Post on 28-Jan-2023
O que os ossos revelam mas não contam:
a importância dos dados históricos e socio-culturais para a compreensão dos resultados da análise paleobiológica de uma amostra
osteológica Portuguesa
X Congreso Nacional de Paleopatologia Madrid, 3,4 e 5 de Setembro, 2009
Cristina Barroso Cruz Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra
1. Introdução
“Human sekeletons represent answers, and the goal of osteology is to frame the questions”
!by Eugene O’Neill In Amerlagos & Gerven, 2003
1. IntroduçãoContextualização metodológica e teórica
- criação de protocolos de actuação em campo
- base de dados antropológica
- aplicação da base de dados à investigação paleodemográfica e paleopatológica
Departamento de Antropoliga da Universidade de Coimbra
Centro de Investigação em Antropologia e Saúde
Fundação para a Ciência e Tecnologia
1. IntroduçãoFundamentação teórica
- importância da standarização
comparação de diferentes séries só é possível se os procedimentos metodológicos forem iguais (Ubelaker, 1994)
a partir da década de 90 com o desenvolvimento dos sistemas informáticos, começou a haver uma maior aposta na criação de bases de dados (Ousley et al. 2006)
“ (...) Standardised recording will enable greater comparability between human bone assemblages from different site”
(in Brickley & McKinley, 2004)
I. IntroduçãoFundamentação teórica
- importância da multidisciplinaridadeimplementação do conceito de “Bioarchaeology” na década de 70 (Amerlagos & Gerven, 2003)
“(...) In fact, this relationship is so strong that bioarchaeology and paleopathology are linked in the minds of most skeletal biologists”
(in Amerlagos & Gerven, 2003)
durante muito tempo a análise do material osteológico fazia-se desconhecendo o seu contexto de proveniência, comprometendo os resultados finais (Larsen, 2006)
I. IntroduçãoAbordagem
Antropologie du terrain (Duday, XXX)
Bioarchaeology
Ciências biológicas
Ciências sociaisTeoria social (história, sociologia,
antropologia social e cultural etc.)
Teoria biológica (evolução, epidemiologia)
Metodologia arqueológica
Knudson & Stojanowski, 2008
Figuras Históricas
1. Introdução
Protocolos/Standarização
Base de dados Antropológica
Aplicação da base de dados
Projecto: Viver a Morte em Portugal
- Protocolos de campo / Ficha Antropológica de campo*
- Normas para a redacção de relatórios de campo
- Categorização dos dados de campo / Registo de dados*
- Normas para a redacção de relatórios de campo
- Caracterização da população do passado
- Desenvolvimento de estudos comparativos
I. Introdução
Base de dados antropológica
Relatórios antropológicos de campo
Fichas antropológicas de campo +
Protocolos de campo
Análise estatística dos dados
Motor de buscaUniformização da informação
Estudos transversais
Standarização
Multidisciplinaridade
I. IntroduçãoA base de dados antropológica
Relatórios antropológicos de campo
Criação das variáveis
PaleopatologiaPresente/Ausente +
Descrição
Grau da manifestação/intensidade da patologia
Categorização dos dados
Quantificação
Análise estatística dos dados
I. IntroduçãoAlguns exemplos de outras bases de dados
-The Smithsonian
- Global History Health Project- Museum of London
- Herrerin’s project
Museus Investigação
Em Portugal
base de dados essencialmente vocacionada para o registo e dados e eventual aplicação para a investigação
criada para permitir o registo e o acesso para a investigação multidisciplinar
base de dados internacional criada com o objectivo de caracterizar o perfil epidemiológicos ao longo do tempo
IGESPAR/Endovélico: registo de cariz arqueológico contemplando um conjunto básico de dados referentes a restos osteológicos humanos
Programa informático para gestão de necrópoles que permite a criação de relatórios para os indivíduos
I. IntroduçãoA base de dados antropológica
- Antropologia funeráriaorientação, tipo de sepultura, espólio associado, posição dos membros, etc.
- Representatividade e preservaçãoutilizando a metodologia de Ubelaker (1994)
- Paleodemografiadiagnose sexual, estimativa da idade à morte, escalão etário
- Análise morfométrica(a avaliar a pretinência destas variáveis)
- Caracteres epigenéticosconjunto de X variações em várias zonas do esqueleto
I. IntroduçãoA base de dados antropológica
- Patologia oralcáries, tártaro, quistos periapicais, desgaste, doença peridontal, etc
- Patologia geralinfecciosa, neoplásica, congénita, stresses fisiológicos, etc.
I. IntroduçãoCaracterização da base de dados
Datas de intervenção: 1991 - 2005
Motivos da não inclusão: - relatórios incompletos - material muito fragmentado - contextos de ossário
Relatórios Antropológicos de Campo em depósito no Laboratório de Osteologia do Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra
N=56
Época: séc. II - século XX
Contextos: necrópoles, conventos, igrejas, castelos, etc.
Total de indivíduos = 368
I. Introdução
Distribuição por sexo Distribuição escalão etário
Indeterminado - 41,6% Feminino - 22,8% Masculino - 35,6%
Sem informação - 11,1% Não adulto - 19,0%
Adulto - 69,8%
Caracterização da base de dados
2. ObjectivosTestar a viabilidade da base de dados ao nível da análise:
2.1 Testar a aplicabilidade da base de dados
2.2 Concluir sobre a pretinência da base de dados e da necessidade de criar protocolos de campo;
Hipótese em análise: De que forma o sexo e a idade são afectados por aspectos socio-culturais e paleopatológicos que de alguma forma são indicadores de estatuto.
O género e a idade são duas variáveis que estão intimamente relacionadas com a questão do estatuto social e de fácil aferição em campo.
Análise inspirada em Sullivan (2004)
2. ObjectivosHipótese em análise: De que forma o sexo e a idade são afectados por aspectos socio-culturais e paleopatológicos que de alguma forma são indicadores de estatuto.
Variáveis a analisarSepultura: tipo de sepultura (covacho, escavada na rocha, limitada por pedras ou lages, etc) e classificação da sepultura (simples, dupla, etc.)
Existência de espólio: simbolos religiosos (rosários, caronte, etc), adorno (brincos, pulseiras, etc), inclusão de metais e cerâmica (votiva e utilitária)
Paleopatologia: patologia infecciosa (periostite, tuberculose), stress fisiológico (cribra orbitalia, hiperostose porótica, etc.)
Estes elementos podem ser interpretados como sendo
indicadores de pertença a uma classe social com algum poder
económico
Considerando que estas patologias afectam mais
indivíduos de menor estatuto social
3. MaterialAmostra específica - 187 indivíduos
Época - medieval
Análise - Variáveis
Antropologia funerária: - espólio funerário; tipo de sepultura, tipo de inumação, estrutura de inumação
Paleodemografia: - estimativa da idade à morte, escalão etário, sexo
Selecção da amostra
Distritos - Bragança, Viseu, Évora, Setúbal
Paleopatologia: - infecciosa, stress fisiológico
4. Métodos
Correlações de Pearson
Controlo da amostra: foram eliminados todos os dados de classificação “indeterminado” e/ou “sem informação”
Tratamento estatístico - SPSS 17,0
Sexo e Idade
Antropologia funerária
Paleopatologia
- sepultura: classificação e tipo; - existência de adereços; - símbolos religiosos; - presença de adornos; - presença de metais;
- evidências de periostite; - evidências de tuberculose; - evidências de cribra orbitalia; - hiperostose porótica;
5. Resultados
Classificação da sepultura Tipo de sepultura Símbolos religiosos
Escalão etárior = -0,311 p = 0,012 N = 65
r = -0,316 p = 0,003 N = 85
r = 0,227 p = 0,027 N = 95
Observações
As sepulturas múltiplas são mais comuns entre os
mais novos
Os indivíduos mais jovens são inumados
em sepulturas de materiais mais
resistentes.
Os simbolos religiosos são mais frequentes entre indivíduos mais
velhos
Antropologia funerária - correlações significativas
Em relação ao sexo verificou-se apenas uma tendência no que diz respeito à existência de adereços nas inumações, sendo esta prática tendicialmente mais comum entre os homens (r=0,188; p = 0,068; N = 95)
Não foi encontrado qualquer tipo de correlação no que diz respeito aos dados paleopatológicos.
6. Discussão
Resultados pouco significativos e claros...
Análise preliminar da base de dados antropológica:
...contudo reveladores do potencial de análise de natureza multidisciplinar.
A ausência de outras bases de dados do género - que entrem em linha de conta com os dados de campo - não permite a comparação de resultados
Ainda assim vai ao encontro de pelo menos uma premissa social: os indivíduos mais velhos são inumados com maior quantidade de espólio.
6. DiscussãoAnálise preliminar da base de dados antropológica:
Motivos- diminuição do tamanho da amostra à medida que se seleccionam as variáveis a analisar;
- a esmagadora maioria dos relatórios é omisso na informação que fornece;
- subjectividade relativa ao que cada antropólogo considera pertinente executar no campo e incluir nos relatórios;
7. Conclusão- A criação de uma base de dados antropológica vai ao encontro do que se faz e que permite a evolução científica da disciplina;
- Contudo, este processo e projecto só fará sentido se for acompanhado por metodologias e protocolos de campo e laboratório que permitam um maior aporte de informação;
- Os resultados obtidos a partir da utilização da base de dados deverá ser sempre acompanhada de uma análise multidisciplinar;
- Procurar comparar resultados e integrar outras bases de dados sempre que possível.