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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS Nilmar Sandro Kesseler APLICAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS COMPRAS PÚBLICAS E AS COMPRAS EM FUNDAÇÕES DE APOIO À TECNOLOGIA E CIÊNCIA Dissertação Santa Maria, RS, Brasil 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS

Nilmar Sandro Kesseler

APLICAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS COMPRAS PÚBLICAS E AS COMPRAS

EM FUNDAÇÕES DE APOIO À TECNOLOGIA E CIÊNCIA

Dissertação

Santa Maria, RS, Brasil 2019

Nilmar Sandro Kesseler

APLICAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE

AS COMPRAS PÚBLICAS E AS COMPRAS EM FUNDAÇÕES DE APOIO À

TECNOLOGIA E CIÊNCIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão de Organizações Públicas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS) como requisito para obtenção do grau de Mestre em Gestão de Organizações Públicas.

Orientador: Dr. Fernando do Nascimento Lock

Santa Maria, RS 2019

Nilmar Sandro Kesseler

APLICAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS COMPRAS PÚBLICAS E AS COMPRAS EM FUNDAÇÕES DE APOIO À

TECNOLOGIA E CIÊNCIA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão de Organizações Públicas, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS) como requisito para obtenção do grau de Mestre em Gestão de Organizações Públicas.

Aprovado em 26 de dezembro de 2019:

Fernando do Nascimento Lock, Dr. (UFSM) Presidente/Orientador

Luis Carlos Zucatto, Dr. (UFSM)

Renata Gusmão de Luna, Dr.a (UPE)

Santa Maria, RS 2019

RESUMO

APLICAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS COMPRAS PÚBLICAS E AS COMPRAS EM FUNDAÇÕES DE APOIO À

TECNOLOGIA E CIÊNCIA

AUTOR: Nilmar Sandro Kesseler ORIENTADOR: Fernando do Nascimento Lock

Esta pesquisa busca comparar compras realizadas por órgãos públicos com compras realizadas em fundações de apoio. Mais especificamente, averiguar como se comportam os preços pagos em compras de material permanente, efetuadas pela Universidade Federal de Santa Maria e pela Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência, que sejam comparáveis. O período de análise foi o ano de 2018. Para tanto, o estudo fundou-se em referencial teórico que abordou as teorias de mercado e dos custos de transação, e da legislação aplicável às compras públicas. A pesquisa se caracteriza como descritiva em relação aos objetivos e quantitativa em relação à abordagem do problema, com uso de dados secundários, além de se caracterizar como pesquisa documental. A pesquisa valeu-se dos métodos comparativos e inferencial para as análises. A população foi composta por 303 itens de material permanente adquiridos pela fundação, os quais foram categorizados, obtendo se um total de 57 itens comparáveis, que foram analisados a luz da teoria e legislação vigente. Os principais resultados apontaram que em 5 itens o valor obtido pela UFSM foi maior, em suas aquisições; em 3 o valor foi o mesmo; e em 49 itens o preço pago pela FATEC foi superior nas aquisições, em comparação aos preços pagos pela UFSM. Assim, em termos relativos, pode se afirmar que em 85,96% dos itens passíveis de comparação, no período de análise, o valor pago pela FATEC foi maior do que os valores pagos pela UFSM. As variações de preços nos itens em que a universidade pagou mais caro foram entre 3% e 22%, ou entre 44,39 e 600,01, em termos absolutos. Já nos itens em que a fundação pagou valores maiores, as diferenças relativas concentraram-se em até 50% de diferença, mas chegaram até a ser superiores a 200% do valor pago na UFSM. Em termos absolutos, a diferença variou entre R$9,00 a R$2.398,12, por item analisado. As principais conclusões do estudo são de que as compras realizadas na fundação não estão em consonância à teoria. Ainda, que os processos de aquisição de bens permanentes na fundação não estão gerando compras com valores menores aos da universidade. Por fim, conclui-se que não há um planejamento adequado de compras na fundação, que é diferente do planejamento da universidade em termos de processos desenvolvidos. Palavras-chave: Compras públicas; Material permanente; Itens comparáveis; Fundação; UFSM.

ABSTRACT

APPLICATION OF PUBLIC RESOURCES: A COMPARATIVE STUDY BETWEEN PUBLIC PURCHASES AND PURCHASES IN SUPORT FOUNDATIONS FOR

TECHNOLOGY AND SCIENCE

AUTHOR: Nilmar Sandro Kesseler ADVISOR: Fernando do Nascimento Lock

This research seeks to compare purchases made by public agencies with purchases made by support foundations. More specifically, find out how the prices paid behave of permanent material made by the Federal University of Santa Maria and the Support Foundation for Technology and Science, which are comparable. the period of analysis was 2018. To this end, the study was based on a theoretical framework that addressed market theories and transaction costs, and the law applicable to public purchases. The research is characterized as descriptive in relation to the objectives and quantitative in relation to the approach of the problem, using secondary data, besides being characterized as a documentar research. The research used the comparative and inferential methods for the analyzes. The population consisted of 303 permanent material items purchased by the foundation, which were categorized, resulting in a total of 57 comparable items, which were analyzed in the light of the theory and current legislation. The main results pointed out that in 5 items the value obtained by UFSM was higher in its acquisitions; in 3 the value was the same; and in 49 items the price paid by FATEC was higher on acquisitions compared to the prices paid by UFSM. So, in relative terms, it can be stated that in 85.96% of the items that could be compared, during the analysis period, the amount paid by FATEC was higher than the amounts paid by UFSM. The price fluctuations in the items the university paid the most were between 3% and 22%, or between 44.39 and 600.01 in absolute terms. In the items in which the foundation paid higher amounts, the relative differences were concentrated up to 50% of difference, but they were up to 200% of the amount paid by UFSM. In absolute terms, the difference ranged from R $ 9,00 to R $ 2,398,12 per analyzed item. The main conclusions of the study are that purchases made at the foundation are not in line with theory. Still, that the processes of acquisition of permanent materials in the foundation are not generating purchases with lower values than the university. Finally, it is concluded that there is no adequate procurement planning at the foundation, which is different from university planning in terms of processes developed.

Key words: Public purchases; Permanent material; Comparable items; Foundation; UFSM.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Visualização relativa dos preços dos bens comparáveis...........................60

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo das estruturas de mercado........................................................23

Quadro 2 – Modalidades licitatórias e legislação de base..........................................33

Quadro 3 – Custos de transação identificados em Fundações e/ou no mercado......43 Quadro 4 – Resumo teórico dos estudos anteriores sobre o tema............................49 Quadro 5 – Estrutura do procedimento de coleta de dados.......................................56 Quadro 6 – Categorias de análise do estudo.............................................................57 Quadro 7 – Resumo das ações realizadas para o alcance de cada objetivo Específico................................................................................................58 Quadro 8 – Diferenças relativas e absolutas em preços maiores na UFSM...............62 Quadro 9 – Itens permanentes onde não houve diferenças de preço........................64 Quadro 10 – Diferenças relativas em preços pagos a maior na FATEC....................65 Quadro 11 – Quantidade de itens em cada faixa absoluta de valores.......................66 Quadro 12 – Itens adquiridos com o mesmo modelo.................................................70

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1 – Cálculo da eficiência de licitação............................................................41 Equação 2 – Fórmula simplificada do cálculo da eficiência de licitação.......................41

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 18 2.1 TEORIA ECONÔMICA DOS BENS E MERCADOS ........................................ 18 2.1.1 Classificação econômica dos bens e fatores de produção ........................ 18 2.1.2 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado .................................................... 19 2.1.3 Estruturas de mercado .................................................................................. 21 2.2 ASPECTOS ORÇAMENTÁRIOS E LEGALIDADE DAS CONTAS PÚBLICAS ........................................................................................................ 24 2.3 RESPONSABILIDADE NA GESTÃO FISCAL .................................................. 26 2.4 COMPRAS PÚBLICAS: CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAIS, LICITAÇÃO E COMPRAS DIRETAS ....................................................................................... 28 2.5 FUNDAÇÕES DE APOIO À TECNOLOGIA E CIÊNCIA: ESPECIFICIDADES 34 2.6 COMPRAS NO SETOR PRIVADO: DISCRICIONARIEDADE ......................... 39 2.7 CUSTOS DE TRANSAÇÃO ............................................................................. 40 2.8 ESTUDOS ANTERIORES ................................................................................ 44 3 METODOLOGIA .............................................................................................. 49 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................... 51 3.2 POPULAÇÃO ................................................................................................... 53 3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................... 53 3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISES DE DADOS ........................................................... 57 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 59 4.1 BENS PERMANENTES E PREÇOS COMPARÁVEIS ENTRE FATEC E UFSM ............................................................................................................... 59 4.2 ANÁLISE DAS DIFERENÇAS ENCONTRADAS NOS PREÇOS DOS PROCESSOS DE COMPRAS DA FATEC E DA UFSM NO PERÍODO, EM TERMOS ABSOLUTOS E RELATIVOS ........................................................... 61 4.3 DIFERENÇAS QUE NÃO SE REFEREM A PREÇOS NOS ITENS ADQUIRIDOS ................................................................................................... 74 5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 76 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 81 APÊNDICE A – DESCRITIVO DOS ITENS COMPARÁVEIS E INFORMAÇÕES PARA ANÁLISE ................................................................... 88 ANEXO A – AUTORIZAÇÃO DE USO DE DADOS DA DIREÇÃO DO DEMAPA .......................................................................................................... 93

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1 INTRODUÇÃO

Aplicar recursos públicos de forma eficiente e transparente, além de se tratar

de imposição legal, tornou-se primordial no contexto econômico brasileiro. Neste

cenário de escassez orçamentária, os gestores públicos necessitam se atentar a

economicidade dos gastos, que é um princípio constitucional, e às melhores práticas

de governança e de fiscalização dos processos que incorram em aplicações dos

recursos disponibilizados pela sociedade, para atender às suas necessidades, apesar

de isso ser obrigação dos gestores públicos constantemente.

Para tanto, é primordial que os poderes fiscalizatórios externos, como órgãos

de controle e o poder legislativo, para além de avaliarem o cumprimento da legislação,

verifiquem se os órgãos públicos estão observando práticas que incorram na

maximização dos resultados com os recursos disponíveis. Da mesma forma, a

sociedade como interessada maior da aplicação orçamentária necessita de clareza

nas informações recebidas dos gestores públicos, para que tenha a capacidade de

avaliá-los e decidir se os mesmos estão otimizando os recursos disponíveis.

Neste intuito, a presente dissertação tem como tema a aplicação de recursos

públicos por meio das compras realizadas pelas instituições públicas e as compras

realizadas por instituições de direito privado sem fins lucrativos. Mais especificamente,

trata-se das compras realizadas por uma Fundação de Apoio à Pesquisa e Ciência no

Rio Grande do Sul, no exercício de 2018. Essas fundações, em essência, são criadas

para auxiliar instituições de ensino superior a gerir os recursos destinados a projetos

de pesquisa científica e tecnológica, seja realizando compras de materiais para uso

nos mesmos, efetuando pagamento de serviços necessários para as pesquisas,

pagamentos a pessoas físicas, pesquisadores, bolsas etc.

As compras realizadas com recursos públicos pelas fundações de apoio são

regidas pela Lei n 8.666/1993, que estabelece critérios às contratações públicas, e

por legislação específica apresentada na Lei nº 8.958/1994 e no Decreto nº

8.241/2014. Outrossim, as fundações de apoio necessitam prestar contas às

instituições a que se subordinam e aos Órgãos de controle competentes à fiscalização

dos recursos públicos, bem como à sociedade como um todo. Assim como os Órgãos

públicos necessitam oportunizar o máximo de transparência dos seus dispêndios de

recursos, as fundações de amparo, da mesma forma, possuem a obrigação de

disponibilizar informações acerca dos atos praticados com os recursos públicos que

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recebem (ao menos é o que a legislação prevê, como a Lei Nº 12.527/2011; Decreto

8.241/2014).

Neste contexto, as compras públicas constituem-se em parte dos gastos do

Governo Federal. Dados do Portal da Transparência (2019) apontam que em 2018

mais de 22 bilhões de reais foram aplicados em material de consumo e

aproximadamente 9,5 bilhões de reais foram aplicados em material permanente.

Juntos, esses gastos representam 31,5 bilhões de reais despendidos pelos cofres

públicos federais para aquisição desses materiais. Considerando-se a ótica do

engessamento do orçamento da União, que de acordo com estudo do Tesouro

Nacional (2018) 93,7% do total das despesas realizadas em 2017 possuíam

vinculação legal (o estudo para 2018 ainda não foi divulgado), percebe-se que as

compras de materiais permanentes e/ou consumo representaram uma importante

aplicação de recursos, o que revela a importância de seu estudo.

Outrossim, os constantes contingenciamentos de gastos orçamentários por

parte do governo federal vêm afetando a capacidade de compra das instituições

públicas, o que reflete diretamente nos processos de compras, seja na quantidade a

ser adquirida, seja na formulação dos processos. A despeito da legislação vigente,

que preza pela eficiência das compras públicas, percebe-se a necessidade, cada vez

mais premente, da realização da melhor compra para as instituições públicas, pois

compras realizadas de forma equivocada ou com má qualidade poderão afetar o

desempenho das atividades públicas, prejudicando os serviços públicos, visto que não

se terá recursos, ao menos num mesmo período orçamentário, para se corrigir a

compra má feita.

As fundações de apoio à tecnologia e ciência, neste sentido, possuem papel

importante de auxílio nas compras de bens a serem usados nas instituições públicas

às quais se vinculam, principalmente no desenvolvimento das pesquisas. A Lei nº

8.958/1994 estabeleceu a possibilidade para as instituições de ensino superior e

demais instituições científicas e tecnológicas de celebrar convênios e contratos com

fundações instituídas com a finalidade de apoiar projetos de ensino, pesquisa,

extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à

inovação, inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução

desses projetos (Art. 1º, Lei nº 8.958/1994). Já o Decreto nº 8.241/2014 regulamentou

os procedimentos a serem adotados nas compras pelas fundações, estabelecendo

metodologias a serem observadas, como pesquisa de mercado prévia à contratação,

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instrumentos convocatórios, seleção pública de fornecedores, contratações diretas,

dentre outros.

A partir disso, depreende-se que estas fundações devem obedecer aos

princípios constitucionais de administração pública, quais sejam, legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Art. 37 da Constituição Federal

de 1988). Estes princípios regem a atuação de todos aqueles que administram

recursos públicos e são de observância obrigatória. Partindo-se deste pressuposto,

as fundações de apoio à tecnologia e ciência necessitam realizar suas atividades

respeitando a carta magna e colaborando para a correta utilização dos recursos

públicos que administram e dos quais devem prestar contas.

Dentre os princípios fundamentais de administração pública, merece destaque,

no que se refere ao gasto público, o princípio da eficiência. Segundo Araújo e

Rodrigues (2012), este princípio zela pelo aperfeiçoamento da alocação dos recursos

públicos nas contratações. No âmbito do setor público, espera-se que os gestores

cheguem ao máximo resultado ou ao ótimo da utilização dos recursos auferidos da

sociedade, considerando-se o bem-estar máximo a partir do usufruto dos produtos

e/ou serviços, desde que exista uma maneira de comparar produtos e/ou os serviços

prestados pelo setor público e verificar se estes estão abaixo do valor fornecido por

outras entidades, mantendo-se a mesma qualidade (SILVA NETO, SILVA e SILVA,

2017).

Para o Tribunal de Contas da União, eficiência está relacionada a “fazer o que

é preciso ser feito com qualidade adequada ao menor custo possível. Não se trata de

redução de custo de qualquer maneira, mas de buscar a melhor relação entre

qualidade do serviço e qualidade do gasto” (TCU, 2014, p. 50). Nesse sentido, a

mensuração da eficiência no setor público passa a ser um desafio, tanto a gestores,

Órgãos fiscalizadores como à sociedade de modo geral.

No que tange às compras diretas, a Lei 8.666/1993 traz em seu Art. 24 as

ocasiões em que poderá ocorrer a dispensa de licitação e no Art. 25 os casos em que

poderá ocorrer inexigibilidade de licitação. Apesar de não representarem a maior parte

do volume financeiro das compras públicas, dados do Portal de Compras do Governo

Federal (2019) apontam que em 2018 ocorreram 113.644 processos de compra por

dispensa de licitação e 24309 processos de compra por inexigibilidade de licitação.

Somados, representam 137.953 processos, que em termos de quantidade

representam em torno de 72% de todos os processos de compras.

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Diante do exposto, considerando-se a legislação que rege as contratações

públicas, as restrições de recursos financeiros apresentadas nos últimos períodos

orçamentários, o princípio da eficiência e o contexto de atuação das fundações de

apoio na realização de contratações públicas, este estudo pauta-se na seguinte

questão-problema: Como se comportam os preços pagos em compras de material

permanente, efetuadas pela Universidade Federal de Santa Maria e pela Fundação

de Apoio à Tecnologia e Ciência, que sejam comparáveis?

Para responder à questão problema, o objetivo geral que norteou a pesquisa

consiste em comparar a diferença entre os preços das compras de material

permanente realizadas pela Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência e os preços

de compras de material permanente da Universidade Federal de Santa Maria, no

exercício de 2018, dos itens passíveis de comparação.

Para atender ao objetivo geral, esta dissertação possui os seguintes objetivos

específicos: a) Selecionar todos os bens permanentes adquiridos no exercício de 2018

e averiguar qual preço foi pago pela fundação de apoio à tecnologia e ciência, objeto

de pesquisa; b) Confrontar os valores pagos nas compras efetuadas pela fundação

de apoio à tecnologia e ciência com os valores pagos nas aquisições efetuadas por

meio de processos de compras da UFSM; c) Analisar as diferenças encontradas nos

preços à luz da literatura e da legislação pertinente.

Optou-se por se estudar as compras nessa fundação pelo fato da maioria das

mesmas serem realizadas sem a execução de processo licitatório de fato. Apesar de

haver um regramento legal para que as mesmas possam ocorrer, como por exemplo

o levantamento de propostas e o registro das razões técnicas da escolha do

fornecedor e a justificativa do preço, as mesmas não seguem todo o rito processual

das licitações Assim, diante do tema abordado e da problemática apresentada, a

presente pesquisa possui como principal justificativa a oportunidade de se estudar

processos de compras públicas, os quais são vulneráveis a fraudes.

Em 02 de outubro de 2017, o então Reitor da Universidade Federal de Santa

Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, suicidou-se ao se atirar do quinto andar do

Beiramar Shopping, em Florianópolis. Na época, a notícia obteve repercussão na

mídia, não só pelo fato do suicídio em si, mas pelo fato do Reitor dias antes ter sido

preso de forma preventiva por um dia sob acusação de obstrução de justiça na

investigação, onde o mesmo e um grupo de seis pessoas eram investigados na

Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, que apurava desvios de recursos em

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cursos de Educação a Distância (EaD) oferecidos pelo programa Universidade Aberta

no Brasil (UAB) na UFSC. Além disso, eram investigadas verbas de custeio de ensino,

como compra de livros, viagens e transporte onde entre as constatações estavam

casos de aluguel de carro com custo 10 vezes acima do mercado (BURIGO, ÁVILA,

2017).

As investigações pautaram-se em recursos dispendidos no período de 2006 a

2017. Dentre os investigados encontram-se as Fundação de Estudos e Pesquisas

Sócio-Econômicas (FEPESE) e a Fundação José Arthur Boiteux (FUNJAB), que

teriam sido usadas para cometer as irregularidades, fazendo, por isso, parte do

inquérito.

Em 2007, deflagrou-se a Operação Rodin, que apurava o desvio de recursos

através do uso de duas Fundações, a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência –

FATEC e a Fundação Educacional e Cultural para o Desenvolvimento e o

Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura – FUNDAE. Na época, a FATEC foi

contratada pelo Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul para a

gestão dos recursos para o processo de confecção das Carteiras Nacionais de

Habilitação (CNH) no Estado. Por sua vez, a FATEC subcontratou a FUNDAE para

auxílio na gestão. Nos dias atuais, após investigações e condenações, o caso não foi

encerrado e a maioria dos condenados aguarda o desfecho do inquérito, sem

cumprimento de qualquer pena (BATISTA, 2017).

Da observação dos casos supracitados, traçam-se algumas considerações a

respeito das fundações de apoio e de sua participação nesses possíveis esquemas

de fraudes. Primeiramente, a Lei nº 8.666/1993 traz o regramento a ser observado

nas contratações públicas, aplicável a todos os entes que se utilizam de recursos

públicos para tal fim. Complementarmente, o Decreto nº 8.241/2014 estabelece a

obrigatoriedade da Comissão de licitação nas fundações de apoio, que possuem a

finalidade de elaborar e acompanhar os processos licitatórios das mesmas. A despeito

dessa legislação, ocorreram pelo menos esses dois esquemas milionários de fraude,

investigados pelas operações Ouvidos Moucos e Rodin.

Acrescente-se a isso o fato que o inciso XXI do Art. 24 da Lei nº 8.666/1993

dispensar a licitação para a aquisição ou contratação de produto para pesquisa e

desenvolvimento, apenas restringindo a 20% do valor no caso de obras e serviços de

engenharia. Desta forma, compras comprovadamente realizadas para pesquisa

podem ser realizadas sem prévia licitação, o que torna o processo mais ágil. Assim,

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diante de tema com tamanha polêmica, de casos comprovados de malversação da

finalidade das fundações de apoio, e também do impacto que esses problemas podem

ocasionar diretamente no ambiente das universidades federais às quais as fundações

prestam seus serviços, estabelece-se a primeira justificativa para a realização do

estudo.

Dado este primeiro contexto, apresentam-se outras cinco linhas de pensamento

para a realização do estudo: em relação à legislação; dos recursos públicos e seu

contingenciamento; da finalidade maior das fundações; em relação ao período de

análise; e, da oportunidade de estudos desta natureza na área.

Primeiramente, a justificativa em relação à legislação se dá em virtude dos

princípios de administração pública estabelecidos pela Constituição Federal de 88,

principalmente no que tange aos princípios da Legalidade e da Eficiência. Estes

princípios norteiam a gestão pública e aplicam-se a todos os entes que administram

recursos públicos. A legalidade dos atos é condição irrenunciável aos gestores para

que se possa executar uma administração correta e isenta de tendenciosidade

(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988). Já a eficiência representa o melhor resultado

possível com os recursos utilizados, ou seja, o melhor retorno possível para a

sociedade (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2018), apesar de não haver uma

relação direta necessária entre melhor resultado e menor preço. A própria Lei

8.666/1993 prevê outros critérios a serem considerados além de preço, para se chegar

à proposta mais vantajosa.

Além da carta magna, há outras legislações a serem observadas que justificam

a pesquisa. A Lei nº 4.320/1964 disciplina os orçamentos públicos, sua elaboração e

formas de controle, inclusive no âmbito dos Entes públicos da administração indireta,

como universidades e fundações. Estabelece as classificações orçamentárias de

receitas e despesas, bem como as fases de cada uma delas. Com isso, estabelece

regramentos mínimos a serem observados na execução das compras públicas, de

forma complementar aos procedimentos estabelecidos nas demais legislações.

A Lei nº 8.666/1993 institui normas para licitações e contratos, trazendo

princípios de contratação pública, regramentos, procedimentos a serem observados

pelas unidades que são responsáveis pela realização das compras nos diversos

Órgãos públicos, inclusive nas fundações que recebem recursos públicos. É nesta lei

que está prevista a modalidade de compra direta, dividida em dispensa de licitação e

inexigibilidade de licitação, objeto de estudo da pesquisa proposta.

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No que tange à Lei Complementar nº 101/2000, também conhecida como Lei

de Responsabilidade Fiscal, observa-se a figura da responsabilidade na gestão fiscal

aplicável aos gestores de recursos públicos como principal imposição da lei, visto que

estabelece limites e algumas punições aos que não obedecerem aos regramentos.

Assim, tanto os gestores das fundações quanto os das universidades submetem-se a

esta lei, que é de observância obrigatória em todos os processos orçamentários de

compras públicas. Em virtude do tema da presente pesquisa tratar sobre os processos

de compras diretas, que requerem transparência fiscal, entende-se que esta Lei

justifique adequadamente o estudo.

A Lei nº 8.958/1994, por sua vez, dispôs sobre as relações entre as fundações

de apoio como entidades auxiliares das instituições de ensino superior e de pesquisa

científica e tecnológica, estabelecendo as condições de contratação, como

obrigações, vedações, fiscalização, entre outras regras a serem observadas nos

contratos entre as instituições públicas e essas fundações de apoio à tecnologia e

ciência. Já o Decreto nº 8.241/2014 regulamentou o Art. 3º da Lei nº 8.958/1994, para

dispor sobre a aquisição de bens e a contratação de obras e serviços pelas fundações

de apoio, incluindo a pesquisa de mercado prévia à contratação, o instrumento

convocatório, dos procedimentos de seleção pública, das exigências de habilitação e

da contratação direta, objeto desta pesquisa.

No que tange aos recursos públicos e seu contingenciamento, dados do Portal

da Transparência apontam que nos últimos anos ocorreu redução da disponibilidade

de recursos para aplicação nas diversas funções governamentais. Para a Função

Educação, sub função Ensino Superior, o orçamento atualizado disponibilizado para

aplicação em material permanente foi de 559,5 milhões de Reais em 2016, 488,05

milhões de reais em 2017 e 115,7 milhões de reais em 2018. Percebe-se que ocorreu

uma redução 12,77% de 2016 para 2017 e de 76,28% de 2017 para 2018. Quanto ao

orçamento atualizado disponibilizado para aplicação em material de consumo, em

2016 o valor foi de 377,6 milhões de reais, em 2017, 350,54 milhões de reais e em

2018 foram 225,9 milhões de reais. Constata-se que ocorreu redução de 7,16% do

exercício de 2016 para 2017 e de 35,55% do exercício de 2017 para 2018.

Esses dados, aliados ao cenário da crise econômica apresentada, que afetou

os orçamentos públicos recentes, sugerem que possa se pesquisar a aplicação dos

recursos públicos desses elementos de despesa, avaliando a aplicação dos mesmos,

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haja vista a comprovada redução de rubricas nos últimos três orçamentos

apresentados, 2016 a 2018.

No que se refere à escolha do estudo em relação aos processos de compras

diretas em Fundações de Apoio à Ciência e Tecnologia, essa se deu pela

oportunidade de se analisar como está ocorrendo a compra de materiais permanentes

em instituições de direito privado, apesar de sem fins lucrativos, que possuem

prerrogativa legal (Lei nº 8.958/94) de receber e gerenciar recursos públicos. Com

isso, espera-se obter um panorama do resultado do processo de compras diretas no

exercício de 2018 nessas fundações, oportunizando, com isso, uma análise

comparativa entre as instituições e as compras de entes públicos.

Em relação ao período escolhido para coleta dos dados da pesquisa, o

exercício de 2018, busca-se compreender o comportamento das compras diretas na

FATEC no exercício posterior ao período de sucessivas restrições orçamentárias,

ambiente que exige mais do que nunca processos de compras que obtenham o melhor

preço. Além disso, justifica-se o uso do período de 2018 por ser o período com dados

mais atualizados, o que evitará a perda informacional que se pode ter em virtude da

passagem do tempo, mesmo que se utilizem técnicas para tentar contornar fatores

que influenciam diretamente nos preços, como a inflação.

Por fim, justifica-se a realização da presente pesquisa pela oportunidade de

realização de estudos nesta área, de compras públicas, dada a demanda científica de

se acompanhar o processo de gastos públicos dos entes, inclusive as Fundações de

Apoio. De acordo com dados do Portal de Compras do Governo Federal, em 2018

ocorreram 113.644 processos de compra por dispensa de licitação e 24.309

processos de compra por inexigibilidade de licitação. Em conjunto representam

137.953 processos, que em termos de quantidade representam em torno de 72% de

todos os processos de compra no âmbito do Governo Federal. Em termos de valores

absolutos, dispensas e inexigibilidades somam aproximadamente 33,6 bilhões de

reais, aproximadamente 5,6% do valor total de todos os processos de compra naquele

ano. Assim, diante da realidade fática dos dados, considera-se oportuno realizar

estudos no âmbito das Fundações de Apoio à Tecnologia e Ciência, visto que recebem

recursos públicos que devem ser aplicados.

Em relação à estrutura da presente dissertação, apresentam-se cinco capítulos,

quais sejam: Introdução, Referencial Teórico, Metodologia, Resultados e Discussões,

e Conclusão. O presente capítulo apresenta a Introdução, a qual contempla a

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contextualização do problema, os objetivos do estudo e a justificativa para sua

consecução. O capítulo seguinte aborda o Referencial Teórico, onde se encontram as

teorias e legislações que serviram de suporte à análise dos resultados e resolução do

problema. No terceiro capítulo, é apresentada a Metodologia com os procedimentos

necessários para o alcance dos objetivos propostos. Na sequência, apresentam-se e

discutem-se os resultados obtidos, no capítulo denominado Resultados e Discussões.

Por fim, o capítulo de Conclusão apresenta resumidamente a interpretação dos

resultados do estudo, em atendimento aos objetivos e resolução do problema, além

das recomendações para estudos futuros.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo estão abordadas as legislações e teorias que fundamentam a

elaboração desta dissertação de mestrado quanto à execução de seus objetivos e

resolução da problemática da pesquisa. Esta seção do trabalho tem como objetivo

suportar os resultados obtidos, permitindo o embasamento do estudo e a comparação

dos resultados com trabalhos anteriores, contribuindo, assim, para a ciência.

O primeiro tópico deste referencial apresenta a Teoria Econômica dos Bens e

Mercados, bem como suas definições e modelos.

2.1 TEORIA ECONÔMICA DOS BENS E MERCADOS

Neste tópico, apresentam-se aspectos da Teoria Econômica relacionados à

produção de bens, suas classificações, modalidades de demanda e oferta. Também

se traz as definições econômicas da Estrutura de Mercado.

Com esse tópico, embasa-se o conceito de material permanente utilizado no

trabalho, bem como auxilia a explicar o ambiente onde a fundação de apoio objeto

deste estudo e a UFSM estão inseridas, em termos de mercados, e como isso pode

afetar os valores obtidos pelas partes nas aquisições.

2.1.1 Classificação econômica dos bens e fatores de produção

A Teoria econômica conceitua os fatores de produção e os bens obtidos na

mesma, de acordo com as características apresentadas pelos mesmos. De acordo

com Braga e Vasconcellos (2011), os bens podem ser classificados em três

categorias: bens de capital, bens de consumo e bens intermediários.

No que tange à primeira classificação, os bens de capital

[...] são utilizados na fabricação de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo. E o caso, por exemplo, de máquinas, equipamentos e instalações. São usualmente classificados no ativo fixo das empresas, e uma de suas características e contribuir para a melhoria da produtividade da mão de obra (BRAGA, VASCONCELLOS, 2011, p. 12).

Já como Bens de Consumo entendem-se

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[...] aqueles diretamente utilizados para a satisfação das necessidades humanas. Podem ser de uso não durável, ou seja, que desaparecem uma vez utilizados (alimentos, cigarros, gasolina etc.), ou de uso durável, que têm como característica o fato de que podem ser usados por muito tempo (moveis, eletrodomésticos etc.) (NOGAMI, PASSOS, 2016, p. 12).

Há, de acordo com Braga e Vasconcellos (2011), a classificação dos bens em

intermediários e finais. Intermediários são aqueles transformados ou agregados a

produção de outros bens, sendo consumidos totalmente no processo produtivo, como

por exemplo os insumos, as matérias-primas e componentes de produção. Os bens

finais, por sua vez, são aqueles vendidos para consumo ou utilização final. Os bens

de capital, como não são “consumidos” no processo produtivo, são bens finais, e não

intermediários (BRAGA, VASCONCELLOS, 2011).

Em relação à natureza, os Bens Econômicos podem ser classificados em dois

grupos: Bens Materiais, ou bens propriamente ditos, e Bens Imateriais ou Serviços.

Os primeiros são de natureza material, sendo, portanto, tangíveis, podendo-se atribuir

características como peso, altura, medidas etc (NOGAMI, PASSOS, 2016).

Os Serviços, ao contrário, são intangíveis, ou seja, não podem ser tocados. A

principal característica desses bens é que acabam no mesmo momento de sua

produção, o que significa que a prestação de serviços e sua utilização são

praticamente instantâneas (NOGAMI, PASSOS, 2016).

Assim, este tópico apresenta conceitos importantes para a realização do

trabalho, pois apresenta as classificações dos bens de acordo com a teoria

econômica. Neste trabalho, analisaram-se bens tanto da categoria de bens de capital

como da categoria de bens de consumo (de acordo com a classificação econômica

apresentada), mais especificamente na classificação e bens materiais, feita por

Nogami e Passos (2016).

2.1.2 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado

Neste tópico serão abordadas as definições de oferta, demanda e equilíbrio de

mercado, numa perspectiva de explicitar conceitos que se fazem presentes nos

processos de compras públicas e, para tanto, precisam ser considerados.

Primeiramente, de acordo com Vasconcellos e Sakurai (2011, p. 76),

20

o mercado pode ser visto como uma “instituição” na qual ocorre a interação entre compradores (demandantes) e vendedores (ofertantes), ou seja, os agentes interessados em adquirir um produto ou serviço, por um lado, e os agentes dispostos a vender este mesmo produto ou serviço, por outro.

Ainda, conforme Vasconcellos e Sakurai (2011) o mercado não e uma

instituição formal, visto que dois agentes dispostos a realizar uma transação

econômica não necessariamente precisam estar dentro de um estabelecimento formal

para 20inquen-la, ou seja, o mercado não necessariamente possui como padrão a

formalidade, e sim, o interesse de duas partes em atender seus objetivos, uma

demandante e uma ofertante. “Nas sociedades contemporâneas ou mais

desenvolvidas, esta troca ocorre mediante o pagamento de algum montante

monetário, ou seja, através do uso da moeda como meio de troca” (VASCONCELLOS,

SAKURAI, 2011, p. 76).

No que tange à Demanda, ou procura, pode ser definida “como a quantidade

de certo produto ou serviço que os consumidores desejam adquirir em um

determinado período de tempo” (VASCONCELLOS, SAKURAI, 2011, p. 76). Em

particular, a demanda e determinada por uma serie de variáveis que influenciam a

escolha do consumidor, entre as quais se pode destacar o preço do próprio produto

ou serviço, o preço dos outros bens (substitutos ou complementares) a renda ou

salário dos consumidores, o gosto e preferência do consumidor, fatores sazonais,

disponibilidade de crédito, as expectativas sobre preços, rendas ou disponibilidade,

propaganda, localização, dentre outros (NOGAMI, PASSOS, 2016;

VASCONCELLOS, SAKURAI, 2011).

Este conceito de demanda torna-se importante para a análise dos resultados

do trabalho, visto que a demanda que ocorre tanto nas compras da FATEC como nas

compras da UFSM é proveniente das necessidades inerentes da universidade, sejam

os pesquisadores, seja a comunidade acadêmica como um todo. A especificação do

material (via termo de referência) a ser adquirido deve considerar estes fatores.

Em relação ao conceito de Oferta, Montoro Filho (2017, p. 121) afirma que se

entende a mesma como “a quantidade de um bem ou serviço que os produtores

desejam vender por unidade de tempo”. Assim, a oferta do bem depende de seu

próprio preço. “Admitindo a hipótese coeteris paribus, quanto maior for o preço do

bem, mais interessante será produzi-lo e, portanto, a oferta será maior” (MONTORO

FILHO, 2017, p. 122).

21

A oferta de um bem depende dos preços dos fatores de produção, que

conjuntamente à tecnologia empregada determinam os custos empregados na

produção. Havendo aumento do preço do fator, aumentará o custo de produção. Os

bens em cuja produção se empregam grandes quantidades desse fator sofrerão

aumentos de custo significativos, enquanto os que pouco o utilizam sofrerão menos

(MONTORO FILHO, 2017). Além disso, a oferta de um bem pode ser alterada por

mudança nos preços dos demais bens produzidos. “Se os preços dos demais bens

subirem e o preço do bem permanecer inalterado, sua produção tornar-se-á menos

atraente em relação à produção dos outros bens, consequentemente diminuindo sua

oferta” (MONTORO FILHO, 2017, p. 122).

A exemplo da demanda, o conceito de oferta também pode ser considerado

importante na análise dos resultados do presente estudo, visto que, a depender da

especificação dos produtos e da oportunidade em que são adquiridos, o mercado

pode estar mais disposto a produzir e disponibilizar os mesmos se os preços forem

atrativos, em detrimento de outros produtos que não estão sendo considerados

nessas aquisições.

Já o equilíbrio de mercado refere-se ao ponto em que a quantidade que os

consumidores desejam comprar é exatamente igual àquela que os produtores

desejam vender, isto é, existe coincidência de desejos, com aceitação dos preços

propostos. Não existem pressões para alterações nos preços. Nesse ponto, os planos

dos compradores são consistentes com o dos vendedores. Para qualquer preço

superior a esse ponto, a quantidade que os ofertantes desejam vender é maior que

aquela que os consumidores desejam comprar, ou seja, existe excesso de oferta.

Todavia, para qualquer preço inferior ao ponto existirá excesso de demanda,

aumentando pressões para que os preços subam (MONTORO FILHO, 2017).

2.1.3 Estruturas de mercado

A literatura sobre estruturas de mercado pode auxiliar no entendimento sobre

as variações de oferta, demanda, preços e o equilíbrio do mercado. Assim, podem-se

relacionar as seguintes classificações de estruturas de mercado para os setores de

bens e serviços, como modelos: Concorrência perfeita; Monopólio; Concorrência

monopolista; Monopsônio; Monopólio Bilateral; Oligopólio; e Oligopsônio (NOGAMI,

PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

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O Modelo de Concorrência Perfeita e uma situação de mercado na qual o

número de compradores e de vendedores e tão grande que nenhum deles, agindo

individualmente, consegue afetar o preço. Some-se a isso o fato dos produtos de todas

as empresas no mercado serem homogêneos e substitutos perfeitos entre si, o que

impede a existência de preços significativamente diferentes. Existe livre entrada e

saída de empresas que atendam à especificação dos produtos, o que aumenta a

eficiência das empresas, bem como transparência no que se refere a informações

completas sobre o que se oferta (NOGAMI, PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

Em relação ao modelo de Monopólio, caracteriza-se como a situação de

mercado em que uma única empresa vende um produto que não tenha substitutos

próximos. Desta maneira, existem evidentes barreiras à entrada de novas empresas

neste cenário. Por consequência, existe concorrência entre os consumidores e a

empresa possui liberdade para aplicar preços que maximizem suas receitas

(NOGAMI, PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

Já no que tange à Concorrência Monopolista, existem muitas empresas no

mercado vendendo produtos diferenciados que sejam substitutos próximos entre si.

Também, existe um grande número de compradores e de vendedores; cada empresa

produz e vende um produto diferenciado, embora substituto próximo, e a entrada e

saída de empresas é relativamente livre, o que impede o estabelecimento de preços

à revelia por uma das empresas, objetivando o máximo lucro (NOGAMI, PASSOS,

2016; TROSTER, 2017).

O modelo de Monopsônio, por sua vez, caracteriza-se pela existência de muitos

vendedores e um único comprador, ocorrendo especialmente no mercado de trabalho.

Como a oferta é ampla a apenas um comprador, o mesmo detém o poder de angariar

melhores preços e condições para os serviços e produtos, ou seja, está com o mesmo

o poder de estabelecer as condições (NOGAMI, PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

No modelo de monopólio bilateral, encontram-se um monopolista e um

monopsonista. É o modelo onde se exige negociação, visto que o monopolista deseja

vender dada quantidade de produto por um preço e o monopsonista deseja obter a

mesma quantidade por um preço diferente daquele pretendido pelo monopolista. A

negociação se dá no entendimento das quantidades e dos preços a serem praticados;

respectivamente, o monopsonista tentando pagar o preço mais baixo, por ser o único

comprador, e o monopolista querendo vender por um preço mais elevado, tentando

usar a força de ser o único vendedor (NOGAMI, PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

23

No que se refere ao modelo de Oligopólio, um pequeno número de empresas

domina o mercado, controlando a oferta de um produto, que pode ser homogêneo ou

diferenciado. Existe dificuldades para entrada de novas empresas, pela especificidade

dos produtos e pela consolidação das existentes. Desta forma, há interdependência

econômica, pois se todos os produtores são importantes, ou possuem uma faixa

significativa do mercado, as decisões sobre o preço e a produção de equilíbrio são

interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi no comportamento

econômico dos outros vendedores (NOGAMI, PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

Por fim, no modelo de Oligopsônio o mercado existente possui poucos

compradores, os quais dominam o mercado e possuem o poder de barganhar preços

mais baixos, e muitos vendedores. A entrada de novas empresas ocorre à medida que

se adequam às exigências dos compradores em relação à qualificação dos produtos

e nível de preços (NOGAMI, PASSOS, 2016; TROSTER, 2017).

A seguir, apresenta-se um resumo das estruturas de mercado, no Quadro 1.

Quadro 1 – Resumo das estruturas de mercado

Estrutura Número de vendedores

Número de compradores

Diferenciação dos produtos

Influência dos compradores sobre preços

Concorrência perfeita

Muitos Muitos Homogêneos e substitutos perfeitos

Alta

Monopólio Um único Muitos Homogêneos e sem substitutos perfeitos

Baixa ou nenhuma

Concorrência Monopolista

Muitos Muitos Heterogêneos, porém substitutos próximos

entre si

Alta

Monopsônio Muitos Um único Homogêneo e sem substituo perfeito

Alta

Monopólio Bilateral

Um único Um único Homogêneo e sem substituto perfeito

Os preços são negociados

conjuntamente

Oligopólio Poucos Muitos Homogêneos ou Heterogêneos

Baixa

Oligopsônio Muitos Poucos Homogêneos ou Heterogêneos

Alta

Fonte: Elaborado pelo autor com base na teoria apresentada.

Esta parte da teoria econômica é fundamental na análise e compreensão dos

resultados a serem apresentados nesse estudo, pois dependendo da estrutura de

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mercado em que ocorrem as aquisições públicas, os preços podem sofrer mudanças

significativas, sem que o órgão público ou a fundação possam interferir no

estabelecimento dos mesmos.

Na próxima seção, apresentam-se particularidades das compras realizadas

pelo setor público, no que tange à legislação brasileira que embasa os processos de

compras e contratações públicas, quanto à observância orçamentária e legalidade.

2.2 ASPECTOS ORÇAMENTÁRIOS E LEGALIDADE DAS CONTAS PÚBLICAS

Este tópico apresenta aspectos de observância obrigatória nas contratações e

compras públicas, o que, por consequência, auxilia na interpretação dos resultados

apresentados neste trabalho.

Assim, ao tratar-se de responsabilidade fiscal e controle sobre as contas

públicas é imprescindível que se apresentem algumas particularidades do setor

público. O controle público está alicerçado em Princípios Constitucionais de

Administração Pública, que visam trazer clareza e segurança, tanto a gestores como

à sociedade, no que se refere a gestão pública. Observa-se na Constituição Federal

de 1988, Art. 37, o texto que segue: “Art. 37. A administração pública direta e indireta

de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência [...]”.

Percebe-se que todos os princípios estipulados na carta magna são de

observância obrigatória pela gestão pública, o que reflete nos ordenamentos jurídicos

que tratam do orçamento público. A Lei 4.320/1964 traz em seu Art. 2º o ordenamento

do que gera legitimidade à Administração Pública para exercer os devidos e restritos

atributos constitucionais: “Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da

receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa

de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade universalidade e

anualidade”.

Observa-se neste instrumento legal a necessidade de Lei Orçamentária que

discrimine as origens previstas dos recursos a serem utilizados pelos gestores

públicos em suas ações, para que esta mesma lei autorize os mesmos a aplicar, e

onde, estes recursos obtidos pelo Órgão público. Em termos práticos, a esta Lei é que

comumente denomina-se de Orçamento Governamental, elaborada pelo executivo e

25

discutida e aprovada pelo legislativo, e é a partir dela que se estabelecem os

parâmetros a serem observados pelos gestores em seus atos, bem como pelos

órgãos de controle, tanto internos da gestão como externos na figura de Assembleias

Legislativas, Câmaras de Vereadores, Tribunais de Contas (representantes da

sociedade), bem como qualquer cidadão que observar ilegalidades.

Neste sentido, atendendo aos regramentos da Constituição Federal de 1988,

tem-se no Art. 35 da Lei 4.320/1964 a materialização e consolidação das exigências

legais para garantir a legalidade dos atos da administração pública no que se refere

aos aspectos orçamentários: “Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: I as receitas

nele arrecadadas; II as despesas nele legalmente empenhadas”. Assim, depreende-

se que para serem consideradas dentro dos limites da legalidade as receitas precisam

ser arrecadadas e as despesas empenhadas. No que tange as receitas, há que se ter

uma previsão, de acordo com o que estabelece o Art. 165, § 8º da Constituição Federal

de 1988 e no Art. 11 da Lei 101/2000, onde se lê, respectivamente:

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: [...] § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação.

Já para as despesas públicas, tem-se o estabelecido no Art. 58 da Lei

4.320/1964 em que se lê: “Art. 58. O empenho de despesa e o ato emanado de

autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou

não de implemento de condição”. Complementando o sentido da legalidade das

despesas executadas pelos Órgãos públicos, reza o Art. 59 da Lei 4.320/1964 que “O

empenho da despesa não poderá exceder o limite dos creditos concedidos”, ou seja,

veda-se qualquer emissão de empenho sem crédito orçamentário ou adicional

aprovado pelo legislativo, consagrando, assim, o estabelecido no Art. 35 da Lei

4.320/1964.

Assim, ao se levantar o ordenamento legal no que tange à legalidade e aos

aspectos orçamentários, percebe-se uma completa e indissociável harmonia de

termos, os quais proporcionam aos interessados, sejam gestores, órgãos de controle

ou sociedade, os fundamentos de análise, cobrança e opinião sobre as contas dos

26

Órgãos públicos. Entende-se, por consequência, que tanto a UFSM quanto a FATEC

precisam observar os limites estabelecidos para os gastos, bem como o processo

legal que antecede às aquisições.

No tópico seguinte, apresentam-se os fundamentos da responsabilidade na

gestão fiscal, aplicável aos entes públicos.

2.3 RESPONSABILIDADE NA GESTÃO FISCAL

O termo “responsabilidade na gestão fiscal” traz significados e conceitos que

são basilares para a efetiva gestão pública e para o acompanhamento dos atos dos

que se encontram no exercício de qualquer função pública e/ou controlem recursos

da sociedade. Observando-se o previsto no texto da Lei Complementar 101/2000,

denominada como Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu Art. 1º, § 1º, tem-se:

A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar.

Deste artigo, torna-se importante ressaltar alguns termos, quais sejam, ação

planejada e transparente, prevenir riscos e corrigir desvios, afetação do equilíbrio das

contas públicas. Visualiza-se o objeto (contas públicas), o risco (afetação do equilíbrio)

e o meio mitigador (ação planejada e transparente). Por conseguinte, ao falar-se de

responsabilidade na gestão fiscal têm-se como escopo, em verdade, a efetiva

responsabilização de agentes públicos, ou seja, imputar responsabilidade a quem de

direito, naquilo que couber a sua alçada de atribuições, por atos cometidos,

negligenciados ou omitidos.

A Norma Brasileira de Contabilidade Técnica do Setor Público – NBC TSP EC,

publicada em setembro de 2016 com efeitos a parti de 1º de janeiro de 2017, reforçou

a importância da responsabilidade fiscal no setor público, demonstrando a

preocupação do Conselho Federal de Contabilidade para com o assunto. Ao se ler o

texto do Item 9 da referida Norma, temos que:

27

Devido à importância do orçamento público aprovado, as informações que possibilitam aos usuários compararem a execução orçamentária com o orçamento previsto facilitam a análise quanto ao desempenho das entidades do setor público. Tais informações instrumentalizam a prestação de contas e a responsabilização (accountability) e fornecem subsídios para o processo decisório relativo aos orçamentos dos exercícios subsequentes. A elaboração de demonstrativo que apresenta e compara a execução do orçamento com o orçamento previsto é o mecanismo normalmente utilizado para demonstrar a conformidade com os requisitos legais relativos às finanças públicas.

Neste item, depara-se com a importância do orçamento público ao tratar da

comparabilidade de informações pelos usuários no que tange a execução

orçamentária que, de acordo com o texto do Item 9 da referida Norma, instrumentam

a prestação de contas e a responsabilização (accountability), nos legítimos requisitos

legais. Observa-se, assim, um indissociável tripé formado por legalidade – orçamento

público – responsabilização, o qual acompanha os gestores públicos em qualquer de

seus atos.

Ao estudar-se o Art. 5º da Lei nº 101/2000 encontra-se consagrada a relação

da legalidade com o orçamento e com a responsabilização:

O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma compatível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as normas desta Lei Complementar: I conterá, em anexo, demonstrativo da compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e metas constantes do documento de que trata o § 1º do art. 4º; II será acompanhado do documento a que se refere o § 6º do art. 165 da Constituição, bem como das medidas de compensação a renúncias de receita e ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; III conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, destinada ao: a) (VETADO) b) atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos.

Ainda no intuito da accountability, a NBC TSP EC trouxe o seguinte texto em

seu Item 2.8:

Governos e outras entidades do setor público devem prestar contas àqueles que proveem os seus recursos, bem como àqueles que dependam deles para que os serviços sejam prestados durante determinado exercício ou em longo prazo. O atendimento das obrigações relacionadas à prestação de contas e responsabilização (accountability) requer o fornecimento de informações sobre a gestão dos recursos da entidade confiados com a finalidade de prestação de serviços aos cidadãos e aos outros indivíduos, bem como a sua adequação à legislação, regulamentação ou outra norma que disponha sobre a prestação dos serviços e outras operações. Em razão da maneira pela qual

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os serviços prestados pelas entidades do setor público são financiados (principalmente pela tributação e outras transações sem contraprestação) e da dependência dos usuários dos serviços no longo prazo, o atendimento das obrigações relacionadas à prestação de contas e responsabilização (accountability) requer também o fornecimento de informação sobre o desempenho da prestação dos serviços durante o exercício e a capacidade de continuidade dos mesmos em exercícios futuros.

Este item é aplicável ao objeto deste estudo, visto que as fundações de apoio

realizam compras com recursos públicos, logo, de acordo com a Lei de

Responsabilidade Fiscal e a NBC TSP EC, deve-se prestar contas dos recursos

públicos utilizados em suas atividades.

Com todos os instrumentos normativos e legais apresentados é possível se

depreender a relevância da Responsabilidade Fiscal no setor público. No entanto, nas

passagens apresentadas, observam-se termos como “usuários”, “prestação de

contas”, “responsabilização”, sem, contudo, se atentar a quem são estes usuários, a

quem que se deve prestar contas e quem efetivamente sofrerá responsabilização. A

responsabilidade na gestão fiscal deveria ter como objetivo maior proporcionar à

sociedade ferramentas de efetivo controle dos recursos que dela partem e a ela

deveriam trazer retorno ao atenderem a seus anseios e necessidades. Mas o que a

legislação traz são termos técnicos, que podem ser de difícil compreensão à

sociedade.

2.4 COMPRAS PÚBLICAS: CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAIS, LICITAÇÃO E COMPRAS DIRETAS

Neste tópico serão apresentadas as legislações referentes às compras

públicas, no que tange às licitações e compras diretas. Da mesma forma, se apresenta

a classificação dos materiais adquiridos no setor público, como se observa a seguir.

De acordo com o Art. 2º da Portaria nº 448/2002 da Secretaria do Tesouro

Nacional, existem duas classificações de material, quais sejam, material de consumo

e material permanente:

I – Material de Consumo, aquele que, em razão de seu uso corrente e da definição da Lei n. 4.320/64, perde normalmente sua identidade física e/ou tem sua utilização limitada a dois anos; II – Material Permanente, aquele que, em razão de seu uso corrente, não perde a sua identidade física, e/ou tem uma durabilidade superior a dois anos. Art. 3º - Na classificação da despesa serão adotados os seguintes parâmetros excludentes, tomados em conjunto, para a identificação do material permanente:

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I – Durabilidade, quando o material em uso normal perde ou tem reduzidas as suas condições de funcionamento, no prazo máximo de dois anos; II – Fragilidade, cuja estrutura esteja sujeita a modificação, por ser quebradiço ou deformável, caracterizando-se pela irrecuperabilidade e/ou perda de sua identidade; III – Perecibilidade, quando sujeito a modificações (químicas ou físicas) ou que se deteriora ou perde sua característica normal de uso; IV – Incorporabilidade, quando destinado à incorporação a outro bem, não podendo ser retirado sem prejuízo das características do principal; e V – Transformabilidade, quando adquirido para fim de transformação.

No presente estudo, serão objetos de estudo os materiais classificados como

permanentes, nas aquisições realizadas pela FATEC e pela UFSM. Assim, este

conceito pode ser considerado importante para a compreensão dos resultados e da

metodologia do presente trabalho.

No que tange a licitações e contratos da Administração Pública, a Lei nº

8.666/1993 instituiu normas para todos os âmbitos de governo, seja federal, estadual

ou municipal. Da mesma maneira, estendeu essa normatização a todos os entes da

administração indireta que recebem recursos públicos, inclusive entes de direito

privado, como Fundações, no que tange à aplicação dos recursos públicos.

Em seu Art. 2º, a Lei nº 8.666/1993 estabeleceu a obrigatoriedade de que

obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões,

permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros,

são necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as exceções trazidas pela

própria lei. Esta imposição é explicada em seu Art. 3º da seguinte forma:

Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

Desta forma, a Lei nº 8.666/1993 tem o ínterim de aplicar às contratações

públicas o regramento constitucional de igualdade de oportunidade, da isonomia, além

de proporcionar aos entes públicos, que em última instância representam a sociedade

como um todo, a melhor compra possível, ou seja, a compra de melhor qualidade ao

menor preço possível. Além disso, reza a Lei nº 8.666/1993 os princípios básicos de

administração pública aplicáveis às contratações, para que se tenha a legalidade na

consecução das mesmas.

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Entende-se que este dispositivo legal se aplica a análise dos resultados desta

dissertação porque estabelece os requisitos a serem observados pelos entes que

detém recursos públicos, principalmente no que tange à isonomia e igualdade de

oportunidade, para que se obtenha o produto especificado pelo preço mais acessível.

São modalidades de licitação pública, de acordo com o Art. 22 da Lei nº

8.666/1993, a concorrência, a tomada de preços, o convite, o concurso e o leilão.

Assim,

1o Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto. § 2o Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a necessária qualificação. § 3o Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas. § 4o Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. § 5o Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação. (ART. 22, LEI Nº 8.666/93)

Além dessas modalidades, a Lei nº 10.520/2002 institui a modalidade licitatória

do Pregão, para aquisição de bens e serviços comuns. De acordo com o parágrafo

único do Art. 1º da Lei, consideram-se bens e serviços comuns, para os fins e efeitos

deste artigo, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser

objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado.

Já o Decreto nº 5.450/2005 regulamentou o Pregão eletrônico, que se trata da

modalidade licitatória do tipo menor preço e realizar-se-á quando a disputa pelo

fornecimento de bens ou serviços comuns for feita à distância em sessão pública, por

meio de sistema que promova a comunicação pela internet (ART. 2º, DECRETO Nº

5.450/2005).

31

Por se tratar de bens comuns, como definido na Lei nº 10.520/2002, este

dispositivo se torna importante na análise dos resultados, visto que os materiais

permanentes adquiridos se enquadram nessa definição, em sua maioria.

Quanto ao uso de cada uma das modalidades licitatórias, a Lei nº 8.666/93

trazia o seguinte texto em seus Art. 23, incisos I e II até junho de 2018:

Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação: I – para obras e serviços de engenharia: a) convite – até R$ 150.000,00 (cento e 31inquenta mil reais); b) tomada de preços – até R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); II – para compras e serviços não referidos no inciso anterior: a) convite – até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); b) tomada de preços – até R$ 650.000,00 (seiscentos e 31inquenta mil reais); c) concorrência – acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e 31inquenta mil

reais).

Torna-se oportuno apresentar a mudança introduzida pelo Decreto nº

9.412/2018, que atualizou os valores das modalidades licitatórias, alterando o texto

do Art. 23 da Lei nº 8.666/1993, que a partir de 18 de julho de 2018 vigora com o

seguinte texto:

Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação: I – para obras e serviços de engenharia: a) na modalidade convite – até R$ 330.000,00 (trezentos e trinta mil reais); b) na modalidade tomada de preços – até R$ 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais); e c) na modalidade concorrência – acima de R$ 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais); e II – para compras e serviços não incluídos no inciso I: a) na modalidade convite – até R$ 176.000,00 (cento e setenta e seis mil reais); b) na modalidade tomada de preços – até R$ 1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e trinta mil reais); e c) na modalidade concorrência – acima de R$ 1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e trinta mil reais).

Estas mudanças apresentadas são relevantes a medida que podem influenciar

na escolha do gestor público entre uma ou outra modalidade. Além disso, a alteração

do Art. 23 da Lei nº 8.666/1993 causa reflexos imediatos sobre outros dispositivos

legais, como por exemplo os limites para dispensabilidade de licitação, o que pode

32

interferir na maneira como se dão as compras, por exemplo, dos materiais de natureza

permanente.

Da mesma forma que a legislação estipulou as modalidades dos processos de

licitação a serem adotados pelos entes públicos, estabeleceu a possibilidade da

dispensa de licitação ou de sua inexigibilidade, processo que se denomina de compra

direta. O Art. 24 da Lei nº 8.666/1993 apresenta as ocasiões em que se permite a

dispensa de licitação. Apresentam-se, a seguir, os incisos do referido artigo que

afetam diretamente as compras públicas de materiais classificados como

permanentes ou de consumo:

Art. 24. É dispensável a licitação: [...] II – para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; [...] XXI – para a aquisição ou contratação de produto para pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e serviços de engenharia, a 20% (vinte por cento) do valor de que trata a alínea “b” do inciso I do caput do art. 23; [...]

Na análise dos resultados do trabalho, será fundamental creditar os possíveis

efeitos do inciso XXI do Art. 24 da Lei nº 8.666/1993, visto que a observação do

mesmo permite interpretar que qualquer produto adquirido com a finalidade de

“pesquisa” está sujeito a aquisição via dispensa de licitação, bastando a comprovação

de sua utilização efetiva em tal condição (de pesquisa).

No que tange à inexigibilidade de licitação, o Art. 25 da Lei nº 8.666/1993 traz

o seguinte texto legal:

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial: I – para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes; II – para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

33

III – para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.

Este artigo, portanto, está em consonância à previsão da condição de mercado

de Monopólio, apresentado na seção 2.1 do presente referencial teórico, onde há

somente um fornecedor, que detém exclusividade sobre a comercialização do item.

O Quadro 2 resume as modalidades licitatórias e a legislação que as instituiu e

rege.

Quadro 2 – Modalidades licitatórias e legislação de base

(continua)

Legislação Objetivo Observação

Lei nº 8.666/1993 (Lei das Licitações)

Institui as normas para licitações e contratos da Administração

Pública, normatizando as compras públicas

Institui em seu Art. 22, como modalidades de licitação a concorrência, a tomada de preços, o convite, o concurso e o leilão

Decreto nº 3.555/2000

Aprova o Regulamento para a modalidade de licitação

denominada pregão, para aquisição de bens e serviços

comuns.

A modalidade pregão veio somar aos demais princípios constitucionais (legalidade, finalidade, isonomia,

moralidade administrativa e publicidade), o principio da celeridade, haja vista a

significativa redução de prazos de publicação e recursais decorrentes dessa

modalidade.

Decreto nº 3.931/2001

Regulamenta o Sistema de Registro de Preços previsto no

art. 15 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e dá outras

providências.

O Sistema de Registro de Preços (SRP) é um procedimento que permite que nas

modalidades pregão e concorrência todo o processo licitatório seja feito e registrado, e

por um prazo máximo de um ano, seja possível celebrar o contrato quando for mais conveniente para a administração

pública, valendo-se dos preços registrados em Ata de Registro de Preços

Lei n° 10.520/2002

Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição

Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para

aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras

providências.

Instituiu o pregão como modalidade licitatória para aquisição de bens e serviços

comuns, ou seja, “aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edital, por

meio de especificações usuais no

mercado”

34

(conclusão)

Decreto nº 5.450/2005

Regulamenta o pregão, na forma eletrônica, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá

outras providências.

É regulamentado o pregão em sua forma eletrônica como modalidade de licitação do tipo menor preço, que se realiza quando a

sessão pública, etapa na qual ocorre a disputa pelo fornecimento do bem ou

serviço, for feita à distância, por meio de sistema que promova a comunicação pela

Internet

Decreto nº 5.504/2005

Estabelece a exigência de utilização do pregão,

preferencialmente na forma eletrônica, para entes públicos ou

privados, nas contratações de bens e serviços comuns,

realizadas em decorrência de transferências voluntárias de recursos públicos da União, decorrentes de convênios ou instrumentos congêneres, ou

consórcios públicos.

A forma eletrônica torna-se modalidade preferencial para entes públicos ou

privados nas contratações

Fonte: Adaptado de Araujo e Jesus (2018).

Destarte, a legislação sobre contratação pública apresenta os requisitos para

realização de compras e contratação de serviços, sendo de observância obrigatória

por todos os entes públicos. Na seção seguinte, apresentar-se-á a legislação que trata

sobre a contratação realizada por Fundações de Apoio à Ciência e Tecnologia.

2.5 FUNDAÇÕES DE APOIO À TECNOLOGIA E CIÊNCIA: ESPECIFICIDADES

As Fundações de Apoio à Tecnologia e Ciência são entes de direito privado,

criadas com o objetivo de apoiar Instituições de Ensino Superior – IES e as demais

Instituições Científicas e Tecnológicas – ICTs na gestão administrativa e financeira

necessária à execução de projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento

institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação dessas instituições (LEI Nº

8.958/1994, ART. 1º).

Neste sentido, as fundações recebem recursos públicos para serem aplicados

no desenvolvimento de projetos, seja para a aquisição de materiais ou para a

contratação de serviços. Assim, submetem-se aos regramentos legais impostos aos

entes públicos, como a Lei 8.666/1993 e aos princípios constitucionais da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, além de serem fiscalizadas pelo

35

Ministério Público Federal. Além disso, possuem legislação própria a ser observada,

dentre as quais se destacam a Lei nº 8.958/1994 e o Decreto nº 8.241/2014.

A Lei nº 8.958/1994 dispõe sobre as relações entre as instituições federais de

ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio. O Art.

3º desta Lei apresenta a obrigatoriedade de regulamento específico para aquisições:

Art. 3o Na execução de convênios, contratos, acordos e demais ajustes abrangidos por esta Lei que envolvam recursos provenientes do poder público, as fundações de apoio adotarão regulamento específico de aquisições e contratações de obras e serviços, a ser editado por meio de ato do Poder Executivo de cada nível de governo.

No que tange a prestação de contas das fundações de apoio, o Art. 3ª-A da Lei

nº 8.958/1994 estipula a obrigatoriedade de prestação de contas e a submissão a

controles de gestão da instituição de ensino e do órgão de controle governamental:

Art. 3o-A. Na execução de convênios, contratos, acordos e demais ajustes na forma desta Lei, as fundações de apoio deverão: I – prestar contas dos recursos aplicados aos entes financiadores; II – submeter-se ao controle de gestão pelo órgão máximo da Instituição Federal de Ensino ou similar da entidade contratante; e III – submeter-se ao controle finalístico pelo órgão de controle governamental competente.

Da mesma forma como a legislação obriga os entes públicos a prestar contas

e apresentar de forma transparente os seus atos, as fundações de apoio possuem

essa mesma obrigatoriedade reconhecida no Art. 4º-A da Lei nº 8.958/1994:

Art. 4o-A. Serão divulgados, na íntegra, em sítio mantido pela fundação de apoio na rede mundial de computadores – internet: I – os instrumentos contratuais de que trata esta Lei, firmados e mantidos pela fundação de apoio com as IFES e demais ICTs, bem como com a FINEP, o CNPq e as Agências Financeiras Oficiais de Fomento; II – os relatórios semestrais de execução dos contratos de que trata o inciso I, indicando os valores executados, as atividades, as obras e os serviços realizados, discriminados por projeto, unidade acadêmica ou pesquisa beneficiária; III – a relação dos pagamentos efetuados a servidores ou agentes públicos de qualquer natureza em decorrência dos contratos de que trata o inciso I; IV – a relação dos pagamentos de qualquer natureza efetuados a pessoas físicas e jurídicas em decorrência dos contratos de que trata o inciso I; e V – as prestações de contas dos instrumentos contratuais de que trata esta Lei, firmados e mantidos pela fundação de apoio com as IFES e demais ICTs, bem como com a FINEP, o CNPq e as Agências Financeiras Oficiais de

Fomento.

36

Ou seja, todas as informações referentes à execução financeira e

administrativa dos contratos devem ser divulgadas em sua totalidade, sem restrições.

Este dispositivo está em consonância com o Art. 16 da Lei nº 8.666/1993, que trata

sobre a publicidade mensal da relação de todas as compras feitas pela Administração

Direta ou Indireta, de maneira a clarificar a identificação do bem comprado, seu preço

unitário, a quantidade adquirida, o nome do vendedor e o valor total da operação,

podendo ser aglutinadas por itens as compras feitas com dispensa e inexigibilidade

de licitação.

Quanto ao Decreto nº 8.241/2014, dispõe sobre a aquisição de bens e a

contratação de obras e serviços pelas fundações de apoio. Este Decreto

regulamentou o Art. 3º da Lei nº 8.958/1994, que faz a exigência de regulamento

específico para as fundações de apoio realizarem contratações públicas. Assim, o Art.

3º do Decreto nº 8.241/2014 traz que:

Todo procedimento de seleção e de contratação regido por este Decreto ficará documentado em processo físico ou eletrônico e será de livre acesso ao público, em especial aos órgãos de controle e à IFES ou demais ICT a que estiver prestando apoio, pelo prazo mínimo de cinco anos. Parágrafo único. Cabe à fundação de apoio definir, em conformidade com suas normas internas, os órgãos, comissões, colegiados ou pessoas que ficarão responsáveis pelo cumprimento das funções necessárias à realização das contratações, exceto nas hipóteses específicas previstas neste Decreto.

Assim, observa-se que se reforça a necessidade de documentação e guarda

de todo o processo de contratação das fundações de apoio, seja para fiscalização dos

órgãos de controle ou para a sociedade como um todo. Já no que tange ao processo

de contratação por parte das fundações de apoio, o Decreto nº 8.241/2014

estabeleceu alguns trâmites a serem observados, dentre os quais se destaca a

pesquisa de mercado prévia à contratação, em seu Art. 4º, inciso I, no que tange a

bens e serviços:

Art. 4º As contratações devem ser precedidas de pesquisa de mercado que estabelecerá valores de referência aferidos da seguinte forma: I – para bens e serviços, por pesquisas: a) em catálogos de fornecedores e publicações especializadas nacionais e internacionais; b) em sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que contenham a data e hora de acesso; c) sobre preços praticados por órgãos e entidades públicas; ou d) direta junto a fornecedores, entre outros meios confiáveis; [...]

37

A despeito do restante da legislação apresentada, o Art. 4º do Decreto nº

8.241/2014 deixa claro que as compras realizadas pelas fundações de apoio não

podem possuir valor significativamente diferentes dos valores de mercados ou dos

valores de aquisições de entes públicos, sem deixar de considerar os custos de

transação envolvidos, pois a exigência de pesquisa prévia para estabelecimento de

valores, em tese, deveria evitar essas divergências. Isso posto, esse artigo pode ser

considerado fundamental na interpretação dos resultados deste trabalho, no que

tange a eventuais diferenças que possam se apresentar.

Em relação ao instrumento convocatório da seleção pública de fornecedores, o

Art. 5º do Decreto nº 8.241/2014 estipula que conterá, no mínimo, a definição do

objeto da seleção, as exigências de habilitação, os critérios de julgamento das

propostas, as obrigações das partes, o prazo de execução ou de fornecimento do

objeto e as consequências do inadimplemento contratual. Além disso, o parágrafo 1º

estipula que o instrumento de contrato terá forma simplificada e poderá ser

dispensado quando seu valor for inferior a cem mil reais ou, independentemente de

seu valor, nos casos de compra com entrega imediata e integral dos bens, dos quais

não resultem obrigações futuras.

Ainda em relação às pesquisas prévias ao instrumento convocatório, o Art. 32

do Decreto nº 8.241/2014 estipula que “As fundações de apoio poderão se valer de

eventuais catálogos eletrônicos de produtos para pesquisa e desenvolvimento e de

sistemas de credenciamento de fornecedores disponibilizados pelo Poder Executivo

federal”. Com isso, as fundações ficam autorizadas a se utilizar de catálogos

eletrônicos do Poder Executivo Federal para esta fase obrigatória prévia ao processo

de seleção. Já no que tange à forma como se deva realizar a seleção, o Art. 33 do

Decreto nº 8.241/2014 estabelece que “Os procedimentos de seleção de que trata

este Decreto deverão ocorrer, preferencialmente, na forma eletrônica, por meio da

utilização de recursos de tecnologia da informação e da comunicação”, e o parágrafo

único do mesmo artigo exige a justificativa nos autos da adoção de forma diversa do

que a eletrônica.

No que tange às contratações diretas pelas Fundações de Apoio à Tecnologia

e Ciência, o Art. 26 do Decreto nº 8.241/2014 apresenta as situações nas quais esta

modalidade de compra poderá ser adotada:

Art. 26. A contratação direta será admitida nas seguintes hipóteses:

38

[...] II – para outros serviços e compras em valor inferior a R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço ou compra de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; III – para a contratação de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a administração pública, ou ainda por empresa concessionária de serviço público, desde que o preço seja compatível com o praticado no mercado; IV – para a contratação de microempresas e empresas de pequeno porte de base tecnológica criadas no ambiente das atividades de pesquisa das IFES e demais ICT, desde que o preço seja compatível com o praticado no mercado; V – para importação de bens, estritamente relacionados aos projetos de pesquisa, de desenvolvimento científico, tecnológico e estímulo à inovação, até o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), justificada tecnicamente pelo coordenador do projeto a sua preferência quando houver similar nacional; e VI – em todas as hipóteses legais de contratação direta por dispensa ou inexigibilidade de licitação aplicáveis à administração pública federal.

Da observação do texto legal apresentado é possível depreender que a compra

direta poderá ocorrer nos processos em que o valor total seja inferior a quarenta mil

reais, ou de órgãos ou entidades públicas ou concessionárias de serviço público com

preços compatíveis de mercado, importações relacionadas aos projetos de pesquisa

com valor limitado a duzentos e cinquenta mil reais. Porém, o Decreto nº 8.241/2014

não limitou as compras diretas a estas ocasiões, pelo contrário, estendeu a

oportunidade das fundações de apoio se valerem de todas as possibilidades de

compras diretas trazidas pela Lei nº 8.666/1993 em seus artigos 24 e 25, nos casos

de dispensabilidade e inexigibilidade.

Assim, percebe-se que praticamente todas as compras realizadas pelas

fundações de apoio possuem amparo legal para serem realizadas via dispensa de

licitação, porque, em tese, são realizadas para a efetivação de pesquisas, como prevê

o Art. 24 da Lei nº 8.666/1993, ou se enquadram nos valores e condições estipuladas

no Art. 26 do Decreto nº 8.241/2014, o que torna a observação desse instrumento

compulsória na interpretação dos resultados do presente estudo, no que tange aos

valores apresentados nas compras da FATEC serem provenientes de dispensa de

licitação, enquanto que os da UFSM não possuírem, em sua maioria, essa

característica.

Ainda no que se refere às compras diretas, o Art. 27 do Decreto nº 8.241/2014

traz que “Nas contratações diretas, as razões técnicas da escolha do fornecedor e a

justificativa do preço serão devidamente registradas nos autos do processo pelos

responsáveis definidos na forma do parágrafo único do art. 3º e serão aprovadas pela

39

autoridade máxima da fundação de apoio”. Além disso, o Art. 31 do Decreto nº

8.241/2014 apresenta figura do Cartão Projeto:

Fica instituído o Cartão Projeto, cartão bancário vinculado a cada projeto apoiado pela fundação de apoio, de responsabilidade do pesquisador, destinado à contratação de bens e de serviços relacionados aos projetos de pesquisa, de desenvolvimento científico, tecnológico e estímulo à inovação, limitado ao valor total de até R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por projeto.

Ou seja, há a possibilidade do próprio pesquisador realizar a contratação de

bens e serviços relacionados ao projeto, desde que o valor não supere vinte mil reais.

2.6 COMPRAS NO SETOR PRIVADO: DISCRICIONARIEDADE

Esta seção tem o intuito de trazer as características das compras realizadas

por organizações privadas, de direito privado, e que não seguem a legislação aplicada

ao setor público e entes que recebem recursos públicos. Este setor possui custos de

transação próprios, diferentes dos custos de transação dos entes públicos.

Para caracterização do processo de compras no setor privado, Costa, Mário e

Moura (2015) realizaram estudo de abordagem qualitativa com fins exploratórios em

uma indústria. Os resultados apontaram que as seguintes variáveis são utilizadas no

processo de decisão de compras da organização: organização de compras, tempo

(prazo de entrega), fonte de suprimentos, preço, assistência técnica e treinamento,

especificações de compra, qualidade, quantidade, timing, tipo de produto a ser

comprado, validade dos produtos, nível de estoque, negociação de compras,

restrições financeiras, frete e prazo de pagamento.

Já Mondini et al. (2015) afirmam que o planejamento estratégico de compras

pode ser definido como um processo de avaliação, implementação e controle de

importantes decisões de abastecimento usadas para cumprir os planos e metas de

longo prazo de uma empresa. Neste sentido, os autores realizaram estudo do

planejamento de compras no desempenho financeiro da indústria de transformação

brasileira. Como resultados, apontaram os seguintes impactos: do Planejamento de

Compras sobre o Sistema de Avaliação de Fornecedores e sobre o Relacionamento

Comprador-Fornecedor; do Sistema de Avaliação de Fornecedores sobre o

Relacionamento Comprador-Fornecedor; e, Relacionamento Comprador-Fornecedor

40

sobre o Desempenho Financeiro percebido. Não foi encontrada significância entre o

planejamento de compras e o desempenho financeiro.

Observa-se, a partir dos estudos apresentados nessa seção, que o setor

privado possui maior discricionariedade para realização de compras. Em verdade, o

planejamento de compras é realizado para atender às demandas da empresa, quando

e como for mais conveniente à mesma, seja para compras em larga escala, com o

intuito de obter melhores preços, seja por questões de qualidade, dentre outras. Ou

seja, o setor privado pode realizar suas compras quando desejar, dentro dos limites

do que a lei não proíba.

Quando se observa o processo de compras pelo viés público, os gestores

obrigatoriamente devem observar todos os preceitos legais, que via de regra deveriam

levar à compra mais vantajosa. Por vezes, no entanto, esse processo torna-se mais

“burocrático” (que não significa ser menos eficiente), por vezes mais lento do que as

necessidades reais do setor público. Outro fato é a questão dos prazos contratuais,

dos recursos orçamentários vinculados a determinados tipos de compras. Ou seja, a

discricionariedade é reduzida.

Quanto às fundações de apoio, as mesmas seguem a legislação referente a

compras, porém, com prazos menores para as fases licitatórias (quando elas

ocorrem). As demandas de compras partem sempre das necessidades dos

pesquisadores, o que interfere no planejamento de compras daquelas instituições.

Desta maneira, o processo de compra direta do setor público é o que gera,

dentro dos limites legais impostos, a maior celeridade na compra pública. No entanto,

pelo já exposto na justificativa desta dissertação, requer cuidados como qualquer

outro processo público de compra. E também, deve ser considerado na avaliação dos

resultados desta pesquisa.

2.7 CUSTOS DE TRANSAÇÃO

Neste tópico abordar-se-á a teoria dos custos de transação, com a

apresentação de autores que trazem algumas definições quanto à teoria e a

demonstração e alguns aspectos importantes a se considerar nas negociações,

particularidades dos custos de transação. Portanto, esse conteúdo será importante na

análise dos resultados da pesquisa, pelo fato de poder explicar variações nos preços

de compras realizadas com recursos públicos.

41

Herrmann (1999) elaborou estudo com o objetivo de explorar o conceito de

ineficiência por desenho nas licitações públicas no Brasil, partindo da teoria dos custos

de transação, que, segundo o autor, pressupõe racionalidade limitada aos indivíduos,

o que gera incompletude informacional e promove a presença do oportunismo. Desta

maneira, de acordo com Herrmann (1999), os custos de transação do processo

licitatório podem ser considerados o somatório dos custos de desenhar, negociar e

prever salvaguardas contratuais, os custos de monitoramento e controle do contrato

e os custos relacionados à execução da licitação. Assim, para Herrmann (1999) a

licitação é um instrumental eficiente quando se tem o exposto na Equação 1:

𝐶𝑇ac + CTpc + Ctlic + Plic ≤ Pm (1)

Onde: Plic = Preço do produto oferecido pelo fornecedor vencedor da licitação Pm = Preço do produto no mercado Ctac = custo de desenhar, negociar e prever salvaguardas contratuais (custos de transação ex-ante) CTpc = custo de monitoramento e controle do contrato (custos de transação ex-post) Ctlic = custos associados à execução da licitação, dentre os quais incluem-se os custos de confecção e publicação do edital, de realização da habilitação e julgamento das propostas, da publicação dos vencedores, bem como os custos associados ao tempo decorrido entre a necessidade da compra e o recebimento.

De acordo com Herrmann (1999), em virtude da dificuldade de mensuração dos

custos de transação do processo licitatório, a Equação 1 poderia ser simplificada de

acordo com a Equação 2:

𝑃𝑙𝑖𝑐 < 𝑃𝑚 (2)

Segundo o autor, essa simplificação não implica a ausência dos custos de

transação. Assim, para que a transação por meio da licitação seja considerada

eficiente, Plic tem de ser significativamente inferior a Pm, apesar de não especificar o

que seria “significativamente inferior”. Desta forma, cabe crítica a essa afirmação, pois

há no setor público custos ex ante inerentes ao processo de compras que são

relevantes para a tomada de decisão, os quais podem modificar a opinião quanto à

eficiência das aquisições, porque são gastos praticados no intuito de adquirir bens e

serviços. Esses custos podem ser exemplificados como a remuneração dos agentes

públicos envolvidos, os custos administrativos de elaborar os processos de compra,

materiais utilizados no processo, custos com sistemas para a efetivação das compras,

entre outros custos para licitar, que implicam no processo de compras públicas.

42

Já para Williamson (2000), as transações raramente são realizadas sem custos

desconhecidos, que ocorrem porque os agentes tomadores de decisão não dispõem

de todas as informações necessárias no momento de decidir. Essa assimetria de

informações é peculiar dos custos de transação que ocorrem nas negociações nos

mercados.

Ainda, de acordo com Williamson (2000), esses custos de transação, com os

quais os agentes se defrontam quando negociam com o mercado, classificam-se em

custos ex-ante, decorrentes do levantamento de informações, e pelos custos ex-post,

referentes à gestão do contrato, bem como a defesa dos aspectos pactuados

contratualmente. Alguns parâmetros de análise são a especificidade dos ativos, a

frequência e a incerteza das transações.

Williamson (2000) esclarece que os custos de transação são influenciados por

fatores humanos, como a racionalidade limitada e o oportunismo dos envolvidos.

Estes dois fatores estão relacionados à capacidade cognitiva do indivíduo de analisar

a situação e tomar decisões, e da mesma forma pela assimetria de informações nas

negociações, que sugestiona o comportamento oportunista.

No que se refere às compras públicas, Neuenfeld et al. (2018) afirmam que

além de perpassarem as etapas da atividade de aquisição, precisam atender,

precipuamente, os princípios constitucionais de economicidade, legalidade, eficiência.

Assim, de acordo com os autores:

No que concerne propriamente à eficiência nas compras públicas, seu processo constitui uma relação direta com os custos de transação. Os custos envolvidos com o planejamento de compras, com a negociação junto aos fornecedores, o controle da entrega dos materiais e a gestão contratual constituem itens de uma transação e ocorrem no ambiente onde ela se desenvolve. Essas transações envolvem tanto variáveis comportamentais dos indivíduos – como a racionalidade limitada e o oportunismo; quanto aquelas, inerentes à transação, tais como especificidade do ativo, frequência e incerteza (NEUENFELD et al., 2018, p. 229).

Ou seja, as transações do setor público possuem especificidades as quais

podem levar a custos de transação diferenciados, o que pode contribuir para o

aumento efetivo do real preço dos materiais ou serviços adquiridos. Da mesma forma,

as Fundações de Apoio à Tecnologia e Ciência comparam-se aos Órgãos públicos

quando se trata de processos de compras, visto que estão subordinadas as regras da

legislação referente a compras públicas.

43

Com isso, a partir do referencial sobre custos de transação apresentado,

demonstra-se no Quadro 3 a identificação dos custos de transação com os processos

de aquisição das Fundações e as negociações que se dão no mercado, ou seja, no

setor privado.

Quadro 3 – Custos de transação identificados em Fundações e/ou no mercado

Custo de transação Aplicável às Fundações

Aplicável ao mercado

Autores

Racionalidade limitada X x

Williamson (2000); Herrmann (1999); Neuenfeld et al.

(2018)

Incompletude informacional/assimetria de

informações X x

Williamson (2000); Herrmann (1999); Neuenfeld et al.

(2018)

Oportunismo X x

Williamson (2000); Herrmann (1999); Neuenfeld et al.

(2018)

Custos de desenhar, negociar e prever

salvaguardas contratuais X x Herrmann (1999)

Custos de monitoramento e controle do contrato

X x Herrmann (1999)

Custos relacionados à execução da licitação

X Herrmann (1999)

Levantamento de informações

X x Williamson (2000)

Gestão contratual X x

Williamson (2000); Herrmann (1999); Neuenfeld et al.

(2018)

Princípios Constitucionais (economicidade,

legalidade, eficiência) X

Neuenfeld et al. (2018)

Planejamento de compras X x

Herrmann (1999); Williamson (2000);

Neuenfeld et al. (2018)

Negociação junto aos fornecedores

X x

Herrmann (1999); Williamson (2000);

Neuenfeld et al. (2018)

Controle da entrega dos materiais

X Herrmann (1999); Neuenfeld et al.

(2018)

Fonte: Elaborado pelo autor com base na literatura.

44

No entanto, esses custos não podem ser tomados isoladamente. Um estudo

avançado na literatura poderá apresentar outros custos de transação. Além disso,

como afirma Herrmann (1999), os custos de transação são muito difíceis de serem

mensurados, o que não justifica o seu desprezo na tomada de decisões. E é nesse

sentido que se buscará avaliar possíveis influências nos resultados do presente

estudo.

2.8 ESTUDOS ANTERIORES

Esta seção apresenta pesquisas realizadas com temáticas que podem

contribuir na interpretação e discussão dos resultados apresentados no presente

estudo. Assim, poder-se-á traçar discussões de resultados e comparações com tais

estudos, o que poderá gerar contribuições mais consistentes à literatura. Utilizaram-

se como bases de busca os Periódicos da CAPES, principalmente a Scielo, e também

se utilizou a base Scopus Preview.

Silveira et al. (2012) analisaram o processo de compras da Prefeitura de

Dourados/MS. Para tanto, utilizaram dados secundários, que foram coletados,

organizados e apresentados sobre o foco dos tipos de compras realizadas na Central

de Compras e Contratações em três variáveis, quais sejam; quantidade, valor, e

tempo médio. Os autores demonstraram que há uma concentração em três tipos de

compras, dispensa de licitação, convite e pregão presencial, que respondem por 80%

dos processos licitatórios, enquanto que concorrência, pregão presencial e tomada de

preços compreendem 83% do valor realizado.

Por fim, os autores afirmam que há que se refletir sobre a utilização dos

processos de dispensa de licitação e inexigibilidade, tendo em vista que somam 44%

dos processos realizados no ano de 2008, fato que distancia os procedimentos de

compra da regra geral que é a de licitar. Nesse sentido, o trabalho poderá contribuir

com a análise dos resultados da presente pesquisa, no sentido de se comparar os

resultados apresentados nas compras de material permanente na FATEC, que

ocorrem predominantemente por dispensa de licitação, com os resultados

apresentados nas compras de materiais de mesma natureza na UFSM, que seguem

o rito processual completo das licitações, em sua maioria.

Já Scheren, Wescinski e Barichello (2017) pesquisaram o processo de compras

do setor público das dez cidades mais populosas do Estado de Santa Catarina no

45

período de 2012 a 2015. Como resultados, os autores observaram crescimento dos

procedimentos de licitação homologados e transmitidos ao TCE-SC e que o pregão

presencial e pregão eletrônico são as modalidades que se destacam nos últimos anos.

A partir de análise fatorial, verificaram que as modalidades licitatórias com o maior

impacto nas compras públicas estão relacionadas à modalidade de concorrência,

pregão presencial e as compras públicas sem licitação: a dispensa de licitação e

inexigibilidade de licitação.

Aguilar (2015) estudou, numa perspectiva da doutrina legal e decisões do

Supremo Tribunal Federal, as principais controvérsias relativas à necessidade de

observância dos regramentos licitatórios por parte das fundações de apoio na

aquisição de bens e serviços. Além disso, a possibilidade da delegação de atividades

de gestão orçamentária e de manutenção de recursos públicos em cofres distintos

daquele dominado pelo Tesouro Nacional.

Aquele autor realizou um aporte teórico, partindo da controversa opinião da

necessidade de observância, ou não, dos preceitos licitatórios por parte das

fundações de apoio, visto que são entidades de regime jurídico de Direito Privado.

Cita a corrente doutrinária favorável a obrigatoriedade de aplicação da Lei nº 8.666/93,

que critica o fato da forma de constituição de regime jurídico sob o pálio da lei civil

poder transpor a obrigatoriedade de tutelar os princípios da isonomia, moralidade,

impessoalidade, que estariam protegidos pelo dever de licitar.

Conclui Aguilar (2015) que para as contratações serem lícitas e regulares, as

fundações devem observar critérios de contratação para um serviço específico, bem

caracterizado em todas as suas fases e detalhes, além da vinculação a um projeto

específico, no âmbito da pesquisa, ensino, extensão ou do desenvolvimento

institucional. Além disso, deverá executar diretamente, valendo-se de sua própria

estrutura e de pessoa, os serviços objetos do acordo, orientando sua atuação pelos

princípios da impessoalidade, isonomia e moralidade e primando pela economicidade,

porque atua como gestora de recursos públicos. O autor sugere, ainda, a importância

de se aprimorar os mecanismos regulatórios do tema e a fiscalização dos órgãos de

controle, como o Tribunal de Contas e do Ministério Público.

O estudo de Aguilar (2015) torna-se importante para a análise dos resultados

do presente trabalho à medida que contempla a controvérsia da obrigatoriedade de

as fundações seguirem ou não os trâmites licitatórios completos, quando do uso de

recursos públicos. Como o trabalho possui como objeto de estudo justamente

46

compras em uma fundação de apoio, poder-se-á valer desse trabalho para aprofundar

as discussões dos resultados.

Por seu turno, Araújo e Jesus (2018) realizaram estudo com o objetivo de

investigar se o desconto obtido pelo critério do menor preço, obrigatório em processos

licitatórios efetuados com a modalidade pregão, relacionam-se com custos de

transação identificados ex post às contratações feitas pelo Instituto Federal do Espírito

Santo. As autoras analisaram uma amostra de 1412 observações de bens comuns

patrimoniáveis, nos quais o critério de aceitação foi o menor preço por item em

pregões do ano de 2010 dos Campi do Instituto Federal do Espírito Santo.

No estudo mencionado, os resultados apontaram que há um pequeno impacto

do desconto na ocorrência de custos de adaptação, sugerindo que características da

licitação e dos licitantes influenciam na ocorrência de custos de adaptação

decorrentes de não conformidades contratuais e que existe uma relação positiva, mas

de pequeno efeito entre o desconto e a qualidade do produto. As autoras não

avaliaram o impacto financeiro desses custos de transação posterior às compras, mas

sim a sua incidência, considerando os quatro custos de transação ex post propostos

por Williamson (1985), dos quais somente identificaram como relevante naquela

amostra os custos de adaptação (hold up).

Já Faria, Ferreira e Gonçalves (2013) investigaram os fatores de riscos

potencializados pela utilização do pregão eletrônico, tendo como base de

fundamentação teórica os princípios da Teoria dos Custos de Transação (ECT). Os

autores classificaram as empresas fornecedoras da União de acordo com o grau de

risco apresentado aos contratos de fornecimento, por meio de constructos elaborados

de acordo com os princípios da ECT. Partindo das análises, classificaram os

fornecedores em três grupos: alto risco, baixo risco e risco moderado.

Como principais resultados, os autores concluíram que os Órgãos Públicos

necessitam criar salvaguardas contra atitudes oportunistas dos fornecedores, e

ressaltam a importância da especificação correta dos produtos, evitando margens

para cotações de produtos similares ou de qualidade inferior. Também, que sejam

aplicadas, aos fornecedores oportunistas, as sanções previstas na lei, mesmo que

isso implique em maiores custos de transação. Os autores ainda ressaltam que a

legislação vigente aos processos licitatórios não permite aos órgãos públicos o poder

de escolha na contratação de empresas, por isso a importância das salvaguardas.

47

Neuenfeld et al. (2018) estudaram os custos de transação nas compras

públicas realizadas pela Diretoria Regional da Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafos em Santa Catarina (ECT/SC). Os autores constataram, a exemplo de

Faria, Ferreira e Gonçalves (2013), a existência de comportamento oportunista no

atendimento das especificidades técnicas, na capacidade de fornecimento e na

definição dos preços dos produtos. Em relação à Teoria dos Custos e Transação,

aqueles autores verificaram que esses custos são condicionados à presença dos

atributos de transação, ou seja, frequência, incerteza e especificidade de ativos, bem

como dos pressupostos comportamentais da racionalidade limitada e do oportunismo.

A especificidade de ativos na ECT/SC se deu mais claramente no âmbito

locacional, humano e de marca. Observou-se também que, devido à baixa frequência

nas transações entre a ECT/SC e os fornecedores, os custos de transação tornam-se

maiores, visto que essa baixa frequência não favorece a criação de um ambiente de

confiança entre as partes, e condições de incerteza relacionada aos aspectos

políticos, econômicos e de concorrência.

Tanto o trabalho de Faria, Ferreira e Gonçalves (2013) e de Neuenfeld et al.

(2018) possuem importante arcabouço teórico no sentido de identificar

comportamentos oportunistas nos processos de compras, o que pode ser objeto de

análise nos resultados da presente pesquisa.

Carvalho (2012), por sua vez, analisou as compras de medicamentos

registradas no Banco de Preços em Saúde do Ministério da Saúde, com o objetivo de

avaliar as diferenças nos preços pagos pelo setor público e pelo setor privado quando

estes adquirem o mesmo bem. O autor concluiu que, em média, um medicamento

genérico, comprado na quantidade média das compras registradas na base, com o

número médio de fornecedores por produto, sem que sua compra tenha sido demanda

por uma ação judicial, o preço pago pelo setor público é 24,06% maior do que quando

este mesmo bem, nas mesmas quantidades e condições, é adquirido pelo setor

privado.

Ressalta o autor, no entanto, que essa diferença é menor quando se

consideram as aquisições de instituições municipais, as quais apresentarem o melhor

desempenho na compra de medicamentos, quando comparadas a instituições de

outras esferas de governo e privadas. Este desempenho pode ser atribuído à

formação de consórcios municipais de saúde para aquisição conjunta de

48

medicamentos, explorando os ganhos de escala no momento da aquisição e

evidenciando que boas práticas administrativas nas compras.

A aquisição de medicamentos via sistema judiciário também eleva o preço de

aquisição dos medicamentos analisados. De acordo com Carvalho (2012), isto ocorre

por este tipo de compra ser ocasional, isolada do planejamento de aquisições da

instituição e conduzida em caráter emergencial. O efeito para o setor público como

um todo, chega a uma elevação de 70,41%, de acordo com o autor daquele estudo.

Assim, o estudo de Carvalho (2012) torna-se importante no contexto da

presente pesquisa, visto que servirá de parâmetro para se comparar as diferenças

percentuais em preços percebidas em compras da UFSM e da FATEC, a partir de

uma perspectiva de aquisição de material permanente.

Gonçalves e Quintana (2011) realizaram estudo com o objetivo de evidenciar a

transparência nas organizações do Terceiro Setor, utilizando para tanto da análise

dos sites das Fundações credenciadas no MEC em busca de informações nos

relatórios de gestão, escolhendo para a pesquisa as cinco fundações que

apresentavam o maior número de dados pertinentes e atualizados, uma em cada

região do país, quais sejam, a FSADU representando a região nordeste, a UNI-SOL

como representante do norte, a FUNAPE do centro oeste, a região sul foi representada

pela FUNPAR e a FAI-UFSCar representou o sudeste. Evidenciou-se dificuldade para

o agrupamento e análise dos dados divulgados nos relatórios, tendo em vista a falta

de padronização na elaboração dos mesmos.

Como resultados, os autores apontam que somente três das fundações

analisadas divulgaram o montante do valor de recursos públicos por ela gerenciados,

representando o somatório destes recursos 19% do total evidenciado. Além disso,

80% das entidades apresentaram todas as Demonstrações Contábeis obrigatórias,

porém, o Parecer de Auditoria independente foi apresentado por apenas três das cinco

instituições analisadas.

Por fim, quanto a Prestação de Contas às entidades financiadoras, a única que

divulgou informações foi a FAI-UFSCar, anunciando a elaboração de 122 Relatórios

de Prestação de Contas no ano de 2007. Este fato constatado é extremamente

relevante para a pesquisa, tendo em vista que a Prestação de contas é um ponto

fundamental na evidenciação da transparência dos resultados das instituições

analisadas e a ausência destes dados demonstra a carência de controle e fiscalização

pelos usuários em geral.

49

Assim, Gonçalves e Quintana (2011) entendem que, pelo volume expressivo

de recursos públicos administrados pelas fundações estudadas, há a necessidade de

maior transparência nas informações destas instituições, pois até mesmo a dificuldade

em identificar instituições que forneçam, por meio do seu site informações detalhadas,

é uma evidencia da falta de cuidado com a questão da transparência nestas

instituições. Nesse sentido, entende-se que a contribuição que o trabalho de

Gonçalves e Quintana (2011) pode ter para a presente pesquisa é no sentido de

validar ou refutar a questão da divulgação das informações, no que tange aos dados

sobre compras realizadas pela FATEC, partindo dos resultados apresentados.

No Quadro 4 apresenta-se resumidamente os estudos anteriores elencados

nessa seção.

Quadro 4 – Resumo teórico dos estudos anteriores sobre o tema

(continua)

Autores Contribuição

Silveira et al. (2012) Análise do processo de compras da Prefeitura de Dourados/MS. Há uma concentração em três tipos de compras, dispensa de licitação, convite e pregão presencial, que respondem por 80% dos processos licitatórios, enquanto que concorrência, pregão presencial e tomada de preços compreendem 83% do valor realizado. Processos de dispensa e inexigibilidade de licitação somam 44% em 2008.

Scheren, Wescinski e Barichello (2017)

Pesquisa do processo de compras do setor público das dez cidades mais populosas do Estado de Santa Catarina no período de 2012 a 2015. Resultados apontam o crescimento dos procedimentos de licitação homologados e transmitidos ao TCE-SC e que o pregão presencial e pregão eletrônico são as modalidades que se destacam nos últimos anos. As modalidades licitatórias com o maior impacto nas compras públicas estão relacionadas à modalidade de concorrência, pregão presencial e as compras públicas sem licitação: a dispensa de licitação e inexigibilidade de licitação.

Aguilar (2015) Estudou as principais controvérsias relativas à necessidade de observância dos regramentos licitatórios por parte das fundações de apoio na aquisição de bens e serviços, e a possibilidade da delegação de atividades de gestão orçamentária. Para as contratações serem lícitas e regulares, as fundações devem observar critérios de contratação para um serviço específico, bem caracterizado em todas as suas fases e detalhes, vinculação a um projeto específico, no âmbito da pesquisa, ensino, extensão ou do desenvolvimento institucional. Execução direta. A importância de se aprimorar os mecanismos regulatórios do tema e a fiscalização dos órgãos de controle, como o Tribunal de Contas e do Ministério Público.

50

(conclusão)

Araújo e Jesus (2018) Investigar se o desconto obtido pelo critério do menor preço, obrigatório em processos licitatórios efetuados com a modalidade pregão, relacionam-se com custos de transação identificados ex post

às contratações feitas pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Há um

pequeno impacto do desconto na ocorrência de custos de adaptação, sugerindo que características da licitação e dos licitantes influenciam na ocorrência de custos de adaptação decorrentes de não conformidades contratuais e que existe uma relação positiva, mas de pequeno efeito entre o desconto e a qualidade do produto. Somente identificaram como relevante naquela amostra os custos de adaptação (hold up).

Faria, Ferreira e Gonçalves (2013)

Fatores de riscos potencializados pela utilização do pregão eletrônico, tendo como base de fundamentação teórica os princípios da Teoria dos Custos de Transação (ECT). Os Órgãos Públicos necessitam criar salvaguardas contra atitudes oportunistas dos fornecedores; autores ressaltam a importância da especificação correta dos produtos, evitando margens para cotações de produtos similares ou de qualidade inferior. Aplicação das sanções previstas na lei, mesmo que isso implique em maiores custos de transação pois a legislação vigente aos processos licitatórios não permite aos órgãos públicos o poder de escolha na contratação de empresas.

Neuenfeld et al. (2018) Estudaram os custos de transação nas compras públicas realizadas pela Diretoria Regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em Santa Catarina (ECT/SC). Constataram a existência de comportamento oportunista no atendimento das especificidades técnicas, na capacidade de fornecimento e na definição dos preços dos produtos. Custos e Transação condicionados à presença dos atributos de transação, ou seja, frequência, incerteza e especificidade de ativos, bem como dos pressupostos comportamentais da racionalidade limitada e do oportunismo.

Carvalho (2012) Analisou as compras de medicamentos registradas no Banco de Preços em Saúde do Ministério da Saúde, com o objetivo de avaliar as diferenças nos preços pagos pelo setor público e pelo setor privado quando estes adquirem o mesmo bem. Em média, em um medicamento genérico, o preço pago pelo setor público é 24,06% maior do que quando este mesmo bem, nas mesmas quantidades e condições, é adquirido pelo setor privado. Menor quando se consideram as aquisições de instituições municipais, as quais apresentarem o melhor desempenho na compra de medicamentos, quando comparadas a instituições de outras esferas de governo e privadas. A aquisição de medicamentos via sistema judiciário também eleva o preço de aquisição dos medicamentos analisados em 70,41%.

Gonçalves e Quintana (2011)

Evidenciar a transparência nas organizações do Terceiro Setor, utilizando para tanto da análise dos sites das Fundações credenciadas no MEC, escolhendo para a pesquisa as cinco fundações que apresentavam o maior número de dados pertinentes e atualizados, uma em cada região do país. Somente três divulgaram o montante do valor de recursos públicos por ela gerenciados, um total de 19% do total evidenciado. Além disso, 80% das entidades apresentaram todas as Demonstrações Contábeis obrigatórias, porém, o Parecer de Auditoria independente foi apresentado por apenas três das cinco instituições analisadas. Apenas uma prestou contas às entidades financiadoras. Sugerem maior transparência.

Fonte: Elaborado pelo autor com base na literatura.

Na sequência, apresenta-se a Metodologia da presente dissertação.

51

3 METODOLOGIA

De acordo com Gil (2008, p.8), “pode-se definir método como caminho para se

chegar a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos

intelectuais e técnicos adotados para\ se atingir o conhecimento”.

Assim, a metodologia desta pesquisa apresenta a forma como se realizou o

trabalho, particularmente no que concerne à definição do objeto de estudo, da coleta

das informações, do agrupamento e obtenção de dados e da análise e interpretação

dos mesmos. Para tanto, está dividida em quatro tópicos: caracterização da pesquisa,

população, procedimento de coleta de dados e técnica de análise dos dados.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa se utilizou do Método Comparativo para realizar as comparações

e análise necessárias ao atendimento do problema de pesquisa. Este método, de

acordo com Gil (2008, p. 16), “procede pela investigação de indivíduos, classes,

fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles”.

Ainda, de acordo com Gil (2008), possibilita o estudo comparativo de grandes

grupamentos sociais, o que se aplica ao caso da amostra da presente pesquisa.

De forma complementar, a pesquisa realizada também se valeu do Método

Comparativo Direto de Dados de Mercado, que segundo Dantas (2005), parte da

premissa de que o valor do bem é estimado através de comparações com dados de

mercado assemelhados, quanto às características intrínsecas e extrínsecas dos itens.

Além disso, a pesquisa também se valeu do método inferencial de análise de

dados, que de acordo com Sweeney, Williams e Anderson (2013), consiste numa

estatística de dados de uma determinada amostra que permite a realização de

estimativas e o teste de hipóteses a respeito das características do grupo

populacional.

Em relação aos seus objetivos, esta pesquisa classifica-se em descritiva, que

de acordo com Gil (2010, p. 27) tem como objetivo “a descrição das características de

determinada população. Podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar

possíveis relações entre variáveis”. Já Santos (2004) destaca que a pesquisa

descritiva tem por objetivo a descrição das características conhecidas que compõem

52

um fato, um fenômeno, um processo ou o estabelecimento de relações entre as

variáveis.

Considerando-se as características da presente pesquisa, quanto à abordagem

do problema apresenta caráter quantitativo, em outras palavras, parte-se do

paradigma positivista. De acordo com Diehl (2004), a abordagem quantitativa

considera como sua característica o uso da quantificação, tanto na coleta quanto no

tratamento das informações. Utiliza-se de técnicas estatísticas, busca resultados que

evitem possíveis distorções de análise e interpretação, permitindo uma maior margem

de segurança. Martins e Teófilo (2007, p. 103) afirmam que este tipo de abordagem

visa “organizar, sumarizar, caracterizar e interpretar os dados numericos coletados”,

e complementam afirmando que colabora no alcance deste objetivo “utilizando

metodos e tecnicas estatísticas” (MARTINS; TEÓFILO, 2007, p. 103).

Em relação aos dados utilizados, a pesquisa valeu-se de dados primários,

como dados públicos obtidos nos Portais de Transparência da fundação e dados

obtidos no Portal Patrimônio da UFSM, que foram tabulados e organizados de acordo

com a demanda do presente estudo. Trata-se, como explica Mattar (2008), de dados

que ainda não receberam tratamento específico para serem utilizados em pesquisas,

como tabulação ou organização lógica. Cita, ainda, que “as fontes básicas de dados

primários são: pesquisado, pessoas que tenham informações sobre o pesquisado e

situações similares” (MATTAR, 2008, p. 142).

No que tange à classificação em relação aos procedimentos técnicos, a

pesquisa classifica-se como documental, que, segundo Oliveira (2007, p. 69),

“caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam

nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas,

filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação”.

Complementando, Gil (2002, p. 46) considera que “enquanto na pesquisa bibliográfica

as fontes são constituídas sobretudo por material impresso localizado nas bibliotecas,

na pesquisa documental, as fontes são muito mais diversificadas e dispersas”.

No próximo tópico será abordada a composição da população utilizada, da qual

se obtiveram os dados e para a qual se inferem os resultados.

53

3.2 POPULAÇÃO

A população pesquisada neste trabalho compõe-se de todas as compras de

material permanente realizadas pela Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência –

FATEC – no ano de 2018, para atender aos objetivos da pesquisa.

Essa fundação possui competência legal para administrar os recursos de

projetos de pesquisa desenvolvidas no âmbito da comunidade acadêmica da

Universidade Federal de Santa Maria, realizando, dentre outros, compras de material

permanente, material de consumo, contratação de serviços, pagamento de diárias ou

bolsas de pesquisa (LEI Nº 8.958/1994). Para tanto, essa instituição executa as

contratações ou compras a partir do que rege a legislação sobre compras públicas,

que traz as modalidades de licitação, bem como os casos em que poderá ocorrer a

dispensabilidade de licitação, processo conhecido como compras diretas (LEI Nº

8.666/1993).

Os recursos gerenciados são provenientes de projetos, que possuem planos

de trabalho com a previsão de onde deverão ser aplicados esses recursos, ou seja,

em quais rubricas se realizarão as compras ou contratações. Nesta pesquisa, foram

pesquisados os projetos que possuíam recursos previstos para compra de material

permanente, no exercício de 2018.

Obteve-se um total de 235 Ordens de Fornecimento de compra da Fundação

em 2018, as quais totalizaram R$ 3.861.037,27 (três milhões oitocentos e sessenta e

um mil e trinta e sete reais e vinte e sete centavos), e um total de 303 itens, em

quantidade absoluta.

3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Após a definição da população, da identificação dos projetos com rubricas para

aquisição de material permanente, passou-se à coleta dos dados junto à fundação.

Os dados referentes às compras da Fundação foram obtidos no site da mesma, no

Menu “Transparência”, dados esses que são públicos, portanto. Além disso, todas as

Ordens de Compra de materiais permanentes da fundação são encaminhadas à

Divisão de Patrimônio da UFSM, que é o setor onde ocorre a recepção do material, o

que auxilia na corroboração dos dados e triangulação das fontes de evidências.

54

Com a finalidade de compará-los aos dados de compras da UFSM, os dados

da universidade foram obtidos pelo autor em sistema próprio da universidade,

denominado “Portal Patrimônio”, visto que o mesmo trabalha na Divisão de Patrimônio

da UFSM e possui acesso a todos esses dados. Estes dados também podem ser

obtidos no Portal da Transparência, visto que se trata de gastos públicos. É possível

se obter as informações referentes aos empenhos, descrições e valores praticados

pela universidade, o que confirma a fonte de evidência. Além disso, obteve-se

autorização da Direção do Departamento de Material e Patrimônio da UFSM, para uso

desses dados, através de declaração que está anexada à dissertação (Anexo A).

Partindo-se dos dados obtidos referentes às compras, selecionaram-se todos

os bens de natureza permanente adquiridos, para atender aos objetivos específicos

da pesquisa proposta, com o intuito maior de responder à questão problema

apresentada. Assim, feita a coleta, passou-se à análise de conteúdo, para obtenção

das informações requeridas para a pesquisa.

De acordo com Bardin (2016, p. 44), a análise de conteúdo configura-se “como

um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Já a

categorização, de acordo com Bardin (2016, p. 147), “e uma operação de classificação

de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por

reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos”.

Explica Bardin (2016, p. 147) que as categorias “são rubricas ou classes, as quais

reúnem um grupo de elementos (unidades ou registro, no caso a análise de conteúdo”

sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características

comuns destes elementos”.

Para Bardin (2016), podem haver diversos critérios para o agrupamento, como

o semântico, sintático, léxico, expressivo, enfim, critérios a serem definidos pelo

pesquisador. Além disso, a mesma autora ainda cita que “classificar elementos em

categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com os outros.

O que vai permitir o seu agrupamento e a parte comum existente entre eles” (BARDIN,

2016, p. 148).

A categorização é um processo estruturalista de duas etapas. A primeira delas

é o inventário, onde se isolam os elementos que se deseja categorizar. A segunda

trata da classificação dos mesmos, quando se repartem os mesmos, onde se procura

ou impõe certa organização às mensagens. Dentro desse processo, a categorização

55

pode empregar dois processos inversos. No primeiro, é fornecido o sistema de

categorias e repartem-se os elementos à medida que vão sendo encontrados. Este

procedimento aplica-se quando a organização do material decorre diretamente dos

funcionamentos teóricos hipotéticos. No segundo, o sistema de categorias não é

fornecido, mas resulta da classificação progressiva dos elementos, por analogia.

Assim, o título da categoria somente é definido no final da operação (BARDIN, 2016).

No que tange à presente pesquisa, a categorização se deu da seguinte

maneira: a população foi ordenada em planilha de dados, em ordem decrescente de

valor de aquisição unitário. Com isso, foi possível se obter uma sequência lógica para

a busca dos dados de compras realizadas no Portal Patrimônio, o qual foi o objetivo

da categorização, com a finalidade de comparar os preços de compra de bens

permanentes da UFSM e da FATEC. Esta planilha compôs-se da descrição dos itens

adquiridos pela fundação, bem como a marca, o modelo, o valor unitário, o valor total

por item e a quantidade adquirida pela FATEC, por se considerar que são dados

imprescindíveis para a correta comparação com os itens adquiridos pela UFSM.

A coluna final da planilha foi composta pelos preços encontrados para itens

comparáveis adquiridos pela UFSM. A busca no Portal Patrimônio, para todos os itens

adquiridos pela FATEC, iniciou-se buscando itens cadastrados no portal e adquiridos

pela UFSM que tivessem o mesmo modelo do item comprado pela FATEC, na

funcionalidade “Consulta Carga”, selecionando “características” dos bens. Ou seja,

exatamente as mesmas informações de modelo levam à mesma marca, e por

consequência às mesmas especificações. Todos os registros patrimoniais

cadastrados no Portal Patrimônio no período analisado, qual seja, o exercício de 2018,

foram conferidos, a fim de se confirmar as especificações e coletar o valor obtido pela

UFSM em suas aquisições.

Quando não se obtinha resultados consultando o mesmo modelo, buscava-se

informações de itens com a mesma marca que pudessem ter as mesmas

especificações e, em se encontrando, realizava-se o processo descrito anteriormente

para se chegar ao preço da UFSM. Se essa pesquisa não retornasse nenhum registro

patrimonial, buscavam-se todos os registros patrimoniais que tivessem cadastro com

o bem objeto de pesquisa. Por exemplo, se o item em questão era “notebook”,

digitava-se “notebook” na funcionalidade “Consulta carga”, o que fazia o sistema

apresentar todos os itens incorporados ao patrimônio da UFSM com esse nome.

56

De posse desses registros patrimoniais, consultavam-se todos os itens

incorporados no período em análise, 2018, a fim de se encontram itens com

especificações que atendessem ao que se buscava, mesmo não possuindo o mesmo

modelo e mesma marca do item em questão. Quando encontrados, analisava-se qual

dos mesmos fora adquirida pela UFSM pelo menor preço, e após o valor era lançado

na planilha de dados, acompanhado do número do empenho que embasou a compra,

para comprovar as informações coletadas.

Para os itens que não se encontrou nenhum registro patrimonial com as

mesmas característica e/ou especificações dos adquiridos pela fundação, o item era

considerado como não adquirido pela universidade no período em análise, lançando-

se “s/d” (sem dados) na planilha de informações.

Vale ressaltar que todos os itens adquiridos pela FATEC também se encontram

cadastrados no patrimônio da UFSM, no regime de comodato, até a data de sua

doação ao final do projeto. Isso se deve ao fato de que a partir de 1º de janeiro de

2018, as compras da UFSM e FATEC possuem entrada única. Ou seja, a FATEC

realiza toda a gestão dos recursos, realiza os processos de compra e emite as Ordens

de Fornecimento, que são encaminhadas à Divisão de Patrimônio (DIPAT). Quando o

material é entregue na DIPAT, aciona-se o professor do projeto para conferir o

material. Em tudo estando correto, manda-se a nota fiscal para pagamento na FATEC

juntamente com as informações de cadastro realizadas pela DIPAT. Ou seja, o bem é

cadastrado no patrimônio da UFSM como bens de terceiros (comodato) até a doação

da FATEC.

No Quadro 5 tem-se a estrutura do procedimento de coleta de dados:

Quadro 5 – Estrutura do procedimento de coleta de dados

Procedimento Como se realizou Literatura

Busca de informações No site da fundação Lei nº 8.958/1994; Decreto nº 8.241/2014; Lei nº 12.527/2011

Obtenção da população de bens Categorização Bardin (2016)

Obtenção de valores de compras da Fundação

Análise documental direta Bardin (2016); Gil (2010)

Obtenção de valores de compras da UFSM

Site Portal Patrimônio da UFSM

Gil (2010)

Fonte: Elaborado pelo autor.

57

Realizados esses procedimentos, de acordo com os dados encontrados,

traçaram-se três categorias de análise, as quais se encontram no Quadro 6.

Quadro 6 – Categorias de análise do estudo

CATEGORIA SIGNIFICADO

Diferenças encontradas nos preços dos processos de compras de bens permanentes pagos a maior na UFSM, em termos absolutos e relativos

Categoria que expõe todos os itens de material permanente com especificações compatíveis adquiridos tanto pela UFSM como pela FATEC, mas que a universidade pagou valores superiores

Diferenças encontradas nos preços dos processos de compras de bens permanentes pagos a maior na FATEC, em termos absolutos e relativos

Categoria que expõe todos os itens de material permanente com especificações compatíveis adquiridos tanto pela UFSM como pela FATEC, mas que a fundação pagou valores superiores

Itens permanentes onde não houve diferenças de preços de bens permanentes adquiridos na FATEC e na UFSM

Categoria que expõe todos os itens de material permanente com especificações compatíveis adquiridos tanto pela UFSM como pela FATEC, nos quais os preços praticados foram idênticos

Fonte: Elaborado pelo autor.

Apresentadas as categorias, com todos os dados referentes aos preços

praticados nos processos de compras da fundação e comparados aos preços

praticados na UFSM, passou-se a confrontar os achados com a literatura sobre o

tema.

3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISES DE DADOS

Para atender aos objetivos da pesquisa e responder à questão problema do

trabalho, realizou-se a análise de dados. Para tanto, elaborou-se uma análise

descritiva de cada um dos itens de material permanente observados, verificando

aqueles onde ocorre maior variação percentual de preços, ou seja, se ocorreram

discrepâncias significativas relativas entre os preços. Sequencialmente, buscou-se

averiguar as diferenças absolutas dos itens, ou seja, em termos de valores totais. Ao

final, realizou-se uma análise de diferenças em itens não comparáveis em termos de

preços, sem se objetivar, no entanto, realizar inferências para os mesmos.

Não se buscou nesta pesquisa mensurar a eficiência dos processos de compra,

pois para tanto seria necessário se obter e avaliar todos os custos de transação. No

58

entanto, de acordo com Herrmann (1999) esses custos são de difícil mensuração,

sendo que caberia uma análise de variáveis não controláveis, onde não se poderia

medir o efeito real e cada uma delas no processo.

Com as análises realizadas, buscou-se elaborar um índice de alinhamento de

preços das fundações de apoio aos preços praticados pelos Órgãos públicos, no caso

a UFSM. Para tanto, calcularam-se as variações médias encontradas nos preços de

cada item e a partir das tendências encontradas traçou-se um perfil dos preços dos

itens adquiridos pelas fundações em relação aos preços da UFSM.

A seguir, apresentam-se as ações realizadas para cada objetivo específico

traçado, no Quadro 7.

Quadro 7 – Resumo das ações realizadas para o alcance de cada objetivo específico

Objetivos Ações realizadas

Selecionar todos os bens permanentes adquiridos no exercício de 2018 e averiguar qual preço foi pago pela

fundação de apoio à tecnologia e ciência, objeto de pesquisa

Acesso ao Portal da Transparência da FATEC para coleta dos dados, bem como

comparação com as Ordens de Fornecimento recebidas na Divisão de Patrimônio

Confrontar os valores pagos nas compras efetuadas pela fundação de apoio à tecnologia e ciência com os valores

pagos nas aquisições efetuadas por meio de processos de compras da UFSM

Montagem de planilha de dados comparando os itens comparáveis adquiridos pela FATEC com os itens adquiridos na UFSM, a partir da

busca dos bens cadastrados no Portal Patrimônio

Analisar as diferenças encontradas nos preços à luz da literatura e da legislação

pertinente

Efetivação das análises com base nos dados obtidos, observando-se a teoria apresentada, a legislação e o aprofundamento da discussão

com a observação empírica

Fonte: Elaborado pelo autor.

Na seção seguinte, apresentam-se os resultados, as análises e as discussões

da presente dissertação.

59

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção serão apresentados e discutidos os resultados da presente

pesquisa, em consonância à literatura apresentada e comparação com trabalhos

anteriores. Ressalta-se que a coleta de dados levou em consideração as compras

realizadas pela Fundação e pela UFSM no período de 1º de janeiro de 2018 até 31 de

dezembro de 2018. Não se utilizaram dados de 2019 porque neste período não

ocorreram compras suficientes na universidade que pudessem servir de base para

comparação com as compras da fundação. Os dados apresentados nessa seção

encontram-se de forma resumida, visto que a descrição total dos bens, incluindo os

não comparáveis, encontram-se no Apêndice A.

4.1 BENS PERMANENTES E PREÇOS COMPARÁVEIS ENTRE FATEC E UFSM

Neste tópico, buscando atender ao primeiro e ao segundo objetivos específicos

deste trabalho, apresentam-se os resultados obtidos após a análise de todos os

materiais permanentes adquiridos pela fundação.

Assim, encontraram-se 57 itens comparáveis adquiridos pela FATEC e que

possuem correspondentes adquiridos no mesmo período de análise na UFSM. A

descrição desses itens, a marca, o modelo, os valores unitários e totais na FATEC, o

valor unitário da UFSM e o respectivo empenho que fundamentou a compra

apresentam-se no Apêndice A, denominado de descritivo dos itens comparáveis e

informações para análise.

Partindo-se para uma análise dos dados do Apêndice A, percebe-se uma

heterogeneidade de itens quanto a suas especificações. Observam-se materiais de

uso geral, materiais de informática, laboratoriais e audiovisuais. Os preços de

aquisição desses itens na FATEC variaram de R$155,00 a R$8.098,12.

Estes itens representam 18,81% dos itens adquiridos em termos de quantidade,

ou seja, foi possível se comparar aproximadamente um quinto dos itens de material

permanente adquirido pela fundação em 2018. Em termos de valores totais absolutos,

os mesmos somam R$ 790.337,05, totalizando 20,47% do valor total dispendido em

material permanente pela fundação no exercício em análise. A exemplo da

quantidade, os valores absolutos totais representam aproximadamente um quinto do

valor total em compras dessa natureza no período estudado.

60

Observou-se também a questão das diferenças de preços nas compras da

FATEC e da UFSM para os itens listados no Apêndice A. Do total de compras citadas,

em 5 (cinco) o valor obtido pela UFSM em suas aquisições foi maior. Já em 3 (três), o

valor foi exatamente o mesmo. No entanto, os dados apontam que em 49 (quarenta e

nove) itens o preço pago pela FATEC nas aquisições superou os preços praticados

pela UFSM quando esta adquiriu itens iguais ou equivalentes em especificações

técnicas. Em termos relativos, pode se afirmar que em 85,96% dos itens passíveis de

comparação, no período de análise, o valor pago pela FATEC aos fornecedores foi

maior do que os valores pagos pela UFSM. A Figura 1 apresenta os valores relativos

de cada categoria de valor.

Figura 1 – Visualização relativa dos preços dos bens comparáveis

Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Observa-se no Apêndice A que os itens adquiridos pela fundação e pela

universidade se enquadram no conceito trazido na Portaria nº 448/2002, da Secretaria

do Tesouro Nacional, visto que, aparentemente, possuem características que os

permitem não perder a sua identidade física, bem como uma durabilidade superior a

dois anos. Além disso, não se tem informações quanto à sua fragilidade,

perecibilidade ou incorporabilidade a outros itens. Ademais, não é objetivo do presente

estudo questionar a natureza dos itens adquiridos, e sim comparar seus preços com

os praticados nas compras da UFSM.

Assim, desta primeira análise torna-se relevante salientar o achado de que

aproximadamente 80% dos itens adquiridos na Fundação de Apoio não foram

85,96%

8,77%

5,26%

Quantidade de bens

Maiores na FATEC Maiores na UFSM Iguais

61

adquiridos, no mesmo período, na universidade. Dos que foram adquiridos por ambas,

a evidência de que em 85% dos casos os valores pagos terem sido superiores na

FATEC vai totalmente de encontro ao que traz a teoria econômica de mercado e

também contraria a teoria dos custos de transação.

Como a fundação possui maior “liberdade” para adquirir os bens, ou seja, não

está sujeita a todo o processo licitatório da universidade, visto que é possível se

realizar a dispensa de licitação na maioria dos processos de aquisição, o que, em

tese, geraria menores custos de transação envolvidos, o que se espera dessas

compras é que os preços sejam menores do que os praticados em órgãos públicos,

no presente caso, em relação à UFSM, ficando próximos aos preços praticados pelo

próprio mercado. Tem-se, assim, a primeira contradição dos achados quando

comparados à teoria apresentada no trabalho.

No tópico seguinte, tratar-se-á da análise das diferenças encontradas nos

preços das compras para os quais se obteve resultados tanto na FATEC como na

UFSM.

4.2 ANÁLISE DAS DIFERENÇAS ENCONTRADAS NOS PREÇOS DOS PROCESSOS DE COMPRAS DA FATEC E DA UFSM NO PERÍODO, EM TERMOS ABSOLUTOS E RELATIVOS

Neste tópico se buscará atender ao terceiro objetivo específico deste trabalho,

com a análise, interpretação e discussão das diferenças encontradas nos preços dos

materiais permanentes adquiridos por ambas as entidades, FATEC e UFSM, à luz da

teoria e legislação referenciadas no segundo capítulo da presente dissertação.

Primeiramente, cabe explicitar que os resultados serão apresentados em

termos de diferenças relativas, ou seja, em termos percentuais, e também em termos

absolutos, que são as diferenças de valores total em termos monetários propriamente

ditos. Entende-se que ambas as exposições se tornam importantes à medida que

demonstram as diferenças numa escala centesimal e financeira, respectivamente.

Destaca-se, também, que nessa seção os dados serão analisados partindo de

três divisões: os bens permanentes nos quais os preços praticados pela UFSM foram

superiores aos da FATEC; os bens em que se obteve o mesmo valor pago; e aqueles

em que os preços pagos na fundação superaram os pagos pela universidade, quando

comparados os produtos conforme explicado na seção anterior e apresentados no

Anexo A.

62

Destarte, os primeiros resultados trazidos referem-se às diferenças relativas e

absolutas encontradas nos cinco itens permanentes em que a UFSM pagou valores

mais elevados do que a FATEC. Os dados encontram-se no Quadro 8.

Quadro 8 – Diferenças relativas e absolutas em preços maiores na UFSM

Item Marca Modelo Valor

pago na FATEC

Diferença relativa

Diferença absoluta

Multímetro digital 100v ty720 CAT III cat 980,00 22% 220,00

Notebook processador inter core i5 dual core de 1,8 ghz, memória

integrada lpddr3 de 8gb com 1600 mhz, hd ssd de 256 gb, tela

widescreen de 13,3", peso máximo de 1,5 kg

APPLE MacBook Air

MQD42BZ

6.599,99 10% 660,01

Switch 48 portas 10/100/1000 HP J9981A 2.795,00 6% 181,20

Notebook ACER A51551 2.749,00 4% 116,75

Aquecedor de água (15 litros) Quentuxa 15 litros 1.403,60 3% 44,39

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.

Da observação do Quadro 8, tem-se que a UFSM pagou até 22% a mais em

termos relativos em determinado bem do que a FATEC. Nos cinco itens, as variações

oscilaram entre 3% e 22%. Estes percentuais apresentaram-se menores do que

quando comparados ao estudo de Carvalho (2012), que encontrou uma diferença

média de 24,06% em materiais de consumo adquiridos pelo Banco de Preços em

Saúde do Ministério da Saúde, mais especificamente remédios. A despeito da

diferença da natureza dos bens, os resultados apresentados em termos de diferenças

foram menores na UFSM, visto que sequer a maior diferença percentual praticada

chegou à média de Carvalho (2012).

Em termos absolutos, as diferenças apresentadas variaram entre R$44,39 e

660,01, nos cinco itens. Apesar da maior diferença percentual se encontrar no item

“Multímetro”, em termos monetários a diferença mais significativa encontra-se no item

“Notebook”, superando-a em R$ 440,01. As diferenças nos demais itens são menos

representativas.

Posto esse cenário, pode-se traçar algumas linhas teóricas para tentar explicar

tais diferenças, sem, contudo, inferir quanto à exatidão do que se propõe, visto que

63

não se possui todos as variáveis que podem ter influenciado nessas diferenças.

Assim, a primeira menção teórica a se explanar trata-se dos custos de transação,

apontados por Herrmann (1999), Williamson (2000) e Neuenfeld et al. (2018).

Segundo aqueles autores, as licitações podem estar eivadas de custos ocultos, que

devem ser considerados nas decisões a respeito das compras, como os custos da

licitação propriamente ditos, os custos relativos aos riscos de tratar com o setor

público, entre outros. Assim, de acordo com Herrmann (1999), Williamson (2000),

estes itens adquiridos pela UFSM não teriam se realizado com processos eficientes,

visto que o preço obtido na licitação não foi menor do que o de mercado.

Neste caso, pode se considerar, também, a preocupação apresentada por

Faria, Ferreira e Gonçalves (2013) e Neuenfeld et al. (2018), que mencionaram em

suas pesquisas a preocupação que os órgãos públicos devem ter no sentido de

identificar comportamentos oportunistas nos processos de compras. Não se está

afirmando, aqui, que tenham ocorrido tais comportamentos na aquisição desses itens,

mas são evidências que podem corroborar aqueles estudos.

Complementando a teoria, os resultados do Quadro 8 podem ser interpretados

e entendidos partindo da análise dos processos de compras de cada uma das

entidades; enquanto a UFSM segue o rito processual completo apresentado na

legislação, especialmente na Lei 8.666/1993, com Edital, recebimento de propostas

(basicamente on line, por meio do pregão eletrônico), recebimento de documentação,

julgamento de habilitação, a seleção propriamente dita, a homologação dos

resultados, emissão de empenhos, distribuição, cobrança de empenhos, processo

contra fornecedores e todos os demais trâmites necessários para a concretização das

compras, a FATEC realiza a maior parte das compras mediante dispensa de licitação,

onde os prazos do processo são menores, os fornecedores geralmente são locais, e

o prazo de entrega é menor. Além disso, a fundação também poderá selecionar outro

fornecedor caso o primeiro descumpra qualquer dos prazos estabelecidos.

Assim, a teoria de mercados e a teoria dos custos de transação preveem

justamente que os custos do setor público tendem a ser mais elevados. Logo, pela

lógica dos processos, entende-se que a fundação possui procedimentos mais

próximos aos de entidades privadas que não precisam obedecer à legislação de

compras, o que leva a aceitabilidade dos resultados, pelo menos em termos teóricos,

apresentados no Quadro 8.

64

Sequencialmente, os próximos resultados apresentados referem-se aos três

itens permanentes adquiridos pela FATEC e pela UFSM em que não ocorreram

diferenças de preços, ou seja, ambas pagaram o mesmo valor. Os dados encontram-

se no Quadro 9.

Quadro 9 – Itens permanentes onde não houve diferenças de preços

Item Marca Modelo Diferença relativa

Computador desktop i7 com monitor memória: 16 gbytes

Dell Optilex 7050 sff

0%

Computador desktop i7 com monitor Dell Optiplex 7050 sff i7

0%

Condicionador de ar, capacidade de refrigeração de 30.000 BTU/h, ciclo reverso, tipo split hi-wall, controle remoto. Alimentação 220V, monofásico, 60Hz. Etiqueta Nacional de Conservação de Energia - ENCE, no mínimo classe ´C´. Manual de instruções em português. Garantia mínima de um ano ou a normalmente fornecida pelo fabricante, prevalecendo a maior, com certificado.

AGRATTO AGRATTO 0%

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.

Visualizando-se o Quadro 9, tem-se que este é o cenário ideal trazido pela

legislação, Lei nª 8.666/1993 e Decreto nº 8.241/2014, visto que, em tese, tanto o

setor público quanto o ente do setor privado que gerenciou e aplicou recursos públicos

obtiveram o mesmo preço.

Observa-se que as Leis da Oferta e Demanda se aplicaram perfeitamente a

ambos os entes, e a estrutura de mercado possibilitou a realização de compras em

condições, teoricamente, iguais, em que os custos de transação apontados por

Herrmann (1999), Williamson (2000) e Neuenfeld et al. (2018), em tese, foram

equivalentes ou não ocorreram. Assim, de acordo com Herrmann (1999), Williamson

(2000), estes itens adquiridos pela UFSM teriam se realizado com processos

eficientes, visto que o preço obtido na licitação não foi maior do que o de mercado,

considerando-se que a FATEC pratique preços de mercado em suas aquisições.

65

Por consequência, é possível refutar, neste caso, a preocupação apresentada

por Faria, Ferreira e Gonçalves (2013) e Neuenfeld et al. (2018), quanto ao cuidado

com os comportamentos oportunistas nos processos de compras em órgãos públicos

ou entes que gerenciam recursos públicos.

Em relação ao terceiro grupo de análise, qual seja, em que os preços pagos na

FATEC superaram os pagos pela universidade, tem-se um total de 49 itens adquiridos

como material permanente. Reuniram-se os dados, numa primeira análise, em termos

relativos, divididos em cinco faixas: até 25% superior; de 25% a 50% superior; de 50%

a 75% superior; de 75% a 100% superior, e superiores a 100%. A disposição desses

dados apresenta-se no Quadro 10.

Quadro 10 - Diferenças relativas em preços pagos a maior na FATEC

Quantidade de itens Faixa

relativa

19 Até 25%

16 >25% até

50%

9 >50% até

75%

2 >75% até

100%

3 >100%

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.

Detendo-se no Quadro 10, percebe-se que o mesmo apresenta diferenças em

termos de quantidades quando comparado ao Quadro 8. A FATEC obteve um total de

49 itens em que o preço pago pela mesma foi superior ao da UFSM, em que foram

somente 5 casos. Da mesma forma, percebe-se que as variações percentuais

chegaram a patamares muito superiores, com itens com mais de 100% de diferença

nos preços praticados.

Assim, os dados mostram que para 19 itens de material permanente adquiridos

a fundação pagou um valor até 25% superior ao pago pela UFSM, para itens de

mesmos modelos ou especificações. Já em 16 itens, a diferença ficou superior a 25%

66

e até 50%, inclusive. Ou seja, houve um dispêndio 50% maior para se comprar os

itens do que o que ocorreu na UFSM. Em 9, a diferença foi maior que 50% e até 75%

acima do preço pago pela universidade, ou seja, entre a metade e três quartos acima

do valor. Ainda, em 2 itens a diferença encontrada importou em mais de 75% e até

100% do valor.

Além disso, em 3 itens a fundação incorreu em preços superiores ao dobro

pago pela UFSM, ou seja, diferenças maiores do que 100% no valor. Destaca-se o

fato de que o preço nesses 3 itens, em verdade ficou superior a 200%, de acordo com

a planilha de dados e valores que podem ser obtidos a partir do Quadro 8; 206%,

215% e 302%, em outras palavras, pagou-se duas vezes mais em dois itens e três

vezes mais em um item na fundação, como apontam os dados.

Quando se consideram as diferenças absolutas nos 49 itens de material

permanente em que o preço de aquisição foi superior na FATEC, ou seja, em termos

monetários propriamente ditos, tem-se diferenças que foram de R$9,00 a R$2.398,12.

Para melhor apresentação dos dados, dividiu-se em quatro faixas os intervalos de

diferenças, com o objetivo de enquadrar os itens. Partindo-se da subtração entre a

maior e a menor diferença de preços encontrada nos itens (R$2.389,12), dividiu-se o

valor em quatro estratos com intervalores de valores iguais a R$597,28. O Quadro 11

apresenta as faixas absolutas e a quantidade de itens em cada uma delas.

Quadro 11 – Quantidade de itens em cada faixa absoluta de valores

Quantidade Faixa absoluta em R$

27 9 a 606,28

15 606,29 a 1.203,56

4 1.203,57 a 1.800,84

3 1.800,85 a 2.398,12

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.

Analisando-se o Quadro 11, visualiza-se que os 49 itens se encontram

dispersos entre os quatro estratos criados para a análise. Destes, 27 encontram-se

na faixa de valores que vai de R$9,00 a R$606,28, totalizando 55,1% dos itens. Já a

faixa que engloba diferenças de R$606,29 a R$1.203,56 possui 15 itens, que

representam 30,62% do total de bens nessa condição. Na faixa de valores que vai de

67

R$1,203,57 a R$1.800,84 encontram-se as diferenças de 4 dos itens, o que reflete

8,16% do total de bens. Por fim, há 3 itens na faixa de R$1.800,85 a R$2.398,12, mais

especificamente 6,12% do total de itens.

Isto posto, pode se dizer que na maioria simples das vezes em que ocorreram

diferenças de preços a maior em compras da FATEC, os valores não passaram de

R$606,28. Se considerados os dois primeiros estratos, tem-se que mais de 85% dos

itens que se apresentam na condição mencionada tiveram diferenças de até

R$1.203,56.

No entanto, o fato de aproximadamente 14% dos itens de material permanente,

que foram adquiridos com preços acima dos valores praticados pela UFSM,

possuírem diferenças acima de R$1.203,57, para itens com o mesmo modelo ou

especificações iguais, chama atenção. Mais ainda se considerarmos que 3 itens

possuem diferenças pelo menos maiores do que R$1.800,82 e que podem chegar a

R$2.398,12. Considerar esse valor a mais em um item adquirido requer atenção para

o processo de compra, pois mesmo se tratando da minoria da quantidade de bens

para os quais se obteve dados passíveis de comparação, os valores obtidos estão

muito acima dos processos em que a UFSM comprou os materiais.

Considerando-se a legislação aplicável, tanto a Lei nº 8.666/1993, os princípios

de administração pública e o Decreto nº 8.241/2014, percebe-se que não se obteve

resultados que apontassem para a efetiva melhor compra, pois a UFSM conseguiu

compras com valores menores, quando considerados os referidos itens, do que a

fundação, que recebe tais recursos com o mesmo intuito.

Assim, observando as orientações trazidas especificamente pelo conteúdo do

Art. 4º do Decreto nº 8.241/2014, nota-se que no caso das diferenças encontradas

não se obteve o resultado que objetiva aquele dispositivo legal, pois a exigência de

pesquisa prévia para estabelecimento de valores, em tese, deveria evitar essas

divergências. Desta forma, no caso dos itens em análise, não se pode afirmar que o

conteúdo do dispositivo legal foi totalmente obedecido.

Desta maneira, tratando-se das diferenças absolutas e relativas encontradas

nas compras da fundação, apresentam-se resultados que vão de encontro aos de

Carvalho (2012), visto que se inverte a questão dos maiores preços; se Carvalho

(2012) encontrou uma diferença média de 24,06% a maior em compras de materiais

de consumo adquiridos pelo setor público, nestes dados se observa que a fundação

68

de apoio pagou valores maiores, com percentuais que ultrapassam a média

apresentada por aquele autor.

Na tentativa de compreender os dados apresentados que apontaram as

diferenças relativas, ponderando-se que não se busca teorizar de forma incondicional

sobre o que se apresenta, visitam-se algumas linhas teóricas para tentar explicar tais

diferenças. Assim, a primeira menção que se faz é aos custos de transação apontados

por Herrmann (1999), Williamson (2000) e Neuenfeld et al. (2018). Segundo aqueles

autores, as licitações podem estar eivadas de custos ocultos, que devem ser

considerados nas decisões a respeito das compras, como os custos da licitação

propriamente ditos, os custos relativos aos riscos de tratar com o setor público, entre

outros.

Desta maneira, apropriando-se dos conceitos de custo de transação e

trazendo-os ao debate das compras da fundação, visto que a mesma aplica recursos

públicos que devem seguir rito legal de conformidade, observa-se que estes itens

adquiridos pela FATEC não teriam se realizado com processos eficientes, visto que o

preço obtido na compra não foi menor do que o de mercado, de acordo com Herrmann

(1999), Williamson (2000). O que reforça essa conjectura é que a UFSM obteve preços

menores do que os da fundação, mesmo sem se poder afirmar que as compras da

universidade tenham sido eficientes, de acordo com o conceito em análise.

Neste caso, pode se considerar, também, a preocupação apresentada por

Faria, Ferreira e Gonçalves (2013) e Neuenfeld et al. (2018), que mencionaram em

suas pesquisas a preocupação que os órgãos públicos devem ter no sentido de

identificar comportamentos oportunistas nos processos de compras. Neste sentido, as

compras realizadas pela FATEC podem ter sido afetadas por tais comportamentos na

aquisição desses itens. Mas não se pode conjecturar essa afirmação sem considerar

o fato de que os bens adquiridos, com as mesmas características, na UFSM não se

sujeitaram a tais influencias ou se sujeitaram em um grau menor, o que oportunizou

preços menores.

Outra linha de análise pode se dar a partir do exposto por Silveira et al. (2012),

que sugerem que se reflita sobre a utilização dos processos de dispensa de licitação

e inexigibilidade. Considerando-se a legislação vigente e a possibilidade da FATEC

realizar praticamente todas as compras por dispensa de licitação, essa observação

de Silveira et al. (2012) apresenta-se importante no contexto de análise de compra

desses itens em que se apresentou a diferença.

69

No mesmo sentido, Aguilar (2015) concluiu que para se manter a licitude e

regularidade nas contratações e compras das fundações devem se observar critérios

como a adequada caracterização dos bens em todas as fases do processo, além da

vinculação a um projeto específico, no âmbito da pesquisa, ensino, extensão ou do

desenvolvimento institucional. Com isso, de acordo com Aguilar (2015) o processo

estaria orientado pelos princípios da impessoalidade, isonomia e moralidade e

primando pela economicidade, visto que se trata de gestão de recursos públicos.

Novamente, torna-se imperioso afirmar que não se está concluindo sobre a legalidade

do processo de compra da FATEC ou mesmo sobre a exatidão dos mesmos. O que

se busca é a tentativa de explicações plausíveis para as diferenças encontradas.

Por outro lado, não se tem a possibilidade, a priori, de comparar os presentes

resultados com os estudos de Araújo e Jesus (2018), que apontaram que há um

pequeno impacto do desconto na ocorrência de custos de adaptação, sugerindo que

características da licitação e dos licitantes influenciam nesses custos, decorrentes de

não conformidades contratuais e que existe uma relação positiva, mas de pequeno

efeito, entre o desconto e a qualidade do produto. Essa impossibilidade ocorre no

sentido de não se ter base comparativa, tampouco evidências de que ocorreram

descontos por parte dos fornecedores ou inconformidades contratuais.

Nos resultados apresentados nesta seção, não é possível se afirmar que as

estruturas de mercado pudessem ter influenciado no preço final praticado pela

fundação de apoio, visto que, em tese, as mesmas condições de mercado

apresentaram-se tanto para a mesma como para a UFSM. Apesar das demandas

geradas pela FATEC serem provenientes dos pesquisadores, para atender aos planos

de trabalho dos projetos, e as demandas da UFSM provirem de toda a comunidade

acadêmica, essas razões, por si só, não influenciam no processo de aquisição.

No entanto, fazendo menção novamente ao fato de que nesta discussão não

se buscam conclusões como verdades absolutas, pelos motivos já apresentados, e

sim, se realizar um debate teórico entre autores e legislação, o que se pode observar

é que as aquisições realizadas pela FATEC, em sua maioria, podem ser realizadas

por dispensa de licitação, ao tempo que esta possibilidade não resta equivalente para

a UFSM, visto que a maioria das aquisições acontecem com o processo de licitação

completo, via pregão eletrônico, por se tratarem de bens comuns, de acordo com a

classificação introduzida pelo Decreto nº 5.450/2005.

70

Então, neste caso, hipoteticamente, as diferentes estruturas de mercado

poderiam causar diferenças nos preços, visto que a estrutura de mercado em que se

dá o pregão eletrônico pode ser diferente do da dispensa de licitação. Enquanto o

pregão eletrônico se aplica a todos os fornecedores que desejarem participar do

processo, desde que estejam habilitados, nas dispensas de licitação a abrangência é

menor, bastando se atender aos requisitos estipulados para as dispensas, como

justificativa do fornecedor contratado e seguir o rito estabelecido pelo Decreto nº

8.241/2014, que pode levar a uma abrangência regional menor, e por consequência

mercados com menos fornecedores, o que pode elevar, em partes, os preços, pela

Teoria da Demanda.

Traçadas as análises e discussões supra apresentadas, com o objetivo de

aprimorar o atendimento ao terceiro objetivo específico desta pesquisa, apresentam-

se resultados para alguns itens específicos, num recorte extra dos dados, quais sejam,

itens em que se encontrou o mesmo modelo adquirido tanto pela FATEC como pela

UFSM no período em análise. Assim, todas as especificações, a marca e o modelo

são iguais em ambos os casos. O Quadro 12 contém os itens mencionados nessa

situação.

Quadro 12 – Itens adquiridos com o mesmo modelo

(continua)

Item Marca Modelo NE Diferença relativa

Diferença absoluta

Projetor Multimídia Wi-Fi 1 - 3LCD de 3 chips; 2 - Método de projeção: Frontal / retroprojeção /preso ao teto; 3 - LCD Screen: 0,59 polegadas com MLA (D8); 4 -Método de driving: Obturador de cristal líquido RGB; 5 - Número de pixel: 2.304.000 pontos (1920 x 1200) x 3; 6 - Brilho de cor - Saída de luz de cor: 3000 Lumens

EPSON W39 - 3LCD

- WXGA 803729/18 106% 2.055,00

Destilador de kjeldahl para determinação de proteínas e nitrogênio

Tecnal Te - 0364 806084/18 54% 1.559,00

71

(conclusão)

Projetor multimídia EPSON POWER LITE X39

803729/18 69% 1.345,00

Projetor multimídia (xga - 1024x768/ 3.300ansi lumens contraste 15.000:1/ imagem: 30a 300/ saída: vga e hdmi)

EPSON POWERLITE 803729/18 58% 1.135,00

Câmera fotográfica CANON T6 804915/18 43% 940,00

Notebook: Processador: Sistema Operacional: Windows 10 Home, Memória: 8GB de memória Tela: HD 15.6” Antirreflexo, Câmera: 0.3MP, HD 1TB

LENOVO IDEA PAD

320, i5-7700 802446/18 1% 34,25

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa.

Partindo-se do Quadro 12, observamos 6 itens adquiridos pela FATEC que

possuem o mesmo modelo de itens adquiridos pela UFSM, os quais obtiveram preços

superiores na fundação. As variações relativas encontram-se entre 1% e 106%, ou

seja, itens que praticamente não variaram e outros em que se pagou mais que o dobro

pela aquisição na FATEC. Em termos absolutos, as diferenças estão entre R$34,25 e

R$2.055,00, o que se pode ponderar como um valor considerável quando se refere a

um item, apenas.

Com o Quadro 12 apresentado, foi possível se obter outra constatação. Há

neste quadro a citação do bem do tipo “projetor” três vezes, com preços diferentes em

cada uma delas e descrição de modelos díspares da mesma forma. No entanto,

observa-se que o número do empenho que embasou a compra na UFSM é igual nas

três situações, ou seja, trata-se do mesmo equipamento. Apesar da diferença de

descrição apresentada pela FATEC, o item que de fato foi adquirido foi o mesmo nos

três casos, pois se confirmou isso na consulta ao Portal Patrimônio da UFSM.

Assim, a primeira análise que se faz em relação aos achados demonstrados no

Quadro 12 é de que se aplicam as mesmas observações teóricas realizadas para os

Quadros 10 e 11, principalmente no que tange à questão apresentada por Herrmann

(1999), Williamson (2000) e Neuenfeld et al. (2018) em relação aos custos de

transação, do rito estabelecido pelo Decreto nº 8.241/2014 e da questão das

estruturas de mercado. Porém, para além dessas análises, traz-se também um

entendimento empírico notado no ambiente de trabalho do autor.

72

A constatação empírica refere-se às descrições diferentes para os mesmos

produtos. Esta questão pode estar correlacionada ao fato de que pessoas diferentes

estarem especificando os materiais, tanto em comparação com a UFSM quanto entre

próprias compras da UFSM. Mais especificamente, cada professor especifica de uma

forma própria os itens a serem adquiridos em seu plano de trabalho, sendo que são

essas as informações utilizadas pela FATEC para realizar os processos de compras.

Este fato pode corroborar as pesquisas de Faria, Ferreira e Gonçalves (2013)

e Neuenfeld et al. (2018), que mencionaram em suas pesquisas a preocupação que

os órgãos públicos devem ter no sentido de identificar comportamentos oportunistas

nos processos de compras. Neste sentido, as compras realizadas pela FATEC podem

ter sido afetadas por tais comportamentos na aquisição desses itens. Mas não se pode

conjecturar essa afirmação sem considerar o fato de que os bens adquiridos, com as

mesmas características, na UFSM não se sujeitaram a tais influencias ou se

sujeitaram em um grau menor, o que oportunizou preços menores, mesmo se

considerando que se está a adquirir produtos idênticos.

No entanto, não se está, com essa comparação teórica e constatação empírica,

afirmando que essa seja a real razão das diferenças nos preços apresentados nas

compras da FATEC, visto que um dos itens ultrapassa o dobro do valor pago pela

UFSM e em outros quatro mais de 40% a mais, quando comparados itens com o

mesmo modelo, ou seja, itens totalmente iguais.

Da análise dos Quadros 10, 11e 12 desta seção, em que se observam preços

superiores praticados pela FATEC quando comparados aos pagos pela UFSM por

itens iguais ou comparáveis, além da já apresentada análise teórica, pode-se efetuar

uma análise dos processos de cada uma das entidades, FATEC e UFSM, no que

tange aos métodos trazidos pela legislação e à relativa liberdade operacional aplicável

ao que não está regulamentado em lei.

Como os dados refutaram a teoria, em que pesem as observações

comparativas a estudos anteriores, a análise do processo de compra propriamente

dito, ou seja, do modo como se efetiva o mesmo em cada instituição em análise é

diferente. Como já mencionado na seção anterior, enquanto a UFSM segue o rito

processual completo apresentado na legislação, especialmente na Lei 8.666/1993,

com Edital, recebimento de propostas (basicamente on line, por meio do pregão

eletrônico), recebimento de documentação, julgamento de habilitação, a seleção

propriamente dita, a homologação dos resultados, emissão de empenhos,

73

distribuição, cobrança de empenhos, processo contra fornecedores e todos os demais

trâmites necessários para a concretização das compras, a FATEC realiza a maior

parte das compras mediante dispensa de licitação, onde os prazos do processo são

menores, os fornecedores geralmente são locais, e o prazo de entrega é menor. Além

disso, a fundação também poderá selecionar outro fornecedor caso o primeiro

descumpra qualquer dos prazos estabelecidos.

Assim, o fato do processo ser mais flexível na FATEC não está levando a

compras de menores preços em itens equivalentes em especificações técnicas.

Soma-se a isso a constatação empírica do autor de que há, em princípio, uma falta de

planejamento de compras por parte da fundação. Ocorrem casos em que a fundação

compra bens na última semana do projeto, ou seja, durante todo o andamento do

projeto o recurso não foi utilizado e ao final o mesmo é aplicado. Isso pode contribuir

para a realização de compras com valores superavaliados, visto que não se teve o

correto planejamento, o que pode ter levado a custos de transação não identificáveis

ou ao oportunismo do mercado em relação a estas compras.

Outra constatação empírica é que a universidade realiza compras em

quantidades maiores, em média, do que a fundação, que compra itens de acordo com

a demanda de cada projeto, por determinação do pesquisador, nos prazos por ele

estabelecidos. Se considerarmos os fatores de mercado, isso também pode estar

contribuindo para que a universidade consiga preços menores, por mais que a teoria

apresentada demonstre que a tendência é de os preços serem maiores nas compras

de Órgãos públicos. Assim, pode-se deduzir que o planejamento de compras da

universidade está sendo efetivado de forma mais eficaz do que o da fundação, não se

concluindo, com isso, que o planejamento da UFSM seja livre de problemas ou que

seja um planejamento que atenda a toda a demanda da universidade.

Outro fator a ser apontado é que a fundação não utiliza o processo de

chamamento por Pegão eletrônico, introduzido pelo Decreto nº 5.450/2005, que é

adotado pela universidade na maioria das aquisições de bens permanentes, o que

pode estar gerando preços mais baixos pela competição entre fornecedores

habilitados, o que é diferente dos processos de dispensa de licitação, onde se possui,

basicamente, três propostas de valores, que podem estar eivadas de custos de

oportunidade.

Ainda, no que tange ao processo licitatório da universidade, geralmente ocorre

o pregão eletrônico onde são licitados vários itens diferentes, mas que podem estar

74

no ramo de mercado do mesmo fornecedor. Assim, este ofertando pode estar disposto

a praticar menores preços em determinados itens para conseguir obter uma margem

de ganho maior em outros itens que, para o mesmo, possuam maior valor agregado

ou menor custo de produção. Enquanto isso, nem sempre a fundação realiza

processos de compras onde haja diversidade de itens que estão sendo adquiridos, o

que também pode estar contribuindo para maiores preços em suas aquisições.

No tópico seguinte, serão abordados resultados em relação a diferenças em

itens não comparáveis adquiridos pela FATEC sem correspondente na UFSM.

4.3 DIFERENÇAS QUE NÃO SE REFEREM A PREÇOS NOS ITENS ADQUIRIDOS

Neste tópico buscar-se-á complementar ao terceiro objetivo específico desta

pesquisa, abordando-se algumas diferenças entre produtos adquiridos pela FATEC e

que não são adquiridos pela UFSM. Trata-se dos itens que foram pesquisados no

Portal Patrimônio, a fim de se encontrar as mesmas especificações para itens

comprados na UFSM e comparáveis às compras da FATEC.

Como regra, ocorriam duas situações quando não se achavam resultados

comparáveis: ou somente a FATEC comprava determinado tipo de item; ou a

universidade comprava itens semelhantes, mas de especificações técnicas menores.

Em alguns casos específicos ocorreu de a UFSM comprar itens com especificações

técnicas superiores aos da FATEC.

As especificações dos itens adquiridos pela FATEC geralmente eram melhores

ou maiores em itens de tecnologia agregada, como computadores, notebooks,

materiais laboratoriais e aparelhos de medição. Já os itens que somente a FATEC

adquiria se referiam a itens laboratoriais, em sua maioria.

Entende-se importante apresentar estes resultados para se compreender

melhor possíveis causas para que se encontrassem dados comparáveis em somente

aproximadamente 20% dos itens comprados, tanto em quantidades como em valor,

como apontado na metodologia desta dissertação.

Retomando o já exposto no tópico anterior, quando se tratou dos itens de

modelos iguais com valores diferentes na fundação e na universidade, um dos motivos

que levam a compras díspares em termos de especificação técnica pode estar

atrelado a descrição por diferentes pessoas em ambos os casos de compras.

75

Outra razão que pode afetar as especificações dos itens é a necessidade de

atender adequadamente aos objetivos dos projetos coordenados pelos professores

que requisitam as compras à FATEC. Estas especificidades podem estar levando a

fundação a comprar, com certa exclusividade, itens mais específicos e com qualidade

técnica superior, visto que as compras da UFSM são mais concentradas e não

necessariamente atreladas a pesquisas que exigem alto grau de sofisticação ou

melhores condições técnicas.

Não se está afirmando, com isso, que a UFSM não realiza compras de materiais

com boas especificações técnicas ou de tecnologia avançada, mas talvez não para as

mesmas finalidades dos projetos para os quais se compram via FATEC. Da mesma

forma que como não se tem base de comparação de tais compras na UFSM, as

compras realizadas exclusivamente pela FATEC não podem ser comparadas quanto

a seus preços, não sendo possível obter nenhum resultado, para estas compras,

quanto a possíveis custos de transação envolvidos, citados por Herrmann (1999) e

Williamson (2000), tampouco em relação a preocupação no sentido de identificar

comportamentos oportunistas nos processos de compras, apresentada por Faria,

Ferreira e Gonçalves (2013) e Neuenfeld et al. (2018).

A seguir, apresenta-se a conclusão da presente pesquisa.

76

5 CONCLUSÃO

A presente dissertação teve como objetivo comparar a diferença entre os

preços das compras de material permanente realizadas pela Fundação de Apoio à

Tecnologia e Ciência e os preços de compras de material permanente da

Universidade Federal de Santa Maria, no exercício de 2018, dos itens passíveis de

comparação. Realizadas as coletas de dados, a apresentação dos resultados e a

interpretação e análise dos mesmos, confrontando-os com a teoria referenciada,

entende-se que este objetivo foi atendido, respondendo à questão-problema.

Além da revisão dos resultados e apresentação das conclusões e sugestões

para a UFSM, deixam-se, nesta conclusão, alguns questionamentos construtivos,

para que pesquisadores possam utilizar para amparar novas pesquisas, com o intuito

de esclarecer fatos, e os gestores, para que verifiquem os possíveis motivos dos

achados e a busca de salvaguardas para a mitigação destes em períodos futuros.

Do total de 303 itens adquiridos pela FATEC, 57 foram comparáveis com os

adquiridos na UFSM, representando 18,81% dos itens em termos de quantidade e

20,47% em termos de valores de compras. Aqui, cabe um primeiro questionamento:

por que a fundação compra itens diferentes dos comprados pela universidade,

principalmente em termos de especificação técnica superior, que, por consequência,

possuem valor agregado unitário maior? Considerando-se que a maior parte das

aquisições da fundação ocorrem por dispensa de licitação, este achado não estaria

destoando do Princípio da Economicidade, que prevê que se busque o menor preço

possível para a qualidade almejada, e que uma ferramenta para tal é o processo

licitatório amplo? A exposição seguinte confirma o que se apresenta nesse parágrafo.

Os dados apontaram que dos itens passíveis de comparação, em 5 itens o valor

obtido pela UFSM foi maior, em suas aquisições; em 3 o valor foi o mesmo; e em 49

itens o preço pago pela FATEC foi superior nas aquisições, em comparação aos

preços pagos pela UFSM. Assim, em termos relativos, pode se afirmar que em 85,96%

dos itens passíveis de comparação, no período de análise, o valor pago pela FATEC

foi maior do que os valores pagos pela UFSM. Cabe outro questionamento: por que

na maioria dos itens passíveis de comparação o valor pago pela fundação foi maior

do que os valores pagos pela universidade? Apesar de ter seus próprios

procedimentos, amparados legalmente, não seria o objetivo maior da fundação

77

maximizar os recursos da universidade, os quais se encontra gerindo, amparada

contratualmente?

Seguindo a apreciação dos resultados, as variações de preços nos itens em

que a universidade pagou mais caro foram entre 3% e 22%, ou entre 44,39 e 600,01,

em termos absolutos. Novamente, efetua-se um questionamento construtivo: por que

a universidade pagou mais caro que a FATEC nestes itens? Será que os fatores de

estrutura de mercado e os custos de transação afetaram tais compras? Prosseguindo,

nos itens em que a fundação pagou valores maiores, as diferenças relativas

concentraram-se em até 50% de diferença, mas chegaram até a ser superiores a

200% do valor pago na UFSM. Em termos absolutos, a diferença variou entre R$9,00

a R$2.398,12, por item analisado.

O questionamento, novamente: por que ocorreram diferenças nessa

magnitude, com itens obtendo valores superiores a dois mil reais em cada quantidade

adquirida? O que explica tamanha diferença a maior nos preços pagos pela fundação?

A fundação está realizando processos de auditoria interna para gerar salvaguardas

aos seus procedimentos? Será que há influência direta dos processos de dispensa de

licitação, visto que a teoria propõe que as entidades privadas consigam praticar preços

menores? Seria de se afirmar, com o caso da FATEC, que há outros fatores que

influenciam os valores de suas compras, ainda não estudados suficientemente para

se tornar uma teoria? Quais seriam?

As principais conclusões do estudo revelam que os preços encontrados nas

compras realizadas na FATEC não estão em consonância ao que prevê a teoria

abordada no estudo. Esperava-se que os preços fossem, ao menos em sua maioria,

inferiores aos praticados na UFSM, visto a fundação possuir maior flexibilidade na

observância da legislação em suas compras, principalmente pela possibilidade de

realização de dispensa de licitação na maior parte dos casos.

Além disso, seria possível a fundação ter maior controle dos custos de

transação envolvidos quando comparada à UFSM, visto que, por não seguir todo o

processo licitatório, teria a possibilidade de reduzir os mesmos a patamares não

praticáveis pela universidade. No entanto, essa premissa não se confirmou, dado os

achados que apontam no sentido contrário, em um cenário em que a fundação está

pagando mais caro na maioria dos itens comparáveis. Assim, deixa-se o

questionamento do porquê a fundação não realizar suas compras com processos de

78

pregão eletrônico, visto que seria uma alternativa para ampliar o quantitativo de

fornecedores, o que poderia baratear os preços obtidos.

Assim, conclui-se que os processos de aquisição de bens de natureza

permanente por parte da FATEC não estão gerando compras com valores menores

do que os da UFSM e, por conseguinte, não se pode afirmar que a mesma está

realizando compras eficazes, quando comparadas às da universidade. Ademais, não

há um planejamento adequado de compras na fundação, pois a observação empírica

permitiu verificar que as compras ocorrem por demanda do coordenador do projeto, e

não anualmente, com prazos estabelecidos a serem seguidos, como na UFSM.

Também se observou que as especificações dos itens são realizadas pelo

próprio coordenador de cada projeto, o que gera descrições diferentes para itens

iguais em especificidades. Se o processo de compra fosse centralizado e planejado,

com prazos para efetivação de determinados tipos de materiais, poderia se diminuir

as diferenças mencionadas, com descrição única, reduzindo inclusive a necessidade

de nova dispensa a cada compra em projetos diferentes, o que pode estar elevando

os custos de transação.

A universidade poderia, neste sentido, padronizar o catálogo de produtos entre

fundação e UFSM, para que se trabalhasse com as mesmas descrições e termos de

referência, o que evitaria que houvessem várias descrições semelhantes para o

mesmo item. Ainda, comprando-se mais itens no mesmo processo de aquisição,

poder-se-ia obter preços menores pelo quantitativo adquirido, gerando maior margem

de negociação para com os fornecedores. No mais, geraria maior transparência às

aquisições da fundação.

Da mesma forma, constatou-se que a fundação não se utiliza do instrumento

de pregão eletrônico, justamente pela natureza dos processos de compra, que em sua

maioria se dão por dispensa de licitação, pois permite-se legalmente. Também, outra

conclusão que é permitida pela análise dos dados apresentados no período

mencionado, para compra de materiais permanentes e que foram comparáveis, é de

que a FATEC não está gerando o melhor resultado para sua contratante, a UFSM,

que repassa o recurso dos projetos para a mesma gerir e aplicar, de acordo com a

necessidade do andamento dos projetos. Não se discute, aqui, o mérito da FATEC

poder realizar captação de recursos que a universidade não pode realizar hoje, como

aplicações financeiras, recursos provenientes das próprias atividades desenvolvidas

79

nos projetos, entre outros. O que se está a discutir é a aplicação dos recursos no

momento da compra dos materiais.

Neste sentido, sugere-se à instituição de ensino superior UFSM que solicite a

adesão da FATEC à ferramenta de pregão eletrônico em suas aquisições, visando

obter preços mais próximos aos praticados pela universidade e otimizando os

recursos públicos colocados sob gestão da fundação. Essa ferramenta poderia

oportunizar maior concorrência entre os fornecedores, o que poderia reduzir os custos

dos itens que estão se adquirindo, como ocorre na maioria das compras da UFSM.

Além disso, o processo se tornaria mais transparente, contribuindo para melhorar a

governança e a responsabilidade fiscal na fundação, e também na UFSM, ao prestar

contas às entidades de fomento, que fornecem os recursos para as pesquisas na

instituição.

Como principal limitação do estudo, cita-se o fato de que nem todos os bens

permanentes adquiridos tenham sido passíveis de comparação, pois as

especificações não eram iguais. Assim, não se pode estender as análises aqui

apresentadas para todos os bens permanentes adquiridos pela FATEC. Sugere-se

que, para maior transparência e obtenção de informações para trabalhos futuros, haja

critérios claros para explicar as razões de se ter um nível tão baixo de compras de

materiais com melhores especificações, em sua grande maioria, somente na FATEC.

Deixa-se, como sugestão final para a UFSM, a sugestão de quee se realizem

auditorias operacionais na fundação, ou que se cobrem relatórios de auditoria em

termos de aplicação de recursos em material permanente nos últimos exercícios

financeiros. Não se está, aqui, apontando nenhuma evidência de malversação

financeira. O que se sugere é que essa auditoria poderá melhorar os procedimentos

internos relacionados a compras e gerar maior confiabilidade nas informações,

transparência para com os agentes envolvidos e contribuirá para as melhores práticas

de Governança na UFSM, que é quem contrata a FATEC e é responsável pelos

recursos públicos repassados contratualmente àquela instituição.

Para pesquisas futuras sugere-se que este estudo seja replicado em outras

instituições de ensino superior e com outras fundações, a fim de se obter validação

teórica e base comparativa para otimizar os achados desta dissertação. Inclusive, o

estudo poderia ser realizado em outros órgãos públicos, como prefeituras, câmaras

de vereadores, ou mesmo em órgãos públicos não vinculados à área da educação.

80

Sugere-se, ainda, replicar o estudo na UFSM e na FATEC em período temporal

diferente do apresentado, para observar se os achados se repetem ou se ocorrem

mudanças substanciais. Também, que se replique a pesquisa, tanto nas entidades

analisadas neste estudo como em outras, com bens de natureza de consumo, ou

mesmo com a prestação de serviços, a fim de verificar se a realidade apresentada

nesta pesquisa se repete em tais populações, ratificando o método utilizado.

81

REFERÊNCIAS

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82

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83

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - DESCRITIVO DOS ITENS COMPARÁVEIS E INFORMAÇÕES PARA ANÁLISE

Item Marca Modelo Valor Unit (R$)

UFSM (R$)

Nota de Empenho

Computador AIO para Laboratórios/Computador Processador com mínimo de 4 núcleos e 4 threads e mínimo 6MB de memória cache, Memória: 8 GB e com velocidade de 2400 MHZ.

Dell OPTIPLEX 5250N AIO

8.098,12 5.700,00 805628/18

Microcomputador Dell Vostro 3470 SFF, processador intel core i7 - 8700, memória RAM 8gb ddr4 pc 2666

Dell DELL VOSTRO 3470 SFF

6.880,00 5.700,00 805628/18

Notebook processador intel core i5 dual core de 1,8 ghz, memória integrada lpddr3 de 8gb com 1600 mhz, hd ssd de 256 gb, tela widescreen de 13,3", peso máximo de 1,5 kg

Apple MacBook Air MQD42BZ

6599,99 7.260,00 809019/18

Computador desktop de alto desempenho intel, modelo i5 de 7ª geração, 8gb ram

Intel Intel, i5, 7ª geração

5.870,00 4.546,29 80858/18

Microcomputador 3.2ghz/12mb cache box, 16gb ddr4 2400, disco ssd 120gb, hd sata3 2tb, placa de vídeo integrada, placa de rede 10/100/1000 integrada

Compusonic High performance

i7

5.780,00 5.700,00 805628/18

Computador desktop i7 com monitor memória: 16 gbytes

Dell Optilex 7050 sff

5.700,00 5.700,00 802299/18

Computador desktop i7 com monitor

Dell Optiplex 7050 sff i7

5.700,00 5.700,00 802299/18

Microcomputador com monitor: intel® core™ i5-7500 @3.4ghz processador 64 bits .memória 8 gb

Lenovo M710s 5.400,00 4.546,29 808290/18

Computador processador intel® core™ i5-8400; windows 10; 8gb, ddr4, 2400mhz; disco rígido de 1tb (7200 rpm);

Dell 8ª geração 4.530,11 4.280,00 805485/18

Destilador de kjeldahl para determinação de proteínas e nitrogênio

Tecnal Te - 0364 4.450,00 2.891,00 806084/18

Autoclave vertical analógica com volume mínimo de 40 litros. Alimentação em rede de 220v

Stermax 40ava 4.300,00 4.126,15 802927/18

Nobreak senoidal 3000VA 08 saídas, entrada(bivolt) saída 115V, com bateria

Nhs prime PRIME SENOIDAL

3000VA

4.090,00 3.990,00 801210/18

89

Projetor Multimídia Wi-Fi 1 - 3LCD de 3 chips; 2 - Método de projeção: Frontal / retroprojeção /preso ao teto; Brilho de cor - Saída de luz de cor: 3000 Lumens

Epson W39 - 3LCD - WXGA

4.000,00 1.945,00 803729/18

Computador Portátil NoteBook, Processador: Ref.: Intel® Core™ i5-6200U @ 2.3 GHz Indice CPU Benchmark minimo 3950, Possuir 2 (dois) slots para memória RAM, permitindo a instalação de 16 Gigabytes, do tipo DDR4, @2133MHz

Lenovo B 320 3.980,00 2.865,75

802446/18

Condicionador de ar, capacidade de refrigeração de 30.000 btu tipo split, controle 220v

Philco PAC 30000 QFM6

3.588,00 3.150,00 802259/18

Notebook Acer A515-51UX INTEL CORE

I5-7200U

3.580,00 2.865,75 802446/18

Bomba de vácuo Marconi MA2057 3.469,84 1.616,00 802317/18

Condicionador de ar split 30000btus

Philco 30000BTUS QUENTE E FRIO 220V

3.399,00 3.150,00 802259/18

Projetor multimídia Epson POWER LITE X39

3.290,00 1.945,00 803729/18

Notebook II (modelo: sony vaio fit 15s, intel core i5, 7200u, 8 giga de memória, hd 1 tb

Sony SONY VAIO FIT 15S

INTEL CORE i5-7200U

3.200,00 2865,75 802446/18

Projetor Multimídia Brilho: 3000 lumens Resolução Nativa: 1280 x 800 Método de projeção: Frontal, retroprojeção, preso ao teto Relação de Contraste: 10000:1, 50/60 Hz; comutação automática Conexão de Rede: Wireless IEEE802.11n

Panasonic PT -LN 312 3.200,00 1.945,00 803729/18

Switch 48 portas 10/100/1000 + 4 SFP 1000 Mbps portas

Sata FUL HD 3.199,00 2.850,00 801562/18

Condicionador de ar, capacidade de refrigeração de 30.000 BTU/h, ciclo reverso, tipo split hi-wall, controle remoto. Alimentação 220V, monofásico, 60Hz. Etiqueta Nacional de Conservação de Energia - ENCE, no mínimo classe ´C´.

Agratto AGRATTO 3.150,00 3.150,00 802259/18

Câmera fotográfica Canon T6 3.140,00 2.200,00 804915/18

Projetor multimídia (xga - 1024x768/ 3.300ansi lumens contraste 15.000:1/ imagem : 30a 300/ saida: vga e hdmi)

Epson POWERLITE 3.080,00 1.945,00 803729/18

90

Notebook: Processador: Sistema Operacional: Windows 10 Home, Memória: 8GB de memória Tela: HD 15.6” Antirreflexo, Câmera: 0.3MP, HD 1TB

Lenovo IDEA PAD 320, i5-7700

2.900,00 2.865,75 802446/18

Condutivímetro com eletrodo de bancada

Marconi MA521 2.860,00 1.735,00 804509/18

Destilador de água Nova tecnica NT426- 220V 2.849,00 2.076,00 808964/18

Switch 48 portas 10/100/1000 Hp J9981A 2.795,00 2.976,20 804834/18

Notebook Acer A51551 2.749,00 2.865,75 802446/18

Aparelho de ar condicionado split 18.000 btus quente/ frio

Philco IQFM4 2.699,00 1.600,00 805481/18

Tablet galaxy TAB S3, Velocidade do Processador; memória RAM (GB) 4GB Memória Total Interna 32 GB

Samsung SMT825 2.682,00 2.275,00 805329/18

Condutivímetro Highmed HMCDB-150 2.510,00 1.735,00 804509/18

Aparelho de ar condicionado split 18.000 btus

Super split SS18SP/17P0408L

2.495,00 1.600,00 803726/18

Ar condicionado split 12.000btus quente/frio 220v

Super split - 2.040,00 1.130,00 806978/18

Bomba de vácuo modelo 131b 220 v

Prismatec MODELO 131B

1.957,50 1.413,00 806010/18

Ar condicionado split 12000 btus quente/frio 220 v

Springer 12.000 BTUS Q/F

1.840,00 1.130,00 806978/18

Centrífuga sorológica, rotor para 12 tubos de 10 ml ou 15 ml Controladores digitais de velocidade e tempo, 220V

Daiki 80 - 2B 1.770,00 1.330,00 805153/18

Estabilizador Steadicam Flying Hand de Fibra de Carbono para Câmeras até 5Kg. Capacidade de Carga: 5 kg Peso: 1,1kg.

Mag S60 1.750,00 950,79 805694/18

Switch com 24 Portas 1920s HEP 1.708,00 1.275,30 807954/18

Armário de aço com duas portas, 4(quatro) prateleiras internas, com chaves

W3 A 403 M 1.570,00 520,00 802171/18

Condicionador de ar, capacidade de refrigeração de 12 btus tipo spit, controle remoto , 220v

Philco PH 12000QFM5

1.539,00 1.130,00 804014/18

Condicionador de ar split 12000 btus quente/frio 220 volts

Elgin 12000BTUS Q/F 220V

1.499,00 1.130,00 804014/18

Impressora multifuncional laser monocromática, funções: impressão, digitalização, cópia,

Samsung Multifuncional laser mono duplex si-m2885fw

1.490,00 1.035,00 805158/18

Aquecedor de água (15 litros) Quentuxa 15 litros 1.403,60 1.447,99 805601/18

Agitador magnético, capacidade 10 litros , com aquecimento , 220v

Global GT- AMB10L 1.017,00 700,00 803101/18

Multímetro digital 100v ty720 Cat iii cat 980,00 1.200,00 807942/18

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Cadeira giratória presidente SRE roda silicone, braço digitados, com laudo de ergonomia revestimento em couro ecológico

Cavaletti 4001 SRE 745,00 700,00 808445/18

Cadeira Presidente Assento: comprimento 48cm. Gerais: Material da estrutura: aço e plástico, material do revestimento PU; material do braço: polipropileno e PU, tipo de espuma com densidade controlada, material de assento, com madeira multi laminada, peso máximo suportado 120Kg

Fortt - 735,00 700,00 808445/18

Armário alto com 02 portas 03 prateleiras medindo 90x50x160cm (LxPxH),

Dg moveis - 700,00 529,00 808197/18

Tela de projeção retrátil 2,00 x 2,00m

Telas tech TR03 690,00 560,00 806003/18

Cadeira executiva giratória, sem braço, em poliester

Cavaletti EXECUTIVA 474,00 450,00 808859/18

Cadeira - Poltronas de braços Caderode - 459,00 450,00 808938/18

Gaveteiro volante 04 gavetas 68x48x48 cm. Unidade. Confeccionado em madeira MDF ou MDP de 25 mm de espessura

Dg moveis - 450,00 297,00 808593/18

Mesa retangular - pé metálico Gebb work 1100X600ARG ARG ALU

397,00 309,00 802242/18

Escada multifuncional 3x4 - com 12 degraus de alumínio

Mor MULTIFUNCIONAL 3X4

370,00 283,00 806037/18

Escada de alumínio com 6 degraus

7974/0 7974/0 155,00 129,00 806037/18

92

ANEXOS

93

ANEXO A – AUTORIZAÇÃO DE USO DE DADOS DA DIREÇÃO DO DEMAPA