Process tailoring based on well-formedness rules

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LEGH - Fichamento Laboratório de Estudos de Gênero e História Eliana Melo ::: apresentação:24/09/13. LAURETIS, Tereza de. A tecnologia do gênero . Indiana University Press, 1987. Disponível: http://pt.scribd.com/doc/81873993/A-Tecnologia-do- Genero-Teresa-de-Lauretis Teresa De Lauretis nasceu e foi educado na Itália, onde fez seu doutorado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Bocconi, em Milão. Foi para os Estados Unidos pouco depois de completar a licenciatura e ensinou italiano, literatura, estudos de mulheres, e estudos de cinema em várias universidades americanas, incluindo a Universidade de Colorado e da Universidade de Wisconsin, Milwaukee. Autora de numerosos ensaios e livros sobre literatura, cinema, semiótica e teoria feminista. Introdução 206-208 Contextualiza o conceito de gênero como “diferença sexual” nos anos 60 e 70 e as consequências foram as formações de espaços sociais “gendrados”, estereótipos e reducionismos. Sendo este conceito derivado ou da biologia, ou da socialização, ou ainda da significação e de efeitos discursivos (com ênfase menos no sexual e mais na diferença) sempre recairá na diferença com base no homem e o pensamento feminista estará sempre preso ao patriarcado ocidental. Primeira limitação do conceito: “[...] confina o pensamento crítico feminista ao arcabouço conceitual de uma oposição universal do sexo [...]” Com ambos os sexos universalizados. Assim, fica quase impossível articular diferenças entre mulheres e Mulher, ou seja, a diferença nas mulheres e assim, as mulheres seriam “[...] diferentes personificações de alguma essência arquetípica da mulher [...]”. Segunda limitação do conceito: “[...] ele tende a reacomodar ou recuperar o potencial epistemológico radical do pensamento feminista sem sair dos limites da casa patriarcal” como uma espécie de “prisão domiciliar de linguagem” de Nietzsche. Potencial epistemológico radical significa a possibilidade

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LEGH - FichamentoLaboratório de Estudos de Gênero e História

Eliana Melo ::: apresentação:24/09/13.

LAURETIS, Tereza de. A tecnologia do gênero. Indiana University Press,1987. Disponível: http://pt.scribd.com/doc/81873993/A-Tecnologia-do-Genero-Teresa-de-Lauretis

Teresa De Lauretis nasceu e foi educado na Itália,onde fez seu doutorado em Línguas e LiteraturasModernas pela Universidade de Bocconi, em Milão. Foipara os Estados Unidos pouco depois de completar alicenciatura e ensinou italiano, literatura, estudosde mulheres, e estudos de cinema em váriasuniversidades americanas, incluindo a Universidade deColorado e da Universidade de Wisconsin, Milwaukee.Autora de numerosos ensaios e livros sobreliteratura, cinema, semiótica e teoria feminista.

Introdução206-208 Contextualiza o conceito de gênero como “diferença sexual”

nos anos 60 e 70 e as consequências foram as formações deespaços sociais “gendrados”, estereótipos e reducionismos.

Sendo este conceito derivado ou da biologia, ou dasocialização, ou ainda da significação e de efeitosdiscursivos (com ênfase menos no sexual e mais na diferença)sempre recairá na diferença com base no homem e o pensamentofeminista estará sempre preso ao patriarcado ocidental.

Primeira limitação do conceito: “[...] confina o pensamentocrítico feminista ao arcabouço conceitual de uma oposiçãouniversal do sexo [...]” Com ambos os sexos universalizados.Assim, fica quase impossível articular diferenças entremulheres e Mulher, ou seja, a diferença nas mulheres eassim, as mulheres seriam “[...] diferentes personificaçõesde alguma essência arquetípica da mulher [...]”.Segunda limitação do conceito: “[...] ele tende a reacomodarou recuperar o potencial epistemológico radical dopensamento feminista sem sair dos limites da casapatriarcal” como uma espécie de “prisão domiciliar delinguagem” de Nietzsche.Potencial epistemológico radical significa a possibilidade

de conceber o sujeito múltiplo e contraditório.

Lauretis defende a tese de que os discursos (institucionais,artísticos - como cinema e literatura -, entre outros),contribuem para perpetuar as diferenças estereotipadasimpostas para diferenciar masculino e feminino. A autoraentão procura um conceito de gênero que desfaça edesconstrua a imbricação de gênero e as diferenças sexuais:

“[...] Para isso, pode-se começar a pensar o gênero a partirde uma visão teórica, que vê a sexualidade como uma‘tecnologia sexual’; desta forma, propor-se-ia que também ogênero, como representação e como auto-representação, éproduto de diferentes tecnologias sociais, como o cinema,por exemplo, e de discursos, epistemologias e práticascríticas institucionalizadas, bem como as práticas da vidacotidiana.

Então, o gênero, assim como a sexualidade seria ser “naspalavras de Foucault, ‘o conjunto de efeitos produzidos emcorpos, comportamentos e relações sociais’, por meio dodesdobramento de ‘uma complexa tecnologia política’”, Eis o gênero como produto e processo de determinadas“tecnologias sociais” e tal afirmativa vai além de Foucault,que não levou em conta as diferenciações entre os sujeitosmasculinos e femininos em sua compreensão sobre a tecnologiasexual.

209-211

Ou seja, ele se concretiza no comportamento dos sujeitos.

A autora faz averiguações do termo gênero em dicionários“classificação do sexo; sexo” e “representação de umarelação, a relação de pertencer a uma classe, um grupo, umacategoria”.

Ø    Uso dos possessivos “its”, “his” e “her” para osubstantivo “criança”.Então a autora discorre: “O que a sabedoria popular percebe,então, é que o gênero não é sexo, uma condição natural, esim a representação de cada indivíduo em termos de umarelação social preexistente ao próprio indivíduo e predicadasobre a oposição ‘conceitual’ e rígida (estrutural) dos doissexos biológicos. Esta estrutura conceitual é o que

cientistas sociais feministas denominam ‘o sistema de sexo-gênero’.”

Assim, a divisão sexual do masculino e feminino elabora umsistema de gênero, simbólico ou de significação que coloca osexo no centro dos conteúdos culturais de uma sociedadeinteragindo com os valores (economia) e com a hierarquia(política), mesmo o significado mudando de acordo com acultura.

Ø      

212 -213

Lauretis usa a definição de ideologia de Althusser: “não osistema de relações reais que governam a existência deindivíduos, e sim a relação imaginária daqueles indivíduoscom as relações reais em que vivem”.

Diz que ele também faz aí uma definição do gênero eprossegue ainda com Althusser sobre a ideologia: “todaideologia tem a função (que a define) de constituirindivíduos concretos em sujeitos”. Diz, então, que sesubstituirmos a palavra ideologia pela palavra gênero: “ogênero tem a função (que o define) de constituir indivíduosconcretos em homens e mulheres. É exatamente nessa mudançaque a relação entre gênero e ideologia pode ser vista, evista como um efeito da ideologia de gênero.”

Assim a autora conclui que se o gênero existe na realidade, mas não na filosofia ou na teoria política então estas realidades representam: “as relações imaginárias dos indivíduos com as relações reais em que vivem”. Ou seja, a ideologia de Althusser está presa à ideologia do gênero. E omais importante: “[...] a teoria de Althusser, tanto quanto uma teoria possa ser validada por discursos institucionais eadquirir poder ou controle sobre o campo do significado social, pode ela própria funcionar como uma tecnologia de gênero”

Mas não é Althusser e sim algumas teóricas feministas marxistas que entendem o gênero como uma instância de ideologia.

214-216 Michèle Barrett argumentava que “’a ideologia do gênero teveum papel importante na construção histórica da divisão

capitalista do trabalho e da reprodução do poder dotrabalho’ e é, portanto, uma demonstração precisa da‘conexão integral entre a ideologia e as relações deprodução”.

E citando Parveen Adams lembra a distinção entre:Divisão sexual: se refere a duas categorias, homem e mulher,que se extinguem mutuamente;Diferenças sexuais: “... a produção de diferenças por meiode representações; o trabalho de representação produzdiferenças que não podem ser previamente conhecidas”.

E segue com um diálogo entre a crítica de “[...] Adams a umateoria feminista marxista da ideologia que se apoia noconceito de patriarcado como um dado da realidade social[...] que essa teoria de baseia em um essencialismo, sejabiológico ou sociológico” [...] “ ao enfatizar que [...] nasminhas próprias palavras, gênero nada mais é do que aconfiguração variável de posicionalidades sexuaisdiscursivas... Adams acredita poder evitar ‘as simplicidadesde uma relação sempre já antagonística’ entre os sexos, oque é a seu ver um obstáculo tanto à análise feministaquanto à prática política feminista”

A resposta de Barrett prossegue: “Não precisamos falar dadivisão sexual como estando desde sempre já presente;podemos explorar a construção histórica das categorias demasculinidade e feminilidade sem a obrigação de negar que,embora historicamente específicas, elas existem hoje deforma sistemática e mesmo previsível”

Mas Lauretis conclui que o “arcabouço conceitual de Barrettinão permite compreender a ideologia do gênero em termosteóricos especificamente feministas.”

Joan Kelly, 1979, diz que se aceitamos o “conceitofundamental do feminismo de que o pessoal é político...” nãopodemos mais acreditar que exista a esfera do privado e aesfera do público. “’O que vemos não são duas esferas darealidade social, e sim dois (ou três) conjunto de relaçõesde trabalho e sexo (ou classe e raça, e sexo-gênero).’ Oshomens e mulheres não só se posicionam diferentemente nessasrelações, mas – e esse é um ponto importante – as mulheressão diferentemente afetadas nos diferentes conjuntos.”

A ordem sexual (sistema sexo-gênero) e a econômica (sistema

de relações produtivas) operam juntas “[...] para reproduziras estruturas socioeconômicas e o domínio masculino da ordemsocial dominante”. Daí se vê como a ideologia de gêneroopera: “o ‘lugar de mulher’, i.e., a posição atribuída àmulher por nosso sistema sexo-gênero, como ela enfatiza,‘não é uma esfera ou um território separado, e sim umaposição dentro da existência social em geral’ (p.57). O queé um ponto importantíssimo.”

Então o gênero, segundo Lauretis é “um conjunto de relaçõessociais que se mantém por meio da existência social, então ogênero é efetivamente uma instância primária de ideologia, eobviamente não só para as mulheres.” [...] “Ao afirmar que arepresentação social de gênero afeta sua construçãosubjetiva e que, vice-versa, a representação subjetiva dogênero – ou sua auto-representação – afeta sua construçãosocial, abre-se uma possibilidade de agenciamento e auto-determinação ao nível subjetivo e até individual daspráticas micropolíticas cotidianas.”

217-218 Então agora a proposição (2) é: “A construção do gênero é oproduto e o processo tanto da representação quanto da auto-representação.”

Outro ponto em que ela diverge de Althusser na teoria dogênero: Ele diz que “a ideologia não tem exterioridade”, ouseja, que uma vez preso a ela, qualquer um acredita estarfora e livre dela. Porém Lauretis acredita numaexterioridade em que se pode ver a realidade do que ela é:“mistificação, relação imaginária e engano” e esse lugar é aciência ou o conhecimento científico o que não é o caso do“sujeito do feminismo”.O sujeito (feminino), ao qual ela se refere em suas própriaspalavras: “[...] é um sujeito cuja definição ou concepção seencontra em andamento, neste e em outros textos críticosfeministas: e, insistindo neste ponto mais uma vez, osujeito do feminismo, como o sujeito de Althusser, é umaconstrução teórica (uma forma de conceitualizar, deentender, de explicar certos processos e não as mulheres).Entretanto, assim como o sujeito de Althusser, que, estandototalmente ‘na’ ideologia, acredita estar fora e livre dela,o sujeito que veio emergir dos escritos e debates correntesdentro do feminismo está ao mesmo tempo dentro e fora daideologia de gênero, e está consciente disso, dessas duasforças, dessa divisão, dessa dupla visão.”

A autora argumenta a discrepância, a tensão e o constantedeslize entre a Mulher como estereótipo e o outro lado dasmulheres como seres históricos, como sujeitos reais, mas“engendrados”. As mulheres se situam dentro e fora do gêneroe ao mesmo tempo dentro e fora da representação. Então acontradição em que se apoia a existência do feminismo é a de“Que as mulheres continuem a se tornar Mulher, continuem aficar presas ao gênero assim como o sujeito de Althusser àideologia, e que persistamos em fazer a relação imagináriamesmo sabendo, enquanto feministas, que não somos isso, esim sujeitos históricos governados por relações sociaisreais, que incluem predominantemente o gênero.”

Então, o feminismo não pode ser tido como ciência, ou comodiscurso, ou uma realidade fora da ideologia ou fora dogênero. Fala da cumplicidade do feminismo com a ideologiaque começou a ser trabalhada com as publicações feministasdesde a década de 1980. Ela fala cumplicidade e não umacompleta adesão à ideologia de gênero, pois esta éincompatível com a sociedade androcêntrica.

Então a autora conclui: “[...] Não podemos resolver oueliminar a incômoda condição de estar ao mesmo tempo dentroe fora do gênero, seja por meio de sua dessexualização(tornando-o apenas uma metáfora, uma questão de différance, deefeitos puramente discursivos) ou de sua androginização(reivindicando a mesma experiência de condições materiaispara ambos os gêneros de uma mesma classe, raça, oucultura).”

[...] “A construção do gênero também se faz, embora de formamenos óbvia, na academia, na comunidade intelectual, naspráticas artísticas de vanguarda, nas teorias radicais, eaté mesmo, de forma bastante marcada, no feminismo.”

220-221 A “interpelação”, termo cunhado por Althusser, e arepresentação como algo criado e incorporado pelosindivíduos. Lauretis cita o exemplo da marcação de um formulário: □ F □M.

“Agora pergunto, isto não é o mesmo que dizer que a letra Fassinalada no formulário grudou em nós como um vestido deseda molhado? Ou que, embora pensássemos estar marcando o F,na verdade era o F que estava se marcando em nós?”(LAURETIS, p. 220).Isto exemplifica o processo de Althusser onde “[...] umarepresentação social é aceita e absorvida por uma pessoacomo sua própria representação e assim se torna real paraela, embora seja de fato imaginária.”Mas Lauretis diz que só é possível explicar como arepresentação é construída e então aceita e absorvida com oauxílio de Foucaulte e que na sua História da Sexualidadeformula que a sexualidade na verdade é uma construção nacultura com os ditames de políticos da classe dominante. Daísurge o conceito de “tecnologia do gênero” que é “umconjunto de técnicas para maximizar a vida” criada pelaburguesia a partir do século XVIII em favor da suasobrevivência e hegemonia.As técnicas estavam na elaboração dos discursos –classificação, mensuração, avaliação, etc. – sobre quatro“figuras”:

1. A sexualização das crianças2. A sexualização do corpo feminino3. Controle da procriaçãoFiguras ancoradas ou apoiadas no Estado e consolidadas nafamília serviram para “disseminar e ‘implantar’” estasfiguras e modos de conhecimento nos elementos queconstituem a sociedade.

Destas, a sexualização do corpo feminino é figura favoritanos discursos da arte, literatura, dente outras e a conexãoentre mulher e sexualidade e a identificação do sexual com ocorpo feminino tem sido uma preocupação, tanto da críticafeminista e dos movimentos de mulheres.A autora então fala da interseção entre o arcabouçoconceitual abordado tanto pela crítica de cinema feministacomo por Foucault. Análises técnicas como iluminação,enquadramento e edição, ou ainda sobre códigoscinematográficos específicos como a maneira de olhar, queconstroem a mulher como imagem ou como objeto a serobservado num, então, entendimento do cinema como um umatecnologia social, como “aparelho cinematográfico” sendoele, por fim, uma tecnologia de gênero (teoria do aparelhocinematográfico). Havia uma crítica no discursopsicossocial, estético e filosófico.

222-223

Essa teoria cinematográfica é quem realmente vai responderos questionamentos de Lauretis: como a representação degênero é constituída pela tecnologia específica e como ela ésubjetivamente absorvida pela plateia, que é um conceitomarcado pelo gênero, segundo a teoria feminista. Refere-se àmaneira como as espectadoras apreciam os filmes e as formassofisticadas de interpelação na cinematografia.“[...] Estou falando aqui da sexualidade enquanto umaconstrução e uma (auto)-representação; e nesse caso, com umaforma masculina e outra feminina, embora na conceitualizaçãopatriarcal ou androcêntrica a forma feminina seja umaprojeção da masculina, seu oposto complementar, suaextrapolação – assim como a costela de Adão. De modo que,mesmo quando localizada no corpo da mulher (vista, comoescreveu Foucault, ‘como que completamente saturada desexualidade’, p. 104), a sexualidade é percebida comoatributo ou uma propriedade do masculino.

Menciona o artigo de Lucy Bland e sua discussão, na linhafoucaultiana, sobre a história da sexualidade ocidental quese baseia na constante bipolaridade do “masculino” e do“feminino”.

O problema da teoria de Foucault, e outras androcêntricas,está em que elas negam o gênero, por negar as relaçõessociais de gênero, a opressão sexual das mulheres epermanecem “dentro da ideologia” que se “reverte embenefício do sujeito do gênero masculino”.

224-225 Wendy Hollway postula que “[...] o que explica o conteúdo das diferenças de gênero são os significados quanto ao gênero e às posições diferenciadas colocadas à disposição dehomens e mulheres no discurso.”

A falha de Foucault está em não equiparar poder com opressãoe, finalmente, em não explicar “[...] como as pessoas seconstituem como resultado do fato de certas verdades e nãooutras estarem em voga”.Então Hollway reformula e redistribui o conceito de poder deFoucault de tal forma que o agenciamento passa a serpercebido pelo sujeito, principalmente quando este sujeitofoi alvo de opressão social ou desautorizados pela hegemoniado poder-conhecimento.Isso pode explicar duas coisas:

1. Por que as mulheres têm feito historicamente posiçõesdiferentes quanto ao gênero, práticas e identidades

sexuais;2. Por que outras dimensões da diferença social (como

classe, raça e idade) cruzam o gênero a beneficia ouprejudica certas posições.

Porém Hollway não revela qual a relação entre o potencialde mudança nas relações de gênero e a hegemonia dosdiscursos.

226-229Porém ainda resta a dúvida: “ [...] o que irá persuadir asmulheres a investirem em outros posicionamentos, em outrasfontes de poder capazes de alterar as relações de gênero,quando elas já assumiram a posição em questão (a da partefeminina do casal) exatamente porque tal posição já lhesgarante, como mulheres, um certo poder relativo?”

Lauretis acredita que a teorização do poder “relativo”daqueles sujeitos oprimidos necessita de algo mais radicaldo que Hollway arrisca e também que os investimentosanalisados por ela encontram-se nos contratos heterossexuaise qualquer mudança pode ser entendida como mudanças de“diferença de gênero” e não nas relações sociais de gênero.

Daí o problema do conceito de diferença(s) sexual(is) que ésua limitação em não poder repensar suas própriasrepresentações. Lauretis acredita então que é preciso pensaro gênero (homens e mulheres) e reconstruí-lo afastado doandrocentrismo.

Sob outra vertente Monique Wittig demarcou em seus trabalhoso discurso da heterossexualidade como opressor e hegemônico.Recupera o poder opressor que está imbricado nosconhecimentos institucionalmente controlados, perdida naconcepção de Foucault de poder produtivo. Então há distinçãoentre os efeitos positivos e os opressivos do poder.

Então, Lauretis refaz a proposição (3): “[...] a construçãodo gênero ocorre hoje através das várias tecnologis dogênero (p. ex., o cinema) e discursos institucionais (p. ex.a teoria) com poder de controlar o campo do significadosocial e assim produzir, promover e ‘implantar’representações de gênero.”

O que Lauretis denomina como experiência, se é reconfiguradaem cada sujeito através de suas trocas com a realidadesocial com suas relações de gênero. Assim, a subjetividde ea experiência femininas estão diretamente ligadas à

sexualidade.

O que nos “engendra” como femininas “[...] era na verdade aexperiência do gênero, os efeitos de significado e as auto-representações produzidas no sujeito pelas práticas,discursos e instituições socioculturais dedicados à produçãode homens e mulheres. E não foi por acaso, então, que minhasanálises se preocupavam com o cinema, a narrativa e ateoria. Pois esses já são em si tecnologias de gênero.”

232-235

Começa questionando que finalidade tem o homem de estar nofeminismo, ou participando, ou criticando. Ele fala em umahomem-nagem.. E diz que na verdade muitos trabalhos somenteacomodam os interesses pessoais deles ou as preocupaçõesteóricas androcêntricas: “’leitores antagonistas’ da ficçãofeminina”.

Jonathan Culler, com base em Elaine Showalter, equiparagênero às diferenças discursivas, que são posições dentro dodiscurso e, assim, diferentes do gênero do leitor.

Kennard critica Culler e sugere que ele pode ler não somentecomo mulher, mas também como lésbica o que inclui a“diferença lésbica” não só em um “universal feminino” comotambém em um universal masculino.

Tânia Modleski aponta Culler como patriarcal e “Uma críticafeminista, conclui ela, deve rejeitar ‘a hipótese de umaleitora mulher’ e promover em seu lugar a ‘leitora femininareal’.”

Lauretis também cita Rosi Braidotti compartilha da mesmaopinião, ao constatar as várias formas da feminilidade nostrabalhos de Deleuze, Foucault, Lyotard e Derrida e comoeles não associam a feminilidade a mulheres reais. 

236-238 Pós-feminismo: Há sim a necessidade de a teoria feministacriticar radicalmente os discursos dominantes sobre gênero e

como a desconstrução do sujeito é uma maneira de manter asmulheres na feminilidade e de recolocar a subjetividade dafeminina dentro do sujeito masculino. Então Lauretisreescreve: “[...] se a desconstrução do gêneroinevitavelmente causa a (re)construção, a pergunta é, em quetermos e no interesse de quem está sendo feita essa des-reconstrução?”

Voltando ao discurso de Kennard, Lauretis discorre que aluta é agora entre os discursos hegemônicos e os das“minorias” em busca de um: “[...] esforço para criar novosespaços de discurso, reescrever narrativas culturais edefinir os termos de outra perspectiva – uma visão de ‘outrolugar’.”

E se esse lugar ainda não é visto em lugar algum é pelomotivo de que a produção de feministas, mulheres não éreconhecida como representação. Mas o que é esse “em outro lugar”?“[...] é o outro lugar do discurso aqui e agora, os pontoscegos ou o space-off de suas representações”

O discurso é o hegemônico, os pontos cegos são as brechas eas fendas dos aparelhos de poder-conhecimento. O temo space-off ela toma emprestado da teoria do cinema e se refere nãosó a câmera mas ao espectador.Então, há o espaço discursivo representado oriundo dosdiscursos hegemônicos e o space-off desses discursos. Estesdois espaços não se opõem entre si: coexistem e secontradizem e o movimento por entre eles é a “[...] tensãoda contradição, da multiplicidade e da heteronomia”.

E conclui (ou reescreve): “Portanto, habitar os dois tiposde espaço ao mesmo tempo significa viver uma contradiçãoque, como sugeri, é a condição do feminismo aqui e agora: atensão de uma dupla força em direções contrárias – anegatividade crítica de sua teoria, e a positividadeafirmativa de sua política – é tanto a condição histórica daexistência do feminismo quanto sua condição teórica depossibilidade. O sujeito do feminismo é ‘en-gendrado’ lá.Isto é, em outro lugar.”