Prevalencia de Cárie e Necessidade de Tratramento Odontológico em Escolares de Esteio, RS

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REV. BRAS. ODONT. SAUDE COLETIVA 2002/2006 PREVALENCIA DE CARIE EM ESTEIO-RS 57 Roger Keller Celeste' GigIi Testoni Naomi Kurrle de Aviles ' Aline Silva Camila Mottin Lintia Lagni Xavier ' Mauricio de Lavra Pinto Sirgio A. Quevedo Miguens ' Ricardo Prates Macedo' Prevalkncia de Carie e Necessidade de Tratamento Odontologico em Escolares de Esteio RS .. - Caries prevalence and treatment needs in schoolchildren from Esteio-RS ' Professores do Programa de Extenscio Comunitriria - Projeto Mantendo Sorrisos - Universidade Luterana do Brasil. Acadimicos de Odontologia do Pmgrama de Extenscio Comunitdria Projeto ant en do Sorrisos Secretaria Municipal de Salide de Esteio-RS Correspond6ncia para: Roger Keller Celeste Rua Riachuelo 7451608 - Porto AlegrdRS - 90010-270 E-mail: [email protected] Resumo Opresente estudo objetiva avaliar o nivel de carie e necessidade de tratamento em escolares de 12 anos do municl'pio de Esteio-RS. Foram examinadas 108 crianqas de escolas pziblicas e privadas na idade de 12 anos, utilizando-se os critirios da OMS, segundo metodologia do Ministirio da Saude. A amostragem foi estratzjicada por sexo e escola. Uma examinadora realizou os exames durante os quais obteve-se kappa de 0,94 e 0,90 para condiqlio de coroa e necessidade de tratamento, respectivamente. A midia do CPODfoi de 1,62,0, sendo 42,6% da amostra livre de caries. Encontrou-se diferenqa estatisticamente signzficativa (p < 0,05) entre meninos e meninas (CPOD 1,l e 2,12, respectivamente). Do CPOD total, mais de 50% correspondem ao componente cariado. Do total de dentes, 96,2% nlio precisavam de tratamento, 1,9% necessitavam de restauraq5es de umaface, I,]%, de restaura~6es de 2 ou mais superficies e apenas 0,8%, de exodontias e endodontia. Conclui-se que o Municl'pio de Esteio apresenta um CPOD abaixo da meta proposta pela OMS para 2000, com necessidades de tratamento relativamente semelhantes a municfpiospr6ximos, mas que nlio s20 atendidas. Palavras Chave Levantamento epidemiolbgico, chrie, necessidade de tratamento CPOD.

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REV. BRAS. ODONT. SAUDE COLETIVA 2002/2006 PREVALENCIA DE CARIE EM ESTEIO-RS 57

Roger Keller Celeste' GigIi Testoni Naomi Kurrle de Aviles ' Aline Silva Camila Mottin Lintia Lagni Xavier ' Mauricio de Lavra Pinto Sirgio A. Quevedo Miguens ' Ricardo Prates Macedo'

Prevalkncia de Carie e Necessidade de Tratamento Odontologico em Escolares de Esteio RS

.. -

Caries prevalence and treatment needs in schoolchildren from Esteio-RS

' Professores do Programa de Extenscio Comunitriria - Projeto Mantendo Sorrisos - Universidade Luterana do Brasil.

Acadimicos de Odontologia do Pmgrama de Extenscio Comunitdria Projeto ant en do Sorrisos

Secretaria Municipal de Salide de Esteio-RS

Correspond6ncia para: Roger Keller Celeste Rua Riachuelo 7451608 - Porto AlegrdRS - 90010-270 E-mail: [email protected]

Resumo Opresente estudo objetiva avaliar o nivel de carie e necessidade de tratamento em escolares de 12 anos do municl'pio de Esteio-RS. Foram examinadas 108 crianqas de escolas pziblicas e privadas na idade de 12 anos, utilizando-se os critirios da OMS, segundo metodologia do Ministirio da Saude. A amostragem foi estratzjicada por sexo e escola. Uma examinadora realizou os exames durante os quais obteve-se kappa de 0,94 e 0,90 para condiqlio de coroa e necessidade de tratamento, respectivamente. A midia do CPOD foi de 1,62,0, sendo 42,6% da amostra livre de caries. Encontrou-se diferenqa estatisticamente signzficativa (p < 0,05) entre meninos e meninas (CPOD 1,l e 2,12, respectivamente). Do CPOD total, mais de 50% correspondem ao componente cariado. Do total de dentes, 96,2% nlio precisavam de tratamento, 1,9% necessitavam de restauraq5es de umaface, I,]%, de restaura~6es de 2 ou mais superficies e apenas 0,8%, de exodontias e endodontia. Conclui-se que o Municl'pio de Esteio apresenta um CPOD abaixo da meta proposta pela OMS para 2000, com necessidades de tratamento relativamente semelhantes a municfpiospr6ximos, mas que nlio s20 atendidas.

Palavras Chave Levantamento epidemiolbgico, chrie, necessidade de tratamento CPOD.

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Abstract

PREVALENCIA DE CARE EM ESTEIO-RS

This study aims at evaluating caries level and treatment needs in 12-year-old school children in the municipality of Esteio, RS, Brazil. The sample consisted of 108 subjects from both private and public schools, selected from a list originated of all schools and stratfied by sex and type of school. The exam criteria were those of WHO, according to the Brazilian Health Ministry . One examiner carried out all exams, obtaining a kappa of 0.94 for dental condition and 0.90 for treatment need, respectively. The meanSD of the DMFTwas 1.62,O and the 42.6% of caries free. There was a statiscally signzficant (p<0.05) difference in relation to sex, the boys with a DMFTof I. 1 andthegirls, 2.12. The decay component was responsible for more than 50% of the DMFTindex. It was found that 96.2% of the teeth did not need any treatment, 1.9% needed one- surfacefillings, 1.1 % needed two or more surfacefillings and only 0.8% needed extraction or endodontic treatment. It can be concluded that the dental caries goals of WHO for 2000 has been achieved and its treatment needs are similar to other cities nearby, which, however; have not been fully treated.

Keywords Epidemiological Survey, Dental Caries, Needs Assessment,. DMFT

Apesar da literatura internacional apontar para uma diminuiqgo no nivel de carie, paises em desenvolvimento, como o Brasil, parecem ainda ngo ter alcanqado as metas da Organizaqgo Mundial da Saude (OMS) para o ano 2000. Por exemplo, para a faixa etaria de 12 anos, a meta da OMS' 6 de um indice de dentes cariados, perdidos ou obturados (CPO-D) de no maxirno 3. Dados do MinistCrio da Saude apontam para m a reduqgo percentual de 53,6%, indo de um CPOD de 6,62, em 1986, para 3,063, em 1996, aos 12 anos. Estareduqgo 6 marcante para as areas urbanas, onde foram realizadas as pesquisas, o que nos leva a crer que a reduggo total talvez seja inferior, uma vez que a populaqiio rural fica a margem dos programas preventivos. Comparativamente, paises desenvolvidos, como os escandinavos, ja chegaram a niveis de CPO-D iguais a 1,

enquanto que paises asiaticos e africanos ficam em tornode 1,8 e 1,3, respectivamente4.

Um levantamento epidemiolbgico traz inumeros beneficios para o planejamento. Um deles C a possibilidade de acompanhar as tendzncias no padr5o da doenqa ao longo do tempo. Da mesma maneira, pode-se avaliar o impact0 de um planejamento em saude publica, sendo sempre urn valioso meio de reformulaq80 das politicas publicas que alocam recursos em setores especificos. Finalmente, a lei 8.080~ , de 1910911 990, coloca de forma clara que as aq6es dos servi~os de saude devem ser feitas com base em dados ep idemio lbg icos para o estabelecimento de prioridades e alocaqgo de recursos.

A realidade do municipio de Esteio 6 adversa. Nunca foram coletados dados sobre prevalencia de doenqas bucais, ha poucos profissionais disponiveis na rede publica e niio ha quem patrocine a estrutura tkcnica para a

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realizagiio de um levantamento epidemiolbgico. Por outro lado, o projeto de extensiio comunitaria Mantendo Sorrisos conta com professores e acadgmicos disponiveis para, em parceria, realizar tal estudo. Assim, o objetivo .

do presente trabalho 6 avaliar o nivel de caries e necessidades de tratamento em meninos e meninas de 12 anos de escolas publicas e privadas do municipio de Esteio.

0 municipio de Esteio pertence a regiiio metropolitana de Porto Alegre, tendo 80 mil habitantes e inexistgncia de zona rural, segundo dados da Prefeitura local. A Bgua de abastecimento 6 fluoretada desde 1972, com niveis mCdios de 0,7ppm de fluor, controlados pela Companhia de Saneamento - CORSAN, e com uma cobertura alta da populaqiio com agua encanada, segundo dados da Secretaria. N5o ha, no municipio, programas de prevengiio com fluoretos nas escolas publicas.

A amostra foi calculada utilizando-se dados de prevalgncia de carie do Municipio de Porto Alegre do ano de 1996 (mCdia=2,1 e Desvio padriio=2), uma vez que Esteio niio dispunha de dados. A amostra consistiu de 120 escolares com 12 anos completos ou a completar at6 o final do ano de 2001. A metodologia para calculo da amostra esta descrita no Manual do Coordenador do Levantamento do MinistCrio da Saude6 (SB2000), considerando-se 10% de niio resposta.

Para a escolha dos individuos a serem examinados, obteve-se uma lista com os nomes, por escolas e sexo, das 1.013 criangas matriculadas nas escolas phblicas e privadas do municipio. A selegiio foi realizada atravCs de uma amostragem aleatoria estratificada

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proporcional por sex0 e escola,. 0 s indices usados para avaliaqiio de

carie e necessidade de tratamento seguem os criterios descritos pela Organizagiio Mundial da Saude, conforme apresentados no Manual do Examinador do Levantamento do MinistCrio da sahde8, elaborado com base no formulario da OMS. Dessa forma, pode-se obter dados comparaveis ao levantamento epidemiolbgico do Ministerio da Saude.

0 s exames foram feitos por uma cirurgig-dentista do Servigo de SaGde do prbprio municipio, sendo previamente calibrada. Foram examinados 10 pacientes entre 7 e 12 anos e os reexames ocorreram com uma semana de intervalo, no ambulatbrio de odontopediatria da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas. 0 valor de concordiincia intra-examinador foi de kappa=0,83 para o exame de condigiio dental. Durante o levantamento, que ocorreu entre outubro e novembro de 200 1, 10% da amostra foi reexaminada, obtendo-se valores de kappa=0,94 para condigiio dental, e kappa=0,90 para necessidade de tratamento.

0 s exames foram realizados ao ar livre, com uso de espelhos bucais planos, sendo sondas e pinqas utilizadas apenas nos casos em que fosse necessario limpar ou secar alguma superficie dental com algodiio. Diferentemente, tambem, da metodologia do MinistCrio, as criangas procediam a uma escovagZo previa, podendo levar a escova como brinde. Evitou-se a realizagiio de exames em dias chuvosos e nublados em que a luminosidade fosse precaria. 0 projeto recebeu a aprovag50 do Comitg de ~ioCtica da Universidade.

A analise estatistica foi realizada, sumarizando-se os dados atravts de medias, desvios padr6es e intervalos de confianga de

95%. AS associag6es foram testadas com 0 Teste Mann- Whitney.

UFRGS Facukiade de Odontdogia Biblioteca Malvina Vianna Rosa

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Resultados

Das 120 crianqas sorteadas, 108 foram examinadas, garantindo urna taxa de resposta de 90%. Importante destacar-se que quase a totalidade dos 7 escolares que niio tiveram autorizaqiio dos responsaveis para o exame eram de escolas particulares, enquanto que os 5 restantes, de escolas publicas, n5o foram examinados por evasiio escolar. A amostra continha 54% de crianqas do sex0 masculino e 46%, feminino. 0 grupo etario mais prevalente era o branco (54%) e 89% dos examinados eram de escolas publicas (estaduais ou municipais).

0 CPOD medio foi de 1,6 (Tabela l), sendo que do total de dentes examinados (2862), 93,1% estavam higidos, 3,6% cariados, 2,4% restaurados sem chrie e 0,4% perdidos por carie. 0 componente cariado perfaz mais da metade da experiencia de carie. Por outro lado, o numero de dentes restaurados com carie, perdidos por outras raz6es ou com trauma, C muito pequeno, somando juntos, menos de 0,l dente em media. Niio foram achados dentes com selantes, nem como apoio para pontes ou coroas.

- 0 procedimento de amostragem niio foi dirigido para obter comparabilidade por tipo de escola. Assim, a diferenqa encontrada entre escolas publicas e privadas niio C significativa estatisticamente. Isto se explica porque a proporqiio de escolas privadas no municipio C pequena, compondo urna pequena parcela da amostra.

Com relaqiio a sexo, a diferenqa 6 estatisticamente significativa , em um nivel de 0,05. Embora haja diferen~a entre o CPOD mCdio de meninos e meninas, niio hh diferenqa nas propor~6es dos componentes cariados, perdidos e restaurados. Em ambos, o componente cariado 6 predominante, seguido dos restaurados sem carie e perdidos por c6rie

PREVALENCIA DE CARIE EM ESTEIO-RS

(Tabela 1). A distribuiqiio dos escolares segundo

CPOD C urna distribuiqiio niio normal (Grafico 1). Observa-se que 42,6% das crianqas siio livres de carie, mas, mesmo assim, ha urna parcela de amostra com um percentual alto de experiencia de carie. 0 s escolares com CPOD 4 ou mais correspondem a 22,2% da amostra, contudo acumulam 56% da experigncia de carie.

Do total de dentes examinados (2.862), 93% s5o higidos e 96,2% niio necessitam tratamento (Grafico 2). Isto ocorre porque alguns dentes niio higidos n5o necessitam tratamento. Dos 3,8% de dentes que precisam tratamento, 1,9% siio restauraqees de 1 superficie, 1,1% de restauraqees de 2 ou mais superficies, sendo apenas 0,4% dos dentes indicados para exodontia e 0,4% para endodontia.

0 presente estudo tem especial valor para o municipio de Esteio porque 6 o primeiro ja realizado, apontando para urna media de CPOD de 1,6. Esteio esta abaixo da meta da OMS' , para o ano de 2000 para a faixa etaria de 12 anos, que 6 de, no m~ximo,3, e prbximo da meta para o ano de 2010, que, segundo Narvai, Castelhanos e Fraziio9 ,k de no maxim0 1. Uma das provaveis razaes que explicam esta baixa experiencia de ckies e a fluoretaqiio da Bgua de abastecimento desde 1972. Entretanto, para urna reduqiio maior, C necessirio urna combinaqiio de estratkgias, envolvendo politicas de alimentaqiio, diagnbstico precoce corn tratamento niio invasivo e, principalmente, melhorias socioecon6micas, estas, citadas como as principais razaes para o declinio da carie em paises industrializad~s'~.

Valores similares aos de Esteio foram

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encontrados em outras partes do Brasil. No levantamento realizado por Traebert et all1 , em Blumenau, encontrou-se um CPOD de 1,46 nas escolas pfiblicas para a faixa etaria de 12 anos, utilizando-se, tambCm, os critkrios da OMS. Em Porto Alegre, Maltz e SilvaI2 encontraram valores de 1,54 e 2,48 para escolas privadas e publicas, respectivamente, no ano de 1999. Para a cidade de Siio Paulo, Narvai, Castelhanos e Fraziiog haviam encontrado um CPOD de 2,06 no ano de 1996. Jh em Itumbiara, Goias, o CPOD, nas escolas pfiblicas, foi de 3,69 em 199913. Este estudo, porkm, niio apresenta dados de calibraqiio dos 11 examinadores, nem o percentual de populaqiio com acesso a abastecimento com Agua fluoretada, fatores que podem ajudar a explicar um valor tiio alto. Um outro fator que poderia explicar a diferenqa de valores de CPOD C a diferenqa o nivel de desenvolvimento socioecon6mico entre o Sul e Sudeste em relaqiio ao Centro-Oeste.

0 percentual de 42,6% de crianqas livres de carie para a dentiqiio permanente C compativel com outros locais do Brasil, onde podemos encontrar variaq6es entre 27,5%12 e 45,3%11..

Na I1 Conferencia Intemacional em Mudanqas na Prevalencia da Carie, MurrayI4 descreveu o chamado feniimeno 80120, que vem se apresentando em vhrios paises do mundo. Nele, urna pequena parcela da populaqiio agrupa urna grande parcela da doenqa e da necessidade de tratamento. Em Esteio, 22,2% dos escolares agrupam 86,7% das les6es de cArie e 56% do CPOD. Em Porto Alegre, Maltz e SilvaI2 relatam que a polarizaqiio forma grupos mais ou menos distintos, urna vez que a maior parte do CPOD esth no grupo de escolares da rede publica. Este fato possibilita que programas preventivos especificos, voltados a estes individuos, surtam, na mCdia, um efeito grande,

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e faz com que alguns autores reconsiderem a inclusiio de estrategias de alto risco em combinaqiio corn as popula~ionais'~. Entretanto, sabendo-se que os "grupos de risco" estiio geograficamente delimitados e, ainda assim, h& sCrios problemas com os testes de risco individual, o mais sensato seria a adoqiio do que Sheiham16 descreveu como Estratkgia Populacional Direcionada.

No presente levantamento, foi encontrada urna diferenqa estatisticamente significante entre o CPOD de meninos e meninas, respectivamente 1,l e 2,12. Na literatura mCdica17, descreve-se um efeito contririo, sendo os maiores indices de morbidade eficontrados entre os homens de qualquer faixa etaria". Isto seria expllcado principalmente pelas diferenqas de estilo de vida. No caso da doenqa chrie, Thylstrup e ~ejerskov" explicam urna experiencia maior de cAries no sex0 feminino pel0 fato de terem urna erupqiio mais precoce da dentiqiio permanente e um maior consumo de doces. A primeira explicaqZo nZo se sustenta, pois meninos e meninas tem aproximadamente o mesmo nhmero de dentes permanentes em mkdia (meninos=24 e meninas=26) e a diferenqa estA presente em todos grupos de dentes (controlando, assim, o tempo de permanencia em boca); jay a segunda explicaqiio niio pode ser confirmada por este estudo. Outro motivo C de que as mulheres viio mais ao dentistala e, segundo Dowel1 et all9, as pessoas que visitam mais o dentista apresentam um CPOD maior. PorCm, esta argumentaqiio tambCm niio se aplica neste caso, urna vez que a proporqiio de dentes tratados, ou seja, os componentes restaurados e perdidos por carie, C semelhante para ambos os sexos, perfazendo 45% do CPOD dos meninos e 47% do das meninas. Por fim, diferenqas entre sex0 niio podem ser generalizadas,

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considerando-se que diferenqas de genero no CPOD nio aparecem em outros e s t u d o ~ ~ ~ * ~ ' . Portanto, parece niio haver explicaqio plausivel na literatura e a diferenqa observada neste trabalho pode ser.oriunda de fatores locais.

A proporqiio de dentes cariados, em relaqiio ao CPOD total, revela as necessidades de tratamento niio atendidas. Neste aspecto, em Esteio, 56,3% do CPOD correspondem a necessidades nio tratadas. Existe uma enorme gama de fatores que podem explicar tal fato, dentre os quais o acesso e a qualidade dos serviqos, embora fatores sociais e culturais contem muito para a niio procura por serviqos.

Se, por um lado, tal percentual pode ser considerado como um aspecto negativo, deve-se observar que, em Porto Alegre, a capital pr6xima a Esteio, entre escolares da rede publica, este percentual e semelhante, 5 1 ,7%21.

Finalmente, nota-se que a maior parte das necessidades de tratamento pode ser realizada em nivel de atengio basica, pois se constituem em restauraqSes de uma superficie.

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