ABORDAGENS GERENCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

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ABORDAGENS GERENCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Sheila Rangel Organizadora

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ABORDAGENS GERENCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Sheila RangelOrganizadora

ABORDAGENS GERENCIAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Sheila RangelOrganizadora

2013

Copyright © Quarteto Editora

Revisão de Texto Normalização bibliográficaJosé Carlos Bastos Sant Anna Sheila Rangel

Projeto Gráfico Capa: Margeylson Ribeiro GraçaQuarteto Editora Finalização da capa Casa de Criação.Design

Conselho Consultivo Prof. Dr. Francisco Ferreira de Lima Universidade Estadual de Feira de Santana Prof. Dr. Massaud Moisés Universidade do Estado de São Paulo Prof. Dra. Célia Marques Telles Universidade Federal da Bahia

Conselho Editorial Profa. Dr. Gilda Conceição Santos Univ. Fed. do Rio de Janeiro Jornalista Hélio Pólvora Membro da Academia de Letras da Bahia Prof. Mestre José Carlos B. Sant’Anna Universidade Federal da Bahia Profa. Mestre Rita Maria Bastos Vieira Universidade Federal da Bahia Profa. Dra. Sônia van Djick Lima Universidade Federal da Paraíba

Rangel, Sheila (Org.)

Gestao Estratégica: uma visao multidisciplinar. Sheila Rangel (Org).

– Salvador: Quarteto, 2012

274 p.

Inclui referências

ISB

Todos os direitos desta edição reservados à:Quarteto EditoraAv. Antonio Carlos Magalhães, 3213 – Ed. Golden Plaza, s/ 702 – Iguatemi40.280-000 – Salvador – BahiaTelefax: (71) 3452-0210 Email: [email protected]

Perfil dos autores

Ailton Sousa Silveira LIMA JUNIOR – Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Bahia (2003); Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1991). Atu-almente é professor assistente DE da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de Engenharia Mecânica e de Produção, com ênfase em Aproveitamento da Energia, atuando principalmente nos seguintes temas: vestibular, estática, dinâmica, elementos de máquinas, dinâmica veicular, custos de energia, racionalização de produção pecuá-ria, processo de fabricação de cerâmicas estruturais e plástico reforçado por fibras de vidro. Coordena os projetos Mini-Baja e Fórmula S. Vice-coordenador do grupo de pesquisa APOLLO. E-mail: [email protected]

Amanda Cambuí PEREIRA – Concluiu o Ensino Médio em dezembro de 2012 no Colégio Marista Patamares. Em fevereiro de 2013 passou no Vestibular de Direito da Universidade Federal da Bahia – UFBA, além de ter galgado mais dois resultados positivos para este mesmo curso (Uni-versidade Estadual do Mato Grosso do Sul e em 5o lugar na Faculdade Baiana de Direito). Escreve poesias desde os 7 anos de idade, quando participou do livro “Um dedo de prosa e poesia”, publicado no XVIII Concurso Literário Carlos Drummond de Andrade. Estudou Teclado e atualmente estuda Piano na TEMUS Escola de Música com Tecnologia. E-mail: [email protected]

Amilcar BAIARDI – Realizou o pós-doutorado no Istituto e Museo di Storia della Scienza, IMSS, Firenze, Itália e é doutor em Ciências Humanas pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP. Foi professor-visitante nas universidades de Aarhus, Dinamarca, e Bologna, Itália. Atualmente é professor titular aposentado da UFRB, professor da

pós-graduação da UFBA e da UCSAL com atuação em várias diretorias e conselhos de sociedades científicas. Durante cerca de 25 anos foi pes-quisador do CNPq e é também membro titular fundador da Academia de Ciências da Bahia. E-mail:[email protected]

Ana Altina Cambuí PEREIRA – Mestranda em Educação e Contempo-raneidade pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Pós-Graduada em Novas Tecnologias na Educação pela ESAB/Espírito Santo. Graduada em Relações Internacionais pela Estácio – FIB. Membro do Grupo de Pesquisa Docência Universitária e Formação de Professores – DUFOP/UNEB e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Edu-cação – ANPED. Autora de artigos na área de Formação do Professor e Avaliação Institucional, em Congressos no Brasil e no Exterior. Há mais de 10 anos trabalha em instituições de ensino superior privada, lidando diretamente com as Comissões do MEC nas suas visitas in loco: Autorização de Curso, Reconhecimento, Recredenciamento de IES e Credenciamento de Centro Universitário, possibilitando uma ampla experiência nesta área. Coordenou o Núcleo de Apoio ao Docente na Estácio FIB. Foi Procuradora Institucional e Diretora Acadêmica nas faculdades do Sistema Bahia de Ensino. É sócia fundadora da Cambuí & Cambuí Consultores Associados (Avaliação Institucional e Direito Educacional). E-mail: [email protected]

André Ricardo MAGALHÃES – Doutor em Educação Matemática pela PUC/SP. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002). Bacharel em Informática pela Universidade Católica do Salvador (1997). Especialista em Educação e Novas Tecno-logias da Informação e da Comunicação pela Universidade do Estado da Bahia (1999). Atualmente é professor permanente do Programa de Mestrado em Gestão e Tecnologias aplicadas a Educação (GESTEC), na

Universidade do Estado da Bahia. Lidera os grupos de pesquisa TECIN-TED e TECH-MAT, ambos cadastrados no CNPq. Coordena o curso de Licenciatura em Ciência da Computação a distância da UNEB-UAB. Foi eleito em 2009 Presidente do Fórum da Área de Informática da CA-PES - UAB. Atua como avaliador de cursos de graduação do INEP. Faz parte da base de consultores do INEP para elaboração de itens do ENEM na área de Matemática. Tem experiência na área de novas tecnologias e o processo de aprendizagem, dedicando-se principalmente a estudar sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação e seus impactos nos processos educacionais. Autor de diversos artigos na área com pu-blicações em periódicos tanto nacionais e internacionais. Atua também nos seguintes temas: Modelagem Cognitiva, Redes Sociais e Educação, Educação matemática, WEB 2.0, Interação Homem - Computador, Hipermídia Adaptativa e Gestão do Conhecimento.E-mail: [email protected]

André Pedral Sampaio de SENA – Doutor em Engenharia de Produção Inteligência Organizacional pela UFSC (2008); Mestre em Engenharia de Produção Gestão de Negócios pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002); Especialista em Informática para Educação pelo Centro Educacional de Pós-Graduação Olga Metting (1999). Tem vasta experi-ência nas áreas de Tecnologia da Informação, Engenharia de Processos, Hidrogênio, Bioenergia, Automação de Processos, Desenvolvimento Sustentável, Auditoria e Perícia Judicial. Ganhador do Prêmio Regional SUL – Santander. Vencedor do 4º Prêmio Santander de Ciência e Ino-vação com o projeto OPTIMUS: Criação de um método para avaliação da gestão estratégica informada pela MCDA-C. E-mail: [email protected]

Anselmo Leite BRUM – Mestre em Ciências da Educação – Ênfase ensino corporativo. Pós-Graduado em Administração Financeira, Pós- Graduado em Ciências da Educação. Graduado em Ciências Contábeis,

Auditor Fiscal Estadual. Professor em cursos de Pós-Graduação. Professor em Educação Corporativa nas áreas fiscal e tributária.E-mail: [email protected]

Arnaud Soares de LIMA JUNIOR – Doutorado e mestrado em Edu-cação pela UFBA. Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia – UFPB. Professor Titular da UNED e Professor Permanente dos Pro-gramas de Pós-Graduação Educação e Contemporaneidade (Mestrado e Doutorado) – PPGEduC/ UNEB, Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (Mestrado Profissional) – GESTEC/UNEB, líder do Grupo de Pesquisa Tecnologias Inteligentes e Educação – TECINTED/ CNPq, Coordenador da Linha de Pesquisa " Educação, Currículo e Processos Tecnológicos" (PPGEduC), Coordenador da Área de Processos Tecnológicos e Redes Sociais (GESTEC). Psicanalista do Ins-tituto Freudiano de Orientação Lacania (IFOL) – BA/SE. Avaliador da Áre Multidisciplinar da CAPES, da Câmara de Sociais e Humanidades (2010 – 2011). Estudos e pesquisas nas áreas de Epistemologia, Estética, Linguagem, Subjetividade, Educação e Currículo. E-mail: [email protected]

Emanuel José Rebouças FERREIRA – Doutor em Engenharia de Produção – UFSC ênfase em Inteligência Organizacional; Mestre em Engenharia de Produção – UFSC – ênfase em Gestão de Negócios. MBA Marketing de Serviço - ESPM. MBA Engenharia Produção - UFSC. Pós-Graduado em Metodologia do Ensino Superior - Olga Metting. Gradu-ado em Economia. Graduado em Processamento de Dados. Consultor de Negócio. Certificado PMP/PMI. Palestrante. Membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Conferencista. Gerente de Proje-to. Professor de Graduação. Professor Pós-Graduação. Coordenador de Curso de Graduação. Coordenador de Curso de Pós-Graduação. E-mail: [email protected]

Epaminondas Silva MACEDO – Atualmente exerce o Cargo de Diretor Geral do IFBA Jacobina. Doutorando em Direito à Educação pela Faculda-de de Filosofia e Educação da Universidade de CUIO, Argentina. Mestre em Pedagogia Profissional pelo ISPETP, CUBA em 2001. Convalidação: UFPI.Pós-Graduado em Direito Processual Civil, pelo JUS PODVM, 2009. Bacharel em Direito pela UFBA, 1997. Pós-graduado em Teoria e Pesquisa em História pela Universidade Estadual do Ceará – UECE em 1993. Bacharel e Licenciado em História pela UFBA , em 1997 e 1988. E-mail: [email protected]

Fábio Luiz Lima de FREITAS – Bacharel em Marketing pelo Centro Universitário da Bahia (Estácio de Sá). Autor de artigos científicos. Foi bolsista da FAPESB no programa de iniciação científica. Atualmente, ocupa o cargo de Assessor Executivo da Casa Civil ( Salvador-Bahia).

Hélio Manzini MANDARINO – Especialista em gestão de projetos pela Faculdade Metropolitana de Camaçari – FAMEC. Graduado em Logística pela Universidade Salvador – UNIFACS e graduando em Engenharia de Produção pela Universidade Estácio de Sá. Sua experiência profissional in-clui cargos de coordenação e supervisão nas áreas de logística e planejamento de suprimentos em projetos de grande porte em empresas petroquímicas, de transformação e serviços, tendo passado por grandes organizações como Tigre, ABB, Braskem, Continental Pneus, entre outras.E-mail : [email protected]

Ivo Chaves de FRANÇA – Pós-Graduado em Banco de Dados – Facul-dade Ruy Barbosa – ênfase em Informações Estratégicas. Graduado em Informática – UCSAL. Coordenador de Tecnologia da Informação do Instituto Federal da Bahia – IFBA Jacobina. Coordenador Adjunto do PRONATEC. Gestor Local do Programa Mulheres Mil.e-mail: [email protected]

Jacy Bandeira Almeida Nunes – Mestre em Educação e Contempo-raneidade. Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia (1996). Atualmente é efetivo – Núcleo de Tecnologia Educacional e professor titular da Universidade do Estado da Bahia. Tem experiência na formação inicial e continuada de professores em exercício, com ênfase em Tecnologias da Informação e Comunicação e Ensino de Geografia, atuando principalmente nos seguintes temas: Informática Educativa, Tecnologias Educativas, Educação Ambiental, Metodologia da Pesquisa, Ensino de geografia, Educação a Distância, práticas educativas e repre-sentação social. E-mail: [email protected]

José Alexandre de Souza MENEZES – Doutor em Economia pela Cor-nell University, C.U. Ithaca. Economista. Atualmente é professor titular da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Contabilidade de Gestão da UFBA. Pesquisador em Educação, meio ambiente e desenvolvimento humano pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. E-mail: [email protected]

José Emanuel Rebouças FERREIRA – Mestre em Bioenergia – Rede FTC. Especialista em Engenharia de Produção com ênfase em Gestão de Negócios pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-Graduado em Metodologia do Ensino Superior – Olga Mettig; Graduado em Economia e Bacharelando em Administração de Empresas pela Estácio – FIB. Atu-almente é professor em cursos de graduação e pós-graduação. Consultor de Negócio. Consultor SHOPPER. Gestor de Fábrica. Sócio-Diretor de PME. Gerente Financeiro. Palestrante. E-mail: [email protected]

Djalma Fiuza ALMEIDA – Mestrando em Gestão e Tecnologias Apli-cadas. Especialização em Artes Visuais e Pós-Design. Graduação em Desenho Industrial com Habilitação em Programação Visual. Professor Auxiliar e Pró-Reitor de Infraestrutura da UNEB. Integra o Grupo de Pesquisa Tecnologias Inteligentes e Educação – TECINTED/ CNPq. Estudos e pesquisas nas áreas de Gestão Educacional. E-mail: [email protected]

Leila Bárbara Menezes SOUZA – Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Bahia. Graduada em Biblioteconomia e Documentação pela UFBA. Atua como professora universitária de cursos de graduação e pós-graduação na Faculdade Metropolitana de Camaçari – FAMEC; Faculdade de Ciências Educacionais – FACE; Universidade Regional da Bahia – UNIRB; Plataforma Freire MEC – Plano Nacional de Formação de Professores, pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB. Atualmente integra o Grupo de Pesquisa “Disseminação e uso da informação”, do ICI/UFBA e coordena o Projeto de Extensão “Praia Limpa: Futuro Saudável” do Curso de Engenharia Ambiental da FA-MEC. É também consultora sênior associada da Informare Consultoria Empresarial, com atuação em projetos. Na docência, além de ter desen-volvido atividades como Assessora Pedagógica na UNIRB, foi professora substituta na Universidade Federal da Bahia – UFBA, na pós-graduação em Gestão Empresarial da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC e na pós-graduação da UNESI. E-mail: [email protected]

Luciana Thaís Damásio COSTA – Pós-Graduada em Banco de Dados – Faculdade Ruy Barbosa – ênfase em Informações Estratégicas. Graduado em Informática – UCSAL; Analista de Sistemas – Spassu Tecnologia, Cliente Petrobras. E-mail: [email protected]

Lúcio Jordan Nonato OLIVEIRA – Pós-graduado em Banco de Dados – Faculdade Ruy Barbosa – ênfase em Informações Estratégicas. Gradu-ado em Informática – UCSAL. Analista de Sistemas – CPMBRAXIS, Outsourcing SEFAZ – BA. E-mail: [email protected]

Luiz Gonzaga MENDES – PhD em Agricultural Economics pela The Ohio State University. Mestre em Economia Agricola pela Universidade Federal de Viçosa. Professor titular da UFBA e Professor Adjunto da UFRB, Ex-diretor da Escola de Agronomia da UFBA. Ex-coordenador do Mestrado em Desenvolvimento Agricola da UFBA e ex-cordenador do Mestrado Profissional em Gestao de Politicas Publicas e Segurança Social.E-mail: [email protected]

Marcelo Cruz Martins GIACCHETTI – Gerente de Projetos. MBA em Tecnologias e Gestão Ambiental – FAAP. MBA em Análise de Sistemas – Mackenzie. Graduado em Engenharia Mecânica – Makenzie. Consultor de Sistema de Gestão Ambiental. Auditor Líder (IRCA) em Sistema de Gestão Ambiental. Consultor em Tecnologia da Informação. Professor de Pós-Graduação. Diretor Técnico da empresa NOGLE-mail: [email protected] Patrícia Lima NOGUEIRA – Mestre em Engenharia de Produção – UFSC co ênfase em Inteligência Organizacional. MBA Engenharia Produção-UFSC. Pós-Graduada em Gestão Empresarial. Graduada em Administração de Empresas. Graduada em Processamento de Dados. Consultora e Auditora Líder de Sistema de Gestão de Qualidade, Meio Ambiente, Saúde e Segurança e Responsabilidade Social (SGI). Profes-sora de graduação e pós-graduação da Universidade Nove de Julho - SP. Diretora executiva da empresa NOGLE-mail: [email protected]

Sheila RANGEL – Doutora e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Economista. Orga-nizadora de diversos livros e artigos científicos. Lecionou na UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina. Lecionou também no Centro Universitário da Bahia (Estácio de Sá), onde coordenou o Núcleo de Pes-quisa e a Editora FIB. Atua no ensino de graduação desde o ano de 2000. Atualmente é professora e pesquisadora do grupo norte-americano DeVry (Faculdade Ruy Barbosa e Área 1); orientadora do Material Didático (UAB/EAD) na UNEB – Universidade do Estado da Bahia e professora colaboradora do IFBA – Instituto Federal da Bahia através do convênio PRONATEC. Também participa de diversas bancas no Mestrado em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social na UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Leciona em diversas pós-graduações, dentre elas: Universidade Petrobrás (RJ), UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.E-mail: [email protected]

Sinara Dantas NEVES – Doutoranda em Família na Sociedade Con-temporânea (UCSal). Mestre em Ciências/Psicologia (USP - Ribeirão Preto). Especialista em Psicologia Organizacional (UNIFACS), com for-mação em Coordenação de Grupos Operativos (Instituto Pichon-Rivière de Ribeirão Preto – SP). Graduada em Administração de Empresas (UNIFACS). Professora Universitária em âmbito de graduação e pós-graduação, com vasta experiência em Coordenação Acadêmica de Curso Superior e em Coordenação de Núcleo de Atendimento ao Discente. Psicoterapeuta Sistêmica de Família, Casal e Individual pelo Centro de Estudos da Família e do Casal (CEFAC). Membro do Grupo de Pesquisa Família, (Auto)biografia e Poética (UCSal). Bolsista FAPESB. Email: [email protected]

Orleane Oliveira JAMBEIRO – Possui graduação em Letras – Língua Inglesa e Respectivas Literaturas pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB (2008). Especialização em Gestão de Organizações Educacionais (UNEB-2010). Pós-Graduação em Metodologia de Ensino e Pesquisa em Língua Inglesa (2012). Atua como professora na Secretaria Munici-pal de Educação de Jacobina, tutora presencial da Universidade Aberta do Brasil-UAB, em parceria com a Universidade do Estado da Bahia-UNEB. Mediadora do Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica e professora pelo Programa Nacional de Acesso Técnico e Emprego-PRONATEC, Campus de Jacobina do Instituto Federal da Bahia-IFBA. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino-Aprendizagem. E-mail: [email protected]

SUMÁRIO

Apresentação 17

Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA 23

Sheila Rangel Fábio L. Lima de Freitas

A gestão do conhecimento no programa ensino médio com intermediação tecnológica – EMITEC: no distrito de Itaitu, Jacobina – BA 41

Orleane Oliveira JambeiroJacy Bandeira Almeida Nunes

Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacional 59

Epaminondas Silva Macedo

Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educação 77Ivo Chaves de FrançaLuciana Thais D. CostaLúcio Jordan N. Oliveira

O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitos 97

André Pedral Sampaio de SenaAilton Sousa Silveira Lima Junior

O que vem pela frente? Experiência, Gestão da Informação e Pessoas – Tensões não resolvidas 115

Emanuel José Rebouças Ferreira José Emanuel Rebouças Ferreira

Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacional 131

Marcelo Cruz Martins GiacchettiPatrícia Lima Nogueira

Gestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetos 149

Hélio Manzini MandarinoLeila Bárbara Menezes Souza

Sinara Dantas Neves

A gestão do estudo para enfrentar o vestibular: relatos de uma experiência 173

Amanda Cambuí PereiraAna Altina Cambuí Pereira

Universidade corporativa e a construção dos saberes: a experiência da gestão educativa de uma empresa que possui UC. 187

Anselmo Leite BrumJosé Alexandre de S. MenezesLuiz Gonzaga Mendes

Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem Cognitiva 209

André Ricardo MagalhãesArnaud Soares de Lima JuniorDjalma Fiuza Almeida

Estado e sociedade no controle das despesas governamentais: uma nova gestão contemporânea 231

Amilcar Baiardi

17ApresentaçãoSheila Rangel

APRESENTAÇÃO

Trata-se de uma coletânea com diversos autores mestres e douto-res dialogando sobre a gestão em diversas áreas, como a gestão pública, privada, terceiro setor, além de uma análise da gestão educacional.

O primeiro capítulo intitulado Utilização do Índice para Ges-tão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA propõe um índice e sua aplicação para gestão municipal. A partir da composição de algumas variáveis, os autores sistematizaram um índice para a avaliação do desenvolvimento municipal. Trabalhou-se com a hipótese de que as variáveis de controle (representadas por melhoria da escolaridade, pela carga tributária e pelo poder de compra detectado entre o valor do salário mínimo e cesta básica; e pelo investimento na saúde) são capazes de in-terferir nas variáveis dependentes (representadas pela melhoria na renda; desemprego e longevidade). Este índice é uma ferramenta que poderá auxiliar no processo de gestão municipal com o objetivo de planejar, acompanhar e avaliar o desenvolvimento da localidade em questão.

O segundo – A gestão do conhecimento no Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica – EMITEC: no Distrito de Itaitu, Jacobina-BA – tem o intuito de apresentar os resultados de uma investigação que teve o objetivo de elucidar até que ponto o uso dos recursos tecnológicos favorece à aprendizagem dos alunos inseridos no Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica. O levantamen-to teórico contou com Caldart (2002), Freire (1992), Lévy (1993), Lima Jr. (2003), Minayo (1994), Molina (2002), Moran (1991), Silva (2004). A pesquisa de campo foi realizada no Colégio Municipal Crescenciano Fernandes Pires, localizado no Distrito de Itaitu, zona rural do Município de Jacobina – Bahia, onde o programa foi implantado (2010). A coleta de dados teve com base os documentos pedagógicos disponíveis no site do programa no ambiente virtual de aprendizagem – AVA; na aplicação

18 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

de questionários direcionados aos alunos, professores (mediadores) e direção da unidade escolar; e nas observações e conversas informais com os sujeitos inseridos no processo. Os resultados obtidos apontaram que os alunos não têm acesso à internet e aos conteúdos digitais disponí-veis no AVA; não tem disponibilidade de material impresso; não existe laboratório de informática na escola e os alunos não têm computador; as especificidades dos alunos do campo não são respeitadas e é visível o choque entre a cultura tecnológica e a cultura do campo, inviabilizando a aprendizagem significativa por parte dos alunos.

O terceiro artigo intitulado Reflexões sobre a gestão educacio-nal como instrumento para uma revolução na cultura nacional tem por objetivo a análise das questões educacionais e, mais precisamente, as problemáticas da má qualidade do ensino aprendizagem nas escolas brasileiras a partir de um enfoque diferenciado, pois os fatores elencados vão além dos elementos internos e da própria gestão escolar. De forma sintética, buscamos eximir, em parte, a escola e os seus protagonistas das responsabilidades pelos maus resultados do ensino-aprendizagem, partindo da proposição de que as mazelas que persistem e recaem sobre a educação estão diretamente vinculadas à própria cultura nacional.

O quarto artigo O uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educação analisa o desempenho, a evasão e a frequência dos alunos da escola Barbosa Romeo, antes e após a instituição do benefício do Programa Bolsa Família, tendo a metodologia BI como eixo e utilizan-do a ferramenta Pentaho, como instrumento de análise. A natureza do objeto de pesquisa requisitou que se utilizasse a perspectiva qualitativa para compreensão das questões referentes ao estudo, em especial, dos dados quantitativos e do contexto que o configura. Para fazer uma análise quantitativa foram aplicadas técnicas de BI sobre os dados fornecidos pela escola e, para buscar um olhar qualitativo, questionários semiestruturados foram adotados. Os dados coletados serão comparados através do BI.

19ApresentaçãoSheila Rangel

No quinto artigo há uma abordagem sobre O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de re-quisitos. Nele se propõe discutir a utilização de uma metodologia de Apoio à Decisão, notadamente a MCDA-C, aplicada à área de sistemas de informação, dando bases aos usuários para construir o conhecimento sobre os problemas por eles enfrentados e como podem ser solucionados através do desenvolvimento de softwares específicos e/ou personalizados. A sistemática proposta visa introduzir um novo método para a Enge-nharia de Requisitos, a fim de ser implementada no processo inicial de avaliação dos requisitos necessários para a construção dos algoritmos de operacionalização de softwares, objetivando ainda uma uniformização nos princípios adotados para a confecção de sistemas informatizados.

No sexto artigo intitulado O que vem pela frente? Experiência, Gestão da Informação e Pessoas – Tensões não resolvidas. Descreve o quadro de determinações de a) como as empresas, ao longo do tempo, vêm enfrentando novas demandas de modernização do seu sistema de negócios na área de tecnologia informacional? b) a trajetória das mu-danças com o advento das tecnologias da informação – o que vem pela frente? c) gestão estratégica – é preciso entender? Dada a questão a ser respondida, o artigo trabalha com a premissa de que o ambiente é com-petitivo, de incerteza, exigente e complexo. Avalia nessa compreensão o ambiente competitivo, fatores relacionados ao modo organizacional, a fatores ditos sociais e de concorrência, a que se expõem as organizações no processo de incorporar uma gestão estratégica eficiente.

O sétimo artigo intitulado Abordagem prática de gestão am-biental: a padronização de aspectos ambientais no setor elétrico na-cional apresenta um levantamento dos aspectos relevantes que ocorreram no setor elétrico. Propõe um estudo de padronização da nomenclatura utilizada pelos sistemas de gestão ambiental das empresas do setor elétrico analisando a nomenclatura utilizada por quatro empresas do setor com-

20 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

paradas com a bibliografia estudada, tentando estabelecer um documento de benchmarking para as empresas do setor.

No oitavo artigo, há uma abordagem sobre Gestão de materiais: uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetos. Pretende-se investigar as dificuldades encontradas para a implantação de uma gestão de materiais em projetos. O problema questiona as principais restrições e dificuldades que têm impedido a prática do gerenciamento de aquisições em projetos, permitindo sobra de materiais, elevação de custos e desperdícios. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagens quantitativa e qualitativa, levan-tamento bibliográfico e pesquisa de campo (questionário em empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari, Centro Industrial de Aratu na Bahia e empresa petroquímica do ABC paulista). Os resultados apontam a falta de especialistas em projetos como o fator mais relevante para a gestão de materiais.

O nono artigo – A gestão do estudo para enfrentar o vesti-bular: relatos de uma experiência – aborda que o vestibular reúne na sua conceituação um marco na vida dos estudantes egressos do ensino médio, onde sentimentos de angústia, ansiedade, medo e euforia são vivenciados pelos estudantes que encaram um processo seletivo dessa natureza. Todavia, saber organizar a gestão do tempo passa a ser um mecanismo de extrema importância para que os resultados almejados sejam alcançados. A partir da trajetória definida por uma das propo-nentes desse trabalho, é possível perceber que quem quer algo faz aquilo que pode para alcançá-lo. No referido texto, dialogamos com autores diversos como Sousa Santos (1988), Coêlho (2006), Berman (2007) e Percy (2012), cujas reflexões permitiram um melhor entendimento do assunto aqui tratado, fornecendo pistas para os estudantes que ainda vão trilhar essa caminhada.

21ApresentaçãoSheila Rangel

No décimo artigo – Universidade corporativa e a construção dos saberes: A experiência da gestão educativa de uma empresa que possui UC – tem como objetivo descrever a vinculação entre a missão de uma empresa, disposta no seu Planejamento Estratégico, e as atividades da sua Universidade Corporativa, ao utilizar em sua ação educativa a teoria da pedagogia das competências, na mobilização do conjunto de recursos cognitivos de seus funcionários para a produção de saberes, capacidades, informações e desenvolvimento de competências fundamentais para a construção da autonomia de seus funcionários (saber ser, saber conviver). O objeto de estudo foi abordado no cenário investigativo através de uma ampla consulta a documentos, relatórios e entrevistas abertas com seus dirigentes, não só da visão dos dirigentes, mas do projeto político-pedagógico da universidade corporativa, sua vinculação com a missão da Empresa, no período cenarizado, entre 2010 até 2028, e elementos das estratégias empresariais relacionadas à universidade corporativa.

No décimo primeiro – Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem Cogniti-va –, pretende-se contribuir para a construção e compreensão de uma abordagem não positivista-determinista-tecnicista do processo de Gestão. Neste sentido, traz indicadores teóricos a partir das bases epistemoló-gicas e sociológicas da perspectiva da Governança, da possível relação que mantém com a abordagem crítica de Tecnologia e da Modelagem Cognitiva. Além desta provocação teórica, o texto contribui de modo prático com o relato de uma experiência de pesquisa aplicada em an-damento, no âmbito do Programa Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC), da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ao final, serão apresentadas provocações em torno da Gestão, em vista de seus potenciais colaborativos, interativos, dinâmicos, sociais, abertos e relativos às construções e ressignificações pelos sujeitos da dinâmica administrativa e organizacional, quer em seus aspectos lógicos e concei-tuais, quer em suas bases materiais, técnicas e instrumentais.

22 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

No décimo segundo artigo intitulado Estado e sociedade no controle das despesas governamentais: uma nova gestão contempo-rânea se analisa como se alteraram nas últimas décadas a relação Estado/Sociedade sob a ótica do controle dos gastos governamentais. A temática abordada é aquela que procura entender como a relação entre o Estado – aqui definido como ente de regulação da vida social, como instituição que detém o monopólio da coação física legítima e como espaço para o exercício do poder – e a Sociedade – aqui definida como o agrupamento humano que se forma e se mantém após o estado da natureza e no qual não mais prevalecem os laços de sangue e nem de religião – evolui, saindo do plano do clientelismo e do personalismo, próprios de uma sociedade com resíduos de patriarcalismo e patrimonialismo, para ingressar no plano da impessoalidade e do equilíbrio. O suposto do trabalho é que estaria se verificando mudanças na relação Sociedade/Estado na função do controle dos gastos governamentais, resultantes de uma maior confiança das partes: a que controla e a que é controlada.

Boa leitura,

Profa. Dra Sheila Rangel

(Organizadora do livro)

23Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA

Sheila Rangel

Fábio L. Lima de Freitas

1. Introdução

Por que escrever um artigo sobre um índice para avaliar o desen-volvimento da gestão municipal?

Atualmente, não existe um índice para medir o desenvolvimento da gestão municipal. Diante disso, o presente trabalho apresentará uma proposta de índice, mostrando como podem ser medidos e controlados os indicadores, que compõem o referido índice proposto.

A questão central do índice proposto destina-se à gestão do desenvolvimento econômico, no qual se busca estabelecer a relação de causa e efeito entre as variáveis, que compõem o índice. O referido índice classifica as variáveis em dois grupos: as variáveis de controle e as dependentes.

a) Variáveis de controle: correspondem as variáveis de causa, ou seja, que conseguem interferir provocando alguma conse-quência em outras variáveis.

b) Variáveis dependentes: correspondem as variáveis de efeito, ou seja, que respondem aos estímulos propiciados pelas variáveis externas (de controle).

A combinação destas variáveis (controle e dependentes) possibilita uma sensibilidade, na medida em que a interferência nas variáveis de

24 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

controle causa um impacto nas variáveis dependentes, sinalizando para os gestores uma trajetória a ser acompanhada e avaliada constantemente, até atingir a meta desejada. O Índice proposto evidencia a necessidade de selecionar variáveis pautado nos dois tipos de variáveis acima citados. No entanto, torna-se necessário que o conjunto de variáveis pré-selecionadas para a atividade econômica em questão esteja bem amarrado, ou seja, que esteja bem definido, pois, caso contrário, os problemas podem con-tinuar existindo sem que haja evolução nos aspectos socioeconômicos da localidade, tornando o índice, então, ineficaz.

O acompanhamento das variáveis de controle e dependentes pode identificar, quantitativamente, falhas ou os resultados esperados no processo da gestão do desenvolvimento municipal, ou seja, traz pa-râmetros concretos de avaliação das políticas públicas desenvolvidas pelo município, possibilitando a avaliação de custo-beneficio gerado.

2. Critérios de avaliação do índice proposto (IGM)

Para elaboração do IGM utilizou-se como referência o IDS. O Índice de Desenvolvimento Social (IDS), desenvolvido pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Santa Ca-tarina (SDM/SC), teve como base para sua criação o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.

O modelo consiste em transformar os valores dos indicadores em índices que variem entre zero e um, de tal forma que os valores mais elevados indiquem melhores condições de desenvolvimento.

Os indicadores são avaliados através de parâmetros previamente estabelecidos. Neles o melhor valor é a meta que se pretende atingir e o pior é o desempenho mais desfavorável o qual se deve evitar atingir. Com base no valor observado para o indicador e nos limites estabelecidos para ele, obtém-se o índice através da seguinte fórmula:

25Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

( Iio _ Ii

min ) ∑ ----------------- ( Ii

máx _ Iimin )

Índice = ___________________, onde:

n

Iio = valor observado

Iimin = pior valor

Iimáx = melhor valor

n= nº de indicadores

Quadro 1 – Fórmula do IDH

Fonte: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente/SC (2002)

Segundo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvol-vimento apud Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Santa Catarina (2002), a aplicação dessa expressão leva-nos a perceber, por exemplo, que, em determinado município, o valor relativo apresenta-se em situação melhor, tendo o valor de um (1,00) e a pior, um valor de zero (0,00), situando-se por conseguinte, os demais municípios entre esses valores.

As metodologias sugeridas e empregadas para a construção de um índice socioeconômico diferenciam-se pelas variáveis consideradas como critérios para ordenamento, pelas variáveis-controle consideradas e pelas técnicas estatísticas usadas. Tal como outras práticas de pesquisa, tais decisões metodológicas envolvem escolhas, pragmáticas e preferenciais,

26 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

subjetivas do pesquisador.

Na presente pesquisa faz-se presente o uso do IGM - Índice para Gestão Municipal, como instrumento para mensurar o desenvolvimento municipal. Nesta aplicação do referido índice foi atribuído peso = 1, para todos os indicadores, considerando que esta pesquisa não pretende proporcionar maior conotação de um elemento em detrimento de outro. Evidencia-se a importância de ações conjuntas, para que o reflexo das alterações nas referidas variáveis possa acontecer de maneira mais rápida e concreta, objetivando o crescimento sustentável da região em analise.

Foram estabelecidos cinco níveis de desempenho, seguindo os critérios do PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento apud Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (2002) conforme demonstrado no quadro 2:

0,800 a 1,000 = alto

0,650 a 0,799 = médio alto

0,500 a 0,649 = médio

0,300 a 0,499 = médio baixo

0,000 a 0,299 = baixo

Quadro 2 – Classes de desempenho PNUD

Fonte: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente/SC (2002).

Os indicadores são avaliados através de parâmetros previamente estabelecidos em que o melhor é a meta que se pretende atingir e o pior

27Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

é o desempenho mais desfavorável o qual se deve evitar atingir.

Os municípios pesquisados apresentam resultados que os ca-racterizam com índices variando de 0 a 1. Os valores do IGM indicam sobretudo a distância que o município tem de percorrer para atingir certas metas estabelecidas, tais como: melhoria no nível de renda, escolarida-de, longevidade, investimento na saúde, desemprego, carga tributária e o poder de compra detectado entre o valor do salário mínimo e cesta básica. Quanto mais próximo de 1 (um) estiver o valor do IGM, menor a distância que o município tem a percorrer.

3. Aplicação do índice para gestão municipal (IGM): Salvador/BA

Neste artigo será calculado cada variável que compõe o IGM para o município de Salvador/BA. O objetivo desse cálculo será detec-tar o comportamento das variáveis controle e dependentes no referido município.

Quando um governo toma determinadas medidas econômicas, é possível identificar o impacto que estas exercem no comportamento da população. Desde que se tenha conhecimento das característi-cas da população no período imediatamente anterior às medidas e que se possa, mediante observação ou interrogação, identificar as mudanças no seu com-portamento posterior haverá condições de determi-nar a influência que uma variável exerce sobre outra. Estudos deste tipo são denominados ex post facto ou quase-experimentais (GIL, 1991, p. 31).

A partir da perspectiva de GIL (1991), é necessário investigar, observar as variáveis que exercem impacto no comportamento da po-pulação. A seguir será utilizado neste capítulo a quantificação de cada

28 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

variável. Para o cálculo das variáveis que compõem o IGM foram apli-cados os seguintes dados:

3.1 Cálculo da variável renda

Para efeito de cálculo da variável renda foi aplicada a fórmula do IDH, abordada no QUADRO 1. Como referência dos valores máximos e mínimos solicitados na referida fórmula foi utilizado os valores do QUADRO 3.

Parâmetros para cálculo do IGM

INDICADORLimites dosIndicadores

Limites dos índicescondição eficiência

Melhor pior melhor piorRenda 100 % 0 % 1,00 0,00

Quadro 3 -Parâmetros da renda para o IGM

Fonte: Estes parâmetros foram estabelecidos pelos pesquisadores.

Neste trabalho, a renda deve ser entendida como sendo o rendi-mento obtido pelos residentes que concluíram o 2º grau. Tomou-se como base a população que conclui o 2º grau, pois esta é a faixa de escolaridade que predomina na realidade brasileira. Vale ressaltar que, para aplicação dessa variável, torna-se necessário fazer um levantamento para avaliar a classe predominante da localidade em que será aplicado o indicador.

Para efeito de cálculo deste indicador, aplica-se a fórmula (QUA-DRO 1), diante disso torna-se necessário identificar valores observados, os máximos e os mínimos, para viabilizar a quantificação.Nesse contexto, os parâmetros adotados para a variável renda, ao longo da aplicação da fórmula foram os seguintes:

Iio = corresponde aos valores médios observados da

renda familiar, em porcentagem, da localidade em

29Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

questão. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor observado do rendimento médio do trabalhador soteropolitano, em 2006, ficou em R$692,00, ou seja, 1,9 salários mínimos. Seguindo os parâmetros do QUADRO 3, o coeficiente de eficiência para este cálculo é de 0,50, correspondendo dessa forma ao nível médio.

Iimin = para o valor mínimo adotou-se os limites da

condição de eficiência (QUADRO 2), no qual, para o pior, valor utiliza-se o valor 0 (zero). Isso significa a pior renda, ou seja, o valor correspondente ao salá-rio mínimo vigente.

Iimax = para o valor máximo adotou-se os limites da

condição de eficiência (QUADRO 2), no qual, para o melhor valor, utiliza-se o valor 1 (um). Isso signi-fica que o ponto máximo da renda seria atingido, somente, se 100% da localidade atingisse uma renda familiar de 4 salários mínimos. Este valor foi estabe-lecido na perspectiva da escala máxima da classe D em relação ao critério Brasil de avaliação da classe só-cio-econômica (BARRETO; BOCHI et al, 2002).

Aplicando esses valores na fórmula teremos os seguintes resul-tados:

Eficiência da renda: 0,50 – 0,0 = 0,50 onde,

1,0 – 0,0

Valor observado: 0,50

Valor mínimo: 0,0

30 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Valor máximo:1,0

Assim, detecta-se que a condição de eficiência da renda de Salva-dor/BA encontra-se no nível 0,50. Isso significa que o referido município encontra-se em nível médio para este indicador renda.

3.2 Cálculo da variável escolaridade

Para efeito de cálculo desta variável escolaridade foi aplicada a fórmula do IDH, abordada no QUADRO 1. Já os parâmetros e os dados observados encontram-se nos QUADROS 4 e 5.

Parâmetros para cálculo do IGM INDICADOR Limites dos

IndicadoresLimites dos índicescondição eficiência

Melhor pior melhor piorEnsino médio 100 % 0 % 1,00 0,00

Quadro 4 -Parâmetros para o ensino médio completo para o IGM

Fonte: Estes parâmetros foram estabelecidos pelos pesquisadores.

(%)

Valor observado Condição de eficiência31 0,31

Quadro 5 – Valor observado da população de Salvador/BA que concluiu o ensino médio, em 2000

Fonte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico (2000).

Apenas a título de ilustração a fórmula do IDH - Índice de De-senvolvimento Humano é a seguinte:

Índice = ( Iio _ Ii

min )

( Iimáx _ Ii

min )

, onde:

Iio = valor observado

Iimin = pior valor

31Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

Iimáx = melhor valor

Para o indicador escolaridade o valor observado, segundo dados do IBGE, no ano de 2000, foi de 31%, ou seja, 31% da população de Salvador concluiu o 2º grau. Seguindo os parâmetros do (QUADRO 4) o valor máximo da condição de eficiência é 1 (um); isso quer dizer que 100% da população deveria ter concluído o 2º grau; já o valor o valor mínimo segundo (QUADRO 4) deveria ser 0 (zero), ou seja, a não existência da população com 2º grau concluído. Aplicando esses valores na fórmula teremos os seguintes resultados:

Eficiência da escolaridade: 0,31 – 0,0 = 0,31

1,0 – 0,0

Logo, detecta-se que a condição de eficiência da escolaridade de Salvador/BA encontra-se no nível 0,31. Segundo os parâmetros de desempenho do PNUD (QUADRO 2, capítulo 2), significa que este referido município encontra-se em nível médio baixo. Assim, muitos esforços ainda precisam ser investidos até alcançar a meta máxima, que seria 1,0 (um).

3.3 Cálculo da variável longevidade

Para efeito de cálculo deste indicador, aplica-se a fórmula (QUA-DRO 1), logo é necessário identificar valores observados, os máximos e os mínimos, para viabilizar a quantificação. Nesse contexto, os parâmetros adotados para a variável longevidade, ao longo da aplicação da fórmula, foram os seguintes:

Iio = corresponde aos números médios observados

da variável longevidade, em porcentagem, da loca-lidade em questão. Segundo dados do IBGE apud PEREIRA (2005), o valor observado da longevidade

32 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

do soteropolitano, em 2006, ficou em 71 anos. Se-guindo os parâmetros do QUADRO 2; o coeficiente de eficiência para este cálculo é de 0,71.

Iimin = para o valor mínimo adotou-se os limites da

condição de eficiência, no qual para o pior valor uti-liza-se o valor 0,60. Isso significa que o valor mínimo da longevidade, em 2006, observado nos municípios brasileiros, segundo dados do IBGE apud PEREIRA (2005) foi de 60 anos.

Iimax = para o valor máximo adotou-se os limites da

condição de eficiência, no qual para o pior valor uti-liza-se o valor 0,80. Isso significa que o valor máximo da longevidade, em 2006, observado nos municípios brasileiros, segundo dados do IBGE apud PEREIRA (2005), foi de 80 anos.

Aplicando esses valores na fórmula (QUADRO 1), teremos os seguintes resultados:

Eficiência da renda: 0,71 – 0,60 = 0,55 onde,

0,80 – 0,60

Valor observado: 0,71Valor mínimo: 0,60Valor máximo: 0,80

Assim, detecta-se que a condição de eficiência da longevidade em Salvador/BA, encontra-se no nível 0,55. Isso significa que o referido município encontra-se, em nível médio, para este indicador.

33Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

3.4 Cálculo da variável saúde

Para efeito de cálculo deste indicador, aplica-se a fórmula (QUA-DRO 1), logo torna-se necessário identificar valores observados, os máximos e os mínimos, para viabilizar a quantificação. Nesse contexto, os parâmetros adotados para a variável saúde, ao longo da aplicação da fórmula, foram os seguintes:

Iio = corresponde aos números médios observados do

investimento na saúde em relação ao PIB, em por-centagem, da localidade em questão. Segundo dados do Ministério da Saúde/SIS - Sistema de Informações sobre Orçamentos públicos em Saúde-SIOPS (gasto estadual e municipal); Fundo Nacional de Saúde e IBGE (PIB regional), no ano de 2002, o valor ob-servado foi de 0,006, ou seja, 0,6% do gasto público como proporção do PIB é aplicado no município de Salvador/BA.

Iimin = para o valor mínimo adotou-se os limites da

condição de eficiência, no qual para o pior valor uti-liza-se o valor 0,002. Isso significa que deveria ser investido 0,2% do gasto público com saúde em re-lação ao PIB. Este valor mínimo foi obtido através do mínimo investido nos municípios brasileiros, de acordo com dados do MINISTÉRIO DA SAúDE (2002).

Iimax = para o valor mínimo adotou-se os limites

da condição de eficiência, no qual para o pior valor utiliza-se o valor 0,02. Isso significa que deveria ser

34 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

investido 2% do gasto público com saúde em relação ao PIB. Este valor máximo foi obtido através do má-ximo investido nos municípios brasileiros, de acordo com dados do MINISTÉRIO DA SAúDE (2002).

Aplicando esses valores na fórmula teremos os seguintes resul-tados:

Eficiência da escolaridade: 0,006 – 0,002 = 0,22

0,02 – 0,002

Assim, detecta-se que a condição de eficiência da saúde em Sal-vador/BA encontra-se no nível 0,22. Segundo os parâmetros de desem-penho do PNUD (QUADRO 2), significa que este referido município encontra-se em nível baixo. Portanto, muitos esforços ainda precisam ser investidos até alcançar a meta máxima, que seria 1,0 (um).

3.5 Cálculo da variável desemprego

Para efeito de cálculo da variável desemprego foi aplicada a fór-mula do IDH, abordada no QUADRO 1. Apenas a título de ilustração a fórmula do IDH- Índice de Desenvolvimento Humano é a seguinte:

Índice = ( Iio _ Ii

min ) , onde:

( Iimáx _ Ii

min )

Iio = valor observado

Iimin = valor mínimo

Iimáx = valor máximo

Para este indicador de desemprego o valor observado, segundo dados do IBGE, no ano de 2006, foi de 0,20, ou seja, 20% da população

35Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

economicamente ativa de Salvador encontra-se desempregada. Seguindo os parâmetros estabelecidos para este indicador o valor máximo da con-dição de eficiência é 0 (zero), ou seja, a não existência de desemprego, para que a economia possa atingir assim nível de pleno emprego; já o valor o valor mínimo deveria ser de 0,40, o que significa que o limite mais critico aceitável de desemprego é de 40% para a população eco-nomicamente ativa. Aplicando-se esses valores na fórmula, teremos os seguintes resultados:

Eficiência da escolaridade: 0,20 – 0,40 = 0,50

0,00 –0,40

Assim, detecta-se que a condição de eficiência do desemprego em Salvador/BA encontra-se no nível 0,50. Segundo os parâmetros de desem-penho do PNUD (QUADRO 2), significa que este referido município encontra-se em nível médio. Portanto, muitos esforços ainda precisam ser investidos até alcançar a meta máxima, que seria 1,0 (um).

3.6 Cálculo da variável carga tributária sobre produtos

Esta variável contempla o percentual de impostos pago em relação ao preço do produto. Contextualizando a realidade brasileira, observa-se que a média de impostos é de 40% do valor do produto.

Para efeito de cálculo deste indicador, aplica-se a fórmula (QUA-DRO 1), logo é necessário identificar valores observados, os máximos e os mínimos, para viabilizar a quantificação. Nesse contexto, os parâmetros adotados para a variável da carga tributária, ao longo da aplicação da fórmula, foram os seguintes:

Iio = Para efeito de cálculo desta variável da carga tri-

butária foi aplicada a fórmula do IDH, abordada no QUADRO 1. Segundo Jardim (2006), o valor ob-

36 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

servado desta variável, em 2006, ficou em 37,8%, aproximadamente, 38%. Seguindo os parâmetros do QUADRO 2, o coeficiente de eficiência para este cálculo é de 0,38.

Iimin = com base nos dados citado por Jardim (2006),

considerando-se os países em desenvolvimento ado-tou-se o valor mínimo de 40%, ou seja, 0,40. Isso significa que este é o limite máximo que poderá ser descontado da renda de um indivíduo, ou seja, o resultado da conta renda menos carga tributária ter-se-á o valor mínimo, contextualizando que este necessitará de uma renda disponível para custear sua subsistência.

Iimax = com base nos dados citado por Jardim (2006),

considerando-se os países em desenvolvimento ado-tou-se o valor máximo de 16%, ou seja, 0,16. Isso significa que este é o limite mínimo que poderá ser descontado da renda de um indivíduo, visando à ma-nutenção do estado e melhoria da renda disponível para custear a subsistência dos indivíduos.

Aplicando esses valores na fórmula teremos os seguintes resul-tados:

Eficiência da carga tributária: 0,38 – 0,40 = 0,08

0,16 –0,40

Contextualizando, a política tributária é determinada por uma política federal. Em função desta característica, os autores espelharam a mesma carga tributária para a cidade do Salvador/BA, ou seja, o valor

37Utilização do Índice para Gestão Municipal (IGM) na área de estudo: Salvador/BA Sheila Rangel / Fábio L. Lima de Freitas

observado para esta variável considera a média nacional dos países em desenvolvimento.

Assim, detecta-se que a condição de eficiência da carga tributaria no Brasil encontra-se no nível 0,08. Segundo os parâmetros de desem-penho do PNUD (QUADRO 2), significa que este referido município encontra-se em nível baixo. Portanto, muitos esforços ainda precisam ser investidos até alcançar a meta máxima, que seria 1,0 (um).

3.7 Cálculo da variável poder de compra em relação ao salário mínimo e à cesta básica

Esta variável encontra-se em fase de teste. Já foram aplicados 100 questionários em vários bairros de Salvador/BA, buscando investigar o gasto com a alimentação das famílias, que possuem renda familiar até três 3 salários mínimos. Os dados desta variável encontram-se em fase de tabulação e análise.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa encontra-se em fase de andamento. Nela se pretende investigar com mais precisão cada variável, que sintetizará o referido índice proposto. A aplicação do índice só será efetuada após exaustiva análise de cada variável.

Vale ressaltar que a primeira limitação diz respeito às percepções da realidade sob ponto de vista do pesquisador. Quando o pesquisador objetiva desvendar alguns aspectos da realidade, outros pontos podem permanecer obscuros para o mesmo, tendo em vista a necessidade de aprofundamento da análise em alguns pontos, em detrimento de outros (MORGAN, 1986)

A segunda limitação está vinculada à falta de existência de da-

38 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

dos para se calcular outras variáveis que poderiam ser contempladas na composição do referido índice proposto.

Outra limitação apresentada pela pesquisa diz respeito à própria finalidade para a qual ela foi proposta. Quando se elabora índices, corre-se o risco de não ser bem interpretado pela comunidade científica, ou ainda não contemplar todos os aspectos que cercam aquela realidade, uma missão praticamente impossível. Desta forma, este trabalho almeja tornar-se mais uma alternativa, um modo de reflexão sobre o assunto e nunca uma proposta definitiva.

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41A gestão do conhecimento no programa ensino médio com intermediação tecnológica – EMITEC: no distrito de Itaitu, Jacobina – BAOrleane Oliveira Jambeiro / Jacy Bandeira Almeida Nunes

A gestão do conhecimento no programa ensino médio com intermediação tecnológica – EMITEC:

no distrito de Itaitu, Jacobina – BA

Orleane Oliveira Jambeiro

Jacy Bandeira Almeida Nunes

1. Introdução

A globalização, que carrega o fluxo das informações e comunica-ções por meio das tecnologias, cada vez mais assume um papel importante para o homem emergente de um contexto político, social e cultural. São indivíduos que participam ativamente do mundo globalizado, remeten-do-se ao uso e à incorporação das tecnologias das informações no seu dia a dia. Paralelamente, emerge também da necessidade de incorporar processo de ensino-aprendizagem e da gestão comunicativa nos espaços cognitivos, aproveitando ao máximo a capacidade do uso das informações por meio das tecnologias na educação.

Diante deste cenário tecnológico, do crescente e constante desen-volvimento e de tamanha velocidade das informações e do conhecimento ao qual nós, seres humanos, estamos expostos, torna-se cada vez mais presente a necessidade da conscientização acerca das informações tec-nológicas, ou seja, dos meios de comunicação como processo de ensino e aprendizagem.

Pensando no desenvolvimento acelerado e na necessidade de refletirmos acerca de tais questões, é que surgiu a ideia de realizar uma

42 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

pesquisa cujo intuito seria o de compreender até que ponto o uso dos recursos tecnológicos favorecem a aprendizagem dos alunos inseridos no programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica – EMITec, no Distrito de Itaitu, Município de Jacobina – BA.

A pesquisa de campo foi realizada no Colégio Municipal Cres-cenciano Fernandes Pires, localizado no Distrito de Itaitu, zona rural do Município de Jacobina – BA, onde o programa foi implantado em 2010. O método dialético foi utilizado para o referido estudo de caso porque valoriza a fala dos atores sociais situados nos seus próprios contextos, partindo do interior da fala até o campo da especificidade e totalizante que produz a fala, possibilitando uma melhor compreensão da mesma, pois, além de buscar a interpretação da percepção humana, valoriza as concepções e opiniões dos que experimentam a realidade pesquisada, o que, por sua vez, ilustra a teoria.

2. Educação do/no campo

A educação para a população rural é tratada hoje no Brasil sob a denominação de Educação do Campo e incorpora uma realidade histó-rica variada, englobando as mais diversas práticas da “vida campestre”, tais como os espaços onde vivem os povos tradicionalmente agricultores, extrativistas, caçadores, ribeirinhos, pesqueiros, indígenas, quilombolas, posseiros, arrendatários meieiros e fazendeiros. Ela expressa a luta dos povos do campo por políticas públicas que garantam o direito à educação, a uma educação que seja no campo e do campo, como explicita Caldart (2002, p. 26): “[...] No: o povo tem direito de ser educado no lugar onde vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais”.

O reconhecimento de que as pessoas que vivem no campo têm direito a uma educação diferenciada daquela oferecida a quem vive nas

43A gestão do conhecimento no programa ensino médio com intermediação tecnológica – EMITEC: no distrito de Itaitu, Jacobina – BAOrleane Oliveira Jambeiro / Jacy Bandeira Almeida Nunes

cidades é recente e inovador e ganhou força a partir da instituição, pelo Conselho Nacional de Educação, das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo.

A Educação na Reforma Agrária é parte da Educação do Campo, compreendida como um processo em construção que contempla em sua lógica a política que pensa a educação como parte essencial para o desenvolvimento do campo (MOLINA, 2002 p. 28). A Educação do Campo deve dialogar com a pedagogia crítica da educação, ou seja, com a pedagogia progressista, que busca a formação unilateral do ser humano e a igualdade social. Essa corrente pedagógica muito contribui para o avanço da dimensão do trabalho, da cultura e do direito, além da autonomia e da auto-organização dos sujeitos envolvidos no processo educativo. A educação do campo dialoga com a fonte da Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 1987) que se fundamenta na matriz pedagógica da cultura, do trabalho, da conscientização. Dessa maneira, o projeto político pedagógico da escola do campo implica partir da realidade e de uma concepção de educação dialética. Por isso, a elaboração e a imple-mentação dos processos educativos devem ser coletivos e discutidos.

Por outro lado, a escola do campo necessita vincular-se com outros espaços educativos para formar lutadores sociais, militantes de causas coletivas e cultivadores de utopias que enxerguem para além dos problemas individuais e saibam criar possibilidades de mudanças.

Nesse processo, a educação do campo deve comportar duas ma-trizes formadoras do ser humano. Uma diz respeito à matriz do trabalho, e a outra diz respeito à matriz da cultura (CALDART, 2002 p. 52), “[...] através do trabalho, o homem possui a capacidade de realizar/produzir coisas e de transformar o meio social em que vive”. Do mesmo modo, a matriz pedagógica da cultura recupera para o ser humano as vivências, memórias e identidades, as referências coletivas e os processos históricos que, ao longo da história, o homem foi construindo.

44 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

3. Ensino médio

Sociedade desigual produz cidadania também desigual. Produto e condição da práxis dos sujeitos sociais, a realidade social objetiva reflete as relações sociais, próprias da sociedade em que vivemos, mostrando-se desigual, contraditória, dada a sua forma de organização do trabalho, da produção, da distribuição, do consumo, e que se expressa também nos saberes, conhecimentos e práticas escolares. Nesta, a educação das classes populares e, particularmente, da educação do campo se manifesta como contradições, pois há sérias dificuldades para o acesso à escolaridade de qualidade e de permanência na Educação Básica. É neste contexto que o debate sobre o Ensino Médio, como parte da Educação Básica, ganha força e sentido, como responsabilidade do poder público, que necessita garantir acesso e condições de permanência a todas as pessoas.

Verifica-se um índice bem baixo de acesso à escolarização no nível médio, pois se os camponeses desejam estudar, precisam se deslocar até a cidade. Pouco mais de um quinto dos jovens na faixa etária de 15 a 17 anos estão frequentando o Ensino Médio, o que indica uma forte demanda reprimida. Os jovens do campo têm enfrentado muitas dificul-dades para continuar seus estudos, pois a maioria dos cursos é oferecida na cidade, o que implica no deslocamento das suas realidades.

Esta realidade de exclusão é vista no campo e também em centros urbanos, onde as escolas que possuem este nível de ensino recebem pouco incentivo dos órgãos governamentais.

O Ministério da Educação em conjunto com as Secretarias de Educação dos Estados, Municípios e Universidades, dentre outras Instituições de Ensino, firmaram parceria e juntos levam a Educação a Distância, por meios de televisões, rádios e computadores, equipamentos oriundos da comercialização dos produtos industrializados tecnológicos, com vistas ao desenvolvimento de projetos para institucionalização da educação brasileira de qualidade no país.

45A gestão do conhecimento no programa ensino médio com intermediação tecnológica – EMITEC: no distrito de Itaitu, Jacobina – BAOrleane Oliveira Jambeiro / Jacy Bandeira Almeida Nunes

A educação a distância, assim como a utilização das tecnologias da informação e da comunicação, se apresenta como uma alternativa para atender tanto aqueles com o poder aquisitivo alto, quanto aos que vivem em condições menos favoráveis, ou seja, ao indivíduo distinto geograficamente das classes dominantes, especificadamente, o homem do campo.

3.1 As tecnologias da informação

O processo de globalização introduziu propostas de reorganização à sociedade mundial, atingindo as esferas política, econômica, social e cultural, e redefiniu algumas concepções de espaços e conhecimentos. No atual estágio da sociedade, o homem tem vivenciado/experimentado grandes transformações na organização social, baseando nas possibilidades nas quais substância e matéria-prima são a informação.

Segundo Bianchetti (2001, p. 57),

[...] a informação pode ser considerada como a ma-téria-prima a partir da qual é possível chegar ao co-nhecimento. Sabe-se que dispor de dados e informa-ções é um pressuposto importante para se chegar ao conhecimento. Mas, segundo o autor, conhecimento tem a ver com construção.

Para Silva (2000, p. 29), “[...] a sociedade da informação emerge da convivência explosiva do computador com as telecomunicações”. Ressaltam-se aspectos da sociedade não mais vinculados à mecanização industrial, mas envolvidos no fluxo de informações via computador.

Essa tecnologia, no entanto, não se restringe apenas a novos usos de determinados equipamentos e produtos, não devendo ser reduzida ao aspecto material, enfoque que a ciência moderna lhe conferiu, que é um sentido mecânico, oriundo da industrialização, ligado à ideia de produtivi-

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dade. Ela constitui-se numa “rede de significados”, na qual o homem está implicado, envolvendo a sua subjetividade e todo o contexto cultural. Lima Jr. (2003) define a tecnologia retomando o sentido grego de teckné.

Processo criativo através do qual o ser humano uti-liza-se de recursos materiais e imateriais ou os cria a partir do que está disponível na natureza e seu con-texto vivencial, a fim de encontrar respostas para os problemas de seu contexto, superando-os. Neste pro-cesso, o ser humano transforma a realidade da qual participa e, ao mesmo tempo, transforma a si mesmo (LIMA JR., 2003, p. 12).

Para Pierre Lévy (1993), as tecnologias da informação e comuni-cação acionam um tipo diferente de inteligência, que articula o indivi-dual e o coletivo, a partir de agenciamentos cooperativos que envolvem pessoas, conteúdos político-ideológicos e instrumentos tecnológicos. Tais tecnologias veem interferindo diretamente sobre as relações, os valores e as atitudes próprias do contexto social, cultural e histórico, ao mesmo tempo em que possibilitam inserção e participação. O autor aprofunda o sentido da tecnologia, dentro do qual ele chama de “reapropriação mental do fenômeno técnico” a fim de superar a visão dicotômica entre o homem e a máquina ou entre a cultura e a tecnologia, de modo que se estabeleça uma relação fundamental entre o desenvolvimento da tec-nologia da comunicação e o desenvolvimento da cognição humana.

4. Caracterização do cenário da pesquisa

4. 1 O Colégio

Nesta pesquisa, escolhemos o Programa Ensino Médio no Campo com Intermediação Tecnologia, considerada como alternativa de conclu-

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são da Educação Básica – Ensino Médio Completo. E o presente estudo foi realizado no Colégio Municipal Crescenciano Fernandes Pires.

O colégio fica localizado à Rua do Prédio, s/nº., Distrito de Itaitu, zona rural do município de Jacobina, na Bahia. O referido estabeleci-mento de ensino está situado em uma ampla área territorial, em frente a uma praça e a uma quadra esportiva. Conta com uma boa estrutura física para atender o seu alunado, seus professores, funcionários e co-munidade local.

Quanto aos móveis e material didático, pode-se dizer sobre os primeiros que estão em quantidades suficientes e condições razoáveis de uso, e sobre os últimos, que são devidamente disponibilizados tanto para professores quanto para alunos.

O quadro de funcionários do colégio é composto por 36 pro-fissionais, sendo que destes 23 são professores que se revezam entre os três turnos de funcionamento do colégio. Cada professor trabalha, em média, com 25 alunos em cada turma.

No total o Colégio tem 614 alunos distribuídos entre os turnos matutino, vespertino e noturno. Os professores que trabalham com En-sino Fundamental II todos são graduados. Dentre aqueles que lecionam em turmas de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental I, apenas dois não são graduados.

4.2 O Distrito de Itaitu

Itaitu é um dos sete distritos do município de Jacobina e fica situado a aproximadamente 24 km de distância da sede. Também co-nhecido com Riachão de Jacobina foi o primeiro distrito da cidade e se desenvolveu a partir da exploração do ouro nas encostas de suas serras. Com cerca de 800 habitantes, o distrito vive da agricultura de subsistên-cia, principalmente, do cultivo da cana-de-açúcar para a fabricação de rapadura, do arroz, do feijão, do milho, de frutas e de verduras.

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O Distrito de Itaitu é muito conhecido em toda a região, prin-cipalmente, pelas suas belezas naturais e, mais especificamente, pelas cachoeiras. São mais de 45 quedas d´água reunidas no Parque das Ca-choeiras – criado pela Bahiatursa em parceria com a Prefeitura Municipal de Jacobina – e na Estância Ecológica Bandeirantes.

4.3 Programa EMITec

O Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica (EMITec), da Secretaria da Educação do Estado (SEC), tornou-se refe-rência nacional com sua proposta de levar educação básica de qualidade aos estudantes residentes no meio rural. Criado em 2009, o programa já atendeu 14.500 estudantes de 292 localidades, em 155 municípios, levando a última etapa da educação básica a áreas longínquas do Estado, conectando 408 salas por meio do protocolo IPTV (novo método de transmissões televisivas). As aulas são transmitidas via satélite, em tempo real, com mediadores nas salas das escolas. Somente no ano de 2012 foram investidos R$2,8 milhões no projeto.

O curso de Ensino Médio está sendo oferecido em três séries, em caráter presencial. Utiliza recursos tecnológicos como forma de abordagem metodológica, respaldado por um projeto político peda-gógico, levando em conta o exercício da cidadania num ambiente de diversidades e no mundo do trabalho, assegurando às pessoas que vivem no campo o direito à Educação Básica de qualidade, respeitando suas especificidades.

A organização curricular do projeto é feita por eixos norteadores: Trabalho – Diversidade – Cidadania. As Áreas de conhecimento são: Linguagens, Códigos e suas Tecnológias (Artes, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Língua Inglesa e Educação Física); Ciências da Na-tureza, Matemática e suas Tecnologias (Matemática, Biologia, Química, Física); Ciências Humanas e suas Tecnológicas (Filosofia, Sociologia,

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História, Geografia); e Atividades Integradoras, componente curricular da parte diversificada cujo papel é o de promover a interdisciplinaridade e a ambientação com o espaço do campo. É responsável pelas semanas temáticas interdisciplinares em torno de um tema de interesse do espaço do campo, ocorre uma vez a cada unidade letiva.

A avaliação deve estar centrada tanto nos resultados apresentados pelos alunos quanto na análise do processo de ensino-aprendizagem, com o argumento de que em uma proposta de ensino por competências o processo de avaliação não se limita a instrumentos com perguntas que exigem apenas operações cognitivas simples como a memorização.

5. Os resultados e a análise da pesquisa de campo

A presente pesquisa foi realizada por meio de estudo de caso, tendo como base 16 alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Professora Estadual Felicidade de Jesus Magalhães, dois mediadores (professores) da rede municipal da cidade de Jacobina-BA, e com a direção (diretor/vice) do Colégio Municipal Crescenciano Fernandes Pires, escola de vinculação. Os resultados aqui registrados foram obtidos através da aplicação de questionários (alunos) e entrevistas (docentes e dirigentes), bem como pelas observações realizadas em sala através das aulas teletransmitidas.

Com os resultados constatamos que 68% dos alunos gostam do que eles denominam de “interação” ou o uso de recursos audiovisuais; e 32% dos alunos gostam do processo de avaliação como afirmam os alunos:

– É legal porque se não passarmos na prova somo avaliados pelos trabalhos que os professores passam valendo nota (aluno B) e

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– A facilidade que os professor dar para os alunos, não ficar de recuperação (aluno C).

No entanto, percebe-se uma contradição no que se refere às falas dos alunos, pois os mesmos afirmaram o seguinte:

– Não gosto de alguns trabalhos que passam pois, tenho dificuldade, pra fazer por falta de acesso a in-ternet (aluno A);

– As provas são muito complicadas, os assunto muito além da minha imaginação até mesmo do monitor as vezes (aluno B);

– O que eu não gosto no programa é que as aulas passa muito rápido e não volta atrás (aluno H).

Embora o programa tenha como fundamento a mediação tec-nológica, percebe-se que o uso dos recursos técnicos é uma dificuldade real – os alunos não têm acesso à internet e aos conteúdos digitais dispo-níveis no AVA; não têm disponibilidade do material impresso; não existe laboratório de informática na escola, e os alunos não têm computador – como se afirma na fala do aluno “A”, demonstrando as dificuldades para execução dos trabalhos e, consequentemente, a interação com os conteúdos, a interatividade com os professores formadores e a interação social através da inclusão digital. São evidentes as angústias dos alunos que não conseguem desenvolver seus trabalhos utilizando dos recursos tecnológicos (como são desenvolvidas as aulas).

Embora os alunos afirmem que a interação seja um dos aspectos que mais gostam do programa (68%), o que acontece de fato é uma pseudo-interação, pois a gestão do conhecimento no programa acontece de uma forma mecânica em que não há reciprocidade entre alunos e professores. Os alunos não conseguem demonstrar suas dificuldades no

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momento das aulas, até porque quando têm a oportunidade de perguntar, as perguntas são dirigidas ao mediador que, por sua vez, transmite via “chat”. Algumas dúvidas são contempladas, outras não, pelo fato de não haver tempo suficiente para que o professor formador atenda a todos os questionamentos. O que eles chamam de interação é a troca de saudações informais – “diga ao professor que ele tá bonito hoje”; ou “fulano tá dor-mindo professor” e este responde “acorda fulano”; o mediador informa que tal aluno está aniversariando e o professor o parabeniza.

As aulas acontecem sincronizadas com mais de 300 localidades ao mesmo tempo e os “chats” são destinados ao professor formador da disciplina que, por sua vez, tende a atender a todos os questionamentos ao mesmo tempo. Percebe-se que o sistema é falho, pelo fato de um só professor não dá conta de atender a mais de 300 localidades, em média 30 alunos por turma. Então, como pode haver interatividade e aprendi-zagem em um ambiente tão tumultuado?

Quando questionados se o programa contribui para o processo de ensino-aprendizagem, tivemos os seguintes resultados dos alunos: apenas quatro alunos afirmaram sim, enquanto doze afirmaram “às vezes”. Sendo que, dez deles, afirmaram que o programa não acontece conforme suas expectativas, e sobre a relação dos conteúdos trabalhados com a sua realidade, quatro afirmaram sim, um disse não, e onze “às vezes”. Assim, percebemos que existe contradição na proposta do programa, quando se afirma que a educação do/no campo deve-se valorizar os saberes da terra e suas peculiaridades e especificidades.

No que se refere às facilidades/dificuldades encontradas no pro-grama, os alunos ainda sentem muitas dificuldades, a falta do contato com o uso dos recursos tecnológicos é um dos grandes fatores para que os mesmos obtenham êxito na sua formação básica, e ainda se percebe, através dos seus discursos, que os mesmos sentem falta do ensino re-gular com o professor presencial para sanar suas dúvidas. Situação que

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os deixam muito angustiados, pois, quando questionados sobre O que mudariam no programa? Constatamos na fala do aluno A:

Que pelo menos uma vez por semana nós tivese uma aula presencial com os professores de cada discipli-na.

Aluno O – confirma que existe dificuldade no processo de tirar as dúvidas:

Mudaria a maneira de perguntar, pois não dá para esclarecer todas as dúvidas (...) um professor é muito pouco para tantas localidades e perguntas ao mesmo tempo.

As atribuições dos professores-mediadores dentro do programa são: acompanhar as aulas e, em momento especifico, direcionar as per-guntas/dúvidas via “chat” aos professores formadores de cada disciplina; acompanhar os registros do diário escolar; quando necessário, atribuir nota qualitativa e de avaliar os trabalhos desenvolvidos pelos alunos. Inferimos que o mediador não atende à necessidade da presença do professor em sala de aula.

Dentre outras dificuldades enfrentadas pelos alunos daquela lo-calidade, ainda existe aqueles que não conheciam aula teletransmitida, não só pelo fato de viverem em comunidade rural, mais o fato de serem “analfabetos funcionais” como afirma aluno I:

– Eu senti muita diferensa porque eu nunca sabia que ingistio essas aula assim.

As falas dos alunos apontam para o deslumbramento em relação às aulas como o uso dos recursos multimidiáticos (texto, som, imagens e vídeos), assim como revelam a dificuldade deles para acompanhar e (re)

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significar os conteúdos transmitidos pelos audiovisuais.

– O programa é maravilhoso, não preciza mudar os alunos que tem que mudar e prestar mais atenção nas aulas (aluno E).

– O que eu não gosto no programa é que as aulas passa muito rápido e não volta atrás (aluno H).

– Quando a gente pede para voltar o slide e não re-tornam. (aluno M).

Inferimos que mesmo com o uso dos recursos multimidiáticos, por intermediação, que é uma das características da EAD, a aprendiza-gem significativa não acontece de fato. A não familiarização com o uso desses equipamentos, principalmente, o computador, é marcada pela resistência que os alunos têm até mesmo nos momentos de tirar suas dúvidas, carregando consigo as inquietações e, consequentemente, a falta de interatividade.

O uso dos recursos tecnológicos não deve se restringir apenas ao uso de determinados equipamentos e produtos oriundos da industrializa-ção, os recursos utilizados no processo de ensino e aprendizagem têm que estar ligado à ideia de produtividade “rede de significados”, como afirma Lima Jr. (2003), no qual o conhecimento tem que estar envolvendo a subjetividade do homem e todo o seu contexto cultural.

As evidências demonstram que a falta de interesse dos alunos, jovens, adolescentes e adultos faz parte deste processo, pois não atende seus interesses. Nas falas dos mediadores, podemos confirmar que o pro-grama não está contribuindo para o sucesso de ensino e aprendizagem dos alunos, pois não contempla suas especificidades, isto é, não promove uma motivação intrínseca dos alunos, conforme cita professor mediador A

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– Não. Falta no aluno vontade própria de aprender, falta desejo, falta interesse e motivação. Acredito que sem esses requisitos não há aprendizagem.

Ou:

– Às vezes. Os alunos não se sentem atraídos pelo tempo de ensino, porém o Programa em si parece excelente, mediador B.

Portanto, os fatos apontam a existência do choque entre a cultura audiovisual (característica da educação com mediação tecnológica) e a cultura local.

Os resultados da entrevista com a direção da escola reafirmam as evidências apontadas pelos alunos e mediadores do programa EMITec cujas respostas foram convergentes com os levantamentos de dados dos alunos e mediadores. Portanto, as dificuldades encontradas dentro do programa são reflexos dos problemas oriundos da estrutura, dentre outros. A carência dos recursos didáticos (principalmente os técnicos e operacionais), o choque de cultura, o desinteresse dos alunos, a falta da merenda escolar são as principais dificuldades encontradas no programa, como afirmam os gestores da unidade escolar.

Por outro lado,

– Facilidades – o ensino vem através da internet e os alunos não precisa se deslocar para Jacobina. Ótimo. (direção B).

Como mostra na fala da direção “B”, o discurso da democratização do processo de ensino através do acesso ao ensino médio é uma realidade do ponto de vista da intermediação tecnológica.

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6. Considerações finais

Vivemos em uma sociedade que passou a ser conhecida como sociedade da informação, do conhecimento, das transformações e da sociedade tecnológica. Por sua vez, o uso dos recursos tecnológicos nos dias atuais é constante e inovador. Porém, as tecnologias por si só não são socializadas, junto a elas, as tecnologias firmam uma parceria entre o homem e a máquina que carregam consigo seus saberes e que desenvol-vem múltiplas funções dentro da sociedade informatizada e inovadora. Esta é uma relação fundamental entre o desenvolvimento da tecnologia da comunicação e o desenvolvimento da cognição humana.

O homem como um elo entre a máquina e a construção do saber, (re)significa sua aprendizagem e a capacidade de lidar com as inovações dentro dos contextos sociais e educacionais, fazendo uso dos recursos tecnológicos, transformando sua capacidade de lidar e liderar com/o novo, transformando a si mesmo e o meio social onde está inserido. Mas, para que de fato estas mudanças aconteçam, é necessário que o “fazer produtivo” seja ele dentro de qualquer área, esteja ligada à capacidade cognitiva do homem de transformar e (re)criar. Ou seja, no conhecimento tem que haver a construção significativa.

As políticas públicas defendem que a educação do campo deve ser oferecida no e do lugar onde vivem os camponeses, respeitando suas especificidades. A partir das leituras e dos dados obtidos na pes-quisa de campo sobre o Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica – EMITec, no Distrito de Itaitu, Município de Jacobina – BA, envolvendo alunos da rede pública, professores e direção e, con-sequentemente, comunidade local, compreendemos que a educação do/no campo da comunidade está acontecendo mecanicamente, sem a participação dos indivíduos e sem valorização das peculiaridades da comunidade local.

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A clientela é bastante diversificada, tendo desde os que concluí-ram o Ensino Fundamental II, no ano de 2009, àqueles que, por falta de oportunidades, estavam fora da escola há mais de 10 anos. Vejamos que essa é uma característica do povo do campo. Sabe-se que, em uma sala de aula tradicional, é “difícil” de se lidar com essas questões, imagine em um ambiente totalmente desconhecido, onde os alunos nunca tiveram contato nem acesso aos recursos tecnológicos? A falta de hábito com o uso do computador, assim como o fato de não se ter acesso ao equipamento, reflete nas dificuldades encontradas pelos alunos envolvidos dentro do processo, o que agrava a motivação intrínseca e a vontade própria de aprender, pois o uso do recurso tecnológico por intermediação de um professor da unidade escolar não supre os anseios dos alunos. E estes não conseguem absorver o aprendizado nem conseguem dar significado aos seus conhecimentos.

As evidências desta pesquisa deixam claro que o Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica é mais um projeto dos poderes públicos para que dados estatísticos mostrem que o analfabetismo no Brasil é cada vez mais decrescente. A preocupação do Estado não é com a Educação Básica de qualidade para todos, como é defendida nos projetos e programas oferecidos pelos órgãos federal, estadual e municipal.

Diante dos fatos apontados, concluímos que a gestão do conhe-cimento no programa até o momento não vêm trazendo contribuições significativas em termos de aprendizagem para os alunos do ensino médio que residem no campo, pois os resultados obtidos mostram que as faci-lidades são poucas ou quase nenhuma. No que se refere às dificuldades encontradas, podemos apontar os problemas com o uso dos recursos técnicos, as dificuldades no processo de avaliação, falta de recursos didáticos, carência no apoio pedagógico, inexistência de laboratório de informática, desinteresse por parte dos alunos (o programa não atende às suas especificidades) e a não familiarização da clientela com as tecno-logias no dia-a-dia, além de o choque da cultura local com os usos dos

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recursos multimidiáticos. Dificuldades que vêm contribuindo de forma significativa para a debilidade da proposta curricular do programa.

No entanto, é importante reconhecer que o discurso da demo-cratização, proposto pelo programa, acontece de forma parcial através da facilidade do “acesso” ao Ensino Médio sem que o aluno precise se deslocar para a cidade, podendo estudar no e do lugar onde vive, embora essa educação não contemple uma aprendizagem que seja significativa, o que justifica a necessidade imediata de reformulações no programa. Uma reforma que seja construída de forma coletiva e colaborativa com a comunidade local.

Referências

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LIMA JR, A. S. de. Tecnologização do currículo escolar: um possível significado proposicional e hipertextual do currículo contemporâneo. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, UFBA, Sal-vador, 2003.

MINAYO, M. C. de S. (Org.) et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.

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MORAN, J. M. et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 2000.

SILVA, R. H. A.; MEIRA, W. Rede de Inclusão e Letramento Digital – Rede. Lê. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO UNI-VERSITÁ RIA, 2, Belo Horizonte, 2004.

59Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacional

Epaminondas Silva Macedo

1. Introdução

O Brasil, inegavelmente, entrou em processo de desenvolvi-mento econômico e com avanços em alguns setores sociais, a exemplo da diminuição da miséria, mobilidade de classes, e um maior número de crianças frequentando a escola. Todavia, quando tratamos da oferta de educação atrelada ao requisito qualidade, não constatamos avanços significativos; pelo contrário, faltam políticas públicas profundas e de longa duração, que possam, efetivamente, nos posicionar entre as nações mais desenvolvidas do mundo.

Preliminarmente, cabe reiterar o que já está explícito, ou seja, as supracitadas afirmações deixam claros a relação que fazemos entre uma gestão eficiente na educação e o desenvolvimento de uma nação. Esta é uma relação clássica, para o mundo moderno, logo não há maiores novidades em tais afirmativas.

Porém, para o nosso país, este prognóstico não se aplica ou, no máximo, é mera formalidade. Ademais, o conceito ou concepção de desenvolvimento vigente neste país não vislumbra produção de conhe-cimento, e sim o quantitativo de bens materiais. Esta é uma mazela que compromete todo o processo de busca de uma gestão que valorize e sistematize as políticas públicas para a educação no Brasil.

Daí que o presente trabalho tem por objetivo a análise das questões educacionais, relacionando-as à cultura nacional e, mais pre-

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cisamente, visa demonstrar que as problemáticas da má qualidade do ensino aprendizagem nas escolas brasileiras, estão além ou fora da gestão educacional praticada nas escolas, onde esta apenas reflete o fruto de uma postura e mentalidade nacional.

2. A política da gestão educacional e a sociedade

No Brasil são praticamente inexistentes as relações entre a gestão da educação e os demais sujeitos que compõe a nossa sociedade: des-de o processo de nomeação e ocupação dos cargos de direção das três esferas do poder público – municipal, estadual e federal –, até o poder de representação de segmentos sociais junto às escolas. Somente neste século, estamos presenciando algumas investidas de entidades perante as escolas, como associações de pais, e mesmo sindicatos de trabalhadores da educação lutando por eleição direta para diretores etc. Mas tudo ainda muito embrionário.

O próprio estado brasileiro mantém a tradição de nomeação de ministros da educação, secretários de educação, dentre outros, pelo crité-rio da barganha, ou moeda de troca em apoio político partidário. Razão pela qual assistimos a figuras das mais esdrúxulas possíveis ocupando tais cargos e funções, enquanto pessoas mais gabaritadas, tecnicamente, não são requisitadas para tal missão. Todavia não esqueçamos o foco desta análise, que outra não é, senão realizar uma provocação ou reflexão acerca do papel ou responsabilidade da sociedade civil frente à questão educa-cional. Em outras palavras, eximir um pouco a escola e seus protagonistas da culpa de uma má gestão e seus efeitos, como evasão, reprovação, baixo aprendizado etc. Então voltemos à sociedade.

Quando discutimos, anteriormente, a questão do desenvolvimen-to nacional, havíamos afirmado que a concepção de desenvolvimento aqui vigente excluía a produção do conhecimento, ficando restrita ao da produção de bens materiais.

61Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

A própria pauta de exportação, o carro chefe do superávit da eco-nomia nacional, é predominantemente marcada por produtos in natura, mais precisamente frutos de commodities. Esta é uma característica vigente neste país desde os tempos colonial e imperial, haja vista seu destaque mundial na produção da cana de açúcar, café, laranja, soja e da extração mineral, dentre outras.

Nada contra exploração e produção de artigos primários, desde que, de maneira sustentável, possamos agregar valores aos mesmos, uma vez que a sociedade contemporânea está rica de exemplos de que as nações que ocupam lugares de destaques em matéria de riqueza e desen-volvimento são aquelas que desenvolveram e desenvolvem tecnologias. Muitas destas nações são pobres em recursos naturais, mas produtoras de conhecimentos e, por efeito, de tecnologias, conforme já constatado por Oppenheimer ( 2011, p. 35), mostrado a seguir:

[…] Nos guste o no, estamos viviendo en la era de la economia del conocimiento, donde lós países más ricos son los que producen servicios de todo tipo – cibernética, ingeniería, farmacéutica, entre otros – y donde algunos de los que tienen mayores índices de pobreza son los que tienen más materias primas.[…].

Diz-nos ainda o autor sobre países ricos, embora pobres em recursos naturais que

[…] Y entre otros que figuran en las primeras posi-ciones están Luxemburgo, Singapur, Irlanda, Honk Kong y Taiwan, países que idade e tienen pocos o ningún recurso natural, salvo el cerebro de su gen-te. Comparativamente, Nigeria, Venezuela, Ecuador,

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Bolivia y otros países con enormes recursos natura-les están en el fondo de la lista. (OPPENHEIMER, 2011, p. 49).

Face ao exposto, não pairam dúvidas que a concepção de desen-volvimento vigente necessita de reformulação, principalmente de uma nova gestão e práxis política e social. Também é de fácil compreensão que, para se obter um desenvolvimento pautado na geração de tecnologias e de saberes, é mais que necessário a oferta de educação de qualidade, em razão da sua inexistência.

Todavia, esta ausência de políticas significativas para a educação não pode somente ser atribuída ao Estado e sua respectiva forma de administrar, mas também a outros sujeitos que são detentores de poder. Ledo engano entender que ao Estado cabe ou reside todo o poder. Em matéria de poder, nos aliamos à tese de Foucault (1979, p. 90), quando afirma que o exercício do poder não se limita ao Estado.

[…] De modo que, se quisermos apreender os me-canismos de poder em sua complexidade e detalhe, não poderemos nos ater unicamente à análise dos aparelhos de Estado. Haveria um esquematismo a evitar − esquematismo que, aliás, não se encontra no próprio Marx − que consiste em localizar o poder no aparelho de Estado e em fazer do aparelho de Esta-do o instrumento privilegiado, capital, maior, quase único, do poder de uma classe sobre outra classe. De fato, o poder em seu exercício vai muito mais longe, passa por canais muito mais sutis, é muito mais am-bíguo, porque cada um de nós é, no fundo, titular de um certo poder e, por isso, veicula o poder. O poder não tem por função única reproduzir as relações de

63Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

produção. As redes da dominação e os circuitos da exploração se recobrem, se apoiam e interferem uns nos outros, mas não coincidem.

Indevidamente, em nosso caso, é cômodo atribuir a um agente público a responsabilidade e as respectivas soluções. Também é fato que estas carências de políticas fortes e eficazes de Estado capazes de mudar, efetivamente, a Educação Nacional, estão arraigadas em nosso passado histórico, mas é lamentável que continuemos a buscar tais raízes como forma não apenas de compreensão, mas também de justificação da nossa realidade atual. Não que precisemos negar ou menosprezar o passado, porém este não pode permanecer como motivo de atrasos e desqualifi-cação da educação.

É inaceitável que uma nação tenha galgado o status de uma das mais “ricas” do mundo, atualmente oscilando entre a sexta e sétima, com PIB equivalente ao da Inglaterra, a ex-mandatária do mundo, e mesmo assim não tenha, até então, sido capaz de solucionar esta questão nacional. Daí não nos resta alternativas que não seja indagarmos quais as justificativas para a permanência deste problema, que aparentemente é muito mais de gestão, contudo vive só de aparência, pois defendemos que é de outra natureza, como demonstraremos a seguir.

3. Cultura e revolução na educação

Para análises, caminhos e soluções, visando sucesso do objetivo, que outro não é senão qualificar a educação nacional e obter seus frutos diretos e indiretos, ou seja, desenvolvimento social e humano, qualificação de mão de obra, produção material de bens com valores agregados e sustentáveis, e ainda capacidade de desenvolver este país, adequando-o à geração de saberes e tecnologias na sociedade do conhecimento, faremos uma análise e proposição diferenciada. Assim, classificamos como análise peculiar pelo

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fato de que as feitas até então não costumam eleger o objeto cultura, como um dos elementos integrantes da problemática educacional.

Para melhor contextualizar a presente análise, é oportuna a de-finição do conceito de cultura aqui adotado, uma vez que muitas são as conceituações existentes. Para este trabalho, basta-nos a definição dada por Cortella (2001, p. 41) quando a define como “conjunto dos resul-tados da ação do humano sobre o mundo por intermédio do trabalho”. Claro está que esta ação humana não somente é capaz de transformar o ambiente em que vivemos, como também é fruto de um ato consciente, fato este que nos diferencia dos demais animais.

Feita tal definição, e dada a natureza do que se propõe o presente trabalho, que outro não é senão os aspectos externos à escola, uma vez que os fatores internos, além de bem conhecidos pela academia e mesmo da so-ciedade civil organizada, não é, neste momento, o objetivo desta análise.

Dentre os elementos externos, a defesa deste articulista é a de que o problema reside e resiste porque é essencialmente um produto sedi-mentado em nossa cultura, ou seja, faz parte das mentalidades do povo brasileiro. E se assim é entendido, temos que ressaltar que, na prática, esta mentalidade se converte em valores ou mesmo na falta deles.

Apesar de sermos uma nação cristã, constituída por valores dessa filosofia religiosa, a Educação não se firmou como elemento de valor para esta sociedade, e isto é um elemento chave para compreendermos o descrédito da população quando se trata de respeito, defesa e busca do acesso à educação como forma de formação ética, cidadã e mesmo de ascensão social. Outros elementos se firmaram como valores, a exemplo de fé, futebol, samba, carnaval, diferente do gostar do viver a escola e do seu aprendizado.

Mesmo numa ótica meramente material e economicista, a escola não é vista como veículo que pode viabilizar tal ganho ou aquisição. Neste

65Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

país, os sujeitos, de forma individual e/ou coletivamente, em sua quase totalidade, almejam e sonham cotidianamente com o sucesso econômico mediante a ínfima possibilidade de sorte ou acerto em uma das Loterias. No plural, por ser em números diversos, em suas modalidades, e todos estes jogos estimulados pelo próprio Estado. As famílias são exemplos de reprodução de modelos que reforçam tais práticas e valores, como os jogos da sorte ou azar patrocinados extra ou oficialmente – jogo do bicho, loto, bem como sonham ou desejam que seus filhos possam se tornar profissionais do futebol, uma vez que já nascemos com a “bola no pé”, e não é coincidência que somos o país do penta mundial e do Rei Pelé. A música, em especial, o samba é outro artigo muito sonhado e buscado, através das suas múltiplas variedades, sem falar do desejado sucesso em programas de TV, a exemplo dos espaços viabilizados por parte de uma mídia sensacionalista. E para isso “não” precisamos de escola ou de educação.

Temos a complacência da sociedade com os descasos da gestão do Estado com a educação, onde as péssimas condições de infraestrutura e mesmo da luta dos movimentos paredistas em prol de melhores salários na educação, são relegadas ao segundo ou último plano. Assistimos com normalidade à incidência frequente de greves, passando a ser elemento corriqueiro, regra do calendário letivo, em vez de ser uma exceção. Isto nas três esferas, mas principalmente, na estadual e municipal.

Cabe ressaltar que o articulista não condena os movimentos dos trabalhadores em educação, mas apenas lança mão de tal recurso para demonstrar que as famílias e a sociedade em geral não reagem com in-dignação à ocorrência frequente das greves na educação e não pressionam os poderes públicos para sanarem as causas que os motivam.

Não precisamos fazer um retorno ao tempo da longa ou média duração, basta olharmos para os registros em jornais ou reportagens em mídias, em período de tempo de curta duração, que logo identificamos

66 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

essas greves. Na Bahia, no recém passado ano de 2012, a sociedade as-sistiu praticamente como mera plateia ou inerte a uma paralisação que comprometeu todo o ano letivo, sendo o mais novo recorde nacional de duração de greve do segmento docente. Havemos de indagar como as famílias e jovens alunos podem aceitar uma ausência de aulas por tanto tempo, por questões essencialmente ligadas à baixa remuneração?

A explicação mais plausível ou viável é a do descaso ou pouca valorização do item educação para a coletividade desta sociedade. E para não darmos a entender que estamos centrando nossa análise sobre a postura das famílias, temos ainda a imprensa em geral, e principalmente as organizações civis. Estas são de grande importância, mais que os ve-ículos de comunicação, pois estes refletem o modelo e valores vigentes, enquanto a sociedade civil organizada, como grupo de pressão, é capaz de alterar o quadro sociocultural e, consequentemente, promover mudanças ou transformações nas mentalidades dos nacionais, e assim promover a educação como um elemento de valor. Mais que isso, devemos alçá-la a um lugar ou valor de primeira ordem, uma vez que educação é o mais nobre dentre os nobres valores de uma sociedade.

Infelizmente, apenas formalmente o Estado brasileiro reconhece o lugar ao sol da educação, quando no Capítulo II que trata dos direitos sociais, em seu art. 6º estabelece que a educação é um direito social.

Também a mesma Constituição Federal em seu artigo 205 reitera tal reconhecimento, senão vejamos:

Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Es-tado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen-volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

67Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

Assim, essas normatizações presentes nos citados artigos nos induz à crença de que a educação goza de um lugar privilegiado, como deve ser, mas, lamentavelmente, tais reconhecimentos são meras positivações na Carta Magna de 1988, sem, de fato, haver uma efetivação de uma política que responda às demandas pátrias em matéria da educação.

Temos ainda posturas individualizadas que reforçam as posturas do coletivo nacional, senão vejamos o exemplo de um cidadão que não podemos classificá-lo com sendo parte do estamento privilegiado, ou seja, membro de uma categoria identificada como sendo dona dos meios de produção ou da chamada elite brasileira. Este, um pai de família, tra-balhador assalariado de empresa do polo petroquímico, com formação profissionalizante de técnico do ensino médio, com casa financiada pelo Sistema Nacional de Habitação, via Caixa Econômica Federal, dentre outras características que demonstram ser representante típico da classe média – média, quiçá média baixa, em um país tão complexo em suas variedades sociais.

O fato concreto é que este trabalhador foi exonerado sem justa causa, pois a empresa momentaneamente necessitou realizar cortes de pessoal, e assim o demitiu e o fez com a respectiva indenização. Na con-dição de desempregado, e mesmo ainda estando recebendo o Seguro De-semprego, tratou logo de estabelecer algumas medidas visando diminuir os custos mensais da família. E uma das suas decisões tomada foi retirar a filha da escola particular, transferindo-a para a escola pública.

Óbvio que, em momento de incertezas futuras, não podemos condenar ou reprovar tal iniciativa, todavia o cidadão em tela, seis meses depois foi readmitido, pois a citada empresa assim achou por bem fazê-lo. Com o retorno ao patamar anterior à demissão, era de se esperar que a adolescente fosse recolocada no ensino particular ao final da unidade ou mesmo ao final do ano. Mas o entendimento foi o da manutenção no público, mesmo sabendo da baixa qualidade do ensino que ali se fazia.

68 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

O interessante é que o capital que havia recebido a título de indenização quando da demissão, assim que retornou ao trabalho, logo foi dado de entrada em um financiamento e aquisição de um automóvel de luxo, tipo Eco Esporte, bem como a assunção do compromisso com longas e significativas prestações.

Ora, tal feito é por demais revelador da mentalidade que impera no cidadão nacional. Mais vale investir no pagamento de longas prestações visando possuir um automóvel do que assegurar uma educação de quali-dade para uma criança. Posturas e atitudes como estas são fortes indícios de que nós, brasileiros, em sua maioria, ainda não cultuamos a formação educacional dos nossos filhos como sendo de fundamental importância.

Sabemos que do ponto de vista pessoal ou individual o Brasil ainda é rico em práticas de pais de famílias que estimulam a entrada o mais rápido possível no mundo do trabalho e a consequente saída dos filhos da escola para que possam logo iniciar sua vida assalariada e assim “ajudar” ou contribuir com as despesas das famílias. Tão presente esta característica que o Governo Federal, através do Ministério de Desen-volvimento Social - MDS, criou em 1996 o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI para combater essa prática cultural em todo território nacional.

Esse programa que tem por objetivo retirar crianças e adolescen-tes com idades entre 07 a 14 anos do mundo do trabalho, facilitando o acesso, permanência e o estímulo ao bom desempenho dos mesmos na escola, tem em contrapartida o pagamento de uma bolsa-família, como forma de compensação da retirada de crianças e adolescentes do ambiente do trabalho (PETI, 1996).

Claro que dada a natureza de uma sociedade marcada pelo pá-trio poder, característica da dominação masculina que ainda não foi de toda extirpada da cultura nacional, faz com que esta saída prematura da escola para o mundo do trabalho incida muito mais sobre a parcela do

69Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

gênero masculino. Mas, independente da discussão de gênero, é fato a ocorrência dessa valorização do trabalho frente à educação, pois prova maior não há do que o nascimento do PETI, pois nasceu com base em fartos dados estatísticos.

Temos ainda o exemplo da nossa postura frente aos nossos representantes políticos nos momentos eleitorais. Em seguidas e suces-sivas eleições, observamos ou assistimos aos discursos e às promessas de investimentos na educação e saúde, que vão da infraestrutura à re-muneração dos seus servidores e o respectivo não cumprimento do que foi compromissado na mídia e publicamente, porém isto não impede a reeleição desse ou daquele candidato, ao executivo ou ao legislativo, uma vez que reiteramos que este não é um valor sedimentado no seio desse povo ou nação.

Podemos ainda reforçar tal postura com outros exemplos. Recen-temente nosso Congresso alterou projeto de lei que versa sobre os royalties do pré-sal, onde estava previsto que os ganhos dessa exploração seriam aplicados 100%, por dez anos, na educação. E sem o menor temor ou constrangimento, os deputados federais derrubaram tal norma, demons-trando seu pouco apego à educação. E a sociedade civil assiste a tal feito, como se nada disso lhe afetasse ou dissesse respeito (DECAT, 2012).

Tivemos ainda recentemente outro fato lamentável. Uma ado-lescente que, para pressionar e criticar o descaso com a educação em sua escola, criou um site denominado Diário de Classe. A reação interna – colegas, professores e servidores, e a reação externa, foi de grande repúdio à tal atitude, chegando às vias de fato com apedrejamento da casa da adolescente. Eis aí mais uma postura que corrobora com o descaso da população com a educação e, por conseguinte, prova que é elemento arraigado na cultura nacional (NOTÍCIAS BRASIL, 2012).

Este quadro, que podemos classificar como sendo nada positivo para a sociedade brasileira, coloca-nos a importante e indubitável questão

70 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

de como solucionar uma enfermidade social, que até então aparece como aspecto desprezado na prática cotidiana dos indivíduos, das famílias e, por efeito da sociedade, apesar de alguns ensaios de algumas entidades civis.

A nossa tese é a de que precisamos realizar uma revolução social em prol de uma educação inclusiva e de qualidade. Temos que torná-la um vício ou mania nacional, mediante um movimento social e coletivo, assim como valorizamos o futebol, o carnaval e o samba. Temos que integrá-la à nossa cultura. Já fizemos algo parecido com outros hábitos necessários, como uso do cinto de segurança em automóveis, e não uso do fumo em ambientes fechados, dentre outros.

É certo de que a educação, diferente dos demais, requer mais do que propaganda, de fato exige ações fortes, concretas, que, além de mí-dia forte, deve partir de grupos de pressão e pregação. Devemos formar um mega movimento nacional, semelhante ao que já assistimos quando do movimento “abolicionista” na segunda metade do século XIX. Este movimento impôs derrotas e mudanças de posturas das elites imperiais escravocratas, ou mesmo como fizemos mais recentemente com árdua e sangrenta luta pela redemocratização do país durante a fase da ditadu-ra militar iniciada em 1964 e derrotada em finais da década de 1980, tendo a nossa Carta de 1988 como principal expoente dessa dolorosa e importante vitória.

Defendemos que o papel da sociedade civil organizada nessa mudança de concepção e práxis socioeducacional deve ser o elemento primeiro e imprescindível. Essa deve iniciar esta mobilização nacional, mas para tanto deve atuar de forma articulada entre si, ou seja, criar toda uma agenda com ações previamente pensadas e analisadas para formar mais que discursos e bandeiras, e sim estratégias viabilizadas nas práticas diárias dos seus afazeres. Devemos realizar um trabalho de formação e conscientização, típico de práticas que lembram as feitas pela catequese na era colonial.

71Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

Um movimento de fora para dentro, ou seja, da sociedade para o Estado, uma vez que este não pode ser senão reflexo do que ele representa. Pois é certo de que se tivermos uma população que eleja a educação como valor, esta será galgada a um patamar semelhante, pelo próprio Estado e seus gestores. Isto porque, volto a insistir, o problema maior não está ou reside necessariamente nos entes das três esferas públicas, e sim, na própria sociedade nacional.

Com tais afirmativas não se busca isentar a participação ou res-ponsabilidade do município, estado ou união, mas apenas mostrar que esses entes são formados e resultantes das vontades, quereres, ações ou a falta delas na sociedade. Sabe-se que esta é uma relação marcada pela contradição, e que a nós não interessa quem nasceu primeiro se foi ”o ovo ou a galinha”, mas tão somente se se dependem e se complementam, e que a mudança de percepção de um incide sobre o outro, daí que, no caso em voga, estamos propondo um caminho, uma estratégia, eivada de ações, visando o objetivo maior que é sanar as mazelas vigentes na gestão da educação nacional.

Entendemos ainda que o contexto é favorável, haja vista as es-tatísticas apresentadas pelo IBGE e outros órgãos públicos e privados. Estes provam que o Brasil vivencia na última década uma fase nunca experimentada, logo propicia tais ações e movimentos. Também não podemos negar que o governo federal vem dando provas de uma maior sensibilidade para o item educação, mediante uma série de medidas como o Programa de Expansão da Rede Federal de Educação, especialmente os Institutos Federais de Ensino, e também de Universidades Federais, ou seja, a maior expansão da história deste país, além de outros progra-mas e estímulos para a área, como PROUNI, PRONATEC, políticas afirmativas, dentre outras.

Ressaltamos que apenas fizemos tal observação quanto ao momen-to favorável, tão somente para dar mais uma demonstração da conjuntura,

72 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

todavia o objeto em análise, neste caso, não é o Estado, nem o mérito de tais ações, e sim, a sociedade constituída pelo povo brasileiro, razão pela qual voltamos a nos debruçarmos sobre a mesma.

Assim, cabe registrar que devemos reunir e unir as diversas enti-dades civis organizadas, para que elejam a gestão da educação pública e com qualidade como objeto de uma luta cotidiana de todas elas, mediante uma ação conjunta e sistemática. Somente assim podemos alterar de fato esta postura de descaso da população com a educação e, consequente-mente, pelo próprio poder público nacional. Não é possível mudanças se as ações dessas entidades continuarem como sempre foi, isto é, atos isolados de cada uma delas ou de alguns grupos.

Tem que ser de todas, mediante uma ação conjunta, bem como seguindo um programa previamente pensado e agendado, isto é o que significa dar sistematização ao movimento. É dar uma delimitação de espaços e objetos, como uso da mídia em suas várias modalidades, como rádio, TV, periódicos, revistas, uso dos espaços religiosos, como igrejas e seus outros espaços e instrumentos, assim como o poder e influência dos órgãos de classes como a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, da Associação Nacional de Informação –ABIN, das Associações de Bairros, dos inúmeros Sindicatos urbanos e rurais, dentre outras.

Com tal organização e campanha, seus resultados serão outros, pois as atuais ações são desconexas e seus frutos são limitados e parciais. Sempre assistimos a programas sociais de redes de TVs, de igrejas, de algumas empresas, mas conforme já afirmamos, são atos desconexos e não criam um movimento capaz de mudar a mentalidade nacional sobre a importância da educação como valor inigualável que uma família pode assegurar aos seus filhos.

73Reflexões sobre a gestão educacional como instrumento para uma revolução na cultura nacionalEpaminondas Silva Macedo

4. Considerações finais

Face ao que expomos, acreditamos e defendemos, ou seja, somente com a educação pública e de qualidade podemos sanar as enfermidades sociais existentes no Brasil. Defendemos que a via para iniciarmos este difícil caminho de mudar mentes, pensamentos, posturas e fazeres, é tarefa primeira da sociedade civilmente organizada, mediante ações conjuntas, sistematizadas, organizadas, e devidamente concretizadas. Em suma, acreditamos que para se obter sucesso em tal empreendimento ou proposta deve ser um movimento de pressão e de conscientização, bem como contínuo e de alcance nacional.

Educação há de ser assegurada como valor fundamental, em seu dia a dia, consolidando o que está preceituado em nossa Constituição Federal. Somente sendo tomada como produto da cultura nossa de cada dia, como a nova “mania nacional”, podemos caminhar em direção a um desenvolvimento eficiente e eficaz, devidamente sustentável. Reiteramos a defesa da oferta de educação pública, gratuita e agregada à qualidade, sendo uma exigência nacional, sendo pauta das organizações civis orga-nizadas, em especial dos movimentos sociais, como sendo o movimento sublime, maior, primeiro. É a proposição singular e será revolucionária. É a revolução sem armas, sem dor, sem mortes, mas será a grande liber-tação de um povo e o início de uma gestão comprometida e competente visando ao desenvolvimento da nação brasileira.

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77Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educação

Ivo Chaves de França

Luciana Thais D. Costa

Lúcio Jordan N. Oliveira

1. Apresentação

A Tecnologia da Informação tem avançado bastante no desenvol-vimento de ferramentas de apoio à gestão, usando técnicas de Business Intelligence (BI), Mineração de Dados, Inteligência Artificial, dentre outras. O uso dessas tecnologias é uma realidade, em sua maioria, no contexto de empresas privadas de grande porte, conforme afirma LIMA; BOSCARIOLI; LAGO (2008). No serviço público essa situação ainda é mais crítica, pois, historicamente, não acompanhou a evolução da informática da iniciativa privada (TAIT, 2000).

A reflexão acerca dessas questões mobilizou o interesse em de-senvolver um trabalho voltado para área pública, em especial, a área de educação, mostrando que é possível utilizar essas tecnologias, criadas com fins comerciais, para o bem público. Esse trabalho foi desenvolvi-do através do estudo de um caso, com levantamento e análise de dados escolares ao longo de um período de tempo.

A elaboração deste artigo tem por objetivo inicial analisar o desem-penho escolar, através de índices de frequência, evasão e rendimento dos alunos da escola Barbosa Romeo, antes e após a instituição do benefício Bolsa Família, nos anos de 2000 (alunos de 3ª e 4ª série) e 2008 (alunos de 4ª e 5ª série), utilizando os conceitos de BI, através da plataforma Pentaho, juntamente com as ferramentas Mondrian e JPivot.

78 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

As informações quantitativas obtidas pelo processo de BI serão confrontadas com as informações qualitativas, extraídas dos questionários aplicados aos alunos, pais e funcionários da Escola Barbosa Romeo, como forma de consolidar as informações obtidas através dos dados.

De maneira mais peculiar, o trabalho propõe a análise das formas de tratamento das informações em ambientes e formatos heterogêneos, o uso do BI na educação (como ferramenta de apoio à tomada de decisão na escola supracitada) e o impacto do uso do benefício Bolsa Família nas notas dos alunos e índices de evasão.

Sobre o estudo a ser realizado é possível levantar as seguintes hipóteses:

É possível auxiliar gestores de educação a tomar decisões •utilizando uma ferramenta de BI?

É possível medir, utilizando ferramentas BI, se: O uso do •Benefício Bolsa-Família diminuiu o índice de evasão escolar?; Melhorou o rendimento escolar?

Entender os fatores que contribuíram para a melhoria do desem-penho escolar, na escola Barbosa Romeo, antes e depois da instituição do benefício Bolsa Família, revela-se imprescindível para continuidade do uso de benefícios sociais, como mecanismo para garantir a permanência dos alunos na escola, possível diminuição do analfabetismo e redução do trabalho infantil na comunidade de São Cristovão, no município de Salvador – Bahia.

Utilização do conceito de BI, para tratamento e visualização de informações, tem se mostrado bastante eficaz e eficiente no apoio à tomada de decisão por gestores. Neste sentido, essa técnica visa apoiar os diretores, coordenadores e professores da referida escola, na análise dos dados escolares.

79Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

A comunidade acadêmica também cresce com essa discussão, pois abre oportunidade à aplicação da ferramenta BI em uma nova área do conhecimento, visto que essa é uma prática bastante comum em indústrias e grandes empresas, permitindo uma melhor gestão sobre os dados armazenados, de uma forma estruturada, transformando os simples dados em informações relevantes.

2. A educação no Brasil e o programa bolsa família

A educação no Brasil ainda se apresenta como uma questão social complexa. Entretanto, os números apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE mostram um panorama promissor no que se refere ao tema analfabetismo, pois o Brasil vem apresentando uma diminuição no índice de analfabetismo. Vale ressaltar que, em contra-partida, o índice de analfabetismo funcional1 ainda se revela muito alto, como mostra o Mapa do Analfabetismo, no ano 2000, em que o número de analfabetos funcionais chegava ao dobro do número de analfabetos.

De acordo com estudos realizados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2007), através do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, indicador que avalia o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, a longevidade e o nível educacional da população, a região Nordeste é considerada a mais pobre do Brasil.

Na educação a situação não poderia ser diferente. Segundo o Mapa do Analfabetismo, as taxas de analfabetismo estão diretamente relacionadas à renda famíliar. O estudo mostra que na região Nordeste essa relação é ainda mais agravante, “nos domicílios com renda até um salário mínimo o índice é de cerca de 37%, e nas famílias com renda acima de 10 salários

1 Analfabetismo Funcional é a “[...] situação que caracteriza pessoas que tiveram uma experiência escolar insuficiente para garantir o domínio de habilidades como a leitura, a escrita e o cálculo num grau que corresponda às demandas do mundo do trabalho ou de outras dimensões do cotidiano” (HADDAD, 2007).

80 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

mínimos o analfabetismo é de 1,8% da população de 15 anos ou mais”. Quando os números são analisados na zona rural, eles se tornam mais críticos, ficando em torno de 40% o índice de analfabetismo.

O Programa Bolsa Família tem como propósito atuar na repa-ração de problemas sociais, como é o caso da educação. Atualmente, o Nordeste é a região com o maior número de famílias beneficiadas pelo Bolsa-Família, com cerca de 50%, segundo a Agência Brasil. Isso demonstra a situação em que se encontra atualmente tanto a educação como importantes questões socioeconômicas dessa região.

Entre os requisitos para que uma família tenha direito ao be-nefício, está a permanência dos filhos, até 15 anos de idade, na escola (MATTEDI, 2009). Esta condicionalidade, ligada à idade da criança, complementa os estudos anteriores, que apresentam índices de defasagem na relação entre a idade do aluno e a série. Outro aspecto se refere ao problema da evasão escolar, muitas vezes motivada pela necessidade da criança precisar trabalhar para compor a renda familiar, como mostra o estudo apresentado pelo MEC, Ensino Fundamental de nove anos – Orientações Gerais (MEC, 2004).

A contrapartida da família para a manutenção do recebimento do benefício está situada no compromisso de, além das condicionalidades anteriormente expostas, manter as crianças na escola, com frequência mínima de 85% além de estar vinculadas aos programas de saúde e nutrição para acompanhamento das crianças de 0 a 6 anos de idade. O monitoramento quanto ao atendimento dos critérios impostos pelo programa fica ao cargo dos estados e municípios.

3. Business Intelligence (Bi)

Os altos gestores das organizações, por não saberem realmente quais informações existem à sua disposição ou quais e se podem ser ex-

81Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

traídas dos sistemas, muitas vezes não sabem quais são suas reais necessi-dades, no que tange à informação. Com o objetivo de extinguir situações como essas, existem as ferramentas de BI, que visam transformar a grande quantidade de dados das instituições em informações.

Em empresas com fins lucrativos, as informações obtidas, através da conversão dos dados, devem permitir apontar fatores críticos e opor-tunidades de negócios, identificando tendências de mercado, tornando a organização mais competitiva e mostrando informações que antes não eram percebidas. A transformação do dado se dá a partir da reunião de diversas tecnologias e, principalmente, com a participação das pessoas envolvidas no ambiente organizacional, pois, por maior poder tecno-lógico que se tenha disponível, uma implementação de BI tende ao fracasso, caso não possua o envolvimento adequado da mente humana nos processos.

O mais importante de tudo é a sua empresa contar com as pessoas certas. Mesmo que tenha na equi-pe de BI uma dezena de pessoas ou apenas uma. Se você quiser extrair benefícios reais de um projeto de BI, não basta investir em hardware ou software. De-senvolva, motive e valorize as pessoas. São elas que irão adicionar valor ao negócio, qualquer que seja ele. Você rapidamente vai perceber que a inteligência que você procura não está no computador, mas nas pessoas! (PARTNER, 2005, p. 50).

O BI também pode ser aplicado em organizações que não pos-suem fins lucrativos. O principal objetivo do BI é fornecer à alta admi-nistração informações que, muitas vezes, só podem ser obtidas através dos dados existentes na própria organização. Estas informações podem auxiliar na definição da estratégia do negócio.

82 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

O BI surgiu com a proposta de suprir a necessidade das organi-zações em relação à extraçao de informação dos dados existentes.

Em sua forma mais ampla, o Business Intelligence pode ser entendido como a utilização de variadas fontes de informação para se definir estratégias de competitividade nos negócios de uma empresa. O mundo empresarial hoje padece de um mal clássico. Possui uma enorme quantidade de dados, mas en-frenta grandes dificuldades para extrair tais informa-ções (BARBIERI, 2001, p. 23).

Segundo Chee et al ( 2009), um dos responsáveis pela popula-rização do BI, BI é um conjunto de conceitos e métodos para melhorar a capacidade de tomada de decisões, utilizando sistemas baseados em fatos de negócio que se aplica à vivência no dia a dia de uma instituição. Ele compreende os Sistemas de Informação Gerencial (SIG), Sistema de Apoio à tomada de Decisão (SAD), Sistema de Informações para o Ensino (SIE), Enterprise Resource Planning (ERP), Customer Rela-tionship Management (CRM), DataWarehouse (DW), enfim, qualquer fator ou ferramenta que apresente dados que serão aproveitados pela organização das mais diversas formas, principalmente no auxílio da tomada de decisão.

O objetivo do BI é facilitar o processo decisório, oferecendo aos gestores, informações em forma visual, já tratada, auxiliando os mesmos e permitindo uma visualização e interpretação dos dados da organização mais rapidamente. Simon (1976) afirma que os tomadores de decisão

[...] raramente buscam encontrar a melhor alternati-va na solução de um problema, mas, em vez disso, se-lecionam um conjunto de resultados suficientemente

83Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

bons e uma alternativa com grande probabilidade de alcançar um desses resultados.

Dentre as principais características do BI (BOTH; BILL, 2005), pode-se destacar: extrair e integrar dados de múltiplas fontes; fazer uso da experiência; trabalhar com hipóteses e simulações; procurar relações de causa e efeito; e transformar os registros obtidos em informação útil para o conhecimento empresarial.

Na ilustração a seguir, é possível observar que nas instituições os níveis estratégicos e de conhecimento estão diretamente ligado ao BI, sendo eles formados pelos altos gestores e diretores, responsáveis por interpretar e/ou executar as informações geradas pelo BI. Já os níveis, administrativo e operacional, representam os sistemas On-Line Analytical Processing (OLTP), que será conceituado posteriormente, e são formados pelos profissionais que geram dados no sistema (operacional).

Figura 1: Pirâmide empresarial comparada com BI.

Fonte: MICROSOFT (2012).

84 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

4. Estudo de caso

As escolas públicas, de um modo geral, ainda trabalham com os dados dos alunos de forma manual, sem o uso de sistemas informatizados. Outra questão a ser considerada é que as cadernetas com os dados dos alunos só precisam ser armazenadas por um período de cinco anos, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Educação. Entre-tanto, com uma forma eficiente e que ocupe menos espaço, estes dados poderiam ficar retidos na escola por tempo indeterminado se fossem adotados sistemas de informação para gerir essas informações.

4.1 Como os dados foram obtidos na escola

Tendo em vista o objetivo desta pesquisa e a definição de um critério estabelecido para comparação dos dados, foi decidido analisar as informações referentes aos anos 2000, que corresponde a um período anterior ao início do Projeto Bolsa Escola, que antecedeu o Programa Bolsa Família e que teve início em 2001, e o ano 2008, que representa um período maior de implantação e amadurecimento do programa Bolsa Família nessa escola.

Como a escola era orientada pela Secretaria da Educação a man-ter as cadernetas com informações detalhadas (falta, notas por unidade e aprovação por recuperação) dos alunos por um período de apenas 5 anos, só seria possível fazer uma análise mais profunda (objetivo inicial do projeto) a partir de 2004. Porém, esse período não é interessante para análise neste artigo, uma vez que se pretende analisar o momento ante-rior e posterior ao uso dos benefícios sociais. A partir dessa dificuldade o escopo desse trabalho foi um pouco alterado para não comprometer a veracidade das informações.

Embora não tivessem armazenados todos os dados do período, a escola mantém uma fonte documental chamada Ata, para todos os

85Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

anos, que, no seu modelo mais atual (2008), possui o nome do aluno, disciplina, série, turma, turno, notas, indicação de evasão ou não, e se o aluno passou por meio de recuperação ou conselho de classe. Entre-tanto, o modelo do ano 2000 é mais resumido e só possui a média e a informação de aprovação ou reprovação do aluno, sem indicação como o mesmo foi aprovado (direto, recuperação e/ou conselho de classe). Para tratar dessa diversidade de modelos, optou-se por trabalhar apenas as informações contidas na Ata do modelo do ano 2000.

Dada à inexistência de dados em formato digital, foi necessária a digitalização dessas informações em planilhas, para que depois fosse feito o processo de transformação para a geração dos resultados. Um dado im-portante (e que não é mantido) é a frequência dos alunos, assim, mesmo sabendo da sua importância para análise dos dados, essa informação não será analisada quantitativamente.

É importante salientar que, desde 2006, as escolas que possuem alunos cujas famílias recebem o benefício Bolsa-Família são obrigadas a informar ao MEC, através do Projeto Presença2, o percentual de fre-quência de cada estudante, porém essa atividade ainda é meramente operacional pelas escolas e órgãos responsáveis. Este dado não é visto pela escola como relevante.

Os dados foram digitados em duas planilhas, uma contendo informações sobre as notas, ignorando nomes dos alunos, e as notas por unidade em 2008, e outra contendo dados sobre a evasão. Veja nas imagens que seguem formatos das planilhas.

2 O Projeto Presença é um sistema informatizado para o registro da frequência escolar dos alunos em que as famílias recebem o benefício Bolsa Família e pode ser acessado através do seguinte endereço na internet: http://frequenciaescolarpbf.mec.gov.br

86 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Figura 2: Planilha com informações da evasão.

Fonte: MEC(2012)

Figura 3: Planilha com as notas dos alunos.

Fonte: MEC (2012)

Pode-se observar nas figuras anteriores, que as séries variam entre 4ª e 5ª série em 2008, o equivalente a 3ª e 4ª série no ano 2000. A es-colha das séries 4ª e 5ª pelo fato de a escola informar que nas séries que antecedem a essas, há um critério de aprovação automática, logo os dados não seriam tão relevantes para essa pesquisa, tendenciando a mesma.

4.2 Como os dados foram processados

Para executar o ETL (Extract, Transform and Load) foi usado o módulo Kettle, da ferramenta Pentaho, que permite fazer todo o processo de extração, de transformação e carga dos dados usando um ambiente

87Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

gráfico. Para melhor adaptação ao software e facilidade no tratamento dos dados, foram criados dois modelos de dados, um modelo transacional, que armazena as informações contidas na planilha, e outro multidi-mensional, onde serão armazenados os dados após o tratamento, para posterior a geração dos cubos para visualização dos dados através de uma ferramenta OLAP (On-Line Analytical Processing).

Figura 4: Modelo de Dados transacional

Fonte: Adaptação dos autores Figura 4: Modelo de Dados transacional

Fonte: Adaptação dos autores

Figura 4: Modelo de Dados transacional

Fonte: Adaptação dos autores

Figura 5: Modelo de Dados Multidimensional

Fonte: Adaptação dos autores

88 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Como pode ser visto no modelo multidimensional, foram criadas duas tabelas fato, uma para armazenar as notas, e outra para armaze-nar informações sobre a evasão, peplo fato de srem informações não relacionadas. Outra observação é que a tabela fato evasão não poderá ser analisada na dimensão disciplina, já que as informações disponíveis foram de que o aluno que evadiu abandonou a escola e, portanto, todas as disciplinas.

O processo de extração foi iniciado com a digitação dos dados, como citado acima, em seguida, usando o Kettle foi executada a im-portação dos dados da planilha para o modelo transacional, conforme figura abaixo. O modelo transacional possui a estrutura semelhante a da planilha, no que se refere às colunas, uma vez que os dados já foram digitados de uma maneira apropriada para a importação.

Uma vez que os dados estão armazenados no banco de dados transacional, é necessário alimentar a base multidimensional, completan-do dessa forma o processo de ETL. Esse processo foi dividido em duas fases de transformação, uma que alimenta as tabelas de dimensão, de maneira normalizada, e a outra fase que alimenta as tabelas fato, onde ficam armazenados os dados quantitativos, para geração de métricas e indicadores.

Como os dados não são incrementais e como são poucos, com-parado a outros projetos de BI que envolve milhões de registros, antes de iniciar o processo de transformação e armazenamento da base multidi-mensional, é executada a limpeza da base e o reprocessamento completo, já que este trabalho se propõe apenas demonstrar a possibilidade de uso da tecnologia.

Neste trabalho foi utilizado o Mondrian, uma solução de banco de dados OLAP usado no pacote de soluções Pentaho e para que seja possível visualizar os dados no ambiente Mondrian, faz-se necessário a elaboração de cubos, em formato XML, a partir do modelo multidi-

89Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

mensional. Para criação desses cubos, o Pentaho disponibiliza o módulo Schema Workbench com um ambiente gráfico. Como o modelo multi-dimensional foi projetado com as métricas necessárias para responder aos questionamentos propostos por este trabalho, o cubo foi elaborado como um espelho desse modelo, como segue abaixo.

Figura 6: Cubos elaborados na ferramenta Schema Workbench

Fonte: Adaptação dos autores

Conforme visto na figura 6, foram criados dois cubos: um de Notas, e outro de Evasão, cada um com suas dimensões e métricas, re-presentando dessa forma o modelo multidimensional proposto.

Concluídos todos os passos anteriores, foi usada a ferramenta OLAP Pentaho User Console, a qual permite que o usuário final visualize os dados em tempo de execução. É importante destacar que a estratégia

90 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

usada para armazenamento dos dados foi o ROLAP (Relational On-Line Analytical Processing), já que o critério performance não está sendo afe-tado, dadas as características do modelo e a quantidade de informações a serem analisadas.

4.3 Análise dos dados coletados e processados

Através da analise e representação gráfica pelo Pentaho, eviden-ciou-se que, com o advento da implantação do auxílio bolsa-família em escolas públicas, houve uma sensível queda da evasão escolar, contudo, as notas escolares se mantiveram praticamente constantes.

Percebe-se que a evasão, independente de turma, série ou turno em 2008, teve uma diminuição, logo se conclui que houve uma con-cretização significativa dos objetivos do governo na implantação deste auxílio.

Pertinente ao melhoramento da educação, relacionado ao mo-delo de avaliação adotado em 2000 e 2008, não se obteve um índice de benéfico no quesito de notas, pois estas se mantiveram constantes ou com diferenças mínimas, tanto em termos globais quanto em termos individuais, considerando série e turno.

Um dado interessante é que nos resultados da disciplina Mate-mática houve uma queda do rendimento das notas, logo se perguntando: Tal aconteceu porque o número de alunos que frequentou até o término do ano letivo aumentou com a diminuição da evasão?

4.4 Aplicação de questionários

Com o objetivo de confrontar as informações quantitativas, obti-das através da aplicação do BI, aplicou-se questionários semiestruturados paras os professores, pais e alunos da escola Barbosa Romeo, os quais

91Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

possibilitam uma visão qualitativa do Bolsa-Família, sendo considerados depoentes importantes e cujas informações não poderiam ser extraídas pelo BI.

5. Considerações finais

Neste trabalho foi apresentado o BI como solução para o levan-tamento de indicadores que pudessem analisar o desempenho escolar dos alunos, num período anterior e posterior à instituição do Programa Bolsa Família. Para permitir essa análise foi feito um estudo de caso com informações dos alunos da Escola Municipal Barbosa Romeo, na qual famílias de estudantes são beneficiadas com esse programa social.

Durante o período de pesquisa e coleta de dados foram identi-ficadas algumas dificuldades como a inexistência de informações que pudessem responder aos questionamentos abordados neste trabalho, bem como o formato em que se encontravam as informações, totalmente controladas de forma manual. Essa situação exigiu a definição de uma amostra que permitisse revelar a realidade da escola e o esforço em digitar todos esses dados em formato de planilha eletrônica para permitir seu processamento numa ferramenta BI.

No intuito de ratificar os dados encontrados e as dúvidas em relação às informações (incluindo algumas inexistências de informações), foi adotada a estratégia de aplicação de questionários aos professores, pais e alunos, todos eles semiestruturados, como são os dados digitados em planilhas.

As técnicas e metodologia para a obtenção dos resultados (acima descrita) em conjunto com a aplicação do BI, resultaram no alcance de informações relevantes, analisadas na perspectiva qualitativa.

A ferramenta OLAP, usada para visualizar os dados digitados em planilhas e transformados para um modelo multidimensional, evidenciou

92 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

que a evasão caiu substancialmente e que o desempenho escolar dos alunos, no quesito nota, se manteve estável. Entre as dificuldades apon-tadas inicialmente é possível citar a inexistência da frequência escolar dos alunos, no período que antecedeu o Programa Bolsa Família, o que não permitiu responder esse questionamento a partir da ferramenta de BI.

O estudo indica que o Ministério da Educação deveria fiscalizar o tempo de permanência dos dados escolares pelas escolas, visto que não há definição nem obrigatoriedade neste sentido. Percebe-se também que essa dificuldade se dá pelo fato dos dados serem armazenado em papel e não em meio digital, o que facilitaria a forma de armazenamento e tempo de permanência dessas informações nas escolas.

É importante destacar que apenas as informações colocadas em questão na introdução deste trabalho foram focadas na análise dos resultados, porém tantas outras poderiam ser analisadas e por diversas perspectivas, dado o grande potencial de uso oferecido pelas soluções BI, e no caso específico as ferramentas OLAP.

No tocante aos questionários aplicados foi possível suprir a deficiência de dados relacionados à frequência dos alunos, pois, diante das respostas dos pais e professores, o controle quanto à permanência dos alunos se tornou maior no momento em que essa informação (a frequência) é imprescindível para a manutenção do repasse do benefício Bolsa-Famílias às famílias dos alunos. Apesar de alguns dos pais terem respondido que a educação é algo importante para o futuro dos seus filhos, infere-se a partir de fragmentos do conjunto de depoentes, que a grande maioria os obriga a frequentar por medo de perder o benefício.

Por falta de mediação no momento da aplicação dos questionários aos professores, não foi possível extrair e analisar muitas informações para este estudo, porém ficou evidente que grande parte deles considera que o programa é importante socialmente, mas que precisa de um maior ama-durecimento e acompanhamento por parte dos órgãos responsáveis.

93Uso de ferramentas BI para apoio à gestão na educaçãoIvo Chaves de França / Luciana Thais D. Costa / Lúcio Jordan N. Oliveira

O artigo se limitou em atender aos objetivos propostos, o que é ainda muito pouco diante do que pode ser analisado, tais como: propostas para continuidade do programa e/ou projetos futuros (recomenda-se a extensão desse modelo de estudo não somente para escolas, mas secre-tarias municipais e estaduais de educação). Além disso, é possível que se parta de um projeto-piloto que permita que a vida escolar dos alunos seja acompanhada com a utilização de sistemas de informação com vista à utilização de ferramentas de BI, para o apoio à gestão dos indicadores sobre outras perspectivas, além daquelas apresentadas neste trabalho.

Por fim, o estudo permitiu a conclusão de que é possível alinhar soluções tecnológicas, criadas para fins comerciais, com projetos para áreas públicas como é o caso do BI na educação. Além disso, com base nos resultados encontrados, pode-se afirmar que o Programa Bolsa Fa-mília tem se mostrado eficaz no tangente à educação, com a diminuição dos índices de frequência e evasão, concretizando o propósito de ser um agente reparador de danos sociais.

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97O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitosAndré Pedral Sampaio de Sena / Ailton Sousa Silveira Lima Junior

O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitos

André Pedral Sampaio de Sena

Ailton Sousa Silveira Lima Junior

1. Introdução

A eterna cobrança por parte dos setores produtivos pela rapidez no desenvolvimento de novos produtos tem sido um fator diferenciador das empresas mais competitivas. Portanto, novas pressões fizeram mudar o foco do trabalho fazendo com que esse fosse estruturado no formato de projetos, implicando, por consequência, em uma constante periodicidade de reorganização das equipes de trabalho, tendendo a causar um enfoque excessivo na finalização do produto em detrimento do seu processo de desenvolvimento [10].

Assim, o desempenho de uma empresa é prejudicado uma vez que se torna necessário redescobrir um conhecimento já produzido anterior-mente. Torna-se estratégico que a equipe consagre parte de seu tempo para a captura do conhecimento gerado. Com o aprendizado servindo como base para o crescimento e uma melhoria contínua, a organização ganhará a médio e longo prazo [5]. Desses processos surgem duas grandes problemáticas enfrentadas pelas equipes de automação de procedimentos das empresas modernas. A primeira é que as equipes tendem sempre a trabalhar sobre uma pressão cada vez mais crescente para construção de novos, e mais rapidadamente, de sistemas informatizados. A segunda pro-blemática surge da pouca homogeneidade dos membros que compõem as equipes, devido às constantes reestruturações dos membros que formam

98 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

sua estrutura, o que gera, por consequência, conflitos muito fortes sobre formas de abordagem do problema e os possíveis caminhos a serem se-guidos [1]. Logo, o foco principal desse estudo de caso é a utilização de uma metodologia para gestão de problemas e avaliação multicritério de alternativas aplicadas à tecnologia da informatização, principalmente no setor de automação de processos, na tentativa de construir procedimentos a serem empregados para se criar uma uniformização na transmissão de informações responsável pelos critérios de planejamento, construção e manutenção de softwares.

2. O software

2.1 Engenharia de Requisitos

Ao montar um algoritmo de procedimentos para construção de um software com a finalidade de solucionar qualquer problema de automação de processos produtivos, deve-se primeiramente obter o máximo de informações possíveis sobre o problema; essas informações serão baseadas em critérios adotados por cada equipe de montagem de sistemas que esteja envolvida com o estudo [10]. Os problemas ditos estruturados são diretamente relacionados com os modelos clássicos das diversas áreas do conhecimento (engenharia, medicina, pesquisa operacional, entre outros), cujas abordagens não levam em conta o di-namismo dos sistemas ao longo do tempo [4], nem em função da visão do usuário que irá utilizar-se desses sistemas. Com base nessa visão, os softwares teriam sempre o mesmo formato, características e estruturação. Isso implicaria que os usuários deveriam ser enquadrados em sistemá-ticas padronizadas e normalizadas, ver figura1, sempre sendo treinados ao uso dos sistemas, abandonando, assim, toda e qualquer possibilidade de alterarem ou mudarem comportamentos evolutivos da atividade desenvolvida por ele mesmo.

99O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitosAndré Pedral Sampaio de Sena / Ailton Sousa Silveira Lima Junior

Contudo, se ocorresse um procedimento que não fosse norma-lizado ou padronizado pelo sistema, o cliente praticamente pararia suas atividades aguardando soluções por parte das equipes de automação de processos, pois eles deveriam seguir à risca o sistema estabelecido para tratamento dos procedimentos, não permitindo o uso do julgamento subjetivo. A área de desenvolvimento de sistemas destinada a solucionar problemas de automação de procedimentos adotou como princípio uma sistemática baseada em entrevistas direcionadas a cada um dos possíveis usuários dos sistemas que automatizaram, evidenciando sempre o ponto de vista da informática [2].

2.2 Abordagem de uma metodologia de apoio à decisão

Como em toda abordagem de uma metodologia de apoio à de-cisão, deve-se levantar algumas questões que são pertinentes à execução da atividade, tais como: todo o sistema começa com o usuário; o usuário deve ser amparado tecnicamente por uma equipe especializada na área, mas não deve ser guiado ou ter imposto condições de trabalho, e a equipe de especialistas de automação tem que compreender a transmissão do problema para resolvê-lo. Assim, os modelos da metodologia multicritério de apoio à decisão são desenvolvidos a partir de um paradigma construti-vista onde, durante o processo de construção do modelo pelos decisores, passa-se a conhecer o problema. Desse modo, os atores do processo de apoio à decisão aprendem juntos sobre o problema enfocado. Entende-se que, dessa forma, será obtida a solução que melhor atenda globalmente aos interesses do grupo [7].

Observa-se que um processo decisório engloba relacionamentos entre elementos de natureza objetiva, próprios às ações e elementos de natureza subjetiva, próprios aos sistemas de valores dos decisores, sendo ambos indivisíveis. Então, num processo de apoio à decisão não há como negligenciar um ou o outro [9]. Com base no exposto, tem-se, para

100 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

resolver o problema, que se conhecê-lo sob a ótica do usuário. Portan-to, devem-se utilizar todas as ferramentas que permitam construir esse conhecimento. Assim, opta-se, neste artigo, pela introdução da teoria de metodologia de apoio à decisão chamada modernamente MCDA – C na fase que antecede à construção dos algoritmos de construção do sof-tware, pois essa nova metodologia permite a estruturação dos problemas reduzindo os riscos de ruídos na comunicação [3].

3. Estudo de caso

3.1 A formação do processo decisório

O processo decisório, muitas vezes, reduz-se ao ato do decisor, quando esse chega a uma conclusão final como o resultado de um longo período de reflexão, discussão, estudo, concentração, inspiração, negociação, entre outros. Esse esquema clássico é, em alguns casos, ina-propriado para muitas situações. Nessas condições, a forma mais usada para a tomada de decisão é baseada na intuição, o chamado julgamento intuitivo, onde a análise dos vários constituintes do problema não é feita de forma organizada. Logo, o resultado que constitui o ato da escolha final não engloba mais do que uma parte daquilo que é realmente a decisão global. Frequentemente, esse processo não passa, simplesmente, de uma ratificação de decisões anteriores. Pode acontecer também que a decisão sofra hierarquizações, divisões de elementos parciais cujo con-junto constituirá o todo [3], [10].

Por ser uma atitude corriqueira, supõe-se que o procedimento de tomar uma decisão seja algo simples e natural e que o ser humano o faz de maneira totalmente consciente. Isso ressalta que muitas decisões acontecem de forma aparentemente natural, em função de sua ocorrên-cia rotineira, podendo-se atribuí-las a uma reação bem treinada em que as pessoas aplicam respostas habituais. Contudo, em muitas situações,

101O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitosAndré Pedral Sampaio de Sena / Ailton Sousa Silveira Lima Junior

isso não ocorre, ou seja, as decisões não são corriqueiras, por exigirem certas competências de quem as toma, desencadeando consequências importantes tanto a nível operacional como estratégico [3].

Uma situação que demanda uma decisão, ou seja, processo deci-sório apresenta-se quando existe um diferencial de desempenho sobre um determinado status quo dos elementos que, em outras palavras, pode-se chamar de problema. A diferença entre a realidade e o desejo de alguma pessoa em relação a uma situação é uma forma de se caracterizar a pala-vra “problema”. De forma geral, as situações decisionais manifestam-se de duas formas distintas: complexas e simples. Segundo Ensslin [10], uma situação decisional simples é aquela que se apresenta com certo grau de facilidade para sua resolução, isto é, não exige maiores esforços para atendimento e busca de alternativas de solução, envolvendo poucas variáveis e decisor único com objetivos e contexto bem definidos. É o tipo de problemática que ocorre, por exemplo, quando de um atendi-mento clínico. Assim, uma situação decisional complexa envolve vários grupos de decisores com diferentes relações de poder, valores e objetivos múltiplos e conflitantes. Quando ocorrem tais condições, as alternativas viáveis não podem ser facilmente encontradas, exigindo-se um grande esforço para sua solução. A própria ideia de tomada de decisão sugere a necessidade de se considerarem múltiplos aspectos de realização de uma combinação bem sucedida de desempenhos [3].

3.1.1 O esquema geral do processo decisório

Os vários estágios do processo de tomada de decisão estão mu-tuamente ligados, uma vez que o contorno das soluções depende dos objetivos pretendidos na decisão. Por outro lado, as realizações e as metas desejadas não podem negligenciar constatações do ambiente em que se inserem os problemas [3]. Portanto, o estágio de avaliação desempenha um papel central em problemas multi-objetivos, uma vez que a forma

102 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

como é delineado o problema de avaliação pode afetar os demais estágios do processo decisório.

A estratégia de avaliação afeta a estrutura do problema, a escolha de alternativas apropriadas, a mensuração dos desempenhos, a contribui-ção dos valores e a natureza da solução sugerida para o mesmo. Assim, uma avaliação insuficiente do problema pode gerar conclusões insatis-fatórias e um apoio à decisão inadequado, e pode ainda determinar um uso ineficiente de recursos e da informação para a decisão e comprometer os resultados dos outros estágios da tomada de decisão [9]. Contudo, a avaliação está baseada no processo de estruturação que, notadamente, se forma na identificação dos valores dos decisores e em sua compreensão para, a partir daí, construir o modelo de avaliação e gerar as ações. Sendo assim, as fases de estruturação e avaliação estão intimamente ligadas.

3.1.2 O apoio à decisão

Um processo de apoio à decisão é um sistema aberto composto por atores (com os seus valores e objetivos) e as ações (com suas caracte-rísticas). Pode-se observar, então, a atividade de apoio à decisão como um processo de interação com uma situação problemática mal estruturada, onde os elementos e as suas relações emergem de forma mais ou menos caótica. Nesse contexto, a atividade de apoio à decisão não representa uma realidade exterior e pré-existente, mas se insere no processo de deci-são e visa a construção de uma estrutura partilhada pelos intervenientes nesse processo (fase de estruturação) para, posteriormente, construir um modelo de avaliação (fase de avaliação) ao seguir uma abordagem de aprendizagem construtivista [3].

Para compreender a complexidade de uma situação em que se pre-tende intervir, torna-se necessário começar pela análise e caracterização do problema em causa e pelo estudo de dois subsistemas inter-relacionados no todo do processo decisório, que envolve o sistema dos atores e das

103O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitosAndré Pedral Sampaio de Sena / Ailton Sousa Silveira Lima Junior

ações. É da interação com e entre esses dois subsistemas que surge, pouco a pouco, a base estrutural dos elementos primários de avaliação. Alguns, como as normas e as metas (ou fins a atingir) dos atores, têm uma natureza intrinsecamente subjetiva, porque são próprios dos sistemas de valor dos atores [8]. Quando os decisores percebem que existe a possibilidade de realizar algo, um processo de tomada de decisão se instala. Portanto, na instalação dessa necessidade, os problemas se apresentam, inicialmente, de forma muito vaga, obscura e mal definida aos olhos dos decisores. Como consequência, apresentyam-se dificuldades para compreender a situação, e não se consegue visualizá-la de forma perfeita e clara, nem mesmo se consegue encontrar as inter-relações e incompatibilidades que o problema incorpora. Assim, os decisores não conseguem estruturar seus próprios raciocínios, avaliar seus valores e nem as metas que almejam alcançar para tomada de decisões. Essa situação permite a formação de um quadro inicial de complexidade extrema, a qual se confronta com pontos de vistas contraditórios devidos, sobretudo, a dois fatores ine-rentes ao processo de decisão: a busca pela objetividade nas decisões e a presença da própria subjetividade dos decisores.

Para auxiliar na tomada de decisão, deve existir uma atividade de apoio à decisão, que ajuda a esclarecer e a orientar os decisores durante esse processo. Essa atividade de apoio insere-se no processo de decisão e segue uma abordagem construtivista de aprendizagem, ao elaborar um modelo de decisão que evolui no decorrer do processo. Através dela, observa-se que tal atividade de apoio à decisão mantém, num formato claro, alguns dos seus elementos que justificam a sua existência, tais como: os atores envolvidos na problemática, seus valores subjetivos, as metas a serem alcançadas, as atitudes tomadas e suas repercussões. O apoio à decisão, em momento algum, pode assumir uma postura normativa [6].

A atividade de apoio à decisão baseia-se em técnicas mais ou menos formalizadas, tendo em vista a elaboração de procedimentos que indiquem o mais claramente possível as questões que se apresentam a um

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ou a vários dos atores no curso de um processo de decisão. O que está em causa no processo não tem uma caracterização estática e impessoal. Pelo contrário, a evolução, ao longo do processo é contínua e não poderá ser dissociada do ambiente em que está inserida, do contexto próprio de cada um dos seus estados de desenvolvimento e das motivações próprias de cada um dos atores. A composição desse quadro permite vislumbrar que o apoio à decisão é a atividade de alguém, facilitador, cujo papel é garantir a formação da estrutura do contexto decisório, principalmente no reconhecimento dos valores do(s) decisor(es), bem como esclarecer e modelar o processo de avaliação e/ou negociação referente à tomada de decisão.

A intervenção técnica do facilitador pode assumir vários formatos, desde a realização de um estudo preparatório ou paralelo, cujo espaço de interação com o processo de decisão é constituído por momentos de contato ao longo do tempo, até uma interação contínua e uma inserção total. Para os cientistas clássicos dos estudos da decisão, a afirmação decidir é resolver o problema.

3.2 A abordagem Construtivista

A ideia do construtivismo é a de integrar a perspectiva de que as decisões são a tradução dos valores do decisor com a necessidade de uma interação que efetive a comunicação e a participação, em todas as fases do apoio à decisão, e que leve ao grupo um crescente nível de conhecimento e domínio a respeito da situação.

Dessa forma, uma abordagem construtivista une os paradigmas da aprendizagem, condução de um estudo de apoio à decisão. A construção que é dada a uma determinada problemática não pode ser edificada, unicamente, em valores objetivos e deverá ser um processo progressi-vo de interação entre os atores do processo, que impõem a ordem ao problema na medida em que o estudo avança. Pressupõe-se ainda uma

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atitude crítica sobre os instrumentos de estruturação que serão utilizados no estudo e que as hipóteses sobre os métodos de trabalho, durante o processo de apoio à decisão, sejam baseadas na convicção construtivista. Essa proposta permite serem levados em conta os aspectos subjetivos de um grupo de decisores ou de uma associação de decisores, entre os quais existem situações de conflito de relação [3].

O paradigma da aprendizagem aparece do entendimento de que o processo de apoio à decisão é enriquecido pela atuação dos facilitadores e pela construção do conhecimento que ocorre no decorrer da problemá-tica. Para se alcançar esse objetivo, far-se-ão necessárias a simplicidade e interatividade como elementos virtuosos a serem buscados, bem como a postura neutra assumida pelo facilitador frente ao processo. Um dos principais elementos-guias da atuação dos trabalhos na área de apoio à decisão é o reconhecimento de que a tomada de decisão pode trazer, em si, resultados da cognição incorporados aos valores do(s) decisor(es). Com base nesses aspectos, deve-se entender que a abstração de tais valores, inerentes ao ser humano, quando submetidos por uma análise objetiva dos problemas, impõe limitações, fazendo com que a análise da situação seja formulada numa formatação incompleta.

Através do foco abordado, ficam evidenciados alguns aspectos que deixam claro a linha limítrofe da adoção da objetividade nos processos decisórios, fatores que se caracterizam pela considerável interação existen-te entre os elementos objetivos e subjetivos que atuam, principalmente, no decorrer de um processo decisório. Portanto, a impossibilidade de considerar a negação da importância dos fatores subjetivos e deixá-los à parte na tentativa de usar uma abordagem totalmente objetiva. Tomar o caminho do construtivismo consiste em levar em conta todos os con-ceitos, modelos, procedimentos e resultados obtidos como bases capazes, ou não, de permitir acessos, o que os tornam apropriados para organizar ou impor o desenvolvimento a uma situação [3].

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Os conceitos, modelos e procedimentos devem ser vistos como ferramentas justificáveis para progredir o processo de comunicação na análise. A meta não é descobrir uma verdade absoluta, que seja externa aos atores envolvidos no processo, mas desenvolver um conjunto de es-truturas básicas que poderá permitir o acesso a portas mentais dos atores e, por consequência, os levará a progredir em concordância com os seus objetivos e os sistemas de valor [7]. A abordagem construtivista tem na sua essência a construção da aprendizagem como parte da participação no processo, além de ser o elemento propulsor do procedimento de análise da tomada de decisão. Em todas as etapas da decisão, percepções, julgamentos sobre a realidade, ações e fatos, elementos que compõem as concepções dos decisores devem ser colocados em discussão e análise. Isto só será possível à medida que exista um processo participativo de todos os envolvidos que interferem sobre a situação ou sistema em observação.

A transformação de uma realidade para um estado desejado só é possível devido à dependência do grau de sinergia dessa ação, cujo proces-so de formação do conhecimento poderá ser agregado a nível individual e equalizado aos demais decisores. Portanto, a maneira com que cada ator contribui para o processo de análise e construção do sistema é, no seu desenvolvimento, mais enriquecedor, viabilizando que o processo de aprendizagem se torna a via para a identificação correta do problema e para as mudanças requeridas na situação. A abordagem construtivista possui algumas características intrínsecas e inter-relacionadas que a iden-tificam como elemento de suporte à decisão. Diante do apresentado, e levando-se em conta o fato de que atividade de apoio à decisão se pro-cessa de forma contínua e interativa, o que a torna recursiva e dinâmica, pode-se concluir que o processo de tomada de decisão não pode seguir uma sistemática linear e sequencial, ou seja, a maneira de conduzi-lo deve ser dinâmica e cíclica [6].

107O uso de sistemas de apoio à decisão na gestão de sistemáticas de engenharia de requisitosAndré Pedral Sampaio de Sena / Ailton Sousa Silveira Lima Junior

3.3 Mapas cognitivos para definir problemas

Existe um reconhecimento por pesquisadores de processos de decisão sobre a importância da percepção e o papel da cognição dos atores em um processo de tomada de decisão. As informações, existentes no meio ambiente, são interpretadas e percebidas de maneira diferente por cada indivíduo, porque cada um possui seus próprios esquemas antecipatórios de percepção fazendo com que explore essas informações de forma diferente [3].

Assim, a situação em que se encontra um determinado ambiente devido a certos acontecimentos, em uma determinada faixa de tempo, pode ser interpretada por um indivíduo a como sendo de importância extrema, ou seja, é um problema sério. Para outro indivíduo a’, que está dentro do mesmo contexto do indivíduo a, a situação representa muito pouco (é um problema sem muito impacto para seu sistema de valores, portanto, sem muita importância) e mesmo para um terceiro indivíduo a’’, a situação, naquele momento, pode não ter impacto algum, ou seja, para o indivíduo a’’ o problema pode simplesmente não existir (apesar de ele estar no mesmo local e tempo onde ocorrem as circunstâncias que levam ao indivíduo a ter uma outra percepção) [3].

O problema básico aqui tratado seria: A falta de uma estrutura confiável para servir de guia para transmissão do problema entre o(s) usuário(s) e a equipe de análise, necessário ao desenvolvimento de um software. Logo, ele será tratado como a situação onde os decisores desejam que o tratamento dispensado seja diferenciado. O problema não pode ser enfocado como uma entidade física, nenhuma situação é inerentemente ou objetivamente [3].

Portanto, ele precisa ser expresso verbalmente. Mas, para o enten-dimento do problema, deve-se tentar representá-lo numa forma gráfica interpretável por qualquer decisor. Surge, assim, o mapa cognitivo, que

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pode ser definido como uma representação cognitiva quádrupla, defasada no tempo [3]. Mas não se encara aqui o mapa como um modelo de cog-nição que permita a descrição e a predição do pensamento do decisor.

Logo, não se deve fazer uma correspondência direta entre o mapa e os pensamentos do decisor. Esse processo é um dos benefícios do uso dos mapas cognitivos, a sua característica reflexiva, pois permite ao de-cisor aprender sobre o problema com o qual se defronta. O mapa é uma ferramenta de negociação, pois ajuda o decisor a negociar sua percepção e interpretação do problema. Os mapas cognitivos são grafos onde cada conceito é considerado um nó e onde uma relação causal, ou relação de influência, é uma ligação. Eles têm uma estrutura hierárquica na forma de meios/fins que pode, por vezes, ser quebrada devido a laços fechados formados entre os nós [3]. Quando os mapas são formados por um nú-mero elevado de nós e, portanto, tornam-se relativamente complexos, surge à necessidade da identificação de características estruturais que permitam sua análise. Suas propriedades devem ser de preferência defi-nidas analiticamente ao invés de intuitivamente. A análise pode levar em conta os seguintes aspectos dos mapas: complexidade cognitiva, clusters, forma, circularidade e simplificações. Um mapa cognitivo causal é uma hierarquia de conceitos, relacionados por ligações meios e fins. Sendo assim, a construção de um mapa cognitivo fará o decisor explicitar seu sistema de valores, através de conceitos superiores na hierarquia, bem como poderá fornecer um conjunto de ações potenciais [3].

4. Considerações Finais

À medida que a tecnologia de informação evolui, novas opor-tunidades têm surgido, criando a possibilidade da melhoria do tipo de apoio que ela pode dar à atividade gerencial. O principal objetivo continua sendo a de expandir a capacidade do usuário, expandir sua capacidade de transmissão de informações, que é limitada. À medida

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que cresce a evolução tecnológica, a metodologia de multicritério de apoio à decisão pode dar uma contribuição importante para ajudar a vencer essa problemática, pois o tratamento de informações pontuais dá lugar ao tratamento, e a análise de informações agregadas permite elevar o nível de visão que o administrador tem sobre o problema em análise. A possibilidade de tratamento de uma série de informações pode, eventualmente, trazer uma maior compreensão dos problemas e das necessidades da empresa, levando, por outro lado, o administrador a ter uma visão mais ampla do seu ambiente, podendo tomar decisões mais conscientes e mais satisfatórias.

Sob a ótica da inovação no campo da tecnologia da informação, a metodologia utilizada apresentou uma forma estruturada e coerente com o pensamento dos decisores para a operacionalização dos aspectos de otimizar a transmissão da informação, através de mapeamentos cognitivos do problema e os critérios que os norteiam. E isto foi possível por se uti-lizar uma abordagem construtivista, cujo aprendizado é o resultado mais importante. A situação inicial do problema se apresentava como nebulosa para os decisores quando da aplicação dos primeiros procedimentos de estruturação. O mapa cognitivo teve como função extrair dos decisores os conceitos mais importantes ligados ao assunto e o ordenamento quanto ao nível de importância desses conceitos, ou seja, quais representavam questões mais estratégicas e quais representavam ações, ou os meios, para obtenção dos objetivos desejados.

Por se tratar de uma primeira aplicação do mapeamento cognitivo, nessa área, para a construção de um sistema confiável de transmissão de informação, houve um grande número de indagações devido à pouca prática no uso dessa nova tecnologia, que os decisores não conseguiam entender plenamente o seu uso e se desassociar de várias práticas antigas. Isso tudo permite concluir que, sob a ótica da estruturação, o problema pode ser construído de diversas formas, de acordo com os valores e per-cepções dos decisores para cada finalidade. A estruturação é um processo

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sem fim, uma vez que a abordagem construtivista permite aos atores uma compreensão melhor do problema a cada etapa do processo, mesmo após a apresentação dos resultados da avaliação.

Algumas questões que chamaram atenção do autor merecem destaque como recomendações e/ou sugestões, no intuito de aprofundar a questão estudada:

a primeira diz respeito à utilização da abordagem constru-•tivista para o aprimoramento dos sistemas de tratamento e transmissão das informações;

a segunda refere-se ao desenvolvimento de novos trabalhos •com a aplicação do modelo construído, porém, utilizando-se dos conhecimentos de especialistas em cada área de interesse, com o propósito de ampliar o significado dos critérios utili-zados para a operacionalização.

Os principais autores da área de desenvolvimento de sistemas e de banco de dados, que tratam do enfoque sistêmico, não abordam a pro-blemática do desempenho das partes, pressupondo necessariamente uma qualidade intrínseca no funcionamento de cada parte. Mas, na prática, isto nem sempre é verdadeiro. Isso motiva também os gestores a controlar o desempenho das partes mais críticas dentro de uma organização. Ainda que seja sempre desejável construir entre os gestores uma visão compar-tilhada da organização em relação às suas necessidades, limitações e os fatores críticos para o sucesso, a perspectiva individual dos gestores não pode ser eliminada. Esse é, provavelmente, um dos pontos mais críticos nesta proposta. É crítico, uma vez que não existe um referencial externo que possa ser usado para dirimir conflitos decorrentes da perspectiva e interesses individuais. Em outras palavras, um referencial independente que garanta a cada gestor de forma clara e inquestionável que a escolha de uma ação resultará na melhoria do sistema. Essa situação decorre do fato de não ter sido incluído, nesta proposta, um mecanismo (aceito

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pelos decisores) que permita estabelecer algum tipo de fatores de escala (ou taxas de compensação) entre todos os critérios identificados da des-crição do problema.

A adoção de uma abordagem construtivista e participativa tam-bém pressupõe que a área em estudo adote um determinado tipo de gestão que valorize esse tipo de enfoque. Nas áreas onde existe uma gestão de sistemas autocrática, obviamente esse tipo de abordagem não seria possível de ser adotada. O fato de não ter sido geradas ações de recomendação, próprias dos trabalhos desenvolvidos com a metodologia MCDA-C, não é uma lacuna neste trabalho. Resulta dos modelos serem descritivos, tendo como objetivos principais à compreensão e ao entendimento da situação problemática. Todas as ações de melhoria deverão resultar, portanto, da compreensão, posterior discussão e acordo entre os decisores.

A função aditiva usada como base para a modelagem das per-cepções e preferências de cada decisor tem somente utilidade parcial na identificação de oportunidades de melhoria. Como já foi comentado, a modelagem proposta revelará uma melhoria de forma clara para todos os decisores somente nos casos em que uma ação considerada domina todas as demais e tem um efeito positivo em todos os modelos individuais. Fora dessa situação a modelagem proposta não dá um suporte matemático para avaliar os trade-offs (ou compensações) entre todos os critérios [3]. Como já fora identificado nos trabalhos sobre apoio à decisão, trabalhar no paradigma construtivista não possibilita a repetitividade dos experi-mentos. A incorporação dos elementos subjetivos dos atores (decisores e facilitador) na modelagem, que é considerado justamente uma virtude, quando se trata de problemas de desenvolvimento de software, elimina tal possibilidade. No entanto, diante dessa situação buscou-se detalhar todos os passos e critérios adotados para a formulação do problema com esta metodologia e na avaliação dos resultados.

A visão sistêmica do problema de desempenho que resulta do

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entendimento de uma visão conjunta das visões associadas a cada ges-tor, ficou prejudicada pelo tamanho da descrição final. No entanto, a simplificação da visão da complexidade de um software (se isto pode ser admitido), pode comprometer a qualidade da descrição. Simplificações podem resultar numa imagem distorcida daquilo que se quer compre-ender.

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115O que vem pela frente? Experiência, Gestão da Informação e Pessoas – Tensões não resolvidasEmanuel José Rebouças Ferreira / José Emanuel Rebouças Ferreira

O que vem pela frente? Experiência, Gestão da Informação e Pessoas – Tensões não resolvidas

Emanuel José Rebouças Ferreira

José Emanuel Rebouças Ferreira

1. Introdução

No livro Gestão Estratégica – uma visão multidisciplinar foi apre-sentado o artigo O que vem pela frente? Gestão Estratégica – é preciso entender que nele foi enfatizado o desafio enfrentado pelas empresas frente às novas demandas de modernização do seu sistema de negócios, caracterizado pela fragilidade do sistema educativo, demonstrando morosidade na adequação da mão-de-obra às novas tecnologias. Já no livro Experiência sobre GESTÃO – um enfoque multissetorial, com o tema “O que vem pela frente? Experiência, Gestão da Informação e Pessoas – Tensões não resolvidas” é dada ênfase ao uso das tecnologias da informação e suas consequências. Um tema recorrente que exige das organizações em uma sociedade global um replanejar contínuo, uma empresa aprendiz, viva, voraz, capaz de se adaptar rapidamente aos multidesafios da sociedade.

Nesse dilema, as empresas precisam encontrar soluções para pro-blemas que variam conforme a sua época e são várias as épocas vividas em uma mesma época, pelas muitas sociedades espalhadas pelo mundo, porém unidas pelas tecnologias da informação. Mundos múltis em tudo: na cultura, na religião, na política, nos conceitos e necessidades, que exigem um arrazoar diferente, um raciocinar com enfoque multis-setorial capaz de interligar todos esses mundos em um só. Mundo de multiusos, de muitas informações, de tensões não resolvidas com uma

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contemporaneidade complexa, característica de uma sociedade global, cuja informação, há muito, substituiu o trabalho e o capital, como fonte de riqueza, e o conhecimento ganhou status de poder e de prover vantagem competitiva.

Na economia da sociedade “do conhecimento” ou “da infor-mação” (Zabot; Silva, 2002, p. 11) enfatiza que o grande diferencial competitivo das empresas e dos países deixou de ser a mão-de-obra ou os recursos naturais, para centrar-se na capacidade de gerar conhecimento e produzir inovação. Drucker (2001, apud LARA, 2005, p. 29) apresenta as principais divergências entre a era industrial e era do conhecimento com a afirmação de que “[...] A ‘sociedade do conhecimento’ difere fundamentalmente da era industrial porque os recursos não são mais materiais, mas intelectuais”.

Fleury; Wanke & Figueiredo (2000, p. 37) consideram que “[...] na economia baseada no conhecimento, o que mais adiciona valor são as atividades inteligentes”. Segundo Davenport; Prusak (1998); Prahalad; Hamel (1998), o que uma empresa coletivamente sabe, a eficiência com que ela usa este conhecimento e a prontidão com que ela adquire e usa novos conhecimentos caracterizam a única vantagem sustentável que a empresa possui. Estudos apresentados por Bartolomé (1999), no entanto, indicam que a maior parte do que se sabe não é utilizado.

Na abordagem moderna, o conhecimento torna-se o recurso mais importante na Era da Informação e passa de auxiliar do poder monetário e da força física a sua própria essência (TOFFLER apud NONAKA; TAKEUCHI, 1997, apud ZABOT; SILVA, 2002). E sendo o conheci-mento fundamental, a chave para o desenvolvimento e fonte essencial de vantagem competitiva é a produtividade do conhecimento.

Diante dessa tensão, é preciso fugir da tentação de considerar as ideias e soluções como algo definitivo. Antes, é prudente reunir elementos de diferentes fontes, esquadrinhar o conhecimento com a perspectiva

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de ele auxiliar o gestor na construção de uma estratégia flexível, capaz de fundir múltiplas ideias e soluções, mesmo não compatíveis, em ações exequíveis, apropriado de integrar o todo em um. Para tanto, é impe-rioso fazer as perguntas certas, o que muitas vezes é mais difícil do que encontrar as respostas. Nesse enfoque multissetorial e global de tensões não resolvidas, o uso da informação aliado às novas tecnologias se torna elemento-chave para o sucesso das organizações e daquele profissional frente aos desafios do mundo moderno.

Aquilatar a informação é um desafio que oferece certa dificuldade em ser exercida, pois não está diametralmente ligada à mesma, e sim aos efeitos dessa ação e àqueles que a operam uma visão multidisciplinar. As organizações contemporâneas dependem de uma multidisciplinaridade para continuar a aprender, renovar e agregar conhecimentos a seus pro-cessos, enfim, melhoria contínua. O importante aqui é a busca incansável de formas diferentes de fazer a mesma coisa para atender uma sociedade global em suas múltiplas necessidades.

Na sociedade global, as Tecnologias da Informação, nos últimos tempos, têm facilitado essa prática, redesenhando o comportamento das empresas e da sociedade. Novos hábitos são criados a todo instante, com novas estruturas de comportamento. A evolução das Tecnologias da Informação representa um marco no segmento de oferta de serviços e construções de estratégias inovadoras, numa tentativa de minimizar tensões não resolvidas.

2. A sociedade global: tensões não resolvidas

Loermans (1999) no ensaio Measuring the Effectiveness of Kno-wledge Managements Initiatives: Preliminary Research Challenges and Issues, diz que tem havido uma demanda crescente das organizações em se adaptar mais rapidamente às mudanças do mercado e da economia global. Nesse ambiente, o conhecimento tem emergido como a única

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maneira sustentável de vantagem competitiva e a fonte primária de cria-ção de riqueza (DRUCKER, 1998; DAVENPORT; PRUSAK, 1998; STEWART, 1998 e outros).

O pressuposto desenvolvido neste tópico argumenta que há uma ocorrência generalizada de tensões, próprio da Era do Conhecimento, em níveis nunca dantes observados permeiando as empresas e a socie-dade. Essas pressões acima são transferidas às pessoas que trabalham no contexto da informação de uma organização. Conhecer as pressões sobre o pessoal envolvido nesse processo, no que diz respeito à relação homem-informação, é fator de sucesso.

Foi contextualizado que, nos tempos atuais, observam-se tensões não resolvidas, na sociedade global; em razão de:

as rápidas mudanças decorrentes dos avanços tecnológicos e _informacionais;

as organizações ou empresas não vêm acompanhando a di- _nâmica das mudanças;

a não adequação oportuna causa elevada exposição ao risco e _às incertezas econômicas; pela exigência capitalista em termos da sobrevivência competitiva das empresas e do emprego.

Nesse enquadramento, conquanto se busque o bem-estar nas sociedades, observa-se que permeia, em nível de sociedade, em nível de organizações e mesmo entre os homens um “estar tenso”. A essa ordem de coisas, a lógica presidida pela competitividade impõe mudanças es-truturais na organização social, entre elas, a exigência do estar sempre atualizado nos processos tecnológicos e uso da TI. Bech (2002, p. 4) a define pela probabilidade de ocorrerem danos físicos resultantes de processos tecnológicos ou outros.

Como consequência desses riscos e incertezas, as sociedades, as

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empresas e o próprio homem são permeáveis às tensões. A ideia de igual exposição a tensões, pela sua sustentabilidade, é um denominador comum nas sociedades contemporâneas.

Este contexto multidisciplinar da mudança tem os seguintes ato-res: inovação tecnológica, novos atores estratégicos, turbulências políticas, privatizações, desregulamentação e a crescente sofisticação dos clientes. Em consequência, observa-se que o mundo está em mudança, o Estado está em contínua transformação e as organizações estão em processo de adaptação permanente.

De acordo com Porter (1999) no livro On Competition, uma em-presa, em seu posicionamento competitivo, está sempre exposta à ameaça de novos entrantes e seus retornos financeiros ficam na dependência de barreiras de entrada e barreiras de saída. Por sua vez, o ambiente impõe à empresa e às pessoas uma série de ameaças, as quais, ao examinar a chamada “Sociedade Global”, dado que o ambiente globalizado é tenso, vive sob tensão.

As pressões sobre as organizações para melhorar sua performance podem ser categorizadas pelos seguintes tensores (Macintosh, 1998): incremento crescente na competitividade do mercado, incremento na taxa de inovação, incremento no foco de criação de valor para o consu-midor, redução no tamanho da força de trabalho que detém conheci-mento crítico, cada vez menor tempo disponível para uma organização experimentar e adquirir conhecimento, incremento na mobilidade da força de trabalho e mais cedo a idade de aposentadoria, incremento na complexidade da gestão de processos, mudanças frequentes na direção da estratégia corporativa, volumes crescentes de dados e informações, em modo físico e eletrônico.

Esses tensores são transferidos às pessoas que trabalham no contexto da informação de uma empresa, principalmente, pelo desafio de transformar essa informação em conhecimento, capaz de conduzir

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as estratégias. Reconhecer e tratar as tensões sobre o pessoal envolvido nesse processo é o um desafio a ser vencido. A maior parte das pessoas se sente atordoadas por excesso de informação, sem tempo de ler o que deveria, sufocadas pela avalanche que chega via jornais, rádios, TV, fax e Internet. Estatísticas mostram que o volume de informação dobra a cada 72 horas. Os avanços tecnológicos no dia-a-dia das pessoas impõem uma nova modernidade de tensão provocada pela dependência cada vez maior da tecnologia.

3. Experiência, gestão da informação e pessoas – o que vem pela frente?

Para Chiavenato (2000), existe uma grande diferença entre geren-ciar pessoas e gerenciar com pessoas. No primeiro caso, as pessoas são o objeto da gerência, são guiadas e controladas para alcançar determinados objetivos. No segundo caso, as mesmas são o sujeito ativo da gerência, são elas que guiam e controlam para atingir os objetivos da organização e os objetivos pessoais. Neste ponto se identifica a maior dificuldade de uma organização em conduzir modelos de gestão, que mantenha a sua força de trabalho atuando de forma eficaz e motivada.

Aspectos subjetivos que, nos últimos anos, têm levado as orga-nizações a sofreram consideráveis transformações estruturais e culturais que se acumulam à medida que a informação ganha status de serviço pessoal; que se expande pela habilidade e vontade de aprendizagem; que abrangem posições e movimentos. Desviando-se do material, do local, dos produtos, da tecnologia e se alinha nas pessoas. A sobrevivência no ambiente empresarial está cada vez mais condicionada à capacidade da empresa em atualizar e proteger a sua informação.

A tensão diz respeito à maneira como as pessoas se relacionam com a tecnologia, relacionamento cada vez mais frequente na sociedade global.

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Estudos realizados por Brod (1984) vêm identificando que o computador pode afetar as pessoas insidiosamente de várias maneiras. A tensão é causada por uma incapacidade de lidar com as novas tecnologias, causada por uma inabilidade para conviver com as novas tecnologias de computador.

Em muitos casos, a própria organização também se torna tensa. Muitas vezes, o funcionário de nível mais baixo na hierarquia ao Chef Executiv Officer (CEO) sente aflições quanto ao seu efeito nos empregos e expectativas (SILVA, 2005, p. 42). Neste sentido Weil e Rosen (1997, p. 178) esclarecem:

A onipresença da tecnologia, as rápidas mudanças em sistemas e máquinas e as inquietudes sobre a se-gurança no emprego têm provocado generalizada an-gústia tecnológica. E como a ansiedade interfere com a habilidade de concentração, a tensão pode tornar os trabalhadores menos produtivos, menos eficientes e menos satisfeitos com o seu trabalho. É um círculo vicioso. De tensão não resolvida.

De um lado, de acordo com Mcgee; Prusak (1994), a tecnologia da informação, na gestão da informação, pode ser um fator importante no aperfeiçoamento do uso da informação, mas facilmente poderá se transformar num peso morto, inútil, sem a informação e os seres humanos usuários. Do outro, as organizações precisam aprender continuamente, isso implica em adquirir novas capacidades, desenvolver conhecimento específico (focado em negócios), idealizar produtos e serviços inovadores e estender por longas distâncias a sua teia de relações sociais (GANESH; ZAVERI, 2001).

Tais fatores vêm gerando uma mudança radical de comporta-mento por parte das organizações, um estar tenso, principalmente pelo

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fato da informação ter características multidisciplinares e vir em um cres-cente, representando percentual de valor significativo nas estruturas das empresas. Também pelo fato de apresentar um caráter pessoal, exigindo das empresas uma equipe atualizada, capaz de responder aos desafios impostos pela sociedade no uso das Tecnologias da Informação.

Ansoff (1990), Barcellos (2001), Chiavenato (2000) demonstram que o gerenciamento da tecnologia da informação é cada vez mais com-plexo devido não somente à diversidade das alternativas tecnológicas, mas, principalmente, à importância desse recurso para a transformação organizacional e também para se atingir grandes objetivos organizacio-nais. Na atividade das organizações, inserem-se diversos componentes que podem ser previstos, imaginados e projetados. Faz parte do pensamento estratégico o elemento surpresa que os componentes da organização ou de seu ambiente trazem consigo e que são impossíveis de detectar, analisar e controlar.

Deve-se ter em mente que a forma de conduzir a solução de pro-blemas exige a definição de modelos claros, transparentes e dinâmicos, exige experiência, saber direito o que efetivamente considerar (gestão da informação) dentro do contexto do negócio; que as consequências para a empresa, normalmente, são a perda de tempo, mau emprego dos recursos e, naturalmente, aumento dos custos, ocasionados pela insatisfação e desmotivação dos envolvidos (pessoas).

Para Stair e Reynolds (2006, p. 6), “[...] um gerente eficaz em qualquer área de negócios deve entender que as informações são um dos recursos organizacionais mais valiosos e importantes.”. Como recurso, a informação deve ser trabalhada e estruturada para chegar na quantidade exata e no tempo certo para que humanos usuários sejam produtivos. Uma Gestão do Conhecimento demanda informações e processos que contextualizem os desafios e as quebras de paradigmas, no cenário atual do século XXI.

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4. Considerações finais

Para Castells (1999), o que caracteriza a atual revolução tecno-lógica não é a centralidade de conhecimento e informações, e sim um ciclo de realimentação cumulativo entre inovação e seu uso. Devido ao constante volume de informações, que são difundidas pelos seus meios, surge então a necessidade de melhor gerenciamento dessas informações, de forma que as mesmas possam contribuir para melhor gestão do co-nhecimento nas empresas.

Assim, o homem, em sua relação com o computador, necessita ser hábil nas funções inerentes do profissional da tecnologia informa-cional: observação/percepção, memória (informação), interpretação (identificação/diagnóstico), escolha (planejamento/tomada de decisão) e execução de um plano de ação. As categorias das funções do profissional das tecnologias informacional mencionadas não são descritas aleatoria-mente e devem refletir o consenso geral das características da cognição humana nos estudos em cibernética (ASHBY, 1956) e no contexto da modelagem do desempenho humano no processamento da informação (CARD; MORAN; NEWELL (1985); RASMUSSEN (1986); VER-GARA (2005)).

Nessa trajetória, o elemento-chave, na criação de um diferencial competitivo, pode-se dizer que está na multidisciplinaridade Experiência no uso de TI, na Gestão da Informação e nas Pessoas; significa oferecer atividades e recursos que levam a uma aprendizagem contínua a qual-quer hora e em qualquer lugar. Pode-se inferir, a partir desse raciocínio, que o mundo, apesar de obter cada vez mais vantagens com o uso da tecnologia da informação no ambiente de negócio, o mesmo pode não estar acontecendo com as pessoas dentro desse mundo dos negócios. A exigência de crescer e de reagir às ameaças ao ambiente tem levado as organizações a investirem em tecnologia da informação numa tentativa de alinhar suas estratégias de negócio à necessidade de uso de sistemas

124 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

de informação que incorporem vantagens à empresa e ao seu cotidiano. Neste cotidiano, a busca tem conduzido a um estado de pressão, a ten-sões não resolvidas.

Por isso, é que cada vez mais os profissionais da tecnologia infor-macional têm que ter a capacidade de reconhecer essas descontinuida-des iminentes e de serem inovadores para dar a solução aos problemas vivenciados, no intuito de vencerem as barreiras a eles impostas e de ajudarem a empresa. Esta, por sua vez, tem demonstrado que não con-segue se estruturar adequadamente para vencer mudanças recorrentes, vindas dessa sociedade de múltiplas necessidades, de exigências crescentes, estressora, agravada por crises econômicas, que impõem um sacrifício a todo o conjunto da sociedade. Se não percebidas em tempo hábil, as descontinuidades são capazes de transformar competências essenciais em rigidez insensível, ocasionando prejuízos à empresa e aos profissionais.

Se colocar a ênfase na tecnologia, novas competências precisam ser adquiridas para o aproveitamento de oportunidades que surgem inesperadamente. Sobre esse olhar, no contexto de rivalidade entre os profissionais, as descontinuidades os forçaram a prospectar as novas tecnologias, implicando que terão de se preocupar com culturas, pers-pectivas comerciais e habilidades diversas. Assim, tarefas tidas sobre controle estão o tempo inteiro sendo reescritas a partir da utilização das novas tecnologias da informação, que terão de ser incorporadas de forma veloz, mantendo o foco no desenvolvimento dos produtos e serviços e na transferência de conhecimentos entre mercado e empresa.

Tal fato reforça a ideia de que os profissionais que atuam na Socie-dade do Conhecimento, precisam manter-se atualizados, visto que toda tecnologia, mesmo moderna, tem o poder de desconstrução, reutilização e desvio. Não é possível utilizar sem interpretar, isso implica que é preciso ainda considerar adequadamente a questão de viés que permeia o cenário do domínio do conhecimento de tensões não resolvidas e comportamento

125O que vem pela frente? Experiência, Gestão da Informação e Pessoas – Tensões não resolvidasEmanuel José Rebouças Ferreira / José Emanuel Rebouças Ferreira

humano, no tratamento de informações na atualidade – implementar conhecimento por meios humanos versus desenvolver conhecimento por meios tecnológicos.

Sob o paradigma emergente de uma nova realidade social, sem abandonar as facilidades proporcionadas pelos avanços tecnológicos, torna-se, portanto, conveniente enfatizar a importância da reunião de co-nhecimentos específicos de sustentação, o que exige a circulação de atores nos ambientes onde se espera encontrar respostas aos questionamentos formulados pelos profissionais. Não obstante, e considerando aspectos do gerenciamento da estrutura para lidar com o uso da tecnologia infor-macional com tarefas tão diferenciadas na edificação do conhecimento, exige a construção de uma habilidade da empresa em lidar com o uso da tecnologia da informação frente ao seu poder de mobilidade e poder de desconstrução do domínio de uma realidade social.

Tal fato reforça a ideia de que as empresas que se beneficiam das vantagens advindas do uso dessa tecnologia precisam desenvolver habilidades específicas para lidar com essa questão e estabelecer regras, que estabeleçam os limites para um uso eficaz. O que importa é como o conhecimento gerado por ela é capaz de proporcionar melhor atendi-mento às necessidades dos atores que compõem essa realidade social.

Portanto, os aspectos críticos para a sobrevivência da empresa, diante desse cenário mutável, descontínuo e multidisciplinar, são estabe-lecer uma forma de adicionar valor aos negócios e manter a capacidade do homem de evoluir nos ambientes organizacionais. Envolve o processo de obter, gerenciar e compartilhar a experiência e a especialização dos funcionários através de instrumentos que transformem o conhecimento em uma forma de vantagem competitiva, não só para as empresas, como também para os empregados que operam essas vantagens dentro de uma Sociedade Global de “tensões não resolvidas”...

126 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

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131Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacionalMarcelo Cruz Martins Giacchetti / Patrícia Lima Nogueira

Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacional

Marcelo Cruz Martins Giacchetti

Patrícia Lima Nogueira

1. Introdução

A crescente necessidade de adequação do setor elétrico nacional, na tentativa de atender à sociedade brasileira com um produto de suma importância, para o cidadão, fez com que as grandes empresas do setor elétrico trilhassem o caminho da sustentabilidade e, no final da primeira década do século XXI, quase todas as grandes organizações do setor elé-trico desenvolvessem e divulgassem seus relatórios de sustentabilidade.

No entanto, como as práticas de gestão ambiental não são pa-dronizadas, não é possível entender suas características sob uma única realidade. Os aspectos ambientais levantados são apresentados à orga-nização pelos olhos dos gestores, não existindo uma padronização em suas descrições.

Este trabalho apresenta um levantamento dos fatos relevantes que ocorreram no setor elétrico desde a sua construção para a atual estrutura descentralizada citando as práticas ambientais utilizadas pelas principais empresas do setor.

Das empresas que responderam à pesquisa, uma atua apenas na geração de energia; duas, com distribuição e comercialização; e a quarta gera, distribui e comercializa. Com isso as nomenclaturas muitas vezes utilizadas pelos gestores podem ser divergentes.

132 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Desta forma, este trabalho também propõe um modelo de padro-nização da nomenclatura utilizada pelos sistemas de gestão ambiental das empresas do setor elétrico analisando a nomenclatura utilizada por quatro empresas do setor comparadas com a bibliografia estudada, tentando estabelecer um documento de benchmark para as empresas do setor.

2. Fundamentação teórica

Como visto em Miller (2008), a sustentabilidade é a capacidade de múltiplos sistemas, incluindo nesse pensamento o econômico e o cultural, humanos, a se adaptarem às condições ambientais dinâmicas. Como mostrado por Miller (2008), a Figura 1 apresenta as etapas ao longo dos quais os sistemas humanos devem percorrer para alcançar a adaptação e o equilíbrio.

Figura 1 – Um caminho para a Sustentabilidade (Miller, 2008).

Como primeira etapa, Miller (2008) informa que entender e conservar o capital natural no qual a sociedade está inserida e reconhecer sua importância atribuindo valor econômico aos serviços prestados pelo meio ambiente em analogia ao sistema financeiro é a maneira pela qual o ser humano, ao se utilizar dos recursos renováveis, pode obter uma renda biológica indefinidamente renovável, desde que não utilizada em taxas maiores do que àquelas que a natureza pode repor. A busca do

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equilíbrio entre os sistemas é conseguir sobreviver como espécie com a renda biológica existente, sem exaurir ou degradar o capital natural que o planeta nos oferece.

Entender e reconhecer que as atividades humanas causam impacto na natureza e degradam o capital natural ao utilizar os recursos naturais renováveis de forma mais rápida do que a natureza consegue repôr é a segunda etapa do processo.

O terceiro passo do processo consiste em procurar soluções na forma de mitigar suas ações e corrigir os problemas causados pelos sis-temas humanos aos outros sistemas.

Na busca das soluções, frequentemente aparecerão conflitos e estar comprometido na busca de soluções é o quarto passo apresentado.

Ao buscar soluções, o indivíduo precisa se apoderar do conhe-cimento existente e entender que ações individuais e coletivas podem ajudar a resolver os problemas apresentados atualmente pelo planeta, fazendo assim a diferença.

Como relata Nogueira (2010), a busca para a sustentabilidade não tem uma resposta definitiva. Uma padronização de métodos para demonstrar sua eficácia será uma das buscas do homem para as próxi-mas décadas na tentativa de encontrar o equilíbrio face às necessidades humanas em relação a outros sistemas não humanos na busca de uma convivência duradoura.

Mesmo assim, a maioria dos SGAs (Sistema de Gestão Ambien-tal) possui uma estrutura semelhante e baseia-se no levantamento dos aspectos ambientais provenientes de suas atividades de modo a poder planejar a execução de suas atividades e torná-las aderentes aos requisitos do SGA escolhido.

Um dos sistemas de gestão ambiental mais utilizado atualmente é o sistema baseado na ABNT NBR ISO14001: 2004. Nele o levantamento

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correto dos aspectos ambientais é de fundamental importância e serve de alicerce para a correta implementação de um SGA. Somente com o levantamento dos aspectos ambientais pode-se compreender o passivo ambiental que uma determinada atividade causa ao meio ambiente e é através do conhecimento dos aspectos ambientais de suas atividades que um SGA pode determinar os requisitos legais que são aplicados à operação e, com isso, pode-se igualmente estabelecer a sua política ambiental, essa que, conforme ABNT NBR ISO 14001, deve preconizar a prevenção à poluição, ao atendimento aos requisitos legais e a outros requisitos subscritos pela organização e se comprometer com a melhoria contínua de seus sistemas de gestão. Deste modo, o SGA poderá estabelecer seus objetivos e metas ambientais e definir seus programas de gestão ambiental para atingir as metas estabelecidas para o período proposto, como relata Pereira (2010), e utilizará todos os outros itens existentes no ciclo PDCA para dar suporte a essa missão.

A norma ISO 14001 (ABNT, 2004) dá como definição para as-pecto ambiental (AA) como sendo Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente.

Com isso, um SGA precisa se preocupar em conhecer seus as-pectos ambientais de modo a poder mensurar seus impactos ambientais e mitigá-los para que não se tornem passivos ambientais no futuro da operação. Os aspectos ambientais estão diretamente relacionados também aos processos desenvolvidos nas organizações.

Na Figura 2, os aspectos de entrada como matérias-primas e os transportadores de energia são subdivididos em matérias-primas renová-veis, as quais podem ser repostas pela natureza em uma escala de tempo humana desde que não utilizados mais rapidamente do que o modo como a natureza os repõe (como florestas, campos, água doce, ar limpo e solo fértil, bagaço de cana) como visto em Miller (2008), e matérias-primas não renováveis, as quais têm sua quantidade ou estoque fixo na crosta

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terrestre para uma escala de tempo humana. Tais recursos incluem os energéticos (como gás, petróleo e carvão), os minerais metálicos (como ferro, alumínio e chumbo) e os minerais não-metálicos (como sal, argila, areia) também vistos em MILLER (2008). Trocar de matérias primas de materiais não renováveis para renováveis é uma prática nas empresas que buscam a ecoeficiência. Um exemplo dessa troca pode ser vista hoje em usinas termoelétricas, as quais utilizam o bagaço de cana ao invés de carvão para gerar eletricidade.

Outra forma de agrupar os aspectos de entrada de um processo é subdividi-los em materiais regidos por algum tipo de legislação. A utili-zação de produtos químicos por uma atividade implica na observação de normas federais, estaduais e/ou municipais específicas. Da mesma maneira o consumo de água, diesel, óleo, gasolina, GLP, GNV, energia, madeira ou biodiversidade também gera listas de normas semelhantes as quais devem ser consideradas nos sistemas de gestão ambiental escolhidos.

Figura 2 – Macrovisão de um Processo (adaptado de POLITI, 2010).

136 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Segundo Pereira (2010), os aspectos ambientais de entrada podem ser classificados conforme a quadro 1.

Aspectos Ambientais de Entrada (Pereira, 2010)CONSUMO DE RECURSOS

NATURAIS (RN) CONSUMO DE MATERIAIS (CM)

Código Característica Código CaracterísticaRN-1 Energia elétrica CM-1 Matérias-primasRN-2 Gás CM-2 Materiais vários de escritórioRN-3 Combustível CM-3 Panos de limpezaRN-4 Água CM-4 PapelRN-5 Vapor CM-5 Toner para máquina de XeroxRN-6 Ar comprimido CM-6 Bateria elétricaRN-7 Gás inerte CM-7 Óleo/graxa lubrificanteRN-8 Água quente CM-8 TintasRN-9 Outros (indicar tipo) CM-9 Componentes plásticos

ODOR (O) CM-10 SolventeCódigo Característica CM-11 Solução para limpeza de moldes

O-50 CM-12 PilhasCM-13 Peças plásticasCM-14 Outros (indicar tipo)CM-15 Produtos químicosCM-16 Reutilização de insumos de reciclagens

Quadro 1: Aspectos ambientais de entrada (PEREIRA, 2010)

Para uma melhor classificação, foi adicionado ao modelo de Pe-reira (2010) o consumo de produtos químicos (CM-15) e a reutilização de insumos de reciclagens (CM-16).

Ainda na figura 2, têm-se os aspectos de saída que são os produtos, as emissões de materiais e as emissões de energia, que são conhecidas como perdas do processo. Essas perdas também têm impacto em legis-lação especifica.

O aspecto de saída energia, ruído e calor dissipados, vistos na Figura 2, também são observados em Pereira (2010), e este ainda nos apresenta o aspecto Odor que, segundo o que ele diz, pode aparecer tanto na entrada quanto na saída dos processos.

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Aspectos Ambientais de SaídaEFLUENTES LÍQUIDOS (EL) RESÍDUOS SÓLIDOS (RS)

Código Característica RS-1 Alumínio (peças)EL-1 Efluentes orgânicos (DBO) RS-2 Baterias, pilhas, etc.EL-2 Efluentes oleosos RS-3 Bombonas, embalagens plásticasEL-3 Efluentes alcalinos RS-4 Borra metálicaEL-4 Efluentes ácidos RS-5 Borra de tintaEL-5 Efluentes com metais pesados RS-6 BorrachasEL-6 Efluentes tóxicos RS-7 Cavacos metais ferrososEL-7 Solventes orgânicos RS-8 Cavacos metais não ferrososEL-8 Banhos de sais RS-9 Cobre (fios e cabos)EL-9 Efluentes pluviais RS-10 EPI’sEL-10 Outros (indicar tipo) RS-11 Equipamentos eletrônicosEMISSÕES ATMOSFÉRICAS (EA) RS-12 Estopas, trapos, panos, etc. (contaminado)EA-1 Emissões de material particulado RS-13 LâmpadasEA-2 Emissões de fumo metálico RS-14 Lixo ambulatorialEA-3 Emissões de SO2 RS-15 Lixo doméstico/varriçãoEA-4 Emissões de CO2, CO RS-16 Lodo da ETEEA-5 Emissões de solventes orgânicos RS-17 MadeiraEA-6 Emissões de odores RS-18 PapelEA-7 Emissões de vapores ácidos RS-19 PapelãoEA-8 Emissões de vapores alcalinos RS-20 PlásticoEA-9 Emissões de vapores de óleos RS-21 Resíduos orgânicosEA-10 Emissões de vapores combustíveis RS-22 SerragemEA-11 Emissão não identificada RS-23 Sucatas metais ferrososEA-12 Emissões de CFCs RS-24 Sucatas metais não ferrososEA-13 Outros (indicar tipo) RS-25 Tambores metálicosVIBRAÇÕES (Vi) RS-26 VidrosVi-1 Vibrações RS-27 Borra de soldaVi-2 Outros (Indicar tipo) RS-28 Pó metálicoRADIAÇÕES (Ra) RS-29 Óleos e graxasRa-1 Microondas RS-32 Produtos químicos Ra-2 Raio “X” RS-33 Tonners e cartuchos de copiadoras e impressorasRa-3 Laser RS-34 Resíduos da construção civil Ra-4 Outros (Indicar tipo) RS-35 Outros (indicar tipo)ODOR (O) RUÍDO (Ru)O-60 Vide nota abaixo Ru-70 Ondas sonoras

Quadro 2: Aspectos ambientais de saída (PEREIRA, 2010).

138 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

O resíduo sólido, como aspecto ambiental de saída, pode ser dividido em resíduo não perigoso e resíduo perigoso. Segundo ABNT NBR 10004:2004, o resíduo perigoso é aquele que apresenta como características (as principais): a inflamabilidade, corrosividade, reativi-dade, toxicidade e patogenicidade no resíduo. Os resíduos não perigosos podem ser divididos em inertes e não inertes. Os resíduos não perigosos não inertes apresentam ainda biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade como característica existente no resíduo. O resíduo inerte é aquele que, depois de testado, conforme ABNT NBR 10007:2004, não possui nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações supe-riores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se cor, turbidez, dureza e sabor da água, conforme ABNT NBR 10006:2004.

O aspecto de saída efluente líquido pode ser agrupado por tipo de tratamentos (tratamento aeróbico, tratamento anaeróbico e tratamento físico-químico) que deve receber de modo a atender ao grau de quali-dade que as legislações impõem à operação quando do lançamento do efluente ao meio ambiente. E eles são agrupados de acordo com os tipos de contaminação, como informa Bassoi (2010), pois, dependendo do contaminante existente no efluente, teremos um tipo de tratamento.

O aspecto de saída emissões atmosféricas, por sua vez, pode ser subdividido em poluentes primários e poluentes secundários e, segundo Miller (2008), os principais tipo de poluição atmosférica primária são o monóxido de carbono (CO), o dióxido de nitrogênio (NO2), o óxido de nitrogênio (NOX), o dióxido de enxofre (SO2), as matérias particuladas suspensas (MPS), o ozônio (O3), as dioxinas, os compostos orgânicos voláteis (COVs), o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), os clorofluorcabonos (CFCs), os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), os halocarbonos e o tetracloreto de carbono

Além dos aspectos ambientais definidos anteriormente, tem-se as-pectos ambientais gerados por situações emergenciais conforme quadro 3:

139Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacionalMarcelo Cruz Martins Giacchetti / Patrícia Lima Nogueira

Aspectos Ambientais Emergenciais

Código Característica

ER-1 Explosão ER-2 IncêndioER-3 Incêndio Uso de inflamáveis ER-4 Vazamento / derramamento de produtos químicos. ER-5 Vazamento / derramamento de resíduos sólidos ER-6 Vazamento de gás. ER-7 Vazamento de óleo

Quadro 3: Aspectos ambientais emergenciais (PEREIRA, 2010).

3. Metodologia

Para avaliar as nomenclaturas utilizadas pelos SGAs para des-crever os aspectos ambientais, foi escolhido o setor elétrico por ser um setor com um maior número de empresas listadas com ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) em março de 2010.

Pelo formulário padrão dos sítios, foi questionado se a empresa poderia disponibilizar suas planilhas de avaliação dos aspectos am-bientais para um estudo. Das 12 empresas contatadas, somente quatro disponibilizaram dados para a pesquisa e estas serão utilizadas com as nomenclaturas empresa A, B, C e D, aleatoriamente.

Para o trabalho foram levantados os aspectos ambientais exis-tentes nas operações do setor, podendo ser agrupados em três grandes áreas: aspectos de entrada, de saída e emergenciais, conforme vistos na fundamentação teórica.

4. Discussão dos resultados

Em relação aos aspectos ambientais de entrada, especificamente ao consumo de recursos naturais (RN) e consumo de matérias (CM), foi

140 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

definida a seguinte tabela, lembrando que, em uma determinada empresa, o aspecto de entrada pode se repetir. Para fins do estudo, as repetições não serão consideradas.

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

RN-1 CM-1 RN-2 CM-14 RN-1 CM-1 RN-1 CM-1

RN-2 CM-2 RN-9 CM-15 RN-3 CM-15 RN-2 CM-14

RN-3 RN-10 RN-4 CM-16 RN-4 CM-15

RN-4 RN-9 RN-9 CM-16

Quadro 4 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – RN e CM (autores, 2013).

Foi verificado que o SGA da empresa A apresenta aspectos de entrada, de consumo de materiais e de consumo de recursos naturais de forma aderente ao modelo proposto. O SGA da empresa B é bem deta-lhista no levantamento desse aspecto e apresenta de forma discriminada muito mais fontes de consumo que a tabela proposta; isso faz com que o código RN-10 seja utilizado em muito dos seus aspectos. Os gesto-res da operação C agrupam os aspectos de uma forma que foi possível representar no modelo proposto sem nenhuma dificuldade e o mesmo pode se notar no trabalho realizado pela empresa D.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente aos Efluentes Líquidos (EL) foi definido o quadro 5:

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

EL-1 EL-6 EL-1 EL-1 EL-1EL-2 EL-10 EL-2 EL-10 EL-9EL-5 EL-10

Quadro 5 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – EL (autores, 2013),

141Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacionalMarcelo Cruz Martins Giacchetti / Patrícia Lima Nogueira

O SGA da empresa A apresenta aspectos de saída, efluentes líquidos, conforme tipo de tratamento, o que o torna aderente à tabela proposta. O SGA da empresa B, ao tentar ser específico, acaba por desdobrar o aspecto Efluentes orgânicos (DBO) em dois itens: Geração de efluentes domésticos e Geração de efluentes sanitários, mantendo os demais semelhantes aos utilizados. A empresa C agrupa os aspectos de geração de efluentes líquidos e dois grandes grupos, também previstos no modelo, deixando para um segundo campo, quando da geração de um resíduo industrial. A empresa D também agrupa os aspectos em três grandes grupos, todos representados no modelo proposto.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente às Emissões Atmosféricas (EA), foi definido o quadro 6:

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

EA-1 EA-1 EA-1 EA-1EA-4 EA-9 EA-4 EA-5EA-11 EA-12 EA-10 EA-6EA-12 EA-11 EA-12

EA-12

Quadro 6 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – EA (autores, 2013).

Analisando o quadro acima, pode-se notar que todos os SGA das empresas estudadas apresentaram possibilidade de codificação com o modelo proposto.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente aos Resíduos Sólidos (RS), foi definido o quadro 7:

142 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

RS-2 RS-14 RS-24 RS-12 RS-23 RS-2 RS-20 RS-35RS-3 RS-15 RS-26 RS-13 RS-29 RS-5 RS-21RS-5 RS-16 RS-29 RS-16 RS-33 RS-13 RS-23RS-6 RS-17 RS-32 RS-18 RS-34 RS-14 RS-29RS-10 RS-18 RS-33 RS-21 RS-35 RS-15 RS-34 RS-11 RS-20 RS-34 RS-18 RS-35 RS-12 RS-21 RS-35 RS-19 RS-13 RS-23

Quadro 7 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – RS (autores, 2013).

Pode-se notar, na análise do quadro acima, que o SGA da empresa A apresenta os aspectos de saída, resíduos sólidos com um tratamento apurado e, em muitos aspectos, as descrições dos gestores foram mais detalhistas que o modelo proposto na tabela 2. Esse comportamento também pode ser notado no que tange à nomenclatura utilizada pelo SGA da empresa B e isso obrigou o autor a utilizar o código RS-35 em grande parte da análise. A empresa C foi a que mais aderiu ao modelo proposto. A empresa D utilizou um método mais aderente à legislação ambiental e classificou seus resíduos segundo NBR 10004; isso fez com que a forma de analisar o aspecto resíduo sólido da empresa D ficasse fora do modelo proposto.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente a Vibrações (Vi), foi definido o quadro 8:

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa DVi-1 NA Vi-1 NA

Quadro 8 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – Vi (autores, 2013).

143Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacionalMarcelo Cruz Martins Giacchetti / Patrícia Lima Nogueira

Pode-se notar que apenas os SGAs das empresas A e C declaram existir esse tipo de aspecto em suas atividades. As operações das B e D não apresentam esse tipo de aspecto em seus sistemas.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente a Odor (O), foi definido o quadro 9:

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

O-x NA O-x O-x

Quadro 9 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – O (autores, 2013).

Na análise do quadro 9, somente a empresa B não declarou a existência desse aspecto em seu sistema de gestão. As demais empresas declaram o aspecto, mas não especificaram se seriam aspectos de entrada ou saída dos processos/atividades.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente a Ruído (Ru), foi definido o quadro 10:

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

Ru-70 NA Ru-70 Ru-70

Quadro 10 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – Ru (autores, 2013).

Pode-se notar que somente a empresa B não declarou a existência desse aspecto em seu sistema de gestão. As demais empresas declaram o aspecto, mas não especificaram se seriam aspectos de entrada ou saída dos processos/atividades.

Com relação aos aspectos ambientais de saída, especificamente a Radiações (Ra), foi definido o quadro 11:

144 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

NA NA Ra-4 NA

Quadro 11 – Agrupamentos das descrições SGA a os códigos propostos – Ra (autores, 2013).

Foi verificado que apenas a empresa C apresentou aspecto ambiental relacionado com esse item do quadro proposto. As demais empresas não consideraram esse tipo de aspecto em suas operações

Com relação aos aspectos Emergenciais ou Riscos (ER),

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa DER-1 ER-1 ER-1 ER-1ER-2 ER-2 ER-2 ER-2ER-4 ER-4 ER-4 ER-4ER-6 ER-5 ER-5 ER-5ER-8 ER-6 ER-6 ER-6

ER-7 ER-8 ER-8ER-8 ER-9

Quadro 12 – Agrupamentos das descrições SGA aos códigos propostos – ER (autores, 2013).

Analisando o quadro 12, nota-se que os SGA das empresas A, C e D ficaram aderentes ao modelo proposto com codificação quase que natural dos campos. A empresa B foi mais detalhista em seu levantamento de aspectos emergências e de risco, fazendo com que o modelo proposto ficasse aquém do modelo apresentado pela empresa.

5. Considerações finais

Como pode ser visto neste trabalho, os sistemas de gestão am-biental das empresas estudadas estão, na maioria das vezes, aderentes à

145Abordagem prática de gestão ambiental: a padronização de aspectos ambientais do setor elétrico nacionalMarcelo Cruz Martins Giacchetti / Patrícia Lima Nogueira

nomenclatura sugerida pelo trabalho. Na área de aspectos ambientais de entrada, consumo de recursos naturais e matérias-primas, o modelo proposto neste trabalho se mostrou em total adequação às nomenclaturas utilizadas pelos SGA. Não foram necessários grandes desdobramentos e o código genérico pouco utilizado.

Quando analisados os aspectos de saída, nota-se que as emissões atmosféricas e efluentes líquidos foram nomeados de forma aderente a nomenclatura proposta. Já os resíduos sólidos foram bem expressos pelas operações A, B e C, mas teve sua melhor definição dada pela empresa D, a qual, ao adotar os padrões NBR de classificação de resíduos, possibilita um fácil entendimento do resíduo gerado. Nos outros aspectos de saída, o odor, vibração e ruído não foram classificados pela empresa B e todos os demais sistemas não as apontaram, vale ressalvar que nenhuma das empresas declarou se seu aspecto odor acontece na entrada ou saída do processo. A radiação somente foi apontada pela empresa C como sendo um aspecto existente em suas atividades.

Os aspectos emergências e de risco levantados pelas empresas também se mostraram em alinhamento com o modelo de nomenclatura sugerida no padrão proposto.

Como a hipótese mais abrangente que deveria ser testada era a possibilidade de definir um vocabulário de aspectos únicos, para ope-rações do setor elétrico, constatou-se, após revisão detalhada dos dados apresentados pelas empresas estudadas, que tal teoria é possível de ser aplicada e possibilitará que os sistemas de gestão ambiental passem a adotar o modelo proposto.

Esse trabalho mostrou também que o correto levantamento dos aspectos ambientais existentes nas operações é estratégico para que os passivos ambientais possam ser mensurados e mitigados de forma a diminuir a exposição das operações à aplicação de multas e sanções administrativas.

146 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Sugere-se para continuação deste trabalho o envolvimento maior das empresas do setor e uma comparação dos aspectos ambientais de suas operações de forma a poder tornar o modelo sugerido um real instru-mento de benchmark do setor.

Concluindo, destaca-se a importância do setor elétrico, quando utilizado nas formas adequadas, para a melhoria da qualidade de vida de todo o planeta, sendo sua relação com os outros sistemas naturais e absolutamente necessárias.

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Gestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetos

Hélio Manzini Mandarino

Leila Bárbara Menezes Souza

Sinara Dantas Neves

1. Introdução

As exigências nas organizações modernas são crescentes e estão relacionadas às diferentes formas de gerenciamento, impactando nos resultados e proporcionando oportunidade de crescimento e de parti-cipação efetiva em mercados cada vez mais competitivos. Por meio de estratégias gerenciais, as empresas identificam suas vulnerabilidades e seus pontos fortes, obtendo assim diferencial competitivo em relação à concorrência. A necessidade de melhor desempenho na condução dos negócios, a complexidade dos processos das empresas e a necessidade de lançamento de novos produtos contribuíram para a implementação e o gerenciamento de projetos na integração de esforços e viabilização dos investimentos.

Nesse contexto, as organizações devem desenvolver competências para enfrentar situações cada vez mais enigmáticas e competições mais acirradas em sua atividade e é preciso estar municiada de conhecimentos e habilidades para superar a concorrência e promover sua consolidação no mercado, pois, conforme Martins (2005, p. 148),

A empresa deve preparar-se para gerir um empre-endimento, que muitas vezes pode durar anos para

150 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

ficar pronto. Essa preparação exige, por exemplo, o desenvolvimento dos recursos humanos, tecnologia específica, softwares de planejamento e de controle de empreendimentos e um conjunto de procedimen-tos já testados.

Desse modo, a missão da Gestão de Materiais é contribuir para um controle mais efetivo na redução de custos, otimização de recursos financeiros e qualidade nas aquisições. Isto fortalece a escolha do tema desta pesquisa que, por sua vez, nos remete ao seguinte problema a ser investigado: quais as principais restrições e dificuldades que têm impedido a boa prática do gerenciamento de aquisições em projetos, permitindo sobra de materiais, elevação de custos e desperdícios?

A verdade é que no cenário globalizado não se admite qualquer modo de gestão, ou seja, não basta apenas controlar a entrada e a saída de materiais, tornando a gestão de materiais um simples ato formalizado. A gestão de materiais é uma ferramenta necessária para estabelecer os cri-térios e os níveis de estoques de materiais que os projetos devem possuir, obedecendo a padrões técnicos e econômicos; portanto, o papel principal da gestão de materiais consiste em maximizar a utilização dos recursos destinados aos materiais e equipamentos adquiridos pela organização, atuando com imensa força nos estoques dos projetos para redução dos seus custos. O gestor, entretanto, irá se confrontar com situações que vão de encontro à correta gestão de materiais, que acontece e gera diversas inconsistências quanto ao uso racional da verba destinada às aquisições nos projetos, bem como o seu custo final.

Neste contexto, propôs-se uma pesquisa de caráter descritivo e exploratório, com abordagens quantitativa e qualitativa, cujo objetivo geral foi investigar quais as dificuldades encontradas para implantar a gestão de materiais em projetos. Três objetivos específicos permeiam a pesquisa. São eles: conceituar a gestão de materiais dentro do contexto

151AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

logístico; analisar as dificuldades encontradas pela comunidade de ge-renciamento de projetos em utilizar a gestão de materiais; e relacionar a gestão de materiais com a qualidade, visando à redução de custos e à eliminação de desperdícios.

A coleta de dados ocorreu através de questionário contendo oito perguntas fechadas e duas abertas, com uma população de 16 profissionais da área de projetos. A motivação para essa pesquisa surgiu da percepção do quanto a atividade do profissional de suprimentos é desconsiderada em algumas organizações que gerenciam projetos e do desejo de contribuir para a consolidação dessa prática de gestão, visto que o papel das orga-nizações é proporcionar desenvolvimento, transformações econômicas, sociais, e gerar lucro aos acionistas.

Na busca por respostas, foi estabelecida uma interlocução com alguns teóricos que se dedicam ao estudo da administração de materiais, como Costa (2002), Lélis (2007), Dias (1999), Pozo (2010), entre outros, que contribuíram para a conceitualização, o embasamento teórico e a análise da gestão de materiais em projetos.

A hipótese deste estudo demonstra que a prática da gestão de materiais é dificultada por vários fatores como planejamento deficien-te, gestão míope, carência de especialistas para essa atividade; falta de planejamento, deficiência na compreensão dos benefícios da gestão de materiais em projetos.

Este artigo, portanto, pretende colaborar com o estudo de pes-quisadores que buscam compreender o gerenciamento de aquisições em projetos, uma vez que projetos possuem um ciclo de vida definido e os resultados propostos precisam ser alcançados para atender aos requisitos legais e financeiros. Para tanto, o artigo se estrutura a partir de alguns pilares principais: O primeiro contempla uma breve contextualização do tema, destacando sua importância, os objetivos gerais e específicos, o problema, a hipótese, a metodologia e a estruturação da pesquisa. O

152 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

segundo abrange conceitos sobre a administração de materiais e a pers-pectiva planejamento de projetos.

2. Gestão de materiais em projetos: novos desafios e reflexões

As organizações estão em constante transformação, inseridas em um mercado cada vez mais competitivo, caracterizado pela diversidade cultural, pela disseminação da informação, pelo avanço tecnológico e pelas estratégias. Mercado que exige do gestor moderno o desejo e a capacidade de pensar e atuar com criatividade, qualificação e proativi-dade diante dos desafios impostos pela globalização. Este novo modelo de atuação empresarial exige novas estratégias e novo perfil profissional capaz de mitigar os riscos e de contribuir para a maximização dos resul-tados da organização, fazendo uso de um arcabouço de conhecimentos adquiridos na academia e no campo profissional e que poderão agregar mais valor à administração de materiais nas empresas.

Complementando, vejamos o que diz Costa (2002, p. 17) a esse respeito:

Atualmente, a administração de materiais é uma das atividades de gestão mais importante para as empre-sas. A manutenção da competitividade depende dire-tamente da forma com que os materiais são geridos, os quais devem possuir níveis compatíveis com suas demandas, como também as compras necessitam ser cada vez mais ágeis para que possam atender às ne-cessidades de aumento de velocidade de renovação de estoques. Girar o estoque o mais rápido possível, sem que isso acarrete desabastecimento, é o grande desafio à gestão de materiais, visto que a manutenção da lucratividade da empresa depende disso.

153AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

Nesse sentido, destaca-se a participação do gerente de projetos que deve dar maior atenção e importância à gestão de materiais, propor-cionando maior confiabilidade nas aquisições dos projetos, bem como possibilitar ao gestor de materiais maior autonomia para obter melhores resultados na utilização dos recursos financeiros e minimização de riscos, conforme enfatiza Xavier (2007, p. 107):

Muitas vezes, os riscos associados ao processo de aquisição são tão críticos para o projeto que não so-mente o custo será analisado durante a negociação entre as partes, mas também outros fatores como ga-rantias, multas e termos contratuais que garantam ou que minimizem os impactos para a sua execução.

Observa-se assim a importância da participação efetiva de todos os envolvidos no planejamento de suprimentos do projeto, formalizando e documentando as aquisições do projeto para organização e atualização dessa documentação em atendimento à legislação atual. Nessa perspec-tiva de competitividade, surge a gestão de materiais como estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetos, como demonstra Lopes (2009, p. 48):

Estratégia é um plano para se realizar um objetivo es-sencial. É uma possibilidade de caminho a percorrer que não tem garantia absoluta de sucesso. O objetivo estratégico é o alvo a ser alcançado. Sua definição cla-ra e um plano que indique como alcançá-lo aumenta a probabilidade de sucesso.

Nesse contexto, entende-se como de grande importância um planejamento adequado para o dimensionamento dos estoques relacio-nados aos resultados das empresas, pois se, de uma forma, os estoques

154 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

são ativos financeiros que, se imobilizados excessivamente, comprome-tem o retorno do investimento, de outra, a falta do estoque no local e momento oportuno causa prejuízos por toda a cadeia de suprimentos. Todos os materiais possuem especificidades e dificuldades, portanto, necessitam de tratamentos distintos, pois interferem diretamente nos custos de armazenagem, movimentação; consomem recursos durante sua gestão e causam sérios transtornos aos clientes finais quando não estão disponibilizados no momento de sua aplicação. Para Barbosa (2007, p. 48), “[...] dependendo do objetivo, os materiais podem representar a maior parte do seu custo total e a formação do seu custo unitário, ou seja, o preço que será pago por eles deve ser muito bem entendido pelo gerente do projeto”.

A gestão de materiais vem ganhando espaço e destaque no geren-ciamento de projetos das organizações, especialmente nas empresas de médio e grande porte que fomentam e gerenciam projetos e investimentos em suas unidades operacionais. De acordo com Corrêa (2001, p. 56),

As principais definições para a gestão de materiais de determinado item referem-se a quando e quanto ressuprir (via compra, para itens comprados ou pro-dução para itens fabricados internamente) este item, à medida que ele vai sendo consumido pela deman-da (novamente, a questão é tentarmos, tanto quanto possível, coordenar consumo e suprimento do item em questão). Em outras palavras, é preciso que defi-namos o momento do ressuprimento e a quantidade a ser ressuprida para que o estoque possa atender às necessidades da demanda.

Entende-se que o planejamento de materiais consiste no propó-sito de estabelecer a quantidade que os estoques deverão possuir durante

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determinado período, conforme proposto nos pedidos de compra e datas programadas para as entregas dos itens pretendidos. O estoque deve funcionar tal um componente gerenciador do consumo de materiais na organização, com o objetivo de prover somente o necessário para atender às demandas.

Uma avaliação minuciosa torna-se necessário para o gestor ter o domínio dos subsídios e recursos materiais, bem como um acompanha-mento contínuo, visando melhor desempenho na utilização do capital investido. Ainda segundo Lélis (2007, p. 81), “[...] a gestão de estoques é uma das funções da administração de materiais responsável pela pre-visão, registro e controle da movimentação dos materiais em estoque nas empresas”.

Diante dessa realidade, propõe-se a gestão de materiais como uma estratégia para reduzir custos e evitar desperdícios em projetos. Assim se relacionou algumas perspectivas que contribuirão para a compreensão da Gestão de Materiais em Projetos como conceito de projeto, gestão de materiais como estratégia e a importância das parcerias. Tendo como característica o tempo determinado de vida, custo e objetivo definido, “[...] um projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. A sua natureza temporária indica um início e um término definidos” (PMI, 2004). Além disso, o projeto necessita de uso eficiente dos recursos financeiros para atingir os resul-tados esperados pelo gerente do projeto e demais partes interessadas e, com isso, possibilitar retorno do investimento e benefícios qualitativos esperados. Para tanto, ações são necessárias para o alcance dos resultados almejados.

Na mesma linha deste raciocínio, Martins (2005, p. 155) destaca que

A gestão de materiais constitui uma série de ações

156 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

que permitem ao administrador verificar se os es-toques estão sendo bem utilizados, bem localizados em relação aos setores que deles utilizam, bem ma-nuseados e bem controlados. Como os estoques de materiais representam parcela substancial dos ativos das empresas, devem ser encarados como um fator potencial de geração de negócios e de lucros. Assim, cabe ao gestor verificar se estão tendo a utilidade ade-quada ou sendo um ‘peso morto’, não apresentando o retorno sobre o capital neles investido [...].

Nesse sentido, a gestão de materiais surge como estratégia para a redução de custos e a eliminação de desperdícios nos projetos, pois, sendo temporário, não haverá tempo nem recursos adicionais para correção de erros na aquisição, controle e dimensionamento no estoque do projeto. Estabelecido o início e o final do projeto, mediante planejamento e considerando seu escopo, o excesso de material poderá comprometer o orçamento com custos desnecessários, bem como contribuir para o desperdício com sobra de material, interferindo negativamente no uso dos recursos financeiros. De outra forma, a falta de material impactará negativamente ocasionando atrasos na execução, redimensionamento de recursos humanos e aumento do custo final do projeto com aquisições de emergência e horas adicionais para realizar as entregas em novos prazos postergados.

Conforme Lélis (2007, p. 5),

Manter estoque representa um custo muito alto para as empresas e a escolha sobre o que manter em esto-que deve ser vista como uma das tomadas de decisões mais importantes para os gerentes. Esta decisão se torna tão mais complicada quanto for a capacidade

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do gerente para lidar com os conflitos entre as diver-sas áreas de sua empresa. Estes conflitos geralmente aparecem entre as demais áreas da empresa e a área financeira e refletem sempre a disponibilidade de es-toque versus o capital investido para mantê-la.

Deste modo, é que muitas organizações descobriram a importân-cia de firmar parcerias com fornecedores estratégicos. Corroborando este ponto de vista, Monte Alto (2009, p. 121) destaca que “[...] a parceria é uma relação específica de negócios, baseada na confiança, nos riscos e nas recompensas compartilhados, resultantes de um desempenho melhor do que seria obtido individualmente por cada parceiro”.

Convém lembrar que é fundamental conhecer o que será geren-ciado, especificando corretamente os materiais a serem utilizados nos projetos.

Para Xavier (2007, p. 18), “[...] uma especificação é, portanto, a descrição de um produto ou serviço que será contratado a um fornecedor ou prestador de serviço.” Assim, percebe-se que a gestão de materiais surge como elemento fundamental para a reorganização dos estoques dos projetos, favorecendo o fluxo de materiais e suas aplicações, embora ainda se encontre organizações que resistam à gestão de materiais e di-ficultem as ações de planejamento e o controle de custos nas aquisições e estoques.

Para Peinado e Graem (2007, p. 678),

Os materiais são formadores naturais de estoques que, muitas vezes, representam elevado valor de ca-pital e precisam ser administrados de forma correta, sob pena de afetarem negativamente o desempenho da empresa, provocando comprometimento à sua lu-

158 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

cratividade.

Um contrato de parceria, por exemplo, possibilita maior segurança no fornecimento de materiais durante o período de planejamento e exe-cução do projeto, em relação à sua vigência. De acordo com Pozo (2010, p. 191), “[...] a compra de um recurso patrimonial, em razão da sua pecu-liaridade e complexidade, deve ser feita mediante contratos que garantam todas as especificações e exigências legais e do projeto”, pois proporciona uma relação de ganho para as partes envolvidas. Por isso, a gestão de ma-teriais torna-se essencial em projetos, pois estes possuem recursos limitados não permitindo postergações porque obedecem a uma sequência lógica de atividades, ou seja, algumas atividades dependem da conclusão de outras para que possam iniciar, não havendo espaço para atrasos e absorção de custos extras para atendimento das necessidades dos projetos.

Segundo Moraes (2007, p. 9),

Para se adquirir alguma coisa é necessário, em geral, fechar alguma espécie de acordo para garantir a posse em perfeitas condições. As diversas atividades envol-vidas nos processos de gerenciamento de aquisições integram o ciclo de vida de um acordo ou contrato. Como acordos ou contratos são instrumentos legais assinados entre partes, é essencial o seu completo en-tendimento para que se possa realizar todos os ele-mentos constantes de tais instrumentos.

A Gestão de Materiais é necessária para equilibrar os níveis de materiais que as organizações devem manter, dentro de condições finan-ceiras adequadas e obedecendo a padrões técnicos. Pozo (2010, p. 26) complementa afirmando que “[...] a função principal da administração de estoques é maximizar o uso dos recursos envolvidos na área de logística

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da empresa e com grande efeito dentro dos estoques”. Esses materiais que compõem os estoques dos projetos são imprescindíveis para a conclusão do empreendimento com qualidade. Portanto, a razão pela qual deve ser tomada uma decisão acerca das quantidades e procedência a serem mantidos em estoques está relacionada com os custos associados tanto ao processo de aquisição como aos custos de manutenção em estoque.

Outro aspecto a ser observado é se os níveis para cada item po-derão ser mantidos financeiramente em estoque e estão de acordo com a lista de materiais originados pela equipe de Engenharia e Planejamento do Projeto.

Uma avaliação detalhada dos estoques é uma exigência que se faz a todo gestor de materiais, não apenas em virtude do grande capital compromissado, mas principalmente pela vantagem competitiva que a empresa pode obter, disponibilizando mais velocidade e precisão nas aquisições para atendimento das necessidades dos empreendimentos.

Conforme Arbache (2011, p. 53),

A gestão de estoque é uma das atividades mais im-portantes para qualquer negócio, pois o estoque tem uma característica ambígua, uma vez que sua exis-tência, se por um lado tranquiliza a empresa quanto às flutuações da demanda e à manutenção do nível de serviço, por outro é fonte de constante atrito em função do capital investido.

A necessidade de material tem grande força no planejamento de suprimentos e termina na disponibilização do material à disposição das equipes de montagem. É responsabilidade da gestão de materiais o atendimento às necessidades dos projetos, na execução das atividades de montagem.

160 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

O objetivo não é apenas evitar a falta de materiais para a execução dos projetos, eliminando custos adicionais com atrasos e ociosidade de equipes, mas a supressão de desperdícios através de um planejamento diligente e alinhado com os objetivos da organização.

Desse modo, uma gestão estratégica de materiais possibilita sensí-vel redução nos custos dos estoques dos projetos, bem como proporciona resultados positivos nas aquisições ao final de cada projeto, como ratifica Lélis (2007, p. 81) ao destacar que “[...] o objetivo principal da gestão de estoques de uma organização é adequar o investimento em estoques, aumentando o uso eficiente dos meios internos da empresa, minimizando as necessidades do capital investido”.

3. Metodologia

A temática desta pesquisa motivou, após a revisão bibliográfica e percepção da caminhada profissional, a escolha por pesquisa de campo com o objetivo de conferir hipóteses e analisar fatos relevantes ao tema proposto.

Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagens quantitativa e qualitativa que pretende identificar e analisar os obstáculos e dificuldades para a implementação da gestão de materiais em projetos, pois este contribuiria com informações mais especificas e detalhadas sobre o tema, tratando desta forma não somente de dados estatísticos.

O referido estudo teve como colaboradores profissionais en-volvidos com projetos em empresas do Pólo Petroquímico, do Centro Industrial de Aratu na Bahia e do Complexo Petroquímico no ABC, em São Paulo. O critério direcionado para a escolha destes profissionais foi o tempo na área de projetos e o envolvimento com empreendimentos de pequeno, médio e grande porte. Por uma questão ética, a pedido dos colaboradores entrevistados, omite-se aqui o nome das empresas em que

161AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

os colaboradores atuam.

Após o primeiro contato com os colaboradores, foram apresenta-dos os objetivos do estudo, solicitando a contribuição desses profissionais na pesquisa. Após a aceitação, os profissionais receberam um questionário contendo dez perguntas sobre gestão de materiais, dentro do contexto empresarial.

A aplicação de questionário possibilitou resgatar em uma amostra os conhecimentos, as atitudes e os valores de determinados grupos de pro-fissionais. Chizzoti (2005) destaca que “[...] ao elaborar um questionário, todos os itens devem estar relacionados com o objetivo da pesquisa, as questões devem ser claras e o conteúdo compreensível para a população que se pretende aplicar”.

5. Resultados e discussão

Com base no questionário de pesquisa aplicado e em entrevistas com os profissionais das empresas pesquisadas, percebe-se, conforme gráfico 1, que, embora não seja uma prática efetiva, a maioria dos pro-fissionais conhece a gestão de materiais, que o torna visível no âmbito dos projetos.

Gráfico 1 – Entendimento sobre gestão de materiais

Fonte: Manzini e Martins (2011)

162 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Nessa questão, 75% afirmaram conhecer gestão de materiais, porém 25% afirmaram não possuir entendimento sobre o mesmo tema. Com isso, percebe-se que existe uma parcela que atua indiferente ao planejamento de suprimentos. Conforme exposto no gráfico 2, todos os profissionais pesquisados entendem que o planejamento de suprimen-tos interfere positivamente no resultado do projeto, ocasionando certo conflito quanto à teoria e prática, pois, embora uma minoria afirme não possuir entendimento sobre gestão de materiais, todos afirmam que o planejamento de suprimentos interfere positivamente no resultado do projeto. O PMBOK destaca que “[...] o gerenciamento de projetos é a aplicação de conhecimento, de habilidades, de ferramentas e de técnicas às atividades do projeto, a fim de atender aos seus requisitos”.

Gráfico 2 – Interferência do planejamento de suprimentos nos resultados do projeto

Fonte: Manzini e Martins (2011)

O gráfico 2 enfatiza, conforme visão dos profissionais pesquisa-dos, a importância do planejamento de suprimentos nos resultados dos projetos. Essa observação converge com o exposto no gráfico 1 onde a maioria afirma entender sobre gestão de materiais.

Nesse contexto, evidencia Valle (2007, p. 90) que “[...] o plane-jamento é o responsável pela definição do curso das ações a serem de-

163AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

senvolvidas. É, em síntese, um processo contínuo de tomada de decisão que busca a eficiência e eficácia do processo produtivo”.

Gráfico 3 – Gestão de Materiais como Diferencial nos Custos do Projeto

Fonte: Manzini e Martins (2011)

Conforme exposto no gráfico 3, pode-se perceber que a gestão de materiais é fundamental para o equilíbrio financeiro referente aos custos dos projetos, confirmando o entendimento sobre gestão de materiais como estratégia. Monte Alto (2009, p. 19) sobre essa questão afirma que

A tradicional administração de material deu lugar a processos mais eficazes e mais competitivos, abran-gendo a gestão de toda a cadeia de suprimentos de forma integrada. A grande mudança foi a ênfase na estratégia que proporcione um valor superior aos olhos do cliente.

164 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Gráfico 4 – Especialistas em Gestão de Materiais na Equipe de Projetos

Fonte: Manzini e Martins (2011)

O gráfico 4 destaca a importância do gerente de projeto possuir na equipe profissional responsável por incentivar e apoiar na elaboração do planejamento suprimentos do projetos especialistas na temática em questão. A esse respeito, Lélis (2007, p. 81), afirma que

[...] o responsável pela gestão de estoques desenvolve, cotidianamente, as atividades de definição dos mate-riais a serem estocados, análise do comportamento de cada item de estoque estabelecendo níveis ade-quados de estoque, emissão de pedidos de compra, registro de movimentações de materiais, identifica-ção de materiais obsoletos, realização periódica de inventários físicos de estoque e emissão de relatórios de acompanhamento.

165AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

Gráfico 5 – Atrasos na entrega de materiais podem inviabilizar o projeto

Fonte: Manzini e Martins (2011)

No gráfico 5, pergunta-se se os profissionais acreditam que atrasos na entrega de materiais podem inviabilizar o projeto, e a maioria, 80%, acredita nessa possibilidade, o que demonstra a atenção aos riscos e a importância dos materiais na execução do projeto. Conforme o PMI (2004), “[...] O risco do projeto é sempre futuro. O risco é um evento ou uma condição incerta que, se ocorrer, tem um efeito em pelo menos um objetivo do projeto. Os objetivos podem incluir escopo, cronograma, custo e qualidade”.

166 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Gráfico 6 – Sobra de Material em Projetos Encerrados

Fonte: Manzini e Martins (2011)

Os entrevistados, quando questionados, sobre a existência da sobra de materiais nos projetos que são encerrados nas organizações em que atuam, todos confirmaram existir sobra, contribuindo com as respostas do gráfico 2, que fala sobre o planejamento de suprimentos e os resultados do gráfico 3, que consideram a gestão de materiais como diferencial nos custos do projeto, e também expõem a importância da necessidade de profissionais de gestão de materiais na equipe do projeto, conforme gráfico 4. Para Accioly (2008, p. 24),

É muito importante identificar as causas normal-mente geradoras da formação de estoques, para que possamos julgar se podemos ou não substituir esto-ques por padrões mais elevados de qualidade e con-fiabilidade nos relacionamentos ao longo da cadeia de suprimentos.

167AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

Gráfico 7 – Treinamento de Gerentes de Projetos em Gestão de Materiais

Fonte: Manzini e Martins (2011)

Conforme exposto no gráfico 7, pode-se entender que os 20% dos gerentes de projetos não necessitam ser treinados em gestão de materiais, mas se observa no gráfico 4, que todos concordam que o gerente deve possuir profissional capacitado para esta função. Todavia, os demais, que representam os 80% da pesquisa, perceberam que há necessidade de se ter conhecimento sobre o assunto para que, de alguma maneira, pudessem colaborar na formação de ideias e ao mesmo tempo contribuírem no desempenho do cumprimento do projeto. Ainda segundo o PMI (2004, p. 23), “[...] o gerente de projetos é a pessoa designada pela organização executora para atingir os objetivos do projeto”.

168 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Gráfico 8 – Contratos de Parceria com Fornecedores de Materiais para Redução de Custos nas Aquisições dos Projetos

Fonte: Manzini e Martins (2011)

Na questão 8, pergunta-se se contratos de parceria com fornecedo-res de materiais poderiam proporcionar redução de custos nas aquisições dos projetos, todos confirmaram que sim, retratando o conhecimento sobre gestão de materiais, confirmando também que atrasos podem im-pactar negativamente no projeto, bem como fortalecer a importância da gestão de materiais em projetos, conforme Goldratt & Cox (2003, p. 30), “[...] todas as ações que fazem com que a empresa fique mais próxima de sua meta são produtivas. Todas as ações que não fazem com que a empresa fique mais próxima de sua meta não são produtivas”.

Na questão 9, pergunta-se qual o destino dado atualmente às so-bras de materiais de projetos em sua organização, e todos os entrevistados foram unânimes em responder que reaproveitam as sobras dos materiais de projetos em outros projetos, porém, como não há um controle efi-ciente de gestão dessas sobras, pode ocorrer dificuldade na identificação no estoque, gerando assim uma deficiência que faz com que os materiais não sejam utilizados, podendo haver compra indevida. Em razão disso, Lélis (2007, p. 5) defende que “[...] manter estoque representa um custo muito alto para as empresas e a escolha sobre o que manter em estoque

169AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

deve ser vista como uma das tomadas de decisões mais importantes para os gerentes”.

Na questão 10, pergunta-se como é vista a Gestão de Materiais na empresa, e os entrevistados alegaram que a potencialização dessa política de gestão tem por finalidade modernizar o controle de estoque que atualmente está bastante defasado, aumentando assim a eficácia do atendimento aos prazos estabelecidos no projeto.

De acordo com Costa (2002, p. 130),

A moderna gestão dos estoques e o advento da infor-mática nos processos logísticos agilizaram os proces-sos e permitiram a redução dos níveis dos estoques, cada vez compramos com maior frequência e em quantidades menores, fazendo com que as estratégias de compras favoreçam o sucesso das empresas.

Observa-se que existe sobra de material e que tal sobra beneficia outros projetos, porém não há garantia de utilização nos demais proje-tos, pois, conforme exposto pelos colaboradores consultados, a Gestão de Materiais nos Projetos necessita ser potencializada para proporcionar melhores resultados ao final dos projetos.

Considerações finais

A pesquisa bibliográfica e a de campo possibilitaram a abertura de caminhos para a busca de outras informações, como, por exemplo, a importância da administração de materiais nas organizações modernas e, a partir desse enfoque empresarial, que os objetivos ganharam sustenta-ção, pois se percebeu que nos projetos a gestão de materiais foi utilizada, a princípio, para controlar apenas a saída de materiais do estoque, fato que explica uma gestão míope e improvisada. É somente com a visão de

170 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

competitividade e sobrevivência que a gestão de materiais ganha força e conotação de diferencial.

O momento atual clama por um gerenciamento profissional com gestores capacitados que contribuam com a redução nos custos de materiais nos projetos, favorecendo o compartilhamento de conheci-mentos para o desenvolvimento profissional e diferencial competitivo das organizações.

Observa-se, portanto, após análise dos dados coletados, que se deve considerar que não é a falta de conhecimento que dificulta a gestão de materiais, pois a maioria dos profissionais afirmou entender sobre gestão de materiais e ainda confirmou que esse é um diferencial nos custos dos projetos, bem como credenciaram os gerentes de projetos a possuírem profissionais especializados em sua equipe para obter resultados satisfatórios nos seus empreendimentos, reforçando que a falta desses especialistas é o fator de maior relevância que proporciona a dificuldade na gestão de materiais nos projetos.

Para os profissionais das empresas pesquisadas, a gestão de mate-riais é uma ferramenta fundamental para o gestor, pois possibilita, além do gerenciamento de custos, a possibilidade de aplicar uma estratégia para evitar desperdícios nos projetos ativos de uma organização.

Diante do exposto, sugere-se uma atenção dos gerentes de projetos para combater e eliminar o amadorismo e improviso dentro da organi-zação, tendo em vista que os profissionais confirmam existir sobra de materiais nos projetos, contribuindo assim para a elevação de custos de recursos materiais, bem como desperdícios ocasionando desconfiança por parte dos empresários dos projetos e demais partes interessadas, além de criar um estoque crescente alimentado pelos diversos projetos em execu-ção. Logo, esta pesquisa não termina por aqui, pois o universo pesquisado ainda é pequeno para a importância que trata a gestão de materiais para os projetos. A pesquisa apenas nos motiva a continuar estudando para

171AbordGestão de materiais: Uma estratégia para redução de custos e eliminação de desperdícios em projetosHélio Manzini Mandarino / Leila Bárbara Menezes Souza / Sinara Dantas Neves

a busca de novas estratégias sobre o tema. Por isso, sugere-se que outros estudos sejam efetuados e fontes de estudos sejam mais consultadas e analisadas como COSTA (2002), LÉLIS (2007), MARTINS (2005).

Referências

ACCIOLY, Felipe; AYRES, Antonio de Pádua Salmeron; SUCUPIRA, Cezar. Gestão de estoques. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

ARBACHE, Fernando Saba et al. Gestão de logística, distribuição e trade marketing. Rio de Janeiro: FGV, 2011.

BARBOSA, Christina et al. Gerenciamento de custos em projetos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

CHIZZOTTI, Antonio. A pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 2005.

CORRÊA, Henrique L. Planejamento, programação e controle da produção. São Paulo: Atlas, 2001.

COSTA, Fábio J. C. Leal. Introdução à administração de materiais em sistemas informatizados. São Paulo: i@editora, 2002.

DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: uma edição com-pacta. São Paulo: Atlas, 1999.

GOLDRATT, Eliyahu M; COX, Jeff. A meta: um processo de melhoria contínua. São Paulo: Nobel, 2003.

LÉLIS, João Caldeira. Gestão de materiais. São Paulo: Brasport, 2007.

LOPES, Sônia: STOECKICHT, Ingrid. Negociação. Rio de Janeiro: FGV, 2009.

MARTINS, Petrônio Garcis; CAMPOS, Paulo Renato. Administração de materiais. São Paulo: Saraiva, 2005.

172 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

MONTE ALTO, Clério Feres et al. Técnica de compras. Rio de Janeiro: FGV, 2009.

MORAES, Francisco Eduardo de Oliveira. Gerenciamento de aquisi-ção, risco e qualidade. Brasilia: Ceteb, 2007.

PEINADO, Jurandir; GRAEM, Alexandre Reis. Administração da produção. Curitiba: Utcenp, 2007.

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Um guia do conhe-cimento em gerenciamento de projetos (PMBOK). 4. ed. Pensilvania: Project Management Institute, 2004.

POZO, Hamilton. Administração de recursos materiais e patrimo-niais. São Paulo: Atlas, 2010.

VALLES, André Bittencourt do et al. Fundamentos do gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

XAVIER, Carlos Magno da Silva et al. Gerenciamento de aquisições em projetos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

173Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

A gestão do estudo para enfrentar o vestibular: relatos de uma experiência

Amanda Cambuí Pereira

Ana Altina Cambuí Pereira

1. Introdução: abrir sem fechar...

Antes de elevar os nossos níveis de estresse já tão comuns na contemporaneidade, quando, em luta por um objetivo, é válido que entendamos, de fato, qual a importância da realização de uma meta para nós e para o mundo.

É sabido por muitos e talvez já seja clichê proferir que o conheci-mento fornece singulares perspectivas que, como asseverou o físico Albert Einstein, “[...] a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Desse modo, compreender o real papel da educação em uma sociedade que se transforma rapidamente e, em conjunto, com a “velocidade da internet”, é fundamental para que possamos criar metas convenientes aos nossos anseios, bem como, sobretudo, às necessidades do homem moderno. Segundo Berman (2007, p. 24),

[...] ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em re-dor – mas, ao mesmo tempo, ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. [...] Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, ‘tudo que é sólido desman-cha no ar.

174 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Destarte, o jovem do século XXI, individualizado em razão da surpreendente tecnologia, necessita de amplos horizontes para decidir o seu cargo social. Logo, possuir um esboço mental a respeito de um mundo que separa humanidade e natureza cada vez mais, visualizando o que esse clama e de que maneira podemos contribuir para sua melhoria, nos direcionará, certamente, para o caminho do sucesso.

De antemão, é evidente que a desejada vitória é proporcional ao esforço e à dedicação de cada um. Sejamos realistas e deixemos de lado a sorte: talvez o café que até então era apreciado torne-se amargo de tão consumido e, possivelmente, algumas coisas que faziam parte do bem-estar pessoal tenham de ser deixadas de lado. Haverá, portanto, impulsos diários e momentâneos que surgirão do nosso íntimo e daqueles que estão à nossa volta, para que continuemos buscando o êxito tão desejado por tantos jovens nessa fase da vida.

2. E, nesse balanço, eu vou...

“‘Supercampeã’ entra em Harvard e em mais cinco universidades americanas”. Foi assim que se tornou conhecida Tábata Cláudia Amaral de Pontes. Ainda que soe tão distante da realidade dos milhares de estudantes dispersos pelo Brasil, Tábata, com apenas 18 anos, almejou seu sonho “meio grande” mesmo inserida em uma limitada realidade financeira, em razão de ser filha de vendedora de flores e de cobrador de ônibus (FAJAR-DO, 2012). Provou, assim, que o fator mais relevante na gestão do estudo para enfrentar o vestibular é a força de vontade. Demonstrou também que “quem tem uma razão de viver é capaz de suportar qualquer coisa”, como registrou Allan Percy em sua obra “Nietzsche para estressados”, que reúne 99 máximas do filósofo alemão. Tábata Amaral, no entanto, deixou a seguinte máxima: “Dá trabalho, mas não é impossível”.

A universidade não pode e nem deve formar pessoas para atender simplesmente a lógica do mercado, uma formação por “encomenda”,

175Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

cujos saberes refletem apenas aos objetivos imediatos do estado. Ora, mais do que formar profissionais, é preciso que a universidade contribua significativamente para a formação de seres humanos que

[...] no exercício de qualquer atividade ou função e nos vários contextos e momentos de sua existência, possam superar a mera competência técnica especia-lizada, viver e agir tendo em vista a plena realização da vida do espírito, da sociedade e da humanidade excelentes, da autonomia, da igualdade, da democra-cia, da justiça. Formar os estudantes [...] na e para a autonomia não significa liberá-los para fazerem o que quiserem, nem serem omissos na defesa de ideias e princípios, mas orientá-los nas questões relativas ao saber, ao ensino, à aprendizagem, à existência social e pessoal. É preciso, então, [...] interrogar o mundo, o homem, a sociedade, a cultura, a educação, a escola e que, elevando-se acima da mediocridade e da banali-zação dessas realidades, contribua para a elevação de todos os humanos ao mundo da cultura, do espírito, da autonomia (COÊLHO, 2006, p. 50).

Em outro contexto, a atriz e estudante Bianca Salgueiro obteve quatro resultados positivos nas maratonas de vestibulares. Aprovada em 1° lugar na classificação geral da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Bianca aliou a rotina de estudos à de trabalho, além de ter unido concentração à responsabilidade. Para dar conta das duas prioridades, ela cortou atividades, como as aulas de mandarim e até o horário de almoço, deixando evidente, dessa forma, que o caminho para a realização de um sonho contará, a todo instante, com a determinação que a pessoa carrega consigo. Em suma, segundo o dicionário Aurélio, o vocábulo determinação significa: “1. Ato ou efeito de determinar (-se).

176 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

2. Resolução, decisão. [...] 7. Característica que serve à determinação: uma qualidade, um atributo, etc.”

3. E o vestibular, o que é mesmo?

Sinônimo de estresse e angústia para muitos estudantes, o ves-tibular, por vezes, é visto como um tormento. Entretanto, é relevante saber, de início, que “[...] denomina-se VESTIBULAR o processo seletivo para ingresso de alunos oriundos do Ensino Médio”, de acordo com o Manual do Candidato da Universidade Federal da Bahia (UFBA, 2012-2013). Assim sendo, é necessário o entendimento de variados assuntos das matérias curriculares do Ensino Médio, a exemplo de Química, Matemática e História.

Por conseguinte, o ingresso de novos alunos em todo o país nas instituições públicas e privadas de graduação ocorre de maneiras diversas, podendo haver ou não o uso da pontuação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), aplicado pelo Ministério da Educação (MEC). Sua não aderência é mais comum entre as faculdades particulares, que possuem modos específicos de execução do vestibular. Todavia, vale ressaltar que essas podem utilizar-se – e utilizam-se – do ENEM. Em contrapartida, significativa parcela das universidades públicas usa a pontuação das provas aplicadas pelo MEC para selecionar os estudantes, e isso se dá de modos variados: abrangências de vagas parcial, total, remanescentes, além de combinações, como total e remanescentes. Varia, portanto, de acordo com as diretrizes das universidades.

Fica sob a responsabilidade do aluno a cautela no que diz respei-to às datas de matrículas e de provas, bem como a atenção quanto aos documentos exigidos em ambos os eventos. De certo, a participação da família e da instituição de ensino é importante, uma vez que o adulto costuma apresentar maior experiência com tais assuntos. Além disso, deve-se atentar para o leque de cursos oferecidos pelas instituições, bus-

177Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

cando descobrir qual a sua vocação profissional. Provavelmente, matérias com maior afinidade restringirão as tantas possibilidades. E preocupar-se, durante a formação estudantil, com as exigências do mercado de trabalho quanto às competências adquiridas, como o domínio de línguas estrangeiras, o trabalho em equipe e até a multifuncionalidade, isto é, possuir especializações diversas acrescenta pontos significantes na lista de habilidades do futuro profissional.

4. Breve reflexão histórica

Outro expressivo tema em se tratando de vestibular no Brasil é a política das ações afirmativas. Sancionada pelo Governo Federal, a Lei n° 12.711/2012 estabelece a reserva de, no mínimo, 50% das vagas para “estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas da rede pública, com distribuição proporcional das vagas entre negros, pardos e indígenas”. Desse modo, oposto à livre concorrência, o sistema de cotas possui o intuito de garantir vagas para determinados grupos que, porventura, tenham sido prejudicados em algum processo histórico e, em razão disso, possuam “[...] maior dificuldade para aproveitarem as oportunidades que surgem no mercado de trabalho”, além de serem “[...] vítimas de discriminações nas suas interações com a sociedade”, conforme o Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação (IPAE, 2010). As vagas deixaram de ser, então, ocupadas somente através do “critério de desempenho acadêmico”, de acordo com o Manual do Candidato da UFBA (2012-2013).

Todavia, compreender a justificativa utilizada para o estabeleci-mento do sistema de cotas requer o regresso ao período colonial no Brasil, com início datado de 1500. Por essa via de pensamento, é essencial a análise da escravidão africana e da indígena, desviando da historiografia tradicional, que se guiam, sobretudo, pelos feitos europeus, suas con-quistas e modo de administração no Novo e Velho Mundo.

178 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

5. Desvelando os caminhos desses mares navegantes...

A princípio, os navios tumbeiros que transportaram os africanos para o Brasil foram somente a primeira provação que esses teriam de enfrentar a partir daquele instante. Os castigos físicos, a negação dos cos-tumes e valores próprios, a separação dos familiares, dentre tantas outras barbaridades cometidas pelos europeus, tornaram homens e mulheres nascidos na África, sobretudo em países como a Nigéria, Moçambique, Daomé e Angola, susceptíveis às desvantagens profissionais e acadêmi-cas na sociedade brasileira hodierna. A sanção das leis do Ventre Livre (1871), dos Sexagenários (1885) e Áurea (1888), não forneceu meios aos ex-escravos de encontrarem condições dignas de sobrevivência, deixando boa parte à margem da sociedade.

Por outro viés, tem-se o índio. Preservado, mais tarde, pelos missionários jesuítas, o real brasileiro sofreu também com o bandeiran-tismo apresador. Contudo, em virtude da escravidão indígena não ser tão lucrativa quanto à africana e, em razão também da resistência de muitos nativos, que morriam por suicídio ou pelo trabalho exacerbado, o índio foi catequizado, recebendo, dessa forma, a cultura europeia e perdendo, como resultado, sua identidade.

Em síntese, a humanidade existente em ambos os povos foi negada em razão dos interesses econômicos de portugueses e espanhóis, sobretudo. As ações afirmativas e, principalmente o sistema de cotas, surgem para restaurar a perdida dignidade. Desse modo, dá-se o ensejo que lhes foi retirado em todo processo histórico, sem cortar, no entanto, “o mal pela raiz”.

6. O que vemos na contemporaneidade?

É evidente que o Brasil ainda carece de investimentos no ensino público, principalmente na educação de base – com a valorização dos

179Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

professores, melhores escolas e, só a partir disso, teremos condições de vermos profissionais bem mais preparados adentrando no mercado de trabalho. Contudo, os gastos de R$26,1 bilhões com a Copa do Mundo de 2014, de acordo com 4º Balanço das Ações do Governo Brasileiro para a Copa 2014, contrastam com os investimentos de R$9 bilhões na educação básica. Além disso, segundo o site “DE$VIÔMETRO”, que tem como base “um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), realizado em 2010, com o título “Corrupção: custos econômicos e propostas de combate”, com a parcela do montante desviado dos cofres públicos seria possível contratar quase três milhões de professores para o Ensino Médio.

Tais números e estimativas ilustram, então, a necessidade de direcionar a atenção do país para o que realmente o leva adiante: a educação – universalizada pelos japoneses durante a industrialização do país. Investir na educação de crianças e jovens, antes de iniciarem sua profissionalização no ensino superior, certamente, proporcionaria maiores efeitos quando comparados aos ajustes que são feitos já durante a gradu-ação. Cabe ao brasileiro, por fim, melhor cuidado nas questões referentes à administração pública, pois mesmo não participando ativamente de movimentos de cobranças políticas, a exemplo do Dia do Basta, exercer a cidadania por meio do voto torna-se extremamente importante, visto que selecionamos pessoas que vão gerir nossas vidas e que serão decisivas no presente e no futuro do país.

7.Minha itinerância para passar no vestibular do curso de direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Sendo o vestibular uma já convenção da sociedade e uma também “obrigação” do jovem para com tal convenção, consolidar alicerces é imprescindível para manter-se de pé no decorrer desse processo. Assim, já de início, admito que a experiência repassada pelos familiares e pro-

180 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

fessores foi, sem dúvida, de essencial importância para que eu pudesse dar alguns passos certos, ou, em outras palavras, levou-me a aceitar as tantas noites mal dormidas, a opção pelo estudo e, por consequência, pelo recolhimento frente aos familiares e amigos, mostrou-me também que haveria o momento certo para descansar corpo e mente, bem como, haveria, na maioria das vezes, a possibilidade de dar mais um pouco de mim. Além desses ensinamentos e de muitos outros que foram escutados e absorvidos com zelo, guardo a preocupação dos meus avós. Enquanto, por um lado, minha avó Rita rezava incessantemente, meu avô Aristides dizia: “Cuidado para não estudar demais e enlouquecer, minha filha. Conheço um rapaz que morreu de tanto estudar”. É o conhecimento popular, o senso comum que é capaz de nos direcionar para um melhor entendimento da ciência pós-moderna, pois esta sabe que nenhuma forma de

[...] conhecimento é, em si mesma, racional; só a configuração de todas elas é racional. Tenta, pois, dialogar com outras formas de conhecimento dei-xando-se penetrar por elas. A mais importante de todas é o conhecimento do senso comum, o co-nhecimento vulgar e prático com que no quotidiano orientamos as nossas ações e damos sentido à nossa vida. A ciência moderna construiu-se contra o senso comum que considerou superficial, ilusório e falso. A ciência pós-moderna procura reabilitar o senso co-mum por reconhecer nesta forma de conhecimento algumas virtualidades para enriquecer a nossa relação com o mundo. É certo que o conhecimento do senso comum tende a ser um conhecimento mistificado e mistificador, mas, apesar disso e apesar de ser conser-vador, tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser ampliada através do diálogo com o conhe-

181Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

cimento científico. [...] O senso comum é indisci-plinar e imetódico; não resulta de uma prática espe-cificamente orientada para o produzir; reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. O senso comum aceita o que existe tal como existe; privilegia a ação que não produza rupturas significa-tivas no real. (SOUSA SANTOS, 1988, não pagina-do, grifo nosso).

Ainda, recordo-me que, ainda antes do início das aulas, já ouvia minha mãe relatar sobre o depoimento de outros jovens que passaram – com sucesso – pelo que eu logo estaria passando, além da indescritível cooperação ao corrigir tantas redações, me transmitindo, dessa forma, o precioso conhecimento que ela carrega nessa área. Contei com os diálogos majoritariamente intelectuais com o meu pai, além de sua tranquilidade e paciência nos momentos mais desesperadores. Em suma, as pessoas que partilharam desta vivência junto a mim tornaram claro que seria um processo árduo, mas que valeria a pena. Percebi que devemos pautar as atitudes nos resultados, respeitando – sempre – o bem comum.

Já em plano individual, foi indispensável visualizar o que estava sendo desejado, bem como o que teria de ser feito para alcançá-lo, a fim de compreender a dimensão do caminho a ser percorrido. Assim, do mesmo modo em que empresas são administradas com propósitos diversos, como cumprir o papel social de produzir emprego e renda, gerar lucros para os donos ou acionistas, contribuir para o crescimento do país e para a sustentabilidade do planeta, a vida de um indivíduo deve ser regida para que esses se mantenham ou incluam-se em trilhos promissores, realizando as metas (flexíveis) dos seus projetos de vida, visto que devemos, sim, nos permitir e evitar fazer da existência uma batalha constante, rodeada de regras individuais. É imprescindível, portanto, saber quais rumos dar à vida, atentando para sua trajetória e, sobretudo, para os empecilhos que

182 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

habitualmente surgirão.

Certamente, meu desafio iniciou-se quando escutei do professor de Geografia que apenas uma ínfima parcela dos terceiros anistas passam no vestibular da Federal em sua primeira tentativa. Foi assim que me senti, então, convidada a aproveitar todas as oportunidades que viriam dali por diante: aulas com conteúdos verdadeiramente explicados, livros que aprofun-davam os assuntos e que forneciam exercícios em associação aos módulos de questões, provas de vestibulares anteriores, que, indubitavelmente, fornecem a técnica da escrita, seja em questões discursivas, seja em produções textuais, jornais expondo a realidade do mundo afora e que explanavam, também, seus posicionamentos críticos, os livros literários – sugeridos e cobrados pela UFBA na 2ª fase do seu processo seletivo – que foram fundamentais para ampliar a compreensão do mundo em que vivemos, assim como as aulas de Literatura a respeito das obras, que esclareceram o que foi dito por cada autor, além das aulas de Filosofia que ilustram o mundo como ele é e que, erroneamente e até infelizmente, são desvalorizadas por grande parte dos alunos do Ensino Médio.

Vale ressaltar que mantive a carga horária de estudos entre 12 e 16 horas, e que o diferencial estava na regularidade, isto é, sentar-se à mesa todos os dias, de segunda a segunda, inclusive feriados. No sábado optava por atividades mais leves, como leituras e documentários.

Sem dúvida alguma, ser vestibulando e estar no 3º ano pode ser impressionante. Se os pés não estiverem firmes no chão, surge o desespero, a angústia e o medo, sobretudo, quando se tem de enfrentar uma alta concorrência. Recorrer, então, ocasionalmente, a atividades desvinculadas do estudo para preparar a mente outra vez para os livros, foi vital. Logo, meus eternos companheiros, a música e o piano, tornaram a jornada mais branda em momentos enfadonhos e estressantes. Foi – e é – necessário aprender a aprender. Ou ainda, quem sabe, apreender a essência dos objetos de estudo; assimilá-los. Descobri que quem quer

183Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

algo faz aquilo que pode para alcançá-lo. Sem rodeios, sem desculpas. Como asseverou meu professor de Filosofia, “seu maior concorrente é você mesmo”. Ainda, recorro a Sousa Santos (1988) para dizer que “se todo conhecimento é autoconhecimento, também todo o desconhecimento é auto desconhecimento”. Por fim, ilustra Clarice Lispector, exímia poeta da 3ª fase do Modernismo no Brasil, os relatos da minha experiência:

Sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida

e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam

Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passaram por suas vidas.O futuro mais brilhante

é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida

quando perdoar os erros e as decepções do passado.

184 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.

A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.

Vivendo um dia de cada vez, o processo tornou-se aceitável, quan-do aplicadas foram, também, algumas doses de ternura pelo que estava sendo feito. E, no final das contas, a dádiva é o conhecimento obtido, visto que esse é uma chave universal, que te leva a lugares inimagináveis – não somente físicos como também intra e interpessoais.

Referências

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BRASIL. Lei n° 12.711/2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Brasília DF, 2012.

COÊLHO, Ildeu M. Universidade e formação de professores. In.: GUIMARÃES, Valter Soares (Org). Formar para o mercado ou para a autonomia? Campinas: Papirus, 2006.

CORRUPÇÃO: custos econômicos e propostas de combate. São Paulo, 2010. Disponível em: < http://www.desviometro.com.br/quem-somos>. Acesso em: 28 fev. 2013.

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186 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

187Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem CognitivaAndré Ricardo Magalhães / Arnaud Soares de Lima Junior / Djalma Fiuza Almeida

Universidade corporativa e a construção dos saberes: a experiência da gestão educativa de uma empresa que possui UC

Anselmo Leite Brum

José Alexandre de S. Menezes

Luiz Gonzaga Mendes

1. INTRODUÇÃO

Novas formas de educação vêm adentrando no espaço das empresas no Brasil, numa pluralidade de concepções, onde são desenvolvidas ações educativas, fundamentadas em universidades corporativas – UC. A Uni-versidade Corporativa no Brasil ainda é um espaço educacional dentro de uma empresa e por ela gerenciado, com o objetivo de institucionalizar uma cultura de aprendizagem contínua, que visa proporcionar até então a aqui-sição de novas competências vinculadas às estratégias empresariais, com o propósito de assegurar vantagens competitivas permanentes às empresas.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte-rior - Portal Educação Corporativa – informa a existência de quase 100 dessas instituições no Brasil. De acordo com Grisci e Dengo (2005, p. 69-70), a denominação UC está basicamente associada aos programas de T&D da empresa, agregando-se a elas um sentido de divulgação mercadológica que gera ganhos de imagem externa e reconhecimento pelo mercado. “O emprego do neologismo Universidade Corporativa passa a ideia de que a empresa utiliza práticas inovadoras e de criação de saberes em T&D.”

Por um lado, de acordo com Meister (1999), Senge (1996), Argyrs e Schön (1996), Davenport (1999), Grisci e Dengo (2005), Nonaka e

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Takeuchi (1997) e Nunes (2000), a universidade acadêmica é incapaz de proporcionar a formação de competências exigida pelo mundo do trabalho em constante reformulação. Seria a universidade corporativa capaz de formar competências para a construção dos saberes para aten-dimento das necessidades empresariais?

Por outro lado vem sendo observado que

a) Salvo raras exceções, estão muito distantes da proposta de Meister (1999). Em muitos casos, os funcionários das empre-sas, apesar de estarem desenvolvendo um curso no interior de uma universidade corporativa, somente recebem a certificação a que fazem jus, depois de apresentarem um projeto de ne-gócio possível de ser executado dentro da empresa (GRISCI; DENGO, 2005).

b) A proposta de educação de funcionários, clientes e fornece-dores é reduzida a cursos para funcionários executivos.

c) As modernas tecnologias de informação e comunicação (TICs) a serviço de uma pedagogia de ensino-aprendizagem não vêm sendo evidenciadas na maioria dos cursos.

d) O processo de ensino/aprendizagem nas UCs é avaliado por princípios pragmáticos e tecnicistas, tipicamente relacionados aos processos econômicos de valorização do capital.

Percebe-se acima que o processo ensino-aprendizagem não tem sido amplamente estudado no ambiente da universidade corporativa, criando assim uma lacuna considerável em discussões acadêmicas e en-tre profissionais, na atividade, conquanto não se trate de algo novo em ambientes educacionais outros. Por sua vez, as empresas, ao longo do seu processo de crescimento e desenvolvimento, vão “criando” e apri-morando conhecimentos e experiências duvidosos que são considerados como processo ensino-aprendizagem. E vários são esses “processos” de

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ensino-aprendizagem que vem sendo praticados.

Varias questões estão na agenda das empresas que possuem uni-versidades corporativas, questões que tentam saber o que vem ocorrendo naquele espaço ou contexto de educação, principalmente sobre o pro-cesso ensino-aprendizagem, conteúdos curriculares, natureza e ganhos do processo de produção de saberes, para a empresa, para o trabalhador e para a sociedade.

Nesses contextos educacionais na Universidade Corporativa importa verificar a natureza da vinculação, através das competências, entre o planejamento estratégico, os objetivos do negócio e a proposta educacional. Como é vista a educação? Se a educação serve aos interesses estratégicos da empresa, como ficam as pessoas nesse processo educativo via universidade corporativa? Como a educação é praticada, entendida e vista, e como influencia a mobilização das competências? Que con-sequências elas têm para as pessoas e qual o papel do indivíduo nesse contexto? Os objetivos do ensino numa Universidade Corporativa visam também a eficiência social? Como entender competência numa UC e sua associação com o currículo e princípios curriculares? Como entender, na construção de saberes, as competências que devem ser mobilizadas, para a empresa? Finalmente, os processos de educação nas UCs são associados aos seus planejamentos estratégicos?

A questão fio condutora que permeia este artigo é: Como uma Universidade Corporativa organiza seu ambiente de aprendizagem à missão de uma empresa, mobilizando saberes (conhecimentos técnicos e tecnológicos), saber-fazer (práticas) e saber-ser (atitudes, valores) dos diversos recursos cognitivos e afetivos dos recursos humanos para a construção de novos saberes?

O objetivo deste artigo é descrever a vinculação da missão de uma empresa, através da Universidade Corporativa, ao utilizar a pedagogia das competências na mobilização do conjunto de recursos

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cognitivos na produção de saberes, capacidades, informações e das competências, fundamentais para a construção da autonomia de seus recursos humanos.

2. Procedimentos metodológicos

Escolheu-se a Universidade Corporativa de uma empresa baiana, principalmente, pela forte vinculação entre a noção de competências e seu planejamento estratégico, onde fica explicitado na sua missão o desenvol-vimento dos recursos humanos vinculado às competências estratégicas.

A Empresa estudada é uma pessoa jurídica de direito privado, constituída sob a forma de sociedade de economia mista, operando no segmento de prestação de serviços. Essa empresa é citada na revista “Exame – Melhores e Maiores – as 500 Maiores Empresas do Brasil”, publicada em 2009 e referente ao balanço de dezembro de 2008, como a 376ª empresa em vendas no País e a 40ª no Nordeste, ocupando o 10º lugar entre as empresas baianas, em receita operacional.

A pesquisa, dada sua natureza, conforme a questão formulada no problema, se enquadra na abordagem qualitativa, no contexto in-terpretativo. Neste sentido é uma pesquisa exploratória, em função da inexistência ou reduzidíssima quantidade de informações disponíveis sobre o fenômeno a ser estudado.

A coleta de dados envolveu as seguintes fases:

1. visitas à Empresa para se criar um ambiente de autorização formal junto à Diretoria;

2. várias discussões sequenciais preliminares com seus gerentes sobre o seu Planejamento Estratégico e aspectos relacionados com a UC;

3. entrevista com perguntas abertas junto à Diretoria da UC e à Diretoria de Recursos Humanos.

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4. Entrevistas junto à Direção da UC.

3. Política de formação profissional na Universidade Corporativa

Do ponto de vista da fundamentação teórica, há razoável produ-ção cientifica sobre Universidade Corporativa, na visão da Administração e Educação. Conquanto a produção científica sobre competências seja rica na área da Educação em geral, pouco ou quase nada foi aplicado nos estudos sobre Universidade Corporativa. Também há uma timidez, neste sentido, por parte dos estudiosos em Educação em Contextos Es-peciais. Portanto, a quantidade de trabalhos existente é muito pequena, fato apurado nas bibliografias citadas e consultadas.

A questão que cumpre levantar consiste nesta fundamentação teórica: é possível pensar uma Política de Formação Profissional na Universidade Corporativa que possua um potencial sóciopedagógico que mobilize competências capazes de criar saberes e gerar uma formação cultural para a autonomia e para a liberdade dos sujeitos?

Santos (1989) admite que as diretrizes das políticas de formação profissional vêm recuperando o papel regulador da ciência, em sua feição dogmática [...], filtrando dos seus pressupostos epistemológicos os sig-nificados para as regras sociais e para as realizações de saber que deviam ser desenvolvidos pelos sistemas de formação e ensino. “Re-vitalizar-se” o processo de “[...] cientificização das políticas sociais e educacionais, num momento em que o Estado parece operar num estilo nitidamen-te tecnocrático, embora diga estar cumprindo de forma efetivamente democrática a realização dos direitos dos indivíduos e grupos sociais” (OFF, 1984).

Quanto à formação sócio-profissional, deve se desenvolver um conhecimento pedagógico estreitamente relacionado, de um lado, a um certo ideal dogmático de ciências que mantém inalterada a visão clássica

192 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

de representação da ciência, da tecnologia e, de outro, sustentado por um discurso mais amplo que vincula a educação, o processo, a modernização social, a democracia e a cidadania aos interesses do capitalismo. Assim,

1. as novas propostas de formação profissional, centradas nas demandas exigidas pelo novo paradigma técnico-científico, resultam de processos reguladores macrossociais que atuam como modelo de legitimação e, principalmente, “discipli-namento” dos atores num contexto de reestruturação dos aparatos do Estado;

2. ao invés de apontar para uma mudança paradigmática do setor, com base no que vem se denominando um novo “pa-radigma emergente”, Moraes (1997), as propostas atuais de formação profissional parecem re-editar enfoques e práticas formativas ultrapassadas e conservadoras que pouco contri-buem para uma análise crítica radical de nossas estratégias de formação para a autonomia e para a cidadania dos indivíduos (de todos os indivíduos);

3. o desafio posto para as ciências sociais e para a pedagogia, em particular, consiste, pois, em compreender como as or-ganizações e os conhecimentos mudam e se transformam de uma forma complexa. A ideia central é o desenvolvimento de “estratégias de reflexividade” capazes de “pôr em crítica” a “autoimagem social” que está em jogo, em um dado período histórico, analisando-se e questionando-se seu impacto na formação das subjetividades sociais (SANTOS, 1989).

Teodoro (2004) sugere que os educadores se deparem com o de-safio de desenvolver uma práxis que corresponda à formação do homem novo, capaz de lidar com as características dessa época sem se descons-truir, de manter-se como pessoa e como profissional, desenvolvendo uma relação crítica com o conhecimento, com as relações do trabalho e da

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sociedade para nelas intervir criativa e autonomamente.

Muito além de conteúdos, o processo de formar profissionais deverá oportunizar o desenvolvimento de esquemas e operações mentais que capacitem o educando como um ser criativo, que saiba pensar, ana-lisar, criticar, avaliar, desconstruir, construir, interpretar, sugerir, fazer, refazer, desfazer, conviver a partir de um quadro referencial de valores que garanta a vida com melhor qualidade para todos, que assegure a participação consciente e permanente na sociedade e no setor produtivo (CORDÃO, 2002, p. 2).

Perrenoud (1997b) define competência como sendo “[...] uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, aplicada em conhecimento, mas sem limitar-se a eles”. Para fazer face a uma dada circunstância, da melhor maneira possível, deve-se pôr em ação e em sinergia um conjunto de vários recursos cognitivos comple-mentares, entre os quais os conhecimentos. Em entrevista concedida a Gentile e Bencini (2002, p. 3), Perrenoud expressou os seguintes pontos de vista, conceitual:

[...] Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural. Os professores devem parar de pensar que dar o curso é o cerne da pro-fissão. Ensinar, hoje, deveria consistir em conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem, seguin-do os princípios pedagógicos ativos construtivistas. Para os adeptos da visão construtivista e interativa da aprendizagem, trabalhar no desenvolvimento de

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competências não é uma ruptura. O obstáculo está mais em cima: como levar os professores habituados a cumprir rotinas a repensar sua profissão? Eles não desenvolverão competências se não se perceberem como organizadores de situações didáticas e de ativi-dades que têm sentido para os alunos, envolvendo-os e, ao mesmo tempo, gerando aprendizagens funda-mentais.

Perrenoud (2002) refere-se às competências como uma orques-tração de diversos recursos cognitivos e afetivos para enfrentar um conjunto de situações complexas. Na mesma linha de pensamento, Le Boterf, (2003) propõe que a competência é a capacidade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para enfrentar uma situação complexa. Assim, a competência não reside nos recursos (saberes, saber-fazer ou saber-ser) a serem mobilizados, mas na própria mobilização dos mesmos. Le Boterf, (2003) admite que a mobilização não é apenas uso ou apli-cação, mas também adaptação, diferenciação, integração, generalização ou especificação, combinação, orquestração, coordenação, ou seja, um conjunto de operações mentais que transformam os conhecimentos, em vez de deslocá-los. Entretanto, o profissional deve não somente saber executar o que é prescrito, mas deve ir além do prescrito. Em última análise, não é necessário ser competente para executar o que é prescrito, para aplicar o que é conhecido.

Entretanto, diante da complexidade da vida moderna, tanto a educação geral quanto a profissional, ou quaisquer outros processos de formação humana (sindicais, ONGs, etc.) estão cada vez mais atentos aos novos desafios que os indivíduos e os grupos sociais precisam enfrentar. Ademais, vem sendo postulado que uma formação humana integral só é possível com justiça social.

Conclusivamente, em termos da pergunta inicial desta seção, que

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conduziu esta reflexão, construir uma organização de ensino/aprendiza-gem é, portanto, condição e produto da implantação de uma Pedagogia das Competências, de forma que o trabalho em “sala de aula” espelhe os processos criativos e inovadores vividos pelos profissionais no cotidiano da instituição. Entretanto, de acordo com Le Boterf (1994), a competência deve ser constituída de três dimensões principais: a formação profissio-nal, as características pessoais (biografia e socialização) e a experiência profissional. Ele enfatiza o aspecto dinâmico das competências, ou seja, as competências não residem nos recursos (conhecimentos, capacidade cognitivas, capacidades relacionais etc.) que uma pessoa possui para mobilizar, mas na própria mobilização desses recursos.

Uma Universidade Corporativa, em termos de concepção e princípios, conforme Meister (1999); Alperstedt (2001); e Eboli (2004) pode ser resumida na figura 1:

Figura 1 – Resumo: concepção e princípios da UC. Fonte: Adaptação de Meister (1999), Alperstedt (2001), Rodriguez y Rodriguez (2003) e Eboli (2004).

PARCEIROS / FORNECEDORES

NEGÓCIO

PRINCÍPIOS

METODOLOGIA / TECNOLOGIA

CLIENTES

OBJETIVOS

ESTRUTURA PRÓPRIA - Missão, Estratégias e Políticas - Logomarca - Funcionários - Clientes - Avaliação E Controle - Resultado

MISSÃO

DISPONIBILIZAR EDUCAÇÃO CONTÍNUA, BASEADA NAS

COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DO NEGÓCIO DA EMPRESA.

SISTEMÁTICA UNIVERSITÁRIA Cursos em base modulares; catálogo de cursos; corpo docente qualificado; estrutura física (prédios e salas) ou estrutura virtual (portais web, videoconferências, televisão e CD ROMs – educação a distância); disciplinas valendo créditos e diplomas

- LÍDERES E GESTORES INTERNOS - CONSULTORIAS EXTERNAS - UNIVERSIDADE DE EDUCAÇÃO SUPERIOR (PARA: sup. Técnico, formação de professores, validação das disciplinas cursadas, conferição de diplomas, consultoria no plan. E execução dos programas )

- Ser agente de mudança na organização - Desenv. Qualificações, conhecimentos e competências relacionadas aos cargos e ao negócio; - Desenv. Habilidades técnicas e conhecimento de valores e da cultura da

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS

FUNCIONÁRIOS, FORNECEDORES, CLIENTES, PARCEIROS, COMUIDADE.

COMPETITIVIDADE; PERPETUIDADE; CONECTIVIDADE;

DISPONIBILIDADE; CIDADANIA; PARCERIA; SUSTENTABILIDADE.

UNIVERSIDADE CORPORATIVA

196 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Figura 1 – Resumo: concepção e princípios da UC.

Fonte: Adaptação de Meister (1999), Alperstedt (2001), Rodriguez y Rodriguez (2003) e Eboli (2004).

Portanto considera-se que a definição e construção de compe-tências profissionais não deve ser pautada pelas necessidades e demandas advindas do mercado, na ótica do capital, mas deve levar em conside-ração: “[...] a dinâmica e as contradições do mundo do trabalho, aos contextos macroeconômicos e políticos, as transformações técnicas e organizacionais, os impactos socioambientais, os saberes do trabalho, os laços coletivos e de solidariedade, os valores e a luta dos trabalhadores” (DELUIZ, 2001, p. 9).

A Universidade Corporativa deve também considerar uma edu-cação corporativa que conduza a uma inteligência coletiva na comuni-dade da empresa. Isto porque a construção de conhecimentos é feita em cooperação, em conjunto. Ela é coletiva. No espaço da UC é possível dominar o contexto que os alunos vão manipular, assim como ter um conhecimento geral dos princípios da construção de conhecimentos e dos vários papéis dos indivíduos envolvidos na mesma construção coletiva. Por isso, numa UC pode-se estimular a prática da construção coletiva de conhecimentos.

4. Tempos e andamentos na educação corporativa da empresa estudada

Esta seção tenta identificar como é interpretado o processo de construção de saberes na Universidade Corporativa da Empresa objeto do estudo, baseando-se na noção ali prevalecente sobre o que se constitui em competências e seu processo de mobilização de saberes conforme alinhamento com a empresa e com o trabalhador. Apresenta-se a constru-ção atual das competências na UC, a partir de mudanças em concepção

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que estão em processo. Busca-se descrever a seguir a natureza dessas mudanças paradigmáticas na UC. Ou seja, há incentivo para a produção de saberes e seu alinhamento para a mobilização das competências dos trabalhadores da Empresa? A UC esta pondo em prática novos currículos, novas pedagogias e conteúdos que reconhecem os objetivos da Empresa, mas também aquilo que os trabalhadores legitimamente aspiram em termos de suas perspectivas pessoais? Há articulação gratificante entre os objetivos ou missão da Empresa em termos de desempenho laboral ou empresarial, e as aspirações dos seus empregados? Os resultados, a seguir apresentados, são interpretativos do pensamento atual dos diretores entrevistados, resultantes da confluência de opiniões expostas, diante das perguntas e das respostas, mais significativas, aqui chamadas de trechos ou excertos.

Projeto Político Pedagógico da UC – Os diretores responde-ram que os currículos foco da UC nos próximos anos, dado a visão da empresa até 2028 se voltarão para as seguintes competências, em quatro perspectivas, a saber:

1. Perspectiva: Sujeitos (pessoas) e Tecnologia: a) Desenvolvimento de Pessoas nas Competências Estratégi-

cas. b) Tecnologias de Gestão e Processos. c) Sistemas e Infraestrutura de TI.

2. Perspectiva: Processos Internos. a) Gestão de Suprimento, Transporte e Patrimônio. b) Gestão de Processos de Operação de Água e Esgoto. c) Gestão de Expansão de Sistemas de Água e Esgoto. d) Gestão Comercial. e) Comunicação

3. Perspectiva Financeira a) Eficiência Empresarial

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b) Capacitação de Recursos e Eficiência de sua aplicação.

4. Perspectiva Sociedade a) Sustentabilidade Socioambiental. b) Cobertura dos Sistemas Água e Esgoto. c) Satisfação do Usuário. d) Contratos de Programa

Quanto ao Projeto Pedagógico da UC, observa-se que ainda não está explicitado, clara ou implicitamente, a visão do homem e da sociedade servidos pela Empresa.

Concepções de ensino / aprendizagem na UC – O processo de ensino/aprendizagem no dia a dia na UC objetivará buscar um modo pelo qual o projeto didático pedagógico estabeleça um espaço crítico de reflexão de construção do saber, para os funcionários, fornecedores, clientes e/ou comunidade. O pressuposto teórico é o de que os espaços onde a Empresa atua são os “espaços educativos” – pelos indivíduos e pelos coletivos, do trabalho e dos relacionamentos socioambientais com o coletivo. Será uma didática pedagógica reflexiva, contínua.

O programa oferecido desde 2009, pela UC, focaliza diversos perfis de interesse da Empresa e da sociedade, ele vai buscar parcerias com outras universidades acadêmicas, utilizando inclusive professores universitários, para o planejamento das atividades educativas na UC.

Quanto ao investimento em pesquisa a diretoria informa que até então não houve investimento em pesquisa. Para tanto seria necessário investir em laboratórios tecnológicos, bibliotecas e outros – bem como em professores dentro da empresa com especialização, mestrado e dou-torado, sempre com foco na pedagogia das competências.

Construção de competências na UC – De acordo com o Projeto Político Pedagógico, as competências profissionais e sociais são condi-cionadas pela Empresa em termos do planejamento estratégico e pelas

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atividades de trabalho. O problema é a modalidade de aprendizagem em termos pedagógicos. Isto é, os currículos serão voltados para a formação de saberes e de modelos de gestão. Delineadas as competências a serem desenvolvidos, far-se-ão os currículos para competências diferenciadas, conforme as lógicas: a) que presidam a produção de saberes; e b) uma lógica dos recursos humanos da Empresa, voltada para a gestão das suas competências.

As competências prioritárias são analisadas sobre três dimensões fundamentais: competências técnicas, competências estratégicas e com-petências relacionais.

As competências técnicas dizem respeito a um conjunto de ca-pacidades que permitem realizar ações de trabalho coerentes e distintas no seio de um determinado domínio de tarefas, bem como as diversas intervenções praticas que essas ações parcelares implicam. Se não defini-das em função das capacidades cognitivas que comandam determinada tarefa. Também considera a relação de trabalhadores com o equipamento técnico, em procedimentos e processos. Estes fatores estruturam o tipo adequado de competência a ser tratado na UC. Combinação de saberes heterogêneos que mobilizam capacidades cognitivas coletivas.

As competências estratégicas se definem pelo próprio conteúdo substantivo. Dizem respeito ao grau de controle que o funcionário exerce sobre as ações de trabalho, a qualidade da sua execução, responsabilidade, iniciativa. Durante a execução de determinada tarefa, o trabalhador se vê diante de eventos inesperados, como erros, falhas, defeitos, perturbações, as quais lhe exigem medidas corretivas, diagnósticos, solução do proble-ma, com maior grau de envolvimento pessoal, individual; ou partilhada com outros trabalhadores e ou equipe.

Quanto às competências relacionais, trata-se de competências, a depender do perfil do trabalhador ou técnico ou administrativo em termos de: a) capacidade de interação com o outro; b) capacidade de co-

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municação; c) capacidade de cooperação; e d) capacidade de participação. Elas são definidas em função da capacidade cognitiva de interação com o outro. Trata-se do pilar de Delors – aprender a ser, aprender a conviver, aprender a aprender e aprender a fazer e a se relacionar com o público consumidor.

Observou-se que permeia nas falas dos diretores uma preocupação com a construção de saberes voltados para competências, sob principal-mente a perspectiva organizacional; ou seja, do interesse da Empresa. Isto é, a aquisição, a estimulação e o desenvolvimento de competências profissionais ou operacionais.

Currículo na UC – Foi considerado que o processo de ensino/aprendizagem na UC precisa ser inteligente, ter professores inteligen-tes, desenvolver currículos inteligentes, para cumprir as estratégias da empresa. Por sua vez, foram feitas perguntas quanto à composição do currículo, no sentido de que deve romper ou não com a atual segmentação e o fracionamento dos cursos da UC, onde conhecimentos e saberes não se inter-relacionam, ou se constroem, complementam-se? Devem ser as disciplinas meros recortes organizados de forma didática ou se deslocarem do domínio cognitivo para o social, político, ambiental e ético?

Percebe-se ser um desafio na UC da empresa estudada: estruturar projetos pedagógicos inovadores que passam das contas das novas necessida-des educacionais não só da empresa, mas das lideranças municipais, ONGs, políticos, comunidades, empresas e instituições governamentais, federais, estaduais e municipais, imprensa, fornecedores, empresas privadas.

É preciso que a UC atente que o processo formativo é um pro-cesso educativo que desenvolve a participação crítica consciente, da colaboração ativa, da avaliação não apenas individualizada como ocorre, mas da avaliação coletiva do processo ensino-aprendizagem, para formar cidadãos – trabalhadores críticos, criativos, autônomos, de forma que todos os funcionários compreendam o seu valor.

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Quantos aos conteúdos curriculares, eles deveriam ser integrados na UC. Com essa exigência requer que a UC rompa suas amarras de ser promotora de formação fragmentada e reconstrua na sua área específica de conhecimento, links, intimidades e/ou “promiscuidades” com outras áreas de saber. A solução dos problemas está cada vez mais vinculada a uma visão global de processos como ainda ocorre, ser separados em disciplina.

Também a UC deverá, gradativamente, trabalhar na experiência político – social do trabalhador – cidadão. Resgatá-la, valorizá-la nos pro-cessos educativos. Isso alcança a autoestima, o resgate da visão de mundo e da vida político – social – profissional. O trabalhador deve se construir para os debates sobre políticas públicas e esses debates necessariamente devem fazer parte, na agenda curricular da Empresa, por que capacita não só o trabalhador mas a própria empresa, numa educação voltada para o debate público. É formação humana, profissional, crítica – formadora de sujeitos e instituições críticas e éticas.

Foi questionada a diretoria da empresa, se a UC tem atenção, em seu currículo para cursos voltados para mobilizar competências, através do ensino, focando envolvimento com a comunidade. A resposta foi afirmativa explicando que, para tanto, em termos de ensino, o objetivo é criar espaços que permitam aflorar reflexões, com a sociedade baiana, permitindo-se ser um espaço educacional de inovação científica, cultural e social, nos valores existentes, tanto entre funcionários como na comu-nidade, inclusive criando novas pedagogias, vivências, aprendizagem, convivência. Criar uma convivência com a comunidade para trocar ideias, debates sobre melhoria da qualidade de vida, interpretação do meio ambiente relacionado ao recurso hídrico. Enfim, a UC vai desenvolver competências não só entre funcionários da empresa, mas competências sociais, na comunidade. Isto é, competências para serem mobilizadas, para a sociedade contribuir para a Perspectiva Sociedade.

202 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Planejamento Estratégico da empresa – A diretoria afirmou apoio ao alinhamento ou um componente temporal, ao longo do pe-ríodo da vigência da visão da empresa para o período de 2011 a 2028. No longo prazo serão aderências comprometidas não somente nas datas, mas também de alinhamento da UC, com suas proposições curriculares e conteúdos. A partir do Mapa Estratégico, a UC terá um programa de metas de ensino-aprendizagem e de resultados. Far-se-á na UC uma trilha de aprendizagem que resulta de um plano curricular e pedagógico de desenvolvimento de competências, ao longo de período T¹, T², T³... Tn-t, Tt. Este percurso recebe aportes: a) de Avaliação Funcional com Foco nas Competências; b) da Avaliação de Desempenho com Foco nas Competências e Resultados Estratégicos; e c) da definição da Política do Desenvolvimento de carreiras. Tudo na visão 2011 e ano 2028. Isto se chama alinhamento da UC, como o planejamento Estratégico.

Avaliação na Empresa e o Papel da UC – Quanto aos critérios e parâmetros para avaliar e mobilizar as competências, a diretoria admite que a avaliação funcional na empresa será também baseada em critérios que mobilizam as competências, trabalhadas na UC. Estamos instituin-do o chamado “Chá de Competência” – que é baseado em três fatores: Conhecimento, (o saber); Habilidade, (o fazer); e Atitude, (o querer).

1. O conhecimento tem como critério: a) Experiência Profissional: Tempo de serviço b) Formação/Qualificação Profissional: Escolaridade/Capa-

citação

2. A Habilidade ou o Fazer têm como fatores: a) Capacidade de Atuação: Complexidade, Padrão de Traba-

lho; b) Capacidade de Realização: Produtividade, Proatividade;

Inovação; c) Foco em Resultados: Abrangência da Atuação; Foco Proces-

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sual/Unidade/Divisões; Foco Setorial/Área/Departamento; Foco Inter-setorial/Área/Superintendência/Diretores.

3. A Atitude terá como critérios e parâmetros, os seguintes fa-tores:

a) Comprometimento e Senso de Responsabilidade; Normas, Procedimentos, Padrões, Valores e Missão da Empresa;

b) Trabalho em Equipe e Relações Interpessoais: Abrangência (setorial), Organizacional;

c) Referencial: Liderança, Competência;

A UC terá entre seus objetivos: a) incentivar o autodesenvolvi-mento; b) melhorar o desempenho dos talentos; c) desenvolver programas educacionais para reter pessoas e grupos de competência; e d) consolidar um grupo funcional de excelência.

A avaliação funcional será utilizada pela Empresa para posicionar adequadamente o empregado na tabela salarial, em razão da competência demonstrada e reconhecida no exercício das suas atribuições e respon-sabilidades. Quem promoverá o funcionário é a aprendizagem que o mesmo venha buscar na UC, focada em competências.

4. Considerações finais

A UC estudada não está próxima de ser uma universidade dese-jável para a Empresa. Segundo a diretoria, até 2009 esteve voltada para o ensino técnico/administrativo ao seu publico interno. Estar-se-á indo em direção à desejabilidade, digamos relativa, em termos de ensino, pesquisa e extensão ao seu público não apenas interno, mas também ao seu público de interesse e à comunidade que se serve dos serviços prestados pela empresa.

A UC precisa saber aprender, saber comunicar, saber agir, saber mobilizar competências, saber compreender-se, saber assumir respon-

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sabilidades, ter visão estratégica. Percebe-se a intenção de fazer emergir um melhoramento continuo ao nível do conteúdo cognitivo, humano e relacional, a favor do trabalhador da Empresa. Varias mudanças vem sendo previstas, desde 2009, no que diz respeito à mobilização da inteligência coletiva, na Empresa. Poder-se-iam enumerá-las: 1) criação de um ambien-te social de trabalho em grupo; 2) motivação para o compartilhamento do conhecimento como valor instrumental; 3) uso do conhecimento; 4) desenvolvimento de uma cultura organizacional que facilita mudanças; 5) melhoria na distribuição de conhecimento entre os que necessitam dentro e fora da empresa; 6) desenvolvimento individual; 7) melhoria na apren-dizagem em grupo; 8) melhor colaboração dos funcionários de diferentes áreas da Empresa, e ambiente social de colaboração. Enfim, a UC, vem incentivando uma infraestrutura de conhecimento, o que aumenta o fator humano e relacional a favor do trabalhador.

Como conclusão geral, a Empresa, através da UC, ao longo do tempo vem se apresentando com aprimoramento em seus conhecimentos e experiências que podem ser natural e gradativamente integrantes de um processo educacional desejável. Vem, por assim dizendo se definindo, em sua própria experiência. Há, entretanto outras formas de aprendizagem e conteúdos, que exigem reformulações curriculares, que não são apenas direcionados às tecnologias e ou gestão financeira.

Decisivamente o atrelamento das atividades da UC ao Planeja-mento Estratégico aponta para a necessidade de mudanças processuais ou estruturais impelidas à aprendizagem. As experiências e conhecimentos positivos ou negativos da UC, adquiridos ao longo de processos de mu-danças são extremamente enriquecedoras. Entretanto, essas experiências adquiridas indicam que a aprendizagem ocorre via processo de treinamen-to e desenvolvimento dos funcionários da Empresa. Vem se observando, conforme resultados da análise realizada, sob a educação voltada para as competências, que o foco necessita se deslocar, preferencialmente para

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outras competências humanas e conceituais. De fato, há indicação nessa direção, com o passar dos poucos anos de atividades da UC.

Conclui-se que a Empresa ainda vem investindo em cursos vol-tados para as áreas de engenharia, logística, administração, gerência e informática. Portanto, ainda foca as core competencies. Evidentemente, esses fatores são determinantes para a Empresa. Entretanto, a UC terá que se inovar em outras dimensões de competências, não apenas aquelas que não diferem de departamentos de treinamento e desenvolvimento comuns nas empresas que têm UC.

Ademais, não se observou na proposta da UC um enfoque so-ciocultural ao compreender que, em educação, o “Ser” se constrói na relação que o conhecimento é produzido na interação e na comunicação com o mundo físico e social a partir do contacto do indivíduo com a sua realidade, com os outros, incluindo aqui a dimensão social, dialógica, inerente à própria construção de saberes. Um diálogo que faz o sujeito um “ser dotado e situado”, que busca projetar-se, sair de si mesmo, a partir de sua ação e reflexão sobre o mundo e da compreensão de sua própria natureza humana e divina, voltada inclusive para suas responsabilidades com o meio ambiente.

Entretanto já se observam indícios de propostas para o alinha-mento entre o Plano Estratégico 2011-2028 com o currículo da UC e perspectivas: i) Perspectiva Sociedade; ii) Participação das Esferas de Governo envolvidas com a Empresa, na elaboração de Planos Locais e Regionais; iii) Contabilidade regulatória e patrimonial; iv) Sustentabili-dade socioambiental; v) Educação ambiental; vi) Gestão ambiental; vii) Gestão de resíduos; viii) Responsabilidade social; ix) Perspectiva Pessoas e Tecnologia: x) Desenvolvimento de competências; xi) Inovação tecno-lógica e; xii) Eticidade.

Conquanto, essas perspectivas ainda não estejam consideradas nos currículos da UC, percebe-se que serão os novos referenciais para

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inovar a UC, já observados nas entrevistas com o Diretor Administrativo e a Diretora do Departamento de Recursos Humanos.

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Subsídios para Gestão Pública a partir de uma abordagem crítica da Tecnologia e da Modelagem Cognitiva

André Ricardo Magalhães

Arnaud Soares de Lima Junior

Djalma Fiuza Almeida

1. Introdução

Abordar criticamente a problemática da gestão exige como condi-ção fundamental, de um lado, compreender os fundamentos epistemoló-gicos que compõem a racionalidade que a sustenta e, de outro, orientar seu primado pragmático e funcional, a fim de que, em razão da crítica aqui vislumbrada, possamos apontar indicadores e potenciais de deslocamento e de subversão da ênfase mecanicista, positivista e tecnicista – que está localizada no chão da sociedade moderna, para uma abordagem que leve em consideração a irredutibilidade deste processo/objeto a modelos e à lógica operativa que instrumentalizam as políticas e ideologias na área; que considere sua natureza dinâmica, contextual, processual e, enfim, relativa ao papel e à função desempenhados pelos sujeitos envolvidos neste processo, na sua constituição, ressignificação e reinvenção, em con-sonância com as novas condições societárias contemporâneas, distintas da modernidade ou mesmo consideradas pós-modernas1.

1 A Pós-Modernidade, aqui, significa não-modernidade em termos de processos e dinâmicas societárias e humanas que não se caracterizam pelas hegemonias prag-máticas e racionais modernas, no interior mesmo da chamada Modernidade. Logo, trata-se de uma Pós-Modernidade lógica e não cronológica. Não como um modo todo coerente, todo desenvolvido e orgânico em oposição radical à Modernidade.

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A ênfase moderna e, dentro dela, as bases do mecanicismo, do determinismo e do tecnicismo, em qualquer processo tomado como objeto de compreensão, de explicação e de transformação, não só na área da Gestão, assume determinada maneira de conceber o sujeito e o objeto do conhecimento, bem como o processo metodológico que os engendra ou relaciona.

Nesta reflexão, vamos demonstrar os efeitos dessa epistemologia moderna na Gestão, enquanto crítica ao modelo ou abordagem raciona-lista, instrumental ao modo capitalista (HOKERHEIMER; ADORNO, 1985), hegemônica enquanto ideologia, a fim de traçarmos indicadores ou subsídios para a compreensão e vivência de um processo de Gestão Pública democrática, anti-hegemônica, caracterizado pela singularização em contextos histórico-sociais e subjetivos; portanto, enquanto processo dinâmico, relativo, irredutível, ao mesmo tempo plural. Esta fronteira porosa ou na ausência de fronteiras, indicaremos subsídios teóricos e práticos necessários, mas não definitivos e nem universais, para uma experiência de gestão marcada pela colaboração, interatividade, pela criatividade, pelo saber ao invés do conhecimento formal.

Neste sentido, iremos também indicar potenciais tecnológicos que traduzam operacionalmente tais possibilidades, sem pretensões de garantias e nem de verdades abstratas, visto que todo processo humano, particularmente, aqueles relativos à gestão e à organização de processos e de objetos, são naturalmente vinculados ao jogo do poder, tanto na

Mas, como uma tendência e um vir a ser, um já e ainda não – aproveitando uma expressão da Teologia –, geradora de princípios, funcionamentos, expressividades e intensidades que, no seu âmbito molecular, ou mesmo na sua microdinâmi-ca constitutiva, já são uma não modernidade, enquanto contradições, brechas e resvalamentos da Modernidade. Neste sentido, “pós" Modernidade, aquilo que tem uma qualidade diferente do que é moderno, mas que deriva de sua falta e de sua falha. Refere-se à qualidade de processos humanos e sociais que subvertem a instituição da Modernidade, atravessando tudo o que foi muito caro à cosmovisão moderna – a economia, a sociedade, a cultura, a política e suas relações.

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instância das macros quanto das microdinâmicas; tanto sociais e coletivas, quanto individuais e subjetivas.

Nosso primeiro movimento incidirá sobre a problematização do conceito de Gestão a partir das contribuições derivadas do processo de construção da macronoção de “Governança”, relacionando-a com o conceito/instância menor da gestão. Ao refletirmos sobre o constructo que fundamenta esses objetos (a Governança e a Gestão), num segundo movimento, incidiremos sobre seus possíveis nexos com uma compre-ensão não determinista, não mecânica e não tecnicista do processo tec-nológico, em razão de que a pragmática dos processos organizacionais e de gestão implicam diretamente um aspecto racional tecnológico e uma base instrumental.

Não obstante este lugar pragmático e instrumental ser extrema-mente vasto, nosso terceiro movimento será restringi-lo ao aspecto do lugar que a abordagem crítica da Modelagem Cognitiva pode representar nos processos organizacionais da Gestão Pública. Isto se torna necessário porque o mundo produtivo no qual as teorias e as pragmáticas de admi-nistração – que envolve diferentes modalidades organizacionais, gestoras e operacionais –, baseiam-se contemporaneamente no conhecimento, na sua geração e difusão, tomados como infraestrutura ou base produtiva (TOFLLER, 2001; CASTELLS, 2000; LÈVY, 1998; SCHAFF, 1995; HARVEY, 1998).

Diante deste contexto societário, finalmente, afunilaremos esta unidade reflexiva para a descrição de uma pesquisa aplicada que visa, minimamente, traduzir nossa abordagem crítica da Gestão Pública em realidade, enquanto alternativa possível e viável, que, embora aqui seja apresentada teoricamente, não tem pretensão de esgotamento de seus potenciais de atualização, nem de sua redução a um conhecimento produzido como a verdade paradigmática e universal deste processo. Diferentemente, esta pesquisa busca dar vazão a tudo o que pode ser

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expresso e instituído como construção dos sujeitos em contexto, de modo autônomo e criativo, de forma relativa. Sobremodo, trata-se de uma pesquisa comprometida com o processo de democratização da Gestão Pública, bem como de seus instrumentos, assumida a intenção de intervenção real, embora de forma relativa e inacabada, em perma-nente processo de desconstrução e reconstrução, como é próprio de toda estrutura (DERRIDA, 2002).

2. Fundamentação epistemológica da Governança como subsídio à compreensão crítica da Gestão Pública

O termo “governança” tem assumido, contemporaneamente, um significado mais amplo, ultrapassando seu uso, seja como significado técnico da economia preocupada com as relações entre os mercados na-cionais, seja enquanto parte integrante do jargão do mundo corporativo. Segundo Luna (2011, p. 36), a noção de governança passa a denotar

[...] a capacidade que as sociedades humanas pos-suem para implantarem sistemas de representação, de instituições e processos, de corpos sociais, para elas mesmas se gerirem, em um movimento volun-tário. Esta capacidade de consciência (o movimento voluntário), de organização (as instituições, os cor-pos sociais), de conceituação (os sistemas de repre-sentação) e da adaptação a novas situações é um dos traços que nos distinguem das outras sociedades de seres vivos.

Assim dimensionado, o conceito de governança, segundo Gon-çalves (2006, p. 3-4), passa a referir-se a

[...] padrões de articulação e cooperação entre atores

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sociais e políticos e arranjos institucionais que co-ordenam e regulam transações dentro e através das fronteiras do sistema econômico onde se inclui não apenas os mecanismos tradicionais de agregação e ar-ticulação de interesses, tais como os partidos políti-cos e grupos de pressão, como também redes sociais informais [...], hierarquias e associações de diversos tipos.

Com isso, a capacidade de governar não seria tão somente avaliada “pelos resultados das políticas governamentais, e sim também pela forma pela qual o governo exerce seu poder” (GONÇALVES, 2006, p. 1). Por outro lado, este primado formal e institucional da governabilidade apenas expressa uma determinada materialização de uma instância maior, aberta, flexível, indeterminada e inesgotável do Governo, atualizado e relativizado em contextos históricos, sociais, humanos através de princípios e modos de representação, dinamizados por agenciamentos sociotécnicos, nos quais a ação humana plural se torna fundamental. Desta forma, trata-se de um processo sempre em desconstrução/reconstrução e transforma-ção. Com isso, gerando funcionamentos específicos e relativos, nunca reduzidos a verdades fixas, estáticas ou deterministas.

Assim, a Governança também oferece bases para uma forma de gestão que chama à responsabilidade os sujeitos que atuam na miríade de processos da Gestão Pública e da sociedade civil; sujeitos que, portanto, tecem a malha de interesses e expectativas sobre a qual se assenta o Estado e as instituições privadas. Esta noção de Governança tem exigido um maior conhecimento acerca do modo como tais interesses e expectativas podem, ao cabo, influenciar os resultados da aplicação dos valores e acordos previstos no âmbito da Gestão. Isso, pois,

[...] na contemporaneidade, vivenciamos uma pro-

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funda reestruturação dos sistemas de informação e comunicação, das relações econômicas e da educa-ção. Este novo cenário desencadeia processos de in-dividualização, diversificação nas relações de traba-lho e mudanças que repercutem nas formas de gerir as organizações e os processos humanos. Ocorre ain-da um aumento da concorrência econômica global utilizando-se da revolução técnico-científica para di-namizar os processos em todas as dimensões sociais, dentro de uma lógica, eminentemente, paradoxal, pois, de um lado, demonstra-se racionalista e homo-geneizadora e, de outro, mostra as potencialidades das redes nos espaços econômicos, sociais, culturais e educacionais, criando possibilidades solidárias, éti-cas, democráticas (LIMA JR; NOVAES; HETKO-WSKI, 2012, p. 2).

Para Lima Jr., Novaes e Hetkowski, a superação deste modelo exi-ge que a Gestão seja pensada e instituída “como efeito de uma racionali-dade outra, calcada na pragmática e operacionalidade estético-expressiva, na qual o papel de cada sujeito, a partir de sua condição participativa e de autonomia, desempenha uma função fundamental” (LIMA JR.; NOVAES; HETKOWSKI, 2012, p. 9). Tal consideração logo parece desdobrar-se em questão que nos soa desafiadora:

O que seria exatamente uma gestão que leve em con-sideração seu dinamismo interno de comunicação e também o conhecimento ou o potencial intelectual como sua base estruturante? Como pensar e instituir a gestão tendo como horizonte político não mais a luta hegemônica – que também implica no fim das metanarrativas e da lógica paradigmática –, mas a

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convivência na diferença? Isto equivale a perguntar: como instituir a gestão com base na diferença e não na identidade? Como pensar a gestão em bases es-téticas criacionistas e não em bases epistemológicas duras, como reflexo da racionalidade instrumental, tecnicistas e mecanicistas? Como pensar a gestão não como um mero instrumento técnico-científico para as redes sociais, mas como uma rede, um dinamismo rizomático, um movimento instituinte ou mesmo um processo anárquico? (LIMA JR.; NOVAES; HE-TKOWSKY, 2012, p. 9).

A perspectiva da Governança para a Gestão democrática, pois, “compreende a ação conjunta de Estado e sociedade na busca de soluções e resultados para problemas comuns”, e que o surgimento dos atores não-estatais é central para o desenvolvimento dessa dinâmica e de sua prática (GONÇALVES, 2006, p. 14). Esta abordagem de Governança solicita uma visão de Gestão que leve em consideração as singularidades e as expectativas locais, obstáculos e entraves endêmicos e singulares a determinada região ou localidade. Podendo prescindir da participação do Estado, a governança local, versão regionalizada da perspectiva da Governança pública, tem sido considerada uma possível resposta às questões anteriormente levantadas ao ser definida como:

[...] uma forma autônoma de coordenação e coope-ração, por meio de redes interorganizacionais, que podem ser formadas por representantes de organiza-ções políticas e administrativas, associações, empresas e sociedades civis, com ou sem a participação estatal (KISSLER; HEIDEMANN, 2006, p. 482).

Entretanto, entendemos tratar-se de uma tendência e de uma

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instância que pode gerar formas específicas e críticas de gestão, ligadas di-retamente com a qualidade social da dinâmica organizacional, que implica participação real, individual e coletiva, colaboração, compromisso com transformação da coisa capitalista em vista da justiça e equidade sociais, hoje em dia mobilizada por uma profunda modificação dos processos produtivos, vinculados a processos maximamente simbólicos, uma vez que o conhecimento se tornou força produtiva e, com isso, todo dinamis-mo das relações sociais do trabalho se modificou, com desdobramentos em todos os aspectos da condição social (SCHAFF, 1995).

Apesar das expressões governança pública, governança em TIC e governança local serem frequentemente utilizadas quando se busca fazer referência a uma forma de gerir que leve em consideração os desejos dos atores sociais e os modos de expressão, nota-se, por vezes, a existência de um expressivo hiato entre: I) a aplicabilidade do que projeta a gover-nança pública; II) o uso das TIC como recurso que interessa e se torna fundamental para a sociedade, conforme enfatiza Pinho: Os Facebooks e outros instrumentos só facilitam a vida e a atuação políticas se a socie-dade estiver interessada nelas. Por isso mesmo, “Não adianta magnificar a tecnologia, colocá-la num pedestal por seu potencial transformador, se a sociedade não estiver interessada nessas mudanças” (PINHO, 2010, p. 45), a valorização e escuta dos diversos atores e grupos sociais diretamente afetados pela gestão mediante a criação “de instrumentos de participa-ção, amplamente divulgados e postos ao alcance de todos” (AKUTSU; PINHO, 2002, p. 731).

Em decorrência, podemos compreender que não existe forma ideal de gestão e nem tão pouco um modelo conceitual, nem bases instrumentais, que possam explicar e propor em definitivo o que deve ser um processo de gestão. Neste horizonte, o conhecimento da Gestão não se fecha na racionalidade científica, como se fosse a verdade última e única capaz de explicar e determinar, em absoluto, a Gestão. Assim, sua

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natureza se modifica em condições contextuais, históricas, sociais, gerais ou particulares, bem como no nível ínfimo da subjetividade de quem vivencia tal processo, deslocando-a da posição do significado formalizado por um conhecimento técnico-científico para o lugar de um significante para um sujeito qualquer. Desta forma, não se pode compreender a estru-tura/dinâmica da gestão sem pensar o papel e o lugar que o sujeito exerce neste processo. Logo, só podemos vislumbrar uma formalização e uma institucionalização da gestão, em qualquer de seus aspectos, enquanto resvalante, incompleta, lacunar, inacabada.

Tais dificuldades – aludidas acima, advêm, sobretudo, da resistên-cia frente a uma nova perspectiva para a Governança, que requer, para que seja integralmente assumido pelo Estado, o necessário abandono de uma lógica de gestão tradicionalmente “fundada na racionalização científica do processo, e gestada na base de uma divisão social do trabalho entre os que pensam e os que executam, refletido, outrossim, a divisão mais ampla do jogo social” (LIMA JR.; NOVAES; HETKOWSKY, 2012, p. 13). Isso, pois,

O movimento dos sujeitos, nas organizações do sé-culo XXI, demanda a compreensão de outra lógica, que consiste no modo como formamos nossos juí-zos e como relacionamos os conceitos com o caráter prático das coisas, bem como as interferências e a construção de sistemas formais que devemos operar de acordo com as necessidades humanas [...]. Nem todos os sujeitos estão preparados e dispostos para entender outra lógica, diferente daquela instituída há muitos séculos [...] (LIMA JR.; NOVAES; HETKO-WSKY, 2012, p.14-15).

Para Lima Jr., Novaes e Hetkowsky (2012), tal aversão encontra

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uma de suas possíveis razões na falta de compreensão do novo lugar des-tinado ao sujeito, ativo e autônomo, o que implica “a composição de um diferente horizonte político em que a busca de hegemonia perde sentido, com a ascensão de uma condição histórica de convivência na diferença, em permanente processo de negociação, de correlação de força” (Idem). Este lugar da autonomia pode ser exercido também nas redes digitais, ora reconhecidas como plataformas que comportam e transmitem vivências, relatos e desejos e que exigem, dos atos de governo, o respeito ao nome próprio, também a participação individual e coletiva, a criticidade, “o respeito ao saber-fazer dos partícipes, o acesso às informações e diálogos entre os pares”. Para Lima JR.; Novaes; Hetkowsky (2012, p. 14-15),

[...] abordar as redes sociais implica em constatar a emergência de dinâmicas e operações que se articu-lam em razão das relações e laços sociais, assim tanto entram em cena aspectos relativos aos interesses eco-nômicos, políticos, sociais, como aqueles de ordem cultural e subjetiva.

Esta nova ordem de coisas solicita, portanto, a deposição de “velhas bases analíticas sociológicas, que visavam à dinâmica social em função da produção material e do jogo de poder consequente das relações de trabalho no âmbito dos processos produtivos” (Idem).

A superação dessa velha política, onde se cultiva a hegemonia do Estado sobre a massa governada, depende não só de uma reconfiguração do protesto social e do ativismo político, se afetados pela ampliação e pela popularização do acesso à tecnologia. O sucesso de uma participa-ção popular eficiente e produtiva, ou a assunção do lugar da autonomia do qual há pouco falávamos, dependeria ainda de outros tantos fatores igualmente importantes. Questões que se estendem desde a necessidade de compreensão das linguagens nativas deste novo lugar – os jargões,

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técnico e político –, pelos atores sociais até o desenvolvimento de novas competências, orientadas por intencionalidades e compromissos de mu-dança, por domínios comunicativos e informacionais, entre outros, de forma que isto envolve certo tempo e condições históricas implicando também uma maturidade política que renove seu horizonte de luta em busca da convivência na diferença, ao invés da luta hegemônica con-vencional. É, pois, neste quadro geral que se inscreve o desafio de uma diferente e contemporânea compreensão e prática de gestão, na qual assume destaque o papel do sujeito partícipe deste processo, os poten-ciais comunicativos e informacionais, tanto como infraestrutura quanto como princípios operacionais e pragmáticos, bem como a relatividade do processo em si.

Ademais, ressalte-se que estas últimas reflexões derivam da pesqui-sa de mestrado, realizada no âmbito do Programa Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC), da Universidade do Estado da Bahia; pesquisa que, inclusive, é realizada por um dos autores que assinam o presente trabalho2, com o título “Governança Pública, Interoperabili-dade e Interoperatividade: Desafios para a gestão do dado institucional na UNEB”.

Esta pesquisa pretende mapear os entraves mais comuns à gestão democrática da educação superior pública, tendo como recorte o caso da UNEB, e analisar o recurso da interoperabilidade como resposta do Estado a tais problemas. Mais adiante, propõe como alternativa à ideia de interoperabilidade, o uso do conceito de interoperatividade, sendo este último, na opinião do autor, noção que logo se alinha às bases que susten-tariam o regime da Governança pública, sobretudo o ideal de incentivo à participação popular na Gestão e, de modo mais amplo, o fomento à assunção do lugar sócio-político que caberia a cada um de nós no jogo democrático, senão no jogo da própria vida cotidiana.

2 Trata-se de Djalma Fiuza Almeida – e-mail: [email protected]

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3. O Processo de Gestão como Processo Tecnológico

Então, trazemos a discussão da compreensão crítica da tecnologia e de como ela pode trazer elementos para a Gestão Pública. A tecnologia aqui apresentada remete à concepção grega de Teckné que rompe com a dicotomia “homem-máquina” e dá-se no imbricamento homem-máquina (LIMA JUNIOR, 2005). Nesta abordagem, a tecnologia é compreendida como um processo criativo e produtivo, rompendo, assim, com sua abor-dagem tecnicista, tomando-a enquanto mero aparato físico de suporte aos meios produtivos, na busca de eficácia e de eficiência dos sistemas de manufatura. Nesta visada crítica, contrariamente, a tecnologia enlaça-se por um processo/teia complexo(a) de significação, por entender que o indivíduo na relação com os meios que lhe são disponibilizados pode agir tecnologicamente3, transformando a realidade que o cerca.

Assim, conforme Lima Junior (2005, p. 17), a questão tecnológica se constitui em “uma rede de significados” onde o homem está envolvido. Portanto, não podemos nos privar de analisar que, na prática gerencial, esta rede de significados passe ao largo nos processos de concepção, es-truturação e aplicação das decisões organizacionais. Particularmente na Gestão Pública, com suas especificidades de atender fundamentalmente a uma demanda social, de forma que tais condições tecnológicas, enten-didas aqui como condições de criação e de transformação em contexto, devem ter um papel preponderante na gestão e na atuação do gestor e de todos os sujeitos envolvidos no processo administrativo, organizacional, operacional, especialmente no que se refere ao trato com a informação 3 Compreendemos o agir tecnológico como uma condição inerente ao ser humano,

relacionada ao seu primado material e simbólico a partir do qual gera e inaugura o mundo e a si mesmo como ser-no-mundo, como parte integrante e integrada da mundanidade (LIMA JR, 2010), logo, a tecnologia independe do suporte mate-rial e instrumental, mas, além desse aspecto, refere-se, sobretudo, a uma condição tecnológica inaugurada com a própria condição humana, e que se atualiza no tempo-espaço do mundo humano, histórico e social.

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e ao processo de tomada de decisões. Dado que estes processos não são dados por si mesmo, mas fruto de produção humana da realidade como mundanidade, a gestão implica uma tecnologia, ou seja, um fazer criativo e transformativo na esfera das necessidades humanas, históricas, sociais, culturais, pragmáticas, subjetivas de liga com a coisa organizacional, a gestão e, em grande escala, a governabilidade, aqui tratada como gover-nança.

Nessa ótica, a assunção de que a tecnologia é criada dentro de um complexo humano-coisas-instituições-sociedade, se adequa à per-cepção de Governança, buscada nas discussões deste texto. A dinâmica apresentada por este complexo clarifica a irredutibilidade do processo tecnológico a mera aplicação de suportes materiais, modos de produção ou reprodução dos modos de fazer. Além disso, complexifica a discussão ao compreender que o homem neste processo usa os recursos que lhes estão postos, sejam eles materiais ou não, atuando criticamente sobre os mesmos na busca de transformar o ambiente à sua volta, trazendo respostas aos seus anseios, ressignificando o seu entorno e modificando-se continuamente em função da dinâmica transformativa que envolve o ambiente e a si mesmo. Este processo basilar e primário à condição humana e ao estatuto do sujeito, enquanto ser de expressividade, de au-tonomia, de liberdade, por si só já comporta/implica um nível/aspecto fundador da gestão, que se refere à gestão de si mesmo como humano, bem como a decisão/escolha de assumir-se e expressar-se humano em determinadas condições complexas e dinâmicas. Eis a fonte primária de todas as expressões históricas de gestão, tanto no seu aspecto abstrato quanto pragmático, portanto, tanto lógico-conceitual (formal) quanto vivencial (real).

Na busca pela transparência dos serviços públicos, parece-nos ra-zoável compreender que sua recorrência ao uso de processos tecnológicos deve levar em consideração esta dinâmica dos sujeitos na interação com

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o ambiente que o cerca. É premente que a função e a ação daqueles que lidam com a coisa pública esteja voltada para transformar e recriar novas abordagens para as práticas até então estabelecidas dentro de um modelo lógico-cartesiano, tecnicista e que evidenciam, em última instância, o jogo político de poder que estrutura a Gestão Pública tradicional, vinculada aos modelos rígidos, ao conhecimento técnico-científico como racionalidade instrumental hegemônica, à pragmática instrumentalizada por uma razão cientificista que cumpre um papel de normatização, prescrição, padro-nização e, na base, controle e opressão social, em vista da reprodução do capitalismo e da hegemonia de minorias sociais, representativas dos conglomerados econômicos no topo de poder da pirâmide social atual.

A abordagem da tecnologia proposicional (LIMA JR, 2005) é, pois, uma abordagem anárquica, no sentido de que desafia a ordem hierárquica e hegemônica estabelecida, promovendo o sujeito a um pa-pel central na organização de sua prática e no estabelecimento de novas abordagens de uso, manipulação, criação e ressignificação dos aparatos tecnológicos ao seu dispor, sejam estes artefatos, processos, modelos, entre outros. Aqui, pensamos também em termos proposicionais a mo-delagem dos processos cognitivos inerentes aos processos ou dinâmicas organizacionais, especialmente de natureza pública e/ou social, incluindo a função da subjetividade na sua constituição.

Assim, a Gestão é proposicional, enquanto criada e formalizada de modo relativo, intencionalmente voltada para a ressignificação por parte de seus partícipes, baseados no saber expressivo que constroem ao estarem inseridos em dinamismos organizacionais; inclusive, desde a base da organização de si mesmos como sujeitos-humanos, com qualidades sociais, históricas, sociais, racionais, práticas, tecnológicas, subjetivas, entre outras.

Neste âmbito, sujeitos que geram/ressignificam/modificam suas performances cognitivas, através de um processo específico de compre-

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ensão, reflexão, conhecimento de si mesmo em relação com a realidade e seus objetos. Tratando disso de outra forma, a gestão de si mesmo como humano, sua autogestão, implica um aspecto da consciência, mas não só, embora não o aprofundemos aqui, o que é relativo à condição cog-noscente, humana, a partir da qual toda uma gama de possibilidades e potenciais cognitivos se desenvolve histórica e socialmente, mas também subjetivamente. A expressividade cognitiva ocasiona sua inesgotabilidade e, com isso, sua reinscrição nos processos humanos, aqui, especificamente, nos processos de gestão – isto já está implícito na perspectiva mais geral e mais ampla da Governança. Este é o caráter proposicional da Modelagem Cognitiva que perpassa todo processo organizacional, principalmente em contextos histórico-sociais onde o conhecimento, sua geração e difusão, configuram-se forças produtivas.

4. Modelagem Cognitiva: do pragmatismo instrumental ao ato criativo da inteligência humana

A Modelagem Cognitiva tradicionalmente é uma área do co-nhecimento que está vinculada a uma visão tecnicista do processo de aquisição, processamento e difusão do conhecimento. Segue atrelada a uma visão de que as representações de determinados objetos podem ser reduzidas a um conjunto de descrições, baseadas em uma lógica formal e operacional, isoladas das ações do sujeito, seus contextos e condições históricas, sociais e até mesmo subjetivas. Esta abordagem, no entanto, é uma pretensão da Ciência moderna que, ideologicamente (HABER-MAS, 1987), propõe a noção de realidade enquanto única e a si mesma como única via de explicação dos fatos sociais. As redes de comunica-ção de rádio e televisão, as transmissões via satélite, a telefonia celular, as redes locais e não locais de computadores, a biotecnologia, ou seja, os avanços tecnológicos tomaram dimensões de celeridade impressio-nantes, colocando-nos em processos dinâmicos de ressignificação da(s)

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realidade(s) em curtíssimos espaços de tempo, os quais problematizam a cosmovisão do mundo e a hegemonia instrumentalizante e padronizante que a Ciência forjou com o advento do Capitalismo e com a expansão do industrialismo (TOFFLER, 2001; SCHAFF, 1995).

Contudo, vimos considerando que as ações do sujeito sobre de-terminados objetos e processos são carregadas de singularidade subjetiva, entre outros fatores. Por esta via, admitimos também que a qualidade social, a despeito de sua importância fundamental, é inerentemente subje-tivada e exerce uma função específica na constituição do pensar humano, especialmente no que se refere ao seu primado cognitivo e epistemológico que, por também ser subjetivo, ou relacionado ontologicamente à subje-tividade, como bem o considerou Habermas (1987), ao tratar da razão estético-expressiva, é necessária e inevitavelmente incompleto, fissurado, vazado, poroso, por isso, relativo, dinâmico, fluxo inacabado.

Destacamos, no horizonte da Psicanálise (LACAN apud LIMA JR, 2012), que é nesta incompletude, nas falhas e na permeabilidade que estão os potenciais de expressão da singularidade do sujeito, que imprime sua marca na concepção/criação de objetos da realidade ou fatos da vida social. Que isto muda e varia infinitamente, de sujeito a sujeito, já que cada qual tem sua singularidade específica e um saber próprio na sua expressividade comunicativa no mundo. Esta condição ao mesmo tempo subjetiva, comunicativa, informacional, gera um campo novo de possibilidades de compreensão e de atuação dos processos epistemológi-cos, relacionados com a geração e a socialização do conhecimento, dos processos cognitivos, que são relacionados com as formas como interna-mente cada sujeito aprende e conhece determinado objeto; os processos de gestão, de gestão baseada no conhecimento e na aprendizagem, da gestão do conhecimento e da aprendizagem; tudo isso somado ao seu peso social no contexto e na conjuntura de processos societários baseados no conhecimento, na informação e na comunicação como fator produtivo

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e de desenvolvimento material (CASTELLS, 2000; LÈVY, 1998).

Assim, a partir do processo de construção e conhecimento da realidade, da não completude do conhecimento, e da dinâmica do sujeito na construção do mundo, destacamos a necessidade de uma abordagem epistêmico-subjetiva para a Modelagem Cognitiva (LIMA JUNIOR; SALES, 2012) ou estético-expressiva (HABERMAS, 1987).

Enfim, à guisa de provocação e conclusão deste texto, não podem-os pensar que o processo de gestão possa seguir abordagens meramente tecnicistas. Ainda que a gestão seja carregada de procedimentos, técnicas e instrumentos típicos de uma abordagem cartesiana e positivista, os su-jeitos é que vivenciam diariamente a gestão. Está, portanto, na dinâmica das pessoas, que utilizam e constituem o processo de gestão, a possibili-dade de um enfoque diferenciado. Só pode existir gestão democrática e social, bem como colaborativa, se o sujeito da gestão não só reproduz o que é arquitetado e proposto por gestores – especialistas ou pessoas dele-gadas para exercer a função de organizar e decidir –, mas, sobretudo, que o sujeito crie/participe diretamente, ao seu modo e segundo sua condição, do processo de gestão em sua integralidade, admitindo de saída que não existe gestão ideal, meramente formal, descontextualizada e independente de condições históricas, sociais, culturais e, especialmente, subjetivas. Ou mesmo, que a gestão seja fruto, exclusivamente, de um conhecimento formal que cria uma verdade única, uniforme e padronizada – ideológica e instrumental (HABERMAS, 1997), independente do saber ontológico que cada pessoa/sujeito articula a partir de si mesmo enquanto condição sine qua nom de sua própria condição de ser-no-mundo, o que lhe dá autonomia e liberdade para atuar também os aspectos práticos, aplicados, pragmáticos, instrumentais, lógicos, entre outros, da gestão e do processo cognitivo nela implicado, e vice-versa.

Em consonância, não podemos pensar em modelos mentais, para a concepção, estruturação e delineamento dos processos administrativos,

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baseados na ideia de modelos estáticos, preconizados em larga escala pelas teorias tradicionais da gestão. Aqui trabalhamos a ideia de modelo mental conforme Lèvy (1998, p. 102):

Os modelos mentais ao contrário das representa-ções linguísticas fonéticas são análogos estruturais do mundo (do mundo tal como o representa, justa-mente, o indivíduo em questão [...] são da ordem do organograma ou do diagrama, mesmo não se apre-sentando como imagem, precisam de um esquema.

A ideia trazida por Lèvy para modelo mental está associada justa-mente à forma como o indivíduo, com toda sua singularidade, representa o mundo em questão, de difícil expressão pictórica, sendo as imagens apenas uma representação mental de determinada instância contida nos modelos mentais de um determinado sujeito.

Aliado a Lèvy (1998), Magalhães (2009) compreende que pode existir diversos modelos mentais para uma dada situação. Cada modelo vai depender exclusivamente do uso que se deseja fazer do objeto ou situação do que se trata. De certa forma, isto implica em dizer que não há modelo, mas modelagem, porque o modelo não cobre simetricamente a realidade do objeto representado, de forma que tudo deriva da cons-trução mental do sujeito, aqui circunscrevendo a função da cognição ou da racionalidade cognitiva, que é apenas um dos aspectos do dinamismo mental e psíquico do sujeito – que não será tratado neste capítulo, mas que pode ser revisitado nas obras de autores importantes como Freud, Lacan, Vygotsky, entre outros.

Em síntese, evidenciamos que a perspectiva proposicional da tecnologia, aliada à perspectiva proposicional da epistemologia e da sub-jetividade nos processos de Modelagem Cognitiva, pode gerar subsídios críticos para a compreensão e vivência de uma Gestão Pública demo-

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crática, alinhada também com a perspectiva da Governança, pois estes campos preconizam: uso e implantação dinâmicos, relativos e inacaba-dos de sistemas de representação; institucionalização e primados sociais autogeridos, com caracterização autopoiética; a relação entre contexto, relatividade e singularização dos processos e das estruturas operacionais (da gestão do conhecimento, dos processos técnicos e tecnológicos); a criatividade e a transformação a partir de condições históricas, sociais, culturais e, especialmente, subjetivas, salvaguardando a unidade de sua natureza material-simbólica, entre outros. Numa palavra, dado a relatividade, dinâmica e inacabamento destes processos, deixamos um vazio nestas proposições reflexivas até aqui, a fim de que os sujeitos, sin-gularmente e em contextos específicos, reinscrevam de forma autoral e autônoma estas dinâmicas, sem também esgotá-las ou terem a pretensão de alcançar a verdade última das mesmas. Assim, assumimos o vazio dessa argumentação, ao tempo em que damos espaço e vez para que outros, que são autores de seu processo de gestão democrática, tornem-se uma voz e “autoriem-se”/autorizem-se nos seus próprios textos/práticas/ex-pressões/propostas, não mais como reprodutores de ideias ou de papéis, mas como criadores e sujeitos desses processos/dinâmicas.

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231Estado e sociedade no controle das despesas governamentais: uma nova gestão contemporâneaAmilcar Baiardi

Estado e Sociedade no controle das despesas governamentais: uma nova gestão contemporânea

Amilcar Baiardi

1. Introdução

Este trabalho se propõe a analisar como se alteraram nas últimas décadas a relação Estado/Sociedade sob a ótica do controle dos gastos gover-namentais. A temática abordada pelo menos é aquela que procura entender como a relação entre o Estado – aqui definido como ente de regulação da vida social, como instituição que detém o monopólio da coação física legítima e como espaço para o exercício do poder – e a Sociedade – aqui definida como o agrupamento humano que se forma e se mantém após o estado da natureza e no qual não mais prevalecem os laços de sangue e nem os de religião – evolui, saindo do plano do clientelismo e do personalismo, próprios de uma sociedade com resíduos de patriarcalismo e patrimonialis-mo, para ingressar no plano da impessoalidade e do equilíbrio. O suposto do trabalho é que estaria se verificando mudanças na relação Sociedade/ Estado na função do controle dos gastos governamentais, resultantes de uma maior confiança das partes: a que controla e a que é controlada. De um lado, significaria que, na esfera do Estado, o dever de ofício de controlar estaria sendo exercido por agentes mais qualificados, mais conscientes de seu papel e menos vulneráveis às práticas da prevaricação. De outro, na esfera da Sociedade, ou da sociedade civil, estaria havendo mais interesse em tornar ética e responsável a obrigação do cidadão para com o Estado no que concerne à utilização dos recursos públicos, a qual se materializaria, no caso específico, na informação transparente e na comprovação justa dos gastos.

232 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

Estar-se-ia presenciando, no caso de confirmação do suposto, um relacionamento de natureza mais moderna ou mais avançada. A confirmar-se a suposição, poder-se-ia admitir que atualmente no Brasil se exerce ou se pratica, tanto da parte da sociedade civil como da parte do Estado, uma nova atitude, que se expressa por conter mais confiança de parte a parte, a qual, inequivocamente, apontaria para resultados me-lhores em termos de redução dos desperdícios e diminuição de práticas de corrupção.

A comprovação desta tendência indicaria um sentido de evolução na direção de um Estado cada vez menos hegemonizado pelas elites políticas tradicionais, próprias de sociedades patriarcais e patrimoniais, e cada vez mais transparente e impessoal. Do mesmo modo indicaria também a evolução de uma sociedade, cada vez mais mobilizada, mais consciente de seus direitos e menos propensa ao clientelismo. Esses dois processos, esses dois movimentos repercutiriam em maior eficiência, melhores possibilidades de aplicação dos recursos arrecadados junto aos contribuintes. No limite, tais mudanças coadjuvariam para o equilíbrio fiscal sem o recurso ao aumento da base tributária como percentual do PIB, para a redução do custo de transação, conforme definido por North (1990, 1991, 1993), por Williamson (1985, 1993) e para a maior com-petitividade sistêmica, de acordo com COUTINHO; FERRAZ (1994); GONÇALVES, (2000).

2. Evolução dos sistemas políticos em direção ao estado contemporâneo

O entendimento da evolução dos sistemas ou organismos políti-cos – formas de governo que prevaleceram desde tempos mais remotos a partir da formação das cidades depois da Primeira Revolução Agrícola no neolítico e emblematizados pelas civilizações acadiana e sumeriana e pelos grande impérios orientais – requer um exame daquilo que foi

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definido por Bobbio (1985) como a grande dicotomia público/privado. Ou seja, a melhor compreensão de como se forma o que hoje se define como Estado só se torna possível quando se acompanha a evolução do direito de propriedade se opondo à ingerência do poder do soberano e a evolução do direito do soberano se exercendo sobre o direito privado com vistas a criar condições de governabilidade.

Identificados no passado pela mesma palavra civitas, o Estado e a Sociedade começam a se distinguir a partir do momento em que os inte-resses públicos e privados se antagonizam. A palavra Estado, que aparece como uma categoria consolidada e com frequência no primeiro capítulo de “O Príncipe”, de Maquiavel, (1983), vem associada à ideia de domí-nio sobre um território e, com as formas mais comuns de principado ou república, é uma evolução da designação status rei publicae. Esta começa a se generalizar enquanto gênero e comportando como espécie república ou principado, antes mesmo que Maquiavel escrevesse sua mais famosa obra, substituindo a designação tradicional da máxima organização de um grupo de indivíduos sobre um território em virtude do poder de comando que vinha da civitas, de acordo com BOBBIO (1985).

As características dos sistemas políticos e de suas relações com os agrupamentos humanos organizados, comunidades, castas, estamen-tos, classes etc., foram abordadas, dentre outros autores, pelos filósofos clássicos, pré-Socráticos, Platão e Aristóteles; durante a cidade-Estado grega, por Epicuro e Santo Agostinho; durante a formação dos impérios, por Maquiavel e Lutero; durante a formação do Estado-Nação monár-quico por Bodin, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, e Hume na formação do Estado moderno. Contudo, se considera oportuno falar de Estado somente para as formações políticas que nascem da crise da sociedade medieval (CHEVALLIER, 1982).

No direito público europeu a teoria jurídica do Estado deriva do direito privado. O dominium, categoria originalmente privada, passa a

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ser entendido como um poder patrimonial do monarca sobre um terri-tório, distinguindo-se do imperium, que representa o poder de comando sobre os súditos e do pactum, que funciona do princípio da legitimação do poder em toda a tradição contratualística que vai de Hobbes a Kant (BOBBIO, 1985).

Em que pese a interdependência conceitual na gênese do Estado e da Sociedade, a partir do que ficou conhecido como Estado Moderno, compreender as diferenças entre uma e outra se tornou mais fácil.

A categoria Estado Moderno permite entender de forma mais completa o âmbito das relações políticas, do princípio da territoriali-dade e das diferentes obrigações da sociedade, bem como a progressiva aquisição da impessoalidade do comando político, através da evolução do conceito de officium, quando nascem os traços essenciais de uma nova forma de organização política: o Estado Moderno (BOBBIO et al, 1991). De outro modo, com ela é que se tornou mais clara a dicotomia ou a polarização ex-parte principis e ex-parte populi.

O conceito de Estado Moderno, associado por alguns autores com a Revolução Francesa, é uma categoria europeia que sucede o Estado bu-rocrático nacional formado a partir da Idade Média tardia, caracterizado, segundo Rokkan (1980), por uma relação particular entre povo e território. Sua peculiaridade consiste na união do conceito de cidadania, herança do império romano, com identidade territorial. Nesse caso, a população se liga ao território, seja na qualidade de súditos, seja como cidadãos. À medida que, progressivamente, o monopólio legítimo da coerção física para impor a ordem se estabelece e é aceito, está-se diante de uma forma mais avançada de sistema político, mais próxima do Estado Moderno.

No Estado Moderno, segundo Hobbes (1979), desaparecem os traços de barbáries e surgem os de elegantia. As relações entre a sociedade civil e o Estado tendem a deixar de ser instrumentalizantes, fisiológicas e clientelistas. O comportamento litigante se esvanece e, em seu lugar,

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surge o contratualismo que está na gênese dos pactos bem sucedidos (BAIARDI, 1993).

Uma outra característica do Estado Moderno foi a ruptura irre-mediável da unidade político-religiosa, constituindo-se o Estado como tudo que diz respeito à esfera da vida humana organizada, inclusive a organização do(s) poder(es), não diretamente voltada para fins espirituais. Desapareciam na Europa Cristã as pretensões de fundar o poder sobre a fé. Este novo ente passa a se fundar na laicidade, finalidade e raciona-lidade, dando uma imagem de única e unitária estrutura organizativa formal da vida associada e estabelecendo a paz interna, a eliminação do conflito social e a normalização das relações de força através do exercício monopolístico do poder por parte do soberano. Dava-se a passagem do estado da natureza para Estado Civil e com ela a adoção de um projeto racional da humanidade em torno do destino terreno. Entretanto, o Es-tado Moderno não poderia se impor sem uma ordem política sustentada por uma máquina administrativa eficiente e funcional aos interesses dos estratos sociais, chegando-se às categorias de Estado-máquina, Estado-aparelho, Estado-mecanismo e Estado-administração (BOBBIO et alii, 1991).

O Estado Contemporâneo que sucede ao Estado Moderno agrega funções e adquire mais complexidade e se define pela coexistência do Estado de direito com o Estado social. Esta coexistência nem sempre é privada de conflitos uma vez que o Estado de direito representa os direitos fundamentais do indivíduo, com inspiração nas revoluções burguesas tais como liberdade pessoal, política e econômica, constituindo-se em um sistema de proteção contra a intervenção do Estado.

O Estado social, por outro lado, representa os direitos e as con-quistas de participação no poder político e na distribuição da riqueza social produzida e se inspira na práxis da ideologia social democrata que supõe crescentes direitos sociais no quadro de um capitalismo organizado

236 Abordagens gerenciais no mundo contemporâneoSheila Rangel Organizadora

e regulado.

O Estado contemporâneo estaria oscilando entre as crescentes liberdades individuais e as também crescentes e imprevisíveis conquistas sociais. A integração entre o Estado de direito e o Estado social requer uma engenharia política que compatibilize o nível constitucional com os níveis legislativo e administrativo. Essa tensão estaria bem simbolizada nas palavras contidas no verbete Estado contemporâneo de Bobbio et al (1991, p. 23): “[...] Se os direitos fundamentais são a garantia de uma sociedade burguesa separada do Estado, os direitos sociais, pelo contrário, representam a via por onde a sociedade entra no Estado, modificando-lhe a estrutura formal”.

No Estado contemporâneo ocorreria aquilo que Weber (1996) define como poder legal-racional, o qual necessita de um aparelho ad-ministrativo por meio do qual transmita comandos concretos, contando com a obediência por parte dos grupos que formam a população. Esse sistema político avançado, que é o Estado contemporâneo, tem um poder legitimado não somente por uma motivação afetiva, racional, em suma, cultural, mas, sobretudo, por uma crença da legalidade dos ordenamentos estatuídos e do direito daqueles que foram chamados a exercer o poder.

O poder legal-racional do estado contemporâneo possui carac-terísticas como caráter impessoal, hierarquia dos cargos e, finalmente, competência, ou seja, posse por parte dos funcionários de saber especia-lizado. Há indícios de que a crença na legitimidade se resolve por meio da crença na legalidade, que se revela. Em última instância como fé no saber especializado do aparato administrativo.

O Estado contemporâneo assumiu como imperativo resolver ou atenuar a ‘questão social’, surgida da Revolução Industrial de modo diferente do simples recurso à polícia, dando-lhe uma dimensão orgânica e adotando uma tecnologia social que determinasse as causas das divisões sociais e que oferecesse soluções no sentido de remediar, mediante ade-

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quadas intervenções de reforma social, os desequilíbrios sociais acentu-ados com o avanço da revolução industrial e a transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista.

A gênese dessa intervenção se encontra emblematizada na le-gislação fabril inglesa, na legislação previdenciária alemã do período de Bismarck e no sistema de pensões dinamarquês, um conjunto de medidas intervencionistas na linha da reforma social implantadas no fim do século XIX.

A oscilação do Estado contemporâneo entre as crescentes liberda-des individuais e as também crescentes e imprevisíveis conquistas sociais exigiu e exige – até para que o capitalismo mantenha-se organizado e regulado – medidas que evitassem o empobrecimento progressivo do Estado. Essas medidas tornaram-se necessárias porque, se na época do Estado absoluto, os que detinham o poder, detinham a riqueza, e a ri-queza do Estado era sua riqueza, na época do Estado contemporâneo, operacionalizado pelo governo constitucional, ocorre o contrário: Estado e propriedade se separam e essa separação gera a dependência, a depen-dência fiscal do Estado em relação à sociedade. O problema principal do Estado passa a ser sua re-capitalização baseada nos impostos, o que permitiria a concentração e a acumulação de capital público para a solução dos mais urgentes problemas sociais. Quando isto se materializa tem-se, em sua plenitude, o Estado fiscal, que é a possibilidade de uma síntese, dentro do Estado contemporâneo, do Estado de direito e do Estado so-cial. Esta possibilidade significa a manutenção da estrutura de posse da sociedade com a redistribuição de renda capaz de resolver as múltiplas manifestações das instâncias sociais (Bobbio et alii, 1991).

Por este caminho a ciência das finanças culmina em uma teoria da propriedade pública e as finanças públicas começam a adquirir um papel central na análise do Estado, uma vez que nelas sintetiza-se a relação do político com a sociedade civil “todo problema social é um problema

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financeiro”, dizia Goldscheid, apud Bobbio et alii, (1991).

A sociologia das finanças se impõe como a abordagem que indaga a dependência do Estado em relação às estruturas sociais. A re-capitalização do Estado, para prover a satisfação das exigências sociais, passou a ser uma realidade, inclusive mediante a rediscussão da trans-formação do livre jogo concorrencial das forças de mercado, segundo Schumpeter, (1984).

De acordo com Bobbio et alii (1991), o Estado fiscal se encontra perante dois limites: o primeiro, representado na natureza do objeto fiscal – em virtude da imposição poder vir a gravar a renda de modo a prejudicar a empresa concorrencial – e nos condicionantes da manutenção de uma economia livre; e o segundo constituído pela possibilidade de um incremento incontrolável da demanda de despesas públicas, capaz de motivar o colapso do Estado fiscal. Em benefício da sobrevivência do capitalismo organizado e regulado, esse aspecto do problema tem que ser considerado pelas políticas econômicas, porque não é do interesse de ninguém a inviabilização do Estado.

Para que o Estado contemporâneo permaneça e que o capitalis-mo organizado e regulado seja o seu modo de produção hegemônico, o Estado tem que incorporar, dentre outras dimensões, a vigilância e o controle, destacados como critérios de racionalidade administrativa. Essas funções são aquelas que, devidamente exercidas, podem evitar o desperdício e o empobrecimento do Estado, distanciando-o do alvo do Estado contemporâneo, qual seja converter-se em Estado do bem-estar (Welfare state), simbolizado pelo princípio de que ‘independente de sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito a ser protegidos’.

Conclui-se então que no Estado contemporâneo – esteja ele em graus diferentes de constituição do Welfare state, do Estado do bem-estar ou Estado assistencial e cuja crise vem se anunciando justamente pelo desequilíbrio fiscal – a função controle é cada vez mais valorizada, cada

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vez mais essencial porque através dela o limite do Estado fiscal pela via da imposição tributária fica atenuada em decorrência de um crescente controle que visa à racionalidade e à eficiência do gasto governamental. Dito de outro modo, o caminho em direção ao Estado do bem-estar pode continuar a ser perseguido sem ampliação da base fiscal, desde que se consiga aprimorar os mecanismos de acompanhamento e controle da aplicação do que é arrecadado na forma de impostos. À medida que, tanto ao nível do aparelho estatal quanto ao nível da sociedade civil, tornar-se evidente essa necessidade, a cooperação Estado/Sociedade atingirá um ní-vel mais elevado (GONÇALVES, 2000; PEREIRA; BAIARDI, 2012).

3. A evolução dos sistemas sociais em direção à sociedade contemporânea

Igualmente ao que se afirmou no que concerne à gênese e ao desenvolvimento da categoria Estado, o entendimento da evolução dos sistemas sociais – formas de sociedade que prevaleceram desde tempos mais remotos a partir da formação das cidades depois da Primeira Revo-lução Agrícola no neolítico e emblematizados pelas civilizações acadiana e sumeriana e pelos grande impérios orientais – requer um exame daquilo que foi definido por Bobbio (1985) como a grande dicotomia público/privado. Ou seja, a melhor compreensão de como se formou o que hoje se define como sociedade civil só se torna possível quando se acompanha a evolução do direito de propriedade se opondo à ingerência do poder do soberano e à evolução do direito do soberano se exercendo sobre o direito privado, com vistas a criar condições de governabilidade.

Nesse sentido, os sistemas sociais, que vieram resultar na sociedade civil e na sua versão mais avançada – a sociedade contemporânea –, são entendidos como a esfera das relações sociais não reguladas pelo Estado, visto este último como o complexo de aparatos que, em uma sociedade, ou um sistema social organizado, exerce o poder de coação. Embora iden-

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tificados no passado pela mesma palavra civitas, que é a tradução para o latim de cidade em grego1, o Estado e a Sociedade começam a se distinguir a partir do momento em que os interesses, público e privado, se antago-nizam. Na evolução conceitual, sobretudo na tradição germânica, vide Schlözer apud Bobbio (1985), um momento intermediário em termos de conceptualização seria aquele no qual da civitas, que indistintamente definia Estado, governo e sociedade, passa-se para societas civilis, que, por sua vez, expressava a ideia de um pactum, de uma societatis, subiectionis, unionis etc., o que significava o princípio da legitimação de um contrato de convivência e de um poder para regulá-lo.

Maior rigor em termos de conceituação foi dado quando se argu-mentou a distinção entre societas civilis sine imperio e societas civilis cum imperio. Neste ponto, a primeira expressão indica a sociedade civil como hoje se entende e a segunda, como Estado. É possível precisar que nesse estágio já se admitia que, como afirmação dos direitos naturais imanentes ao indivíduo e aos grupos sociais independente do Estado, haveria uma esfera de relações interindividuais, como as relações econômicas, para as quais a regulamentação, necessariamente, não exige um poder coercitivo, na medida em que podem se autorregular.

A complexificação econômica da vida social conduz a novas neces-sidades das quais resultam novos arranjos institucionais promovidos pela sociedade civil. Na tradição germânica, inspirada na análise da evolução histórica dos reinos normandos após a queda do Império Romano, socie-dade civil tem seu nascimento associado à ideia da divisão do trabalho, do surgimento de classes sociais e do funcionamento mais livre do mercado. Não é sem razão que, em alemão, sociedade civil e sociedade burguesa eram indistintamente chamadas de bürgerliche gesellschafat, sem que se

1 Cidade era definida por Aristóteles em a “Política” como uma comunidade inde-pendente e autossuficiente, ordenada com base em uma constituição, resultando daí que civitas se prestasse a definir tanto sociedade como Estado.

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tenha dado a esses conceitos dimensão de modernidade resultante do papel da burguesia como classe social na Revolução Francesa. Hegel e depois Marx assim conceberam a sociedade civil, posicionando a mesma cronologicamente como anterior ao Estado e sendo dele uma infraestru-tura. Na tradição germânica, estava presente a ideia de que a sociedade civil nasce das necessidades do homem e o Estado da necessidade de regulá-lo, ou seja, do seu lado perverso frequentemente demonstrado quando o direito individual se sobrepõe ao direito público, vide Thomas Paine, apud Bobbio (1985) e Hegel (1989 e 2009).

A tradição alemã de conceituação, mesmo na deformação re-ducionista de Marx em relação a Hegel, na medida em que este fala de sociedade civil como esfera privilegiada de relações materiais autônomas, ou independentes do Estado, e Marx diz claramente que a anatomia da sociedade civil se deve buscar na economia política – não é muito diferente da francesa.

Para os economistas fisiocratas, a sociedade civil seria uma evolu-ção da sociedade da natureza e Rousseau via seu nascimento no primeiro ato de apropriação privada dos recursos escassos.

Não é essencialmente diferente a visão jusnaturalista, na qual se poderiam incluir expoentes do pensamento ocidental em ciência política como Hobbes e Locke, e filósofos como Kant, pois, de acordo com a mesma a sociedade civil, é uma evolução em relação a todas formas de sociedade que a precedem (família, sociedade natural, sociedade religiosa, etc.) e na mesma são garantidos aos indivíduos associados alguns bens fundamentais como paz, liberdade, propriedade, segurança, etc. o que não acontece na sociedade natural, vide Bobbio et alii (1991).

Sociedade civil é também conceituada como sociedade civiliza-da. A origem desse entendimento é de Fergson, apud Bobbio (1985), segundo o qual o civilis de societas civilis é um adjetivo de civilitas e não civitas. Ou seja, derivaria de civilidade e não de cidade. Para Fergson,apud

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Bobbio (1985), a história da humanidade é uma história de progresso, evoluindo das sociedades primitivas para as sociedades evoluídas. É um passar contínuo de um estado selvagem de povos caçadores sem pro-priedades e sem Estado para o estado bárbaro dos povos que já tinham a agricultura e introduziram os gérmens da propriedade e deste para o estado civil, caracterizado pelas instituições da propriedade, do mercado e do Estado.

Do conceito e evolução da sociedade civil também se ocupa Gramsci (1974), considerando-a de natureza superestrutural, resultante da base material da sociedade e locus da hegemonia e dos organismos vulgarmente denominados de privados. Enfim, seria uma esfera diferente do Estado, na qual se daria a elaboração das ideologias e do consenso. A definição gramsciana, juntamente com a de Weber, ao firmar que socie-dade civil é o espaço das relações de poder de fato, enquanto o Estado seria o espaço das relações de poder legítimo. Para Weber, sociedade civil e Estado são entidades entre as quais existe um contínuo relacionamento, uma vez que iniciativas tomadas na esfera da sociedade civil terminam por ser adotadas e legitimadas pelo Estado.

As contribuições de Gramsci e de Weber seriam aquelas que melhor ajudariam a entender a sociedade contemporânea, vista como sociedade civil, como sociedade civilizada, como espaço de elaboração de ideologias, de visões de mundo e do consenso, e como espaço de exercício de cooperação entre o poder de fato e o poder legítimo, no caso o Estado (FERRAROTI, 1985).

4. Cooperação estado sociedade civil no controle das despesas governamentais

As reflexões anteriores permitem antever a possibilidade cada vez mais concreta da sociedade civil contemporânea cooperar com o Estado na função controle atingindo um nível elevado. É também cada vez mais

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essencial que isto aconteça porque, através dessa cooperação, poder-se-á estabelecer a racionalidade e a eficiência do gasto governamental, aprimo-rando os mecanismos de acompanhamento e de controle da aplicação do que é arrecadado na forma de impostos. A cooperação Estado/Sociedade passa a ser reconhecida na sociedade contemporânea como essencial para cumprimento das metas fiscais e, no caso brasileiro, são observados dois exemplos bastante significativos: o primeiro se dá na esfera de atuação da Controladoria Geral da União, CGU, onde servidores fiscais progressiva-mente recorrem às organizações sociais para auxiliar suas atividades, e o segundo ocorre em diferentes unidades da Federação e municípios, nos quais os legisladores e os executivos recorrem à sociedade organizada para elaboração de orçamentos participativos, como relatam GONÇALVES (2000); PEREIRA E BAIARDI (2012).

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