Performance em Ensino de Inglês

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO PUC – SP NILTON MENDES Performance no Ensino de Inglês MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2012

Transcript of Performance em Ensino de Inglês

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

NILTON MENDES

Performance no Ensino de Inglês

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA

LINGUAGEM

SÃO PAULO

2012

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

NILTON MENDES

Performance no Ensino de Inglês

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção

do título de mestre em Linguística

Aplicada e Estudos da Linguagem, sob

a orientação da Prof.ª Dr.ª Fernanda

Coelho Liberali.

SÃO PAULO

2012

FICHA CATALOGRÁFICA

MENDES, Nilton. Performance no Ensino de Inglês

São Paulo: 2012

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Área de Concentração: Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem.

Orientadora: Professora Doutora Fernanda Coelho Liberali

BANCA EXAMINADORA

________________________

________________________

________________________

Dedicatória

Zilda,

isso tudo é meu e seu , meu amor.

Acho que agora

“Those school boy days

Of telling tales

And biting nails

are

gone.”

Agradecimento Especial

À minha orientadora Fernanda Liberali.

E pensar nos amigos que nos tornamos

E pensar nos amigos que agora tenho

E pensar nas coisas que eu sei

E pensar nos lugares que eu conheci

E pensar nas coisas que eu consegui

E pensar nas coisas que eu ainda posso ser

Por sua causa.

Obrigado.

Para calar a boca: rícino

Pra lavar a roupa: Omo

Para viagem longa: Fuga

Para difíceis contas: Pretini

Para o pneu na lona: jacaré

Para a pantalona: nesga

Para pular a onda: litoral

Para lápis ter ponta: Ciça Magalhães

Para o Pará e o Amazonas: látex

Para parar na Pamplona: Assis

Para trazer à tona: Zé Eduardo

Para a melhor azeitona: Ibéria

Para o presente da noiva: marzipã

Para Adidas: o Conga nacional

Para o outono, a folha: exclusão

Para embaixo da sombra: guarda sol

Para todas as coisas: Liberali

Para que fiquem prontas: Larissa

Para dormir a fronha: madrigal

Para brincar na gangorra: Lemos

Para fazer uma touca: bobs

Para beber uma Coca: drops

Para ferver uma sopa: graus

Para a luz lá na roça: Barbosa Lopes

Para vigias em ronda: café

Para limpar a lousa: Carrie Lobman

Para o beijo da moça: paladar

Para uma voz muito rouca: hortelã

Para a cor roxa: ataúde

Para a galocha: Verlon

Para ser moda: melancia

Para abrir a rosa: Gazzotti

Para aumentar a vitrola: Heloize

Para a cama de mola: hóspede

Para trancar bem a porta: Malu do LAEL

Para que serve a calota: Volkswagen

Para quem não acorda: Cláudia Ferreira

Para a letra torta: Gabi Freire

Para parecer mais nova: André e Maurílio

Para os dias de prova: Cláudia Guedes

Para criar com os alunos : barulho

Para quem se afoga: Meaney

Para levar na escola: Dionéia, Teresa, Bel

Para os dias de folga: Rafael

Para o automóvel que capota: Fer Gomes

Para fechar uma aposta: Zanella

Para quem se comporta: brinde

Para a mulher que aborta: repouso

Para saber a resposta: M. Guerra

Para escolher a compota: Jundiaí

Para a menina que engorda: Hipofagi

Para a comida das orcas: Krill

Para o telefone que toca,

Para a água lá na poça,

Para a mesa que vai ser posta,

Para você, o que você gosta:

Diariamente.

Mashup de agradecimentos meus e

“ Diariamente” de Nando Reis.

Obrigado a todos.

Mesmo.

N.

Toda Arte Tem Musas

Luci Bonini

Vânia Gorgulho

Onélia Miranda

Marize Campos

&

Um belo dia resolvi mudar

E fazer tudo que eu queria fazer

E em tudo que eu faço

Existe um porquê

Eu sei que eu nasci

Sei que eu nasci pra saber

Pra saber o quê ?

(Rita Lee)

RESUMO

Performance no Ensino de Inglês

Nilton Mendes

O objetivo desta pesquisa é compreender criticamente o papel da Performance

na atividade de ensino-aprendizagem em Língua Inglesa. Esta investigação

busca entender criticamente o conceito de performance proposto por Holzman

na participação de alunos em sala de aula em de cenas de Improvisação.

Também aborda a sua pós discussão sobre o resultado desta atividade para

um agir crítico-reflexivo no mundo, a partir da produção de significados

compartilhados. O eixo teórico reside na Teoria da Atividade como iniciada

pelos trabalhos de Vygostsky, além Leontiev e Engeström, o brincar e os

conceitos de ZPD de Vygotsky. Este trabalho é uma Pesquisa Crítica de

Colaboração por conceber a transformação por meio de uma participação ativa

e conjunta na negociação dos sentidos e significados. O foco deste tipo de

pesquisa é conhecer, observar, transformar para viabilizar possíveis

intervenções, contribuindo com referenciais na produção argumentativa de

alunos e professores. Os dados foram produzidos por meio de gravações de

vídeo, sendo selecionadas 4 aulas para que seus excertos compusessem o

corpus para análise. As categorias de análise e interpretação foram

organizadas a partir de Pontecorvo, Magalhães, Vygostsky, Bahktin e Muniz. A

análise indica que os alunos produzem conhecimento de forma colaborativa

entre os participantes da sala. Além disso, desenvolvem a argumentação em

inglês para externalizar conhecimentos que refletirão em vivências fora do

contexto escolar.

Palavras chave: performance, improviso, argumentação, produção oral, ensino

de língua inglesa

ABSTRACT

Performance in English Teaching

Nilton Mendes

The objective of this research is to understand critically the role of Improvisation

in the activity of teaching and learning in English. This research seeks to

understand critically the concept of performance proposed by Holzman on

student participation in classroom scenes of improvisation. It also discusses

their post discussion on the outcome of this activity to a critical-reflexive action

in the world, from the production of shared meanings. The theoretical basis lies

in the Activity Theory as initiated by the work of Vygotsky, along with Leontiev

and Engeström, Play and the concepts of Vygotsky's ZPD. This work is a

Critical Collaboration Research to design transformation through active

participation and joint negotiation of meanings. The focus of this type of

research is to know, observe, make it possible to enable interventions,

contributing to references in the production of argumentative students and

teachers. The data were produced by video recordings. Four classes were

selected for their excerpts compose the corpus for analysis. The categories of

analysis and interpretation were created from Pontecorvo, Magalhães,

Vygotsky, Bahktin and Muniz. The analysis indicates that students produce

knowledge collaboratively among the participants in the classroom. Moreover,

students develop argumentation in English to externalize knowledge that can be

reflected in experiences outside of school.

Keywords: performance, improvisation, argumentation, oral production, English language teaching

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 16

CAPÍTULO 1 24

Fundamentação Teórica

1.1 A Teoria da Atividade Socio-Histórico-Cultural (TASCH) 24

1.2 Conceitos Científicos e Cotidianos 29

1.3 Zona de Desenvolvimento Proximal (ZPD) 31

1.4 Jogar Brincar Atuar 32

1.5 Breve Panorama Histórico da Performance 45

1.6 Performance e Role-play 46

1.7 Improvisação ( Improv ou Impro ) 48

Capítulo 2 53

Produção Oral, Argumentação e Produção de Conhecimento

2.1 Produção oral em inglês dentro do da sala de aula 53

2.2 Argumentação 60

2.3 Argumentar na perspectiva enunciativo-dialógica 63

2.4 Argumentar e construir conhecimento na da sala de aula 65

CAPÍTULO 3 67

Metodologia de Pesquisa

“Onde será que isso começa?”

3.1 A pesquisa crítica de colaboração 67

3.2 Contexto da escola 69

3.3. A escola e a condução da pesquisa 71

3.4 O professor-pesquisador 73

3.5 Alunos participantes 74

3.6 O que a escola entende como “Aula” 75

3.7 Tipos de tarefas encontradas no material didático para básico 76

3.8 A organização de uma tarefa de produção oral para o método da

escola 77

3.9 Descrição da tarefa usada para produção de dados 78

3.10 Aulas escolhidas para coleta de dados 79

3.11 Descrição das cenas gravadas para produção de dados 81

3.12 Categorias de análise 82

3.13 Categorias de Interpretação 87

3.14. Questões Éticas e Credibilidade da Pesquisa 87

CAPÍTULO 4 91

Análise de Dados

“Showtime”

4.1. Descrição do Contexto – Aula 1 92

4.1.1 - AULA 1 93

4.1.2 - AULA 1 94

4.1.3 - AULA 1 96

4.1.4 - AULA 1 97

4.2. Descrição do Contexto – Aula 2 109

4.2.1 - AULA 2 110

4.2.2 - AULA 2 111

4.2.3 - AULA 2 112

4.2.4 - AULA 2 113

4.2.5 - AULA 2 113

4.2.6 - AULA 2 114

4.2.7 - AULA 2 115

4.3. Descrição do Contexto – Aula 3 127

4.3.1 - AULA 3 127

4.3.2 - AULA 3 129

4.3.3 - AULA 3 130

4.4. Descrição do Contexto – Aula 4 145

4.4.1 - AULA 4 146

4.4.2 - AULA 4 147

4.4.3 - AULA 4 149

4.4.4 - AULA 4 152

Considerações Finais 158

“And the show must go on…”

BIBLIOGRAFIA 161

Orquestração, Samples, Remixes, Extendend Versions, CD, LP e K7

ANEXOS 169

Todas as mídias

Anexo 1: Transcrições de aula do Básico 4

Anexo 2: Documento Comitê de Ética (protocolo no. 340/2011)

Anexo 3: Gravações audiovisuais das cenas

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Componentes da atividade

Quadro 2: Componentes da atividade

Quadro 3: Planejamento de tarefas de aula de inglês usando performance

Quadro 4: Falar – Processos

Quadro 5: Foco na fluência

Quadro 6: Retórica

Quadro 7: Gêneros

Quadro 8: Persuasão

Quadro 9: Metodologia da pesquisa

Quadro 10: Formação de Professores

Quadro 11: Tarefa em sala de aula

Quadro 12: Cenas

Quadro 13: Nível Discursivo

Quadro 14: Modalidades de co-construção

Quadro 15: Modalidades Argumentativas

Quadro 16: Categorias de análise interativa do discurso

Quadro 17: Desenvolvimento da Improvisação

Quadro 18: Categorias de Interpretação

Quadro 19: Credibilidade da pesquisa

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Triângulo da Atividade Social

Figura 2: Organização da Pesquisa

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

GP – Grupo de Pesquisa

LA – Linguística Aplicada

LACE – Linguagem em Atividades do Contexto Escolar

LAEL – Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

PCCol – Pesquisa Crítica de Colaboração

PP – Professor Pesquisador

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

TASCH – Teoria da Atividade Sócio Histórico Cultural

ZPD – Zona de Desenvolvimento Proximal

���

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa vem contribuir para os estudos sobre performance no

ensino de inglês como língua estrangeira, bem como para práticas de sala de

aula de outras disciplinas, criando possibilidades de repertório para

professores, sempre, trazendo a contribuição dos alunos para o resultado final

da atividade que se realiza.

Em sua prática como professor de inglês durante 16 anos, o autor desta

pesquisa percebeu como o espaço de sala de aula foi sendo transformado com

novas tecnologias, novas necessidades trazidas pelos alunos e novas formas

de entender a constituição das linguagens nas interações sociais. A exigência

dos alunos, nos contextos de trabalho do autor deste trabalho, demonstrava

que o espaço de sala de aula não era mais somente um local da exposição da

estrutura do idioma, mas um lugar que tivesse reflexo nas situações do mundo

real no qual o inglês tinha de ser usado.

Como participante do grupo LACE (Linguagem em Atividades do

Contexto Escolar), o autor entrou em contato com as discussões sobre o

conceito de performance discutido por Holzman (1993/2002) e as ideias sobre

brincar/jogar/atuar e os jogos de improvisação propostos por Lobman e

Ludquist (2007). Estes fatores foram fundamentais para iniciar um processo de

questionamento das tarefas que o autor conduzia como professor,

transformando-o em um pesquisador da própria prática na busca de

transformar os espaços escolares nos quais estava inserido. Nessa

perspectiva, buscava elucidar como a performance acontecia, quais seus

elementos constitutivos, como a improvisação poderia ser performance e a

diferença entre performance e role-play.

Há, no meio, ainda uma grande confusão se performance é nada mais

do que um role-play, um role-play sem script ou uma brincadeira sem regras,

em que qualquer cena valeria. Por isso a importância de entendê-la e,

consequentemente, inseri-la na pesquisa, sabendo de suas características, de

sua historicidade e suas diferenças em relação às outras formas de expressão

artística.

���

A pesquisa se iniciou com uma análise de “A Arte da Performance” do

professor Jorge Glusberg, falecido em 2012, além da presença do autor da

pesquisa em exposições e mostras para ver artistas em processo de criação.

Além disso, sentidos sobre performance foram discutidos entre professor-

pesquisador (PP) e atores, autores, juntamente com a pesquisa de programas

de TV de improvisação.

Ainda durante o processo de condução da pesquisa, houve conversas

com artistas performáticos das artes do corpo, e a participação no congresso

“Performing the World 2010” com seus workshops sobre performance.

O PP também participou de cursos de improvisação, sendo aluno-

performer-improvisador e, assim, foi constituindo e organizando sentidos sobre

o tema com apresentações de trabalhos em seminários e reuniões

pedagógicas.

Consequentemente, foi criando novos sentidos de performance e sobre

improvisação baseado nos sentidos que já trazia com o conhecimento e

bagagem cultural acrescidos de novas descobertas pertinentes ao que pode

ser entendido por performance.

A performance estava até mesmo presente no mero ato de digitação do

texto desta pesquisa ao som dos Improptus de Chopin, tocados repetidamente.

Estas peças são tocadas rapidamente ao piano e foram usadas para

inspirarem o autor da pesquisa a escrever e digitar de forma mais fluida.

Improptus é traduzido como improviso, e são formas livres de composição

musical com o caráter de uma improvisação levada pelo espírito do momento,

usualmente em um instrumento solo, como, por exemplo, o piano.

Então, o conceito de performance, proposto por Holzman (2009),

contribui com esta discussão ao ser aprofundado nas análises das práticas que

ocorrem no ensino-aprendizagem de língua estrangeira. Ao criar oportunidades

de tarefas de performance para que os alunos façam uso da língua-alvo, pode-

se fazer com que os alunos passem a ter condições de "ir além de si mesmos,

a fim de tornar-se quem eles podem ser, sendo quem eles não são”

(HOLZMAN, 1997). Descobrem assim novas formas de negociação e

expressão em uma outra língua.

��

A sala de aula de aula é um espaço de constante necessidade de

transformação e adaptação ao contexto e aos novos objetivos dos alunos. Para

isso, requer um professor reflexivo que transforme esse espaço frente a essas

novas necessidades. Um professor reflexivo pensa em novas possibilidades

para suas aulas, levando não somente os alunos, mas também ele próprio a

novos e melhores resultados, dessa maneira, construindo profissionais e

cidadãos. Assim, com base na perspectiva da Teoria Socio-Histórico-Cultural

(TASCH) transforma a realidade na qual está inserido.

O ambiente de sala de aula quanto ao ensino de línguas pode ser palco

de contato de novas culturas para o aluno, experimentando com um novo

idioma. Isso pode acontecer a partir de tarefas propostas nas quais seu

conhecimento de mundo seja realmente levado em consideração, na

construção de sentidos e significados.

Outro fator a ser levado em consideração é o trabalho em conjunto com

parceiros durante as tarefas. Atuando de forma colaborativa, os alunos podem

procurar diferentes formas de resolver um problema no palco que a sala de

aula pode ser.

Com foco neste cenário, o PP percebeu, em seu contexto, a

necessidade de elaboração de tarefas que pudessem aproveitar ativamente o

desempenho e a bagagem cultural e de vida trazidas pelos alunos. Tarefas que

pudessem contemplar diálogos, debates, criação de histórias ou esquetes para

que assim se pudesse analisar criticamente como (e quais) tarefas de

produção oral podem favorecer o uso da língua-alvo e sua relevância real para

os alunos.

O objetivo da pesquisa então se firmou como um processo para

investigar como a performance e as discussões sobre performance podem

proporcionar um ambiente de produção de conhecimento com foco no

desenvolvimento da produção oral.

Assim, diferentes e transformadores resultados podem ser atingidos

quanto ao ensino de línguas na produção oral em sala de aula, em ensino de

idiomas. Essas tarefas de performance podem ser momentos de criação, risco

e experimentação com a língua que levam o aluno a resultados possivelmente

não imaginados por ele inicialmente.

��

Entre estudos anteriores sobre performance e o contexto de sala de aula

(de língua inglesa ou outros), destaca-se: Oliveira (2011) intitulada “A Atividade

Aula De Teatro Como Instrumento Na Produção De Conhecimento”, que usa as

aulas de teatro como momentos de construção da consciência de seus alunos,

mostrando que, por meio da performance e da argumentação, os alunos vão

não somente construindo seus personagens, mas transformando seu modo de

agir no mundo ao analisarem criticamente os exercícios, ensaios e discussões

desenvolvidas nas aulas de teatro.

Santos (2011) fala diretamente sobre a performance e exercícios de

improviso em “A Formação Do Agir Crítico-Reflexivo Nas Aulas de Filosofia”,

em que a autora discute as possibilidades criadas para os alunos em sala de

aula na disciplina de Filosofia, usando a criação de cenas e esquetes baseadas

no dia a dia, discutindo posteriormente com os alunos o que foi aprendido

naquela situação em específico, levando as crianças a possíveis conclusões

antes não vislumbradas por elas mesmas.

Especificamente sobre língua e performance, podemos trazer o trabalho

de Dogliani (2003), “Artes Performáticas e Aquisição da Norma Culta”, cujo

objetivo foi verificar os resultados das artes performáticas em relação ao

processo de aquisição da norma culta da língua portuguesa, com alunos de

uma escola da rede municipal de Belo Horizonte. A autora também discute

brevemente a questão abordada neste trabalho sobre role-play (representação)

e performance (apresentação), com os alunos se constituindo como falantes de

português culto no desempenho de um jornal falado.

Ainda sobre performance e língua inglesa, podemos trazer o trabalho de

Pretini (2011), “Enunciados Narrativos e Performáticos no Ensino-

Aprendizagem Com Base Em Atividades Sociais: A Relação Teoria-Prática Na

Formação De Professores”, em que o autor apontou o uso da performance e

brincar na formação de professores de inglês e suas atuações na preparação

das aulas e na condução delas. Tais performances, segundo o autor, criam

oportunidades de crescimento quando os adultos trazem seus sentidos e

significados compartilhados não somente no plano verbal, mas também em

modos de agir transformados pelo discurso.

���

Este estudo “Performance no Ensino de Inglês” busca elucidar

especificamente o uso de tarefas de performance para experimentar

possibilidades de criar colaborativamente, co-construir conhecimento e

trabalhar a produção oral do aluno. Os trabalhos anteriores posicionam-se

sobre o uso da performance como práticas transformadoras que possibilitam a

discussão de vivências, porém não trazem maiores desdobramentos sobre a

questão específica da produção oral em inglês, que é o ponto central para a

condução desta pesquisa.

Neste trabalho de pesquisa, a linguagem é o foco de análise das

relações produzidas dentro de sala de aula, como espaço de relações sociais.

Por isso, este trabalho insere-se na Linguística Aplicada (LA), pois

compreenderá criticamente a linguagem produzida nas tarefas de sala de aula,

investigando criticamente suas relações.

Além disso, nas discussões propostas em sala de aula, foram analisados

os turnos entre alunos e o PP com foco na argumentação. A argumentação

pode levar os alunos a reflexões críticas sobre o que desempenham em sala

de aula, na discussão quanto ao que foi produzido no idioma praticado em sala

e também suas ações, decisões e opiniões e seu reflexo na vida real.

A argumentação está ligada, dentro do contexto desta pesquisa, à

construção do saber, à produção de conhecimento a partir de tarefas propostas

em sala de aula, nas quais os alunos possam agir de forma colaborativa.

Citando Liberali (2009), a linguagem tornar-se-ia tanto o objeto a ser construído

para criar espaços à participação maior dos educadores nas discussões sobre

sua prática como o instrumento que serviria para desenvolver ideias e construir

propostas concretas para a reconstrução de suas ações.

Estudar e compreender criticamente, focando nos indivíduos da

pesquisa, é uma das intenções da LA mais atual, pois, segundo Moita Lopes

(2008, p.23):

São necessárias teorizações que dialoguem com o

mundo contemporâneo, com as práticas sociais que as

pessoas vivem, como também os desenhos de pesquisa que

considerem diretamente os interesses daqueles que trabalham,

agem etc. no contexto de aplicação

���

O autor aponta que a LA se encontra em momento de revisão de suas

bases epistemológicas, considerando que se a linguagem é uma prática social,

ao estudarmos a linguagem, estamos estudando a sociedade e a cultura das

quais ela é parte constituinte e constitutiva. Por conseguinte, as práticas

discursivas não são neutras e envolvem escolhas (intencionais ou não)

ideológicas e políticas, atravessadas por relações de poder, que provocam

diferentes efeitos no mundo social. Importante também considerar que, há na

contemporaneidade, uma multiplicidade de sistemas semióticos em jogo no

processo de construção de sentido (Moita Lopes, 2008).

A questão citada no parágrafo anterior relaciona-se a este trabalho de

pesquisa porque os participantes desempenham tarefas de performances

constituindo suas identidades como falantes da língua Inglesa. A forma de

conduzir essas tarefas e modos como compreendem o objetivo de fazê-las são

base para a criação de uma cultura, considerando o momento histórico e o

contexto social no qual os alunos estão inseridos.

O modo como argumentam no espaço da sala de aula, juntamente ao

PP, dá voz de forma igualitária a todos os participantes no embate de conflitos

e opiniões trazidas por todos, eliminando traços de hierarquia que podem ser

prejudiciais ao processo de construção de conhecimento.

Este trabalho pode inserir-se nesta forma de conceber a LA, pois a

linguagem que se estabelece nas interações propostas nas cenas pode ser

constitutiva e constituinte do espaço colaborativo no qual elas acontecem.

Importante mencionar também como este trabalho pode se inserir em

uma das “viradas” da LA: a performativa, na qual as identidades são

performadas em vez de pré-formadas (PENNYCOOK, 2006, p.80). Isto é, o

sujeito vai construindo sua identidade por uma série contínua de performances

sociais e culturais em vez da expressão de uma identidade anterior. Mais

ainda, a linguagem permeia esta construção de identidade, com o sujeito

constituindo-se, em seu discurso, nas relações com os outros envolvidos.

Esta virada performativa descrita pode possibilitar uma maneira de olhar

criticamente para a linguagem e para a identidade sendo construídas na

performance linguística em vez de serem pré-dadas (PENNYCOOK, 2006,

p.82). Continuando as palavras deste autor, esse modo de ver a identidade

���

linguística “nos ajuda a entender como as subjetividades passam a existir e

como são sedimentadas com o passar do tempo por meio de atos linguísticos

regulados” e “o uso da linguagem é um ato de identidade que possibilita a

existência daquela língua”.

Para concluir a ideia da virada da LA cita-se Moita Lopes (2006, p.90),

que aponta que “cabe problematizar os modos de produzir conhecimento, de

forma a falar diretamente às mudanças avassaladoras que vivemos na vida

contemporânea para que seja possível questionar os construtos que vêm

orientando a pesquisa na tradição da LA”.

O objetivo da pesquisa então se firmou como um processo para

investigar como a performance e as discussões sobre performance podem

proporcionar um ambiente de produção de conhecimento com foco no

desenvolvimento da produção oral.

Com o objetivo delineado de investigar como a performance e as

discussões sobre performance podem proporcionar um ambiente de produção

de conhecimento com foco no desenvolvimento da produção oral, as questões

que buscam ser respondidas se colocam da seguinte maneira:

A performance contribui para o desenvolvimento da produção oral em

inglês dos alunos? Como?

Os dados foram produzidos em uma escola de inglês, no bairro de

Perdizes em São Paulo, com alunos de uma turma de Básico 4, com média

entre 25 e 30 anos de idade. Os dados demonstram tarefas de produção oral

que foram gravadas e, depois, exibidas para os alunos para que pudessem

discutir os elementos de cena usados que estavam sendo aprendidos no curso.

No total foram gravadas 41 cenas de performance e discussão em turmas da

escola. Escolheu-se essa turma de Básico 4 em específico pelo fato de o PP

ter mais horas-aula com eles, acompanhando-os por todo o ano de 2011.

Dentro de um total de 18 cenas de performance e discussão que foram

transcritas na sua totalidade pelo pesquisador, foram escolhidos 4 aulas, das

quais foram escolhidos 20 excertos de cenas de performance e discussões

pós-performances para serem analisadas nas categorias de análise e

���

interpretação descritas no capítulo metodológico. Estes excertos foram

escolhidos por trazerem variados aspectos referentes às performances e

discussões sobre como elas poderiam fornecer elementos relevantes para a

análise.

Esta dissertação organiza-se em 4 capítulos. O primeiro apresenta a

fundamentação teórica na qual esta pesquisa é baseada, buscando elucidar a

questão do jogar/brincar/atuar dentro da sala de aula como base para produção

de conhecimento e o engajamento na atividade como um modo de propiciar

diferentes vivências. O capítulo abordará também as questões de conceitos

cotidianos e científicos, sentido e significado, zona de desenvolvimento

proximal (ZPD), além dos aspectos constituintes da Teoria da Atividade Socio-

Histórico-Cultural.�

O segundo capítulo, “Produção Oral, Argumentação e Produção de

Conhecimento”, traz considerações sobre aspectos da linguagem como a

produção oral em inglês, argumentação e a perspectiva enunciativo-dialógica

no processo de construção do conhecimento.

O terceiro capítulo, “Metodologia da pesquisa - “Onde será que isso

começa?”, expõe os aspectos da Pesquisa Crítica de Colaboração (PCCol)

(MAGALHÃES, 2006), que analisa e observa a interação colaborativa entre

todos os participantes da pesquisa, constituindo contextos para conflitos e

resoluções de problemas por meio da argumentação. Situa também o leitor no

contexto da escola e seu material didático, bem como descreve o processo de

condução da pesquisa, o PP e os alunos participantes. Além disso, o capítulo

aborda as questões de produção de dados, suas categorias de análise e

interpretação e questões de credibilidade e ética da pesquisa.

O quarto capítulo, “Análise e discussão de Dados – Showtime”,

apresenta a discussão da análise de excertos das cenas de produção de dados

a partir das categorias de análise e interpretação, esquematizando os dados

transcritos dentro de tabelas com suas respectivas anotações de análises.

Em seguida, o trabalho apresenta as “Considerações Finais – And The

Show Must Go On” do autor, discutindo as respostas encontradas para as

perguntas de pesquisa. �

���

Capítulo 1

Fundamentação Teórica

Este capítulo busca elucidar a ideia do jogar/brincar/atuar dentro da sala

de aula como base para produção de conhecimento. A produção oral e a

fluência em língua inglesa podem ser transformadas na interação entre os

pares construindo cenas colaborativamente, fazendo uso da improvisação e

discutindo-as em conjunto com o professor.

Para esclarecer esta concepção, este capítulo tratará das questões

principais para a pesquisa como o brincar e fazer performance por meio de

improvisações para produção de conhecimento. Para desempenhar tais

performances, é importante também elucidar as questões de conceitos

cotidianos e científicos, sentido e significado e zona de desenvolvimento

proximal (ZPD).

As discussões dos alunos sobre produção de conhecimento e co-

construção da consciência, neste trabalho de pesquisa, organizam-se como

uma atividade social, mediada pela linguagem em busca de um objeto

compartilhado. Os aspectos constituintes desta atividade serão discutidas ao

tratar da Teoria da Atividade Socio-Histórico-Cultural.

A seção seguinte trata especificamente sobre a questão do

jogar/brincar/atuar e a participação dos envolvidos e o engajamento na

atividade como propiciadoras de diferentes vivências.

1.1 A Teoria da Atividade Socio-Histórico-Cultural (TASCH)

Baseado em Marx, Vygostky (1934) refere-se sobre a atividade social

como uma atividade prática na qual o sujeito é agente transformador do

contexto em que está inserido, dentro de um momento histórico, sendo parte

da criação de uma cultura. A teoria da atividade focaliza o desenvolvimento do

sujeito mediado pela linguagem, pois ela é fonte que constitui o pensamento. É

pela linguagem que o indivíduo pode participar de interações sociais,

construindo suas funções sociais, culturais e comunicativas e planejando suas

ações.

���

Segundo Cole (1998), Vygotsky considerava que os processos de

constituição da consciência se estruturavam e se desenvolviam por meio de

“atividade prática mediada simbólico-culturalmente pelas linguagens, conforme

o desenvolvimento histórico das condições materiais de produção de

determinada sociedade”.

A presença do pensamento de Marx nos estudos de Vygotsky tem a ver

com o fato de que a consciência partia “dos homens, da sua atividade real”.

(MARX, 2002, p. 26). É na atividade que se produz, cria-se, transforma-se e se

compreende, pois Marx acreditava que a representação das ideias está

diretamente imbricada com o que o indivíduo vive na vida real, nas ações que

ele desempenha. Marx dizia que “É na vida real, onde termina a especulação,

que começa a ciência real, positiva, a representação da atividade prática, do

processo de desenvolvimento prático dos homens”. (MARX, 2002, p. 27).

Existe a relevância de considerarem-se todas as condições existentes

no contexto em que essa atividade acontece. E, por isso, a importância de usar

toda a bagagem cultural trazida pelos indivíduos, além de compreender

criticamente o momento histórico em que vivem, bem como as condições

sociais do contexto onde constituem sua vida. Esta ideia pode ser

complementada por Gazzotti (2011, p. 28), que compreende que “o processo

de ensino-aprendizagem é fundamentalmente social e histórico, pois sua

constituição está sujeita às influências de fatores externos ao indivíduo”.

O termo “vida-que-se-vive” é encontrado nesta pesquisa, pois existe o

objetivo de fazer com que as tarefas desempenhadas em sala de aula não

somente tragam a bagagem cultural e de vida dos alunos para dentro da

escola, mas que essas tarefas também possam ter relevância na vida que os

alunos levam fora do ambiente escolar, constituindo a consciência deles como

cidadãos do mundo.

O papel da linguagem é fundamental no processo dialético para

construção da consciência. Com ela, os indivíduos participam de um processo

especial de diálogo pelo qual visões ou opiniões opostas podem ser

reconciliadas umas com as outras para estabelecerem transformação

(WOODFIN;ZARATE, 2004). Na interação com outros, estes indivíduos

���

transformam não somente os contextos onde vivem, mas também a si próprios.

Para elucidar essa discussão sobre o papel da linguagem Marx afirma:

A linguagem é tão velha quanto a consciência, a linguagem é a

consciência real prática que existe também para outros homens e que,

portanto, só assim existe também para mim, e a linguagem só nasce,

como a consciência, da necessidade da carência de contatos com

outros homens (MARX, 2002, p. 38)

Com base nesse cenário de movimento dialético e na importância da

linguagem, como descrito por Marx, Vygotsky aponta, em seus estudos, o

papel da atividade dos sujeitos mediada pela linguagem para a constituição do

pensamento.

Com as performances (assunto a ser tratado a seguir), os alunos em

sala de aula podem ter a oportunidade de vivenciar situações que não são

imediatamente realizáveis, compreendendo as regras que compõem

determinada situação, desse modo, sendo possível vislumbrar, em formas de

agir, o viver no contexto social no qual estão inseridos. Isso pode transformar a

sala de aula em uma zona de construção conjunta de possibilidades

(LIBERALI, 2009).

A Teoria da Atividade Socio-Histórico-Cultural está ligada à forma como

o Grupo LACE, da PUC-SP, tem trabalhado nos últimos anos com os conceitos

de Vygotsky e seus seguidores. Ela é de extrema importância para esta

pesquisa por mostrar a organização das interações que ocorrem em aula entre

os participantes discutindo suas práticas. A TASCH foi primeiramente

desenvolvida por Vygotsky (1896-1934), depois, Leontiev (1904-1979) e Luria

(1902-1970) e mais atualmente por Engestrom (1948-)

A explicação dos três aspectos da TASCH no quadro do grupo LACE é:

(a) o sujeito está inserido em um contexto que possui suas regras e é

criado a partir de valores existentes nelas;

(b) o sujeito está nesta sociedade que possui uma historicidade; ele é

parte dela e a constrói;

(c) vivendo em sociedade, o sujeito interage com seu meio e os

indivíduos, adotando práticas e ideias comuns entre si.

���

Leontiev destacou e atualizou esta perspectiva que a atividade acontece

entre os sujeitos envolvidos, que agem em conjunto para a obtenção de um

objeto idealizado. Este autor (1972) reforça a ideia do motivo (motive) existente

no objeto da atividade.

Diferentes atividades são distinguidas por seus motivos. O

conceito de atividade é necessariamente ligado ao conceito de

motivo. Não existe atividade sem o motivo; atividade

“desmotivada” não é uma atividade que não tem motivo, mas

sim uma atividade com um motivo escondido objetivamente e

subjetivamente 1

Em seguida, Engeström (1999) complementa e expande a ideia de que a

prática compartilhada e a organização da atividade em um sistema conjunto

buscam um objeto compartilhado pelos mesmos sujeitos de uma comunidade.

A partir das ideias de Leontiev, o autor chegou a este triângulo expandido que

representa graficamente a organização de uma atividade:

(Engestrom, 2002, p. 183) �

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Neste triângulo, os elementos têm a seguinte importância, representados

no quadro a seguir:

Sujeitos São aqueles que agem em relação ao motivo e realizam a atividade.

Comunidade São aqueles que compartilham o objeto da atividade por meio de divisão de trabalho e das

regras.

Divisão do trabalho São ações intermediárias realizadas pela participação individual na atividade, mas que não

alcançam independentemente a satisfação da necessidade dos participantes. São tarefas e

funções de cada um dos sujeitos envolvidos na atividade.

Objeto É aquilo que satisfará a necessidade, o objeto desejado. Tem caráter dinâmico,

transformando-se com o desenvolvimento da atividade. Trata-se da articulação entre o

idealizado, o sonhado e o desejado que se transformam no objeto final ou no produto.

Regras Normas explícitas ou implícitas na comunidade.

Artefatos/instrumentos/

ferramentas

Meios de modificar a natureza para alcançar o objeto idealizado, passíveis de serem

controlados pelo seu usuário, revelam a decisão tomada pelo sujeito; usados para o alcance

de fim predefinido (instrumento para o resultado) ou constituído no processo da atividade

(instrumento e resultado) (NEWMAN; HOLZMAN, 2002).

Quadro 1: Componentes de uma atividade.

(Liberali, 2009, p. 12).

Esse quadro explica os componentes da atividade como um sistema

cujo sujeito, nesta atividade, é movido por um motivo (objeto), mediado por

artefatos e instrumentos, em um processo de interação com indivíduos de uma

comunidade, organizada por meio de regras e pela divisão do trabalho.

A TASCH tem grande importância para esta pesquisa por tornar possível

o entendimento do desenvolvimento dos alunos como parte de atividades

concretas da vida humana.

A discussão de possibilidades de maneiras diversas de agir na "vida-

que-se-vive", fazendo uso de um idioma que não é a língua materna, faz com

que a apropriação da língua estrangeira (LE) não se dê somente de forma

estrutural, mas de uma forma na qual os alunos possam perceber seu real uso,

tendo essa ideia reforçada por Liberali (2009, p.16), que diz, sobre as tarefas

de sala de aula em LE, “são exemplos a ser considerados de projetos de

inserção na vida cultural que perpassam questões de linguagem, tornando-se

objetos de reflexão e apropriação de formas de ação e de discussão sobre a

forma como a linguagem veicula ideias e sugere aspectos da vida”.

��

Para exemplificar a presença da TASCH organizando e as atividades de

discussão com os alunos para esta pesquisa, tem-se:

Atividade Social • Discussão sobre como a tarefas de performance desempenhadas podem

auxiliar na transformação da produção oral na aula de inglês.

Sujeitos • Qualquer pessoa que busque desenvolver sua produção oral em inglês no

papel de alunos.

• Professor.

Comunidade • Coordenação.

• Pais dos alunos.

• Equipe da escola. (NEWMAN; HOLZMAN, 2002).

Divisão do trabalho • Alunos desempenham exercícios de performance em sala de aula, assistem ao

vídeo, discutem com as perguntas guiadas pelo professor-pesquisador.

• Professor-pesquisador conduz exercícios, grava os dados em áudio e vídeo e

conduz a discussão.

Regras • Entender como as tarefas serão feitas.

• Fazer uso do que foi estudado em sala de aula para ser usado nas tarefas.

• Desempenhar a tarefa dada pelo professor.

• Gravar dados produzidos.

• Assistir aos dados da participação na tarefa.

• Discutir a participação na tarefa criticamente, principalmente na questão de

como/quanto do idioma foi usado.

• Encontrar aspectos a serem trabalhados para as próximas tarefas de

desenvolvimento da produção oral.

• Professor conduz discussão sobre performances e faz questionamentos sobre a

produção oral na busca de novos sentidos e significados.

Artefatos/instrumentos

/ferramentas

• Material didático do curso.

• Câmera de vídeo.

• Exercícios extras.

• Televisão.

• Performances.

• Jogos de improviso.

• Discussão oral sobre as performances.

Objeto • Criação de novos significados sobre como trabalhar a produção oral por meio

da performance, baseado na argumentação dos participantes.

Quadro 2: Componentes de uma atividade.

(Liberali, 2009, p. 12).

1.2 Conceitos Científicos e Cotidianos

Com base no entendimento de que a linguagem e a interação são

aspectos constitutivos do pensamento humano, Vygotsky (1934/2008)

diferencia os conceitos cotidianos daqueles científicos como processos

���

intrapsicológicos que acontecem “de fora para dentro”. Quando analisava o

desenvolvimento da criança, apontava que os conceitos cotidianos acontecem

a partir de suas vivências pessoais e que os conceitos científicos estavam

relacionados às situações ocorridas dentro de situações de aprendizagem

formal, como na escola.

Com base nessa diferenciação, o desenvolvimento da consciência está

na ligação entre estes dois grupos de conceitos, influenciando um ao outro. No

ambiente de sala de aula, a transformação de conceitos espontâneos em

científicos pode acontecer pela consideração do que o aluno traz para a sala

de aula como parte do processo dialético, levando em conta sua experiência de

vida.

A sala de aula pode ser um encontro de diferentes visões de mundo e

necessidades intrínsecas dos alunos e do professor. Neste espaço, pode-se

então levar em consideração a bagagem cultural e de vida dos alunos que

pode auxiliar na aquisição de conceitos ensinados formalmente como parte de

um sistema de ensino.

Para complementar a discussão sobre os conceitos cotidianos e

científicos, Vygotsky (1934/2008) diferencia sentidos, que são valores e

crenças trazidas de experiências subjetivas vividas anteriormente para que eles

possam se transformar na construção conjunta de diferentes significados.

Significados são criados por um grupo em uma atividade, fazendo disso

momento histórico, criando uma cultura específica para os sujeitos inseridos

naquele grupo.

Nesta diferença entre sentido e significado, a sala de aula pode

constituir-se como um espaço dialético de troca de conhecimento entre os

participantes, para que eles possam internalizar conceitos e desenvolver o

pensamento através da fala. Os alunos podem se apropriar de conceitos mais

formais, podem criar conjuntamente e externalizar novos conhecimentos,

valores, novos sentidos e significados compartilhados.

Por isso, pensar em Vygotsky é pensar em transformação de uma

cultura e revoluções – não revoluções de guerras e lutas. Pensar no

desenvolvimento humano de forma dialética, visando a mudanças, é uma

revolução.

���

1.3 Zona de Desenvolvimento Proximal (ZPD)

Para que ocorra transformação e revolução, como citado no item

anterior, é necessário um espaço que promova o movimento dialético e

colaborativo entre todos os participantes. A constituição desse espaço requer

então uma discussão sobre as Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZPDs). A

sigla ZPD vem da tradução do inglês “Zone of Proximal Development”, que foi

primeiramente definida, por Vygostky (1934/2008), como distância entre o nível

de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. Outros

autores revisaram e trouxeram para discussão formas de entender a ZPD.

Magalhães (2009), ao fundamentar esse conceito, faz referência à

interpretação usada da ZPD como área de desenvolvimento das funções que

ainda não amadureceram. Para esta autora, a ZPD “é tida como uma zona de

ação criativa, uma atividade transformadora ‘prático-crítica’, em que a

colaboração e criticidade são imprescindíveis à possibilidade de criação de

novas trilhas de desenvolvimento” (MAGALHÃES, 2009).

Para o grupo de pesquisa LACE, no qual este trabalho se insere, a

definição de ZPD constitui-se como um movimento ecológico-colaborativo de

transformação mútua e contínua do que somos e no que nos tornamos. Essa

definição, transcrita por Freire (2011), foi desenvolvida em conjunto por alunos

e professora na aula da disciplina de pós-graduação “Sala de aula, linguagem,

emoção e atividade” do LAEL/PUC-SP, ministrada pela Profª. Drª. Fernanda

Coelho Liberali. O PP, como participante do grupo LACE, estava presente em

25 de novembro de 2009, fazendo parte da criação deste significado

compartilhado de ZPD.

A compreensão do termo “ecológico” para este significado compartilhado

supracitado, foi baseada no estudo de econfuncionalidade (DEL RIO;

ALVARÉZ, 2007) em relação à ZPD, pelo qual pode se entender que todos os

fatores que estão à volta do indivíduo são notados como aspectos que influem

diretamente em seu desenvolvimento. As mediações acontecem externamente,

depois, de forma interpessoal e, finalmente, de maneira intrapessoal. Isso

depois voltará ao meio como produto criado pelo indivíduo que acabou de

passar por todo esse processo descrito. “É importante perceber a evolução

���

conceitual de ZPD e trazer para a nossa dissertação a escolhida que faz mais

sentido para o que estamos tentando dizer, explicar e estudar" (MAGALHÃES,

2010).

A criação de múltiplas e variadas ZPDs, em diferentes ocasiões da vida,

é importante ao se pensar em uma aula e em suas tarefas. Assim, a produção

de conhecimento é compartilhada por todos os participantes, num processo de

troca, transformando a ZPD em “zonas de sentido” como definido por Santos

(2011), na qual todos os participantes trazem seus sentidos para a criação de

novos significados compartilhados.

1.4 Jogar/Brincar/Atuar “O que na vida real passa despercebido pela criança,

torna-se uma regra de comportamento no brinquedo”

(VYGOTSKY, 1984/2002, p. 111).

Vygotsky (1930/2009) afirma que o brinquedo (brincar, jogar ou atuar)

pode fornecer um período de transição entre o significado das palavras e dos

objetos. O brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos, seu papel no

jogo e suas regras.

Com o brincar em sala de aula, o professor pode pensar em situações

imaginárias, criação de personagens e os sentimentos envolvidos para que tais

situações possam proporcionar momentos nos quais o aluno possa colocar em

prática diversas possibilidades com o que já sabe (seus sentidos), juntamente

com o que está aprendendo e do que ainda está por vir em seu

desenvolvimento (significados). “Criar uma situação imaginária, seja qual for

seu conteúdo, é atividade revolucionária” (Newman; Holzman, 1993/2002, p.

119).

Isso poderia fazer o aluno entender melhor não somente o “como”, mas

o “porquê” de agir em determinada situação. Para tal momento de percepção, é

preciso basear-se em Newman e Holzman (1993/2002, p.115) que, discutindo

Vygotsky, mencionam que:

O brincar dá à criança uma forma nova de desejos (regras).

Ensina-a a desejar relacionando seus desejos a um “eu” fictício, a seu

���

papel no jogo e suas regras. Desse modo, as maiores conquistas da

criança são possíveis no brincar, conquistas que amanhã se tornarão

seu nível básico de ação e moralidade.

O modo como o indivíduo se coloca no jogar/brincar/atuar, mesmo

desempenhando papéis, funções e ações que não são esperadas, proporciona

sentimentos e ações que promovem seu desenvolvimento e, assim, ele vai

aprendendo enquanto se desenvolve, brincando.

“A criança, ao querer, realiza seus desejos. Ao pensar, ela age. As

ações internas e externas são inseparáveis: a imaginação, a interpretação e a

vontade são processos internos conduzidos pela ação externa” (VYGOTSKY,

1984/2002, p. 119). Para a sala de aula, os alunos podem internalizar conceitos

e externalizar o processo de construção do conhecimento por meio de tarefas

que envolvam o brincar.

Newman e Holzman (1993/2002, p. 113) listam três formas de brincar,

todas com extrema importância no desenvolvimento do indivíduo: 1)

brincadeira livre (as atividades de faz-de-conta e fantasia), 2) jogos

(brincadeiras mais estruturadas com regras) e 3) a encenação ou

desempenho teatral (performance). Com maior foco neste último item, o

brincar de performance, com script ou sem, improvisando totalmente, pode

construir aspectos de aprendizagem, emocionais, de experiências de vida.

Desta forma, os alunos têm oportunidades de construírem “ambientes em que

possam atuar criativamente sendo ao mesmo tempo o que são e o que estão

se tornando” (HOLZMAN, 2009, p. 88).

Para o ensino de idiomas, este conceito de performance será relevante,

pois, além de desempenharem papéis, as performances proporcionam aos

alunos a oportunidade de usarem outra língua. É uma atividade revolucionária

dupla: além de terem a oportunidade de criar um repertório de experiências e

vivências, lidando com o inesperado que as cenas feitas em sala propõem,

fazem concomitantemente uso da língua inglesa como instrumento e produto

desta atividade. Estes dois elementos (desempenhar papéis e usar outro

idioma) andam juntos para que o produto desta atividade seja útil para a vida

real do aluno fora da escola, como um cidadão transformador dos contextos

nos quais ele faça parte.

���

Levando-se em consideração o trabalho de pesquisa a ser descrito

neste estudo, a sala de aula pode ser um espaço de criação, uma ZPD

(VYGOSTKY, 1934/2009), no qual os alunos podem trazer o que já conhecem

(seus sentidos) para o desenvolvimento de novos saberes.

O conceito de ZPD como esse espaço criativo traz a visão de Magalhães

(2009) da importância do trabalho colaborativo nestes espaços, fazendo com

que o professor e aluno pensem na escola como comunidade “em que todos se

envolvam na criação de escolhas de forma colaborativa e crítica”. Assim, todos

os envolvidos são participantes de um todo que busca um objeto

compartilhado, tomando parte numa atividade coletiva.

Então, com um olhar para a sala de aula como neste tipo de espaço

apresentado, cabe ao professor, em todos os momentos de sua prática,

entender, vislumbrar, “brainstormar” como transformar este espaço em um

lugar que possa também ser relevante e participativo.

Pensando no conceito de brincar, os desafios e regras envolvidos na

brincadeira/jogo/atuação podem possibilitar a criação de ZPDs para vivenciar

ações que poderão ser parte da vida do sujeito na resolução de conflitos,

tomadas de decisões e expressões de opiniões.

Por isso, elencam-se, a seguir, algumas definições do dicionário on-line

Michaelis1 para brincar:

• Divertir-se infantilmente; entreter-se.

• Agitar-se com movimentos graciosos.

• Divertir-se representando o papel de.

• Divertir-se fingindo exercer qualquer atividade.

Pode-se perceber que existe a questão de divertir-se com brincadeiras e

jogos de criança, mas também de fingir ser outra pessoa e representar.

Continuando essa apresentação das definições, e também pelo fato de ser

uma pesquisa que traz a presença de outro idioma (o inglês), coloca-se, aqui, o

que estabelece o dicionário on-line Merriam Webster2 sobre algumas definições

de “play”:

• Ser adequado para o desempenho dramático.

• Participar ou tomar parte em um jogo.

���

• Atuar em uma posição de uma maneira específica.

• Realizar uma ação durante sua vez em um jogo.

• Engajar-se em (uma atividade) como um jogo.

• Colocar-se em uma performance de (uma peça).

• Atuar como personagem ou papel.

Vemos também uma mistura entre o jogo como brincadeira, competição

e diversão com o sentido de atuar em papéis, em peças e em apresentações.

Por isso, ao tratar das obras sobre brincar (como a de Vygotsky, 1934/2009,

por exemplo), os autores e tradutores usam a ideia de brincar com base nos

contextos que lhes dizem respeito: ora como jogo em sala de aula, ora cenas

teatrais, como jogos/brinquedos de criança, tendo em vista a diversão ou o

trabalho de se apresentar e/ou representar.

O espaço de sala de aula pode proporcionar ao aluno experiências que

acontecem na vida real, seja pela discussão sobre determinado tópico ou em

um jogo de papéis desempenhados em sala de aula. Existem as ideias trazidas

pelos alunos, sua bagagem cultural e de vida que podem ser um fator

extremamente enriquecedor para a condução da aula e para o planejamento

das próximas. Desta forma, o professor não é o único detentor do saber,

aquele que “passa” a matéria. Ele pode ser aquele que compartilha seus

sentidos com os que são trazidos por cada um de seus alunos, criando novos

significados, fazendo com que a sala de aula seja um espaço colaborativo e de

transformação no processo de ensino-aprendizagem.

1 Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=brincar> Acesso em 02 de junho

de 2012

2 Disponível em <http://www.merriam-webster.com/dictionary/play?show=1&t=1345650229> Acesso em 02 de junho de 2012

���

Entendendo o conceito de ZPD como espaços de criação

(MAGALHÃES, 2009), a aula pode ser uma oportunidade para que se

assumam riscos, cometam-se erros, além de ser um espaço de apoio

colaborativo entre seus participantes, em conjunto. Assim, a ZPD é

atividade criativa, de improviso (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007), pois os

envolvidos realizam algo ainda não dominado, constituindo-se por irem além de

si mesmos.

Jogar/brincar/atuar em sala de aula pode trazer estas oportunidades

para dentro da ZPD como espaço de criação, dessa maneira, transformando o

modo de trabalhar dos envolvidos. Tratando especificamente do jogo teatral,

Spolin (2010, p.25) ressalta que a ZPD pode promover a construção de formas

artísticas, passando primordialmente pelo que é estabelecido e combinado pelo

grupo “por meio de regras livremente consentidas entre os parceiros”.

Tratando especificamente de jogos de improvisação, Lobman e

Lundquist (2007) trazem a ideia de que o resultado imaginado e realizado pelo

grupo é essencial para que o aluno perceba que ele faz parte de um todo

(ensemble), comparando-o com esportes jogados em times nos quais todos

usam suas habilidades em favor do todo.

Além do mais, esta oportunidade de trabalhar em grupo, nos espaços

criativos dentro da sala de aula, pode ter efeitos transformadores nos

indivíduos que neles participam, criando no jogo objetos e ambientes a partir do

nada. Na voz de Spolin (2007, p.31-32), estes momentos podem acontecer por

inúmeras vezes, “a partir do movimento físico intensificado e da troca desta

energia em movimento entre os parceiros”. A autora reforça que o que é criado

pelo grupo, num jogo teatral, é a mágica e a parte intrínseca destes jogos.

“Qualquer jogo digno de ser jogado é altamente social e propõe

intrinsecamente um problema a ser solucionado” (SPOLIN, 2010, p.5).

Trabalhando em grupo, os indivíduos podem ter um sentimento de inclusão na

criação de coisas dentro do ambiente em sala de aula, sem se sentirem

extremamente expostos, afinal, encontram-se num espaço que, mesmo

heterogêneo, contém indivíduos que estão ali para aprender alguma coisa e

que podem compartilhar entre si.

���

Por isso, num momento de jogar/brincar/atuar em sala de aula, nas

zonas de criação, é importante pensar criticamente os fatores sociais e

psicológicos envolvidos nestes espaços, nos quais o aluno traz sua bagagem

de vida, pois estas condições, de acordo com Wessel (1987, p. 9/10), “são

condutoras de criar uma atmosfera de confiança, relaxamento e cooperação

mútua, em que o aluno se sinta confiante e feliz o suficiente para assumir um

papel diferente ou persona”.

Este espaço de trabalho em grupo pode preparar os alunos para as

experiências que existirão na vida real, fora da escola, onde necessitarão

socializar com outras pessoas, negociar, concordar, discutir, convencer, opinar,

enfim, expressar-se. Por isso, este espaço pode ser capaz de libertar os

envolvidos no seu processo de criação e de expressão pessoal, permitindo

igualdade entre os participantes, colaborativamente. Reforçando esta

importância do ambiente criado em grupo na esfera da cognição, Spolin (2010,

p. 3) refere que “se o ambiente permitir, pode-se aprender qualquer coisa, e se

o indivíduo permitir, o ambiente lhe ensinará tudo o que ele tem para ensinar.

“Talento” ou “falta de talento” tem muito pouco a ver com isso”.

O espaço de sala de aula pode constituir-se como espaço importante de

preparação, de conquistas, de refutação e discussão sobre as formas de agir

na vida real, fazendo com que certas formas de jogo/brincar/atuar sejam um

ensaio para os desafios que os alunos possam vir a enfrentar em suas vidas. A

criação de significados compartilhados pode enriquecer a experiência dos

alunos para viverem em sociedade. As crianças e os professores criam o

ambiente na sala de aula; o qual não existe separado deles. Mesmo dentro das

limitações de salas de aula atuais e currículos, os envolvidos “podem

criar ambientes de apoio (mais criativos e de improvisação) de aprendizagem,

e ver todos como os criadores do ambiente é um componente extremamente

importante” (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007).

O espaço de sala de aula pode ser um palco de performances, de

papéis, de personagens, de alunos sendo atores e descobrindo-se � formando

a consciência de um ser que age e transforma nos espaços que habita. Liberali

(2009), baseada em Veresov, discorre que a palavra stage (palco) é uma

“arena onde os participantes assumem o papel não só de espectadores, mas

��

de performers improvisadores, atuando nessa nova realidade". E acrescenta,

baseada também em Vygotsky, que

o brincar implica considerar a forma como os sujeitos

criam zonas de possibilidades futuras para a participação em

atividades do mundo social, ou seja, cria a base para a

integração do espaço escolar com a vida, uma vez que,

organiza esse local como atividade imaginária e recria as

atividades sociais da vida para permitir sua apropriação

(LIBERALI, 2009).

As formas de agir nestas situações podem ocorrer dentro do próprio

grupo trabalhando colaborativamente. No jogar/brincar/atuar em sala de aula,

ambientes, regras e resoluções podem emergir do trabalho conjunto, das suas

diferenças e similaridades, “junto com todas as técnicas que os alunos-atores

estiverem desenvolvendo” (SPOLIN, 2010, p.30).

No caso do ensino de inglês como LE, as pessoas buscam aprender

este idioma para trabalhar, viajar, enfim, viver em contextos onde este idioma é

falado, ouvido, lido, escrito. Por isso, a sala de aula e seus espaços criados

podem ser oportunidades para que se experimente e se arrisque o idioma

ensinado, num ambiente amigável e de trabalho em conjunto. Neste caso, o

jogar/brincar/atuar pode promover estes ensaios para o risco, o inesperado. No

que diz respeito a atuar, Ladousse (1988) sublinha que esta tarefa é útil para a

vida real, pois permite não somente adquirir frases prontas, mas

aprender como a interação pode ocorrer em uma variedade de situações.

Para que estas experiências possam ser ensaiadas, vivenciadas e

discutidas dentro da sala de aula, é preciso lançar outro olhar atinente ao

jogar/brincar/atuar. Como exemplifica Holzman (2009), muitos professores são

capazes de organizar espaços de criação nos quais as emoções dos alunos

sejam levadas em conta, transformando o momento do jogar/brincar/atuar de

forma profícua.

Os autores citados neste trabalho, como Vygostky (1934/2009),

Ladousse (1988), Lobman (2007), Holzman (2009), Prescher (2010), Spolin

(2010) e Oliveira (2011), têm um ponto em comum ao falarem do papel do

jogar/brincar/atuar no desenvolvimento da criança, que o faz sem perceber

��

inicialmente as regras, fazendo pelo prazer e satisfação existente no ato de

brincar e se apropriando de significados nos contextos social e cultural onde

está inserida. Ladousse (1987, p.5) compara crianças brincando de escola ou

médico com as brincadeiras existentes dentro da sala de aula, nestes

momentos, eles estão inconscientemente “criando sua própria realidade e, ao

fazê-lo, estão experimentando com o seu conhecimento de mundo real e

desenvolvendo a sua capacidade de interagir com outras pessoas”.

Por isso, ao invés de ser tratado de forma marginal, que preenche

espaços vazios e excedentes do horário da aula ou visto como passatempo,

jogar/brincar/atuar pode ser levado seriamente em consideração como

momentos enriquecedores de criação, de compartilhamento de ideias e

discussões, podendo dar uma leveza e um possível prazer à aula e

possibilitando a discussão de temas importantes e relevantes de forma

agradável. “Jogos bem escolhidos podem ser altamente motivadores: utilizam

linguagem significativa e contextos reais, divertem, desafiam, encorajam e

incentivam a colaboração” (PRESCHER, 2010, p.27).

Prescher (2010) demonstra os benefícios que alunos têm ao usar jogos

em sala de aula, especificamente, para o ensino de idiomas. A autora tem um

foco mais voltado para a estrutura usando termos como “competência”,

“habilidades”, “professor como facilitador” e “competição”. Existe a importância

de levar em consideração o conteúdo que é ensinado, porém para esta

pesquisa o mais relevante é compreender criticamente como a produção do

conhecimento por meio do jogo pode ser um processo de contribuições

mútuas, na interação entre os pares, mediado pela linguagem.

Tomando uma posição mais contundente em relação ao

jogar/brincar/atuar, Spolin (2010, p.21) afirma que o jogo não é meramente

lúdico e “constitui-se como o cerne da manifestação da inteligência no ser

humano”. Segundo a autora, o jogo é colocado à margem dos trabalhos de sala

de aula e a escola o nega como “poderoso instrumento de ensino-

aprendizagem” (SPOLIN, 2010, p.21).

Para que então o jogar/brincar/atuar possa surtir o efeito desejado e útil,

deve-se pensar de forma crítica e reflexiva em jogos escolhidos e elaborados

pelo professor, nos quais ele possa ter claro quais são seus objetivos e qual

���

será a condução deste jogar/brincar/atuar. Também, o jogo pode ser escolhido

tendo-se em mente os espaços criados que promovam ações colaborativas,

com as quais os participantes aprendem uns com os outros.

Dentro do jogar/brincar/atuar, a experiência pode se tornar mais real e

mais participativa com a colaboração dos alunos e professor. Vivenciar pode

não ser necessariamente só falar sobre o assunto, e sim saber o que se sente

e como se atua em determinada situação. Através do jogar/brincar/atuar, os

envolvidos podem desenvolver formas de agir em situações não imaginadas

anteriormente, criando novos significados a partir dos sentidos criados em

grupo, fazendo com que o resultado do jogo possa ser útil para a vida e não

somente dentro da sala de aula.

Falar sobre ir a um museu é diferente de brincar de ir a um museu, por

exemplo. A experiência de brincar de fazer esta atividade pode ser mais

relevante para o repertório de experiências do aluno, pois seu envolvimento no

jogar/brincar/atuar pode ser maior e mais ativo, satisfazendo o aluno de forma

cognitiva e emocional, também, inspirando nele um olhar crítico sobre a

atividade de visitar um museu. Assim, ele pode perceber e viver como se

organizam as regras, a comunidade, a divisão do trabalho e os instrumentos da

atividade social “ir ao museu”.

Discutir como se faz, como se age, o que se sente numa determinada

atividade, dentro de um espaço de criação na sala de aula, pode ser mais

enriquecedor no processo de construção do conhecimento. “Quando nós

damos aos alunos o cenário de uma situação ou proporcionamos que eles a

imaginem, aprofundamos suas percepções sobre a situação” (WESSEL, 1987,

p.7). Assim, os alunos podem pensar em várias sensações e ações com a

tarefa em estudo.

Com isso, os riscos e o ato de vivenciar possibilidades estão sempre

presentes nos jogos de dramatização em sala de aula. Os alunos podem

arriscar com a linguagem que já possuem, em situações que podem ocorrer

fora da escola, usando inglês como língua-alvo ensinada. Quando menciona a

dramatização, Gontow (2005, p.8) reforça esta tomada de risco, pois

���

o teatro recria a vida e a linguagem usada no teatro é

muito próxima à linguagem usada na vida real. Na vida real, as

pessoas hesitam, cometem erros, esquecem o que iam

dizer [...] eles entendem mal uns aos outros, deixam frases

inacabadas, são interrompidos por outros.

Nesta gama de possibilidades que podem ser criadas no espaço de sala

de aula, o aluno tem a liberdade de compreender certas formas de agir porque,

quando se assume um personagem no jogo, ao invés da sua personalidade

real, fica mais fácil jogar de forma mais livre, pois você não é você: é o

personagem que está desempenhando e pode ser “divertido fingir ser outra

pessoa e dizer e fazer muitas coisas que você não faz sua vida cotidiana

[...] Você pode ser ridículo, você pode dizer coisas ridículas” (GONTOW, 2005,

p.8). Este processo de assumir um personagem, segundo Spolin (2010, p.5), é

como uma espécie de descanso do cotidiano que se dá ao próprio eu, ou as

férias da rotina de todo os dias.

Para o contexto de ensino de inglês como língua estrangeira, o aluno

pode se preparar para situações em que possa fazer uso da língua-alvo,

interagindo com outros participantes, construindo seu discurso e

compreendendo formas de agir em diferentes contextos de vida. Nestas

situações, de acordo com Wessel (1987, p.9) “os alunos têm de

ser participantes ativos, usando a sua imaginação, e interagir uns com os

outros. Assim, quase que inconscientemente, eles estão adquirindo habilidades

de comunicação em língua estrangeira”.

Propor tarefas de jogar/brincar/atuar em sala de aula pode colocar os

alunos em contato com situações em que se sintam instigados a comunicarem-

se com palavras, gestos, feições, grunhidos, sons para que possa existir

comunicação. Isso pode acontecer em exercícios de dramatização, pois,

segundo Ladousse (1988), os alunos veem-se em oportunidades onde são

obrigados a usar e desenvolver formas fáticas de linguagem que são

importantes para tais tipos de situação.

É comum, nessas situações, que os alunos e professores se

surpreendam com momentos espontâneos de criação e de uso de linguagem

antes não imaginados por eles, pois, num momento de crise, quando nos

���

sentimos compelidos a produzir, “a pessoa ’normal’ transcende os limites

daquilo que é familiar, corajosamente entra na área do desconhecido e libera

por alguns minutos o gênio que tem dentro de si” (SPOLIN, 2010, p.3-4).

Com a ZPD em mente como espaço de criação para isso, pode-se

perceber a importância de possibilitar momentos como estes para que os

alunos descubram que existem formas de criação guardadas em si e que

podem ser usadas de forma muito útil no seu processo de aprendizagem e de

vida. Holzman (2009, p.47) pontua que

as pessoas são capazes de fazer o que eles

não sabem como fazer, ou seja, criar os ambientes que

criam o seu crescimento. Quando isso acontece, as

pessoas descobrem não só como fazer o que eles não

sabem como fazer, mas igualmente importante, que

podem fazê-lo.

Esta espontaneidade dentro destes espaços de criação traz um frescor e

possível prazer, para alunos e professores, nas descobertas feitas, no

momento em que se ensina-aprende em sala de aula. A espontaneidade é um

momento de explosão da criação e pode liberar o aluno com seus colegas de

suas amarras, lembranças nunca antes reveladas e ideias não desenvolvidas.

Como discute Bakhtin (2003), na interação social, dá-se o apropriamento da

palavra do outro quando há apresentação de pontos de vista, discordância ou

concordância, construindo sentidos por meio da palavra, reelaborando os

enunciados. Spolin (2010, p.4) reforça este pensamento do momento da

descoberta como uma experiência de criação, pois todas as “nossas mínimas

partes funcionam como um todo orgânico” frente a uma situação nova, de

aventura, de risco e de exploração.

Os participantes têm a oportunidade de descobrir que é possível fazer

determinadas ações sem saber que podem fazê-lo e vivenciar como é esta

experiência nas possibilidades, dentro da sala de aula, com o

jogar/brincar/atuar. Mais enriquecedor pode ser o fato de discutir-se a respeito

da experiência que acabou de ser desempenhada no momento do

���

jogar/brincar/atuar e perceber criticamente como isso pode influenciar nas

tomadas de decisão e nas formas de agir que existem na vida real.

O estímulo existente no momento de jogar/brincar/atuar faz com que o

conhecimento possa ser co-construído além da liberdade pessoal do aluno que

existe dentro do jogo, visto que sua personalidade não está implicada

(LADOUSSE, 1988). Assumindo papéis, o aluno pode testar possibilidades

baseadas nas situações que emergem de jogos/atuações, transformando sua

atuação no mundo fora da sala de aula.

Nesse processo de criação artística dentro do espaço criativo da sala de

aula, o “novo” sempre pode acontecer e nascer a todo momento. Como em

qualquer forma de arte, é o artista que “deve executar o parto da nova

realidade que nós (plateia) impacientemente esperamos” (SPOLIN, 2010,

p.15). Todos os alunos e professores podem ser “performers”, pois todos

podem ser capazes de “ser quem são e quem não são” (LOBMAN;

LUNDQUIST, 2007, p.18).

Por isso, para que estes momentos de expressão criativa e artística

possam acontecer dentro da sala de aula, o planejamento do professor é

importante para que tais tarefas que envolvam jogar/brincar/atuar tenham os

resultados esperados, lembrando que cada sala tem uma reação ao jogo, um

modo de conduzir a tarefa e produzir dentro dela. É importante saber quem é o

seu auditório, sua plateia, imaginar quais resultados possíveis podem ser

atingidos e os possíveis percalços.

O processo de jogar/brincar/atuar não ocorre tão facilmente na primeira

vez (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007). É interessante existir uma variedade de

tentativas e explicitação de objetivos e regras, pois estas tarefas não funcionam

com um simples “agora vá e faça” ou “qualquer coisa vale”. Pois se “a base for

cuidadosamente colocada, o acordo sobre problemas posteriores – tais como

lugar (onde?), personagem (quem?) e atividade (o quê?) – virá mais facilmente

com cada exercício” (SPOLIN, 2010, p.29).

Com a repetição das tarefas e a criação de um repertório sobre como

desempenhar estes tipos de tarefas, pode-se ir criando, no aluno e na sala

como um todo, uma sensação de familiaridade frente a situações como estas,

para que ele possa perceber que certos aspectos podem ser melhorados nas

���

próximas tarefas ou jogos (seja pronúncia, entonação, vocabulário e estruturas

escolhidas, modos de agir e de negociar). Discutir com os alunos o que foi

desempenhado, usado e errado durante o jogo pode ser enriquecedor para que

alunos e professores percebam suas qualidades e outros talentos a serem

desenvolvidos.

O processo de promover argumentação sobre as tarefas em sala de aula

faz com que a linguagem seja tanto objeto a ser construído para criar espaços

criativos de colaboração com todos os participantes envolvidos nas discussões

quanto instrumento para desenvolver ideias e reconstruir ações (LIBERALI,

2005).

Cabe trazer, neste momento, o papel da plateia que assiste ao jogo

como parte orgânica deste processo. Eles não são meros espectadores que só

veem um jogo ou atuação acontecer. Para o mundo do teatro, segundo Spolin

(2010), a plateia é seu membro mais reverenciado, pois sem ela o espetáculo

não tem razão de existir. Eles assistem, avaliam e se deleitam com o trabalho

de quem está jogando/brincando/atuando. Por isso, a responsabilidade do

aluno-ator é mais importante quando há uma plateia que o assiste dentro da

sala de aula, pois “quando um jogador ou grupo trabalha no foco do jogo, todos

os outros que fazem a plateia compartilham o jogo. Aquilo que foi comunicado

ou percebido pelos jogadores na plateia é então discutido por todos durante a

avaliação" (SPOLIN, 2010, p.34).

Avaliar o que foi criado, principalmente no espaço criativo da sala de

aula, pode ser discutido para compreender o que foi co-construído entre os

pares até então e pode demonstrar o que os alunos descobrem que podem

fazer tais tarefas. É um momento no qual é possível discutir o que e como

aconteceu, o que foi positivo e o que precisa ser melhorado. Spolin (2010)

aponta que, no momento da avaliação de um jogo, não existe necessariamente

uma maneira certa de mensurarem-se resultados; existe apenas a importância

de avaliar-se e discutir o que se acabou de ver na execução do jogo.

A próxima seção trará a performance como forma de arte e

apresentação e apresentará um breve panorama histórico, assim, reforçando o

viés artístico deste tipo de expressão nas tarefas de sala de aula.

���

1.5 Breve Panorama Histórico da Performance

Performance, de acordo com Glusberg (2009), pode significar execução,

desempenho, preenchimento, realização, atuação, acompanhamento, ação,

ato, explosão, capacidade ou habilidade, uma cerimônia, um rito, um

espetáculo, a execução de uma peça, uma música, uma representação teatral

ou um feito acrobático. A derivação viria do latim per-formare, significando

realizar. Semelhante ao teatro e à dança, a performance caracteriza-se pela

realização de atos em situações definidas. Mas não é necessariamente um

espetáculo ou show.

Há ainda uma grande confusão se performance nada mais é do que um

role-play, um role-play sem script ou uma brincadeira sem regras, em que

qualquer cena valeria. Por isso a importância de delineá-la para poder entendê-

la e, consequentemente, inseri-la na pesquisa, sabendo de seus elementos

constitutivos, de sua historicidade e suas diferenças em relação às outras

formas de expressão artística.

Segundo Glusberg (2009), a arte performática tem suas origens na body

art, no happening, originários da década de 1960, nos EUA, principalmente em

Nova Iorque. O termo arte performática tem sua origem em obras nas quais os

artistas usavam o próprio corpo “como um meio para realizar ações que

podiam incorporar música e dança, tinham duração variável e podiam ser

repetidas em lugares diferentes” (FARTHING, 2010, p.512).

Com o happening, John Cage (1912-1992) quis fundir cinco artes (teatro,

poesia, pintura, dança e música) e suas linguagens, conservando a

individualidade de cada uma e ao mesmo tempo “formar um todo separado,

funcionando como uma sexta linguagem” (COHEN, 2009, p. 25).

Já a body art, tal qual o happening, também, é constituída de diferentes

tendências internas. Com ela, os artistas buscavam a desfetichização do corpo

humano, sem dar importância ao viés único da beleza exaltada em outras

formas de arte durante séculos. Os artistas na body art queriam usar o corpo

para sua verdadeira função: a de instrumento do homem, do qual, por sua vez,

depende o homem. O termo performance está relacionado com presença física

���

e com espetáculo, “no sentido de algo para ser visto (spetaculum)" (COHEN,

2009, p. 43).

O aparecimento do grupo Fluxus, composto por artistas performers

como John Cage, já citado anteriormente, George Maciunas (1931-1978), Nam

June Palik (1932-2006) Yoko Ono (nascida em 1933) e Carolee Schneemann

(nascida em 1939), é um fato relevante para a história da performance. Este

grupo queria que o cotidiano fosse incorporado à arte moderna, principalmente

na relação entre espectador e obra de arte. Em vez de uma arte de

autoexpressão, que eles acreditavam supervalorizar o indivíduo, os artistas

defendiam uma arte política que estava interessada no mundo físico e nos

temas sociais a ela inerentes.

Tal qual alunos envolvidos no desenvolvimento de uma cena em sala de

aula, o público, na performance, também, são seres inseridos num contexto de

um momento histórico e político, criando juntamente com o artista uma cultura.

Estratégias deste grupo Fluxus provinham do movimento dadaísta como

o acaso e a improvisação. Na década de 1960, passaram a ser cada vez mais

aceitas, assim, ganhando mais artistas que a desenvolviam como, por

exemplo, Vito Acconci (conhecido pela performance “Perseguição”, na qual o

artista seguia a primeira pessoa que encontrava quando ele saía de seu prédio

em Manhattan, fotografando-a e filmando-a) e a sérvia Marina Abramovic,

conhecida pelas suas performances longas e de automutilação.

Já na década de 1970, os artistas começaram a usar a arte performática

para tratar de temas específicos aos tipos de corpos que eram representados.

Na década de 1980, os artistas voltaram-se para o cinema e outras diversões

populares como fonte de inspiração, criando obras que misturavam

performance, vídeo, fotografia e instalação.

Com este breve panorama histórico, buscou-se esclarecer o conceito de

performance e porque foi escolhida para essa pesquisa. Seu conceito é

fundamental para o entendimento da organização das tarefas em sala de aula.

1.6 Performance e Role-play

���

“Brincar”, entendido como performance, é ser quem você não é.

Performance, entendida como uma ferramenta de desenvolvimento, é criar

quem você é e quem você não é. Desenvolvimento entendido como uma

atividade que envolve uma criação contínua de palcos (ZPDs) nos quais o

indivíduo faz uma performance incorporando o “outro” (HOLZMAN, 2009).

Para a sala de aula, os alunos vão se desenvolvendo na execução de

uma tarefa, criando novas resoluções, criando-as sobre as regras do jogo,

descobrindo possibilidades de negociação e enunciados, trabalhando na

criação de novos sentidos e significados. Segundo Holzman (1993/2002), o

brincar pode ser uma fonte de experiências, pois o predomínio das regras parte

de uma situação imaginária, podendo proporcionar aos alunos um olhar para

os aspectos perceptivos, cognitivos e emocionais. A autora afirma que “neste

sentido, brincar é muito mais uma performance do que uma atuação”

(HOLZMAN, 1993/2002, p. 113).

No projeto conduzido durante sua tese de doutorado, Guerra (2011)

aponta descobertas proporcionadas pela performance. A autora menciona que

para a formação de educadores na qual trabalhava, a performance possibilitou

“espaços de conflito e negociação, potencializando assim, a produção de

conhecimento” (GUERRA, 2011, p. 145) e descreve que os participantes

puderam entender as razões da tarefa e da forma como fazê-la.

Nos estudos feitos para esta pesquisa, buscou-se diferenciar a

performance em relação a role-play. Role-play, segundo o dicionário on-line

Merriam Webster, é atuar no papel de (alguém ou alguma coisa), é representar

em ação. Existe então a ideia de um papel com script e características dadas

previamente por outrem que são respeitadas na construção da personagem.

Glusberg (2009, p.73) diferencia a performance do trabalho do ator, pois,

segundo ele, “o performer não ‘atua’ segundo o uso comum do termo”. O autor

ressalta que o artista da performance não substitui alguém, pois cria algo

baseado em sua ativa participação, sendo o seu próprio texto.

Representar ou atuar são largamente associados à representação de

atores em um espetáculo. Isso pode ser questionado pelos alunos em sala de

aula quando estão em uma tarefa de performance, pois existe a confusão com

representação teatral. Na tentativa de esclarecer, Glusberg (2009) aponta que

��

a confusão provém da identificação de apresentação com representação:

apresentar é relacionado ao que está acontecendo naquele momento.

Representar é repetir o texto criado por alguém, seguindo as ideias do autor do

texto e não necessariamente do próprio artista.

Ao fazer um paralelo entre o ensino de línguas e o conceito

desenvolvido por Holzman sobre performance, é possível pensar criticamente

em um planejamento de aulas para que os aspectos discutidos até aqui sejam

considerados dentro do espaço da sala de aula.

Planejamento das tarefas de aula de inglês para esta pesquisa usando performance

Possibilitar [...]

[...] o uso de gestos, expressões faciais, sons, palavras, pequenas frases,

opiniões que expressem o lugar do indivíduo no mundo, lembrando que na

performance movimentos gestuais de braços e pernas adquirem em cada

caso uma importância particular.

[...] a criação do trabalho como um ensemble: cenas criadas pelos alunos

com o professor como diretor; cenas com a participação do professor como

ator, lembrando que o artista performer é um agente de transformação.

[...] que estas criações de cena não sejam somente faz-de-conta sem um

objetivo delineado e que haja uma contabilidade do que foi feito para compor

as personagens e suas características, as regras dos lugares que compõem

as cenas e como as pessoas se portam em lugares como estes.

[...] a participação na discussão sobre as cenas dos outros colegas.

[...] a criação e a construção de cenas que contenham:

enredo/história/conflito dramático, personagens/diálogo, local e ação

dramática definidos.

[...] a transformação do espaço de sala de aula em um palco, arena, ZPD,

instalação, espaços de criação.

Quadro 3: baseado em Oliveira, 2011

1.7 Improvisação (Improv ou Impro)

“Also, I’ve discovered that I can go anywhere I want because I really do know how to fly”

��

(Criação do jogo de Improv “One Word At A Time” com Lobman e Mendes, NYC, 2011)

A escolha para trabalhar improvisação neste trabalho de pesquisa

aconteceu pelo contato com o trabalho de Lobman e Lundquist (2007) e a

presença da arte de improvisação na cultura brasileira nos últimos anos, em

programas de TV e peças de teatro.

Um dos elementos que fizeram parte da criação da pesquisa foi o

programa “Whose Line is It Anyway?”, criado para a televisão britânica e,

depois, trazido para a televisão americana pelo ator de comédia Drew Carey.

Neste programa, um grupo de artistas cria personagens, cenas e canções, no

estilo de jogos de forma curta de improvisação, muitas delas tiradas

de “Theatresports” (competição para apresentação para um público). Tópicos

para os jogos eram baseados em sugestões do público ou pelo apresentador

do programa. Os atores comediantes faziam os mais variados jogos de

improvisação, surpreendendo a plateia com cenas que não precisavam ser

necessariamente engraçadas, mas que mostravam o quanto o grupo estava

trabalhando colaborativamente, podendo fazer no sentido do resultado final da

cena ser bem-sucedido.

Dentro do quadro teórico descrito anteriormente sobre brincar,

desempenhar performances e constituir a sala de aula como um espaço de

criação, a improvisação parece ser uma possibilidade de brincar em sala de

aula para produção de conhecimento. Ademais, propor discussões com os

participantes, promovendo argumentação em um espaço colaborativo sobre

como as cenas foram desempenhadas, pode ser uma proposta para construir

conhecimento colaborativamente.

Assim, nos jogos de improviso, acredita-se que os participantes podem

perceber-se capazes de participar de outras tarefas e, na vida real, também.

Eles constituir-se-iam pouco a pouco, performance após performance, como

sujeitos criadores e criativos no espaço da sala de aula que aprendiam a fazer

o que não sabiam ainda assumindo riscos, reforçado com as palavras de Freire

(2010, p.56):

Um ambiente favorável à aprendizagem é aquele que oferece

espaço para que cada sujeito possa desenvolver-se em todas as suas

���

potencialidades, e isso só é possível para aqueles que assumem

riscos. Sair do conforto do já sabido, rumo ao desconforto do

desconhecido e, assim, descobrir-se forte o bastante para lidar com o

novo, transformando sua realidade imediata, é o que se almeja, ao

trabalhar com essa prática na sala de aula.

Desta forma, pode-se superar restrições trazidas por conceitos

sedimentados sobre como agir em tarefas de produção oral para encontrar

formas de participar nas situações da vida real. Em sociedade, nestes casos,

aprende-se a reagir espontaneamente, pois ninguém recebe um script prévio

de vida para decorar e participar da vida. Todos improvisam todos os dias

(LOBMAN; LUNDQUIST, 2007).

Para Borja Cortez (2006), improvisador, treinador do Match de

Improvisação Teatral e integrante do Impromadrid da Espanha, a improvisação

é uma forma de arte que não quer dizer que vale qualquer coisa, bobagem ou

nonsense impensado como resultado deixando-se improvisador se levar,

“unicamente, por aquilo que lhe vem à cabeça a cada momento” (BORJA

CORTEZ, 2006, p. 2). Na improvisação, escolhe-se criar algo junto com o

grupo no qual se está inserido. Trazer este jogo para a sala de aula, explicando

suas regras e analisando criticamente seus resultados, pode libertar a

criatividade dos alunos, fazendo com que apliquem o que aprenderam em sala,

nas tarefas e, depois, na vida.

Nas palavras de Mariana Muniz (2006), atriz e professora da graduação

em Teatro da UFMG e Doutora em Improvisação Teatral pela Universidade de

Alcalá, Espanha, Improv (ou Impro) é como “lançar-se no vazio”. Esse tipo de

situação pode causar bloqueio de nosso talento por medo do fracasso, de nos

expormos publicamente. Johnstone (1990) aponta que censuramos a

imaginação temendo o fracasso “pois podemos ser traídos por nós mesmos,

revelando aos demais pensamentos obscenos, psicóticos, tolos”. Isso num

ambiente de sala de aula de ensino de inglês pode tomar uma maior

proporção, pelo fato de pessoas estarem tentando dominar uma língua que

estão aprendendo a conhecer.

A grande maioria dos textos sobre improvisação menciona a escuta

ativa do participante como um dos elementos constitutivos mais importantes

���

das cenas criadas, pois assim os atores estão abertos às ofertas (deixas,

estímulos, “cues”) dadas pelos outros participantes, que podem levar a um bom

resultado da cena. A velocidade de reação para o jogo de improvisação é

também um aspecto muito importante. Os participantes dos jogos fazem livres

associações à sua maneira, sendo todas válidas, levando-se em consideração

o período de tempo entre a escuta e a reação à oferta (MUNIZ, 2006).

Assim, os indivíduos/atores/alunos libertam a criatividade da dúvida e

deixam de censurar sua imaginação. Reforçado nas palavras de Borja Cortez

(2006), uma boa cena improvisada seria “o resultado de uma boa escuta de si

mesmo e dos companheiros de cena, e da aceitação das propostas e ideias

próprias e alheias como principal motor para a interpretação e o

desenvolvimento da improvisação”.

O jogo “Yes, and”, descrito por Lobman e Lunquist (2007), mostra a

importância de aceitar o que se diz pelo outro ator para que a cena não se

quebre ou bloqueie. Segundo Muniz (2006, p. 2), cada estímulo é uma oferta

para o ator para que a cena tenha sucesso e, se ele faz o contrário, dizendo

“não” à oferta não existe avanço na cena e ela “cai em um confronto entre duas

propostas, fazendo com que o público perca o interesse”.

Em sua tese doutoral, Muniz (2006) desenvolveu um esquema de

situação ideal do trabalho do ator-improvisador para sucesso de uma cena:

escuta ���� rebote ���� desenvolvimento deste rebote ���� escuta ���� rebote

���� desenvolvimento deste rebote ���� escuta ����... ���� Fim da Cena

Quadro 4: Desenvolvimento de cena (Muniz, 2006)

Rebotes são as livres associações imediatas que, na definição do

dicionário Michaelis, significam “salto ou reflexão de um corpo elástico depois

de chocar-se no chão ou em qualquer outro obstáculo”. Estes rebotes têm que

ver com as tomadas de decisão que os atores têm em cena e estas decisões

podem ser surpreendentes e inesperadas, quebrando rotinas, fazendo com que

cenas possam tomar rumos diversos do que pensado no início, pelos

componentes e pelo público.

���

Em um espaço de produção de conhecimento, isso pode ser uma

possibilidade de testar diferentes formas de construção colaborativa dos

processos cognitivos no espaço criativo da sala de aula.

Este capítulo abordou questões sobre a TASCH, o jogo/brincar /atuar, a

ZPD como espaço criativo, aspectos da performance e da improvisação. O

próximo capítulo tratará da questão da linguagem, especificamente, sobre as

visões de produção oral em ensino de idiomas. Em seguida, o leitor encontrará

aspectos sobre a argumentação e sua história, além da perspectiva

enunciativo-dialógica.

���

Capítulo 2

Produção Oral, Argumentação e Produção de Conhecimento

No capítulo 1, foram discutidos aspectos da TASCH, conceitos sobre

jogar/brincar/atuar e a organização da sala de aula como espaço criativo para

produção de conhecimento de forma colaborativa.

A argumentação dentro das ZPDs criativas criadas em sala de aula pode

ser considerada uma forma de ferramenta na produção de significados

compartilhados. Por isso, é necessário discutir aspectos acerca deste assunto

para compreender criticamente a construção do conhecimento por meio das

interações mediadas pela linguagem.

Este capítulo 2, por sua vez, trata dos aspectos teóricos da linguagem,

especificamente, sobre a produção oral, que é o foco principal deste trabalho

de pesquisa. Os aspectos sobre argumentação serão tratados na primeira

seção do capítulo. A perspectiva enunciativo-dialógica na produção de

conhecimento também será tratada, trazendo aspectos da interação entre os

sujeitos como responsividade, polifonia e o papel do “outro” na construção do

discurso.

Estas considerações para a pesquisa têm muita importância, pois as

discussões em sala de aula relativamente à performance trazem novos

significados para os participantes envolvidos, com a troca de informações entre

eles dentro da ZPD proposta pelas cenas, configurando uma compreensão

crítica sobre o assunto.

2.1 Produção oral em inglês dentro do espaço de criação da sala de aula

Tendo em vista o que foi discutido anteriormente sobre as oportunidades

em que os alunos são levados a usar e desenvolver linguagem dentro dos

jogos de sala de aula, é importante discutir a questão da produção oral dentro

do contexto desta pesquisa que acontece em ensino de inglês como LE.

Algumas das ideias discutidas pelos autores pesquisados têm foco nas

estruturas, no vocabulário como partes fundamentais na constituição da

���

produção oral. Entretanto, esta pesquisa insere-se dentro de um quadro teórico

com aspectos importantes, como o papel do outro e das várias vozes trazidas

na constituição do discurso (BAKHTIN, 2003), a argumentação no processo de

co-construção do raciocínio (PONTECORVO, 2005) e as ZPDs como espaços

de colaboração e compartilhamento (MAGALHÃES, 2009), aspectos esses que

não levam somente em consideração a parte estrutural da língua como

constituinte das interações dos indivíduos.

Por isso, as ideias apresentadas na bibliografia pesquisada traçam um

panorama da produção oral na área de ensino de línguas, mas as discussões

levam em conta um olhar crítico baseado no arcabouço teórico que norteia esta

pesquisa.

Crookall e Oxford (1990) afirmam que o jogo pode promover a produção

oral, pois desenvolve o envolvimento ativo do indivíduo de forma física e

intelectual e ainda possibilita o uso das outras habilidades como ouvir, ler e

escrever. Além disso, podem promover grandes quantidades de insumo para

ser trabalhado nas tarefas de uma forma que a atenção seja dada tanto à

forma da língua quanto ao contexto.

Entretanto não fica claro o foco no papel do outro para co-construção do

conhecimento e apropriação das várias vozes trazidas na interação entre os

participantes (BAKHTIN, 2003). No diálogo, existem os processos de

negociação do significado dos objetos, das situações, proporcionando a

transformação de conceitos específicos para conceitos espontâneos. Assim, o

conteúdo semântico pode ser tão importante como produto da interação entre

os participantes, mas o foco de Crookall e Oxford está somente na estrutura da

língua.

Cardoso (1995) reforça que as atividades lúdicas podem promover a

comunicação, troca de informações com foco no significado produzido e não

somente na forma. No jogo, pode-se desenvolver uma vontade de usar a

comunicação real e de trabalhar o conhecimento técnico de como se lidar com

essa linguagem, criando um olhar crítico no aluno.

No entanto esta “vontade de usar a comunicação real” pode soar como

inata ao sujeito, desconsiderando a participação das outras vozes que

constroem o discurso num movimento colaborativo. A argumentação faz-se

���

presente quando o pensamento se constrói com o outro interlocutor pensante,

tendendo a assumir a forma do outro interiorizado (VYGOTSKY, 1932). Existe

a presença do outro que refuta, pede exemplos, contesta e que demanda uma

responsividade do outro participante com seus enunciados, construindo o

discurso na interação.

Donato (1994) afirma que, durante tarefas de jogos em língua

estrangeira (LE), os alunos podem sentir-se confiantes ao contar com o auxílio

do coletivo e esta colaboração é essencial para desenvolver conhecimentos em

LE e o conhecimento linguístico. Isto posto, o ambiente parece ser propício

para o desenvolvimento da fluência. Neste trabalho, o aspecto colaborativo

está mais presente, contando a interação entre os participantes.

Rigolon (1998) observou que os alunos podem transferir conhecimento

de um jogo para outro, apropriando-se do conhecimento partilhado no jogo

usando-os nos jogos seguintes. São tarefas que permitem criatividade e

transferência de conhecimento construído de um jogo para outro, utilizando o

conhecimento prévio e o conhecimento novo de maneira contextualizada.

No que tange especificamente à produção oral, estas tarefas são

importantes em cursos de idiomas, pois promovem oportunidades de prática e

melhoria da fluência na língua. Zeulli (2007), baseada em Murphy (1991),

acredita que a atividade de comunicação oral deva ser desenvolvida com

alunos com conhecimento intermediário ou avançado de língua, pois lhes

possibilita uma prática oral da língua estudada por um período mais longo.

Isso entra em discordância com a teoria deste trabalho de pesquisa

quando descreve a sala de aula como espaço de criação, pois, mesmo fazendo

uso de formas iniciais de linguagem, o aluno com nível básico de conhecimento

de língua pode produzir em situações para a vida real trabalhando sua

habilidade oral. A produção de alunos com níveis de conhecimento de língua

intermediário e avançado poderá ser maior e os turnos serão mais longos,

contudo isso não exclui uma possível participação ativa e interativa dos alunos

iniciantes em tarefas de produção oral. Mesmo com frases ainda consideradas

simples, como “What’s your name?”, “Do you like soccer?”, What’s your favorite

sport?, a interação pode ser criada e também outras formas de linguagem

podem ser usadas como gestos e sons.

���

Isso mostra o lado da linguagem como meio para a socialização na sala

de aula e na construção de objetos compartilhados. Nos mais diferentes

contextos sociais (trabalho, escola, festas, lojas), as pessoas tendem a

conduzir conversas em que “uma pessoa oferece um tema para comentar o

assunto para outra pessoa, que responde a esta primeira pessoa se seu

tópico é bem-sucedido e, se não é, profere outro tópico de conversa" (BROWN;

YULE, 1983, p.11).

Estes autores mencionam que, conforme as necessidades das

mensagens proferidas, vão mudando os enunciados que, assim, tornam-se

diferentes. Quando a mensagem é a razão da fala, é esperado que a

mensagem seja entendida. Então, para uma fala transacional bem-sucedida,

temos o uso de linguagem específica envolvida. Ainda segundo Brown e Yule

(1983), a linguagem tende a ser mais clara e específica do que em conversas

primárias. Como exemplo, mencionam as crianças que aprendem a falar

“sorvete”, “pai”, “meia”, entre outras palavras para distinguir o que realmente

querem. Conforme as interações aumentam na vida da criança, as

possibilidades de aprender como agir e reagir dentro de um idioma vão

aumentando e o indivíduo vai desenvolvendo seus enunciados nas interações

dos contextos em que se inserem.

Brown e Yule (1983) notam que é visivelmente mais fácil ensinar a

produção escrita porque o aluno tem o seu próprio tempo para organizar suas

ideias e colocá-las no papel por conta própria. Já no ensino de produção oral,

cada falante tem sua necessidade de falar, necessitando de um interlocutor

que ouça o que ele está dizendo, produzindo “sons”, “barulhos” que irão

perturbar este interlocutor. Por isso, a intenção de um curso de inglês focado

na produção oral é fazer com que o aluno se expresse na língua que está

estudando, que saiba lidar com aspectos básicos de interação como, por

exemplo, cumprimentar, elogiar, agradecer, enfim, que expresse suas

necessidades. Existe a interação com o outro, a questão da responsividade e

da interação construindo o discurso e usando estas variadas formas de

linguagem (BAKHTIN, 2003).

Nunan e Carter (2001) entendem que as situações de fala são

produzidas em linha (on-line), pois os participantes da conversa precisam

���

escolher e decidir como expressar sua mensagem, sem muito tempo para

verificar e corrigir o que se diz, pois, especialmente pela questão do tempo, os

interlocutores não podem esperar muito para se expressarem.

De acordo com Levelt, dentro do trabalho de Nunan e Carter (2001),

falar envolve 4 processos: conceitualização, formulação, articulação e

automonitoramento.

Conceitualização Relacionada ao planejamento do conteúdo da

mensagem.

Formulação Relacionada a encontrar palavras e frases para

expressar os significados, sequências, e colocá-

los na forma gramatical correta.

Articulação Relacionada ao controle dos órgãos motores de

articulação: língua, lábios, dentes...

Automonitoramento Relacionado aos falantes poderem identificar e

autocorrigirem seus próprios erros.

Quadro 4: Falar – Processos (Nunan e Carter, 2001)

Bygate (1987) afirma que cometemos erros no momento de produzir,

oralmente, ideias e palavras que podem ser esquecidas e que, diferentemente

da produção escrita, não existe a possibilidade de releitura, como faz o leitor de

um texto escrito, pois “as palavras estão sendo ditas enquanto estão sendo

entendidas".

Desta forma, a pressão do tempo significa que o processo de formulação

de conceituação e articulação pode não ser bem planejado ou implementado e

pode-se precisar de pausas e correções. É no esclarecimento e nas

explicações que os alunos podem fazer uso da linguagem e outras formas de

expressão que possuem para poderem transmitir a mensagem que desejam.

Isso, no contexto de sala de aula de ensino de idiomas, pode contribuir muito

para o desenvolvimento da fluência no idioma, pois transforma a sala em um

espaço em que todos os participantes possam aprender por meio de uma

participação colaborativo-crítica, na troca de informações (MAGALHÃES,

2011).

��

Fluência, na explicação de Richards (2008), “é a linguagem natural que

ocorre quando um falante interage de forma significativa e consegue manter

uma comunicação compreensível e contínua apesar das limitações de sua

competência comunicativa". Com a proposição de tarefas para os alunos em

que eles devem negociar significados, utilizar estratégias comunicativas e se

empenhar para serem entendidos sem interrupções, eles podem trabalhar esta

fluência no idioma.

Richards (2008) lista características encontradas nos tipos de tarefa que

podem ser propostas para desenvolver a fluência:

Foco na

Fluência

Refletem o uso natural do idioma.

Concentram-se na efetivação da comunicação.

Exigem o uso significativo da linguagem.

Produzem uma linguagem que talvez não seja previsível.

Buscam interligar o uso da linguagem ao contexto.

Quadro 5: Foco na Fluência (Richards, 2008)

Em seu artigo sobre o ensino de habilidades orais por uma abordagem

de tarefas, Rahman (2010) aponta que a produção oral e a comunicação são

processos e a ideia de processo sugere que exista um fluxo através de uma

sequência ou série de passos. As relações das pessoas engajadas em uma

comunicação crescem e se desenvolvem continuamente. Por isso, a

importância da variação de tarefas em sala de aula e o planejamento do

professor sobre o que e quais possibilidades podem surgir no que será

trabalhado. Segundo o autor, a comunicação oral pode ter variadas formas que

vão de uma conversa informal que acontece espontaneamente, quando não se

planeja o que se vai dizer, até participações em reuniões e apresentações que

ocorrem em ocasiões preparadas e planejadas.

Carter e Nunan (2001) indicam que a seleção do tipo de tarefa afeta a

linguagem dos alunos e do processo. Além do mais, a repetição desta tarefa

possibilita que os alunos mudem a atenção da conceitualização para a

formulação (como mostrado no quadro da página anterior). A reciclagem de

tarefas parece dar base para alunos desenvolverem sua fluência, acuidade e

��

complexidade de formulação. Mencionam também que a prática sem

preocupação extrema com acuidade, e sim com significados pode promover a

fluência e levar alunos a explorar criativamente formas de se expressarem

usando seu próprio conhecimento de língua.

É importante compreender criticamente que fluência não deve ser

trabalhada em detrimento da acuidade (ou precisão). Fazem parte do trabalho

com fluência não só os aspectos estruturais da linguagem, mas outros fatores

como o papel do outro, a interação, a colaboração e as vivências na construção

do discurso. De acordo com Richards (2008), o trabalho de fluência requer uma

atenção adicional por parte do professor no que tange à preparação dos alunos

para uma tarefa de fluência ou para atividades complementares que

proporcionam feedback sobre o uso da linguagem.

A avaliação, por parte do professor e dos alunos sobre o que foi

produzido oralmente, pode lançar um olhar crítico sobre as escolhas feitas nas

tarefas, contabilizando o que e como foi produzido, levando em consideração o

conteúdo programático proposto pelos cursos de inglês e pelas metodologias

das escolas. Baseando-se em Bygate (1987), noções de correção, de certo e

errado devem ser consideradas a partir do que se quis dizer, de quão bem-

sucedido foi a produção oral, das intenções e das relações estabelecidas entre

os interlocutores.

Reforça-se essa ideia com Carter e Nunan (2001) na questão de

preparação de aula, refletindo criticamente que uma variedade de diferentes

tipos de interação necessita prática como a fala improvisada, que deve estar

ligada ao conteúdo estudado, juntamente com o uso de uma habilidade em

editar o que se produz. Segundo esses autores, a produção oral requer uma

integração entre fluência, acuidade e complexidade, e os cursos de inglês

podem variar a ênfase nesses aspectos.

São aspectos importantes para serem considerados, mas, dentro desta

pesquisa, é importante apontar primeiramente o compartilhamento entre os

sujeitos que podem fazer com que eles internalizem conhecimentos e possam

entender seus papéis na interação. Segundo Vygostky (1934/2009), as

palavras têm papel fundamental no desenvolvimento da consciência e na

construção da linguagem. Por isso, um enfoque meramente técnico e estrutural

���

pode não configurar imediatamente produção de conhecimento e internalização

de conceitos, valores e significados produzidos pelo sujeito (VYGOSTKY,

1934/2009).

Para a preparação de tarefas de produção, Penny Ur (1998) prescreve

pontos a serem considerados. Sobre trabalho em grupo, a autora aponta que

este aspecto diminui a inibição dos alunos que não participam de tarefas de

produção oral e que a linguagem deve ser de fácil uso pelos alunos, para que

seja facilmente lembrada e usada “com mínima hesitação”.

A autora sugere que se aponte um aluno como monitor do grupo que

está fazendo a tarefa para que relate, ao final, se o grupo usou a língua-alvo.

Também reforça que a melhor observação para manter os alunos falando deve

ser feita pelo professor e que as regras devem ser claras ao passar a tarefa

para o grupo.

Essas prescrições de Ur (1998) apontam a necessidade da participação

dos alunos. Por sua vez, é importante verificar criticamente como os

participantes poderão ser responsáveis e responsivos (BAKHTIN, 2003) nestas

trocas para a produção de conhecimento. Afinal, os alunos não são somente

ativos, mas também interativos, implicando o papel do outro e, outras vozes, na

co-construção do discurso.

Em relação às instruções, pode fazer mais sentido para este trabalho de

pesquisa o compartilhamento de como as tarefas podem ser produzidas e

conduzidas entre todos os participantes, constituindo a ZPD como um espaço

dialético e colaborativo (MAGALHÃES, 2009), dessa maneira, transformando

possíveis traços de autoridade ou hierarquia no espaço da sala de aula.

Na próxima seção, serão discutidos aspectos da argumentação como

sua história e também como parte constitutiva do processo colaborativo de

produção de conhecimento, além de aspectos da perspectiva enunciativo-

dialógica.

2.2 Argumentação

No dia a dia, os indivíduos tomam decisões, fazem escolhas e

expressam pontos de vista. Negociação, argumentação e a linguagem

���

permeiam essas interações. Essa visão tem grande importância para esse

trabalho situado na LA por se tratar de como os indivíduos se comunicam,

expõem pontos de vista, concordam e discordam e negociam sentidos.

Na Grécia antiga, devido à existência de Assembleias, os indivíduos

tinham de defender seus pontos de vista, de forma clara e persuasiva, para que

importantes soluções fossem tomadas. Por conseguinte, apareceram os

sofistas, entre os antigos, que eram os filósofos que ensinavam a arte da

eloquência e que “divulgavam a retórica, ensinando-a como instrumento para o

exercício da virtude política" (PISTORI, 2001, p. 61).

Aristóteles, grande difusor da arte da retórica, criticava os mestres por

suas preocupações somente com a forma e não com a “verdade sobre os

objetos a respeito dos quais se fala ou escreve” (PISTORI, 2001, p.66).

Aristóteles passa a dar mais foco à argumentação com um estudo mais lógico

do que empírico, renovando a visão dos antigos filósofos. Para Aristóteles,

todos os homens podiam exercer a retórica e a dialética, pois os indivíduos

defendem teses, tomando lados de acusação ou defesa destas. Para tal ideia,

defendia a argumentação como uma técnica.

O filósofo grego organizou a retórica em um esquema de fases pelas

quais passam os argumentos, segundo Reboul (2004):

Invenção Reunião de todos os argumentos que possam ser utilizados.

Disposição Organização destes argumentos.

Elocução Redação do discurso da melhor forma possível.

Ação Proferir os argumentos.

Quadro 6: Retórica (Reboul, 2004)

Junto a essa organização dos argumentos, o auditório e a finalidade dos

discursos devem ser levados em conta para sua organização. Quanto aos tipos

de gêneros oratórios, é possível organizá-los da seguinte forma:

Judiciário Usado em tribunais para acusação e defesa; que fazia

referência ao passado.

Deliberativo Focado no exemplo e no raciocínio, com finalidade de

���

distinguir o útil do prejudicial.

Epidíctico Focado no elogio e na censura.

Quadro 7 – Gêneros Oratórios

Além da determinação dos tipos de discurso, o orador deve considerar

os elementos usados para a persuasão de seu auditório:

Ethos Conjunto de valores e hábitos para criar confiança em seu

auditório.

Pathos Relativo a emoções e reações provocadas no auditório.

Logos Relativo aos argumentos utilizados, parte lógica, focalizada no

raciocínio.

Quadro 8 – Persusão (Reboul, 2004)

Muito mais tarde, Toulmin (1958), com a publicação de The uses of

Argument (1958/2000); e Perelman e Olbrechts-Tyteca (1976/2005), com La

novelle rhétrique: traité de L’argumentation, visaram ao aspecto mais cotidiano

da argumentação não tanto na lógica formal, como antes nos estudos de

Aristóteles, mas sim no uso comum da linguagem no dia a dia. Pensou-se

então em se concentrar em como a argumentação era usada de forma mais

ampliada e no contexto onde esta argumentação era produzida (LEAL, 2006).

Na argumentação informal, Toulmin (1958) organizou os seguintes

aspectos: claim (ponto de vista), data (dados) e warrant (justificativa), e quando

na argumentação complexa, focou em backing (justificação), qualifier

(modalização) e rebuttal (contra-argumentação).

Perelman e Olbrechts-Tyteca (1976/2005) reforçaram a questão do

auditório para o qual o orador se dirige, pois: “[...] a natureza do auditório ao

qual alguns argumentos podem ser submetidos com sucesso que determina

em ampla medida tanto o aspecto que assumirão as argumentações quanto o

caráter, o alcance que lhes serão atribuídos”.

Os autores apontam a diferenciação entre auditórios particular e

universal, sendo importante, nestes casos, reconhecer os pontos de partida,

com quem se fala, as premissas que serão usadas, pois “uma argumentação

���

considerada persuasiva pode vir a ter um efeito repulsivo sobre um auditório

para o qual as razoes pró são, de fato, razões contra” (LEAL, 2006).

Um aspecto importante na leitura destes autores é o foco dado ao

contexto de produção para a argumentação e suas necessidades trazidas para

discussão:

[...] é preciso um tema passível de debate, ou seja,

passível de questionamento; uma ideia a ser defendida

(proposição, declaração, tese); proposições que justifiquem

e/ou refutem a declaração (através de evidências, justificativas,

contra argumentações); um antagonista (alguém que duvide da

informação, contradizendo-a ou apresentando resistências) que

possa ser uma pessoa ou um grupo de pessoas (reais e

virtuais) (LEAL, 2006).

É a partir disso que, segundo Leal (2006), surgem vários autores com o

intuito de analisar os elementos que constituem a interação na argumentação.

Com isso, passa-se a dar foco a todos os tipos de argumentação, pois ela

“acontece no dia-a-dia dos indivíduos” (PISTORI, 2001), saindo do que antes

era uma questão muito erudita e restrita, assim, passando para todos os

campos de conhecimento.

2.3 Argumentar na perspectiva enunciativo-dialógica

Como descrito na seção anterior, argumentar e suas várias concepções

fazem parte do cotidiano dos indivíduos para que possam expor suas opiniões,

negociar e se referirem a um auditório. Em consonância com Bakhtin (2003), os

enunciados têm natureza dialógica, pois existe a troca entre os interlocutores,

na interação entre os seres humanos. Nestas interações, entram as várias

vozes que constituem o discurso.

Com base nessa ideia, para Bakhtin (2003) os enunciados e as relações

dialógicas não existem separadamente: “Numa situação real de diálogo,

quando respondemos a um interlocutor, habitualmente não retomamos no

nosso discurso as próprias palavras que ele pronunciou". Os enunciados

���

trazem resquícios, momentos de outros enunciados, carregando ideias,

emoções, conceitos.

Por meio dessas negociações, a consciência e o pensamento vão se

constituindo, dentro do momento socio-histórico no qual os falantes estão

inseridos. Os indivíduos vão internalizando as vozes trazidas no discurso como

parte (trans)formadora de sua constituição, apreendendo a cultura e a história

que os circundam.

Para Bakhtin (2003), na interação social, os falantes apropriam-se da

palavra do outro, quando há apresentação de pontos de vista, discordância ou

concordância, construindo, então, sentidos por meio das palavras,

reelaborando os enunciados. Trazer várias vozes no discurso é chamado de

polifonia.

A todo instante se encontra nas conversas "uma

citação" ou "uma referência'' àquilo que disse uma determinada

pessoa, ao que "se diz" ou àquilo que "todos dizem", às

palavras de um interlocutor, às nossas próprias palavras

anteriormente ditas, a um jornal, a um decreto, a um

documento, a um livro, etc. (BAKHTIN, 1934/35 – 1975, 88,

139).

Segundo o autor, as vozes no discurso se cruzam, “lutando” entre si. É

necessário ressaltar as diferenças que existem entre a palavra autoritária e a

palavra internamente persuasiva, que compõem a tal “luta”. O discurso

autoritário impõe-se, é transmitido e deve ser aceito (ou recusado). O indivíduo

não se desenvolve quando recorre à palavra autoritária, pois, dentro do

contexto em que está inserido, não pode mudar elementos em seu discurso,

trocá-los ou atualizá-los devido à força das marcas que seu discurso carrega

de, por exemplo, família, sociedade, professores ou religião.

Já o discurso internamente persuasivo transforma a consciência

individual, pois pode ser permeado pelas diversas vozes trazidas. Isso, em

contextos de produção criativa, de argumentação, pode levar o indivíduo à

construção de novos sentidos caso seu discurso se amalgame com o discurso

de outro(s) indivíduo(s), levando-o(s) a novas compreensões.

���

Desse modo, é importante a presença do outro e o papel desempenhado

por ele, pois, nesse processo de troca de enunciados, a responsividade

(resposta ao que já foi dito) é um fator presente nessas interações para a

construção de novos significados por meio das respostas dadas pelo outro. O

enunciado nasce do resultado da interação entre eu e o outro, em respostas

aos enunciados ditos.

Com base nesse cenário descrito por Bakhtin, de interação e trocas de

enunciados, além da argumentação já discutida, a próxima seção tratará da

questão de produção de conhecimento por meio da interação entre os sujeitos.

2.4 Argumentar e construir conhecimento no espaço da sala de aula

De acordo com Pontecorvo (2005), a argumentação dentro do espaço da

sala de aula pode conduzir à construção do conhecimento por meio da

discussão coletiva, nas várias vozes trazidas no discurso. O pensamento,

nesse contexto, desenvolve-se com a contribuição de todos no processo, com

a introdução de novos elementos, pontos de vista, numa co-construção de

novos sentidos e significados. Para a sala de aula, segundo a autora, é

importante considerar as contribuições dos alunos como ponto de partida para

novas discussões na composição de um texto.

A visão do professor sobre espaço da sala de aula e da audiência a

quem se refere é extremamente importante para atingir o objetivo de sua aula.

Levando em consideração o que é trazido pelos alunos, eles podem participar

ativamente da discussão e responder de forma articulada, tratando do assunto

proposto pelo professor “com uma sequência co-construtiva ou argumentativa

autônoma” (ORSOLINI; PONTECORVO, 1991). Desta forma, podem

demonstrar que se apropriaram do assunto tratado e o espaço de sala de aula

se constitui como uma “zona de construção”. Professor e alunos negociam

socialmente os significados, apropriando-se das interpretações recíprocas,

compartilhando seus próprios sentidos.

A introdução de novos assuntos para discussão e construção coletiva

do conhecimento tem seu início com as questões propostas que devem ter em

mente o público ao qual se referem para que possam ser material para

���

discussão, uma vez que é relevante e passível de debate para àquele grupo.

As questões controversas trazem o fator da polêmica para que possa existir o

embate dos sentidos trazidos, questionando a verdade e os argumentos

trazidos (MOSCA, 2005).

As questões controversas podem ser instauradas nas discussões como

formas de pedidos de esclarecimento, de definição, exemplificação ou

sustentação, podendo levar os questionamentos a desdobramentos mais

profundos, com olhar mais crítico. Para responder às questões controversas,

existe a apresentação das experiências e pontos de vista dos participantes,

além da apresentação de contra-argumentos que refutam as verdades

apresentadas nos outros argumentos. Esse embate dialético leva a conclusões

que sintetizam e “amarram” o que foi discutido, e também levam a acordos que

podem contabilizar formas de soluções e ações para os pontos controversos

apresentados (MOSCA, 2005)

Este capítulo tratou especificamente de aspectos da linguagem

(produção oral, argumentação, perspectiva enunciativo-dialógica) como

constitutivos da consciência, da interação entre os sujeitos e a produção de

conhecimento. Os aspectos descritos nos capítulos 1 e 2 desta dissertação

compõem o quadro teórico que embasou as escolhas para categorias de

análise e interpretação quanto aos dados analisados nesta pesquisa. A seguir,

o próximo capítulo explicará aspectos da metodologia da pesquisa conduzida

para este trabalho.

���

Capítulo 3

Metodologia da pesquisa

“Onde será que isso começa?”

O objetivo deste capítulo é descrever e explicar as escolhas para o

método de pesquisa, quais componentes foram importantes durante o trajeto

desta, definindo e justificando o uso da Pesquisa Crítica de Colaboração

descrita por Magalhães (2002, 2010), dessa forma, mostrando a ligação com a

base teórica escolhida para a pesquisa. Além disso, coloca-se a descrição da

produção, seleção e análise de dados.

O esquema a seguir mostra como a produção de dados foi organizada e

planejada para que fosse possível a condução da pesquisa. A figura mostra os

passos 1, 2 e 3 com foco no planejamento e preparação da aula em sintonia

com o material didático da escola. Os passos 4, 5 e 6 são relacionados aos

momentos da condução das perfomances e das discussões pós-performances

dentro de sala de aula. Finalmente, 7, 8, 9 e 10 são relacionados ao momento

de estudo e análise dos dados produzidos.

(Figura 2: Organização da Pesquisa).

��

COMPOSIÇÃO DA METODOLOGIA DA PESQUISA

PERGUNTA 1. A performance contribui para o desenvolvimento da produção oral

em inglês dos alunos? Como?

OBJETIVO

• Investigar como a performance e as discussões sobre

performance podem proporcionar um ambiente de produção de

conhecimento com foco no desenvolvimento da produção oral.

CONTEXTO • Descrição do contexto de investigação.

• Metodologia do curso.

• Descrição do PP.

• Descrição dos alunos.

• Descrição das tarefas feitas em aula.

PRODUÇÃO E

SELEÇÃO DE DADOS

• Preparação de aulas visando a proporcionar situações de

performance com improviso fazendo uso do material didático

adotado pela instituição.

• Gravação dos momentos de performance nas aulas em vídeo.

• Gravação da discussão sobre a performance ao final de cada

uma delas em vídeo, entrevistando os alunos.

• Seleção de cenas para análise.

• Análise baseada em categorias.

CATEGORIAS

DE ANÁLISE

• Modalidades argumentativas (PONTECORVO, 2005).

• Modalidades de co-construção (PONTECORVO, 2005).

• Categorias de análise interativa do discurso (PONTECORVO,

2005).

• Disposição e interação do discurso (PONTECORVO, 2005).

• Escuta e Rebote (MUNIZ, 2006).

CATEGORIA

DE INTERPRETAÇÃO

• Criação de ZPDs (MAGALHÃES, 2009).

• Sentido e significado (VYGOTSKY, 1934/2002).

• Interação no discurso e responsividade (BAKHTIN, 2003).

CONFIABILIDADE

DA PESQUISA

• Orientação.

• Participação em seminário de orientação – miniqualificação.

��

• Apresentação em congressos nacionais e internacionais, bem

como participação em performances de qualificação dentro do

grupo de pesquisa.

• Apresentação de trabalhos em disciplinas do mestrado

• Aprovação do Comitê de Ética PUC-SP.

Quadro 9: Metodologia da Pesquisa

3.1 A pesquisa crítica de colaboração

O tipo de pesquisa escolhida neste trabalho foi a crítica de colaboração

(MAGALHÃES, 2006). Este tipo de pesquisa faz intervenção na prática e na

participação não somente do professor, mas também dos alunos, pois eles vão

desenvolvendo-se durante a tarefa e a descrição de seus desempenhos. O PP

olha de forma crítica para o que faz em sala de aula e para o que faz em sua

pesquisa, podendo transformar também sua prática.

A pesquisa crítica de colaboração (PCCol) transforma o papel dos

indivíduos envolvidos e dá a eles “anteriormente objetos de pesquisa, um papel

ativo de construtor de conhecimento” (MAGALHÃES, 2007). Essa escolha

aconteceu, pois, no escopo desta pesquisa, está o que se pode aprender nas

tarefas propostas em sala de aula e com a discussão crítica sobre elas no

desenvolvimento de “novos conhecimentos, novas possibilidades de ação para

os envolvidos na pesquisa” (MAGALHÃES, 2007).

Retomando seu objetivo principal, a pesquisa tem como foco

compreender criticamente como a performance e as discussões sobre

performance podem proporcionar um ambiente de produção de conhecimento

com foco no desenvolvimento da produção oral.

A intenção desta pesquisa não é somente discutir se a performance

acontece ou não em sala de aula para os alunos. No centro da PCCol, a

reciprocidade, por parte dos alunos, revela muito sobre o trabalho do PP

envolvido na busca de suas repostas para as questões de pesquisa.

A sala de aula, como espaço colaborativo, pode proporcionar que seus

participantes sejam valorizados, ativos e interativos no processo de

questionamento e autocompreensão de suas ações na construção de novos

significados.

���

Na PCCol, as performances e a discussão sobre estas performances

cruzam-se para que os alunos possam ser capazes de, ao discutirem suas

participações nos exercícios, construir com o PP sua identidade como alunos

transformadores de suas próprias práticas e a identidade da prática do PP

também, não dependendo os dois polos desta relação unicamente do que

propõe o material didático do curso no qual estão inseridos.

A PCCol leva o professor não só ao questionamento das ações de seus

alunos, mas também de suas próprias ações, extremamente importantes e

constituintes do espaço da sala de aula. Assim, os participantes podem estar

em um processo de constante reconstrução dos pensamentos e ações,

compreendendo o palco da sala de aula como um espaço cultural, social e

político, e não apenas como um espaço onde conhecimentos são transmitidos,

desvinculados do contexto particular da ação e da sociedade mais ampla

(MAGALHÃES, 2004). A autora ressalta que PCCol

“é um método que possibilita a análise e compreensão

de discursos de diferentes perspectivas, levando em conta

múltiplas vozes e redes interacionais presentes no sistema de

atividades e a ‘reorquestração’ destas vozes, pontos de vista e

abordagens" (MAGALHÃES, 2004, p.).

A argumentação está imbricada com o tipo de pesquisa selecionada,

pois nela a linguagem desempenha papel fundamental como instrumento e/ou

como objeto da atividade em foco uma vez que colaborar pressupõe

(MAGALHÃES, 2007):

• O envolvimento de todos os participantes da análise no

questionamento das ações e das contradições da atividade em foco,

dos artefatos culturais e dos conceitos usados para a análise.

• A escolha de instrumentos que possibilitem que os participantes ajam

como pesquisadores e se apropriem de ferramentas conceituais que

lhes permitam a visualização e a análise de suas práticas como:

gravação ou descrição de aulas, visualização de videotapes,

escrituras de diários e de histórias de vida.

���

• As intervenções dos pesquisadores não são embasadas em

prescrições, mas por meio de um questionamento que possibilita que

os participantes reflitam criticamente através de um diálogo que se

organiza argumentativamente (sessão reflexiva) e se apropriem de

novas organizações discursivas.

• Os diálogos apontam para um relacionamento, entre os participantes

diversos, multifacetado e não hierárquico.

Para esta pesquisa os alunos construíram colaborativamente com o PP

novos sentidos e significados (VYGOTSKY, 1934/2009) sobre as tarefas de

perfomance para que tivessem reflexos no sucesso de outras futuras tarefas e

também nas situações da vida real, quando precisem fazer uso real do idioma.

Esta pesquisa contou também com a prática dos alunos em assistirem

aos seus próprios desempenhos em vídeo, lançando uma análise crítica e

reflexiva em como desempenham tais tarefas com o intuito de melhorarem, a

cada performance, o uso da língua que estão aprendendo.

As discussões sobre as performances realizadas e assistidas puderam

possibilitar uma aproximação entre o desempenho de papéis com as situações

da “vida que se vive”, trazendo as vozes dos participantes no processo de

argumentação e co-construcão do conhecimento.

3.2 Contexto da escola

O contexto de pesquisa foi na unidade de uma escola da rede de ensino

de idiomas, localizada no bairro de Perdizes, em São Paulo, SP. O bairro conta

com população de classe média alta, com acesso próximo a bares,

restaurantes, teatro, universidade, supermercados, enfim, um local munido de

várias formas de comércio e entretenimento para seus habitantes.

A escola contava com 350 alunos distribuídos em horários entre tarde e

noite, majoritariamente. À época da pesquisa, era mais frequente encontrar

���

alunos adultos nos horários a partir das 18 horas, em contraste com o período

da tarde, repleto de crianças e adolescentes.

Conhecido informalmente como um bairro de público exigente na

questão de produtos e serviços, Perdizes conta com um público igualmente

exigente em relação a cursos de idiomas, segundo a equipe de atendimento da

escola. A unidade conta com horários de segunda a sábado, de 08 às 22

horas, exceto aos sábados, quando fecha às 14 horas.

3.3. A escola e a condução da pesquisa

A escola foi muito receptiva em relação ao PP e sua pesquisa, pois o

tipo de pesquisa escolhida poderia agregar, de forma positiva, diretamente na

transformação dos alunos dentro da sala de aula. A escola entendia que era

importante a condução de uma pesquisa com o envolvimento dos alunos ainda

mais pelo fato de que os resultados, conforme coletados, podiam ser

comentados e discutidos pelo PP nos momentos de reuniões e encontros

pedagógicos.

Foi muito positivo para a pesquisa o encontro com a abordagem da

metodologia da escola. Seu material didático e condução das aulas propiciaram

fácil abertura a execução de tarefas de performance e jogos de improviso

dentro de sala de aula. É importante trazer aqui o que a escola entende como

“tarefa” e suas variedades em seu curso de metodologia para professores:

O uso de uma variedade de diferentes tipos de tarefas no ensino de línguas é

tido como uma forma de fazê-lo ser mais comunicativo, uma vez que fornece um

propósito para a atividade de sala de aula que vai além da prática da linguagem por

si mesma. (RICHARDS; PLATT; WEBER, 1986 apud NUNAN, 1989, p.10).

Mais importante ainda é trazer a visão “vygotskyana” como concebida

pela escola, em relação ao que o seu método de ensino entende como objetivo

em “desenvolver habilidades orais”:

• desenvolver a habilidade do aluno em negociar (por exemplo, usar a

língua com acuidade e apropriadamente) em LE;

���

• preparar alunos para interagir tendo em mente que ele só podem

controlar o que dizem (isto é, eles não possuem controle sobre a fala do

outro participante da conversa);

• desenvolver a habilidade dos alunos em usar a língua apropriadamente

em diferentes contextos e a habilidade de organizar seus pensamentos

através da linguagem. (HARLEY et al., 1990)

A citação precedente, também, retirada do material do curso de

formação inicial de professores, descreve um cenário que propiciava a

introdução de tarefas de performance, visto que o foco destas tarefas visava ao

desenvolvimento da fluência e da produção oral.

3.4 O professor-pesquisador

Com a experiência do PP como Orientador Pedagógico, percebeu-se

nos professores de sua equipe uma constante necessidade de renovação do

repertório das tarefas propostas em sala de aula: ora porque os alunos pediam

coisas novas, ora porque eles queriam reinventar sua própria prática.

Como professor de inglês em instituto de idiomas, foi possível observar

também a necessidade de trazer tarefas que propunham conversas e vivências

da forma mais realista possível para os alunos. Assim, o objetivo era que

aquele idioma e cultura que estavam sendo discutidos e desenvolvidos sempre

pudessem ter uso prático na vida real fora da sala de aula.

Buscando mais respostas para as práticas que desenvolvia, o PP

ingressou no curso “O Papel do Coordenador Pedagógico”, oferecido pela

COGEAE, braço de extensão da PUC – SP, no qual pôde levar para discussão

essas necessidades do contexto onde trabalhava e o modo como elas

poderiam ser resolvidas. O curso ensinou-lhe o “como” encontrar as respostas

não só para aquelas perguntas que trazia, mas para outras que poderiam

aparecer no futuro em relação à sua prática na escola.

Entrando em contato com o trabalho do grupo LACE (Linguagem nas

Atividades do Contexto Escolar), liderado pelas Profas. Dras. Maria Cecília

Magalhães e Fernanda Liberali, encontrou rapidamente o tipo de abordagem

com o qual se identifica para trabalhar com os alunos e aulas. A questão sobre

���

aprender e brincar chamou-lhe a atenção para o tipo de trabalho e também de

pesquisa que gostaria de desenvolver.

Ingressando no mestrado em LAEL pela PUC – SP, procurou colocar em

prática o novo papel de pesquisador para que soubesse compreender e

transformar a própria prática como professor e futuro formador de professores.

O contato com a teoria que norteia o grupo foi fundamental para as escolhas

como pesquisador e também como profissional, tendo reflexo direto nas

práticas de sala e também na coleta de dados.

O desafio colocado nesta pesquisa, para o PP, foi como ser professor e

pesquisador ao mesmo tempo, pois tinha receio que os alunos da turma

pesquisada se sentissem coagidos a participar da pesquisa por mera questão

hierárquica e impositiva.

Está no núcleo da questão da PCCol o entendimento do participante

como parte ativa dela. A todo o momento deixava claro o porquê daquela

coleta de dados e como ela teria influência transformadora na prática do

professor e dos alunos. Assim, discutiram juntos como a participação deles era

vital para a pesquisa, para o que faziam em sala e para o que fariam na vida

fora da escola quando usassem o idioma inglês. A intenção era que os alunos

se tornassem responsáveis por aquilo que aprendiam, trabalhando com o

professor colaborativamente.

Assim, na pesquisa e na condução das aulas, teve-se como premissa o

propósito da PCCol, reforçando a colaboração no que se refere à “oposição a

relações opressivas de qualquer natureza e construção de relações mais

igualitárias e democráticas” (MAGALHÃES, 2007, p. 157).

3.5 Alunos participantes

Foram analisadas duas turmas de inglês para essa pesquisa, sendo uma

de Básico 4 e outra de Pós-Avançado 2. Foi escolhida para esta pesquisa

apenas a turma de Básico 4 por ser aquela que permaneceria com o PP por

mais tempo, proporcionando mais oportunidades para a coleta de dados, com

mais possibilidades de performances.

���

A turma de Básico 4, à época da coleta, possuía 10 alunos, na faixa

entre 20 e 45 anos, e tinham aulas no período da noite, das 19 às 21 horas, às

terças e quintas. Grande parte dos alunos já havia feito os cursos Básicos 1 e 2

anteriormente com o mesmo tipo de aula de carga horária de duas horas,

coincidentemente com o mesmo professor do Básico 3.

Esta turma era composta por um público que estudava inglês com

objetivo de usar o idioma primeiramente no ambiente de trabalho. Não possuía

problemas de frequência e estudavam juntos há 1 ano e 2 meses, o que

proporcionava um relacionamento interpessoal propício aos tipos de tarefas

propostas. Entretanto, alegavam bloqueio em participar das performances, pois

tinham receio de “errar” ou “não saber o que responder para o colega” quando

participavam da tarefa. Mesmo com bom relacionamento interpessoal, os

alunos possuíam dificuldade em interagir em conversas em inglês com outros

parceiros de sala.

A relevância de usar exercícios de performance existia também devido à

duração das aulas. Por serem no fim dia e por duas horas seguidas, o PP

pensou em planejamentos de aulas que pudessem fazer uso da participação

ativa dos alunos, sem tornar aquele período de duas horas maçante ou

cansativo para os alunos, após um dia de trabalho.

3.6 O que a escola entende como “Aula”

Para situar as tarefas de performance propostas nesta pesquisa, a

escola tem requisitos específicos para a condução de uma aula como aponta

em seu material de curso para treinamento de professores (2009): “Uma aula é

um processo de interação entre professor, alunos e o conteúdo que é

construído em um contexto histórico-social; é um conjunto de valores e

princípios; tem metas claras de aprendizagem e educação".

A criação de um contexto e o fator de se levar em conta a bagagem

cultural do aluno vai ao encontro do que foi proposto na fundamentação teórica

deste trabalho de pesquisa. Isto fez da escola escolhida e seu método terrenos

propícios para aplicação dos exercícios de performance e improvisação

pensando-se em responsividade e interação (BAHKTIN, 2003), a participação

���

de todos os participantes (MAGALHÃES, 2009) e a construção de sentidos e

significados (VYGOTSKY, 1934/2009).

3.7 Tipos de tarefas encontradas no material didático para básico

O material didático propõe tarefas a partir das quais se possa trabalhar

� ler, escrever, ouvir e falar durante a unidade � dando ao aluno suporte para

participar de situações de comunicação em contextos autênticos para uso do

idioma aprendido. As performances puderam ser propostas primordialmente

nos momentos de “Focus on Communication” (exercício de produção oral livre)

do final de cada unidade do livro. Para compreensão da leitura, da pesquisa

proposta e dos tipos de tarefas propostas (performances), é importante mostrar

o caminho pelo qual o aluno passa pelo material até chegar à execução destas

tarefas.

Tipos de Tarefa Objetivos

Opening • Propõe atividades que lidam com variados aspectos da prática

da língua e que não necessariamente se encaixam na

organização sequencial da unidade.

Conversation Scenes e

Reading Scenes

• Focaliza na apresentação de novos itens linguísticos.

• Expõe o aluno a uma variedade de conversas do mundo real

como forma de insumo.

• Auxilia o aluno a reconhecer funções e exemplos por meio de

exercícios de identificação que envolvam diferentes

habilidades.

Focus on Language • Enfatiza a produção oral

• Proporciona prática controlada dos novos itens linguísticos.

• São exercícios que não necessariamente envolvem uma

proposta de comunicação na vida real, mas são

pedagogicamente relevantes e significativos e preparam os

alunos para situações autênticas de comunicação.

Language Awareness • Focaliza em conscientizar os alunos sobre a linguagem

aprendida e proporciona práticas extras.

Vocabulary Build Up • Focaliza em apresentar e praticar vocabulário que os alunos

precisarão lidar durante os contextos de comunicação da

unidade.

Focus on Communication • Focaliza no uso da língua em contextos autênticos de

comunicação.

• Focaliza em negociação de sentido.

Quadro 10: Quadro retirado do material do curso de formação de professores da escola

���

3.8 A organização de uma tarefa de produção oral para o método da

escola

Para cada atividade de produção oral, segundo o método da escola, o

professor deve ter em mente alguns pressupostos e objetivos durante o

planejamento das aulas. Todas as atividades devem ser organizadas da forma

como explica o quadro a seguir:

Objetivos

(Para quê?

Por quê?)

• Habilidade de expressar, interpretar e negociar.

• Ato de comunicação: propósito, tópico, lugar,

papéis.

Input (informação de entrada)

(O que usar?)

• Diferentes tipos de: textos, fragmentos de áudio,

imagens, mapas.

• Conteúdo de língua.

• Componentes: comunicativos (fórmulas sociais),

lexicais, estruturais.

Formação

de grupos

(Qual disposição?)

• Em pares.

• Trabalho em grupo.

• Pares abertos.

• Andando pela sala.

Instruções • Observe o tipo de linguagem.

• Leia as instruções em silêncio.

• Verifique a compreensão.

• Ajude com a linguagem corporal/visual.

• Use o quadro.

• Use exemplos para explicar o significado.

• Use linguagem objetiva.

• Dê instruções claras.

Preparação

• Criação de ambiente para a atividade.

• Contextualização.

• Reconhecimento (associação entre forma e

significado).

��

• Uso de um modelo.

• Produção inicial.

• Correção.

• Repetição em grupo.

• Aumente a confiança dos alunos.

Desenvolvimento da percepção dos alunos dos

objetivos da atividade.

• Instruções que sejam menos “explicadas” e mais

“práticas”.

Prática • Lacuna de informação.

• Práticas (ir das mais controladas para as menos

controladas).

• Negociação de significado.

• Participação ativa dos alunos.

Resultados de Aprendizagem • Produção (negociação).

• Os alunos são capazes de explicar o que

aprenderam.

• Verifique os resultados de aprendizagem.

• Faça com que o aluno seja cada vez mais

consciente da forma em que usa o idioma.

• Que os alunos falem o que aprenderam (fique

atento ao conteúdo e à forma). [sic]

Quadro 11: Tarefa em sala (retirado do material de planejamento de aula da escola)

3.9 Descrição da tarefa usada para produção de dados

Nos momentos de Focus on Communication que acontecem ao final das

unidades, como demonstrado anteriormente, as situações para comunicação

poderiam ser usadas para tarefas de performance e improvisação que, ao final,

seriam discutidas pelo PP e alunos, tendo em mente as questões de pesquisa.

Baseados nas instruções do professor em como conduzir a performance

e como colocá-la em prática, os alunos desempenhavam papéis com o intuito

de que estes personagens pudessem fazer uso do que foi aprendido na

unidade estudada. Os alunos apresentavam a performance para a sala,

enquanto os outros alunos prestavam atenção nas frases usadas pelos colegas

��

para que fossem comentadas ao final da atividade. Enquanto isso o PP

gravava em vídeo a performance dos alunos.

As tarefas gravadas eram apresentadas aos alunos ao final da

apresentação, no aparelho de TV instalado dentro da sala de aula. Então, os

alunos verificavam suas apresentações, comentavam sobre frases que usaram,

erros que cometeram, outras frases que poderiam ser usadas e discutiam a

respeito da tarefa de verem-se em vídeo. Discutia-se também o contexto de

produção (em quais situações essas conversas acontecem?), a atitude dos

alunos e como isso se assemelha ou se aproxima das ações desempenhadas

na vida real fora da escola.

O objetivo de verem-se no vídeo, fazendo a tarefa, era para que eles

percebessem como desempenhavam papéis, se estavam usando o que

aprenderam, como conteúdos anteriores estavam sendo usados e também

como oportunidades de improvisação e negociação de sentido (apontadas pelo

professor) poderiam ser melhor aproveitadas para que fizessem mais uso da

língua-alvo.

Essas discussões foram gravadas também em vídeo, inicialmente, em

português e, mais tarde, em inglês, com o intuito de trazer discussões para

aquele auditório sobre o que era realmente aprender aquele idioma para se

comunicarem. Além disso, o PP tinha como objetivo verificar o que os alunos

entendiam por aprender e desempenhar performance, como podiam

contabilizar as coisas que aprenderam e como transformar e renovar certos

conceitos cristalizados relacionados ao ensino de língua Inglesa para

estrangeiros.

Os alunos discutiam com base em perguntas trazidas pelo professor.

Davam seu ponto de vista sobre como poderiam aproveitar melhor suas

performances e fazê-las mais parecidas com a vida que se vive. Todos os

participantes puderam dar seu testemunho e os que se mantiveram mais

quietos na discussão eram instigados pelo professor a darem sua contribuição.

3.10 Aulas escolhidas para coleta de dados

��

Um total de 41 cenas de performance e discussões sobre elas foram

gravadas durante o ano de 2011, com diferentes turmas. Devido a uma

questão de autorização da imagem e também pelo tipo de dado produzido,

deu-se preferência para a turma de Básico 4, visto que nas cenas desta turma,

encontraram-se mais possibilidades de estudar o uso da linguagem, pois era

uma turma iniciante e composta somente de adultos, o que facilitou a

autorização do uso das imagens coletadas.

Para esta turma, foram gravadas 18 cenas de performance e discussões

sobre elas feitas pelo PP e alunos. É importante apontar que como o foco da

pesquisa é tratar sobre a performance no desenvolvimento da produção oral

dos alunos, não foi necessário gravar as aulas inteiras, de duração de 2 horas

cada, visto que as tarefas de leitura, escrita e compreensão auditiva não foram

o foco primordial da pesquisa.

Outro fator importante para a escolha das cenas de performance desta

turma é o fato de que, como o foco da pesquisa foi o desenvolvimento da

produção oral, o PP foi aos poucos fazendo também com que as discussões

sobre a performance fossem feitas em inglês.

As cenas que são baseadas nos exercícios de Focus on Communication

do material didático são feitas todas em inglês, não sendo permitido o uso de

português para negociação de sentido. As discussões sobre a participação dos

alunos na performance começaram inicialmente feitas em português, dada a

necessidade de linguagem mais avançada para exprimir o que eles achavam

de seu desempenho na cena. Conforme o andamento do semestre, os alunos

foram adquirindo mais fluência no idioma, mais familiaridade com os tipos de

exercícios e mais entrosamento entre os componentes da sala.

Consequentemente, começaram a fazer as discussões sobre a performance

também em inglês, o que foi uma grande conquista para a fluência dos alunos

e para o trabalho do PP.

A turma de Básico 4 conseguiu ser acompanhada com mais atenção

pelo PP dada a carga horária que passavam juntos na semana (4 horas) e, aos

poucos, foram se acostumando com a presença de uma câmera filmando-os

durante a produção. Um aspecto importante, ao analisar as cenas, foi que, no

princípio, os alunos sentiam-se extremamente envergonhados de serem

��

filmados. Por isso, a importância do jogo de improviso “Props” (descrito no

capítulo de análise) feito com eles, para que se sentissem mais à vontade em

criar cenas visando ao uso da língua sem se importarem muito com a câmera a

fim de que pudessem, assim, aprender a trabalhar colaborativamente.

Ao final da produção de dados, os alunos ainda não estavam

absolutamente à vontade com a presença de uma câmera, mas já era um fator

esperado por eles dentro de sala de aula, pois sabiam que seu professor

estava pesquisando performances e, então, eram colaborativos nesta

participação.

O PP percebeu também que assisti-los apenas como professor e

“diretor” das cenas de performance era um fator que poderia distanciá-lo da

criação das cenas e de bons desempenhos de papéis dos alunos. Isso

aconteceu quando ele começou a participar das cenas também como ator,

desempenhando papéis, mostrando aos alunos que a criação de um ensemble

é um fator importante para os tipos de tarefas que estavam sendo propostas.

3.11 Descrição das cenas gravadas para produção de dados

O quadro a seguir organiza o corpus das cenas gravadas e seus

conteúdos e comentários para melhor entendimento do processo de produção

de dados. Este esquema também pode auxiliar o leitor a compreender as

cenas no capítulo de análise de dados desta pesquisa.

Data Participantes Cena de Performance Comentários sobre a cena

12/05/2011 Express 2 Performance de uma conversa de pessoas

decidindo para onde sair e praticando

descrição física.

Tarefa usada para apresentar a ideia

de performance. O conceito ainda

estava sendo familirizada pelo PP;

primeiro contato dos alunos com o

tipo de tarefa proposta para a

produção de dados.

12/05/2011 Express 2 Performance de uma conversa de pessoas

decidindo para onde sair e praticando

descrição física.

Idem acima.

12/05/2011 Express 2 Performance de uma conversa de pessoas

decidindo para onde sair e praticando

descrição física

Idem acima.

12/05/2011 Express 2 Discussão pós-performance. Discussão sobre as performances

��

feitas e assistidas na TV pelos alunos.

28/06/2011 Express 2 Jogo de Improviso – “Props”. Alunos fazem pequenas cenas com

cabides reproduzindo o jogo “Props”.

28/06/2011 Express 2 Discussão pós-performance - Props – Part 1. Discussão sobre as performances

feitas e assistidas na TV pelos alunos.

28/06/2011 Express 2 Discussão pós-performance - Props – Part 2. Idem acima.

15/09/2011 Express 2 Cena entre cliente falando com o gerente do

supermercado

Tarefa de produção oral.

15/09/2011 Express 2 Cena entre alunos discutindo as dificuldades

em estudar inglês

Tarefa de produção ora.l

15/09/2011 Express 2 Cena de conversa entre síndico e morador

do prédio.

Tarefa de produção oral.

11/10/2011 Express 2 Cena 1 sobre chefe pedindo ajuda ao

funcionário.

Performance feita pela primeira vez

com a intervenção do pesquisador na

performance, desempenhando um

papel.

11/10/2011 Express 2 Discussão pós-performance (Cena 1). Discussão sobre as performances

feitas e assistidas na TV pelos alunos.

11/10/2011 Express 2 Cena 2 sobre mãe dando ordens ao filho. Performance feita pela primeira vez

com a intervenção do pesquisador na

performance, desempenhando um

papel.

11/10/2011 Express 2 Discussão pós-performance (Cena 2). Discussão sobre as performances

feitas e assistidas na TV pelos alunos.

11/10/2011 Express 2 Cena 3 sobre pedir informações. Performance feita pela primeira vez

com a intervenção do pesquisador na

performance, desempenhando um

papel.

11/10/2011 Express 2 Discussão pós-performance (Cena 3). Discussão sobre as performances

feitas e assistidas na TV pelos alunos.

11/10/2011 Express 2 Cena 4 sobre pedir informações. Performance feita pela primeira vez

com a intervenção do pesquisador na

performance, desempenhando um

papel.

11/10/2011 Express 2 Discussão pós-performance (Cena 4). Discussão sobre as performances

feitas e assistidas na TV pelos alunos.

Quadro 12: Cenas (Dados da Pesquisa)

3.12 Categorias de análise

Conforme Pontocorvo (2005), os conflitos e embates dentro de uma

discussão em sala de aula podem ser pontos de partida para uma construção

de conhecimento em conjunto a partir do que é trazido pelos participantes, com

suas experiências de cultura e de vida.

��

Assim, as interações entre os participantes desta pesquisa, no âmbito da

argumentação, foram analisadas nas categorias propostas por essa autora,

como espelhamento, pedidos de esclarecimento, explicação e réplicas simples

e elaboradas.

Dimensões Características Categorias

Desenvolvimento

Coerência de

raciocínio entre os

interlocutores.

Avanço e

progresso da

análise e

interpretação do

objeto do discurso.

Introdução de

novos elementos e

de novas

perspectivas.

1. Trazer

elementos

novos.

2. Relacionar.

3. Delimitar.

4. Contrapor-se

argumentando.

5. Compor

relações de

nível mais alto.

6. Generalizar.

7. Problematizar.

8. Reestruturar.

Pertinência

Progressão do

discurso colocado

no tema proposto

por um dos

interlocutores e

compartilhado

pelos outros.

1. Permanência

dentro do tema

proposto.

2. Acréscimo de

elementos.

Não Desenvolvimento

Inércia, bloqueio

do raciocínio

coletivo.

1. Repetir.

2. Confirmar.

3. Referir-se a

uma

experiência

pessoal.

Não Pertinência

Falta de

progressão do

1. Desvio do tema

proposto.

��

discurso quando há

desvio do tema. 2. Referir-se a

elementos de

outro tema.

Quadro 13: Nível Discursivo: disposição e interação do discurso

Fonte: Pontecorvo (2005 apud MIASCOWISKY, 2009)

Com essas categorias, os argumentos usados na construção de

conhecimento foram analisados como desenvolvidos e continuados pelos

alunos e PP, tentando-se chegar a uma conclusão ou acordo frente às tarefas

desempenhadas e discutidas em sala de aula.

Como um dos focos da análise foi a co-construção do conhecimento e a

interação entre os falantes, o contexto social e o compartilhamento do objeto

do discurso também foram vistos. As categorias a seguir serviram para a

análise de como os participantes continuam, acrescentam, apropriam-se e

reelaboram o que foi dito pelos outros.

Interações Características

Elípticas

Uso de muita adjetivação.

Nenhum interlocutor completa a frase.

O fio condutor do raciocínio não se perde.

O fio condutor do discurso passa de um interlocutor

para o outro.

Complementação da asserção (denominada pela

Síndrome dos três sobrinhos do Pato Donald)

Cada interlocutor fala um pedaço da frase.

Ao final, a frase se completa.

Complementação

Retomada de um tema introduzido por outro

interlocutor para incluir

acréscimos, variações, elaborações (cada

interlocutor fala um pedaço da frase).

Ao final, a frase se completa.

Quadro 14: Modalidades de co-construção. Pontecorvo (2005 apud MIASCOWISKY, 2009)

��

Os participantes da pesquisa, ao expressarem seus pontos de vista e

opiniões, tomam uma posição frente ao que é apresentado e também estão

suscetíveis a oposições nos processos de construção do conhecimento. De

acordo com Pontecorvo (2005), o ato de pedir razões, explicações e

fundamentações dão suporte ao discurso e ao pensamento. Pontecorvo (2005),

a respeito, cita Bruner (1986) “A oposição desempenha um papel de

“cooperação cognitiva” de “suporte social” tão importante quanto o papel

desempenhado pelas formas de co-construção".

Modalidades argumentativas

Dimensão Característica Função

Oposição • Posicionamento, expressão de prós e

contras, com categorizações e juízos de

valor, analogias, semelhanças, exemplos,

busca de razões e/ou de justificações, a

partir de regras, generalizações, leis

gerais.

• Progressão do discurso-raciocínio

provocando desdobramentos e

aprofundamentos.

Discordância de opinião e raciocínio, que é

um movimento conversacional em que os

interlocutores sentem-se obrigados a

respeitar a norma de dar razão e

apresentar justificações.

Justificação • Importância do dar razão e apresentar

justificação.

• estratégia para enfrentar e resolver conflito

para chegar a um acordo ou compromisso.

Restabelecimento da ordem social no

grupo a qual foi momentaneamente

perturbada por asserções ou atos tidos

como violações à regra.

Explicação Mediante o uso de causas, razões,

exemplos, analogias, definições,

categorizações, modelos.

Busca e explicitação de uma

causa/razão/regra para transformar o

obscuro em claro, o ignorado em

conhecido.

Quadro 15: Modalidades argumentativas Fonte: Pontecorvo (2005 apud MIASCOWISKY, 2009)

��

Como os momentos de oposição foram vistos na análise, a seguir, são

elencadas as categorias de como eles puderam se instituir na argumentação

dentro da sala de aula, com foco nos aspectos interativos do discurso.

Categoria Característica

Espelhamento A informação é repetida, reformulada ou continuada.

Pedidos de:

esclarecimento,

explicação,

exemplo,

informação,

opinião,

justificativa,

repetição,

reformulação.

Pedidos de informações

contingentes à contribuição dos

interlocutores.

Concordância

Réplica elaborada Fala de um interlocutor é

continuada e elaborada com acréscimos de informações.

Réplica

mínina/simples

Resposta simples sem elaboração.

Discordância

Réplica elaborada Oposição justificada - informação de um interlocutor é negada com justificações.

Contraposição justificada - oposição precedente é recusada com justificações.

Réplica mínima Oposição simples - asserção de um interlocutor é negada sem justificações.

Quadro 16: Categorias de análise interativa do discuros Fonte: Pontecorvo (2005 apud MIASCOWISKY, 2009)

O sucesso de uma cena de improvisação não está necessariamente no

fato de ser engraçado, de fazer o público rir, mas, sim, no produto coletivo que

foi criado, visando ao trabalho do ensemble, do todo (LOBMAN; LUNDQUIST,

2007). O fato de atuar e desempenhar bem durante a cena tem que ver com a

escuta ativa dos participantes, para estarem abertos às ofertas (deixas,

estímulos, cues) dadas pelos outros participantes.

Durante a cena, o foco pode ser nesta escuta ativa e na velocidade e

reação dos participantes (MUNIZ, 2006). Com base na categoria a seguir, é

possível analisar como as ofertas foram aceitas ou recusadas, tendo reflexo no

resultado da cena.

��

escuta ���� rebote ���� desenvolvimento deste rebote ���� escuta ���� rebote

���� desenvolvimento deste rebote ���� escuta ����... ���� Fim da Cena

Quadro 17: Desenvolvimento da Improvisação Fonte: Muniz (2006)

Segundo Muniz (2006), a dinâmica da cena parte da aceitação de todo

estímulo dado pelo outro participante para que haja avanço na cena. Caso

contrário, a cena bloqueia-se e o público perde o interesse: “Por isso a máxima

do treinamento do ator-improvisador é dizer sim a tudo” (MUNIZ, 2006, p.2).

No contexto de sala de aula, de acordo com Lobman e Lundquist (2007),

até os erros podem ser transformados em ofertas numa improvisação. Erros

podem ser usados para que o ensemble (o todo) continue se construindo pelos

participantes.

Em relação às categorias de interpretação, os aspectos discutidos nesta

seção são importantes para compreender criticamente se as ZPDs

(MAGALHÃES, 2009) foram criadas como espaços criativos e como

aconteceram, promovendo a interação no discurso e responsividade

(BAHKTIN, 2003), na criação de novos sentidos e significados compartilhados

pelo grupo (VYGOTSKY, 1934/2002).

A próxima seção listará as categorias de interpretação.

3.13 Categorias de Interpretação

A interpretação dos dados foi realizada considerando os pressupostos

teóricos explicitados e discutidos na fundamentação desta pesquisa. O quadro,

a seguir, retoma alguns dos conceitos que sustentam o estudo, organizando as

categorias de interpretação em:

• Criação de ZPDs (MAGALHÃES, 2009).

• Sentido e significado (VYGOTSKY, 1934/2002).

• Interação no discurso e responsividade (BAHKTIN, 2003).

Quadro 18: Categorias de Interpretação

3.14. Questões Éticas e Credibilidade da Pesquisa

No decorrer desta pesquisa, o PP participou de reflexões e discussões

sobre o trabalho com colegas do grupo LACE, além de outros momentos em

que lhe mostraram caminhos para a pesquisa como a participação em

Congressos, Seminários, Simpósios, Reuniões Pedagógicas, Cursos Extras,

Entrevista, Disciplinas de Mestrado.

A participação nestes momentos foi enriquecedora para o PP ao ouvir

ideias e sugestões de outras pessoas da área de Linguística e de Educação,

envolvidas com pesquisa ou não, que ajudaram muito a nortear a condução

deste trabalho.

A pesquisa, quando em andamento, foi submetida e avaliada pelo

Comitê de Ética, em 21 de novembro de 2011 � Protocolo 340/2011, com

documento constando da parte de anexos desta pesquisa.

Na sequência, encontra-se o quadro relacionado a cursos, disciplinas e

apresentações que contam para a credibilidade desta pesquisa.

Evento Participação Informações Contribuição para

a pesquisa

YILTS – Yázigi

Internexus Language

Teaching Seminar 2011

Apresentação do trabalho

“Improv Fun – Ideas for

developing oral skills in

class!

Centro Universitário São

Camilo, São Paulo, SP –

Julho de 2011.

Apresentação das tarefas

feitas durante a produção

de dados para uso em sala

de aula, discutindo ideias

com colegas da área.

5º. Simpósio Ação

Cidadã - SIAC

Apresentação do trabalho

“Improvise!– Ideias de

exercícios de improvisação

para a sala

de aula”.

Colégio Albert Sabin –

Novembro de 2011.

Apresentação de como a

pesquisa surgiu e como

ela estava sendo

desenvolvida.

Participação em

Miniqualificações do

grupo de pesquisa LACE

Apresentação da

condução do projeto de

pesquisa para colegas

Mestres e Doutores.

Março de 2011 – PUC –

SP.

Discussão dos conceitos,

condução da pesquisa,

entender mais as

concepções teórico-

metodológicas do trabalho.

Participação em

Miniqualificações do

grupo de pesquisa LACE

Apresentação da

condução do projeto de

pesquisa para colegas

Mestres e Doutores.

Outubro de 2011 – PUC –

SP.

Discussão de conceitos,

condução da pesquisa,

entender mais as

concepções teórico-

metodológicas do trabalho.

Disciplina de Mestrado

“Leituras de Vygotsky”

Apresentação de trabalho

escrito

DISCIPLINA

OBRIGATÓRIA ELETIVA:

LINGUÍSTICA APLICADA

II (LA2) – 2º. Semestre de

2010 – PUC – SP.

Estudo sobre os textos e

discussões apresentadas,

que se tornou parte do

capítulo de fundamentação

teórica.

Disciplina de Mestrado

“Argumentação em

Contextos Escolares”

Apresentação de trabalho

escrito

DISCIPLINA OPTATIVA –

1º. Semestre de 2011 –

PUC – SP.

Estudo sobre a

argumentação relacionado

ao contexto que estava

pesquisando, que se

tornou parte do capítulo de

fundamentação teórica.

Seminário de Pesquisa

“Análise de Dados em

Contextos Escolares”

Apresentação de trabalho

escrito

2º. Semestre de 2011–

PUC – SP.

Estudo prático sobre a

análise de dados, já parte

deste trabalho.

Disciplina de Mestrado

“Metodologia de

Pesquisa em Linguística

Aplicada”

Apresentação de trabalho

escrito o - Entrega do

capítulo de metodologia

2º. Semestre de 2011–

PUC – SP.

Conhecimento teórico

sobre condução da

metodologia de pesquisa.

Disciplina de Mestrado

“Metodologia de

Pesquisa em Linguística

Aplicada”

Apresentação de trabalho

sobre o texto “A Entrevista

Reflexiva e uma Ciência

Social Performativa”.

2º. Semestre de 2011–

PUC – SP.

Apresentação para a sala

sobre performance e a

entrevista reflexiva já como

parte da fundamentação

teórica do trabalho de

pesquisa.

Reunião Pedagógica –

Yázigi Perdizes

Apresentação de Trabalho

“Improv Fun – Ideas for

developing oral skills in

class!"

Agosto de 2011 – Yázigi –

Unidade Perdizes – São

Paulo, SP.

Apresentação das tarefas

feitas durante a produção

de dados para uso em sala

de aula, discutindo ideias

com colegas da área.

Comitê de Ética Aprovação pelo comitê de

ética para coleta dos

dados para pesquisa.

Novembro de 2011.

Protocolo 340/2011.

Exame de Qualificação Apresentação da

dissertação para banca de

qualificação.

07 de maio de 2012. Reorganização capítulo

teórico, aprofundar

capítulo metodológico e

expansão da análise de

dados.

Quadro 19: Credibilidade da pesquisa Dados da Pesquisa

Este capítulo tratou sobre a escolha pela PCCol, com a apresentação do

contexto da pesquisa, descrição dos participantes (alunos e professor-

pesquisador), descrição da metodologia da escola pesquisada e procedimento

de produção de dados. Além disso, individuou quais cenas formam o corpus

para análise, as categorias de análise e interpretação. Finalmente, tratou das

questões éticas e de credibilidade do trabalho.

��

A seguir, teremos a análise e discussão dos dados produzidos dentro

da metodologia aqui descrita, fazendo ligação com a fundamentação teórica

analisada.

��

Capítulo 4

Discussão sobre Análise de Dados

“Showtime”

Este capítulo aborda a análise dos dados produzidos nesta pesquisa

baseada no quadro teórico metodológico descrito nos capítulos anteriores,

dessa forma, desenvolvendo discussões e respostas às questões de pesquisa

fundamentadas nas categorias de análise e interpretação.

Entre as 41 cenas coletadas, foram escolhidos excertos de quatro aulas

conduzidas entre maio e outubro de 2011. Foram escolhidas cenas de

performance e discussão pós-performance que melhor evidenciam as

categorias de análise e interpretação com objetivo de responder à pergunta de

pesquisa:

A performance contribui para o desenvolvimento

da produção oral em inglês dos alunos? Como?

A apresentação e discussão dos dados organizou-se em três diferentes

momentos. Primeiramente, expõe-se uma descrição do contexto da aula em

que foram produzidas as cenas de performance e discussão pós-performance

para compreender como a aula foi organizada.

Após isso, coloca-se a transcrição das cenas de performance e das

discussões pós-performance sob o olhar das categorias de análise e, na

sequência, a interpretação destas transcrições. O capítulo foi organizado em

quatro seções, nas quais se apresentam as quatro aulas que compõem o

corpus para análise.

��

4.1. Descrição do Contexto – Aula 1

Estes dados foram produzidos logo no início da pesquisa, quando os

alunos revisavam um conteúdo do livro anterior para que pudessem começar a

entrar em contato com tarefas baseadas no conceito de performance e

aprendessem a discutir sobre o que se acabara de fazer. O objetivo do PP foi o

de possibilitar aos alunos autoavaliações críticas quanto às suas participações,

vendo no aparelho de TV como agiam, como usavam as frases, como estava o

volume das vozes, quão parecidas eram as conversas com àquelas que

acontecem na vida real.

Os alunos haviam estudado o assunto “Descrição Física das Pessoas”

em inglês. Durante a unidade do livro que tratava daquele assunto, o PP

apresentou aos alunos frases e vocabulário específico referente à ação de

descrever as características físicas e pessoais das pessoas por meio de outras

tarefas propostas na unidade trabalhada. Essas tarefas desenvolviam falar e

ouvir principalmente, nas quais os alunos, além de descreverem as pessoas, já

tinham bagagem de informações trazida dos outros cursos para exprimir

preferências, expressar opiniões, concordância ou discordância.

Ao participarem das tarefas iniciais de apresentação da matéria, os

alunos demonstravam certa dificuldade em encontrar as opiniões e intenções

do que queriam realmente dizer nos expoentes das funções ensinadas.

A tarefa proposta para a revisão deste assunto contava com a

apresentação de um diálogo. A história do diálogo pautava-se num convite para

sair, em que um dos participantes levaria um terceiro amigo. Assim, essa parte

da história daria aos alunos a possibilidade de inserir na conversa o assunto

que estavam revisando (“What does your friend look like? What’s your friend

like?”).

A sala, naquele dia, composta por 7 alunos, foi dividida em 2 pares e um

trio para que pudessem fazer a conversa. Mesmo já tendo estudado juntos por

mais de um ano e com uma boa exposição e prática do idioma inglês, a sala

sentia a necessidade de escrever um script do diálogo antes da performance,

deixando de lado a espontaneidade da situação.

��

Os alunos apresentavam o diálogo para a sala, enquanto os outros

alunos prestavam atenção nas frases usadas pelos colegas para que fossem

comentadas ao final da atividade. O diálogo gravado foi apresentado aos

alunos ao final da apresentação, no aparelho de TV instalado dentro da sala de

aula. Os alunos analisaram suas apresentações, comentaram sobre frases que

usaram, erros que cometeram, outras frases que poderiam ser usadas ou

simplesmente acharam ‘engraçado’ o fato de estarem se vendo em vídeo.

Os testemunhos dos alunos mencionavam a falta de segurança em usar

as estruturas novas, que o ambiente de sala de aula era uma situação

totalmente diferente do que acontece quando falamos com um nativo ao vivo,

além do receio de errar ou não saber responder a uma pergunta feita pelo

colega, desse modo, atrapalhando o andamento da conversa. Todos puderam

dar seu testemunho e os que se mantiveram mais quietos na discussão eram

instigados pelo PP a dar sua contribuição.

Durante a discussão, o PP mencionou aos alunos que eles já tinham

uma bagagem que os deixaria preparados para este tipo de situação. Ademais,

essas situações aconteceriam não somente mais vezes no livro utilizado, mas

também em situações da vida real, fora da escola.

O PP, durante a preparação para a performance, gravação e posterior

discussão, mantinha sempre como objetivo deixar claro para os alunos que

eles poderiam sempre participar ativamente das tarefas com o que já sabiam e,

assim, atingir resultados esperados na preparação da aula.

4.1.1 - AULA 1 – Análise do excerto da cena 1 - Alunos desempenham

cena de convite

Participa

ntes

Turnos Análise

AL (6) Oh, good idea! I will invite my friend

MA, ok?

Aceitação da oferta do convite. Aluno oferece

rebote.

YU (7) Do I know your friend? Desenvolvimento deste rebote. Houve uma

problematização para levar a aluna a

esclarecer de quem ela estava falando.

��

AL (8) No, you don’t. She is with… works with

me.

Desenvolvimento da cena. A aluna está se

contrapondo, justificando por que ele não

conhece essa nova pessoa.

YU (9) Really? What does she look like? Nova oferta proposta. Permanência dentro

do tema, pedindo mais detalhes sobre a

pessoa, usando o assunto daquela unidade

do material didático.

Nesse excerto, houve a permanência dentro do tema proposto na tarefa

e nas ofertas dadas pelos alunos. Por ser o primeiro contato dos alunos com

este tipo de tarefa e gravação da produção dos dados, a espontaneidade nos

enunciados foi pouca. Mesmo assim, houve responsividade nos enunciados

dos participantes, pois as respostas eram dadas de forma que a conversa

tivesse sentido em relação às perguntas feitas, caracterizando a interação da

conversa (BAKHTIN, 2003), sendo o uso do inglês como língua para a

conversa mantido do começo ao fim da cena.

A questão da espontaneidade seria também tratada nas discussões

posteriores para que os alunos pudessem perceber que a linguagem das cenas

precisava se aproximar de como é desempenhada na vida real. Como aponta

Gontow (2005, p.8): “Na vida real, as pessoas hesitam, cometem

erros, esquecem o que iam dizer [...] eles entendem mal uns aos outros,

deixam frases inacabadas, são interrompidos por outros". Este ponto deveria

ser claro para os alunos como partes constitutivas das cenas e ser discutido

posteriormente. Entretanto, é importante levar em consideração que esta era a

primeira vez do contato da sala com uma câmera filmando suas performances.

4.1.2 - AULA 1 – Análise do excerto da cena 2

Particip

antes

Turnos Análise

SO (3) Do you remember that have… we have an

appointment this week?

Contextualização da cena proposta.

MA (4) Yes, I remember. We had a... we have a

party on Saturday.

Aceitação da oferta, mas sem rebote.

Houve concordância e acréscimo de

informação, mas não houve rebote.

��

SO (5) I was invited a friend of mine, he called

Alex. Do you mind?

Introdução de nova informação e pedido

de informação.

MA (6) No, I don’t. But I don’t… I don’t remember

him.

Aceitação da oferta e rebote. Pedido de

explicação, buscando mais informações

sobre o novo amigo.

SO (7) Hum, I think that you… don’t know him.

He’s…

Desenvolvimento da cena. Concordando

com o turno 6, quando a aluna diz que não

conhece o amigo.

MA (8) What’s he like? Nova oferta com pedido de informação.

Desenvolvimento do tema, mantendo-se

dentro dele, continuando o que a colega

falou.

SO (9) (riso) …he’s very smart and he’s…

handsome, too.

Aceitação da oferta e rebote

MA (10) And what does he look like? Desenvolvimento dentro do tema

proposto.

SO (11) He has a short brown hair. He has a

medium wei… hate and he’s thin.

Aceitação da oferta e rebote.

MA (12) Ooh. He must be funny. Tell him to… Aceitação da oferta.

SO (13) … that I will pick you up. Aluna continuou o que foi dito

anteriormente, complementando a ideia.

Aceitação e rebote.

MA (14) Yes. Tell him to... that we… we will pick up

him at home.

Aceitação da oferta. Espelhamento com a

continuação da ideia.

SO (15) Ok, I’ll tell him. Aceitação.

Nesta cena, ficou visível como as alunas agiram colaborativamente,

ajudando na co-construção dos enunciados do diálogo, como esperado em

uma conversa como a proposta. Conforme colocado por Pontecorvo (2005), as

frases foram complementadas pelo outro interlocutor, completando a ideia ao

final, como, por exemplo, o turno 8 ajuda o turno 7, bem como o turno 13

completa o 12. Na apropriação do discurso anterior da colega (VYGOTSKY,

1998), os interlocutores compartilham do mesmo objeto de pensamento dando

conclusão à cena.

Mesmo dentro das limitações linguísticas das alunas naquele momento

do curso, com enunciados curtos, elas conseguiram criar um ambiente de

��

apoio e colaboração para a aprendizagem (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007),

formulando uma cena conjuntamente.

4.1.3 - AULA 1 – Análise do excerto da cena 3 – Alunos negociam ida ao

cinema após a aula.

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MA (3) How about going to the movie after

class today?

Aluna faz a proposta.

LA (4) Hum! That’s a good idea! I think I’m

going to tell my friend to invite.

Aceitação. A resposta é pertinente e há

acréscimo de informação, desenvolvendo-

se o tema.

MA (5) Eh… who is this? Aceitação da oferta e rebote.

LA (6) He’s my friend Vitor. Desenvolvimento do rebote

MA (7) Eh… How..eh…what…he…like. What’s

he like?

Pedido de informação.

LA (8) He’s a little boring but he’s very

intelligent and talkative

Réplica simples com aceitação

MA (9) And... what does he look like? Pedido de informação.

LA (10) He has short blond hair and he’s tall and

a little Chubby

Réplica simples com aceitação.

MA (11) Ok. So, tell him. Réplica simples com aceitação.

LA (12) Ok. Replica simples, sem elaboração ou

acréscimos.

MA (13) Finish! Finalização da cena.

Neste caso, as alunas desempenharam a cena dentro das instruções da

tarefa, com perguntas e repostas corretas, fazendo uso do inglês, contudo

ainda não trazendo aspectos de improviso e espontaneidade. Fica apenas

claro que a interação entre os interlocutores ocorreu sem problemas. Não

existiu um “ir além”, novas oportunidades de perguntas que, segundo Orsolini

(2005), pudessem desenvolver novos argumentos para favorecimento do

entendimento e aproximar os alunos de uma cena como essa para a vida real.

��

As ofertas dadas pelas alunas foram estritamente ligadas ao assunto do

livro, tratado naquela unidade, sem fazer uso de outras formas de gerar

possibilidades de conversa (“Qual filme iremos assistir?” Qual a personalidade

deste seu amigo? Que tipo de filme ele gosta?) para que novas respostas

pudessem ser provocadas e, dessa forma, envolvidas nos processos mentais

superiores (VYGOTSKY, 2003).

Nas performances feitas, foram poucas as possibilidades de criarem-se

ambientes nos quais novos riscos e oportunidades pudessem ser testados

pelos alunos no palco da sala de aula. De acordo com Lobman e Lundquist

(2007), esses momentos de improviso poderiam gerar experiências sociais que

produzissem novos comportamentos e regras, proporcionando a criação de

conhecimento usando toda a bagagem aprendida pelos alunos neste curso e

nos cursos anteriores.

O fato de que os alunos estavam tendo um primeiro contato com a

gravação para produção de dados deve ser levado em consideração,

influenciando na criação desta ZPD. Como será visto nos próximos momentos,

os participantes foram se apropriando da dinâmica das tarefas de performance

ao longo da pesquisa e também o fato de estarem sendo gravados começou a

ser mais aceito pelo grupo.

4.1.4 - AULA 1 – Discussão Pós-Performances e Análise – Alunos

debatem em português o desempenho das cenas, como agiram e como

construíram conhecimento

Particip

antes

Turnos Análise

PP (51) Que é que você achou do exercício, YU, pode

falar. É bom porque...

O fio condutor passa do PP para o

aluno quando o PP pede um ponto de

vista, introduzindo a questão

controversa para o debate.

YU (52) Porque destrava, eu acho que você destrava o

seu vocabulário, aprende a estruturar a

conversa, às vezes você nem ouve e quando

Aluno retoma o tema,

complementando com seu ponto de

vista.

você está praticando aquela conversação você

acaba ficando mais tranquilo pra você

começar a estruturar a frase de uma forma

mais correta e ouvir mais. Eu acho que essa

...ah... você praticando além de melhorar o

vocabulário, você aprende a estruturar uma

conversa do meio até o fim – com começo,

meio e fim.

“Porque” está exemplificando ou

explicando? As razões da importância

do exercício para aquele participante.

PP (53) Vocês acham que pra um exercício desse

vocês precisam fazer script antes e precisam

ensaiar antes?

Colocação de questão controversa.

Pedido de sustentação.

YU(54) No começo, acho que sim. Réplica mínima com ponto de vista.

SO (55) No começo é... Espelhamento – Informação repetida,

demonstrando concordância, mas não

acrescida de outras informações.

YU (56) ...mas acho que conforme você vai praticando,

você vai melhorando e aí acho que vai ficando

natural.

Pertinência dentro do assunto

proposto. Uso de justificação com

contra-argumentação (“mas”).

Gerúndio usado mostrando que os

participantes passam por um

processo, usando a

conjunções conformativa “conforme”.

PE (57) Porque na verdade você tem o feedback do

que você falou e o que você fez e ai você vai

ver seus erros.

Desenvolvimento do tema, mas não

pertinente devido ao uso indevido do

termo feedback..

PP(58) Hum. Som que demonstra concordância e

acompanhamento do ponto de vista

desenvolvido.

PE(59) É mais fácil. Réplica mínima com ponto de vista.

PP (60) Mas é necessário fazer um script... escrever o

texto que você vai dizer e depois fazer a

conversa? Que que ‘cê acha disso?

Pedido de esclarecimento, retomando

a questão controversa proposta,

usando outras palavras.

PE (61) Num primeiro momento, sim. Réplica mínima com ponto de vista.

PP (62) Por quê? Pedido de explicação.

PE (63) Pra você poder estruturar o que é que você vai

fazer pra você ter um contexto, senão você

fica muito com ela vaga.

Explicação usando razões.

PP (64) Como é que seria esse exercício se eu Colocação de questão controversa,

pedisse pra vocês só lerem a instrução e falar

“Agora eu vou gravar. ‘Go!’” Como é que

vocês acham que seria? Sem nenhum tempo

para ensaio.

parafraseada, ainda dentro do mesmo

tema das outras questões

controversas.

AL(65) A gente ia travar! Réplica mínima com ponto de vista.

SO (66) É. Complementação do turno anterior,

mas sem desenvolvimento

AL(67) Não ia sair nada. Justificativa porque iriam travar, mas

sem explicar o porquê.

PE(68) A gente ia travar. Ia ficar muito mecânico. Complementação da asserção com

certo espelhamento.

LA (69) A gente perde o objetivo do exercício. Complementação do turno anterior.

PE(70) ... não ia ter o... a descontração, entendeu, da

conversa pra você ter o negócio mais natural.

Se você for ler, você não consegue ser

natural. Como a gente conversa em

Português, a gente conversa naturalmente

sem fazer script nenhum.

Complementação do turno anterior.

Explicação referindo-se a um modelo

(comparação com a fala na língua

materna).

PP(71) Então, então... Então, eu me confundi um

pouquinho. Se a gente fizer... se eu falar pra

vocês “Olha, pessoal, 1 minuto pra ler as

instruções e na hora que eu falar já, vocês

começam, sem nenhum tipo de ensaio ou

preparo.

Retomada da mesma questão

controversa dos turnos 53, 60 e 64.

MA(72) Eu acho que... porque eu, particularmente,

não consigo falar espontaneamente, falar

direto “Ah, invente uma conversa sobre tal

assunto...” Eu não sei! Pelo menos no estágio

em que eu me encontro do aprendizado, eu

não consigo.

Explicação usando razão (“não

consigo falar espontaneamente”),

justificando esta razão (“no estágio

onde estou”), reforçando a questão de

opinião individual com o advérbio

“particularmente”.

PP (73) O que é que você precisa como aluna antes

de fazer um exercício desse?

Pedido de esclarecimento dentro do

assunto da questão controversa

proposta, possibilitando aos alunos

listarem o que seria necessário fazer

nesta tarefa.

MA (74) Precisava, assim, combinar o que vai ser

falado, estruturar a conversa em si,

escrevendo, combinando o que vai ser falado

porque espontaneamente não sai nada. Eu

Explicação listando exemplos.

Colocação da razão pela qual a

preparação é necessária. “Eu tenho

mais dificuldade para falar do que para

����

tenho mais dificuldade para falar do que para

escrever.

escrever".

PP (75) Uh-hum. Som de entendimento,

acompanhamento do raciocínio.

SO (76) ...pra falar do que pra escrever. Bem mais. Espelhamento – Informação repetida,

mas não desenvolvida.

AL(77) De repente na conversa entra uma frase ou

alguma palavra que eu talvez não saiba dizer

em Inglês então que quero falar... cabe na

conversa, mas não vou saber em Inglês .

Combinando antes eu vou saber o que que é.

Retomada do tema do turno 74 com

acréscimo de exemplo baseado na

experiência pessoal. Aluna comenta o

elemento “espontaneidade” na

conversa.

LA (78) Eu acho que a gente vai se perder mais e a

gente vai perder o objetivo do exercício. É...

conversação. Poder estruturar – igual ele

falou, na hora...

Réplica elaborada, mas não

desenvolvida dentro do tema, não

trazendo a experiência e o ponto de

vista da aluna.

PP(79) That’s a point: da gente poder chegar no

objetivo do exercício podendo se preparar

melhor. Hum. E pra fechar: como é que vocês

se sentem num tipo de exercício, assim, onde

vocês tem que montar uma conversa que vai

acontecer na vida de vocês? Isso aí vai

acontecer quando vocês viajarem ou quando

vocês morarem um tempo fora ou quando vier

alguém pra ... visitar a empresa durante uma

semana, é.. “Vamos tomar alguma coisa

depois? Vamos almoçar? Vamos...” Que que

vocês acham de um exercício assim?

Concordância – réplica simples, mas

sem elaboração ou desenvolvimento

por parte do PP dentro do aspecto

trazido pela aluna. O PP entende que

a preparação pode fazer com que os

alunos atinjam o objetivo da tarefa

com mais facilidade.

PP propõe questão controversa

baseado em exemplo da vida real,

exemplificando e pede opinião aos

participantes do debate, numa

tentativa de expansão da percepção

sobre o tema, opondo-se à ideia de

preparação para tarefas.

SO (80) Eu acho que é bastante objetivo. É... eu acho

que é isso mesmo que a gente tem que

aprender, dessa forma, no dia a dia. Porque

você vai ter que falar qualquer coisa... já fui

viajar e tive que falar. Não falava direito, mas

tive que falar porque senão não ia comer, não

ia fazer nada, entendeu? Você tem que meter

a cara, falar errado, eles te corrigem, não tem

Réplica elaborada com acréscimo de

informações baseadas em experiência

pessoal, mas ainda dentro do tema.

Uso do verbo “ter” para demonstrar a

força da obrigação de comunicar-se na

situação real.

Aluna explica ponto de vista baseado

����

problema nenhum. (risos) Mas você se

comunica porque quando você está sobre

pressão, ninguém entende o que você fala,

você tem que se comunicar pra sobreviver.

Então, ‘cê tem que falar alguma coisa. Eu

prestava atenção nas pessoas... primeiro,

entendeu? Via o que elas falavam, pensava

naquilo e aí ia lá e fazia igual.

em modelo.

YU (81) Mas eu acho, que... eu já fiz outras escolas de

Inglês que praticavam esse tipo de coisa, acho

que é..., essa questão de você treinar o, a

conversação, eu acho que é fundamental.

Acho que o primeiro ponto assim: eu faria

duas aulas estruturais e conversação. Duas

aulas estruturais e conversação. Desse jeito

aqui assim. Acho que a única forma de você

destravar realmente é a questão da conversa

porque mesmo estruturando ou não uma

conversa anterior, eu acho que ia gente ia

conseguir ficar mais solto pra conversar

normalmente, independente de você estar na

escola ou não.

Réplica elaborada, mas não pertinente

ao assunto de como desempenhar a

conversa sem script. Aluno desvia o

tema para tipo de aula e não de tarefa.

SO (82) É porque a gente tem a mania de falar “Não

vou falar, porque eu estou falando errado” “Eu

não sei falar, então a gente trava”. Então, eu

acho que dessa forma, você vai falar errado,

mas você está se sentindo seguro porque

você está com pessoas que você conhece, da

sua classe...

Réplica elaborada, demonstrando

concordância, trazendo palavras

avaliativas como “errado” e “seguro”.

Não há desenvolvimento do aluno (e

do PP) sobre o que é “falar errado”

para aquele grupo.

YU (83) E aqui você pode errar, né? Aqui você pode

errar.

Complementação do turno anterior

sobre “errar” dentro do espaço da sala

de aula.

MA (84) Melhor errar aqui do que errar lá, né? No

contexto onde você não pode errar...

Espelhamento do turno anterior, com o

adjetivo comparativo “melhor”, mas

sem desenvolvimento da opinião

introduzida.

SO (85) É, sei lá, eu acho que é o único jeito de falar... Complementação dando conclusão ao

turno 82, após acréscimos dos

colegas.

����

MA (86) ... eu não tenho problema nenhum de falar

errado. O problema é que à vezes eu não sei

mesmo montar a frase, o diálogo, dá branco,

não vem na minha cabeça, o que eu vou ter

que falar, entendeu?

Oposição à ideia de falar errado,

provocando um aprofundamento com

a ideia de “dar branco”, esquecer as

palavras.

PE(87) Quando você está na frente de um americano

ou de um outro que fala fluente, você trava,

você olha assim e você não consegue, às

vezes você não consegue falar. Você sabe o

que você quer expressar, mas... não sai. ‘Cê

trava completamente.

Complementação do turno anterior

incluído o acréscimo da experiência

pessoal do aluno.

MA (88) É, por exemplo, eu fiz uma viagem agora pra

África do Sul, entendeu, as pessoas lá tinham

boa vontade – ainda bem, né? Porque aí você

fala duas ou três palavras, a pessoa adivinha

o resto e vai. Em geral, dava certo. Não

precisava falar a frase inteira com sujeito,

predicado, objeto direto... não! Fala duas

palavrinhas chave que a pessoa entende.

Claro que isso é péssimo, não estou

estudando pra isso, mas já quebra um galho.

Aluna refere-se a uma experiência

real, explicando e dando exemplos,

mas opondo-se ao próprio ponto de

vista com o adjetivo “péssimo”,

tomando uma posição como aluna

dentro do curso. Atitude que na sua

própria vida real é diferente.

PP (89) Ok? Mais alguma coisa? Gostei muito dos

testemunhos, obrigado, gente

Pedido de mais informações e

depoimentos. Existe a apreciação do

que foi discutido, mas não existe

conclusão dos aspectos mais

importantes por parte do PP.

No caso desta discussão em particular, os alunos estavam tendo o

primeiro contato sobre como discutir o que tinham acabado de ver na televisão

� o arquivo gravado pelo PP para a produção de dados. Por ser a primeira

oportunidade para isso – para o PP e para os alunos – as perguntas eram

abertas, não estavam previamente estruturadas, mas baseavam-se na

fundamentação teórica escolhida e estudada para a condução de tal pesquisa.

Aproveitando esta primeira oportunidade, o PP quis deixar os alunos à

vontade para falarem espontaneamente do que tinham acabado de

desempenhar, mesmo com a existência de uma câmera dentro da sala de aula,

����

em direção ao rosto. Este fator poderia parecer muito invasivo, intimidador,

compelindo os alunos a darem respostas mecânicas.

Por isso, no turno 51, o PP aproveita a deixa dada pelo aluno que estava

conversando espontaneamente com os colegas, pedindo que ele repita para a

câmera, que acabara de ser ligada, por que havia avaliado a tarefa como “boa”.

Percebeu-se, então, que o aluno deu um depoimento explicativo do que a

experiência representou para ele (turno 52), listando o que fora trabalhado e

qual a conclusão deste depoimento: “[...] além de melhorar o vocabulário, você

aprende a estruturar uma conversa do meio até o fim – com começo, meio e

fim". A performance possibilitou a esse aluno perceber como o tipo de conversa

proposto pela tarefa se organiza, fazendo com que eles brinquem/atuem sendo

o que não são (NEWMAN; HOLZMAN, 1993/2002) para que possam vivenciar

de alguma maneira possibilidades de agir e ser na vida real em situações

futuras.

Com o intuito de trazer para a discussão a questão de trabalhar

coletivamente com o inesperado ocorrido numa cena e verificar como o

ensemble dos alunos pode trabalhar junto, o PP traz pela primeira vez uma das

questões-chave de sua pesquisa, que é o turno 53, quando ele questiona a

necessidade de fazer o script, sendo que, na vida real, na maioria das vezes,

não se escreve previamente o que se fará em situações de fala (LOBMAN;

LUNDQUIST, 2007).

Os alunos compreenderam que inicialmente pode parecer necessário

fazer script da cena para que possam perceber (ou até mesmo demonstrar ao

PP que os avalia) que conseguem colocar em prática o que estão aprendendo

no curso. No turno 63, o aluno expõe seu ponto de vista sobre este assunto,

explicando que a intenção é que a ideia da cena construída não fique “vaga”.

Na enunciação dos alunos, o PP percebe que existe uma responsividade

(BAKHTIN, 2003) à questão colocada e que tenta ser desenvolvida, mas ele

observa que alguns sentidos trazidos pelos alunos ainda carregam marcas de

um discurso autoritário em relação à avaliação, “tirar boa nota”, ter bons

resultados no curso, entender a matéria “passada” para ser aprovado.

A intenção do PP, na grande maioria dos turnos que traz suas perguntas

(abertas ou de dupla escolha), é trazer, para a discussão, a necessidade de

����

fazer o script. No entanto o PP não coloca questões mais controversas,

referindo que isso pode não ser extremamente necessário para a condução de

tal tarefa. Baseado nas leituras de Toulmin (1958) Perelman e Tyteca

(1976/2005), o PP afirmou: “[...] é preciso um tema passível de debate, ou seja

passível de questionamento”. O tema passível de debate (fazer script) poderia

ter gerado mais pontos de vista, levando-se em conta o auditório ao qual o PP

se referia.

As perguntas poderiam ter sido colocadas de forma mais contundente

para poder existir o embate dos sentidos, questionando a verdade e os

argumentos trazidos (MOSCA, 2005), como, por exemplo: “E se vocês

descobrissem que fazer script é ‘ruim’ para este tipo de tarefa?”.

Possivelmente, as oposições e réplicas poderiam ser trazidas à tona mais

facilmente para debate, trazendo uma participação diferente na responsividade

dos alunos naquela interação e possível revisão de suas opiniões.�

Quando o PP propõe a situação imaginária do turno 64 � “Como é que

seria esse exercício se eu pedisse para vocês só lerem a instrução e falar

“Agora, eu vou gravar. ‘Go!’” Como é que vocês acham que seria? Sem

nenhum tempo para ensaio” �, a reação espontânea da sala é de que eles

iriam “travar” e o resultado esperado deles não seria bom. Aqui, tem-se um

exemplo de questão controversa que institui polêmica, trazendo mais reações

dos alunos que podem ser pertinentes e bem-desenvolvidas dentro do tema

proposto.

Isso pode demonstrar certa insegurança por parte destes alunos (que

estavam apenas no terceiro semestre de contato com o idioma) por acharem

que deveriam falar corretamente uma vez que aquela tarefa poderia ser um

momento de usarem o que aprenderam, como um momento de avaliação de

seus desempenhos até o momento – por parte do PP e também como uma

auto-avaliação. Nestes momentos, as ZPDs criadas (VYGOTSKY, 1934/2002;

MAGALHÃES, 1998) podem ser circunstâncias de discussão sobre como as

conversas acontecem em nossa língua materna, como se desenvolvem e como

negociamos quando não entendemos o que nosso interlocutor diz. A discussão

sobre o que é “errar” também é relevante, principalmente, em como lidar com o

erro e esclarecê-lo, transformá-lo, fazê-lo parte do diálogo. “Erros podem ser

����

usados para que o ensemble (o todo) continue se construindo pelos

participantes” (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007, p.). Portanto, espontaneidade ao

trabalhar com o erro não é algo que aparece fácil e rapidamente se não for

construído conjuntamente e trabalhado no contexto da turma em sala de aula.

Quando a aluna, no turno 72, traz seu depoimento de que “não consigo

falar espontaneamente, falar direto, “Ah, invente uma conversa sobre tal

assunto...” Eu não sei! Pelo menos no estágio em que eu me encontro do

aprendizado, eu não consigo”, trouxe uma reflexão para o próprio PP enquanto

ouvia a aluna e, depois, quando analisava a cena: de quão importante, na

preparação da aula para este tipo de tarefa, o momento da contextualização do

local, o que falar, o que se diz numa situação de convite, o que fazer se o

convite é aceito ou negado, enfim, discutir todos os aspectos nesta atividade

social “convidar alguém” (regras, comunidade, divisão e trabalho...)

(ENGESTRÖM, 1987). Isso indica que, para se atingir o objetivo da tarefa, a

discussão das regras e contextualização da situação são tão importantes

quanto a matéria trabalhada em sala de aula. O aluno pode aprender milhares

de frases e funções, entretanto, se não estiver preparado para a surpresa de

usá-las na vida real, estas frases poderão não ser imediatamente úteis ou

mesmo compreensíveis.

A espontaneidade e a “segurança” para desempenhar tal tipo de tarefa

se alicerça em como ela foi contextualizada para os alunos, o quanto eles

sabem o que poderão usar, para que, aí sim, o PP possa dizer “Go!”, como

mencionado no turno 64, podendo esperar que erros acontecerão, mas eles

sabem o que devem desempenhar e dividir em duas frases. “Sempre que

houver uma situação imaginária, haverá regras” (NEWMAN; HOLZMAN, 1997,

p.115). Mesmo dentro de uma brincadeira/atuação, regras são criadas e vão se

criando no desenvolvimento da performance, por isso, para melhor

compreensão dos alunos poderiam ser discutidas antes e depois da cena.

Por isso, então, o questionamento do turno 73, pedindo explicação para

o que é necessário para que a aluna – e os alunos em geral – possam

desempenhar uma tarefa como essa com segurança de que terão bons

resultados. A aluna menciona o que foi discutido acima, que, portanto, pode ser

levado em consideração no planejamento de aula para uma tarefa desse tipo: a

����

explicitação de como se organiza a atividade social que será desempenhada

na cena, para que a consequente organização desta cena possa aparecer com

mais facilidade e/ou espontaneidade.

O PP aproveita este momento da discussão para dirigir-se ao seu

auditório, expondo a compreensão deste tipo de insegurança por parte dos

alunos e concordando que, sim, existe a importância de preparar-se para uma

tarefa como essa, usando, no turno 79, para expressar concordância com

“That’s a point: da gente poder chegar no objetivo do exercício podendo se

preparar melhor”.

Logo em seguida, traz para a discussão exemplos de como este tipo de

prática irá ao encontro do que acontece nas conversas que temos fora da sala

de aula. Com estes exemplos, há uma sequência de exposições pessoais

como suportes para pontos de vistas importantes para a discussão e para a

visão do grupo no tocante ao significado do tipo de tarefa que acabara de ser

desempenhada. Isso pode ser ponto de partida indicativo de um processo de

co-construção, como discutido por Pontecorvo (2005), de como este tipo de

tarefa pode se organizar, com a exposição e apropriação das experiências dos

interlocutores participantes daquele grupo, podendo trazer um significado

compartilhado por eles de como trabalhar este tipo de tarefa e se engajar

ativamente nela.

No turno 80, aluna expõe uma experiência pessoal e como esta

experiência exigiu que ela se comunicasse “...já fui viajar e tive de falar... senão

não ia comer (...) Eu prestava atenção nas pessoas (...) via como elas falavam,

pensava naquilo e aí ia lá e fazia igual”, assim, mostrando que, em situação

reais, as regras estão presentes numa atividade social e que para o

funcionamento desta atividade e a participação nela, elas devem ser seguidas

e respeitadas.

No turno seguinte 81, o aluno expõe mais uma vez como a performance,

juntamente com o que foi trabalhado em sala de aula, pode ajudá-lo a

“destravar”, mostrando entendimento da experiência pessoal vivida pela colega

e como esta brincadeira/atuação dentro da sala de aula pode ser uma

preparação ao que pode acontecer na vida real. Dando continuação à

exposição do turno anterior, a aluna complementa que este tipo de prática em

����

sala de aula pode fazer com que arrisquem, experimentem, errem, testem

possibilidades, dentro da segurança que o espaço da sala de aula propõe,

juntamente com pessoas que estão também na mesma situação de exposição

ao novo, aprendendo um novo idioma, apreendendo regras, assim, reforçando

que “o brincar, começa com uma ênfase na situação imaginária e progride ao

predomínio das regras” (NEWMAN; HOLZMAN, 1997, p. 115). Com a

experiência no palco-sala de aula, a preparação e constituição do indivíduo

neste espaço podem lançar um olhar crítico para as experiências que

acontecerão em suas vidas. Desta maneira, a performance é uma possibilidade

de auxiliar os indivíduos a irem além do que se apropriaram em sala de aula,

criando diferentes maneiras de se relacionarem com os outros e com seu

ambiente.

No turno 88, o ponto de vista da aluna, marcado pela experiência

pessoal de sua viagem internacional, quando se viu em um contexto real de

comunicação em que fazia uso da língua a qual está sendo aprendida, revela

situações que fazem com que os interlocutores se comuniquem e negociem

sentidos, mesmo que com uma quantidade grande de erros, usando a

expressão “já quebra um galho” em oposição ao fato de ela avaliar isso como

“péssimo” e que “não está estudando para isso”. Isto traz para a reflexão do PP

como o “errar” ao falar no idioma pode ser aceito nos contextos reais de

situações imediatas de resoluções (comprar algo, pedir algo em outro idioma),

mas, em sala de aula, os alunos cobram-se muito sobre não fazer isso. Isso

traz um ponto que deveria ser mais discutido em sala de aula quanto ao

paradigma que existe sob o qual o indivíduo deve agir de um jeito na sala de

aula e de outro na vida real. As relações criadas nestes tipos de tarefas em

sala podem ser centrais na constituição da consciência de como agir nos

contextos onde vive, baseado em Vygotsky (1934/2002). A sala de aula pode

auxiliar na construção de conhecimento em como agir nas atividades do mundo

social, constituindo a sala de aula como palco de vivências.

Na conclusão da discussão, no turno 89, o PP marca apenas que

“gostou muito dos testemunhos”. Desta forma, ele pode ter perdido uma

oportunidade importante para listar e juntar os sentidos trazidos pelos alunos, e

poderia ter concluído conjuntamente com sua sala o que fora relevante naquela

���

discussão no que tange à criação de novos significados sobre o que é “errar”,

sobre como o erro pode ser usado como ponto de partida para novos

desdobramentos e como aquelas experiências pessoais reais, vividas pelos

alunos, podem exemplificar que se arriscar faz-se presente neste tipo de

situação. Esse embate dialético poderia ter levado a conclusões e novos

significados que sintetizariam e “amarrariam” o que foi discutido, e também

poderia levar a acordos que poderiam contabilizar formas de soluções e ações

para os pontos controversos apresentados.

Os valores e crenças trazidas de experiências subjetivas vividas

anteriormente (sentidos), discutidos por este grupo, situados neste momento

socio-histórico-cultural, criam uma cultura para estes sujeitos (significados)

(VYGOTSKY, 1934/2008). É importante lembrar que quando os sujeitos

compartilham com outros, eles internalizam valores e ideias que constituem o

pensamento. A organização destas ideias compartilhadas pode produzir

conhecimento que vai se organizando na mente do sujeito até que se tornem

referenciais para sua vida. Por isso, então, a importância da conclusão para

aquele grupo do que foi discutido, conclusões que tiveram e quais formas de

agir podem ser possíveis para as próximas tarefas e para suas vidas.

Entretanto deve ser levado em consideração que, naquele momento da

pesquisa, ocorreu a primeira gravação de dados, a primeira vez que se deu a

presença de uma câmera em sala de aula e a intenção de não forçar os alunos

a sentirem-se obrigados a dar depoimentos. Mesmo assim, ali era um momento

à criação de regras para uma performance, uma produção de dados,

organização das perguntas de uma entrevista com aquela audiência e também

para uma ajuda maior na preparação do plano de aula daquele PP.

A responsividade (BAKHTIN, 2003) do PP frente ao que foi discutido

pode não ter sido suficientemente desenvolvida para dar clareza maior à

discussão que estava sendo proposta. O objetivo era que a discussão pudesse

proporcionar aos alunos um entendimento e um olhar crítico sobre a

organização das performances, como elas podiam ser desempenhadas nas

próximas vezes para que os alunos entendessem o que se buscava com

aquele tipo de discussão.

���

Retomando a questão de pesquisa com base nesta primeira aula

analisada, fica claro que os alunos compreendem o espaço de sala como mais

amigável do que as situações da vida real. Este tipo de percepção fez as

conversas parecerem muito mecânicas, não espontâneas.

O PP pôde compreender que novos significados poderiam ser criados

dentro daquele espaço de sala de aula, mas as questões deveriam ser

colocadas de forma mais controversa para que pudessem gerar significados

compartilhados mais visíveis para aquela turma. Um melhor planejamento das

questões controversas poderia promover mais argumentos para que a

linguagem pudesse ser “objeto a ser construído para criar espaços criativos de

colaboração com todos os participantes envolvidos nas discussões e também

instrumento para desenvolver ideias e reconstruir ações” (LIBERALI, 2005).

Entretanto esse momento foi positivo para a pesquisa por mostrar ao PP

que o contexto daquela turma poderia ser um terreno propício a criações de

novas ZPDs, com o intuito de desempenhar futuras performances para a

criação de significados compartilhados sobre o que é performance e como ela

poderia auxiliar no processo de ações na vida que se vive (MARX, 2002) e no

desenvolvimento da produção oral.

4.2. Descrição do Contexto – Aula 2

A performance baseada no jogo de Improvisação “Props!” (LOBMAN;

LUNDQUIST, 2007) foi proposta para os alunos com o objetivo de dar-lhes

oportunidades de brincar com objetos, criar cenas, trabalhar com todo o grupo

e resgatar vocabulário aprendido anteriormente. Com base nas performances

desempenhadas na aula anterior, o PP organizou um jogo de improvisação

com o intuito de trabalhar a agilidade de respostas em conversas, analisando a

escuta ativa dos alunos às ofertas dos parceiros e como dariam rebotes para o

desenvolvimento da cena.

Os alunos, primeiramente, assistiram ao vídeo do site You Tube

mostrando um excerto do programa de TV “Whose line is it anyway?”

(http://www.youtube.com/watch?v=pCUXOhJtTqk&noredirect=1) para

����

entenderem o funcionamento do jogo e quão longas as cenas precisavam ser.

Eles foram divididos em pares e receberam o mesmo objeto: um cabide

branco.

O vídeo serviu como modelo para o jogo de improviso em sala, com a

discussão das regras que compõem esse jogo. No jogo “Props!”, os alunos

devem criar cenas sobre quaisquer assuntos usando os objetos que

receberam. Isso pode proporcionar oportunidades para que os alunos façam

uso da língua-alvo, negociando seus sentidos, arriscando-se e criando várias

ZPDs dentro de uma única aula.

Eles tiveram alguns minutos para preparação das cenas e iriam

apresentar quantas pudessem criar. O PP ressaltou, antes, que aquilo era uma

tarefa livre e que o objetivo não era desempenhar uma cena cômica, mas sim

desenvolver cenas rápidas com quaisquer ofertas dadas por seus pares com o

uso do vocabulário que sabiam.

Os alunos conseguiram desempenhar várias cenas curtas, todas em

inglês e, em nenhum momento, usaram português. Ao final, assistiram suas

cenas gravadas em vídeo e comentaram a respeito do que puderam aprender

com aquela performance, com a discussão mediada pelas perguntas do PP.

4.2.1 - AULA 2 – Análise da Cena 1- Negociação de um convite e aceitação

entre as alunas

Participantes Falas Análise

PP (1) Let’s go! PP dá início à cena.

SO (2) Let’s go to the dog

house.

Aluna faz a oferta. Uso de convite com “Let’s go”.

LA (3) Yes, let’s go! Aluna aceita a oferta, propõe rebote desenvolvendo a cena.

Há apenas uma réplica mínima, sem acrescentar novos

aspectos à cena.

SO (4) (risos) Reação da plateia, aprovando a cena.

PP (5) Good. PP faz comentário positivo, aceitando a cena.

����

Imitando a colega, mostrando que ela entendeu que os cabides eram

cachorros na cena, a aluna aceita o convite, resgatando o que aprendera

anteriormente de como se fazer um convite, assim, dando sentido à cena.

Analisando os aspectos de oferta e rebote é compreendido que a aluna

propôs a oferta e recebeu rebote para desenvolvimento da cena por meio de

“let’s go!” e gestos que indicavam: a interação, a responsividade do outro

(BAKHTIN, 2003) e a importância desta dinâmica entre as duas para o

andamento da cena.

Como aponta Magalhães (2009), os participantes foram envolvidos em

um todo que busca um objeto compartilhado, tomando parte numa atividade

coletiva, neste caso, a formulação de uma cena.

4.2.2 - AULA 2 – Análise da Cena 2– Aluna faz um convite a outra para

irem à igreja

Participantes Falas Análise

PP (7) This pair. PP dá início à cena.

MY (8) Let’s go to the

church.

Aluna faz a oferta. Uso de convite com “Let’s go” e usa os

cabides na forma de uma cruz, indicando “igreja”.

MA (9) Hã? Gente como faz

isso aqui?!

Aluna não dá o rebote, não desenvolvendo a cena e recorre

ao português.

MY (10) Ok Aluna tenta continuar a cena, dando uma réplica mínima.

MA (11) A star? Aluna não entende a oferta.

MY (12) Church, let’s go to

the church.

Aluna repete a palavra “church” para a contextualização da

cena, mas não dá acréscimos para facilitar a compreensão

da outra participante.

MA (13) Eu não sabia que

era para nós duas

fazermos o mesmo.

Achei que cada um

fazia um!

Aluna não dá o rebote, não desenvolvendo a cena e recorre

ao português.

PP (14) You do it... Ring! OK. PP interrompe a cena, não aceitando o resultado.

Neste excerto, as regras da brincadeira/jogo não foram compreendidas

pela aluna que recorreu ao português. A outra participante tenta dar

continuidade à cena, entretanto a aluna não trabalhou a favor do ensemble (o

����

todo) que estava sendo criado. Houve oferta, mas não o rebote para ser

desenvolvido na cena. A ZPD criada aqui não se estabeleceu como um espaço

dialético, com seus conflitos e contradições (MAGALHÃES, 2009), no qual as

alunas pudessem aprender uma com a outra, produzindo conhecimento,

recorrendo à língua materna, não tentando negociar em inglês o entendimento

da cena. bom A aluna poderia ter dito: “Yes, the church! The place where we

pray... Jesus... God... remember?”, para que a outra aluna pudesse exercitar a

capacidade de inventar, arriscar, negociar e tentar entender a cena.

4.2.3 - AULA 2 – Análise da Cena 3 – Aluna comenta sobre a gravata que

está usando

Participantes Falas Análise

PP (14) Here! PP dá início à cena.

AL (15) I like [...] the tie. Aluna faz a oferta demonstrando que agora os cabides

representam uma gravata, expressando preferência “I like”.

PE (16) That’s horrible. Aluno aceita, dá o rebote com sua opinião contrária à beleza

da gravata, mas não desenvolve a cena.

PP (17) Ok! PP finaliza a cena, aceitando o resultado.

Esta cena é exemplo de um rebote que, mesmo fazendo uso de um

comentário oposto à preferência da aluna (“That’s horrible”), foi pertinente

dentro da cena criada. A cena poderia não ter continuidade se o participante

falasse, “mas isso não é uma gravata; são cabides”.

A não aceitação da oferta da colega poderia ter feito com que não

existisse avanço na cena e ela poderia cair em um embate entre duas ofertas,

fazendo o público perder o interesse (MUNIZ, 2006). No entanto a aluna

aceitou a oferta, mas poderia ter aproveitado a deixa para contra-argumentar e

questionar: “Why? I think it’s pretty...”. Desta forma, como salienta Pontecorvo

(2005), um dos meios de estabelecer o conflito produtivo é fazer perguntas ou

se contrapor argumentando, levando os alunos a produzirem mais argumentos

dentro da língua inglesa, com uso de mais enunciados para a interação.

����

4.2.4 - AULA 2 – Análise da Cena 4 - Comentário sobre um pássaro, feita

por uma aluna apenas

Participantes Falas Análise

PP Guys! PP dá início à cena.

LA (19) Let’s fly! Let’s Fly!

... It’s a bird doll!

Aluna faz a oferta que é aceita pela parceira por meio de

gestos, mas não por enunciados. Continua acrescentando

que agora os cabides formam um pássaro. Mas não há

rebote.

Todos (risos) Plateia aprova a cena.

Conjuntamente, as alunas mostram que os cabides formavam um

pássaro, dando sentido à ideia de “voar” com gestos, mostrando nitidamente

que cada uma era responsável por uma asa deste pássaro formado com os

cabides. O conceito do Improv que todos são responsáveis pelo bom resultado

da cena (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007) está claro aqui como acima. A parte

responsiva não é realizada por meio verbal, mas o gesto que forma um pássaro

com o cabide indica responsividade (BAKHTIN, 2003).

No processo de aprendizagem, essa responsividade por meio de gestos

pode ser importante para mostrar que existe um ‘outro’ na interação, que

necessita dar sua participação ativa para que a comunicação se constitua.

Neste excerto, o simples fato de dar continuidade ágil à cena, por gestos, pôde

promover a criação de um novo sentido na aluna, em como esta forma de

reagir rapidamente pode influenciar nas suas próximas situações que envolvam

interação verbal – em sala e na vida fora da escola.

4.2.5 - AULA 2 – Análise da Cena 5 - Aluna entende as instruções e faz

uma cena relacionada a um filme

Participantes Falas Análise

PP (22) Guys, you’re not

paying attention to

your friends! Go

PP dá início à cena, chamando a atenção dos outros para a

cena dos colegas.

MA (23) Do you know MA

hands of hangers?

Aluna agora compreende as regras do jogo, fazendo

referência ao filme “Edward Mãos de Tesoura” (1990), do

����

diretor Tim Burton, dando a oferta. Mas não há rebote e

réplica da oferta proposta.

PP (24) (risos) Good! PP faz comentário positivo, aceitando a cena.

Aluna, agora, compreende as regras após assistir aos outros colegas

desempenhando outras cenas, mas trabalha individualmente, não dando oferta

clara para sua colega dar rebote e desenvolver a cena, mesmo que fosse por

um comentário breve. A cena agradou à plateia naquele momento, mas não foi

criada em conjunto. Ao assistir aos colegas desempenhando as cenas, todos

dentro do mesmo espaço colaborativo, compartilhando diferentes ideias dentro

do mesmo jogo, fez com que ela internalizasse modelos e pudesse constituir o

pensamento em como agir dentro deste jogo (VYGOSTSKY, 1934/2008).

Mesmo com este possível progresso na formação do pensamento, o trabalho

colaborativo com a colega não existiu e sem este processo de compartilhar e

criar em conjunto ficou difícil a possibilidade de compartilhamento,

desenvolvimento e transformação do resultado do ensemble (o todo, o

conjunto) (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007).

4.2.6 - AULA 2 – Análise da Cena 7 – Convite para andar de patins

Participantes Falas Análise

SO (28) Let’s go ride! Aluna faz a oferta, usando o convite “let’s go”.

LA (29) Ride our rollers? Aluna aceita a oferta, dá o rebote complementando a

asserção, reforçando que agora os cabides são patins,

desenvolvendo a cena que é ouvida e imitada pela colega.

SO (30) Our rollers! Aluna aceita o desenvolvimento da cena, repetindo “rollers”,

lembrando que agora os cabides são patins e imita a colega

nos movimentos.

LA (31) Let’s! Aluna repete “Let’s” indicando acordo entre as participantes

da oferta e rebote da cena.

Nesta cena, fica claro como a aceitação da oferta e a intenção de fazer a

cena sair “boa” para que todos no grupo se saiam bem (LOBMAN;

LUNDQUIST, 2007). A aluna esquece a fala sobre os patins, e a colega a ajuda

����

dando a deixa para lembrá-la: “Our rollers?”, relembrando o que haviam

combinado antes. A complementação da fala da outra aluna mostra o trabalho

colaborativo na construção de conhecimento, pois aqui existiu a interação, o

compartilhamento de conhecimentos a partir da relação entre as duas,

reforçando a existência do outro (BAKHTIN, 2003) para a atividade, neste caso,

trabalhando a espontaneidade e velocidade de ação em dupla das alunas.

Neste caso, este excerto demonstra que a ZPD foi atividade criativa, de

improviso (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007), pois os envolvidos realizaram algo

ainda não dominado, constituindo-se pelo fato de irem além de si mesmos.

4.2.7 - AULA 2 – Discussão Pós-Performances e Análise – PP inicia

discussão, querendo saber da opinião dos alunos sobre a tarefa que

acabou de ser feita e o que foi aprendido

Particip

antes

Falas dos Participantes Análise

PP (4) O que que vocês acharam deste exercício que

vocês fizeram agora?

Abertura da discussão, com um

pedido de apresentação de ponto de

vista sobre a tarefa desempenhada.

LA (5) Engraçado Réplica mínima com ponto de vista.

PP (6) Eu vou chegar mais perto por causa do som ta? PP fala sobre a câmera e o som.

LA (7) ..e... é bom pra pensar rápido em Inglês Complementação da réplica mínima

dada no turno 5, justificando com os

adjetivos “bom” e “rápido”.

Pertinentes dentro do assunto, mas

não desenvolve.

PP (8) uh-huh, que que você achou, SO? PP faz som de concordância e

repete o pedido de apresentação de

opinião sobre a tarefa.

SO (9) Concordo. Concordo com isso. Acho que tem

que... pensar. Te ajuda a pensar. Te obriga a

pensar. A inventar alguma coisa.

Apresentação de réplica elaborada

com acréscimos de informações,

explicando sobre a participação na

tarefa, mostrando a progressão e

reformulação da ideia, partindo de

����

“tem que” para “ajuda”, para “obriga”

a inventar.

PP(10) Uh-huh. Que que vocês acharam das perguntas

e frases que vocês usaram nesse exercício?

PP faz som de aprovação. Faz

pedido de esclarecimento tentando

trazer o que foi trabalhado no

material didático com as cenas

espontâneas feitas. Mais uma

questão controversa passível de

debate.

Todos

(11)

(risos) Reação da sala em relação ao

silêncio da falta de um argumento

para a pergunta feita pelo PP.

PP (12) Elas não acharam nada... (risos) Mas então

falem o que vocês acharam desse exercício. Se

ele contribuiu de alguma forma com o que vocês

estão fazendo aqui no curso.

Desenvolvimento da questão

controversa, procurando um enfoque

prático à tarefa que foi

desempenhada, pedindo mais

esclarecimentos usando o verbo

“contribuiu”.

MA(13) Eu acho que tem duas coisas: agilidade e a

coisa de ser divertido. Isso ajuda. Facilita você

ter que criar uma cena e pensar como, em

Inglês, eu vou dizer alguma coisa a respeito

disso que eu estou fazendo.

Réplica elaborada enumerando

exemplos do que pode ser feito no

exercício, com justificativa ao final do

turno.

MY (14) E deu pra gente descobrir que acho que a gente

sabe mais coisas do que a gente imagina em

Inglês.

A aluna concluiu como pode ser sua

participação na tarefa. Foi pertinente

frente à questão controversa feita no

turno 12, mas não desenvolvida pelo

PP, que poderia ter pedido mais

exemplos e acréscimos neste ponto

de vista.

PP (15) I forgot to ask the question, right... vocês

descobriram que vocês sabiam falar frases que

nem pensavam que vocês estavam... ou que

vocês puderam usar o que vocês já aprenderam

que vocês acham do vocabulário que vocês

usaram nesse exercício?

Desenvolvimento da questão

controversa, pedindo explicação

sobre vocabulário, reações e

repostas que o exercício propõe.

AL (16) ...que a gente pode usar um monte de coisas

que a gente já aprendeu. E resgatou um monte

de coisa que a gente já tinha aprendido antes

Réplica elabora pertinente ao

assunto desenvolvido, enumerando o

que foi possível com o desempenho

����

da tarefa, sustentando com

exemplos a resposta dada à

pergunta do turno 15.

PE(17) Achei legal mais pela parte em que você se

visualiza no vídeo e você consegue observar

seus vícios de linguagem, onde você erra mais.

Réplica elaborada descrevendo o

que foi importante observar, usando

o adjetivo “legal”. Aluna dá foco ao

erro usando “vícios de linguagem” e

o verbo “errar”.

PP(18) O PE falou sobre se ver em vídeo e falar nos

vícios e nos erros... Teve alguma coisa que

chamou a atenção de vocês, em você mesmo

ou dos seus colegas sobre alguma coisa que

vocês viram no vídeo?

PP faz espelhamento e permanência

dentro do tema proposto pelo

participante no turno anterior,

pedindo acréscimos para

exemplificar/sustentar a questão do

“erro” ou outros assuntos.

PE(19) Entonação. Réplica mínima com ponto de vista.

PP (20) Oi? PP pede para repetir a informação.

PE(21) Entonação. Aluno repete réplica mínima com

ponto de vista.

PP (22) Entonação, ok. Explique mais sobre isso. Pedido de explicação para trazer o

tema para debate.

PE(23) Acho assim, tipo, postura no falar assim e como,

assim, como, a pronúncia, de você se ouvir

depois.

Aluno tenta desenvolver os exemplos

“postura ao falar” e “pronúncia”.

PP(24) E você acha que a sua entonação foi boa, que

ela merece atenção, que que você achou disso?

PP faz pedido de justificativa, dando

opções usando o adjetivo “boa” e a

opção “merece mais atenção”.

PE(25) Merece mais atenção. Espelhamento da opção dada no

turno anterior, mas não

desenvolvida.

PP (26) Que mais que vocês acharam em vídeo? Mais

nada? Agora eu vou me filmar. Não sei da onde.

Filmar assim. Ah, você filma pra mim, PE, por

favor. Thank you.

PP inicia um novo questionamento,

não desenvolvendo o turno anterior,

que poderia ser suscetível a

exemplos.

PP agora quer dar sua contribuição

para a discussão.

PP(32) Ah, então, tá, você pausou. Não, tá gravando. PP inicia um longo turno,

���

Oi. O objetivo foi... vocês falaram vários, vários

fatores que são muito importantes. Coisa que

me chamou atenção que a MA falou “Importante

você ver eu você sabe falar coisas em Inglês

que você nem sabia que sabia falar” e que

“você pode resgatar coisas que você aprendeu”

e “que você tem que ser rápido”. E esse é um

exercício que, a gente criar o hábito de, se

acontecer alguma coisa numa conversa, num

exercício que a gente fizer em sala de aula, da

gente saber outro tipo de resposta ou saber

explicar de outra forma. Se meu par me falou

“Did you ever...?”, você não ficar assim

bloqueado ou travado de... “Ih, eu ajudo meu

partner ou eu o corrijo, será que ele vai achar o

quê de mim...” De responder... “Ah! Have you

ever been to theater. Então esse tipo de

negociação sem recorrer ao português. “SO, ‘cê

falou ‘Have you ever..?’, a pergunta não é essa.

Right? Eu tenho que dizer assim... nota 10! Eu

não imaginava que vocês iriam me surpreender

tanto hoje. Não só como (bate palmas)... Thank

you, my cameraman.

enumerando os argumentos trazidos

durante o debate com os alunos,

espelhando e repetindo frases que

foram ditas, em um tom que dá a

ideia de que o assunto está sendo

concluído.

PP reforça o objetivo de saber

negociar com espontaneidade o fator

“inesperado” nas interações com os

colegas, exemplificando que este

tipo de situação que poderia ocorrer

em uma conversa em sala e na vida

real.

PP exemplifica como participar da

interação usando o “erro” como um

aspecto a ser incluído na interação.

PP elogia o desempenho da sala

com a expressão “nota 10”,

demonstrando aprovação do

desempenho da tarefa.

PP faz julgamento de valor,

explicando que os alunos o

“surpreenderam”, pois ele não

esperava isso.

PP (36) Então esse tipo de exercício é pra vocês verem

que... Claro é uma coisa curta que vocês

fizeram. Mas é uma coisa que vocês tinham que

ter uma reação ali, usando o que vocês já

aprenderam... ali. Não tem tempo de esperar. E

na vida que se vive é assim mesmo. Na hora

que você vai escolher um café,se você quer

capuccino, se você quer curto, se você quer

expresso... ‘Cê não vai escrever ali... (finge que

está lendo um papel) “Eu quero um capuccino

PP inicia um longo turno novamente,

descrevendo o tipo de exercício que

foi desenvolvido, repetindo a

importância do fator

“espontaneidade”.

PP enumera exemplos fazendo

analogia com situações da vida real

���

médio”. Não é, você já tem... Se uma pessoa te

cumprimenta na rua “Oi, MA!”, você não vai

pegar um bloquinho e colocar assim (finge

escrever) “Oi, Nilton, tudo bem?!”. A gente tem

que reagir espontaneamente. Do mesmo que

você está no supermercado e você vê que a

caixa do supermercado está atendendo um

estrangeiro e ela não sabe falar em Inglês e ele

ta ali tentando comunicar, do mesmo jeito, ah,

“Can I help you?” se você está esperando atrás

da pessoa. Então é isso que vocês tem que

lembrar durante os exercícios que vocês podem

sim reagir e que é esse tipo de eh... how can I

say, esse tipo de reação vai construir essa

segurança em vocês de “Ah, eu sei usar o que

eu aprendi, eu não tô falando errado” è isso que

vocês tem que lembrar, ok. OK, thank you.

com o que foi desempenhado na

tarefa.

PP enumera o que pode ser feito

neste tipo de tarefa, repetindo o

argumento do erro e como isso pode

ser trabalhado, reforçando com a

conjunção conclusiva “então” o

resultado daquelas tarefas

desempenhadas.

PP reforça a ideia de obrigação com

o uso de “tem que lembrar” repetido

duas vezes.

Detectou-se nessa discussão analisada a mudança na condução da

entrevista, por parte do PP, com os tipos de perguntas feitas, buscando

depoimentos um pouco mais pontuais sobre o tipo de tarefa proposta para este

grupo. O modo da colocação das questões controversas ao se planejar o

debate teve o intuito de trazer mais sentidos, descritos de formas mais claras

para delinear a constituição daquela atividade (VYGOTSKY, 1934/2008). A

questão mais latente existente na análise da aula anterior era de como as

perguntas deixavam os alunos livres para darem depoimentos conforme a

necessidade do que queriam falar naquele momento, sem uma intervenção

mais específica do PP em relação a performance em si.

Após a condução da gravação e análise das cenas pelo PP, percebeu-

se a importância de uma construção de sentido nos alunos de como eles

criavam um grupo durante a tarefa, de como buscavam um resultado em

comum (comunicarem-se) e, acima de tudo, de arriscarem-se com o novo, com

����

o inesperado, fazendo uso do idioma aprendido. Issso vai ao encontro do que é

descrito por Lobman e Lundquist (2007), ou seja, que um grupo possui uma

integridade própria e que, quando o grupo se desenvolve, seus indivíduos

aprendem. Pensando em construção de conhecimento dos alunos, ao se

arriscarem no palco da ZPD como espaço criativo e dialético (MAGALHÃES,

2009), negociando, discutindo e refletindo criticamente, eles aprendem uns

com os outros e o processo de aprendizagem torna-se social, de trocas

mútuas.

No entanto, fica marcado também, na análise desta aula, como o PP fez

poucas questões controversas sobre o desempenho dos alunos nas

performances, buscando um olhar mais crítico deles sobre suas práticas,

partindo-se do princípio que, na discussão, procurava-se construir sentidos e

significados do que os alunos viam nas tarefas desempenhadas. As questões

apenas constatam as impressões sobre as tarefas, mas não se desdobram ou

se aprofundam marcando uma progressão do raciocínio daquela sala.

(PONTECORVO, 2005). Não existe entrelaçamento entre os temas e as

opiniões nas falas dos diferentes participantes que pudessem levá-los a novos

questionamentos para próximas tarefas do curso e em experiências de vida.

Os questionamentos do PP podem ser interpretados criticamente como

por exemplo nos turnos:

PP (4) O que que vocês acharam deste exercício que vocês fizeram agora?

PP (10) Que que vocês acharam das perguntas e frases que vocês usaram nesse

exercício?

PP (12) Mas então falem o que vocês acharam desse exercício. Se ele contribuiu de

alguma forma com o que vocês estão fazendo aqui no curso.

PP (15) Vocês descobriram que vocês sabiam falar frases que nem pensavam que

vocês estavam... ou que vocês puderam usar o que vocês já aprenderam que

vocês acham do vocabulário que vocês usaram nesse exercício?

PP (18) Teve alguma coisa que chamou a atenção de vocês, em você mesmo ou dos

seus colegas sobre alguma coisa que vocês viram no vídeo?

����

PP (24) E você acha que a sua entonação foi boa, que ela merece atenção, que que

você achou disso?

O PP usa muito o verbo modalizador “achar” para introduzir os

questionamentos. Isso pode ter feito com que a discussão se mantivesse num

nível raso de desdobramentos na co-construção de conhecimento daquela sala

por não serem questionamentos pontuais. Nesses excertos de perguntas, a

produção de conhecimento pode ter ficado prejudicada pela ausência de

perguntas que pudessem expandir a posição argumentativa, reconstruir

sentidos, promover conflito entre os participantes do diálogo. Em um

movimento colaborativo entre PP e alunos (MAGALHÃES, 2009), eles

poderiam ter estabelecido parcerias que pudessem promover novas ZPD,

aprendendo uns com os outros, enriquecendo o processo de ensino-

aprendizagem.

As perguntas poderiam ter tido enfoque mais prático como por exemplo:

“Prestem atenção na reação da aluna que disse “Yes, good star”. Como

podemos continuar essa fala para usarmos o que aprendemos? Como expandi-

la para fazer conversas mais elaboradas daqui pra frente nas próximas tarefas

e na vida?”

As perguntas mostradas no quadro acima que incluem “perguntas e

frases” “usar o que já aprenderam”, “vocabulário” “entonação” nos diversos

turnos feitos pelo PP demonstram a tentativa de marcar pontos importantes

dentro de um curso de inglês que poderiam ser usados na ZPD (VYGOTSKY

1934/2002; MAGALHÃES, 1998), proporcionada pelo jogo de improvisação,

fazendo da sala de aula um palco para criações. Entretanto a negociação de

sentidos e significados não foi conduzida de forma suficiente para que estes

novos sentidos e significados se criassem colaborativamente para todos,

entrelaçando o que fora dito pelos participantes, co-construindo conhecimento.

Como aponta Pontecorvo (2005), o raciocínio dentro da sala de aula se

constrói com a contribuição de vários interlocutores. Assim, com as asserções,

����

pontos de vista, réplicas, espelhamentos e complementações, pode existir um

intercâmbio e uma permeabilidade de captar o pensamento do outro,

construindo conjuntamente o pensamento-discurso.

Na questão do que era aprendido no material didático e durante as

aulas, os alunos perceberam que o imediatismo da criação da cena e a

oportunidade da “diversão” da tarefa trouxeram uma participação espontânea

que exigia o uso de vocabulário previamente aprendido, mostrando para o PP e

para eles mesmos que o idioma estava sendo usado e que eles sabiam usar.

Isso fica claro nos turnos:

LA (7) ..e... é bom pra pensar rápido em inglês.

SO (9) Concordo. Concordo com isso. Acho que tem que... pensar. Te

ajuda a pensar. Te obriga a pensar. A inventar alguma coisa.

Nestes excertos, as alunas puderam perceber que o jogo de

improvisação proporcionou a descoberta de como poderiam participar da tarefa

e que também podiam participar dela (HOLZMAN, 2009). O aspecto da

responsividade também ficou marcado aqui, pois há a importância em se dizer

algo para caracterizar não somente a ação do aluno, mas sua interação. Existe

a presença de outro na interação que espera uma resposta para assim poder

concordar ou discordar, assim, construindo o discurso (BAKHTIN, 2003).

As alunas também trazem a visão de como a necessidade faz com que o

indivíduo se veja em uma situação de “pensar” e de “inventar”, colocando-o em

múltiplos momentos de criação nas ZPDs em sala de aula (MAGALHÃES,

1998), levando-as a criar o que antes não tinham imaginado, possibilitando

vislumbrar criativamente novas formas de agir, construindo conhecimento

dentro do espaço sala de aula.

MA (13) Eu acho que tem duas coisas: agilidade e a coisa de ser divertido.

Isso ajuda. Facilita você ter que criar uma cena e pensar como, em

Inglês, eu vou dizer alguma coisa a respeito disso que eu estou

����

fazendo.

É possível ver a questão da ZPD como espaço de criação na sala de

aula, no qual o sujeito é levado a agir, a responder a uma necessidade daquele

contexto, de diferentes formas, dessa forma, construindo seu discurso, nesse

caso, por meio do jogo.

MY (14) E deu pra gente descobrir que acho que a gente sabe mais coisas

do que a gente imagina em inglês.

Neste turno, evidenciou-se a questão de que a performance pode

proporcionar aos indivíduos irem além de suas possibilidades imediatas

(NEWMAN; HOLZMAN, 1993/2002), criando diversas maneiras de

relacionarem-se com os outros e nos contextos onde vivem, surpreendendo-se

com o que sabem. O jogo de improvisação promoveu para essa aluna o que

traz Spolin (2010, p.3-4) quando afirma que, na improvisação, “a pessoa

‘normal’ transcende os limites daquilo que é familiar, [...] entra na área do

desconhecido e libera por alguns minutos o gênio que tem dentro de si".

O jogo, organizado como ZPD, proporcionou a essa participante lançar

um olhar crítico para quem ela é, desempenhando papéis do que ela não é

(HOLZMAN, 2009). A aluna em produção durante o jogo e o debate sobre este

jogo pôde perceber uma negociação do significado dos objetos e das

situações, promovendo construção de conhecimento na passagem de

conceitos espontâneos para científicos (VYGOTSKY, 1934/2008).

AL (16) ...que a gente pode usar um monte de coisas que a gente já

aprendeu. E resgatou um monte de coisa que a gente já tinha

aprendido antes.

A criação de ZPDs (MAGALHÃES, 2009) nas quais aluno traz seu

conhecimento como bagagem anterior fica clara neste turno. A aluna pode

“resgatar” o que foi aprendido em outros cursos, além de usar o que estava

aprendendo naquele momento. Isso demonstra que a performance

����

proporcionou-lhe a possibilidade de, na sua oralidade, constituir-se e se

desenvolver, indo além das suas possibilidades imediatas.

PE (17) Achei legal mais pela parte em que você se visualiza no vídeo e

você consegue observar seus vícios de linguagem, onde você erra

mais.

No turno 17, o aluno aponta o lado positivo e a finalidade de ver-se em

vídeo, podendo ter um olhar crítico-reflexivo no tocante a como usa o idioma

que está aprendendo numa referência intertexto e perceber quais aspectos

pode desenvolver mais com ou sem a ajuda dos colegas e do professor.

Especificamente neste turno, o PP perde uma oportunidade de enumerar

e exemplificar o que poderia ser feito para um trabalho posterior, naquele

grupo, com aquele aluno, sobre entonação. Poderia ter pedido esclarecimento

ao aluno sobre o que ele entendia por entonação na sua língua materna e

como isso acontece no idioma que está aprendendo. Poderia ter criado

desdobramentos com o aluno e classe a respeito do que eles entendiam por

entonação, se aquela era uma questão a ser trabalhada no grupo e quais

outras tarefas poderiam ter sido feitas para desenvolver este aspecto. Sentidos

e significados sobre “errar” e “entonação” não foram trabalhados, entrelaçando

as opiniões dadas pelo grupo.

Numa visão geral da condução da pesquisa, o momento desta

performance começou a criar nos alunos um olhar diferente sobre como

desempenhar as tarefas de modo mais responsável e responsivo (BAKHTIN,

2003). O intuito do PP era prepará-los para futuras atividades de performance.

Entretanto maiores resultados poderiam ter sido atingidos se, nos longos turnos

32 e 36, tivesse dado maior atenção à questão da presença do outro naquela

interação. Se o intuito era que os alunos criassem sentidos e significados sobre

suas performances, ele não poderia ter feito isso sozinho, como fica claro nos

excertos:

����

PP (32) E esse é um exercício que, a gente criar o hábito de, se acontecer alguma

coisa numa conversa, num exercício que a gente fizer em sala de aula, da

gente saber outro tipo de resposta ou saber explicar de outra forma.

O PP discute seu próprio sentido, não entrelaçando os depoimentos dos

outros alunos, trazendo conclusões feitas por ele e não pelo todo da sala.

PP (36) Mas é uma coisa que vocês tinham que ter uma reação ali, usando o que

vocês já aprenderam... ali. Não tem tempo de esperar.

PP retoma a voz da aluna em seu discurso, mas não existe aqui o

caráter responsivo na interação com os alunos trazendo os sentidos e

significados criados por eles.

PP (32) Eu não imaginava que vocês iriam me surpreender tanto hoje.

No contexto sobre ZPDs e espaços de criação, este turno pode até ser

mal-interpretado e contraditório em razão do que foi discutido até agora sobre

ser e tornar-se (HOLZMAN, 2009), ir além de si mesmo (NEWMAN;

HOLZMAN, ano) e libertar a criatividade (SPOLIN, 2010), que refere que a sala

de aula pode ser um espaço para surpresas nas criações e que isso deve ser

vislumbrado pelo PP. O palco da sala de aula pode sim ser espaço para

momentos de criação, para variados momentos de co-construção de

conhecimento que surpreendam alunos e professores.

Com base nesta aula, a performance contribuiu para o desenvolvimento

da produção oral dos alunos. A atividade de criar a cena conjuntamente

mostrou que a atividade aconteceu entre os participantes envolvidos, que

agiram em conjunto para a obtenção de um objeto idealizado. Os alunos

puderam usar o que estavam aprendendo e a bagagem vinda de outros

estágios do curso de inglês, e isso fez com que realizassem uma atividade

criativa e de improviso, realizando algo não dominado, indo além de

����

possibilidades imediatas. Eles puderam criar ambientes de apoio e trabalho

colaborativo para a aprendizagem, tendo em mente que a cena deveria ser

feita para ser apreciada pela plateia e poder mostrar a interação da conversa.

A performance demonstrou, nesta situação, que os alunos eram capazes

de participar de um tipo de jogo que ainda não sabiam como fazer e que

poderiam criar ambientes para produzir conhecimento. A questão da pressão

do tempo e do inesperado indicou que, durante a performance, os alunos

descobriram como poderiam desempenhar as cenas e, concomitantemente,

fazê-las (HOLZMAN, 2009). O ato de “lançar-se no vazio” do improviso trouxe

resultados em como eles podem se transformar em sujeitos criativos em um

trabalho colaborativo.

A fluência na produção oral pode ter recebido um reforço em seu

desenvolvimento ao passo que os alunos interagiam e se empenhavam em

“manter uma comunicação compreensível”, usando os enunciados que faziam

parte de sua bagagem de conhecimento (RICHARDS, 2008).

����

4.3. Descrição do Contexto – Aula 3

A seleção desta aula ocorreu por ser uma tarefa de produção oral, na

qual as negociações eram o objetivo principal. Os alunos tinham que

desempenhar papéis usando o que tinham aprendido anteriormente. O assunto

trabalhado no material didático era os modais verbos “may”, “can”, “could”

“might” para expressar formas de permissão, pedidos e expressas ideias de

possibilidade. Essa aula em específico foi peculiar na condução na pesquisa,

pois os alunos não praticaram as tarefas com a fluência que lhes era comum e

não pareciam estar à vontade com a câmera filmando-os. Percebeu-se que os

alunos fazem as atividades de forma mecânica, mesmo que usando

corretamente o conteúdo que lhes foi pedido para usarem.

Os alunos assistiram suas performances no aparelho de TV, na sala de

aula, para que pudessem ver e discutir como tinha sido a produção oral com

foco no que fora aprendido, além das atitudes das personagens que

desempenhavam.

Outra característica que se revelou durante a discussão pós-

performance é que, diferentemente das discussões anteriores, as perguntas já

eram feitas em inglês, mesmo que ainda alguns alunos respondessem em

português, mostrando que estavam entendendo o que estava sendo discutido,

apesar de alguns se mostrarem ainda reticentes em discutir um assunto como

esse em inglês. Percebendo isso, o PP pediu para que os alunos

respondessem em português para que assim a produção de dados

relacionados ao que se estava pesquisando pudesse ser encontrado de forma

mais fácil.

Neste dia, a sala contava com 7 alunos que foram divididos em um trio e

dois pares.

4.3.1 - AULA 3 – Análise da Cena 1 - Negociação, exposição dos

problemas existentes no supermercado, proposta de melhorias

Participantes Falas Análise

���

SO (1) Good Morning. May I talk to you

about some problems at the

supermarket?

Oferta é feita para a cena. Aluna pede

permissão usando “May I”.

LU (2) Yes but of course. What can I do for

you?

Oferta é aceita e o rebote é dado para

desenvolvimento da cena. Aluno dá réplica

elaborada pedindo mais informações.

SO (3) I have complain about some things.

Hum, high prices, lack of products

and some problems with the

customer service.

Rebote é desenvolvido, com enumeração

dos problemas mencionados no turno 1.

LU (4) Let me help you. What requests? Oferta é aceita e rebote é dado com

informação “What Requests?”

SO (5) Could you see more supplies?

Maybe you could analyze the prices

and the availability of products.

Would you talk to your employees to

be more polite? Because next week

I had a problem and I think…eh…

the customers…all are.. in reason.

Aluna desenvolve a cena baseada no

rebote anterior e enumera os “requests”

perguntados no turno anterior.

Apresentação de exemplos à questão

colocada no turno anterior.

LU (6) Ok, it’s a serious problems. So we’ll

go analyze the situation – I swear.

And so sorry.

Aluna aceita a oferta e desenvolve a cena,

propondo soluções aos pedidos feitos.

Detectou-se que o uso do idioma foi mantido durante toda a cena e que

os temas desenvolvidos foram pertinentes. Os pedidos feitos foram

respondidos com exemplos e justificações e houve uma conclusão do que foi

discutido. As ofertas e rebotes aconteceram, conduzindo o andamento da cena.

Segundo Pontecorvo (2005), neste caso, houve um personagem como

interlocutor exigente que propôs perguntas mais diretas e incisivas na busca de

respostas mais completas para a negociação, co-construindo a manifestação e

articulação do raciocínio.

Esse excerto ilustra que a performance proporcionou um movimento de

interação entre os conceitos cotidianos e científicos (VYGOTSKY, 1934/2008).

As alunas puderam basear-se em vivências de como negociar as necessidades

de um cliente usando o que tinham aprendido naquela aula e naquela unidade

���

para fazer pedidos (“Could you see...?; “Would you talk...?), pedir permissão

(“May I talk to you...?) e listar possibilidades (“Maybe you could...”).

A performance aproximou a linguagem da cena daquela da vida real,

mesmo não existindo a atenção das alunas à entonação das frases. A

linguagem da vida real foi usada nessa dramatização, possibilitando formas de

pensar ou agir em situações fora da sala de aula.

4.3.2 - AULA 3 – Análise do excerto da cena 3 – Colocação dos problemas

existentes no prédio, proposta para negociação

RI (4) Would you help me? Aluno faz a oferta para cena. Aluno faz

pedido de ajuda com “Would you?”

MY (5) Sure, what’s the problem? Aluna aceita e dá o rebote. Aluna

desenvolve o tema.

RI (6) I’m very afraid about the security in this

building.

Aluno desenvolve o rebote.

MY (7) Go. Aluna pede mais informações.

RI (8) I’m don’t sleep many, many night

because I thinking about this problem.

Maybe.. we.. maybe you… may… não…

maybe, maybe no. You may put some

cameras in this building?

Aluno dá a oferta. Aluno dá justificação,

propondo medidas para o problema seja

desenvolvido.

MY (9) Could you have a meeting to discuss

about these problems?

Aluna desenvolve a cena, mas

propondo outra oferta. Faz proposta

usando “Could you?”

RI (10) Oh, good idea. I will talking about this

problem to the other neighbors to help

your weekend.

Aluno aceita a oferta e dá o rebote.

Aluno justifica a opinião “good idea”

dizendo quais medidas irá tomar.

MY (11) Good idea. Rebote não é desenvolvido pela aluna.

RI (12) And…

MY (13) Could we choose the date later? Aluna dá a oferta. Faz proposta usando

“Could we?”

RI (14) Yes, no problem. I will do this and could

you know many security companies to

resolve this problem?

Aluno aceita a oferta e dá o rebote.

Aluno justifica a opinião “no problem”

dizendo quais medidas irá tomar

MY (15) I don’t know but I will research about

this… these companies

Aluna desenvolve a cena.

����

RI (16) I will research too. Eh… Aluno continua no assunto.

Nesta cena em específico, as ofertas e rebotes foram desenvolvidos

com acréscimos pertinentes, mas a entonação e espontaneidade da cena

ficaram comprometidas. Nesta performance, a falta de espontaneidade pode

não ter viabilizado uma transposição para situações que acontecem na vida

real, construindo a identidade dos alunos como seres ativos e interativos,

proporcionando novas formas de ser e ver suas atuações fora da escola

(NEWMAN; HOLZMAN, 1993/2002).

Neste excerto, no entanto, deu-se novamente um processo de

movimento entre os conceitos cotidianos e científicos (VYGOTSKY,

1934/2008), pois os alunos basearam-se em um contexto no qual existe uma

negociação entre os participantes e usaram formas de fazer pedidos

aprendidos naquela unidade (“Could you...?; “Could we...?”, “Would you...?”).

4.3.3 - AULA 3 – Discussão Pós-Performances e Análise – PP faz a

pergunta sobre se verem na TV e quais impressões eles podem trazer

sobre seus resultados

Participantes Falas dos Participantes Análise

PP (1) Now my students are

going to talk about what

they thought about seeing

themselves on television,

right? What about you

guys? I’d like you to

answer this in Portuguese.

What did you think?

Seeing yourself on

television.

PP introduz, em inglês, a questão a ser desenvolvida

e pede que os alunos respondam em português.

Pedido de informação.

MY(2) Eu não achei nada porque

eu não consegui ouvir

nada que eu falei.

Réplica elaborada com explicação da razão pela

qual a aluna ainda não possui opinião.

RI (3) Eu só consegui ouvir Réplica elaborada e acréscimo de informação.

����

minha voz e eu tava

falando que nem um

retardado. Muah, nuah...

Avaliação negativa com o uso do adjetivo

“retardado”.

PP (4) But why? Why is

retarded... why…

PP pede esclarecimento sobre a avaliação dada pelo

aluno no turno 3.

RI (5) Eu tava falando devagar. Aluno dá justificativa, mas não desenvolve o tema.

PP (6) Really? But what can you

do to improve that?

PP faz pedido de explicação, com foco prático.

RI (7) Er… eu acho que eu tava

pensando no que dizer.

Acabou saindo mais

devagar. Mas acho que no

final foi bom apesar de

que eu acabei ouvindo

mais do que eu falei

porque o dela ficou muito

baixo.

Alunos fala dá seu desempenho individualmente,

com a marca do “eu” em seu turno, explicando que o

andamento da conversa foi “devagar”.

PP (8) And then, MA, what can

we do from now on?

PP faz pedido de de solução com foco prático,

usando “we” para marcar o trabalho colaborativo.

MY(9) Gritar? Replica mínima, fazendo uso de exagero com o

verbo “gritar”.

PP(10) Really?! That’s a very

good idea! Right? This is

something that your sister

changed. A lot. Did you

see that LA is speaking

clearer? What did you feel,

LA, about seeing yourself?

PP aprova o comentário, dando explicação

comparando o desempenho da aluna com a irmã. PP

reforça que a irmã mudou muito a participação

enfatizando “a lot” e usando o adjetivo “clearer”.

PP faz pedido de opinião para a aluna sobre seu

próprio desempenho.

LA(11) Hum… Aluna faz som indicando que está pensando.

PP(12) Did you notice any

change?

PP reforça a questão de mudança com pergunta de

sim ou não.

LA(13) É… eu podia falar com

mais entonação. Acho que

é isso.

Aluna usa o modalizador “podia”, indicando uma

possível estratégia. “Acho” é outro modalizador

indicando incerteza no uso da estratégia ao falar.

PP(14) You...eh.. I was going to

speak Portuguese too…

And what about the good

things that happened in

PP coloca questão controversa, dirigindo-se ao seu

auditório com os adjetivos “good” e “bad”, indicando

que pontos positivos também existiram.

����

the situation? You talked

about the bad things. And

what about the good?

LA(15) A gente usou o que era

para usar. Sobre

possibilidades. É isso.

Aluna explica o que foi usado, com foco no que foi

trabalhado no material didático.

PP(16) And then, SP, first

experience speaking

English in front of the

camera. How was it?

PP faz perguta aberta, pedindo informação para a

aluna que desempenhava a tarefa pela primeira vez.

SP(17) Hum. Vergonhoso. Réplica mínima com o adjetivo “vergonhoso”.

PP(18) Really? Why?

Yes, right, this is the first

thing that everybody says.

Right. And why?

Pedido de esclarecimento, comparando com a

reação de outros em relação à mesma tarefa.

SP(19) ‘cê me fez perceber que é

bom estudar Inglês

Réplica elaborada com o adjetivo “bom” marcando

que o aspecto era “bom” para o PP que a observava.

Todos (20) (risos) Reação da plateia à replica da aluna no turno

anterior.

PP(21) You don’t have to give the

answer that I would like to

hear – you can say what

you really want to. Right?

AL, did you feel any

difference? Because It’s

not the first time you see

yourself on camera…

speaking English.

Remember the other

times? What did you

think?

PP coloca a condição que a aluna não precisa dizer

o que ele gostaria de ouvir, marcando que a opinião

da aluna é necessária neste momento.

PP pede opinião para a outra aluna,

contextualizando que não era a primeira vez que a

aluna fazia este tipo de tarefa.

AL (22) Foi diferente. Réplica mínima com o adjetivo “diferente”.

PP (23) How different? Pedido de esclarecimento com o uso de “how”

buscando reflexão da aluna sobre o que é

“diferente”.

AL (24) Por ser uma situação mais

comum, acho que eu

consegui falar com mais

facilidade. Só que eu falei

Apresentação de justificação da aluna, descrevendo

a conversa como “mais comum”. Aluna faz ressalva

sobre volume da voz.

����

muito baixo.

PP (25) Why was it more

common?

PP pede esclarecimento sobre a ideia de “mais

comum”

AL (26) Não… por ser mais

descontraído, não sei,

mais fácil, de repente.

Aluna classifica com os adjetivos “descontraído” e

“fácil”, reforçando mais familiaridade com o tipo de

tarefa.

PP (27) Uh-hum. Ok PP faz som de aprovação, mas perde oportunidade

expansão do tema com foco prático, de solução.

AL (28) Achei. Réplica minima com colocação de ponto de vista.

PP(29) Before I come here. You

guys only said the bad

points: “I speak too low”, “I

speak too slow”… and

what are the positive

points?

PP retoma a questão controversa colocada pelos

adjetivos “bom” e “ruim” trazidos pelos alunos e pede

explicação e exemplificação do que o grupo

classificou como “bom”.

RI(30) Eu acho que a gente

conseguiu conversar,

explicar um problema,

chegar numa solução,

início, meio e fim.

Aluno faz réplica elaborada, enumerando com

verbos no infinitivo (“conversar”, “explicar”, “chegar”)

como a participação da tarefa foi organizada.

PP(31) Uh hum. MA, did you see

any “positives”?

PP retoma a questão controversa com pergunta de

sim ou não.

MY (32) É. Só isso que ele falou na

verdade. Quer dizer, em

relação à primeira vez que

a gente tinha feito, agora

tá melhor.

Réplica elaborada comparando com a outra

experiência de estar sendo gravada. Aluna classifica

com o adjetivo “melhor”.

PP(33) Uh-hum, ok. Right. And

here, my dear friends, SO

and LU who is being

filmed for the first time!

PP pede esclarecimento para outras participantes,

usando adjetivo “dear”, reforçando que aquela era a

primeira vez que uma aluna estava sendo filmada,

demonstrando que isso poderia ser uma condição a

ser levada em conta.

LU(34) Ashamed! Réplica mínima com adjetivação.

PP(35) Ashamed? But this part

you can answer in

Portuguese. What did you

think about the positives

and the negatives?

PP reforça que a réplica pode ser dada em

português para que a aluna se sinta mais à vontade

para falar da primeira experiência. Retoma a questão

controversa com pergunta aberta sobre “good” and

“bad”.

SO (36) Ah, positivo é que… a Réplica mínima explicando o que é “positivo”, mas

����

gente conseguiu falar

mais, assim ter mais...

assim... baixo... pra

ninguém escutar... Mas é

que eu não gosto de

câmera, really, odeio.

colocando condição ao indicar desconforto com a

câmera, usando “não gosto” e “odeio”.

PP(37) Really? SO, in comparison

to the first time that you

saw yourself speaking and

during this semester and

now watching

yourself…did you feel any

difference?

PP pede opinião para a outra aluna,

contextualizando que não era a primeira vez que a

aluna fazia este tipo de tarefa, indicando um

processo.

PP pede informação com pergunta de sim ou não.

SO (38) Claro, acho que… eu não

to falando bem, mas eu

falava muito menos, to

conseguindo bem, pensar

mais, voltar a pensar. É...

coisa assim... eu pensava

e esquecia todas as

palavras, não conseguia

formar uma frase, agora já

ta, parece, ficando mais

fácil, mas não é tão fácil,

mas ta mais fácil do que

tava.

Réplica elaborada com verbos no gerúndio indicando

processo em andamento “Não tô falando”,

“conseguindo”, “ficando”, comparando com

exercícios anteriores usando verbos no passado

“pensava”, “esquecia” “não conseguia”.

Aluna categoriza o desempenho com o adjetivo

“fácil”.

PP(39) OK... My dear friend LU,

your first experience in

front of the câmera. What

did you think?

PP faz pedido de opinião, contextualizando a

primeira experiência da aluna.

LU(40) Terrible? Réplica mínima com adjetivação.

PP(41) What? PP pede para repetir a palavra.

LU(42) Terrível. Réplica mínima com adjetivação.

PP(43) Terrible. And why? PP faz pedido de esclarecimento

LU (44) So, I… Sorry…

PP(45) In Portuguese, don’t worry PP marca que o uso do português era para deixá-la

mais à vontade para dar opinião sobre sua primeira

experiência.

����

LU (46) Eh… ah, gente, foi

horrível...

Réplica mínima com adjetivação.

PP (47) Really, but how... what

was horrible? I didn’t think

it was horrible…

PP insiste em pedir esclarecimento, avaliando que a

conversa não foi “horrível”.

LU (48) Eu não gosto de me ver.

Não gosto de falando

inglês, não gosto de me

ver em português, quanto

mais em inglês. Hum... Eu

não acho assim a minha

fala assim legal, sei lá,

acho que eu falei muito

baixo, também

Aluna não desenvolve o tema sobre o que foi

positivo na conversa, reforçando apenas o

desconforto de estar sendo filmada, usando “não

gosto”, “não acho”.

PP(49) And the good part?

Because you guys started

talking about the bad

part… the silence and

everything… and the good

parts?

PP insiste no pedido de explicação da parte

considerada “boa” pelos alunos, reforçando que até

aquele momento, só haviam trazido o que haviam

classificado como “negativo”.

PP pede esclarecimento sobre as partes “boas”, para

fazer o aluno entender que também existiram pontos

positivos.

LU(50) SO falou bem. Eu sou

parceira dela, então ela foi

boa...

Réplica elaborada da aluna sobre a participação da

colega, não a sua própria. Uso do adjetivo “bom”

SO (51) Não, você falou também

bem melhor do que você

falou... do que a gente

falou. Falou sim.

Desenvolveu mais.

Oposição ao turno anterior com justificativa de que a

outra aluna tinha tido “melhor” participação.

LU (52) Só isso. Aluna encerra sua argumentação.

PP(53) Ok, right. And to finish this

discussion, anything else?

That you would like to

add…about this type of

exercise… this type of

conversation that you

would like to share with

me?

PP marca que a discussão está chegando ao fim, e

pede para que o grupo dê acréscimos ao tipo de

exercício e conversa. Marcas da modalização em

“would like”, “share” para que os alunos sintam-se à

vontade em dar seus depoimentos.

����

SP (54) Sorry… Aluna nao compreende.

PP(55) Again? About this type of

exercise of conversations,

about this type of exercise

that I film you, I would like

you to comment.

PP retoma o turno 53, parafraseando-o.

RI (56) Na primeira parte do

exercício, a gente não

tinha organizado muito

bem a situação então a

gente ia falando

totalmente improvisado.

Na segunda parte a gente

organizou qual o papel

dela e qual o meu papel. E

aí ficou mais fácil de ter

perguntas e respostas,

acho que a conversa fluiu

muito melhor.

Réplica elaborada com enumeração da condução do

exercício, terminando com a conlusão e o resultado

disso com o adjetivo “melhor”.

LU(57) I agree. Réplica mínima demonstrando concordância.

PP (58) You agree? Now, but I

want to listen to you. And

then, MA, do you think that

the character, the

“personagem” was better

in the second one? It was

more organized?

PP quer complementar turno anterior, pedindo

esclarecimento à aluna, recorrendo ao uso do

português, reforçando o ponto que gostaria que a

aluna falasse. PP espelhou os adjetivos “better” e

“organized”.

MY(59) Sim, a gente conseguiu

melhor cumprir o objetivo

porque ele podia

perguntar e eu podia

responder e tinha uma

ordem melhor do que a

primeira vez que a gente

fez.

Réplica elaborada com justificativa.

PP(60) Hum hum. LU, you said “I

agree”. What did you

agree with?

PP retoma a réplica mínima dada no turno 57,

pedindo que a aluna desenvolvesse o tema.

LU (61) É… por mais assim que Aluna traz novamente o desconforto com a gravação

����

eu não gostei foi uma

experiência legal de tá e

depois se me ver, você

consegue perceber... é

diferente de quando você

está falando da gente se

ver falando, a gente

percebe coisas, que, de

repente, a gente falando

não consegue, não

consegue pegar. A

experiência é

interessante. Vergonhosa,

porém interessante.

“não gostei. Classifica a experiência com adjetivos

“legal”, “vergonhosa”, “interessante”.

Aluna traz o aspecto diferente de se “ver falando”,

mostrando que a experiência pode fazer com que se

lance um olhar crítico no desempenho da

performance.

PP (62) Difficult... in the first time

it’s embarassing…

PP retoma os adjetivos usados resumindo os pontos

trazidos pela aluna.

LU(63) Não, e é uma experiência

boa assim, até pra própria

vida pessoal, assim né... a

gente começar a lidar com

isso. Não, é uma

dificuldade minha por

exemplo. Quando tem

uma reunião eu fico assim

pra morrer...

Oposição da aluna ao turno 62, expressando que a

experiência pode fazer com que se lance um olhar

crítico tanto no desempenho da performance quanto

na vida real, comparando com um exemplo real em

seu dia a dia.

PP (64) Really? Interjeição demonstrando interesse na nova

informação trazida pela aluna.

LU (65) E é... ajuda. É. Réplica mínima.

PP(66) Let me give you a

personal thing. I’m going

to speak a little

Portuguese now too. I am

participating in this too.

Right? I have a student…

eu tenho um aluno que ele

é de Pós-Avançado 2.

Então quer dizer que ele

fez 4 estágios de Básico,

4 estágios de

PP também se refere a exemplo pessoal,

distanciando-se da questão central (o exercício e

seus resultados) e desenvolvendo o assunto que

começou a ficar mais pertinente na fala da aluna

sobre o desconforto de falar em público e estar

sendo gravado.

PP recorre ao mesmo idioma que alunos estavam

usando no momento da discussão.

PP descreve exemplo pessoal, enumerando etapas,

���

Intermediário, 4 estágios

de Avançado e ele estava

no segundo de Pós-

Avançado. Então eu

estava filmando eles, só

que eles estavam num

debate sobre... eles tavam

querendo instituir um..

um... sistema dentro de

uma universidade e tinha

um grupo dos professores

e tinha o grupo da

universidade. Eu fiz esse

mesmo... eu filmei o

debate deles, só que aí já

era uma coisa mais

elaborada, tipos de

argumento, como

introduzir ideias, como

discordar, como concordar

e... ele assistindo, ele

falou assim: “Nilton, eu

nunca percebi que eu falo

tão pra baixo e tão baixo e

por isso que as pessoas

não entendem o que eu

falo e por isso que as

pessoas falam tanto “O

quê?” para mim, tanto em

inglês, como em

português, então isso é

uma coisa que o exercício

ajudou a ele, né? Eu

tenho também outro aluno

que falou: “Nilton eu

percebi quantas vezes eu

falo a palavra “like”, que é

o equivalente a Português

de “tipo”: “E aí tipo eu fui e

explicitando a ideia de processo.

Julgamento de valor do PP que a turma de avançado

fazia uma tarefa mais elaborada enquanto os alunos

de básico estavam fazendo o mesmo tipo de tarefa.

���

aí tipo eu falei com ela... e

tipo...” and He says “like,

like” all the time, right? Ok.

I would like to share this

with you. And it changed.

A little. But it changed

after. Ok? Right. Lu and

SO. I have a collection –

eu tenho uma coleção das

filmagens aqui de sala de

aula até o final do curso.

Right? Desde o que eles

já fizeram até o que eles

estão fazendo agora.

PP inicia outro exemplo para comparar com a

experiência que os alunos acabaram de ter em

serem filmados.

PP pergunta “Ok” e responde a si próprio, não

desenvolvendo o que a sala entenderia com aquele

exemplo.

LU(67) E aí, no último dia,

intensivão, 24 horas,

sessão “Parabéns”..

“Intensivão” demonstra possível ideia de conclusão

por parte da aluna do tipo de tarefa que o PP estava

desempenhando com aquela turma, gravando suas

conversas.

Todos (68) (risos) Reação da plateia à conclusao da aluna.

PP (69) Right? Justamente porque

eu to vendo como é que ta

sendo esse processo e

construção de fluência.

Ok? Right? RI, you’re so

serious. Ok? Anything

else? Thank you very

much.

PP traz no último turno a razão pela qual estava

filmando os alunos.

Para essa aula, o PP começou a trazer questões que giravam em torno

do que fora trazido naquela discussão: o que era considerado “bom-mau”

“positivo-negativo” nas performances desempenhadas. As questões, então,

eram mais pontuais na tentativa de conseguir depoimentos dos alunos para

que os sentidos e significados ficassem mais explícitos para aquele grupo.

����

Nessa aula, em relação às duas anteriores analisadas, os alunos

descreveram que começavam a perceber progresso ao participar de

performances, com mais conforto em relação a serem filmados, podendo fazer

analogias com experiências passadas e explicavam como estavam de

transformando e se desenvolvendo.

As perguntas feitas pelo PP eram abertas na sua maioria, com poucas

aparições de perguntas de sim ou não apenas. Os excertos que seguem

ilustram isso:

PP (6) Really? But what can you do to improve that?

PP (8) And then, what can we do from now on?

PP (23) How different?

PP (35) Ashamed? But this part you can answer in Portuguese. What did you think about the

positives and the negatives?

PP (58) (…) do you think that the character, the “personagem” was better in the second one? It

was more organized?

Neste quadro, há o enfoque mais prático em como a performance pode

contribuir para a construção do conhecimento. O uso do “we” tenta indicar uma

possível construção colaborativa de novos sentidos e significados para as

próximas tarefas. O PP reforça a importância da responsividade dos alunos na

interação, na qual o papel do outro exerce função fundamental na tentativa de

levá-los a responder, reagir e construir o discurso naquele debate.

Com estas perguntas e pedidos de esclarecimentos, exemplificações e

justificações, o PP tenta atingir o desenvolvimento de argumentos e co-

contrução de conhecimento (PONTECORVO, 2005) para o entendimento dos

processos existentes nas performances desempenhadas.

Com o turno (58), “it was more organized?”, existia a intenção de

promover a discussão das regras e das formas de agir do sujeito na atividade

de conduzir a conversa em sala de aula (ENGESTROM, 1999). Em seguida, no

turno (59), a aluna demonstra como a atividade fora organizada para ser

conduzida “a gente conseguiu melhor cumprir o objetivo porque ele podia

perguntar e eu podia responder e tinha uma ordem melhor do que a primeira

vez que a gente fez.”. Este excerto pode mostrar como a atividade foi

����

organizada na busca do objeto compartilhado pelos participantes que era

desempenhar a performance. Assim, eles puderam constituir-se pouco a

pouco, performance após performance, como sujeitos criadores e criativos

dentro do espaço da sala de aula.

Existiu aqui a intenção do PP ser um interlocutor exigente

(PONTECORVO, 2005) que necessita de mais respostas dos participantes,

argumentos mais desenvolvidos para negociação de novos sentidos e

significados naquele debate.

Os alunos começavam a libertar mais a criatividade dentro das ZPDs

criadas na sala de aula, pois estavam se acostumando mais com o tipo de

tarefa que é a performance. Este processo já podia ser percebido por eles,

como demonstram os excertos de turnos na continuidade:

AL (24) Por ser uma situação mais comum, acho que eu consegui falar com mais facilidade.

Só que eu falei muito baixo.

A aluna conseguiu perceber que a performance exigia-lhe que atuasse

de forma ativa no papel que desempenha, pois sabe que existe um outro na

construção deste discurso, que espera seu enunciado para que a interação

ocorra. Sentia-se, agora, mais à vontade para fazer uso do idioma não

recorrendo a um script e percebeu que o aspecto do volume baixo de sua voz,

após assistir ao vídeo, é uma questão a ser trabalhada.

A performance aqui foi uma fonte de experiências para esta aluna,

auxiliando-a no processo de construção da fluência, pois já sentia que a

situação estava ficando “mais comum”. Ela conseguiu fazer um paralelo sobre

como age na vida real, percebendo mais facilidade, mas o volume de voz não

foi parecido com o que acontece nas interações fora da escola.

A aluna começou a perceber transformações comparando experiências

anteriores com as performances atuais, construindo sua consciência sobre a

responsividade no tocante à tarefa que desempenhava, ampliando suas

possibilidades em agir em situações como esta.

����

MY (32) É. Só isso que ele falou na verdade. Quer dizer, em relação à primeira vez que a

gente tinha feito, agora tá melhor.

A aluna classifica sua participação na performance com o adjetivo

“melhor”, comparando com as outras performances desempenhadas por ela,

mas não há desdobramentos exemplificando o que foi considerado “melhor”.

SO (38) Claro, acho que… eu não to falando bem, mas eu falava muito menos, to

conseguindo bem, pensar mais, voltar a pensar. É... coisa assim... eu pensava e

esquecia todas as palavras, não conseguia formar uma frase, agora já ta, parece,

ficando mais fácil, mas não é tão fácil, mas ta mais fácil do que tava.

No turno desta aluna, pôde-se ver que ela percebe progresso fazendo

analogia com performances anteriores, exemplificando o que ela pode fazer

agora. A aluna lista o que antes não era capaz de fazer e o que agora

consegue desempenhar, demonstrando que as ZPDs organizadas na sala de

aula proporcionaram-lhe ir além de si mesma (NEWMAN; HOLZMAN,

1993/2002). Quando estes autores falam sobre atividade revolucionária, a

transformação pode ter acontecido neste turno no processo de construção e

organização do pensamento da aluna. Ela percebe resultados na sua

participação na tarefa quando descreve com “parece, ficando mais fácil [...] do

que tava”.

RI (56) Na primeira parte do

exercício, a gente não

tinha organizado muito

bem a situação então a

gente ia falando

totalmente improvisado.

Na segunda parte a

gente organizou qual o

papel dela e qual o meu

papel. E aí ficou mais

fácil de ter perguntas e

respostas, acho que a

conversa fluiu muito

Réplica elaborada com enumeração da condução do

exercício, terminando com a conclusão e o resultado disso

por meio do adjetivo “melhor”.

����

melhor.

Neste turno, a questão do “improvisado” em oposição ao “organizar

papéis” é um importante sentido trazido pelo aluno sobre o que ele entende

sobre improvisar. Por estar em oposição a “organizar papéis”, parece que

“improvisar” toma um tom negativo para a condução de uma performance para

este participante.

Neste momento, poderia ter existido um maior desdobramento do que é

improvisar e qual seu objetivo, como pode ser trabalhado, comparando com

exemplos da vida real, pois assim serão as interações fora de sala de aula,

sem script para organizá-las porque, em sociedade, aprende-se a reagir

espontaneamente, pois ninguém recebe um script prévio de vida para decorar

e participar da vida; todos improvisam todos os dias (LOBMAN; LUNDQUIST,

2007).

LU (61) É… por mais assim que eu não gostei foi uma experiência legal de tá e depois se me

ver, você consegue perceber... é diferente de quando você está falando da gente se

ver falando, a gente percebe coisas, que, de repente, a gente falando não consegue,

não consegue pegar. A experiência é interessante. Vergonhosa, porém interessante.

Neste turno, aparece um aspecto inédito na pesquisa sobre os alunos se

verem em vídeo, desempenhando performances em inglês. Anteriormente, os

alunos falavam apenas que não gostavam. Esta aluna em particular trouxe uma

ideia importante sobre fazer e como fazer. Neste momento, as performances

podem levar os alunos a uma postura crítica que proporciona oportunidades

para que possam refletir sobre o que é vivido na performance e na vida real

(NEWMAN; HOLZMAN, 1993/2002), Assim, ele pode perceber que está em

constante construção de sua identidade como falante da língua, analisando

novas formas de ser, de tornar-se e ver como pode ser sua participação na

sala e na vida.

Os argumentos dos alunos foram mais desenvolvidos em relação às

aulas anteriores, mas para uma melhor conclusão, faltou um entrelaçamento

das ideias e depoimentos dos alunos para a participação em futuras

performances. Houve uma perda da expansão do que foi discutido; faltou uma

����

conclusão dos sentidos e significados compartilhados para aquele grupo,

principalmente, em relação ao que eles entendiam sobre improvisar e como

isso poderia ajudá-los no desempenho das performances em sala de aula. A

falta de conclusão construída colaborativamente com o grupo não deixou clara

a conotação de improvisar.

Caso houvesse um movimento colaborativo no qual os alunos

participassem na negociação de sentidos e significados (MAGALHÃES, 2009),

eles poderiam ter estabelecido futuros espaços de criação, nos quais

aprenderiam uns com os outros e o PP.

Para esta aula, compreende-se que a performance foi parte do

desenvolvimento em como os participantes se engajaram nas interações com

outros participantes. Ela mostrou o processo de movimento de conceitos

espontâneos e científicos, quando os alunos usaram o que aprenderam em

sala naquela unidade do material didático para participar de situações que

provavelmente acontecerão em suas vidas fora da escola.

A falta de atenção dos alunos à questão da espontaneidade e entonação

não aproximou por completo a linguagem da vida real em relação às cenas

desenvolvidas.

Por sua vez, as questões controversas colocadas de forma mais pontual

puderam trazer mais argumentos sobre as performances desenvolvidas em

relação às aulas analisadas anteriormente. Os alunos já exprimem que

conseguem perceber progresso ao participar de performances, estão mais

acostumados a serem filmados e já conseguem comparar seus desempenhos

nas cenas com performances anteriores, explicando o que havia sido

transformado na compreensão deles em turnos, como “ficando mais fácil [...] do

que tava” ou “mais comum”.

Também compreendeu-se um aspecto importante da performance,

levando os alunos a uma postura crítica e proporcionando vivências para que

possam refletir sobre como agem na vida real. �

����

4.4. Descrição do Contexto – Aula 4

Estes dados foram produzidos na parte final da pesquisa, quando, em

sala, fazia-se mais uma tarefa de produção oral para colocar em prática o que

fora aprendido naquela unidade (dar instruções, ordens, verbos imperativos).

Durante a unidade do material didático, o PP trabalhou principalmente os

verbos imperativos em inglês. Neste ponto, alunos já tinham bagagem de

informações trazida das outras unidades sobre como dar instruções e

indicações de como chegar a lugares dentro de uma cidade.

Um detalhe que merece atenção para esta produção de dados foi a

participação do PP como ator das cenas, interagindo com os 6 alunos que

compunham a sala naquele dia. O PP não agiu somente como diretor de cenas

e mediador das discussões, mas como participante ativo.

A presença do PP nas cenas em comparação às outras cenas

analisadas mostra os alunos mais à vontade para as cenas que estavam

desenvolvendo. Isso pode ter acontecido em razão da segurança que sentiam

ao desempenhar a cena com o PP ou também por já estarem acostumados a

esse tipo de tarefa ser filmada para produção de dados. O movimento

colaborativo (MAGALHÃES, 2009) pode ser visto de forma mais presente com

o envolvimento de todos os participantes dentro da sala.

Os alunos e PP apresentavam o diálogo para a sala, enquanto os outros

alunos prestavam atenção nas frases usadas pelos colegas e na ação e atitude

das personagens para que fossem comentadas na discussão. Nessa aula, as

discussões eram feitas imediatamente após o fim das performances, sem haver

o momento da passagem do vídeo na TV instalada dentro da sala de aula

Os testemunhos dos alunos tinham mais espontaneidade e maior

riqueza de detalhes em comparação às outras discussões. Além disso, um

outro fator importante para essa produção de dados foi que todas as

performances e suas pós-discussões foram todas conduzidas em inglês,

processo que foi construído durante a condução de toda a pesquisa, já

demonstrando uma transformação em comparação às primeiras aulas filmadas.

����

4.4.1 - AULA 4 – Análise do excerto da cena 1- PP propõe o personagem

como alguém ofegante, tendo o problema, pedindo informações

Participantes Falas Análise

PP (1) Can we start? Yeah?

(pausa) (PP chega

correndo e ofegante)

PP propõe início da cena, apresentando uma

característica de seu personagem.

Todos (2) Risos Reação da plateia.

PP (3) Please… You don’t say

anything... ok.

PP reforça a característica da personagem para

forçar a criação de um rebote pela aluna.

Todos (4) Risos Reação da plateia.

PP (5) Where is the hospital? PP faz a oferta.

Todos (6) Risos Reação da plateia.

AL (7) Where? Aluna não compreende a oferta.

PP (8) The hospital! PP repete a oferta.

AL (9) The hospital? You go out...

The end... You turn right

and turn left. Stays in front

of.

Aluna aceita a oferta e dá o rebote desenvolvendo a

cena.

PP (10) In front of where? PP pede esclarecimento da oferta.

AL(11) In front of to – you! Aluna oferece esclarecimento.

PP (12) In front of me?! PP pede esclarecimento da oferta.

AL (13) Yes. Aluna oferece esclarecimento.

Para esta cena, não fora combinado anteriormente que o personagem

estaria ofegante. O fator surpresa desta oferta para a cena era possibilitar

diferentes e inesperados rebotes da outra participante para que esta pudesse

usar as formas de linguagem possíveis para comunicar-se desde o idioma até

gestos, sons, demonstrando estar engajada na performance. A aluna aceitou,

então, a oferta e desenvolveu a cena na intensidade da necessidade do outro

personagem. É uma cena curta, sem muitos enunciados elaborados, mas que

contém ofertas e os rebotes (MUNIZ, 2006).

As várias possibilidades de linguagem que a aluna fez uso (idioma,

gestos) mostraram o aspecto responsivo em sua interação com o outro

(BAKHTIN, 2003) que aguardava uma resposta, pois ali ela foi levada a agir,

responder, assim, construindo seu discurso.

����

4.4.2 - AULA 4 – Análise do excerto da discussão pós-performance

Participantes Falas dos Participantes Análise

PP (1) And then? Was AL helpful?

Was she helpful? What was the

guy’s problem here?

Colocação de questão controversa, pedindo

explicação sobre a ação da personagem com

pergunta de sim e não.

AL (2) I understand other… other…

situation

Réplica minima com ponto de vista.

PP (3) But you were a security guard

giving me instructions in a

public place!

PP contextualiza e reforça aspectos da

personagem da aluna.

AL (4) Yes. But we understand the

instructions in the public place.

No instructions go to a place

Aluna apresenta esclarecimento, descrevendo

o que ela havia entendido de sua personagem.

PP (5) Ok, I understand. And what was

my problem? Here… did I have

any problem?

PP pede explicação do personagem que

desempenhou.

PP (6) (Faz som de pessoa ofegante) I

don’t know how...

Aluna imita o personagem do PP, tentando

esclarecer qual era sua intenção no momento

da cena.

PP (7) I was breathless. PP esclarece para a aluna.

AL (8) Breathless? Aluna checa entendimento da palavra

espelhamento.

RI (9) Breathless? Aluno checa entendimento da palavra.

PP (10) Yes, breathless. Ok. And then...

do you think the security guard

helped me, SO?

PP faz pedido de informação específica sobre

a personagem.

SO (11) (desliga o celular) No. Réplica mínima com negação.

PP (12) Why not? Pedido de esclarecimento.

SO (13) Because… because no! Réplica mínima com negação.

PP (14) Because not. A different way

that she could have helped me

PP propõe outra forma de pedir

esclarecimento para a aluna.

SO (15) I don’t know Réplica mínima sem desenvolvimento.

PP (16) How could she have helped

me?

PP propõe uma outra forma de pedir

esclarecimento para a aluna.

LA (17) She could take you “até” the

hospital

Aluna apresenta exemplificacao, usando o

verbo modal “could” indicando possibilidade.

���

PP (18) She could take you… PP espelha a frase esperando continuidade.

LA (19) É… to the hospital. Aluna repete exemplo.

Toda a discussão foi conduzida em inglês, nas outras 3 aulas

analisadas os alunos ainda não se sentiam confortáveis para discutir nesse

idioma porque ainda estavam se apropriando dele. Relembrando, a proposta

de trabalhar performances e jogos de improviso com essa sala foi para que

eles pudessem liberar a criatividade (SPOLIN, 2011) e solucionar a questão

colocada pela maioria deles de que “não sabiam falar”, “escreviam melhor do

que falavam”, “travavam” em tarefas de produção oral.

Nesse momento da produção de dados, as discussões foram feitas em

inglês sem que o PP pedisse que as respostas fossem naquele idioma. A

espontaneidade e a vontade de arriscarem-se em explicar suas impressões e

argumentos em inglês assinalaram uma transformação no processo de

construção da fluência na produção oral em inglês dos alunos

O PP pôde avaliar, durante o andamento do curso, que as performances

puderam contribuir para que os alunos se arriscassem mais dentro das ZPDs

criadas para uso do idioma, questionando com os colegas suas participações

de forma colaborativa e promovendo compartilhamento, transformação e

desenvolvimento.

AL (4) Yes. But we understand the instructions in the public place. No instructions go

to a place.

Nesse turno 4, o PP individuou avanço nesta aluna em particular,

esclarecendo que tinha entendido a tarefa de forma diferente e como ela tinha

desempenhado o seu personagem. Em relação à aula 1, analisada no começo

da pesquisa, esta participante afirmava que “travava” em tarefas de produção

oral. Na aula 2, ela explicou que o jogo de improvisação fez com que ela

resgatasse o que tinha aprendido anteriormente. Na aula 3, mencionou que as

performances agora estavam “mais comuns” e ela poderia falar com facilidade.

Já nesta aula 4, a aluna usou inglês tanto na performance quanto na

���

argumentação da pós-performance, o que indica um progresso na construção

da fluência desta aluna.

Sobre a condução da discussão pelo PP, o foco agora está na ação das

personagens e em como essas situações acontecem na vida real com os

alunos. Desta forma, as performances poderiam ser fonte de experiências,

promovendo a discussão e diversidade das relações sociais (LOBMAN;

LUNDQUIST, 2007). O PP, então, pede esclarecimentos e exemplos sobre a

participação dos alunos na performance e como ela poderia ser desdobrada de

diferentes formas. Este foco mais prático pode ser percebido nos turnos que

seguem:

PP (1) And then? Was AL helpful? Was she helpful? What was the guy’s problem here?

PP (10) Yes, breathless. Ok. And then... do you think the security guard helped me, SP?

PP (16) How could she have helped me?

Entretanto não há conclusão de maneira mais incisiva, contabilizando

formas de agir nas situações reais fora da sala de aula. O conhecimento sobre

como agir nestas situações não foi co-construído (PONTECORVO, 2005), mas

somente descrito, podendo-se pensar em possibilidades como: “A partir de

agora, como vocês irão dar informações? Quais os aspectos mais importantes

ao dar informações para uma pessoa? Vamos pensar no que se pode fazer

quando não sabemos uma palavra e precisamos continuar uma conversa?”.

4.4.3 - AULA 4 – Análise da Cena 3 - Personagem do PP tem dificuldades

de compreensão ao pedir informações

Participantes Falas Análise

PP (1) (with Asian accent) Good-good

morning!

PP propõe oferta do tipo de cena e

personagem.

RI (2) (risos) Good Morning! Can I help

you?

Aluno aceita a oferta e dá o rebote.

PP (3) Need… go… MASP… here…

São Paulo

PP desenvolve o rebote.

RI (4) Oh, no problem. It’s very near. Aluno escuta e dá outro rebote.

����

PP (5) Near? PP pede esclarecimento do rebote.

RI (6) Near. Aluno repete a palvavra.

PP (7) What’s near? Near... near? PP pede esclarecimento do rebote.

RI (8) Near. It’s very... If you go to this

place, you have only 2 minutes

on walking.

Aluno desenvolve a oferta explicando a

definição de “near”.

PP (9) 2 minutes? Walking? (faz com

as mãos movimento de dirigir

carro).

PP desenvolve a oferta pedindo explicação de

“walking”, confundindo “dirigir” com “andar”.

RI (10) No, Walking (faz movimento de

andar).

Aluno desenvolve a oferta de não entendimento

do personagem do PP, explicando a definição

de “walking”.

PP (11) Understand. Right. I see. PP aceita a oferta.

RI (12) Yes?

PP (13) Alright. I need to go to shopping

mall. Is there... shopping mall

around?

PP propõe outra oferta, pedindo instruções.

RI (14) Shopping mall is far far away... Aluno aceita a oferta e dá o rebote.

PP (15) But I need shopping mall.

Important… me… shopping

mall!

PP desenvolve o rebote dado, dizendo que ir ao

shopping center é importante para a

personagem.

RI (16) Why is it important to you? Aluno desenvolve a oferta, introduzindo novo

elemento na cena.

PP (17) Drugstore. Bank. Drugstore and

bank.

PP desenvolve a oferta do aluno dando o rebote

RI (18) Drugstore and bank. Aluno repete as palavras do rebote do PP.

PP (19) Bank and drugstore.

RI (20) In front of this church “have” a

drugstore and in right, first right,

“have” a bank.

Aluno desenvolve a cena, dando explicações ao

personagem do PP.

PP (21) “Chuch”? PP faz a oferta de que não compreendeu a

palavra “church”.

RI (22) Church. Aluno pronuncia novamente a palavra.

PP (23) Church. PP pronuncia novamente a palavra.

RI (24) Church. (Faz sinal de uma cruz) Aluno explica melhor. fazendo gestos.

PP (25) Church. (imita sinal da cruz) PP faz oferta de que ainda não está entendendo

a palavra “church”.

RI (26) Church. Aluno pronuncia novamente a palavra.

PP (27) What’s church? PP faz oferta de que ainda não está entendendo

����

a palavra “church”, pedindo agora uma

explicação.

RI (28) The public place where the

people go to…(faz sinal de

rezar)

Aluno aceita a oferta, descrevendo “church” com

palavras, gestos e ajuda da plateia.

Todos (29) Pray! Ajuda da plateia.

RI (30) …pray!

PP (31) Ah, church! Personagem do PP indica que entendeu a

palavra.

RI (32) Ok, bye! Aluno propõe finalização da cena,

demonstrando que seu personagem estava

cansado de dar infrmações, dando um tom

cômico à cena.

PP (33) Ok. Bye! PP aceita a oferta e finaliza a cena.

Esta cena exemplifica inúmeras vezes os conceitos de oferta e rebote

(MUNIZ, 2006), influenciando o resultado da cena. Os participantes não tinham

combinado previamente que um dos personagens teria dificuldades para

comunicar-se. Não houve interrupção ou uso de língua materna interrompendo

o andamento da cena.

As variadas ofertas foram aceitas pelos participantes, mantendo a

pertinência dentro do assunto, trabalhando a espontaneidade nestes tipos de

situação, desenvolvendo a cena. A reação da plateia que assistia a

performance demonstra isso, pois ela até ajudou um dos participantes durante

a cena. Nesse caso, destacou-se a responsividade permeando o processo de

interação entre os participantes (BAKHTIN, 2003), pois é, neste processo, que

o sujeito é levado a agir, a responder, construindo então o seu discurso.

Neste excerto, o inesperado da interação pôde proporcionar reflexão

sobre formas de agir no aluno e na plateia, com foco nas várias sensações e

percepções sobre a situação (WESSEL, 1987). Esta performance conseguiu

aproximar-se das vivências da vida real, pois é possível entender mal uns aos

outros, deixando-se frases inacabadas e cometendo-se erros para comunicar-

se (GONTOW, 2005).

Assim, neste excerto, a performance trabalhou a fluência quando os

participantes interagem de forma significativa na tentativa de manter uma

����

interação compreensível, mesmo com as limitações da situação (RICHARDS,

2008).

4.4.4 - AULA 4 – Discussão Pós-Performances e Análise

Participantes Fala dos participantes Análise

PP (1) Difficult? PP inicia a discussão espelhando a palavra dita pelo

aluno antes da gravação.

RI (2) The situation. Aluno esclarece o que foi difícil.

PP (3) Why? Pedido de esclarecimento.

RI (4) Because you need

“improve”

Apresentação de explicação.

PP (5) To improve or to

improvise?

PP checa compreensão se a palavra era “melhorar” ou

“improvisar".

RI (6) Improvising. Espelhamento.

PP (7) Hum. I think it’s easy

for you.

PP propõe comentário sobre desempenho do aluno

para que ele desenvolva.

RI (8) In Portuguese. Réplica mínima.

PP (9) Hum. Why is it difficult

in English?

Pedido de esclarecimento.

RI (10) Because you forget the

words.

Apresentação de explicação.

PP (11) Really? Interjeição de surpresa.

RI (12) Yes. Réplica mínima.

PP (13) But in this case, did RI

forget the words? What

did you think of his

performance as a

Police officer?

PP propõe questão controversa específica sobre a

performance desempenhada pelo aluno.

SO (14) Good. Réplica mínima com adjetivação (“good”).

PP (15) Really? And what made

this good?

Pedido de justificação do uso da palavra “good”.

SO (16) He explained the… He

explained very well. He

was… natural, I think.

Apresentação de justificação baseada em exemplo.

Neste excerto, observa-se uma discussão sobre o sentido que o aluno

traz sobre improvisar. O mesmo aluno, na aula 3 analisada, colocou

����

“improvisar” em oposição a “organizar os papéis”. O PP lança a questão

controversa com um comentário elogioso para o participante, dizendo “I think

it’s easy for you”, no turno 7, na tentativa de suscitar a expansão do tema. O

aluno justifica que improvisar é “difícil” por ele esquecer as palavras em inglês,

mas não em português. O PP direciona o questionamento para a o resto da

sala, quando uma aluna classifica sua performance como “natural”, porém não

pede que o aluno complemente a contribuição trazida pela colega, construindo

colaborativamente um novo sentido de improvisar para aquele aluno. Poderia

ter sido trabalhado mais, neste momento, o discurso interno persuasivo

(BAKHTIN, 2003), que poderia levar os alunos à construção de novos sentidos

quando seus discursos se amalgamariam com o discurso de outro(s)

indivíduo(s), levando-o(s) a novas compreensões.

PP (17) Natural? Really? AL, what was

my nationality?

Questão sobre a performance e a personagem.

AL (18) Chinese! Réplica mínima.

PP (19) Chinese? PP checa informação, espelhando o turno

anterior.

AL (20) Chinese. Aluna confirma resposta.

PP (21) And in a situation like this, how

do you react? Do you help the

chinese tourist? You. You as

AL.

Questão controversa sobre reações,

comparando a tarefa de sala de aula com a vida

real.

AL (22) Yes, I help. I don’t know “se eu

vou conseguir”

Réplica insuficientemente elaborada.

PP (23) I don’t know if I... Espelhamento.

SO (24) “Conseguir”. Complementação da asserção, com participantes

completando a frases nos próximos 3 turnos.

AL (25) Can! Complementação.

PP (26) If I can. Complementação.

AL (27) …can’t. Can! Complementação.

O processo de colaboração construída entre os participantes desta

turma fica claro neste trecho, no qual a complementação da fala, com

����

intervenções de outros participantes, completa a frase ao final. Este é um

aspecto que não era facilmente visto nas aulas 1, 2 e 3 analisadas

anteriormente.

Ademais, mais uma vez, o PP traz a comparação entre o agir da

performance e o agir na vida real no turno 21. A importância disso está na

questão central da performance (NEWMAN; HOLZMAN, 1993/2002), que pode

proporcionar aos participantes formas de serem quem não são, vislumbrando

possibilidades de agir em situações reais posteriores.

A aluna dá uma réplica explicando, insuficientemente, como poderia ser

concluída esta interação, trazendo olhar crítico nas atitudes na vida real, mas

existe a perda deste acréscimo na condução da interação pelo PP.

PP (28) Hum. Ok. Right? Did

you like your

performance as a

police officer?

PP faz pergunta de dupla escolha específica sobre o

desempenho do aluno.

RI (29) So so. Réplica mínima com ponto de vista.

PP (30) In real life are you this

patient?

Questão controversa sobre reações, comparando a

tarefa de sala de aula com a vida real.

RI (31) Yes. Réplica mínima com ponto de vista.

PP (32) Have you ever had this

experience of giving

instructions to people?

Questão controversa sobre reações, comparando a

tarefa de sala de aula com a vida real, buscando

reflexão do aluno sobre essa atitude.

RI (33) In other language, no.

In Portuguese, yes.

Réplica mínima com ponto de vista.

PP (34) Sorry? Pedido de repetição.

SO (35) I have every day. I work

at Paulista Avenue and

“have” many tourists

there.

Complementação. Aluna apresenta ponto de vista,

usando exemplo da vida real em relação à performance

apresentada.

PP (36) Uh hum.

SO (37) And other day, two

Americans asked me

about the supermarket.

Then I explained and I

think they understand.

Aluna continua o turno, descrevendo a situação da vida

real, propondo um lado prático para a vida dentro de

sua argumentação.

����

Todos (38) (risos)

PP (39) Alright. That’s

interesting. Thank you

very much

PP conclui o debate.

Foi colocado à discussão o agir na vida real, fora da sala de aula, com a

questão do PP no turno 30 “In real life, are you this patient?”. Neste excerto, as

cenas podem proporcionar uma integração entre o espaço da sala com o que

acontece fora dela, recriando estas interações para que os alunos se apropriem

de formas de agir em possibilidades futuras (LIBERALI, 2009).

A discussão sobre formas de agir foi desenvolvida pelo aluno com

réplicas mínimas. Entretanto essa interação propõe que outra aluna tome o

turno do interlocutor para incluir seu argumento (turno 35), complementando o

tema introduzido, desse modo, criando um momento de participação

colaborativa na co-construcão do conhecimento (PONTECORVO, 2005). A

aluna exemplifica que esta situação aconteceu em sua própria vida (“I have

every day. I work at Paulista Avenue and “have” many tourists there..).

Neste momento do excerto, existe um exemplo rico para ser desdobrado

para criação de novos sentidos e significados e promover nova compreensão

em como agir neste tipo de situação, porém o turno recebe o comentário

avaliativo “That’s Interesting” do turno 39, não havendo conclusão ou co-

construção do raciocínio pelo todo da turma. Houve então uma perda de

desdobramento do assunto, aproximando-se das vivências dos alunos com o

intuito de se desenvolver argumentos e reconstruir ações (LIBERALI, 2005).

Com base nesta aula 4, a performance pôde contribuir para o

desenvolvimento da produção oral, pois a aceitação das ofertas conseguiu criar

oportunidades para que os alunos se “lançassem no vazio” da cena,

produzindo oralmente para que a cena se desenvolvesse, reforçando o aspecto

da responsividade para a construção de novos significados por meio das

respostas dadas pelo outro.

A fluência pôde ser trabalhada ao passo que os participantes tentavam

ser compreendidos e se comunicavam mediante os aspectos da cena, como,

por exemplo, o inesperado nos personagens e objetivos de improvisar uma

cena de conversa sem script.

����

As questões controversas colocadas pelo PP foram diferentes em

relação às outras 3 aulas analisadas, pois possuíam foco nas formas de agir na

vida real, como, por exemplo, no turno 30, “In real life are you this patient?” e,

no turno 32, “Have you ever had this experience of giving instructions to

people?”. Esta ação aproximou as cenas de possibilidades futuras de

vivências, assim, promovendo um olhar crítico quanto às formas de agir dos

alunos. Estas performances da aula 4 demonstraram que, no contexto em que

se vive, aprende-se a reagir espontaneamente, “pois ninguém recebe um script

prévio de vida para decorar e participar da vida; todos improvisam todos os

dias” (LOBMAN; LUNDQUIST, 2007, p.).

Mesmo assim, a criação de significados compartilhados após o debate

precisou de maiores desdobramentos para que os participantes criassem um

significado compartilhado de formas de agir, discutindo a cena mais em

profundidade, enumerando formas de participar em situações como aquelas.

Para finalizar este capítulo de análise, o PP compreendeu que, durante

sua pesquisa, a discussão com os alunos sobre o tipo de tarefa proposta, a

performance, promoveu um visão pertinente a esta prática em sala de aula. A

performance não pode ser somente uma mera dramatização que não se

aproxima das realidades dos participantes da criação da cena. Mesmo na

criação de situações que pouco provavelmente os alunos tenham em suas

vidas, foi importante descobrir a importância de discutir como as pessoas agem

nestas situações.

Examinando as inúmeras cenas produzidas para esta pesquisa foi

possível compreender que os alunos vão se transformando – nas ações e na

produção oral – performance após performance e nas suas discussões

posteriores.

Analisando a participação do PP nestas 4 aulas escolhidas, a atitude

como condutor foi se transformando ao passo que foi compreendido que os

tipos de argumentos dependem da quantidade e qualidade das questões

controversas colocadas. As questões controversas colocadas de forma mais

planejada poderiam criar significados compartilhados e promover produção de

����

conhecimento, dessa maneira, fazendo da sala de aula um espaço colaborativo

no embate de opiniões e conflitos.

���

Considerações Finais

“And the show must go on…”

Esta pesquisa revelou que o inesperado das situações, das cenas, das

discussões e do trabalho de pesquisa em si levaram todos os participantes –

alunos e PP – a outros níveis de conhecimento não imaginados no início da

condução do projeto.

Foi possível, assim, aos alunos compreenderem que podem agir

colaborativamente nas performances, usando o idioma que estão aprendendo,

jogando/brincando/atuando em inglês e constituindo seus discursos.

O PP também constituiu-se como um pesquisador e como um professor

que teve suas práticas transformadas ao olhar criticamente para sua própria

ação. O inesperado das interações e situações durante o processo de

condução da pesquisa igualmente proporcionaram espaços de criação, palcos

que propiciaram descobertas para suas ações como profissional, pesquisador e

cidadão.

A escolha metodológica a PCCol evidencia estas transformações

citadas. Na constituição de espaços de criação, alunos foram aprendendo

como desempenhar as performances e o próprio PP foi delineando e

compreendendo o papel das tarefas as quais se propôs a pesquisar.

Discutir sobre as cenas propiciou momentos em que todos os envolvidos

tiveram voz. Desde o início, existiu a preocupação em não coagir os alunos a

participarem das cenas somente pelo fato do pesquisador ser o professor do

curso. Assim, as ZPDs criadas envolviam o professor na criação das cenas e,

ao mesmo tempo, os alunos como participantes ativos na condução da

pesquisa.

Ao final do período de produção de dados, o PP pôde compreender que

quanto mais parecida é a tarefa com a maneira que se produz oralmente na

vida real maior pode ser a relevância e participação dos alunos nas cenas.

Durante a pesquisa, o planejamento das cenas levou em conta “como esta

tarefa fará com que o aluno se sinta como um falante de inglês nas

possibilidades futuras de interação em suas vidas?” Daí a importância de

trabalhar-se com o conceito de performance.

���

Os resultados das análises puderam mostrar que existe uma

transformação na produção oral quando o engajamento do aluno é ativo e

interativo na construção do processo de comunicação. Pensar e organizar com

os alunos como essas tarefas organizar-se-iam como atividades sociais foram

o ponto-chave da descoberta desta pesquisa: a partir da discussão prévia de

regras, da participação dos sujeitos e da configuração dos contextos, o objeto

da atividade foi mais claramente atingido pelos alunos e compreendido pela

plateia, na sala de aula que assiste à cena.

Por meio da argumentação, compreendeu-se como os alunos viam suas

participações nas cenas, como entendiam a condução e importância daquelas

tarefas para suas vidas. Os argumentos trazidos no embate dos sentidos de

cada um foram vitais para a construção de um significado atinente a como

essas tarefas aconteciam naquela sala, para aquela turma.

No entanto, significados compartilhados mais profundos e colaborativos

sobre como as tarefas poderiam ser cada vez melhor elaboradas, dessa

maneira, contribuindo para o desenvolvimento da produção oral, não foram

desenvolvidas de forma clara e concisa.

A questão da pesquisa que buscava compreender se as performances

poderiam desenvolver a produção oral teve resposta positiva. Dependendo de

como contextualizada previamente a condução da performance entre os

participantes, mesmo que sem script, os resultados das cenas conduzem à

transformação de conceitos cotidianos e científicos, aproximam a linguagem

das dramatizações à da vida real e propõem que os alunos se lancem no vazio,

assumindo cada vez mais riscos ao usar o idioma que estão aprendendo.

A partir da argumentação nas discussões pós-performances foi possível

contabilizar formas de conduzir as cenas e como elas podem influenciar em

ações futuras. Contudo, a forma de condução dessas discussões tem papel

essencial nos sentidos que podem ser desvelados pelos participantes. Os tipos

de perguntas direcionam o discurso e podem promover esclarecimentos,

exemplificações, reformulações e justificativas. O condutor da discussão com

foco em questões controversas, que exijam dos participantes posicionamentos

claros quanto às tarefas que desempenham, pode produzir resultados mais

profícuos na criação de significados compartilhados.

����

No processo de pesquisa, houve transformações citadas pelos alunos

que puderam comparar suas apresentações em relação a performances

anteriores e enumerar mudanças na interação com outros participantes. Houve

também mudança na prática de sala de aula do PP, no trabalho de novas

cenas de performances com diferentes turmas, em outros cursos.

Os resultados das cenas e das interações dos alunos pontuam a

necessidade de situar a aula de inglês como um espaço criativo para o uso do

idioma. O foco único em acuidade e visão estrutural da linguagem pode não

preparar o aluno para situações de interações, assim, não o colocando como

sujeito ativo e interativo na atividade.

Ao final da pesquisa, entende-se que as performances organizadas e

discutidas pelos participantes da sala de aula em ensino de inglês podem:

• desenvolver a produção oral;

• desenvolver a fluência;

• desenvolver formas de agir em situações;

• oferecer ao professor de inglês possibilidades de diferentes tarefas em

sala de aula;

• proporcionar que o aluno tenha um posicionamento crítico em como age

em sala de aula;

• fazer com que o aluno vislumbre possibilidades de agir fora da sala de

aula;

• fazer com que a sala de aula seja um espaço criativo, onde todos os

participantes sejam constituintes e constituídos neste espaço.

Esta pesquisa, também, assinalou o papel do PP não somente como condutor

das aulas, mas como um participante ativo da criação das performances com

os alunos. Ainda, evidenciou ao PP , ao desempenhar a performance da

atividade social “conduzir um projeto de pesquisa”,� não só como fazer o

que ele não sabia como fazer, porém, igualmente importante, que pode fazê-lo.

E terminá-lo.

����

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