Prefeitura Municipal de Passo Fundo

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Prefeitura Municipal de Passo Fundo

Secretaria Municipal de Educação

Airton Lângaro Dipp Prefeito Municipal

Rene Cecconello Vice-Prefeito Municipal

Vera Maria Viera Secretária de Educação

Gestão 2009/2012 Passo Fundo - RS

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PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSO FUNDO

Airton Lângaro Dipp Prefeito

Rene Ceconello Vice-Prefeito

Vera Maria Vieira Secretária de Educação

Maria Salete Fernandes Coordenadora de Educação

NÚCLEO DE EDUCAÇÁO INFANTIL Silvia Maria Scartazzini Teresinha Indaiá Mendes Fabris Enir dos Santos Tormes Michele do Amaral de Oliveira Bolsista/PROPET

4

CONHECENDO O MUNDO

do saber infantil ao

conhecimento científico

Projetos de trabalho na Educação Infantil

O conteúdo dos projetos são de inteira responsabilidade dos autores.

5

Silvia Maria Scartazzini Teresinha Indaiá Mendes Fabris Editoria de Texto

Ingrid Denise Garbin Revisão de Texto

Michele do Amaral de Oliveira Capa e Diagramação

Michele do Amaral de Oliveira Silvia Maria Scartazzini Editoria e Composição Eletrônica

CIP – Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

_________________________________________________________________

C743 Conhecendo o mundo: do saber infantil ao conhecimento científico :

projetos de trabalho na educação infantil [recurso eletrônico] /

Silvia Maria Scartazzini, Ingrid Denise Garbin, Teresinha Indaiá

Mendes Fabris, organizadoras . – Passo Fundo: Prefeitura de

Passo Fundo, 2012.

Modo de acesso: <http://www.pmpf.rs.gov.br>

Inclui b ibliografia.

1. Educação de crianças. 2. Educação de crianças - Projetos. 3.

Práticas de ensino. 4. Educação pré-escolar. I. Scartazzini, Maria

Silvia, coord. II. Garb in, Ingrid Denise, coord. III. Fabris, Teresinha

Indaiá Mendes, coord. IV. Título

CDU: 373.2

_________________________________________________________________

Bib liotecária responsável Daniele Rosa Monteiro-CRB 10/2091

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PREFÁCIO

Redescobrindo o mundo pelos olhos das crianças

Estamos aqui diante de uma “obra”. Uma obra forjada a muitas

mãos: mãos pequenas, mãos grandes, mãos iniciantes na vida, mãos que

carregam marcas da experiência. Uma obra que se fez densa e forte no

percurso de sua produção. Um percurso marcado pelo desafio, pela

iniciativa, pela coragem de que se investiram seus autores de deslocarem-

se da zona de conforto proporcionada pelo cotidiano e de ocuparem

espaços não usuais, relacionarem-se com personagens não previstos pelo

script e expandirem intensamente o tempo cronológico estabelecido.

Nessa obra, pulsam vozes cheias de vitalidade. Vozes adultas,

vozes infantis. Vozes que se amalgamam na busca por descobrir o mundo

à sua volta. Vozes que indagam, que se marcam reciprocamente, que se

apoiam, imersas em belos enredos atravessados por conhecimentos e

experiências de diferentes procedências.

Essas vozes dizem seus cotidianos, mas não somente o cotidiano

que vai por si mesmo ou que, aparentemente, não tem necessidade de ser

dito, mas um cotidiano que se renova, que se torna um trampolim para o

possível, que mostra que se há desestímulos, há também o tempo de sua

superação.

É nesse cotidiano que observamos processos intensos de

transformação. Instados a superar os seus limites, sujeitos mostram o seu

melhor e investem em sua capacidade de inovar. Cada um a sua maneira,

cada um segundo suas possibilidades, cada um de um ponto de partida

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diferente.

Nesta obra estão registros de pessoas que estão marcando a

história da rede municipal de ensino. Seus autores – professoras da

Educação Infantil –, juntamente com os demais membros de sua

categoria, participaram (e ainda participam) da constituição de um modo

de atender a criança pequena que investe em sua educação, no cuidado

com o seu desenvolvimento e com a ampliação de seus horizontes.

Desde 1996, a Educação Infantil passou a integrar o ciclo da

Educação Básica. O que isso significa? Juntamente com o Ensino

Fundamental e o Ensino Médio, ela é responsável por prover cada novo

membro da sociedade de um conjunto de conhecimentos, de um alicerce

educacional que lhe permita prosseguir aprendendo ao longo de toda a

vida. Isso implicou uma transformação muito grande em relação à

herança dos tempos em que a população de 0 a 6 – atualmente 5 – era

objeto da ação da assistência social. Implicou estabelecer objetivos

educacionais, lugares e tempos de aprendizagem, conteúdos de ensino em

acordo com as possibilidades das crianças e com os anseios da

comunidade à sua volta. Ou seja, demandou um currículo.

O movimento de formação dos quadros para atender a essa nova

demanda pautou-se na crença segundo a qual um professor é um

intelectual capaz de produzir currículo. Isso afirma as suas condições não

somente de constituir conteúdos de ensino, mas de considerar em que

tempos e espaços esse ensino pode se dar, que sujeitos atuarão na sua

definição e execução e por que meios esse ensino será organizado. Nesse

percurso, algumas linhas de conduta foram se delineando. Uma delas

materializa-se nos textos expostos nesta coletânea.

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Rousseau, em meados do século XVIII, defendia que a natureza

dava mostras de que queria que as crianças fossem crianças antes de

serem adultas. Mas o que é ser criança? A leitura dos relatos a seguir

aponta o quanto as professoras estão descobrindo sobre o ser criança no

convívio diário com seus alunos. Também diz muito sobre o que é deixar

viver essa criança em um espaço institucionalizado, carregado de

tradições e de lógicas nem sempre favorecedoras da criatividade, da

curiosidade e da vitalidade que a caracterizam. As autoras chegam a isso

olhando para as crianças, aproximando-se do seu universo e

beneficiando-se da capacidade criativa de inteligir o mundo que elas

possuem. E o fazem mediante um recurso muito simples, o recurso da

escuta. No entanto, não se trata de uma escuta qualquer, mas de uma

escuta que se aproxima do que em pesquisa costumamos chamar de

“escuta sensível”. Uma atitude que busca sentir o universo afetivo,

cognitivo, imaginário do outro para poder comprendê- lo melhor,

compreender suas atitudes, suas ideias, seus valores, seus medos, sua

linguagem. Pela escuta sensível, o professor consegue perceber o lugar

da criança, não a julga, não a compara, aceita-a incondicionalmente.

Sabemos o quanto esta postura exige de nós. A grande maioria

dos professores, quando crianças, não foi vista e ouvida dessa maneira.

Forjar um modo de se relacionar com o outro sem um modelo de

referência mostra o impacto das aprendizagens e das reflexões que ao

longo desses últimos anos se deram. Mais uma razão para admirar esse

grupo que nesta obra se manifesta. O movimento que faz deixa sua

marca. Indica as possibilidades de um processo articulado, coerente e

denso de formação de entrar na vida da escola, fazer diferença na vida

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das crianças e recuperar a beleza que é poder conhecer guiado pela força

das perguntas. São atos que mobilizam, que impulsionam e que criam.

Expressam modos de interagir com o mundo que fizeram diferença na

história da humanidade. O que seríamos sem a força motriz do

desenvolvimento que há na pergunta?

O meu respeito por esse trabalho está para além dos resultados

que aqui se encontram registrados. Respeito a força que cada professor

carrega de transcender a sua própria experiência como criança,

posicionar-se diante do universo infantil que vem até ele e, deixando-se

envolver pelos impulsos de vida dos bebês, dos meninos e meninas,

percorrer com eles uma trajetória repleta de novos significados, de

descobertas.

Não obstante todas as forças que convergem para a deterioração

da profissão docente, essa experiência mostra que é possível ser feliz

sendo professor e que, contagiados pelas crianças que nos rodeiam,

poderemos e temos forças para construir uma escola feliz.

Adriana Dickel

Passo Fundo, novembro de 2012.

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SUMÁRIO

Recompondo o percurso: entrelaçando ideias em projetos de trabalho ...................... 13

1. INDICADORES METODOLÓGICOS .................................................................................. 20

NATUREZA ............................................................................................................................... 20

LINGUAGEM ............................................................................................................................ 26

MOVIMENTO ........................................................................................................................... 31

MATEMÁTICA .......................................................................................................................... 36

SOCIEDADE .............................................................................................................................. 40

ARTE.......................................................................................................................................... 46

2. PROJETOS............................................................................................................................ 49

ABELHAS E BORBO LETAS DANDO ASAS AO SABER .......................................................... 49

BRINQUEDO DE PLÁSTICO .................................................................................................... 56

CAIXA D’ÁGUA ........................................................................................................................ 61

COMO CUIDAR DO BEBÊ ....................................................................................................... 68

CONTRACHEQUE..................................................................................................................... 72

FRIO........................................................................................................................................... 79

LUA ............................................................................................................................................ 83

POR QUE TANTA CASINHA IGUAL? ...................................................................................... 87

O QUE TEM DENTRO DO CAMINHÃO? ............................................................................... 92

TUCANOS ............................................................................................................................... 101

CUECA OU CALCINHA........................................................................................................... 108

O MOFO ................................................................................................................................. 116

AS FORMIGAS........................................................................................................................ 120

OLHA PRÔ! A ÁRVORE TÁ PELADA!................................................................................... 127

PRÔ, OLHA O SAPO! ............................................................................................................. 131

PRÔ, TU TEM FERRO NA BOCA? ........................................................................................ 138

11

A BARRIGA DA PRÔ .............................................................................................................. 141

O QUE SE ESCONDE ATRÁS DA PORTA? ........................................................................... 145

SOMBRA ................................................................................................................................. 148

AS GALINHAS......................................................................................................................... 151

BEZERRO ................................................................................................................................ 155

CAÇA AO PIOLHO .................................................................................................................. 158

CAMINHÃO DO CD ............................................................................................................... 161

CAVALO .................................................................................................................................. 165

FORMIGAS ............................................................................................................................. 170

MINHOCA OU MINHOCO? .................................................................................................. 175

MÚSICA NA ESCOLA ............................................................................................................. 183

O NENÊ ................................................................................................................................... 187

PRÔ, TEM UM SAPO NA TUA MOCHILA? ......................................................................... 194

PANO MOLHADO .................................................................................................................. 198

RECICLAGEM ......................................................................................................................... 201

POLENTA ................................................................................................................................ 204

O ARCO-ÍRIS DO CARACOL .................................................................................................. 211

PRETINHA, A CACHORRINHA .............................................................................................. 216

AU, AU .................................................................................................................................... 218

FEIJÃO ..................................................................................................................................... 222

GOLFINHO .............................................................................................................................. 225

LUA QUEM É VOCÊ?............................................................................................................. 229

DONA ARANHA ..................................................................................................................... 234

ÁRVORE .................................................................................................................................. 239

QUEM BOTOU O LIXO ALI? ................................................................................................. 242

FRANGO ................................................................................................................................. 244

POR QUE A BORBOLETA ESTÁ PARADA? .......................................................................... 247

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BRINCAR E APRENDER NA ERA DIGITAL ........................................................................... 255

SARDINHA - “O QUE É ISSO?”............................................................................................. 259

LÁPIS ....................................................................................................................................... 262

DE ONDE VEM O LEITE? ...................................................................................................... 264

OLHA O CAVALO!.................................................................................................................. 270

ARMÁRIO ............................................................................................................................... 273

COMO NASCE O FEIJÃO? ..................................................................................................... 281

BICHO ESQUISITO ................................................................................................................. 284

PRÁ ONDE VAI O DENTE VELHO? ...................................................................................... 285

A PINHA DO PINHÃO............................................................................................................ 291

COMIDINHAS GOSTOSAS .................................................................................................... 296

NÃO GOSTO DE CARNE DE GALINHA, SÓ DE CAVALO, TEM? ........................................ 300

SÃO ÍNDIOS, PRÔ? ................................................................................................................ 302

POR QUE MEU DENTE CAIU?.............................................................................................. 317

13

Recompondo o percurso:

entrelaçando ideias em projetos de trabalho

Silvia Maria Scartazzini1

Teresinha Indaiá Mendes Fabris2

Escola, lugar de vida, de encontro de sujeitos e suas histórias.

Espaço onde, tradicionalmente, se torna possível, aos que a frequentam,

apropriarem-se dos conhecimentos científicos e culturais produzidos pela

humanidade.

Desde que a educação infantil passou a fazer parte deste contexto,

muitas têm sido as indagações que se colocaram a este nível de ensino.

Especialmente relevantes são aquelas que discutem o espaço do cuidar e

do educar, como se fosse possível uma prática pedagógica que fizesse

opção por uma dessas ações em detrimento da outra.

Romper com a ideia de uma instituição que, historicamente se

ocupou em prover os cuidados básicos dos pequenos, e torná- la capaz de

olhar a criança para além de fraldas e mamadeiras, percebendo em seus

gestos, em suas palavras e em suas brincadeiras o sujeito que ali se

encontrava, fez com que a administração municipal de Passo Fundo se

preocupasse em oferecer, aos seus profissionais, espaços coletivos de

estudo e de reflexão.

1Mestre em Educação. Coordenadora do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria de

Educação, da Rede Municipal de Passo Fundo. Professora da Faculdade de Educação da

Universidade de Passo Fundo – RS.

2 Psicopedagoga. Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Educação Infantil da

Secretaria de Educação, da Rede Municipal de Passo Fundo.

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Nasce o programa de formação continuada (Re)significando

Saberes na Educação Infantil, para os professores da rede municipal, que

se desenvolveu de 2007 a 2012.

Esta formação continuada diferenciou-se de cursos e treinamentos

desvinculados da prática pedagógica do educador. Procurou romper com

uma metodologia verticalizada, que por envolver um conjunto de

conteúdos e atividades pré- estabelecidas, desconsidera o contexto da

aprendizagem, deixando pouco espaço para uma atuação ativa, criativa e

crítica dos educadores. Buscou, nesta perspectiva, como sugere

Stenhouse (1981, p.211), que os educadores adotassem uma atitude

investigadora perante suas ações pedagógicas, entendendo “atitude

investigadora” como “uma disposição para examinar a própria atividade

prática de uma forma crítica e sistemática”. Ainda, Elliott (1990), ressalta

a importância de o educador estar constantemente refletindo na e sobre

sua ação, pois só assim amplia e enriquece a sua bagagem de

conhecimento profissional. Ensino e pesquisa são dois processos que,

quando imbricados na ação do educador, vão garantir o seu

desenvolvimento profissional e, consequentemente, a melhoria de sua

ação pedagógica.

Assim, foi fundamental que o programa propusesse uma

metodologia de formação continuada que possibilitasse o encontro dos

educadores em grupos de estudo. A interação, o intercâmbio de saberes,

as análises reflexivas das experiências socializadas e a proposição

coletiva de diferentes fazeres pedagógicos tornaram-se estruturantes na

efetivação de um novo paradigma de trabalho.

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No decorrer desses anos, diferentes aspectos curriculares

tornaram-se objeto de estudo, sempre considerando que a natureza do

trabalho pedagógico requer domínio de saberes específicos das diversas

áreas do conhecimento, bem como daqueles relativos às metodologias e a

compreensão dos processos presentes no planejamento, na organização

curricular e na avaliação.

Nos anos de 2007 e 2008 constituímos grupos de estudos onde os

professores, tomando a prática pedagógica como objeto de análise e

interpretação, articularam sua prática com teorias pedagógicas mais

atualizadas e com os indicadores nacionais para educação infantil. Dessa

etapa da formação resultou uma obra elaborada coletivamente, o

Referencial Curricular Municipal que, no momento, orienta o currículo

das escolas municipais.

De 2009 a 2012, a metodologia pedagógica fo i colocada como

prioridade de estudo nos encontros de formação. Dedicamo-nos à

construção de indicadores metodológicos que permitissem a transposição

didática do referencial curricular para a prática pedagógica, tornando-a,

assim, uma prática vivenciada. Tais indicadores estão referendados em

textos, que nascem da reflexão coletiva, tendo sido sistematizados pela

assessoria de cada área do conhecimento, e que se encontram transcritos

na primeira parte deste caderno.

Os momentos de formação foram mostrando que era necessário

colocar a criança como o centro do planejamento. Assim, pensar uma

escola para crianças pequenas implicava em tê- las como sujeito desse

processo de ensino e aprendizagem. Incorporar esse princípio a uma

prática pedagógica constituía-se no grande desafio do programa de

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formação. Então, enquanto discutíamos a prática nos encontros,

procurávamos autores que dessem conta de nosso problema: uma ação

pedagógica para a criança pequena a partir da própria criança. Essa busca

remeteu-nos ao planejamento dentro de um contexto de projetos de

trabalho.

Os Projetos de trabalho, porém, não poderiam ser qualquer

sequência de atividades com temas de interesse das crianças.

Precisávamos ir além. Era necessário ter a criança participando

ativamente nessa ação pedagógica, inserida em seu contexto cultural,

tendo possibilidades de ampliação de seus conhecimentos.

Dessa forma (cf BARBOSA e HORN, 2008; BENEKE e HELM,

2005; HERNÁNDEZ, 1998), passamos a considerar projetos de trabalho

numa perspectiva interdisciplinar, na busca por resolução de problemas.

Segundo Barbosa e Horn, resolução de problemas passa a ter

conotação de reflexão a cerca de um mesmo tema, quando:

A organização do ensino por meio de projetos pretende

fazer as crianças pensarem em temas importantes,

permit indo-lhes refletir e indagar a atualidade, a vida fora

da escola, escutando e aprendendo com os demais. Esse

caminho de construção coletiva permite às crianças

aprender a estudar, pesquisar, exercer a crítica, argumentar,

enfim, pensar.

Colocar em prát ica essa ação pedagógica, projetos de

trabalho, remeteu-nos a reflexão em relação à estruturação

desta forma de planejamento, uma vez que existem vários

elementos interligados que sustentam este fazer. Vários são

os sujeitos que se integram nessa ação: criança, professor e

família, num primeiro momento e, posteriormente, todos

aqueles outros que possam dar suporte ao tema em

discussão. Nosso olhar precisava deslocar-se do lugar onde

estava ancorado para encontrar novos pontos de

observação. (2010, p.11)

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Neste momento, o desafio foi compreendermos de onde nascem

os projetos, de que forma tratar a situação problema que se apresenta,

quem seriam os sujeitos envolvidos nesse processo e de que forma se

daria a atuação de cada um.

Procurando saber de onde nascem os projetos, encontramos em

Henández (1998) alguns princípios a serem considerados: ter um

percurso guiado por um tema-problema que favoreça a análise, a

interpretação e a crítica; ter atitude de cooperação entre todos os sujeitos

envolvidos. Ao professor cabe saber que cada percurso é singular,

exigindo diferentes formas de abordagem e escuta das vozes dos outros.

Há diferentes formas de aprender aquilo que pretende ensinar e que cada

um aprenderá aquilo que lhe for possível no momento, desde que lhe seja

oportunizado explorar seu próprio conhecimento na interação com

materiais didáticos e conhecimentos de outros.

Barbosa e Horn (2008) anunciam a escuta das vozes infantis

como sendo o lugar de onde derivam as melhores situações-problemas

para serem trabalhadas com as crianças. Escutar as vozes infantis não é

uma tarefa das mais simples, é preciso educar-se para tal e ainda,

estruturar momentos em que as crianças possam expressar suas

considerações, afirmações e hipóteses a cerca do mundo em que estão

inseridas. É a partir de uma postura de observação e investigação que o

professor conseguirá perceber o que as crianças realmente almejam

aprender.

Com a situação-problema definida, cabe ao professor propor

atividades que o auxiliem a descobrir o que mais as crianças conhecem

do tema em questão. O processo que se deflagrará vai levar o professor e

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sua turma por caminhos nem sempre conhecidos. Sendo assim, o

professor precisa estudar de modo aprofundado o tema a ser discutido,

para que possa mapear os percursos, iniciando a investigação, a reflexão

e estabelecendo os propósitos do estudo.

As diferentes maneiras com que o professor organiza os

conteúdos curriculares e as estratégias didáticas para responder as

perguntas dos alunos é que servirão de suporte para que as crianças

estabeleçam relações iniciais com o tema e reorganizem conceitos.

Assim, as aprendizagens realizadas nesse processo não resultarão num

simples somatório de informações isoladas.

É nessa etapa, também, que se define: o que precisa ser feito;

como o trabalho pode ser desenvolvido; como podemos obter os

materiais; como serão distribuídas as responsabilidades e tarefas; quem

pode colaborar e de que forma será essa colaboração. Isso nos mostra que

a estrutura de um projeto de trabalho não é rígida ou pré- determinada. O

planejamento não estará pronto em um único momento, tampouco será

realizado por uma única pessoa, “[...] as crianças participam da gestão

desse processo, propiciando-se, assim, que o poder do planejamento seja

distribuído entre os adultos e as crianças” (BARBOSA e HORN, 2008,

p.58).

Transpor a etapa da discussão e efetivar projetos de trabalho nas

escolas, por muitas vezes provocou insegurança nos professores. Isso,

principalmente, porque não é possível que se tenha, desde o princípio, o

domínio do desenvolvimento integral do projeto uma vez que ele vai

sendo constituído aos poucos. Mas isso não foi um impedimento para que

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o grupo de professores da educação infantil da rede municipal efetivasse

a ação pedagógica nas escolas através de projetos de trabalho.

Estudo, reflexões e discussões marcaram os diferentes momentos

de construção teórico-prática acerca de projetos de trabalho. Muitas

dúvidas e angústias perpassaram esse caminho trilhado coletivamente por

aqueles que integram a educação infantil, e ousaram lançar-se no

desconhecido.

Significativas aprendizagens e momentos de emoção não faltaram

a todos os envolvidos nesse processo que ora se materializa neste

caderno, através das vivências aqui registradas. E para quem se permitiu

aprender, fica a certeza de que projetos de trabalho tornam o professor

cidadão, condutor de seu próprio conhecimento e capaz de gerir um

currículo adequado ao grupo de crianças pelas quais é responsável.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, M. C. S., HORN, M.G. S. Projetos Pedagógicos na

Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008. ____________ Plantando em solo fértil. In: Revista Pátio, ano VIII,

Jan/Mar 2012, ISSN 1677-3721, nº 22.

ELLIOTT, J. La investigación-acción em educación. Madrid Morata, 1990.

HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.

STENHOUSE, L. Investigación y desarrollo de currículo, 3. Ed. Madrid: Morata, 1991.

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1. INDICADORES METODOLÓGICOS

NATUREZA

Sylvana Carpes Moraes3

O valor do trabalho com a natureza não está em

experimentos sofisticados, mas sim na simplicidade das

descobertas. Parafraseando Guimarães Rosa “... a coisa

não está nem na saída, nem na chegada, mas sim na

travessia...” O que queremos é que as crianças

permaneçam curiosas e instigadas a experimentar e

descobrir sobre coisas simples do nosso cotidiano. 4

As crianças, em sua singularidade enquanto sujeitos humanos

mostram-se ávidas por conhecer e adentrar o mundo, dele se apropriarem

e terem possibilidades de transformá-lo, (re) significando-o. O presente

texto faz incursões breves a respeito dos princípios teórico-

metodológicos que entendemos devam orientar uma proposta de ação

investigativa da criança, tendo o professor como mediador na

transposição dos conhecimentos cotidianos aos científicos. Indica ainda,

implicações requeridas para a permanente revitalização da ação

pedagógica na Instituição de Educação Infantil.

A exploração do mundo pela criança, incluindo a compreensão da

natureza humana e ambiental, precisa ser regida por ações que permitam

o estabelecimento de relações entre as concepções prévias que a mesma

3 Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Passo

Fundo - RS. Assessora do Programa de Formação Continuada (Re)Significando Saberes

na Educação Infantil. 4 Janúsia Guedes Fontes. Professora da EMEI Amizade, da Rede Municipal de Ensino

de Passo Fundo.

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constrói a partir do mundo natural e cultural e as concepções científicas

que apontam para conhecimentos a serem estruturados com atribuição de

significado: Os conhecimentos são como uma rede. As crianças se

apoiam nos conceitos cotidianos para elaborar e entender os científicos

e, neste processo, a interação e a linguagem são extremamente

importantes.5 Portanto, os conhecimentos são construídos pelas

oportunidades de interação e fala. Assim, é importante atentar para o

papel da escola de educação infantil, enquanto instituição responsável

pelo “cuidar” e “educar”, no sentido de oportunizar de forma intencional,

a ascendente compreensão e o aprendizado dos conhecimentos científicos

produzidos e sistematizados na história da humanidade.

Ensinar Ciências da Natureza é ensinar muito mais a perguntar

do que a responder. As situações de ensino e aprendizagem devem

contemplar vivências comunicativas, explicitação de questionamentos,

construção de problemáticas significativas passíveis de investigação,

construção de hipóteses que dialoguem com problemas reais, enfim, o

uso de diferentes estratégias que permitam ao professor, um olhar e uma

escuta, gradativamente mais apurados. Então, entendemos ser necessário

lançar um olhar com “óculos da ciência” para cada gesto, cada fala, cada

expressão da criança vislumbrando uma educação que contemple não

somente a construção de competências e habilidades na execução de

ações de investigação e compreensão, mas também que desencadeiem

processos comunicativos com o uso de diferentes linguagens, que

5 Marilene Fátima Scandiel Ferreira. Professora da EMEI Padre Zezinho, da Rede

Municipal de Ensino de Passo Fundo.

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valorizem as descobertas das crianças junto aos coletivos que interagem.

Faz-se mister saber como os alunos pensam, concebem conceitos e

proposições conceituais para orientá- los em relação à coerência e

consistência de suas hipóteses: Se aprende muito com a observação, com

as reações, com as caras e bocas (.. .) tudo nos deixa em alerta para

sabermos como lidar com as diferentes situações. 6

Portanto, acreditamos que a articulação entre as descobertas

pessoais e coletivas realizadas junto às famílias e a ampliação da

participação da criança em grupos sociais mais amplos, promove a

essência do papel social que a instituição de educação infantil deva

desempenhar na concretização de algumas estratégias, quais sejam:

promover debates através de inquietações cotidianas, que ultrapassem a

metodologia da superficialidade; realizar coleta de dados a partir de

histórias de vida, depoimentos e pesquisa em diferentes fontes; estimular

diálogos críticos entre os conhecimentos escolares e a realidade social;

oportunizar experiências de sensibilização e consciência corporal

incluindo as questões relacionadas aos elementos, aos fenômenos e à

preservação da natureza. Ainda, intencionar leitura de imagens e objetos

(vídeos, fotos, gravuras, filmes, pinturas), manuseio de livros e impressos

diversos (propagandas, reportagens, panfletos (flyers e e- flayers);

desenvolver jogos e brincadeiras que objetivem a vivência lúdica do

cotidiano; provocar ações que envolvam a literatura infantil como forma

6 Cleomar de Melo Santos. Professora da EMEI Maria Elizabeth, da Rede Municipal de

Ensino de Passo Fundo.

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de, através das relações estabelecidas,compreender o mundo natural e

social vivido e assim, criar “novas” formas de ação.

Quando se faz referência à natureza, as crianças precisam

vivenciar práticas que permitam a sensibilização e a internalização de

conceitos que as constituam como sujeitos humanos que primam pela

harmonia entre todos os seus elementos e, especialmente, consigo

mesmo. Neste sentido é responsabilidade da escola possibilitar a

construção e a vivência saudável da sexualidade, permitindo ações de

sensibilidade, cuidado e respeito com o próprio corpo em suas relações

com o outro.

Para tanto, algumas questões se apresentam e se instalam como

propósitos a serem perseguidos pelos profissionais que trabalham com

crianças na faixa etária dos 0 aos 5 anos. A transposição didática precisa

ter como foco a ludicidade e estar alicerçada em saberes e fazeres

planejados e intencionais, subsidiados por crenças e concepções que

envolvem posturas, atitudes, procedimentos, estratégias e ações dos

profissionais da educação responsáveis pela mediação. Atitudes no

sentido de transformar as crianças em sujeitos críticos e construtores de

conhecimentos (re)significados, agindo de forma autônoma, inventando e

criando novos modelos de se relacionar com a cultura e a natureza

auxiliam na definição de estratégias e procedimentos que incidem nas

seguintes questões: flexibilização do tempo e respeito ao ritmo de cada

criança; ampliação de espaços e objetos de ação; superação da

improvisação pelo encadeamento de propostas significativas.

A curiosidade e as necessidades infantis, à medida que o tempo

passa, se ampliam e se diversificam e, na ausência de esquemas de ação

24

reais “as crianças se envolvem num mundo ilusório e imaginário, onde

os desejos podem ser realizados e esse mundo é o que chamamos de

brinquedo” (VYGOTSKY, 1991, p.106). Essas questões têm implicações

na ação pedagógica dos profissionais da educação infantil sendo

inevitável desenhar estratégias adequadas a cada etapa do

desenvolvimento. A criação de situações em que a criança possa através

do jogo, da dança, do teatro, da música, da exploração do seu corpo, dos

colegas, dos familiares e amigos e na exploração dos objetos do mundo

que a cerca, com o envolvimento dos sentidos, é de incontestável valor

enquanto estimulação neurológica para melhoria no desempenho

pedagógico e maior valor social. (SILVA, 1998, p.190).

Nessa perspectiva, acreditamos que os pressupostos teórico-

metodológicos implícitos à ação de todo professor devem atender à idade

e potencialidades das crianças, à natureza do trabalho, à temática bem

como o tempo e o espaço para sua realização.

Quando se tira da criança a possibilidade de conhecer este

ou aquele aspecto da realidade, na verdade se está

alienando-a da sua capacidade de construir seu

conhecimento. Porque o ato de conhecer é tão vital como

comer ou dormir, e eu não posso comer ou dormir por

alguém. A escola em geral tem esta prática, a de que o

conhecimento pode ser doado, impedindo que a criança e,

também, os professores o construam. Só assim a busca do

conhecimento não é preparação para nada, e sim VIDA,

aqui e agora. E é esta vida que precisa ser resgatada pela

escola. Muito temos a caminhar para isso, mas é no hoje

que vamos viabilizando esse sonho de amanhã. (FREIRE,

1989, p.15)

25

Referências Bibliográficas

CRAIDY, Carmem Maria e KAERCHER, Elise P. da Silva (org.). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artemed, 2001.

FARIA, Vitória Líbia Barreto. Currículo na educação infantil: Diálogo com os demais elementos da proposta pedagógica. São Paulo: Scipione,

2007.

FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. 7ª ed. São Paulo: Paz e Terra,1989.

SILVA, Cenira Ribeiro. Educação Infantil: fundamentos biológicos. Passo Fundo: UPF, 1998

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

26

LINGUAGEM

Adriana Bragagnolo7

As palavras só têm sentido

quando fazem parte da realidade da criança8 .

A linguagem, especialmente na educação infantil, manifesta-se

nas crianças, das mais variadas e criativas formas. Este texto tem a

intenção de apresentar pressupostos teórico-metodológicos, com o

enfoque na linguagem verbal, ou seja, o que defendemos e que

perspectivas metodológicas dão suporte ao desenvolvimento da fala e da

escrita com crianças desse nível de ensino.

Nessa perspectiva, entende-se que a linguagem verbal

desenvolve-se de acordo com as interações que a criança estabelece com

outras crianças, adultos e instrumentos que o meio oferece. O

desenvolvimento da fala depende de mecanismos físicos, aspectos

emocionais, sociais e culturais, além das questões pedagógicas, que

influenciam no processo de maneira significativa. Acreditamos que, com

a intervenção das primeiras experiências na comunicação com o adulto,

as crianças vão estabelecendo novas relações de acordo com os

fenômenos vividos e percebidos e, ao estabelecer relações com a

linguagem verbal, elas vão regulando sua própria conduta.

No caso da língua escrita, as primeiras experiências das crianças

7 Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Passo

Fundo – RS. Assessora da Área de Linguagem Oral e Escrita do Programa de Formação

Continuada (Re) Significando Saberes na Educação Infantil. 8 Claudia Pires, Joselene Souza. Professoras da EMEI Raio de Luz, da Rede Municipal

de Ensino de Passo Fundo.

27

com esta forma de expressão, revelam que, mais importante do que

pensarmos em como se ensina, é compreendermos como aprendem, ou

seja, como elas trilham o caminho ao se apropriar de tal conhecimento, o

que defendemos como o entendimento da psicogênese da língua escrita.

Nessa perspectiva acreditamos na importância do simbolismo, nos

conhecimentos que as crianças já possuem da língua e da relação que irão

estabelecer com as oportunidades que a escola oferece. Segundo

professora da rede municipal, a bagagem cultural que cada criança traz

deve ser respeitada, valorizada, pois a construção do conhecimento

começa de sua bagagem. Os alunos nos mostram o caminho, quando

fazem das diferentes linguagens o seu objeto de conhecimento9.

Portanto, acreditamos na inserção das crianças em práticas de

letramento, ou seja, nas mais variadas práticas sociais de leitura e de

escrita. Crianças pequenas, registrando espontaneamente o que pensam, o

que sentem e o que desejam, nos mostram o real processo. Assim,

compreendemos a alfabetização na educação infantil como um caminho

de compreensão a ser construído por elas, que depende das oportunidades

a que serão submetidas, um processo contínuo que implica momentos

ricos de intervenção os quais possibilitam tomadas de consciência.

Frente a esses pressupostos, estão as estratégias que referenciam a

metodologia assumida pelo corpo docente da educação infantil. Assim é

importante que as crianças presenciem a fala, a le itura e a escrita do

9 Dagmar Zanatta. Professora da EMEI Santa Luzia, da Rede Municipal de Ensino de

Passo Fundo.

28

adulto para compreender entre outros aspectos o significado do seu uso

social. Além de se constituir modelo - ao falar, ao ler e ao escrever -, o

professor tem a responsabilidade de propor atividades didáticas capazes

de ampliar os conhecimentos acerca da linguagem.

O espaço para a fala, que pode se apresentar em forma de rodinha,

reconto, momentos espontâneos de expressão oral, entre outros, permite a

argumentação, a organização do pensamento, o avanço de vocabulário e a

produção oral de textos. É importante considerar que as crianças

precisam aprender a ouvir e tem necessidade de serem ouvidas.

Nesse contexto, destacam-se os textos literários que, além de

serem bem-vindos ao universo dos pequenos por sua característica lúdica

e imersão no mundo do faz-de-conta, permitem que as crianças possam ir

construindo seu conhecimento da linguagem escrita. Linguagem esta que

não deve se limitar ao conhecimento das marcas gráficas ou a interpretar,

mas envolve gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos

linguísticos. É pertinente, então, oferecer-se diferentes portadores de

textos, explorando-os de diversas maneiras, visto que a cultura escrita

apresenta variados gêneros textuais e uma vasta produção com a qual a

criança deve ter contato.

Da mesma forma que as crianças fazem tentativas de leitura,

precisam tentar escrever. Deixar que se expressem ao rabiscarem em

diferentes superfícies com o uso de variados materiais é uma forma de

possibilitar a expressão gráfica. Sabendo-se que a escrita é um objeto

simbólico, para que as crianças reconheçam nas marcas gráficas estes

objetos simbólicos, os agentes sociais, professores, devem atuar como

intérpretes, tendo a função de transformar tais marcas gráficas em objetos

29

linguísticos (TEBEROSKY; COLOMER, 2003, p. 17).

Além disso, é necessário que as crianças sejam oportunizadas a ter

momentos de contradição, conflitos sócio-cognitivos, tenham o máximo

de experiências com as diferentes linguagens, brinquem com a língua

para descobrir semelhanças e diferenças sonoras, joguem, montem ou

tentem montar palavras significativas, ou simplesmente “namorem” a

escrita. Elas têm o direito de construir e reconstruir hipóteses, errar,

tentar e reorganizar seus conceitos acerca dessa modalidade. Segundo

Smolka:

A alfabetização é um processo discursivo: a criança aprende

a ouvir, a entender o outro pela leitura; aprende a falar, a

dizer o que quer pela escrita. Mas esse aprender significa

fazer, usar, praticar, conhecer. Enquanto escreve, a criança

aprende a escrever e aprende sobre a escrita. Isso traz para

as implicações pedagógicas os seus aspectos sociais e

políticos. (1999, p. 63).

Dessa forma, reitera-se o olhar da escola ao processo de

desenvolvimento da linguagem, ao desempenhar um papel essencial que

está para além do cuidado, o ensinar. Isso significa educação responsável

e intencionalidade pedagógica.

Como professores de crianças de educação infantil, cabe o papel

de um sujeito que realiza intervenções qualitativas, que provoca as

crianças e as oportuniza pensar. O educador da Educação Infantil é

essencial na formação das crianças, na medida em que compreende

30

como elas se desenvolvem e está preparado para intervir

qualitativamente nesse processo.10

Ao vivenciar a escrita como uma forma de representação da

linguagem, num ambiente favorável ao seu desenvolvimento,

possivelmente as crianças construirão as ferramentas necessárias para

encarar o processo de aprendizagem com melhores condições. Quando há

uma proposta pedagógica comprometida com a infância, ocorre um

ensino de maior qualidade para as crianças, cada um se desafia e assume

um compromisso, uma postura política, com respeito e melhores

perspectivas de futuro.

Referências Bibliográficas

BRAGAGNOLO, Adriana. A aquisição da linguagem escrita na educação infantil: concepções presentes nos meios acadêmicos. 2004. Dissertação. (Mestrado em Educação). Universidade de Passo Fundo,

Passo Fundo, 2004.

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita : a alfabetização como processo discursivo. 8. ed. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1999.

10 Adriana Tortelli. Diretora da EMEI Margarida, da Rede Municipal de Passo Fundo.

31

MOVIMENTO

Bernardete Madalena Milani Surd i11

Partindo da concepção de corporeidade como presença no mundo,

onde a criança, desde a mais tenra idade busca pelo movimento corporal,

inserir-se no meio, este texto busca apresentar o movimento como uma

linguagem tão importante como qualquer outra contemplada na proposta

do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.

A expressão corporal, como linguagem imediata, pode ser

compreendida como uma conduta espontânea pré-existente, na qual o ser

humano expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos com o

seu corpo, integrando-o às suas outras linguagens expressivas como a

fala, o desenho e a escrita. O papel que o educador exerce é de suma

importância no sentido de ajudar a criança a vivenciar situações corporais

para que possa aproveitar com mais eficácia e menos gasto de energia

suas experiências diárias.

Sendo o corpo o ponto de referência que o ser humano possui

para conhecer e interagir com o mundo, este servirá de base para o

desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem de conceitos

importantes no desenvolvimento da criança. É na educação infantil que

podemos oportunizar a criança conhecer seu corpo para manejá- lo

melhor. Quando abordamos as questões do corpo, do movimento e da

emoção como determinantes no processo de aprender, levamos em

11 Mestre em Educação, Assessora do Programa de Formação Continuada

(Re)Significando Saberes na Educação Infantil.

32

consideração a contribuição do corpo-movimento ao processo de

desenvolvimento da criança e o lugar que ocupa o corpo da criança e do

docente no âmbito da educação. Por isso, é tão importante assumirmos a

responsabilidade pedagógica de oferecer aos alunos o eixo do movimento

corpóreo sob uma ótica de organização, sistematização e compreensão

teorizada acerca deste campo de conhecimento.12

A grande preocupação para todos que lidam com crianças deveria

ser ajudá-las a usar seu corpo para apreender os elementos do mundo que

as envolve e estabelecer relações entre eles. É com seu corpo que a

criança vai se movimentar, conhecer e relacionar-se. Se uma criança não

conhece, não valoriza, não confia em seu corpo nessa etapa, vai ser mais

difícil que o consiga quando entrar para o primeiro ano, onde muitas

vezes, não pode utilizar todo seu corpo com tanta liberdade, pois tem que

começar a usar os membros de forma diferenciada. O movimento global

tende a desaparecer no trabalho específico de aula e a motricidade fina

fica focalizada em áreas, como por exemplo, o treinamento olho-mão na

escrita. Sendo o corpo o mediador da capacidade de simbolização na

criança, o movimento pela sua natureza e complexidade participa

ativamente de nossas construções mentais. Como todo ato motor é

carregado de emoção, o movimento tem um papel fundamental na

afetividade e na cognição, elementos importantes para a aprendizagem.

12 Ana Meire Meyer Odorcick. Professora da EMEI Raio de Luz, da Rede Municipal de

Ensino de Passo Fundo.

33

Nesse sentido, por exemplo, os jogos tradicionais infantis, como a

amarelinha, esconde-esconde, corda, bola, pegador, cada macaco no seu

galho, propiciam a descentração da criança, a aquisição de regras, a

expressão do imaginário e a apropriação do conhecimento. Segundo

Kamii, os jogos de perseguição do tipo pegador estimulam o processo de

descentração do pensamento e a elaboração de estratégias para fugir do

perseguidor ou para perseguir: essas estratégias exercitam o raciocínio

espacial, pois levam as crianças a tentarem descobrir, por exemplo, o

caminho mais curto ou inverter a direção para fugir do perseguidor ou

para pegar alguém de surpresa.

No brincar corporal, na representação, em toda sua expressão

corporal, a criança pensa, reflete, organiza-se internamente para aprender

aquilo que ela quer, o que precisa, o que necessita e que está no momento

de aprender. Na verdade, o brincar é a forma de resolver problemas que a

criança encontra e o instrumento é o corpo.

Wallon coloca que o ser humano é geneticamente social e a

própria natureza humana se constitui num processo de interação inter-

pessoal e inter-cultural, cabendo ao corpo o papel principal (Dantas,

1992).

Nesse contexto, de acordo com as ideias wallonianas, o ato

mental se desenvolve a partir do ato motor, reafirmando que a criança

pensa na ação. Isto ocorre com toda intensidade no período sensório-

motor – que se constitui na principal via de expressão de seu mundo

interno- e se prolonga durante toda a primeira infância. A busca da

construção do conhecimento por meio de atividades corporais leva a

criança a agir para pensar. E na ação, ela constrói, vivencia experiências,

34

relaciona-se com o mundo e as pessoas, brinca com seu corpo: arrasta,

atira, enche, esvazia, escolhe, compara, larga, agarra, imita, recorta,

rasga, amassa, chuta, rola, brinca com as mãos, com os pés, salta,

equilibra, constrói, destrói, desenha, rabisca,escreve , faz-de-conta...

Dessa maneira, a atuação do educador precisa voltar-se para a

evolução e crescimento da criança. Cabe salientar que nesse meio

educativo, a criança tomará consciência que existe e de que é olhada,

constituindo-se num sujeito capaz de ação, sujeito presença no mundo.

Acreditamos “não ser possível negar a cultura infantil e os movimentos

pelos quais a criança se constitui desde seu nascimento (SURDI, 2001,

p.193). Para tanto, precisa ser considerada e olhada como um ser criador,

capaz de escolher e selecionar. Para que a escola proporcione um clima

de acolhida e de segurança, a prática educativa deverá oferecer recursos

que permitem a criança a expressividade motora e do movimento, pois

a escola de Educação Infantil acolhe a criança na sua idade de “ouro”

para as aprendizagens. O profissional dessa fase tão importante do ser

humano, precisa buscar constantemente amparo teórico-metodológico

para poder construir um currículo de qualidade, proporcionando às

crianças desenvolvimento pleno de suas potencialidades corpóreas para

ser, estar e interagir no mundo.13

13 Guiomar Salete Bolner. Diretora da EMEI Fofão da Rede Municipal de Passo Fundo.

35

Referências Bibliográficas

DANTAS, Heloisa. Do ato motor ao ato mental; a gênese da inteligência segundo Wallon. In: LA TAILLE, Yves; OLIVEIRA, M.K.; DANTAS,

H. Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. SURDI, Bernardete M.M. Corporeidade e aprendizagem: o olhar do

professor. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2001.

36

MATEMÁTICA

Cínthia Castoldi14

[...] nas condições de verdadeira aprendizagem os

educandos vão se transformando em reais sujeitos da

construção e da reconstrução do saber ensinado (FREIRE,

1998, p.26)

Desde muito pequenas, as crianças entram em contato com grande

quantidade e variedade de noções matemáticas, ouvem e falam sobre

números, comparam, agrupam, separam, ordenam e resolvem pequenos

problemas envolvendo operações. Estes conhecimentos variam, em maior

ou menor grau, de acordo com a cultura e o meio social aos quais as

crianças pertencem e constituem um bom ponto de partida para novas

aprendizagens. Cabe às Instituições de Educação Infantil articular estas

experiências com os conhecimentos matemáticos socialmente

construídos. Para tanto, é preciso organizar situações que desafiem os

conhecimentos iniciais das crianças, ampliando-os e sistematizando-os.

Mas para organizar tais situações, é necessário primeiramente,

estarmos atentos às crianças, observando os indícios que estas nos

apresentam, as informações que suas falas e atitudes revelam de modo a

poder interferir e educá-los. Ao nos dar conta dos fatores que interferem

e/ou influenciam direta ou indiretamente a criança, pode-se estar

valorizando, por exemplo, o raciocínio lógico da criança e sua

argumentação. Desse modo se estaria explorando com crianças uma série

14 Mestre em Educação. Assessora do Programa de Formação Continuada

(Re)significando Saberes na Educação Infantil.

37

de saberes sobre o mundo matemático que as mesmas possuem ao chegar

à escola.

Aprender a valorizar o raciocínio lógico e argumentativo, torna-se

um dos objetivos da educação matemática, ou seja, despertar no aluno o

hábito de fazer uso de seu raciocínio e de cultivar o gosto pela resolução

de problema. Mas é fundamental que a solução do determinado problema

fique a cargo das crianças, para tanto, é necessário que o professor abra

um espaço de exploração e de busca. É preciso não dar diretamente um

procedimento que deve ser utilizado por todos, mas é necessário

controlarmos a ansiedade e aguardar para validar as produções das

crianças depois de um longo processo de construção do conhecimento.

Como destaca a professora Angelita Mello15 jamais devemos

subestimar os alunos, sejam eles bebezinhos ou não, pois sabemos que

crianças, mesmo na educação infantil, podem trabalhar diretamente com

os números, contando objetos, lendo e escrevendo números, resolvendo

situações de comparação, ordenação e reunião de quantidade, sempre em

situações significativas, contextualizadas e com sentido.

Ao trabalhar com conhecimentos matemáticos, como o sistema de

numeração, medidas, espaço e formas, por meio da resolução de

problemas, as crianças poderão desenvolver sua capacidade de

generalizar, analisar, sintetizar, inferir, formular hipóteses, deduzir,

refletir e argumentar. E, como destaca a Professora Arleia Bellini16 eles

15 Professora da EMEI Tio Patinhas, da Rede Municipal de Ensino de Passo Fundo. 16

Professora da EMEI Fadinha, Rede Municipal de Ensino de Passo Fundo.

38

se sentem valorizados quando podem comentar sobre seu processo de

como chegaram ao resultado.

Tomar como ponto de partida o conhecimento matemático que a

criança já possui para “ensiná- la” na busca da construção daquilo que ela

ainda não conhece é um dos modos de aproximar a realidade da criança

do conhecimento humano e histórico. D’Ambrósio (1996) chama a isso

de Etnomatemática, onde a matemática escolar deve tomar a

compreensão, o conhecimento e a explicação dos processos de

construção de saberes a partir do contexto sócio-histórico em que os

sujeitos cognoscentes se inserem.

Considerando a ludicidade na educação infantil, muitas vezes

possuímos a preocupação em proporcionar materiais concretos para que

as crianças realizem contagens, no entanto, precisamos observar que ao

propor o uso do material concreto como único meio de solução de um

problema, a criança é impedida de decidir qual procedimento quer

utilizar. Provavelmente, muitas crianças não precisariam recorrer à

contagem para resolver o cálculo ou poderiam fazer a contagem com

marcas em uma folha ou ainda utilizando os dedos.

Outra prática muito utilizada é a utilização de jogos matemáticos,

para tanto vale destacar que conforme os PCN (1997), os Jogos

Matemáticos, além de aproximarem a criança do conhecimento

matemático, ainda, são “[...] fontes de significados e, portanto

possibilitam compreensão, geram satisfação, formam hábitos que se

estruturam num sistema, [...] importante no sentido de ajudar a criança a

perceber regularidades.” Sendo assim é necessário selecionar materiais

39

apropriados/ adequados para que estes não se tornem obstáculos ao

objetivo que o educador tem para a determinada atividade.

Considerando a necessidade de incluir na educação infantil o

ensino de certos conhecimentos matemáticos que se articulem com os

conhecimentos que as crianças possuem e permitam ampliá- los, estamos

proporcionando situações, para que as crianças desde pequenas possam ir

construindo ideias sobre o que é a matemática, sobre como se faz a

matemática e sobre si mesmas fazendo matemática.

Vale destacar que propor um trabalho assim não é tarefa simples,

requer uma constante reflexão sobre o nosso próprio fazer pedagógico,

considerando a práxis pedagógica.

A maneira como o professor concebe o ensino, permitindo,

encorajando, provocando as crianças a utilizar as relações entre os

saberes que já dispõem e os que têm que aprender é um aspecto

fundamental para diminuir a distância entre aqueles que sempre sabem e

o que se encontra em condições diferentes. Sendo assim, poderemos

estar, desde a educação infantil, mostrando que a matemática é uma

ferramenta para podermos interagir e intervir no mundo em que vivemos

e não uma fonte de exclusão social.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares

Nacionais. Matemática. Brasília: MEC/ SEF, 1997,142 p.

D’Ambrósio, Ubiratan. História da Matemática e Educação. In: Cadernos Cedes. História e Educação matemática. 1ª ed. São Paulo: Papirus,

40

SOCIEDADE

Carina Tramontina Corrêa17

As escolas ajudam as crianças pequenas a entenderem a si

mes mas, o mundo à sua volta e suas relações com ele. Elas

aprendem sobre si mes mas por meio das respostas que

recebem do ambiente externo ao testarem seus poderes

sobre o mundo físico e social. Elas adquirem consciência

do contexto em que vivem e se esforçam para entendê-lo,

integrando-se mais e mais a ele ao definirem as fronteiras

entre elas e o mundo que as cerca (SPODEK &

SARACHO, 1998, p. 324).

Considerando a Educação Infantil como uma primeira etapa da

educação básica, que complementa a ação da família e da escola e que

tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco ano

sem seus aspectos físico, motor, psicológico, intelectual, moral e social,

percebem-se a necessidade da escola infantil estar preocupada com um

planejamento que leve em conta o bem-estar da criança, seu grau de

desenvolvimento, sua diversidade cultural, os conhecimentos que serão

universalizados e o regime de atendimento (integral ou parcial).

As crianças vêm, cada vez mais, tendo consciência da dimensão

do mundo que as cerca. Esta conscientização surge a partir da

exploração deste meio, o que passa a constituir aprendizagens por meio

17 Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de

Passo Fundo – RS, Assessora da do Programa de Formação Continuada (Re)

Significando Saberes na Educação Infantil.

41

de vivências práticas e significativas. É a socialização da criança com o

meio que favorecerá o seu desenvolvimento, a construção da sua

identidade e da sua autonomia.

O planejamento escolar precisa considerar esses aspectos que

caracterizam a infância, explicitando também os fundamentos teórico-

metodológicos, os objetivos/conteúdos, o tipo de organização e as formas

de avaliação da escola. Na verdade, tudo passa a fazer parte do currículo.

Silva define de maneira clara um currículo, o que faz com que se

perceba a relação do currículo com a área do conhecimento abordada

aqui: sociedade.

O currícu lo é lugar, espaço, território. O currícu lo é relação

de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O

currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum v itae: no

currículo se forja nossa identidade. O currícu lo é texto,

discurso, documento. O currículo é documento de

identidade (1999, p. 150).

O contato com o meio oportuniza o desenvolvimento de

capacidades em que passam a perceber a existência do ambiente, das

coisas, dos seres vivos. É nesta interação que as emoções também são

descobertas e que as relações são estabelecidas, o que auxilia na

formação de um ser humano capaz, consciente, crítico e transformador.

Os próprios documentos legais refletem sobre isso, quando

afirmam que “o crescente domínio e uso da linguagem, ass im como a

capacidade de interação, possibilitam, todavia, que seu contato com o

mundo se amplie, sendo cada vez mais mediado por representações e por

significados construídos culturalmente” (RCNEI, 1998, p. 169).

42

Na medida em que a criança se desenvolve, experiência o que o

mundo oferece, passa a fazer descobertas, elaborar suas teorias

espontâneas, descobrir que o seu pensar e o seu agir refletem diretamente

num meio que exige a sua intervenção, representar através de diversas

linguagens seu entendimento, que aos poucos é aprimorado pela cultura,

pela socialização e pelo próprio conhecimento científico.

O estudo da Área Sociedade no currículo da Educação Infantil

oportuniza o desenvolvimento de habilidades e competências que estarão

direcionadas aos aspectos sociais, antropológicos, culturais, religiosos,

filosóficos, históricos, geográficos e econômicos. Esta contribuição

multidimensional, multidisciplinar e interdisciplinar que a Área

Sociedade propicia faz com que a criança descubra o seu papel numa

sociedade de relações subjetivas e objetivas que a constituem enquanto

sujeito. Castrogiovanni expressa esse entendimento quando afirma que,

o processo de ensino-aprendizagem supõe um determinado

conteúdo e certos métodos. Porém, acima de tudo, é

fundamental que se considere que a aprendizagem é um

processo do aluno, e as ações que se sucedem devem

necessariamente ser dirig idas à construção do

conhecimento por esse sujeito ativo (2000, p.92).

Desta forma, princípios teórico-metodológicos passam a ter que

ser pensados e construídos pelas escolas num planejamento inter e

transdisciplinar, os quais caracterizam projetos político-pedagógicos que

contemplem a complexidade do saber e da própria sociedade. Afinal, é o

reflexo deste mundo complexo que hoje está cada vez mais evidenciado

no espaço escolar.

43

Torna-se relevante, portanto, estudar as relações sociais

estabelecidas entre as pessoas e os grupos sociais, os espaços

topológicos, projetivos e euclidianos, o tempo vivido e construído numa

relação com o presente, com o passado e com o futuro. Pois, para Callai

“se o ponto de partida é conhecer a realidade em que vivem, é neste

âmbito que se problematiza a questão de como dar conta dos conceitos de

grupo-espaço-tempo” (2003, p.66).

Não é só no conteúdo do currículo escolar que vamos

encontrar os caminhos para trabalhar os princípios teórico-metodológicos

que contemplam a área sociedade, mas sim na dinâmica do processo de

construção da aprendizagem. Ou seja, tendo a observação, a elaboração

de hipóteses, as representações gráficas, exercícios de orientação espacial

e temporal, as diversas formas de expressão da linguagem, o ler, o

escrever, o contar, entre outros, caracterizam pontos fundamentais que

consideram significativamente as situações de aprendizagem. Situações

estas que formalizam as informações e conceitos adquiridos nas

vivências escolares e não-escolares, contemplando compreensões a cerca

do lugar, do tempo, do espaço, do grupo, da paisagem, de escala, de

mapeamentos, de maquetes, de cartografia... Enfim, de conhecimentos

teorizados a partir da realidade estudada. Concorda-se com

Castrogiovanni quando afirma que,

compreender o lugar em que vive, permite ao sujeito

conhecer a sua história e conseguir entender as coisas que

ali acontecem. Nenhum lugar é neutro, pelo contrário, é

repleto de história e com pessoas historicamente situadas

num tempo e num espaço, que pode ser o recorte de um

44

espaço maior, mas por hipótese alguma é isolado,

independente (2000,p. 84).

Por isso, a necessidade também em relacionar os princípios

teórico-metodológicos do estudo da Área Sociedade com os princípios

teórico-metodológicos da educação infantil num fazer pedagógico

realmente preocupado com a formação deste ser humano.

A imitação, o faz-de-conta, o brincar, o jogo, a linguagem, a

apropriação da imagem corporal são elementos que darão subsídios

teórico-práticos numa pedagogia que considere o conhecimento cotidiano

através de teorias espontaneamente inventadas, a vivência real e o mundo

imaginário que pertencem ao contexto infantil.

Cabe ao professor, nesse processo de aquisição do conhecimento

referente à sociedade, oportunizar práticas pedagógicas que contemplem

a pesquisa enquanto prática investigativa, a construção de conceitos

científicos, a representação do imaginário e do real nas diferentes

linguagens, bem como o aprimoramento das várias formas de se estudar

o meio, considerando em especial, o lugar onde estamos e onde vivemos.

Num ratificar constante destes princípios teórico-metodológicos,

reflete-se sobre a intencionalidade educativa da escola infantil e a

necessidade de um planejamento significativo tanto para o corpo docente

quanto para a própria criança e demais integrantes da escola. O professor

da escola infantil tem que saber com quem está trabalhando. São

crianças de 0 a 5 anos com identidades próprias, com diferentes maneiras

de ser, de viver e pertencentes a mundos culturais diversos. E o professor

não deve estar sozinho na sua ação educativa. A família e os demais

45

agentes da escola também devem comprometer-se com o processo

educativo. Todos precisam sentir-se motivados para a ação que promove

o desenvolvimento da criança.

Num repensar pedagógico, torna-se fundamental o

comprometimento político com a educação. Conscientizar-se deste real

contexto histórico e social só fortalecerá as intervenções pedagógicas nos

espaços escolares, que precisam ser urgentemente (re)significados por

princípios teórico-metodológicos claros, coerentes, fundamentados e que

possam contribuir com uma educação de qualidade e com as mudanças

sociais.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação

Fundamental. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF,1998.

CALLAI, H. (Org.) O ensino em estudos sociais. Ijuí: Unijuí,2002.

_____. e CALLAI, J. Grupo, Espaço e Tempo nas Séries Iniciais. In: CASTROGIOVANNI, A. (Org.) Geografia em sala de aula: práticas e

reflexões. Porto Alegre: UFRGS, 2003. CASTROGIOVANNI, A. (Org.) Ensino de Geografia: práticas e

textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

SPODEK, B. e SARACHO, O. Ensinando crianças de três a oito anos. Porto Alegre: Artmed, 1998.

46

ARTE

Ilse Ana Vanzin Boeira18

“Precisei de toda uma existência para

desenhar como as crianças”. (Pab lo Picasso).

Afirmação que dignifica e valoriza historicamente o ensino de

arte e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança e música. Os

pressupostos teóricos e conceituais da Educação, alicerçados nos estudos

de Piaget, Vygotsky, Freire, Giroux, Derdyk, e outros, mostram a

preocupação com a formação, a consideração da cultura, o meio e a

busca da formação integral do sujeito. O ensino da arte em suas

linguagens contribui para esse grande objetivo.

Quando a questão da visualidade é o desenho, é correto considerar

suas fases evolutivas. O que inicia cedo pode ser considerado arte

rupestre, conhecida como a primeira forma de expressão e comunicação

humana, ao longo da história e que é entendida também, como primeira

forma de expressão das crianças, neste caso, quando possível, nas

paredes de suas próprias casas são registradas. O entendimento desta fase

infantil entre pais e escola implicará no despertar para a leitura, com

maturidade e autonomia. Simbólicas, as crianças transmitem suas idéias e

podemos auxiliá- las na associação de seus desenhos e rabiscos às outras

linguagens.

A linguagem da música envolve mais que o cantar. Além de

18 Mestre em Educação. Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Passo

Fundo – RS, Assessora da do Programa de Formação Continuada (Re) Significando

Saberes na Educação Infantil.

47

brincar de roda, bater palmas e cantar, manusear objetos sonoros é muito

importante. As experiências concretas com objetos que emitem sons,

instrumentos musicais ou outros, constituem o vocabulário sonoro. O

gesto do movimento corporal é música porque o som é movimento. A

flexão, o estiramento, o balanceio, andar, saltitar, saltar, correr, implicam

gestos sonoros. É possível viver sem música?

O ensino da linguagem do teatro na educação infantil deve

privilegiar a expressão corporal, o jogo, o brincar, o faz-de-conta,

devendo jamais conduzir ou pretender o “espetáculo”. O teatro infantil

inclui jogos dramáticos com a intenção da desinibição, da entrega e do

desenvolvimento da linguagem do movimento interagindo com a

linguagem verbal. É importante a afirmação “Cada imagem, cada gesto,

cada som que imerge nas formas artísticas criadas em sala de aula têm

grande importância, uma vez que se referem ao universo simbólico do

aluno”. (IAVELBERG, 2003, p.27.).

A dança, parte significante das linguagens corporais, na educação

infantil associa-se às demais manifestações de ensino de arte explorando

espaço, som e movimento. Como no faz-de-conta usado no teatro,

também na dança a ideia do brincar prevalece, motivando, mediando,

permitindo a pesquisa e a descoberta.

O trabalho com projetos na educação infantil tem apresentado

resultados animadores, no sentido de considerar as múltiplas linguagens,

o envolvimento escola-família e o processo de desenvolvimento do

indivíduo. Este permite às crianças extrair o sentido mais profundo de

acontecimentos do seu próprio ambiente e de experiências que mereçam

sua atenção. O projeto permite a parte do currículo onde as crianças são

48

encorajadas sobre o trabalho a ser realizado, tomar decisões e fazerem

escolhas, em colaboração com os colegas. A exploração das linguagens

da arte permite o registro de suas ideias, observações, sentimentos.

Trabalhar com projeto implica ensinar considerando o modo como as

crianças aprendem, oferecendo múltiplas oportunidades e experiências.

O momento atual exige da escola, dos professores e de família

compromisso e consciência para com o sujeito da educação infantil,

portanto, agilidade, compromisso e participação são prioridades. Afinal

Há os que adquirem conhecimento pelo valor do

conhecimento – e isso é vaidade de baixo nível. Mas há os

que desejam tê-lo para edificar os outros – e isso é amor. E

há outros que o desejam para que eles mes mos sejam

edificados – e isso é sabedoria. (Bernardo de Clavaral).

Referências Bibliográficas

DERDYK, Edith. Formas de Pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo:Editora Scipione,1989.

IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e

formação de professores. Porto Alegre:Artmed,1998. HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança e projeto de trabalho.

São Paulo:Artes Médicas, 2000.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo:INESP.1991. PIAGET, Jean. A formação do símbolo. Imitação jogo e sonho imagem e

representação. Rio de janeiro: Zaar, l978.

49

2. PROJETOS

ABELHAS E BORBOLETAS DANDO ASAS AO SABER

Alice dos Santos

Andréa da Silva katzwinkel

Camile Guimarães

Cleci Ramos, Fatima Toledo

Marla Debastiani Maffi

Valderes de Rezende Moreira

A experiência a ser relatada foi realizada na Escola Municipal de

Educação Infantil Criança Feliz, onde todas as crianças e professoras

tiveram a oportunidade de vivenciar momentos de construção e

aprendizagem. Com a participação e o envolvimento do grupo, foi

possível o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Essa proposta

possibilitou a investigação, o levantamento das hipóteses, as reflexões e a

busca de respostas às perguntas levantadas pelas crianças. Abriu-se um

leque de possibilidades que contribuíram para o processo de ensino e

aprendizagem, fazendo com que o aprender fosse realmente significativo

e mais próximo da sua realidade. No decorrer do projeto, vários foram os

momentos de curiosidades em que se pode ancorar o processo de

construção de conhecimento pelas crianças, sujeitos de sua

aprendizagem. Então, a relação com projetos de trabalho tomou forma,

gosto e desejo. A seguir, será especificado todo o processo de construção

e desenvolvimento do projeto “Abelhas e Borboletas dando asas ao

saber”.

As crianças estavam no pátio da escola realizando atividades

recreativas, quando se ouviu um choro de dor. Ao redor do menino

50

Nicolas, as crianças curiosas procuravam pela abelha que picara o colega.

Foi feito o atendimento ao aluno enquanto se ouvia a falas das crianças,

já que todos queriam comentar e perguntar sobre o fato. Porque a abelha

picou o Nicolas? A abelha quis beijar ele com o ferrão e picou? Eu

prefiro as borboletas, elas não picam e são coloridinhas. Porque tinha

abelhas no pátio, prô?

Na roda da conversa passou-se então a levantar algumas

questões: o que será que aconteceu com a abelha que picou o Nicolas?

De onde vêm as abelhas e as borboletas? O que é o ferrão? Porque as

abelhas picam e as borboletas não?

As crianças foram opinando e levantando algumas hipóteses: a

aluna Maira comentou que a abelha morre depois que pica alguém e que

vem o enterreiro19 e a enterra. Ao ser questionada sobre quem seria o

enterreiro, ela respondeu: Você não sabe, prô? O enterreiro é aquele que

enterra quem morre. A partir de então havia uma situação problema,

muita fantasia e curiosidade envolvendo as crianças. Com o problema

definido era preciso estabelecer, com as turmas, os caminhos para buscar

informações a cerca da problemática, ou seja, mapear os percursos.

Combinou-se então, que cada criança conversaria com seus pais

e traria para a escola algumas informações, livros, gravuras ou objetos

que estivessem relacionados com as abelhas e borboletas.

No dia seguinte, a aluna Maíra trouxe, dentro de um vidrinho,

alguns casulos de borboletas o que deu início a um trabalho de

19 Palavra nova que surgiu durante a roda da conversa com as crianças da Pré - escola

51

observação e registro das transformações. Foi inexplicável a alegria de

ver a borboletinha Laura Gabriela20 nascendo. As crianças levaram a

Laurinha ao pátio e ela foi entregue à natureza. A expectativa era de que

ela voasse, no entanto, seu corpinho frágil não resistiu. Foi um momento

de tristeza, mas que nos levou a pesquisar sobre o motivo pelo qual ela

não sobrevivera.

. As crianças, com as informações e materiais que haviam

buscado com seus familiares e outros selecionados pelas professoras,

começaram a pesquisar sobre a vida das abelhas e borboletas. Elas

queriam saber tudo! Aproveitando os dados levantados e a curiosidade

das mesmas, foram interpretados os conceitos de metamorfose,

polinização, anatomia, néctar, pois os mesmos apareciam com frequência

nos materiais de pesquisa. O entusiasmo e a vontade de aprender

direcionavam cada vez mais a busca pelo conhecimento.

Na sistematização das informações, foram montados painéis com

as ideias coletadas, confeccionados álbuns, colmeias, abelhas e

borboletas com materiais alternativos. Construíram-se maquetes,

livrinhos, flores, joguinhos de memória, trilhas, todos relacionados aos

objetos de pesquisa.

Além disso, os alunos queriam ser cientistas de verdade!

Resolveu-se então, procurar uma lagarta e iniciar a construção de um

berçário. Com essa intenção, saíram a passear pelas redondezas da escola

e, nas folhas de couve da horta de um vizinho, muitas lagartas foram

20 Nome escolhido pela turma do Pré do turno da tarde

52

encontradas e logo passaram pela metamorfose tornando-se borboletas.

Estudaram-se os diferentes tipos de lagartas, a alimentação mais

adequada para cada espécie, a higiene do berçário. Estes fatos eram

observados diariamente.

Construído o berçário, o registro das observações e conclusões

foi realizado através de criações com argila, desenhos e pequenos textos

escritos. Também foi confeccionado um calendário de anotações das

transformações ocorridas no berçário. Quanto mais a pesquisa avançava,

ampliava-se também o interesse das crianças por assuntos relacionados

ao tema em questão.

Assim, as crianças plantaram mudinhas de flores, pois

descobriram que as mesmas são necessárias para a polinização e para

manter a vida das borboletas e das abelhas. Através do cuidado constante

com as plantinhas, observavam as transformações que iam ocorrendo

com elas. Algumas delas morreram, provavelmente, por excesso de água.

Quanto alvoroço e entusiasmo quando o aluno Mateus

encontrou na terra de sua flor uma lagarta camufladinha. Esse fato

contribuiu para aprender que a camuflagem é uma defesa da espécie. No

muro da escola havia casulos grudadinhos que passaram também a ser

observados. O acompanhamento permitiu perceber que somente um,

dentre muitos, conseguiu concretizar a metamorfose. A explicação para

tal foi descoberta em pesquisa na internet, uma vez que a cada cem

lagartas, apenas duas conseguem realizar todo o seu ciclo.

Após algumas semanas de observação e registro das lagartas que

viviam no berçário, percebeu-se que nenhuma delas transformara-se em

borboleta. Depois de novas pesquisas, concluiu-se que as lagartas não

53

conseguiram chegar ao fim do ciclo, porque era muito frio e mesmo com

todas as folhas que foram colocadas no berçário o ambiente não foi o

mais adequado.

Prosseguiam-se também, os estudos sobre as abelhas. Além das

pesquisas nos livros científicos e na internet, foram utilizados livrinhos

de literatura infantil.

A história da abelha Julita, traduzida num livrão, fez o maior

sucesso! Foi estudado todo o processo de produção do mel, a criação da

rainha e o trabalho das abelhas operárias. As crianças readaptaram a

história com produções artísticas utilizando diversos tipos de materiais.

Ainda realizaram a confecção de mini- quadrinhos que se transformaram

em um jogo de encaixe que permitia a construção de várias histórias de

acordo com a imaginação das crianças.

Uma mini- televisão foi usada para contar a história da abelhinha

Zazá, que ajudou na compreensão sobre a vida das abelhas, sua

importância para a polinização e preservação das espécies.

O trabalho com poesias de Cecília Meirelles inspirou a criação

de poesias pelas crianças. Assim nasce “O voar da borboleta” e a “Zum,

zum, zum” a partir da organização da fala das crianças que,

posteriormente, transformaram-se em poesias musicadas.

Novas descobertas sucederam-se com o estudo bicho da seda e da

produção de fios de seda. As crianças entenderam como tudo acontece,

mas não gostaram de saber que a lagarta nesse processo, que hoje

acontece em cativeiro, não chega a virar borboleta.

Durante as pesquisas na internet foram encontradas as obras de

Salvador Dali, um artista que representou em muitas de suas obras a

54

metamorfose e a vida das borboletas. A biografia de Salvador Dali foi

pesquisada e várias releituras de suas obras foram realizadas. Quantos

artistas manifestaram-se com essa atividade! As crianças observavam os

detalhes, a luz, a sombra, as formas, as cores, os materiais, criando

verdadeiras obras de arte!

Dentre as obras lidas, as crianças escolheram o livro de literatura

infantil intitulado “Um amor de família”, de Ziraldo, para representá- lo

através de fantoches no painel de teatro.

O projeto teve sequência com a confecção de bolachas de mel e

o piquenique do pão com mel. Cada criança pode observar a quantidade e

os ingredientes utilizados, mexer a massa, fazer e enfeitar as bolachas,

que, depois de embaladas, puderam ser levadas para casa. Afinal, as

mamães haviam mandado as receitas, que também serviram para a

confecção do caderno de receitas, tendo o mel como principal

ingrediente.

O ponto alto do projeto foi a visita do apicultor a escola. O tio

Osvaldo21 explicou o ciclo de vida das abelhas, a importância delas para

o processo de polinização e, falou ainda, sobre os benefícios do mel e da

própolis para a saúde. Comentou sobre a construção das caixas e dos

favos e também sobre o processo da colheita do mel. Trouxe objetos

utilizados pelos apicultores, algumas abelhas, mel, própolis e favos para

que as crianças pudessem ver, tocar e experimentar.

21 O Senhor Osvaldo é formado em Agronomia, min istra palestras sobre o mel e

trabalha como Apicu ltor.

55

No sentido de documentar e comunicar essa pesquisa, para que

pudesse ser admirada por todos, foi proporcionada a socialização dos

conhecimentos adquiridos, entre as turmas da escola e comunidade

escolar. Cada criança deveria também, contar em casa suas

aprendizagens e fazer o registro das explicações. Foi interessante

constatar como elas construíram conhecimentos e com que clareza

conseguiam demonstrar as aprendizagens. Ao visitarem a escola, os pais

encantaram-se ao ver as obras de seus filhos, em tantas produções de seus

pequenos artistas.

Ao findar esse projeto constatou- se muitas aprendizagens

históricas e concretas, onde os objetivos ganharam forma real.

Emoção, alegria e prazer em pesquisar e construir

conhecimentos definem alguns dos sentimentos despertados com a

realização desse projeto. Talvez a certeza de que o ato de ensinar é no

fundo sempre um ato de aprender nos leve a encontrar outras definições.

56

BRINQUEDO DE PLÁSTICO

Regina Costa dos Santos

O Projeto “Brinquedo de Plástico” foi desenvolvido na Escola

Municipal de Educação Infantil Sonho Encantado na turma do Pré II.

Surge de uma negativa dos alunos, ou seja, de uma constatação

quando estavam jogando o jogo “De onde as coisas vêm?” os alunos não

aceitaram a afirmação de que o brinquedo de plástico é proveniente do

petróleo. Mesmo após as coordenadas fornecidas pelo jogo a afirmação

57

não foi aceita. Os alunos foram orientados a continuar jogando e observar

quais outras possibilidades poderiam existir como resposta.

Prô está na minha cabeça, pensei, mas ainda não descobri da

onde vem o brinquedo de plástico.

Levamos o jogo para a sala de aula e continuamos tentando jogar,

no entanto quando chegavam ao elemento brinquedo de plástico os

alunos tinham várias hipóteses, mas todas discordavam da resposta que o

jogo apresentava, pois, sempre acabavam associando o uso do petróleo à

gasolina e ao álcool.

Então percebemos a inquietação e a necessidade de buscar mais

elementos para continuar o jogo, a turma colocou o brinquedo de plástico

no cronograma de projetos a serem pesquisados.

O projeto teve como objetivo esclarecer e aprofundar de onde

vem o brinquedo de plástico.

Os conteúdos priorizados pelo projeto foram o brincar, mineral

(petróleo), convivência em grupo, preservação e cuidado com a natureza.

Em um primeiro momento os alunos fizeram a coleta de

brinquedo de plástico onde observaram tipos de plástico (resistentes,

frágeis, transparente, colorido...), momento em que muitos alunos

buscaram associar a cor do petróleo à do brinquedo.

Os alunos foram desafiados a conversar com a família sobre o

tema a ser estudado e ver o que descobriam: é das árvores; meu pai disse

que é da borracha que é queimada com o plástico reciclável; prô vem da

fábrica; já sei é do jornal.

58

Trouxeram variadas revistas sobre o tema, pesquisas na internet,

livros de ciências com várias gravuras do petróleo e após esta coleta a

turma começou a pensar e elaborar as atividades do projeto.

Pesquisamos tipos de brinquedos (tipos de plásticos). Foram feitas

várias brincadeiras para explorar os brinquedos coletados pelos alunos.

Como o projeto não era o único em desenvolvimento na turma,

tivemos vários momentos de retomada onde foram usadas como recurso

as fotos das atividades que já tinham sidas realizadas.

Descobrimos que o brinquedo de plástico vem de uma substância

que é retirada do petróleo, enfim da natureza. A partir dos conhecimentos

adquiridos o projeto foi trazendo uma preocupação: o que estamos

fazendo com nossos brinquedos, como cuidamos deles e que critérios

estamos utilizando para comprá- los.

Fizemos a experiência de quanto tempo leva para se decompor.

Os alunos pesquisaram a média de vida de uma pessoa e compararam

com o tempo de decomposição do plástico.

Foi proposto pela turma continuarmos o projeto e pesquisar mais

sobre os brinquedos.

Realizou-se uma pesquisa com as famílias, onde os pais foram

entrevistados pelos alunos relatando como eram os brinquedos da sua

infância. Foram desafiados a escolher um para ser construído com as

famílias e após realizaram um minisseminário onde apresentaram aos

colegas os objetos construídos.

Visitamos uma loja de brinquedos onde os alunos conversaram

com a gerente sobre suas descobertas e conheceram um pouco do

funcionamento da loja e puderam manusear variados brinquedos.

59

Conversamos com uma recicladora do bairro e percebemos a

importância de estar fazendo a separação do lixo coletado e reciclar.

Foi feito uma oficina de construção de alguns brinquedos. Os

alunos selecionaram qual seria o material (tipo de plástico) a ser utilizado

e escolheram um brinquedo a ser confeccionado; (aranha, tubarão, sapo,

bilboque, vai-vai, cavalo de pau...)

O projeto culminou com uma campanha de conservação, cuidado

com os brinquedos e conscientização da importância da reciclagem do

plástico levando em conta os danos causados à natureza.

Os alunos fizeram um livro com os conhecimentos do projeto que

está circulando nas famílias as quais terão como desafio fazer a coleta

seletiva do lixo.

Os brinquedos coletados e confeccionados no projeto foram

expostos na Universidade de Passo Fundo.

O projeto do brinquedo de plástico é o nosso quarto projeto

temático, ano no qual trouxe muito trabalho, mas nos proporcionou

muitas descobertas.

Não foi fácil fazer com que os alunos acreditassem que o plástico

vem do petróleo, tivemos que comprovar através de pesquisas. Em outro

período ou modelo de educação a professora faria uma afirmação e os

alunos acatariam, mas com certeza o gosto e realização pela inquietação

do saber não seria o mesmo.

Recordo-me em uma das nossas rodinhas de conversas quando

falávamos sobre a nafta (substância retirada do petróleo que se faz o

plástico) onde uma das alunas disse:

Prô tenho uma na boca. Isso ocorreu quase no final do projeto

60

onde tivemos que resgatar algumas informações e trabalhar as diferenças

de Afta e Nafta. Mas foi algo que marcou, pois quando perguntado aos

alunos de onde vem o brinquedo de plástico logo dizem que é do

petróleo, de onde é retirado a nafta que não é a da boca.

Foi muito bom ver os brinquedos alternativos tomando o lugar

dos industriais, o gosto dos alunos em fazer o concurso de bilboquê ou

ainda a diversão no pátio com o vai-vai...

Alegra-me saber que os alunos estão construíndo brinquedos para

se divertirem em casa, com litros de garrafa pet. Acredito que fomos

muito além do nosso objetivo de descobrir de onde vem o brinquedo de

plástico, o projeto não só proporcionou aos alunos aulas de cidadania,

mas também a todos os envolvidos. Que conseguimos desmistificar que o

catador que busca material reciclável é mau e que pega criancinhas.

Os alunos estão dando aula de cidadania aos pais que a cada novo

projeto junto com seus filhos, aprendem. O pai de uma das alunas relata,

na hora da entrada, que agora na casa deles fazem coleta seletiva e a filha

é quem cobra o cuidado de por o lixo no lugar certo.

A metodologia de projetos é rica em avanços no desenvolvimento

dos alunos. Percebo que os alunos vêm melhorando muito seu

vocabulário, crianças que antes a prô tinha que auxiliar na leitura nas

apresentações do minisseminário hoje fazem isso sozinhas.

O espírito investigativo vem tendo avanços significativos e a cada

novo projeto estão mais observadores, curiosos e criativos.

O projeto do brinquedo proporcionou à turma, enriquecer ainda

mais os momentos de faz-de-conta e do jogo simbólico.

61

Na avaliação que os alunos fizeram do projeto relatam que

aprenderam de onde vem o brinquedo, brincar sem estragar os

brinquedos, a consertar e quando não quiserem mais podem dar a outras

crianças, separar o lixo e assim ajudar a natureza. E o mais interessante é

que um cobra do outro que respeite o conhecimento adquirido no projeto,

exemplificado com colegas chamando a atenção de outros que não estão

cuidando dos brinquedos da sala.

CAIXA D’ÁGUA

Cladiane Schmitt

Silv ia Teres da Silva (Colaboradora)

O projeto “Caixa d'Água” desenvolvido na Pré-escola da Escola

Municipal de Educação Infantil Santa Luzia, contou com a participação

de toda comunidade escolar, mobilizando principalmente as crianças que

são autoras dessa aprendizagem.

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O projeto surgiu com o questionamento de um aluno da pré-

escola: O que é aquela coisa ali fora? Imediatamente as outras crianças

começaram a falar e expor inúmeras possibilidades do que poderia ser

aquilo. Tratava-se da caixa d’água da escola. Percebendo o interesse e

envolvimento das crianças na discussão do assunto, estimulamos suas

falas, que permitiram melhor subsidiar a efetivação do projeto sobre a

caixa d’água da escola.

Começamos então a fazer um levantamento das hipóteses iniciais

das crianças registrando-as e assim fomos dando início a rede temática do

projeto.

As crianças sabiam que “aquilo” era uma caixa d’água e que nela

ficava guardada a água da escola. Mas por que é tão grande? Por que

fica no alto? Também queriam saber de onde vinha a água, como

chegava até a caixa e para onde ia depois.

As primeiras questões do projeto foram: COMO A ÁGUA VAI

PARA A CAIXA? e PARA ONDE VAI A ÁGUA DA CAIXA? Nosso

foco não era o elemento água, mas sim os caminhos da água até a caixa e

como saía de lá, aspectos relativos ao transporte da água. O objetivo

principal centrava-se em propiciar às crianças momentos prazerosos de

observação, investigação, experimentação de situações problemáticas e

descoberta. As crianças foram desafiadas a pensar e pesquisar sobre o

trajeto da água até nós, assumindo papel de pequenos cientistas.

Inicialmente realizamos uma pesquisa familiar, através de um

tema de casa onde as crianças coletaram dados sobre encanamentos em

sua residência, existência de caixa d’água, quais seriam os pontos de

63

água, buscaram encanamentos visíveis e observaram o hidrômetro. Ainda

visualizaram uma conta de água.

Socializando os dados coletados, as crianças confirmaram a ideia

inicial de que dentro das caixas d’água havia água e que ela guarda água

para quando esta faltar. Descobriram com os pais que a água vai pelos

canos até as torneiras, que na conta de água existem dados sobre a

composição da água e que ela vem pelo correio, que existem canos no

banheiro e na cozinha e que estes estão embaixo do piso.

Buscando comprovar estas informações e acrescentar outras,

agendamos uma entrevista com um engenheiro e visitamos a loja de

materiais de construção que existe no bairro da escola. Na entrevista com

o engenheiro e durante a visita à loja tivemos contato com diversos tipos

de canos, conexões, caixa de água, caixa de gordura, torneiras. Também

conhecemos melhor as profissões de engenheiro e encanador. As crianças

estavam entusiasmadas, perguntavam a todo o momento, queriam contar

o que sabiam, interagindo constantemente com o engenheiro. Elas

perceberam que havia toda uma organização para que a água armazenada

na caixa chegasse até as torneiras.

Partimos para a sistematização dessas informações entre muitas

conversações. Construímos uma maquete de canos, onde visualizamos a

movimentação da água de um recipiente a outro através deles. A

experiência foi fascinante, pois foram necessárias várias tentativas de

organização dos materiais até termos sucesso. Num primeiro momento a

seleção dos tipos de canos necessários, depois encontrar as conexões

ideais para juntar estes canos. Um balde representava, no momento, a

caixa d'água e foi preciso encontrar uma boa posição em lugar mais alto,

64

a fim de que a água tivesse força para fazer o percurso. Então

descobrimos o motivo das caixas d’água estarem em local alto. Por fim,

tivemos que lidar com os vazamentos, refizemos as conexões, lendo com

atenção o rótulo da cola PVC. A riqueza da vivência foi a

experimentação, através de várias tentativas para se chegar ao resultado

desejado.

Continuamos fazendo o mapeamento e maquete da caixa d'água

da escola. Fomos novamente até a caixa d’água para observá- la

criteriosamente. Identificamos formas, cores e escritas que haviam nela e,

também, detalhes do ambiente. A partir disso, como famosos artistas,

ficamos representando nosso objeto de estudo. O diálogo e as

negociações entre as crianças faziam de cada atividade um desafio, todos

queriam dar ideias, modificar e melhorar as criações.

Sabíamos que os canos estão embaixo do piso, porque o homem

que fez a escola segundo as crianças, os colocou lá. Mas então, como

saber onde eles estão? As crianças lembraram-se do inventador de casas,

como eles haviam definido o engenheiro da loja de materiais de

construção, e buscamos a planta hidráulica da escola para podermos

encontrar os canos.

Fizemos leitura daquelas imagens e das legendas contidas naquele

desenho. Na planta, localizamos as salas de aula, o banheiro, a secretaria,

o refeitório e também as canalizações. Com esse conhecimento

marcamos com papel colorido, no piso e nas paredes da escola, as

canalizações descobertas através da planta hidráulica, percorrendo os

principais pontos da escola. A atividade foi realizada em grupo,

65

promovendo a discussão e o confronto de ideias, desenvolvendo noção de

planejamento, localização espacial e ampliação do vocabulário.

Uma outra dúvida era: “COMO A ÁGUA CHEGA NA CAIXA

D'ÁGUA? OU COMO SE ENCHE A CAIXA D'ÁGUA?” Logo surgiram

algumas hipóteses: Deus manda uma chuva forte, Não! São os bombeiros

que enchem ela. Diante destas dúvidas fomos observar mais uma vez a

caixa d'água da escola. Vimos canos que entravam e saiam dela, e por

sorte ouvimos o barulho da água entrando para enchê-la. Constatamos

que são os canos que enchem a caixa, também. Mas de onde vem a água

que enche a caixa?

Agendamos com um funcionário da CORSAN (empresa

responsável pela distribuição e tratamento da água em nossa cidade), uma

visita na escola para buscar mais informações. Durante a conversa

aprendemos que a CORSAN manda água para nossas casas e que ela

vem dos rios. A água chega aos depósitos, é tratada e vai para nossas

casas através de canos. As explicações através de imagens facilitaram a

compreensão das crianças. Com auxilio da internet as crianças

visualizaram a instalação destes canos nas ruas e de todo processo de

tratamento da água.

Ao final de cada investigação as crianças eram desafiadas a

registrar suas aprendizagens através de desenhos. Nestes momentos

tomávamos conta da grandiosidade da experiência vivida, pela riqueza de

detalhes e a perfeição de formas, pelos relatos e avaliação da

aprendizagem.

O próximo destino estabelecido foi visitar uma nascente para

conhecer a origem da água e verificar a necessidade ou não de tratamento

66

desta para nosso consumo. Descobrimos que nas proximidades da escola

existia uma nascente e na observação vimos a água borbulhar da terra. Ao

olharmos o entorno da nascente, para nossa surpresa, encontramos muito

lixo. Neste momento iniciou-se uma discussão sobre a poluição dos rios e

a necessidade da preservação da água. Em breves palavras como uma

criança concluiu: Graças a Deus existe a CORSAN, senão eu não

tomaria mais água. As crianças tinham noção das consequências que a

ingestão de alimentos sujos pode causar à saúde. Como afirmou um

deles: as bactérias causam doenças.

Quando pensávamos que as dúvidas haviam acabado, eis que

surge a colocação: Um dia o rio de Indaial secou, meu pai rezou e Deus

mandou uma chuva forte. Partimos então para uma nova investigação.

Utilizando a internet pesquisamos imagens sobre rios, enchentes e secas.

Percebendo que aquele lixo que encontramos na encosta da nascente

poderia causar muito estrago. Encontramos também em livros escolares o

ciclo da chuva, compreendendo que a chuva é necessária para encher os

rios, senão a água acaba. Encontramos na escola o livro “O HOMEM

DA CHUVA”, que de maneira lúdica, relata situações de seca e enchente,

enfatizando a consequências da falta e excesso da chuva.

Durante o projeto, após cada atividade, fazíamos exposição das

produções na recepção da escola oportunizando a documentação do

trabalho. O comprometimento das crianças era tanto que diariamente

solicitavam seus registros para levar aos pais, o que fortaleceu a relação

família e escola e gerou reconhecimento do trabalho desenvolvido na

instituição.

67

A partir das hipóteses iniciais das crianças o conhecimento foi

sendo socializado, discutido, experimentado. As ideias e os argumentos

expostos pelas crianças foram incentivados, valorizados e respeitados em

todo processo. Através da intervenção do professor, pela proposição das

atividades, as crianças reelaboravam ou reafirmavam conceitos.

Enfim, para nós professoras, o trabalho com projetos tornou-se

visível em cada etapa, pois evidenciaram em seu trajeto novas

experiências e descobertas, surpreendendo a todos. O desenvolvimento

das atividades foi prazeroso para crianças e professores. Experiências

enriquecedoras tanto para as crianças, que se sentiram autoras e atores de

seu próprio desenvolvimento, exploradores do mundo ao seu redor,

quanto para nós professores e comunidade escolar, que pudemos nos

surpreender com os conhecimentos prévios, a evolução das hipóteses e os

novos conhecimentos construídos.

68

COMO CUIDAR DO BEBÊ

Claudete Viana Acker

Lisandra Patrício Gonçalves

Carla Nascimento Pereira

Como troca a fralda? Por quê você usa luva? Quando faz cocô

tem que dar banho? Por quê você cuida dele? Quer que eu te ajude a

cuidar? Eu já sei! Por quê os bebês comem no pratinho?

De tanto ouvirmos se repetir essas perguntas, nós, as professoras

do berçário passamos a pensar numa maneira de oportunizar às crianças

da turma a buscarem suas próprias respostas e construírem

conhecimentos sobre como cuidar de um bebê, quais suas próprias

respostas e, quais necessidades para um desenvolvimento saudável e

feliz.

Acreditamos que a curiosidade expressa nas perguntas se deve em

grande parte pela diversidade de idades das crianças que compõe a turma

do berçário da EMEI Margarida: a turma da manhã é composta por seis

meninos e quatro meninas com idade entre 7 meses a 3 anos e 2 meses,

ou seja, a diferença de idade entre eles é bem significativa.

Em função desta especificidade surgiu o projeto “Como cuidar do

bebê?”, na escuta diária da fala das crianças e na observação das

brincadeiras, momentos em que reproduziam os cuidados das professoras

para com os bebês. Em algumas ocasiões as crianças maiores assumiam o

papel de cuidadoras dos bebês: dando água, alcançando a chupeta,

balançando o carrinho, verificando se a fralda estava suja, auxiliando na

alimentação.

A escolha do bebê: Mas para que as crianças pudessem exercer

estes cuidados sem oferecer riscos aos colegas menores seria necessário

69

recorrer a algum instrumento que pudesse ser manipulado a vontade: uma

boneca. A partir daí as crianças juntas escolheram entre as bonecas da

turma aquele que elas mais gostavam. Nasce, então, o bebê da turma.

Percebemos que a escolha baseou-se no critério do tamanho que se

aproxima do tamanho de um bebê, o que facilita a manipulação.

Após a escolha do bebê a turma foi questionada sobre o que ele

precisava para que pudesse ficar bem, imediatamente as crianças fizeram

referência com os objetos que normalmente trazem para a escola em suas

sacolas, então fomos pesquisar o que cada criança tinha na sacola.

Fizeram comparações com que tinha de semelhante e diferente na sua

sacola com a sacola dos demais colegas. O Gabriel destacou que na

sacola do Robert tem fralda e na dele tem cueca. A prô explicou que

todas as crianças quando bebês usam fraldas e precisam da ajuda de um

adulto para serem trocadas, depois é que aprendem a ir ao banheiro

sozinhas. Os maiores perceberam que comum em todas as sacolas é a

agenda.

Começamos a preparar a sacola do novo bebê e nela fomos

colocando tudo o que as crianças achavam necessário: mamadeira,

fraldas, prato, talher, roupas, agenda, entre outros pertences. A Sabrina

disse que na sacola da Bianca tem mamadeira porque ainda é muito

pequena, mas ela já é grande e come no prato, então na sacola do bebê

tinha que ter mamadeira e prato.

Agora o bebê precisa de um nome: considerando que cada criança

tem um nome, a turma começou a questionar sobre o nome do novo bebê,

pois chamá-lo apenas de bebê não o identificava. Conversando sobre a

história do nome de cada um, descobrimos que o mesmo é registrado

70

num documento e que foi escolhido pelos pais ou por alguém próximo.

Cada criança pôde manusear a sua certidão de nascimento onde estava

destacado com uma cor o seu nome e o dos seus pais. Depois dessa

atividade concluíram que quem deveria escolher o nome do novo bebê

era a turma, aí surgiram várias sugestões de nomes, cada um queria que

sua sugestão fosse acatada. Após tantas discussões e impasses, surgiu o

nome Claudinha e a maioria da turma gostou.

Agora o bebê já tem um nome e a partir disso elaboramos uma

certidão de nascimento para Claudinha, cujos pais e mães são todos os

meninos e meninas do berçário.

Agora o bebê precisa de cuidados: além dos cuidados já

mencionados a turma ainda perguntava o motivo de algumas colegas

tomarem banho na escola e reproduziam esta tarefa nas brincadeiras com

as bonecas. Explicamos que todos precisam tomar banho diariamente,

usar sabonete e xampu, trocar as roupas, cortar as unhas, pentear os

cabelos, para manter o corpo saudável. Os bebês por serem muito

pequenos precisam ainda de ajuda de um adulto para isso. E quando

fazem cocô a prô precisa dar banho para deixá- lo bem limpinho e

cheiroso. Passamos a trabalhar com rótulos e embalagens de diversos

produtos usados na higiene pessoal: sabonete, xampu, creme dental,

creme para pentear, esponja, escova de dente e de cabelo. As crianças

gostam muito de manusear esses materiais e se divertiram muito,

enquanto brincavam realizavam agrupamentos seguindo atributos de cor

e tamanho. Para encerrar montamos um painel com os rótulos e as

embalagens.

71

Claudinha começa as visitas: agora que todos já aprenderam os

cuidados básicos: como alimentar, trocar e dar banho, ela passou a visitar

cada dia a casa de um dos seus respectivos pais. Durante as suas visitas,

levava a sacola montada pelas crianças e a agenda onde os pais

respondiam um questionário sobre o sono, a alimentação, as brincadeiras

da Claudinha e também relatavam como a criança reagiu com a presença

de outro bebê na casa, suas falas, atitudes e reações.

No outro dia, quando retornava à escola, era rea lizada uma

rodinha de conversa onde quem havia levado o bebê relatava aos colegas

como fora o dia de Claudinha na sua casa... e a prô registrava na agenda.

Claudinha passou a compor a turma do berçário e a participar das

atividades: hora dos jogos, soninho, brincadeiras, trabalhos.

72

CONTRACHEQUE

Ana Meire Meyer Ordocick

Vanessa da Veiga Mendes

O projeto “Contracheque” começou no final do mês de junho,

quando numa tarde despretensiosa de inverno, eu estava trabalhando com

a turma do Pré II atividades rotineiras e sem nenhum intuito a diretora da

Escola entrou na sala e disse: Vim trazer seu contracheque que estava na

caixinha da Prefeitura. Eu me dirigi até a porta em meio a risos e

algumas conversas das crianças e antes que eu pegasse aquele simples

papel um aluno destacou-se dos demais e perguntou: Prôôôô, o que é

esse papel?.

Sem perceber, comecei a explicar do que se tratava pensando que

seria apenas uma curiosidade momentânea. Para minha surpresa, o

interesse de outros alunos pelo assunto foi crescendo de tal forma que

vislumbrei nesse tema o potencial para se trabalhar inúmeros conceitos

que ainda não haviam sido explorados, especialmente por alguns alunos

que apresentam menor compreensão em torno do eixo da matemática.

Esse tema tão desafiador, logo começou a envolver mais as

crianças que passaram a se perguntar se nas suas famílias tinham alguém

que também recebia um contracheque. Com as explicações iniciais, eles

pensavam que aquele papel significava poder aquisitivo, ou seja, quem

tinha o direito de receber aquele papel gozava também do direito de

comprar.

Identificado o problema inicial, iniciou o processo de pesquisa,

para saber até aonde ia o interesse dos alunos e quais as possibilidades de

aprofundar tais conceitos com aquela turma.

73

Na síntese de todas as anotações que foram feitas para registrar

perguntas, atitudes, gestos, hipóteses levantadas pelas crianças, os

principais tópicos foram: Tem dinheiro aí?Lá em casa quem traz

dinheiro é o meu pai, a minha mãe e a fada do dente. Meu pai me dá

moedas e eu gasto tudo. Aí tem os números do que você ganha. No banco

tem aquela máquina que fica grudada na parede onde você passa o

cartão e cai o dinheiro.

Depois de registrar as atitudes, gestos e hipóteses levantadas pelas

crianças, começamos a construção da rede.

Terminado esse primeiro passo de investigação, houve a grata

surpresa de que além da possibilidade de emergir muitos elementos

matemáticos no decorrer das aulas, também poderia ser maximizado o

envolvimento das famílias como sujeitos colaboradores da aprendizagem

e no que diz respeito à valorização da realidade social e cultural em que

os nossos alunos estão inseridos.

No intuito de aumentar o interesse dos alunos e não deixar

abrandar sua curiosidade começamos a fazer atividades práticas.

Os pais recebiam informativos durante o desenvolvimento do

projeto que explicavam cada passo do processo e onde eram solicitadas

informações sobre suas profissões, como e onde as famílias gastam o seu

dinheiro, quem trabalha para contribuir com a renda do lar e outras

questões que fossem pertinentes. Ainda pedimos que os pais ajudassem

as crianças a encontrarem reportagens e imagens sobre profissões em

jornais e revistas ou mesmo escrevessem um pouco sobre o seu trabalho.

Cada criança tinha a oportunidade de colar a figura que trouxera num

grande pedaço de papel pardo e também explicar o que sabia sobre a

74

profissão que estava mostrando. Essa fase de investigação foi permeada

por múltiplas encenações. Cada diálogo nas rodinhas de conversa trazia

um elemento novo que devia ser explorado e experimentado, com uma

mistura de realidade e ludicidade.

Novamente mandamos um questionário para os pais, que

responderam onde trabalhavam e de que maneira a sua profissão

contribui para a transformação da sociedade. Quando os questionários

voltaram, pudemos conversar sobre a importância de se ter um emprego.

Cada criança começou a contar onde gostaria de trabalhar quando

crescesse e decidimos que seria legal se cada criança encenasse a

profissão por ela escolhida.

Depois, cada criança “recebeu o seu contracheque”. Montamos

um banco em plena sala de aula, com direito a caixa eletrônico, cartão

para saque e criação de senha individual.

De uma forma criativa e divertida, todos foram até o banco e

receberam o seu primeiro salário com cédulas e moedas confeccionadas

pelas próprias crianças.

Quando resgatamos as informações que vieram de casa, elas

chegaram à conclusão de que todas as famílias tinham contas em comum

para pagar: água, luz, alimentação, gás, roupas, mas que entre todas o que

havia em comum era o maior gasto de todos com alimentação.

Encontramos carnês antigos de lojas e demos um jeito de criar uma

loja imaginária para pagá-los, mas o principal não podia faltar, a ida ao

supermercado do bairro.

A visita ao supermercado do bairro foi um dos pontos altos desse

projeto. Lá todos puderam perceber as diferenças de preços entre marcas

75

e entre produtos e esboçar as suas opiniões sobre caro e barato e sobre o

que realmente precisamos comprar e o que é dispensável. As crianças

também perceberam que havia uma organização no mercado, material de

higiene não poderia ficar junto com os alimentos, que os produtos eram

expostos nas prateleiras um ao lado do outro e que existiam muitas

maneiras de se comprar os produtos, por exemplo, por unidade e por

quilo.

No fim da visita decidimos comprar um suco para tomarmos juntos

na escola. A moça que trabalha no caixa do mercado presenteou a todos

com uma bala. Nesse momento surgiram novas ideias sobre o que é

troco e o que é grátis, e no caminho de volta para a escola foram

discutidas entre as crianças sendo que aquelas que já entendiam um

pouco mais do assunto socializavam os seus conhecimentos ajudando

aqueles que ainda não sabiam.

As atividades foram se desenrolando e as crianças elaborando e

reelaborando significados sobre o que viam e vivenciavam. Entretanto,

permaneciam inquietos com relação ao dinheiro que está no banco.

Percebendo que a ansiedade deles aumentava, planejamos uma

visita ao Banco SICREDI, agência bancária mais próxima da Escola,

onde todos poderiam ir a pé.

Antes do passeio, a diretora da Escola, que estava em contato direto

com o desenvolvimento do projeto, fez os contatos necessários para que

fôssemos recebidos na agência fora do horário de expediente, A gerente

do banco disse estar surpresa ao saber que estávamos trabalhando um

tema tão complexo com crianças pequenas. Elas puderam ver todos os

setores, conhecer como funciona um banco, que há uma organização,

76

cada um espera sua vez para ser atendido de acordo com a senha que é

chamada pelo painel eletrônico. Olharam bem de perto um caixa

eletrônico, fizeram suas perguntas e sanaram dúvidas.

Um dos momentos surpreendentes da visita foi quando a gerente

perguntou o que eles tinham aprendido com o projeto e um aluno

respondeu: não devemos gastar de uma só vez o salário, senão vai faltar

para pagar as contas e comprar comida.

No fim do passeio todos puderam trazer para casa folders que

embora tratassem de assuntos alheios a sua compreensão, as remetiam

um pouco mais àquele universo de novas descobertas. Todo o

planejamento nos levou ao sucesso da visita, pois a nossa “guia” dentro

do banco, foi muito acessível e percebeu o quanto às crianças estavam

interessadas naquelas descobertas e como tudo aquilo contribuiria na vida

daqueles pequenos investigadores, explicando com paciência e satisfação

todas as perguntas.

Como não poderia ser diferente, surgiu a outra face do tema. Um

aluno perguntou: E aqueles que não trabalham e não recebem um

salário? Então partimos para uma nova linha de investigação, que tratava

das necessidades básicas do ser humano, como alimentação, banho,

roupas limpas, uma casa para morar. E novos e acalorados debates se

faziam presentes em nossas aulas. Tudo o que era relatado, em seguida

era registrado pelas crianças como mendigos, pobres sem teto, moradores

de rua sem camisa, sujos, com sede e fome, com expressão triste. Ao

mesmo tempo surgiam fios de esperança, de solidariedade nos relatos e

desenhos que mostravam pessoas ajudando outras pessoas.

77

Para formar a memória pedagógica do trabalho tudo foi

devidamente fotografado e arquivado para posterior exposição.

No fechamento do projeto foi possível montar um painel de

memórias das crianças para serem compartilhadas com os próprios

colegas e com as famílias.

Esse projeto deu-nos muitas oportunidades de experimentar novas

situações e validar ou rejeitar hipóteses antigas, As crianças aprenderam

o significado daquele simples papel (onde está escrito o quanto a prô

ganha por mês para trabalhar), agregando a esse conhecimento a

importância do trabalho e o planejamento de gastos da família.

78

CONTRACHEQUE

O que é isso?

Aí tem os números

do que tu ganha

Serve para

comprar comida

Tem dinheiro aí? Meu pai me dá moeda e eu gasto

Todos tem

trabalho diferente

No banco tem aquela máquina que fica grudada na parede e

passa o cartão e cai o dinheiro

Real

Profissões

Pesquisa junto às famílias

Rodas de Conversa

Rda de Coversa

Construção de maquetes e brincadeiras de bancos e

caixas eletrônicos

Brincadeira de mercado, visita ao mercado vizinho e construção de cédulas

e moedas

Rda de Coversa

Como é o nome do nosso dinheiro?

Não! O dinheiro está

no banco.

Como temos direito de

ganhar o salário?

Lá em casa quem traz o dinheiro é

o pai, a mãe e a fada do dente

Onde você gasta? O que mais

podemos comprar com esse dinheiro?

Isto é um papel que tem

escrito quanto a prô ganha

Como fazemos ara pegar

aquele dinheiro?

Números e letras

Noções de quantidade

Registro através da escrita, confecção do contracheque, cédulas

e moedas.

Dramatização

Escrita dos símbolos e dos valores reais

Escrita

Desenho Dramatização

Álbum elaborado pelas famílias e desenhos

Recorte de revistas de produtos e preços

Produtos e Quantidades

79

FRIO

Janúsia Guedes Fontes

O projeto “Frio” foi desenvolvido pela turma do Pré II A, do

turno da manhã que é composta por 19 alunos e possui como

especificidade a inclusão de três crianças com necessidades educacionais

especiais e, portanto conta com o auxílio de uma monitora.

No mês de junho, quando pela manhã a temperatura começou a

baixar, iniciou-se uma nova rotina na vida das crianças que incluía uma

diversidade de roupas de inverno, as quais as crianças não gostavam de

usar e também as gripes, bronquites, asmas e as medidas de prevenção da

gripe H1N1. Diversos foram os questionamentos e argumentações das

crianças diante da mudança climática que se apresentava: Não gosto de

casaco?, Quando tem cobertor é bom!, Tem crianças que passam frio!.

Com isso ficou claro que um projeto sobre o inverno seria

interessante e ajudaria as crianças a perceberem a importância de vestir-

se adequadamente diante da baixa temperatura que se apresentava.

Iniciamos com a observação diária, sempre no mesmo horário, de como

se apresentava o clima (vento, temperatura, nuvens, chuva, geada,

nevoeiro). Estas informações diárias eram registradas em uma planilha e

envolvia a participação de todas as crianças, oportunizando momentos

em que elas discutiam e comparavam diferentes percepções que

realizavam dos aspectos do clima do dia Não estou sentindo vento!, Mas

as folhas das árvores estão sacudindo, então tem vento! Aquela nuvem

desmanchada é nuvem? É sim, se é branco é nuvem! Mas tem nuvem

cinza e preta quando chove!.

80

Foram diversos momentos de reflexões sobre o inverno. Em uma

manhã com geada, tivemos a oportunidade de caminhar na grama

congelada e sentir os estalos que o gelo fazia, este passeio foi registrado

através de fotos da turma no pátio da escola. Em outra oportunidade

observamos um forte nevoeiro que se formou e aguardamos para

verificar se o ditado popular era mesmo verdadeiro: “Serração baixa, sol

que racha!”, a alegria das crianças em perceber que as nuvens foram

embora e deram lugar a um lindo dia de sol foi imensa, reafirmando o

conhecimento dos avós. Este ditado popular foi registrado no caderno e

foi interpretado através de desenho.

Percebendo a riqueza das informações que começavam a se

estabelecer foi iniciada a criação de uma rede de hipóteses, objetivando a

organização e visualização do projeto de uma forma dinâmica.

Para enriquecer o trabalho foram realizadas pesquisas na internet,

onde se verificou que dependendo da região do país o inverno apresenta

características diferentes. A partir desta pesquisa construímos uma

maquete representando o clima e as regiões do país.

Criamos um mascote em forma de criança que iria visitar todas as

casas, objetivando principalmente o interesse das crianças no vestuário

de inverno. O mascote recebeu o nome de Mateus e teve suas

características físicas definidas em votação: cabelos pretos, olhos azuis e

sexo masculino.

Para a surpresa das crianças o mascote foi para suas casas, tendo a

data definida através de sorteio, o contemplado do dia o levaria

juntamente com um caderno de registro, onde duas tarefas deveriam ser

cumpridas: a primeira, se possível, doar para o boneco uma peça de

81

roupa que não estava sendo usada, já que o mesmo não tinha roupas

adequadas para a estação; a segunda, registrar, com o auxílio dos pais,

um costume da família nos dias frios (receitas, formas de enfrentar o frio,

brincadeiras...). Ficou combinado com a turma e com os pais que todas as

roupas dadas ao mascote, após o término das visitas, seriam

encaminhadas para doação. Com esse gesto, as crianças puderam

vivenciar o sentimento de solidariedade, tão presente em nossa região

que apresenta frio intenso no inverno.

As crianças também vivenciaram um gesto de solidariedade

quando receberam uma mantinha de presente do mascote. Outro olhar

para a solidariedade foi realizado através da leitura do livro “O tricô de

Tina” de Sheryl Webster e Caroline Pedler. Neste dia cada criança

observou a sua professora fazendo tricô e teve a oportunidade de

experimentar com linhas e espetinhos este tipo de artesanato tão presente

em nossas famílias. Outra obra trabalhada foi “Amigos da Neve” de M.

Christina Butler e Tina Mcnaughton que enfatizava a questão da

amizade. Para registrar esta história foi construído um boneco de neve

utilizando papel e recortes de fibra. O boneco recebeu de presente das

crianças uma manta confeccionada em tricô, resultado do trabalho

anterior.

A palavra FRIO estava presente todos os dias e em todos os

momentos, já que o inverno foi muito rigoroso: Prô, tá frio!, Hoje não

vamos brincar no pátio porque está muito frio!. A partir desta palavra tão

significativa, foram estabelecidas relações com outras palavras e

construído um cartaz com figuras.

82

Concomitante a todas estas atividades, seguia as anotações da

planilha diária do clima. Após um mês de observações encerrou-se esta

etapa e partimos para a organização dos dados. Interpretamos e

agrupamos as informações na construção de um gráfico, onde

enfatizamos os aspectos climáticos e diversas habilidades envolvendo os

conhecimentos lógico-matemáticos.

As notícias sobre casos de gripe H1N1 motivaram o convite para

que enfermeiras do Posto de saúde da Vila União fossem até a escola

conversar com as crianças sobre o inverno e suas doenças. A turma

preparou-se para a palestra, com questionamentos sobre o tema. Na

palestra, entre outros aspectos, as enfermeiras ressaltaram a importância

de lavar as mãos tendo como recurso lúdico gravuras e histórias.

O projeto continua em andamento com o mascote passeando nas

residências. Mas alguns conhecimentos já estão consolidados como: a

importância do uso adequado de roupas para evitar doenças no inverno, o

envolvimento e alegria na doação de roupas através do mascote

trabalhando a solidariedade, o cuidado com o corpo no sentido de lavar

bem as mãos e manter higiene e principalmente na observação do

ambiente com a percepção que as variações climáticas afetam o modo de

vida de todos.

83

LUA

Professoras da EMEI Osório Cardoso Teixiera22

No cotidiano da EMEI Osório Cardoso Teixeira fomos

surpreendidas pela atitude de um menino que, durante atividade de

recreação no pátio, deitou-se sobre a grama para descanso e,

contemplando o céu, constatou que era possível visualizar a LUA. Por

que ela não cai? Por que ela muda? Por que podemos vê-la de dia?

22 Cecília Amaro Cavalheiro; Chaiane Colonbelli; Danusa Tobias Machado; Gelcy

Cristina de Souza Castejon Branco; Giovana Petry; Glaycianne Oliveira Freit as Silva;

Joslaine Weydmann Rezende; Simone Costa; Viviane Tessaro Silva.

84

Em outras situações algumas crianças explicavam os fenômenos

nas rodinhas de conversas onde evidenciavam hipóteses primárias: A lua

é presa nas nuvens! Jesus é o pai da lua! A lua é colada com durex! O ar

e o vento seguram a lua! A lua tem uma ficha e vai trocando! A lua muda

como a gente muda de roupa! Existem várias luas. É quatro! A lua e o

sol combinaram de aparecer um de cada vez! A lua é amiga do sol!

O interesse e a curiosidade das crianças pelo tema fizeram com

que a Escola ampliasse o planejamento pedagógico a fim de dar

encaminhamento ao projeto que surgira.

Oportunizamos às crianças momentos de investigação sobre o

assunto. Assim, durante as rodas de conversa conhecemos crenças

populares. Lemos muitos livros infantis e alguns científicos que

apresentavam os astros. Pesquisa na internet, fotos e vídeos também

serviram como fonte de consulta.

A partir de materiais alternativos construímos binóculos, lunetas e

óculos ultravioletas.

Brincando com os óculos, as lunetas e os binóculos as crianças

verificavam que, conforme a cor do papel celofane usado o céu mudava

de cor.

Utilizando o globo que construímos com as crianças usando

material alternativo e com a ajuda de uma lanterna, a professora explicou

os movimentos da Terra e as mudanças das fases da lua. Registramos as

novas descobertas em cartazes e construímos a caixa das fases da lua.

Confeccionamos, utilizando diversos materiais, painéis

representativos do dia e da noite: de dia o céu é azul, tem sol e nuvens...

de noite é escuro, tem lua e as estrelas. Durante a montagem do painel

85

surgiram hipóteses sobre a chuva o que nos deu a ideia de montar, no teto

de cada sala, um “céu”. Com a ajuda das crianças, montamos os

ambientes que serviram para observação no decorrer do projeto. Na sala

do Pré onde estava representado o dia ensolarado, as crianças observaram

e diziam: O sol é amarelo, ele brilha forte. Na sala do Maternal II, ao

observarem a representação da noite com as quatro fases da lua, diziam:

A lua muda, ela é uma só, às vezes ela é gorda e às vezes como uma

banana. Na sala do Maternal I, onde havia um céu escuro e a chuva, eles

diziam: Tem que usar guarda-chuva, a chuva esconde a lua e o sol, o céu

fica escuro. Na sala do berçário um grande arco-íris era contemplado

pelos bebês que, admirados, apontavam e os maiorzinhos nomeavam as

cores.

Em seguida realizamos outras atividades de registro: confecção de

álbuns sobre as fases da lua, modelagens do céu e de tudo o que pode

aparecer lá.

Para que houvesse uma melhor compreensão sobre os

questionamentos que surgiram, foi realizada uma apresentação dos

acadêmicos do curso de Física da Universidade de Passo Fundo, o grupo

GEMPAF, sobre a lua e suas fases.

Com o desenvolvimento do projeto, a ampliação do conhecimento

das crianças pode ser observada nas suas próprias falas: Existe uma só

lua; enquanto é dia em um lugar é noite em outro, que nem no Brasil

aqui e Japão lá (apontando para o globo terrestre); a lua é só uma e ela

muda, se transforma; existe uma força grande e invisível que segura a

lua no céu; só vemos a lua de dia quando é Nova, é um jeito diferente

que ela aparece; o sol ilumina a lua e ela muda e a terra gira; tem um

86

lado todo escuro que é nova; outro lado iluminado é cheia; quando fica

perto da cheia fica só uma partezinha de luz e depois escuro, é a

minguante, depois da nova vem a crescente que o sol tá ali perto.

Proporcionamos um momento para que as famílias, juntamente

com as crianças, apreciassem os espaços montados nas salas de aula e

escutassem as suas explicações. E depois todos se dirigiram para um

terreno ao lado da escola para apreciar um eclipse lunar com o telescópio

montado por professores e crianças.

87

POR QUE TANTA CASINHA IGUAL?

Andrieli dos Santos

Arleia Bellini

Joane Ferreira da Silva

Maria A laíde Winter Ferreira

O projeto da EMEI Fadinha denominado “Por que tanta casinha

igual?” surgiu a partir de um passeio que as crianças das turmas do

Maternal e Pré-escola II realizaram no bairro onde moram, já que,

seguidamente as crianças desenvolvem atividades fora do espaço da

escola explorando assim o contexto da comunidade local.

Neste passeio, assim como em outros, as crianças manifestaram

interesse em compreender as modificações do contexto. Atentas a tudo o

que acontece em seu redor, neste dia o interesse das crianças voltou-se

para a construção de muitas casas iguais próximas à escola.

Antes de iniciarem as construções as crianças brincavam naquele

espaço que era um local com muitas árvores, uma paisagem natural que

estava sendo modificada. Em suas observações as crianças faziam

comparações com fatos de outros locais. Lá perto de casa estão

arrumando os terrenos e deixando eles bem retinhos para fazer uma casa

em cima. Eu também vi que tem umas casas que já estão sendo pintadas.

O lugar em que estavam sendo construídas as casas fica nas

proximidades da escola e sempre que passavam por ali as crianças

acompanhavam as modificações que estavam sendo realizadas e daí seus

questionamentos: Ô prôôôôôô... Porque tanta casinha igual? Quem vai

morar aí? De quem são essas casas?

Ao observarem um caminhão despejando concreto nas formas das

paredes das casas, mais perguntas: É o caminhão que constrói a casinha?

88

Tem um monte de homens trabalhando lá nas casinhas. O prefeito é o

dono das casinhas. A minha casa é diferente, é de madeira.

As novas casas de concreto, todas do mesmo tamanho e a

maneira de serem construídas, foi o que realmente empolgou as crianças

e começou a despertar seu interesse e curiosidade. Eu vi as terras bem

retinhas e umas quantas casinhas. Eu até vi que estão colocando as

portas e as janelas nas casas. Tem um monte lá.

Em meio a tantas perguntas, nós professoras fomos buscar

informações que começassem a responder as dúvidas dos alunos. Assim

fizemos contato com o arquiteto responsável pela obra e fomos

informadas que se tratava de um projeto habitacional de casas populares

da Secretaria Municipal de Habitação.

Também nos disseram que aquelas casas eram construídas de uma

forma diferente. Mas como assim de uma forma diferente?

Em meio a tantas novidades, perguntas e curiosidades a respeito

das construções começamos o projeto “Por que tanta casinha igual?”

Inicialmente foram realizados vários passeios ao loteamento onde

estavam sendo construídas as casas, lá as crianças puderam observar as

diversas etapas da construção das casas e ficavam eufóricas e

maravilhadas com o processo da construção: a preparação do terreno, a

construção do radie (base), as formas para erguer as paredes, o concreto

despejado nas formas, e eles faziam comparações com as construções

tradicionais, e também com suas casas, dizendo: A minha casa é de

madeira. A minha é de madeira e tijolos. Enquanto outro aluno falava

que a casa da história do lobo era de palha. Assim, cada dia que passava

muitas histórias eram contadas pelos alunos que acompanhavam com

89

muito interesse o processo de construção do conjunto habitacional. E na

escola através de diversas atividades as descobertas iam sendo

sistematizadas.

Em uma nova visita à construção, observamos que eram montadas

formas e que nelas era depositada uma massa cinza que era trazida por

um caminhão.

Surgiram assim outras perguntas: Ô prôôôôô, porque que esses

homens montam essas coisas? E o que tem dentro desse caminhão? O

que ele traz? Parece uma massa cinza.

Foram realizadas entrevistas com os responsáveis pela obra, com

o secretário de Habitação, com o arquiteto e com profissionais que

trabalhavam na construção como pedreiros e pintores. Ficamos sabendo

que no início, no terreno que a casa ocuparia, era feita a terraplenagem,

ou seja, deixar a terra bem retinha. Após era iniciada a construção da

base da casa, que é chamada radie. Feito isso, são montadas aquelas

coisas, que na verdade são formas de ferro armadas sobre a base pronta.

Então, em vez de tijolos ou madeira, nas formas é depositada aquela

massa cinza trazida pelo caminhão, ou seja, o concreto. Espera-se de 12 a

18 horas depois que o cimento foi colocado e então a forma pode ser

retirada, depois é construído o telhado e realizados os demais

acabamentos da casa.

As crianças receberam na escola a visita de um pai que é pedreiro

e de uma forma prática os alunos ficaram conhecendo pedra de brita e

cimento, componentes que dão origem ao concreto. Eles puderam

visualizar cada ingrediente separadamente, analisando sua textura, sua

90

cor. Também tiveram a oportunidade de fazer seu próprio concreto, com

a ajuda do profissional e das professoras.

Durante a visitação à construção os alunos puderam conhecer o

interior das casas prontas, onde viram seus cômodos e sua estrutura

interna. Na escola eles representaram a planta baixa de uma casa. Para

realizar esta atividade nos orientamos pelo estudo da planta das casas

fornecida pelo arquiteto. As crianças aprenderam que em primeiro lugar

se faz um desenho de como a casa será construída e a partir desse

desenho a construção tem início.

No dia seguinte, foi feito um passeio pelo bairro, onde as crianças

observaram como as casas próximas a escola eram construídas.

Encontramos casas de tijolo, de madeira, mistas e também de várias

cores. Durante o passeio fizemos visitas às casas dos alunos e

registramos com fotos. Cada aluno descreveu sua casa aos colegas

dizendo como ela é construída e que materiais foram usados para isso.

Em sala de aula os alunos realizaram desenhos retratando suas

casas. Também trabalharam com jogos pedagógicos, com os quais

construíram suas casinhas de brinquedo e podiam fazer comparações

entre as várias maneiras de montagem. Também puderam observar as

formas geométricas dos jogos e suas cores.

Num desses passeios, as crianças observaram uma casa de barro

no alto de um poste, então descobrimos que aquela era a casa de um

pássaro, o joão de barro, e assim as crianças passaram a observar o que

encontravam no caminho, e descobriram casas de diferentes animais:

formigueiros, ninhos, canil. Com isso foram realizadas conversas na

rodinha sobre a importância de se ter uma casa, de como é bom estar com

91

a família em nossa casa, que existem crianças que não têm uma casa para

morar. E que, assim como nós seres humanos, os animais também

precisam de um lugar seguro para viver e que é errado destruir suas

casas. Que existem pessoas, que sem necessidade, destroem as casas de

vários animais com a derrubada de árvores, queimadas, caça ilegal.

A partir dessa conversa, uma das turmas confeccionou um jogo ao

qual deram o nome: De quem é essa casa?, onde as crianças

relacionavam cada ser vivo ao seu respectivo habitat natural.

Também trabalharam com livros, entre eles A Casa Sonolenta e os

Três Porquinhos. A contação de histórias foi acompanhada por atividades

em que observavam os tipos de casas e tipos de materiais usados na sua

construção.

Confeccionamos uma maquete representando o Conjunto

Habitacional através da utilização de materiais alternativos, recorte,

colagem, dobraduras. Através dela os alunos puderam visualizar as

casinhas numa perspectiva diferente.

As aprendizagens realizadas foram socializadas entre as turmas

através da divulgação e exposição dos trabalhos produzidos e também

uma exposição aberta à comunidade escolar que contou com a

participação dos pais dos alunos. As crianças também participaram da

inauguração do Conjunto Habitacional.

92

O QUE TEM DENTRO DO CAMINHÃO?

Claudia Fabrina Bohrer

Vanusa Rocha Assis

Priscila Beck Fabiani

O projeto “O que tem dentro do caminhão?” iniciou em uma tarde

do mês de maio, quando a turma do berçário, composta de 13 crianças,

na faixa etária de 1 a 2 anos de idade brincavam no pátio.

Enquanto algumas crianças estavam distraídas brincando, o

menino Renato avistou um caminhão que estava parado em frente à

escola e gritou: Prô o minhão! Nesse momento os demais, motivados

pela curiosidade do colega, aproximaram-se da grade do pátio para

observar a movimentação no caminhão. Notando a agitação e o interesse

das crianças, também nos aproximamos e percebemos que se tratava do

93

caminhão que faz a entrega das frutas e hortaliças na escola. Como nem

todas as crianças conseguem se expressar verbalmente, devido à sua faixa

etária, apenas algumas comentaram o que estavam visualizando e as

outras apenas ficaram olhando atentamente.

Enquanto olhavam o caminhão as crianças comentavam: O

minhão! É gandi! Tem papá! Banana! O titio! Um sei!

A partir das primeiras curiosidades das crianças no pátio,

retornamos para a sala de aula e na rodinha demos continuidade à

conversa: explicamos que o titio do caminhão estava trazendo comida

para as crianças, mostramos alguns caminhões de brinquedo que temos

na sala de aula, momento em que as crianças se dispersaram brincando

com os caminhões, ficamos observando a suas reações ao brincarem e

percebendo o entusiasmo e satisfação das mesmas pelo caminhão,

vislumbramos um excelente tema a ser trabalhado e começamos a

estruturar a rede do projeto.

Para saber mais sobre o caminhão e despertar ainda mais a

curiosidade das crianças, decidimos fazer uma visita ao caminhão.

Compreendemos que seria interessante mostrar para as crianças o que

realmente havia dentro do caminhão. Na semana seguinte, quando o

caminhão chegou à escola para fazer a entrega, conversamos com o

motorista da possibilidade das crianças visitarem o caminhão.

Prontamente ele estacionou o caminhão bem em frente à escola para

facilitar a entrada das crianças, pois estava estacionado do outro lado da

rua.

As crianças ficaram encantadas dentro do caminhão, caminhavam

de um lado para o outro e pegavam um pouco de tudo, levavam os

94

alimentos à boca, cheiravam e faziam os seguintes comentários: a Bruna,

logo que entrou gritou: batata, batata, na realidade era mamão; o Nicolas

pegou o tomate e disse vermelho e assim, de uma forma divertida, as

crianças foram fazendo as suas descobertas, apenas o Kauã não quis

entrar no caminhão.

O motorista do caminhão ficou encantando com as crianças,

principalmente quando explicamos o trabalho que estava sendo realizado

e comentou: Como a escola é importante no desenvolvimento das

crianças. No meu tempo só tinha jardim e não se trabalhava assim,

agora as crianças já começam a aprender desde bem pequenos, eu não

imaginava. Vocês devem mostrar as fotos para os pais, eles vão ficar

muito orgulhosos.

Como entrar no caminhão não esgotou o entusiasmo e o interesse

pelo assunto, demos continuidade ao trabalho com caminhões.

Construiríamos caminhões em tamanhos diferentes, de forma que as

crianças pudessem brincar e diferenciar os tamanhos, pois uma das falas

que surgiu no dia em que avistaram o caminhão foi: É gandi! Sendo que,

no caminhão maior, eles poderia brincar dentro. Começamos a recolher

caixas de papelão com as colegas e mercados próximos à escola e

iniciamos a atividade. As crianças arrastavam as caixas pela sala e

ajudaram com muito entusiasmo a construir, pintar, colar figuras de

frutas e legumes de encartes de supermercado e principalmente a disputar

o passeio no caminhão. Não poderiam faltar alguns desentendimentos,

quando o Renato gritava o minhão é meu, é meu, não querendo deixar

mais ninguém entrar no caminhão, decidimos então fazer um passeio

95

coletivo, com varias crianças dentro do caminhão, apesar de apertado, as

crianças adoraram.

Conforme estávamos desenvolvendo as atividades achamos

necessário envolver as famílias. Conversamos com os pais quando

vinham pegar os filhos na escola, explicamos sobre o projeto que estava

sendo trabalhado e entregamos um questionário para obtermos mais

informações a respeito de quais as frutas e legumes eram mais

consumidas em casa e qual a fruta ou legume que a criança mais gostava.

Ao retornarem os questionários percebemos que poucas

famílias têm o hábito de comer diariamente frutas e legumes e o que

mais nos chamou a atenção foi que muitos pais não souberam responder

qual a fruta que seu filho mais gosta. Colhidas estas informações,

começamos organizar mais algumas atividades para sanar as

curiosidades das crianças e melhor vivenciar o tema.

Selecionamos algumas frutas e as crianças puderam manipulá- las,

pronunciamos o nome e observamos a cor de cada fruta e,

principalmente, degustamos. As crianças foram fazendo várias hipóteses:

a Stéphanie quando viu o kiwi disse é milho; o Nicolas comentou sobre a

maçã dizendo é cor de menina, no mesmo momento houve a

oportunidade de comparar a cor da maçã com a camiseta que o menino

estava usando, a Maria Beatriz quando viu o mamão disse nojo, a

Giovana quando tocou o abacaxi disse dói.

No intuito de aumentar o interesse das crianças pelas

frutas e incentivá- las a comer e mostrar que podemos consumi- las de

várias maneiras decidimos fazer, na semana seguinte, junto com as

crianças, suco e batidas. As professoras e a assistente se dividiram e

96

cada uma trouxe um tipo de fruta, um dia foi feito suco e no outro,

batida. Colocamos um cartaz com os tipos de frutas utilizadas,

mostramos as frutas para as crianças e explicamos o que seria feito,

pedimos emprestado o liquidificador para a Tati da cozinha e iniciamos

o trabalho. As crianças ficaram muito atentas a tudo que acontecia e

apenas o Kauã e o Pedro se assustaram com o barulho do liquidificador.

Tivemos que parar, pegá- los no colo e mostrar de perto o que estávamos

fazendo e explicamos a eles que o barulho era parecido com o do

caminhão; aos poucos eles foram se acostumando e não choraram mais.

Na hora da degustação, algumas crianças não quiseram nem provar,

como a Maria Beatriz. Em compensação, o Renato provou todos e

repetiu o suco de abacaxi.

Após terem conhecido melhor as frutas, organizamos um

piquenique no pátio da escola com vários tipos de frutas, onde as

crianças tiveram a oportunidade de escolher a de sua preferência para

comer. Algumas crianças escolheram a fruta de sua preferência e

degustaram com muito prazer, enquanto outras pegaram a que lhe

chamou mais atenção, mas ao levarem à boca, fizeram carinha de nojo e

disseram caca; outros ainda pegaram na mão e cheiraram para depois

levar à boca e também houve os que pegavam várias frutas e não

quiseram comer nenhuma. Descobrimos que a fruta de maior aceitação

pelas crianças é a maçã.

Para encerrar as atividades com as frutas, fizemos um

círculo no chão e contamos a história “Frutinhas Amigas” da coleção

“Festa dos Dentinhos”. Entusiasmadas, as crianças queriam pegar o

livrinho, tentavam imitar a encenação da professora e a Maria Beatriz

97

repetia o nome da fruta maçã dizendo machã. Após contarmos a história

usamos figuras de frutas organizadas por cores e junto com as crianças

montamos um painel.

No caminhão também havia legumes, nosso próximo foco de

trabalho. Pedimos alguns legumes emprestados na cozinha (batata,

cenoura, beterraba e chuchu) levamos para a sala de aula e na rodinha de

conversa retomamos o que havia dentro do caminhão e demonstramos os

legumes vindos da cozinha, onde eles tiveram a oportunidade de

manuseá- los. Nesse momento alguns alunos levaram o legume direto

para a boca outros não queriam devolvê- lo. A Maria Beatriz, quando

pegou o chuchu logo jogou no chão e exclamou: ai pô. Deixamos os

legumes no meio da roda e a maioria queria pegar a cenoura e a

beterraba. Percebendo os legumes que mais chamaram a atenção na roda,

decidimos fazer salada com estes legumes. Fomos ao mercado do bairro

e compramos cenoura e beterraba, preparamos e ralamos os legumes

junto com as crianças, para que eles pudessem acompanhar todo o

processo e após provar, sentindo o gosto dos legumes. Observamos que

alguns alunos ao levar à boca e cuspiram, outros como o Renato e o

Kauã pediram repetição e muitos ficaram impressionados quando a

beterraba manchou seus dedinhos.

A partir da observação que fizemos quando a beterraba manchou

as mãos das crianças, resolvemos fazer junto com elas uma tinta de

creme com o suco da beterraba, receita que retiramos e adaptamos da

revista Creche.

De uma forma lúdica e divertida as crianças ajudaram a fazer a

receita e espalhando a tinta sobre o papel realizaram um lindo trabalho

98

artístico. Essa técnica possibilitou o contato com uma textura diferente

proporcionando prazer pelo manuseio o que fascinou as crianças.

Ficamos impressionados com a postura das crianças, pois, realizaram a

atividade com muita maturidade, sem levar à boca ou espalhar pelo rosto,

o que é normal nesta idade.

Dando continuidade às atividades e levando em consideração

que a criança nessa faixa etária fala pouco e é nessa fase que desenvolve

a oralidade e a imaginação, selecionamos algumas histórias envolvendo o

tema: “A Sopa dos Dez Indiozinhos”. Durante a dramatização a

professora ia montando um painel com figuras de legumes. Na história do

“Camilão, o Comilão” colamos um pedaço de papel pardo no chão da

sala onde foi feito um registro coletivo. Algumas crianças participavam

expressando-se oralmente e outras demonstravam interesse através de

gestos corporais. A história em que houve maior participação das crianças

foi a “Sopa dos Dez Indiozinhos”, na dramatização as crianças

interagiam, na tentativa de falar o nome dos legumes e querendo pegar os

fantoches, pois estavam maravilhadas com a encenação.

Sabendo que as crianças gostam muito de brincar com bola,

resolvemos promover na sala de aula um espaço de descontração

realizando uma brincadeira dinâmica e interativa: o jogo de boliche,

incluindo figuras de frutas e legumes com o intuito de desenvolver a

capacidade motora, a contagem oral e a memorização do nome das horti-

frutis. No início, as crianças ficaram impressionadas e no decorrer da

atividade apresentaram inquietação, todos queriam participar ao mesmo

tempo. A Maria Beatriz, ao pegar a bola para jogar, colocou-a no chão e

chutou os demais, percebendo a atitude da colega repetiram a mesma

99

ação, pois notaram que tinham mais força para derrubar as garrafas com

o pé. Todos adoraram a brincadeira tanto que o Nicolas não queria largar

a bola para guardar, pedindo para jogar mais vezes.

Como já estávamos concluindo as atividades do projeto,

achamos importante envolver a família novamente. Solicitamos que nos

enviassem receitas culinárias fáceis de fazer utilizando frutas e legumes

que as crianças costumavam comer, das quais selecionaríamos uma para

fazer na sala de aula com a participação das professoras, crianças e dos

pais.

Após termos analisado as receitas enviadas verificamos que

muitos gostavam de sopa de legumes, levando isto em consideração e a

repercussão que a história “A Sopa dos Dez Indiozinhos” causou,

decidimos fazer uma sopa. Conversamos com os pais e os convidamos

para participar da realização da receita. Explicamos que seriam eles que

iriam conversar com as crianças e fazer a sopa.

No dia escolhido para fazermos a sopa houve a presença de

poucos pais, pois estava chovendo muito. Confeccionamos um cartaz

expondo as figuras dos legumes que usaríamos para a receita com o

nome de cada um em letra script. Os pais conversaram com as crianças

sobre a importância de consumir legumes e logo iniciaram a atividade.

As crianças puderam manusear os alimentos, sentir o cheiro, a textura, o

tamanho e o formato, ver as cores, além de observarem o preparo da

refeição que comeriam mais tarde. Os alimentos foram mostrados

inteiros e depois cortados em pedacinhos, o que possibilitava aos

pequenos fazerem a correlação entre aquilo que comeriam e o que estava

sendo apresentado. Neste dia o Pedro não queria ficar parado, querendo

100

pegar os legumes, a Giovana só queria o colo da mãe que estava

presente, e a Maria Beatriz estava encantada com a presença do pai.

O que chamou à atenção de todos foi a presença do pai da

Maria Beatriz, pois raramente os pais participam desse tipo de atividade.

Após auxiliar na sopa, ele comentou que estava surpreso com o projeto

principalmente por estar sendo desenvolvido no berçário, e que a filha

chega em casa todos os dias tentando relatar o que aconteceu na escola.

Também ressaltou sobre a importância do projeto na educação alimentar

das crianças, pois eles estão desenvolvendo o paladar e muitas famílias

não têm o hábito de consumir frutas e legumes. Prosseguindo, falou que a

escola está de parabéns pelo trabalho que vem realizando.

Para os registros do projeto foram feitos, além dos caminhões,

os painéis e tudo foi devidamente fotografado. Ao término do projeto, as

crianças além de saberem o que realmente havia dentro do caminhão,

também começaram o aprendizado da importância de uma alimentação

saudável.

101

TUCANOS

Simone de Fát ima Borges Cavalheiro

O projeto “Tucanos” surgiu em uma manhã de junho quando

alguns tucanos fizeram uma visita ao pátio da escola enquanto a turma do

pré E se encaminhavam ao refeitório para tomar café. O aluno Arthur

gritou chamando a atenção da professora e da turma para um visitante

inusitado pousado em uma árvore no pátio interno da escola, afirmando

que era um tucano. Parando, observamos a linda ave e as crianças

começaram a questionar se seria mesmo um tucano ou um pardal, ou

ainda um joão de barro. Perguntaram, também, se ele morava na árvore

sozinho, se à noite ele ia embora, se só dava para ver de dia, se ele comia

102

banana, se dava para prendê- lo. Como não podíamos perder a hora do

café, combinamos que conversaríamos mais sobre os tucanos em sala de

aula.

Na sala de aula, já na rodinha, o assunto voltou e surgiram novos

questionamentos. As crianças queriam saber se eles tinham dentes; se

engoliam inteiro e comiam rato do banhado; como os caçadores pegam

os tucanos; se podem ser vendidos. Decidimos então que iríamos

procurar respostas para aprender mais sobre essa ave tão linda que após

esta visita, passara a fazer parte das suas vidas.

Continuamos conversando e decidimos como iríamos trabalhar a

problemática levantada em sala de aula. Após organizar tudo que as

crianças falaram em uma teia, percebemos que seria necessário de dois a

três meses para estudar o tema escolhido.

Com tudo organizado e o tempo definido, foi feito um

levantamento dos recursos que iríamos utilizar e com quem poderíamos

contar na organização do projeto. Contaríamos com as professoras da

escola, as funcionárias da biblioteca pública, o funcionário do zoológico

da UPF e precisaríamos de folhas de ofício, materiais alternativos, colas,

cartolinas, lápis de cor, papel colorido, canetinha, canetões e o que fosse

necessário para conhecermos os tucanos.

Definido os primeiros percursos, começamos a buscar respostas

para as problemáticas levantadas sobre o tema. Sendo que as tarefas

foram divididas conforme o interesse dos alunos.

O primeiro passo na busca da construção do conhecimento foi

enviar um questionário para os pais, onde eles nos responderam

perguntas simples como: se já haviam visto um tucano, se sabiam do que

103

eles se alimentavam, como era o ninho dessa ave e se seus filhotes

nasciam com penas. Com as respostas, fizemos um levantamento do

conhecimento demonstrado pelas famílias e que também significava as

primeiras informações que as crianças possuíam e que foram

compartilhadas na hora da conversa.

Desse modo o próximo passo foi o de procurar respostas para as

questões levantadas. Partimos, então, para uma busca na internet. Lá as

crianças viram que existem aproximadamente 40 espécies de tucanos,

mas o estudo foi focado no de bico verde por ser a espécie que nos

visitou. Nesta pesquisa vimos o tamanho do tucano, como é seu ninho,

seus hábitos, sua alimentação, a reprodução, como nascem os filhotes, as

ameaças a que estão expostos, os predadores dos ninhos, os traficantes de

aves, suas cores e outros assuntos, que foram sendo integrados no

desenvolvimento do projeto.

A seguir fizemos uma visita à biblioteca pública. As crianças, ao

manusearem os livros dispostos com muito carinho pelas bibliotecárias

em uma mesa, se maravilharam com tantas imagens e com o que mais

descobriram sobre a ave em questão. Ao retornar à escola eles tinham

muitas ideias sobre o novo amigo.

A leitura do livro “A turma do loteamento”, que conta a história

de um bando de tucanos de bico verde que foram à cidade em busca de

alimentos, assemelhando-se com o que aconteceu com os tucanos que

visitaram a escola, foi de grande ajuda na busca pela compreensão do que

os tucanos estavam fazendo no pátio da escola.

Quando já havíamos coletado uma quantidade significativa de

informações sobre o tema, partiu-se para o estudo prático de tudo o que

104

viram. Iniciaram as atividades para fixar o conhecimento que foi

construído, o trabalho foi articulado a partir das primeiras falas das

crianças.

Com as primeiras falas Prô olha lá na árvore é um tucano, É um

pardal, Não, não é um João de Barro. Buscamos diferenciar as três

espécies conforme o tamanho e o tipo de ninho. Trabalhamos esta

diferença, primeiro em um cartaz, onde as crianças puderam comparar os

tamanhos com suas próprias mãozinhas e com palitinhos de picolé e foi

levantada outra questão, de que quantos picolés tinham que comer para

dar o tamanho do tucano e dos outros pássaros e quantas mãozinhas

seriam necessárias. Após essa atividade, em um exercício xerografado,

eles compararam os tamanhos, diferenciando o maior, o médio e o

pequeno.

Os tipos de ninho também foram trabalhados em cartaz.

Construíram e relacionaram os ninhos dos pássaros: o ninho do joão de

barro, uma casinha de barro; o do pardal com gravetos e o do tucano um

tronco feito de serragem. Depois eles fizeram essa relação em uma folha

xerografada e um desenho livre com o ninho dos tucanos coberto de

serragem para registro da atividade. Com um tronco de árvore, fizemos o

ninho do tucano e representamos como ele alimenta a fêmea quando ela

está chocando os ovos.

Com as afirmações O tucano come banana e Também, come rato

do banhado, partimos em busca do que o tucano come para sobreviver.

Voltamos às nossas anotações das pesquisas na internet e na biblioteca e

construímos um cartaz colocando estes alimentos registrados através de

um desenho livre das crianças.

105

Buscando as respostas para Ele engole inteiro e Ele tem dente,

voltamos à internet e assistimos a um vídeo, onde as crianças observaram

que o tucano come pedacinhos pequenos por não ter dente.

E para saber o que acontece com os tucanos de noite, De noite

eles vão embora? Só dá prá ver de dia? voltamos às nossas anotações e

não encontramos nada específico sobre isso. As crianças fizeram suas

próprias conclusões e disseram que ele só vem de dia para se alimentar,

pois enxergam as frutas e as sementes, podem voar sem bater em nada,

podem fugir dos caçadores e alimentar seus filhotes. À noite não dá, pois

eles não enxergam para voar, têm medo da coruja que pega eles e não

podem achar comida, por isso ficam em casa como nós, pois de noite é

hora de dormir, não ficar voando por aí. Essas são respostas criadas pelas

crianças, não serão encontradas em nenhum livro.

A fala Ele mora nessa árvore sozinho? levou a construir o

conhecimento de que os tucanos vivem em bandos. Para que as crianças

compreendessem o que é um bando de tucanos, foi feito uma pintura na

mão delas representando os tucanos. Primeiro num aluno, mostrando que

sozinho o tucano viveria triste. Depois com outra aluna, foi formado o

casal, e para encerrar com muitas mãozinhas pintadas surgiu o bando.

Assim, elas puderam compreender que um bando significa muitos

tucanos.

Quanto a sua cor, Ele é preto, Não, ele é amarelo!, Buscando

desenvolver a criatividade das crianças foi construído um cartaz com

recortes de revistas de outras coisas do cotidiano que tivessem as mesmas

cores dos tucanos. Em outra atividade, onde elas puderam exercitar a

percepção visual, fizeram a leitura de duas imagens que a professora

106

Rosane do Pré B nos deu. A primeira observação feita foi a de que não

era o nosso amigo tucano, pois nas imagens apareciam tucanos de bico

amarelo, então relataram o que viam em seus mínimos detalhes.

Brincaram com as cores e as figuras geométricas. Construímos um cartaz

com um tucano de origami, depois cada criança fez o seu, seguindo o

passo-a-passo do cartaz.

Para sabermos se Dá pra prende ele?, Não pode vender tucano? e

Como os caçadores fazem para pegar os tucanos?, tivemos inicialmente

a orientação de um soldado do batalhão ambiental da Brigada Militar,

que respondeu às perguntas das crianças. Depois fizemos um cartaz

mostrando como o homem está destruindo as árvores, local onde os

tucanos moram.

Após a conversa com o soldado, assistimos ao filme “Rio”, que

conta a história de um pássaro que foi capturado ainda filhote e teve

dificuldades para aprender a voar, pois foi criado em uma gaiola,

demonstrando às crianças que os pássaros sofrem quando são retirados de

seu ambiente natural.

Sendo escriba das crianças escrevi a história sobre os tucanos. As

falas das crianças para a construção da história foram guiadas pelos fatos

que ocorreram no decorrer do projeto “TUCANOS” e com uma boa dose

de imaginação. Falas e fatos foram registrados e vivenciados no dia a dia

das crianças. Após a construção da história, as crianças fizeram a sua

ilustração e também foi editado um gibi ilustrado pela professora.

As famílias participaram como a primeira fonte de informação,

através do questionário já anunciado e na fase de conclusão quando

107

fizeram um relato sobre o que as crianças comentavam em casa sobre o

novo amigo.

Sabe-se que tudo que se produz forma a memória do projeto. Para

conclusão do trabalho foi realizada uma exposição para as outras turmas

e para os pais, onde as próprias crianças narraram a linda história

vivenciada mostrando todo o conhecimento construído no decorrer do

projeto.

Com esta exposição ficou claro que a maior parte dos

questionamentos iniciais das crianças foi respondida. Elas aprenderam o

que os tucanos comem, a diferença entre tucano, pardal e joão de barro.

Elas mesmas disseram porque eles só aparecerem de dia; como é o ninho

e seus filhotes; que não se pode prender e nem permitir que esta linda ave

seja comercializada; que eles vivem em bandos, entre outras

aprendizagens.

Sabe-se que os questionamentos irão continuar, então para fechar

com chave de ouro e premiar a dedicação das crianças na construção do

projeto foi decidido fazer uma visita ao zoológico da UPF e conversar

com quem entende mais sobre esta ave, buscando assim o crescimento do

conhecimento já adquirido.

108

CUECA OU CALCINHA

Enir dos Santos Tormes

O projeto “Cueca ou Calcinha” aconteceu na EMEI Sonho

Encantado, localizada no Bairro Hípica na cidade de Passo Fundo. O

projeto foi desenvolvido na turma do Maternal I, (02 e 03 anos).

O projeto começou a ser vislumbrado a partir das observações e da

leitura que a professora realizava da turma, no modo como as crianças

agiam nas suas brincadeiras de faz-de-conta e o modo como davam

significado às suas manifestações. Ao brincar com as bonecas (boneco

Leleco/menino e Lupita/menina) as crianças imitavam os adultos na troca

de fraldas, colocando as luvas em suas mãos e colocando o boneco no

109

colchonete. Enquanto isso falavam: Nós vamos trocar o bebê! (Três

crianças colocando as luvas para trocar a fralda da boneca). Abriu ele!

(Abre as pernas do boneco para tentar colocar a fralda). Pô Nir, onde tá

a roupa dele! Ele fez cocô! (Pega a maleta abre o zíper para pegar

roupas). Pô, to arrumando a roupa! Eu vou levar! (Tirando e colocando

as roupas do boneco na maleta do Leleco, pois ele iria levar para a sua

casa).

Também foi observada a curiosidade das crianças pelos órgãos

genitais nas trocas de fraldas (durante a realização da troca de fraldas

sempre tinha uma criança olhando e apontando para o órgão genital) ou

quando estávamos na pracinha da comunidade, alguma criança pedia

para fazer xixi, e a professora segurava as meninas enquanto os meninos

faziam xixi em pé. Muitas eram as manifestações realizadas por eles

quanto ao uso da cueca e da calcinha. Em algum momento da aula,

sempre surgia um dos meninos que vinha me mostrar ou falar de sua

cueca, isso era a deixa para que os demais colegas também mostrassem

suas cuecas ou calcinhas. Olha minha cueca nova! Eu uso cueca! Eu uso

calcinha! Eu tenho perereca, eu sou menina! Eu passei batom na minha

boca e comi tudo! Eu tenho pinto, eu sou guri!

A princípio, as crianças não conhecem a existência de diferenças

entre as pessoas. Mesmo quando nomeiam “menino” ou “menina” ainda

não significa que já tenham alcançado a dimensão do que verbalizam. As

crianças custam a identificar que existem dois sexos, que existem

meninos e meninas. Perceber isso demanda tempo e “trabalho mental”. É

a partir de inúmeras experiências vividas pela criança que ela poderá ir

fazendo uma ideia a respeito. Este trajeto não está já estabelecido a

110

priori. A criança vai vivendo, sempre mediante os cuidados e contato

com um adulto, e é nessa relação que ele trilhará suas descobertas e suas

noções.

Para perceber o quanto as crianças sabiam sobre o assunto foi lhes

proporcionado um momento para que olhassem e observassem alguns

encartes de lojas. No primeiro momento, as crianças olhavam e

identificavam coisas das quais gostavam e que gostariam de possuir. Os

meninos identificavam brinquedos como: carrinhos, dinossauros,

bicicleta, boneco Max Steel, Play Car Bombeiros, Fórmula I, bola de cor

azul ou de um personagem como o Ben 10 ou Capitão América e diziam:

É de menino! É meu, eu vou comprar! Eu vou ganhar da minha mãe! É

minha namorada! (olhando para as fotos de meninas). É de menina,

cara! (Ao identificar o desenho gatinha, menina, princesas), personagens

(Barbie, Moranguinho, Hello Kitty) ou cor (rosa ou roxo) das gravuras.

Quando olhavam a seção de roupas, identificavam o que usavam:

Eu uso cueca! A minha cueca é esta (mostrando uma cueca Boxer). Eu

uso bermuda! É minha! (toalha do Inter ou do Grêmio). Eu vou comprar

este chinelo para mim! (Mostrando a sandália do Ben 10). Eu uso

calcinha! Eu uso vestido! É meu esse! (olhando e mostrando xampú,

creme dental e a bolsa da Barbie).

Para que as crianças pudessem manejar e operar com as

descobertas que iam surgindo e no sentido de ir fazendo uma construção

mental do que é ser menino e ser uma menina, foram organizados vários

momentos de brincadeiras de faz-de-conta com as bonecas. A criação de

alguns livros também contribuiu com a discussão do tema: “Na barriga

da mamãe”, “Livro do menino e o Livro da menina”. Estes livros eram

111

trabalhados todos os dias na rodinha e observados com curiosidade, o que

trazia novos comentários: Eu tenho perereca, eu sou menina! Eu tenho

pinto e sou guri! Ela não tem pinto, é menina! Eu e o mano! Para a

figura de gêmeos. Eu na barriga da minha mamãe!

Foi então que propusemos e realizarmos o contorno de seus corpos

no papel pardo. Esse momento foi de grande alegria, todos queriam deitar

no papel pardo e ajudar a desenhar. Após o desenho do contorno do

corpo, íamos questionando a criança desenhada sobre o que ela possuía

no corpo bem como o que ela usava. – O que você usa, cueca ou

calcinha? Enquanto a professora e os assistentes desenhavam, as crianças

iam pintando seus desenhos com giz molhado. Nos dois dias seguintes

terminamos o contorno do corpo e as crianças foram ajudando a recortar.

Em outro momento, cada uma das crianças pintou o que usava (cueca ou

calcinha) e após colou no seu boneco. Depois confeccionamos um painel

com o contorno do corpo das crianças e elas identificavam-se dizendo

para os demais colegas o que cada um usava: cueca ou calcinha e se era

menino ou menina.

Para que as crianças soubessem que cada um deles cresceu e se

desenvolveu na barriga da mamãe e que foram esperados com muito

amor e curiosidade por parte de seus pais: Como seriam? (características

físicas). Parecidos com quem da família? De que sexo? Foi convidada

para visitar nossa turma uma mamãe que falaria sobre sua gravidez e seu

bebê. Aproveitando a oportunidade de termos uma grávida na escola,

convidamos a professora Daniele para conversar com a turma.

No dia da visita, esperamos pela mamãe Daniele sentados na

rodinha com os nossos bebês (bonecas) no colo. A Daniele apresentou-se

112

e mostrou- lhes o ultra-som do seu bebê, dizendo que neste filme o

médico havia gravado o bebê que tinha ali na sua barriga. No filme

apareceu um tiquinho, então soube que era um menino. Apareceu a

cabecinha, o bracinho, a perninha, apareceu o bebê bem pequenininho,

quando a barriga ainda nem aparecia e agora ele ficou bem grandão. A

prô fica imaginando como ele vai ser, seu rostinho, se vai chorar muito

ou se vai ser calminho.

Contou ainda que quando soube que era um menino, a primeira

coisa que comprou foi um cobertor azul, para colocar no bercinho e ele

ficar bem quentinho. Mostrou para a turma uma toalha bordada com o

nome Rafael, nome que daria ao seu bebê e também várias roupinhas de

diferentes cores. Salientou que ele usaria as cores: vermelha, amarela,

verde e azul porque as pessoas identificam melhor se é o menino pela cor

azul. Perguntou para a turma se os bebês nascem com roupa ou sem

roupas. Eles responderam que sim e que a mamãe teria que botar roupas

nele. Ela também mostrou os diferentes tipos de roupas que o bebê usaria

e que ao nascer ele iria precisar de fraldas.

A professora Daniele também mostrou a sacola do bebê Rafael e

questionou a turma sobre o que ela levaria quando fosse passear. As

crianças falaram em mamadeira, roupinha, fralda, paninho para limpar.

Se ele chorasse o que a mamãe daria para o bebê? O mamazinho, foi a

resposta. Onde a mamãe daria o mamá? Na mamadeira, ou, lá em casa é

na teta da mamãe, foram as hipóteses das crianças.

Depois da visita da professora, assistimos o ultra-som do bebê

Rafael e a turma brincou com as bonecas, trocando de roupas, colocando

fraldas, dando mamá, fazendo dormir e dando banho.

113

A atividade seguinte foi a confecção de um boneco menino e outro

menina, em EVA, com roupas de verão e inverno para as crianças

brincarem de vestir. E a turma pintou o fantoche de palito com a figura

do menino e da menina, com os quais brincaram alguns dias.

Junto com a turma elaboramos o cartaz EU USO: fralda, calcinha

ou cueca, onde cada uma das crianças pegava a gravura que representava

o que usava no momento e colava no seu nome. E o cartaz: EU FAÇO

XIXI: com gravura do vaso sanitário e de fralda. Neste cartaz as crianças

colavam um adesivo na gravura que representava o que eles usavam no

momento. Estas tarefas se deram a partir da história: “Vamos usar o

peniquinho”.

Com os dados do cartaz, lançamos o incentivo para que duas

crianças da turma deixassem de usar fraldas e passassem a usar o vaso

sanitário. Um dos incentivos foi individual, para ser levado para casa e

outro coletivo para ser feito na sala de aula. Então, fizemos novamente o

reconhecimento do banheiro e os procedimentos de higiene como: puxar

a descarga e lavar as mãos.

Para documentar e comunicar o que aprendemos sobre o projeto

Cueca e Calcinha as crianças fizeram o cartaz “Coisas de Menino e

Menina”. Neste cartaz, eles recortaram gravuras de encartes, que

representassem coisas de menino e de menina e colaram cada qual no

lugar indicado pelo desenho de um menino ou uma menina. As crianças

não fizeram distinção quanto ao gênero, pois em ambos os lados possuía

bola, bicicleta, motocas, carrinhos, bonecas. O que ficou evidenciado foi

a cor rosa ou roxo predominante no lado da menina.

114

Para concluir o projeto, convidamos a turma do Pré I para ir até a

nossa sala e lá, diante dos painéis e cartazes realizados, as crianças com a

ajuda da professora e as histórias elaboradas, contaram para os visitantes

o que havíam aprendido com o projeto Cueca ou Calcinha: que meninos

e meninas crescem na barriga da mamãe e vão se desenvolvendo a cada

mês. Aos nove meses ele está pronto para nascer; que somente ficamos

sabendo se o bebê será menino ou menina ao nascer ou se a mamãe fizer

ultra-som; que meninos têm pênis (pinto), usam fraldas quando bebê e

quando deixam as fraldas passam a usar cueca; que as meninas têm

vagina (perereca), usam fraldas quando bebê e quando deixam as fraldas

passam a usar calcinha; que os bebês alimentam-se e respiram dentro da

barriga da mamãe pelo cordão umbilical e que, ao nascer, o médico corta

o cordão, que será o nosso umbigo; que o bebê ao nascer mama no seio

da mamãe; que às vezes crescem na barriga da mamãe e nascem bebês

gêmeos como o Gabriel e o Guilherme; que meninos e meninas podem

brincar juntos com os mesmos brinquedos; que existem roupas que são

feitas para meninos e outras para meninas; que meninos e meninas

podem usar diferentes e variadas cores.

Alguns comentários das crianças no decorrer do projeto:

- Menino passa batom? Não, é menina que passa! Menino passa

manteiga de cacau!; Eu não tenho tênis! (referindo-se à palavra pênis) O

que você tem? Pinto?; Não é fêmea, é menina! (quando olhávamos a

gravura dos jacarés e eu comentava sobre o jacaré fêmea e o jacaré

macho); Oh, eu tô usando cueca! E menina usa calcinha! (mostra sua

cueca para a colega na pracinha); O Prô Alex usa o quê? Cueca! E você

usa o quê? Eu uso calcinha!; É de menino grande! (desenho de um carro

115

maior); Eu, meu primo e minha namorada! (olhando fotos de encartes); É

de bebê menina! Ela tá de vestido!; Sandália de menina! A do menino é

do grêmio! (coisas do Mickey e com desenho de carrinho); Esta é a

minha namorada! (mostra para a foto de uma menina).

A partir dos 3 anos de idade a criança tem noção de gênero e

sexualidade. Já sabe se é menino ou menina, descobre os genitais e as

sensações de tocá- los. É responsabilidade do professor estar atento para

combater padrões estereotipados dos papéis do homem e da mulher. E

não repetir clichês como “menino não chora”, “cor rosa é de menina”,

“menino brinca de carrinho e menina brinca de boneca”.

A família foi informada sobre o projeto através de um bilhete

pedindo sua colaboração, participou do projeto relatando no caderno do

Leleco ou da Lupita, que visitavam as casas das crianças, o que seus

filhos realizaram em casa com os bonecos. Os bonecos possuíam uma

maleta contendo suas roupas e outros pertences como mamadeira e bico.

Além disto, foi solicitado que a família incentivasse a criança a

usar o vaso sanitário em casa também, para tanto foi entregue às duas

crianças que ainda usavam fraldas um incentivo individual. Se a criança

usasse o vaso sanitário em casa, recebia um adesivo para ser colado

naquele dia da semana.

O pai Everson muito feliz diz: Vocês estão de parabéns pela

iniciativa. Nós já estávamos tentando tirar as fraldas do Vítor, mas não

estávamos conseguindo, ele resistia, ficava sem urinar o tempo que

ficava sem fralda. Depois do projeto foi bem mais fácil, agora ele usa

fralda só durante a noite.

116

O MOFO

Elis Tatiana Barbosa Vargas

O projeto “O mofo” surgiu durante o desenvolvimento de uma

atividade de colagem, quando a aluna Éwelin, ao usar um tubo de cola,

ficou intrigada com algo estranho que tinha dentro dele e questionou a

professora sobre o que seria aquilo e da possibilidade de ser ou não mofo.

A turma parou a atividade e voltou-se para observar o tubo; os

alunos que sentavam em mesas mais distantes levantaram para observar.

Neste momento, a professora fez uma intervenção e pediu que

terminassem o trabalho que havia sido proposto e combinaram retomar o

assunto na próxima aula.

117

Na aula seguinte, sentados em roda, foi levantado o assunto sobre

o tubo de cola, onde ficou explícito o interesse das crianças por mais

informações. Em seguida a professora propôs o trabalho de pesquisa para

obter informações a respeito dos questionamentos levantados. A partir

deste momento teve início o trabalho de registro do tubo de cola e ficou

definido o tema do projeto. As crianças desenharam o tubo de cola

evidenciando o mofo. Posteriormente foi montado um painel com os

tópicos: O que sabemos / O que queremos saber / O que aprendemos.

Mapeado o percurso do projeto, a turma foi até a biblioteca do

CIEP da São Luiz Gonzaga para fazer uma pesquisa bibliográfica a

respeito do tema. Durante o trajeto de ida, a conversa entre os alunos

tinha temas diversos, bem diferente do assunto durante o regresso à

escola, onde as falas giravam em torno do projeto. Na biblioteca, as

crianças puderam visualizar fotos, manusear os livros e apreciar uma

leitura importante sobre o que é o mofo e onde ele pode ser encontrado,

assim como suas causas. Fizemos um registro através de desenhos, da

pesquisa feita até então.

No momento seguinte, foi realizada uma pesquisa na internet,

onde foram obtidas novas informações, foram observadas diversas

imagens e a constatação de que o mofo pode ocorrer em outros produtos

como pães, frutas e queijos.

As famílias dos alunos foram informadas sobre o andamento do

projeto e, com a devida autorização dos pais, os alunos foram levados até

o teatro Múcio de Castro para assistir a um filme de curta metragem “O

Menino Mofado”.

118

No retorno à escola foi realizado um momento de socialização a

respeito do filme assistido, abordando temas como o excesso de proteção

com que a mãe tratava o menino mofado. Também foi discutida a

questão da inclusão social, visto que o menino Marcos, personagem

principal do filme, não possuía amigos por ser diferente.

Reconhecendo a importância de se trabalhar as diferentes áreas

do conhecimento, bem como a criatividade e a sensibilidade, foi

realizada uma produção artística do filme “O Menino Mofado”, com a

técnica do giz de cera derretido para representar o mofo no corpo do

menino.

Em outro momento, com as crianças dispostas em círculo, foi

retomada a conversa sobre o tema, com as questões: o que é o mofo, suas

causas, cor e o seu aspecto. Foi realizado um experimento onde foram

deixados num pote, por vários dias, um pão, uma laranja e três limões,

que eram observados diariamente pelos alunos, que registravam através

de desenhos, as transformações ocorridas nesses alimentos.

Na escola, foi realizado um passeio no pátio com o objetivo de

procurar mofo nos mais diversos lugares. Esta atividade aparentemente

simples levou os alunos a perceberem que o mofo é encontrado onde há

mais umidade, ou seja, em lugares onde não ocorre a incidência direta do

sol.

Os alunos trouxeram de casa rótulos de alimentos para juntos

observarem data de fabricação, validade e o modo de conservação dos

produtos, além de verificar estes mesmos itens também no rótulo do tubo

de cola. Foi feita em sala de aula uma degustação de pão, laranja e

banana, com o objetivo de chamar a atenção dos alunos sobre a

119

importância de se ter uma alimentação saudável e de boa qualidade para

a saúde. Nesta mesma aula, foi montado um painel com os rótulos que os

alunos trouxeram de casa.

Na sequência, a professora proporcionou nova pesquisa sobre os

mofos úteis e os mofos perigosos para a saúde, com visualização de fotos

e degustação de queijo gorgonzola.

Dando continuidade ao projeto e procurando responder as

questões levantadas inicialmente, a turma fez uma visita ao laboratório de

microscopia do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Passo

Fundo, onde puderam visualizar no microscópio o mofo do pão, do

mamão e do limão. De volta à escola fizeram um registro através de

desenho das observações feitas.

Considerando o conhecimento como ato social, foi promovida

uma mostra dos registros do projeto para a comunidade escolar, pais,

professores e demais alunos da escola, como forma de expandir as

aprendizagens sobre “O Mofo”.

120

AS FORMIGAS

Elisângela Martins Camargo Sloczinski

Fláv ia Quadros Gehlen

Gerusa Zanotto

Isione Andreotti

Ivani Hoppen da Silva

Rosane Maria Dariva

Simone de Fát ima Borges Cavalheiro

O projeto Formiga surgiu simultaneamente nas turmas do pré, no

finalzinho do verão deste ano. No pré A, a professora trabalhava com

uma história onde os personagens eram formigas. No pré B, as crianças,

ao brincarem na pracinha, viram uma formiguinha caminhando,

colocaram na mão e os questionamentos começaram. Já no pré D, as

formigas apareceram num passeio ao pátio vizinho da escola, enquanto

121

coletavam folhas secas. Acharam uma formiga, colocaram-na num pote e

levaram para a sala de aula.

As outras turmas perceberam as formigas ao brincarem, no chão

da sala, com os jogos ou brinquedos e comentavam: É uma aranha; não,

é uma formiga; esta é pequena, eu vi uma grandona lá na vó.

Durante o planejamento, na hora atividade, percebemos o

interesse comum entre as turmas. Elencamos os comentários das

crianças, as possibilidades de conhecimentos a serem abordadas e

construímos uma teia. Definimos os recursos que iríamos utilizar e a

pesquisa de atividades que melhor responderiam à problemática

levantada pelas crianças. As tarefas foram divididas conforme o interesse

dos alunos e os questionamentos que iam surgindo. O nome do projeto

partiu da afirmação dos alunos, que em suas turmas comentavam: Prô, é

uma formiga; olha a formiguinha; é uma formiga sim.

A partir desta organização inicial, decidimos que algumas

atividades fariam parte de um circuito de construção do conhecimento,

onde as professoras prepararam atividades para serem desenvolvidas em

todas as turmas de pré-escola. As atividades eram preparadas em uma

determinada sala e as crianças iam até lá participar.

O primeiro passo foi enviar um questionário para os pais, que

responderam às perguntas: Por que as formigas andam em fila? Por que

as formigas carregam folhas? Tatu come formiga? Formiga pica ou

morde? Por que as formigas entram nas casas? Como é a casa das

formigas? Elas moram juntas como uma família? Elas comem nossa

comida? O retorno dos questionários permitiu ampliar o conhecimento

122

prévio das crianças no seio familiar. As respostas foram compartilhadas

na rodinha de conversa.

Desse modo, o próximo passo foi procurar respostas para as

questões levantadas nos comentários iniciais das crianças e no momento

da rodinha. A busca começou por pesquisa na internet: descobriram que

existem inúmeras espécies de formigas; o tamanho delas; a

responsabilidade de cada uma dentro do formigueiro; como é a sua casa;

sua alimentação; como nascem; quem são seus predadores além do

homem.

Depois disso visitamos a biblioteca pública, onde as crianças, ao

manusearem os livros dispostos com muito carinho pelas bibliotecárias

em uma mesa, maravilharam-se com tantas imagens e informações sobre

o tema em questão. Ao retornarem à escola, eles tinham muitas ideias

sobre a formiguinha.

A leitura de histórias também foi de grande ajuda na busca do

saber em relação ao tema: “A formiga e a cigarra” e “A formiga e a

neve”, que tratam da forte jornada de trabalho da formiga preparando-se

para a chegada do inverno.

As pesquisas feitas serviram de base para as atividades seguintes.

As falas: prô, é uma formiga; não, é uma aranha; é uma formiga,

sim, encaminharam um trabalho em relação à diferenciação entre os

dois animais considerando o formato do corpo, a quantidade de patas e

os órgãos internos, sendo que esta ação integrou o circuito de atividades

entre as turmas.

Trabalhamos esta diferença em cartazes, onde as crianças

puderam comparar as diferenças entre os dois animais. As crianças

123

registraram através de desenhos e montaram os dois bichinhos em

tamanho grande, observando o formato do corpo e a quantidade de patas

e também modelaram com massinha.

Com relação à fala: elas andam em fila, montamos um circuito

no pátio. Traçamos um risco, com giz, o ferromônio. Dissemos às

crianças que este era um perfuminho que a formiga solta para marcar o

caminho e não se perderem ao voltar para o formigueiro após um longo

dia de trabalho. O caminho de ida era livre, mas ao voltarem

encontravam obstáculos, da mesma forma que, por vezes, a formiga

encontra. Precisavam encontrar um modo de transpô- lo e continuar o

caminho seguindo o perfuminho. Nesta etapa foi usado o conto “A

formiga e a pena”, que teve o texto desmembrado em partes e ilustrado

pelas crianças.

Outras turmas adoraram a experiência e participaram da

brincadeira. No berçário, as professoras dos pequeninhos fizeram

roupinhas de formiga para eles e traçaram na sala um caminho que eles

seguiram muito contentes.

Porque a formiga carrega folha? e são um monte carregando

folhinha, resultou numa brincadeira em equipes. Montamos duas

equipes, uma composta por um membro e a outra por cinco. Cada

equipe tinha que carregar folhas, ao mesmo tempo, até os formigueiros

criados pela professora. Ao final, as crianças fizeram a contagem do que

tinha em cada formigueiro e puderam perceber como é importante essa

união das formigas para o bom funcionamento do trabalho. Trabalhando

juntas acumulam mais mantimentos para os dias frios do que alguém

solitário.

124

O filminho “A formiga na natureza” contribuiu com a afirmação:

formiga é da natureza. Depois de assistirem ao filme, a professora

construiu, para fazer parte do circuito, um caminho das sensações. Este

caminho simulava os obstáculos que a formiguinha passa ao andar na

mata em busca de alimentos para o formigueiro. Os participantes

percorriam essa trilha com os olhos vendados, teciam seus comentários

a respeito da experiência e somente depois de todos da turma terem

feito seu trajeto é que puderem ver os obstáculos. Além dos alunos das

turmas envolvidas participaram também, as mães e as professoras. Em

seguida, uma turma, com sua professora, construiu um pedacinho da

mata na entrada da escola.

Considerando as afirmações eu mato ela; não pode matar os

bichinhos e coitada da formiguinha, trabalhamos com o filme “Lucas,

um intruso no formigueiro”. O enredo trata de um menino que destruía

os formigueiros com água e que, em função de uma poção mágica, fo i

encolhido e levado para reconstruir o que tinha destruído. No

formigueiro, ele aprende sobre a união das formigas e a sua importância

para a natureza. As crianças registraram, através de desenhos, as

atitudes iniciais do menino para com as formigas e o que aprendeu com

elas.

Tatu come formiga? e não, é o Tamanduá, partimos para a

pesquisa na internet. Foram construídos cartazes sobre os predadores,

onde aparecia entre eles um tatu bola.

Buscando respostas para as questões uma formiga cortadeira me

mordeu e não, ela pica, encontramos na internet que algumas picam e

outras mordem. Para representar esta questão, construímos formigas em

125

prendedor de roupas, recortando e colando desenhos coloridos, para

brincar de pica ou morde. Conforme o prendedor é aberto há uma

sensação de mordida ou picada.

O apontamento de uma criança encheu minha casa de formigas,

levou-nos à história “A cigarra e a formiga”, que mostra a formiguinha

trabalhando o tempo todo em busca de alimentos para estocar e, então,

ela procura em várias partes. Criamos dois cartazes demonstrando as

atividades das formigas no inverno e no verão.

Nas questões elas vivem na terra; ela entrou naquele buraquinho;

Como é a casa das formigas?; elas moram juntas?; esta é a família

das formigas? e essa é pequenina, eu vi uma grandona lá na vó...

voltamos às pesquisas e constatamos que o formigueiro é dividido por

castas, onde cada formiga desenvolve uma função e tem tamanho

diferente, sendo que a rainha é a maior de todas. A partir delas

realizamos a construção de cartazes de formigueiro: um visto de fora e

outro por dentro. Também foram modelados, em argila, as duas vistas

do formigueiro, mostrando os caminhos e a organização das formigas

de acordo com suas castas.

O tamanho das formigas foi comparado a objetos conhecidos pelas

crianças, em uma tabela, e também ao tamanho em relação ao ser

humano.

As pesquisas continuaram aprofundando-se com o que elas estão

fazendo? (quando viram duas formigas que se encontraram de frente e

pararam). Voltamos às respostas encontradas no filme “A formiga na

natureza”, nos livros e na internet. Assim vimos que este toque é a

forma delas comunicarem-se, dizendo para a outra que está com fome

126

ou cansada. Para demonstrar este ato, a professora fez com os alunos,

em sala de aula, uma simulação de um carrinho e o recebimento do

alimento pelo colega, como as formigas o fazem. As crianças tocavam-

se com as mãos e entregavam, na boca do colega um alimento.

Pesquisando as falas elas comem nossa comida? e não, elas

comem frutinhas, folhinhas e doces... utilizamos um documentário que

mostra que as formiga alimentam-se de um fungo produzido por elas

dentro de câmaras no formigueiro. As folhas e alimentos que elas

carregam são mastigados e transformados neste fungo que depois serve

para alimentá- las. Sendo assim, a professora junto com as crianças,

usando banana e um garfo, simulou a mastigação da formiga, ao

transformá-la em uma pasta representando o fungo. As crianças então

comeram a banana amassada saciando a fome como as formigas.

Após tantas pesquisas sobre o tema, construímos, com as

crianças, fantoches de formigas em palitos de picolé. Os fantoches

foram levados para casa e lá, juntamente com seus familiares e

contando com o conhecimento já construído, as crianças criaram

histórias de formigas. As histórias foram ilustradas com desenhos das

próprias crianças, pela professora. Concluída a parte das ilustrações fo i

construído um livro com todas as histórias manuscritas pelas crianças e

seus pais. Ver a magia da imaginação e da criatividade das crianças e a

colaboração dos pais foi maravilhoso e muito gratificante.

Para dar notoriedade ao trabalho foi realizada uma exposição para

as outras turmas da escola e para os pais, onde as próprias crianças

narraram o conhecimento que construíram a partir das atividades

realizadas no decorrer do projeto. Elas agora sabem o que as formigas

127

comem, a diferença entre a formiga e a aranha, como é a casa e como

vivem as formigas no formigueiro.

OLHA PRÔ! A ÁRVORE TÁ PELADA!

Silv ia Morin

Gisele Simões Boeira

O “Projeto por que as folhas caem?” foi desenvolvido com a

turma de Pré II, na EMEI Fofão. O interesse pelo tema surgiu numa tarde

em que saímos para o pátio, Maria, uma aluna muito atenta, olha para

uma árvore, sobe e diz: “OLHA PRÔ!!!!!! A ÁRVORE TÁ

PELADA??????”

128

No mesmo momento, com o celular, registrei o objeto de interesse

das crianças, que continuaram manifestando-se: Árvore não usa roupa!,

As folhas são as roupas das árvores. Mais tá frio e ela tá pelada, sem

roupa. Quando é frio temos que por muitos casacos, tocas, luvas pra não

morrer congelada., A árvore tá morrendo, com frio, pelada?. Nesse

instante, as árvores da escola passaram a ser motivo de curiosidade,

investigação, descobertas e grandes desafios. Começamos então a mapear

os percursos em busca de resposta às duvidas e curiosidades da turma.

Ao retornarmos do pátio, depois de tantas afirmações, perguntas e

constatações registramos as ideias através de desenhos.

Com as crianças organizadas em círculo, foi apresentada a música

“Sou uma árvore feliz”, com o vídeo. A partir desta canção, refletimos

sobre os aspectos necessários para a sobrevivência da árvore: água, sol,

chuva, terra bem fofinha. Fizemos o plantio de uma árvore com as

crianças.

A professora leu para a turma o livro “Viagem pelo corpo

humano” e mostrou várias figuras de árvores de diferentes formas e

tamanhos. Com a leitura e as gravuras foi feito um comparativo entre a

estrutura do corpo humano e da árvore. A partir dos comentários

montamos uma árvore e desenhamos o contorno de nossos corpos.

Assistimos a um filme sobre as quatro estações do ano, onde as

crianças puderam observar as modificações ocorridas com as árvores de

acordo com as condições climáticas.

Fizemos uma experiência para imitar o inverno, que consistia em

colocar um copo com terra no congelador e deixar outro em temperatura

ambiente. Depois os copos foram colocados, cada qual, sobre um

129

guardanapo de papel e foi despejado um pouco de água neles. As

crianças ficaram observando o que acontecia. Fizemos linhas com caneta

em ambos os lados do guardanapo para ver até aonde a água corria e com

que velocidade e tempo. As crianças concluíram que a água passa mais

depressa através da terra em temperatura ambiente do que através da terra

fria. Então, relacionamos com o que acontece com a água que as raízes

vão buscar na terra. Se a terra estiver muito fria é mais difícil que ela

chegue às raízes. Como conseguem menos água, as folhas mudam de cor,

envelhecem e caem. Uma das coisas de que as folhas precisam para viver

é de água.

Como culminância do projeto, fomos visitar a Reserva Maragato.

130

-Exposição dos trabalhos realizados no decorrer do projeto para a comunidade

escolar

- partes do corpo

-partes da arvore

-pesquisa em livros e

desenhos do esquema

corporal e das partes

de uma arvore para

comparação

-pesquisa sobre

as estações do

ano

-filme: as quatro

estações

-pesquisa de diferentes tipos de

folhas

-coleta de folhas para a produção

de um álbum

As pessoas

são como as

arvores?

A árvore usa

roupa?

As folhas são as

roupas das arvores?

A árvore esta

morrendo com frio? PRÔ OLHA! A

ÁRVORE TÁ

PELADA Chove vem vento e

derruba?

A culpa é do vento?

De onde ele vem? Apodrece a

folha?

-decomposição da

folha e da arvore

-experiência com

folhas -vento minuano

-pesquisa em livros,

vídeos, internet e

histórias

-Visita a RESERVA MARAGATO

Vento e água se

misturam e

criam um

congelamento da

arvore , a água

enferruja a folha

e a arvore

apodrece?

131

PRÔ, OLHA O SAPO!

Inaciana Lacourt Zorzo

Em certa manhã, na segunda quinzena de junho, em um dia

chuvoso na hora da saída do pré II, da EMEI Maria Elizabeth, o aluno

Gabriel e sua mãe enquanto se encaminhavam para sua casa, viram um

sapo localizado num canto da escola, na calçada e disseram: Prô, olha o

sapo!. As crianças que ainda estavam na sala comentaram: Meu tio tem

dois em casa!, Ele tem nome!, Vamos pegar?, Ele não se mexe, prô?.

Enquanto nós observávamos o sapo, um pai estava passando,

então solicitei que pegasse o sapo porque eu tinha medo. O pai dispôs-se

a pegar o animal e ele foi colocado dentro de um pote de chimia.

Juntamente com as crianças, furamos a tampa para ele poder respirar e o

alvoroço com o nosso visitante foi grande.

No dia seguinte, colocamos o sapo dentro de um aquário, que eu

havia solicitado à diretora que comprasse. Com o animalzinho no centro

das atenções, iniciamos as observações que geraram mais comentários e

dúvidas: Prô que cores ele tem?, Olha o tamanho dele., O do meu tio é

grande! Ele tem dois do mesmo tamanho., O olho dele é grande!, A cor

dele é marrom com verde em baixo!, E a cabeça dele é triangular!, Prô

ele tem 3 dedos na mão e 4 nos pés!, Não ele tem 4 na mão e 4 nos pés.,

Tem um filme em que o sapo vira príncipe, mas no filme o sapo é verde.,

O que ele tava fazendo aqui?, Quantos anos ele tem?.

Diante destes comentários, montamos um cartaz em papel pardo

sobre a característica do “nosso mascote”, como cor, tamanho,

132

quantidade de dedos nos pés e nas mãos, forma do corpo, forma da

cabeça, idade e habitat.

No outro dia, algumas crianças trouxeram pesquisas realizadas na

internet, sobre o sapo e suas características e assim procuramos na

rodinha analisá- las e montar um painel.

Mas as crianças não contentes queriam em sua sede de aprender

escolher um nome para o mascote, então deram algumas sugestão que

escrevi em uma cartolina. Realizamos uma eleição sobre o nome do

nosso amigo, tendo como vencedor “Mister Mec”. Então registramos

nossos conhecimentos em desenho livre.

No dia do filme da Princesa e o Sapo, da Disney, tivemos uma

surpresa desagradável. Ao chegarmos na sala algo havia acontecido.

Nosso mascote havia falecido!! Como? Perguntavam-se as crianças. E

continuaram: Como ele morre?, De que jeito?, Quem o matou Prô?

Então todas as crianças perceberam que o nosso mascote havia morrido.

O que será que aconteceu com ele?, Ele virou uma estrelinha?, Não, ele

morreu!, Foi do coração igual ao meu vô!, Não, ele parou de respirar!.

Diante da situação voltamos ao cartaz com a pesquisa para vermos o

que faltou para o sapo. Iniciamos assim a leitura do mesmo para

responder alguns questionamentos, como o que foi que faltou? E por que

ele morreu? Descobrimos que o habitat não era o correto. Depois fomos

ver o filme que estava programado para aquele dia. O filme ajudaria a

responder alguns questionamentos.

Após o filme voltamos à discussão sobre o habitat do sapo, então

surgiram algumas constatações: Ele vive num rio, né prô, igual ao do

filme., Eles comiam inseto, até enrolaram a língua quando tavam com

133

fome., E tem gosma., Não, era musgo tu não viu?. Para registro da

atividade, solicitei que as crianças desenhassem o que gostaram no filme.

Neste mesmo dia, as crianças levaram um bilhete para casa, para que

pesquisassem o que os sapos comem.

As informações trazidas foram socializadas na roda de conversa

onde algumas crianças contaram o que pesquisaram e lemos algumas das

pesquisas. No quadro, registramos as informações, concluindo que a

alimentação do sapo é mosca, por isso ele morreu de fome, disseram as

crianças.

Para ilustrar a alimentação do sapo, que caça os insetos com a

língua, fizemos um bilboquê de garrafa pet, que serviu para simular o ato

de caça do sapo. A professora cortou a garrafa em duas partes deixando a

parte do gargalo para as crianças pintarem com tinta guache e em seguida

foi auxiliando na colagem dos olhos e das pernas para compor o sapo e

montar a mosca. As crianças pintaram um jornal com giz de cera e

dobraram-no para compor a mosca. No meio do jornal dobrado foi atado

um fio de barbante. E fomos brincar de caçar moscas.

Como nosso sapo tinha morrido, promovemos o seu enterro, com

direito a um funeral.

Para termos certeza de onde o sapo mora, voltamos a conversar na

rodinha e novas pesquisas se sucederam. Lemos o livro do Ziraldo “Cada

um mora onde pode”, sendo que o bichinho da maçã conta onde cada um

gosta de morar. Nossas pesquisas mostraram que o sapo mora no brejo e

a tarefa, então, foi criar a casa dele em uma folha sulfite. Mas a casa só,

não bastava, era preciso ter o sapo, que foi construído com dobradura sob

134

a orientação da professora. E colocaram o sapo na lagoa, montando assim

uma maquete da casa do sapo.

Na semana seguinte, na hora da história, pude contar a da “Festa

no céu”, recontada por Braguinha, tendo o sapo como personagem

principal em uma festa junina. E estávamos na época de festas juninas.

Unimos o útil ao agradável e foi assim que a nossa festa junina obteve

uma temática referente ao nosso projeto.

As indagações continuavam e foi assim que surgiu o tema de

casa, pesquisar como são os sapos quando pequenos. Na sala lemos o

livro “A promessa do girino”, onde pude explorar a sequência do

nascimento do sapo e suas transformações na natureza. Depois ass istimos

a um filme sobre o nascimento dos sapos, extraído da internet. Montamos

uma maquete para ilustrar a transformação que acontece, com massa de

modelar. Além disso, as crianças desenharam o ciclo de vida do sapo.

Durante estas atividades, os alunos perceberam que o sapo, quando

cresce tem pulmão.

Com o auxílio do data show foi possível mostrar às crianças, uma

foto, com as partes internas do corpo do sapo, onde visualizaram o

pulmão, bem como os ossos e o cérebro, parte interessante como disse o

aluno Elias. Novamente fomos fazer o registro através de desenho livre.

Foi ai que iniciamos outra pesquisa em relação às espécies de

sapos existentes. Fui novamente para a internet e trouxe imagens de

outros tipos de sapos, inclusive coloridos: vermelho, azul e laranja bem

como os verdes e o cururu, que chamaram a atenção das crianças. Para

sequência das atividades montamos um cartaz com as espécies de sapo

encontradas. Comentamos a respeito das regiões onde vive cada tipo de

135

sapo, pois as crianças estavam interessadas em função das cores. Com

estas novas questões fez-se necessário o estudo do mapa da pajeia. Em

especial, queriam saber onde era a China e o Japão, bem como localizar o

Brasil.

Para registro, ampliamos o mapa da pajeia e do Brasil para as crianças

pintarem. Durante esta atividade, as crianças pintavam e questionavam

onde viviam os sapos. As dúvidas direcionaram-se para a casa dos

pinguins e do Papai Noel. De volta as pesquisas, descobrimos que nos

lugares mais frios não existem sapos. Para finalizar mais esta etapa,

colamos as imagens dos sapos nos mapas de acordo com a localização da

espécie. Ainda montamos um quebra cabeça para brincar.

A questão da gosma ou musgo continuava inquietando as

crianças. Para respondê- la, proporcionei a elas algumas observações tais

como a textura da pele do sapo, através de imagens, comparando os da

espécie que tem a pele lisa com aquela que tem a pele enrugada. Usamos

as placas de textura para termos um parâmetro de comparação de como

seria a pele do sapo. Para demonstrar a pele enrugada do sapo usamos

papel crepom enrugado, numa atividade de pintura, recorte e colagem e

para a pele lisa foi usado E.V.A no corpo do sapo.

Seguindo o projeto, a professora trouxe a música “O sapo não

lava o pé”, para ser lida e cantada. E em casa, juntamente com seus

familiares, cada criança construiu seu sapo com o material que

considerou mais conveniente.

Assistimos a outro filme o “Grande Urso”, que apresenta lendas

de sapo com veneno e medos. A partir daí foram elencadas algumas

crendices a respeito do sapo, também com a contribuição dos pais. As

136

lendas foram lidas na roda de conversa. Pintamos pratos de papel com

tinta guache para montarmos mascaras para brincar, imitando o som dos

sapos que apareceram no filme.

A história da princesa e o sapo, que tinha como título “Posso

ficar”, foi contada com o uso de um fantoche feito de caixa de leite. Isso

nos auxiliou a refletir sobre o acontecido com o Mister Mec, nosso

mascote.

Para finalizar o projeto e ver o que aprendemos, foi feita pela

professora, um jogo de trilha para as crianças brincarem. Depois

promovemos um painel na sala de aula para comunicar o que aprendemos

para outras pessoas. As crianças dividiram-se para a apresentação e

organizaram um cronograma para a visitação das turmas, com horários

programados. As crianças adoraram ser professores por um dia, como

eles diziam. Após a explanação das crianças, a professora da turma lia

uma das histórias trabalhadas durante o desenvolvimento do projeto ou

cantavam as músicas. Houve também exposição no pátio para a visitação

dos pais.

137

PRÔ OLHA O SAPO!

O do meu tio é grande

Que cor estranha né prô?

Olha a barriga dele

Quantos anos ele tem?

De onde ele veio?

Meu tio tem dois em casa

Onde ele mora prô?

Porque ele morreu?

Ele é pequeno e eu

tinha um grande

Ele tem a cara esmagada

Ele tem veneno?

Porque ele não se mexe? Ele tinha que

pular né?

Ele tem gosma? Não!

Era musgo tu não viu?

Prô, você tem medo?

Mapa da Pajeia e

do Brasil, Pintura

Maquete

Desenho Livre

Quebra-cabeça

feito pelas crianças

Recorte e Colagem

Observações

Bilboquê de sucata

Montagem de cartaz

com as características

Máscara de sapo com

prato de papelão

Pintura com tinta guache

Música

Livros de Histórias: Ziraldo

Dobradura

Fantoche e sapo

com PET e EVA

Escolha do nome

Filme

Prô, ele tem dois do

mesmo tamanho?

Coleta de Dados

Textura: Pele, Gosma

Histórias: Contos e Lendas

Alfabeto: Vogais

Cor, tamanho,

quantidade

Medos

Tempo de

vida dos sapos

Alimentação

dos Sapos

Habitat

Mapa Mundi

e do Brasil

Prô, ele tem 3 dedos

na mão e 4 dedos no

né? Porque ele não 4

na mão e jo pé?

Prô, ele não tem nome?

Vamos pegar ele?

Os olhos são grandes

Reprodução

dos sapos

Tu veste sapinho quando

pequeno vira sapão

Olha o pulmão dele

como é pequeno,

respira por ali

Ele é pequeno eu

tinha um grandão Espécies de

sapos

Pesquisa na internet

de imagens e vídeos

Tem um filme que o

sapo vira príncipe

Ele virou estrelinha?

Ele morreu porque

não demos comida

Na história os

sapinhos são iguais

ao sapão

Não, ele parou de respirar

Existe outros sapos?

Foi do coração igual meu vô

Tu não viu que ele

morreu de fome?

Quem o matou prô?

Como é a casa dele?

O que ele come? Ele come comida?

Ele vive num rio

Ele mora no brejo

Você beijaria

um sapo? Comem insetos,

você comeria?

Eles comiam insetos com

língua?

138

PRÔ, TU TEM FERRO NA BOCA?

Francenise Anesi Maschio

Tamires Schubert Saldanha

Tanisa Borowski

O Projeto “O ferro na boca da Prô” surgiu em meados de julho, na

turma do Berçário II com crianças de 1 e 2 anos de idade. A turma é

composta por 20 crianças da Escola Municipal de Educação Infantil O

Mundo da Criança.

Numa manhã em que as crianças brincavam, o menino Lorenzo

pede colo à assistente. Observa sua boca e pergunta: Prô, tu tem ferro na

boca? A assistente devolve a pergunta para a criança: Será que é ferro

que a prô tem na boca? As demais crianças ouviram e se interessaram

pela questão, vindo rodear a prô e observar melhor sua boca. A

professora explicou que quando era bebê chupava bico e talvez isto

tivesse estragado seu dente.

Como a turma ficou curiosa, as professoras e assistentes

decidiram aproveitar o tema para elaborar o projeto com o objetivo de

descobrir porque as pessoas põem ferro na boca e o que se pode fazer

para evitar tal procedimento.

Nos dias que se sucederam, foram trazidas gravuras de dentes

com aparelho, dentes sadios e dentes doentes para que as crianças

pudessem perceber a diferença entre eles e desde já compreender a

importância do cuidado com a dentição. Foram trazidos para as crianças

desenhos de escovas de dente utilizados para trabalhar formas e

tamanhos.

139

No decorrer do projeto foram elaborados trabalhos com pintura e

colagem de diferentes materiais destacando-se a confecção das máscaras

onde as crianças tiveram autonomia na escolha de cores e materiais que

usariam e depois puderam observar o conjunto das máscaras produzidas

em uma exposição feita na sala.

As crianças ficaram entusiasmadas com as histórias contadas da

coleção “Festa dos dentinhos”. Manusearam os livros e ouviram das

professoras a mesma história por várias vezes, conforme seu interesse.

Foi solicitada a presença de uma mãe que usa aparelho nos

dentes. Ela veio até a escola, participou da rodinha de conversa e

explicou os motivos que a levaram a colocar o aparelho ortodôntico na

sua boca e os cuidados que precisam ser tomados desde criança para

evitar o aparelho. Salientou o uso da chupeta como um dos problemas.

Temos também na turma uma mãe que é técnica em enfermagem.

Pedimos sua ajuda para intermediar uma visita do dentista que trabalha

no ambulatório do bairro à nossa turma. A visita foi agendada e o

dentista veio. Assim, as crianças puderam conhecer o profissional que

cuida dos dentes e que coloca o “ferro” (aparelho) na boca das pessoas.

As crianças foram até a pia e o dentista distribuiu escovas de dente a cada

criança ensinando a todos como deve ser a escovação. Perguntou quem

chupa o dedo e quem se utiliza da chupeta e da mamadeira

principalmente durante o dia e recomendou às crianças que não o façam,

pois o uso da chupeta e do dedo são grandes responsáveis por deixar o

dente torto, e que se a criança gosta e precisa da chupeta deve usá- la só

na hora de fazer o soninho.

140

As professoras passaram a fazer este exercício na sala ensinando

as crianças a guardar a chupeta na mochila para pegá- la somente na hora

do soninho, respeitando, é claro, a necessidade de cada criança, mas

insistindo nesta meta. Como na turma ninguém chupa dedo, esta

preocupação não foi relevante.

O dentista convidou a turma para visitar o seu consultório no

ambulatório do bairro. A visita foi agendada para a semana seguinte e lá

as crianças sentaram na cadeira odontológica. Não demonstraram medo

ou receio. O dentista observou os dentinhos de cada criança e dialogou

com a professora sobre a consulta para fazer recomendações aos pais.

Na internet, pesquisamos sobre alguns mitos e verdades que nos

auxiliam para uma boa saúde bucal. Esta apresentação foi realizada a

partir do teatro de fantoches. As crianças interagiram de forma lúdica

com os personagens assimilando de forma significativa a proposta que os

adultos envolvidos no trabalho propuseram.

Aprenderam as músicas “Escovar os dentes” de Rose Nascimento

e “Escove os dentes” da Xuxa. Durante a escovação, em cada dia, foram

trabalhadas as poesias “Dentinhos” e “Os dentinhos do Jacaré”.

Como forma de divulgação foi elaborado um portfólio para cada

criança com trabalhos realizados, músicas, poesias e fotografias das

atividades. As crianças expuseram aos pais a história de cada trabalho

que compunha o portfólio, cantando as músicas e ensinando-os como se

faz para ter os dentes sadios e não precisar usar aparelho quando for

adulto.

Com o término do projeto podemos concluir que as crianças da

turma iniciaram uma boa compreensão do tema e sabem responder à

141

pergunta que originou o projeto: “Prô, tu tem ferro na boca?”, nos

relatando que a prô tem ferro na boca porque usou bico quando não

devia, não escovou direito os dentes, não foi ao dentista e que desde

pequenos devemos cuidar bem dos nossos dentinhos.

A BARRIGA DA PRÔ

Gesiele A. da Silva Rodrigues

Adriane Salles Vieira

O projeto “A barriga da prô” originou-se a partir de uma

observação realizada na hora do café quando uma criança da turma do

maternal percebeu que a professora do pré não estava acompanhando a

sua turma. Logo veio a pergunta: E a prô Fernanda?

A sua professora respondeu que ela não viria neste dia e de novo a

criança pergunta: Por quê? Desta vez a resposta vem de um colega:

Porque ela foi corta a barriga pra tira o nenê! Ao que a professora

142

retruca: Não, Bruno, ela foi ao curso. Primeiro tem que esperar crescer a

barriga para depois tirar o nenê. As crianças quase em coro concordam:

É prô tem que fica bem grande.

O interesse pela barriga da prô Fernanda começou a se mostrar,

outros comentários foram sendo realizados e a barriga passou a ser

observada.

Percebi que os alunos sabiam que para o bebê nascer é preciso

que cortem a barriga e que antes disso tem que crescer a barriga, porém

não conhecem o processo de desenvolvimento do bebê e o parto normal

no qual a barriga não precisa ser cortada.

Assim, fui questionando os alunos: O que acontece com o bebê

dentro da barriga da mamãe? Qual o tamanho dele? Será que vai demorar

para nascer? Será que ele come? Como deve ser a alimentação da prô?

Com o objetivo de estruturar o projeto, fiz uma entrevista com os

pais perguntando sobre a gravidez e o nascimento de cada aluno. Com

base nos dados obtidos e pesquisas feitas, estudamos o desenvolvimento

do bebê. Iniciamos assistindo a um vídeo de uma gestação de até oito

semanas, o mesmo tempo do bebê da prô Fernanda e os alunos

questionavam: prô, não parece um bebê... cadê a mãozinha... e o

olhinho. Então expliquei que o bebê começa a se formar devagarinho,

que neste período ele ainda é bem pequeno, do tamanho de uma uva,

representamos seu formato e seu tamanho com os dedos. Em seguida

mostrei uma ultrassonografia, explicando o que era e para que servia.

Depois, os alunos realizaram uma atividade na qual desenharam a

professora Fernanda e seu bebê. As crianças puderam compreender

porque a barriga estava pequena e de que tamanho estava seu bebê.

143

Conversamos sobre a alimentação saudável para a gestante e para

nós, o que ela deve ou não comer para um bom desenvolvimento e saúde

do bebê. Em seguida as crianças procuraram em revistas alimentos

saudáveis para a confecção de um cartaz, no momento de colar as

imagens ia questionando sobre cada alimento, buscando refletir com as

crianças como saberíamos se eles eram saudáveis, que características

deveriam possuir para serem saudáveis. Concluída a atividade, levamos o

cartaz até a turma do pré e os alunos do maternal apresentaram e

conversaram sobre a alimentação saudável, mas a prô Fernanda estava

ausente neste dia.

A prô Adri que estava retornando da licença gestante, foi uma

importante fonte de consulta. Mostrou às crianças seus ultrassons, fotos

de sua gravidez e do parto. Os alunos encheram-na de perguntas:

questionaram sobre a sua alimentação e o ultrassom; porque a bebê

estava sujo de sangue, pelado e chorando. Então a prô explicou tudo o

que eles queriam saber, falou do peso e do tamanho da bebê o que deixou

as crianças curiosas. Para dar a noção de peso pegamos farinha e

colocamos dentro de um saco, pesamos e passamos de mão em mão para

segurarem e sentirem o peso que a bebê nasceu, alguns falaram que

estava pesado, outros leve. Quiseram saber onde ela estava e qual o

tamanho dela agora.

Retomamos a alimentação, construindo a pirâmide da alimentação

com recortes de encartes de mercado, expliquei o que era a pirâmide.

Agora as crianças pediram que apresentássemos para a prô Fernanda, que

não estava presente na primeira explicação sobre alimentação saudável.

Então, fomos até sua sala e dialogamos com ela e sua turma sobre a

144

alimentação saudável e a pirâmide da alimentação, mostramos que os

alimentos que estão no topo é que menos devemos comer e mostramos,

também, os mais importantes. E deixamos ao lado da pirâmide dicas de

alimentação para gestantes. Os alunos a abraçaram e passaram a mão na

barriga.

Depois disso, em uma rodinha, conversamos sobre a história da

gestação dos alunos da turma (altura, peso, alimentação da mãe...)

conforme informações dadas pelas mães.

Agora, vamos acompanhar e registrar através de fotos e gráfico da

medida da barriga, a gravidez da prô Fernanda durante os nove meses.

145

O QUE SE ESCONDE ATRÁS DA PORTA?

Ana Paula Cadore

Sirleide Rigo da Silva

Terezinha Zilio

Este Projeto foi realizado na Escola Municipal de Educação

Infantil Jardim do Sol, com uma turma de Berçário, onde os alunos têm

entre seis meses e dois anos.

A sala de aula fica na parte da frente da escola, com acesso para a

rua. A porta usada para chegada e saída das crianças é de ferro. Em dias

de sol, esta porta fica quente e as crianças costumam encostar-se nela

para sentir seu calor. Outra curiosidade são os barulhos da rua que eles

escutam de dentro da sala, como automóveis, animais e pessoas que

passam pela rua. Nesta mesma sala tem a porta do banheiro das

professoras e a porta de acesso ao corredor da escola. Aproveitando as

informações de nossas crianças e seus interesses, partimos para o projeto:

“O que se esconde atrás da porta”, afinal o que eles pensam ter atrás das

portas, são curiosidades de todos.

Tanto em casa como na escola quando uma porta encontra-se

entreaberta, há grande tendência das crianças em investigar o que ocorre

atrás da mesma. O maior interesse apresentou-se na porta do banheiro e

na porta da rua.

Partindo do interesse das crianças em saber o que ocorria atrás da

porta fomos perguntando a elas: o que tem atrás da porta? As respostas

foram: o caminhão, o passarinho, o avião, o au-au, o cavalo, a mamãe.

A aplicação do projeto deu-se em cinco dias e em cada dia

trabalhou-se um conteúdo diferente. Foram realizadas atividades que

146

permitissem conhecer os diferentes ambientes da escola. Os alunos

visitaram as salas do maternal e do pré, o refeitório, os banheiros e os

corredores da escola. Em todos os espaços buscavam descobrir o que

havia atrás das portas. Conheceram e puderam brincar em diferentes

ambientes, ficam entusiasmados em conhecer lugares diferentes na

escola. Além disso, puderam integrar-se com os demais colegas da

escola.

A porta estava relacionada com a chegada e saída dos pais, numa

relação de carinho e afeto. Então, todos que chegavam ou saiam eram

abraçados. Outro recurso utilizado foi a história “Adivinha o quanto eu te

amo” do autor Sam Mcbratney, que foi contada com uma TV de papelão.

Os sons vindos da rua continuavam aguçando a curiosidade das

crianças, sendo que os carros despertavam a curiosidade em especial.

Construímos, com caixa de papelão, um carrinho onde todos puderam

brincar com o mesmo pela sala. Imitaram os sons dos automóveis e

passearam com eles. Foi a maior festa.

A curiosidade pelos animais surgiu quando ouviam o som dos

latidos dos cães, os piados de aves, o trotar e o galope de cavalos e o

cacarejo de algumas galinhas. Começamos a dar ênfase ao nome destes

animais. As crianças visitaram uma casa nas proximidades da escola para

conhecer a cachorrinha Bianca. Demonstraram alegria ao vê- la e

puderam acariciá-la e brincar com ela. A galinha e os pássaros foram

trazidos para a sala de aula. As crianças puderam alimentá-los e brincar

com eles. Foram construídos móbiles com pássaros e realizadas também

brincadeiras com roupas de cachorro.

147

Com o desenvolvimento do projeto “O que se esconde atrás da porta?” as crianças puderam ampliar seus conhecimentos e linguagem

oral, conhecer novos ambientes e brincar bastante.

Conhecer

o que há

atrás de

várias

portas

Trazer para a escola

animais

Explorar o tato, olfato,

audição e paladar

Receber e dar carinho

para alguém

Diferentes meios de transporte

O que se

esconde atrás

da porta?

Afetividade

Mostrar diferentes

ambientes, outras

salas, banheiro,

cozinha, rua.

Animais

Sentidos

Meios de transporte Diferentes

ambientes

É a sala do

maternal?

A mamãe

chegou? Foi a

vovó?

Qual som que faz?

Como anda o

cavalo na rua?

Encosta a mão para ver

se é quente do sol? É o corredor?

É a rua?

Será que é um banheiro?

Onde está o cachorro?

Caixa dos sentidos

História com TV,

Dar abraços Trazer cachorro,

Imitar cachorro

Móbiles com

animais, Pinturas

Avião Caminhão

Mamãe Au Au

Passarinho

Cavalo

A porta é quente O que tem lá?

Construir meios de transporte com caixas de

papelão e deixar que explorem. Fazer sons

Nome do Projeto Fala do Aluno

Fala do Professor Conteúdos Metodologia

Atividades de Registro

148

SOMBRA

Gisele Cristiane Anhaia

O projeto teve como base a pergunta da aluna M.E. durante uma

brincadeira no pátio, em um lindo dia de sol. Estávamos brincando

quando a aluna olhou para frente e vendo sua sombra perguntou: Olha

pô! O que é? Neste momento a prô respondeu: Olha só , é a tua sombra!

Novamente a aluna M.E. questionou: É somba pô? e exclamou: Olha o

que ela tá fazendo! Então a professora respondeu; Você que se mexe e a

sua sombra mexe junto. O aluno J.G. aproxima-se e exclama: Nossa

Duda que legal esta tua sombra! e imediatamente chama seus colegas.

Todos passam a olhar para frente e observar sua sombra refletida no

chão.

Devido ao interesse de todos resolvemos abordar o tema de forma

mais profunda, demos início ao projeto tendo como ponto de partida a

mesma situação que gerou os questionamentos. Fomos ao pátio,

novamente em um dia ensolarado, para observarmos nossas sombras,

pedimos que as crianças se movimentassem para verificar o que ocorria,

posteriormente brincamos de pular nas sombras uns dos outros, também

tentamos pegar nossas sombras no chão e por último registramos a

atividade utilizando giz branco para contornar as sombras dos colegas.

Depois de introduzir novamente este tema no cotidiano das crianças,

resolvemos realizar questionamentos e diálogos através das rodas de

conversas dirigidas.

Aguçamos a curiosidade dos alunos realizando experiências em

sala de aula. Com o uso da lanterna projetamos as sombras das crianças

149

na parede, observando que se o foco de luz estiver posicionado abaixo do

corpo a sombra ficará grande e se for posicionado acima do corpo ficará

pequena, assim todos concluíram que possuem sombra. Ao finalizar esta

atividade, questionamos os alunos se os objetos também possuíam

sombra, utilizando um brinquedo como exemplo, mas nos

surpreenderam, pois acreditavam que só eles tinham sombra. Para

demonstrar às crianças que tudo que nos rodeia tem sombra, propusemos

uma atividade aos pais, para que interagissem com o projeto. Enviamos

uma caixa pequena para que cada família colocasse na mesma, um objeto

que fizesse parte do cotidiano da criança e enviasse para a escola. Após

reunir todos os objetos, projetamos a sombra dos mesmos na parede, só

que desta vez utilizando a luz de uma vela e as crianças identificaram o

seu objeto. Neste momento utilizamos como recurso o desenho para que

cada um pudesse expressar seu entendimento sobre o assunto.

No decorrer do projeto, propusemos atividades de identificar e

ligar objetos, pessoas e animais às respectivas sombras, a maioria dos

alunos já conseguia fazer as correlações necessárias neste tipo de

exercício. Para ampliar os conhecimentos sobre o tema procuramos

novas fontes de informação, assistimos ao filme Peter Pan, que havia

perdido sua sombra. Também coletamos vídeos da internet sobre o teatro

chinês. Após assistir o teatro chinês de sombras, observamos que as

crianças ficaram curiosas com o que ocorreu, pois os artistas que

desenvolviam o espetáculo utilizavam o corpo para produzir sombras e

construir imagens, com a união de pessoas e objetos, faziam uma única

sombra (ex.: mulher andando de bicicleta, elefante, ônibus...).

Confeccionamos o nosso próprio teatro de sombras, utilizando caixa de

150

papelão, papel manteiga, fantoches e uma lâmpada como luz, para contar

a história “A festa no céu”. Todos adoraram e pediram para repetir o

teatro. Manusearam os fantoches podendo se expressar cada um a sua

maneira.

Dando continuidade ao projeto, realizamos a contação de outras

histórias, como: “Quem tem medo do escuro?” e “Que nem gente

grande”. Dialogamos e refletimos sobre tudo o que ocorreu e suas

próprias experiências em relação às histórias. Houve ainda a confecção

de um miniprojetor de sombras, utilizando rolinho de papel higiênico e

fixando na ponta figuras que refletiram sombra na parede com o auxílio

de um tipo de luz, neste caso posicionamos a lanterna para refletir. Para

finalizar o projeto foi elaborado um álbum com fotos e relatos das

aprendizagens e experiências vivenciadas pelas crianças.

151

AS GALINHAS

Professores da EMEI Maria Elizabeth23

A escola Municipal de Educação Infantil Maria Elisabeth

localiza-se no bairro São Cristóvão, e próximo dela existem algumas

empresas onde trabalham grande parte dos pais dos alunos, entre elas

enfatizamos, por ser destaque na origem do projeto, a Frangosul.

Um caminhão desta empresa, carregado de caixas com galinhas

para o abate, frequentemente ficava estacionado ao lado da escola. Esse

fato chamou a atenção e despertou o interesse dos alunos que começaram

a questionar: O que as galinhas estão fazendo ali? Elas são mansinhas?

Elas fazem cocó? Para onde vão as galinhas que estão no caminhão?

Onde é a Frangosul? Quem trabalha lá?

A partir dos questionamentos e o interesse demonstrado pelas

crianças, fomos delineando os percursos através de um mapa conceitual

(rede de significações). Nessa perspectiva, ampliaram-se as

possibilidades na busca da resposta para o problema: De onde vêm as

galinhas? O que elas comem? O que tem dentro do ovo? Como é a casa

delas?

À medida que o projeto se delineava através das histórias, dos

vídeos e da fala das crianças entre seus pares, as demais turmas da escola

foram aderindo à proposta iniciada no pré I. Os professores socializavam

23 Adriana de Moraes Zimermann, Maria Arlete Nadal Manfroi, Cleomar de Mello dos

Santos, Camila Oliveira, Dave Mognon, Inaciana Lacourt Zorzo, Carine do Amaral

Rodrigues, Rose Keli de Mello, Liliane Fior Rodrigues Carvalho, Marina Miri Braz,

Sueli Fernandes de Souza, Rudimar Gomes, Tânia A lmeida.

152

as atividades oportunizando diferentes estratégias que objetivaram

ampliar os conhecimentos e sanar as dúvidas dos sujeitos envolvidos no

processo de ensino-aprendizagem. Sempre levando em conta a faixa

etária das turmas para a realização das atividades.

Buscando esclarecer o motivo de o caminhão estar carregado com

todas aquelas galinhas foram realizadas observações e diálogos nas

rodinhas. Foi convidado o motorista do caminhão para dar um

depoimento de sua prática de trabalho e tentar esclarecer as dúvidas da

turma. Iniciou-se, então, uma sequência didática.

Para saber de onde vêm as galinhas e com o objetivo de organizar

o pensamento, foi proposta uma sequência lógica com imagens

explicativas sobre o nascimento dos pintinhos e seu desenvolvimento.

Em seguida, os alunos produziram coletivamente pequenas frases para as

imagens, que deram origem a uma história onde a professora foi a escriba

que anotou as ideias do grupo.

Outra estratégia tinha como foco responder ao seguinte

questionamento: “Elas são mansinhas?”. Os alunos realizaram a leitura

visual de diferentes tipos de animais, expondo seus conhecimentos

prévios e, com o auxílio da professora, fizeram um cartaz com os animais

“brabos” e os “mansinhos”. E lá estava a galinha, um animal mansinho.

Também foi explorada a importância de cada animal para o equilíbrio

ambiental e para a alimentação dos seres humanos.

Um momento muito especial foi a visita de uma galinha e de um

pintinho. As crianças ficaram eufóricas e fizeram inúmeras observações

que já demonstravam novos conhecimentos adquiridos.

153

Objetivando a ampliação da oralidade utilizou-se da parlenda da

“Galinha do Vizinho’, a poesia do “Galo Aluado” do autor Sérgio

Caparelli e as canções “Seu Lobato”, “O pintinho fugiu, fugiu”, “Meu

Pintinho Amarelinho” e “A galinha Magricela”.

Coletivamente construiu-se um grande caminhão utilizando

diferentes tipos de materiais (caixas de leite, tinta guache, tampas de

potes, massa de modelar, cola...).

Foi realizada uma pesquisa junto às famílias para saber dos

sujeitos que trabalhavam na referida empresa. As crianças relataram na

rodinha de conversa, as diferentes ocupações de seus familiares,

ampliando o conhecimento sobre outras profissões. Um aluno contou

que seu pai trabalhava em um posto de gasolina e, ao ser questionado

pela professora como o trabalho estava relacionado com a Frangosul ou

com as galinhas ele respondeu que o seu pai colocava gasolina no

caminhão que carregava as galinhas para a Frangosul. Outras crianças

relataram o setor em que seus pais trabalhavam na citada empresa: minha

mãe trabalha lá e corta o pescoço das galinhas, meu pai carrega a caixa

onde estão as galinhas. Outra criança expôs que sua mãe trabalhava no

mercado e que tinha galinha lá: tem galinha no mercado? tem, só que

fica no gelado!

Com os novos conhecimentos reunidos foi proposta uma visita ao

mercado para as crianças observarem os produtos e derivados da carne de

frango. As crianças foram sendo estimuladas a observar e a buscar

respostas, mas novas questões foram surgindo, como as galinhas vieram

parar aqui? o caminhão que traz. As crianças conversaram com o dono

do mercado e novas informações foram agregadas. O passeio encerrou e

154

foram comprados alguns frangos. De volta à escola, as informações

anteriores foram comparadas com as novas adquiridas e o registro foi

feito por meio de desenhos e a elaboração de um texto coletivo.

A culminância do projeto foi uma refeição especial: arroz com

galinha. A atividade de abrir a galinha, com o objetivo de observarem

como é por dentro, limpá-la, para depois cozinhar com o arroz, foi muito

interessante porque por mais que as crianças já tivessem visto seus pais

fazerem isso em casa nunca tinham participado da atividade.

Todos os trabalhos realizados pelas turmas foram expostos e

apresentados por um aluno de cada turma aos presentes na hora do

lanche.

155

BEZERRO

Clarice Brito de Carvalho

Adriane Salles Vieira

Em uma roda de conversa da pré-escola, na Escola Municipal de

Educação Infantil Chapeuzinho Vermelho, surgiu o comentário de um

aluno sobre as características de um bezerro que nasceu em sua casa: “O

terneiro não é parecido com a mãe, mas ele não vai ser mocho igual a

ela”. Esse comentário causou um grande alvoroço na turma.

Para instigar ainda mais a curiosidade dos alunos a professora

questionou-os sobre o fato a fim de conhecer o que sabiam sobre o

assunto. A partir da conversa propôs um passeio para conhecer o bezerro

na casa do aluno.

O passeio foi organizado. Na casa do coleguinha, a turma teve a

oportunidade de observar o bezerro e a vaca. Nessa observação surgiram

novas curiosidades e comentários em relação aos animais, tais como:

Aquele boi não era o pai, A cor não é igual a da mãe, O touro é

perigoso, O primeiro leite não dá pra tomar. Essa experiência permitiu

que se planejassem algumas atividades que contemplassem as ideias

expressadas pelas crianças.

A professora propôs às crianças a construção de uma maquete

representando o lugar onde o bezerro vivia. Também buscaram saber

como vive e o que come um bezerro, com pesquisas.

Com a realização desse trabalho, uma menina da turma convidou os

demais colegas para conhecerem um bezerro guacho que mamava em

uma garrafa pet.

Durante esta outra visita souberam que o filhote era guacho porque

156

a mãe o abandonara. A dona da casa, mãe da menina, explicou como

fazia para alimentar o bezerro: ela tirava o leite da vaca e colocava na

garrafa pet que tinha um bico de borracha. Muitas crianças já conhecem a

prática da ordenha, já que a escola é vizinha a zona rural do município.

No caminho de volta para a escola passamos em frente à casa de outra

aluna, que fez questão de mostrar onde ficavam os bezerros recém

nascidos. Contou que este lugar chama-se estrebaria e entramos para

conhecer. As crianças olhavam os animais e teciam comentários a

respeito do que viam.

Aproveitando o interesse sobre as observações do passeio,

especialmente em relação ao leite foram pensadas algumas atividades.

Foi oferecido para as crianças o leite em três formas diferentes: o leite em

pó, o leite de “saquinho” e o leite tirado diretamente da vaca. Elas

experimentaram as três versões e deram sua opinião em relação ao gosto.

Fizeram novas pesquisas em relação à origem do leite e puderam

constatar que é a mesma. Além disso, as crianças modelaram uma

vaquinha em garrafa pet.

O assunto trouxe a tona novas palavras para algumas crianças. Para

responder o que significa “mocho”, evidenciado na afirmação Ele não vai

ser mocho igual à mãe, procuramos na internet o significado do termo

em relação ao contexto em que fora usado: mocho é o animal que não

possui chifres. Mas havia mais uma definição; banco baixo, sem encosto.

Isso permitiu que pudessem perceber que alguns termos têm mais do que

um significado. Para ilustrar essa aprendizagem, construímos mochinhos

com garrafas pet, gentilmente arrecadadas pelos pais. Essa construção

permitiu, ainda que se envolvessem em trabalhar com quantidades,

157

formas, alturas.

Para sistematizar o projeto foi construído um painel com: recortes de

imagens de bezerros, bois e vacas, fotos tiradas nos passeios pelo bairro,

fotos trazidas pelos próprios alunos e desenhos feitos por eles. O painel

foi exposto no corredor da escola para que todos pudessem apreciar a

aprendizagem realizada.

Quando iniciamos o projeto, pensamos em sanar uma curiosidade

dos alunos, despertada pelo comentário de um colega, porém com o

desenrolar das atividades, principalmente os passeios, outra questões

surgiram e novas descobertas aconteceram, o que levou a um

redirecionamento da proposta inicial, fazendo com que o projeto tivesse

seu foco inicial reordenado.

Chegou-se a conclusão de que as crianças ampliaram conhecimento

a cerca do tema, uma vez que outras indagações foram aparecendo com o

decorrer das atividades. Elas traziam de casa informações compartilhadas

com suas famílias e que eram confirmadas ou reorganizadas pela

pesquisa científica realizada.

158

CAÇA AO PIOLHO

Aline Roehrig Hero ld

Jeanna Roehrig Herold dos Passos

Perla Rubiara Ribas Rosa

Silvana Laidens

O projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Educação

Infantil Francisco Luiz Biancini, envolvendo alunos e professoras das

turmas do Maternal I, Pré I e Pré II A e B.

As crianças do Maternal I reproduziam, em suas brincadeiras, o

ato de catar piolhos, imitando o que os pais e outros familiares fazem em

casa. Os alunos das outras turmas começaram a demonstrar interesse pelo

159

assunto. Partindo disso, as professoras reuniram-se para desenvolver um

projeto envolvendo toda a escola.

Através de leitura das histórias “O Piolho”, de Bartolomeu

Campos Queirós; “Marcelo está com piolho”; de Beatrice Rouer,

“Expulsando a quadrilha de piolhos”, de Stela Maris Rezende e “A

princesinha e o piolho”, retirado do Blog de Vera Guedes, os alunos iam

compartilhando seus conhecimentos nas rodas de conversa e

reproduzindo através de desenhos, recorte e colagem.

Buscando mais informações fomos pesquisar em livros a

anatomia do piolho, seu ciclo de vida e o prejuízo que pode causar à

saúde humana. Observamos um piolho verdadeiro com auxilio de uma

lupa, fizemos dobraduras e confeccionamos um piolho gigante com

material alternativo.

A turma do maternal I utilizou fantoches confeccionados pelas

professoras para recontar as histórias lidas.

O pré I confeccionou, em EVA, formas geométricas coloridas

com as quais as crianças montavam um piolho utilizando o círculo para

representar a cabeça, o retângulo para o corpo, o “bumbum” era um

triângulo e as patinhas eram pequenos quadrados.

Realizamos uma pesquisa com as famílias perguntando sobre

receitas de xampu caseiro contra piolho. De posse das receitas enviadas

pelas famílias, organizamos um mural que ficou exposto na escola para

conhecimento de toda a comunidade. Os alunos do pré II, após a leitura

das receitas e identificação dos ingredientes, escolheram uma para ser

feita por eles.

160

Escolhida a receita, solicitamos aos pais que providenciassem os

ingredientes. Como temos um fogão pequeno na escola, levamos para a

sala de aula. Os alunos ajudaram a colocar as ervas na panela e picar o

sabão. Ficamos, então, observando o que iria acontecer... a água ferveu e

o sabão derreteu. E um cheiro diferente ficou no ar.

Pedimos que os pais mandassem um frasco pequeno, para que

cada aluno levasse para casa um pouco de xampu.

Uma palestra dada pelas enfermeiras do PSF do bairro e os

informativos distribuídos à comunidade escolar deram fechamento ao

projeto.

161

CAMINHÃO DO CD

Cláudia Neci Bilhar Dutra

Denise Vieira

Kelly Andrade

Silvia Ancines

O projeto Caminhão do CD iniciou a partir da observação feita

pelos alunos da turma do Pré II A, da Escola Municipal de Educação

Infantil Amizade, que é localizada na Vila Operária em Passo Fundo.

Toda vez que as crianças brincavam no pátio, com a chegada de

um caminhão, paravam suas brincadeiras para observá- lo, assim como a

atividade dos entregadores. Além de observarem, comentavam: Porque

este caminhão grande vem aqui na escola?, O que tem lá dentro?, De

onde vem o caminhão?, Quem são esses homens?. As professoras

começaram a se deter a essas indagações. Passado algum tempo, outras

crianças fizeram outras observações, pois perceberam que outros

caminhões também faziam entregas na escola: esse caminhão é mais

“menor” que o outro. E o interesse por caminhões foi se expandindo.

Um caminhão betoneira numa construção em frente, também era alvo de

curiosidade. Um grupo de alunos, inclusive meninas, gostava de brincar

com carrinhos, caminhões, usando a sua imaginação. A professora

passou a compartilhar os comentários com seus alunos e percebeu a

possibilidade de um projeto de trabalho.

Nas conversas com as crianças pode-se perceber que alguns pais

exerciam atividades profissionais ligadas a caminhões, como trabalhar

em oficinas mecânicas.

162

A partir desses dados foram elaboradas as primeiras atividades

para lidar com a questão. Foi criada uma rede de hipóteses com as

observações que o assunto proporcionava. Com os primeiros passos

definidos na rede sentimos confiança, acreditamos no interesse e

envolvimento dos alunos e professoras e demos início ao projeto.

As crianças fizeram observações do caminhão do CD, entrando

nele, conversando com o entregador, observando todos os aspectos do

caminhão em sua parte interior. Após as observações registraram as suas

experiências através de desenho, onde alguns alunos cuidavam para que

não faltasse nenhum detalhe. Todas as observações fizeram surgir, ao

longo do processo, novos questionamentos, pois a curiosidade infantil é

imensa.

Os desenhos e pinturas dos caminhões acabaram estimulando os

alunos menores. As crianças começaram a questionar sobre os trabalhos

expostos na sala, pois utilizam a mesma sala no outro turno. Assim, a

turma do Pré I acabou por se engajar no projeto, compartilhando as

atividades.

Pensamos em visitar uma transportadora, para que os alunos

pudessem ter contato mais direto com caminhões, o que não foi possível.

Então, buscamos ajuda com os pais, que se ofereceram para trazer seus

caminhões até a escola, a fim de que os alunos pudessem esclarecer suas

dúvidas e construir novos conhecimentos.

Os conhecimentos que os alunos demonstraram ter era de que o

caminhão vinha apenas visitar a escola e também de que poderiam

passear nele. A partir de então, começamos a buscar informações,

juntamente com as famílias, como as profissões exercidas por seus

163

membros. Preparamos um questionário onde a família informava as

profissões existentes no grupo. Após o retorno da pesquisa, fizemos um

gráfico classificando as profissões. Contamos quantas pessoas tinham a

mesma profissão, dando ênfase para aqueles que tinham caminhões e

faziam entregas, sendo que as quantidades foram registradas em cartolina

com EVA colorido e marcação numérica.

Para refletir a cerca de: quem são esses homens? e Ô, tu não vê o

que os homens descarregam lá de dentro? contamos com a participação

de alguns pais, proprietários de caminhões, que vieram até a escola para

esclarecer alguns questionamentos. Antes da visita dos pais, partindo de

suas experiências, as crianças elaboraram perguntas para uma entrevista:

1) O que precisa ter para poder dirigir um caminhão? 2) Qual é a marca

do caminhão? 3) Eu posso andar de caminhão? 4) Para onde eles viajam?

5) O que você carrega dentro do caminhão? 6) Por que um é mais menor

do que o vermelho? 7) Tu tem ajudante?

Os pais responderam na íntegra todas as perguntas realizadas

pelas crianças. Elas entraram nos caminhões para melhor conhecer as

suas características, mas não puderam andar devido à falta de

equipamento de segurança adequada para a faixa etária. Esta atividade

resultou na construção de um gráfico e na observação de que alguns

motoristas não têm ajudantes. Os próprios motoristas é que descarregam

e fazem a entrega da carga.

No caminhão que o pai trouxe para a escola tem um ajudante que

o auxilia nas tarefas de carga, descarga e entrega. Analisamos o tipo de

carga de diversos caminhões e concluímos então, que as cargas são

164

diferentes. No caso específico do caminhão do CD são alimentos que

serão consumidos pelas crianças nas refeições da escola.

Assim, iniciamos uma atividade com recorte e colagem desses

alimentos trazidos à escola, através de uma de lista de compras. No

decorrer da atividade, um aluno lembrou que há outros caminhões que

vem até a escola: Prô, tem um que vem pra trazer saladas e frutas, né?,

O, tu não vê que aquele é mais pequeno que o da comida?. A partir daí

trabalhamos a diferença de tamanhos e a relação de quantidade. Como as

crianças já haviam entrado nos caminhões, fizemos a tentativa de colocar

o mesmo número de crianças dentro de um caminhão de passeio.

Professora não 'cabeu' todo mundo. Após esta experiência fizemos o

registro.

Para o dia do brinquedo de casa na escola, elaboramos um bilhete

para que as crianças trouxessem apenas carrinhos e caminhões. A

brincadeira correu solta e depois, na roda de conversa, fizemos todas as

explorações partindo da pergunta “De onde vem esse caminhão?”.

Usamos mapas do Rio Grande do Sul para ver o trajeto do caminhão do

CD. Continuamos as atividades traçando uma trilha de giz no pátio da

escola para as crianças brincarem com os carrinhos trazidos de casa,

utilizando as regras de trânsito, que haviam sido trabalhadas no dia

anterior.

O projeto culminou com uma mostra da produção dos alunos para

toda a comunidade escolar, para que se evidenciasse a proposta de

organização do ensino por meio de projetos de trabalho, onde as crianças

podem ampliar, conceituar e relacionar suas certezas a respeito das coisas

165

do mundo com os saberes cientificamente estruturados tornando suas

aprendizagens significadas.

CAVALO

Priscila Amarante

Claudete Brandt

O “Projeto Cavalo” foi desenvolvido com uma turma de crianças de

Maternal I, na EMEI Fofão. O interesse pelo tema “Cavalo” surgiu no

momento em que a turma fazia um passeio na quadra da escola onde

viram um cavalo. Percebeu-se que seria uma boa proposta de pesquisa,

pois o entusiasmo das crianças era grande, teciam muitos comentários,

como: Olha o cavalo pô! O que será que o cavalo está fazendo aqui? O

166

cavalo tá comendo mato, pô! Tá com fome, o cavalo. Olha... os piás tão

puxando ele! Ele quer fugir. Olha prô, lá embaixo tem mais dois e eles

tão vindo! Tão vindo!Tão babos, corre pô. Igual o do Felipe, mas não é

dessa cor. É banco. Não é laranjado. Pô, ele é pequeno da pra andar

nele!

Na sala de aula, no momento da rodinha de conversa, relembramos

com as crianças um pouco do passeio. Enquanto elas iam falando, íamos

fazendo perguntas relacionadas às suas afirmações. A partir destes

comentários dos alunos percebemos muitas curiosidades sobre os

cavalos. Então, mapeamos os seguintes percursos a serem seguidos para

buscarmos respostas às duvidas e curiosidades da turma.

Com as crianças organizadas em círculo, foram postos cavalinhos

de brinquedos (grandes, médios e pequenos e um cavalinho com uma

perna quebrada) As crianças brincaram, sempre fazendo comentários.

Usando do imaginário em suas brincadeiras, encontraram motivos para o

cavalinho estar sem a perna.

Colocamos na parede, várias gravuras e fotos de diferentes

cavalos, até mesmo de pôneis, que nos foram enviadas pelas famílias. As

crianças foram observando as semelhanças e diferenças entre os animais.

Ativeram-se principalmente no tamanho e na cor deles, bem como a

existência da crina. Também imitaram o barulho do cavalo ao andar.

Para registrar as atividades anteriormente trabalhadas, as crianças

foram desafiadas a representarem as características percebidas em um

cartaz, usando tinta guache.

Assistimos ao filme infantil “O cavalo é branco e a sela é

amarela,” que mostra as diferentes cores da pelagem dos cavalos e,

167

também a indumentária necessária para que se possa cavalgar. Em

seguida foram feitos tais acessórios, que se usa no cavalo para montaria

e, com recorte e colagem, colocados em um cavalo feito de isopor.

Depois destas primeiras experiências, constatamos que as crianças

tinham elaborado algum conhecimento sobre as partes físicas dos

cavalos: diferenciavam a cor, o tamanho (pequeno ou grande),

identificavam pernas, cabeça, rabo, crina.

Em outro dia, voltamos ao pátio para nova observação do cavalo.

Mas naquele dia os cavalos não apareceram. Retornamos à sala de aula e

fizemos um registro de memória, usando canetinhas, de como seria o

cavalo que procurávamos.

As crianças não têm clareza de onde vivem os cavalos, o que

comem, o que fazem. Pedimos a colaboração do dono do cavalo que

visita o pátio da escola. Ele nos atendeu e levou o animal para apreciação

das crianças.

Antes de irmos ao encontro do cavalo, fizemos algumas

combinações com os pequenos, como manter uma certa distância. As

crianças estavam com um pouco de medo, mas continuaram fazendo seus

comentários. Puderam comprovar o tamanho (grande), que ele estava

comendo grama, que tinha rabo e crina, que era alaranjado ou vermelho,

assim como partes de seu corpo: pernas, olho grande.

Na sala de aula, as crianças enumeraram outras observações: ele

tem costas, faz hiohiohio, ele tem uma corda no pescoço, tá preso pro

homem puxar ele. Surge então a dúvida do que se coloca nas costas do

cavalo para poder andar nele. Coloca uma cadeira, sugere uma das

crianças. Foi aí, que um cavalinho de brinquedo serviu para mostrar as

168

crianças o que era uma cela. Para registro desta atividade, os alunos

fizeram cavalinhos com massa de modelar e um desenho.

Durante o filme ”Spirit, o corcel indomável”, as crianças se

mostraram interessadas em saber o que aconteceria com o cavalo. Viram

o nascimento de um potrinho, seu aleitamento, quem é sua mãe, no

começo chamada de cavala, mas logo descoberto que o verdadeiro nome

é égua. Acompanharam o crescimento do animal, sua alimentação

enquanto pequeno, que era o leite materno, depois grama e ração.

O filme trouxe ainda alguns aspectos de maus tratos, que

comoveram as crianças.

Com a autorização dos pais, foi realizado um passeio de

carrocinha, puxada por um cavalo. Depois, a criança que se encorajou,

pode andar no cavalo. Na sala de aula, tivemos uma conversa com a tia

que é dona do cavalinho. Ela nos contou como cuida do cavalinho, o que

dá para ele comer, o lugar onde ele fica e o que faz por sua família. O

cavalo é usado para puxar a carrocinha de coleta de papelão, por isso

cuidam bem dele. A alimentação dele é feita de pasto, grama, milho e

ração. Ele trabalha muito, portanto, bebe muita água e come em grande

quantidade. Quando ele fica doente eu o levo ao veterinário na UPF, lá

eles o atendem de graça. Atrás da casa tem uma casinha pra ele, que se

chama estábulo, que é onde o cavalo fica protegido da chuva e do frio.

Em sala de aula, na rodinha contamos a história “O potrinho”, que

rememora as informações dadas pela dona do cavalo. As crianças

procuraram figuras de cavalos ou de alguma coisa referente a ele.

Recortaram e fizeram colagem.

169

Dando sequência foi feita uma dramatização, onde os personagens

eram diferentes tipos de cavalos, representados por dedoches e fantoches.

As crianças envolveram-se fazendo imitações, poemas e músicas com

base no tema do projeto.

Com as crianças organizadas em círculo fizemos uma pesquisa, a

partir de informações coletadas em livros e na internet. Então, mostramos

uma caixa, decorada com livros e figuras de cavalos, e dissemos que ali

dentro daquela caixa havia informações sobre os cavalos. Procedemos a

leitura do material e promovemos o diálogo entre as crianças, lembrando

o que havíamos aprendido até aqui. Por fim, cada aluno pegou uma ficha

ou um livro de dentro da caixa e fez a leitura de imagens aos demais

coleguinhas. A professora leu as informações escritas. Após essa

trajetória, sistematizamos as descobertas e informações obtidas com a

turma em um cartaz.

Para que a turma tivesse a oportunidade de socializar seus novos

conhecimentos, construímos um potreiro com isopor, palito de picolé e

barbante para demonstrar o ambiente onde o cavalo vive e sua

alimentação. A grama foi representada por erva-mate e caixinhas

representaram os coxos para os alimentos dos animais. Com papel azul

ilustramos o açude onde os cavalos bebem água e banham-se. As

crianças criaram um cavalo moldado em jornal e construíram cavalos

com material alternativo. Ao fim do projeto realizamos uma exposição de

todo material utilizado para os demais colegas da escola e para os pais.

170

FORMIGAS

Selena Moretto

Maria Nelsi Cardeal

O “Projeto Formigas” foi desenvolvido com uma turma de

Maternal II, na EMEI Fofão. O interesse pelo tema “formigas” surgiu no

momento em que um aluno foi picado por uma formiga no pátio da

escola. Observando o interesse da turma, percebeu-se que seria uma boa

proposta de pesquisa, já que as crianças tinham muitas perguntas, como:

171

Por que a formiga morde? O que ela come? Onde mora? O que as

formigas fazem no pátio?

A partir desse interesse das crianças definimos o problema: a

picada da formiga.

Primeiramente foi feito uma roda em sala de aula e as crianças

puderam socializar aquilo que já sabiam sobre as formigas. Surgiram

colocações do tipo: elas mordem e são venenosas, são iguais as aranhas,

tem antenas igual as abelhas, umas são pequenas e outras são grandes e

todas tem boca, moram nos buracos ou na grama, fazem casinhas de

terra, elas caminham com duas pernas e comem comidas. A partir daí foi

lançado o primeiro desafio: retornar ao pátio, para observar de forma

mais atenta a vida das formigas. Com uma lupa na mão foi possível

observar e coletar diferentes tipos de formigas, assim como observar as

suas “casinhas”. Retornando para a sala de aula as formigas coletadas

foram comparadas com uma imagem ampliada de formiga. Essa

atividade contribuiu com a verificação das características das formigas,

trazendo à tona as primeiras constatações da turma: número de patas,

antenas, forma do corpo, tamanho e cor. Estas primeiras descobertas

foram registradas pelas crianças através de desenho.

Observando as afirmações e indagações dos alunos percebeu-se

que ainda havia muitas curiosidades sobre as formigas, a serem

investigadas pelas crianças. Então fomos mapeamos os percursos.

Seguindo o percurso estabelecido, a coleta de informações foi

feita em diversas fontes como pesquisa em livros, internet,

documentários, sendo que o material sempre foi analisado com

172

antecedência pelas professoras. A partir de então, começamos a refletir e

sistematizar sobre o tema.

Nesta etapa foram disponibilizados diferentes livros de pesquisa,

onde as crianças, separadas em grupos, puderam fazer leitura de imagens.

Elas receberam marca páginas com a palavra formiga, que deveriam ser

usados por elas toda vez que encontrassem a imagem de formigas para

destacar as páginas dos livros. Após a pesquisa das crianças, as

professoras fizeram uma seleção do que seria lido em diferentes

momentos nas rodas de conversa.

Depois da realização das primeiras atividades constatamos que as

crianças não têm clareza em relação à alimentação das formigas, algumas

características das formigas, como número de patas e quantas moram

juntas.

Nessas leituras surgiram palavras desconhecidas dos alunos.

Aproveitamos a oportunidade para fazer consultas ao dicionário, para

descobrir o que significavam, como por exemplo: formigueiro, que até

então não tinha surgido no vocabulário das crianças; usavam “casinhas” e

“buracos”. Também consultamos galerias e fungos.

Através da leitura dos livros, que têm uma linguagem mais

científica, o grupo fez algumas descobertas: a utilidade das antenas, a

comunicação e as diferentes formas de moradia.

Após a pesquisa nos livros, a turma retornou ao pátio, com o

objetivo de comprovar as informações obtidas. Para isso, foi feito a

remoção de parte de dois formigueiros, onde foi possível observar com

clareza como se formavam as galerias dentro dele. Observaram que o

formigueiro não estava presente somente na superfície do solo, mas

173

também no seu interior, que os caminhos percorridos pelas formigas iam

a diferentes direções no pátio, em meio à grama ou as calçadas. Foi aí,

que uma criança fez uma nova descoberta: Prô as formigas vivem em

paus! chamando a atenção da turma toda. E essa descoberta foi validada

pela professora em sala de aula através de uma leitura científica onde

dizia que algumas formigas preferem os troncos das árvores.

Assistimos a um vídeo da TV/Escola, onde a turma pode

observar, com muito entusiasmo, detalhes internos de um formigueiro, as

diferentes funções dentro do formigueiro, quem exerce cada função e o

modo de vida de duas espécies de formigas, as carnívoras e as

herbívoras.

Os pais contribuíram com o trabalho, realizando com seus filhos,

coleta de diferentes tipos de formigas, que foram enviadas para a escola.

Esses exemplares permitiram que os alunos realizassem observações com

a lupa e fizessem comparações entre os bichinhos.

Por meio dessas pesquisas o grupo teve a oportunidade de

ressignificar suas hipóteses iniciais. Após terem pesquisado e descoberto

as principais características das formigas puderam modelar formigas em

papel machê, massa de modelar e argila.

Paralelo ao trabalho de pesquisa, as crianças vivenciaram

momentos lúdicos, a partir de leituras de livros infantis, filmes, poemas e

músicas. A matemática esteve presente em várias situações, como por

exemplo, em estimativa de quantidade de formigas presentes em um

formigueiro, comparação de tamanho e de cor das diferentes espécies,

contagem do número de patas e antenas, comprimento e distância dos

174

trajetos percorridos pelas formigas e a forma de construção do

formigueiro em galerias.

Em relação ao desenvolvimento gráfico, foram trabalhados

desenhos de observação, produções livres e produções com interferência.

Após essa trajetória, as descobertas com a turma foram

sistematizadas e escritas em papel pardo: as formigas são formadas por

cabeça, corpo, bunda e antenas; possuem várias patas, assim como as

aranhas; possuem antenas, como as abelhas e elas se movem; existem

formigas de cores e tamanhos diferentes; moram em montes de terra

duros ou moles; carregam folhas para comer; moram em “paus” e cascas

de árvores.

Esse trabalho foi completado com a colaboração de diferentes

imagens de formigas e fixado no mural da sala.

Para que a turma tivesse a oportunidade de socializar seus novos

conhecimentos propusemos a confecção de uma grande formiga com

jornais e fitas, revestida com papel pardo. Para isso as crianças

precisaram utilizar-se dos conhecimentos construídos até então. Fizeram

também um formigueiro em uma embalagem pet. A fim de comunicar as

aprendizagens realizamos uma exposição dos materiais utilizados e

construídos no decorrer do projeto, com uma exposição oral, pelas

crianças da turma, para os familiares e coleguinhas de outras turmas.

Além dos conhecimentos específicos elaborados, percebemos a

construção de valores a cerca da natureza como habitat natural dos seres

humanos e dos animais, mesmo dos pequeninos. A percepção do trabalho

em equipe, a divisão de tarefas e o respeito ao meio e aos seres vivos

também se mostrou forte entre as crianças. É pelo envolvimento e

175

entusiasmo da turma que se justifica o planejamento de ações

pedagógicas em projeto de trabalho, pois só assim é possível ressignificar

cada nova hipótese levantada pelas crianças.

MINHOCA OU MINHOCO?

Arali Mattos do Prado

Loni Salete Michelin

Viv iane Fátima Lima do Prado

No ano de 2010 o projeto gerador da escola teve como uma das

linhas de ação o cuidado com o meio ambiente, em 2011 na busca de

176

continuar com este trabalho, optou-se por dar ênfase ao cuidado e

proteção à natureza.

Buscando embasar o projeto verificou-se a realidade da

comunidade local: cercada por diversos problemas ambientais, entre os

quais acúmulo de resíduos, má utilização da água potável, falta de

hábitos de higiene e limpeza entre outros.

Considerando a liberdade que cada turma tem de gerar mini

projetos a partir das curiosidades de seus alunos, com a montagem do

minhocário, que tinha como primeiro objetivo gerar adubo orgânico para

a horta, as professoras do Maternal III, Pré Misto e Pré I observamos a

curiosidade dos alunos em relação à função das minhocas, como vivem,

suas peculiaridades e a importância delas para o meio-ambiente.

Desta maneira, buscando desenvolver estes conhecimentos e

sensibilizar as famílias para destinar corretamente seus lixos orgânicos

organizou-se este projeto.

Antes de partimos para a realização prática deste trabalho, faz-se

necessário a retomada de conceitos essenciais ao desenvolvimento das

atividades de esfera ambiental com a educação infantil e os referencias

para a educação infantil foram nosso primeiro material de pesquisa

É importante ressaltar que ao brincar as crianças recriam e

repensam os acontecimentos por elas vivenciados nas mais diversas

situações, buscando para elas soluções e novas aprendizagens .

Nestas ocasiões surgem as oportunidades para que o profissional da

educação possa intervir e auxiliar na aprendizagem.

177

Como este projeto está relacionado a outro de toda a escola,

descreveremos a seguir algumas ações comuns a toda escola e que

influenciaram significativamente o nosso trabalho:

Construção da horta;

No mês de abril iniciou-se a construção da horta, com o auxilio de

alguns pais que dividiram os canteiros e prepararam a terra para receber

as sementes. Cada duas turmas ficaram responsáveis por um canteiro

indo desde o berçário ao pré, as crianças semearam, cuidaram e também

colheram as hortaliças. As sementes foram arrecadadas através de doação

e tudo que foi colhido complementou a alimentação das crianças de

forma saudável, sem uso de agrotóxico e com o real valor de ser fruto do

trabalho dos estudantes.

Antes do plantio foi feita uma pesquisa com as famílias, através

de questionário para saber se possuíam horta em casa, quais os legumes e

verduras que consumiam mais e foi pedido para que escolhessem um

para plantarmos na horta e fizessem uma pesquisa sobre este alimento e

enviassem para escola, assim decidimos o que iríamos plantar e

realizamos o plantio. Tivemos grande participação das famílias tanto ao

responderem os questionários quanto no auxilio e construção da horta.

Minhocário;

Construído com o auxilio dos pais, as minhocas foram trazidas

pelo CETAP e todo lixo orgânico produzido pela escola será

transformado em adubo para horta através do minhocário. As famílias

dos alunos foram convidadas a enviar para a escola o lixo orgânico

produzido em suas casas para contribuir na alimentação das minhocas.

Passado um mês o envio de resíduos orgânicos diminuiu. Ao investigar o

178

motivo, descobrimos que as famílias estão realizando compostagem em

suas residências.

Plantio de árvores frutíferas

A escola juntamente com o CETAP, CONALTER e a

comunidade escolar plantou árvores nativas e promovendo desta forma

seu cultivo e valorização. Os frutos serão estudados e complementarão a

alimentação das crianças. Durante o plantio das árvores utilizamos o

adubo produzido no minhocário e cada turma ficou responsável pelo

cuidado de uma dessas plantas e estudo a seu respeito para posterior

apresentação aos colegas.

Palestra com CETAP e CONALTER:

No mês de abril tivemos a palestra do CETAP e CONALTER

para os professores a respeito da agricultura familiar, dos produtos

saudáveis e da boa alimentação. Neste encontro firmamos algumas

parcerias para a construção do minhocário e a arborização do pátio. Esta

parceria com a CETAP e CONALTER foi muito boa e nos rendeu bons

frutos, além da palestra inicial, recebemos a doação das minhocas, das

mudas das flores e árvores frutíferas. Fomos convidadas a participar da

oficina do pinhão.

- Palestra com Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Passo

Fundo;

Realizada no mês de agosto propiciou a comunidade escolar

compreender mais a respeito da separação correta do lixo e

principalmente do destino correto do lixo orgânico. Foi apresentada aos

pais, professores, alunos e demais membros da comunidade escolar a

realidade do nosso município, bem como a situação na qual se encontra o

179

rio Passo Fundo, do qual foi retirado no último mês, aproximadamente

três toneladas de lixo, que poderiam, se destinados corretamente, ser

reciclados e gerar renda para as famílias que trabalham com coleta

seletiva. Através da palestra conseguimos telefones importantes de locais

que realizam a coleta e separação correta do lixo.

Pesquisa de receitas com reaproveitamento de alimentos;

No mês de abril algumas professoras participaram da Oficina do

Pinhão aprendendo receitas simples com o uso do pinhão que valorizam

nossas frutas nativas e estas receitas serão utilizadas em futura oficina

com as famílias.

No mês de maio as professoras e funcionárias da Estrela da

Manhã realizaram uma oficina de culinária com reaproveitamento de

alimentos. Posteriormente a atividade será desenvolvida com as famílias.

-Reciclagem do lixo;

A escola conseguiu de doação 10 tonéis de plástico que se

tornaram lixeiras de separação do lixo, elas foram pintadas por pais de

alunos e colocadas na frente e no interior da escola com o objetivo de

que toda a comunidade escolar separe o lixo adequadamente.

No decorrer do projeto algumas atividades específicas foram

realizadas com as turmas envolvidas neste projeto, entre elas:

- Passeios e observações:

Foram realizados alguns passeios aos arredores da escola com a

finalidade de observar a arborização da região, os tipos de árvores e

colher material para análise, construção da réplica de uma árvore e coleta

de frutas, tais como: laranja, limão, bergamota, roman, que recebemos

180

como doação. Com estas frutas fizemos sucos, cremes, vitaminas, salada

de frutas e degustação.

- Visita ao minhocário:

As crianças foram convidadas a trazer de casa cascas de frutas,

verduras, ovos para realizarem a alimentação diária das minhocas. As

cascas produzidas na escola também eram levadas pelos alunos ao

minhocário. Durante estes momentos, muitas dúvidas surgiram nas

crianças entre elas à desencadeadora do projeto, se era minhoca ou

minhoco? Nos passeios ao minhocário realizamos diferentes observações

de cores e tamanhos das minhocas. Pudemos observar também a

diferença na cor da terra do minhocário e da terra da horta. Após estas

visitas realizamos rodas de conversa, criações de histórias, desenhos,

recortes e colagens. No intuito de representar simbolicamente as formas

da minhoca e demonstrar que mesmo sendo minhocas elas possuem

características próprias de acordo com o tipo. Os alunos, com base nos

estudos realizados, construíram uma minhoca de argila. Recriamos a

imagem da minhoca com a utilização de material alternativo como caixas

de ovos, rolos de papel higiênico, barbante, tampas e outros. Além do uso

de cola, tinta e grampos. As minhocas criadas tornaram-se brinquedos e

foram utilizadas em brincadeiras pelos alunos que depois as levaram para

casa.

- Construção de duas árvores:

Com o material coletado nas ruas, montamos junto aos alunos,

uma árvore com semente, raiz, caule, folhas, flores e até um fruto, ideia

de uma das crianças. Durante a montagem explicamos as principais

181

funções de cada parte e que dependendo da planta algumas destas partes

não existem ou não possuem as mesmas funções.

- Contação de Histórias:

Foram trabalhadas três histórias, Tinoca Minhoca, Pipa a

Sementinha e Minhoca Dorminhoca. Após a contação os alunos foram

motivados a recontar as histórias e destacar fatos importantes que

ocorreram durante a mesma. A partir da observação das gravuras os

alunos contaram a história da Minhoca Dorminhoca. A história da Pipa a

Sementinha foi dramatizada pelas professoras, bem como a Tinoca

Minhoca. Foram usados também, recursos como a casa de fantoches para

contar aos alunos como vivem as minhocas.

- Roda de conversa:

Realizadas diariamente após diferentes atividades foi um

importante momento onde os alunos compartilham suas dúvidas e seus

conhecimentos. Através dos debates realizados nas rodas de conversa as

crianças criam hipóteses e geram novas curiosidades.

Compuseram, também, o desenvolvimento do projeto, as

seguintes atividades: assistimos ao filme A Banda das Minhocas;

observamos diferentes minhocas com posterior registro, comparamos

minhocas utilizadas em pescarias com as minhocas que temos no

minhocário. Observamos fotos de minhocas gigantes retiradas da

internet e os alunos realizaram desenhos individuais e coletivos;

construímos álbuns e painéis, através de recortes de jornais e revistas

buscando a diferenciação entre cobras e minhocas; fizemos pesquisas na

internet e em livros referentes à vida das minhocas; enviamos

questionários aos pais para identificar a proximidade das famílias com a

182

natureza, se cultivam horta, se reciclam lixo orgânico, se possuem

árvores frutíferas em seus terrenos ou próximo a suas residências; no

circuito da minhoca as crianças realizaram diferentes movimentos,

buscando imitar os movimentos das minhocas e a tentativa de

alimentação das mesmas sem utilizar membros superiores ou inferiores;

montamos com material alternativo a maquete da escola, com o pátio, o

minhocário, a horta, e as minhocas; brincamos com quebra-cabeça

contendo a imagem de uma cobra e outro com a figura da minhoca

observando as diferenças entre elas.

A culminância do projeto ocorreu com o passeio e a observação

no serpentário da UPF. Durante o passeio as crianças puderam observar

as cobras e assim diferenciá- las melhor das minhocas. Além de ouvir as

devidas explicações e sanar dúvidas ainda existentes, junto aos

profissionais da área, pois tivemos uma palestra com um biólogo para

sanar dúvidas tanto dos alunos quanto dos professores.

183

MÚSICA NA ESCOLA

Enoir Santana

Catiane Cristina Zanco

Para a realização do projeto Música na Escola, partimos da

observação das crianças em adaptação, no seu choro, nas suas

inquietações ou em outras situações de desconforto. Nestes momentos, as

crianças perguntavam: Que música tem hoje?, Vamos cantar o Sapo

Cururu?, Vamos cantar a música do jacaré?, Prô, nós não vamos cantar

hoje?, Prô, por que não vamos cantar hoje?, Prô, deixa eu escolher uma

música agora?, Podemos cantar essa música hoje?

Tendo em vista as observações aliadas aos pedidos por músicas

ou canções infantis, compreendeu-se a necessidade de reorganizar as

184

práticas pedagógicas para tornar o ambiente mais calmo, confortável e

alegre.

Sabendo-se que a música proporciona situações de conforto,

buscou-se desenvolver atividades musicais que possibilitassem maior

alegria, autoconfiança, prazer, assim como o desenvolvimento de

potencialidades cognitivas, afetivas, sociais, motoras e culturais.

O projeto teve início ouvindo a criança, a escola e a família. A

participação de todos esteve presente nas ações propostas do fazer

pedagógico. Foi realizada uma pesquisa junto às famílias com a intenção

de saber sua relação com o tema, que gênero musical era mais ouvido em

casa e de que forma poderiam contribuir com a escola no

desenvolvimento do projeto.

Com dados da pesquisas, foram planejadas e realizadas atividades

com as crianças respeitando as individualidades e faixas etárias.

Na turma de berçário, a música era oferecida para o

reconhecimento do ritmo e movimentos corporais. Também foram

confeccionados chocalhos, com imagens de animais, para que pudessem

acompanhar as músicas.

Já no maternal, as professoras perceberam a necessidade de

trabalhar o silêncio e em seguida os sons do corpo e da natureza. As

atividades giraram em torno da identificação e execução dos diversos

sons emitidos pelo corpo: palmas, assobios, batidas dos pés, batidas das

mãos em outras partes do corpo, enfim as diversas capacidades de

emissão de sons. Os sons da natureza foram ouvidos e identificados com

passeios ao pátio e escuta de cds. As atividades foram registradas através

de desenhos e produções artísticas.

185

A música fazia parte da rotina das crianças e, a partir das

respostas enviadas pelas famílias, teve um novo enfoque no sentido de

dar mais atenção também ao que era ouvido em casa. Algumas músicas

eram ouvidas e por fim foi construído um livro com canções infantis do

cotidiano escolar e com músicas que os pais cantavam para as crianças

em casa, resgatando canções de infância.

Num segundo momento, trabalhou-se com alguns ritmos e

instrumentos musicais, onde era apresentado um som instrumental. A

gaita foi um dos instrumentos presentes, com a música Mercedita. As

crianças reconheciam o instrumento, a representação da música através

do canto, o manuseio do instrumento musical original. Foram explorados

instrumentos como gaita, violão, guitarra, pandeiro, piano elétrico, flauta,

chocalhos diversos, agogô, tambor, pau de rema, bumbo legueiro, reco-

reco, bateria. Foram trabalhados gêneros musicais: regional, clássico,

sertanejo, popular e canções infantis de diversos ritmos. Essas

experiências levaram à construção de uma bandinha com materiais

alternativos.

Nas turmas de Pré foram trabalhadas algumas obras de Toquinho

e Vinícius de Morais, onde as crianças também puderam visualizar as

fotos dos autores. Dentre as músicas mais trabalhadas, a música Aquarela

e O Pato foram as que os alunos mais gostaram.

As crianças escutavam e sentiam a música, cantavam junto,

imaginavam e exploravam a letra, coloriram desenhos e criaram um livro

com a música Aquarela a partir das imagens coloridas anteriormente.

186

Também foram trabalhadas as músicas: A galinha do vizinho,

Indiozinhos, Elefante incomodativo, Cinco patinhos, Cinco macaquinhos,

com ênfase nas relações de quantidade.

Os alunos visitaram o CTG Moacir da Motta Fortes, localizado

próximo à escola, onde puderam conhecer o centro de tradições gaúchas,

a culinária, as bebidas típicas, o vestuário e especialmente as músicas

tradicionalistas.

As turmas ainda estudaram diferentes instrumentos musicais,

como o pandeiro, bateria, gaita, piano elétrico, tambor, chocalhos, reco-

reco, violão, flauta. Os alunos puderam manusear os instrumentos,

identificar seus sons e criar uma bandinha com materiais alternativos.

As músicas infantis presentes no cotidiano das crianças, dos

grupos Patati e Patatá, Trem da Alegria, Pandorga da Lua, Palavra

Cantada, bem como cantigas de roda também fizeram parte do repertório

trabalhado.

O projeto Música na Escola proporcionou uma maior interação

com as famílias, facilitou a expressão e o movimento corporal, a

linguagem oral, a memória, a socialização e o reconhecimento e a

identificação sonora.

O projeto consolidou a ideia de que a música não pode faltar no

dia a dia das salas de aula.

187

O NENÊ

Rafaela Rocha de Quadros

Tamara Dalla Giacomassa

Mariane Oliveira Bica

As peculiaridades da vivência dos alunos contribuem para

aprendizagem dos mesmos. Partindo deste princípio, observamos nas

crianças da turma do Berçário II (dois anos), da EMEI Cantinho Feliz um

interesse muito grande pelos bebês. E, quando é dito turma, não

exageramos, pois, todos os vinte e um alunos, em algum momento,

demonstravam esse interesse.

Em nossa sala de aula há uma grande janela voltada para o

corredor da escola que fica ao alcance das crianças. Então, elas podiam

188

observar toda a movimentação da sala vizinha, que era da turma do

Berçário I (bebezinhos). Percebemos que, independente da atividade que

estivessem realizando, quando um bebê da turma vizinha chorava ou

passava pelo corredor com os pais ou com uma professora, todos eles

corriam para a janela muito exaltados. Queriam tocar o bebê, fazer- lhe

carinho, conversar e brincar com ele.

A partir destes momentos, nosso olhar ficou mais atento.

Podemos perceber então, que na maioria das brincadeiras realizadas

pelos alunos o bebê estava presente, seja com o papai, com a mamãe,

com a professora. Muitas vezes, eles mesmos, nas brincadeiras de faz-de-

conta, denominavam-se como bebês. Toda essa expressão nos levou a

crer que este era um assunto motivador, divertido, cativante, instigante

para as crianças.

Apesar das crianças estarem em momento de construção da

linguagem oral e pouco se expressarem desta forma, era gritante o que

queriam nos dizer. Então, decidimos que faríamos um projeto com o

tema: “O Nenê”, como elas mesmas diziam.

Sabíamos que este era o grande interesse das crianças, porém

desconhecíamos suas compreensões sobre o nenê. Por isto fomos à busca

de mais informações, questionando os alunos nas brincadeiras de faz-de-

conta e naqueles momentos de observação na janela. Descobrimos que os

alunos sabiam que o nenê chorava: ó, tá chorando, porém desconheciam

o motivo. Também que quando o nenê saia da sala de aula ele ia tchau,

tchau, porém, não sabiam aonde ele ia. Houve outro momento em que

uma das professoras parou em frente a janela com um bebê no colo e um

dos alunos a questionou: é teu nenê? Ainda constataram que o nenê

189

usava sapato, então poderia descer do colo e caminhar: ele tem sapato,

pode ir caminhando.

Além disso, buscamos elementos externos que pudessem

contribuir nesta jornada, como, por exemplo, informações e fotos com os

pais das crianças de quando eram bebê, busca de referências

bibliográficas tanto científicas quanto literárias referentes ao tema, busca

de diversos recursos pertinentes ao assunto bonecas, mamadeiras,

banheira, fraldas.

Após ouvir as crianças e organizar as demais informações

coletadas, começamos a traçar um percurso em busca de respostas,

afirmações, reconstruções de conceitos e, até mesmo, de novas dúvidas

referentes ao nenê. A construção deste mapa do percurso tornou-se um

emaranhado de descobertas e conhecimentos em cada momento de

sistematização e reflexão das informações a partir das atividades

propostas.

Estas atividades foram de certa forma, planejadas com as

crianças, pois elas mesmas expressavam nas brincadeiras não só o que

gostariam de saber, mas também como gostariam de aprender. Então,

visando sempre os aspectos cognitivos, afetivos, sociais e motores,

propomos atividades extremamente lúdicas, já que as crianças

desenvolviam-se brincando.

Certo dia, a professora entrou na sala de aula com uma linda

boneca em seu colo, dramatizando como se fosse um nenê. Logo,

chamou a atenção dos alunos que queriam ver o “nenê”, fazer carinho

nele. A partir daquele momento, a professora contou às crianças que

aquele “nenê” ficaria aos cuidados da turma. Neste instante surgiu a

190

necessidade de investigar quais cuidados os bebês precisam, para isso

convidamos uma aluna da turma do Berçário I e sua professora para nos

contar como é o dia a dia da Rayla na escola. Organizamos uma roda de

conversa onde as crianças, com o auxílio das professoras perguntaram

sobre a alimentação do nenê, se ele comia ou só mamava; sobre a

linguagem, se ele falava; sobre o descanso, onde ele dormia, entre outras

curiosidades. Após a conversa combinamos que cada dia um dos alunos

levaria “o nenê” para casa, a fim de cuidá- lo.

Um dos alunos quis saber qual era o nome do nenê. Foi então que

percebemos que o nenê precisava de um nome, afinal todos temos um

nome. Aproveitando a oportunidade, trabalhamos o nome de cada

criança, enfatizando que cada uma é única. Depois disso então, cada

aluno deveria sugerir um nome para o nenê. Surgiram duas opções de

nome: Julinha e Nicoli. Cada aluno disse como gostaria que “o nenê”

fosse chamado: Julinha ou Nicoli e a maioria das crianças optou pelo

nome de Julinha. Neste mesmo dia, com a turma em círculo,

questionamos o que a Julinha precisava levar para passear na casa do

colega. Surgiram inúmeras respostas, até que um aluno falou: mochila. A

partir daí cada criança foi olhar o que havia dentro da sua mochila. E

começamos a organizar a mochila da Julinha. Foram colocadas fraldas,

mamadeira, bico, roupas, sapato, sabonete, toalha e pente.

Para que tivéssemos um acompanhamento do alcance do projeto

na casa das crianças enviamos, um questionário para que os pais

respondessem como o aluno interagiu com a boneca. No outro dia, os

próprios alunos deveriam contar aos colegas o que fizeram com a

Julinha.

191

Os pais mostraram-se dispostos e interessados em compartilhar

estes momentos de brincadeiras e aprendizagens com seus filhos.

Elogiaram o projeto e sentiram-se parte integrante deste. Uma mãe

inclusive comentou que enquanto observava a filha cuidar da boneca

identificou-se no papel da mãe.

Para que os alunos pudessem compreender melhor sua relação

com a Julinha e os cuidados que deveriam ter com ela, visitamos o

Berçário I para que observassem e questionassem as professoras, o

espaço, os bebês. Durante a visita, o toque inevitável. Queriam abraçar os

bebês, pegar seus objetos (brinquedos, berços). Após esta visita, o nenê

da turma ganhou mais vida, pois as crianças o tratavam como se

realmente fosse um nenê.

Durante a realização do projeto as crianças puderam experienciar

atividades como trocar a fralda e dar banho no nenê. Na atividade de

troca de fralda foram utilizadas fraldas, paninhos, água, pomada, luvas,

banheira, toalhas, sabonete, xampu, tudo que se pudesse aproximar da

realidade e efetivar as aprendizagens sobre os cuidados de higiene para

com o nenê.

Durante a realização da atividade “o banho do nenê”, foi visível o

interesse e entusiasmo dos alunos que, organizados em círculo, em torno

de uma banheira com água morna foram conversando sobre como

tomavam banho em casa, quem lhes dava banho e o que era utilizado. Em

seguida os alunos deram banho na Julinha com a participação de todos

até o nenê estar bem limpinho.

Outra atividade que desencadeou muitas aprendizagens,

principalmente afetivas e sociais, foi a construção da casinha do nenê.

192

Previamente havíamos conversado com os alunos sobre sua casa e sua

família, quem lhe dava banho, quem fazia comida, com quem ele

brincava e a partir de então montamos a casa do nenê. Tinha o local onde

ele dormia, comia, brincava, tomava banho, trocava a fralda. Nesta casa

estavam presentes, o papai, a mamãe, o maninho. Tudo de acordo com as

próprias indicações dos alunos.

Os alunos continuaram os cuidados fazendo o “papá do nenê”:

uma gelatina que todos saborearam. Para isso os alunos foram

organizados na mesa e questionados sobre o que os bebês comem,

relembrando a visita ao berçário I. Nesta atividade exploramos os

sentidos como olfato e paladar, cores e temperatura. Após levamos o

nenê para passear na pracinha, de carrinho, pois era “nenezinho e ainda

não sabia caminhar”. Enfim, foram diversas atividades em que o foco

principal era o nenê Julinha.

Outras atividades auxiliaram as crianças a compreender melhor os

nenês, como por exemplo, o quebra-cabeça do corpo do nenê. Nessa

brincadeira foi possível identificar e nomear partes do corpo fazendo uma

relação com o corpo do nenê e do próprio corpo.

A apresentação das fotos de cada aluno, de quando era bebê, para

a turma, ajudou a se perceberem como criança em desenvolvimento. Foi

confeccionado um mural com o título: “Quando Eu Era Nenê Eu Era

Assim”, no mural foi montado um painel com fotos deles bebês e suas

mãos carimbadas.

Com a contação da história “Cadê Clarice?” foi possível

identificar alguns comportamentos comuns de um bebê, também foram

trabalhadas noções de posição e localização. Depois, os alunos receberam

193

livros e revistas para procurarem bebês e identificarem o que estes

estavam fazendo. Em seguida com o auxílio da professora essas imagens

foram coladas em um painel com o letreiro “CADÊ O NENÊ”.

Este projeto teve, aproximadamente, três meses de duração e

todos os momentos de aprendizagem foram filmados e fotografados para

que ficassem, de certa forma, documentados. Por fim, organizamos todo

o material produzido pelas crianças durante o projeto e realizamos uma

exposição de trabalhos, fotos e vídeos para toda a comunidade escolar, na

qual os alunos pudessem compartilhar tudo que aprenderam com os

demais alunos, pais e professores.

A cada momento vivenciado, os alunos puderam construir e

reconstruir conhecimentos, confirmando ou não o que já sabiam,

esclarecendo o que questionavam, descobrindo o desconhecido,

deparando-se com novas dúvidas. Enfim, o projeto “O nenê” foi ao

encontro das inquietações dos alunos e, a partir do lúdico, da imaginação

e da brincadeira, as crianças puderam encontrar-se, e, ao mesmo tempo,

perder-se em um mundo encantado onde aprendizado é sinônimo de

alegria, felicidade e muita diversão.

194

PRÔ, TEM UM SAPO NA TUA MOCHILA?

Kelly Sartori Sebben

Maria das Dores Borba Mareth

O tema do presente projeto surgiu de uma pergunta realizada

pelos alunos do maternal II, da EMEI O Mundo da Criança: “Prô, tem

um sapo na tua mochila?”

Tudo aconteceu quando certa manhã, durante uma roda de

conversa com as crianças, ouviu-se um toque de celular que estava dentro

da mochila da professora. O toque lembrava o coaxar de um sapo. Os

alunos intrigados fizeram a pergunta. A professora aproveitou então, a

195

oportunidade e fez algumas indagações, buscando uma maior reflexão

dos alunos: O sapo pode morar em uma mochila?. Porém, eles insistiam

que havia um barulho de sapo ali.

Propusemos que procurassem o animalzinho pela sala. E as

crianças passaram a olhar por todos os espaços da mesma, inclusive no

banheiro, no ralo do banheiro, nos armários. Como não encontraram nada

e o barulho cessou, voltaram para roda de conversa e a professora passou

a questioná- los sobre o habitat dos sapos.

Boa parte das crianças já conhecia o animal e falaram que ele

morava na rua, na grama e embaixo de suas casas. Também disseram que

era muito feio e que não dava pra chegar perto dele, pois era muito

perigoso. Durante a conversa surgiram mais perguntas em relação ao

anfíbio, sua alimentação e suas características.

A partir dessas primeiras considerações dos alunos a professora

iniciou a organização do mapeamento dos percursos. Selecionou livros

de literatura da escola, filme cujo personagem fosse um sapo. Na

internet, selecionou gravuras e pequenos textos com maiores

esclarecimentos sobre o tema.

Num primeiro momento as crianças pediram ajuda aos pais para a

realização de uma pesquisa sobre o assunto. Eles toparam e ficaram

envaidecidos com o “tema de casa”. O questionário fora elaborado pela

professora após ouvir as crianças. Constava das seguintes perguntas: No

pátio, ao redor de suas casas tem sapo? Onde o sapo fica? Como é o lugar

que ele fica? Você sabe o que ele come? O sapo é um bichinho bom ou

mau?

196

As questões foram enviadas aos pais juntamente com um texto

explicativo orientando-os para que respondessem por escrito e para que

falassem com seus filhos sobre suas respostas. Isso ajudaria as crianças a

poderem contar para os colegas o que haviam pesquisado com seus pais.

Também selecionaram gravuras de sapo e enviaram para a escola. Essas

gravuras, depois de observadas foram coladas em um painel.

Em aula foi lido o livro “O Sapo Curioso” e as crianças ficaram

maravilhadas com o texto e com as gravuras. Em seguida todos puderam

comparar as informações da história com as informações que já

detinham. Por fim as crianças registraram a história através de desenho e

explicaram suas produções aos colegas. Os trabalhos foram expostos na

parede da sala de aula.

Em todas as aulas era organizada a memória do trabalho até então

realizado. Num desses momentos surge a questão de quem seria o sapo

mãe, o sapo pai e os filhinhos. Para esclarecer esta pergunta foram usadas

figuras que demonstravam todas as etapas da evolução do animal.

Algumas crianças comentavam que os girinos pareciam com pequenos

peixinhos, já que vivem na água.

Para que o sapo ficasse mais concreto foi confeccionado, junto

com as crianças, uma dobradura do bicho. O sapo foi colorido por cada

um. A dobradura tinha articulações que permitiam que o sapinho pulasse

e as crianças partiram para a brincadeira.

A música “O sapo cururu” era cantada pelas crianças nas

atividades no pátio, fazendo imitações, dançando de acordo com a letra

da canção.

197

Foi assistido o filme “A Princesa e o Sapo”, que conta a história

de uma menina que vive diversas aventuras no corpo de uma sapinha,

juntamente com um príncipe, um crocodilo e um vagalume.

As crianças puderam ver o sapo de perto, quando um exemplar foi

levado para a escola, dentro de uma caixa plástica transparente. Os

alunos colocaram folhas e água dentro da caixa, demonstrando

preocupação com a alimentação e sobrevivência do bichinho. Com o

sapo presente retomou-se a conversa a respeito da pergunta inicial, o

sapo poderia estar dentro da mochila?

As respostas do questionário foram lidas com as crianças e

compuseram um cartaz que demonstra quem tinha sapo ou não no pátio

de casa. Depois realizaram a análise do cartaz verificando qual tinha mais

e qual tinha menos respostas.

Para finalizar as atividades a turma expôs suas produções,

juntamente com o sapo, para que as demais turmas pudessem visitar.

198

PANO MOLHADO

Elenice O. Menezes

Ivone Apostolo de Oliveira

Mariluse F. F. Hahn

Maria Paula Dall’Agnol Sonaglio

As professoras do berçário da EMEI Nossa Senhora das Graças,

que atendem as crianças entre 6 meses e 1ano e 8 meses de idade,

desenvolveram o projeto “Pano Molhado” considerando o interesse

dessas crianças por panos molhados. Observou-se que sempre que uma

professora deixasse um pano sobre a mesa, ou em qualquer outro lugar,

imediatamente uma criança pegava e buscava uma forma de molhá- lo

para brincar com aquele pano.

199

O entusiasmo com os panos era geral, e nada que estive à mão

fugia da limpeza: era cadeira, mesa, cama, chão, parede, pé, mão, boca.

Até os menores disputavam o pano para chupar. Neste contexto a ideia de

transformar o tema em projeto de trabalho pareceu às professoras

bastante pertinente.

Procurando saber se em casa também as crianças buscavam panos

para brincar, as professoras indagaram a família e houve relatos dos pais

que o interesse pelo pano molhado existe em casa também, inclusive

ajudando o pai a lavar o carro. As mães contaram que as crianças

gostavam de passar pano molhado nos móveis e objetos e também de

chupar o pano molhado. Motivo pelo qual cuidavam para não deixar

roupas ou panos de molho em baldes porque elas pegavam e queriam

chupar.

Convidadas a participar do projeto as famílias colaboraram

levando para a escola retalhos de tecidos de diferentes texturas e cores.

Com este material, adultos e crianças construíram fantoches, almofadas,

tapetes, cartazes.

Em uma das atividades foi proporcionado às crianças que

rabiscassem com giz em madeira, calçadas, tijolos, pisos e paredes, o que

seria um bom motivo para usar o pano molhado na limpeza. Na hora de

usar o giz algumas ficavam inseguras e até um pouco constrangidas, pois

lhe provocava arrepios, repulsa e nojo, enquanto outras manifestaram

prazer e alegria. Mas a procura pelo pano molhado para “apagar” os

rabiscos era ainda a maior satisfação.

As professoras puderam observar que quanto mais

proporcionavam materiais e situações de uso diferentes, mais

200

empolgados os pequenos ficavam. O pano foi usado de escorregador - as

crianças sentavam em cima e as prôs as puxavam; para embalar as

bonecas – cada criança pegava o pano de um lado e colocavam a boneca

em cima, elas perceberam que se embalassem muito forte a boneca caía,

o que foi motivo de muitas risadas; as professoras enrolaram o pano de

forma a transformá- lo em um bebê, uma grande atração, porém

acabavam por desmontá-las ao usá- las para esfregar o chão.

Durante o desenvolvimento do projeto foi possível que as

professoras envolvidas fizessem o registro do entendimento de cada

criança, na maneira como observavam os objetos, seus gestos e

expressões faciais e corporais.

Finalizando o projeto as famílias e a comunidade escolar puderam

apreciar seu resultado através de uma exposição dos trabalhos realizados,

documentados através de fotos e painéis.

201

RECICLAGEM

Janaína de Castro Nunes

Márcia Pernoncini Lago

Marilene de F. S. da S. Ferreira

Reciclar é um termo que vem sendo tratado com bastante

seriedade por muitos grupos que atuam na defesa do meio ambiente. No

entanto, para alguns, a reciclagem é vista apenas como mais um

modismo; sem haver o pleno entendimento da profunda dimensão que o

tema abrange. Mesmo não sendo por causa ecológica, mas nem por isso

menos nobre, muitas pessoas vivem da reciclagem e dela retiram o

essencial para o sustento de suas famílias. Neste contexto está inserida a

comunidade da Escola Municipal de Educação Infantil Padre Zezinho,

onde estão situados alguns locais de coleta, separação e venda de

materiais reciclados.

As crianças participam ativamente deste processo juntamente com

sua família, o que é demonstrado, para além de seus relatos, através dos

brinquedos, das roupas e de outros objetos, que são extraídos da

reciclagem. E foi valorizando suas falas e questionamentos que teve

início o projeto Reciclagem.

Por que a mãe do colega recolhe lixo na carrocinha? Lá em casa

a gente guarda as latinhas prá vender. O que é feito com este lixo depois

de recolher? Prô, quando eu crescer quero trabalhar no Giro

(Reciclagem do bairro). Meu pai traz fruta suja do lixo mais aí ele lava e

elas ficam bem boas. “Quanto a gente ganha prá cata lixo?

Toda a escola esteve engajada na execução deste projeto, os

alunos envolveram-se entusiasticamente tanto na execução das atividades

202

propostas, quanto na divulgação na comunidade e junto à família, esta

última não mediu esforços para providenciar todos os materiais

solicitados, mesmo isto representando uma diminuição dos próprios

rendimentos advindos da venda dos recicláveis.

Durante todo o processo, foram feitas “verdadeiras mágicas”:

transformando o que era tido como feio e desprezível em algo belo e útil,

feito pelas próprias mãos infantis. Foi construída uma infinidade de

objetos com uso de material alternativo, tudo de maneira contextualizada

e estimulante à curiosidade e criatividade infantil. Uma profusão de

coloridas flores de PET, charmosos alimentadores de pássaros com caixa

de leite, tartaruguinhas transparentes de fundos de garrafa, aquários,

delicados móbiles com rolinhos de papel higiênico, velozes carrinhos de

caixa de papelão, cavalinhos de pau, bilboquês, pinheirinhos, presépios e

festivas guirlandas de PET. Tudo devidamente registrado através de fotos

e vídeos.

Foi no processo de produção destes diferentes objetos que se

centrou o verdadeiro significado do projeto e não somente no produto

final. As atividades exigiam uma organização das crianças o que

proporcionava serem trabalhados importantes conceitos, como:

responsabilidade, cooperação, respeito, tolerância, autoestima individual

e do grupo. Assim, as atividades se constituíram como elementos para

alcançar um ideal maior: uma convivência melhor e mais saudável entre

as crianças.

A família não ficou de fora deste processo e a elas foi oferecida a

possibilidade de participar de uma oficina de artesanato com os

educandos e educadoras da APAE/Passo Fundo, onde foram apresentadas

203

técnicas de confecção de papel reciclado, pintura e decoupagem em latas.

As mães e avós participantes ficaram encantadas com o que aprenderam

no curso. Perceberam o quanto é possível utilizar materiais alternativos e

transformá-los em objetos decorativos, úteis e rentáveis. Sendo que

muitas delas passaram a utilizar a aprendizagem também como mais um

complemento na fonte de renda para a família.

Através deste trabalho, muito mais do que confeccionar objetos,

foi aprendido que todos têm algo a ensinar e sempre existe algo a

aprender. Não importa qual seja a limitação ou as dificuldades

encontradas, o ser humano pode oferecer muito mais do que se espera

desde que lhes sejam oportunizadas as devidas condições. É preciso uma

constante ação conscientizadora que valorize adequadamente o processo

de reciclagem e prime pela redução do lixo, tornando cotidiana a coleta

seletiva, desenvolvendo atitudes de preservação do meio ambiente e

consequentemente da vida.

204

POLENTA

Elisete Chaves da Silva Valente

O Projeto “Polenta” ocorreu na Escola Municipal de Educação

Infantil Tio Patinhas, na turma do Maternal I, turno da manhã onde são

atendidas onze crianças com idades de dois e três anos.

Envolvemo-nos na construção deste trabalho com as crianças,

observando e ouvindo nossos alunos, buscando informações, materiais e

auxiliando as crianças nas atividades. Algo difícil, durante o projeto, foi

promover a participação das famílias, mas procuramos mantê- los

205

informados sobre o que estava acontecendo na escola, assim como,

buscar a sua ajuda.

Há algum tempo, já havíamos observado o gosto das crianças pelo

alimento em questão: a polenta. Nas refeições em que é proporcionado

este prato é possível ouvir comentários como: Polenta! Quero polenta!

Além de vê-los comendo tudo e com satisfação, este fato foi

chamando nossa atenção, até que, a pequena Yasmin começou a

comentar com regularidade: Minha vó faz polenta! A polenta da minha

vó! Ou ainda: Vou pra casa comer polenta!

Assim, surgindo a oportunidade, a diretora da escola, professora

Lídia, conversou com a avó da menina, que relatou o gosto da Yasmim

pelo alimento e por acompanhar o preparo, até atrapalhando o trabalho na

cozinha, pois aos sábados ela almoçava na casa da avó, e o cardápio era

sempre polenta. Então, resolvemos explorar este interesse com a turma.

Procuramos saber o que eles, embora pequenos, sabiam e gostariam de

saber sobre o prato. Consideramos a idade e características da turma, o

desenvolvimento da fala, o que mais se torna atrativo nesta etapa da vida.

Na roda da conversa, então, após a fala de Yasmim sobre a polenta de

sua avó, o que mais os colegas expressaram relacionou-se à forma de

saborear: polenta frita, polenta com carne, ou ainda a afirmação: Eu

como polenta!

Desta maneira, nós professoras envolvidas com a realização do

projeto polenta, nos reunimos para criar uma rede, redirecionando e

orientando como poderíamos trabalhar as atividades com as crianças que

ampliasse seus conhecimentos.

206

Enviamos uma carta aos pais relatando o que estávamos fazendo e

para que serviriam as informações do questionário que estava em anexo.

Solicitamos também, a contribuição dos pais enviando para a escola

embalagens de farinha de milho. As questões que enviamos para os pais,

foram: quem cozinhava na casa da criança, se costumavam fazer e comer

polenta, de onde vinha a receita e como a família gostava de saborear

este prato. As respostas dos pais aos questionamentos foram muito

interessantes, e contribuíram de forma significativa para a elaboração das

receitas que mais agradariam às crianças, embora nem todos os

questionários tenham voltado preenchidos. Analisando os escritos dos

pais e responsáveis, é admirável a participação das avós no preparo dos

alimentos das famílias. É unanime também, o fato de ser uma receita que

passa de geração para geração, sempre aprendida com a mãe ou a sogra.

Constatamos que é um alimento que permite às crianças

desenvolverem seu paladar, pois é saboreada de diferentes formas nas

famílias: com ossinho de porco; com caldo de feijão; mais mole ou mais

dura; frita; com molho de frango ou carne bovina moída e até mesmo

com leite. E nenhuma das famílias disse que não consumia esta comida,

todos disseram que comer polenta faz parte do cotidiano de suas casas.

Também vieram muitas embalagens de farinha de milho para a escola.

Iniciamos o trabalho com as crianças levando para nossa roda de

conversa dois pacotes de farinha de milho: um pré-cozido e outro de

farinha grossa. Eles demonstraram interesse, seguraram e observaram as

embalagens. Questionamos para que servia e uma criança falou: Polenta!

A seguir, proporcionamos o contato direto com a farinha: sentiram o

cheiro, olharam e puderam comparar a cor da farinha com a cor da

207

polenta pronta, relacionando ainda a cor amarela a outros objetos como

roupas e brinquedos da sala. Também tocaram a farinha, conhecendo

desta maneira texturas. Provaram o sabor, alguns com um pouco de

receio. Enfim, puderam estimular os sentidos de forma prática e

construtiva.

A proposta seguinte foi utilizar farinha para criar. Cada criança

ganhou um tubo de cola e a usou como lápis sobre o papel, registrando a

sua maneira a atividade anterior. Em seguida, coloriram o desenho com

farinha de milho, o resultado ficou muito interessante e provocou

admiração nas crianças. Perguntamos quem havia provado milho, todos

demonstraram conhecer, alguns disseram que era bom, repetiam a

palavra milho. Por isso, procuramos trazer para a escola espigas de milho

e grãos. Por ser mais acessível e prático, trouxemos primeiramente milho

em conserva para a escola. Como sempre, as crianças manifestaram

grande curiosidade, todos queriam ver, cheirar e provar. Alguns já

disseram: milho!

Inicialmente cada um sentiu o cheiro do milho, que em conserva

costuma ter um odor mais intenso para, em seguida degustarem os grãos

de milho, alguns não queriam, mas logo todos provaram e, sentiram o

sabor, pediam mais, sorriam.

Logo, o milho foi relacionado à pipoca, que também vem de um

tipo de milho. Em nossa rodinha de conversa, trouxemos o pacote de

pipoca. Ficaram muito alegres. Comparamos a cor da pipoca à cor

amarela da farinha, dos grãos de milho e da própria polenta. Após,

acompanharam a professora no preparo e degustaram a pipoca: o que eles

gostam muito e não recusam. Também se considerou importante

208

conhecer quais animais utilizam o milho como alimento. Contamos as

histórias “O sanduíche da Maricota” e “Orelhas e olhinhos, caudas e

focinhos na fazenda”. As crianças imitaram os animais, procurando a cor

amarela e cantamos a música “Meu pintinho amarelinho”. Para brincar

com eles, confeccionamos, com material alternativo, galinhas com

potinhos de iogurte que fazem barulho. Para melhor explorar o tema e

satisfazer o desejo das crianças em ver a polenta de verdade pensamos

em oportunizar manuseio com o alimento, mas por se tratar de alimento

que seria ingerido pelas crianças certamente, decidimos nesta fase usar a

imaginação com massa de modelar amarela para que eles pudessem

manusear e criar como se fosse polenta. Foi divertido, a criança tem

facilidade em simbolizar. Percebemos, logo depois desta atividade, que já

era hora de prepararmos nossa própria polenta, descobrindo como a

farinha seca se transformaria em um saboroso alimento.

Nesta fase do projeto, a turma reuniu-se no refeitório, ao redor da

mesa, onde observaram os ingredientes e utensílios: bacia, panela, colher,

água, sal, farinha de milho (Pré-cozida). Eles repetiam as palavras que

ouviam muito concentrados. A professora conduziu o preparo: as

crianças despejavam organizadamente os ingredientes e logo outro

colega misturava. Em seguida, outra professora levou ao fogo para

cozinhar e voltamos para a sala. Enquanto o alimento cozinhava,

conversamos com as crianças sobre a origem deste cardápio: a Itália,

neste momento uma das professoras mostrou figuras do país e dos trajes

típicos italianos. Começamos, nesta hora, a confecção de panos de TNT

verde e vermelho nossas roupas típicas italianas. As crianças puderam

209

observar as cores e vestir aventais e lenços para a cabeça, ficaram

animados e queriam tirar muitas fotos.

Dirigimo-nos ao refeitório novamente e, lá observamos a polenta

pronta e como poderia ser servida. As crianças provaram a polenta em

pequenos pedaços, esfriando ainda. Todos comeram e alguns pediram

para repetir. Com o pedaço que sobrou, acatamos uma das sugestões dos

alunos na variação “polenta frita” só que acrescentamos o queijo,

deixamos para comer no almoço, as crianças aprovaram o sabor e

comeram muito bem o alimento nutritivo, que os deixaria fortes,

ajudando-os a crescer. Resolvemos registrar este momento pintando com

tinta no papel pardo, todos usaram, ao menos um pouco, a cor amarela.

Constatamos a participação dos pais, que mandaram

continuamente muitas embalagens de farinha de milho. Em um papel

pardo, cada criança colou uma embalagem, formando um cartaz.

Permitimos a observação no chão, e para eles tão pequenos, tornou-se

interessante observar as figuras contidas nos pacotes: milho, pratos de

polenta, cozinheiras. Procuramos então, pesquisar mais sobre os

benefícios da polenta para o organismo e um pouco de sua história.

Na pesquisa descobrimos que a polenta nasceu como um prato de

pobre, era quase um pão, uma base do dia a dia. Na tradição antiga, era

mais consistente, cortada com um fio de linha e comida pura, ou ainda

com carne ou ovo. A polenta, nome de origem latina, de “póllen”, que

significa flor de farinha, é um alimento muito antigo, anterior ao

surgimento do pão. Conhecida na época do império Romano, não com

farinha de milho, como hoje a preparamos, mas sim com grãos

esmigalhados de fava ou farro, cereal semelhante ao trigo, porém de

210

consistência bem mais dura. Já os cartagineses a temperavam com mel,

ovos e queijos. Também, a polenta é um alimento rico em carboidratos

obtidos do milho.

Assim, julgamos que seria uma boa forma de divulgar o trabalho

feito, montando um informativo sobre a polenta, identificando a origem,

reproduzindo uma receita simples e seus benefícios para a saúde,

conforme descobrimos em nossa pesquisa. Produzimos o material e cada

criança levou para casa. Finalmente, conseguimos sementes de milho e

espigas. As crianças puderam desta forma, observar a espiga e os grãos.

Conversamos com eles sobre a sequência, onde se planta o milho, nasce

uma planta, após a espiga de onde se retiram os grãos, que serão

transformados em farinha e preparada, enfim a polenta. E ainda,

plantamos os grãos de milho no pátio da escola, com a participação das

crianças. Juntos plantamos um sonho, de quando nascerem os pés de

milho, com suas espigas e grãos, podermos transformá- los em uma

deliciosa polenta, por que não? O Projeto Polenta pode não ter esgotado

todas as possibilidades de conhecimento possíveis, mas respondeu o

desejo de saborear uma deliciosa polenta acompanhada de queijo com

gosto de avó.

211

O ARCO-ÍRIS DO CARACOL

Janaína de Castro Nunes

Márcia Pernoncini Lago

Marilene de F. S. da S. Ferreira

O Projeto Arco-Íris do Caracol surgiu em uma manhã de so l

quando a turma da Pré-Escola II estava tomando o café da manhã no

212

refeitório da EMEI Padre Zezinho. Havíamos enfrentado uma semana

inteira de muita chuva e dias sombrios. Finalmente o sol estava radiante e

as crianças felizes, saboreando o seu desjejum.

De repente, um dos meninos olha para a janela iluminada pelos

raios dourados e diz entusiasticamente: Olha o arco-íris do caracol!!!

Todos se voltaram assustados para a janela e o que se vê? Um

pequenino caracol com sua casinha nas costas passeando pela vidraça e

deixando seu rastro. Devido aos reflexos solares, o visgo adquire um

brilho furta-cor realmente parecido com um pequeno arco- íris. Conclusão

coletiva infantil: O caracol é um pintor de arco-íris e tem um arco-íris só

dele!

Retornando para a sala o debate continuou e muitas outras ideias

surgiram. Muitos afirmando que o caracol de fato era quem pintava o

arco-íris. Cada um fazia o seu comentário... O assunto estava gerando

polêmica e abrindo espaço para novos questionamentos e hipóteses. Era

realmente preciso estudar o assunto de forma científica a fim de

desmistificar algumas ideias fantasiosas, sem ofuscar o brilho e as cores

da imaginação infantil. Foram feitas algumas intervenções questionando

as crianças e a maioria demonstrou a convicção de que o caracol tinha

um arco- íris. Somente um aluno tinha a clara noção de que o caracol

deixa um visgo por onde passa. E que este visgo não é arco- íris!

No outro dia apareceu um caracol na cozinha e a turma recebeu-o

de braços abertos, com uma alegria incomum em se tratando de um

bichinho tão polêmico. Foi realizada uma eleição na sala para esco lher

um nome para o novo amiguinho. O nome vencedor foi MELEQUINHO.

Todos aplaudiram e apreciaram. Este passou a residir em um pote de

213

margarina adaptado e recheado de plantinhas trazidas pelos alunos para

que ele não passasse fome. Ah! E água, também, claro!

Quando a turma da Pré-Escola I chegou no turno da tarde, já

percebeu que alguém diferente estava na sala. Foi uma explosão de

perguntas, possibilidades e experiências com caracol relatadas em

linguagem infantil. Enquanto isto, o caracol pintava o arco- íris por toda a

borda do pote, comprovando as suposições das crianças... Parecia até

feliz!

Foram passear e levaram o novo amigo junto. Observaram o

local, conversaram, mas não quiseram deixar o caracol na natureza. Ele

retornou junto e faceiro para passar a noite... Os alunos demonstraram

profunda preocupação a fim de que nada faltasse para o amiguinho,

reivindicações atendidas pela professora.

Surgiu então o DIÁRIO DE BORDO DO CARACOL, foram

sendo anotadas todas as observações cotidianas a respeito do

Melequinho.

Só que um dia, ele desapareceu... Motivo de tristeza? Nem

pensar! Na visão dos alunos, ele deve estar pintando o arco- íris pelo

mundo afora...

Logo surgiu outro caracol, na cortina do Berçário e os pequenos

olharam curiosos para o bichinho. Mais uma turma envolvida no projeto!

A professora trouxe-o para a sala da Pré-Escola II e as pesquisas

continuaram. Os alunos queriam levar o caracol para suas casas; como

não seria viável, foi confeccionado um de feltro, bem colorido, para

visitação e pernoite nas casas dos alunos com relato posterior da visita

214

em uma agenda e possibilidade de agregação de detalhes

personalizadores, podendo-se citar botões, lacinhos e outros.

Foram realizadas várias atividades relacionadas ao tema: pesquisa

in loco e em diversos livros com coleta de imagens e fotos, utilização de

vídeos de documentários e entrevistas aos pais sobre o comportamento

familiar quando ocorre a presença destes animais. Aos poucos, foram

sendo observadas e definidas as características específicas dos caracóis e

lesmas: habitat, alimentação, locomoção, reprodução, partes do corpo,

venenosos ou não, cadeia alimentar, tipos de moradias de animais e

humanas, solubilidade. A mesa das descobertas provocou uma

diversidade de experiências, na qual foram colocados diversos elementos

e testada a sua solubilidade; a exposição de compridinhos, modelados em

argila e massa de modelar, também despertou grande interesse e

criatividade, bem como as degustações do buffet sensório-visual. Outro

ponto alto, com ativa participação, foi o Jardinzinho Gastronômico do

Caracol onde os alunos trouxeram e plantaram mudinhas de flores e

folhagens para observação das preferências alimentares do referido

bichinho.

Após toda esta pesquisa, nada foi encontrado que relacionasse o

caracol ao arco- íris. Ato contínuo passou-se ao estudo do arco- íris,

através de atividade com tintas; culminando com a semana arco- íris na

escola, efetivando a exploração sensorial das cores pertinentes. O

envolvimento dos pais e alunos foi bastante acentuado, sendo que as

mães até coletavam caracóis e lesmas em frascos adequados,

alimentando-os e até dando “banho” antes de encaminhar para

observação. Foram parceiras de fato, coadjuvantes ativas no processo de

215

orientar ações infantis, explicar, observar e responder muitas, mas muitas

perguntas, mesmo!

As atividades e pesquisas que foram feitas e o material produzido

foi organizado em um lindo portfólio em scrapbook.

Este foi um projeto bastante inusitado devido ao preconceito em

relação ao bichinho ser pegajoso, mas com um alto nível de criatividade e

fantasia, onde se percebeu que o imaginário infantil é livre de ideias

preconcebidas e lindamente colorido. Um universo onde todos têm o seu

espaço e os direitos básicos de cada um são respeitados; onde até mesmo

os caracóis têm a oportunidade de serem PINTORES DO ARCO-ÍRIS.

216

PRETINHA, A CACHORRINHA

Maria Paula Dall’Agnol Sonaglio

O Projeto "Pretinha, a cachorrinha" surgiu através da fala das

crianças e da presença constante da cachorrinha na escola.

Prô!!! Lá vem a cachorrinha... A cachorrinha foi me buscar lá na

rua... A cachorrinha tá me esperando...

Por ser uma cachorrinha de rua, estava solta e acompanhava as

crianças o tempo todo, criando um vínculo afetivo, as crianças passaram

a ter muito carinho pela Pretinha.

Com o objetivo de descobrir de onde veio, de quem era, como

cuidar e não abandonar, começamos nosso trabalho. Precisávamos antes

de tudo, escolher um nome para a cachorrinha, após várias opções e

montagem de um gráfico, a maioria optou pelo nome Pretinha.

Profissionais foram convidados para falar sobre os cuidados e

carinho para com os animais, focando-se mais na figura do cachorro. A

veterinária passou um vídeo, mostrando e conversando sobre como

devemos cuidar da cachorrinha, alimentação, vacinas, higiene. Um

representante do CAPA (Clube dos Amigos e Protetores dos Animais)

conversou com as crianças, informando o quanto é importante ter um

animalzinho presente em sua vida, do carinho que deve-se dar a ele para

sempre. Falou também do abandono e que tem muitos animais

abandonados pelas ruas. De olhar atento e curioso, as crianças prestaram

atenção e participaram com perguntas e comentários pertinentes ao

assunto.

Promovemos uma campanha junto com as famílias, para

217

conseguirmos roupas, comida e também para a adoção da Pretinha. Uma

família adotou nossa Pretinha, mas para surpresa de todos, ela voltou,

estava tão acostumada ao convívio com as crianças que não se adaptou.

Muitas foram as aprendizagens construídas no decorrer do

projeto. O que mais se destacou foi o respeito e o cuidado com os

animais e, com certeza, marcou a vida das crianças.

A escola envolveu-se com a exposição dos materiais construídos

de forma que os pais e a comunidade pudessem ter acesso a esse

conhecimento.

Hoje, a Pretinha ainda faz parte da escola, não mais sozinha, mas

com sua família. A Pretinha "casou" com o cachorro "Chorinho" e

tiveram cinco filhotes, dois foram doados, ficando Zeus, Lulu e Karisca,

formando sua família, e a alegria de seus novos cuidadores.

Cada visita da Pretinha e sua família à escola é motivo de muita

alegria e carinho por parte das crianças.

218

AU, AU

Patricia Barros Fauth

O Projeto “Au, Au” foi desenvolvido na Escola Municipal de

Educação Infantil Sonho Encantado com a Turma do Berçário, a partir do

dia 20 de junho e teve duração de 15 dias.

O Projeto foi desenvolvido baseado na curiosidade das crianças.

Havia um grupo de alunos que já se encontrava na sala, quando o

aluninho Gabriel começou a gritar au au e todas as crianças que se

encontravam na sala correram para a janela gritando: au au. Foi aí que

avistei um cachorro preto, grande, de pé em frente à janela do berçário.

Aproveitei para filmá- los, pois assim, teria as falas e imagens das

crianças, ao mesmo tempo observando o visitante. As crianças

219

encontravam-se num entusiasmo só, gritando au au, o au au tá lá, ele tá

aqui, gande entre outras.

O cachorro ficou em duas patas, colocando a cara na nossa janela,

as crianças estavam comendo bolacha e começaram a jogá-las para o

cachorro. Acomodei as crianças de forma que pudessem ver melhor o

animal, pois elas mal alcançavam a janela. Tendo melhor acesso à janela,

o Gabriel conseguiu atirar a sua bolacha para o cachorro, que não saía

mais dali. As crianças continuaram observando o cachorro, exc itadas por

um bom tempo, mais precisamente enquanto havia bolachas. Com o fim

das bolachas o cão afastou-se e perguntei às crianças: aonde o au au vai?

E o Gabriel batia no vidro para tentar fazer com que o cachorro voltasse e

dizia: tá lá o au au. E então eu falo: o au au tá indo embora, foi sentar lá

na graminha e logo em seguida o cachorro foi embora.

A partir do interesse e curiosidade das crianças pensamos que

seria importante desenvolver um projeto sobre o cachorro, que

denominamos “AU, AU”. Optamos por trabalhar a questão do ser vivo: o

cachorro, suas necessidades e cuidados.

Começamos trabalhando então, as características do cachorro

como tamanho, pelagem do cachorro, que o cachorro tem suas

características próprias: orelhas, focinho, boca, quatro patas e faz au au.

Numa rodinha mostramos para as crianças revistas com cães,

comentamos com eles os aspectos citados anteriormente.

Através da Revista Cães Amigos descobrimos que as raças mais

indicadas para as crianças são: Pug, Beagle e Boxer e assim trabalhamos

também suas características. As crianças puderam manusear a revista e

fazer comparações. O Boxer chamou a atenção pelo seu tamanho, uma

220

criança falou é gande e outra é babo. Fizemos então, um trabalho de

colagem de imagens de cachorros de vários tamanhos, grandes e

pequenos, peludos ou não.

Confeccionamos um cachorro, isto é, a cara de um cachorro onde

as crianças podiam tirar o focinho e as orelhas porque eram presas com

velcro, para que observassem com mais clareza as suas partes. As

crianças reuniam-se em torno deste brinquedo e montavam suas

respectivas partes.

Resolvemos pedir a participação da família, para saber se as

crianças do berçário tinham contato com cachorros e como se

comportavam diante deles. Para isso enviamos um questionário e

solicitamos fotos a quem tivesse e pudesse nos emprestar. As fotos

serviram pra montar um painel.

Foram trabalhados vários livros de literatura infantil: A pulguinha

Daninha, Filé o Cachorro e o Cachorro Peralta. As crianças tocavam e

folheavam suas páginas acompanhando a historinha contada. Para

registrar a atividade, as crianças pintaram, em papel pardo com tinta a

dedo, a historinha contada.

Conversamos sobre o cão, que ele precisa comer, precisa de

higiene, que ele também fica dodói. A partir daí, construímos um cartaz

com diversas imagens de cachorros, um cachorro tomando banho, um

tomando remédio, outro comendo. Depois de coladas as imagens, o

cartaz foi pintado com giz de cera pelas crianças.

Para os bebês, confeccionamos móbiles de cachorro, com

colheres amarradas na ponta. Eles foram pendurados em vários pontos da

sala, onde as crianças tinham acesso. Os bebês mordiam as colheres e

221

balançavam os móbiles fazendo com que o cachorro balançasse junto.

Foi o maior sucesso entre as crianças e os bebês, pois os maiores

balançavam os móbiles sem parar e os bebês eram colocados no carrinho

logo abaixo dos móbiles e se acalmavam instantaneamente.

Para fazer o fechamento do Projeto Au, Au não poderia faltar a

presença do cachorro em carne e osso, como se diz. Levei o meu

cachorrinho para a sala de aula. Eles passaram a mão, abraçaram,

beijaram, puderam dar ração e água também. Levamos a Loli, como é

chamada, ao solário onde as crianças puderam interagir com ela, sempre

com a supervisão da professora.

O Projeto Au, Au foi muito legal e deu oportunidade às crianças

de conhecerem as necessidades, cuidados e diferenças entre os cachorros.

Para comunicar o Projeto da turma, a pré-escola veio até a sala do

berçário para ver o trabalho desenvolvido, através de fotos e das

atividades que se encontravam presentes na sala, como os móbiles, o

cachorro desmontável, os cartazes e os painéis.

222

FEIJÃO

Juliane C. Treméa

Franciele Garcia dos Santos

O Projeto “Feijão” foi realizado na escola Municipal de Educação

Infantil Tio Patinhas, na turma Maternal I. A escola está localizada na

Vila Jardim. Teve a duração de dois meses

Há algum tempo, já havíamos observado a curiosidade dos

colegas pelo fato da colega Nicole não gostar de feijão. Nas refeições em

que é proporcionado este prato, é comum ouvir comentário como: Come

Nicole, é bom, Come prá ficar forte. Além de vê- los comendo tudo com

satisfação e incentivando a colega a fazer o mesmo. Este fato foi

chamando nossa atenção, até que a pequena Nicole, começou a comentar

Minha mãe faz feijão, mas eu não como e ela fica triste ou ainda minha

tia fez sopa de feijão. Assim, surgindo a oportunidade, conversamos com

a mãe da aluna, que relatou que a menina Nicole nunca quis comer feijão.

Nem quando bebê. Logo, resolvemos explorar este tema, procuramos

saber o que eles, embora pequenos, sabiam e gostariam de saber sobre o

prato, considerando a idade e características da turma, desenvolvimento

da fala.

Na roda da conversa, os colegas expressaram a forma de saborear

o feijão: com farinha, com purê, com arroz, com pão e revirado ou

mexido. A partir disso, criamos uma rede direcionando e orientando

como poderíamos trabalhar de maneira a beneficiar os alunos com esta

atividade.

Organizamos, também, um questionário para as famílias,

envolvendo-as para que nos auxiliassem contando o interesse de seus

223

filhos. Achamos importante iniciar, compartilhar com os pais o que

estávamos fazendo e para que serviriam as informações.

As questões giraram em torno de saber quem cozinhava para as

crianças, receitas de feijão e curiosidades que soubessem em relação ao

tema.

Analisando a resposta dos pais e responsáveis, percebemos que

muitas avós são responsáveis pelo preparo da alimentação das famílias. É

unanime, também, o fato de uma receita ser passada de geração para

geração, sempre aprendida com a mãe ou a sogra. É um alimento que

permite às crianças desenvolverem seu paladar, pois é saboreada de

diferentes formas nas famílias: sopa de feijão, revirado ou mexido de

feijão e até como salada, sendo que todas as famílias consomem esta

comida no cotidiano de suas casas. Também vieram muitas curiosidades

sobre o preparo do feijão.

Começamos, então, trazendo para nossa roda de conversa grãos

de feijão com cores e tamanhos diferentes. As crianças demonstravam

interesse, seguravam e observavam os grãos. Foi possível sentir a textura

dos grãos crus e compará- los com o grão que fora cozido.

A proposta seguinte foi utilizar o feijão para criar uma

representação da atividade realizada.

Devido ao fato das crianças se preocuparem com a colega Nicole,

que não comia feijão e que iria ficar fraquinha, trouxemos uma receita de

bolo de feijão. A cozinheira fez o bolo e lanchamos como de costume.

Todos adoraram o bolo, inclusive a Nicole, achando que o bolo era de

chocolate. Seguimos então, conversando sobre o lanche do dia, seu sabor,

224

se haviam gostado, com que se parecia. Depois foi revelado o principal

ingrediente do bolo.

Em outro dia auxiliamos no preparo do feijão escolhendo a cor,

localizando e retirando as pequenas sujeirinhas, assim como a escolha

dos temperos. Voltamos para a sala e dialogamos com as crianças sobre a

origem do grão, que pelo censo comum, o feijoeiro, origina-se do

continente americano.

Nos dirigimos para o refeitório novamente e lá observamos o

feijão, já pronto, e como poderia ser servido. As crianças degustaram o

feijão, primeiramente sem acompanhamento e depois acompanhado de

arroz. Resolvemos registrar esse momento pintando com tinta em um

papel pardo.

Conversamos com as crianças sobre como o feijão nasce, onde ele

é cultivado e suas fases de desenvolvimento. Todos plantaram uma

semente em sala de aula e observaram seu desenvolvimento. Para

completar os estudos feitos em sala de aula, as crianças foram ao pátio da

escola fazer uma pequena plantação de feijão. Foi divertido e prazeroso

para as crianças.

Para divulgar o trabalho foi montando um informativo sobre o

feijão, com a divulgação dos benefícios desse alimento, e todas as

crianças que frequentam da escola puderam levá- lo para suas casas.

O Projeto colaborou com a alimentação da menina Nicole e

permitiu a ampliação de conhecimentos para a menina e para seus

colegas.

225

GOLFINHO

Adriane Salles Vieira

Alguns minutos antes do almoço, os alunos do PRÉ assistiam ao

filme: Golfinho – A História de um Sonhador, trazido pela assistente da

escola. Nesse momento surgiu a pergunta que deu origem ao nosso

projeto: Prô, porque o golfinho tem um buraco na cabeça? Questionei a

turma: Não sei, para que vocês acham que serve? E já saíram respostas:

Para respirar., Para entrar água. É para entrar vento e água, né prô?.

Propus uma pesquisa sobre o assunto e todos concordaram.

226

Iniciei perguntando sobre o golfinho: Onde e como vive? Quais

os outros tipos de animais que existem? O que o golfinho é: ave,

mamífero, peixe, réptil, anfíbio... E todos responderam que era um peixe.

Esses questionamentos foram feitos na rodinha de conversa. Visto que as

crianças apresentam grande curiosidade pelos animais e que esses fazem

parte de suas vidas cotidianas seja no convívio com animais domésticos,

nos desenhos animados a que assistem, nos jogos e nas histórias, as

crianças foram para casa com a tarefa de trazer gravuras de animais de

todas as espécies. No dia seguinte, com o objetivo de descobrir o que já

sabiam e quais suas dúvidas sobre os animais, utilizando as gravuras

trazidas pelos alunos, fomos construindo um cartaz sobre vertebrados e

invertebrados. Para isso dividimos a turma em dois grupos: os animais

que têm ossos e os animais que não têm ossos. Cada um desenhou um

animal correspondente ao seu grupo. Em seguida classificamos as

gravuras e cada grupo colou-as em seus cartazes. Apresentaram um

conhecimento prévio sobre os animais muito bom, pois sabiam classificar

os que tinham ossos e os que não tinham.

Organizei uma visita à biblioteca da escola de ensino fundamental

do bairro e lá pesquisamos em livros de ciências para descobrirmos a

classificação dos animais. A turma foi dividida em duplas com a tarefa de

pesquisar e discutir. O momento seguinte deveriam apresentar o que

haviam encontrado ao restante da turma com ajuda da professora para ler

os textos. A pesquisa nos trouxe como resultados grandes aprendizagens

como: habitat aquáticos e terrestres, que se classificam por terem

características semelhantes como alimentação, reprodução, anatomia

externa e a respiração. Então conhecemos as aves, os répteis, os anfíbios,

227

os peixes e os mamíferos; que alguns são aquáticos outros terrestres; os

ovíparos vêm de ovos e os vivíparos se geram na barriga das mães e

como se alimentam quando pequenos. Essas descobertas foram

socializadas na roda de conversas e registradas em um álbum de

dobraduras, foram feitas dobraduras de um pássaro (aves), cachorro

(mamíferos), peixes, sapo (anfíbios) e tartaruga (répteis), ao colar a

dobradura no álbum deveriam desenhar a principais características desses

animais conforme sua classificação: os mamíferos são vivíparos e

mamam quando pequenos; as aves têm penas e bico e vem dos ovos; os

anfíbios começam seu ciclo de vida na água e depois na terra e põem

ovos; os répteis põem ovos, têm a pele grossa e rastejam pelo chão e os

peixes respiram embaixo da água, põem ovos, têm escamas e são da

água.

Muitas descobertas, mas o mistério do buraco da cabeça do

golfinho não havia sido resolvido. Precisávamos saber quem era esse

animal e porque tinha aquele buraco na cabeça, o que tirou o sossego da

Turma do pré.

Para descobrirmos quem era o golfinho, pesquisamos na internet.

Após a pesquisa surgiram as seguintes dúvidas: Prô, como e que ele

nasce? O que come? Será que ele é um peixe?Ele é grande!

Como incentivo para não faltarem às aulas e integrar a família às

nossas atividades, cada dia um levava um golfinho de pelúcia para casa e

deveria pesquisar e também registrar o que fez com ele através de textos

ou desenhos e apresentar aos colegas na próxima aula.

Na sala também realizamos pesquisas na internet sobre o golfinho

eu, professora, lia os textos e as crianças analisavam as fotos e assistiam

228

aos vídeos, com isso descobrimos que o golfinho era aquático, vivíparo,

mamífero, que existem trinta e sete espécies, alguns de águas doces e

outros de águas salgadas, mamam até um ano e quando adultos comem

lulas, peixes, camarões e moluscos, que vivem aproximadamente por

trinta e cinco anos, são animais brincalhões e inteligentes, sua

comunicação é através de sons e que respiram pelo espiráculo (buraco

localizado na cabeça do golfinho que funciona como uma válvula que se

fecha embaixo da água abrindo só quando ele salta para respirar).

Pois bem, tínhamos chegado ao nosso destino descobrimos para

que servia o buraco da cabeça do golfinho: para a sua respiração. Mas um

dos alunos ainda não satisfeito pergunta: Prô, como eles não se afogam

quando comem? Não entra água pela boca?. Já respondi com outro

questionamento: Que tal descobrirmos juntos?.

Encontramos uma imagem da anatomia interna do golfinho.

Então, cada aluno fez os órgãos com massa de modelar. Surgiu o

coração, intestinos, estômago e o pulmão. Com canudinhos de

refrigerante representamos o esôfago e a faringe, com uma garrafa pet

confeccionamos o corpo do golfinho usando o gargalo como bico. As

crianças recortaram as nadadeiras com EVA e colamos com cola quente.

Foi preciso abrir a garrafa para colocarmos os órgãos. O canudo, que

representava o esôfago, foi colocado na boca e o que representava a

faringe no buraco da garrafa – espiráculo. Assim, puderam observar que

os canais eram separados não tendo contato da boca com o pulmão.

Nosso projeto foi curto, mas envolvente. Todos participaram com

muito entusiasmo e as descobertas foram acontecendo. Para finalizar e

divulgar nossos trabalhos, enchemos a piscina com balões azuis e

229

convidamos o berçário para brincarmos com os golfinhos. Foi um

sucesso.

LUA QUEM É VOCÊ?

Juliana Vargas Antunes

Elizangela Makeli Maciel Cruz

Tudo começou durante o trabalho com as lendas folclóricas no

mês de agosto de 2010, mais especificamente, com a Lenda do Dia e da

Noite. Decidimos colocar no teto da sala de aula a representação do dia e

230

da noite, com seus elementos. Ao sairmos para o pátio, surgiu a seguinte

colocação Prô, você colocou a lua na noite, mas agora é dia e tem lua!

Com isso teve início o projeto “Lua quem é você?” realizado nas

turmas de pré-escola na EMEI Abelhinhas, localizada no bairro Nossa

Senhora Aparecida, no município de Passo Fundo e teve duração de dois

meses.

As crianças faziam observações em relação à lua trazendo falas

como: Por que a lua não cai do céu? Por que ela aparece redonda e

depois quebrada? Alguém já foi à lua? Esses diálogos comprovavam a

curiosidade e o interesse que as crianças tinham a respeito da Lua.

Começamos a planejar as atividades para que as crianças

pudessem aprender mais sobre o assunto.

No decorrer do projeto, levamos sempre em consideração as

experiências, dúvidas e observações vindas das crianças. Considerando a

importância da comunidade escolar, buscamos contribuições sobre a

temática junto aos pais. Foi solicitado, como tema de casa, que os pais

escrevessem o que sabiam sobre a lua, contemplando crenças populares,

fases da lua...

Após todos os conhecimentos levantados, fomos pesquisar na

internet e em livros de física a respeito das perguntas das crianças.

Adaptamos as respostas de forma que os alunos pudessem compreender o

assunto, de um jeito menos formal.

As informações serviram de base para a estruturação da pesquisa.

Iniciamos com a observação diária da Lua durante um ciclo completo.

Estas observações foram realizadas tanto na escola quanto em casa. Em

casa, o registro era feito através de um desenho com a ajuda dos pa is. Na

231

escola, ao trazer o desenho, sentávamos na rodinha e cada um mostrava o

seu para a professora e para os colegas. Através do diálogo, as crianças

relatavam o que haviam concluído. Vale destacar a alegria, participação e

interesse que demonstravam na atividade. Surgiam cada vez mais

questionamentos, falas, e descobertas: “quando a lua que aparece durante

o dia é a lua nova”. Tal conclusão deu-se da seguinte maneira. Percebia-

se através das observações que havia somente uma lua e que durante o

mês ela passava por um ciclo de quatro fases: cheia (toda iluminada),

crescente (em forma de C), minguante (em formato de D) e a nova

(somente um anel em seu contorno).

Em todas as suas fases, a lua aparecia à noite, porém as crianças

perceberam que a lua nova era difícil de visualizar durante a noite, mas

completamente clara durante o dia com o mesmo formato da lua cheia.

Essa descoberta veio com a seguinte fala: Prô, ontem eu não vi a lua

direito, mas hoje quando saí vi ela bem direitinho e ela tá igualzinha a

lua cheia, então essa é a lua nova!. A partir dessas descobertas passamos

à parte concreta. Com materiais alternativos propusemos a modelagem

das fases da lua a partir das anotações constantes no calendário da sala.

Para descobrimos como acontecia a mudança da lua em suas

fases, realizamos uma experiência que demonstrava essa transformação.

Usamos uma caixa de sapato com a tampa e fizemos apenas um orifício

na lateral e uma bolita no centro, representando a lua. Enquanto íamos

abrindo a caixa, era possível, na medida em que a luz incidia, observar as

diferentes fases da lua. Reafirmamos a descoberta de que a lua passa por

quatro fases e as crianças disseram que a lua muda por causa da luz que

bate nela, então não tem luz própria e depende da luz do sol.

232

Comprovamos também que a Lua só aparece durante o dia quando fica

“só redonda”, ou seja, na fase nova, nomenclatura que alguns alunos já

conseguiam usar.

Assistimos aos filmes “Space Buddies” e “A chegada do homem

à lua”. Logo após os filmes realizamos, na roda de conversa, a análise do

mesmo, destacando seus aspectos mais importantes e realizando

conexões com os conhecimentos já adquiridos. Dialogamos sobre como

foi a primeira vez em que o homem colocou os pés na lua, descobrimos

que ela é da cor cinza composta de rochas e pedras. E ainda, que quando

o homem colocou os pés na lua lá deixou “pegadas” e também fixou a

bandeira dos Estados Unidos. As crianças também falaram que era

necessário muito dinheiro e uma avançada ciência para que qualquer

pessoa pudesse viajar até ela.

Para concretizar as novas aprendizagens, construímos nosso

foguete de faz-de-conta com materiais alternativos, para que pudéssemos

“voar” no mundo da imaginação. Após nossa viagem, pisamos na nossa

lua de brincadeira, que havia sido desenhada em uma cartolina branca

com formato circular. Os alunos pintaram seus pés com tinta guache

cinza carimbando a cartolina, representando assim as pegadas deixadas

na lua de verdade.

Após todas estas descobertas decidimos, juntamente com as

crianças, realizar a construção de uma maquete. As crianças coloriram

bolinhas de isopor representando as fases da lua e o sol, que foram

fixadas em um isopor representando o que realmente acontecia.

A culminância do projeto deu-se através da visita ao laboratório

de física do Instituto de Ciências e Geografia da Universidade de Passo

233

Fundo. Ao chegarmos lá, fomos recepcionados por um grupo de

estudantes de física, que nos levaram até o planetário construído dentro

do laboratório. Os alunos puderam visualizar as fases da lua e o universo

em geral, enquanto eram convidados a caminhar ao redor da lua

improvisada no laboratório. Toda esta brincadeira fez com que as

crianças reforçassem o que já haviam aprendido na sala, ou seja, que

podemos ver a lua de diferentes maneiras e que depende da luz do sol

para que ela apareça. As crianças adoraram ver tudo isso e sentiram-se os

verdadeiros cientistas analisando a lua. A todo o momento exclamavam:

Olha prô, que legal!, É que nem a que tinha lá no céu., Prô, esta lua é

mais grande que a nossa caixa, remetendo-se a experiência, Né prô, que

a lua não é de isopor que nem esta aqui.

Para a documentação deste projeto utilizamo-nos de registros

gráficos feitos pelos alunos das duas turmas, fotografias e mini maquetes

representando as diferentes fases da lua. As crianças utilizaram o material

como base para explicarem suas descobertas aos pais e à comunidade

escolar. Ressaltamos que todas as produções feitas pelos alunos foram

enviadas para casa, para que pudessem continuar compartilhando suas

descobertas com outras pessoas.

234

DONA ARANHA

Bianca Lopes Bertuol

Nalú e Silva do Amaral

Laís Rigon

O Projeto “Dona Aranha” realizou-se nas turmas do Maternal I B

e C da EMEI O Mundo da Criança, sendo que uma turma funciona no

turno da manhã e a outra no turno da tarde. As indagações surgiram,

primeiramente, na turma da tarde: prô, tinha uma aranha embaixo do

meu sofá, e tinha também o papai e a mamãe. Coincidentemente, na

manhã seguinte surgiu uma aranha na sala e um aluno da turma do

maternal B relatou aos colegas tem uma aranha na sala.

Partindo desses relatos, as professoras reuniram-se para dar

encaminhamento ao possível projeto, organizando as atividades que

235

seriam desenvolvidas, bem como capturando a aranha e colocando-a em

um pote transparente com tampa, para a observação e levantamento dos

conhecimentos prévios. Iniciou-se a pesquisa com o seguinte

questionamento às crianças: O que sabemos sobre a aranha?. Algumas

das afirmações obtidas após a conversa foram: Ela nasce da barriga da

outra aranha, Ela pica e tem veneno na boca, Dorme na folha e na terra

e gosta de se esconder na grama, Constrói a sua própria casa, ela como

formiguinhas, minhocas e toma água, Coloca ovos e dos ovos nascem as

aranhas, Não pode passar a mão porque ela pica, e tem oito olhos.

Outra atividade desenvolvida foi a pesquisa em livros, inclusive

enciclopédias, que foram disponibilizados para a turma. Neles, as

crianças puderam procurar a dona aranha e analisar as imagens

encontradas enquanto as professoras realizavam a leitura do que estava

escrito. Durante essa atividade foi possível confirmar algumas das

questões levantadas. Descobriu-se que existem várias espécies de aranhas

e que algumas realmente são venenosas. Algumas espécies fazem teia e

vivem nos cantos das casas e ainda existem aquelas que vivem em

jardins. Descobriu-se que a viúva-negra, apesar de ser pequena é muito

venenosa e seu veneno pode até matar.

Após a pesquisa foram disponibilizados materiais para que as

crianças realizassem o registro de como imaginavam a aranha, ficando

livres para suas criações. Ainda, foi realizada uma oficina com materiais

alternativos, dentre eles, fundo de garrafa pet, copo descartável, fundo de

caixa de ovos, bandejas de isopor, cola colorida, EVA, tinta guache, para

a confecção da aranha.

236

Após estas atividades deu-se continuidade à pesquisa. O que

queremos saber? E na fala das crianças ouvimos: como a aranha constrói

a sua teia, quantos ovos ela coloca e quanto tempo demora para nascer

uma aranha, se ela come minhoca ou come o que, qual é a espécie da

aranha da nossa sala, todas as aranhas têm veneno, se ela enxerga,

porque a aranha da nossa sala se escondeu na grama.

Buscando responder aos questionamentos de forma científica, as

professoras entraram em contato com o Museu Zoobotânico Augusto

Ruschi – MUZAR, da UPF. Durante conversa com a responsável para

agendamento de um horário para a visita, explicou-se que se tratava de

uma turma de educação infantil, na faixa etária de três anos.

Antes do passeio, as turmas organizaram uma lista de

questionamentos para serem respondidos pelas biólogas responsáveis, no

decorrer da visita. No Muzar foram observados vários tipos de animais,

com destaque especial para a aranha. As biólogas explicaram e sanaram

as dúvidas levantadas pelas turmas.

Não são todas as aranhas que são venenosas, depende de cada

espécie. No caso da caranguejeira, ela solta um pelinho que é tóxico e

pode causar irritação. A aranha come qualquer tipo de insetos, porém

somente as partes internas e o sangue, deixando o corpo dos insetos sem

comer. Conforme a aranha vai crescendo, ela passa por um processo de

troca de pele, chamado Ecdise. Pode ter de cinco a oito olhos. E

descobriu-se também, que a aranha que a turma tem na sala é uma

Tarântula, que tem veneno sim, e é conhecida como aranha de jardim. O

nome do ovo que a aranha coloca chama-se “ooteca” e dentro dele pode

conter até oitocentos ovos, geralmente, a aranha carrega a ooteca presa ao

237

seu corpo. O predador da aranha é a vespa, que coloca sua larva em cima

do corpo da aranha para alimentar-se do corpo.

Ao retornarmos do passeio foi elaborado um cartaz com os

conhecimentos científicos adquiridos. Com base nisso, foi confeccionada

uma aranha utilizando-se a mão como carimbo. As professoras

questionaram quantos dedos seria preciso pintar para que a aranha ficasse

com oito patas. Foi realizada a contagem com o grupo, comparando-se

com a aranha da sala para verificar se a quantidade era a mesma.

Em outro momento, a professora mostrou em uma régua o

tamanho que uma aranha caranguejeira poderia ter, cerca de 20 cm. Neste

momento, um aluno fez a seguinte colocação. Prô o número do meu tênis

é 20, igual ao tamanho da aranha.

Partindo dessa afirmação, a professora fez o contorno do pé de

todos os alunos, pegou uma régua e marcou o tamanho real de cada um,

fazendo uma comparação com o tamanho da aranha.

Partindo de todo o trabalho de pesquisa já realizado, pensamos

numa atividade que envolvesse a família da criança. Foi enviada para

casa uma folha, na qual a família e a criança deveriam construir um

pequeno texto que apresentasse suas curiosidades ou informações sobre a

aranha. Juntamente com o texto, deveriam confeccionar uma aranha

utilizando materiais diversos que ficaram a seu critério.

As famílias colaboraram enviando o texto e a aranha solicitados.

Durante a rodinha, as crianças, muito contentes, apresentavam aos

colegas suas criações, relatando quem havia auxiliado na confecção e o

que tinham utilizado.

238

A aranha conviveu com as crianças por quase dois meses.

Cotidianamente, professoras e alunos, precisavam catar moscas e insetos

vivos para alimentá-la. Por isso, foi um pouco triste ter que soltá-la em

seu habitat natural.

As aranhas confeccionadas e todos os outros materiais

pertencentes ao projeto foram expostos na escola. Para finalizar o

projeto, convidamos a comunidade para apreciar os trabalhos e

compartilhar dos conhecimentos adquiridos. A exposição foi aberta para

outras turmas e para os pais. Nesse momento, cada criança pode falar

sobre a sua aranha, além de expor as aprendizagens que construíram no

decorrer das atividades.

239

ÁRVORE

Gelcy Cristina de Souza Castejon Branco

Graziela de Quadra

Rúbia B. Ractz

Tuizi Ferreira Theodoro

O projeto surgiu da derrubada de árvores no campo que fica

próximo à escola, fato que, durante uma semana, chamou muita atenção

das crianças ao virem para a escola e ao brincar no parquinho, tornando

até de difícil a concentração em outras atividades de rotina. Dentre os

240

seus questionamentos e afirmações destacaram-se: Prô, porque estão

derrubando os eucaliptos? Por que estão tirando as árvores? Será que

caiu em cima de alguma casa? Tão tirando prá fazer lenha, porque tá

frio? Não, tiraram as árvores para construir casas, para ter espaço.

O desenvolvimento do projeto se deu da seguinte forma:

primeiramente ocorreram as rodinhas de conversa sobre as possíveis

causas da derrubada das árvores; acompanhada da observação do corte

das árvores, inclusive a poluição aos arredores; depois foram

confeccionados cartazes em protesto contra a derrubada das árvores e

também em comemoração ao Dia do Meio Ambiente, onde as próprias

crianças, junto com a professora, produziram frases. Foi feita uma

passeata nas imediações da escola e, como última atividade, realizou-se a

adoção e o plantio de árvores no pátio da escola e fora dela.

Para realizarmos as atividades citadas acima, conversamos com

alguns moradores das proximidades da derrubada, também conversamos

com os pais, realizamos pesquisas na internet, em livros, assistimos a

filmes e lemos histórias. Ainda conversamos com o presidente da

associação do bairro e com uma moradora, pois teriam outra versão sobre

o corte das árvores. Uma palestra realizada com um ambientalista

também contribuiu muito com as reflexões.

A partir das reflexões realizadas nas rodinhas, as crianças

puderam observar os diferentes tipos de mudas de árvores, trazendo à

tona a discussão de que há árvores que dão frutos e outras não,

possibilitando até a ligação com outro projeto Frutas, já existente na

escola.

241

Também na roda da conversa iniciou-se a discussão sobre a

hipótese de adotar e plantar uma árvore para compensar a perda ocorrida,

discutiu-se sobre: Onde conseguir uma árvore? Quem ajudaria a plantar?

Porque tem que cavar bem fundo. Qual o melhor lugar para plantar essa

árvore? O que precisamos para o plantio? Entre os combinados

decidimos que necessitaríamos de ferramentas, balde para molhar a terra,

ripas para fazer um cercado de proteção e uma placa com o nome da

árvore.

Durante o desenvolvimento do projeto as crianças se mantiveram

bastante envolvidas, dando sugestões, auxiliando no plantio e regando a

árvore.

242

QUEM BOTOU O LIXO ALI?

Ana Lúcia Rocha Neitske

Dagmar Zanatta

Este tema foi escolhido pelo grupo de crianças do maternal, pelas

observações que foram feitas na parte externa da escola. Todas as

manhãs as crianças ao chegar a nossa escola se deparavam com o lixo

espalhado pela vizinhança. Ouvimos e mapeamos as falas, fomos a

campo com a turma. Coletamos informações com familiares, ouvimos

alguns vizinhos, professoras e comentários em geral. Iniciamos

questionando o que poderíamos fazer, contando histórias, registrando

com massa de modelar, desenhos, tintas... E visitamos algumas vezes o

lixo para buscar materiais que poderíamos usar em nossas atividades

(garrafas pet, madeiras, cabos, tampas de potes, latas...), nós as

professoras usamos luvas e limpamos os materiais para serem

reutilizados sem oferecer nenhum perigo para as crianças.

Fizemos alguns brinquedos com esses materiais que estão sendo

utilizados com entusiasmo, entre eles: o cavalinho de pau, a banda de

latas, garrafa do Saci, roda a roda. Os pneus que inicialmente vieram para

fazermos o jardim viraram brinquedos para todas as turmas, cada um de

acordo com seu interesse brinca da maneira mais significativa para si e

alguns foram separados para organizar o nosso jardim.

Acompanhar a limpeza pesada do lugar onde eles planejam

transformar em jardim, ouvir as pessoas que vieram fazer essa limpeza e

também questionar o que aconteceu ali e para onde vai esse lixo faz com

que eles tivessem mais ideias e interesse em fazer diferente, em mudar o

cenário.

243

As crianças trouxeram mudas de flores e a terra preparada de casa

onde iniciamos os jardins suspensos, fizemos um na janela de nossa sala

com ajuda das mães e outro na grade que temos na entrada da escola.

Também plantamos girassóis e alpiste, cuidamos e observamos as plantas

crescerem seguidas de histórias e músicas. O interesse das crianças em

manter contato com a terra, plantar, só cresce.

Usamos a nossa bandinha de latas para comunicar o que está

acontecendo nos arredores da escola, e a vizinhança nos observa e com

certeza já temos uma pequena mudança de hábitos com relação ao lixo.

Poderíamos usar a expressão “do lixo ao jardim” que estaria

muito bem empregada, mas esse projeto foi se desenrolando de uma

maneira diferente as crianças trouxeram uma preocupação externa para

dentro da escola.

As crianças se mostram interessadas e envolvidas, pedem

histórias, querem plantar mais e trazem questionamentos e ideias sobre o

que podemos fazer. Por isso nós enquanto escola, buscamos ajuda de

outros segmentos e vamos dar continuidade a esse projeto. O que o que

fizemos até aqui está registrado com fotos e exposto na entrada da escola

para que a comunidade possa conhecer e também contribuir com a sua

parte.

244

FRANGO

Eliane Casagrande de Lima

O projeto frango teve início na sala de aula, em uma roda de

conversa, quando a professora do Maternal II contava uma história do

Pintinho Carijó de Gerusa Rodrigues Pinto, onde um dos alunos faz a

seguinte colocação: Prô! Existem galinhas de várias cores né! E a

professora respondeu: Sim, você tem em casa? Não, mas sei que tem

galinhas de várias cores. Em seguida outro fala: Prô ! Lá em casa nós

temos na gaiola. Então começa uma conversa sobre: Aonde elas vivem?

De que se alimentam? Todos se incluíram no diálogo sobre as galinhas.

245

Diante dos questionamentos e curiosidades que se repetiram

resolvemos abordar o tema FRANGO mais profundamente. O início

ocorreu quando a professora contou a história Era uma vez um ovo de

Cecília e Felipe, e ao conversar sobre a história, inesperadamente, eles

falaram as mesmas coisas sobre os frangos e fizeram mais algumas

colocações, falando que: gostavam de comer ovos, alguns não gostavam,

galinhas tinham penas e cachorro não.

Considerando os relatos colocamos em uma caixa feno, ovos de

várias cores, fizemos um ninho e levamos para a sala de aula, os alunos

olhavam admirados e perguntaram: Prô! Por que os ovos são de cores

diferentes? A professora explicou que, depende da raça, de estar solta, é

o caso das galinhas caipira tratadas com milho e as de aviários que

seriam as poedeiras tratadas com ração para postura, por esse motivo

teriam as cores diferentes, mas as vitaminas seriam as mesmas. Dando

continuidade contamos quantos ovos havia no ninho. Em um prato

quebramos um dos ovos e mostramos suas partes - gema e clara. Um dos

alunos questionou: Prô, por que tem isso? Era um pontinho na gema.

Assim, as crianças ficaram sabendo que aquele ponto era onde formava o

pintinho, que as galinhas chocavam os ovos (ficam sobre os ovos e com o

calor do corpo das mesmas aquecem os ovos) durante 21 e dias, depois

disso descascavam os ovos e nasciam os pintinhos, mas que nem todos os

ovos tinham pintinho dentro. O porquê foi inevitável e nova descoberta

ocorreu.

Na sequência a professora falou aos alunos que eles iriam receber

um convidado especial – um pinto – as crianças tocaram, olharam as

246

penas e o alimentaram. Chamou atenção que logo após alimentarem o

pinto ele evacuou, surgiu daí uma comparação com as pessoas.

Depois cozinhamos, fritamos e fizemos gemada dos ovos e

realizado um momento gourmet onde todos inclusive aqueles que falaram

que não gostavam de ovos experimentaram. Diferenciamos doce do

salgado falamos de alimentos saudáveis, com as cascas que os alunos

descascaram os ovos fizemos colagem. Tivemos um momento musical

cantamos e fizemos gestos da música Pintinho Amarelinho. Em uma

folha encontramos nos ovos a letrinha inicial do seu nome e envolvemos

com pedacinhos de lã.

Continuamos assistindo ao filme A fuga das galinhas, onde

mostra um fazendeiro colhendo ovos na sua granja para vendê- los e

alguns frangos eram abatidos para a produção de tortas. Após o filme a

professora perguntou o que gostariam de desenhar com cola brilho, e os

alunos escolheram desenhar os ovos e os bolos.

Em outro momento com ajuda dos pais trouxeram figuras de

diferentes animais, com as quais fizemos um cartaz separando os animais

que possuem o corpo coberto por pelos daqueles que tem penas.

Findando o projeto confeccionarmos um pintinho com material

alternativo como: pratos descartáveis, formas de docinho e garfinhos e

colocamos no álbum de fotos dos registros do projeto frango.

247

POR QUE A BORBOLETA ESTÁ PARADA?

Joselene Fontana de Souza

O interesse das crianças pelo tema “Borboletas” surgiu no final do mês

de junho em uma tarde quente e ensolarada. A turma do Pré I, composta por 15

alunos, na faixa etária dos 4/5 anos, estava no horário da entrada, quando o

aluno “João Gabriel” chegou na sala e viu uma borboleta na parede. O aluno

logo questionou a professora:

- Prô! Por que a borboleta está parada?

Antes que a professora pudesse responder ao questionamento, outros

alunos responderam:

- Ela esta parada porque está cansada de tanto voar.

- Os carros fizeram barulho lá em cima, e ela veio aqui na nossa sala.

Mas se a gente fizer barulho ela vai para a outra sala.

248

Neste momento toda a turma começou a fazer colocações sobre as

“Borboletas”. Percebi então que seria um bom tema para ser trabalhado, pois

envolveria vários assuntos que desafiariam as crianças intelectualmente,

atendendo as metas e padrões estabelecidos para o trabalho com projetos.

O ponto de partida do projeto foi a realização de uma roda de conversa.

À medida que fui ouvindo e interferindo no assunto, os alunos me

surpreenderam com suas colocações, entre elas: As borboletas voam longe.

Elas voam que nem os passarinhos. Mas elas não são passarinhos, elas eram

uma minhoquinha. Tinha uma vermelha lá no sofá da minha vó. Borboleta é

com B de Betina e de bola.

Ao terminar este primeiro passo de investigação percebi que vários

conceitos poderiam ser trabalhados. A seguir, começamos a construir uma rede

temática com eles para determinar o novo nível de conhecimento sobre o

assunto. As questões não foram coletas de uma só vez, mas ao longo do

processo.

À medida que observei os conceitos e as informações contidas na rede,

percebi que algumas áreas do conhecimento poderiam ser trabalhadas, entre

elas: linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e artes. Partindo disso,

começamos a realizar atividades que expandiriam o interesse dos alunos pelo

tema.

Partindo da leitura do poema “Borboleta de Vinícius de Moraes”

realizamos uma roda de conversa onde todos os alunos fizeram suas colocações

sobre o que ouviram. Os alunos exploraram muito as cores e as rimas do poema,

bem como a repetição da palavra “borboleta” e mais algumas palavras que

iniciam com a letra “B”. Realizamos uma listagem destas palavras e

combinamos que na próxima aula iríamos trabalhar com estas palavras.

249

Retomamos o poema onde os alunos localizaram as palavras que

iniciavam com “B” e as circularam. E, para finalizar os trabalhos do dia,

representaram o poema através de desenho e a dobradura de uma borboleta.

Como havíamos combinado na aula anterior, dei continuidade ao

trabalho explorando a lista das palavras que iniciavam com “B”, desafiando os

alunos a descoberta de novas palavras (escrita, som, topografia, com ênfase na

primeira letra). Os alunos realizaram o desenho das palavras e escreveram o

nome (conforme sua hipótese de escrita).

No intuito de aumentar o interesse dos alunos e não deixar abrandar sua

curiosidade sobre as borboleta, optei por trabalhar com a história “Romeu e

Julieta de Ruth Rocha”, pois através desta literatura vários conceitos

importantes e fundamentais do desenvolvimento infantil poderiam ser

trabalhados, entre eles: cores, tamanhos, diferenças e semelhanças.

No primeiro momento foi realizada a leitura da história e seu reconto

pelos alunos. Neste momento várias observações e colocações acerca da história

foram feitas, entre elas: O Romeu era um menino, e era azul. A Julieta era

menina, ela usava vestido. Eles moravam com a família, que nem a gente. Eles

voavam para todos os cantos e quando cansavam paravam... Que nem a

borboleta que estava na nossa sala. A gente não pode matar as borboletas

porque elas enfeitam tudo e fica muito colorido.

O registro da história foi realizado através de desenhos. Neste momento

os alunos mostraram uma grande preocupação com os pequenos detalhes da

história, as cores e as formas dos personagens principais; entre eles

conversavam para que nenhum detalhe fosse esquecido.

Dando sequência às atividades, ouvimos a história novamente; porém,

narrada pelo “Palavra Cantada”. Montamos um painel coletivo com as

borboletas feitas de dobraduras e, através das montagens e desenhos,

enfatizando as cores e as diferenças e semelhanças entre Romeu e Julieta e as

250

borboletas do nosso meio. Durante a organização e montagem do painel, os

alunos demonstraram novamente a preocupação com os detalhes da história, a

utilização de diversos materiais como: tinta guache, canetinha, cola colorida,

papéis, foi muito importante para que os alunos decidissem o que cada um faria

e qual material deveria utilizar.

Ao terminar a montagem do painel e, enquanto a professora o fixava, os

alunos foram recontando partes da história, o que na verdade mais chamou a

atenção das crianças. Das falas, destaco a da Vitória: Agora o Romeu e a Julieta

vão ficar parados aqui na nossa sala para descansar... Que nem a borboleta

que estava aqui outro dia.

Pedimos aos pais que ajudassem as crianças a encontrar imagens de

borboletas em jornais, revistas ou livros e escrevessem um pouco sobre elas.

Essa fase foi permeada por múltiplas interpretações, entre elas: a importância de

trabalharmos com aspectos da natureza; valorização do trabalho;

responsabilidade dos pais.

Decidimos então montar um pequeno “livro” com as falas dos pais e

com as gravuras trazidas. Como não poderia ser diferente na montagem e

exploração do “livro”, uma aluna disse aos colegas: Quando minha mãe “estava

cortando” minha borboleta (figura), ela disse que as borboletas nascem de uma

minhoca, que é que nem um “mandruvá”.

Percebi então que este seria o momento de dar continuidade,

trabalhando com o eixo da “Natureza e Sociedade” explorando elementos

acerca da metamorfose das borboletas.

O trabalho teve início com a leitura da história “Borboletas de Rita

Foelker” e, no decorrer da leitura, vários questionamentos e observações acerca

do livro começaram a ser realizados. Porém, o que mais chamou a atenção dos

alunos foi a descoberta que a borboleta é um inseto, pois é pequena, não tem

ossos e realiza a sua metamorfose.

251

- Mas como acontece esta metamorfose? Para explicar melhor utilizei

um painel montado em EVA com todo o processo da metamorfose, aumentando

o interesse e a curiosidade dos alunos. Durante a explicação os alunos ficaram

observando atentamente cada passo. Vários questionamentos e afirmações

surgiram, entre eles: A borboleta nasce de um ovinho. Tem que dizer para meu

irmão que a gente tem que cuidar das lagartas e dos casulos. Prô, as lagartas

não têm que ter uma casa para morar? (Betina) A casa delas é o casulo.

(Henri)

Neste momento acredito ter estimulado nos alunos a curiosidade não só

pelos animais, mas a descoberta da possibilidade de transformação e cuidados

com os seres vivos.

Sendo assim, num primeiro momento os alunos realizaram de forma

criativa, divertida e integradora, o desenho da “metamorfose”, fazendo a relação

entre ovo/lagarta/casulo/borboleta. Dando continuidade, confeccionamos um

móbile da metamorfose. Antes, todas as quatro etapas da metamorfose,

confeccionadas em EVA, foram misturadas e os alunos deveriam encontrar

todas as peças para a construção de seu móbile.

Durante a realização desta primeira parte da atividade alguns alunos

encontraram dificuldades em localizar todas as peças e acabaram pegando duas

peças iguais, necessidade de intervenção da professora. Porém, a troca das

peças foi solucionada com a ajuda dos colegas que já estavam com todas elas na

mão. Após terem encontrados todas as peças, cada aluno enfeitou usando sua

criatividade com cola colorida, cola glitter e alto relevo. Para finalizar,

receberam os barbantes e com ajuda da professora montaram seu móbile.

Acredito que a atividade tenha sido de extrema importância, pois no

horário da saída os alunos chegavam na porta com o móbile e já queriam contar

para pais, irmão, avôs... o que era aquilo; como ocorria o processo da

metamorfose.

252

Na medida em que as atividades foram se desenvolvendo os alunos

foram elaborando e reelaborando os seus significados sobre o que vivenciavam.

Entretanto, permaneciam inquietos em relação às borboletas e, percebendo à

ansiedade deles em relação ao assunto, planejamos uma visita ao Museu

Zoobotânico Augusto Ruschi – Muzar, localizado na UPF.

Antes do passeio realizamos os contatos necessários para que fossemos

recebidos no Muzar, explicando aos responsáveis o surgimento do projeto e o

seu desenvolvimento, bem como explicando a importância do passeio para que

os alunos pudessem visualizar borboletas e o processo da metamorfose.

Fomos recebidos pela responsável e algumas estagiárias nos deram

alguns avisos gerais a respeito do passeio (o que pode/o que não pode) e de uma

forma muito alegre questionaram os alunos: Contem para nós... O que vocês

vieram ver aqui no museu? Muito alegres e falantes, em “coro” responderam:

As borboletas...

De uma forma muito alegre e divertida iniciamos a vis ita.

Durante as explicações da “guia”, um aluno disse: Você sabe... tinha uma

borboleta lá na nossa sala, ela “tava” parada, bem quietinha... (Luiz

Fernando).

Neste momento aproveitamos a colocação feita pelo aluno

(guia/professora) e retomamos a pergunta inicial do projeto: POR QUE A

BORBOLETA ESTAVA PARADA?

Segundo a explicação que recebemos as borboletas estão em muitos

lugares, voam pelos ares e são coloridas. Na cabeça tem um par de antenas, um

par de olhos, e a boca é que nem um canudinho. Elas tem diferentes cores e

formas (asas) fogem do inverno, gostam mesmo é do calor, do sol.

Como nós, as borboletas gostam de mudar de ares; voam mais de três

mil quilômetros em menos de quatro semanas e, quando se cansam, pousam nas

flores ou em locais calmos para descansar, não ficam muito tempo em um

253

mesmo local. Então aquela borboleta que estava na sala de vocês, estava parada

lá para descansar, assim como todos nós descansamos. Depois iria voar muito,

muito, comer e descansar novamente.

As borboletas fazem parte da natureza e a gente precisa preservar a

natureza. Se as pessoas conhecerem e cuidarem das borboletas também cuidam

da natureza.

Todo o planejamento nos levou ao sucesso da visita, pois nossa “guia”

dentro do “Muzar” foi muito acessível e percebeu o quanto os alunos estavam

interessados naquelas descobertas acerca das borboletas e como tudo aquilo

contribuiria na vida daqueles pequenos investigadores, explicando com

paciência e satisfação a todas as perguntas.

No dia seguinte da visita, realizamos uma roda de conversa para que

cada aluno pudesse expor o que tinha sido mais significativo durante o passeio e

várias colocações foram realizadas, entre elas: Eu gostei das borboletas que só

voam de noite. Eu não gostei porque elas eram pretas. Eu gostei de ver as

lagartas, na foto que tinha “um monte”. As borboletas eram bem coloridas.

Após as colocações dos alunos, retomei a pergunta inicial do projeto e a

resposta dada pela “guia”, pois a mesma seria fundamental para a conclusão de

nosso projeto.

Retomamos questões importantes sobre: a preservação do ambiente e

dos seres vivos; valorização e a proteção as diferentes formas de vida; atitudes

de solidariedade e respeito ao próximo e aos seres vivos.

O registro do passeio foi realizado através de desenhos, nos pequenos

grupos iam conversando entre si e desenhando. Porém, o que mais me chamou a

atenção foi que muitos alunos desenharam “várias pessoas de mãos dadas” ao

serem questionados por mim sobre o que era aquilo, a resposta: Nossa fila!!!!

Quando a gente estava chegando lá no “museu” para ver as borboletas. Para

254

encerrarmos as atividades da tarde foram distribuídos aos alunos quebra-cabeça

da metamorfose da borboleta.

Para encerrarmos os trabalhos acerca das borboletas, usamos o livro “

A Lagarta e a Borboleta de Eunice Braido”. A contação da história aconteceu

na rodinha, os alunos puderam ouvir e recontar a história. Durante o reconto da

história percebemos que os alunos não esqueçeram dos detalhes da narrativa;

imitaram de forma lúdica e divertida a cara que a “Larva Cris” fazia quando se

olhava no espelho e o tamanho que a ela ficou de tanto comer. O registro da

história foi realizado através de desenho e com a confecção de uma borboleta de

garrafa PET. A construção da borboleta foi importante não só para o registro da

história, como também para o desenvolvimento de todo o projeto, pois falamos

muito em “Borboletas”, mas até então não tínhamos construído uma réplica.

Durante esta construção cada aluno escolheu um nome para sua

borboleta, suas cores e os detalhes individuais de cada uma e brincaram entre si

com as suas borboletas.

Acredito que a nós professores cabe a responsabilidade de propor

problemas, criar situações que permitam às crianças descobrir novos

aspectos do objeto estudado, estabelecendo relações entre elas e seus

conhecimentos prévios. É importante lembrar que a aprendizagem é

ampliada à medida que os conteúdos não se limitam a uma única fonte de

informação.

Desta forma, o projeto possibilitou aos alunos descobrir novas

situações, validando e rejeitando hipóteses antigas acerca do “por que

aquela borboleta estava parada na nossa sala”, levando-nos à conclusão

de que devemos respeitar, proteger e valorizar as diferentes formas de

vida, pois assim como nós, aquela borboleta se “cansa” e naquele

momento estava em nossa sala para descansar.

255

O envolvimento do grupo com o projeto foi tão grande que no seu

fechamento foi possível montar um álbum de memórias dos alunos para

serem compartilhados com seus colegas e familiares, formando assim a

memória pedagógica do projeto, pois tudo foi devidamente fotografado e

arquivado.

BRINCAR E APRENDER NA ERA DIGITAL

Pâmela Pol Saraiva

A ideia do projeto “Brincar e Aprender na Era Digital”, da EMEI

Geny Araujo Rebechi, surgiu na semana do Dia dos Pais, quando

estávamos confeccionando um presentinho com a foto do aluno. Para

isso, utilizei meu celular para tirar as fotos e no outro dia trouxe-as

256

impressas. Foi aí que apareceu o primeiro questionamento: Prô, como a

foto do teu celular foi parar aí? No momento dei uma resposta um tanto

quanto superficial e notei que não havia sido suficiente, então fiquei

instigada com a possibilidade de criar um projeto em cima do tema. Em

outra aula, trouxe o meu notebook para uma atividade e o interesse e

curiosidade pelo aparato eletrônico foi geral: Prô, me ensina a mexer?,

diziam vários alunos. Esta foi a questão decisiva. Precisava desenvolver

um projeto que suprisse essa necessidade.

Para saber mais enviei um questionário às famílias, com questões

relativas ao tema. Com o retorno, notei que mais da metade das crianças

não tinham acesso ao computador.

Iniciamos as atividades com uma roda de conversa, avaliando o

que as crianças já sabiam sobre o tema e o que eu poderia acrescentar.

Percebi que a maior necessidade e interesse das crianças era o contato

direto com o computador. Também, neste dia fizemos o “Show da

Fantasia”. Usamos a mala de roupas antigas e algumas fantasias, que há

na escola. As crianças caracterizaram-se como preferiram e, em grupos,

fizeram uma apresentação a sua escolha. Neste momento, minha tarefa

foi a de filmar tudo. Em seguida, utilizamos o cabo para transferir os

vídeos para um notebook. Assistimos a todos eles. A empolgação foi

tanta que uma vez só não foi o suficiente.

Durante todo o período de realização do projeto fiz filmagens e

tirei fotos das crianças com celular, filmadora e máquina fotográfica.

Elas sempre tiveram acesso a estes registros. Aliás, em alguns momentos

eram elas que tiravam as fotos, como no dia em que fizemos um passeio

pela escola para cada criança escolher um espaço e fotografar. A partir

257

das fotos, fizemos um mapeamento da escola e também uma releitura das

imagens. Cada criança registrou através de desenhos, a sua foto.

Utilizamos as fotos para fazer um jogo de memória.

Vimos as partes que compõem o computador e cada criança

construiu uma delas com sucata: cpu, monitor, mouse e estabilizador.

Depois de conhecermos as partes do computador, partimos para o seu

uso. Cada aluno, com a ajuda de uma ficha, escreveu o seu nome no

word, salvamos tudo em um pendrive e nos dirigimos até a secretaria da

escola para imprimimos todas as escritas.

Disponibilizei para as crianças alguns jogos educativos em CD-

Room e foi um desafio controlar o mouse! Ainda com o computador, as

crianças fizeram desenhos no Paint, que imprimimos juntos. O momento

que as crianças mais adoraram, foi a conversa na Web Cam, quando um

grupo de crianças estava em outra sala da escola, acompanhados de uma

assistente, e puderam conversar entre si. Por fim, visitamos o Laboratório

de Informática da UPF, onde foram desenvolvidas várias atividades

extremamente significativas.

Mais uma vez pedi ajuda aos pais, para que enviassem à escola

objetos tecnológicos antigos ou que não funcionassem mais. Com isto, as

crianças tiveram a oportunidade de brincar, exercitando sua capacidade

de colocarem-se no lugar de quem usava esses aparelhos, imaginando e

recriando situações. Foi um momento muito significativo, repetido várias

vezes.

Comparamos telefones convencionais e telefones celulares e, no

quadro, fizemos uma lista das funções e tarefas de cada um deles. Em

258

seguida, escrevemos o número do telefone da escola e as crianças

fizeram um desenho alusivo ao telefone convencional e ao celular.

Fizemos uma tarde especial de cinema, assistimos alguns vídeos,

preferidos pelas crianças, do You Tube, no Datashow.

Neste dia também, analisamos as imagens de duas obras de

Glauco Paiva e construímos uma escultura com sucata tecnológica. As

crianças a batizaram de “Babu”.

Como forma de comunicar o nosso projeto à comunidade,

fizemos, dentro da escola, uma exposição aberta, com todas as atividades

realizadas durante o projeto. Além disto, foi exposto todo o material

tecnológico antigo que havíamos conseguido e que formavam o que

chamamos de Museu da Tecnologia. Também um Datashow com as

imagens e filmagens das crianças durante o período do projeto, foi sendo

exibido, enquanto a comunidade apreciava os trabalhos.

259

SARDINHA - “O QUE É ISSO?”

Bibiane Sanches Dornelles Ferreira de Oliveira

A turma do maternal, da EMEI Margarida, interessou-se muito

pela sardinha. A sardinha foi incorporada ao cardápio da escola neste

ano, por conta disso os alunos tiveram uma nova experiência de

alimentação, contando com comidas diferenciadas do habitual. A

novidade da sardinha na alimentação do Maternal fez surgir diversos

questionamentos sobre “o que era aquilo que eles estavam comendo”. O

primeiro contato da turma com esse alimento foi polenta com molho de

sardinha, sendo que o gosto era diferente e as crianças começaram a

perguntar: O que é isso?, Isso é peixe?, Eu comi peixe com o meu vô!,

Que peixe é esse?, Quem pescou o peixe?.

Elaboramos e enviamos um questionário para as famílias,

perguntando se sabiam de onde vinha a sardinha e se comiam esse

alimento em casa. As respostas aos questionários foram tabuladas e

organizadas em um gráfico pelas crianças, para ver quantas famílias

comiam sardinha. Ainda, fizemos uma exposição das respostas obtidas

com as famílias sobre a enquete enviada para casa. Construímos um

quebra-cabeça da sardinha, em EVA, para ser montado por cada criança.

Pesquisamos na internet de onde vinha a sardinha, como ela era,

como vivia e como ia parar dentro da lata. Observamos fotos de seu

habitat e conversamos sobre essas descobertas. A partir disso

construímos um cartaz em que fizemos o mar com diferentes papéis e as

sardinhas em dobraduras. Nas pesquisas, descobrimos que existem

animais que comem sardinha, como a baleia-sardinheira. Organizamos

260

outro cartaz com esta baleia, no mar, comendo as sardinhas, que haviam

sido pintadas pelas crianças.

Direcionamos o olhar para a cor e a pele da sardinha.

Descobrindo que ela tinha escamas e para que estas serviam, as crianças

colaram papéis redondos feitos pelo perfurador de papel sobre o corpo de

suas sardinhas.

Montamos um mural com recorte e colagem de gravuras de

jornais e revistas, sobre a sardinha. Selecionamos uma notícia falando

dos nutrientes da sardinha para ser levada para as famílias, com um

questionário sobre o que acharam importante na reportagem.

Procuramos na comunidade por pessoas que soubessem algumas

receitas que tivessem como ingrediente, a sardinha. Registramos em um

cartaz as receitas de polenta com sardinha, massa com sardinha,

sanduíche de sardinha. Também construímos um livro com as receitas

coletadas com a comunidade e com as famílias.

A turma participou da preparação de uma receita com sardinha.

Viram como a cozinheira preparava e quais os ingredientes utilizados.

Ela nos mostrou as latas de sardinha e abriu-as para vermos onde estava

acondicionada a sardinha que eles comiam. Cada criança que quis,

experimentou um pouco da sardinha da lata. Alguns não quiseram

experimentar, pois estava crua, outros porque ela estava morta. Quando o

lanche ficou pronto quase todos saborearam o prato.

As embalagens utilizadas na receita, bem como as quantidades de

cada ingrediente compuseram um painel. Além disso, fizemos a

comparação da quantidade de sardinhas ingeridas por uma pessoa, em

uma refeição e os animais que também se alimentam deste ingrediente.

261

Tivemos também a presença de uma nutricionista, que nos falou

sobre as propriedades nutricionais da sardinha e seus benefícios à saúde.

Para comemorarmos o Dia dos pais, preparamos um sanduíche de

sardinha para oferecer a eles, que estariam na escola para um lanche

festivo. O sanduíche foi preparado e experimentado pelas crianças, com

os ingredientes trazidos por elas.

Divulgamos para as outras turmas da escola como era bom comer

sardinha e fizemos as receitas do livro para serem experimentadas pelos

outros colegas da escola. Depois cada criança levou um livro de receita

para sua família.

262

LÁPIS

Elda Terezinha da Silva

Jossemari Moreira

Lisiane Ceolin Lima

O projeto “Lápis” apresenta uma proposta de ação para as

crianças do Maternal I, atendidas na EMEI Padre Zezinho. Ao chegarem

à escola, as crianças têm como rotina colocar as mochilas no lugar

designado para cada um. Naquele dia ao fazer isso, o Guilherme falou

que na sua mochila não tinha lápis, só o seu irmão tinha lápis na mochila.

Neste momento, outros colegas ouvindo a fala dele também

manifestaram opiniões semelhantes.

Para ampliar as informações que as crianças tinham sobre o lápis

foi organizada uma roda para observar, conversar e pensar sobre uma

caixa de lápis cor e de escrever colocados em cima da mesa. Surgiram

inúmeras colocações: Eu quero fazer letrinhas com o lápis., Eu vou

desenhar meu nome., Minha mãe pinta o olho com este lápis ((preto).,

Esse lápis é da cor da árvore. (verde), Vou pintar um avião.(lápis de

cor), Tem caminhão branco., Esse lápis é do Grêmio.(azul), Esse lápis é

do time do meu pai. (vermelho), Essa cor é do sol.(amarelo), Quero

desenhar bolinhas. (círculos). Percebemos então, o quanto este

momento foi interessante ao grupo e traçamos os objetivos para este

projeto envolvendo o lápis.

Com essas informações, o professor é o principal responsável

pelo planejamento das atividades que auxiliarão na investigação do

problema em questão no projeto. Nesta perspectiva, buscamos organizar

263

as ações pedagógicas considerando também as contribuições do nosso

referencial curricular ao mapear os percursos de trabalho.

A vontade das crianças em desenhar bolinhas permitiu que se

trabalhasse com formas geométricas e contagem de quantidades.

As várias citações a respeito de cores serviram de base para que

se aprofundasse a aprendizagem a cerca dos nomes das cores, sempre

associando a elementos conhecidos pelas crianças. Também trabalhamos

as músicas “Pequeno Girassol”, “Arco- íris”, “Aquarela“, “O lápis gira,

gira”, entre outras, com ênfase para as cores. Construímos um painel com

tinta, retratando a música Aquarela.

O uso social do lápis, fazer marcas e, mais especificamente, a

escrita, aliadas a vontade de escrever foram trabalhadas com a escrita dos

nomes dos alunos. Pesquisamos com os familiares a origem do nome de

cada criança e depois a família enviou um desenho para a escola.

Fizemos uma pesquisa sobre o lápis, sua utilidade e forma de

fabricação e após modelamos um lápis.

Para diversificar as fontes de pesquisa realizamos visita a uma

papelaria, a Papelarty. Lá, as crianças puderam ver a variedade de

materiais existentes. Observaram os diferentes tipos de lápis e suas cores,

as embalagens em que estavam acondicionados e a característica de cada

lápis, em relação a sua função: escrever, pintar. Conversamos sobre os

formatos, tamanhos, grossuras, quantidades nas caixas.

No retorno à escola confeccionamos lápis em EVA, palitos de

picolé e garrafas pet, que foram usados para contagem e classificação de

elementos de acordo com seus atributos.

264

As obras literárias também se fizeram presentes. Foram lidas para

as crianças: ”O lápis Mágico”, “De letra em letra”, “De todas as Cores”,

“ABC Curumim já sabe ler...”. Os alunos registraram as histórias com o

uso de diferentes lápis: giz de cera, lápis de cor, lápis de escrever.

Os materiais produzidos foram expostos para a comunidade

escolar e as crianças encenaram a música Aquarela, no dia em que houve

a exposição.

DE ONDE VEM O LEITE?

Enir dos Santos Tormes

O projeto “De onde vem o leite” aconteceu na EMEI Sonho

Encantado, na turma do Maternal I. Ele foi pensado a partir do interesse

das crianças em saber de onde vem o leite: Da teta da mãe? Da

mamadeira? Da vaca?.

265

Estas indagações estavam presentes durante a aula e nas

brincadeiras com as bonecas, trocando fraldas, dando comidinha, dando

mama no peito ou na mamadeira, além do fato de que algumas destas

crianças terem sido desmamadas durante esse ano. Muitas vezes os

comentários apareciam: Você tem teta prô?, A tua teta é grande!, Deixa

eu ver tua teta?, Tem mamá aí?, A minha mãe Grazi tem teta!, O pai

aperta a teta da mãe!, Eu tenho teta! (levantando a blusa e mostrando

seu peito, tanto meninos quanto meninas), A minha teta vai crescer?, Eu

mamava na teta da minha mãe!

Na turma também tinha crianças que conviviam com animais no

sítio de seus avós e traziam experiências vivenciadas com animais.

Quando brincavam com os amimais da fazenda ou da selva, sempre tinha

alguém que amarrava o pescoço da vaca e fazia de conta que ia tirar leite

e comentava: O bezerro mama na teta da vaca!, Dói a teta da vaca?,

Tiraram a canga do Nego!, O bebê da Rosquinha é o Granito!, Se tira

leite da vaca assim (mostravam com as mãos), A vaca faz: mu, mu, mu!,

Na vovó Juju tem a Nega, a Fia, a Vivi, a Rosquinha, a Tieta, o

Namorado e o Granito!, Eu tomo leite da vaca!, O leite da mamadeira é

comprado no mercado!.

Para dar início ao projeto foi realizado um levantamento de dados

sobre a amamentação das crianças, retirado de um questionário que os

pais responderam. Além disso, foi enviado um bilhete para informá- los

sobre o projeto que estaríamos desenvolvendo nos próximos dias.

Para sabermos da importância da amamentação e descobrir de onde

vem o leite que tomamos em diferentes momentos de nossa vida quando

bebê, criança e adultos, foram realizadas as seguintes atividades:

266

Convidamos uma enfermeira para ir até a nossa EMEI conversar

com a turma sobre a origem do leite que alimenta o bebê. Neste dia

olhamos e conversamos sobre as fotos trazidas pelas crianças sendo

amamentadas no peito ou na mamadeira, as quais foram posteriormente

colocadas no painel.

Quando a enfermeira chegou com seu uniforme branco carregando

uma caixa, a curiosidade das crianças foi aguçada, seus olhos voltaram-se

para ela concentrados, esperando-a falar. A enfermeira apresentou-se,

contando quem era e o que veio fazer na escola. Com auxílio de bonecas,

mostrou e falou sobre a importância da amamentação, quem produz leite,

o que acontece com o seio das meninas, quem amamenta e como

devemos segurar o bebê enquanto amamentamos.

As crianças tocaram e conheceram um seio de silicone, depois

brincaram com as bonecas dando mama nos seios confeccionados de

tecido. Tanto meninas quanto meninos exploraram e brincaram com os

seios levantando suas blusas e dando de mamar aos seus bebês, enquanto

teciam seus comentários: Eu mamei na teta da minha mãe!, A minha mãe

não tem mais leite na teta!, Eu não tenho mamá, eu sou menino!, Eu vou

dar a mamadeira para o nenê!, Não chora nenê, a mamãe dá leite,

colocando a boneca no peito.

De posse do levantamento de dados enviado pelos pais foi

confeccionado um cartaz: “Quando bebê mamei: no seio da mamãe ou na

mamadeira” (com desenho de uma mãe amamentando no seio e de uma

mamadeira). Cada criança marcava um xis no seu nome. Com estes

dados descobrimos que somente uma das crianças da turma foi

amamentado na mamadeira quando bebê e que as demais mamaram no

267

seio de sua mãe. Posteriormente cada criança colou a figura de uma

mamadeira ou um copo no cartaz com o título “Tomo leite”, onde havia a

possibilidade de copo ou mamadeira. Descobrimos que apenas duas

crianças tomavam leite somente no copo, algumas na mamadeira e quatro

tomavam em ambos; copo e mamadeira.

No decorrer do trabalho a turma também pintou com diferentes

materiais uma mamãe dando mamá ao seu bebê no seio e na mamadeira.

Convidamos a mãe do Guilherme e do Gabriel para amamentar seu

filho Eduardo na nossa sala de aula. Foi um momento em que as crianças

puderam ver e relembrar como eles mamavam. A mãe contou que o

Guilherme e o Gabriel experimentaram o leite do Eduardo e disseram

após provar: “Não gostei, é salgado!”. Enquanto olhávamos o Eduardo

mamar conversamos sobre quem produz leite, que meninos têm peito,

mas eles não crescem, que a mãe oferece os dois seios para o bebê e

porque as crianças da turma não precisavam mais mamar no seio.

Para explorarmos de onde vem o leite que alimenta as crianças e os

adultos levamos para a sala de aula um saco surpresa com vacas de

diferentes materiais e assistimos aos vídeos: De onde vem o leite? Da

Kika e do Doki e filhotes mamando. Cantamos músicas de vaca, ouvimos

as histórias: “Vaca Mimosa e a mosca Zenilda”, “Animais da fazenda”,

“As aventuras dos filhotes”, “A vaquinha Vera e a vaca Fofinha”, este

livro em formato de vaca, com pêlos, patas, rabo e ubre. Confeccionamos

junto com as crianças uma vaca de caixa de leite e EVA, pintaram o

desenho de uma vaca e brincamos de engolir a mosca Zenilda e soltá- la

com um pum (flatulência).

268

Para conhecer a vaca e ver uma ordenha, realizamos um passeio até

o sítio da assistente Ana. Lá no sítio, o sogro da assistente Ana realizou a

ordenha manual. A vaca estava comendo pasto amarrada no pescoço e no

rabo para não balançar e machucar as crianças. As crianças passaram a

mão no pelo da vaca e algumas experimentaram o leite tirado na hora.

Também aproveitaram pra fazer uma trilha até o rio, alimentaram os

peixes e as galinhas, viram e tocaram em um couro de vaca que estava

secando.

Realizamos com as crianças a compra e a degustação de alguns

produtos como: queijo, leite (soja, em pó, de caixinha e de saquinho),

leite com Nescau, iogurte e sorvete, para conhecerem alguns produtos

derivados do leite e sua importância em nossa alimentação. Depois a

turma fez um cartaz com os derivados do leite e tipos de leite colando

gravuras e rótulos dos produtos experimentados.

Todas as atividades realizadas foram preparando as crianças para o

“Dia Mágico”, onde a turma do Maternal I receberia a visita da fada e

fariam a troca de suas mamadeiras pelo copo. Conversamos com as

crianças e enviamos um bilhete para os pais para que nos auxiliassem na

retirada da mamadeira.

Para envolvê- los no mundo de faz de conta, deixamos na sala

algumas coisas utilizadas pela fada para que brincassem, como a varinha

mágica, o chapéu e as asas da fada, com um bilhete que dizia o seguinte:

“Olá, crianças sou a fada Sininho. Estive fazendo uma visita para vocês

hoje, ao chegar à sala de aula não encontrei ninguém, por isso estou

deixando esta carta. Virei visitá- los novamente na quarta-feira e irei

trazer comigo um presente para vocês em troca de suas mamadeiras.

269

Vocês não são mais bebês e podem tomar o leite da vaquinha no copo.

Estou deixando com vocês a minha varinha mágica, cuidem bem dela, é

com ela que o faz de conta acontece, experimentem vocês irão gostar de

brincar com ela. Grande beijo, fada Sininho.”

Neste dia as crianças brincaram de fazer mágica transformando e

imitando vários animais. Falando “Pim piririm pim, pim, transforma o

(nome da criança) em (nome de um animal)” e encostavam a varinha na

cabeça do colega.

No dia marcado, na entrada da sala de aula, tinha uma mesa enfeitada

com o chapéu, uma varinha e vários tipos de fadas, além de copos

coloridos, aonde as crianças chegavam e colocavam sua mamadeira.

Neste dia e durante os dois próximos dias a professora Enir vestiu-se de

fada, brincou com as crianças e fez a troca da mamadeira pelo copo.

Conforme as crianças iam realizando a troca também ia colando a

gravura do copo no cartaz “Eu tomo leite” (no copo ou na mamadeira).

Das dezoito crianças da turma, quatorze realizaram a troca. Por ser final

do ano tínhamos crianças que já não estavam indo mais na aula.

Para comunicar e concluir o projeto, convidamos a turma do Pré I para

ir até a nossa sala de aula e com a ajuda das crianças, do painel de fotos,

dos trabalhos feitos e das histórias recontamos as aprendizagens

realizadas. Depois as turmas brincaram juntas com os bebês e os animais.

Montamos e passamos slides com fotos da turma sobre que

aprendemos com o projeto “De onde vem o leite?”:

- Que o leite que: alimenta o bebê vem do seio da mamãe; as

crianças e adultos tomam o que vem da vaca; o ubre da vaca não dói

quando ela é ordenhada; existe a ordenha manual e a mecânica; meninos

270

também têm peito, mas não crescem como o das meninas; as meninas

produzem leite quando crescem e têm bebê; compramos o leite tirado da

vaca no mercado; comemos produtos derivados do leite como: queijo,

iogurte e sorvete; não somos mais bebês, por isso já podemos tomar leite

no copo e não mais na mamadeira; alguns animais também mamam nas

suas mamães como os bebês.

OLHA O CAVALO!

Odete S. Palma

Talita M. Cuiawa

Ana Lúcia Kapczynski

Este projeto começou no mês de abril, numa tarde ensolarada

quando a turma do maternal estava brincando na quadra da escola e a

271

Vitória avistou um cavalo e disse: Olha o cavalo! . Os colegas correram

para ver o cavalo que estava amarrado no terreno ao lado da escola e

comentavam: É igual ao do dindo Alberto!, O teu dindo tem cavalo de

verdade?, Por que eles estão correndo?, Tem dois cavalos., Um é

branco o outro é de outra cor., Meu pai tem um cavalo que leva a

gaiota.,Por que o homem trouxe ele ali?

A partir das intervenções das crianças respondemos as perguntas

que surgiram, mas ao retornar para a sala de aula o assunto continuava

sendo o cavalo que estava amarrado ao lado da escola. Assim, demos

início aos encaminhamentos pedagógicos.

Na rodinha de conversa, mais afirmações e questionamentos

sobre o cavalo: Por que ele deita no chão com a barriga para cima e

ergue as patas?, Prô ele come grama?, Ele toma água?, Ele vai dormir

ali?

Por serem crianças do maternal decidimos começar pelas

brincadeiras em sala de aula, ou seja, imitar o que eles tinham visto lá

fora. As crianças revezavam-se ora sendo o cavalinho, ora o cavaleiro.

Seguimos as brincadeiras com confecção do tradicional cavalo de pau,

juntamente com as crianças. Fizemos uma corrida de cavalo de pau na

sala de aula, já que nesse dia o tempo estava chuvoso e não poderíamos

sair para o pátio. Os alunos brincaram muito com os cavalos e enquanto

brincavam comentavam: esse cavalo não come grama, ele não tem rabo.

Para dar conta da temática em questão, procuramos os livros da

escola e escolhemos a história "O cavalo Clóvis", que mostra os animais

na fazenda, onde se destaca o cavalo. Após a contação, as crianças

272

fizeram um desenho coletivo com giz de cera em papel pardo, que foi

colocado na parede para que eles pudessem desenhar o cavalo Clóvis.

Em outro dia, fomos ao pátio para ver o cavalo. Ao chegarem no

pátio, as crianças avistaram o cavalo amarrado como no primeiro dia.

Sabíamos que o pai de um aluno tinha um cavalo, que usava na

gaiota para recolher materiais recicláveis, pois essa é a sua profissão.

Sendo assim, resolvemos envolver as famílias para conhecer a profissão

de cada um dos seus membros. Enviamos um tema de casa com um

questionário para que escrevessem a respeito de suas profissões. Na roda

de conversa cada aluno falou sobre as profissões dos pais. Percebemos

que apenas em duas famílias da turma os pais tinham gaiota e cavalo.

Os alunos também observaram que o cavalo estava amarrado e

comendo grama. Então, conversamos com os alunos sobre os diferentes

tipos de alimentos que existem e os preferidos de cada pessoa e dos

animais, numa roda de conversa. Contamos a história "Os filhotes da

fazenda", extraída de um livro, com o auxilio de um cartaz e

demonstração de um cavalo de brinquedo. Esse brinquedo também

permitiu que as crianças explorassem as partes do corpo do cavalo,

comparando com o cavalo de verdade.

Considerando a motivação dos alunos em relação ao assunto,

confeccionamos um cavalo com dobradura de papel, cola e giz de

cera.Depois puderam brincar com suas produções.

Ao observarem o cavalo, as crianças perceberam que eles

corriam e brincavam. Por isso, colocamos, na quadra da escola, bambolês

para as crianças pularem, ora com um pé, ora com o outro, ora com os

273

dois pés juntos, depois alternando os movimentos. Também realizamos

atividades dirigidas imitando as brincadeiras dos cavalos.

Para encerrar assistimos ao filme "O cavalo selvagem" e

fizemos um diálogo sobre o habitat do cavalo, que foi mostrado no filme.

ARMÁRIO

Ana Paula Menegol

Eliane dos Santos

Mariane Oliveira Bica

Percebeu-se, na turma do Berçário, um grande interesse pelos

armários da sala de aula. Por serem de fácil acesso, presos à parede e sem

trancas nas portas, os alunos frequentemente abriam e fechavam as

portas, mexiam no que havia dentro, tentavam escalar suas divisórias e,

às vezes, escondiam-se dentro destes armários. Neste sentido,

274

compreendemos a necessidade de possibilitar oportunidades de

aprendizagens a partir deste interesse dos alunos: o armário.

Foi necessário coletar informações para realizar o projeto.

Primeiramente, encaminhamos um questionário às famílias com as

seguintes perguntas: As crianças gostam de brincar no armário em casa?

Qual o armário? Vocês permitem que as crianças mexam e entrem nos

armários? Também foi necessária a busca de materiais alternativos:

encarte de jornais, caixa de papelão, embalagens. E o livro Cadê

Clarisse? foi um importante aliado neste trabalho.

Para iniciarmos as atividades, permitimos que as crianças

explorassem os armários abrindo e fechando suas portas e principalmente

manipulando os objetos ali guardados.

No primeiro armário estavam cadeiras, rádio e aquecedor. Os

bebês não se interessaram pelas cadeiras nem pelo aquecedor, mas sim

pelo rádio: mexeram nos botões, esperando que o mesmo ligasse, porém

não aconteceu. Frustrados, entregaram o aparelho para a professora, que

“magicamente” ligou a música. Todos firam encantados e, agora com o

som ligado, puderam exploram o volume e as estações de rádio.

Já o segundo armário, onde há materiais de higiene pessoal, foi o

mais disputado pelos alunos, pois cheiraram todos os produtos e tentaram

passar no corpo (o perfume, ou o “xuxume” como fala a Rayane, o

xampu, o condicionador). Também pentearam os cabelos com os pentes e

escovas que encontraram. O papel higiênico não chamou a atenção. A

professora questionou o uso dos objetos com relação às partes do corpo,

os alunos relacionaram da seguinte forma demonstrando com ações:

xampu/cabelo, perfume/pescoço, papel higiênico/nariz (como ainda usam

275

fraldas, apesar de ser usado, não relacionaram a higiene íntima, mas ao

que veem e fazem como limpar o nariz).

O terceiro armário, que é o dos brinquedos, não chamou muito a

atenção. Por ser conhecido pelas crianças que sempre tiveram autonomia

de explorá- lo, abrindo a porta e retirando os brinquedos, este armário foi

logo descartado pelos alunos. A professora aproveitou o momento para

reforçar a importância de guardar os brinquedos, que é uma das

dificuldades da turma.

O quarto armário, onde guardamos panos de higiene e caixa da

literatura, chamou muita atenção. Alguns se encantaram pelos livros

folhando, observando as imagens e outros pelos panos - pediram “nenê”

para a professora que observou a ação: ao invés de limparem a boquinha

das bonecas – que é a ação da professora, as meninas cobriram os

“nenês”, enrolando-os no paninho e nanando-os. Mesmo assim, a

professora questionou a função dos paninhos obtendo como resposta,

uma ação: o paninho na boca. Porém, o jogo simbólico de usar o paninho

como manta tornou-se mais interessante.

Por fim, havia dois armários que nunca eram explorados por

diferentes motivos, o armário da professora e o armário do lixo, por isso,

os alunos sentiam muito curiosidade e foi lhes permitido. O primeiro, o

armário da professora, gerou muita atenção, pois não é permitido que os

alunos mexam. Abriram as portas e primeiramente só observaram. A

professora incentivou os alunos a explorarem os objetos (cola, tesoura,

lápis, agendas, tintas, livros, materiais escolares em geral), quando

questionados sobre o que eram aqueles materiais, não sabiam nomeá- los,

apenas diziam “é da prô”. Neste sentido, a professora nomeou os objetos

276

e questionou para que serviam. Neste momento as crianças fizeram as

seguintes ações: tinta/abrir, tesoura/cortar a unha do pé. Os outros

materiais apenas foram manuseados e alguns postos na boca. O segundo

e último a ser explorando pelos alunos foi o do lixo. Este armário

provavelmente não seria aberto pelas crianças, pois é o armário da

“foudinha” e da “cacaca”. Quando aberto, reclamaram do cheiro. A

professora questionou o que havia ali dentro, o porquê do mau cheiro ao

que responderam “cocô”, “xixi” e “cacaca”.

Partindo desta situação, a professora organizou uma brincadeira

diferente: o ajudante da fralda. Durante a exploração dos armários, os

alunos não tiveram interesse pelo armário do lixo. Acredita-se que o

desinteresse acontece pelo cheiro desagradável e pela falta de autonomia

de por o lixo no lixo. Neste sentido, a professora propôs aos alunos o

“Ajudante da fralda”, que, todos os dias, seria um aluno que, ao usar o

babador do Ajudante da fralda, ficaria responsável por colocar as

“cacacas” que percebessem na sala, no lixo e também auxiliaria a

professora em determinados momentos com as fraldas sujas. A

professora pediu também que no momento de por a fralda no lixo,

colocassem uma luva. A luva chamou muito a atenção e todos queria usá-

la. A atividade rendeu frutos, pois todos agora compreendem a

importância daquele armário e adoram por o lixo no lixo.

A partir dos questionários que retornaram das famílias, a professora

percebeu que grande parte da turma interessava-se por variados tipos de

armários. Neste sentido, foi permitido que os alunos visitassem outros

espaços da escola além da sala de aula para que explorassem outros tipos

de armários.

277

O primeiro espaço visitado foi a cozinha. A professora levou os

alunos que ficaram fascinados com o lugar e, quando foi permitido que

abrissem os armários, ficaram extremamente encantados. Adoraram as

jarras com tampas, alguns temperos, panelas e utensílios em geral. A

cozinheira interagiu bastante com os alunos mostrando suas ações com os

objetos, brincaram de comidinha e de lavar a louça.

O segundo espaço visitado foi o da sala de atividades múltiplas. No

armário desta sala são guardadas roupas, fantasias e o som grande da

escola. Ao explorarem, tentaram vestir as roupas, mas o que mais

chamou a atenção foram as fantasias, principalmente da bruxa e da fada.

O som impressionou pela potência maior que o da sala. Neste momento,

exploram o volume e também dançaram muito empolgados.

Para que as crianças pudessem compartilhar ainda mais seus

conhecimentos, a professora entregou encartes de lojas de móveis para os

alunos. Pediu que encontrassem armários de cozinha, banheiro e quarto.

Os alunos tiveram um pouco de dificuldade, porém alguns apontaram

armários, principalmente os de cozinha. Neste momento a professora

recortou os armários identificados para a construção de réplicas e,

posteriormente, montar uma casinha de bonecas.

Com uma casinha de bonecas os alunos identificaram onde ficava

cada cômodo (sala, cozinha, banheiro, quarto). Depois, colocaram os

armários recortados nos encartes de lojas em seus respectivos cômodos.

Os alunos tiveram muita dificuldade em localizar os cômodos, apenas

alguns conseguiram identificar. Depois a professora permitiu que os

alunos brincassem com a casinha, armários e bonecas, possibilitando a

exploração do jogo simbólico.

278

Dando continuidade ao projeto, os alunos puderam realizar

seriação e classificação. Para esta atividade, antes dos alunos chegarem à

escola, a professora retirou todos os materiais dos armários espalhando-

os no chão. Considerando que os alunos já haviam explorado os

armários, a professora pediu que fizessem a seriação dos materiais,

guardando-os em seus devidos lugares. Os alunos tiveram um pouco de

dificuldade de entender a atividade, mas, quando viram a colega Natália

guardar o lixo, compreenderam o que deveriam fazer. O que chamou

atenção nesta atividade foi o espírito de coleguismo da turma, pois

quando algo era pesado, ajudavam o colega a carregar e quando alguém

errava o lugar do objeto, outro colega o advertia. Por fim, todos os

objetos foram guardados em seus respectivos armários.

Brincar de esconde-esconde dentro dos armários para que os outros

colegas encontrassem, foi muito apreciado pelos alunos e eles se

divertiram bastante. Alguns esperavam serem achados, outros saíam

antes. Nenhum teve medo de entrar, pelo contrário, achavam muito

engraçado. Também perceberam algumas questões de espaços e

tamanhos, pois em alguns armários cabia só uma criança e em outros,

duas. A professora questionou se ela caberia em algum armário, tentando

entrar. As crianças acharam engraçado e perceberam que a professora

não cabia em nenhum armário.

Uma das atividades mais curiosas do projeto foi o desafio do armário.

Primeiramente, a professora mostrou um punhado de balas para os

alunos. Porém, colocou as balas em uma prateleira alta de um dos

armários da sala que fica fora do alcance das crianças. Contudo, antes

disso, posicionou uma cadeira próxima ao armário e pediu para que os

279

alunos pegassem as balas. A primeira reação foi pedir para que a

professora buscasse as balas, entretanto ela disse que eles mesmos

deveriam pegá- las. A segunda tentativa foi em dupla, a aluna Rayane

tentou erguer o colega Vitor, porém a estratégia não teve sucesso. A

terceira tentativa foi com a aluna Natália que tentou escalar o armário,

mas não conseguiu. Neste momento, a aluna Rayane percebeu a cadeira,

puxou-a, posicionou na frente do armário e subiu, alcançando as balas.

Surpreendentemente, desceu da cadeira e dividiu as balas prontamente

com os colegas.

A história Cadê Clarisse? proporcionou um rico momento de

interlocução. A professora fez a leitura da história e depois conversou

com os alunos sobre onde a menina se escondia, em que ela mexia e se

existiam aqueles lugares na sala. Os alunos apontaram a mesa, o rádio e o

armário.

Por fim, construímos o armário da turma. A professora pediu para as

famílias trazerem para a escola um objeto que os alunos gostavam de

manusear ao abrir os armários de casa. Vieram diversos objetos: potes de

plástico, desodorante, panela, copo de plástico e uma lata de milho.

Porém, não havia nenhum armário vazio na sala para guardar os objetos.

Então, a turma construiu um de papelão. Com a ajuda da professora,

pintaram com tinta guache uma caixa de papelão. Este momento foi

divertido para os alunos e tumultuoso para professora, que em vários

momentos teve que intervir para que os alunos não colocassem a tinta no

olho e na boca. No outro dia, os alunos puderam guardar seus objetos

dentro do armário. Este ficou à disposição das crianças para que

pudessem mexer e brincar com os objetos quando quisessem.

280

Ao término do projeto, percebeu-se que as atividades com os

armários foram de grande valia, pois além das crianças divertirem-se e

explorarem sua curiosidade, também aprenderam muito. Construímos

uma cartilha para ser distribuída na comunidade a partir de uma

campanha: “Brincar no armário é legal”. Nesta cartilha constam todas as

aprendizagens que um bebê terá ao brincar com armários e objetos que

ali ficam guardados. Também, consta algumas atividades e fotos feitas

durante o projeto. Além da comunidade escolar, as cartilhas foram

distribuídas em locais da cidade onde educadores, pais e crianças

frequentam.

Acreditamos que é a partir da brincadeira e da interação com o

meio que as crianças aprendem e desenvolvem suas potencialidades

cognitivas, afetivas, sociais e motoras. Para tanto, a família e os

educadores devem oportunizar estes momentos de aprendizagem aos

bebês. Portanto, brincar com os armários, abrindo e fechando as portas,

manuseando, retirando e colocando nos devidos lugares os objetos,

brincando de esconde-esconde, desafiando-se a alcançar, é uma atividade

lúdica, prazerosa e estimulante para a criança.

281

COMO NASCE O FEIJÃO?

Tamara Pinto Possebom

O projeto “Como nasce um feijão”, foi desenvolvido na EMEI

Padre Pergentino Dalmagro nas turmas de pré-escola, a partir de uma

atividade com as mãos. Numa caixa surpresa, dentre diferentes objetos,

havia o feijão. Depois de tocá- lo, um dos alunos perguntou: “Como

nasce um feijão?”, o que acabou inquietando os demais, que aos poucos,

iam acrescentando afirmações e mais questionamentos: “Ele vem em uma

cápsula verde, quando ela fica velha ele sai dela”, “ O feijão é uma

árvore?”, “Ele é preto”, “O caminhão trás o feijão até o mercado.”.

Compreendemos que as experiências vivenciadas durante os

projetos na educação infantil são de grande relevância, de acordo com

282

isso, foram organizadas e selecionadas atividades que pudessem

contribuir para tal desenvolvimento.

Como atividade inicial, fizemos a plantação de feijão, que teve o

acompanhamento diário de sua germinação. As crianças diziam: “Será

que ele vai crescer?”, “Como que vai ficar?”,“Que tamanho ficará?”. O

tempo... a espera... dois dias já haviam se passado e nada! No 3º dia,

uma grande surpresa: “Ele brotou?”,“Olha! Ele já está nascendo !”.

Nesse momento os alunos ficaram vidrados nos copinhos com feijão,

cada pessoa que entrasse na sala, precisa ver os feijõezinhos crescendo.

As histórias “A sementinha” e “João e o pé de feijão”, deram

sequência ao trabalho.

As famílias receberam um questionário e, assim, colaboraram

com informações a respeito do tema. Um cartaz foi confeccionado com

os diferentes tipos de feijão (qualidade), com o objetivo de mostrar e

familiarizar as crianças sobre a diversidade de feijões que existem. Foi

salientado, pelos pais, que o preto, o branco e o vermelho são os mais

conhecidos. Trabalhamos então, com alguns outros tipos, como o carioca,

o formiga e o feijão amendoim.

Outra atividade trabalhada foi a preparação do bolo de feijão, com

a ajuda de todos os alunos, uma vez que as famílias disseram

desconhecer esse prato em suas respostas ao questionário. Também

encontramos mais opções de receitas que contém o feijão e trabalhamos

como forma de diversificar o cardápio e manter uma alimentação

saudável.

Visitamos um supermercado, onde as crianças puderam fazer a

identificação e localização do feijão nas gôndolas, sua diversificação e

283

organização. A partir daí, pesquisamos também sobre como o feijão

chega até o mercado, de onde ele vem, e como vai parar no pacotinho. Na

volta da visita, fizemos um “mercadinho” na sala de aula, com a

construção dos produtos, a escrita de seus nomes, os preços e a

organização do nosso ambiente.

Tivemos uma palestra com um agricultor, que nos explicou como

ocorre a plantação do feijão, que partes têm essa planta, de como é a

vagem (a dita cápsula). E a dúvida maior: será que quando o feijão

crescer ficará do tamanho de uma árvore? Ainda aprendemos a

importância da chuva e do sol para a germinação e desenvolvimento do

grão.

O gosto e o cheiro do feijão foram apreciados a partir da

observação de seu cozimento. Para finalizar, foi feita a degustação do

feijão, da sopa de feijão e do revirado.

284

BICHO ESQUISITO

Serlei de Rigo da Silva

Terezinha Zílio

Ana Paula Cadore

Em um dia chuvoso, para surpresa das crianças do berçário, atrás

da caixa de brinquedos havia uma perereca e na porta do banheiro havia

outra. As crianças logo comentaram: Ela morde prô Sirlei? Que bicho é

esse?

Dias depois apareceu um grilo na cesta de brinquedos: Prô! Prô !

Olha uma formiga grande! Não é um grilo. Ele morde?. Em outra

oportunidade próxima, quando estavam no solário, viram uma abelha. A

partir daí surgiu o projeto.

Ao perceber a expectativa das crianças em relação aos animais,

mostramos, através de imagens e vídeos, esses animais, para que as

crianças pudessem observar.

Pais e professores pesquisaram sobre onde e como vivem estes

animais. Construímos então um terrário, simulando o ambiente natural do

grilo. Foi colocada uma camada de pedra, uma de terra adubada, um

pouco de carvão vegetal para evitar a proliferação de microrganismos,

plantas, pedaços de pau, o grilo e, além disso, animais como minhocas e

cascudinhos. Após montado o terrário, junto com as crianças, cuidamos e

observamos tudo o que acontecia nele.

Colmeias vazias foram levadas até as crianças e uma réplica fo i

montada em caixa de papelão, na qual as crianças puderam brincar. Além

disso, foram montados móbiles de abelhas.

285

Também construímos réplicas de ranários, com garrafas pet, para

a perereca de verdade, que foi alimentada durante alguns dias com

insetos, já que este foi o bichinho que mais chamou a atenção das

crianças. Eles fizeram desenhos e pinturas. Brincaram bastante com uma

perereca de pelúcia.

Ao final do projeto a perereca de pelúcia acabou tornando-se

mascote da turma, sendo companheira para diversas brincadeiras e até

mesmo na hora do sono das crianças.

PRÁ ONDE VAI O DENTE VELHO?

Dirce Anelise Dorst

Numa manhã de segunda-feira, na turma do maternal II, uma

aluna chegou à escola contando que não viera na semana anterior, porque

estava com dor de dente e o dentista havia tirado seu dentinho. Nesse

286

momento, os outros alunos também desejaram contar suas experiências

com o assunto: Prô, eu também já fui no dentista, ele botô massinha; Eu

fui porque eu tinha cárie. E a maioria das crianças falou que ainda não

tinham ido ao dentista.

A partir dessas colocações provocamos os alunos com duas

atividades: a observação e identificação de diversas imagens sobre

higiene bucal e leitura visual de histórias.

Na manhã seguinte foram exibidas, na televisão, algumas fotos

da internet para esclarecer melhor as falas feitas pelas crianças. Elas

estavam maravilhadas com a exposição; era uma aula diferente, pois a

professora manuseava o notebook e a foto aparecia na televisão. A cada

nova imagem que aparecia, novas falas surgiam: O dentinho novo

empurra o velho; Pra onde vai o dente velho? Essas afirmações

chamaram a atenção das crianças. A fadinha recolhe o dente que cai. E

continuaram a falar: Colocar o dentinho embaixo do travesseiro, pra

fadinha vim buscar; Colocar num copo com água, pra levar prô dentista;

Vai prô lixo!; O dentinho novo é um bebê?; O dente nasce na barriga.

Na rodinha, distribuímos os livrinhos da coleção “Festa dos

Dentinhos”. As histórias da coleção eram as seguintes: “A Amiga

Escovita”, “O Super Fio Dental”, “O Amigo da Onça”, “A Balinha

Sapeca”, “Nasce um novo dentinho”. As crianças olharam, observaram e

comentaram apenas o que estavam vendo, ou seja, fizeram uma leitura

visual e alguns comentários. Conforme relatavam, era feito o registro das

falas. E a dúvida de “Pra onde vai o dente velho?” persistia.

No intuito de manter as famílias informadas sobre o projeto

surgiu a ideia de confeccionar uma lembrancinha referente ao projeto.

287

Cada criança saiu da escola com uma tiara de dente e escova. Além da

lembrancinha, foram mandados também bilhetes às famílias, explicando

a importância da participação e frequência das crianças para a realização

deste projeto, junto com um questionário onde as famílias poderiam

colaborar enviando informações pertinentes.

As crianças ajudaram a analisar as repostas e observamos que a

maioria das famílias não costumava levar as crianças ao dentista para

fazer avaliação, ou até mesmo tirar dúvidas sobre o nascimento dos

dentes de leite e higienização, que são cuidados básicos para a saúde dos

dentes.

Foi importante trabalhar com as crianças uma cantiga sobre

saúde bucal, frisando que quem escova os dentes direitinho previne-se de

doenças e garante a saúde bucal. Fizemos uma demonstração de como

escovar os dentinhos.

A música foi escrita dentro do desenho de um dente, que as

crianças contornaram colando barbante e fazendo de conta que estariam

passando o fio dental. Colaram o barbante ludicamente. Depois de cantar,

fazer algumas demonstrações de higiene e trabalhar com colagem, seria

indispensável conhecer mais sobre nossa boca, atividade que foi

realizada no dia seguinte.

Nesta atividade, conversamos sobre nossa boca e todos mostraram

que tinham dente e língua. As crianças falaram que os dentes serviam

para mastigar a comida e a língua servia para falar. Depois da conversa,

as crianças ganharam o desenho da boca para p intar. Logo perceberam

que não tinha os dentes e os desenharam.

288

No próximo momento foi realizada uma atividade seguindo os

passos para ter um “Sorriso saudável”. Primeiramente foram distribuídas

várias revistas e solicitado às crianças que observassem as pessoas

sorrindo e como eram seus dentes. Enfim, conversamos sobre o quanto é

legal dar um sorriso com os dentes branquinhos e brilhantes. Foram

distribuídos os desenhos para que pintassem: o dentista, a escova, o fio

dental, o creme dental e nosso inimigo que é a cárie.

Dando sequência, as crianças receberam um desenho de um dente,

em sulfite 60, para colarem as letras que compõem a palavra dente,

semelhante à brincadeira da forca. Depois, com o auxilio da professora,

montaram um móbile com papel color set. O móbile foi levado para casa.

Usando fantoches, para fazer algumas demonstrações,

conversamos sobre como deixar nossa boca e nossos dentes mais bonitos,

sendo que para isso precisávamos conhecer alguns cuidados que devemos

ter com nossos dentes: a higiene e o material necessário para tal.

Trabalhamos com os personagens; “Boquinha e Bocão; Superescova, Fio

Dental e Creme Dental”. As crianças brincaram de fazer a higiene bucal

usando os personagens.

A partir das demonstrações realizadas com os fantoches fo i

necessário dar continuidade aos trabalhos, agora com os alimentos, pa ra

descobrirmos o que é e o que não saudável para os dentes.

Observamos embalagens de alimentos expostas sobre a mesa e

fizemos um painel com alimentos saudáveis e não saudáveis.

Feito o painel, foi organizado um mini-álbum em forma de dente

com figuras recortadas de encartes de mercado. Numa página do álbum

pintaram a cárie do dente, na qual foram coladas as figuras dos alimentos

289

não saudáveis. Depois fizeram os dentes sadios e os alimentos que

contribuem para isso.

Planejamos uma visita de dentistas na escola para perguntar “Prá

onde vai o dente velho?”. Contamos então, com o apoio do “Projeto

Sorria Passo Fundo”, da Secretaria Municipal de Saúde, tendo por

finalidade conversar com as crianças sobre higiene bucal e suas demais

curiosidades. Este grupo de dentistas visita as escolas e conversa com as

crianças sobre higiene bucal, cuidados básicos e prevenção da cárie.

Além disso, fazem teatros explorando o mundo imaginário da criança

através de contos de fadas.

No momento em que os profissionais chegaram à sala do

maternal II, observaram as atividades expostas na parede da sala. As

crianças os recepcionaram cantando a música da “saúde bucal”. Os

dentistas começaram a conversar com as crianças a partir do que viram

na sala, até que chegou a derradeira pergunta “Você sabe pra onde vai o

dente velho?”. Os dentistas explicaram que ele pode ir para vários

lugares, menos para o lixo. O dente velho pode ir para debaixo do

travesseiro, ser guardado, virar um adorno. Eles ainda reforçaram muitas

coisas que já havíamos estudado como: escovar os dentes pelo menos três

vezes ao dia, que as crianças pequenas têm 20 dentes na boca, que mais

adiante terão mais dentinhos e que os dentes de trás servem para mastigar

bem os alimentos. A equipe do “Projeto Sorria Passo Fundo” apresentou

um teatro às crianças. Concluída a apresentação, os dentistas distribuíram

escovas para todos.

Para enriquecer ainda mais o aprendizado das crianças,

realizamos também um passeio à UPF, no curso de odontologia. Ao

290

chegarmos fomos muito bem recepcionados pelo Dr. Lagão e, enquanto

aguardávamos a Dra. Cristina, descobrimos que aquele era o lugar onde

as pessoas iam estudar para ser dentista. Enquanto caminhávamos pelas

dependências da odontologia, passamos por uma sala fechada, com

parede de vidro. A dentista nos disse que era a sala onde a fada guardava

fotos, instrumentos antigos, a cadeira do tempo da vovó/bisavó e que

tinha ali alguns dentes velhos guardados para os estudantes fazerem seus

temas.

Seguimos em direção ao laboratório onde eram guardados os

dentes velhos para estudo, a dentista foi falando, que iríamos conhecer

onde a fada trabalha. Ela contou que naquela sala linda tinha o

laboratório da fada onde havia uma geladeira para guardar todos os

dentinhos que a fada buscava na casa das crianças, mostrou também, as

fotos que a fada tirava dos dentes, o Raio X, que mostra se o dente tem

cárie ou não.

Fomos então, para os gabinetes pediátricos e as crianças

puderam manusear a cabeça de um boneco e ver os dentes em sua boca.

De repente a dentista recebe um telefonema. Era a fada dizendo que

havia deixado um presente para as crianças: escovas de dente e livrinhos.

Durante a visita conhecemos vários laboratórios, inclusive a Clínica do

Bebê.

Para concluir o trabalho, a escola informou às famílias sobre o

possível agendamento de uma avaliação na odontologia pediátrica da

UPF, via escola, para o mês de setembro, o que teve uma procura

significativa.

291

A PINHA DO PINHÃO

Vanessa da Veiga Mendes

O Projeto “A Pinha do Pinhão” desenvolvida na turma de Pré II

da manhã, que é constituída de 19 alunos entre 5 e 6 anos de idade, teve

inicio no começo do mês de junho, quando a Professora Marinês me

falou que havia ido visitar alguns parentes em Vacaria para pegar pinhão.

Sabendo que eu gostava muito de pinhão, trouxera uma pinha para me

presentear. Peguei a sacola e fui para a sala de aula e, mal havia

terminado de espiá- la, uma das crianças curiosíssima gritou: Prô, que é

isso? Eu, antes de responder, questionei: Quem já viu uma coisa dessas?

O que vocês acham que é? Bom, a partir daí, foram muitos os

292

questionamentos e hipóteses levantadas: É um abacaxi!. É uma

moranga!, É uma pinha, tem lá em casa!, Meu avô faz pinha para mim.,

Minha mãe abre a pinha jogando ela no chão, até ela rachar, daí

espalha tudo., Para abrir tem que descascar com a faca., Tem que

cozinhar o pinhão para comer., As falhas minha mãe joga fora, não dá

para comer., Meu pai cata pinhão no mato., Tem espinho, a prô espinhou

o dedo!

Depois das primeiras curiosidades das crianças, iniciamos a

construção da rede que estruturaria o projeto. Após essas primeiras

considerações fui em busca de mais informações sobre a pinha, pois

percebi que eles trocavam experiências sobre o que já sabiam da pinha e

que alguns nunca haviam visto os pinhões daquela maneira.

A fonte de consulta inicial foi a internet, com o computador na

sala pesquisamos juntos a respeito desta semente tão curiosa e saborosa.

Uma das descobertas foi que antigamente o pinhão era alimento

dos índios, por ser muito nutritivo. Também descobrimos que serve ainda

de alimento para muitos animais, uma ave em especial, a gralha azul, que

esconde o pinhão sobre a terra fazendo com que esta planta seja semeada.

As crianças ficaram muito admiradas com a informação imaginando o

pássaro escondendo as sementes na terra.

Vimos que as pinhas vêm de uma árvore conhecida como

Araucária com um formato diferenciado e único e descobrimos que,

infelizmente, ela está em extinção porque sua madeira foi muito

explorada e muitas árvores foram cortadas. Por este motivo atualmente

ela está sob proteção ambiental e é proibido seu corte.

293

A Araucária Angustifolia, seu nome científico, é uma árvore

muito importante, pode-se dizer que tudo nela é aproveitável, desde a

amêndoa, no interior dos pinhões, até a resina que, destilada fornece

alcatrão, óleos diversos, terebintina e breu, para variados usos industriais.

Através do desenho registramos o formato desta magnífica

árvore. E ainda realizamos uma moldura com as “falhas” da pinha para

confecção da Araucária com sucata.

Muitos outros questionamentos e curiosidades a respeito da

pinha surgiram: Como se planta?, Quanto tempo ela demora a crescer?,

Quais animais se alimentam dela?. Resolvemos então procurar auxílio

com profissionais da agronomia.

Marcamos a visita com o diretor da faculdade de agronomia e

veterinária da Universidade de Passo Fundo. Ao chegarmos, fomos muito

bem recebidos e encaminhados para uma sala onde um professor nos

explicou muitas coisas que ainda não tínhamos conhecimento. Ente elas

que existe a Araucária fêmea e a macho e somente na fêmea que se

formam as pinhas, mas sem o macho isso não seria possível. As crianças

contribuíram com as informações que pesquisamos na internet e o

professor se impressionou pelo interesse e conhecimento prévio das

crianças. As crianças comentaram que já haviam realizado uma pesquisa

na internet e descobriram que os índios comiam pinhão também.

Ele explicou sobre o plantio, que se deve colocar o pinhão em

num recipiente com um pouco de terra e sua ponta inclinada para baixo

até ele brotar e depois transferir o broto para um ambiente maior, ou seja,

o transplante definitivo. Comentou ainda sobre o ciclo de vida da

araucária e o tempo que demora do plantio até a formação da pinha. Tudo

294

isso deixava as crianças cada vez mais interessadas e maravilhadas com

os novos conhecimentos a respeito da pinha.

Fomos à estufa onde as araucárias “bebês” ficam. Lá os alunos

puderam observá- las prontas para serem transferidas para um ambiente

definitivo.

De volta para a escola, sentamos na roda de conversa e

refletimos sobre tudo que havíamos aprendido em nossa visita ao

CEPAGRO. Foi quando resolvi abrir uma pinha, tivemos uma grande

surpresa: havia visitantes morando dentro dela. E agora, o que é isso?

Pesquisando a respeito dos animais que se alimentavam do nosso

objeto de estudo descobrimos que essa lagartinha vive nas pinhas e

também é alimento para outros animais, como as aves. Eles queriam

saber muitas coisas a respeito dessas lagartinhas: Será que é a mamãe e o

papai?, Será que elas vão virar borboletas?

Quanto a estas perguntas ficamos mais na imaginação e

colocamos as lagartinhas num pote e observamos que elas morreram e

não viraram borboletas.

Depois de abrir a pinha e fazer nossa descoberta, as crianças

perceberam que havia mais “falhas” do que pinhões. Mas por quê?

Reportamo-nos aos conhecimentos construídos e lembramos que as

“falhas” serviam para proteger o pinhão, para que ele se desenvolvesse.

As falhas e os pinhões nos permitiram explorar noções de quantidade,

pois logo as crianças queriam saber o que tinha mais e se tinham o

mesmo peso. Foi então que fizemos a pesagem do pinhão e das falhas e

da própria pinha também. Havia 750g de pinhões e 450g de falhas. Ao

comparar as quantidades percebemos que havia mais falhas do que

295

pinhões. Neste momento eles entenderam o porquê da diferença do peso,

pois os pinhões têm a semente dentro e as falhas são vazias.

Mas o que fazer com os pinhões que havia na pinha?

Aproveitando que estávamos em época de festas juninas, cozinhei os

pinhões para eles degustarem. Eles adoraram a ideia, mas alguns não

quiseram experimentar. Perguntei então o que mais poderíamos fazer

com o pinhão e se alguém já havia experimentado o pinhão em alguma

receita que a mamãe faz em casa. Assim, pedi para que as famílias

enviassem para a escola alguma receita com nosso objeto de estudo, o

pinhão, integrando os pais a nossa pesquisa.

Das receitas encaminhadas pelas famílias escolhemos a mais

acessível para ser realizada: bolo de pinhão. Separamos os ingredientes,

observamos suas quantidades, fizemos a massa e logo após colocamos o

bolo no forno. A seguir, fomos para sala de aula fazer os registros,

escrevendo a receita no caderno. Após o bolo estar pronto eles

saborearam e, assim como ao experimentar o pinhão, alguns não

quiseram provar, mas a maioria aprovou a receita e pediu repetição.

Depois das crianças contarem em casa o que aprenderam, pedi

aos pais que mandassem uma caixa de leite com terra para fazermos o

plantio do pinhão. Explicamos que esse processo demora e por isso

precisamos dos cuidados dos familiares das crianças. Ressaltamos que

somente depois que o pinhão germinar e estiver com uns 30 cm, eles

deveriam retornar para escola onde realizaríamos o plantio definitivo.

Após as pesquisas as crianças não somente conheceram a pinha,

mas todo o processo de crescimento da araucária, árvore que dá origem à

296

pinha, como também os animais que se alimentam dela, um pouco de sua

história ao longo dos tempos e o porquê da sua quase extinção.

COMIDINHAS GOSTOSAS

Alessandra Zanella Rosso

O projeto teve como temática “Comidinhas Gostosas”, para que

as crianças do berçário se identificassem com a linguagem trabalhada.

No início do trabalho foram enviados questionários para as

famílias dos alunos, buscando respostas em relação às frutas e outros

alimentos saudáveis que as crianças consomem em casa.

Os alunos conheceram o Senhor Abacaxi, um boneco com corpo

de pano e cabeça de abacaxi, que foi o amigo da turma, no caso, quem

apresentou as hortaliças para eles. Ele trouxe sua sacola ecológica e

dentro dela uma surpresa. As crianças ficaram assustadas e a primeira

297

reação foi de medo, não queriam colocar a mãozinha para tocar a

surpresa. Alguns alunos foram corajosos e colocaram a mão, então

perceberam que espetava e era consistente. O Senhor Abacaxi trouxe um

abacaxi para dividir entre todos. As crianças tocaram, cheiraram,

observaram. O mascote visitou as casas dos alunos e ao voltar, sempre

trazia consigo receitas registradas pelas famílias, as quais eram

selecionadas e realizadas em sala de aula. As crianças também traziam

outras frutas para partilhar com a turma.

Os elementos verduras, legumes e frutas, foram trabalhados um

de cada vez, aprofundando-os, de forma que fossem estabelecidas com

clareza as texturas, os cheiros, as cores, os sabores. As crianças

participaram de culinárias desenvolvidas em sala de aula, tais como:

sucos, vitaminas, saladas, sanduiches, salada de frutas. Sempre que

realizaram alguma receita com hortaliças, as cascas (quando não

utilizadas) eram levadas ao minhocário da escola. O que despertava

muito o interesse das crianças, pois elas sempre queriam procurar as

minhocas, saber se elas estavam gostando ou se comiam realmente as

cascas.

Os alunos realizaram uma visita à fruteira mais próxima e a

reproduziram em sala de aula com uma tenda de TNT. Durante a visita

eles fizeram muitas perguntas à funcionária do estabelecimento.

Perguntaram se as verduras, legumes e frutas nasciam ali, como elas

chegavam até a fruteira. Queriam saber, também, sobre os nomes de

alguns alimentos que ainda não conheciam. A partir da visita perceberam

que as hortaliças não nasciam e nem cresciam na fruteira, eram apenas

298

comercializadas ali. Eram plantadas em hortas e pomares e chegavam até

a fruteira de caminhão.

Sendo assim, plantar na horta da escola foi muito interessante.

Como estava próximo da Páscoa, as crianças plantaram cenoura. E para

cultivar árvores frutíferas, foram plantados pés de Araçá no pátio da

escola. As plantações chamaram a atenção dos demais estudantes da

escola, que foram assistir e prestigiar o plantio realizado pela turma do

Berçário II.

As crianças estavam ansiosas para comer as cenouras que

plantaram e devido à faixa etária, não tinham muita noção de tempo,

perguntando todos os dias se as cenouras já estavam grandes. Pensando

em trabalhar um pouco a noção de tempo, foram feitos bonecos de alpiste

com meias de nylon. Os alunos, com auxilio da professora e da

assistente, colocaram alpiste e terra dentro da meia de nylon, depois

desenharam com canetas de tecido os rostos de seus pequenos mascotes.

Todos os dias as crianças regavam seus bonecos e percebiam que a cada

dia os cabelos cresciam mais e desta forma também a cenoura ia

crescendo na horta, mas embaixo da terra, sem que eles pudessem ver.

Organizamos um piquenique natural, com suco produzido pelos

alunos e frutas picadas que eles trouxeram de casa dentro de suas sacolas

ecológicas. Estas sacolas haviam sido customizadas pelos alunos, com

tintas de tecido, em momentos anteriores. A sacola foi levada para casa,

para que pudessem utilizá- la para irem com os familiares ao mercado e

também para trazer frutas para a escola; criou-se assim um hábito

saudável.

299

As crianças leram e manusearam livros como: “Frutinhas

amigas”, “O Sanduíche da Maricota”, “A cesta da Maricota” e “Camilão,

o Comilão”. Algumas histórias foram apresentadas numa televisão de

material alternativo. As histórias foram registradas com materiais

diversos, como giz molhado, lápis de cera queimado na vela, papel

crepom molhado, tintas naturais e tintas de tecido.

Ao perceberem que os legumes e verduras podiam liberar tintas

naturais, como a beterraba libera a cor rosa, a cenoura libera a cor laranja

e o espinafre libera a cor verde, as crianças ficaram encantadas. Foram

construídos, com as crianças, painéis de tintas naturais que foram

expostos no corredor da escola, valorizando ainda mais o trabalho dos

alunos.

Como culminância, as mães foram convidadas a realizar uma

sopa com seus filhos, cuja finalidade era verificar os resultados do

projeto e também comemorar o Dia das Mães.

300

NÃO GOSTO DE CARNE DE GALINHA, SÓ DE CAVALO, TEM?

Danielli Godinho Jury

Enoir Santana

Jucilene Lodi Pasqualoto

Mauren da Silva Annes

O tema do nosso projeto surgiu a partir do comentário - Não gosto

de carne de galinha, só de cavalo, tem?, de uma aluna do berçário

durante o segundo lanche. A professora perguntou para a criança se ela já

301

havia experimentado carne de cavalo, ao que ela concordou fazendo sinal

afirmativo com a cabeça. Foi neste momento que consideramos

pertinente desenvolver um projeto que abordasse a alimentação fazendo

reflexões a cerca do comentário da criança.

Assim, coletamos informações com familiares, consultamos

diferentes fontes como: Referencial Curricular da Educação Infantil,

material da formação continuada, pesquisas bibliográficas, internet, CDs,

DVDs, livros de literatura infantil, fizemos passeios na Universidade de

Passo Fundo (Faculdade de Nutrição), Brigada Militar e CONVIDAS.

Proporcionamos palestra com nutricionista e momentos de conversa com

os pais. Exploramos diferentes materiais, confeccionamos painéis com

desenhos, pintura, dobradura, colagem e construímos um livro da turma

referente ao tema. Realizou-se exploração e experimentação de diferentes

tipos de alimentos, oportunizando assim experiências concretas. No

decorrer do processo cada criança e sua família buscaram meios de

contribuir com o desenvolvimento do projeto, de certa forma,

direcionando os questionamentos, as falas de cada criança e auxiliando

de forma efetiva na resolução das hipóteses e problemas que surgiram

durante o projeto.

Todas as informações coletadas foram vivenciadas,

experienciadas e registradas ludicamente, tornando-se novas fontes de

consulta.

A proposta inicial deste projeto foi trabalhar a alimentação com

ênfase nos diferentes tipos de carne para o consumo humano, bem como

a importância de uma alimentação saudável. Diariamente podíamos estar

observando as aprendizagens realizadas pelas crianças, principalmente

302

nos momentos de alimentação, na percepção de como a criança está ou

não aceitando os alimentos oferecidos.

Os trabalhos foram expostos na escola para apreciação dos

alunos, pais e comunidade e no Seminário Municipal da Educação

Infantil.

SÃO ÍNDIOS, PRÔ?

Dirce Anelise Dorst Nienow

Vanessa da Veiga

O projeto “São índios, Prô?” foi desenvolvido com duas turmas

de Pré II constituídas por alunos entre 5 e 6 anos. Inicialmente as

professoras planejaram uma aula diferente, a contação da história

303

MÚSICAS DAQUI, RITMOS DO MUNDO de Zezinho Mutarelli e

Gilles Eduard.

As professoras realizaram uma atividade “inovadora” com as duas

turmas. A sala do Pré II B era preparada com um ar de mistério para

receber as crianças que aguardavam ansiosas, após o café, na sala do Pré

II A. O globo juntamente com diversos instrumentos musicais

escondidos debaixo de um TNT estava exposto na mesa no meio da sala,

depois de tudo pronto as crianças das duas turmas foram entrando e já

tentando adivinhar o que havia por debaixo de tanto segredo.

Depois de tudo revelado foi iniciada a contação da história

realizada pelas duas professoras, pois enquanto uma das professoras lia a

história, a outra ligava o som com o cd das cantigas da história e fazia

algumas anotações, como de costume, a respeito das falas das crianças.

Antes de iniciar a contação da história as crianças faziam algumas

falas: tem uma bola, tem o som, tem o mapa numa bolona, é uma bola da

lua, é o mapa das cidades, o Brasil tá ali, tem o Passo Fundo, o que é o

azul, é a água, o que é aquela rodinha ali, são os pontos cardeais para as

pessoas se localizarem, respondeu a professora, o violão é pra tocar, os

instrumentos estão ao redor do mundo.

Após ter sido contada a história que trata de uma aventura de três

amigos que depois de um incidente vão parar em uma estranha ilha, e

quando um deles fica preso naquele local os demais vão em busca dos

diferentes ritmos do mundo para poder salvar o amigo, novamente o

diálogo se instalou na sala e muitas observações foram relatadas pelas

crianças: aquele é um pássaro, não é um macaco; aqui é a África, tem

um monte de bichos; eles foram felizes para sempre por causa da

304

música; eu aprendi a parte que a música trouxe alegria na ilha do sem

tom; os amigos deram a volta ao mundo; eles se perderam por causa do

vento forte; ilha é um monte de areia com bastante espaço; na ilha não

tinha música; a música traz felicidade; eles foram buscar músicas nos

países; eu nunca viajei; o avião atravessa na água; posso ir de navio

também; não tem uma ponte pra ir de carro; não dá pra ir de carro

porque acaba a gasolina. Após o término das reflexões, as crianças

fizeram um registro através de desenho.

A aula foi um sucesso e as crianças se divertiram e cantaram

muito, e aprenderam através da história que cada país, cada região tem

uma cultura, costumes e ritmos diferentes. Percebendo o interesse das

crianças pelo globo, os lugares onde os três amigos visitaram durante sua

viagem em busca de diferentes ritmos e ainda as cantigas, as professoras

decidiram dar continuidade e trazer para sala de aula imagens e músicas

com os mesmos ritmos de cada parte do mundo que apareceram na

história.

Organizado um acervo de imagens coletadas da internet e

projetadas na televisão, as duas turmas foram reunidas e as crianças,

pensando que iriam ver um filme e vendo o globo se entusiasmaram e

logo os questionamentos se iniciaram: Prô vamos ver computador na TV;

Olha a prô vai mostrar o mundo na TV. As imagens e também as

músicas e ritmos foram mostrados na ordem em que os lugares iam

aparecendo na história. Inicialmente foi mostrado o Globo e o Mapa

Mundi às crianças, para localizarem os diferentes lugares, observando

cada um deles, tendo como ponto de referência o Brasil.

305

As crianças teciam muitos comentários sobre cada local que era

mostrado e as falas eram registradas. Variadas atividades foram sendo

realizadas, explorando as especificidades das diferentes regiões e seus

ritmos. Do rio Mississipi explorou-se o BLUES e a cantiga atirei o pau

no gato. Recorte e colagem. Colocar a cantiga na sequência correta e

escrita da palavra gato. De Nova York encheu-se balões e a brincadeira

com a cantiga “cai, cai, balão”. O balão não poderia cair no chão. Depois

da brincadeira as crianças registraram através de desenho a experiência.

Dos Estados Unidos depois de assistida uma apresentação da cantiga “o

sapo não lava o pé” e o ritmo funk, realizou-se pintura com guache do

lago e dobradura do sapo.

Do Brasil, os diferentes ritmos foram explorados, desde o sertão

nordestino até nossa cidade. O rock veio da Inglaterra, mais

especificamente de Londres e a Espanha deslumbrou-os com o ritmo

flamenco. Os barcos de Veneza e o ritmo lírico lembraram gritos, o ritmo

de Portugal se mostrou parecido com o da Espanha. Na África o que mais

chamou a atenção foram os animais, seguido pelo som dos tambores e a

dúvida - são índios, prô? lá onde tem selva; eles tocam tambor que nem

índio.

A Havana foi observada como mais um pedacinho do mundo e as

crianças comentaram: nossa quantos pedacinhos tem o mundo. A Arábia

com suas lindas dançarinas e a Argentina, tão perto do Brasil com o gelo

e o tango. E a balsa, que possibilitou o transporte de todos os ritmos para

a Ilha do Sem Tom.

Durante a exposição das imagens na TV, surgiram muitas falas

das crianças a respeito do que iam vendo, temas inusitados e muitos

306

questionamentos foram interessantes para realização de projetos. Mas

uma pergunta em especial fez com que as professoras parassem para

refletir, pois a mesma foi a que mais chamou atenção e curiosidade das

crianças: SÃO ÍNDIOS, PRÔ? Percebendo o grande interesse das

crianças em conhecer mais a respeito das culturas afro e indígena, até

mesmo para diferenciá- las melhor, as professoras então iniciaram o

projeto mostrando novamente algumas imagens fazendo um comparativo

com as duas culturas que seriam abordadas no trabalho.

Neste primeiro momento, após a visualização, as crianças fizeram

um registro através de desenho do que observaram na atividade,

realizando um paralelo ente o povo indígena e a cultura africana. Depois

de muitas falas registradas e percebendo que as crianças ainda se

confundiam com as duas culturas, as professoras decidiram trabalhar com

características mais especificas de cada cultura para, ao final do p rojeto,

fazer novamente um comparativo

Sempre utilizando as imagens através do computador como

instrumento do trabalho, as professoras trouxeram o acervo de figuras

que caracterizavam a cultura afro. Uma das imagens que chamou a

atenção das crianças foram as máscaras africanas, da qual sugeriu uma

ótima atividade com modelagem de papel machê no balão e a pintura

com tinta guache. Outra atividade com máscaras foi a pintura com tinta

no molde já pronto. As crianças adoraram realizar as atividades com as

máscaras, e estavam interessadas em saber onde e para que os africanos

as faziam. Então, as professoras com auxílio da internet, fizeram uma

pesquisa que foi socializada com as crianças em uma roda de conversa.

307

Os alunos nos desafiaram também a uma pesquisa, devido ao

interesse dos mesmos em saber por que e em que momentos os africanos

usam as máscaras. Então, realizou-se uma investigação para responder às

questões levantadas.

Para enriquecer mais o projeto as professoras fizeram uma

pesquisa sobre histórias que apresentavam a cultura negra e suas

características. Assim, as crianças dariam asas à imaginação. Entre elas

foram usadas “Bruna e a Galinha D´angola” de Gercilga de Almeida e a

história “Meninas Negras” de Madu Costa. Dois pontos de destaque nesta

última história sugeriram atividades. Um, foi a variedade de animais

existentes na África. Sendo assim, pesquisadas algumas características da

girafa, o animal que mais gostaram, e para registrar isso, foram utilizados

rolinhos de papel higiênico. As crianças coloriram com tinta guache e

depois de colorir, recortaram e colaram a cabeça. Percebendo, como os

animais interessavam às crianças, as professoras decidiram fazer uma

atividade com o mapa da África, colando os animais que lá existem.

A outra questão foi como os negros vieram para o Brasil.

Novamente discutimos o tema em uma roda de conversa e, com uma

pesquisa descobriram que inicialmente os negros vieram trazidos de

navio para trabalhar como escravos. Para registrar esta passagem, foi

realizado um painel com os mapas da África e do Brasil cercados pelo

oceano e um barco feito de dobradura no meio simbolizando a viagem

dos negros. Neste momento também conversamos sobre os meios de

transporte que conhecemos e utilizamos.

A história da “Bonequinha Preta” de Alaíde Lisboa de Oliveira

possibilitou reflexões sobre a desobediência. Então, ao registrar esta

308

história as crianças fizeram a cena da bonequinha preta caindo da janela e

o gato. Coloriram as figuras da bonequinha e do gato, depois recortaram

e colaram em outra folha onde estava a janela da casa da bonequinha, e

colaram o gato logo abaixo. Durante esta atividade as crianças falavam

muito sobre como deveriam obedecer seus pais e professoras, que assim

não aconteceria nada de ruim.

Outra atividade que também partiu das crianças foi a confecção

da bonequinha preta para ser a mascote na sala de aula. Nas falas,

principalmente das meninas, ficou a vontade de ter uma bonequinha preta

para brincar. No dia seguinte, as professoras fizeram com TNT marrom

o formato do corpo da bonequinha, e para preencher o corpo as crianças

picaram EVA. O interesse das crianças sempre surpreendia as

professoras e como haviam visto nas imagens eles falavam muito a

respeito de como os negros se enfeitavam, usando muitos colares e

pintando o corpo. Surgiu a atividade de confeccionar os colares. Como

seria muito difícil fazer com sementes, foi decidido fazer com macarrão.

As crianças passaram o barbante entre os furos do macarrão e depois

coloriram com tinta guache. Acharam engraçado usar macarrão.

Dando continuidade ao estudo desta cultura, conversando e

trocando idéias com a diretora, achamos conveniente a visita de pessoas

afro descendentes em nossa instituição, assim ficaria mais produtivo

nosso trabalho junto com as crianças. Depois de alguns contratempos,

dois senegaleses chegaram para uma rápida visita, pois os mesmos

tinham que ir para o trabalho. Seus nomes eram Burama e Moro, vieram

do Senegal para ter uma vida melhor aqui no Brasil. Relataram como é

difícil a vida naquele país.

309

A comunicação foi difícil, pois o seu idioma de origem é o

Francês e ainda estão aprendendo o português. Quando eles entraram na

sala as crianças se admiraram, um deles veio vestido com GRANBUDU

túnica típica, que eles têm costume de usar quando estão em casa. As

crianças fizeram inúmeras perguntas: como eles vieram para cá; como

eram as casas onde eles moravam lá no Senegal; se eles gostavam de

pintar o corpo; o que eles gostavam de comer; a comida daqui era igual

a que eles comiam no Senegal; estavam gostando daqui; onde eles

trabalhavam; como era o nome da roupa que ele estava vestindo; onde

estavam seus pais; eles estudavam também; vocês usam máscaras

também. E também comentaram sobre algumas atividades que foram

realizadas em sala de aula: nós fizemos máscaras com papel e tinta; a

gente fez colar com massa; na áfrica tem muitos bichos?

Outras falas que surgiram após a visita: o cabelo deles é igual ao

do Cézar (cozinheiro); eles são bem escuros; a roupa dele parece um

vestido grande; eles não vieram de barco porque agora tem avião; a

casa do pai e da mãe deles é bem pequena; eles falam diferente, é ruim

de ouvir; eles falam chinês, inglês; é bem calor onde eles moravam.

Com a visita dos amigos senegaleses, as crianças puderam

compreender melhor como foi a vinda dos negros para o Brasil, fazendo

um comparativo de como era a vida deles antigamente e como é hoje,

relembrando que os antepassados destes visitantes vieram como escravos,

e que agora vêm para tentar uma vida melhor, desta maneira foi

relembrada a história das meninas negras, as quais contam, sonham,

dançam e brincam com as maravilhas da África.

310

Desta forma, as professoras decidiram compartilhar esta história

com as famílias, sabendo também da importância de envolvê- los neste

processo.

Pensando em uma forma de socializar as pesquisas e

conhecimentos a respeito da cultura afro com as famílias, as professoras

decidiram confeccionar a “Sacola Cultural”, a qual seria enviada para

casa, com o livro Meninas Negras, a bonequinha preta e um caderno para

os registros das crianças. Inicialmente as professoras mandaram para os

pais um bilhete informando do projeto. No dia que decidimos

mandar a Sacola Cultural explicamos às crianças como seria a atividade

da sacola em suas casas. Eles adoraram a ideia e estavam ansiosos pela

chegada da sua vez de levá- la para casa. Ficou decidido que seria por

ordem alfabética e caso a criança não viesse, passaria adiante e a mesma

ficaria por último.

No primeiro dia que a sacola foi para casa, as professoras

perceberam a felicidade das crianças, a atividade foi bem recebida pelos

pais. Porém, houve alguns probleminhas com as sacolas como o fato de

alguns pais contornarem os desenhos no livro, usando como molde para o

filho desenhar e pintar, extravio de uma sacola e por esse motivo

ressaltamos através de um bilhete colado na frente do caderno de

registros a importância do cuidado com o material. Ainda, aconteceu que

os desenhos de registros estavam sendo realizados pelos pais e não pelas

crianças.

Cada dia mais as atividades entusiasmavam as crianças, que

esperavam ansiosas por sua vez. Quando a sacola retornava para a escola

era realizada uma conversa a respeito de como havia sido a visita e a

311

realização das atividades. Assim foram registradas muitas falas, tanto dos

pais ao chegar à escola quanto das crianças na roda: meu pai leu a

história e eu fiz um desenho bem lindo; eu dormi com a bonequinha na

minha cama; foi minha mãe que fez o desenho e eu pintei; eu brinquei

muito com a bonequinha; minha mãe tirou foto de nós e colocou no

computador; quase molhou a sacola com a chuva; passamos uma tarde

maravilhosa fazendo a atividade; ele que contou a história para mim

como a prô contou na sala; muito bom esse projeto sobre uma cultura

que quase não conhecemos e de tanta importância para o nosso país.

As crianças perceberam exatamente o que a história das “Meninas

Negras” falava após tudo que vimos e fizemos sobre a cultura afro.

Ao encerarmos o tema da cultura africana, as professoras

precisavam iniciar os trabalhos a respeito da cultura indígena.

Inicialmente pensamos em trazer para escola alguém que pudesse falar a

respeito dos costumes indígenas.

Na roda de conversa relembramos tudo que havíamos visto a

respeito da cultura negra e ainda do primeiro questionamento das

crianças que confundiram os negros com índios, e assim foi introduzido o

tema sobre a cultura indígena. A princípio, como essa tradição é mais

próxima deles, registrou-se as seguintes falas: os índios vivem na

floresta; eles comem frutas, peixes; eles pintam o rosto e usam pena na

cabeça; os índios andam de barco pra pescar no rio; tem arco e flecha;

eles moram na oca de palha.

No dia marcado, as crianças aguardavam a representante da

FUNAI. Ela se apresentou ao grupo, expôs alguns artesanatos e fotos de

uma aldeia Caingangue. Nas fotos estavam registrados rituais de cura

312

com ervas, dança e um casamento, tudo da comunidade Caingangue. As

crianças puderam manusear os objetos: chocalho, cocar, flauta e livros.

A índia relatou como é a vida atualmente nas comunidades

indígenas, que as casas são de madeira e têm água e luz, como uma casa

normal. Esta fala deixou as crianças confusas, pois sabiam que os índios

viviam na floresta e em ocas de palha. Então, contamos a Dona Maria

tudo que já vimos com nossos alunos sobre esta cultura.

Esclarecido isso, ela relatou que ainda existem aldeias assim,

muitos ainda caçam, vivem da agricultura e da natureza. Mas, como o

“homem branco” veio destruindo a natureza para construir as cidades, o

espaço dos índios começou a ficar muito pequeno, e os animais que antes

eram em grande quantidade também, diminuíram, principalmente os

peixes, devido à poluição dos rios. Por isso os índios evoluíram e

modificaram alguns costumes, explicou.

Os índios confeccionam seus instrumentos musicais, de trabalho e

caça, e ainda muito artesanato, como brincos, colares, cestas, explicou a

professora e tudo isso vocês podem ver nas ruas da cidade, por que eles

vêm para vender.

Enfim, muito enriquecedora a fala da nossa convidada, e muitas

falas também foram registradas durante a conversa com a índia: os índios

cuidam da natureza, né; eles usam as penas dos passarinhos para fazer

a “coroa”; tem o chefe dos índios que manda neles; têm arco e flecha

para caçar; o que os índios comem?; deixam os rios limpos, não sujam

com lixo; fazem fogueira.

No fim da visita a índia ensinou às crianças uma cantiga em

Caingangue, elas se divertiram ouvindo-a cantar em um idioma diferente.

313

Nossos alunos foram convidados a cantar e fazer os gestos conforme

eram ensinados, é claro que todos tiveram dificuldade para cantar em

Caingangue, então, foi traduzida a canção para português.

Quando a índia concluiu sua fala e foi embora, ficamos no grande

grupo com as duas turmas e eles relembraram os relatos da nossa

convidada e para registrar essa visita as crianças fizeram um desenho.

Para dar continuidade ao projeto as professoras trouxeram um

acervo de imagens que caracterizavam a cultura indígena. Observando as

diversas imagens, as crianças lembraram da fala da índia sobre as

características e costumes dos índios. O chocalho foi um dos

instrumentos por eles manuseado e que sugeriram confeccionar.

Juntamente com as crianças ficou decidido que para a confecção

do chocalho seriam recolhidas pedrinhas para serem colocadas nos

potinhos de iogurte, para isso fomos ao terreno vizinho. Todos se

divertiram muito e fizeram muitas descobertas percorrendo o terreno.

Perceberam que haviam pedras pequenas e outras muito grandes,

observaram como havia lixo jogado e encontraram uma galinha morta. O

mais divertido do passeio foram os “morrinhos” de terra, onde as

crianças corriam subindo e descendo.

Depois da coleta das pedras, os potinhos foram colados com cola

quente, um sobre o outro para formar o chocalho. Assim, as crianças

brincaram e cantaram a música dos dez indiozinhos surgindo mais uma

atividade com a música. Pensando na cantiga, as professoras sugeriram

às crianças a atividade de pintura dos dez indiozinhos na canoa. Para

fazer os índios e a canoa eles usaram tinta guache e giz de cera. As

314

professoras fizeram o molde da canoa e um círculo para representar as

cabeças dos indiozinhos.

Para trabalhar a quantidade foi realizada uma atividade com a

cantiga dos “dez indiozinhos”, onde as crianças deveriam contar e

colocar o número correspondente de índios que havia na canoa.

A aventura de uma indiazinha órfã que vive com o seu avô, o

sábio e velho Tigé, em um belo recanto do Rio Negro na Amazônia

conduziu-nos às lendas e histórias de seu povo, convivendo intimamente

com a floresta e seus animais. O filme mostra alguns costumes dos

índios, principalmente a harmonia e o respeito pela natureza.

Após a aula onde as crianças assistiram o filme Tainá, as

professoras se reuniram e ao discutirem o assunto acharam interessante

confeccionar uma maquete de uma aldeia indígena. Foi solicitado

material à diretora. Foi realizada uma pesquisa com imagens de

diferentes aldeias para as crianças visualizarem para facilitar a

identificação do que compõe uma aldeia e os alunos foram desafiados

para a nova tarefa.

Explicamos o que era uma maquete e trouxemos o isopor. As

crianças foram dando suas ideias de como colorir para fazer a floresta.

No dia seguinte, com tinta guache, as crianças pintaram o isopor. Ficou

decidido que onde seriam colocadas as ocas pintariam de marrom, porque

nas imagens aparece sempre terra e não grama, então com auxílio de um

círculo feito pelas professoras um grupo pintou com marrom, logo

perceberam que precisavam decidir onde o rio seria pintado com a cor

azul e o restante seria pintado com a cor verde, representando a mata.

315

Foram gastos vários dias nesta atividade. Depois da pintura do

isopor, com rolinhos de papel higiênico pintados com guache foram

confeccionadas as ocas: o teto feito com molde e colorido com lápis de

cor foi recortado pelas crianças e colado com cola quente pelas

professoras.

As professoras pesquisaram diferentes tipos de árvores que

pudessem ser confeccionadas com as crianças. Então, foram produzidas

com jornal, rolinhos de papel higiênico e tinta guache, as árvores e junto

com as crianças foi decidido onde cada um colocaria sua árvore. Porém,

ainda faltavam elementos na maquete: os animais. Por último e mais

importante, foram confeccionados os índios com prendedores de roupas

para o corpo, palitos de fósforo para os braços, guache para colorir o

cabelo e EVA para roupa.

Quando a maquete ficou completa, as turmas sentaram em roda

para discutir a criação e muitas falas foram registradas: nossa que lindo

que ficou; tá igual a da foto; tem muitos bichos; os índios estão se

esquentando na fogueira.

Juntamente com as crianças, as professoras sugeriram que cada

um reproduzisse um desenho observando a maquete e que neste desenho

eles registrassem tudo o que mais gostaram e acharam interessante. Desta

forma, ficou concluída a atividade da maquete.

Para concluirmos de fato as atividades sobre os costumes

indígenas, pensou-se em trabalhar também com as famílias,

encaminhando diariamente a Sacola Cultural com uma história e argila

para as crianças fazerem artesanato.

316

Explicamos às crianças que levariam para casa a Sacola Cultural

com a História “Uma vida diferente” de Vânia Ramos e estariam

levando também um pouco de argila, para que os pais e/ou responsáveis

os auxiliassem a confeccionar potes, vasos, entre outros utensílios que

tivessem interesse de fazer.

Cada dia uma criança trazia uma novidade, inclusive teve criança

que trouxe vasinhos com arranjos de flores, muito criativos. Vendo a

alegria estampada no rostinho das crianças, percebe-se que as famílias

estavam bem envolvidas com a atividade.

De acordo com tudo que as crianças conheceram sobre os

costumes dos índios, entenderam que apesar dessas pessoas terem

evoluído, muitos ainda sobrevivem da agricultura e o artesanato também

passa a fazer parte do cotidiano indígena e para ajudar no seu sustento

vão para cidade vender os objetos artesanais.

As professoras conseguiram perceber nas crianças que o

conhecimento específico da cultura afro e indígena ficou claro, pois após

muitas pesquisas e comparações as crianças reconhecem as diferenças

entre as duas culturas trabalhadas neste projeto, enriqueceram seus

conhecimentos e ainda fortaleceram a semente do respeito pelas

diferenças.

317

POR QUE MEU DENTE CAIU?

Tanandra Aparecida Knetz de Camargo

O Projeto Dente surgiu em uma tarde de maio quando a turma do

pré II estava no refeitório lanchando. As refeições na EMEI Margarida

são momentos em que as crianças vivenciam experiências de bem

alimentarem-se, partilham ideias, desenvolvem sua autonomia, estreitam

afetos, socializam informações, enfim, “colocam as fofocas em dia”.

Durante o lanche a turma espantou-se ao ver sua colega Mikéli chorando,

pois havia caído um dente dela. E ela ainda afirmou que a cada dia estava

perdendo mais e mais dentes.

318

A turma tendo sua noção básica no assunto aconselhou a colega,

explicando que os dentes devem cair, sim. Neste momento, a Mikéli

perguntou: Mas por que meu dente caiu? A partir desta pergunta a

professora percebeu que seria uma boa oportunidade para desenvolver

um projeto em que a turma construísse conhecimentos a respeito do tema,

superando as hipóteses já demonstradas. Após este bate papo inicial,

ficou combinado que continuariam a discussão em sala de aula.

Conforme o combinado, as crianças lancharam, então retornaram

para a sala, formaram a rodinha de conversa e o assunto voltou à tona.

Surgiram inúmeros questionamentos e hipótese: Bebê não tem dente?, Os

dentes caem para virem os novos?, Se eu não cuidar o dente cai!, Com

que idade os dentes começam a cair?, Por que a minha avó usa chapa?

Ela nunca teve dente de verdade?, Quando o dente cai, a fada da moeda

vem?.

A professora exerceu seu papel de escriba registrando todas as

informações levantadas sobre o “problema” surgido. O grupo decidiu

então que iria estudar sobre o assunto e aprender mais sobre o dente.

Nesse momento surgiu o projeto “POR QUE MEU DENTE CAIU?”.

Continuaram conversando e tomaram algumas decisões de como

iriam trabalhar para efetivar o novo estudo: por onde começar, quem faria

o que, onde buscar informações e quais seriam as fontes de pesquisa, que

recursos utilizar, quem poderia ajudar. Após organizou-se tudo o que as

crianças falaram em uma teia.

Com tudo organizado, o primeiro passo para começar o projeto

foi a solicitação da professora para que cada criança trouxesse para a

319

escola um dente de leite, seu ou de outra criança, com objetivo de

observar as características, semelhanças e diferenças. Para isso, a turma

foi dividida em dois grupos para procederem à observação. Depois se

reuniram novamente para relatar a conclusão de suas observações na

rodinha de conversa.

Partindo da hipótese de que dentes caem para vir os novos!,

buscaram descobrir qual a importância da troca do dente de leite para o

permanente e de que maneira isso ocorre. A leitura de histórias foi uma

rica fonte de pesquisa: "Menino Chuim" – que perde seu dente

inesperadamente e "A linda janelinha" – uma menina que tem seu dente,

chamado Dentolino, despedindo-se da sua boca.

As histórias foram registradas livremente pelas crianças através

de desenhos. Também foi confeccionado o dente Dentolino com garrafa

pet. A turma foi dividida em dois grupos e cada grupo ficou responsável

por pintar com tinta guache duas bocas grandes de papel pardo, uma com

uma boca saudável e o dente perdido do menino Chuim e outra boca com

os dentes cariados.

Para enriquecer ainda mais o estudo, foi assistido o vídeo do

Youtube: "Princesinha, meu dente caiu", que conta a história da princesa

que perdeu o seu dente porque estava ficando grande. As cr ianças

puderam concluir que a troca de dentes é sinal de que estão crescendo e

que todas as crianças passam por esse processo na infância.

Buscando discutir a respeito da afirmação: bebê não tem dente, e

que aproximadamente aos seis meses é inquieto e agitado em

consequência da coceira na sua gengiva, conhecimento esse demonstrado

320

através da fala das meninas da turma, Manuele e Eliane, que têm

irmãozinhos bebês, a professora leu a história “O bebê ainda não tem

dente”.

Foi proposto a construção de uma linha do tempo num cartaz em papel

pardo, com figuras recortadas de bebês de 0 a 1 ano e de 1 ano até a

idade das crianças da turma (5 anos). A atividade permitiu debater na

rodinha de conversa questões como: "com que idade começam a nascer

os dentes dos bebês" e "em que idade acontece a troca". Nesse momento

surge um elemento novo na discussão: o uso da chupeta. Algumas

inquietações se fizeram presentes: "até que idade se faz necessário o uso

da chupeta", "o uso da chupeta prejudica o crescimento dos dentes",

"qual das crianças da turma usa chupeta".

No intuito de buscar informações a esse respeito foi elaborado e

enviado para os pais um questionário para que colaborassem com

informações a cerca do tema: motivo da troca de dentes pelas crianças,

relação da alimentação com dentição saudável, relação do uso da chupeta

e dentição, coisas que gostaria de saber sobre o assunto.

Com o retorno dos questionários, a professora concluiu que

também os pais demonstraram não possuir muitos conhecimentos a

respeito do assunto. Somando-se as dúvidas das crianças dos pais, foi

convidada uma dentista da UPF, que trabalha do Estratégia Saúde da

Famí lia da Zácchia, para conversar com a turma e tentar esclarecer tantas

dúvidas. Antes da visita a dentista tomou conhecimento dos

questionários e das curiosidades das crianças e preparou sua fala a partir

deles. A visita da dentista foi uma rica fonte de informações. Ela prestou

321

uma série de esclarecimentos bem importantes, como: a necessidade de

uma alimentação saudável, a função dos dentes de leite e como acontece

a troca, o cuidado para evitar as cáries, o uso da chupeta e os hábitos de

higiene. Também elaborou um material escrito para enviar às famílias e

orientou a escovação correta com todas as crianças da turma.

Após a visita da dentista, a aluna Manuele, que até então usava

chupeta, decidiu trocá-la por uma escova de dentes e a partir desse dia

não usou mais a mesma.

Depois da visita da dentista as crianças já demonstraram algum

conhecimento a respeito da hipótese Se não cuidar, o dente cai, através

de suas falas: Se come muito doce dá cárie no dente., É a bactéria que

come o dente ., O dente fica podre e dói e daí tem que ir no dentista

arrumar., Tem que escovar sempre os dentes depois das refeições.

A professora optou por trabalhar essa etapa do projeto em dois

eixos distintos, para melhor compreensão das crianças: alimentação e

higiene. Na parte da alimentação, utilizou o clássico da literatura infantil

João e Maria para realizar várias atividades: roda de conversa, reconto da

história, confecção dos dedoches dos personagens, confecção de um

dente saudável com massa de modelar. Foi solicitado que as crianças

trouxessem de casa balas, pirulitos, chicletes, doces em geral para colar

no cartaz intitulado "A casa dos doces de João e Maria", que foi exposto

na sala de aula.

Para tratar a respeito da higiene, a professora propôs a confecção

de um livrinho, de cinco páginas, a partir de um cartaz que contava a

história de um dentinho solitário, que não conhecia os materiais de

322

higiene (escova, creme dental, fio dental). Cada criança coloriu as

páginas do seu livrinho e colou pedacinhos de papel laminado prata para

dar a ideia de um dente branquinho e saudável.

Depois foi trabalhado a letra da música "Escovar bem os

dentinhos". A professora trabalhou a letra da música em um cartaz onde

as crianças fizeram a leitura, localizaram e destacaram as vogais,

relacionando com as letras do seu nome. Confeccionaram fantoches com

os personagens da letra da música: a dentista, o dentista, a cárie, a

escova, o creme dental e fio dental. Apresentaram um teatro para os

colegas da turma e para a turma do maternal. Para encerrar a parte da

higiene, cada criança trouxe de casa o rótulo do creme dental que usa

para montar um painel. Foi feita a comparação entre os rótulos.

Trabalhando um pouco a questão do imaginário infantil,

demonstrada na fala Quando o dente cai, a fada da moeda vem, a turma

pesquisou na internet sobre a origem da história da fada do dente, que

leva o dente em troca de uma moeda, mas só se for saudável. Depois o

dente vira estrela. Foi feita uma roda de conversa para discutir a respeito

de quem acredita na fada e quem não acredita. Observou-se que todas as

crianças acreditam na existência da fada do dente, principalmente depois

da pesquisa. A turma assistiu aos filmes "A fada do dente 1 e 2", em dias

diferentes, e após cada filme retomavam a conversa e faziam a releitura

através de desenhos.

Para mostrar o projeto desenvolvido foi enviado para as famílias o

texto explicativo elaborado pela dentista a partir das dúvidas enviadas

323

nos questionários; confeccionado um livro contendo os desenhos,

atividades, fotos, explicações, registros de tudo o que envolveu o projeto.

324

PROJETOS DESENVOLVIDOS AO LONGO DE

QUATRO ANOS NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE

EDUCAÇÃO INFANT IL

ABELHINHAS

Diretora: Sônia Rodrigues da Costa

Lua quem é você? (CD-Rom)

AMIZADE

Diretora: Cláudia Neci Dutra Bilhar

Caminhão do CD (CD-Rom)

Frio

CANTINHO FELIZ

Diretora: Roselise Maria Borchardt

O nenê (CD-Rom)

CHAPEUZINHO VERMELHO

Diretora: Ingrid Denise Garbin

A barriga da prô Bezerro (CD-Rom)

Golfinho (CD-Rom)

CRIANÇA FELIZ

Diretora: Marla Maria Debastiani Maffi

Abelhas e borboletas dando asas ao saber

325

ESTRELA DA MANHÃ

Diretora: Maria Júlia Dolberth

Comidinhas Gostosas (CD-Rom)

Minhoca ou Minhoco? (CD-Rom)

FADINHA

Diretora: Maria Alaíde Winter Ferreira

Porque tanta casinha igual?

FOFÃO

Diretora: Guiomar Salete Bolner

Cavalo (CD-Rom) Formigas (CD-Rom)

Olha prô! A árvore tá pelada.

FRANCISCO LUIZ BIANCINI

Diretora: Solange Edília de Andrade Freitas

Caça ao Piolho (CD-Rom)

GENY ARAÚJO REBECHI

Diretora: Maribel Tessaro

Armário (CD-Rom) Brincar e aprender na era digital (CD-Rom)

JARDIM DO SOL

Diretora: Márcia Inês Oliveira da Silva

Bicho Esquisito (CD-Rom) O que se esconde atrás da porta?

JOSÉ ANTÔNIO FALCÃO

Diretora: Vera Nice Palma Argerich

O Mofo

MARGARIDA

Diretora: Adriana Tortelli

Como cuidar do bebê Por que meu dente caiu? (CD-Rom) Sardinha – “O que é isso?” (CD-Rom)

326

MARIA ELIZABETH

Diretora: Sueli Fernandes de Souza

As Galinhas (CD-Rom)

Prô olha o sapo!

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

Diretora: Ivone Apostolo de Oliveira

Pano molhado (CD-Rom)

Pretinha, a cachorrinha (CD-Rom)

O MUNDO DA CRIANÇA

Diretora: Maria das Dores Borba Mareth

Dona Aranha (CD-Rom)

Prô, tem um sapo na tua mochila? (CD-Rom) Prô, tu tem ferro na boca?

OSÓRIO CARDOSO TEIXEIRA

Diretora: Iracema de Lara Bortoluzzi

Árvore (CD-Rom) Lua

PADRE PERGENTINO DALMAGRO

Diretora: Soeli Martins Santos

Como nasce o feijão? (CD-Rom)

PADRE ZEZINHO

Diretora: Elda Teresinha da Silva

Lápis (CD-Rom)

O arco-íris do caracol (CD-Rom) Reciclagem (CD-Rom)

PEQUENO POLEGAR

Diretora: Fabiane Placedino

Frango (CD-Rom) Sombra

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RAIO DE LUZ

Diretora: Marilsa Bilhar Zanotto

A pinha do pinhão (CD-Rom)

Contracheque O que tem dentro do caminhão?

Olha o cavalo! (CD-Rom) Porque a borboleta está parada? (CD-Rom) Pra onde vai o dente velho? (CD-Rom)

São índios prô? (CD-Rom) SANTA LUZIA Diretora: Márcia da Silva Henz Caixa D’água

Quem botou o lixo ali? (CD-Rom) SILOÉ ROCHA BORDIGNON

Diretora: Martha Lúcia Bernardon As formigas Tucanos

SONHO ENCANTADO

Diretora: Maria Arlete Pereira

Au, Au (CD-Rom) Cueca ou calcinha

De onde vem o leite? (CD-Rom) Brinquedo de Plástico

TIO PATINHAS

Diretora: Lídia Beatriz Boscatto Kerber

Feijão (CD-Rom)

Polenta (CD-Rom)

URSINHOS CARINHOSOS

Diretora: Enoir Santana

Música na escola (CD-Rom)

Não gosto de carne de galinha, só de cavalo, tem? (CD-Rom)