Os primórdios da controvérsia Cristológica - Arianismo

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1 CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER MÓDULO - A PESSOA DE CRISTO EWERTON BARCELOS TOKASHIKI OS PRIMÓRDIOS DA CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA - ARIANISMO -

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CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃOANDREW JUMPER

MÓDULO - A PESSOA DE CRISTO

EWERTON BARCELOS TOKASHIKI

OS PRIMÓRDIOS DA CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA

- ARIANISMO -

2

SÃO PAULO2008

EWERTON BARCELOS TOKASHIKI

OS PRIMÓRDIOS DA CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA

- ARIANISMO -

Resenha realizada comoexigência do Módulo “APessoa de Cristo” doCentro Presbiteriano dePós-graduação AndrewJumper como parte dosrequisitos para a

3

obtenção do título deMestre em TeologiaSistemática, concentraçãoem Dogmática.

Professor: Prof. Dr.Héber C. de Campos

São Paulo2008

Índice

A história do

Arianismo ....................................................

............................................ 04

A doutrina de

Ário .........................................................

................................................ 05

4

A popularidade da heresia

ariana .......................................................

.......................... 09

O concílio de

Nicéia .......................................................

............................................... 10

O arianismo após o concílio de

Nicéia .......................................................

................ 11

Bibliografia .................................................

..............................................................

....... 13

5

A história de Arianismo

Ário, nascido no Egito em 256 d.C., foi ordenado

diácono em 308, presbítero, cerca 310 d.C., dirigia a

igreja de Baucalis na Alexandria. Era um discípulo de

Luciano de Antioquia, que também era seguidor de

Paulo de Samosata.1Este último foi condenado pelo

concílio de Antioquia, aproximadamente no ano de 268,

por ter ensinado que Cristo era um filho adotivo de

Deus. Embora haja expressivas diferenças entre Paulo

de Samosata e Ário, parece haver uma relação direta

entre eles, porque “na essência do arianismo

primitivo tem a mesma preocupação de salvaguardar a

humanidade do salvador que foi anteriormente

manifestada por Paulo de Samosata.”2 Quanto à

1 J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã (São Paulo, Edições Vida Nova, 1994), pp. 169-171.2 Justo L. González, Uma História do Pensamento Cristão (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004), vol. 1, p. 257.

6

dependência ideológica que Ário tinha deles, Reinhold

Seeberg esclarece quese estudarmos esta teoria [ariana] como um todo,

veremos o seu parentesco com Paulo de Samosata e, o

monarquianismo dinâmico. Mas, as idéias destes

alcançaram com a adaptação um caráter muito mais

perigoso. O que Paulo ensinava a respeito do homem

Jesus, Ário transferiu, e aparentemente Luciano antes

dele, a um ser intermediário, o Logos. Não é o homem

Jesus quem é dotado de energia (dinamis) divina, e a

mantém pela sua vida moral, senão o Logos, o homem

Jesus nem sequer possuí uma alma humana. O Logos é,

portanto, “uma criatura de Deus”, e não “completo

Deus”.3

Pelo ano de 318, surgiu um conflito doutrinário

entre o presbítero Ário e o bispo Alexandre. O bispo

excomungou Ário por heresia em 320, apoiado pelo seu

diácono Atanásio. Entretanto, o bispo Eusébio de

Nicomédia deu o seu apoio para o presbítero de

Alexandria, assim, ele refugiou-se na Palestina e

depois na Ásia. E, dali divulgou os seus ensinos

alcançando com a sua doutrina, desde os mais simples

dentre o povo, até a própria irmã do imperador

Constantino.3 Reinhold Seeberg, Manual de Historia de las Doctrinas (El Paso, Casa Bautista de Publicaciones, 1967), vol. 1, p. 208.

7

A doutrina de Ário4

Alguns historiadores indicam que a causa da

heresia de Ário se deve ao fato dele desprezar a

heresia de Sabélio.5O modalismo ensinado por Sabélio

de que Deus é somente o Pai, manifesto apenas de

modos diferentes em diversas dispensações, havia sido

condenado, e era uma heresia desprezada pelo

Cristianismo em geral. Com o seu ensino Ário

pretendia afastar-se desta heresia condenada pela

Igreja, que negava uma distinção real entre as

pessoas da Trindade, afirmando serem o Pai e o Filho

apenas manifestações diferentes de uma única pessoa.

Mas, a premissa básica de Ário era de que Deus

não pode comunicar a sua essência a qualquer outro,

pelo fato dele ser uno e indivisível. O historiador

H.I. Marrou comenta que “Ário aparece dominado pela

vontade de salvaguardar a originalidade e os

privilégios do Pai, único ser agenetos, isto é, não

gerado (...). Esta insistência conduz Ário a

desvalorizar relativamente o Logos, que não é eterno,

4 Bengt Hägglund, História da Teologia (Porto Alegre, Casa Publicadora Concórdia,1973), p. 63.5 Roger Olson, História da Teologia Cristã (São Paulo, Editora Vida, 2001), p. 146.

8

coeterno ao Pai incriado (...).”6 Ainda J.N.D. Kelly

observa que “a premissa fundamental de seu sistema é

a afirmação da singularidade e da transcendência

absolutas de Deus, a fonte não-originada (agennêtos

archê) de toda a realidade.”7 A premissa filosófica, e

não exegética, induziu Ário ao erro doutrinário. A

partir dos seus pressupostos fundamentais desdobram-

se outras proposições lógicas.8 Algumas considerações

serão realizadas da heresia proposta por Ário nos

próximos parágrafos.

O Logos existe por um ato da criação do Pai.

Porque, segundo Ário, qualquer ser que participe da

natureza divina, o resultado seria a dualidade de

seres divinos, logo, tudo o mais que existe foi

criado. Ele negava a consubstancialidade eterna do

Filho com o Pai, ou seja, negava tanto a auto-

existência como a pré-existência do Filho. O

catequista de Antioquia rejeitava radicalmente o

pensamento de que o Filho fosse eternamente co-igual

ao Pai, ou que tenha uma união substancial com ele,

deste modo, ele negava que o Filho fosse homoousios9

6 H.I. Marrou, Nouvelle Histoire de l’Eglise, vol.1, p. 291 citado por Roque Frangiotti, História das Heresias (São Paulo, Editora Paulus, 1995), p. 88.7 J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã, p. 172.8 J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã, pp. 172-135.9 O termo literalmente significa consubstancial ou da mesma essência. Richard A. Muller observa que “o uso niceno do termo homoousios foi provavelmente limitado à refutação do arianismo e à afirmação da igualdade

9

com o Pai. Em conseqüência, necessariamente o Filho

teve uma origem. Mas, Ário evita afirmar que houve um

tempo, em que o Filho não existia, porque, crendo que

o Filho teve começo, mas não foi no tempo, mas na

eternidade. O conhecido axioma ariano afirma que: o

Filho é antes de todos os tempos, todavia, Ele não

existe desde toda a eternidade como o Pai, porque o

Filho seria criado. Mas, deve ser observado que Ário

não coloca o Filho no mesmo plano que as demais

criaturas.

A doutrina da imutabilidade de Deus é negada na

heresia ariana. Se o Filho foi criado, mesmo que

antes do tempo, então, Deus nem sempre foi Pai, mas,

somente após a criação da segunda pessoa. Roger Olsen

esclarece queÁrio e seus seguidores exploraram o argumento de que,

se Jesus Cristo é a encarnação do Logos e se o Logos é

divino no mesmo sentido que Deus o Pai é divino, a

natureza de Deus seria alterada pela vida humana de

Jesus no tempo e Deus teria sofrido através dele. Mas

isso era impossível. Portanto, o Logos que encarnou em

Jesus Cristo não era totalmente divino, mas uma

criatura grandiosa e glorificada”.10

consubstancial do Pai e o Filho” in: Dictionary of Latin and Greek Theological Terms (Grand Rapids, Baker Books, 2006), p. 139.10 Roger Olson, História da Teologia Cristã, p. 147 e 152.

10

Assim, Ário cai em contradição com a sua própria

premissa, pois, ao sustentar que Deus sendo imutável

e impassível não poderia se encarnar, nega não

somente a filiação eterna da segunda pessoa da

Trindade, mas a própria idéia de imutabilidade de

Deus. Bernhard Lohse comenta que “neste ponto reside

a heresia mais grave para Ário. Deve-se dizer, em

lugar disso, que Deus não foi sempre Pai, que houve

um tempo em que ele estava só e ainda não era o Pai,

o que somente veio a acontecer mais tarde.”11 Ário

caiu no mesmo erro que acusada, só que pelo lado

oposto.

A segunda heresia era o adocionismo, que

sustentava que Jesus era apenas um homem divinizado,

adotado como Filho de Deus.12 O adocionismo, embora

fosse uma heresia condenada, não foi ensinada

abertamente por Ário, mas, o seu desvio doutrinário

tinha o seu pressuposto como base.13 Luigi Padovese

observa que “a filiação divina, que Ário não negava,

permanecia, não por natureza, mas por adoção ou por

graça.”14

11 Bernhard Lohse, A Fé Cristã através dos tempos, p. 55.12 Alderi S. de Matos, Fundamentos da Teologia Histórica (São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2008), p. 58.13 Roger Olson, História da Teologia Cristã, p. 146.14 Luigi Padovese, Introdução à Teologia Patrística (São Paulo Edições Loyola, 1999), p. 53.

11

A heresia subordinacionista é ressuscitada na

doutrina de Ário. Segundo esta heresia o Filho

permanecia sempre subordinado ao Pai, não somente

quanto à função, mas também quanto ao seu próprio

ser. Na sua concepção o Filho, que foi criado na

eternidade, e que não tem a mesma substância que o

Pai, necessariamente deve ser inferior ao Pai.

Trinitariamente a implicação do pensamento ariano

era de que as três pessoas da trindade eram três

divindades gradualmente diferenciadas umas das

outras.15 Na realidade o arianismo resulta numa forma

de politeísmo. Adolf Von Harnack pensa quesomente como cosmólogos os arianos são monoteístas;

como teólogos e em religião são politeístas. Há

profundas contradições na sua base: um Filho que não é

Filho; um Logos que não é Logos; um monoteísmo que não

exclui o politeísmo; duas ou três ousias que devem ser

adoradas, enquanto que somente uma distingue-se

realmente da criação; uma natureza indefinida que

primeiro passa a ser Deus quando se faz homem, e que,

entretanto, não é Deus quando se faz homem, e que,

todavia, não é nem Deus nem homem... Os oponentes

tinham razão; esta doutrina se dirige outra vez ao

paganismo. A doutrina ortodoxa, ao contrário, tem um

valor permanente na defesa da fé, em que Cristo, o

15 Também sustenta esta opinião Roger Olson, História da Teologia Cristã, p. 150.

12

próprio Deus redimiu ao homem, e lhe conduziu à sua

comunhão. Esta convicção de fé foi salva por Atanásio

contra uma doutrina que não entendia a natureza interna

da religião em geral, e que fazia da religião somente

doutrina, e que finalmente, encontrou a sua satisfação

numa dialética vazia.16

Mesmo sendo um teólogo liberal, Harnack faz uma

leitura descritiva da heresia de Ário, em que podemos

concordar com ele.

Segundo a doutrina ariana o Filho é sujeito ao

pecado e a mudanças como conseqüência dele. J.N.D.

Kelly explica que o pensamento ariano era de que “a

natureza do Filho em princípio fosse passível de

pecado, em Sua providência Deus previu que Ele

permaneceria sem pecado devido à firmeza de Sua

própria decisão e, por isso, antecipou-Lhe essa

graça.”17

A errônea doutrina da consubstancialidade de

Filho com o Pai inevitavelmente conduz a uma

inadequada doutrina da revelação. Se o Filho não tem

comunhão com o Pai, nem possui conhecimento direto

dele, e sendo ele um ser intermediário, menos do que

16 Adolf Von Harnack, History of Dogma, vol.4, 41 citado por James Orr, El Progresso del Dogma, p. 104.17 J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã, p. 173.

13

Deus e mais do que homem. Então, se o Filho não sendo

Deus, realmente não conhece o Pai, de modo que possa

revelá-lo perfeitamente.18 O seu conhecimento é

derivado, e não essencial; logo, o Filho não pode

revelar o que Ele mesmo não tem acesso.

A doutrina da salvação de Ário dependia não da

divindade de Cristo, mas a capacidade de ser imitado,

enquanto humano. Justo L. González observa que asua divindade deveria ser expressa, não em termos de

substância, mas em termos de vontade – isto é, em

termos suscetíveis de imitação e repetição pelos fiéis.

A partir dessa perspectiva a principal preocupação de

Ário era explicar o salvador em termos tais que o

tornassem possível de ser imitado. Para Ário, era

importante que a filiação de Cristo fosse por adoção,

de modo que pudéssemos segui-lo e, assim, fôssemos

igualmente adotados.19

Mas, a soteriologia de Ário também estava

comprometida pela sua heterodoxia Cristológica. A

implicação necessária é de que um Cristo que não

fosse plenamente Deus, não poderia efetuar uma

verdadeira salvação. Uma criatura, mesmo que sendo

superior às demais, não pode reconciliar criaturas18 Bernhard Lohse, A Fé Cristã através dos tempos (São Leopoldo, Editora Sinodal, 1972), p. 57.19 Justo L. González, Uma História do Pensamento Cristão, vol. 1, p. 257.

14

com Deus. Este foi o argumento de Atanásio usou para

demonstrar a perigosa implicação da heresia ariana

quanto à doutrina da salvação.20

A popularidade da heresia ariana

A personalidade de Ário era agradável e atraía

vários seguidores. Não se sabe com que profundidade

realmente o povo compreendia a doutrina de Ário, ou

as suas implicações, visto que, nem todos os bispos

que compareceram ao concílio de Nicéia tinham a mesma

percepção crítica da heresia ariana. Quando ele

esteve em Nicomédia, entre 321 a 325, compôs um

compêndio de cânticos populares, intitulado Thalia,21

com a finalidade de divulgar as suas doutrinas;

assim, o povo cantava as suas músicas que expressavam

os seus ensinos.22 Entretanto, esta obra se perdeu,

permanecendo apenas algumas citações feitas por

Atanásio. Mas, numa destas citações, Ário descreve-se

com convicção, declarando que “sou um homem

20 Santo Atanásio, A encarnação do Verbo in: Patrística (São Paulo, Editora Paulus, 2002), vol. 18. Especialmente a argumentação que ele desenvolve entre as pp. 125-168.21 O significado da palavra grega thalia é banquete.22 Monsenhor Cristiani, Breve História das Heresias (São Paulo, Livraria Editora Flamboyant, 1962), pp. 17-18.

15

conhecido, que sofreu muitas coisas para a glória de

Deus, e sendo ensinado por Deus, obtive a sabedoria e

o conhecimento.”23 Deste modo, o herege se

identificava com os cristãos que sabiam o que era ser

perseguido, e embora vivessem numa religio licita tinham

uma memória recente de sofrimento.

O concílio de Nicéia

O imperador Constantino intenciona fazer do

Cristianismo o eixo unificador do império romano.

Todavia, as discussões teológicas ameaçavam a unidade

do seu reinado, era impossível não perceber a

efervescência doutrinária que ocorria nas regiões de

Alexandria, Nicomédia, Palestina e Síria. O bispo

espanhol Ósio de Córdova era informante de

Constantino de tudo o que se passava na igreja

oriental e, aconselhado por este bispo, o imperador

convocou o concílio de Nicéia.23 Atanásio, Orationes contra Arianos, I.5 citado por James Orr, El Progresso Del Dogma (Terrassa, CLIE, 1988), p. 103.

16

Três grupos se apresentaram com seus pontos de

vista teológico.24 Haviam os arianos puros, liderados

por Eusébio de Nicomédia, outro grupo intermediário,

os semi-arianos que eram liderados por Eusébio de

Cesaréia, e por fim, os opositores do arianismo, o

bispo Alexandre de Alexandria e o seu diácono

Atanásio. O historiador Lorenzo Perrone afirma que “a

maior preocupação dogmática do concílio residia na

exigência de se afastar a equação ariana entre

‘gerar’ e ‘criar’”.25

Atanásio não participou dos debates do concílio

por não ser um bispo. Entretanto, os seus escritos

prévios, especialmente a obra Lógos peri tês enantropéseos

tôi,26 e a sua presença na reunião, puderam influenciar

as decisões conciliares contra o arianismo. Louis

Berkhof afirma quenão foi apenas por necessidade de coerência lógica que

inspirara a Atanásio e determinara sua posição

teológica. O fator controlador em sua argumentação da

verdade foi de caráter religioso. As suas convicções

soteriológicas, naturalmente, geraram suas doutrinas

teológicas. Sua posição fundamental era que a união com

Deus é imprescindível à salvação, e que nenhuma

24 Bengt Hägglund, História da Teologia, p. 64.25 Lorenzo Perrone, “De Nicéia (325) a Calcedônia (451)” in: Giuseppe Alberigo, org.,História dos Concílios Ecumênicos (São Paulo, Editora Paulus, 1995), p. 22.26 A encarnação do Verbo.

17

criatura, senão quem em Si é Deus tem o poder de unir-

nos a Deus.27

O Arianismo após o concílio de Nicéia

Apesar de condenado, o Arianismo não foi extinto

após o concílio de Nicéia. Após a sua reprovação

oficial, Ário foi deportado para o Ilírico. No exílio

fez amigos políticos e adeptos dentre a liderança

eclesiástica oriental. Constância que a irmã do

imperador romano, tornou-se ariana, e induziu-o a

revogar a decisão quanto ao bispo Eusébio de

Nicomédia. O bispo por sua vez, conseguiu convencer o

regente de que o termo consubstancial era uma forma de

sabelianismo, desfazendo qualquer distinção entre o

Pai e o Filho. Por causa da sua influência junto ao

rei, Ário retornou do exílio, entre o ano 329 e 330.

Ário assinou uma não esclarecida declaração de fé

(328), como prova de sua ortodoxia.28 Atanásio foi

convocado para que reabilitasse Ário, entretanto, ele27 Louis Berkhof, A História das Doutrinas Cristãs (São Paulo, PES, 1992), p. 79.28 Philip Schaff, The Greek and Latin Creeds - The Creeds of Christtendom (Grand Rapids, Baker Books, 6a.ed.rev., 2007), vol. 2, pp. 28-29. Schaff observa que este credo “é herético não pelo que declara, mas pelo que omite.” De fato, as afirmações do credo ariano menciona, de modo superficial, evitando comprometer-se com o credo niceno.

18

recusou-se a fazê-lo. No concílio de Tiro, o teólogo

alexandrino foi condenado em 335, e levado para o

exílio em Trevéris, nos confins da Gália. Nesse

ínterim, o herege Ário falecia em 336, com

aproximadamente 80 anos. Os conceitos arianos estavam

sendo assimilados e disseminados por muitos bispos e

políticos do império romano. Deste modo, Ário deixou

de desempenhar um papel vital para a controvérsia, e

a sua morte não diminuiu a controvérsia que inflamava

o Cristianismo.

Os arianos se dividiram em três grupos.29 Mesmo

dentro do partido dos hereges não havia conformidade

de pensamento. William Cunningham esclarece queos arianos mais ousados e honestos diziam que o Filho

era heteroousios, ou seja, de substância diferente da do

Pai; outros diziam que ele era anomoios, isto é,

diferente do Pai; e alguns, que geralmente eram

considerados semi-arianos, admitiam ser Ele homoiousios,

de substância semelhante ao Pai; todavia, todos eles,

em comum, recusavam-se a aceitar a terminologia nicena,

porquanto, se opunham à doutrina nicena da verdadeira e

apropriada divindade do Filho, observando e percebendo

que aquela terminologia a expressava de maneira acurada

29 João Batista L. Insuelas, Curso de Patrologia (Braga, Oficinas Gráficas Pax, 2ª.ed.rev., 1948), pp. 211-216.

19

e inequívoca, embora algumas vezes declarassem aduzir a

outras objeções contra o seu uso.30

Todavia, os teólogos capadocianos defenderam a

decisão de Nicéia.31Esta tríade era formada por

Basílio, o grande, que era bispo de Cesaréia (379

d.C.), Gregório de Nissa (384 d.C.) e Gregório de

Nazianzo (390 d.C.). Por fim, o arianismo, em todas

as suas elásticas formas, foi condenado nos concílios

de Constantinopla (381) e no de Toledo (589),

estabelecendo definitivamente a ortodoxia trinitária.

30 William Cunningham, Historical Theology (Edmonton, Still Waters Revival Books,1991), vol.1, p. 290.31 Bengt Hägglund, História da Teologia, p. 71-72.

20

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