Três concepções teóricas de rede e suas implicações particulares para o estudo de redes...

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Versão preliminar (rascunho) de trabalho apresentado no 29º Encontro Nacional da ANPOLL (Associação Nacional de pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística), realizado realizdo de 9 a 11 de junho de 2014 na Universidade Ferderal de Santa Catarina, Florianópolis – SC. Três concepções teóricas de rede e suas implicações particulares para o estudo de redes sociais online Marcelo El Khouri Buzato ([email protected]) Introdução A polissemia da palavra rede se revela, atualmente, em discursos variados e, por vezes, desconexos, acerca do que chamamos de “realidade”. Relativamente subestimada no passado, serve hoje a uma multiplicidade de discursos que vão do científico ao estético, passando pelo técnico, pelo político, pelo psicológico, e pelo social. Não bastasse a proliferação dos quadros temáticos, há ainda os diferentes graus de rigor e nuances de sentido implicados no uso de “rede” ora como metáfora, ora como forma simbólica (no sentido de Panofsky, 1999), ora como conceito científico, caso do presente capítulo. Um conceito científico corresponde à soma de todos os enunciados verdadeiros sobre um objeto, do ponto de vista de uma comunidade científica (Dalberg, 1978). Na sua extensão mais estreita, constitui um objeto singular; na mais ampla, uma categoria. Tratar rede como conceito, portanto, equivale a uma dupla operação: limitar a polissemia da palavra para multiplicar, com rigor, seu conjunto de referentes. Para os propósitos deste trabalho, chamo o resultado dessa dupla operação de

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Versão preliminar (rascunho) de trabalho apresentado no 29º Encontro Nacional da ANPOLL (Associação Nacionalde pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística), realizado realizdo de 9 a 11 de junho de 2014 naUniversidade Ferderal de Santa Catarina, Florianópolis – SC.

Três concepções teóricas de rede e suasimplicações particulares para o estudo de redes

sociais online

Marcelo El Khouri Buzato

([email protected])

Introdução

A polissemia da palavra rede se revela, atualmente, em discursos

variados e, por vezes, desconexos, acerca do que chamamos de

“realidade”. Relativamente subestimada no passado, serve hoje a uma

multiplicidade de discursos que vão do científico ao estético, passando

pelo técnico, pelo político, pelo psicológico, e pelo social. Não bastasse a

proliferação dos quadros temáticos, há ainda os diferentes graus de rigor

e nuances de sentido implicados no uso de “rede” ora como metáfora, ora

como forma simbólica (no sentido de Panofsky, 1999), ora como conceito

científico, caso do presente capítulo.

Um conceito científico corresponde à soma de todos os enunciados

verdadeiros sobre um objeto, do ponto de vista de uma comunidade

científica (Dalberg, 1978). Na sua extensão mais estreita, constitui um

objeto singular; na mais ampla, uma categoria. Tratar rede como

conceito, portanto, equivale a uma dupla operação: limitar a polissemia

da palavra para multiplicar, com rigor, seu conjunto de referentes. Para

os propósitos deste trabalho, chamo o resultado dessa dupla operação de

Versão preliminar (rascunho) de trabalho apresentado no 29º Encontro Nacional da ANPOLL (Associação Nacionalde pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística), realizado realizdo de 9 a 11 de junho de 2014 naUniversidade Ferderal de Santa Catarina, Florianópolis – SC.

“concepção” e, isto posto, trago para o leitor três concepções de rede que

evidenciam propiciações e restrições teóricas e metodológicas específicas

para o estudo de Redes Sociais Online (doravante RSO): uma técnica

(rede como uma entidade material inserida no espaço e produtora de

território), uma epistemológica (rede como topologia de laços entre

atores), e uma ontológica (rede como natureza do ser).

Para tanto, como convém a um linguista aplicado (Signorini e Cavalcanti,

2009), tomo meu objeto, i.e. o conceito de rede, como ponto de partida de

um percurso transdisciplinar que busca aportes na Geografia, Sociologia,

Filosofia e Semiótica.

O capítulo inicia-se com a caracterização das referidas concepções,

seguidas de considerações sobre facetas das RSO que parecem ser mais

acessíveis em cada caso. Em seguida, ofereço um sumário com critérios

distintivos que julgo útil para o planejamento de pesquisas sobre RSO

afinadas com cada concepção. Nas considerações finais, abordo um

exemplo de RSO especialmente desafiador para a presente linha de

investigação, no sentido de que tende gerar paradoxos no seio de cada

uma das concepções.

Redes Técnicas

Pode-se definir como rede técnica

toda infraestrutura que permita o transporte de

matéria, de energia ou de informação e que se inscreve

sobre um território onde se caracteriza pela topologia

dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus

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arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de

comunicação (Curien, 1988, p.212).

Trata-se de uma concepção de cunho geográfico, originada, supõe-se, na

antiguidade, como metáfora de labirinto, e que passa, na idade média, a

denotar um tipo de produção material, com o desenvolvimento das

práticas de tecelagem, para, finalmente, na Europa ocidental, ao longo

do Século XVIII, converter-se em reificação da lógica espaciotemporal

capitalista (Costa e Ueda, 2007).

O estudo desse tipo de rede tem, em geral, um foco econômico,

interessando sobremaneira os estudiosos de estratégias de

desenvolvimento econômico dos Estados modernos. Isso porque redes

técnicas propiciam a criação paralela e eficaz da ordem e da desordem,

isto é, constituem um recurso técnico para a destruição de certos

recortes espaciais e criação de outros, de modo a fomentar a constituição

de solidariedades (políticas e econômicas), mas também de isolamentos e

exclusões, produzindo, no entanto, um aspecto geral de homogeneização

(Santos, 1996).

Por conta dessa propriedade, as redes técnicas sugerem um vínculo

entre escolhas particulares de governos e empresas e interesses gerais da

população, não por acaso sendo atualmente atreladas a discursos sobre

'‘inclusão’' social e/ou digital (Buzato, 2008). Existe, dessa forma, uma

relação inequívoca entre redes técnicas e poder, traduzida em disputas,

por parte grupos de interesses (Bijker, 2006), sobre a organização dos

fluxos materiais e não materiais que tornarão certos atores econômicos

centrais ou periféricos, de saída, de chegada, de passagem, ou isolados

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(virtualmente, não atores). Tais fluxos, explica Raffestin (1993, apud

Costa e Ueda, 2007), são constituídos de energia (ou circulação) e

comunicação (ou informação), elementos básicos de organização da

relação poder-saber, constitutiva de toda relação social, como já

apontava Foucault (1995).

Não à toa, pesquisas acerca das redes técnicas buscam, em geral,

mensurar a eficiência de seu funcionamento em vista do seu objetivo

econômico, o qual, por sua vez, volta-se para uma realidade exterior (por

exemplo, o mercado internacional, ou a defesa militar). Tais

mensurações, por serem quantitativas, sugerem objetividade e

neutralidade. É, contudo, na definição dos critérios quantitativos para a

aferição de qualidades de redes técnicas que se faz política de modo mais

eficiente, porque dissimulado como inevitabilidade técnica ou da

natureza, isto é, por fazer passar como “dado” aquilo que é “escolha”. Daí

a necessidade, numa sociedade democrática, de um esforço permanente

de regulamentação dessas redes (Lorrain, 1995).

Pereira (2012) ilustra com clareza o modo como esse jogo de quantidades

e qualidades promove isolamentos e exclusões sob um manto de

homogeneização, ao comentar discussões em torno da regulamentação

da banda larga no Brasil. O autor explica que a velocidade (medida em

bits por segundo) tem sido o elemento de referência mais comum para

classificar-se uma conexão como sendo “banda larga”. A velocidade é,

sendo, o critério mais enganoso, a depender dos usos da rede que são

levados em conta. Uma velocidade adequada em determinado quadro de

uso (por exemplo, quando o cidadão brasileiro usava a Internet

basicamente para transferir texto via e-mail, websites e salas de chat)

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torna-se uma velocidade baixa (e, portanto, a banda larga torna-se

estreita) num quadro seguinte (por exemplo, quando passamos a fazer

downloads de multimídia e streaming de vídeo constantemente, e a

armazenar nossos arquivos pessoais na nuvem). Não bastasse a questão

numérica, o escopo da medição é também um fator que deve ser revisto,

pois quando se toma como referência apenas a velocidade de download,

tem-se em mente um usuário ”consumidor”, algo que, obviamente, não

corresponde ao perfil do consumidor atual de banda larga, que faz tantos

downloads quando uploads de produções multimídia (um “produsuário”,

nos termos de Bruns, 2008). A quem interessa hoje, podemos perguntar,

blindar desse modo sutil a tradicional fronteira política entre produtor e

consumidor de mídias? E que maneira mais eficaz e silenciosa de fazê-lo

haveria do que simplesmente medindo a velocidade dos fluxos

unidirecionalmente?

Pereira (2012) mostra que a própria tradução de velocidade em

“qualidade de serviço”, ainda que a mesma fosse medida

bidirecionalmente, cai por terra quando se consideram critérios

alternativos, como a latência, por exemplo. A latência corresponde ao

tempo gasto por um pacote de dados para viajar entre dois pontos da

rede. Quando pensamos em pessoas que conversam quotidianamente

utilizando voz sobre IP (caso do Skype), por exemplo, fica muito claro sua

influência na qualidade da comunicação, já que o prolongamento

artificial de uma pausa, ou a quebra indevida de um turno

conversacional pode ter consequências semânticas e pragmáticas

severas, afetando, portanto, relações de poder-saber entre os usuários

(Buzato e Severo, 2010).

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Em vista dessas características, é uma pena que a concepção de rede

técnica (sobretudo de comunicação) seja normalmente pouco explorada

nas pesquisas sobre linguagem nas RSO. Isso porque somos,

especialmente no campo aplicado, particularmente interessados em

processos de exclusão e inclusão vinculados às práticas discursivas do

quotidiano do cidadão. De modo geral, porque exercem uma função

inegavelmente importante no estabelecimento e rompimento de

solidariedades sociais em diversas escalas de atividade hoje, as RSO

representam um cenário em que a atuação dos estudos da linguagem se

faz necessária. Há questões de linguagem, por exemplo, que devem ser

consideradas na discussão sobre critérios de regulamentação, tendo em

vista o direito de expressão e participação do cidadão na sociedade

democrática. Sobretudo, há um desafio, e, ao mesmo tempo, uma

oportunidade, para que possamos sofisticar nosso universo de análise

sobre as dinâmicas do poder-saber em práticas de linguagem situadas e

circuladas.

Além disso, o modo como as redes técnicas articulam

espaciotemporalidades por meio de uma semiótica material (Law, 2006) é

certamente instigante para um campo que se identifica perante os

estudos da linguagem ditos “teóricos” por insistir na necessidade de

estudar interações (textos, aprendizagens, identidades etc.) “em

contexto”. Tomemos como exemplo, para citar o caso notório vinculado

às RSO, a tragédia da dona de casa doente mental da cidade de Guarujá-

SP, linchada pela população de uma comunidade periférica, em maio de

2014, por ter sido erroneamente identificada como a personagem de um

retrato falado utilizado, anos antes, pela polícia de outro estado.

Circulado via Facebook, esse texto ganhou um sentido situado trágico,

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ao que tudo indica, não por “falta de informação”, mas porque aquele

lugar conectado ao Facebook era um ponto desconectado dos fluxos de

energia da polícia local (Campanha, 2014).

Redes Sociais

A segunda concepção de rede aqui abordada é, possivelmente, a mais

conhecida no âmbito dos estudos da linguagem, já que adotada há

décadas por sociolinguistas variacionistas (Bortoni Ricardo,1985 e

Milroy, 1987, entre outros). Como explica Recuero (2009, p. 24), as RSO

trouxeram novo fôlego a essa abordagem da sociologia pois, entre outros

motivos, seus usuários produzem uma grande quantidade de “rastros” de

interações entre atores sociais (pessoas, instituições, grupos) que, no

passado, não se podia obter em tamanha quantidade, nem com a mesma

facilidade. De alguma maneira, nesse sentido, as RSO cumprem, para os

estudos da linguagem, um papel semelhante ao cumprido, a partir dos

anos 1990, especialmente, pelos primeiros hipertextos online, isto é, em

ambos os casos, o digital trouxe para o pesquisador uma manifestação

empírica em grande escala de algo que antes constituía basicamente

num argumento teórico (no caso do hipertexto, as teorias pós-

estruturalistas sobre texto; no caso das RSO, teorias sociointeracionistas

do social e abordagem dos sistemas complexos).

Na concepção de redes sociais, a ideia de rede está atrelada ao

paradigma sistêmico nas ciências naturais, assim como aos trabalhos do

matemático Leonard Euler sobre Grafos1, tendo ganhado repercussão

duradoura nas ciências humanas por meio de trabalhos de sociólogos

1 Grafos são representações estruturais de relações entre elementos de um determinado conjunto. Há também abordagens algébricas e espaciais para redes sociais, porém a abordagem de grafos parece ser a mais frequente dos trabalhos em Comunicação e Estudos da Linguagem no Brasil.

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norte-americanos proponentes da abordagem interacionista do social, na

década de 1930 (Scott, 2012).

Se no caso das redes técnicas focaliza-se a reificação geográfica da

racionalidade capitalista, aqui o foco é basicamente epistemológico: redes

sociais são ferramentas de modelagem para o funcionamento estrutural

(global) de um conjunto social a partir de interações locais. Mais do que

isso, é uma maneira do analista viajar do todo (agregado, grupo) à parte

(indivíduo, ator), e vice-versa, vinculando um raciocínio analítico

cartesiano a uma abordagem topológica (relacional), em que todo e

parte são identidades contingentes, dependentes da escala de observação

escolhida (Latour et al., 2012).

O processo de investigação via redes sociais visa, em geral, explicar a

estabilidade de determinado ordenamento social a partir de regras locais

de interação. Isso é possível a partir da identificação de regras formais

vinculadas às relações topológicas e quantitativas entre atores. A força e

a vantagem dessa concepção de rede estão, portanto, na sua capacidade

de oferecer previsões relativamente precisas sobre fenômenos coletivos a

partir de comportamentos individuais, independentemente de influências

contextuais, em sentido geográfico-material. Em compensação, como em

toda abordagem sistêmica, há um limite para o que se pode prever em

diferentes escalas, pois a precisão de uma previsão será tanto maior

quanto mais afeitas a regras simples (ou simplificáveis) forem as

interações, isto é, serão mais previsíveis justamente as ações menos

dependentes de contexto, caso raro, como sabemos, na maioria das

sociedades humanas (Latour et al., 2012)..

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Enquanto no caso das redes técnicas os atores podem ser divididos em

usuários e instituições, sendo que as instituições usam as redes técnicas

para gerenciar fluxos de energia, matéria e informação com vistas à

dominação dos indivíduos (usuários) no território (Cunha, 2002), no caso

das redes sociais entende-se os atores institucionais como “emergentes”

de microinterações. É essa, justamente, uma das grandes contribuições

da abordagem para os estudos sociológicos modernos: contestar a noção

durkheimiana de que instituições (a família, a empresa, a igreja, o

estado, a escola etc) são entidades sui generis que determinam papéis e

funções de entidades subordinadas, ou seja, instituições como corpos

sociais dos quais indivíduos seriam membros funcionais (Latour et al.,

2012).

Apesar de partilharem com a abordagem das redes técnicas o princípio

de integração de quantitativo e qualitativo, no caso das redes sociais

quantidade e qualidade se relacionam a partir de um raciocínio

topológico-funcional. Por exemplo, pode-se estimar a força do laço

existente entre diversas empresas de um mesmo país levando-se em

conta o valor monetário negociado entre elas (peso ou força do laço

traduzindo solidariedade), mas também quem vende mais e quem

compra mais (graus de entrada e saída, traduzindo poder), quem recebe

mais vínculos (centralidade, traduzindo prestígio), quem conecta dois ou

mais grupos densamente conectados (intermediação, traduzindo

dependência), e assim por diante.

No entanto, assim como no caso das redes técnicas, a abordagem de

redes sociais não é isenta do “preconceito” decorrente de tomar atores

atomizados a priori, sejam eles pessoas, instituições, grupos, formigas,

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cidades ou usuários de uma RSO. Isso, como veremos adiante, pode ser

visto como uma limitação ontológica que restringe nossa “imaginação

sociológica” (Knorr-Cetina, 2005) no momento de fazer a modelagem.

Mais do que isso, a atomização teria sido não um pressuposto ontológico,

mas manobra analítica herdada de uma sociologia sujeita a limitações

empíricas que hoje, supostamente, estariam superadas, ou ao menos,

bastante enfraquecidas (Latour et al., 2012).

Não é à toa que essa abordagem venha sendo tão produtiva para o

estudo das RSO, uma vez que Facebook, Twitter, Instagram, e serviços

digitais afins combinam uma multiplicidade de microinterações locais

com conjuntos de regras de interação simplificáveis (já que limitadas por

opções de design do sistema) e formas relativamente simples e diretas de

acesso a datasets, a partir dos quais se pode fazer as modelagens.

Graças a novas e instigantes aplicações tecnológicas (por exemplo, Smith

et al., 2009), pode-se vincular a produção discursiva de grupos de

usuários em determinada escala à emergência de fenômenos sociais que

passariam despercebidos em face de análises tradicionais. Dito de outra

forma, uma das propriedades interessantes dessa concepção do ponto de

vista dos Estudos da Linguagem é que ela pode, de alguma forma,

ampliar nossa “imaginação linguística” para diversas escalas de

interação, diversos graus intermediários entre o local e o global, entre o

enunciado situado e a língua como conjunto de todos os enunciados a

cada momento, se vale a analogia (ver por exemplo, Recuero, 2011).

Redes monádicas (atores-redes)

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As concepções de rede abordadas anteriormente têm três características

em comum que as distinguem das redes monádicas ou atores-redes.

Primeiramente, tanto redes sociais como redes técnicas são redes

homogêneas, isto é, dizem respeito a atores que compartilham uma

mesma substância (ou “natureza”) presumida, a despeito de podem

variar quanto ao tipo (pontos no território, pessoas, instituições,

websites, etc.). A segunda semelhança entre redes técnicas e sociais,

que, ao mesmo tempo, as distingue das redes monádicas, está em que

ambas pressupõem atores atomizados. Dito de outra forma, ambas

partilham de uma “aposta ontológica” pela qual sujeito, objeto e contexto

são elementos discretos, sendo que sujeitos interagem entre si e com

objetos para produzir uma estrutura (“um contexto social”) que, por sua

vez, condiciona também as interações locais2. Isso significa que ambos

os tipos de rede adotam o assim chamado “modelo de dois níveis” do

social (Latour, 2012).

Nesta terceira concepção, a rede é do tipo heterogêneo, isto é, a

substância dos atores não é presumida nem necessariamente partilhada,

tampouco é critério pertinente para a constituição de agregados/grupos.

Assim sendo, não há uma aposta ontológica que precede o movimento de

traçar a rede, mas a rede é em si um tecido ontológico constituído de

atributos ou vínculos que “geram” os atores em diferentes escalas.

Assim, não só fica abolida a separação entre sujeito e objeto, como

coloca-se ator e contexto em um mesmo e único nível ou plano de

organização. Isso significa, entre outras coisas, que não há indivíduos

versus agregados , mas atores que são coletivos (enquanto conjuntos de

2 São diversas as tentativas nas ciências sociais de explicar-se como decisões individuais (agência) afetam o comportamento coletivo (estrutura) e vice-versa. Para um panorama geral dessas formulações, vinculado ao tema dos novos letramentos, ver Buzato (2013).

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atributos) em sua singularidade, gerada por algum ponto de vista

particular.

Na base dessa formulação estão as ideias do sociólogo francês Gabriel

Tarde (1843-1904), contemporâneo e grande adversário intelectual de

Émile Durkheim (1858-1917), cujas ideias sobre consciência coletiva e

corpo social são, assim como redes sociais e redes técnicas, correlatas ao

modelo de dois níveis.

Diferentemente de Durkheim (e de algum modo, também dos

sistemistas), Tarde não imaginava a sociedade em termos de todo e

parte, mas como um conjunto de elementos infinitesimais3 em constante

transformação. Para tanto, Tarde vai buscar na filosofia de Gottfried

Leibniz (2009) o conceito de mônada como fundamento ontológico

aplicável ao que chamamos de “o social”.

Mônadas são, para Leibniz (2009), “átomos da natureza” ou “elementos

das coisas” , isto é, são pura qualidade, sem substância. Por não terem

partes, mônadas não têm extensão, nem figura, nem divisibilidade. Ainda

assim, são entes reconhecíveis como tal, porque têm atributos. Nesse

sentido, são como signos em um sistema semiótico qualquer, vale

acrescentar. Como explica Vargas (2004), mônadas são ao mesmo

tempo diferenciadas – dotadas de qualidades que as singularizam – e

diferenciantes – pois são animadas por uma potência imanente de

mudança. Tais mudanças, contudo, não acontecem como “saltos” entre

níveis (como nos modelos sistemistas), tampouco são influenciadas

externamente (causalidade entre corpo e membros), mas de acordo com

3 Em matemática, um infinitesimal equivale a um número infinitamente menor que qualquer quantidade concebível, mas, ainda assim, maior do que zero.

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algum princípio interno (como no caso de partículas e átomos). Nas

palavras de Leibniz (1999, p. 26), “é necessário que, além do princípio da

mudança, haja um detalhe daquilo que muda, que produza, por assim

dizer, a especificação e a variedade das substâncias simples”. “Este

detalhe”, continua o filósofo, “deve envolver uma multiplicidade na

unidade” (grifo meu).

Conforme explica Vargas (2004), a hipótese das mônadas implica a

afirmação da diferença como fundamento da existência e,

consequentemente, a renúncia ao dualismo cartesiano que sustenta o

modelo de dois níveis. A “essência” de uma mônada não é substância,

mas atividade, algo que confronta diretamente nossa tendência

(preconceituosa, na visão tardiana) a pensar o desconhecido como

homogêneo, e de supor que os resultados dos processos sociais sejam

sempre mais complexos do que suas condições de partida (ou que o todo

seja sempre maior do que a parte). Assim, para Tarde, indivíduo e

sociedade são ambos compostos relacionais, toda coisa é sociedade, no

sentido de que tudo que existe só existe enquanto associação. O que faz

os seres singulares (diferentes entre si) não é seu suposto estatuto

ontológico, aquilo que (supomos) que são, mas uma sua capacidade de

produzir diferença, aquilo que têm. Como quer Latour (2001, p. 128),

“ter ou não ter, esta é a questão”.

Reside nessa “ontologia do ter”, exatamente, o ponto nevrálgico de uma

conexão possível entre conceito de mônada (ator-rede) e a semiótica

estrutural (francesa), que serve de ponte para os estudos da linguagem, e

que nos anima a explorar a ideia de uma semiótica material (Law, 2008).

O que Tarde propõe como natureza das coisas, afinal, não é diferente do

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que a semiótica propõe como natureza do signo, isto é, o signo como um

ente para qual a identidade e existência é atribuída exclusivamente a

partir de seus atributos e/ou vínculos relacionais.

Essa conexão epistemológica com os estudos da linguagem fica mais

explícita no termo “semiótica material”, cunhado por Law (2008) e

adotado por alguns outros autores dessa vertente, também referida como

Teoria Ator-Rede (doravante TAR). Tributária declarada da sociologia de

Tarde, a TAR parte do pressuposto de que todo ator social

(independentemente de sua substância) é uma rede (de outros atores,

vistos como atributos), ou, dito de outra forma, o que há não são atores

em rede, nem redes de atores, mas atores-redes e redes-atores, os

“indivíduos compostos” de que já falavam Leibniz e Tarde.

Intencionalmente ou não, a concepção monádica-tardiana-latouriana de

rede sugere um redirecionamento das ênfases possíveis em estudos

envolvendo RSO. Da ênfase utilitário-metrológica , vigente no enfoque

das redes técnicas, e/ou da ênfase preditiva, vigente no enfoque das

redes sociais, para uma ênfase exploratória, voltada para uma abertura

radical da nossa imaginação sobre a realidade sociológica.

A principal vantagem dessa concepção é que ela permite particularizar os

agentes independentemente de sua substância ou identidade,

oferecendo ao pesquisador, dessa forma, uma alternativa a construtos

potencialmente homogeneizadores ou “preconceituosos” (já que

atomizadores e apriorísticos) tais como gênero, classe, etnia e mesmo

humanidade. De certa forma, torna-se especialmente atraente para o

estudioso da relação entre linguagem, tecnologia e sociedade porque

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reconhece na linguagem “o único lugar onde podemos nos refugiar dos

perigos gêmeos do naturalismo e da ideia de contexto social” (HØstaker,

2005, p.6), outorgando-nos, dessa forma, o máximo de liberdade para

pesquisar (Latour, 2005, p.55).

Obviamente, essa mesma característica de abertura da imaginação

sociológica trazida pela referida abordagem pode sugerir um

enfraquecimento de representações do social relativamente cristalizadas

que, para o bem o para o mal, desempenham, e continuam

desempenando, um papel instrumental importante em lutas políticas por

direitos sociais nas sociedades democráticas. Mesmo descrente dessas

representações e/ou discordando dessas críticas, o pesquisador filiado à

abordagem monádica não pode negligenciá-las (ver, por exemplo,

Mendes, 2010).

Além disso, a independência em relação aos construtos tradicionais não

implica, necessariamente, algum tipo de “neutralidade”. Todo conjunto

de atributos considerados, convenhamos, terá que ser limitado de

alguma forma, para que seja empiricamente viável. Logo, qualquer que

seja o dataset escolhido, sua construção implicará escolhas do

pesquisador, assim como herdará, em alguma medida, no caso das RSO,

visões particulares de sociedade implicadas implicadas nos designs das

interfaces e dos bancos de dados envolvidos.

Finalmente, a concepção do “ser” como “ter” implica uma formulação

diferente da relação entre fluxos, atores e saber. O que se busca aqui não

é medir nem prever, mas visualizar4, pelo rastreamento de atributos

4 Existe aqui uma escolha lexical sutil, mas de grande relevância metodológica, quando, seguindo Latour (1986) opto por “visualizável” em lugar de “visível”. Isso porque tornar visível é uma operação da ordem da percepção, e

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infinitesimais, aquilo que é algo ou alguém para outro ou outrem. Nesse

sentido, nessa terceira concepção, não faz sentido falar em “interação”,

pois o que chamamos de interação se daria entre atores finitos e

discretos. Sendo os atores infinitos, e tão mais complexos quanto mais se

focaliza a observação, tratar de interações seria basicamente um modo

de aceitar a falta de acesso aos intermináveis atributos infinitesimais

envolvidos (Latour et al., 2012).

Traçar uma mônada difere de fazer um projeto de rede técnica ou uma

modelagem de rede social no sentido de que se escolhe um ponto de

partida tomado não como ponto, mas como determinado diâmetro ou

escopo de associações (derivado das limitações do dataset). A partir

desse diâmetro, seguem-se os vínculos (atributos compartilhados) até

que se tenha uma lista suficientemente extensa que permita singularizar

determinado agregado que, só então, será tratado como uma unidade e

“envelopado” com um nome de ator. Quanto mais se quiser singularizar

um ator, mais associações será preciso considerar, ou seja, quanto mais

definido, mais heterogêneo o ator será (a parte será sempre maior do que

o todo, como querem Latour et al., 2012).

Se o que se deseja é, por exemplo, estudar “poder institucional” em

determinado agregado social, deve-se encontrar as instituições a partir

da superposição de mônadas, e não pressupor que tais e quais atores

sejam instituições. Será instituição, naquele estudo, o ator que tiver mais

atributos recorrentes, consideradas todas as mônadas sobrepostas,

portanto, implica tornar algo preexistente acessível ao sentido da visão, enquanto tornar visualizável é uma operação ontológica correspondente a tornar inteligível (porque representável) algo que não está imediatamente acessível aos sentidos, tampouco preexiste ao processo semiótico. Se ver é perceber, visualizar é desde sempre uma maneira de compreender.

Versão preliminar (rascunho) de trabalho apresentado no 29º Encontro Nacional da ANPOLL (Associação Nacionalde pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística), realizado realizdo de 9 a 11 de junho de 2014 naUniversidade Ferderal de Santa Catarina, Florianópolis – SC.

sendo essa lista de atributos, e não um estatuto particular, que o

diferenciará inequivocamente dos demais atores.

Por exemplo, se procuro saber, a partir dos dados da Plataforma Lattes,

quem é o professor X com quem farei uma mesa redonda no próximo

ENAMPOLL, o nome próprio “X” não me dirá praticamente nada em

comparação com o que me informará a lista de vínculos/atributos

registrados em seu currículo. Tal nome próprio seria apenas um

“envelope” para o conteúdo do currículo (a mônada), esse agregado que

constitui de fato o professor X. Supondo que o professor X trabalhe na

universidade Y, publique artigos com a palavra-chave Z e tenha sido

citado no artigo T, terei agora mais três mônadas (ou atores-redes) que

posso sobrepor para defini-lo de modo inequívoco.

Porém, isso valerá para um determinado ponto de vista ontológico:

aquele oferecido pelo currículo Lattes do professor X. Há outros pontos

de vista. Para o ponto de vista da universidade Y, por exemplo, teremos

uma lista de professores funcionando como atributos; para a palavra-

chave Z, uma lista de artigos e autores; para o artigo T, um autor, uma

lista de outros artigos citados na bibliografia, uma lista de palavras-

chave, citações que recebeu e assim por diante. Cada atributo/vínculo de

cada ator é, novamente, uma rede de outros atributos e, desde que se

disponha dos datasets pertinentes, pode-se sobrepor tantas mônadas

quando se quiser, até que se chegue a uma ou mais instituições,

definidas inequivocamente. No presente exemplo, poderíamos envelopar

esse agregado, por exemplo, como área de investigação científica na

CAPES. Supondo, porém, que o professor X apareça em mais mônadas e

mais frequentemente do que universidade Y, ele será mais “instituído” do

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que a própria instituição em que trabalha. Supondo que o artigo T

apareça em mais mônadas do que a palavra-chave Z, ele será mais

chave para o campo do que a referida palavra, e assim por diante. Logo,

o único modo de garantir totalmente que a área de investigação seja

uma instituição mais “instituída” do que autores, universidades, artigos

ou palavras-chaves, seria defini-la, a priori, como atributo dos demais

atores.

Comparando essas listas de atributos em uma sequência temporal

(digamos, agregando as mônadas conforme a data de publicação dos

artigos em fatias de cinco em cinco ou dez em dez anos), poderíamos

visualizar quais desses atores (professores, instituições, palavras-chave,

artigos etc.) permaneceram, quais deixaram de ter vínculos entre si e

quais novos atores e vínculos apareceram. Dessa forma, talvez se

tornasse reconhecível como entidade uma outra área de investigação,

passível de ser “envelopada” com outro nome5.

Como sugere tal exemplo, em que tomo a plataforma Lattes como uma

RSO, há aqui uma inversão de papéis com relação às outras duas

concepções: trata-se menos de usar uma concepção de rede para

iluminar as RSO enquanto objeto de pesquisa do que reconhecer nas

RSO um recurso empírico inestimável para o desenvolvimento dessa

concepção em particular de rede. Isto porque, conforme notam Latour et

al. (2012), as RSO viabilizam empiricamente aquilo que Gabriel Tarde

apenas poderia imaginar, dados os instrumentos empíricos de sua época

(Latour et al, 2012, p. 590).

5 Adapto, aqui, um exemplo ilustrativo de Latour et al. (2012) para, incidentalmente, aproveitar uma discussão corrente, à época da elaboração deste capítulo, sobre os nomes utilizados atualmente pela CAPES para identificar aprodução acadêmica dos pesquisadores participantes da ANPOLL.

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Em verdade, qualquer cidadão hoje pode navegar de perfil em perfil por

RSO variadas, angariando atributos/conexões de outros atores, a partir

de seu ponto de vista, definindo e redefinindo é e quem são os outros a

partir de atributos como “amigos”, o que “curtem”, seus posts, o que

compram, o que leem, o que ouvem, o que assistem etc. Do mesmo

modo, cada dono de perfil numa RSO “desatomiza-se” constantemente,

aparentemente, numa luta para singularizar-se, multiplicando seus

atributos infinitesimais.

É claro que, da mesma forma, todo e cada cidadão deve também se

preocupar com essa nova e eficiente, porque silenciosa, maneira de

traçar mônadas para homogeneizar, solidarizar, envelopar, prever,

manipular etc. Deve compreender o valor de cada um de seus rastros e

vínculos que compõem gigantescos datasets à disposição de

anunciantes, provedores de Internet, sites de RSO, governos antiéticos,

entre outros interessados em ontologias sociais. Mais importante ainda,

deve fazê-lo contornando a ilusão de uma suposta ampliação das

liberdades individuais num aparente (porém improvável) vácuo de poder

(Buzato e Severo, 2010).

Síntese das três concepções

Tanto como objetos quanto como instrumentos, como vimos, as RSO

tornam possivelmente mais necessário e pertinente o refinamento

teórico-metodológico em torno do conceito de rede para o qual o presente

trabalho pretende constituir uma pequena contribuição. Sumarizando tal

contribuição, apresento o Quadro 1.

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Redes Técnicas Redes Sociais Mônadas (Atores-Redes)

Foco Poder e espaço Epistemologia Ontologia

Concepção de “ser” subjacente

Ser é estar (circulação)

Ser é ser (atomização)

Ser é ter (diferenciação com continuidade)

Relação entre entidade e contexto (e/ou estrutura)

Inclusão e exclusão Descontinuidade, interação (dois níveis, causalidade)

Continuidade, navegação (um nível,multiplicação)

Relação entre sujeito, objeto e agência

Sujeito e objeto sãoseparados e possuem identidades fixas que precedem sua ação.

Sujeito e objeto são separados e têm identidades posicionais que condicionam sua ação.

A agência precede a existência e a distinção entre sujeito e objeto não se aplica.

Tipos de relações entre atores

Dominação. Interações locais que geram efeitos globais.

Compartilhamento (ou não) de atributos.

Estratificação do “real”

Internalidade (materialidade espacial) e externalidade (finalidade econômica)

Ponto de vista do analista: individual e coletivo (micro e macro, local e global)

Não há estratificação, mas multiplicação de pontos de vista para todos os atores.

Organicidade

O todo é a soma das partes, mas uma parte pode pertencer a mais

Todo e parte são constitutivos. O todo é sempre maior e mais

Todo e parte são contingentes. O todoé sempre menor e menos complexo do

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de um todo (redes locais, redes translocais).

complexo do que aspartes.

que as partes.

Percurso usual de investigação

Ciclos iterativos (mensuração e qualificação).

Do mais simples para o mais complexo.

Do mais complexo para o mais simples.

Método Regulamentação Modelagem Navegação e sobreposição.

Quadro 1 – Sumário comparativo das propiciações metodológicas dastrês concepções de rede

Considerações finais

Nestas considerações finais, julgo pertinente sinalizar para a

insuficiência do presente quadro para dar conta de um tipo específico de

RSO considerado the next big thing na sociedade digital: a “internet das

coisas” (ITU, 2005). Basicamente, trata-se da integração da tecnologia

RFID (radio frequency identification) aos objetos do cotidiano por meio de

etiquetas (tags) que podem guardar e enviar sinais de sensoriamento (de

condições do entorno) via Internet, os quais, por sua vez, podem ser

recombinados para gerar ações programadas dos referidos objetos, bem

como interações deles com pessoas e outros objetos. Isso corresponde a

atribuir aos objetos algo como uma “inteligência embutida” que lhes

outorgará um papel agentivo mais visível no cotidiano social.

Por enquanto restritas a utilidades domésticas de luxo, ou então a

máquinas altamente sofisticadas como drones e sondas espaciais, essas

tecnologias trazem consigo um potencial inesgotável de aplicações

práticas no cotidiano. Já é possível, por exemplo, para os poucos que

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têm acesso a esses sistemas, “perguntar” para sua geladeira, via

WhatsApp, o que há dentro dela no momento, e pedir que ela consulte,

num site de culinária, um prato que possa ser preparado com esses

ingredientes para o jantar. Ao desconectar da conversa com seu ”patrão”,

a geladeira poderia, por exemplo, avisar o aparelho de ar condicionado

para regular a temperatura da sala dez minutos antes do horário em que

o GPS do automóvel do seu dono informou como sendo o previsto para a

sua chegada, de modo que o ambiente esteja de acordo para o desfrute

do prato.

É especialmente instigante pensar nas possibilidades dessa tecnologia

quando consideramos dispositivos móveis, que nos acompanhem em

nossas circulações – como já é o caso de nossos smartphones – e que

partilhem nossos percursos espaciotemporais, nossas construções e

representações de contexto, e, especialmente, nossas decisões e

expectativas na interação com outros seres humanos. Certamente,

alguns dos leitores deste capítulo já ouviram falar sobre uma aplicação

do Facebook que utiliza o microfone do tablet do usuário para reconhecer

o programa de TV ou música que está sendo ouvido naquele ambiente

físico e, então, sugerir comentários que o usuário poderia fazer no site a

partir daquele conteúdo!

O que está em jogo, em tese, é mais do que a questão da perda de

privacidade e/ou da vigilância que hoje nos preocupa quando pensamos

em RSO. Trata-se não apenas de uma questão epistemológica, mas

também ontológica, na medida em que as coisas conversarão

silenciosamente sobre nós, e em uma linguagem que não podemos

decifrar a olhos ou ouvidos nus. Mais que isso, os objetos poderão

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conversar à distância, partilhando informação contextual em uma escala

que supera em muito a da cognição e da percepção humanas. Isso

significa que nossas interações “locais” com e por meio das coisas

constituirão uma espécie de mashup semântico (Mitew, 2011), que

tornará saliente na materialidade do espaço aquilo que Manovich (2002)

já apontava como o fenômeno da transcodificação cultural nas interfaces

eletrônicas das novas mídias.

Finalmente, uma vez que serão capazes de registrar suas próprias

circulações e interações, as coisas terão à disposição datasets referentes

a si mesmos, disponíveis para diferentes recortes espaciotemporais, o

que lhes permitirá “reenveloparem-se” ontologicamente de tempos em

tempos, algo comparável, em alguma medida, ao que chamamos de

subjetividade nos seres humanos (Mitew, 2011; Buzato, 2012).

A pergunta que deve nos instigar, nessas considerações finais, a

continuar pensando sobre diferentes concepções de redes é: qual das

três concepções mencionadas aqui seria apropriada para estudar a

Internet das coisas? Enquanto rede técnica, ela funde energia e

comunicação, em lugar de separá-las, para produzir territórios. Se a

tomarmos como rede social, admitindo, por um momento, que objetos

são atores sociais, teremos que lidar não só com a dependência de

contexto diante das regras de interação, mas com a influência de regras

de recontextualização nas interações. Tomando a concepção das redes

monádicas para a Internet das coisas, ficaríamos mais à vontade para

ignorar as distinções entre informação e energia, objeto e sujeito,

contextualizante e contextualizado. Por outro lado, sobrepor as mônadas

produzidas a partir do ponto de vista das coisas e das pessoas, em um

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mesmo nível, implicaria transformar em “texto comum” o referido

mashup semântico, e, consequentemente, abrir mão da beleza do seu

efeito metassemiótico (Buzato et al., 2013)6. Por mais metodologicamente

astuta que fosse, essa manobra talvez nos tirasse o que de mais

interessante há em tudo isso para quem estuda linguagem. Assim sendo,

ainda que o Quadro 1 nos seja útil no momento de escolher o que

queremos saber sobre determinada RSO e como fazê-lo, talvez sua maior

utilidade esteja em nos lembrar de que a não totalidade de qualquer

explicação é sempre bem-vinda, porque permite que nos reconheçamos

como agentes ontológicos, tanto quanto nos reconhecemos como agentes

epistemológicos e políticos.

Agradecimento:

Agradeço a Nayara Natalia de Barros, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada da UNICAMP, pela valiosa ajuda narevisão linguistica do presente texto e relevantes sugestões de redação.

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6 Um “texto comum” pode ser pensado, a partir do princípio geral da intertextualidade, como um mashup para o qualos textos-fonte perderam suas “auras”, por falta de um vínculo consciente com a memória discursiva do leitor. Num mashup reconhecido como tal, tanto ou mais do que o conteúdo ideacional do texto, importa o efeito metassemióticoda combinação “sem costura” de textos-fonte cujas “auras” permanecem visíveis, sendo esse efeito, justamente, que nos faz admirar mashups realizações autorais, dignas de nota (Buzato et al, 2013).

Versão preliminar (rascunho) de trabalho apresentado no 29º Encontro Nacional da ANPOLL (Associação Nacionalde pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística), realizado realizdo de 9 a 11 de junho de 2014 naUniversidade Ferderal de Santa Catarina, Florianópolis – SC.

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