Tropical grazing systems in the Carribean require an integrated research methodology

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MONSENHOR MESSIAS UNIFEMM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS Unidade Acadêmica de Ensino de Direito UEDI ALEXANDRE DE ALMEIDA MARTINS Turma C 2008 A INAFASTABILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS POR PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA SETE LAGOAS 2008

Transcript of Tropical grazing systems in the Carribean require an integrated research methodology

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MONSENHOR MESSIAS UNIFEMM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS

Unidade Acadêmica de Ensino de Direito UEDI

ALEXANDRE DE ALMEIDA MARTINS Turma C 2008

A INAFASTABILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS POR PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

SETE LAGOAS 2008

ALEXANDRE DE ALMEIDA MARTINS

A INAFASTABILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS POR PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Monografia apresentada à Unidade Acadêmica de Ensino de Direito – UEDI, UNIFEMM - Centro Universitário de Sete Lagoas, Fundação Educacional Monsenhor Messias, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Administrativo Orientador: Prof. Elida Graziane Pinto

SETE LAGOAS

2008

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MONSENHOR MESSIAS UNIFEMM CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS

Unidade Acadêmica de Ensino de Direito UEDI

ALEXANDRE DE ALMEIDA MARTINS

A INAFASTABILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS POR PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Monografia apresentada à Unidade Acadêmica de Ensino de Direito – UEDI, UNIFEMM - Centro Universitário de Sete Lagoas, Fundação Educacional Monsenhor Messias, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Sete Lagoas, de de 2008. Aprovado com nota __________. BANCA EXAMINADORA : __________________________________________________ ORIENTADOR: Profª. Élida Graziane Pinto ___________________________________________________ AVALIADOR: Prof.

___________________________________________________ AVALIADOR: Prof.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 4 2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES DO REGIME

JURÍDICO ADMINISTRATIVO E A CONCEPÇÃO DO DIREITO COMO INTEGRIDADE ........................................................................................................

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3 A RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS SUBMETIDOS AO

ORDENAMENTO COMO UM TODO INTEGRO E SEU CONTROLE UNIVERSAL..........................................................................................................................

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4 REGIME ESPECIAL DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES

POLITICOS EM RAZÃO DE UMA PRERROGATIVA DE FORO INERENTE À FUNÇÃO..........................................................................................

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5 CONCLUSÃO........................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa aborda alguns aspectos teóricos e práticos sobre a não aplicabilidade da Lei n.º

8.429 de 2 de junho de 1992 aos agentes políticos o que os afastaria das demais esferas do

ordenamento jurídico brasileiro em restrição à dinâmica do controle universal. Apesar dos

dezesseis anos em que a Lei n.º 8.429/1992 esta em vigor, ainda gerar controvérsias,

principalmente em relação à sua aplicação aos Agentes Políticos.

O Supremo Tribunal Federal vem lhes aplicando um regime especial de responsabilização em

razão de uma prerrogativa da função exercida por tal espécie de agentes públicos para que não

ocorra “bis in idem”, expressão latina que correspondente a “duas vezes a mesma coisa”;

desse modo à imputação a tais agentes só ocorreria na seara política através da Lei de Crime

de Responsabilidade n.º 1.079 de 10 de Abril de 1950 cuja competência para julgamento seria

do STF.

Em 2002, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Ronaldo Sardenberg foi condenado em

primeira instância à perda dos seus direitos políticos durante oito anos, em decorrência de

Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa intentada pelo Ministério Público e

julgada procedente pelo Exmo. Juiz de Direito da 14ª Vara da Justiça Federal Seção Judiciária

do Distrito Federal. O Ministério Público o acusou o ex-ministro de improbidade

administrativa por ter usado para fins particulares um avião da Força Aérea Brasileira

turísticas a Fernando de Noronha, Salvador e Ilhéus.

Irresignado com a sentença condenatória, Sardenberg recorreu ao Supremo Tribunal Federal,

que pela primeira vez fora acionado se posicionar sobre aplicação da lei de improbidade

Administrativa aos Agentes Políticos. Ao final do julgamento da citada reclamação, o STF

concluiu, por seis votos a cinco, que ministros de Estado, como Sardenberg devem ser

processados com base na Lei de Crimes de Responsabilidade (1.079/50), não pela Lei de

Improbidade Administrativa.

O STF entendeu que aos atos de improbidade praticados pelos referidos agentes, não pode ser

aplicada as responsabilizações política e administrativa (Lei de Improbidade Administrativa),

mas tão somente à Lei especial de Responsabilidade (lei n.º 1079/50), sob pena de “bis in

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idem”, como prerrogativa de função que garante aos agentes políticos o foro privilegiado, de

modo que são responsabilizados apenas da seara política, embora a Constituição não faça

menção a tal prerrogativa. Entende o STF que ao aplicar a Lei de Improbidade Administrativa

e a Lei de Crime de Responsabilidade estariam punindo duplamente o mesmo fato, quando

não é, diante da não dependência entre as diferentes esferas de responsabilidade

(administrativa, civil, penal e política). Conforme entendimento da Suprema Corte, os

Agentes Políticos gozam de privilégio de foro como uma prerrogativa da função

desempenhada, logo estariam regidos por normas especiais de responsabilidade, qual seja, a

Lei n.º 1.079/1950 cuja competência para julgamento seria do STF.

Tal regime especial de responsabilização inviabiliza a possibilidade de ressarcimento do

dinheiro dos cofres públicos dilapidados por agentes políticos que tenham cometido atos que

se adequam aos tipificados nos arts. 9°, 10 e 11 da Lei de Improbidade, quais sejam, aqueles

que importam em enriquecimento ilícito, os que causam prejuízos ao erário, ou aqueles que

atentam contra princípios da Administração Pública, configurando, dessa forma, atos de

improbidade.

A pergunta proposta neste estudo diante do problema narrado é a seguinte: Sob a égide dos

princípios constitucionais e do direito como um todo integro, é adequado a não aplicação da

Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos, de modo a inseri-los em um regime

especial de responsabilização exclusivamente política, onde tais agentes estariam isentos do

controle exercido pelas diversas searas do ordenamento que rege o estado republicano e

democrático de direito?

As hipóteses levantadas à possível solução do problema proposto serão feitas indagações no

seguinte sentido: a) o regime especial de responsabilização que o STF vem concedendo aos

agentes políticos como Ministros de Estados, dentre outras autoridades governamentais, que

estão submissos somente à esfera política (administrativa e cível), torna inaplicável as demais

responsabilizações, e em específico a cível, pretendidas na Lei de Improbidade

Administrativa? Porque não aplicar a Lei 8429/1992, uma vez que o texto legal prevê

expressamente como sujeito ativo do tipo os “Agentes Públicos”, uma vez que respeitados

doutrinadores como Carvalho Filho (2008), Dallari (200), Di Pietro (2004), Gasparini (2008),

Mello (2006), Meirellles (2003) e Neto (2006) enquadram os Agentes Políticos como uma

espécie do gênero Agente Público.

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Através do estudo pautado nos posicionamentos doutrinários sobre princípios constitucionais,

o objetivo científico pretendido no estudo é compreender tal posicionamento do STF ao julgar

a na reclamação n.º 2138 e os decorrentes argumentos utilizados ao afastar a aplicação da lei

de improbidade administrativa aos agentes políticos como algo que contraria a universalidade

do controle jurisdicional, bem como aos preceitos basilares do da república brasileira inserida

num Estado Democrático de Direito.

Como marco teórico fora utilizado a inafastabilidade do controle judicial quando houver dano

/lesão a direito; vez que a improbidade lesa a sociedade e o indisponível interesse coletivo.

Adotou-se ainda a teoria do direito com Integridade de Ronald Dworkin (1999).

Desse modo, no capítulo segundo será feita uma análise dos princípios constitucionais que

consolidam o regime jurídico administrativo conforme entendimento doutrinário, sob a

perspectiva do.direito como integridade de Dworkin (1999).

No capítulo seguinte será estabelecida uma relação com os princípios dispostos anteriormente

e a responsabilização dos agentes políticos submetidos ao ordenamento integro, de modo que

estarão submetidos ao controle e responsabilizações administrativas e políticas prevista na lei

de improbidade sem prejuízo das demais sanções.

No quarto capítulo passará à analise do caso concreto, qual seja o julgamento d reclamação

2138 do pelo Supremo Tribunal Federal

Por fim concluirá que a regime especial de responsabilização concedido pelo STF aos agentes

políticos é inconcebível e inaplicável numa Republica inserida num Estado Democrático de

Direito. Os agentes políticos como agentes públicos deverão ser responsabilizados sob toda e

qualquer seara do direito como prevê a universalidade de controle do ordenamento jurídico

integro e singular.

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2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES DO REGIME JURÍDICO

ADMINISTRATIVO E A CONCEPÇÃO DO DIREITO COMO INTEGRIDADE

Para desenvolvimento da presente pesquisa e devida fundamentação das hipóteses se faz

necessária a conjunção dos princípios norteadores do regime jurídico administrativo com o

ordenamento jurídico caracterizado como um sistema uno em conformidade pautado numa

concepção do “direito como integridade”, defendida por Dworkin (1999).

A teoria do direito como integridade por Ronald Dworkin em seu livro “O império do

direito”, para lidar com o problema da segurança jurídica ser ameaçada pelas concepções

morais particulares dos aplicadores do direito, acarretando uma desigualdade jurídica. Desse

modo, as decisões proferidas pelo Judiciário, fica alheias a pragmatismos antiquados que não

têm nenhuma coerência com a aplicação da norma constitucional. As decisões e

interpretações judiciais deveria servir a todos respeitando seus direitos, estipulando

obrigações e conseqüentes sanções a qualquer indivíduo que contraria seus preceitos, devendo

tais decisões serem tomadas com equidade e coerência com a Magna Carta brasileira e suas

concepções construídas ao longo da evolução do Estado Republicano e Democrático de

Direito em que se baseia a Federação Brasileira.

Para Dworkin (1999, p. 271-272):

O direito como integridade nega que as manifestações, do direito sejam relatos factuais do convencionalismo, voltados para o passado, ou programas instrumentais do pragmatismo jurídico voltados para o futuro. Insiste que as afirmações jurídicas são opiniões interpretativas que, por esse motivo combinam elementos que se voltam tanto para o passado como para o futuro; interpretam a prática jurídica como uma política em processo de desenvolvimento. Assim, o direito como integridade rejeita, por considerar inútil, a questão de se os juízes descobrem ou inventam o direito; sugere que só entendemos o raciocínio jurídico tendo em vista que os juízes fazem as duas coisas e nenhuma delas. O princípio da integridade instrui os juízes a identificar direitos e deveres legais, até onde for possível, a partir do pressuposto de que foram todos criados por um único autor a comunidade personificada, expressando uma concepção coerente de justiça e equidade.

A integridade para Dworkin (1999) possibilita a união da vida moral e política dos cidadãos

que aceitam ser governados por princípios comuns; sendo que os direitos e deveres se

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prendem a tais princípios e não se fecham às concepções das instituições legislativas ou

judiciárias. Pressupõe a integridade um dinamismo que acompanha as mutações e

transformações da sociedade de modo sempre coerente. Conforme entendimento do citado

autor, temos que:

Se uma instituição política só é coerente quando repete suas próprias decisões anteriores o mais fiel ou precisamente possível, então a integridade não é coerência; é ao mesmo tempo mais e menos. A integridade exige que as normas púbicas a comunidade sejam criadas e vistas, na medida do possível, de modo a expressar um sistema único e coerente de justiça e equidade na correta proporção. Uma instituição que aceite esse ideal às vezes irá, por essa razão, afastar-se da estreita linha de decisões anteriores em busca de fidelidade aos princípios concebidos como mais fundamentais a esse sistema como um todo. (DWORKIN, 1999, p. 264)

Assim, para entendermos o fenômeno da interpretação da lei de modo a compreendermos a

possibilidade de responsabilização civil pela prática de atos que se enquadram naqueles

descritos na Lei de Improbidade Administrativa praticados pelos agentes políticos, por

estarem submetidos a um ordenamento composto de instancias de direito independentes e

autônomas entre si, as quais prevêem diferentes sanções sem prejuízo umas das outras.

Esta pesquisa lança mão, além da perspectiva do direito como da integridade, conforme

entende Dworkin (1999), além dos princípios informadores do modo de agir da

Administração Pública e do controle por ela exercido.

A concepção do direito administrativo como um sistema demanda que “existam princípios

que lhes são peculiares e que guardem entre si uma relação lógica de coerência e unidade

compondo um sistema ou regime: regime jurídico administrativo” segundo Mello (2006, p.

43). Tais princípios regem também os Agentes Públicos, uma vez que esses personificam a

Administração Pública, logo, gozam de poderes intrínsecos à função pública concedido pelo

estado ao desconcentrar e descentralizar seus poderes propiciando uma melhor execução do

interesse público em benefício da coletividade.

O princípio da integridade de que tudo vincula os juízes na tarefa de impor direitos e deveres,

tendo como pressuposto o fato de terem sido criados por uma comunidade personificada, o

que expressa um modo coerente de justiça e igualdade.

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A integridade a que se refere Dworkin (1999) propõe uma atitude hermenêutica do direito que

busca integrar cada decisão em um sistema coerente que atende para a legislação e para os

precedentes jurisprudenciais sobre o tema, procurando discernir um princípio que os haja

norteado, os princípios que regem da Administração Pública neste caso.

O intérprete, para Dworkin (1999), propõe o modelo de juiz ideal Hércules1, que deverá fazer

uso dos princípios e das regras para encontrar a melhor interpretação específica para o caso

em análise em coerência com o todo, sendo desnecessária a criação de direito por parte deste

juiz que o aplica. Vejamos:

O direito como integridade, então exige que um juiz ponha à prova sua interpretação de qualquer parte da vasta rede de estruturas e decisões políticas de sua comunidade, perguntando-se ela poderia fazer parte de uma teoria coerente que justificasse essa rede como um todo (DWORKIN, 1999, p. 294).

Conforme a integridade do direito, as proposições jurídicas se sagram verdadeiras por

derivarem de princípios de justiça, equidade e devido processo legal oferecendo uma melhor

interpretação construtiva da prática jurídica. A igualdade formal nesse caso, inserida dentro

do direito como integridade, pressupõe que as regras jurídicas devem ser aplicadas, quaisquer

que sejam elas, de acordo com os princípios constitucionais basilares do Estado Democrático

de Direito como isonomia e a razoabilidade, sob pena de pormos em risco a própria

concepção e existência de Estado Democrático.

Feita a exposição da teoria de Dworkin (1999), como marco teórico, será realizada uma

correlação desta com os princípios norteadores da Administração Pública.

Direito Administrativo sob o qual pauta objeto da pesquisa O sistema constitucional do

Direito Administrativo funciona como uma rede hierarquizada de princípios, regras e valores,

que exige não mais o mero respeito à legalidade estrita, mas vincula a interpretação de todos

atos administrativos ao respeito destes princípios, que atuam como comandos fundamentais

1 Devo tentar expor essa complexa estrutura da interpretação jurídica, e para tanto utilizei um juiz

imaginário, de capacidade e paciência sobre-humanas, que aceita o direito como integridade.

Vamos chamá-lo de Hercules. (DWORKIN,1999, p. 287)

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que inspiram o modo de agir da Administração Pública. Tais princípios devem ser observados

no desempenho da atividade administrativa em todas as esferas de governo.

[...] O direito administrativo coincide com o conjunto de normas (princípios e regras) que têm o sobredito objeto, ter-se-ia de concluir, logicamente, que a “Ciência do direito administrativo” considera pertinente à esfera temática integralidade de tudo o que estivesse compreendido na função administrativa. Sem embargo não é isto que ocorre. (MELLO, 2006, p. 37)

Além dos princípios expressos e na Constituição Federal de 1988 em seu art. 37, como os

princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade administrativa, da publicidade e

da eficiência aos quais estão submetidos à Administração Pública Direta e Indireta; há

princípios que são reconhecidos doutrinariamente e se consolidam como matriz, como fonte

do sistema e trazem em si uma relação lógica de coerência e unidade compondo um sistema

ou regime, nesse caso, o regime jurídico-administrativo, por serem implicações evidentes do

próprio Estado de Direito e é claro, do sistema constitucional como um todo, conforme bem

ensina Mello (2006, p. 84).

Caracterizam o Direito Administrativo em sua normatividade os interesses pertinentes à

sociedade, o universal interesse, e não somente se volta para a singularidade individuada,

devido ao entrelaçamento daquele Direito ao Direito Público reproduzindo assim as

características desse último. Tal disciplina normativa do regime jurídico do Direito

Administrativo se fundamenta na consagração de dois Princípios: supremacia do interesse

público sobre o privado e indisponibilidade, pela administração, dos interesses públicos.

O princípio da Supremacia do interesse Público sobre o Privado rege o direito público, de

modo que proclama o interesse da coletividade, conforme bem classifica Moreira Neto (2006,

p. 90): “o interesse público específico torna-se indisponível à administração Pública”,

funciona esteio à tutela social do Estado, em que todos possam sentir resguardados; mesmo

quando o Estado age em visando algum interesse mediato próprio, o fim último de sua

atuação deve ser voltado para o interesse público. De acordo com Diniz (2004. p. 68) o

referido princípio também é chamado de “princípio da finalidade pública, e está presente tanto

no momento da elaboração da lei, como no momento de sua execução em concreto pela

Administração Pública”. Diniz (2004, p 69) faz uma importante análise do princípio da

Supremacia do Interesse Público quando ao esclarecer que “o Estado deixou de ser

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instrumento de garantia dos direitos do indivíduo e passou a ser visto como meio para

consecução da justiça social, do bem comum, do bem estar coletivo”.

Gasparini completa explando:

Com efeito, nem mesmo se pode imaginar que o contrário possa acontecer, isto é, que o interesse de um ou de um grupo possa vingar sobre o interesse de todos. Assim ocorre na desapropriação, na rescisão por mérito de certo contrato administrativo e na imposição de obrigações aos particulares por ato unilateral da Administração Pública, a exemplo da servidão administrativa. (2008, p. 20)

Mello (2006, p. 86-87) discorre sobre tal princípio ressaltando que para o cumprimento de

certa finalidade o agente necessita de poderes que possibilitam a satisfação do interesse

público. Dessa forma, segundo Mello (2006), princípio da supremacia do interesse público

sobre o privado, parte do pressuposto de que a Administração possui poderes-deveres2, ou

seja, são concedidos determinados poderes como meios para o alcance de uma finalidade

previamente estabelecida, que é defesa do interesse público, da coletividade como um todo, e

não em benefício de interesses pessoais daqueles que o exercem ou de um grupo de pessoas.

São poderes que a Administração não pode deixar de exercer, sob pena de responder pela

omissão, ao mesmo tempo em que devem ser exercidos sem excesso, para que não se

caracterize abuso.

Dentre os princípios da Administração Pública expressos na Constituição Federal, podemos

também citar como essenciais ao exercício da função pública e idônea atuação da

Administração Pública os Princípios da Moralidade e Probidade Administrativa. De acordo

com esses princípios a Administração deve atuar de modo ético de acordo com os princípios

éticos. Di Pietro (2004, p. 15-16) narra:

O princípio da moralidade administrativa impõe que o administrador não dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve

2 Segue-se que tais poderes são instrumentais servientes cio dever de bem cumprir a finalidade a que

estão indissoluvelmente atrelados. Logo, aquele que desempenha função tem, na realidade, deveres-poderes. Não "poderes", simplesmente. Nem mesmo satisfaz configurá-Ios como "poderes-deveres", nomenclatura divulgada a partir de Santi Romano.

Com efeito, fácil é ver-se que a tônica reside na idéia de dever, não na de "poder". Daí a conveniência de inverter os termos deste binômio para melhor vincar sua fisionomia e exibir com clareza que o poder se subordina ao cumprimento, no interesse alheio, de uma dada finalidade.(MELLO, 2006, p. 87-87)

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não só averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não somente nas relações entre a Administração e os administradores em geral, como também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram.

Moraes (2003, p.312) aduz que ao administrador no exercício de sua função não basta

respeitar os princípios éticos de razoabilidade e justiça, pois a moralidade constitui a partir da

Constituição de 1988 pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública. Nesse

sentido Moraes (2003, p. 313) completa narrando que o princípio da moralidade está

intimamente ligado com a idéia de probidade, dever inerente do administrador público.

Sobre o princípio da moralidade Gasparini (2008, p. 10) elucida o seguinte:

De sorte que o princípio da moralidade administrativa têm tem hoje status constitucional. Diz Hauariou, seu sistematizador, que o princípio da moralidade administrativa extrai-se do conjunto de regras de conduta que regulam o agir da Administração Pública; tira-se da boa e útil disciplina interna da Administração Pública. O ato e a atividade da administração pública devem obedecer não só a lei, mas também à moral, porque nem tudo que é legal é honesto, conforme afirmam os romanos.

Conforme podemos denotar desse contexto, quando se fala da moralidade administrativa se

faz importante citarmos a probidade administrativa, como uma espécie do princípio mais

amplo da moralidade administrativa, sob a pauta do qual o “agente público no exercício de

sua função indica atitudes retas, leais, justas e honestas, notas marcantes da integridade do

caráter do homem”, segundo Gasparini (2008, p. 153).

A própria Constituição Federal faz menção à probidade administrativa. Nos termos do art. 85,

V, da Constituição Federal, atentar contra a probidade da administração é hipótese prevista

como crime de responsabilidade do Presidente da República, fato que enseja sua destituição

do cargo. Os atos de improbidade administrativa dos servidores públicos "importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo algum da ação

penal cabível” segundo o art. 37, § 4º. O artigo 5º prevê o a possibilidade impetrar ação

popular para anulação de "ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado

participe, à moralidade administrativa dentre outros”.

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Carvalho Filho (2008. p. 55) conceitua a probidade administrativa como “o mais importante

dever do administrador público, e sua atuação deve pautar sobre os princípios da honestidade

e moralidade”.

Desse modo, a sistematização da moralidade administrativa relaciona-se não só com a

finalidade da norma jurídica, que deve ser alcançada com a prática do ato, como também com

os meios empregados para atingir tais fins, que devem ser pautados na ética, na boa-fé que

redundam no dever de probidade e de honestidade.

Medauar (2004, p. 148) ensina que “a probidade, que há de caracterizar a conduta e os atos

das autoridades e agentes públicos, aparecendo como dever, decorre do princípio da

moralidade administrativa”.

O regime republicano no qual se baseia o Estado Democrático de Direito e,

consequentemente, o Regime Jurídico Administrativo, se reveste dos princípios da igualdade

entre as pessoas, já que todo governante governa por força de uma outorga dos governados,

dos iguais; e da legalidade, através do qual há uma submissão de todos os indivíduos, qual

seja, à lei. Sob o princípio da legalidade pauta o Estado Democrático de Direito, uma vez que

os governantes e autoridades públicas submetem-se ao direito e são objeto de normas

jurídicas, os indivíduos não estão acima ou fora do Direito, conforme explana Medauar

(2008).

Segundo o princípio da legalidade, o agente público está sujeito aos regramentos contidos na

lei e no senso comum, não podendo deles se afastar, sob pena de praticar ato inválido e se

sujeitar à apuração do cometimento de ilícito administrativo, penal ou civil, conforme a

situação. Toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei. Moraes (2003,

p.69) leciona no sentido de que:

Tal princípio visa combater o poder arbitrário do estado. Só por meio das espécies normativas devidamente elaboradas conforme de processo legislativo Constitucional, podem criar obrigações para o indivíduo, pois, são expressão da vontade geral. Como primado soberano da lei, cessa o privilégio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei.

Medauar (2008, p. 122-123) entende que:

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A compreensão desse princípio deve abranger a observância da lei formal, votada pelo legislativo, e também dos preceitos decorrentes de um estado democrático de Direito, que é o modo de ser do estado brasileiro, conforme reza o art.1º, caput, da Constituição; e ainda deve incluir normas que ela própria editou.

Mello (2006) mantém-se no mesmo sentido de Medauar (2008), acrescentando ao princípio

da legalidade o da juridicidade, que se consiste na conformidade do ato praticado pelos

agentes não só com as leis, decretos, atos normativos inferiores, como também com os

princípios que estão contidos no ordenamento jurídico.

Para melhor compreensão do princípio da igualdade, Gonçalves3 apud Carvalho (2007, 628)

que discorre sobre o vínculo dos legisladores e magistrados ao citado princípio por se fazer

necessário à sua efetivação:

Esclarece Manoel Gonçalves Ferreira Filho que, "como limitação ao legisla-dor, proíbe-o de editar regras que estabeleçam privilégios, especialmente em razão da classe ou posição social, da raça, da religião, da fortuna ou do sexo do indivíduo”. É também um princípio de interpretação. O juiz deverá dar sempre à lei o entendimento que não crie privilégios de espécie alguma. E, como juiz, assim deverá proceder todo aquele que tiver de aplicar uma lei .

Carvalho (2007, p. 537) ensina que o Estado Democrático de Direito, baseado na ideologia

liberal-burguesa propiciou uma maior liberdade e igualdade aos homens resultado do

reconhecimento desses como objeto maior, no entanto, há uma limitação de livre arbítrio, qual

seja a submissão de todos à lei com o objetivo de alcançar a estabilidade, justiça e segurança

jurídica. Vejamos:

A concepção de Estado de Direito corresponde, ainda, no plano histórico, à luta contra o monarca, seu poder absoluto e os privilégios medievais do clero, da nobreza e das corporações. O Estado de Direito, inspirado na ideologia liberal-burguesa, ampliou a liberdade-autonomia, com o reconhe-cimento do homem como valor absoluto e centro de todas as coisas, numa concepção, no entanto formalista, pois o homem era visto na sua dimensão abstrata, distante de sua concretude histórica. Compõe-se a idéia de Estado de Direito, da limitação do arbítrio do poder político, da estabilidade jurídica dos direitos e garantias individuais, da submissão de todos (governantes e governados) à lei, concretizada no princípio da legalidade (art. 5°, II, da Constituição), que se traduz no adágio "suporta a lei que fizeste". Os valores fundamentais da pessoa humana são reconhecidos. A lei é o instrumento da justiça e da segurança. Um sistema de defesa dos cidadãos contra os atos administrativos ilegais propicia a responsabilidade

3 Cf. RAWLS. Teoria de lajusticia.

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da Administração, e um controle da constituicionalidade preserva a Constituição como norma originária, repositório dos valores liberais.

Carvalho (2007, p. 626) ressalta que, ao se aplicar tal princípio, deve-se considerar que os

indivíduos são altamente desiguais, dificultando a efetivação de uma igualdade real sem

distinção de qualquer natureza conforme prevê o art. 5º da Constituição Federal para

Carvalho:

No exame do princípio da igualdade, deve-se levar em conta, ainda, que, embora sejam iguais em dignidade, os homens são profundamente desiguais (compleição física e estrutura psicológica, entre outros fatores), o que difi-culta a efetivação do princípio. Daí ser incorreto o enunciado do artigo 5° de que todos são iguais sem distinção de qualquer natureza, pois "prever simetria onde há desproporção visível não é garantir igualdade real, mas consagrar desigualdade palpitante e condenável". Igualdade, desde Aristóteles, significa tratar igualmente os iguais e desi-gualmente os desiguais, na medida em que se desigualam.

Dallari (2000) relaciona muito bem o regime jurídico em que se baseia a República

Federativa do Brasil com os princípios da igualdade e legalidade como fundamento que

possibilita se responsabilizar qualquer governante inserido num sistema constitucional

uno e íntegro:

No regime republicano, que é baseado na igualdade entre as pessoas, todo governante governa por força de uma outorga dos governados, dos iguais. O governante não é alguém imanentemente mais importante ou diferente dos cidadãos. Todo e qualquer governante é um cidadão que foi investido numa função de comando. Esse governante continua sendo um cidadão, um igual, que recebeu um mandato para desempenhar uma determinada função. E se não for fiel ao mandato recebido pode ser responsabilizado, pode ser apeado do poder, além de sujeitar-se a outras sanções.

É elementar, no sistema republicano, a possibilidade de se responsabilizar todo e qualquer governante. Esta consideração preliminar é feita para afastar entendimento equivocado no sentido de que a punição de um agente político configuraria agressão ao sistema constitucional. Ora, agressão ao sistema é não usar a possibilidade de responsabilização de todo e qualquer governante. Agredir o sistema é não aplicar esse mesmo sistema em toda a sua inteireza.

A observância dos princípios mencionados neste capítulo fundamentou as hipóteses

levantadas, de modo a inserir o termo da responsabilização dos agentes políticos no contexto

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da República Federativa, essa, por seu turno, encontra-se imersa em um paradigma de Estado

Democrático de Direito pautado pela plena força normativa dos princípios.

A inobservância de tais princípios na postura assumida pelo STF ao empregar um regime de

responsabilização especial aos agentes políticos, coloca em risco a segurança jurídica

necessária à perpetuação do Estado Democrático, contraria o próprio ordenamento jurídico e o

preceito constitucional inserido no art. 37, §4º que prevê a responsabilização civil pela prática

de atos de improbidade sem prejuízo da ação penal cabível, independentemente de demais

responsabilidades.

Tal preceito aliado aos princípios da legalidade, igualdade, moralidade administrativa e

supremacia e indisponibilidade do interesse público permite a imputação de sanções intensas

aos atos ilícitos praticados por quaisquer agentes públicos, desde que respeitados o texto

constitucional e a independência entre as esferas penal, cível, política e administrativa. O

objeto de cada esfera está no equacionamento de infringências a regras diversas, quais sejam

penal, civil, política e administrativa que integram o ordenamento como algo íntegro e uno

conforme enuncia o princípio da juridicidade. Di Pietro (2004, p. 67) ressalta a importância

dos princípios para um equilíbrio entre a Administração Pública e o Judiciário:

Sendo o Direito Administrativo de elaboração pretoriana e não codificado, os princípios representam papel relevante nesse ramo do direito, permitindo à Administração e ao Judiciário estabelecer o necessário equilíbrio entre os direitos dos administrados e as prerrogativas da Administração.

Larenz4, citado por Medauar (2004, p. 142) destaca a função positiva dos princípios como

importante mecanismo do direito na promoção de justiça e paz social:

Os princípios revestem-se de função positiva ao se considerar a influência que exercem na elaboração de normas e decisões sucessivas, na atividade de interpretação e integração do direito; atuam, assim, na tarefa de criação, desenvolvimento e execução do direito e de medidas para que se realize a justiça e a paz social; sua função negativa significa a rejeição de valores e normas que os contrariam.

Conforme o art. 5º, inciso XXXV da Constituição Federal, é proibido a exclusão da

apreciação do Poder Judiciário sobre lesão ou ameaça de direito por força do princípio da

4 LARENZ, karl. Derecho Justo, p. 33

17

universalidade da jurisdição. Di Pietro (2004, p.640) ensina que, contra qualquer que seja o

autor da lesão, mesmo o Poder Público, poderá o prejudicado ir às vias judiciais.

O regime Constitucional submete todos ao ordenamento sem privilégios ou distinções que

coloquem os políticos acima da lei, pois todos se sujeitam a ela dentro de um universo de

controle.

Cabe, então, pautarmos como se dá esse controle do ordenamento e a possibilidade de

responsabilização dos agentes públicos da classe política, conforme propomos neste estudo.

Para tanto, devemos fazê-lo com a devida observância à independência das esferas do direito,

em especial, a responsabilização civil, sem prejuízo das demais responsabilizações

decorrentes dos códigos que os agentes políticos infringirem. Cumpre ressaltarmos que tais

agentes estão submetidos ao ordenamento como algo uno, como instrumento de efetivação da

segurança jurídica como forma de resguardar dentre outros princípios administrativos

garantidos constitucionalmente, a moralidade e o interesse publico.

Por se constituírem em uma das principais fontes do direito, os princípios devem ser

considerados normas que indicam padrões de conduta. Tais princípios devem ser observados

no desempenho da atividade administrativa em todas as esferas de governo.

A desobediência a esses princípios por parte dos agentes públicos, pode caracterizar atos

ilícitos diversos, uma vez que eles estão submetidos ao ordenamento e seus diversos ramos,

normas de conduta e possíveis responsabilizações e sanções. Desse modo, os agentes públicos

da classe política, estão submetidos como todos os demais à responsabilização que couber ao

fato praticado.

Nesta pesquisa, o problema limita-se à responsabilização civil pretendida pela Lei de

Improbidade Administrativa (Lei n.º 8429/1992) sem prejuízo das demais ações cabíveis, uma

vez que tais agentes se encontram submetidos a uma República e são regidos também pelos

princípios constitucionais que regulam o regime jurídico administrativo do Estado

Democrático brasileiro.

18

No capítulo seguinte veremos a conformidade constitucional do sistema de responsabilização

dos agentes políticos pela lei de Improbidade Administrativa dentro de um controle universal

exercido pelo ordenamento como um todo.

19

3 A RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS SUBMETIDOS AO

ORDENAMENTO COMO UM TODO INTEGRO E SEU CONTROLE UNIVERSAL

Conforme foram relatados no capítulo anterior, depreendemos que o os princípios expostos,

segundo narra Mello (2006, p. 83), “vigoram segundo determinadas condições,

regulamentação e limites, admitindo variantes, temperamentos e qualificações particulares à

vista do significado singular que assumem em função da legislação concernente a diversos

institutos do Direito Administrativo”.

O código binário do direito determina o que pode ser feito e o que é proibido e permitido, ou

seja, o que é lícito e o que é ilícito. Desse modo o direito estreita-se na compreensão de que as

ações das pessoas se dividem em uma dicotomia entre atividades lícitas, consoante o direito

objetivo, e atividades ilícitas, que infringem o ordenamento jurídico.

A toda conduta ilícita deveria, portanto, corresponder uma ou mais sanções, caso o mesmo ato

viole diferentes códigos. Logo, uma conduta pode ser qualificada, num só tempo, como ilícito

civil, ilícito administrativo ou político e ilícito penal, implicando responsabilidades civil,

administrativa ou política e penal, respectivamente, de acordo com a norma em que fora

infringida e a esfera do direito a qual pertence. Nesse caso, será imposta sanção civil, sem

ofensa ao princípio que veda a punição do mesmo fato mais de uma vez (bis in idem) que tem

seu âmbito de incidência restrito a cada esfera, seja ela administrativa ou política e penal.

Gasparini (2008, p. 240), sobre as responsabilizações que podem recair sobre os agentes

públicos no exercício de suas funções ensina que:

A prática de crime funcional dá origem à responsabilidade penal, enquanto os danos patrimoniais causados à entidade a que está ligado ou aos administrados e as violações ao correto desempenho de suas competências ensejam, respectivamente, a responsabilidade civil e a responsabilidade administrativa. Essas as espécies de responsabilidade a que está sujeito o servidor público. Tais responsabilidades não se excluem mutuamente. Ao contrário, podem incidir simultaneamente. Com efeito, pelo mesmo ato o servidor público pode responder civil, penal e administrativamente. A par disso, nem sempre a absolvição na esfera criminal acarreta a absolvição nas demais. Essas três responsabilidades estão previstas e reguladas no Estatuto federal nos arts. 121 e 126, a exemplo de outros. Em termos de responsabilidade funcional, a Lei Maior estabelece, no art. 37, que os atos de improbidade administrativas6 importarão a suspensão dos

20

direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento do erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível (§ 4º), enquanto no parágrafo seguinte pres-creve que a lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, res-salvadas as respectivas ações de ressarcimento.

Conforme já exposto no capítulo anterior, o princípio da legalidade vincula e submete todos

os indivíduos à lei, inclusive os agentes políticos. Ao praticar em atos administrativos ou

políticos em razão do cargo, emprego e função estatal exercida, eleita ou não, seja ela dotada

ou não de alto poder de decisão, todos os agentes públicos estão inseridos no regime jurídico

administrativo, subordinando-se às suas conseqüentes responsabilizações decorrentes do

controle exercido pela Administração.

Mello (2006, p. 229) divide os agentes públicos em quatro classes: “a) agentes políticos; b)

servidores estatais, abrangendo servidores públicos e servidores das pessoas governamentais

de Direito Privado; e c) particulares em atuação colaboradora com o Poder Público”.

Neste estudo, voltamo-nos para o tema da responsabilização cível dos agentes públicos da

classe “política”. Agentes políticos, conforme entendimento de Carvalho Filho (2008), Di

Pietro (2004), Gasparini (2008), Mello (2006), Meirellles (2003) e Neto (2006), são uma

espécie de agentes públicos, que funciona como um gênero. Assim resta patente no

entendimento doutrinário majoritário que a o conceito de agentes público engloba os agentes

políticos como uma das classes de agente público.

Quanto ao conceito dos agentes políticos, não esta consolidado doutrinariamente havendo

certas peculiaridades em cada conceituação praticada. Segundo Mello (2006, p.229):

Agentes políticos são os titulares dos cargos estruturais à organização política do País, ou seja, ocupantes dos que integram o arcabouço constitucional do Estado, o esquema fundamental do Poder. Daí que se constituem nos formadores da vontade superior do Estado. São agentes políticos apenas o Presidente da República, os Governadores, Prefeitos e respectivos vices, os auxiliares imediatos dos Chefes de Executivo, isto é, Ministros e Secretários das diversas Pastas, bem como os Senadores, Deputados federais e estaduais e os Vereadores.

21

Pautado sobre a mesma linha doutrinária em que se mantém Mello (2006), Carvalho Filho

(2006, p. 284, grifo do autor) conceitua os agentes público incluindo os agentes políticos, uma

vez lotados “em níveis decisórios que detém uma parcela do poder público”, vejamos:

Conceito de extensão mais restrita, também usado pela doutrina, é a de agente público, designativa de todos aqueles que, servidores públicos ou não, estão legalmente intitulados a exercer, em nível decisório, uma parcela do poder público, investidos de competência especificamente definida pela ordem jurídica. Nessa categoria estão incluídos os Chefes do Poder Executivo, os Ministros de Estado, os Secretários de Estado e de Município, os membros dos Poderes Legislativo e Judiciário, os exercentes de funções essenciais à justiça, os membros de júris e de mesas eleitorais, os dirigentes de autarquias e paraestatais e todos aqueles que desempenhem funções públicas de matriz constitucional. Esta categoria, de agentes públicos, se subdivide em duas subcategorias: os agentes políticos, que têm investidura em cargos eletivos, vitalícios, efetivos ou em comissão, assento constitucional, e os agentes administrativos, que são todos os demais intitulados por lei, a exercer uma parcela do poder estatal por outras formas de investidura.

Medauar (2008, p. 260) classificar como agentes políticos “em primeiro lugar aqueles eleitos

por sufrágio Universal, detentores de mandato: Presidente da República, Governadores,

Senadores, Deputados, Prefeitos, Vereadores; e em segundo lugar os auxiliares imediatos dos

chefes do executivo: Ministros de Estado, Secretários de Estado e Secretários Municipais”.

Quando tais agentes públicos contrariam os princípios administrativos da moralidade e

probidade administrativa se valendo do cargo público para causar prejuízo ao erário, por força

do art. 37, § 4º da CN/1988, estariam enquadrados e submetidos à Lei de Improbidade

Administrativa (Lei n.º 8429/92) independentemente de outras sanções cabíveis e do cargo

ocupado.Vejamos o conceito de agente público como sujeito passivo de ato de improbidade

administrativa conforme o texto da lei supra:

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura

22

ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Embora a interpretação literal nem sempre seja a mais indicada nesse caso é patente que a

leitura estrita do dispositivo em questão é compatível com a evidente finalidade da norma,

qual seja, incluir na sua esfera de responsabilidade todos os agentes públicos, servidores ou

não, que incorram em ato de improbidade administrativa, fazendo dessa lei um importante

meio de combate à corrupção no Brasil. É nítido nos artigos transcritos que a Lei de

Improbidade Administrativa não exige que o agente seja exclusivamente servidor público,

muito pelo contrário, prevê claramente em seu texto que não se exigirá tal condição para

aplicação das penas nela previstas.

Meirelles (2003, p75), em seu entendimento, aduz que os agentes políticos possuem

prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais,

como normas específicas para sua escolha, investidura, conduta e processo por crimes

funcionais e de responsabilidade, que lhes são privativos.

O mencionado e renomado jurista Meireles (2003, p.77) ensina ainda que: “tais agentes

possuem plena liberdade funcional, equiparável à independência dos juizes nos seus

julgamentos, e, para tanto, ficam a salvo de responsabilização civil por seus eventuais erros de

atuação, a menos que tenham agido com culpa grosseira, má-fé ou abuso de poder.

A responsabilidade civil de que trata a Lei de Improbidade Administrativa é de ordem

patrimonial e também está prevista no artigo 927 do Código Civil, que regula os requisitos

necessários que caracterizam a obrigação de indenizar, quais sejam, a ação ou omissão

antijurídica, a culpa lato sensu (culpa ou dolo), o nexo de causalidade e a ocorrência do dano.

Quando o dano provocado pelo agente político, o qual não deixa de ser uma espécie do gênero

agente público, atingir o Estado, a Administração Pública irá apurá-lo por meio de um

processo administrativo adequado, em que seja assegurada a ampla defesa e o contraditório ao

agente investigado. Caso seja comprovada a culpa do agente político na prática de ato de que

resulte prejuízo para a Fazenda Pública, por exemplo, independentemente de haver

enriquecimento do agente público, esse poderá ser submetido às penas de multa e de

ressarcimento do dano nos termos da Lei n.º 8.429/1992.

23

Se o dano for causado a terceiros, a responsabilidade do Estado será objetiva e independente

de comprovação de culpa, ficando ressalvado o direito do Estado de regresso contra o agente

responsável, momento em que deverá ser provado a culpa ou dolo do agente que deu causa ao

dano.

Destaque-se ainda que a atividade administrativa nem sempre está vinculada à lei, pois,

muitas vezes, o poder discricionário autoriza que o agente gestor atue com certa margem de

liberdade, o que requer maior responsabilidade e observância nos princípios do regime

administrativo em prol da moralidade e interesse público. Ao exercer competência

discricionária, o agente deve sempre se ater à observância dos limites e fins contidos na regra

que lhe delega competência. Para apuração de ato de improbidade administrativa, não se pode

deixar de lançar mão de uma análise da conduta dos agentes para constatação do elemento

“dolo” de modo que tal lei busque alcançar, sobretudo, o administrador desonesto e não

apenas aquele inapto ou o incompetente.

Mello (2006, p.879) explica que “no Estado de Direito a Administração Pública assujeita-se a

múltiplos controles, no afã de impedir-se que desgarre de seus objetivos, que desatenda às

balizas legais e ofenda interesses públicos ou dos particulares”.

Di Pietro (2004, p. 622) define a finalidade do controle da Administração Pública do seguinte modo:

A finalidade do controle é a de assegurar que a Administração atue em consonância com os princípios que lhes são impostos pelo ordenamento jurídico, como os da legalidade, moralidade, finalidade pública, publicidade, motivação, impessoalidade; em determinadas circunstâncias, abrange também o controle chamado de mérito e que diz respeito aos aspectos discricionários da atuação administrativa.

Carvalho Filho (2008, p.835-836, grifo do autor) subdivide o controle da Administração Pública em

Político e Administrativo:

O controle administrativo tem linhas diversas. Nele não se procede a nenhuma medida para estabilizar poderes políticos, mas, ao contrário, se pretende alvejar os Esse controle administrativo se consuma de vários modos, podendo-se exemplificar com a fiscalização financeira das pessoas da Administração Direta e Indireta; com a verificação de legalidade, ou não, dos atos administrativos; com a conveniência e oportunidade de condutas administrativas etc. Todos os mecanismos de controle neste caso são empregados com vistas à função, aos órgãos e aos agentes administrativos.

24

Afinal, como bem acentua DIEZ, se a Administração tem vários fins, um deles, e dos mais importantes, é de controle de sua própria atividade. O controle político é estudado basicamente no Direito Constitucional. No presente capítulo, estaremos voltados mais especificamente para o controle administrativo da Administração Pública, matéria própria do Direito Administrativo.

O controle administrativo é, na verdade, um controle de legalidade e de mérito. O controle

administrativo deriva do poder-dever de autotutela que a Administração tem sobre seus

próprios atos e agentes. O exercício do controle administrativo, de uma forma geral, se dá

mediante as atividades de fiscalização e os recursos administrativos. Em relação à finalidade

do controle administrativo, Medauar (2008, p. 387) informa que:

Dentre as finalidades do controle administrativo sobre as entidades indiretas salientam: assegurar a execução dos serviços especializados de modo compatível aos fins e valores que norteiam cada centro de poder; adequar a tecnicidade dos entes às diretrizes políticas respectiva; harmonizar suas atividades a fins predeterminados; zelar pela atuação eficaz dos entes personalizados. A finalidade Imediata do controle se expressa no respeito à legalidade e na salvaguarda do interesse público.

Outro controle também é grande relevância, o judicial, constituído pelo princípio da

legalidade, que submete o agente público aos regramentos contidos na lei não podendo deles

se afastar, sob pena de praticar ato inválido e se sujeitar à apuração do cometimento de ilícito

administrativo, penal ou civil, conforme a situação. Toda e qualquer atividade administrativa

deve ser autorizada por lei como um dos fundamentos em que repousa o Estado de Direito,

conforme ensina Di Pietro (2004, p.640) que completa: “de nada adiantaria sujeitar-se a

Administração Pública à lei se seus atos não pudessem ser controlados por um órgão dotado

de garantias de imparcialidade que permitam apreciar e invalidar os atos ilícitos por ela

praticados”.

O art. 70 parágrafo único da Constituição Federal prevê uma Universalidade de Controle,

com a integração do controle interno com o externo a cargo do Poder Legislativo, através de

fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das

entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,

economicidade, aplicação das subvenções e renúncias de receitas, que será exercido pelo

Congresso Nacional.

De acordo com Carvalho (2007, p.987-988):

25

O controle externo é exercido por meio pelo Poder Legislativo, com o auxilio de um órgão especializado, que, no âmbito federal, é o Tribunal de Contas da União. Verifica-se, pois, que a posição constitucional do Tribunal de Contas no Brasil é a de auxiliar o Poder Legislativo no controle da execução do orçamento e da aplicação do dinheiro público; o Tribunal de Contas não é órgão do Poder Executivo nem do Poder Judiciário, como se depreende inclusive da própria colocação topográfica do órgão no texto constitucional, ou seja, no Capítulo destinado ao Poder Legislativo.

Aos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

compete, entre outras atribuições, julgar as contas dos administradores e demais responsáveis

por dinheiros, bens e valores públicos da Administração direta e indireta, tendo em vista a

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência dos atos de gestão

governamental administrativa (art. 37, c/c artigos 70 a 75, da CF/88).

Salientamos que não podem os tribunais de Contas, se furtarem à fiscalização e à análise das

contas públicas também sob o aspecto da moralidade dos atos da Administração Pública,

sejam eles vinculados ou discricionários.

Carvalho (2007, p.987) ensina que: “nas Constituições democráticas, a atribuição de

fiscalização a um órgão distinto do Executivo, a função fiscalizadora de suas contas, é uma

conquista do parlamento do Estado Democrático” e ressalta que: “a função de controle pelo

Poder Legislativo não exclui, contudo, a autofiscalização (sistema de controle interno),

exercida pelos Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário)”.

Ao delimitar a atuação do ordenamento jurídico, concedendo um regime especial de

responsabilização aos agentes políticos na esfera política, a través da Lei nº. 1079/55, o STF

afasta a possibilidade de o Judiciário apreciar a lesão ao erário público decorrentes de atos de

improbidade. A responsabilização cível por tais atos significará o ressarcimento ao erário

público, sem prejuízo das sanções penais cabíveis conforme prevê a Constituição Federal.

No próximo capítulo, faremos uma análise dos dispositivos da Magna Carta pautados sob os

princípios basilares do Estado Republicano e Democrático de Direito. De acordo com os

ditames de do Estado democrático e Republicano suas searas se realizam de modo

independentes e permitem responsabilizações distintas; para um mesmo fato pode haver

26

tipificações legais diversas de acordo com o código infringido, sem implicar em desrespeito

ao princípio do “non bis in idem”.

27

4 REGIME ESPECIAL DE RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLITICOS

EM RAZÃO DE UMA PRERROGATIVA DE FORO INERENTE À FUNÇÃO

APLICADO PELO STF

A escolha do tema sobre se estão ou não os agentes políticos submetidos à Lei de

Improbidade Administrativa deve-se a várias justificativas, dentre elas o regime especial de

responsabilização dos agentes políticos dos Agentes Políticos por serem detentores de parcela

da soberania do Estado e sua diferenciação em relação aos demais agentes públicos sob a

égide constitucional do Estado Democrático de Direito.

Com julgamento da reclamação de n.º 2138, em junho de 2007, o Supremo Tribunal Federal

afastou a possibilidade de se empregar responsabilização civil aos agentes políticos e lhes

concedeu um regime especial e único de responsabilização, com a submissão desses somente

à Lei de Crime de Responsabilidade (Lei n.º 1079/50), para que não fosse infringido o

princípio do non bis in idem , ou seja, duas punições pelo mesmo ato, a despeito do

dispositivo no art. 37, §4º, da Constituição Federal de 1988.

O STF julgou procedente a Reclamação n.º 2138, que fora proposta pela União contra decisão

do Juiz da 14ª Vara da Justiça Federal Seção Judiciária do Distrito Federal, que julgou ação de

Improbidade Administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal contra o então, Ministro

de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg. Ao julgar o referido caso, o STF afastou a

aplicação da Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos, Ministros de Estado no

caso, visando preservar a competência do Supremo Tribunal Federal para julgar ação de

Improbidade Administrativa ajuizada contra Ronaldo Sardenberg, conforme entendimento do

STF, erroneamente ajuizada perante a Justiça Federal de primeiro grau.

Na primeira instância, o ex-ministro Ronaldo Sardenberg havia sido condenado às penas

previstas na Lei de Improbidade, notadamente devendo ressarcir ao erário perdendo os

direitos políticos por oito anos por ter usado um avião da Força Aérea Brasil para descansar

em Fernando de Noronha. Tal posicionamento da Suprema Corte, cujo relator fora o Ministro

Nelson Jobin, parte do pressuposto de que a competência do STF para processar e julgar

ministros de Estado por crimes de responsabilidade, na forma da Lei nº 1079/50, englobaria

por expansão da tipificação, o processamento e julgamento dos titulares desses altos cargos da

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administração federal também pelos atos de improbidade (CF, art. 37, § 4º e Lei 8.429/1992),

desse modo tais agentes seriam responsabilizados apenas exclusivamente pela Lei de Crime

de Responsabilidade que, diferentemente da Lei de Improbidade, se enquadra na seara

política. Vejamos a Ementa do referido Julgado:

RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CRIME DE RESPONSABILIDADE. AGENTES POLÍTICOS. I. PRELIMINARES. QUESTÕES DE ORDEM. [...] O sistema constitucional brasileiro distingue o regime de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes públicos. A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela Lei n° 8.429/1992) e o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei n° 1.079/1950). Se a competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I, "c", da Constituição. II.3.Regime especial. Ministros de Estado. Os Ministros de Estado, por estarem regidos por normas especiais de responsabilidade (CF, art. 102, I, "c"; Lei n° 1.079/1950), não se submetem ao modelo de competência previsto no regime comum da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.429/1992). [...] III. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE.

Como vemos, o STF insere os agentes políticos em um regime especial de responsabilização

o qual se limita à esfera político-administrativa pautada na Lei de Crime Responsabilidade nº

1.079/1950, por entender que os agentes políticos possuem prerrogativa de foro pela função

ocupada na Administração Pública e por considerar que o texto da Lei de Crime de

Responsabilidade engloba as condutas descritas na Lei 8429/1992.

O art. 85, V da Constituição Federal disciplina que o Presidente da República incorreria em

crime de responsabilidade sempre que não observasse da devida probidade em sua gestão, de

modo, que caso agisse de modo ímprobo, ensejaria seu Impeachment, que conforme Garcia e

Alves (2006) busca afastar um agente político de cargo que o agente não demonstrou aptidão

para ocupar, tratando-se de um instituto de natureza político- constitucional, ou seja trata-se

de uma sanção política assim como prevê a Lei de Crime de Responsabilidade n.º 1079/50.

29

Mello (2006, p. 108) ensina que o rime de responsabilidade será imputado exclusivamente ao

Presidente da República quando atentar contra a probidade administrativa, já os demais

servidores responderão pela Lei de Improbidade Administrativa, pois:

Acresça-se que, nos termos do art. 85, V, da Constituição, atentar contra a "probidade na administração" é hipótese prevista como crime de responsabilidade do Presidente da República, fato que enseja sua destituição do cargo. De resto, os atos de improbidade administrativa dos servidores públicos "imporão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível" (art. 37, § 4º).

Importante salientarmos a função e importância dos ministros de Estado do ponto de vista

doutrinário, para que possamos compreender porque STF lhes concede o mesmo foro

privilegiado e regime especial de responsabilização pela Lei n.º 1079/1990 do Presidente da

República, conforme se depreende do julgamento da reclamação trazida nesta pesquisa. Em

seu conceito de Ministros de Estado, Carvalho (2007, p 1018) cita Marcelo Caetano5 para

melhor ilustração:

Os Ministros de Estado são meros auxiliares do Presidente da República, não participando da chefia do Executivo, que é privativa do Presidente. Acentua Marcelo Caetano que "os Ministros de Estado são, pois, na concepção constitucional, auxiliares do Presidente da República e como tais, hão de comungar na orientação política por ele fixada, colaborar com dedicação e lealdade na obra dele.

Segundo Gasparini (2008, p.156) alguns agentes públicos a exemplo de Ministros de Estado

possuem “plena liberdade funcional” e em razão disto não são responsabilizados civilmente

por decorrentes “erros de atuação, sendo tais prerrogativas reconhecidas como necessárias às

altas e complexas funções que exercem”.

Sobre as funções e prerrogativas dos agentes políticos, Meirelles (2004, p. 76-77) se mantém

numa corrente doutrinária congruente ao entendimento do STF posiciona da seguinte forma:

Os agentes políticos exercem funções governamentais, judiciais e quase-judiciais, elaborando normas legais, conduzindo os negócios públicos, decidindo e atuando com independência nos assuntos de sua competência. São as autoridades públicas supremas do Governo e da Administração na área de sua atuação, pois não estão hierarquizadas, sujeitando-se apenas aos graus e limites constitucionais e legais de jurisdição. Em doutrina, os agentes políticos têm plena liberdade funcional, equiparável à independên-

5 CAETANO, Marcello.

30

cia dos juízes nos seus julgamentos, e, para tanto, ficam a salvo de respon-sabilização civil por seus eventuais erros de atuação, a menos que tenham agido com culpa grosseira, má-fé ou abuso de poder. Realmente, a situação dos que governam e decidem é bem diversa da dos que simplesmente administram e executam encargos técnicos e profis-sionais, sem responsabilidade de decisão e de opções políticas. Daí por que os agentes políticos precisam de ampla Liberdade funcional e maior resguardo para o desempenho de suas funções. As prerrogativas que se con-cedem aos agentes políticos não são privilégios pessoais; são garantias ne-cessárias ao pleno exercício de suas altas e complexas funções governa-mentais e decisórias. Sem essas prerrogativas funcionais os agentes políti-cos ficariam tolhidos na sua liberdade de opção e de decisão, ante o temor de responsabilização pelos padrões comuns da culpa civil e do erro técnico a que ficam sujeitos os funcionários profissionalizados.

Cumpre indagar a constitucionalidade do foro privilegiado por ser uma prerrogativa de função

concedida aos Agentes Políticos, uma vez que o artigo 102, inciso I, alíneas "b" e "c", da

Constituição Federal não afastou a incidência do art. 37, §4º, tampouco, nesse aspecto,

estabeleceu qualquer prerrogativa por função aos agentes políticos para serem julgados por

atos de improbidade administrativa no Supremo Tribunal Federal.

Tal tal decisão do Supremo Tribunal Federal, poderá implicar no arquivamento de inúmeras

ações de improbidade administrativa propostas contra agentes políticos em diversas

jurisdições a nível nacional..

Rspeitados doutrinadores como Medauar (2008) adotam a mesma corrente de Meirelles

(2004), vez que se mostram favoráveis às prerrogativas que são concedidas aos agentes

políticos, como o privilégio de foro, por se tratar de garantia necessária ao pleno exercício de

suas altas e complexas funções governamentais e decisórias. Sem tais prerrogativas da função,

como o privilégio de foro, segundo os citado autores, em tese, os agentes políticos ficariam

inertes apesar da liberdade discricionária de decisão que lhes é concedida.

A improbidade administrativa é disciplinada pela Lei n.º 8.429/1992, que nos seus artigos 1º e

2º, deixa expresso as responsabilizações trazidas com o advento da mesma é atribuível a todo

e qualquer agente público, a qualquer pessoa que exerça função pública, ainda que

transitoriamente e sem remuneração, sendo investido por meio de mandato, cargo, emprego

ou função, tanto na administração direta quanto indireta, e ainda em entidades que recebem

subvenções, benefício ou incentivo do Poder Público ou para cuja criação ou custeio o erário

31

tenha concorrido. O art. 4º da mesma Lei, reforça a intenção expressa do constituinte de

atribuir um caráter extensivo à definição de agentes públicos passíveis às tipificações

contidas:“Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela

estrita observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no

trato dos assuntos que lhes são afetos”.

Resta claro, conforme a definição de sujeito ativo para os atos de improbidade administrativa

previsto na Lei nº 8429/1992, a intenção do legislador constituinte de expandir o conceito de

Agentes Públicos, como forma de fazer com que o referido instituto legal funcione como um

mecanismo de controle judicial e combate à corrupção.

Os agentes políticos, portanto, estão inseridos em todas as esferas que compõem o

ordenamento jurídico como algo íntegro, que enseja, dentre outras, a responsabilidade

criminal; a responsabilidade administrativa, decorrente da violação de dever funcional, que

atenta contra o bom funcionamento do serviço público e dos fins por ele visados; e

responsabilidade civil, invocada quando houver sido causado um dano que deve, assim, ser

reparado.

É ao Poder Judiciário e só a ele que cabe resolver definitivamente sobre quaisquer litígios de direito. Detém, pois, a universalidade da jurisdição, quer no que respeita à legalidade ou à consonância das condutas públicas com atos normativos infralegais, quer no que atina à constitucionalidade delas. Neste mister, tanto anulará atos inválidos, como imporá à Administração os comportamentos a que esteja de direito obrigada, como proferirá e imporá as condenações pecuniárias cabíveis. (MELLO, 2006, p.108)

A inconstitucionalidade do foro privilegiado decorre da lesão ao princípio da igualdade ao ver

que não se justifica o fato de o regime especial de responsabilização, decorrente do

entendimento do STF, cria aos agentes políticos tratamento diferenciado em relação aos

demais agentes públicos, sobretudo, na que se refere ao ressarcimento ao erário e as sanções

civis administrativas cabíveis em caso de improbidade.

Dallari (2000) anota que as razões que justificam e legitimam o foro especial aos que estão no

exercício de determinadas funções públicas visam ao interesse público, uma vez que

dificultaria o exercício da função ao criar a possibilidade de os agentes políticos responderem

por tal Lei em primeira instância em diversos pontos do país.

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O texto da Lei de Improbidade Administrativa deixa claro que as sanções previstas

independem das demais sanções decorrentes de legislação específica, em que estão sujeitos os

agentes políticos, vejamos:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações:

Conforme dispõe o art. 37, § 4º, da Constituição Federal, “os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a

indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei,

sem prejuízo da ação penal cabível”.

É perceptível que as sanções decorrentes da prática de atos de improbidade não se confundem

com as de natureza exclusivamente política evidentemente e, por conseqüência, não há que se

confundir improbidade administrativa com crime de responsabilidade.

Bem por isso, autores, como Di Pietro (2004) e Emerson Garcia e Rogério Alves (2006),

entendem que, sendo a ação de improbidade administrativa cuidada na Lei 8.429/1992 de

natureza civil, ainda que proposta contra autoridades que gozem de foro especial por

prerrogativa de função para efeitos políticos-administrativos, “deve ser processada e julgada

em primeira instância, por não caber o deslocamento de foro para o Supremo Tribunal Federal

sem expressa previsão constitucional” (TRF – 1ª Região, Ag. 01000132274-DF, DJ 4-5-

2001).

A interpretação empregada pelo STF no caso do ex-ministro de Ronaldo Sardenberg não

constitucionalmente adequada à aplicação da norma, tendo em vista o marco do direito como

integridade, segundo o qual, as decisões tomadas pelos aplicadores do direito devem ser

coesas dentro de um ordenamento jurídico como um todo e avessas a concepções morais que

ocasionam desigualdades e ameaçam a segurança jurídica da república.

Na Teoria do Direito como Integridade de Dworkin (1999), ao não se aceitar a possibilidade

de se chegar a uma interpretação correta do Direito a cada caso com equidade e coerência ao

ordenamento, a negar-se a força normativa constitucional e principiológica do direito

construída ao longo da evolução do Estado Democrático; o que abre espaço para decisões

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arbitrárias, incompatíveis com a preservação e respeito aos direitos fundamentais

contemplados pelos ideais norteadores do sistema de governo e jurídico brasileiro.

Garcia; Alves (2006, p. 436-437) fazem uma importante crítica ao defenderem a não

diferenciação dos agentes políticos detentores do poder, neste caso fundamentada como uma

prerrogativa de função, por entenderem se tratar de um instituto inadmissível ao regime

republicano em que pauta o Estado brasileiro, vejamos:

A vedação do privilégio pessoal também decorre do regime republicano, pois todos os servidores devem agir em busca da satisfação do interesse público e nenhum particular é senhor do poder. Assim, é inadmissível que, além de violar o princípio da reserva legal na criação de foro privilegiados, os detentores do poder, em posição singular, não adotada em nenhum país do mundo venha a adotar tal privilégio em seu próprio benefício tarefa somente deferida ao Constituinte originário.

Entendemos que, por ser a competência originária do Supremo Tribunal Federal de direito

estrito, não se admite o foro especial por prerrogativa de função para as ações civis de

improbidade administrativa.

O STF, conforme depreendemos no julgamento da Reclamação 2138, apossa-se do sentido de

que aos atos de improbidade praticados pelos referidos agentes políticos não pode ser aplicada

a responsabilização civil (Lei de Improbidade Administrativa Lei n.º 8429/1992), que dá lugar

à Lei especial de Crime de Responsabilidade âmbito penal, sob pena de bis in idem, como

prerrogativa de função que garante aos agentes políticos o foro privilegiado, embora a

Constituição não faça menção a tal prerrogativa. Entende o STF que se trata de punições

idênticas, quando não são, diante da não dependência entre as diferentes esferas de

responsabilidade (administrativa, civil e penal) embora baseadas no mesmo fato.

No que tange ao Princípio do “non bis in idem”, ele estabelece, em primeiro plano, que

ninguém poderá ser punido mais de uma vez por uma mesma infração penal. Há expressa

manifestação do Constituinte, pois o já citado art. 37, § 4º consignou que a sanção cível por

ato de improbidade não prejudicaria a sanção penal, o que afasta a ocorrência do bis in idem,

uma vez que a responsabilização ocorreria em esferas diferentes do direito. Segundo Alves e

Garcia (2006), cada sanção possui valores variáveis cada sanção.

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Em suma, o importante é destacar que não há um regime jurídico geral único e uniforme de

proteção ao agente político mediante a interposição de filtros ou clivagens políticas. No caso

da ação por improbidade administrativa, o constituinte de 1987, expressamente determinou

que os atos de improbidade administrativa “importarão a suspensão dos direitos políticos, a

perda da função pública, sem prejuízo da sanção penal cabível”.

Com efeito, inexistindo dependência entre as diferentes esferas de responsabilidade

(administrativa, civil e penal) não se pode afirmar, ao nosso sentir, que o regime previsto de

especialidade de responsabilização empregado impeça a aplicação das demais penas previstas

na Lei de Improbidade Administrativa, sob pena de bis in idem.

De fato, embora se pretenda punir o mesmo fato, tratam-se de punições em esferas distintas

do direito. A condenação do Réu que tenha cometido uma prevaricação no Direito Processo

Penal, por exemplo, não lhe assegura o direito de não responder, nas esferas civil e

administrativa e pelo ato improbo.

A legalidade que controla a discricionariedade do ato do agente público impõe que ele seja

destituído de seu cargo além de sofrer as sanções que o ordenamento da república prevê,

quando não cumprir seus deveres ou se desbordar dos limites para causar dano ao erário

enriquecer-se ilicitamente ou ferir os princípios que regem sua função.

Os agentes políticos podem praticar atos políticos e atos administrativos em razão do cargo e

função desempenhada, assim como todo agente público também deve ser responsabilizado

quando age com excesso, dolo e inobservância dos princípios inerentes da Administração

Pública, sendo indispensáveis ao bom exercício da função para que se consolide uma efetiva

supremacia e indisponibilidade do interesse público.

No presente estudo nos ativemos à responsabilização civil de tais agentes no que tange aos

atos improbos e conseqüente lesão ao erário público que não pode ficar sem amparo uma vez

que o regime de responsabilização especial empregado pelo STF ao agentes políticos não faz

qualquer menção ao ressarcimento dos cofres públicos. O entendimento do STF de atrair para

si a competência para julgar os atos de improbidade dos agentes políticos sem qualquer

consideração para com o erário público que fora lesado, imputar-lhes apenas sanções de

caráter político-administrativo através da Lei de Crime de Responsabilidade n.º 1079/1950.

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36

5 CONCLUSÃO

Ao final deste estudo parece-nos ser perfeitamente cabível a responsabilização dos agentes

políticos em face da Lei de Improbidade Administrativa, sem prejuízo das demais

responsabilizações. tendo em vista a possibilidade jurídica prevista constitucionalmente,

sendo a prerrogativa de foro privilegiado e regime especial de responsabilização função

atribuída a esses agentes pelo STF, algo que afronta intimamente os princípios norteadores do

República Federativa do Brasil e seu Estado Democrático de Direito bem como o

direito.como algo íntegro e uno.

Ao delimitar a atuação do ordenamento jurídico, concedendo um regime especial de

responsabilização aos agentes políticos somente na esfera política, através da Lei n.º

1079/1950, o STF afasta a possibilidade de o Judiciário apreciar a lesão ao erário público

decorrentes de atos de improbidade. A responsabilização cível por tais atos significa o

ressarcimento ao erário público sem prejuízo das sanções penais cabíveis conforme prevê a

Constituição Federal.

A interpretação realizada pela Suprema Corte nesse caso, em certa medida, repercute pelos

Tribunais estaduais, de modo a consolidar cada vez mais tal entendimento em que se nega a

aplicação da Lei de Improbidade Administrativa aos agentes políticos, representado uma

grande afronta e desserviço a sociedade brasileira e incentivando a corrupção.Destarte, o

patrimônio público cada vez mais afetado pelos agentes ímprobos não será ressarcido, tendo

em vista que os agentes políticos ao serem responsabilizados pela Lei de Crime de

Responsabilidade na esfera política apenas perderão seus direitos e cargos políticos, podendo

se enriquecer ilicitamente nos casos e nos casos em que a prática de ato improbo resultar de

lesão ao erário público.

Diante desse tratamento diferenciado trazido pelo regime especial de responsabilização dos

agentes políticos pelo STF, põe em risco Estado Republicano e Democrático de Direito e

funciona como um incentivo à corrupção. Tal decisão da Suprema Corte além de contrariar

preceitos constitucionais e republicanos, sobrepõe o interesse particular do agente ao da

coletividade e moralidade administrativa pressuposto de validade dos atos praticados.

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Entendemos ainda, diferentemente do posicionamento adotado pelo STF no caso supra, que

na verdade, a Lei de Improbidade Administrativa que deveria conviver com a Lei de Crime de

Responsabilidade, tendo em vista que possibilita o ressarcimento do erário público além de

funcionar como um importante instrumento de combate à corrupção como fora pretendido ao

ser elaborada. Assim não seria afastado do Judiciário afastado do a apreciação de ato lesivo

em tese, o da coletividade.

Com essa perspectiva do STF, haverá uma imunização do funcionalismo público em seus

altos escalões por não poderem ser responsabilizados os agentes políticos na esfera cível em

um plano factual. Posicionamentos jurisprudenciais e doutrinários versam favoravelmente à

submissão de tais Agentes Públicos à Lei de Improbidade Administrativa, sem prejuízo da

responsabilização penal. Tal vertente se consolida de modo expressamente manifestado na

Constituição Federal no art. 37, § 4º, que as sanções cíveis, administrativas e políticas por ato

de improbidade não prejudicaria a sanção penal.

Os fatos de o agente ser político, de não estar sujeito à hierarquia e subordinação, e de poder

agir com independência e ampla liberdade no uso dos poderes discricionários ao representar a

vontade superior do Estado em prol do interesse público só podem conduzir a uma conclusão,

qual seja, a de que têm os agentes políticos mais responsabilidades, estando, portanto, sujeitos

a todas as esferas de responsabilidade constitucionalmente admitidas no ordenamento jurídico

republicano.

A importância do cargo exercido, a relevância e o grau de responsabilidade que recai sobre as

decisões que são tomadas durante o exercício do cargo ocupado como espécies de agentes

públicos não podem se tornar pretexto para eximir os agentes políticos de responder, nos

termos da Constituição e das leis que dela derivam, pelos seus atos. Como detêm grande

parcela do poder popular, agentes políticos não devem praticar atos imorais e ímprobos os

quais poderão acarretar danos extremante graves e lesivos quando mal desempenhada a

função política.

A responsabilização do agente político pela prática de ato de improbidade administrativa,

perante o juiz de primeiro grau, como todo e qualquer agente público que não age com

observância do dever de Probidade e Moralidade é, portanto, não só constitucionalmente

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admitida, mas, inerente à condição existencial do Estado Democrático de Direito em que haja

uma efetiva aplicação dos princípios da igualdade e do princípio republicano.

O ordenamento jurídico constitucional brasileiro não abordou a prerrogativa de foro para os

agentes políticos para os atos de improbidade administrativa. Como é fato, o princípio

republicano e da igualdade afastaria, em tese, o próprio instituto da prerrogativa de foro.

Em síntese, a compreensão do direito da aplicação da Lei de Improbidade Administrativa aos

agentes políticos, nos moldes propostos neste estudo, insere-se num contexto de uma

sociedade que clama por justiça, que se vê diante de uma norma que pode responsabilizar

Agentes Políticos, verdadeiramente e sem prejuízo da ação penal. Agentes políticos quando

destoam os princípios administrativos e atuam de modo improbo, ocasionam em alguns casos

um dano patrimonial ao erário público algumas vezes incomensurável, onde a vítima direta é

o e interesse público coletivo. Diante das responsabilizações impostas pela Lei de

Improbidade, além da perda do mandato, os agentes improbos deverão ressarcir a

administração pública do dano causado.

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REFERÊNCIAS

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RESUMO

Os Agentes Políticos devem ser responsabilizados pela lei de Improbidade Administrativa

sem prejuízo das demais responsabilizações previstas nas demais esferas do direito, uma vez

que, como agentes públicos que são estão inseridos no regime jurídico administrativo regido

por princípios constitucionais que os sujeita ao controle jurisdicional universal inerente ao

ordenamento jurídico uno que rege a República brasileira. O regime especial de

responsabilização concedido pelo STF aos agentes políticos no julgamento da reclamação

2138, ao prever que tais agentes respondem apenas pela Lei de Crime de Responsabilidade,

afastando a responsabilização administrativa e política prevista na Lei de Improbidade

Administrativa não mantém coerência com a Constituição Federal e seus princípios próprios

do Estado democrático de Direito.

PALAVRAS CHAVE: Lei de Improbidade administrativa. Agentes Políticos

Inafastabilidade do controle e responsabilização judicial