Organização, Recursos Humanos e Planejamento VANTAGEM COMPETITIVA

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20 Organizaçªo, Recursos Humanos e Planejamento VANTAGEM COMPETITIVA: os modelos teóricos atuais e a convergŒncia entre estratØgia e teoria organizacional ABSTRACT This article analyzes the convergence between business strategy and organizational theory, by making a detailed comparative study of four theories focusing competitive advantage phenomena. These theories include the strategic positioning school, the resource-based view, the market pro- cesses and the dynamic competencies theory. We conclude the convergence between organizational theory and business strategy is a promising research opportunity for both disci- plines. RAE - Revista de Administraçªo de Empresas Out./Dez. 2000 RESUMO Este artigo faz uma análise das quatro principais correntes teóricas que tratam do fenômeno da vantagem competitiva, isto é, a ocorrência de níveis de performance econômica acima da média de mercado em fun- ção das estratégias adotadas pelas firmas. São examinadas, em ter- mos de seus pressupostos e de suas conseqüências, as teorias de po- sicionamento estratégico, a teoria dos recursos, as teorias baseadas nos processos de mercado e as teorias de competências dinâmicas. Finalmente, este artigo defende a tese de uma convergência entre es- tratégia empresarial e teoria organizacional como uma via de pesquisa fundamental para a evolução de ambas as disciplinas. PALAVRAS-CHAVE Estratégia empresarial, teoria organizacional, posicionamento estratégico, teoria dos recursos, competências. KEY WORDS Business policy, organizational theory, strategic positioning, resource-based view, competencies. Sªo Paulo, v. 40 n. 4 p. 20-37 Flávio C. Vasconcelos DEA em Sociologia pelo Institut d’Etudes Politiques de Paris, Docteur ès Sciences de Gestion pela Ecole des Hautes Etudes Commerciales (Paris) e Professor do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGV. E-mail: [email protected] Álvaro B. Cyrino DEA em Gestão da Tecnologia pela Université Tecnologique de Compiègne, Doutorando em Administração na Ecole des Hautes Etudes Commerciales (Paris) e Gerente de Projetos da Fundação Dom Cabral. E-mail: [email protected]

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Organização, Recursos Humanos e Planejamento

VANTAGEM COMPETITIVA:os modelos teóricos atuais e aconvergência entre estratégia e

teoria organizacional

ABSTRACTThis article analyzes the convergence between businessstrategy and organizational theory, by making a detailedcomparative study of four theories focusing competitiveadvantage phenomena. These theories include the strategicpositioning school, the resource-based view, the market pro-cesses and the dynamic competencies theory. We concludethe convergence between organizational theory and businessstrategy is a promising research opportunity for both disci-plines.

RAE - Revista de Administração de Empresas � Out./Dez. 2000

RESUMOEste artigo faz uma análise das quatro principais correntes teóricas quetratam do fenômeno da vantagem competitiva, isto é, a ocorrência deníveis de performance econômica acima da média de mercado em fun-ção das estratégias adotadas pelas firmas. São examinadas, em ter-mos de seus pressupostos e de suas conseqüências, as teorias de po-sicionamento estratégico, a teoria dos recursos, as teorias baseadasnos processos de mercado e as teorias de competências dinâmicas.Finalmente, este artigo defende a tese de uma convergência entre es-tratégia empresarial e teoria organizacional como uma via de pesquisafundamental para a evolução de ambas as disciplinas.

PALAVRAS-CHAVEEstratégia empresarial, teoria organizacional, posicionamento estratégico, teoria dos recursos, competências.

KEY WORDSBusiness policy, organizational theory, strategic positioning, resource-based view, competencies.

São Paulo, v. 40 � n. 4 � p. 20-37

Flávio C. VasconcelosDEA em Sociologia pelo Institut d’Etudes Politiques de Paris, Docteur ès Sciences de Gestion pela Ecole des Hautes Etudes

Commerciales (Paris) e Professor do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGV.E-mail: [email protected]

Álvaro B. CyrinoDEA em Gestão da Tecnologia pela Université Tecnologique de Compiègne, Doutorando em Administração na Ecole des

Hautes Etudes Commerciales (Paris) e Gerente de Projetos da Fundação Dom Cabral.E-mail: [email protected]

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Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

A estrutura da indústria determina ocomportamento dos agentes econômicos,que determina a performance das firmas.

©2000, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.

UMA TENDÊNCIA DE CONVERGÊNCIA

Dois temas fundamentais estruturam a evolução re-cente do pensamento sobre estratégia empresarial: avantagem competitiva e a mudança organizacional eestratégica. Embora distantes nas suas origens, tendoseguido por vários anos trajetórias paralelas, essesdois tópicos tendem a convergir progressivamente emfunção das rápidas mudanças econômicas e sociais quecaracterizam a economia mundial na virada do sécu-lo XXI.

Uma série de contribuições teóricas e conceituais,tanto no campo da AdministraçãoEstratégica como no campo da Teo-ria das Organizações, levou a essaconvergência: no campo da Estra-tégia Empresarial, os trabalhos depesquisa costumam basear-se emfundamentos econômicos, focali-zando o �conteúdo� das estratégias.Esses trabalhos normalmente utilizam abordagensmetodológicas estruturadas dirigidas à verificação em-pírica de hipóteses generalizáveis. Também é comumque tais estudos concedam uma especial importânciaàs implicações normativas dos resultados. Seu obje-tivo principal costuma ser identificar os fatores res-ponsáveis pelo sucesso ou fracasso das empresas emdiferentes contextos.

Um segundo grupo de contribuições embasa-se nasCiências Sociais em geral e na Sociologia em parti-cular. Essas contribuições focalizam-se sobre a natu-reza da mudança organizacional e os processos inter-nos de adaptação, inovação e aprendizagem, utilizan-do, preferencialmente, métodos qualitativos com oobjetivo de entender e explicar, no seu contexto, anatureza e a dinâmica dos processos de mudança or-ganizacional.

No entanto, apesar das consideráveis diferençasteóricas e metodológicas, diversas razões justificama convergência dessas duas correntes. Primeiramen-te, a evolução dos ambientes organizacionais, cadavez mais marcados pela evolução tecnológica, pelainterconexão entre grandes redes de organizações epela integração dos mercados mundiais. Altos níveisde incerteza e ambigüidade ambiental contribuem for-temente para que a mudança organizacional seja vis-ta não como um evento raro, mas como uma ocorrên-cia cada vez mais freqüente nas organizações. A im-portância da mudança organizacional é, assim, postaem evidência pela percepção generalizada de que amudança é essencialmente inevitável. Daí surge umaforte motivação para compreender e influenciar osprocessos de mudança organizacional, estabelecendo

uma interface entre a estratégia como fenômeno in-tencional e o comportamento organizacional comofenômeno emergente. Essa aproximação implica, fi-nalmente, dar um aspecto mais normativo aos estu-dos sobre mudança organizacional.

Em segundo lugar, a ausência de estabilidade eprevisibilidade coloca em evidência as fraquezas deuma grande parte dos modelos utilizados em Admi-nistração Estratégica, primeiramente, no plano práti-co e, em seguida, no plano teórico. A decadência doplanejamento estratégico, analisada por Mintzberg(1994), pode ser vista, nesse sentido, como um sinal

da inadequação dos modelos de Estratégia Empresa-rial às características do mundo real. Para a discipli-na de Administração Estratégica, que, tradicionalmen-te, visa a informar e orientar a prática, a rejeição dosprincipais modelos de planejamento estratégico fezsoar um alarme, apontando para a necessidade daredefinição de seu escopo e de sua inter-relação comoutras disciplinas, levando, em última instância, a umaaproximação entre a fundamentação econômica e adescrição sociológica.

As análises dos modelos teóricos e das contribui-ções empíricas feitas neste artigo visam a evidenciaras duas dimensões responsáveis pela convergência aci-ma citada:a) o reconhecimento do aumento da complexidade

ambiental e de seus impactos sobre o comporta-mento das firmas;

b) o foco nos processos e recursos intra-organizacio-nais.

A TEORIA ECONÔMICANEOCLÁSSICA E SEUS LIMITES

Até os anos 70, a explicação ortodoxa sobre ocomportamento econômico das organizações en-con trava-se predominantemente na economianeoclássica de inspiração walrasiana. A firmaneoclássica, no entanto, revelava-se uma simplifi-cação demasiadamente grosseira para definir o com-portamento real das empresas, o que explica a au-sência de aplicações da análise econômica clássicanas empresas e o seu papel secundário nos trabalhosde estratégia empresarial.

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Organização, Recursos Humanos e Planejamento

O processo competitivo é caracterizado porum processo interativo de descoberta, noqual novos conhecimentos são produzidos.

Na realidade, na concepção econômica neoclássica,a vantagem competitiva � resultados consistentementesuperiores à média � é um epifenômeno: seja um aci-dente excepcional, seja uma imperfeição temporáriado funcionamento dos mercados. O poder das forçasde concorrência, dirigido pela mão invisível dos mer-cados, tende a corroer todo lucro acima da média pormeio de mecanismos de fluxo livre de capitais à pro-cura da máxima lucratividade.

Além disso, falta à microeconomia ortodoxa umateoria da firma como fenômeno coletivo. A firma nãoé tratada como uma instituição, mas como um atorindividual, sem nenhuma autonomia de decisão queresponda racionalmente (e passivamente) às mudan-ças no ambiente (reduzido, na concepção clássica, aosmecanismos de preços e quantidades).

Assim, a firma �(...) se présente comme un agentsans épaisseur ni dimension, une �firme point�; etcomme un agent passif, la �firme automate� (...)�(Coriat e Weinstein, 1995, p. 14).

A firma é, então, dotada do mesmo estatuto teóri-co do consumidor individual, que apenas aplica me-canicamente as regras do cálculo econômico e é re-presentado em termos de uma função de transforma-ção de insumos em produtos. Teece assim resumiuesses limites da firma: �(...) With little exaggeration,we can assert that, until very recently, economicslacked a theory of the firm. (...) one finds a theory ofproduction masquerading as a theory of the firm.Firms are typically represented as productionfunctions, or, in some formulations, production sets.The (neoclassic) f irm is a �black box� whichtransforms the factors of production into usually justone output� (Teece, 1984, p. 90).

A teoria econômica neoclássica é baseada em pre-missas de equilíbrio, certeza e racionalidade perfeitaque resultam em um tipo de análise estática do proces-so de tomada de decisão, focalizando a maximizaçãoda função objetivo (utilidade) em um momento espe-cífico, dados os processos tecnológicos e o preço dosfatores e dos produtos. Os limites práticos à conversãode recursos, a especificidade de ativos, as particulari-dades tecnológicas e o conceito de interação organiza-cional não têm nenhum espaço nesse modelo. Essesproblemas representam, segundo Teece, um dos maio-

res obstáculos à aplicabilidade estratégica dos modelosde análise econômica: �(...) The notion that a firm canchoose from a finite set of strategies (...) implies that afirm�s resources and capabilities are not completelyfungible and generalizable, certainly in the short run, ifnot in the long run. Particular strategies imply particu-lar investment decisions, organizational structures, andpossibly particular organizational cultures. Put itdifferently, the concept implies that certain factors of

production are semi permanently tiedto the firm by recontracting costs and,perhaps, market imperfections (...)�(Teece, 1984, p. 88).

Uma parte importante da estraté-gia empresarial focaliza-se justamen-te no longo prazo, em que as caracte-rísticas dinâmicas, as inter-relações

entre as decisões, a mudança e a incerteza devem sertratadas como fenômenos essenciais, e não como im-perfeições capazes de ameaçar a elegância matemáti-ca dos modelos econométricos. Assim, a própria no-ção de estratégia é estranha aos preceitos da econo-mia neoclássica, em que as decisões das firmas se con-centram na alocação de recursos fungíveis entre al-ternativas finitas e conhecidas. A tecnologia e o know-how são dados, e sua difusão faz-se de uma maneiraperfeitamente fluida. Nesse sentido, as idéias de es-tratégia, antecipação e planejamento são desnecessá-rias e, até mesmo, disfuncionais.

A QUESTÃO DA VANTAGEM COMPETITIVA

A partir dos anos 70, diversas correntes do pensa-mento econômico abordaram a questão da vantagemcompetitiva utilizando abordagens conceituais dife-rentes. Algumas das correntes contemporâneas não co-locam verdadeiramente a questão das estratégias em-presariais no centro de suas preocupações. É o caso,como vimos anteriormente, da economia neoclássica,das abordagens contratuais da firma (da economia decustos de transação e da teoria da agência).

As teorias de Estratégia Empresarial que tratamda questão da vantagem competitiva podem ser divi-didas em dois eixos principais. O primeiro eixo clas-sifica os estudos segundo sua concepção da origemda vantagem competitiva. Dois casos são, assim, iden-tificados: a) as teorias que consideram a vantagemcompetitiva como um atributo de posicionamento, ex-terior à organização, derivado da estrutura da indús-tria, da dinâmica da concorrência e do mercado e b)as que consideram a performance superior como umfenômeno decorrente primariamente de característi-cas internas da organização.

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Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

A segunda dimensão discrimina as abordagens se-gundo suas premissas sobre a concorrência. Uma di-visão se faz entre os pesquisadores que possuem umavisão estrutural, essencialmente estática, da concor-rência, fundada na noção de equilíbrio econômico, eos que enfocam os aspectos dinâmicos e mutáveis daconcorrência, acentuando fenômenos como inovação,descontinuidade e desequilíbrio.

As teorias de Estratégia Empresarial podem ser re-presentadas seguindo essas duas dimensões, comomostra a Figura 1.

A ESTRUTURA DA INDÚSTRIA: DEFININDOO CENÁRIO DA CONCORRÊNCIA

Um dos modelos conceituais mais difundidos para aanálise da vantagem competitiva é o modelo da novaorganização industrial (new industrial organization).Esse conjunto de idéias apóia-se nos trabalhos pionei-ros de Edward Mason e Joe Bain sobre a estrutura daindústria, um modelo que ficou conhecido como análiseSCP (Structure�Conduct�Performance) ou Estrutura�Comportamento�Performance. De acordo com essa ten-dência, a performance das firmas em uma indústria par-ticular depende do comportamento (estratégia) de com-pradores e vendedores no tocante a fixação de preços,níveis de cooperação tácita e competição, políticas depesquisa e desenvolvimento, publicidade, investimen-to, etc. O comportamento das firmas é, por sua vez, de-finido pela estrutura da indústria em questão, caracteri-

zada pelo número e pelo tamanho relativo de concor-rentes, compradores e vendedores, pelo grau de dife-renciação dos produtos, pela existência de barreiras deentrada de novas firmas, pelo grau de integração verti-cal existente, etc. Em resumo, o modelo SCP supõe quea performance econômica das firmas é o resultado dire-to de seu comportamento concorrencial em termos defixação de preços e custos e que esse comportamentodepende da estrutura da indústria na qual as firmas es-tão inseridas.

Devemos notar que os trabalhos de Mason e Bainvisavam a explicar e analisar a lucratividade dos oli-gopólios com o objetivo de implantar políticas de pro-moção da concorrência (anti-trust). Para esses doispesquisadores, o poder dos monopólios e dos oligo-pólios representavam uma ameaça à sociedade e aoseu equilíbrio econômico. Trabalhos neo-estruturalis-tas, como os desenvolvidos por Michael Porter, utili-zaram o modelo básico de Mason e Bain para a for-mulação de estratégias de empresas utilizando o po-der dos monopólios em favor das empresas, e nãonuma perspectiva de regulamentação governamental,como fizeram anteriormente Mason e Bain. O papeldeterminante da estrutura industrial é um tema recor-rente entre os pesquisadores dessa corrente. Influen-ciados pela noção simplificada de firma �pontual�inspirada nos modelos neoclássicos, os pesquisado-res da economia industrial tendem a ignorar os as-pectos organizacionais da estratégia empresarial. Se-gundo Bain: �( . . . ) I am concerned with the

Figura 1 � As correntes explicativas da vantagem competitiva

A vantagem competitiva explica-se

por fatores externos (mercados,

estrutura das indústrias).

A vantagem competitiva explica-se

por fatores internos específicos à

firma.

1 � Análise estrutural da indústria

Organização industrial: Modelo SCP

Análise de Posicionamento

(Porter)

3 � Processos de mercado

Escola Austríaca

(Hayek, Schumpeter)

2 � Recursos e competências

Teoria dos Recursos

4 � Capacidades dinâmicas

Teoria das Capacidades Dinâmicas

Estrutura da indústria

Estática: equilíbrio e estrutura

Processos de mercado

(market process)

Dinâmica: mudança e incerteza

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environmental setting within enterprises operate andin how they behave in these settings as producers,sellers and buyers. By contrast, I do not take aninternal approach, more appropriate to the field ofmanagement science, such as could inquire howenterprises do and should behave in ordering theirinternal operations and would attempt to instruct themaccordingly (...) my primary unit of analysis is theindustry of competing group of firms, rather than theindividual firm or the economy wide aggregate ofenterprises (...)� (Bain, 1959, p. VII-VIII, citado porFoss, 1996).

A análise inicial de Porter sobre a vantagem com-petitiva acentua alguns elementos característicos danova organização industrial. Em primeiro lugar, Portercompartilha com o modelo de Mason e Bain a mesmaunidade de análise, a indústria, e não a firma indivi-dual: �The basic unit of analysis in a theory of strategymust ultimately be a strategically distinct business orindustry� (Porter, 1991, p. 99).

Em segundo lugar, a lógica dos modelos de orga-nização industrial é muito clara sobre as origens e osentido de causalidade do modelo, começando pelaestrutura da indústria que determina o comporta-mento dos agentes econômicos, que determina aperformance das firmas. Ainda que outros elementossejam ocasionalmente considerados, o posicionamentoda firma dentro da estrutura industrial é, segundoPorter, o principal determinante de seu sucesso ou fra-casso no cenário competitivo.

�(...) At the broadest level, firm success is afunction of two areas: the attractiveness of the industryin which the firm competes and its relative positionin that industry. Firm profitability can be decomposedinto an industry effect and a positioning effect. Somefirm successes come almost wholly from the industryin which they compete; most of their rivals aresuccessful too! (...)� (Porter, 1991, p. 100).

No seu segundo livro, Porter inclui um elo adici-onal na explicação do sucesso competitivo, explo-rando os conceitos de atividades e fatores determi-nantes. As atividades ali analisadas constituem as�unidades básicas de análise de uma firma�, e suaconfiguração particular determina a estratégia daempresa. A vantagem competitiva é, assim, o resul-tado da capacidade da firma de realizar eficiente-mente o conjunto de atividades necessárias para ob-ter um custo mais baixo que o dos concorrentes oude organizar essas atividades de uma forma única,capaz de gerar um valor diferenciado para os com-pradores. Segundo Porter, apenas dois fatores deter-minam a vantagem competitiva: as condições inici-ais e a escolha dos dirigentes. As condições iniciais

representam os ativos acumulados pela empresa nodecorrer do tempo, geralmente derivados de sua re-lação com o ambiente externo imediato (ambientetransacional). A estratégia, nesse modelo, consisteem posicionar a empresa dentro do seu ambiente e,especialmente, da sua indústria. O papel reservadoà estratégia, nesse sentido, é proteger a firma da açãodas forças competitivas. Segundo Porter: �(...) Thegoal of competitive strategy for a business unit inan industry is to find a position in the industry wherethe company can best defend itself against thesecompetitive forces or can influence them in its fa-vor (...)� (Porter, 1980, p. 4).

A principal maneira de chegar a essa posição pro-tegida é construir barreiras à entrada de outras firmasna indústria em questão para impedir a erosão das mar-gens de lucratividade, o que implica, em geral, esta-belecer mecanismos de acordo tácito entre os atoreseconômicos na indústria. Dessa maneira, as indústri-as consideradas mais atraentes pelos pesquisadoresda economia industrial são as situações que se apro-ximam dos monopólios e oligopólios.

A noção de estratégia é, assim, fortemente orien-tada em direção à noção de adaptação (fit). Em pri-meiro lugar, há a noção de adaptação externa implíci-ta na lógica do posicionamento da firma na indústria.É a partir da análise objetiva de seu ambiente que afirma será capaz de identificar a posição mais favorá-vel. A escolha da estratégia correta permitirá à firmaadaptar-se à estrutura da indústria. Em segundo lu-gar, a estratégia deve ser internamente coerente, adap-tando os elementos internos da firma à sua posiçãona indústria. As atividades da firma devem, dessamaneira, ser configuradas de maneira coerente, cadauma dando suporte e complementando a outra. É essasinergia e coerência interna que tornam possível aexecução de uma estratégia bem-sucedida (Porter,1991, 1996).

Outras abordagens derivadas das idéias da orga-nização industrial surgiram recentemente na litera-tura sobre estratégia. A primeira dessas abordagensestrutura-se em torno da idéia de concorrênciaengajada (commited competition), identificando avantagem competitiva sustentável em função de de-cisões de investimento irreversíveis que sinalizamo fechamento de oportunidades de mercado ou deacesso a recursos, condicionando a tomada de ou-tras decisões. Os engajamentos estratégicos sinali-zam aos concorrentes a disposição da firma em lu-tar por um certo mercado, ainda que baixando radi-calmente sua rentabilidade, funcionando como fa-tores dissuasivos de novos entrantes potenciais(Ghemawat, 1986, 1991).

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Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

O enfoque privilegiado nos processos organizacionaispermite a criação de uma teoria estratégica maisflexível do que as visões economicistas.

Uma segunda contribuição deriva da teoria dos jo-gos aplicada à modelização do comportamento das fir-mas a partir das variáveis estruturais da indústria, ten-tando dar uma dimensão mais dinâmica à estratégia(Shapiro, 1989). A correspondência dos modelos aocomportamento real das empresas depende, no entan-to, das premissas utilizadas para a construção da es-trutura do jogo. As idéias da organização industrialtêm uma influência decisiva nesse sentido. As estru-turas do modelo devem traduzir um conjunto de pre-missas compartilhadas pelos atores, de forma que sepossa estruturar um �jogo� entre eles. Por essa razão,a teoria dos jogos foi mais bem-sucedida em explicaro comportamento de indústrias maduras e estáveis,nas quais as estratégias dosatores são simétricas e nãoexistem descontinuidades fre-qüentes na relação de forçasentre os competidores.

Porter articulou o primeiroe provavelmente o mais influ-ente �paradigma� no campo daEstratégia Empresarial, o queexplica a importante difusão de suas idéias nos últi-mos 25 anos. Porter oferece a promessa de uma ex-plicação fundada sobre uma estrutura teórica consis-tente e empiricamente verificável, capaz de prever ocomportamento das empresas em muitos casos reais.Alguns aspectos críticos, no entanto, fazem-se notar.Em primeiro lugar, os processos intra-organizacionaistêm um papel secundário nos trabalhos da escola deorganização industrial. Sendo a indústria a unidadede análise, a firma é vista apenas como um conjuntode atividades organizadas. As diferenças entre as fir-mas são reduzidas a diferenças de tamanho e posicio-namento, sem maiores considerações sobre o queacontece no interior das fronteiras organizacionais.Fortes premissas de racionalidade econômica tambémestão embutidas nessa corrente de comportamento dasfirmas. As teorias da economia industrial adotam ummodelo de racionalidade próximo ao da economianeoclássica. Os dirigentes são capazes de analisarcompleta e objetivamente todos os aspectos relevan-tes da indústria e formular estratégias otimizadas paraeles. A estratégia é, nessa perspectiva, uma escolhade otimização entre tipos gerais de combinações en-tre produtos e mercados (liderança de custos, dife-renciação e focalização).

O caráter exógeno e determinante das forças ex-ternas em relação à dinâmica interna da firma trans-forma a estratégia em um esforço contínuo de adap-tação ex post, uma série de conformações sucessivasa forças externas incontroláveis.

RECURSOS E COMPETÊNCIAS:DESCOBRINDO AS ESPECIFICIDADESDAS ORGANIZAÇÕES

O conjunto de idéias que se convencionou chamarde teoria dos recursos aparece durante os anos 80como uma alternativa à posição dominante da organi-zação industrial.

A proposição central dessa corrente é que a fon-te da vantagem competitiva se encontra primaria-mente nos recursos e nas competências desenvol-vidos e controlados pelas empresas e apenas se-cundariamente na estrutura das indústrias nas quaiselas se posicionam.

As firmas são, assim, consideradas como �feixesde recursos� (Wernerfelt, 1984) ou como conjuntosde competências e capacidades (Prahalad e Hamel,1990). Esses recursos e capacidades são vistos comoelementos raros, de imitação e substituição difícil ecustosa no quadro de uma organização particular(Barney, 1991, 1997). A idéia de recursos inclui nãoapenas recursos físicos e financeiros mas também re-cursos intangíveis (Hall, 1992) ou invisíveis (Itamie Roehl, 1987).

A origem recente da teoria dos recursos é nor-malmente associada ao trabalho de Wernerfelt(1984). No entanto, diversas contribuições teóricasmais antigas abriram caminho para a constituiçãoda teoria dos recursos. Entre essas contribuições,encontramos a obra de Philip Selznick, que, a par-tir dos seus estudos sobre a TVA e os partidosbolchevistas, foi um dos primeiros a caracterizaras organizações como entidades que constroemrecursos específicos por meio do processo de insti-tucionalização, um processo no qual a organizaçãopassa de um instrumento à materialização de umconjunto específico de valores. Selznick mostra queas organizações, por meio das escolhas estratégi-cas que fazem, adquirem um caráter individual:�(...) The formation of an institution is marked bythe making of value commitments, that is, choiceswhich fix the assumptions of policymakers as to thenature of the enterprise � its distinctive aims,methods , and ro le in the communi ty. These

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character defining choices are not made verbally;they may not even be made consciously. When suchcommitments are made, the values in question areac tua l ly bu i l t in to the soc ia l s t ruc ture ( . . . ) �(Selznick, 1957, p. 55-56).

Os trabalhos da economista Edith Penrose tam-bém exerceram uma influência decisiva na forma-ção da teoria dos recursos. Essa pesquisadora foi umadas primeiras a conceber a firma como um �feixe derecursos�, antecipando, dessa forma, um dos concei-tos básicos da teoria dos recursos. Penrose concen-trou-se sobre a questão do crescimento das empre-sas, adotando uma perspectiva que se diferenciavadaquela defendida pelos economistas neoclássicos.Para ela, a firma se definia como uma entidade ad-ministrativa e um conjunto de recursos, e não comouma função abstrata de transformação de insumosem produtos.

A idéia de recursos no lugar do conceito clássicode fatores de produção representa uma significativamudança: �(...) Une entreprise est donc quelque chosede plus qu�une unité administrative; elle est égalementun ensemble de facteurs de production, dontl�utilisation pour différents usages et dans le coursdu temps est déterminée par une décisionadministrative. Si nous considérons la fonction del�entreprise privée sous cet angle, le meilleur moyend�évaluer les dimensions d�une entreprise est detrouver une mesure des facteurs de production qu�elleutilize (...)� (Penrose, 1959/1963, p. 31).

Os processos de expansão das firmas são, dessamaneira, caracterizados tanto pelas oportunidades ex-ternas como pelas internas derivadas do conjunto derecursos da firma. A ênfase de Penrose recai sobre oslimites e as possibilidades que os recursos internoscolocam à expansão das firmas.

Esse reconhecimento da heterogeneidade impli-ca a valorização do processo de aprendizagem inter-na da organização: �( . . . ) d�apprendre à mieuxconnaître les facteurs de production avec lesquelsils travaillent, et qu�une meilleure connaissance ades chances d�augmenter la rentabi l i té e t laproductivité de leur entreprises (...) (en orientant) larecherche soit sur les caractéristiques propres de cefacteur, soi t sur les façons de combiner sescaractéristiques avec celles d�autres facteurs deproduction (...)� (Penrose, 1959/1963, p. 75).

Dessa forma, é a procura constante da utilizaçãoplena dos recursos que impede o equilíbrio das fir-mas e dos mercados. Mesmo se as condições da in-dústria e da concorrência forem estáveis, cada firma,tentando otimizar o uso do seu �feixe de recursos�,se afastaria do equilíbrio. Penrose, assim, antecipa a

descoberta de muitos temas centrais da teoria dosrecursos, como a especificidade das f irmas, aheterogeneidade dos recursos, a importância do co-nhecimento sobre eles e seus possíveis usos.

Um outro grupo de precursores da teoria dos re-cursos é composto pelos proponentes da escola dedesign estratégico (Andrews, 1980). O modelo de aná-lise SWOT (forças e fraquezas, oportunidades e ame-aças) supõe alguns dos conceitos básicos da teoria dosrecursos na medida em que a análise de forças e fra-quezas se baseia em uma análise interna (focada emrecursos e competências distintivas) e a análise deoportunidades e ameaças se baseia em uma análiseexterna (focada nas condições de concorrência e de-manda). Em geral, as forças e fraquezas de uma orga-nização são resultado: a) das forças e fraquezas dosindivíduos que compõem a organização; b) da formacomo essas capacidades individuais são integradas notrabalho coletivo e c) da qualidade da coordenaçãodos esforços de equipe (Andrews, 1980). Essa análi-se aproxima-se bastante da visão proposta pela teoriados recursos, isto é, que a competitividade de umaorganização se fundamenta essencialmente em suacapacidade de selecionar e combinar recursos adequa-dos e mutuamente complementares.

A teoria dos recursos, em sua forma atual, funda-menta-se em duas generalizações empíricas e dois pos-tulados (Foss, 1997).

As generalizações empíricas são:a) Há diferenças sistemáticas entre as firmas no to-

cante à forma com que elas controlam os recursosnecessários à implementação de suas estratégias.

b) Essas diferenças são relativamente estáveis.Os postulados são:

a) As diferenças nas dotações de recursos causam di-ferenças de performance.

b) As firmas procuram constantemente melhorar suaperformance econômica.A primeira constatação empírica, sobre as dife-

renças sistemáticas das dotações de recursos, entraem conflito com a teoria econômica tradicional, quevê as diferenças entre firmas como, na melhor dashipóteses, o resultado de diferenças particulares de-vidas ao acaso (Nelson, 1991). Além do mais, namaior parte das visões ortodoxas da firma, as dife-renças são apenas diferenças de escala, sem a consi-deração efetiva das diferenças qualitativas. A esta-bilidade das diferenças contradiz também o postula-do do equilíbrio geral do sistema econômico, quepressupõe que os mecanismos de mercado e da con-corrência tendem a anular todas as diferenças nodecorrer do tempo. A idéia de que as diferenças qua-litativas das firmas possam ser atribuídas a recursos

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Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

específicos representa também uma ruptura com asteorias focalizadas na estrutura da indústria (Mason,Bain, Porter), que atribuem a diferença entre as fir-mas a fatores externos, como seu posicionamentodentro da indústria. Duas conseqüências importan-tes derivam desse postulado: primeiramente, parajustificar as diferenças de performance, os recursosdevem ser capazes de gerar produtos ou serviços co-mercializáveis (Collis, 1996). Não é o bastante queas firmas tenham recursos distintos. O que diferen-cia os recursos, na realidade, é sua capacidade degerar valor para os clientes(Hamel, 1995) ou a sua ca-pacidade de permitir a im-plantação de estratégias di-ferenciadas (Barney, 1997).

Esse raciocínio leva auma mudança fundamentalda visão sobre a natureza daconcorrência, que, em lugarde ser uma concorrência en-tre produtos, passa a ser umaconcorrência entre recursose competências (Sanchez eHeene, 1996; Hamel, 1994).

Partindo desses postula-dos de base, os trabalhos da teoria dos recursos ex-ploram alguns temas comuns.

A vantagem competitiva pressupõe que as dota-ções de recursos das firmas sejam heterogêneas. Porcausa dessa heterogeneidade de recursos, as firmasapresentam diferenças de performance econômica,algumas apresentando baixa lucratividade e outrasapresentando lucratividade excepcionalmente alta emrelação à média do mercado.

O controle por algumas firmas de recursos capa-zes de gerar uma performance superior pressupõe quea oferta desses recursos seja limitada. A raridade des-ses recursos provém seja de razões estruturais (limi-tes físicos, naturais, legais ou temporais), seja de ra-zões ligadas ao comportamento das firmas (a sua ca-pacidade de desenvolver recursos únicos, de difícilimitação, a partir de insumos indiferenciados dispo-níveis no mercado). A restrição à oferta pode ser per-manente ou temporária. O que atrai a atenção dospesquisadores da teoria dos recursos são os recursoscuja oferta não pode ser aumentada a curto prazo. Ainelasticidade da oferta desses recursos permite a ob-tenção de lucros acima da média do mercado (ren-das ricardianas) enquanto durar a relativa raridadedos recursos e não existirem outras combinações derecursos capazes de produzir os mesmos bens ou benssubstitutos.

Para que as rendas ricardianas não sejam erodidas,é necessário que elas sejam protegidas da ação dosconcorrentes, evitando que estes tenham acesso aosmesmos recursos ou a recursos que produzam um re-sultado equivalente. Em resumo, é necessário que ascondições de heterogeneidade sejam preservadas. Doismecanismos que previnem a erosão das rendas são ana-lisados: a imitabilidade imperfeita e a substituibilidadeimperfeita (Peteraf, 1993). A imitabilidade imperfeita(imperfect imitability) dos recursos explica a dificul-dade das firmas em identificar e reproduzir os recur-

sos mais importantes dos seus concorrentes. Asubstituibilidade imperfeita diz respeito à dificuldadede substituir os recursos utilizados pelos concorrentespor outros que poderiam ter os mesmos resultados comum rendimento econômico igual ou superior. Esses doismecanismos juntos funcionam como um sistema de iso-lamento das forças da concorrência e garantem aheterogeneidade dos recursos e das rendas a eles asso-ciados (Rumelt, 1984).

Entre os fatores que tornam difícil a imitação dosconcorrentes, encontram-se os fatores naturais (geo-grafia, raridade de materiais), os mecanismos legaise institucionais (marcas, patentes, reservas de merca-do, direitos de propriedade), além de fatores econô-micos e organizacionais. Esses fatores contemplam anatureza tácita dos recursos (Reed e Defillippi, 1990),as condições históricas únicas do desenvolvimento dosrecursos e das competências (Barney, 1997; Arthur,1989), a ambigüidade causal e a complexidade dosrecursos (Reed e Defillippi, 1990; Barney, 1997), as�deseconomias de tempo� ( t ime compressiondiseconomies), as vantagens das massas de ativos eseu grau de erosão (Dierickx e Cool, 1989) e a dispo-nibilidade de substitutos para esses recursos.

O Quadro 1 apresenta algumas referências aos me-canismos de isolamento de recursos encontradas naliteratura.

A convergência entre estratégia e teoria abreespaços para que as disciplinas possam seenriquecer mutuamente, mas, por outro lado,torna o trabalho de pesquisa mais e maiscomplexo, dado o aumento das variáveisque devem ser levadas em consideração.

28 RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000

Organização, Recursos Humanos e Planejamento

A diversidade dos mecanismos de isolamento re-flete os interesses específicos e as abordagens parti-culares de um grande número de autores. Podemos,no entanto, notar que os autores que se identificamcom a teoria dos recursos se concentram sobre os fa-tores e mecanismos que impedem a imitação de re-cursos específicos à firma, ao passo que, para os au-tores que se identificam com a economia industrial,as barreiras de entrada e saída (barreiras à mobilida-de) são os principais elementos para explicar a dife-rença de performance entre as firmas.

Uma das condições necessárias para que recursosespecíficos sejam capazes de gerar rendas acima donível médio de mercado é que sua transferência deuma firma a outra seja difícil ou até impossível. Amobilidade perfeita dos recursos eliminaria as rendasexcepcionais, pois estas seriam incorporadas no sis-tema de equilíbrio geral de preços por meio do mer-cado de fatores.

Além dos fatores genéricos de produção utiliza-dos pela firma � capital, maquinário, mão-de-obra, pa-tentes � que são limitados por características físicas e

direitos de propriedade bem definidos, o valor de umagrande parte dos recursos de uma firma não é captu-rado pelos preços de mercado e é essencialmente imó-vel, devido a seu desenvolvimento ser atrelado às ca-racterísticas específicas da firma. As razões para essaimperfeição dos mecanismos de mercado encontram-se na natureza interdependente dos recursos e na de-pendência contextual das competências e do know-how das firmas.

As firmas, em geral, empregam esses recursos em�feixes� caracterizados por relações de complemen-taridade e co-especialização (Teece, 1988). A depen-dência dos outros recursos limita a mobilidade deum recurso em particular, tornando as configuraçõesindividuais de recursos muito específicas às firmasque as desenvolveram (Black e Boal, 1994). Excetua-da a aquisição da firma inteira, o mercado não dispõede mecanismos para a transferência de sistemas (ouredes) de recursos, o que justifica o argumento da não-transferência dos recursos.

A imperfeição dos mercados de fatores gera, tam-bém, a imposição de limites ex ante à concorrência.

Recursos únicos/raros e imperfeitamente móveis Wernerfelt, 1984; Barney, 1991

Talentos pessoais dos administradores Penrose, 1959/1963

Recursos não disponíveis no mercado Barney, 1991

Competências fundamentais de difícil reprodução Andrews, 1980; Hamel e Prahalad, 1994

Combinações únicas de experiências Prahalad e Bettis, 1986; Spender, 1989

Culturas organizacionais, conhecimentos tácitos Barney, 1986

Ativos invisíveis de imitação difícil Itami e Roehl, 1987

Heurísticas e processos não facilmente imitáveis Schoemaker, 1990

Economias ligadas ao tempo Dierickx e Cool, 1989

Combinação de fatores de produção Schumpeter, 1934

Capacidades gerenciais e de trabalho em equipe Nelson e Winter, 1982

Dependência de trajeto (path dependency) Arthur, 1989; Barney, 1991

Ambigüidade causal e racionalidade limitada Simon, 1987; Lippman e Rumelt, 1982

Ativos idiossincráticos Williamson, 1989

Ativos co-especializados (interconexão elevada) Teece, 1988, 1994, 1997; Dierickx e Cool, 1989

Informação assimétrica, conhecimentos específicos Barney, 1986; Winter, 1988

Irreversibilidade, engajamento de recursos Ghemawat, 1991

Mercados imperfeitos de fatores Barney, 1986; Rumelt, 1987

Barreiras de saída e �switching costs� Porter, 1980

MECANISMO REFERÊNCIA

Quadro 1 � Mecanismos de isolamento

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Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

Se os preços esperados dos recursos estratégicos sãohomogêneos e conhecidos (como suposto pela teoriamicroeconômica neoclássica) e se esses recursos po-dem ser transferidos de uma firma a outra, então, elesseriam avaliados como um fator de produção da mes-ma forma que os outros insumos, e a rentabilidademédia do conjunto capital/recursos tenderia a se igua-lar à média de mercado. A existência de mercados im-perfeitos de recursos é, assim, uma condição neces-sária para a existência de vantagem competitiva(Barney, 1986).

Os mercados de recursos não são apenas imperfei-tos, eles são também incompletos: uma grande partedos recursos não é negociável no mercado. Não po-dendo ser vendidos ou comprados, esses recursos de-vem forçosamente ser construídos no interior da fir-ma. A sua acumulação interna garante, enfim, o cará-ter específico do conjunto de recursos de uma firma(Dierickx e Cool, 1989).

São, por fim, as falhas do mercado de recursos �sua imperfeição e sua incompletude � que tornam pos-sível a realização das rendas ricardianas e garantem acontinuidade da heterogeneidade dos recursos.

A teoria dos recursos coloca em evidência as dife-renças entre as firmas em função das diversidadesentre suas bases de recursos e competências. Essasdiferenças são desenvolvidas por meio das diversida-des de escolhas e compromissos dos dirigentes dasfirmas (Selznick, 1957). Essas decisões não são to-madas por acaso, elas interagem fortemente com asdecisões passadas condicionando as decisões presen-tes. A história é, dessa maneira, extremamente im-portante, engendrando irreversibilidades e impondorestrições (Arthur, 1989). O passado e o futuro estão,assim, intimamente ligados: �(...) not only may astrategic change lead to the need for a change inorganizational structure (...), but the past, embeddedin the current organizational structure and systems,itself determines the strategic opportunities of thepresent (...)� (Nanda, 1996).

Os trabalhos pioneiros de Penrose e da escola dedesign estratégico já haviam destacado a importânciaestratégica dos fatores internos à firma. Nessa visão,o papel da firma não é apenas a alocação de recursosescassos entre finalidades alternativas (Doz, 1996).Levando em conta a importância dos recursos para aperformance competitiva, a gestão dos processos deacumulação, coordenação e difusão dos recursos pas-sa a ser a função primordial da administração de em-presas (Prahalad e Hamel, 1990).

A teoria dos recursos inverte, assim, o sentido daanálise estratégica clássica, fundada em primeiro lu-gar na primazia do mercado (oportunidades e amea-

ças na análise SWOT), para adotar recursos e compe-tências (forças e fraquezas) como sendo a origem dasestratégias bem-sucedidas.

A idéia de que os recursos devem guiar a estraté-gia mais fortemente que as restrições do ambienteexterno (estrutura da indústria) está também no cen-tro de diversas teorias sobre a diversificação das em-presas. Nessas teorias, é o agrupamento de diversosconjuntos produto/mercado em torno de competênci-as únicas que explica os esforços bem-sucedidos dediversificação (Barney, 1997; Collis, 1991; Grant,1991).

Barney (1986) observa, ainda, que rendas excep-cionais não podem ser concretizadas a partir da aná-lise de oportunidades externas, pois as informações eas técnicas de análise dessas oportunidades estão aces-síveis a todos os concorrentes. Por outro lado, as in-formações sobre os recursos da firma permanecemcomo suas propriedades exclusivas, protegidas pe-los mecanismos de isolamento. Dessa forma, é aassimetria de informação relativa ao potencial dos re-cursos e das competências específicas da firma quedeve guiar a estratégia, pois é a única fonte possívelde vantagem competitiva.

Um balanço preliminar das contribuições da teo-ria dos recursos ancoradas na disciplina econômicamostra certos limites dessa abordagem. Foss (1997)identifica três limites maiores à teoria dos recursos:a) a ênfase na noção de equilíbrio; b) a ênfase emrecursos discretos e c) o papel secundário atribuídoao ambiente.

A teoria dos recursos permanece, em geral, mui-to ligada às idéias neoclássicas de racionalidade, decomportamento econômico e de estabilidade e previ-sibilidade dos mercados (Foss, 1996, 1997). Esse focona estabilidade é reconhecido por Barney (1997, p.171): �(...) The resource-based view of the firm canhelp managers choose strategies to gain sustainedcompetitive advantage only as long as the rules of thegame in an industry remain relatively fixed. But, aftera Schumpeterian revolution, what were weaknessesmay become strengths and what were strengths maybecome weaknesses. (...) Thus, although sustainedcompetitive advantages will not last forever, they arenot competed away through imitation but can bedisplaced through revolutionary environmentalchanges (...).�

No entanto, quando tratamos de ambientes comalto grau de incerteza, ambigüidade e complexida-de, como indústrias emergentes, fragmentadas ou emvias de internacionalização, as mudanças de contex-to passam a ser ameaças concretas à sobrevivênciadas firmas. Nesse caso, temos situações de concor-

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Organização, Recursos Humanos e Planejamento

rência schumpeteriana, que modificam a estrutura eco-nômica de toda a indústria, por meio do processo dedestruição criativa, da emergência de novas estraté-gias, de novas formas organizacionais e de novas com-petências (Schumpeter, 1982).

Um segundo limite aos trabalhos da teoria dos re-cursos, especialmente àqueles de natureza empírica,é o seu foco sobre recursos discretos, utilizando ummodo de análise estático e ex post (Levinthal, 1995;Grant, 1991). Na maioria das vezes, por razõesmetodológicas, uma grande parte dos pesquisadoresda teoria dos recursos se focaliza na existência ou nãode recursos individuais em certas situações e em suasconseqüências em termos de performance. Essa ênfa-se em recursos individuais pode, no entanto, revelar-se problemática, pois o caráter específico dos recur-sos encontra-se freqüentemente na sua configuração,isto é, no arranjo relativo entre vários recursos inter-dependentes (Penrose, 1959/1963).

Finalmente, ao privilegiar a determinação da es-tratégia �de dentro para fora� (inside-out), as aborda-gens centradas na teoria dos recursos descartam umpapel predominante que pode ser atribuído às condi-ções ambientais. Essa posição pode ser consideradaum limite à teoria dos recursos: �(...) An error ofomission that the resource perspective seems to bemaking is the obverse of some of the same mistakesit accuses the competitive strategy approach of making� it seems to be ascribing preeminence to the inside-out perspective of strategy. Barney, for instance,asserted that the analysis of a firm�s skills andcapabilities will be of greater strategic value than theanalysis of its competitive environment. However, asWernerfelt (1984), Collis (1991) and Ghemawat(1991) pointed out, strategic analysis must recognizethe duality between the resource-based and theproduct-based perspectives of the firm (...)� (Nanda,1996, p. 103).

PROCESSOS DE MERCADO: FOCALIZANDOMUDANÇA, INOVAÇÃO E DINÂMICADA CONCORRÊNCIA

Um importante grupo de contribuições às teoriassobre a vantagem competitiva concentra-se na dinâ-mica da empresa, dos mercados e da concorrência,enfatizando mais os processos de mudança e inova-ção do que as estruturas das indústrias (Porter,1980) ou os arranjos estáveis de recursos. As origensdesse movimento remontam aos trabalhos, em Viena,de Carl Menger, um dos fundadores da escola aus-tríaca de economia, que inclui outros economistasimportantes, como Von Mises, Hayek, Kirzner e

Schumpeter. As contribuições dos teóricos austríacospodem ser organizadas em quatro temas principais:a) os processos de mercado, b) o papel do empreen-dedor, c) a heterogeneidade das firmas e, finalmente,d) um conjunto de fatores não observáveis.

O papel do mercado na maior parte da literaturamicroeconômica neoclássica é o de um mecanismoequalizador, responsável pela redução de diferençasde rentabilidade entre as várias atividades econômi-cas possíveis. O mercado é a força niveladora que co-ordena as ações dos agentes econômicos individuaispermitindo o atingimento do equilíbrio econômico pormeio do mecanismo de preços como alocador univer-sal de recursos. Os fenômenos econômicos que se des-viam do equilíbrio podem ser produtos de acidentestemporários, corrigíveis pela ação livre do mecanis-mo de preços, que dirige a alocação de recursos, ga-rantindo o equilíbrio geral do sistema econômico.

Constatando que a mudança, a inovação, osurgimento de novos concorrentes, os fenômenos derendimento crescente e os resultados financeiros dis-crepantes da média do mercado são fenômenos co-muns, alguns pesquisadores em economia partem embusca de um quadro conceitual capaz de explicar es-ses fenômenos não como aberrações de um modelode equilíbrio, mas como ocorrências esperadas emum modelo que gera e preserva diferenças deperformance. Para a escola austríaca, o mercado, lon-ge de ser caracterizado pelo equilíbrio, é um proces-so de descoberta interativa que mobiliza informaçõesdivergentes e conhecimentos dispersos. As firmasobtêm lucros por meio da descoberta de oportuni-dades e da mobilização pioneira de recursos opera-da pelos empreendedores. Estes últimos, motivadospela perspectiva de lucros excepcionais, procuramsempre inovar, gerando novos arranjos econômicose, conseqüentemente, causando o desequilíbrio domercado. Tendo em vista que os concorrentes pro-curam imitar e suplantar os inovadores introduzin-do outras inovações, o desequilíbrio do mercadopassa a ser um estado permanente, e não um fenô-meno transitório.

Kirzner descreve os processos de mercado desta-cando quatro aspectos fundamentais:a) Competição: o que mantém os processos de mer-

cado é a competição, não a concorrência perfeitaem termos de ajustes de preços e quantidades, masa competição entre firmas rivais que procuram au-mentar os seus lucros oferecendo melhores pro-dutos e serviços que aqueles existentes. A condi-ção necessária para manter essa competição nãoé a existência de um grande número de rivais, massim a liberdade de fluxos de capitais, associada à

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Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

inexistência de barreiras de entrada significati-vas nas indústrias.

b) Conhecimento e descoberta: segundo Hayek, o pro-cesso competitivo é caracterizado por um proces-so interativo de descoberta, em que novos conhe-cimentos são produzidos. Como os mercados po-dem assimilar e transmitir informações (preços,quantidades, recursos) somente sobre as práticascorrentes, cabe ao empreendedor a tarefa de des-cobrir novas oportunidades de aplicação e gerarconhecimento relativo a essas oportunidades, co-nhecimento esse que alimentará o mercado e o pro-cesso de competição. Segundo Kirzner (1985, p.131): �(...) The market, in other words, is notmerely a process of search for information of theneed of which men had previously been aware;it is a discovery procedure that tends to correctignorance where the discoverers themselves weretotally unaware that they indeed were ignorant(...).�

c) Incentivos e recompensas: as noções de lucro nateoria neoclássica e na escola austríaca não são asmesmas. Na versão ortodoxa, o lucro é o resultadoda otimização do uso dos fatores de produção emoportunidades de aplicação conhecidas, dadas pelalivre circulação de informação no mercado. Para aescola austríaca, lucros são resultantes da desco-berta de novas oportunidades de produção e da cri-ação de novas combinações de fatores de produ-ção. A primeira noção de lucro tende a se confun-dir com o custo de oportunidade do capital, ao pas-so que a segunda representa as rendas do empre-endedor, obtidas por meio da descoberta de novasfronteiras de produtividade e do estabelecimentode situações de monopólio temporário. �(...) theavailability of pure entrepreneurial profit has thefunction not of outweighting the cost associatedwith withdrawing inputs from alternative uses, butof alerting decision makers to the present error ofcommitting factors to uses less valuable to themarkets than others waiting to be served (...)�(Kirzner, 1985, p. 133).

d) Os preços de mercado: em vez de se aproximaremdos preços de equilíbrio, para a escola austríaca,os preços traduzem o valor relativo das descober-tas feitas pelos empreendedores. Eles sinalizam,assim, oportunidades de lucros excepcionais, ouseja, de estabelecimento de rendas de empreendi-mento (Rumelt, 1987), que, na prática, correspon-dem a monopólios transitórios. A descoberta e ex-ploração dessas oportunidades de pioneirismo é omotor dos processos de mercado como geração deconhecimento.É nos trabalhos de Schumpeter que o empreende-

dor adquire sua expressão mais plena. O empreende-dor é, segundo esse autor, o responsável pela introdu-ção de inovações capazes de melhor satisfazer as de-mandas do mercado. Segundo ele, o desenvolvimen-to econômico ocorre quando as firmas desenvolveminovações perturbando o equilíbrio de forças compe-titivas anteriormente prevalecentes. Para Schumpeter,é esse processo de �destruição criadora�, a renova-ção constante de produtos, processos e formas orga-nizacionais, que permite o estabelecimento temporá-rio de rendas do empreendedor e que impede o mer-cado de manter uma posição de equilíbrio.

O papel dos empreendedores é descobrir novasoportunidades de produção, isto é, métodos de pro-dução mais eficientes e produtos mais eficazes emtermos de resultados finais para os consumidores.Isso implica a utilização simultânea de dois tipos deconhecimento: a) métodos científicos e mobilizaçãode conhecimentos explícitos e b) informações cir-cunstanciais e contextuais, comumente associadas aformas tácitas de conhecimento das especificidadeslocais.

Cabe lembrar, ainda, que as funções do empreen-dedor não estão apenas ligadas à inovação radical mastambém à rápida capacidade de imitação dos concor-rentes, uma vez que ambos os comportamentos con-tribuem para a maior eficiência do sistema econômi-co como um todo.

A escola austríaca considera a firma como uma en-tidade na qual a história e as características individu-

OBJETIVO ESTRATÉGICO

MERCADO

MODELO DE RENTABILIDADE

FATORES DE SUCESSO

ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL ESCOLA AUSTRÍACA

Quadro 2 � Diferenças entre a escola de organização industrial e a escola austríaca

Restrição de forças competitivas

Equilíbrio

Regularidades empíricas

Variáveis observáveis

Descoberta empreendedora

Desequilíbrio

Diversidade

Variáveis inobserváveis

Fonte: Jacobson (1992, p. 7).

32 RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000

Organização, Recursos Humanos e Planejamento

ais tornam muito difícil a imitação perfeita pelos con-correntes. A natureza da competição entre firmas su-gere que nenhuma estratégia que possa ser livremen-te replicada pode assegurar taxas de rentabilidadeacima da média do mercado. Nessas condições, paraque uma firma possa manter uma rentabilidade ele-vada, ela deve basear-se em estratégias de inovaçãopermanente, derivadas de elementos de difícil imita-ção por parte dos concorrentes. Para atingir esse ob-jetivo, os teóricos da escola austríaca ressaltam a im-portância dos �fatores inobserváveis�. Esses fatoresde natureza subjetiva seriam justamente aqueles ca-pazes de escapar à dinâmica da imitação do mercado,sendo, assim, responsáveis pelo estabelecimento davantagem competitiva.

Essa proposição fundamenta-se na constatação deque certas empresas conseguem sustentar umaperformance superior apesar dos contínuos esforçosde imitação dos concorrentes no tocante às suas es-tratégias, produtos, métodos de produção e esquemasde distribuição. A diferença de performance é, então,atribuída a fatores inobserváveis, invisíveis, que seescondem por trás dos fatores objet ivamentemensuráveis dos processos de produção.

As premissas dos pesquisadores da escola austría-ca em relação à vantagem competitiva são fundamen-talmente distintas das adotadas pelos teóricos da or-ganização industrial. O Quadro 2 compara essas duasabordagens.

Alguns pesquisadores vinculados à escola austría-ca colocam em questão a estrutura central do modeloda organização industrial. Para Hill e Deeds, o mode-lo da análise estrutural da indústria identifica errone-amente a estrutura da indústria como o fator causalmais importante na determinação da natureza da con-corrência e dos níveis de rentabilidade (Hill e Deeds,1996). Para esses autores, a natureza da competiçãoentre as firmas é independente da estrutura da indús-tria, sendo um dado característico do sistema capita-lista. Por serem processos independentes, são a dinâ-mica competitiva e a descoberta das inovações queinfluenciam os níveis de performance econômica dasfirmas. No modelo proposto por esses autores, a es-

trutura da indústria deve ser vista como o resultadoendógeno das diferenças de performance das firmasno decorrer do tempo em vez de ser considerada umfator determinante da performance destas últimas.

O MODELO DE CAPACIDADES DINÂMICAS(DYNAMIC CAPABILITIES): INOVAÇÃOE RECONFIGURAÇÕES

Um segundo grupo de contribuições elabora asidéias colocadas nas teorias dos processos de mer-cado e na teoria dos recursos tentando formular umateoria da formação das competências organizacio-nais em ambientes de alta complexidade e mudan-ça constante.

Em primeiro lugar, essa síntese te-órica pretende acentuar os aspectosde co-evolução entre ambientesconcorrenciais crescentemente comple-xos e as capacidades e os recursos dasfirmas (Amit e Schoemaker, 1993;Gorman et al., 1996; Teece et al., 1997).Por outro lado, essa síntese pretendeestudar mais detalhadamente os meca-nismos e processos organizacionais ca-

pazes de explicar a acumulação e a configuração dasbases de recursos das firmas (Dierickx e Cool, 1989;Teece et al., 1997; Sanchez e Heene, 1996).

Partindo da concepção geral da firma como umconjunto de recursos, esse modelo procura estudar asrelações entre os processos de decisão, as ações em-preendidas e as suas conseqüências gerenciais, emtermos da formação, conservação e destruição de re-cursos.

Hogarth e Michaud (1991) identificam quatro fon-tes diferentes da vantagem competitiva das firmas,cada uma fundada sobre tipos específicos de recur-sos:a) O acesso privilegiado a recursos únicos, em que

as rendas são derivadas da propriedade ou do aces-so a recursos raros e valiosos. Concessões, paten-tes ou localizações geográficas privilegiadas sãoexemplos de recursos desse tipo. Nesse caso, asrendas derivam diretamente dos direitos de pro-priedade ou do acesso aos recursos. É o caso dasrendas ricardianas por excelência.

b) A capacidade de transformação dos fatores de pro-dução em produtos vendáveis no mercado. Nessecaso, a vantagem competitiva deriva de capacida-des ou processos distintivos acumulados no decor-rer do tempo. A vantagem competitiva se exprimena capacidade de empregar métodos operacionaismais eficientes que os empregados pelas firmas con-

É importante compreender e influenciar osprocessos de mudança organizacional,estabelecendo uma interface entre a estratégiae o comportamento organizacional.

RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000 33

Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

correntes. No entanto, esses recursos e essas capa-cidades são fixos, e a firma não é capaz de modificá-los, embora a vantagem competitiva derive deles.

c) A alavancagem de recursos e capacidades. Nesseestágio, a firma é capaz de agir deliberadamentepara renovar seu estoque de recur-sos e competências, aperfeiçoan-do e recombinando os recursosexistentes com o objetivo de cri-ar novos produtos e mercados.

d) A regeneração de recursos e capa-cidades. Nesse último estágio, asfirmas devem ser capaz de criar umfluxo contínuo de inovações gra-ças ao desenvolvimento de compe-tências de ordem superior, ligadasà própria capacidade de gerar no-vas competências e recursos. Tra-ta-se, nesse caso, de construir umsistema capaz de gerar uma sériecontinuada de inovações a partirda reconfiguração repetida da base de recursos dafirma.Os primeiros trabalhos na linha da teoria dos re-

cursos concentraram-se, como analisamos anterior-mente, em recursos discretos estáveis e cuja identifi-cação era relativamente simples e direta: os recursosprevistos nos itens �a� e �b� da classificação deHogarth e Michaud. Mesmo que esses recursos sejamcapazes de explicar a vantagem competitiva das fir-mas no longo prazo, é preciso levar em consideração,segundo essa corrente, os itens �c� e �d� da classifi-cação anterior. As capacidades e os recursos previs-tos nesse tipo de recursos são essencialmente dinâ-micos e pautam-se por um processo de renovação con-tínua: �(...) The term �dynamic� refers to the capacityto renew competences so as to achieve congruencewith the changing business environment (...) The term�capabilities� emphasizes the key role of strategicmanagement in appropriately adapting, integrating,and reconfiguring internal and external organizationalskills, resources, and functional competences to matchthe requirements of a changing environment (...)�(Teece et al., 1997, p. 515).

A dependência de recursos e capacidades estáti-cas pode, então, gerar riscos para as firmas, como osproblemas advindos da superespecialização (Miller,1992), e rigidez (core rigidities) em suas competên-cias e recursos (Leonard-Barton, 1992, 1995).

Nos trabalhos da teoria dos recursos, os recursos eas capacidades são tratados essencialmente como va-riáveis de estoque, como dados mais ou menos fixos,o que é uma condição crítica para a realização das

rendas ricardianas. Na abordagem das capacidades di-nâmicas, mais importante que o estoque atual de re-cursos é a capacidade de acumular e combinar novosrecursos em novas configurações capazes de gerar fon-tes adicionais de rendas.

A posição atual dos recursos é, dessa forma, o re-sultado das ações e decisões (deliberadas ou aciden-tais) tomadas pelos integrantes da firma no exercíciode suas tarefas e rotinas cotidianas. Por essa razão,para poder compreender o sentido da acumulação derecursos, é necessário entender as rotinas e os pro-cessos organizacionais. O ponto central dessa análiseé justamente o conjunto de processos administrativos(rotinas, atividades, culturas, prioridades) que influ-enciam a produção de ativos tangíveis e intangíveisnas firmas. Os processos aqui referidos são: �(...) theway things are done in the firm, or what might bereferred to as its routines, or patterns, of currentpractice and learning (...)� (Teece et al., 1997, p. 518).

Esses processos administrativos e organizacionaiscumprem três funções básicas:a) Uma função de coordenação/integração (conceito

estático): visando a coordenar o uso interno e ex-terno dos recursos da firma.

b) Uma função de aprendizagem (conceito dinâmi-co): focalizando os processos pelos quais a repeti-ção da experimentação possibilita a utilização maiseficaz dos recursos.

c) Uma função de reconfiguração (conceitotransformacional): dedicada aos mecanismos de an-tecipação da necessidade de novas competências eaos métodos de reconfiguração dos recursos que per-mitirão a continuidade de performances superiores.Os autores que trabalham dentro da corrente das

capacidades dinâmicas tentam construir um edifícioteórico com base em premissas mais realistas sobreas relações entre as estruturas cognitivas dos agentes

Com a alteração das condições ambientais,mudam também os recursos essenciais paragarantir a sobrevivência e a performanceeconômica diferenciada das firmas. É a antecipaçãodessas transformações nos portfólios de recursosque garante às empresas a possibilidade decontinuação da vantagem competitiva.

34 RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000

Organização, Recursos Humanos e Planejamento

econômicos e as decisões estratégicas das firmas(Prahalad e Bettis, 1986; Barr, 1992; Gorman et al.,1996). Dessa maneira, a noção de capacidades dinâ-micas: �(...) extends the resource-based view of thefirm as a collection of asset stocks and flows (...) byexplicitly incorporating (1) managerial cognitionthat affects what kinds of asset stocks and flowsthe f i rm wi l l t ry to ach ieve , (2 ) managers �coordination ability in deploying resources andmanaging asset flows, and (3) managers� abilitiesto manage knowledge in processes for building andleveraging competences (...)� (Sanchez e Heene,1996, p. 15).

Em resumo, o enfoque privilegiado nos processosorganizacionais permite a criação de uma teoria es-tratégica mais flexível do que as visões economicistasnas quais os recursos são vistos como elementos es-táveis, identificados ex post.

Os desenvolvimentos teóricos que levaram a umateoria dinâmica das capacidades retomam a análise dosfatores ambientais, que, na teoria dos recursos, fica-ram em segundo plano como um dos fatores determi-nantes no processo de decisão estratégica. A concor-rência entre as firmas, tradicionalmente concentradana análise de mercados e produtos, passa a ser analisa-da em termos de recursos únicos ou raros que derivamde processos organizacionais específicos às firmas. Aconcorrência fundada sobre as competências das fir-mas (competence-based competition) sobrepõe-se ànoção tradicional de concorrências entre produtos eserviços (Prahalad e Hamel, 1990; Stalk et al., 1992).

�(...) The �competitive locus� of competence-basedcompetition is a contest for acquisition of skills.Competition in product markets is �merely a superfi-cial expression� of the underlying competition overcompetencies (...)� (Rumelt, 1994).

Essa abertura para o ambiente permite a conside-ração da evolução dinâmica das dotações de recursosdas firmas sem prejuízo à importância dos estoquesde recursos específicos de cada firma.

As mudanças nas condições ambientais freqüen-temente exigem das empresas uma regeneração dasua base de recursos e competências. Com a altera-ção das condições ambientais, mudam também osrecursos essenciais para garantir a sobrevivência e aperformance econômica diferenciada das firmas. Éa antecipação dessas transformações nos portfóliosde recursos que garante às empresas a possibilidadede continuação da vantagem competitiva (Amit eSchoemaker, 1993).

Finalmente, os autores que examinam os ambienteshipercompetitivos e turbulentos destacaram a necessi-dade de continuamente redefinir as bases de recursos

das firmas, reforçando suas competências (competencestrengthening) a fim de desenvolver recursos estraté-gicos mais amplos (meta-recursos) capazes de permi-tir a rápida modificação da base de recursos da firma(Chakravarthy, 1997; D�Aveni e Gunther, 1994).

A teoria das capacidades dinâmicas aceita as pre-missas de que: a) nem todas as competências são igual-mente importantes para a vantagem competitiva e b)uma dada firma só pode se destacar em um númerorelativamente restrito de competências. Essas com-petências são, assim, definidas como competênciascentrais (core competencies) : �( . . . ) (1) corecompetences are competences that �span� acrossbusinesses and products within a corporation. Theysupport several products or businesses. (2)Competences have �temporal dominance� overproducts in that they evolve more slowly than theproducts they make possible. (3) Competences arisethrough the �collective learning� of the firm, especiallythrough the coordination of diverse production skillsand the integration of mult iple streams oftechnologies. (...)� (Rumelt, 1994).

Os processos de aquisição e estruturação do co-nhecimento em nível organizacional estão no centrodo processo de configuração de recursos (Hendersone Clark, 1990; Leonard-Barton, 1992) e, por essa ra-zão, a aprendizagem organizacional e os conhecimen-tos tácitos têm um papel determinante na identifica-ção e no desenvolvimento das competências centrais.

A importância do conhecimento da informação eda tecnologia para a performance das empresas temsido amplamente reconhecida por diversas correntesteóricas. Para os estudiosos da teoria dos recursos epara os que defendem uma visão dinâmica das capa-cidades organizacionais, os recursos e as capacida-des da firma são resultado de um processo de apren-dizagem por experiência (learning by doing), queconstitui o repertório de ações coletivas disponíveispara as firmas. As competências centrais traduzem,dessa maneira, os conhecimentos tácitos da firma ob-tidos com a aplicação de seus recursos específicos(Winter, 1987; Spender e Grant, 1996).

Assim, as firmas são descritas como locais de in-tegração de conhecimento (Grant, 1996), de criaçãode conhecimento (Nonaka, 1994) ou de proteção doconhecimento (Liebeskind, 1996), o que coloca aospesquisadores desafios metodológicos importantes(Godfrey e Hill, 1995).

A corrente de capacidades dinâmicas reconheceas restrições impostas pela base atual de recursos epela trajetória histórica da firma. No entanto, dianteda incerteza, da instabilidade do contexto concor-rencial e da inevitabilidade, em longo prazo, da de-

RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000 35

Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

gradação da base de recursos, a corrente de capaci-dades dinâmicas procura fornecer uma explicação decomo as firmas podem agir para reconfigurar,proativa ou reativamente, a sua base de recursos.

Unidade de

análise

Concepção da

firma

Natureza da

vantagem

competitiva

Fonte de

vantagem

competitiva

Estratégia

Fundadores

Autores

representativos

DIMENSÕES ORGANIZAÇÃO

INDUSTRIAL

Quadro 3 � Comparação das teorias sobre vantagem competitiva

Indústria

Função técnica de

produção

Conjunto de atividades

complementares

Sustentável, fundada

no exercício de

situações de quase-

monopólio

Atratividade e

posicionamento da

firma na indústria

Orientada para o

conteúdo

Abordagem racional

�de fora para dentro�

(outside-in)

Procura de indústrias

atrativas, busca do

posicionamento ideal

na indústria e defesa

dessa posição pela

construção de barreiras

à concorrência

E. Mason

J. S. Bain

M. Porter

P. Ghemawat

C. Shapiro

Estoques de recursos

e competências

específicas

Conjunto estável de

recursos,

competências e

capacidades

Sustentável, fundada

sobre recursos

estáveis

Rendas ricardianas

Acesso privilegiado a

recursos únicos de

difícil imitação

Orientada para o

conteúdo

Abordagem racional

�de dentro para fora�

(inside-out)

Desenvolvimento e

exploração de

competências

existentes

P. Selznick

E. Penrose

K. Andrews

R. Rumelt

B. Wernerfelt

J. B. Barney

M. Peteraf

RECURSOS PROCESSOS DE

MERCADO

CAPACIDADES

DINÂMICAS

Dinâmica do mercado,

ciclos de criação e

destruição, inovação

imitação e seleção

Empreendedora:

produção de

inovações, criação de

conhecimento

Transitória e cíclica,

fundada em rendas de

empreendedor

Inovação e

�destruição criadora�

Orientada para o

processo

Procura contínua de

oportunidades de

inovação

Esforços de imitação

das inovações bem-

sucedidas

L. Mises

F. Hayek

J. Schumpeter

R. Jacobson

R. D�Aveni

Processos e rotinas

organizacionais; fluxos de

recursos e competências

específicas

Conjunto evolutivo de

recursos, competências e

capacidades

Sustentável, fundada sobre

recursos em evolução

Rendas ricardianas e de

empreendedor

Rotinas e processos

organizacionais capazes

de regenerar a base de

recursos da firma

Orientada para o processo

e o conteúdo

Interação entre

competências e

oportunidades do

mercado

Reconfiguração de

competências e know-how

Racionalidade limitada,

incerteza, complexidade e

conflito

D. Teece

R. Nelson

S. Winter

D. Teece, G. Pisano e A.

Shuen

C. K. Prahalad e G. Hamel

I. Dierickx e K. Cool

R. Amit e P. Shoemaker

R. Sanchez, A. Heene e H.

Thomas

Dessa forma: �(...) indeed, if control over scarceresources is the source of economic profits, then itfollows that such issues as skill acquisition, themanagement of knowledge and know-how, and

36 RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000

Organização, Recursos Humanos e Planejamento

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learning become fundamental strategic issues (...)�(Teece et al., 1997, p. 514).

OS MODELOS EXPLICATIVOS DA VANTAGEMCOMPETITIVA: UMA SÍNTESE COMPARATIVA

Este artigo identificou quatro grandes modelos ex-plicativos da vantagem competitiva, cada um delescom suas premissas variáveis e relações explicativasfocalizadas em níveis de análise distintos, conformedemonstrado no Quadro 3.

A comparação dessas quatro abordagens teóricaspermite-nos retornar à questão inicial deste artigo, aconvergência entre teoria organizacional e análise es-tratégica. Podemos observar que se, nas teorias da or-ganização industrial, dos recursos e dos processos de

mercado, a estratégia permanece um tópico relativa-mente distante da análise organizacional, quando abor-damos a questão da vantagem competitiva sob o pontode vista da teoria das capacidades dinâmicas, abre-seuma significativa possibilidade de convergência entrea estratégia e a teoria. Essa convergência propicia es-paços para que as disciplinas possam se enriquecer mu-tuamente, mas, por outro lado, torna o trabalho de pes-quisa mais e mais complexo, dado o aumento das vari-áveis que devem ser levadas em consideração.

O que determinará a viabilidade em longo prazodeste trabalho interdisciplinar será justamente a suacapacidade de explicar os diversos aspectos das rea-lidades sociais e econômicas. Nesse sentido, o que aanálise interdisciplinar perde em simplicidade ela ga-nha em poder explicativo. m

RAE � v. 40 � n. 4 � Out./Dez. 2000 37

Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

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