de

substâncias potencialmente perigosas que acabam sendo

descartadas em aterros sanitário. Para tanto, ela restringe a

utilização de determinadas substâncias perigosas em novos

equipamentos elétricos e eletrônicos colocados no mercado a

partir de 2006. Entre elas estão mercúrio, cádmio, cromo

hexavalente, difenilas polibromadas e éteres de difenilas

polibromadas (EUROPEAN UNION, 2010).

Em 2011, foi aprovada uma nova RoHS, que amplia o escopo

inicial baseado na WEEE, incluindo dispositivos médicos,

instrumentos de monitoramento e controle além de qualquer

produto com função elétrica, cabos e veículos de duas rodas

sem aprovação. Além disso, foram alteradas algumas definições,

exceções técnicas e novas obrigações, que não serão tratadas

neste estudo (EUROPEAN UNION, 2010).

No caso dos Estados Unidos, cada unidade da federação tem

autonomia para desenvolver sua própria legislação a respeito

da gestão de resíduos sólidos. Dos 50 estados americanos,

metade aprovou legislação obrigando a reciclagem de resíduos

eletrônicos e alguns dos demais estão trabalhando em novas

leis ou melhorando as atuais (ELECTRONICS TAKE BACK COALITION,

2012).

Todas as leis existentes nos Estados Unidos, exceto as dos

estados da Califórnia e de Utah usam como base a abordagem de

responsabilidade do fabricante. Isso significa, que

legislações regulam as ações de aproximadamente 65% da

população americana. Cada diretriz inclui diferentes produtos

25

e cobre um escopo diferente, sendo que as mesmas não serão

detalhadas neste estudo (ELECTRONICS TAKE BACK COALITION,

2012).

No Brasil é importante destacar o papel da família ISO

14000, um conjunto de normativas internacionalmente

reconhecido, que coordena os aspectos da gestão ambiental. Ela

ajuda as organizações a implementar, manter e melhorar seu

sistema de gestão ambiental, buscando assegurar conformidade

com a política ambiental e demonstrá-la a terceiros. A norma

visa criar equilíbrio entre rentabilidade e redução do impacto

ambiental, comprometendo toda a organização (ISO, 2012).

Dentre os benefícios de sua utilização podem ser

destacados a redução dos custos com a gestão de resíduos, as

economias no consumo de energia e materiais, os baixos custos

de distribuição e a melhoria na imagem corporativa entre

organizações reguladoras, clientes e o público em geral. O

catálogo de diretrizes que compõem a ISO 14000 trata desde a

avaliação do ciclo de vida, integração dos aspectos ambientais

do design e desenvolvimento de produtos, comunicação

ambiental, avaliação de desempenho, entre outros tópicos

relevantes (ISO, 2012).

Por fim, tratando a nova PNRS – Política Nacional de

Resíduos Sólidos, que tem como princípio a responsabilidade

compartilhada entre governo, empresas e população, para

impulsionar o retorno dos produtos após o consumo e obrigar o

poder público a criar planos para gerenciar o lixo (BRASIL,

2010).

26

Cada um dos players envolvidos nesse processo desempenha um

papel, sendo que o governo deve adotar procedimentos para

reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis,

estabelecer sistema de coleta seletiva e dar disposição final

ambientalmente adequada aos rejeitos (BRASIL, 2010).

2.2 A LOGÍSTICA REVERSA

Antes de abortar o tema logística reversa é necessário

contextualizar sua existência com o auxílio de uma explicação

da Administração da Cadeia Logística. Em seu artigo, Rogers et

al (2002) utilizam a definição desenvolvida pelo The Global Supply

Chain Forum, um consórcio de profissionais e acadêmicos:

A administração da cadeia logística é a integração dosprocessos-chave compreendidos entre o consumidor e ofornecedor, responsáveis pela geração de produtos, serviços einformações que agregam valor para consumidores e outrosstakeholders.

De acordo com o consórcio, existem 8 processos-chave

compondo o núcleo da administração da cadeia logística, sendo

eles a administração de relacionamento com os clientes, a

administração do atendimento ao cliente, a administração da

demanda, o atendimento aos pedidos, a administração do fluxo

de produção, as aquisições, o desenvolvimento de produtos e

sua comercialização e a administração dos retornos de

materiais. Cada um desses processos-chave atravessa toda a

cadeia logística e as funções corporativas das empresas, sendo

que a administração dos retornos é parte importante desse

27

contexto logístico. Um desenho esquemático desta análise é

apresentado na Figura 1.

Feita essa contextualização, é necessário abordar as

diferentes definições existentes para a administração dos

retornos. Termos como logística reversa, administração da

cadeia de suprimentos de circuito fechado e retornos são

utilizados para descrever todo o processo ou algumas das

atividades da administração de retornos, mas não descrevem

adequadamente todo seu contexto (ROGERS, et al, 2002).

Para definir a logística reversa, Rogers et al (2002)

utilizam a análise apresentada por Rogers e Tibben-Lembke

(1998) em seu livro. Ela também é utilizada pela maioria dos

artigos analisados no decorrer desse estudo. A base do

conceito foi criada pelo antigo Council of Logistics Management, hoje

Council of Supply Chain Management Professionals, que entende como única

diferença entre logística direta e reversa, o fato de a última

tratar das atividades à medida que elas operam ao contrário do

fluxo logístico comum direto.

28

Adm inistração da Cadeia de Suprim entosIntegrando e Adm inistrando processos através da cadeia de suprim entos

FLUXO DE PRODUÇÃO

FabricanteCam ada 2Fornecedor

Cam ada 1Fornecer Cliente Consum idor /

Usuário final

Fluxo de Inform ação

ADM INISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES COM CLIENTES

ADM INISTRAÇÃO DO SERVIÇO AO CLIENTEADM INISTRAÇÃO DA DEM ANDA

ATENDIM ENTO AOS PEDIDOS

ADM INISTRAÇÃO DO FLUXO PRODUTIVO

ADM INISTRAÇÃO DAS RELAÇÕES COM FORNECEDORES

DESENVOLVIM ENTO DE PRODUTOS E COM ERCIALIZAÇÃO

ADM INISTRAÇÃO DOS RETORNOS

Adminis

tração d

a cadeia

de suprimentos

Figura 1: Gestão da cadeia de suprimentos (ROGERS, et al, 2002)

Com base na afirmativa anterior, a logística reversa é

definida pelos autores como:o processo de planejamento, implementação e controle – de formaeficiente e efetiva em custos – dos fluxos de materiais, doestoque em processamento, dos materiais acabados e dasinformações relacionadas aos retornos de produtos desde o pontode consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recuperarvalor ou descartar corretamente os materiais. (ROGERS; TIBBEN-LEBMKE, 1998)

Objetivamente, seria o processo de mover materiais a

partir do seu destino com o objetivo de agregar valor ou

realizar o descarte correto (ROGERS, et al, 2002).

A definição do conceito de logística reversa foi abordada

também por diversos outros autores, cada um com uma abordagem

específica, que serão discutidas em seguida. Primeiramente, o

29

termo pode ser definido com base em duas perspectivas

logísticas: a administrativa e a de engenharia. A primeira

trata o papel da logística nos retornos de produtos, reduções

na fonte, reciclagem, substituição e reutilização de

materiais, descarte de resíduos, além de renovação, reparo e

remanufatura. Já a segunda perspectiva aborda um modelo de

negócio sistemático que aplica as melhores práticas de

engenharia de logística e metodologias administrativas dentro

da organização, buscando fechar o ciclo da cadeia de

suprimentos de maneira lucrativa (STOCK, 1998).

Dowlatshahi (2000) define a logística reversa como sendo o

processo utilizado pelo fabricante para aceitar de volta

produtos ou peças previamente enviadas, do ponto de consumo

para uma possível reciclagem, remanufatura ou disposição,

através de um redesenho da cadeia de suprimentos que ajuda a

administrar esse fluxo e utilizar os recursos de forma

efetiva.

Outra abordagem existente para definir a logística reversa

é a do processo de planejamento, implementação e controle dos

fluxos de matérias-primas, materiais em processamento e

produtos acabados de um ponto qualquer da fabricação, da

distribuição ou do uso para um ponto de recuperação ou um

ponto de descarte apropriado (DE BRITO; DEKKER, 2002).

De Brito e Dekker (2002) consideram essa definição mais

ampla que a de Rogers e Tibben-Lembke (1998) no sentido de não

se referir ao ponto de consumo como estágio inicial do

retorno, nem ao retorno como sendo obrigatoriamente à origem,

podendo ocorrer até diferentes pontos de recuperação. Um

30

exemplo utilizado para reforçar sua argumentação é o retorno

de chips de computador. Seu destino final não é a origem e seu

processo não utiliza a mesma cadeia de suprimentos para

retornar, mas entra em uma nova cadeia. Os autores defendem

que, dessa forma são incorporados mais fluxos, que se adequam

naturalmente na definição e cujas características são as

mesmas de outros fluxos logísticos.

Ainda nesse sentido, existe uma argumentação contrária à

utilização do termo logística direta para indicar as

atividades logísticas relacionadas a materiais e produtos

novos e da reversa para materiais usados (DE BRITO; DEKKER,

2002). Os autores exemplificam utilizando a devolução do

excesso de estoques, que seria uma logística reversa de

materiais novos e não usados, como usualmente define a

logística reversa.

Rogers et al (2002) defendem que, como sua definição de

logística reversa objetiva a captura de valor ou a destinação

adequada, ela é mais abrangente, incluindo conceitos de

remanufatura e recuperação, bem como o processamento de

produtos por ocasião de avaria, estoques sazonais,

recuperação, recalls e reposicionamento de estoques. Também

inclui programas de reciclagem, de destinação de materiais

perigosos, destinação de equipamentos obsoletos e recuperação

de ativos. Apesar de útil, De Brito e Dekker (2002) defendem

que o termo não inclui todas as atividades que fazem parte da

administração do processo, dado que no caso de não haver

materiais sendo enviados no sentido contrário ao da cadeia, a

atividade não pode ser considerada logística reversa.

31

De Brito e Dekker (2002) ainda discutem sobre o termo

administração da cadeia de suprimentos fechada, que inclui

fluxos diretos e reversos, mas não ajuda na compreensão das

atividades que compõem o fluxo reverso. Cadeia de suprimentos

fechada é a de cadeia de suprimentos desenhada para considerar

os fluxos de aquisição e retorno de produtos, atividades de

reutilização e a distribuição de produtos recuperados.

O termo retornos também é frequentemente utilizado para

considerar fluxos reversos. O Council of Supply Chain Management

Professionals expandiu sua definição do modelo SCOR para incluir o

termo em 2000. O SCOR – Supply Chain Operation Reference – é um

modelo que caracteriza práticas e processos da gestão da

cadeia de suprimentos necessários para atingir um desempenho

superior dividindo-os em 5 áreas principais: abastecimento,

produção, planejamento, distribuição e retorno (THAKKAR,

KANDA; DESHMUKH, 2009).

O modelo avalia os retornos como sendo os processos

associados ao retorno ou recebimento de produtos por qualquer

razão, sendo extensível ao suporte ao cliente pós-

fornecimento. Essa conceituação foca muito mais nos fluxos

físicos de materiais no sentido reverso, não incluindo

atividades como tentativas de evitar a ocorrência do retorno e

tomadas de decisão que limitam o número de itens autorizados

na cadeia reversa (ROGERS, et al, 2002).

Rogers et al (2002), adotam o termo administração de

retornos, definido como a parte da administração da cadeia de

suprimentos que inclui os retornos, a logística reversa e o

32

desenvolvimento de formas para evitar e filtrar os retornos.

Sendo esse termo mais abrangente do que todos os demais.

Evitar os retornos significa desenvolver e vender produtos

buscando minimizar as solicitações desse processo. Isso pode

ser feito através da melhoria da qualidade dos produtos ou

orientando os clientes a respeito da sua utilização correta.

Esse processo é denominado evitação.

Já a criação de filtros para os retornos visa identificar

o mais cedo possível, quais produtos devem ser aceitos como

retornos. Essa estratégia, também conhecida como gatekeeping,

permite desenvolver políticas que definem os retornos a serem

autorizados, prevenindo materiais sem garantia de entrar na

cadeia e consequentemente eliminando custos desnecessários

(ROGERS, et al, 2002).

De qualquer forma, a administração dos retornos é um

processo crítico da cadeia logística, que requer planejamento

e execução eficaz. Sua eficiente implementação permite que

executivos possam identificar oportunidades de melhoria. Outro

ponto importante referente a esse processo de implementação é

a necessidade de mensuração do impacto financeiro dos retornos

na empresa e em todos os demais players da cadeia logística

(ROGERS, et al, 2002).

Cada vez mais as organizações percebem que, uma melhor

compreensão a respeito dos retornos de produtos e uma

eficiente administração da logística reversa podem gerar

vantagem competitiva (STOCK; MULKI, 2009). Existem ainda

preocupações ambientais, assuntos de desenvolvimento

sustentável e regulamentações que aliados ao aumento da

33

competitividade e do poder dos consumidores na cadeia de

suprimentos impulsionam o interesse das empresas nos conceitos

de logística reversa (SRIVASTAVA; SRIVASTAVA, 2006).

2.2.1 Tipos de Logística Reversa

Rogers et al (2002) classificam os tipos de retorno em 5

categorias: retornos de consumidores, retornos de marketing,

retornos de ativos, recall de produtos e retornos ambientais. O

retorno dos consumidores é geralmente a categoria mais ampla

dos retornos e ocorre devido a defeitos ou remorso dos

compradores. Muitas empresas, especialmente varejistas,

possuem políticas flexíveis que facilitam as devoluções dos

clientes.

Os retornos de marketing incluem devoluções provenientes

dos participantes situados mais à jusante no canal logístico e

podem ocorrer devido ao baixo volume de vendas, a problemas de

qualidade ou à necessidade de reposição de estoques. Além

desses, compõem esse grupo liquidações e retorno de produtos

sazonais após a temporada de vendas e produtos excedentes.

Os retornos de embalagens, pallets ou outros tipos de ativos

com o objetivo de recaptura e reposicionamento para utilização

estão incluídos nos retornos de ativos. Sua principal

característica é fazerem parte de um tipo de retorno exigido

pela administração.

O recall de produtos é uma forma de retorno normalmente

iniciada pelo fabricante devido a problemas de segurança ou

34

qualidade. A empresa pode decidir por esse tipo de retorno

voluntariamente ou obrigada por agências do governo.

Finalmente os retornos de produtos em fim de vida incluem

a disposição de materiais perigosos ou em consonância com

relações ambientais. Esse tipo de retorno é diferente dos

demais porque inclui a necessidade de adequação a um conjunto

de regras que pode limitar opções. Adicionalmente é requerida

uma série de documentações e auditorias. De acordo com Rogers

et al (2002), cada um desses tipos de retorno possui

características específicas que impactam a forma como o

processo deve ser desenhado e devem ser levadas em

consideração.

Além de Rogers et al (2002), os tipos de logística reversa

também são discutidos por De Brito e Dekker (2002). Esses

últimos desenvolvem a categorização chamando-a de razões para

a logística reversa. Entre elas estão os retornos fabris, os

retornos de distribuição e aqueles provenientes dos

consumidores.

Os retornos fabris são aqueles que ocorrem nos casos em

que produtos ou componentes devem ser recuperados ainda na

fase de produção. Entre eles estão os excessos de componentes,

as sobras de produção e os equipamentos com problemas de

qualidade.

Os retornos de distribuição incluem todos aqueles

realizados por qualquer participante da cadeia logística

depois que o produto está terminado e incluem recall de

produtos, retornos garantidos por contratos comerciais,

acertos de estoque e retornos funcionais. Os últimos incluem

35

materiais cujas características os fazem ir e vir ao longo da

cadeia, como pallets, por exemplo.

Finalmente, os retornos dos consumidores são iniciados

pelos mesmos e incluem garantia de reembolso, garantia de

produtos, serviços como reparos ou subsituição de componentes,

fim de utilização e fim de vida. Essa categorização foi

realizada em certa medida com base no ciclo de vida dos

produtos.

2.3 COMPETÊNCIAS DA LOGÍSTICA REVERSA

As práticas mais comuns em logística reversa, que podem

ser traduzidas em competências requeridas para um bom

andamento desse processo nas organizações foram estudadas por

Janse (2008). Esse tópico trata a pesquisa feita pelo referido

autor, que serviu de base para o presente estudo.

2.3.1 O modelo diagnóstico

Como já discutido anteriormente, o tema logística reversa

vem sendo tratado há algum tempo pelos países europeus. Mesmo

naqueles onde o processo já é realizado há algum tempo, tanto

pesquisadores quanto executivos da área percebem a falta de

uma orientação a respeito das melhores práticas e de uma forma

de identificar os potenciais de melhoria em seu desempenho

(JANSE, 2008).

Por essa razão, foi desenvolvido um modelo diagnóstico

embasado teórica e empiricamente, que verifica o nível de

36

maturidade no qual empresas que desenvolvem a logística

reversa de produtos eletro-eletrônicos se encontram. Tal

ferramenta avalia o quanto essas empresas são capazes de

atender a alguns requisitos específicos relacionados ao

processo. Como há indícios de que altos níveis de maturidade

geram melhores desempenhos, as empresas em questão deveriam

buscar atingir esses níveis (JANSE, 2008).

O modelo descreve as principais categorias consideradas

relevantes na visão do autor e aloca competências a cada uma

delas. Após, são definidos estágios de maturidade para cada

uma, baseados na importância do seu papel e contribuição para

o processo reversa, na percepção da gestores seniores da área.

Baixos níveis demonstram que o processo não está bem

estruturado, contribuindo pouco com a competitividade da

empresa. Por outro lado, níveis altos descrevem as bases para

o sucesso em competitividade e para a criação da estratégia.

Para cada categoria são definidas práticas que configuram

diferentes estágios de maturidade (JANSE, 2008).

37

M odelo Diagnóstico

Exem plo: Capacitação: Estratégia de NegóciosDim ensão:Integração da adm inistração de retornos à estratégia da cadeia de

suprim entos

Im aturo M aduroSem i-m aduro

M aduro ingênuo

A adm inistração da logística reversa é um apêndice da estratégia da cadeia de suprim entos

A adm inistração da logística reversa é um a parte secundária da estratégia da cadeia de suprim entos

A adm inistração da logística reversa está sem i-integrada à estratégia da cadeia de suprim entos

A adm inistração da logística reversa é parte integrante da estratégia da cadeia de suprim entos

Figura 2: Explicação da metodologia do modelo diagnóstico (JANSE, 2008).

2.3.2 Estratégia e administração de retornos

O primeiro assunto que deve ser tratado quando se lida com

a logística reversa está relacionado à estratégia da

organização e como o processo de retornos se relaciona com

ela, com sua missão e com sua visão. A estratégia da cadeia de

suprimentos deve ter foco no cliente. Por essa razão, as

organizações se deparam com o desafio de satisfazer as

necessidades da sociedade e do meio ambiente ao mesmo tempo em

que perseguem suas próprias metas econômicas.

A aplicação da gestão da cadeia de suprimentos voltada a

iniciativas de responsabilidade social corporativa tem

recebido atenção crescente das empresas devido ao interesse de

Wall Street (DEFEE; ESPER; MOLLENKOPF, 2009). Para que o

processo de logística reversa tenha sucesso, sua estratégia

38

deve estar alinhada aos objetivos do negócio, facilitando a

administração como um todo (JANSE, 2008).

Relacionado ao assunto, Dowlatshahi (2000) afirma que

nenhuma cadeia logística pode ser produtiva sem um processo

sistemático de gerenciamento de materiais. Um sistema de

logística reversa deve fazer parte de uma cadeia de

suprimentos reorganizada com o objetivo de melhorar a

administração do fluxo de materiais destinados à remanufatura,

reciclagem, disposição ou à melhor utilização dos recursos

(DOWLATSHAHI, 2000).

Dessa forma, o suporte à logística reversa desempenha um

papel crítico na estratégia organizacional, dado que muitas

empresas facilitam as devoluções dos consumidores e algumas

indústrias possuem altos volumes de retorno de produtos

(DAUGHERTY; MYERS; RICHEY, 2002). Rogers et al (2002) definem

alguns processos estratégicos para a logística reversa, o

primeiro deles é a determinação dos objetivos e da estratégia

da administração de retornos. Para que a organização seja

capaz de desenhar um sistema de administração de retornos é

necessário primeiramente realizar uma avaliação do papel que

esses retornos desempenham na estratégia geral de atendimento

ao consumidor e na forma como sua gestão contribui para o

aumento dos lucros. Outro ponto importante a ser considerado

na determinação de objetivos é a compreensão dos assuntos

referentes à conformidade legal e ambiental que impactam

diretamente a empresa e sua cadeia.

Os autores ressaltam que as indústrias submetidas à

possibilidade de recall de produtos devem avaliar os assuntos

39

legais decorrentes desse tipo de retorno. Eles podem ser

requisitados tanto por órgãos governamentais, quanto podem

surgir em decorrência de uma iniciativa de um dos players da

cadeia logística, mas independente de sua origem, os temas

legal e ético deve ser discutidos. Faz parte do

desenvolvimento da estratégia de retornos entender limitações

e competências da organização e da sua cadeia de suprimentos

(ROGERS, et al, 2002).

As organizações devem ainda colocar ênfase estratégica na

integração dos fluxos direto e reverso ao longo da cadeia de

suprimentos. Desenhar e gerenciar ambos os fluxos de maneira

conjunta permite que a empresa maximize seu valor potencial de

recuperação para os produtos retornados (DEFEE; ESPER;

MOLLENKOPF, 2009).

Esse gerenciamento eficaz da cadeia de suprimentos como um

todo requer mais que um simples programa de logística reversa.

É necessário enfatizar a integração incremental dos fluxos e

focar na gestão de uma cadeia de suprimentos de circuito

fechado (DEFEE; ESPER; MOLLENKOPF, 2009).

O gerenciamento da logística reversa também deve ser

tratado como negócio principal nas organizações que desejam

melhores resultados. Organizações orientadas para fluxos

logísticos fechados não só avaliam os assuntos relacionados à

gestão tradicional da cadeia de suprimentos, também colocam

ênfase estratégica e valor na gestão dos fluxos reversos e na

sua integração com a logística tradicional. Empresas que

adotam esse tipo de abordagem podem ser facilmente

identificadas através das decisões logísticas que tomam,

40

articulando uma liderança eficiente e foco ambiental (DEFEE;

ESPER; MOLLENKOPF, 2009).

Com o objetivo de suportar as iniciativas de

responsabilidade sócio-ambiental corporativa, muitas empresas

que competem em competências logísticas estão transformando

suas operações em cadeias de suprimentos fechadas. Esse tipo

de cadeia exige uma integração estratégica, planejamento e

operação dos fluxos direto e reverso (DEFEE; ESPER;

MOLLENKOPF, 2009). Essa abordagem provê uma visão holística do

gerenciamento dos retornos de produtos.

Considerar a logística reversa como um diferencial para a

organização é um dos fatores de sucesso da organização. A

falta de atenção gerencial frequentemente gera soluções

consideradas “rápidas e sujas”, resultando em cadeias reversas

ineficientes, não responsivas e até mesmo ambientalmente

inseguras (KRIKKE; LE BLANC; VAN DE VELDE, 2004).

Aliado à gestão estratégica da logística reversa, está o

comprometimento dos recursos organizacionais com o

desenvolvimento das competências necessárias para sua

operacionalização (JANSE, 2008). Daugherty, Autry e Ellinger

(2001) utilizam a teoria baseada nos recursos para embasar a

sugestão de que esse comprometimento pode explicar o

desempenho do programa de logística reversa como um todo. Os

autores focam especificamente no comprometimento gerencial e

financeiro, avaliando se a combinação desses fatores

intangível e tangível, respectivamente, realmente interfere na

efetividade deste programa, conforme ilustra a Figura 3.

41

Figura 2

RELAÇÃO ENTRE COM PROM ETIM ENTO DOS RECURSOS COM A LOGÍSTICA REVERSA E O DESEM PENHO DO PROGRAM A –UM A VISÃO BASEADA EM

RECURSOS

Q1-a : +

Q1-b: +

Q2: +

• M elhoria das relações com cliente• Observância das normas ambientais• Contenção de custos• M elhoria da lucratividade• Recuperação de ativos (produtos)• Redução dos investimentos em estoque

ADM INISTRAÇÃO DO COM PROM ETIM ENTO DOS

RECURSOS COM A LOGÍSTICA REVERSA

COM PROM ETIM ENTO DOS RECURSOS

FINANCEIROS COM A LOGÍSTICA REVERSA

CUM PRIM ENTO DOS OBJETIVOS DA

LOGÍSTICA REVERSA

EFICIÊNCIA DO PROGRAM A DE

LOGÍSTICA REVERSA• Entradas• Ativos• Competências

Figura 3: Relação entre o comprometimento dos recursos com a logística reversa e o desempenho do programa (Daugherty, Autry e Ellinger, 2001).

No caso específico do comprometimento gerencial foi

realizada uma análise de correlação de Pearson que demonstrou

correlações significativas entre esse interesse e quatro dos

seis objetivos de logística reversa pré-definidos a serem

atingidos. A mais forte delas se apresenta em atingir a

conformidade com a regulamentação ambiental, seguida da

necessidade de redução de investimentos reduzidos em estoques,

aumento da lucratividade e nível de recuperação de ativos. De

maneira geral, os resultados sugerem que empresas com maior

comprometimento gerencial em relação à logística reversa

atingem melhores resultados em seus programas do que as que

apresentam menor comprometimento, o que coloca o

comprometimento gerencial como um ponto importante da

competência de estratégia da administração de retornos.

42

As atividades de logística reversa também são diretamente

afetadas pelo comprometimento com questões ambientais e pela

implementação de padrões éticos na organização, que incluem a

existência de políticas empreendedoras que reforçam o

comprometimento e a responsabilidade pela adoção de uma

filosofia ambientalmente amigável (CARTER; ELLRAM, 1998). Essa

constatação vai ao encontro com a necessidade de adequação a

programas de gestão ambiental, tratado como essencial para

essa competência.

2.3.3 Stakeholders

A literatura indica que as atividades de logística reversa

são diretamente impactadas por uma ou mais forças ambientais,

sendo elas clientes, fornecedores, competidores, sociedade e

agências governamentais. É possível compreender mais

amplamente o comportamento organizacional através da forma

como as organizações interagem com seu ambiente externo

(CARTER; ELLRAM, 1998).

Com base na influência dos stakeholders, Daugherty, Myers e

Richey (2001) tratam o assunto do desenvolvimento da

consciência ambiental e corporativa na criação de programas de

logística reversa sustentáveis. A partir da revisão de

diversos autores, eles identificaram que uma rígida legislação

governamental para disposição de produtos, a conscientização

pública acerca dos altos custos do excesso de resíduos e o

crescente suporte à reciclagem contribuíram para aumentar o

43

envolvimento das empresas em iniciativas na área (DAUGHERTY;

MYERS; RICHEY, 2002).

As empresas que desenvolvem consciência ambiental

direcionadas pelos stakeholders, invariavelmente tratam aspectos

da logística reversa que tenham impacto ambiental em seus

relatórios ambientais específicos ou, em alguns casos, os

incluem nas discussões de seus relatórios de resultados

anuais. De maneira geral, esse último tipo de relatório anual

consiste em duas partes: a primeira inclui informações

qualitativas e a segunda o desempenho quantitativo. Em

pesquisas realizadas, foi possível perceber que a maioria dos

relatórios não inclui detalhes específicos referentes à

logística reversa, a menos que a empresa esteja diretamente

envolvida em atividades relacionadas, como transporte,

estocagem, entre outras (STOCK, 1998).

Um dos stakeholders com maior impacto nas decisões

ambientais de uma organização é o cliente. A importância

estratégica do gerenciamento dos retornos está se tornando

cada vez mais evidente à medida que as empresas tentam

maximizar o valor que criam para si mesmas e para os clientes.

(MOLLENKOPF; RUSSO; FRANKEL, 2007). Estabelecer e manter uma

boa relação com eles deve facilitar o processo de logística

reversa. Dois aspectos desse relacionamento são de fundamental

importância: confiança e comprometimento. Os benefícios

potenciais de tal relacionamento incluem a retenção da

parceria e satisfação através da liberalização de políticas de

retorno, aumento da flexibilidade e da agilidade através da

gestão por exceção e a simplificação do processo de crédito.

44

Do lado operacional, melhora-se o desempenho do processo, o

serviço prestado e consequentemente os custos são reduzidos

(DAUGHERTY, et al, 2003).

Ao mesmo tempo em que se espera das empresas uma proteção

ao meio-ambiente relacionada aos seus esforços de produção e

marketing, os clientes participam na compleição desse ciclo

através da disposição segura de produtos usados. Facilitar

tais movimentos de mercadorias do consumidor, de forma segura

e responsável, pode se tornar um aspecto importante da

atividade corporativa (RAGHAVAN, 2010).

O suporte para o cliente individual realizar suas

devoluções também é de extrema importância para o início do

processo de logística reversa. Nesse sentido, uma pesquisa

realizada no Brasil indica que informação é um fator

importante para os consumidores, mas não altera

significativamente o hábito de descarte pós-consumo. Além

deste suporte, a percepção sobre o risco, o valor econômico

disponibilizado na compra do aparelho e vínculos afetivos,

entre outros aspectos e critérios pessoais ou coletivos

interferem no procedimento de descarte (GIARETTA, et al,

2010).

A disposição de produtos de consumidores pode ser

percebida como a tentativa deles de se livrar de produtos que

já desempenharam seu propósito. Essa decisão é subjetiva e

atualmente existe pouca teoria ou compreensão concreta sobre a

disposição proveniente dos consumidores. Entender esse

processo pode ajudar as organizações a tomar decisões melhores

relacionadas ao tema (RAGHAVAN, 2010).

45

Compreender as razões pelas quais os clientes descartam os

produtos com base na obsolescência percebida pode ainda dizer

mais a respeito do que os consumidores procuram nos produtos.

Essas informações pdoeriam ser utilizadas para melhorar ou

inovar categorias de produtos. O conhecimento das taxas de

disposição de vários produtos ajuda no planejamento de seus

ciclos de inovação. Além disso, o rastreamento das práticas de

disposição gera benefícios econômicos e garante um futuro

sustentável utilizando-se a conservação dos recursos

(RAGHAVAN, 2010).

Há diferentes perspectivas por parte dos fabricantes e

varejistas com relação aos stakeholders do processo, que são

tratadas no artigo de Tibben-Lembke (2002). Esse é um tema

muito importante para a logística reversa, pois eles têm

visões opostas do processo, gerando desafios diferentes. A

situação ideal para os varejistas seria existir a

possibilidade de retorno da maior quantidade de produtos

possível, preferencialmente recebendo crédito pelos mesmos. Já

os fabricantes precisam minimizar os fluxos reversos ao

máximo.

Tendo-se como base a perspectiva dos fabricantes, é

necessário o desenvolvimento de uma administração de

relacionamento integrada, alinhando expectativas de ambos os

elos da cadeia. Há também divergências com relação ao melhor

destino final dos produtos, que serão tratadas mais adiante

(TIBBEN-LEMBKE, 2002).

A pesquisa de Skinner; Bryant e Richey (2008) sugerem

também que a política de retornos de uma organização é uma

46

oportunidade competitiva. Eles realizaram uma pesquisa com os

consumidores que reforça a importância dessa política na sua

decisão de compras. Muitos deles preferem comprar de

varejistas que oferecem políticas abertas e invariavelmente se

aproveitam das mesmas para devolver um grande volume de

mercadorias.

2.3.4 Integração

A colaboração entre organizações, mesmo sendo apenas uma

pequena cadeia social, pode gerar ideias, economias de escala

para resíduos de baixo valor, compartilhamento de informações

e a descoberta de soluções e novos mercados para recicláveis.

Apesar dos benefícios dessa solução de problemas compartilhada

entre empresas, ela ainda é uma prática pouco desenvolvida

(SIMPSON, 2010).

Cada vez mais parceiros comerciais estão cientes dos

benefícios mútuos gerados e da importância de suportar o

relacionamento com informações adequadas. Confiança e

comprometimento entre as partes são fatores cruciais

considerando a necessidade da troca de informações de natureza

proprietária. Os esforços de logística reversa terão mais

chance de sucesso nos casos em que existem relacionamentos de

longo prazo entre parceiros comprometidos com uma recuperação

de ativos mais efetiva (DAUGHERTY; MYERS; RICHEY, 2002).

No contexto da logística reversa, o comprometimento entre

os players da cadeia envolve sacrifícios de curto prazo, pois o

processo é intensivo em recursos, necessitando tempo, esforço

47

e recursos físicos para gerenciá-lo de forma eficiente. Apesar

disso, tal esforço demonstra resultados positivos em longo

prazo (DAUGHERTY, et al, 2003).

Por essa razão, parceiros de negócios devem trabalhar

juntos para garantir oportunidades e eficiência, pois quanto

maior o comprometimento da empresa compradora com o

fornecedor, mais forte a relação positiva entre o uso de

sistemas de informação e o desempenho total do programa de

devolução de produtos. Pode-se dizer também que os benefícios

de longo prazo melhoram a tratativa dos retornos e podem

influenciar decisões de novas compras por parte dos

consumidores (SMITH, 2005).

Para auxiliar nessa integração, existe a tecnologia de

informação, estrutura necessária tanto para a própria

fabricante quanto para seus parceiros da cadeia de

suprimentos, mas ela pode ser mais custosa e complexa do que o

planejado. Além disso, sua adoção é complicada devido a

fatores, como o compartilhamento de informações, a colaboração

e a integração da cadeia (OLORUNNIWO; LI, 2010).

O compartilhamento de informações é desencorajado pela

diversidade de sistemas de informação utilizados pelas

companhias envolvidas, incluindo formatos de dados e

softwares. A colaboração e a integração podem requerer que uma

empresa tenha acesso e possa alterar a base de dados de suas

parceiras (OLORUNNIWO; LI, 2010).

Dado que a maioria das empresas tem acordos de comunicação

com múltiplos fornecedores, a compatibilidade entre os

sistemas dos parceiros do canal pode ser complicada, mas é

48

necessária para aumentar a eficiência dos esforços de

logística reversa. Além da disponibilidade de informações

precisas, os sistemas de informação devem estar corretamente

integrados e apresentar fácil utilização para os envolvidos

(DAUGHERTY; MYERS; RICHEY, 2002).

Desenhar uma cadeia de recuperação de produtos eficiente

em custos também é crítico para o sucesso da implementação da

logística reversa. Cada configuração possível tem seus prós e

contras (JANSE, 2008). O desenvolvimento dessa cadeia de

retorno e suas opções de fluxo é um dos processos estratégicos

definidos por Rogers et al (2002). É nesse tópico que os

autores sugerem a avaliação da possibilidade de terceirização

de alguma das atividades da administração do retorno, como o

transporte dos materiais ou a administração de um centro de

distribuição específico para o recebimento dos retornos.

No caso da coleta, por exemplo, configurações próprias

oferecem maior controle aos fabricantes e criam uma relação

direta com os consumidores, mas podem gerar altos custos e

investimentos no sistema de logística reversa. Em

contrapartida, uma coleta conjunta da indústria pode reduzir

custos por volume de produtos processados, situação crítica no

caso de produtos com baixo valor após o consumo (BARKER;

ZABINSKY, 2010).

A integração da cadeia pressupõe que exista um processo de

autorização rápido e assertivo dos retornos. Uma pesquisa

realizada na área suportou a hipótese de que a maioria das

organizações utiliza a autorização para administrar os

retornos e pré-aprovar cada caso (STOCK; MULKI, 2009).

49

Da mesma forma, a escolha da configuração dos centros de

seleção e testes apresenta vantagens de economias de escala

para altos volumes de produtos. Por outro lado, a

descentralização se baseia em baixos custos de testes para

identificar as sucatas, reduzindo custos de transporte

(BARKER, ZABINSKY, 2010).

Finalmente, a realização do processamento é mais

conveniente nos casos em que o fabricante possui espaço físico

e trabalho dedicado para essa atividade, o que facilita o

controle. Já o processamento em áreas terceirizadas é mais

eficiente para operações de reciclagem e pode gerar benefícios

de custos com a utilização de provedores de serviços dedicados

(BARKER; ZABINSKY, 2010).

A coordenação conjunta dos fluxos logísticos diretos e

reversos é essencial nos ambientes em que as devoluções podem

ser reutilizadas e vendidas nos mesmos mercados dos produtos

novos. Adicionalmente às incertezas de demanda, esses

ambientes trazem incertezas relacionadas ao tempo, quantidade

e qualidade dos produtos retornados, sendo necessária uma

informação precisa para melhor coordenar o processo

(KETZENBERG, 2009).

Para minimizar os efeitos dessa incerteza, devem ser

desenvolvidas regras de crédito, nas quais são estabelecidas

prescrições gerais sobre a valoração das mercadorias

devolvidas, autorizações de crédito e suas políticas. Esse

processo requer o envolvimento das áreas de relacionamento com

os clientes e com fornecedores (ROGERS, et al, 2002).

50

Além da integração externa, discutida até aqui, Janse

(2008) também aborda a integração interna, ou seja, entre

departamentos como uma competência importante. Pouco ainda é

conhecido a respeito da natureza dessas relações

interfuncionais e seu papel na administração da logística

reversa. A partir dessa constatação, Mollenkopf, Russo e

Frankel (2007) trabalharam em uma pesquisa com o objetivo de

entender o grau e a profundidade da integração entre o

marketing e a logística de algumas empresas na Itália.

Aparentemente consegue-se uma melhor integração entre as

áreas de marketing e logística quando há alta visibilidade de

informações e as fortes relações interpessoais permitem

suportar a troca dessas informações. Sugere-se que existe uma

melhoria na eficiência da gestão de retornos quando diferentes

áreas funcionais coordenam suas atividades estratégicas e

operacionais.

Isso ocorre devido ao fato de que dentre as organizações

pesquisadas, as que possuem maior grau de integração funcional

aparentam ser mais adaptativas e pró-ativas na gestão dos

retornos. Como resultado, o estudo especula que exista uma

influência moderadora na relação entre a integração funcional

das práticas estratégicas e operacionais e a eficiência do

processo de gestão dos retornos, mas essa relação também

poderia ser direta. O assunto deve ser estudado com mais

profundidade para uma adequada determinação da natureza dessa

relação (MOLLENKOPF; RUSSO; FRANKEL, 2007).

De acordo com Janse (2008) é necessário haver ainda um

esforço conjunto entre a área de vendas e a cadeia de

51

suprimentos no sentido de minimizar volume de devoluções. O

controle das previsões e dados de planejamento deve ser

completo, preciso e disponível para que ações eficientes sejam

tomadas.

Com relação aos custos de processo, os estudos do autor

apontam para a necessidade de tangibilizar os custos

envolvidos nos retornos e seu impacto financeiro. A aplicação

desse conhecimento às regras de decisão ajuda na gestão dos

fluxos reversos (JANSE, 2008).

Para facilitar a integração interna, é importante tratar a

necessidade de criação de uma cultura organizacional com

vistas à logística reversa. Um alto nível de supervisão,

aliado à criação de funções dedicadas, com responsabilidades

bem definidas ao longo da cadeia evita o aparecimento de

conflitos e permite que atividades de melhoria surjam de todas

as partes da cadeia (JANSE, 2008).

2.3.5 Administração do ciclo de vida do produto

A competência relacionada à administração do ciclo de vida

dos produtos engloba desde o período de design, considerando os

aspectos ambientais relacionados, até a criação de estratégias

de fim de vida eficientes, que devem ser pensadas para todo o

ciclo de vida dos produtos. Os recursos relacionados aos

retornos devem ser sincronizados de acordo com cada etapa

desse ciclo, abordando ainda regras de reaquisição e

recuperação de ativos dentro do suporte pós-venda (JANSE,

2008).

52

A relação entre o conceito de ciclo de vida dos produtos e

a logística reversa foi tratada pelo autor Tibben-Lembke

(2002) que defende que durante a vida de um produto, as

empresas não sabem exatamente como serão suas vendas em cada

fase, mas que há certo padrão, conhecido como curva do ciclo

de vida. Ele é composto por 6 fases, sendo elas: (1)

desenvolvimento: período de concepção dos produtos; (2)

introdução: as vendas crescem lentamente até que uma grande

quantidade de consumidores seja atingida; (3) crescimento:

período de crescimento rápido das vendas; (4) maturidade:

quando eventualmente o produto entra em uma tendência de

crescimento lento ou até mantém um volume estável de vendas;

(5) declínio: as vendas começam a decrescer, primeiro

lentamente, depois de maneira mais rápida, até que o produto

seja retirado do mercado; e finalmente (6) o cancelamento:

final da vida do produto.

De acordo com o autor, a relação exata entre o ciclo de

vida de um produto e sua taxa de retornos não é conhecida, mas

ela varia significativamente entre produtos de preços

diferentes, de ritmos de inovação diferentes, de diversos

graus de envolvimento com os consumidores, e com base em

outros fatores. Além disso, em cada fase do ciclo, as empresas

se deparam com desafios logísticos diferentes, sendo

necessária o levantamento e a sincronização dos recursos para

a realização dos processos.

Tibben-Lembke (2002) defende que as implicações de

logística reversa para cada etapa do ciclo de vida devem ser

consideradas já durante a fase de desenvolvimento dos

53

produtos, pois muitas decisões tomadas durante essa fase terão

implicações por toda a vida dos produtos (TIBBEN-LEMBKE,

2002). O tema também é tratado por diversos pesquisadores,

especialmente devido ao fato de estar contemplado nas

diretrizes do WEEE. Um dos pontos desta política, já discutida

anteriormente, defende que o design e a fabricação de produtos

devem facilitar a desmontagem e a recuperação para uso

posterior ou reciclagem, buscando minimizar a utilização de

produtos perigosos em sua composição (NNOROM; OSIBANJO, 2008).

A discussão a respeito do design ecologicamente correto de

produtos também faz parte do conceito de Extended Producer

Responsibility – EPR, princípio utilizado em políticas ambientais

e amplamente difundido em muitos países. Ele foi criado com o

objetivo de motivar fabricantes a pensarem nos problemas

ambientais que seus produtos podem gerar desde a concepção,

buscando reduzir os custos futuros da gestão de resíduos

(NNOROM; OSIBANJO, 2008).

Os planos para lidar com os produtos que eventualmente

sejam retornados devem ser elaborados durante o seu

desenvolvimento, mapeando destinos de acordo com as diversas

condições nas quais eles sejam entregues. Nessa fase, já se

deve ter em mente as possibilidades futuras de venda em

mercados secundários, outro fator importante tratado no estudo

de Tibben-Lembke (2002).

O design ambientalmente eficiente de produtos busca, entre

outras coisas, minimizar os materiais utilizados nos produtos

e melhorar os gastos e a utilização de energia em sua

produção. Utilizando-se essas medidas, ambos os fluxos direto

54

e reverso de materiais são minimizados, facilitando programas

de reciclagem, dada a maior facilidade na desagregação dos

componentes. Todas as possibilidades de redução de recursos

devem ser esgotadas antes de se iniciarem medidas de

maximização da reutilização e futura reciclagem (CARTER;

ELLRAM, 1998).

Apesar da importância, a maioria dos fabricantes concebe

os produtos pensando somente em minimizar a utilização de

materiais, a montagem e os custos de distribuição, ignorando

as necessidades de reparo, de reutilização e de disposição.

Eles acreditam que os custos de incorporar essas necessidades

superam seus benefícios (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

O termo sugerido pelos autores para incorporar a logística

reversa no design de produtos é o Design para Logística

Reversa – Design for Reverse Logistics – ou seja, incluir as

necessidades de logística reversa e as preocupações ambientais

no produto e em sua cadeia reversa (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,

1998).

De maneira geral, as preocupações com o planejamento da

logística reversa de disposição começam na fase de crescimento

das vendas, quando os fabricantes de determinados tipos de

produtos podem se deparar com restrições significativas

relacionadas à destinação final. É durante esse período que os

retornos podem crescer a uma taxa maior e as opções de

conserto e disposição precisam ter definição clara (TIBBEN-

LEMBKE, 2002).

Durante a fase de maturidade dos produtos, o foco da

preocupação da logística reversa passa a ser a redução de

55

custos no processo reverso, através de agilidade e busca por

brokers que recebam a mercadoria. Nessa etapa, existe a

possibilidade de considerar a doação dos produtos a

organizações não governamentais, através da qual, as empresas

podem reivindicar contribuição de caridade pelo valor de

varejo do produto, podendo resultar em ganhos de impostos,

dependendo da legislação do país (TIBBEN-LEMBKE, 2002).

A partir do momento em que as vendas declinam, os preços

acompanham esse movimento, tornando-se menos atraente a venda

para brokers em mercados secundários. Além disso, na época de

cancelamento do produto, os mesmos não costumam ter qualquer

valor nem para doações (TIBBEN-LEMBKE, 2002).

A partir desse momento, passa a fazer sentido tratar os

componentes dos produtos separadamente. Seus ciclos de vida

também se tornam um critério relevante de decisão, pois ao

contrário dos produtos em si, ainda pode haver demanda para

eles (TIBBEN-LEMBKE, 2002). Em um artigo de De Brito e Dekker

(2002), os autores consideram a recuperação de componentes

como um tipo de recuperação dentro da logística reversa, na

qual os produtos são desmontados e seus módulos ou partes

podem ser utilizados tanto na produção do mesmo tipo de

produtos, quanto de produtos diferentes. Os autores afirmam

que, embora os produtos devolvidos estejam frequentemente

deteriorados, eles podem conter componentes valiosos a serem

reutilizados.

O fim da vida de um produto ocorre no momento em que o

mesmo não satisfaz mais ao usuário inicial. Essa definição

engloba a rápida mudança nas preferências dos clientes, que

56

geralmente ocorre pouco antes do material se desgastar ou

quando o produto não desempenha mais a função para a qual foi

criado (RATHORE; KOTA; CHAKRABARTI, 2011).

A indústria de produtos eletrônicos, especificamente,

possui alto turn over e demanda crescente, dado que os

dispositivos por ela produzidos são desejados por um número

cada vez maior de consumidores. O consumo acompanha a rápida

introdução de novos produtos, aumentando a criação de lixo

eletrônico na mesma proporção (JANSE; SCHUUR; DE BRITO, 2009).

Durante suas pesquisas, os autores Rogers e Tibben-Lembke

(1998) se depararam com uma afirmativa que corrobora a

declaração anterior. Um executivo do setor de eletrônicos

disse: “Fazemos parte de uma indústria de produtos com 60 dias

de ciclo de vida e 90 dias de garantia. É claro que os

consumidores irão trazer os produtos de volta”. Como a

logística reversa dessa indústria pode reduzir os lucros em

cerca de 25%, ela deve ser considerada um negócio sério.

Tendo em vista essa situação, as estratégias de fim de

vida visam recuperar valor através da coleta e processamento

de produtos usados, e podem ser classificadas em estratégias

de malha aberta e de malha fechada. As abordagens de malha

aberta incluem o descarte em aterros sanitários e a

incineração. Já as de malha fechada abordam conceitos de

reutilização, reparo, renovação/recondicionamento,

remanufatura e reciclagem. Tais conceitos serão discutidos

mais adiante, no tópico de remanufatura e retrabalho (TIBBEN-

LEMBKE, 2002).

57

É possível perceber, que as estratégias de fim de vida

praticadas em países em desenvolvimento são relativamente

desorganizadas e ineficientes em comparação àquelas de países

desenvolvidos. Os últimos praticam a remanufatura de forma bem

estabelecida, ao passo que em países emergentes, como o

Brasil, esse tipo de estratégia ainda está em estado inicial,

sendo preferidos a reutilização, o reparo e a reciclagem. Além

disso, essas iniciativas ainda são, em sua maioria, realizadas

por segmentos informais, causando danos ao ambiente e à saúde

humana (RATHORE; KOTA; CHAKRABARTI, 2011).

Com base nas discussões a respeito da integração do ciclo

de vida dos produtos e os processos de logística reversa,

Janse (2008) propõe que a administração desse ciclo, através

do balanceamento dos recursos necessários a cada um dos seus

estágios é um fator relevante de mensuração do grau de

maturidade de implementação da logística reversa em uma

organização.

2.3.6 Evitação e gatekeeping

O desenvolvimento das formas para evitar os retornos

também é considerado um processo estratégico, objetivando

filtrar os retornos e criar as diretrizes de disposição dos

materiais retornados. Essa etapa inclui identificar os tipos

de retorno que a organização pode enfrentar e, a partir deles,

determinar políticas e selecionar mecanismos para lidar com a

antecipação desses retornos. A organização, em conjunto com

fornecedores e clientes, deve desenvolver opções de disposição

58

para os materiais retornados e estabelecer estruturas que

possibilitem avaliar as possibilidades para evitar que os

retornos ocorram. O uso efetivo dos procedimentos incluídos

nessa etapa minimiza os custos de movimentação de materiais

retornados através da cadeia logística (ROGERS, et al, 2002).

O grupo de competências de evitação e gatekeeping inclui os

aspectos relacionados a políticas de evitação, políticas de

gatekeeping, alinhamento da estrutura de recompensas para ambas

políticas, padronização das medidas preventivas d os processos

e o monitoramento das fontes e motivações para os retornos

(JANSE, 2008).

Evitação é focar estrategicamente em prevenir que produtos

sejam retornados (JANSE, 2008). Políticas de devolução zero

requerem a criação de regras e procedimentos por parte dos

fabricantes para que os varejistas devolvam produtos, podendo,

inclusive, proibir os retornos. O mesmo pode ser realizado

pelos varejistas, em relação ao consumidor final. Se bem

executadas, elas podem reduzir substancialmente custos e sua

variabilidade, promovendo um melhor planejamento e a saúde

fiscal das organizações. É importante ressaltar que esse tipo

de procedimento minimiza o trabalho dos players da cadeia de

suprimentos à jusante, mas não reduz as necessidades de

devolução dos clientes e varejistas (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,

1998).

Empresas fabricantes de eletrônicos têm diversas formas de

adotar medidas de evitação, além da simples proibição dos

retornos de consumidores e varejistas, iniciando pelo design

de produtos, já focado nesse tipo de situação ou até

59

aumentando os testes de qualidade nos produtos finais (JANSE,

2008).

A partir do momento em que as empresas lançam muitos

produtos, renovando suas tecnologias constantemente, elas

próprias tornam a mercadoria obsoleta. Nos casos em que não há

mercados secundários desenvolvidos, esses produtos de

tecnologia superada retornam para a cadeia de suprimentos para

serem descartados corretamente após o consumo (JANSE, 2008).

O reforço de procedimentos para avaliar a qualidade ao

final da fabricação também tem um efeito redutor dos volumes

retornados. As quantidades devolvidas por falhas produtivas ou

mau funcionamento dependem das garantias oferecidas e dos

contratos de serviços, sendo difícil prever as taxas de

defeitos. Produtos eletrônicos tendem a falhar muito cedo em

seu ciclo de vida, já componentes mecânicos falham mais à

medida que envelhecem (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

O gatekeeping é definido como o processo de triagem dos

materiais defeituosos ou sem garantia, que são retornados no

ponto de entrada do processo de logística reversa. Ele deve

existir nos casos em que é impossível evitar a logística

reversa. Um bom processo de triagem é considerado o primeiro

fator de sucesso para que o fluxo reverso seja rentável

(JANSE, 2008).

Como os varejistas percebem apenas uma pequena parte dos

custos envolvidos em um processo de logística reversa, suas

atitudes com relação às políticas de devoluções são mais

liberais, onde eles assumem o risco pelos retornos dos

consumidores, independente de suas motivações. Embora esse

60

tipo de facilidade eleve os níveis de satisfação dos clientes,

ela causa problemas para a cadeia reversa como um todo, dando

margem para abusos.

Para evitar problemas dessa natureza, um bom processo

decisório a respeito dos produtos que serão permitidos no

sistema de logística reversa implica em treinar adequadamente

os funcionários que receberão as devoluções, a respeito de

quais produtos podem ser devolvidos e a forma adequada de

processá-los. Falhas nessa triagem podem criar atritos entre

fabricantes e varejistas, além de perda nas receitas da cadeia

(ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Esse fato gera, ainda, a necessidade de um alinhamento da

estrutura de recompensas, fazendo com que toda a cadeia

envolvida na venda se responsabilize também pelos retornos e

seus custos. A implementação de um sistema de informação

adequado possibilitaria mais precisão na determinação do

crédito que os consumidores devem receber, evitando o

reembolso do valor total nos casos de falta de peças e

acessórios do produto, por exemplo (ROGERS;TIBBEN-LEMBKE,

1998).

Nos casos de produtos defeituosos, que os clientes

simplesmente não querem mais ou já cumpriram seu ciclo de

vida, o compartilhamento dos custos da logística reversa é de

igual importância. Para estes, a porta de entrada mais comum

tende a ser as assistências técnicas vinculadas aos

fabricantes, não estando ainda muito bem definida e

padronizada para os produtos de pós-consumo (ROGERS;TIBBEN-

LEMBKE, 1998).

61

Em suas pesquisas, Rogers e Tibben-Lembke (1998)

perceberam a dificuldade dos varejistas em triar mercadorias

defeituosas e sem garantia que são trazidas às lojas. No

entanto, eles não abordam as percepções de assistências

técnicas ou outros integrantes da logística reversa, como os

centros de recebimento e reciclagem, talvez pelo fato dessa

ser uma realidade menos presente no exterior.

Para que as políticas de evitação e triagem sejam

adequadamente padronizadas, alinhando as responsabilidades dos

envolvidos na cadeia, é necessário compreender as fontes e

motivações das devoluções. De maneira geral, os produtos que

percorrem a logística reversa podem ser retornados para o

vendedor, vendidos como novos, vendidos via outlet ou com

descontos, vendidos através de mercados secundários, doados

para caridade, remanufaturados ou renovados e reciclados ou

enviados para aterros. Cada situação depende das obrigações

contratuais existentes, das condições dos materiais e da sua

demanda (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Uma forma de coletar essas informações seria centralizar

os retornos. Nos centros de recebimento, a informação a

respeito dos problemas em produtos finais ou materiais de

fornecedores fica consolidada, podendo ser cruzada com os

arquivos dos vendedores, facilitando assim o processo

decisório e as medidas de contenção (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,

1998).

Da mesma forma que os demais tipos de retorno, o

recebimento de produtos de pós-consumo implica na realização

de uma triagem para verificar seu estado e as possibilidades

62

existentes de destinação. Nem sempre as empresas podem ou

querem vender em mercados secundários ou doar. Nesses casos, a

centralização facilita a busca pela destinação final ótima,

visando o recebimento do maior valor possível pelos materiais

ou gastando o mínimo requerido (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Alguns fabricantes fecham contratos com especialistas em

remanufatura centralizados e conseguem, assim, receber

informações a respeito das causas dos retornos, dos excessos e

do maquinário obsoleto, criando metodologias para controlar

seus custos e taxas de retorno. Esses especialistas podem, por

exemplo, testar, recondicionar, consertar, reembalar e então

revender os materiais. Eles poderiam atuar como centro de

serviços dos fabricantes, trabalhando inclusive na garantia de

produtos (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Um modelo interessante adotado por uma indústria de

computadores, permite que os varejistas retornem todos os

produtos a um ponto central terceirizado mediante autorização

de envio por diversos fabricantes. Lá, os produtos são

avaliados e encaminhados para renovação ou disposição. Os

benefícios são percebidos por todos os integrantes da cadeia.

Alguns deles, mencionados pelos varejistas, são a rapidez de

acordos e pagamentos, processos de retorno simplificados e

fáceis e uma diminuição no volume e valor de estoques

aguardando autorização de envio. Os fabricantes, por sua vez,

percebem um processo de recuperação mais rápido, uma melhor

administração das autorizações de retorno e a renovação do

foco na venda de novos produtos, seu objetivo primário

(ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).

63

A determinação de mercados secundários é mais um processo

estratégico da administração de retornos (ROGERS, et al,

2002). Pode haver diversas opções de destinos para as

mercadorias retornadas, como leilões pela internet e

varejistas especializados em produtos de segunda mão. Para uma

correta destinação, é necessário levar em consideração a

possível canibalização de vendas dos produtos de primeira

linha e o impacto que as vendas através de mercados

secundários podem gerar na imagem da marca.

Desenvolver regras de disposição baseadas no conhecimento

a respeito das possibilidades de recuperação e da estruturação

dos mercados primário e secundário faz parte desta

competência. As regras de disposição devem estar definidas e

alinhadas com toda a cadeia de suprimentos, sem deixar de lado

a estratégia organizacional adotada. A comunicação a respeito

das mesmas deve ser clara e facilmente disponível a todos os

integrantes do fluxo reverso (JANSE, 2008).

Elas são criadas com base no conhecimento dos mercados

primários para produtos sem falha e em excesso e da demanda

nos mercados secundários por ativos recuperados. Durante todo

esse processo, a qualidade da recuperação dos ativos deve ser

monitorada, juntamente com sua aceitação nos diversos mercados

de destino (JANSE, 2008).

A estratégia de disposição adotada por uma empresa está

relacionada com sua política de retornos (SKINNER; BRYANT;

RICHEY, 2008) e de acordo com Tibben-Lembke (2002), à medida

que os fluxos reversos chegam, é necessário que a organização

defina o destino de cada material.

64

Tibben-Lembke sustenta que, dependendo das condições do

material, de obrigações contratuais com os vendedores e da

demanda pelos produtos, a firma pode escolher entre 7

principais canais de disposição, conforme segue.

A primeira é o retorno ao produtor, que ocorre do

varejista para os fabricantes por motivo de defeitos, retornos

de marketing, obsolescência e excesso de estoques. Vendas em

sistema de consignação também entram nesse grupo.

No caso específico dos retornos por defeito, os

fabricantes têm a prerrogativa de solicitar o material de

volta com a intenção de identificar o defeito, suas causas e

realizar ações para eliminá-los. Ou ainda pode ser feita uma

avaliação sobre a quantidade de materiais devolvidos como

defeituosos que estão em condições normais. Essas informações

ajudam na determinação de opções de disposição. Também é

possível que os produtores não queiram que os materiais

devolvidos voltem para a cadeia, canibalizando suas vendas.

De maneira geral, no entanto, os fabricantes compensam os

varejistas pelas devoluções de consumidores e não solicitam os

produtos para análise, perdendo informações importantes a

respeito da logística reversa e muitas vezes o controle de

tudo que é devolvido.

Em seguida existe a opção de venda como novo, que trata

dos materiais devolvidos sem nem mesmo terem sido abertos ou

utilizados. Em muitos casos é necessário reembalar o material,

mas algumas indústrias têm restrições a essa operação de

revenda.

65

A venda via outlet ou com descontos é muito utilizada pela

indústria têxtil para produtos devolvidos, compondo altos

estoques dos varejistas e sobras das últimas coleções, que não

podem mais ser vendidas na rede varejista comum. Há muitas

vantagens nesse tipo de venda, sendo uma delas o controle

sobre os locais de venda dos produtos, protegendo sua

reputação e posição no mercado.

Existe ainda a venda através de mercados secundários,

considerada a última opção, caso as anteriores não puderem ser

adotadas. Incluem os chamados brokers, firmas especializadas em

comprar close-outs, ou seja, produtos que os varejistas decidiram

não vender mais, ou job-outs, produtos sazonais de primeira

qualidade ou seus excedentes e materiais defeituosos a preços

baixíssimos e vendê-los através de lojas próprias ou outros

varejistas especiais.

Produtos ainda em funcionamento, mas que podem apresentar

pequenas falhas cosméticas podem ser doados a instituições de

caridade.

A remanufatura ou reforma, opção já discutida no decorrer

da competência anterior, oferece a possibilidade de

recondicionar o produto com defeito e ainda receber algum

valor pelo mesmo. Para viabilizar a venda em mercados

secundários, invariavelmente é necessário um processo de

reforma ou remanufatura com qualidade.

Finalmente há a reclamação de materiais, reciclagem ou

disposição em aterro, sendo essas as últimas opções de um

fabricante, quando todas as outras não puderem mais ser

consideradas, sempre buscando o maior valor possível pela

66

destinação. Alguns tipos de produtos contêm pequenas

quantidades de materiais valiosos, como platina, ouro, ferro e

aço, que podem ser separados e revendidos. No caso de nada

mais ser aproveitado, os componentes devem ser separados,

reciclados e as sobras enviadas para aterros específicos, de

acordo com a periculosidade dos materiais.

Todas essas possibilidades são frequentemente específicas

por tipo de indústria ou de produto, dependendo de suas

características como valor ou preço, custo de transporte,

perecibilidade e os padrões de demanda do mercado (SKINNER;

BRYANT; RICHEY, 2008).

Um dos primeiros critérios a ser levado em consideração

para escolher a melhor disposição é o preço que será recebido

pelo produto. Se possível, é desejável o recebimento do

crédito total, caso contrário, o estado da mercadoria deve ser

avaliado para a decisão final (TIBBEN-LEMBKE, 2002).

2.3.7 Retrabalho e recuperação

A competência relacionada ao retrabalho e recuperação de

materiais inclui aspectos relacionados, primeiramente a

diferenciação e classificação dos retornos, preferencialmente

já na entrada da cadeia. Tal processo deve ser realizado de

acordo com o valor de seus componentes no decorrer do tempo. A

partir desse primeiro passo, é possível enviar os produtos ao

seu correto destino, de acordo com regras claras de

recuperação, baseadas na viabilidade econômica, técnica e

ambiental das opções (JANSE, 2008).

67

Os processos de recuperação direta também devem ser

altamente padronizados, adaptados às mudanças do mercado e sem

falhas. Todo o conhecimento tácito a respeito da desmontagem e

recuperação é compartilhado entre os centros de recuperação e

dentro do processo. Com base na disponibilidade dessa e outras

informações, devem ser realizadas iniciativas constantes de

uso do design para melhorias contínuas da estratégia (JANSE,

2008).

Além disso, controlar e padronizar os processos referentes

a esses aspectos possibilitam o desenvolvimento da

previsibilidade da demanda por serviços de reparação e sua

sincronização com o planejamento e previsão das peças de

reposição. Aliado a eles, a otimização do controle de estoques

dessas peças de reposição para atender aos pedidos de

recuperação consolida os aspectos agrupados na competência de

retrabalho e recuperação (JANSE, 2008).

Uma boa administração da recuperação dos produtos requer

informações referentes à composição dos produtos, à magnitude

e à incerteza dos fluxos reversos, relacionadas aos mercados

para produtos reprocessados, componentes e materiais e nas

próprias operações de recuperação e gestão de resíduos. Apesar

disso, muitas empresas consideram a busca por essas

informações problemática e elas acabam se perdendo dentro da

organização ou dispersas por toda a cadeia de suprimentos

(THIERRY, et al, 1995).

São propostas três condições principais importantes para a

criação de soluções inovadoras de reciclagem: identificação

inicial e separação dos resíduos, informação a respeito dos

68

seus valores e mercados potenciais e interação com os

parceiros da cadeia de suprimentos. Todas são igualmente

relevantes, pois se analisadas separadamente, não geram

informações suficientes para a organização (SIMPSON, 2010).

Além disso, conhecer o valor que os resíduos têm para a

fabricante ou para outras entidades, bem como a informação a

respeito de seu preço potencial no caso da venda para

compradores alternativos incentiva a busca por soluções

alternativas de disposição, diferentes do descarte em aterros.

Organizações que se esforçam na busca por informações

referentes à reutilização e reciclagem, desenvolvem uma

competência, em comparação às demais (SIMPSON, 2010).

Antes de considerar o produto uma perda total, muitas

empresas podem tentar retrabalhá-lo ou recuperá-lo. Existe uma

ampla gama de opções disponíveis, que variam de acordo com o

tipo de material e a razão pela qual o mesmo foi devolvido.

Como o valor de venda de eletrônicos danificados é muito

baixo, eles podem ser enviados aos fabricantes ou a uma

prestadora de serviços terceirizada para retrabalho e serem

revendidos em mercados secundários ou via outlets (TIBBEN-LEMBKE,

2002).

Existem muitos tipos de produtos que apresentam um valor

marginal significativo no tempo, especialmente os eletrônicos,

como celulares, computadores, impressoras, scanners, entre

outros periféricos de informática (MORANA; SEURING, 2007). Os

autores afirmam que esse valor marginal no tempo influencia a

motivação econômica de todos os envolvidos na cadeia para

suportar o fechamento da sua cadeia. Ou seja, quanto maior o

69

valor de determinado produto com o passar do tempo, em relação

ao produto novo, mais propenso o retorno à fabricante,

oferecendo até incentivos ao varejista ou consumidor final

(MORANA; SEURING, 2007).

Nos casos em que o valor do retorno de produtos em final

de vida é desconhecido, o ponto de coleta deve avaliá-lo

mediante a desmontagem e classificar seus materiais e

componentes. Apenas os que possuem algum valor marginal devem

ser retornados aos fabricantes ou a outro player da cadeia,

visando economias nos custos de transporte (KUMAR; PUTNAM,

2008)

Ao contrário das estratégias mais comuns de circuito

aberto, a abordagem da logística de circuito fechado inclui

estratégias como a reutilização, o reparo, a

renovação/recondicionamento, a remanufatura e a reciclagem

(RATHORE; KOTA; CHAKRABARTI, 2011). De acordo com os autores,

todas essas estratégias fazem parte do processo de recuperação

e devem ser avaliadas de acordo com sua viabilidade econômica,

técnica e ambiental.

Para que uma estratégia de recuperação seja claramente

definida na organização, a distinção entre cada uma se faz

necessária. Iniciando pela reutilização, o termo implica que

os produtos são utilizados por um segundo cliente sem que

sejam realizadas operações de reparo, ou seja, o material fica

da mesma forma como foi originalmente desenvolvido. O reparo é

o processo de reativamento de componentes danificados a uma

condição de funcionamento (RATHORE; KOTA; CHAKRABARTI, 2011).

70

Thierry, et al (1995) defendem que a qualidade dos

produtos reparados geralmente é inferior a dos produtos novos,

sendo que o conserto ou substituição de peças danificadas

requer pouca desmontagem e remontagem.

Já o processo de restaurar materiais tanto a um estado

funcional, como também a sua especificação original,

utilizando ferramentas de recapeamento, repintura, entre

outros é o chamado renovação/recondicionamento (RATHORE; KOTA;

CHAKRABARTI, 2011). Os padrões de qualidade dos produtos

provenientes desse processo são menos rigorosos do que aqueles

referentes a produtos novos. Ocasionalmente o

recondicionamento pode ser combinado com uma melhora de

tecnologia, através da troca de módulos antigos por novos, de

tecnologia superior (THIERRY, ET AL, 1995).

A remanufatura substitui ou reconstrói os componentes dos

produtos, tornando-os no mínimo iguais à sua última

especificação (RATHORE; KOTA; CHAKRABARTI, 2011). Seu

propósito é trazer produtos usados aos mesmos padrões de

qualidade dos produtos novos, mediante a completa desmontagem

e extensiva inspeção dos componentes (THIERRY, ET AL, 1995).

A reciclagem utiliza os materiais dos componentes,

processando-os para fazer o mesmo material utilizável

(RATHORE; KOTA; CHAKRABARTI, 2011). Para Thierry, et al

(1995), esse processo está dividido entre canibalização e

reciclagem, sendo que o primeiro refere-se apenas a

recuperação limitada de um grupo de peças reutilizáveis ou

componentes. Elas são reaproveitadas no reparo,

recondicionamento ou remanufatura de outros produtos ou

71

componentes, caso sua qualidade atinja os estritos padrões

necessários.

Para os autores ainda, ao contrário dos processos de

recuperação discutidos anteriormente, a reciclagem não busca

manter a identidade e funcionalidade dos produtos usados. Seu

propósito é utilizar apenas os materiais que compõem esses

produtos.

A disponibilidade de conhecimento referente à desmontagem,

seguida de remanufatura é um determinante da decisão entre

fazer esse processo internamente ou terceirizá-lo (THIERRY, et

al, 1995). Esse conhecimento raramente está disponível nas

especificações dos equipamentos originais, mas foi adquirido

pelas fabricantes, que os desenharam e produziram. Sendo

assim, eles têm a oportunidade de transformar essa informação

em conhecimento tácito para as firmas responsáveis pela

recuperação dos seus produtos (TOFFEL, 2004).

Com base no estudo de alguns casos relatados na teoria,

Toffel (2004) sugere que os fabricantes têm uma vantagem de

custo em relação a outras empresas para desmontar produtos em

final de vida. Diferenças que aumentam quando economias de

escala permitem o processamento de um volume maior de produtos

pós-consumo na mesma localização. Ele indica que a localização

do processo de remanufatura no mesmo lugar da produção

facilita a transferência do conhecimento, consequentemente

aumentando a produtividade.

No modelo desenvolvido por Janse et al (2009), empresas

que realizam a categorização dos produtos em centros de

consolidação regionais, estão a um passo de atingirem o mais

72

alto grau de maturidade da logística reversa. Já aquelas que o

fazem em locais totalmente centralizados ou categorizam de

forma limitada os retorno, estão nos estágios iniciais de

implementação do processo reverso.

O reprocessamento de produtos pode ser realizado na

instalação original de produção, nos casos em que se faz

necessário manter controle sobre o conhecimento do produto. É

também necessário que o fabricante tenha espaço em suas

instalações e trabalho especializado disponível para dedicar à

recuperação de produtos, evitando os custos de uma instalação

de processamento separada (BARKER; ZABINSKY, 2010).

Já o reprocessamento realizado em instalações secundárias

é mais comum para eletrônicos de consumo, pois também oferece

economias de escala e é uma opção atrativa para provedores de

serviços terceirizados. Os terceiros invariavelmente possuem

espaço, equipamentos e pessoal treinado para realizar a

recuperação de produtos (SPENGLER; SCHROTER, 2003).

Em um contexto, no qual as estratégias de recuperação de

valor agregado se tornarão cada vez mais importantes para as

empresas na busca por eficiência econômica e ecológica em seus

processos de retorno e reciclagem, recuperar de maneira eficaz

os componentes mais valiosos dos produtos para obter peças de

reposição é uma estratégia promissora (SPENGLER; SCHROTER,

2003).

Além disso, os curtos ciclos de vida dos produtos estão

expandindo o volume de produtos retirados de circulação que

ainda precisam de peças de reposição por razões legais e de

serviço. Muitos vendedores não podem prover materiais para

73

peças de reposição durante todo o período de oferta de

serviços de fim de vida, consequentemente o suprimento desse

tipo de material vem se tornando difícil de gerenciar. Sendo

assim, muitas empresas podem recuperar componentes de seus

produtos retornados para atender a essas demandas (SPENGLER;

SCHROTER, 2003).

Spengler e Schroter (2003) defendem que as empresas que se

engajarem nesse processo necessitarão de novos instrumentos de

informação e ferramentas de planejamento estratégico para

gerenciar a recuperação das peças de reposição. Mas para tirar

vantagem da recuperação de componentes, a empresa deve

considerar as taxas de retorno do descarte de produtos

primários no decorrer do tempo e sincronizá-la com uma

estimativa da demanda por peças de reposição.

Outro problema importante que deve ser gerenciado nesse

contexto é a gestão dos estoques desse tipo de material, que

ocasiona altos custos, referentes aos grandes volumes

mantidos. Se uma empresa subestima a demanda por peças de

reposição, pode perder vendas e desapontar os consumidores

(SPENGLER; SCHROTER, 2003).

O processo de recuperação requer habilidades e

equipamentos para realizar os testes, o reparo em si e

controle de qualidade das operações. Assim como na produção

normal, o controle da qualidade dos produtos recuperados e

enviados a mercados secundários é essencial, pois os mesmos

também podem ter defeitos (THIERRY ET AL, 1995).

Os consumidores esperam uma qualidade consistente dos

fabricantes, independente dos produtos serem novos ou

74

recondicionados. Uma baixa qualidade dos produtos

remanufaturados pode afetar a reputação da empresa e

consequentemente suas vendas de maneira geral (DOWLATSHAHI,

2000).

Encontrar mercados para produtos usados também pode ser

muito difícil, pois a aceitação dos mesmos depende das

diferentes condições percebidas de qualidade e custo

comparativamente a produtos novos. A avaliação desses

possíveis mercados pode ser feita através de uma avaliação de

sua demanda por tais produtos. Dentre as principais opções

estão a utilização do remanufaturado pela própria empresa, por

outras empresas da cadeia, como fornecedores, por exemplo, ou

por empresas de fora da cadeia logística direta (THIERRY ET

AL, 1995).

O baixo valor percebido pelos mercados secundários,

frequentemente reduz os investimentos das organizações na

identificação do valor de mercado dos materiais descartados e

na busca por opções de disposição diferentes do envio para

aterros. A investigação dessas condições que possibilitam

parcerias de sucesso para reciclagem pode abrir novas opções

de reciclagem, resolvendo esse dilema gerencial. Materiais

secundários retornados através dos canais de logística reversa

estão cada vez mais sendo percebidos como fontes de produtos

novos ou criadores de valor, especialmente dado o aumento nos

custos de matérias-primas e a melhoria nas tecnologias de

reciclagem (SIMPSON, 2010).

A correta combinação entre informação a respeito do valor

dos materiais, das alternativas existentes para cada tipo, das

75

tecnologias e da criação de novos mercados, faz com que

produtos antes vistos como descarte sem valor, passem a

representar novos produtos potenciais ou alimentar os

processos existentes (SIMPSON, 2010).

2.3.8 Avaliação de desempenho

Um sistema de avaliação de desempenho é fundamental para a

gestão dos negócios, pois provê as informações necessárias

para a tomada de decisão e as ações requeridas. Ele não

envolve somente medições e métricas, mas também incorpora

políticas, emoções e outros critérios comportamentais. Boas

medições de desempenho podem facilitar uma comunicação mais

aberta e transparente entre as pessoas, gerando um ambiente de

suporte e cooperação, que consequentemente melhora o

desempenho organizacional (GUNASEKARAN; KOBU, 2007).

Gunasekaran e Kobu (2007) citam várias razões pelas quais

é importante desenvolver um bom sistema de avaliação do

desempenho. Entre elas são citadas a identificação de

sucessos; verificar se as necessidades dos clientes estão

sendo atendidas; ajudar a empresa a entender seus processos e

confirmar o que elas já conhecem ou revelar o que não é

conhecido; identificar a existência de gargalos, problemas,

desperdícios e outras situações onde cabem melhorias; garantir

que as decisões estão sendo tomadas com base em fatos, não em

suposições, emoções, fé ou intuição; e mostrar se as melhorias

planejadas estão realmente acontecendo.

76

A revisão da literatura sugere que existe uma quantidade

limitada de artigos que tratam das medições e métricas de

desempenho no ambiente da cadeia de suprimentos, sendo

necessário o desenvolvimento de critérios mais representativos

da conjuntura atual (GUNASEKARAN; KOBU, 2007).

Um sistema de avaliação pode ser quantitativo ou

qualitativo. O maior desafio dos administradores é determinar

os indicadores chave de desempenho, baseados nas metas

estratégicas da organização e desenvolver uma forma de medí-

los e implementá-los. Muitas vezes, é necessário traduzir as

medições de desempenho qualitativas em medidas quantificáveis.

Para as atividades da cadeia de suprimentos, esse desafio é

igualmente difícil, dada sua complexidade relativa ao grande

número de processos relacionados e interdependentes. Sendo

assim, a compreensão das relações de interdependência e

casualidade é imprescindível para o sucesso da gestão

(GUNASEKARAN; KOBU, 2007).

Gunasekaran e Kobu (2007) desenvolveram um estudo para

determinar o desempenho das cadeias de suprimentos utilizando

poucas medições, que proporcionariam uma acurácia razoável com

o mínimo de custo. Para isso, foi analisada a literatura

referente aos sistemas de medição do desempenho existentes,

determinando os pontos de sobreposição entre eles.

Foram encontradas entre 80 e 90 medidas de avaliação de

desempenho referentes a vários sistemas de medição. Entre

elas, algumas são exatamente as mesmas e outras medem as

mesmas coisas, mas tem nomes diferentes. Após diversas

análises, Gunasekaran e Kobu (2007) determinaram um total de

77

27 medições, chamadas de Indicadores-chave de Performance –

KPI - Key Performance Indicators. Eles foram então categorizados de

acordo com a fase da cadeia de suprimentos a que se referem e

em métricas financeiras e não financeiras.

A determinação das métricas a serem utilizadas é

customizada para cada organização e deve considerar as metas e

objetivos organizacionais, o tipo do negócio, a natureza do

mercado e sua competência tecnológica. Além disso, fatores

políticos e culturais também são relevantes no desenho do

sistema de avaliação de desempenho (GUNASEKARAN; KOBU, 2007).

O acompanhamento de indicadores específicos de desempenho

avalia o progresso das atividades ambientais e de logística

reversa. Dentre os benefícios desta prática, pode-se citar a

correta documentação das melhorias ambientais e econômicas,

melhor direcionamento dos funcionários a um objetivo comum,

orientar atividades de ajustes nas áreas com problemas e

atingir as metas ambientais da organização (STOCK, 1998).

Stock cita algumas métricas utilizadas para tais fins,

agrupadas em três categorias: conformidade regulatória,

métricas do sistema de gestão ambiental e medidas de eco-

eficiência. Algumas das principais, incluídas em cada grupo,

estão citadas no Quadro 1, mas muitas outras são possíveis. É

importante ter um conjunto de métricas que possam ser

utilizadas para monitorar os programas ambientais e de

logística reversa da empresa, de fornecedores e provedores de

serviços (STOCK, 1998).

78

Conformida

de

regulatóri

a

- Emissões, limites licenciados e datas das

licenças;

- Procedimentos escritos para a gestão de

resíduos;

- Histórico de violações ambientais e

descargas acidentais;

- Descrição de materiais perigosos em um

sistema de rastreamento;

- Competências de todas as instalações de

tratamento;

- Número e envolvimento em ações corretivas.Sistema de

gestão

ambiental

- Existência de um sistema de gestão ambiental

formal;

- Participação em programas de certificação da

indústria ou de programas de gestão ambiental

de terceiros;

- Publicação de relatórios ambientais;

- Mensuração do desempenho ambiental por parte

do board e/ou da administração;

- Participação em auditorias externas de

terceiros, mesmo que os resultados não sejam

públicos;

- Existência de programas de treinamento

ambiental.Medidas de

eco-

eficiência

- Formas de trabalho para prevenção da

poluição e criação de eficiência energética;

- Reutilização e/ou reciclabilidade de

79

embalagens e transporte de materiais;

- Estatísticas relacionadas a resíduos, à

utilização de energia e água por unidade de

produção;

- Dimensão das tecnologias de prevenção da

poluição;

- Utilização de energias renováveis.Quadro 1: Métricas comumente utilizadas na avaliação da logística reversa (STOCK,1998).

Rogers et al (2002) também tratam o desenvolvimento de um

sistema de métricas como processo estratégico, incluindo taxas

e o impacto financeiro dos retornos. Para realizar essa

análise é preciso desenhar procedimentos de verificação das

taxas de retorno e rastreamento das causas raízes dos

retornos. Esse processo é de extrema importância, dado o fato

de que a administração dos retornos pode impactar em

resultados críticos das organizações, tais como o EVA –

Economic Value Added.

O EVA é composto de receitas, custos, lucros e

investimentos em ativos necessários para lucrar de acordo com

o esperado. Um exemplo do impacto da logística reversa nesse

tipo de indicador é um aumento das vendas decorrente de

negociações realizadas através de mercados secundários. O

custo dos produtos vendidos também pode ser reduzido através

da reciclagem e uma boa gestão dos retornos pode reduzir os

estoques internos de materiais obsoletos e também ao longo da

cadeia (ROGERS, et al, 2002).

80

Um indicador de desempenho citado por Daugherty, Autry e

Ellinger (2001) é o quanto os custos da logística reversa

representam no total dos custos logísticos. Em suas pesquisas,

o autor constatou que esse custo representa, em média 9,49%

dos custos logísticos. De maneira geral, os custos da

logística reversa são altos e os retornos baixos. Sendo assim,

Janse (2008) sugere que seja adotada uma abordagem de custo

total para tratar desse processo, avaliando seu impacto em

todos os gastos realizados.

81

2.4 QUADRO RESUMO DA REVISÃO DE LITERATURA

Tema Resumo Principais autores

Estratégia e Administração deRetornos

Deve haver integração entre a logística reversa, a estratégia da cadeia de suprimentos e a da organização, sua missão, visãoe valores.

Dowlatshahi (2000)

Defee; Esper; Mollenkopf (2009)

Daugherty, Myers, Richey (2002)

A cadeia de suprimentos reversa é tratada como negócio principal gerador de lucros estratégicos.

Rogers et al (2002)

Defee; Esper; Mollenkopf (2009)

Abordagem holística da cadeia de suprimentos deve ser adotada para gerenciar os retornos de produtos, através de metas

Rogers (2002)

Defee, Esper,

82

específicas a cada etapa do processo.

Integração entre as logísticas direta e reversa.

Mollenkopf (2009)

Deve existir consciência e comprometimento da alta administração. Suas competências devem estar alinhadas àquelasnecessárias para gerenciar o processo.

Krikke, Le Blanc, Van de Velde (2004)

Daugherty, Autry, Ellinger(2001)

Stakeholders Disponibilidade de relatórios externos sobre o impacto da sustentabilidade na gestão da logística reversa. Stock (1998)

Antecipação de legislação ambiental futura e dos seus impactosna operação logística.

Daugherty, Myers, Richey (2002)

Alinhamento dos processos de retorno às necessidades dos clientes, integrando-os a sua gestão de relacionamento.

Suporte e facilitação os movimentos de devolução advindos dos clientes.

Daugherty, et al (2003)

Raghavan (2010)

Giaretta, et al(2010)

Compreensão dos motivadores à disposição e suas taxas, com Raghavan (2010)

83

vistas a influenciar o descarte.

Estímulo à integração dos parceiros da cadeia, adequando requisitos ambientais e sociais em seus modelos de negócios, através do alinhamento das diferentes perspectivas.

Tibben-Lembke (2002)

Integração

Compartilhamento de riscos, custos e recompensas entre os parceiros comerciais envolvidos.

Daugherty, Myers, Richey (2002)

Daugherty, et al (2003)

Integração dos sistemas com os parceiros-chave e entre os departamentos envolvidos.

Olorunniwo, Li (2010)

Daugherty, Myers, Richey (2002)

Agregação de valor ao processo reverso através da utilização de competências e conhecimentos específicos de terceiros.

Rogers et al (2002)

Processo de autorização de coleta harmonioso e focado na buscapela redução dos tempos de processo.

Barker, Zabinsky (2010)

O desenvolvimento da cadeia considera otimizações dos centros Ketzenberg

84

de recuperação e reparo, impactos para os fornecedores, padronização das regras de crédito e busca por iniciativas conjuntas de redução. Há sinergia entre todos os envolvidos nacadeia.

(2009)

Stock, Mulki (2009)

Rogers et al (2002)

Existência de uma cultura de colaboração entre as áreas, definição clara dos papéis e responsabilidades de cada área, funções dedicadas e integração entre as mesmas.

Mollenkopf, Russo, Frankel (2007)

Previsões e dados sobre os retornos estão disponíveis, são precisos e utilizados para melhorar os processos interno e externo.

Janse (2008)

Administração dociclo de vida doproduto

Há sincronização entre os recursos relacionados aos retornos eas diferentes fases do ciclo de vida na qual eles se encontram.

Tibben-Lembke (2002)

Definição de estratégias de fim de vida eficientes durante a concepção dos produtos, considerando todos os aspectos ambientais.

Tibben-Lembke (2002)

Carter, Ellram (1998)

85

Rogers, Tibben-Lembke (1998)

Há iniciativas do design de produtos para suportar melhorias contínuas na estratégia de reparos.

De Brito, Dekker (2002)

Evitação e gatekeeping

Existem políticas integrais de gatekeeping e evitação.Rogers, et al (2002)

Janse (2008)

Há uma estrutura de recompensas padronizada e alinhada com as políticas de evitação e gatekeeping, para diferentes quantidadese qualidades de retornos.

Rogers, Tibben-Lembke (1998)

Há registro das fontes e motivações para os retornos, que são usados para gerir a cadeia.

Rogers, Tibben-Lembke (1998)

Existe controle sobre a qualidade dos produtos recuperados e sua revenda em mercados secundários.

Rogers, Tibben-Lembke (1998)

Conhecimento dos mercados primários para produtos sem falhas ede mercados secundários para produtos recuperados.

Tibben-Lembke(2002)

Skinner, Bryant, Richey (2008)

86

Retrabalho e Recuperação Utilização de categorizações multi-nível para decidir

rapidamente e de forma descentralizada a disposição do resíduono ponto de entrada da cadeia. O valor de seus componentes no tempo faz parte dos critérios utilizados para essa classificação.

Thierry, et al (1995)

Simpson (2010)

Morana, Seuring(2007)

Clara estratégia de recuperação baseada nas viabilidades econômica, técnica e ambiental das opções de recuperação.

Tibben-Lembke (2002)

Kumar, Putnam (2008)

Rathore, Kota, Chakrabarti (2011)

Compartilhamento do conhecimento a respeito de desmontagem entre e dentro dos centros de recuperação envolvidos.

Thierry, et al (1995)

Toffel (2004)

Barker, Zabinsky (2010)

Há sincronização entre o planejamento e previsão das peças de reposição e a previsão dos retornos, otimizando estoque para

Spengler,

87

atender aos pedidos de reposição de materiais. Schroter (2003)

Os processos de recuperação são integrados e sem falhas, garantindo a qualidade dos produtos recolocados no mercado.

Thierry, et al (1995)

Dowlatshahi (2000)

Avaliação de desempenho

Existência de critérios de medição de desempenho bem definidosde ponta a ponta do processo, com base nos principais direcionadores de valor.

Gunasekaran, Kobu (2007)

Conhecimento e controle dos custos claros e ocultos relacionados à logística reversa, utilizando-se uma abordagem de custo total.

Rogers et al (2002)

Daugherty, Autry, Ellinger(2001)

Janse (2008)

Há estrutura de melhoria contínua baseada em benchmarkings internos e externos de processos comparáveis entre setores, parceiros e competidores.

Janse (2008)

Quadro 2: Resumo da revisão de literatura

88

3 MÉTODO

O objetivo deste capítulo é apresentar o método utilizado

para a realização deste estudo. Serão apresentados o propósito

e a pergunta da pesquisa, seguidos da escolha do método de

pesquisa. Após, será tratada a escolha dos casos e forma de

coleta de dados. Por fim, tem-se a apresentação das limitações

relativas ao estudo de maneira geral e ao método utilizado.

3.1 PROPÓSITO E PERGUNTA DA PESQUISA

Esta pesquisa se propõe a verificar a aplicabilidade do

modelo desenvolvido por Janse (2008) de forma adaptada e

utilizá-lo na análise do nível de maturidade de diferentes

players envolvidos na cadeia de suprimentos reversa da indústria

de eletro-eletrônicos de consumo. Com base nessa análise,

pretende-se compreender a relevância das competências

consideradas essenciais pela literatura internacional, no

cenário brasileiro. Sendo assim, a pergunta desta pesquisa é:

“Qual o nível de maturidade das competências de logística

reversa e sua relevância para diferentes integrantes da cadeia

de suprimentos responsáveis pelos retornos do setor de eletro-

eletrônicos de consumo no Brasil?”.

Dentre os objetivos secundários estão a verificação do

grau de importância de cada uma das competências para os

envolvidos no processo. Além disso, uma percepção subjetiva

com relação ao desempenho das organizações analisadas talvez

possa ser vinculada ao nível de maturidade das mesmas.

89

Os estudos relacionados ao tema geralmente utilizam

métodos de simulação sem a utilização de dados

organizacionais. Percebe-se a necessidade de investigações

mais inovadoras para gerar informações empíricas que suportem

novas proposições (GUIDE & VAN WASSENHOVE, 2006). Os

resultados do presente estudo irão ampliar o conhecimento

atual sobre a importância das competências relacionadas à

logística reversa no Brasil e a situação geral da operação

realizada, além de adicionar conhecimento à atual literatura e

gerar proposições para estudos futuros.

3.2 MÉTODO DA PESQUISA

O primeiro passo para a escolha do método de pesquisa mais

adequado é a definição da pergunta de pesquisa. De maneira

geral, perguntas relacionadas a como e por que determinados

fatos ocorrem, sugerem a utilização de estudos de caso. O

método permite descrever uma situação gerencial e com base

nela desenvolver um conhecimento mais aprofundado sobre

determinado tema (YIN, 2005). Por essa razão, foi utilizado o

estudo de caso para desenvolver estaa pesquisa, buscando

compreender melhor as situações relacionadas ao processo de

logística reversa.

A teoria verificada através de estudos de caso envolve a

utilização de um ou mais casos a fim de criar construtos

teóricos e/ou proposições a partir de evidências empíricas das

pesquisas. Portanto, a teoria surge através da percepção de

padrões e relações entre construtos no caso e entre casos

90

(YIN, 2005). A mesma situação ocorrerá no decorrer dessa

pesquisa, ao responder à pergunta definida.

Diversos fatores possibilitam um aumento do rigor deste

tipo de estudo, e eles estão relacionado aos conceitos de

validade interna, validade de construto, validade externa e

confiabilidade. A validade interna está relacionada às

relações causais entre variáveis e resultados, sendo

necessária uma construção causal consistente, relacionando as

variáveis, analisando padrões e triangulando dados (YIN,

2005).

A validade de construto embasa a investigação realizada,

permitindo descrever em profundidade o fenômeno estudado a

partir de diversas percepções. A validade externa trata da

possibilidade de generalização das teorias desenvolvidas, cuja

realização não é possível de maneira estatística, mas

analiticamente oferece teorias a serem testadas posteriormente

(YIN, 2005).

Finalmente, a confiabilidade permite a replicação da

pesquisa por outros pesquisadores, para que os mesmos cheguem

aos resultados que serão discutidos nos próximos tópicos do

estudo. Diferente de outros métodos, estudos de caso

possibilitam a coleta de informações de várias fontes

diferentes, documentos organizacionais, questionários,

entrevistas pessoais e até observações relacionadas ao tema

analisado. A base para o desenvolvimento dos estudos de caso é

uma revisão de literatura bem feita e detalhada. O uso de

proposições teóricas ajuda a minimizar a complexidade e

ambigüidade dos estudos de caso (YIN, 2005).

91

Para gantir o rigor deste estudo, os fatores acima

relacionados foram levados em consideração, buscando-se

vincular as proposições feitas às variáveis percebidas, bem

como utilizando-se documentação complementar e verificação in

loco para garantir a confiabilidade das descrições. Por outro

lado, não foi possível avaliar os casos com base em diversas

percepções internas, pois apenas um entrevistado concedeu

informações a respeito de cada empresa.

3.3 ESCOLHA DOS CASOS

A cadeia logística brasileira é composta por diferentes

atores, entre eles estão fabricantes, distribuidores,

varejistas, recicladores, catadores de lixo, prefeitura, entre

outros que começam a desenvolver um processo padrão de retorno

de produtos, a partir da aprovação da PNRS. De maneira geral,

a literatura internacional estuda a perspectiva dos

fabricantes e varejistas, mas recicladores e empresas

prestadoras de serviço de logística reversa têm papel

fundamental na cadeia de suprimentos nacional.

Sendo assim, o presente estudo busca avaliar as percepções

de diferentes players da cadeia de suprimentos, verificando seus

níveis de maturidade no processo de retornos e se as

competências requeridas para o sucesso na implementação da

logística reversa são as mesmas para cada um deles.

Para isso, foram selecionadas uma fabricante, uma

prestadora de serviços logísticos e uma recicladora. Sua

escolha ocorreu com base na disponibilidade de acesso às

92

informações relacionadas e de visitação da operação. A

fabricante é reconhecida por estudiosos brasileiros da área

como um exemplo de produtora com processo reverso integrado,

tendo adquirido extenso know-how depois de anos de atuação na

área. Além disso, seu principal produto faz parte da categoria

dos eletro-eletrônicos, foco desde estudo.

Da mesma forma, a prestadora de serviços logísticos é

atuante na área de logística reversa e está entre as mais

consolidadas do mercado. Sua operação gera resultados

positivos, ao contrário da maioria das organizações, que ainda

tem custos superiores às receitas com os retornos.

Por fim, a recicladora compõe o cenário, pois mesmo sendo

uma empresa de pequeno porte, pode demonstrar sua visão do

mercado para tal atividade, suas dificuldades e ideias para

desenvolver o tema proposto, bem como oferecer uma percepção

mais abrangente a respeito de seu papel na cadeia.

3.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Para investigar o nível de maturidade dos diferentes

envolvidos no processo de logística reversa foram realizadas

entrevistas em profundidade com executivos diretamente ligados

à logística reversa. Para facilitar a análise, duas das

entrevistas foram gravadas. Em um dos casos a gravação não foi

permitida.

Conjuntamente às entrevistas, foram realizadas visitas e

observações dos processos realizados para análise do nível de

maturidade e objetivando minimizar o viés dos respondentes. A

93

limitada disponibilidade de informações financeiras das

empresas direcionou a utilização de informações obtidas na

internet para ajudar na composição da análise. Os resumos das

descrições dos casos foram enviados para análise dos

respondentes, mas não foram recebidas respostas referentes às

mesmas.

Pode-se entender a falta de retorno das organizações como

uma possível falta de interesse no desenvolvimento da

pesquisa. Muitas delas percebem estudos desse tipo apenas como

forma de divulgar seus processo à comunidade acadêmica e

talvez acreditem que os mesmos não agregam valor gerencial,

por terem visão acadêmica.

A análise dos dados foi feita através da confrontação das

informações obtidas a partir das entrevistas, visitações e da

literatura atual, buscando-se compreender suas relações e as

divergências entre discurso e realidade.

3.5 LIMITAÇÕES

Este estudo apresenta limitações referentes ao método de

pesquisa. Foi realizado apenas um caso representativo de cada

um dos três players da cadeia de suprimentos reversa

selecionados para análise, sendo que existem outros a serem

analisados. Entre eles estão empresas, que já atuam na

operacionalização da logística reversa, mas que não abrem seus

processos para análise.

Além disso, as as percepções dos demais participantes da

cadeia, como varejistas, recicladores e órgãos reguladores não

94

podem ser verificadas nessa pesquisa, pois os mesmos não foram

estudados. O processo reverso brasileiro possui muitas outras

interações além das analisadas nesse estudo.

Diversas vezes foi necessária uma avaliação da

pesquisadora com relação às respostas das entrevistas semi-

estruturadas, pois por vezes, os entrevistados respondiam

determinadas questões e apresentavam processos divergentes do

explicado.

Outro fato relevante foi a impossibilidade de coletar

opiniões de diferentes colaboradores envolvidos nos processos

reversos dentro da organização. Isso acaba enviesando o estudo

com base apenas na opinião de um integrante da empresa. A

avaliação do desempenho da logística reversa nesse estudo foi

realizada através da percepção dos entrevistados quanto ao

assunto. Dado que não foi possível ter acesso a dados

financeiros referentes ao processo de logística reversa por se

tratarem de informação confidencial.

O alinhamento entre a estratégia da cadeia de suprimentos,

o nível de maturidade e a importância das competências e sua

influência no desempenho foi realizado de forma qualitativa.

Essa impossibilidade de triangular dados e informações

compromete a validade interna do estudo.

Conhecidas as limitações do método, buscou-se minimizar os

vieses durante as entrevistas, por meio de peguntas detalhadas

a respeito de cada um dos temas. Na fase de interpretação, a

verificação da operação possibilitou uma visão mais

abrangente, não apenas centrada na opinião do entrevistado.

95

4 DESCRIÇÃO DOS CASOS

4.1 CASO EMPRESA A

A próxima sessão irá apresentar informações gerais a

respeito da empresa A, seus produtos e os processos de

logística reversa por ela executados. Em seguida, serão

descritas as características relacionadas às principais

competências demonstradas pelos entrevistados e percebidas

pelo entrevistador, bem como o desempenho geral do processo de

retornos percebido pela organização.

4.1.1 Histórico da empresa

A empresa brasileira em questão é uma fabricante de

computadores, notebooks, netbooks, tablets e leitores eletrônicos,

direcionados tanto aos consumidores finais, quanto a empresas

e governo. Sua sede está situada na cidade de Curitiba, estado

do Paraná, e seus produtos são fabricados em três localidades

nacionais, além do Mercosul. De acordo com o relatório da

administração, elaborado para o Relatório Anual de

Demonstrações Financeiras, a empresa de capital aberto é líder

no mercado nacional há 7 anos, tendo 13,3% de marketshare,

liderando tanto em notebooks quanto em desktops.

Em 2011, ela comercializou 2,045 milhões de unidades no

Brasil, sendo a maior parte deste volume composta por notebooks.

O varejo correspondeu a 68,6% das vendas, seguido pelo

Governo, comprador de 27,1% das unidades. O restante, 4,3%,

96

foi direcionado ao segmento corporativo. A capacidade

instalada de produção somando-se todas as unidades é de 470

mil PCs – Personal Computers – por mês e no ano de 2011 foi

registrada uma receita bruta de R$ 2,333 bilhões com a venda

de produtos e serviços.

O principal foco com relação ao desenvolvimento da

operação de logística reversa na Empresa A é o cumprimento da

legislação em vigor e a adequação a normas de qualidade

vigentes. Empresas de eletrônicos como ela, devem se sujeitar

às exigências e regulamentos em âmbito federal, estadual e

municipal, que abordam o licenciamento para operação, o

controle do consumo de água e energia e o gerenciamento de

resíduos sólidos.

O gerenciamento de resíduos sólidos na organização, foco

desta pesquisa, gera objetivos e metas ambientais visando

reduzir a geração de excessos especificamente no decorrer do

processo fabril, reutilizar esses excessos e os materiais que

não puderam ser eliminados, reciclar tudo o que for possível e

em último caso, realizar a disposição adequada de produtos,

componentes e demais sobras. Dentre os principais resíduos

gerados, estão a sucata de componentes eletrônicos e de

informática e embalagens de matérias primas, tais como

plásticos, madeiras, materiais metálicos e isopor. Além deles

a empresa trata como resíduos as lâmpadas fluorescentes,

disquetes, água e os demais recursos utilizados na produção.

Destes, a maior dificuldade encontra-se em lidar com os

eletrônicos, pois eles contêm substâncias tóxicas, de difícil

separação e que requerem cuidado extra em seu manuseio. Tudo o

97

que sobra na produção é coletado, separado, classificado e

destinado à reutilização ou reciclagem, dependendo do caso.

Outra origem importante de materiais para correta

destinação são as assistências técnicas, que devolvem para a

fábrica os componentes defeituosos substituídos. Os produtos

provenientes do pós-consumo apenas compõem o fluxo,

correspondendo a uma pequena parcela do total. Nesse sentido,

a organização não desenvolve programas de conscientização ou

incentivos aos consumidores individuais, recolhendo apenas os

produtos corporativos ou governamentais sob demanda e

informando os consumidores individuais a respeito da

possibilidade de devolução.

4.1.2 Descrição do caso

Estratégia e administração de retornos

Durante o estudo de caso, não foi possível ter acesso à

estratégia da cadeia de suprimentos, pois o contato foi

realizado com a área responsável por qualidade e meio

ambiente. Como a administração da logística reversa não faz

parte da cadeia de suprimentos de forma integrada, e é

gerenciada pelo departamento de sustentabilidade ambiental, as

informações referentes unicamente à gestão da logística não

foram acessadas.

A administração dos retornos de materiais na Empresa A não

está diretamente ligada à área de logística, podendo-se dizer

que a logística reversa é um apêndice da estratégia da cadeia

de suprimentos como um todo. Seu gerenciamento não é bem

98

estruturado, sendo que é realizado de forma diferente

dependendo de cada situação. Só é possível aproveitar os

processos da logística direta em alguns casos, ou seja, nas

situações em que são realizadas entregas de materiais novos

vinculadas à coleta dos produtos já defasados.

Os processos da cadeia reversa estão simplesmente

adaptados aos objetivos do negócio e ao desenvolvimento do

mercado. Essa falta de alinhamento não parece ser uma barreira

para a continuidade e sucesso da logística reversa, que é

avaliada sistematicamente com base em metas que a acompanham

de ponta a ponta.

A gestão dessa logística reversa adaptada aos objetivos

corporativos, atrai a atenção da gerência limitadamente, sendo

mais direcionada ao seu controle de custos. O retorno de

materiais não é percebido como um diferencial importante ou é

o core business do negócio, mas sua importância é reconhecida em

todos os níveis da organização. Apesar de não gerar lucros,

existe um forte engajamento da área de sustentabilidade

ambiental no sentido de coordenar as atividades e disseminar

ideias relacionadas ao gerenciamento de resíduos, minimizando

os impactos ambientais da produção.

Mesmo não estando inserida de forma estruturada e

padronizada nos processos logísticos, a administração de

retornos é realizada praticamente sem falhas isoladamente,

visando as melhores soluções com o menor custo. A falta de

integração, neste caso, não é percebida como um problema para

organização, dado que o conhecimento necessário a respeito de

soluções ambientais e destinação são dominados pelos atuais

99

responsáveis. Eles adotam uma abordagem holística da gestão

dos retornos. A compreensão de cada parte do processo, as

interações com os envolvidos, os impactos e os custos totais

são fatores considerados durante todo o processo decisório.

Existe um robusto programa de gestão ambiental instalado,

que proporciona aprendizagem organizacional constante e

integra diferentes stakeholders, tais como fornecedores,

clientes, recicladores e assistências técnicas. Esse programa

busca principalmente a adequação da Empresa A às diversas

legislações sócio-ambientais vigentes, mas em última instância

dissemina e fortalece uma cultura organizacional de

responsabilidade coletiva pelos resíduos gerados.

O comprometimento de grande parte dos colaboradores é

visível e pode ser claramente percebido durante as poucas

horas de realização do estudo de caso. No decorrer das quatro

horas de entrevista e visitação, duas pessoas procuraram o

responsável pela logística reversa, uma com perguntas

relacionadas aos materiais sendo separados para disposição e

outra para tratar de opções de reciclagem de componentes.

Stakeholders

Uma das competências tidas como imprescindíveis é o

estímulo aos parceiros da cadeia de suprimentos, para que os

mesmos integrem os requisitos ambientais e sociais em seus

modelos de negócios. Nesse sentido, a Empresa A atua de forma

educativa, orientando os integrantes da cadeia a se adequarem

à legislação atual e às suas necessidades. Não são oferecidos

estímulos financeiros, apenas parcerias de trabalho. A empresa

100

trata diretamente com alguns recicladores, geralmente empresas

de pequeno porte, que são orientados de acordo com os

requisitos da ISO 14001, não sendo necessária a certificação

de todos. Nos casos em que ela não é requerida, os critérios

são apenas ensinados e avaliados para controle.

Já os fornecedores desempenham um papel mais direto, sendo

requisitadas deles adequações de embalagens, componentes e

procedimentos fabris. Nesse sentido, a empresa pesquisada

solicita mudanças e acompanha sua implementação, orientando

quanto à utilização dos procedimentos da regulamentação

ambiental e acompanhando o andamento das alterações mediante

auditorias periódicas.

Essa consciência ambiental está presente na organização,

mesmo antes de ser aprovada a PNRS. Isso se deve especialmente

ao comprometimento dos responsáveis pela área de qualidade e

meio ambiente. Normas como a ISO 14001 e suas derivadas são

consideradas nos processos organizacionais atuais, na forma

como as pessoas trabalham e no desenvolvimento de novos

processos. A busca pela adequação das atividades e consequente

certificação é contínua. Além disso, há um trabalho de

antecipação das legislações sócio-ambientais futuras, buscando

minimizar seus possíveis impactos negativos à fabricação e

distribuição dos produtos eletrônicos.

Mesmo não sendo um objetivo organizacional, ações

constantes e incisivas do departamento responsável incutiram

nos funcionários dessa empresa e em seus parceiros, uma busca

constante pelo cumprimento das normas ambientais e por

soluções alternativas de reaproveitamento de materiais. Para

101

tanto são realizadas campanhas internas, auditorias e

avaliações constantes, baseadas na regulamentação vigente.

Tais ações são consideradas fundamentais para o sucesso do

programa de logística reversa e são tratadas com atenção pelos

envolvidos.

São realizados relatórios internos a respeito dos impactos

das ações de sustentabilidade na gestão da logística reversa.

Os mesmos incluem taxas de retornos por tipo de materiais,

custos totais dos processos de logística reversa e indicadores

acerca dos seus principais fatos geradores. Tais relatórios

não são controlados em detalhe pela alta administração, mas

são verificados de perto pela área de sustentabilidade, que

busca reduzir tanto os resíduos gerados quanto os custos do

processo. Tais relatórios são auditados internamente e por

órgãos independentes vinculados à certificação, que não foram

nomeados.

Com relação aos clientes, como já mencionado, a empresa

foco da análise possui três tipos de clientes, os consumidores

finais, os corporativos e o governo. Cada um deles possui

necessidades diferentes e, portanto, recebe tratamentos

diferenciados. Em cumprimento à legislação vigente, a Empresa

A disponibiliza aos clientes individuais, informações a

respeito dos procedimentos para devoluções de produtos. Esses

retornos podem ocorrer, na maioria, em duas situações:

retornos de produtos defeituosos – em garantia ou não – ou

retornos de produtos pós-consumo.

No primeiro caso, mais comum, os clientes encaminham seus

aparelhos para uma assistência técnica da marca, onde é

102

realizada uma avaliação e a substituição dos componentes

problemáticos. Em casos extremos, todo o produto defeituoso é

devolvido para a fábrica. A atuação das assistências é

fundamental para a existência do processo, pois os envios

provenientes diretamente dos consumidores após o consumo

apresentam alta complexidade para a organização e requer

grande conscientização ambiental dos clientes, razão pela qual

ocorrem em baixo volume atualmente. Embora a organização

ofereça aos clientes essa possibilidade, ela não é amplamente

divulgada e está presente apenas em seu website, sendo

necessário interesse por parte dos clientes na busca por

alternativas de descarte.

De qualquer maneira, o descarte pós-consumo não é o

objetivo primário da logística reversa nessa empresa. O

cumprimento à legislação atual é garantido através das

informações disponibilizadas aos clientes pela internet, mas

ações pró-ativas não são realizadas. A PNRS também ainda não

apresenta diretrizes claras a respeito das melhores formas de

realizar a coleta e descarte, pois o assunto está em discussão

entre todos os envolvidos na cadeia. Cada indústria, cadeia de

suprimentos ou tipo de material poderá requerer uma solução

ideal diferente no futuro, dificultando a integração entre

empresas de segmentos diversos.

Da mesma forma, ainda não existem demandas claras e comuns

dos vários clientes. Poucos consumidores individuais procuram

a empresa para descartar corretamente seus produtos. Alguns

clientes corporativos e governamentais estipulam em contrato

uma cláusula para coleta de materiais da marca em fim de vida,

103

mas cada situação é única. Dado que nem todos os clientes

possuem necessidades claras e constantes e que as demandas

esporádicas existentes são atendidas da melhor forma possível,

pode-se dizer que os processos de retorno estão conectados a

essas estratégias.

Ainda relacionado à resposta aos clientes, não é possível

dizer que as necessidades são previstas e a realização do

serviço de logística reversa está em consonância com as

mesmas. A resposta aos clientes é eficiente, mas os serviços

prestados são apenas suportados pelos atuais processos de

retorno. A administração dos retornos existe devido a uma

necessidade da própria empresa em oferecer garantia de

produtos e, consequentemente, recuperar os materiais

defeituosos junto aos fornecedores e em cumprimento à

legislação, não especificamente para oferecer uma resposta

relacionada ao retorno de produtos pós-consumo que fortaleça a

confiança dos clientes e sua imagem com relação à organização.

São poucas as interfaces dos clientes com o processo, que

ocorre apenas no sentido de disponibilizar o material para

coleta ou entregá-lo nas assistências técnicas em caso de

defeitos. Da mesma forma em que não estão disponíveis

possibilidades de rastreamento e localização dos materiais em

processo de devolução, abertas aos clientes.

A situação corrente na qual a Empresa A está inserida

requer pouca ou nenhuma administração detalhada das relações

com os clientes, pois as principais necessidades de logística

reversa não provem deles, mas sim dos processos internos.

Dessa forma, tal competência não é tida como essencial ou

104

desenvolvida em profundidade. As demandas são atendidas sempre

que aparecem, mas sem um planejamento prévio ou a integração

dos clientes no processo reverso. Isso pode se tornar

necessário com o crescimento do volume de produtos devolvidos

após o consumo e o no caso do amadurecimento da consciência

ambiental da sociedade brasileira.

Integração

As competências relacionadas à integração da cadeia

possibilitam extender a conexão entre fornecedores,

recicladores, empresas terceiras de seleção e qualquer outro

envolvido na cadeia da logística reversa. Também inclui o

nível de interligação e trocas internas, entre os

departamentos responsáveis ou afetados pelo processo reverso.

Este tópico tem vital importância para o bom andamento do

processo de retornos, dado que proporciona sinergias,

facilitando o fluxo.

Tratando-se inicialmente dos fornecedores, pode-se dizer

que a comunicação das políticas de retornos está alinhada com

os fornecedores, garantindo consistência de ponta a ponta do

processo. No caso de componentes defeituosos em período de

garantia junto aos fornecedores, os mesmos devem ser

substituídos sem custo para a Empresa A e consequentemente

para os consumidores.

Não foi possível verificar se os custos de garantia são

recuperados pelos fornecedores, mas seu desempenho de

qualidade é moderadamente utilizado para melhorar a gestão dos

retornos. Como já discutido, iniciativas de recuperação de

105

ativos e correta destinação dos materiais retornados são

incentivadas pela empresa pesquisada; não em forma de

parcerias, mas com avaliações constantes e orientações

decorrentes da mesma. Os fornecedores que se adequam e

investem tem preferência em detrimento dos demais. Esse fato

gera a busca constante por melhorias de processo, visando

aumentar a competitividade e minimizar os riscos de serem

excluídos da cadeia de suprimentos da empresa analisada.

Não há terceirização total de atividades como seleção,

classificação, recuperação e reciclagem, que são eventualmente

compartilhadas com alguns parceiros. Essa terceirização

parcial ocorre nos casos em que não é conveniente direcionar

os materiais para o parque fabril da empresa, sendo menos

custoso encaminhá-los diretamente a outros envolvidos na

cadeia, que realizarão as atividades necessárias de acordo com

os padrões estabelecidos em contrato pela Empresa A.

Esse compartilhamento de atividades não envolve sistemas

de informação integrados entre todos os parceiros, nem mesmo

está disponível um sistema adequado para o gerenciamento

interno dos retornos de materiais.Tudo é controlado via Excel,

e-mails e outras ferramentas não consolidadas. A área de

tecnologia da informação tentou desenvolver um sistema

adequado aos processos realizados atualmente, mas o mesmo não

foi aprovado pela área responsável.

Embora os sistemas não estejam interligados, existe um

compartilhamento de riscos do processo reverso atual no caso

de retornos em garantia. Não existe participação nas receitas

que a Empresa A obtém com a venda de materiais, reciclagem e

106

reaproveitamento, até porque a mesma não pode ser considerada

uma renda relevante, não cobrindo os custos do processo atual.

A otimização da cadeia não inclui centros de reparo e

recuperação, pois os materiais selecionados são reaproveitados

de apenas duas formas: exatamente como estão ou são

reciclados. Assim, estão incluídos na melhoria contínua os

centros de seleção e reciclagem fora do ambiente

organizacional em análise. Esse processo envolve igualmente

uma revisão constante do desenho da cadeia e dos fluxos de

retorno, sempre de forma colaborativa.

A inexistência de um processo padronizado de retorno

dificulta a sincronização entre os envolvidos, gerando

visibilidade limitada dos estoques, da demanda e das previsões

futuras. Os estoques são geridos dentro da organização

analisada sem a aplicação de ferramentas ou modelos

multivariados de controle. Os envolvidos no retorno detêm a

informação a respeito dos tipos e volumes no processo e no

almoxarifado, mas não há um controle padrão.

Um ponto final importante a ser mencionado é o fato de que

não são realizadas parcerias de nenhuma espécie com os

competidores. A Empresa A se responsabiliza totalmente pelo

gerenciamento de seus resíduos sólidos e líquidos e desenvolve

soluções criativas de reaproveitamento e reciclagem. Entre

elas estão a busca por empresas de reciclagem especializadas

com o objetivo de realizar parcerias ou para vender materiais

e obter algum retorno com o processo; além das diversas

tentativas de reaproveitar os materiais separados na própria

operação.

107

O maior volume do processo de separação e destinação é

tratado dentro da própria fábrica, em uma área destinada

especificamente para esse fim, não havendo sentido ou

interesse em desenvolver parcerias com competidores. A

segurança de informações é muito importante nessa indústria,

inviabilizando o compartilhamento de determinados processos de

descaracterização.

Passando para a avaliação da integração interna, a

administração cross-funcional é um tema recorrente na literatura

relacionada à logística reversa. Os autores estudados defendem

que essa integração interna gera uma melhor transmissão de

informações e um engajamento de todos os departamentos da

organização na gestão dos retornos.

Na empresa foco deste estudo de caso, existem unidades

funcionais dedicadas a supervisionar e gerir a logística

reversa de forma responsável e coordenada. A responsabilidade

e os papéis dessa administração são claros em toda

organização, evitando conflitos com as demais áreas.

Atualmente, não existe integração da área gestora da

logística reversa com as áreas de vendas e serviços para gerar

previsões e dados para o planejamento dos retornos de forma

mais completa e precisa para a empresa. Já a área de

engenharia e desenvolvimento de produtos busca integra o

pessoal do departamento de sustentabilidade ambiental nas

decisões relacionadas aos novos produtos e alteração dos

atuais. Mesmo ocorrendo de forma ainda desestruturada, algumas

melhorias decorrentes desse relacionamento já podem ser

percebidas, como será tratado no tópico de ciclo de vida.

108

De maneira geral, pode-se dizer que recomendações para

atividades de melhoria surgem de diversas funções, envolvidas

diretamente ou não no processo, e também das várias empresas

relacionadas ao retorno de materiais. Apesar da falta de

integração dos sistemas, a informação é transferida

manualmente a todos os envolvidos interna e externamente,

mantendo-os informados constantemente acerca do andamento do

processo de retornos.

A falta de uma estrutura de recompensas entre os parceiros

da cadeia, tratada no tópico de evitação e gatekeeping,

confirma-se tanto para produtos recuperáveis quanto em fim de

vida no decorrer da estratégia de devoluções como um todo.

Isso não significa que os parceiros responsáveis pelo

recebimento e reciclagem de materiais não tenham receitas

advindas desse processo, mas sim que os valores recebidos de

cada participante não estão alinhados, nem são compartilhados

de forma padronizada.

A gestão da documentação é realizada somente com outros

objetivos, como monitorar os processos atuais e avaliar sua

eficiência. Apesar da captura, coleta e armazenagem de

documentos de suporte parecer um processo complicado e de

disponibilidade e precisão incertos devido ao seu caráter

manual, pode-se dizer que quase tudo é controlado: tipos de

materiais, volumes, modos de falha, custos, receitas, entre

outras coisas.

Por essa razão, atualmente existe uma compreensão a

respeito da maioria dos direcionadores do retorno de produtos,

mas eles não servem de base para o desenvolvimento de uma

109

política de retornos. Além disso, não é possível influenciar o

processo, “criando” demandas de retornos.

Administração do ciclo de vida do produto

A administração do ciclo de vida dos produtos sempre foi

moderadamente considerada durante o design dos produtos e seus

processos. Atualmente a busca por melhorias na estratégia de

fim de vida, já nas fases iniciais do desenvolvimento dos

produtos, tem crescido exponencialmente, mas isso não ocorre

de forma coordenada ou estruturada. Invariavelmente, a

engenharia solicita a participação do departamento de

sustentabilidade ambiental, para que o mesmo contribua com

seus conhecimentos a respeito dos componentes de materiais

mais indicados, pensando nas melhores soluções de

reaproveitamento e minimizando os níveis de disposição e seus

impactos ambientais pós-consumo.

O impacto ambiental das decisões durante o desenho dos

produtos é identificado e até certo ponto quantificado, mas

nem todos os materiais são escolhidos com base nesse critério.

Algumas vezes, o custo ou mesmo o próprio design não permitem

que a organização siga pelo caminho mais adequado. De qualquer

forma, a busca por melhores soluções já é um grande passo

nesse sentido, sendo a maioria dos casos.

Um exemplo interessante é a eliminação do chumbo da

composição dos produtos eletrônicos da Empresa A. O chumbo é

um material altamente tóxico e de difícil separação. As ações

de sucesso realizadas na fabricação dos produtos já em fase de

maturidade e junto aos fornecedores, possibilitaram sua total

110

eliminação, facilitando os processos de descaracterização de

produtos e corrreta disposição dos materiais. Os novos

produtos já vêm sendo lançados com a mesma diretriz de

composição.

A abordagem do ciclo de vida de produtos é utilizada

constantemente na gestão dos retornos, sendo base para muitas

escolhas realizadas. Inclusive orienta diversas regras de

reaquisição, alinhadas com o suporte pós-venda e com a

estratégia de recuperação de ativos. Em se tratando de um tema

consideravelmente novo na conjuntura nacional, muitas soluções

ainda são voltadas para a correta destinação dos materiais já

em uso na cadeia de suprimentos. A inclusão da administração

do ciclo de vida dos produtos nesse contexto é crescente e irá

gerar resultados mais claros no futuro, quando os novos

produtos desenvolvidos com estratégias mais assertivas

estiverem sendo processados e retornarem em seu fim de vida,

minimizando custos de reaproveitamento e disposição.

Evitação e Gatekeeping

As competências discutidas neste tópico não são

desenvolvidas na organização, que não tem uma política de

evitar o fluxo reverso físico de materiais através da

proibição ou restrição das devoluções de varejistas ou das

assistências técnicas. Os produtos possuem um período de

garantia, no qual a fabricante é responsável e faz questão de

internalizar a operação, especialmente devido à segurança de

informação a respeito da desmontagem e dos componentes

111

utilizados. Da mesma forma não existe uma estrutura de

recompensas padronizada e alinhada às políticas de evitação.

Como já mencionado, a empresa realiza um registro macro

sobre as fontes e motivações para os retornos, porém o mesmo

não é utilizado para medidas de contenção ou prevenção de

retornos futuros, somente para monitoramento. Existem medidas

preventivas ad-hoc e de triagem de produtos defeituosos e fora

da garantia. Elas não são padronizadas ou claramente

estabelecidas, sendo necessário o conhecimento individual para

que ocorram da melhor forma possível.

Da mesma forma, pouco esforço é feito para controlar os

volumes de retorno, não sendo este um objetivo da gestão de

retornos. Cada caso é avaliado individualmente e as decisões

tomadas são totalmente personalizadas, desde a forma de

devolução até o processo de recuperação e a escolha do

destino. Mesmo não sendo linear, o processo de autorização dos

retornos pode ser considerado rápido e preciso, e está

concentrado na mão de apenas um colaborador, que possui

profundo conhecimento e experiência com relação às opções

existentes para cada caso. A ausência de uma padronização pode

restringir o aumento no processamento dos casos de retorno e a

inclusão dos retornos de materiais pós-consumo, a partir do

momento em que a legislação brasileira for mais bem desenhada.

Retrabalho e Recuperação

As ofertas de serviços e condições de garantia variam

muito entre os acordos comerciais firmados com diferentes

clientes da empresa analisada, sendo a demanda de cada um de

112

difícil previsão. Os contratos governamentais ou corporativos

que possuem cláusulas referentes ao recolhimento dos produtos

em fim de vida não são coordenados de forma a planejar as

ações futuras. Não é objetivo da área responsável pela

administração dos retornos controlar ou prever necessidades

futuras de retorno, sendo mais conveniente responder às

demandas à medida que elas acontecem.

Como não há visibilidade prévia acerca das devoluções e o

controle dos componentes retornados não é utilizado para esse

fim, não existe um planejamento ou previsão para as peças de

reposição que incorpore essas informações. Apesar da falta de

visibilidade futura, as metas de atendimento aos pedidos de

materiais de reposição são atingidas, na maioria das vezes,

com estoques internos. O resultado é um alto nível de estoque,

baixo giro e alto risco de obsolescência.

É importante ressaltar que a maioria das matérias-primas

utilizadas na produção e montagem dos computadores tem

procedência internacional, sendo enviadas dos fornecedores

chineses via marítima. Os altos tempos de trânsito decorrentes

desse frete inviabilizam o pronto atendimento a solicitações

emergenciais, sendo necessário que a Empresa A assuma o risco

por esse estoque para que os clientes sejam atendidos.

Atualmente não existe uma programação visando à otimização dos

estoques internos.

A efetividade das estratégias de reparos depende das

decisões iniciais do design de produtos. Há pouco tempo, a

organização iniciou um trabalho de avaliar os impactos dessas

decisões nas necessidades futuras de reparo e garantia,

113

buscando melhorias contínuas gerais nos produtos e processos e

redução dos custos internos de retrabalho.

A partir do momento em que um produto é devolvido, existem

dois níveis de categorização e testes. Inicialmente é feita

uma avaliação nas assistências técnicas, verificando-se a

existência de defeitos e necessidades de troca. A partir dessa

fase, a fábrica é acionada, os materiais problemáticos são

encaminhados à mesma e a peça é substituída para o cliente na

própria assistência. A Empresa A realiza um novo teste no

componente defeituoso ao recebê-lo, para que o defeito seja

avaliado com mais acuracidade e as providências sejam tomadas.

Em caso de peças dentro do prazo de garantia dos fornecedores,

as mesmas serão substituídas sem custo. Do contrário, as peças

da assistência serão repostas com os estoques internos

disponíveis.

Os tipos de retorno ou defeitos encontrados são

categorizados pelo centro de testes, na própria fábrica. Essa

classificação independe do valor dos materiais no decorrer do

tempo, focando mais nas razões de defeito e nos tipos de

materiais. Essa abordagem tem sentido tendo-se em mente o fato

de que a gestão dos retornos é realizada pela diretoria de

qualidade, não vinculada à logística. Todas as decisões a

respeito da reciclagem e disposição também são centralizadas,

sobrando para as assistências técnicas apenas o recebimento e

avaliação inicial de defeito e seu conserto.

Os ativos defeituosos retornados não são recuperados ou

reutilizados, sendo essa estratégia clara e baseada nas

viabilidades técnica e econômica das opções de recuperação. O

114

tipo de material utilizado na produção de computadores

pessoais inviabiliza a reutilização ou o reaproveitamento,

sendo destinado para reciclagem ou descarte adequado. O

conhecimento a respeito da desmontagem de produtos é

compartilhado com as assistências técnicas, mas não com os

demais parceiros da cadeia reversa. As etapas de seleção,

classificação e destinação dos materiais a serem reciclados

são quase totalmente realizadas na área central responsável

dentro da planta.

De maneira geral, os processos de retorno não são o foco

da área de sustentabilidade e meio ambiente, mais voltada à

recuperação dos materiais em si, mas simplificações no

processo são constantemente investigadas. Além disso, o

produto em questão possui alto grau de complexidade,

dificultando sua recuperação direta.

Avaliação de desempenho

A Empresa A já realizou diversas atividades de benchmarking

em indústrias da região que trabalham com logística reversa e

remanufatura. Dentre elas, a organização analisada se

considera a que possui um processo mais fortemente

estabelecido e estruturado. A busca pelo conhecimento e

melhores práticas é constante, mas atualmente pouco se pode

aproveitar do aprendizado adquirido durante essa aferição, que

já não esteja sendo executado internamente.

Os direcionadores de valor dos retornos são claros para

todos os processos envolvidos, podendo-se dizer que os

indicadores utilizados são específicos, mensuráveis,

115

atingíveis, relevantes e com tempos definidos. Todos os custos

da logística reversa e da adequada disposição são conhecidos e

controlados, mas de forma manual e reportados em sistemas de

contabilidade dispersos. Os detalhes desses custos também não

são apresentados diretamente à alta administração, entrando na

composição dos demais custos operacionais fabris.

Além das medições financeiras, são realizadas medições

operacionais, que avaliam volumes retornados, causas dos

retornos, volumes dos diferentes tipos de materiais enviados

para reciclagem, entre outros. As medições operacionais estão

integradas até certo ponto nas financeiras, sendo possível

verificar os custos relacionados à maioria dos casos

individualmente.

Uma abordagem de custo total de propriedade (TCO – Total

Cost of Ownership) está sendo iniciada atualmente para uma

avaliação mais precisa dos custos envolvidos. As ações nesse

sentido ainda são preliminares, mas existem diferenciadores

claros para todos os processos da cadeia de suprimentos

reversa, em comparação com a logística reversa, sendo que

ambos não compartilham procedimentos ou a própria gestão.

Por outro lado, o impacto financeiro dos retornos e a

tangibilização dos custos são aplicados às regras de decisão e

integrados na gestão dos fluxos da empresa. Dentre todas as

áreas envolvidas, esta é a mais importante, pois oferece

informações sobre os investimentos totais realizados, que

direcionarão decisões futuras.

116

4.2 Caso Empresa B

Esta sessão apresentará informações gerais a respeito da

empresa B, seus produtos e os processos de logística reversa

por ela executados. Em seguida, serão descritas as

características relacionadas às principais competências

percebidas pelo entrevistador e demonstradas pelos

entrevistados, bem como o desempenho geral do processo de

retornos percebido pela organização.

4.2.1 Histórico da empresa

A empresa B iniciou suas atividades há pouco mais de 10

anos como um Centro de Serviços Compartilhados, responsável

pelas atividades de logística, BPO e gestão de terceiros de

empresas de telecomunicações brasileiras. Com o tempo e a

experiência das atividades de alta complexidade, ela adquiriu

conhecimento, investiu em produtividade e passou a oferecer

seus serviços ao mercado, expandindo sua área de atuação.

A empresa faz parte de um grupo multinacional e atua como

operador logístico em cinco países: Brasil, Chile, Argentina,

Peru e Espanha. Seu faturamento anual gira em torno de R$ 237

milhões provenientes de mais de 30 clientes, só no Brasil. Seu

quadro de funcionários é composto por 1600 funcionários

distribuídos entre as áreas nas quais presta serviços.

Entre as principais atividades está a logística reversa,

que começou a fazer parte de suas atribuições em 2006, quando

retrabalhava 7 mil equipamentos por mês, entre eles modens,

117

equipamentos de dados, de TV, voz, microcomputadores,

celulares e cartões telefônicos. Hoje, a pioneira brasileira

nesse processo já lida com cerca de 120 mil aparelhos.

Em 2008, foi criado um centro de logística reversa em São

Paulo, instalado em 8.000 m2, onde cerca de 100 funcionários

trabalham na coleta, triagem e reparo dos produtos. Além

deste, sua estrutura conta ainda com centros de destinação em

Curitiba, Porto Alegre e Jaboatão dos Guararapes, região

metropolitana do Recife.

O processo de logística reversa realizado para uma grande

empresa do setor de telecomunicações serve para trocar

equipamentos como modens para internet banda larga,

decodificadores de TV por assinatura e aparelhos ETA para

telefonia fixa sem fio, específico para áreas rurais, onde não

há cabeamento de linha convencional.

Tais equipamentos são disponibilizados na casa dos

consumidores através de comodatos e eventualmente precisam ser

trocados devido a possíveis problemas técnicos ou simplesmente

devido ao cancelamento dos serviços prestados.

Na descrição do caso, a empresa analisada será tratada

como operador logístico ou empresa B. Apesar das empresas de

telecomunicações que solicitam seus serviços serem na verdade

os clientes, elas serão denominadas contratantes e os

consumidores finais serão os clientes.

4.2.2 Descrição do caso

Estratégia e a administração de retornos

118

A empresa B é um operador logístico cujo foco está voltado

para a qualidade e satisfação dos seus clientes. Sua atuação

como especialista em logística reversa, facilita a integração

parcial da gestão dos retornos à estratégia como um todo. Ela

não é o foco principal do negócio, que presta outros tipos de

serviços logísticos, mas apresenta estrutura dedicada a esse

negócio.

Há consciência e comprometimento da alta administração com

relação aos processos relacionados, especialmente devido ao

fato de se tratar de um negócio de fundamental importância

para a empresa. Os resultados são acompanhados através de

relatórios operacionais semanais.

A organização direcionou seu foco ao retorno de produtos

não só pela necessidade da responsabilidade sócio-ambiental,

mas também com a constatação da sua possibilidade de alcançar

novos clientes, reduzir custos e aumentar o faturamento. Tendo

iniciado suas atividades como simples processo terceirizado de

um único cliente, hoje a logística reversa é tratada como um

dos negócios principais da empresa B.

Garantir a satisfação dos clientes no decorrer de todos

seus processos é premissa fundamental para a organização da

operação, sendo parte integrante da missão da companhia, como

mostra a Figura 4. No caso das contratantes, as mesmas pagam

por um serviço de qualidade e requerem informação total do

processo. Mas tal atendimento deve acontecer com vistas à

redução de custos, possibilitando um aumento nos retornos da

empresa B. Outra demonstração clara do foco nos clientes foi a

sua participação na elaboração do plano de projeto que

119

orientou o estabelecimento dos requisitos da operação,

avaliação dos cenários possíveis e seus riscos envolvidos.

Figura 4: Foco da operação da Empresa B nos clientes (Site da Empresa B).

Atualmente, iniciou-se um forte trabalho relacionado ao

desenvolvimento de uma gestão ambiental, buscando-se

certificações ISO, tratadas no tópico de stakeholders, e criando

um programa de gestão ambiental.

Stakeholders

Os clientes da empresa B são as empresas de

telecomunicações, ou quaisquer outras que a contratem para a

realização do processo reverso. São essas empresas que pagam

pelo serviço prestado e cobram os resultados. Apesar disso, a

empresa B atende às necessidades daqueles que consomem os

120

serviços de sua cliente, atuando como uma extensão da

organização contratante. Sendo assim, os consumidores são

clientes diretos da contratante e a mesma é cliente da empresa

B.

Os processos de retorno da empresa B são totalmente

alinhados às necessidades dos clientes e integrados a gestão

de relacionamento, existindo uma compreensão dos

direcionadores do retorno de produtos. Os mesmos são frutos

das necessidades de recuperação dos equipamentos

disponibilizados aos consumidores.

Para atender às necessidades relacionadas à informação dos

consumidores finais, a empresa B disponibiliza um call center com

50 posições de atendimento e oferece um serviço de

rastreabilidade, que envia torpedos aos celulares dos

clientes, divulgando informações de cada passo da operação,

desde o pedido até a entrega.

Ainda buscando maior visibilidade dos processos por parte

de seu cliente, as empresas contratantes têm total

visibilidade dos volumes retornados, recuperados e devolvidos

ao mercado, etapas dos processos nas quais os mesmos se

encontram, entre outras informações relevantes através de

sistemas de comunicação integrados.

Com relação aos demais stakeholders, a empresa se posiciona

como organização de ‘logística verde’, respeitando a sociedade

e o meio ambiente, apresentando benefícios para si, seus

clientes e toda a sociedade. Também são garantidos o

cumprimento à legislação vigente e os ganhos compartilhados

entre os parceiros envolvidos.

121

Normas ambientais, como a ISO 14000, não são utilizadas

atualmente, mas a empresa B se prepara para obter essa

certificação. Além disso, não são divulgados relatórios sobre

os impactos da sustentabilidade nas operações da organização.

Relatórios sobre taxas de reciclagem e coleta são baseados nos

histórico das vendas.

Integração

Para realizar a logística reversa dos aparelhos

provenientes de contratos de comodato com os clientes, a

empresa B desenvolveu dois fluxos reversos principais. O

primeiro inicia com o contato do consumidor à empresa de

telecomunicações responsável. A mesma disponibiliza um técnico

que vai ao local do problema, troca o aparelho por um novo e

deixa o defeituoso com a assistência técnica. Esse aparelho

com problemas é então enviado à empresa B para triagem e

realização dos demais processos envolvidos.

O segundo fluxo está vinculado ao cancelamento do serviço,

no qual a empresa B vai pessoalmente recolher os aparelhos na

residência dos clientes. O ponto de partida desse tipo de

coleta ocorre com a distribuição da lista de clientes a serem

contatados, proveniente do contratante do serviço. Cada um

deles é consultado para que indique a melhor data e horário

para a coleta. Essa informação é o ponto de partida para o

gerenciamento das atividades envolvidas, roteirizando as

coletas, definindo o melhor tipo de veículo para cada caso e

planejamento da capacidade de triagem e reparo. Este fluxo

pode ser visualizado na Figura 5.

122

Figura 5: Processo de logística reversa da Empresa B. (Site da Empresa B).

As políticas de retorno existentes estão relativamente

alinhadas com os fornecedores e são comunicadas, mas o

processo reverso, não aparenta ter valor para os fornecedores.

Os mesmos são apenas acionados nas situações em que os

equipamentos retornados estão dentro da garantia e devem ser

trocados sem custo. Não existe qualquer outro tipo de parceria

ou compartilhamento de riscos, custos e recompensas entre o

operador de logística reversa e os fornecedores.

Esse tipo de compartilhamento pode ser verificado nas

relações entre a empresa B e a contratante, no sentido de que

a última paga por um serviço de coleta e recuperação para

atender às necessidades dos consumidores, mas o retorno dos

materiais em bom estado não é totalmente garantido.

Dentre as diversas formas de integração existentes, a

empresa B conta com uma ampla gama de sistemas totalmente

integrados, entre eles a gestão da empresa com Sistemas de

Gestão Integrados do tipo ERP – Enterprise Resource Planning, a

123

administração de armazéns, realizada com a ajuda de um Sistema

de Gestão de Armazéns (WMS – Warehouse Management System) e a

gestão de transportes, com o sistema TMS – Transportation

Management System. Essa integração de sistemas, de amplitude

interna e externa, permite controlar totalmente a cadeia,

aumentando a efetividade especialmente no agendamento de

coletas.

São utilizados dados sobre os retornos para dimensionar o

tamanho da operação e os tempos necessários para maior

eficiência, mas isso só ocorre em curto prazo. A empresa não

se esforça para avaliar as razões para retorno mais

profundamente ou vincular as solicitações à quaisquer ações

especiais de vendas ou da contratante. São utilizados apenas

dados macro de vendas.

Ainda pensando na integração do sistema, o planejamento da

operação de logística reversa considerou planos de comunicação

e RH, definindo métodos de governança corporativa e os papéis

de cada uma das áreas chave envolvidas nas atividades. As

responsabilidades são claras dentro da organização, evitando

conflitos internos. Também existe um acompanhamento da gestão

supervisionando as diferentes etapas do processo. Cada

operação faz parte de uma unidade funcional bem definida,

havendo líderes para cada uma delas.

O processo de autorização dos retornos é um tema muito

relevante para a empresa, que gasta tempo e recursos em sua

melhoria. Atualmente, após receber a listagem com os

consumidores finais que devem ter seus equipamentos coletados,

124

a empresa B entra em contato com cada um deles e agendar o

melhor dia e horário para realização da coleta.

Um processo de recuperação de materiais bem feito otimiza

o fluxo de transportes da empresa, vinculando envios e

coletas, e consequentemente reduz custos. Documentos são

elaborados para registrar os processos.

Administração do ciclo de vida

Como a empresa B atua apenas como operador logístico,

prestando serviço de logística reversa para uma organização de

telecomunicações, que distribui seus serviços utilizando

equipamentos produzidos por fabricante não envolvida no

processo, não é possível avaliar se o design de tais produtos

considera a questão ambiental. Também não é possível avaliar

se estratégias de fim de vida estão incorporadas na fase

introdutória dos equipamentos.

Sendo assim, os retornos estão integrados ao modelo de

negócios de distribuição dos serviços de telecomunicações, mas

os mesmos não são sincronizados para cada estágio do ciclo de

vida dos produtos. Para a empresa contratante dos serviços de

logística reversa oferecidos pela empresa B, a reaquisição de

materiais gera um retorno significativo, no qual cerca de 55%

de todos os equipamentos triados são devolvidos aos

consumidores em pleno estado de funcionamento.

O custo dos equipamentos recuperados é de aproximadamente

61% do valor do produto original. Considerando-se os modens

DSL, em um universo no qual 1,9 milhões deles são adquiridos

anualmente e 390 mil apresentam problemas, a reutilização de

125

em torno de 180 mil gera uma economia importante para o

negócio.

Para que o negócio de retornos tenha sucesso, a empresa B

coleta os produtos disponibilizados pelos consumidores da

contratante seguindo regras claras de reaquisição, que fazem

parte integrante de seu suporte pós-venda e da recuperação de

ativos.

Evitação e gatekeeping

Com relação à evitação e gatekeeping é importante notar que

a empresa B possui direcionadores diferentes do padrão mais

conhecido para a logística reversa. Na contramão da maioria, o

prestador de serviços não está interessado em evitar que os

equipamentos sejam retornados ou mesmo filtrar os tipos de

produtos devolvidos, pois seu resultado é diretamente

proporcional ao volume de produtos que entram em seu fluxo,

independente do estado em que estiverem.

A estrutura de recompensas para os produtos é baseada em

volume, independente da qualidade dos itens recuperados, ou

seja, do trabalho decorrente de sua recuperação. Essa situação

está ligada à relação entre o prestador de serviço e a

contratante. Já focando na relação com os consumidores, não há

qualquer tipo de incentivo para que eles devolvam os

equipamentos, dependendo da boa vontade e consciência daqueles

que cancelam os serviços.

As fontes e motivações para retorno da contratante estão

claras, mas o operador logístico ainda tem dificuldades em

vencer uma barreira cultural dos consumidores relacionada à

126

preocupação com o destino daquilo que não serve mais. Isso

ocorre especialmente nos casos de cancelamento do serviço,

falta de pagamento ou mudança de endereço dos mesmos, nos

quais o interesse dos consumidores não é o mesmo de quando

eles contratam o serviço.

Existe um forte controle da qualidade dos ativos

recuperados e recolocados no mercado, sendo oferecida uma

garantia de 3 meses aos produtos devolvidos ao estoque e

consequentemente ao cliente do serviço, no caso a empresa de

telecomunicação. A utilização dos produtos é garantida e

definida pela contratantes, não havendo necessidade de buscar

mercados secundários alternativos.

Retrabalho e Recuperação

As operações de retrabalho e recuperação estão

centralizadas em uma área específica, não havendo qualquer

categorização ou realização de testes de forma descentralizada

em centros de consolidação regionais ou nos próprios pontos de

entrada da cadeia reversa. Os técnicos que visitam a

residência dos consumidores nos casos de defeito nos

aparelhos, não fazem qualquer avaliação, simplesmente trocam o

equipamento e enviam o defeituoso para a empresa B. Muitas

vezes esses aparelhos chegam em perfeito estado, precisando

apenas ser testados e limpos. Uma das premissas utilizadas

para a decisão dessa configuração de processo foi a

especialização da empresa, ou seja, ela seria responsável por

todas as fases do retorno: coleta, triagem, reparo e

destinação.

127

A classificação dos produtos é realizada independente do

valor dos produtos com o decorrer do tempo, mas claramente de

acordo com as viabilidades econômicas, técnica e ambiental das

opções. Na triagem, os equipamentos são avaliados e destinados

de três maneiras principais: no caso de inutilização, são

enviados para destruição por outras empresas, de acordo com as

normas ambientais vigentes; os identificados como em perfeitas

condições de uso são limpos, embalados com seus componentes e

direcionados ao estoque da contratante; finalmente aqueles

produtos com falhas reparáveis são recuperados antes da

estocagem.

Existe uma equipe de coleta, outra de recebimento, uma

responsável pela triagem dos produtos, equipe de limpeza, que

limpa os equipamentos, sendo esse o início do trabalho de

recuperação, há a área de recuperação, inspeção e depois

embalagem. A área de inspeção acaba verificando os

equipamentos que vem de terceiros e finalizam o processo

embalando tudo. Essa verificação e teste são realizados por

amostragem, pois o tempo desse processo é mais longo.

A maior parte das atividades de reparo e recuperação é

realizada internamente, com vistas à redução de custos.

Somente em casos extremos é que os equipamentos são enviados

para empresas especializadas, indicadas pela contratante.

Apesar da parceria existente para reparos, não há

compartilhamento de informações relacionadas à desmontagem e

recuperação. Como os produtos são importados, o fabricante não

possui qualquer interação com o processo. Mesmo os parceiros

128

nacionais não compartilham informações a respeito das

recuperações realizadas.

A centralização da operação trouxe benefícios relacionados

ao aumento na efetividade das coletas, melhorias e redução dos

custos de agendamento, aumento de produtividade, adequação de

infra-estrutura e da gestão dos transportes, além da

centralização do monitoramento.

Sendo ela própria uma empresa terceirizada nos retornos de

uma cadeia direta, optou por não terceirizar qualquer

atividade, atuando não apenas como operador logístico, mas

também como recuperador de produtos. São poucos os casos nos

quais se faz necessária a contratação de uma empresa terceira,

especialista no reparo dos produtos.

São realizadas previsões de retorno de curto prazo para

entender a demanda pelos serviços de coleta e recuperação de

produtos. É com base na informação recebida da contratante que

a empresa B ajusta sua capacidade e os materiais de reposição

necessários para compor os kits de equipamentos que seguirão

ao estoque.

Avaliação de desempenho

As empresas clientes da prestadora de serviços estudada

pagam pelo produto ‘bom’ colocado no estoque, estando por trás

desse resultado todas as etapas do processo reverso. Para

controlar essas etapas, são realizadas medições de desempenho

para todos os processos com vistas à redução dos custos

internos e melhoria na qualidade de cada fase.

129

Como o valor do contrato é fixo, quanto menores os custos

internos, maior o retorno da empresa B. Por essa razão, ela

tenta identificar os direcionadores de valor de suas

operações, como a quantidade de equipamentos colocado de volta

no estoque da contratante através do retrabalho interno. Os

custos de falhas internas e externas também são conhecidos,

apesar da empresas não trabalhar para a redução em todas as

frentes.

São realizadas medições financeiras ligadas à excelência

operacional para muitas operações

Diferente de muitas organizações, a empresa B se considera

benchmark de operações reversas, direcionando seus esforços de

melhoria com vistas ao processo interno. Não são realizadas

visitas a outras organizações responsáveis pelo mesmo tipo de

processo. Uma forma de melhoria adotada está ligada a medições

financeiras à operação e avaliando resultados.

Indicadores de equipamentos bons devolvidos ao estoque,

nível de reparo do reparador terceirizado, estipulado em

contrato, volume triado, tudo depende do contrato firmado com

os clientes, em alguns casos eles controlam o tempo de cada um

dos processos.

130

4.3 CASO EMPRESA C

A próxima sessão irá apresentar informações gerais a

respeito da última empresa pesquisada, a empresa C, seus

produtos e os processos de logística reversa por ela

executados. Em seguida, serão descritas as características

relacionadas às principais competências percebidas pelo

entrevistador e demonstradas pelos entrevistados, bem como o

desempenho geral do processo de retornos percebido pela

organização.

4.3.1 Histórico da empresa

A empresa C é uma pequena prestadora de serviços que

oferece a gestão de resíduos, não só eletrônicos, como

diversos outros, garantindo a sua correta destinação e manejo.

Foi criada no ano de 2008, com a ideia inicial de prestar um

serviço de garantia estendida dos produtos de outras empresas,

sendo responsável por assegurar a correta destinação dos

mesmos ao final da vida útil. Isso se daria em forma de

parceria com os fabricantes, mas, apesar de ainda existir em

algumas poucas situações, a iniciativa não teve grande

aceitação.

No ano de 2011, a empresa passou a integrar um grande

grupo nacional, que oferece soluções ambientais completas e

integradas a cada etapa da cadeia produtiva. Hoje, 49% da

empresa pertencem a esse grupo e os 51% restantes pertencem

aos dois sócios fundadores. A empresa conta com 120

131

funcionários diretos, trabalhando em uma área de 3000 m2 e

oferecendo uma capacidade de manufatura reversa de 300

toneladas por mês.

Com a aprovação da PNRS, os serviços de parceria com

grandes fabricantes brasileiros já mencionados, voltaram a ser

negociados. Os fabricantes interessados em fechar contratos,

oferecem aos consumidores de seus produtos a possibilidade de

terem seus produtos coletados em seu final de vida. Os

produtos incluídos no acordo recebem um selo, garantindo o

serviço de descarte desde o momento da aquisição dos produtos

às custas do fabricante. Além disso, os consumidores finais

também podem entrar em contato com a empresa C e solicitar

seus serviços, mediante o pagamento da coleta.

O pacote inclui a recolha dos materiais na casa do

solicitante, a desmontagem, reciclagem e correta destinação

final dos resíduos obtidos. Dentre os produtos que podem ser

incluídos nesse processo estão desde eletro-eletrônicos e

móveis de tamanho grande, como geladeiras, máquinas de lavar,

armários e poltronas, até itens de médio e pequeno porte, como

celulares, acessórios, secadores de cabelo, fornos elétricos,

entre outros.

O valor cobrado pelo serviço varia de acordo com o tamanho

do material em questão e inclui uma quantidade limitada de

itens. As coletas podem ser agendadas em todo o território

nacional e é oferecida a garantia do transporte até empresas

certificadas para fazer a reciclagem.

132

4.3.2 Descrição do caso

Estratégia e administração de retornos

O negócio central da empresa C é a gestão da cadeia

reversa de resíduos de pós-consumo. Isso inclui não apenas

eletrônicos, mas também diversos outros tipos de produtos.

Como a organização ainda é pequena, ela considera a criação de

diversas soluções para se estabelecer no mercado.

A missão estabelecida do grupo da qual a empresa C faz

parte é contribuir para que as empresas e a sociedade sejam

sustentáveis, e sua visão é ser reconhecida como referência

global em soluções ambientalmente interligadas. Sendo assim, a

empresa C atua em uma parte do processo. Sua estratégia

organizacional ainda está sendo desenvolvida, pois muitas

mudanças foram feitas desde sua criação.

Inicialmente a idéia era oferecer um serviço aos

fabricantes, no qual os produtos vendidos já sairiam de

fábrica com o serviço de coleta para reciclagem, mas o serviço

não foi bem aceito pelas produtoras. Hoje existe essa

possibilidade, mas a mesma ainda não está muito difundida,

pois as fabricantes ainda não sentem necessidade de pagar por

esse tipo de serviço e não desejam repassar esse valor a seus

consumidores, a menos que seja exigido delas. A segunda ideia

foi oferecer o mesmo serviço aos consumidores, mediante o

pagamento de uma taxa de recuperação no momento da compra do

produto, mas da mesma forma, ainda há restrições de aceitação

desse processo.

133

Além dessas, a empresa busca soluções criativas para

incentivar os consumidores finais a retornarem seus produtos

de pós-consumo ao custo mais baixo possível. Isso se dá por

meio de ações em redes sociais, divulgação junto a fabricantes

parceiros, entre outras. Também existem ações de procura de

parcerias com fabricantes.

Os negócios principais da empresa C atualmente são a

coleta e manufatura reversa dos produtos, selecionando

materiais para serem vendidos a recicladores. A atenção é

totalmente voltada à logística reversa e suas interfaces,

sendo que a mesma é avaliada em sua totalidade o tempo todo.

Ainda não existem programas de gestão ambiental implementados,

mas os mesmos estão nos planos futuros.

Stakeholders

Atualmente a empresa não elabora relatórios internos ou

externos relacionando indicadores de impacto ambiental da

operação. Também não foi possível obter informações a respeito

de possíveis auditorias externas realizadas nos processos da

empresa. As legislações referentes ao descarte de resíduos

sólidos certamente vem ajudando os negócios da empresa, no

sentido de forçar fabricantes e outros envolvidos na cadeia a

oferecer esse tipo de serviço.

Nesse sentido, a empresa C tenta explorar um nicho de

mercado para atuar oferecendo seus serviços. Como já

desenvolveu diversas competências de recuperação, há uma busca

pelo desenvolvimento em outras, no momento em que se tornar

134

imprescindível terá mais condição de oferecer um serviço de

qualidade a todos os interessados.

Os processos atuais estão se adequando às necessidades dos

clientes, que ainda não são totalmente obrigados a recolher

seus produtos. Sendo assim, se busca soluções diferenciadas e

formas de convencimento para a utilização de seus serviços,

antes mesmo de uma obrigatoriedade legal. São investidos tempo

e recursos na criação de relacionamentos com os clientes nesse

sentido.

A busca por novos clientes envolve a tentativa de

influenciar a decisão de fabricantes ou outros clientes

prováveis para que comprem os serviços e gerem conformidade

legal em seus processos. Essas ações são mais no sentido de

vendas do que de incentivo aos players da cadeia logística pela

busca por sustentabilidade.

Integração

A empresa C entende que o processo de logística reversa

gera valor financeiro para os envolvidos na cadeia. Foi dado o

exemplo de uma tentativa de entrar no programa de coleta e

manufatura reversa de automóveis, sendo que para a indústria

automotiva, por exemplo, esse tipo de iniciativa gera

benefícios para as montadoras, retirando do mercado veículos

usados e abrindo espaço para venda de novos. Além disso, esse

processo reduziria a necessidade das montadoras de oferecer

peças de reposição para veículos muito antigos.

135

Não existem sistemas desenvolvidos para o controle interno

da operação, tudo é feito através de planilhas Excel. Sendo

assim, não existe integração externa.

Além da logística reversa, existe um foco grande nos

processos de manufatura reversa, desmontagem e seleção de

materiais. Todas essas atividades são feitas internamente, nos

casos de eletro-eletrônicos. A terceirização ocorre com

algumas empresas parceiras realizam essas atividades nos casos

de outros produtos, como móveis.

Prever ou controlar demandas futuras de retornos é uma

tarefa complicada no mercado no qual a empresa C está

inserida, primeiramente porque sua integração com as

fabricantes ainda é pequena e porque o tempo até o retorno

pós-consumo varia de acordo com diversos fatores. Dessa forma,

a sincronização da demanda por retornos com as vendas é

difícil. Apesar disso, a empresa estuda o mercado, realizando

planejamentos e cálculos, trabalhando com números como a

geração per capita anual de lixo eletrônico no país, estimada

em 3,5 kg. Essas estimativas são levantadas por ela própria ou

por empresas de pesquisa de mercado.

A integração interna é grande, dado o tamanho da empresa.

São poucas pessoas envolvidas na administração, o que faz com

que as informações fluam mais livremente entre as atividades.

O planejamento dos retornos é feito a partir da solicitação de

coleta recebida, sendo de curtíssimo prazo.

Administração do ciclo de vida

136

Os retornos estão integrados ao modelo de negócios, mas o

ciclo de vida, no qual os produtos se encontram, não afeta o

processo de reaquisição. A maioria dos produtos devolvidos

está no final de sua vida útil e já não podem ser recuperados,

remanufaturados ou revendidos. De qualquer maneira, esse não é

um objetivo da empresa C, que foca suas atividades na

desmontagem e reciclagem.

Atualmente não há qualquer influência da empresa nas áreas

de design de produtos dos fabricantes. Mas a administração

entende que essa é uma tendência para o futuro, à medida que a

cadeia fica mais integrada e existe maior aproximação entre os

parceiros.

Evitação e gatekeeping

Praticamente não existem restrições ou tentativas de

evitar que os produtos entrem na cadeia reversa. Quanto mais

materiais são retornados, maior o volume de negócios da

empresa C, dado que a mesma cobra para realizar suas

atividades. As regras de disposição são claras e comunicadas.

Os clientes potenciais têm acesso ao andamento de seu processo

através da internet.

Os processos de autorização de envios são padronizados e

feitos também de forma on-line. Estando na listagem de

produtos incluídos no processo, não existe qualquer restrição

para a solicitação de coleta e reciclagem. Para os

consumidores finais não existe qualquer tipo de recompensa por

devolver produtos em final de vida, ao contrário, o serviço

deve ser pago. Isso funciona da mesma forma para os clientes

137

potenciais fabricantes. Futuramente espera-se que haja

benefícios obtidos pela compra de materiais reciclados mais

baratos a serem utilizados no processo produtivo normal da

organização.

Uma das principais motivações dos consumidores, percebida

pela empresa C com o auxílio de pesquisas é a compra do

serviço por razões de conveniência, não por consciência

ambiental. Atualmente, as pessoas não sabem exatamente o que

fazer com produtos que não precisam mais. Uma geladeira, por

exemplo, quando é trocada, seu destino é incerto, e a empresa

C oferece uma solução para esse problema com um preço

acessível. Essa informação procede especialmente para produtos

de tamanho grande.

Dado que o foco principal da empresa C está na avaliação e

desmontagem dos produtos, não existem estudos relacionados a

mercados secundários. Apenas estão sendo feitos estudos

iniciais de potenciais clientes para materiais reciclados.

Nesse estágio, os mesmos já estão descaracterizados e não

necessariamente serão utilizados com o mesmo propósito para o

qual o foram inicialmente.

Como a empresa não recupera produtos, o monitoramento da

qualidade é feito sobre o processo de reciclagem. A empresa

investe nesse tipo de processo e tem planos para incrementar

ainda mais o investimento. A qualidade dos materiais

reciclados é garantida e o descarte adequado é certificado

para os consumidores.

Retrabalho e recuperação

138

Todo e qualquer produto coberto pela descrição das

atividades da organização podem ser retornados. A empresa

simplesmente verifica o tipo de material e a quantidade para

organizar a coleta. Fora isso, não há qualquer categorização

de produtos com base em valor ou qualidade, todos são aceitos.

Os produtos retornados são desmontados e reciclados, não sendo

utilizados seus componentes da forma como estão para reposição

de peças dos fabricantes.

Como todos os materiais são reciclados, existe interesse

da empresa em vender esses materiais para compor a produção de

novos produtos a serem produzidos. A qualidade desses

materiais é garantida, mas não há compartilhamento de

informação a respeito de desmontagem e reaproveitamento. De

acordo com os entrevistados, também não existe uma preocupação

dos fabricantes com relação à segurança de informação a

respeito dos componentes dos produtos. Isso porque a maioria

dos produtos que entram na cadeia logística da empresa C já

são muito antigos ou ultrapassados.

O processo de desmontagem e reciclagem é feito com

cuidado. A empresa visa comprar e desenvolver as melhores

tecnologias para esse processo e pretende investir até 2% do

faturamento futuro em pesquisas relacionadas à manufatura

reversa. Novas tecnologias de reciclagem e a especialização no

negócio são foco para o futuro. A operação atual se concentra

apenas em uma cidade do interior de São Paulo, dada a

proximidade com o maior pólo consumidor nacional. Estão sendo

montadas novas unidades de reciclagem no sul e no nordeste,

buscando maior abrangência nacional.

139

Avaliação de desempenho

Os sistemas de medição de desempenho existem, mas estão em

desenvolvimento. A empresa estuda os volumes recuperados em

cada lote e tem como objetivo reciclar um percentual cada vez

maior dos materiais desmontados dos produtos. O processo atual

tem mais custos do que receitas, mas esse desbalanceamento é

conhecido e monitorado.

Nesse sentido, existe um objetivo é a verificação de

soluções inovadoras para gerar receitas, além da cobrança pela

coleta, que acaba pagando apenas pelo transporte. Uma delas é

a venda dos materiais reciclados. Não foi possível obter

informações a respeito de programas de benchmarking realizados

pela organização internamente ou junto a outras empresas.

5 ANÁLISE DOS CASOS

Este tópico trata cada uma das competências, verificando

os resultados obtidos e comparando-os à literatura estudada.

Será desenvolvida uma análise do grau de desenvolvimento das

organizações nas competências indicadas pela metodologia de

Janse (2008). Além disso, será discutida a percepção dos

envolvidos com relação à necessidade dessas competências para

que a cadeia de suprimentos de circuito fechado seja

implementada com sucesso.

Para uma maior compreensão da análise, a empresa A será

tratada também como fabricante, a empresa B será a prestadora

de serviços e a empresa C nomeada recicladora. Cada uma delas

140

possui um papel diferente na cadeia reversa, mas não estão

interligadas. Um resumo com cada

5.1 ESTRATÉGIA E ADMINISTRAÇÃO DE RETORNOS

Este tópico relaciona os temas referentes à estratégia

organizacional, da cadeia de suprimentos e sua relação com a

estratégia da logística reversa. Também é discutida a forma

como a logística reversa é gerenciada e abordada na

organização, seu alinhamento com os objetivos do negócio e a

atenção da alta gerência à sua gestão.

A existência de uma estratégia da cadeia de suprimentos,

com foco no cliente e alinhada à estratégia organizacional,

missão, visão e objetivos corporativos, é um ponto considerado

importante pela literatura base desta pesquisa. Conforme a

revisão de literatura, a clareza dessa estratégia serve de

base para o desdobramento das metas específicas da gestão de

retornos e outras atividades.

A partir da análise dos casos, foi possível perceber que

as empresas focadas especificamente no negócio de logística

reversa (Empresas B e C) têm sua estratégia dessa operação

integrada de forma mais completa à estratégia do negócio. A

fabricante apresenta os processos da cadeia reversa adaptados

aos objetivos do negócio e ao desenvolvimento do mercado. Mas,

essa aparente falta de alinhamento não parece ser uma barreira

para a continuidade e sucesso da operação em logística

reversa, que é avaliada sistematicamente com base em metas que

a acompanham de ponta a ponta.

141

Tratar os retornos como core business, ou negócio principal,

também é uma realidade presente apenas nas empresas B e C, que

prestam esse serviço. O negócio principal da fabricante de

eletrônicos realmente não é retornar produtos para descarte ou

se preocupar com o destino de seus produtos ao final de sua

vida útil. Seu direcionador de lucros não é esse, mas dada a

necessidade de se adequar a legislação vigente ela busca

realizar as atividades com excelência.

Os resultados das empresas B e C, cuja gestão de retornos

está alinhada à estratégia organizacional e cuja operação é

seu core business, são melhores que os da fabricante, ao focar

especificamente os da logística reversa. Apesar do processo na

fabricante atender às expectativas dos responsáveis por ela no

quesito operacional, os custos da atividade não são cobertos

pelo retorno gerado. Esse fato suporta a teoria, demonstrando

que tais competências geram resultados melhores para as

organizações e criam diferencial competitivo. Por outro lado,

sua ausência não inviabiliza o negócio, bastando a ocorrência

de investimentos para sua realização, o que pode acontecer

sempre que houver obrigatoriedade do processo.

Todas as empresas pesquisadas contam com metas bem

estruturadas de avaliação da cadeia reversa como um todo,

dando atenção a cada etapa envolvida. Mesmo a empresa C, que

ainda está estruturando muitas delas, se preocupa com essa

avaliação. Integradas ou não a programas de gestão ambiental,

a criação de metas de desempenho para cada fase dos retornos

aparenta ser uma preocupação recorrente entre as empresas para

facilitar a avaliação do desempenho.

142

Essas metas são acompanhadas com cuidado pela alta gestão

das prestadoras de serviço, mais fortemente voltadas à

logística reversa. Seus gestores demonstram comprometimento

com os resultados da atividade e têm ou desenvolvem

competências gerenciais alinhadas às necessidades de

entendimento desse processo. Ao ser analisada isoladamente, a

simples abordagem integral de custos não garante diferencial

competitivo, haja vista a situação da Empresa A, que controla

de perto as metas estipuladas. O acompanhamento das metas pode

estar vinculado de alguma forma a alguma das demais

competências, sendo interessante avaliar as relações entre

elas.

Os diretores da fabricante dedicam pouca atenção aos

processos de logística reversa, focando apenas nos custos

totais envolvidos. Apesar disso, há gestores da área de

qualidade comprometidos com as atividades, que possuem as

competências gerenciais necessárias e coordenam a operação

como um todo. Dado que o retorno e desmontagem dos produtos

não é o negócio principal da fabricante, e é dada atenção

suficiente para as necessidades atuais, esse ponto não é

percebido como um problema que afete a implementação dos

retornos.

Da mesma forma que a avaliação realizada em relação ao

acompanhamento das metas organizacionais, o simples fato da

fabricante não direcionar a atenção da alta gestão aos seus

processos de retorno, mas ter estruturados programas

ambientais, não torna seus resultados melhores que os das

empresas B e C. De maneira geral, as competências se

143

complementam, sendo necessária a presença de várias delas para

obter resultados satisfatórios. Um resumo geral da análise

pode ser visualizado na Figura 6.

Estratégia e adm inistração de retornos

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Estratégia

Core business

Abordagem integral

Program as de gestão am biental

Atenção da gestão

Figura 6: Sumário da análise da Estratégia e administração de retornos.

5.2 STAKEHOLDERS

Os stakeholders têm papel importante na implementação de um

sistema de logística reversa. São clientes, fornecedores,

sociedade e governo que normalmente demandam essa atividade.

São eles também que exigem a divulgação de indicadores a

respeito dos impactos das atividades à sustentabilidade.

Para atender a essa demanda de informação, muitas empresas

divulgam periodicamente relatórios ambientais ou incluem os

dados relativos ao assunto nos relatórios financeiros anuais.

No caso das empresas estudadas, nenhuma delas realiza essa

atividade de forma constante. A fabricante elabora tais

144

relatórios, mas o acesso a eles é restrito. Já as demais não

se preocupam tanto com documentos desse tipo.

Geralmente esses requisitos são seguidos por empresas de

capital aberto, que buscam demonstrar bons resultados também

na área sócio-ambiental, não sendo o caso de nenhuma das

empresas estudadas. Isso não significa que elas não se

preocupem com os impactos de suas atividades à

sustentabilidade, apenas não realizam divulgações

sistemáticas. Fato esse, que contradiz a competência

relacionada abordada pela literatura.

A legislação referente ao destino dos resíduos sólidos no

Brasil foi aprovada há pouco tempo e os processos que a

integrarão ainda estão sendo desenvolvidos. Dessa forma,

muitas empresas ainda não estão adequadas, ou aguardam uma

decisão final, participando ou não das decisões. Algumas delas

aproveitam esse momento para desenvolverem processos

relacionados e ficarem à frente das demais.

Adequar seus processos e antecipar legislações futuras é

uma preocupação constante da empresa A, que pode ter seus

processos impactados por decisões governamentais. Para evitar

problemas e influenciar as decisões sendo tomadas, todas

participam das discussões nacionais e tentam utilizar as

normas vigentes e futuras da melhor forma possível. Antecipar

as legislações futuras parece ser uma competência fundamental

para as organizações, pois evita surpresas e torna possível

uma preparação adequada da operação, suportando a literatura

avaliada.

145

O alinhamento às necessidades dos clientes tem ainda maior

importância para as empresas do que a legislação vigente. É

deles que surgem as demandas e a razão maior pela qual o

interesse por logística reversa surge. As empresas B e C têm

suas atividades naturalmente mais direcionadas às necessidades

dos clientes, sejam eles consumidores finais ou empresas para

as quais prestam serviços. Elas também facilitam os movimentos

de devolução dos clientes, oferecendo a possibilidade de

acompanhamento do processo inteiro. A fabricante tem foco

maior na legislação, mas desenvolve soluções para os

requisitos dos clientes, especialmente os organizacionais e

governamentais.

Para suprir essa demanda crescente, é necessária uma

compreensão dos seus principais motivadores. Esse é um

trabalho difícil, que requer pesquisas e proximidade aos

clientes. De acordo com a literatura, sua utilização serve

para influenciar as decisões dos clientes e incentivar

devoluções. Apenas a recicladora tem foco nesse sentido,

buscando novos negócios a partir das motivações para retornos

dos clientes. A prestadora de serviços apenas monitora as

taxas de retorno para adequar sua capacidade ou entender as

oscilações do mercado. Já a fabricante, simplesmente recebe as

devoluções à medida que elas ocorrem.

Finalmente, relacionado aos parceiros da cadeia, o

estímulo para que eles incorporem critérios ambientais aos

seus modelos de negócio é visto como um diferencial no sucesso

da logística reversa. A empresa A atua fortemente, de forma

educativa, nesse sentido. Os parceiros selecionados para

146

trabalhar com ela devem se preocupar minimamente com esse

fator e os que ainda não tem foco nesse sentido são orientados

com relação ao seu desenvolvimento.

Tanto a prestadora de serviços quanto a recicladora

trabalham apenas no sentido de estimular possíveis clientes

organizacionais a tornarem seus processos mais ambientalmente

responsáveis. Esse estímulo é voltado simplesmente à

necessidade de crescimento dos negócios.

A atenção aos stakeholders certamente é um diferencial

competitivo relevante, que se tratado de maneira adequada,

gera resultados positivos aos processo de logística reversa,

tornando seu desempenho superior, conforme afirmam estudos

anteriores.

Stakeholders

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Relatórios de sustentabilidade

Antecipação da legislação

Alinham ento com os clientes

Estím ulo aos parceiros

M otivadores

Figura 7: Sumário da análise de Stakeholders.

5.3 INTEGRAÇÃO

147

A competência de integração trata as relações internas,

entre os departamentos envolvidos na logística reversa, e as

externas, entre os integrantes da cadeia de suprimentos. Nesse

sentido, nenhuma das empresas estudadas está disposta a

compartilhar retornos e riscos com seus parceiros logísticos.

Primeiramente porque a atividade ainda não gera resultados

positivos e cada uma assume a responsabilidade pelas suas

atividades. Somente os custos podem ser compartilhados em

alguns casos e mesmo assim de forma moderada.

De maneira geral, existe pouca integração entre os players

das cadeias nas quais cada uma das empresas está inserida. Da

mesma forma, os sistemas que controlam as diferentes fases dos

retornos não estão completamente desenvolvidos, nem mesmo

interligados nos casos da fabricante e da recicladora. Ambas

trabalham mais com planilhas de Excel para controles internos.

A empresa B é a que possui sistema de controle mais

desenvolvido e com acesso possível por parte dos clientes

corporativos, que pagam pelos serviços prestados.

É também a prestadora de serviços que desenvolveu uma

sistemática adequada para o processo de autorização dos

retornos, focando na redução dos tempos de processo e no

recebimento apenas de materiais dentro do escopo pré-definido.

O filtro presente na fabricante é uma pessoa específica que

autoriza ou não os retornos, mas invariavelmente são recebidos

produtos fora de escopo. A autorização de retornos possibilita

adequar o processo interno e aceitar apenas produtos

adequados. Aparentemente, dada a baixa demanda por retornos,

essa falta de filtro, ou baixo desenvolvimento da atividade

148

não atrapalha a logística reversa de nenhuma das empresa

estudadas.

Nenhuma delas consegue realizar uma previsão precisa dos

retornos para planejar seus processos e atividades. O

planejamento é um ponto muito importante para a logística, mas

o que se verifica é um ajuste da capacidade à medida que as

solicitações chegam e com base em históricos da demanda. Não

existe integração entre áreas de vendas, seja da própria

fabricante ou da contratante e o planejamento da operação da

organização em análise.

A adequação dos processos inclui ainda possíveis

terceirizações, que são pouco utilizadas pelas empresas. A

terceirização é considerada benéfica nos casos em que a

logística reversa ou suas atividades relacionadas, como

recuperação de produtos, não fazem parte do escopo de atuação

da empresa. Ela praticamente não é utilizada pelas empresas

desse estudo, aparecendo apenas em situações específicas nas

quais falta alguma competência para lidar com aquela situação.

Finalmente, tratando-se a integração interna, ambas as

empresas menores, prestadora de serviços e a recicladora

apresentam um grau maior de integração entre as áreas

envolvidas. Isso se deve um pouco ao seu tamanho, mas muito

pelo foco ser mais diretamente ligado aos retornos. A

fabricante tem uma área específica para cuidar da atividade e

envolve as demais minimamente e sob demanda, não havendo

grande integração e distribuição de responsabilidades.

Quanto maior a integração, mais fácil o controle e

melhores os resultados da operação. A realidade brasileira não

149

facilita movimentos desse tipo, dificultando as relações

empresariais. Embora os resultados gerais relacionados a essa

competência não tenham sido bons, a internalização das

atividades e responsabilidades relacionadas à logística

reversa acaba suprindo, em certa medida essa falta. Sendo

assim, é possível perceber que a ausência dessa competência

não piora os resultados organizacionais, apenas evita que eles

sejam melhores. Seria interessante avaliar seu impacto real

nos ganhos da operação, pois a competência de integração não é

imprescindível.

Integração da cadeia reversa

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Riscos e custos com partilhados

Integração de sistem as

Controle de volum es para reposição

Relação entre as áreas

Terceirização

Planejam ento de retornos

Figura 8: Sumário da análise de Integração da cadeia reversa.

5.4 ADMINISTRAÇÃO DO CICLO DE VIDA DO PRODUTO

A competência relacionada à administração do ciclo de vida

dos produtos é mais voltada a empresas fabricantes, que têm

150

controle sobre os processos de desenvolvimento de produtos.

Como o presente estudo trata de empresas em diferentes

situações, apenas a fabricante poderia desenvolver esse tipo

de diferencial. Mas não é o que ocorre. A empresa A está

apenas começando a atuar nesse sentido, participando de

reuniões com engenharia quando é requisitada, não por

imposição do modelo de negócios.

Tanto estratégias de fim de vida, quanto de reparo de

produtos com defeito estão começando a ser consideradas no

processo de design, com o auxílio do conhecimento da área de

qualidade responsável pelas devoluções. Esse processo ainda

não é forte o suficiente para sobrepor a eficiência em custo

requerida no desenvolvimento de novos produtos, mas um

primeiro passo já foi dado. As demais empresas não têm a

possibilidade de atuar nessa área, pois os produtos não são

desenvolvidos por elas. A recicladora visa criar parcerias com

as produtoras, utilizando as informações que elas obtêm dos

retornos, mas ainda não foram realizadas ações concretas nesse

sentido.

Com relação ao alinhamento do estágio do ciclo de vida, no

qual os produtos retornados se encontram, e o modelo de

negócios das empresas, nenhuma das empresas estudadas tem essa

capacidade ou procura atuar nessa área. Para elas o retorno

independe da idade do produto, sendo realizado de qualquer

forma.

Ao pensarmos em maturidade da logística reversa, com o

tempo esse deverá ser um tópico relevante para as fabricantes.

Ações vinculadas ao ciclo de vida dos produtos podem facilitar

151

os processos relacionados à logística reversa, especialmente

os de remanufatura e reparo, gerando melhores resultados a

todos os envolvidos na cadeia, conforme trata a literatura da

área.

Adm inistração do ciclo de vida dos produtos

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Sincronização dos recursos

Estratégias de fim de vida no design

Estratégias de reparo no design

Figura 9: Sumário da análise de Administração do ciclo de vida do produto.

5.5 EVITAÇÃO E GATEKEEPING

Ao contrário do que trata o referencial teórico, evitação

e o gatekeeping não fazem parte da rotina das empresas. Ambas as

empresas B e C dependem da devolução de produtos para oferecer

seus serviços, sendo casos específicos a serem avaliados. Mas

pensando-se especificamente em estratégias de gatekeeping, a

literatura estudou ser coerente filtrar o estado dos produtos

antes dos mesmos entrarem no centro de recuperação. Ações de

gatekeeping podem evitar custos extras relacionados ao caminho

dos produtos dentro da cadeia.

Dessa forma, pode-se dizer que controlar os produtos que

entram na cadeia reversa gera benefícios ao planejamento dos

retornos e redução de custos do processo. Novamente, sua

152

ausência não inviabilida a atividade, mas torna seus

resultados menos satisfatórios, confirmando os estudos prévios

realizados a respeito do tema.

Apenas a recicladora trabalha aspectos relacionados a

filtros de entrada na cadeia, limitando seu escopo de atuação

a uma lista de produtos pré-definida. Como as políticas de

evitação e os filtros de recebimento praticamente não existem,

também não há uma estrutura de recompensas, nem mesmo é feito

um controle das fontes e motivadores para os retornos para

melhor gerir esse tipo de atividade.

Mesmo sendo um volume baixo, a qualidade dos equipamentos

recuperados em garantia pela empresa A é monitorada, para

garantir a boa imagem da organização. A empresa B preza pela

qualidade de seus produtos recuperados, pois é controlada em

contrato com relação a isso. Todos os produtos recuperados

saem com garantia de 3 meses.

Garantir a qualidade de produtos recuperados é um ponto

considerado importante, especialmente no caso de produtos

recuperados ou remanufaturados. Independente de o processo ser

realizado pela própria fabricante ou por terceiros, os

clientes esperam que produtos semi-novos apresentem a

qualidade esperada da marca.

Para inserir esse tipo de produtos novamente no mercado,

um conhecimento de mercados secundários é necessário. Nenhuma

das empresas estudadas tem esse conhecimento ou pretendem

desenvolvê-lo. De acordo com elas, o mercado de produtos de

segunda mão não é muito presente no Brasil. A tecnologia muda

tão rapidamente que os produtos se tornam obsoletos com

153

velocidade surpreendente. Dessa forma, as pessoas acabam não

se interessando por eletrônicos recondicionados, de maneira

geral. As empresas A e C estudam apenas mercados para a venda

dos materiais separados para reciclagem, que geraria uma

receita extra ao processo.

Evitação e gatekeeping

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Políticas de evitação e gatekeeping

Alinham ento da estrutura de recom pensas

Alinham ento com os clientes

Conhecim ento de m ercados prim ário e secundário

Controle de qualidade dos recuperados

Figura 10: Sumário da análise de Evitação e Gatekeeping.

5.6 RETRABALHO E RECUPERAÇÃO

As atividades de retrabalho e recuperação devem ser

tratadas com cuidado, pois integram as possíveis receitas que

uma empresa pode obter. Para direcionar os produtos

adequadamente, é necessária uma categorização inicial

recebidos, tornando possível a definição de sua disposição

adequada. Entre elas estão a recuperação e o descarte. Essa

categorização inicial poupa tempo e esforço futuros, mas é

realizada apenas pela empresa B, que avalia os produtos no

154

momento em que os mesmos entram no centro de recuperação. Essa

avaliação seria possível também nos casos em que são chamados

técnicos para verificação dos aparelhos, mas atualmente ela

não é realizada.

Da mesma forma, ao ser escolhida a recuperação dos

produtos, devem ser avaliadas as viabilidades econômicas,

técnicas e ambientais de recuperação. Os produtos só devem ser

recuperados, caso valha a pena, ou seja, seu custo de

recuperação seja inferior ao custo de aquisição de um novo ou

sua recuperação não afete o meio ambiente. Essa classificação

é realizada pelas empresas A e B. Dadas as características de

seus processos, ela poupa tempo e esforço em ambos os casos,

sendo considerada importante para os entrevistados,

corroborando a literatura relacionada.

Como a empresa C não recupera produtos, verificar a

viabilidade do retrabalho é irrelevante. Todos os equipamentos

recebidos serão desmontados para reciclagem e descarte

adequado. A própria desmontagem é realizada de forma amadora,

não havendo qualquer compartilhamento de conhecimento entre as

fabricantes e a recicladora. Da mesma forma, a prestadora de

serviços não recebeu qualquer informação a respeito da

desmontagem dos produtos com os quais trabalha, até porque a

maioria deles é importada. É importante compreender o escopo

da atividade das organizações para relacionar a importância

dessa competência aos seus resultados. Ela nem sempre será

necessária, contradizendo os estudos dos autores da área.

Apenas a empresa A compartilha certo conhecimento a

respeito de desmontagem com as assistências técnicas

155

autorizadas por ela. Existe um desejo que todos seus produtos

retornem à fábrica ao invés de caírem nas mãos de recicladores

terceiros, devido à preocupação com segurança de informação.

Nesse caso, a recuperação deveria estar mais integrada a sua

cadeia de suprimentos, competência que ainda deixa a desejar.

A recuperação só está totalmente integrada à cadeia de

suprimentos da prestadora de serviços, que foca no transporte

reverso e na recuperação em si. Mas ela não sincroniza seus

processos de forma a otimizar o estoque de peças de reposição.

A empresa C não realiza recuperação de produtos, mas procura

integrar soluções de reciclagem aos seus processos, investindo

em tecnologias e especialização nesse processo. Dessa forma, a

ela não se aplica a necessidade de sincronização entre

retornos e estoques de materiais de reposição.

Retrabalho e recuperação

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Categorizações

Viabilidade de recuperação

Inform ações de desm ontagem

Recuperação integrada à cadeia

Sincronização para reposição de estoques

Figura 11: Sumário da análise de Retrabalho e recuperação.

156

5.7 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO

A avaliação do desempenho é um ponto importante em

qualquer processo logístico, seja ele direto ou reverso. As

organizações devem entender os direcionadores de valor para

seus resultados e medir sua situação frequentemente. Para isso

é necessário definir sistemas de medição vinculados à

estratégia, avaliando o desempenho do sistema para facilitar a

tomada de decisões. As empresas A e B trabalham fortemente

nesse sentido, verificando os resultados e buscando melhorias.

A empresa C ainda está desenvolvendo seus sistemas de medição,

pois seus direcionadores de valor ainda estão em consolidação.

Todas conhecem bem os custos operacionais envolvidos em

seus processos, medindo-os e controlando-os. O impacto

financeiro é controlado, dado que a logística reversa não gera

lucros para nenhuma das empresas. Existe um trabalho forte por

redução de custos e busca por receitas alternativas, que

viabilizem o processo. A abordagem de custo total começa a ser

adotada pela empresa A.

Com relação à benchmarks, cada organização pensa de forma

diferente. Ideal, de acordo com a literatura, seria realizar

melhoria contínua comparando processos internos e externos,

nos padrões da indústria, de parceiros e competidores. A

empresa A realiza esse tipo de atividade de forma moderada,

mas considera seus próprios processos modelo para as demais.

Já as empresas B e C não realizam qualquer tipo de comparação

externa, mas a primeira busca melhorias internas. Sua opinião

é a de que seus processos são os melhores do setor, não

157

havendo necessidade de busca por modelos externos, fato esse

que não suporta a teoria, talvez pelo fato de ainda não

existirem muitas empresas com processos modelo na área de

logística reversa.

Dada a fase inicial na qual a logística reversa se

encontra no país, talvez ela seja realmente uma das mais bem

estruturadas, na qualidade de prestadora de serviços. Uma

solução para gerar ideias de melhoria seria buscar modelos

internacionais, mais estabelecidos e com mais experiência

nesse tipo de negócio, melhorando continuamente e buscando

soluções alternativas para possíveis problemas que venham a

ocorrer. A constante avaliação de desempenho não só gera

diferencial competitivo, como também baliza a situação atual

das empresas para buscar melhores resultados de forma

sistemática, tornando-as mais maduras na área de logística

reversa, conforme trata a literatura.

Avaliação de desem penho

FABRICANTE PRESTADOR DE SERVIÇOS RECICLADOR

Sistem as de medição com base no valor

Conhecim ento e controle de custos

Estrutura de benchm arking

Figura 12: Sumário da análise de Avaliação de desempenho.

158

5.8 QUADRO RESUMO DA ANÁLISE

Empresa A Empresa B Empresa CEstratégia e administração de retornos

Informações a respeito da estratégia da cadeia de suprimentos não disponíveis.A logística reversa não estádiretamente ligada ao processo logístico normal, foi desenvolvida pela necessidade de adequação à legislação.

Estratégia da cadeia de suprimentos claramente definida e integrada à administração dos retornos.

Estratégia da cadeia de suprimentos ainda não consolidada, mas seu desenvolvimento inclui a logística reversa. Há tentativas de aproveitar as cadeias de suprimentos de parceiros, criando sinergiasde transporte.

A importância da logística reversa é percebida por todos na organização, mas a mesma não é o negócio principal da empresa.

A logística reversa é um dosnegócios principais da empresa.

A logística reversa é um dosnegócios principais da empresa.

Existem metas que avaliam o processo reverso e um robusto programa de gestão ambiental instalado, proporcionando aprendizagem organizacional.

Adotada abordagem integral da cadeia de suprimentos para gerir retornos, com metas em todas as etapas do processo.Não há programas de gestão ambiental.

Metas para gerir a cadeia desuprimentos ainda em elaboração. Algumas já foramdesenvolvidas e vem sendo controladas. São feitos estudos de mercado para acompanhar o andamento da empresa em comparação às concorrentes.

159

Pouca atenção da alta gestãoaos processos de logística reversa, sendo que mais voltada ao controle de custos dessa operação.

Comprometimento da alta gestão com os retornos, e assuas competências gerenciaisestão alinhadas às requeridas para gerir o processo.

Total atenção da alta gerência é dada à logística reversa, por ser o negócio principal. São os donos que geram a maioria das ideias de negócios.

Stakeholders

Relatórios internos consideram indicadores do impacto ambiental, mas não são divulgados, apenas auditados nos casos requeridos pelo programa de gestão ambiental.

Os relatórios sobre o impacto da sustentabilidade na gestão da logística reversa são limitados e apenas internos.

Não são realizados relatórios sobre o impacto da sustentabilidade na gestão da logística reversa.Há relatórios para os clientes que desejam recuperar impostos pagos.

Forte trabalho de antecipação das legislações sócio-ambientais futuras, visando minimizar seus possíveis impactos negativosna cadeia.

As normas ambientais criadassão base para criar oportunidades de negócio.

As normas ambientais criadassão base para criar oportunidades de negócio. Aslegislações vigentes balizama separação e destinação dosresíduos perigosos, mas não há antecipação de normas relacionadas.

Processos alinhados às necessidades dos clientes, sendo oferecidas a cada um deles soluções de logística reversa. Ainda não há demandas claras e constantes

Processos alinhados às necessidades dos clientes, amigáveis e acompanhados constantemente. O rastreamento e a localizaçãodos volumes retornados estão

Alinhamento às necessidades dos clientes ainda em andamento. Alguns deles solicitam serviços, mas a demanda ainda é pequena. Sãocriadas opções de serviços

160

dos clientes com relação à disposição dos materiais.

disponíveis. para que os clientes os comprem.

A organização reage às demandas de retorno dos clientes, não busca compreender suas razões parainfluenciar decisões de retornos e aumentar os negócios.

Compreensão dos direcionadores dos retornos utilizadas moderadamente para influenciar os retornos.

Compreensão dos direcionadores de retornos ebusca por conhecimento por meio de pesquisas sobre o mercado, com vistas a influenciar os retornos.

Atuação no sentido educativo, incentivando parceiros a se adequarem às legislações vigentes e desenvolverem programas de gestão ambiental.Fornecedores devem se adequar a normas como ISO 14001.

Não existem ações de incentivo à prática de açõesde sustentabilidade em parceiros da cadeia. Apenas aos clientes potenciais, buscando a venda de serviços.

O foco em incentivos é direcionado aos clientes, buscando vendas de mais serviços. Preocupação ambiental voltada à exploração do crescimento donegócio.

Integração Moderado compartilhamento decustos dos retornos entre osintegrantes da cadeia. A maioria deles é da empresa. O processo ainda não gera lucros.

O processo de retornos não apresenta valor para os fornecedores, sendo que os mesmos só o integram oferecendo garantia aos produtos retornados no prazocorreto.

O processo ainda não gera lucros, mas um possível valor financeiro dos retornos é demonstrado aos clientes, que recuperam impostos com a destruição deprodutos novos não comercializados.

Não existe um sistema Existe um sistema que pode Não existem sistemas

161

interligando todos os parceiros, nem gerenciando os retornos. Os controles são internos e feitos via planilhas de Excel.

ser acessado pelos clientes para acompanhar o processo de retornos.

interligando os parceiros dacadeia ou os departamentos envolvidos. O controle é realizado via planilhas de Excel.

Não são realizadas atividades para melhorar o processo de autorização dos retornos. Os materiais separados na triagem não sãoreutilizados como peças de reposição, apenas destinadosao descarte.

Pouco esforço é feito para controlar os volumes de retorno, mas a partir do momento que tal informação éconhecida, busca-se sincronizar a demanda, o estoque e as movimentações através da cadeia.

Os volumes de retorno não são controlados.A empresa ainda busca clientes potenciais para os produtos que recicla, não havendo sincronização entre demanda e estoques.

A maioria dos processos é realizada internamente, ocorrendo uma pequena terceirização nos casos em que o envio até a fabricanteé considerados desperdício.

As políticas de retorno estão alinhadas com os fornecedores nos casos de garantia.Os diversos centros de coleta são interligados.

A quase totalidade dos processos é realizada internamente, desde a coletaaté a recuperação. Apenas alguns tipos de materiais são recuperados por terceiros.

A quase totalidade das atividades de logística reversa é realizada pela área de qualidade. Existe pouca ou nenhuma responsabilidade definida para outros departamentos.

Responsabilidades claramentedefinidas e alinhadas entre os departamentos envolvidos no processo.

Integração entre as atividades relacionadas ao processo reverso, dado o tamanho da empresa.

162

Os retornos não são planejados, a organização reage a eles e os recebe, independente de planejamento.

São utilizados dados macro de vendas para planejar os retornos.

Retornos são agendados e planejados a partir da contratação do serviço, não existe integração entre informações de vendas e volumes de retornos.

Administração do ciclode vida

Retornos não estão integrados ao modelo de negócios, não sendo considerado o estágio do ciclo de vida em que o produto se encontra para retorná-lo.

Retornos integrados ao modelo de negócios, mas não consideram o estágio do ciclo de vida dos produtos.Existem regras claras de reaquisição, incorporadas aosuporte pós venda e à estratégia de recuperação deativos

Retornos integrados ao modelo de negócios, mas não consideram o estágio do ciclo de vida dos produtos. A principal regra de reaquisição existente é que todo e qualquer produto é retornado para separação e reciclagem. Não existe remanufatura.

Estratégias de fim de vida são moderadamente consideradas na fase de concepção dos produtos, através da consula esporádica à área de qualidade sobre novos desenhos. Sugestões de modificações com foco no fimde vida dos produtos nem sempre consideradas.

Não há influência no design de produtos.

Não há influência no design de produtos.

163

O design ambiental começa a considerar o processo de triagem e separação de componentes, buscando, aindadesordenadamente, eliminar materiais perigosos e outrasfontes de problemas futuros.

Não há influência no design de produtos.

Não há influência no design de produtos.

Evitação e gatekeeping

Não há medidas de evitação ou gatekeeping estruturadas. Quase nenhum esforço é feitopara evitar ou controlar o volume e tipos de retorno, sendo essa atividade dependente do conhecimento de um colaborador. Não há padronização no processo de autorizações.

Diretrizes de evitação e gatekeeping não delimitadasHá regras claras de disposição, mas pouco ou nada comunicadas para o resto da cadeia reversa.

As regras de disposição são claras e estão disponíveis na internet. Qualquer pessoainteressada no serviço pode acessá-las. O processo de autorização é completamente padronizado e a empresa consegue verificar moderadamente os materiais sendo devolvidos.

Não há estrutura de recompensas definidas, os materiais não são reutilizados de forma diferente da reciclagem. Alguns deles geram receita com seu reaproveitamento.

Estrutura de recompensas baseada em preços fixos paradeterminadas quantidades e qualidades de produtosEstrutura de recompensas nãoalinhada a evitação e gatekeeping.

Não existe uma estrutura de recompensas definida.

Há um registro macro das fontes e motivações para retorno, mas este não é

Registros limitados das fontes e motivações para o retorno.

Registros limitados das fontes e motivações para o retorno. A empresa busca

164

utilizado para prevenção de demandas futuras, só para histórico.

entender o mercado através de pesquisas realizadas ou compradas.

Os materiais recuperados em garantia têm qualidade assegurada, pois o nome da empresa está em jogo.

A qualidade dos ativos recuperados e recolocados nomercado é monitorada.

Os ativos não são recuperados, mas a qualidadedos processos de reciclagem é monitorada.

Não são feitos estudos a respeito de mercados secundários, pois os produtos não são revendidos,apenas desmontados e reciclados.

Conhecimento dos mercados secundários é considerado irrelevante, pois a reutilização é garantida pela empresa contratante do serviço nos mercados primários.

Não são feitos estudos sobremercados secundários de produtos recuperados. Iniciados estudos a respeitoda aceitação de materiais reciclados para a produção.

Retrabalho e recuperação

As categorizações realizadasindependem do valor dos produtos ou seus componentesno tempo, focando mais nas razões dos defeitos e nos tipos de materiais.

São realizadas categorizações dos produtos com base em seu valor, qualidade e quantidade.

Não há qualquer tipo de categorização de produtos com base em valor, quantidade ou qualidade. Todos os incluídos na relação da emrpesa são aceitos para reciclagem.

Há categorização dos produtos retornados com relação a existência de defeitos e necessidade de trocas de componentes, para definir se o produto em

Os produtos são classificados de acordo com as viabilidades de caráter econômico, técnico e ambiental de recuperação, para decidir seu destino.

Produtos devolvidos são simplesmente desmontados e reciclados. A empresa entende que, quando os mesmos chegam a suas mãos, já estão no final de vida. A

165

garantia deve ser recuperadoe devolvido ao cliente ou enviado para descarte.

tecnologia muda rápido, tornando as coisas obsoletas

Existe um compartilhamento arespeito do conhecimento para desmontagem com as assistências técnicas.

Não há compartilhamento de informação sobre desmontagementre fabricantes e centros de desmontagem e recuperação.

Não há compartilhamento de informações, mas não parece existir preocupação dos fabricantes com relação a segurança de informação.

Não existem atividades de planejamento ou controle de retornos. Considera-se mais conveniente responder às demandas por peças de reposição com altos estoques

As previsões de retornos existem apenas em curto prazo e são usadas para ajuste de capacidade.

Não há previsões de retornos.

Uma parte do processo de recuperação é realizada nas assistências técnicas. Casoscomplicados ou que requerem análise e aprovação são enviados à fábrica.

O processo de recuperação está totalmente integrado à cadeia de suprimentos, sendoum dos focos da organização.

Diferencial de investir 2% do faturamento futuro em pesquisas relacionadas à manufatura reversa – tecnologias de reciclagem/ especialização do negócio.

Avaliação do desempenho

Existem sistemas de medição de desempenho, mas não foi possível ter acesso aos mesmos.Há conhecimento a respeito dos direcionadores de valor relacionados à logística

Há sistemas de medição de desempenho em todos os processos vinculados aos direcionadores de valor conhecidos.

Os sistemas de medição aindaestão em desenvolvimento na organização.

166

reversa e utilizados parcialmente na tomada de decisões.Os custos operacionais da logística reversa e da disposição são conhecidos, medidos e controlados. A alta administração verifica seu total, junto com os demais custos organizacionais, não verificando detalhes. Existemovimentação para adotar a abordagem de custos totais para avaliar o processo.

Há conhecimento dos custos internos e externos e busca constante por reduções.O impacto financeiro e a tangibilização dos custos são aplicados às regras de decisão.

Busca por soluções de reaproveitamento que gerem receitas. Hoje os custos da organização não estão cobertos pelas receitas.

A empresa considera seus processos, mais desenvolvidos e estruturados, mas há estrutura de melhoria contínua para benchmarking interno e externo.

Estrutura de melhoria contínua para benchmarking interno

Ainda não há estrutura de benchmarking.

Quadro 3: Resumo da análise

167

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.1 SUMÁRIO DO ESTUDO

O presente estudo foi realizado com base na pesquisa de

Janse (2008), que desenvolveu uma metodologia para avaliar o

nível de maturidade da implementação da logística reversa em

fabricantes de eletro-eletrônicos. O autor definiu 72

competências com base em revisão de literatura e pesquisas com

empresários cuja experiência era considerada relevante na

área.

Para facilitar a realização da análise na conjuntura

brasileira, as competências foram reagrupadas em 7 grandes

categorias, com base na sua semelhança de conteúdo, sendo elas

estratégia e administração de retornos, stakeholders, integração,

administração do ciclo de vida, evitação e gatekeeping,

retrabalho e recuperação e avaliação de desempenho.

Diferente da pesquisa original, realizada apenas com

fabricantes, este estudo foi realizado com empresas atuantes

em diferentes posições da cadeia de suprimentos reversa

brasileira, sendo uma fabricante, uma prestadora de serviços e

uma recicladora.

O principal objetivo foi a verificação do nível de

maturidade dessas competências da logística reversa em

diferentes participantes da cadeia de retornos de eletro-

eletrônicos no Brasil. Além de avaliar os diferentes graus de

importância dados a cada uma delas pelos players, por meio da

compreensão das diferenças entre os resultados.

168

Foi utilizada uma metodologia de estudo de caso, com o

auxílio de uma entrevista conduzida em cada organização,

pesquisas sobre seus resultados financeiros e visitas in loco.

Os resultados confirmam as diferenças entre as principais

competências necessárias nas diferentes posições da cadeia de

suprimentos. Dependendo do foco estratégico do negócio e da

área de atuação, as empresas desenvolvem mais ou menos

determinadas competências, sendo que algumas delas, como a

administração do ciclo de vida, por exemplo, não fazem sentido

em empresas prestadoras de serviço.

É necessário conhecer os objetivos organizacionais e com

base neles verificar as competências necessárias para um

processo de logística reversa de qualidade. Dessa forma,

torna-se mais fácil direcionar os esforços da gestão na busca

por resultados satisfatórios.

6.2 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO

Compreender o nível de maturidade das competências

relacionadas à logística reversa é uma tarefa difícil. Cada

uma delas aborda uma característica diferente, preocupações

diferentes e naturalmente apresenta resultados diferentes. Da

mesma forma, empresas em diferentes posições na cadeia de

suprimentos direcionam seus esforços mais a algumas

competências do que a outras, dependendo de seu interesse e

foco estratégico.

Tendo isso em mente, os resultados demonstram, de maneira

geral, um nível intermediário de maturidade com relação às

169

competências relacionadas à logística reversa. Esse resultado

pode ser mais facilmente visualizado através das figuras

apresentadas ao final da análise de cada competência. As

matrizes demonstram que algumas competências apresentam

maiores graus de maturidade do que outros, dependendo do

objetivo organizacional.

Além disso, existem dificuldades intrínsecas ao mercado no

qual as empresas estão inseridas, o que dificulta o

desenvolvimento das competências de forma mais assertiva.

Pode-se dizer ainda, que o modelo desenvolvido por Janse

(2008) é aplicável ao cenário brasileiro e a diferentes

participantes da cadeia logística reversa, levando-se em

consideração suas áreas de atuação para a formação de um

resultado.

Em conclusão, mesmo não apresentando altos níveis de

maturidade ou bons resultados financeiros, algumas empresas

nacionais continuam investindo no desenvolvimento de seus

processos de logística reversa. No caso das fabricantes por

necessidade legal, as demais, por acharem que esse será um bom

negócio no futuro.

6.2.1 Contribuições acadêmicas e sugestões de pesquisa

A pesquisa realizada valida, em certa medida, as

competências consideradas importantes para o estabelecimento

de uma logística reversa de qualidade.Mas os resultados não

podem ser extrapolados a outras empresas da mesma posição da

cadeia ou de outras.

170

De maneira geral, existe uma diversidade muito grande de

papéis relacionados ao processo reverso, sendo que cada

organização tem estratégias, percepções e formas de atuação

diversificadas. Todas essas características devem ser levadas

em consideração para uma correta avaliação do nível de

maturidade e das competências mais ou menos relevantes para

cada uma delas.

Algumas sugestões de pesquisas futuras estão relacionadas

à seleção de mais representantes de cada participante da

cadeia logística estudado nessa pesquisa. Uma amostragem

maior, considerando diferentes situações e perspectivas, mas

ainda dentro do setor em questão, poderia gerar novos insights ou

até resultados contraditórios aos encontrados. As interfaces

entre os elos da cadeia também foram pouco exploradas, sendo

que elas podem apresentar fatores importantes de sucesso para

o processo como um todo.

Uma análise complementar poderia incluir outros envolvidos

nos retornos, como varejistas, prefeitura, distribuidores

atacadista e eventualmente até os catadores, tão presentes na

realidade da cadeia nacional. Um estudo interessante poderia

pesquisar diversas empresas pertencentes a uma mesma operação,

interligadas entre si, avaliando o impacto das competências

nas interfaces entre elas. A compreensão do fluxo total de um

mesmo produto, avaliando os parceiros de uma mesma cadeia

abordaria certamente mais problemas e situações.

6.2.2 Implicações gerenciais

171

Considerar a logística reversa como um possível gerador de

retornos para a organização é o primeiro passo no

desenvolvimento desse processo tão relevante nos dias atuais.

A simples adequação das organizações à legislação vigente, à

medida que ela for sendo desenvolvida não é a melhor forma de

gerir o processo. Inicialmente é necessário um planejamento da

administração, que considere todas as interfaces internas e

externas da gestão dos retornos.

Uma visão holística da logística e sua integração à

estratégia organizacional criam um embasamento para a

utilização dos resultados obtidos com a realização dessa

pesquisa. Direcionar os esforços para a implementação das

competências requeridas para um processo de logística reversa

de sucesso podem ser mais bem feito em um contexto desse tipo.

Foi possível perceber que competências relacionadas à

logística reversa podem variar de acordo com a posição da

organização na cadeia, seu objetivo e suas relações com os

demais parceiros. A avaliação do nível de maturidade de

implementação da logística reversa com base nessas

competências, não necessariamente demonstra o desempenho

organizacional atual.

Cada realidade empresarial é única e deve ser avaliada na

definição das competências mais adequadas àquele cenário.

Nesse sentido, a presente pesquisa pode direcionar os esforços

de criação de um diferencial competitivo na administração dos

retornos, demonstrando as prioridades que a gestão deve ter.

172

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