O QUE DIZEM OS ALUNOS/PROFESSORES SOBRE OS DESAFIOS DE UM CURSO ON LINE

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Martins, J. L., Silva, B. D., & Borges, M. A. (2013). O que dizem os alunos/professores sobre os desafios de um curso on line. VIII Conferência Internacional de TIC na educação Challenges 2013 (pp. 225-264). Braga (Portugal): Universidade do Minho. O QUE DIZEM OS ALUNOS/PROFESSORES SOBRE OS DESAFIOS DE UM CURSO ON LINE José Lauro Martins Universidade Federal do Tocantins, [email protected] Bento Duarte da Silva Universidade do Minho, [email protected] Marilene Andrade Ferreira Borges Universidade Federal de Ouro Preto, [email protected] Resumo: O presente artigo apresenta uma reflexão sobre o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação em um curso Online para professores- coordenadores no Estado do Tocantins-Brasil. Foram apresentados os resultados da análise de 402 memoriais que procurou identificar os aspectos positivos e negativos referente à tecnologia e verificou-se que ao final do curso os aspetos positivos superam aos negativos. Não se trata de uma defesa do uso das tecnologias digitais para resolver os problemas educacionais, até porque a educação escolar depende de muitos fatores para o sucesso, e alguns computadores podem ter um bom impacto nas atividades meio da escola (na gestão), mas certamente não terá um impacto proporcional ao processo de aprendizagem dos alunos. Palavras-chave: Docência online, Educação a distância online. Abstract: This article presents a reflection on the use of Digital Technologies of information and communication in online courses for teacher-coordinators in the State of Tocantins- Brazil. We present the result of the analysis of 402 memorials that aim to identify the positive and negative aspects with reference to the technologies related in the memorials and verified that by the end of the course the positive aspects surpass the negative ones. This is not a question of defending the use of digital technologies to resolve educational problems since School education depends on many different factors for its success and some computers may have a positive impact in the administrative activities in school, but it will certainly not have an impact relative to the student’s learning process. Keywords: Teaching online, education online. Introdução Ainda são comuns as críticas de professores quanto ao uso das tecnologias digitais na sala de aula, aos cursos online, aos recursos da internet quando usados em sala de aula e ao que acusam de “excesso de facilidades para os alunos”. Há também os que questionam a ação de cortar e colar de arquivos da internet como uma prática nociva, mas não questionam os trabalhos feitos como uma colcha de retalhos justapostos de trechos copiados manualmente de

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Martins, J. L., Silva, B. D., & Borges, M. A. (2013). O que dizem os alunos/professores sobre os

desafios de um curso on line. VIII Conferência Internacional de TIC na educação –

Challenges 2013 (pp. 225-264). Braga (Portugal): Universidade do Minho.

O QUE DIZEM OS ALUNOS/PROFESSORES SOBRE OS DESAFIOS DE UM

CURSO ON LINE

José Lauro Martins

Universidade Federal do Tocantins, [email protected]

Bento Duarte da Silva

Universidade do Minho, [email protected]

Marilene Andrade Ferreira Borges

Universidade Federal de Ouro Preto, [email protected]

Resumo: O presente artigo apresenta uma reflexão sobre o uso das Tecnologias

Digitais da Informação e Comunicação em um curso Online para professores-

coordenadores no Estado do Tocantins-Brasil. Foram apresentados os resultados da

análise de 402 memoriais que procurou identificar os aspectos positivos e negativos

referente à tecnologia e verificou-se que ao final do curso os aspetos positivos superam

aos negativos. Não se trata de uma defesa do uso das tecnologias digitais para

resolver os problemas educacionais, até porque a educação escolar depende de

muitos fatores para o sucesso, e alguns computadores podem ter um bom impacto nas

atividades meio da escola (na gestão), mas certamente não terá um impacto

proporcional ao processo de aprendizagem dos alunos.

Palavras-chave: Docência online, Educação a distância online.

Abstract: This article presents a reflection on the use of Digital Technologies of

information and communication in online courses for teacher-coordinators in the State

of Tocantins- Brazil. We present the result of the analysis of 402 memorials that aim to

identify the positive and negative aspects with reference to the technologies related in

the memorials and verified that by the end of the course the positive aspects surpass

the negative ones. This is not a question of defending the use of digital technologies to

resolve educational problems since School education depends on many different

factors for its success and some computers may have a positive impact in the

administrative activities in school, but it will certainly not have an impact relative to the

student’s learning process.

Keywords: Teaching online, education online.

Introdução

Ainda são comuns as críticas de professores quanto ao uso das tecnologias digitais na sala de

aula, aos cursos online, aos recursos da internet quando usados em sala de aula e ao que

acusam de “excesso de facilidades para os alunos”. Há também os que questionam a ação de

cortar e colar de arquivos da internet como uma prática nociva, mas não questionam os

trabalhos feitos como uma colcha de retalhos justapostos de trechos copiados manualmente de

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enciclopédias, tão comum no passado. Uma das principais preocupações que se coloca

atualmente é quem vai ensinar alunos e professores a usarem corretamente esses recursos.

As formas tradicionais de ensinar procuram ter o controle sobre a informação, o que era

possível com o acesso a fontes limitadas. Porém, com o acesso a rede mundial de

computadores torna-se cada vez mais difícil limitar o acesso à informação. Além disso, com a

facilidade de acesso a web fica proporcionalmente mais difícil aos educadores identificarem as

fontes confiáveis de informação. Talvez, a alternativa que resta seja a valorização dos aspectos

constitutivos da gestão autônoma da aprendizagem tais como: autoaprendizagem,

autorregulação, proatividade e a capacidade de leitura crítica das informações. Segundo

Tapscott, “o que importa não é mais o que você sabe, mas o que você pode aprender.” Diz

também que “as escolas deveriam ser lugar de aprender, e não lugar de ensinar” (2010, p.155

e 156). O que não significa que devemos deixar de ensinar. Porém, mas sim de mudar a forma

e os objetivos do ensino para que venham ao encontro das necessidades dos jovens na

sociedade atual. Como bem disse Pozo,

Na complexa sociedade da aprendizagem, necessitamos de habilidades e conhecimentos transferíveis para novos contextos, já que não podemos prever as novas demandas que o mercado de trabalho e a sociedade da informação vão colocar num futuro próximo para os aprendizes (Pozo, 2002, p. 83).

Nesse contexto é que as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), quando

bem utilizadas nos processos educativos, proporcionam aos professores e alunos diferentes

formas de interação. Como disse Coll e Monereo, “A imagem de um professor transmissor de

informação, protagonista central das trocas entre seus alunos e guardião do currículo, começa

a entrar em crise num mundo conectado por meio de telas de computador.” (2010, p. 31).

Ainda, segundo o mesmo autor, o acesso a essas tecnologias e a internet em particular, podem

propiciar um salto de qualidade na educação. Nesse aspecto o trabalho docente é fundamental

para que possa aproveitar a potencialidade das TDCI em um contexto metodológico apropriado

que fomentará nos estudantes a capacidade em formar grupos nas redes sociais e agir de

forma colaborativa para resolverem questões escolares ou do cotidiano com grande facilidade

(Coll & Monereo, 2010).

Os artefatos digitais em geral, tais como celulares, computadores, smartfones ou tablet possui

uma interface intuitiva que facilita a aprendizagem técnica, sem a necessidade da leitura de

manual ou de capacitação específica para operar o equipamento. Esse contexto tecnológico

possibilitou as condições para a saturação de informações que estamos submetidos, o que

contribuiu para gerar dificuldades de controlar as informações com as quais os alunos devem

ter acesso escolar (Tornero, 2007, p. 33).

Integração das TDIC às práticas escolares

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Pensar os desafios da educação perante as TDIC suscita dois aspectos dicotômicos: o da falta

de tecnologia nas escolas e o da diversidade de tecnologias sem precedentes. Por um lado, é

bom lembrar que nem todos os jovens vivem a ”geração digital” . Muitos ainda nem conhecem

o computador ou o celular. Mesmo os que vivem em regiões mais favorecidas podem não ter

acesso ao computador nas escolas. É o caso do Brasil, nem todas as escolas têm laboratório

de informática, pouquíssimas têm computador para acesso de todos alunos. Mesmo quando

há computadores à disposição, há outro desafio tão importante quanto à falta deles para ser

superado, é promover a capacitação dos professores para a inclusão adequada desses

recursos na prática pedagógica.

Outro aspecto importante a ser considerado na formação continuada de professores é que,

pelo fato do computador ser uma tecnologia que tem como característica intrínseca a

convergência de diversas mídias, podendo executar múltiplas tarefas e consequentemente ter

sua aplicação educativa muito diversificada. Com o acesso à web, este equipamento passa a

ser um importante veículo de acesso à informação. O que muitas vezes, dificulta a capacitação

de professores por ser afinal, um equipamento que agrega diversas ferramentas que exige

habilidades específicas.

A educação tradicional é fortemente amparada pela escassez de informação, com isso é

possível referenciar ensino ao tempo administrativo. Em geral são duas fontes predominantes:

o professor e o livro didático que podem ser complementares quando o professor não se

restringe a explicar o que já está disponível no livro ou redundante quando o professor não vai

além do que está no livro didático. Dessa forma não há o que questionar, todos os alunos da

turma tem acesso às mesmas informações. O que não acontece quando se tem acesso livre a

internet com uma imensa fonte de informações.

O tempo também não tem mais apenas uma conotação cronológica. Há uma diversidade de

tempos a serem considerados. Porém, observa-se que mesmo com todo aparato tecnológico o

tempo de aprendizagem não pode ser comparado ao tempo em que as tecnologias dispõem as

informações. Mesmo considerando que o tempo da aprendizagem venha a ser modificado com

quantidade e qualidade das informações, ainda assim a principal referência para a

aprendizagem é o tempo biológico que não é alterado imediatamente pelas informações

colhidas do ambiente externo. Esse é um problema importante para a gestão da educação,

pois como diz Santos,

A escola ainda não dá conta disso e mantém os atores do processo de aprendizagem presos ao relógio mecanicista, cartesiano, do início da era moderna, determinada a hora do pode e não pode, limitando o espaço físico negando a presença das tecnologias no cotidiano escolar e a extrapolação desse espaço. (2006, p. 22)

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Outro aspecto importante a considerar na reflexão sobre o uso pedagógico das TDIC é que

certamente isso não seja um problema importante para os alunos. Visto que as crianças e

jovens acolhem com facilidade as tecnologias digitais, uma vez que “nasceram no mundo

tecnológico e compreendem que podem ocupar diferentes lugares ao mesmo tempo” (Santos &

Alves, 2006). Fato este, considerado muito difícil de ser admitido pelos professores

acostumados com as tecnologias tradicionais. Bento Silva (2008) diz que a dificuldade de

grande parte dos professores da “geração gutemberiana” com suas “mentes tipográficas” é

perceber o sentido da nova ecologia comunicacional e do novo contexto educacional. Para

esses professores não basta apenas distribuir informação, é necessário mudar a compreensão

do processo educativo. Como bem lembrou o mesmo autor,

O aluno já não é apenas um mero estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida, recebendo de uma forma mais ou menos passiva o saber transmitido pelo professor, mas é fundamentalmente um "auto-educando", num amplo quadro de educação permanente e aprendizagem autônoma, reforçado pela expressão aprender a aprender. (Silva, 2008)

Essas mudanças devem ser administradas pelos agentes dos sistemas educacionais para que

as políticas educativas sejam redesenhadas para atender as novas demandas sociais de

formação conforme o perfil dos estudantes. A escola precisa deixar de ser uma instituição

fechada em si mesma e tornar-se uma comunidade de aprendizagem onde alunos e

professores aprendam e estudam continuamente. O acesso a essa comunidade pode ser

através de um portal da escola com diversos serviços institucionais, inclusive em um ambiente

de aprendizagem com acesso de dos alunos e professores em tempo integral. Para isso, não

se pode admitir a tecnofobia entre os professores. Afinal o seu público alvo são tecnófilos.

Nesse caso, a mediação se dará por meio de uma nova ecologia comunicativa na educação e

da habilidade para o uso dessas ferramentas digitais.

Com as TDCI, a educação em meio virtual possibilita a superação do desafio de estabelecer

uma mediação dialógica na educação sem a necessidade da presença, num mesmo espaço

físico dos agentes da aprendizagem. Isso possibilitou superar a educação da distância

tradicional em que a mediação se dava por suportes analógicos, baseados no modelo

transmissivo e com baixíssima ou nenhuma interação. A WEB 2.0 possibilitou a criação das

redes, o tráfego de dados, os ambientes virtuais, a comunicação síncrona e assíncrona. Com

esses recursos a educação online possibilita mais interação, aprendizagem colaborativa e

coautoria, elementos essenciais na aprendência online (Silva B., 2011).

Embora possa fazer uso de qualquer recurso da web para intervir no processo de

aprendizagem, o ambiente virtual (Valentini e Soares, 2010, p. 15) desenhado para esse fim e

utilizado para a mediação pedagógica, tem melhores chances de sucessos na aprendizagem,

desde que haja uma proposta pedagógica bem definida. Todavia, entende-se que esses

ambientes não podem determinar a metodologia da comunicação pedagógica, mas servir de

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instrumento para os educadores e aprendentes. Porém, são necessárias novas competências

pedagógicas para que a docência possa fazer uso adequado dos recursos disponíveis e do

acesso as informações para que se converta em educação com mais qualidade.

Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica: espaço de reflexão sobre

o que dizem os professores

A Universidade Federal do Tocantins (UFT), no período 2010/2011, em parceria com a União

Nacional dos Dirigentes Municipais – UNDIME e a Secretaria Estadual de Educação – SEDUC

ofereceu o Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica. Realizado no âmbito do

Programa Nacional da Escola de Gestores da Educação Básica do Ministério da Educação, por

meio da Secretaria de Educação Básica com o objetivo de

Formar, em nível de pós-graduação lato sensu, coordenadores pedagógicos que atuam em instituições públicas de educação básica, visando à ampliação de suas capacidades de análise e resolução de problemas, elaboração e desenvolvimento de projetos e atividades no âmbito da organização do trabalho pedagógico e do processo de ensino-aprendizagem (UFT, 2010).

No curso foram matriculados 400 professores que atuavam como coordenadores pedagógicos

oriundos de 83 municípios dos 139 que o Estado do Tocantins possui atualmente. Esses

professores foram distribuídos em dez turmas de quarenta alunos, localizadas em sete polos

regionais. Para esta pesquisa optou-se por analisar os memoriais de cinco turmas distribuídas

geograficamente por todo o Estado, sendo duas das maiores cidades do Estado e três

localizadas no interior. Uma do extremo norte, uma do centro e uma do extremo sul.

O propósito da investigação deu-se pelo fato de que os alunos do curso eram professores que

atuavam em escolas públicas da educação básica. Em geral, essas escolas tinham carência

de equipamentos tecnológicos e alguns desses professores atuavam em escolas rurais onde

que sequer havia energia elétrica. Fatores, estes que não os impediram de participar do curso

ofertado em ambiente virtual de aprendizagem (AVA), enquanto atuavam em suas escolas.

Buscando compreender os registros textuais dos professores nos memoriais reflexivos

elaborou-se dois questionamentos: Quais os aspectos positivos e negativos referente ao uso

das tecnologias estão relatados nos memoriais reflexivos? Qual a proporção entre eles?

O memorial reflexivo fora proposto como uma forma de assegurar a qualidade do processo de

formação dos professores-coordenadores. Foram realizados em três momentos, em um

intervalo de aproximadamente quatro meses entre eles. Na perspectiva de que os cursistas

pudessem responder de forma consciente e espontânea, possibilitando-os fazerem uma

reflexão do seu processo de aprendizagem e uma autoavaliação do trabalho realizado. Esse

instrumento constituiu-se num espaço no qual o cursista emitia comentários e refletia sobre os

próprios registros. Criando assim oportunidades para questionar e, sobretudo, de se

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questionar, possibilitando uma reflexão mais profunda. Permitindo ao aprendente acrescentar

dimensões, olhares, desafios, novas dúvidas que antes não existiam (Almeida, 2007; Okada,

2007) e principalmente apresentar sugestões para melhoria do desenvolvimento do curso.

Foram analisados quatrocentos e dois memoriais reflexivos de cinco turmas. A tabela abaixo

apresenta o total dos memoriais analisados em cada um dos momentos do curso.

Tabela 1: Total por memorial

Total M1 M2 M3

402 158 114 130

O memorial reflexivo foi construído no ambiente virtual do curso em formato de questionário,

com três questões discursivas: (1) O que você aprendeu no período, (2) Quais foram as

dificuldades e as soluções e (3) Comentário, sugestões, reclamações ou elogios. Considerou-

se o fato de serem questões abertas, uma vantagem por não induzir os alunos a admitir como

positivo ou negativo algum aspecto que ele não tivesse percebido. Também foi considerado

relevante o fato de que o instrumento não tinha a finalidade de avaliar o aluno, mas o curso

Entendendo que deste modo os professores ficariam muito mais à vontade para fazerem seus

relatos.

Para essa etapa da pesquisa foram analisados os memoriais codificando-os pela forma em que

a tecnologia fora mencionada para posterior agrupamento em categorias por similaridades e

descarte das categorias com até 1% por considerar irrelevantes para a pesquisa. O gráfico

abaixo apresenta o percentual de aprendentes que mencionaram a tecnologia em cada

memorial codificado.

Gráfico 1: Tecnologia: positivos e negativos

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De acordo com o exposto, no primeiro memorial reflexivo ocorreram cerca de 44,4% menções

às tecnologias. Vindo a decrescer no segundo e terceiro memorial para 16,8% e 4,6%

respectivamente. Procurando elucidar as abordagens feitas pelos professores nomearam-se as

categorias abaixo conforme o percentual de incidências.

Tabela 2: Percentuais de incidências nos memoriais

Analisando as incidências nas categorias agrupadas em aspectos positivos percebe-se que

cerca de 2,3% dos professores mencionaram o AVA do curso como de fácil navegação; 8,9%

mencionaram como as possibilidades de aprender ao operarem, navegarem e interagirem pelo

AVA; e 11,9% abordam as dificuldades que tiveram, porém apontaram a superação dos

problemas. O que sinalizou ausência dos problemas quando realizaram os últimos memoriais.

Analisando as incidências das categorias agrupadas em aspectos negativos vê-se que 7,6%

dos professores tiveram dificuldades no manuseio das ferramentas utilizadas no curso; 2,4%

disseram “Não ter computador” em sua residência e 5,7% relataram que a falta de acesso a

internet estava relacionada a inexistência de uma rede local e 5,3% abordaram que tinham

acesso ao computador e a internet, mas com dificuldades de transmissão de dados por se

tratar de uma rede muito lenta, ou intermitência da conexão, ou quando tinha que dividir o

computador com outras pessoas no horário de estudos.

A partir da média nas categorias nos 3 memoriais gerou-se o gráfico da média por memorial.

Gráfico 2: Média por memorial

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A análise dos dados nos permite destacar que, em média, apenas 5,7% dos professores

relataram dificuldades de acesso e 5,3% relataram dificuldades na conexão. O que sinaliza

que o acesso a web não fora considerado um grande problema. Porém, a utilização dos

recursos de internet pode ser mais utilizada na educação, principalmente na formação de

professores, como é o caso do curso em questão.

Num olhar mais acurado é possível estabelecer uma relação entre a categoria “Objeto de

aprendizagem” e a capacidade do professor em solucionar os próprios problemas. O extrato

textual abaixo sinaliza a superação alcançada pelo professor que, num esforço pessoal, foi se

apropriando das ferramentas utilizadas no ambiente virtual do curso e dos conteúdos

disponibilizados, permitindo-lhe a construção de novos conhecimentos.

Posso afirmar que a cada dia, a cada tarefa e a cada encontro presencial aprendo coisas novas. Vou me adaptando mais com o ambiente do curso, manuseando melhor o computador, lendo mais e, principalmente, entendendo melhor o mundo da Educação. (JCS/T2)

Em outro extrato textual apresenta uma situação clara em que o professor reconhece

objetivamente sua aprendência.

Olha esse curso para mim é de grande valia, pois só em está interagindo com outras pessoas e trocando experiências isso já nos proporciona um enriquecimento muito grande. Durante esse curso aprendi a lidar com as tecnologias e vi o quanto essa ferramenta é importante para nos auxiliar na qualidade do ensino aprendizagem. (MCSC/T4)

Quando observamos os resultados da análise dos três memoriais separadamente fica bastante

claro que os problemas ou foram solucionados ou perderam a importância no decorrer do

curso. Alem disso, os problemas referentes ao uso da tecnologia em geral não dependia da

ação docente do curso para a solução, mas da proatividade dos alunos para solucioná-los.

A categoria “Demonstra pouca habilidade” é um importante parâmetro para se perceber a

superação das dificuldades apresentadas pelos professores. Analisando-se o gráfico 2,

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percebe-se que no primeiro memorial reflexivo essa categoria representava um dos principais

motivos relatados, enquanto no segundo e no terceiro memorial esse percentual cai para

menos de 3%. Sinalizando que os professores foram se apropriando da tecnologia “como uma

forma de informação, comunicação e expressão do conhecimento.” (Borges, 2009)

Na categoria “Objeto de aprendizagem” os alunos relataram as dificuldades de uso da

tecnologia como uma aprendência positiva no curso, que inicialmente fora mencionada como

problema e no seu percurso acaba em declínio, indo de 19% para menos de 3% no último

memorial. Enquanto mantém relativamente em alta os relatos de “Dificuldade superada”,

entende-se que as dificuldades em relação ao uso das tecnologias empregadas no curso,

embora houvesse, deixaram de ser significativa.

Conclusão

Este trabalho nos permite reafirmar a importância e a necessidade de disponibilizar e utilizar os

recursos das TDCI nos cursos de formação e nas práticas pedagógicas dos professores.

Constatou-se nessa pesquisa que foram diversos os problemas levantados pelos professores

quando eles estavam na condição de alunos, porém, os problemas mantiveram-se em

percentuais baixos, com menos de 20% em todas as categorias, e com forte queda ainda no

primeiro semestre do curso. Alem disso, o percentual com maior média foram das

manifestações de “Dificuldades superadas”, isso só reforça que os professores envidam seus

esforços para superar os problemas e permanecer com sucesso no curso. Nesse aspecto,

pode-se concluir que as dificuldades relacionadas à tecnologia não foram consideradas pelos

professores como entrave para a participação no curso. Por esse motivo entende-se que as

dificuldades existem, contudo, mas não são motivos para não investir na aquisição desses

recursos para as escolas públicas.

Conclui-se também que o argumento de que os professores apresentam resistência ao uso

das tecnologias não procede, uma vez que foi possível observar que dentre os professores

que mencionaram a tecnologia em seus relatos, quase 20% destacaram o aprendizado quanto

ao uso da tecnologia como um aspecto importante do curso. Conforme alguns relatos dos

professores docentes que atuaram no curso, inicialmente, havia uma sensação de que a

maioria dos professores-cursistas não sabiam minimamente utilizar o computador e em muitos

casos não tinham se quer conta de email, mas foram apropriando-se das tecnologias e

passaram a utilizá-las com maior segurança e tranquilidade, sinalizando uma aceitação e uma

boa vontade em utilizá-las a seu favor.

Sendo assim, seria necessário aprofundar a pesquisa para verificar outras hipóteses tais como:

haveria um contexto inibidor do uso das TDCI nas escolas? Seriam poucos os professores que

resistem a sua utilização e suas vozes ressoariam como se fossem maioria? Entende-se que é

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necessário o efetivo uso das TDCI nos espaços escolares porque são recursos que estão

presentes no cotidiano dos alunos e fazer do espaço escolar um ambiente da sociedade do

conhecimento, possibilitando alunos e professores o acesso às informações disponíveis

universalmente.

Referência

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