Post on 22-Jan-2023
Título: As artes e culturas orientais no âmbito acadêmico brasileiro
Title: The oriental art and culture in the brazilian academic ambience.
Autoria: Sérgio Paulo Tückumantel de Almeida – Licenciado em Educação Artística pelo CEUCLAR (Claretiano) em 2011. Email: kathono2005@gmail.com – Tel.:(11)9478-8731
RESUMO
Fronteiras territoriais, barreiras culturais e diferençassociais ainda estão em nosso cotidiano, sob um ponto de vistaglobalizado, porém, sabe-se que estamos em um estado emconstante transição que, inclusive, caminha para um mundo ondepessoas se comunicam a qualquer instante com qualquer outro dequalquer outro lugar do planeta, aproximando-se assim deculturas, crenças, fatos e ideologias de qualquer local ou povo.Um mundo onde culturas se misturam formando uma cultura local,como a nossa, a brasileira, inserida em meio a um povo tãomiscigenado, tão global, com parentescos em todo e qualquerlugar. Tratando-se da cultura oriental no Brasil, o que seconstata são lacunas e mais lacunas, uma acomodação aoEurocentrismo e ao Ocidente que não condizem com nossa realidadesocial multiétnica e multicultural. Por hora, diante de talatraso, nos resta pesquisar para constatar que ainda poucoexiste de fato para romper certos paradigmas e cânonesocidentais e ingressar em um novo rumo estético-acadêmico, menoshermético e culturalmente mais humano.
Palavras-chave: Cultura oriental, arte, orientalismo,multiculturalismo, ensino.
Territorial boundaries, cultural barriers and socialdifferences are still in OUR DAILY, in a globalized point ofview, however, we know that we are in a constant state oftransition, moving to a world where people talk to each other
anytime at any place in earth, approaching the cultures,beliefs, facts and ideologies of any place or people. A worldwhere cultures blend to form a local culture, like the Brazilianculture, inserted among a people so interbred, so global, withkinship in any place. In the case of Eastern culture in Brazil,which notes are gaps and more gaps, an accommodation toEurocentrism and to Ocident that do not match our social realitymultiethnic and multicultural. For now, due to such a delay,what remains is searching to realize that, in fact, there arenot many obstacles to break some paradigms and Ocidental canonsand join a new course academic-aesthetic, less culturallyhermetic and more human.
Keywords: Oriental culture, art, Orientalism, multiculturalism, teaching.
AS ARTES E CULTURAS ORIENTAIS NO ÂMBITOACADÊMICO BRASILEIRO
Atualmente nos encontramos em um mundo extremamente versátil
e interconectado por inúmeros meios, nos proporcionando
influência, participação e apreciação de culturas do mundo todo,
dentre as quais também está a cultura oriental, que de anos para
cá tem nos afetado cada vez mais intensamente, seja nas artes,
na moda, no entretenimento, na filosofia, na medicina, ciências
e em nosso estilo de vida. No entanto, não somente no estudo das
artes e de sua história, como também na história que aprendemos
na escola, somos apresentados a uma versão extremamente
ocidentalista, que marginaliza a história realmente universal,
onde podemos ver em livros com títulos como "História da Arte
Universal" que se limitam a Europa e América. De tempos para cá,
a história da arte no Brasil, na América Latina e na África tem
sido redescoberta para que não percamos nossas raízes culturais
mais próximas, no entanto, a Ásia ainda tem se mantido distante
neste quesito, sem deixar de levar em consideração que,
diferentemente de quando se fala de Ocidente, ao se falar de
Oriente, estamos falando na verdade de três orientes distintos,
aquele que envolve os países árabes e Israel, os que envolvem a
região da Ásia Central, como a Índia, e ainda o extremo oriente
conhecido como os países do leste asiático, China, Coréias e
Japão.
Nosso sistema educacional e seus currículos (seja no ensino
básico, seja no superior) ainda são cegos para o Oriente,
enxergando apenas a ciência, as descobertas, os triunfos, a
filosofia, a história, a arte e a cultura do Ocidente. A
matemática que nasceu nos povos antigos, evoluiu apenas no
Ocidente, as grandes navegações trouxeram os primeiros ‘não-
índios’ ao continente americano, porém, estudos recentes
comprovam que os chineses tiveram contato com o Novo Mundo, no
mínimo, setenta anos antes dos espanhóis e portugueses, sem
contar que, se levarmos em conta o título Grandes Navegações
como algo em esferas globais, estaríamos equivocados por não
terem sido estas (as Européias) a terem feito as maiores viagens
e descobertas geográficas de todos os tempos. O título “1421, o
ano em que a China descobriu o mundo” de Gavien Menzies, é
somente um dos que, através de pesquisas, comprovam que a
superioridade ocidental jamais existiu e que em toda a nossa
história, talvez tenhamos visto o mundo de forma parcial, fato
este que tende temporalmente a se desfazer com a aproximação
entre povos e culturas através dos novos tempos da Era da
Informação e também do fim das fronteiras físicas como
limitadoras do intercambio entre pessoas de qualquer local do
globo.
Acredita-se que a formação buscada nas escolas, que procura
tornar o aluno mais consciente da diversidade cultura existente
hoje no Brasil não pode mais se limitar ao Ocidente, na medida
em que todos hoje somos afetados pelas mais diferentes culturas
do mundo, e que para não somente respeitar, mas conhecer afim de
se evitar um pré-conceito, um menosprezo das culturas orientais,
estabeleça-se um contato maior entre elas dentro do âmbito
educacional.
Para que se chegue a algum resultado nas escolas de ensino
básico, é necessário, porém, verificar e analisar de antemão o
currículo dos cursos superiores ligados a formação artística e
de arte-educação. Neste sentido, procurou-se coletar e analisar
algum dos parâmetros curriculares dos mais conhecidos cursos
superiores desta área, afim de se apontar um fato concreto: a
formação acadêmica em artes ainda está presa ao Eurocentrismo da
Arte do Ocidente.
Embora o Brasil esteja situado dentro do continente
americano, na região ocidental do globo, é bem verdade que em
muitas situações não nos sentíamos muito próximos da cultura
dita Ocidental, em muito propiciado por nossa herança cultural
advinda dos povos indígenas e africanos, e também pela
discrepância sócio-econômica em que estivemos inseridos nos
últimos séculos em relação aos países do norte ocidental (Europa
e América Anglo-Saxônica). Essa noção ocidental, no entanto, era
evidente em nosso estilo de vida, na nossa percepção estética,
na herança filosófica e religiosa advindas predominantemente da
Grécia Antiga e do Cristianismo, e no contato artístico entre
nossos artistas, a Europa e os Estados Unidos. A constatação é a
de que, colonizados por portugueses, nossa aproximação com o
mundo ocidental iniciou-se a mais de quinhentos anos atrás e
atravessou o tempo até os dias de hoje.No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, pudemos
assistir ao ressurgimento - de maneira ainda mais universal- da interpenetração de culturas, o que levou as nações -pela primeira vez na História - a interagirem em nívelglobal, mal-grado sua menor ou maior resistência. (HANANIA& SPROVIERO, 1998, p.9)
Após este período, Estados Unidos e União Soviética
dividiram, praticamente, o mundo em dois e através de suas
disputas em diversos campos da ciência muitos avanços
tecnológicos foram desenvolvidos, tanto no âmbito civil como no
militar, como por exemplo é o caso da internet. O objetivo
militar da ARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do
Depto. De Defesa dos EUA) era criar um sistema de comunicação
invulnerável, e através dos avanços da comunicação e sistemas,
aliado ao anseio humano de interagir com o maior número de
pessoas e de acessar cada vez mais informação acelerou a
evolução da internet. (MONTE, 2010)
Se as mídias em geral já propiciavam um contato inter-
cultural sem precedentes na história da humanidade, com a
internet todo este processo se acelerou em escalas geométricas.
Juntando este fator temporal com o estigma histórico da ruptura
Ocidente/Oriente, podemos mapear então, os três canais pela qual
se construiu este momento de intercâmbio entre culturas tão
distintas: os meios de mídia, os meios de telecomunicações e o
fator humano, propiciado no Brasil principalmente pela
miscigenação e presença de colônias de diversas nações do
Oriente. Todo este sistema intercultural espontâneo gerado pela
globalização no entanto, será minuciosamente analisado
posteriormente, após verificar-se, brevemente, do que se trata a
já tão citada cultura oriental e seus componentes filosóficos,
estéticos e históricos.
No que então se consiste o Oriente? Por qual razão fala-se
em um só Ocidente e em vários Orientes? Para aproximar-se do
conceito atual de Oriente / Ocidente é necessário que analise-se
o conceito segundo o sinólogo SPROVIERO (1998):Conforme o enigmático autor René Guénon (1886-1951),
crítico acérrimo do Ocidente moderno, pode-se perfeitamentefalar de uma mentalidade oriental oposta em seu conjunto àmentalidade ocidental mas não se pode falar de umacivilização oriental como se fala de uma civilizaçãoocidental e já que há várias civilizações orientaisnitidamente distintas, teríamos, assim, uma civilizaçãoocidental e várias orientais. Por outro lado, a unidadecultural da civilização ocidental moderna só repousaria numconjunto de tendências que constituem uma certaconformidade mental, uma simples unidade de fato, semprincípio, desde que o Ocidente rompeu com a Cristandade,
seu princípio constitutivo até a Idade Média. Enquanto queas civilizações orientais, por mais diversas que sejam,cada uma repousando sobre um princípio de unidadediferente, trazem todas certos traços culturais comuns,principalmente quanto aos modos de pensar, o que permitedizer que existe, de um modo geral, uma mentalidadeespecificamente oriental. (SPROVIERO, 1998, p.49)
Sendo este parágrafo acima a primeira parte para se entender
a relação Ocidente/Oriente, em linhas gerais, compreendendo
também a existência de uma cosmo-visão oriental, e distinguindo
o Ocidente dos Orientes, SPROVIERO (1998) adiciona ainda mais
três partes contextuais para a construção deste entendimento:
Geográfico, Mitológico, Etimológico e Cultural.
Se por um lado o ponto de partida para se caracterizar os
dois lados desta ruptura global está no fator geográfico, onde
Ocidente é fundamentalmente a Europa, e o Oriente é
fundamentalmente a Ásia, excluindo-se de certa forma África,
América e Oceania. Para muitos historiadores, claro que não sem
contestação, a Ásia deu princípio as primeiras civilizações
humanas, baseado inclusive no relato do historiador italiano do
século XIX, Cesare Cantù (1804-1895), que afirma ser a Ásia o
berço do gênero humano e da civilização, sendo não só a parte
mais extensa do mundo como também a mais favorecida pela
natureza (aos olhos dos pesquisadores daquela época), tendo como
fato constatado que as primeiras grandes civilizações nasceram
no limite geográfico entre os continentes Africanos e Asiáticos,
indo do Egito à Mesopotâmia. (SPROVIERO, 1998)
A relação entre Ocidente e Oriente, Europa e Ásia é tão
próxima que até etimologicamente podem-se constituir como
sinônimos, na medida em que se entende que no latim, Oriente é o
local onde o sol nasce e Ocidente onde o sol se põem,
significados semelhantes aos das origens etimológicas de Europa
e Ásia vindas do acádio.A palavra oriente vem do latim oriens, ‘o sol
nascente’, de orior, orire, ‘surgir, tornar-se visível’,palavra da qual nos vem também ‘origem’. A palavra ocidentenos vem do latim occidens, ‘o sol poente’, de occ-cidere, deop, ‘embaixo etc’, e cadere, ‘cair’. Seríamos induzidos aseguinte analogia: da mesma maneira que o sol nasce noOriente e morre no Ocidente, assim também a cultura nasceno Oriente e morre no Ocidente. (SPROVIERO, 1998, p.51)
Porém, o que faz do Ocidente uma unidade e do Oriente não,
em termos culturais? Para isso é necessário entender o conceito
de grandes culturas apresentados por SPROVIERO (1998):
Quando se procura caracterizar o que seja uma grandecultura, não se pensa em primeiro lugar num critériovalorativo. Uma grande cultura não é necessariamente umacultura superior. É, porém, certamente uma cultura que querexpandir-se, que quer totalizar seu espaço geo-político.Por exemplo, a cultura que surgiu na confluência do RioAmarelo e do Rio Wei, na China, acabou por dominar todo oespaço da China. Esta tendência à expansão, que podemosperfeitamente chamar de imperialista, ou seja, de quererimperar universalmente, é um traço característico do que sedenomina uma grande cultura. (SPROVIERO, 1998, p.51)
A diferença, em suma, está aí. O Ocidente se constituiu de
uma grande cultura originada da confluência entre três culturas:
grega, romana e judaica. Que assimilaram e se transformaram
dentro de culturas germânicas, eslavas e a mais complexa delas:
a Greco-bizantina, como afirma SPROVIERO (1998):O Império Romano do Oriente e o posterior Império
Bizantino são por assim dizer o Oriente ocidental, o"Oriente Europeu", mas não o que chamamos propriamente deOriente. Poderíamos dizer que suas duas capitaishistóricas, Roma e Constantinopla, hoje estão representadaspor Washington e Moscou. (...) Deve-se constatar que foi aRússia que se expandiu para a Ásia. No entanto, estatendência começa a inverter-se em favor da China.(SPROVIERO, 1998, p.52)
Já o Oriente não, este não é uma unidade cultural formada
pela assimilação e transformações, pois neste universo podemos
separar em três blocos formados basicamente por três sistemas
culturais diferentes, dando origem assim aos “Três Orientes”,
classificados convencionalmente através de suas proximidades com
a Europa.
(Figura 1 - SPROVIERO, 1998, p.52)
Analisando o mapa, pode-se analisar o que define a
existência destes três orientes. O primeiro deles, o Oriente-
Próximo, demarcado em lilás no mapa, é conhecido hoje pela
cultura Árabe (embora nem sempre tenha sido assim, devido a
outras culturas que lá dominaram em determinados períodos
históricos). Para SPROVIERO (1998) no entanto, é necessário
entender que deve-se atentar para essas convenções pelo seguinte
fato:Temos que assinalar que hoje confunde-se o Próximo-
Oriente com o Oriente-Médio, principalmente no Brasil.Havendo um conflito na Palestina nossa imprensa e mídiaeletrônica falam de um conflito no Oriente-Médio, enquantoque a televisão alemã, em relação ao mesmo conflito serefere ao Próximo-Oriente (Konflikt in Nahosten). É como seo Próximo-Oriente não existisse mais! (SPROVIERO, 1998,p.52-53)
Para MACEDO (2006) é nesta região em que um fato no início
deste milênio ressurge a discussão da ruptura entre Ocidente e
Oriente. O fato citado, é o atentado ao World Trade Center em 11
de setembro de 2001, tornado pelos Estados Unidos o estopim para
uma cruzada do Ocidente contra o Oriente terrorista, veiculada
internacionalmente por canais midiáticos como a CNN de forma
vazia dentro dos estudos sociais, culminando em invasões
americanas em territórios Afegãos e Iraquianos noticiados pelos
canais internacionais como mera supremacia do Ocidente neste
choque de civilizações.
Não perdendo o foco, dentro dos contextos geográficos, este
primeiro oriente engloba ainda os “confins” da Europa, o norte
da África e se espalha pelo leste da Ásia através,
principalmente do Islã e dos muçulmanos, cujo maior país
representante, por exemplo é a Indonésia, situada
geograficamente mais distante que outros países muçulmanos em
referência com o continente europeu.
Afastando-se mais da Europa, chega-se ao verdadeiro Oriente
Médio, constituído basicamente pelo universo cultural Hindu, com
a Índia no papel central, compreendendo em sua unidade vários
povos de etnias bem diversas, bem maiores que as diferenças
encontradas em toda a Europa. Porém, ainda assim esses povos
possuem uma unidade através da cultura e da língua culta: o
sânscrito, expandindo-se para o leste, em países como Mianmar,
Camboja e Tailândia, sendo sua maior influência dada através do
budismo, em grande parte da Ásia central e oriental. (SPROVIERO,
1998)
Por fim, o Extremo Oriente, sistema cultural cuja unidade se
encontra justamente no sistema lingüístico chinês, espalhando-se
pelo leste asiático a países como Vietnã, as duas Coréias, e a
própria China. Além destes, está o Japão, muito próximo desta
unidade, mas que possui uma cultura diferenciada em vários
aspectos da cultura chinesa, mas muito próxima em outros,
encaixando-se por isso neste terceiro oriente.
Desta forma, passa-se a entender a existência de um Ocidente
e três Orientes, que em, linhas gerais, ao se integrarem geram
dois fenômenos, o da globalização, já mencionado, e o do
multiculturalismo a ser explicado a seguir.
Com o advento e formidável desenvolvimento dos sistemas de
informação e das telecomunicações, o mundo do saber - agora
muito mais integrado - aproximou, necessariamente, as
realidades culturais existentes, exigindo uma dimensão mais
ampla dos estudos em pauta e estimulando, sobremaneira, a
integração, por exemplo, de universidades, no sentido da
comunicação total do saber humano. Não pretende-se enfocar aqui,
no entanto, a pluralidade do saber em sua ampla complexidade,
apenas considera-se como momento essencial para situar a
multiplicidade cultural, âmbito no qual se acham inseridas as
culturas orientais. (HANANIA & SPROVIERO, 1998)
Colocando o Brasil neste panorama internacional e receptor
desta cultura advinda de locais tão distantes e povos tão
diferentes, pode-se analisar a terceira via por onde perpassa
este intercâmbio que tanto afetou nossa sociedade, cultura e
modo de vida. No caso dos meios multimídias e da
telecomunicações temos a tecnologia como principal
intervencionista para a existência deste multiculturalismo,
porém, nesta terceira via, temos o próprio ser humano dentro de
suas relações sociais, no caso do Brasil, mais precisamente
através das tradições e culturas passadas adiante através de
imigrantes, descendentes e curiosos.
Em caráter de registro, vale a pena apresentar alguns
números quanto a imigração oriental no Brasil:
Imigran
tes
População de imigrantes no Brasil nos primeiros anos do
século XXI
Árabes “A população árabe ou de origem árabe no Brasil é hoje de
quase 10 milhões, e de árabes-muçulmanos, aproximadamente 1
milhão.” (IMIGRANTES BRASIL, 2008).
Japones
es
“A população japonesa do Brasil está estimada em um milhão e
quinhentas mil pessoas, sendo a maior população nipônica
fora do Japão. Do total, 12% são nascidos no Japão (issei) e
o restante divididos entre nissei (filhos de japoneses),
sansei (netos), yonsei (bisnetos) e assim por diante”
(NIKKEYPEDIA, 2011).
Chinese
s
“Estima-se que atualmente vivem no Brasil cerca de 200 mil
chineses e descendentes, dos quais um número superior a 130
mil moram em São Paulo.” (IMIGRANTES BRASIL, 2008).
Coreano
s
“Atualmente estima-se cerca de 250 mil coreanos e
descendentes no Brasil. Os coreanos são um dos grupos de
imigrantes a vir mais recentemente ao país. Cerca de 92% no
estado de São Paulo. Destes, 90% moram e trabalham na
capital paulista.” (IMIGRANTES BRASIL, 2008)
Indiano
s
“Por volta de 375 famílias vivem no Brasil, com maior número
em São Paulo.” (CONSULADO GERAL DA ÍNDIA, 2011)
Armênio
s
“Segundo dados do governo da República da Armênia, são
aproximadamente 40 mil armênios e armeno-descendentes por
todo o Brasil, mais de 80% destes vivendo em São Paulo.”
(LIMA, LOBÃO, VELLOSO e FILIPO in: Etni-cidade, 2011)
Sem adentrar nos pormenores de cada corrente migratória,
constata-se a importância de tais colônias no Brasil na
transmissão de valores e tradições culturais que através do
tempo se misturaram com características nativas do Brasil, e
também advindas de outras correntes migratórias européias.
Interligando a imigração, com o poder que estas grandes culturas
hoje possuem em nossa sociedade, podemos colocar as colônias
árabes e japonesas como as maiores semeadoras, justamente por
crescerem no Brasil de forma unida, muito fechada no caso
nipônico, prosperando dentro desta população tão miscigenada sem
se perderem totalmente de suas culturas e tradições natais.
E os sinais deste intercâmbio espontâneo não param de
crescer. Por exemplo, no caso da cultura Coreana, segundo a
Associação dos Coreanos no Brasil, tem aumentado o número de
comércios e até de igrejas no Bom Retiro (já são mais de 20, uma
católica e várias protestantes). E em São Paulo, que a cada dia,
parece caminhar para se tornar uma capital internacional, cujo
um dos programas preferidos é comer fora, o número de
restaurantes coreanos aumentou cerca de 30% nos primeiros cinco
anos do século XXI. (YURI, 2005)
Além da imigração e, hoje, do comércio de produtos vindos do
Oriente, a comunicação sempre teve papel essencial nos processos
de conhecimento cultural e disseminação de seus produtos porque
as mídias são os pontos de referência básica que as pessoas tem
disponíveis para perceber o mundo. É através dos meios de
comunicação que conhecemos o mundo que está fora do alcance de
nossos olhos, de nossa convivência. Hoje, a importância da
internet como meio de comunicação aumenta por possibilitar
relacionamentos em uma modalidade virtual. Mesmo quando não há
divulgação oficial de produtos culturais estrangeiros pelos
meios de comunicação tradicionais (rádio, TV ou jornais), pode-
se encontrá-los na internet. É o que acontece com a música, onde
bandas de pop e rock Japonesas e Coreanas começam um grande
processo de invasão do mercado fonográfico informal brasileiro,
tanto através dos downloads na grande rede, como também através
de grandes shows realizados no Brasil. (MOTA, 2009)
Por outro lado, temos a importância da introdução cultural
do oriente ocasionado pela mídia tradicional, como por exemplo
ocorreu por aqui com a cultura japonesa através dos animes e
mangás; e com as culturas árabe e indiana nos atingindo tão
fortemente através do cinema, e mais recentemente através das
telenovelas (de forte presença e influência na sociedade
brasileira).De um lado, os bonzinhos, do outro, os perversos. Não
é de hoje que a civilização vê o mundo sempre dividido emdois. E nessa divisão, o Oriente acabou levando a fama. Masnão se pode negar o quanto eles vêm ensinando e despertandopaixão e curiosidade nas pessoas que vivem do lado de cá.Terapias alternativas, meditação, yoga, cromoterapia, vastuvidya, astrologia védica… O desprendimento com as coisasmateriais, a maneira como encaram a vida, os valoresdiferenciados, a busca do equilíbrio. É fato que o Orientehá muito vem contribuindo com sua sabedoria, ideologia e,por aqui, foi se compondo e ganhando espaço. (PEREIRA,2009, p.39)
Ainda ligado a mídia e às produções audiovisuais, os
resultados alcançados com a publicação de filmes, quadrinhos e
séries de animação consolidaram a fórmula de sucesso dos
desenhos japoneses, baseados tanto na versão escrita quanto na
cinematográfica. Atualmente é possível afirmar que o mangá e o
anime tornaram-se um forte novo elemento do universo infantil
brasileiro, seja em meio à comunidade japonesa ou entre os não-
descendentes. Porém, a linguagem por eles utilizadas, além de
complexa é carregada de extrema simbologia e o empenho de
tradutores em transmitir aos leitores a intenção do autor
encontra uma série de dificuldades no fato de não haver como
traduzir, em pequenas palavras, não só a parte escrita da obra
original, mas também a mensagem contida nas imagens. Desse modo,
os fãs deste gênero de entretenimento e cultura procuram se
aproximar não só da língua japonesa, através das escolas, como
também da própria cultura. (LOPES, 2008)
No entanto, apenas saber da existência desta vertente
cultural dentro de nossa própria cultura não basta ao se tratar
da cultura oriental pelo simples fato da estética oriental ser
diferente da que conhecemos no Ocidente. Apresentar este
contexto interpretativo e analítico da linguagem estética
oriental exige uma abordagem muito desafiadora e diferenciada. A
argumentação sobre arte e seus significados na cosmo-visão do
mundo oriental supera uma forte resistência ao próprio uso do
termo “estética”, pois sob vários aspectos esta forma de estudo
do ocidente não apenas se desvia da proposta do pensar artístico
oriental, como também oferece uma lógica argumentativa que
talvez não se coadune com a essência dos experimentos de arte
contidos nos fundamentos da cultura do extremo oriente
principalmente, extremamente associada aos aspectos
contemplativos e transcendentes do Ser – de fato, uma ontologia
fenomenológica por excelência. (MIKLOS, 2008)
O dilema recorrentemente estudado em aspectos formais e
analíticos sobre quando e como a experiência plena da arte se
manifesta, se apresentou tanto para os ocidentais como para os
orientais também, porém, no oriente apresentou-se a questão
estética associada a um processo de relação prática entre como
percebe-se o objeto e suas condições interpretativas. Sendo
assim, a abordagem oriental como um todo não se preocupa
demasiadamente com conflitos de termos e simbologias, ou entre
figurativismos e abstracionismos, não se desenvolvendo portanto
no estudo da arte no oriente uma ciência propriamente filosófica
(analítica) para a experimentação da arte. Antes, a experiência
estética subjaz a experiência do Ser, e implicitamente afirma
que o senso de arte não poderia ser diferenciado do senso de
atitude em relação ao que é percebido. (MIKLOS, 2008)
No entanto, no estudo filosófico e estético ocidental, cujo
um dos principais expoentes é o filósofo alemão Hegel, deixa-se
ao oriente o papel de pré-história da filosofia, já que de
acordo com a visão de Hegel, a Ásia seria o começo e a Europa o
fim. Sua obra “Fenomenologia do Espírito” classificou os passos
orientais como um pensamento puramente abstrato, sem progressos.
Nesse aspecto, não percebeu que mesmo a reflexão religiosa na
Índia e na China, por exemplo, nunca foram um bloco monolítico e
estático. (ROHDEN, 2009)
Tornando paralelas a ciência, a filosofia e a estética
oriental, podemos entender alguns conceitos e visões se
utilizando, por exemplo, do estudo da manifestação de arte Zen
Budista. No centro das argumentações filosóficas zen, existe a
concepção de que a experiência de consciência e percepção
fundamenta-se no conceito de Vazio (o zero que os gregos não
aceitavam). Sob a ótica básica do Zen, um objeto de arte é sem
significado se for interpretado apenas a partir de suas
propriedades e conseqüências artísticas formais concretas.
Antes, todo objeto deve ser interpretado e avaliado a partir da
proeminência de “ma” (jap. lit. intervalo, lacuna) em sua realidade, e
será através da sutilíssima percepção de ma que a mente
apreenderá o estado de arte implícito no objeto. Esta
experiência, justamente por estar associada ao intervalo
inefável entre dois momentos espaço-temporais (uma ruptura entre
o Ser e o Não-Ser), permitirá interpretar o Vazio, ou a pureza
de significados (kuan-ching, ou manter o olhar na pureza), do objeto.
Quando somos capazes de apreender o significado natural e
intrínseco do objeto, e acessar o aspecto conforme e natural que
este objeto apresenta aos nossos sentidos, conseguiremos captar
a sua arte. Esta arte pode se manifestar tanto em uma ação
concreta, como em sua simples indicação abstrata (ou indireta).
(MIKLOS, 2008)
Entender a estética e a arte oriental se faz então uma
tarefa extremamente complexa em território brasileiro,
acostumado com o pensamento ocidental. Sem que haja a
necessidade de se estender citando obras que discutem o conceito
de Orientalismo, que coloca o Oriente como invenção do Ocidente,
criado pelo autor Edward Said ou o texto “As muitas vias do
Orientalismo” do especialista em cultura e língua árabe da USP,
Prof. Mamede Jarouche, que vai de encontro a este conceito com
outra visão, nota-se que a discussão acerca do Oriente e dos
modos de se ver e entendê-lo estão nos meios acadêmicos a tempo
suficiente para já se ter iniciado uma visão acadêmica mais
abrangente dentro das ciências humanas e no estudo da arte, não
havendo portanto ‘porquês’ para se esvaziar esta questão dentro
de escolas e universidades.
Portanto, o que se propõem neste estudo não é suscitar um
orientalismo dentro de escolas e universidades e sim, evitar o
Eurocentrismo obsoleto que ainda prejudica nossa concepção de um
mundo pluralizado e igualmente rico, sem a ruptura capaz de
gerar preconceitos como os que ainda são gerados fomentando uma
equivocada supremacia Ocidental.
No entanto, encaixar a educação neste sistema
pluriculturalista é uma proposta complexa já que deve infiltrar-
se anteriormente em âmbito universitário e acadêmico para
caminhar em outros terrenos, como no da educação básica sendo
capaz de preparar a juventude para este cenário de múltiplas
culturas com as quais já tem contato através dos meios
multimídia, da internet e do intercâmbio cultural e comercial
entre etnias, colônias e pessoas interconectadas.
Para HANANIA & SPROVIERO (1998):Já no caso das várias culturas, a própria pluralidade
pode constituir-se em valor, uma vez que o homem se adapta avárias condições e é permeável a várias soluçõesexistenciais na reprodução de sua vida material e cultural.Pode-se afirmar que a pluralidade de culturas éenriquecedora pela complementaridade que acarreta e não porsua oposição, como no caso das ideologias. (HANANIA &SPROVIERO, 1998, p.10)
Fato que comprova estas premissas é a vinda ao Brasil da
exposição de arte oriental “A Sedução do Oriente: A Arte Asiática na coleção
do MNH” no ano de 2009 marcando a realização de uma grande
mostra anual com acervo da própria instituição, com o objetivo
de dinamizar as coleções em reserva técnica e propiciar ao
público a oportunidade de apreciar relevantes conjuntos de peças
que servem de fonte de estudos e induzem à reflexão sobre a
nossa história.
O MNH não é o único, diante de inúmeros museus e fundações
que possibilitam de forma museológica uma aproximação mais
íntima de culturas. Outro caso é o da Fundação Cultural Emma
Gordon Klabin com um núcleo destinado somente a Arte do oriente:“Este núcleo abrange objetos procedentes das várias
culturas orientais, do oriente próximo às Ilhas doPacífico, como Turquia, Pérsia, Índia, China, Japão eSudeste Asiático. São tapetes, esculturas, pinturas,gravuras, peças de mobiliário e objetos de uso decorativo ecerimonial. Entre as culturas citadas, predominam osobjetos procedentes da China, incluindo um conjunto debronzes rituais das Dinastias Shang (Séc. XIV / XI a.C.) eZhou (Séc. X / III a.C.), figuras funerárias em cerâmica daDinastia Tang (Séc. VIII) e esculturas em madeirapolicromada da Dinastia Ming (Séc. XIV / XVII).” (FUNDAÇÃOCULTURAL EMMA GORDON KLABIN)
Por último, o caso mais instigante e que arremata a questão
da importância que a presença da cultura e arte oriental está
recebendo em nosso país atualmente, inclusive através dos
museus, a doação de milhares de peças orientais do diplomata
Fausto Godoy ao acervo do MASP, que a partir do ano de 2012 deve
crescer em importância cultural, artística e museológica em todo
o mundo, como prenuncia a análise abaixo postada no Jornal
ESTADÃO de março de 2011:“Sem exagero, trata-se de uma coleção que vai colocar
o Masp no patamar do Metropolitan de Nova York. O museuintegra desde 2008 o "Clube dos 19", que congrega os 19museus com os melhores acervos da arte européia do século19, como o Museu D"Orsay, o Instituto de Arte de Chicago eo próprio Metropolitan. De imediato, Godoy entrega emcomodato por 50 anos quase 2 mil peças que resumem séculosde história das civilizações asiáticas. Seu empenho, diz odiplomata, é "criar massa crítica no Brasil para ocontinente que se afigura como o mais importante do século21". Assim, não se trata apenas de doar uma coleçãoconstruída nas últimas três décadas, mas de estabelecer omarco zero de um futuro centro de estudos asiáticos. Aos 65anos, Godoy diz ter canalizado para o continente asiáticosua carreira na diplomacia por estar convencido do papelque países como a China, a Índia e o Japão iriamrepresentar no século 21. "Mais da metade da população viveali", lembra o diplomata, concluindo: "É fundamental nossainteração com esses países, cujo papel é decisivo naformatação do mundo globalizado". (ANTONIO, 2011)
Não se limitando aos museus, existem hoje no Brasil, feiras,
eventos culturais, entretenimento, festivais e festas típicas
completamente voltadas a cultura oriental em suas diversas
formas. Um dos destaques foi o primeiro evento oriental
multiétnico do Brasil, realizado em 2010 em São Paulo (Mart
Center) chamado Ásia Fest, integrando culturas da China, Índia,
Japão, Coréia e Tailândia através não somente de exposições de
artes plásticas, cênicas, danças, musicais, como também através
de workshops, da culinária e da própria interação social de
descendentes destas regiões. Outros eventos se espalham por todo
o país, seja através de associações ligadas a imigração, seja
através de instituições brasileiras como o SESC, que em 2011
realiza o evento multicultural “Oriente-se”:Com uma tradição milenar, a cultura oriental sempre
despertou interesse e fascínio em todos nós, trazendonoções diferentes daquelas que nós temos sobre a vida e ocomportamento humano. O programa Oriente-se tem comoobjetivo contribuir para a qualidade da saúde física emental do público da terceira idade, trazendo informação eentretenimento através de exercícios físicos, vivências derelaxamento e um contato com a arte oriental, que ajuda adesenvolver virtudes como a paciência e a concentração.(Portal SESC, 2011)
Tendo em vista toda esta junção e mistura interculturais,
onde toca-se o âmbito educacional nesta questão? O que parecemos
ver é que o mundo e a sociedade estão se transformando em
velocidade vertiginosa, na qual o sistema educacional parece
longe de acompanhar de certa forma, justamente pela estagnação
em que se encontram muitos dos profissionais envolvidos no
processo, completamente isolados em suas rotinas e presos em um
cotidiano empobrecedor principalmente ao professor, que ainda é
desvalorizado e para que consiga se manter financeiramente ativo
acaba tendo de aceitar uma realidade exploradora que não lhe
permite tal caminhada junto às transformações nas quais caminham
seus alunos.
No entanto, sem entrar muito nesta questão, HANANIA &
SPROVIERO (1998) inter-r relacionam a questão do
pluriculturalismo e a educação, mais sensivelmente na
universidade:
“Agudamente, no mundo de hoje, as culturas estãoobrigatoriamente em contacto, ocorrendo, por isso, váriosproblemas com vistas a sua mediatização, o que tornaimprescindível a reflexão e o saber universitários para aintegração das mesmas (lamentavelmente, o mundo tende a umaempobrecedora monocultura global, sustentadatecnologicamente pela Mídia, o que alerta, ainda mais, parao papel que deve cumprir a Universidade.). Mais do queisso: verifica-se hoje uma integração tal das universidades
(propiciada amplamente pela comunicação eletrônica) que seespera, em breve espaço de tempo, a formação de uma únicaUniversidade, com sede no mundo... (HANANIA & SPROVIERO,1998, p.10)
Sem levar em consideração a idealização de um novo conceito
de Universidade, opiniões e fatos já convergem para uma nova
realidade em relação a formação de monocultura mundial, no
entanto, levando em consideração prós e contras, é necessário
que os povos aprendam a manter e a cultivar suas próprias
culturas, também aprendendo a respeitar, a conhecer e a conviver
com culturas distintas. Isso é a monocultura que deverá se
construir em um futuro mais longo.
Sendo assim, a Grande Universidade tenderá, então, a
assimilar de modo cada vez mais acentuado, o serviço humano na sua
globalidade. A pluralidade de culturas - em contato - é,
certamente, fermento de criatividade. Nesse ponto, o Oriente, em
suas múltiplas facetas culturais, constitui uma dimensão
essencial na recomposição da unidade humana, superando - espera-
se - o estigma histórico da ruptura Ocidente/Oriente... (HANANIA
& SPROVIERO, 1998).
Mas nas faculdades e universidades brasileiras, esta
superação já está ocorrendo, ou será que estamos correndo atrás
para não ficarmos a margem das mudanças globais? Transpondo isso
para a realidade universitária dos cursos ligados as Artes,
nota-se que essa transformação não está ocorrendo, e tratando-se
de um campo diretamente ligado a produção cultural, ao próprio
conceito de cultura, a estética, a educação e aos conceitos de
mono e multicultura, a conclusão a que se chega é a de que
conceitos do estudo da arte precisam ser revistos para que a
Universidade não tarde nesta questão, além de que já é passada a
hora de abandonar o conceito Eurocêntrico que permanece no
estudo estético e da própria história da arte.
Para que tal afirmação tenha algum embasamento, buscou-se
pesquisar a grade e a possibilidade de se obter estudos que
abandonem esta visão ocidental da Arte, dentro dos cursos de
Arte nas principais universidades do Brasil, e a constatação não
fora das mais animadoras. Dentre as universidades pesquisadas
estão: Escola de Comunicação e Artes (USP), Universidade
Estadual de São Paulo (UNESP), Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), Faculdade de Belas Artes (BA), Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fundação Armando Alvares Penteado
(FAAP), Faculdade Paulista de Artes (FPA), Escola de Belas Artes
(UFRJ) e o Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR).
Analisando a grade dos cursos de Artes, Educação Artística,
Artes Visuais e História da Arte das instituições supracitadas,
em apenas duas delas encontrou-se alguma referência em relação a
possibilidade ou obrigatoriedade de se estudar e se aproximar da
cultura, das artes, e do estudo da história e estética do
Oriente. Na UFRGS, no Rio Grande do Sul, há a possibilidade de
durante os estudos, ingressar no núcleo de Artes e Tradições
Orientais do Instituto de Artes de UFRGS. Já na Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP) , em seu programa curricular para
o curso de História da Arte, há a seguinte constatação:Considerando-se o objetivo de formação do estudante
pela construção do conhecimento básico em História da Arte,por meio do domínio dos métodos de trabalho e da capacidadede apresentar este conhecimento de forma factual elingüisticamente adequada, foram definidas três grandesáreas para a estruturação do curso: a) Arte ocidental; b)Arte do Oriente, da África, do mundo árabe e indígena. c)Estudos visuais e da imagem. (UNIFESP, 2010)
E o programa ainda vai além ao não transformar a arte
oriental em um aglomerado de artes místicas e “curiosas” sendo
analisadas como algo não-ocidental, separando cada estudo de
forma séria e comprometida com a seguinte premissa de:“...uma História da Arte que rompe com o
Eurocentrismo e o Nacionalismo e estabelece uma leitura daarte ocidental que abrange a arte latino-americanaincluindo a arte brasileira a partir do século XVI eanalisa, ainda, a arte da África, da Ásia, do mundo Árabe edo Islã.” (UNIFESP, 2010)
Nos outros cursos pesquisados (referências no âmbito da Arte
no ensino superior brasileiro) não há qualquer menção em seus
programas, além de não constar em nenhuma disciplina listada
dentre as obrigatórias ou optativas da grade curricular
proposta, o que nos deixa então as seguintes questões
reflexivas: se o estudo da arte no âmbito da Universidade, no
Brasil, encontra-se ainda quase que completamente embebida no
Eurocentrismo, como é que a educação e todo o seu sistema
poderão estar em ritmo paralelo, ou seja, caminhando em harmonia
com as alterações sociais e globais que rumam para uma
confluência cultural através dos meios de comunicação e de
intercâmbio cultural? Como se romperá com a perpetuação destes
cânones ocidentais no ensino e prática da Arte, assim como sua
história e estética, se todo aquele que embarcar em uma carreira
acadêmica ou artística se defrontará justamente com a manutenção
destes paradigmas a cada dia mais obsoletos e pré-conceituosos?
Como a sociedade e a academia superarão a ruptura
Ocidente/Oriente neste ambiente acadêmico ainda tão engessado?
Será que a negação ou simples indiferença por parte da
Universidade em relação ao Oriente e toda sua riqueza artístico-
cultural que já estão em meio ao nosso cotidiano, aonde quer que
iremos, não confirmam as constatações de superioridade ocidental
empreendidas por Said em sua obra “Orientalismo” segundo TEÓFILO
apud MACEDO (2006) onde:
tenta provar que o Ocidente construiu a sua própriaidentidade por oposição à do Oriente. Ao longo desseprocesso identitário foi consolidada a idéia de que adiferença entre o Ocidente e o Oriente é a racionalidade, odesenvolvimento e a superioridade do primeiro. Ao segundosão-lhe atribuídas características como aberrante,subdesenvolvido e inferior. (MACEDO, 2006, p.9)
CONCLUSÃO
Utilizar o termo ‘multicultural’ para definir o país dofutebol, do carnaval, da alegria e de tantas culturas etradições não é exagero algum. Pessoas que deixaram seus paísesde origem e partiram para a terra verde e amarela em busca denovas oportunidades, fincando por aqui raízes profundas,construindo famílias, comunidades e espalhando suas culturas tãodistantes da nossa de norte a sul do Brasil. Mais multiculturalainda após a internet e a Era da Comunicação, capaz deinterconectar países, pessoas, culturas e tudo que asacompanham, rompendo limites e fronteiras físicas que antesseparavam e institucionalizavam a ruptura entre nós, pseudoOcidente aos Orientes.
Neste panorama, chega-se a conclusão de que, em linhagerais, a instituição acadêmica em geral está em um grandeatraso no que diz respeito a essa aproximação Orientes eOcidente, na elucidação das cosmos-visões orientais no modo devida ocidental e do entendimento de toda a estética orientalpelo ocidente. Por outro lado, se este atraso encontra-seinserido em todo o Ocidente (América e Europa) cabe a outroestudo mais amplo e aprofundado, mas que não justificará aposição de nossa nação neste sentido, a partir do pressupostoque como país independente, democrático, multi-étnico eglobalizado, o Brasil não segue mais as “tendências” acadêmicasdo primeiro mundo e nem mais se esconde atrás de tais nações.
Levando-se ainda em consideração que a globalização e acomunicação entre povos e culturas está em um estágio inicial,na medida em que se entende que a grande maioria da populaçãomundial ainda não tem acesso a educação e a tecnologias do fimdo século XX e que mais de metade da população do planeta estáno que consideramos Oriente (Próximo, Médio e Extremo),contabilizando quase 4 bilhões de pessoas no total e que doisdos seus países expoentes, a China e a Índia, estão entre ospaíses que mais crescem e que mais devem continuar crescendo naspróximas décadas, fazendo com que o mundo todo, inclusive o
Brasil – que tem a China como seu maior parceiro comercialatualmente -, entre ainda mais em contato com seus traçosculturais, há ainda tempo o suficiente para que nosso sistemaeducacional (do básico ao superior) se prepare e se adéqüe anova realidade que nasce juntamente do redescobrimento doOriente, coincidentemente, termo relacionado ao local onde o solnasce a cada dia, e não somente uma única vez.
Para nossas instituições de ensino superior, o despertar de uma nova ordem mundial, com a China recebendo todos os olhares do mundo, seja, talvez, um tarde momento para buscar esta aproximação e encerrar assim esta a ruptura Ocidente e Oriente, demasiadamente obsoleta, mas que cedo ou tarde deverá deixar de existir na medida em que o homem inicia sua caminhada no reconhecimento de uma verdadeira humanidade, igual em suas diferenças.
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