Processos de aprendizagens em um contexto informal de música. Banda DEF3

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7 INTRODUÇÃO: O fazer musical pode ser considerado um divisor de águas na minha vida. A partir do meu contato com a música pude, em vários sentidos, crescer como ser pensante, social e criador. Quando comecei a “tocar de ouvido”, criar minhas próprias músicas e formar uma banda com meus irmãos há 11 anos, não imaginava quanto conhecimento estava sendo produzido através do diálogo entre os membros dessa banda, a relação pessoal de cada membro com o mundo e seus reflexos dentro do grupo. Partindo dessa observação determinei minha pergunta central: “Como esses agentes aprendem música em um contexto informal?” O processo de aprendizagem deles vem sendo uma troca entre as observações e experiências individuais que são compartilhadas, discutidas e transformadas, gerando um novo conhecimento que será ponto de partida para novas discussões. Dessa forma poderíamos considerar cada sujeito assumindo os papéis de educador e educando. Sobre esse aspecto Paulo Freire (1996) diz que: Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE,1996, p.12) Essa produção coletiva do conhecimento não se restringe somente à técnica musical desenvolvida, mas também a um conjunto de conceitos (estéticos, históricos, sociais, políticos etc.) tão relevantes e influentes no resultado final das composições e na construção da identidade do grupo. Optei por separar em duas partes o meu objeto de estudo ou, pelo menos, apresentá-lo com essa distinção entre os agentes responsáveis pelas ações (membros da banda) e o produto final (o trabalho da banda), pois esses músicos consideram a banda como um “quinto elemento”, que seria o resultado da combinação das características de cada um dos integrantes. Percebi em suas respostas, opiniões divergentes entre si que culminariam em um mesmo objetivo na banda, como por exemplo, o que achavam essencial para se obter uma boa apresentação de palco. Uma das respostas condicionava o fator “bem estar” a uma performance satisfatória, enquanto que um outro membro afirmava que: “Tocar muito feliz nem sempre vai me ajudar, pelo contrário, posso ficar muito bobo 1 e isso pode tirar minha 1 O entrevistado deu o exemplo de ficar “bobo” por tocar em um evento onde o equipamento fosse de boa qualidade e a casa tivesse cheia (com uma lotação satisfatória).

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INTRODUÇÃO:

O fazer musical pode ser considerado um divisor de águas na minha vida. A partir do

meu contato com a música pude, em vários sentidos, crescer como ser pensante, social e

criador. Quando comecei a “tocar de ouvido”, criar minhas próprias músicas e formar uma

banda com meus irmãos há 11 anos, não imaginava quanto conhecimento estava sendo

produzido através do diálogo entre os membros dessa banda, a relação pessoal de cada

membro com o mundo e seus reflexos dentro do grupo. Partindo dessa observação determinei

minha pergunta central: “Como esses agentes aprendem música em um contexto informal?” O

processo de aprendizagem deles vem sendo uma troca entre as observações e experiências

individuais que são compartilhadas, discutidas e transformadas, gerando um novo

conhecimento que será ponto de partida para novas discussões. Dessa forma poderíamos

considerar cada sujeito assumindo os papéis de educador e educando. Sobre esse aspecto

Paulo Freire (1996) diz que:

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE,1996, p.12)

Essa produção coletiva do conhecimento não se restringe somente à técnica musical

desenvolvida, mas também a um conjunto de conceitos (estéticos, históricos, sociais, políticos

etc.) tão relevantes e influentes no resultado final das composições e na construção da

identidade do grupo.

Optei por separar em duas partes o meu objeto de estudo ou, pelo menos, apresentá-lo

com essa distinção entre os agentes responsáveis pelas ações (membros da banda) e o produto

final (o trabalho da banda), pois esses músicos consideram a banda como um “quinto

elemento”, que seria o resultado da combinação das características de cada um dos

integrantes. Percebi em suas respostas, opiniões divergentes entre si que culminariam em um

mesmo objetivo na banda, como por exemplo, o que achavam essencial para se obter uma boa

apresentação de palco. Uma das respostas condicionava o fator “bem estar” a uma

performance satisfatória, enquanto que um outro membro afirmava que: “Tocar muito feliz

nem sempre vai me ajudar, pelo contrário, posso ficar muito bobo1 e isso pode tirar minha

1 O entrevistado deu o exemplo de ficar “bobo” por tocar em um evento onde o equipamento fosse de boa qualidade e a casa tivesse cheia (com uma lotação satisfatória).

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concentração”. Partindo desse exemplo, podemos perceber que os integrantes recorreram a

estratégias diferentes para obter um resultado comum que seria uma boa performance de

palco, o que reforça a minha escolha em apresentar meu objeto de estudo dessa forma

(membros/ banda). Sendo assim, antes de analisarmos o discurso dos músicos, apresentarei

de forma resumida a história da banda e o universo do qual ela faz parte, pois acredito que

isso facilitará na compreensão dos relatos tanto dos membros da banda quanto do público,

amigos e familiares.

Na maioria das vezes, o vocabulário, as situações descritas e as pessoas citadas pelos

entrevistados fazem parte do universo que vivem e reconhecem como cultura rock and roll.

Este trabalho entende cultura com uma teia de significados tecida pelo homem (GEERTZ,

1989, p. 15). Dessa maneira, cultura poderia ser entendida como as escolhas feitas por essas

pessoas a partir dos significados que as próprias estabelecem entre o meio social descrito e

elas mesmas. O termo cultura pode não ser demonstrado pelos participantes de forma

consciente, mas é facilmente percebido em seus discursos, como por exemplo, nesse trecho da

entrevista que tinha como foco a apresentação da banda em um show: “Acho tudo válido, a

roupa para tocar tem que ser especial, você não vai tocar com a roupa que acorda, tem que se

vestir de roqueiro (risos).” Percebemos nesse depoimento não só o reconhecimento desse

agente como parte de uma cultura carregada de símbolos e valores, mas também uma

conscientização sobre o ato de apresentar-se em um palco estar ligado à interpretação de um

papel. Essa visão do palco como espaço de representação de papéis foi vista e problematizada

em níveis variados de exposição entre os entrevistados em Campos (2007, p. 95):

O palco encontra-se normalmente associado à ideia de representação de papéis. Em palco, as pessoas adquirem o estatuto de actores. No plano da teoria sociológica,como o interaccionismo simbólico muito bem sublinhou, considera-se que, na presença de terceiros, as pessoas desempenham papéis sociais, são actores, e essa representação é uma dimensão incontornável das interacções sociais.

Esse artigo é um relato de um estudo sociológico que busca entender o conceito

existente nos modos de relação com a música entre músicos portugueses de diferentes áreas

de atuação. O autor apresenta seu estudo organizando-o em três planos conceituais,

subdivididos em treze dimensões analíticas. Alguns desses conceitos serão discutidos no

segundo capítulo desta pesquisa e foram aproveitados na elaboração do meu questionário

apresentado aos entrevistados2.

2 Ver anexos.

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Esta pesquisa foi conduzida sobre os parâmetros de uma investigação etnográfica,

onde o pesquisador também assumiria o papel de membro dentro do próprio objeto de estudo.

A escolha do tema sobre uma prática em que estava envolvido me proporcionou algumas

vantagens como, por exemplo, estar familiarizado com o “idioma nativo” 3 (nesse caso, as

expressões, gírias e jargões do meio estudado), além do tempo que economizei, pois não foi

necessário haver esse período de adaptação entre o pesquisador e o contexto analisado.

Optei por fazer a revisão da literatura de forma interpolada no decorrer deste trabalho

mantendo o diálogo entre os dados coletados, a construção textual e os conceitos aproveitados

e discutidos da literatura. Para fundamentar esta pesquisa, utilizei alguns referenciais teóricos

como, por exemplo, “Mundos musicais” (ARROYO, 2002), “Grupos desviantes” (BECKER,

2OO8), “O musicar” (SMALL, 1999), etc. Ao longo do trabalho outros conceitos e autores

foram adicionados, mas foi a partir destes três elementos que a monografia foi estruturada.

Acredito que as informações analisadas e discutidas aqui poderão ser úteis para dialogar com

outros trabalhos voltados para a área das práticas musicais de ensino e aprendizagem

informais ou como dados para pesquisas etnográficas de uma cultura, entre as várias que

ajudam a compor o atual contexto musical urbano da cidade do Rio de Janeiro.

A metodologia adotada contou com entrevistas semi-estruturadas que foram gravadas

com auxílio de uma câmera, e posteriormente transcritas a partir dos depoimentos arquivados

em vídeo. Houve um acordo entre os entrevistados e o pesquisador, onde o próprio enviaria

por correio eletrônico o material em forma de texto, que seria revisado pelos entrevistados,

avaliados e corrigidos, caso alguma dessas interpretações estivesse muito distante do discurso

deles. Como fontes de dados auxiliares foram usados também, todo tipo de material vinculado

à banda em sítios de relacionamento (textos, imagens, fotos e vídeos divulgados em blogs,

fotologs etc.), depoimentos de amigos, trechos das entrevistas que não tenham entrado na

transcrição, conversas informais, anotações minhas sobre a banda, guardadas em um diário

pessoal, além de mais de uma década de experiências e memórias, enquanto estive atuando

nesse meio. Esse tipo de aproveitamento de experiências empíricas foi usado por Becker

(2008), ao analisar músicos de casas noturnas, onde o próprio havia atuado como pianista, e

muitos dos dados coletados por ele eram conversas que posteriormente anotava em caderno de

campo. Becker diz ter usado o recurso de entrevista poucas vezes durante sua pesquisa. Assim

como Becker, também tive uma atuação musical e social antes de definir e pesquisar o

contexto musical com que já tinha familiaridade.

3 Tal situação também ocorreu na pesquisa de “SILVA, José Alberto Salgado e. Construindo a profissão musical - uma etnografia entre estudantes universitários de Música.”.

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Meu interesse por aprender e ensinar me levaria ao “ensino formal" de música, que

começou na Escola de Música Villa Lobos, onde cursei o nível básico tendo como

instrumento o violão, depois passando para um curso livre de percepção musical na UNI-RIO

até chegar ao curso de Licenciatura em Música da UFRJ. Apesar desse meu contato com a

linguagem musical “formal”, os mecanismos de composição e trocas de conhecimentos no

contexto da banda sofreram pouca influência do que eu vinha aprendendo nessas instituições.

Na maioria das vezes, de forma prática e não teórica, eu incluía algum conhecimento

“acadêmico” nas partes que eu compunha, ou analisava (mentalmente) idéias interessantes

que partiam do grupo, como por exemplo, quando alguém criava uma “levada” em 6/8 e

chamava de “tempo tipo valsa”, ou tentava exemplificar nos remetendo a uma fase específica

de um jogo de vídeo-game. “É tipo a fase da água do Super Mario” 4. Todos, inclusive eu,

entendiam a referência ao jogo, que era comum a todos, e logo estávamos acompanhando a tal

“levada tipo Mario Bros”.

Minha posição, de intervenção mínima possível nos ensaios, quanto aos conteúdos que

eu vinha aprendendo, estava ligada ao respeito que eu tinha pela opinião do grupo em relação

ao estudo teórico5. “Aprender teoria pode tirar minha espontaneidade e minha criatividade.”

Mesmo não concordando com essa idéia, tentava separar, o quanto fosse possível, meu

“mundo acadêmico” da minha realidade como membro dessa banda. Sei o quanto é difícil

essa idéia de estar inserido em um grupo ou sociedade que possuem seus códigos e não causar

interferências no seu cotidiano, mas de certa forma tentei ser o mais discreto possível nas

minhas contribuições teóricas, acreditando que no momento certo o interesse surgiria. Assim

eu lançava esporadicamente alguma expressão ou termo da “música tradicional” nos ensaios e

alguns acabavam entrando “naturalmente” no repertório de expressões da banda. Poderíamos

fazer uma associação entre as idéias de Rogers (1961) e essa minha atitude de respeito à

opinião e a individualidade de cada membro, assim como a crença no potencial de auto-

aprendizagem desses músicos (inclusive eu), através da troca, criada e discutida nesse

ambiente de acordo com os interesses e necessidades de cada um.

4 Considero de grande importância, como influência musical nas composições da banda, as músicas de vídeo-game. Reservei uma seção dentro do capítulo 1 para desenvolver sobre esse assunto. 5 Essa postura de intervenção mínima foi sendo “quebrada” aos poucos durante esses 11 anos de atuação, principalmente nos últimos 2 anos, pelo contato que tive com leituras sobre o assunto, durante meu curso de Licenciatura em Música na UFRJ. O próprio fato de escolher a banda como objeto de estudo, o envolvimento dos membros da banda na elaboração da monografia, acarretou em uma maior abertura nos diálogos entre a banda e a universidade.

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Qualquer pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do termo; a pessoa só pode construir uma ponte para comunicar com outras ilhas se primeiramente se dispôs a ser ela mesma e se lhe é permitido ser ela mesma (ROGERS, 1961).

A estruturação desta monografia, a partir desta introdução, é a seguinte: No primeiro

capítulo conheceremos a banda e seu universo. Teremos uma apresentação sobre cada

integrante feita por eles mesmos descrevendo o período de atuação no grupo, atividades

profissionais, contribuições para a banda etc. Em seguida, veremos um breve histórico sobre a

banda, e ainda dentro do universo desse grupo, conheceremos o que estes chamam de

“circuito alternativo ou independente de bandas”, como a banda dialoga com esse

“movimento”, suas regras, propriedades e conceitos. Por último veremos a música de vídeo-

game como uma influência comum no grupo e como o hábito de apreciação e consumo desse

tipo de material sonoro pode se apresentar como um modo de experiência e aprendizagem.

No segundo capítulo, através dos dados retirados das entrevistas gravadas, anotações

feitas a partir de conversas informais, trechos de entrevistas da banda retirados de um site

especializado em bandas de rock, além de depoimentos de amigos, veremos como os

membros da banda pensam e organizam o fazer musical. Essa análise foi organizada em dois

planos analíticos, que serão apresentados da seguinte forma:

1- Aspectos teóricos, execução e composição, (nas três primeiras seções).

2- Aspectos psicológicos/ afetivos, valores e valoração, (nas três últimas seções).

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CAPÍTULO 1: A BANDA E SEU UNIVERSO. 1.1. Os membros (apresentados por eles mesmos). ▪ Armando Muniz (Voz e guitarra):

Meu nome é Armando Muniz, minha atuação na banda DEF3 é de vocalista e

guitarrista, estou nesse projeto desde o início, aproximadamente 1999, pois fui um dos

idealizadores da banda. Meu interesse por Literatura pode ter me impulsionado ou favorecido

na função de compositor (no caso as letras das canções), e posteriormente, manutenção das

atualizações em sites de relacionamentos, como por exemplo, o Orkut e o Facebook, além de

produzir também alguns vídeos usados como divulgação da banda. Acredito que minha maior

contribuição para a banda seja a crença que tenho no potencial desse trabalho. Tento ser o

ponto de equilíbrio entre a minha visão artística e os desejos dos outros membros da banda,

somados a opinião do público consumidor desse tipo de trabalho. Atualmente ocupo a mesma

função na banda, fora dela dou aulas particulares de violão, participo de um grupo de

pesquisa6 na UFRJ (investigando a relação entre música e trabalho) onde eu enquanto

pesquisador focalizei meu “olhar” inicialmente na profissão (re) conhecida como roadie e no

mundo musical denominado pelos envolvidos como “Circuito alternativo de bandas”.

▪ Maick Muniz (guitarra, efeitos e backing vocals):

Meu nome é Maicon S. Muniz, mais conhecido no meio musical como “Maick”

Muniz. Minha atuação na banda DEF3 é de guitarrista e backing vocal, fui convidado a

participar desse projeto na função de guitarrista, na época tocava apenas violão, mas a partir

desse convite pude conhecer e desenvolver técnicas relacionadas à guitarra, que me ajudaram

a consolidar minha forma de tocar e até criar essa associação da minha imagem com a guitarra

e seus complementos como, por exemplo, a utilização de pedais de efeito. O fato de eu só

cantar em partes especificas nas músicas (geralmente dobrando a voz principal em refrões),

me dá a liberdade para criar complementos sonoros dos mais variados com a guitarra, não só

solos ou vozes de respostas na guitarra, mas também microfonias controladas, sobreposição

de samples curtos que executo na hora, gravo e toco outra parte em cima etc. tenho a cabeça

6 Ao decorrer deste trabalho falarei um pouco sobre a minha participação nesse grupo de pesquisa e a relação entre o trabalho desse grupo de iniciação científica e esta monografia.

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aberta para vários tipos de ferramentas, acho que os recursos são para materializar idéias que

estão dentro de cada músico, acho que sou esse tipo de guitarrista, estou sempre buscando

criar algo novo, sincero e reflexível, reciclando idéias antigas e mesclando com conceitos

novos.

Fui muito influenciado pelas músicas de vídeo-game da minha geração

(principalmente da era 8 bits e 16 bits), eu pude conhecer culturas diferentes, instrumentos

variados (porque eu ouvia aqueles sintetizadores e tentava imaginar qual instrumento real eles

estavam emulando), escalas musicais exóticas etc. e todo esse conteúdo era sintetizado em um

simples cartucho de 8 bits. Eu considero essa minha experiência com o vídeo-game um dos

pilares principais da minha musicalização.

▪ Leandro “PXE” Muniz (baixo e backing vocals):

Meu nome é Leandro Muniz Céu, minha atuação na banda DEF3 é de baixista, estou

nesse projeto desde o início, aproximadamente 1999. Atualmente ocupo o mesmo cargo na

Def3, (Baixista), trabalho como Roadie com uma banda que atinge outro tipo de mercado,

isso me deu a oportunidade de viajar e “viajar” (divagar sobre outras idéias), de adquirir

experiência de estrada e trazer tais experiências para banda, de forma que se possa usar esses

conhecimentos de acordo com os padrões do grupo.

Acredito que minha contribuição maior para banda, seja estar sempre buscando

estabelecer contato com mundo de shows (já que vivo atrás das cortinas, rs), assistindo e

aprendendo a funcionalidade de um show, tentando entender a sociologia do meio da musica

dentro e fora das mídias, relação publico banda, situações contratantes etc., buscando

informação e detectando determinadas circunstâncias onde vejo oportunidades de mostrar

nosso trabalho com honestidade e respeito.

▪ Edgar Marinho (bateria):

Olá, me chamo Edgar Marinho e minha função na banda DEF3 é a de baterista. Entrei

na banda em 28 de novembro de 2003 onde fiz minha estréia oficial tocando em um formato

acústico na casa do Armando (que na época morava em Vargem Grande), eu já sabia algumas

músicas, ensaiamos bastante o resto desse ano e já no início de 2004 começamos a fazer

vários shows. Eu conhecia todos da banda, somos amigos há muito tempo, então foi natural a

minha entrada na banda. Eu tocava em outros grupos de rock e não estava dando certo por

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divergências sonoras, aí uni o útil ao agradável, acabei por completar o quadro na DEF3. Me

identificava com a proposta da banda, lembro que foi e é um desafio até hoje tocar com esses

caras, pois o conceito de sonoridade e a variedade de compassos que eles usam, até hoje me

causam um “nó na cabeça”, sinto uma dificuldade enorme para entender, talvez por ser um

ignorante na parte teórica (musical). Não me importo muito, pois acho que esse elemento

orgânico (meio que entender do meu jeito e executar o que ficou subentendido na minha

cabeça) talvez faça a diferença, quem sabe se fosse tudo certinho poderia ser só mais um som

como outro qualquer.

Após um tempo, saí da banda por motivos pessoais meus (e de certa forma da banda

também) e retornei agora, nesse ano de 2011, desde então estamos curtindo tocar nosso som e

aproveitar ao máximo o fato de estarmos juntos fazendo o que gostamos. Depois de tanto

tempo afastado da banda percebi e hoje dou muito mais valor ao fato de poder estar

novamente junto desses caras.

▪ Edu Muniz (bateria e backing vocals):

Meu nome é Ed. Wilson Muniz, minha função na banda DEF3 é de baterista e back

vocal. Conheço o projeto desde o início com participação ativa em 2006 quando assumi as

baquetas. No momento que entrei de fato na banda, o cargo de baterista precisava de alguém,

era o único instrumento aonde não tinha o sangue da família Muniz.

E como todo irmão mais novo, comigo não seria diferente, queria tocar de tudo ser

igual a eles, aprendi tocar violão depois guitarra que nessa época estava no auge (quando a

gente é criança tudo é festa). Montei minha banda com amigos da época até que fui chamado

pra tocar numa banda maior com um tempo já de estrada (banda Rex berimbou) só que nessa

banda entrei como baixista. Fiquei meio “balançado” por não ter muita intimidade com o

instrumento, mas sabe como é, embarquei nesse “grave da cozinha”, isso foi o primeiro passo

para eu me apaixonar pela bateria. Comecei a observar os bateristas, passei a prestar mais

atenção nas bandas que curtia só que agora com atenção maior nas batidas, mas era outra

coisa, pois até então existia uma coisa comum entre todos esses instrumentos que toquei,

todos faziam parte da família das cordas. Com o final da banda “Rex berimbou”, fiquei um

tempo sem tocar, até que um amigo que também era membro dessa extinta banda, estava

montando uma nova banda de rock e precisava de um baterista. Ele me perguntou se eu

conhecia algum baterista e eu logo disse: conheço (risos) eu! Você toca bateria com firmeza?

Falei, toco!

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Montamos a banda “Vulgare”, tocar nessa banda foi fundamental para o meu

aprendizado na função de baterista, porque lá foi praticamente onde aprendi a tocar bateria,

então quando surgiu a oportunidade de tocar bateria na banda DEF3, eu já havia feito meu

curso de baterista.

Atualmente, por necessidade profissional e pessoal, me encontro ausente da banda.

Viajei para o estado de Maceió, com a finalidade de me especializar em uma nova profissão.

Fiz um curso para Aquaviário, CFAQ (CURSO DE FORMAÇÃO DE AQUAVIÁRIO II-

III-M/01/2011), fiz as provas, passei e estou aguardando ser chamado. Continuo praticando

violão, comecei um curso de espanhol e faço alguns trabalhos de “free lance” num salão como

cabeleireiro.

▪ Leonardo Medeiros (baterista):

Meu nome é Leonardo Medeiros Costa, tenho 28 anos. Minha função na banda foi de

baterista onde atuei de 1999 até aproximadamente final de 2002 e início de 2003.

Recentemente “pré-produzi” quatro músicas da banda e uma dessas músicas foi aproveitada

em um vídeo clipe que também produzi usando imagens do próprio dia da gravação.

Desde o início da banda até os dias de hoje, continuo trabalhando na área musical,

tocando, gravando e produzindo. No ano de 2004 cursei o IATEC (Instituto de Artes e

Técnicas em Comunicação) regular de áudio. Continuo tocando em outros projetos musicais,

mas trabalhando especificamente por trás das câmeras, estudando muito com objetivo de me

profissionalizar mais a cada dia.

Vimos nessa seção o resumo de cada membro sobre eles mesmos, suas atividades

relacionadas ao grupo e o que fazem paralelamente ao trabalho da banda. É possível perceber

através dos discursos um pouco da personalidade de cada um, sobre o que valorizam e como

tais aspectos influenciaram na composição da personalidade da banda ou “quinto elemento”,

como eles classificam a DEF3. Veremos na próxima seção o resultado da combinação desses

elementos.

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1.2. Breve histórico sobre a banda.

Ter uma banda como eles têm, é algo inspirador, pois cada “perrengue” vivido pode desanimar, mas o amor à música, o amor ao rock nunca deixou a banda parar, (Victor “Batata” Ebrenz).

A banda DEF37 surgiu em 1999, como laboratório de testes para as composições feitas

a partir dos conteúdos aprendidos8 pelos integrantes e como veículo de divulgação voltado

para o público consumidor de trabalhos autorais independentes. Os membros classificam a

banda como “uma banda de rock alternativo”, com letras em português. Sobre o conteúdo das

letras9, acham necessário transmitir mensagens positivas, pois acreditam no poder de

influência das letras sobre o ouvinte, dessa forma se sentem responsáveis no papel de

formadores de opinião. A formação atual da banda é: Armando Muniz - voz e guitarra, Maick

Muniz - guitarra e voz, Leandro “PXE” Muniz - baixo e voz e Edgar Marinho-bateria.

Nos conhecemos desde crianças, somos literalmente uma família, nossos amigos brincam dizendo que fazemos parte de um clã, máfia ou ordem, ‘A Família Muniz’. Somos dois irmãos (Armando Muniz: voz e guitarra, Maick Muniz: guitarra e voz), e um primo que foi criado conosco como irmão (Leandro ‘PXE’ Muniz: baixo e voz). Nós dividimos a banda em três fases, correspondentes a cada baterista que já atuou na banda. Inicialmente o cargo de “batera” era de um amigo nosso (Leonardo Medeiros), que hoje trabalha como produtor musical e de alguns eventos como por ex. o ‘TNQ Rock’ em Jacarepaguá, e ainda é baterista da ‘banda Vulgare ’. Depois veio a ‘fase Edgar Marinho’, outro amigão nosso, com ele gravamos nosso CD demo ‘PREMATURA’ em 2004. A terceira fase foi com nosso irmão Edu Muniz, que esteve no posto de baterista até o início de 2011, mas precisou deixar o Estado do Rio de Janeiro para se especializar num curso que duraria um ano. Ficaríamos parados por um ano, mas felizmente convidamos o Edgar para tocar na festa de despedida do Edu, e esse encontro resultou na sua volta ao grupo. (Banda DEF3 em entrevista ao site rock zone).

A banda completou uma década de existência no ano de 2009, desde o início fez parte

de um “movimento” no Bairro de Jacarepaguá onde alguns jovens se reuniam para discutir

assuntos de interesses relacionados à localidade onde viviam (organizarem eventos, criarem

propostas focalizadas no lazer e cultura etc.). Hoje esses jovens são músicos, artistas plásticos, 7 Origem do nome DEF3: Bem no início da banda, um pouco antes do PXE comprar seu baixo, representávamos três sons básicos (voz, guitarra e bateria), ensaiávamos no quarto do baterista (na época o Léo), sem proteção acústica e sem noção de decibéis, protetor auricular etc. Acabávamos os ensaios com os ouvidos zunindo, completamente surdos. Um dia o Armando chegou com essa idéia da sonoridade da palavra “deaf” que significa surdo em inglês, fazendo um trocadilho com a tecla 3 do telefone, DEF3 (três surdos), mesmo com a inclusão do quarto som resolvemos ficar com o nome (pois gostávamos da sonoridade DEF3 e também ficava bonita a grafia nas filipetas rs), mais tarde adotamos um novo significado, onde cada caractere representa um membro (3 letras e 1 número). (banda DEF3 em entrevista ao site rock zone). 8 A análise sobre as trocas de conhecimentos e os conteúdos aprendidos serão apresentados no capitulo 2. 9 Fernando C. de Queiroz, um amigo que conheceu a banda via internet, faz uma análise bem interessante sobre algumas músicas. Ele utiliza simbologias e interpretações carregadas de poesia. (ver anexos).

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profissionais da área audiovisual, skatistas profissionais, professores, djs etc. De alguma

maneira, estão se reunindo novamente e pensando numa forma de mostrar para a nova

geração de Jacarepaguá o que foi esse movimento, os eventos, o skatepark MHS, o projeto da

“praça vermelha” da Taquara e a luta para conseguir a inclusão de uma Lona cultural no

bairro.

Pensando nisso, a Banda DEF3 reuniu alguns desses amigos artistas e juntos

resolveram comemorar não só os 10 anos da banda, mas agregarem alguns representantes

dessa época, cada um em suas respectivas áreas, para transformar a Lona Cultural Jacob do

Bandolim numa exposição “audiovisual” dessa geração. O resultado foi uma grande festa e

um dia de reflexão sobre a importância da arte e da amizade, independentes do tempo, religião

ou gosto musical.

(...) tentar ser justo e ético mesmo numa conversa informal, pois cada membro acaba representando a banda e uma atitude ou comentário mal pensado pode comprometer todo o trabalho da banda. (Banda DEF3 em entrevista ao site rock zone).

Nesta seção vimos de forma resumida algumas características sobre a banda, sua

relação com os amigos e o público, além da preocupação histórica apresentada como ideal de

registro e resgate, valorizando a sua geração, o seu bairro e seus interesses em políticas de

cultura e lazer. Na seção seguinte conheceremos o “mundo musical” onde esses agentes estão

inseridos. 1.3. Circuito alternativo de bandas.

Muitas podem ser as definições para o que os entrevistados chamam de Circuito

alternativo ou Independente de bandas. Esta pesquisa não tem o objetivo de aprofundar-se no

tema e sim tentar chegar a uma definição aproximada, a partir do discurso desses agentes e do

universo ou mundo que descrevem. O conceito de “mundos musicais” será utilizado neste

trabalho como um referencial teórico que está atrelado à revisão bibliográfica do artigo

lançado no ano de 2002 por Margarete Arroyo, chamado “Mundos musicais”. Nesse artigo, a

autora conta que se sentiu estimulada a conhecer e entender algumas práticas musicais em um

determinado contexto social, a partir da leitura do livro The hidden musicians: music-making

in an English town, da antropóloga britânica, Ruth Finnegan (1989). O livro apresenta o

trabalho de músicos não profissionais na cidade de Milton Keynes na Inglaterra, onde esses

atuam em universos musicais variados como: “música erudita”, folclórica, teatral, jazz,

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country e rock. A forma da pesquisa foi baseada em um trabalho etnográfico com o objetivo

de conhecer e refletir sobre tais práticas.

Após ter contato com essa leitura, Arroyo no ano de 1995 elaborou um projeto de

pesquisa focalizado em dois ambientes sociais distintos na cidade de Uberlândia, MG – um

grupo de Congado e um conservatório Público de Música. Ela não fazia idéia da

complexidade desses contextos musicais, incluindo entre outros aspectos, os processos de

ensino e aprendizagem musical. Arroyo nos conta que a leitura de Finnegan foi fundamental

para seu trabalho, pois ajudou a perceber vários “mundos musicais” na cidade de Uberlândia.

Sobre mundos musicais o artigo nos mostra que:

A idéia de “mundos musicais” que Ruth Finnegan (1989) propõe (...) refere-se a mundos “distintos não apenas por seus estilos diferentes, mas também por outras convenções sociais: as pessoas que tomam parte deles, seus valores, suas compreensões e práticas compartilhadas, modos de produção e distribuição, e a organização social de suas atividades musicais” (ARROYO apud FINNEGAN, 1989, p.31).

A partir desse conceito, definimos o circuito “alternativo” ou “independente” de

bandas como um “mundo musical” que dialoga com outros tantos existentes em um contexto

contemporâneo urbano, nesse caso especificamente na cidade do Rio de Janeiro. A utilização

dos termos “alternativo e independente” pode nos revelar características comuns para os

membros dessa cultura. As bandas e todo o universo relacionados a esse meio, tendo idéias e

objetivos comuns, se reconhecem como um grupo social, sendo assim sentem a necessidade

de se expressar e compartilhar o que consideram importante para a formação dessa identidade.

Essa seria a “alternativa” encontrada por esse grupo, que para existir precisou de forma

“independente”, encontrar meios de sustentabilidade sem depender do apoio e/ou

investimento da grande mídia ou de alguma instituição governamental. Essas pessoas se

reconhecem como membros de um movimento a partir do vocabulário usado, das roupas,

ideais, espaços físicos para encontros e a música.

Small (1999) entende que a música só terá um significado se analisada a partir de um

fato social. Ela (a música) estaria ligada a toda ação para a realização do fato em si. Podemos

pensar de forma bem ampla, em todos os agentes responsáveis pela concretização desse

encontro ou ritual, incluindo não só os músicos, mas também o público que reage ao som, os

técnicos de som, iluminadores, roadies, seguranças, vendedores, organizadores de eventos,

equipe de limpeza etc.

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A natureza básica da música não está em objetos, obras musicais, mas na ação, como as pessoas fazem. Basta compreender o que as pessoas fazem quando tomam parte em um musical para começar a entender a natureza da música e seu papel na vida humana. (...) eu percebi que se a música não é nada além de ação, logo, 'música' a palavra não deve ser substantivo, mas um verbo, 'musicar’. (SMALL, 1999, p.4, p.5).

A idéia de ritual nos shows de bandas independentes, onde todos dentro desse contexto

tomam parte da ação musical, seja tocando, ouvindo ou dançando parece bem próxima do que

sugere Small. Os shows dessas bandas geralmente acontecem em espaços pequenos com uma

separação mínima entre os músicos e o público. Essa configuração do espaço físico facilita a

intervenção do público que durante as apresentações junta-se a banda no palco para cantar ou

compartilhar sua satisfação (ou insatisfação) pelo o que está sendo tocado. O movimento ou

expressão corporal nesses ambientes se apresenta de forma intuitiva onde o corpo responde ao

andamento e/ou textura do que está sendo tocado, sendo comum uma dança inicialmente

individual se espalhar até que um grande grupo estabeleça um padrão, geralmente em forma

de roda, chamada de “roda de pogo”. Nos casos de apresentações com palco, visto nesses

lugares como uma pequena elevação em relação ao chão, é comum que subam e pulem de

encontro ao público, essa categoria de interação é conhecida como stage diving. Small diz que o espaço físico cria o social e faz uma crítica sobre a forma de

organização encontrada em um concerto de orquestra, as relações de poder e hierarquia que

existem entre os músicos e o público. O autor entende que não há “um modelo” de ritual e sim

vários e que em cada contexto existirão regras e formas de se comportar, se vestir etc.

Comportar-se em um show de punk-rock da mesma maneira que se comporta em uma sala de concertos, ou vice-versa, seria buscar o ridículo ou a hostilidade, claro. Em qualquer caso, temos que entender que a participação em diferentes tipos de performances musicais, seria à procura de diferentes tipos de relacionamentos, e não devemos projetar o relacionamento ideal de um tipo de ação em detrimento de outro. (Ibid, p.14).

As diferenças entre as culturas e os grupos que participam dos diversos “mundos

musicais” e seus rituais podem ser percebidas e analisadas de forma superficial ou

aprofundada. O circuito alternativo de bandas seria apenas uma manifestação dentro da

cultura rock and roll. De forma bem resumida poderíamos entender essa cultura como um

conjunto de valores geralmente associados à juventude e à “contracultura”, que teve seu início

no final dos anos 1940 nos E.U.A, a partir da junção de alguns gêneros musicais como por

exemplo, a música country, folk e o blues.

20

O que me fez tocar bateria foi assistir (vídeos) clipes. A vontade de fazer música surgiu através desse contato com o ‘rock and roll’. (Edgar Marinho)

Muitos dos ideais e conceitos sobre essa cultura foram transformados desde sua

criação até os dias atuais, hoje, percebemos dois grandes grupos (relacionados às estratégias

de consumo) que dividem essa “cultura rock and roll”. Seriam o mainstream e o

underground. O primeiro estaria associado a grande mídia e a cultura de massa, com ampla

divulgação nos meios de comunicação. No outro extremo estaria o underground (onde

encontramos o circuito alternativo de bandas), que possui uma organização muito particular

de produção e circulação de materiais, geralmente feitos de forma independente e em escala

reduzida.

A música faz parte do que classificamos como manifestação artística e sendo a arte

uma forma de representação simbólica, estaria inserida em um determinado tempo histórico

“em consonância com as idéias e aspirações, as necessidades e as esperanças de uma situação

histórica particular.” (FISHER, 1987, p. 17), apesar disso percebemos que a arte rompe esta

limitação de espaço e tempo permitindo que possamos ouvir, apreciar e viver músicas fora de

nosso contexto histórico e social. Sendo assim, podemos entender que uma idéia ou conceito

possam ser utilizados fora de seu contexto histórico misturando-se a realidade ao qual foram

inseridos criando novos conceitos e idéias.

Nessa seção conhecemos o “mundo musical” denominado pelos membros da banda

como circuito alternativo de bandas independentes. Vimos o encontro entre as pessoas que

compõe essa cultura, o espaço físico onde acontece esse ritual e alguns de seus códigos e

costumes. Na seção seguinte veremos um outro “mundo musical”, que apesar de não ter como

premissa a apreciação de suas músicas, teve uma grande influência, nesse aspecto, no fazer

musical dos membros dessa banda.

1.4. Música de vídeo-game, uma influência em comum.

Certa vez em uma conversa informal sobre gêneros musicais, um colega músico me

perguntou sobre minha maior influência e como havia surgido meu interesse em me

profissionalizar como músico. Respondi espontaneamente: música de vídeo-game! Naquele

momento percebi, pela sua expressão diante da minha resposta, que o termo que era tão

familiar para mim, não fez muito sentido para ele. Diante desse episódio resolvi investigar

qual seria a importância de tal gênero na formação de um músico, levando em consideração

21

minha própria experiência e o contato com outras pessoas em ambientes virtuais, meus

companheiros de banda e alguns amigos próximos, que compartilhavam comigo esse mundo

dos vídeo- games.

É necessário entendermos a música produzida para esses jogos como um objeto

recorrente no cotidiano dos usuários, que carrega considerável carga simbólica e que se

encontra contextualizada, não só mais como trilha sonora de determinado jogo, mas com a

vida desse indivíduo e de outros que fazem parte da “cultura vídeo-game”. Assim os temas

musicais dos jogos que foram absorvidos pelo jogador transcendem para além do jogo, e

começam a ser utilizados, muitas vezes inconscientemente, no dia- a- dia dessas pessoas.

Queiroz (2005) diz que “os sistemas musicais estão baseados ‘numa série de conceitos

que integram a música às atividades da sociedade como um todo, definindo-a e colocando-a

como um fenômeno da vida entre outros fenômenos’” (QUEIROZ apud MERRIAM, 2005,

p.53), acrescenta ainda que (...) o fenômeno sonoro só se tornará música se o contexto que o

pratica aceita-lo como tal. (Ibid, p.55).

Podemos considerar a popularização da internet como um fator determinante para a

consolidação e proliferação dessa cultura. Através da rede surgem as comunidades virtuais,

onde membros trocam informações e materiais sonoros e/ou visuais. Muitos desses materiais

são performances de músicos (profissionais ou não), que executam em seus instrumentos os

temas dos jogos. Nessas performances é possível encontrar os mais variados instrumentos

como, por exemplo: guitarra, teclado, trombone, ocarina, cravo, arranjos vocais etc.

Dessa maneira, um grupo de pessoas com valores em comum, divide uma mesma

cultura musical, independente de compartilharem da mesma língua ou país. Uma possível

classificação seria entender essa manifestação como um “mundo musical”, pelos valores e

códigos compartilhados por determinado grupo indo além dos espaços geográficos - são

“mundos” que podem ser distintos dentro de um mesmo território, dentro de uma mesma

sociedade e/ou até dentro de um mesmo grupo. (ARROYO, 2002).

Na maioria das vezes que os membros da banda citam a música de vídeo-game, estão

na verdade se referindo a uma determinada época, nesse caso em particular, aos jogos

classificados como sendo de terceira e quarta gerações, (fabricados entre a segunda metade

dos anos 1980 até a década de 1990) e ocasionalmente das gerações mais recentes. (quadro 1).

Nós vivíamos essa onda do vídeo-game, pegamos quase todas as gerações: Nes (nintendinho 8bits), Sega Gênesis (Mega drive ), Super Nes, Playstation, e

22

atualmente os programas de computador que emulam os consoles como por exemplo, Mame. (Edu Muniz, baterista).

Quadro 1

Os consoles de vídeo-game e suas respectivas gerações.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_consoles_de_videogame>. Acessado em: 25 nov. 2009.

Partindo desse corte, destacando a terceira e quarta gerações de jogos, entendemos que

os membros dessa banda fizeram parte ou viveram essa geração específica dos vídeo-games,

sendo consumidores desses produtos, “gamers” (jogadores fanáticos) assumidos e

consequentemente pessoas influenciadas pelas músicas e conceitos que compõem tais jogos.

A minha relação com os jogos de vídeo-game ia além do jogar por horas até chegar ao final do jogo, por algum motivo eu ficava solfejando os temas desses jogos, durante e depois de jogar. Isso antes de tocar e saber que a música seria fundamental na minha educação. Essas músicas iam me prendendo positivamente, em vários momentos e de formas diferentes. (Edu Muniz, baterista).

O interesse pela apreciação das músicas compostas para os jogos dessa geração, pode

estar relacionado ao cuidado que os fabricantes de jogos tiveram nessa época. As grandes

empresas de vídeo-game começaram a investir nas trilhas sonoras dos jogos, que precisavam

acompanhar o desenvolvimento tecnológico dos novos recursos. A qualidade das

composições nesse período, do ponto de vista estético e da exploração de recursos, avançou

23

notavelmente, e uma prova da popularidade da música deste “era” pode ser percebida através

das releituras feitas para jogos atuais e performances músicais10 apresentadas hoje, baseadas

no repertório dessas gerações. Como exemplo podemos citar os temas do jogo Metroid

original, compostos por Hirokazu Tanaka, que podem ser ouvidos nas sequências da série

Metroid lançadas para video-games mais recentes e arranjadas por Kenji Yamamoto. O jogo Super Metroid11, parece ser uma das maiores influências na banda, lembro-me

de uma tentativa de criação de um trecho musical em uma de nossas canções, onde eu tentava

executar uma seqüência de notas evitando intervalos consonantes, antes que eu terminasse

ouvi o seguinte comentário: “Isso me lembrou Metroid quando entra na sala sem inimigos”.

Figura 1:

Exemplo de seqüência de notas do jogo Super Metroid do console SNES.

Nessa seção conhecemos o universo vídeo-game, vimos como o hábito de apreciação e

consumo desse tipo de material sonoro pode se apresentar como um modo de experiência e

aprendizagem musical. Veremos no próximo capítulo como essa referência conceitual e

outras influenciam o fazer musical da banda.

10 Poderíamos citar aqui como exemplo o evento Video Games Live (VGL) que “é uma série de concertos criada e produzida pelos veteranos da indústria e compositores de músicas de jogos eletrônicos Tommy Tallarico e Jack Wall para ajudar a encorajar e apoiar a cultura e arte dos jogos eletrônicos, apresentando músicas de mais de 50 títulos. Cada segmento apresentado é complementado por imagens de vídeo projetadas, iluminação sincronizada, e segmentos interativos no palco com a audiência.”. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Video_Games_Live>. Acesso em: 02 de agosto de 2011. 11 Além de Super Metroid, poderíamos acrescentar os jogos Castlevania, Super Mário Bros, F-zero e Ninja Gaiden.

24

CAPÍTULO 2: ENSINO E APRENDIZAGEM NA BANDA.

Nesse capítulo vamos analisar como os membros da banda pensam e organizam o

fazer musical. Como fontes de dados foram utilizadas as respostas transcritas das entrevistas

gravadas, anotações feitas a partir de conversas informais, trechos de entrevistas a um site

especializado em bandas de rock além de depoimentos de amigos. O questionário apresentado

aos entrevistados foi elaborado a partir da leitura Campos (2007) no segundo semestre de

2010. A organização e utilização dos parâmetros implícitos nas perguntas basearam-se em

alguns dos conceitos apresentados e organizados pelo autor em três planos conceituais,

subdivididos em treze dimensões analíticas. Aproveitei-me de tais conceitos para distribuir, de

forma equilibrada nas perguntas, o interesse central desta pesquisa, que focaliza o ambiente de

aprendizagem dos membros da banda nos ensaios e apresentações.

O levantamento e seleção de bibliografia, assim como o meu contato com essa leitura,

surgiram enquanto eu participava do grupo de pesquisa “Trabalhar com música” – um estudo

etnográfico. No papel de pesquisador tive que definir um contexto específico de práticas

musicais, que seria meu campo de observação, e os dados observados e recolhidos seriam

minha colaboração no grupo que inicialmente focalizaria três contextos diferentes de práticas

musicais.

Meu contato inicial com os participantes do Circuito alternativo de bandas se deu

por conveniência, através da oportunidade e disposição de alguns conhecidos que fazem parte

da classe de profissionais (re) conhecida como “roadie”. O roadie seria o responsável pela

afinação e preparação dos instrumentos no palco, mas o que percebi foi, que na maioria das

vezes ele acaba exercendo o papel de contra-regras e de carregador entre outras atividades.

Durante esse período tive a oportunidade de usar a técnica de observação participante que me

proporcionou graus diversos de integração no grupo observado. De forma empírica vivi um

dia de trabalho desses profissionais.

Nos casos observados, o roadie atua ou atuou no mesmo contexto como músico, esse

fator explica um dos pré-requisitos da profissão que é saber afinar os instrumentos e estar

familiarizado com os equipamentos e tecnologias responsáveis pela realização do espetáculo.

O roadie que também é músico (atuante ou não) possui valores que foram estabelecidos

durante sua formação musical e que muitas vezes chocam-se com a postura e/ou valores das

bandas para o qual trabalham.

Esses roadies fizeram parte do circuito alternativo de bandas e a partir desse contato vi

a possibilidade de iniciar meu trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em música.

25

Aproveitei-me não só da literatura usada no grupo de pesquisa, mas também das técnicas

relacionadas à função de pesquisador como, por exemplo, normas presentes na ação de

entrevistar, elaboração de um questionário etc. Dessa forma me beneficiei da rede comum

existente entre os roadies (meu objeto de estudo dentro do grupo de pesquisa) e o circuito

alternativo de bandas, (“mundo musical” que a banda DEF3 faz parte), o objeto de estudo

aqui apresentado. Essa integração entre o grupo de pesquisa e meu trabalho de conclusão de

curso fez valer uma das idéias dos projetos de extensão e pesquisas que é estimular o encontro

e o diálogo entre a comunidade acadêmica da UFRJ e os produtores de cultura e artistas que

atuam na cidade do Rio de Janeiro. A experiência que adquiri nesse pouco tempo atuando

como pesquisador no grupo de iniciação científica, aliada ao me acesso sem restrições ao

ambiente e agentes do meu objeto de estudo, me ajudaram bastante na elaboração desta

monografia, o que me deu certa vantagem relacionada à administração do tempo para poder

desenvolver a construção textual tendo a participação direta dos entrevistados e das pessoas

que fazem parte desse universo.

Após analisar e separar as idéias coletadas nas entrevistas, reduzi-as a dois planos

analíticos, que serão apresentados e foram organizados da seguinte forma:

• Primeiro plano analítico sobre as trocas de conhecimentos (discutidos nas

três primeiras seções).

Aspectos teóricos, execução e composição - refere-se à conscientização intelectual

da música, à aquisição de conhecimentos específicos da linguagem musical (cifras, tablaturas,

noções de forma, escalas, modos, harmonia, etc.), ou a elaboração de alguma estratégia ou/e

método alternativo de organização e utilização de conhecimentos. A relação do entrevistado

com a prática musical, técnica instrumental e interpretação do repertório. Além da produção

musical (composição), a criatividade e as estratégias usadas na elaboração e organização das

idéias.

• Segundo plano analítico sobre as trocas de conhecimentos

(discutidos nas três últimas seções).

Aspectos psicológicos/ afetivos, valores e valoração - fatores de motivação e de

colaboração no ambiente de aprendizagem, valores morais e éticos, socialização, valoração

econômica etc. Além da influência direta ou indireta da música em suas vidas, (como

vivenciam a sua experiência musical, independente de execução ou teorização).

26

2.1.1 Ensaio filosófico e musical, o estúdio como espaço de troca de

conhecimentos.

Antes de começarmos essa seção seria interessante conhecermos a rotina da banda ou

“ciclo das atividades” 12 que geralmente começa nos ensaios e termina nas apresentações, mas

que retornam ao ponto inicial, pois novos contatos são feitos a cada show resultando em uma

nova preparação. É importante entendermos que o estúdio onde ensaiam se encontra na casa

onde foram criados, então os ensaios são antes de tudo, uma chance de reencontro entre os

membros que atualmente moram em casas diferentes. Começam com uma reunião onde

tomam café, conversam sobre suas vidas particulares e discutem assuntos sobre a banda

como, por exemplo, a divisão de tarefas (divulgação, escolha de repertório, contatos para

novos shows etc.), ou a explanação de uma idéia, alguma música nova estudada que é

apresentada aos os outros membros inicialmente no violão. Depois desse momento, a banda

entra no estúdio e enquanto arrumam o equipamento podem dar continuidade ao assunto

iniciado na mesa do café, algumas vezes a discussão de determinados assuntos se torna tão

importante que o ensaio todo acaba se resumindo à própria conversa.

A banda é, antes de tudo, uma família. Possuem um estúdio improvisado para ensaiar na casa da mãe deles e tentam se encontrar toda semana para fazê-lo. Claro que nem sempre é possível, e ás vezes, quando entram no estúdio para ensaiar, não escutamos som nenhum. Essa é a parte filosófica da banda. São capazes de ficar horas naquele estúdio discutindo questões familiares, pessoais e da própria banda, que no fundo refletem no som. (Aline Dias).

Aline, após tecer esse comentário criou a expressão “ensaio filosófico”, que

recentemente passou a fazer parte do dia-a-dia da banda. Hoje esses debates são marcados e

realizados de forma consciente, direcionados às questões estéticas das músicas, estratégias de

divulgação, planejamento de metas etc. Raramente tocam instrumentos nesses debates, e

quando o assunto em questão é a música, usam violões e algumas vezes revisam linhas vocais

(voz principal e backing vocals).

12 Silva (2005) apresenta um diagrama que representa o ciclo de produção musical que vai da preparação (ensaio, estudo individual, técnicas auxiliares de relaxamento, concentração etc.) à realização (show, recital, cachê, gig, gravação etc.) e nos alerta para o fato de que “uma série de outras preocupações, providências e negociações entre músicos e outros agentes ocupam o tempo que antecede uma realização, e são parte integrante do trabalho musical.” (SILVA, 2005, P.28, seção 2.2).

27

Algumas vezes discutem sobre filosofia e conceitos gerados a partir de um filme ou

livro e mesmo nesses casos “extra musicais” o assunto acaba tendo reflexos na banda, como

exemplo, a discussão sobre o filme “Matrix”. Discutiam sobre a utilização das cores verde e

preta no filme, a conclusão que chegaram foi de que o verde e o preto lembravam circuitos de

placas de computadores e também o contraste encontrado nos monitores dos primeiros

computadores caseiros (tela preta e letras verdes), esse conceito pode ser uma referência à

nova era da informática. A banda querendo mostrar-se inserida a essa nova realidade,

participando atualmente de forma mais ativa do “mundo virtual”, adota as cores verde e preta

utilizadas tanto na divulgação (nas letras dos sítios de relacionamento e nas fontes de letra da

banda) quanto na escolha das roupas usadas em shows. Depois desse “ensaio filosófico” a

banda vem se apresentado em tons de verde e preto.

Seria ótimo ter uma roupa para cada música, uma viagem para cada momento, eu acho muito importante o visual, porque o que chega primeiro (no público) é a imagem, você vai chamar a atenção nas pessoas, primeiro pelo o que você mostra visualmente, na atitude etc. (Maick Muniz).

Com uma área de aproximadamente 3,5 x 3,5 metros, revestido com carpete e pedaços

de espuma para reduzir o vazamento de som, antes era um quarto e foi cedido pela mãe dos

membros irmãos para funcionar como estúdio. Possui ventilador de teto, uma lousa para

anotações, um quadro com recados fixados, filipetas de shows e fotos de amigos além de uma

bateria (bumbo, caixa, surdo, dois tons e pratos), um amplificador para baixo, dois

amplificadores para guitarra, uma mesa com quatro canais, um amplificador para voz e dois

microfones com pedestais. O estúdio pode ser visto aqui, como um importante espaço de

aprendizagem onde ocorrem as trocas de conhecimentos, dos mais diversos, entre os músicos

da banda. Como vimos anteriormente, esse espaço tem uma função de isolamento, quase

como um “lugar sagrado” para o grupo, apesar dessa característica multifuncional, o mais

comum seria sua utilização como local de estudo musical. Poderíamos dividir os estudos em

duas categorias: estudo individual e estudo coletivo, o segundo caso estaria relacionado ao

espaço do estúdio no formato de ensaio. Nas duas categorias o fator “técnica” estaria presente,

sendo que no estudo individual se aproximaria mais do modelo de estudo técnico praticado

em conservatórios de música, onde o músico desenvolve habilidades a partir da repetição de

padrões de estudos (digitação, escalas, articulação etc.) com a finalidade de prepará-lo para as

situações de apresentação de repertório e ampliação de recursos técnicos para elaboração de

suas composições.

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Silva (2005) em um dos capítulos de sua tese discute o conceito de técnica dizendo

que um dos fatores que o levou à sua investigação conceitual foi a seguinte observação: “No

processo de tornar-se músico profissional, a técnica parece habitar um espaço do senso

comum” (Ibid, p. 26).

O autor utiliza um modelo que sugere que a ação musical dos músicos-estudantes pode

ser vista como um ciclo de duas fases: preparação e realização. Na primeira, concentram-se

atividades mais reconhecíveis do trabalho técnico, resultantes de uma preparação a longo

prazo e outra voltada para uma atividade que se tem em vista, já a realização estaria

relacionada à produção de música voltada ao público.

Partindo desse conceito percebemos que estudo e preparação, ocupam vertentes

temporais que poderiam ser pensadas a longo prazo (que será analisada na próxima seção),

englobando musicalização, estudos anteriores, contribuições variadas ao longo da vida etc. e a

curto prazo, essa pensada, organizada e direcionada à eventos próximos já levando em

consideração a bagagem de conhecimentos acumulados até o momento.

1) Estudo individual - geralmente praticado em casa, organizado e exercitado de

acordo com o tempo disponível e entendimento pessoal dessa prática por cada um dos

executantes.

2) Estudo coletivo - praticado no estúdio, organizado de forma coletiva, pode ser

direcionado para composição ou preparação de repertório voltado para apresentação,

geralmente é onde trocam suas experiências de estudo individuais criando novas idéias a

partir dessa troca.

Quando ensaiam para uma apresentação, escolhem as músicas levando em

consideração a proposta do evento, o gênero das outras bandas e o tempo disponível de

apresentação. Tocam basicamente um repertório de músicas autorais. Recentemente

experimentam um formato novo de show, pois o tempo de apresentação nos eventos vem

diminuindo (em média 30 minutos por banda) enquanto que a o tempo de duração das novas

músicas aumentam. Dessa forma encontraram uma saída para tocarem mais músicas em

menos tempo, montando blocos de aproximadamente 10 minutos. Nesses blocos eles

misturam partes de suas músicas e algumas vezes inserem trechos incidentais de músicas de

outras bandas.

Estamos estudando formatos de repertórios diferentes do que vínhamos fazendo. Estamos dividindo nossos shows em 3 blocos de 10 minutos, onde tocamos músicas próprias mescladas a trechos de algumas músicas de outras bandas, isso requer certo

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tempo e estudo, pois ficamos limitados a parâmetros como andamento e tonalidade dos trechos incidentais com as nossas músicas.(Banda DEF3 em entrevista ao site rock zone).

A forma de estudo individual foi apresentada de maneiras bem diversas pelos

entrevistados, mas de uma forma geral está ligada à observação (vídeo-aula, leituras de

revistas especializadas ou vendo amigos mais experientes tocando), e a percepção auditiva

(“tirar músicas de ouvido”). Podemos interpretar a utilização do “bom ouvido” no processo de

aprendizagem de músicos populares, levando em consideração fatores históricos onde a

prática de transmissão oral (oral/ aural) é bem comum.

(...) a aprendizagem musical centrada na vivência prática é outra característica comum em culturas de tradição oral. Assim, experimentando, imitando e ouvindo as correções dos mestres e dos “colegas”, os participantes vão se orientando dentro da lógica interna do que cada manifestação elege como fundamental para a sua prática. (QUEIROZ, 2010, p.127).

Apesar de o ouvido ter o destaque nos jargões dos músicos, principalmente populares,

essa prática envolve outros parâmetros, combinando audição, visão, tato etc. Nesses casos

ocorre uma mistura de sentidos, onde a “imagem visual” somada ao resultado sonoro dessa

execução se converte em uma “imagem mental” organizada e processada, seguindo uma

lógica própria, particular de cada músico, para no final se transformar em uma nova “imagem

sonora” que pode reproduzir integralmente o modelo copiado ou manter apenas alguns

parâmetros em níveis variados de fidelidade ao original (ritmo, harmonia, dinâmica etc.).

No início o meu estudo estava muito ligado aos ensaios com a banda, eu via e ouvia o “esqueleto” da música e isso era meu ponto de partida para minha criação e ao mesmo tempo era meu estudo. Hoje utilizo o recurso de vídeos e isso me levou a uma outra forma de estudo, mais individual, talvez mais próxima do modelo comum que pensamos sobre técnicas de estudo. (...) Eu ponho o vídeo, pego meu baixo, ouço e vejo o que o instrumentista está executando e tento ao máximo possível, me aproximar do som que ele está tocando. Então no início eu tirava tudo de ouvido, mas hoje em dia com a facilidade de acesso a vídeos, como por exemplo, o youtube, me aproveito desse artifício também. Eu posso ver, além de ouvir e isso ajuda bastante no tempo investido para alcançar determinado resultado. A sistematização de estudo para mim é meio livre, mas segue geralmente os seguintes passos: eu ouço, vejo e tento “tirar” a música o mais próximo possível do original. (Leandro Muniz). (sobre estratégias de estudo). Hoje em dia vem muito do ouvido, vou ouvindo e vou tentando criar teorias daquilo que vou ouvindo não que necessariamente vai dar certo, mas aquilo vai me levando à lugares que eu curto, lugares desconhecidos, coisas novas. Mas já pesquisei muita coisa também por conta própria, teve uma época que eu lia algumas revistas especializadas como a “Guitar player”, aprendi muita coisa ali também. (Maick Muniz).

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O que aprendi foi vendo amigos que sabiam alguma coisa, me ensinavam um pouquinho aqui, um pouquinho ali (...) meu método foi ouvir, quando eu quero tirar uma música nova eu escuto bastante àquela música, às vezes, uma ou duas vezes é o suficiente para eu montar o “esqueleto” (a estrutura), o restante é ouvindo. Eu não me prendo muito a fazer igualzinho, eu vou colocando uma pitada do que eu acho que vai ficar legal. Como eu nunca tive aula, nunca fui um cara técnico, não sei ler partitura, não tenho um método técnico que faço sempre do mesmo jeito, tipo “vou fazer esse exercício assim e tal”, no meu caso vou ouvindo mesmo, às vezes até inventando um pouco (formas livres de estudar), é basicamente assim, ouvindo mesmo. (Edgar Marinho). No quesito bateria, meu método foi de autodidata e isso foi a base de tudo, eu escutava um CD, assistia um show, pegava referências de vários pontos da área técnica (ligadas a produção). A área técnica é onde mais gasto tempo de estudos, por ser uma área que vem se atualizando e mudando muito a cada ano. (Leonardo Medeiros).

A questão do tempo foi apresentada como um fator determinante na priorização de

algumas atividades em função de outras. Foi comum nas respostas uma análise da

disponibilidade e organização do tempo no início da banda comparada aos dias atuais. A

passagem da adolescência para a vida adulta resultou em uma nova realidade, surgem novas

atividades e responsabilidades e sendo assim a organização do tempo teve que ser revista,

influenciando na redução do tempo dedicado a banda e aos estudos musicais.

(...) A idade vai chegando, você precisa ganhar dinheiro de alguma forma e acaba não tendo tempo para isso (estudar), seria ótimo ganhar dinheiro com música e passar 8 horas estudando, eu adoraria, acho que tenho capacidade para isso, mas no momento o que estudo é muito pouco, uma ou duas horas por dia no máximo. (Maick Muniz). No começo eu tinha mais tempo, praticamente o dia todo, era no horário que desse porque eu não tinha compromissos com a vida, era uma coisa natural, eu ficava tocando o dia inteiro, então sempre que dava, eu me sentava na bateria e aprendia uma coisa nova, era esse meu tempo de estudo. (Edgar Marinho). Do tempo que tenho para os instrumentos (além da bateria ele também toca baixo, violão e guitarra), dedico em media por dia, de 45 minutos há 01h30min. É claro que têm dias que estudo menos e em outros mais, e há alguns que nem sobra tempo pra tocar, mas tento manter esse ritmo de aproximadamente 1h por dia. (Edu Muniz). No início nem pensava em quanto tempo tirava para estudar, na verdade todo o tempo livre era pra isso, eu apenas estudava, então tinha bastante tempo para ensaios, etc. (Leonardo Medeiros).

Poderíamos organizar graficamente a utilização do tempo, comparando a

disponibilidade desses indivíduos enquanto adolescentes no início da banda e atualmente

tendo que dividir as atividades do grupo com os compromissos comuns da vida adulta.

31

Gráfico 1:

Exemplo gráfico sobre a organização do tempo.

O aumento das atividades “extra-banda”, antes resumida a compromissos com a escola

e a família, e atualmente ampliada a trabalhos de longos expedientes, administração do lar,

cuidados com filhos etc. Levou a diminuição do tempo para ensaios e shows, por outro lado, a

divulgação antes feita por “filipetas” e “boca a boca”, hoje ganha uma ferramenta a mais com

a utilização da divulgação pela internet. Nesse caso o tempo investido nesse tipo divulgação

pode ser equilibrado com outras tarefas em casa por não exigir da pessoa deslocamento físico.

Conhecemos um pouco da rotina do grupo, vimos a importância do estúdio e algumas

de suas utilizações, uma delas o “ensaio filosófico”, onde são discutidos assuntos variados,

que acabam refletindo de alguma forma na banda. Os entrevistados mostraram como

organizam o tempo comparando o início da carreira com os dias atuais, diante de uma nova

realidade encontram soluções para continuar estudando em casa e tocando com a banda. Além

dos ensaios, também fica a cargo do espaço do estúdio as composições. Veremos na próxima

seção como funciona o processo de composição no grupo.

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2.1.2 Sobre as composições.

“(...) meu processo de compor está muito ligado à forma como a DEF3 compõe, a banda desde o início segue a mesma linha que é: riff de guitarra, linha melódica da voz, bateria, baixo e por último a letra.” (Leandro Muniz).

A partir desse depoimento podemos perceber uma fórmula que a banda usa

constantemente. O riff13 seria uma seqüência de acordes ou notas que são repetidas criando

“blocos”. Com a organização desses “blocos” cria-se a base harmônica. São geralmente feitos

pela guitarra, mas qualquer instrumento nesse contexto poderia criar um riff. Talvez pelo fato

da guitarra ter grande destaque no gênero rock, essa função de executar riffs seja mais comum

a esse instrumento. Os riffs de guitarra são tocados muitas vezes com o efeito de distorção14

(pedal overdrive ou distortion), usam a estrutura de tríades sem a terça, ou seja, são voicings

formados por fundamental, quinta e o dobramento da fundamental uma oitava acima, esse tipo

de “acorde” é conhecido pelos guitarristas como power chords.

Figura 2:

Exemplo de riff (música, Coanima- DEF3).

13 Riff— n 1. (in jazz or rock music) a short series of chords — vb 2. ( intr ) to play or perform riffs in jazz or rock music 3. informal to speak amusingly or make (amusing comments or remarks), [ probably altered and shortened from refrain]. Modern Language Association (MLA): "riff." Collins English Dictionary - Complete & Unabridged 10th Edition. HarperCollins Publishers. 02 Aug. 2011. <Dictionary.com http://dictionary.reference.com/browse/riff>. 14 “A distorção tem um importante papel no timbre da guitarra de diversos gêneros musicais, especialmente o rock e suas variantes. O som da distorção é ouvido quando há um clipping na onda, fenômeno que ocorre quando o sinal de áudio atinge o limite máximo do amplificador ou pré-amp. Esse limite é determinado pela sua tensão de alimentação e certas características do circuito. Ao tentar gerar uma tensão (corrente) que supere esse ponto, ocorre o corte (clipping) da crista da onda, mudando sua forma original e ocasionando a distorção do som.” Revista Guitar Player (on-line) disponível em: < http://guitarplayer.uol.com.br/?area=materia&colid=6&matid=1560 >, acessado em 05 de agosto de 2011.

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“(...) Além da guitarra gosto de usar ‘pedaizinhos’, porque os pedais de efeitos separados possuem características próprias que não encontrei em pedaleiras de multiefeitos e é isso que venho buscando no som, coisas que só eu faça, que sejam particulares, resultado do equipamento que montei com a minha criatividade, eu não quero imitar o som que o fulano faz, eu quero tirar um som que eu criei através da minha experimentação.” (Maick Muniz).

A utilização de pedais de efeito é uma característica nas composições da banda. São

duas guitarras e normalmente elas trabalham em contraste (base/solo, riff /efeitos etc.), mas

algumas vezes dobram riffs com intenção de aumento da massa sonora (recurso muito usado

nos refrões).

Os pedais de efeito para guitarra15 têm a função de alterar o som natural do

instrumento, esses pedais são geralmente acionados com os pés pressionando um botão que

ativa e desativa o efeito. No caso do pedal wah-wah o botão funciona como um controle

variando o som de acordo com a posição do botão, esse pedal de efeito trabalha como um

filtro de freqüências destacando mais determinada faixa de atuação. Além desses efeitos a

banda ainda utiliza flanger, reverb, delay (efeitos que misturam o som original com uma

cópia levemente desafinada e com um pequeno atraso) e recentemente um pedal digital delay

reverse, que além de funcionar como delay (atraso) ainda reproduz o som original ao

contrário. Esses efeitos acabam criando atmosferas e climas nas músicas que podem sugerir

sensações de “mistério”, algo “sobrenatural” etc.

Desde quando comecei a tocar guitarra, fui influenciado pelas guitarras do Maick, sempre muito criativas e harmoniosas. A forma como ele usa os efeitos que vão desde modulações de microfonia com o delay até solos com reverb me dão a sensação de estar voando. (Herbert Rodrigues, guitarrista e amigo da banda). Efeitos, distorções, som limpo, batidas quebradas, efeitos (defeitos) mais efeitos... Uma incrível percepção para tirar outros timbres, fazer do defeito o efeito e por ai vai. (Arnaldo de Pádua, guitarrista e amigo da banda).

Depois do riff pronto é criada uma melodia de voz, inicialmente só vocalizada (sem

texto), geralmente construída a partir de arpejos baseados nos acordes (quando feitos com

guitarra sem efeitos) ou complementando os riffs (que normalmente só usam a fundamental e

a quinta) reforçando a tonalidade (usando terça maior ou menor) ou acrescentando

dissonâncias (sétimas, nonas etc.). A utilização de acordes com dissonâncias e melodias de

voz com esses intervalos em um contexto de guitarras distorcidas, também são características

das composições da banda.

15 Wah-wah, flanger, digital delay reverse etc. ver Revista Guitar Player, número 170, Junho de 2010.

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Basta escutar uma seqüência de acordes e perceber que a música é da banda. O Armando, por exemplo, adora uma sétima maior. (Aline Dias).

Figura 3:

Exemplo de melodia de voz (música, Decibéis- DEF3).

O próximo passo seria a construção da “levada” 16 (ou groove) de bateria. Apesar da

banda tocar rock (que normalmente usa compasso quaternário), podemos encontrar em muitas

de suas músicas alternância de compassos. Durante esta pesquisa pensei de onde viria essa

influência e depois de conversar com os integrantes da banda cheguei à conclusão de que tal

referência também estava ligada a alguns jogos de vídeo-game principalmente do jogo Super

Metroid para o console SNES.

Figura 4:

Exemplo de compasso alternado (música: Boss theme-Super Metroid). 16 Ver Adolfo, Antônio [Antônio Adolfo Maurity Saboya]. 1997. Arranjo: um enfoque atual. Rio de Janeiro: Lumiar.

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Figura 5:

Exemplo de compasso alternado (música: Decibéis- DEF3).

Tocar no DEF3 foi um divisor de águas na minha vida, porque até aquele momento sempre toquei coisas “retas” (simples), mas tocar com o DEF3 foi muito difícil no início, sempre achei o processo de composição da banda muito complexo, faço uma associação com um processo orquestral, as partes são sempre bem definidas e muito detalhadas, até hoje não entendo direito o que acontece na cabeça desses sujeitos, nem quero entender por completo, só respeito muito (risos). Então quando eu participo do processo de composição, tento entender o que eles pensam e aí faço a minha interpretação, isso é legal porque sempre vou fazer coisas diferentes, não é uma fórmula pronta, tipo uma levada “hardcore” do início ao fim, as partes diferentes me dão abertura para criar batidas novas numa mesma música. (Edgar Marinho).

Pedi para que o entrevistado me explicasse a expressão “coisas retas”, após o término

da entrevista tive a oportunidade de vê-lo demonstrando na bateria o que seria uma “levada

reta” e em seguida algumas variações sobre a estrutura dessa batida simples.

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Figura 6:

Exemplo de “levada reta” com variações.

Meu processo de composição geralmente está ligado ao “esqueleto” que a banda monta. Eu ouço, vejo eles tocando e depois começo a criar alguma coisa. Eu ouço as guitarras e a bateria, vejo o que está faltando ali de grave e faço o que a estrutura pede. (Leandro Muniz).

O baixo na banda funciona como pivô, ora acompanhando alguma melodia de voz ou

guitarra, outras vezes marcando o ritmo com a bateria. Leandro, o baixista, diz ser muito

importante estar “em sintonia” com a bateria, valoriza muito o baterista que define bem as

frases marcando com precisão os ataques de bumbo. Ele diz ser um baixista que aprecia a

simplicidade nas linhas de baixo, mas reconhece a dificuldade de criar uma linha simples sem

ser monótona, esse seria o segredo, o equilíbrio entre a simplicidade e a execução de um

trecho que exija alguma técnica mais refinada. Alterna entre a palheta e o uso dos dedos

dependendo do andamento da música ou trecho em questão (variações de timbres). Ainda

sobre técnica de mão direita fez uma demonstração onde usava os recursos de popping e

slapping17. Aproveito-me do mesmo exemplo para ilustrar o equilíbrio entre “simplicidade e

uma técnica mais refinada” (os três primeiros compassos em colcheias usando a mesma nota,

passando nos três compassos seguintes para o slapping) e ainda a sintonia entre baixo e

bateria citada pelo baixista (os dois instrumentos executam desenhos rítmicos parecidos).

17 “O slap é a técnica tem sua criação atribuída a Larry Graham (...). Chamada por ele de "thumb and pluck", consiste em percutir e puxar as cordas usando o polegar e os outros quatro dedos da mão direita (ou esquerda, para canhotos) obtendo uma sonoridade estalada e metálica, sendo uma das mais complexas técnicas de execução no contrabaixo elétrico.” Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Baixo_el%C3%A9trico>, acessado em 05 de agosto de 2011.

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Figura 7:

Exemplo de baixo e bateria (música: Ensaio diante da cegueira- DEF3).

O último elemento a entrar nesse modelo de composição utilizado pela banda é o

texto. Como disseram anteriormente, optaram por compor em português por questões de

comunicação direta e compreensão do público alvo (trabalho voltado para o mercado

nacional), por ser língua materna, etc. Acham necessário transmitir mensagens positivas, pois

acreditam no poder de influência das letras sobre o ouvinte, dessa forma se sentem

responsáveis no papel de formadores de opinião. A liberdade criativa vista na elaboração da

parte instrumental (principalmente sobre o gênero das canções), se estende até a construção

dos textos. As letras falam sobre o cotidiano, mas também usam outras linguagens como a

biologia, por exemplo, ao narrar a formação de um feto desde a fecundação até o nascimento.

Ainda são comuns as citações à religião (conceitos budistas), textos bíblicos e ao

existencialismo quando tratam de questões filosóficas contrastantes como sonho/realidade,

ter/ser etc. Dessa forma, as inspirações para as narrativas baseiam-se na visão do mundo que

vivem, passando por leituras que vão desde ficção cientifica, filosofia, textos religiosos até

histórias em quadrinhos.

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Brincando com as palavras, trazendo boas idéias a tona, misturando e tendo como inspiração, filmes, desenhos, livros, e tudo mais que tiver ligação na idéia em questão. Também, creio que esta forma de "produzir diálogos" e se inspirar nas obras de outros artistas têm tudo a ver com o conteúdo da banda Def3 num geral. Como sei de algumas. Certo?! “Ser é ousar ser "-Herman Hesse - E o Sr. Armando é um grande "Mixador" das palavras/idéias. (Fernando Carvalho de Queiroz, F. Lee).

Algumas características comuns percebidas, no que diz respeito ao estilo da escrita,

poderiam ser destacadas como, por exemplo:

A) Neologismo: presente em alguns títulos como “Agacê” (escrita por extenso da sigla “H.C”

que significa hardcore, além de ser uma referência à palavra ágape com sentido de amor

incondicional), e “Coanima” (construída à partir do termo musical de expressão “con anima”,

que significa “, “com a alma” em italiano).

B) Metáfora: “A paz não vem pra quem procura em frascos de balcão. Tomar remédios sem a

bula, não traz a solução.” (Nimbus- DEF3).

C) Aliteração: Tempo estático, templo prático, mente em fuga flui, finalmente há luz. (Meu

refúgio- DEF3, música ainda em construção).

D) Metonímia (causa pelo efeito): Meu corpo é alimento, é meu lar, meu valor, meu sustento.

(Carioca 59- DEF3).

E) Anáfora: “Só por lembrar, só por falar, só por tentar compreender

só por mentir, só por fingir, só por fugir não entendo”. (Coanima-DEF3).

F) Prosopopéia: “Lembre-se o sol nasceu, abra a janela e contemple a luz.

Sinta o vento tocar seu rosto, sou eu.” (Decibéis- DEF3).

G) Alegoria/ Parábola/ Fábula: “Um embrião entre milhões, procura um abrigo pra ficar. Eu

encontrei meu premio e já vejo meu corpo se formar. E agora sinto algo bater (dentro de

mim), veja meus ossos se formarem, os olhos vão surgindo e vão testemunhando mais um

milagre acontecer. (...) que mundo estranho é esse, lá fora que me aguarda onde as pessoas

amam, odeiam, riem e você... Chora!” (Choro- DEF3).

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H) Acróstico: “Algumas Lembranças Infantis Contadas ao Espelho”. (A.L.I.C.E- DEF3,

referência ao conto “Alice no país das maravilhas” e à filha do compositor).

I) Vocábulos Homônimos e Parônimos: “Chá doce chá, me faz sonhar. Vem divagar

comigo. Devagar e sempre é sempre uma boa fuga.” (Chá-DEF3).

“Mudei minha nova verdade, troquei uma letra, do luto à luta por mim e por você.” (Nimbus-

DEF3).

“A corte inteira a me caçar, naipes a me cercar, um corte, um passe, eu não vou blefar”.

(A.L.I.C.E- DEF3).

Nesta seção vimos que o processo de composição da banda segue uma fórmula

organizada por etapas onde uma parte é criada em função de uma anterior, partindo de um

tema gerador (o riff de guitarra). Esse procedimento é ordenado da mesma maneira (riff de

guitarra, linha melódica da voz, bateria, baixo, texto). Através dos exemplos conhecemos um

pouco da funcionalidade de cada uma dessas partes desde o riff de guitarra até a construção

textual, toda pluralidade presente tanto nas referências de gêneros musicais quanto na poesia

encontrada nas letras das músicas.

Vê-se, portanto, que é possível considerar “poéticas musicais” como diferentes estéticas, modos distintos de criação musical, diferentes modos de selecionar sons e organizá-los, criando significações através da linguagem musical. É bom tomar consciência de que, quando falamos de “a linguagem musical” ou “a música”, estamos trabalhando em um nível de abstração. Pois “a linguagem musical” só se concretiza, só se realiza em diferentes músicas (no plural), ou seja, através de diferentes manifestações musicais, que expressam diferentes poéticas. (PENNA, 2005, p.9).

Na seção seguinte veremos alguns exemplos de conhecimentos desenvolvidos por

esses agentes e como esta pesquisa mudou a visão do trabalho feito pela banda. Reflexões

sobre o fazer musical e até propostas de projetos relacionados à educação surgiram a partir do

envolvimento dos membros da banda com este trabalho de investigação.

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2.1.3 Construindo e refletindo sobre a produção de conhecimentos.

(...) comecei a batucar em casa usando latas como peças de bateria, me lembro que eu fazia as peles com saco de cimento e cola de arroz (...) (Edgar Marinho).

Reservei essa parte do trabalho para analisarmos algumas estratégias usadas pelos

membros da banda no que diz respeito à elaboração de alguma técnica ou teoria diante de uma

necessidade ou pela simples descoberta a partir da curiosidade. Além de vermos como esse

tipo conhecimento se desenvolve no grupo, voltaremos nossa atenção à reflexão que os

entrevistados deram sobre alguns parâmetros já apresentados. Considero importante o fato

desta pesquisa ter despertado a curiosidade e o envolvimento dos integrantes no fazer musical

da banda, não só o fazer, mas ter esse distanciamento que proporciona uma análise

aprofundada sobre os vários aspectos discutidos aqui. Achei muito interessante que o baterista

Edgar Marinho enquanto estava sendo entrevistado, a todo tempo frisava que não tinha

técnica e quando pedi para ilustrar na bateria um exemplo que surgiu durante a entrevista, ao

final do vídeo faz uma conclusão e se corrige dizendo: “Cara, pra mim é assim que funciona,

sem técnica... técnica tem, né? Não adianta, você acaba adquirindo”. Edgar fala sobre a

influência da “paisagem sonora” 18 urbana no seu método de composição, primeiro nos

contando sobre sua experiência trabalhando em uma empresa gráfica manuseando

impressoras.

(...) eu presto atenção numa máquina de lavar trabalhando e eu percebo que ali existe um compasso. Eu trabalho com impressão (numa gráfica), e vendo a máquina imprimindo, uma vez eu criei um “riff” de guitarra, a máquina fazia um som que eu ouvindo aquilo ali, escutei perfeitamente uma guitarra e uma bateria, pensei “caramba!”, isso não sai da minha cabeça até hoje. (Edgar Marinho).

Depois da entrevista perguntei se ele poderia gravar uma dessas máquinas trabalhando

para analisarmos nos baseando em seu relato, mas quando nos encontramos uma semana

depois, ele disse não ter conseguido gravar e se dispôs a tocar na bateria um exemplo de som

de uma outra máquina. A princípio achei que perderíamos um ótimo exemplo com a gravação

e análise da impressora, mas ele me surpreendeu ao reproduzir o som de um trem na bateria.

18 A expressão “paisagem sonora” (Soundscape) foi introduzida por Murray Schafer e tem como definição, segundo o próprio autor: “Qualquer porção do ambiente sonoro vista como um campo de estudos”. (SCHAFER, 2001, p. 366)

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Figura 8:

Exemplo de “levada” simulando o som de um trem.

Maick Muniz, o guitarrista, diz ter aprendido alguma coisa de teoria musical em um

curso livre de violão com duração de um ano em uma escola municipal próxima a sua casa na

época. Faz uma análise sobre sua forma de compor e percebe que no momento da criação não

se dá conta de alguns conhecimentos que aprendeu tanto nessa oficina quanto em outros

períodos da sua vida, mas que após terminar a composição acaba encontrando respostas sobre

conceitos de harmonia funcional que no ato da criação só eram percebidos através de

sensações como exemplo, “isso soa bem ou não”.

(...) eu sei o que um acorde representa pra mim, o que ele me passa, no caso de uma seqüência de tom menor, eu sinto algo triste, então eu tento mesclar essas impressões, eu vou experimentando, faço um intervalo de terça, depois de uma quinta e vou vendo como aquilo vai mexendo comigo e tudo isso pela percepção, de “orelhada” mesmo. Depois que está tudo pronto, eu faço uma análise mais detalhada, (percebo isso muitas das vezes), que aquilo que eu montei de ouvido de forma intuitiva, que me dava conforto, na verdade estava na base de muita coisa que eu tinha vivido, as músicas que estavam às vezes no subconsciente, memória de anos atrás. Então uma sensação de resolução que eu achei legal na hora, quando analiso mais tarde, vejo que foi o que aprendi naquelas aulas de funções (I-IV-V). O que no momento senti como conforto, tecnicamente analisado era na verdade um ‘V-I’.

Ele conta que já tentou elaborar uma forma de escrita que usava pontos e linhas para

representar a duração do tempo das notas e também um tipo de silabação onde a sílaba “ta”

representaria um ataque de palheta para baixo e a sílaba “da” um ataque para cima. Uma

forma de representação gráfica também foi desenvolvida para mapear algumas músicas, nesse

caso um mapa de dinâmica relacionando cada parte de uma determinada música com uma

intensidade de massa sonora.

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Gráfico 2:

Gráfico de um mapeamento de dinâmica (música: Nova! – DEF3).

Como vimos anteriormente, o aspecto visual é muito utilizado nesse contexto de

aprendizagem, seja para a representação de parâmetros como o exemplo acima ou como

recurso de memorização de progressão de acordes, cadências etc. um exemplo visual de

progressão de acordes (nesse caso riffs de power chords) é usado pela banda para relacionar o

“desenho” do movimento ou caminho dos power chords pelo braço da guitarra, com figuras

como, por exemplo, as letras “X”, “L”.

Partindo de “sol” (sexta corda, casa 3), indo para “do” ( quinta corda, casa 3) e

finalmente chegando à “re” (quinta corda, casa 5) teríamos o desenho da letra “L”, ou

partindo de “sol” (sexta corda, casa 3), indo para “re” (quinta corda, casa 5), depois passando

para “la” (sexta corda, casa 5) e finalizando em “do” ( quinta corda, casa 3) teríamos o

desenho da letra “X”.

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Figura 9:

Exemplo de “desenhos” de riffs.

Maick fala sobre sua curiosidade em aprender coisas novas através da experimentação,

nos mostra como essa curiosidade acaba levando-o a lugares desconhecidos, mas que sempre

aprende, mesmo quando o resultado não é o esperado ou quando o defeito é usado como

efeito.

(...) eu uso um pedal “flanger” e ele mexe com a onda do som de uma forma em estéreo e eu teria que usar um cabo estéreo para isso, porque o som de um lado faz “uom” e do outro faz “uau” (gesticula com as mãos apontando para direita fazendo um som e para esquerda para o outro som), como eu não usava cabo estéreo o “uom” ficava repetindo, ai eu percebi isso, abri o pedal e soldei os dois fios no mesmo lugar, conseguindo o “uom” e o “uau” no mesmo lugar (aqui ele aponta numa direção), só que quando eu mexia no canal de rotação da onda (um recurso do pedal para destacar freqüências específicas), eu conseguia um som estático tipo “uuuu”, com isso eu podia mudar esse som de “uuuu” para “aaaa” e mudava a nota. Eu comecei a tentar mudar essas notas de forma aproximada com intenção de harmonizar essa microfonia criando melodias com essa “microfonia controlada”, eu sempre tento tirar a nota certa, mas o controle disso é muito difícil, então penso numa melodia para harmonizar, mas o efeito sempre sai com uma aproximação da melodia que pensei justamente pela dificuldade que existe no controle dessas notas de microfonia. Na época eu até tentei grifar no corpo do pedal usando uma régua do tipo esquadro ou transferidor, marcando com lápis por centímetros a distância correspondente, tipo aqui é a nota do, dois centímetros depois é um do sustenido. (Maick Muniz).

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Depois da entrevista pedi para que ele fizesse uma demonstração sobre esse exemplo

de “microfonia controlada”. Usando seu pedal digital delay reverse, gravou um trecho de

alguns segundos tocando uma base em mi menor, depois gravou sobre essa base o que seria a

melodia da voz e finalmente usando o “defeito efeito”, fez a harmonização com a “microfonia

controlada”.

Figura 10:

Exemplo de harmonia usando o recurso da “microfonia controlada” (música, Nimbus-

DEF3).

Mexer na estrutura dos equipamentos, na parte elétrica e nos componentes eletrônicos

vem sendo uma atividade comum na vida desse guitarrista, essa curiosidade já custou a perda

de alguns equipamentos, mas geralmente se aprende algo e na maioria das vezes o resultado é

positivo.

Uma vez a gente tocou no Circo voador e eu liguei um “mp3” usando um cabo que ligava direto no captador da guitarra, para soltar um “sample” com a voz da minha sobrinha Alice, no meio de uma música sem anular o que eu tocava. Essa experiência eu havia feito anos antes com um rádio, em uma música nossa (...) na gravação havia um trecho com um rádio mudando de estação e eu queria reproduzir aquilo ao vivo. Eu nem imaginava que dava para fazer isso gravando um “sample” e ligando direto na mesa de som e tal, a forma que eu arranjei foi essa, liguei um radinho de pilhas direto no captador. (Maick Muniz).

De uma forma geral todos os entrevistados mostraram alguma estratégia seja para

memorizar uma levada de bateria executando uma técnica de beatbox19 (Edu Muniz), ou

19 “O termo beatbox (que, a partir do inglês, significa literalmente caixa de batida) refere-se a percussão vocal do hip-hop. Consiste na arte em reproduzir sons de bateria com a voz, boca e cavidade nasal. “ disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Beatbox , consultado em: 12 de agosto de 2011.

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fazendo uma comparação entre sua experiência musical e um “play list” com a finalidade de

pesquisa baseada nesse acervo preservado em sua memória (Leonardo Medeiros), mas o que

me chamou mais a atenção foi o fato da “reflexão” sobre determinado parâmetro discutido

durante a entrevista.

Nesses anos todos tocando com o Armando, Maick, Edgar, Léo e o Edu, criamos uma comunicação própria, eles me entendem só com um movimento de sobrancelhas que eu faça, o entrosamento entre nós é muito forte, mas acaba me limitando ao contexto dessas pessoas, isso me causou certo problema (...) (...) para você se comunicar com outros músicos fica ruim, você não tem vocabulário para entender essas pessoas, se alguém fala de cifra você entende um pouco, se falam de tablatura você entende menos, se falam de partitura você não entende nada. Toco há tanto tempo e só agora fui perceber a importância de aprender essa comunicação mais geral da música, tanto que fui buscar esse conhecimento nas pessoas mais próximas, como por exemplo, o Armando. Eu fiz umas aulas de harmonia com ele, foi uma experiência e tanto, me ajudou bastante (...) Pretendo me dedicar muito mais nessa área (teoria musical), porque me senti um analfabeto, mas poxa, eu sei tocar! Eu me comunico muito bem com a minha banda. Mas agora preciso me comunicar também com outros músicos e é isso que venho fazendo para me tornar cada vez melhor no que faço. (Leandro Muniz).

Durante o processo de elaboração da monografia consultei algumas vezes os membros

da banda para discutirmos sobre este trabalho e em uma dessas conversas o baixista Leandro

fez uma análise sobre uma oficina de violão que aplicávamos há alguns anos atrás em uma

escola próxima a nossa casa. Ele diz que apenas ensinava sem se dar conta da importância do

que fazíamos, após este trabalho de investigação sobre a DEF3, me pediu para que eu

escrevesse um projeto de extensão da banda para esse tipo de atividade, a idéia seria uma

oficina de musicalização e elaboração e análise textual para composição de canções.

Concluímos nessa conversa que esta monografia seria um documento analítico de todo o

trabalho da banda e que isso poderia ajudar na aprovação do projeto por tratar de forma

aprofundada e formal o trabalho da banda.

Esses são apenas alguns exemplos, outros poderão ser analisados acessando as

entrevistas na íntegra que se encontram em anexo nesta pesquisa. Nas seções seguintes

daremos maior atenção a questões como “musicalização” e a família, “dom” e “talento”, além

das considerações econômicas sobre o fazer musical.

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2.2.1 Musicalização e a família:

Recapitulando um pouco o histórico da banda, é importante salientar que quatro, dos

seis membros que já fizeram parte da banda, foram criados na mesma casa (três irmãos e um

primo). Essa informação ganha maior relevância nesse plano analítico, pois percebemos

características comuns nos discursos desses quatro agentes em relação à “musicalização”.

Citações ao avô e um tio que tocavam violão foram recorrentes, e ainda a mãe cantando hinos

de igreja e a figura paterna “tirando um som no violão”, nesse caso em particular os irmãos. 20

A primeira coisa que me vem à cabeça é a lembrança de ver meu avô e meu tio tocando (violão). Eu era pequeno e aquilo me despertava curiosidade. Eu sempre mexia na afinação, explorava intuitivamente (por curiosidade), tinha interesse em tentar fazer algum barulho, tocar alguma coisa. De uma forma bem resumida, foi assim que me interessei por música, pela curiosidade e por ter a oportunidade de ver e ouvir familiares que tocavam algum instrumento no espaço da minha casa. (Leandro PXE Muniz). (...) vendo meu tio tocar, ele tinha um violão e uma coisa que me chamava a atenção era a forma que ele afinava o violão. A gente não fazia idéia na época (sobre as notas que ele fazia), mas tinha aquele som na cabeça (tom don, tom don). Ele sempre usava a mesma seqüência de acordes e dedilhado, então seu método para afinar o violão parecia uma música que ele sempre repetia, esse foi o primeiro contato com música. (...) acho que muito do que aprendíamos era na troca, quando a gente morava na casa da minha mãe todo mundo se ajudava, um aprendia com outro.(Maick Muniz). Primeiro foi ouvindo meu tio afinando e tocando violão, logo depois foi vendo meus irmãos mais velhos. Assim começou como uma escadinha, anos depois descobri que a música era uma coisa comum na nossa família. Meu avô e meu tio tocavam, a minha mãe sempre cantou hinos da igreja, bem afinada por sinal, e meu pai também tirava lá seu som no violão. (Edu Muniz).

A partir desses depoimentos poderíamos levar em consideração a idéia de “capital

cultural” (BOURDIEU, 2005), onde o autor mostra que as condições de um cultivo de hábitos

promovido no âmbito familiar acompanhariam o desempenho da criança na escola,

ampliariam sua “bagagem cultural” e criariam melhores condições em sua carreira

profissional. Ainda acrescenta que a familiaridade com obras de arte e a freqüência a eventos

artísticos como concertos e exposições é promovida essencialmente pela família, sendo que o

nível de acesso às artes é dependente da origem social do indivíduo. No caso desses agentes

(em especial os irmãos e o primo), o contato com a música a partir de parentes aconteceu

20 Situação parecida ocorreu na pesquisa de Simone Lacorte e Afonso Galvão onde os entrevistados (músicos populares) destacavam, entre diferentes redes sociais, a importância do âmbito familiar como espaço inicial de aprendizagem musical. (Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 17, 29-38, set. 2007).

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informalmente, não havendo uma intenção pedagógica ou cultural por parte dos adultos em

relação ao que tocavam e cantavam. As crianças apenas dividiam o mesmo espaço,

observavam e absorviam o que presenciavam.

Poderia acrescentar meu discurso inicial feito na introdução deste trabalho, onde

coloco o fazer musical como um divisor de águas na minha vida. Sei o quão importante foi

esse contato inicial com a música em minha casa, mesmo não sendo direcionado como um

investimento de capital cultural. Imaginando uma situação hipotética, onde essas

manifestações musicais fossem vistas como investimento, ainda assim poderiam não ser

suficientes para um desenvolvimento cultural pleno, se comparadas ao investimento que

famílias de classes sociais privilegiadas dão aos seus filhos através do contato direto com

obras de arte, teatros, concertos de música etc. Mesmo assim, analisando hoje, vejo a

importância dessas lembranças no nosso crescimento intelectual e profissional e as entendo

como tão importantes quanto às referências cultivadas nas famílias de classes mais altas,

distanciando-me assim da visão de níveis de capitais em função de níveis sociais o que,

segundo Bourdieu, levaria a uma reprodução das desigualdades sociais. Entendo que no nosso

caso, esse contato mesmo sendo “pobre” e pouco explorado, teve tanto valor quanto se

tivéssemos uma vivência cultural mais “rica” e direcionada, porque a forma como recebemos

e posteriormente processamos essa vivência musical foi essencial para o nosso

aproveitamento sócio-cultural. De forma resumida, essa “musicalização” desenvolvida de

maneira “informal” criou situações ou condições de interesse nessas crianças permitindo-as, a

partir da curiosidade, desenvolver familiaridade e posteriormente com a ampliação das suas

redes sociais (contatos via escola ou na rua com amigos), maturação e desenvolvimento pelo

fazer musical.

Durante meu processo de levantamento da literatura sobre educação (“formal”,

“informal” e “não formal”), não encontrei consensualidade em uma definição precisa entre

essas categorias (principalmente na educação “não formal”), e ainda percebo certa dificuldade

em encontrar “modelos puros” de educação onde aspectos de uma não transitem em algum

momento na outra21 Levando em consideração a visão das modalidades de educação segundo

Silvestre (2003), poderíamos organizá-las da seguinte forma:

21 Percebemos claramente traços comuns entre a “educação formal” e a “não formal” e entre a “educação não formal” e a “informal”, por exemplo, quando encontramos situações onde ocorre algum tipo de aprendizado informal dentro do âmbito escolar ou na intencionalidade nas estratégias de ensino e aprendizagem na “educação formal” e na “educação não formal”.

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Educação Formal.

• As atividades são organizadas por disciplinas. • Currículo e métodos de avaliação regidos por normas estabelecidas por órgãos

institucionais de educação. • Intencionalidade nas estratégias de ensino e aprendizagem. • Privilegia os conteúdos teóricos do saber. • Tempo e espaço delimitados. • Exemplos: escolas e universidades.

Educação Não Formal.

• As atividades são interdisciplinares. • Currículo e métodos de avaliação flexíveis. • Intencionalidade nas estratégias de ensino e aprendizagem. • Valoriza o saber fazer, aproveitando-se de experiências do cotidiano. • Tempo e espaço flexíveis. • Exemplos: grupos sócio-culturais e religiosos.

Educação Informal.

• As atividades acontecem de forma espontânea no dia a dia. • Sem métodos ou critérios definidos. • Geralmente não intencional. • As aprendizagens fazem-se a partir de experiências da vida. • Ocorre em qualquer lugar e durante toda a vida. • Exemplos: família, através da mídia, redes sociais (“reais” e virtuais).

Partindo desse modelo percebemos que todos os seis membros da banda passaram em

algum momento por experiências de ensino e aprendizagem “informais” de música, tendo em

vista a flexibilidade dessa categoria, mas somente quatro tiveram experiência de educação

“informal” na família. Dois destes tiveram contato com o modelo de educação “não formal”

através de cursos livres, oficinas etc. e dois outros passaram pelo modelo “formal” de

educação, um cursando Licenciatura em música pela UFRJ e o outro tendo concluído o curso

de Produção fonográfica no Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação. Encontrei, em

outros trabalhos de investigação das práticas de ensino e aprendizagem musical em contextos

“informais”, dados que revelam a importância da família como “o primeiro espaço propulsor

da aprendizagem musical.” (LACORTE; GALVÃO, 2007, p.33).

A família pode ser considerada como o primeiro contato da criança com um modelo de

sociedade, os costumes e hábitos além das regras particulares de cada família exercem um

papel importante na vida desses indivíduos (as crianças). A estruturação da família não pode

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ser desvinculada do momento histórico que atravessa a sociedade da qual ela faz parte. Cada

família será moldada a partir de um conjunto significativo de variáveis ambientais, sociais,

econômicas, culturais, políticas, religiosas e históricas. A própria idéia de família já pode ser

percebida e classificada de formas mais flexíveis afastando-se da visão “tradicional” de

modelo familiar que ainda transita no senso comum.

“(...) a família pode ser definida como um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por laços consanguíneos. Ela tem como tarefa primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente articulada com a estrutura na qual está inserida.” (MIOTO, 1997, p.120).

Essa extensão do conceito de família é percebida no discurso de um ex-membro que

recentemente retornou ao grupo. Mesmo com seu afastamento da banda por motivos pessoais

(na época teve que priorizar seu casamento), mantivemos o vínculo e não deixamos de nos

comunicar e nos encontrávamos frequentemente em situações diversas. Ele diz que essa

atitude foi fundamental para o seu retorno à banda. O cultivo desses valores familiares acabou

sendo fundamental para a própria existência da banda.

“Aprendi a conviver com pessoas diferentes, aprendi a ser tolerante, aprendi a ter paciência porque sempre fui impaciente, eu nasci de 7 meses cara! Aprendi o que é ter uma segunda família, porque eu considero mesmo essa família como minha (...). eu sou assim, por exemplo, eu não considero Armando o vocalista do DEF3, o Armando é meu amigo, quase um irmão, ele é um cara que posso contar para trocar uma idéia, me abrir e tal. (...) No final das contas o mais importante de tudo, é isso que acontece aqui agora, por exemplo, (se referindo à entrevista), e isso sempre rolou dentro do DEF3, ajudar o outro, respeitar o tempo de cada um, esse sentimento de família, sabe? Eu já sai da banda uma vez, estou voltando agora, mas o laço de amizade me dá força para superar as dificuldades, se fosse só “o tocar” não teria vivido nem um terço do que vivi na banda. Não consigo me imaginar gastando (ou investindo) meu tempo com um grupo que eu não tenho afinidade nenhuma, só por tocar sabe? Dentro da DEF3 sempre tive esse lance de família, a mãe dos caras é como uma mãe para mim, me trata como filho, isso é um valor antigo e acho importante preservar e passar para gerações futuras. Assim que me sinto, em um ambiente familiar, essa é a família DEF3, e essa família é grande heim!.” (Edgar Marinho).

50

Um amigo da banda acrescenta:

Vejo o DEF3 não só como uma banda, mas sim como uma família, onde existe amor e ódio, risos e lágrimas e falo não só em meu nome, mas em nome de uma geração que aprendeu o significado das palavras amizade, companheirismo, lealdade e solidariedade. (Victor “Batata” Ebrenz).

A partir dessa análise podemos perceber a relação entre os membros da banda,

parentes e amigos e como estes entendem o conceito de família. Além disso, vimos como

funciona o processo de transmissão ou formação de alguns conhecimentos nesse pequeno

modelo de sociedade encontrado nos moldes familiares. Entretanto existe uma perspectiva

que permeia o senso comum relacionada à habilidade musical, facilidade, naturalidade ou

ainda uma transmissão genética. Na próxima seção veremos como essas questões surgiram

através do discurso dos entrevistados.

2.2.2 Dom e talento:

A questão do “dom” é comum nas discussões relacionadas à música tanto em aspectos

de criatividade nas composições quanto ao próprio ato de tocar bem determinado instrumento.

A visão do artista como um ser escolhido por alguma força divina para receber um “dom” ou

uma “habilidade especial”, é recorrente no senso comum e pode acabar distorcendo a origem

dessas habilidades. A própria interpretação para a palavra “talento” pode ser vista nas

respostas dos entrevistados como um fator obscuro ou não muito bem definido, algumas vezes

associada às aptidões naturais ou inatas e em outras como o resultado da determinação com

que o músico se dedica à prática do instrumento. Essas questões chegam até na escolha do

instrumento que tocam, alguns atribuíram a uma identificação imediata, outros simplesmente

por uma facilidade ou naturalidade no ato de tocar o instrumento, algumas vezes essa escolha

também se mostrou relacionada ao bem estar ou ao prazer, resultantes no ato de tocar.

Eu comecei a tocar porque eu me identifiquei com o instrumento (...) Na época eu tentei tocar violão, até ‘arranho’, mas me identifiquei realmente com a bateria, tocar bateria sempre me fez sentir bem. (...) eu não tive influência da família, só um tio que tocava viola caipira, música sertaneja, não toca mais hoje e é a única pessoa da família que tinha envolvimento com música. Eu já ouvi dizer que quando existem músicos na família a probabilidade das futuras gerações herdarem isso aumenta, não sei se é verdade, mas se for, agradeço a esse tio. (Edgar Marinho). (...) acho que comecei a tocar porque eu senti uma facilidade, não sei se vem de família... Não sei se eu acredito em dom, mas eu acho que se você é criado num ambiente onde tem aquela coisa acontecendo (nesse caso a música), você absorve e a coisa flui naturalmente, mas naquela época eu não fazia idéia dessa importância

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(...) acho que talento é a soma de tudo que você viveu até aquele momento, e isso (o talento) seria a facilidade que você tem para determinado assunto, uma habilidade. Uma coisa que você viveu no momento da sua formação, no ventre da mãe, pode influenciar em alguma habilidade que você possui hoje. (...) (Maick Muniz). Eu acredito em talento, existem pessoas que têm (talento) para música, para fazer contas ou para decorar texto etc., mas se ele não tiver determinação, aquilo não irá significar nada. Na minha opinião, talento e determinação seriam quase a mesma coisa. Algumas pessoas dizem que eu tenho talento, eu me considero determinado. Resumindo, eu acredito no talento como uma facilidade ou habilidade que temos para determinados assuntos, qualquer pessoa pode melhorar e se tornar talentosa de acordo com a determinação dela para essa habilidade, justificando isso (a ligação entre talento e determinação), vejo que uma habilidade não explorada não chegará ao status de talento. Pensando dessa maneira, seria só uma questão de escolher a palavra certa (talento/determinação) para cada ocasião. (Leandro PXE Muniz). Quando se tem talento e uma boa percepção, você acaba saindo com uma certa vantagem, mas acredito que o estudo sempre compensa essa falta de talento. (Leonardo Medeiros). Talento, na minha visão, é uma palavra que representa aquela pessoa que faz muito bem uma determinada atividade, por méritos próprios se dedicando àquilo que faz. É quando a pessoa faz algo tão bem, com tanta naturalidade que parece ser fácil, como se não exigisse tanto dela. Essas pessoas são vista como pessoas talentosas. (Edu Muniz).

Partindo desses depoimentos, entendemos a dificuldade em percebermos e

classificarmos parâmetros tão subjetivos, que são constantemente reproduzidos nos meios

artísticos e musicais, reforçados pela divulgação em diversos setores da mídia especializada,

que ao colocar o artista em um patamar de “gênio” induz o próprio (artista) e uma grande

parcela da sociedade a crerem, por exemplo, que esse sujeito já nasceu sabendo tocar, cantar

ou compor. Algumas religiões podem ter contribuído também para formação desse ideário,

poderíamos fazer uma associação entre um “músico gênio” e elogios à sua obra carregados de

valores místicos ou divinos ao conceito de predestinação historicamente percebido no

cristianismo, em particular no calvinismo. Na própria história da Filosofia podemos encontrar

pensadores importantes, na construção do pensamento científico e social, que pregavam o

inatismo do saber. Todos esses pontos podem ter contribuído na criação e na reprodução desse

aspecto divino de habilidade ou dom inato, o que acaba colocando, nesse caso, o músico em

um nível superior, em relação aos outros indivíduos não músicos, por realizarem atividades

tecnicamente difíceis.

Vemos, então, que, de modo geral, a falta de consciência de como se dá o processo criativo do músico, de onde vem sua “inspiração”, acaba desembocando em uma série de equívocos e mitificações. Os próprios músicos, com a “naturalização” do comportamento musical pela prática, perdem de vista o seu processo de desenvolvimento e o tomam por “dom”, pensam já ter nascido assim. (SCHROEDER, 2004, p. 117).

52

O próprio tratamento que instituições de ensino superior dão às chamadas provas de

habilidade específica, poderia gerar ambigüidade na compreensão de que o conhecimento

teórico ou a prática musical são originados por uma habilidade inata. Como exemplo,

poderíamos imaginar um pianista ou percussionista que independente de suas habilidades em

seus respectivos instrumentos e conhecimentos teóricos, tivessem alguma patologia que os

impedissem de entoar as notas corretamente, mesmo assim teriam que passar por uma prova

de solfejo, a reprovação nesse teste os impediriam de entrar nessa instituição e o ocorrido

poderia leva-los a interpretação de que eles, por não conseguirem cantar, fossem desprovidos

desse “dom” do canto. Nesse caso, todo conhecimento musical e a técnica em seus

instrumentos, não seriam suficientes para que pudessem desenvolver a carreira musical nesse

lugar.

Nessa seção analisamos o tratamento dado pelos entrevistados às questões como

“talento”, “dom”, “habilidades” etc. Como esses parâmetros tão subjetivos foram passados

por gerações durante a história e persistem até os dias atuais através do discurso do senso

comum. Alguns problemas surgem quando o músico ou artista passam a enxergar suas

práticas como uma “naturalização”, eles podem acabar ocultando todo trabalho técnico22 e

experiências musicais em função de uma visão de naturalidade do fazer musical, ou seja,

reproduzindo mesmo que de forma inconsciente a idéia de “dom”.

Silva (2005) levanta questões importantes sobre as relações de troca no trabalho

musical. Sugere que, do ponto de vista das trocas, o trabalho musical poderia ser organizado

em dois segmentos relacionados à economia, na forma de produto e de serviço. Aponta

algumas circunstâncias que dificultariam a remuneração do trabalho do músico, como por

exemplo, as representações do músico iluminado, inspirado, possuído etc.

“Mitos e crenças relativos ao dom natural, as representações do divertimento, da noite (contra a representação essencialmente diurna da produtividade), da loucura-são elementos do senso comum que obscurecem o papel da técnica na caracterização do trabalho musical e sua valorização. Como pagar a alguém que está apenas vertendo o que a natureza lhe deu, e se divertindo com isso?”. (SILVA, 2005, p.261).

22 Ver SILVA, José Alberto Salgado e. Construindo a profissão musical - uma etnografia entre estudantes universitários de Música, seção 6.6.

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O fato de o músico proporcionar um prazer estético nos demais indivíduos através de

uma atividade direcionada ao lazer e que, do ponto de vista do “dom”, não seria resultante de

um trabalho técnico e intelectual, acaba gerando uma desvalorização no fazer artístico

musical colocando-o muitas vezes como uma atividade de recreação, o que dificultaria, entre

outras coisas, na possibilidade de se valorizar economicamente o ato de tocar, ou ainda

encarar a produção musical como uma profissão. Esse pensamento acaba nos levando a uma

questão de importância relevante nessa pesquisa. Valoração econômica relacionada ao fazer

musical.

2.2.3. Valoração econômica relacionada ao fazer musical:

“Ouvir o público cantando as músicas, na nossa opinião,é a melhor sensação para um músico, uma sensação inexplicável e muitas vezes acaba sendo nosso cachê.” (banda DEF3 em entrevista ao site rock zone).

Nessa seção veremos como a banda se relaciona com a questão econômica. Vimos no

primeiro capítulo desse trabalho que a banda faz parte do mundo musical identificado por ela,

e por outros agentes envolvidos, como circuito alternativo de bandas ou cena independente de

bandas. Uma das principais características desse grupo é a independência relacionada à

produção (de CDs, eventos, divulgação etc.), e que essa “independência” acaba gerando

alguns problemas. Primeiro é o isolamento em relação à maioria o que poderia levá-los a uma

classificação de grupo desviante.

O sociólogo norte-americano Howard Becker (2008) apresenta em seu livro pessoas e

grupos “desviantes”, classificados por ele como “outsiders” (expressão que dá nome ao livro).

O termo sugere que dentro das relações sociais de determinados grupos, irão surgir regras,

padrões, conceitos etc. que serão construídos através de processos políticos. O outsider seria

aquele que rejeita tais padrões, desviando-se das regras seguidas e muitas vezes impostas pela

maioria. Como existem grupos e ideais variados dentro da sociedade como um todo, teremos

situações conflitantes relacionadas à determinação, aceitação e imposição de certas regras. O

autor chama a atenção para a ambigüidade do conceito outsider, pois o sujeito desviante pode

considerar seus julgadores não aptos a julgá-lo, ou ainda vê-los como outsiders. O livro trata

de tipos variados de desvio, como por exemplo, o músico de casa noturna.

Becker apresenta a figura do músico de casa noturna, traça um perfil apontando

características percebidas por ele em sua pesquisa dentro dessa cultura. Os dados foram

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recolhidos através de observação participante, na época que o antropólogo exercia a função de

pianista em Chicago nos anos de 1948 e 1949. Mostra que apesar dos músicos estarem

formalmente dentro das leis, seu estilo de vida extravagante, diverge da maioria das pessoas

de tal forma que poderiam ser classificados como outsiders. Apoiado na concepção

antropológica de cultura de “Everett Hughes”, onde um grupo aceita e organiza

entendimentos comuns a eles, Becker diz ser possível aplicar tal concepção a pequenos

grupos, no caso em questão, os músicos de casa noturna.

“Sempre que um grupo de pessoas tem parcialmente uma vida comum com um pequeno grau de isolamento em relação a outras pessoas, uma mesma posição na sociedade, problemas comuns e talvez alguns inimigos comuns, ali se constitui uma cultura.” (BECKER, 2008, p.90).

Assim o autor define o músico de casa noturna como uma pessoa que toca música

popular por dinheiro, chama a atenção para o fato de esse trabalho, exigir de certa forma, o

contato direto e pessoal entre o trabalhador e o consumidor final do produto, ou seja, o cliente

para quem prestou o serviço. Uma das maiores conseqüências é a tentativa de direção sobre a

forma que o trabalhador executa seu ofício. Os músicos desse grupo valorizam o gênero jazz

(mais que outros gêneros), entretanto precisam mediar suas preferências, estética e musical,

com as dos seus patrões e do público.

Um grande dilema na vida desse músico, principalmente o músico médio, seria a

escolha entre uma carreira de sucesso, para isso tocando música comercial, ou priorizar seus

padrões artísticos. Ele (o músico) reconhece que para alcançar esse status, é necessário se

tornar comercial, ou seja, tocar como desejam seus empregadores, mas ao fazer isso, acaba

sacrificando o respeito de seus colegas músicos e na maioria dos casos seu respeito próprio.

Um dilema parecido pode ser percebido em relação ao trabalho da banda DEF3. A

escolha pela originalidade das suas composições fugindo dos moldes mais comerciais,

adotados por outras bandas de rock, gerou o deslocamento da banda para essa categoria

desviante conhecida como “cena independente”. Fazer parte desse grupo social afastaria a

banda de uma carreira musical remunerada, tendo em vista que a idéia de ganhar dinheiro

tocando não é priorizada nesse mundo musical.

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Sempre toquei com o coração, por que gosto e nunca tive pensamento de ganhar dinheiro com banda. Pelo menos com a minha banda DEF3, pois vejo que temos um potencial musical enorme, mas não enxergo a banda como comercial, tenho vontade de experimentar coisas diferentes, estilos variados, mas sem fugir da proposta da banda que é ser independente em todos os sentidos entende? Conhecendo bem cada integrante, vejo que seria muito difícil imaginar a banda fazendo, tocando ou até mesmo vestindo coisas que não condizem com nosso estilo. (Edu Muniz).

Ao mesmo tempo percebo que a identificação com o circuito independente está muito

mais ligada à atitude e a cultura do que propriamente ao som, pois a liberdade nas

composições da banda é tão grande que dentro do próprio circuito independente, algumas de

suas músicas poderiam ser consideradas de “apelo comercial”, essa mesma idéia de ser ou não

comercial parece confusa nos discursos dos membros da banda e também do público. Talvez

o excesso de liberdade e referências sonoras dificultaria uma classificação mais precisa de

identificação diante das categorias, comercial ou não comercial.

Durante quatro anos, vivi essa banda musicalmente, filosoficamente e extra musicalmente. Uma banda que tem uma certa dificuldade de se encaixar em um perfil único musical. No cenário underground ou cena independente de bandas, como eles chamam, é comum assistirmos as bandas se reunirem em uma noite e se dividirem com um tempo determinado para cada apresentação. Assisti esse tipo de evento muitas vezes acompanhando a banda DEF3 e sempre percebi que a sua música era a mais diferente nesses lugares, uma música que não é um simples rock and roll ou hardcore. Percebo uma composição carregada de referências musicais e conceituais que mistura compassos, que tem uma preocupação poética, com um apelo pop sem ser óbvia, com características sonoras próprias, diria que uma banda com personalidade musical. Basta escutar uma seqüência de acordes e perceber que a música é da banda. O Armando, por exemplo, adora uma sétima maior. (Aline Dias). Eu acho que a DEF3 não é comercial. Eu nunca pensei a respeito, pois nunca tive esse interesse em manipular essa química natural da banda, não tenho nada contra se for preciso dentro da concepção do todo, tornar um pouco mais “comercial”, não vejo problemas desde que não seja extraída a essência da banda. É claro que ser “não comercial” e não ganhar dinheiro tem seus problemas, mas por enquanto vou levando numa boa. (Edgar Marinho).

Independente da classificação e escolha da banda em ser ou não comercial, todos nós

enquanto grupo, sabíamos ou pelo menos tínhamos a consciência de que mais cedo ou mais

tarde essa escolha poderia pesar e que teríamos que repensá-la. Enquanto os membros da

banda não tinham responsabilidades comuns da vida adulta, tal escolha era apenas uma opção

lógica, mas a partir do momento que começam a formar suas próprias famílias, questões

simples de escolhas podem ganhar novo sentido, principalmente se o fator econômico estiver

envolvido nessas escolhas.

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Uma grande dificuldade hoje é que não somos mais adolescentes e temos nossas responsabilidades da vida adulta, é difícil conciliar o trabalho da banda com nosso cotidiano e compromissos profissionais e familiares, isso certamente é um exercício e exige muito planejamento, negociação e determinação. (banda DEF3 em entrevista ao site rock zone).

Becker fez observações importantes em sua pesquisa, ao que diz respeito à relação dos

músicos com seus familiares. Nos casos onde o músico estabelece sua família, surgem novos

dilemas, pois sua companheira espera (dele como marido), companheirismo e dedicação à

família. Levando em consideração que o músico geralmente trabalha à noite e em locais

variados, parece obvio que problemas surgirão nesse tipo de relação, pois o músico na maioria

dos casos, trabalha enquanto a maioria dorme, trabalha nos finais de semana e feriados, ou

seja, parece sempre estar indo na direção contrária da maioria das pessoas.

O casamento pode, assim, acelerar a obtenção de sucesso ou forçar uma decisão que proporciona, embora não garanta a oportunidade de ingresso naquelas “panelinhas” comercialmente orientadas que são mais capazes de manter seus integrantes em trabalho permanente. A família, portanto, como uma instituição que exige do músico que ele se comporte convencionalmente, cria-lhe problemas de pressões, lealdades e auto-imagens conflitantes. Sua resposta a esses problemas tem um efeito decisivo sobre a duração e a direção de sua carreira. (BECKER, 2008, p.128).

No caso da banda DEF3, uma solução diante desse dilema foi negociar com suas

novas famílias (companheiras, esposas e filhos), uma estratégia para não abandonarem de vez

a função de músico. Colocando o trabalho da banda em um segundo plano e priorizando uma

carreira profissional remunerada.

Por conta da falta de remuneração, nesse caso tocando na banda DEF3, acabamos tendo que buscar outras formas para suprir essa necessidade financeira. Basta faltar algo ou alguma coisa não dar certo, para ouvirmos a cobrança. Primeiro da nossa própria consciência, pois temos responsabilidades como chefes de família e depois da própria família, que conta com a nossa ajuda e colaboração. É fundamental estar em dia com suas responsabilidades, para fazer o que gosta sem faltar com a atenção necessária, o carinho que sua família merece. Manter o equilíbrio entre tocar e cuidar da sua família, você precisa estar sempre com a cabeça tranqüila, pois basta um elemento desses não estar funcionando da maneira correta para a administração toda ir por água abaixo, por exemplo, nesse momento estou tendo que me ausentar por um ano da banda, para conseguir me estabilizar numa profissão que tenha uma boa remuneração para eu poder me dedicar tranquilamente à banda. (Edu Muniz). Em relação à administração Banda/Família é uma loucura saudável. Pelo fato dessa atividade não ser remunerada perco a desculpa de ser um trabalho paralelo, então vai depender da pessoa que está ao seu lado entender e te dar apoio, nem que seja não tentando impedir que você faça o que gosta. No meu caso sou casado, muito bem casado há oito anos, e nunca tive um problema sério em relação a isso. (Edgar Marinho).

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A questão financeira sempre esteve presente na realidade da banda, de forma mais

evidente e preocupante como nos exemplos vistos até agora ou nos pequenos detalhes como a

aquisição e manutenção dos instrumentos. No início da banda, existia uma “caixinha”, onde

cada membro contribuía com uma quantia determinada e esse dinheiro era usado para

comprar um instrumento novo, equipamento de som ou mesmo para financiar uma gravação

de um CD. Nessa época os membros da banda ainda não tinham um trabalho fixo, mas

estavam envolvidos em projetos sociais em comunidades carentes, onde davam aulas de

violão e recebiam uma bolsa de ajuda para manterem as oficinas de violão. Parte dessa bolsa

era depositada na “caixinha” da banda e graças a essa iniciativa puderam montar um estúdio

caseiro em um espaço cedido pela mãe deles em sua casa, compraram instrumentos melhores

e ainda usaram parte do dinheiro para gravarem um CD no ano de 2005.

Tabela 1-Relação de gastos (em reais) e tempo em estúdio. Gravação do CD no carnaval de 2005.

(*) Dinheiro pago depois.

A) 100 capas 12x24 frente dupla: 4,80 reais a unidade. (total 480,00 reais).

B) 100 CDs com “box slim” e “label” monocromático: 3,20 reais a unidade.

(total 320,00 reais).

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Gráfico 3:

Prensagem de 100 cópias do CD. Em 04 de Março de 2005.

Outra forma de gasto seria a participação em eventos que cobram das bandas para

tocarem. No início a DEF3 participou de alguns desses eventos, mas em determinado

momento da carreira decidiram não participar mais. Para grupos musicais iniciantes tais

eventos podem ser vistos como um bom investimento, pois a banda ainda é desconhecida e

geralmente nesse período está interessada na formação de um público e criação ou ampliação

de uma rede de contatos para tocarem em novos eventos. Por outro lado, pagar para tocar

pode ser visto como fator de desvalorização do trabalho artístico das bandas e ainda incentivar

a idéia de afastamento do fazer musical da banda como profissão. Vimos na sessão anterior

como tal pensamento é reproduzido e como pode ser nocivo para os músicos enquanto classe,

principalmente os músicos de trabalhos autorais independentes das gravadoras, grandes selos

e distribuidoras.

Nunca fui muito fã desse lance de pagar pra tocar, sempre fui contra. Quando uma banda se apresenta supomos que o público ali foi ver o show dessa banda, sendo assim penso que seria justo que a banda recebesse um mínimo, seja um cachê simbólico, uma porcentagem na bilheteira ou qualquer ajuda de custo, pois gastamos com ensaios, com cordas, baquetas etc.no meu caso ainda tenho que levar pratos, banco, ferragem etc. fica muito difícil de transportar essa quantidade de peças sozinho e a pé, então o simples fato de eu sair pra tocar já tem um valor financeiro agregado, pois eu terei que pagar um táxi ou pagar à alguém que tenha carro para me levar no evento. Poxa, levar tudo na mão ainda pagar pra tocar na minha visão isso é um abuso! Desvaloriza a classe dos músicos. Todas as pessoas envolvidas (organizadores de eventos, o público e os próprios músicos), deveriam pensar sobre essas questões. (Edu Muniz).

Vimos nesta seção como surgem as dificuldades relacionadas a questões econômicas

no cotidiano da banda e as estratégias desenvolvidas por seus membros para manterem suas

vidas em uma nova formação de família sem deixarem de exercer a função de músicos

tocando com a banda.

TOTAL PAGO NA PRENSAGEM

800 reais.

Armando 400 reais.

Maick 100 reais.

* Empréstimo de 300 reais

(Mãe)

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CAPÍTULO 3: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Problemas relacionados à economia parecem comuns na vida do músico em geral (em

níveis e situações diferentes). Esse é um dos interesses do projeto de pesquisa23 que participo.

Estamos fazendo um levantamento de dados através de uma investigação etnográfica

focalizada na construção das relações entre o trabalho e a música. Penso na possibilidade de

ampliar ou dar continuidade a este trabalho sobre a banda DEF3 e o universo do circuito

alternativo de bandas atuando no grupo de pesquisa ou possivelmente aprofundando mais o

assunto em uma próxima etapa, apresentando uma proposta para o curso de mestrado.

Acredito que esta pesquisa possa ser útil como material de estudo (dentro e fora do

âmbito acadêmico) sobre contextos de ensino/aprendizagem e produção musical informal.

Precisamos estar atentos ao fato de que nem toda educação “informal” é não intencional, mas

independente de como a classificam, se faz presente e merece atenção. Enquanto seres

humanos, nós aprendemos e ensinamos a todo tempo, de forma intencional ou não, o que

distingue uma ou outra classificação é a forma como acontece, o espaço de troca de

conhecimento e principalmente sua organização e institucionalização (ou não). A necessidade

de classificação pode algumas vezes ser um problema como nos mostra Gadotti (2005), ao

refletir sobre a modalidade reconhecida como “educação não-formal” 24, o autor percebe a

ambigüidade do termo e a entende como oposição ou negação à categoria “formal” de

educação, o que poderia ser interpretado como uma desvalorização da primeira. O autor

prefere definir a educação “não-formal” pelo que ela é em sua especificidade e não pela

oposição à educação “formal”.

O ato de educar se faz presente em diferentes espaços e se apresenta mesmo sem estar

necessariamente organizado. Acredito que cada modalidade de educação possui sua

especificidade e nós, enquanto educadores, precisamos entender a funcionalidade de cada

uma, sem projetarmos um modelo de educação ideal em detrimento de outro, primeiro pela

influência que um acaba tendo do outro e depois por estarmos nos privando de aproveitar as

qualidades que cada um desses modos de troca de conhecimentos pode nos oferecer.

23 Projeto de pesquisa (EM-UFRJ). Título: "Trabalhar com música" - um estudo etnográfico. Coordenador José Alberto Salgado e Silva. Pesquisadores: Armando Muniz, Marina Bonfim e Danielle Moura. 24 Nas modalidades de educação (“formal”, ”informal” e “não formal”), a “não formal” parece ser a menos consensual em definição entre os autores.

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Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender/ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para viver, todos os dias misturamos a vida com a educação. (BRANDÃO, 1985, p.07).

Se levarmos em consideração a extensão geográfica do país e toda sua diversidade,

poderíamos dizer que apesar desse tipo de prática ser comum, (a troca de conhecimentos fora

do âmbito escolar), são relativamente poucas as investigações em contextos informais. Apesar

disso encontramos, cada vez mais, excelentes trabalhos nessa área que ajudam a reforçar as

iniciativas diante de um assunto tão rico em contribuições para o campo da educação, como

por exemplo, os artigos publicados pelas revistas da ABEM e ABET além dos trabalhos de

conclusão dos cursos de Licenciatura em música etc. Apesar das particularidades de cada

contexto “informal”, onde ocorrem essas trocas de conhecimentos, foram percebidas nesta

pesquisa características comuns também encontradas em outros trabalhos de investigação,

como por exemplo, a iniciação às práticas musicais a partir de hábitos e rituais presentes no

cotidiano da família e nos círculos de amizades dos agentes investigados.

Das pesquisas de Prass (2004) e Pinto (2002), por exemplo, emergiu que as primeiras vivências da música popular ocorrem, geralmente, no seio familiar, entre parentes, vizinhos e amigos próximos. A aprendizagem ocorre, muitas vezes, de forma natural, quase que lúdica, em meio a festas, churrascos e práticas informais entre amigos. Desde as primeiras etapas, os músicos mais experientes passam o seu conhecimento para os iniciantes de maneira informal, geralmente ensinando a harmonia, a letra e/ou acompanhamento de músicas específicas, sem muita explicação teórica. O aprendizado se dá, inicialmente, pelo tocar juntos, falar, assistir e ouvir outros músicos, e, principalmente, mediante o trabalho criativo feito em conjunto. (LACORTE, GALVÃO, 2007, p. 29-30).

Me chamou a atenção o envolvimento da minha família e amigos na produção deste

trabalho. O reflexo da pesquisa dentro da banda resultou em um reconhecimento, pelos

membros desse grupo, sobre a importância do trabalho que vinham fazendo. Reflexões

surgiram sobre questões como o estudo, sistematização de estratégias e ainda a possibilidade,

diante desse resultado, de elaborarem em conjunto uma proposta de “extensão” da banda

voltada para o ensino “não-formal”, como atividade complementar em escolas próximas as

suas casas. Tiveram uma experiência parecida há alguns anos atrás como voluntários em

oficinas criadas e administradas por eles mesmos, mas dizem que a partir desta pesquisa se

sentiram estimulados a voltarem com essa prática, sobre uma ótica mais madura e

direcionada, focalizando não só no ensino do instrumento (como já fizeram), mas

acrescentando a categoria de elaboração e analise textual. A conscientização das suas práticas

musicais e a visão de ampliação dessas atividades, dialogando com a escola e uma parte da

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sociedade distante de seu mundo, são vistas pelo grupo como uma evolução e uma nova fase

no trabalho da banda.

A educação musical contemporânea demanda a construção de novas práticas que dêem conta da diversidade de experiências musicais que as pessoas estão vivenciando na sociedade atual. Assim, transitar entre o escolar e o extra-escolar, o “formal” e o “informal”, o cotidiano e o institucional, torna-se um exercício de ruptura com modelos arraigados que teimam em manter separadas esferas que na experiência vivida dialogam. (ARROYO, 2000).

Durante todo o processo compartilhei informações sobre a pesquisa oralmente, em

conversas informais, ou através de sítios de relacionamentos como, por exemplo, o facebook.

Essa troca foi muito significativa, pois a cada publicação ou conversa, novas questões e

contribuições surgiam. Em relação ao uso da internet, pensei em selecionar alguns

colaboradores, inicialmente escolhi alguns poucos amigos, mas logo que tais publicações

surgiam na rede, aumentava a curiosidade dos outros amigos e consequentemente

colaboradores voluntários apareciam. Selecionei alguns desses relatos sobre meu objeto de

estudo que poderão ser consultados nos documentos em anexo.

Internet! Como sabemos..., estamos dentro dessa maquina "Monstro" e descobrindo a cada dia, novos botões, funções e combinações, para facilitar as nossas atividades, e por mais que seja Virtual, há muita Realidade nela. E por mais que possa parecer que causará a solidão, desunião e o vício, é o maior veículo para se fazer amizade. Trago isso a tona, pra lembrar que se não fosse a internet e tal, provavelmente não nos conheceríamos (Eu e o Armando), não teria acontecido estas trocas de idéias e este relato. (...) cá estou, escrevendo sobre nossa união, sobre a Banda Def3, e posso dizer que estou escrevendo para o futuro, não é?! (Fernando Carvalho de Queiroz, F Lee).

Vimos nesta pesquisa que mesmo em um ambiente onde a educação informal se

apresente como base de aprendizado de um grupo, ainda assim não se fez única. O homem

naturalmente é um ser em constante transformação, um ser social que troca informações o

tempo inteiro em sua relação com o meio em que vive, elabora e desconstroi teorias ao longo

da sua existência, sendo assim, fica difícil imaginarmos linearidade, permanência,

regularidade etc. quando tratamos do homem e a sua relação com o mundo. Alguns agentes do

grupo analisados aqui, tiveram experiências de educação “não formal”, outros com a

educação “formal” e no espaço das trocas do conhecimento (entendido nesta pesquisa como

“informal”), processaram todo conteúdo e o utilizaram na produção do seu trabalho. O contato

com toda essa diversidade (de conteúdos e formas de aprendizagem), tornou o trabalho da

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banda mais rico e esse benefício só foi possível pelo cruzamento desses mundos tão distintos.

Nas palavras de Paulo Freire:

“Se estivesse claro para nós que foi aprendendo que aprendemos ser possível ensinar, teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios, em que variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruzam cheios de significação”. (FREIRE, 1996, p.50).

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BIBLIOGRAFIA: ARROYO, Margarete. Transitando entre o “Formal” e o “Informal”: um relato sobre a formação de educadores musicais. In: SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO, 7., 2000, Londrina. Anais… Londrina, 2000. p. 77-90. ________. Mundos Musicais Locais e a Educação Musical. Revista EM PAUTA - v. 13 - n. 20 – p. 95-121. UFRGS: junho 2002. BECKER, Howard. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges; revisão técnica Karina Kuschnir. - 1.ed. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 6ª. ed. Tradução de Sergio Miceli. São Paulo: Perspectiva, 2005. BRANDÃO, C. Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Abril Cultura; Brasiliense, 1985. CAMPOS, Luís Melo. Modos de relação com a música. Sociologia, problemas e práticas, Lisboa, Portugal, nº 53, p. 91-115, 2007. FISHER, Ernst. A necessidade da arte. Tradução de Leandro Konder. 9 ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. GADOTTI, Moacir. A Questão da Educação Formal/ Não-Formal. 2005. pdf. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. LACORTE, Simone; GALVÃO, Afonso. Processos de aprendizagem de músicos populares: um estudo exploratório. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 17, 29-38, set. 2007. MEYER, Leonard B. Emotion and Meaning in Music. Chicago: University of Chicago Press,1956. MIOTO, R. C. T. Família e Serviço Social: contribuições para o debate. Serviço Social & Sociedade. São Paulo, n. 55, 1997. PENNA, Maura. Poéticas musicais e práticas sociais: reflexões sobre a educação musical diante da diversidade. Revista da ABEM, n. 13, setembro 2005. PRASS, L. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba: uma etnografia entre os Bambas da Orgia. Porto Alegre: Editora da UIFRGS, 2004. QUEIROZ, Luiz Ricardo Silva. A música como fenômeno sociocultural: perspectivas para uma educação musical abrangente. In: MARINHO, Vanildo; ______. (Orgs). Contexturas: o ensino das artes em diferentes espaços. João Pessoa, Ed. Universitária/UFPB, 2005a, p. 49- 65. ______. Educação musical e etnomusicologia: caminhos, fronteiras e diálogos. Opus, Goiânia, v. 16, n. 2, p. 113-130, dez. 2010.

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ANEXOS: ANEXO I: QUESTIONÁRIO PARA ENTREVISTA 1-Como você começou a tocar?

2-Por que começou e qual a importância da música na sua vida?

3-Quais métodos você usa para aprender algo novo?

4-Quanto tempo, em média, você dedica ao estudo do instrumento?

5-Fale um pouco sobre o seu processo de composição.

6- Na ausência de algum recurso ‘tradicional’ de registro (para posteriormente lembrar de

uma idéia), que estratégia você utiliza?

7- Gostaria de saber a sua opinião sobre “talento”, e se existe alguma relação com o trabalho?

8- Fale sobre seu equipamento (instrumentos, aparelhos, cabos etc.), sua utilização e

importância.

9- O que você teria a nos dizer sobre “performance” no palco? (movimentação,

posicionamento, interpretação e também recursos visuais). Existe alguma contribuição no

trabalho final da banda, relacionada a essas ações e artifícios?

10- No “release” da banda diz que vocês compõem letras em português. Fale sobre essa

escolha do idioma e sobre o conteúdo das canções.

11- Qual a relação da banda com seu público? O que a banda representa para você e para

essas pessoas (o que você percebe)?

12- Além da música, o que mais você aprendeu durante sua carreira? Conte um pouco sobre o

que aprendeu.

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ANEXO II: RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS

Entrevista com Maick Muniz, guitarrista.

1- Acho que foi na casa da minha mãe, vendo meu tio tocar, ele tinha um violão e uma

coisa que me chamava a atenção era a forma que ele afinava o violão. A gente não fazia idéia na época (sobre as notas que ele fazia), mas tinha aquele som na cabeça (tondon,todon). Ele sempre usava a mesma seqüência de acordes e dedilhado, então seu método para afinar o violão parecia uma música que ele sempre repetia, esse foi o primeiro contato com música. Nós fomos aprendendo violão de ouvido, tirando umas músicas, meio sem saber o que fazia. Depois eu fiz um curso livre de violão numa escola municipal próxima da minha casa, que oferecia esse tipo de oficina, foi lá que aprendi conceitos básicos de teoria como acordes maiores e menores e funções de tônica, dominante e subdominante. Fiz esse curso que durou um ano e no final do ano, apresentamos umas músicas dos “Beatles”. O nome do professor era Wagner, aprendi muita coisa com ele, e um fato curioso foi que ficamos amigos desse professor que era guitarrista de uma banda e tinha um estúdio na Tijuca. Esse contato com ele foi ótimo, pois podemos fazer uma gravação nesse estúdio com ele, gravamos uma versão de uma música do Raul Seixas que enviamos para uma seleção de bandas em 2001, para o Rock in Rio (Escalada pro Rock), obviamente não passamos, mas essa experiência de gravarmos por pistas separadas e ele colocar uns efeitos depois da nossa música estar gravada, isso foi revolucionário para a banda na época. Nós ainda fomos assistir sua banda em um programa na TV Cultura (hoje TV Brasil), acho que de certa forma, através de um contato a partir de uma oficina de violão, nos proporcionou experiências muito diferentes com música como, gravação, produção, como uma banda deve se apresentar em um programa de TV etc. e tudo isso começou com um cursinho livre em uma escola.

2- Eu acho que comecei a tocar porque eu senti uma facilidade, não sei se vem de

família... Não sei se eu acredito em dom, mas eu acho que se você é criado num ambiente onde tem aquela coisa acontecendo (nesse caso a música), você absorve e a coisa flui naturalmente, mas naquela época eu não fazia idéia dessa importância e hoje eu vejo que a música rege muito mais coisas na minha vida do que naquela época, eu desenvolvi uma sensibilidade que eu uso para analisar tanto uma melodia de uma música quanto a entonação de um discurso de uma pessoa, para perceber a emoção da pessoa, comparar o que ela fala (apenas o texto) com o que ela expressa, ou o que ela quer dizer realmente.

3- Hoje em dia vem muito do ouvido, vou ouvindo e vou tentando criar teorias daquilo

que vou ouvindo não que necessariamente vai dar certo, mas aquilo vai me levando à lugares que eu curto, lugares desconhecidos, coisas novas. Mas já pesquisei muita coisa também por conta própria, teve uma época que eu lia algumas revistas especializadas como a “Guitar player”, aprendi muita coisa ali também. Tive também alguma base, observando o que o Armando estava aprendendo nos cursos que ele fazia, a gente sempre ouvia as músicas que ele ficava estudando, acho que muito do que aprendíamos era na troca, quando a gente morava na casa da minha mãe todo mundo se ajudava, um aprendia com outro.

4- Hoje bem pouco, eu deveria estudar muito mais, acho que no mínimo teria que ser

umas 4 horas por dia, coisa que hoje eu não faço. A vida que estou levando hoje, não me deixa fazer tudo que eu gostaria de estar fazendo. Acho que esse é um grande problema, a idade vai chegando você precisa ganhar dinheiro de alguma forma e acaba não tendo tempo para isso (estudar), seria ótimo ganhar dinheiro com música e passar 8 horas estudando, eu

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adoraria, acho que tenho capacidade para isso, mas no momento o que estudo é muito pouco, uma ou duas horas por dia no máximo. Antigamente eu dava aula de violão em um projeto na comunidade onde eu morava, eu passava 4 horas com eles (alunos), direto tocando e o resto do dia era fazendo a próxima aula do dia seguinte (mais 4 ou 5 horas antes). Pensando bem, acho que eu vivia muito mais a música naquela época do que hoje, acho que essa época foi a que eu mais aprendi, eu tinha muito mais tempo disponível para a música.

5- Eu geralmente componho no violão, deve ter uma diferença para compor em cima

de cada instrumento diferente, para cada um deve ter uma técnica. Eu costumo criar uma seqüência de acordes, sem necessariamente pensar em um tom (inicialmente), eu priorizo o conforto que aquela seqüência me proporciona. Eu tento representar através do que crio, me baseando no que estou vivendo naquele momento. Por exemplo, eu sei o que um acorde representa pra mim, o que ele me passa, no caso de uma seqüência de tom menor, eu sinto algo triste, então eu tento mesclar essas impressões, eu vou experimentando, faço um intervalo de terça, depois de uma quinta e vou vendo como aquilo vai mexendo comigo e tudo isso pela percepção, de “orelhada” mesmo. Depois que está tudo pronto, eu faço uma análise mais detalhada, (percebo isso muitas das vezes), que aquilo que eu montei de ouvido de forma intuitiva, que me dava conforto, na verdade estava na base de muita coisa que eu tinha vivido, as músicas que estavam às vezes no subconsciente, memória de anos atrás. Então uma sensação de resolução que eu achei legal na hora, quando analiso mais tarde, vejo que foi o que aprendi naquelas aulas de funções (I-IV-V). O que no momento senti como conforto, tecnicamente analisado era na verdade um “V-I”. Sobre as sensações, acredito que seja muito mais fácil expressar um sentimento escrevendo (no caso, letras de música) do que em uma seqüência melódica, por exemplo. Eu mesmo não sei te explicar o porquê de uma seqüência harmônica causar determinada sensação, não sei se é algo ligado à física do som, por que aquilo faz a gente se sentir mais triste ou mais feliz, é só pela vibração do som? Sobre o ritmo, acho que uma determinada repetição de batida pode entrar em harmonia com o batimento cardíaco e causar uma zona de conforto na pessoa que está ouvindo, aquele ritmo deixa o corpo pronto para aquilo que está vindo (no caso a música ou show inteiro), como se o ritmo interferisse na quantidade e velocidade que o sangue passeia pelo corpo. Não sei se isso faz sentido, mas me parece bem lógico.

6- A muito tempo atrás eu pensei em escrever de uma forma que eu lembrasse algum

ritmo que eu havia criado, a relação de duração (do som) entre um tempo e outro. Eu bolei um esquema que usava pontos e traços, por exemplo, um ponto seria uma nota curta, um traço seria uma nota mais longa. Eu tenho isso anotado em algum lugar, vou ver se acho para te mostrar depois. Mas hoje eu uso o recurso de gravação no meu celular, hoje em dia é bem mais fácil gravar uma idéia, pelos recursos que temos, mas antigamente eu tinha que dar meu jeito para lembrar. Eu também fazia um esquema de sílabas anotadas, por exemplo, “ta, ta-da, ta-da ra-da”, isso para lembrar de um “riff” quebrado de guitarra, o “ta” era palhetada para cima, o “ra” era palhetada para baixo etc. Mas isso foi nos primórdios, faz muito tempo.

7- Eu acho que talento é a soma de tudo que você viveu até aquele momento, e isso (o

talento) seria a facilidade que você tem para determinado assunto, uma habilidade. Uma coisa que você viveu no momento da sua formação, no ventre da mãe, pode influenciar em alguma habilidade que você possui hoje. Uma vez que você desenvolve uma forma de raciocinar, dificilmente você vai tentar uma outra estratégia, porque na sua formação durante os primeiros anos de vida, você ganhou ou criou essa habilidade que dará uma segurança, por ser fácil ou comum pra você, e isso não é algo consciente, você apenas se sente à vontade raciocinando e resolvendo as coisas dessa forma. Resumindo, se você foi criado num

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determinado ambiente, as coisas comuns nessa vivência (músicas, costumes, idiomas etc.) de alguma forma vão estar em você e isso irá ser determinante na sua personalidade e também na sua forma de ver o mundo e de pensar. Isso é o que eu chamaria de talento, mas acredito que você possa desenvolver outras habilidades e formas de pensar, mas nesse caso o processo vai ser bem mais demorado, justamente por não ser natural à sua formação ou criação.

8- Hoje, nos projetos que estou fazendo, o meu instrumento principal é a guitarra e um

“set de pedais de efeito” que para o que estou fazendo (rock), me levam onde quero chegar. Mas acho que tudo é válido para se conseguir tirar um som, pode ser um note book ou um celular. Lembrei que uma vez a gente tocou no Circo voador e eu liguei um “mp3” usando um cabo que ligava direto no captador da guitarra, para soltar um “sample” com a voz da minha sobrinha Alice, no meio de uma música sem anular o que eu tocava. Essa experiência eu havia feito anos antes com um rádio, em uma música nossa que falava sobre insatisfação com o governo, na gravação havia um trecho com um rádio mudando de estação e eu queria reproduzir aquilo ao vivo. Eu nem imaginava que dava para fazer isso gravando um “sample” e ligando direto na mesa de som e tal, a forma que eu arranjei foi essa, liguei um radinho de pilhas direto no captador. Hoje é muito comum as bandas usarem o “note book” com programação, acho tudo válido desde instrumentos, equipamentos eletrônicos, copo de água (risos), o que vale é a imaginação de quem cria. Meu equipamento é esse, uma guitarra que ganhei do Rodrigo “Caretice”, se não fosse por ele eu poderia estar sem guitarra agora, além da guitarra gosto de usar “pedaizinhos”, porque os pedais de efeitos separados possuem características próprias que não encontrei em pedaleiras de multiefeitos e é isso que venho buscando no som, coisas que só eu faça, que sejam particulares, resultado do equipamento que montei com a minha criatividade, eu não quero imitar o som que o fulano faz, eu quero tirar um som que eu criei através da minha experimentação. Por exemplo, eu uso um pedal “flanger” e ele mexe com a onda do som de uma forma em estéreo e eu teria que usar um cabo estéreo para isso, porque o som de um lado faz “uom” e do outro faz “uau”(gesticula com as mãos apontando para direita fazendo um som e para esquerda para o outro som), como eu não usava cabo estéreo o “uom” ficava repetindo, ai eu percebi isso, abri o pedal e soldei os dois fios no mesmo lugar, conseguindo o “uom” e o “uau” no mesmo lugar (aqui ele aponta numa direção), só que quando eu mexia no canal de rotação da onda (um recurso do pedal para destacar freqüências específicas), eu conseguia um som estático tipo “uuuu”, com isso eu podia mudar esse som de “uuuu” para “aaaa” e mudava a nota. Eu comecei a tentar mudar essas notas de forma aproximada com intenção de harmonizar essa microfonia criando melodias com essa “microfonia controlada”, eu sempre tento tirar a nota certa, mas o controle disso é muito difícil, então penso numa melodia para harmonizar, mas o efeito sempre sai com uma aproximação da melodia que pensei justamente pela dificuldade que existe no controle dessas notas de microfonia. Na época eu até tentei grifar no corpo do pedal usando uma régua do tipo esquadro ou transferidor, marcando com lápis por centímetros a distância correspondente, tipo aqui é a nota do, dois centímetros depois é um do sustenido. Muita loucura, isso me deu uma dor de cabeça do caramba (risos).

9- A muito tempo atrás a galera focava em vender CD, hoje em dia eu vejo que o lance

não é mais vender CD, e sim focar no show, acho que o show é muito importante, porque você vai tentar passar uma carga de significados, valores em pouco tempo. O artista no show tem a oportunidade de passar sua mensagem não só com a letra e a música, mas usando todos os recursos disponíveis para ajudar na compreensão da mensagem. Seria ótimo ter uma roupa para cada música, uma viagem para cada momento, eu acho muito importante o visual porque o que chega primeiro (no público) é a imagem, você vai chamar a atenção nas pessoas, primeiro pelo o que você mostra visualmente, na atitude etc. depois é que as pessoas vão

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procurar saber o conteúdo das letras, vão prestar atenção em um “riff” de guitarra e tal. Acho que a movimentação, a interpretação acaba sendo fundamental para a identificação do público, então quem hoje investe em imagem, sai na frente, porque a galera presta mais atenção num palco arrumado, uma iluminação interessante etc. Por isso acho muito importante qualquer recurso visual para divulgar seu som.

10- Acho que a escolha do idioma (português), foi na época o ponto chave para a

banda chegar onde está hoje, para conseguir expressar de forma séria as idéias. As letras sendo em português me davam a segurança para eu me expressar e ao mesmo tempo saber que eu estava realmente sendo ouvido. A maioria das letras são experiências nossas só que organizadas a partir de uma ótica que é a visão do Armando em relação a essas experiências. Então seria uma mistura de algumas vivências dele, com as coisas que acontecem a nossa volta, coisas comuns a todos da banda, o mundo como nós vemos, mas narrado por ele. Eu acho isso maneiro, porque consigo ver as coisas da forma como ele vê, eu não me considero muito bom para me expressar escrevendo, venho tentando melhorar isso hoje, mas confesso que não é o meu forte. Eu gosto de ler as coisas que ele escreve, sempre gostei, acho muito maneiro.

11- Eu acho que isso varia muito de pessoa para pessoa, cada um vai ter reações

diferentes em relação à banda. Para algumas pessoas a banda é uma coisa boa, porque reúne um grupo de amigos que estão relacionados a uma época, é como se a pessoa revivesse um determinado momento do passado hoje. Existe uma união nesses encontros e eu percebo que elas se identificam com a mensagem passada nas letras ou alguma atitude, do jeito que uma pessoa toca etc. Mas existem outras pessoas que ouvem e prestam atenção numa parte técnica que eu não vejo, por exemplo, o cara percebe alguma influência de uma banda famosa em um determinado efeito de uma música que eu toco, eu mesmo nem me dava conta disso, então acho essa opinião legal, é uma outra visão que pode me ajudar a melhorar ou manter algum aspecto desse tipo. Então o grande barato nessa troca entre a banda e publico, é que cada indivíduo representa um universo diferente, e a relação entre essa unidade e o todo gera possibilidades quase infinitas de interpretação, essa diversidade de sentimentos dialogando num todo, pra mim é o mais maneiro.

12- Eu aprendi muita coisa dentro da banda, mas acho que uma das coisas mais

importantes que aprendi foi aprender a ouvir o outro, estar preparado para ouvir o que o outro tem a dizer, o meu mundo funciona, ela só faz sentido para mim, aqui dentro de mim, mas ele está funcionando de alguma forma para os outros também, então é muito importante eu saber como as pessoas entendem esse meu mundo para eu de alguma forma poder melhorar alguma coisa. Tocar por tocar, muita gente toca, conheço muitas pessoas que são virtuosas no instrumento, mas não conseguem ouvir o que está fora, só ouvem o que está dentro, acaba sendo um tipo de egoísmo musical, o que faz a banda estar unida hoje é essa capacidade de cada um parar para ouvir o que outro tem a dizer. Música eu poderia aprender de várias maneiras, estudando, vendo alguém tocar etc. No momento que eu desenvolvo a percepção de tocar e ver o que faço sair de mim, bater no outro e voltar pra mim transformado, esse movimento, essa troca, não se fechar em um mundo de conhecimentos só seu, ( que não é compartilhado e transformado), dar valor a essa comunicação, isso é o mais importante para mim e aprendi vivendo essa experiência com a banda.

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Entrevista com Leandro “PXE” Muniz, baixista.

1- A primeira coisa que me vem à cabeça é a lembrança de ver meu avô e meu tio

tocando (violão). Eu era pequeno e aquilo me despertava curiosidade. Eu sempre mexia na afinação, explorava intuitivamente (por curiosidade), tinha interesse em tentar fazer algum barulho, tocar alguma coisa. De uma forma bem resumida, foi assim que me interessei por música, pela curiosidade e por ter a oportunidade de ver e ouvir familiares que tocavam algum instrumento no espaço da minha casa.

2- Eu comecei a tocar porque eu queria ter banda, achava muito maneiro, (isso na adolescência). Eu já tinha algum conhecimento pela influência de familiares e o meu interesse foi crescendo paralelamente a minha idade. Além disso, os meus primos Maick e Armando, que foram criados comigo na mesma casa, também estavam aprendendo e assim surgiu a vontade de montar uma banda. Eu achei muito bom, o fato de poder aprender em família, e todos nós começamos juntos ali, todos “do zero”. Bem, a importância que a música tem na minha vida é total, porque eu vivo música, eu não sei fazer outra coisa, eu não consigo nem explicar ou mensurar o quão importante é, porque eu simplesmente vivo isso.

3- Normalmente eu uso o recurso de ouvir músicas diferentes, mas com atenção redobrada no meu instrumento (no caso, ouvir as linhas de baixo dessas músicas com mais atenção). Outra coisa que faço atualmente é assistir vídeos e tentar visualizar técnicas que o instrumentista esteja utilizando. Eu ponho o vídeo, pego meu baixo, ouço e vejo o que o instrumentista está executando e tento ao máximo possível, me aproximar do som que ele está tocando. Então no início eu tirava tudo de ouvido, mas hoje em dia com a facilidade de acesso a vídeos, como por exemplo, o youtube, me aproveito desse artifício também. Eu posso ver, além de ouvir e isso ajuda bastante no tempo investido para alcançar determinado resultado. A sistematização de estudo para mim é meio livre, mas segue geralmente os seguintes passos: eu ouço, vejo e tento “tirar” a música o mais próximo possível do original. O advento da internet é algo fantástico, porque na nossa época era muito difícil ter acesso a uma vídeo aula, por exemplo. Hoje em dia você só precisa ter um computador conectado a rede e pronto.

4- No início o meu estudo estava muito ligado aos ensaios com a banda, eu via e ouvia o “esqueleto” da música e isso era meu ponto de partida para minha criação e ao mesmo tempo era meu estudo. Como disse na resposta anterior, hoje utilizo o recurso de vídeos e isso me levou a uma outra forma de estudo, mais individual, talvez mais próxima do modelo comum que pensamos sobre técnicas de estudo. Antes eu ouvia as músicas, com atenção nas linhas de baixo e praticava durante os ensaios (com intenção de “tirar covers” e de compor músicas próprias). Quanto ao tempo de estudo, é muito variável. Às vezes fico meses sem encostar no instrumento, acho isso uma grande falha minha, mas por outro lado, tem vezes que pego e toco durante horas seguidas, de forma totalmente alucinada. Por isso que digo que sou livre nesse lance de estudar, não tenho uma organização ou hábito, sempre certinhos, e mesmo estudando nesse esquema sozinho, ainda hoje dedico muito mais tempo estudando nos ensaios, isso não mudou.

5- Meu processo de composição geralmente está ligado ao “esqueleto” que a banda monta. Eu ouço, vejo eles tocando e depois começo a criar alguma coisa. Eu ouço as guitarras e a bateria, vejo o que está faltando ali de grave e faço o que a estrutura pede.

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Normalmente é assim, eu nunca compus uma linha de baixo primeiro para depois a banda construir em cima, acho que meu processo de compor está muito ligado a forma como a DEF3 compõe, a banda desde o início segue a mesma linha que é: Riff de guitarra, linha melódica da voz, bateria, baixo e por último a letra. Então eu pego o “esqueleto” pronto, entro numa “viagem” na minha cabeça, vejo possibilidades de frases que vão soar legais, experimento e assim vou lapidando. Conforme a banda vai ensaiando, eu vou melhorando o que criei no último ensaio, algumas coisas criadas ficam, outras saem, eu peço a opinião dos meus companheiros de banda para ver o que eles estão achando, por exemplo, se alguma nota que estou usando soa dissonante demais. A partir desses dados vou fazendo uma seleção com as partes que ficaram melhores até chegar a uma linha de baixo que me agrada, quando eu não gosto “limo” mesmo! (risos). Dessa maneira vou memorizando as partes boas e eliminando as ruins. Se eu for falar da minha carreira de músico, eu sou DEF3 né cara? Investi muito tempo nessa banda, então reforçando uma idéia do começo dessa resposta, meu processo de composição é o processo de composição da DEF3, nunca precisei compor para mais nada além da banda e eu fiquei um pouco limitado a isso, mas o resultado é sempre satisfatório, pelo menos é o que eu ouço das pessoas e eu curto bastante as coisas que crio, isso é importante.

6- Os recursos que mais uso são: o auditivo e o visual. Tenho muita facilidade em memorizar “desenhos” (ele se refere à movimentação das mãos em relação à região do instrumento). A minha memória visual é bem forte, um exemplo disso aconteceu a pouco tempo em um trabalho que desenvolvo na função de roadie com a banda “Scracho”. O baixista da banda, meu camarada Caio, sofreu um acidente que o impossibilitou de fazer alguns shows. Fui indicado pela banda para substituir ele até sua recuperação. Então eu estava com essa missão de “tirar” 15 músicas e a estratégia que usei foi ouvir muitas e muitas vezes essas músicas, mas sempre fazendo a associação entre o som e a seqüência de movimentos, aí entra aquele lance dos desenhos que falei, eram muitas músicas e pouco tempo para “tirar” e memorizar, o aspecto visual da execução das músicas, me ajudou muito nisso. Essa experiência me fez perceber que, como eu só tocava com a DEF3 eu não conseguia me comunicar de forma satisfatória com outros músicos. Nesses anos todos tocando com o Armando, Maick, Edgar, Léo e o Edu, criamos uma comunicação própria, eles me entendem só com um movimento de sobrancelhas que eu faça, o entrosamento entre nós é muito forte, mas acaba me limitando ao contexto dessas pessoas, isso me causou certo problema, eu me senti perdido porque sou “músico de ouvido”, minha musicalização foi assim e isso tem até uma certa importância no meio musical tipo: “o cara é bom,ele toca de ouvido”. Isso pode ser até uma qualidade, mas para você se comunicar com outros músicos fica ruim, você não tem vocabulário para entender essas pessoas, se alguém fala de cifra você entende um pouco, se falam de tablatura você entende menos, se falam de partitura você não entende nada. A minha sorte foi que o baixista (da banda “Scracho”), percebeu que eu usava melhor a memória visual, e ele me passou as dicas dos movimentos, das escalas e dos “desenhos” que ele fazia nas músicas. Ele me mostrava os desenhos, eu prestava atenção e em seguida eu executava. Então depois de ter os “desenhos” na cabeça, eu tocava e quando soava estranho, porque o ouvido acusa, eu consertava o que estava errado. Toco a tanto tempo e só agora fui perceber a importância de aprender essa comunicação mais geral da música, tanto que fui buscar esse conhecimento nas pessoas mais próximas, como por exemplo o Armando, eu fiz umas aulas de harmonia com ele, foi uma experiência e tanto, me ajudou bastante nesse meu trabalho e o reflexo desse esforço foi percebido

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na minha atuação nesse trabalho com o “Scracho”, pois a banda toda curtiu minha participação e eu só tenho a agradecer a todas essas pessoas, e a própria oportunidade, que acabou me fazendo um músico mais completo hoje. Pretendo me dedicar muito mais nessa área, porque me senti um analfabeto, mas poxa, eu sei tocar! Eu me comunico muito bem com a minha banda, mas agora preciso me comunicar também com outros músicos e é isso que venho fazendo para me tornar cada vez melhor no que faço.

7- É complicado falar de talento. Eu acho que existe o talento, mas sem a determinação você pode não utilizar esse talento. Então talento e determinação caminham juntos. O cara pode ter uma facilidade para alguma coisa e não utilizar aquilo (essa habilidade ou facilidade), eu acho que você fazendo qualquer coisa com determinação te levará a alcançar ótimos resultados. Eu acredito em talento, existem pessoas que têm (talento) para música, para fazer contas ou para decorar texto etc., mas se ele não tiver determinação, aquilo não irá significar nada. Na minha opinião, talento e determinação seriam quase a mesma coisa. Algumas pessoas dizem que eu tenho talento, eu me considero determinado, acho que para falar de mim mesmo eu usaria a palavra determinação ao invés de talento. Resumindo, eu acredito no talento como uma facilidade ou habilidade que temos para determinados assuntos, qualquer pessoa pode melhorar e se tornar talentosa de acordo com a determinação dela para essa habilidade, justificando isso (a ligação entre talento e determinação), vejo que uma habilidade não explorada não chegará ao status de talento. Pensando dessa maneira, seria só uma questão de escolher a palavra certa (talento/determinação) para cada ocasião.

8- Bem, eu sou baixista, gosto muito de grave, acho que o grave é uma freqüência que te abraça, é uma freqüência gostosa de se ouvir, eu curto muito esse tipo de sonoridade, por isso eu optei por tirar um som de baixo puro, sem muito efeito que me lembra gravações antigas. Não sei se a minha escolha foi por influência desse meu gosto por sons de baixos sem efeitos (das músicas antigas), ou pela minha condição financeira que me limitava a comprar apenas o básico. Meu equipamento é bem básico mesmo, é um baixo Samick de 5 cordas que tem a corda “si” que é bem grave e eu já disse anteriormente que curto um som grave, um cabo que tem um bom sinal e um amplificador que me oferece a possibilidade de uma boa equalização. Então deve ser por tudo isso, meu gosto por sons graves encorpados e limpos, além da minha condição financeira que acabou me levando à necessidade de tirar o máximo de qualidade sonora com o mínimo de equipamento. Acho muito legal quem sabe usar efeitos na medida certa, pretendo até um dia experimentar, quando eu puder comprar tais efeitos, mas por enquanto estou satisfeito com o som que venho fazendo.

9- Acho que a postura no palco, o visual (roupas), performance, posicionamento no palco etc. isso tudo reflete o entrosamento da banda, ou seja, a organização prévia desses itens mostra ou reforça visualmente as outras qualidades da banda, como por exemplo as composições que geralmente é o que chega primeiro. Mas falando de performance, acho essencial tomar muito cuidado, porque quando a gente entra na “vibe” do show isso pode acabar comprometendo o resultado sonoro, quando o músico se deixa levar por essa energia, isso pode ser tão forte que o cara pode deixar o som a desejar, então tem que ter um equilíbrio entre a performance corporal e o som que você faz. Entrar nesse transe é uma das melhores experiências que já provei na vida, desde o primeiro show até hoje passar por esse sentimento, essa troca de energia com o público e com meus companheiros de banda, sempre me anima a continuar fazendo o que faço. Então

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se você tem uma mensagem para passar, você tem que estar de acordo com ela, e todos esses recursos têm que estar a seu favor. Se puder rolar uma pré-produção na escolha dessa roupa, nas coisas que você irá falar com o público, como você vai se comportar etc. tudo isso será válido para chegar ao equilíbrio de curtir o show nas performances e ter certo grau de consciência para executar bem a música. São muitos detalhes, por exemplo, a iluminação, ela está fixa em um ponto então você tem que saber a marcação para o publico te ver, para você sair na fotografia, para o vídeo sair legal (se estiver gravando). Se você fala longe do microfone a galera não vai te ouvir, são detalhes que você pode ensaiar também para obter bons resultados. Isso tudo que eu disse, no fundo reflete algo que admiro quando vou assistir um show, porque conheço muito músico bom, mas gosto de ver como esse músico se relaciona com os outros músicos e o público, não adianta o cara ser virtuoso e tocar sozinho, na minha opinião ele estará deixando de aproveitar o mais legal de tocar que é essa oportunidade de poder trocar, é o dialogo, é o tocar em conjunto. Na minha opinião isso é o mais importante.

10- Eu me lembro quando o Armando me disse que dava para compor em português e eu achei a idéia muito maneira, porque isso valoriza nossa língua e a nossa cultura. Eu penso assim: “Nós fazemos rock que é uma coisa de fora, então se você escreve em inglês, que diferença vai ter do rock estrangeiro?” Eu não sou letrista, mas tive a oportunidade de escrever uma música com o Armando e vi o quão difícil é. Então hoje dou muito mais valor por compormos em português e fazendo dessa forma nós mostramos que gostamos de rock in roll, mas somos brasileiros e fazemos rock nacional. Isso reflete muito uma das idéias da banda que é misturar tudo, então absorvemos todo tipo de informação, de várias fontes e construímos nossa arte, que seria a nossa interpretação do mundo que vivemos. Sobre o conteúdo das letras acho interessante o tipo de abordagem que usamos, porque você pode falar de uma coisa ruim, mas sem focar no fato em si e sim mostrar para aquela pessoa o que pode ser feito para melhorar, sempre com um olhar positivo. A parte instrumental da música pode até te remeter a algo triste, mas se você prestar atenção na letra vai perceber que o discurso é para te levantar. Mas para você chegar a um cara que está triste, você precisa primeiro romper uma barreira e alcança-lo, compartilhar com ele o mesmo sentimento. Vou usar um exemplo para explicar isso, se você está falando com uma criança de pé, ela pode não prestar muita atenção, mas se você se abaixar e ficar no mesmo plano que ela, essa criança vai te olhar nos olhos e te escutar, então eu não posso fazer uma música muito feliz para passar positividade para um cara que está triste, que está lá em baixo, porque eu estaria falando de cima para baixo, então eu preciso me colocar no lugar que ele está e falar suavemente. Quando uma pessoa está nervosa e você responde algo de forma agressiva, gritando, aquilo vai crescendo e ela não irá te ouvir, mas se você chega devagar, com cuidado, tentando entender essa raiva, mostrando que você está ali do lado dela e disposto a ajudar, sem esquecer dessa abordagem suave, com certeza ela vai te ouvir e eu vejo muito disso nas nossas músicas.

11- Hoje a banda está próxima de completar 12 anos e como não alcançamos um nível de grande divulgação na mídia, nosso público é formado por pessoas muito próximas, então a relação que vejo é essa, uma reunião de amigos. Eu já ouvi de algumas pessoas o seguinte: “O show da DEF3 sempre reúne a galera, até gente que havia sumido acaba aparecendo”. Então o show é esse encontro do pessoal que cresceu junto e hoje

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segue uma carreira profissional diferente, que não mora mais no bairro, que casou e tal, mas que vê nos nossos shows a oportunidade de se reunir e a cada pessoa nova que aparece nesses encontros, na minha visão é como se fosse mais um amigo novo que acabo de conhecer. Eu adoro isso, e aproveito a oportunidade da entrevista para pedir para as pessoas não deixarem isso morrer, porque se para mim é bom, imagino que seja para eles também. Então galera, sempre que houver essa união, essa necessidade do ritual, nós estaremos juntos tocando e celebrando com vocês esses nossos valores comuns.

12- Se eu for listar tudo que aprendi só em música daria para escrever um livro, são vários aspectos, mas pensando em outros valores acho que a primeira coisa que vem a cabeça é a parte social, aprendi a ser uma pessoa mais pacifica, tranqüila, racional, sensível etc. acho muito difícil falar com precisão sobre esse assunto, porque eu vivo isso a muito tempo, então o que eu aprendi na banda é quase o que eu aprendi na vida. Minha vida como um todo e minha vida com música, tocando na DEF3 é quase a mesma coisa. A minha personalidade foi moldada na música, através da minha experiência como músico eu pude quebrar minha timidez, a partir da música fui conhecer outros tipos de arte e artistas que acabaram me influenciando com suas idéias e personalidades. Fazendo música fiquei mais curioso e essa curiosidade me levou a lugares que nunca pude imaginar, me ajudou a gostar de estudar, a ler e a escrever... Sei lá cara, como te disse, aprendi muita coisa, fica difícil descrever porque assim que falo uma, me lembro de outra e a gente poderia ficar aqui por horas só nessa pergunta. O próprio fato de eu estar sendo entrevistado sem estar nervoso tem ligação com minha experiência musical, você percebe? Cada detalhe que vou lembrando me leva a outro aspecto, sei que eu usando as palavras “tudo” ou “muita coisa” como resposta pode até soar como preguiça ou desleixo, mas como você pode ver é a mais pura verdade. Se eu fosse resumir mais ainda, diria que além da música o que aprendi foi que a gente sempre pode aprender mais, é preciso evoluir e acompanhar a tecnologia. A música te oferece infinitas possibilidades de combinações enquanto que a tecnologia se atualiza diariamente e cada vez mais, música e tecnologia caminham lado a lado, imagina só para acompanhar isso tudo! Você sempre terá o que aprender, enquanto você estiver com os pés no chão e não embaixo dele, vai ter o que aprender, acho que é isso.

Entrevista com Edgar Marinho, baterista.

1- O meu primeiro contato com esse universo foi pela TV. O que me fez tocar bateria foi assistir (vídeos) clipes. A vontade de fazer música surgiu através desse contato com o “rock n’ roll”, me lembro que existia um canal na TV aberta que exibia na sua programação clipes e foi a primeira vez que eu via uma bateria. Então eu comecei a batucar em casa usando latas como peças de bateria, me lembro que eu fazia as peles com saco de cimento e cola de arroz, minha mãe ficava maluca porque eu rasgava o sofá dela de tanto batucar, qualquer coisa que desse para tirar um som eu tava lá tocando. Foi assim, meu primeiro contato foi esse. 2- Eu comecei a tocar porque eu me identifiquei com o instrumento, principalmente depois que eu comecei a ver o que era, entender a bateria. Desde o começo eu senti muita facilidade em tocar, então no momento que você não sente dificuldade isso se torna normal. Na época eu tentei tocar violão, até “arranho”, mas me identifiquei realmente com a bateria, tocar bateria sempre me fez sentir bem. A importância de tocar, na época, foi de me soltar, conhecer

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pessoas, o fato de eu tocar abriu um leque de oportunidades para mim, eu era fechado, tímido pra caramba e o instrumento me fez ser alguém diferente, porque depois que comecei a tocar, as pessoas chegavam até mim. A importância para mim, além das amizades, das portas que se abriram, a oportunidade de ter a experiência de tocar (que só quem toca sabe o que proporciona), também é uma válvula de escape, é como se fosse realmente extravasar o estresse, se libertar do mundo, daquela rotina ridícula, essa é a importância para mim, até hoje. 3- Isso ai é complicado porque eu não sou um cara técnico, nunca fui, nunca tive aula. O que aprendi foi vendo amigos que sabiam alguma coisa, me ensinavam um pouquinho aqui, um pouquinho ali, a grande maioria foi realmente com a percepção. Então meu método foi ouvir, quando eu quero tirar uma música nova eu escuto bastante aquela música, às vezes, uma ou duas vezes é o suficiente para eu montar o “esqueleto”(a estrutura), o restante é ouvindo. Eu não me prendo muito a fazer igualzinho, eu vou colocando uma pitada do que eu acho que vai ficar legal. Como eu nunca tive aula, nunca fui um cara técnico, não sei ler partitura (de bateria), não tenho um método técnico que faço sempre do mesmo jeito, tipo “vou fazer esse exercício assim e tal”, no meu caso vou ouvindo mesmo, às vezes até inventando um pouco (formas livres de estudar), é basicamente assim, ouvindo mesmo. 4- No começo eu tinha mais tempo, praticamente o dia todo, era no horário que desse porque eu não tinha compromissos com a vida, era uma coisa natural, eu ficava tocando o dia inteiro, então sempre que dava, eu me sentava na bateria e aprendia uma coisa nova, era esse meu tempo de estudo. Hoje em dia, é praticamente, só nos horários de ensaio devido a correria do dia a dia, não tenho muito tempo para estudar, inclusive eu acho que nem sei estudar, a verdade é essa. Não tenho a técnica, não sei a parte teórica, então por esse ponto de vista, diria que não tenho um método de estudo, seria apenas a prática. Acredito naquela velha história da “prática leva a perfeição” (não atingi a perfeição ainda), antes eu praticava muito e hoje tenho pouco tempo para me dedicar a isso. 5- O processo de composição entra na parte do aprendizado. No começo da minha experiência musical, eu era um pouco alienado, só curtia “som pesado”, eu tinha uma influência muito forte de “metal” (heavy metal), então era mais difícil compor, porque eu só podia compor esse tipo de material (gênero musical). Depois com a idade, com a experiência, você começa a ouvir coisas diferentes, então o meu processo de composição hoje engloba as influências de todo tipo de música que eu escuto, que eu gosto, que tenha alguma importância para mim. Eu digo importância, porque eu posso não gostar de determinada música por inteiro, mas reconheço uma idéia boa dentro dela, então eu sei que algum dia eu possa usar aquela idéia em algo novo que eu vá criar. Acontece uma coisa comigo, (às vezes acho até que é maluquice minha), mas, por exemplo, eu presto atenção numa máquina de lavar trabalhando e eu percebo que ali existe um compasso. Eu trabalho com impressão (numa gráfica), e vendo a máquina imprimindo, uma vez eu criei um “riff” de guitarra, a máquina fazia um som que eu ouvindo aquilo ali, escutei perfeitamente uma guitarra e uma bateria, pensei “caramba!”, isso não sai da minha cabeça até hoje. Então o processo de composição para mim é isso, ouvir qualquer coisa, eu não ouço muito samba, mas consigo absorver uma idéia legal nesse tipo de música, baterista tem muito disso, presta atenção em “compassos”, “levadas” e “viradas”, vejo que até essas músicas que não ouço em casa, mas ouço da casa do vizinho, acabam me influenciando, porque fico atento a esses detalhes. Consigo perceber também quando uma música é feita com verdade, com o coração e eu respeito muito isso, mesmo não me identificando com o gênero. E esse lance de “fazer a coisa de coração” está muito presente no meu jeito de compor, porque eu não tenho teoria, conhecimento, estudo, então compor, tocar,

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é tudo muito orgânico para mim. Se eu estiver feliz, de repente, pode sair até um lance ruim, porque pode sair um negócio “muito feliz” (sendo sarcástico), se é que vocês me entendem (risos). Por outro lado, se eu estiver “pilhado”, querendo extravasar, pode sair uma parada legal. Isso tudo é bem complexo porque depende também do público, se estiver todo mundo na mesma “vibe”, vai sair legal. Resumindo, é estar atento a todo tipo de som e tocar sempre de coração, esse é meu método de composição. 6- Eu não tenho muito essa coisa de tentar ficar lembrando uma idéia, eu tento marcar na minha cabeça o que realmente importa. Eu sou casado (com uma pessoa maravilhosa), ela é professora, (ela estuda bastante, diferente de mim), e ela me ensinou que “Você só guarda o que é importante para você”, eu acredito muito nisso. Por exemplo, eu lembro de coisas da infância que, para os outros pode não ter importância, mas que têm para mim e guardo até hoje, e posso não lembrar de um assunto que conversei na semana passada, provavelmente porque não era importante. Então na música funciona da mesma forma, quando eu consigo criar alguma coisa, ou assimilar algo novo que alguém me passou e que considerei importante, por algum milagre divino aquilo fica guardado, mesmo que não seja na hora, mas em algum momento vai surgir. Então, se eu não lembrei, é porque não foi marcante nem importante e eu não me prendo a isso (tentar lembrar), não tento anotar nem penso em gravar. Eu tenho um problema também que é: Muitas vezes eu só consigo resolver um problema depois que já passou, eu tenho esse defeito, eu quebro a cabeça na hora e só no dia seguinte que vem a solução, isso acontece às vezes quando estou compondo. Então se tiver um gravador na hora, beleza, mas se não tiver, fico nessa da lembrança e se eu não lembrar fico na esperança de que posso fazer algo melhor (do que essa idéia não lembrada). 7- Eu acredito plenamente na importância do trabalho, eu não teria como não acreditar, porque, por experiência própria, eu não tive influência da família, só um tio que tocava viola caipira, música sertaneja, não toca mais hoje e é a única pessoa da família que tinha envolvimento com música. Eu já ouvi dizer que quando existe músicos na família a probabilidade das futuras gerações herdarem isso aumenta, não sei se é verdade, mas se for, agradeço a esse tio. Continuando, talento é muito importante porque quando começamos na música não existia essa tecnologia de hoje, era difícil conseguir coisas novas para ouvir, os equipamentos eram caros, então pela falta de recursos materiais o talento era a maior ferramenta. Hoje em dia o cara não precisa pagar uma fortuna para gravar, ele tem um computador bom em casa, um “software” pirata para gravação, ele vai fazer uma gravação legal. Para mim não adianta só o cara ter grana para comprar um instrumento bom e não ter o dom para tirar o melhor dele, eu prefiro o cara que está ali tocando um instrumento vagabundo e tirando o som das entranhas, esse tem talento! É claro que ter um bom instrumento ajuda, mas não é o suficiente, ele (músico talentoso) pode tocar com um instrumento bom ou um ruim que vai sair uma coisa boa, pode ter diferença de volume de timbre, mas ele vai fazer o melhor, porque a essência do que ele está tocando vem de dentro e isso é o talento. Eu vejo muitas bandas por aí que não têm talento, que são fabricadas pela indústria fonográfica, são moldadas para determinado gênero considerado vendável. Até esses caras podem desenvolver um talento, acredito que de tanto fazer aquilo ali (rotina de ensaios, shows, gravações etc.), eles possam criar coisas boas mais tarde e provavelmente serem esquecidos (risos), porque parece que quando o artista faz coisas boas a maioria do povo ignora e esquece, são poucos os que conseguem manter um trabalho de qualidade e atingir um público considerável. Acredito que o talento é fundamental em qualquer profissão, um ator bom provavelmente terá um contrato vitalício, um músico bom, por exemplo, João Barone está aí até hoje, por quê? Na minha opinião é pelo talento. Então se o artista tem talento e oportunidade ele vai durar e mesmo nos casos onde o artista não alcance o sucesso, ele vai

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precisar de talento para manter seus ideais, até para não desistir de um sonho é preciso ter talento. 8- Meu equipamento é tosco, não tenho nada importado, mas foi montado de forma que se adequasse a minha maneira de tocar, me sinto muito seguro usando meu equipamento, pois sei o que posso fazer com ele, mas existe um problema para os bateristas que é, não poder tocar sempre com seu equipamento completo, só quando você alcança um determinado status que você consegue levar sua bateria inteira para uma apresentação. Por exemplo, eu toco com dois tons e em vários lugares onde tocamos a bateria do evento só tem um tom, então durante uma música eu tenho questões de segundos para redesenhar aquilo ali (improvisar uma execução pela falta do recurso original), e isso desgasta muito a parte intelectual e acaba comprometendo a performance., mas dou um jeito e aí entra aquilo que eu disse na resposta anterior, tenho que usar o talento, não posso simplesmente falar “sem os dois tons não toco”, já toquei até em bateria sem tom (risos). Seria ótimo poder levar minha bateria em todos os shows, mas essa não é nossa realidade hoje. A minha bateria é de fabricação nacional um modelo antigo até, ela é composta por: 2 tons 13 e 14, 1 bumbo de 22, um surdo de 16, 2 pratos de ataque de 16 e 17, um prato de condução de 20, um contratempo de 14, uma caixa de 14. (todas as medidas em polegadas). 9- Acho importante você ter uma presença de palco, você mostra para quem está te assistindo o que você sente realmente naquele momento. Acho importante você se movimentar, pular, “bater cabeça”, tudo que você achar necessário para passar o que você está sentindo ali. Para o baterista é meio difícil se expressar dessa forma pela limitação de movimento característica do instrumento, então me expresso com uma “pegada” mais forte, ou tocando de leve, porque nem tenho cabelo grande para “bater cabeça” (risos). Acho que o artista tem que ser livre para fazer o que ele sentir vontade, já vi casos de produtores falarem para o artista, “olha, você não pode sair desse quadrado”. Sobre o visual acho muito bom, por exemplo, o “Iron Maiden”, os caras usam uma parafernália no palco e é muito legal, seria “um visual do som”, a música é o som e a letra, mas você ver uma representação visual desse som é muito “irado”. Acho tudo válido, a roupa para tocar tem que ser especial, você não vai tocar com a roupa que acorda, tem que se vestir de roqueiro (risos), iluminação também, você acaba de tocar, apaga tudo, o cara vai falar com o público aí fica uma luz só nele, isso tudo para quem está assistindo se torna um diferencial. Apesar de eu achar isso tudo importante, não considero essencial, porque já assisti shows simples que foram muito bons. Os recursos visuais, na minha opinião, seriam só complementos para o show, fazendo uma analogia com um filme, a música seria o protagonista e os recursos visuais os coadjuvantes. 10- A escolha do idioma é pelo simples fato de sermos brasileiros e falarmos português. Nunca pensei em tocar numa banda brasileira que cantasse músicas em inglês, não acho errado, existe um mercado que trabalha assim, mas no nosso caso a coisa fluiu naturalmente. Tocar no DEF3 foi um divisor de águas na minha vida, porque até aquele momento sempre toquei coisas “retas” (simples), mas tocar com o DEF3 foi muito difícil no início, sempre achei o processo de composição da banda muito complexo, faço uma associação com um processo orquestral, as partes são sempre bem definidas e muito detalhadas, até hoje não entendo direito o que acontece na cabeça desses sujeitos, nem quero entender por completo, só respeito muito (risos). Então quando eu participo do processo de composição, tento entender o que eles pensam e aí faço a minha interpretação, isso é legal porque sempre vou fazer coisas diferentes, não é uma formula pronta, tipo uma levada “hardcore” do início ao fim, as partes diferentes me dão abertura para criar batidas novas numa mesma música. E essa variedade toda das composições do DEF3 me ajudaram também a aumentar minhas

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referências, passei a ouvir coisas diferentes, hoje consigo parar e ouvir uma música clássica, coisa que eu não fazia. Isso me ajudou a ser mais dinâmico, antes eu era muito “reto”, e para acompanhar esse caras tem que ser assim, eles parecem que não sabem matemática, contam 1,2,3,5 ou pulam do 4 para o 7 (risos). Fico um pouco atrapalhado no início com essa complexidade, mas sinto o maior prazer quando entendo e supero essa dificuldade. Então no DEF3 funciona assim: primeiro é ouvir, depois tentar entender e só então começar a criar, porque depois que eu entendo essas doideiras, me sinto a vontade para colocar as minhas. 11- A galera que acompanha a gente hoje são na maioria amigos. Acho que existe uma relação entre a banda e a vida dessas pessoas em um determinado momento, sempre tem aquele cara que pede uma música, que muitas vezes nem está no repertório, mas a gente sabe que essa música tem uma importância na vida dele (relembrar uma época ou sentimento), essas coisas são impagáveis, ver esse carinho, esse respeito, essas pessoas se tornando suas amigas. Até em situações onde tocamos para públicos diferentes do nosso, sempre há um respeito, isso eu admiro muito, nunca tive problemas em ser recebido de forma hostil, a relação sempre é medida (como uma escala) de respeito até admiração. 12- Aprendi a conviver com pessoas diferentes, aprendi a ser tolerante, aprendi a ter paciência porque sempre fui impaciente, eu nasci de 7 meses cara! Aprendi o que é ter uma segunda família, porque eu considero mesmo essa família como minha, e essa atitude minha até gerou certo problema, porque eu algumas vezes tentava levar um problema pessoal para a galera, queria me abrir e nem sempre a pessoa está disposta a isso, ela quer tocar, mas eu sou assim, por exemplo, eu não considero Armando o vocalista do DEF3, o Armando é meu amigo, quase um irmão ,ele é um cara que posso contar para trocar uma idéia, me abrir e tal. E dentro da banda eu aprendi a respeitar essas diferenças, eu sei que um aceita esse meu jeito o outro não e nem por isso eu vou achar que o cara não é meu amigo, ele só tem um jeito de pensar diferente do meu, esse aprendizado eu levo para minha vida toda (no trabalho, em casa etc.). No final das contas o mais importante de tudo, é isso que acontece aqui agora, por exemplo, (se referindo à entrevista), e isso sempre rolou dentro do DEF3, ajudar o outro, respeitar o tempo de cada um, esse sentimento de família, sabe? Eu já sai da banda uma vez, estou voltando agora, mas o laço de amizade me dá força para superar as dificuldades, se fosse só “o tocar” não teria vivido nem um terço do que vivi na banda. Não consigo me imaginar gastando (ou investindo) meu tempo com um grupo que eu não tenho afinidade nenhuma, só por tocar sabe? Dentro do DEF3 sempre tive esse lance de família, a mãe dos caras é como uma mãe para mim, me trata como filho, isso é um valor antigo e acho importante preservar e passar para gerações futuras. Assim que me sinto, em um ambiente familiar, essa é a família DEF3, e essa família é grande hein!

Entrevista com Edu Muniz, baterista. 1- Primeiro foi ouvindo meu tio afinando e tocando violão, logo depois foi vendo meus irmãos mais velhos. Assim começou como uma escadinha, anos depois descobri que a música era uma coisa comum na nossa família. Meu avô e meus tios tocavam, a minha mãe sempre cantou hinos da igreja, bem afinada por sinal, e meu pai também tirava lá seu som no violão. 2- O fato de eu começar, até isso tem influência da família, hehe. Como sou o mais novo dessa geração, peguei muita coisa que eu via e ouvia. Nós vivíamos essa onda do vídeo-game, pegamos quase todas as gerações: Nes (nintendinho 8bits), Sega Gênesis (Mega drive ), Super Nes, Playstation, e atualmente os programas de computador que emulam os consoles como

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por exemplo, Mame. A minha relação com os jogos de vídeo-game ia além do jogar por horas até chegar ao final do jogo, por algum motivo eu ficava solfejando os temas desses jogos, durante e depois de jogar. Isso antes de tocar e saber que a música seria fundamental na minha educação. Essas músicas iam me prendendo positivamente, em vários momentos e de formas diferentes, por exemplo, num momento ruim me acalmando ou me fazendo refletir sobre a vida. A música hoje, de forma geral, está em tudo que faço, nos momentos de alegria, momentos de reflexão e algumas vezes me ajudando a liberar adrenalina pra me dar forças para fazer algo complicado. 3- Primeiro eu preciso querer muito fazer determinada coisa (aprender algo novo). Depois que o interesse por aprender se torna maior que a dificuldade de fazer, aí vem a batalha pra ganhar “level up”, vou explicar: eu fico fazendo aquilo (estudando,observando etc.) sempre que posso e vou buscando informações sobre os melhores (instrumentistas e/ou artistas) ou os que eu goste ( que podem não ser considerados os melhores pela maioria, mas que me chamaram a atenção por algum motivo). Obs.: Batalha pra ganhar “level” (Gíria de vídeo-game especificamente de jogos de RPG, seria quando você precisasse fortalecer o seu personagem em várias batalhas pequenas para depois ganhar experiência e enfrentar um nível mais difícil ou um “chefe de fase”). 4- Do tempo que tenho para os instrumentos, dedico em media por dia, de 45 minutos há 01h30min. É claro que têm dias que estudo menos e em outros mais, e há alguns que nem sobra tempo pra tocar, mas tento manter esse ritmo de aproximadamente 1h por dia. 5- Procuro compor já pensando em começo meio e fim. Faço a base rítmica, vou pensando nos temas, separando e organizando mentalmente cada uma dessas partes (melodia, base rítmica, bateria, guitarra solo e baixo), depois eu passo o arranjo pronto para alguém fazer a parte escrita (o texto), pois tenho dificuldade em compor letras de música, até já tentei, mas deixo isso com quem tem mais facilidade e intimidade com o assunto. 6- Fácil, eu fico fazendo com a boca as batidas (beat box) e canto o tema, seguidas vezes. Fico parecendo um maluco na rua, no ônibus etc. (pelo menos assim sou visto e comentado pelas pessoas que presenciaram esse momento, hehe), repito esse processo quantas vezes forem necessárias até que eu consiga registrar a idéia na minha cabeça, e depois que memorizo, dificilmente esqueço. 7- Talento, na minha visão, é uma palavra que representa aquela pessoa que faz muito bem uma determinada atividade, por méritos próprios se dedicando há aquilo que faz. É quando a pessoa faz algo tão bem, com tanta naturalidade que parece ser fácil, como se não exigisse tanto dela. Essas pessoas são vista como pessoas talentosas. 8- Todos têm suas historias e importâncias, pois antes de serem os meus instrumentos foram dos outros. É que muitas vezes eu toquei na condição de “instrumentos emprestados” antes de tocar com equipamentos meus mesmos. Foi assim com violão, guitarra, baixo e bateria. Então tive que me acostumar a tocar com atenção e responsabilidade, sempre respeitando os costumes e cuidados dos donos. Assim acabei pegando esse hábito e hoje cuido muito bem do meu equipamento (bateria, guitarra, violão, baixo elétrico etc.). 9- Sim, acho tudo isso importante (movimentação, posicionamento, interpretação e também recursos visuais), Quando você reúne todos esses elementos de forma equilibrada, sincronizada, dentro do contexto, tendo o mesmo cuidado que você tem com as composições

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você ganha uma ferramenta muito útil para melhorar a divulgação da sua música. Acaba sendo mais uma forma de envolver a quem ouve sua música através de uma apresentação bem produzida. São várias áreas que você pode investir para divulgar seu trabalho, como por exemplo, um bom site, uma produção de vídeo bacana, fotos da banda selecionadas e bem feitas etc. 10- A escolha do português foi pela facilidade que o idioma tem para atingir o público, pois é essa nossa língua. No que diz respeito ao conteúdo, acredito que o público se identifica com as letras que falam de coisas comuns a todos nós como, por exemplo, o estilo de vida que levamos, a forma clara como falamos de sentimentos complexos e a visão poética do cotidiano. Já tivemos algumas experiências compondo músicas em outros idiomas, no começo da banda tivemos duas em inglês na ocasião eu não era componente, mas era presente como “fã irmão mais novo”, e uma versão de uma canção da banda chamada “Nova”, que está no nosso CD “prematura”, essa versão levou o nome de “El cigano”, na verdade foi uma adaptação da letra original declamada em espanhol, fizemos um arranjo novo e nessa ocasião estou tocando baixolão com o Maick, meu irmão do meio, no violão e o Armando, meu irmão mais velho catando, nesse caso declamando a letra, ele (o Armando), sempre foi o responsável por compor as letras da banda 11- Na minha visão, a relação entre o público e banda vai além da música e da letra, acredito que muitos se identificam também com a “cara” ou “identidade” que a banda construiu durante esses anos todos. Aí vem a performance no palco, a atitude, os símbolos que usamos, as gírias até a roupa que a banda usa. E esse momento de exposição no palco, é a hora que cada um irá se expressar de acordo com o que sente, e isso é algo muito particular e verdadeiro, é quando o artista se envolve no som, nas pessoas que estão próximas ou não, ele extravasa algo, bota pra fora os problemas daquele dia que não foi tão bom ou compartilha lembranças de um dia bom e isso tudo acaba fazendo com que aquela pessoa (que assiste ao show) se envolva nesse universo, e ela gostando ou entendendo essa “vibe” irá assistir seu show outras vezes. Esse é só um exemplo, generalizando bem para exemplificar, mas a coisa é bem mais complicada, porque cada um (cada pessoa que forma o público) tem uma “vibe” diferente com a banda. 13- Aprendi que tocar em uma banda é como entrar em um relacionamento, como se fosse um casamento, que possui seus altos e baixos, divergências de idéias, planejamento, foco em metas, união e um sentimento mútuo entre os integrantes da banda por um mesmo objetivo. No meu caso, a partir dessa experiência como músico de uma banda, ainda pude aprender uma nova profissão que é o “roadie”, pude conhecer e trabalhar com bandas de médio e grande porte, equipes de som, iluminação etc. É uma profissão da madrugada (no meu caso pelo menos foi) podendo ter uma boa remuneração pelo serviço prestado e ainda te dar a chance de conhecer pessoas novas para ampliar seus contatos e aumentar seu leque de possibilidades em funções novas, que você estando interessando, poderá aproveitar para crescer profissionalmente. Não é um trabalho fácil, mas se você tiver disposição e gostar do ritmo dessa profissão irá se dar bem.

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Entrevista com Leonardo Medeiros, baterista.

1- Aos 15 anos de idade comecei a me interessar pela musica, deixando de ser apenas ouvinte e tentando fazer parte da confecção musical, totalmente por uma questão de identidade e pura diversão despretensiosa. Me interessei de cara pela bateria um instrumento que toco até hoje. Aos 15 anos também foi quando comecei a trabalhar, já com o meu primeiro salário comprei minha primeira bateria. Em pouco tempo já tive uma boa adaptação ao instrumento e tudo aquilo que era apenas imaginação foi concretizado. Já estava tocando com amigos e vizinhos e percebi a necessidade de não só ter um instrumento, mas também de que outras coisas eram necessárias, como caixas, cabos, microfones etc., ou seja, o mínimo necessário. 2- Na minha família nunca houve essa parte musical (músicos na família), mas desde novo sempre tive interesse em shows, apresentações etc. e isso de alguma forma foi crescendo e fui me influenciando mais e mais. Como bem no inicio eu só tocava com os vizinhos era um processo super despretensioso, mas com menos de um ano de bateria conheci outros amigos que de certa forma, estavam nessa mesma sintonia, referências musicas, idade, experiências etc. em pouquíssimo tempo sem que eu percebesse, esse trabalho que inicialmente era simples, nesse caso a banda DEF3, já começava a tomar forma, os ensaios estavam rendendo e em poucos meses surgiu a oportunidade de fazermos um show junto com outras bandas que estavam nesse mesmo barco musical, isso em 1999. Desde o inicio percebi a necessidade de se evolver no evento pra conseguir viabilizar os shows, era aquele verdadeiro ‘cata-cata’ de equipamentos (colaboração das bandas que tocavam nessa época), que na hora pega qualquer um de surpresa. Nessa época já estava sendo plantada uma semente nesse interesse do show por trás das cortinas. Hoje em dia ainda toco o instrumento, mas o meu trabalho é na área técnica de sonorização e percebo que os problemas continuam os mesmos, só o que mudou foi a proporção, por isso a importância de se passar por essa fase underground, seria uma escola para se preparar para o nível seguinte. 3- No quesito bateria, meu método foi de autodidata e isso foi a base de tudo, eu escutava um CD, assistia um show, pegava referências de vários pontos da área técnica. A área técnica é onde mais gasto tempo de estudos, por ser uma área que vem se atualizando e mudando muito a cada ano. Fiz uma faculdade de produção relacionada a essa área técnica (produção fonográfica), sempre que tenho a oportunidade de usar um novo equipamento, tento tirar o maior proveito do material, tanto de mesas quanto periféricos e instrumentos. Quando tenho algum tipo de dúvida, procuro informações com outros profissionais ou como tenho feito ultimamente, em sites relacionados. 4- No início nem pensava em quanto tempo tirava para estudar, na verdade todo o tempo livre era pra isso, eu apenas estudava, então tinha bastante tempo para ensaios, etc.hoje em dia uso o tempo que precisar pra aprender sobre alguma coisa nova, porque as coisas que estou fazendo no momento, (escolhi como profissão), são por escolha minha, são coisas que escolhi para a minha vida, então é mais do que interesse, seria uma mistura de necessidade, desafio, diversão e um aumento do conhecimento que sempre é muito bem vindo. 5- Meu processo de composição nunca foi muito para o lado de arranjos e melodias. Mesmo sem perceber eu já me preocupava com a parte da produção, em uma música sempre tento olhar por um ângulo diferente, seja um solo ou arranjo etc. não é questão de querer revolucionar alguma coisa ou criar nada novo, mas sim de usar anos e anos de referências e criar um “mix” de tudo que tenho na cabeça, como se estivesse montando um “playlist” dentro da música.

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6- Na ausência de algum recurso ‘tradicional’ de registro (para posteriormente lembrar de uma idéia), que estratégia você utiliza? Sempre tento confiar na memória mesmo, então quando faço alguma coisa nova ou um arranjo complicado, tento martelar nele ate ficar 100% gravado na cabeça. E se não houver como registrar isso, cara... Poxa, mas hoje em dia registrar já se torna uma coisa quase que ridícula, pois temos os notebooks, celulares, etc. 7- Quando se tem talento e uma boa percepção, você acaba saindo com uma certa vantagem, mas acredito que o estudo sempre compensa essa falta de talento. 8- Acho que todo músico quando começa a tocar sonha com os melhores e mais modernos equipamentos, no caso dos bateristas, o top (o que há de melhor), são as baterias com várias peças: 2 bumbos, vários pratos etc. a gente vai tentando chegar nesse porte de material, mas no meio do caminho a gente percebe que tudo isso tem um custo muito caro e mesmo conseguindo juntar a grana pra comprar, acaba precisando de um transporte pra levar, o que nos leva a mais um gasto extra, e quando você se dá conta, já gastou um tempo longo pra montar essa estrutura. Coisa que na prática fica quase impossível de conseguir (os requisitos mínimos). Falando de eventos, existem situações onde você acaba tendo que ligar mais de um instrumento no mesmo amplificador pra acontecer o show (no caso de queimar algum e não ter um sobressalente). Depois de tanto me frustrar, fui me adaptando e montando um set de bateria cada vez mais prático e cada vez menor, pra diminuir qualquer surpresa indesejável na hora do show. Pena que demorei a me adaptar a essa situação, hoje em dia uso três peças na bateria, é o básico do básico: bumbo, caixa e um contratempo. 9- Profissionalmente falando a gente percebe que essa preocupação é tão importante quanto qualquer outra, por exemplo, a luz e o telão já saem mais caros do que o som inteiro de um show e essa preocupação não é nova, a diferença é que hoje em dia a tecnologia anda lado a lado com eventos, então já fica mais notório o uso dessas ferramentas pra engrandecer qualquer espetáculo. 10- O mais interessante das letras da banda sempre foi a ligação com a realidade que a banda vivia, uma dinâmica realista, jovem e atemporal. 11- O público de qualquer banda, no início, são os amigos mais próximos e com esses amigos a gente consegue ter um feedback maior. O bom de sempre ouvir o público é perceber um ângulo diferente, às vezes a gente fica preocupado com o som e outros detalhes e geralmente quem está de fora percebe isso bem melhor. 12- Acredito que a amizade é um dos pontos mais importantes nessa fase da vida. Uma banda se junta pra tocar por causas de vários pontos em comum além da música. Passa-se muito tempo junto também e se acaba trocando muito conhecimento e formando o caráter como pessoa. Um dos pontos interessantes também é que mesmo quando pessoas diferentes fazem parte de um mesmo projeto, cada um terá uma visão desse trabalho que pode destoar da visão do outro e todos acabam aprendendo a respeitar o seu espaço e o do outro dentro desse mesmo projeto e isso é uma das coisas que a gente aprende e leva pra vida toda.

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ANEXO III: ENTREVISTA COM A BANDA DEF3 PARA O SITE ROCK ZONE

Entrevista com a banda DEF3. Por *Milena Calado no site: Rock Zone, disponível em: <http://riorockzone.blogspot.com/2011/03/entrevista-com-o-deftres.html>, acessado em 05 de agosto de 2011. 1. Para iniciar a nossa entrevista, como vocês se conheceram e formaram a banda? Nos conhecemos desde crianças, somos literalmente uma família, nossos amigos brincam dizendo que fazemos parte de um clã, máfia ou ordem, “A Família Muniz”. Somos dois irmãos (Armando Muniz: voz e guitarra, Maick Muniz: guitarra e voz), e um primo que foi criado conosco como irmão ( Leandro “PXE” Muniz: baixo e voz). Nós dividimos a banda em três fases, correspondentes a cada baterista que já atuou na banda. Inicialmente o cargo de “batera” era de um amigo nosso (Leonardo Medeiros), que hoje trabalha como produtor musical e de alguns eventos como por ex. o “TNQ Rock” em Jacarepaguá, e ainda é baterista da banda Vulgare. Depois veio a “fase Edgar Marinho”, outro amigão nosso, com ele gravamos nosso CD demo “PREMATURA” em 2004. A terceira fase foi com nosso irmão Edu Muniz, que esteve no posto de baterista até o início de 2011, mas precisou deixar o Estado do Rio de Janeiro para se especializar num curso que duraria um ano. Ficaríamos parados por um ano, mas felizmente convidamos o Edgar para tocar na festa de despedida do Edu, e esse encontro resultou na sua volta ao grupo. 2. Inspirado em que vocês colocaram o nome da banda de Deftrês? Bem no início da banda, um pouco antes do PXE comprar seu baixo, representávamos três sons básicos (voz, guitarra e bateria), ensaiávamos no quarto do baterista (na época o Léo), sem proteção acústica e sem noção de decibéis, protetor auricular etc. Acabávamos os ensaios com os ouvidos zunindo, completamente surdos. Um dia o Armando chegou com essa idéia da sonoridade da palavra “deaf” que significa surdo em inglês, fazendo um trocadilho com a tecla 3 do telefone, DEF3 (três surdos), mesmo com a inclusão do quarto som resolvemos ficar com o nome (pois gostávamos da sonoridade DEF3 e também ficava bonita a grafia nas filipetas rs), mais tarde adotamos um novo significado, onde cada caractere representa um membro (3 letras e 1 número). 3. O mercado atual da música está cada vez mais competitivo com tantas bandas se lançando através de blogs, Youtube e afins. O que vocês acham disso e como foi para vocês quando começaram em 1999? A internet é uma ótima ferramenta usada por muitas bandas independentes ou não independentes, o mercado realmente fica mais competitivo, porém tem espaço para tudo e para todos. Em 1999 era na raça, amigos se organizavam e dividiam as tarefas para a cena acontecer. Pedíamos amplificadores emprestados, juntávamos tudo e arrumávamos algum espaço para “rolar o barulho”, esse espírito “faça você mesmo” era para tudo (gravação, ensaio, show, divulgação), a diferença estava nos recursos muito limitados na época. Hoje todos têm a oportunidade de pelo menos mostrar a idéia, mesmo sendo crua, acredito que uma idéia se venda melhor já estando desenvolvida, montada e direcionada pra determinada situação, ainda assim vemos a funcionalidade (quase mágica) da Rede para divulgar tais

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idéias. O que era fanzine fotocopiado virou blog e fotolog, a Demo (fita k7) virou CD e depois mp3... É uma evolução de acordo com a nossa realidade cada vez mais veloz e sem fronteiras. 4. Na comunidade que foi criada para a banda no Orkut, está escrito que vocês seguem “uma estética de rock independente antropofágica”. Expliquem isso melhor para os leitores. Todos nós sabemos a dificuldade que existe em tentar definir seu trabalho, esse termo foi baseado na idéia que começou na semana de Arte moderna de 1922, tendo Oswald de Andrade como principal idealizador e Heitor Villa Lobos representando a Música. ‘O movimento antropofágico brasileiro tinha por objetivo a deglutição (daí o caráter metafórico da palavra "antropofágico") da cultura do outro externo, como a norte americana, européia e do outro interno, a cultura dos ameríndios, dos afrodescendentes, dos eurodescendentes, dos descendentes de orientais, ou seja, não se deve negar a cultura estrangeira, mas ela não deve ser imitada.’ (retirado da wikipedia em 25/03/11). Essa idéia teve reflexos mais tarde no Tropicalismo e recentemente no movimento Mangue beat. Consideramos a própria identidade nacional como resultado dessa metáfora, sendo assim, somos em essência uma banda de rock (estilo estrangeiro), pois usamos todos os quesitos que caracterizam tal estilo (na formação instrumental,na atitude, na forma das composições etc.), mas aproveitamos aspectos da cultura nacional como a própria música (células rítmicas de samba, harmonias comuns em bossa nova etc.), além de priorizarmos a língua portuguesa. Fora isso tudo ainda poderíamos colocar como elementos importantes no resultado final do trabalho, a influência de músicas de videogame (especificamente da segunda e terceira gerações), HQ (histórias em quadrinhos), animes, filmes alternativos, cultura pop etc. 5. Em algum momento vocês pensaram em desistir de tocar por alguma dificuldade? Nunca foi fácil, mas não tínhamos noção disso no começo (era muita vontade e pouca noção).a primeira vez que tivemos uma dificuldade foi com a saída do Léo (acho que ele tinha planos maiores, que não cabiam pra nossa realidade na época), nessa época já tocávamos bastante, então não levou muito tempo para que a vaga fosse preenchida.lembro que o Edgar (ex-Zomba e Zero-side), já tinha “tirado” algumas músicas, ele curtiu muito a letra de uma música nossa chamada Na Real, e havia se identificado tanto que muitas vezes tocava ela conosco nos shows. Inclusive essa música, pode ser considerada um divisor de águas na história da banda, foi a partir dela que começamos a compor em português, que descobrimos nossa identidade musical e devemos muito ao Anderson “Kbeça”, que foi o produtor e grande mentor da banda. Uma grande dificuldade hoje é que não somos mais adolescentes e temos nossas responsabilidades da vida adulta, é difícil conciliar o trabalho da banda com nosso cotidiano e compromissos profissionais e familiares, isso certamente é um exercício e exige muito planejamento, negociação e determinação. Apesar das dificuldades, sempre tivemos essa relação familiar com as pessoas que passaram pela banda e amigos que acompanham nosso trabalho. Em 2009 fizemos um show na Lona Cultural de Jacarepagua em comemoração aos 10 anos da banda. Dividimos o show em 3 atos, e convidamos os 2 bateristas antigos para tocarem as músicas correspondentes às suas épocas, ainda tivemos a participação de uma amiga (Vanessa Guida) formada pela Escola de Belas Artes que pintou painéis baseados nas nossas músicas e ainda o nosso primo, Cris Muniz que é tatuador e

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grafiteiro, produzindo umas alegorias com arte urbana para decorar o palco. Não podemos esquecer do Vitor e do Guto que elaboraram a arte do nosso CD e Fabio Fausto que também fez um trabalho muito interessante com a banda. A idéia do evento era juntar todos esses amigos colaboradores, que hoje seguem carreiras distintas e apresentar algum trabalho que tivesse ligação com a cena que vivemos a 10 anos. Foi um show histórico! 6. Pelo o que pude assistir em alguns vídeos da banda, consegui ouvir nitidamente o público cantando junto com vocês todas as músicas. Qual é a sensação de saber que mesmo sendo uma banda independente já existe um grande número de fãs? Como falamos na resposta anterior, temos essa relação com o público que acaba sendo uma grande rede de amigos, acreditamos que a banda seja um elo que une a todos, pois os nossos shows acabam se transformando num encontro, uma celebração entre amigos onde o objetivo é relaxar, trocar idéias e ouvir música. Consideramos a visão de "Christopher Small",onde ele sugere que o termo música seja encarado como um verbo (valorizando a ação), criando assim a expressão “Musicar”. Segundo essa visão, todos os agentes de áreas diferentes, seriam responsáveis pela realização de um show, isso incluiria desde os músicos até roadie, produtores, público, técnicos de som, veículos de divulgação, pessoal da limpeza, seguranças etc. É uma visão bem ampla e interessante que vale a pena ser pesquisada. Quanto a ouvir o público cantando as músicas, na nossa opinião,é a melhor sensação para um músico, uma sensação inexplicável e muitas vezes acaba sendo nosso cachê, os fãs são a prova viva de que existe algo de válido no que fazemos, e é muito bom saber que tem uma galera que curte nosso trabalho, isso realmente não tem preço! 7. Vocês têm planos para 2011? Na primeira pergunta falamos um pouco sobre a saída do nosso irmão baterista, então diante desse fato, podemos dizer que o ano de 2011 começou meio conturbado, o Edgar é um excelente músico e apesar de estar parado a muito tempo, tem se mostrado pronto para “a correria” desse mundo louco que é a cena alternativa, mesmo assim a readaptação leva tempo e estamos ensaiando bastante para o show ficar “bem amarrado”.Nesse momento estamos com a meta de não parar por conta desse imprevisto (a troca de baterista), marcando shows de acordo com a disponibilidade do Edgar e de certa forma com a agenda dos outros integrantes que seguem carreiras profissionais paralelas à função de músico. Não descartamos a possibilidade de produzirmos um CD demo com músicas novas que já estamos tocando em shows mais recentes e ainda estamos estudando formatos de repertórios diferentes do que vínhamos fazendo, estamos dividindo nossos shows em 3 blocos de 10 minutos, onde tocamos músicas próprias mescladas a trechos de algumas músicas de outras bandas, isso requer certo tempo e estudo, pois ficamos limitados a parâmetros como andamento e tonalidade dos trechos incidentais com as nossas músicas.. 8. Qual é o conselho que vocês dão para quem está começando a montar uma banda agora e tem um sonho de conquistar um lugar ao sol? Primeiro é estar consciente de que não é fácil e que existem muitas bandas boas em todos os segmentos. Achamos que uma qualidade, muito importante para uma banda hoje, é ser o mais

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profissional possível. Para isso é necessário vivenciar esse universo, freqüentando os shows, conversando com bandas mais experientes, estudar o seu equipamento para evitar problemas com a galera que está trabalhando no evento, ser pontual, respeitar as regras de cada casa de show, respeitar outras bandas mesmo quando essas fazem trabalhos diferentes do seu, identificar e se relacionar com pessoas que tenham potencial para acompanhar seu trabalho, se atualizar quanto às formas de divulgação existentes na internet, tentar ser justo e ético mesmo numa conversa informal, pois cada membro acaba representando a banda e uma atitude ou comentário mal pensado pode comprometer todo o trabalho da banda. Poderíamos listar muitos outros aspectos, mas achamos que com esses já da para começar, rs. 9. Muito obrigada pela entrevista e boa sorte para vocês. E qual é a mensagem que vocês gostariam de mandar para o público do Rock Zone? Nós que agradecemos a oportunidade de te conhecer e ainda ficarmos por dentro desse trabalho que ajuda a compor o site, que por sinal é excelente também. A mensagem que gostaríamos de deixar, na verdade seria uma proposta de reflexão a todos. Que todos nós somos participantes ativos na construção da cena independente, temos tanta responsabilidade quanto qualquer outro agente e apesar de desempenharmos papéis diferentes, representamos engrenagens que fazem essa grande máquina funcionar, citando “Tio Bem” das “HQs” do Homem aranha: “Grandes poderes exigem grandes responsabilidades”. *Milena Calado é colunista e repórter do site “Rock Zone”, Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Augusto Motta, Unisuam. Trabalha também no Estúdio “Violanti Fusion Dance”, da professora Renata Violanti, como assessora de imprensa, além de trabalhar como dançarina de dança Tribal Fusion (no mesmo Estúdio) com ênfase no Rock and Roll, no Blues, no Progressivo e no Cabaret Rock.

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ANEXO IV: RELATOS SOBRE A BANDA

Relatos sobre a banda. Aline Dias.

O que falar da Banda DEF3? Bem, durante quatro anos, vivi essa banda musicalmente, filosoficamente e extra musicalmente. Uma banda que tem uma certa dificuldade de se encaixar em um perfil único musical. No cenário underground ou cena independente de bandas, como eles chamam, é comum assistirmos as bandas se reunirem em uma noite e se dividirem com um tempo determinado para cada apresentação. Assisti esse tipo de evento muitas vezes acompanhando a banda DEF3 e sempre percebi que a sua música era a mais diferente nesses lugares, uma música que não é um simples rock and roll ou hardcore. Percebo uma composição carregada de referências musicais e conceituais que mistura compassos, que tem uma preocupação poética, com um apelo pop sem ser óbvia, com características sonoras próprias, diria que uma banda com personalidade musical. Basta escutar uma seqüência de acordes e perceber que a música é da banda. O Armando, por exemplo, adora uma sétima maior.

Extra musicalmente existe uma coisa muito forte. A banda é, antes de tudo, uma família. Possuem um estúdio improvisado para ensaiar na casa da mãe deles e tentam se encontrar toda semana para fazê-lo. Claro que nem sempre é possível, e ás vezes, quando entram no estúdio para ensaiar, não escutamos som nenhum. Essa é a parte filosófica da banda. São capazes de ficar horas naquele estúdio discutindo questões familiares, pessoais e da própria banda, que no fundo refletem no som. Considero o processo de composição muito interessante também. O DEF3 é democrático, cada um cria a sua parte, geralmente partindo de uma idéia ou tema inicial. No entanto, os conhecimentos musicais ali são muito variados. Alguns membros não dominam algumas coisas básicas de teoria musical, o que não interfere no resultado sonoro, pelo contrário, dali saem coisas muito ricas. Finalizando, a banda tem 11 anos de existência e muita força de vontade, acreditam no trabalho, na originalidade que possui e faz o seu próprio investimento, por exemplo, a elaboração e gravação do CD de forma totalmente independente, além de divulgação dos shows e músicas na Internet e até vídeo-clipes feitos pelo Armando, lançados no youtube. .

Eu diria que não só a banda é uma família, mas também o seu público, que acaba se contagiando com essa característica da banda, fazendo-os se sentir parte da família.

.......................................................................................................................................................

Arnaldo de Pádua. Falar sobre uma banda em constante evolução... Na minha opinião é uma banda bem técnica, porem conheço um pouco meus caros amigos e sei das "dificuldades sonoras" (equipamentos). Existe um nível de harmonia entre os integrantes (mesmo com brigas, e

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outras coisas). Não pelo fato de ser de "sangue" existe sim um cuidado, um amor pelo o projeto. DEF3 esse filho, acredito que não deixa essa harmonia sair da linha. Músicas com som de vídeo game, com a emoção de cada fase, assim como nos jogos... Do mantra ao caos e suas letras que são uma "autobiografia" (sonhos ou realidade). Sim do sonho para a realidade, da realidade para o sonho letras como “Agacê” que chega em “Choro” que continua em uma filha (Alice) realmente uma das poucas bandas com um significado tão grandioso. Efeitos, distorções, som limpo, batidas, efeitos (defeitos) mais efeitos... Uma incrível percepção para tirar outros timbres, fazer do defeito o efeito e por ai vai... Admiro esses músicos, poetas, artistas dentro de tanta complicação existe muita simplicidade e honestidade assim vejo esses grandes maestros. Meus amigos e irmãos. Bom, como eu já falei, é bem difícil uma banda como o DEF3 chegar no ouvido da garotada que quer ódio, bater cabeça e franjas e tal... No passado isso era diferente, tinha pra todos publico e banda, era tudo numa coisa só... Respeito, fidelidade. A galera brigava pela banda... Hoje as coisas são bem estranhas, não sei dizer bem ao certo, já que também estou voltando a tocar com “aCarta”, então pra mim é um pouco difícil entender esse povo de agora. Mas o que vejo nos show é a galera da antiga cantando (louvando) e os novatos não muito por dentro do som do que acontece... Talvez uma diferença de território ou a faixa para ouvir o som da banda seja maior de 18 anos (zoa.. rsrs...) Mas eu acho que é isso, é uma banda rica (muitos elementos, histórias, emoções) merece seu espaço e reconhecimento, tanto de "novatos" quanto dos "velhatos". ........................................................................................................................................... Herbert Rodrigues. Quando você monta uma banda, é na maioria das vezes despretensiosa. Não se tem muita idéia do que vai acontecer. Tanto pode ser de grande sucesso, como nunca sair da "garagem". No entanto o mais importante nem sempre é chegar ao mainstream. Ao montar uma banda você corre serio risco de influenciar pessoas do seu convívio, como foi o meu caso com a Def 3 . Desde quando comecei a tocar guitarra, fui influenciado pelas guitarras do Maick, sempre muito criativas e harmoniosas. A forma como ele usa os efeitos que vão desde modulações de microfonia com o delay até solos com reverb me dão a sensação de estar voando. Mas o aprendizado não para por aí, enquanto freqüentava os ensaios fui entendendo o processo de composição de uma banda. E como banda é um coletivo de músicos, e não UM musico só, vi que a composição de uma musica esta mais pra uma concepção (no sentido de conceber). É todo um processo, que pode começar tanto com uma idéia esboçada na cabeça e passada para os demais no dia do ensaio, quanto uma letra e melodia já pré-composta e apresentada para os integrantes para cada um dar sua contribuição em seus respectivos instrumentos .E entre estrofes adicionadas, refrãos modificados, inserção de quiálteras no pré-refrão e até mesmo umas "roubadinhas" de uma parte de uma musica da banda que já não tocam a tempos. E conforme o tempo foi passando veio o conceito de dinâmica (cujo qual foi trazido a banda pelo Armando), dando as músicas uma nova cara, e trazendo aos integrantes um novo leque de possibilidades . A dinâmica somada as melodias, as letras sempre passando mensagens positivas e os efeitos dos pedais produziam mais sentimentos nas músicas. Um dos itens mais importantes na construção de uma musica (no formato canção) é a letra, se

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o compositor não for esperto acaba passando sem querer uma mensagem errada. Que não é o caso da Def 3 . Apesar de ser uma banda de rock , consegue cativar não só os roqueiros, mas também os que torcem o nariz para o estilo musical. Talvez por serem oriundos da periferia do Rio, conseguem passar mensagens de superação e amor numa linguagem que todos entendam. Outro fator importante também, são as influencias de cada integrante da banda. Onde cada um pode tirar inspirações vindas de outros estilos musicais como a MPB, o METAL , o TRASH , o RAGGAE , a MUSICA ERUDITA o ROCK ALTRENATIVO , dentre outros para serem agregados a proposta da banda. Mesmo com a banda cravada e ensaiada , ainda tem a escolha do repertorio , levando em conta as músicas que vão entrar no set list e o tempo de palco que a banda vai ter no show, que no caso do underground quase nunca é mais do que 40 min. O melhor "termômetro" para o musico é a resposta do publico, que no caso da Def 3 , sempre tem uma resposta positiva , agradando tanto a geração "old school" quanto os mais novos , tornando-se influencia para novas ( e antigas ) bandas. Alem de fazerem novas amizades e trocas de shows. Porque na verdade ter banda é basicamente isso, tocar, se divertir, fazer novas amizades e novos contatos, para tocar cada vez mais! ......................................................................................................................................... Victor “Batata” Ebrenz. Ao falar sobre DEF3 e sua musicalidade é falar sobre algo ao mesmo tempo complexo e fácil. Complexo porque em termos técnicos suas composições sempre foram à frente do que se fazia na época em que cada música foi feita. “Choro”, por exemplo, do meu ponto de vista é bem harmoniosa, com tempos alternados e com uma pegada muito diferente do que as bandas faziam na época. Suas letras sempre falando sobre seu cotidiano, cotidiano esse vivido por muitos brasileiros que com muito esforço conseguiram o que o DEF3 conseguiu. As viagens dos pedais do Mike (Guitarra solo) sempre foram muito bem vistas, dado que a maior influencia do Mike foi o outro Mike, Mike Einziger guitar do Incubus, grupo que influenciou não só a DEF3 como todos que acompanhavam a banda. Aprendi muitas notas e melodias com eles e também a ter uma visão musical ampliada e não ser radical no que se entende como musicalidade. Falar sobre DEF3 como banda é difícil porque uma amizade muito grande se fincou ao longo desses anos. O publico que acompanha os caras cresceu junto e sempre estiveram apoiando a banda de qualquer forma. Antes de conhecer o DEF3 conheci os integrantes e, aliás, formando uma grande amizade que dificilmente se vê. A cada composição, a cada show, desperta algo diferente e moldando nosso caráter como artista sem desmerecer ninguém. Ter uma banda como eles têm, é algo inspirador, pois cada perrengue vivido pode desanimar, mas o amor a musica, o amor ao rock nunca deixou a banda parar, como muitas outras que vieram da mesma época. Como disse, falar sobre o DEF3 é falar muito sobre minha vida, vivi muitos bons momentos com eles e não só eu como muitas outras pessoas que hoje são amigos, fãs e admiradores do que eles fizeram, fazem e ainda vão fazer. Vejo o DEF3 não só como uma banda mais sim como uma família onde existe amor e ódio, risos e lágrimas e falo não só em meu nome, mas em nome de uma geração que aprendeu o significado das palavras amizade, companheirismo, lealdade e solidariedade. “Live long to the DEF3”. .....................................................................................................................................

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Edu Muniz. Sobre valores econômicos. Sempre toquei com o coração, por que gosto e nunca tive pensamento de ganhar dinheiro com banda. Pelo menos com a minha banda DEF3, pois vejo que temos um potencial musical enorme, mas não enxergo a banda como comercial, tenho vontade de experimentar coisas diferentes, estilos variados, mas sem fugir da proposta da banda que é ser independente em todos os sentidos entende? Conhecendo bem cada integrante, vejo que seria muito difícil imaginar a banda fazendo, tocando ou até mesmo vestindo coisas que não condizem com nosso estilo. Sobre gastos: Gastar, nunca é bom, principalmente quando não se tem muito. Acho que esse é o caso da banda DEF3. Nunca fui muito fã desse lance de pagar pra tocar, sempre fui contra. Quando uma banda se apresenta supomos que o público ali foi ver o show dessa banda, sendo assim penso que seria justo que a banda recebesse um mínimo, seja um cachê simbólico, uma porcentagem na bilheteira ou qualquer ajuda de custo, pois gastamos com ensaios, com cordas, baquetas etc.no meu caso ainda tenho que levar pratos, banco, ferragem etc. fica muito difícil de transportar essa quantidade de peças sozinho e a pé, então o simples fato de eu sair pra tocar já tem um valor financeiro agregado, pois eu terei que pagar um táxi ou pagar à alguém que tenha carro para me levar no evento. Poxa, levar tudo na mão ainda pagar pra tocar na minha visão isso é um abuso! Desvaloriza a classe dos músicos. Todas as pessoas envolvidas (organizadores de eventos, o público e os próprios músicos), deveriam pensar sobre essas questões. Peso na administração entre banda e família: O peso é muito forte, pois por conta da falta de remuneração, nesse caso tocando na banda DEF3, acabamos tendo que buscar outras formas para suprir essa necessidade financeira. Basta faltar algo ou alguma coisa não dar certo, para ouvirmos a cobrança. Primeiro da nossa própria consciência, pois temos responsabilidades como chefes de família e depois da própria família, que conta com a nossa ajuda e colaboração. É fundamental estar em dia com suas responsabilidades, para fazer o que gosta sem faltar com a atenção necessária, o carinho que sua família merece. Manter o equilíbrio entre tocar e cuidar da sua família, você precisa estar sempre com a cabeça tranqüila, pois basta um elemento desses não estar funcionando da maneira correta para a administração toda ir por água abaixo, por exemplo, nesse momento estou tendo que me ausentar por um ano da banda, para conseguir me estabilizar numa profissão que tenha uma boa remuneração para eu poder me dedicar tranquilamente à banda. ....................................................................................................................................................... Edgar Marinho. O fato de a banda ser comercial ou não: Eu acho que não é e nunca pensei a respeito, pois nunca tive esse interesse em manipular essa química natural da banda, não tenho nada contra se for preciso dentro da concepção do todo, tornar um pouco mais “comercial”, não vejo problemas desde que não seja extraída a essência

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da banda. É claro que ser “não comercial” e não ganhar dinheiro tem seus problemas, mas por enquanto vou levando numa boa. Os gastos são inevitáveis, desde baquetas, peles e transporte (tudo sem retorno), é praticamente um investimento no meu lazer. Do ponto de vista dos negócios é altamente inviável você investir e não ter retorno, mas nesse caso sou louco pelo que faço e não busco respostas tipo, se vale a pena ou não, apenas invisto da forma que posso enquanto puder. Realmente é coisa de paixão sem explicação, afinal de contas a vida é assim, alguns que gostam de futebol não alugam toda semana um campinho para rolar aquela “pelada” com os amigos, e nem por isso se tornam profissionais ou ganham dinheiro com isso, pelo contrario gastam. Mas se faz o cara feliz, ter aquele momento, já está valendo. Por esse ponto de vista, a DEF3 seria o nosso futebol. Em relação à administração Banda/ Família é uma loucura saudável. Pelo fato dessa atividade não ser remunerada perco a desculpa de ser um trabalho paralelo, então vai depender da pessoa que está ao seu lado entender e te dar apoio, nem que seja não tentando impedir que você faça o que gosta. No meu caso sou casado, muito bem casado há oito anos, e nunca tive um problema sério em relação a isso, tento administrar da melhor forma possível dividindo meu pouco tempo entre trabalho (sou Designer gráfico, quem conhece sabe a loucura que é), minha família (minha esposa Brisa e minha cachorra Lady) e a banda. Confesso que não é fácil, porém quem disse que tem que ser fácil? Sobre a questão econômica, acho complicado pelo fato de não ter retorno financeiro, fica difícil alguns investimentos mais caros como, por exemplo: gravações equipamentos etc. Mas damos um jeito sempre, isso sempre foi assim. ....................................................................................................................................................... Fernando Carvalho de Queiroz (F Lee). Análise das minhas Músicas preferidas da Banda Def3: *Nimbus* Idéia da Letra: Pessoas partem dessa vida (Morte). Visão e sentimento de quem fica: Cicatriz vazia (Choque). O desconhecido... Busca de soluções temporariamente neutralizantes. "Não! Não!" Mudança dentro de si. -Atitude correta Amadurecimento. "Do lutO a LutA" Compreensão de que, mesmo em "mundos diferentes", estão interligados. Esperança do futuro re-encontro. -Cicatriz cheia Nuvem... (Nimbus) - Encantadora e "anfitriã do além" --Triste/Alegre-Mente Transcendental! (Neutralizante/Estimulante Benéfico!) *Nim*¹bus (*¹= Nuvem passando) Sobre a sonoridade: Inicia-se a saga (e segue), com uma sonoridade que soa (e ressoa) um tanto quanto no gênero: "Aventura". -E a história segue bem aventurada- Batidas e viradas fortes na melodia suave [Bateria(guitarra na mesma vibração)], dando peso para a atmosfera.

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Arrepiante som do caminho trilhado por cima das cordas. *Arrepia* --Uma viagem²! *************************************************************************** *Nova* Idéia da Letra: Uma Nova Mente! "7 Fusão de realidade e sonho -Buscas certas?(!) "Independa" do depender - Faça! "Realidade sonhante" - Sonho real ''Desfé'' nas mazelas - Fé nas ''benzelas'' -AmadurEssência- Um GRANDE "UP" nas idéias! Sobre a sonoridade: Baixo "transcendente"...,que faz viajar durante todo o som. Faz a cabeça dançar! A voz brinca nos altos e baixos/graves e agudos. Brisante! --Balada de idéias sonoras. *************************************************************************** *Choro* Idéia da Letra: Alegoria do nascer. Formação do corpo e consciência. O medo da vida e da morte. (Lindo!) Incrível analogia que nas entrelinhas pode ser/é feita, com nós mesmos, aqui de fora (da barriga da mãe), e o receio do mundo "lá fora". (À parte, da própria vida aqui fora, mencionada na letra). --Estamos sempre nascendo para novas coisas... Sobre a sonoridade: Choro. Canto. Gritos. Entonações, Suavidade e Dureza! Ênfases marcantes. (Fora a própria marca que a repetição em si traz consigo) --Frágil e Pesado! *************************************************************************** *Agacê* Idéia da Letra: Comunicação entre pai e filha (que está para nascer). Genial! Porém, se eu não tivesse recebido esta informação "secreta"(risos) do criador da letra, não entenderia a essência dela.

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Fica bem escondida a idéia principal, mas também fica difícil até pensar outras situações. (Ter uma certeza do que está acontecendo exatamente). -Parece uma estranha comunicação por carta, entre duas pessoas que nunca se viram, mas sabem uma da existência da outra de alguma forma-. --Quebra-Cabeça bem criado! Sobre a sonoridade: Melodia e letra viciantes. Leve! Mesmo com o refrão mais pesado, ainda transmite leveza. --Hino da comunicação umbilical! *gargalha* *************************************************************************** Sobre Def3, O Teatro Mágico e ser independente (basicamente). Gostaria de fazer uma ponte com a banda Def3 e a "trupe" de "O Teatro Mágico": (Nimbus - Def3) "Descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais" - O Teatro Mágico ("TM") - Sonho de uma Flauta - (Nova - Def3) “Aborto certas convicções”. Abordo demônios e manias. Flagelo-me. Exponho cicatrizes. E acordo os meus, com muito mais cuidado. (...) Nunca deixar de ouvir...com outros olhos!”“ - Amadurecência - "TM" (Agacê - Def3) "Já avisei todo ser da noite, que eu vou cuidar de você. Vou contar histórias dos dias depois de amanhã. Vou guardar tuas cores. Tua primeira blusa de lã. Menina vou te guardar comigo." - "Menina" ou "Dos dias depois de amanhã" - "TM". * Fiz esta ponte por que sou fã das duas bandas, e acho que elas têm muita ligação: Ambas são independentes (de gravadoras e de "jabá" pago para estar nas mídias "manipuladoras"), têm idéias similares e fazem parte do nosso presente (Um presente!..Um não, dois!), mesmo sendo diferentes em alguns aspectos. As duas também brincam bastante com as palavras na formação das letras (metáforas, palavras similares e/ou dita/escrita de forma diferente dando assim outro "efeito"). As duas bandas inclusive, me parecem ter bastante comunicação com seu público, mesmo que (e também exclusivamente) pela internet. É o que a nova era oferece mesmo, mas muitos (artistas) preferem "entrar na sua nave espacial, e ir para o mundo dos artistas” (não se misturam), após shows e etc. como disse Fernando Anitelli, idealizador do Teatro mágico, que na verdade, é dependente total e exclusivamente (diretamente) dos seus fans, o que acho bem legal e justo, pois a relação de todo (verdadeiro) artista deveria ser direta com o público (acho), por que é feita para eles (e pra si próprio), então "nada mais justo" do que: Assim como o artista fala com seu público através de suas mensagens artísticas, ele receber retorno dos seus "consumidores" de uma forma mais direta -bate a volta-, algo que antes da internet pouco havia (imagina a batalha de bandas independentes nessa época também). A Def3 poderia ser uma banda conhecida pelo Brasil todo também (por causa de seu potencial) como o "TM", só precisaria de mais divulgação (algo essencial e de difícil

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conquista pra quem é independente). Creio que pelo motivo de o "TM" ser um ritmo mais "Pop" e ter muitos integrantes, foi menos difícil este trilho independente. Pois a divulgação era maior. "Fazer Arte nesse país é uma guerra" Anitelli diz. A Def3 não é "cheia de cores" igual ao Teatro Mágico, mas tem as cores principais pra se fazer (e faz) Rock! , estimulando seus ouvintes, trazendo idéias "Up" nas letras, sem clichê, sem apelação -faz as letras com o coração- e com ótima sonoridade dentro do gênero ("rock"). No meio de dezenas de bandas/artistas musicais da atualidade, creio que se destacariam fácil! E acho que o Sr. Muniz (Armando), se desse um grande "Pause", para escrever letras de música, tendo assuntos na "mão" e as palavras à disposição, sairiam infinitas letras "geniais", ou no mínimo interessantes e diferentes das que costumamos ver/ouvir. "Duende das palavras" (risos). Precisamos de bandas boas, diferentes, e que estimulem beneficamente todo ser que está em construção (Todos?). "Mais do mesmo" não, né não? Def3 já! Algo a se pensar. Quem sabe uma "Twittada" do "Rafinha Bastos" para ajudar? 2,291,120 "Followers" não é brincadeira não! ;) *brinca* Afinal, em 140 caracteres cabem 12 penteadeiras e ainda sobram 8 centímetros. *brinca de novo² rs* *Opinião Mágica DE F³³¹* (risos) *************************************************************************** Conhecendo Armando Def 3 -Mr Muniz- Nova era! Estamos sempre na nova era!? Bem, neste "present day - present time” (09/06/2011) escrevo: Internet! Como sabemos..., estamos dentro dessa maquina "Monstro" e descobrindo a cada dia, novos botões, funções e combinações, para facilitar as nossas atividades, e por mais que seja Virtual, há muita Realidade nela. E por mais que possa parecer que causará a solidão, desunião e o vício, é o maior veículo para se fazer amizade, se unir e.... quanto ao vício, tudo pode viciar não é? (risos). Então isso depende totalmente de cada ser. Mas ela é sim, uma ferramenta altamente destrutiva e construtiva. Mas esta é outra pauta. Bem! Cá estamos "2005", compro um computador. Entro no bate papo! Uhul! Conheço uma garota legal, mantenho contato A partir dela, após 3 anos, em média, conheço mais algumas amigas da mesma, uma em especial, que me apresenta a Banda Def3. -Aleluia- "rs". Fico conhecendo uma única música, que é enviada (copiada) por um programa (MSN), da casa dela, no Rio de Janeiro, para a minha, em São Paulo! Maravilha! Era da informação e compartilhamento. Tempo depois, uma segunda música. Demais também! Mas por eu gostar de Muuuuitos sons, não dei tanto valor de início. (com O Teatro Mágico aconteceu o mesmo! Oh céus, chega de "TM" né? *risos*). Tempoooos depois... Converso com o Sr. Muniz. Como? Quando? Onde? Putz! Foi tudo tão rápido, que nem lembro direito também.

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Creio que foi na rede Social Orkut. Acho que entrei na comunidade da banda. Nos adicionamos. E começou, papo pra lá e pra cá e a noção das afinidades e gostos entre nós. Banda re-presentada, mais ouvida e mais reconhecida por mim. Mais um fã! Uns 7 meses se passaram (? *risos*) e cá estou, escrevendo sobre nossa união, sobre a Banda Def3, e posso dizer que estou escrevendo para o futuro, não é?! #NovaMente. #NovaMente, por Armando Muniz: ‘Nova Mente, que não mente em relação ao que sente, mistura passado, futuro e o presente, somos como elos de uma corrente, que flui nesse rio furioso e inocente que pode ser mesmo o Rio, Sampa ou Floripa, flores que refletem a luz do dia, em perfeita Harmonia, a luz do olhar que atravessa os monitores de cada lar, ressoando em 440 vibrações por segundo de um Lá, descarregando 220 decibéis de emoção e retornando “Nova Mente” para aqueles que entendem e que sentem... NovaMente.’ #NovaMente -surgimento-: No vai e vem das nossas idéias unidas e trocadas, eu lanço a palavra "NovaMente" (com o M maiúsculo no meio, dando outro entendimento para a palavra - isso que dá trocar idéias com o Armando-). Depois comento "NovaMente" novamente, ao postar a música "Nova" da Banda Def3 no Facebook. E o senhor dos "Links" (Armando Muniz), "Linka" um pouco dessa nossa história e da idéia de uma "Nova Mente", trazendo um ótimo significado para a palavra. "7 * Trago isso a tona, pra lembrar que se não fosse a internet e tal, provavelmente não nos conheceríamos, não teria acontecido estas trocas de idéias e este relato. E mais, além disso... a compatibilidade nossa de "Linkar" as coisas, fazendo Fusões legais. E ah! (Exclusivamente pro Armando agora:) Sua "Alegoria"..., que você disse que achava legal a idéia, e pretendia ter uma também, poderia ser uma música, com o título, tipo: "Alegoria da Mente" ou "...da NovaMente" ou melhor (talvez): "Alegoria da Nova-NovaMente" (Tipo "Nova parte 2 - O Retorno {de Jedi]*sorriso*) E ah! Claro..., a sua ideia do #NovaMente, poderia/deveria ser parte da letra dela. =) *E só para dar "mais ênfase" na coisa: Mais ou menos desse jeito, que rolam as nossas trocas de idéias: Brincando com as palavras, trazendo boas idéias a tona, misturando e tendo como inspiração, filmes, desenhos, livros, e tudo mais que tiver ligação na idéia em questão. Também, creio que esta forma de "produzir diálogos" e se inspirar nas obras de outros artistas tem tudo a ver com o conteúdo da banda Def3 num geral. Como sei de algumas. Certo?! “Ser é ousar ser "-Herman Hesse - E o Sr. Armando é um grande "Mixador" das palavras/idéias. União Irmão! Abração Virtual por extenso!!!!!!! Ps: Ass. Fernando Carvalho de Queiroz (F Lee).

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ANEXO V: LETRAS DA BANDA.

AAA (vidas curtas)

Alguém falou que nossas vidas eram curtas alguém lembrou de esquecer que existíamos ninguém nunca ligou então pra que saber quem foi? (Quem liga pra alguém? quem? liga pra alguém?) Você pensou que seus "18" fossem tudo viveu intensamente cada vão segundo mesmo assim ninguém ligou então pra que saber quem foi? (Quem liga pra alguém? quem? liga pra alguém?) A vida é dura e às vezes nos faz desistir e ter um sonho é mais cômodo que acordar pra lutar, por quem... liga pra alguém... (quem liga pra alguém?)

Agacê

Sei que nunca te escrevi, mas hoje resolvi falar com você um pouco sobre mim. E te sentir bem perto assim, pois gosto quando você está por aqui. Esqueça então se já te fiz chorar nada irá nos separar agora eu sei que um dia vou poder dizer... Dizer que amo você. E um dia te ouvi tocando pra mim pensei, que linda canção com esse cara aprendi... Show, banda e cara, palavras que aprendi amar antes de te ver... (de ver). Esqueça então se já te fiz chorar nada irá nos separar agora eu sei que um dia vou poder dizer... Dizer que amo você. (Só quero te dizer...) não gosto quando você fica triste e tenta sumir, você não pensa em mim? Sei que me ama até um nome escolheu, porque você não me chama agora? Esqueça então se já te fiz chorar nada irá nos separar agora sei que um dia vou poder dizer... Dizer que amo você.

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Choro

Um embrião entre milhões, procura um abrigo pra ficar. Eu encontrei meu premio e já vejo meu corpo se formar e agora sinto algo bater (dentro de mim), vejo meus ossos se formarem. Os olhos vão surgindo e vão testemunhando mais um milagre acontecer! Agora posso me mexer e ouço o que você falou já sinto frio e calor (e agora), posso estar pronto pra chegar. mas aqui dentro é tão bom, acho que ainda não estou bem preparado pra chorar! Que mundo estranho é esse lá fora que me aguarda onde as pessoas amam, odeiam, riem e você... e você... e você... você... (chora!) você... (chora!) e você... (chora!), (chora!), (chora!). Eles me chamam, mas eu não sei se quero ir porque (ir por que?) eu tenho medo de nascer porque um dia todos vão morrer! (vão morrer) e aqui dentro é tão bom, não quero ser de novo mais um entre milhões, eu não queria mais...

Coanima

Na imensidão do azul; a incerteza do amanhã e quando te procuro, te encontro tão distante e se é verdade, o que é verdade? Às vezes tento entender e a direção a que escolhemos, nem sempre irá corresponder. Só por lembrar, só por falar, só por tentar compreender só por mentir, só por fingir, só por fugir não entendo... Só por lembrar, só por falar, só por tentar compreender só por mentir... ohh! Em direção ao sul, sempre foi fácil caminhar por nada, pra nada e nada irá mudar e se é verdade ou por maldade se todos tentam te esquecer fica comigo estou com medo não tenho mais pra onde correr. Só por lembrar, só por falar, só por tentar compreender só por mentir, só por fingir, só por fugir não entendo... Só por lembrar, só por falar, só por tentar compreender só por mentir... ohh!

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Na real

Na real, na real, na real... Se todo o mundo quer te por pra baixo e você pensa que não vale nada esqueça tudo e mande todos pro espaço o papo é sério então se ligue na parada. Se todo o mundo pra você não tem mais graça e você pensa: "e agora o que eu faço?" erga a cabeça não seja um derrotado não pense.Faça! Não volte. Reaja! Na real, na real, na real... Se todo o mundo quer te por pra baixo e você pensa que não vale nada esqueça tudo e mande todos pro espaço o papo é sério então se ligue na parada Se todo mundo pra você não tem mais graça e você pensa: "e agora o que eu faço?" erga a cabeça não seja um derrotado não pense.Faça!Não volte. Reaja! Na real, na real, na real... O que é que eu faço? Não tem mistério agora é sério. Não tem segredo, o meu desejo é... ohh... Lutar, lutar. Nunca olhar pra trás vencer, vencer. Vem ser mais um a me ver ganhar lutar, lutar! Seguir em frente sempre sem parar vencer, vencer! Vem ser alguém seu nada! Caia na real, caia na real...

Nova!

Eu não sei quando estou sonhando ou não. Me recordo de algo estranho que vi e penso no quanto lutamos e talvez tenha sido em vão. Queira, acredite. Não espere algo que se encaixe não meça o tempo de um milagre enxergue o avesso da miragem. Eu não abortei o meu sonho eu não abortei, eu não acordei eu acho que não... Que não fomos... Fisgados pelo medo traídos pelo pecado, embriagados de desejo talvez alimentados por sonhos que...

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Eu sei que não vou perder, sei que não sou mais um imbecil. (sei que não sou mais...) 3x sei que não sou, mas... Eu não abortei o meu sonho eu não abortei, eu não acordei eu acho que não... Que não fomos fisgados pelo medo traídos pelo pecado, embriagados de desejo talvez alimentados por sonhos que... Eu sei que não vou perder, sei que não sou mais um imbecil sei que não sou mais... (sei que não sou mais...) 2x sei que não sou mais assim!

Pin-ball

Não quero mais jogar, eu sei não posso mais gastar, porque... gostar é bom, mas assim não dá, você não vê? Você não vê? Por que insistir? Em algo que se desgastou se é fácil então porque tanta complicação? Se faço tudo sempre igual, te juro não faço por mal. Eu tiro a sorte, mas o azar está aqui pra quem jogar Nada mudou! Não vou dar chance ao azar... Não vou dar chance... Não vou dar chance ao azar, não vou, não vou Não vou e... Nada mudou! Ganhar perder agora eu sei se conto as fichas sei por quê. Culpar o azar é mais fácil que aceitar perder. Eu sei por sorte te encontrei, então não tem porque perder-te querer jogar é um erro, um vício e um risco a correr! Se faço tudo sempre igual, te juro não faço por mal. Eu tiro a sorte, mas o azar está aqui pra quem jogar Nada mudou! Não vou dar chance ao azar... Não vou dar chance... Não vou dar chance ao azar, não vou, não vou Não vou e... Nada mudou!

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Podimermo

Ela te chama e te apaixona. Ela é bonita e te conquista. Te seduz e você fica. Não quer sair da sua vida. No desespero você grita! Ela consome sua vida Porque você é um suicida Agora não tem mais saída. Ela corrói e você pensa. O que eu fiz com a minha vida? É fácil entrar. E a saída? Eterno escravo na ativa. Falsos amigos, razões perdidas Sem autoestima, eterna intriga. Contradição na "paz branca" Voltar ao pó, Jesus dizia! (Dust to dust... ao pó voltar!)

Ter ou ser

Dizer sim não vai te eliminar de ser. Ser mais um a caminhar na multidão. Cego a andar, sem ter destino, ação ou decisão, é ser sim só mais um clone sem razão (ou não) E no vazio do tudo vem o sinal. É que o “ter ou ser”, entre um espelho de notas distorcidas... Reverbera a grande ilusão. Se o valor não se dá, decida qual verdade irá seguir. Se apoiar não vai dar, mas a vida persiste em prosseguir. E assim seguimos sempre a duvidar. Pra no fim vermos tudo isso se afirmar (ou não) E no vazio do tudo vem o sinal. É que o ter ou ser entre um espelho de notas distorcidas. Reverbera a grande ilusão. Se a dúvida está em você, a resposta está em você! (ter ou ser!).

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Toomooloo

O que é sonho? O que é sonho? Se você se sentir bem irá entender a realidade alguns confundem a fronteira entre a realidade de alguém e as suas verdades (que dizem ser verdades) Se você só encontra a felicidade em seus sonhos, então, não seria esta apenas um mundo vazio? Você se esconde em sua imaginação pra distorcer a verdade, então, não seria um sonho um substituto pra realidade? Então o que os fazem pensar, que são os donos das verdades? As coisas nunca vão mudar! Sobre influência de suas verdades! Então o que os fazem pensar? Resumir paz numa crença egoísta, verdade existe em nossos corações, minha verdade vai além da sua vista! O importante é que as pessoas entendam as outras, respeitem o próximo e dêem forma a palavra amor. Deus fez o homem a sua imagem e semelhança e os deu o livre arbítrio e dom de amar (ou não). Se você só encontra a felicidade em seus sonhos, então, não seria esta apenas um mundo vazio? Você se esconde em sua imaginação pra distorcer a verdade, então, não seria um sonho um substituto pra realidade? É só você quem pode mudar! Transformar em verdade ao invés de sonhar. E é só você querer pra mudar! Transformar o agora em outro lugar. Acima foram as do CD demo de 2005, abaixo são algumas que já tocamos, mas não gravamos ainda oficialmente.

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Algumas Lembranças Infantis Contadas ao Espelho. Transcender ao ver minha imagem no espelho. Fixar o olhar em algo além do que julgo real. Desconstruir o espaço e o tempo é se aventurar. Fábulas tornam-se reais. Prove-me pra ampliar! (4x) Beba-me e reduza! (4x) A lebre corre e a névoa sai de um narguilê. Tomar um chá e um susto ao ver um sorriso no ar. A corte inteira a me caçar, naipes a me cercar. Um corte, um passe... Eu não vou blefar! ALGUMAS LEMBRANÇAS INFANTIS CONTADAS AO ESPELHO... Me diz quantas vezes você Já enxergou sua imagem real. Se viu tantas vezes distante da chave que estava em suas mãos. Se sentiu tão pequeno diante de um mundo macro e cruel. Cresça!!!!! Amplie!!!!! Expanda!!!!!! Cresça, Cresça, Cresça!!!! Prove-me pra ampliar! (4x) Beba-me e reduza! (4x) Nimbus O tempo ainda não trouxe a cura Meu riso esconde a dor. Você se foi e essa lacuna, me afasta do que sou. Lembrei que a nossa vontade Depende de algo que desconhecemos E assim deve ser. A paz não vem pra quem procura Em frascos de balcão. Tomar remédio sem a bula, não traz a solução. Mudei minha nova verdade. Troquei uma letra

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Do LUTO à LUTA Por mim e por você. Por pior que fosse a situação Eu tentava ver o mundo Por outra visão. Agora sei que você não se foi Porque te sinto em mim, a cada dia, me ajudando a viver. Todas as palavras que eu tentar usar pra descrever o que sinto, não irá mudar o longo caminho até o nosso encontro. Uma nuvem passa e faz lembrar de que tudo um dia vai passar. E essa vida é a ponte pra algo além da nossa Compreensão. Decibéis. Tudo bem se eu te deixasse escolher, entre a razão e o que está dentro de você? Sei você não vai errar, saiba que eu nunca desisti. Veja as flores do quintal e as marcas que deixei por ai. Lembre-se o sol nasceu, abra a janela e contemple a luz. Sinta o vento tocar seu rosto, sou eu. Deixe o som te envolver e esqueça tudo ao seu redor. Se as palavras que eu lhe digo não têm valor então, pague pra ver. Hoje ouvi no rádio um som que me lembra você e eu. E quem sabe se essa canção não chegará algum dia até você. Saiba a sua falta na minha pauta é pausa que não chega ao fim. Já cansei de ser sutil, se eu aumentar alguns decibéis talvez, você possa acordar e me ouvir. Acredite eu... Fui covarde em aceitar, Acredite eu... não podia mais evitar, o meu medo de viver mais um dia sem você. Acredite,é o meu jeito de deixar bem claras as Minhas intenções. Acredite eu... Fui covarde em aceitar, Acredite eu... não podia mais evitar, o meu medo de viver mais um dia sem você. Acredite, ainda há tempo.

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CARIOCA 59 Mora em mim a ilusão. Ilusão de cada dia. Meu corpo é alimento. É meu lar, meu valor, meu sustento. Fecho os olhos e passo as rédeas, Só doma quem vê cego morra! -Prazer, sou o que você quiser. -Até mais, como é mesmo seu nome? Jogue suas pedras, Mas quem se fere é você. (2x) Jogue suas pedras. Soque o espelho. Pise em sua sombra, Mas quem se fere é você. Quando você se vai, outro logo vem. Pensam estar me usando, mas são objetos também. Como posso amar alguém se eu não me amo. Onde estará... Meu frescor quando a idade chegar? Os amigos quando eu estiver só? O amor quando o frio à minha porta bater? Minha imagem no espelho... Quem sou? CHÁ. Que bom te ver, vem cá contar. Contar sobre o seu dia. Quer se sentar? Eu fiz um chá, Relaxa e ri comigo. Quero te olhar, te ver sorrir, falar de coisas bobas. Vamos deixar o tempo passar, Filosofar sobre a vida. Chá doce Chá, me faz sonhar. Vem divagar comigo. Devagar e sempre é sempre uma boa fuga. Vem ver o céu, quer me ajudar? Vem cá contar estrelas.

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Sem apontar, é só pensar, transforme-as em desejo. Quero te olhar, te ver sorrir, falar de coisas bobas. Vamos deixar o tempo passar, Filosofar sobre a vida. Chá doce Chá, me faz sonhar. Vem divagar comigo. Devagar e sempre é sempre uma boa fuga. Boa fuga! Chá... Sacrifício/Redenção O mundo pelo avesso. Mentes turvas sem direção. Seu sangue é necessário, Fluindo escorre pelo chão. A marca do cordeiro, Foi tatuada em você. E é chegada a hora do sacrifício, por quem? -É a hora do show! Aquele que não nascer de novo, Não contemplará o que lhe aguarda além. (2x) O velho reservado, Se fecha em sua concha de ilusões. Ele também tem medo, mas “ta”, Pronto pra encarar a Cruz. Dê um tempo ao tempo. Dê a outra face ao seu algoz. E é chegada a hora do sacrifício, por quem? -É a hora do show! Aquele que não nascer de novo, Não contemplará o que lhe aguarda além. (1x) Se for necessário (uh). Aqui estarei por você. (4x) Aqui estarei por você! Do sacrifício à redenção. Por um amor incondicional.

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ENSAIO DIANTE À CEGUEIRA. (dread song) Vou resolvendo os problemas seguindo a razão. Mas a balança me lança pro lado da emoção. Com mil caminhos é fácil você se perder. E eu insisto e complico,eu quero é pagar pra ver. Eu sei, eu sei.... estou melhorando. Já admito que errei. O tempo vai nos ensinando. A vida é mesmo assim. Cegueira que encobre a razão. Agora eu consigo, desvendo meus olhos, Já vejo um futuro melhor. Eu vejo. (3x) Enxergo. (3x) Melhor. (4x) Bem melhor! Cego de orgulho você também deixa de ouvir. A sua voz é tão forte que encobre o que chega a você. Se mil caminhos existem, escolha um comum. Que seja bom para todos, eu quero é poder seguir. Eu sei, eu sei.... estou melhorando. Já admito que errei. O tempo vai nos ensinando. A vida é mesmo assim. Cegueira que encobre a razão. Agora eu consigo, desvendo meus olhos, Já vejo um futuro melhor. Deixe a venda cair, os olhos se abrirem, Diante da luz. Deixe a venda cair, os olhos se abrirem, Há um mundo melhor. Eu vejo!

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ANEXO VI: IMAGENS DA BANDA.

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