Post on 13-Mar-2023
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
1
O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1.
Compreendendo sua Clínica como um “negócio”
Por que adotar o planejamento estratégico (PE)
O Planejamento Estratégico como ferramenta de gestão
CAPÍTULO 2.
O processo de Planejamento Estratégico e suas etapas
Análise prévia do ambiente e revisão das diretrizes organizacionais
Formulação dos objetivos, metas e estratégias
Implantação e execução dos Planos de Ação
Monitoramento e controle
CAPÍTULO 3.
Integrar estratégias e pessoas: desafio para o sucesso do Planejamento
Estratégico
Como envolver as pessoas
Importância da liderança
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
2
INTRODUÇÃO
“Por que perder tempo planejando se posso ir direto para a ação? Sou uma
pessoa muito prática, não tenho tempo a perder!”. Ou, “Tudo muda tão rápido,
para que planejar?” Estas são frases ouvidas com freqüência entre médicos.
Em contraposição a estas convicções, percebe-se que cada vez mais
profissionais e empresas de saúde estão aderindo a esta prática de gestão. Tal
evidência leva no mínimo à necessidade de reflexão a respeito do tema. Por que
a Administração Estratégica está sendo tão considerada na atual conjuntura do
mercado de saúde?
Mas, o que é “planejar”? E ainda, o que vem a ser “estratégia”? E para que
serve um “planejamento estratégico”? Questões como estas serão apresentadas
neste Manual, pois representam dúvidas reais entre médicos, que cada vez mais,
se deparam com os desafios do gerenciamento do seu negócio, de forma eficaz
e sustentável.
Nos tempos atuais onde a limitação de recursos, as constantes mudanças de
cenários, a maior competitividade e a incerteza permeiam a vida de profissionais
e gestores, criam-se novas demandas na Saúde.
Sendo assim, novos conhecimentos e competências são requeridos aos
médicos, além da tão complexa formação nas Ciências Médicas. Desta forma,
estes profissionais são estimulados a abrir sua própria clinica ou consultório,
embora não tenham recebido orientação específica durante a graduação sobre
como administrar seu negócio ou sobre os desafios do mercado de Saúde.
Na vida real a gestão de um consultório ou clinica não é tarefa fácil, uma vez
que exige preparo e visão administrativa que vai além da gestão diária das
atividades relacionadas ao atendimento. Hoje, a gestão envolve principalmente,
visão estratégica e sistêmica do negócio, ou seja, enxergar o cenário externo e a
forma como a empresa se insere no contexto do mercado alvo almejado, em
busca de resultados.
No universo do médico, que recebeu uma forte formação voltada a “cuidar e
tratar pacientes” e informação insuficiente sobre como cuidar de seu negócio,
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
3
tornam-se imperativos conhecer e praticar o processo de planejamento
estratégico de sua empresa.
Desde um consultório até uma grande clínica ou hospital, no mercado de
hoje, só sobreviverá quem estiver atento ao mundo à sua volta e também ao
“olhar para dentro de sua empresa” de forma sistemática, embasada em planos
de ação, melhorias e metas, envolvendo todos os níveis e colaboradores da
empresa. Hoje, já não basta ser um bom médico e um profissional atencioso para
garantir o sucesso.
Portanto, pensar estrategicamente e planejar não são privilégios pertinentes
apenas às grandes empresas, onde se supõe que existam recursos e técnicos
especializados encarregados de sua formulação. O médico gestor, na prática
administrativa de sua Clínica, pode e deve se valer destas ferramentas modernas
de gerenciamento em busca de resultados consistentes.
O texto a seguir apresentará o planejamento e as estratégias e como
evoluíram para atender as necessidades do mercado, discutindo e detalhando as
etapas do planejamento estratégico, bem como modelos que foram agregados à
metodologia como o Balanced Scorecard (BSC), mostrando exemplos práticos
adaptados para consultórios e clínicas médicas.
Este Manual pretende ajudar profissionais médicos nesta empreitada, de
forma simples e prática. Não há pretensão de se esgotar o assunto. Para tanto,
indicamos bibliografias que aprofundam teorias e experiências e servem de base
para reflexão e aplicação na prática do dia a dia.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
4
CAPÍTULO 1.
Compreendendo sua Clínica como um “negócio”
Por que adotar o Planejamento Estratégico (PE)
A transformação empresarial que ocorreu no setor de saúde está levando os
profissionais médicos a profundas reflexões sobre a nova conjuntura instalada.
As empresas prestadoras de serviço, por exemplo, clínicas, hospitais,
laboratórios ou centros de diagnóstico, atendem clientes de operadoras de
planos de saúde, cooperativas médicas, seguros saúde e autogestões. Esta
lógica da cadeia de valor na Saúde demanda do médico gestor o entendimento
destes novos desafios em sua rotina diária.
Este contexto complexo exige de profissionais médicos a decisão por uma
gestão profissionalizada de seu empreendimento, visto que seus resultados
estão diretamente ligados a fatores sociais, econômicos e mercadológicos. As
partes interessadas no negócio, denominados “stakeholders” (sócios, fontes
pagadoras, pacientes e familiares, comunidade, profissionais, fornecedores,
parceiros, entre outros atores) consideram a sustentabilidade do
empreendimento como fator de grande relevância.
O inter-relacionamento entre as partes interessadas leva o médico a utilizar
seus conhecimentos de forma mais complexa para que se obtenha uma acertada
tomada de decisão. Antes, elementos desta decisão eram pautados somente em
dados clínicos em função da doença e do contexto do paciente. Hoje, outros
conhecimentos são requeridos para o sucesso do resultado. Nesta nova relação
empresarial, procedimentos e tratamento terapêutico são discutidos e consensos
são alcançados (ou não) entre as partes tomadoras e prestadoras do serviço
médico. Esta tomada de decisão inclui conhecimento do ponto de vista médico,
mas também administrativo-financeiro, aumentando a complexidade do
processo.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
5
O profissional médico passou então a conviver com necessidades e
interesses muitas vezes divergentes. Deve estar apto para tomar decisões
prioritariamente voltadas a salvar e melhorar a qualidade de vida de seus
pacientes e, ao mesmo tempo, saber como proceder para manter
financeiramente saudável seu negócio, ou seja, a empresa sob sua
responsabilidade.
Se antes, era viável administrar a empresa com base apenas na intuição e na
reação, hoje, diante de um mercado mais complexo e competitivo, é
imprescindível que a gestão seja mais profissional. Sendo assim, o planejamento
estratégico vem sendo considerado a principal ferramenta de gestão dos
administradores de serviços de saúde na atualidade. Estudos apontam que
geralmente as empresas que adotam a gestão estratégica apresentam melhor
desempenho em relação a outras que não o fazem. O Planejamento Estratégico
é um instrumento mais flexível do que o antigo planejamento em longo prazo,
praticamente inviável no atual contexto mercadológico de mudanças rápidas e
ambiente inconstante.
Normalmente os recursos da pequena e média empresa são limitados, por
isso, neste caso, o planejamento se torna mais essencial ainda. O Planejamento
Estratégico auxilia estas empresas na melhor utilização de suas capacidades e
recursos e na minimização da perda de energia em atividades que não a dirigem
para o caminho desejado.
Imagine que enquanto você está “tocando o dia a dia” de seu consultório ou
clínica, pode não estar atento a fatores internos e externos que possam estar
influenciando o movimento de seus clientes. Eles podem estar migrando
“silenciosamente” para outros serviços onde recebem atenção individualizada,
preços mais competitivos, oferta de novos serviços, enfim, concorrentes que se
destacam frente aos seus pontos fracos que você ainda não identificou e
trabalhou no sentido de tratá-los ou eliminá-los. Mais cedo ou mais tarde, a
concorrência será uma realidade e a única forma de combatê-la é possuir
vantagens competitivas, diferenciais de mercado. E para isto, os donos e
gestores de uma empresa precisam realizar um processo analítico que resultará
em um plano que levará em conta variáveis empresariais, financeiras e
tecnológicas.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
6
Hoje, com a competição cada vez maior, torna-se impossível conduzir um
negócio sem um bom planejamento. Não nos referimos a um plano burocrático,
mas algo que permita conhecer melhor a organização, suas forças e fraquezas,
seus concorrentes, as oportunidades e ameaças do mercado, as expectativas
dos donos, acionistas, gestores, funcionários, parceiros e clientes. É exatamente
essa necessidade que o planejamento estratégico procura atender.
Sendo assim, ao invés de adotar uma postura passiva e ficar “esperando o
mercado melhorar”, o médico gestor deve atuar com base em tendências e
oportunidades, conhecendo melhor suas limitações empresariais, melhoras,
caminhos e estratégias mais adequadas para garantir a sustentabilidade do
negócio ao longo do tempo. O resultado que se espera é a melhor gestão de
recursos e o melhor enfrentamento da empresa diante das situações difíceis e
cenários adversos.
O Planejamento Estratégico é hoje a principal responsabilidade da Direção de
uma empresa, não devendo ser delegada para instâncias inferiores ou terceiros,
nem ter sua importância subestimada. Seu poder está em tomar as rédeas da
empresa com responsabilidade, com visão de longo alcance e com processos de
decisão bem embasados diante dos grandes desafios impostos pelo mercado de
saúde.
O Planejamento Estratégico como ferramenta de gestão
“Planejar é construir uma ponte entre o sonho e o possível”
Hummel, G. (2005).
O planejamento é considerado a primeira função administrativa do processo
de gerenciamento por servir de base às demais
Segundo Rebouças (2001) “os gestores deveriam entender que é primordial
as empresas obterem um planejamento estratégico estruturado, pois só assim
poderiam delinear um futuro esperado para suas empresas e maneiras de
alcançar ou se aproximar o mais possível desse futuro desejado. Inclusive, se
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
7
uma medida não deu o resultado esperado, o gestor saberá como direcionar o
negócio para outra opção no momento certo e de forma adequada”.
As empresas desejam estar bem embasadas para orientar suas ações,
proteger sua posição no mercado e crescer. Uma pesquisa da Bain & Company
(2000) em vários países mostrou que o planejamento estratégico era utilizado
por 83% das empresas em geral na América do Sul, 77% na Europa e 92% nos
Estados Unidos, sendo a ferramenta gerencial mais utilizada neste país.
O planejamento deve ser interativo, participativo e flexível. Deve haver
harmonia e alinhamento em sua concepção, pois a forma como for elaborado
impactará diretamente a execução e, por conseqüência, poderá determinar o
sucesso ou o fracasso de sua utilização como ferramenta de gestão. Em outras
palavras, em uma Clínica, é importante que seja visto por todos como algo de
grande utilidade, uma ferramenta que ajuda a empresa e seus profissionais no
alcance do sucesso no mercado. Conforme enfatizado por Oliva e Borba (2004),
“não podemos planejar o operacional dissociado do estratégico”.
Alguns benefícios obtidos quando se utiliza o planejamento estratégico em
uma empresa:
- Permite uma visão objetiva e profissional dos problemas gerenciais;
- Permite a identificação de novas oportunidades de mercado;
- Melhora os controles e auxilia a coordenação das atividades exercidas por
todos os colaboradores;
- Permite que as decisões sejam fundamentadas e objetivas, portanto, diminui
as chances de se cometer erros;
- Permite uma gestão mais eficaz do tempo e dos recursos disponíveis;
- Melhora a comunicação interna com o pessoal alinhando a linguagem
praticada por todos;
- Melhora o trabalho em equipe, a participação, a colaboração e a integração
entre as pessoas;
- Esclarece e dá maior transparência quanto às responsabilidades individuais;
- Estimula o pensamento prospectivo e a proatividade;
- Encoraja a atitude favorável frente às mudanças;
- Aumenta a consciência e promove amadurecimento das pessoas e equipes.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
8
Portanto, “pensar estrategicamente é a base para a administração
estratégica”. É o raciocínio e a lógica que o gestor médico vai utilizar para elaborar
e executar o planejamento de seu negócio.
A estratégia pode ser entendida neste contexto como a arte e a técnica de
aplicar os meios disponíveis para a consecução de objetivos específicos, ou seja,
explorar condições favoráveis para alcançar estes objetivos, considerando a
posição da empresa em relação aos seus concorrentes.
Desta forma, pensar de forma estratégica pressupõe planejar e agir de forma
proativa, antevendo situações e cenários que possam influenciar os resultados do
negócio. É possuir a flexibilidade para ver a empresa por dentro (compreendendo
seu micro ambiente) assim como ter a capacidade de analisá-la “de fora” (visão do
macro ambiente), tendo consciência de seus pontos fracos e fortes em relação ao
mercado concorrente, assim como novas oportunidades. É a compreensão de que,
a empresa não tem controle das condições necessárias à sua sobrevivência,
sendo elas dependentes de recursos externos.
Quando os lideres e gestores não possuem visão estratégica, agem de forma
reativa, ou seja, administram as situações conforme elas vão surgindo no dia a dia,
“apagando incêndios” como se costuma dizer popularmente.
O gestor que adota uma postura estratégica, não se contenta em administrar
os “incêndios” todo dia. Ele pensa: “por que isso acontece? É possível fazer algo
para mudar esta situação?”, mostrando uma atitude mais proativa, mais criativa e
mais comprometida com a sustentabilidade do negócio ao longo do tempo.
Segundo Machline (1989) e Teixeira et al (2006), o planejamento estratégico
é um conjunto de ações que tem por objetivo alcançar uma situação no futuro
diferente da obtida no passado. Para tal, a empresa tem condição de agir e
influenciar fatores e variáveis que determinarão esta situação, realizando uma
intervenção deliberada na realidade.
O planejamento estratégico pode ser entendido então como o instrumento
diretor da execução gerencial (Oliva e Borba, 2004).
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
9
CAPÍTULO 2.
O processo de Planejamento Estratégico e suas etapas
“Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir”
Sêneca
Após a decisão do médico por administrar o seu negócio através da utilização
da ferramenta de Planejamento Estratégico (PE), inicia-se um processo
composto por etapas operacionais.
Segundo Bateman e Snell (1998) estas etapas podem ser representadas de
forma sintética através de diagrama a seguir:
Análise do
ambiente
Estabelecimento de
visão, missão e objetivos
Análise do ambiente
interno
Formulação das
estratégias
Implantação das
estratégias
Monitoramento e
controle das
estratégias
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
10
Análise prévia do ambiente e revisão das diretrizes organizacionais
Nesta etapa, o médico gestor reúne seus sócios, financiadores e provedores,
assim como, funcionários-chave da empresa (por exemplo, o responsável pelo
faturamento, pela área comercial, pela recepção e agendamento de consultas,
etc.) e realiza reuniões para discutir algumas questões essenciais para a
elaboração do Planejamento Estratégico. São necessárias várias reuniões até se
chegar a um consenso entre este grupo de alta liderança.
É importante que cada membro compreenda que esta primeira etapa do
Planejamento Estratégico se destina a fazer uma avaliação do mercado, pois a
empresa depende de clientes e de fontes pagadoras para sua sobrevivência.
Porém, antes de se fazer a avaliação do mercado é preciso que se faça uma
avaliação completa e cuidadosa do próprio negócio.
É também importante que o médico gestor dê oportunidade para que cada
pessoa se expresse livremente, sem interrupções ou defensivas. O objetivo desta
etapa é obter percepções realistas e sinceras da realidade que cada uma destas
pessoas-chave enxerga a respeito do negócio. Muitas vezes, principalmente no
meio médico onde a direção das pequenas clínicas e consultórios é fortemente
voltada ao “olhar interno” (“a nossa Clínica é única, possui características e
problemas muito próprios sendo difícil nos compararmos com outros”…) , é
recomendada a utilização de um Consultor externo para facilitar e coordenar a
reunião. O olhar de um profissional “de fora”, sem viés emocional por não estar
envolvido diretamente no cotidiano da Clínica, pode ser bastante útil neste
momento.
Esta etapa de análise pode ser considerada uma auto-avaliação para a
empresa em questão. O desafio é que, por vezes, não é tão fácil assim
“enxergar” quais são os pontos fortes e fracos da Instituição, assim como as
ameaças do ambiente externo e oportunidades. O risco de se fazer suposições
incorretas ao avaliar a própria empresa onde se trabalha pode incorrer em
decisões erradas, com perda de recursos como tempo, financeiros e credibilidade
perante profissionais das equipes, levando à desmotivação e descompromisso
com os projetos de mudança.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
11
Para facilitar a compreensão e execução desta etapa, podem ser utilizadas
algumas perguntas norteadoras. Cada uma delas suscitará um debate no grupo.
O Facilitador da reunião deverá ir anotando as opiniões em um flipchart para
que todo o grupo possa ver o processo de construção do conhecimento em
conjunto. Isso favorece a percepção de que cada um dos membros convidados
faz parte da elaboração de importante instrumento de gestão para o sucesso da
empresa no mercado, facilitando futuramente a implantação dos planos de
melhoria. Este tipo de metodologia participativa favorece também o
compromisso, a motivação e comunicação no grupo.
� O que somos? Por que existimos? Qual é o nosso negócio?
� O que é realmente importante para nós? Quais são nossos valores?
� Como estamos agora?
� O que queremos? Onde queremos chegar?
� Que resultados e objetivos queremos alcançar?
O que somos? Por que existimos?
Aqui se definem o negócio e a missão institucional.
Negócio é o propósito, o entendimento do principal benefício esperado pelo
cliente.
“Qual é o nosso negócio?” Responder esta pergunta pode parecer algo
simples, entretanto trata-se de uma tarefa mais complexa do que parece. Um
cuidado a ser tomado nesta definição é não “limitar” seu negócio, confundindo-o
com o serviço que você presta ao cliente. Tenha visão ampla sobre o mercado e
compreenda que, por trás de motivo racional que levou o cliente até a sua
Clínica, existe também um motivo emocional que o fez escolher a sua empresa e
não a do concorrente. Tente entender a questão considerando também a ótica
dos seus clientes e potenciais clientes futuros. Portanto, ao invés de “enquadrar”
a natureza do seu negócio no produto ou serviço específico que você está
oferecendo ao cliente, tente atrelar o conceito de seu negócio ao benefício que o
seu cliente vai obter após utilizá-lo ou vivenciá-lo. Em outras palavras, o
resultado produzido causou que função social? Se você pensar em seu negócio
de forma “estreita”, também limitará sua atuação no mercado, ficando mais
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
12
vulnerável às mudanças do cenário econômico, não considerando novos
produtos e serviços e possibilidades para inovar.
Por exemplo:
- Se eu tenho uma imobiliária:
Visão tradicional: “Meu negócio é vender imóveis”. Visão inovadora: “Meu
negócio é vender sonhos”.
- Se eu tenho uma loja de sapatos:
Visão tradicional: “Meu negócio é vender sapatos”. Visão inovadora: “Meu
negócio é vender conforto, beleza e praticidade ao caminhar”.
- Se eu tenho um hospital/clínica:
Visão tradicional: “Meu negócio é atender pessoas doentes”. Visão inovadora:
“Meu negócio é vender acolhimento, confiança e qualidade de vida”.
Definido o negócio, parte-se para a redação da Missão organizacional.
A Missão de uma empresa é o motivo dela existir em seu negócio (Oliva;
Borba, 2004). É a razão de ser da empresa, o porquê ela existe.
Segundo Teixeira et al (2006), a Missão é redigida através de uma frase-
síntese que expressa de modo mais econômico possível a incumbência e os
motivos que justificam sua criação.
A missão deve servir de inspiração e direcionamento a todos os profissionais
da empresa, assim como, esclarecimento aos clientes, comunidade, parceiros,
fornecedores entre outros, da política primária que rege a empresa, da qual todas
as outras serão derivadas.
Por exemplo, em uma Clinica de Ortopedia:
“Oferecer assistência médica ortopédica e fisioterápica, favorecendo o bem
estar de seus clientes através da independência motora e atendendo-os com
respeito, cordialidade e profissionalismo”
Em uma Clínica de múltiplas especialidades:
“Prover assistência integral à saúde através do atendimento ágil, seguro e
eficaz, que atenda as expectativas de nossos clientes e familiares”.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
13
Portanto, a Missão da empresa deve simples e clara para todos, pois ela dá a
direção, o “norte” para a empresa, seus profissionais e líderes. A Missão retrata o
que deve ser alcançado e em sentido mais amplo, como fazer para melhor atingi-
la.
O que é realmente importante para nós? Quais são nossos valores?
Neste debate são discutidos os valores organizacionais, que devem ficar
claros para todos os membros. Valores se referem ao conjunto de crenças e
princípios em termos de negócios, considerando-se as tradições e filosofia, que
todos os membros da empresa devem se identificar e estar preparados para
defender. Podem ser expressos em frases curtas ou palavras, conceitos.
O desafio é que estes valores sejam realmente praticados dentro da empresa,
que não fiquem somente registrados em quadros ou murais, mas que sejam
perceptíveis aos clientes, parceiros, fornecedores, comunidade e profissionais.
Portanto, trata-se de etapa de grande importância do planejamento
estratégico. A credibilidade do gestor junto às lideranças e profissionais pode ser
fortalecida ou enfraquecida se os valores declarados não forem praticados no
cotidiano da empresa. A filosofia organizacional também fica clara nesta etapa.
Por exemplo:
Nossos valores institucionais:
Ética nas relações
Excelência no atendimento ao cliente
Qualidade do corpo clínico
Imagem no mercado
Valorização e desenvolvimento contínuo dos profissionais
Outro exemplo:
Nossos valores:
Clientes são nossa prioridade número um
Foco em resultados para sustentabilidade do negócio
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
14
Transparência nas relações interpessoais
Melhoria Continua dos processos
Educação e aprimoramento profissional para todos
O que queremos? Onde queremos chegar?
Aqui se define a visão de futuro da empresa.
O estabelecimento da visão requer dos participantes o entendimento de que
ele cria uma imagem identificável de futuro, o caminho a ser seguido. Sua
elaboração requer um exercício do racional e do emocional. Elementos de
análise são considerados, mas também de intuição, imaginação e valores.
A Visão é a declaração de como queremos ser reconhecidos no futuro e sua
redação deve ser a mais atemporal possível.
Exemplo:
Nossa visão de futuro:
“Sermos reconhecidos como referencia nacional de excelência no
atendimento ambulatorial a pacientes com distúrbios metabólicos, com
profissionalismo e sustentabilidade”.
Outros exemplos:
Visão institucional:
“Tornarmo-nos modelo na área de assistência médica pediátrica, com
reconhecimento da comunidade médica, do mercado, dos clientes e da nossa
equipe de colaboradores”.
“Tornar nossa Clínica a principal referência regional em excelência no
tratamento de pacientes com distúrbios cardiológicos através do atendimento
encantador de seus profissionais, qualidade e credibilidade de seu corpo
multidisciplinar. Seremos um negócio auto-sustentável, que gera valor para seus
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
15
sócios e apoiadores assim como, remunera seus profissionais com valores justos
de mercado”
Como estamos agora?
Nesta etapa será realizada uma análise do mercado onde a empresa atua e
como ela própria se situa neste contexto, comparada aos seus concorrentes.
Algumas questões são feitas para estimular as reflexões no grupo. Por
exemplo: Quem são os nossos concorrentes? Para onde está caminhando o
mercado? Quais são as oportunidades percebemos podemos aproveitar? O que
poderá ameaçar os resultados de nossa empresa? Mas principalmente, quais
são as atuais tendências de mercado no negócio em que estamos atuando?
A Matriz SWOT, ferramenta gerencial utilizada para elaboração do
Planejamento Estratégico global, inclusive para o Planejamento Estratégico de
Marketing empresarial, pode ser utilizada nesta etapa. Trata-se de um útil
instrumento de gestão que auxilia na identificação de aspectos internos e
externos à empresa. Pontos fortes e fracos, assim como, ameaças e
oportunidades de mercado serão discutidos nesta fase.
A proposta deste Manual será de expor a análise SWOT em seus aspectos
práticos por ser ferramenta mais comum e aplicável para esta etapa do processo
de elaboração do PE, no contexto das Clínicas médicas.
O termo SWOT vem do inglês e representa as iniciais das palavras Strengths
(forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats
(ameaças).
Ao final da análise, consegue-se ter um diagnóstico situacional da empresa e
através do cruzamento das oportunidades de mercado com os pontos fortes da
empresa, bem como o das ameaças de mercado com os pontos fracos da
empresa, os fatores críticos para o sucesso da clínica poderão ser identificados.
A identificação dos fatores críticos de sucesso para o tipo de negócio em
questão é essencial para um Planejamento Estratégico, pois auxiliará na
avaliação dos resultados e eficácia da estratégia escolhida.
Os Fatores Críticos de Sucesso são as variáveis que mais agregam valor aos
clientes e que melhor diferenciam a empresa de seus concorrentes.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
16
Quando um fator crítico de sucesso é também um ponto forte da empresa,
aumenta sua vantagem competitiva.
Exemplos de fatores críticos de sucesso para uma clínica:
- Sistema de agendamento de consultas preciso e eficaz;
- Funcionários cordiais, treinados e comprometidos;
- Bom relacionamento e comunicação com convênios;
- Localização em vias de acesso fácil;
- Médicos que mantém bom relacionamento com pacientes;
- Pontualidade no atendimento médico;
- Excelência na prática clínica;
- Precisão diagnóstica;
- Sistema eficaz de gestão de riscos e segurança ao paciente;
- Sistema informatizado de controle dos atendimentos;
- Confiabilidade nas informações fornecidas.
Pensar em termos de critérios competitivos (vantagem competitiva) também é
útil para que a empresa prestadora de serviços possa atingir sua diferenciação
no mercado. De forma geral, a empresa não conseguirá ser excelente em todos
os critérios. Então, deverá optar por quais quer ser reconhecida no mercado e
por seus clientes para focar suas metas, objetivos e estratégias.
Gianesi & Corrêa (1996) listam nove critérios globais de acordo com as
necessidades e expectativas do mercado. A empresa deve determinar quais
critérios são os mais relevantes para seu segmento de mercado e seu portfólio
de produtos, ou seja, responder a seguinte pergunta: “por que razão o cliente
deveria nos escolher e não ao nosso concorrente?”
CRITÉRIOS SIGNIFICADO Consistência
Conformidade com experiência anterior; ausência de variabilidade no resultado ou processo
Competência Habilidade e conhecimento para executar o serviço. Relaciona-se com as necessidades “técnicas” dos consumidores
Velocidade de atendimento
Prontidão da empresa e seus funcionários em prestar serviço. Relaciona-se com o tempo de espera (real ou percebido)
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
17
Atendimento / atmosfera Atenção personalizada ao cliente, boa comunicação, cortesia, ambiente
Flexibilidade Ser capaz de mudar e adaptar a operação, devido a mudanças nas necessidades dos clientes, no processo ou no suprimento de recursos
Credibilidade / segurança Baixa percepção de risco; habilidade de transmitir confiança
Acesso Facilidade no contato e acesso; localização conveniente; horas de operação
Tangíveis Qualidade e/ou aparência de qualquer evidência física (bens facilitadores, equipamentos, instalação, pessoal, outros consumidores)
Custo
Fornecer serviço de baixo custo
Critérios competitivos para operações de serviços. Fonte: GIANESI, I. G. N. Administração estratégica de serviços, São Paulo: Atlas, p. 103
A definição dos fatores críticos de sucesso e a escolha dos critérios
competitivos formam um conjunto de diferenciais a serem adotados por toda a
organização, da alta direção, aos gestores e aos colaboradores, pois direcionará
as atividades e atitudes de todos os colaboradores frente ao cliente, que deverá
ser a razão maior do negócio.
Após a definição dos fatores críticos de sucesso e da escolha dos critérios
competitivos, deve-se proceder à análise dos aspectos internos e externos da
empresa.
Análise dos aspectos internos: Essa análise levará em conta os pontos
fortes e fracos da empresa em relação aos concorrentes.
Pontos fortes: são variáveis internas e controláveis que propiciam uma
condição favorável para a empresa, em relação ao seu ambiente.
Exemplos:
� Boa localização
� Boas instalações
� Serviço de estacionamento acessível
� Bom relacionamento com convênios regionais
� Corpo Clínico com especialistas atualizados
� Boa imagem no mercado
� Funcionários comprometidos e colaborativos
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
18
� Liderança presente e atuante
� Rapidez no atendimento
Pontos fracos: são variáveis internas e controláveis que provocam uma
situação desfavorável para a empresa, em relação ao seu ambiente.
Exemplos:
� Visibilidade limitada
� Altos custos fixos
� Ausência de marketing de relacionamento com clientes e públicos de
interesse
� Treinamento insuficiente para novos funcionários
� Banco de dados deficiente
� Número de atendimentos não aumenta faz 3 anos
� Sócios estão em “zona de conforto” e com receio de inovar
� Queda de qualidade nos atendimento de final de semana
Análise dos aspectos externos: O ambiente externo apresenta variáveis que
podem influenciar com maior ou menor impacto as empresas de qualquer porte
ou segmento. São elas as político-legais, econômicas, sociais e tecnológicas. Por
exemplo, as regulamentações e normas da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) devem ser
observadas e cumpridas. Questões relativas à importação de materiais médico-
hospitalares também têm impacto sobre os serviços oferecidos ao mercado (por
exemplo, disponibilidade de determinados produtos ou medicamentos essenciais
a procedimentos médicos).
O contexto macroeconômico também deve ser considerado, pois pode afetar
diretamente o resultado do negócio. Por exemplo, elevações e quedas das taxas
de juros, dos salários, do nível de empregos são variáveis que poderão afetar o
acesso dos clientes à Clínica ou suas condições de funcionamento.
A análise do ambiente externo requer um levantamento das ameaças e
oportunidades da Clínica em seu mercado alvo.
Ameaças: são as variáveis externas e não controláveis pela empresa que
podem criar condições desfavoráveis para a mesma.
Exemplos:
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
19
� Convênios têm direcionando pacientes para ambulatórios próprios
� Concorrentes adquiriram novos equipamentos
� Pacientes e familiares estão cada vez mais exigentes
� Novas Clínicas estão sendo inauguradas na região
� Indústrias da região estão demitindo funcionários que tinham plano de
saúde empresarial
� Diminuição no credenciamento de novos serviços pelos planos de saúde
� Concorrentes estão contratando profissional especializado em
“Relacionamento Empresarial” para captar novos contratos para a Clínica
Oportunidades: são as variáveis externas e não controláveis pela
empresa, que podem criar condições favoráveis, desde que a mesma tenha
condições e/ou interesse de usufruí-las.
Exemplos:
� Clínicas de outras especialidades demonstram interesse em parceria
� Eventos científicos ajudam a divulgar marca
� Escolas e empresas têm valorizado palestras de médicos
� Convênios estão interessados em Clínicas com selo de qualidade no
atendimento
� Programas de TV regional têm valorizado a participação de médicos
� Pacientes e familiares têm valorizado o relacionamento personalizado com
empresas de saúde
� Pacientes e familiares consultam a Internet antes de decidir por um médico ou
clínica
� Programas de promoção de saúde e qualidade de vida são tendência entre
operadoras e planos de saúde
Um cuidado que o gestor deve ter é que, após a realização deste diagnóstico
situacional deve-se prosseguir com a tarefa de elaboração do planejamento
estratégico. Recomenda-se que o gestor tenha serenidade e bom nível de
amadurecimento para não interromper definitivamente o processo para que todos
resolvam os problemas levantados, não mais retomando a elaboração completa
do PE.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
20
Pontos fortes, fracos, as ameaças e oportunidades de mercado, podem ser
inseridos em uma tabela, que ajudará na visualização do todo, facilitando o
entendimento da situação global.
Abaixo, mostramos alguns exemplos para facilitar o entendimento da
montagem da tabela, que poderá ter outras representações gráficas a critério dos
gestores.
Exemplo:
Pontos Fortes (+) Pontos Fracos (–)
Conhecimento médico especializado e embasado
Pouca experiência com
administração e finanças, o que
implica em gestão limitada
Visão de empreendedor,
capacidade de inovação e
criatividade.
Falta de retorno financeiro na fase inicial de amadurecimento e divulgação do serviço
Boa localização, próxima ao metrô Altos gastos na manutenção da
clínica
Profissionais capacitados, o que
garante uma boa produtividade e
qualidade na execução das
tarefas.
Baixa visibilidade relativa ao
negócio
Clientes fidelizados Sistema de agendamento não informatizado
Oportunidades (+) Ameaças (–)
Aumentar a demanda pela
captação de pacientes
particulares
Descredenciamento pelos
convênios
Explorar o conhecimento dos
médicos em subespecialidades
Clínicas com melhor estrutura de
equipamentos nas imediações
Promover cursos para médicos e
palestras para clientes
Aumentar o leque de convênios
médicos
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
21
Diante desta “fotografia”, é possível traçar um plano concreto que contemple
ações para potencializar os pontos fortes, atuar nos pontos fracos através de
ações corretivas e preventivas, além de viabilizar serviços e produtos que
atendam as oportunidades de mercado identificadas. Com essas iniciativas
pretende-se que as ameaças ao negócio sejam bem menos prejudiciais.
Formulação dos objetivos estratégicos, metas e estratégias
Como vamos fazer para chegar lá?
Para estabelecer as estratégias, devem-se definir objetivos estratégicos e
metas.
Objetivos estratégicos são alvos ou fins que o médico gestor deseja
alcançar em uma situação futura. Devem ser definidos de forma ampla, em
condições ideais, devendo ser claros e coerentes, pois guiarão os profissionais
de forma alinhada com a Missão da empresa.
A capacidade de escolher objetivos adequados está diretamente relacionada
à qualidade do diagnóstico situacional da empresa realizado anteriormente
Alguns cuidados a serem tomados em relação ao estabelecimento de
objetivos são:
- Limite o número de objetivos, atenha-se às áreas mais essenciais para o
sucesso do negócio, saiba priorizar;
- Revise estes objetivos com sua equipe, compartilhe para obter reciprocidade e
comprometimento;
- Não estabeleça resultados inviáveis e não realistas para não frustrar e
desmotivar os profissionais. É melhor ver a evolução e o progresso dos
resultados gradualmente do que fixar objetivos muito difíceis de ser alcançados
de uma só vez;
- Modifique os objetivos se necessário, crie um sistema dinâmico e continuo, não
os “engesse” obrigando a equipe a perseguir resultados que já se tornaram
obsoletos;
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
22
- Faça tudo por escrito para tornar o processo claro, transparente, confiável e
profissional. Para isso pode-se utilizar um sistema simples de planilhas.
Já a meta é uma segmentação do objetivo em que o aspecto quantitativo tem
maior importância, ou seja, é mais precisa em termos de valores e datas. Em
outras palavras, é um padrão segundo o qual o desempenho presente e futuro da
empresa podem ser medidos de forma quantitativa.
As metas também devem ser claras, concisas e viáveis, mensuráveis, com
planos de ação contendo cronograma e prazos, nomeação de responsáveis
pelas ações e ser elaborado com base em prioridades.
O ato de comunicar objetivos e metas empresariais traz vários benefícios.
Esta transparência na gestão faz com que os profissionais e funcionários
compreendam melhor a natureza da empresa e focalizem sua atenção nos
aspectos importantes para seu sucesso no mercado. Aumenta o compromisso,
direciona comportamentos e estabelece a cultura organizacional. Reduz dúvidas
e incertezas pois esclarece e elucida de forma profissional onde a empresa quer
chegar. Ajuda a empresa a aprender coletivamente através da identificação de
pontos falhos ou erros e estabelecimento de planos de melhoria contínua. Outro
ponto relevante é que serve como base para avaliação dos profissionais quanto à
adesão aos padrões de qualidade estabelecidos pela empresa.
São exemplos de objetivos estratégicos e metas:
Objetivo estratégico
Aumentar a eficiência do agendamento de consultas médicas
Meta Diminuir em 20% o índice de faltas e atrasos em consultas agendadas
Objetivo estratégico
Fortalecer o relacionamento com as operadoras de saúde e autogestões
Meta Ter glosa máxima de 2,5% ao mês
Uma vez definidos os objetivos estratégicos e metas, deve-se pensar em como
fazer para que a empresa consiga atingi-los. É na definição do “como vamos
fazer” que se traduz para a organização os padrões de comportamento que
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
23
serão adotados para atingir os objetivos estratégicos e metas traçadas. As
estratégias podem ser comparadas a um “Plano de Vôo”, traçado para que a
organização possa buscar seus objetivos estratégicos.
Ao elaborarmos uma estratégia, temos de estar seguros de nossa
capacidade em segui-la. Temos recursos suficientes? Temos acesso às
tecnologias necessárias? O pessoal ficará motivado? Essa estratégia é
compatível com nossos valores e crenças? Permite maximizar nossas
competências e capacitações? Essa estratégia está sintonizada com a razão de
ser de minha organização ou significa uma grande mudança?
Para exemplificar com uma atividade da vida cotidiana, podemos fazer um
paralelo usando estes conceitos apresentados no caso de uma viagem. Eu
preciso ir até a cidade de Presidente Prudente para uma reunião de negócios e
moro em São Paulo. Então, meu objetivo é estar em Presidente Prudente para
participar da reunião no dia 11 de março. Minha meta é chegar nesta cidade
antes do início da reunião. Imaginemos que ela esteja agendada para 10 horas.
Portanto minha meta é participar da reunião das 10 horas do dia 11 de março na
cidade de Presidente Prudente. Meu ponto de partida é a cidade de São Paulo e
a distância entre uma cidade e outra é de 580 km. Começo a pensar: como vou
fazer para chegar lá antes das 10 h no dia agendado? Inicia a avaliação de
alternativas do “como vou fazer” para chegar lá, neste dia e horário, para tal
objetivo.
A principio posso pensar em ir de carro (meu próprio ou da empresa?). Há a
possibilidade de ir de avião (existem horários adequados? Qual será o custo?
Será que vale a pena?). Posso pegar uma carona com um colega que vai para lá
no dia anterior (neste caso, terei que pagar uma diário de hotel, será que vale a
pena?), ou, em último caso, poderia participar via áudio conferência (será que
minha participação será tão efetiva quanto em uma reunião presencial? Será que
existe equipamento adequado para este tipo de tecnologia no local da reunião?)
Enfim, para escolher as melhores alternativas penso no custo versus
benefício, facilidade, conveniência, disponibilidade do recurso, risco, tempo,
garantia do resultado, entre outros critérios.
Então, esta escolha do “como vou fazer para alcançar meus objetivos” é a
escolha das estratégias que você vai adotar em sua empresa.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
24
O quadro a seguir ilustra com exemplos algumas estratégias escolhidas por
diferentes Clínicas para atingir os objetivos estratégicos e metas estipuladas:
Objetivo estratégico
Meta Estratégias
Aumentar o Faturamento
Aumento de 10 % em relação ao mesmo período do ano anterior
� Aumentar o encaminhamento de funcionários com convênio empresarial que trabalham em empresas da região;
� Atrair maior número de pacientes privados;
� Aproximação com médicos que encaminham pacientes;
� Ampliar o portfólio de pequenos procedimentos.
Diminuir desperdícios de material e ajudar a preservar o meio ambiente
Diminuir 15% do gasto com papel e tinta de impressora
� Conscientizar os colaboradores através de programas e campanhas educativas
� Medir os resultados e compartilhá-los com os colaboradores
Aumentar a satisfação e a fidelidade da clientela particular
Aumentar em 50% o índice de retorno de pacientes particulares
� Elaborar campanha de Marketing de Relacionamento com Clientes
Fortalecer o relacionamento com as operadoras de saúde e autogestões
Ter glosa máxima de 2,5% ao mês
� Aumentar o número de reuniões para alinhamento e correção dos processos assistenciais
� Rever guias e prontuários e formas de registro
� Rever lista de materiais usados nos procedimentos em conjunto com a fonte pagadora
Capacitar profissionais de atendimento direto ao cliente
Treinar 100% dos profissionais que tem contato direto com o cliente e familiar
� Contratar empresa especializada para transmitir técnicas e know how para lideres da Clinica
� Implantar projeto “Multiplicadores do Conhecimento”
Atrair clientela Realizar semanalmente � Contratar profissional
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
25
que tenha plano de saúde empresarial
visitas a pelo menos duas empresas diferentes da região que ofereçam convênio aos funcionários
especializado em “relacionamento empresarial” para atuar na clínica
Informatizar dados cadastrais e clínicos de todos os pacientes atendidos no último ano.
Adquirir no segundo semestre do ano corrente, um programa informatizado que não comprometa mais do que x% da receita liquida anual
� Realizar parceria com empresas de informática novas no mercado, porém recomendadas, para construção conjunta de solução informatizada, diminuindo custos de implantação para a Clínica
Aumentar a eficiência do agendamento de consultas médicas
Diminuir em 20% o índice de faltas e atrasos em consultas agendadas
� Implantar sistema de controle por indicadores de eficiência e eficácia no agendamento
� Capacitar recepcionistas e assistentes para a coleta de dados
Implantação e execução dos Planos de Ação O que precisamos fazer?
O Planejamento Estratégico precisa ser desdobrado em Planos Táticos/
Operacionais. Mapas e planilhas podem ser elaborados para ajudar na tradução
das estratégias a todos os membros da organização.
Objetivo estratégico
Meta Estratégias Planos de ação
Aumentar o Faturamento
Aumento de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior
� Aumentar o encaminhamento de funcionários com convênio empresarial que trabalham em empresas da região;
� Atrair maior número de pacientes privados;
� Aproximação com médicos que encaminham pacientes;
� Aumentar o
� Plano de marketing de relacionamento com ambulatórios de empresas da região
� Plano de marketing voltado à clientela privada;
� Plano de marketing de relacionamento com médicos que encaminham pacientes;
� Rever e ampliar o portfólio de serviços e procedimentos oferecidos
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
26
número de pequenos procedimentos.
EXEMPLO DE UM PLANO DE AÇÃO DETALHADO
PLANO DE MARKETING DE RELACIONAMENTO COM AMBULATÓRIOS DE EMPRESAS DA REGIÃO
Objetivo
estratégico
Aumentar o faturamento da Clínica
Meta Aumento de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior
Estratégia Aumentar o encaminhamento de funcionários com
convênio empresarial que trabalham em empresas da
região
Situação atual O diagnóstico situacional mostrou que apenas 1% dos pacientes
são provenientes de encaminhamentos de ambulatórios de
empresas da região. Há dois anos, este indicador era de 10%.
Existem grandes empresas multinacionais no entorno da Clínica
que não conhecem o nosso serviço, fato detectado em pesquisa
recente.
Métricas /
Indicadores
� Percentual de pacientes provenientes de encaminhamento empresarial por mês
� Receita mensal de atendimentos gerados por encaminhamento empresarial, por tipo de convênio
AÇOES RESPONSÁVEL PRAZO
1. Atualizar cadastro de contatos com RH
de empresas e setor de Saúde Ocupacional
Simone Costa Até 16 de abril
2. Elaborar material de divulgação para
apresentar serviços especializados da
Clínica
Guilherme
Souza
De 10 de março
até 10 de abril
3. Agendar visitas com Médicos e/ou
Enfermeiros do Trabalho
Pedro Giuliani De 17 de abril a
30 de Junho
4. Realizar treinamento com equipe de
atendimento ao cliente (recepcionistas,
telefonistas, assistentes, enfermagem,
médicos)
Simone Costa e
Guilherme
Souza
15 a 30 de
Junho
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
27
5. Realizar visitas, colher indicadores e
atualizar sistema de informações do plano
Pedro Giuliani e
Ana Carolina
Silva
De 01 de Julho a
30 de Agosto
6 Acompanhar resultados e elaborar
Relatório para apresentação
Simone Costa,
Pedro Giuliani e
Ana Carolina
Silva
01 de setembro
a 30 de outubro
7. Apresentação de resultados e feedback
do Plano
Simone Costa,
Pedro Giuliani e
Ana Carolina
Silva
10 de Novembro
Monitoramento e controle
Como vamos saber se as ações estratégicas escolhidas estão gerando os
resultados que desejamos?
Definição de indicadores
Para medir e acompanhar o desempenho organizacional precisamos construir
um sistema de informações gerenciais alinhado com as estratégias e os
objetivos estabelecidos.
Estas informações gerenciais são apresentadas em forma de indicadores,
que devem compor um conjunto coeso, sendo complementares e
interdependentes, facilitando o entendimento do desempenho empresarial sob
vários ângulos.
Portanto, indicadores são métricas, são informações numéricas que
mostram se os resultados desejados estão sendo alcançados ou não e sua
evolução do longo do período.
Este conjunto de indicadores deve ser elaborado como um painel de bordo
bem alinhado com as estratégias, com foco definido, que forneça informações
complementares e inter-relacionadas e interdependentes. Deve ser um
instrumento dinâmico para que o gestor que dela se utilize possa tomar decisões
gerenciais com agilidade e segurança.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
28
Vamos tomar como exemplo a viagem à cidade de Presidente Prudente. Caso
tivéssemos optado por ir de carro até lá, poderíamos utilizar os seguintes
indicadores para ir avaliando se a estratégia escolhida está dando o resultado
esperado ao longo da viagem.
- Km por hora
- Nível de combustível disponível
- Temperatura interna do carro
- Consumo de combustível por km rodado
- Gasto total com combustível
- Tempo total de viagem
- Número de paradas para abastecimento
- Numero de intercorrências com o carro (quebra, pneu furado, etc.)
- Índice de satisfação do motorista durante a viagem
Sendo assim, o motorista vai consultando alguns instrumentos do painel do
carro como velocímetro, nível de combustível e autonomia, termômetro interno,
dados do computador de bordo, relógio, assim como, pode ir registrando
quebras, intercorrência com o carro durante a viagem assim como os gastos
durante a viagem. Ao final, pode avaliar seu próprio nível de satisfação com a
experiência vivida através da estratégia adotada.
Imagine se o motorista tivesse que dirigir o carro por todo este trajeto
podendo utilizar somente o velocímetro, sem ter noção do nível de combustível.
Correria o risco maior de ficar sem combustível no meio da estrada. Ou se ele só
conhecesse quantos km rodou, mas não pudesse ter acesso ao tempo que levou
no percurso? Como poderia avaliar o próprio desempenho como motorista e o do
carro?
Esta analogia nos mostra que, para que possamos dirigir uma empresa e
avaliar continuamente se as estratégias escolhidas estão direcionado-a aos
resultados almejados, devemos ter um conjunto de informações úteis para nos
embasar de forma dinâmica neste exercício da gestão.
Os professores Kaplan e Norton (1997) tiveram o mérito de apresentar uma
ferramenta de controle da estratégia cujo principal objetivo está no alinhamento
do planejamento estratégico com as ações operacionais da empresa. O Balanced
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
29
Scorecard (BSC) representa esta ferramenta, que evoluiu em seu potencial
passando a ser tratado como um “Modelo de Gestão”. Uma característica
marcante do BSC é o equilíbrio do conjunto de indicadores apresentados que
não privilegia uma só faceta do negócio, mas sim, apresenta perspectivas ou
ângulos essenciais para o sucesso da empresa assim como sua sustentabilidade
ao longo do tempo.
O BSC como ferramenta estratégica
Três conceitos são chaves para o BSC: equilíbrio, alinhamento e foco. A
partir da visão da organização e da estratégia escolhida, indicadores são
elaborados para acompanhar o desempenho organizacional de acordo com
essas dimensões.
Segundo os pesquisadores Kaplan e Norton, antes o principal sistema para
avaliar o desempenho das empresas era o relatório da contabilidade financeira
tradicional. Sem prescindir destes, que devem ser obviamente preservados, mas
para equilibrar estes indicadores de resultados, fossem acrescidos de três outras
perspectivas.
Sendo assim, estes propõem que o sistema de mensuração do desempenho
empresarial leve em conta pelo menos quatro dimensões ou perspectivas. São
elas:
Financeira: A estratégia está contribuindo para a melhoria dos resultados
financeiros? O resultado operacional melhorou? As despesas reduziram?
Processos: Os processos operacionais apresentam resultados de alta
qualidade tanto assistenciais quanto administrativo-financeiros? A instituição
atende o cliente de maneira personalizada? Os fornecedores e parceiros
apresentam um bom desempenho?
Clientes: A Clínica alcança a satisfação e retenção do cliente (entende-se
aqui por retenção, o retorno do paciente ao serviço como demonstração de
fidelidade)? A empresa atinge o segmento de mercado que pretende? A empresa
conquista novos clientes? Quais atributos da organização são mais valorizados
pelo cliente?
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
30
Aprendizado e crescimento: Os colaboradores estão satisfeitos em
trabalhar na empresa? O índice de rotatividade de pessoal está controlado? As
informações chegam a todos? As estratégias de treinamento e desenvolvimento
dos profissionais têm repercutido em soluções mais criativas para os problemas
da empresa, permitindo que ela inove no mercado e ganhe vantagem competitiva
diante da concorrência? Quantas idéias novas foram implantadas?
Borba e Oliva (2004) relatam que os indicadores elaborados através do uso
da metodologia BSC funcionam como se fossem instrumentos em uma cabine de
avião, apresentando todos os indicadores de controle do vôo de uma empresa.
Um cuidado a ser tomado pelo gestor de uma Clínica é o de não criar um
número excessivo de indicadores, pois dados coletados e não utilizados são
esforços e recursos desperdiçados
Segue exemplo do uso de BSC:
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
31
Exemplo de um conjunto de Indicadores de uma determinada Clínica, de acordo com seu contexto diagnóstico:
CLÍNICA X Missão: “Prestar serviços de saúde na área de Cardiologia com cortesia, credibilidade e profissionalismo”.
Visão: “Seremos reconhecidos como modelo nacional de atuação em Cardiologia pela excelência de nossos serviços e foco na qualidade de vida de nossos clientes”
Valores corporativos: - Visão integral do ser humano - Ética - Excelência técnica -Qualidade no Atendimento - Sustentabilidade do negócio
Objetivos estratégicos: - Aumentar faturamento - Aprimorar atendimento ao cliente - Melhorar visibilidade no mercado -Capacitar profissionais para cumprir missão e visão
Estratégias: -Revisar processos e rotinas de Faturamento -Implantar Marketing de Relacionamento -Implantar programa de treinamento e desenvolvimento
Planos de Ação: - Marketing de relacionamento com operadoras, autogestões, médicos e comunidade da região - Revisão de rotinas, processos e tabelas utilizadas no Setor de Faturamento - Implantar Programa de Treinamento e Desenvolvimento
PERSPECTIVAS Financeira Processos Clientes Aprendizado e crescimento
Indicadores:
-No de atendimentos/Mês -Faturamento por tipo de convênio/Mês -No de novos encaminhamentos -Custo de treinamento/profissional
-Tempo de Sala de Espera -Erros de agendamento -Falta ou atraso de médicos -Faturamento em atraso por convênio -Índice de glosas
-Satisfação de clientes -Indicação de novos clientes por pacientes -Retorno de pacientes -Faltas em consulta ou procedimento
-No de profissionais treinados por tema -No de novas idéias implantadas -% de presença em treinamento
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
32
A tradução do BSC para as equipes operacionais
Kaplan e Norton (2004) colocam que empresas bem sucedidas utilizam 5
princípios gerenciais para se tornar uma “organização voltada para a estratégia”:
- Traduzir a estratégia em termos operacionais
- Alinhar a organização à estratégia
- Transformar a estratégia em tarefa de todos
- Converter a estratégia em processo contínuo
- Mobilizar a mudança por meio da liderança executiva
“Os profissionais que compõem o quadro de pessoal da empresa devem
compreender o Planejamento estratégico adotado de forma que consigam
perceber relação de causa e efeito nas ações estratégicas. Principalmente,
precisam entender onde e como seu trabalho cotidiano tem relação e impacto no
alcance dos objetivos estratégicos da empresa”. Para que os objetivos,
estratégias e planos façam sentido para as pessoas, o conteúdo do
Planejamento Estratégico deve ser “traduzido” para as equipes operacionais.
Esclarecer e traduzir a visão e a estratégia: o processo de Scorecard é
responsabilidade da equipe de gestão, que pode contar com a ajuda de consultores
especializados ou recursos internos. Para esta ação podem ser utilizados jornais
internos, quadros de avisos, cartazes, intranet, etc. Mas nada substitui uma reunião
inicial presencial com o grupo para que se sejam expostos os objetivos de um
planejamento estratégico. Esta comunicação direta com a participação dos diretores
e responsáveis pelas áreas tende a aumentar a adesão e o compromisso dos
profissionais e colaboradores da Clínica. Além disso, eles compreenderão melhor a
importância de se coletar dados para a elaboração dos indicadores estratégicos que
servirão de base para a avaliação da efetividade das ações adotadas. Cria-se um
ambiente de aprendizado estratégico na empresa, onde a alta direção e os
profissionais que atuam na operação estão todos integrados e motivados em busca
da melhoria continua do desempenho da empresa. O intuito principal dos
indicadores não é o de controlar a performance mas sim, comunicar a estratégia
para todos os membros e avaliar a eficácia dos planos de ação adotados. Fazer com
que a estratégia seja convertida em ação é tarefa de todos, que devem “falar a
mesma língua”.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
33
Cuidados e limites no uso do planejamento estratégico
Um dos principais cuidados a serem tomados se refere ao não
“engessamento” das metas e estratégias escolhidas. O PE deve ser um
instrumento dinâmico e flexível. A formalização também deve ser evitada por
dificultar a comunicação entre pessoas e níveis organizacionais A forma de
condução do planejamento estratégico é mais importante do que o método em si.
Autores e pesquisadores do tema recomendam a criação de um ambiente que
estimule a criatividade e o trabalho em equipe como algo que vale a pena ser
estimulado.
Apesar de apresentar suas limitações, o Planejamento Estratégico é um
instrumento poderoso e altamente usado nas organizações, ainda mais se aliado
ao Balanced Scorecard. Segundo pesquisa da BAIN & COMPANY (2002), o
planejamento estratégico é a ferramenta de gestão mais usada nas empresas
brasileiras e a segunda colocada em satisfação. Já o Balanced Scorecard se
mostra como uma ferramenta recente, porém em franca expansão. Seu uso, que
era de 30% em 2000, aumentou para 56% em 2001. Em termos de satisfação,
aparece como a quarta colocada, com uma nota de 4,29 em um máximo de 5.
Após o término de todas as etapas do Planejamento Estratégico, deve-se
considerar a elaboração de um Plano Integrado de Comunicação e Marketing,
geralmente com o auxílio de um consultor especializado, que vai ajudar na
consolidação da implantação do PE. Este esforço é importante para o
direcionamento do trabalho de divulgação do negócio e de suas vantagens
competitivas. Este plano deve estar de acordo com a legislação vigente e o
código de Ética Médica, recentemente modificado.
CAPÍTULO 3. Integrar estratégias e pessoas: desafio para o sucesso do Planejamento Estratégico Como envolver as pessoas
É importante que as estratégias adotadas pela empresa façam sentido para
cada um dos profissionais que ali trabalham. Cada membro deve perceber sua
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
34
importância e compreender seu papel para que a empresa atinja os objetivos
empresariais estabelecidos. Em termos populares todos devem “vestir a camisa”
da empresa.
É imprescindível que se identifiquem com os propósitos apresentados, pois,
em ultima instância, serão os próprios colaboradores internos e profissionais os
responsáveis por tornar as estratégias e objetivos em algo concreto, perceptível
aos olhos dos pacientes, famílias, fontes pagadoras e comunidade. Ou seja, se
cada um dos membros de sua Clínica não aderir ao Planejamento Estratégico
adotado pela empresa, os resultados ficarão negativamente comprometidos.
Neste aspecto, a educação e o treinamento das pessoas devem ser
realizados de forma prática e continuada. Os líderes da Clinica deverão ser
capacitados para dar apoio e suporte aos demais colegas, gerando
aprendizagem e desenvolvimento colaborativo e compartilhado. O feedback dos
gestores para os profissionais e colaboradores e vice versa é fator importante
para a implantação bem sucedida de qualquer mudança no ambiente
organizacional.
Importância da liderança
O estilo da liderança tem grande impacto nos resultados obtidos em uma
empresa. Saber ouvir e considerar a opinião das pessoas estimula o
compromisso e a responsabilidade. No novo paradigma, o conceito de liderança
é atitudinal. O líder deve ter atitudes que justifiquem sua influência.
A influência é o cerne da liderança. O líder deve ter a capacidade de
influenciar outros, ou seja, persuadir os membros da equipe a buscar o mesmo
objetivo. No momento em que ocorre a influência, o líder deve sempre ter em
mente que, seu papel, agora, é o de proporcionar oportunidades para que a
equipe alcance seu alvo.
Podemos dizer que o líder deve ser facilitador. Isto significa remover barreiras e
dificultadores para que os objetivos traçados sejam atingidos. O líder facilitador
coordena as ações da equipe, ajudando-a em seu desenvolvimento para que o
caminho em busca do objetivo proposto seja possível.
O líder facilitador tem consciência de que ao gerenciar pessoas, devem-se
considerar fortemente os aspectos emocionais das atividades de acordo com
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
35
cada contexto, a fim de alcançar resultados positivos nos planos de ação e
melhoria.
O contexto emocional aparece nos momentos de feedback, que são
necessários durante todo o processo de trabalho da equipe, seja com um
colaborador ou com outro, e muitas vezes, com o próprio líder.
O líder deve se preparar para trabalhar com a ansiedade de seus
colaboradores diante da ocorrência de falhas nos resultados do trabalho da
equipe. E, uma das habilidades necessárias para que o líder atue de forma
eficaz, é a arte de criticar, ou seja, de apontar as falhas da equipe de modo
construtivo.
Muitos são deficientes ou até mesmo não têm esta habilidade, fazendo suas
críticas de maneira rude, sem se importar com sentimentos alheios, agindo,
assim, de maneira egocêntrica e ineficiente.
Estudos mostram que os colaboradores freqüentemente reagem sendo
defensivos, dando desculpas ou evadindo-se de responsabilidades quando
recebem críticas destrutivas. Portanto, a responsabilidade do líder em manter
seus colaboradores conscientes e comprometidos com os objetivos aumenta
diante da necessidade de correções das falhas diagnosticadas nos resultados da
equipe.
Criticar é uma arte e deve ser feita de maneira a manter o espírito
empreendedor e alimentar o comprometimento em realizar as ações de maneira
correta
Ao agir como líder educador, o líder energiza sua equipe, injetando ânimo e
demonstrando claramente a cada colaborador a sua importância no processo
para o sucesso da empresa no mercado.
CONCLUSÃO
O grande desafio: unir estratégias e pessoas para a execução.
É vital que a empresa se preocupe em traduzir seus planos estratégicos para
as pessoas que vão operacionalizar estas ações e que serão sentidas e
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
36
percebidas pelo principal ativo de uma empresa de saúde: os pacientes e
familiares, assim como as suas fontes pagadoras.
Conforme Bossidy e Charam (2002), o processo de estratégia define aonde
um negócio quer ir e o processo de pessoal define quem vai fazer seu negócio
chegar lá. O plano estratégico desdobrado em planos operacionais indicará para
as pessoas o caminho. O resultado e os objetivos maiores devem ser
decompostas em metas de curto prazo, facilmente observáveis e mensuráveis.
Portanto, são as pessoas envolvidas no dia a dia da operação da Clínica, os
líderes formais e informais os responsáveis pela concretização da estratégia no
cotidiano da empresa. As pessoas, em especial os líderes, são a chave do
sucesso de uma empresa. Quando bem instrumentalizadas e apoiadas sabem
para qual direção deverão levar a embarcação.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
37
Bibliografia sugerida ALMEIDA, M. I. R. Manual de planejamento estratégico. São Paulo:Atlas, 2001. ANSOFF, H. I. Do planejamento estratégico á Administração Estratégica. São Paulo: Atlas, 1990. BAIN & COMPANY. Quem tem medo das ferramentas gerenciais? HSM Management, n.19, mar./abr.2000, p.122-130. BAIN & COMPANY. Vencedoras confirmadas. HSM Management, São Paulo, ano 6, n. 31, p. 138-142, março-abril 2002. BATEMAN, T.; SNELL, S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998. BOSSIDY, L. CHARAM, R. Execução. A disciplina para atingir resultados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. FISHMANN, A. A.; Almeida, M. I. R. Planejamento estratégico na prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991. GIANESI, I. G. N. Administração estratégica de serviços, São Paulo: Atlas, 1996. GONÇALVES, E. L. (Org.). Gestão hospitalar: administrando o hospital moderno. São Paulo: Saraiva, 2006. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: Balanced Scorecard. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997 KAPLAN, R. t S.; NORTON, D. P. Mapas estratégicos – Balanced Scorecard: convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. Organização orientada para a estratégia: como as empresas que adotam o Balanced Scorecard prosperam no novo ambiente de negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2000. MACHLINE, C. ; MOTTA, I. S. Manual de Administração da Produção. 9 ed. Rio de Janeiro: FGV, 1990 MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. 6ª Edição. São Paulo : Atlas, 2006. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de Estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre : Bookman, 2000. OLIVA, F. A.; BORBA, V. R.. BSC – Balanced Scorecard: ferramenta gerencial para organizações hospitalares. São Paulo: Iátria, 2004. OLIVEIRA, D. P. R.. Planejamento estratégico: conceitos,metodologia e práticas. 16. ed. São Paulo:Atlas, 2001.
GUIA PRÁTICO - O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA REALIDADE DO MÉDICO São Paulo, Planmark Editora, 2010 - Projeto Pfizer
Autores: Maria Lucia Teixeira Ramos
Nancy I. Yamauchi Sidney Glina
38
PERECIN, A. Proposições para o entendimento do problema estratégia /estrutura na pequena e média empresa. 1984. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo. PINHEIRO, M. Gestão e desempenho das empresas de pequeno porte: uma abordagem conceitual e empírica. 1996. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo. SCARPI, J. M. Gestão de Clínicas Médicas. São Paulo: Futura, 2004. TEIXEIRA, J. M. C. et al. Planejamento estratégico e operacional em saúde. In Gestão hospitalar. Gonçalves, E. L. (org.). São Paulo: Saraiva, 2006. YAMAMOTO, E. Os novos médicos administradores. São Paulo: Futura, 2001.
ZACCARELLI, S. B. Estratégia e sucesso nas empresas. São Paulo: Saraiva, 2000.