Telejornalismo e diversidade cultural: a TV pública e a construção de identidades

15
SBPJor Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Telejornalismo e diversidade cultural: a TV pública e a construção de identidades Christina Ferraz Musse 1 Mila Pernisa 2 Resumo: O artigo procura refletir sobre a construção da identidade nacional, no telejornalismo brasileiro. Desta forma, pretende evidenciar a hegemonia do discurso televisivo na conforma- ção do mito da brasilidade, como também desvelar os artifícios que constroem o mito, ao simu- lar a pluralidade cultural, quando de fato há uma excessiva centralização nos modos de narrar o país. O modelo comercial da televisão brasileira interioriza e dinamiza o consumo, mundializa o desejo, mas não parece dar conta das diversidades regionais. A televisão pública ensaia narra- tivas nesta direção, mas o resultado fica muito aquém da diversidade de sotaques e de fazeres. Existe uma crise de representação do espaço público, que as novas tecnologias pretendem res- gatar. O artigo tenta compreender a construção da imagem do país, com base nos conceitos de identidade e mediação das Teorias do Jornalismo e dos Estudos Culturais. Palavras-chave: Telejornalismo, televisão, identidade, diversidade, espaço público. 1. A diversidade: pauta de interesse público A diversidade é pauta dos principais veículos de comunicação do mundo. Até mesmo numa área como o esporte, ela é saudada como uma vantagem competitiva. Não é à toa que este foi um dos atributos que, segundo especialistas, teriam levado a Seleção 1 Christina Ferraz Musse é Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); professora adjunta e coordenadora do Curso de Comunicação Social (Diurno) da Univer- sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); professora permanente do PPGCOM/UFJF. 2 Mila Pernisa é jornalista com especialização em Comunicação Empresarial e mestranda em Comunica- ção e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Professora do curso de Comunicação Social do Centro de Ensino Superior (CES) de Juiz de Fora.

Transcript of Telejornalismo e diversidade cultural: a TV pública e a construção de identidades

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Telejornalismo e diversidade cultural:

a TV pública e a construção de identidades

Christina Ferraz Musse1

Mila Pernisa 2

Resumo: O artigo procura refletir sobre a construção da identidade nacional, no telejornalismo

brasileiro. Desta forma, pretende evidenciar a hegemonia do discurso televisivo na conforma-

ção do mito da brasilidade, como também desvelar os artifícios que constroem o mito, ao simu-

lar a pluralidade cultural, quando de fato há uma excessiva centralização nos modos de narrar o

país. O modelo comercial da televisão brasileira interioriza e dinamiza o consumo, mundializa

o desejo, mas não parece dar conta das diversidades regionais. A televisão pública ensaia narra-

tivas nesta direção, mas o resultado fica muito aquém da diversidade de sotaques e de fazeres.

Existe uma crise de representação do espaço público, que as novas tecnologias pretendem res-

gatar. O artigo tenta compreender a construção da imagem do país, com base nos conceitos de

identidade e mediação das Teorias do Jornalismo e dos Estudos Culturais.

Palavras-chave: Telejornalismo, televisão, identidade, diversidade, espaço público.

1. A diversidade: pauta de interesse público

A diversidade é pauta dos principais veículos de comunicação do mundo. Até

mesmo numa área como o esporte, ela é saudada como uma vantagem competitiva. Não

é à toa que este foi um dos atributos que, segundo especialistas, teriam levado a Seleção

1 Christina Ferraz Musse é Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ); professora adjunta e coordenadora do Curso de Comunicação Social (Diurno) da Univer-

sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); professora permanente do PPGCOM/UFJF.

2 Mila Pernisa é jornalista com especialização em Comunicação Empresarial e mestranda em Comunica-

ção e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Professora do curso de Comunicação

Social do Centro de Ensino Superior (CES) de Juiz de Fora.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Alemã às quartas de final da Copa do Mundo de Futebol na África do Sul. ―Multirra-

cialismo, a arma alemã‖, alardeava a manchete do jornal O Globo, enfatizando a pre-

sença de 11 ―estrangeiros‖ entre os 23 jogadores (MULTIRRACIALISMO, 6 jul.2010,

p.1). De outra forma, poucos dias antes, após a humilhação e a volta para casa da Sele-

ção Francesa, reportagem do mesmo jornal mencionava que os jogadores estavam sendo

acusados de não serem franceses, por, entre outras razões, não cantarem o hino (ER-

LANGER, 25 jun. 2010, p.10). Dos estádios para a discussão acadêmica, parece não

haver distância. Na mesma semana, em palestra de abertura do Simpósio de Coopera-

ção França-Brasil, em Paris, Dominique Wolton3 citaria o futebol como metáfora das

disputas simbólicas que extrapolam o esporte e alertaria para a necessidade da pesquisa

das diferenças entre os povos e nações, muito mais do que aquilo que eles têm em co-

mum, fazendo, dessa forma, um elogio à diversidade.

Wolton, que é autor de livros e artigos sobre a televisão, não hesita em apontar o

veículo como ―fator de identidade cultural nacional, indispensável diante da internacio-

nalização da cultura‖ (2004, p.168). Analisando o exemplo brasileiro, em que a televi-

são privada, Globo, é amplamente dominante, o pesquisador salienta o papel das teleno-

velas, assistidas por todas as classes sociais. ―Elas fizeram provavelmente mais para

preservar um certo orgulho cultural, valorizar a criação e manter uma certa coesão, do

que muitas políticas públicas‖ (2004, p. 172). Wolton acredita que, quanto mais o mer-

cado da comunicação se internacionaliza, mais as televisões nacionais cumprem um

papel fundamental para garantir a diversidade e fazer frente aos interesses das multina-

cionais da cultura.

Reconhecendo o papel da televisão no cenário contemporâneo, ou melhor, das

múltiplas televisões (já que a ―televisão tem inúmeras faces‖), Vera França defende a

sua estreita relação com a vida social, mas alerta para o fato de que a TV é ―mecanismo

de reprodução e manutenção da ordem dominante‖ (2009, p.30). Isto é, mesmo reco-

nhecendo a televisão como ―vetor de dinamismo e modificação do seu entorno‖ (2009,

p.30), França conclui que ―é possível compreender as permanentes trocas entre televisão

e sociedade como pautadas por e resultando em permanentes equilíbrios e reequilí-

3 Dominique Wolton fez a palestra de abertura do Simpósio de Cooperação França-Brasil, realizado no

dia 22 de junho de 2010, no Instituto de Ciências da Comunicação, do Centro Nacional de Pesquisa Cien-

tífica (CNRS), em Paris.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

brios‖, o que ela caracteriza como um ―sistema homeostático‖ (2009, p. 31). Neste sen-

tido, a televisão seria capaz de absorver as transformações sociais e tecnológicas inten-

sas do mundo contemporâneo, até mesmo aquelas que provocassem rupturas, processá-

las e devolvê-las sob a forma de produtos de fácil consumo, mantendo o equilíbrio do

sistema como um todo.

De certa forma, a cultura da televisão é aquela definida por Wolton como cultura

média. ―A grande mudança é o surgimento dessa cultura média, de grande público, ma-

joritária, geral, a que mais se espalhou em nossas sociedades, à qual cada um pertence

de qualquer forma, mesmo quem adere a uma outra forma cultural‖ (2004, p.162). Essa

cultura média pode até contemplar a pluralidade de pontos de vista, as ―formas de vida

heterogêneas‖ de Muniz Sodré, que são importantes, como ele reconhece, para a ―ques-

tão das identificações de um povo nacional, por mais que sejam dificilmente reconheci-

das em sua diversidade cultural‖ (2008, p. 36). Sodré aponta diferenças entre a plurali-

dade e a diversidade, a última exigiria um intercâmbio mais amplo entre a produção e o

consumo de conteúdos, até mesmo, uma troca de papeis. É uma postura que dialoga

com Giddens (1991), quando o autor alerta para a confusão criada quando, na defesa do

multiculturalismo, criam-se posições que essencializam a identidade e a diferença e não

possibilitam aquilo que Hall entende como a geração de culturas híbridas (2001). Ao

defender que qualquer política cultural hoje tem de rever a ideia de cultura como essên-

cia, Sodré reconhece que:

Uma política de diversidade cultural não é o reconhecimento ou o financia-

mento de simples fetiches identitários, mas a promoção de relações dialógi-

cas entre Estado, sociedade global e formas plurais de existência, que impli-

cam a apropriação de territórios e a intervenção em agências governamentais

(SODRÉ, 2008, p. 36).

Tal pensamento vai ao encontro das estratégias adotadas por grupos da socieda-

de civil que têm se articulado para estruturar seus próprios canais de comunicação ou

pelo menos ganhar, mais do que reconhecimento, visibilidade nos media já constituídos.

Rousiley Maia destaca que, apesar de não haver a interação do tipo face a face, os media

provocam algum tipo de interação:

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Eles [os media] dão visibilidade a atores, vozes e a uma diversidade enorme

de matérias, mas não permitem uma interação dialógica, do tipo face a face,

com a audiência. Não obstante, deve-se considerar que o sistema dos media,

ao disseminar informações em volume e escala sem precedentes, oferece in-

sumos que alimentam interações dialógicas, com formatos variados, entre os

cidadãos, seja em conversações informais do dia-a-dia, seja em discussões

que se sobrepõem em fóruns organizados da complexa sociedade contempo-

rânea (MAIA, 2006, p.156).

É neste contexto que podemos entender a televisão, por exemplo, como veículo

capaz de criar ―laços sociais‖ (WOLTON, 2006) e se transformar na nova ―praça públi-

ca‖ (VIZEU; PORCELLO; MOTA, 2006). ―Certamente, vencer a barreira da invisibili-

dade é o primeiro passo para tomar parte no fórum de debate cívico constituído pela

mídia. Somente dessa forma os atores e seus discursos adquirem ‗existência pública‘,

para além de seu meio local e de suas comunidades compartilhadas‖ (MAIA, 2006, p.

161).

Ao analisar as relações entre sociedade e TV, Ana Carolina Temer e Tatiane Pi-

mentel acreditam não ser difícil, apesar de árduo, entender o veículo como laço social,

mas argumentam que ―a dificuldade estaria em admiti-la como substituta da expressão

do cidadão‖ (2009, p. 177), já que o pressuposto básico da cidadania é a transformação

social e esta não dispensa os cidadãos. ―No entanto, a ação dos cidadãos não reverbera

a contento nos meios de comunicação‖ (2009, p. 177). Desta forma, como destacam as

autoras, a comunicação efetuada pelos meios não responderia às exigências de uma co-

municação dialógica ou aos preceitos da cidadania social.

2. A concentração dos meios na América Latina e no Brasil

No cenário latino-americano, o maior entrave à comunicação dialógica e trans-

formadora está na excessiva concentração dos meios nas mãos de poucos produtores de

informação, o que cria, segundo Raúl Trejo Delarbre, uma relação inevitável, necessá-

ria, mas contraditória entre as novas democracias do continente e os meios de comuni-

cação:

En las sociedades contemporáneas los medios de masas, especialmente la te-

levisión, se han convertido en espacios esenciales par la construcción de

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

consensos. Para la mayor parte de los ciudadanos son la principal fuente de

información acerca de los asuntos públicos. Si esa información es parcial, la

apreciación de los ciudadanos acerca de tales asuntos será insuficiente. En

otras palabras, las insuficiencias de los medios se pueden convertir en algu-

nas de las deficiencias en los regímenes democráticos. Y al contrario, ciando

una sociedad es democratica ofrecerá un contexto apropriado para un des-

empeño profesional de los medios (DELARBRE, 2010, p. 18).

Ao analisar a experiência televisiva na América Latina o autor traz para discus-

são essa evidência: a discrepância entre a homogeneização e a diversidade cultural; en-

tre a quantidade e a qualidade. Delarbre cunhou o termo ―mediocracia‖ para falar da

influência política e social da televisão e da empresas midiáticas no México. Ao anali-

sar a concentração da televisão aberta também na Argentina, Brasil, Chile e Venezuela,

ele alerta para um controle na produção de conteúdo que se amplifica ao se espalhar por

outros veículos de comunicação, num caso típico de propriedade cruzada de unidades

empresariais4:

El control que mantienen sobre las principales frecuencias de la televisión

abierta es uno de los puntales de esas posibilidades mediáticas pero hoy en

día se trata de grupos con versátiles y cambiantes ramificaciones. La pro-

ducción originalmente realizada para la televisión abierta pude ser difundida

por sistemas de televisión de paga, por cable o satélite. O es vendida más

tarde, empaquetada en videos o en formatos descargables en Internet. La

poderosa influencia que esas variadas actividades pueden proporcionar a los

consorcios mediáticos se manifiesta en la relación habitualmente cercana

que los empresarios de la televisión tienen con las elites políticas (DELAR-

BRE, 2010, p.25).

As relações de produção na televisão brasileira são sintomáticas. Anamaria Fa-

dul argumenta que o processo de desconcentração industrial no Brasil, observável na

última década, não veio acompanhado de algo semelhante entre as empresas de mídia.

―O desenvolvimento de um sistema midiático regional, como já se mostrou anterior-

mente, tem íntima relação com os indicadores demográficos e econômicos, isto é, qual o

tamanho da população, onde ela se localiza e quanto tem para consumir (IPC)‖ (2006,

p.28). Assim, por exemplo, é curioso que se observe que, dos 26 estados brasileiros,

4 Propriedade cruzada é a concentração de propriedade pelo mesmo grupo, de diferentes tipos de meios de

comunicação. Por exemplo, concessões de rádio e televisão e outros serviços como televisão por assinatu-

ra, jornais e internet.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

somente oito têm suas capitais incluídas nas pesquisas de audiência, além da capital do

Distrito Federal, Brasília. ―Este fato significa que, para a publicidade e os anunciantes,

o Brasil da mídia é muito menor do que aquele real. No caso da televisão, a mídia de

maior impacto no país, a audiência televisiva dessas nove capitais sinaliza o que será

exibido em todo o país‖ (2006, p.29). Na opinião da autora, até mesmo as pesquisas

sobre mídia regional têm uma visão etnocêntrica, uma vez que têm privilegiado, em sua

maioria, o estudo nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, onde estão localizadas as

maiores e mais importantes empresas do setor.

Neste sentido, José Marques de Melo aponta para o que ele chama de ―colonia-

lismo cultural‖:

A análise da programação da TV brasileira no que se refere à origem da pro-

dução permite identificar uma situação de colonialismo cultural. Mais de

80% do espaço dos programas exibidos é ocupado por material proveniente

de universos culturais diversos daquele peculiar à população à qual se desti-

na. Cerca de metade dos programas são estrangeiros (48%) e cerca de 1/3

são nacionais (34%). A produção regional é reduzidíssima (4%) e a produ-

ção local é quantitativamente pouco expressiva (MARQUES DE MELO,

2010, p.117).

Apesar de a Constituição brasileira ter um capítulo sobre Comunicação Social e

garantir o direito à livre expressão e à comunicação, observa-se que, de fato, ainda é

pouco o que se tem realizado no sentido de possibilitar uma maior democratização da

produção de conteúdos na televisão brasileira. A Constituição prevê, por exemplo, no

Artigo 220, § 5º, que ―os meios de comunicação social não podem, direta ou indireta-

mente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.‖ O artigo 221 é ainda mais explícito:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão a-

tenderão aos seguintes princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção indepen-

dente que objetive sua divulgação;

III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme

percentuais estabelecidos em lei (Constituição Brasileira).

Esses pontos da lei revelam o desejo de uma profunda mudança no modelo de

comunicação realizado no país, mas ainda dependem de regulamentação que só ocorrerá

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

diante de uma efetiva pressão da sociedade civil. Em dezembro de 2009, mais de 20

anos depois da Assembléia Nacional Constituinte, este momento parecia ter chegado.

Foi a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, em Brasília, depois de

vários fóruns regionais. Os 1.800 delegados, representando os segmentos da sociedade

civil, sociedade civil empresarial e poder público, participaram dos 15 Grupos de Traba-

lho, organizados em três eixos temáticos – Produção de conteúdo; Meios de distribui-

ção; e Cidadania: direitos e deveres – e aprovaram, ao final, 633 propostas.

Dentre aquelas apresentadas no quesito Produção de Conteúdo, apresentamos

aqui um brevíssimo resumo: ampliar o volume de recursos públicos destinados à produ-

ção independente por meio de leis de incentivos e regionalização dos editais; valoriza-

ção da diversidade (regional, étnico-racial, religiosa, cultural, de geração, orientação

sexual, e inclusão de pessoas com deficiência), respeitando os direitos humanos e não

incentivando o consumismo; resgate de traços genuínos das culturas regionais e memó-

rias coletivas; valorização dos pequenos empreendedores de comunicação; discussão da

realidade cultural local e regional com produção descentralizada de conteúdos, além de

vários outros itens (Caderno da 1ª Conferência Nacional de Comunicação).

Luiz Gonzaga Motta chama a atenção para a importância do evento no cenário

nacional:

Sua simples realização representa um divisor de águas entre a intolerância

anterior dos radicais e o diálogo que se abre sobre o tema da comunicação

no país depois do evento de Brasília. A Conferência criou uma cultura de

debates sobre as políticas públicas de comunicação (tema tabu nos círculos

políticos até agora) que não tem volta atrás. O debate é saudável, e será be-

néfico para o país (MOTTA, 2009).

A televisão surgiu no Brasil de um esforço da iniciativa empresarial e firmou-se

como TV comercial. Contribuiu para a modernização e a integração do país, principal-

mente à época de sua consolidação, durante a ditadura militar, mudou hábitos, mas não

diminuiu as diferenças, em especial as de renda e de educação. E, apesar de ser o meio

de maior penetração nos lares brasileiros5, não contempla em sua programação conteú-

5 O número de famílias brasileiras com TV em cores é maior do que o das que desfrutam de serviços

adequados de saneamento. Essa situação ocorre em todas as faixas de renda e em todos os Estados, embo-

ra a diferença seja maior entre os mais pobres. No Brasil, há 162,9 milhões de pessoas que moram em

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

dos destinados à difusão cultural e à formação da cidadania – o que pode ser explicado

por sua própria origem no país: financiada pela publicidade e, portanto, orientada pela

lógica mercantil da busca da audiência e incentivo ao consumo e, não, da construção da

cidadania.

3. A TV Brasil

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC)6 foi criada para gerir os quatro canais

federais que hoje compõem a TV Brasil e, assim, ―suprir uma lacuna no sistema brasi-

leiro de radiodifusão com o objetivo de implantar e gerir os canais públicos, aqueles

que, por sua independência editorial, distinguem-se dos canais estatais ou governamen-

tais‖ (http://www.ebc.com.br).

A EBC foi constituída baseando-se no artigo 223 da Constituição de 1988 que

prevê a complementaridade entre os sistemas estatal, público e privado, ou seja, inclui a

rede pública de televisão, reunindo as emissoras públicas nacionais, de natureza educa-

tiva, universitária e comunitária. A TV pública em todo o mundo tem como proposta

trabalhar melhor a diversidade, assegurando mais espaço para aqueles que não têm co-

mo se mostrar nas grandes redes comerciais. Para Diego Cifuentes, são três os fatores

que tornam necessária a existência da televisão pública nas circunstâncias históricas

atuais:

1) A expressão da diversidade que constitui a Nação. Por sua natureza, a

empresa privada tem a opção legítima de expressar o ponto de vista de seus

proprietários, isto é, de um setor da sociedade, com exclusão dos outros. (...)

a televisão pública se justifica por se constituir em garantia de expressão da

diversidade.

domicílios com televisão colorida — 32,3% a mais do que os 123,2 milhões que estão em domicílio com

rede coletora de esgoto ou fossa séptica. (Dados referentes a 2005).

(http://www.pnud.org.br/saneamento/reportagens/index.php?id01=2635&lay=san). 6 A EBC é um complexo de comunicação composto pela nova TV Pública, oito emissoras de rádio, uma

agência de notícias e outros serviços, gerido sob controle da sociedade através de um Conselho Curador

representativo e autônomo. Seus usuários têm ainda na Ouvidoria um canal direto para suas críticas, opi-

niões e reclamações (http://www.ebc.com.br).

.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

2) A cobertura nacional e a expressão descentralizada da comunidade nacio-

nal. (...)

3) A experimentação, inovação e atenção aos públicos minoritários (CIFU-

ENTES, 2000, p. 131-132 apud ARAÚJO, 2008, p.5-6).

Assim, a TV Brasil iniciou suas transmissões em 2 de dezembro de 2007, com a

pretensão de ser uma TV pública nacional, independente e democrática, uma saída para

a lacuna que a televisão brasileira apresenta no sentido de mostrar os vários Brasis, dan-

do oportunidade àqueles que não têm voz na TV comercial. ―A TV Brasil busca ofere-

cer ao telespectador programação diferenciada e privilegia conteúdos nacionais e regio-

nais em suas diferentes faixas: infantil, jornalismo, documentários, debates, programas

culturais e entretenimento. A programação inclui conteúdos próprios, co-produções,

contribuições da produção independente e da produção regional‖ (www.tvbrasil.org.br).

As emissoras que compõem a rede pública proposta pela EBC são 21, incluindo

a TV Brasil, e fazem parte da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas

e Culturais (Abepec), alcançando 3.000 municípios. O objetivo da EBC é integrar ―cer-

ca de 174 canais municipais/regionais, 70 emissoras comunitárias, 40 universitárias e 64

legislativas. O plano prevê dez horas de transmissão simultânea, sendo quatro da TV

Brasil, quatro do conjunto da rede e duas horas de programação infantil comum a todos‖

(www.tvbrasil.org.br).

A TV Brasil produz quatro telejornais diários: o Repórter Brasil – manhã, das 8h

às 8h45; o Repórter Brasil – noite, das 21h às 22h; o Repórter Rio e o Jornal Visual

(para a comunidade de surdos). Para este estudo, analisamos o Repórter Brasil – edição

noturna. A proposta é encontrar de que forma o principal telejornal da rede pública dá

conta das diversidades culturais brasileiras, já que

o telejornal Repórter Brasil continua sendo, entretanto, o programa líder da

articulação entre a TV Brasil e as demais TVs públicas, sendo veiculado em

19 estados, afora televisões educativas ou universitárias de âmbito regional

ou local (www.tvbrasil.org.br).

Em pesquisa realizada entre os dias 18 e 22 de agosto de 2009, com mais de 5

mil entrevistas, a TV Brasil foi mencionada apenas por 1% dos entrevistados, na consul-

ta espontânea. Na consulta estimulada (pesquisador menciona o nome do canal), 15%

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

dos entrevistados disseram já ter assistido ao canal alguma vez e 10% declararam assis-

ti-lo na época. Três programas destacaram-se na preferência destes telespectadores:

Programa de Cinema (filmes), com 34% , o telejornal Repórter Brasil Noite, com 31%,

e o programa Leda Nagle - Sem Censura, com 26% (www.ebc.com.br).7

4. O telejornal Repórter Brasil

Através da análise de algumas edições do telejornal, pudemos perceber o quanto

a produção jornalística da TV Pública brasileira ainda não acompanha as novas tendên-

cias do telejornalismo, como, por exemplo, mais descontração dos apresentadores, mais

entradas ao vivo, complementaridade das matérias nos sites dos programas. O telejornal

é apresentado de três cidades: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Os apresentadores

aparecem simultaneamente na tela no início e ao final do telejornal, para a abertura e o

fechamento, respectivamente. Durante o programa, vão se revezando nas chamadas das

matérias. Esse formato talvez seja uma tentativa de descentralizar, ainda que de maneira

superficial, os modos de narrar o país. Mas parece que, na prática, essa pluralidade não

é conseguida pela equipe jornalística. A grande maioria das matérias é apurada em São

Paulo e Rio de Janeiro. Apenas em caso de situações emergenciais, como as enchentes

em Alagoas e Pernambuco, o foco dessas duas capitais é desviado.

Há espaço para notícias de economia, a agenda política dos três principais can-

didatos à Presidência da República (Dilma Roussef, José Serra e Marina Silva) – já que

estamos em ano eleitoral – e matérias internacionais. A nosso ver, as notícias interna-

cionais talvez pudessem ter o espaço mais reduzido, privilegiando mais matérias nacio-

nais, visto que, mesmo o telejornal tendo uma hora de duração, não dá conta da diversi-

dade cultural brasileira.

7 Só para comparação, na semana, de 14 a 20 de junho de 2010, as 30 maiores audiências no mercado de

São Paulo, o mais relevante em termos de comercialização, foram da Rede Globo de Televisão. A trans-

missão do jogo Brasil x Coreia do Norte conseguiu audiência de 45 pontos, com 73% de participação da

Globo. Na mesma semana, o Jornal Nacional atingiu 34 pontos de audiência, com 54% de participação.

(Anúncio institucional publicado no jornal O Globo, de 27 de junho de 2010, p. 36). Cada ponto corres-

ponde a 55 mil domicílios sintonizados na Grande São Paulo.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Analisamos edições durante o final de junho e início de julho de 20108, portanto,

período de jogos da Copa do Mundo. Devido a este fato, os telejornais começavam com

transmissão ao vivo, da África do Sul e, quando dos jogos do Brasil, havia participação

de um comentarista esportivo. Normalmente, a participação de comentaristas é reduzi-

da, ficando sempre com o de economia com entrada todos os dias. As matérias de cultu-

ra ficam restritas ao final do telejornal, sempre em tom leve, como se fossem de menor

interesse da equipe de jornalistas e do próprio telespectador.

Apesar da rede ser formada por TVs educativas, culturais e universitárias de to-

do o Brasil, o que se vê são matérias no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Assuntos

que poderiam ser abordados em outras partes do país, até mesmo para ouvirmos outros

sotaques e vermos posturas um pouco diferentes daquilo que está homogêneo na TV,

não são colocados no ar (ou mesmo não são produzidos pela rede). Em uma das edições

analisadas, por exemplo, lembrando que sua duração é de uma hora, mostrou-se uma

matéria em Belo Horizonte (uso de celular no trânsito), sendo o restante em São Paulo,

Rio e Brasília. Em outra edição, foi ao ar uma matéria em Porto Alegre – pessoas que

estão em trânsito durante os jogos do Brasil na Copa.

Em relação ao formato do Repórter Brasil, notamos um ―engessamento‖, com os

três apresentadores com participações meramente de locução, sem seguir a tendência

das grandes redes comerciais onde os apresentadores são jornalistas e têm um perfil de

âncoras, isto é, participam também da confecção do telejornal. Isso, pressupõe-se, deve

ocorrer justamente por ser um jornal de TV pública, onde não há interesse em tornar os

jornalistas e/ou apresentadores ―parte da família brasileira‖. Os apresentadores não tro-

cam palavras entre si, o que poderia deixar o jornal mais leve e dinâmico, na nossa opi-

nião. Pouco espaço para a interatividade no ar – a não ser no site da TV, onde há um

link para telespectadores postarem suas reportagens que podem entrar no Repórter Bra-

sil através do espaço Um Outro Olhar, destinado justamente para a participação do te-

lespectador. Ele posta o vídeo produzido para que seja ou não selecionado para exibição

no telejornal. Por exemplo, foi ao ar uma reportagem sobre as chuvas em Alagoas em

uma das edições que mais destacaram o problema das enchentes no Nordeste. Na edição

da noite em que o Brasil ganhou do Chile, durante a Copa do Mundo, a reportagem foi

8 As edições analisadas foram preferencialmente dos dias 28, 29 e 30 de junho de 2010.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

sobre futebol na periferia do Rio de Janeiro, ocupada pelas unidades pacificadoras da

Polícia Militar. Este é um aspecto positivo do telejornal, que parece tentar acompanhar a

nova participação dos cidadãos nos veículos de comunicação – quando eles mesmos são

os repórteres.

Outro aspecto positivo encontrado é a duração média das matérias, cerca de dois

minutos, com muitas sonoras, dando ―voz ao povo‖. Há um certo equilíbrio entre o tex-

to do repórter e a entrada de sonoras (as entrevistas), sempre com participação do cida-

dão comum e de autoridades/especialistas.

Os critérios para a seleção das notícias (os valores-notícia) parecem não seguir a

lógica tradicional dos telejornais de maior audiência no Brasil. Segundo Traquina

(2008), os principais seriam: morte, notoriedade, proximidade, relevância, tempo, nota-

bilidade, inesperado, conflito, infração. O que parece guiar os jornalistas são os aconte-

cimentos econômicos, tipo prestação de serviço, que são de interesse do cidadão (ou do

governo, mesmo que o jornalismo ―chapa branca‖ não seja abertamente praticado) –

crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 9% no trimestre. E também

assuntos pautados por assessorias de imprensa de instituições públicas – projetos desen-

volvidos por universidades (Hospital das Clínicas e tratamento para compradores com-

pulsivos; pesquisa da Universidade de São Paulo sobre consumo de chuveiro – gás, elé-

trico ou solar, qual o mais econômico?). Matérias policiais não ganham destaque, de três

edições analisadas, em apenas uma foi ao ar matéria sobre uma explosão de caixas ele-

trônicos na Paraíba.

Ao final de cada bloco, logo após as chamadas para o intervalo, entra um ―povo

fala‖, que é uma enquete feita nas ruas, com cidadãos comuns, sobre o assunto do dia.

Exemplos: ―A economia cresceu 9%, isso faz diferença na sua vida?‖; ―O que você vai

levar em conta para escolher seus candidatos?‖; ―O que você pode fazer para ajudar o

nordestino vítima das enchentes?‖. O que era de se esperar seriam participações de todo

o país, mas o que acontece são sonoras feitas no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e

Goiânia. Enquanto que no site da TV Brasil está escrito: ―Através das emissoras da rede

pública de televisão, oferece notícias de todos os estados e regiões brasileiras, na certeza

de que a formação da identidade nacional pressupõe a compreensão do Brasil em todas

as suas dimensões‖, a realidade é outra.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Em todas as edições estudadas há presença de matérias ―educativas‖, ou explica-

tivas. É o espaço para desenvolver assuntos que possam complementar matérias que

foram ao ar. Por exemplo, na edição em que entrou a matéria sobre o crescimento do

PIB em 9%, foi produzida também reportagem sobre como ele é calculado. Na edição

que mostrou a definição do vice do presidenciável José Serra, também foi ao ar ―Para

você entender melhor o que são as convenções partidárias‖. No período estudado tam-

bém foi produzida uma série de reportagens sobre as ―Eleições 2010‖: a importância do

voto, o que levar em conta na escolha dos candidatos, entre outros.

5. Considerações finais

Ao analisar a produção telejornalística de uma emissora pública de televisão, se-

ria esperado que encontrássemos um novo modelo de abordagem para conteúdo e for-

mato, que rompessem com a lógica da audiência e do lucro das TVs comerciais, privile-

giando uma nova linguagem, e contemplando a diversidade das características de um

país da extensão e população brasileiras. Mas, na prática, apesar do compromisso com

a diversidade estar na pauta de apresentação da recém-criada EBC, a TV Brasil parece

esbarrar em todo o tipo de dificuldade, inclusive infra-estrutural, para construir uma

imagem do país mais plural. Propostas como a de produzir conteúdos digitais inovado-

res e incrementar a interatividade ainda são distantes. Da mesma forma, a democratiza-

ção dos conteúdos está estagnada. Apesar da existência de uma boa carta de intenções,

como a Carta de Brasília, produzida no I Fórum de Emissoras Públicas, em 2006, o sis-

tema público brasileiro carece de vontade política e investimentos que realmente garan-

tam a efetiva produção de conteúdo transformador, dialógico e representativo da diver-

sidade nacional. Além do que a própria formação de jornalistas e radialistas deve pas-

sar por uma intensa revisão, enquanto são discutidas as Novas Diretrizes Curriculares

dos Cursos de Comunicação Social, para graduar profissionais capazes de atuar no sen-

tido da formação de cidadãos críticos, transformando a TV Pública numa bandeira da

diversidade e promovendo o diálogo entre as múltiplas identidades do país.

6. Referências bibliográficas

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de Telejornalismo: os segredos da

notícia na TV. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002.

DELARBRE, Raúl Trejo. Muchos medios en pocas manos: concentración televisiva y demo-

cracia en América Latina. In: Intercom - Revista Brasileira de Ciencias da Comunicação.

V.33, n.1, jan./jun. 2010. São Paulo: Intercom, 2010. p. 17-51.

ERLANGER, Steven. Uma mancha ainda maior. O Globo. Rio de Janeiro: 25 jun. 2010. Ca-

derno de Esportes, p.10.

FADUL, Anamaria. Mídia regional no Brasil: elementos para uma análise. In: FADUL, Anama-

ria; GOBBI, Maria Cristina. Mídia e região na era digital: diversidade cultural/convergência

midiática. São Paulo: Arte & Ciência, 2006. p.23-40.

FRANÇA, Vera V. A televisão porosa: traços e tendências. In: FREIRE FILHO, João (org.). A

TV em transição – tendências da programação no Brasil e no mundo. Porto Alegre: Sulina,

2009. p. 27- 52.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

MAIA, Rousiley. Mídia e deliberação: atores críticos e o uso público da razão. In: MAIA,

Rousiley, CASTRO, Maria Ceres Pimenta Spínola (orgs.). Mídia, esfera pública e identidades

coletivas. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. p.153-179.

MARQUES DE MELO, José. Televisão brasileira: desenvolvimento, globalização, identidade.

60 anos de ousadia, astúcia, reinvenção. São Paulo: Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação;

Cátedra Unesco/Memorial da América Latina, 2010.

MULTIRRACIALISMO: a arma alemã. O Globo. Rio de Janeiro: 6 jul. 2010, ano LXXXV,

n.28092, p. 1

PEREIRA JÚNIOR, Alfredo Eurico Vizeu, PORCELLO, Flávio Antônio Camargo, MOTA,

Célia Ladeira. Telejornalismo: a nova praça pública. Florianópolis: Insular, 2006.

SODRÉ, Muniz. O jogo contra-hegemônico do diverso. In: COUTINHO, Eduardo Granja

(org.). Comunicação e contra-hegemonia: processos culturais e comunicacionais de contesta-

ção, pressão e resistência. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. p. 27-37.

TEMER, Ana Carolina Rocha Pessoa; PIMENTEL, Tatiane Dias. Televisão e Internet: interati-

vidades entre as duas mídias e a abertura de um novo espaço para a cidadania. In: VIZEU, Al-

fredo; PORCELLO, Flávio; COUTINHO, Iluska. 40 anos de telejornalismo em rede nacional

– olhares críticos. Florianópolis: Insular, 2009. p.173-187.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. A tribo jornalística – uma comunidade interpre-

tativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2008.

SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

WOLTON, Dominique. Pensar a comunicação. Brasília: Editora Universidade de Brasília,

2004.

______. Elogio do grande público: uma teoria crítica da televisão. São Paulo: Ed. Ática,

2006.

Meios eletrônicos:

ARAÚJO, Valéria Maria Vilas Boas. Tv Pública no Brasil: história, regulamentação e a cria-

ção da TV Brasil. Colóquio Internacional Televisão e Realidade. Salvador: Universidade Fede-

ral da Bahia, outubro 2008. Disponível em:

http://www.tverealidade.facom.ufba.br/coloquio%20textos/Valeria%20Vilas%20Boas.pdf.

Acesso em 2 jun. 2010.

Caderno da 1ª Conferência Nacional de Comunicação. Disponível em: http://movimientos.org/imagen/Caderno%20da%201%C2%AA%20Confer%C3%AAncia%20N

acional%20de%20Comunica%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em 7 jul. 2010.

CONFECOM: construção coletiva de políticas públicas marca 2009. América Latina em mo-

vimento. 26 dez. 2009. Disponível em: http://alainet.org/active/35282&lang=es. Boletim on

line da Agência Latinoamericana de Información. Acesso em 7 jul. 2010.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 7 jul.

2010.

EBC. Disponível em: http://www.ebc.com.br. Acesso em 8 jul. 2010.

Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Disponível em: http://www.ebc.com.br/. Aces-

so em 7 jul. 2010.

MOTTA, Luiz Gonzaga. Divisor de águas entre a intolerância e o diálogo. Observatório do

Direito à Comunicação.( Artigo originalmente escrito para o Observatório da Imprensa, 22

dez.2009). Disponível em:

http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=5984

Acesso em 7 jul. 2010.

PNUD. (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Disponível em:

(http://www.pnud.org.br/saneamento/reportagens/index.php?id01=2635&lay=san). Acesso em

10 jul. 2010.

TV Brasil. Disponível em: http://www.tvbrasil.org.br. Acesso em