TRÁFICO DE PESSOAS: Escravismo contemporâneo

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TRÁFICO DE PESSOAS : Escravismo contemporâneo Daniela Bedesco Felipe Aires Jorge Nicholas Johara Cain Lamis Batista Dias Maiara Alvarenga Tanimoto Patricia Negrão Priscila Barros Thaiz Cristina Parada

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TRÁFICO DE PESSOAS:

Escravismo contemporâneo

Daniela Bedesco

Felipe Aires

Jorge Nicholas Johara Cain

Lamis Batista Dias

Maiara Alvarenga Tanimoto

Patricia Negrão

Priscila Barros

Thaiz Cristina Parada

I- Introdução:

O presente trabalho tem como característica primordialabordar o tráfico de pessoas, crime este considerado deâmbito internacional, tendo em vista o envolvimento dediversos países para a sua configuração.

Por se tratar de um crime de tamanha magnitude e quecresce a cada ano, houve a necessidade de implantar normasque neutralizassem a conduta dos aliciadores, daí acriação do Protocolo adicional à Convenção das NaçõesUnidas contra o crime organizado transacional, vulgoProtocolo de Palermo.

Estimam-se, segundo o relatório da OrganizaçãoInternacional do Trabalho, que cerca de 2,4 milhões depessoas já foram vítimas desse tipo de crime, dentre eles,homens, mulheres, crianças e adolescentes. Na sua maioria,as vítimas eram moradores de periferia, que por sua vez,não contentes com a vida que levavam no Brasil, acabavamsendo ludibriadas por vantajosas propostas de emprego noexterior.

Assim, segundo o Protocolo de Palermo, pode se dizerque o tráfico de pessoas possui três finalidades:Exploração sexual, sendo este um gênero, que comportavárias espécies (Exemplos: turismo sexual, prostituiçãoinfantil, etc); Remoção de órgãos e trabalhoforçado/servidão.

Logo, no momento em que as vítimas desembarcam no paísem que serão escravizadas, seus passaportes são retirados,configurando-se assim, violação ao princípio constitucionalde ir e vir, bem como o princípio da Dignidade da pessoahumana.

Assim, diante do que fora exposto acima, se faznecessária uma abordagem mais ampla do fenômeno Tráfico dePessoas, o qual será minunciosamente estudado abaixo.

II- Evolução Histórica:

O tráfico de pessoas e o trabalho escravo têm comocaracterísticas primordiais a restrição da liberdade davítima, devido ao domínio de outrem sobre este, e aviolação da dignidade humana, pois na maioria dos casos asvítimas são mantidas em condições desumanas.

Essa é a triste realidade e o passado de muitaspessoas, que sofrem ou já sofreram por tal lástima, pois empleno século XXI pode-se identificar vários casossemelhantes aos que ocorreram entre meados dos séculos XVIIaté o XIX.

Observa-se a presença do tráfico de pessoas desde osmais longínquos anos, visto que a construção da sociedadebrasileira teve como base a exploração de seres humanos,com a prática da escravatura. Durante o período colonial doBrasil, o índio nativo foi o principal alvo doscolonizadores para o trabalho escravo, porém a coroaportuguesa estava interessada em uma solução mais lucrativa(relata-se que os negros eram tecnicamente mais avançadosque os índios brasileiros, ou seja, não precisariam passarpor um processo “qualificatório”) e menos burocrática, poisna época a Igreja Católica se opôs à escravização dosindígenas, porém não combateu a escravização negra.

Inclusive, a Santa Sé garantiu, por meio de bulaspapais, a Portugal o domínio de territórios na África, como objetivo basilar o da prática do comércio de escravos.Por isso, na Idade Moderna, Portugal foi reconhecido comopaís pioneiro da Europa a desempenhar o comércio deescravos negros. Ele foi um dos primeiros países europeus aexplorar a costa da África, em meados do século XV. Ora,diante disto, os colonizadores portugueses fizeram aqui noBrasil o que já estavam acostumados a fazer, traficar mão

de obra estrangeira, principalmente a africana, o quedesencadeou o denominado Tráfico Negreiro.

O tráfico negreiro tornou-se uma das atividades maislucrativas na época do comércio colonial, tendo o seu boomcomercial durante a exploração da atividade açucareira, eda exploração das minas de ouro e prata, atingindo o seuapogeu no século XIX. As regiões que mais receberamescravos no Brasil, nessa época, foram Bahia e Pernambuco,local de maior concentração da produção de açúcar.

Durante esse período milhões de negros africanos foramdominados, violentados e vendidos a outros países, não sópara o Brasil. Eles eram acorrentados e levados aos naviosnegreiros, que realizavam a travessia de oceanos emcondições desumanas e degradantes a qualquer ser humano.

A situação do traficado e escravizado era de proporçãoabsurda que o jesuíta italiano André João Antonil,registrou em sua obra escrita em 1711, a Cultura eOpulência do Brasil por suas Drogas e Minas, aonde afirmavaque “os escravos são as mãos e os pés do senhor doengenho”, e mais adiante, “costumam dizer que para oescravo são necessários três P, a saber: pau, pão e pano”,ou seja, além do escravo ser explorado de diversas formas,como por exemplo, o trabalho em canaviais, trabalhosdomésticos, e até sexuais, tudo que ele merecia eram apenaso castigo físico, pouca comida e algum tipo de vestimenta.

Apesar de todo o liberalismo em torno da escravidão,que durou quase três séculos, principalmente porconsequência de interesses econômicos, havia um pensamentode libertação do trabalho escravo e do fim do comércioescravo, formado por vários grupos sociais, como porexemplo os literatos, religiosos, políticos e pessoas dopovo, que realizaram o movimento abolicionista, e obtiveramêxito em 1888, através da Princesa Isabel que assinou a LeiÁurea em 13 de maio daquele ano, que aboliu a escravidão eque compreendia no fim do direito de propriedade de umapessoa sobre a outra, acabando com a possibilidade depossuir legalmente um escravo no Brasil.

Porém, no Brasil a repressão ao tráfico chegou antes,em 1850 com o voto da Assembleia Geral do Rio de Janeiro

que instituiu a Lei Eusébio de Queiroz, que proibiu otráfico negreiro e estabeleceu punições para os infratores,mas estima-se que o tráfico negreiro transportou quase 4milhões de negros da África, durante os três séculos daescravidão, e mesmo após a abolição da escravidão com acriação da Lei Áurea em 1888, a situação dos escravizadoscontinuou em extrema precariedade, pois o governobrasileiro não ofereceu qualquer suporte a estas pessoas.

Portanto, diante do passado dos africanos traficados eescravizados no território brasileiro, supostamentedeveríamos afirmar que estas práticas desumanas de mão deobra não ocorrem atualmente, porém conforme pesquisas pode-se concluir que esta prática não foi abolida por completo,foi simplesmente disfarçada, mediante falsas promessas detrabalho no Brasil, ou no exterior, e outras formas dealiciamento.

III- Explanação sobre o Protocolo de Palermo:

A Convenção de Palermo é o nome pelo qual é maisconhecida a Convenção das Nações Unidas contra o CrimeOrganizado Transnacional. Foi adotada em Assembleia daOrganização das Nações Unidas (ONU), no mês de novembro doano de 2000, na cidade de Nova Iorque.

No âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA),a Convenção de Palermo foi objeto de Resolução, aprovada naXXX Assembleia Geral, contando com o apoio do Governobrasileiro.O protocolo de Palermo é um instrumento com ointuito em forma especial de proteger crianças e mulherespara que estas não sejam exploradas sexualmente, portrabalho, serviços forçados, escravatura ou práticassimilares a escravatura, a servidão ou a remoção de órgãostratando de crianças e adolescentes com idade inferior a 18anos. O consentimento é irrelevante para a configuração dotráfico. Quando se tratar de homens adultos e mulheresadultas o consentimento é relevante para excluir aimputação do tráfico, a menos que seja comprovada ameaça,coerção, fraude,abuso de autoridade,ou de situação de

vulnerabilidade bem como a oferta de vantagens para quemtenha autoridade sobre outrem.

É essencial notar que as organizações criminosas sevalem de um certo grau de “colaboração da vítima” para aexecução das fases do delito, principalmente para oaliciamento.No entanto, conforme o texto do Protocolo dePalermo, o consentimento da vítima é irrelevante para acaracterização do fato como tráfico de pessoas, desde que operpetrador se utilize de ameaça, força, coação, rapto,fraude, engano, abuso de autoridade, pagamentos, benefíciosou se aproveite da situação de vulnerabilidade da vítima.Cumpre salientar que, neste ponto, a Política Nacional deEnfrentamento ao Tráfico de Pessoas brasileira confere graude proteção ainda maior à vítima, desconsiderando o seuconsentimento em qualquer circunstância. Assim, ainda que avítima não se oponha ao recrutamento e ao transporte econcorde em ser explorada, restará configurado o tráfico depessoas. Tal disposição se adequa à necessidade de respeitoà dignidade como um direito humano fundamental, refletindoum visão mais avançada e humanitária em relação àquelaconstante do Protocolo de Palermo.A finalidade hoje destetratado é o tratamento digno da pessoa.Este passa a sercoibido por meio de serviços de assistência,disquedenúncia,etc.

A Organização das Nações Unidas define o tráfico depessoas como “o recrutamento, o transporte, atransferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas,recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas decoação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso deautoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ouaceitação de pagamentos ou benefícios para obter oconsentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobreoutra para fins de exploração”, nos termos do chamadoProtocolo de Palermo.

Numa definição mais simplificada, consiste noaliciamento e no transporte de seres humanos, utilizando-sede formas de coerção, como a força, a fraude, o abuso dasituação de vulnerabilidade ou outras, com o propósito deexplorá-los. Desse conceito é possível extrair asprincipais fases do tráfico de pessoas, quais sejam, o

recrutamento, o transporte e a exploração. Em relação aorecrutamento, um dos pontos de maior discussão na definiçãodo tráfico de pessoas está relacionado ao consentimento davítima. Quanto ao transporte, o mesmo pode ser realizadodentro ou fora dos limites do país, caracterizando otráfico como interno ou externo.

A diferença de tratamento de cada uma das finalidadesdo tráfico de pessoas é essencial para o seu enfrentamentoadequado e racional, pois as medidas para prevenir o crime,resgatar as vítimas e punir os criminosos variam de acordocom cada situação.

O Protocolo de Palermo prevê como a primeirafinalidade do tráfico de pessoas a “exploração daprostituição de outrem ou outras formas de exploraçãosexual” Em relação às vítimas dessa espécie de tráfico, amaioria “vão para a Europa iludidas por promessas deemprego, bons salários, estudos e, em algumas vezes, atécasamento, sem ter qualquer ideia dos riscos que corriam.Ao chegarem ao destino, têm os seus passaportes confiscadose são obrigadas a trabalhar como prostitutas, tendo quepagar enormes quantias para saldar pretensas dívidasrelativas às suas passagens, comida, vestuário, estadia,etc. Diante disso, torna-se impossível fazer qualquereconomia para se libertar dessa situação e voltar paracasa. Estas mulheres não conhecem seus direitos no paísestrangeiro e, para agravar a situação, geralmentedesconhecem o idioma local. Vivem com medo, ficamvulneráveis, abandonadas e são abusadas como escravasmodernas.”

A prostituição é uma atividade que expõe o trabalhadora riscos físicos e de saúde, bem como ao preconceito. Amaioria dos países não reconhece a prostituição comotrabalho e não exerce sobre a mesma nenhum controle ouregulamentação, tornando a atividade uma das maismarginalizadas do setor informal e possibilitando diversasformas de exploração e violência. Além disso, a demanda porsexo barato e por biótipos exóticos estimula a busca dehomens ou mulheres de diferentes localidades, fortalecendoa rede criminosa do tráfico para exploração sexual.

Sobre a questão da prostituição e a melhor solução aser adotada para a proteção das vítimas de tráfico depessoas, há uma discussão acirrada entre os que defendem aregulamentação da atividade e os que se posicionam pela suaproibição. Um dos argumentos levantados é de que aproibição pode contribuir para o enfrentamento ao tráficona medida em que torna ilícita também a atividade-fim,facilitando o seu combate sem haver a necessidade dedistinção entre a pessoa que trabalha de maneira voluntáriae aquela que é ameaçada por um ofensor, ou seja, ambasdevem ser protegidas e afastadas de tal atividade. Poroutro lado, movimentos de mulheres afirmam que acriminalização da prostituição aumenta ainda mais aviolência que as vítimas experimentam nas mãos decriminosos e funcionários públicos, além de fixar o “triploestigma de criminosa, prostituta e imigrante” o qualintensifica o desrespeito aos direitos humanos.

IV- Conceito de Tráfico de Pessoas:

O tráfico de seres humanos é uma prática criminosa quesurgiu com o tráfico negreiro para exploração laboral pormeio da escravidão, sendo posteriormente agregado aoconceito de tráfico a negociação de mulheres para aprostituição.

Não existe uma conceituação legal completa do que sejatráfico de pessoas. A primeira tentativa neste sentido foiinscrita no Protocolo de Palermo - Decreto n. 5.017 de 12 emarço de 2004 - em seu art. 3°, alínea “a” in verbis:

A expressão "tráfico de pessoas" significa “orecrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento depessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação,ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação devulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios paraobter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra parafins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração daprostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou

serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidãoou a remoção de órgãos”.

Por meio de uma análise preliminar do conceito detráfico de pessoas incorporado pelo Protocolo de Palermo épossível extrair os seguintes elementos que integram essaprática criminosa:

1. recrutamento, transporte, transferência de pessoas,alojamento ou acolhimento de pessoas;

2. uso de força, ameaça, fraude, coação, abuso deautoridade, rapto, engano, vulnerabilidade da vítima oupromessa ou entrega de pagamentos ou benefícios;

3. finalidade de exploração da prostituição, do trabalhoou serviços forçados, da escravatura ou práticas similaresà escravatura, servidão ou remoção de órgãos.

É inerente ao conceito de tráfico de pessoas atransferência, remoção, das vítimas de um local para outro,podendo o tráfico ocorrer no mesmo país, nacional, ou entrepaíses distintos, internacional.

Para obter o consentimento da vítima, osaliciadores (agentes do tráfico de pessoas) utilizam dasmais diversas formas de fraude, sendo as mais comuns aspromessas de uma vida melhor em outro país ou região, decasamento, fama, viagens, carreiras de modelo, dentreoutras.

Por ter sido obtido mediante fraude, normalmentecom o aproveitamento da situação de vulnerabilidade dasvítimas, o consentimento das pessoas aliciadas é viciado,sendo portanto, desconsiderado para a existência da práticacriminosa.

A vulnerabilidade das pessoas traficadas pode sersocial, econômica ou educacional. Em regra, avulnerabilidade social é o que induz as vítimas aconsentirem com uma das formas de exploração acimaenumeradas, porquanto, estas se atraem pela possibilidadede uma vida melhor e abrem mão de sua liberdade em nomedaquele objetivo.

Em decorrência da vulnerabilidade, as vítimas dotráfico de pessoas não se veem como tal, o que sobremaneiradificulta a atuação do Estado na prevenção e repressão aotráfico e assistência às vítimas.

Além do aproveitamento da vulnerabilidade dasvítimas, são usados como meio para obter o consentimentodestas a força, ameaça, coação, rapto, o abuso deautoridade e a promessa ou entrega de pagamentos oubenefícios.

Independentemente da forma do consentimento davítima, o bem jurídico tutelado pela criminalização daconduta de tráfico de seres humanos é a liberdade em suasmais variadas formas (liberdade sexual, liberdade para ir evir, liberdade laboral).

De fato, as pessoas traficadas são privadas de suadignidade humana, sofrendo constantemente violações a seusdireitos fundamentais, uma vez que o tráfico é resultado da“desigualdade socioeconômica, da falta de educação, depoucas perspectivas de emprego e de realização pessoal, deserviços de saúde precários e da luta diária pelasobrevivência”.

4.1- Para fins de exploração sexual:

Antes de abordar, especificamente o tema propostonecessário se faz estabelecer a diferenciação entre otráfico de pessoas, com a imigração ilegal, pois, estestemas distintos, podem facilmente serem confundidos.Entretanto, a diferença entre eles é simples, resumidamentebaseia-se na exploração da pessoa em seu destino final, comou não o seu consentimento.

Considera-se que, a finalidade da primeira organizaçãocriminosa se restringe basicamente ao favorecimento(promoção e facilitação) para imigração ilegal (contrabandode pessoas), onde os dois agentes da relação corroboramrazoavelmente para um mesmo fim (transportar ilegalmentepessoas de um Estado para o outro); a segunda organização,

de forma ludibriosa, acaba por enganar o imigrante fazendocom que este acredite que os dois agentes compartilham dasmesmas finalidades, porém, quando o destino final éatingido, toda a mentira cai por terra, e o imigrante éinformado das reais intenções dos traficantes.

As organizações criminosas destinadas objetivamente atraficar pessoas ferem, precipuamente, violação aosdireitos humanos e garantias fundamentais relativosprincipalmente ao direito de ir e vir são cerceadosinexoravelmente.

Estabelecida de maneira superficial as diferençasentre o tráfico de pessoas e o contrabando de migrantes,tratemos tão exclusivamente do tráfico de pessoas com o fimde exploração sexual.

Em meados de 1904, as convenções para retaliar eextinguir o tráfico de mulheres brancas para a prostituiçãodespertou forte interesse da comunidade internacional,materializando-se no acordo firmado em Paris para aRepressão do Tráfico de Mulheres Brancas, que no anoseguinte foi convolado em Convenção.

As três décadas posteriores foram o marco inicial quegeraram outras tantas convenções no mesmo sentido, sendoelas: A Convenção Internacional para a Repressão do Tráficode Mulheres Brancas (Paris, 1910), a ConvençãoInternacional para a Repressão do Tráfico de MulheresBrancas e Crianças (Genebra, 1921), a ConvençãoInternacional para a Repressão do Tráfico de MulheresMaiores (Genebra, 1933), o Protocolo de Emenda à ConvençãoInternacional para a Repressão do Tráfico de MulheresMaiores (1947) e, por último, a Convenção e Protocolo finalpara a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio (LakeSucess, 1949).

Tais convenções relacionadas à escravidão e àspráticas equiparadas - tráfico de pessoas e exploraçãointernacional da prostituição – tiveram, reconhecidamente,o seu valor como tentativas de aniquilar com os problemas.Todavia, se mostraram inadequadas quando observado queapenas 25% dos países do mundo ratificaram a Convenção de

1949, para a Supressão do Tráfico de Pessoas e daExploração da Prostituição e de outros, por exemplo.

Passados meio século, a Resolução Geral das NaçõesUnidas nº 55/25 de 15 de Novembro de 2000, adotada por suaConvenção Geral Contra o Tráfico de Pessoas, tornou-se oprincipal instrumento contemporâneo no combate ao crimeorganizado internacional relacionado a este tema. Areferida convenção abriu seu período de assinatura eratificação pelos Estados Membros entre os dias 12 e 15 deDezembro de 2000, na cidade de Palermo, Itália; por isso o“título” de Convenção de Palermo, do qual o UNODC ( UnitedNations Office onDrugsand Crime) é guardião, entrando emvigor em 29 de Setembro de 2003.

Por forte pressão dos grupos de defesa dos direitoshumanos, tal convenção sofreu, determinada suplementação nosentido de tratar mais especificamente os principais crimesinternacionais e suas vertentes e, para isso, foramaprovados: The ProtocoltoPrevent,SuppressandPunishTrafficking in Persons,EspeciallyWomenandChildren;theProtocolagainsttheSmugglingofMigrantsby Land, SeaandAir; andtheProtocolagainsttheIllicit ManufacturingofandTrafficking in Firearms,theirPartsandComponentsandAmmunition.

Especificamente, o Protocolo para Prevenir, Suprimir ePunir o Tráfico de Pessoas, especialmente Mulheres eCrianças, acredita internacionalmente o conceito do tráficode crianças, adolescentes e mulheres para fins deexploração sexual comercial ou trabalho compulsório,estabelecendo em seu art. 3º, alínea “a”, que:

Trafficking in persons"shallmeantherecruitment, transportation,transfer, harbouringorreceiptofpersons,bymeansofthethreator use of forceorotherformsofcoercion, ofabduction, offraud,ofdeception, ofthe abuse ofpowerorof apositionofvulnerabilityorofthegivingorreceivingofpaymentsorbenefitstoachievetheconsentof apersonhavingcontrol over anotherperson, forthepurposeofexploitation. Exploitationshall

include, at a minimum,theexploitationoftheprostitutionofothersorotherformsof sexual exploitation,forcedlabourorservices, slaveryorpracticessimilar toslavery,servitudeortheremovaloforgans;

Frente a isso, a tipificação jurídica do tráficoelencada no Protocolo de Palermo demonstra determinadasrestrições quanto ao enfoque dado, de forma a caracterizarunicamente a violência pela coação e abuso de autoridade.Tal enfoque não permite uma descrição mais esmiuçada dasestratégias de ações subjetivas e de determinadas pressõesestruturais não previstas no artigo, e indissociáveis dofenômeno. Todavia, a generalidade da definição conceitualestrutural da lei acaba por se adequar às necessidadesprementes do combate, observando que seja possível umaampliação do objeto, no qual se incluem todas as formas detráfico humano (exploração sexual comercial e outras formasde trabalho escravo) do qual descartasse a idade e o sexo.

Assim, no sentido de aumentar o foco da conceituaçãode tráfico, se mostra necessário definir a exploraçãosexual comercial forçada, como sendo:

[...] uma violência sexual que se realiza nasrelações de produção e mercado (consumo,oferta e excedente) através da venda dosserviços sexuais de crianças e adolescentespelas redes de comercialização do sexo, pelospais ou similares, ou pela via de trabalhoautônomo. Esta prática é determinada nãoapenas pela violência estrutural (pano defundo) como pela violência social einterpessoal. É resultado, também, dastransformações ocorridas nossistemas devalores arbitrados nas relações sociais,especialmente o patriarcalismo, o racismo, ea apartação social, antítese da idéia deemancipação das liberdades econômicas/culturais e das sexualidades humanas. (LEAL,2001, p.4).

O protocolo acaba por enunciar a configuração dotráfico de pessoas sob dois aspectos: os aspectosmateriais, explicitados através de uma objetividade de

condições (transporte, recrutamento, alojamento etc.) e osaspectos subjetivos imateriais (sedução, coação,escravidão, submissão etc.); ambos, como elenca Leal e Leal(2002, p. 44), “[...] traduzindo-se, na realidade dotráfico, como indicadores de efetividade.” - indicadores deefetividade fatores que traduzem uma situação concreta eestratégica, que dá possibilidade e/ou cria condiçõesfavoráveis a situação de tráfico.

Passemos a entender como uma adolescente ou mulhertransforma-se em traficada e posterior trabalhadora escravacom fins de exploração sexual na atualidade.

Com a devida vênia e ressalvas, para melhor analisar ocaso faremos a substituição da figura do trabalhador ruralpela mulher ou adolescente; o destino rural do latifúndiopelo destino nacional e internacional dos prostíbulos,casas noturnas, boates, pensões etc.; o meio de transporteilegal pelas companhias de aviação nacionais einternacionais; as ferramentas de trabalho pelo uso dopróprio corpo como instrumento laboral; a promessa depagamento no fim do laboro servindo de máscara para acontinuidade do trabalho, pela consciência de trabalho semremuneração; e por fim, o custo zero do trabalhador ruralpelo alto custo da “escrava sexual”, mesmo observando todasas particularidades existentes de um para com outro, épossível notar a semelhante sistemática da imposição daescravidão nas zonas rurais e no trabalho escravo com finsde exploração sexual.

Entretanto, um dos fatores a determinar adiferenciação do trabalho escravo rural do urbano com fimde exploração sexual, reside precipuamente no uso dasorganizações criminosas internacionais e seus maisdiferentes artifícios ilegais. O “gato” (como é chamado oagente no âmbito do trabalho forçado rural) quando aliciauma pessoa ou um grupo delas para trabalhar em determinadapropriedade rural, não age em consonância com uma grandeorganização criminosa, ou grupo internacional, o “gato”,age sim de acordo com as necessidades do proprietário daterra, sem qualquer vínculo internacional.

Já o aliciador de meninas e mulheres age de acordo comos ditames de uma organização criminosa internacional, com“tentáculos” espalhados pelos mais variados países.

Na grande maioria dos casos, essas organizaçõescriminosas não atuam somente no tráfico de pessoas, atuamainda no tráfico de armas, tráfico de drogas etc..

O diagnóstico elencado na grande oferta de mão de obrapara a continuidade do tráfico de seres humanos com fim deexploração sexual reside, principalmente, na ofertaexcedente de mulheres em situação de vulnerabilidadesocial.

Fatores como a exclusão social, desestrutura familiar,a precarização do trabalho, o desconhecimento dos direitos,a baixa escolaridade, a crescente demanda pela “compra” deserviços sexuais, a tecnologia empregada no marketing epropaganda dos serviços oferecidos, e, por fim, a falta dadevida fiscalização influencia em muito a postergação doproblema.

O constante crescimento e, a continuidade dessaspraticas, se dá pela omissão do Estado em relação aocombate à violência de gênero, e a negligenciação quantoaos fatores socioeconômicos e as inócuas políticas públicasde melhoramento da condição do nível social da populaçãocomo um todo, que acabam por gerar o tráfico interno einternacional etc.

4.1.1- Os Fatores Sociais e Econômicos como contribuinte aoTráfico de Pessoas com o fim de exploração sexual.

Assim como quase tudo tem seu lado bom e ruim, com aglobalização não é diferente. As movimentações e trocasalém de nossas fronteiras tais como de mercadorias,pessoas, serviços e informações, têm acentuado ainda mais acrise social, principalmente por desmembrar as relações detrabalho através da negação de direitos trabalhistas,resultando em uma precarização de suas formas, que acabapor ensejar na relação do tráfico de pessoas e a exploração

de trabalho escravo, tendo por ápice o extermínio do ser ede seu direito à dignidade num sentido amplo.

Estabelecendo uma relação direta entre Globalização XTráfico de Seres Humanos, este acaba por emergir nummovimento econômico organizado em redes locais etransnacionais, de origem predominantemente clandestina eilegal, que viabilizam o recrutamento e o aliciamento decrianças, adolescentes e mulheres, reforçando a dependênciapsico-social, social e econômica destes segmentos, com ofim principal de traficar seres humanos internamente einternacionalmente para diferentes fins, tais como:transplante de órgãos, adoção, e por fim o trabalho escravocom fins econômicos e sexuais, conforme denuncia a ONU(2005) e tantas outras organizações não governamentais.

Como resultado dos avanços tecnológicos e dos sistemasde transporte, pela quebra das barreiras econômicasinternacionais e pela desregulamentação dos mercadosglobais, o tráfico de seres humanos no contexto mundial,acaba por interconectar-se com redes e mercados deatividades criminosas, movimentando anualmente vertiginosassomas em dinheiro, como por exemplo: a Yakusa, as TríadesChinesas, a Máfia Russa e os Snake Heads, que respondemanualmente por transações na casa de quase 1 (um) bilhão dedólares no mercado internacional de tráfico humano (ONU,2001 apud LEAL; LEAL, 2002,p. 49).

Dessa forma, as grandes organizações criminosastransnacionais têm enfraquecido Estados e Governos, eimprimindo nos meandros das políticas públicas e projetosde desenvolvimento e crescimento econômico (FMI, BID eoutros), especialmente quando observam a existência deespaços para tal, a implementação de redes de tráfico demulheres, crianças e adolescentes para fins de exploraçãosexual comercial.

Estes projetos recorrentemente facilitam a expansão docrime organizado, expandindo cada vez mais as desigualdadessociais de gênero, raça e etnia, elevando cada vez mais onúmero de danos ao meio ambiente e suas relações culturaislocais. Como afirma Leal e Leal (2002, p.49-50), um dospossíveis exemplos de exploração e dominação “é a políticade turismo globalizada, que vem provocando a expansão da

indústria do turismo sexual, cujos atores mais envolvidossão as mulheres, crianças e adolescentes”, como afirmatambém Piscitelli (2007), e como já tratado em momentoanterior.

Para o Unicef (2001 apud LEAL; LEAL, 2002, p.50):

[...] é a combinação de mobilidade e deexploração que caracteriza o tráfico quepoderia ocorrer, por exemplo, no início doprocesso, quando um sujeito social (mulher,menino, menina, família ou comunidade) crênas promessas de uma vida melhor em outrolocal, em melhores oportunidades detrabalho, em recompensas ou na promessade estar protegido contra a discriminação oude conflitos. Pode ocorrer, também, se essessujeitos receberem documentos falsos quecolocam a mulher ou o/a menor de idade, emsituação de submissão por causa de umadívida, assim como em uma situaçãojuridicamente vulnerável.

Estes fenômenos são atrelados diretamente aosindicadores de mobilidade (movimento de deslocamento decrianças, adolescentes e mulheres), de migração e defronteiras, afetados diretamente pelos fatoresmacrossociais e culturais.

Entender a importância que o estudo dos crimes deTráfico Internacional e Interno de pessoas para fins deexploração sexual, elencados respectivamente nos art. art.231 e 231-A, possuem na totalidade do problema, é entender,em suma, como os crimes se desenrolam por fatorespredominantemente sociais.

Segundo Leal e Leal (2002, p.52):

Esta situação atinge não só as relações detrabalho masculino, mas, sobretudo ofeminino e o de crianças e adolescentes,através da inclusão da mão de obra destapopulação em sistemas informais,clandestinos e do crime organizado. O cenáriode crise no mundo do trabalho reflete-sediretamente nas relações familiares.

Tais relações familiares recebem influência direta eum consequente enfraquecimento do vínculo parental,ensejando em determinada fragilização da família em funçãodo abandono precoce do(s) “gestor(es)” das devidas tarefaspaternas ou maternas, do distanciamento dos membros do lar,da escola e das demais relações sociais; tendo por causa aspaulatinas ou integrais migrações territoriais dedeterminados membros da família, atraídos por supostasfrentes sazonais de trabalho em regiões rurais,fronteiriças, litorâneas e urbanas, podendo alcançar aindaoutros países, buscando sanar determinados objetivos atéentão não atingidos (LEAL; LEAL, 2002).

A crise provocada pelas transformações familiares geradifíceis situações de complexas resoluções, principalmentepara as crianças e os adolescentes. A aceitação dasubstituição ou troca de parceiros entre os pais, osconflitos no seio da família de natureza interpessoal taiscomo: drogadição, relações sexuais precoces e insalubres,alcoolismo, violências sexuais e tantas outras relaçõesdestrutivas, acabam por vulnerabilizar, segundo Maria LúciaLeal e Maria de Fátima Pinheiro Leal (2002,p53),sociopedagogicamente este segmento (família), como o perfildas meninas levantas que fazem parte do ciclo do turismosexual.

Assim sendo, algumas figuras tornam-se presasfacilmente “capturáveis” pelos aliciadores, tais como ascrianças, os adolescentes e as mulheres chefes de família,tornando-se a grande mão de obra que “alimenta” o mercadodo crime e das redes de exploração sexual.

O tráfico de crianças, adolescentes e mulheres paraexploração sexual apoia-se fundamentalmente em duasrelações, a primeira está ligada contraditoriamente aocapital e ao trabalho, e a segunda está atrelada a fatoressocioculturais que sustentam uma ideologia classista epatriarcal que, segundo Leal e Leal (2002,p.52), reduz“[...] estes segmentos a um processo histórico desubalternidade e de violação de direitos.”

Entender a mobilidade de mulheres no sentido de“alimentar” o tráfico de pessoas com fins de exploraçãosexual, doméstica e internacional, é considerar odesenvolvimento desigual das cidades e dos espaços urbanosque se constroem “fora da ordem oficial” (LEAL;LEAL, 2002,p.55).

Nesse sentido, as crianças, adolescentes e mulherespertencentes às regiões onde o índice de desigualdadesocial é maior, são preferidas na escolha pelos agentes dotráfico interno e internacional para fins de exploraçãosexual, demonstrando fortemente a indissociabilidade dofenômeno das migrações e do tráfico para fins de exploraçãosexual forçada para com os fatores socioeconômicos.

A análise de dados do IDH/PNUD- Brasil/2011 (Cf. AnexoF) demonstraram um panorama desfavorável do mercado detrabalho em relação à mulher, principalmente à mulherafrodescendente. Algumas mudanças ocorreram num sentidopositivo, porém, a diferença entre os salários pagos ahomens e mulheres e as condições de trabalho oferecidas aambos são gritantes. Com base nesses dados é possívelestabelecer uma estreita relação entre a falta de trabalhoe o IDH, e a migração de adolescentes e mulheres, com finsde exploração sexual.

Segundo Leal e Leal (2002, p. 57):

As mulheres afrodescendentes, em suamaioria, ocupam postos de trabalho maisvulneráveis, que incluem os assalariados semcarteira de trabalho assinada, autônomos,trabalhadores familiares não remunerados,os empregados domésticos e trabalhosprecários (forçado e escravo), que incidemdiretamente na degradação das condições devida do trabalhador.

Ainda, de acordo com dados do PNAD/2011 (Cf. Anexo F),tem aumentado o número de mulheres desocupadas em idadeativa para o trabalho. Contudo, mesmo com o aumento donúmero absoluto de mulheres inseridas no mercado detrabalho, isso não necessariamente significa que o panoramaverdadeiro seja favorável, ao contrário, na verdade esse

movimento pode, em determinado momento, responder peloaumento da feminização da pobreza.

Segundo IBGE (2000):

A renda é bastante desigual em relação aclasse social, cor/raça da população,independente da região considerada. Existeuma distância salarial grande em relação àsfamílias brancas que recebem os maioressalários (14,1%) em relação às famílias negras(26,2%) e em relação às pardas (30,4%) querecebem até ½ salário mínimo. (IBGE, 2000apud LEAL; LEAL, p.55-56).

Ainda nesse sentido, dados da última pesquisarealizada com base no Índice de Desenvolvimento Humano,realizado pela FASE em 1997, demonstraram aqui, a título deexemplo, que se o Índice de Desenvolvimento Humano noBrasil naquela época fosse medido de acordo com a cor dapele, teríamos dois resultados bem diferentes: o primeiroseria a miscigenação de todas as cores, que resultaria emranquear o país na 63º posição mundial; já se levássemos emconsideração unicamente os negros, o país ocuparia a 120 ºposição no mundo (COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CÂMARADOS DEPUTADOS, 2000, on-line).

Impulsionadas não apenas pela necessidade material,mas sim por desejos de consumo “cirurgicamente” implantadospelos meios de comunicação e pela lógica consumista domodelo societário contemporâneo, essas vítimas sociaisdeixam-se facilmente enganar pelas falsas promessas de umamelhora das condições de vida e de trabalho, e acabam poradentrar na perversa ordem da exploração do trabalhocompulsório.

Buscando êxito no recrutamento dessa mão de obra, osargumentos usados são sempre tendenciosos, no sentido demudanças radicais do cotidiano e do status social da vidadessas pessoas. Esse contingente de recrutados marcadosgrande parte do tempo por situações lembranças negativasquase sempre sem outras opções de escolha, são levado aaderir às propostas quase que inconscientemente, encobrindoassim, de forma indireta, a cooptação e também umaalienação, isto é, “uma situação de dependência e de falta

de autonomia que envolve uma dimensão subjetiva aliada auma dimensão objetiva de ordem sócioeconômica” (LEAL; LEAL,2002, p.45).

Nesse sentido, dissertam ainda Leal e Leal, que:

De fato, a idéia do consumo como meio deinserção social, estilo de vida e status,veiculada através dos meios de comunicação,fortalece as relações de discriminação declasse, de estilos urbanos e decomportamentos sócioculturais capazes dedespolitizar as diferenças. Isto acaba porresignificar também as respostas sociais(2002, p.53).

O sistema societário contemporâneo traduzido nocapitalismo neoliberal, que sobrevive da máxima da demanda“Oferta X Procura”, tem por objetivo maior, a acumulação decapital buscando superar qualquer obstáculo para seuatingimento. Partindo dessa lógica, só existe acumulação decapital pela venda de determinado produto ou serviço, e,nesse mote, é plausível que o sistema de produçãoglobalizado atue de forma abrangente: por um lado com ofornecimento do objeto de desejo e consumo (bem material);e por outro lado, com o despertar da vontade e desejo deadquirir o bem material, influenciado pelos instrumentos emeios publicitários.

Faz-se essencial a esse sistema a construçãoestratégica e mercadológica na busca pelo capital, paradisponibilizar ao consumidor uma variedade de produtos ebens de consumo tais como os serviços sexuais, que,amparados pelo mercado ilegal do tráfico de mulheres eadolescentes para fins de exploração sexual, se concretizamatravés das redes locais e globais de turismo, da indústriada moda, da indústria cultural e pornográfica, doentretenimento, bem como de agências de serviços e outras.

O capitalismo possui uma tendência histórica quereside justamente em enfatizar as diferenças específicas(sexo, nacionalidade, etnia, etc.), estigmatizando etransformando determinados grupos de mulheres emmercadorias exóticas e erotizantes. Ao sedimentar taisimagens, estas são fixadas no imaginário coletivo, acabando

por estabelecer uma hierarquia de utilização de mão deobra no mercado de trabalho.

Como afirma Leal e Leal:

Essa reprodução é reforçada nas redes detráfico de mulheres para fins de exploraçãosexual, através de práticas de coerção e deescravidão, do estímulo ao uso de drogas e deoutras formas de violência que reproduzem asubalternidade, a passividade, a nãocompetitividade, a pouca consciência e tantosoutros atributos que reforçam os valores eestimulam o consumo de seus serviçossexuais.(LEAL; 2002) (LEAL; LEAL, 2002, p. 54)

Dessa forma, o tráfico de crianças, adolescentes emulheres para fins sexuais, concretiza-se com base nosindicadores socioeconômicos obtidos nas relações demercado/projetos de desenvolvimento/ trabalho/ consumo emigração. Como resultado, a relação entre todos osindicadores acima elencados, somados às desigualdades ediferenciações de gênero, raça e etnia, acabam porpotencializar e finalizar o processo de vulnerabilizaçãodas mulheres, adolescentes e crianças.

O tráfico de seres humanos é, dentre as diversasmazelas contemporâneas da sociedade internacional, uma dasmais graves a afligir a população como um todo, já que seucrescimento tem se acentuado nos últimos anos. Suaconstituição se dá por fatores já bem conhecidos pelosdefensores dos direitos humanos, tais como: desemprego,pobreza, falta de acesso à educação e ao conhecimento, bemcomo a falta de acesso à terra e à propriedade privada; ejuntos, estes fatores geram um potencial campo dealiciamento que se alastra vultuosamente pelo globo.

Como consequência dessa soma, é possível adesmistificação dentre outras coisas, de que a crençadepositada num projeto societário contemporâneo(capitalismo/neoliberalismo) levou a sociedade a umdesenvolvimento e crescimento sustentável. Na verdade, osistema capitalista/neoliberal, em conjunto com aglobalização, acabou por alimentar as mazelas modernas,recriando formas de sacrificar e explorar principalmente os

direitos relacionados ao princípio da dignidade da pessoahumana, impelindo aos excluídos sociais a necessidade deprocurarem uma forma de sobrevivência nesse meio. SegundoLeal e Leal (2002,p.31):

Estas contradições são inerentes aofenômeno, tornando-o complexo,multifacetado e inaceitável, uma vez queemerge da crise entre mercado, Estado esociedade e se materializa em crimeorganizado associado à corrupçãoinstitucional, que entranha a cultura daadministração do que é público e explicita asimbiose entre legalidade e ilegalidade,acirrando o apartheid, a discriminação, axenofobia e a violência.

Assim, o excluído é forçado a procurar uma forma ouinstrumento para se manter vivo no sistema, e encontra, porassim ser, a alternativa da migração. Interna ouInternacional, sempre do sentido das cidades, estados epaíses mais pobres para os mais ricos, o migrante procuramelhores condições de vida. Em termos gerais, os incentivosdados ao tráfico podem ser descritos da seguinte forma:

Em termos de oferta, muitas vezes comoconsequência dupla do declínio deoportunidades de emprego e crescentesaspirações de consumo, têm aumentado osincentivos para a migração não só das zonasrurais para centros urbanos, mas também depaíses menos ricos para os mais ricos. Nospaíses mais ricos, parece constante ademanda de mão de obra disposta a aceitarempregos inseguros e mal pagos, muitasvezes de natureza sazonal. As pessoasnaturais de países mais ricos recusam-se,compreensivelmente, a aceitar empregosdifíceis, degradantes e perigosos. Mas, comoos países mais ricos levantam cada vez maisbarreiras à migração legal e regular,elementos criminosos aproveitam daoportunidade para ter mais lucros.

Alguns intermediários cobram pesadas somas decandidatos a migração para viabilizar ilegalmente atravessia de fronteiras, e outros usam práticas coercitivase falazes para ganhar ainda mais no local de destino. Emsuma, o tráfico de pessoas é uma reação oportunista atensões entre a necessidade de migrar e as restrições denatureza política para permitir o mesmo. (OIT, 2005, p.51).

Assim, a aceitação quanto à submissão de trabalhos quedispensam qualquer especificidade de formação acadêmicaacaba por se tornar portas de entrada para o mundo daexploração de mão de obra escrava com fim de exploraçãosexual.

4.1.2- O tráfico de Seres humanos e as estatísticas globais

Os números elencados pela OIT são assustadores emrelação às vítimas de trabalho forçado, e estão divididospela Organização da seguinte forma: Estima-se que 12,3milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado, e quedestes estão localizadas na Ásia e Pacífico 9.490.000pessoas; na América Latina e Caribe 1.320.000; nos PaísesIndustrializados (EUA e Europa) 360.000; no Oriente Médio eNorte da África 260.000; nos Países em Transição 210.000;na África Sub-Sahariana 660.000.

Dessas cifras é possível extrair ainda que: 9,8milhões são explorados por agentes privados, e 2,5 milhõessão forçados a trabalhar pelo estado ou por grupos rebeldesmilitares, 1,4 milhões são explorados sexualmente e porfim, 610 mil são explorados de forma mista ou indeterminada(OIT,2005, p.13)

Segundo dados do Relatório Global da OIT de 2005:

Quase dois terços da totalidade de trabalho forçado naÁsia e no Pacífico são impostos por agentes privados paraexploração econômica, na sua maioria sob a forma deservidão por dívida na agricultura e outras atividadeseconômicas. Cerca de 20 por cento de todo trabalho forçado

na Ásia e no Pacífico são impostos pelo Estado,concentrados em poucos países da região, inclusive Mianmar.O trabalho forçado para exploração sexual comercialrepresenta menos de dez por cento do total de trabalhoforçado naquela região. O sistema de trabalho forçado ésemelhante na América Latina e no Caribe, em que a formadominante é imposta por agentes privados para exploraçãoeconômica (75 por cento), seguida de trabalho forçadoimposto pelo estado (16 por cento) e trabalho forçado paraexploração sexual comercial (9 por cento). Na ÁfricaSubsaariana também o grosso do trabalho forçado visa aexploração econômica (80 por cento), seguido de trabalhoforçado imposto pelo Estado (11 por cento) e de trabalhoforçado para exploração sexual comercial (oito por cento).

As formas de trabalho forçado no Oriente Médio e noNorte da África são semelhantes às de outras regiões emdesenvolvimento, embora o trabalho forçado imposto peloEstado constitua uma fração relativamente menor (três porcento). O trabalho forçado imposto por agentes privadospara o fim de exploração econômica é a forma predominantede trabalho forçado (88 por cento), seguido de trabalhoforçado para exploração sexual comercial (10 por cento).

Nas economias em transição e em paísesindustrializados, as formas de trabalho forçado diferem umpouco das de países em desenvolvimento. Em ambos os casos,a forma predominante de trabalho forçado é para exploraçãosexual comercial (46 por cento e 55 por cento,respectivamente), enquanto a participação de trabalhoforçado imposto pelo Estado é quase nula em economias emtransição e de menos de 5 por cento em paísesindustrializados. Mesmo em países industrializados, ondeaté agora o foco da atenção tem-se concentrado naexploração sexual comercial forçada, quase um quarto (23por cento) dos trabalhadores forçados são coagidos parafins de exploração econômica não sexual.(OIT, 2005, p.15).

Do total, estima-se que foram traficadas por volta de2,5 milhões de pessoas, sendo 98% garotas e mulheres, eapenas 2% meninos e homens. Desses 2,5 milhões de pessoastraficadas, 43% das vítimas são subjulgadas para exploração

sexual, 32 % para exploração econômica, enquanto que os 25%restantes, são traficados para fins mistos ouindeterminados (OIT, 2005, p. 16).

O tráfico de seres humanos é hoje a terceira atividadeilícita mais lucrativa do mundo, segundo a ONU (2005),ficando atrás apenas do tráfico de armas e de drogas.Segundo a OIT, os lucros com tal atividade ultrapassam acasa dos 30 bilhões de dólares, como demonstra o quadroabaixo:

Através de uma infinidade de relatórios e pesquisas,tanto nas áreas da saúde, quanto na área das ciênciassociais aplicadas e direitos humanos, ficou comprovado queo Brasil é um país fornecedor e receptor de mão de obraescrava traficada, tanto para fins econômicos, como tambémpara exploração sexual forçada de mulheres, bem como decrianças e adolescentes.

Segundo Teles (2007, p.78):

A prática do tráfico sexual é também uma dasformas de violência de gênero. Envolve otráfico interno e internacional de mulheres ecrianças, escamoteando muitas vezes, pelasondas migratórias. Visa à exploração sexual,e os traficantes usam métodos violentos paraintimidar suas vítimas. Contam com aimpunidade de seus delitos e há casos em queos denunciantes são assassinados ou, outrasvezes, as vítimas foragidas são localizadas erecrutadas novamente para prostituição. Arede de tráfico sexual, leva, em especial,mulheres latinas para a Europa. Tal atividadeadquire dimensões cada vez mais graves eestá relacionada com a feminização dapobreza e da falta de oportunidades para asmulheres nas áreas educacional eprofissional. O tráfico recruta mulheresjovens, com determinadas característicasfísicas, para que trabalhem em centrosnoturnos como secretárias ou em outras

atividades. Tudo isso para camuflar aprostituição organizada. O comércio sexualmistura-se ao tráfico de pessoas, geralmentemulheres pobres, trabalhadoras e imigrantes.Tanto em um caso como em outro as pessoasvivem a ausência de direitos, a situação deilegalidade e de violação constante de direitoshumanos.

4.1.3-Tráfico, Prostitução e Trabalho Escravo no Brasil : Oproblema traduzido em rotas, estados e números

Os mais veementes esforços no continente americanopara proteger os direitos das vítimas do tráfico, maisespecificamente as crianças, adolescentes e mulheresvítimas desse crime, se deram principalmente a partir de1998 sob a tutela do Instituto Internacional de Leis eDireitos Humanos (IILDH)/ De Paul College- Chicago /EUA.

Em 2000 o IILDH, somando esforços, captou o apoio deorganizações não governamentais, organismos internacionaise governos para liderar uma ampla pesquisa sobre asdimensões sociais, políticas e econômicas do tráfico deseres humanos com fim de exploração na região (LEAL; LEAL2002, p.29).

No Brasil, o tráfico de seres humanos com fim deexploração sexual de crianças, adolescentes e mulherespassou a ter considerada relevância, a partir desse grandeestudo liderado no país pelo Centro de Referência, Estudose Ações sobre Crianças e Adolescentes (CECRIA), quedemonstrou, de forma efetiva, a existência do problema dotrabalho escravo com fim de exploração sexual, de formaarraigada nos mais distantes rincões do país.

Tal estudo conhecido como Pesquisa Nacional sobre oTráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (PESTRAF), foipublicado em 2002 tentando demonstrar de forma fidedigna osproblemas no país quanto: as suas dimensões jurídicas,rotas, demandas, perspectivas, perfis dos aliciadores e dasvítimas, com o intuito ainda, de fomentar de forma inéditae largamente abrangente o problema; a fim de colaborar com

os órgãos competentes para o enfrentamento daquele em suaface nacional. Visando garantir, por fim, que umaestratégia eficaz de políticas públicas adequadas paracoibir o comércio e os danos causados às vítimas tenhasucesso.

Segundo Leal e Pinheiro (2007, p.22):

Atualmente, observa-se a migração de mulheres latinaspara o Brasil e a mobilidade de mulheres e meninasbrasileiras do interior para as cidades de médio e grandeporte e também para as fronteiras. A maioria das mulheresbrasileiras vai para a Europa (Espanha, Portugal, Itália,Holanda, Alemanha e Suíça) para fins de trabalho sexual eoutras atividades, e na sequência, são submetidas a umasérie de violências e cárcere privado, constituindo-se, emmuitos casos, em tráfico.

Essas mulheres saem do Brasil para melhorarem suascondições sociais e são atingidas diretamente pelas medidasde retração do mercado de trabalho, baixo acesso àspolíticas sociais, especialmente à educação, saúde,moradia, trabalho , e são submetidas ao trabalho precário.Esta situação rebate a manutenção da sua força de trabalhoe de sua família.

Muitas delas se inserem no mercado do sexo, o quecertamente é bom para o capital, pois essas trabalhadorasdo sexo se tornam mão de obra explorada e também escravadas redes de crime organizado.

Com base no estudo realizado, ora já citado, épossível dividir e delimitar mais específicamente ascondições no Brasil encontradas, quanto às rotas, regiões,perfis, etc..

O Tráfico de Pessoas para fins sexuais divididos porregiões:

Os fatores subjetivos, pretensamentedissertados sobre a ocorrência do trabalhoescravo com fim de exploração sexual, taiscomo: a pobreza, a falta de acesso àeducação, o desemprego etc., anteriormenteencontrados dentro de uma esfera socialsubjetiva, são nesse momento traduzidos em

números, dados e rotas, todos esteslevantadas pela PESTRAF (2002).

A partir da análise desses dados, é possíveldemonstrar os fatores subjetivos anteriormente dissertados,influenciaram e ainda influenciam a distribuição dos dadossócio econômicos nas cinco regiões brasileiras. Porém,antes de serem estabelecidas essas relações entre osfatores subjetivos e os eventos históricos no passado, faz-se necessário conceituar o que é rota e o que são asorganizações criminosas.

Segundo Leal e Leal (2002, p.71), rotas são:

[...] caminhos previamente traçados porpessoas ou por grupos que têm como objetivochegar a um destino planejado. O principalmotivo de sua definição é indicar a direção ouo rumo que melhor atenda às necessidadesdos que por elas venham a transitar, seja emviagens de turismo e de negócios, emexpedições para estudos e descobertas, oupara realizarem atividades ligadas ao crimeorganizado.

Já o conceito do termo “Organização Criminosa”, édeterminado pela Convenção das Nações Contra o CrimeOrganizado (2000), ratificado pelo Brasil, e depoispromulgado e transformado no decreto 5.015, de 12 de Marçode 2004, que define-o em seu art. 2º, alínea “a”:

“Grupo criminoso orgnaizado” – grupoestruturado de três ou mais pessoas, existentehá algum tempo e atuando concertadamentecom o propósito de cometer uma ou maisinfrações graves ou enunciadas na presenteConvenção, com a intenção de obter, diretaou indiretamente , um benefício econômicoou outro benefício material. (UNODC,2004,p.1)

Ainda no mesmo sentido, define Paulo César CorreaBorges (2002, p.31) que organização criminosa é:

[...] um grupo de pessoas voltadas paraatividades ilícitas e clandestinas, comhierarquia própria , valendo-se de violência eimtimidação, para impor a lei do silêncio edominar certo território, além de contar coma proteção de setores do Estado e possuir umsistema de clientelismo. (cf. Ibidem, p.82)

Levando em consideração a PESTRAF (2002), serãodemonstrados por intermédio dos quadros abaixo, as divisõesgeográficas e rotas regionais, o público atingido (secrianças, adolescente ou mulher), os locais de origem e dechegada desse contingente de vítimas, os meios detransporte utilizados para locomoção, etc.

4.1.4- A Região Norte e o Tráfico

O fluxo de seres humanos traficados na região Norte é,de acordo com relatório (PESTRAF - 2002), favorecido graçasàs características geográficas e culturais da regiãoamazônica. Os planos de desenvolvimento e sua históriafazem com que um favorecimento em relação ao tráfico depessoas para fins de exploração sexual se acentue,principalmente porque a área amazônica possui: extensasfronteiras sem fiscalização, alto grau de isolamentogeográfico em relação aos grandes centros urbanosdesenvolvidos, precárias estruturas de infra-estruturaquanto a saneamento básico e transportes, projetoseconômicos baseados em frentes sazonais de trabalhodegradatório, migração desordenada etc., hostilizando emmuito o combate e controle desse crime.

A mobilidade dessas adolescentes e mulheres na RegiãoNorte se dá em três níveis possíveis:

Tráfico Interno: há uma maior incidência deadolescentes, seguida por mulheres.

Nesses casos, as adolescentes e mulheres circulampelas rotas intermunicipais e interestaduais, acompanhandoas rodovias e hidrovias, no sentido das capitais emunicípios em que existam portos, áreas de grandes

empreendimentos e ainda por locais em que ocorramtradicionais festivais. Estas adolescentes e mulheres saemtambém da Amazônia com destino às regiões Sul e Nordeste dopaís, ou procedem destas regiões para a Amazônia.

Tráfico Internacional: Acontece principalmente nasfronteiras secas da Amazônia, onde adolescentes e mulheressão levadas a cometerem prostituição em municípios vizinhosem outros países. As rotas são geralmente as seguintes:Amapá/Guiana Francesa, Roraima/Venezuela, Acre/Bolívia eRondônia/Bolívia; justamente pela proximidade territorial.

Tráfico Transcontinental: Acontece grande parte dotempo em direção à Europa, e quase sempre suas rotas passampor cidades transitórias, localizadas principalmente nonordeste, centro-oeste e sudeste, no Brasil, e nos paísesvizinhos; podendo raramente partir da região amazônica semparadas até o continente europeu.

Três países europeus foram os mais apontados pelosdocumentos consultados e nas entrevistas: Espanha; Holandae Alemanha.

A Região Norte, é dentre todas as regiões brasileirasaquela com menor densidade demográfica. As citações abaixodemonstrarão as principais rotas e meios de transporteutilizados para o tráfico de pessoas com fim de exploraçãosexual, nos diferentes estados da região. Segundo Leal eLeal (2002, p. 78-79), as principais rotas da Região Nortesão:

[...] BR-317, que liga o Estado do Acre(municípios de Rio Branco, Brasiléia e AssisBrasil) à Bolívia (na cidade de Cobija, ondelocaliza-se o Balneário Las Ponderosas); a BR-364, que liga Rondônia (Porto Velho, GuajaráMirim, Presidente Médici, Cerejeiras, Ji-Paranáe Ariquemes) ao Acre (Rio Branco); e a BR-153,mais conhecida como Belém-Brasília, que ligao Estado do Pará ao Distrito Federal, trajetoem que se destacam as cidades de Imperatriz(MA), Palmas (TO) e Araguaína (TO). Nafronteira noroeste, o tráfico para fins sexuaistoma o rumo da BR-174, que liga Manaus às

cidades de Boa Vista, Iracema e Pacaraima àVenezuela. No limite entre os Estados do Paráe Roraima com a Guiana Inglesa há um fluxomigratório típico, que ocorre no sentidoinverso, ou seja, da Guiana para o Brasil, noqual predominam as profissionais do sexoque se dirigem para Boa Vista. Um fatoimportante para o estudo, e a compreensãodo tráfico nesta região, é a intensificação desua integração com a Venezuela e com oCaribe (Leonardi, 2000), sobretudo após aconstrução da perimetral norte, BR-210, darodovia BR-174, e das estradas de ligaçãopara a cidade venezuelana de Santa Helena, oque tem propiciado o incremento do fluxo deturistas.Na fronteira norte destaca-se aperimetral norte BR-210, que liga o Oiapoque(AP) à Guiana Francesa (São Jorge e Cayena).Nesta região há um intenso movimento debrasileiros que migram clandestinamentepara Cayena, a fim de trabalharem naconstrução civil, ou nos garimpos de ouro,existentes nasterras dos índios que vivem naGuiana Francesa e no Suriname. De acordocom Leonardi (2000) outra rede importante éa que se forma em torno do contrabando deaves e plantas, do comércio ilegal e daprostituição na região portuária deParamaribo (capital do Suriname), onde temsido constatado o crescimento do número dehabitantes com AIDS.Com relação ao tráficorealizado por via aérea, constata-se que asúnicas cidades da região norte a figuraremcomo “locais de origem”, são Manaus eBelém. Quanto ao transporte hidroviário, queé feito por pequenas embarcações, as cidadesde Oiapoque (AP) e Guajará-Mirim (RO) e oEstado do Pará dão origem a rotas cujosdestinos são Guayaramirim e Cobija (Bolívia),Guiana Francesa e Suriname.

Nesta região, a pesquisa, consoante com Leal e Leal(2002, p.80), acabou por constatar que o tráfico decrianças, adolescentes e mulheres está atrelado

principalmente à existência da prática do “aviamento” 19,vinculada à prostituição, principalmente nos grandesprojetos e rotas mineradoras.

Assim, foi possível afirmar, segundo Leal e Leal(2002, p.80), diante das análises empíricas, que estaspossuem fortes conexões com o crime organizado que traficadrogas (Roraima, Acre e Rondônia) e falsifica documentos(Roraima e Amazonas), reforçando sobretudo o envolvimentodestas atividades com o tráfico de seres humanos. Os altoslucros oriundos do tráfico de drogas, armas, pessoas e ocontrabando de ouro, somados à frágil presença do Estado eà corrupção na região, fizeram com que o Norte do país setornasse o cenário ideal para que o tráfico fosseincorporado na cultura e no discurso local, a ponto de serconsiderado indissociável daqueles.

Porém, migrar na região amazônica em busca deoportunidades de empregos temporários por frentessupostamente sazonais de desenvolvimento, configura-se paragrande parte dos traficados, especialmente para as mulherespobres, via mercado do sexo, como uma tentativa deabandonar a pobreza na busca de um futuro melhor.

Na Região Norte é, é possível notar que, dentre as 33(trinta e três) rotas internacionais existentes para otráfico de pessoas (PESTRAF – 2002). Mantém-sepredominantemente o tráfico de adolescentes, inclusiveindígenas em relação às mulheres adultas. É baixa aincidência de crianças que transitam nas rotas da regiãoNorte.

No caso da Região Norte, é preciso observar que agrande maioria das pessoas traficadas não chega até seudestino final, partindo do Brasil. Naquela região, a lógicado crime prevalece no sentido de enviar, num primeiromomento, as pessoas traficadas até países com menorincidência de vigilância, para num segundo momento enviá-las a partir de lá para seu destino final. Um exemplodisso, é a rota que parte de Belém (PA), segue até oSuriname, e de lá são enviadas para Holanda, que é overdadeiro destino final.

4.1.5- A Região Nordeste e o Tráfico

A região Nordeste é basicamente dividida em zona damata (área de antiga colonização), que se inicia no RioGrande do Norte e prolonga-se até o Sul da Bahia (regiãolitorânea); a zona de transição, que se localiza à oeste dazona da mata, e subdivide-se em zona do agreste - onde,mais a oeste, o clima é semiárido – e a zona do sertão, quese estende aos Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte,abrangendo uma parcela de todos os estados da região(exceto o Maranhão) e do norte de Minas Gerais; e a zona domeio norte, nordeste ocidental ou ainda, zona dos cocais,referência ao Babaçu e à Carnaúba que recobrem as áreassul-ocidentais do Piauí e do Maranhão, fronteira com onorte do país.

É nessa região, que está localizado o Estado doMaranhão (onde a maior incidência é de mulheres, seguidaspor adolescentes e crianças), e de Pernambuco, ambasapresentam um fluxo muito grande de tráfico interno(intermunicipal e interestadual) e internacional. Em quepese o tráfico interno municipal, as cidade de pequeno emédio porte muitas grande parte do tempo servem como pontosintermediários das rotas nacionais e internacionais, jáque, geralmente localizam-se próximos a locais deescoamento, (aeroportos, hidrovias, grandes rodovias e viasmarítimas).

No Maranhão, as principais rodovias pelas quais passamo fluxo de tráfico de mulheres, crianças e adolescentessão: (1) a BR-316, que liga as cidades de Timon, Caxias,Bacabal e Lima Campo a São Luís; (2) a BR-226,Transmaranhão, que liga o norte do Estado à porção sul; e(3) a BR-222, que liga São Luís e Imperatriz a Palmas (TO),Marabá (PA) e Belém (PA).

Levantamentos realizados junto à Pastoral da Mulher(LEAL, LEAL, 2002, p. 81), concluíram que o Porto deItaqui, localizado na cidade de São Luiz (MA), apresenta umfluxo de saída de mulheres e adolescentes de diversaslocalidades do Nordeste para a Holanda e Guiana Francesa. Asituação mais corriqueira é o aliciamento delas para os

barcos ancorados, permanecendo a bordo até a saída daembarcação. Em casos mais extremos acabam por viajar com atripulação.

Outras duas situações apontadas pelo relatório doMaranhão, parte integrante da PESTRAF (2002), diz respeito(a) meninas que saem de suas casas e vão para bordéislocalizados nas rodovias e (b) meninas que vêm de outroslocais do Estado para trabalharem em casas de prostituiçãonos municípios de Caxias, Coelho Neto, Aldeias Altas,Gonçalves Dias, Passagem Franca e Timom.

Na primeira situação, crianças e adolescentes saem domunicípio de Caxias para casas de prostituição em outraslocalidades do Maranhão, ou de outros Estados. Uma segundasituação refere-se à acolhida de meninas de regiõesadjacentes para trabalharem em prostíbulos no própriomunicípio.

Destaca-se a figura da agenciadora, que se desloca apovoados e/ou bairros periféricos exclusivamente com oobjetivo de recrutar garotas para prostíbulos, a fim deserem leiloadas para clientes de alto poder aquisitivo,inclusive políticos – “Leilão de Virgens”.

Quanto às mulheres, no Maranhão elas são traficadaspara zonas de garimpo, como na cidade de Alta Floresta(MT), onde são submetidas a um regime de “semi-escravidão”.Os jornais informam casos de tráfico interno,particularmente no corredor da Estrada de Ferro Carajás enas zonas de garimpo, onde foram identificadas situações emque índias estariam envolvidas.

No Ceará, só foram encontrados indícios de tráficointerno, apontando que adolescentes e mulheres partem decidades interioranas para Fortaleza. Não havendo umadistinção específica entre as vias de transporte, ambasseguem as principais rodovias estaduais e federais para oacesso à capital e, daí, para as cidades costeiras e praiasturísticas.

No âmbito externo, os dados da Polícia Federalinformam a existência de rotas internacionais de tráfico demulheres saindo de Fortaleza para a Europa, acompanhando omovimento do turismo sexual.

Na Bahia, a situação do tráfico de crianças eadolescentes é facilitado por caminhoneiros, que acabam portransportar esses grupos para outras cidades e estados,dificultando em muito o trabalho da polícia rodoviária, naprevenção e combate do problema.

Segundo aponta o relatório da Região Nordeste, parteintegrante da PESTRAF (2002), é possível traçar uma inter-relaçção entre turismo sexual e tráfico, já que Recife(PE), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e Natal (RN), são ascapitais que aparecem como os principais locais deorigem/destino do tráfico, sendo também as nordestinas quemais recebem turistas estrangeiros. Nesse sentido, existeminquéritos e processos que informam a existência de tráficode mulheres para a Europa.

Na Região Nordeste, portanto, o fenômeno do tráfico semanifesta a partir de:

a-) Deslocamentos dentro do próprio Estado, a situaçãomanifestada com maior frequência é a de meninas ou mulheresque são agenciadas com a promessa de realização detrabalhos domésticos e acabam em prostíbulos; b-) Tráficoentre Estados, identificou-se que as mulheres de fora sãomais valorizadas pelos compradores de serviços sexuais queas do próprio estado. Daí ser comum, nos classificados dejornais a referência a mulheres de outros Estados; c-)Tráfico internacional, a pesquisa (LEAL; LEAL, 2002, p. 82)aponta a possibilidade do casamento ser uma via de acessodos homens estrangeiros em redes de tráfico internacional.

Entre os fatores que favorecem a existência do tráficode pessoas para fins de exploração sexual, o turismo sexualocupa um lugar de destaque na região. O turismo sexual foicitado pela maioria das nossas fontes como o principalfator de favorecimento do tráfico de adolescentes emulheres para fins de exploração sexual. Ele se apresentacomo uma forma de recrutamento para o tráfico.

No campo dos indicadores socioeconômicos o Nordesteapresenta um quadro de intensas desigualdades sociais eeconômicas, que agravam as desigualdades raciais e degênero, acentuando a vulnerabilidade de populações pobres

e, em especial das mulheres, favorecendo o envolvimento nasredes de tráfico.

A pesquisa regional aponta dados que favorecem oestabelecimento do crime organizado nacional einternacional no Nordeste, tais como: a presença deaeroportos internacionais, grandes portos, a conivência deautoridades com a ação criminosa, a existência defacilidades para o enraizamento das redes criminosas navida econômica e social local, corrupção e a fragilidadedas políticas de segurança e justiça nos níveis estadual emunicipal.

4.1.6- A Região Sudeste e o Tráfico

A região Sudeste é a região brasileira com maiordensidade demográfica, sendo também a região queproporcionalmente concentra o maior volume de capital doBrasil (dados). A composição do bloco se dá com os estadosde São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e EspíritoSanto, e faz fronteira com a região Nordeste (Bahia), aCentro- Oeste (Distrito Federal e Mato Grosso do Sul) e coma região Sul (Paraná).

Por concentrar um dos maiores polos industriaisdesenvolvimentistas do Brasil, distribuídos por todo ointerior do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, estaregião acaba por atrair um sem número de imigrantes embusca das vagas oferecidas.

As mulheres, seguidas das adolescentes, são os “tipos”mais traficados na região. Mesmo sem os dados de camporelativos aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, foipossível através de um levantamento na mídia, nosinquéritos, nos processos e estudos de caso, traçar asrotas intermunicipais, interestaduais e internacionais quepassam pelos respectivos estados.

Dessa forma, o fluxo e as rotas na região Sudeste parao tráfico interno se dão de Minas Gerais para o Rio deJaneiro, e de Uberlândia para Belo Horizonte. Já as cidades

de São Paulo e Rio de Janeiro, são consideradas dentro darota do tráfico pólos receptores de mão de obra, ou pontosintermediários importantes para as rotas internacionais,observando que possuem importantes aeroportosinternacionais.

Seguem abaixo, duas tabelas: a primeira demonstra asrotas internas do Tráfico Interno de Pessoas para fins deexploração Sexual; já a segunda tabela, acaba por elucidaras rotas internacionais/ usadas para o tráfico de mulherese meninas com o mesmo fim que a primeira.

4.1.7- A Região Centro-Oeste e o Tráfico

A região Centro-Oeste é a região brasileira que fazfronteira com todas as outras regiões internas, e comoutros países da América do Sul (Paraguai e Bolívia). Suaconstituição se dá pelos Estados de Mato Grosso, MatoGrosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal; com umapopulação de aproximadamente 12 milhões de pessoas, segundodados do IBGE (LEAL, LEAL, 2002, p. 45). Entretanto, mesmocom um largo e extenso território, a região central do paísé muito pouco habitada; segundo os mesmo dados do IBGE, 80% dos municípios possuem baixa densidade demográfica.

Visando resolver esses problemas principalmenterelativos à infraestrutura, que diversos projetos de grandee médio porte estão sendo desenvolvidos na região central,em sua maioria relativos a fomentar este déficit, taiscomo: gasodutos, hidrelétricas e termoelétricas, estradasde rodagem, ferrovias, hidrovias etc.

Com exceção do Mato Grosso, o turismo acaba pordominar o desenvolvimento e crescimento em toda região, comenfase nas áreas do Pantanal Mato-grossense, do Cerrado eda Amazônia, sendo sua diversidade o principal atrativopara os turistas estrangeiros e nacionais.

É nesse contexto de crescimento tanto demográfico comonegocial, que o tráfico de seres humanos se desenvolve naRegião Centro-Oeste. Destinado a servir os mercados

internacionais (países da Europa, Paraguai e Bolívia); paraservir aos grupos de empreendedores e trabalhadores nasobras de infraestrutura; para servirem aos turistas deregiões mais abastadas e para servir sexualmente aos quetem mais poder aquisitivo, que este humilhante comércio sedesenvolve.

No caso específico da Região Centro- Oeste, asprincipais traficadas são as Adolescentes e Mulheres,sobretudo, porque não há registro de tráfico de crianças.De forma absoluta, as vias mais utilizadas são asterrestres. Porém, a via aérea também possui grandemovimentação. A respeito desses dados é notável, que foirelatado o transporte pelas vias terrestre e aérea, o queindica que nesses casos, as mulheres e adolescentes temsaído das cidades interioranas através dos transportesterrestres, e de lá são embarcadas em aviões para fora dopaís.

Desses, o principal destino das mulheres é a Espanha.Porém, outros países são também atendidos pelasorganizações criminosas, tais como: Portugal, Itália,Alemanha, Bolívia, Paraguai e Chile. O estudo destas rotasdemonstra que muitas adolescentes saem de suas cidades porvia terrestre, são levadas para locais nos quais háaeroportos, por vezes Rio de Janeiro e São Paulo e, de lá,seguem para seu destino final. Quanto às adolescentes, otráfico é preponderantemente interno e direcionado paraestados da própria região, sobretudo Mato Grosso. Porconseguinte, a via mais utilizada pelos traficantes é aterrestre. As duas rotas para o exterior são direcionadaspara o Paraguai e para o Chile.

4.1.8- A Região Sul e o Tráfico

Composto pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul eSanta Catarina, a região Sul é a que possui o menor númerode Estados, fazendo fronteira com a Região Sudeste eCentro-Oeste, além de fazer fronteira com outros países daAmérica do Sul (Argentina, Uruguai e Paraguai).

Nas rotas relativas ao Tráfico interno, dos gruposmais corriqueiramente encontrados, os das adolescentes emulheres são os principais, não havendo registro decrianças traficadas para exploração interna. Já os meios detransporte mais utilizados são via terrestre, com odestaque para os táxis, caminhões e ônibus, deixandoespecialmente municípios interioranos no Rio Grande do Sule do Paraná.

É possível constatar, diante dessa visão global dasrotas e suas divisões limítrofes, que a Região Norte é a“campeã” no quesito quantidade com 76 rotas no total. ARegião Norte possui quase que praticamente o triplo derotas, por exemplo, que a Região Sul, tendo por fatordeterminante suas precárias estruturas quanto àfiscalização e monitoramento, e a negligência quanto àrelação proporcional de Capital Destinado X Extensãogeográfica do território (LEAL, LEAL, 2002).

Já a Região Nordeste, é a segunda colocada em relaçãoà quantidade de rotas, com 69 no total, porém é a maior“exportadora” de mão-de-obra. É do Nordeste, que saem osmaiores grupos de mulheres (LEAL; LEAL, 2002) para oexterior, principalmente para países como a Itália, Espanhae Portugal. É a miséria e a pobreza, assim como na RegiãoNorte, que imperam nas relações sociais, fazendo com que onúmero dessas duas regiões seja muito superior às outras.

Já as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, possuem emsua totalidade por volta de 96 rotas, sendo creditado àregião Sul o último lugar, com 28 rotas. Nesse sentido, épossível enfatizar uma vez mais, que o tráfico para fins deexploração sexual está atrelado indissociavelmente afatores de IDH e estrutura social.

4.1.9- Dos Tratados e Convenções

Acordo firmado em Paris (Paris, 1904) – posteriormenteconvolado - A princípio iniciou-se com a preocupação deproteger as mulheres europeias, principalmente do leste

europeu. Não se definiu tráfico, apenas o compromisso dereprimi-lo e preveni-lo com sanções administrativas.

Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico deMulheres Brancas (Paris, 1910) - Aparição dos instrumentosinternacionais e passaram a conceituar tráfico e exploraçãoda prostituição como infrações criminais puníveis com penaprivativa de liberdade e passíveis de extradição

Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico deMulheres Brancas e Crianças (Genebra, 1921) - A Convençãode 1921 alterou o art. 1º para incluir “crianças de um e dooutro sexo” e aumentou a maioridade para 21 anos completos.A regra geral era de que o consentimento de mulherescasadas ou solteiras maiores excluía a infração

Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico deMulheres Maiores (Genebra, 1933) – Esta convenção modificouessa orientação. Consoante o art. 1°: “Quem quer que, parasatisfazer às paixões de outrem, tenha aliciado, atraído oudescaminhado, ainda que com seu consentimento, uma mulherou solteira maior, com fins de libertinagem em outro país,deve ser punido”.

Protocolo de Emenda à Convenção Internacional para aRepressão do Tráfico de Mulheres Maiores (1947)

Convenção e Protocolo final para a Repressão doTráfico de Pessoas e do Lenocínio (Lake Sucess, 1949) -veio valorizar a dignidade e o valor da pessoa humana, comobens afetados pelo tráfico, o qual põe em perigo o bem-estar do indivíduo, da família e da comunidade. Vítima podeser qualquer pessoa, independentemente de sexo e idade.Extremamente ineficiente, haja vista que, apenas 25% dospaíses do mundo ratificaram a Convenção de 1949, para aSupressão do Tráfico de Pessoas e da Exploração daProstituição e de outros, por exemplo.

Convenção sobre a Eliminação de todas Formas deDiscriminação contra a Mulher (1979) – Através destaconvenção firmou-se a ineficácia da Convenção de 1949. Estaconvenção é reconhecida por obrigar os Estados Partes, a

tomar as medidas apropriadas para suprimir todas as formasde tráfico e de exploração da prostituição de mulheres.

Programa de Ação para a Prevenção da Venda deCrianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil(ONU, 1992)

Conferência Mundial dos Direitos Humanos (1993), anecessidade de um processo de revisão se fortalece, cujaDeclaração e Programa de Ação de Viena salientam aimportância da “eliminação de todas as formas de assédiosexual, exploração e tráfico de mulheres”.

Surgimento da Comissão de Direitos Humanos para aPrevenção do Tráfico de Pessoas e a Exploração daProstituição (1996).

Resolução Geral das Nações Unidas nº 55/25 de 15 deNovembro de 2000 - Convenção de Palermo - Este Protocoloinicia uma nova fase do controle jurídico internacional emmatéria de tráfico e de prostituição. O Protocolo buscagarantir que sejam tratadas as pessoas que sofreram gravesabusos, os Estados membros devem criar serviços deassistência e mecanismos de denúncia. Nas Convenções até1949 a preocupação era coibir o tráfico para fins deprostituição. O Protocolo acolhe a preocupação da ConvençãoInteramericana sobre o Tráfico Internacional de Menorespara combater o tráfico de pessoas com propósitos ilícitos,neles compreendidos, entre outros, a prostituição, aexploração sexual (não mais restrita à prostituição) e aservidão. O Protocolo emprega a cláusula para fins deexploração, o que engloba qualquer forma de exploração dapessoa humana, seja ela sexual, do trabalho ou a remoção deórgãos.

4.2- Para remoção de órgãos:

O transplante de órgãos foi um grande avanço damedicina do século XX, que salvou e melhorou a vida demuitas pessoas doentes em todo mundo. Os avançoscientíficos realizados por profissionais da saúde e os atos

de amor e generosidade por parte dos doadores de órgãos bemcomo de seus familiares, fizeram do transplante de órgãosnão só um ato terapêutico, mas uma maneira de salvar vidas,um símbolo de solidariedade humana. Porém estes atos temsido denegridos por inúmeros casos de tráficos de sereshumanos com o fim da compra e venda de órgãos.

Tráfico de órgãos consiste no recrutamento,transporte, transferência, refúgio ou recepção de pessoasvivas ou mortas ou dos respectivos órgãos por intermédio deameaça ou utilização da força ou outra forma de coação,rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição devulnerabilidade, ou da oferta ou recepção por terceiros depagamentos ou benefícios no sentido de conseguir atransferência de controle sobre o potencial doador, parafins de exploração através da remoção de órgãos paratransplante.

Pelo protocolo de palermo a terceira finalidade dotráfico de pessoas, consiste na remoção de órgãos para suacomercialização. O tráfico de órgãos tem como principalfator a insuficiência das doações em relação à demanda portransplantes, transformando os corpos humanos em produtoscaros. Pessoas doentes que necessitam da doação de umórgão, mas que não podem aguardar a fila de espera ou nãoquerem expor seus familiares aos riscos de uma cirurgiapara a extração, adquirem o órgão no mercado negro.

A maioria das vítimas tem lugar, emespecial, em regiões assoladas pela miséria e pelaignorância, onde as pessoas são convencidas a vender um deseus órgãos ou enganadas para tanto em troca de dinheiro ouobjetos. Trata-se de um mercado cruel que explora odesespero dos receptores que lutam contra uma doença e dasvítimas que resistem contra a pobreza, uns lutando contra otempo, outros contra a fome.

No tocante à questão do enfrentamento,certamente, a remoção de órgãos é uma das finalidades dotráfico de pessoas com investigação mais complexa do que asoutras formas, pois além da organização ilícita, quenormalmente há por trás do crime de tráfico de pessoas,esta envolve profissionais qualificados e instituições desaúde de considerável aparato tecnológico.

Não há tipificação deste crime no Código Penalbrasileiro, a matéria está disciplinada, na legislaçãobrasileira, somente pela Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro de1997, intitulada Lei de Remoção de Órgãos, cujos artigos14, 15 e 17 abordam a comercialização e tráfico ilícito deórgãos, senão vejamos:

“Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpode pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições destaLei:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100a 360 dias-multa.

§ 1.º Se o crime é cometido mediante paga ou promessade recompensa ou por outro motivo torpe:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100a 150 dias-multa.”

“Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partesdo corpo humano:

Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200a 360 dias-multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove,intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com atransação”.

“Art. 17. Recolher, transportar, guardar ou distribuirpartes do corpo humano de que se tem ciência terem sidoobtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei: Pena -reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a 250dias-multa”.

Um dos casos mais relevantes ocorridos no país acercado assunto, ocasionou a chamada “Operação Bisturi”, umainvestigação realizada pela Polícia Federal (PF), ocorridaem dezembro de 2003, no Recife. O comprador: um dos maiorespólos médicos do mundo, em Durban, na África do Sul. Osfornecedores: moradores da periferia do Recife. O valor:até US$ 10 mil por unidade. O produto: rins humanos. Esse é

o resumo do maior caso de tráfico de pessoas para fins deremoção de órgãos no Brasil, descoberto pela PolíciaFederal, que prendeu 11 pessoas, inclusive doisisraelenses. A ação transformou em inquérito uma das maistemidas lendas urbanas, a da máfia de retirada de órgãoshumanos.

A PF realizava a investigação há nove meses, sendo queo esquema, que funcionava há pouco mais de um ano,consistia em aliciar doadores na periferia do Recife elevá-los até a África do Sul. Lá era realizada a retiradade um dos rins; antes, porém, eles faziam exames em umaclínica recifense, que atestava a boa qualidade do“produto”. Pelo menos 30 pernambucanos venderam o rim àquadrilha e a polícia sul-africana também prendeu trêssuspeitos.

Este esquema relatado, só foi descoberto por meio dadenúncia feita por um homem que iria vender um de seusrins, mas que desistiu antes da viagem. A testemunha contouà polícia o que “depois de uma súbita viagem, os doadores,pobres e desempregados, compraram caminhões ou montarampequenos negócios”, relata. Muitos dos que venderam o rimtornaram-se aliciadores e recebiam comissão de R$ 8 mil. Osaliciadores possuem um esquema, aonde “só eram aceitoscandidatos indicados por doadores anteriores, para manter asegurança”, como detalha o Coordenador Nacional deEnfrentamento ao Tráfico de Pessoas, Ricardo Lins. Relata-se, ainda, que o número de pessoas interessadas em vender orim cresceu tanto, que os agenciadores, a certa altura,baixaram pela metade o valor pago.

Essa prática está se tornando mais comum devido àdisponibilidade de pessoas para que ocorra este delito,visto que muitas pessoas de condições precárias de vidas,acham que não tem outra saída, a não ser esta,comercializar os próprios órgãos vitais. Além do mais, odéficit de vigilância e das normas é um fator contribuintepara o aumento deste crime, bem como o alto nível dedificuldade nas investigações, pois assim como ocorre nasoutras formas de tráfico de pessoas, as vítimas são semprecoagidas e ameaçadas.

4.3- Trabalhos ou serviços forçados:

Encontramos definição para o que seja trabalho forçadono artigo 2º da Convenção sobre o trabalho forçado ouobrigatório, OIT. Vejamos:

Para os fins da presente convenção, a expressão“trabalho forçado ou obrigatório” designará todo trabalho ou serviço exigidode um indivíduo sob ameaça de qualquer penalidade e para o qual ele não seofereceu de espontânea vontade”.

Entretanto, a expressão “trabalho forçado ouobrigatório” não compreenderá, para os fins da presenteconvenção:

a) qualquer trabalho ou serviço exigido em virtude dasleis sobre o serviço militar obrigatório e que sócompreenda trabalhos de caráter puramente militar;

b) qualquer trabalho ou serviço que faça parte dasobrigações cívicas normais dos cidadãos de um paísplenamente autônomo;

c) qualquer trabalho ou serviço exigido de umindivíduo como consequência de condenação pronunciada pordecisão judiciária, contanto que esse trabalho ou serviçoseja executado sob a fiscalização e o controle dasautoridades públicas e que dito indivíduo não seja posto ádisposição de particulares, companhias ou pessoas privadas;

d) qualquer trabalho ou serviço exigido nos casos deforça maior, isto é, em caso de guerra, de sinistro ouameaças de sinistro, tais como incêndios, inundações, fome,tremores de terra, epidemias, e epizootias, invasões deanimais, de insetos ou de parasitas vegetais daninhos e emgeral todas as circunstâncias que ponham em perigo a vidaou as condições normais de existência de toda ou de parteda população.

e) pequenos trabalhos de uma comunidade, isto é,trabalhos executados no interesse direto da coletividadepelos membros desta, trabalhos que, como tais, podem serconsiderados obrigações cívicas normais de membros dacoletividade, contanto, que a própria população ou seus

representantes diretos tenham o direito de se pronunciarsobre a necessidade desse trabalho.

Entretanto o conceito de trabalho forçado ouobrigatório a Convenção da OIT sobre Trabalho Forçado de1930, define trabalho forçado como “todo trabalho ouserviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e parao qual ela não tiver se oferecido espontaneamente”. Essadefinição ampla foi marcada, desde o início do séculopassado, pela necessidade de abarcar o trabalho forçadocomo um fenômeno mundial, que não se restringe adeterminadas regiões, países, tipos de economia, setoreseconômicos ou modalidades de exploração.

Esperava-se que a ratificação desta Convenção pelospaíses membros da OIT se constituísse no primeiro passorumo ao reconhecimento do problema por parte de governos eda sociedade civil. Com efeito, no início do século XX,ainda que a escravidão estivesse proibida em todo o mundo,abundavam os problemas dessa natureza, envolvendo gruposvulneráveis recém libertados do fardo da escravidão legal,especialmente nas regiões onde imperavam as grandespotencias coloniais.

O tema foi retomado na década de 1950 pela OIT em suaConvenção sobre a Abolição do Trabalho Forçado (nº 105),1957, que afirma:

(...) trabalho forçado jamais pode ser usado para finsde desenvolvimento econômico ou como instrumento deeducação política, de discriminação, disciplinamentoatravés do trabalho ou como punição por participar degreves.

Do ponto de vista do posicionamento dos Estados naesfera pública internacional, esse retrato revela umrelativo consenso de que o trabalho forçado é uma graveviolação dos direitos humanos e sua eliminação deve ter ocaráter de um princípio que fundamenta os direitos básicosde todo trabalhador e trabalhadora. Ao longo dos anos deatuação da OIT, e mais especificamente nos últimos dezanos, desde a Declaração dos Princípios e DireitoFundamentais no Trabalho, nuanças têm surgido e uma sériede discussões tem se estabelecido no sentido de deixar mais

claro o conceito de trabalho forçado em seu confronto com arealidade. Como já sinalizado, o conceito de trabalhoforçado adotado em 1930 no âmbito da Convenção 29 tratou decaracterizar o fenômeno em questão da forma mais ampla eabrangente possível. Se, por um lado, essa amplitudeconceitual permite uma aplicabilidade que vem transcendendoo espaço e o tempo, por outro, exige um esforço no sentidode tornar palpável o problema em sua multiplicidade deexpressões.

O primeiro elemento colocado em documentos oficiais(como os Relatórios Globais sobre Trabalho Forçado de 2001e 2005) é que trabalho forçado não pode ser equiparadosomente a baixos salários ou más condições de trabalho, massim definido como uma grave violação de direitos que semanifesta Trabalho forçado, tráfico de pessoas e gênerofundamentalmente pela restrição da liberdade do trabalhadorou trabalhadora. Dois aspectos são centrais: é um trabalhoou serviço imposto sob ameaça de punição e é executadoinvoluntariamente.

No confronto com a realidade, esse conceito adquirecomplexidade: “uma ameaça de punição pode assumir múltiplase diferentes formas”. Pode assumir formas extremas deviolência, confinamento ou ameaça de morte, até formas maissutis, por exemplo, a perda de direitos e privilégios.Também é salientado que a questão do consentimento deve serproblematizada, pois muitas situações de trabalho forçadopodem iniciar-se com o livre engajamento do trabalhador outrabalhadora, a perda de liberdade se revelando apenasposteriormente, por meio de coerções legais, físicas oupsicológicas que impedem o rompimento da relação detrabalho. É salientado, ainda, que a situação de trabalhoforçado não é definida pela natureza da atividadedesenvolvida ou mesmo por sua legalidade ou ilegalidade. Oelemento definidor da situação de trabalho forçado é anatureza da relação do trabalhador ou trabalhadora com o“empregador”.

Vale acrescentar que, para a OIT, os termos “trabalhoforçado”, “escravidão”, “práticas análogas à escravidão” e“servidão” expressam modalidades gerais de violação dosdireitos humanos, sendo que cada tipo faz referência a uma

forma específica dessa violação. Assim, a “escravidão” éuma forma de trabalho forçado que implica no controleabsoluto de uma pessoa por outra, ou, eventualmente, de umcoletivo social por outro. As “práticas análogas àescravidão” incluem situações nas quais um indivíduo oucoletivo social se vê forçado a trabalhar para outro ououtros. A “servidão” denomina as situações nas quais umindivíduo é levado a realizar um trabalho endividando-se aomesmo tempo, em função dos custos associados à realizaçãodesse trabalho (transporte, alimentação, equipamentos detrabalho e de proteção).

É interessante notar que, em termos gerais, em paísesdo Pacífico Asiático, da América Latina e do Caribe e naregião da torno dos debates sobre a superação da pobreza esobre “regimes tradicionais de servidão”, com políticas eprogramas voltados fundamentalmente para a garantia doacesso à terra, a geração de renda e a qualificaçãoprofissional. Nos chamados países industrializados e detransição, a abordagem do tema do trabalho forçado éapontada como recente, ocorrendo no contexto da migração edo tráfico de pessoas. Neste segundo caso, políticaseconômicas e sociais têm sido fomentadas no sentido decombater a invisibilidade do problema, dar respostas àprecariedade instalada no mercado de trabalho informal, bemcomo fazer face às atividades clandestinas, propícias parao desenvolvimento de diferentes formas de exploração. Valenotar que uma certa ambivalência é revelada com relação àspolíticas adotadas nesses Trabalho forçado, tráfico depessoas e gênero países receptores de mão-de-obra. Há umademanda por esse tipo de mão-de-obra, porém, não há umapolítica migratória que, de fato, regule esses fluxos,fazendo com que oferta e demanda encontrem-se de maneiravirtuosa. Nesse contexto, se instalam formas irregularespara efetivar esse encontro, abrindo, assim, um espaço paraa migração irregular, o contrabando de migrantes e otráfico de pessoas.

No Brasil, pode-se dizer que a ampla definição detrabalho forçado, cunhada a partir da adoção da Convençãonº 29 sobre a questão, demandou um esforço posterior decaracterização do fenômeno em cada país que a ratificou.Como acontece após a ratificação de qualquer Convenção

internacional, o país deve refletir o espírito dessanormativa em suas leis nacionais. O ato de “refletir” osprincípios dessas Convenções internacionais tem aquisentido literal: como em um jogo de espelhos, é precisocolocar a lei internacional e a lei nacional lado a lado,analisando as lacunas existentes na normativa do país quedevem ser preenchidas mediante o compromisso assumido com aratificação da lei internacional.

A definição de trabalho escravo expressa na lei nãorequer a combinação desses fatores para caracterizar ocrime, a presença de um desses fatores caracteriza umcrime.

Segundo o Código Penal Brasileiro, condições detrabalho degradantes são suficientes para definir umasituação de trabalho escravo, uma vez que ferem a dignidadedo trabalhador. As violações relacionadas com falta desegurança, riscos à saúde do trabalhador, jornada exaustivade trabalho, limitações na higiene e na moradia sãoconsideradas formas graves de violação da dignidade dapessoa. Nessas condições, o trabalho degradante é resultadodo trabalhador ser tratado como “coisa” ou “objeto”, apartir de situações em que ele é negociado como mercadoriabarata e desqualificada, destituindo-o, desse modo, da suacondição humana. O trabalho degradante, nesse sentido, éequiparado à prática de tortura.

Atualmente, o principal objetivo da OIT consiste empromover oportunidades para que mulheres e homens possamter acesso a um trabalho digno e produtivo, em condições deliberdade, equidade e dignidade.

Não há como se concretizar o direito à vida digna seo homem não for livre e tiver acesso ao direito fundamentalao trabalho também digno. Da mesma forma, não hápossibilidade real do exercício do trabalho digno se nãohouver verdadeira preservação do direito fundamental à vidahumana digna.

É, portanto, mediante o trabalho que o homem encontrasentido pela vida, para seu desenvolvimento pessoal emoral, pois, sem trabalho, não há vida digna e saudável nãohá falar no respeito à dignidade da pessoa humana em um

Estado Constitucional Democrático. Por isso vigora oprincípio fundamental internacional de que o trabalho não éuma mercadoria.

O artigo 1º, inciso V da CF/88, ao especificar umprincípio básico e fundamental de constituição do Estadodemocrático de direito brasileiro, expressa oreconhecimento de que a sociedade brasileira é pluralista.Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 enuncia comoprincípio fundamental o pluralismo político como um dosfundamentos da República Federativa Brasileira.

Conforme salientado, o foco do Direito do Trabalhoreside na luta pelo reconhecimento e aperfeiçoamento dacondição humana no mercado laborativo. Por isso, torna-seimperioso vivenciar, no Estado Democrático de Direito, umaépoca repleta por uma gama de direitos e garantias ágeis eeficazes para se preservar o cidadão e a dignidade dosdespossuídos. Pois, na seiva doutrinária de MAURÍCIOGODINHO DELGADO, “o mais generalizante e consistenteinstrumento assecuratório de efetiva cidadania, no planosocioeconômico, e de efetiva dignidade, no planoindividual. Está-se diante, pois, de um potencial earticulado sistema garantidor de significativo patamar dedemocracia social”.

Portanto, o maior desafio que se apresenta hojeconsiste exatamente em recriar o Direito do Trabalho pormeio da prevalência dos Diretos Humanos no universojuslaboral, pois a saída para a civilização do trabalho edo emprego encontra importância na sua regulamentação e naconstrução de um Estado voltado para o bem-estar de seupovo e para a integração do indivíduo no mercado formal detrabalho, porque o caminho é o Direito do Trabalho econforme assegura MÁRCIO TÚLIO VIANNA, “agora, mais do quenunca, não devemos ter medo de pensar, de mudar, de ousar.Só assim estaremos usando o Direito para transformarrealidade”.

V- Conclusão:

Após vários séculos de forte ocorrência do tráfico depessoas, sendo que a maior parte delas se deu entre osséculos XIX e XX, a sociedade internacional resolveumobilizar-se. Para tanto, resolveu-se elaborar documentosinternacionais que visassem garantir os direitos humanosdas vítimas, bem como prever medidas para a erradicação detal crime.

No Brasil, podemos afirmar que, a norma internacionalde maior relevância no tema, é o Protocolo de Palermo, cujaratificação se deu em 2004, entrando em vigor através doDecreto 5.017 de 12 de março de 2004.

Com a referida ratificação, a redação do Código Penalde 1940 que em seu art. 231 definia o “Tráfico deMulheres”, acabou por modificar-se após a Lei 11.106 de2005, passando a ter a denominação “Tráfico Internacionalde Pessoas”, adaptando-se ao que constava no Protocolo eabrangendo, pois, tanto homens quanto mulheres que viessema ser vítimas de tráfico de pessoas para fins de exploraçãosexual.

Todavia, convém ressaltar que, da definição sobre oque vem a ser o tráfico de pessoas, segundo o Protocolo dePalermo, conclui-se que o objetivo central do mesmo, é aabrangência de todas as formas de tráfico de pessoas e nãosó o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual.

Neste sentido, atualmente, vige no Código Penal, apósalteração da Lei nº 2.015, de 2009, os arts. 231 e 231-Aque tipificam o crime de tráfico de pessoas com fins deexploração sexual.

Para as demais formas de tráfico de pessoas, como otráfico para fins de remoção de órgãos, há lei específica,qual seja, a Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro de 1997,intitulada Lei de Remoção de Órgãos, cujos artigos 14, 15 e17 abordam a comercialização e tráfico ilícito de órgãos.

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