Balcãs
Falar sobre Portugal e os Balcãs, a visão de Portugal nos
países balcânicos e as imagens e estereótipos que os povos
balcânicos construíram sobre este país, é uma questão complexa.
Ao pronunciar-se a palavra “Balcãs”, no ocidente europeu, e
parcialmente também em Portugal, as associações costumas ser
negativas: zona de frequentes guerras, conflitos, instabilidade
política, confusão, crises económicas, reivindicações violentas
da identidade nacional ou religiosa, ditaduras de esquerda…
Porém, muitas destas imagens são apenas representações
superficiais, às vezes propositadamente exageradas, por vezes
equívocas, ou reduzidas ao território da antiga República
Socialista Federativa da Jugoslávia e à crise da sua
desintegração provocada pela guerra civil entre 1991 e 1995.
Contudo, não se pode esquecer que a ex-Jugoslávia (actualmente
dividida em seis repúblicas que dantes tinham feito parte da
Federação: a Sérvia, a Croácia, a Eslovénia, a Bosnia-
Herzegovina, a Macedónia e o Montenegro) não era o único país
balcânico. Acerca da questão sobre quais são os outros países
integrantes desta região, existem diferentes critérios:
geográficos, históricos, linguísticos, políticos, económicos… O
que está certo é que se trata de uma zona étnica e religiosamente
heterogénea, de grandes divergências e diferenças culturais, mas
também de muitas semelhanças em termos do folclore, costumes,
mentalidade, carácter, partes do passado histórico, formas de
pensar, clima, geografia, gastronomia, música.
Se é necessário definir os Balcãs em termos geográficos,
diremos que se trata do território entre os mares Adriático,
Jónico, Egeu e Negro. Deste modo, aos Balcãs pertenceriam:
Grécia, Bulgária, Roménia, parte europeia da Turquia, Albânia,
Macedónia, Sérvia, Montenegro, Bósnia-Herzegovina, Croácia,
Eslovénia. Há quem destaque o Kosovo também como parte dos
Balcãs. Não reconhecendo o Kosovo como país independente, e
considerando-o parte integrante da Sérvia, pensamos que esta
enumeração seria redundante. Por outro lado, por motivos
históricos (ocupação austro-hungara), religiosos (pertença ao
catolicismo), culturais (a mentalidade mais parecida com a
ocidental e o uso do alfabeto latino), ou políticas (a recente
adesão à União Europeia), a Croácia e a Eslovénia frequentemente
negam qualquer identificação com os Balcãs, entendendo talvez
essas qualificações como negativas e depreciativas. No nosso
entender, a integração na União Europeia não diminui a identidade
balcânica, uma vez que a Grécia, a Roménia e a Bulgária já fazem
parte desta instituição, podendo caracterizar-se perfeitamente
como balcânicos.
O nome, segundo Maria Todorova (TODOROVA, Imagining…), deve-
se às palavras turcas bal, que significa “mel” e kan, que designa
o sangue. Este também é o nome do principal conjunto de montanhas
na península, em homenagem ao qual todo esse espaço geográfico
foi designado. O estereótipo mais comum acerca da etimologia do
nome da península é o da “terra do mel e sangue”, aludindo à
frequência das guerras, que originou o “sangue”, e a uma certa
doçura de carácter dos habitantes dos países balcânicos na
expressão dos sentimentos. Na nossa Tese de Doutoramento
(MARINOVIĆ, Motivos...) damos outra possível interpretação, menos
violenta e mais poética. O “mel” que consta do nome deste espaço
geográfico é usado no sentido literal da palavra, já que esta
região é conhecida pela excelente qualidade e boa produção do
mel, enquanto o “sangue” provém da cor de uma espécie de flores
particularmente representadas nesta zona.
Mais um estereótipo sobre a região dos Balcãs, em vigor em
Portugal e outros países da Europa ocidental é que se trata dos
países ex-comunistas ou socialistas, pelo que frequentemente se
identificam com o “Bloco do Leste”, que surgiu nos tempos da
Guerra Fria. Porém, esta caracterização não é de todo correcta,
uma vez que a República Federativa Socialista da Jugoslávia não
pertencia a esta formação política senão aos Não Alinhados, dadas
as divergências entre Estaline e Tito. Aqui, a nosso ver, há mais
uma imprecisão: a Grécia, um país balcânico por excelência, não
fez parte do Bloco do Leste. Por isso, ao falar sobre os Balcãs,
há que tomar vários cuidados, porque essa região é tudo menos uma
unidade homogénea e uniforme.
Precisamente por causa do longo período do governo dos
regimes comunistas ou socialistas, em Portugal, os povos
balcânicos são vistos como bons trabalhadores, polivalentes,
capazes de adaptar-se facilmente a qualquer tipo de actividade
laboral, disciplinados, cumpridores, com uma vasta cultura geral
e um excelente sistema de ensino, embora na inserção no mercado
de trabalho tenham que exercer actividades não qualificadas
(construção civil, restauração, serviços de limpeza, trabalhos
mecânicos). Apesar disso, as pessoas dos Balcãs são reconhecidas
pela sua grande habilidade de aprender a língua portuguesa em
pouco tempo, interagindo com portugueses e integrando-se
relativamente bem na comunidade.
Devido a uma determinada percentagem de pessoas da etnia
cigana na Península Balcânica, em Portugal e em outros países do
Ocidente Europeu, existe a tendência de confundir ou identificar
os povos balcânicos com ciganos, construindo ideias depreciativas
deles como de pessoas extremamente desfavorecidas, que vieram a
Portugal para exercer roubos, prostituição, mendicidade e outras
actividades indignas que podem ameaçar a segurança do país.
No entanto, os Embaixadores ou políticos poderão
eventualmente qualificar as relações com os países balcânicos
como correctas, tolerantes, pacíficas, sem quaisquer tensões,
apoiando as integrações europeias desses países ou apoiando as
iniciativas da cooperação económica e cultural entre Portugal e
os Balcãs.
Após um resumo de ideias (geralmente depreciativas) que em
Portugal e no resto da Europa ocidental, a nossa impressão é que
há um grande desconhecimento de factos históricos, circunstâncias
culturais, de geografia, relações bilaterais, o que deve ainda
ser estudado e aprofundado.
Para os efeitos deste trabalho, não iremos ser demasiado
detalhados, explicando todos os pormenores das relações entre os
Balcãs e Portugal, nem iremos esclarecer todas as circunstâncias
históricas. Procuraremos porém, dar uma súmula das relações
bilaterais entre Portugal e os principais países balcânicos,
focar os acontecimentos da história recente e observar alguns
estereótipos que nestes países prevalecem sobre Portugal e os
Portugueses. Como já abordámos a visão que se tem de Portugal na
Sérvia e na ex-Jugoslávia, (cf. Sérvia) neste artigo não dedicaremos
demasiada atenção a este país, mencionando-o apenas brevemente,
concentrano-nos na Bulgária, Roménia, Grécia e Albânia, como os
principais países balcânicos sem contar com a antiga Jugoslávia.
À semelhança com o que aconteceu com a Sérvia, as relações
bilaterais entre Portugal e a Bulgária datam da segunda metade do
século XIX, quando foi reconhecida a Bulgária como estado
independente com o Tratado da Paz de Santo Estêvão, O país recém-
liberto da ocupação otomana teve a emergente necessidade de
reivindicar a sua identidade através da criação de missões
diplomáticas nos países europeus que reconheceram a sua
independência. Segundo Zlatka Timenova-Valtcheva (TIMENOVA-
VALTCHEVA, Portugal…), os acontecimentos que mais marcaram a
história da Bulgária moderna são a instauração da monarquia, as
duas guerras balcânicas (1912 e 1913), as duas guerras mundiais,
a época do regime comunista, a democratização e a adesão do país
à União Euopeia. Em Portugal, o final do século XIX e o século XX
foram marcados pelo Ultimatum Inglês (1890), as reviravoltas
políticas que conduziram à derrocada da monarquia e instauração
da República (1910), a implementação do Estado Novo, as duas
guerras mundiais, a morte de Salazar, a Revolução dos Cravos de
25 de Abril de 1974, a democracia e a transição e adesão à EU,
Tudo isto, bem como determinadas semelhanças nos processos
políticos pelos que os dois países passaram, influenciou de certa
forma as relações bilaterais, políticas, diplomáticas e culturais
entre Bulgária e Portugal. Luís Ferreira Gonzaga, antigo
Embaixador de Portugal na Bulgária (GONZAGA, Portugal-Bulgária…)
considera que estas relações “lançam alicerce”s e procuram criar
condições para fortalecer a cooperação e o convívio dos povos.
Neste sentido, desde a proclamação da independência da Bulgária,
funcionaram o consulado de Portugal em Varna, como dependência do
Consulado Português em Marselha. A assinatura da Conferência
Internacional da Paz em Viena em 1899 abriu o caminho para o
início das relações diplomáticas entre os países, que iam
melhorando e fortalecendo aproximadamente até à Segunda Guerra
Mundial e a implementação do regime comunista na Bulgária. De
forma semelhante com o que aconteceu na ex-Jugoslávia, na
Bulgária também o comunismo dificultou a posição dos diplomatas
búlgaros em Lisboa, que foram retirados, sem uma ruptura formal
das relações diplomáticas, para serem restabelecidas após a
Revolução do 25 de Abril. As relações diplomáticas entre Portugal
e a Bulgária, nem sempre foram muito pacíficas, dadas as
divergências entre alguns políticos búlgaros e Salazar, para tudo
se estabilizar com a transição dos dois países para a democracia.
Portugal apoiou muito a adesão da Bulgária à União Europeia.
Entre as primeiras associações que os búlgaros têm sobre
Portugal são “país quente”, “terra do fado” ou “terra do vinho do
Porto”, para além do futebol e os conhecimentos adquiridos na
escola sobre os Grandes descobrimentos. O interesse dos búlgaros
pela língua e cultura portuguesa na última década tem vindo a
crescer, o que testemunha a existência do Leitorado na
Universidade São Clemente de Ohrid em Sófia. O leitor Francisco
Nazareth leciona nas Universidades de Sófia e Veliko Târnovo,
enquanto os seus colegas Zornitza Stoykova, Kremena Popova e
Iliyana Chalakova dão aulas de língua e cultura portuguesa em
diferentes escolas no país, o que testemunha o grande interesse
dos alunos por Portugal. Relativamente ao vinho e às vindimas,
para além do facto de a Bulgária também ter uma excelente
produção de vinho, o vinho do Porto foi conhecido desde há muito
tempo na Bulgária na Bulgária. Para além do vinho do Porto, os
búlgaros têm boas noções acerca do vinho alentejano, já que há
uma grande comunidade búlgara a trabalhar nas vindimas no
Alentejo. Segundo refere o Jornal de Notícias, (Jornal…), os
Búlgaros fazem um quinto da população de São Teotónio, sentem-se
integrados, falam de Portugal como do seu “ganha-pão”, da
oportunidade de trabalho, de um país tranquilo e bonito. O jornal
Portugal Post (Portugal…) transmite a informação que os búlgaros estão
satisfeitos com a inserção no mercado de trabalho na EU e pela
livre circulação dos cidadãos búlgaros pela União Europeia, o que
lhes permite ir para outros países a trabalhar ou passar uma
temporada e melhorar as condições económicas da família antes de
voltar a Portugal. Devida à elevada migração dos búlgaros para
Portugal nos anos noventa do século passado, após as crises
económicas e instabilidade política no país, os búlgaros
começaram a migrar, e Portugal foi uma das escolhas primárias uma
vez que para a construção da zona da Expo em Lisboa, houve uma
grande necessidade de mão-de-obra barata. Muitos búlgaros vieram
temporariamente, mas a maioria ficou a residir em Portugal. Os
primeiros migrantes búlgaros eram homens, que depois de
consolidarem a situação trouxeram também as famílias,
comportando-se como a maior parte dos imigrantes dos países ex-
comunistas e socialistas.
Por último, para terminar a reflexão sobre a visão de
Portugal na Bulgária, há que destacar o grande conhecimento que
os búlgaros têm da literatura portuguesa, sendo traduzidas as
obras de Alice Vieira, Álvaro Cunhal, António de Oliveira
Salazar, Alves Redol, Almeida Garrett, António Lobo Antunes,
António Ramos Rosa, Camilo Castelo Branco, David Mourão-Ferreira,
Eugénio de Andrade, Fernando Namora, Fernando Pessoa, Florbela
Espanca, José Jorge Letria, José Cardoso Pires, José Saramago,
Miguel Torga, Manuel Alegre, Mário de Sá-Carneiro, Nuno Júdice,
Virgílio Ferreira, Vitorino Nemésio e muitos outros, e por isso e
com muita razão, os búlgaros confirmam o estereótipo dos
portugueses como de “um povo de poetas”.
Agora convém observar a visão de Portugal segundo alguns
outros países balcânicos. Como já referimos, a visão que se tem
sobre Portugal na Sérvia e na antiga Jugoslávia é bastante
positiva, baseando-se em relações diplomáticas que datam desde a
segunda metade do século XIX (parcialmente esquecidas graças às
circunstâncias políticas em ambos os países) e os conhecimentos
dos estereótipos mais generalizados (sobre a música, história,
partes do folclore, gastronomia, desporto) e em aspirações de
aprofundar a cooperação bilateral em termos económicos e
culturais. Para não alargar demasiado o trabalho e porque os
actuais países independentes da Eslovénia, Croácia, Macedónia e
Montenegro terem feito parte da federação jugoslava, não
especificaremos as ideias que nestas repúblicas estão em vigor
acerca de Portugal e dos Portugueses. O seguinte país balcânico a
abordar neste estudo será a Roménia. Devido às semelhanças na
origem das línguas (o português e o romeno pertencem ao grupo
românico), pode pensar-se que entre estes dois países há ou pode
haver uma maior afinidade do que entre Portugal e qualquer país
eslavo. À semelhança com o que acontece com os restantes países
do antigo Bloco do Leste, as relações bilaterais entre a Roménia
e Portugal datam desde a segunda metade do século XIX, para serem
interrompidas durante os regimes do Estado Novo em Portugal e o
comunismo na Roménia. Roménia era o primeiro país ex-comunista a
restabelecer as relações com Portugal e isso aconteceu justamente
em 1974, após a Revolução de 25 de Abril. Este acontecimento foi
comemorado a 11 de Junho de 2014 em Estoril, com a colocação do
busto do filósofo, escritor e diplomata romeno Lucian Blaga, um
dos maiores poetas e pensadores deste país, Embaixador em
Portugal entre 1936 e 1939. A obra de Lucian Blaga foi
influenciada por Portugal, sua grande inspiração. Por isso, os
meios de comunicação social romenos (Timp…) e portugueses (Público),
bem como diferentes instituições públicas (Câmara Municipal de
Cascais, Camões Instituto de Língua e Cooperação, Instituto
Cultural Romeno) comemoraram a desenvoltura do monumento a este
grande diplomata e poeta romeno, situado em frente do Hotel
Palácio em Estoril, em que Blaga costumava viver.
As actividades do Instituto Cultural Romeno em Lisboa, uma
instituição importante para a difusão da cultura romena em
Portugal, funciona sem interrupção há seis anos, organizando
exposições, festas, concertos de música clássica, Dia da cultura
romena (13 de Janeiro). Com esses eventos não apenas se negam
determinados estereótipos arraigados na Europa Ocidental sobre os
romenos e a Roménia (geralmente os mesmos que se referem ao resto
dos Balcãs) e pretende-se transmitir a imagem deste país como um
país com um excelente sistema de ensino, uma cultura rica
(popular e erudita), e uma proximidade com a cultura portuguesa
em termos de mentalidade e de sensibilidade. Deste modo, Micaela
Ghiţescu (GHITESCU, in: SOARES, LAUKAHANGAS, Interdisciplinary…) refere
que a palavra romena dor é o equivalente semântico da palavra
portuguesa saudade. Esta é uma das poucas línguas (para além do
sérvio) que têm uma palavra em grande medida equivalente à
saudade, o que pode testemunhar a favor dos estereótipos de
conotação positiva que acerca de Portugal se têm na Roménia.
Outra imagem arraigada sobre Portugal é que se trata de um país
de rica história, o que se reflecte nas traduções de obras
históricas portuguesas para romeno. Uma outra ideia presente na
Roménia é que a língua portuguesa é muito melodiosa e apropriada
para a poesia, o que pode atrair alunos para começarem a estudá-
la. Para além deste, os motivos pelos que os estudantes romenos
optam por português são mais “pragmáticos”: a possibilidade de
emigrar a Portugal, em que já têm amigos ou familiares, ou de
encontrar trabalho mais facilmente quer em Portugal, quer em
algum país da União Europeia. Os alunos por vezes admitem também
que o primeiro contacto com a língua portuguesa foi através da
música ou das telenovelas brasileiras, mas que depois, todos
começaram a falar o “português europeu”, por os leitores serem de
Portugal.
O Leitorado de Língua e Cultura Portuguesa funciona em
Bucareste, segundo a informação do Camões, Instituto de Língua e
Cooperação, funciona desde 1974, e desde 2001 existe um Centro de
Língua e Cultura Portuguesa na capital romena. O facto de em
Bucareste ter sido comemorado o Dia da língua portuguesa
testemunha acerca da popularidade e relevância dessa língua na
Roménia, bem como das ideias positivas que se têm sobre Portugal
e os portugueses nesse país balcânico. A nível de traduções e
trabalhos académicos, existem muitas publicações: teses de
Mestrado e Doutoramento, artigos científicos, dicionários (de
língua ou de provérbios), livros traduzidos. Neste sentido, vale
mencionar as traduções de várias antologias de contos, da obra de
Luís de Camões, Camilo Castelo Branco, José Cardoso Pires, José
Saramago, Lídia Jorge, António Lobo Antunes, Agustina-Bessa Luís
e outros autores, sendo algumas edições esgotadas ou
constantemente reeditadas.
A última referência às relações bilaterais entre Portugal e
a Roménia é a economia. Embora haja cooperação entre estes dois
países, a opinião dos políticos e embaixadores é que ainda há
muitas áreas em que investir e que ainda se podem explorar. De
momento, no mercado romeno estão presentes mais de cinquenta
empresas portuguesas, geralmente da área da produção do calçado,
biodiesel, produção de têxtil, Banco Comercial de Portugal. As
principais razões que levam os empresários portugueses a
investirem na Roménia é a mão-de-obra de custo reduzido e o nível
de competências e saberes que os funcionários romenos possuem,
bem como a vontade de aperfeiçoar-se e aprender. É curioso o dado
de que a palavra romena para laranjas é portucale, o que
testemunha sobre a grande exportação de laranjas portuguesas para
este país. Em Portugal, também existem algumas empresas romenas,
embora em menor número, podendo as relações bilaterais neste
sentido ser melhoradas.
O seguinte país balcânico a abordar brevemente para os
efeitos deste trabalho é a Grécia. No que se refere às relações
bilaterais entre a Grécia e Portugal, o primeiro obstáculo que se
nos impõe é a escassez de informação acerca dos contactos
históricos anteriores ao século XIX ou início do século XX. Na
página Web da Embaixada de Portugal em Atenas consta que em 1919
o Ministro Plenipotenciário Marinho Teixeira Brederote, chefe da
delegação para os Balcãs, sedeada em Bucareste, e encarregue de
Atenas e Belgrado. Em 1929. Portugal reconheceu a República
Helénica. Pouco se sabe sobre as relações bilaterais entre os
países em questão entre este período e o fim da Segunda Guerra
Mundial, para em 1946 José Mendes de Vasconcelos Guimarães
apresentar credenciais como Ministro Plenipotenciário,
permanecendo na função apenas até ao fim do ano. Entre 1951 e
1954 houve uma série de encarregados de negócios. Em 1964. A
Legação foi elevada ao nível da Embaixada, sendo o primeiro
Embaixador Alfredo Lencastre da Veiga. O que se pode notar é que,
diferentemente dos outros países balcânicos, a função das
Embaixadas não estava estreitamente ligada com o regime político
e que o 25 de Abril aparentemente não desempenhou um papel
fulcral no desenvolvimento ou restabelecimento de relações
bilaterais entre Portugal e a Grécia, uma vez que houve
interacções mesmo durante o regime do Estado Novo em Portugal.
Portugal e a Grécia são dois países que à primeira vista têm
bastantes elementos em comum, apesar de escassos contactos: os
dois são países de tamanho pequeno, com aproximadamente o mesmo
número de habitantes, são mediterrânicos, têm o clima parecido,
desenvolvem o turismo, a produção vinícola e alguns outros ramos
de economia, como a pesca. Nas últimas três décadas foram
celebrados alguns acordos entre a Grécia e Portugal, nomeadamente
a Convenção entre a República Portuguesa e a República Helénica
para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em
Matéria de Impostos sobre o Rendimento (2002), Acordo sobre o
Transporte Aéreo (1993), Acordo sobre a Cooperação Cultural e
Científica (1983) e o Protocolo da Cooperação Turística (1982).
Como se vê, estes dois países hoje em dia fazem parte da União
Europeia, são membros da NATO, das Nações Unidas e de todas as
organizações europeias relevantes, porém, entre os dois ainda
existe muito desconhecimento mútuo e uma necessidade de
aprofundar as relações. Em termos de cultura, para além das
embaixadas, que promovem os laços culturais, na Grécia existe a
associação Cultural para a Comunidade Portuguesa na Grécia, que
divulga a cultura portuguesa neste país, organizando eventos como
o Magusto, festas de Santo António, Carnaval, e outras
actividades que não se comemoram na Grécia. Em termos de cultura
e relações interculturais, podemos dizer que Camões, Instituto de
Língua e Cooperação tem o seu Leitorado em Atenas, e para a
língua grega estão traduzidas algumas obras de Fernando Pessoa
(O Banqueiro Anarquista, A Hora do Diabo, O Heróstrato e a Busca da Imortalidade, O
Livro do Desassossego, e dois poemas do seu heterónimo Álvaro de
Campos introduzidos na antologia Poesia sem Fronteiras), José Cardoso
Pires e José Saramago. Em Portugal, estão traduzidas mais obras
gregas, nomeadamente de filósofos da Antiguidade clássica e de
mitologia. Por isso, a socióloga russa Natalia Golovanina,
(GOLOVANINA, Os Estereótipos…) no artigo “Os Estereótipos vão
Rolando no Mundo” refere que na maior parte dos países do mundo,
a Grécia é conhecida como o país de mitos e lendas. Entre outros
autores gregos traduzidos para português, destacaríamos Cavafi e
Nikoss Kazantzakis. Naturalmente, em Portugal pode também existir
esse estereótiposobre a Grécia, como o berço da civilização
europeia. Na Grécia, porém, existem outras ideias arraigadas
sobre Portugal; geralmente partilhadas no espaço europeu inteiro:
o país do fado, Fátima e futebol, como se costumava dizer nos
tempos de Salazar, mas também e particularmente como bons rivais
no desporto (especialmente no futebol, sendo que desde 1968 até
2014 houve 13 jogos entre as duas selecções nacionais, dos quais
a Grécia venceu oito vezes, sendo o mais festejado na Grécia e o
mais doloroso para Portugal o jogo no EURO 2004, quando com
apenas um golo de vantagem a Grécia ficou no terceiro lugar).
O elemento que parece mais vidente, os dois foram afectados
pela recente grave crise económica, recorrendo à intervenção da
União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário
Internacional, popularmente conhecido como a “Troika” (sendo a
palavra introduzida do russo, significando um “conjunto de
três”). A crise económica mais grave no século XXI, surgiu, entre
outras razões do grande endividamento público de países como
Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, vulgarmente
conhecidos como PIGS (derivado das letras iniciais dos nomes dos
países em inglês (Portugal, Ireland, Italy, Greece, Spain). Este
acrónimo depreciativo, que traduzido do inglês literalmente
significa “porcos”. Com este termo, as grandes potências anglo-
saxónicas se referem aos países que tiveram os rendimentos e o
produto nacional bruto mais baixo comparado com o resto da União
Europeia. Pela Troika foram propostas as medidas drásticas de
austeridade nos países em questão. Supõe-se que Portugal é o país
entre os afectados pela crise, que mais rapidamente se vai
recuperar, tendo, por isso, uma espécie de obrigação de ajudar os
outros que se encontram na mesma condição. Pedro Passos Coelho
(COELHO, Portugal…) para a agência Lusa, declarou que “Portugal é
um dos países na Europa que mais tem ajudado o povo grego”,
referindo-se particularmente ao auxílio e cooperação que Portugal
tem prestado a diversos governos gregos. Embora sejam críticos
com as atitudes do novo governo de Esquerda de Alexis Tsipras,
Portugal e os outros países europeus continuam a ter boas
relações diplomáticas com a Grécia, desejando manter este país na
União Europeia.
O último país balcânico a analisar neste contexto é a
Albânia. A primeira impressão que se pode ter acerca do assunto
das relações bilaterais entre os países em questão é a escassez
de informação e a pouca intensidade de contactos, visitas
oficiais, intercâmbios culturais, económicos ou comerciais, o que
origina um desconhecimento mútuo e uma série de preconceitos e
estereótipos. A dificuldade de encontrar informação adequada
reflecte-se também no facto de, para além da página Web da
Embaixada da Albânia em Portugal, alguns jornais e fontes
electrónicas pouco fidedignas, como a Wikipédia, Infopédia e
outros.
Devido às divergências entre o regime de Salazar e a
ditadura comunista de Enver Hotxa, as relações diplomáticas entre
Portugal e Albânia foram estabelecidas apenas em 1977, embora a
nível das funções dos Embaixadores não residentes, sendo o
encarregado para Albânia o Embaixador de Portugal em Roma, e para
Portugal o seu colega albanês, sedeado em Paris. Apenas em 2009
Albânia abriu a primeira Embaixada em Lisboa, sendo o seu
primeiro Embaixador residente S. Exa. Edmond Traco. Portugal não
tem Embaixada em Tirana, apenas alguns serviços a nível de
consulado. O Embaixador não residente é Fernando d’Oliveira
Neves. Na década dos noventa do século passado começaram a
intensificar-se os contactos bilaterais a nível de visitas dos
políticos a ambos os países, sendo a Expo de 1998 o evento mais
importante para a cooperação bilateral entre os dois países,
estando presente nessa ocasião uma delegação albanesa, chefiada
pelo na altura primeiro-ministro albanês. Durante a presidência
portuguesa à União Europeia na segunda metade de 2007, Portugal
apoiou a ideia de a Albânia dever integrar esta instituição. Pelo
facto de Portugal ter reconhecido a independência do Kosovo,
criou na Albânia a ideia de Portugal como um país amigo. Porém,
na Europa Ocidental e em Portugal, a Albânia é encarada como um
país retrógrado, isolado, ex-comunista, de extrema pobreza, cuja
população está desfavorecida e vive na ignorância e fora de
muitos alcances da tecnologia moderna. É frequente este país
relacionar-se com a imagem do crime organizado, drogas, tráfico
humano, tráfico de armas, máfia, prostituição e violência,
construída geralmente com base na informação que circula nos
jornais, ou com a realidade em alguns países ocidentais, em que
os mafiosos mais perigosos são justamente os albaneses.
Contudo, quem visitou Albânia recentemente, poderá ver
edifícios modernos, centros comerciais semelhantes aos das
grandes cidades capitais europeias, ruas largas e limpas,
influências ocidentais na arquitectura e um desejo evidente de o
país se libertar do atraso histórico.
Em termos de cultura, dos autores, albaneses, o público
português conhece Ismail Kadaré e a sua célebre obra O Palácio dos
Sonhos (KADARÉ, O Palácio…), em que, através de imagens oníricas se
transpõe para a realidade literária o regime totalitário do
comunismo albanês, e se colocam as questões da liberdade, da
posição do indivíduo no mundo, o isolamento e o medo, bem como o
absurdo e o sentido da vida. Na Albânia, segundo a informação do
Camões Instituto de Língua e Cooperação, estão traduzidas as
obras Jerusalém de Gonçalo M. Tavares, e O Homem Duplicado de José
Saramago, havendo ainda muito trabalho por realizar.
Para finalizar a descrição dos contactos entre Portugal e
Albânia, devemos mencionar os jogos de futebol, realizados
sobretudo a partir de 1998 até ao presente. Segundo se refere na
página Web oficial da UEFA, as selecções nacionais portuguesa e
albanesa encontraram-se até agora cinco vezes, tendo a equipa
portuguesa quatro vitórias e um empate, sendo este dado anterior
ao 9 de Setembro de 2014, quando, nas qualificações para o EURO
2016, a selecção nacional de Portugal perdeu com o resultado 1:0,
com o golo de Balaj, na segunda arte do jogo. Os jornais
portugueses caracterizaram o jogo da equipa nacional como fraco e
a derrota provocou raiva entre os adeptos portugueses, o que se
manifesta em numerosos fóruns da Internet, podendo alguns deles
ser referidos na bibliografia.
Resumindo, entre Portugal e os Balcãs, em termos de relações
bilaterais, há algumas constantes: são relativamente recentes,
interrompidas ou inexistentes durante os regimes do Estado Novo
em Portugal e as ditaduras comunistas em cada um dos países
integrantes desta zona, o interesse por Portugal, a língua e
cultura portuguesa começou a aumentar após a Revolução do 25 de
Abril ou a derrocada do comunismo, havendo leitorados, livros
traduzidos, trabalhos académicos e uma maior cooperação sobretudo
nas áreas da cultura e do desporto. Nos países balcânicos
prevalecem os estereótipos positivos acerca de Portugal
(relativos ao clima, gastronomia, música, desporto, e as partes
da História referentes aos Descobrimentos e à Revolução dos
Cravos), enquanto à primeira vista, em Portugal há alguns
estereótipos negativos (que dizem respeito À instabilidade
política e crises económicas), mas que começam a desaparecer
conforme se amplia o conhecimento sobre esta região europeia. Os
Balcãs e Portugal são unívocos no desejo de os países desta zona
integrarem a União Europeia e de aprofundarem e consolidarem as
relações bilaterais, e estão a fazer-se tentativas e iniciativas
neste sentido, que, num futuro próximo poderão dar melhores
resultados.
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http://www.rtp.pt/noticias/index.php?
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