VELHICE FEMININA NO ASILO: DO IMAGINÁRIO AO REAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA "Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem Departamento de Enfermagem VELHICE FEMININA NO ASILO: DO IMAGINÁRIO AO REAL Maira Di Ciero Miranda Vieira Fortaleza 2001 a / r:' i !■ ; ■; ? .v.\ :;'i ■■■■ ■■■■ ■" .......................

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA"Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem

Departamento de Enfermagem

VELHICE FEMININA NO ASILO: DOIMAGINÁRIO AO REAL

Maira Di Ciero Miranda Vieira

Fortaleza

2001a / r:' i !■ ; ■; ? .v.\ :;'i

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁFaculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem

Departamento de Enfermagem

Velhice Feminina no Asilo: Do Imaginário ao Real

Maira Di Ciero Miranda Vieira

Tese apresentada ao curso de' Pós-Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará para a obtenção do título de Doutor.

Orientadora:Profa. Dra. The!ma Leite de Araújo

Fortaleza2001

V7l6v Vieira, Maira Di Clero MirandaVelhice feminina no asilo: do imaginário ao real / Maira

Di Ciero Miranda Vieira, - Fortaleza, 2001,162f,

Orientadora, Profa. Dra, Thelma Leite de Araújo Tese (Doutorado), Universidade Federal do Ceará.

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Doutorado

1. Asilo. 2. Representação Social. 3. IdosoI. Título

CDD: 362.16

Tese aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de

Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

.Data da Aprovação: 30/04/2001

BANCA EXAMINADORA

X minha querida avó Isaura que aos 89 anos enriquece minha vida com sabedoria, amor e a alegria de sua convivência.

AGRADECIMENTOS

- À minha orientadora Dra. Thelma Leite de Araújo por acreditai’ em mim e pela demonstração de amizade.

- Às professoras Dra. Lorita Freitag Pagliuca e Dra. Raimtmda Magalhães da Silva pela compreensão e acolhida neste doutorado, demonstração de grandeza e prática humanitária.

- À minha companheira e amiga. Ana Fátima Carvalho Fernandes pelo apoio bibliográfico e estímulo ao longo desta jornada.

- Às colegas do doutorado, em especial a Maria Vera Lúcia Leitão Cardoso, pelo compartilhamento dos momentos de alegria e desânimo que de forma intermitente nos acompanharam ao longo desses anos.

- À minha mãe Candelária, pelo auxílio prestado nas correções ortográficas e pelo acompanhamento geral deste trabalho, com quem dividiría o título orgulhosamente.

- Aos funcionários da biblioteca que de forma solícita e eficiente colaboraram para que a pesquisa pudesse ser concluída.

~ Aos idosos do asilo, em especial às mulheres, fontes de saberes incontestáveis, pela participação tão valiosa e produtiva, geradora de uma amizade e confiança entre nós, até o dia que Deus quiser.

- A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

- À digníssima banca examinadora pela análise e contribuição enriquecedora para o aprimoramento desta tese.

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo elucidar as representações sociais de

idosas em relação à sua vida asilar. Buscou-se apreender os mecanismos

cognitivos e afetivos na elaboração das representações à luz da Teoria das

Representações Sociais de Moscovici. O corpus da pesquisa foi constituído por

doze entrevistas com idosas internadas num asilo da cidade de Fortaleza, Os

dados foram colhidos no primeiro semestre de 2000 através de entrevista e

observação e analisados tematicamente pela técnica de análise de conteúdo de

Bardin. A análise das experiências subjetivas, segundo esta teoria, está

fundamentada na relação com os outros, expressando a consciência

compartilhada do grupo social ao qual as idosas pertencem. Os resultados

esclareceram que as idosas têm. uma representação bastante negativa da velhice

e do asílamento. O ambiente asilai* é um reforço continuo aos atributos de

abandono, dependência e rejeição que a sociedade relaciona aos idosos. As

idosas que mantiveram um contato mais próximo com os familiares ao longo de

sua vida ou que foram obrigadas a ingressarem na instituição, têm mais

dificuldade de adaptação do que aquelas que viveram de forma mais

independente e que optaram por essa condição de vida. Para elas, o asilo é

adequado àqueles idosos completamente dependentes, física ou mentalmente, ou

em situação de extrema pobreza. Por não conhecerem outras alternativas

assistenciais de amparo aos idosos, consideram ser da família a total

responsabilidade de ampará-las até a morte.

ABSTRACT

This study intended to show evidences of elder’s social views within their

daily lives in a nursing Home. It looked for cognitive and affectionate data

from this particular context based upon Moscovicfs Social Representation

Theory. Data collection was conducted by means of interviews and participant

observation among 12 elder women in a nursing home in Fortaleza between

January and July in 2000. The process analysis occurred through Bardin’s

content analysis which themes were produced based on the sharing experience

and feelings combined with the Moscovicfs theory. The findings showed that

these women held negative feelings with regards their lives conditions and

elderhood. For them, the nursing home environment reinforces the feeling of

loneliness and society’s rejection for the elders. Also, the elder womeij who

li ve d with their family closely has more difficulties to adapt than those who

Lived independently and chose such kind of living. For most, the nursing home

is an appropriate house for those who are in a poverty condition. Indeed, they

do not know any other way of living or assistance for the elders, thus they

believe that it is the family’s responsibility to take care of them.

1

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................. ..................... 10

2 RESGATANDO O TEMA NA LITERATURA..................... 14

2.1 Aspectos Demográficos do Envelhecimento ....................... 142.2 Considerações sobre Gênero e Envelhecimento ..................202.3 Implicações do Envelhecimento nas Esferas Familiar e

Social..................................................................................... 252.4 Política e o Envelhecimento Populacional............................36

3 DEFININDO O OBJETO DE ESTUDO................................. 50

4 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS COMOOPÇÃO TEÓRICA................................................................. 59

5 CAMINHAR METODOLÓGICO........................................... 675.1 Local da Pesquisa................................................................. 675.2 Caracterização da Amostra................................................... 705.3 Coleta e Análise dos dados................................................... 71

6 AS INFORMANTES. QUEM SÃO ELAS?........................... 76

7 A DESCOBERTA DAS REPRESENTAÇÕES...................83

7.1 Representação Social de Velhice......................................... 837.1.1 Corpo e mente em decadência.......................................... 847.1.2 Decadência psicossocial................................................... 887.1.3 Curso cronológico da vida............................................... 92

7.2 Representação Social de “Morar no Asilo”........................94

7.3 Representação Social de Asilo......................................... 1077.3.1 Espaço de libertação....................................................... 1087.3.2 Espaço de restrição..........................................................110

7.4 O Cotidiano na Instituição Asilar...................................... 1137.4.1 Ociosidade...................................................................... 1137.4.2 Relacionamentos conflituosos........................................ 1217.4.3 Maus tratos......................................................................132

7.4.4 Atendimento deficiente á saúde.................. ,.................. 1367.4.5 Má alimentação..................................................... 1387.4.5 Falta de espaço, privacidade e conforto......................... 140

8 CONCLUSÃO.....................................................................143

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................148

ANEXO 1- Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética..... 160ANEXO 2- Termo de Consentimento...................................... 161ANEXO 3- Roteiro de Entrevista............................................162

10

VELHICE FEMININA NO ASILO: DO IMAGINÁRIO

AO REAL

L INTRODUÇÃO

Aspectos relacionados ao envelhecimento têm me despertado interesse

já algum tempo, não apenas de ordem acadêmica como também de ordem pes­

soal, uma vez que pessoas significativas em minha vida estão vivenciando ou se

aproximando dessa fase específica do curso de vida, tida como a última.

A temática sobre o idoso ern trabalhos de pesquisa começou a ser ex­

plorada, escassamente, na área das ciências sociais na década de 60 e, somente a

partir dos anos 80 vem atraindo a atenção dos pesquisadores, assumindo maior

importância nesses últimos anos, como norteadora de políticas públicas a fim de

obter o bem-estar e justiça social.

A conquista da longevidade é um desejo intrínseco da humanidade ao

longo de sua evolução. Chegar aos 60 anos era possível apenas para uma peque­

na parcela da população brasileira. Este fato tem se tomado acessível a um núme­

ro crescente de pessoas em nosso país, sobretudo nesses últimos 20 anos.

O desenvolvimento científíco-tecnológico e sanitário alcançados, prin­

cipalmente, ao longo do século XX contribuíram, significativamente, para a me­

lhoria das condições de vida da população que, aliados à queda, da fertilidade

projetou verticalmente o número de idosos, atingindo notórias proporções num

processo irreversível de envelhecimento populacional.

Essa transição demográfica, ou seja, a passagem de uma população

basicamente de jovens para outra de adultos e idosos, configurando o envelheci­

mento populacional brasileiro, representa um grande desafio social e político.

II

Assim, a experiência de envelhecer vem sendo trilhada em um caminho amplo e

grupai, antes tido como estreito e individual.

O alcance tão almejado da longevidade, longe de ser uma conquista

universal, com garantia de ser dignamente vivida, tem sido encarada como um

desafio, sem precedentes históricos, nas áreas social e de saúde.

A abrangência do processo de envelhecimento envolve aspectos políti­

cos, sociais, econômicos, éticos e culturais de uma nação. Os escassos recursos

financeiros até então destinados, basicamente, ao atendimento da população jo­

vem com o seu contingente ainda bastante significativo, passam agora a ser dis­

putados pela população idosa para atender suas necessidades específicas.

Essa problematização do envelhecimento como ameaça a ordem social

é o que tem aumentado a visibilidade política desse processo que, apoiado ainda

em estereótipos negativos de ser o idoso improdutivo, dependente, doente e po­

bre remete-o a uma posição hierárquica social menos valorizada.

Intelizmente, as medidas políticas em nosso país tendem a ser tempo­

rárias e raramente sustentadas e continuadas, o que seria indispensável para uma

efetiva assistência aos idosos, no que tange, principalmente, às áreas críticas de

responsabilidade do Estado que são: saúde, previdência e assistência social.

Salgado (1982) já ressaltava que o Brasil carece de iniciativas políticas

que atendam com criatividade às novas demandas da população idosa e enfatiza

que a saída encontrada de forma imediata foi a multiplicação de asílos.

Todavia, com a falta de recursos sócio-culturais, os idosos indepen­

dentes buscam os asilos e se defrontam com o propósito alienante dessas institui­

ções que foram criadas para prestar assistência às necessidades mais diretas, so­

bretudo abrigo e alimentação. O idoso independente, continua Salgado (1982),

representa uma clientela com características muito distintas das dos idosos de­

.12

pendentes para os quais o asilo seria mais adequado, e aí se frustam com a falta

de atendimento das suas carências sociais mais comuns.

O asilamento dos idosos está longe de ser encarado como uma medida

política promissora,. Urge uma maior sensibilização para com os mais fragiliza­

dos, enfatizando a humanização da prática política e social.

Num país como o Brasil com notáveis diferenças regionais, má distri­

buição de renda, diferenças culturais etc., pode-se pensar em distintas formas de

viver e, portanto, de envelhecer. A heterogeneidade da experiência de envelhecer

acontece dentro de iim contexto histórico e o asilamento pode representar uma

forma comum de condição de vida para os idosos ali confinados que passarão a

encará-la, distintamente ou não, em consequência da visão de mundo que trazem

consigo e, portanto, suas representações de velhice.

Minha primeira oportunidade de .investigação científica junto aos ido­

sos se deu durante o desenvolvimento de minha dissertação de mestrado em

Farmacologia no ano 1991. O trabalho foi desenvolvido dentro da linha positi­

vista, cujo objetivo principal foi a demonstração de alterações no número de re­

ceptores colinérgicos em cérebros de idosos dementes asilados. Esta restrita con­

vivência com os idosos, me remeteu a indagações de cunho existencial, que fo­

ram fortalecidas quando me tomei íntima de alguns deles. Viam em mim a opor­

tunidade de desabafarem suas angústias, decepções e tristezas, chamando-me

bastante a atenção a confiança em mim depositada para agir em prol do retomo

aos seus lares, parecendo ser a redenção daquela situação tão sofrida e distante

de sua realidade.

Por outro lado, naquela ocasião, pude assistir inúmeras vezes a decep­

ção dos familiares que procuravam a instituição e não conseguiam “livrar-se” de

seus velhos, devido a permanente lotação da casa. Para eles, de modo contrário

aos velhos que estavam no asilo, a presença do idoso no lar representava trans­

13

tornos e infortúnios. Chocou-me o conhecimento ;de que a grande maioria dos

idosos-possuíam família ou familiares próximos, além de gozarem de um bom

estado físico e mental, em outras palavras, capazes de auto-cuidar-se, contrapon­

do o objetivo da instituição que era de amparai; prioritariamente, os desampara­

dos. Não foi o comportamento dos familiares em deixarem seus idosos no asilo

que me incitou na investigação que agora me proponho a fazer, mas sim o inte­

resse em desvendar junto ao idoso o significado pessoal e grupai de uma condi­

ção de vida de “excluídos da sociedade”, quando ainda encontram-se em perfei­

tas condições para interagirem socialmente.

No campo da enfermagem, o destaque maior tem sido com relação ao

idoso doente, ou melhor, no atendimento de suas necessidades, com poucos tra­

balhos enfocando com profundidade os aspectos subjetivos do envelhecimento

que buscassem compreender os sentimentos, desejos e modos de viver dos ido­

sos.

A fim de compreendermos a elaboração cognitiva da condição de asi­

ladas pelas idosas, influenciada tanto por fatores culturais quanto pessoais, obje­

tivamos neste estudo obter as representações sociais sobre a velhice e a vida na

instituição asilar como também analisar as implicações dessas representações so­

bre a qualidade de vida dessas idosas.

14

2, RESGATANDO O TEMA NA LITERATURA

2.1. Aspectos Demográficos do Envelhecimento:

A mudança demográfica caracterizada pelo envelhecimento

populacional, vem ocoiTendo universalmente, abrangendo países ricos e pobres,

tomando-se visível após os anos 50 (Henrard,.1996).

Em 1950, o Brasil era o 16° do mundo, com 2,1 milhões de pessoas

idosas. Até 2025, estima-se que estará em 6o lugar, com a enorme soma de 31,8

milhões de idosos, apresentando o maior aumento proporcional dentre os países

mais populosos do mundo durante esse período (Veras, 1994). No decorrer do

século em curso, todas as regiões serão semelhantes em relação à estrutura

etária.

Até 2025, prevê-se que três quartos da população idosa do mundo

estarão vivendo em países menos desenvolvidos.

Segundo classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS),

baseada na idade cronológica, o grupo de idosos abrange as pessoas com idade

igual ou superior a 60 anos e, pode ser subdivido em três categorias com

diferentes características e necessidades: idoso jovem (60-65/ 74 anos); idoso

(75 - 84 anos); idoso velho (acima de 85 anos).

No Brasil, nos próximos anos a' população idosa será ' constituída

característicamente de “idosos jovens”. Isto contrasta com o que acontece nos

países mais desenvolvidos, nos quais a faixa etária que cresce com maior

rapidez é a que se situa acima dos 80 anos (Longino,1988).

O aumento de idosos velhos requer atenção especial, uma vez que

apresentam mais problemas de saúde e são, portanto, mais dependentes,

tomando-se um desafio na área social, econômica e política (Tauber apud

Restrepo e Rozental,1994).

15

Embora desde a década de 60 a maior parte da população com mais de

65 anos vivessem em países do terceiro mundo foi a partir do crescimento

acelerado dessa parcela populacional que despertou o interesse político para essa

nova situação social.

No Brasil, o tema do envelhecimento populacional passou, então, a ser

discutido politicamente, e as ações sociais voltadas para os interesses dos idosos

estão contempladas em forma de lei.

A esse acelerado processo de aumento do número e proporção da

população idosa no Brasil como em outros países tidos de população jovem, dá-

se o nome de transição demográfica (Veras, 1991) que é determinada por uma

série de eventos:

a) Significativo declínio na mortalidade levando a um aumento da

população: o acentuado declínio da mortalidade infantil causando um

crescimento inicial da população infantil com um eventual aumento da

população idosa;

b) Declínio do índice de fertilidade, levando ao decréscimo da

população jovem e consequente aumento na proporção de pessoas mais velhas;

c) Aumento na expectativa de vida.

Restrepo e Rozental (1994) defendem que o envelhecimento

populacional é determinado principalmente pelo declínio da fertilidade sendo

secundariamente influenciado pelo declínio da mortalidade ou do aumento da

expectativa de vida.

A velocidade com que se processam as mudanças demográficas tem

sido muito diferente entre o Brasil e os países desenvolvidos, devido à rapidez

do declínio das taxas de fecundidade. Por exemplo: na França, deverão

transcorrer 115 anos para que a proporção de idosos duplique ™ de 7% para

14%; nos Estados Unidos esse período será de 66 anos e no Brasil esse mesmo

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fenômeno durará apenas 30 anos - de 7,7% em 2020 para 14,2% em 2050

(Chaimowicz, 1997).

No início da década de 90, o número de idosos era de 11,4 milhões,

isto é 7,9% da população. Atualmente são 14,5 milhões, o que passou a

representar 9,1% da população brasileira. Apesar do processo de envelhecimento

recente, a população brasileira pode ser considerada uma das maiores do mundo,

superior a da França, Itália e Reino Unido. (IBGE,2000)

Situando o Brasil dentro da América Latina, uma análise da

COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA -CEPAL (1999-2000)

retratou que o processo de transição demográfica tem-se efetuado em

velocidades diferentes entre os países latinoamericanos que foram, então, assim

classificados:

1~ Em transição avançada: países com taxa de natalidade e

mortalidade reduzidas, com crescimento populacional ao ano em cerca de 1%

(Argentina, Antilhas, Bahamas, Barbados, Chile, Cuba, Guadalupe, Jamaica,

Martinica, Porto Rico, Trinidade e Tobago e Uruguai);

2- Em transição plena: países com declínio na taxa de natalidade e

baixa mortalidade. A taxa de crescimento populacional gira em torno de 2%

(Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana, México, Panamá, Peru,

República Dominicana, Suriname e Venezuela);

3- Em transição moderada: países com taxas de mortalidade em

rápido declínio e natalidade elevada, com crescimento populacional superior a

2,5% (Belize, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Paraguai);

4- Em transição incipiente: países com níveis altos de natalidade e

mortalidade, com taxas de crescimento populacional maior que 2% (Bolívia e

Haiti).

1.7

Como se observa, o processo de transição demográfica vem atingindo

amplamente a América Latina onde a grande maioria dos países encontra-se nas

fases de transição avançada ou plena.

Aproximadamente 75% dos idosos do Brasil vivem nas regiões

sudeste e nordeste. Na região nordeste, a população com 60 anos ou mais era de

aproximadamente 3% da população total em 1970 (IBGE,1970), passando para

6% em 1991 (IBGE,1992).

Especificamente, na cidade de Fortaleza, esse percentual chega a 8%,

sendo, portanto, semelhante ao levantamento realizado na cidade de São Paulo e

superior à média nacional. Esta transformação do perfil populacional do

nordeste pode estar atrelada à migração de pessoas em idade produtiva além dos

declínios das taxas de fecundidade e mortalidade (BEMFAM, 1994 apud

Macedo Filho e Ramos, 1999).

No estado do Ceará somam-se atualmente em tomo de 600 mil os

habitantes com idade superior a 60 anos e, o número absoluto no Brasil é de 14

milhões (IBGE, 1996).

Em países industrializados, a queda das taxas de mortalidade e

fecundidade foi acompanhada pela ampliação da cobertura dos sistemas de

proteção social e melhoria das condições de habitação, alimentação, trabalho e

saneamento básico (Camargo e Saad, 1990; Kalache et ah, 1987).

No Brasil, por outro lado, o declínio da mortalidade foi determinado

mais pela ação médico-sanitária do Estado que por transformações estruturais

que pudessem se traduzir em melhoria da qualidade de vida da população. Nas

primeiras décadas do século XX, através de políticas urbanas de saúde publica

como a vacinação, higiene pública e outras campanhas sanitárias e, a partir da

década de 40, pela ampliação da atenção médica na rede pública (Oliveira e

Felix, 1995).

18

Tal fato ressalta o caráter urgente que as medidas políticas com

abrangência das áreas social, econômica e de saúde devem ser conduzidas para a

acomodação dessa nova realidade, sem tempo a perder com ações

assistencialistas e de curto alcance que, longe de resolverem os problemas da

sociedade, são fontes de perpetuação das mazelas sociais e a possibilidade de

um temeroso e incerto futuro para os que envelhecem.

O aumento da expectativa de vida traz consigo reflexo sobre a

condição de saúde da população. Com o envelhecimento pode-se esperar o

aumento de doenças e incapacidades, causando elevada demanda dos serviços

de saúde e de amparo social.

Fries (1980), defende ponto de vista contrário, considerando que o

aumento na expectativa de vida deve-se, sobretudo, à contínua melhoria das

condições de saúde, especialmente em retardar a instalação precoce de doenças,

reduzindo assim, a morbidade e a incapacidade entre os idosos. Contudo, há

uma modificação da incidência e prevalência de doenças na população

relacionada ao processo de envelhecimento, despontando um novo perfil

epidemiológico.

Passa-se a enfrentar, juntamente com a transição demográfica, uma

transição epidemiológica referente às modificações a longo prazo dos padrões de

morbidade, invalidez e morte e que engloba três mudanças básicas (Frenk et

al.,'199'1):

1“ Substituição entre as primeiras causas de morte ...das. doenças

transmissíveis por doenças não transmissíveis e de causas externas;

2- Deslocamento da maior carga de morbi-mortalidade dos grupos

mais jovens aos grupos mais idosos; e

3- Transformação de uma situação em que predomina a

mortalidade para outra de maior morbidade.

19

No Brasil, como assinalam Frenk et al. (1991) essa transformação

epidemiológica não se dá de forma definida, mas sim como uma espécie de

coexistência dos aspectos novos com os antigos, cjue distingue o Brasil dos

países desenvolvidos como:

1- Não há transição mas, superposição entre as etapas onde

predominam as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas;

2- A re introdução de doenças como dengue e cólera, ou o

recrudescimento de outras como malária, hanseníase e leishmaniose indicam

uma natureza não direcional, denominada “contra transição” ;

3- O processo não se resolve de maneira clara, criando uma situação

em que a morbi-mortalidade persiste elevada para ambos os padrões,

caracterizando uma “transição prolongada”. Para o idoso, as questões de

capacidade funcional e autonomia podem ser mais importantes que a própria

morbidade pois se relacionam diretamente com a qualidade de vida. ,

4- As situações epidemiológicas de diferentes regiões (desenvolvidas

e subdesenvolvidas) de um mesmo país tornam-se contrastantes (polarização

epidemiológica).

Uma vida longa, antes privilégio de poucos, agora é alcançada por

milhões de pessoas em todo o mundo. O progresso não pode ser medido

somente em quantidade de anos vividos, mas também em termos de qualidade

de vida, que implica no direito universal dos cidadãos de viver seus últimos anos

de vida de forma mais saudável e satisfatória. Somente desta maneira, seria

justificado o valor da conquista da longevidade tão almejada pela humanidade

desde os primórdios de sua existência.

Hoje, com o acelerado desenvolvimento científico, os mistérios do

funcionamento do organismo são desvendados minuciosamente através do

conhecimento da engenharia genética, com progressos fantásticos, sobretudo nos

20

aspectos relacionados ao retardamento do processo de envelhecimento e às

promissoras possibilidades de cura para diversas doenças.

2.2. Considerações sobre Gênero e Envelhecimento:

Diferente da crença popular, a revolução demográfica não é

essencialmente devido às pessoas viverem mais tempo, mas porque um número

acentuado de pessoas está atravessando todas as etapas da vida (Henrard, 1996).

Acredita-se, embora não se possa ter como certo, que a

hereditariedade tenha influência na longevidade. Muitos outros fatores intervém,

sendo o primeiro deles o sexo: em todas espécies animais, as fêmeas vivem mais

tempo que os machos. Na França, as mulheres vivem em média sete anos mais

que os homens. A. seguir, influem as condições de crescimento, de alimentação,

do meio e as econômicas (Beauvoir, 1990).

Diferenças no gênero em relação à longe vidade são uma-característica

importante no envelhecimento populacional. Esta diferença foi acentuada

durante este século devidõ a um forte declínio da mortalidade entre as mulheres.

A desigualdade de gênero no tocante à mortalidade resulta em um notável

desequilíbrio, aumentando com a idade. Esse processo foi denominado

“feminização” cia velhice (Arber e Ginn,1993).

De acordo com o relatório da CEP AL (1999-2000), no Brasil o

número de mulheres idosas supera o de homens idosos em aproximadamente

20%, e essa maior sobre vi da feminina tende a ser ainda maior a partir dos 70

anos de vida.

Alguns argumentos foram levantados por vários autores

(Waldron,1983; Zhang et al.,1995) tentando explicar a causa da maior

longevidade entre as mulheres. Uma importante razão é atribuída aos fatores

comportamentais como o menor consumo de álcool e de fumo e os riscos

ocupacionais mas, a maior durabilidade do organismo feminino permanece

insatisfatoriamente respondida.

As principais causas de óbito no sexo masculino estão concentradas

no sistema coração-pulmão (SidelJ.995) reforçando a participação do fumo na

diferenciação da mortalidade entre homens e mulheres. Entretanto, homens e

mulheres morrem basicamente das mesmas causas principais. Fatores de risco

semelhantes afetam a mortalidade em ambos os sexos (Zhang et al.,1995).

Outros pesquisadores sugerem que os fatores sociais e ambientais são

bastante importantes .nas .fases mais precoces da vida e os fatores biológicos e

genéticos mais importantes na fase mais tardia da vida (Gee e Veevers, 1983).

Acredita-se que as diferenças numéricas entre os sexos tendam a

diminuir pela redução dos riscos ocupacionais evitando mortes prematuras.

Importante ressaltar que a crescente adoção de estilos de vida similares aos dos

homens pelas mulheres em termos de trabalho, consumo de fumo e álcool pode

provocar o aumento das mortes em estágios mais iniciais (Henrard,1996).

Muitos dos estudos que trataram da saúde na fase mais avançada da

vida mostraram serem as mulheres mais doentes do que os homens da mesma

idade. Os dados sobre morbidade demonstraram uma maior prevalência de

condições crônicas entre as mulheres quando comparadas com os homens

(Verbrugge, 1989; Zhang et af, 1995). As mulheres mais velhas avaliam seu

estado de saúde menos positivamente que os homens (Verbmgge/1985 e Arber e

Ginn/1993), referindo mais frequentemente à presença de incapacidades do que

os homens em numerosos estudos na França (Huet e Gardent,1994), Inglaterra

(Martin et ah, 1988) e Estados Unidos (Verbrugge/1985; Manton/1988).

.No Brasil, um estudo publicado em 1994 e conduzido por Veras em

três distritos socioeconomicamente diferentes da cidade do Rio de Janeiro,

objetivou através da aplicação de um questionário multidimensional, avaliar

22

inúmeros aspectos da condição de vida dos idosos, dentre eles a saúde e a

capacidade funcional.

Dos resultados obtidos, a diferença mais importante entre os sexos foi

relacionada à saúde, onde entre os queixosos 72,3% eram mulheres. Já com

relação ao desempenho das atividades da vida diária, o dos homens foi melhor

do que o das mulheres.

A existência de vários tipos de deficiência física e a incapacidade de

cuidar de si mesmo têm grande importância no planejamento da assistência aos

idosos. Importa assinalar que a interpretação sobre a saúde e capacidade

funcional dos idosos do estudo citado anteriormente, foi a partir dos

sentimentos subjetivos em relação à saúde e não baseado em. urna avaliação

clínica objetiva de problemas. Mas, essas informações são necessárias para o

planejamento do atendimento de saúde para os idosos nos próximos anos.

A maior incapacidade das mulheres implica numa necessidade mais

acentuada dos serviços formais e informais de saúde, além do que não podem

ser beneficiadas como os homens (com a ajuda do esposo) e frequentemente

dispõem de poucos recursos financeiros.

Numa investigação transversal realizada por Macedo Filho e Ramos

(1999) na cidade de Fortaleza com idosos de estratos sociais diferenciados que

residiam na região central, intermediária e periférica de Fortaleza, revelou-se de

modo similar aos estudos em outras capitais brasileiras ( Rio de Janeiro e

São Paulo), que além da predominância do sexo feminino entre os idosos

(66%), havia uma elevada coexistência de cinco ou mais doenças crônicas no

sexo feminino (18,7%), chegando a representar mais de três vezes a apresentada

pelo sexo masculino (5,8%).

O grau de autonomia dos idosos incluídos nesse estudo foi maior nas

áreas cujo poder aquisitivo da população era maior, sendo considerados

autônomos, 67,9% dos idosos da região central, 43,8% da região intermediária e

23

44,6% da área periférica de Fortaleza. Esses dados, dentre outros, caracterizam

a precariedade das condições de vida dos idosos mais pobres e a necessidade de

serem assistidos por outras pessoas.

Portanto, a maior longevidade entre as mulheres está atrelada também

ao aumento da dependência. Com frequência as idosas deverão mudar-se para a

casa de um de seus filhos, geralmente após a viuvez, como também serão

candidatas a morar em instituições asilares quando outro aparato familiar não for

capaz de atendê-las nas suas necessidades. Mesmo nas famílias extensas, o

amparo aos idosos é um problema a mais somando-se ao desemprego, pobreza,

disputa por herança entre seus membros, mães solteiras sem renda para sustentar

sua prole e, que são de difícil solução.

O problema de viver só assume diferentes dimensões ao se considerar

o sexo feminino e masculino. O homem torna-se mais isolado dos parentes após

a morte da esposa. Recebendo menos cuidados pessoais do que ã mulher de

seus familiares e amigos, apresentam maiores dificuldades em se ajustarem à

vida sozinhos tomando-se um grupo vulnerável (Arber e Ginn ,1993)..4**

Metade das mulheres incapacitadas vivem sozinhas e são dependentes

de cuidados não remunerados de seus familiares. Esse contexto as toma privadas

de sua independência e identidade própria. Entretanto, essas diferenças no

modelo de sociabilidade proporciona á mulher um estado mais avantajado em

relação ao homem de uma melhor estrutura social na velhice, ou seja, dispõe de

um sistema informal para a sua assistência (Henrard,1996).

Diferenças importantes relacionadas ao nível de assistência social

baseada no gênero e classe social foram também relatadas por Arber e Ginn

(1993) onde, de um modo geral, 2/3 dos homens idosos recebem cuidados

pessoais e domésticos da esposa, enquanto as mulheres idosas recebem, um

pouco mais de um quarto, cuidados pessoais do marido.

24

Essa informação foi apoiada também pelos dados encontrados por

Macedo Filho e Ramos (1999) na cidade de Fortaleza, onde os idosos do sexo

feminino viviam em sua maioria (67,2%) sem cônjuge (separados, solteiros ou

viúvos), ocorrendo o contrário com os do sexo masculino onde 77,5% viviam

com a esposa ou com uma companheira.

A mulher é a principal cuidadora dos inválidos, das crianças e dos

idosos. Assume, muitas vezes, o papel de cuidadora em idade bastante jovem e

por toda a vida, sendo o principal ator da economia local, pertencente ao mundo

privado de um trabalho não remunerado. Historicamente, a mulher exerce um

trabalho invisível e tem sido remunerada insatisfatoriamente ao longo de sua

vida devido a estrutura social, que a isola do processo de crescimento e

desenvolvimento. Isso contribui para torná-la mais fragilizada, abandonada e

com risco mais alto de adoecer (Neysmith,1990).

O marco da velhice assume significado distinto para o homem e para

a mulher, surgindo um padrão duplo de envelhecimento. Para o homem, o■I»

envelhecimento é definido como a cessação do trabalho produtivo e para a

mulher com o término do ciclo reprodutivo. Devido ao fato das mulheres serem

valorizadas por sua juventude e beleza física, a idade avançada é tida como um

desafio, uma vez que diminui a fonte de auto-estima, trazendo uma

desvalorização social (Arber e Ginn, 1991).

A experiência feminina da velhice é considerada, na maioria das

vezes, como uma continuidade porque não há ruptura com o ambiente de

trabalho e os relacionamentos tradicionais, cujo desempenho dos papéis está

ligado ao sexo pode ser um meio de alimentar sua auto-estima (Beauvoir apud

Henrard, 1996).

Noutra perspectiva, tomando como exemplo as mulheres idosas de

hoje, um grande número delas não trabalhava, não ocorrendo, portanto, a perda

25

das relações tradicionais e influência dentro família pela manutenção de seu

papel na esfera doméstica, o que delineia um s tatus de superioridade persistente.

Os idosos têm consciência dessa troca de papéis. No caso do homem

que se aposenta e passa de uma vida publica para a privada exigindo uma

adaptação que embora possa lhe trazer algumas vantagens como o descanso e o

lazer, depara-se também com graves desvantagens como o empobrecimento e a

desqualificaçao (Beauvoir, 1990).

O envelhecimento feminino pode ser encarado de forma negativa por

estarem as mulheres vivenciando uma situação de dupla vulnerabilidade através

de dois tipos de discriminação - como mulher e como idosa. E, apesar de

considerar o lado positivo de não se afastarem do lar, na velhice, as mulheres

defrontam-se, mesmo dentro de seu mundo domiciliar mais restrito, com

inúmeras perdas como o abandono dos filhos adultos, viuvez ou o conjunto de

transformações físicas inerentes ao processo de envelhecimento.

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, a esse conjunto de perdas

deve-se somar o subemprego, os baixos salários, o isolamento e a dependência

que caracterizam a condição das mulheres com idade avançada (Streib, 1975;

Rodhes, 1982 apud Debert, 1999).

Os padrões sociais e culturais necessitam ser remodelados sobretudo,

no aspecto discriminatório amplo que sofrem os idosos, a fim de protegê-los do

isolamento, através da colaboração entre os vários setores da sociedade

incluindo os governantes, os profissionais, voluntários e familiares que direta ou

indiretamente estão envolvidos com o modo de vida reservado aos idosos.

2.3, Implicações do Envelhecimento nas Esferas Familiar e Social:

26

A interação cios aspectos biológicos e sociais é essencial para analisar

as repercussões do envelhecimento, uma vez que os fatores sócio-psico-

biológicos são constituintes inseparáveis desse processo geral.

O envelhecimento é considerado como a última etapa da vida

biológica, quando os sinais de deterioração física inevitavelmente são aparentes,

terminando com a morte. É tido também como o último estágio da vida social do

indivíduo, o resultado final da experiência social coletiva e pessoal do indivíduo.

Podemos dizer que o seu processo é determinado e determina as sociedades nas

quais vivemos (Beauvoir,1990), ou seja, é um fato cultural.

Ao longo da história, o velho assumiu diferentes gradações cie valor de

acordo com o tipo de sociedade em questão. Como por exemplo, nas sociedades

mais primitivas, incapazes sequer de constituir uma tradição oral e sendo sua

única opção de vida, a sobrevivência, o velho era sacrificado, uma vez que

encontrava-se fisicamente debilitado, e, portanto, incapaz de automanter-se,

requerendo cuidado e alimento. Em contrapartida, com o uso da tradição oral

pelas sociedades iletradas, os velhos assumiram a responsabilidade de perpetuá-

la, pois detinham a memória, a história do grupo e passaram a gozar de prestígio

social (Silva, 1981).

No Brasil, não há a valorização da história, da memória e da tradição,

onde tudo passa a ser encarado como velho e ultrapassado pela rápida e

constante aquisição de novos conhecimentos e costumes, e .que, .diante dessa

cultura volatilizada, o idoso é tido como um elemento a parte, sem

reconhecimento social. Essa consciência é reforçada pelos interesses capitalistas

que visam o lucro e a produtividade, em que o velho por não constituir mão de

obra apta para o trabalho, é desvalorizado e abandonado pelo Estado e pela

sociedade.

A miséria e exclusão que atingem considerável parcela da população

brasileira seriam potencializadas com a velhice.

27

Conforme retrata Sá (1991, p.19), o velho brasileiro, sobretudo

quando petencente à classe social menos favorecida, é vítima do sofrimento,

pois é visto como:

(um ser humano) discriminado, inativo, vivendo em condições precárias e em situações de perda do status, do prestígio e das relações funcionais decorren tes do trabalho (...) Consequentemente temos um idoso em crise; crise de identidade, que o leva na maioria das vezes, à retração, à volta a si mesmo, à sínclrome da pós-aposentadoria caracterizada pelo isolamento, pela solidão, pelo desinteresse pela vida, alcoolismo, divórcio, decrepitude, senilidade, morte social e morte física.

Vischer, citado por Bastos (1993) considera a velhice como a “idade

das perdas”. Essas perdas são representadas por diversos tipos de luto: pela

perda da beleza física, da libido, do trabalho, do prestígio, dos filhos que se

tomaram adultos, da prefiguração da própria morte, etc.

Esses estereótipos negativos associados à velhice são evidenciados a

partir da segunda metade do século XIX, sendo encarada como um processo

contínuo de perdas e dependência o que traduz o significado de ser velho na

sociedade moderna.

Por estar o termo “velho” carregado de sentido pejorativo foi

substituído na França na década de 70 pelo termo “ terceira idade” menos

preconceituoso, com a implantação das “Universités du Troisième Age”.

Atualmente esse termo está amplamente difundido popularmente no mundo

ocidental (Stucchi, 1994).

Para Debert (1999), existe uma tendência na sociedade

contemporânea, em procurar reverter a visão negativa ligada ao processo de

envelhecimento para outra de uma fase de realizações até então não

conquistadas. A valorização dos idosos a partir das experiências vividas e os

saberes acumulados são encarados como ganhos, garantindo-lhes desfrutar de

28

uma relação harmoniosa com os mais jovens, somada à busca de novos

objetivos na vida.

Iniciativas sociais estão surgindo atualmente, com interesse de obter

a afirmação da identidade e da busca da dignidade do idoso, como as

universidades para a terceira idade, as escolas abertas e os grupos de

convivência (Debert, 1999).

Vale salientar que, as oportunidades de participação das novas formas

de sociabilidade na velhice não são igualmente acessíveis ao conjunto da

população, considerando a heterogeneidade da sociedade brasileira, sobretudo

com acentuados desníveis sociais. Portanto, é falso pensar que o avanço da

idade por si só dissolvería distinções socioculturaís que marcaram as etapas

anteriores da vida.

A multiplicidade das experiências do envelhecimento está

sedimentada na história de vida que tem como elementos formadores as relações

sociais e familiares, os diversos modos de vida e as características individuais de

enfrentamento dos problemas vivenciados.

Segundo Laslef{1987) para que a velhice seja uma etapa da vida

propícia à realização e satisfação pessoal, é necessária a existência de uma

“comunidade de aposentados” com peso suficiente na sociedade, demonstrando

dispor de saúde, independência financeira e outros meios apropriados para

atingir suas expectativas.

Tal argumento parece distante da realidade brasileira, cujos idosos,

apesar do número expressivo, não se encontram suficientemente organizados

para causar o reconhecimento político de seus direitos e, nem tão pouco

conscientes de sua condição de cidadãos sociais ativos e participantes, e não

meramente expectadores passivos e carentes à espera da caridade de terceiros

ou do Estado.

29

A falta de credibilidade e empenho da sociedade civil em organizar-se,

seja de forma ampla ou em grupos de interesses específicos, na conquista ou

garantia do cumprimento dos seus direitos, necessita ser trabalhada e exercitada

pelos cidadãos brasileiros como poderoso instrumento de força para a mudança

do quadro social deplorável do nosso país.

Os fracos indícios de uma maior sensibilização da sociedade

brasileira para com os idosos, não conseguiram ainda, gerar o impacto suficiente

para mudar a representação da velhice em direção a uma existência livre de

preconceitos e com melhor qualidade de vida.

Podemos identificar duas visões antagônicas de velhice: a tradicional,

tida como uma fase de dependência e perdas e outra que vem despontando,

como uma fase promissora, com ganhos e realizações pessoais.

A mídia possui notável influência como transformadora e divulgadora

de opiniões e imagens. Com relação à velhice, observa-se um emergente

mercado de turismo e lazer, e produtos como os cosméticos e farmacêuticos,

voltados para uma velhice mais saudável e, potencialmente adiável.

Os idosos em especial os de maior renda, podem ser influenciados a

tornarem-se consumidores desenfreados, caindo na ciranda da especulação

comercial, sem contudo, terem eqliitativamente dentre os membros da

sociedade, seu valor existencial reconhecido.

A divulgação da adoção de estilos de vida saudáveis, onde compete a

todos a responsabilidade de manterem-se jovens, denota a própria negação ou

rejeição da velhice na nossa sociedade (Debert, 1999).

É, pois, diante desse cenário de desvalorização da velhice que o

inegável processo de envelhecimento populacional está inserido, e que, antes de

urna análise social mais ampla, perpassa primariamente pelas inúmeras formas

de organização das famílias e que irão influenciar na capacidade em assistir os

seus idosos.

30

Por tradição, a segurança da população idosa tem sido garantida

dentro da estrutura familiar extensa ou ampliada. Contudo, no Brasil, o padrão

de famílias ampliadas está declinando, e existem indícios de que os sistemas de

apoio tradicionais estão sendo desfeitos pelas mudanças sociais (Berquó e Mota, 1988).

A família continua a ser o principal meio de apoio social, emocional

e econômico. Os valores sociais que concorrem para a percepção social sobre os

idosos e o seu papel na sociedade, dentro das mais variadas estruturas familiares,

foram influenciados ao longo dos anos pela migração urbana, pelo processo de

industrialização, mudança no papel feminino, transformação da força de

trabalho, pobreza e marginalização da população, expansão do setor informal

dentre outros fenômenos que ocorreram nesse contexto global (Restrepo e

Rozental, 1994).

A precariedade das políticas públicas faz com que o peso da situação

do idoso recaia sobre a família que também encontra-se despreparada para essa

nova situação.

Devido a maior longevidade de seus integrantes, as famílias devem

assumir esse desafio apoiada na resolução, a nível privado, dos problemas

assistenciais das pessoas idosas (CEPAL, 1999-2000).

Para as classes menos favorecidas economicamente, amparar o idoso

pode significar a desestabilização da estrutura econômica e funcional da família.

Uma das consequências mais visível do envelhecimento populacional

dá-se em termos dos arranjos familiares como: idosos morando sozinhos ou com

parentes, mulheres chefiando a família ou morando com os filhos e, em alguns

casos, obviamente, uma pequena parcela dos idosos terá como única opção para

a sua sobrevivência, o asilo (Berquó,1999).

Contrariamente, em alguns casos, a figura do idoso assume importante

destaque quando passa a ser a fonte de sustento de filhos e netos desempregados

31

que voltam a residir com o idoso e que vêem na aposentadoria irrisória, a

garantia da sobrevivência familiar.

Outro papel positivo assumido pelos idosos em boas condições de

saúde, ao invés de ser considerado uma carga, é a contribuição com o cuidado

dos mais jovens da família, por exemplo, quando a mãe tem que se ausentar para

trabalhai’. Isto ocorre, basicamente, no caso específico das mulheres idosas, cuja

capacidade de executarem os afazeres domésticos e serem responsáveis pelo

cuidado dos netos, tidos como tarefas femininas na nossa sociedade, lhes garante

um papel definido e indispensável para que os adultos possam ter condições de

trabalhar sem contudo apelar para medidas desconfortáveis como deixar os

filhos sem a guarda de um adulto por período integral.

Com relação aos idosos com problemas de saúde e, portanto, com

necessidade de serem assistidos, Yasaki et al.(1991) lembram que para os idosos

pobres com comprometimentos físicos e cognitivos, residentes nas grandes áreas

metropolitanas, as relações com a família configuram-se como mais*

problemáticas intensificadas com a carência de instituições de amparo e suporte

ao idoso. Porém, mesmo fíesses casos de dependência, o asilamento geralmente

é visto como negativo, com significado de abandono e refúgio.

Nesse sentido, vê-se na família o último e porque não o único recurso

com que o indivíduo pode contar, quando os países não investiram nos sistemas

de proteção institucional específicos para as pessoas em condição de

dependência seja econômica ou por motivos de saúde (CEPAL, 1999-2000).

Consta na Constituição Federal de 1988, que o encargo para com os

idosos não deve estar unicamente sob a responsabilidade familiar quando dispõe

em seu artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as

pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua

dignidade e bem estar, garantindo-lhes direito à vida”.

32

O relevante suporte informal de parentes e amigos destinado aos

idosos, pode ser explicado, sob a ótica sociológica, da ajuda entre as pessoas

estai' fundamentada nas normas sociais de reciprocidade, igualdade e

responsabilidade social. A primeira denota o pagamento das ações recebidas no

passado de alguma pessoa, no caso, agora corno idosa. A equidade focaliza a

importância do custo e da recompensa de um relacionamento. E a última, aponta

que a ajuda prestada a quem necessita é um dever e não pode ser omitido

(Henrard, 1996).

A existência de normas sociais por si não justifica por que as pessoas

as seguem. Elas contribuem para nossas crenças sobre o quanto e como devemos

ajudar os outros e sobre quem é responsável pela solução dos problemas da

pessoa necessitada.

Evandrou e Victor (1989) mencionaram que o fato dos idosos

viverem com os filhos não é garantia da presença de afeto, prestígio ou respeito,

nem da ausência de maus tratos. As denúncias de violência física contra idosos

aparecem nos casos em que diferentes gerações convivem numa mesma unidade

doméstica. Assim sendo, a persistência de unidades domésticas plurigeraciouais

não pode ser vista, necessariamente, como garantia de uma velhice bem

sucedida, nem o fato de morarem juntos, um sinal de relações mais amistosas

entre os idosos e seus filhos.

No levantamento realizado na cidade de Fortaleza por Macedo Filho e

Ramos (1999), dos idosos investigados, 75% .residiam em • lares

multigeracionais, sendo predominante na área periférica embora bastante

expressiva na área central constituída de pessoas com maior poder

socioeconômico.

Porém, o idoso que mora só não é, necessariamente, o reflexo do

abandono de seus familiares. Pode significar uma nova forma de família

extensa, na qual a troca e a assistência ocorrem de maneira intensa (Cohler,

33

1983), com suporte familiar adequado seja na esfera das necessidades físicas ou

emocionais, não implicando numa mudança qualitativa nas relações entre familiares.

Independentemente da forma de moradia do idoso, sozinho ou em

família, o importante é a possibilidade de se obter uma velhice bem sucedida,

que não é decorrente apenas do nível de renda ou saúde, mas aspectos mais

subjetivos são de extrema importância, como a qualidade do apoio, satisfação

com a vida, bom relacionamento familiar, segurança e tranquilidade.

Outra forma de arranjo residencial já praticada com resultados

favoráveis nos países desenvolvidos, é a segregação espacial dos idosos, o que

permite a ampliação de sua rede de relações sociais, aumenta o número de

atividades desenvolvidas e a satisfação na velhice. Essa nova abordagem,

baseia-se na idéia de que o bem estar na velhice não está arraigado às relações

familiares intensas nem ao convívio intergeracional (Debert, 1999). -

Para os estudiosos, os conjuntos residenciais ou condomínios fechados

para idosos, além do aparato necessário para a comodidade, favorece uma rede

de solidariedade, de troeis, de afeto, de reencontro com os papéis sociais

perdidos, promovendo uma experiência positiva da velhice mesmo para aqueles

com pouca proximidade com os familiares. As diferenças de gênero

desaparecem ou, quando mantidas, ganham outros significados, uns ajudam os

outros de modo que, amparados mutuamente, a institucionalização seja evitada

(Debert, 1999).

Essa constatação positiva de uma vida segregada não é regra geral,

Jacob ciptid Debert (1999) em seu trabalho de cunho antropológico, mostrou

que os idosos segregados não se sentiam satisfeitos e demostravam apatia,

passividade e sentiam-se solitários.

Como afirma Debert (1999, p. 86 ), deve-se ter em mente que:

34

Os novos arranjos residenciais que surgem em resposta às demandas dos idosos não devem funcionar como substitutos das relações familiares. Devem, no entanto, representar locais distintos de convivência, embora em ambos seja absolutamente necessário o compartilhamento de sentimentos de amizade, solidariedade e honestidade.

No caso específico do Brasil, cabe salientai' que as novas

comunidades para idosos que oferecem conforto e comodidade são de iniciativa

privada com custo inacessível a um contingente expressivo da sociedade que

vive em condições precárias e por vezes de miserabilidade.

O pobres, quando sem condições de residirem com os familiares ou

sós, deparam-se com a alta probabilidade de serem internados em asilos públicos

ou filantrópicos, cujas condições de atendimento condizem com a constante

crise financeira que enfrentam. Por isso, a qualidade da assistência prestada aos

idosos institucionalizados, torna-se dependente da provisão instável de recursos,

seja da iniciativa privada ou governamental.

Diante do exposto, vemos a falta de perspectiva para uma velhice

amparada seja pela família, sociedade ou Estado que possam garantir a

dignidade individual e coletiva, além de uma vida com qualidade.

Os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre as

necessidades dos idosos, demonstraram ser o problema principal o bem-estar

econômico, com falta de recursos para satisfazer as necessidades mais básicas,

como por exemplo o acesso aos serviços de saude. O maior desafio para os

políticos de países em desenvolvimento é, portanto, conseguir prover ura

cuidado a longo prazo a esse elevado número de idosos pobres, ou seja, um

gmpo vulnerável a adoecer ou a tornar-se incapacitado.

O fardo social gerado pela rápida expansão da população idosa é

partícul anuente preocupante para os países em desenvolvimento, uma vez que

35

esses novos problemas sociais e de saúde despontam sem ainda terem

conseguido resolver os problemas relacionados à população jovem.

Essa situação requer a iniciativa política para:

1- Reduzir o peso do envelhecimento sobre a economia e sobre a

sociedade;

2- Assegurar serviços sociais e de saúde para a população idosa,

promovendo sua participação na sociedade e uma vida economicamente

produtiva.

O impacto social do envelhecimento afeta a dinâmica do mercado,

guiado pela troca de valores. Os idosos encontram-se em desvantagens nas

sociedades voltadas para o lucro e a economia, que tendem a desumanizar o

processo social de envelhecimento. O indivíduo é valorizado pelo seu poder

aquisitivo e pela sua capacidade produtiva de trabalho. Este comportamento

social tende a desprezar as necessidades dos idosos ou não proporcionai' a

integração dos mesmos no mercado de trabalho para voltarem a assumir o papel

de produtores e consumidores (Restrepo e Rozental,1994).

No entanto, a qualidade de vida, oportunidades e perspectivas futuras

para a maior parte dos idosos são a pobreza, marginalidade e a dependência

econômica (Restrepo e Rozental,1994).

O impacto do envelhecimento populacional tem grande repercussão

sobre o sistema de saúde e é de difícil superação, pelo aumento dos custos dos

serviços.

O sistema biomédico vigente de atendimento à saúde tem direcionado

a provisão dos serviços de saúde a um nível operacional. O resultado é o uso

exagerado de tecnologias caras, responsáveis pela inflação dos gastos com saúde,

Para Henrard (1996), o modelo biomédico contribui para medicar

problemas sociais, mas, negligencia o impacto dos determinantes sociais na

36

saúde individual e do ambiente coletivo. Prioridades dadas às soluções

médicas/técnicas são responsáveis pelo uso inapropriado de hospitais, por

exemplo, pela ignorância de alternativas mais' efetivas e eficientes para

satisfazer a demanda desse grupo particular da população.

Segundo as pesquisas feitas pela ORGANIZAÇÃO

PANAMERICANA AS SAÚDE-OPS/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE

SAÚDE-OMS em .1989, os idosos fazem mais uso dos serviços de saúde e

causam mais gastos com a saúde do que a população em geral, devido,

principalmente, à natureza crônica da maioria de suas doenças,

Na Conferência Internacional sobre envelhecimento populacional

ocorrida em 1992 em San Diego (USA), foi recomendável que a definição aceita

para a saúde seja revista para tomá-la mais apropriada aos idosos, através da

incorporação de conceitos como estado funcional de saúde, independência,

cronícidade, autonomia, auto-percepção de saúde e o estado ambiental físico e

social.*

Portanto, a solução para as sociedades contemporâneas no

atendimento aos idosos deverá se apoiar em mudanças políticas e econômicas,

objetivando o fortalecimento do apoio familiar no atendimento aos idosos, como

também um incremento nos investimentos sociais garantindo sistemas de apoio

na área social e de saúde.

2.4. Política e o Envelhecimento Populacional;

O recente processo de envelhecimento populacional traz novas

demandas de serviços na área social: assistência social, de saúde e

previdenciária, constituindo um desafio para os governantes e para a sociedade.

Ao mesmo tempo em que ainda se faz necessária a pressão pela

ampliação de direitos universais básicos - educação, saúde, alimentação,

37

moradia, aumentam, também as demandas fragmentadas de cidadãos em

condições insatisfatórias de vida e que se manifestam individual ou

coletivamente (famílias, grupos etários, moradores de uma região).As dimensões

da política social devem cobrir os programas universais formadores da

cidadania, independentes da forma específica de inserção social e das ações

focalizadas em espaços e em grupos socialmente vulneráveis como por exemplo,

o de idosos.

O poder público, cujas metas e ações não atingem seus fins devido às

graves crises econômicas e falta de- reordenação de suas prioridades sociais,

atua através do controle temporário de situações tidas como emergenciais, sem

contudo, contar com um planejamento encadeado e harmonioso entre as

diversas áreas envolvidas, para lidar com os problemas provenientes do aumento

da população idosa.

Sobre a desorganização e inadequação das medidas políticas Silva e

Neri (1993, p.233) afirmam:

Se cís intervenções forem planejadas a partir de diagnósticos das necessidades e interesses (...) no plano mais amplo, possivelmente auxiliariam a implementação de mudanças familiares, institucionais e socioculturais em relação ao suporte familiar e social, bem como em relação às políticas sociais para o idoso e a família no Brasil.

Outro agravante da situação brasileira são os acentuados desníveis

sociais, onde a minoria tudo tem e a grande maioria nada tem, vivendo numa

situação de completa ausência dos direitos básicos de cidadão.

A pobreza e a miséria para muitos é perpetuada ao longo da vida uma

vez que a melhoria das condições de vida está atrelada à acessibilidade da

população a uma educação de qualidade, serviços sanitários e de saúde e

condições de emprego e aposentadoria dignas, as quais ainda encontram-se

distantes de nossa realidade.

38

O trabalho informal passa a ser a única opção de sobrevivência para os

pobres (adultos e velhos), cuja desqualifícação profissional os impede de serem

absorvidos pela rede formal de emprego que não atende a demanda de

trabalhadores considerados aptos para o trabalho.

Trabalhar no mercado informal significa a falta de. garantia de direitos

como a aposentadoria, auxílio-doença, férias, fundo de garantia por tempo de

serviço ( FGTS), dentre outros.

O impacto da política previdenciária na vida das famílias é cruel,

pois tanto a aposentadoria como o auxílio doença não se traduzem em formas

eficazes de sobrevivência. Sobre isso Cartaxo (1995, p. 169-170) relata:

... a política previdenciária, mediante estratégia do segurado em “auxílio-doença” permite-nos deduzir que se aproxima mais de um modelo assistencial do que, propriamente, de seguridade social (...) Não há como pensar em objetivcição dos direitos sociais.

A seguridade social, por meio da assistência social, deveria ter uma

política voltada para o atendimento da população excluída. O benefício da Lei

Orgânica da Assistência Social (LOAS) é bastante restritivo: destina-se apenas

aos idosos com setenta anos ou mais, cuja renda familiar seja um quarto do

salário mínimo vigente. Sabe-se que a expectativa de vida acima de setenta anos,

em geral, contempla aqueles que vivem com mais de cinco salários e em regiões

mais desenvolvidas. Verifica-se que o idoso de baixa renda não tem

reconhecimento dos direitos mínimos de cidadão caracterizando sua condição de

excluído socialmente (Silva, 1998).

O conceito de exclusão social está mais próximo ao oposto de coesão

social ou como ruptura de vínculo social. O excluído não necessita cometer

nenhum ato de transgressão, como o desviante. Tornar-se excluído é uma

39

condição imposta do exterior, sem que para tal tenha contribuído direta ou

indiretamente (Nascimento, 1994).

Dentro de uma concepção sociológica ampla, a exclusão social refere-

se a um processo de não reconhecimento do outro, ou de rejeição, ou ainda

intolerância. Trata-se de uma representação que tem dificuldades de reconhecer

no outro direitos que lhe são próprios e que, o excluído, sem vínculo societário,

desenvolve vínculos comunitários particulares, como forma de sobrevivência

social. Caso contrário, está condenado ao completo abandono e esquecimento.

Nesse sentido, aproxima-se do conceito de discriminação, como podemos

visualizar nos negros, homossexuais e idosos (Nascimento, 1994).

Uma outra abordagem de exclusão social, refere-se aos que não

fazem parte do mundo do trabalho, não possuindo, em decorrência, condições

mínimas de vida. Por vezes, o fato de não trabalhar produz efeitos de não

inserção social e exclusão do mundo de direitos. A incapacidade da sociedade

em criar empregos ou a eles atribuir uma renda mínima, atinge jovens e os

velhos mais frequentemente.

Nascimento (1994) denomina de "desnecessários economicamente” ao

expressivo contingente de pessoas que, além de desempregadas não têm

capacidade de gerar renda suficiente, pela desqualificação profissional, para

entrar no mercado de trabalho. Esses indivíduos perdem qualquer função

produtiva e passam a constituir um peso econômico para a sociedade e para o

governo.

A especificidade da exclusão social no Brasil está fortemente

relacionada com a desigualdade social e com a pobreza. Como pobreza,

entende-se "a situação em que se encontram membros de uma determinada

sociedade despossuídos de recursos suficientes para viver dignamente, ou que

não têm as condições mínimas para suprir as suas necessidades” (Nascimento,

1994, p.29),

40

Uma reforma que fosse útil socialmente e com largo alcance na área

previdenciária deveria estabelecer mecanismos financeiros que garantissem a

manutenção do poder aquisitivo e das pensões e também proporcionassem

proteção social à crescente população de idosos (Laurell, 1996).

Os problemas relacionados à seguridade social não serão resolvidos

sem uma política ativa e sustentada de criação de emprego e recuperação salarial

como forma de atingir o bem-estar social.

Aposentarias e pensões constituem a principal fonte de rendimento da

população idosa. Se, por um lado,, o número de benefícios é crescente a cada

ano, por outro, as despesas médias com o pagamento desses benefícios pela

Previdência vêm apresentando, com raras exceções, variações negativas. Em

1988, quase 90% dos idosos aposentados no Brasil recebiam contribuições de

até 2,5 salários mínimos (Chaimowicz, 1997), o que retrata o empobrecimento e

a perda do poder aquisitivo com a aposentadoria.

Debert (1999, p.188) declara que a “história política brasileira foi um

verdadeiro assalto às condições de aposentadoria, transformando o idoso um

peso para a família e em objeto de desdém da sociedade como um todo”. E, nos

deparamos com uma perda do poder aquisitivo dos idosos cujos salários são

corroídos pelos elevados índices de inflação da economia nacional, sem contudo

contarem com a certeza das reposições que todos os trabalhadores fariam juv.

O estado de pobreza dos idosos está relacionado a graves problemas

do sistema previdenciário: falhas na organização da burocracia, descontrole

sobre a receita e as despesas, sonegação de contribuição, incompetência na

gestão de recursos e fraudes na concessão dos benefícios, levando o trabalhador

idoso a receber quantias irrisórias, causando um crescente empobrecimento e

comprometendo seriamente uma qualidade de vida desejável e justa.

Apesar dos reduzidos valores das aposentadorias, no Brasil, em 1996,

os dados indicavam que três em quatro idosos possuíam cobertura

4.1

previdenciária. A percentagem dos que não recebem aposentadoria ou pensão

está abaixo de 25% (CEP AL, 1999-2000). Poucos países da América Latina,

além fio Brasil, conseguiram uma ampla cobertura como: Uruguai, Argentina e Chile

Andrade (1999) revelou que muitos municípios de economia precária

e de população majoritariamente pobre, os benefícios da Previdência

representavam 20,3% da renda monetária das famílias nos municípios com até

5.000 habitantes. Em todo país a média é de 7,2%. Neste caso específico,

paradoxalmente, a aposentadoria significava um passaporte para a ascensão

social dos idosos, garantindo-lhes poder de compra e credibilidade no comércio

local. Em alguns casos, a renda dos familiares chegava a triplicar com o

pagamento do salário mínimo da aposentadoria. Isso porque a maioria

trabalhava no campo e ganhava em média R$ 40,00 por mês. Conclui-se, que os

idosos movimentam a economia de muitas pequenas cidades brasileiras.

O custo das aposentadorias é visto, pelos experts em contabilidade,

como uma catástrofe para a economia nacional em decorrência da grande soma

de recursos necessária pargt uma população de inativos e que põe em risco a

reprodução da vida social, e, a esse prognóstico assustador denominaram de

“crônica da crise anunciada”. Esse mesmo argumento também tem sido utilizado

para a legitimação de uma preocupação teórico-acadêinica com a velhice ou

propor ações concretas, visando alcançar um envelhecimento bem sucedido

(Simões cipud Debert,1999).

Mesmo em países onde o envelhecimento e a velhice são motivos de

atenção e planejamento especial, a sociedade encontra-se despreparada para

oferecer a curto ou médio prazos uma solução para o problema.

Chama-nos a atenção a carência de recursos financeiros peculiar aos

países mais pobres e que representa um agravante para a situação dos idosos. O

42

problema não se resume simplesmente ao plano econômico, mas ao social, com

implicações bastante complexas mesmo nos países ricos.

A tecnologia avançada e o progresso científico não deram conta dos

flagelos sociais que os governos, de forma insensível, não têm se preocupado.

Para a velhice ser encarada como um problema social não basta

apenas sua projeção numérica, más de quatro aspectos que, segundo a visão de

Remi e Lenoir citados por Debert (1998) são:

a) o reconhecimento: implica tomar visível publicamente uma

situação particular através da ação de grupos socialmente interessados em

produzir uma nova percepção do mundo social a fim de agir sobre ele (ex:

gerontólogos, sociólogos, etc.)

b) a legitimação: não é consequência automática do

reconhecimento público do problema. Ao contrário, supõe o esforço para

promovê-lo e inseri-lo no campo das preocupações sociais do momento,

c) a pressão: refere-se à capacidade de conseguir jynto às

autoridades competentes, o atendimento de suas reinvindicações, seja através

das ações de grupos específicos ou por seus representantes.

Um exemplo de pressão dos idosos movido junto ao poder público

que obteve êxito, foi o movimento dos aposentados, conhecido como a

mobilização pelos 147% ocorrido em setembro de 1991 no Brasil. Nessa época,

os aposentados se rebelaram contra o aumento concebido para os beneficiários

da Previdência Social que foi apenas de 54,6%, quando o salário mínimo

recebeu um aumento de 147%, conseguindo a equiparação dos índices de

aumento.

Essa atitude do governo em dar um aumento diferenciado dos salários,

mostra o desinteresse com as causas relacionadas aos idosos, através de medidas

claramente discriminatórias.

43

Muitas vezes, o reconhecí mento/legitirnaç ao do direito vem

conj untamente com a pressão da sociedade civil j unto aos políticos.

Infelizmente, os direitos não são obedecidos na forma da lei, sendo

imprescindível a pressão ou negociação política para o cumprimento dos direitos

já assegurados legalmente.

d) a expressão: engloba o surgimento de novos termos que no caso

específico da velhice procuram amenizar os estereótipos negativos a ela

relacionados na nossa sociedade, como a expressão “terceira idade”.

Para tratar dos direitos dos idosos foi promulgada em 1994 a Lei n°

8842 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e cria o Conselho Nacional

do Idoso e o Decreto N° 1948/96 que a regulamentou.

Infelizmente no Brasil, a existência de leis, decretos e portarias não

garante os direitos dos cidadãos, nem tão pouco direciona os caminhos

políticos a serem trilhados em busca de uma distribuição mais' eficiente e

igualitária dos recursos públicos.

O artigo 3o da referida lei, diz que “ a família, a sociedade e o Estado

têm o dever de asseguraNao idoso os direitos da cidadania, garantindo sua

participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à

vida”.

O atendimento da população idosa requer esforços conjugados nas três

instâncias: familiar, social e estatal a fim de garantir uma melhor qualidade de

vida.

A família deve amparar seus idosos assegurando-lhes a sobrevivência

e um convívio harmonioso e participativo, tratando-os com respeito.

À sociedade cabe não discriminar nem excluir os idosos de direitos

comuns a todo cidadão, como a oportunidade de trabalho, ao lazer, ao

transporte. Fala-se muito em reinserir o idoso na sociedade o que significa

reconhecer que ele se encontra excluído. A reinserção pode ser obtida através

44

do trabalho que não implica, obrigatoriamente, que o mesmo seja forçado a

acompanhar as exigências mais modernas e avançadas do mercado de trabalho,

mas de aproveitar suas potencialidades e experiências anteriores, mantendo-o

atuante e economicamente ativo.

Ao Estado, a função prioritária está na provisão de uma justa

aposentadoria, assistência à saúde e outros serviços formais de atendimento à

população idosa como: asilo, centros de convivência, centros de cuidados

diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho e atendimento domiciliar.

Tais modalidades de assistência são explicitadas de acordo com o

artigo 4o do Decreto N° 1948/96:

I- Centro de Convivência: local destinado à permanência diurna do

idoso, onde são desenvolvidas atividades físicas, laborativas, recreativas,

culturais, associativas e de educação para a cidadania;

II- Centro de Cuidados Diurno: Hospital-Dia e Centro-Dia- local

destinado à permanência diurna do idoso dependente ou que possua deficiência

temporária e necessite de assistência médica ou de assistência multiprofissional;

III- Casa-Lar: residência, em sistema participativo, cedida por

instituições públicas ou privadas, destinada a idosos detentores de renda

insuficiente para sua manutenção e sem família;

IV- Ofícina Abrigada de Trabalho: local destinado ao

desenvolvimento, pelo idoso, de atividades ■ produtivas, proporcionando-lhe

oportunidade de elevar sua renda, sendo regida por mornas-específicas;

V~ Atendimento domiciliar: é o serviço prestado ao idoso que vive só

e seja dependente, a fim de suprir as suas necessidades da vida diária. Esse

serviço é prestado em seu próprio lar, por profissionais da área de saúde ou por

pessoas da própria comunidade;

45

VI- Outras formas de atendimento: iniciativas surgidas na própria

comunidade, que visem a promoção e à integração da pessoa idosa na família e

na comunidade.

O artigo 3° do Decreto 1948/96 dispõe que “o atendimento asilar é em

regime de internato que deve ser oferecido ao idoso sem vínculo familiar ou

sem condições de prover a própria subsistência, de modo a satisfazer as suas

necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social”.

O inciso IV do artigo 2o do mesmo Decreto reforça que Cié

responsabilidade do Ministério da Previdência e Assistência Social estimular a

criação de formas alternativas de atendimento não-asilar”.

Pelo exposto, podemos perceber que as alternativas para o

atendimento ao idoso nas suas mais variadas formas não são praticadas em

nosso país, restando ainda como o único recurso para o atendimento da

população idosa, o asilo.

O asilo constitui a forma mais comum em nossa sociedade de amparo

aos idosos carentes ou não (asilos particulares- as conhecidas casas de repouso)

que, embora mesmo se encontrando em número crescente em nossa sociedade,

não satisfaz plenamente aos preceitos explicitados pela lei.

Dentre as inúmeras abordagens contidas na Lei 8842/94, o artigo 17

em seu parágrafo único afirma que “o idoso que não tenha meios de prover à sua

própria subsistência, que não tenha família, ou cuja família não tenha condições

de prover a sua manutenção, terá assegurada a assistência asilar, pela União,

peíos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, na forma da lei”.

No artigo 18 do mesmo decreto está explicitado o seguinte: “fica

proibida a permanência em instituições asilares, de caráter social, de idosos

portadores de doenças que exijam assistência médica permanente ou de

assistência de enfermagem intensiva, cuja falta possa agravai' ou por em risco

sua vida ou a vida de terceiros”.

46

A fiscalização frequente das instituições asilares podería garantir o

cumprimento do seu papel social e assistência! aos idosos desamparados ou

dependentes física e economicamente. O funcionamento arbitrário de

instituições asilares, sem exigência das condições necessárias para a

institucionalização do idoso, traduz o pensamento social de que .a segregação do

idoso é algo natural e inevitável, anulando o sentido da vida anterior.

Segundo a avaliação de Beauvoir (1990, p.339) “não são apenas os

hospitais e os asilos: é toda a sociedade que constitui para os velhos, um grande

morredor”.

O idoso deve, sempre que possível, ser mantido em regime de

externato de modo a não perder o contato com a realidade do mundo externo.

O artigo 9o do decreto n° 1948/96 diz que compete ao Ministério da

Saúde por intermédio da Secretaria de Assistência à Saúde, em articulação com

as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

“Garantir ao idoso a assistência integral à saúde,-entendida como o

conjunto articulado e continuo de ações e serviços preventivos e curativos, nos

diversos níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde ~ SUS”.

O sistema de saúde de modo geral, seja o federal, estadual ou

municipal encontra-se incapacitado de atender as demandas da população,

oferecendo serviços de má qualidade e com baixa resolutividade.

Nos hospitais e postos de saúde, as filas são intermináveis dificultando

a realização da consulta, seja na área emergencial ou ambulatorial e, não são

raras as noticias de falecimento de pessoas que estavam à espera de

atendimento.

É diante dessa situação que o idoso se depara, e , como não existe um

espaço reconhecido dentro da saúde destinado exclusivamente para o

atendimento do idoso, ocorre uma espécie de disputa enfie as pessoas das mais

diferentes faixas etárias, onde os mais jovens e menos comprometidos, levam

47

vantagem ao se disporem a permanecer horas na fila a fim de disputar uma vaga

para ser atendido.

Devido à aparente ineficiência do sistema de saúde, o idoso doente e

pobre, fica sujeito a procurar o atendimento, como destacam Macedo Filho e

Ramos (1999), em situações agudas ou de morbidade extrema, que nesse último

caso, obriga o idoso a inúmeras idas ao serviço de saúde frente à complexidade

de seus problemas.

Apesar de claramente contido na lei o direito do idoso à saúde, seja na

área preventiva ou curativa, o mesmo encontra-se completamente bloqueado,

devido sobretudo, à inacessibilidade aos serviços de saúde, que funcionam

precariamente frente às necessidades da população como um todo e, no caso

particular dos idosos, demonstram incapacidade em atendê-los de forma

sistemática, ou seja, não contam com um necessário acompanhamento médico

regular da sua condição de saúde para o alcance de um estado funcional mais

saudável na velhice.

Ainda relacionado ao tema saúde, o inciso VIII do artigo 9° do

decreto anteriormente referido, delineia a abrangência desse direito e da

responsabilidade do governo quando afirma a necessidade de “desenvolver e

apoiar programas de prevenção, educação e promoção da saúde do idoso de

forma a:

a) estimular a permanência do idoso na comunidade, junto à família,

desempenhando papel social ativo, com a autonomia e independência que lhe for

própria;

b) estimular o auto-cuidado e o cuidado informal;

c) envolver a população nas ações de promoção da saúde do idoso;

d) estimular a formação de grupos de auto-ajuda, de grupos de

convivência, em integração com outras instituições que atuam no campo social;

e) produzir e difundir material educativo sobre a saúde do idoso.”

A manutenção da saúde do idoso requer o envolvimento da família e

da comunidade, a partir da divulgação dos conhecimentos relacionados ao

envelhecimento, no sentido da adoção de medidas preventivas em saúde. A

valorização de práticas de convivência, de auto-ajuda, buscam o resgate da auto-

estima do idoso aliada a uma maior participação social e autonomia do mesmo,

fatores importantes na obtenção de uma qualidade de vida desejável.

Outro ponto polêmico referente aos direitos da pessoa idosa está

expresso no artigo 11 do mesmo decreto, quando determina que compete “ao

.Ministério do Trabalho, por meio de seus órgãos garantir mecanismos que

impeçam a discriminação do idoso quanto à sua participação no mercado de

trabalho”.

A intensa discriminação sofrida pelos idosos no mercado de trabalho é

alarmante, e, somada à situação calamitosa de desemprego na qual a sociedade

brasileira está mergulhada, toma praticamente impossível a sua inserção no

mercado de trabalho como uma forma de complementar a renda mensal, que, em

muitos casos, inexiste.

Ressalta-se ainda que grande soma dos idosos se mantiveram, quando

ainda tinham a força física, ao longo da vida, às custas do trabalho informal ou

do subemprego, cujo sustento diário, seu e de seus familiares, dependia

exclusivamente do dia trabalhado.

Sobre o desemprego, Forrester (1997, p.125) se posiciona de forma

realista embora bastante preocupante, pois:

o desemprego não atinge basicamente os mais velhos mas, invade hoje todos os níveis de todas as classes sociais, acarretando miséria, insegurança, sentimento de vergonha em razão essencialmente dos descaminhos de uma sociedade que o considera uma exceção à regra geral estabelecida para sempre.

49

A economia cie mercado tende a focalizar um grupo isolado ou área de

interesse momentâneo. As soluções políticas estão voltadas para resultados

imediatos de grupos particulares às custas de outros, gerando desigualdades

entre os grupos.

A melhoria das condições de vida dos idosos estaria ligada à posição

que alcançassem na sociedade e que lhes permitisse oferecer e obter vantagens

econômicas, seja como produtores ou consumidores de bens e serviços. A sua

visibilidade política e social, seu lugar na sociedade, os recursos disponíveis e

condições gerais de vida são determinados pela sociedade que atualmente tem

marginalizado essa população, particularmente nos países menos desenvolvidos,

onde os recursos são escassos e a competição entre os grupos é acirrada

(Restrepo e Rozental, 1994).

Enfim, refletindo sobre a Lei e o seu Decreto de Assistência Social ao

Idoso, podemos concluir que o idoso, como todo cidadão, deve ter resguardado

seu direito à cidadania e não ser visto como uma categoria a parle, nem tão*

pouco ser responsabilizado pelo desequilíbrio social cujo gerenciamento tem se

mostrado inadequado dentro da esfera política.

50

3. DEFININDO O OBJETO DE ESTUDO

A explosão numérica de idosos nas sociedades, de forma universal,

deu origem a uma realidade inesperada e, de certa forma ameaçadora sobretudo

para os países menos desenvolvidos e, portanto, ainda despreparados social e

economicamente para enfrentar os desafios gerados por essa nova realidade

social.

Foi a partir desse aumento quantitativo dos idosos que os países têm

se preocupado com questões sobretudo de ordem social, econômica e de saúde

principalmente, que são fortemente influenciadas pelas novas demandas desse

segmento populacional.

Em nossa sociedade, com grandes desníveis sociais, significativo

contingente de idosos pertence a classes econômicas mais baixas, a maioria de

mulheres e em precárias condições de vida. A maior implicação desse quadro é a

grande dependência do suporte social, crescente demanda pelos serviços de

saúde, além de uma precária qualidade de vida.

Esse quadro, desacordo com levantamentos sobre as condições de vida

dos idosos, tanto em trabalhos nacionais (Veras, 1994; Debert, 1999) quanto

internacionais (Creecy et aL, 1985), predomina entre as mulheres idosas, que

além de representarem a maioria da população idosa, são mais propensas a se

tomarem viúvas, possuírem renda reduzida e estarem mais predisponentes à

saúde frágil e a institucionalização.

Além da diferença de gênero na investigação da velhice, Debert

(1999) aponta a problemática das classes sociais que praticamente, vem a ser o

que de modo geral delimita as condições de vida das pessoas, ou seja, a

heterogeneidade das experiências, mesmo partindo de uma categoria

homogeneizadora, como é o caso da velhice.

5 l

Para os menos favorecidos economicamente que, ao longo da vida

atravessaram inúmeras dificuldades, a velhice pode ser encarada como fardo

diante da fragilidade física e psicológica que se encontram, aliada ainda, a uma

organização social estratificadora, cujos valores vigentes não permitem a

visibilidade de um grupo minoritário e tido socialmente como excluído.

A compreensão do fenômeno do envelhecimento em nossa sociedade

deveria englobar a apreensão de seu significado cultural, e não simplesmente se

deter na descrição de sua extensão e de suas manifestações, o que leva a eclosão

de mecanismos fortemente racionais para lidar com as suas manifestações.

Consequentemente, os problemas dessa fase tardia da vida são tratados com

cientificidade, mas com deficiência de conhecimento de sua amplitude e

significação política e existencial (Moody, 1988).

No entanto, o avanço da idade deve ser analisado com maior

profundidade através das experiências subjetivas das situações coletivas da vida

grupai.

Dentre as novas experiências advindas do processo de

envelhecimento, nos deparamos com o ingresso do idoso na instituição asilar,

que independente das diferentes causas que influenciaram sua

institucionalização, se depara com um mundo totalmente diferente do anterior e

que é capaz pela interiorização e assimilação da experiência, de julgá-la dentro

de seu contexto sócio-cultural e histórico.

Para Rubensein e Nasr (1996), as taxas de institucionalização não

dependem somente da estrutura etária ou desenvolvimento de um país, mas é

influenciada forte mente por fatores culturais, pela existência e qualidade do

suporte social informal, digo, família, amigos ou comunidade, e formal como a

disponibilidade de modalidades alternativas de assistência , serviço de saúde

voltado para os problemas dos idosos, sistemas eficientes de seguridade social e

por profissionais especializados.

52

À medida que a população envelhece aumenta a demanda por

instituições de longa permanência para idoso . Nos países da Europa, a

freqüência de institucionalização está diretamente relacionada ao avanço da

idade, onde a maioria dos asilados possui idade superior a 80 anos (Havens,

1997). A perda da independência pelo idoso é considerada como um ponto

crucial para a sua institucionalização.

Na Inglaterra, estima-se que 1/3 dos idosos institucionalizados

poderíam ser mantidos em casa por serem física e mentalmente capacitados para

tal, a custos muito menores para o Estado (Brocklehurst, 1993).

Os estudos que abordam os aspectos relacionados com a

institucionalização dos idosos no Brasil são pouco sistematizados e, as análises

têm servido apenas, para uma reflexão de grupos interessados no assunto, sem,

contudo, conduzir a uma ação ampla transformadora da prática de atendimento

asilar para o idoso no país.

Os problemas médicos (doenças físicas ou mentais) e sociais*

(abandono, pobreza) são os responsáveis pela institucionalização dos idosos. O

número de idosos institucionalizados não tende a ser maior pela suboferta de

vagas nos asilos mais do que as condições favoráveis de saúde e suporte social

(Chaimowicz e Greco, 1999), nas quais se enquadra uma pequena parcela dos

idosos da comunidade.

Alguns levantamentos nacionais são congruentes em afirmar a

pequena proporção de idosos institucionalizados em relação ao número total de

idosos. O estudo de Chaimowicz e Greco (1999) sobre a dinâmica da

institucionalização de idosos em Belo Horizonte, revelou os seguintes dados: na

faixa etária de 60 anos ou mais, 0,46% residiam em asilos (mulheres: 0,65%;

homens: 0,19%). Na faixa etária de 65 anos ou mais a proporção aumentava

para 0,64%, sendo 0,88% de mulheres e 0,26% de homens.

Portanto, quase a totalidade dos nossos idosos permanecem na

comunidade o que não significa que esse número se estabilize ou regrida nos

próximos anos. Pelo contrário, as estimativas apontam para uma crescente

demanda por asilos nas próximas décadas.

Nos países mais desenvolvidos, a percentagem de idosos vivendo em

asilos variou, dentre alguns levantamentos, de 4% a 11% do número de idosos

(Havens, 1997), Dessa forma, a grande maioria ainda permanece vivendo na

comunidade sendo garantida a assistência social e médica contando com o

atendimento domiciliar para os idosos dependentes, auxilio técnico e financeiro

para adaptações arquitetônicas, fornecimento de refeições e cuidados de

enfermagem.

Vale lembrar que tais serviços são cobertos pelos planos de saúde ou

são custeados pelo próprio idoso, de forma particular. O governo, mesmo dos

países ricos está despreparado para arcar com as despesas 'integralmente,

onerando pesadamente a economia desses países.■st

O que se dirá em relação ao Brasil? É sobretudo na área social que os

cortes das verbas sãodrásticos, sendo que os argumentos de economia e contenção de despesas não condizem com a prática política. É comum em nosso

país, o desvio frequente dos recursos públicos para fins particulares, parecendo

não haver interesse na implementação de um plano de prioridadades objetivando

o desenvolvimento econômico e o alcance da justiça social para todos.

O povo cada vez mais empobrecido e sem força política, pouco pode

esperar das ações governamentais para a garantia, sem perspectivas concretas,

de uma vida digna e, sobretudo, assistida na velhice, recaindo sobre a família,

também despreparada, a total responsabilidade de cuidar de seus idosos.

Nesse ponto, vê-se que para os idosos pobres, sozinhos e com uma

família economicamente instável, a única opção para se sustentarem são os

asilos, também pobres e carentes de toda sorte de recursos, sejam materiais e

54

humanos. Embora em condições precárias, são capazes de prestar a mínima

assistência para a garantia da sobrevivência dos que al:i estão. Os problemas dos

idosos agravam-se com a falta de aparato institucional para atender as

necessidades sociais e não simplesmente a de alimentação e moradia.

Berquó (1996) assinala que os fatores de risco para a

institucionalização são: morar só, suporte social precário e baixa renda associada

à viuvez, aposentadoria, menor oportunidade de empregos formais e estáveis e

aumento dos gastos com a própria saúde. Condições essas cada vez mais

frequentes na população brasileira, além da maior longevidade e dependência

entre as mulheres.

Os poucos levantamentos sobre as condições de vida nos asilos

realizados no Brasil, apesar de mostrarem a inexistência de uma infraestrutura

adequada, ou seja, não apenas relacionada à estrutura física do estabelecimento,

mas também, às relações sociais, ocupaciouais, de lazer e afetivas praticadas,

carecem de investigações mais aprofundadas para subsidiar ações que busquem

a satisfação desses residentes ou até mesmo como forma de estimular práticas

alternativas de atendimento da população idosa, especialmente a carente, como

um direito a ser cobrado pela sociedade e um dever do Estado, como também da

própria sociedade.

Retomando os dados do estudo dos asilos da cidade de Belo Horizonte

levantados por Chaimowicz e Greco (1999), um quarto dos asilos abriga número

de residentes maior que a capacidade total, fato que pode comprometer ainda

mais a qualidade da assistência. Mesmo sendo a única opção para os idosos

despossuídos, o número de asilos ainda é insuficiente para atender a demanda, o

que justificaria indiretamente a baixa proporção de idosos institucionalizados.

Referimo-nos sempre aos asilos públicos e/ou filantrópicos, os quais possuem

uma estrutura administrativa semelhante e cuja problemática principal é a

carência de recursos financeiros.

55

Sabe-se que o asilamento pode representar, em muitos casos, uma

ameaça ao equilíbrio biopsicossocial do idoso, devido à redução da capacidade

adaptativa das pessoas idosas às novas situações, bem como, ao novo regime de

enquadramento de vida dentro dos moldes de uma instituição total1.

1 instituição lotai segundo a definição cilada por Louzà et al (1986), são lugares enclausurados, recortados no (empo c espaço sociais . submetidos a normas imperativas de hierarquia, ordem e disciplina.

Ainda do estudo já referido anteriormente, um dado chama a atenção

quando o autor aponta ser a institucionalização uma questão feminina,

correspondendo a 81,1% da população dos asilos. Do total de idosas no

município de Belo Horizonte, 0,88% reside em asilos, mais que o triplo da

população de idosos (0,26%). Tal fato relaciona-se ao número,

desproporcional mente maior entre as mulheres de serem viúvas, solteiras ou

separadas (66,0%), enquanto a grande maioria dos homens (76,3%) encontrava-

se casada ou residia com uma companheira (Chaimowicz e Greco, 1999).

Tomando como objeto de estudo as mulheres idosas

institucionalizadas, é importante ressaltar que o sentido da velhice per si está

fundado numa base distinta entre os sexos. Segundo Barros (1998), para o

homem que envelhece a maior atenção é dada à mudança de vida decorrente da

aposentadoria - uma passagem de um mundo amplo e público para um mundo

doméstico e restrito. Para a mulher, a velhice não se associa a essa mudança

abrupta, quando descreve que:

A mulher na velhice está no último estágio de um continuum sempre ligado à esfera doméstica, não só porque a grande maioria não teve uma vida profissional ativa, como também é a este mundo interno do lar, da família e da casa que a mulher está ideologicamente vinculada (Barros,! 998, p.ri4).

56

O interesse do presente estudo recai sobre a situação asilar de idosas,

considerando a importância do gênero nessa ’ investigação uma vez que a

adaptação a essa nova condição de vida, na maioria das vezes não se faz sem

conflitos, o choque é particularmente violento entre as mulheres, ligadas, ainda

mais que os homens, à esfera domiciliar.

Essa problemática se reveste de maior gravidade quando se coloca na

instituição asilar pessoas idosas em perfeitas condições de raciocínio,

discernimento, entendimento, relacionamento, além de fisicamente capazes, cujo

afastamento do convívio de amigos e/ou familiares podem tomá-las mais

dificilmente ajustadas a uma vida institucional.

Sobre isso, Chaimowicz e Grecco (1999, p.455) fazem a seguinte

referência: “A internação definitiva de idosos com baixos níveis de dependência

é o paradigma de um modelo anacrônico de assistência já abandonado em

diversos países, e em muito similar ao tratamento psiquiátrico Hianicomial2”.

Salgado (1982) já considerava que o asilamento do idoso saudável é uma forma

de anulação do conhecimento científico para o tratamento dos problemas

humanos. Ele isola o indivíduo do seu meio social e o mantém erroneamente

segregado do convívio com os demais segmentos da sociedade, como se aos

velhos, bastassem os velhos.

Com a reforma psiquiátrica ocorrida no início da década de 90 a prática de desospitalização dos doentes mentais foi um marco importante para uma assistência mais humanizada bem como a demonstração de uma maior sensibilização social para esse problema.

Ainda nesse mesmo sentido, Ferreira e Musse (1985) reforçam que as

pessoas idosas, desde que auto suficientes e possuidoras de condições de

sanidade física e mental, merecem o direito de viverem livremente, integrados e

nunca entre muros, ou num mundo restrito, isolado.

Na Dinamarca desde 1981 pela promulgação da Lei de Assistência a

Comunidade, impediu-se de maneira pioneira, a prática de confinar os idosos em

asilos. Para isso, o Estado foi capaz, conjuntamente com a sociedade, de adotar

57

outras medidas de assistência social consideradas mais eficazes no resgate e

manutenção da dignidade dos idosos (Fustinoni,1993).

A importância da análise da realidade asilar baseada no discurso e na

observação desses atores sociais perante seu modo de vida, nos conduz ao

seguinte questionamento: Seria o enfraquecimento ou a perda dos vínculos

familiares e/ou sociais que ocorre com a institucionalização, responsável por

uma existência sem significado para essas idosas ?

Um levantamento realizado na cidade de São Paulo em asilos

filantrópicos e particulares revelou que alguns idosos são vítimas da absoluta

falta de parentes ou da perda de vínculo com a família, mas que, a maioria vem

de famílias bem constituídas, tem filhos, netos, irmãos e irmãs (Leite, 1999).

O fato do idoso encontrar-se asilado resulta num sentido fortemente

discriminatório, somando-se aos estereótipos negativos dispensados aos idosos

pela sociedade contemporânea, tais como: dependência, pobteza, doença,

abandono, rejeição familiar e social, traduzida pela transferência da vida

domiciliar para a institucional a fim de passarem o resto dos seus dias num

espaço de segregação, como se o prolongamento da vida representasse uma

ameaça para o equilíbrio social e familiar.

Nesse sentido, Norberto Bobbio, pensador político italiano, resumiu

de forma vivida como muitos experimentam o fenômeno moderno da extensão

da velhice: um prolongamento da vida que merece cada vez menos esse nome

(Leite, 1999).

O destaque específico acerca da situação feminina na velhice levou a

desvendar o cotidiano das idosas institucionalizadas numa situação nunca

dantes delineada em seus pensamentos. Essa nova experiência impregna o

sentimento de cada idosa sobre o sentido que adquire sua vida num processo

constante de comparações entre o passado e o presente, influenciadas pelos

valores apreendidos com a convivência social, que são explicitados através das

58

representações que elaboram dessa realidade e que as orientam no seu agir no

mundo.

59

4. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS COMO OPÇÃO

TEÓRICA

O estudo do envelhecimento para ser compreendido na sua plenitude,

deve ir além do aspecto biológico e psicológico do ser que envelhece, devendo

considerar a interação desse indivíduo com a sociedade.

Valorizando a relevância do aspecto sociocultural do envelhecimento,

percebemos a pertinência do embasamento teórico fundado na Teoria das

Representações Sociais, cujo marco foi a publicação em 1961, pelo psicólogo

social francês Serge Moscovici da obra intitulada La psychanalyse, son image et

son publia

A característica inovadora dessa teoria foi mostrar a importância da

relação entre o indivíduo e a sociedade, descaracterizando o saber vigente de

polarização entre o indivíduo (individualismo) e a sociedade (sociologismo).

Não deve haver a redução do indivíduo ou da sociedade, um ao outro.

Fica retratada assim, uma forma sociológica de psicologia social em

detrimento das formas psicológicas que são predominantes nos Estados Unidos.

A Teoria das Representações Sociais amplia o ponto de vista

reducionista dos psicólogos sociais ao valorizar a relação entre o sujeito e a

sociedade, onde o sujeito, através de sua atividade e relação, constrói tanto o

mundo quanto a si próprio (Jovchelovitch, 1995).

Numa sociedade dinâmica como a atual, a compreensão da realidade

cheia de pluralismos é complexa e, portanto, houve a necessidade da utilização

de uma teoria mais flexível que pudesse abarcar o sentido de produção

/circulação /manutenção ou mudança dos conhecimentos, incluindo, como

coloca Spink (1993) as condições sócio-históricas que os engendraram

conjuntamente com sua elaboração cognitiva; e a funcionalidade destes

conhecimentos na instauração ou permanência das práticas sociais.

60

A questão social do envelhecimento se reveste de extrema importância

pelo alcance que possui em desvendar a ideologia3 e a atitude prática da

sociedade em relação ao idoso (Beauvoir,1990). Cada sociedade cria seus

próprios valores, sendo a velhice também encarada como um fato cultural, ou

seja é construída socioculturalmente.

Inspirando-se no termo Representações Coletivas proposto por

Durkhein, Moscovici (1978, p.26) cunhou o nome de sua nova teoria como das

Representações Sociais cujo sentido pode ser compreendido como “uma

modalidade específica de conhecimento que tem por função a elaboração de

comportamentos e a comunicação entre indivíduos7'.

A nova perspectiva de Moscovici se adequa a uma sociedade mutante,

que possui dinamicidade e historicidadde, enquanto o modelo de sociedade de

Durkheim era estático e tradicional, de dimensão mais cristalizada e estruturada,

próprio das sociedade mais primitivas onde as mudanças se processavam

lentamente. Há uma grande aproximação entre o conceito de representação

coletiva e cultura (Guareschi, 1995), cujas informações são repassadas ou

raramente transformada<com o tempo.

A produção de representações sociais não é uma prática cognitiva

intra-individual, é resultante da interação social que se dá principalmente através

da linguagem (verbal, icônica ou gestual) e representa a consciência

compartilhada socialmente (Spink,1996).

Os indivíduos estão inseridos numa sociedade pensante e por isso,

não devem ser considerados como simples portadores de ideologias ou crenças

coletivas, mas pensadores ativos que produzem e comunicam constantemente

suas próprias representações e soluções específicas para as questões com as

quais se deparam (Pereira de Sá, 1993).

1 Moscovici (1978) definiu ideologia como um conjunto dc representações que se torna partilhado colctivamentc pela rcificaçíio por meio da sua apropriação por órgãos estatais ou escolas dc pensamento c não pelo consenso c interação, subordinando o segundo ao primeiro.

61

Sobre isso, Jovchelovitch (1995) assinala que as representações

sociais vão além do trabalho individual do psiquismo e emergem com um

fenômeno unido, obrigatoriamente à matriz social. Isso quer dizer que o social

envolve uma dinâmica que é diferente de um agregado de indivíduos.

O indivíduo, sendo primariamente considerado como um ser social

traz em sua consciência as idéias circulantes em seu meio que podem sofrer

modificações ao longo do tempo ou do espaço observado. Moscovici salienta, na

Teoria das Representações Sociais, a noção de que o conhecimento social é

fluido, ou seja, novas informações são adicionadas e os conteúdos anteriormente

compartilhados podem ter seus sentidos modificados.

Não significa, porém, que os sujeitos sociais pensam numa mesma

direção, sem conflitos ou discordâncias. Mas, segundo Spink (1995), as

representações podem ser entendidas como uma estrutura cujos núcleos são

compartilhados e de conteúdo mais estável, caracterizando a natureza social das

representações, e que sua periferia retrataria a singularidade dos sistemas* cognitivos individuais e estaria aberta à novidade e a mudança.

As representações sociais podem divergir de acordo com as condições

sociais existentes, em grupos ou sociedades distintas. A interpretação ou as

representações de um mesmo objeto social podem ser distintas dentro de

diferentes grupos, classificados segundo alguns parâmetros de identificação

como idade, nível sócio-econômico, escolaridade, raça, sexo, religião, etc.

A idéia que se tem da realidade, guia as percepções e inferências

construídas a partir dela junto com as relações sociais, ditadas por um sistema de

representações sociais ( Guareschi, 1995).

Na visão de Moscovici (1978), as representações sociais são conjuntos

de conceitos, afirmações e explicações oriundas do senso comum, ciências

coletivas sui generis pelas quais se procede à interpretação e mesmo à

construção de realidades sociais.

62

Foi com a elaboração da Teoria das Representações Sociais de

Moscovici que o pensamento das massas, chamado de senso comum adquiriu

uma'nova conotação como um conhecimento legítimo, atribuindo uma lógica a

esse conhecimento, antes tido corno confuso, inconsistente, desarticulado,

fragmentado e oposto ao conhecimento científico.

Moscovici ressalta que não existe hierarquia entre os diversos tipos

de saber (filosofia, mitologia, teologia, ciência, etc.) e as representações sociais,

que são diferentes pelos modos de elaboração e funções a que se destina cada

um. Todos possuem sua sua validade e utilidade.

De forma sintética, Jodelet (1989, p.36), principal colaboradora e

continuadora do trabalho de Moscovici, definiu representações sociais como

sendo uma forma de conhecimento, socialmente partilhada, tendo uma visão

prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um

conjunto social.

A circulação e divulgação das representações se dão pela linguagem,

nos discursos, comportamentos e atitudes das pessoas, meios de comunicação de

massa, documentos, rBgistros que mantém tais representações ou as

transformam, dependendo do contexto social vigente (Jodelet, 1984).

Claramente observamos a dimensão cognitiva da teoria enquanto

forma de conhecimento prático construído socialmente. Mas, está atrelada

também à dimensão do imaginário e do afetivo, permitindo entender a

participação do emocional no processo de produção das representações e

superando a dicotomia entre cognição e emoção (Sawaia, 1993).

Conhecer como as idosas vi venciam o asilo através de seu

conhecimento fundado na experiência cotidiana expressado pela linguagem, nos

remete a Teoria das Representações Sociais como suporte teórico para esse

estudo.

63

Moscovici (1984, p.53) faz um destaque especial para a conversação,

como mediador social, dizendo que ela está nò epicentro do nosso universo

consensual porque ela molda e anima as Representações Sociais e assim lhes dá

vida própria.

A. comunicação interpessoal é um veículo imprescindível para a

formação das representações sociais que tornam a realidade compreensível

através de um pensamento lógico que vai constituir a visão de mundo para uma

determinada coletividade.

A linguagem funciona, pois, como ponte entre o sujeito e o

mundo/objeto que está sendo representado. É através dela que o sujeito

representa o mundo do qual faz parte, familiariza-se e modifica a sua realidade.

Em síntese, Moscovici (1988) define as representações sociais como

modalidades do conhecimento que circulam no dia-a-dia e que têm como função

a comunicação entre indivíduos, criando informações e nos familiarizando com

o estranho, de acordo com categorias de nossa cultura, por meio de dois*

processos: a ancoragem e a objetivação.

Ancorar é o "processo de assimilação de novas informações a um

conteúdo cognitivo pré-existente. O caráter criador do que é novo entra em

contato com as modalidades de pensamento mais antigas, interpenetrando-se e

transformando o objeto em saber útil que tem uma função na tradução e na

compreensão do mundo.

A objetivação é a transformação de um conceito abstrato em algo

palpável, concreto, visível, uma imagem ou um núcleo figurativo. Significa

também, transplantar para o nível da observação o que não fora senão inferência

ou símbolo (Moscovici, 1978).

Doise (1992) ponderou, de forma bastante interessante, que os dois

processos, de ancoragem e objetivação, são opostos na sua dinâmica uma vez

que objetivar visa criar as verdades evidentes para todos e independentes de

64

todo determinismo social e psicológico, enquanto ancorar designa, ao contrário,

a intervenção de tais detenninismos na sua gênese e transformação.

Moscovici (1978) ressalta que o objeto-.social pode ser apreendido

pelo grupo em termos abstratos ou concretos, configurando uma imagem “ideal”

ou “real” que o grupo tem dele. E, a apreensão do real pelos sujeitos não se dá

de forma direta em suas consciências. Ela é mediada pela sua capacidade de

inventar, criar, de evocar imagens e símbolos, de atribuir significados, de

reapresentar.

Portanto, o dado externo não é único e acabado, mas sujeito à

liberdade da atividade mental, projetado num espaço simbólico ou imaginário, e

socializado através da comunicação, dentro de um determinado contexto sócio-

cultural.

O salto do imaginário para o real pode ser percebido quando

comparamos as definições dentro da sociologia do imaginário como algo que

existe somente na imaginação, sem realidade concreta. Neste sentido, se

aproxima das noções de ilusório, irreal, fictício, falso, inventado, absurdo,

utópico (Dicionário de Ciências Sociais, p.574), Enquanto o real, qualifica o que

é dado, o que existe efetivamente. Consequentemente, opoe-se por um lado ao

que é aparente e ilusório e por outro, ao que é abstrato, conceituai ou inteligível

na medida em que requer uma existência de fato fornecida pela experiência

(Durozoí e Roussel, 1993).

Todos nós podemos trazer no imaginário inúmeras realidades sociais

sem termos propriamente as vivenciado, e que são construídas no decurso da

vida cotidiana. As noções e imagens partilhadas pelos membros de um grupo,

embora expressem sua visão de realidade, estariam dentro de um modelo

assimilado, ensinado, comunicado e repartido. A tradução do fenômeno toma-

se mais real à medida que é experimentado.

65

Portanto, partindo do enfoque do parágrafo anterior, as representações

sociais da vida asilar significa, para as idosas, uma situação particular e concreta

fundada nas práticas cotidianas do asilo, mesmo- que tragam no imaginário

conceitos abstratos que articulam valores, preconceitos, necessidades,

sentimentos e pensamentos, nos permitem compreender seus comportamentos e

atitudes, bem como o tratamento dispensado a esse grupo específico. E, ainda,

de modo mais abrangente, a retratação dessa realidade pode servir de subsídio

para a elaboração de ações políticas voltadas para o bem-estar dos idosos na

nossa sociedade.

Tomando a realidade das idosas no asilo como um problema de

investigação psicossocial, a pertinência da Teoria da Representação Social

(Moscovici, 1978) na elucidação da sua visão de mundo relacionada ao

respectivo contexto institucional, mostra-se bastante clara. A análise de como

representam certos aspectos dessa realidade levantada para investigação, foi

apoiada principalmente na linguagem dos sujeitos participantes selecionados

para o estudo.

Jodelet (1984J, enfatiza que as representações são veiculadas

basicamente pelos discursos das pessoas e grupos que mantêm tais

representações, como também pelos comportamentos e práticas sociais

manifestados,

O sujeito, enquanto elaborador de representações sociais é antes de

tudo um sujeito social, que como explica Jodelet (1984, p.36)

... não é um indivíduo isolado que é tomado em consideração, mas sim as respostas individuais enquanto manifestações de tendências do grupo de pertença ou de afiliação no qual os indivíduos participam.

E pois, a partir da contextualização dos indivíduos portadores de uma

história pessoal influenciados pelas condições sociais presentes, que as

66

representações são construídas e transformadas no tempo e no espaço (Spink,

1995).

As representações formuladas têm influência na vida cotidiana, ou

seja, os comportamentos adotados no seu modo de vida asilar são resultantes de

como essas idosas representam sua velhice e sua condição atual, uma vez que as

três funções fundamentais das representações estão assentadas na incorporação

do estranho ou do novo, na interpretação da realidade e na orientação dos

comportamentos.

Acreditamos que o aprofundamento da questão da institucionalização

de idosos, ou seja, os significados atribuídos à essa nova condição de vida, sob a

ótica das idosas institucionalizadas, influenciada pelo contexto sócio-cultural

vigente, pode ser conduzido através da Teoria das Representações Sociais.

67

5. CAMINHAR METODOLÓGICO

Esta pesquisa de cunho descritivo foi âpoiada na Teoria das Repre­

sentações Sociais de Serge Moscovici, uma vez que buscou-se apreender as

representações que as idosas elaboram da sua realidade asilar. Através da lin­

guagem, atitudes, julgamentos de valores e do imaginário desse grupo específi­

co, chegamos à retratação do senso comum pela descrição da experiência desses

atores sociais em relação à velhice e o asilamento.

Diante disso, o estudo foi desenvolvido dentro da linha qualitativa, ca­

racterizada por Minayo (1993, p. 102), como sendo um

...tipo de investimento que abrange crenças, percepções, sentimentos e valores dos sujeitos sociais. Permite compre­ender com abrangência e significação a realidade de um grupo social, uma instituição, organização produtiva ou re­presentação...

E, portanto, através do processo de interação social que as idosas con­

frontam as informaçõesxireulantes no presente com o seu passado sedimentado

na sua história de vida pessoal e social e que vão influenciar na produção das

representações sociais do seu grupo de pertença.

5.1. LOCAL DA PESQUISA

A instituição escolhida está localizada na cidade de Fortaleza, E a

maior e mais antiga entidade de assistência ao idoso do Estado, fundada em

1905, com uma capacidade de atendimento para 300 idosos. E uma associação

civil, sem fms lucrativos, tendo na sua constituição um número ilimitado de só­

cios.

68

É reconhecida como de utilidade publica pelos poderes federal e esta­

dual. A proposta básica da entidade é prestar assistência e amparo às pessoas

idosas de ambos os sexos, de acordo com as modernas concepções de geriatria e

gerontologia. Procura garantir o amparo e assistência nos níveis de saúde e soci­

al a idosos que estejam em situação de abandono ou sem nenhuma condição de

sobrevivência.

A entidade teve seu marco histórico em 1977, quando realizou seu

primeiro contrato com o então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS)

para assistir 286 idosos, ocasião em que começou a reestruturar-se com melhori­

as do espaço físico e de suas instalações, passando em 1979 a firmar convênio

com a Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA), com a qual trabalhou

até 1995, prestando assistência integral a 300 idosos.

Na atualidade, a Fundação de Ação Social do Governo do Estado re­

passa os recursos do MPAS (Ministério da Previdência e Assistência Social)

para manutenção do convênio aos residentes que eram anteriormente assistidos

pela LBA.

Em face do agravamento da crise pela qual está passando, houve redu­

ção em tomo de 20%, ao longo de 1999, do contingente de idosos assistidos. A

demanda reprimida é em média 37 casos/mês.

A verba pública (federal e estadual) destinada à instituição atende de

maneira marginal os gastos necessários para uma assistência integral digna ao

idoso, fato que precipita crises econômicas frequentes, transpondo para a socie­

dade a responsabilidade, não assumida de forma eficaz pelo poder público, de

angariar verbas para resolver tal situação.

A administração do asilo é feita por uma diretoria composta por seis

membros e conselho fiscal, todos voluntários. O número total de funcionários é

91. A instituição pode contar com o trabalho e dedicação de uma equipe rnulti-

69

profissional, composta por duas assistente sociais, duas enfermeiras, duas fisio­

terapeutas, uma médica, uma nutricionista e uma terapeuta ocupacional.

A equipe de enfermagem conta com 23 componentes, sendo 02 (duas)

enfermeiras - uma no turno da manhã e outra no turno da tarde. A noite fica sem

enfermeira, mas a mesma se dispõe a comparecer à instituição, caso sua presen­

ça se faça necessária. São 09 (nove) auxiliares de enfermagem e 12 (doze) aten-

dentes.

O perfil dos idosos asilados (total de 250) na instituição acima referida

tem as seguintes características esclarecedoras de aspectos importantes para o

conhecimento da clientela do estudo: 53% eram do sexo feminino; 70% dos ido­

sos eram solteiros ou viúvos; 62% estavam incluídos na faixa etária de 61 a 80

anos; 48% analfabetos e 52% alfabetizados (considerou-se como alfabetizados

os que reconheciam as letras e escreviam pelo menos o nome); 46% residiam

anteriomente a sua institucionalização com familiares, 18% viviam sozinhos e

14% com conhecidos. Os considerados mendigos, isto é, que viviam pelas ruas

eram apenas 4%. Os que mantém algum contato com a família ou conhecidos,

pelo menos de 3/3 meses ou mesmo anualmente, somam 49% dos idosos. Das

principais causas para o internamento desses idosos destacou-se: a impossibili­

dade de assistência pelos familiares (42%); por iniciativa própria (28%) e pela

inexistência de familiares e abandono (30%). 77% dos idosos eram provenien­

tes do interior ou de outros estados. 93% da clientela estão na categoria de con-

veniados, não pagantes, ou melhor, contribuem com 70% do valor de sua apo­

sentadoria para o asilo (82% dos idosos internados são aposentados, sendo quase

a totalidade com um salário mínimo). 18 idosos (7%) pagam para residirem no

asilo. 50% são completamente independentes e 50% apresentam diferentes graus

de dependência da assistência de enfermagem (dados retirados do relatório anual

da instituição referente ao ano 2000).

70

5.2. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra foi constituída de doze idosas com idade mínima de 60 e

máxima de 97 anos. Partindo-se da premissa que as representações sociais vari­

am de acordo com a cultura, tempo e lugar (historicidade) e dentro de grupos

distintos de uma mesma sociedade, considerou-se como condições para garantir

maior homogeneidade da amostra estudada os seguintes critérios de inclusão:

Ter idade mínima de 60 anos, tida como marco que delimita a ve­

lhice segundo a OMS para os países em desenvolvimento. A idade máxima não

foi estipulada, devendo a idosa estar em perfeitas condições cognitivas para

prestar as informações necessárias;

Ser do sexo feminino, uma vez que o modo de se conceber a velhi­

ce apresenta-se bastante distinto com relação ao sexo, e é, portanto, extrema­

mente importante incorporar na análise os aspectos relacionados ao gênero

como identidário do grupo de mulheres asiladas e que participa fortemente no

embasamento da construção das representações de aspectos relacionados ao en­

velhecimento;

>- Pertencer a classe econômica menos favorecida, pois a posição so­

cial confere um modo diferenciado de experienciar os acontecimentos da vida.

As idosas residentes na instituição são majoritariamente pobres;

Residir no asilo por período superior há três meses. Acreditamos

que esse período seja necessário para a adaptação ao novo meio social e que,

passado o impacto do asilamento, as mesmas possam elaborar com mais clareza

as representações nas esferas cognitiva, afetiva e de ação prática do seu novo

cotidiano;

Serem independentes em relação ao seu auto-cuidado, ou seja,

manterem as condições físicas e mentais mínimas necessárias para, ainda, de­

sempenharem papel familiar/social fora da instituição asilar.

71

5.3. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Inicialmente, o projeto de pesquisa fo.i apreciado e aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa (COM.EPE) do complexo hospitalar da Universi­

dade Federal do Ceará - (em anexo-1), baseado nas resoluções de n° 196 de 10

de outubro de 1996 e n° 251 de 07 de agosto de 1997, que delimitam as diretri­

zes e normas regulamentadoras para as pesquisas envolvendo seres humanos.

Dirigi-me, então, à instituição asilar escolhida para explicar os objeti­

vos da pesquisa junto à direção, da qual obtive o consentimento assinado para

executar o trabalho proposto. Às informantes, no caso, as idosas asiladas, tam­

bém foi explanado o propósito da pesquisa, das quais obtive a assinatura de mn

termo de consentimento (anexo 2) para participarem da pesquisa com a garan­

tia do anonimato das declarações fornecidas e o livre arbítrio para desistirem do

estudo, caso desejassem.

As técnicas utilizadas para a coleta de dados, realizada durante o pri-

meiro semestre do ano de 2000, foram: a entrevista semi-estruturada com ques­

tões abertas para obtenção de respostas com maior profundidade, valorizando as

informações de caráter cognitivo e principalmente afetivo, e a observação sim­

ples, com o propósito de compreender contextualmentede o conteúdo das decla­

rações das idosas confrontando com o seu comportamento e as atitudes adotadas

no asilo.

Anteriormente á coleta propriamente dita mediante entrevista com os

sujeitos sociais, realizei visitas sistemáticas á instituição asilar para uma apro­

ximação informal com as idosas e para urna observação da dinâmica social no

asilo, sobretudo em relação ao comportamento dos residentes e dos funcionários.

A interação, junto á informante, realizou-se de forma gradativa à medida que

meu rosto ia se tomando familiar no ambiente.

72

Conversas sem o interesse a priori de elucidar o objeto de estudo, fo­

ram estimuladas para que se criasse uma atmosfera de confiança, amizade para

uma'maior fidedignidade dos dados colhidos. Essa fase durou aproxi madamente

dois meses, numa frequência de duas visitas semanais.

A carência de atenção ou disponibilidade de alguém para conversar

com as idosas era tamanha que quando da minha chegada a instituição as já co­

nhecidas iam ao meu encontro solicitar um tempinho para elas.

Com a expansão do círculo de conhecidas, o tempo de visitação se

tornara insuficiente para dar a atenção requerida por elas. A partir daí, uma con­

versa individualizada foi acertada com cada uma, quando explanei os objetivos

da pesquisa e obtive o consentimento das idosas em fazerem parte do estudo. As

entrevistas foram gravadas em fita cassete e depois transcritas na íntegra para

posterior análise.

Manzini (1991, p. 151) relata que

*... a entrevista é uma forma de coleta de dados mais ade- quadg na produção de dados, quando a natureza destes são informações que estão registradas na memória ou no pen­samento das pessoas...

Portanto, um roteiro com perguntas abertas foi elaborado para nortear

a entrevista permitindo que o entrevistado falasse livremente, sem o rigor de

uma ordem pré-fixada das questões. Os temas eram introduzidos conforme a

fluência do diálogo, atentando que as mesmas questões fossem indagadas a to­

das. O número de participantes da amostra foi delimitado pela saturação do

conteúdo emergido, restringindo-se a 12 sujeitos.

O roteiro de entrevista (anexo-3) constou de dados de identificação

(idade, procedência, tempo de institucionalização, estado civil, ocupação e ren­

da), razões para o internamento, sentimentos acerca de viver asilado, as implica­

ções do asilamento para a vida do idoso, aspectos da vida institucional ( relacio­

73

namento entre as idosas e destas com os funcionários, rotina, atividades, trata­

mento e condições de atendimento das necessidades das idosas), o significado de

ser velho na nossa sociedade e as esperanças que alimentavam na sua vida atual.

O tempo de duração das entrevistas variou de 40 a 90 minutos, depen­

dendo da característica individual de cada entrevistada. Umas faziam suas de­

clarações de forma mais livre discorrendo detalhadamente sua história de vida,

enquanto para outras, a conversação foi desenvolvida a partir das respostas mais

diretivas às perguntas do roteiro.

A entrevista era realizada em locais reservados, geralmente no quarto

da idosa ou em outro local sem a presença de outras pessoas para que não hou­

vesse inibição das participantes e para facilitar sua exposição sobre o tema de

investigação. Com todo esse cuidado, houve algumas situações em que pude

perceber alguns incovenientes pela proximidade de outras pessoas, como a ne­

cessidade de interrompê-la. Para resgatar o sentido verdadeiro a mesma questão

era colocada novamente no transcorrer da entrevista como forma de checar a

informação anteriormente fornecida.

Para Meyerhoff (1978; p.195), os conteúdos podem ficar incompleta­

mente evidenciados uma vez que

... as pessoas não verbalizam a totalidade de sua apreensão dos símbolos porque grande parte dos seus significados não é consciente. Inevitalmente, então, ocorrem brancos nos questionamentos, e finalmente o investigador deve ter res­ponsabilidade sobre as inferências sobre essas lacunas, indo além do comportamento observado, das frases grava­das e dos dados brutos... uma análise dos resultados é sem­pre uma interpretação, uma previsão.

As entrevistas foram analisadas através do método de análise de con­

teúdo de Bardin (1977), utilizando-se a técnica de análise temática. Bardin

(1977, p. 42) define análise de conteúdo como sendo

74

... um conjunto de técnicas de análise das comunicações vi­sando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quan­titativos ou não) que permitem a inferência de conheci­mentos relativos às condições de produção/recepção (vari­áveis inferidas) destas mensagens...

Para isso, procurou-se analisar as condições de produção do discurso

das idosas na compreensão das representações sociais relacionadas à velhice e a

vida asilar, na interface entre as explicações cognitivas, as manifestações afeti­

vas e comportamentais para o ajustamento às novas práticas cotidianas.

As etapas operacionais segundo orientação de Bardin para a análise

dos dados compreenderam:

1- Transcrição completa das entrevistas;

2- Leitura/escuta flutuante do material, observando o investimento

afetivo como pausas, choros, lapsos, silêncio, contradições, correspondendo es­

sas duas primeiras etapa^à fase de pré-análise.

3- Codificação/ Definição das categorias de análise e suas subcatego-

rias, que corresponde a fase de exploração do material.

As categorias levantadas, em tomo das quais a entrevista foi conduzi­

da foram em número de seis, assim distribuídas: conceito de velhice; significa­

dos atribuídos ao asilamento dos idosos; características dos relacionamentos in­

terpessoais; natureza do tratamento recebido; deficiências da vida institucional e

plano de vida das idosas.

75

A partír do agrupamento das categorias, pudemos obter as representa­

ções sociais referentes a quatro grandes temas de acordo com os objetivos da

pesquisa: t

Representação social de velhice

Representação social de "morar no asilo”

Representação social de asilo

O cotidiano na instituição asilar

4- Tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

Os resultados estão apresentados de forma sintética e esquemática

para uma visão mais imediata das representações obtidas e, em seguida, analisa­

dos descritivamente, apoiados na Teoria das Representações Sociais.

Não houve a preocupação do registro quantitativo da ocorrência das

unidades de registro, tomando como dado pertinente a sua presença tndepen-

dentemente de sua frequência. A partir disso, as interpretações e inferências fo­

ram conduzidas levando-se em consideração o contexto imediato da fala (da

instituição) e o remoto (aspectos de interesse da história de vida da idosa).

76

6. AS INFORMANTES. QUEM SÃO ELAS?

Um breve histórico de vida de cada idosa selecionada serve de con-

textualização para a sua situação atual na instituição. Um nome fictício foi usado

para cada uma das depoentes como forma de garantir o anonimato.

1) SAMARA, 60 anos, procedente do interior. Veio para capital oito dias após a

morte do marido, para ser submetida a uma operação de catarata nos dois

olhos, pois estava completamente cega há sete anos. Residia em casa própria

em companhia do marido e um filho. Tinha mais duas filhas, porém uma

morava e estudava em Fortaleza na casa de uma comadre e a outra era casa­

da e morava numa cidade distante da capital. Quando veio para Fortaleza, fi­

cou poucos dias na casa da comadre e, a seguir, foi para um abrigo de idosos

na esperança de voltar para casa após a cirurgia. Era aposentada devido a de­

ficiência visual e veio a perder o benefício quando passou a enxergar. De-

pois de operada, foi transferida do abrigo onde estava há seis meses para o

asilo do presente estifdo, sem saber do que se tratava, pois lhe disseram que

iria dar um passeio na cidade com mais alguns idosos que também residiam

no abrigo. Os filhos, mesmo sabendo de tal conduta, não comunicaram à

idosa sobre a decisão tomada. Sentiu-se traída e enganada, estando institu­

cionalizada há seis anos, Até hoje rejeita veementemente a sua instituciona­

lização. A filha, que mora no interior, tem lhe prometido tirar do asilo, fato

que nunca se concretizou. Recebe visitas esporádicas da filha mais nova que

mora em Fortaleza e que encontra-se separada do marido, com uma filha e

cuja renda mensal diz ser crítica. Os outros dois filhos não mantém contato

com a idosa, nem telefônico. Diz que sua vida perdeu o sentido depois que

foi para o asilo. Pensa dia e noite na família e vive em função de um dia po­

der sair do asilo. É bastante solitária e pouco comunicativa com os demais

77

internos. Tem como companheiro inseparável o cigarro, pouco se alimenta e

diz ser por tristeza. Debilitada fisicamente, ou seja, desnutrida, é indepen-

ciente em relação ao seu auto-cuidado e residemum quarto com mais quatro

idosas, sem contudo, ter amizade com elas.

2) SILVIA, 76 anos, separada do marido e sem filhos. Criou um sobrinho que

foi embora para o Rio de Janeiro há muitos anos e não manteve mais contato

com a idosa, desconhecendo seu paradeiro. Morava sozinha em casa própria,

num bairro de alta periculosidade, devido aos constantes crimes naquela re­

gião. O marido vive com outra mulher e decidiram colocá-la no asilo por

medida de segurança. Aceitou por temer muito algo de violento consigo.

Silvia relatou que a vizinha dormia todas as noites em sua casa e que, quan­

do não era possível, passava a noite em claro, com muito medo. Está há três

anos no asilo, sente-se só e é bastante retraída, de pouca conversa. Vive seu

dia-a-dia sem muita expectativa de mudança, mas gostaria de estar em sua*

casa, desde que o local fosse seguro. Mora num quarto com mais quatro ido­

sas. É totalmente independente em relação ao seu auto-cuidado.

3) SIMONE, 69 anos, solteira. Veio para o asilo por espontânea vontade há 15

anos. O que a estimulou foi um assalto que presenciou na residência de uma sobrinha em São Paulo, com quem residia. É cearense e morou muitos anos

em São Paulo para trabalhar. Vivia modestamente, era faxineira de um gran­

de banco. Já aposentada, procurou um abrigo para idosos em São Paulo, mas

em razão do preço elevado, resolveu voltar para Fortaleza se instalando no

asilo do estudo. É uma pessoa de poucos relacionamentos na instituição por

ser, segundo ela, de comportamento mais reservado. Considera o asilo a sua

casa, sente-se segura e feliz apesar dos inúmeros convites dos familiares para

morar com eles. Prefere permanecer no asilo, por se sentir mais à vontade.

78

Recebe esporadicamente visitas de seus sobrinhos. Reside num quarto com

mais quatro idosas e é completamente independente em relação ao seu auto-

cuidado. \

4) SONIA, 76 anos, solteira. Nascida no interior do Ceará, perdeu os pais muito

jovem e foi para o Rio de Janeiro se tratar de tuberculose. Lá ficou até se

aposentar pelo Estado e não manteve mais contato com os familiares. Uma

sobrinha morou com ela por um período, até se casar. Decidiu voltar para o

Ceará e, sem outra alternativa, procurou o asilo, pois não tinha nenhum fa­

miliar como referência. Apesar de estar há sete anos institucionalizada não

se sente bem e ainda espera uma solução para poder viver em outro local, de

preferência uma casa, para que possa se sentir mais feliz. Reside com outras

quatro idosas e é completamente independente em relação ao seu auto-

cuidado.

5) SANDRA, 70 anos, portadora de Doença de Parkinson, com limitação dos

movimentos, embora^capaz de auto-cuidar-se. Viúva, tem dois filhos. A filha

mora em Recife e o filho em Fortaleza e se encontra separado da esposa re­

sidindo sozinho. Veio de Recife para Fortaleza por decisão do filho. Em Re­

cife, Sandra residia numa Casa-Lar com mais duas idosas, as quais vieram a

falecer. Devido a sua dificuldade em realizar os afazeres da casa em razão de

sua doença, contava com o favor de uma vizinha para cozinhar para ela. Sem

ninguém para assumir o encargo, o filho a trouxe e, depois de três dias esta­

va institucionalizada, sem o seu conhecimento prévio. Vive na esperança de

que o fílho cumpra o prometido de lhe tirar do asilo, pensa continuamente na

família, principalmente nos netos. E aposentada, compra sua medicação e

deixa o restante do dinheiro com o filho. Diz não confiar nas pessoas, prefe­

rindo ficar só. Demonstra ter muita fé em Deus que é seu sustentáculo. Está

79

há quatro meses na instituição e afirma que não se sente bem. Reside com

mais três idosas no quarto.

6) SOFIA, 77 anos, separada do marido, aposentada, mãe de um filho. Perdeu o

contato com o mesmo há nove anos quando ele foi para Mato Grosso e não

mandou mais notícias. Residia sozinha e decidiu seguir o conselho de um

sobrinho de procurar o asilo, alegando ser pouco seguro uma idosa morar só

numa casa. E a caçula de dez irmãos. Alguns já morreram e não mantém

contato com os familiares. Recebe visitas esporádicas dos sobrinhos, mas

nunca foi convidada para morar com eles, Muito insatisfeita com a vida no

asilo, onde já reside há seis anos, sente-se muito solitária e não tem amigos

por não confiar em ninguém. Sem expectativa na vida, diz desejar a morte,

pois só assim seu sofrimento terá fim. Reside com mais quatro idosas num

quarto e é completamente independente em relação ao seu auto-cuidado.

7) SILVANA, 84 anos, solteira. Antes de ir para para o asilo morava com um

sobrinho casado e páí de três filhos. A notícia de que a levariam para o asilo

a pegou de surpresa e a deixou bastante chocada e insatisfeita. A esposa do

seu sobrinho achou por bem institucionalizá-la a fim de que melhorasse sua

condição de saúde, pois é asmática. Recebe com bastante irregularidade vi­

sitas dos sobrinhos, sendo, às vezes, necessário telefonar para comparecerem

ao asilo, Apesar de aposentada, os sobrinhos lhe dão alguma ajuda financeira

para comprar trutas e remédios. Em certas ocasiões vai para a casa do so­

brinho passar alguns dias, o que a faz se sentir outra pessoa. Pensa muito na

família e o seu maior desejo é viver junto aos seus. Bastante comunicativa,

embora não considere os demais idosos de confiança. Conversa com poucos

e sente muita falta da família e, apesar dos oito anos no asilo, diz não estar

80

acostumada nem satisfeita. Reside com mais quatro idosas em um quarto e é

completamente independente em relação ao seu auto-cuidado.

8) SULAMITA, 81 anos, viúva. Mae de uma filha já falecida. Criou as duas

netas que foram para São Paulo. Há 17 anos não as vê. Tinha um neto que ia

com frequência visitá-la e por quem nutria um grande amor. Refere que, por

uma grande fatalidade, há três meses o neto morreu atropelado, trazendo-lhe

profunda tristeza e desinteresse pela vida. Sente-se muito isolada, sem famí­

lia, embora um sobrinho a visite raramente. Refere que nada lhe traz alegria

nem vontade de viver. Reside há vinte anos no asilo e foi morar lá por falta

de condições financeiras para se sustentar. Diz que se sentia melhor no início

de sua vinda por ter mais saúde. Hoje por estar mais doente, não se sente

confortável quando precisa de “favores” dos outros. Não se entrosa com os

demais residentes e sente-se desamparada, sem familiares.

*9) SELMA, 70 anos, solteira. Residia com duas amigas antes de ir para o asilo

mas, por motivo de dõença das amigas e por sua deficiência visual (perdeu a

visão de um olho) ficou difícil cuidar da casa e delas. Decidiu por espontâ­

nea vontade ir para o asilo, onde acha que ganhou uma vida nova, É bastante

participativa e se considera completamente adaptada e feliz. Diz que uma

amizade sincera na instituição asilar é muito difícil e que o seu relaciona­

mento é superficial com os demais residentes, porém sem atrito. É filha ado­

tiva de uma família de muitos irmãos, que insistiram que fosse morar junto

com eles, mas preferiu fícar no asilo. Uma das irmãs vem visitá-la mensal­

mente. E aposentada e reside com mais quatro idosas. Totalmente indepen­

dente em relação ao seu auto-cuidado.

81

10) SANTINHA, 97 anos, solteira. Morava sozinha e decidiu por conta própria

se mudar para o asilo. Bastante ativa e independente, acostumada a fazer

tudo só, depois de uma queda passou a locomover-se com mais dificuldade.

Mantém-se independente em relação ao seu auto-cuidado. A sobrinha convi­

dou-a para morar com ela, mas preferiu a instituição por estar acompanhada

de outras pessoas, pois passava o dia sozinha até a sobrinha voltar do traba­

lho. Com sete anos no asilo, encontra-se bem adaptada. Só não se considera

completamente livre porque não vai mais à rua resolver seus problemas,

como fazer compras, ir ao banco. Em razão da sua dificuldade de locomo­

ção, não participa das atividades proporcionadas pela casa. Relata que é

muito difícil um relacionamento amigo dentro do asilo e que vive a sua vida

de modo particular, sem se entrosar mais intimamente com as companheiras

do quarto, devido às intrigas. É pouco visitada pela sobrinha, fato que a en­

tristece consideravelmente, mas procura conformar-se. Afirma que apesar de

algumas deficiências da casa, gosta de viver lá.

11) SOLANGE, 64 anos, viúva. Possui apenas uma filha que é separada do ma­

rido e, tem duas netas. Foi procurar abrigo devido à falta de condição eco­

nômica para se manter. Vivia na casa de uma sobrinha que sempre a manda­

va embora. A fílha também é muito pobre e não pode dar acolhida à mãe

que, através de um conhecido, aceitou ir para o asilo. Conseguiu se aposen­

tar, mas cortaram o seu benefício há mais de um ano o que lhe causou um

grande transtorno emocional, precisando ser internada para se recuperar do

abalo. E hipertensa e sofre da coluna, mas totalmente independente em rela­

ção ao seu auto-cuidado. Apesar de residir há dez anos no asilo, diz não estar

acostumada, sendo seu maior desejo morar com a fílha. Sente-se só e infeliz

na casa, só ficando alegre no dia que sai para visitar a fílha e as netas. Ali­

menta a esperança de sair em breve do asilo.

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12) SUELY, 92 anos, solteira. Vivia só e doente. A vizinha lhe trazia o ali­

mento todo dia, pois não tinha dinheiro para se sustentar. Sempre trabalhou

muito e para comer dependia do trabalho diário. Levou uma queda cuja se-

qüela foi perda parcial do movimento da perna esquerda. Em função disso,

conseguiu sua aposentadoria. Devido a uma descompensação cardíaca foi

hospitalizada e constituiu uma procuradora para pegar seu benefício mensal.

Ficou completamente sem dinheiro, pois a procuradora não lhe repassava o

seu dinheiro. Foi nessas circunstâncias que um médico a conduziu para o

asilo e conseguiu anular a procuração. Hoje recebe seu rendimento normal­

mente, já está há dois anos na instituição. Avalia que sua vida ficou mais fá­

cil, pois passava muitas privações, mas considera-se mal adaptada uma vez

que não se acostuma à difícil convivência com os demais idosos. Não tem

contato com nenhum familiar e, apesar de ter criado dois irmãos há muitos

anos, não sabem de seu paradeiro, pois nunca a procuraram. Por não ter ou­

tra alternativa na vida, sabe que viverá seus últimos dias no asilo.

83

7. A DESCOBERTA DAS REPRESENTAÇÕES

7/1. Representação Social de Velhice:

Velho é í4o outro”

A representação de velhice, permeia de forma bastante enfática as fa­

las das idosas asiladas uma vez que, a ida para a instituição era consequente às

dificuldades atreladas à essa fase do curso de vida.

As significações de velhice foram baseadas no contexto da sociedade

global e no universo da comunicação onde as idosas interagem.

A velhice foi representada pelas idosas sob três aspectos: físico, psi-

cossocial e cronológico. O predomínio dos aspectos negativos ligados à velhice

foi notável, sobretudo no aspecto físico e no psicossocial.

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Analisando as representações sociais da velhice pelas idosas asiladas,

ressalta-se a influência do contexto asilar como agente de reforço para os este­

reótipos negativos vigentes na sociedade e que são trazidos no imaginário dessas

idosas, onde o idoso é basicamente um ser dependente, doente, sem autonomia,

desvalorizado e rejeitado pelos familiares e pela sociedade.

7.1.1. Corpo e mente em decadência:

Podemos exemplificar as representações sobre a velhice emergidas

das falas das idosas entrevistadas, recheadas de atributos negativos, ou seja, a

velhice é vista, predominantemente, como uma fase de decadência física.

...no velho sempre aparece uma doença mais do que todos. Uma dor daqui, outra dacolá. (Silvia)

...quando eu era nova vivia com saúde, toda cheia de vida. (Silvana)

...a pfèssoa velha não tem mais sustância de viver mais muito não, por causa das doenças. Porque velho, toda do­ença se arrasta no corpo da gente. E problema de trombose, da coluna, do coração, porque tudo eu tenho. (Solange)

Quando é moça pode com o bem e com o mal e o velho não pode nem com o bem. Ser velho falta muita coragem para as coisas. Muita coisa que eu fazia, como pegar peso. (Sil­via)

O velho é aquela pessoa, até mais nova do que eu já sem memória, com amnésia, esclerosada. (Sandra)

Na minha mente, umci pessoa velha é uma pessoa de ben­gala, que já diz uma coisa três, quatro vezes, não sabe mais distinguir o dia, o mês, a semana. Eu sinto que a pessoa está velha, sem lucidez. (Selma)

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... velho é um corpo sem vida .(Sei ma)

...é a pessoa ficar sem condições de fazer nada. (Sandra)

... o ruim da velhice é não poder fazer nada, nem ter nada. (Suely.)

A velhice, na perspectiva biológica é melhor apreendida quando con­

cretizada no corpo, pela utilização de um processo gerador das representações

sociais denominado objetivação. Assim, a complexidade do processo de enve­

lhecimento biológico e psicológico aparece de forma concreta no corpo.

O físico desgastado e decadente está associado de forma inegável e

inquestionável com a velhice (Belo, 1996).

E, tomando como ponto de partida as perdas associadas à velhice na

nossa sociedade, as idosas rejeitam inserir-se nesse enfoque negativo, onde

claramente se apreende que ser velho é uma característica do “outro” que sem­

pre possui um atributo pior ou mais comprometido que o seu próprio. É uma

forma de mecanismo de defesa contra estados ameaçantes para uma vida livre e

não desejados, como podemos observar:

Eu me sinto que não tenho boa saúde. Mas velha, não. (Quanto mais doente, mais o velho é menosprezado. (Sônia)

Nesse ponto eu não me sinto velha, eu compreendo tudo, me cuido, tenho as mesmas disposições do meu tempo de nova, a única coisa que eu não posso é andar. (Santinha)

Eu não me acho tão velha porque eu sou mulher de todo trabalho. (Suely.)

Mas, enquanto a gente tá dançando, pulando, eu sinto que não seja velho assim não. E uns anos avançados, bem vivi­dos, né? (Selma)

86

Santos (1996) e Debert (1999) também obtiveram esse mesmo posi­

cionamento dos idosos, quando referiram, em ver no outro o verdadeiro velho,

traduzindo uma atitude de resistência a um conjunto de estereótipos com os

quais a velhice é tratada na nossa sociedade.

As representações sociais conferem à velhice do “outro1' um estado

bastante decadente e, que, quando projetado para si é referido como uma pos­

sibilidade indeterminada e longínqua. Essa visão traz consequências práticas

como o temor real de atingir o estado chamado por elas de “velhice total11, bem

como a aceitação mais natural das limitações, dos maus tratos e discriminação

dirigidos contra os idosos, já que não são mais capazes de se defenderem e nada

podem esperar dessa fase tardia do curso de vida:

O que eu acho pior é a gente ficar acamada como vivem es­ses velhinhos lá em cima. Não têm o conforto que precisa, porque não podem, né? Por acaso ainda tem uns que podem acudir, mas tem outro ainda pior que aqueles que estão precisando, aí é uma situação que eu acho uma velfice to­tal. (Selma)

... eu sei me defender das grosserias, mas para os que não podem mais reagir a nada, tem que aguentar tudo calado, aqueles que já não dizem coisa com coisa. (Simone)

Para a mulher, o corpo também é tido como elemento de atração para

o sexo oposto, e que, se sentir desejada é condição para uma auto-estima mais

fortalecida, bem como um atributo da juventude. O corpo do velho é um corpo

decadente, feio e, portanto não propicio à conquista amorosa e à vaidade:

Eu era muito vaidosa, gostava muito de vaidade. Agora eu ando assim por causa do calor, mas eu não andava assim descobrindo as minha carne, só andava bem vestida. Os cara dizia assim: Oh! caboclo na forte! Eu achava bom, mas não tinha nem conversa (Solange).

87

O corpo, no contexto de vida dessas idosas, era requerido em toda sua

capacidade para executar atividades que exigiam esforço físico e, por serem

pouco valorizadas financeiramente, simplesmente atendiam minimamente às

suas necessidades; sem contudo, conseguirem construir a base para uma vida

mais confortável e que atendesse as necessidades requeridas na velhice e que as

livrassem da dependência financeira pelo empobrecimento,

O físico, fragilizado e incapacitado para o trabalho é uma imposição

de fora, imposta pelos outros e que não corresponde a auto percepção das idosas

no que tange às suas reais condições para o trabalho, principalmente o domésti­

co, no caso particular das mulheres, Este fato, de ser capaz para o trabalho, é um

forte elemento para a efetivação do afastamento da velhice para longe de si, uma

vez que, a representação de velhice está fortemente amparada na constatação de

um coipo inutilizado para o trabalho:

Eu não me acho tão velha porque eu sou mulher de todo trabalho. Olhe, eu sou mulher até pra brigai (Suely)

Eu queria era sê bem novinha pra tá trabalhando seja lá-no que for. Eu não tô tão velha, porque pra trabalho eu tenho até coragem, mas os meu filhos não deixam de jeito ne­nhum. (Samara)

Continuar trabalhando significa, para a idosa, manter-se útil, capaz e

independente, O trabalho que foi a referência principal de sua inserção social ao

longo da vida, mesmo que em condições de exploração e sem garantias traba­

lhistas dentro de um regime informal e mal remunerado. As idosas assimilaram

que é o trabalho que confere valor à pessoa como um ser socializado.

Embora sentindo-se aptas para o trabalho, perdem sua autonomia, cu­

jas ações passam agora a ser guiadas pelos filhos, como uma espécie de inversão

de papéis. A atitude dos filhos diante dos pais idosos é orientada pelas repre­

sentações negativas que possuem da velhice, em particular em relação à perda

88

da capacidade para o trabalho, e que, por sua vez, as idosas aceitam resignar-se

por sentirem-se dependentes e temerem contrariar seus filhos, embora sendo

causa de insatisfação e angústia para elas.

A intenção de “poupar” as idosas de esforços físicos ou outras ativi­

dades consideradas equivocadamente inapropriadas para elas é uma maneira de

lançá-las na ociosidade com consequências maléficas para o equilíbrio psíquico

da idosa.

7.1.2. Decadência psicossocial:

Aspectos psicossociais relacionados ao envelhecimento como a perda

de autonomia, dependência e pobreza são expressados pelas idosas asiladas:

... na Bíblia Cristo dizia a Pedro: Pedro quando tu eras novo cingias-te a ti mesmo quando quer ias, hoje estas velho estendes a mão para que te cinjas e vais para onde npo que­res. (Sandra)

... o velho não tem condições nem de se manter, depende dos outros. (Sofia)

O velho é uma pessoa que não resolve mais nada, como aquele móvel. Uma pessoa que não cuida mais de si, não tem mais atitude nenhuma. (Santinha)

Na metáfora acima, quando o velho é comparado a um móvel, fica

evidenciada a associação que se faz de velhice e dependência física e compor-

tamental, sua insignificância, seu anonimato, passividade e incapacidade cogni­

tiva. Existe por existir, não é capaz de participar da vida.

A solidão é tida como um legado para o velho. Por estar velha, a pes­

soa vivência mais frequentemente os acontecimentos familiares e sociais que

contribuem para o seu isolamento social e, daí, surge a solidão. Tal situação é

89

fortemente percebida pela comparação que as idosas fazem do seu tempo de jo­

vem com o tempo presente, como idosa:

O pior da velhice é viver só. (Sulamila)

O pior que eu acho da velhice é não ter uma coisa certa as­sim na casa da gente, como o marido mesmo velhinho. Não ter ninguém. (Silvia)

Fico pensando na minha vida. Tinha mãe, família, era nova, trabalhava e hoje não tenho ninguém. Velho quando não tem família é melhor morrer. (Sulamila)

Voltar-se para o passado, como relembrar fatos positivos da vida, é

uma atitude freqüente no idoso, podendo funcionar como uma maior conscienti­

zação do estado atual de perda ou, segundo Lewis (1971) agir como mecanismo

protetor, ajudando a lidar com as perdas da velhice, onde o indivíduo perde sua

identidade social anterior, passando a ser apenas velho.

Num estudo realizado por Stauginger et al. apud Neri (1995), as prio­

ridades dos idosos eram principalmente a saude, o bem-estar dos membros da

família, a competência cognitiva e a capacidade de refletir sobre a vida.

As idosas asiladas que tinham proximidade com seus familiares pas­

savam grande parte de seu tempo pensando neles e, conforme também constata­

do por Erikson et al. (1986), o pensamento nos filhos e netos e a participação no

relacionamento com eles, dá aos idosos a sensação de que vale a pena viver

mesmo quando a vida é bastante inativa:

...eu perco a noite, de sono imaginando a minha família. /!.$' minhas filhas, o meu filho, os netos que eu tenho e tudo. (Sarna ra)

...minha filha tem três filhos e eu sou louca pela filha mais velha e nesta noila eu estava analisando, a menina vai fazer

90

quatorze anos. Eu gostaria de estar com ela porque toda a minha vida foi dedicada àquela menina. (Sandra)

Confort (1979) menciona que o isolamento do idoso é decorrente da

atitude da sociedade em que vivemos, onde os elementos geradores de sofri­

mento não decorrem simplesmente do processo de envelhecimento, mas do en­

velhecimento sociogênico, em outras palavras, dos papéis impostos pela socie­

dade aos seres humanos que atingem uma determinada idade cronológica e que

podem causar modificações mentais. Enfim, a função que atribuímos aos velhos

se distingue pelo seu caráter destrutivo. O velho, então, fica renegado social­

mente, como ilustrado nas falas abaixo:

O velho fica no seu canto reservado, não presta mais aten­ção a nada, essas coisas... (Silvana)

... o idoso não se toca mais na influência, na diversão, na juventude, aí então ele cai na rejeição nem que não queira.A não ser que seja um velho divertido como eu que fui pro casamento da minha sobrinha. Aí eu bebi, fumei e m& mistu­rei com todos, aí é diferente. Mas, se é um velho ranzinza, que sq. dá trabalho, só fala em doença e não participa, aí fica no isolamento. (Simone)

Especificamente na declaração acima fica explícito que, para o idoso

ser aceito deve adotar os comportamentos típicos dos jovens, caso contrário é

rejeitado e não há espaço para a sua inclusão social. Os padrões de comporta­

mento valorizados são apenas os dos jovens, ignorando a experiência de vida

dos velhos.

E como se a velhice encarnasse um fenômeno estático, não processual,

como se este não fosse um período de vida decorrente de um processo, mas sim

algo que se opõe à juventude e maturidade, de maneira completamente diferen­

ciada (Belo, 1996).

91

Percebe-se, claraniente, que ocorre uma desqualifícação da pessoa que

atingiu uma ídade avançada. São os valores associados à juventude que são

apreciados pela sociedade (Beauvoir, 1990).

A partir da comparação com o passado, as idosas destacam como ca­

racterística do tempo presente a desvalorização e discriminação do idoso em

nossa sociedade. A mudança de atitude em relação ao velho ao longo dos anos

está correlacionada âs alterações na dinâmica familiar, á participação da mulher

no mercado de trabalho e à valorização da economia na sociedade moderna, re­

negando os vínculos afetivos e a solidariedade entre seus membros a um plano

secundário, conduzindo a uma prática comportamental egocêntrica bem como a

insensibilidade social aos valores humanos:

...no tempo da minha avo, mãe da minha mãe, morreu em casa, velhinha, com 96 anos. Mas, todo mundo tinha paci­ência com ela, ela caducava, caducava. O pessoal tinha mais consideração e amizade aos seus e também aos outros, respeitavam. Mas, depois que começou esse modernismo... (Santinha)

... mudou muito. Os netos adoravam os avós, respeitavam como se fossem os próprios pais. Inclusive muitas pessoas foram criadas por avós antigamente. Não tem mais esse amor, é errado e triste. (Simone)

... os idosos tinham mais vcdor antigamente. Eu via os ido­sos serem bem tratados pelos familiares e cuidavam até a morte. (Sânia)

... no tempo que eu moça ainda respeitavam os velhos, mas depois... (Sulamita).

Debert (1999) obteve resultados semelhantes, onde as idosas conside­

raram que a boa velhice era a do passado, do velho respeitado, que tinha uma

92

posição central em todos os assuntos da família e que as mudanças culturais ra­

dicais deram um novo significado à experiência do envelhecimento.

Fatos cotidianos observados pelas idosas é uma forma de traduzir as

representações que as pessoas possuem dos idosos como seres desvalorizados e

tratados com indiferença, desrespeito e discriminação :

A pessoa fica velha e todo mundo diz; Fulano é velho, fu­lano é velho. Isso é uma tristeza pra gente. A gente se lem­brar do tempo que era novo pra agora. (’Silvana)

... nq rua a senhora sabe como é: Sai velho, vápra lá, ve­lho. E aqui não é assim, os velhos estão na sua caminha deitado. (Sulamita)

...o idoso é visto com indiferença. Eu acho que não tem a atenção necessária ou a conveniente. Era muito raro uma pessoa dar o lugar no transporte ao idoso. (Santinha)

O preconceito social com base pretensamente científica em relação à

velhice é denominado ageísmo derivado do termo inglês nge, e que traduz a ve­

lhice como uma fase na qual só ocorrem perdas. Velhice é encarada como sinô­

nimo de doença e incapacidade, o idoso não é capaz de novas aprendizagens, a

vida emocional do idoso é naturalmente pobre e o isolamento social é uma ten­

dência universal da velhice (Riley e Ríley, 1989). Portanto, podemos dizer que

o ageísmo delineia a atitude prática e ideológica da sociedade em relação ao ido­

so e que claramente é percebido pelas idosas como sendo parte de uma catego­

ria não inserida dentro da sociedade global.

7.1.3. Curso cronológico da vida

A velhice para as entrevistadas, tomando como referência a idade

cronológica, é mal definida, com limites bastante arbitrários, e que, na maioria

das vezes não é a idade na qual a idosa se encontra. Por conviverem com pesso­

93

as mais velhas e com a saúde mais comprometida do que a sua, lançam para elas

o real estado da velhice:

A velhice que chega e acaba com a gente, acaba, sabe o que é... Eu não me acho muito velha, lenho 70 anos, né? E eu me acho tão cansada, tão acabada, tão velha, pra mim eu tenho 80 anos. Avalie esses pobres mais velhos, como não ficam? (Selma)

Eu não sou muito velha não, porque eu só tenho 64 vou fa­zer 65 anos. Quando tem 80 pra lá Já é muito velho, Já. Eu não sou muito velha, mas eu sou doente. (Solange)

A velhice é considerada também como uma fase de proximidade da

morte, onde se vive por viver, sem nada esperai;

Eu não vejo nada de positivo na velhice. Porque a velhice é uma coisa que só espera pela morte, né? Tá perto de acon­tecer. Eu me deita aqui e digo: Eu não sei se vou amanhe­cer viva. (Selma)

Na velhice a gente perde todo o entusiasmo da vida, perde a ilusão da vida, cai na realidade. A velhice é o real da vida. E só pensar e agradecer a Deus de amanhecer viva, andar perfeito, ouvir, falar, enxergar, Já é ter muita coisa. (Simo- ne)

As representações sociais sobre a velhice nos mais diversos aspectos,

compartilhadas pelas idosas são resultantes do pensamento social que é recons­

truído ao longo de seu processo de socialização, e, claramente influenciam o

modo como o sujeito se define em relação ao objeto representado (a velhice) e

ao grupo do qual faz parte.

94

7.2. Modo de ingresso na instituição e sua influência nas representa­ções sobre “Morar no Asilo”.

Imposição

Desprezo

Abandono dos familiares

Aceitação/ Acomodação Difícil aceitação/ Depressão

O fato novo “morar no asilo”, pode ter duas representações distintas,

influenciadas pela forma de ingresso na instituição: com ou sem o consenti­

mento da idosa. A decisão própria em ir para o asilo, após uma análise ponde­

rada sobre sua condição de vida anterior, favorece uma maior capacidade de

adaptação e maior tolerância às deficiências institucionais.

O modo de vida anterior à institucionalização tido como um mundo

de sacrifícios e de trabalho, sem tempo para viver para si, ter diversão e maior

sociabilidade, considerado como uma vida de amarras, pode ser concretamente

destituído frente às oportunidades que a instituição oferece, onde a vida adquire

95

um novo significado, e os anos são vividos efetivamente, com novidades e ale­

gria:

... eu acho que o mundo está aberto, que o mundo se abriu, eu lô mais nova. Eu me achava velha, mas não, é a situação do conviver que faz a gente envelhecer, viu? Porque a vida livre, a vida com amor, com divertimento, ninguém envelhe­ce não, a gente brota. Eu acho que ganhei a juventude aqui dentro, porque eu danço, se eu quiser namorar, namoro, o negócio é que eu não quero. Saio, brinco, tudo eu gosto. Faço tudo de espontânea vontade, ganhei mais vida, fiquei jovem, mais social. Talvez lá fora eu já tivesse morrido. Eu quis acompanhar as facilidades que a casa oferece. A gente viver trancada, tristonha, calada, não adianta, né? Eu par­ticipo da T.O., dos passeios, de tudo. (Selma).

Não obstante, quando a institucionalização é a única alternativa viável

para a sobrevivência da idosa, sobretudo em situações de pobreza extrema e de­

samparo familiar, sentimentos positivos e negativos estão presentes, Podemos

traduzir não como a imposição de alguém propriamente, mas, uma ação coerci­

tiva situacional, onde a idosa não encontra outra solução mais satisfatdria para

continuar vivendo fora da instituição.

Tem gente que vem da rua e aqui fica. Para esse pessoal é bom. (Sofia)

Se não tiver quem ampare, a pessoa tem que procurar o asilo. (Simone)

A pobreza que é pobre mesmo, aqui é uma riqueza. Aqui tem cama, mesa, remédio - que dizem que não tem, mas tem. (Santinha)

... agora se é um desvaliclo, exposto ao sol e a chuva na rua, é melhor tá aqui dentro. (Suely)

A minha opinião era passar pouco tempo nesse abrigo, logo quando eu cheguei.. E nesse pensamento o tempo foi pas-

96

sando, não chegou outra solução e eu não tenho condição de resolver, (Simone)

Das razões apontadas pelas idosas, a situação de completa miséria ou

as dificuldades econômicas da maioria das famílias teriam respaldo para se pro­

curar o asilo, como também a ausência de parentes e, em certas situações o des-

ajustamento do idoso ao ambiente familiar, quando não dispõe de companhia

... quando não tem família é mais natural, não tem aonde fi­car, então tem que ficar aqui. Mas no meu caso, eu prefiro ficar aqui do que ir pra casa da minha sobrinha. Não que eu seja maltratada é porque eu me sinto melhor aqui. Ela me convida e eu não quero ir. Lá eu fico só e aqui tem uma companheira e outra. (Santinha)

...às vezes não podem viver com elas em casa não é? Por­que são velhas demais, são doentes e aqui tem as amigas também que conversam umas com as outras e distrai muito. (Sulamita)

Porque eu vim de espontânea vontade. Eu pedi que arran­jassem pra mim, que eu estava mesmo necessitando de uma casa assim, eu já estava cansada de morar só. (Selma) „

A procura do asilo com vistas a suprir especificamente alguma difi­

culdade sentida e considerada, dentro da escala de valores da idosa, como im­

portante para uma vida mais satisfatória, traz uma visão positiva do asiíamento.

Ou seja, os pontos positivos são ressaltados e os negativos pouco valorizados ou

aceitos mais facilmente, além de serem claramente justificáveis dentro do con­

texto institucional.

A segurança do local, o controle e vigilância externos são apontados

como vantagem, representam uma forma de livrarem-se de toda espécie de bar­

bárie que acontece com frequência numa sociedade sem controle da ação dos

marginais e que não poupam nem os mais fragilizados. É preciso, como precau­

97

ção, tomar-se prisioneira em sua própria casa, como evidenciado nas falas abai­

xo:

..aqui me sinto protegida de ladrão, tem, vigia à noite. (Sandra)

... minha sobrinha me deixava debaixo de dois cadeados, o cadeado da porta e o cadeado do portão. Eu queria sair e não podia. (Santi­nha)

... o que melhorou foi que aqui a gente tá seguro. (Silvia)

O argumento de estarem seguras da ação de marginais, quando insti­

tucionalizadas, é frequentemente utilizado por familiares ou amigos como razão

para as idosas irem para o asilo, especialmente nos casos em que a idosa vivia

só. Embora reconhecesse a vantagem, nem sempre é motivo para proporcionar

uma franca aceitação do asilamento em cima desse motivo.

Os meus filhos dizem que eu não tenho mais condição de tomar de conta só da casa e morar só. Eles tem medo que chegue um gatuno, um malfazejo e que me mate. Mas eu fe­cho a porta, as grades, eu quero mesmo é tá na minha casa. (Sarna r a)

OOP...meu marido não quis que eu ficasse naquela casa só por­que lá dá muito cabra sem vergonha pra roubar, pra tudo. (Silvia)

Atrelada a segurança da instituição asilar, a companhia de outras ido­

sas representa não apenas o atendimento da necessidade gregária do ser humano,

mas, a presença de alguém a quem se possa recorrer em caso de necessidade:

... porque tendo uma pessoa, a gente se sentindo mal, pode chamar alguém. (Santinha)

...lá eu fico só e aqui tem um companheiro, tem outro. (San­tinha).

98

...eu morava sozinha e a pessoa nunca deve morar só. (Sil­via)

A existência de familiares não confere uma ação protetora à instituci­

onalização do idoso e, o termo utilizado numa linguagem metafórica "Jogar os

idosos” no asilo é encarado como uma atitude inaceitável e que demostra o

abandono, desprezo, ingratidão, injustiça e maldade para com os mais velhos.

Podemos acrescentar também ao sentido metafórico acima, as características de

inutilidade, desgaste e desvalia atrelada aos idosos na nossa sociedade.

Fica evidenciado para as idosas institucionalizadas o desprezo da fa­

mília que deveria acolher o idoso e que, as razões para a institucionalização não

demonstram as soluções alternativas em potencial para manter o idoso na comu­

nidade:

... o que tem aqui é gente desprezada, morre a míngua... (Suely)

... se não tem dinheiro, procure um emprego, vá trabalhar, nem que seja varrer a rua e compre e dê um bocado a sua mãe ou a seu pai. Mas pegar a mãe, botar aqui e. abandonar e nãa voltar mais aqui como tem muito... Tem muitos que morrem aí e que procuram a família deles e telefona, tele­fona e chega a hora, fedendo e tudo e tem que enterrar. (Samara)

... a família que tem obrigação de assumir. E o filho, é o neto, é o sobrinho. E da família. Ficou velhinho tem que tomar conta até morrer. (Santinha)

...acho que todo mundo deveria ter seus familiares para cuidar deles. E aqueles que não tem, são sujeitos a se hu­milhar pra passar para um asilo. Mas os que tem, não de­veríam vir para um asilo. (Sônia)

... aqui tem muita gente que vive aqui porque a família não quer assumir. E bota aqui e accibou-se, não vem nem visi­tar. (Selma)

99

...E triste, muito triste. E um pedaço de vida triste, a família rejeitando. Aqui tem pessoas que tem filhos e ficam despre­zados aí... (Simone)

A família deixa toda a responsabilidade para a casa... Eu acho que quando uma pessoa bota outra aqui já é uma re­jeição. Agora tem a condição que uns não podem ficar com a pessoa em casa e outros podem mas não querem, aí é triste. (Sônia)

...já me disseram que um filho veio deixar o pai e ele mor­reu e nem procuraram saber. (Sandra)

Minha filha, os velhos é repudiados pelos próprios filhos e você sabe disso porque aqui tem é muito. (Sofia)

O asilamento também confere maior similaridade entre os residentes,

visto que as diferenças em termos de situação objetiva são reduzidas (Debert,

1999). O passado não intervém no presente, não se coloca em questão a parti­

cipação do indivíduo na construção de sua trajetória de vida, onde a condição de

estar asilada apoia-se principalmente na omissão dos familiares em aSsumir o

papel de cuidar de seus parentes idosos:

... a gente vive desprezada. A maioria perdeu a ligação com a família ou não querem assumir e eu vejo isso e sinto. Tá igual a mim, no abandono, desengano. (Sofia)

Além do desinteresse dos familiares, atitude totalmente contrária aos

preceitos valorizados pelas idosas, o contexto asilar impõe uma barreira à rela­

ção social, sobretudo pelo abandono progressivo dos familiares que aos poucos

vão se afastando e se desligando do institucionalizado (Louzã et af, 1986).

O problema da institucionalização do idoso abrange também os de

classe mais favorecida, não sendo a falta de condições financeiras a razão prin­

cipal para se procurar o amparo asilar. O problema reside, sobretudo, no valor

100

que se dá ao velho, a falta de consideração e responsabilidade familiar em lhe

prover o sustento e a atenção necessária.

... quem coloca os pais aqui é maldade. Tem que lutar por eles. Gente mais ou menos joga os pais aqui e não aparece. (Suely)

fE porque quer abandonar. A mulher do seu João é bem forte e podería tomar de conta do marido dela. A filha é bem forte e loura, bem bonita assim como vocês. Tudo gente mais ou menos, viu? Tem uma que é doutora também. E não toma conta do pai nem nada. (Samarci)

... e também tem gente rica que tem tudo e morre só, a fa­mília nem sabe. (Selma)

O investimento afetivo está claramente representado nas falas das ido­

sas quando dizem serem incapazes de colocar seus país num asilo e, indireta­

mente indica a rejeição pela sua própria condição de asilada.

Os pais sempre foram considerados como as pessoas de maior im­

portância na hierarquia familiar, merecedores do amor incondicional dos filhos,

respeito, gratidão e reconhecimento pela dedicação aos filhos, quando dizem:

... meu pai é hem veinho já caducando, nós nunca bule mo ele assim, nunca tiremo ele de dentro de casa, nem um dia. (Samara)

...nem que eu pedisse esmola não botava meus pais aqui não, deixava em casa. (Silvia)

... mesmo com dificuldade financeira não justifica botar a mãe aqui dentro. Eu arranjava uma pessoa amiga, que mesmo que eu não pudesse pagar eu dava um agrado para ficar com ela as horas que eu passasse fora. (Simone)

Eu acho uma ingratidão muito grande do filho. Porque eu como mãe, eu creio que eles não tem nada a dizer de mim, e u fiz tudo por eles. (Sandra)

101

Talvez por serem as idosas uma espécie de desequilíbrio para a funci­

onalidade familiar, ao se considerar os cuidados requeridos por elas e, no en­

tanto, o pouco interesse ou mesmo a impossibilidade de dedicação dos familia­

res, diante de uma vida atribulada e cheia de obrigações, torna impossível a

permanência das idosas no seio familiar, como referido abaixo:

... agora, se não tem condições por causa do trabalho de cuidar do idoso, e se é pra deixar o velhinho sozinho, então aqui é melhor, não fica sá (Santinha)

... quando chegam aqui muitos idosos ficam chorando, /kv vezes as noras vêm deixar, não tem condições ou trabalham e o idoso sofre, não tem direito, (Sulamila)

Para um membro da família abdicar do trabalho para ficar cuidando do

idoso seria um transtorno muito maior do que “livrar-se do idoso”. A manuten­

ção da família depende do trabalho de todos àqueles que podem ingressar no

mercado de trabalho para, conjuntamente, poderem se manter minimamente.

Implica dizer também que a ajuda de terceiros para cuidar do idoso requer um

investimento financeiro além das reais condições da família, e, sobretudo, de ser

praticamente impossível, nos dias de hoje, contar com a benevolência de amigos

ou parentes na dispensação de cuidados ao idoso.

A justificativa apresentada pelos familiares para a necessidade da

institucionalização das idosas, não tem respaldo nos valores considerados por

elas, como sendo obrigação última da família assistir os seus na velhice. Com a

institucionalização dos parentes idosos, fica claro o desejo dos familiares de

afastá-los do seu convívio.

Para as idosas, a família tem importante valor cultural, onde na sua

época, os idosos eram bem tratados e respeitados até a morte. Desconheciam,

portanto, a existência de asilos e que, em hipótese nenhuma de ver iam ser retira­

dos do seio da família.

102

... antigamenle as pessoas cuidavam de seus idosos dentro de casa até morrer e era l)em acompanhado no enterro, com muita gente e passavam a noite acordadas velando e não tinha esse negócio de asiko. E todo mundo cuidava de seu idoso em casa e era mais querido do que hoje, (Simone)

Essa mudança do comportamento da família para com os seus idosos

está atrelada ao período histórico.e ao sistema de valores que vigora numa soci­

edade voltada para o lucro e a produtividade, e, da qual o idoso foi excluído.

Ir para o asilo de forma imposta ou enganosa é das situações a que

mais consequências nefastas traz para o equilíbrio psicológico e emocional da

idosa. A aceitação fica praticamente impossível pela incapacidade de introjetar

como benefício, a covardia sofrida. O estado depressivo acompanha a vida des­

sas idosas que, apesar de tudo, ainda alimentam a esperança de saírem do asilo

ou se iludem com a falsa promessa dos familiares que quando for possível irão

retirá-las dali.

Eu vim pra me operar e não voltei mais. Eu vim pra voltar... (Samara)

Eu vim pra casa de um filho, com três dias ele me trouxe para cá. Eu ainda não senti nada, porque estou na ilusão que ele venha me levar pra casa. (Sandra)

Eu nunca pensei em um dia vir pra cá. E uma situação crí­tica. (Sandra)

Não, nunca pensei em morar num lugar como esse. A gente não pensa na velhice. (Sofia)

...quem vem a força não se acostuma de jeito nenhum, é um sufoco. Tem família que inventa que vem buscar mais tarde e passa meses sem vir. (Selma)

...eu era uma pessoa muito alegre e hoje já não sou mais. (Simone)

103

Eu acho que um pai ou uma mãe que é jogado aqui contra a vontade e o filho não procura é melhor morrer logo, E tem muitos aqui assim. (Selma)

Estar no asilo é uma situação que só pode ser apreendida na perspecti­

va da interioridade, à medida que a pessoa a vivência, verifícando-a, conforme a

colocação a seguir:

... eu digo o seguinte: vá viver pra saber o que é estar aqui. (Sandra)

A vinda para-o asilo pode ser causa de sofrimento intenso, pois o ido­

so não tem o direito de dirigir sua própria vida, tomar suas decisões e escolher

seus rumos de acordo com os seus desejos. As justificativas apresentadas pelos

familiares para a institucionalização da idosa podem não ser fortes o suficiente

para o seu autoconvencimento e nem para proporcionar uma adaptação menos

traumática.

Foi a esposa do meu sobrinho que arranjou isso aí. Aí ele chegou e disse: Amanhã, terça-feira você vai para a casa dos Fios os. Ave Eia ria! Parece que transpassou meu cora­ção. Eu nunca pensei numa coisa dessa. Eles falavam nisso, mas, eu nunca ia achar que eu viesse pra cá. Eles queriam mesmo que eu viesse pra cá, para ver se eu melhorava, eu sentia cansaço e era dessa finurinha... (Silvana)

Na impossibilidade de mudarem sua condição de vida vêem na morte

a única saída para o seu sofrimento. Não crêem na possibilidade de virem a se

acostumar com a vida no asilo e darem um novo sentido para sua vida, carac­

terizando uma completa rejeição a institucionalização e um estado depressivo crônico:

... eu peço é a morte. Se Deus quizesse eu ia tranquila. (So­fia)

104

...desejei morrer muitas vezes, se for pecado, me perdoa m eu Pai... (Silvana)

...nem que eu morasse aqui awida inteira eu não me acos­tumo. Ninguém acostuma com o que é ruim. Nunca pensei em morar aqui. (Suely)

... depois que eu vim pra cá, acabou-se tudo, tudo no mun­do, tudo que era bom. Pra mim não tenho nada. (Samara)

... eu vivia bem e vivo aqui feito uma cachorra. Meu mundo era outro. (Sofia)

...não, eu não me acostumo não. Penso muito em ir embo­ra... ( Silvana)

Alimentar um objetivo ou uma esperança, mesmo mediante evidências

contrárias, traz significado à vida e alimenta a vontade de lutar ou esperar por

ele. As idosas que disseram ter um objetivo concreto para um futuro próximo,

informaram que o mesmo está relacionado exclusivamente com a saída da ins­

tituição asilar, como condição única de ainda viverem felizes os anos'restantes

de sua vida:

...quando eu sair daqui eu procuro meu filho, minhas filhas. Eu quero voar daqui de dentro. (Samara)

...espero que essa temporada daquipra frente não seja aqui dentro. Se for pra ficar aqui até morrer será uma vida muito triste para mim. Deus é que vai resolver. (Sônia)

...só me sinto feliz se eu for morar com a minha filha. Espe­ro que as coisas melhorem (Solange)

... seu eu pudesse encontrar uma casa, botar uma pessoa para cuidar de mim. Eu só me sinto feliz na minha casa própria. Na casa da gente é diferen te, eu podia fazer o que eu quizesse, me expressava de outra maneira... (Sandra)

105

...meu maior desejo era viver com eles até o final da vida. Deus é quem, sabe, né? Mas^ esse era o maior prazer e ale­gria na minha vida. (Silvana)

A institucionalização das idosas se associa com modificações com­

portam entais que significam que a pessoa não tem mais finalidades, não se pro­

jeta mais no futuro. A capacidade de futurização do tempo está reduzida nos

idosos, talvez em virtude de terem menos oportunidades de realizações no pre­

sente, pois o asilo tolhe a liberdade e iuexistem condições concretas para que

possam escolher o caminho que desejam seguir. Passam a esperar pela morte, na

certeza de não ter um amanhã, com manifestação de tristeza, desesperança e

certeza da proximidade de sua finitude:

...nada eu não poço fazer nada, mudar nada. (Sulamita)

Não vejo saída porque eu não posso modificar só nada. Já pedi a morte muitas vezes. (Sofia)

Hoje eu não tenho mais nada de plano para realizar, meu plano é o eterno. (Selma)

Aguardam dia após dia a sua saída do asilo como forma de readquiri­

rem o gosto pela vida, não sendo necessárias, para serem felizes, nem mesmo as

mínimas condições de sobrevivência, como a garantia de alimentação.

...eu não gosto, tô aqui a força, a força mesmo. Eu não que­ro mais viver aqui. Tem almoço, tem merenda, tem tudo, mas eu não quero. Eu queria é não ter nada na vida, eu pe­dia um bocado no meio da rua e não queria tá aqui dentro de jeito nenhum. ( Samara)

A não aceitação do asilamento é pronunciadamente mais difícil para

as idosas que conviviam anteriormente com seus familiares, enquanto as idosas

solteiras ou que residiam sozinhas se mostraram mais resignadas. Avaliam sua

106

nova condição de vida como mais natural e necessária diante das dificuldades

decorrentes de uma vida solitária, onde pontos positivos com a institucionaliza­

ção sao tidos como ganhos, enquanto as casadas são consideradas vitimas, so­

frem a rejeição dos familiares e por isso, sentem-se mais infelizes e incapazes de

desfrutarem das facilidades que a instituição oferece.

Eu acho que a pessoa casada sente mais, porque o solteiro não tem aquela mágoa e o casado tem aquela mágoa de ter tanto filho, às vezes oito, nove filhos e tá aqui dentro sen­tindo desprezado, Porque eu como mulher, jamais colocaria a minha mãe aqui dentro, nem que passasse necessidade, eu ficava com a minha mãe até o fim. Porque eu acho muito bonito as pessoas que amam seus pais, que são muito im­portantes. Deu a vida a gente, né? A gente desprezar, en­costar pra acolá porque tá velho, porque não sabe falar, não eu acho isso muito duro, doloroso. (Selma)

Não foi cogitado pelas idosas a natureza ou a qualidade do relaciona­

mento familiar. Os conflitos familiares sao inevitáveis e universais, não„havendo

outro tipo de relacionamento que o substitua. O pensamento das idosas asiladas

se volta completamente para o bem-estar de sua família e fazer parte da mesma

significa inserir-se no meio dela, por isso, o asilamento representa distancia­

mento e falta de amor entre os familiares.

Estarem próximas dos familiares é o sustentáculo para uma vida mais

feliz, como podemos observar nas colocações abaixo:

...eu não me acostumo nunca! Quando eu vou pra minha filha é um alívio!. (Solcinge)

... aqui tinha um senhor que morava só e tinha tudo dentro do quarto . televisão, rádio, ventilador e um dia ele dissepara sua filha que queria ir embora e ela respondeu que ali ele tinha tudo, nada faltava. E o idoso respondeu: Eu te­nho tudo mas não tenho vocês e começou a chorar e eu não aguentei mais e vim me embora. (Santinha)

107

Na colocação acima, fica claramente revelado que, para as pessoas em

geral, é simplesmente necessário que o idoso tenha satisfeitas as mínimas com

diçoes de sobrevivência, cama, teto e comida que ã instituição oferece, sendo-

lhe completamente omitido o direito de se relacionar com os entes queridos, ter

afeto e ser respeitado como todo ser humano. Enfim, é conferido ao velho este­

rilidade sentimental, ou seja, não é mais capaz, nem há necessidade de amar e

ser amado.

7.3. Representação Social de Asilo

108

7.3.1. Espaço de libertação:

O contexto de vida antes do asilo pode traduzir um sofrimento intrín-

sico e o asilo representa, então, a libertação de uma vida difícil, sacrificada,

oprimida e sem recompensas materiais ou afetivas. Nesse caso, o asilamento é

visto como um salto para vida, com experiências novas e gratifícantes, antes

nunca vivenciadas e que a dedicação exclusiva ao trabalho não permitiu uma

vida assegurada materialmente após a sua cessação. Essa representação positiva

do asilamento ficou restrita às idosas que viviam sozinhas, longe ou sem apoio

de amigos ou familiares. A vida antes do asilamento era árida, sem atrativos e

bastante sacrificada:

...pra mim aqui é a liberdade, a facilidade. A gente vive uma vida liberta do trabalho, de tudo. Aqui eu tenho a responsa­bilidade da minha pessoa somente, do meu viver, do meu conviver, mas de fazer, não. (Selma)

*... eu vivia na minha casa, passava o dia, eu lavava, varria, espdhava, só trabalhando. Aqui minha vida tá muito dife­rente. .. (Selma)

Uma vida mais feliz no asilo é colocada como uma experiência subje­

tiva particular diferente do senso comum, e, não extensiva à maioria dos idosos

asilados, que por diversos motivos, dentre eles, o afastamento dos familiares,

percebem o asilamento como abandono, solidão, dependência e deterioração fí­

sica e mental.

Outro aspecto refere-se ao fato que, mesmo quando da existência de

familiares e do interesse dos mesmos em acolher a idosa, mas, no decorrer de

sua vida não houve um relacionamento mais estreito entre eles, sente-se como

uma intrusa, uma hóspede, dificilmente sentindo-se à vontade e com intimidade

suficiente para residir com eles.

[09

Assim, o asilo pode assumir a identidade de sua própria casa, onde a

idosa organiza dentro do possível sua rotina e comporta-se com maior liberdade,

sem temer entrar em atrito com seus familiares. \

... eu me sinto mais na minha casa aqui do que na casa dos parentes. Lá tinha empregada, eu tinha tudo nas mãos, eu não fazia nada, só cantava para ele tocar violão, seis horas da tarde. Tinha tudo na mesa, tudo. Mas sentia falta do meu. canto. (Simone)

Eu gosto daqui. E tem quem me queira. Eu gosto, mas pos­so- cair na mesma opinião delas quando eu tiver acamada lá em cima, rejeitada, precisando do cuidado delas, sem poder me defender... (Simone)

Um mecanismo psicológico empregado para o ajustamento está base­

ado em processos de comparação social. Isto significa que a pessoa reorganiza

seus padrões pessoais de avaliação ao se comparar a outros subgrupos específi­

cos ( como na fala acima em relação aos idosos acamados). Para melhor lidarem

com as perdas, as pessoas idosas, de modo mais freqüente, utilizam-se de com­

parações com pessoas piores que si próprias ( Heckhausen e Schulz, 1993).

Em outras palavras, viver no asilo pode adquirir dois pontos de vista

antagônicos e passíveis de mudança em decorrência da condição física do idoso,

em que o estado de dependência total confere a perda de autonomia e uma vida a

mercê da vontade dos outros.

O estado físico do idoso, mesmo implicando em dependência, tempo­

rária ou permanente não justifica o isolamento social através de sua institucio­

nalização, e que uma vez compensada pela ajuda de algum membro da família,

não deveria ser impeditivo para a convivência familiar que é uma condição re­

levante para ao bem-estar da pessoa idosa:

...tem uma senhora que mora lá aonde eu morei, ela tá com 82 anos. Só não faz as coisas porque não tem condições, ela

110

levou uma queda e quebrou o braço. Mas, a filha faz tudo por ela em casa. Ela vive bem'parque tem a família ao lado dela. Fizeram os 80 anos dela, feito uma pompa!

7.3.2. Espaço de restrição:

A descrição e compreensão da dinâmica organizacional do asilo pelas

idosas foram ancoradas em prisão, casa de loucos e/ou dependentes e “casa dos

outros”. A ancoragem como dita em capítulo anterior, tem como objetivo trans­

formar o desconhecido, no caso, o asilo, em algo familiar.

A prisão é conhecida socialmente como uma instituição que abriga

pessoas maléficas à sociedade e que, portanto, devem ser segregadas num espa­

ço físico delimitado. Ao ancorar o asilo numa prisão, o sentido não estava rela­

cionado ao fato de serem elementos perigosos, mas marginalizados, sem função,

e rejeitados pelos familiares, devendo ser confinados, caracterizando um grupo

desnecessário socialmente.

Embora seja permitida a saída da instituição de idosos em condições e

autorizados para um contato cora o mundo externo, a vida asilar é tida como de­

sagradável e restritiva, quando coloca que:

...eu era uma pessoa livre. Quando eu saio lá fora no portão meu coração se abre. Quando eu estou entrando se fecha tudo. (Solange)

A ancoragem do asilo à prisão também se faz pela característica ex­

terna do prédio, com muros altos e controle de saída dos idosos no portão. Tam­

bém foi associado a isso, o comportamento da direção administrativa do asilo e

o rigor no cumprimento das regras internas, exigindo das idosas um comporta­

mento de submissão para serem consideradas disciplinadas, caso contrário, ame­

1U

aças de punição, como a expulsão da instituição, as deixam tolhidas de agirem

com maior liberdade.

... antes eu vivia num lugar sozinha, tinha a minha liberda­de. Eu não procuro as outras pessoas daqui, eu procuro me isolar o mais possível, (Sandra)

...me sinto que eu estou presa, arrodeada de muro, é mesmo que tá numa cadeia. Ninguém vê nada aqui, é uma solidão. (Solange)

... tem que ser conforme a casa manda. Aqui quem manda é elas. E se não obedecer elas ameaçam jogar no meio da rua. (Sandra)

Como afirma Louzã et al. (1986), nas instituições totais, o internado

tem sua vida constantemente controlada por um sistema minucioso e limitador,

perde portanto, a autonomia dos seus atos. É obrigado a pedir permissão para

executar as atividades que faria sozinho no mundo externo.

Ainda assim, conseguem a seu modo, driblai' alguns aspectos do con~

trole externo, realizando algumas atividades sem o conhecimento da direção ou

das outras idosas e que" as fazem se sentir mais autônomas e como Debert

(1999) chamou, criar uma “vida íntima’". São os recursos internos que funcio­

nam como válvula de escape para as pressões sofridas, como exemplificado

abaixo:

...nem tudo que a gente faz elas precisa saber, a gente dá o nosso jeitinho. Tem coisas que elas mandam que entra aqui e sai por ali. (Solange)

Por desconhecerem a instituição asilar a comparam ao asilo de loucos,

termo carregado de um sentido pejorativo e por isso, raramente pronunciado

pelas idosas, que se consideram lúcidas e independentes. Tratam, portanto, de

usar outros termos para denominar a instituição asilar como: abrigo, lar ou casa

de idosos.

112

Com o contato mais prolongado com os demais residentes, as idosas

constatam que seria para os mentalmente ou fisicamente comprometidos que o

regime institucional mostra-se mais apropriado, eiri face ao grau de isolamento

em que se encontram bem como o controle e vigilância exercidos, destituindo-as

de seu modo de ser para assumirem um estereótipo institucional.

... chegando o tempo de ir vai mesmo. Mas, eu não preciso não, porque eu ainda estou aprumada. (Silvaria)

... pra gente sem juízo certo é bom, mas pra gente como eu não. Pode ser que alguém diga que é bom pra não falar mal da casa, né? (Solange)

O asilo quando representado como "casa dos outros” orienta um com­

portamento de completa aceitação de um sistema rígido e impessoal, sem espa­

ço de reinvindicação, como internadas, de seus direitos, como se as idosas esti­

vessem vivendo "por favor”. Encontram-se, pois, num estado de negação de

seus costumes e, totalmente despossuídas de seus bens.

Você quer comparar morar na sua casa, viver a sua vida, fazer o que você quer e vir morar na casa dos outros? Nada é meu. (Solange)

De maneira abrangente podemos inferir que o contexto asilar comum

pode assumir significados singulares dependentes da história pessoal, da dispo­

nibilidade de suporte afetivo, da personalidade, da capacidade de enfrentamento

das situações estressantes, do nível social e do sistema de valores pessoais e so­

ciais predominantes do grupo analisado.

Os elementos constitutivos das representações sociais investigados

como as informações, imagens, opiniões, crenças, etc. dos sujeitos sociais em

questão, referentes ao asilo/asilamento dos idosos, faz parte, como denominou

113

Spink (1993), do pensamento constituído ou campo estruturado do meio, sendo

por ísso, um produto dos determinantes sociais.

7.4. O Cotidiano na Instituição Asilar:

A partir das práticas cotidianas no asilo e as representações que as

idosas fazem delas, podemos compreender aspectos importantes da experiência

do asilamento.

7,4.1. Ociosidade:

A ociosidade na rotina dos residentes é um flagelo configurado

pela monotonia dos dias vividos, sem novidades e atravessados praticamente de

forma igual

1.14

A inatividade influencia diretamente a ocorrência de pensamentos de­

pressivos entre os idosos e que assim, ficam sem motivação para modificai' a sua rotina. \

Beauvoir (1990) faz uma critica contundente sobre a falta de ocupação

dos idosos asilados, quando discorre que, por passarem o dia inteiro sem fazer

nada, a ocupação resume-se basicamente em alimentarem-se, com os cuidados

de higiene e em dormir. A ociosidade melancólica desemboca numa apatia que

compromete o que resta do equilíbrio físico e mental do internado. E salienta

que, para os idosos se defenderem de uma inércia em quase todos os sentidos

devastadora, seria necessário a prática cotidiana de atividades que trazem me­

lhoria para o conjunto de suas funções.

Vários estudos de orientação sociológica sugerem que a presença de

um maior número de identidades, por exemplo, familiar, ocupacional, relaciona-

se à melhor saúde mental do indivíduo (Kessler e Mc Rae, 1982). ■

A ociosidade que enche de tédio o cotidiano da idosa e a deixa prati-

camente quase todo o dia deitada pode ser compreendida nas falas abaixo:

Todo dia a gente merenda e se senta até a hora do almoço ou se deita. Ninguém faz nada aqui. Aí almoça, se deita e se levanta na hora da janta. Aí às vezes falta a paciência, eu acostumada a trabalhar... (Samara)

Não faço nada. Só estou fazendo essas bonecas porque não agüentei mais. Três meses sem fazer nada, absolutamente nada. Eu estou achando que está muito pesado, mas eu vou continuar. Se eu não puder aguentar a vista, a vista tá pior pra costurar. Antigamente eu costurava roupapra mim, pro meu marido, pros meus filhos. (Sandra)

Acordo cedo pra tomar café. Lavo um pouco de roupa e fico o dia todo na cama. Depois do almoço, cochilo um pouco, às vezes tomo café ou só vou jantar e vou dormir, só. (So-

11.5

Faço nada, eu não vou mentir, nada (com ênfase). Acho muito ruim. Minha filha, a única ocupação que me satisfa­ria era meu trabalho, outra coisa não. (Solange)

Fico na cama à força. Porque o que eu vou fazer? Conver­sar com quem? Falar com quem? Andar com quem? (So­lange)

A falta de ocupação, para outras idosas, nem sempre representa uma

situação angustiante e, mostram-se adaptada a essa realidade quando dizem:

Eu faço meu café naquela cozinha e bebo café ã vontade. Não sinto falta de novidade, meu dia tá bom. (Silvia)

Tudo a mesma coisa pra variar... Mas tá bom. (Santinha)

Mas não tem muito o que fazer não, se tivesse eram bom e o jeito que tem é ficar conformada. (Silvana)

Pela pouca oferta de lazer e, que quando existente não é apreciado por

todos os residentes, a ocupação do tempo ocioso com trabalhos domésticos pode

ser percebido como uma espécie de lazer, capaz de proporcionar prazer e satis­

fação na sua execução. Veem também na capacidade de executar as tarefas con­

sideradas importantes, a razão de um dia preenchido de forma útil. Desejar reali­

zar o que costumeiramente fizeram durante toda a vida, como operárias ou como

donas de casa, é uma forma de resgatarem sua identidade.

Eu não gosto de festas, O que faz um velho em festa? (Su- lamita)

Não gosto mais não de festa. Vou só pra ver os outros dan­çarem. (Solange)

Eu não participo da T.O . Eu prefiro fazer meus afazeres, que eu lavo, passo pra mim. Eu saio na rua pra resolver meus problemas, meu pagamento vem do Rio (Sônia).

116

Eu já me acostumei com a minha rotina. Não tem outra coi­sa pra fazer.... Pra gente ficar parada não dá. Picar pen­sando aí que os problemas crescem. (Sônia)

Eu sinto necessidade de me ocupar, mas em coisa útil. As coisas que tem aqui eu não gosto. Fazer bonequinha, cortar papel...essas coisas aí não é comigo não. Eu tenho é vonta­de de movimento, como uma máquina industrial que eu vejo ela correr, fazer uma limpeza que eu vejo tudo bonito, bri­lhando. Uma mulher da luta como eu, da luta braba, vou me ocupar em fazer boneca, cortar papel? Não gosto. Eu não aguento trabalhar por causa do meu pulmão. (Simone)

Todo dia é igual a todo dia. Minha ocupação é arrumar mi­nha cama, lavar meu caneco. Gosto de ficar na secretaria, atendo um telefone, dou recado, vou chamar um e outro. Faço assim alguma coisinha de útil. (Simone)

Aqui eu não posso fazer nada, o que eu fazia eu não poço fazer mais. Eu fazia era bolo, cocada, tapioca, tudo pra vender. (Sandra)

*Não faço nada não. Só faço andar aí por cima. Minha filha, nem uma linha eu posso botar na agulha. Eu ainda lavo mi­nhas roupinhas de manhã. Todo dia eu tenho que trocar as roupas, eu nunca gostei de sujeira. (Solange)

As atividades desenvolvidas na terapia ocupacional e as festas apesar

de distrair e ocupar uma pequena parcela das idosas, possuem um efeito tera­

pêutico reconhecido, como explicitado a seguir:

Depois que eu cheguei aqui, eu era muito triste, mas, eu passeava, elas levavam pra passeio, tinha muita festa aí, forró. Me botaram pra dançar mais elas, aí eu melhorei muito, fiquei boa! Eu faço minhas coisinhas, lavo minha roupa. (Silvana)

Eu participo da T.O e estou me recuperando mais por cau­sa da T.O. Dou todo dia. Faço desenho, alguns trabalhos, só não tô bem dos olhos. (Suely)

117

De outra forma, ir para a terapia ocupacíonal, pode significar não o

interesse real da idosa, mas uma forma de compromisso assumido perante as

pessoas responsáveis e, temendo contrariá-las é por isso, deixar de ser bem

quista e de receber a atenção conquistada, acaba frequentando sem propriamente

sentir benefício pela ocupação.

Eu vou toda semana na T.O porque tem uma estagiária lá e eu disse que ia e não gosto de faltar. Eu gosto de lá, mas se eu não ir não tem nada não. Fico lá no meu cantinho, sen­tada na cama. Fias todo dia eu faço fisioterapia. (Silvana)

Ficou evidenciado que, para terem alguma atividade recreativa como

as oferecidas pela terapia ocupacional, as idosas devem aceitar a programação

predeterminada, não havendo portanto, qualquer adaptação às suas condições de

saúde. Quando, porventura, possuem algum problema físico que as impedem de

se inserir no esquema, observamos a falta de flexibilidade dos profissionais da

instituição por não levarem em consideração as potencialidades ou as preferên­

cias individuais das idosas que, mesmo demonstrando interesse, ficam sem par-

ticipar.

Em outras palavras, a idosa ou aceita as atividades propostas ou fica

entediada com a ociosidade.

/I T.O. não dá pra mim não. Pra eu ir de cadeira de roda... Eu queria falar com a Dra. Júlia para fazer boneca, mas ela não veio aqui. (Sandra)

...vieram aqui não sei quantas vezes me buscar para tera­pia, mas eu não quis. Eu não tenho condições, a minha vista não dá. Eu não sei fazer nada num lugar com muita gente, eu fico toda cheia de dedos. (Sandra)

...não tenho interesse na T.O. Nem na missa eu vou. (Sofia)

(18

A T.O me faz mal porque eu tenho sinusile e o cheiro de tinta é forte. Eu faço a fisioterapia para a coluna. (Solange)

Eu nunca fui pra T.O. Já me convidaram foi muito, mas eu nunca fui não. Meu sentido é o mesmo, nem ligo pra festas, na solidão que eu vivo. (Silvia)

Louzã et al. (1.986) assinalaram que as atividades laborativas, nas ins­

tituições totais, oferecidas através da terapia ocupacionai, mesmo para fins re­

creativos, acontecem em horários estabelecidos e têm um significado diverso

daquele do mundo externo, pois não há gratificação nem dignificação com a

mesma. Acrescente-se, ainda, que a idosas não tomam parte sobre a decisão em

doar, vender ou ficar com os objetos para si próprias, frutos do seu trabalho.

Ignorar os planos das idosas ou dar pouca importância para os seus

desejos referentes à manutenção de papéis e ao senso de utilidade própria e para

os outros, não as permite compensar as perdas sentidas, além de lançá-las no

ostracismo abrindo mão de seus domínios. Atitude retrógrada dos profissionais

que não aproveitam as competências das idosas e as fazem abrir mão de alcãnçar

metas com alto valor protetor para uma velhice mais ajustada:

Logo quando eu cheguei aqui, eu tinha vontade de abrir uma aula, porque aqui tem muita gente que é analfabeta. Ainda falei com a doutora e ela disse que aqui não tinha flanelógrafo, uma sala. Mas tinha viu? Se tivesse boa von­tade dava. Ainda apareceram umas três ou quatro pessoas dizendo que queriam aprender, mas foi o tempo que eu ado- eci, foi um retrocesso e passei um ano em casa. Quando eu voltei, algumas daquelas que queriam estudar já tinham morrido, aí eu fui me des imaginando daquilo. (Santinha)

A dedicação à prática religiosa, individual ou coletiva, é considerada

uma ocupação que além de preencher o dia, traz conforto e sentem-se fortaleci­

das na fé e, portanto, em paz com Deus.

119

Embora o indivíduo necessite de inúmeros recursos para lidar com os

eventos da vida e com as demandas do dia-a-dia, Lazarus e Folkman (1984)

identificaram como categorias básicas pessoais, os recursos físicos como saúde e

energia; os psicológicos como as crenças 4 positivas (pessoais e existenciais) e

os de competência como habilidades sociais e de solução de problemas. Os re­

cursos materiais e o suporte social e familiar são também importantes, mas seri­

am recursos considerados ambientais.

As crenças existenciais, espirituais ou religiosas parece ser um dos

poucos recursos pessoais que tendem a aumentar na velhice (Goldstein e Neri,

1993).

Diversas teorias psicossociais tendem a apoiar a idéia de que as cren­

ças existenciais ou religiosas podem diminuir o estresse percebido.

Outro aspecto importante seria a interação social oferecida pela religi­

ão, quando existe um interesse comum, por exemplo:

ris duas horas da tarde eu vou rezar o terço com mais cin­co idosas da outra vila. Eu acho muito bom. (Santinha)

De modo comum, o atendimento da necessidade religiosa é realizado

de forma individualizada, onde a idosa busca por meios próprios manter sua

proximidade com Deus, haja vista a irregularidade e deficiência desse tipo de

assistência oferecida pela instituição, principalmente para as mais religiosas.

Eu leio um trecho do Evangelho, eu acho que isso me pre­enche mais a hora passa mais rápido. (Sônia)

Nenhum dia de felicidade eu tenho, porque eu vivo contra­riada. Eu gosto quando os evangélicos vêm. (Suely)

Crenças são importantes mediadores cognitivos e que podem ser considerados como noções sobre a realidade, formadas individualmente ou transmitidas pela cultura que organizam as percepções e avaliações das situações, especial mente em circunstâncias ambíguas. (Goldstein, 1995. p. .148)

120

Só Deus tira a tristeza porque sabe o que a gente sente.(Sulamita)

Comprei uma televisão e com "a rede vida, tem dia que eu assisto três missas e ainda rezo o terço. (Santinha)Tantas vezes a gente tá num ambiente grande, amplo e não sente nada, tá vazio de tudo. Eu só me sinto feliz na igreja. Sempre tive fé, graças a Deus. (Sandra)

Unia maneira de se sentirem mais conformadas é através da religião.

O asilo não oferece missas ou cultos de forma regular ou sistemática, que ve­

nham satisfazer as necessidades espirituais das idosas:

...o padre só vem uma vez por mês. A gente come três a quatro vezes no dia e se alimentar da eucaristia só uma vez por mês! (Santinha)

... aos domingos tinha só a consagração e dar comunhão, não era missa. A ministra da eucaristia nao gostou porque eu disse que aqui tinha muita deficiência na vida espiritual. (Santinha)

A fé em Deus alimenta a certeza de não estarem sozinhas, nem de­

samparadas. Podem nao ter nada, mas têm a Deus que é tudo.

Portanto, adaptadas ou não ao cotidiano asilar, as idosas comportam-

se de forma passiva, sem desenvolverem uma ação direta para alterar sua rotina

de modo a atender às necessidades percebidas e seus desejos.

Essa forma de adaptação ao seu novo mundo é denominada de con­

trole secundário e de acordo com a teoria sobre o controle desenvolvida por

Rothbaum et al. (1982), o controle secundário se assemelha com a desistência de

controle, com o desamparo e outros comportamentos que expressam incontrola-

bilidade. O controle primário envolve tentativas de alterar o ambiente e, o idoso

asilado devido aos obstáculos e desafios encontrados permite-se ser controlado e

não recorrer a outras estratégias de resistência. A adaptação se faz sobretudo

121

através do controle secundário ao longo de sua permanência na instituição,

quando sentem sua impotência na condução de qualquer mudança para uma vida

mais satisfatória: -

... eu não posso modificar só nada.., (Sofia)

7.4.2. Relacionamentos conflituosos:

A dificuldade de um relacionamento satisfatório entre os residentes,

toma a vida no asilo decepcionante. Apesar do encontro dos destinos de uma

velhice institucionalizada e sentirem, de forma semelhante, as mesmas carências

e necessidades, a intimidade, confiança e amizade entre eles são praticamente

inatingíveis, quando assim se expressam:

...o que mais me entristece aqui é a convivência. São rebel­de. Nunca se une. Se aqui tivesse noção, espírito d& carida­de era bom. A gente no meio dos maus perde a educação. (SuNy)

...fosse tudo de um jeito só, quando fosse fazer uma coisa aí combinar com elas, fulano será que dá certo? .Mas, vem logo os gritos. (Samara)

Poucos idosos se dão bem, muito poucos. São muitas natu­rezas juntas, tem muita coisa que desigualha. Tem que ter gente pra mandar de todo jeito, seja certo ou errado. (Sô­nia)

...não tem ninguém para bater um papo, um amigo. Não te­nho confiança aqui em ninguém.... as coisas que eu tenho dentro de mim eu não converso com ninguém aqui. Não adianta. (Silvia)

...não tem ninguém que a gente confie, porque se eu for contar alguma coisa é uma carta para eles botarem a gente no meio da rua. Eu não confio nem na roupa que eu estou

122

vestida. Quando eu vou pra minha filha, sei lá se não tem um bicho que pode me ferroar, hein? (Solange)

As idosas consideram um risco para constantes aborrecimentos, ter

como amiga alguma companheira da instituição. Para elas, amigo é com quem

se possa desabafar, ter afinidade e obter compreensão e ajuda quando necessári­

as. Na certeza de um fracasso nas relações de amizade no asilo, e, a falta de inte­

resse em buscar relacionamentos potencialmente positivos entre eles, as fazem

se relacionar de forma superficial, tendendo para o isolamento das idosas, uma

espécie de fechamento em seu próprio mundo:

...não sou de ter amizade não. O povo daqui são falso que ó o diabo! (Silvia)

...eu não me entroso de jeito nenhum. Eu fico calada, lendo a Bíblia, fazendo palavras cruzadas. Quando eu vejo as coi­sas que eu não gosto, eu aguento, não digo nada. Meus costumes é diferente, eu gosto de fechar a porta do quarto cedo, apagar as luzes cedo e ficar sossegada. (Selma)

...não tem ninguém para bater um papo, um amigo. Não'te~ nho confiança aqui em ninguém. As coisas que eu tenho dentro de mim, eu não converso com ninguém aqui. Não adianta. (Silvia)

...sinto muito só, porque não tem com quem dialogar, não tem. A solidão é dia e noite. Perdi o gosto de tudo. (Sofia)

... solidão a gente sempre sente, muita. (Sandra)

...eu não procuro as outras pessoas daqui, eu procuro me isolar o mais possível. (Sandra)

A qualidade da interação entre os indivíduos implica numa melhor

qualidade de vida, com maior satisfação. As idosas reconhecem o valor e a ne­

cessidade de uma amizade, e, quando encontram uma amiga no asilo, é uma

oportunidade unica e rara, comparável a um familiar muito querido:

123

Eu só tive uma amiga, a dona Caída, fiquei muito triste quando ela faleceu há quase dois anos. Só era ela, mais ne­nhuma. (Sônia)

...amigo para desabafar aqui dentro não tem não. Eu não confio, porque a gente vê cara e não vê coração, Eu só tive uma amiga de confiar mesmo. Foi amiga, uma mãe, uma irmã. Mas, nosso Senhor já levou. (Selma)

Aqui tem as companheiras, Eu tive só uma amiga, mas Nos­so Senhor já levou. Amiga precisa ter mais ou menos os mesmos conhecimentos da gente, ser de confiança. E muito complicado o relacionamento, é preciso saber viver. Eu não me importo com a vida de ninguém, cada um vive a sua vida. (Santinha)

Carstensen desenvolveu em 1991 a teoria denominada da seletividade

socioemocional, e, enfatiza que a força motriz da busca de contatos na velhice

são seus benefícios emocionais e afetivos, enquanto os adultos o fazem em bus-

ca de informações5. O idoso torna-se mais seletivo quanto aos tipos de contato

que deseja manter e quais quer evitar, sendo a emoção o fator dominante nas

interações sociais na velfíice (Carstensen, 1992).

5 A aquisição de informações inclui não somente a coleta de fatos objetivos, mas também informações auto- relevantes como atitudes e normas sociais, (Carstensen, 1992)

A teoria da seletividade socioemocional é uma teoria do comporta­

mento social do curso de vida, e, defende que a interação social é motivada tanto

por necessidades fundamentais, tais como fome e sexo, como pelas modulações

sociais dos estados afetivos e psicológicos. Além de servir a funções básicas de

sobrevivência, a interação social permite a aquisição de informações, o desen­

volvimento e a manutenção do auto-conceito e a regulação dos estados emocio­

nais (Carstensen, 1995).

O insucesso de se buscar uma nova sociabilidade entre os residentes do asilo, traz a possibilidade de contatos mais bem sucedidos com pessoas de outras fai­xas etárias que também estão inseridas no cotidiano asilar:

124

...não é amizade pra valer, é só uns conhecidos, Quando eu venho aqui ou vou ali, tem unia pessoa que gosta muito de mim. Ela é babá de uma pessoa que já completou cento e tantos anos. (Silvana) \

A amizade dos familiares é considerada insubstituível e influencia po­

sitivamente o estado emocional das idosas que se sentem distanciadas da famí­

lia, por estarem institucionalizadas. Esperam, na visita dos familiares, comu-

mente não disponíveis quanto o desejado por elas, a certeza de ainda possuírem

vínculo familiar. O contato mais frequente dos familiares contribui para a autoa-

firmação da idosa como membro da família.

...o relacionamento é difícil porque tem muitas pessoas ig­norantes. Não é com todo mundo que a gente pode falar. Aqui é só aquela conversinha do dia-a-dia. Pra contar de verdade é só com pessoa da minha família. (Sulamila)

Quando a família vem visitar é bom, né? (Sulamila)

...meus sobrinhos sempre viam. Mas hoje, as pessoas preo- cupadfis com o carro, com uma coisa, com outra e quase não vem. Só quando eu ligopra vir me buscar. (Silvana)

...minha sobrinha custa de vir aqui e eu me sinto só. Tenho um desgosto, mas passa. Sabe do que eu me lembro?

Quando eu morrer, não vou só? Tudo se acaba, né? ve­zes até eu acho bom ficar assim isolada proque quando chegar no fim, já não tem tanto o que sentir, já estou acos­tumada (Santinha)

Na velhice, as pessoas interagem bem menos com os outros do que na

juventude. O contato familiar parece tomar-se mais importante (Cicirelli, 1989),

Carstensen (1992) explica que uma das razões que dificulta as intera­

ções dos idosos com parceiros não familiares é fazerem parte de um grupo es­

tigmatizado e, as interações trazem risco ao seu autoconceito e auto-estima. En­

tão, as interações familiares tomam-se mais importantes e as interações com no-

.125

vos parceiros tornam-se cada vez mais imprevisíveis e ameaçadoras ao autocon-

ceito.

As mudanças no comportamento social relacionadas ao avanço da

idade provêm de uma complexa rede de interações representando as percepções

passadas, presentes e futuras, bem como as oportunidades disponíveis no ambi­

ente para satisfazer as necessidades humanas básicas (Carstensen, 1992).

Um ponto crucial da teoria da seletividade socioemocional é que a re­

dução da interação social não é imposta aos idosos, mas que eles próprios de­

sempenham um papel ativo na redução do ambiente social. Representa uma

ruptura com a visão radical de que a velhice é um constante processo de deteri­

oração, caracterizado por afastamento social e enfraquecimento nas emoções.

A análise realizada por Schultz (1985) conduzida a partir de dados da

sociologia, biologia e psicologia sugeriu que as pessoas idosas experienciam

emoção mais ou menos com a mesma intensidade do que as mais jovens. Mas,

as pessoas idosas se deparam mais frequentemente com emoções negativas, por

causa dos eventos de vida negativos associados com a velhice como o luto, mo-

rar sozinhas, ausência de um relacionamento mais íntimo e de confiança e baixo

poder aquisitivo.

A visita de pessoas estranhas é vista positivamente pelas idosas e pa­

rece preencher a solidão e a desatenção que são vítimas no seu cotidiano. Tra­

zem presentes que as deixam alegres:

...tem muita visita no dia de Domingo. Gosto muito da visi­ta. zts' vezes trazem uma lembrancinha pra gente, um sabo­nete, uma pasta, um vestidinho... (Silvaria)

Ocorrem no ambiente asilar, brigas, desentendimentos e agressões fí­

sicas, demonstrando a impossibilidade de uma vida coletiva aceitável:

126

...brigam muito. Aqui já teve dois assassinatos. E muita di­ferença de educação, de sentimento. Mas tem uns que se dão com os outros, jogam, principalmente os homens. Eu acho que os homens têm melhòr relacionamento do que as mulheres. (Santinha)

As vezes querem se matar, brigam e tudo. Mas, não é todas, sabe? Tem quarto que a gente não vê zoada. Eu fico horas e horas ali no banco assentada e num vejo discussão. (Sama- ra)

Na minha mente eu pensava que aqui era uma casa de re­pouso. Que a pessoa vivesse tranquila pelo menos na mente. (Sofia)

As brigas acontecem mais frequentemente na fase de adaptação da

idosa ao asilo. A incompatibilidade de opiniões resulta em agressões físicas

graves e, revidar significa assegurar respeito e livrar-se dos insultos injustos aos

quais estão expostas:

... eu briguei muito quando cheguei aqui, porque elas me anarquisavam, queriam me açoitar. Eu peguei e ciei uma pisa, Agora, não dizem nem que eu sou feia. Eu não gosto de maltratar as pessoas. (Suely)

...às vezes tem confusão. Só não tem comigo porque eu não dou valor. As vezes brigam, levam queixas pras doutoras. Não, essa cabrocha que aqui está só esteve lá para fazer uma queixa, que foi logo que eu cheguei aqui. (Silvana)

... um dia aí uma veia bateu o pau aqui que ficou rouxinho e eu peguei um cabo de vassoura e iaque i na cabeça dela, chega o sangue escorreu e nunca mais ela fez isso comigo. A doutora Júlia me chamou lá fora e aí foi ela sangrando e falou pra ela que ela primeiro bateu em mim e que não po­dia mais acontecer isso de novo. (Solange)

...aqui só falta se matarem. Os que estão melhor mata os mais doente. (Suely)

127

A atitude assumida pelas idosas para , evitar desentendimentos e

agressões foi de um comportamento distanciado e indiferente entre elas, e, para

poder contar com a ajuda de algumas companheiras,’em situações de muita ne­

cessidade, devem evitar, na maneira do possível, qualquer forma de atrito:

Eu nunca teimei com ninguém. Pocle ser de noite, pode ser de dia, pode ser a hora que for, todo mundo me respeita, tanto mulher como homem. No meu quarto sao quatro, mas não tem uma palavra boa com a outra. (Samara)

...flquei mais madura, mais paciente. Aprendendo a viver com o idoso. Apesar de ter vivido com muita gente lá em S. Paulo, mas eu sempre tive o meu canto reservado, minha sobrinha. (Simone)

...nem sou carne nem sou peixe. Nem muito amiga nem muito afastada. Eu tenho amizade há muito tempo aqui e não tem nenhum que tenha queixa de mim. (Simone)

Dá pra ser feliz se a pessoa souber viver, como eu sei viver. Eu não encrenco com ninguém, não falo de ningu&m, dá para viver a minha vida em paz. (Silvana)

.xr...a gente não é propriamente só, né? Porque de qualquer maneira a gente pode recorrer ao vizinho pra ir chamar a enfermeira se tiver passando mal. Esse favor qualquer um pode fazer. (Sônia)

...ela faz como amiga. Quando eu termino de comer, eu como aqui, ela pega o prato bota aí, e, quando eu vou lavar, ela reclama. (Sandra)

O autocontrole é exigência para uma convivência menos conturbada,

sem maiores problemas, seja no ambiente familiar ou institucional. Considera-se

como mais natural tolerar os comportamentos indesejáveis dos familiares do que

os dos residentes ou dos funcionários do asilo que confere perda da individuali­

dade e criticidade da interna.

128

... o meu genro não é muito bom, com toda a ruindade dele, quando a minha filha vier, eu vou me embora. Eu quero agüentar deles e não quero aguentar aqui dentro. (Samara)

Abundam entre as residentes as fofocas que não ficam simplesmente

entre elas, chegando até a administração e, sentem-se mal compreendidas, injus­

tiçadas, humilhadas, uma vez que o fato não é apurado, a verdade raramente

vem à tona e há proteção de algumas idosas pela direção do asilo:

... o ambiente não agrada, né? Falta muita coisa para me­lhorar a convivência num abrigo desse. Falta ordem que quase não existe, não tem respeito uns com os outros e isso é uma coisa que desagrada muito. As informações passadas são muito contrárias, As pessoas que querem manter ordem são mal vistas, até. pela própria direção e não dá. E muito conflito. Se tivesse mais compreensão da administração quando uma pessoa vai falar uma coisa, quem chega pri­meiro e diz, acreditam só naquilo mesmo, fica escrito. (Sô­nia)

Se alguém levar algum comentário para a administração, a pessoa fica marcada. Boca calada não entra moscai. (Su- lamita)

...sempre quando uma pessoa me faz uma ingratidão, como se encontra muito aqui, eu digo assim: Até Jesus Cristo sofreu ingratidão dos outros, assim eu não sou melhor do que Ele, né? (Santinha)

Aqui dentro tem uma idosa que a gente não pode nem falar, porque ela só toma pra cima dela. A doutora só vai pro lado dela. Sabe por que? Porque ela deixa o dinheiro aqui dentro, né? Ela vive fofocando. Aí a doutora chama a aten­ção da gente. Eu tenho horror quando a pessoa me chama atenção. Quando ela vai contar a história a culpa é de quem não merece e quem fofoca é protegida. (Solange)

O relacionamento das idosas com os funcionários do asilo está atrela­

do estritamente ao cumprimento das obrigações desses últimos, não havendo

129

amizade, proximidade, nem confiança nos mesmos por parte das idosas. Seus

pertences são roubados e não podem acusá-los, ficam acuadas temendo puni­

ções ou serem marcadas quando reclamam de algo que as desagradam:

,..e/ex assumem o dever do trabalho deles. Tem alguns ido­sos que eles brincam, passam a mão na cabeça. (Simone)

...uma funcionária que tem aqui é muito dedicada e faz tudo tudo por esses velhos. Quando um sai, ela vai atrás, e cha­ma, aquela agonia medonha. Ela tem um carinho medonho com eles. (Sandra)

Aqui tem muito ladrão. As pessoas dão as coisas a gente, mas roubam tudo. Um sabonete que dão as pessoas que trabalham aqui roubam. Não tem amigo de verdade, nem os funcionários são amigo porque rouba uns dos outros. (Sue- fy)

Quando a gente ganha um presente do pessoal que vem vi­sitar, elas (funcionárias) roubam, quando a gente vai olhar, não tem mais. (Solange)

*Elas (funcionárias) querem que a gente aguente os outros bater na gente. Mas, eu não aguento. (Solange)

Pela observação e pela colocação das idosas, um contato mais próxi­

mo dos funcionários ocorre nos casos de dependência do internado. A depen­

dência como facilitadora das relações que, por serem baseadas no paternalismo social6 injustificado, não atendem as expectativas e necessidades de apoio das

idosas asiladas.

6 Paternalismo social justifica o fazer tudo no lugar do idoso e negar sua liberdade, autonomia e capacidade de escolha, A dependência física é frequentemente confundida com dependência para a tomada de decisão (Baltes e Silvcrberg in Ncri ,1995),

A falta de comunicação entre a administração e as internas é bastante

visível, havendo uma imposição de cima para baixo, mesmo para as situações

de interesse das idosas:

130

...parece que vão botar outra idosa aqui no quarto. Elas deixaram esse colchão aí. Agora é que vai ficar apertado / Eu nem sei quem vem. (Samara)

Louzã et al (1986) na revisão sobre as instituições totais, afirmam que

para manter a sua eficácia, a equipe afasta-se afetivamente dos internados, evi­

tando a criação de laços de amizade, o que leva a um bloqueio emocional.

A eficiência da instituição é quem comanda a ação e não a meta de se

atingir o bem-estar dos internados.

O distanciamento social e de comunicação entre os dirigentes e os in­

ternados são agravados pela diferença de idade existente entre eles. Nos idosos

são projetados os preconceitos sociais e as queixas e os anseios dos idosos não

são levados a sério.

Portanto, tomando como base os relacionamentos praticados dentro da

instituição asilar revelando a precariedade da qualidade afetiva em todos eles, ou

seja, os idosos entre si, os idosos e os funcionários e os idosos e seus familia­

res/amigos, concluímos haver uma enorme dificuldade em sentirem-se* apoia­

das socialmente.

Sentem-se desamparadas e sozinhas, não podendo contar com nin­

guém, seja com as demais idosas ou com os funcionários da instituição.

...a gente não pode ser acatada numa palavra que eu acho que eu estou precisando recorrer a alguém e não existe esse alguém. (Sônia)

Para a voz da gente não tem ouvidos aqui dentro. (Sônia)

Condição de ser feliz não tem, mas de viver em paz desde que seja bem tratada. (Sônia)

A visita dos familiares, é muito esperada e é a ocorrência que mais

alegria traz para a idosa asilada, como também decepções e tristezas são experi-

enciadas quando não atendidas suas expectativas:

131

... eu sinto muita saudade do meu pessoal. Todo dia eu me lembro deles. Ainda hoje eu estava esperando um afilhado, já fiz duas ligações para ele. Ficou de vir semana passada, não veio, ficou de vir no fim ‘'dessa e até agora não veio. (Silvana)

... eu tenho quatro irmãos. Uma irmã veio me visitar a um ano atrás, nunca mais no mundo pisaram aqui. Eu me sinto triste, abandonada por minha família, só não de Deus e minha filha que não me abandona. (Solange)

A literatura sobre o assunto enfatiza que um ajustamento bem sucedi­

do na velhice depende da existência de redes de relações sociais que permitam

apoio e possibilitem ás pessoas fazer confidências. Portanto, laços íntimos e

afetivos, mais do que amplas redes de relações sociais, servem como sistema

protetor em momentos difíceis da vida, ajudando no enfrentamento de eventos

negativos bem como reafirmando o valor pessoal.

Importante distinguir suporte social de interação social. No asilo, os

relacionamentos são, na sua maioria, muito estressantes. Isto significa dizer que

a interação social apesar de existente, não assume a característica de apoio ou7 *suporte social na instituição asilar.

Portanto, como coloca Warner (1998), a interação social deve ser ava­

liada sob diferentes aspectos como o tamanho da rede social que se refere ao

número de pessoas (familiares e amigos) próximas ao indivíduo, que no caso do

idoso tende a estar mais reduzida; ao suporte social que se refere a ajuda emoci­

onal ou instrumental recebida e a participação social.

No asilo, as modalidades da função social, acima citadas, encontram-

se em processo de desintegração, conduzindo ao estado de isolamento e depres­

são, com impacto negativo sobre a qualidade de vida da idosa.

' Suporte social implica a disponibilidade de pessoas com as quais alguém pode contar, que a faz scntir-se im portante, valorizada c amada (Sarason (1983).

132

7.4.3, Maus tratos

Os tratamentos recebidos foram divididos em duas categorias repre­

sentadas pela assistência médica e de enfermagem, em casos mais específicos de

doença, e do pessoal de apoio que se refere ao tratamento recebido rotineira­

mente pelos internados.

Há uma clara distinção entre os dependentes e os não dependentes

face ao tratamento recebido. Os dependentes têm sua vida excessivamente con­

trolada pelo pessoal de apoio que assume que o interesse do cliente é o interesse

do cuidador (Glasser, 1981).

A situação de dependência que é confundida frequentemente, na ins­

tituição asilar, com perda da liberdade de escolha e autonomia, é a situação mais

temida pelas idosas que conservam sua capacidade para o auto-cuidado e estão

mentalmente orientadas e capacitadas, e, portanto, como elas mesmas chamam,

para se defenderem das agressões físicas e psicológicas. Reconhecem que o ido­

so em situação de dependência total está exposto aos maus tratos, pode deixar de

ter atendidas até suas necessidades mais básicas como de alimentação e higiene:

Quando eu cheguei aqui, eu ia nas enfermarias e depois deixei de ir. A gente se toca, eu penso no meu amanha como eles. Vivem porque Deus quer. Não é viver minha filha, é vegetar. (Sofia)

Tenho medo de sofrer antes de morrer, ficar acamada, dan­do trabalho e recebendo grosseria... (Selma)

Ah! Minha filha você nem queira saber como é. E um sofri­mento aquelas pobrezinhas acamadas e amarradas, tenho uma pena. Imagino em mim quando eu ficar velha. Mas, eu pedi a Nosso Senhor que eu não vou morrer aqui dentro. (Solange)

Ai meu Jesus do céu. Eu tô velha da dar água. Essas velhi­nhas me pedindo água. Passam sede e fome. (Solange)

i:b

...lá em cima linha um homem amarrado os pés, a cintura e os braços. Ele chamava afillia para dar uns carocinhos de

# feijão porque estava morto de fome. Não davam nem água enem comida lá em cima, passa bi fome. (Suely)

...maltrata é muito. Um dia o seu João que morava ali vizi­nho ao meu quarto caiu da cadeira aí passou um que luta aí com os veim e chutou ele com o pé. Aí eu chamei um rapaz que ia passando e que mora aí nesse quarto, um bem forte e que gosta de andar assim com o pescoço torto, e aí ele aju­dou a botar na cama o velhinho que ficou todo se tremendo. (Samara)

Uma das razões para o tratamento ineficiente é o excessivo número de

idosos que a instituição abriga e os parcos recursos financeiros. As idosas acre­

ditam que nao há como melhorar o tratamento dispensado aos idosos. Não se

instiga a visão crítica das idosas a fim de despertar o questionamento sobre a

carência e despreparo dos técnicos que trabalham com o idoso, condições de

trabalho, instalações físicas, etc., indispensáveis para a obtenção de um trata-

mento condigno que atenda satisfatoriamente as necessidades de todos* um di­

reito que lhes deveria sepassegurado:

...são bem tratados. Eles não judeiam, tratam na hora, não tratam melhor porque não tem nada. (Suely)

...abrigo que acumula muita gente assim, nunca pode dar um tratamento adequando. (Simone)

Os funcionários fazem o que pode, né? Eles não podem tratar melhor porque é muita gente. Mas tem que dar conta e eles dão. (Sofia)

Dentre aqueles idosos que requerem algum tipo de ajuda dos funcio­

nários no seu dia-a-dia, pode-se contar com a “boa vontade” destes últimos

quando da existência de gratificação financeira por parte dos próprios idosos ou

de seus familiares na dispensaçao dos cuidados diários. O serviço que deveria

134

ser prestado indistintamente aos internados, assume um caráter diferenciado de

acordo com a retribuição financeira recebida, onde os considerados mais pobres

sentem-se ignorados e impossibilitados de receberem um tratamento mais aten­

cioso e afável:

Não tem uma pessoa que me chame para ir para a sala cia doutora Helena e sabem que eu sou doente. E mais bem tratado quem deixa o dinheiro dentro, mas comem a mesma comida. (Solange)

...agora, agradando elas (funcionárias), tendo um dinhei- rim, elas têm mais cuidado. (Samara)

...porque aqui quando a família tem dinheiro, elas ainda pajeiam... (Sofia)

A valorização do indivíduo pautada no seu poder aquisitivo é social­

mente relevante para o embasamento das relações “por interesse’" e que ao pobre

é destinada a ação de apenas servir e nunca ser servido,

No ambiente asilar, o comportamento apático e passivo do i$oso re­

presenta a reprodução de um modelo social restritivo ao seu desenvolvimento e,

cuja manutenção facilita a integração dos residentes ao sistema de assistência

global da instituição.

O contato físico está diretamente atrelado aos cuidados de higieniza-

çao dos idosos dependentes. Não existe o toque carinhoso de aproximação e

demonstração de interesse por parte dos funcionários em atender, dentro das

possibilidades, aos desejos dos internados.

O fato dos funcionários conseguirem manter os idosos acamados lim­

pos, pode significar o bom cumprimento do dever, sem estarem atentos para a

qualidade da interação social entre o idoso e o atendente. Para as idosas, devido

a sobrecarga de trabalho, o atendimento prestado não podería ser melhorado

com as condições existentes:

135

Eles tratam bem, porque lutar com essa ruma de velho, até banhar velho sujo cie cocô... eu me cuido só. (Silvia)

- Eu acho até que são bem tratados. Minha filha não é mole,você limpa um aqui e volta e já'tá sujo de novo. São muitos idosos para elas darem de conta, são limpinhos. (Selma)

Tratam bem, agora... eu nem posso dizer, a gente nem pode dizer, é, ficam um pouco abandonados, viu? Coitados! Os pobrezinhos ficam ali, às vezes chama, chama. Também fi­cam só duas pra ronda da noite. Fica duas moças e um ra­paz, porque às vezes cai uma pessoa e precisa de uma pes­soa com mais força. Mas todo dia é um trabalhão daqueles. Todo dia eles,tomam banho e trocam a roupa de cama. Olhe que aqui são trezentas e tantas pessoas! (Santinha)

Os idosos percebem que qualquer funcionário tem poder e controle

sobre eles e, em algumas circunstâncias, entram em desentendimentos. Um mí­

nimo gesto de atenção, é suficiente para ser considerado como um bom funcio­

nário, diferente dos demais que mal se aproximam do idoso.

Um dia desse eu não quis almoçar, que era peixe e aí uma mullTer que trabalha aqui me disse gritando: _ Se levanta e foi logo alevantando o colchão para trocar a cama... (Sa­mara)

...tem uma funcionária que está me marcando e uma vez eu me desentendí com ela. E porque eu sei me defender e pra quem não sabe e tem que aguentar calado? (Simone)

Olha, tem parte que trata bem, mas esse pessoal grosso não trata bem ninguém. (Simone)

...eles assumem o dever do trabalho deles. Tem alguns que brincam, passam a mão na cabeça dos velhinhos... (Simone)

Ainda sobre o rigor dos horários a serem cumpridos pela equipe de

apoio na execução das tarefas, desrespeita-se o idoso, considera-o como alguém

que não tem nem deve ter vontade própria e todos sao tratados da mesma manei­

136

ra. Deve acatar tudo que lhe é imposto, podendo adquirir a característica de ob­

jetos inanimados (Louzã et al.,1986).

A falta de respeito para com a idosa, pode ser percebida quando des­

consideram o pudor com o corpo e outros sentimentos que julgam não mais

existir na pessoa idosa, que passa a ser um simples objeto de cuidado e nem

sempre se submete aos atos e tratamentos adotados na instituição:

... botava era homem pra dar banho em mim quando eu es­tava com a perna engessada. Eu mandava eles irem embora e eu tomava banho era de calça. (Samara)

Em defesa da eficiência institucional, muitas vezes são sacrificados os

padrões humanitários de atendimento:

...elas banhavam os idosos de madrugada, tudim. Às vezes eu tava durmindo um soninho tão bom na cama, quando elas chegavam e arrastavam as camas, al eu acordava e não dormia mais. (Silvana)

...condição de ser feliz não tem, mas de viver em paz desde que seja bem tratada. (Sônia)

O tratamento adequado é um pré-requesito para que a idosa se consi­

dere confortável no seu ambiente, onde os frequentes desentendimentos e as im­

posições desnecessárias que limitam a liberdade e o bem-estar da idosa institu­

cionalizada, redundam numa forma de violência psíquica gerando um estado de

conflito interno, expressado como falta de paz.

7.4.4. Atendimento deficiente à saúde

A assistência médica não é capaz de prevenir ou detectar precoce­

137

mente as complicações do estado de saúde dos residentes. O elevado número de

internados, na visão das idosas, é uma importante razão que inviabiliza um con­

trole mais preciso de suas condições físicas e, podetresultar num estado mórbido

adquirido com a sua institucionalização. Há a percepção que poderíam estar

melhor de saúde se atendidas no hospital, denotando um desleixo da instituição

na resolutividade dos problemas de saúde apresentados:

...se alguém adoecer e ficar na cama e ninguém avisar, as doutoras não tomam conhecimento. (Simone)

...os doentes deveríam ir para o hospital, como era antiga­mente. Ele tinha um tratamento melhor, mas em abrigo ele não pode ter. (Sônia)

... quando uma pessoa lá doente, tem muita coisa pra ver, pra chegar na hora e socorrer e não chega... (Sônia)

Tenho um pouco de falta de ar e fraqueza nas pernas. Saúde aqui é zero, eu vivo doente. Eu não sei como é que gu fiquei desse jeito, porque antes de eu vir pra cá eu não sentia nada. Cheguei aqui normal, boazinha. Quem me viu e quem me vê. Eu estou decadente, arriada. (Sofia)

Na fala acima, fica bastante claro que o estado decadente de saúde é

resultado de uma vida institucionalizada precária em vários aspectos e que age

de forma acelerada para a perda da energia vital da internada.Pode-se obter alguma melhora temporária do estado de saúde da idosa

através de intervenções consideradas eficazes, geralmente em situações de so­

corro inadiáveis, e pelo fornecimento de medicações, que embora não abranja

todos os internados, é um ponto positivo considerado na assistência:

...quando eu tô doente mesmo, muito cansada, ela (a en­fermeira) me leva lá para a enfermaria, passo quatro ou cinco dias lá. Elas têm muito cuidado comigo, me botam no soro, tomo sangue. (Samara)

B8

...a médica trata multo bem, é muito dedicada a eles. (San­dra)

AAs' vezes ele dão um remediozi^no. Eu recebo um às oito e outro à noite, E porque é pra muita gente. A doutora que consulta é só uma e é preciso atender muita gente. (Silvana)

... remédiopra mim não tem. (Suely)

Existe apenas uma médica e uma enfermeira na instituição dificultan­

do o acompanhamento do estado de saúde do elevado número de internados e

que, aliada à falta de suprimentos necessários para um suporte assistencial de

saúde mais eficiente (alimentação, tratamento medicamentoso, diagnósticos pre­

cisos, detecção precoce dos estados mórbidos, exames laboratoriais de rotina,

reabilitação). Associado a isso, um sistema de referência dentro do sistema úni­

co de saúde pouco eficiente, onde inúmeras vezes o acesso ao hospital não é

obtido e, então, o asilo, mesmo não sendo sua finalidade, assume o idoso que

deveria estar hospitalizado, de maneira inapropriada, resultando muitas vezes

em êxito letal para esses idosos.

7.4.5. Má alimentação

A má qualidade da alimentação é enfaticamente denunciada, muitas

vezes tendo que comer o que é oferecido para não passar fome:

... a comida, minha filha, os cachorros gritam pra não co­mer. Tem dias até que vai, mas tem outros que eu rebolo to- dinha. (Solange)

...a refeição é multo ruim. Tudo é coisa que vem de fora, esmola, carne, galinha. A carne passada na geladeira não pega nem gosto. (Suely)

139

A alimentação nao é boa. Mas, dá para ir escapando a vida, tem que comer. (Silvana)

As más condições econômicas da instituirão é um elemento impediti­

vo importante para as deficiências apontadas, sobretudo a de alimentação.

...hoje é quarta-feira dia de galinha e não teve. Foi uns osso velho que tinha guardado na geladeira. E muito pobre esse abrigo. Abrigo que acumula muita gente assim, nunca pode dar um tratamento adequado. (Sônia)

Embora existam doações de alimentos para a instituição, nao chegam

à mesa dos residentes, pois nao há melhoria na qualidade das refeições ofereci­

das. As idosas colocam que o desvio das doações por parte dos próprios funcio­

nários do asilo pode denunciar, sob inn aspecto particular, que não se importam

sobre o tipo de alimento destinado aos idosos nem tão pouco seu estado de con­

servação, O que é de melhor qualidade não deve ser desfrutado pelos idosos, os

verdadeiros destinatários das doações. Em outras palavras, é simplesmente sufi­

ciente que nao passem fome , por não ter o que comer.

...tem chegado tanta doação de coisa boa, mas a gente nao vê nem o azul, as doutoras é que levam. A gente não vê car­ne, a gente come aqui é soja e quando vem uma carne mol­da podre aí eu jogo no mato. Botam água no leite, ai meu Jesus! (Solange)

O alimento é um bem maior para o pobre. O fruto do trabalho ao lon­

go da vida está representado pela capacidade de manter-se alimentado diaria­

mente. Ter condição de alimentar a si e a sua família confere dignidade e o re­

conhecimento de uma vida abençoada por Deus e, estar mal alimentado ou pas­

sar fome é um estado de humilhação humana, onde não está satisfeita a necessi­

dade mais básica de um ser vivo.

140

7.4.6. Falta de espaço, privacidade e conforto

Falta conforto, privacidade e espaço físico suficiente. As ações são re­

alizadas na presença de todos. A liberdade para realizar atos cotidianos é impe­

dida quando não atende aos interesse dos outros companheiros. Não há forma

de resistência, pois os conflitos seriam constantes. Preferem ceder, calando, ape­

sar de contrariadas, para simular uma convivência menos atribulada exterior­

mente:

... a vida aqui é muita gente, muita gente. Eu nem tenho dormido direito com os gritos dos velhinhos. To cochilando, acordo e acabou. (Sofia)

... são cinco ou seis camas por quarto. Fica tudo espremido, não tem espaço nem privacidade. (Simone)

... se um tá tomando banho o outro não pode entrar no ba­nheiro. Isso é um desconforto muito grande. Não é brinca­deira viver com cinco no mesmo quarto. As vezes não dá para esperar e tem que pedir pra usar o banheiro tio outro quarto e tem delas que não gosta. (Sônia)

... eu gostaria de assistir televisão até tarde, mas não pode porque atrapalha os outros. Aqui não dá pra ter liberdade. (Sofia)

...se eu morasse só, não precisava eu ficar ouvindo nem di­zendo. (Solange)

...o espaço é muito pouco. (Sandra)

O espaço bastante restrito, onde geralmente acomoda cinco ou mais

idosas por quarto, é tuna forma de restringir os objetos pessoais das idosas. Os

seus pertences ficam limitados a algumas peças de roupa ou a poucos objetos

que não ocupe lugar. Verifica-se que as idosas, por falta de espaço ou seguran­

ça, deixam seus objetos em cima da cama, único espaço, de fato, considerado

seu, Ficam com menos de uma cama livre para descansar e passar a maior parte

141

cio seu día, sem ocupação. As idosas destituídas de seus pertences, tem sua iden­

tidade também ameaçada.

A falta de perspectiva, influenciada por diversos aspectos da vida ins­

titucionalizada, tornam os internados mais susceptíveis à depressão, que traz

inúmeras consequências levando a um significativo impacto na qualidade de

vida e no relacionamento social.Qualidade de vida é um conceito bastante amplo e complexo. É tam­

bém um conceito fluido e dinâmico que significa dizer, que os aspectos de rele­

vância para uns, podem não ser para outros grupos. Para os idosos são fatores

relevantes o contato social, independência e condições físicas.

Gurland (1992) procurou definir os principais componentes envolvi­

dos na avaliação da qualidade de vida como sendo: desconforto, perda de papel,

auto-controle e desejo de viver, perda da satisfação, estresse continuado, afron­

tas, inutilidade, descontinuidade do estilo de vida, pobreza, redução das relações

sociais e percepção de abreviação do tempo de vida.

Uma análise dos resultados obtidos, estaria pois, compilada sintetica-

mente nesses fatores arrolados por Gurland, onde a experiência do asilamçnto

propicia a coexistência de todos eles atuando de forma gravemente negativa na

qualidade de vida das idosas.

Resumindo, dentro da psicologia social, o significado de qualidade de

vida é referido mais fortemente como uma experiência subjetiva, representada

pelo conceito de satisfação com a vida.

É importante frisar que os critérios intrapessoais que são os sistemas

de valores da sociedade internalizado por seus membros, são independentes dos

determinantes objetivos de qualidade de vida, tais como saúde física, nível de

renda e manutenção da rede de relações sociais, e, que, orientam os julgamentos

que fazem sobre as condições de que dispõem, em relação ao que desejam e ao

que podem usufruir (Neri, 2000).

142

Podemos concluir que as práticas adotadas na instituição asilar estão

diretamente relacionadas com os valores e atitudes compartilhados socialmente

sobre o significado da velhice e? evidenciados pelo baixo grau de compromisso

e envolvimento da sociedade com o bem-estar de seus membros mais velhos.

143

8. CONCLUSÃO

- As questões associadas ao acelerado envelhecimento da população

com repercussões nas áreas social, política, familiar e individual devem ser

discutidas seriamente e com interesse real e objetivo de atender às necessidades

não satisfeitas do grupo crescente de idosos.

A velhice é um processo multifacetado, alicerçado nas condições

sócioculturais que reorientam as histórias de vida das pessoas no tempo e no

espaço.

As diferentes maneiras de envelhecer representam a integração da

experiência pessoal subjetiva e das relações sociais. A compreensão de uma

realidade é feita através da representação de um objeto pelo sujeito ou por um

grupo através de seu próprio sistema de referências, que é dependente do

contexto social e ideológico que o cerca. Fica estabelecido, então, o caráter

sócio-genético das representações sociais.

A velhice foi representada pelas idosas como uma fase * onde as

perdas predominam, ameaçando a auto-estima e o auto-conceito daqueles que

atingem uma idade mais avançada.

A visão global e unitária da sociedade em relação ao idoso como um

ser dependente, desvalorizado e, consequentemente não desejado ou

desnecessário é demonstrada de forma contundente pelo ato de se

institucionalizar o idoso.

Na instituição, para que haja uma adaptação satisfatória, é cobrado dos

internados um comportamento de passividade e completa sujeição ao regime

imposto. Essa pressão sofrida de cima para baixo representa que o idoso não tem

voz nem vez.

Em cima da limitação sentida pelas idosas da sua liberdade pessoal,

as representações sociais de asilo foram ancoradas em prisão, casa de loucos e

dependentes ou casa dos outros.

O tratamento recebido, denota também o pensamento social vigente

de serem os idosos pessoas merecedoras, apenas, das mínimas condições

necessárias para a sobrevivência, não levando em consideração o seu grau de

satisfação, o que significa a melhoria de sua qualidade de vida.

A vida institucionalizada, apesar de suprir algumas necessidades

fundamentais do indivíduo: alimentação, moradia e vestimenta, não atende nem

de longe outras exigências para uma vida mais satisfatória como interação e

apoio social, afeto, amizade, lazer, cuidado e conforto,

A institucionalização imprime na consciência dos internos uma

categorização, ou melhor, uma auto-identificação de asilados. Isso, para os que

residiam com familiares, é uma forma de sofrimento constante, sentindo-se

desprezados pelos seus. Os valores das pessoas idosas não condizem com a

atitude dos familiares de se desobrigarem dos cuidados com os mais idosos,

institucionalizando-os. Para os solitários, que atravessaram a vida distanciados

dos familiares, possuem maior facilidade de adaptação no ambiente asilar.*A falta de iniciativa e da cobrança de seus direitos como idosos

institucionalizados podé ser compreendida ao levarmos em conta além do

contexto social e ideológico, o lugar do indivíduo dentro da organização social e

sua história individual e grupai.

As idosas entrevistadas, eram de classe social menos favorecida, de

nível educacional baixo, subordinadas ao patrão ou ao marido e, ao longo de sua

vida não praticaram o exercício da cidadania. Seus direitos nunca foram

conhecidos, nem reconhecidos, não eram organizadas a ponto de terem um peso

social e, na velhice, esse comportamento prático de passividade e conformidade

foi intensificado ainda mais pela condição de velhas e asiladas, morando na casa

alheia e, sem poder “pagar” através do seu trabalho, os “favores ” recebidos.

A teoria das representações sociais salienta o papel dos sujeitos sociais

na estruturação do mundo social. O mundo é o que permitimos que ele seja. A

.145

ideologia dominante define a dinâmica da sociedade e sua funcionalidade. E, o

conhecimento que as pessoas têm do seu universo, como pensam sobre as coisas

“reais e imaginárias” do seu mundo, é o resultado de processos discursivos e,

portanto, socialmente construídos (Wagner, 1994).

Como apontado pelas idosas entrevistadas, houve uma mudança de

conceitos em relação ao velho, que no passado era respeitado, valorizado e

querido pelos familiares.

A sociedade sofre mudanças nos seus sistemas de valores que é

apreendido e compartilhado no discurso cotidiano dos grupos sociais. As

representações estão imersas na comunicação, através da qual são elaboradas,

difundidas e modificadas de acordo com o contexto histórico-social.

O asilamento, encarado como um caminho natural para aqueles que

envelhecem, expressa as idéias presentes no senso comum, de ser o velho

desnecessário socialmente.

E nesse imaginário social que as representações são veiculadas e*

influenciam na interação social e na atitude prática em relação ao idoso.

Acreditamos*que os movimentos sociais em prol do idoso iniciados

nos programas voltados para a terceira idade, envolvendo os especialistas em

geriatria e gerontologia, e também a organização da sociedade civil em

associações de idosos ou pessoas interessadas em defenderem seus direitos

possam ao longo do tempo, transformar as representações de velhice, utilizando-

se para isso, os meios de comunicação de massa, com grande poder de

penetração e formação da opinião pública e consciência coletiva, a fim de

vislumbrarmos uma velhice mais feliz num futuro próximo.

Apesar de algumas tentativas dos meios de comunicação em superar

parte dos preconceitos, mostrando que muitos idosos estão em bom estado de

saúde, levam a vida com independência e contribuem ativamente para a

sociedade, ainda predomina a visão social dos idosos como um grupo à parte. A

146

estrutura social atual não dispõe de sistemas de apoio para a assistência ao idoso,

que, apesar de reconhecidos legalmente como dever do Estado e direito dos

idosos, não sao operacionalizados de forma efetiva, deixando todo o encargo

para a família em ampará-los.

Podemos associar a inércia política com deficiência de investimentos

sociais direcionados a população idosa como um reflexo da representação

social de velhice, engessando a iniciativa reinvindicatória dos próprios idosos ou

da sociedade como um todo.

Os idosos institucionalizados sao duplamente vítimas do descaso com

que a sociedade os trata. Primeiro, por estarem segregados e, segundo, por se

submeterem ao regime institucional de negação explícita de sua individualidade

e autonomia.

O sentido dado à experiência do asilamento é, de modo geral, bastante

negativo e rejeitado pelas idosas entrevistadas. O desejo de voltar à comunidade

e fazer parte da realidade do mundo externo é uma das razões de continuarem

vivendo.

Não colocamos como questão fundamental a erradicação dos asilos,

pois são socialmente úteis e indispensáveis. Mas, a institucionalização dos

idosos não deveria ser pautada pela falta de outras modalidades alternativas de

assistência como hospitais-dia, centros de convivência, casas-lar, atendimento

domiciliar, dentre outros e, que poderíam ser mais adequados do que o asilo,

dependo de cada caso, conferindo melhor qualidade de vida para eles.

A institucionalização, como colocada pelas residentes entrevistadas,

teria como população-alvo, principalmente, os dependentes física e/ou

mental mente e nos casos de extrema pobreza.Cabe ressaltar, que o tratamento e as condições dos asilos não

necessariamente deveríam ser inadequadas caso houvesse o papel financiador e

físcalizador do Estado.

147

Portanto, é inegável que o envelhecimento se traduza numa maior

demanda na área assistencial e de capacitação técnica dos profissionais de saúde,

requerendo mudanças políticas e econômicas pafa o cumprimento das metas

para o desejável controle da situação.

Aos profissionais da área de saúde, especialmente os enfermeiros,

oriundos dessa mesma sociedade preconceituosa em relação aos velhos, seria

imprescindível um preparo técnico-centífico dentro da área geriátrica que

pudesse oferecer uma assistência de melhor qualidade, atentando para um

tratamento mais humanizado, intervindo junto às famílias nos cuidados

dispensados juntos aos idosos e, sempre que possível evitando a sua

institucionalização.

Os idosos estão particularmente vulneráveis à discriminação por não

atenderem a um perfil, ditado pelo capitalismo, de produtor e consumidor, e, por

isso, considerados como um peso para a economia do país.

Todos os indivíduos independente da faixa etária, deveríam ter os

mesmos direitos. A justiça social só poderá ser alcançada quando os direitos

individuais forem respeitados somados aos esforços conjugados de integração

do Estado, da sociedade e da família, com vistas a uma convivência mais justa e

harmoniosa entre todos os cidadãos.

148

9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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131- ZHANG, X. H.; SASAKI, S. E; KESTELOOT, IL The Sex ratio mortality and its secular trends. bit J. EpidemioL, v, 24, p. 720, 1995.

160

ANEXO -1

Universidade Federai do Ceará Comitê de Ética em Pesquisa

Of, N° 061/2000 Fortaleza, 05 de maio de 2000Protocolo n° 44/2000Dept°./Serviço: Departamento de Enfermagem/UFCTítulo do Projeto: “Velhice no asilo: do imaginário ao real”

Levamos ao conhecimento de V.Sa. que o Comitê de Ética em Pesquisa e do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará - COMEPE, dentro das normas que regulamentam a pesquisa em seres humanos, do Conselho Nacional de Saúde - Ministério da Saúde, Resolução n°196 de 10 de outubro de 1996 e Resolução n° 251 de 07 de agosto de 1997, publicadas no Diário Oficial, em 16 de outubro de 1996 e 23 de setembro de 1997, respectivamente, aprovou o projeto supracitado na reunião do dia 27 de abril de 2000.

Atenciosamente,

lie

161

ANEXO -2

TERMO DE CONSENTIMENTO

Eu,______________ __ , RG: aceito

livremente participar como informante para a pesquisa intitulada

Velhice feminina no asilo: do imaginário ao real Para isso, fui

devidamente esclarecida sobre os objetivos da pesquisa, do direito de

desistir em qualquer momento, caso eu deseje, e da garantia do meu

anonimato. Concordo também com a publicação do conteúdo das

minhas declarações, desde que resguardados os preceitos éticos

requeridos para este tipo de estudo.

Fortaleza,_____________________

(assinatura da informante)

ou

(polegar direito)

162

ANEXO -3

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Nome: Idade;Tempo de asilamento: Estado civil:Profissão: Procedência:

1) Como foi a sua vinda para a instituição?2) Como a sra. interpreta a seguinte frase: Lugar de velho é no asilo.3) O que é ser velha? A sra. se acha velha?4) Como os idosos são tratados? Comente fora e dentro da instituição.5) Como se sente vivendo aqui?6) Tem algum plano de vida que tem vontade de realizar?7) Fale-me sobre o seu dia-a-dia.8) Como é o relacionamento dos idosos internados com os demais residentes,

com os funcionários e com os familiares?9) Quais as maiores deficiências aqui dentro?10) O que tem positivo no asilo?