Religião, entretenimento, modernidade e mídia: como dialogar neste cenário no século XXI.

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Cátedra Unesco de Comunicação e Desenvolvimento/Universidade Metodista de São Paulo VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesial, São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2013 1 Religião, entretenimento, modernidade e mídia: como dialogar nesse cenário no século XXI 1 Sheila Alves RIPOLI 2 RESUMO Neste trabalho será retratado a religião e os seguimentos que a permeiam dentro de um cenário de entretenimento midiático, um dos pontos importantes é dialogar este assunto tão comentado, questionado em uma era tecnologicamente grande, onde os recursos na maioria das vezes trazem à tona a exposição do extremismo, deixando a “ética” de lado, todavia entreter as pessoas na religião é um fato óbvio em um país de sérios devaneios, onde o “espírito” do capitalismo é que reina mesmo depois de um Brasil império ainda temos o império oculto.Sendo assim, a paixão pela verdade é uma luta da sociedade em um momento de (não) liberdade é, entretanto um enorme desafio que a comunicação tem e terá sempre quando falamos de sociedade, religião e mídia. PALAVRAS-CHAVE: Religião; entretenimento; modernidade; mídia. Introdução Quando falamos de religião, logo nos deparamos com uma situação de grande exposição e de argumentação, seja qual for a sua fala, dialogo ou refutação as pessoas que se interagem ficam na maioria das vezes a mercê das indagações e das fundamentações manifestas dos ouvintes, então, para melhor compreender qual a definição geral desta palavra tão pequena, mas, com grandes assuntos, neste artigo será comentado o que de fato é e quais as suas formas de entendimento. Em se tratando da área de entretenimento midiático é ou não um fato positivo de se manifestar, ou melhor, um cenário passageiro que a “idade mídia” retratou e não compensatório, pois a 1 Trabalho apresentado na VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesical (Eclesiocom), realizada em São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2013. 2 Licenciando em Letras; pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires FIRP/UNIESP Lattes: http://lattes.cnpq.br/0946190124704878 / E-mail: [email protected].

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Cátedra Unesco de Comunicação e Desenvolvimento/Universidade Metodista de São Paulo VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesial, São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2013

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Religião, entretenimento, modernidade e mídia: como dialogar nesse cenário no

século XXI1

Sheila Alves RIPOLI2

RESUMO

Neste trabalho será retratado a religião e os seguimentos que a permeiam dentro de um

cenário de entretenimento midiático, um dos pontos importantes é dialogar este assunto

tão comentado, questionado em uma era tecnologicamente grande, onde os recursos na

maioria das vezes trazem à tona a exposição do extremismo, deixando a “ética” de lado,

todavia entreter as pessoas na religião é um fato óbvio em um país de sérios devaneios,

onde o “espírito” do capitalismo é que reina mesmo depois de um Brasil império ainda

temos o império oculto.Sendo assim, a paixão pela verdade é uma luta da sociedade em

um momento de (não) liberdade é, entretanto um enorme desafio que a comunicação

tem e terá sempre quando falamos de sociedade, religião e mídia.

PALAVRAS-CHAVE: Religião; entretenimento; modernidade; mídia.

Introdução

Quando falamos de religião, logo nos deparamos com uma situação de grande

exposição e de argumentação, seja qual for a sua fala, dialogo ou refutação as pessoas

que se interagem ficam na maioria das vezes a mercê das indagações e das

fundamentações manifestas dos ouvintes, então, para melhor compreender qual a

definição geral desta palavra tão pequena, mas, com grandes assuntos, neste artigo será

comentado o que de fato é e quais as suas formas de entendimento. Em se tratando da

área de entretenimento midiático é ou não um fato positivo de se manifestar, ou melhor,

um cenário passageiro que a “idade mídia” retratou e não compensatório, pois a

1 Trabalho apresentado na VIII Conferência Brasileira de Comunicação Eclesical (Eclesiocom), realizada em São Bernardo do Campo, SP, 22/8/2013.

2 Licenciando em Letras; pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires – FIRP/UNIESP – Lattes: http://lattes.cnpq.br/0946190124704878 / E-mail: [email protected].

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modernidade já aceita passivamente e trata como corriqueiro este assunto e

indispensável para seu andamento na modernidade, como entender?

Diversas vezes em todo o campo midiático a imprensa brasileira tenta mostrar a

veracidade, bom pelo menos parece ser assim, apesar de sérios deslizes de alguns

líderes religiosos a aparência ainda é confundida em o que é verdade e o que é mentira,

em o que passatempo e o que é consumo, em o que é transformações e o que é

rompimentos, sendo assim, é importante entender no decorrer deste trabalho algumas

explicações e entendimentos sobre tantas e tantas questões que decorrem na vida do ser

humano e o cenário da religião contemporânea do século XXI.

Em poucas palavras podemos dizer como Albert Einstein diz: “No meio da

confusão, encontre a simplicidade. A partir da discórdia, encontre a harmonia. No

meio da dificuldade reside à oportunidade”, então, entende-se que compreender

harmonicamente é a melhor forma de dialogar esta identidade brasileira.

1. Religião: como compreender e/ou entender?

O que é religião?

É claro, quando falamos nesse termo “religião” pensamos em trazer uma

definição única, mas, não é dessa forma tão clara que conseguimos entender, o

psicólogo da religião James Leuba no século XX reuniu quase cinqüenta definições

diferentes de “religião”, porém, ele 3rejeitou todas e ofereceu a sua própria, como

alternativa.

Para definir este tema religião é muito amplo tanto porque compreende várias

formas de expressões culturais, onde englobam costumes, instituições, arte e literatura,

sendo assim, a palavra “religião” é como um labirinto, portanto, a palavra “religião”

acaba sendo diferenciada na cabeça dos que ouvem falar dela ou, então, entre os que

falam a seu respeito.

Muitos confrontos se dão em entender a religião verdadeira com a falsa, ou até

mesmo uma razão clara com o embotamento religioso, isto é, perde-se o “fio”, na

maioria das vezes um enfraquecimento em expressar dentro de tantas religiosidades.

3 HOCK, Klaus. Introdução à Ciência da Religião. São Paulo. Loyola, 2010.

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Basicamente o termo “religião” vem da palavra latina religio, à qual remonta,

descreve a “atuação com consideração” ou a “observância cuidadosa”, entretanto,

diversas definições é encontrada, porém, quando falamos em definir este termo com os

cientistas da religião, há várias afirmações como: dizer que se trata em todos os casos, a

seres espirituais, já para outro cientista enfatiza dizendo que se trata de promessa de

redenção, incluindo também o marxismo no gênero da religião, e também por fim,

outros dizem que a religião oferece para os seres humanos o sentido da vida.

No decorrer do tempo encontramos algumas definições do termo “religião” que

vale a pena ressaltar, interpretada em vários sentidos, como para Lactâncio, um escritor

e orador cristão do século III/IV, ele deriva religio de religare – ligar, ligar de novo,

ligar de volta, levar de volta, em seguida surge o teólogo cristão Agostinho (354-430)

adota essa definição e descreve a religio vera, a “religião verdadeira”, como aquela que

é orientada pelo zelo de reconciliar e “ligar de volta” a alma que se afastou de Deus ou

se desgarrou dele. Com a Reforma, “religião” se torna um termo que desempenha uma

função crítica: contra “superstição” e “magia”, mas também contra a atuação cúltica da

Igreja Católica Romana, todavia, mas recentemente uma terceira variante derivar religio

de rem ligare, “amarrar a coisa”, no sentido de “descansar das inquietudes”.

O termo geral religião é usado para refutar a pretensão de o cristianismo possuir

uma posição sobrenatural, acreditasse no cristianismo que eles são a forma mais

civilizada e mais altamente desenvolvida da religião, contudo, estaria mais perto desse

ideal do que as outras religiões da humanidade4.

Para Karl Marx a religião é o ópio do povo, isto é, uma “droga ilícita” que

ameniza a dor e o sofrimento, sendo claro e objetivo diz que a religião era usada para

amortecer os conflitos sociais, a luta de classe, confortando as feridas e/ou as aflições do

trabalhador, que no século XIX não tinham dinheiro para comprar remédio, o povo é

“alienado” e que não conseguiria viver sem a religião.

Marx acredita que o indivíduo que se submete a este fluxo acaba sendo

controlado socialmente, manipulado e explorado, sendo assim, “A religião é, na

realidade, a consciência e sentimentos próprios do homem que ou ainda não se

4 HOCK, Klaus. Introdução à Ciência da Religião. São Paulo. Loyola, 2010.

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encontrou ou então já se perdeu”. “A religião é apenas o sol ilusório em torno do qual

se move o homem enquanto não se move em torno de si mesmo”.5

O sociólogo Émile Durkheim em seu livro As formas elementares da vida

religiosa, chega à seguinte conclusão e definição sobre religião:

Uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas

a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas, crenças e práticas que reúnem numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos

aqueles que a elas aderem. O segundo elemento que participa assim de

nossa definição não é menos essencial que o primeiro, pois, ao mostrar que a ideia de religião é inseparável da ideia de igreja, ele faz

pressentir que a religião deve ser uma coisa eminentemente coletiva6.

Segundo Fisher, a religião no século XXI viveu no meio de uma enorme mistura

global de culturas religiosas. À medida que cada vez mais pessoas em todo o mundo se

expõem igualmente a uma multiplicidade de religiões, surge a necessidade e a

oportunidade de nos conhecermos melhor.

Contrariamente às expectativas iniciais de que a religião acabaria por se

desvanecer em face da evolução da ciência, da lógica ou do materialismo, verifica-se

que a religião está extremamente viva no limiar do século XXI. Durante os milênios

anteriores, a religião desempenhou um papel central nas vidas das pessoas e há fortes

indícios de que a religião surge novamente como ponto de apoio bastante importante

para a vida e para os atos racionais dos seres humanos.

A autora relata também que a paisagem religiosa do planeta, é possível

apercebermo-nos de que está repleta de atividades de todos os gêneros. Apesar de

muitas pessoas considerarem os dias em que vivemos como uma época sombria,

também é necessária reconhecer que é uma época extremamente fértil em termos

espirituais.

De modo a explorar as complexidades das expressões religiosas atuais, este livro

reúne perspectivas da sociologia, da análise política, da psicologia, da ciência, da

história e da fenomenologia das religiões. Como tal, é útil não só para o

5KONDER, Leandro. Marxismo e alienação: contribuição para um estudo do conceito marxista de alienação. São

Paulo: Expressão popular, 2009. 6 DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo. Martins Fontes, 2009.

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desenvolvimento de estudos sobre as religiões mundiais, mas também para outro gênero

de investigações interdisciplinares, tais como estudos sobre a paz, estudos sobre o futuro

e como preparação para estudos sobre serviço social ou sobre cuidados de saúde.

Importante saber que dentro das três religiões monoteístas que marcaram a

cultura ocidental que foram o judaísmo, o cristianismo e o islamismo existe uma união

com relação a concepção ética, todos eles devem dar atenção ao pobre e praticar a

caridade, entendendo que a ética estuda os princípios do comportamento humano tendo

referência a partir da filosofia.

2. Religião e modernidade

A modernidade vai inaugurar uma nova forma de se relacionar com a religião,

isto porque durante toda a idade média a religião foi o grande centro de sentido da

sociedade.

O que se entende nos dias de hoje é que essa questão de religião e modernidade

não se resolve tão facilmente, por isso usamos o termo “luta”, então se o Estado “luta”

contra a intervenção religiosa sobre sua constituição, isso significa que há conflitos de

poder que não podem ser negados, seres superiores que teriam influência ou poder de

determinação no destino humano, tanto porque a religião não é somente um fenômeno

individual, mas, também social.

Hoje podemos também questionar a questão da “religião” dentro das questões

éticas, e definir a diferença entre moral e ética, a moral define o que é bom e o que é

mau, antes das ações, e que a ética define o que é bom e o que é mau segundo as

circunstâncias, podemos resumir em poucas palavras que para ser moral, é preciso

conhecer as regras morais e para ser ético é preciso desenvolver a reflexão crítica.

Quando falamos em ética podemos também fazer esta referência sem dúvida na

questão religiosa (religião), tanto porque como acredita Sócrates de que o conhecimento

é praticar o bem, saber o que é bem e o que é mal é a ignorância, em certos momentos a

religião torna o ser humano ignorante, pois, não consegue discutir claramente sobre o

que defende de fato, então, entendesse que é um ser mal, e em outros momentos o

conhecimento com certeza torna o bem maior do ser humano, então, podemos

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compreender que o homem é um ser social e que quem conhece mais consegue discutir

mais e não perde o desequilíbrio da realidade.

Portanto, os critérios da ética resultam de reflexões sobre o modo de agir

humano, das quais resultam indicações para orientar a conduta.

3. O espírito do capitalismo

O “espírito do capitalismo” é uma busca insaciável ao dinheiro (riqueza), algo

desenfreado (sem limites), visto até mesmo como um dever moral para quem a segue

como mandamento (lei) à ser reverenciado e/ou adorado, capitalismo é diferente do que

“espírito do capitalismo”, porque capitalismo é um sistema econômico, porém, a junção

entre o espírito e o capitalismo se dá o ser humano “respirar” o dinheiro, algo que Max

Weber trata e relata em seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (ano

1904), e falamos esse assunto hoje no século XXI como Weber estivesse dizendo algo

presente e futuro, que concretizou e concretiza atualmente.

O domínio errôneo da religião utilizando o “espírito do capitalismo” e a situação

de competição traz o (in) controle total e a ruptura do homem, Deus e a família, uma

preocupação grande entre os sociólogos sobre o controle dos meios materiais de poder

político e o “interesse proletário’, isto é, indivíduo pobre que vive do seu salário, como

também o feudalismo existente, onde o regime imperalístico do poder real é divido entre

os nobres (ricos) com certeza os menos favorecidos como: o pobre, o trabalhador, a

mulher, o idoso e a criança, não têm parceria e nem concordância entre o império, a

religião e o poder, entendemos que o termo império vem do latim imperium que

significa poder e autoridade.

O que entendemos é que Weber retrata em seu livro citado acima o controle

sobre excessivo capitalista, para Weber o feudalismo, que é considerado um regime

medieval em que o poder real era dividido entre os nobres, tomando por base o poderio

territorial, para ele é caracterizado em termos da propriedade privada dos meios de

violência militar, formula o conceito de “Estado” em termos de um “monopólio”

(tráfico, exploração, posse, direito ou privilégios exclusivos; companheiro de

mercadorias para serem vendidas por alto preço e com exclusividade, podemos citar

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como exemplo hoje o “mensalão” em Brasília, uma preocupação aparente com o

controle dos meios materiais de poder político, Weber queria estender a crítica das

ideologias, questionar o interesse proletário, isto é, indivíduo pobre, que vive do seu

salário, operário, trabalhador e a camada social.

Para Weber, quanto mais produz o operário com seu trabalho, mais ele

empobrece, mais pobre torna-se seu mundo interior e menos ele possui, algo que

podemos identificar no mundo atual essa midiatização que sufoca e engole o ser

humano contemporâneo, a religião tenta completá-lo, mas, ou ele quer mais e não

consegue, ou a religiosidade quer mais dele e ele não consegue doar o que lhe é

requerido, seja, material ou espiritual, e o vazio permanece, e o sistema permanece.

4. Mídia e entretenimento: como fica a religião?

Interessante é que a religião com relação à mídia e o entretenimento têm muitas

e muitas indagações a serem feitas principalmente por pessoas que estão do “lado de

fora”, isto é, não fazem parte, mas observam este cenário de que o ideal para os lideres é

de que “se determinado produto ou algum tipo de serviço não promove o Reino de

Deus, direta ou diretamente, não sobrevive”, onde o consumo imperial tem grande

aparecimento no século XXI.

Magali do Nascimento faz referência a este momento na história.

[...] Ao lado da mídia, os espaços de consumo de bens e entretenimento apresentam-se na contemporaneidade como principal

alternativa de lazer e diversão, itens que têm ocupado lugar

significativo na vida cotidiana. Afinal, é grande o esforço para sobreviver num sistema cuja lógica é excludente, o que provoca

desgastes físicos e emocionais nas pessoas que buscam em seu tempo

livre uma compensação, um alívio.7

Entende-se que ter acesso à tecnologia e consumir é ser cidadão, a mídia passa o

que ela quer de fato, mas, será que o que realmente a mídia está divulgando é verdade,

como os religiosos consegue ter transparência em meio a um sistema onde a

7 CUNHA, Magali do Nascimento. A explosão gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.

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comunicação na maioria das vezes é censurada, todavia, a luta pela liberdade de

expressão na mídia é emergente, porém, os religiosos e a sociedade deste século fica

entre as vozes e o silêncio.

Infelizmente a ameaça de censura sobrevoa todos os tempos e a síndrome da

mordaça é a maldição no Brasil, falamos em censura em 1950 a 2000, entretanto, a

indignação é até os dias atuais, tanto porque o que encontramos ainda é pessoas de

“corações e mentes amordaçados”, um grande desafio de percorre por todo o tempo,

sendo assim, até quando?

Para Cunha, consumir bens e serviços religiosos é ser cidadão do Reino de Deus,

o consumo não é apenas uma ação que responde à lógica do mercado, mas constitui

elemento produtor de valores e sentidos religiosos8.

O que nos chama a atenção é que nos anos 60 e 80, os programas evangélicos de

rádio e TV privilegiavam os cultos e as pregações, porém, a ênfase era a cura, o

exorcismo e a salvação em Jesus Cristo, os programas religiosos na mídia eram

centrados em personagem carismático, então, o que vemos hoje é que não encontramos

a figura carismática, mas, o “famoso”9.

O foco passou da busca pelo sagrado há busca pelo material, pelo prazer, pelo

lucro e pela satisfação própria, onde “Em nome de Deus” se consegue “tudo”, até

enriquecimento.

Nos anos 70, do século passado, os veículos de comunicação para os religiosos

eram fundamentais para a difusão das crenças. Ocuparam-se pequenos horários da

programação (principalmente de rádio) e, então, chegou-se à conclusão que ter um

espaço determinado não era suficiente. Devia-se ir além. Era preciso ter veículos de

comunicação que divulgassem somente os valores cristãos, então hoje entendemos que a

sua situação é fundamental para “você” crescer, mas, um crescimento multiplicador de

“bens”.

É imprescindível não esquecer de que a Igreja Universal do Reino de Deus, um

seguimento religioso que mais chama a atenção pela “marketização do Reino de Deus”,

um império que se faz presente hoje em mais de 80 países da América, Europa, Ásia e

África, em que “Em nome de Deus” a comunicação religiosa é um negócio rentável.

8 Ibid., p. 138. 9 Ibid., p. 144-145.

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Uma da pergunta desafiadora é “como será o amanhã”, tanto porque falar sobre

o futuro é uma das tarefas mais difíceis da vida, viver no mundo religioso e na

sociedade é viver sob na maioria das vezes a ameaça de caos e da desagregação do

conceito primordial que é a família, para o sociólogo e teólogo luterano Berger a

religião cumpre apenas na tarefa de alienar o ser humano e ter o domínio, isto é, o poder

e a posse, perturbando mentalmente uma pessoa, fazendo com que ela venha agir como

quem não sabe das coisas, porém, há possibilidade de uma religião desalienadora

(exceção).

Quadro 1 - O IBGE e a religião

Fonte: Diretoria Geral de estatística, Recenseamento do Brasil 1872/1890, e IBGE Censo Demográfico 1940/199110

O IBGE divulgou os dados do Censo de 2010 sobre a religião (e a não-religião)

declarada dos brasileiros (Quadro 1). De acordo com o censo, o Brasil ainda é a maior

nação católica do mundo mas os números mostram uma redução acentuada de poder da

10 Diretoria Geral de estatística, Recenseamento do Brasil 1872/1890, e IBGE Censo Demográfico 1940/1991.

Disponível em: < http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-ibge-e-a-religiao-%E2%80%93-cristaos-sao-868-do-brasil-catolicos-caem-para-646-evangelicos-ja-sao-222/>. Acesso em: 13 jul. 2013.

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Igreja Católica no país nas últimas décadas. O aumento desse segmento foi puxado

pelos pentecostais, que se disseminaram pelo país na esteira das migrações internas.

Considerações finais

Assim, vemos o despontar da vida religiosa também ser cada vez mais moldada

pelo espetáculo. São incontáveis horas de conteúdo religioso presente nas telas da

mídia, que apresentam não apenas os grandes momentos da vida comum recheados de

representação, mas proporcionam também material ainda mais farto para as fantasias e

sonhos, modelando o pensamento, o comportamento, as identidades e a própria

religiosidade.

Mesmo sabendo da existência do “papel do imperialismo”, ou até mesmo o

“papel marketizado” da religião, conseguimos também trazer um paralelo significativo

porque a comunicação religiosa assume um sentido e um significado nos termos das

relações sociais que a originam, nas quais ela se integra, e sobre as quais ela pode

influenciar. Por este motivo, os meios de comunicação, tanto impressos quanto

eletrônicos, têm sido veículos de grande importância na difusão e sustentação de várias

religiões no Brasil e no mundo. E nesse contexto, podemos perceber a ampla utilização,

por parte dos religiosos, dos meios de comunicação disponíveis.

Podemos também notar que algumas instituições religiosas entram na mídia com

o público-alvo certo também, e que a comunicação massiva é apenas uma forma de

pregar “os valores”. Sendo assim, precisamos rever certos posicionamentos no mercado

midiático.

Devemos compreender que a comunicação é um direito de todos e a necessidade

de uma legislação justa também, não se esquecendo de que a meta é o ser humano,

mesmo assim, fica a questão de que devemos rever alguns princípios e “não vender a

fé”. Afinal, a questão midiática religiosa é “lucro” ou “resgate de valores”?

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REFERÊNCIAS

GRESCHAT, Jurgen-Hans. O que é ciência da religião? São Paulo: Paulinas, 2005, p. 17-21.

DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes,

2009.

CUNHA, Nascimento Magali do. A explosão gospel: um olhar das ciências humanas sobre o

cenário evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2007, p. 45-66 e 137-146.

SEVERINO, Joaquim Antônio. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. rev.e ampl. São Paulo: Cortez, 2007.

HOCK, Klaus. Introdução à Ciência da Religião. São Paulo: Loyola, 2010.

KONDER, Leandro. Marxismo e Alienação: contribuição para um estudo do conceito

marxista de alienação. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

FISHER, Pat Mary. A religião no século XXI. São Paulo: Almedina Brasil, 2000.

MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós-moderna: entre secularização e

dessecularização. São Paulo: Paulinas, 1995, p. 271-335.

MELO, José M. de. (org). Síndrome da Mordaça: mídia e censura no Brasil. São Bernardo do Campo: UMESP, 2007.

MARQUES DE MELO, José; GOBBI, Maria Cristina; ENDO, Ana Cláudia B. (orgs). Mídia e

religião na sociedade do espetáculo. São Bernardo do Campo: UMESP, 2007, p. 302.

Mídia e religião: busca pelo lucro ou valores? Disponível em: <

http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/38/midirelig.htm> Acesso em: 15 jul. 2013.

DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA, RECENSEAMENTO DO BRASIL 1872/1890, e

IBGE Censo Demográfico 1940/1991. Disponível em: <

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-ibge-e-a-religiao-%E2%80%93-cristaos-sao-868-do-brasil-catolicos-caem-para-646-evangelicos-ja-sao-222/>. Acesso em: 13 jul. 2013.

A ALIANÇA ENTRE A RELIGIÃO E A MÍDIA. Disponível em: <

http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=302&cod_boletim=16&tipo=Artigo > Acesso em: 15 jul. 2013.