Programa de Sociologia Jurídica (Sergio Cavalieri Filho) Capítulo 1 -GÊNESE DO DIREITO

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Programa de Sociologia Jurídica (Sergio Cavalieri Filho) Capítulo 1 - GÊNESE DO DIREITO 1. Escola Jusnaturalista ou Direito Natural. O direito é um conjunto de ideias ou princípios superiores, eternos, uniformes, permanentes, imutáveis, outorgados ao homem pela divindade, quando da criação, a fim de traçar-lhe o caminho a seguir e ditar-lhe a conduta a ser mantida. Seria como um sopro ético com que a Divindade bafejou a sua criação. As principais característica do direito natural seriam a estabilidade e a imutabilidade. Surge com os filósofos gregos: Heráclito, Aristóteles, Sócrates, Platão, etc. E foi adotada em Roma por Cícero. Cícero coloca em destaque a origem divina do direito e seu caráter permanente e imutável, ontem, hoje, amanhã, em todas as nações e para todos os tempos, em sua obra De República. 2. Escola Teológica Se assemelha à Jusnaturalista, porém no seu entender a origem do direito não estaria ligada apenas indiretamente à Divindade, mas sem diretamente, já que as primeiras leis não teriam sido simplesmente inspiradas por Deus, mas escritas e outorgadas por Ele. ELE teria elaborado as primeiras leis, entregando-as ao homem para serem observadas. Esta escola coexistiu com a Jusnaturalista durante toda a antiguidade. De origem quase legendária, semideuses, que foram os intermediários (Moisés, Hamurabi, Manu, Sólon, etc) entre a Divindade e o povo no que diz respeito ao recebimento das primeiras leis. Esta escola divide as leis em três tipos: lei divina, lei humana e lei natural. A primeira provem de Deus, só existe n o espírito divino; a segunda é existente entre os homens por intuição; e a terceira, embora tenha como conteúdo a lei natural, é produto dos homens. 3. Escola Racionalista ou Contratual. Nesta escola agruparam-se vários filósofos, autores de obras notáveis: Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu, Jean Jacques Rousseau, a mais importante figura do liberalismo desta época.

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Programa de Sociologia Jurídica (Sergio Cavalieri Filho)

Capítulo 1 - GÊNESE DO DIREITO

1. Escola Jusnaturalista ou Direito Natural.

O direito é um conjunto de ideias ou princípios superiores,eternos, uniformes, permanentes, imutáveis, outorgados ao homempela divindade, quando da criação, a fim de traçar-lhe o caminho aseguir e ditar-lhe a conduta a ser mantida. Seria como um soproético com que a Divindade bafejou a sua criação. As principaiscaracterística do direito natural seriam a estabilidade e aimutabilidade.

Surge com os filósofos gregos: Heráclito, Aristóteles, Sócrates,Platão, etc. E foi adotada em Roma por Cícero. Cícero coloca emdestaque a origem divina do direito e seu caráter permanente eimutável, ontem, hoje, amanhã, em todas as nações e para todos ostempos, em sua obra De República.

2. Escola Teológica

Se assemelha à Jusnaturalista, porém no seu entender a origem dodireito não estaria ligada apenas indiretamente à Divindade, massem diretamente, já que as primeiras leis não teriam sidosimplesmente inspiradas por Deus, mas escritas e outorgadas porEle. ELE teria elaborado as primeiras leis, entregando-as ao homempara serem observadas.

Esta escola coexistiu com a Jusnaturalista durante toda aantiguidade. De origem quase legendária, semideuses, que foram osintermediários (Moisés, Hamurabi, Manu, Sólon, etc) entre aDivindade e o povo no que diz respeito ao recebimento dasprimeiras leis.

Esta escola divide as leis em três tipos: lei divina, lei humana elei natural. A primeira provem de Deus, só existe n o espíritodivino; a segunda é existente entre os homens por intuição; e aterceira, embora tenha como conteúdo a lei natural, é produto doshomens.

3. Escola Racionalista ou Contratual.

Nesta escola agruparam-se vários filósofos, autores de obrasnotáveis: Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu, Jean JacquesRousseau, a mais importante figura do liberalismo desta época.

Os racionalistas dividem o direito em duas categorias: DireitoNatural e Direito Positivo.

O Direito Natural continuaria sendo um conjunto de princípiospermanentes, estáveis e imutáveis, a origem deste direito,entretanto, não é a divindade, e sim a natureza racional do homem,imutável diante de qualquer vontade divina ou humana. Para estes anatureza racional do homem é igual por toda a parte, em todos ostempos e da qual decorreriam princípios que nenhum poder divino outerreno alcançaria mudar.

O Direito Positivo decorreria do pacto social que o homem foralevado a célebre para viver em coletividade. Para sair doisolamento os homens tiveram a ideia de viver juntos, fundando asociedade através de um pacto, um contrato social. Suas relaçõesseriam disciplinadas pelas regras do direito positivo.

Entre estas duas categorias de direito haveria uma íntima eestreita relação, tal como há entre o espírito e o corpo, sendo oDireito Natural superior e servindo de fundamento para o DireitoPositivo. Ocorrendo o afastamento do Direito Positivo do DireitoNatural impõe-se a imediata reformulação do D. Positivo a fim deajustá-lo aos imutáveis princípios do D. Natural.

Esta foi a primeira escola que deslocou a fonte do direito daDivindade para a razão do próprio homem.

4. Escola Histórica do Direito

Surgiu na Alemanha no final do século XVIII e começo do séculoXIX, no apogeu do neo-humanismo, quando o direito era consideradopura criação da razão humana. Os principais protagonistas destaescola foram Gustavo Hugo e Frederico Charle de Savigny.

Esta escola é a primeira a rebelar-se a existência do direitonatural, permanente e imutável. Para eça o Direito era um produtohistórico, decorrente, não da divindade ou da razão mas sim daconsciência coletiva dos povos, formado gradativamente pelastradições e costumes.

O Direito, assim como a linguagem, se constituíra naturalmente,por força das necessidades de uso do povo. Para Savigny cada povoem cada época teria o seu próprio direito, expressão natural desua evolução histórica, costumes e tradições, não sendo o direitogeral e universal como acreditavam as escolas anteriores.

Esta escola mostrou que os fundamentos do direito se encontram na

vida social, em constante mudança e aperfeiçoamento, de acordo comas transformações dos grupos sociais.

5. Escola Marxista

A teoria marxista surgiu em meados do século XIX, enunciada pordois pensadores alemães: Karl Marx e Friedrich Engels. Nestateoria o Direito pressupõe o Estado. Surge somente quando há umasociedade política, jurídica e economicamente organizada, com umafonte emanadora do preceito jurídico e um órgão capaz de impor ocumprimento de suas prescrições.

Esta teoria expõe que o Direito é formado pela expressão deinteresse da classe dominante, instrumento ideológico de dominaçãoda burguesia sobre o proletariado. Para Marx o Estado éinstrumento de pressão que deve ser combatido por todos os meios efinalmente destruído. O Direito tem origem no Estado, nãoexistindo Estado sem Direito, nem o inverso.

Qualquer observador é capaz de constatar que muito antes de existir o Estado, muitoantes das sociedades se organizar política, econômica e juridicamente, já existiam regrasdisciplinadoras do relacionamento social. Não menos falsa é a afirmação de ser o Estadoinstrumento de pressão da classe dominante sobre a menos favorecida, o Estado,sobretudo o Estado moderno, assume uma infinidade de funções que visam o bem-estarpúblico.

6. Escola Sociológica do Direito

Durante muito tempo a Sociologia e o Direito hostilizaram-semutuamente. O encontro entre as duas ciências ocorreupaulatinamente a partir de 1882, quando foi publicada a obra deHerbert Spencer – Principles of Sociology, onde há um capítulo dedicadoàs leis. Culmina nos últimos anos do século XIX com ÉmileDurkheim, a quem coube o trabalho de fixar definitivamente asrelações entre o direito e a sociologia. Merece destaque, também,na fundação da Escola Sociológica Léon Duguit e Nordi Greco.

Para a Escola Sociológica, o Direito tem a sua origem nos fatossociais, refletem seus costumes, valores, tradições, sentimentos ecultura, cuja elaboração é lenta e espontânea da vida social.Naturalmente cada povo tem a sua história e seus fatos sociais, efatos sociais diferentes implicam em direitos diferentes.

Obrigados a viver necessariamente ao lado uns dos outros,carecemos de regras de proceder, normas de disciplinamento da vidaem coletividade. Esta organização pressupõe regras de

comportamento que permitam a convivência social. O Direito é,justamente, o conjunto de normas que regulam a vida social.

Direito é realidade da vida social, e não da natureza física ou domero psiquismo dos seres humanos. Não haveria o direito semsociedade. Daí a veracidade de antigo brocado: ubi societas, ibi jus (Ondeestá a sociedade, está o Direito).

O que caracteriza a Escola Sociológica é, portanto, considerar oDireito, não como tendo origem em Deus (Esc. Jusnaturalista eTeologista), nem na razão (Esc. Racionalista), nem na consciênciado povo (Esc. Histórica do Direito), e nem ainda no Estado (Esc.Marxista) – mas sim na sociedade, mais especificamente, nas inter-relações sociais. Não são regras imutáveis e quase sagradas, massim variáveis e em constante mudança, como o são os grupos onde seoriginam.

A democratização do Direito pode ser apontada como uma das mais relevantesconsequências da Escola Sociológica. O Direito foi democratizado quando passou a terorigem na sociedade. O acesso à Justiça passou a ser a sua principal finalidade; o povopassou a ter consciência dos seus direitos como aspecto da cidadania; O Direito ganhouas ruas, as praças e fez-se linguagem de todo o povo.

Cap.2-FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO

A Sociologia analisa o direito como fato social. Tem sua origem nasociedade.

2.1-A presença do Direito na sociedade: O Direito está presente praticamente em toda ação e relação

social. Ele invade e domina a vida de todo indivíduo e gruposocial,desde as atividades mais humildes às mais solenes.

Cavalieri Filho(2010,p.30)pergunta: Por que o Direito se faz assim presente na sociedade?

Qual é a sua função social?

2.2-Atividades de cooperação e de concorrência- Todas as atividades desenvolvidas pelos homens na sociedade

podem ser reduzidas a esses dois tipos.Nas de cooperação verifica-se a convergência de interesses.Envolvem fins ou objetivos comuns entre as partes.Ex.Vendedor x comprador, locador x locatário

2.3-Características da atividade de concorrência-

Existe paralelismo nessa atividade.Não há convergência deinteresses entre os indivíduos. Os indivíduos são competidores,concorrentes em busca dos mesmos objetivos. Aqui a principalcaracterística é a disputa para obter os melhores resultados emsua atividade,superando os demais concorrentes.Ex: dois comerciantes,do mesmo ramo em uma mesma rua. Doisproprietários de prédios vizinhos.

Segundo Paulo Nader apud Cavalieri Filho(2010,p.31)¨...na competição há uma disputa, uma concorrência,em que aspartes procuram obter o que almejam, uma visando a exclusão daoutra.¨

2.4-O CONFLITO DE INTERESSE E SUA COMPOSIÇÃO-Tanto nas atividades de cooperação como nas de concorrência podemocorrer conflitos de interesses.Atividade de cooperação- Após comprar um produto e constatar algumdefeito, o comprador e retorna até a loja para trocar o produtoou receber o dinheiro de volta,mas não é atendido- Aí surge oconflito.

Nas atividades de concorrência o conflito aparece quando as partesvão além daquilo que é considerado lícito.É quando a concorrênciapassa a ser desleal.Ex: Quando um comerciante passa a usar de artificios desleais paraobter mais vantagens em relação ao seu concorrente direto.

Quanto mais complexa for a sociedade, maiores são aspossibilidades de ocorrência de novos tipos de conflitos deinteresse.Atualmente, o maior desafio não é como viver e sim o daconvivência.

2.5-FUNÇÃO PREVENTIVA DO DIREITO-Para Cavalieri essa é a principal função social do direito-prevenir os conflitos.A simples existência do direito contribuipara a prevenção de conflitos.O Direito é uma ciência social. Suas normas visam disciplinar ocomportamento do indivíduo na sociedade. Se o indivíduo vivesse isolado não haveria necessidade de regras,no entanto, vivendo em sociedade surge a necessidade de comporta-se, respeitar os interesses e os direitos dos demais membros dogrupo.

2.6-FUNÇÃO COMPOSITIVA DO DIREITO-O conflito se torna inevitável, apesar da existência das normaspreventivas. Nem todos os indivíduos se submetem ao

disciplinamento do ordenamento jurídico.Mesmo na família surgem conflitos.Daí a necessidade de buscaralternativas para a superação desses conflitos. Superar umconflito de interesses é o que se denomina de composição deconflitos. Esta é a segunda função social do Direito.Em que consiste a composição de um conflito?Eis aí o maior desafio, colocar os dois interesses em antagonismona balança e buscar a alternativa mais justa e correta que devaprevalecer. Segundo Paulo Nader, o Direito apresenta solução deacordo com a natureza do caso, seja para definir o titular dodireito, determinar a restauração da situação anterior ou aplicarpenalidades de diferentes tipos.

2.7-CRITÉRIOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS:1)Critério da composição voluntária;2)Critério autoritário;3)Critério da composição jurídica.

1)Critério da composição voluntária:É aquele que se consolida pelo mútuo acordo entre as partesenvolvidas no conflito.Ex:Ao comprar um livro o aluno constata que faltam páginas nomesmo,procura o vendedor que prontamente troca o livro por outroem perfeito estado.Atualmente,a mais moderna legislação processual no mundo, temprocurado estimular esse tipo de composição.No Brasil a lei dosjuizados especiais(Lei nº9.099/95)prevê uma expressamente uma fasede conciliação.

2) Critério autoritário:A responsabilidade de compor os conflitos de interesse é do chefedo grupo, pode ser o Rei, o Cacique, Senhor...Atualmente esse critério é utilizado na família,onde o chefe buscaresolver os conflitos que surgem entre seus membros, a partir desua

3)Critério da composição jurídica e suas características:Esse tipo de composição exige sempre critérios elaborados eenunciados anteriormente ao fato ocorrido.Suas característicassão:a anterioridade,a publicidade e a universalidade.(p37). 2.8)A FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO NA ORDEM JURÍDICA BRASILEIRA:Segundo Cavalieri,além dessas funções, o Direito deve prover o bemcomum. Deve ser enaltecida a função social do Direito.A constituição brasileira de 1988, ao garantir o direito depropriedade, ressaltou que ela terá que cumprir sua função social.

(p.38,39).

A atual ordem jurídica brasileira dá grande ênfase à função socialdo Direito. No Código Civil em seu art.422 ao dispor que aliberdade de contratar será exercida em razão e nos limites dafunção social do contrato.Quem contrata não mais contrata apenas com quem contrata; contratatambém com a sociedade.

CAP 3 - CONCEITO SOCIOLÓGICO DO DIREITO

O Direito é fato social que se manifesta como uma das realidadesobserváveis na sociedade. É fenômeno social, assim como alinguagem, a religião, a cultura, que surge das inter-relaçõessociais e se destina a satisfazer necessidades sociais, tais comoprevenir e compor conflitos.Propomo-nos a explicitar a concepção do Direito como fato social,formulando um conceito que se enquadre na visão sociológica doDireito. Antes de tentar conceituar qualquer coisa, deve o estudanteconsiderar todos os elementos dessa coisa, seus requisitos,características, finalidade etc., e então procurar fazer umadescrição de tudo isso. Só assim poderá chegar perto da realidadena formulação do seu conceito.1) Normas de condutaSe o Direito está ligado à idéia de organização e conduta, entãodeve ser ele entendido como um conjunto de normas de conduta quedisciplinam as relações sociais. O mundo do Direito é o mundo dasrelações entre os homens, pois na conjugação desses dois elementos– a sociedade e o indivíduo – encontramos sua razão de ser.Como tem sido assinalado por muitos autores, é o Direito a únicarelação inteiramente determinada pela coexistência humana e que seexaure de homem para homem. Cuida, pois, o Direito da disciplinadas relações extrínsecas do homem, cabendo à moral a disciplina desuas relações intrínsecas.

2) Características das normas de condutaTrata-se de normas de conduta que se destinam a todos, aplicáveisa todas as relações abrangíveis pelo seu escopo. Por isso sãochamadas normas universais ou genéricas. São também abstratas porquenão se referem a casos concretos quando de sua elaboração, mas sima casos hipoteticamente considerados.

O caráter de generalidade das normas do Direito faz que este tenhaem vista apenas o que na sociedade acontece com mais freqüência.Isso permite, como já assinalado, o prévio conhecimento docritério a ser aplicado na composição dos conflitos e asseguraigualdade de tratamento às partes. Sabe-se previamente como seráresolvido um determinado tipo de conflito se e quando ocorrer, coma garantia de que as partes nele envolvidas serão tratadas damesma maneira.

2.1) A obrigatoriedade

Em regra, são normas obrigatórias, isto é, de observâncianecessária. E nem poderia ser diferente, sob pena de o Direito nãoatingir os seus objetivos. Claro está que, se a observância dasnormas jurídicas fosse facultativa, totalmente inócua se tornariaa disciplina por elas imposta. Seria um tiro sem bala.A obrigação é, portanto, elemento fundamental do Direito, embora àprimeira vista possa parecer paradoxal. Para o público em geral, apalavra direito dá idéia de privilégio, faculdade, regalia,liberdade, ou seja, tudo que é oposto à obrigação. Esquecemo-nos,entretanto, que, na exata medida em que o Direito nos confere umbenefício, vantagem ou poder, cria uma obrigação ou dever paraoutrem, e vice-versa.Alguns autores, em lugar de obrigatoriedade, preferem falar emcoercibilidade da norma, para indicar que ela envolve apossibilidade jurídica de coação. Esta, a rigor, é a principaldiferença entre a norma jurídica e a regra moral. A moral éincompatível com a força ou coação mesmo quando estas semanifestam juridicamente organizadas.É também por isso que se tem afirmado (Kant foi o primeiro) ser aMoral autônoma e o Direito heterônomo, visto ser posto por terceirosaquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir.

2.2) A sanção

A obrigação não pode existir sem sanção. Por isso alguns teóricoschegam a definir o Direito como um sistema de sanções.Sanção é a ameaça de punição para o transgressor da norma. É oprometimento de um mal, consistente em perda ou restrição dedeterminados bens, assim como na obrigação de reparar o danocausado, para todo aquele que descumprir uma norma de Direito. É apossibilidade de coação da qual a norma é acompanhada.Há, em nosso entender, uma pequena diferença entre sanção e pena,embora na prática os autores e a própria lei não a considerem.Sanção é a ameaça de castigo para o transgressor da norma, e penajá é o próprio castigo imposto; sanção é a pena abstratamenteconsiderada, e pena é a sanção concretizada; a sanção é cominada

pelo legislador, e a pena é fixada pelo juiz; a sanção exerce umacoação psicológica sobre os indivíduos, ao passo que a pena exerceuma coação física ou material.Para uma minoria não basta a coação psicológica, acabando portransgredir as normas, na esperança de não ser punida. Para essesdestina-se a coação física ou material. A autoridade públicaaplica a pena, empregando o poder coercitivo de que dispõe parapunir o responsável pelo ilícito. É o remédio extremo usado contrauma minoria que não observa as normas, no empenho de levá-la arespeitar o Direito, livrando a sociedade de sua condutaperniciosa. É a chamada prevenção especial.

3) Origem das normas de condutaEsta é uma questão discutida, havendo aqueles que entendem seremas normas de origem divina, outros, frutos da razão, daconsciência coletiva ou do Estado. Para a sociologia jurídica,entretanto, as normas de Direito emanam do grupo social.Sobre o grupo social que deve estabelecer as normas de Direito, asopiniões se dividem em duas escolas.

3.1) A escola monista

Englobando quase todos os juristas, esta escola entende que apenasum tipo de grupo social – o grupo político – o Estado devidamenteorganizado -, está apto a criar normas de direito.A doutrina monista, que se encontra mais próxima das teorias deHegel, Marx e Kelsen pode ter sua razão de ser no que se refere àciência do Direito, mas não com relação à sociologia jurídica. Umsimples olhar sobre a vida social nos convence de que existiramprescrições jurídicas antes de a sociedade organizar-se em Estado,e que ainda existem prescrições, mesmo nas sociedades já políticae juridicamente organizadas, além das que foram impostas pelaautoridade política.

3.2) A escola pluralista

A escola pluralista que, além de alguns juristas, compreendesociólogos e filósofos, considera que todo agrupamento de certaconsistência ou expressão pode outorgar-se normas de funcionamentoque, ultrapassando o caráter de simples regulamentos, adquirem oalcance de verdadeiras regras jurídicas.O Direito é necessário. Não é uma criação arbitrária; existeimprescindivelmente. Os homens, sem dúvida, em fase adiantada doprogresso, intervêm na sua criação. Mas, ainda que não houvesseesta criação racional e um pouco artificial, o Direitonecessariamente brotaria como floração espontânea da sociedade.

Foi assim que aconteceu noutros tempos sob a forma de costumes, eisso mostra o caráter necessário do Direito.

4) Provisoriedade e mutabilidade das normas de DireitoOs defensores do direito natural, conforme já assinalamos, tantoos que o concebiam como tendo origem na Divindade como aqueles queo entendiam fruto da razão, consideravam o direito um conjunto deprincípios permanentes, estáveis e imutáveis.Tal concepção, entretanto, não se ajusta ao ponto de vistasociológico, que o considera produto social. Se o Direito emana dogrupo social, não pode ter maior estabilidade que o grupo. E ogrupo, como é sabido, sofre constantes modificações.Mudando o grupo, mudam-se também as normas do Direito, razão pelaqual, do ponto de vista sociológico, não tem o Direito caráterestável ou perpétuo, mas sim essencialmente provisório, sujeito aconstantes modificações.Tão incontestável é o caráter provisório do direito que algunsadeptos do direito natural conceberam uma noção que denominaram“direito natural de conteúdo variável”.

5) Conceito sociológico do DireitoJuntando todas as características até aqui examinadas, formulamoso seguinte conceito de Direito: conjunto de normas de conduta,universais, abstratas, obrigatórias e mutáveis, impostas pelogrupo social, destinadas a disciplinar as relações externas dosindivíduos, objetivando prevenir e compor conflitos.Trata-se de normas universais porque se destinam a todos;abstratas porque são elaboradas para casos hipoteticamenteconsiderados; obrigatórias porque são de observância necessária,coercitiva; mutáveis porque sujeitas a constantes transformações;impostas pelo grupo e não somente pelo Estado.

CAP 4 – FATORES DA EVOLUÇÃO DO DIREITO

São inúmeros fatores, para evolução do direito. Osprincipais fatores são: econômicos, políticos, culturaise religiosos.

1) Fatores econômicos.O direito vai se modificando conforme vai se alterando aestrutura econômica da sociedade. A economia e o direito,são ciências sócias. Tanto direito, quanto economia, sepreocupa com a sociedade.A economia se preocupa na locação dos recursos, porque aspessoas têm necessidades. E os recursos são escasso. Já odireito se o culpa da vida da sociedade, como organizar ecoloca limites.A economia se relacionar com o direito. A economia passase uma fonte auxiliar do direito. O direito é pensadotambém a parti do conceito econômicos, daquilo que aeconomia sinalizar para o direito. A partir do certoeconômico o direito valorizar, os princípios, e osvalores da justiça ele determina o direito.

2) Fatores políticoDireitos políticos são todos aqueles direitos destinadosa concretizar a soberania popular, através do direito dopolítico que se encontrar no Art.14 Constituição Federal.Todo poder emanar do povo, que exerce dos seusrepresentantes eleitos ou diretamente dos termos daconstituição. Os direitos políticos, são ferramentas queo povo exerce do governo, seja através da escolha dosseus representantes ou diretamente nos termos daconstituição.Os principais direitos políticos são: o voto, plebiscito,referendo e a iniciativa popular da lei.O direito político é o direito de ser cidadão e exercersua cidadania e dessa forma, participar direta ouindiretamente na estrutura e nos encaminhamentospolíticos.

3) Fatores culturais.Direitos culturais, destinam-se os Direitos Culturais —categoria própria das constituições contemporâneas – aregular a ampla e livre circulação de bens culturais nasociedade. No Brasil, o Direito à Cultura é previsto naConstituição de 1988 como um direito fundamental do

cidadão. Segundo ela, cabe ao Poder Público possibilitarefetivamente a todos a fruição dos direitos culturais,mediante a adoção de políticas públicas que promovam oacesso aos bens culturais, a proteção ao patrimôniocultural, o reconhecimento e proteção dos direitos depropriedade intelectual bem como o de livre expressão ecriação.

4) Fatores religiosos.A Constituição Federal consagra como direito fundamentala liberdade de religião, prescrevendo que o Brasil é umpaís laico. Com essa afirmação queremos dizer que,consoante a vigente Constituição Federal, o Estado devese preocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima deperfeita compreensão religiosa, proscrevendo aintolerância e o fanatismo. Deve existir uma divisãomuito acentuada entre o Estado e a Igreja (religiões emgeral), não podendo existir nenhuma religião oficial,devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia aolivre exercício de todas as religiões.

CAP 5 - FONTES DO DIREITO

A Sociologia Jurídica enfoca o Direito por aspecto próprio,peculiar – o fato social, e disso decorrem pontos de vistaespeciais com relação às suas fontes. Teremos oportunidades de verque as principais fontes do Direito para a Sociologia Jurídica nãosão as mesmas para a Ciência do Direito, que o enfoca pelo aspectonormativo. Ademais, o exame proposto ajudará o estudante a ver commais clareza as distinções entre a Sociologia Jurídica e a CiênciaJurídica.1) Conceitos e EspéciesEm direito, a palavra “fonte” liga-se também à idéia de origem,nascimento, mas pode ser empregada em duas acepções diferentes:histórica ou documentária e dogmática.No sentido histórico ou documentário, consideram-se fontes todosos dados ou elementos de qualquer natureza que nos tragam algumainformação sobre o direito e as instituições jurídicas presentesou passadas. No sentido dogmático, o que nos interessa no momento,a palavra fonte designa a origem, a procedência, o elementogerador, a causa de algo – neste caso, o direito. Costuma-se classificar as fontes do Direito em materiais e formais:

- As fontes materiais são assim chamadas porque, na realidade,materialmente falando, são as responsáveis pela elaboração doDireito. Se lhe examinarmos os conteúdo, veremos que o Direito éaí elaborado. Por isso as fontes materiais são também chamadasfontes substanciais ou de produção.

- As fontes formais, por sua vez, são assim chamadas porque de fontesó têm a forma; nada, porém, de conteúdo. Aparentemente oDireito tem origem nas fontes formais, mas na realidade elasapenas o tornam conhecido. Por isso são também chamadas fontes deconhecimento. Se pudéssemos usar uma figura nada ortodoxa,diríamos que o Direito é produzido nas fontes materiais eembalado e distribuído pelas fontes formais.

- Para o sociólogo, portanto, ao contrário do jurista, as fontesformais não passam de meios de exteriorização ou de conhecimentodo Direito elaborado pelas fontes materiais, as únicas querealmente merecem a designação de fonte.

2) Fontes materiais ou de produçãoAs fontes materiais podem ser: imediata (que está mais próxima) emediata (mais distante). Fonte material imediata são os órgãoslegiferantes do Estado, ou seja, aqueles que, segundo a ordemconstitucional, têm a função de legislar, tanto no PoderLegislativo como no Executivo. Fonte material mediata ou remota éa sociedade, pois o Direito emana do grupo social.O Direito não é um produto arbitrário da vontade do legislador,mas uma criação que se lastreia no querer social. É a sociedade,como centro de relações de vida, como sede de acontecimentos queenvolvem o homem, quem fornece ao legislador os elementosnecessários à formação das estruturas jurídicas.Como causa produtora do Direito, as fontes materiais sãoconstituídas pelos fatos sociais, pelos problemas que emergem nasociedade e que são condicionadas pelos chamados fatores do Direito,como a Moral, a Economia, a Geografia, entre outros.As fontes formais ou de conhecimento também se dividem em imediatae mediata, sendo a primeira constituída pela lei e as outras peloscostumes e a jurisprudência.3) As fontes mais importantes do ponto de vista sociológicoSe o Direito é um fato ou produto social do grupo como grupo,claro que para o sociólogo a fonte material mais importante é asociedade, o próprio grupo humano. Esta é a fonte primeira,suprema, viva, sem a qual não haveria que falar em Direito.Entre as fontes formais, o costume merece a preferência dasociologia jurídica porque constitui a primeira e principalmanifestação do Direito criado pela sociedade. Tão logo asociedade elabora uma determinada forma ou regra de conduta,exterioriza-a através do costume, a expressão autêntica daconsciência jurídica social.

Já para o jurista que, como vimos, enfoca o Direito pelo aspectonormativo, as coisas não são bem assim. A principal (e única paraalguns) fonte material é o Estado, os órgãos legislativos, sendo alei a mais importante fonte formal.4) O costume – conceito e elementos Há dois elementos constitutivos nas normas do direito consuetudinário - o externo e o interno:

- O elemento externo, objetivo, de natureza material, érepresentado por uma série de atos semelhantes, uniformes econstantemente repetidos, indicando um comportamento idênticopelos membros da comunidade. É a maneira pela qual o costume seexterioriza, tornando-se conhecido.

- O elemento interno, de natureza psicológica, é a convicçãojurídica de que a observância dessa prática corresponde a umanecessidade de direito. Trata-se de elemento subjetivo econsiste na consciência da obrigatoriedade da norma, noconvencimento íntimo de que a prática de tais atos representauma necessidade objetiva. É principalmente sobre este segundoelemento que se funda a razão da obrigatoriedade do costume.

- Para elaborarmos agora o conceito de costume basta juntarmos osseus dois elementos e teremos: costume é a repetição constante euniforme de determinados atos pelos membros de certa comunidadesocial, com a consciência de que correspondem a uma necessidadejurídica. Em outras palavras, é a conduta social reiterada deforma constante e uniforme, por ser de necessidade jurídica.

4.1) Origem e expansão do costumeO costume é de formação livre, difusa, espontânea, gradativa. Vaisendo formado paulatinamente pela própria sociedade, para suprirsuas necessidades. Evolui no tempo e no espaço, de acordo com ascondições sociais do grupo no qual se formou, adquirindo umcaráter eminentemente histórico; e vai sendo transmitido por viaoral. O costume manifesta-se exteriormente por atos, que constituem

seu elemento objetivo. Essas manifestações, entretanto, podemser positivas e negativas ou omissivas:

- São positivas quando, em face de uma lacuna no ordenamentojurídico, um fato ainda não devidamente disciplinado, asociedade cria uma regra, um procedimento destinado a supri-lo,e desta forma vai criando o direito.

- São negativas ou omissivas quando, estando as normasdesatualizadas, ultrapassadas, ineficazes, não mais atendendo àsnecessidades sociais, a sociedade vai paulatinamente deixando-asem desuso, desta forma destruindo o direito.

- O mais comum, entretanto, é o costume manifestar-se das duasmaneiras: à medida que vão caindo em desuso as normas

ineficazes, a sociedade vai elaborando outras normas decomportamento destinadas a substituí-las.

4.2) O papel do costumeNas sociedades primitivas, que ainda não conheciam a lei, toda avida social estava alicerçada no costume. Mesmo depois dosurgimento da legislação, o costume continua sendo elemento quecondiciona os conceitos de bom e de mau, determinando o que deveser seguido e observado pelo grupo, razão pela qual é acolhidopelos tribunais, escritores, doutrinadores e tratadistas.O costume é uma força produtora do Direito em todas as fases dodesenvolvimento deste, quer para completá-lo, quer para corrigi-lo, dando-lhe interpretação mais conforme às necessidades sociais.Assinale-se, por último, que a própria lei (Lei de Introdução aoCódigo Civil, art. 4º; e Código de Processo Civil, art. 126)determina ao juiz lançar mão dos costumes quando a norma forlacunosa ou omissa, o que demonstra haver sempre lugar para ocostume.4.3) Espécies de costumeTendo em vista as relações do costume com a lei, podemosdistinguir três espécies: secundum legem (é o costume que serviu deapoio ao ditame legislativo ou surgiu como complemento deste),praeter legem (é o costume que funciona como fonte supletiva, onde alei nada dispôs, suprindo sua lacuna) e contra legem (é o costume quese opõe à lei).A contradição existente entre a lei e as fontes reais do Direitotem gerado sérias controvérsias. Podemos resumir a controvérsiadizendo que, do ponto de vista puramente jurídico, o costumecontra a lei não pode prevalecer simplesmente porque uma lei sópode ser revogada por outra. Para o jurista, ainda que um preceitolegal caia em desuso, não pode produzir o efeito de fazer-sesubstituir por uma norma consuetudinária oposta.Do ponto de vista sociológico, entretanto, temos que admitir que,em todos os sistemas jurídicos, existem inúmeras normas não maisaplicadas. Por não corresponderem às necessidades recentes dasociedade, caíram em desuso, tornando-se letra morta. É o fenômenobem conhecido a que se deu o nome de extinção por desuso.Em lugar da lei, a sociedade consagra outras normas decomportamento consuetudinário para atender às novas realidades.Exemplo disso é o caso dos motéis que, pelo art. 229 do CódigoPenal, tipificam o crime de casa de prostituição. Tal norma,entretanto, há muito caiu em desuso, dando ensejo a que os motéisproliferassem amplamente. São socialmente aceitos.Quer isso dizer que o costume só não revoga a lei no seu aspectoformal, mas revoga de fato, tornando-a letra morta. Quando olegislador vem a revogá-la por outra lei, está apenas assinando oatestado de óbito.5) A jurisprudência

As decisões reiteradas que emanam dos órgãos judiciáriosconstituem a jurisprudência. Modernamente, a palavrajurisprudência designa o conjunto de decisões anterioresproferidas por juízes ou tribunais sobre casos idênticos.5.1) Papel da jurisprudência em RomaEm Roma, no meado do século II a.C., o pretor, espécie demagistrado, elaborava a fórmula ou regra jurídica apenasapreciando o fato em tese, sem procurar saber se estava ou nãoprovado. Cabia ao juiz apreciar as provas e aplicar a regrajurídica ao caso concreto. Os casos se repetiam, o queproporcionava ao pretor utilizar uma fórmula anteriormenteelaborada e assim foi se formando uma rica jurisprudência, que seconvencionou chamar direito pretoriano, extremamente fecundo como fontede direito. Inúmeros institutos jurídicos, ainda hoje existentes,tiveram origem nessa jurisprudência pretoriana.5.2) O papel da jurisprudência nas sociedades modernasNas sociedades legalistas a jurisprudência desempenha papelsecundário, já que todo Direito emana da lei. Para muitos juristasa jurisprudência nem seria fonte (formal) do Direito, mas simplesmeio de interpretação. Assim entendem porque não é função do juizcriar o Direito, mas tão-somente aplicar a lei ao caso concreto.Mesmo nos casos de ter o juiz que lançar mão da analogia, doscostumes ou princípios gerais do Direito, por não existir umanorma particular na legislação, entendem os juristas não havercriação do Direito pela jurisprudência, porque a norma que o juizencontrou já estaria implicitamente contida no Direito positivovigente e não daria origem a uma norma geral e obrigatória.Entre nós, por mais reiterada que seja a jurisprudência, ainda quejá constitua súmula do Supremo Tribunal Federal, não tem emprincípio força de obrigar o juiz a acatá-la em suas decisões; temvalor restrito, que não vai além de fixar um rumo, consagrar umaorientação.O mesmo não ocorre nas sociedades baseadas no direitoconsuetudinário. Nesses países a jurisprudência constitui fonteviva do Direito, sendo relevantíssimo o papel do juiz, o que éevidente na terminologia anglo-saxônica: diz-se “Mister Justice Smith” ea palavra justiça incorpora-se muitas vezes ao nome civil do juiz.5.3) O papel da jurisprudência nas sociedades legalistasMesmo admitindo uma perfeita adequação entre a realidade social ea lei, isto é, que todas as hipóteses estejam nela previstas nomomento de sua elaboração, com o correr do tempo a norma vai setornando desadequada, já que a lei é estática e a sociedade édinâmica. Novas hipóteses vão surgindo em decorrência dasconstantes transformações sociais, exigindo o pronunciamentojudicial.Em outras palavras, a lei é a concepção estática do direito, numdeterminado momento que amanhã poderá não mais corresponder à

realidade, ao passo que a jurisprudência é o direito dinâmico,elaborado por muitas inteligências, a partir do advogado, passandopelo juiz de 1º grau, até chegar às Cortes Superiores, com base nofato concreto, na realidade social que está em constante mutação.Não pode o juiz deixar de decidir alegando lacuna na lei: aprópria lei (CPC, art. 126 e Lei de Introdução ao Código Civil,art. 4º) ordena-lhe formular uma regra jurídica para a hipótese edar uma decisão, lançando mão da analogia, dos costumes eprincípios gerais do direito. Isso tudo leva a concluir que, doponto de vista sociológico, a jurisprudência cria Direito mesmonos sistemas legalistas, já que o juiz é obrigado a aplicar anorma que estabeleceria se fosse legislador (fala-se aqui em funçãopretoriana da jurisprudência).O papel criador da jurisprudência foi grandemente prestigiado pelaConstituição de 1988, pelo Código do Consumidor e pelo novo CódigoCivil. Cláusulas gerais ( das quais são exemplos os artigos 4º,III, e 51, IV do Código do Consumidor; artigos 113, 187, 421, 422,927 e parágrafo único 931 do Código Civil), estabelecem apenas umamoldura dentro da qual se desenham diferentes possibilidadesinterpretativas.A lei não esgota o direito assim como a partitura não esgota amúsica. Com efeito, a excelência da partitura e a genialidade docompositor ficarão prejudicados se não houver talento dointérprete. Assim também acontece com a lei por mais avançada queela se apresente. Se não houver talento criador dos seusintérpretes (juízes e operadores do Direito), ela não acompanharáa realidade social.5.4) Exemplos de jurisprudência transformada em leiDurante muito tempo, por exemplo, a pensão alimentícia só eradevida após o trânsito em julgado da sentença, como de regraacontece com todas as decisões judiciais. Isso acarretava umasérie de problemas sociais, impondo um regime de fome aoalimentando durante o curso do processo, razão pela qual ajurisprudência passou a entender ser a pensão devida a partir dacitação inicial. Tal entendimento tornou-se tão reiterado que, porcorresponder a uma necessidade, acabou sendo encampado pelolegislador e transformado em lei.Algo idêntico ocorreu com os direitos da companheira, reconhecidospela jurisprudência com base na sociedade de fato. A lei, que lheera tão desfavorável, hoje lhe garante inúmeros direitos graçasaos avanços introduzidos pela jurisprudência. Vários dispositivosda atual lei das locações tiveram por fonte o entendimentojurisprudencial.A súmula 187 do Supremo Tribunal Federal, que dispunha – “Aresponsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com opassageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem

ação regressiva” – foi transformada, ipsi verbis, no artigo 735 donovo Código Civil.Inúmeras outras inovações e progressos jurídicos poderiam sermencionados, o que evidencia que a jurisprudência constitui umaatividade verdadeiramente construtora e pode, conseqüentemente,contar-se entre as fontes do direito.5.5) Relação entre a jurisprudência e o costumeSempre que o juiz é chamado a decidir um caso que não estáclaramente previsto em lei, terá que encontrar uma soluçãocompatível com os interesses ou conveniências sociais. Conclui-sedaí que a decisão do juiz é baseada nos costumes.Sem dúvida, o costume não lhe dita explicitamente a decisão, masexerce sobre ele uma pressão latente e irresistível; serve-lhe desubstrato, fazendo seu papel consistir, não em encontrar umasolução nova, mas em procurar a mais adequada às aspirações domeio que o cerca.6) A lei- A palavra “lei” vem de ligar, porque, em sentido jurídico, obriga

a agir.- A lei é liame, ligação ou vínculo porque o antecedente é o fato

social ou relação fática concreta a que a lei se reporta ou descreve eo conseqüente é o efeito que a lei atribui à ocorrência fática. ALei, portanto, transforma para seus fins, o fato ou relaçãofática, em fato jurídico (gerador) ou relação jurídica.

6.1) Semelhança e distinção entre a lei e o costumeQuanto ao conteúdo, tanto a lei como o costume são regras deconduta, decorrentes das necessidades sociais. Com efeito, assimcomo os costumes têm origem nas necessidades sociais, olegislador, ao elaborar a norma legal, deve estar atento às mesmasnecessidades, sob pena de fazer uma lei ineficaz, sem aplicaçãoprática. Diferem, entretanto em muitos aspectos:1. Quanto à origem: O costume emana diretamente da sociedade e a

lei, de um órgão estatal. Por isso, o costume, historicamente, éanterior à lei.

2. Quanto ao processo de elaboração: O costume é de formação livre,espontânea, gradativa; o processo de elaboração da lei é formal,preestabelecido.

3. Quanto à forma: O costume se exterioriza através de condutasreiteradas e é transmitido em regra via oral; a lei seexterioriza por escrito e através de fórmulas rígidas, precisas.

6.2) Sistema preferido – o costume ou a lei?

Para os partidários do direito consuetudinário, a codificaçãodificultaria a evolução natural do Direito, emperrando o seudesenvolvimento e tornando-o inadequado à realidade social. Para

os partidários da codificação, o costume, longe de ser maisflexível do que a lei, tende a se incrustar, tornando-se maisdifícil sua modificação. A lei, além de se adaptar mais facilmenteàs novas condições sociais (desde que haja interesse nisso),oferece maior segurança do que o costume.Dessa controvérsia resultou que a maioria dos Estados modernosvive sob o regime da codificação, apenas alguns preferindo odireito consuetudinário. A lei é essencialmente objeto de estudoda Ciência do Direito, enquanto que a Sociologia Jurídica só sepreocupa com a eficácia da lei.

Capítulo 6 do PLTA autonomia da sociologia jurídica como ciência e suas relações

com outras ciências sociais.

A Sociologia Jurídica, autônoma em relação à Sociologia (poistem objeto próprio, método e leis):

estuda a relação direito-sociedade, preocupa-se com a eficácia das normas, preocupa-se com as funções das normas jurídicas, ou melhor, com a

análise sociológica dos sistemas jurídicos (vendo o sistema e ocontexto),

estuda a relação funcional entre a realidade social e as diferentesmanifestações jurídicas como forma de regulamentação da vida social

Teoria tridimensional do direito: fenômeno jurídico = fatosubjacente (fato econômico, geográfico, cultural) + valor(significação ao fato como ruim, bom, desejável) + regra ou norma(integração de um elemento ao outro).*pensar no prisma

Esses três fatores inseparáveis do Direito vão constituir oobjeto de três ciências distintas: a Sociologia Jurídica, quecuida do fato, a Ciência do Direito, que cuida da norma, e aFilosofia do Direito, que cuida do valor.

Distinção entre Sociologia Jurídica e Ciência do Direito – a SJdescreve a realidade social do direito sem levar em conta suanormatividade. Preocupa-se com sua existência, como produto oufenômeno social (como ser) e não como concebido pelo legislador. Jáa CD preocupa-se com o aspecto normativo do direito, como conjuntode leis e regras escritas e emanadas pelo Estado, com o dever ser.Distinção entre Sociologia Jurídica e Filosofia do Direito – a SJnão se envolve com as ideologias, com os valores das normas. Issoé preocupação da FD, que se preocupa com a concepção do direito ecom a escala de valoração jurídica dos bens existentes nasociedade. É a FD que estuda o aspecto moral do direito e,consequentemente, sua essência ética. A FD busca nos princípios

consagrados em cada ordenamento a valoração em que está lastreadacada sistema.

Ex. Relações sexuais são lícitas quando praticadas entre adultos,por que assegurado o valor da liberdade sexual, do casamento, daunião estável, mas ilícitas quando praticadas entre adultos emenores de idade, porque não está assegurada a independência domenor.Ex2. A escravidão era lícita quando o valor liberdade não tinhagrande valor social ou quando os valores sociais diferenciavamseres humanos a partir da cor de suas peles.

A eficácia, a vigência e o fundamento.Novamente, à luz das três dimensões do direito, pode-se se

dizer que a Sociologia se ocupa dos problemas relativos à eficácia dodireito; a Filosofia Jurídica, dos problemas relativos aosfundamentos do direito; por fim, à Ciência do Direito, resta apreocupação com os problemas de vigência do direito posto.

História do Direito x Sociologia do DireitoIdentidade: ambas possuem o mesmo objeto material: a vida socialDiferenças: SD se ocupa com os fatos sociais presentes, enquanto ahistória se ocupa dos fatos passados. Além disso, a primeira querapanhar da singularidade do fenômeno social o que sejam suascaracterísticas genéricas e a segunda quer olhar para este mesmofenômeno e enquadrá-lo no sistema geral em que a histórica em siprópria consiste.

PERGUNTAS:1. A partir da teoria tridimensional do Direito, a qual

pretende explicar o fenômeno jurídico, discorrabrevemente sobre a ocupação de cada uma das seguintesciências: sociologia jurídica, filosofia jurídica eciência jurídica.

2. Cite um dos objetos de estudo da Sociologia Jurídica.

Ênfase no cap 4, 5 e 6FATORES DA EVOLUÇÃO DO DIREITO

-          FATORES ECONÔMICOS: A ESTRUTURA ECONÔMICA DE UMA SOCIEDADE REFLETE-SEDIRETAMENTE NO SEU ORDENAMENTO JURÍDICO.DIREITO ROMANO: PATER FAMILIASDIREITO MODERNO: REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - BURGUESIACONTRATOS PARITÁRIOS E CONTRATOS DE ADESÃO ****** PRÁTICAS ABUSIVAS

-          FATORES POLÍTICOS: EMBORA LIGADA ETIMOLOGICAMENTE A POLIS (CIDADE),MODERNAMENTE É UTILIZADA PARA DESIGNAR A CIÊNCIA E A ARTE DE GOVERNAR,ABRANGENDO AS RELAÇÕES ENTRE O INDIVÍDUO E O ESTADO, AS RELAÇÕES DOS ESTADOSENTRE SI, BEM COMO AS FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES DO ESTADO.DESTAQUES:NOVO PARTIDO POLÍTICO NO PODERPROCESSOS REVOLUCIONÁRIOS

-          FATORES CULTURAIS: O DIREITO EVOLUI ACOMPANHANDO A EVOLUÇÃO CULTURAL DEUM POVO.O DIREITO É O ASPECTO CULTURAL DE UM POVO!

-          FATORES RELIGIOSOS: A RELIGIÃO SE OCUPA COM O FORO ÍNTIMO, COM ACONSCIÊNCIA PESSOAL, AO PASSO QUE O DIREITO TRATA DO FORO EXTERNO; ARELIGIÃO SE PREOCUPA COM AS RELAÇÕES ENTRE O HOMEM E A DIVINDADE, O DIREITODISCIPLINA AS RELAÇÕES SOCIAIS QUE SE TRAVAM ENTRE O HOMEM E O HOMEM, OUENTRE O HOMEM E O GRUPO.BRASIL:DIVÓRCIOABORTOCONTROLE DA NATALIDADE

-          OUTROS FATORES SOCIAIS:CLIMATERRITÓRIONÚMERO DE HABITANTESRECURSOS NATURAISGRUPOS ORGANIZADOSOPINIÃO PÚBLICA

FONTES DO DIREITO

         FONTE HISTÓRICA OU DOCUMENTÁRIA

         FONTE DOGMÁTICA

         FONTES MATERIAIS: (SUBSTANCIAIS OU DE PRODUÇÃO)SÃO AS RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO DO DIREITO.IMEDIATA / MEDIATA

         FONTES FORMAIS: (CONHECIMENTO)É O MEIO DE EXTERIORIZAÇÃO, OU DE CONHECIMENTO, DO DIREITO ELABORADO PELASFONTES MATERIAIS. IMEDIATA / MEDIATA                                               

JURISTAS X SOCIOLÓGOSFONTE MATERIAL:                                  ESTADO         X           SOCIEDADE

FONTE FORMAL:    

                                       LEI                            COSTUMES

COSTUME(Direito Consuetudinário)É A REPETIÇÃO CONSTANTE E UNIFORME DE DETERMINADOS ATOS PELOS MEMBROS DACOMUNIDADE SOCIAL, COM A CONSCIÊNCIA DE QUE CORRESPONDEM A UMA NECESSIDADEJURÍDICA.É A CONDUTA SOCIAL REITERADA DE FORMA CONSTANTE E UNIFORME, POR SER DENECESSIDADE JURÍDICA.O Costume tem formação:

-          Livre-          Difusa-          Espontânea-          Gradativa-          Imitação do hábito-          Imitação de comportamentos-          Oral

O Código do Rei Hamurabi, bem como a Lei das XII Tábuas (apontadas como asprimeiras leis escritas) são uma consolidação de usos e costumes dos povosda Babilônia e do Lácio. 

Espécies de Costume:-          Secundum Legem: é o costume que serviu de apoio ao ditame legislativo

regular ou surgiu como complemento deste. Encontra respaldo na própria lei.-          Praeter Legem: é o costume que funciona como fonte supletiva, onde a lei

nada dispôs, suprindo sua lacuna: está além da lei, que não abrangeu aquelefato oriundo das inter-relações sociais.

-          Contra Legem: é o costume que se opõem á lei; introduz uma nova normacontrária ás disposições legislativas, ou faz os preceitos legais vigentesnão serem aplicados, caindo em desuso.

JURISPRUDÊNCIA  Conjunto de decisões anteriores proferidas por Juízes ou Tribunais sobre casos idênticos.

A Lei é a concepção estática do Direito, num determinando momento que amanhãpoderá não mais corresponder á realidade, ao passo que a jurisprudência édireito dinâmico, elaborado por muitas inteligências, a partir do advogado,passando pelo juiz de 1ª instância, até chegar ás Cortes Superiores, combase no fato concreto, na realidade social que está em constante mutação.

LEIÉ regra social obrigatória emanada da autoridade a que, no Estado, sereconhece a função legislativa. 

Sentido jurídico: obriga a agir

A AUTONOMIA DA SOCIOLOGIA JURÍDICA COMO CIÊNCIA E SUAS RELAÇÕES COM OUTRASCIENCIAS SOCIAIS

Sociólogos: A sociologia jurídica seria parte integrante da Sociologia.Juristas: A Sociologia do Direito é a própria ciência do Direito.

A finalidade da Sociologia Jurídica é estabelecer uma relação funcionalentre a realidade social e as diferentes manifestações jurídicas, sob aforma de regulamentação da vida social, fornecendo subsídios para as suastransformações, no tempo e no espaço.

Teoria Tridimensional do DireitoFato, valor e norma formam uma unidade fático-axiológico-normativa, umaverdadeira trilogia, uma espécie de Santíssima Trindade do Direito.

-          Fato (corre um fato ou um acontencimento)-          Valor (ocorre um julgamento daquele fato)-          Regra ou norma (surge a norma aquele fato)

“.... A vida do direito resulta da integração dinâmica e dialética dos três elementos que aintegram.” (Miguel Reale)

DIFERENÇA ENTRE SOCIOLOGIA JURÍDICA E A CIÊNCIA DO DIREITOA Sociologia Jurídica descreve a realidade social do Direito sem levar emconta sua normatividade.A Ciência do Direito consiste no estudo da norma, que é o padrão decomportamento social a ser adotado em cada caso.“O Direito é a norma, nada mais que isso” (Kelsen)

Distinção entre Sociologia Jurídica e a Filosofia do Direito.

Filosofia do Direito: objetiva o estudo do Direito no seu aspecto valor. 

Cabe determinar sua formação e desenvolvimento em relação aoselementos infraestruturais da sociedade, ressaltando a dependênciade suas modificações. 

Sociologia do Direito: Dá ao jurista uma descrição objetiva da realidadesocial do Direito, válida num dado meio social.

Princípio da Dignidade da Pessoa HumanaConstituição da República Federativa do Brasil de 1988:

Ser e Dever SerSer: é a lei naturalDever ser: Vontade racional do homem

Direito

Sociologia Jurídica         Fato           Eficácia               SerCiência do Direito          Norma       Vigência             Dever SerFilosofia do Direito        Valor         Fundamento       Poder Ser

História do Direito

Detém-se na consideração de cada fenômeno sociojurídico individual,procurando enquadrá-lo nos sistema geral em que a história em si própriaconsiste. 

Conceito de Sociologia Jurídica:É a ciência que estuda o Direito como fenômeno social (ser), a fim deobservar a adequação da ordem jurídica aos fatos sociais, ocumprimento pelopovo das leis vigentes, aplicação destas pelasautoridades e os efeitossociais por elas (leis) produzidos (eficácia).

Progresso Científico x Evolução Social

Ciências Sociais