O Bambu Na Construcao Rural

download O Bambu Na Construcao Rural

of 64

Transcript of O Bambu Na Construcao Rural

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    1/64

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOISUNIDADE DE CINCIAS EXATAS E TECNOLGICAS

    ENGENHARIA AGRCOLA

    O BAMBU NA CONSTRUO RURAL

    JOO PAULO LEAL COSTA

    ANPOLIS-GO2012

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    2/64

    JOO PAULO LEAL COSTA

    O BAMBU NA CONSTRUO RURAL

    Monografia apresentada UniversidadeEstadual de Gois UnuCET, para obtenodo ttulo de Bacharel em EngenhariaAgrcola.rea de Concentrao: Construo RuralOrientador: Prof. Dr. JOSDAFICOALVES

    ANPOLIS-GO2012

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    3/64

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    4/64

    iii

    Aos meus pais e irmos por tudo que representam em minha vida.Dedico!

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    5/64

    iv

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, por ter me dado a vida, sade, famlia e perseverana para ter

    alcanado os meus objetivos. Aos meus pais por todo o esforo que fizeram para me darcondies de estudar e estarem sempre presentes me ajudando e apoiando em todos osmomentos. Universidade Estadual de Gois que me possibilitou a realizao desse curso.o professor Jos Dafico por me orientar no presente trabalho e pelos anos de dedicaodurante minha vida acadmica.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    6/64

    SUMRIO1 INTRODUO ................................................................................................................... 102 REVISO DE LITERATURA .......................................................................................... 13

    2.1 O CULTIVO DO BAMBU .......................................................................................... 132.2 CURA E IMUNIZAO DO BAMBU ...................................................................... 162.3 CARACTERSTCAS ANATMICAS DO BAMBU ................................................. 222.4 DISTRIBUIO GEOGRFICA DO BAMBU ......................................................... 262.5 O USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUO ............................... 28

    2.5.1 Propriedades Fsicas e Mecnicas do Bambu .................................................... 322.5.2 Propriedades Construtivas do Bambu ................................................................ 34

    2.5.3 Ensaio de resistncia trao, compresso e cisalhamento interlaminar dobambu Guadua angustiflia ......................................................................................... 352.5.4 Ensaio de arrancamento e empuxamento aplicados a taliscas de bambuencravadas em corpos-de-prova de solo-cimento ....................................................... 38

    2.6 O USO DO BAMBU NA CONSTRUO.................................................................43

    2.6.1Pilares.....................................................................................................................44

    2.6.2Vigas e Trelias......................................................................................................46

    2.6.3Painis de Vedao vertical..................................................................................47

    2.6.4Estruturas de telhado............................................................................................48

    2.6.5Telhas.....................................................................................................................49

    2.6.6Escadas Artesanais................................................................................................49

    2.6.7Ligaes e Conexes de Babu...............................................................................512.6.8Construes de Galpes........................................................................................54

    2.6.9Casa de Vegetao, Viveiro e Abrigo de Animais..............................................55

    2.6.10Cercas...................................................................................................................56

    2.6.11Postes de concreto armado com tiras de bambu..............................................56

    3 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 58

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 59

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    7/64

    vi

    LISTA DE FIGURASFigura 01 - Armazenamento correto das varas de bambu ........................................................ 16Figura 02 - Tratamento natural pelo mtodo de imerso.......................................................... 17Figura 03 - Cura pelo mtodo de banho quente e frio .............................................................. 17Figura 04 - Mtodo de tratamento por fumigao, desenvolvido por Antnio Giraldo, 1999,em Armnia, Quindo, Colmbia ............................................................................................. 18Figura 05 - Aplicao do mtodo Boucherie em varas de bambu. ........................................... 19Figura 06 - Tratamento das varas pelo mtodo de imerso em produtos qumicos ................. 20Figura 07 - Lixa grossa para madeira, utilizada para lixar a superfcie da estrutura de bambu 21Figura 08 - Calda de cimento sendo preparada no tanque. ....................................................... 21Figura 09 - Estruturas de bambu imersas na calda de cimento. ............................................... 22Figura 10 - Imagem extrada do livro HIDALGO-LPEZ, Oscar. Bamboo-The gift of theGods, Bogot, DVinni ............................................................................................................. 23Figura 11 Diferentes tipos de rizomas ................................................................................... 23

    Figura 12 - Espcie de bambu comum no Brasil, Bambusa vulgaris vittata ........................... 25Figura 13 -Guadua angustiflia , excelente para a construo civil ........................................ 25Figura 14 Centro de origem dos bambus ............................................................................... 27Figura 15 - Taj Mahal, ndia. As cpulas do monumento hindu foram feitas de bambu ...................................................................................................................................... 29Figura 16 - O uso do bambu na China em quiosques de estilo oriental ................................... 29Figura 17 - Vista noturna da Catedral de Bambu, Nuestra Seora de la Pobreza Projeto doArq. Simn Vlez, Colmbia ................................................................................................... 30Figura 18 - Empresa Guadua y Bambu Eje Cafeteiro, de beneficiamento de bambu guadua,em Pereira, Colmbia ............................................................................................................... 30Figura 19 - Edifcio sede da CARDER, Corporacin Autonoma de Risalda, com 6.524 m2

    construdos de guadua. Obra do Arq. Simon Vlez ................................................................. 31Figura 20 - Memorial do ndio, feito de bambu, Campo Grande MS ................................... 32Figura 21 Caractersticas dos corpos-de-prova para ensaios de A- Trao, B- Compresso eC- Cisalhamento interlaminar .................................................................................................. 36Figura 22 Etapas de compactao (A), nivelamento (B) e processo de cura (C) doscorpos-de-prova para o ensaio de arranchamento ................................................................... 39Figura 23 Ensaio de arranchamento (A) e empuxamento (B) .............................................. 40Figura 24 - Casa de bambu e tijolo aparente: composio de materiais distintos .................... 45Figura 25 - Pilares de bambu apoiados em bases de concreto.................................................. 46Figura 26 - Pilares de bambu com base de concreto. Coreto Jayme Kerbel Golubov, Praa daColina, rea residencial do Campus UnB ................................................................................. 46Figura 27 - Pilares de bambu. Centro de Desarrollo Artesanal de Risalda, Colmbia ............ 47Figura 28 - Laje feita de bambu em edificao de dois pavimentos ........................................ 48Figura 29 - (a) e (b) Trelia plana (viga), construda na Terra Indgena dos Krah,TO .......... 48Figura 30 - Painis de bambu para vedao vertical das habitaes ........................................ 49Figura 31 - Estrutura de telhado, tendo o bambu como principal material de construo ....... 49Figura 32 - Estrutura de bambu criada pelo arquiteto Simon Vlez, na Colmbia .................. 50Figura 33 Telhas de bambu ................................................................................................... 50Figura 34 - Escada de bambu construda de maneira no recomendada, permitindo o contatodo bambu com o solo ................................................................................................................ 51Figura 35 - Escada de bambu, projeto da Arq. Ana Maria Frana, em Goinia, feita sobre basede concreto, evitando o contato direto dos colmos com o solo ................................................ 51Figura 36 - Conexes das peas de bambu atravs do parafusamento ..................................... 52Figura 37 - Conexes das peas de bambu ............................................................................... 53

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    8/64

    vii

    Figura 38 - Unio de peas de bambu com peas do prprio bambu ....................................... 53Figura 39 - Detalhe de amarrao da conexo de bambu, com fibras naturais ........................ 54Figura 40 - Tcnica construtiva de ligao do bambu com bases de concreto, atravs de peasmetlicas ................................................................................................................................... 54

    Figura 41 - Detalhe da ligao dos bambus .............................................................................. 55Figura 42 - Galpo construdo com estrutura de Bambu e conexes metlicas ....................... 55Figura 43- Estufa Ecolgica desenvolvida pelo CPRA ............................................................ 56Figura 44 - Estufa agrcola para cultivo forado ...................................................................... 56Figura 45 - Cerca em forma de losngulo; Cerca em forma de quadriculas; Cerca em forma defileiras ....................................................................................................................................... 57Figura 46 - Frma de madeira com as armaduras prontas para concretagem .......................... 58Figura 47 - Aspecto do poste aps sete dias de cura mida e j pronto para uso ..................... 58Figura 48 - Haste do aspersor conectada ao tubo de bambu .................................................... 59

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    9/64

    viii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 - Distribuio das espcies de bambus nos principais biomas brasileiros ............... 27Tabela 02 - Relao entre a energia de produo por unidade de tenso ................................. 34

    Tabela 03 - Relao entre a resistncia a trao e o peso especfico........................................ 35Tabela 04 - Resistncia trao, mdulo de elasticidade e coeficiente de Poisson das partes basal, centro e topo, com e sem n, do bambuGuadua angustiflia ....................................... 36Tabela 05 - Resistncia compresso, no mdulo de elasticidade, coeficiente de Poisson das partes basal, central e topo, com e sem n, do bambuGuadua angustiflia ............................ 37Tabela 06 - Resistncia ao cisalhamento interlaminar do bambu Guadua angustiflia ......... 38Tabela 7 - Resistncia ao arrancamento de taliscas de bambu em solo-cimento (ensaio dearrancamento) ........................................................................................................................... 41Tabela 8 - Resistncia ao empuxamento e fora de empuxamento com respectivos desvios- padres em ensaio de empuxamento, de taliscas de bambu encravadas em solo-cimento ...... 41

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    10/64

    ix

    RESUMO

    Este estudo tenta mostrar a relevncia do uso do bambu como um materialalternativo de uso na construo, tratando de investigar suas especificidades e as suas possibilidades aplicativas. Sendo utilizado de maneira correta, torna-se um materialecologicamente correto para infinitos fins. O bambu ainda pouco difundido no Brasil, tem setornado uma alternativa vivel para substituio de outros materiais utilizados na construo,visto que o mesmo apresenta boas propriedades fsicas e mecnicas, tendo como base estudose aplicaes do mesmo em grandes pases da sia e Amrica do Sul. O bambu tem diversasaplicaes na construo como em pilares, vigas, painis de vedao, entre outras que seroabordadas neste trabalho.

    Palavras-chave: bambu, construo e alternativo

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    11/64

    10

    1 INTRODUO

    Sabe-se que nos ltimos anos, o homem tem tomado conscincia dos efeitos dosdanos que seu modo de vida causou ao meio ambiente e diversidade do planeta. Soinmeros impactos ambientais negativos causados natureza em todo o planeta, tendo comoconsequncia: aumento da temperatura, degelo das calotas polares, poluio dos meiosaquticos e atmosfricos, degradao dos solos, diminuio das reas florestais, explorao deespcies animais e vegetais, extino de espcies e reduo das reservas de guas potveis no planeta. Toda essa realidade se deve, principalmente, ao nosso modo de vida, o qual se baseiana capitalizao infindvel de bens, que, por sua vez, dependem na sua maioria dos recursosnaturais de fauna e flora, gerando a degradao ambiental.

    Atualmente, devido a essa conscientizao da problemtica mundial, observa-se umanotvel busca pelo uso de materiais e tecnologias que no agridam o meio ambiente. Nota-segrande interesse pela utilizao de tecnologias e recursos alternativos com este propsito,onde novos materiais tm sido amplamente divulgados. Com base nos trabalhosdesenvolvidos por Lopez (2003); Ghavami (1994), dentre outros, sobre sistemas e materiaisalternativos empregados na construo civil, aponta-se o bambu como uma matria-prima de potencial construtivo, dadas as suas caractersticas fsicas, mecnicas e construtivas.

    De acordo com Lpez (1974), os bambus so plantas herbceas e lenhosas, pertencentes famlia dasGramineae ou Poaceae, com mais de 1250 espcies classificadas edistribudas em cerca de 90 gneros distintos. Desenvolvem-se em regies com clima tropicale subtropical com temperatura moderada, adaptando-se tanto ao nvel do mar, quanto emaltitudes prximas de quatro mil metros.

    Trata-se de uma planta constituda de fibras longas e dispostas paralelamente aolongo da direo longitudinal ao colmo, o qual extremamente resistente trao, e, por istomesmo, utilizado at como reforo ao concreto, em substituio ao ao, tradicionalmenteempregado na armadura de peas dessa natureza.

    De acordo com Pereira e Beraldo (2007), o bambu um material leve, verstil, comadequadas caractersticas fsicas e mecnicas. O bambu gigante ( Dendrocalamus giganteus ), por exemplo, uma espcie entouceirante, com altura das hastes atingindo at 40 metros,

    comprimento dos internos de 40 a 50 cm, dimetro dos colmos entre 10 a 25 centmetros eespessura da parede espessa variando de 1 a 3 centmetros. Variam em altura e dimetro,

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    12/64

    11

    havendo aqueles que crescem at mais de 30 m de altura e outros que no passam arbustos,com dimetros variando de 0,5 at 30 cm. Seu colmo cilndrico, oco dividido em intervalos por ns salientes, torna-o um material leve e flexvel, com massa especfica aparente varivel

    de 500 a 790 kg.m- (mdia de 650 kg.m-). A elevada relao resistncia/peso, associada ao baixo custo do material, tem levado os pesquisadores a utiliz-lo na construo civil, emsubstituio madeira e ao prprio ao.

    Nesse contexto, o bambu um material que apresenta boas caractersticas fsico-mecnicas, baixo custo, facilidade de obteno e trabalhabilidade que vem sendo utilizado,como material de construo em pases asiticos, e em alguns da Amrica Latina, substituindocom eficincia algumas espcies de madeira em construes diversas (Freire; Beraldo, 2003;Paes et al., 2009).

    O bambu esta sendo bastante apreciado por estudiosos do mundo todo e diversasreas do conhecimento, como alternativa na aplicao de estruturas nas construes econfeces de materiais, substituindo matrias convencionais que causa, na sua maioria,resduos difceis de serem decompostos pelo meio ambiente. Na extensa lista de usosreconhecidos dos bambus constam desde os mais comuns at os mais sofisticados ou de

    ponta.

    Como componente de construo, o bambu pode ser utilizado na forma inteira(rolia) e, neste caso, empregado na construo de tesouras, pilares, vigas, etc.; na forma partida (talisca), como reforo ao concreto; e, na forma de placas de rguas de bambutranado, empregado na construo de muros, paredes, forros, assoalhos, etc. Permite ainda, o bambu, associao com outros materiais de construo, tais como, solo-cimento, argamassaarmada, concreto e gesso.

    Dentro do permetro urbano, a construo usando bambu est impedida por umdispositivo legal que probe o uso de materiais de fcil combusto. No meio rural, todavia, ouso do bambu ilimitado, satisfazendo a quase todas as exigncias e necessidades. Ainda que possa ser reconhecida como uma planta de grande utilidade, o bambu sofre preconceito, pormuitos considerarem como um material de segunda categoria. Em geral, no meio rural grande parte das construes possui caractersticas simples, quando falamos em tipologia deconstrues tanto para moradia como para criao de alguns animais, essas construes nagrande maioria denominada de abrigos, devem exercer aspectos construtivos como: estruturas

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    13/64

    12

    resistentes, bem estar, sanidade e viabilidade de economia nas construes e instalaesrurais.

    Grande parte do uso mais comum do bambu no Brasil decorre de tradio do meiorural, onde so empregados em cercas e em pequenas construes, como galinheiros, currais, pequenos abrigos rsticos, taperas, gaiolas, etc. Este um uso que se caracteriza como padro para a populao rural em relao aos bambus, por sua enorme disponibilidade e que resultaser mais causal do que estratgico.

    Essa falta de viso estratgica do homem do campo brasileiro, devido a sua grandemaioria possuir baixa instruo, em relao ao bambu vem tona o interesse de investigar as

    principais aplicaes do bambu nas construes rurais. Casualmente, o homem do campo brasileiro realiza obras utilizando bambus, mas no de forma sistematizada.

    O objetivo do presente trabalho informar as possveis possibilidades das aplicaesdas espcies de bambu nas construes e instalaes rurais, visando o desenvolvimento detecnologias rurais alternativas para que o homem do campo trabalhe de forma maissustentvel.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    14/64

    13

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 O CULTIVO DO BAMBU

    Uma das vantagens da cultura do bambu a sua pouca exigncia com relao aosolo, uma vez que produz bem em quase todos os tipos. Solos muito midos ou com lenolfretico alto podem inibir seu bom desenvolvimento, enquanto solos salinos no soadequados ao seu cultivo.

    Segundo Salgado (2001), o bambu, apresenta melhor desenvolvimento em regies dealtas temperaturas, livre de mudanas bruscas e frios prolongados. No entanto, esses fatoresnaturais no impedem o seu cultivo, apenas inibem ou promovem o seu desenvolvimento. Deuma maneira geral, porm, a maioria das espcies se adapta bem ao clima tropical com bomdesenvolvimento entre 8 e 36C de temperatura.

    Os bambus se distribuem naturalmente entre as latitudes 46 Norte e 47 Sul, desdeos trpicos ate as regies temperadas. Pereira (2001) observa que so encontrados desde onvel do mar ate as elevaes alpinas, como as espcies Arundinaria que encontrada nandia a 3.800 metros de altitude, porm a maioria ocorre em reas quentes e com chuvas

    abundantes.Segundo Salgado (2001), a velocidade de propagao de uma plantao de bambu,

    depois de estabelecida, muito grande. O tempo de estabelecimento de uma plantao variade cinco a sete anos, e o amadurecimento de um bambu acontece de trs a quatro anos,quando atingem as dimenses caractersticas da sua espcie, sendo assim mais rpido para acolheita do que a mais rpida rvore. A partir do terceiro ou quarto ano j se pode coletarcolmos e brotos. A mdia de produo de biomassa num bambuzal de 10 toneladas por

    hectare por ano. O bambu pode substituir a madeira em diversas aplicaes, e com issodiminuir o impacto ambiental atravs do desmatamento. O bambu no exige tcnicascomplexas para o seu estabelecimento como plantao. A irrigao s necessria em regiesde pluviosidade muito baixa, e no necessria a aplicao de produtos agrotxicos. Acolheita fortalece o bambuzal e feita com instrumentos manuais. O transporte facilitado pelo seu peso leve em comparaes s madeiras.

    A produtividade de colmos de uma plantao de bambu varia consideravelmente deacordo com as espcies, condies de cultivo e intensidade de manejo aplicada. Dependendoda idade do colmo, este pode ter variados usos e aplicaes, podendo servir como alimento

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    15/64

    14

    atravs do broto comestvel nas primeiras semanas de vida, ate usos na arquitetura econstruo civil quando este atinge trs ou mais anos.

    As possibilidades de uso do bambu podem ser ampliadas com a melhoria de suaresistncia, atravs de mtodos mais aperfeioados de colheita, secagem e imunizao contrafungos e carunchos e contra a seca excessiva. Alguns aspectos importantes relacionados ao plantio, ao corte e ao manejo do bambu sero apresentados a seguir:

    a) Clima uma planta sensvel s geadas, podendo ter nesse caso, problemas emseu crescimento e consequentemente levando morte dos brotos (GRAA, 1988). aconselhvel que promova a plantao de bambuzais em perodos chuvosos, em perodos

    mais frescos, pois uma alta taxa de umidade muito importante para o desenvolvimento do bambu.

    b) Solo Desenvolve-se em variados tipos de terreno, porm prefere os de grande profundidade, frteis, com boa drenagem, arenosos e leves. Em relao ao seu plantio, no favorvel a terrenos cidos ou alcalinos (GRAA, 1988).

    c) Cultivo Deve-se levar em conta a finalidade a que se destina a sua cultura,escolhendo assim o tipo mais adequado para o plantio do bambu. Os mtodos no so

    complicados, porm, devem ser observados alguns cuidados bsicos como verificao doterreno, para saber se est propcio a receber tal tipo de cultura, e posteriormente escolher amaneira que se pretende multiplicar o bambu. De acordo com Graa (1988), o bambu pode se propagar atravs de alguns mtodos principais, como: diviso de touceiras, corte earranchamento dos rizomas ou caules subterrneos ou ainda sementes.

    O primeiro mtodo considerado mais comum e mais eficaz, consiste em decepar o bambu acima do segundo ou terceiro n, tendo como referncia base do colmo, leva a

    produzirem mudas de trs a cinco hastes iniciais.O segundo mtodo, de corte e arranchamento dos caules subterrneos, indicadoquando preciso transportar as mudas a longas distncias. Arranca-se o broto com um pedaode rizoma e uma pequena quantidade de razes, tem-se uma muda de bambu.

    O terceiro consiste em cortar pedaos de 60 a 120 cm de comprimento, ou contendodois ou mais ns com gemas. A parte inferior do caule menos dotado em gemas e commaior dificuldade para se reproduzir. Os pedaos cortados podero ser colocados no solodeitados ou oblquos.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    16/64

    15

    Para receber as mudas, preparam-se covas, que so de 40x40cm, tendo em seu fundouma camada de 5 cm de esterco orgnico curtido, que dever ser coberto com uma camada deterra retirada anteriormente da mesma cova. Segundo especialistas, dependendo da quantidade

    de areia no solo, deve-se cavar uma poro, substituindo-a por uma quantidade de areia limpa,de espessura mediana, sendo que quando for misturado a cova tenha partes iguais de terra eareia. O solo dever ser nivelado e comprimido, aps a colocao da muda, fixando-a melhorno terreno.

    Deve ser feito limpezas peridicas nos bambuzais, eliminando caules secos, velhos,quebrados, com a finalidade de deixar as touceiras mais arejadas, havendo assim maiorrecebimento de raios solares nos vegetais.

    d) Corte e manejo De acordo com Pereira (2001), a extrao precisa ser realizadaanualmente, colhendo no somente os colmos que sero aproveitados, mas tambm retirandoos defeituosos e velhos.

    Os bambus utilizados na construo civil precisam estar maduros para seremcolhidos, tendo suas idades variando entre 3 a 5 anos. A identificao pode ser feita pelasvrias manchas amarelas presentes nos colmos. Apesar de impreciso, este modo deverificao tem demonstrado ser satisfatrio, porm exige experincia do observador

    (BARROS e SOUZA, 2004).O corte deve ser feito altura do segundo n evitando o acmulo de gua dentro do

    pedao de colmo que ficou no solo para que a raiz no apodrea. Deve-se utilizar preferencialmente a serra eltrica para o corte.

    De acordo com Graa (1988), o bambu deve ser cortado na lua minguante, para setornar mais resistente ao ataque de pragas e doenas. Porm, Azzini (1997) concluiu que afase da lua no interfere na resistncia do bambu ao caruncho.

    e) Armazenamento O bambu deve ser armazenado longe da umidade do solo,estando pelo menos 15 cm elevado do solo. Preferencialmente em lugar coberto para evitar

    incidncia de sol e da chuva. As varas devem ser armazenadas em camadas, com espaamentoentre elas, para que permita a circulao de ar. A Figura 01 apresenta a maneira correta de searmazenar os bambus.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    17/64

    16

    Figura 01 - Armazenamento correto das varas de bambuFonte:KRAMER (1992).

    2.2 CURA E IMUNIZAO DO BAMBUAps a colheita dos bambus necessrio realizar a cura do material, para se reduzir a

    porcentagem de seiva existente, minimizando assim o risco de ataque por organismos danosos planta. De acordo com Azzini et al (1997), para a realizao desta cura ou maturao,

    pode-se utilizar diferentes mtodos como cura no local da colheita, imerso, secagem, etratamentos qumicos. Pode-se aumentar a durabilidade dos colmos de duas maneiras: portratamentos naturais e pelo tratamento dos colmos com produtos qumicos.

    a) Cura na mata Consiste em cortar os colmos e deix-los apoiados, o maisverticalmente possvel, nos colmos no cortados. Devem permanecer de 4 a 8 semanas, paraque a seiva possa escorrer naturalmente.

    b) Cura por imerso Consiste em submergir os colmos em gua por mais de 4

    semanas. Quando colocados sob gua, esta penetra no interior dos colmos, dissolvendo aseiva e transferindo-a para a gua, como mostra a Figura 02.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    18/64

    17

    Figura 02 - Tratamento natural pelo mtodo de imerso.Fonte:KRAMER (1992).

    c) Cura por banho quente e frio Neste processo de banho quente e frio, o bambu colocado em situao imersa em tanque com gua atingindo 90C num intervalo de 30minutos, e depois o resfriando em outro reservatrio, como mostra a Figura 03.

    Figura 03 - Cura pelo mtodo de banho quente e frioFonte:KRAMER (1992).

    d) Cura por aquecimento Consiste em colocar o colmo de bambu sobre fogo

    aberto, rodando-o sem queim-lo, a fim de matar qualquer inseto que se encontre em seuinterior.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    19/64

    18

    e) Secagem ao ar Secam-se os colmos em local aberto; empilham-se os colmos emcamadas paralelas, separadas por um colmo transversal para garantir a circulao de ar. Suasecagem atingir o ponto ideal em torno de 60 dias, sendo esse o processo mais econmico.

    f) Secagem em estufa Mtodo utilizado para peas j serradas, permite o controlesobre a temperatura, umidade relativa e velocidade do ar em contato com o bambu. ummtodo mais rpido e eficiente, porm mais caro.

    g) Secagem por fumigao Os colmos do bambu so tratados com fumaa, ou seja,as toxinas presentes na fumaa ficam impregnadas na lignina do bambu, matando assim osfungos e insetos (Figura 04).

    Figura 04 - Mtodo de tratamento por fumigao, desenvolvido por Antnio Giraldo, 1999, emArmnia, Quindo, ColmbiaFonte: VLEZ (2000).

    Este mtodo, segundo Azzini e Salgado (1994), consiste na aplicao de substnciasqumicas (conservantes), com o objetivo de proteger os colmos do ataque de fungos e insetos.

    Os conservantes usados no tratamento do bambu so produzidos a base de leos ousais minerais. Os leos so aplicados no bambu, que entra em contato direto com a gua, eapresentam a vantagem de serem insolveis e de fcil aplicao. Uma das desvantagens dos

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    20/64

    19

    leos, que apresentam cor escura, dificultando a pintura, alm de possurem odor forte eserem inflamveis.

    Os leos mais utilizados so o creosoto, o pentaclorofenol e o naftanato de cobre. Jos sais, no apresentam cheiro forte e permitem a pintura posteriormente. Os sais mais usadosso os cromatos de zinco, de cobre e de boro. Na aplicao de produtos e conservantes, deve-se observar os seguintes itens (AZZINI e SALGADO, 1994):

    a) Os produtos devem ser suficientemente ativos para impedir a vida e odesenvolvimento de microrganismos interiores e exteriores;

    b) Sua composio no deve afetar os tecidos do bambu, ocasionando modificaes

    e diminuindo suas qualidades fsicas;c) Devem ser empregados em estado lquido a fim de se impregnarem facilmente em

    todas as partes do bambu;d) No devem ter cheiro forte ou desagradvel capaz de impedir seu emprego no

    interior das residncias;e) No devem modificar a colorao do bambu, principalmente os que sero

    utilizados como elemento decorativo.

    Outro mtodo de imunizao o Mtodo Boucherie, tratamento que se aplica aos bambus recm-cortados, cuja seiva esteja em movimento. Idealizado por Boucherie no ano de1873, o mtodo consiste em fazer penetrar o conservante, atravs de presso hidrosttica, pelaextremidade do bambu. O conservante empurra a seiva, ocupando assim o seu lugar (AZZINIe SALGADO, 1994).

    Para se aplicar este mtodo, coloca-se na extremidade do colmo do bambu, do qualse eliminam previamente os ramos e folhas, a extremidade de um tubo de borracha ou pedaode cmara de ar, que se enche com conservante, fechando-se, ento, a extremidade superior(Figura 05).

    Figura 05 - Aplicao do mtodo Boucherie em varas de bambu.Fonte:KRAMER (1992).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    21/64

    20

    O tratamento por imerso em produtos qumicos baseia-se em mergulhar o bambu,de forma horizontal, em um tanque com conservante por aproximadamente 12 horas. O maiortempo dessa imerso do bambu proporcionar maior saturao aos colmos (AZZINI e

    SALGADO, 1994).

    A imerso acontece em banho frio, dispondo os colmos submersos durante 5 dias, em pentaclorofenol e leo diesel. Aps o processo, os colmos devem ser postos inclinados, promovendo assim a sada do excesso de conservante, e em banho quente-frio, que consisteem mergulhar os colmos durante 1 hora em soluo de pentaclorofenol, aquecida a 90C.Passando esse perodo levar para soluo fria de pentaclorofenol, permanecendo por 12 horas,como mostra a Figura 06.

    Figura 06 - Tratamento das varas pelo mtodo de imerso em produtos qumicosFonte:KRAMER (1992).

    A mineralizao tambm um processo de imunizao dos bambus. De acordo comALVES (1976), a mineralizao consiste na preparao de uma soluo de silicato de

    sdio, que ao ser aplicada em fibras vegetais, ajudam a eliminar o efeito da absoro de

    gua destes materiais . Tal procedimento feito mergulhando-se as estruturas de bambu em um tanque com

    uma calda de cimento e gua (relao 1:5, cimento:gua). Antes de serem mineralizados, asuperfcie das varas de preenchimento, das travessas e da moldura so lixadas, com lixa

    grossa para madeira, conforme a Figura 07.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    22/64

    21

    Figura 07 - Lixa grossa para madeira, utilizada para lixar a superfcie da estrutura de bambu.Fonte:KRAMER (1992).

    Durante o processo de mineralizao, as estruturas de bambu permanecem 48 horassubmersas na calda de cimento. As Figuras 08 e 09 mostram o procedimento sendo utilizado.

    Figura 08 - Calda de cimento sendo preparada no tanque.Fonte: Cd-Rom cedido por Roberto Magno Castro e SIlva.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    23/64

    22

    Figura 09 - Estruturas de bambu imersas na calda de cimento.Fonte:KRAMER (1992).

    Aps este processo, retiram-se os corpos-de-prova da calda, deixando que sequemem ambiente coberto, protegido do sol e da chuva, na posio vertical, encostados, porexemplo, em paredes.

    2.3 CARACTERSTICAS ANATMICAS DO BAMBU

    A espcie vegetal conhecida como bambu, conhecida h milhares de anos porvrios povos e pertence famlia das gramneas ( Poaceae ) e subfamliabambusoidea(LPEZ, 2003). um material eco sustentvel, possui facilidade de cultivo, manejo e produo de insumos, bem como possibilita a diminuio considervel com gastos de energia.

    De acordo com Frederico Menezes Rgis, o bambu constitudo basicamente porrizoma e colmo (galhos e folhas) e se tratado adequadamente, apresenta durabilidade superiora 25 anos.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    24/64

    23

    Figura 10 - Imagem extrada do livro HIDALGO-LPEZ, Oscar. Bamboo-The gift of the Gods,Bogot, DVinniFonte:KRAMER (1992).

    Quanto ao rizoma, trata-se de um caule subterrneo dotado de ns e entrens, comfolhas reduzidas a escamas, e que se desenvolve paralelamente a superfcie do solo. No deveser confundido com a raiz, que uma parte distinta da planta e com funes completamentediferentes ( SILVA, 2005).

    Existem dois grupos distintos de bambus quanto ao tipo de rizoma: os que formamtouceiras (simpodiais) e os alastrantes (monopodiais). Muitos autores prope o semi-entouceirante (anfipodial) como um terceiro tipo, que dispe de ambas as caractersticas,como apresentado na Figura 11 ( SILVA, 2005).

    Figura 11 Diferentes tipos de rizomasFonte: NMBA, National Mission on Bamboo aplications (2004).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    25/64

    24

    As folhas dos bambus respondem pela funo de elaborar as substncias necessriasao rpido crescimento desta planta atravs do processo da fotossntese. Caractersticas comodimenso, formato da lmina e presena de pelos nas folhas, so informaes taxonmicas de

    grande valia para a identificao das espcies.

    De acordo com Filgueiras (1988), em muitas espcies de bambus o florescimento um fenmeno raro, podendo acontecer em intervalos de at 120 anos. Vrias espcies de bambus morrem ao florescer devido energia desprendida pela planta para a formao de umgrande nmero de sementes.

    Entretanto, nem todos os bambus morrem ao florescer, sendo que os bambus

    herbceos fogem a esta regra, uma vez que florescem frequentemente e no morrem.Apresentam floraes do tipo espordicas, que ocorrem em algumas plantas de uma populao, e do tipo sincrnicas, que ocorrem simultaneamente em todas as plantas de uma populao (FILGUEIRAS, 1988).

    Quanto aos colmos, originam-se de uma gema ativa do rizoma e compem a partearea dos bambus, alm de dar sustentao para os ramos e folhas. Os caules, quase sempresubterrneos e enraizados, possuem crescimento ilimitado, dando origem a novos colmos, eso caracterizados por ns bem marcados, com entrens distintos. Os colmos de bambu, noapresentam seo uniforme, e a distncia entre os ns aumenta de acordo com a cultura docolmo, e ocorre o inverso com a espessura das paredes (GRAA, 1988).

    Segundo Silva (2005), os colmos diferem-se pela cor, dimetro, comprimento,espessura da parede, comprimento entrens dentre outras caractersticas, sendo estas muitoteis para a identificao das espcies.

    As espcies mais conhecidas no Brasil so as de origem asitica, trazidas pelos primeiros colonizadores e, devido ao clima tropical brasileiro, essas espcies adequaram-se bem a se expandirem rapidamente (GRAA, 1988). As espcies mais comuns so: Bambusavulgaris vittata (bambu-imperial), como mostra a Figura 12, Bambusa vulgaris (bambu-verde), Bambusa tuldoides (bambu-comum), Dendrocalamus giganteus (bambu-gigante ou bambu-balde) e algumas espcies de Phyllostachys.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    26/64

    25

    Figura 12 - Espcie de bambu comum no Brasil, Bambusa vulgaris vittata .Fonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    Os indgenas pr-colombianos foram os primeiros a utilizar o bambu na Amrica doSul, h cerca de 5.000 anos. A espcie mais utilizada a guadua angustiflia (Figura 13) , que possui crescimento rpido e fcil reproduo, atingindo sua altura definitiva nos primeirosseis meses de vida.

    Figura 13 - Guadua angustiflia, excelente para a construo civil.Fonte:KRAMER (1992).

    A Guadua, que rene aproximadamente 30 espcies, distingue-se das demais porseus caules robustos e espinhosos, pela aparncia esbranquiada na regio dos ns e por suasfolhas em forma triangular. Podem alcanar 30 metros de altura e 25 centmetros de dimetro. No Brasil podem ser encontradas algumas espcies de bambuGuadua , como exemplo, a

    Guadua weberbam, encontrada no Estado do Acre , e aGuadua paniculata, encontrada emSo Bartolomeu, Distrito Federal (FILGUEIRAS, 1988).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    27/64

    26

    2.4 DISTRIBUIO GEOGRFICA DO BAMBU

    O bambu encontrado em todos os continentes do mundo, com exceo da Europa.

    Porm, desde o sculo XIX, seu cultivo vem sendo introduzido na parte oeste da Europa, em pases como Espanha, Itlia e Portugal, atravs da China e Japo (OPRINS PLANT, 1997).Estas gramneas crescem em temperaturas entre 8 e 36 C, embora se desenvolvam melhorem regies tropicais e subtropicais.

    De acordo com Londoo (1991), no mundo existe um total de 90 gneros e 1.200espcies de bambus. Contudo muitas divergncias existem com relao a esta diversidade.Kumar (2002) relata uma existncia de mais de 1.575 espcies; Kaley (2000) cita o nmero de

    1200 espcies distribudas em 75 gneros e a NMBA (2004), 111 gneros e 1600 espcies.Uma das possveis razes para estas discordncias pode estar relacionada com o fato da flor eo fruto no estarem presentes em grande parte do material botnico coletado para aidentificao, devido aos grandes intervalos de florescimento que ocorrem em muitasespcies. Como estes dois rgos tm um grande nmero de informaes botnicas, as suasausncias poderiam levar a equvocos no processo de identificao. Uma outra explicao poderia estar associada prtica comum de propagao da espcie por clones. parte de uma

    planta que sofreu uma mutao e que foi posteriormente utilizada como propgulo, poderiadar origem a uma nova planta com algumas diferenas morfolgicas e ser consideradaerroneamente como uma nova espcie.

    No Novo Mundo existem 41 gneros e 440 espcies que se distribuem desde o Nortedo Mxico at o Chile, com uma s espcie no Sudeste dos Estados Unidos. Oitenta e cinco por cento dos bambus herbceos do mundo se encontram no Neotrpico. Distribuem-se desdeo Mxico at a Argentina, sendo o Brasil o pas mais rico em gneros e espcies. Estes

    bambus diferem dos lenhosos por terem colos herbceos, sistema simples de ramificao,sistema rizomtico simples, floraes frequentes, no cclicas, e crescem geralmente nos sub- bosques da selva tropical e subtropical abaixo dos 1.500 m de altitude (LONDOO, 2004).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    28/64

    27

    Figura 14 Centro de origem dos bambusFonte: LONDOO (2004).

    Na Amrica so encontrados 40% das espcies de bambus lenhosos do mundo,aproximadamente 320 espcies em 22 gneros; o Brasil o pas com maior diversidade, rene81% dos gneros (LONDOO, 2004). Os bambus lenhosos se caracterizam por ter rizomasfortes, bem desenvolvidos, brotos protegidos por folhas caulinares, completo sistema deramificao, lmina foliar decdua, floraes cclicas e monocrpicas e por se desenvolveremem locais abertos, so polinizados pelo vento (LONDOO, 2004).

    No Brasil, as espcies exticas mais comuns so: Bambusa vulgaris, Bambusatuldoides, Dendocalamus giganteus e algumas espcies de Phyllostachys. Essas espcies,todas de origem asitica, foram trazidas pelos primeiros colonizadores portugueses, posteriormente pelos orientais e difundiram-se facilmente pelo pas. Esta disperso ocorreu deforma to generalizada que muitos leigos acreditam ser nativa a espcie Bambusa vulgaris . ATabela 01 apresenta a distribuio das espcies de bambu nos principais biomas brasileiroscomo Mata Atlntica, Amaznia e Cerrado.

    Tabela 01 - Distribuio das espcies de bambus nos principais biomas brasileirosBIOMAS ESPCIES %

    Mata Atlntica 151 65Amaznia 60 26

    Cerrado 21 9

    Total 232 100Fonte:FILGUEIRAS e GONALVES (2004).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    29/64

    28

    2.5 O USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUO

    No setor da construo civil, o uso do bambu bastante difundido na sia e em

    outros pases da Amrica Latina, como Peru, Equador, Costa Rica e Colmbia, onde vriosexemplos de edificaes confirmam sua potencialidade. Para o uso do bambu e em grandeescala como matria de engenharia economicamente vivel se faz necessrio um estudocientifico sistemtico. Estes estudos devem contemplar tcnicas de cultivo, colheita, cura,tratamento e ps-tratamento, alm de uma completa anlise estatstica das propriedades fsicase mecnicas do colmo do bambu inteiro (GHAVAMI e MARINHO, 2001).

    Os colmos do bambu possuem excelentes propriedades fsicas e mecnicas que

    podem ser utilizadas em lugar do ao para fabricao de estruturas de concretos (GHAVAMI,2001). Diversos trabalhos foram conduzidos em vrios pases atestando a qualidade do bambucomo material para construo quando se considera as suas caractersticas fsicas e mecnicas.As propriedades mecnicas do bambu so fortemente afetadas pela idade, espcie e teor deumidade. Contudo, segundo Pereira (2001), o teor de fibras o principal responsvel pela suaresistncia. O bambu alcana sua resistncia mxima a partir dos trs anos quando atinge asua maturidade e colmos secos so mais resistentes do que os verdes. Existe um aumento na

    resistncia do colmo trao e compresso at os seis anos de idade e at oito anos naresistncia flexo, ocorrendo uma diminuio de todas estas caractersticas em colmos maisvelhos.

    Os povos asiticos mantm uma tradio milenar na utilizao do bambu,observando-se o surgimento e a perpetuao de vrias construes onde o material utilizado o bambu. Grande parte dos monumentos e edifcios que hoje so smbolos da arquiteturahindu, como o Taj Mahal (Figura 15), utilizou o bambu em suas estruturas. Devido sua

    flexibilidade e resistncia, foi utilizado na construo de arcos e abbadas.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    30/64

    29

    Figura 15 - Taj Mahal, ndia. As cpulas do monumento hindu foram feitas de bambuFonte: ENVOCARE, em: www.envocare.co.uk.

    Na China, o bambu foi utilizado para a construo dos primeiros prticos e tambm para pontes, conseguindo vencer vos superiores a 100m. So largamente utilizados para afabricao de mveis, artesanato e pequenas construes, como o quiosque em estilo orientalapresentado na Figura 16.

    Figura 16 - O uso do bambu na China em quiosques de estilo orientalFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    Em Bangladesh, pas com mais de 5 milhes de habitantes, 90% das habitaes sofeitas de bambu. De acordo com a NMBA (2004), um bilho de pessoas pelo mundo vivemem casas de bambu. Pases como a Colmbia, Equador e Costa Rica, utilizam este material para a construo de suas habitaes h milhares de anos. Logo, pases com um culturamilenar do bambu, detm as melhores tecnologias, como o caso da China, em seuaproveitamento industrial, e a Colmbia na construo civil.

    Na Colmbia, o bambu o material de origem vegetal empregado com maiorassiduidade, ultrapassando o uso da madeira. Entidades como a Sociedad Colombiana del

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    31/64

    30

    Bambu, desenvolvem srio e grandioso trabalho sobre os bambus, inserindo profissionaiscomo cientistas, engenheiros, arquitetos, industriais, artesos e agricultores, em conjunto comcorporaes autnomas, universidades e o governo federal do pas, em seus projetos. Pode-se

    observar atravs da Figura 17, importantes obras arquitetnicas de bambu na Colmbia.Inclusive, importante ressaltar que a Colmbia o pas que detm a melhor tecnologiaconstrutiva com o uso do bambu no mundo (Figura 18).

    Figura 17 - Vista noturna da Catedral de Bambu, Nuestra Seora de la Pobreza.Projeto do Arq. Simn Vlez, Colombia.Fonte: CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

    Figura 18 - Empresa Guadua y Bambu Eje Cafeteiro, de beneficiamento de bambuguadua, em Pereira, ColmbiaFonte: CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    32/64

    31

    Comumente o emprego do bambu em construo se faz de forma emprica, baseadogeralmente nos sistemas tradicionais estabelecidos em cada pas e que algumas vezes estoregidos por crenas e critrios errados, interferem na evoluo da arquitetura e na aplicao

    apropriada desse material (SALGADO et al, 1994). Entretanto, construes luxuosas,verdadeiras obras primas do ponto de vista arquitetnico, so construdas para atender umademanda cada vez maior de pessoas de alto poder aquisitivo. Vale neste caso ressaltar otrabalho do arquiteto Simon Vlez na Colmbia que pelo seu poder de emulao temdifundido o uso adequado do bambu na construo civil (Figura 19).

    Figura 19 - Edifcio sede da CARDER, Corporacin Autonoma de Risalda, com6.524 m2 construdos de guadua. Obra do Arq. Simon Vlez.Fonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    Na cidade de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, vemos a atuao dedois profissionais empregando o bambu na construo, Edson Sartori e Rubens Cardoso,engenheiro e arquiteto foram os organizadores do primeiro e do segundo Seminrio Regional

    sobre Utilizao do Bambu. No ano de 1999 construram, a pedido da Prefeitura de suacidade, o Memorial da Cultura Indgena no interior da prpria comunidade indgena,consistindo de duas ocas estruturadas por bambu e cobertas por fibra natural, como mostra aFigura 20.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    33/64

    32

    Figura 20 - Memorial do ndio, feito de bambu, Campo Grande - MSFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    2.5.1Propriedade fsicas e mecnicas do bambu

    a) Propriedades fsicas do bambu

    O bambu apresenta excelentes caractersticas fsicas e, segundo Ghavami; Marinho(2001), os colmos do bambu possuem caractersticas de leveza, fora, dureza, contedo defibras, flexibilidade e facilidade de trabalho, que so ideias para diferentes propsitostecnolgicos. A cor, a altura total, a distncia entre ns, o dimetro do mesmo e a espessura da

    parede, tudo isso depende da espcie e do perodo e idade do corte do bambu.Uma caracterstica fsica significante do bambu a sua higroscopia, ou seja, ele tem

    a capacidade de absorver umidade, sendo portanto, um material higroscpico. Assim, o bambu dilata-se com o aumento da umidade e contrai-se com a sua perda. Segundo Ghavami;Marinho (2001), a sua umidade natural varia entre 13 a 20%, dependendo do clima onde estinserido.

    O conforto trmico proporcionado pelas construes com bambu outra boacaracterstica que qualifica este material para a construo. Atravs de experimentos Ghavami(2001) comprovou que a condutividade trmica do bambu para uma transmisso de calorradial 15% menor do que para madeira, nas mesmas condies de umidade. Para umatransmisso de calor longitudinal, a condutividade 25% menor que na madeira.

    De acordo com Barbosa; Ghavami (2005), as propriedades fsicas do bambu demaior interesse para a engenharia so peso especfico, umidade natural, absoro de gua,

    variaes dimensionais e coeficiente de dilatao.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    34/64

    33

    O peso especfico interessa para se avaliar o peso prprio das estruturas de bambu; aumidade natural serve para se fazer correes de resistncia em relao umidade padro de12% ; a absoro e variaes dimensionais so necessrias para se verificar possveis

    mudanas de volume das peas de bambu. O coeficiente de dilatao trmica permite obter asvariaes de dimenses das peas de bambu (BARBOSA; GHAVAMI, 2005).

    b) Propriedades mecnicas do bambu

    Segundo Barros; Souza (2004), o uso de um determinado material na construo estcondicionado a questes como durabilidade e capacidade de suportar as solicitaes impostasdurante a vida til da obra. Assim, as propriedades mecnicas do bambu tambm so

    influenciadas pela espcie, idade de corte, teores de gua e umidade na composio e outros.

    Aps dois anos e meio de sada do solo, o bambu j possui resistncia mecnicaestrutura, sem comparao com outro vegetal. Estabelecido por forma tubular, estruturalmenteestvel, baixa massa especfica, geometria circular oca, estabelecida pela razo resistnciamecnica/massa do material, se obtm baixo custo de produo, facilidade de transporte etrabalhabilidade, implicando assim em reduzidos custos nas construes.

    A densidade dos bambus varia entre 500 a 800 kg.m-, dependendo principalmentedo tamanho, quantidade e distribuio dos aglomerados de fibras ao redor dos feixesvasculares. Estas diferenas so menores mais perto do topo, devido ao aumento da densidadena parte interna e reduo na espessura da parede, que apresenta internamente menos parnquima e mais fibra (PEREIRA, 2001).

    Em virtude da orientao das fibras serem paralelas ao eixo do colmo, o bamburesiste mais trao do que compresso. O mdulo de elasticidade varia em funo da

    posio do colmo. Nos ns, o valor do mdulo de elasticidade maior em virtude daconcentrao de slica. Na parte externa este valor cerca de 14% maior que na parte interna(GHAVAMI, 2001).

    Atravs de estudos feitos em relao resistncia compresso, em materiais comoa madeira e o concreto, observa-se que o bambu pode ser utilizado como elemento estruturalem substituio a estes materiais, chegando a fornecer melhores resultados em alguns casos.Porm, importante ressaltar que, tratando-se de peas sujeitas compresso, no bastarealizar uma anlise baseada apenas no limite de resistncia do material, o qual independente do tamanho e geometria da estrutura. Nesse caso, preciso levar em conta a

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    35/64

    34

    esbelteza do elemento estrutural, verificando a possibilidade do mesmo falhar por flambagem(GONALVES, 1994).

    O bambu tambm capaz de substituir, com vantagens, elementos estruturais demadeira quando seus dimensionamentos esto condicionados capacidade do material deresistir a esforos cisalhantes. Ghavami; Marinho (2001) realizaram estudos em relao resistncia ao cisalhamento longitudinal s fibras em corpos de prova de bambu, obtendovalores em torno de 8MPa e 32MPa, respectivamente.

    2.5.2Propriedades construtivas do bambu Cada vez mais vem crescendo a procura de outros materiais para construo devida

    principalmente a escassez e a valorizao de espcies arbreas como a madeira. O bambuapresenta excelentes qualidades que o tornam um material bastante propcio para a construocivil. Ele pode substituir a madeira e o ao na concretagem. Pode ser utilizados em quase tudona construo, da fundao ao telhado.

    Comparando o bambu com outros materiais como o ao, a madeira e o concreto, o bambu se mostra vantajoso, pois mais econmico e consome menos energia para sua

    produo, conforme a Tabela 02.

    Tabela 02 - Relao entre a energia de produo por unidade de tenso.

    MATERIAL BAMBU MADEIRA CONCRETO AOMJ/M/MPA 30 80 240 1500

    Fonte: GHAVAMI (1992).

    De acordo com a Tabela 02, o bambu o material em que se gasta menos energia nasua produo, seguido pela madeira, pelo concreto e o ao, sendo que este ltimo consomeuma energia 50 vezes maior que o bambu. A Tabela 03 mostra a relao entre a resistncia, atrao e o peso especfico para alguns materiais. Observa-se que o bambu apresenta um valormaior para esta relao, o que torna vantajoso seu emprego na construo civil.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    36/64

    35

    Tabela 03 - Relao entre a resistncia a trao e o peso especfico.

    MATERIALRes. Trao1(N/mm2)

    Peso Especfico(N/mm2x 10 -2) R = 1.10

    R/Rao

    Ao(CA50A) 500 7,83 0,63 1,00 (ref.)Bambu 140 0,8 1,75 2,77

    Alumnio 304 2,7 1,13 1,79Ferro Fund. 281 7,2 0,39 0,62

    Fonte: GHAVAMI (1992).

    O bambu pode ser utilizado em combinao com vrios outros tipos de materiaiscomo o concreto, o tijolo aparente, a madeira (nos encaixes), telhas de barro, argamassa derebocos e outros.

    Uma das dificuldades encontradas ao se executar construes com o bambu, que omesmo no totalmente uniforme. Isso acaba por dificultar solues totalmente retilneas naconstruo civil. No entanto, isto no cria um empecilho, j que a sua vantagem econmica,sua leveza e durabilidade compensam esse problema.

    2.5.3Ensaio de resistncia trao, compresso e cisalhamento interlaminar do bambu

    Guadua angustif li a

    Segundo Ghavami e Marinho (2005), determinaram-se as resistncias trao,compresso e cisalhamento interlaminar das partes basais, centrais e superiores (topo) do bambuGuadua angustiflia. Para cada parte acima citada, foram ensaiados trs corpos-de- prova sem n e trs com n. Os ensaios foram realizados de acordo com as normas doInternacional Network on Bamboo and Rattam (1999), utilizando-se trs colmos. Paradeterminar a deformao do bambu nos ensaios de compresso, foram colocadosextensmetro tipo L em uma das faces do corpo-de-prova. No ensaio, o corpo-de-prova fixado na mquina INSTRON 500, a qual conectada ao computador e ligada ao Vischay,que um indicador de deformao analgico manual. Para cada carga aplicada a umavelocidade de 0,05 mm.min- e incremento de 10kgf, lem-se as deformaes longitudinais etransversais s fibras do bambu. A Figura 21 (A, B e C) apresenta as caractersticas doscorpos-de-prova utilizados.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    37/64

    36

    Figura 21 Caractersticas dos corpos-de-prova para ensaios de A- Trao, B- Compresso e C-Cisalhamento interlaminarFonte: GHAVAMI e MARINHO (2005).

    Os valores de resistncia trao, mdulo de elasticidade e coeficiente de Poisson da parede do colmo do bambuGuadua angustiflia , esto apresentados na Tabela 04.

    Tabela 04 - Resistncia trao, mdulo de elasticidade e coeficiente de Poisson das partes basal, centro e topo, com e sem n, do bambuGuadua angustiflia. Parte dobambu

    Resistncia trao t(Mpa)

    Mdulo Elasticidade E(Gpa)

    Coef. Poisson

    Base sem n 93,38 16,25 0,19Base com n 69,88 15,7 -

    Centro sem n 95,8 18,1 0,25Centro com n 82,62 11,1 -Topo sem n 115,84 18,36 0,33Topo com n 64,26 8 -Valor mdio 86,96 14,59 0,26

    Variao 64,26-115,84 8,0-18,36 0,19-0,33Fonte: GHAVAMI e MARINHO (2005).

    Na Tabela 04, pode-se observar que o bambu atinge uma resistncia mdia traode 86,96 Mpa. No geral, a parte central apresenta maior resistncia; 95,80 Mpa no corpo-de- prova sem n e 82,62 Mpa no corpo-de-prova com n. Nas regies com n, a resistnciadiminui devido descontinuidade das fibras nesses pontos, seguindo a direo do n. Como jocorrido em outros ensaios, os corpos-de-prova sempre rompem no n ou bem prximo a ele.

    A regio do topo, sem n, apresenta maior valor de resistncia trao, 115,84 Mpa; pormno corpo-de-prova com n se obteve menor resistncia, 64,26 Mpa.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    38/64

    37

    No bambu em estudo, o mdulo de elasticidade longitudinal s fibras variou de 11,10GPa a 18,36 GPa, com valor mdio de 15,11 GPa e com maiores valores obtidos sempre noscorpos-de-prova sem n. O coeficiente de Poisson mdio foi de 0,26, aumentando da base

    para o topo.

    Os resultados obtidos para resistncia compresso, mdulo de elasticidade ecoeficiente de Poisson das partes basal, central e topo, esto apresentadas na Tabela 05.

    Tabela 05 - Resistncia compresso, no mdulo de elasticidade, coeficiente de Poisson das partes basal, central e topo, com e sem n, do bambuGuadua angustifolia

    Parte dobambu

    Resistncia trao t(Mpa)

    Mdulo Elasticidade E(Gpa)

    Coef. Poisson

    Base sem n 28,36 14,65 0,27Base com n 25,27 9 0,56Centro sem n 31,77 12,25 0,36Centro com n 28,36 12,15 0,18Topo sem n 25,27 11,65 0,36Topo com n 31,77 15,8 0,33Valor mdio 29,48 12,58 0,34

    Variao 25,27-34,52 9,00-15,80 0,18-0,56Fonte: GHAVAMI e MARINHO (2005).

    De acordo com a Tabela 05, observa-se que a resistncia compresso , em geral,trs vezes menor que a resistncia trao. A resistncia mdia foi de 29,48 Mpa,aumentando da base para o topo. O valor mximo da tenso ocorreu na parte do topo, sendoigual a 34,52 Mpa para o corpo-de-prova sem n, e de 29,62 MPa com n. Na base, este valorcaiu para 25,27 Mpa no corpo-de-prova com n e 28,36 Mpa sem n. A mdia do mdulo deelasticidade longitudinal s fibras foi de 12,58 GPa, variando de 9,00 GPa na base a 15,80GPa na regio do topo, ambos em corpos-de-prova com n. O coeficiente de Poisson mdioobtido no ensaio de resistncia compresso foi de 0,34.

    Os resultados mdios da resistncia ao cisalhamento interlaminar para os corpos-de- prova localizados na base, centro e topo do bambuGuadua angustiflia, so apresentados naTabela 06.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    39/64

    38

    Tabela 06 - Resistncia ao cisalhamentointerlaminar do bambu Guadua angustifoliaParte do colmo Tenso de cisalhamento (Mpa)

    Base sem n 2,198Base com n 1,668

    Centro sem n 2,272Centro com n 1,433Topo sem n 2,421Topo com n 2,113Valor mdio 2,017

    Fonte: GHAVAMI e MARINHO (2005).

    Os valores foram obtidos a partir da mdia de trs ensaios. Na Tabela 06, observa-seque os valores aumentam da base para o topo, sendo que no topo a resistncia ao cisalhamentofoi de 2,42 Mpa para o corpo-de-prova sem n e 2,11 Mpa para o corpo-de-prova com n. Na base, esses valores foram 2,20 Mpa sem n e 1,67 Mpa com n, respectivamente. Observa-seque, nos corpos-de-prova sem n, a resistncia maior e se mantm quase uniforme nas trs partes do comprimento do colmo; j nas partes com n, resistncia menor e os valoresvariam muito.

    2.5.4 Ensaios de arrancamento e de empuxamento aplicados a taliscas de bambuencravadas em corpo-de-prova de solo-cimento

    Segundo Lopes et al. (2002), os ensaios de arrancamento e de empuxamento foramrealizados em Mquina Universal de Ensaio Dinatest, adotando-se velocidade decarregamento de 2N.s-. Para se medir os deslocamentos do bambu, utilizaram-se relgioscomparadores, aferidos, de sensibilidade 0,01mm, fixados com auxlio de base magntica.

    Com a mistura solo-cimento foram moldados corpos-de-prova em formas metlicascilndricas, de dimetro igual a 15 cm, por 30 cm de altura, conforme mostrado na Figura 22.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    40/64

    39

    Figura 22 Etapas de compactao (A), nivelamento (B) e processo de cura (C) dos corpos-de-prova para o ensaio de arranchamentoFonte: LOPES et al, (2002).

    No ensaio de arrancamento, a garra superior da mquina de ensaio prendia a taliscade bambu, puxando-a para cima e exercendo, assim, uma fora de arrancamento, de tal modo

    a forar o bambu a se deslocar do solo-cimento (Figura 23 A); j no ensaio de empuxamento ocorpo-de-prova foi fixado do mesmo modo que no ensaio de arrancamento, sendo a talisca de bambu empurrada para cima, pela parte inferior da prensa, provocando tambm umescorregamento da talisca dentro do solo-cimento (Figura 23 B). A tenso aplicada foivisualizada atravs do manmetro da prensa e o deslocamento foi obtido com auxlio derelgio comparador, fixado prensa atravs de base magntica, onde foram realizadasmedidas a cada 1KN de carga aplicada.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    41/64

    40

    Figura 23 Ensaio de arrancamento (A) e empuxamento (B)Fonte: LOPES et al, (2002).

    Obteve-se o valor da resistncia de aderncia pela diviso do valor da fora mximade arrancamento pela rea lateral de contato entre o bambu e o solo-cimento, regio onde sedesenvolve a fora de atrito, conforme frmula abaixo. A rea de contato corresponde aovalor do permetro de rea da talisca encravada, multiplicando pela profundidade de

    ancoragem correspondente (10, 20 ou 30 cm). = P/(2l + 2e) h10

    em que: - resistncia de aderncia, MPaP - fora, kgfl - largura da talisca de bambu, cme - espessura da talisca de bambu, cmh - profundidade de ancoragem, cm

    Da mesma forma que o ensaio de arrancamento, a resistncia de aderncia no ensaiode empuxamento foi obtida dividindo-se a fora mxima de arrancamento pela rea lateral datalisca de bambu ancorada no solo-cimento, utilizando-se a mesma frmula anterior,considerando, porm, a altura a 10 cm (comprimento da talisca efetivamente ancorada nosolo-cimento).

    Os dados da resistncia ao arrancamento (resistncia de aderncia) em MPa, dastaliscas de bambu encravadas no solo-cimento, em funo dos tratamentos aplicados e das

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    42/64

    41

    profundidades de ancoragem consideradas para o ensaio de arrancamento, esto apresentadosna Tabela 7.Tabela 7 - Resistncia ao arrancamento de taliscas de bambu em solo-cimento (ensaio de

    arrancamento)

    Tratamentos

    Resistncia ao Arrancamento (Mpa)Profundidade de Ancoragem (cm)

    10 20 30 MdiaCom asfalto (AA) 0,94 0,14 0,84 0,16 0,52 0,02 0,77 0,22 bSem asfalto (TT) 1,33 0,15 1,37 0,13 0,74 0,13 1,19 0,31 aMdia 1,13 0,25 a 1,10 0,32 a 0,61 0,14 b*Mdia de 3 repeties, na mesma coluna ou mesma linha, seguidas da mesma letra, no diferemestatisticamente pelo teste de Duncan (p>0,05)Fonte: LOPES et al, (2002).

    Constatou-se, na avaliao da resistncia de aderncia do ensaio arrancamento, queno houve interao (p > 0,05) entre os fatores tipos de tratamento (com e sem asfalto) e profundidade de ancoragem (10, 20 e 30 cm). O valor da resistncia foi maior (p < 0,01) noscorpos-de-prova sem asfalto que naqueles em foi utilizada a impermeabilizao de emulsoasfltica mais areia, com valores, respectivamente, de 1,19 e 0,77 MPa.

    No ensaio de empuxamento , ao contrrio do esperado, profundidade de ancoragemde 30 cm, tanto para os tratamentos com asfalto (AA) como para os sem asfalto (TT), foram

    observados valores inferiores aos correspondentes as profundidades de ancoragem de 10 e 20cm (p < 0,05) devido ao fato das taliscas de bambu se romperem nos ns, antes mesmo desofrerem deslizamento.

    A hiptese no comprovada mais plausvel para explicar tal comportamento a deque as taliscas de bambu se romperam nos ns porque a resistncia de aderncia do bambu namatriz de solo-cimento foi maior que a resistncia trao do prprio n.

    Os dados referentes resistncia ao arrancamento (em MPa) e fora dearrancamento (em N) das taliscas de bambu encravadas no solo-cimento, para o ensaio deempuxamento, esto apresentados na Tabela 8.Tabela 8 - Resistncia ao empuxamento e fora de empuxamento com respectivos desvios- padres em ensaio de empuxamento, de taliscas de bambu encravadas em solo-cimento

    Tratamentos Resistncia ao Empuxamento (Mpa) Fora de Empuxamento (N)Sem asfalto (TT) 1,81 0,32 a 10,100 0,1852 a

    Com asfalto(AA) 1,38 0,16 a 9,267 0,896 a

    *Mdias na mesma coluna, seguida da mesma letra, no diferem estatisticamente pelo teste de Tukey(p>0,05)Fonte: LOPES et al, (2002).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    43/64

    42

    No ensaio de empuxamento , os resultados encontrados mostraram que no houvediferena significativa (p>0,05) da resistncia ao arrancamento, entre as taliscas tratadas comemulso asfltica mais areia (1,81 MPa) e as que no receberam tratamento (1,38 MPa); no

    ocorreu, tambm, diferena significativa entre as foras aplicadas para os dois tratamentos,que foram de 10,100 N para as taliscas sem tratamento impermeabilizante e de 9,267 N paraaquelas que receberam tratamento de emulso asfltica mais areia.

    Os resultados dos dois ensaios esto em consonncia com os relatados por Lima Jr. etal. (1996) que concluram ser o bambu, em estado natural, o que apresenta maior resistnciaao deslizamento, estando o mau desempenho do tratamento asfalto mais areia associado aocisalhamento do material impermeabilizante. Sob o ponto de vista do aumento de aderncia,

    Argolo Ferro & Freire (1995) no encontraram valores estatisticamente diferentes entre osvrios tratamentos aplicados s taliscas de bambu, encravadas em concreto,independentemente do tratamento aplicado ou da profundidade de ancoragem adotada.

    No entanto, Salgado (2000) observou que a extrao de uma talisca de bambu tratadacom alcatro e areia, encravada em corpo-de-prova de concreto, exige maior fora dearranchamento que as taliscas sem qualquer tratamento fsico ou tratadas apenas com ranhurasna casca. O autor salientou, ainda, que a camada de alcatro no deve ser muito espessa, para

    no prejudicar a aderncia ao concreto, quando submetido a uma fora de arrancamento.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    44/64

    43

    2.6 USO DO BAMBU NA CONSTRUO

    Com relao aos possveis usos do bambu, a planta possui aspectos bastante

    admirveis na sua aplicao, que justificariam plenamente a ateno do setor produtivo emmuitos pases. Uma listagem de 1903, publicada no Japo, apresentou 1.048 artigos de uso prtico na poca utilizando bambu (LIESE, 1985). Hoje apesar de se ignorar o nmero totalde exemplos significativos de utilizao do material, constata-se grande desempenho deaplicao, quer seja tradicional ou de potencial de uso industrial.

    A cada um deles, entretanto, pode ser referenciado um modo de produo especfico,com caractersticas singulares. A seguir mostram-se as principais utilidades do bambu nas

    reas de construo aplicadas tambm ao meio rural.

    Na construes de casas, de grande importncia na soluo de problemas de moradiaque, do tradicional uso rural at os projetos de desenvolvimento social, o bambu pode seraplicado na execuo de elementos construtivos, tais como painis de fechamento, tetos,forros, esquadrias, telhados, fabricao de compensados ou aglomerados e construes de pontes. Espcie utilizada por ordem de preferncia, a Bambusa guadua, Dendrocalamus giganteus, Bambusa tuldoides e Bambusa vulgaris . Por seu baixo custo, e fcildisponibilidade tem sido utilizado particularmente pela gente de poucos recursos econmicos,na Amrica Latina e nos pases Asiticos, que o emprega em qualquer tipo de construo.

    comum a utilizao de outros materiais juntamente com o bambu, utilizados nacomposio do projeto arquitetnico ou simplesmente na unio ou encaixe de peas de bambu. Os principais materiais utilizados nesta composio so o concreto, o tijolo macio, amadeira, telhas cermicas e outros. Na residncia apresentada na Figura 24, pode-se observara composio do bambu com o tijolo aparente, tcnica utilizada na Colmbia.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    45/64

    44

    Figura 24 - Casa de bambu e tijolo aparente: composio de materiais distintos.Fonte: SOCIEDAD COLOMBIANA DEL BAMBU (2001).

    Alguns dos principais elementos construtivos que compem as habitaes

    econmicas sero descritas a seguir.

    2.6.1 PilaresO bambu utilizado como pilar nas edificaes, e por ser um material bastante

    resistente, suporta construes de vrios pavimentos, por vrios anos. A base do pilar de bambu deve ser feita obedecendo regra de no coloca-lo em contato direto com o solo.Assim, necessrio utilizar blocos de concreto ou de outro material, como base para a proteo do bambu contra umidade dos solos e pisos (FREIRE e BERALDO, 2003).

    As casas construdas de bambu so erguidas do cho, isolando-as do contato diretodo solo, como dito anteriormente, e sua durabilidade afetada no seguindo regras comoestas. Assim, os pilares de bambu do edifcio so apoiados em bases de concreto, distanciandoo bambu da umidade. Pode-se observar, na Figura 25, a estrutura da casa de bambu apoiadaem bases de concreto.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    46/64

    45

    Figura 25 - Pilares de bambu apoiados em bases de concretoFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    Os pilares so feitos da parte mais importante do bambu, ou seja, da parte mdia parte inferior do colmo. Estes so constitudos por ns internos que se alternam ao longo docomprimento dos colmos. Segundo Freire; Beraldo (2003), os ns conferem ao colmo maiorresistncia estrutural, proporcionando maior resistncia aos pilares.

    Para garantir a utilizao de colmos de boa qualidade nos pilares, necessrio que ostenham atingido maturidade e que todos os cuidados necessrios, em relao imunizao earmazenamento destes colmos, tenham sido tomados. O bambu usado em estruturas como pilares, tem a capacidade de absorver alta energia, apresentando-se seguro e indicado para usoem zonas com frequncia de abalos ssmicos (FREIRE e BERALDO, 2003).

    As Figuras 26 e 27 apresentam tipos de pilares de bambu empregados emconstrues.

    Figura 26 - Pilares de bambu com base de concreto. Coreto Jayme Kerbel Golubov,Praa da Colina, rea residencial do Campus UnBFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    47/64

    46

    Figura 27 - Pilares de bambu. Centro de Desarrollo Artesanal de Risalda, Colmbia

    Fonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.2.6.2 Vigas e treliasAs vigas e trelias construdas com o uso dos bambus, tambm so realizadas com

    muito esmero por quem conhece esta tcnica construtiva. So altamente resistentes eapresentam alta resistncia mecnica e espacial (FREIRE; BERALDO, 2003).

    Como estrutura, as vigas e trelias de bambu conferem alto grau de eficcia emregies que possuem abalos ssmicos peridicos, como mencionados no item sobre pilares.

    A largura de vigas e arcos varia de acordo com o comprimento. Com o bambulaminado podem ser fabricados todos os tipos de arcos que so construdos em madeira, podendo assim produzir os diversos modelos de vigas desejados.

    Como pode ser visto nas Figuras 28 e 29, existem muitas possibilidades para aconstruo de vigas, embora o indicado para cada pea seja em torno de 3 metros, pois quantomais longas as trelias podem apresentar deflexes em relao a sua altura, o que varia entre40 a 50 cm (FREIRE; BERALDO, 2003).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    48/64

    47

    Figura 28 - Laje feita de bambu em edificao de dois pavimentosFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    Figura 29 - (a) e (b) Trelia plana (viga), construda na Terra Indgena dos Krah,TOFonte: CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

    2.6.3 Painis de vedao verticalO bambu na forma de painel de vedao pode ser constituir-se de varas verticais ou

    ripas inseridas em molduras, podendo ser de bambu ou de madeira, dependendo danecessidade ou preferncia. Alm disso, os painis de vedao feitos de bambu podem ser preenchidos com barro ou podem ser argamassas simplesmente. Estes painis so de grandeflexibilidade, de fcil execuo e passveis de futuras ampliaes. A Figura 30 apresenta um

    dos vrios tipos existentes de painel, feito com esterilhas de bambu, aplicado em habitaeseconmicas.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    49/64

    48

    Figura 30 - Painis de bambu para vedao vertical das habitaesFonte: CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

    2.6.4 Estruturas de telhado possvel construir vrias estruturas de telhados utilizando o bambu como principal

    material, na forma de tringulos, arcos etc, assim pode-se valorizar a estrutura, aliando-se a preocupao esttica ao mtodo construtivo.

    O arquiteto Simn Vlez utiliza o bambu e domina a tcnica construtiva para acriao de complexas estruturas de telhado, um dos elementos construtivos predominantes ede maior destaque nas obras de Vlez. H uma variedade de formas e estruturas de telhados,como por exemplo, cilndricos e elpticos. Assim, o bambu pode ter muitas aplicaes naconstruo de telhados, preconizando pelas formas e solues em suas aplicaes, como podeser observado nas Figuras 31 e 32.

    Figura 31 - Estrutura de telhado, tendo o bambu como principal material de construoFonte: VLEZ (2002).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    50/64

    49

    Figura 32 - Estrutura de bambu criada pelo arquiteto Simon Vlez, na ColmbiaFonte: VLEZ (2000).

    2.6.5 Telhas

    possvel se produzir telhas feitas de bambu, que constituem um elemento a mais naconstruo de habitaes. As telhas devem ser amarradas umas s outras com aramegalvanizado, evitando que o vento as tire do lugar. A figura 33 apresenta um exemplo deaplicao de telhas de bambu em uma habitao.

    Figura 33 Telhas de bambuFonte: VLEZ (2000).

    2.6.6 Escadas artesanaisO bambu um elemento que pode ser utilizado na construo de escadas,

    demonstrando resistncia, praticidade na execuo, segurana e excelente efeito esttico.As escadas feitas de bambu so apoiadas em estruturas de outros materiais,

    geralmente de concreto, propiciando um menor contato com o solo, visto que a umidade podediminuir significante a sua vida til. A Figura 34 mostra uma escada de bambu executada de

    maneira no recomendvel, deixando o material em contato direto com o solo. Assim, oscolmos devero apodrecer mais rapidamente, pois favorecem o ataque de fungos e insetos.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    51/64

    50

    Figura 34 - Escada de bambu construda de maneira no recomendada, permitindo o contato do bambucom o solo.Fonte:KRAMER (1992).

    As escadas, entretanto, podem ser feitas de bambu desde que alguns cuidados sejamobedecidos (Figura 35). Na juno dos degraus podem ser utilizados elementos metlicos,fibras naturais, etc, que contribuem com a ligao e estruturao das escadas de bambu.

    Figura 35 - Escada de bambu, projeto da Arq. Ana Maria Frana, em Goinia, feita sobre base de

    concreto, evitando o contato direto dos colmos com o solo.Fonte: CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    52/64

    51

    2.6.7 Ligaes e conexes de bambuO tema das ligaes dos bambus, seja com os prprios bambus ou com outros

    materiais, vem sendo estudado cada vez mais por pesquisadores sobre o tema, a fim deviabilizar sua aplicao de forma sistematizada em edificaes, principalmente em habitaeseconmicas.

    De acordo com Lpez (1974), o bambu tem baixa resistncia ao cisalhamentodevendo ser considerado no desenho arquitetnico das juntas. A presena dos ns nas ligaesaumenta em 50% a resistncia ao cisalhamento, atingindo um valor mdio de 1,67 MPa.

    O bambu no tem boa resistncia s pregaes, devido a sua constituio

    basicamente composta por fibras paralelas muito longas, com densidade especfica muitoaltas, principalmente nas paredes externas, com grande tendncia ao cisalhamento. Asligaes mais recomendadas so parafusadas, por proporcionarem maior estabilidade, como pode ser observado nas Figuras 36, 37 e 38. Este procedimento provoca um corte nas fibras porm, sem provocar o afastamento das mesmas evitando-se assim o fendilhamentolongitudinal (FREIRE; BERALDO, 2003).

    Figura 36 - Conexes das peas de bambu atravs do parafusamentoFonte: VLEZ (2002).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    53/64

    52

    Figura 37 - Conexes das peas de bambuFonte: VLEZ (2002).

    Figura 38 - Unio de peas de bambu com peas do prprio bambu.Fonte:CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

    Muitas das conexes, alm da funo prtica que desempenham, tambm tm um

    valor esttico intrnseco. O espectro varia de acordo com os diferentes mtodos decombinao empregados nas construes, podendo apresentar conexes paralelas, conexesortogonais ou juntas.

    De acordo com o uso e a necessidade da ligao, podem-se criar diversas formas deconvergir os pontos das canas de bambu. Em outras construes tradicionais de bambu,cordas, fibras de coco, de palha e outros materiais so amarrados nas junes, cobrindo asconexes, como mostra a Figura 39. So utilizados ainda elementos de ferro, madeira ou

    outros materiais para unir o bambu, ficando estes aderidos s construes.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    54/64

    53

    Figura 39 - Detalhe de amarrao da conexo de bambu, com fibras naturais.Fonte: CD-Rom cedido por Luis Fernando Botero.

    Inspirado em usos tradicionais, o arquiteto Simn Vlez desenvolveu uma tcnicaque traz as juntas de bambu em edifcios de alta tecnologia. Considerando que o bambu temuma enorme resistncia trao, Vlez desenvolveu sistema para construes sujeito

    vetores elsticos. Primeiro, as sees no fim do bambu so ligadas e preenchidas comconcreto, e no concreto inserem-se elementos de metal. As partes que usam as ligaes demetal ento podem ser conectadas. Por conseguinte, uma proporo alta da fora adquirida etransferida s paredes, e o processo de lascamento, que normalmente acontece nas canas ocas, evitado, aliando esforos tradicionais aos usos tecnolgicos modernos (Figuras 40 e 41).

    Figura 40 - Tcnica construtiva de ligao do bambu com bases de concreto, atravs de peas

    metlicasFonte: VLEZ (2002).

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    55/64

    54

    Figura 41 - Detalhe da ligao dos bambusFonte: VLEZ (2002).

    O bambu mostrou bastante diversidade no uso das construes, abaixo estorelacionados construes utilizadas no meio rural fazendo o uso do material.

    2.6.8 Construes de galpesOutra aplicao que o bambu poder nos servir a construo de galpes que pode

    ter diversas utilidades, como; alojar animais, proteo para maquinrios e equipamentosagrcolas e armazenar gro e forragem. Na construo de um galpo pode-se ser feito desde

    modelo simples no processo construtivo aos mais complexos. O importante que todaestrutura seja feita com todos os cuidados que se tem para qualquer construo.

    Figura 42 - Galpo construdo com estrutura de Bambu e conexes metlicasFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    56/64

    55

    2.6.9 Casa de vegetao, viveiro e abrigo de animaisUma das grande possibilidades da aplicao do bambu nas construes rurais na

    utilizao de estruturas para casa de vegetao ou viveiros. Acredita-se que seja uma das mais

    promissoras aplicaes, pois o alto custo na aquisio de estufas convencionais dificulta oacesso ao homem do campo a essa tecnologia. O importante papel da casa de vegetao emuma propriedade est na implantao de cultivos protegidos e na produo de mudas parainteresse econmico (venda) e ambiental (reflorestamento). Essa bioconstruo pode ajudarao homem do campo a produzir mudas de qualidade e como consequncia ajudar na retomadade ambientes ecolgicos em suas propriedades rurais.

    Figura 43- Estufa Ecolgica desenvolvida pelo CPRAFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva

    Figura 44 - Estufa agrcola para cultivo foradoFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    57/64

    56

    2.6.10 CercasA mais comum das aplicaes do bambu nas construes e instalaes rurais est na

    construo de cercas. O bambu possui diversas formas na elaborao desse tipo de

    construo. Podem-se construir na forma de quadriculas, losngulos, fileiras, etc.

    Figura 45 - Cerca em forma de losngulo; Cerca em forma de quadriculas; Cerca em formade fileirasFonte: CR-Rom cedido por Roberto Magno de Castro e Silva.

    2.6.11 Postes de concreto armado com tiras de bambuA fabricao de postes para cercas tiveram excelentes resultados de desempenho,

    sendo muito apropriado para a zona rural. O bambu apresenta caractersticas fsicas que nosincentiva aplicao como substituto do ao no concreto em estruturas mdias, atendendo muitas necessidades no meio rural.

    Suas propriedades na compresso esto semelhantes ao concreto convencional e natrao pode-se considerar como 1/5 do ao CA 50. As variaes das resistncias das fibras do bambu sero de acordo com a posio na parede do colmo, sendo que as mais resistentes estona parte externa, segundo anlises j realizadas SALGADO et al. (1994).

    A eficincia do bambu nas peas flexo, segundo ALVES et al. (2003) foi de 13%aos sete dias de idade e 90% aos vinte e oito dias. Na compresso no houve contribuio at porque as resistncias so semelhantes.

    As frmas podem ser de chapas de ao desmontveis se houver interesse de grandes produes por que neste caso fica mais barato que as de madeirite resinado, alm de outrasvantagens, tais como: acabamento, uniformidade e poder se usar cura trmica.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    58/64

    57

    Figura 46 - Frma de madeira com as armaduras prontas para concretagemFonte: Cd-Rom cedido por Roberto Magno Castro e Silva.

    Figura 47 - Aspecto do poste aps sete dias de cura mida e j pronto para usoCd-Rom cedido por Roberto Magno Castro e Silva

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    59/64

    58

    3 CONSIDERAES FINAIS

    O bambu considerado como um importante agente da preservao da natureza,

    responsvel pela proteo dos solos contra a eroso e apontado como uma das plantas quemais consome gs carbnico da atmosfera. Com isso, garante ostatus de planta com maiorndice de sustentabilidade de todo o reino vegetal.

    Com base na reviso literria apresentada no trabalho sobre os bambus utilizadoscomo material de construo, constatou-se que um material vivel e adequado tanto do ponto de vista ecolgico quanto construtivo haja vista suas caractersticas fsicas, mecnicas econstrutivas, podendo substituir materiais convencionais.

    Sua estrutura oca e circular, fazem do bambu um material leve, fcil de sertransportado e armazenado, permitindo a construo de pequenos e grandes projetos sendoeles usados no meio rural. Trata-se de um material de baixo custo e de fcil propagao nossolos brasileiros, sendo este usado combinado com outros materiais como o concreto oumadeira, ou substituindo materiais industrializados.

    O bambu uma matria prima com grande potencial para a melhoria da qualidade dahabitao rural brasileira. So muitos os moradores da zona rural que, mesmo dispondo destematerial em suas propriedades, se privam de uma moradia adequada por desconhecimento dasmelhores tcnicas de construo com bambu. O bambu tem infinitas possibilidades de uso nomeio rural.

    Acredita-se que, pelas suas caractersticas biolgicas, fsicas, mecnicas e tambm pela diversidade de espcies e aplicaes, o bambu possa se tornar uma material alternativo para o prximo sculo, especialmente devido j a quase extino das nossas madeiras.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    60/64

    59

    4 REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS

    ALVES, J. D.Concreto Armado com bambu.Instituto Euvaldo Lode. Gois,2003.

    ALVES, J. D. Influncia das fibras nas propriedades do concreto. In: IBRACON Instituto Brasileiro do Concreto, 18 Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural.Salvador, 1976.

    ARGOLLO FERRO, A.M; FREIRE, W.J.Aderncia entre bambu e concreto: teste dearrancamento com taliscas deBambusa tuldoides . In: Encontro Brasileiro em Madeiras e

    em Estruturas de Madeira, 5, 1995, Belo Horizonte. Anais...Belo Horizonte: IBRAMEM, v.2, p.389-398. 1995.

    AZZINI, A. ; PETTINELI JUNIOR, A. ; SANTOS, R. L.Bambu material alternativo paraconstrues rurais. Instituto Agronmico de Campinas, 18p. SP, 1997.

    AZZINI, A. ; SALGADO, A. L. de B.Conservao do Bambu. O Agronmico, Campinas,

    46 (1-3), 1994.

    AZZINI, A. Aspectos agronmicos da produo do bambu industrial. O Papel, SoPaulo, 41(nov.): 87-95. 1980.

    BARROS, B. R. de ; SOUZA, F. A. M. de.Bambu: alternativa construtiva de baixoimpacto ambiental. In: I Conferencia Latino-Americana de Construo Sustentvel, So

    Paulo, 2004.

    BARBOSA, N. P. ; GHAVAMI, K.Bambu como material de construo.(Artigo tcnico)Departamento de Tecnologia da Construo Civil, Centro de Tecnologia. Programa de Ps-graduao em Engenharia Urbana, UFPB. Joo Pessoa, 2005.

    BOTERO, L. F.CD-ROM: Aplicacoes do bambu na Colmbia.Bogot, 2005.

    CHINA NATIONAL BAMBOO RESEARCH CENTER (CBRC).Cultivation & Integrated

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    61/64

    60

    utilization on bamboo in China. CBRC, Hangzhou, China, 2001.

    ENVOCARE. Taj Mahal and water. Disponvel em: www.envocare.co.uk. Acesso em:

    Outubro de 2012.

    FILGUEIRAS, T. S. Bambus nativos do Distrito Federal, Brasil (gramineae:bambusoideae ). Revista Brasil. Bot. 11:47 66. 1988.

    FILGUEIRAS, T. S. ; GONALVES, A. P. S.A checklist of the basal grasses andbamboos in Brazil (Poaceae). Bamboo Science & Culture. The journal of the American

    bamboo Society. Vol. 18. Califrnia, USA, 2004.

    FREIRE, W. J.; BERALDO, A. L.Tecnologias e materiais alternativos de construo.Campinas: Ed. da UNICAMP, 2003. 319 p.

    FREIRE, W. J.; BERALDO, A. L.Tecnologias e materiais alternativos de construo.Campinas: Ed. Da UNICAMP, 2003. 319p.

    GHAVAMI, K. et al.Viabilidade de trelia espacial de bambu.Relatrio interno,Departamento de Engenharia Civil PUC/ RJ. 1994.

    GHAVAMI, K. Bambu: um material alternativo na engenharia. Construo Civil /Pesquisa, ENGENHARIA, N 492, p. 23 27, 1992.

    GHAVAMI, K.Bambu: um material alternativo na engenharia. Engenharia n.492, p.23-27. 2001.

    GHAVAMI, K. e MARINHO, A.B.Determinao das propriedades dos bambus dasespcies: mos, matake,Guadua angustiflia , Guadua tagoara e Dencrocalamus giganteus para utilizao na engenharia. Departamento de Engenharia Civil, Pontifcia UniversidadeCatlica do Rio de Janeiro. Maio de 2001. 40 p.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    62/64

    61

    GHAVAMI, K. e MARINHO, A.B.Propiedades fsicas e mecnicas do colmo inteiro dobambu da espcieGuadua angustif li a . Campina Grande, PB. 2005.

    GRAA, V. L.Bambu, tcnicas para o cultivo e suas aplicaes. 2 ed. Ed. cone, SP 1988.

    GONCALVES, P. B.Uma introduo instabilidade das estruturas. Apostila, PontifciaUniversidade Catlica de Gois. RJ, 1994.

    HIDALGO-LPEZ, Oscar. Bamboo-The gift of the Gods, Bogot, DVinni,2003, p. 55.

    KRAMER, K.IL31 Bamboo Institut fur leichte flachentragwerhe . Verlag. Stuttgart,1992.

    KALEY, V.A comprehensive volume on bamboo. Maharashtra, ndia. 2000. 189 p.

    KUMAR, M.; Field identification key to native bamboos of Kerala.; Kerala ForestResearch institute, 38p, 2002.

    LIMA JR, H.C.; XAVIER, A.C.; TOLEDO FILHO, R.D.; BARBOSA, N. P.Adernciabambu-concreto. In: Congresso de Engenharia Civil, II, 1986, Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora. 1996. v.2. p.312-323.

    LOPES et al. Ensaios de arrancamento e de empuxamento aplicados a taliscas debamboo encravadas em corpos-de-prova de solo-cimento.Campina Grande, PB, 2002.

    LOPEZ, O. H.Manual de construccion com bambu. Estudios Tcnicos ColombianosLTDA. Universidad Nacional de Colombia. Cali, 2003.

    LOPEZ, O. H.Bambu Su cultivo y aplicaciones en: fabricacin, arquitectura,ingenieria, artesania. Estudios Tcnicos Colombianos LTDA. Cali, 1974.

    LONDOO, X.La Subtribu Guaduinae de Amrica, SIMPOSIO INTERNACIONALGUADUA; Pereira, Colmbia, 2004.

  • 7/26/2019 O Bambu Na Construcao Rural

    63/64

    62

    LONDONO, X.Generalidades botnicas de los bambus del neotropico com enfasis em elgnero Guadua. In: I Sinposio Nacional de Bambu del Equador, 6p. Portoviejo, Manabi,

    1991.

    NATIONAL MISSION ON BAMBOO APPLICATIONS - NMBA.Bamboo flooring,market assessment. MA 01. Nova Delhi, 2004.

    OPRINS PLANT.Bamboo. Copyrigt, 55p. Rijkevorsel, Belgium, 1997.

    PEREIRA, M. A. D. R.; BERALDO, A. L.Bambu de corpo e alma. Bauru: Canal6, 2007.231 p.

    PEREIRA, M. A.Bambu: espcies, caractersticas e aplicaes. Bauru . SP: Editora daUNESP, 2001. 58 p.

    PAES, J.M.V; ZITO, R.K.; LUCAS, F.T.; BORGES, B.M.N.; OLIVEIRA JR, A.B.;

    NUNES, M.C.de O.Avaliao de Cultivares de Bambu em Uberaba/MG. ResumosEmbrapa Clima Temperado, p.183, 2009.

    PEREIRA, M