Da criação, organização e escrituração de textos

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Para o desenvolvimento de um texto alguns procedimentos são necessários. E pode-se fazer

uso de algumas técnicas, servindo-se de um método e etapas para processamento e produção de

ideias. Dentre outras, trataremos de algumas técnicas para facilitar o processo da produção de

textos.

Caso você não tenha ainda um assunto específico para escrever, poderá fazer uso de algumas

técnicas para produzir ideias. Existem métodos para criar ideias, como, por exemplo, a técnica

do braimstorning, ou a técnica da associação livre de ideias, convertidas em palavras; ou a

escrita livre de livre acesso, sem qualquer interrupção, à fluidez da escrita (bem poderia ser da

expressão oral também), deixando-se guiar pelo desejo de preencher um papel sem qualquer

tentativa de autocorreção, deixando-se guiar pelo fluxo e associação livres de ideias que lhe

veem a cabeça. Agindo assim, seu método consiste em associar tópicos heuristicamente. Assim

se a referência dada for MAR, você poderá associar, por exemplo, água, mergulho, prancha,

surf, sol, calor, alegria, viagem, comportamentos efusivos, férias, Rio de janeiro, Copa do

Mundo, futebol (a depender das circunstâncias...) etc etc etc. O trabalho com seleção de ideias

por similitude ou por contiguidade é um exercício para a abertura e ampliação de visão de

mundo, para relacionar e correlacionar campos lexicais e campos semânticos, operando com a

relação transitiva e sua operatividade functiva entre elementos<>conjuntos, entre partes<>todo.

Em seguida, você poderá de sua lista/inventário (estocagem de itens) selecionar um tópico que

você se sinta em condições de fazer um desenvolvimento de conteúdo. Selecione e organize o

seu campo lexical (estocagem de itens) e dê foco em seu campo semântico (relação de sentido

entre os itens da estocagem), de modo que, ao final da seleção, você obtenha uma rede léxico-

semântica favorável a ser ainda mais desenvolvida, seja em tópicos e em subtópicos.

O próximo passo é selecionar para quem você escreve: a sua audiência (imagine o seu leitor, seu

vocabulário, nível de conhecimento, estilo, crença e valores etc) para que, de posse dessas

informações, você possa selecionar qual é o tipo de abordagem a ser feita por você.

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Lançar provocações em função das suas ideias, ou questionamento como “ e daí?”. Observe:

você escolheu um tópico. Pergunte-se sempre “e daí”? “Para quê”? Essas questões-balizas é que

vão dar sentido e relevância ao assunto que você vai desenvolver e ao modo de organização de

seu texto e à produção de seu discurso. Por exemplo: se você tiver de escrever sobre o Rio de

Janeiro, perguntaria a si mesmo “escrever o quê”? Tendo respondido, pergunte-se “e daí” ? E de

pergunta em pergunta, suas respostas vão trazendo ingredientes para um interessante

desenvolvimento e progressão temática.

Continuar com as provocações, diante do que escreve, pergunte-se “isso é relevante?” Continue

a indagar-se para acionar buscas e respostas até as últimas consequências, servindo-se de outras

referências, inclusive, e tanto mais, de pesquisas físicas e online. Tome cuidado, entretanto, em

selecionar das informações a procedência e sua veracidade.

Selecionar o objetivo e o gênero de sua composição. Qual é a finalidade de sua produção

textual? A que gênero pertence? Sua intenção é apenas descrever, relatar ou é contar, ou ainda é

persuadir ou argumentar? Seja qual o tipo de texto (descrição, narração, dissertação ou

argumentação), você deverá obedecer a uma lógica relacionada ao seu modo de organização

textual e discursiva.

Sua abordagem ou o planeamento de seu texto poderá ser uma abordagem histórica ou

cronológica, enumerativa, comparativa, ilustrativa, ou poderá ainda narrar, ou persuadir ou

argumentar, e deverá, então, escolher o modo de organização de seu discurso... Por exemplo,

caso você queira fazer uma abordagem espacial de algum lugar, você poderá começar por

apresentar a localização, a situação geográfica, elementos visuais de situação e de contexto,

apresentado imagens, tabelas, se for o caso, apresentando informações vitais ao seu leitor para

compor um quadro referencial adequado.

Considerar a sua audiência. Há três modos de se persuadir uma audiência: logos (fazer apelo à

razão), pathos (fazer apelo às emoções e às paixões de seu leitor/ouvinte) e o ethos (apelo à

credibilidade do falante, à imagem individual ou coletiva do leitor), porque a seleção de

materiais deve levar em conta qual é o apelo em que você deseja focar. Assim, caso você deseje

fazer um pelo emocional, as motivações serão diferentes de um apelo à razão em que exemplos

e informações objetivadas em referências e construções de argumentos serão os alicerces de sua

organização e progressão temática.

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Organizar o material suficiente e as estratégias discursivas que você deverá fazer uso em sua

composição. Tendo selecionado o foco, você precisará de informações, de trabalhar com

conceitos e definições, de informações tais para a construção de tabelas, quadros, gráficos,

diagramas, de imagens, fotos e ilustrações a depender do gênero textual selecionado para a sua

produção. Organize-se a respeito das estratégias discursivas que você deverá fazer uso em sua

composição.

O próximo passo é fazer um banco de dados, uma listagem e categorização de assuntos,

referências, citações, e argumentos plausíveis, isto quer dizer que você deve providenciar uma

listagem detalhada do que você deverá ter à sua disposição, fruto de larga pesquisa, resultando

num organizado e significativo inventário.

Seja, por exemplo, em situação inicial do processo de escrita, o tema previamente definido

como “a cidade do Rio de Janeiro” e sobre o tema você ter pensado em fazer uma descrição.

Assim, para tal exercício você poderá , inicialmente, construir uma listagem como a seguinte:

• INVENTÁRIO para a descrição da cidade do Rio de Janeiro a uma audiência específica

• Comida .......................................................................................................................................

•Barcos

•Bares

•Entretenimento

•Presentes

•Lojas

•Nacionalidades

•Restaurantes

•Cibercafés

•Museus

•Windsurfing

•Cruzeiros

•Escunas

•Música

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•Danceteria

•Clubes

•Tours

• Essa listagem (inventário pequeno!) pode ainda ser reduzida a alguns poucos pontos ou tópicos

1. Restaurantes

2. Praias

3. Bares

4. Lojas

E deste resultado, já específico, você poderá, ainda, fazer outros agrupamentos os mais

interessantes possíveis e expandir ainda mais o inventário. E consolidar uma boa rede léxico-

semântica, que será o aporte de seus enunciados, e o lance inicial de sua composição. Imagine

que você deve elaborar um guia turístico! Um documentário histórico!...

Tomar posse da técnica: reduzir os tópicos do inventário a pontos principais, sob a batuta da

organização de campos lexicais em campos semânticos, de modo que, ao final, você deverá ter

construído uma rede léxico-semântica produtiva, porque significativa.

O modo como você organizará o seu inventário e a redução dele a tópicos, e a subtópicos,

dependerá do tipo de texto com o qual você deseja trabalhar. Se você for fazer uma descrição,

por exemplo, em que o seu modo de organização se subscreve em relação a situacionar,

localizar, nomear, definir algo, pois para descrição de um objeto, o seu modo de produção se

dará em função da ordem que você escolher para compor a imagem do objeto; ou o seu

inventário será organizado em função de uma ordem no tempo, se você desejar compor uma

narração, em que o modo de produção discursiva está relacionado a contar algo e a solucionar

um conflito proposto em relação a uma ordem dada inicialmente em função de atores e

actâncias (fazeres e saberes); ou se o desejo for construir uma argumentação, seus passos

seguirão um método de trabalho, que poderá ser da mais simples a mais complexa organização

de ideias, referências, para o exercício das operações de raciocínio lógico formal, ou dialético,

cabendo estratégias necessárias para a persuasão, a sedução, a manipulação, o convencimento, e

consistente exercício da argumentação em relação ao seu interlocutor.

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Organizar o inventário (estoque) de tópicos, e, caso haja, de subtópicos. Essa organização

poderá ser trabalhada num software de mapeamento (mind map, a exemplo do software X-

Mind), ou utilizando de técnica de trabalho, cujo objetivo é reduzir o inventário a pontos

principais, organizando-os segundo uma ordem de importância, para que você possa decidir a

tese de seu trabalho em uma única direção. Observe que, em nosso exemplo, “a cidade do Rio

de Janeiro é um lugar ideal para se visitar, e as pessoas gostam de montar seus negócios

comerciais lá”; observe que, desse ponto de partida, você está de posse de duas direções a seguir

e, portanto, o texto já, de início, apresenta a você dois tópicos a serem desenvolvidos. Tomados

de uma só vez os dois tópicos será exercício improdutivo porque poderá produzir uma

composição confusa, isto pode não deixar claro qual é o ponto central da composição textual,

que, sem dúvida, se processará de forma desorganizada pela falta de clareza quanto à escolha

temática, apresentando, consequentemente, falha(s) na manutenção e progressão temática.

Selecionar a tese a ser desenvolvida é fundamental. Nesta etapa, você tem as condições

necessárias e suficientes para construir hipótese(s) de trabalho e definir, conscientemente, a sua

hipótese de trabalho para consolidar a sua tese.

Manter em paralelo a listagem de pontos, organizando-a quanto ao trabalho com noções,

conceitos e definições. Escolha com atenção o seu vocabulário, palavras concretas e palavras

abstratas, fazendo dessas escolhas uma fórmula para produzir o seu discurso com consistência e

profundidade, observando as suas construções lexicais, sintáxicas e semânticas e, muito mais, o

paralelismo entre as tais construções, segundo o modo de organização descritivo, ou narrativo

ou argumentativo.

Organizar o seu plano em categorias, subcategorias e em tópicos, e subtópicos se for o caso.

Essa organização lhe dará os fios que serão entretecidos, articulados num tecido (texto verbal

ou não-verbal ou sincrético) com coesão e, sobretudo, coerência, tendo organizado

consistentemente o seu modo de produção discursiva, procurando relacionar texto e discurso a

uma dada e definida situação de comunicação.

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EXEMPLO: topicalização para produção de ‘descrição uma localidade’

Faremos uso da língua inglesa no exemplo a seguir:

Organize sua tese em palavras-chave e faça um esboço usando palavras ou frases iniciais,

observando a estrutura e o modo de organização de sua composição, e vá elegendo e

adicionando suportes para os subtópicos, Fazer esse exercício, ainda que mentalmente por

exemplo, oferece um mapeamento adequado que lhe fornecerá elementos para o planejamento

eficaz e será suporte adequado ao seu consciente processo de escrita e produção de sentido

adequado, para que você consiga encontrar detalhes suficientes e apoio necessário para

produção de seu texto.

para desenvolver um tema, elabore o INVENTÁRIO (estocagem de ideias), depois

reduza a listagem a tópicos essenciais, fundamentais e principais, havendo a possibilidade de se

estratificar ainda mais essa distribuição em vários e correlacionados tópidos e subtópicos para

a construção da rede de sentidos para uma efetiva e conciente produção de textual e discursiva.

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-(funcional para todas as disciplinas e cursos)

Heurística: ________________________________________

Tópico / Foco: ________________________________________

Público Alvo: ________________________________________

Então, o quê:? ________________________________________

Organização: ________________________________________

Justiça (Logos, Pathos, Ethos): ____________________________

Desenvolvimento: ________________________________________

Tópico Provável: _____________________________________

Tese básica: _____________________________________________________

_______________________________________________________________

Fonte: http://web.cn.edu/kncheeler/inventio_division.html

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Fonte: http://web.cn.edu/kncheeler/inventio_division.html

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I. Introdução

Declaração

A. Geral

B. Então, o quê? e então?

Tese

C. Trabalho

II. Primeiro Ponto/Tópico Principal

A. Sub-ponto

B. Sub-ponto

III. Segundo Ponto Principal

A. Sub-ponto

B. Sub-ponto

IV. Terceiro Ponto Principal

A. Sub-ponto

B. Sub-ponto

C. Sub-ponto

V. Quarto Ponto Principal (a sua escolha)

A. Sub-ponto

B. Sub-ponto

C. Sub-ponto

VI. Parágrafo final

A. Reafirmar os principais pontos, se desejar

B. Concluindo / reunir

C. Universal / então o que declaraçr

“produção organizada e significativa de enunciado(s) simples, composto(s) e complexo(s)”

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A planificação das ideias e seu consciente desenvolvimento é procedimeno técnico importante e

necessário para que se organize um texto, breve ou longo, seja de natureza descritiva, narrativa

ou argumentativa. E os processos de coesão e coerência textual são procedimentos necessários

para a produção de uma unidade de sentido, que é o texto, seja qual for o gênero trabalhado.

Dada a sequência discursiva abaixo, estude os modos de desenvolvimento textual e

discursivo derivados e produzidos a seguir:

(...) "A internet estimula quase todos, independentemente da habilidade para a escrita, a fazer uma

publicação . A longo prazo, há dois possíveis efeitos O primeiro efeito é que haverá um monte de

asneiras precárias circulando em quantidades enormes que ninguém vai se dar ao trabalho de ler a escrita

on-line, sufocando, assim, esforços artístico de sucesso. O segundo efeito é que as grandes editoras vão

perder o seu domínio sobre a literatura. Porque deve compara livros de tal e qual editora e pagar sete

dólares por um livro de Stephen King, por exemplo, quando ele está disponível no site x por US $ 1,50?

A longo prazo, uma série de editoras vai acabar quebrando a menos que possam competir oferecendo

serviços on-line também. " (em http://web.cn.edu/kncheeler/inventio_division.html)

a) Comparação

"A internet é um piquenique comunitário. Todo mundo que aparece neste piquenique online é livre para

tomar um pedaço desta torta saboroso aqui, ou provar da maravilhosa caçarola do vizinho, mas as boas

maneiras exigem que os recém-chegados possam trazer algo de valor para compartilhar com todos os

outros. Da mesma forma ... "

Ou

"A internet é como uma teia de aranha. Enquanto aracnídeos normais fazem seu web a partir de fibras

que excretam, os construtores da internet criam sua virtual web de fótons e elétrons e milhas e milhas de

cabo. Na superfície da web, cordas de zeros e uns que representam dados correm sem parar e para trás,

tanto quanto rajadas curtas de energia elétrica sobre os átomos de cobre ou flashes de luz o mais rápido

ao longo de ‘cable’. Programas óptical como netspiders, 'bots, worms e vírus são livres para se mover a

partir de fio de Strand para qualquer ponto onde dois tópicos possam se conectar, assim como aranhas

no mundo físico ".

b) Contraste

"Navegar na internet é bem diferente de pesquisa em uma biblioteca Não há cheiro de mofo de papel

velho, nenhum peso tangível de um livro dentre as mãos, e nenhum bibliotecário grisalho claramente

visível para fazer perguntas para.você".

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c) Definição

"A internet é uma forma de mídia de massa, e como um todo compartilha certas características em

comum com outros tipos de mídia de massa, como a televisão, rádio e impressão. O que separa

exclusivamente a internet de outras formas de mídia de massa é sua capacidade de ... "

d) Classificação

. "Se fôssemos dividir a internet em suas partes componentes (se é possível quebrar um objeto 'virtual' em

partes, além de uns e zeros), podemos dividi-la em comunidades .Uma parte da internet é o negócio da

comunidade, que pretende utilizar o computador como o marketing e vendas , e fazer dela a ferramenta

final. Outra parte é a comunidade de pesquisa, que .... "

e) Definição Formal

Segundo netdictionary de Albion, a internet é "A rede mundial de redes em que todos usam o protocolo

de comunicação TCP / IP e compartilham um espaço de endereçamento comum ...."

f) Tratamento pela Etimologia

"Podemos entender a importância da comunidade na internet pela etimologia da palavra em si . O

prefixo inter vem de uma preposição e advérbio latino que significa "entre" ou "entre" . O sufixo -net vem

da palavra rede própria , algo que é tecido ou trançado junto(s). Assim, a internet é algo que é tecido ou

trançado em conjunto entre dois ou mais pontos. "

g) Exemplificação

. "A internet está em toda parte. Se você já foi para weather.com ao invés de esperar o relatório às 06:00

notícia para saber se a neve está vindo em sua direção, você tem usado a internet para participar de um

MUD, brincando. Mundial de Warcraft on-line, digitando saudações em uma sala de bate-papo com

gente conhecida, ou encontro virtual com um estranho sem rosto no Alasca, essas ações díspares são

exemplos do mesmo fenômeno. "

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h) Exposição

"A internet é uma grande coleção de imagens, textos e programas que as pessoas têm colocado em

computadores ligados entre si de modo que as pessoas possam acessá-los em outro lugar."

i) Definição negativa

"A experiência da internet não é atlética, pode-se navegar na web sentado em uma cadeira ou deitado . A

experiência não é Linear, os usuários não têm de seguir qualquer ordem particular como eles navegam,

o destino não é. previsível, os surfistas pode estar lendo o jornal Washingon Post e publicar num

segundo, e no segundo seguinte encontrar-se em sala de chat do "XXX Hot Grrlz , clicando no banner de

publicidade."

j) Marcação modal do Possível / impossível

"A internet poderia tornar-se a principal forma de publicação, pois a publicação online é sem dúvida

mais barato do que cortar uma árvore e poupar madeira para fazer papel à moda antiga ...."

Ou

"A internet nunca mais será capaz de substituir a interação face-a-face, porque os seres humanos são

biologicamente ligados a ...."

k) Histórico

"A internet começou em 1969 como um projeto militar chamado Arpanet ...."

l) Diagrama (com figura)

"Por incrível que pareça, pode-se até mesmo manter uma ligação à Internet durante a condução em um

carro, sem ser conectado a uma conexão ethernet. O truque é usar a mesma tecnologia de telefones

celulares em uso. As informações são enviadas sem fio a uma torre de telefonia celular, e uma resposta é

enviada sem fio também. Enquanto o carro está dentro do alcance, dois sentidos de transmissão é

realizado em uma linha reta e para trás a partir da torre de celular mais próxima ".

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m) Anedota

Há uma história sobre uma criança que pediu um bibliotecário 'Por que você precisa de todos os livros?'

quando o pai da criança a levou para a biblioteca local. O bibliotecário surpreso não sabia o que dizer

inicialmente. A história levanta uma outra questão interessante para quem utiliza a internet como uma. . .

. "

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Fiorin, J.L. – Lições de texto. SP. Editora Ática, 2000.

- Para entender o texto. SP. Editora Ática, 2000.

Guimarães, E. – Texto, discurso e ensino. SP. Editora Contexto, 2000.

Othon M. Garcia – Comunicação em prosa moderna. SP. Editora FGV, 17ªedição, SP, 1977

(primeira edição é de 1912).

Meyer, B. - Maîtrisser l’argumentation – exercices et corrigés. Ed. Armand-Colin, 1996.

_________ - A arte de argumentar. Trad. I. C. Bernedetti. SP: Ed. Martins Fontes, 2011.

http://web.cn.edu/kncheeler/inventio_division.html

http://web.cn.edu/KWHEELER/inventio.examples.html

http://www.americanrhetoric.com/aristotleonrhetoric.htm

http://prezi.com/uzowrxwo3int/?utm_campaign=share&utm_medium=copy&rc=ex0share

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Técnica ‘Inventio’

Exercício: Inventar e organizar argumentos ou “Essays”

Às vezes, é difícil descobrir para onde ir com o seu argumento. Aristóteles em

seu livro Ars Rhetorica lista vários inventio ou "técnicas de invenção"; invenção é uma

palavra que vem de invenire, verbo latino que significa "descobrir" ou "vir em cima".

Há técnicas que podem ajudar um escritor a gerar ideias, como a técnica do

brainstorming. Frequentemente, são ferramentas que ajudam a pensar sobre um assunto

e, possivelmente, desenvolver parágrafos. Esteja avisado que estas técnicas não são uma

panaceia e algumas funcionam melhor do que outras em ensaios e na construção de

argumentos específicos, a exemplo no caso específico de um texto dirigido à área da

saúde em que se discute se deve ou não se deve cobrir uma massagem miofacial, deve

ser importante definir o que exatamente é uma massagem miofascial e como um plano

de saúde deverá categorizá-la, e isto em dependência do leitor, a audiência que pode não

saber de que processo ou de que material se trata. Por outro lado, ao escrever um ensaio

sobre automóveis, o leitor provavelmente não precisa definir a palavra "carro", que é de

conhecimento generalizado. O escritor deve fazer seu melhor julgamento sobre quando

usar cada técnica, ou pedir a um colega que faça a audiência.

Narração Como isso aconteceu? Conte ao leitor uma história para ilustrar um

ponto ou definir o cenário.

Descrição Como é que o objeto ou o conceito pode ser descrito?

Processo Como é feito? Como isso é feito? Como você faz isso?

Causa O que provoca isso?

Efeito Qual o efeito que isso tem sobre outras coisas?

Comparar Como é que é semelhante a uma outra coisa?

Contraste Como ele é diferente de qualquer outra coisa?

Classificação É uma parte de um grupo maior? Que grupo é esse?

Divisão Pode ser dividido em grupos menores? Que grupos são esses?

Definição

formal

Como é que uma fonte autorizada define o objeto ou o assunto

(conceito), como um Código Penal, Dicionário Black Law , um guia

de bioquímica ( etc)?

Etimologia

De onde é a palavra vem? Isso ajuda a entender o problema do

conhecimento? (Se isso não ajudar, não se preocupe com a etimologia

da palavra!)

Exemplo Quais são alguns exemplos?

Exposição Buscar explicar em suas próprias palavras.

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Definição

negativa O que não é?

Possível /

impossível

Poderia trabalhar? Será que isso funciona? Será que não funciona?

Por que ou por que não? Quais são suas limitações?

História Você pode me dar uma história correspondente a “isso”?

Diagrama Você pode desenhar um diagrama mostrando como “isso” funciona?

Anedota Pode dizer-me uma pequena história para explicar isso?

- EXERCÍCIO

Crie seus próprios exemplos de cada técnica de invenção abaixo, usando o "fast food",

"sexo seguro" ou "hip-hop" como assunto. Explicar ou esclarecer sua matéria utilizando

a técnica de invenção apropriada.

TÉCNICA (Escolha uma opção): Fast Food, Sexo Seguro, Hip Hop

º 1 Narração

º 2 Descrição

º 3 do Processo

º 4 Cause

º 5 Efeito

º 6 Comparar

º 7 Contraste

º 8 Classificação

º 9 Divisão

º 10 Definição Formal

º 11 Etimologia

º 12 Exemplo

º 13 Exposition

º 14 Definição negativa

º 15 Possível / Impossível

º 16 História

º 17 Diagrama

º 18 Anedota

Lembrete ao aluno: ao acessar o site das referências (atenção: você não deve clicar nas propagandas e nem na

propaganda-banner survey monkey), leia o conteúdo e passeie pelo site com bastante sossego. O site está em inglês,

mas, se você não lê em inglês, não há problemas porque você poderá clicar em traduzir e pronto!...passeie pelo

assunto ‘retórica’. Quanto a vídeos do you tube, há, também, a opção legenda: clicar em traduzir legendas, nessa aba

do vídeo, clicar no seu idioma e você terá o seu vídeo legendado.

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¹

- Operadores para relacionar pensamentos/ideias

de fato, implícito nessa declaração

de qualquer maneira - a partir de todas as informações

de qualquer maneira - na melhor das hipóteses

outro lugar - naturalmente

nas proximidades – em sentido mais amplo

acima de tudo - para esse fim

mesmo estes - em equilíbrio

além - o cerne da questão

em outras palavras - na verdade

por exemplo - como uma questão de rotina

é claro - não obstante

em suma -, no entanto,

em suma - como regra geral

ainda, o que é responsável por isso - compreensivelmente

na realidade - a razão, é claro

que é - mas há um sentido

A lição aqui é

- Operadores para mostrar resultados

portanto - assim

como resultado - consequentemente

assim – em função/razão disso

como - devido a

porque - desde

porque de - de acordo

- Operadores para adicionar ideias

primeiro, segundo, em seguida, passada - tudo o que

além - a resposta não reside apenas em….mas também em….

adicionalmente - também - ainda em – e ainda -

além disso - mais do que qualquer outra coisa

além disso - aqui estão alguns fatos ...

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outro - agora, é claro, existem

além de - agora, no entanto

também

- Operadores para mostrar tempo

imediatamente - este ano;

atualmente - mais tarde

quase (um ano. . .) mais tarde - depois

no ano passado

nesse meio tempo - amanhã

depois - em breve

depois - durante

neste…. - eventualmente

a partir de hoje - a partir de agora

anteriormente - inicialmente

posteriormente - por último

- Operadores para comparar ideias

como - semelhante a - assim como

em comparação - em contraste

da mesma forma - enquanto

inicialmente

¹ Observe-se que há muitos outros operadores, além de marcadores e modalizadores de discurso.

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a) O que são fundamentos?

b) O que são argumentos?

c) Quais as características de um texto de natureza argumentativa?

d) Que distinção há entre fatos, ideias, opiniões e crenças?

a) Qual é a definição de comunicação?

b) Quais os elementos do processo de comunicação?

c) Quais as características de situação de comunicação monologal? E dialogal?

d) Quais fatores influenciam a comunicação oral e a escrita? Por quê?

e) Quais os tipos de textos e em que influenciam a construção argumentativa?

Pode-se encontrar ideias, criando o seu próprio método de trabalho, a partir, por exemplo, de

métodos construídos com base em pesquisas teóricas e de campos de áreas distintas do saber ou

por meio de sua particular atenção para os fatos e encenações que se apresentam no seu

cotidiano. Para isso, costume-se a ler diferentes gêneros de textos, ( mídia impressa e digital),

além de habituar-se a ouvir noticiários (pelo rádio, televisão, internet), assistir a filmes e peças

de teatro (dos mais variados gêneros), além de frequentar exposições, museus, e , tanto mais,

continuar a entreter-se com o que está acostumado(a). Passe a observar com mais atenção os

fatos de cultura e como se dá a produção e construção de conhecimento ao seu redor e quais são

as suas próprias contribuições e referências, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo, para a

construção do tecido social do qual você é integrante ou espectador.

Literalmente “tempestade cerebral” (em francês “remue meninges” ou “remexe-miolos”, em

português). É uma técnica utilizada, sobretudo em empresas, de discussão em grupo,

aplicada sempre que se pretende buscar inovação e criatividade. Um determinado assunto ou

caso é colocado para o grupo e as pessoas são convidadas a expressar todas as ideias que

correm à mente, mesmo as mais esquisitas. Então um “secretário, não implicado na rodada,

anota ou grava tudo o que é dito, sem análise. O objetivo principal é fazer fluir o pensamento

e que o assunto possa ser visto por todos os quadrantes, mas de forma fragmentada. Numa

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etapa posterior, os dados colhidos são apresentados ao grupo que terá elementos de onde

partir para desenvolver conceitos, retomar definições e ampliar ou até redefinir o próprio

tema e o caminho a ser tomado. Esta técnica visa à fragmentação de uma noção por meio da

criatividade orientada, segundo campo de associações, similitudes, similaridades e

comparações plausíveis. (examinar, por exemplo, o software The Brain, para estudar a

amplitude desta técnica!!!!)

Consiste em buscar, livremente, palavras e mais palavras, por associação completamente livre,

seja por contiguidade, seja por similitude ideias que são associadas por constar de traço lexical

e ou por traço semântico ideias que se associam ao assunto (ou referente) em questão. É uma

técnica excelente para se conseguir fluidez e desinibição seja na fala, seja na escrita.

Consiste em responder a questões que permitem a informação o mais completa possível sobre

um acontecimento/referente/problema:

- o quê? qual é o problema?

- quem? Quem está implicado neste problema?

- quando? Quando o problema se manifesta? Quando surgiu?

- em que lugar? Onde se manifesta/manifestou?

- por quê? Quais são as origens do problema, as causas , as razões, as motivações, as

consequências, as decorrências do problema?

● Exemplo: “ condição dos idosos”

O quê? – quais as condições? Quais são os fatores físicos, psicológicos, intelectuais, sociais,

econômicos...

Quem? - qual é a definição de idoso? qual é a estatística brasileira? E mundial? vida e

sobrevida etc.

Quando? - quando começa a ser idoso? quando se aposenta?...

Em que lugar? - quais os lugares: na família, asilo, casas de repouso, praia, cidade campo,

sítio, fazenda, casa, apartamento, hospital... na sociedade oriental ou ocidental?

Por quê? - por que as condições dos idosos tendem a ser diferente? existem consequências

positivas e negativas, a curto e médio e a longo prazo e quais são?

O desenvolvimento de um assunto ou a busca por solução deve dar observância aos conceitos,

definições, princípios, implicações, finalidades, objetivos e os meios com os quais se trabalha.

Pense, por exemplo, na elaboração, desenvolvimento e implantação de um projeto social em

uma comunidade carente...

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Consiste na análise de um mesmo problema ou assunto de diversos ângulos, acautelando-se que

um número excessivo de “modos de ver” o problema pode acarretar bloqueio(s), como a busca

pela perfeição e o próprio medo de errar. O mais sensato sobre um determinado assunto/caso é

apresentar a sua própria visão sobre o que está em discussão e colocar-se no lugar do outro para

desse lugar examinar a questão, tentando analisar o assunto segundo outra(s) perspectiva(s).

É uma técnica de origem do meio jornalístico e muito e amplamente utilizada em empresas.

Consiste num diagrama para analisar problemas ‘práticos’ e inscreve-se na transição entre a

procura e a classificação de ideias. Ajusta-se como uma “árvore das causas”, parte-se de um

problema para estudar as razões e agir melhor sobre as razões que originaram o problema.

Dado o problema/assunto, distinguem-se as causas primárias, secundárias e terciárias (sem

maiores complexidades) e, em seguida, categorizam-se os elementos encontrados,

utilizando-se cinco (ou seis) famílias de causas de uma dada situação, geralmente, de uma

situação profissional, correspondentes a:

maquinário mão-de-obra métodos

_____________________________________________________________________

materiais meio ambiente

●Exemplo: “litigioso de uma situação profissional”

quais são as causas vinculadas a(o) referente?

- maquinário e infra-estrutura: equipamentos, instalações, financiamentos;

- mão-de-obra: pessoal, hierarquia...

- métodos: processos de fabricação, técnicas de pesquisa, formas de gestão...

- material: matéria-prima, de construção...

- meio ambiente: condições de trabalho, de fornecedores, relações trabalhistas...

- além de outras possibilidades.

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A organização de um texto oral ou escrito requer a reflexão sobre um determinado assunto

(referência) que se quer discutir. Para essa atividade é necessário também que se possa fazer a

classificação das ideias, mas isto não quer dizer que deva haver uma formatação ou molde único

a que todo pensamento deva se adequar. Há, por outro lado, propriedades do raciocínio humano

que podem auxiliar a organização e planificação de um assunto que se quer trabalhar, entendendo

a planificação como uma metodologia que pode auxiliar o produtor de texto(s) a redigir com

clareza e objetividade.

Para a atividade de produção textual é de grande valia que o enunciador possa entender a

definição e a diferença entre uma noção e um fato (ilustração, exemplificação, prova);

compreender da relação temporal a simultaneidade e a sequencialidade (anterioridade e

posterioridade) dos fatos ordenados na linha do tempo; distinguir não só a oposição entre noção

abstrata e concreta das coisas e dos seres do mundo como também distinguir fatos e ideias

relacionadas com indivíduos e fatos e ideias relacionados, por sua vez, às relações sociais e a

fenômenos de interações sociais; além de saber construir hipótese(s) sobre o assunto/caso para

trabalhar a busca de soluções plausíveis.

No tocante à argumentação, considerando-se a transição entre o trabalho da busca e seleção de

ideias e a elaboração de um plano de comunicação (oral ou escrita), é importante que o

enunciador saiba gerir e gerenciar ideias e informações para a construção de seu texto. Nesse

sentido, é válido que o enunciador, a respeito de sua intenção argumentativa (MEYER:63), possa:

a) proceder ao trabalho de raciocínio e de planificação das ideias para alcançar a inteligibilidade

de seu texto;

b) escolher os argumentos e hierarquizá-los para conseguir a progressão tanto argumentativa

quanto temática;

c) trabalhar com relações lógicas de causalidade e de consequência (antecedente-consequente) e

de temporalidade (anterioridade-posterioridade), e com os operadores lógicos e com os

marcadores discursivos para bem estruturar sintáxica e semanticamente o texto como uma

unidade de sentido, compreendidos os processos de coesão e de coerência textuais.

No tocante à planificação de um texto não existe um único plano ou um plano modelo definido

como único para todas as situações de comunicação ou que, independentemente da situação

discursiva, existiria um plano já pronto tomado como um modelo acabado ou um modelo pré-

definido ou previamente formatado. Todavia, em razão das mais diversas situações de

comunicação de orientação argumentativa é possível sistematizar formas de raciocínio definidas

como estruturas presentes na maneira como se organizam situações de natureza e orientação

argumentativa, embora deva ser dito que os tipos de planificação não podem ser utilizados de

forma predefinida como uma forma única e sistemática para a produção de uma organização

argumentativa completa. A tipificação de planos de comunicação deve ser apresentada com uma

orientação para a criação de uma metodologia própria para a organização estrutural e temática de

um texto, considerando-se os diferentes contextos e as diversas situações de discurso e de

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comunicação. Para cada caso, é necessário saber distinguir os fios que devem ser trabalhados

para construir a trama, o evento, de acordo com os vários e diferentes contextos e situações

discursivas e situações e modalidades de comunicação.

Há planos lineares, binários e planos ternários ou planos de subsídios à decisão.

São planos estáticos, ou bem pouco dinâmicos, porque são planos de natureza pouco

argumentativa, pois são planos que refletem um processo firme e preciso, pois não têm como

aporte ou como um ponto de partida atingir um alvo e realizar a análise sob vários ângulos;

contudo, são planos podem fazer parte de texto de natureza argumentativa. Dessa tipificação

linear fazem parte o plano enumerativo e o plano cronológico, a saber:

a) plano enumerativo - consiste na apresentação de aspectos, categorização ou associação de

propriedades, atributos e/ou relações pela ordenação ou hierarquização de listas de noções, , com o

intuito de oferecer a conceitos e definições pela listagem (exaustiva ou não) de itens ou tópicos,

apresentados na forma de uma frase, ou em parágrafos ordenados estruturalmente ou por

enumeração ou por exemplificação, ou até mesmo sob a forma de uma ordenação por capítulos, em

caso de obra mais extensa. O produtor de mensagem deve estar bastante atento ao conteúdo da

enumeração; à distribuição dos itens e sua classificação dos elementos em categorias e

subcategorias, classes e subclasses, grupos e subgrupos; à produção de uma lista não muito mais de

seis elementos (quantificação que é facilmente memorizável pelo interlocutor), prestando-se a

atenção para o cuidado com o nexo lógico-semântico das informações, porque, por outro lado, não

se deve exceder para não acabar construindo uma compilação de caráter moroso e monótono,

cansando o leitor ou o ouvinte, podendo até lhe parecer texto confuso;

b) plano cronológico – consiste na apresentação histórica de uma situação, problema ou de uma

tese. Não se deve insistir na apresentação cronológica ou histórica – sincrônica ou diacrônica – de

um evento para a composição de um texto argumentativo por excelência. A cronologia é parte da

construção argumentativa, colocada, frequentemente, no início do desenvolvimento do trabalho,

constituindo os primórdios do assunto ou do evento enunciativo em discussão, com vistas a

relacionar seus antecedentes ou causas constitutivas. Todavia, não se deve abusar da cronologia, sob

pena de se alongar em uma construção monótona e por vezes mal gerida lógica e semanticamente.

Importante é observar a gerência da temporalidade e da sequencialidade histórica do evento,

costumeiramente analisados em passado remoto – passado recente – presente – futuro, podendo-se,

ainda, propor a análise em presente – passado remoto – passado recente – futuro, com o objetivo de

se romper a monotonia de uma apresentação, partir-se de um ponto mais próximo do interlocutor

(leitor ou ouvinte), aguçar e sensibilizar o receptor à atividade da reflexão a respeito de fato(s) -

causas - consequências (objetivos e/ou metas) dissimulada pela operação lógica de causalidade e

temporalidade. Desta feita, o trabalho lógico deve ser perspicaz, como, por exemplo, trabalhar

cronologicamente as etapas, distribuindo e agrupando-as em categorias para que o receptor possa ter

uma visão global e sintética da situação; saber fazer uso de vocabulário apropriado para gerenciar a

regularidade, a irregularidade ou a constância do evento e/ou destacar os momentos de ruptura.

Além desses procedimentos, é necessário também saber fazer uso de procedimentos linguísticos e

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discursivos, destacando-se tempos fortes e tempos fracos, com a finalidade de marcar os eventos e

possibilitar a compreensão da evolução dos modos de pensar e de ser da sociedade, procedimentos

que podem ser entendidos como uma técnica eficaz da argumentação.

Consiste na possibilidade de se pensar dual ou com alternâncias naturais e fundamentais em pares

de relações transitivas de oposição ou de complementaridade (pensar dialeticamente). Constitui-

se uma parte do raciocínio, pois é integrante de um conjunto de dados e/ou informações. O plano

de oposição ou se constrói por oposição binária ou por oposição de múltiplas variantes. O

movimento intelectual pode ser aplicado das seguintes formas:

• tese/objeções possíveis, refutação, reforço da tese;

• antítese, refutação da antítese/ apresentação da tese defendida e sua justificativa;

• antítese/concessão a certos aspectos da antítese/refutação global da antítese/apresentação global

da tese defendida e justificativa;

• argumento 1da tese / argumento 1 da antítese / conclusão 1/ argumento 2 da tese / argumento 2

da antítese/conclusão 2/ assim sucessivamente...

É necessário verificar, como já se afirmou, que esses procedimentos auxiliam a construção de um

trabalho de natureza argumentativa.

São planos dinâmicos, porque possibilitam a análise de um assunto sob vários ângulos.

Distinguem-se em:

a) plano jornalístico – o modelo canônico consiste na apresentação de :

• apresentação do assunto/objeto;

• confirmação com citações, exemplos, contra-exemplos ou um caso;

• análise de causas (principais e avizinhadas direta ou indiretamente);

• desenvolvimento da causa<>consequência;

• apresentação da(s) solução plausível;

• considerações sobre solução apresentada(s) e correspondente análise crítica;

•discussão dos inconvenientes e confirmação e valorização da solução proposta.

b) plano técnico – é uma variante do plano jornalístico. Divide-se em dois tempos

problema (dados e histórico) e solução (definição clara de objetivos, justificativa(s),

apresentação do cronograma de trabalho e análise dos procedimentos e métodos utilizados para

a resolução do problema);

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c) planos de subsídios à solução – é plano de três tempos, destinado à apresentação de um

assunto/objeto ou conceito inovador e revolucionário que envolve a reflexão do locutor que é

um ser dotado de cultura e, portanto, não é um ser passivo, que, por isso, deverá ser persuadido

e convencido, por procedimentos linguísticos e discursivos, a crer na verdade do assunto

apresentado. Deve o enunciador ter claro o contexto e a situação de comunicação e as

exigências normativas, técnicas e linguísticas correspondentes. Dos planos, apresentam-se dois,

a saber:

c.1. plano SPRI : situação – problema - resolução de princípio – informação: é um método

desenvolvido por Louis-Timbal Duclaux (apud Meyer:2008:78). Decompõe-se em quatro

partes:

•Situação - apresentação da situação ou contexto em que a argumentação será inserida. Nesta fase

ainda não se inscreve o problema. E para que bloqueios iniciais da parte do receptor sejam evitados,

a situação apresentada deve ser real e conhecida pelo receptor e adaptada à sua própria realidade e

aos seus referencias de identidade. Assim, parte-se do vivido, pois quanto mais a situação é próxima

da realidade do receptor, menos bloqueios ou respostas negativas ele tende a manifestar; pois, forte

é a tendência da aceitação da situação como da ordem do irrefutável, não só pela referenciação a

algo já conhecido ou vivenciado, como também pela identificação a traços identitários de ordem

psicológica e cultural interiorizados e/ou vivenciados pelo receptor, chamado, então, a

comprometer-se, pois a situação foi pelo receptor aceita sem recusa e sem coerção. É importante, no

entanto, que o enunciador tenha bem claro quais são os rumos que quer tomar, pois vale dizer que o

caminho deve ser sempre um caminho guiado pela ética e pela moral.

• Problema – apresentação do problema ou da dificuldade instalada na situação e que merece uma

solução. Aconselha-se fazer a divisão entre situação e problema, embora, muitas vezes, um

determinado problema já apareça na situação. Uma outra possibilidade é a apresentação de soluções

ineficazes – parcial ou totalmente – para reforçar e validar a fase seguinte, que a busca da solução.

• Resolução de princípio – trata-se de apresentar uma solução com as indicações dos princípios

orientadores da solução proposta. Caso a solução seja complexa ou muito técnica, o melhor a fazer

é adequar a sua apresentação à realidade cultural do receptor. Essa fase é a parte fundamental do

plano e não cabe apresentação de minúcias que fariam cansar o receptor.

• Informações – trata-se tanto da apresentação de elementos técnicos, quanto de outros

ordenamentos discursivos, que podem ser circunstanciados num relatório, por exemplo.

O método SPRI apresenta uma estrutura flexível, e cabe ao enunciador saber delimitar a extensão

de cada uma das partes do texto, bem como fazer uso da ética e da moral e de sua própria

consciência e responsabilidade social.

c.2. plano SOSRA – situação –observação –sentimentos – reflexão – ação. – é um método a

ser aplicado, sobretudo, em situações práticas e profissionais. Parte-se de uma situação para chegar a

uma decisão ou ação e comumente torna-se útil para a apresentação de medidas de modo

convincente. Compõe-se de cinco fases, a saber:

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• Situação - apresentação completa e objetiva do contexto do problema;

• Observação - apresentação de dados considerados pertinentes e que merecem aprofundamentos;

•Sentimentos - apresentação, pelo raciocínio e por mecanismos lógicos, dos elementos envolvidos.

Não se deve eleger o distanciamento e a coisificação do leitor, sob pena de não conduzir

adequadamente o discurso, e não se ter levado em conta a dimensão humana da comunicação;

•Reflexão - apreciação subjetiva do evento, com a indicação de pensamentos sugeridos pela

situação, sem, no entanto, construir um discurso deveras emocional e sentimental a extremos;

•Ação - apresentação de solução prática.

O plano SOSRA é da ordem de um planejamento analítico e de auxílio à decisão, que conta com

referências e elementos de contexto do(s) interlocutor(es), que devem ser observados e integrados

com parcimônia e responsabilidade social, sem, portanto, agressões ou digressões de quaisquer

ordens.

A elaboração de um plano é uma etapa fundamental da construção argumentativa, em que partes e

seu todo devem se inter-relacionar. Cabe, pois, ao redator saber fazer uso dos mecanismos e

procedimentos linguísticos para encadear os enunciados e fazer progredir o tema. Deve-se saber fazer

uso não só dos operadores lógicos e dos marcadores discursivos, como dos demais procedimentos

linguísticos de coesão e também dos procedimentos de coerência necessários para conseguir a

unidade de sentido, que é o texto, organizado segundo os modos de organização do descritivo, do

narrativo e do argumentativo.

CHARAUDEAU, P. – Linguagem e discurso: modos de organização. ,SP: Contexto, 2008

MEYER, B. - A arte de argumentar, SP: Editora Martins Fontes, 2011,