Texto jovens militantes

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1 JOVENS MILITANTES: ENGAJAMENTO, IMPLICAÇÃO E DESENCANTO 1 RESUMO: O texto apresenta parte dos resultados da pesquisa “Juventude em pauta: a juventude como campo de intervenção social”, onde a juventude é abordada não como uma condição de vida, uma categoria analítica, um sujeito ou ator social e sim como um campo de intervenção que, no decênio passado, se tornou um campo significativo de interesses e investimentos públicos e privados. Após fazer uma breve apresentação do perfil dos jovens entrevistados, jovens que tiveram um engajamento político significativo nas mobilizações ao redor da temática juvenil, todos moradores da região Nordeste, comento as etapas de suas trajetórias e discuto algumas questões que surgem da análise do material coletado: natureza dos conflitos, participação como implicação e acionamento identitário. Palavras chaves: juventude, participação, engajamento político, movimentos sociais. 1. Introdução No começo dos anos 2000 o tema da juventude adquiriu visibilidade na agenda pública brasileira (cf. Brenner, Lânes e Carrano, 2005, Papa e Freitas, 2011). No mesmo período, os governos petistas, em consonância com orientações que se tornaram dominantes no contexto internacional 2 , investiram significativamente na chamada participação 3 como forma de legitimar as propostas políticas que atingem determinados segmentos sociais. A ideia é que propostas e programas devem ser elaborados (e executados) com a participação dos diretos interessados 4 . Surgem então algumas iniciativas voltadas a mobilizar jovens (organizados ou não), entidades sociais e especialistas para participar da discussão sobre as chamadas “políticas públicas” dirigidas ao segmento jovem . São iniciativas diversas e 1 Texto produzido no âmbito da pesquisa “Juventude em pauta: a juventude como campo de intervenção social”, financiada com recursos da FAPERJ. A ideia que sustenta a proposta de pesquisa é abordar a juventude não como uma condição de vida, uma categoria analítica, um sujeito ou ator social e sim como um campo de intervenção que, no decênio passado, tem se tornado um campo significativo de interesses e investimentos públicos e privados. 2 Para uma análise da influência dos organismos multilaterais nesse processo, cf. Bandeira, 1999 e, numa visão crítica, Maranhão, 2009. 3 Coloco em itálico as palavras utilizada no sentido nativo, ou seja, no sentido utilizado no interior do campo. 4 Para uma análise critica sobre esse processo, cf. Moroni, 2005.

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JOVENS MILITANTES: ENGAJAMENTO, IMPLICAÇÃO E DESENCANTO1

RESUMO: O texto apresenta parte dos resultados da pesquisa “Juventude em

pauta: a juventude como campo de intervenção social”, onde a juventude é abordada

não como uma condição de vida, uma categoria analítica, um sujeito ou ator social e sim

como um campo de intervenção que, no decênio passado, se tornou um campo

significativo de interesses e investimentos públicos e privados. Após fazer uma breve

apresentação do perfil dos jovens entrevistados, jovens que tiveram um engajamento

político significativo nas mobilizações ao redor da temática juvenil, todos moradores da

região Nordeste, comento as etapas de suas trajetórias e discuto algumas questões que

surgem da análise do material coletado: natureza dos conflitos, participação como

implicação e acionamento identitário.

Palavras chaves: juventude, participação, engajamento político, movimentos

sociais.

1. Introdução

No começo dos anos 2000 o tema da juventude adquiriu visibilidade na agenda

pública brasileira (cf. Brenner, Lânes e Carrano, 2005, Papa e Freitas, 2011). No mesmo

período, os governos petistas, em consonância com orientações que se tornaram

dominantes no contexto internacional2, investiram significativamente na chamada

participação3 como forma de legitimar as propostas políticas que atingem determinados

segmentos sociais. A ideia é que propostas e programas devem ser elaborados (e

executados) com a participação dos diretos interessados4.

Surgem então algumas iniciativas voltadas a mobilizar jovens (organizados ou

não), entidades sociais e especialistas para participar da discussão sobre as chamadas

“políticas públicas” dirigidas ao segmento jovem . São iniciativas diversas e

1 Texto produzido no âmbito da pesquisa “Juventude em pauta: a juventude como campo de

intervenção social”, financiada com recursos da FAPERJ. A ideia que sustenta a proposta de pesquisa é abordar a juventude não como uma condição de vida, uma categoria analítica, um sujeito ou ator social e sim como um campo de intervenção que, no decênio passado, tem se tornado um campo significativo de interesses e investimentos públicos e privados. 2 Para uma análise da influência dos organismos multilaterais nesse processo, cf. Bandeira, 1999 e, numa visão crítica, Maranhão, 2009. 3 Coloco em itálico as palavras utilizada no sentido nativo, ou seja, no sentido utilizado no interior do campo. 4 Para uma análise critica sobre esse processo, cf. Moroni, 2005.

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promovidas por agentes distintos (parlamentares, organizações partidárias, organismos

multilaterais, ONGs e Fundações empresariais), dentre as quais cabe destacar:

a) o processo de discussão promovido pela Comissão Especial de

Juventude da Câmara Federal, que entre 2003 e 2006 realizou a Semana

Nacional de Juventude, audiências públicas em todos os estados e duas

Conferências Nacionais;

b) o chamado “projeto Juventude” promovido pela ONG “Instituto

Cidadania”, ligada ao presidente Lula, que entre 2003 e 2005 realiza um amplo

processo de consulta, pesquisa, debate e elaboração de propostas com o intuito

de subsidiar a elaboração de uma Política Nacional de Juventude;

c) as “redes”5 e os Fóruns criados em âmbito regional e local por

iniciativas de órgãos governamentais e projetos sociais de ONGs6.

Esse processo de discussão e mobilização7 culminou, em 2005, na elaboração de

um Plano Nacional de Juventude e de uma proposta de emenda parlamentar (PEC da

juventude); e na aprovação de uma Medida Provisória (transformada sucessivamente em

lei) que criou a Secretaria Nacional de Juventude (órgão vinculado à Presidência da

Republica) e o Conselho Nacional de Juventude, instância de caráter consultivo.

A partir da criação do Conselho Nacional, Estados e Municípios também se

ativaram para criar seus conselhos de juventude em âmbito local, o que motivou os

atores engajados a se mobilizar para discutir as leis de criação dessas instâncias e sua

composição, bem como para garantir a própria participação nos Conselhos instalados.

5 Na região Nordeste foram atuantes pelo menos 4 redes: a Rede Jovens do Nordeste, o projeto “Redes e Juventudes”, a Rede Sou de Atitude e a Rede Juventude e Meio Ambiente-REJUMA. 6 Alguns grupos tentaram também articular a organização de um Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis que, apesar de nunca ter conseguido financiamentos para realizar um encontro nacional próprio, teve um rico espaço de debate num grupo virtual (o “construindoteais”) e tornou-se um ator político significativo nas instâncias de debate público. 7 Houve também duas edições do encontro “Vozes Jovens”, realizado pelo Banco Mundial.

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Naqueles anos, algumas ocasiões de encontro em nível nacional foram

importantes para criar um clima de mobilização e de reconhecimento entre os jovens

que os frequentavam. Além dos espaços já citados, vale lembrar o acampamento nas

edições do Fórum Social Mundial que aconteceram no Brasil (entre 2002 e 2005) e do

Fórum Social Brasileiro (em 2003 e 2006).

Os jovens que entrevistei no âmbito da pesquisa “Juventude em pauta: a

juventude como campo de intervenção social”8 se envolveram muito ativamente nessas

mobilizações, encontros, processos de discussão; todos tiveram um papel de destaque

em âmbito local e, alguns, também em âmbito nacional. São jovens moradores de

alguns estados do Nordeste (Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia) e

participantes (como público alvo ou/e como educadores e gestores) de programas

sociais promovidos por ONGs ou organismos públicos. São, excetuado um, moradores

de regiões periféricas, oriundos da classe popular, pardos ou negros; todos participaram

de várias articulações, entre as quais os muitos espaços de debate promovidos pelo

projeto “Redes e Juventudes” entre 2002 e 2006. Participar dessas iniciativas9, que

durante alguns anos ocuparam de forma significativa seu tempo e plasmaram suas

experiências, foi um marco importante em suas vidas.

Tanto em âmbito acadêmico (cf. Matos, 2012, p. 50) como no âmbito político, é

comum considerar que, nesses anos, houve a articulação de “movimentos juvenis”,

nomeação que evoca a ideia de um movimento social, ou seja, um conjunto de atores

que compartilham uma causa, formas de ação e laços de solidariedade entre os

8 Foram 15 jovens, com os quais conduzi, entre 2010 e 2012, entrevistas temáticas sobre suas trajetórias de envolvimento em ações sociais e políticas. Agradeço a disponibilidade deles em compartilhar comigo suas experiências e reflexões. Os argumentos aqui colocados são, obviamente, de minha inteira responsabilidade. 9 Os jovens moradores do Recife e do interior do Estado de Pernambuco citaram, em particular, uma iniciativa como especialmente significativa no processo de formação política deles, a Roda de Dialogo Permanente sobre Juventude, um espaço de diálogo promovido por algumas entidades não governamentais do Recife, com o intuito de debater criticamente questões da atualidade e elaborar propostas.

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participantes (cf. Blumer, 1982). Não cabe, nos limites desse texto, e não é meu objetivo

de pesquisa, discutir a validade dessa afirmação. O que me interessa sublinhar é que os

encontros recorrentes, as agendas lotadas de compromissos, a multiplicação dos

espaços de debate alimentaram nesses jovens o sentimento de “ser parte de” e a

expectativa de que algo inédito estivesse acontecendo. Vale notar que a partir de 2005

as ocasiões de encontro ficaram reduzidas às reuniões promovidas para realizar uma

eleição (de delegados ou conselheiros) e as Conferências (municipais, estaduais ou

nacional).

A metodologia da pesquisa previa a realização de entrevistas temáticas com

alguns jovens, com o intuito de analisar suas trajetórias de atuação no âmbito dessas

mobilizações. Nesse texto, pretendo explorar as representações e os sentidos atribuídos

por eles à sua atuação enquanto militantes, ou seja, indivíduos engajados numa luta ou

movimento.

Os jovens entrevistados descreveram seus percursos entre múltiplas experiências

de participação, nas mobilizações em defesa dos direitos da juventude, das mulheres,

dos negros, assim como seus envolvimentos em grupos juvenis, projetos de ONGs,

Fundações empresariais e órgãos públicos, redes e articulações regionais e nacionais.

Suas narrativas revelam as muitas contradições e confusões entre profissionalização e

militância, trabalho social e engajamento político10

, os conflitos pessoais e políticos

com os quais se deparam, na atualidade, indivíduos que tentam engajar-se em

movimentos e ações coletivas.

Na primeira parte do texto, tipifico as etapas de suas trajetórias; na segunda,

discuto algumas questões que surgem da análise do material coletado. Em particular,

pretendo abordar de que forma a questão da identidade, considerada, na literatura sobre

10 O trabalho de André Sobrinho (Sobrinho, 2012) vai nessa mesma direção de discutir o engajamento político via envolvimento em projetos sociais como público alvo ou/e profissional.

5

movimentos sociais, questão chave para entender o engajamento em ações coletivas,

tem sido acionada no âmbito dos movimentos juvenis.

As reflexões aqui colocadas não pretendem ser conclusivas, e sim contribuições

para o debate.

2. Breve perfil dos entrevistados

Vou traçar, a seguir, um breve perfil dos jovens que cito no texto. Perfis que

considero casos emblemáticos das trajetórias de jovens engajados em ações de cunho

político via projetos sociais.

a) Iran

Crescido num barraco em terreno de invasão, na periferia da cidade, Iran é filho

de um cozinheiro e de uma dona de casa. O avô tinha sido, durante a ditadura, militante

do sindicato rural, e o pai se engajou nas mobilizações no bairro. Com muito esforço, a

família consegue que ele frequente um colégio público municipal de boa qualidade, no

centro da cidade, onde ele se engaja ativamente no grêmio estudantil . Tenta também

disputar a presidência da Associação de moradores. Depois de frequentar os projetos de

uma ONG, se envolve de cabeça no Fórum da Juventude da cidade, participando de

muitas atividades, de muitas viagens inclusive no exterior. Nesses anos, consegue

concluir uma faculdade particular. Passou concurso numa instituição de pesquisa, e hoje

também da aula num cursinho comunitário.

b) Paulo

Filho de um vigia e de uma vendedora de cosméticos, cresceu numa vila da

COHAB, numa cidade da região metropolitana. Sua primeira atividade “de juventude”

foi um encontro de jovens, no centro da cidade, onde um amigo do bairro o levou. Ali,

despertou interesse para se inscrever num curso da ONG que o amigo frequentava. Na

época, trabalhava como promotor de venda da Nestlé. Começou, então, a frequentar

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muitas iniciativas no campo da juventude. Se aproximou de um grupo político

partidário, e se envolveu ativamente na campanha pela eleição de uma deputada

estadual, que depois o convida para assumir o cargo de assessor em seu gabinete. Chega

também a assumir o cargo de Conselheiro Nacional do CUNJUVE. Atualmente, esta

retomando um curso de comunicação numa faculdade particular, abandonado por causa

dos muitos compromissos políticos.

c) Renato

Jovem morador de uma pequena cidade do interior, Renato se engajou desde

cedo no grêmio estudantil. Por causa de suas habilidades comunicativas, começou a

trabalhar na elaboração do jornal da escola. Assim conheceu o trabalho de um projeto

desenvolvido por uma serie de entidades locais, financiado por algumas fundações

empresariais, e durantes alguns anos foi assessor de comunicação do projeto. Foi assim

que se engajou nas mobilizações em favor da juventude, participando de varias redes

regionais e nacionais. Foi conselheiro do CONJUVE durante duas gestões. Hoje é

candidato a vice-prefeito na sua cidade.

d) Jaleila

Moradora do subúrbio da cidade, Jaleila foi uma adolescente bastante retraída, já

que o pai não a deixava com muitas liberdades. O pai não tinha trabalho fixo, a mãe era

dona de casa. Filha única, gostava de estudar, o que no seu meio era uma exceção. As

condições econômicas da família sempre foram muito precárias, por causa de uma grave

doença do pai. Sempre tentando conciliar trabalho e estudo, trabalhou num projeto da

prefeitura que pretendia mobilizar jovens nas escolas, através do trabalho de animação

cultural. Dali passou a trabalham em outros programais municipais, onde trabalha até

hoje. Participante assídua dos muitos fóruns de discussão e mobilizações em prol da

juventude. Hoje está cursando sua segunda faculdade na universidade pública.

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e) Eduardo

Jovem negro morador do subúrbio da cidade, filho único de mãe solteira (o pai

abandonou a família muito cedo) começou seu engajamento a partir do envolvimento

em projetos sociais de ONGs. Formou um grupo de jovens, no seu bairro, onde ainda é

muito ativo. Militante de muitas causas (questão racial, juventude, economia solidaria)

não sossegou até não conseguir entrar num dos cursos de direito mais prestigiosos da

cidade, contrariando as estadísticas sobre o destino dos jovens negros, pobres,

moradores de periferia. Trabalhou em vários projetos sociais, e hoje é assessor de um

deputado federal negro.

f) Geovane

Morador de uma pequena cidade do interior, de família muito pobre, marcada

pelo alcoolismo do pai. Quando estava na escola, ouviu falar de um projeto que algumas

fundações empresariais iam começar a desenvolver na região. Fez o curso de formação

que o projeto oferecia, e depois passou a atuar como educador e gestor na mesma

instituição. Dali passou a trabalhar como gestor de programas governamentais, na

capital do Estado, onde vive e trabalha até hoje. Foi candidato a vereador na sua cidade,

mas não conseguiu se eleger. Terminou a faculdade numa universidade particular do

interior.

g) Elisa

Moradora de uma pequena cidade do interior, família numerosa, pai autoritário,

sofreu bastante por não se adequar ao destino reservado às mulheres em seu meio social,

ou seja, ser uma esposa submissa. Envolveu-se ativamente no movimento de mulheres

da região, e também nas mobilizações em prol da juventude, onde conheceu seu

companheiro, também militante, com o qual foi morar na capital do Estado. Hoje

trabalha numa das secretarias do governo estadual.

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3. O engajamento

A grande maioria dos jovens entrevistados iniciaram seu engajamento político

em consequência de seu envolvimento nas atividades de projetos sociais desenvolvidos

por ONGs, participando como público alvo das ações propostas pelos projetos11

. Esse

fato deve ser explicado. No decorrer dos anos 2000, as entidades passaram a propor e

exigir do público alvo de seus projetos o engajamento em atividades de defesa de

direitos daquele determinado segmento populacional (que sejam mulheres, negros,

jovens). Concretamente, isso significava participar dos espaços onde, supostamente,

esses direitos estariam sendo discutidos para, possivelmente, ser garantidos através da

formulação de políticas públicas12

.

Como exemplo dessa perspectiva podemos citar o objetivo do projeto Redes e

Juventudes, assim formulado:

“Contribuir para fortalecer atores com capacidade de intervenção na definição

dos direitos dos jovens e na formulação e execução de políticas que implementem esses

direitos.” Especificamente, “Contribuir para que os jovens se tornem atores sujeitos de

direitos, com participação na sociedade e capacidade de diálogo. Ou seja: contribuir

para que possam expressar suas demandas e dialogar com outros setores da sociedade;

contribuir para que se construa uma agenda de políticas públicas para o cumprimento

destes direitos.” (Redes e Juventudes, 2003, p. 3)

Esta passagem do mero atendimento (considerado, agora, de caráter

assistencialista) à proposta de um engajamento de tipo político passou a ser, em alguns

casos, uma exigência dos financiadores. A ampliação dos canais de participação no

11 Não cabe aqui descrever o tipo de atividades propostas nesses tipo de projetos. Em linha geral, são atividades de capacitação que combinam objetivos formativos (geralmente consideradas complementares à formação escolar) com o objetivo do ocupar o tempo ocioso dos jovens. Para alguns, e especificamente para os projetos dos quais os jovens entrevistados participaram, é central o objetivo de formar jovens enquanto agentes de desenvolvimento local. Para uma analise dos projetos desenvolvidos por ONGs cf. Tommasi, 2005 e Sobrinho, 2012; para uma analise dos programas desenvolvidos em âmbito governamental cf. Sposito, 2007. 12 Para uma discussão crítica sobre o significado atribuído à expressão políticas públicas cf. Lima e Castro, 2008.

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quadro do fortalecimento da democracia brasileira, exigia a formação de um pessoal

qualificado para ocupar os espaços onde, supostamente, as propostas de políticas

públicas estavam sendo elaboradas. Conselhos, fóruns, conferencias proliferaram, tanto

em âmbitos local como nacional, enquanto marca distintiva e de legitimação do modus

operandi dos governos petistas.

No campo da juventude, o protagonismo juvenil virou uma palavra de ordem,

propondo que os jovens assumam “um papel central nos esforços por mudança social”

(Gomes da Costa, 1996, p. 36).

Ao mesmo tempo, a centralidade da questão identitária postula o necessário

envolvimento dos diretos interessados na discussão das políticas públicas que se

dirigem a eles. Assim, as mulheres devem se engajar na discussão e proposição de

políticas para as mulheres, os negros na discussão e proposição de políticas que

promovam a igualdade racial, os jovens nas políticas dirigidas a eles. Chama a atenção

que esse tipo de indução à participação13

foi promovido tanto pelas ONGs mais atuantes

no campo da promoção dos direitos, com uma historia de atuação no âmbito do

processo de redemocratização do país, como pelas ONGs e projetos sociais mais

especificamente ligados ao chamado terceiro setor de cunho empresarial. Efeito do que

Evelina Dagnino chama de confluência perversa entre o discurso democrático-

participativo e o discurso neo-liberal (Dagnino, Olvera e Panfichi, 2006, p. 16)

Foi assim que se constituiu um tipo de militante que não tem sido formado nos

espaços tradicionais de participação política, os partidos e sindicatos. Nos encontros

nacionais, a diferenciação entre os chamados jovens de projetos e os jovens militantes

de partidos políticos era evidente. Os primeiros sofriam inclusive certa discriminação

por parte dos segundos, que os acusavam de ser despolitizados, ou seja, de não ter

13 Em outro texto, já identificamos os rasgos dessa participação induzida no âmbito de programas governamentais (Tommasi, 2007, pp. 223-226).

10

clareza sobre as questões estruturais do âmbito político, como a luta de classe, o papel

do Estado e da classe trabalhadora. Os jovens de projetos reivindicavam seu

pertencimento ao campo indefinido dos movimentos sociais, mas seu atrelamento aos

projetos como público alvo (o que, no geral, significava receber uma bolsa, mesmo

sendo esta de valor sempre muito limitado) ou como educadores, ou seja, profissionais

remunerados, denunciava que seu engajamento não era de cunho exclusivamente

ideológico-político.

Por outro lado, o objetivo das entidades era ocupar espaços em instâncias

setoriais diversas. Assim, um jovem que se destaca pela coragem e facilidade de meter

a cara e expressar sua opinião, é recrutado para ocupar uma cadeira em alguma

instância de participação, não importa qual seja a área ou segmento (saúde, mulher,

criança e adolescente, juventude).

“Existe uma carência muito grande de pessoas que se posicionam, então a

partir do momento que você se mostra, se dispõe a isso, a discutir, a falar, a colocar

suas ideias, sem saber se está certo ou errado, ai você é tido como liderança, mas no

final das contas você não está liderando nada, você está sendo liderado por outros

interesses. Tem vez que o cabra não sabe nem falar, só porque ele junta dez pessoas é

tido como uma liderança.” (Paulo14

)

Os relatos dos meus entrevistados sobre a relação com as ONGs responsáveis

pelos projetos revelam dinâmicas geralmente bastante conturbadas. Com muita ênfase,

por exemplo, Elaine defende que ela não é produto do trabalho da ONG, assim como os

gestores da ONG gostavam de enfatizar publicamente, inclusive comparando o custo de

um jovem formado pela ONG com o custo da manutenção de um jovem na FEBEM,

argumentando ser mais barato investir na prevenção supostamente operada pelos

projetos da ONG do que na repressão e contenção operada pelos órgãos do estado. Essa

14 Os nomes são fictícios.

11

ideia de produto, inclusive, está mais em sintonia com a lógica do mercado do que com

os ideais da educação popular aos quais a ONG se remete, comenta Elaine.

Ao mesmo tempo, diz ela, parece que você tem uma “dívida impagável” com a

entidade, e por isso precisa se envolver em todas as atividades propostas, assumir

inclusive as muitas tarefas que demandam a gestão dos projetos. De público alvo, os

jovens tornam-se educadores, técnicos, gestores. Mas sempre percebendo que nunca

conseguem conquistar, dentro da entidade, o respeito e a autonomia da qual gozam os

profissionais adultos.

Mesmo assim, o envolvimento nas atividades dos projetos, que para os jovens

que se destacam representa também a possibilidade de participar de viagens, conhecer

lugares e pessoas distantes, é um momento significativo em sua trajetória. Para alguns, a

possibilidade de sair de um ambiente social e familiar no qual se sentem estranhos.

Jovens mulheres que não aceitam viver o destino e a condição de mulher submissa,

relegada ao papel de esposa e mãe; jovens que gostam de livros, de discutir ideias, que

se percebem inquietos e se preocupam com a transformação de seu entorno.

Nos movimentos sociais foi onde eu nasci de verdade, nasci para o mundo,

antes eu era bem tímida, retraída. Eu cresci me sentindo um peixe fora d’água e

quando eu cheguei nesse espaço eu me vi em casa, no movimento social, onde a gente

pensa parecido (Jaleila)

Para a maioria dos que se engajam em atividades políticas, inevitavelmente

surge o encontro e o envolvimento com a política partidária. Encontro sempre difícil já

que não dominam os códigos das práticas da política partidária. Assim, geralmente,

depois de certo tempo, entram em embates, que acabam se expressando em conflitos

pessoais, com os que se movem com mais desenvoltura nesses espaços. Clivagens

sociais se reproduzem. Os jovens que manejam os códigos e ocupam lugares de

destaque dentro das instâncias de partido (e de governo) são jovens de outro segmento

12

social, jovens que tiveram sua socialização política nos espaços do movimento

estudantil, na universidade. Clivagens sociais que, inevitavelmente, expressam também

clivagens raciais. Nas disputas, os jovens de projeto, ou seja, os jovens pobres,

geralmente perdem.

4. Desencanto

Para a grande maioria dos meus entrevistados, ao entusiasmo pela participação e

engajamento seguiu o desencanto. Por um lado, hoje percebem que, se pessoalmente

tiveram algum ganho, de forma geral sua atuação, mesmo no momento de auge das

mobilizações, não conseguiu atingir resultados tangíveis para outros jovens, ou melhor,

para a juventude brasileira.

“A gestão e as políticas me garantiram muita coisa, meu sustento, mas para a

maioria dos jovens não garantiu muita coisa” (Jaleila)

“A gente não conseguiu viabilizar nada” (Paulo)

“Em Pernambuco deve ter mais de 90 municípios que têm alguma instituição

de juventude, mas não fazem nada, não tem recursos disponíveis para fazer. Fica

aquela coisa engessada. Porque para ter a Casa de Juventude é preciso ter uma

instituição de juventude. (Geovane)

Os espaços de participação são esvaziados de um efetivo papel político, ou seja,

percebem que não é nesses espaços que as decisões sobre a destinação dos recursos

públicos e as definições programáticas são tomadas.

“Não vai ter controle social, nunca vai ter controle social, porque o governo só

vai indicar aqueles que são mais próximos dele” (Iran)

“Eu acho que esse modelo de participação dos conselhos já está saturado. A

sociedade civil não tá preparada suficientemente para ocupar esses espaços, aí vem

repetindo as lideranças. Os conselhos não deliberam sobre nada. Só existe ali porque a

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maioria dos convênios que o estado faz com os municípios exige. Os fundos não

funcionam porque nunca os prefeitos depositam o dinheiro.” (Geovane)

Por outro lado, centrar no objetivo de ocupar esses espaços enfraqueceu outras

possibilidades e objetivos de mobilização. As articulações viraram disputas por ocupar

uma cadeira de um Conselho, ou ser delegado em alguma conferência.

“eu sinto que a juventude que participou daqueles processos aderiram muito,

criticaram muito pouco, institucionalizaram muito facilmente, na perspectiva de ter

algum tipo de mobilidade social individual. Trata-se de um segmento muito excluído e

fica difícil exigir tal grau de desprendimento e de crítica, muitos jovens viram naquilo

uma possibilidade de ascensão social, ascensão através da política. O principal

resultado disso tudo é que algumas pessoas se gabaritaram. Isso virou para alguns

movimento a prioridade, ocupar espaços” (Eduardo)

A fragilidade dos movimentos frente à centralidade assumida pelas ditas

instâncias de participação já foi sublinhada nos estudos da Evelina Dagnino e de seu

grupo de pesquisa (cf. Dagnino, 2002). Aqui cabe salientar que, para os indivíduos

jovens, as consequências são bastante críticas, justamente porque o desencanto acontece

em um momento da vida em que se define um projeto de vida, profissional e pessoal.

A crise financeira pela qual passa a grande maioria das entidades não

governamentais na atualidade, pelo menos aquelas que pautaram suas ações na defesa

de direitos e ampliação dos espaços de participação democrática, torna mais difícil uma

inserção profissional no setor. Isso é particularmente evidente nos estados do Nordeste.

Para alguns, um pequeno grupo, resta o engajamento nas formas da política

tradicional. Aceitando as regras do jogo.

Assim, as trajetórias dos jovens entrevistados podem ser sintetizadas em dois

percursos típicos: engajamento e encanto – decepção com o mundo da política e as

práticas que ali acontecem – refluxo para o âmbito privado; ou : engajamento –

14

aceitação das regras do jogo – construção de uma carreira política profissional. Num

caso como no outro, o que se perde é a carga de conflito questionadora da ordem

existente, o sentimento de “ser parte de” um conjunto, um coletivo, um movimento, o

engajamento em ações coletivas (cf. Melucci, 1991). Seja, na maioria dos casos, por

causa da decepção; seja pela aceitação das regras do jogo e a projeção na política como

carreira pessoal.

Para aqueles jovens que continuam engajados em atividades que dizem respeito

ao campo da política instituída, como assessores de políticos que ocupam cargos nos

órgãos legislativos locais ou nacional, ou como ocupantes de uma cadeira em algum

Conselho, as formas da política parecem estar impregnadas de um substancial

pragmatismo. A política é o âmbito da negociação de interesses, dos acordos de porta

fechada, da gestão dos conflitos através da partilha de recursos. Política como técnica,

administração das coisas (Arendt, 1990, p. 217).

Nessa política como gestão de interesses não há lugar para a explicitação de

conflitos entre adversários (Mouffe, 2005, p.20), ou seja, sujeitos falantes que se

reconhecem na oposição. Alguns autores, como Chantal Mouffe e Jacques Rancière,

fazem uma distinção entre a “política”, ou seja, as práticas e instituições que organizam

a sociedade (a gestão), e o “político”, cuja característica distintiva é a dimensão do

conflito (Mouffe, 2005 e 2007; Rancière, 1996). Para Chantal Mouffe, o político se

caracteriza pela dimensão do antagonismo, constitutiva da sociedade humana.

“Considero que é apenas quando reconhecermos a dimensão do "político" e

entendermos que a "política" consiste em domesticar a hostilidade e em tentar conter o

potencial antagonismo que existe nas relações humanas que seremos capazes de

formular o que considero ser a questão central para a política democrática.” (Mouffe,

2005, p. 20)

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Jacques Rancière, por sua vez, argumenta que é o desentendimento, não o

consenso, que constitui a política: “a subjetivação política se elabora não no âmbito de

uma partilha de valores indentários, mas através do conflito, nas ações e nas palavras

que miram um bem público, na confrontação com outros sujeitos agentes e falantes”

(Magni, 2007, p.13).

Os relatos dos entrevistados são repletos de anedotas sobre a cooptação de

alguns pelo sistema político dominante, o enfraquecimento dos mais frágeis que acabam

caindo no circuito das drogas-violência, a repressão ou estigma (a queimação) dos quais

são alvo aqueles que expressam posições de conflito, a pressão que sofrem os que

ocupam posições que tradicionalmente não lhe são reservadas. São, me parece, formas

diferentes de gestão da população jovem, em particular, dos jovens que se envolvem em

atividades políticas.

De fato, as tentativas de organizar movimentos juvenis esbarram na dificuldade

de encontrar apoio para desenvolver atividades que têm um cunho político, ou seja,

encontros, discussões, elaboração de plataformas. A outra face do discurso que

essencializa uma suposta identidade juvenil foi a recusa, por parte das ONGs que

tradicionalmente apoiaram (por meio da assessoria técnica) a organização e articulação

política dos movimentos sociais, a apoiar articulações de jovens, com o argumento de

que os jovens têm que ser autônomos e se organizar por si mesmos (ou seja, sem a

intervenção de adultos). As fundações empresariais, por sua vez, só apoiam a realização

de atividades que elas possam orientar e que tenham como finalidade o que elas

acreditam que tenha que ser feito, ou seja, apoiar a formação de jovens gestores que

realizem ações sociais e/ou culturais nas comunidades; dessa forma, para estas

instituições, os jovens passariam de ser considerados problema a ser parte da solução

(cf. Gomes da Costa, 1996; para uma visão crítica, cf. Tommasi, 2012).

16

Assim, o campo da política instituída tem sido ocupado quase que

exclusivamente pelas formas tradicionais de organização política, os partidos e os

grêmios estudantis. As “Redes” dos quais alguns de nossos interlocutores participam e,

supostamente, representam nos espaços de interlocução com o poder público, como eles

mesmos admitem só existem como siglas para poder legitimar-se como representante

de um coletivo. Ou seja, são siglas vazias. As tão celebradas novas formas de se

organizar politicamente15

parecem ser, na prática, extremamente frágeis.

Por sua vez a juventude negra, que tem sido um ator político significativo,

levantando uma bandeira antagonista, a luta contra o extermínio da juventude negra, e

questionando o papel das políticas de segurança como políticas de controle da

população jovem, tem grande dificuldade para se articular com os outros segmentos da

juventude organizada, ou seja, partidos e grêmios. Levantando uma bandeira que

questiona a política de segurança do governo federal, bate de frente com as

organizações juvenis que são aliadas fortes do governo petista (como a União Nacional

dos Estudantes - UNE). Eduardo comenta a respeito das consequências que esse tipo de

atitude acarreta:

“Quando nós ocupamos o espaço do poder, nós estamos num não lugar, e

ocupando esses espaços nós temos que ter uma postura subserviente, quando você sai

dessa margem de subserviência você sofre uma pressão muito grande, muito forte e

nem todos nós temos condição de suportar essas pressões. Isso inviabiliza o nosso

projeto nacional, porque os caras vão minando as pessoas. Na hora que ele vai falar

ele está sozinho, ele está fortalecido politicamente, mas será que pessoalmente está?”

(Eduardo)

15 Há uma extensa literatura que reproduz o discurso formulado por alguns autores (cf. Melucci, 1991) sobre as formas organizativas inovadoras dos movimentos sociais como formação de redes (Scherer-Warren, 1993)

17

5. Algumas questões para o debate

5.1.Dificuldade para nomear o conflito

Uma constante foi, nas narrativas dos entrevistados, fazer referência a um

conflito que, na maioria dos casos, aparece como um acontecimento que marca de

forma significativa suas trajetórias. No geral, é o relato de conflitos que se manifestam

no plano privado, nas relações pessoais. Conflitos pelo controle de recursos, para ocupar

posições de poder no âmbito das atividades desenvolvidas, acabam se manifestando e

sendo expressos como conflitos pessoais.

Muitas vezes, eles fazem referência a conflitos com pessoas de outra geração,

geralmente os coordenadores dos projetos, identificando-os como conflitos geracionais.

Outras vezes, relatam conflitos que aconteceram entre eles, expressando se tratar de

conflitos decorrentes da quebra de acordos, das posturas personalistas de alguns, de

interesses particulares que não levam em conta o “coletivo”; às vezes, as acusações são

mútuas. São conflitos, de novo, expressos no plano pessoal. Raramente identificam

nesses conflitos diferentes posicionamentos políticos e ideológicos, a expressão de

interesses antagônicos no âmbito de uma distribuição desigual de recursos materiais e

simbólicos, particularmente aguda na sociedade brasileira.

Essa dificuldade em nomear e expressar o conflito, apontando nele interesses

inconciliáveis, tornando públicas posições distintas, ruptura de acordos, quebra de

lealdades, a meu ver,não decorre somente da confusão e indistinção entre público e

privado, que vários autores identificaram como constitutiva da sociedade brasileira (cf.

Chaui, 2000, p. 90-91). A própria dinâmica das atividades dos projetos, as orientações

metodológicas e teóricas das quais os consultores são porta-vozes impedem a expressão

de posições antagônicas, desestimulam a pluralidade dos pontos de vista; ao contrário,

há o que podemos chamar de “culto do consenso”. Da mesma forma, a constituição de

18

uma suposta comunidade juvenil composta por jovens que compartilham uma mesma

condição juvenil, impede o reconhecimento da existência de interesses de classe

antagônicos que perpassam essa condição comum.

As dinâmicas que os projetos promovem nos momentos de encontro coletivo, os

laços afetivos incentivados, a responsabilização no interior do grupo, visam reforçar a

identificação coletiva com interesses e objetivos comuns, oportunamente moldados; as

cartilhas que orientam essa atividades rezam que todas as decisões devem ser tomadas

na base do consenso.

Ao que parece, a influência da teoria da ação comunicativa do Habermas, a

suposta existência de uma esfera pública homogênea, são marcas significativas da

matriz discursiva que orienta as ações no campo, especificamente no âmbito das

atividades promovidas pelo setor privado. Toda uma gama de dinâmicas propostas

alimentam formas de interação que eliminam a possibilidade de expressão de conflitos e

procuram subsidiar a boa gestão comunicativa para a produção do consenso. Os

conflitos, quando existem, supostamente decorrem de uma falta de habilidade na gestão

das relações interpessoais, especificamente no que diz respeito aos que são identificados

como problemas de comunicação.

Ao mesmo tempo, não se inclui nos programas de formação promovidos pelos

projetos a leitura de autores que fazem do conflito uma ferramenta analítica para a

compreensão da sociedade. O referencial teórico remete, com força, à ideia de fortalecer

o indivíduo, a liderança, a criatividade e capacidade de ação independentemente das

condições sociais de partida. O sucesso do conceito de “resiliência” no meio dos

projetos sociais promovidos pelas fundações empresarias é parte dessa concepção.

Mesmo quando os conceitos de cidadania e de luta por direitos são incluídos nas

discussões e formações promovidas, são dissociados de uma teoria da ação do Estado

19

(que supostamente deveria garantir esses direitos), de uma análise da produção e

distribuição dos recursos, materiais e simbólicos, sobre às quais as ideias de cidadania e

de direitos possam se ancorar; dessa forma, viram invólucros vazios. Ao invés, a

responsabilização individual, o incentivo ao uso da criatividade e do talento pessoal,

colocam a conquista da cidadania e de direitos como decorrentes exclusivamente do

esforço do indivíduo. É o que chamei de uma “subjetividade empreendedora” que se

expressa no terreno das intervenções sociais.

5.2 A armadilha da participação: se participo o bicho pega, se não participo o bicho

come

Os relatos dos entrevistados sobre suas experiências nas denominadas instâncias

de participação e outras ocasiões de encontro com os representantes do governo

mostram tratar-se, geralmente, de algo que podemos definir como armadilha: se

participam, tornam-se cúmplices de decisões, práticas e programas sobre os quais,

efetivamente, não têm nenhum controle nem possibilidade de influência, já que, como

eles dizem, “chegam já prontos” para ser simplesmente referendados e, assim,

legitimados, justamente por meio da participação da sociedade civil. Se não participam,

são etiquetados como “radicais” ou “sectários” e percebem-se excluídos de qualquer

possibilidade de influir nos processos decisórios. Difícil escapar da armadilha. Porque a

implicação16

aparenta representar a oportunidade de provocar mudanças efetivas, de não

ficar na reivindicação estéril ou no discurso inconsequente. Mas, eles sabem, não é

nesses espaços abertos para a participação que as decisões são tomadas. Nesse caso, a

implicação funciona como instrumento de legitimação.

16

Utilizando esse termo faço referência á ideia de “procedimentos de implicação” formulada por J. Donzelot para nomear o envolvimento, a responsabilização dos cidadãos na gestão dos riscos da vida econômica e social. Ele situa aqui o nascimento da chamada “sociedade civil” (Donzelot, 1994, p. 183)

20

Eduardo relata que seu grupo, um grupo de jovens negros muito ativo no âmbito

da campanha contra o extermínio da juventude negra, defende e pratica a ação direta;

num dado momento, é convidado a participar da elaboração do currículo para a

disciplina “diversidade cultural” de um curso para policiais. Argumenta que o grupo

acredita que não é através de cursos desse tipo que a política de segurança pública vai

ser transformada: “não adianta oferecer cursos e cursos e encher o cara de armas” .

Mesmo assim, como dizer não ao convite que chega como um reconhecimento da

atuação política do grupo?

“Nós estamos virando especialistas na temática da juventude negra, mas

a nossa juventude continua morrendo. A gente contribui, legitima esses espaços,

mas não vê nossa realidade ser transformada.” (Eduardo)

Ele representa o Fórum da Juventude Negra no Conselho Nacional de Segurança

Pública, onde, ele diz, as decisões sobre as ações do governo chegam já prontas. Mas, se

ficar de fora, irá perder a oportunidade de circular nos espaços da política instituída, de

tecer relações que poderão se tornar rentáveis na hora de procurar um trabalho ou o

apoio político necessário à realização de algum projeto. Assim, vários fazem referência

às disputas pessoais que se manifestam na hora de escolher quem irá ocupar uma

cadeira num Conselho; e ao fato que os que as ocupam representam siglas vazias, ou

seja, supostas entidades, ou “redes” que só existem na fala de quem as representa. De

fato, para quem sabe aproveitá-la, ocupar uma cadeira num Conselho representa uma

oportunidade de se tornar visível no mundo da política, de tecer relações e alianças, de

mostrar as habilidades requeridas para fazer carreira nesse âmbito; de ser socializado

com respeito às regras do jogo da política instituída. Um Conselho representa, sem

dúvida, um espaço que oferece visibilidade para as organizações e os indivíduos

participantes, um espaço onde é possível ter acesso a informações sobre programas e

21

financiamentos. Visibilidade que favorece a construção de alianças importantes na hora

de estabelecer parcerias que assegurem o financiamento da entidade; ou na hora de

procurar emprego para os indivíduos.

As disputas para ocupar alguma cadeira num Conselho muitas vezes são algo

que marca de forma definitiva, tanto do ponto de vista pessoal como da construção do

coletivo. Articulações políticas se dissolvem, organizações entram em crise, indivíduos

perdem o reconhecimento do grupo e seu processo de individuação é abalado.

A armadilha da participação lembra o conceito de “double bind” elaborado por

G. Bateson e difundido pelo trabalho de P. Watzlawick (Watzlawick, Beavin e Jackson,

1971) que pode ser exemplificado como uma incongruência entre o discurso explicito (o

que se diz) e o nível não verbal (a metacomunicação), situação que imobiliza o

interlocutor já que para ele é impossível ativar simultaneamente uma resposta às duas

mensagens que se contradizem. No caso da participação, a incongruência entre o

discurso e a experiência concreta, repleta de situações que contradizem o discurso, num

contexto altamente significativo, em particular para quem experimenta a distância entre

seu contexto de origem (códigos valorativos e de comportamento) e o dos palácios de

governo, provoca situações de sofrimento pessoal não indiferentes, pela dificuldade de

dar sentido à própria ação. Ainda mais porque, para quem representa supostamente um

coletivo, a volta para casa implica dever responder às cobranças do grupo sobre as

atitudes tomadas no âmbito das instâncias de participação.

Vale ressaltar, rapidamente, a incongruência vivida entre o luxo dos hotéis que

frequentam quando participam das atividades dos projetos sociais ou dos Conselhos, e a

precariedade da situação financeira cotidiana. Eduardo relata ocasiões em que teve que

dormir no aeroporto de sua cidade natal, depois de ter chegado, à noite, após ter

participado de reuniões nos palácios de governo em Brasília, por não ter sequer o

22

dinheiro para tomar um táxi e voltar para casa, e ter sido obrigado a esperar até o

horário de início das corridas de ônibus, na madrugada.

Se no plano das atividades políticas as experiências de participação nessas

instâncias muitas vezes enfraquecem as ações coletivas, paralisam o engajamento nos

grupos de origem, dispersam as energias, no plano pessoal se traduzem em

desmotivação, confusão, sofrimento. Experiências difíceis para serem compartilhadas e

contidas no âmbito do coletivo. Pelo contrário, hoje é a concorrência, muito mais do que

a solidariedade grupal, que orienta os comportamentos mesmo no âmbito das formas da

política.

“a militância é um caminho incerto, muito instável que exige competências das

mais variadas, você não tem que saber só ler e escrever, falar, você tem que ter um

psicológico muito forte, você tem que ter uma espiritualidade muito forte, você tem que

ser quase um super homem, uma super mulher, para sobreviver nessa guerra”

(Eduardo).

5.3 A questão identitária

Num artigo recente (Sposito, 2012), Marília Sposito, repercorrendo a literatura

sobre movimentos sociais e se referindo em particular à obra de H. Lefebvre e A.

Melucci, aponta a centralidade das leituras que, a partir da escola sociológica francesa

de A. Touraine, entendem as ações coletivas como motivadas pela busca de afirmação

de identidade culturais por parte de segmentos populacionais específicos: as mulheres,

os gays, as minorias étnicas. A subjetividade dos membros desses grupos sofreria um

dano causado pelo não reconhecimento e depreciação de sua identidade pelo grupo

dominante. Reparar esse dano, reconhecer a diferença, preencher os déficits em termos

de políticas públicas dirigidas a esses segmentos, dar visibilidade às suas demandas e

questões: é sobre esses temas que as lutas se organizam.

23

As leituras sobre os movimentos juvenis seguem essa mesma linha

interpretativa. Os jovens seriam mais um grupo populacional que coloca suas questões e

reivindica seus direitos, a partir da suposta singularidade da condição juvenil (cf.

Abramo, 1997 e 2005, Instituto Cidadania, 2005).

Nos últimos anos a centralidade da questão identitária no âmbito dos

movimentos sociais começa a ser questionada, justamente por parte das expoentes de

um desses grupos, as mulheres. Nancy Fraser, filósofa e teórica feminista

estadunidense, assim formula sua crítica aguda às “políticas de identidade”:

“O modelo da identidade é profundamente problemático. Entendendo o não

reconhecimento como um dano à identidade, ele enfatiza a estrutura psíquica em detrimento

das instituições sociais e da interação social. Assim, ele arrisca substituir a mudança social

por formas intrusas de engenharia da consciência. O modelo agrava esses riscos, ao

posicionar a identidade de grupo como o objeto do reconhecimento. Enfatizando a

elaboração e a manifestação de uma identidade coletiva autêntica, auto-afirmativa e

autopoiética, ele submete os membros individuais a uma pressão moral a fim de se

conformarem à cultura do grupo. Muitas vezes, o resultado é a imposição de uma identidade

de grupo singular e drasticamente simplificada que nega a complexidade das vidas dos

indivíduos, a multiplicidade de suas identificações e as interseções de suas várias filiações.

Além disso, o modelo reifica a cultura. Ignorando as interações transculturais, ele trata as

culturas como profundamente definidas, separadas e não interativas, como se fosse óbvio

onde uma termina e a outra começa. Como resultado, ele tende a promover o separatismo e

a enclausurar os grupos ao invés de fomentar interações entre eles. Ademais, ao negar a

heterogeneidade interna, o modelo de identidade obscurece as disputas, dentro dos grupos

sociais, por autoridade para representá-los, assim como por poder. Consequentemente, isso

encobre o poder das facções dominantes e reforça a dominação interna. Então, em geral, o

modelo da identidade aproxima-se muito facilmente de formas repressivas de

comunitarismo.” (Fraser, 2007, pp. 106-107).

24

Por sua vez, o sociólogo N. Rose discute as novas formas de comunitarismo no

âmbito do que considera uma nova territorialização das estratégias de governo:

comunidades, múltiplas e fragmentadas, substituem a centralidade da sociedade como

sujeito e objeto de governo (no sentido atribuído por M. Foucault ao termo governo, no

contexto da discussão sobre governamentalidade, ou seja, a gestão da população):

“Cada afirmação sobre a comunidade se refere a algo que já existe e que nos

interpela: nosso destino comum como gays, como mulheres negras, como pessoas com

HIV, como membros de um grupo étnico, como moradores de uma vila ou um subúrbio,

como pessoas com deficiência. Mas o nosso pertencimento a cada uma dessas

comunidades particulares é algo sobre o qual temos que ser conscientizados, precisando

para isso do trabalho de educadores, de campanhas, de ativistas, de manipuladores de

símbolos, narrativas e identificações. Dentro desse estilo de pensamento, a comunidade

existe e, ao mesmo tempo, deve ser alcançada, mas a sua conquista não é nada mais do

que o nascimento da presença de uma forma de existir que é pré-existente.

‘Governar através da comunidade’ envolve uma variedade de estratégias para

inventar e instrumentalizar estas dimensões de pertencimento entre indivíduos e

comunidades a serviço de projetos de regulamentação, reforma ou mobilização.” (Rose,

1996, p. 334)

Assim, para alguns autores internos ao campo da juventude, o acionamento da

identidade juvenil seria o resultado de um processo de tomada de consciência, que

requer uma ação político-pedagógica. Escreve Helena Abramo, “a identidade juvenil

não é ela mesma, ‘natural’, referida a uma essência. Tem de ser descoberta, acionada, à

proporção que fizer sentido existencial e político para eles.” (Abramo, 2008, p. 98).

Para meus entrevistados, a juventude não é uma identidade e sim uma categoria

que deve ser acionada para poder participar de um campo de intervenção específico. Ou

seja, a categoria juventude identifica um campo do qual se entra e se sai segundo os

25

interesses e as circunstâncias, assim como há o campo da saúde, da educação, da

questão racional, ou o campo das lutas das mulheres.

Paulo narra que sua primeira atividade “de juventude” foi um encontro de

jovens, no centro da cidade, onde um amigo do bairro o levou. Ali, despertou interesse

para se inscrever num curso da ONG que o amigo frequentava. Na época, trabalhava

como promotor de venda da Nestlé. Como não conseguiu entrar no curso dirigido aos

jovens, que estava lotado, entrou no curso de políticas públicas e em menos de um ano

virou conselheiro no Conselho municipal de saúde e também coordenador de uma rede

de conselheiros de saúde. Mas “como eu me destacava no de Políticas Públicas, eu era

cotado para ir às atividades de juventude, não por discutir juventude, mas por ser

jovem”.

Jaleila, por sua vez, que trabalhou como educadora no Projovem17, faz

considerações interessantes ao redor da suposta existência de uma identidade juvenil:

“Os meninos do Projovem às vezes não entendiam o porquê daquela política

para eles, pois eles já se consideravam grandes, já eram adultos, eram pais de família,

não entendiam porque um projeto oferecia 100,00 reais para elevação da escolaridade,

para eles isso deveria ter sido feito antes. Para quem está na faixa etária da juventude é

mais difícil se sentir juventude.”

Sem dúvida, a ideia de juventude como sujeito político, a evocação de uma

suposta identificação numa comunidade juvenil homogênea, faz passar em segundo

plano a evidente heterogeneidade das situações de vida dos jovens. Diversidade de

situações e experiências de vida que não se resolve, nem do ponto de vista analítico,

nem do ponto de vista da organização de atores coletivos, simplesmente colocando um

17 Programa do governo federal direcionado aos jovens entre 15 e 29 anos que não tenham concluído o ensino fundamental, voltado à elevação da escolaridade através do oferecimento de uma bolsa em troca da frequência de uma modalidade escolar ad hoc que combina educação básica, qualificação profissional e ação comunitária.

26

“s” à palavra juventude. Além disso, é a forma como os jovens interagem com outros

segmentos sociais que configura e dá sentido à sua ação.

No campo da juventude, as diferenças (de classe, gênero, etc.) são colocadas em

segundo plano com respeito a uma suposta homogeneidade (ou melhor,

“singularidade”) da condição juvenil; ou oportunamente valorizadas e essencializadas,

quando se trata de delimitar “caixinhas identitárias” no interior das quais encerrar os

jovens negros, os jovens deficientes físicos, as jovens mulheres, os jovens índios, como

ocorreu no processo de implantação do Conselho Nacional de Juventude18

.

Nesta mesma linha de análise, Taciana Gouveia, socióloga e educadoras

feminista, comenta:

“O deslocamento das questões públicas de um coletivo maior para indivíduos que

possuem determinados atributos não possibilita a criação de sujeitos políticos, mas sim a

formação de grupos de interesses. E estes, por sua vez, terminam por enfraquecer o

reconhecimento e a atuação política como sendo necessariamente da ordem da

conflitividade e, portanto, relacional. A política produzida a partir da lógica dos grupos de

interesses termina por ser de sentido apenas inclusivo e não transformativo, dado que não

afeta de modo radical as estruturas de poder.” (Gouveia, 2011, pp. 276-277)

Desarmar o conflito, produzir a ordem, é um dos efeitos do acionamento

identitário no âmbito da gestão da população jovem.

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18 O CONJUVE (Conselho Nacional de Juventude) foi criado através de um decreto presidencial em 2005 (cf. http://www.soleis.com.br/D5490.htm).

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