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SAPATO SOCIAL FEMININO: PROPOSTA DE CALÇADO APLICADA À TERCEIRA IDADE Geisa Polina

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SAPATO SOCIAL FEMININO:

PROPOSTA DE CALÇADO APLICADA À

TERCEIRA IDADE

Geisa Polina

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS

CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL – PROJETO DE PRODUTO

SAPATO SOCIAL FEMININO: PROPOSTA DE CALÇADO APLICADA À

TERCEIRA IDADE

MONOGRAFIA

Geisa Polina

Santa Maria, RS, Brasil 2009

SAPATO SOCIAL FEMININO:

PROPOSTA DE CALÇADO APLICADA À

TERCEIRA IDADE

por

Geisa Polina

Monografia apresentada ao Curso de Desenho Industrial,

Habilitação em Projeto de Produto,

da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),

referente à Disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II.

Orientador: Prof. Carlos Gustavo Martins Hoelzel

Santa Maria, RS, Brasil

2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Polina, Geisa, 1988-

Sapato Social Feminino: Proposta de calçado aplicada à Terceira Idade– Santa

Maria, RS: CAL/UFSC, 2009.

91.: Il. – (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação – Curso de Graduação

em Desenho Industrial com Habilitação em Projeto de Produto, Universidade Federal

de Santa Maria).

1. Projeto de Produto 2. Design de Calçado 3. Calçados Femininos 4. Mulher

idosa

© 2009 Todos os direitos autorais reservados a Geisa Polina. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser com autorização por escrito do autor. Endereço: Rua Riachuelo, n. 150, Bairro Centro, Santa Maria, RS, 97050-010 Fone (0xx)55 8128 8696; E-mail: [email protected]

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras

Curso de Desenho Industrial – Projeto de Produto

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

SAPATO SOCIAL FEMININO: PROPOSTA DE CALÇADO APLICADA À TERCEIRA IDADE

elaborada por

Geisa Polina

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Desenho Industrial

COMISSÃO EXAMINADORA:

Carlos Gustavo Martins Hoelzel, Dr. (Presidente/Orientador)

Fabiane Vieira Romano, Dra. (UFSM)

Ronaldo Martins Glufke, Ms. (UFSM)

Santa Maria, 18 de dezembro de 2009.

Dedico o projeto em questão aos meus pais, que sempre acreditaram em mim e

confiaram nas minhas escolhas. E a todas as pessoas que vêem no Design a

possibilidade de transformação e aprimoramento dos ambientes e objetos que nos

cercam, buscando sempre atender às outras pessoas e à sua própria satisfação.

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos vão, primeiramente, aos meus

pais pelo apoio, em todos os sentidos imagináveis,

para que eu consiga alcançar meus objetivos,

quaisquer eles sejam e transpor os obstáculos que

surgem no decorrer do caminho.

À minha família e aos amigos, por estarem sempre

dispostos a ouvir, aconselhar e assistir quando

necessário.

Aos professores e profissionais que acompanharam o

projeto e participaram de sua concretização. Sem a

orientação e o auxílio destes não seria possível chegar

ao resultado esperado e obtido ao fim desse projeto. E

eu não teria vivenciado tantas novas experiências

proporcionadas e que renderam um crescimento tanto

pessoal como acadêmico de grande relevância.

Às mulheres que aceitaram a minha intromissão em

suas vidas e participaram ativamente disponibilizando

suas opiniões a respeito da Moda e dos calçados.

Às empresas santamarienses, que participaram das

entrevistas e em especial as empresas Uzzo Calçados,

Milla Art, Industrial Bokalino e Ateliê Paulo Brasil pela

atenção dada ao projeto durante as visitas à linha de

produção de cada.

These boots are made for walking and that’s just what

they’ll do. One of these days these boots are gonna

walk all over you.

Nancy Sinatra e Lee Hazelwood

RESUMO

Monografia Curso de Desenho Industrial – Projeto de Produto

Universidade Federal de Santa Maria

SAPATO SOCIAL FEMININO: PROPOSTA DE CALÇADO APLICADA À TERCEIRA IDADE

AUTORA: GEISA POLINA ORIENTADOR: CARLOS GUSTAVO MARTINS HOELZEL

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 18 de dezembro de 2009.

O trabalho em questão apresenta uma proposta de sapato social, que atenda aos interesses do público feminino de mais idade. Para alcançar esse objetivo desenvolveram-se pesquisas a respeito do que é o calçado, como objeto indispensável na sociedade atual e produto direto da Moda e do Design, sua história no mundo e dentro da cultura brasileira. Se observou e analisou a presença do calçado no mercado nacional, sua estrutura, seus componentes, os tipos de produção e as etapas desde a criação até o acabamento final do modelo. Buscou-se conhecer a usuária, a faixa etária a qual ela percente, seu corpo e suas necessidades e desejos, a partir de referencial teórico e levantamento de dados de contato direto com amostra do público-alvo. Desenvolveram-se alternativas de solução por meio de desenhos e modelagem volumétrica, de acordo com as informações obtidas e tema escolhido, a fim de gerar um conceito e materializá-lo em um modelo artesanal, com as caracteristicas formais que representem o produto projetado.

Palavras-chaves: design, calçados, mulher.

ABSTRACT

Monograph Course of Industrial Design – Product Design

Federal University of Santa Maria

WOMEN’S SOCIAL SHOES: PROPOSAL (PROJECT) FOR SHOES APPLIED TO OLD AGE WOMAN

AUTHOR: GEISA POLINA SUPERVISOR: CARLOS GUSTAVO MARTINS HOELZEL

Date and Place of the Defense: Santa Maria, Dezember 18, 2009.

This is a proposal for a dress shoe considering the interests of the older female customer. To achieve the purpose there was a need to develop and research the “shoe”, indispensable in society nowadays and a direct product of Fashion and Design, it’s history in the world and in the brazilian culture. The structure of a shoe, it’s components and types of production were observed and analized, as well as the national footwear market. Knowing the customer, her age, her body type, her needs and desires was the objective of this project as well as using the knowledge aquired from data research and direct contact with the target group. Drawings and volumetrical models were used to develop the alternatives for a solution, using the information obtained and the chosen subject in order to originate a concept and materialize it into a handcrafted model with formal characteristics, qualifying it as a model representing the project.

Key-words: design, shoes, woman.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – O processo de design. Fonte: LÖBACK, 2001. ......................................... 4

Figura 2 – Sistematização do Desenvolvimento pré-projeto (estudo monográfico) .... 6

Figura 3 – Sistematização do Desenvolvimento projetual do Conceito. ..................... 7

Figura 4 – Sistematização do Desenvolvimento projetual de Materialização. ............. 8

Figura 5 – Cronograma geral. .................................................................................... 8

Figura 6 – Sandálias de trabalhador egípcio, 2000 a.C. Fonte: O’KEEFFE, 1996. ..... 9

Figura 7 – Sandálias egípcias, 2500 a.C. O’KEEFFE, 1996. ...................................... 9

Figura 8 – Sandália indiana do século XIX. O’KEEFFE, 1996. ................................... 9

Figura 9 – Sandália indiana, século XIX. O’KEEFFE, 1996. ..................................... 10

Figura 10 – Sandália ugandesa, década de 1890. O’KEEFFE, 1996. ...................... 10

Figura 11 – Mule turco. O’KEEFFE, 1996. ............................................................... 10

Figura 12 – Desenho de um pé de Lótus adulto, de 7,5 cm. O’KEEFFE, 1996. ....... 10

Figura 13 – Flor de Lótus chineses, século XIX. O’KEEFFE, 1996. ......................... 11

Figura 14 – Sapatos franceses, CA. 1760. O’KEEFFE, 1996. .................................. 11

Figura 15 – Mocassim dos nativos norteamericanos, década de 1890. O’KEEFFE,

1996. ................................................................................................................. 11

Figura 16 – Tamancos holandeses, década de 1800. O’KEEFFE, 1996. ................. 11

Figura 17 – Chapin veneziano, 1600. O’KEEFFE, 1996. .......................................... 12

Figura 18 – Alpargatas Roda, década de 1950. MOTTA, [200-?]. ........................... 12

Figura 19 – Alpargatas de Recife – PE. MOTTA, [200-?]. ........................................ 13

Figura 20 – Calçado de 1928 – Arcevo Museu Nacional do Calçado. MOTTA, [200-

?]. ...................................................................................................................... 13

Figura 21 – Original de Carmem Miranda, década de 1940. MOTTA, [200-?]. ......... 13

Figura 22 – Sapato da década de 1970. MOTTA, [200-?]. ....................................... 13

Figura 23 – Escarpin czarina, 1986. MOTTA, [200-?]............................................... 14

Figura 24 – Scarpin rosa, Coleção Outono-Inverno Dumond Festa. DUMOND, 2009.

.......................................................................................................................... 15

Figura 25 – Peep Toe Neo-nomad. SCHUTZ, 2009. ................................................ 15

Figura 26 – Peep Toe Veronica Black. TMLS, 2009. ................................................ 15

Figura 27 – Sapato em bronze. ZEFERINO, 2009. .................................................. 15

Figura 28 – Sapato cinza, Coleção Privo II Outono-Inverno. USAFLEX, 2009. ........ 16

Figura 29 – Sapato de salto, Verão 2010. COMFORTFLEX, 2009........................... 16

Figura 30 – Sapato de salto baixo Woman. PICADILLY, 2009. ................................ 16

Figura 31 – Peep Toe Total Comfort. RAMARIM, 2009. ........................................... 16

Figura 32 – Faces do pé. BVSMS, 2002. ................................................................. 21

Figura 33 – Arcos do pé. BVSMS, 2002. .................................................................. 21

Figura 34 – Estruturas do pé. BVSMS, 2002. ........................................................... 21

Figura 35 – Ossos do pé e segmentos. BVSMS, 2002. ............................................ 21

Figura 36 – Fases da marcha. BVSMS, 2002. ......................................................... 23

Figura 37 – Posições do antepé durante o caminhar. BVSMS, 2002. ...................... 24

Figura 38 – Percentagens das cargas de sustentação de acordo com os saltos.

Goara e Albuquerque, 2006............................................................................... 24

Figura 39 – Selo de Conforto. IBTEC, 2009. ............................................................ 28

Figura 40 – Selo “Produção Consciente = Amanhã Mais Feliz”. AMANHÃMAISFELIZ,

2009. ................................................................................................................. 29

Figura 41 – Modelo de Oxford feminino com o desmembramento da estrutura em

partes apontadas e descritas na legenda seguinte. SMARTBARGAINS, 2009. . 30

Figura 42 - Sandália Lilas Metalizado, Coleção Tatiana. TERRA&ÁGUA, 2009. ...... 34

Figura 43 – Formas com diversos modelos de bicos. O’KEEFFE, 1996. ................. 35

Figura 44 – Pirâmide de Desejos. ASSINTECAL, 2009. .......................................... 38

Figura 45 – Painel 1 de referencial de conforto e elegância x desconforto e

deselegância. .................................................................................................... 43

Figura 46 – Cartela de cores referentes ao Painel 1. ............................................... 43

Figura 47 – Painel 2 de referencial de conforto e elegância x desconforto e

deselegância. .................................................................................................... 43

Figura 48 – Cartela de cores referentes ao Painel 2. ............................................... 43

Figura 49 – Painel 3 de referencial de conforto e elegância x desconforto e

deselegância. .................................................................................................... 43

Figura 50 – Cartela de cores referentes ao Painel 3. ............................................... 43

Figura 51 – Painel com seleção de imagens de calçados. ....................................... 44

Figura 52 – Cartela de cores referentes ao painel com imagens de calçados. ......... 44

Figura 53 – Painel Semântico. ................................................................................. 47

Figura 54 – Catherine Tramell, personagem de Sharon Stone no filme Instinto

Selvagem, 1992..............................................................................................48

Figura 55 – Satine, personagem de Nicole Kidman no filme Moulin Rouge, 2001.... 48

Figura 56 – Roxie Hart e Velma Kelly, personagens de Renée Zellweger e Catherine

Zeta-Jones no filme Chicago, 2002. .................................................................. 48

Figura 57 – Irene, personagem de Audrey Tautou no filme Amar... Não Tem Preço,

2006. ................................................................................................................. 48

Figura 58 – Referencial de Estilo. ............................................................................ 49

Figura 59 – Geração de alternativas. ....................................................................... 50

Figura 60 – Geração de alternativas. ....................................................................... 51

Figura 61 – Geração de alternativas. ....................................................................... 52

Figura 62 – Geração de alternativas. ....................................................................... 53

Figura 63 – Geração de alternativas. ....................................................................... 54

Figura 64 – Amostra de sinteses de bicos. ............................................................... 55

Figura 65 – Sinteses de bicos escolhidas . .............................................................. 55

Figura 66 – Amostra de sinteses de saltos. .............................................................. 56

Figura 1 – Sínteses de saltos escolhidas.. ............................................................... 57

Figura 69 – Combinação escolhida. ......................................................................... 57

Figura 70 – Base de madeira com a curvatura da face inferior da forma................. 58

Figura 71 – Forma de plástico posicionada antes do gesso ser vertido. .................. 58

Figura 72 – Matriz em gessos para produção da forma em massa plástica. ............ 58

Figura 73 – Forma para sapato feminino, numeração 37, em massa plástica. ......... 59

Figura 74 – Vista superior da forma e início da modelagem do bico. ....................... 59

Figura 75 – Vistas lateral e superior em tamanho real e inicio da modelagem em

isopor. ............................................................................................................... 59

Figura 76 – Modelo volumétrico em isopor, destaque para o salto. .......................... 59

Figura 2 – Modelo volumétrico em isopor, detaque para o bico. .............................. 59

Figura 78 – Redesenho do salto e do solado em isopor. .......................................... 60

Figura 79 – Modelagem do salto e do solado em madeira. ...................................... 60

Figura 80 – Modelagem do salto e do solado em madeira. ...................................... 60

Figura 81 – Modelagem do salto e do solado em madeira. ...................................... 60

Figura 82 – Alternativa de solução para o corpo do sapato. ..................................... 61

Figura 83 – Alternativa de solução para o corpo do sapato. ..................................... 61

Figura 84 – Alternativa de solução para o corpo do sapato. ..................................... 61

Figura 85 – Alternativa de composição com losangos na superfície do modelo. ...... 62

Figura 86 – Alternativa de composição com losangos na superfície do modelo. ...... 62

Figura 87 – Alternativa de composição com losangos na superfície do modelo. ...... 62

Figura 88 – Vista da lateral externa da Alternativa 1. ............................................... 63

Figura 89 – Perspectiva que mostra a lateral interna e rosto da Alternativa 1. ......... 63

Figura 90 – Alternativa de composição com losangos na superfície do modelo. ...... 63

Figura 91 – Vista da lateral externa da Alternativa 2. ............................................... 64

Figura 92 – Perspectiva que mostra a lateral interna e rosto da Alternativa 2. ......... 64

Figura 93 – Vista frontal da Alternativa 2, com destaque para o rosto e o bico. ....... 64

Figura 94 – Vista da lateral externa da Alternativa. .................................................. 65

Figura 95 – Perspectiva que mostra a lateral interna e rosto da Alternativa 3. ......... 65

Figura 96 – Vista frontal da Alternativa 3, com destaque para o rosto e o bico. ....... 65

Figura 97 – Vista lateral interna que mostra o solado sendo enfaixado em fita crepe

para juntar-se ao corpo. ..................................................................................... 66

Figura 98 – Perspectiva que mostra a lateral externa e o rosto do modelo. ............. 66

Figura 99 – Perspectiva que mostra a lateral externa e dá destaque ao salto. ......... 66

Figura 100 – Vista da lateral externa do modelo. ..................................................... 66

Figura 101 – Vista da lateral externa do modelo. ..................................................... 67

Figura 102 – Vista da lateral interna do modelo. ...................................................... 67

Figura 103 – Perspectiva que mostra a lateral interna e destaca o rosto do modelo.

.......................................................................................................................... 67

Figura 104 – Vista superior do modelo com o bico curto e o bico alongado. ............ 67

Figura 105 – Vista da lateral externa do modelo. ..................................................... 68

Figura 106 – Vista da lateral interna do modelo. ...................................................... 68

Figura 107 – Vista da lateral interna do modelo, com destaque para o salto. ........... 68

Figura 108 – Perspectiva que mostra a lateral externa do modelo. .......................... 68

Figura 109 – Vista lateral do solado acoplado ao salto. ........................................... 69

Figura 110 – Forma sobre o conjunto de salto e solado. .......................................... 69

Figura 111 – Vista lateral da forma sobre o conjunto de salto e solado. ................... 69

Figura 112 – solado finalizado. ................................................................................ 69

Figura 113 – Vista superior da forma da palmilha. ................................................... 70

Figura 114 – Lateral interna do pé. .......................................................................... 70

Figura 115 – Lateral externa do pé. ......................................................................... 70

Figura 116 – Coleção de tecidos do mais votado ao menos votado. ........................ 71

Figura 117 – Cartela de cores. ................................................................................. 71

Figura 118 – Cetim com lycra pesado, cor cereja escura. ........................................ 72

Figura 119 – Couro com tingemento na cor cereja escuro. ...................................... 72

Figura 120 – Couro com tingemento dourado. ......................................................... 72

Figura 121 – Camursa, cor creme. ........................................................................... 72

Figura 122 – Crepe shantung, cor nude e tecido de tafetá, cor grafite. .................... 72

Figura 123 – Vista explodida, sem escala, apenas para representação como amostra

do desenho técnico. .......................................................................................... 73

Figura 124 – Rendering mostrando a lateral externa do modelo. ............................. 74

Figura 125 – Rendering mostrando a gáspea e o bico do modelo............................ 74

Figura 126 – Par de solados finalizados e par de formas já com o enxerto dos bicos.

.......................................................................................................................... 76

Figura 127 – Modelagem sobre a forma e superfície inferior marcada para recorte

dos moldes. ....................................................................................................... 77

Figura 128 – Moldes provenientes da modelagem e moldes com aumento para as

sobreposições e costuras. ................................................................................. 77

Figura 129 – Componentes para forração externa recortados e componentes para

forração interna recortados. ............................................................................... 77

Figura 130 – Par de Couraça, par de Contraforte e par de palmilhas internas em

EVA. .................................................................................................................. 77

Figura 131 – Par de palmilhas entresola e par de palmilhas para forração interna. . 78

Figura 132 – Corpo do calçado e solado após as etapas de costura e montagem. .. 78

Figura 133 – Imagens do modelo final confeccionado. ............................................. 79

Figura 134 – Destaque para o acabamento com elastico. ........................................ 79

Figura 135 – Destaque para forração interna do calçado. ........................................ 79

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Possibilidades de materiais aplicados aos componentes do calçado. ... 33

Quadro 2 – Formulário aplicado nas entrevistas do Levantamento 1. ...................... 40

Quadro 3 – Formulário aplicado nas entrevistas do Levantamento 2. ...................... 41

Quadro 4 – Formulário aplicado nas entrevistas do Levantamento 3. ...................... 44

LISTA DE REDUÇÕES

ABEST Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABNT Associação Brasileira de Estilistas

ABS Acrilonitrila-butadieno-estireno

EVA Ethylene Vinyl Acetate

(Etil vinil acetato ou Espuma Vínilica Acetinada)

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBTeC Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçados e Artefatos

NBR Norma Brasileira

OMS Organização Mundial da Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PR ISO 3166-2:BR do estado do Paraná, Brasil

PU Poliuretano

PVC Polyvinyl chloride (Cloreto de polivinila)

RS ISO 3166-2:BR do estado do Rio Grande do Sul, Brasil

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SICC Salão Internacional do Couro e do Calçado

LISTA DE APÊNDICES

Apêncice A – Levantamento de dados 3: Material Gráfico ...........................................

Apêndice B – Desenho Técnico ...................................................................................

SUMÁRIO

Capítulo 1 .................................................................... Erro! Indicador não definido.

1.1. Proposta ....................................................................................................... 2

1.2. Metodologia aplicada .................................................................................... 4

1.2.1 Referência metodológica ........................................................................ 4

1.2.2 Sistematização do Desenvolvimento projetual ........................................ 5

Capítulo 2 .................................................................................................................. 9

2.1. História do calçado ........................................................................................ 9

2.1.1 Na história da humanidade ..................................................................... 9

2.1.2 O calçado, as culturas e a Moda........................................................... 10

2.1.3 Na história do Brasil.............................................................................. 12

2.2. O Mercado nacional .................................................................................... 14

2.2.1 Referência em Sapato Social Feminino ................................................ 15

2.2.2 Referência em Sapatos Femininos: destaque para o conforto .............. 16

2.3. Interação: a mulher idosa, o calçado e o ambiente .................................... 17

2.3.1 A usuária .............................................................................................. 17

2.3.2 Ergonomia ............................................................................................ 23

2.3.3 Legislações, normas e certificados ....................................................... 27

2.4. Componentes do calçado ............................................................................ 29

2.4.1 A estrutura e suas partes singulares ..................................................... 29

2.4.2 Materiais utilizados na industria atual ................................................... 31

2.5. Processos de Produção .............................................................................. 34

2.6. Considerações ............................................................................................ 36

Capítulo 3 ................................................................................................................ 37

3.1. Concepção de um Conceito ........................................................................ 37

3.1.1 Tendências para 2010 .......................................................................... 37

3.1.2 Levantamento de informações .............................................................. 39

3.1.3 Definição do tema ................................................................................. 46

3.2. Alternativas de solução ............................................................................... 49

3.2.1 Geração de desenhos a partir do Referencial de Estilo ........................ 50

3.2.2 Sintese visual para gerar conceitos ...................................................... 55

Capítulo 4 ................................................................................................................ 58

4.1. Modelagem volumétrica .............................................................................. 58

4.1.1 Materiais de auxilio para modelagem ................................................... 58

4.1.2 Desenvolvimento estético e dimensional .............................................. 59

4.1.3 Redesenho do salto .............................................................................. 60

4.1.4 Alternativas de solução para o corpo do sapato ................................... 61

4.1.5 Trabalho de composições para superfície ............................................ 62

4.1.6 Alternativas para a solução escolhida ................................................... 63

4.1.7 Primeira tentativa da modelagem composta ......................................... 66

4.1.8 Segunda tentativa da modelagem composta ........................................ 67

4.1.9 Terceira tentativa de modelagem composta ......................................... 68

4.1.10 Ajustes finais para o salto e solado ....................................................... 69

4.1.11 Modelagem da palmilha interna ............................................................ 70

4.1.12 Alternativas para cor e material ............................................................ 71

Capítulo 5 ................................................................................................................ 73

5.1. desenvolvimento de desenho TÉCNICO ..................................................... 73

5.2. renderização ............................................................................................... 74

5.3. produção ..................................................................................................... 75

5.3.1 Os Materiais ......................................................................................... 75

5.3.2 Justificativa de materiais ....................................................................... 76

5.3.3 Etapas da Produção Artesanal do modelo final .................................... 76

5.4. Modelo final................................................................................................. 79

5.4.1 Caracteristicas do sapato ..................................................................... 83

5.5. Considerações a respeito do produto .......................................................... 83

Capítulo 6 ................................................................................................................ 86

i

1

Capítulo 1

INTRODUÇÃO

Para o design o calçado é um objeto, um produto e um signo, uma solução para as necessidades do ser humano. Linden (2004) trata o objeto como sendo um elemento pertencente à cultura de uma sociedade e a concretização de um grande número de ações do homem. Segundo Molles(1972) apud Linden (2004), o objeto está inserido no “plano das mensagens que o meio social envia ao indivíduo” e que o indivíduo, reciprocamente, comunica à sociedade em geral.

Quando esse objeto é fruto do trabalho de alguém, e sua produção foi feita com o zelo pelo aprimoramento formal e funcional, pode-se dizer então, que o objeto é um produto. A definição de produto pode ser apresentada como pelos autores citados a seguir:

Um produto é definido como um sistema técnico constituído por

uma série de propriedades: propriedades técnicas, proprie-

dades ergonômicas, propriedades estéticas e propriedades de

design. (LINDEN, 2004)

[...] Produtos são artefatos concebidos, produzidos,

comercializados e usados por pessoas por conta de suas

propriedades e das funções que podem desempenhar.

(ROOZEMBURG; EECKELS, 1995 apud LINDEN, 2004)

Os consumidores vêem o produto como algo para ser

comprado e usado. [...] Um desenhista industrial considera o

produto como sendo um objeto com uma função psicológica e

embutido de valores culturais. (ROOZEMBURG; EECKELS,

1995 apud LINDEN, 2004)

Já a definição do produto escolhido como foco de estudo de design, o sapato social feminino, tem suas funções na base. É um sapato destinado ao uso em ocasiões específicas, por isso seu desenho e todos os fatores relacionados a sua criação estão subjugados a atividade e ao ambiente no qual objeto e usuária estarão inseridos. Conseqüentemente, seu significado carrega em si os valores culturais, afetivos e simbólicos percebidos pela mulher. O calçado escolhido traduz a mensagem que ela pretende comunicar e a imagem que ela quer passar de si mesma para o mundo a sua volta, naquele determinado momento. Como colocado por Danesi, com base nos estudos da Semiótica, “[...] os calçados femininos, [...], fazem parte de um dinâmico código social de sedução” (DANESI, 1999 apud LINDEN, 2004).

Por isso, no decorrer deste trabalho se pretende entender brevemente o papel desempenhado pelo sapato social dentro

2

do universo feminino e dentro da cultura brasileira, para posteriormente desenvolver um projeto de produto. Fazendo uso da literatura disponível, a monografia expõe resumidamente a história e o mercado nacional, descreve funções, valores e significados e apresenta informações resultantes de estudos da interação entre sujeito e ferramenta.

Escolheu-se trabalhar com uma parcela de nossa sociedade consumidora formada pelas senhoras de mais idade. As particularidades desse público são estudadas e consideradas durante o processo de desenvolvimento do projeto e estão expostas no decorrer da monografia.

1.1. PROPOSTA

Como dito anteriormente, ao escolher estudar sobre determinado assunto, o projeto de um produto requer a definição de objetivos e a explicação da intenção pela justificativa. No caso serão apresentados, em tópicos, o objetivo geral, os específicos e posteriormente o porquê da proposta.

Objetivos

Geral: Oferecer uma proposta de calçado feminino voltado ao

público idoso como resultado do desenvolvimento de um projeto, no qual há compilação de referencial teórico para ser estudado e coleta de informações para serem analisadas e posteriormente aplicadas a um produto.

Específicos: Reconhecer sucintamente o histórico do calçado e seu

contexto. Referenciar e estudar o calçado quanto aos seus

aspectos mercadológicos, ergonomicos e a sua relação usuário-produto.

Estudar o produto “calçado” quanto aos seus componentes, materiais e processos de produção.

Relacionar os conhecimentos adquiridos às tendências contemporâneas dentro do cenário brasileiro. Visando desenvolver um design para o produto que se identifique com o usuário especificado.

Justificativa

O interesse em trabalhar com o assunto vem do apreço pessoal pelo desenho de calçados. Também da grande curiosidade, como estudante de Projeto de Produto, por vários

3

tópicos que envolvem o universo dos calçados: a interação direta desse objeto com o corpo humano; a importância do mesmo para a sociedade; o significado do calçado para as pessoas; e a sua ligação direta com a Moda.

O calçado é um objeto que possibilita ao designer uma ampla aplicação de conhecimentos passando por diversas áreas do saber. Desde o uso de materiais, como o uso de inúmeras técnicas tendo a preocupação constante com a relação entre objeto e pessoa. Assim, considera-se como uma função do designer desenvolver produtos que tenham como indispensável o estudo de requisitos ergonômicos para atender as necessidades da sociedade prezando pelo conforto.

Entendendo que o interesse crescente por parte dos consumidores em geral pela saúde de seus pés já foi percebido por algumas empresas nacionais e instituições voltadas à pesquisa no assunto, as mesmas servirão de apoio como referencial para o estudo.

No Brasil, aproximadamente 10% da população é idosa, sendo o numero de mulheres superior ao de homens, informação constatada com a realização do Censo Demográfico, no ano de 2000. Para uma visão mundial, em 2002 a ONU promoveu a II Conferência Mundial do Envelhecimento, na qual foi ratificado um documento com as projeções do número de pessoas acima de 60 anos para 2050. De seiscentos milhões de pessoas, população idosa na época, para dois bilhões em todo o mundo.

Considerando que as pesquisas feitas ao longo do século XX mostram que o número de pessoas idosas nos países em desenvolvimento é maior que o dos países desenvolvidos. Entende-se claramente que essa fatia de consumidores está em ascensão no Brasil e não há como negar a existência de uma demanda de produtos e serviços que atendam suas necessidades e interesses.

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Figura 1 – O processo de design. Fonte: LÖBACK, 2001.

1.2. METODOLOGIA APLICADA

1.2.1 Referência metodológica

Para decidir qual a melhor maneira de desenvolver um trabalho sobre design de calçados, a pesquisa por autores que tratem do assunto, Metodologia no Desenho Industrial, faz-se necessária. Com o estudo das propostas metodológicas encontradas surgem possibilidades de adaptação das mesmas à necessidade real – o desenvolvimento de cunho acadêmico da atividade de projeto conceitual de calçados.

Löbach (2001) traz a afirmação: “Para que o designer industrial possa desenvolver idéias originais e transformá-las em um produto inovador, são necessários alguns requisitos”. Segundo ele, a condição necessária para a definição de um problema, sendo esse o primeiro passo do processo na atividade de projeto industrial, é ter o conhecimento dos fatos e dos fatores que o circundam. Como apresentado no esquema abaixo, Figura 1, no qual “Conhecimentos e Experiência” aparecem como uma formação anterior ao Processo criativo, ao Processo de design e ao Processo de resolução de problemas. Podendo ser considerada a etapa da qual esses processos irão derivar por meio da capacidade criativa do profissional. Comprovando a importância das pesquisas, da compilação de dados e a necessidade de organização das informações reunidas.

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Na metodologia de Löbach, chamada de Fases do Processo de Design, os processos citados anteriormente são divididos em quatro fases: Fase de Preparação, Fase de Geração, Fase de Avaliação e Fase de Realização. Considera-se que no desenvolvimento de um produto essas fases não se separam e nem acontecem em uma seqüência fixa, se entrelaçam, avançam e retrocedem de maneiras diferentes para cada caso.

Na Fase 1, de análise do problema, se conhece o problema, se coletam as informações necessárias para sua solução e se analisam todos os componentes – referencial teórico, público-alvo, ambiente, processos de produção, materiais e demais dados que interessem ao projeto.

A Fase 2, de geração de alternativas, como o próprio nome revela, é quando se desenvolvem as idéias para solucionar o problema encontrado com base nas análises do material reunido na fase anterior. Para essa etapa se escolhe uma metodologia focada, por tentativa e erro ou aguardando inspiração, sendo que as idéias resultantes não devem ser censuradas.

A censura acontece na próxima fase, a Fase 3 – Avaliação das alternativas, na qual se examinam as soluções, selecionam-se as mais condizentes à situação e viáveis. As alternativas de design selecionadas são avaliadas por critérios impostos pela empresa e/ou pelo designer. Perguntas como as propostas por Löbach (2001): “Que importância tem o novo produto para o usuário, para determinados grupos de usuários, para a sociedade?” e “Que importância tem o novo produto para o êxito financeiro da empresa?”. Na última fase, de Realização da solução do problema, desenvolvem-se os projetos mecânico e estrutural, os modelos tridimensionais, a avaliação dos mesmos, as correções se necessárias, a documentação, o relatório e os desenhos técnicos e de representação. E então o projeto do produto está finalizado e disponível para a produção industrial.

A espontaneidade é uma das condições para a inventividade.

Em um determinado momento, o designer deve se desligar

conscientemente das restrições e soluções formais, por algum

tempo, liberando a mente, que passa a explorar novas

perspectivas para coisas conhecidas. (LÖBACH, 2001)

1.2.2 Sistematização do Desenvolvimento projetual

Considerando o estudo monográfico e as etapas metodológicas de desenvolvimento do produto, sistematiza-se em quadros que estão expostos a seguir, os quais explicitam a organização deste documento.

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Figura 2 – Sistematização do Desenvolvimento pré-projeto (estudo

monográfico)

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Figura 3 – Sistematização do Desenvolvimento projetual do Conceito.

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Figura 4 – Sistematização do Desenvolvimento projetual de

Materialização.

Figura 5 – Cronograma geral.

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Capítulo 2

REFERENCIAL TEÓRICO

Figura 6 – Sandálias de trabalhador egípcio, 2000 a.C.

Fonte: O’KEEFFE, 1996.

Figura 7 – Sandálias egípcias, 2500 a.C. O’KEEFFE, 1996.

Figura 8 – Sandália indiana do século XIX. O’KEEFFE, 1996.

2.1. HISTÓRIA DO CALÇADO

2.1.1 Na história da humanidade

A história do calçado começa pelas sandálias sem salto, fato que não é de surpreender, pois a simplicidade na construção deste tipo de calçado possibilitou seu desenvolvimento dentro das mais variadas culturas. Cada civilização terá criado seu modelo base, com solado rígido e cordões para amarrar envolta dos pés utilizando as matérias-primas disponíveis.

A partir das sandálias, os materiais, as técnicas e os modelos começaram a ser estudados e adaptados aos costumes de cada povo e às necessidades impostas pelo ambiente em que estavam inseridos. E assim como tudo criado pelo homem o contato entre os diferentes povos foi acrescentando conhecimentos e modificando aos poucos o trabalho do profissional, que adquiriu o nome de sapateiro, nos possibilitando o aparecimento de tamanha diversidade de calçados desenvolvidos ao longo da história até os dias atuais.

Pinturas rupestres nas paredes de cavernas da Espanha e do sul da França datadas entre treze e dez mil anos a.C. comprovam quanto é antiga a relação entre calçado e ser humano, como a utilização de botas feitas de pele animal. Utensílios pré-históricos e pinturas encontradas nas paredes dos hipogeus egípcios mostram que a arte de produzir calçados e a técnica de trabalhar com o couro têm ao menos seis mil anos. De acordo com O’Keeffe em seu livro Sapatos (1996), cerca de 3500 a.C. os egípcios imprimiam suas pegadas em areia molhada e com suas medidas moldavam solas de papiro entrançado, prendendo-as aos pés com tiras de couro cru, Figuras 6 e 7. O adorno com ouro e pedraria preciosa era comum entre as classes mais abastadas como era o caso das sandálias usadas pelo Faraó.

O luxo também fazia com que as Imperatrizes romanas se destacassem, com as solas de suas sandálias feitas de ouro

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Figura 9 – Sandália indiana, século XIX. O’KEEFFE, 1996.

Figura 10 – Sandália ugandesa, década de 1890. O’KEEFFE,

1996.

Figura 11 – Mule turco. O’KEEFFE, 1996.

Figura 12 – Desenho de um pé de Lótus adulto, de 7,5 cm.

O’KEEFFE, 1996.

fundido e pedraria rara incrustada nas tiras que se prendiam aos pés. Para os romanos a função de distinção social que o calçado pode exercer estava realmente enraizada em seus costumes, dividindo classes e posições dentro da sociedade, como por exemplo: os cônsules com seus sapatos brancos; os senadores com seus marrons e os legionários romanos com suas botas pretas de cano curto que cobriam os dedos. Calçados feitos apenas com couro cru e o uso de reforço de metal para o solado prevaleciam também nas culturas mesopotâmicas.

Mas os materiais diversificavam além do couro, como os persas e os indianos que produziam suas sandálias em madeira esculpida e dependendo da classe social às banhavam em prata, Figuras 8 e 9; os africanos usavam peles coloridas, amaciadas em estrume de vaca e curtidas entre camadas de casca de mangue, Figura 10; eslavos usaram o feltro e espanhóis as cordas de fibra.

Os árabes mouros desempenhavam o ofício da sapataria com arte e refinamento, foram eles os responsáveis pela introdução das técnicas de curtimento, tingimento e produção dos artefatos na península ibérica. Com as navegações, disputas e negócios entre povos, o calçado adquiriu as características necessárias para ter o caráter de objeto de desejo pelo mundo e ganhava espaço cada vez maior como símbolo na sociedade.

2.1.2 O calçado, as culturas e a Moda

O calçado tem um relacionamento direto com o corpo humano e acompanha as vestimentas completando o figurino, assim como uma jóia. Não é por menos que esse objeto tenha adquirido tantos significados para as sociedades, que o fizeram ter um papel de tamanha relevância dentro da Moda.

Como nas roupas, os elementos de uma cultura passaram a ser trabalhados de tal forma no calçado, que tornou o pé uma região do corpo de extrema atração e interesse aos olhos. Aumentando cada vez mais a importância em trabalhar os tecidos, grafismos e adornos com o intuito de transmitir uma mensagem – a identidade, a personalidade e a opinião – tanto particular quanto grupal.

Modelos tradicionais de um povo transitam entre as mais diversas culturas do mundo influenciando e fazendo surgir novos modelos e técnicas para serem trabalhadas. Abaixo estão listados alguns exemplos que marcaram a história:

Turquia: as mules, Figura 11, são tradicionais da Turquia, sua forma tem como função principal ser fácil de descalçar para se entrar na mesquita. Mas as biqueiras afuniladas, compridas e reviradas para cima ostentavam a riqueza de alguém e a posição a qual ela pertencia em meados do século XII.

China: Flor de Lótus, Figuras 12 e 13, é um sapato chinês que simboliza a passividade feminina, um dos melhores exemplos

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Figura 13 – Flor de Lótus chineses, século XIX. O’KEEFFE,

1996.

Figura 14 – Sapatos franceses, CA. 1760. O’KEEFFE, 1996.

Figura 15 – Mocassim dos nativos norteamericanos, década

de 1890. O’KEEFFE, 1996.

Figura 16 – Tamancos holandeses, década de 1800.

O’KEEFFE, 1996.

do significado que um calçado pode ter como objeto de fetiche e como materialização da submissão das mulheres aos padrões de beleza, impostos pela sociedade em que estão inseridas. “Os pés minúsculos já eram admirados pela sociedade chinesa muito antes do enfaixamento dos pés ter adquirido os traços de um quase fetichismo cultural” (O’KEEFFE, 1996). Mas foi quando o costume de enfaixar os pés se espalhou entre as classes altas, que a prática tornou-se rito de passagem e tradição dentro da sociedade, a iniciação Gin lien de uma menina começava entre os 3 e 8 anos de idade e seu pé seria enfaixado sempre após o banho, cada vez mais apertado para toda a vida. O objetivo era alcançar o tamanho de 7,5 cm conhecido como “Lótus Dourado”.

Cada sapato Lótus tinha um significado codificado nas cores e nas figuras bordadas. Símbolos representando as estações do ano, fertilidade, longevidade, harmonia e união. Suas cores e detalhes mudavam dependendo da região e da moda na época. Os preparados para a noite de núpcias continham cenas que serviam de instrução para a virgem noiva. A tradição começou pelo século X e no século XX ainda estava presente.

França: Na corte de Luís XIV era costume dos homens usarem sapatos de salto, que eram pintados com miniaturas de cenas bucólicas e românticas. E na corte de Luís XV surgiu o salto “Louis”, Figura 14, que ainda vemos sendo usado para os calçados contemporâneos femininos.

América do Norte: O Mocassin, Figura 15, era feito primordialmente em pele de veado pelos nativos norte-americanos, foi um dos primeiros calçados unisex e o precursor dos mocassins contemporâneos. Era um sapato de uma peça

só, que envolvia o pé por completo aumentando a mobilidade e protegendo; sua decoração variava de tribo para tribo com conchas, contas e desenhos característicos.

Holanda: Os tamancos holandeses feitos em madeira difundiram-se por toda a Europa entre os séculos XIV e XIX como um calçado simples e barato para se usar no dia-a-dia. Já na Holanda até o século XIX eles eram decorados com pinturas de flores e as iniciais de quem os possuíam para as festas e domingos, Figura 16.

Itália: Em Veneza, entre os séculos XV e XVI, os Chapins colocavam as mulheres em “pedestais” que podiam atingir a altura de 65 cm. Feitas de cortiça ou madeira podiam ser forradas em veludo ou couro e adornadas com jóias, Figura 17. Outras culturas também adotavam a plataforma para proteger os pés da sujeira das ruas e dos banhos públicos. Esse modelo de calçado deu origem às plataformas que marcaram a moda em várias épocas e continuam sendo bastante requisitadas pelas mulheres.

Espanha: As Espadrilles ou alpargatas (origem árabe) ficaram conhecidas pelas mãos dos agricultores espanhóis, que as confeccionavam com corpo de lona e solado de esparto entrelaçado resultando em sapatilhas bem leves, como a da Figura 18.

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Figura 17 – Chapin veneziano, 1600. O’KEEFFE, 1996.

Figura 18 – Alpargatas Roda, década de 1950. MOTTA,

[200-?].

2.1.3 Na história do Brasil

Quando o colonizador europeu chegou às terras reconhecidas atualmente por Brasil deparou-se com uma situação singular, a falta de vestimentas que cobrissem e protegessem as partes, mas observou o grande uso de adornos e grafismos pelo corpo dos nativos, que se destacava.

Não existiam calçados [...] Essa ausência e esse desinteresse,

em contraposição ao avançado grau de sofisticação do hábito

de calçar, entre os povos europeus desembarcados,

emprestaram aos sapatos uma condição peculiar no Brasil,

tornando-os símbolos de distinção social [...] (MOTTA, [200-?])

A primeira idéia de calçado desenvolvido no Brasil seria as botas feitas pelos seringueiros, confeccionadas em tecidos e couros e impermeabilizadas com a resina extraída da seringueira. Já os portugueses e demais povos, que adotaram essa terra como lar, trouxeram seus costumes e modas já apresentados anteriormente.

O calçado feminino obedecia ao mesmo formato do masculino,

[...] Os sapatos mais comuns eram os pantufos ou chapins [...]

fabricados em materiais finos como a seda, moldavam o pé [...]

era preferencialmente usado em casa ou na Corte. (OLIVEIRA,

sd apud MOTTA, [200-?])

Para os escravos o uso de calçados representava a condição de homem livre. Com a assinatura da Lei Áurea, muitos negros saíram às ruas levando seus sapatos nas mãos, o que simbolizava a liberdade adquirida. As mulheres que acumularam dinheiro trabalhando como vendedoras ambulantes passaram a adotar os modismos europeus trazidos ao país pelas esposas dos nobres e dos burgueses.

O interior abafou a importância da moda presente no litoral preservando e adaptando tradições e técnicas medievais, européias e mouras. Criou uma modelagem diferente e uma diversidade de motivos decorativos, estilo e técnicas particulares da região e que atualmente ainda se diferenciam por essa identidade, Figura 19. No sertão brasileiro, a figura do artesão foi disseminada pela confecção de peças para os viajantes. O couro de bode era o material básico para os artefatos, tratado com a casca de angico - uma árvore da região, ao invés do cromo, de uso comum até hoje nas indústrias e agressivo tanto para o homem quanto para a natureza. Já nos estados do sul, a mistura de culturas sempre foi extremamente visível com a presença dos imigrantes espanhóis e portugueses, jesuítas, indígenas nativos da região, e os povos de fronteira: argentinos, uruguaios e paraguaios. Os conflitos e a tradição pecuária e do charque impulsionaram a manufatura do couro para artigos como o calçado com características peculiares descendentes dessa combinação.

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Figura 19 – Alpargatas de Recife – PE. MOTTA, [200-?].

Figura 20 – Calçado de 1928 – Arcevo Museu Nacional do Calçado. MOTTA, [200-?].

Figura 21 – Original de Carmem Miranda, década de 1940.

MOTTA, [200-?].

Figura 22 – Sapato da década de 1970. MOTTA, [200-?].

Quando o Rio de Janeiro tornou-se a capital brasileira ao vir para cá o Império Português, vieram também os investimentos. O país que estava atrasado com relação aos europeus começou a acompanhar as novidades que surgiam inclusive na moda, principalmente a parisiense e a inglesa. O século XIX é marcado pela ascensão social e de costumes, pelo aumento de produtos franceses no comércio e pelo crescente interesse por calçados por parte do público, a demanda fez com que o ofício da sapataria se elevasse e inúmeras casas de sapateiro fossem abertas. A diversificação nas cores fez parte da revolução que acontecia: as mulheres passaram a desfilar seus lindos sapatos de seda pela cidade deixando os velhos para o uso em casa, fato contraditório ao costume de muitos séculos, quando os calçados finos eram usados apenas dentro de casa e em cerimoniais importantes. A transição entre este e o século seguinte traz termos como industrialização, tendências e cultura de consumo. Periódicos da época dedicados à moda ditavam o comportamento e lançavam os produtos nacionais e importados. Os estilistas ganhavam reconhecimento em todo o mundo enquanto os criadores de sapatos permaneciam no anonimato, mas em um futuro próximo isso estava por mudar, pois a moda se transformava com mais agilidade e a altura das barras das saias subia com o mesmo frenesi, deixando a mostra os sapatos e trazendo aos poucos o devido reconhecimento do profissional.

Quando as conseqüências da Revolução Industrial tiveram impacto no Brasil, a história do mercado e da indústria calçadista brasileira começou. Com os investimentos em maquinário a produção aumentava e estados como Rio Grande do Sul e São Paulo iniciaram o que hoje conhecemos por principais pólos de calçado do país. Nas próximas décadas até os dias atuais a velocidade de comunicação global e de desenvolvimento da ciência no estudo do corpo humano acelerou em períodos cada vez mais curtos de tempo, o que aumentou a troca de informação entre os países possibilitando o aprimoramento das técnicas de produção dos calçados e de elaboração na criação e desenho dos mesmos. Como mostram ao lado as Figuras 20, 21, 22, e 23.

A arte, a música, o cinema e as celebridades que faziam parte de um universo cultural em ascensão durante o século XX passaram a influenciar diretamente a Moda e conseqüente-mente o estilo dos calçados. Cada país construiu uma identidade própria com base na cultura local e ao mesmo tempo uma identidade global e unificada seguindo as tendências e direções mundiais.

O nosso, um país ainda jovem, trabalha e se esforça continuamente para solidificar uma imagem de Moda e Design de Calçados para ser assim reconhecido e aceito nacional e internacionalmente.

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Figura 23 – Escarpin czarina, 1986. MOTTA, [200-?].

2.2. O MERCADO NACIONAL

Por mais que a produção de um calçado guarde sempre um fator artesanal, como será apresentado mais a frente, foi com a industrialização da produção que o mercado calçadista nacional iniciou-se.

As pequenas sapatarias viraram fábricas, que começaram a crescer incentivando os empresários locais e também de outras regiões do Brasil possibilitando o aparecimento da grande variedade de marcas atuais. Os primeiros foram o estado de São Paulo – com destaque para a região de Franca, especializada em atender o público masculino, e o estado do Rio Grande do Sul – onde encontramos a maior parte da produção brasileira no Vale dos Sinos, ao qual Motta, [200-?] faz referência dizendo em seu livro “milhares de empresas, milhões de pares de calçado, uma rede completa de serviços afins.”

Abaixo estão alguns exemplos que ilustram a grande diversidade de sapatos encontrados nas vitrines das lojas por todo o país. A seleção das marcas foi feita com base nas informações apresentadas na Revista Tecnicouro, edição de Dezembro de 2008, que foram coletadas na Pesquisa de Opinião Pública realizada em Novo Hamburgo, RS, no mês de Setembro de 2008. São algumas das mais lembradas pelo público, com relação à preferência de compra e no fator conforto. Levando também em consideração a importância de cada no cenário da moda.

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Figura 24 – Scarpin rosa, Coleção Outono-Inverno Dumond

Festa. DUMOND, 2009.

Figura 25 – Peep Toe Neo-nomad. SCHUTZ, 2009.

Figura 26 – Peep Toe Veronica Black. TMLS, 2009.

Figura 27 – Sapato em bronze. ZEFERINO, 2009.

2.2.1 Referência em Sapato Social Feminino

Figura 24

Modelo: Scarpin, salto fino.

Cores: Pele (rosa) e dourado.

Materiais: Couro e forração em tecido.

Adereços: placa em metal dourado com formato de folha.

Marca: Dumond.

Figura 25

Modelo: Peep Toe, salto agulha.

Cores: Space (dourado).

Materiais: Couro metalizado.

Adereços: sem adereços.

Marca: Schutz.

Figura 26

Modelo: Peep Toe, salto fino.

Cores: Preto e roxo.

Materiais: Couro.

Adereços: fivelas de metal na cor preta.

Marca: Studio TMLS.

Figura 27

Modelo: Sapato de cerimônia, salto cônico.

Cores: Bronze e preto.

Materiais: sem especificação.

Adereços: com fivela em metal.

Marca: Zeferino.

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Figura 28 – Sapato cinza, Coleção Privo II Outono-Inverno.

USAFLEX, 2009.

Figura 29 – Sapato de salto, Verão 2010. COMFORTFLEX,

2009.

Figura 30 – Sapato de salto baixo Woman. PICADILLY, 2009.

Figura 31 – Peep Toe Total Comfort. RAMARIM, 2009.

2.2.2 Referência em Sapatos Femininos: destaque para o conforto

Figura 28

Modelo: Mocassim.

Cores: cinza, branco e caramelo.

Materiais: sem especificação.

Adereços: ziper.

Marca: Usaflex.

Figura 29

Modelo: Sapato de salto baixo.

Cores: branco gelo.

Materiais: sem especificação.

Adereços: laço de tecido estampado.

Marca: Comfortflex.

Figura 30

Modelo: Sapato de salto baixo.

Cores: Camel.

Materiais: Microfibra / Vegetal, solado em PU, forro em malha elanca gel.

Adereços: sem adereços.

Marca: Picadilly.

Figura 31

Modelo: Peep Toe, salto baixo.

Cores: roxo e prata.

Materiais: sem especificação.

Adereços: laço de mesmo material do corpo.

Marca: Ramarim.

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2.3. INTERAÇÃO: A MULHER IDOSA, O CALÇADO E O AMBIENTE

O aumento do número de idosos em todo o mundo destacou a importância nos estudos sobre a velhice e impulsionou pesquisas na área. Surgindo assim, a gerontologia, que é resumidamente, “um amplo campo disciplinar e profissional, que abriga numerosos temas, interesses e questões relacionadas ao idoso, à velhice e ao envelhecimento”, é uma “disciplina multi e interdisciplinar” com a finalidade de estudar as pessoas idosas, as características da velhice e o processo de envelhecimento. Percebe-se que tratando do idoso, as questões biológicas estão sobrepostas às relações sociais, expressões emocionais, valores da cultura e recursos do ambiente, que uma única disciplina não abrange, e por isso a importância em ser interprofissional.

É uma ciência médico-social, e é nela que o Design voltado ao idoso deve buscar as informações para desenvolver soluções que realmente atendam as necessidades e desejos do público.

2.3.1 A usuária

O Brasil é um país que passa nesse momento por um processo de envelhecimento populacional rápido e intenso, segundo Ramos (2002) “a realidade mostrou que à queda na mortalidade se segue uma queda na fecundidade, que termina por levar ao envelhecimento populacional”.

A demarcação entre a maturidade e o envelhecimento é fixada mais por fatores socioeconômicos e legais, que por fatores biológicos. O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo com modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que resultam na perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, acarretando maior vulnerabilidade a ele.

De acordo com o Tratado de Geriatria e Gerontologia (2002), as nações desenvolvidas consideram idosa a pessoa com sessenta e cinco anos ou mais, mas a idade considerada no Brasil é de sessenta anos, assim como em outros países em desenvolvimento. A heterogeneidade dentro desse grupo etário é visível, mais que em qualquer outro, devido à sua amplitude. As características divergem em praticamente todos os pontos: físicos, mentais, psicológicos, e nas condições de saúde e socioeconômicas. Sendo necessária uma visão quase individualizada de cada caso.

Assim, determinou-se que a idade de um idoso pode ser analisada por quatro ângulos – idade cronológica, biológica, psicológica e social. Nas quais elementos como o sexo, a

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classe social, a educação, a personalidade e as vivências são levadas em conta.

A idade psicológica se relaciona com o “senso subjetivo de idade”, ou seja, como cada pessoa avalia seu envelhecimento comparando-se aos demais a sua volta. É comum encontrar idosos que não sentem ter a própria idade cronológica, tendo mais afinidade com adultos mais jovens que com os de mesma faixa etária. A idade social se define pela adequação do indivíduo no desempenho de papéis e comportamentos em certo momento da história dentro de uma sociedade.

No caso das mulheres, surgem os papeis de avós e chefes de família, este último vem como conseqüência da menor mortalidade feminina quando comparada à masculina. Segundo o Censo Demográfico do ano de 2000, 55% da população brasileira com mais de sessenta anos era composto por mulheres, quando comparados os números entre aqueles que tinham mais de oitenta anos, a proporção sobe para 60,1%.

Camarano (2004) expõe que o número de mulheres nessa faixa etária quase decuplicou entre 1940 e 2000, elas respondiam por 2,2% do total da população brasileira e passaram a 4,7% - oito milhões de mulheres, esse número comprova a “feminilização” do segmento idoso. Seguindo esse raciocínio percebe-se inevitavelmente que as idosas têm mais chances de enfrentar a viuvez, geralmente relacionada ao sentimento de solidão e desamparo. Mas que atualmente, segundo Debert (1999), pode representar autonomia e realização pessoal, momento para pensar mais em si mesma.

É crescente o número de idosas vivendo sozinhas, pesquisas mostram que o acesso a serviços de saúde melhorados e aos avanços tecnológicos, como os meios de comunicação, elevadores e automóveis, estão proporcionando ao idoso a possibilidade de viver sozinho como uma forma de envelhecer com qualidade e sem o sentimento de abandono, descaso e solidão. Pois na sociedade atual as barreiras geográficas diminuíram e, na verdade, o contato entre a família não é necessariamente influenciado pela proximidade geográfica.

Abaixo, a Tabela 1 apresenta dados obtidos na realização de três edições do Censo Demográfico datadas em 1980, 1991 e 2000.

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Tabela 1 - Algumas características das mulheres idosas brasileiras de acordo com o IBGE/Censo Demográfico de 1980, 1991 e 2000.

1980 1991 2000

% Mulheres 6,4 7,8 9,3

e0 65,0 70,7 73,6

e60 17,1 17,8 20,3

% Mulheres Chefes de Família 31,6 35,9 42,6

% Mulheres residindo com filhos 22,7 19,1 14,1

% Mulheres residindo com outros parentes

6,5 3,5 4,3

% Mulheres que vivem sós 11,0 12,2 13,5

% Mulheres sem rendimento 42,2 31,3 18,4

% Mulheres pobres 1 38,1 34,2 16,8

% Mulheres indigentes 2 14,5 12,8 4,1

Participação na Atividade Econômica (%)

7,0 7,7 8,6

Número Médio de Horas Trabalhadas 39,2 38,1 39,2

Recebimento de Beneficio Social (%) 39,2 63,2 76,6

Notas: 1- Vivem em domicílios com renda mensal per capita inferior a 1/2 salário mínimo. 2- Vivem em domicílios com renda mensal per capita inferior a 1/4 salário mínimo.

Fonte: CAMARANO, 2004.

É visível que o percentual de idosas sem rendimentos sofreu uma forte redução, indicando a melhoria na qualidade de vida das senhoras. Outro fator que contribui com qualidade de vida é a capacidade que as mulheres possuem em relacionar-se com facilidade e inserir-se de modo mais natural que os homens na vida social de uma comunidade. Participando de atividades extradomésticas como: um trabalho remunerado ou voluntário, cursos, viagens e grupos de discussão. O que ajuda a manter o sentimento de ser útil para a sociedade e para as pessoas que a cercam.

Mas por terem uma expectativa de vida maior que os homens, as mulheres passam por um período maior de debilitação e estão mais suscetíveis a doenças típicas da fase idosa, sendo de extrema importância garantir sua qualidade de vida tomando alguns cuidados com relação à saúde física e mental.

PROBLEMAS DE SAÚDE QUE SE RELACIONAM AO PÉ

Algumas das mais frequentes alterações nos pés que ocorrem

com o envelhecimento decorrem de patologias sistêmicas;

comprometimentos dermatológicos e músculo-esqueléticos no

pé, associados ao envelhecimento ou fatores físicos podem

comprometer a qualidade de vida; modificações na

sensibilidade e na cor ou temperatura do pé podem indicar

presença de doença crônica, como a diabetes mellitus. (PINTO,

2002)

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Abaixo estão listados os problemas e alterações de saúde mais comuns no processo de envelhecimento de uma pessoa:

Diminuição lenta e progressiva da massa muscular. A produção de menos força pela musculatura

esquelética e o desenvolvimento de suas funções mecânicas com mais lentidão.

Diminuição na velocidade de condução de estimulos pelos nervos, diminuição dos reflexos ortostáticos (fenômenos que só se produzem em conseqüência da posição em pé.)

Há aumento no balanço postural e no tempo de reação. E ocasional prejuizo dos movimentos dos tornozelos e da sensibilidade vibratória dos pés.

O envelhecimento traz a atrofia óssea intensificada. Osteoporose, que significa “osso poroso” e é a doença

óssea de maior prevalência na população geriátrica, sendo mais comum ainda entre as mulheres.

Doença Vascular Periférica, que abrange uma série de patologias arteriais e venosas, entre elas: Doença Arterial Periférica, evidente pelo aumento de dor quando se eleva o membro inferior, rubor e diminuição da temperatura do pé com relação ao joelho; e Doença Venosa dos membros inferiores, essa última relacionada à hipertensão.

Declinio gradual nas funções cognitivas dependentes de processos neurológicos, que se alteram com a idade.

Diabetes mellitus, que é uma alteração metabólica associada à deficiencia absoluta ou relativa de insulina, caracterisza-se por alterações metabólicas e complicações vasculares.

Hanseniase, não tem relação com o envelhecimento, mas há o comprometimento dos nervos periféricos, entre eles os responsáveis pela marcha.

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Figura 32 – Faces do pé. BVSMS, 2002.

Figura 33 – Arcos do pé. BVSMS,

2002.

Figura 34 – Estruturas do pé. BVSMS, 2002.

Figura 35 – Ossos do pé e segmentos. BVSMS, 2002.

PÉ: MEMBRO INFERIOR DE SUSTENTAÇÃO

O pé tem a função de suportar o peso corporal quando a pessoa está parada em pé e durante a marcha. É formado por vinte e seis ossos e dividi-se em três segmentos: Retropé, Médiopé e Antepé. Possui duas faces: a dorsal e a plantar, e dois bordos: o lateral e o medial, como mostra a Figura 32.

A disposição dos ossos rende à região plantar um formato de semi-cúpula, constituida por três arcos: dois longitudinais e um transverso, Figura 33.

Na planta do pé encontra-se a pele mais grossa e resistente do corpo humano, sua espessura varia entre 4 e 5 mm, é bastante sensível, flexivel, vascularizada e resistente. Revestindo-a está a camada de tecido adiposo, Figura 34, que funciona como amortecedor e protege as estruturas mais profundas, conferindo grande resistencia frente as forças de pressão, tração, rotação e fricção ocasionadas durante as posições estáticas e dinâmicas.

Existe uma grande diversidade no formato dos pés, vários autores buscam classificar essa variedade. Manfio (2001) apresenta a classificação de Vilador (1987) e Weibler (1993) com três tipos:

Antepé egípcio: o comprimento vai decrescendo sucessivamente até o dedo V. Ou seja, o dedo I é maior que o dedo II, este é maior que o dedo III e assim por diante.

Antepé grego: o dedo II é maior que os dedos I, III, IIII e V.

Antepé quadrado: os dedos I e II, são praticamente de mesmo comprimento, e às vezes o dedo III também o é.

O pé pode sofrer modificações anatômicas e fisiológicas decorrentes de doença sistêmica, transtornos da marcha, maus tratos aos pés ou traumatismo. Condições podológicas que podem comprometer a integridade das unhas, da pele, dos nervos, dos vasos e das estruturas ósseas (Figura 35). Abaixo estão listados as principais alterações que ocorrem com os pés e influenciam o seu estado de saúde:

O aumento de peso pode comprometer as estruturas ósseas e ligamentares, além de alterar o tamanho dos pés, que pelo próprio envelhecimento já se alargam.

Modificações na pele: perda de pêlo, pigmentação escura e pele seca (anidrose).

Lesões Hiperquerátósicas, comuns sobre as deformidades definitivas e nas alterações ósseas.

Modificações nas unhas, comuns entre as pessoas com comprometimento vascular (diabeticos): hipertrofia da unha (lâmina ungueal), unha curvada ou deformada (onicogrifose) e infecção por fungos.

Contraturas, acontecem devido a ausência de relaxamento dos nervos, seguido pelo enrijessimento das fibras musculares e tendo a dor como resultado. Podem ocasionar modificações na maneira de andar e desenvorver lesões ou úlceras.

Claudicação Ortopédica, se caracteriza pela dor que se

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torna pior no final do dia e só é amenizada quando se está sem o calçado e com os pés elevados.

Queimor, fadiga e cãibra decorrentes de doença vascular (diabetes) ou neurológica periférica.

Edema, acúmulo anormal de líquidos devido ao desiquilíbrio entre a pressão hidrostática e osmótica, pode indicar doença renal ou cardíaca.

Neuromas, ocorrem quando há o espessamento na região plantar ao redor de um nervo. A dor se irradia para os dedos e geralmente se intensifica com o uso de sapatos.

Há ainda as degenerações e deformidades na estrutura músculo-esquelética do pé, que são freqüentes na fase adulta para ambos os sexos, mas trazem maior desconforto na velhice:

Pé Cavo Anterior – se caracteriza pelo desnivelamento do antepé em relação ao retropé. Desenvolve sobrecarga no arco anterior, ocasionando calosidades sobre a cabeça do primeiro e quinto metatarsos.

Antepé Convexo ou Chato – caracteriza-se pela insuficiencia de apoio do primeiro metatarso e o grande artelho; por calosidades espessas, profundas e dolorosas sobre o segundo e o terceiro metatarso. E propicia o desenvolvimento de dedos em martelo e/ou osteoartrite (o distúrbio mais doloroso entre os idosos, uma espécie de artrite que afeta principalmente joelhos e quadris).

Joanete (Hallux Valgus) – tumor ósseo na face interna da cabeça do primeiro metatarso, que ocasiona muita dor pelo atrito e dificulta a marcha.

Dedos em Martelo – deve-se à deformidade em flexão de uma articulação e ocasiona calosidades na face dorsal, na polpa do dedo e entre os dedos. Calos – formados devido a pressão e atrito do calçado sobre um ponto da pele, provocando uma isquema do tecido e a morte celular da camada externa da pele, que se acumula para proteger a região.

Metatarsalgia – sente-se dor nos metatarsos pela falta de equilíbrio do peso do corpo entre as regiões calcânea e frontal.

Fasceite plantar ou Esporão – inflamação na fascia plantar, que pode ser causada pelo uso excessivo de sapatos de salto alto.

Todos os problemas listados nesse tópico podem ser retardados, minimizados e até revertidos com hábitos saudáveis de alimentação, acompanhamento médico freqüente e condicionamento físico personalizado. O uso de calçados confortáveis, e adequados ao tipo físico, aparece entre os cuidados indicados para grande parte das doenças.

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Figura 36 – Fases da marcha. BVSMS, 2002.

2.3.2 Ergonomia

A MARCHA

Parte integral das atividades diárias do ser humano pode ser definida como uma forma ou estilo de caminhar. Junior e Heckmann (2002) dividem a marcha em duas fases: apoio e balanço.

A fase de apoio ocorre quando uma perna suporta todo o peso e se mantém em contato com a superfície, permitindo que o corpo possa avançar. Já a fase de balanço, ocorre quando a outra perna, que não faz apoio, é avançada para o próximo passo. Durante o ciclo braços e o tronco também se movimentam, e são os movimentos pélvicos que permitem a manutenção do equilíbrio geral durante a marcha.

No decorrer do movimento as forças de pressão, tração, fricção e torção, se alternam durante as fases da marcha entre a região frontal, toda extensão da planta do pé e a região calcânea, Figura 36.

BIOMECÂNICA

Para estudar a atividade de marcha e sua relação com os calçados, surge a Biomecânica, uma ciência que gera conhecimentos sobre os movimentos do corpo humano.

Na sociedade atual, se é dependente do uso de calçados, tanto para proteger os pés de fatores ambientais e mecânicos, como por obedecer às regras sociais. Por isso, muitas das capacidades físicas e mecânicas do pé estão em função da adaptação ao calçado, mas como funciona essa interação entre pé e calçado só passou a ser estudado e considerado no desenvolvimento de produtos recentemente.

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Figura 37 – Posições do antepé durante o caminhar. BVSMS,

2002.

Figura 38 – Percentagens das cargas de sustentação de acordo

com os saltos. Goara e Albuquerque, 2006.

ALTERAÇÕES NO CICLO DE MARCHA

Com o avanço da idade o equilíbrio para a realização do ciclo da marcha é afetado e surge a preocupação com as quedas, que são mais freqüentes e podem causar mais danos. Os distúrbios de marcha e de equilíbrio são fatores de risco à saúde da idosa e têm impacto no estado psicológico da mulher, que pode perder a confiança e passar a restringir as atividades cotidianas, impondo limitações ao seu dia-a-dia. O caminhar pode sofrer alterações prejudiciais ao seu estado normal, influenciadas pelo terreno e pelo tipo de calçado usado, como mostra a Figura 37.

A eversão é quando a planta do pé vira para a parte lateral externa e sobrecarrega a parte interna durante o ciclo da marcha, e a inversão é quando há sobrecarga na parte externa do pé. Já a abdução e a adução têm relação com o movimento feito pelo antepé durante o caminhar. Na abdução os antepés apontam para fora, se distanciando e na adução acontece o inverso, eles se aproximam.

As cargas de sustentação (peso do corpo sustentado pelos pés) devem ser distribuídas uniformemente entre as regiões do metatarso e calcânea. O que não acontece quando a pessoa está descalça ou com sapato de salto alto, mas é possível quando o calcanhar recebe um apoio de dois centímetros. Os percentuais do peso sustentado por cada região, de acordo com a variação na altura do salto, se encontram representados abaixo, na Figura 38. O equilíbrio do peso entre essas duas regiões influência diretamente no conforto sentido pelo usuário.

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O CONFORTO

Linden (2004) trata o conceito de conforto para um produto como sendo subjetivo e ligado ao desejo de bem-estar material. Na sociedade urbana, o conforto passou a ser sinônimo de “menor desgaste para realização de tarefas” e está relacionado ao estado de tranqüilidade, relaxamento, conveniência e bem-estar.

A percepção de conforto é bastante pessoal, depende do objeto, da situação, do ambiente e do indivíduo. Os aspectos fisiológicos do conforto estão ligados ao funcionamento do corpo humano, e sua interação direta com o objeto. Os aspectos psicológicos se associam à auto-imagem e à relação do usuário com as outras pessoas. E por último, os aspectos físicos correspondem à interação do usuário com o ambiente ao fazer uso do objeto.

Linden (2004) cita Jordan (2000) ao propor que “produtos que proporcionam ao seu usuário sensações de prazer deverão ser percebidos como confortáveis”. E seguindo essa lógica, produtos desenvolvidos com base nas técnicas e estudos da biomecânica e medidas antropométricas serão ergonômicos e conseqüentemente confortáveis. Admite-se isso no desenvolvimento de calçados, por ser o mais próximo que se pode chegar de uma idéia concreta que traduza o quão confortável é o produto. Mas Iida (1998) adverte que o estado de conforto é bastante complexo e não se resume à medidas fisiológicas, sabemos que existem outros fatores que envolvem a questão, como por exemplo, o conforto visual que depende muito mais do trabalho com as formas, superfícies e materiais, que das dimensões antropométricas.

O CALÇADO

Entre os produtos destinados ao uso humano, o calçado deve

relacionar um grande número de requisitos em seu design para

ser percebido pelos consumidores como um produto de

qualidade. O calçado deve combinar atributos de desenhos

funcional, como sua utilidade, [...] com aspectos relacionados

com o conforto e segurança [...]. (MANFIO, 2001)

Mas há certa dificuldade em encontrar informações relacionadas à morfologia dos pés dos brasileiros e suas dimensões. E por isso as indústrias acabam utilizando dados estrangeiros, tanto a antropométrica dos pés como as próprias formas e calçados, adaptando-os à modelagem trabalhada por cada empresa.

Percebe-se que a numeração dos calçados brasileiros também não é totalmente padronizada. O Brasil utiliza o Sistema de Numeração Francês, porém os calçados são marcados com dois números menores que no sistema original, ou seja, um tamanho 35 aqui no Brasil seria um tamanho 37 na França. Além de tudo, a interpretação desse sistema varia de fabricante para fabricante, e dentro de uma mesma fábrica, de série para

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série, dependendo do modelo do sapato.

Essa falta de rigor e de padrão deprecia o conceito sobre do calçado nacional, acaba passando uma idéia de desorganização da indústria calçadista brasileira e dificulta a solidificação de sua identidade. E principalmente, afeta o consumidor, que acaba sem ter uma referência confiável.

A numeração de um calçado deve levar em conta, não apenas o comprimento do pé, mas suas larguras, alturas, perímetros, ângulos e os tipos de antepé. Manfio (2001) faz referência a Chouquet-Stringer e Bernad (1969) apresentando que tradicionalmente as medidas utilizadas na modelagem de calçados são o comprimento do pé, o perímetro da articulação metatarso-falangeana e o perímetro longo do calcanhar.

Manfio (2001) verifica que os estudos de Stastná (1991) mostram grande variação de perímetros e larguras dos pés, concluindo que os calçados produzidos com certa largura referente a certa numeração não atendem as necessidades de calce para a maioria dos usuários. Sendo imprescindível torná-los mais específicos de acordo com o público atendido e sua nacionalidade.

Um bom exemplo é os Estados Unidos, onde se pode trabalhar com até doze variações de larguras. Embora a maioria dos calçados seja fabricada entre duas e quatro larguras diferentes, essas opções proporcionam ao usuário encontrar um par que lhe calce bem com mais facilidade.

Já no Brasil, a ausência de variação na largura para uma mesma numeração obriga muitas vezes o consumidor a adquirir um sapato maior ou menor que o necessário com relação ao comprimento, para que calce bem na largura, e vice e versa. O que ocasiona diversos problemas para a saúde dos pés, como os listados anteriormente.

Os estudos de Manfio (2001) mostram as seguintes informações a respeito do uso de calçados:

86,5% da amostra feminina relatam que os calçados em geral são desconfortáveis em uma ou mais regiões do pé.

65,3% das mulheres alegaram sentir dor ou desconforto na região dos dedos. O mais comum é a compressão dos dedos e dor nas regiões anterior e superior, além de dores na cabeça do metatarso I, com formação de joanete.

Na região do calcanhar, a dor é mais freqüente na parte posterior superior e geralmente há formação de bolhas e calosidades.

A fim de prevenir a ocorrência de casos como os apresentados acima e diminuir a possibilidade de desconforto na relação entre usuário e calçado, faz-se essencial prestar atenção em algumas indicações resultantes dos estudos e pesquisas na área da biomecânica e nas normas já vigentes para produção de calçados no Brasil.

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O sapato deve oferecer espaço suficiente de comprimento, altura e largura para que os dedos possam se movimentar sem restrição.

O bico do sapato só pode começar a afinar a partir do quinto metatarso, conseqüentemente a medida da cabeça do metatarso I ao metatarso V deve corresponder à parte mais larga do calçado.

Sabe-se que levando em consideração uma pessoa em estado de repouso e descalça, depois de uma hora em posição ereta há um aumento de 4% no volume de seus pés, ao fim de um dia esse aumento pode chegar a 10%. Por isso, os materiais de revestimento devem moldar-se ao pé de acordo com essas mudanças sofridas. A sola também deve ser o mais flexível possível para não limitar os movimentos e com espessura suficiente para evitar que objetos pontiagudos interfiram no caminhar ou penetrem na face plantar.

2.3.3 Legislações, normas e certificados

O SISTEMA DE NUMERAÇÃO FRANCÊS OU PONTO DE

PARIS

Um sistema que se baseia no centímetro, sendo a unidade de medida (1 ponto) correspondente a dois terços de centímetro, ou aproximadamente 6,666 milímetros. Nesse sistema se faz uso do “meio ponto” para confecção de calçados, mas não aqui no Brasil.

As numerações são divididas em séries por categoria de público:

Série bebê – do número 18 ao 23.

Série criança – do número 24 ao 27

Série menino/menina – do número 28 ao 34

Série menina-moça/rapaz – do número 35 ao 39.

Série senhora – do número 36 ao 42.

Série homem – do número 39 ao 46.

No entanto, entende-se que essas divisões não correspondem sempre à realidade dos pés dos usuários.

A numeração indicada no calçado refere-se á quantidade de pontos do comprimento. O número do calçado é determinado pela equação abaixo:

Tamanho do calçado (cm / mm) = nº do calçado x dois terços de 1cm / 6,666mm.

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Figura 39 – Selo de Conforto. IBTEC, 2009.

O SELO DE CONFORTO

Em contrapartida à despadronização entre os calçados nacionais, as normas brasileiras de conforto colocam o Brasil em posição de destaque. O país é o primeiro a criar normas que medem o índice de conforto e o único a possuir um selo de conforto.

O Selo Conforto, Figura 39, é uma marca de conformidade promovida pelo IBTeC – Instituto Brasileiro de Técnologia do Couro, Calçados e Artefatos. A edição de Novembro/Dezembro da Revista Tecnicouro (2008) apresenta os passos para uma empresa o adquirir. Isso acontece mediante a avaliação dos sapatos submetidos a testes de acordo com as normas técnicas estabelecidas pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, listadas a seguir.

ABNT NBR 14835/2008 – Determinação da massa: classifica o calçado quanto à massa (peso) por pé, que deve estar em conformidade com a Tabela 2. Os classificados como pesados e muito pesados não são considerados confortáveis.

Tabela 2 – Classificação de peso.

Classificação Feminino Masculino

Muito leve Abaixo de 180g Abaixo de 280g

Leve De 180g até 280g De 280g até 380g

Normal De 280,01g até 380g De 380,01g até 480g

Pesado De 380,01g até 480g De 480,01g até 580g

Muito pesado Acima de 480g Acima de 580g

TECNICOURO, 2008.

ABNT NBR 14836/2008 – Distribuição de pressão plantar: avalia características da distribuição de pressão plantar. Palmilhas especiais nos calçados contribuem para uma distribuição mais homogênea da pressão, o que evita dores, calos e alterações na marcha.

ABNT NBR 14837/2008 – Temperatura interna: avalia as condições microclimáticas do pé com base em dois fatores: temperatura interna durante o uso do calçado e controle da umidade gerada pelo pé.

ABNT NBR 14838/2008 – Absorção de impacto: verifica se o calçado possui a capacidade de minimizar o impacto sobre os pés causado ao caminhar. Um bom sistema de amortecimento deve diminuir acima de 2% o impacto.

ABNT NBR 14839/2008 – Ângulo de pronação do calcâneo durante a marcha (movimento de rotação interna do calcâneo): verifica se o calçado oferece segurança e estabilidade ao pisar no solo.

ABNT NBR 14840/2008 – Níveis de percepção de calce: avalia o calce durante a atividade de marcha durante 30 minutos, na velocidade de 5 Km/h para calçados masculinos e 4 Km/h para

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Figura 40 – Selo “Produção Consciente = Amanhã Mais Feliz”. AMANHÃMAISFELIZ,

2009.

femininos, indicando a percepção sobre o calçado com relação ao conforto.

Com a mesma finalidade e utilizando os mesmos critérios de avaliação há o INOR – Instituto da Normatização na Segurança, Saúde, Qualidade, Produtividade, Avaliações e Juízo Arbitral, e o INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial.

De acordo com o Dr. Aluisio Avila (coordenador do Laborátório de Biomêcanica do IBTeC) para a Tenicouro (2008), “atualmente um dos valores agregados ao calçado mais procurados pelo consumidor é o conforto”, a certificação garante ao consumidor saber mais informações sobre o produto que ele está adquirindo.

Essa certificação junto ao selo “Produção Consciente = Amanhã Mais Feliz”, Figura 40, desenvolvido por um programa voltado à Responsabilidade Socioambiental da indústria calçadista, conferem ao produto nacional um nível de qualidade que é tomado como exemplo pelos demais países da América do Sul e permitem que o consumidor crie um vínculo maior com as marcas brasileiras, dando mais credibilidade e depositando maior confiança no que está disponível no mercado interno.

Há um porém apenas, essas normas e selos não certificam o calçado com relação à sua ergonomia e usabilidade em determinados casos, como explica a citação abaixo.

Apesar das normas ABNT-NBR terem dado um passo a frente

das normas ISSO no tocante ao conforto de calçados, ainda

encontram-se no mesmo nível evolutivo que estas no tocante a

ergonomia e a usabilidade de calçados, pois as duas ainda

desconsideram os grupos de pessoas com deficiência

circulatória periférica, que necessitam de calçados

ergonomicamente apropriados. (PUC-RIO, 2006).

2.4. COMPONENTES DO CALÇADO

2.4.1 A estrutura e suas partes singulares

Há componentes que são considerados básicos e essenciais para a existência de qualquer modelo de calçado, feminino, masculino, infantil, com ou sem salto. Partes como o solado possuem o mesmo nome, o mesmo significado e estão sempre presentes, mas há muitas outras que divergem para cada exemplo. E por isso este tópico se limita em apresentar a estrutura desmembrada de um modelo tradicional, redesenhado constantemente para ambos os sexos e idades, que contém boa parte dos componentes que se pode encontrar em um calçado feminino, direcionando o assunto às intenções do estudo, como apresentado a seguir com a Figura 41.

30

Figura 41 – Modelo de Oxford feminino com o

desmembramento da estrutura em partes apontadas e descritas

na legenda seguinte. SMARTBARGAINS, 2009.

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O corpo, ou cabedal de um sapato pode ser uma estrutura única, ou formar-se pela união das suas várias partes na linha de montagem.

De acordo com Brino (2003), o salto pode ser classificado como negativo, nulo e positivo. O salto negativo é resultado do desgaste do material na região calcânea da planta do pé em um sapato de salto nulo, deixando a altura do antepé, com relação ao chão, maior que do retropé. No caso no salto nulo, são aqueles sapatos em que a diferença de altura do antepé e do retropé, com relação ao chão, é nula, como algumas “rasteirinhas” e sapatilhas. E por último, o salto positivo é todo aquele que proporciona ao pé um ângulo de inclinação maior que 0º, onde o calcanhar fica elevado em comparação com as demais partes do pé.

Um componente muitas vezes desconhecido e não citado acima, mas extremamente útil, pois confere a biqueira o formato que se deseja, é a Couraça – um recorte de material colado no interior do calçado, entre o forro e o material externo do cabedal. Esse material pode ser feito com polímeros termoplásticos. O sapato social feminino de salto possuirá, também internamente, a alma que dá suporte ao arco do pé. Acoplada à palmilha mais externa e reforçando o enfraque do sapato, a alma pode ser de aço, nylon entre outros.

Há o consentimento da existência de componentes de união e decoração como pregos, rebites, fivelas, zíperes, elásticos, botões, adesivos industriais entre outros, que não foram apresentados, mas cumprem papel importante tanto na produção quanto na composição estética e funcional do calçado.

2.4.2 Materiais utilizados na industria atual

Desmembrar um par de sapatos causa espanto a quem não os

conhece por dentro, uma vez que não apresentam, olhando-os

por fora, tudo que esteve envolvido em sua fabricação.

(MOTTA,sd)

A indústria calçadista demonstra constantemente sua mobilidade e afirma a possibilidade de ter os mais diversos materiais compondo o corpo de um sapato e adornando a sua superfície externa. Por esse motivo é de extrema dificuldade e torna-se desnecessário listar todas as variáveis e afirmar qual material se aplica a qual parte da estrutura com certeza.

Além de cada empresa adotar as tecnologias que melhor atendem aos seus interesses, que são consideradas diferenciais da empresa com relação às demais, principalmente nos quesitos conforto e qualidade. Por isso não há grande divulgação específica das técnicas e materiais usados nos sapatos encontrados no mercado atual, o que dificulta uma definição de qual o material e quais as tecnologias empregadas a ele mais eficazes. Impossibilitando uma escolha definitiva em um projeto acadêmico como este.

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No quadro a seguir são considerados esses os principais, ao menos, os de mais destaque presentes nos referenciais de pesquisa utilizados.

Há também os materiais de união, que aparecem nas etapas de fabricação. São eles: os produtos químicos como colas sintéticas e diluentes; pregos; parafusos; adesivos; tintas; esponjas para enchimentos; linhas de costura entre muitos outros.

33

Quadro 1 – Possibilidades de materiais aplicados aos componentes

do calçado.

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Figura 42 - Sandália Lilas Metalizado, Coleção Tatiana.

TERRA&ÁGUA, 2009.

2.5. PROCESSOS DE PRODUÇÃO

O conhecimento das etapas de produção de um calçado, por meio da observação da atividade em prática, contribui para as etapas que estão por vir. Visitas aos ambientes de produção aumentam o entendimento sobre o calçado como produto e amparam o trabalho do designer para gerar soluções já norteadas, pois proporcionam ao profissional segurança e envolvimento tal com o projeto, que o resultado é uma liberdade maior na concepção das formas e um trabalho mais refinado desde o princípio.

Como foi comentado no tópico 2.2 O Mercado Nacional, a fabricação de calçados por mais desenvolvida tecnológica- mente, ainda mantém algumas características artesanais. A manufatura está presente em boa parte das etapas de produção, principalmente na montagem, mas sua intensidade diminui à medida que os sapatos têm mais partes produzidas por injeção termoplástica. Um exemplo de calçado com o mínimo de contato humano durante a produção são os que compõem a linha Tatiana da marca Terra & Água (Figura 42).

Foram programadas e realizadas quatro visitas ao longo do espaço de tempo destinado à coleta de dados para o projeto. Observou-se a linha de produção dessas empresas e as informações coletadas foram comparadas às já obtidas com a pesquisa de referencial em meios destinados ao assunto tratado por este tópico.

Uzzo Calçados, Santa Maria, RS – empresa de pequeno porte, trabalho exclusivo com o couro, cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul.

Industrial Bokalino, Caxias do Sul, RS – também trabalha com a marca Terra&Água, fabrica sapatos e sandálias por injeção termoplástica para atender o mercado nacional e internacional.

Milla Art, Farroupilha, RS – fabricação de calçados femininos (Milla Art) e masculinos (Tremanito) trabalha principalmente com couro.

Ateliê Paulo Brasil, Santa Maria, Rs: produção artesanal de sapatos femininos, roupas e acessórios e sandálias de couro masculinas.

Cada qual com um tipo de produção distinta, mas claramente possuem etapas em comum, às vezes diversificando nas ferramentas e máquinas usadas, mas com mesma finalidade.

AS PRINCIPAIS ETAPAS

Modelagem:

Após o desenvolvimento conceitual por parte do estilista ou designer de calçados, e a definição de materiais e cores, o de-

35

Figura 43 – Formas com diversos modelos de bicos. O’KEEFFE,

1996.

senho é passado para as mãos do modelista. Este profissional é encarregado de transferir o desenho para a forma tridimensional, Figura 43. Pode-se dizer que é a etapa mais importante de todo o processo e na qual a precisão é de extrema importância, pois ela definirá a real aparência formal para o produto.

Nas indústrias atuais a modelagem é feita com o auxílio de softwares específicos, que garantem uma precisão milimétrica e agilizam a produção.

Corte:

As partes que irão compor o sapato são destacadas a partir da modelagem, já com os locais para costura, sobreposição e corte, definidos e corretamente marcados. Todos os materiais são cortados como indicado, isso pode acontecer manualmente com estiletes, facas, balancins ou prensas hidráulicas com navalha de fita de aço, mas também pode ser feita de maneira computadorizada. Cortes à laser ou jato de água, que seguem as instruções impostas pelo software, contribuem para minimizar o desperdício de material além das vantagens citadas anteriormente.

Costura e montagem:

Momento de juntar as partes, que devem estar proporcionais umas às outras e coincidindo com as marcações feitas anteriormente. Entre as etapas de costura, a cola sintética está sempre presente auxiliando na união para garantir a qualidade final, assim como os pregos na fixação da palmilha à fome durante a montagem.

A montagem é feita sobre a forma, por isso os materiais devem ser aquecidos sempre que manipulados para se conformarem o melhor possível, garantindo que as dimensões desejadas não sejam alteradas.

Salto:

Com o corpo do calçado montado, já desenformado, e o salto finalizado com a forração ou acabamento escolhido, os dois são fixados um ao outro. Deve ter-se o cuidado de observar se o salto escolhido tem a altura e angulação coincidentes com o ângulo de inclinação da forma, para dar o apoio correto à planta do pé.

O salto é fixado por meio da utilização de parafusos ou pregos e cola específica junto à superfície da palmilha.

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Acabamentos:

Etapa final, na qual os restos de cola são limpos com a utilização de diluentes, as imperfeições consertadas, o solado é lixado, entre outros procedimentos de finalização.

O sapato passa por uma verificação, que dirá se está aprovado ou não para ser disponibilizado ao mercado. Se tudo estiver de acordo e o resultado for o esperado, o calçado pode ser embalado, encaixotado e despachado.

2.6. CONSIDERAÇÕES

De acordo com o estudo feito em cima do referencial teórico, considera-se a existência de requisitos prioritários para o desenvolvimento projetual do sapato, listados a seguir:

Analisando o histórico do calçado, percebe-se a importância em dar base ao produto dentro do contexto social, mercadológico e cultural em que ele está sendo inserido, no caso, referente ao Brasil.

No desenho de calçados é importante conhecer o mercado e a industria, tanto do modelo de sapato em estudo como de seus componentes. E também os processos de produção aplicados atualmente para nortear o desenvolvimento do projeto.

Os autores estudados mostram a importância de se desenvolver calçados mais específicos para cada grupo de usuários. As indicações apresentadas para o desenho e a produção de calçados visam introduzir ao produto caracteristicas que proporcionem mais conforto durante o uso. Devem ser levadas em consideração junto às normas estabelecidas pela ABNT, citadas anteriormente, que certificam em âmbito nacional a qualidade do calçado com relação aos requisitos de conforto.

Entre os vários grupos de consumidores, o grupo referente às mulheres na Terceira Idade possuem caracteristicas bastante singulares. As experiências vividas e a vigilancia com a própria saúde e qualidade de vida influenciam diretamente seus interesses. Então, mostra-se necessário aproximar-se desse usuário em uma próxima etapa.

Com conhecimento básico sobre o referencial teórico começa a busca por definir um conceito que resultará em um modelo final para o produto.

37

Capítulo 3

DESENVOLVIMENTO PROJETUAL

3.1. CONCEPÇÃO DE UM CONCEITO

3.1.1 Tendências para 2010

Além dos meios de produção e os profissionais envolvidos nessa etapa do ciclo de vida do calçado, há um grande número de pessoas, que trabalha para fazer a idéia de um produto ser concretizada. O contato com essas pessoas possibilita aprender mais sobre o objeto e o mercado em questão e para isso percebe-se a necessidade de visitar feiras de calçados e palestras a respeito do Design, da Moda e da Indústria Calçadista e de Componentes.

Essas situações trazem a chance de analisar o mercado por um ângulo profissional, tomar nota de tendências lançadas e a visão nacional sobre elas.

A SICC – XVIII Salão Internacional do Couro e do Calçado aconteceu entre 2 e 4 de junho de 2009, na cidade de Gramado, Rio Grande do Sul. Na qual foram apresentados os lançamentos de calçados e acessórios para a Primavera/Verão 2009/2010 masculino, feminino e infantil de um grande número de marcas nacionais reconhecidas.

Durante os dias 11, 12 e 13 do mês de agosto de 2009 a Assintecal – Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos promoveu o Fórum de Inspirações e o Seminário de Design e Inovação para Couros, Calçados e Artefatos na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. No evento foram apresentadas as tendências/conceitos para o Inverno de 2010 na Moda brasileira, além do trabalho com essas tendências/conceitos no desenvolvimento de componentes por parte das indústrias e a aplicação desses em produtos conceito elaborados por pessoas envolvidas com o Programa SENAI de Gestão do Design.

Com o Fórum de Inspirações em Calçados houve um contato direto com as empresas que desenvolvem componentes para

38

Figura 44 – Pirâmide de Desejos. ASSINTECAL, 2009.

calçados e bolsas, conseqüentemente com os próprios componentes e as inovações tecnológicas no cenário nacional.

Possibilitando conhecer melhor os materiais que poderão compor o produto e esclarecer quesitos a respeito dos mesmos, futuramente podendo trazer soluções mais bem resolvidas ao projeto.

As palestras durante o Seminário de Calçados apresentaram, aos acadêmicos e também aos empresários, a visão dos profissionais da Moda. As apresentações dos trabalhos desenvolvidos por esses designers e estilistas brasileiros e estrangeiros, reconhecidos mundialmente, trouxeram pontos em comum entre eles e comuns à visão acadêmica de estruturação do caminho a seguir para solução de um problema em um projeto de produto. Por exemplo, a necessidade de identificar um perfil de público, de buscar informação em diferentes fontes e áreas do saber, a importância da interdisciplinaridade visando uma solução plena e dos significados que o objeto adquire dentro de uma sociedade, entre outros de grande relevância. Apresentaram também algumas das categorias dentro da Moda dividindo os produtos de acordo com suas finalidades no mercado, como exemplo a fastfashion, e explanaram sobre vantagens e desvantagens de cada, o que não cabe ser apresentado aqui. O ponto de mais destaque é a visão dos desejos do consumidor em uma pirâmide inversa, que auxilia a definir características básicas do público que se espera atender, como mostra a Figura 44.

Voltado aos 60% da pirâmide, o Conceito 1 apresenta as palavras “vibrante”, “popular”, “teatral” e têm como referência local, o Carnaval. Traz composições e repetições com os grafismos e elementos do folclore e demais simbologias da cultura brasileira e de outras culturas, dá destaque aos trabalhos manuais e bordados.

O Conceito 2 está inserido na faixa dos 30% da pirâmide e dirige-se ao consumidor que é, na definição apresentada pelo Caderno do Fórum de Inspirações, Assintecal (2009) “[...] guiado pelo intelecto e pela racionalidade apostando no custo x benefício e na compra consciente, de olho inclusive em itens de apelo sustentável”. Explora a natureza, a arquitetura e relaciona as formas orgânicas e geométricas para encontrar uma solução de design racional.

Voltado aos 10% está o Conceito 3, “imerso na contemporaneidade e no lado experimental das coisas” pela definição da Assintecal (2009). Atende ao consumidor na busca por produtos únicos, autorais e que passem a idéia de fantástico, mágico e surreal e dá ênfase ao corpo como forma de expressão.

Não houve interesse, desde o princípio, em seguir as tendências apresentadas acima, mas tê-las como uma referência para posteriormente, com o produto já definido, observar como ele se relaciona a elas e às suas características.

39

3.1.2 Levantamento de informações

Outro passo importante para chegar a um resultado eficaz é conhecer a pós-produção - quando o produto já está nas vitrines, nas revistas e outdoors, nos pés dos usuários. Assim, os estudos de caso foram fundamentais, aproximando a realidade do público-alvo e norteando a busca por elementos que conseqüentemente irão dar forma ao objeto.

Segundo Marconi e Lakatos (2007), a coleta de dados acontece durante a execução da pesquisa e pode ser realizada a partir de vários procedimentos “que variam de acordo com as circunstâncias ou com o tipo de investigação”. Essas técnicas são: coleta documental; observação; entrevista; questionário; formulário; medidas de opiniões e de atitudes; técnicas mercadológicas; testes; sociometria; análise de conteúdo; e história de vida.

A técnica de entrevista foi escolhida para ser aplicada por ter características e objetivos condizentes aos interesses dos três estudos de caso desenvolvidos.

Entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que

uma delas obtenha informações a respeito de determinado

assunto, mediante uma conversação de natureza profissional.

É um procedimento utilizado na investigação social, para a

coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no

tratamento de um problema social. [...] tem como objetivo

principal a obtenção de informações do entrevistado, sobre

determinado assunto ou problema. (MARCONI; LAKATOS,

2007, p. 197)

O tipo de entrevista foi padronizada e informal, por possibilitar ao entrevistador que siga um roteiro previamente estabelecido, mas flexível para adaptar-se a cada situação. As perguntas são feitas de acordo com um formulário ajustável à compreensão dos entrevistados e esses são selecionados seguindo um plano. De acordo com Lodi (1974), essa padronização permite que todas as respostas sejam comparadas entre si posteriormente, e que as diferenças encontradas reflitam diferenças entre os entrevistados e não diferenças nas perguntas, ou seja, perguntas diversas para cada entrevistado, o que resultará em respostas que não poderão ser relacionadas.

O formulário é um dos instrumentos essenciais para coleta de dados nesse tipo de investigação e será apresentado a seguir junto à explanação de cada estudo.

LEVANTAMENTO 1: ENTREVISTAS NO COMÉRCIO

CALÇADISTA

Foram visitados seis estabelecimentos comerciais, que trabalham preferencialmente com as marcas de destaque em

40

diferentes seguimentos do calçado feminino brasileiro. A seleção das lojas foi feita priorizando uma diversidade de estilos, cada estabelecimento com suas características peculiares acaba por definir um estilo, que chama a atenção de determinado público. Isso possibilitou uma coleta de informações mais ampla e completa, o que otimizou posteriormente as análises.

O objetivo das entrevistas é passar a ter uma idéia do que as senhoras procuram para calçar e como é a visão da relação “consumidora x produto / usuária x objeto” por parte de quem faz o intermédio e auxilia nesse primeiro contato entre mulher e sapato.

Levantamento de dados: Entrevistas no comércio calçadista

Nome do estabelecimento comercial:

Quais são os sapatos mais procurados pelas senhoras de mais idade? (no

inverno e no verão)

Quais os modelos preferidos?

Quais as marcas mais vendidas?

O que elas pedem ao procurar um calçado?

Há preferência por que material, apenas um ou aceitam mistura de materiais

e texturas?

Preferência por cor?

Preferência por estampa, textura, ou tecido liso?

Há preferência por detalhes e adornos? (fivelas, pedras, laços, babados,

botões, metais – dourado/prateado, plástico)

Há preferência por que tamanho de salto e a espessura do mesmo?

Quadro 2 – Formulário aplicado nas entrevistas do Levantamento 1.

E abaixo estão listadas algumas informações obtidas durante as entrevistas:

De maneira geral percebeu-se que elas procuram um sapato para ser usado em várias ocasiões, que tenha qualidade, classe, algum diferencial que a destaque, seja bem elaborado e chique. O conforto e a segurança aparecem como requisitos importantes no momento da escolha.

O sapato preferido é o de modelo clássico, talvez com algum adorno discreto, estampa ou textura de motivo animal. As cores também são discretas: o preto, os tons de marrom, tons pastel e tons crus. Mas falou-se em tons escuros da “cor da estação”, ou “cor da moda”, em café, bordô e cinza. A cor prata e a dourada juntamente com versões envelhecidas e a cor bronze são muito procurados para cerimônias mais festivas.

O material preferido é o couro macio e a pelica, mas os sintéticos estão cada vez mais aceitos pela qualidade

41

atual e preço acessível. A camurça, assim como os tecidos, cetim e veludo são escolhidos para ocasiões que pedem mais classe, por serem materiais mais frágeis, e a composição entre esses e o couro ou sintético são bem aceitas também.

As respostas a estilos de bico, salto, decote e demais características com relação aos componentes do calçado foram variadas, a ponto de não poder generalizar uma preferência. Podendo afirmar apenas que a maioria das consumidoras na faixa etária estudada procura um salto com altura variando entre dois e seis centímetros.

LEVANTAMENTO 2: ENTREVISTAS EM ATELIÊS, COMÉRCIO

DE TECIDOS E TRAJES SOCIAIS

O uso de roupas está diretamente relacionado ao uso de calçados na sociedade em questão. Por isso estudar os trajes sociais e a preferência das senhoras com relação às vestimentas de festa, mostra-se relativamente importante quando se está interessado em trabalhar e projetar um sapato voltado para as mesmas ocasiões de uso.

As entrevistas se deram entre ateliês, comércios de tecidos e de roupas voltadas ao traje social. A fim de descobrir o que as senhoras procuram em vestimentas para ocasiões sociais e como as relacionam aos sapatos de cerimônia. E assim, entender o triângulo “usuária x vestimenta x calçado”, conseqüentemente entender a estética, as funções, as cores, os materiais e os acabamentos. Além de aproveitar para coletar amostras, que servirão de referência nas próximas etapas.

Levantamento de dados: Entrevistas em ateliês, comércio de tecidos e

trajes sociais

Nome do estabelecimento comercial:

Qual a preferência por tecidos? (inverno e verão)

Qual a preferência de cores? (inverno e verão)

Qual a preferência de cortes e modelos? (inverno e verão)

Há Interesse em trabalhos no tecido, como bordados, babados, laços,

brilhos?

Deve ter mangas ou não?

Que parte do corpo elas gostam de salientar?

Qual o comprimento das roupas?

Há uso de rendas e tecidos com tranparência?

Há uso de tecidos com lantejoulas?

O que acham de tecidos estampados?

Quais os acessórios preferidos, bolsas, brincos, pulseiras?

Quadro 3 – Formulário aplicado nas entrevistas do Levantamento 2.

42

As informações obtidas com as entrevistas foram mais diversificadas que no estudo anterior, com menos unanimidade. Mas alguns itens se destacaram e estão relacionados abaixo:

Os tecidos mais procurados são o cetim, os crepes, o tafetá e a seda, ainda foram citados: a organza, musseline, shantung, voal, e exclusivamente para o inverno a lã e o veludo. A combinação entre dois tecidos é comum, faz-se um jogo entre leves e grossos, brilhosos e foscos, transparentes e opacos.

Com relação às transparências, elas aparecem nas mangas, nos casaquinhos e boleros por meio, principalmente, da utilização de rendas ou tecidos finos com bordados delicados.

Busca-se sempre a discrição, até mesmo quando se faz uso de brilho e adereços – apliques de flores, pedraria e broches – quer-se destaque, mas sem extravagância. Os tons escuros e terrosos prevalecem o ano todo e os tons mais claros aparecem na primavera e no verão. As cores de destaque são a cor preta, a marrom e a bege, mas as cores: branca, amarela, champagne, cinza, verde, azul Royal, marinho, vermelha, roxa, vinho, bordô, prata e chumbo foram apresentadas como as de maior procura variando de loja para loja.

Pode-se dizer que há sim unanimidade na escolha do traje, o preferido é de uma peça só, ou seja, o vestido. Com decote suave, meia-manga e cobrindo os joelhos. Trajes de duas peças, como calça e camisa, ou calça e blazer, são bastante procurados também.

LEVANTAMENTO 3: ENTREVISTAS COM O PÚBLICO-ALVO

O terceiro estudo de caso é considerado o mais importante pelo contato direto que se tem com a usuária/consumidora. Tem por objetivos tomar conhecimento da opinião singular de cada senhora entrevistada a respeito do que seria conforto para ela e elegância ao vestir-se e calçar-se, sobre a variedade de calçados oferecidos no mercado atual e quais são seus interesses e necessidades.

Nos estudos acadêmicos utilizados para referencial teórico, Manfio (1995), Brino (2003) e Linden (2004), também há o contato direto com usuários de calçados como método de coleta de informações, por isso foram tidos como ponto de partida ao pensar em tamanho da amostra de indivíduos, materiais, procedimentos, local e demais questões.

Considerando a proporção deste estudo, o tempo previsto, os recursos disponíveis e os objetivos, decidiu-se trabalhar com um grupo de vinte mulheres, com idade acima de sessenta anos, sem definição de classe social e poder aquisitivo, ponderando apenas se é consumidora. Preferencialmente de nacionalidade brasileira, ou residente no país há certo tempo, que permita a ela ser uma consumidora do mercado nacional de calçados.

43

Figura 45 – Painel 1 de referencial de conforto e

elegância x desconforto e deselegância.

Figura 46 – Cartela de cores referentes ao Painel 1.

Figura 47 – Painel 2 de referencial de conforto e

elegância x desconforto e deselegância.

Figura 48 – Cartela de cores referentes ao Painel 2.

As entrevistas foram realizadas entre os estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, especificamente, nas cidades de Cascavel (PR), Caxias do Sul (RS) e Santa Maria (RS).

Realizar a entrevista apenas com base no formulário mostrou-se insuficiente neste caso, a entrevista com as senhoras deve ser mais dinâmica para uma comunicação clara e objetiva, assim é possível extrair informações adicionais importantes de modo natural.

Com esse intuito foi desenvolvido um material visual e táctil para apresentar às entrevistadas:

Três painéis referenciais de conforto e elegância x desconforto e deselegância, Figuras 45, 47 e 49.

Um painel com seleção de imagens de calçados, Figura 51.

Uma cartela de cores referentes aos três painéis referenciais, Figuras 46, 48, 50.

Uma cartela de cores referentes ao painel com imagens de calçados, Figura 52.

Coleção de amostras de tecidos obtidos no Estudo de Caso 2.

Os painéis e as cartelas de cor em melhor resolução se encontram como Apêndice, no final do trabalho, e as amostras serão apresentadas mais a frente no próximo capitulo.

É importante ressaltar, as imagens utilizadas nos painéis foram buscadas nas revistas: Casa Vogue 283; Casa Vogue 284; Vogue Jóias nº21; Vogue Especial Acessórios; Vogue Brazilian Footwear; Vogue ABEST Primavera/Verão 2008/2009; Cool Magazine 75; Quem Julho 2007; Marie Clarie nº 211; Bravo Especial - 100 Objetos; Renner 2009; e acervo pessoal de imagens.

Figura 49 – Painel 3 de referencial de conforto e elegância x desconforto e deselegância.

Figura 50 – Cartela de cores referentes ao Painel 3.

44

Figura 51 – Painel com seleção de imagens de calçados.

Figura 52 – Cartela de cores referentes ao painel com

imagens de calçados.

Perguntas:

Identificação – nome completo, idade, estado civil, cidade onde mora.

Tem filhos? (quantos e se moram na mesma cidade)

Tem netos? (quantos e se moram na mesma cidade)

Como é sua vida social? O que gosta de fazer para se divertir?

Com que freqüência costuma participar de eventos sociais, como bailes, cerimônias, jantares, festas, chás e casamentos.

Compra sapatos de festa? Com que freqüência, ou seja, quantos durante o ano?

Tem preferência por alguma marca, ou mais de uma? Por quê?

Sem ser sapato de festa, costuma comprar sapatos? Com que freqüência?

Tem preferência por alguma marca, ou mais de uma? Por quê?

(Pode me mostrar algum ou alguns)

Quais roupas gosta de vestir para participar de eventos sociais? Por quê? (decotes, mangas, comprimento etc)

Quais cores acha que são elegantes e condizentes com um evento social?

Quais tecidos acha que são elegantes para um evento social?

Quais tecidos acha confortável?

Com base nas respostas, pode responder que prefere dias frios ou dias quentes?

Qual a numeração de calçados que usa?

Quais problemas de saúde relacionados que se relacionam aos pés, ou seja, ao uso de calçados e ao o ato de caminhar ou estar em pé.

*Anotar a análise dos painéis de conforto e de elegância feita pela entrevistada, e as observações feitas sobre as imagens de calçados

apresentadas, cartelas de cores e tecidos.

Quadro 4 – Formulário aplicado nas entrevistas do Levantamento 3.

RESULTADOS

As respostas obtidas foram bastante semelhantes às anteriores, derivantes dos Levantamentos de informações 1 e 2, confirmando a veracidade das informações já analisadas. Em seguida encontram-se compilados os dados de maior relevância provenientes das entrevistas do Levantamento 3.

As entrevistadas estão entre os sessenta anos e oitenta e três anos de idade. A maioria casada, em companhia do marido, filhos e netos, e mesmo as viúvas e a única solteira têm algum parente próximo morando na mesma cidade ou até na mesma casa. Procuram manter a vida agitada, com responsabilidades, compromissos e momentos de lazer. Quando questionadas a respeito das suas vidas sociais, a resposta mais repetida foi “reuniões festivas com as amigas e os parentes”.

45

Em ordem decrescente de freqüência entre as respostas estão os eventos sociais: chás, bailes, jantares, formaturas, casamentos e aniversários; em seguida atividades mais informais como: viagens; passeios; exercícios físicos: ioga, natação e academia; cinema; trabalhos manuais: tricô, crochê, bordados, jardinagem e pintura; idas à igreja; reuniões festivas com colegas de trabalho; Clube da Terceira Idade; visitas ao shopping; desfiles e participação em projetos sociais / beneficentes.

Essas perguntas impulsionam o início da conversa e auxiliam o entrevistador na familiarização com a entrevistada. Depois dessa etapa passa-se a falar diretamente sobre o assunto de foco.

Com relação aos trajes sociais, os preferidos são vestidos e conjuntos de calça e blazer ou calça e camisa. Conjuntos de saia, que não apareceram durante as entrevistas do Levantamento 2, surgiram agora junto ao taileur e aos lenços, echarpes e mantas, casacos leves e boleros combinados aos trajes sem manga a fim de cobrir os ombros.

Confirmou-se o cuidado em ponderar o uso de brilho, bordados, transparências, broches, laços, flores e pedrarias buscando a discrição e a elegância.

A cor preta e os tons de cinza, prata e grafite são bastante requisitados, assim como as variações de marrom e verde. Branca, creme, rosa, vermelha, azul, lilás e roxa são as demais cores referidas. Todas aplicadas, preferencialmente, aos tecidos de cetim, de seda e às rendas. A lista de tecidos foi maior que no Levantamento 2, além dos expostos no estudo anterior, acrescentou-se a malha de algodão, o tecido de algodão puro e o chifon.

Passando para o assunto “Sapatos de cerimônia” houve quase unanimidade na escolha pelo sapato de salto médio (altura de quatro a seis centímetros aproximadamente), com a afirmação por parte da maioria, de que sapatos de festa devem ter um salto razoável para estarem conforme a roupa e os acessórios. Devem ser delicados e femininos, por esse motivo não há muita aceitação do salto Anabela e da Plataforma para a finalidade desejada. E se caso tenham um salto nulo ou baixo, que possuam um diferencial que os destaquem.

O conforto é requisito fundamental, os materiais que envolvem o pé devem ser macios e deixar a pele respirar. A forração externa em tecidos finos para situações especiais é uma boa solução, mas cabe observar a palmilha e os materiais internos ao escolher um calçado, pois alguns sintéticos retêm a transpiração e podem causar irritações de pele, segundo as entrevistadas. Por mais macias, as texturas nas palmilhas podem incomodar, assim como as costuras entre a gáspea e o solado de um mocassin, que teoricamente é um calçado confortável, sendo essa técnica de costura utilizada em vários outros modelos com esse propósito.

Agora, em relação aos solados, há quem prefira os lisos para facilitar os movimentos durante a dança. Mas os solados de

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materiais antiderrapantes promovem a segurança esperada por essas mulheres, e por isso são os favoritos.

O bico estilo peep toe facilmente machuca os dedos dos pés durante o caminhar, por causa do contato dos mesmos com a região de costura e acabamento do decote. Também os machuca o bico fino, comprimindo desconfortavelmente, principalmente se o pé possui joanetes e calosidades.

Problemas relacionados à saúde dos pés mostraram-se presentes na maioria dos casos, deformidades como joanetes e unhas encravadas, doenças sérias como a diabete e a osteoporose. Foram apontados casos de: pé chato; calosidades; pele sensível; descolamento das unhas do pé; problemas de coluna, nervos e circulação; artrose; artrite; pressão alta; e dores nas pernas e nas laterais dos pés – que aumentam com o uso de sapatos de salto alto (altura maior que sete centímetros).

Essas dificuldades acabam por voltar a atenção das senhoras aos bicos quadrados e redondos. Na opinião delas, o bico fino seria o mais elegante, mas são impossibilitadas de usar pelo desconforto que as causa, e o bico totalmente redondo é de extrema deselegância por deixar o pé com a aparência de ser mais largo e achatado. Conseguintemente, para eventos sociais, os escolhidos são bicos quadrados finos e redondos finos ou até bicos quadrados arredondados.

Um grupo preponderante assume comprar mais de um par de sapatos de festa por ano, algumas admitem comprá-los mensalmente, outras não chegam a comprar um por ano. Mas em totalidade apreciam sapatos duráveis e versáteis, de boa qualidade. Não lhes agrada ter que trocá-los a cada nova coleção lançada, se compraram, é porque realmente gostaram, sentiram-se atraídas por aquele produto e o querem usar por tempo indeterminado, não só até a próxima estação.

3.1.3 Definição do tema

Analisando as observações feitas pelas entrevistadas em cima dos painéis descritos anteriormente, foi possível selecionar as imagens para montar o Painel Semântico.

Conforme as anotações de Hoelzel (2008) “a semântica do produto é a relação entre o significado que a forma do objeto evoca no usuário e a compreensão que causa ao estabelecer conexões com as experiências já vividas”.

O Painel Semântico (Figura 53) reúne referenciais para a geração de conceitos levando em consideração a semântica. É composto por imagens que expressam estilos para o produto, de acordo com os interesses e valores pessoais e sociais do público-alvo. Quanto mais variada a composição do painel, mais elementos e características estarão a disposição para

47

Figura 53 – Painel Semântico.

serem trabalhados no desenho do futuro produto, e maiores são as chances de se conseguir expressar visualmente e formalmente o conceito escolhido.

Cinco temas surgiram após observação do Painel Semântico:

O Sol. A arquitetura e mobiliário do Brasil Colonial. As Formas geométricas. O Ballet. A Mulher Fatal.

TEMA ESCOLHIDO: A MULHER FATAL

Percebeu-se, após analisar as conversas realizadas com as vinte mulheres, a força com que elas expressam sua feminilidade. Mostram-se maduras e experientes, e sabendo exatamente o que querem, não vêem em si mesmas senhoras idosas e frágeis e não aceitam a visão infantilizada, muitas vezes tida pela sociedade e pela família a cerca do idoso. São seguras de si e de sua personalidade, não buscam a perfeição e sim usufruir ao máximo a vida.

Quando escolhem como vestir-se e portar-se, estão longe de buscar um estilo jovem e que às lembre o tempo de mocidade. Buscam aproximação com uma época de suas vidas mais recente, gostam de objetos que remetam ao ápice da vida adulta da mulher, forte, atraente e determinada.

Em seqüência, ao pesquisar sobre as alternativas de conceitos, o tema “Mulher Fatal” mostrou-se um estereótipo interessante – mesmo que exagerado – de como pode ser caracterizada a personalidade feminina. A Femme Fatale (mulher fatal, em francês) aparece muito na arte e na dramaturgia. Está presente na religião e na cultura de diversos povos: no folclore brasileiro encontramos a Sereia Iara; na mitologia grega, deusas como

48

Figura 54 – Catherine Tramell, personagem de Sharon Stone no

filme Instinto Selvagem, 1992.

Figura 55 – Satine, personagem de Nicole Kidman no filme Moulin

Rouge, 2001.

Figura 56 – Roxie Hart e Velma Kelly, personagens de Renée Zellweger e Catherine Zeta-

Jones no filme Chicago, 2002.

Figura 57 – Irene, personagem de Audrey Tautou no filme

Amar... Não Tem Preço, 2006.

Medéia e Circe; na história do Egito, Cleópatra; e até mesmo nos textos bíblicos com a personagem Dalila de Sansão. Podemos buscá-las também na literatura, no cinema, nas histórias em quadrinho e novelas, onde transitam entre o bem e o mau, hora vilãs, hora heroínas.

De acordo com o blog Obvious (2007), durante a segunda fase do Romantismo na literatura, Álvares de Azevedo “explora o caráter dual que teria essa mulher fatal”. Retratada antigamente como símbolo de corrupção, atualmente aparece na ficção como “símbolo do livre-arbítrio das mulheres e sua passionalidade irreprimida”.

Para trabalhar com esse retrato atual buscou-se no cinema as personagens que incorporassem os elementos presentes no Painel Semântico e se relacionassem com a personalidade da consumidora.

A arte cinematográfica foi escolhida por ser um meio de expressão mais completo e palpável, com relação aos demais citados anteriormente, por prover referenciais sensoriais diversos. Permitindo estudar o conjunto: o personagem, suas ações e expressões, o figurino, a ambientação, a trilha sonora e a história como um todo. As personagens escolhidas foram:

Catherine Tramell, de Instinto Selvagem, Figura 54. Satine, de Moulin Rouge – Amor em Vermelho, Figura

55. Roxie Hart e Velma Kelly, de Chicago, Figura 56. Irene, de Amar... Não Tem Preço, Figura 57.

Essas cinco mulheres fatais representam as possíveis interpretações para o Painel Semântico, que se deseja trabalhar no momento. As cenas selecionadas para compor o Referencial de Estilo (Figura 58) têm como propósito fornecer as informações visuais que resultarão na materialização desse tema em um objeto, no caso, o sapato.

49

Figura 58 – Referencial de Estilo.

3.2. ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO

De acordo com Löback (2001), a geração de alternativas é a fase criativa de todo o processo, na qual se produzem as idéias baseando-se nas análises realizadas até o momento. Nessa fase não deve haver restrições ao gerar, posteriormente se farão as avaliações a respeito das soluções propostas. Utilizando alguns métodos pode-se otimizar o trabalho, chegando a uma resposta adequada mais rapidamente que na geração aleatória.

A seguir estão expostas alternativas trabalhadas sem o norteamento desses métodos para solução de problemas, eles serão aplicados em uma segunda etapa por meio da síntese visual. No momento pensou-se no objeto inteiro, sem a divisão de seus componentes e sem a preocupação com o efeito formal provocado por cada parte singular - salto, bico e corpo.

Observando o espaço de tempo disponível para desenvolver essa etapa do projeto, procurou-se focar no propósito inicial e levar em consideração alguns fatores estudados e analisados nas fases anteriores. Produzir sem prender-se às informações rigidamente, mas excluindo a hipótese de desenhar calçados que não atendessem a proposta, por exemplo: um tênis ou um scapin de salto alto.

50

Figura 59 – Geração de alternativas.

3.2.1 Geração de desenhos a partir do Referencial de Estilo

a

b

c

51

Figura 60 – Geração de alternativas.

a

b

c

52

Figura 61 – Geração de alternativas.

a

b

c

53

Figura 62 – Geração de alternativas.

a

b

c

54

Figura 63 – Geração de alternativas.

a

b

c

55

a

b

c

d

e

Figura 64 – Amostra de sinteses de bicos.

3.2.2 Sintese visual para gerar conceitos

Entende-se como síntese visual a decodificação de um objeto

em signo, através da redução de seus detalhes gráficos ao

mínimo de informação visual possível [...]. (MAYRÓN, 2006)

De acordo com a citação acima, a síntese visual de um objeto revela as características mais marcantes que lhe conferem um estilo. Dependendo da interpretação do receptor, que a analisa com base em seus conhecimentos e vivencias, podem surgir entendimentos semelhantes ou díspares ao observar a mesma imagem.

A síntese visual dos saltos e bicos aconteceu por meio de processo criativo desenvolvido pela autora, de estudo dos modelos já desenhados na etapa anterior e de estudo dos modelos de calçados que podem ser encontrados no histórico dos calçados e na atualidade.

A escolha por sintetizar os bicos e saltos, mais especificamente a vista superior do bico e a vista lateral do salto, refere-se ao modo como as pessoas observam seus pés calçados. Ao dirigir a visão para os pés o bico do sapato se destaca no meio da composição de elementos. A segunda ação é olhar a lateral do sapato direcionando a visão em frente a um espelho ou mesmo com o movimento do corpo, e nesse momento o que chama a atenção é o salto. E a relação entre esses dois componentes será analisada pelo usuário e determinará a aceitação ou não do modelo escolhido.

Ao lado estão expostas cinco sínteses de bicos, Figura 64, amostra de uma variedade ainda maior de possibilidades. Abaixo, Figura 65, as duas sínteses escolhidas para serem trabalhadas por suas características estéticas e ergonômicas, além de considerar os interesses do público.

a b

Figura 65 – Sinteses de bicos escolhidas .

56

a

b

c

d

Figura 66 – Amostra de sinteses de saltos.

Como na anterior, nessa página há sete desenhos de sínteses visuais. Na coluna à esquerda estão quatro delas, Figura 66 e abaixo, as três selecionadas para seqüencialmente serem relacionadas aos dois bicos, Figura 67.

a

b

c

Figura 67 – Sínteses de saltos escolhidas.

57

a

b

Figura 68 – Combinações entre salto e bico.

DEFINIÇÃO DO CONCEITO INICIAL

Fizeram-se quatorze combinações em perspectiva - os dois perfis de bico com os sete perfis de salto, totalizando quatorze possibilidades.

Entre as três finalistas, a combinação abaixo mostrou mais coerência, sendo usada para dar a forma inicial à modelagem tridimensional, Figura 69.

Figura 69 – Combinação escolhida.

58

Capítulo 4

MATERIALIZAÇÃO

Figura 70 – Base de madeira com a curvatura da face inferior

da forma.

Figura 71 – Forma de plástico posicionada antes do gesso ser

vertido.

Figura 72 – Matriz em gessos para produção da forma em

massa plástica.

4.1. MODELAGEM VOLUMÉTRICA

4.1.1 Materiais de auxilio para modelagem

Na modelagem de calçados precisa-se de uma forma especifica, com as dimensões referentes ao pé para o qual se está projetando.

Foi alugada uma forma plástica de comum utilização na fabricação industrial de calçados, referente ao pé direito, feminino e de numeração tamanho 37, de acordo com o Sistema de Numeração adotado pelo Brasil. A curvatura da parte inferior da forma, que seria a “sola do pé”, tem a angulação necessária para que o calcanhar fique a uma altura de dois a três centímetros do chão. Suas medidas também são um pouco maiores que as formas comuns, pois é utilizada na confecção de sapatos voltados ao público idoso.

O procedimento correto seria fabricar uma forma com as dimensões e curvas do bico previamente definidas, ou seja, com o desenho do bico definido e aplicado, para posteriormente trabalhar apenas a modelagem do salto, do corpo, e da superfície do calçado. Mas devido às restrições que um trabalho acadêmico impõe, fez-se o inverso, utilizando a forma disponível para modelar além de tudo, o bico. O que influenciou na escolha das técnicas utilizadas para produzir mais a frente o modelo final.

A partir dessa forma tirou-se um exemplar semelhante em massa plástica, pelo método de produção de matriz de gesso.

E a partir da curvatura da “sola do pé” recortou-se em madeira uma base, que serve para sustentar essa forma de massa plástica durante a modelagem em sua superfície.

59

Figura 73 – Forma para sapato feminino, numeração 37, em

massa plástica.

Figura 74 – Vista superior da forma e início da modelagem do

bico.

Figura 75 – Vistas lateral e superior em tamanho real e inicio

da modelagem em isopor.

Figura 76 – Modelo volumétrico em isopor, destaque para o salto.

4.1.2 Desenvolvimento estético e dimensional

Iniciou-se passando o perfil de bico para o tamanho real, tendo em vista as dimensões da forma, utilizando o auxílio de recortes de papel, o mesmo foi feito para o perfil de salto. E com os desenhos simplificados de uma vista superior e uma lateral, o isopor começou a tomar o formato de uma espécie de bota.

Nesse momento o interessante em um modelo de peça única e monocromática é observar como cada parte interage com as demais e dentro do conjunto. Assim se percebe claramente as modificações necessárias.

Figura 77 – Modelo volumétrico em isopor, detaque para o bico.

60

Figura 78 – Redesenho do salto e do solado em isopor.

Figura 79 – Modelagem do salto e do solado em madeira.

Figura 80 – Modelagem do salto e do solado em madeira.

4.1.3 Redesenho do salto

O ofuscamento do salto por parte do bico destacou-se explicitamente sugerindo a necessidade de um redesenho. Convergindo suas características às da alternativa de salto apresentada na página 56 e identificada pela letra (a) da Figura 67.

As Figuras 78, 79, 80 e 81 mostram o processo inicial de definição do que resultou no solado em madeira aplicado ao modelo final do sapato.

Figura 81 – Modelagem do salto e do solado em madeira.

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Figura 82 – Alternativa de solução para o corpo do sapato.

Figura 83 – Alternativa de solução para o corpo do sapato.

Figura 84 – Alternativa de solução para o corpo do sapato.

4.1.4 Alternativas de solução para o corpo do sapato

Com as formas gerais para o salto e solado definidas, iniciou-se a procura por soluções para o corpo do calçado.

Revisitando o Referencial de Estilo e analisando os desenhos feitos, partiu-se para a geração de alternativas modelando diretamente em cima da forma do pé. Com auxilio da base de madeira, do salto e do solado, foram sendo trabalhadas as linhas e as superfícies com papel dobradura e fita crepe.

Por ter apenas um exemplar de salto e solado, mesmo presentes durante a modelagem, não podiam ser acoplá-los ao modelo recém desenvolvido, pois era necessária sua utilização na modelagem de um próximo. É por isso que a Figura 82, assim como as figuras seguintes, traz algo parecido com uma sapatilha.

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Figura 85 – Alternativa de composição com losangos na

superfície do modelo.

Figura 86 – Alternativa de composição com losangos na

superfície do modelo.

Figura 87 – Alternativa de composição com losangos na

superfície do modelo.

4.1.5 Trabalho de composições para superfície

Nitidamente nota-se a utilização do losango para desenvolver as composições apresentadas como alternativas para a superfície do modelo.

Elas fazem referencia a diversos elementos presentes tanto no Painel Semântico, quando no Referencial de Estilo.

A lapidação dos cristais usados em uma jóia, a repetição de formas geométricas, o figurino da personagem Satine em uma das cenas de Moulin Rouge. Todos estão presentes dentro do processo que gerou as composições.

Por mais interessantes que sejam os desenhos formados, percebe-se que há a necessidade de guardá-los por um instante para trabalhar melhor a forma do calçado e defini-la, antes de voltar a trabalhar a superfície do calçado.

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Figura 88 – Vista da lateral externa da Alternativa 1.

Figura 89 – Perspectiva que mostra a lateral interna e rosto da

Alternativa 1.

4.1.6 Alternativas para a solução escolhida

A modelagem do corpo apresentada, deste ponto em diante, foi a que melhor respondeu à proposta e mostrou-se mais interessante e bem resolvida comparada às demais.

Passa-se a trabalhar com a opção escolhida e surgem três variações para a mesma.

ALTERNATIVA 1

A alternativa possui um detalhe (faixa) que cobre a superfície superior do pé auxiliando na fixação do mesmo ao sapato, impossibilitando que este caia durante o caminhar, aumentando a segurança.

Relaciona-se à linha do decote de forma muito interessante e possui aparência jovial e original. Mas talvez fique bem resolvida como sapatilha, e não tanto junto ao salto.

Algumas modificações seriam necessárias para escolher essa alternativa, pois a lateral interna teria que moldar-se melhor à curvatura do pé na região. E o encontro da faixa com o decote da lateral externa precisa ser estudado, buscando uma solução de como o pé iria entrar no sapato.

Figura 90 – Alternativa de composição com losangos na superfície do modelo.

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Figura 91 – Vista da lateral externa da Alternativa 2.

Figura 92 – Perspectiva que mostra a lateral interna e rosto da

Alternativa 2.

ALTERNATIVA 2

A segunda alternativa mostra-se mais delicada e feminina que a anterior.

Não apresenta os problemas conhecidos, mas surge com algumas incertezas. A lateral interna do pé está muito exposta, o decote é grande demais e pode dificultar a fixação do pé na região do calcanhar. Em compensação o decote frontal de todo o sapato, além de ter um desenho assimétrico bem resolvido, tem a gáspea (ou rosto) bem fechada, o que traz mais segurança e conforto aos dedos do pé.

Uma solução bastante elegante.

Figura 93 – Vista frontal da Alternativa 2, com destaque para o rosto e o bico.

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Figura 94 – Vista da lateral externa da Alternativa.

Figura 95 – Perspectiva que mostra a lateral interna e rosto da

Alternativa 3.

ALTERNATIVA 3

A última alternativa entre as três é também, o ponto de equilíbrio. Sua faixa encontra-se “no meio do caminho” entre as duas soluções anteriores.

Moldou-se perfeitamente à lateral interna do pé, nessa região ela é larga o suficiente para segurá-lo ao calçado durante o caminhar.

Surge um recorte bem resolvido entre o decote e a faixa, que expõe a pele sem excesso mantendo a elegância e proporcionando segurança ao pé.

O encontro entre a faixa e a lateral externa é mais simples que na primeira alternativa e não impossibilita o calce.

Em função de todos os prós foi a alternativa escolhida para continuar a modelagem.

Figura 96 – Vista frontal da Alternativa 3, com destaque para o rosto e o bico.

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Figura 97 – Vista lateral interna que mostra o solado sendo

enfaixado em fita crepe para juntar-se ao corpo.

Figura 98 – Perspectiva que mostra a lateral externa e o rosto

do modelo.

Figura 99 – Perspectiva que mostra a lateral externa e dá

destaque ao salto.

4.1.7 Primeira tentativa de modelagem composta

Ao juntar o corpo com o salto e o solado percebe-se como o sapato está grosseiro. Suas dimensões estão exageradas e pouco definidas.

O próximo passo é tirar os excessos e continuar testando o conjunto para chegar a um resultado satisfatório.

Figura 100 – Vista da lateral externa do modelo.

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Figura 101 – Vista da lateral externa do modelo.

Figura 102 – Vista da lateral interna do modelo.

Figura 103 – Perspectiva que mostra a lateral interna e destaca

o rosto do modelo.

4.1.8 Segunda tentativa de modelagem composta

Ainda mostram-se necessárias mudanças no salto e no solado, em busca de uma aparência mais delicada. As alterações feitas trazem resultados que indicam o caminho a seguir para atingir esse objetivo.

No momento a preocupação está em definir uma característica do bico, que não influenciará na ergonomia, mas na estética do sapato. Além do comprimento trabalhado até agora, que já leva em consideração as indicações ergonômicas, surgiu a opção de fazê-lo mais comprido, sem mudar sua feição.

Essa segunda opção, ao ser analisada, foi tida como mais elegante e por isso foi escolhida para continuar presente durante a modelagem.

Figura 104 – Vista superior do modelo com o bico curto e o bico alongado.

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Figura 105 – Vista da lateral externa do modelo.

Figura 106 – Vista da lateral interna do modelo.

Figura 107 – Vista da lateral interna do modelo, com destaque

para o salto.

4.1.9 Terceira tentativa de modelagem composta

Essas são as últimas alterações seguidas pela montagem do modelo. Com ele percebeu-se que esteticamente já estava bem parecido ao que se buscava, então foi feita uma última analise das mudanças necessárias para integração melhor do conjunto, como chanfres no solado e retoques na curvatura do salto.

Figura 108 – Perspectiva que mostra a lateral externa do modelo.

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Figura 109 – Vista lateral do solado acoplado ao salto.

Figura 110 – Forma sobre o conjunto de salto e solado.

Figura 111 – Vista lateral da forma sobre o conjunto de salto e

solado.

4.1.10 Ajustes finais para o salto e solado

Depois das últimas alterações feitas não o modelo não foi montado novamente.

O excedente no salto foi retirado, parede que envolve o calcanhar como mostra a Figura 109, pois sua função era apenas estruturar, durante a modelagem, a curvatura que o sapato deveria ter na região do calcanhar no modelo final.

Percebeu-se um excesso de material na curva que liga o bico ao solado rente ao chão, o que dificultaria a marcha. Foi preciso aumentar essa curvatura diminuindo o contato do solado com o chão nessa parte frontal.

Os componentes estavam prontos para serem incorporados ao modelo final em sua confecção.

Figura 112 – solado finalizado.

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Figura 113 – Vista superior da forma da palmilha.

Figura 114 – Lateral interna do pé.

Figura 115 – Lateral externa do pé.

4.1.11 Modelagem da palmilha interna

Para trazer mais conforto é interessante que a palmilha seja fabricada exclusivamente para o modelo de sapato. E que possua a curvatura referente ao pé, como mostra a tentativa de modelagem da palmilha nas figuras dessa página.

A espessura apresentada pelas Figuras 114 e 115 não é real, pois nesse momento o interesse focava-se em obter formas e não dimensões.

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Figura 116 – Coleção de tecidos do mais votado ao menos votado.

Figura 117 – Cartela de cores.

4.1.12 Alternativas para cor e material

Com o modelo definido passa-se a trabalhar cores e materiais e volta-se a falar sobre as entrevistas realizadas com o público-alvo.

Em certo ponto, durante a conversa, expôs-se uma cartela com cores retiradas das imagens presentes nos três painéis referenciais apresentados e uma cartela com cores retiradas das imagens de calçados de um quarto painel, estas cartelas já foram apresentadas anteriormente, mas se encontram também como apêndice, junto aos seus painéis respectivos.

Pediu-se para a senhora entrevistada escolher as cores que mais a agradavam, na primeira cartela – as cores sem uma função específica e na segunda – cores aplicadas ao sapato.

As mais votadas formam, em ordem decrescente, a cartela de cores utilizada nessa etapa do projeto (Figura 117).

PAINEL COM COLEÇÃO DE AMOSTRAS DE TECIDOS

Com a coleção de amostras de tecidos fez-se igual, mas foi julgada a cor relacionada ao material. A Figura 116 traz a coleção em ordem decrescente de votação, sendo a primeira ao topo a amostra preferida pela maioria das entrevistadas.

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Figura 118 – Cetim com lycra pesado, cor cereja escura.

Figura 119 – Couro com tingemento na cor cereja escuro.

Figura 120 – Couro com tingemento dourado.

Figura 121 – Camursa, cor creme.

CORES APLICADAS AO MATERIAL

A configuração do objeto depende muito da escolha de cores e materiais aplicados a ele. Um mesmo produto passa mensagens diferentes quando apresentado em cores e materiais diversos.

Os tons quentes e terrosos, além de estarem constantemente presentes nas respostas ao formulário, tiveram destaque dentro do Painel Semântico e do Referencial de Estilo. Então, ao estudar as cores quentes presentes na cartela, a Cor 5C aplicada ao cetim, Figura 118, adequou-se perfeitamente com as formas do sapato, relevou a elegância e a feminilidade buscadas desde o início e simbolizou da melhor maneira possível o tema Mulher Fatal.

A cor é um meio apropriado para criar contrastes e destacar volumes, pensou-se então em trabalhar com a textura e uma segunda cor no decote do contraforte e da lateral do sapato.

Duas amostras da coleção de tecidos, Figura 122, foram testadas: o crepe shantung na cor nude (tecido mais votado) e o tafetá na cor grafite (na segunda colocação). Mas a combinação entre esses tecidos e o cetim não funcionou. A cor grafite trouxe seriedade em excesso e a cor nude diminuiu o

impacto visual do brilho que o cetim de tom cereja escuro possui.

A cor dourada não está presente na cartela de cores, mas se destaca entre as imagens de referência, assim como os tons terrosos e por isso foi testada aplicada em couro. Mas foi logo descartada por dar um aspecto teatral ao sapato.

A camurça na cor creme foi testada por ser e uma opção mais macia e confortável que o couro e mais durável que os tecidos de crepe e tafetá. Mas novamente o contraste entre o claro e o escuro não funcionou da maneira esperada.

A solução que melhor reagiu à composição com o cetim em tom cereja escuro, foi o couro com tingemento na mesma cor. A textura do couro foi suficiente para destacar a região e o desenho das curvas do decote.

Figura 122 – Crepe shantung, cor nude e tecido de tafetá, cor grafite.

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Capítulo 5

EXECUÇÃO DO MODELO FINAL

5.1. DESENVOLVIMENTO DE DESENHO TÉCNICO

Figura 123 – Vista explodida, sem escala, apenas para representação como amostra do desenho técnico.

As pranchas com todos os desenhos completos e obedecendo as normas da ABNT se encontram como Apêndice.

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5.2. RENDERIZAÇÃO

O programa utilizado para renderização do modelo de sapato foi o PhotoView2009, aplicativo que faz parte do Solid Works2009 (programa de modelagem em 3D usado).

Figura 124 – Rendering mostrando a lateral externa do modelo.

Figura 125 – Rendering mostrando a gáspea e o bico do modelo.

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5.3. PRODUÇÃO

A produção artesanal foi escolhida para a confecção do modelo final, por dar mais acesso a autora para acompanhar e auxiliar o profissional que iria executar o trabalho. Visando assim, conseguir um resultado o mais próximo possível do que foi planejado.

Essa escolha possibilitou um envolvimento total da acadêmica com todas as etapas e a participação ativa desde a modelagem sobre a forma até a finalização com a colagem da palmilha interna.

5.3.1 Os Materiais

Os componentes e os respectivos materiais aplicados ao modelo estão listados a seguir.

Um par de solados de madeira: para a produção foi fabricado agora com o salto e solado em uma peça única a fim de facilitar o trabalho e garantir um acabamento melhor.

Um par de formas com as dimensões iguais à utilizada na modelagem volumétrica: as formas reais tem são de material macio e adequado para prender os pregos durante a etapa de montagem, além de serem desmontáveis em duas partes, o que possibilita desenformar o sapato antes de fixar o salto.

Um par de bicos em madeira para fazer o enxerto nas formas.

Fita crepe larga para cobrir uma das formas e fazer a modelagem.

Papel pardo para recortar os moldes. Cetim com lycra pesado, na cor cereja escuro para

forração externo. Couro com tingemento na cor cereja escuro, para

detalhes do decote. Camursa com tingemento marrom, para forração interna

e da palmilha. Papelão para a palmilha. Folha de EVA para palmilha interna. Folha de látex para cobrir o solado e o taco. Entretela específica para forração de calçados. Couraça para dar forma e sustentação ao bico, é

colocada entre o forro externo (já entretelado) e o forro interno.

Contraforte para dar forma e sustentação ao calcanhar, é colocado, assim como a couraça, entre o forro interno e o externo.

Pregos e “cola de sapateiro” para fixação das partes.

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5.3.2 Justificativa de materiais

Alguns materiais, como cola e couraça são comuns na confecção de qualquer calçado, mas outros são específicos e a escolha desses deve ser explanada.

A camurça foi escolhida para forrar internamente o modelo e cobrir a palmilha por assemelhar-se à aparência da pelica e à sua textura macia. O tingemento na cor marrom faz relação às analises anteriores, nas quais se constatou a forte presença de tons terrosos.

As palmilhas em EVA são uma representação simplificada do conforto que se deseja oferecer à região plantar do pé.

E por último, o látex é um material antiderrapante e foi encontrado apenas nas opções de cores: preta e caramelo. Aplicou-se ao solado e ao taco a cor caramelo, para manter a relação de tons terrosos com a cor cereja escuro do tecido.

5.3.3 Etapas da Produção Artesanal do modelo final

A confecção do modelo final será exposta por meio das imagens a seguir, que ilustram passo a passo as etapas. A explicação se faz, resumidamente, pelos textos da legenda de cada figura.

Figura 126 – Par de solados finalizados e par de formas já com o enxerto dos bicos.

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Figura 127 – Modelagem sobre a forma e superfície inferior marcada para recorte dos moldes.

Figura 128 – Moldes provenientes da modelagem e moldes com aumento para as sobreposições e costuras.

Figura 129 – Componentes para forração externa recortados e componentes para forração interna recortados.

Figura 130 – Par de Couraça, par de Contraforte e par de palmilhas internas em EVA.

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Figura 131 – Par de palmilhas entresola e par de palmilhas para forração interna.

Figura 132 – Corpo do calçado e solado após as etapas de costura e montagem.

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Figura 133 – Imagens do modelo final confeccionado.

5.4. MODELO FINAL

Figura 134 – Destaque para o acabamento com elastico.

Figura 135 – Destaque para forração interna do calçado.

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5.4.1 Caracteristicas do sapato

Decote: bem cavado para deixar o pé com bastante liberdade, minimizar ao máximo a possibilidade de aperto, mas fechado o suficiente para não expor de maneira indesejada e manter o sapato fixo durante o caminhar. O detalhe do decote em couro se feito em material macio conforta a região superior do calcanhar.

Bico: seguindo as indicações, afunila somente depois do metatarso V deixando os dedos livres. E é visualmente agradável por misturar características do bico redondo e do bico quadrado.

Salto: suas curvas são delicadas e femininas, é bastante acinturada, mas baixo e de base ampla, dificulta que ocorra a torção do pé e o desequilíbrio durante a marcha.

Soltado: a plataforma possibilita um aumento na altura do salto sem mudança na inclinação do pé. Mantendo uma altura entre dois e três centímetros, que é a indicada. Os chanfres nas laterais não interferem no equilíbrio ao caminhar e ainda amenizam o impacto visual da plataforma, deixando-a mais delicada e acompanhando as curvas do salto e do decote.

Elástico: o acabamento com elástico na extremidade mais fina da faixa facilita o calce e possibilita que o sapato se ajuste bem aos diferentes tipos de pés.

Tamanho: a forma usada, como apresentado anteriormente, é de tamanho 37, mas com o enxerto do bico quadrado houve um acréscimo no comprimento. Junto a isso, o fato de ser uma produção artesanal e a falta de equipamentos adequados proporcionou alteração nas dimensões de largura, altura e perímetro pela dificuldade de conformação dos materiais. O que resultou em um sapato de numeração 38.

5.5. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PRODUTO

A produção artesanal do sapato teve grandes dificuldades, principalmente de acabamento, pela falta de equipamentos específicos e matéria-prima adequada.

O modelo apresentado acima, como se planejou desde o princípio, não é funcional e apenas tenta representar as características de forma, cor, textura, dimensões e conforto, que se buscou promover ao produto. Para esse sapato cumprir suas funções prática, estética e simbólica eficazmente, ter suas partes produzidas pela indústria é obrigatório.

No caso de uma produção industrial, o tecido para forração externa e as cores escolhidas para cada componente

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continuam os mesmos. As alterações necessárias seguem listadas a seguir:

O par de formas deve ser fabricado de acordo com o as formas e as dimensões desejadas, possuindo o desenho do bico como projetado.

O solado não pode ser de madeira, deve ser produzido em um material que possua flexibilidade suficiente para possibilitar o movimento completo do pé durante o ciclo de marcha. No caso da madeira, o pé fica impossibilitado de manter seu movimento normal, modificando o caminhar. Além de não ser um material devido, por suas caracteristicas de acabamento, peso, durabilidade, entre outras. Materiais como o EVA industrial específico, e o PVC para solados ou outros termoplásticos possuem as caracteristicas excelentes para serem aplicados ao solado projetado por meio de injeção termoplástica, mantendo o desenho e as dimensões identicas ao projetado.

A sola pode ter um acabamento mais estéticamente agradável e mais elegante se feita em uma camada fina de couro tratado, mas sem tingemento, e com aplicações de Látex para solados ou outro material antiderrapante. Por exemplo, podendo formar desenhos sobre o couro, que identifiquem a marca, ou a coleção.

O taco deve ser produzido em material específico e antederrapante na mesma cor do material aplicado à sola.

A palmilha, deve ter um desenho mais anatômico como analisado nos estudos anteriores e ao invés de uma folha simples de EVA escolar. Deve ser produzida de acordo com os materiais e tecnologias disponíveis no mercado de componentes para calçados, como o EVA, o Látex e o PU, ou outro material visando conforto.

A escolha pelo material natural para fazer a forração interna e da palmilha fez-se de acordo com os relatos obtidos durante as entrevistas com o público-alvo. A pelica é o material indicado por suas carcteristicas de extrema maciez, qualidade e durabilidade, além de ser um couro muito bonito. Mas a camurça poderia ser mantida devido ao avanço tenológico que acresce a qualidade desse material cada vez mais.

Poderiam ser estudadas outras combinações de cores para a forração interna e externa, de acordo com a cartela de cores sugerida neste projeto.

No projeto em questão se teve o cuidado em diminuir ao máximo as costuras e detalhes internos do corpo do calçado. Mas na produção industrial essas costuras e cortes podem ser minimizados mais ainda, principalmente na região calcânea.

A marca deve ser impressa na palmilha interna, sem possuir relevos ou costuras para não haver desconforto na planta do pé ou irritação na pele da região. E deve estar presente na sola do sapato, impressa, aplicada em metal ou pelo desenho como foi sugerido em um item anterior.

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86

Capítulo 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando optou-se em desenhar um calçado como proposta para o Trabalho de Conclusão de Curso sabia-se que seria um grande desafio, por não ser o Design de Calçados uma das abrangências durante a Graduação em Desenho Industrial na UFSM.

Nunca se havia trabalhado com um objeto que se relacionasse e influenciasse tanto e tão diretamente os movimentos, a saúde e as atividades realizadas pelo corpo humano, mais especificamente falando do pé. Mas a falta de conhecimento na área junto ao grande interesse sobre Moda e a intenção em futuramente direcionar a formação acadêmica adquirida durante a graduação para o Design de Moda, Calçados e Acessórios impulsionaram o desenvolvimento da proposta.

Durante a fase de pesquisas percebeu-se que muitos modelos conhecidos atualmente tiveram sua origem há séculos atrás fazendo parte das mais variadas culturas ao redor do mundo. Suas características são cheias de significados, que na sociedade atual e globalizada nem sempre são entendidos, mas elas se mantêm visíveis e estão constantemente sendo redesenhadas em novos produtos, transmitindo e miscigenando as culturas por todo o mundo.

Pode-se entender melhor e conhecer de maneira mais profunda o mercado nacional de calçados, como se aplica o Design no desenvolvimento, e como o desenho e seus respectivos profissionais se relacionam à industria de materiais e componentes. Além de possibilitar à acadêmica observar e participar das etapas de alguns tipos de produção de um calçado.

Percebeu-se como são complicadas as questões relacionadas ao conforto em um objeto. E que mesmo sendo o único país a ter um selo de conforto para calçados, ainda há muito a ser pesquisado e desenvolvido pela Biomecânica e pela Ergonomia a fim de trazer mais qualidade aos produtos brasileiros. É necessário também adotar um padrão mais específico que identifique os calçados por atender a multiplicidade de características dos brasileiros.

A falta de unanimidade de dados para fabricação de calçados dificulta a certeza sobre como proceder na escolha de tamanhos e dimensões durante o desenvolvimento do projeto. Não há um referencial a seguir, forçando o acadêmico a adotar o modelo que lhe pareça de acordo com suas intenções.

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Os referenciais teóricos mostraram a importância do contato direto com a realidade na prática. As entrevistas tiveram um papel de extrema importância durante a fase de desenvolvimento projetual, pois as informações obtidas, junto ao que foi estudado na teoria, serviram de base para a definição do tema e para a geração de alternativas, e em seqüencia resultaram no modelo final apresentado.

Durante o processo de definição do produto foi possível praticar o desenho de calçados, buscar no cinema inspiração e praticar a atividade de modelagem de objeto em diversos materiais. Consideradas pela autora, etapas do trabalho que trazem grande realização pessoal.

O contato direto com a produção artesanal do sapato projetado proporcionou a chance de aprender as técnicas artesanais de cada etapa, desde a modelagem até o acabamento final e realmente experimentar fazer um sapato.

O modelo final não teve o resultado esperado, por questões já expostas, como a falta de maquinário que dificultou a montagem e o acabamento, mas consegue passar a idéia do que foi intencionado pela acadêmica.

O projeto conseguiu atender a proposta e como resultado final oferece um modelo de sapato social feminino, adequado às necessidades da senhora idosa e materializa toda a pesquisa feita durante este ano. O produto compila, em sua aparência formal, as informações levadas em consideração após as análises e traduz as intenções da autora.

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DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

ECALCADOS. O calçado. Disponível em: <http://www.ecalcados.com.br/ocalcado.asp>. Acesso em: 20 mar. 2009.

FAMEMA. Gerontologia. Disponível em: <www.famema.br>. Acesso em: 25 jun. 2009.

FREITAS, Alice Oliveira. Interação Produto x Usuário: Projeto de Calçado Feminino com salto Adaptável. 2008. 85f. Monografia (Curso de Desenho Industrial) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2008.

FREITAS, E. V.; PY, L.; NERI, A. L.; CANÇADO, F. A. X.; GORZONI, M. L. (Org). Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

RAMOS, Luiz Roberto. Guia de Geriatria e Gerontologia. 1. ed. Barueri: Mande, 2005.

SHOEMASTER. Shoemaster Creative. Disponível em: <http://www. shoemaster.co.uk/products/creative.html>. Acesso em: 22 abr. 2009.

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S-SHOP. Como se fabrica o calçado. Disponível em: <http://www.s-shop.com.br/fabsapato.asp>. Acesso em: 17 abr. 2009.

APÊNDICE A

LEVANTAMENTO DE DADOS 3:

MATERIAL GRÁFICO

Painel 1 – Referencial de conforto e elegância x desconforto e deselegância.

Cartela de cores 1 – Referentes ao Painel 1.

Painel 2 – Referencial de conforto e elegância x desconforto e deselegância.

Cartela de cores 2 – Referentes ao Painel 2.

Painel 3 – Referencial de conforto e elegância x desconforto e deselegância.

Cartela de cores 3 – Referentes ao Painel 3.

Painel 4 – Seleção de imagens de calçados.

Cartela de cores referentes ao painel com imagens de calçados.

APÊNDICE B

DESENHO TÉCNICO