HISTÓRIA DE SOROCABA PARA ALUNOS DO FUNDAMENTAL 1

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A HISTÓRIA DE SOROCABA A HISTÓRIA DE SOROCABA Dagoberto Mebius PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL I

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A HISTÓRIA DE SOROCABA

A HISTÓRIA DE SOROCABA

Dagoberto Mebius

PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL I

A H I S T Ó R I A D E S O R O C A B A

Para cr ianças e a lunos do Ensino Fundamental I

Edição especial para Http://independent.academia.edu/DagobertoMebius

Novembro 2013

Reprodução ProibidaNenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meio eletrônico ou

gravações, sem permissão do autor.©- fevereiro/2007/2013 - Texto e pesquisas -Dagoberto Mebius

© - julho-2000/março-2007/2013 - ilustrações Dagoberto Mebius

A HISTÓRIA DE SOROCABAPara crianças e alunos do Ensino Fundamental I

Por Dagoberto MebiusLiteratura para a iniciação à História de Sorocaba e desenvolvimento de pesquisas escolares

CARTILHA DE HISTÓRIA DE SOROCABA PARA CRIANÇAS

Durante as comemorações do aniversário de Sorocaba em 2000, um livreto impresso apenas em preto foi distribuído para alunos do colégio Objetivo de Sorocaba e da Kumon/Sorocaba/Barão de Tatuí. Eram pouco mais de seiscentos exemplares. A linguagem era muito simples e o conteúdo disposto em pequenos trechos ou tópicos. A idéia era despertar nos leitores a curiosidade pela história a partir desses “bocados”. Funcionou. A partir daí foram tantas as solicitações de livretos que fizemos uma segunda impressão com mil exemplares. Duas coisas foram fundamentais para o sucesso do livreto: a linguagem e o formato. A linguagem simples foi dirigida à criança já alfabetizada e o formato de cartilha, que diferente do livro tradicional e maçudo, era menos formal.

Uma terceira impressão ainda foi realizada em 2000. Em 2001e 2002 as tiragens superaram a casa dos quatro mil exemplares com revisões e inserções de mais alguns assuntos interessantes.

Mas foi em 2003 que resolvemos oficializar a cartilha. Agora editada com capa colorida e acrescida de mais informações conservada a mesma elaboração de texto. Superou as expectativas e logo esgotou sua edição.

Agora, esta edição digital com um título dirigido aos alunos do ensino fundamental I (os cinco primeiros anos do curricular), vem novamente suprir as necessidades de uma nova geração de crianças que se iniciam na “alfabetização” da história da cidade e da região. E como afirmamos em nossas palestras nas escolas, é uma maneira prazerosa de conhecer a história da cidade e dos seus arredores.

Dessa forma o novo título que terá agora um direcionamento objetivo, mas também continua sendo um estudo básico para adultos que procuram conhecer a história da cidade, uma vez que o material disponível é raro e nem sempre está disponível.

Por solicitação de alguns leitores acrescentamos a esta edição um pequeno vocabulário do texto.Espero que as crianças... e os adultos que ainda não conhecem a história de Sorocaba e da região sintam

a mesma emoção de fazerem parte da história desta Edição Especial Digitalizada, como já o fizeram outros tantos leitores comprovadamente satisfeitos.

Apresentação da 1ª edição 2003

Um marco na arte de escrever História para crianças

“A História de Sorocaba para Crianças” é um caso incomum de obra que conquistou milhares de leitores, antes mesmo de receber formalmente o status de livro e tornar-se disponível para o público através dos canais de distribuição.

Educador dedicado e inventivo, Dagoberto Mebius foi confrontado, há alguns anos, com o desafio de estruturar um texto de apoio e iniciação à pesquisa, que habilitasse crianças matriculadas nas séries iniciais do ensino fundamental de um colégio a realizar trabalhos, programados por seus professores, sobre as origens e desenvolvimento da cidade.

Apoiado numa sólida bibliografia e no seu conhecimento da realidade local e regional, a cartilha por ele então elaborada revelou, desde logo, qualidades que a credenciavam a empreender vôos mais altos e longos.

Em questão de dias, superou os limites de publicação interna. Docentes de muitas unidades do ensino fundamental, às voltas com a escassez de textos sobre a matéria direcionados para crianças, nela descobriram um precioso roteiro para o preparo de suas aulas.

Esgotaram-se, assim, os exemplares da edição inicial. Os das reimpressões subseqüentes, somando mais de 4.000, foram também prontamente absorvidos por ávidos leitores.

As sucessivas reimpressões acabaram por reconduzir a obra ao público inicialmente visado pelo autor: as crianças. A excelente conjugação entre texto e ilustrações deflagrou, nos jovens leitores, um interesse em percorrer as páginas da obra em nada menor que o demonstrado pelos seus professores.

“A História de Sorocaba para Crianças”, que afinal chega às livrarias, numa edição cuja qualidade gráfica e editorial faz justiça ao conteúdo, é, portanto, obra testada, aprovada e aplaudida pelos docentes especializados em discernir o conhecimento que, pela sua valia, deve ser transmitido aos pequenos estudantes -, e pelas crianças que, melhor que ninguém, sabem reconhecer um livro interessante em meio às publicações rotineiras e enfadonhas.

Com ela, o trabalho de Dagoberto Mebius, pesquisador de reconhecida competência no trabalho de campo e no garimpo bibliográfico, atinge um novo patamar.Não é simples produzir um texto de História em que o empenho de informar não brigue com a tentativa de envolver o leitor. Descobrir o ponto de equilíbrio entre a densidade do conteúdo e a clareza e capacidade de surpreender é empreitada que reclama, do autor, muito esforço. Este deve, ainda, buscar nas ilustrações um recurso que dilate o potencial informativo da obra e reavive o interesse de quem navega ao longo de suas páginas.

Tais dificuldades se dilatam quando o público-alvo é constituído por crianças. Nesse caos, o escritor precisa fazer a realidade conhecida por elas a via de acesso ao passado que, deste modo, se torna inteligível e sedutor.

“A História de Sorocaba para Crianças” associa, às suas características de obra modelar para a faixa etária a que se destina, a de paradigma a ser considerado pelos que se propõem a adquirir competência na arte e técnica de produzir livros de História aptos a conquistar o exigente público infantil.

Essa dupla condição permite antever o êxito editorial em que, de certo, se transformará.

Geraldo Bonadio Sócio efetivo fundador da Academia Sorocabana de Letras e da

Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia.

O lugar onde a terra está rasgada “Vossoroca!”Era assim que os índios que chegavam ou moravam aqui chamavam este lugar. Isso porque a terra, apesar de muitas matas

e rios, tinha enormes buracos que em alguns lugares que davam a impressão de que a terra estava se rasgando ao meio. Eles chamavam esses buracos de “vossorocas, voçorocas ou so-ro-kawa”. A corruptela e o desuso da língua tupi deram origem ao nome Sorocaba.

As vossorocas são enorme buracos ou fendas na superfície da terra, cuja origem é a erosão provocada por fatores naturais, principalmente as águas das chuvas muito fortes. Quase não existem mais vossorocas em Sorocaba.

A maioria delas foram obstruída com lixo e acabaram servindo de aterros sanitários. Isto é, colocando nelas o lixo que a cidade produz.

Chuvas fortes, ventos e clima seco, provocavam o fenomeno natural das

vossorocas,Que é a perda da

estabilidade na cobertura vegetal e a

desagregação dos componentes minerais do solo, diferente das vossorocas modernas

causadas pela ação predatória do homem e que ocorrem em alguns

lugares do Brasil.Restam poucas

vosssorocas na região

de Sorocaba.

Um rio com muitos peixes

Durante milhões de anos o rio Sorocaba vem dando forma ao imenso vale que começa lá na Serra de São Francisco e vai terminar quando o rio alcança e desemboca no rio Tietê.

O rio Sorocaba antigamente serpenteava pelas matas e terras da cidade. E a cada curva formava terrenos encharcados com enormes brejos, onde grande quantidade de aves aquáticas juntavam-se para se alimentar. Toda a margem do rio Sorocaba era coberta de árvores e uma rica fauna tinha ali seu habitat. Nesse rio os pacus, pintados, jaús, curimbatás, cascudos, caras, mandis e outros peixes eram encontrados com muita facilidade.

Muitos animais como onças, pacas, porcos-do-mato, catetos, queixadas, macacos, quatis, antas, tamanduás, cobras, jabutis e até jacarés existiam nesta região.

Os pássaros e aves destas paragens eram os: nhambus, papagaios, araras, bicos-de-lacre, sabiás, mutuns, macucos, joões-de-barro, papas-capim, tizilrros, jaçanãs e outras tantas espécies.

As árvores e plantas silvestres eram os: ipês, perobinhas, cambarás, paus-de-angu ou amargoso, paus-viola, mutambas-do-campo, cabriúvas, caviúnas, ingazeiros, umbaúbas e outras mais. Frutas como as cabeças-de-negro, arixicuns, pitangas-do-campo, gabirobas, goiabinhas, araçás, bananas-do-brejo eram muito comuns nos campos que cercavam a imensidão das terras.

João-de-barro

Juriti

Aritcum, goiabas,banana-do-brejpitangas Indaiá

Mandí

Lobo-Guará Paca Jabutí

Nem quente nem frio

O local era perfeito para longas temporadas de caça, pesca e para o plantio de alguma roça de mandioca. Assim foi fácil para os primitivos habitantes os índios, se fixarem nas partes mais altas dessas terras. Nesses locais, além da fartura de animais, aves, peixes e frutas, havia também a segurança contra um possível ataque de outras tribos e o horizonte que se descortinava do local era muito bonito. A ocupação humana por estes lados começou por volta de 3000 anos atrás. Os primitivos habitantes grupos de 30 a 40 indivíduos, faziam desta região sua passagem com direção ao sul do continente americano e retornavam algumas vezes pelo mesmo caminho denominados de “peabiru” (termo Tupi ou Guarani quer dizer: caminho, trilha ou passagem) existiam várias trilhas como essas pelos sertões brasileiros, incluindo os da região de Sorocaba.

Há uma lenda sobre a fantástica “Estrada do Sol”, que partindo da região de Cuzco no Peru, atravessava o chaco paraguaio e o pantanal mato-grossense, passava ainda pelo morro Araçoiaba e teria como chegada a famosa “Calçada de Pedra” em São Vicente, São Paulo. Essa “estrada” das histórias lendárias dos nossos índios, ligaria o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico. A história dizia ainda que essa estrada possuía em intervalos regulares, “pirâmides” como marcos ou estágios de paradas. O principal deles seria uma suposta “pirâmide” existente no morro Araçoiaba, onde inclusive inscrições ruprestes teriam sido encontradas. É uma história bonita que poucas pessoas conhecem. Mas pouco provável ter existido tal “estrada”.

Os primitivos habitantes

É provável que os primitivos habitantes, tenham se utilizado desses caminhos ou trilhas ou ainda costeando as áreas limítrofes do Atlântico. Alguns grupos possivelmente tenham subido pelas encostas das serras ou vindo pelos caminhos das terras mais altas como, por exemplo, os caminhos que deram origem a estrada, como a Rodovia Raposo Tavares, que até meados do século 20 (1949 a 1953) tinha a maior parte do seu trajeto de São Paulo a divisa do Paraná praticamente de terra batida e seguia também um antigo traçado que posteriormente foi demarcado pelos tropeiros. Esses traçados ou trajetos eram baseados em um “peabiru” bastante primitivo

Talvez tenham ficado um bom tempo por aqui, até se deslocarem para o sul onde se encontram com outros grupos humanos que tenham descido o continente pelos lados do Pacífico, formando assim grande parte das tribos primitivas do sul do continente americano.

Não se sabe quase nada a respeito desses homens primitivos. Podemos apenas fazer suposições de como seriam. A partir de mais ou menos 1000 anos atrás eles começam a se organizar em pequenas nações tribais e a formar famílias indígenas conhecidas como: Uetakas, Guaianis, Quíchuas, Tupis e Guaranis neste lado leste do continente sul americano.

Esses grupos crescem em número e vão se dividir novamente formando então, nações diferentes. Algumas nações dominaram uma vasta área do nosso país. Formaram grupos de língua diferentes e foram os primeiros “homens brasileiros”. E nesta região, durante muitos e muitos anos, encontravam-se os Tupiniquins, Tupis, Guaranis e Carijós.

Os mais significativos para a história de Sorocaba e região, são os Tupiniquins e os Carijós. Os Tupiniquins eram mansos e muito indolentes, isto é, não gostavam de muito trabalho. Os Carijós, mais agressivos, eram inimigos mortais dos Tupiniquins. Ambos deixaram poucos sinais de sua passagem.

Restam poucos fragmentos dos locais onde construíram suas aldeias. Eram tão atrasados que suas ferramentas eram de pedra na época do descobrimento. Suas flechas feitas de um caniço retirado da taboa e os arcos de butirama ou ari uma palmeira hoje extinta nesta região. A corda era de fibra de “gravatá”. Utilizavam uma argila denominada “taguá”, para fazerem vasilhas, gamelas, cuias e vasos mortuários. Essa argila retirada do leito dos riachos da região possuía minerais ferrosos na sua composição, o que dava uma consistência porosa e quebradiça aos objetos de cerâmica que faziam. Essas peças eram simples e cozidas em fogueiras, não possuíam nenhum desenho ou forma especial e raro é encontrar um objeto pintado ou com cores.

Não tinham nenhum tipo de vestuário, andavam nus. As mulheres cuidavam das roças, das construções, de fazer cerâmica e objetos de utilidade doméstica.

As crianças não brincavam como as crianças de hoje. Elas tinham obrigações junto às mulheres e apenas possuíam figuras de animais em argila ou algum animalzinho de estimação, como um pequeno macaco ou sagüi para lhe fazer companhia, até que pudessem acompanhar os homens na caça e na pesca, e em seguida nas guerras contra outras tribos. Aos homens competiam à feitura de adornos pessoais, as pinturas cerimoniais e as guerras.

Essas tribos tinham no máximo 200 pessoas. Quase todas com graus de parentesco entre si. Não haviam estranhos ao grupo familiar.

Os Tupiniquins

Hoje, quem mora nas áreas do Jardim São Carlos, Altos do Campolim, Esplanada, Jardim Sandra, nem desconfia que esteja morando justamente onde as grandes aldeias Tupiniquins existiram. Grande parte dessas áreas hoje está totalmente diferente do que era. Muitas peças indígenas como “igaçabas” (urnas funerárias), potes de pintura, alguns machados de pedra foram encontrados nesses bairros durante a construção de casas. E bem próximo onde hoje está o Shopping Esplanada havia um dos maiores aldeamentos. Eram tupiniquins. As evidências de choças, fogueiras, ferramentas e sepultamentos são muito comuns nesse local. Lamentavelmente a ocupação imobiliária está destruindo esses locais, assim como já acabou com outros tantos na nossa cidade.

Muitos objetos e utensílios, a cultura e língua dessas tribos primitivas estão perdidos para sempre, as modificações nessas áreas próximas vem desfigurando totalmente os locais e não há cuidado de se preservar. Assim, vão sendo apagados os vestígios e registros desses povos indígenas da nossa cultura. Os primeiros homens brancos ou europeu chegaram aqui por volta de 1589, destruindo tribos indígenas e se instalando nas áreas próximas ao morro Araçoiaba

Alguns objetos e utensílios indígenas ainda podem ser vistos em museus. São peças frágeis que só podem ser manipuladas por especialistas como antropólogos, arqueólogos e historiadores especializados. As figuras A, B e C, são brinquedos, raramente vistos em acervos ou encontros arqueológicos.

A B

C

O homem branco

Quando Pedro Álvares Cabral tomou posse das terras brasileiras em 1500, Portugal ainda não sabia o que havia por aqui. Tinham apenas uma vaga idéia do tamanho da posse que lhes cabia por ordem do tratado de Tordesilhas.

Em 1589, Afonso Sardinha, um português aventureiro, rico e vereador em São Paulo era dono de uma mina de “faiscar” ouro perto do morro do Jaraguá, veio juntamente com seu filho mameluco (filho de branco com índia), conhecido como “o mameluco do Afonso Sardinha” (mais tarde é que ele assume verdadeiramente o nome do pai).

Ambos vieram procurar riquezas nestas terras, porque alguns índios-escravos diziam: “além do Voturuna, depois do Araçaryguama, bem perto do rio que vem do Vuturaty, que passa pelo Itavuvu e chega ao Biraçoiava, há uma imensa “lagoa de ouro” guardada por “nhangá” e aquele que a ela chegar ficará muito rico.”

Os primeiros homens brancos a chegarem nesta região foram Affonso Sardinha, o pai e seu filho Affonso Sardinha, o mameluco.Assim como eles outros aventureiros vieram e se foram. Alguns anônimos, outros figuras importantes como o governador-geral do Brasil - Dom Francisco de Souza por volta de 1610.Muitas cidades de hoje surgiram pelas andanças desses homens pelos sertões.Enfrentavam perigos desconhecidos, fome, doenças e ataques de índios. Muitos morriam e eram sepultados a beira dos caminhos.O próprio Affonso Sardinha, o mameluco morreria alguns anos mais tarde numa dessas aventuras da época colonial.

A fantástica história de um morro

Na verdade, o surgimento da maior parte das cidades da região foi sem dúvida em razão da vinda dos Afonsos Sardinhas a procura de ouro no morro Araçoiaba. A partir daí é que outros brancos vieram e tudo começou a mudar por aqui.

A lenda da “lagoa dourada” é muito bonita, vale a pena descrevê-la: “Ao findar o dia, o sol se punha por detrás daquele morro coberto por imensa floresta de ipês, perobinhas, manacás, umbaúbas, cipós, butiramas, loureiros, paus-d'alhos, jacuruviras, e outras maravilhas seculares da nossa flora”. E enquanto o dia se fundia com a noite, os animais e aves diurnas faziam enormes alaridos em busca de seus ninhos para se abrigarem do breu que chegava... E os animais e as aves da noite desse instante em diante começavam a se agitarem em busca da caça para se alimentarem . Era a natureza de cada um cumprindo o seu papel de acordo com as normas da criação. O lusco-fusco se acentuava cada vez mais e o sol se pondo sobre o topo do morro na visão do gentio, era engolido pelas águas límpidas da lagoa que havia sobre o cabeço Vermelho do morro ali o sol se demorava um pouco mais e refletia nas águas calmas um dourado fulgurante, intenso e magnífico era a “Morada da mãe do ouro”, a lagoa que magicamente possuía os tesouros tão bem guardados por seres misteriosos e fantásticos como curupiras, juruparis, sacis-pererês eboitatás sob as ordens de Anhangá todos eles, entes malfeitores, espíritos que viviam ocultos nas sombras da floresta. Foi essa lenda, do enorme tesouro em ouro do Cabeço Vermelho no morro Araçoiaba, que trouxe os Sardinhas e seus companheiros por aqui.

Os próprios civilizados posteri-ormente passaram a acreditar que fantasmas realmente guardavam os tesouros do Araçoiaba, movidos por uma fantasia maravilhosa de tesouros, duendes, sons sobrenaturais, luzes douradas, que são engolidas pelas águas de um lugar encantado.

Junto ao morro Araçoiaba ainda existem “cemitérios” e evidências de

aldeiamentos indígenas, apesar de sucessivas ocupações e degradações

pelas quais passaram esse “verdadeiro parque arqueológico na região.

O arraial que deu origem a cidade de Sorocaba

Os Afonsos Sardinhas, homens fortes e aventureiros, não se importaram com os índios que moravam próximo ao morro do Araçoiaba. Muitos foram aprisionados e outros tantos dizimados. Não havia ouro nem tesouro, tudo era lenda.

Os índios na sua infinita pureza criavam histórias para dar mais encanto ao paraíso que ali existia. Os nossos índios não tinham muita engenhosidade ou habilidade industrial, mas possuíam rico e lindo acervo de lendas e entes mágicos que eram os guardiões das suas florestas, dos rios e dos seres que nelas habitavam.

No lugar do ouro apenas pedras duras de um mineral conhecido como pedra-de-ferro a magnetita. Mas a viagem não foi perdida, junto ao ribeirão do Ferro, construíram dois forninhos e com as pedras-de-ferro fizerem alguns instrumentos rústicos para lavrarem as terras em volta. Assim nascia em 1599 o arraial de Nossa Senhora do Itapevussu por ordem do Governador do Brasil Dom Francisco de Souza, que veio pessoalmente visitar a empresa dos Sardinhas. Mas essa vila pouco durou. Em 1610, os poucos habitantes já haviam abandonado o local da vila e saíram a procura de melhores terras para cultivos das suas roças. Alguns descem o ribeirão do Ferro em direção ao rio Sorocaba e se instalam no local chamado Itavuvu.

Apesar da Vila do Itapevussu ter sido abandonada, ainda assim ela servia de referência para a passagem dos preadores de índios e desbravadores de sertões. Um desses personagens vai marcar definitivamente a história da região. Baltasar Fernandes, era o seu nome.

Filho de Manuel Fernandes Ramos e Suzana Dias, era bisneto por parte de mãe do famoso João Ramalho e da índia Bartira. Baltasar Fernandes, nasceu em São Paulo, onde hoje está situado o bairro do Ibirapuera, em 1580. Fez várias entradas nos sertões em busca de índios. Mão de obra escrava de alto valor naqueles tempos. Em 1636, com pouco mais de 56 anos, voltava de uma das grandes campanhas contra as Reduções do Tape, no Guairá, juntamente com sua gente e cerca de 400 peças índias e fazem parada no Itavuvu, onde é recepcionado por um pequeno grupo de moradores. Por estar abandonado o pelourinho no alto do Araçoiaba, o mesmo é trazido e instalado no Itavuvu e em homenagem ao rei Felipe II aquele aglomerado de choupanas recebe o nome de Vila de São Felipe. Seria o embrião da futura Sorocaba.

Baltasar Fernandes era um homem de muita fibra, foi um bandeirante audaz. Destemido caçador de índios. Chegara até as terras do Paraguai onde se casou com Maria Zunega, com quem teve uma filha. Após ficar viúvo, casou-se com Isabel de Proença com teve 9 filhas e 3 filhos.

Com a morte da mãe herda parte das terras do “Apotribu” e retorna ao arraial de São Felipe. Em 1654 está com sua família novamente na região. Seu desejo era fazer do arraial uma vila, como seus irmãos André, que fundara Santana do Parnaíba e Domingos, fundador de Itu. Mas o local oferecia poucas chances de agricultura. Os meandros do rio Sorocaba, ficavam constantemente alagados com as cheias nos períodos de chuvas. Provocando estragos nas pequenas lavouras e impedindo o progresso do arraial.

Abandonando o arraial de São Felipe, os moradores, liderados por Baltasar Fernandes, sobem em direção a cabeceira do rio Sorocaba. Mas se instalam um pouco abaixo em ambos os lados do rio, onde hoje se localiza parte do Jardim Sandra, da avenida Pereira Inácio - que liga Sorocaba a Votorantim e toda a região que margeia o rio até o Jardim Iguatemi. A casa situava-se exatamente onde hoje está uma clínica médica e parte de um condomínio residencial.

No final do ano de 1970, ainda era possível ver parte da casa de Baltazar Fernandes, quase em frente ao Parque da Biquinha. Logo em seguida ela foi totalmente demolida e nada mais restou no lugar. Nem ao menos uma placa indicando o lugar da primeira casa de Sorocaba. De estilo bandeirantista do século XVI, resisitiu por mais de 300 anos ao tempo e ao homem.

Um novo arraial começa a nascer no vale do rio Sorocaba

Estamos no ano de 1654, uma enorme casa de fazenda em estilo bandeirantista, construída de taipa domina a suave colina sobre o vale do rio Sorocaba, (onde hoje está à entrada do Jardim Sandra). Era a casa grande da fazenda de Baltasar Fernandes e de sua mulher, Isabel de Proença e seus filhos e filhas.

Outras famílias de brancos e mamelucos e muitos índios-escravos moravam nas choupanas e cabanas ao redor. Junto à casa sede da fazenda existia uma pequena capela de Santa Cruz como era de costume. Baltasar Fernandes mandou então construir uma outra capela maior no lugar mais alto e protegido de seu arraial. Instala

uma imagem que recebe o nome de Nossa Senhora da Ponte. Com o apoio de seu irmão André, consegue a vinda de padres ou monges de São Bento para rezar missas, ensinar letras e ladainhas aos filhos dos que aqui moravam, dando-lhes em troca terras, gado e escravos. Era o começo do Mosteiro de São Bento.

O arraial estava quase nascendo.

Logo vieram se juntar aos pioneiros: Braz Esteves Leme, que foi ter uma grande fazenda pelos lados do Itinga e Campo Largo; Jacinto Moreira Cabral cuja fazenda situava-se perto do atual bairro da Terra Vermelha seu irmão Pascoal Moreira Cabral tinha fazenda nos altos da serra de São Francisco. De São Paulo veio o rico comerciante Cláudio Furquim e de Parnaíba, Francisco Sanchez, ambos castelhanos.

O Arraial estava pronto para nascer, só faltava o pelourinho para lhe dar autoridade. Baltasar Fernandes solicita ao governador-geral da Capitânia Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que o pelourinho do

arraial de São Felipe fosse instalado na nova localidade, afirmando em documentos que na nova paragem já haviam mais moradores e pessoas com dotes e muita fé. Obtida a permissão o pelourinho é transferido para as imediações da capela e da antiga casa da Câmara. A data do despacho favorável seria 3 de março de 1661. Baltasar Fernandes morre aos 80 anos de idade, no dia 21 de abril de 1667. Como seus irmãos André e Domingos, Baltasar fundara também um arraial. A “Villa de Sorocaba”.

Nasce a Vila de Sorocaba

Um celebre quadro do saudoso Ettore Marangoni mostra em detalhes, índios sob as ordens de Baltasar Fernandes erguendo um tronco tosco. Era o pelourinho do abandonado arraial de São Felipe e que agora, marcava definitivamente o nome de Sorocaba. Mas levariam longos sete anos para que o pequeno arraial recebesse sua certidão de nascimento com o nome de Vila de Sorocaba.

Baltasar Fernandes conseguira finalmente fundar uma cidade.

A capela foi construída no ponto mais alto do arraial, mesmo estando distante da casa grande de Baltazar Fernandes. O pelourinho foi colocado logo abaixo a direita da capela, entre a trilha da Boa Vista de Cima (hoje Rua Nogueira Martins) e onde começava a primitiva rua de São Bento. A primeira rua de Sorocaba, pois por ela chegava-se até a passagem que atravessava o Rio Sorocaba e dali seguia - para a esquerda: caminho do Mato-Dentro, Caguassú e “Villa de Ytu”, ou ainda pela direita: o caminho da “Villa de São Paulo”. Nos primeiros anos do arraial, os sepultamentos dos menos favorecidos era feito do lado esquerdo da capela - onde hoje está a praça Carlos de Campos. Isso durou por mais de 150 anos.

Como era a vida na vila nessa época

As pequenas casas de taipa e choupanas de pau-a-pique cobertas com palha de sapé ou faias de palmeiras concentravam-se ainda próximas ao rio, em frente ao caminho de onde se partia para Villa de São Paulo de Piratininga. Não haviam ruas ou arruamentos, as casas iam sendo construídas de acordo com a necessidade dos moradores. Portas e janelas eram feitas de madeiras lavradas a mão. As dobradiças e ferrolhos eram de ferro batido ou pesadas trancas de peroba. O interior das casas era muito simples e quase não haviam mobílias e objetos como pratos, talheres ou coisas desse tipo. As camas eram “catres”, forradas de palha e folhas de taboa trançadas ou redes. Além disso, grossos mantos de algodão ou paina formavam a maior parte das roupas da casa. Tinham cercas de pau-a-pique ou varas de lascas de guarantã para delimitar as áreas.A capela do mosteiro era o centro político e social do arraial.

Uma espécie de escola existia ao lado da capela (interessante que nesse local passado mais de trezento anos haveria uma outra escola o Colégio Ciências e Letras). Essa escola era destinada somente aos meninos brancos que aprendiam a ler e escrever. Aos mamelucos e índios era ensinado apenas o cântico das ladainhas das missas em latim, para que quando morressem tivessem o “perdão divino”.

Às meninas, mesmo as brancas de famílias importantes, era vedado qualquer ensinamento que não o religioso e o doméstico.

Cestos para grãos

Casa de “pau-a-pique”

catre

Baú ou bruaca

tranca

ferrolho

Cêrca de lascas de guarantã

Enxadae machado

pilão

candeeiro Mesa e bancocom os utensílios mais usados:

caldeirão de ferro, moringa,faca, concha, gamela, castiçal,

e cuia para bebidas

Quarto

SalaCozinha

Quarto dos arreios

“Choça” - de taipa, Coberta de sapé - século XVII -

típica no arraial de Sorocaba

Como eram as a pessoas daquela Sorocaba tão distante

Os brancos eram a sociedade, os mamelucos e índios não se contavam. As roupas eram muito rústicas, quase sempre peças de um tecido de algodão grosseiro, chapelões de palha ou de couro de cabra, um cinto de couro cru, um bornal ou sacola de couro ou palha, sapatões de sola ou sandálias para os mais ricos. Os mais pobres andavam descalços.

Os homens, por terem poucas atividades passavam o tempo nas caças e pescas ou lidas dos matos. Eram comuns os casos de embriaguez pela aguardente.

Criavam alguns animais domésticos e faziam pequenos roçados para o sustento das pessoas. O comércio era praticamente inexistente, mas havia troca de gêneros ou objetos de acordo com as necessidades de cada família ou indivíduo.

Os índios andavam praticamente nus e eram os escravos para tudo, apesar de indolentes e não afeitos a serviços pesados, os mamelucos eram fortes, mas muito arredios ao trabalho, perambulando pelas matas próximas a cata de pequenos animais e aves silvestres e fazendo estripulias muitas vezes.

Os brancos não possuíam nobreza nem tão pouco educação a mais do que os seus serviçais.As crianças viviam soltas e andavam praticamente iguais aos índios e mamelucos, seminuas até certa idade. Ao atingirem

o início da puberdade os meninos passavam a usar calções e roupas mais adequadas para esconderem suas “vergonhas”. As meninas não saíam de perto das mães. Depois de crescidas, no início da puberdade viviam envoltas em mantos que as cobriam até a cabeça.

As mulheres usavam pesados e surrados vestidos com mantilhas de crochê e cabeças cobertas por xales de um tecido linho, tamancas de couro eram a moda geral. Elas quase não apareciam, somente durante as missas dominicais e dias santificados. Eram responsáveis por todos os afazeres domésticos e levavam uma vida praticamente de clausura. Tinham na confissão aos padres o grande momento de poderem falar com outra pessoa que não fosse o pai ou marido, seus senhores desde que vinham ao mundo.

Os casamentos eram combinados ou arranjados pelos pais. A mulher, após a cerimônia religiosa, era praticamente arrastada para a sua nova morada para servir ao homem escolhido pela família.

O sino do mosteiro era o sinal para reuniões em caso de necessidade. Todos obedeciam. Rezava-se muito e entregava-se os destinos a Deus.

A “vadiagem” dos meninos, na realidade tinha como finalidade lhes fortalecer o físico e estarem prontos para sairem junto aos pais nas lidas do sertão. Essas crianças enfrentarão feras, índios, doenças, fome, insetos e animais peçonhentos

com o mesmo destemor dos homens mais rudes e audazes. Quanto a mulher, cabe ficar para administrar as posses da família e cuidar das roças.

Como era a alimentação dessas pessoas

Como todo bom paulista, os primeiros sorocabanos também não gostavam muito de lavorar. A caça era farta, os rios piscosos, nos matos muitas frutas e pouca panela e prato deixavam as pessoas mais à vontade para escolherem uma alimentação menos complicada. A carne de caça e peixe eram mosqueadas na brasa e com um bocado de farinha de mandioca, servida em gamelas ou cuias. Era o suficiente.

Nas épocas de calor intenso, logo após as chuvas de verão, surgiam os inúmeros içás ou tanajuras em revoadas que eram caçados avidamente para serem torrados em grandes panelas de ferro e depois servidos como verdadeiras iguarias.

Não havia copos, nem garrafas como conhecemos hoje. Eram canecos de barro ou cuias de coquinho-indaiá e botijas de barro cozido revestidos por esmalte quando muito. Neles guardava-se aguardente o outra bebida fermentada obtida da mandioca. A água era das minas que existiam em quase todos os lugares e conservada em grandes moringas de barro cozido. Com o passar dos anos esse estilo de vida foi se modificando, mas não muito diferente disso.

Espada curta com punho protegido,era uma espécie de arma e ferramentamuito útil para a luta e para desmatarnas lidas nos sertões.

A vila de Sorocaba crescendo

Com a chegada do ciclo do ouro, muitos sorocabanos tornaram-se bandeirantes famosos. Em grande bandos organizados viajavam a pé, a cavalo e ou em grandes barcos para os mais distantes lugares. Descobriram terras e fundaram arraiais e vilas pelos sertões afora. Muitos voltaram ricos com o ouro encontrado nas suas andanças e construíram casas grandes e bonitas na cidade ou formaram belas fazendas. Era a grande aventura paulista: das bandeiras e entradas.

Entre os mais famosos estão: Pascoal Moreira Cabral, que chegou ao Paraguai e depois voltou para o interior do Brasil e fundou Cuiabá; André de Zunega; João Antunes Maciel e os filhos João, Antônio, Gabriel, Miguel e Felipe Antunes Maciel, que povoaram o Mato Grosso; Miguel Sutil de Oliveira foi um dos mais ricos bandeirantes. Mas quis o destino que morresse pobre num casebre no Itanguá (a sede de suas terras ficavam onde hoje está o fim da rua Itanguá, entre o Parque Esmeralda e Vila Nova Esperança); os dois últimos grandes bandeirantes sorocabanos foram os irmãos Artur e Fernão Paes de Barros que fundaram Vila Bela de Mato Grosso.

Diferente dos índios, os bandeirantes levavam seus filhos menores para essas jornadas sem saberem se voltariam vivos ou não. As crianças não podiam ser crianças. Seus brinquedos era o de correr pelos campos, apanhar ninhos e aves, subir pelas árvores, imitar os homens mais velhos ou fazer garatujas com carvão das fogueiras nas pedras ou paredes dos muros. Nenhuma responsabilidade ou obrigação com a vida a não ser de crescer forte e destemido para enfrentar os sertões. Eram pessoas embrutecidas desde a mais tenra idade.

O índio não pode mais ser escravo

Por volta de 1750 é proibida a escravidão do índio no Brasil. Baltasar Fernandes chegou a possuir quatrocentos escravos-índios

entre crianças e adultos, homens e mulheres, que ele dispunha e usava da forma que bem lhe provesse e cuja alimentação era a mais rala possível: farinha de mandioca, caça e pesca e frutas do que sobrava das despensas da casa grande.

Em conseqüência da proibição da escravidão indígena, negros africanos são trazidos para substituir os índios. Como a maior parte dos índios que viviam por aqui já estavam habituados àquela situação servil, muitos acabaram morrendo de fome ou inanição. Outros se internaram novamente nas matas e passaram a roubar e matar os viajantes. Mateiros contratados pelos vereadores ou simplesmente bandidos passam a fazer uma implacável caçada a qualquer índio. Era o fim dos indígenas. Os verdadeiros donos das terras brasileiras. Essa situação ocorreu em todo território brasileiro.

Não há índios na região de Sorocaba praticamente desde essa época, ou seja, há mais de 200 anos.

Os escravos negros em Sorocaba foram poucos, não existiam grandes plantações para serem cuidadas nestas paragens, dessa forma não havia necessidade do trabalho escravo. E os dois engenhos de cana construídos lá pelos lados das divisas com Itu não deram muito certo. Mas mesmo assim alguns sorocabanos possuíram escravos. Usavam-nos para lhes dar banho e levá-los passear em cadeirinhas. Muitas negrinhas foram compradas por famílias ricas para servirem de brinquedos para seus filhos.

A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema foi quem mais utilizou a mão de obra escrava na sua construção. E muitos homens importantes da vila chegaram a realizar troca de escravos doentes por escravos sadios enviados pelo império na construção da Fábrica de Ferro.

Porem pouco antes da Lei Áurea, Sorocaba já não tinha mais escravos.

Pelas características da sociedade sorocabana na época colonial e depois nos seus diversos

ciclos de desenvolvimento, em Sorocaba a mão de obra de escravos quase não existiu. Exceção

feita na construção da Real Fábrica de Ferro, onde foram trazidos de fora quase uma centena

de escravos.

Os tempos começam a mudar a fisionomia da Vila de Sorocaba

A vila ainda era pequena. Lá do alto da Boa Vista quando se olhava Sorocaba ao final do dia, a impressão era de estar olhando um presépio, tão bonita com suas casinhas alinhadas na subida da rua do Mosteiro e ao redor do largo da Matriz. As casas ao anoitecer tinham seus candeeiros acessos e as luzes bruxuleantes dos bicos de óleo davam uma aspecto todo singelo à vila. O calor do dia era compensado por finais de tarde amenos e noites claras mais frias. As pessoas possuíam um tom de pele avermelhado em virtude da poeira e da lida com os afazeres da terra ou das pequenas roças que rodeavam os baixios do riacho do Couros (atual Supiriri).Com exceção dos domingos ou dias santificados, não havia barulho ou algazarras. O silêncio era quebrado por um ou outro acontecimento extraordinário como o do tropel de animais ou algum desordeiro que exagerou na aguardente.

Toda essa aparência bucólica será quebrada com um fato inesperado: o Tropeirismo.

Por volta de 1720, Sorocaba era mais ou

menos assim:1 - Casa de Baltazar

Fernandes;2 - Mosteiro e cemitério;

3 - Aldeiamento indígena nas terras dos padres;

4 - Matríz e largo;5 - Casa da Câmara e Cadeia, “casinhas” de

comércio e algumas casas de moradia;

6 - “passagem” do rio Sorocaba;

7 - Rio Sorocaba; e8 - “Caminhos” para a

“villa de Ytu” e “villa” de São Paulo.

Sorocaba é mais importante que São Paulo

Em 1733, o povo vila de Sorocaba vê passar pelas suas ruas poeirentas e estacionar próximo a velha ponte de madeira do rio, um bando de homens tropeando uma infinidade de animais com grande alvoroço. Correrias, um misto de espanto e medo se apossou das pessoas.

Uma coisa como nunca se vira antes. Tantos homens e animais juntos. Foi à passagem da primeira tropa de muares com destino as Minas Gerais. Seu patrão é Cristóvão Pereira de Abreu, que trazendo esses animais do sul do país, inaugura inconscientemente um dos mais ricos e duradouro ciclo econômico de Sorocaba, o tropeirismo. Foi a partir desse fato que a Vila cresceu, ficou rica e famosa. Por quase duzentos anos o movimento de dinheiro e a fartura que corriam durante as feiras de muares, fez de Sorocaba uma mistura de pólo capital de fortunas e cultura. Para cá vieram grandes companhias de teatro lírico, passaram grandes personagens da nossa História, floresceram o comércio e pequenas indústrias, até uma siderúrgica foi criada pelo regente D. João, tamanha era a importância estratégica e econômica da Vila de Sorocaba.

Sorocaba passou a cobrar impostos sobre os muares. O que tornou a vila um dos melhores negócios para o governo da época. Grandes fortunas sorocabanas tiveram inicio com o arrendamento das cobranças dos impostos de “barreiras” como eram chamados.

Estrangeiros conheciam Sorocaba e não ligavam a mínima para a Vila de São Paulo. Grandes casarões e sobrados foram construídos pelos ricos comerciantes de muares e outros bens. Sorocaba construiu um belo teatro, chegou a ter 5 escolas de primeiras letras e um grande “Collegio”, era procurada pelos seus artigos de couro e ferragens produzidos nessa época. Enfim, Sorocaba era uma estrela de primeira grandeza no cenário brasileiro.

Os habitantes só tinham olhos e ouvidos para o tilintar dos “patacões ou doblones” dinheiro que corria solto das bodegas aos armazéns, das “quitandeiras” as casas de pousos. Durante um período até as pequenas lavouras desapareceram, tornando muito caro a rala alimentação da vila.

Muitas famílias colocavam os filhos mais fortes para “tropear”. Curioso é que poucos sorocabanos de origem foram “patrões” ou comerciantes de tropas. A maioria deles eram fazendeiros ou “haciendeiros” de São Pedro do Rio Grande.

Por volta de 1897 um surto de febre amarela interrompe de vez o ciclo tropeiro e tudo acaba como por encanto. Até hoje muitas pessoas pensam que Sorocaba nasceu do ciclo tropeiro. Isso é um erro, pois Sorocaba já existia, cresceu

por ele e se firmou com a ferrovia até meados da década de 60 no século XX.

O Colégio do Professor Toledo

No final de 1857, o professor Francisco de Paula Xavier de Toledo constrói na antiga Villa do Campo Largo de Sorocaba, o “Collegio do Lageado”. Esse colégio abrigou e ensinou perto de 500 alunos durante a sua existência, a maioria em regime de internato. E o mais interessante é que havia um grande número de meninas como alunas desse internato, que ficava praticamente no meio do mato, no chamado “sítio da Tapera”, num antigo caminho de tropas.

Lecionaram nesse colégio Jules Martin, André Garraux, Julio Durski, Zeferino Santana entre outros. D. Delfina Mascarenhas Martins de Toledo dirigia o internato feminino.

Foram alunos desse c o l é g i o A r t h u r G o m e s , Ubaldino do Amaral Fontoura, Américo Brasiliense, Rubino de Oliveira, Maria Angélica B a i l l o t , J o ã o L o u r e n ç o Rodrigues.

O “ C o l l e g i o d o Lageado” foi um dos maiores estabelecimentos de ensino da Província e conhecido em outras províncias pela qualidade do seu ensino. Infelizmente com a morte do Professor Toledo, o Colégio deixou de existir e hoje nada mais resta desse magnífico Colégio que ali existiu até o final do século XIX..

Se compararmos, o “Collégio do Lageado” era maior que algumas

escolas de hoje.

A Real Fábrica de Ferro do Ipanema

Por ordem do príncipe-regente D. João, foi criado o Real Estabelecimento Montanístico das Minas de Ferro de São João do Ipanema, ou simplesmente a Fábrica de Ferro de Ipanema no sopé do morro Araçoiaba. E para dirigir os trabalhos de instalação foi contratado Carlos Hedberg, um sueco que era matemático e não entendia muito de mineração ou de ferro. Conseguiu, no entanto Hedberg, construir a maior parte dos prédios que ainda estão lá para mostrar a grandiosidade do empreendimento.

O ferro só foi fundido em 1818 pelo então diretor da Fábrica, o alemão-prussiano Frederico Varnhagen.

Seu filho Francisco Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, nascido em Ipanema em 1816, é considerado o Pai da História do Brasil.

Na Fábrica de Ferro, como era conhecida, o trabalho era tão difícil e árduo que alguns operários eram presos caso tentassem fugir das suas obrigações.

Foi nessa Fábrica de Ferro que Rafael Tobias de Aguiar foi buscar dois canhões com os quais enfrentaria Duque de Caxias durante a Revolução Liberal de 1842. Mas eles não chegaram a disparar um só tiro.

Logo depois desse acontecimento a Fábrica ficou esquecida de tal maneira que o mato chegou a cobrir a estrada que a ligava a Sorocaba.

Com a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, resolveu o Império brasileiro reativar a fábrica para que nela fossem produzidas as armas para essa malfadada guerra.

Chegou-se a produzir algumas coisas, como pontas de lanças, clavinotes e argolas. As armas mais sofisticadas eram fornecidas pela Inglaterra.

Com a Proclamação da República em 1899, a Fábrica foi definitivamente fechada.

Sorocaba e seus ciclos econômicos

Por estar situada numa região estratégica do Estado de São Paulo, ocupa hoje um lugar de destaque na história econômica do Brasil. É um dos mais sofisticados pólos industrial de “ponta”, possui um grande número de indústrias na sua maioria não poluente ou com baixo nível de emissão de resíduos. Tudo ecologicamente correto.

Mas não foi sempre assim. Durante o final do século XIX e até bem próximo do século XX quase 100 anos de indústrias e ferrovia, Sorocaba praticamente dizimou suas matas de cerrados. Os mais destrutivos ciclos econômicos foram o da ferrovia e o da laranja que desmataram mais de 70% da área verde do município. Um para obter lenha para as caldeiras das locomotivas e o outro para as grandes plantações de laranjas, da qual Sorocaba foi um dos maiores produtores do mundo nos anos 30 do século XX.

A Fábrica de Ferro de Ipanema, cuja tecnologia obedecia a padrões industriais primitivos, apesar de ter sido projetada e construída por europeus e dirigida por suecos e alemães, usava como combustível madeira e lenha retirada das matas do seu entorno. Chegando Joaquim de Souza Mursa, um dos diretores da Fábrica de Ferro por volta de 1864, planejou buscar madeira combustível nas matas da Serra do Mar através de uma ferrovia especialmente construída para isso. Ainda bem que não deu certo!

Alto-forno do Mursa - só a construção dele custou mais que todo investimento desde 1810 - nunca funcionou e por isso o governo

resolveu fechar a Fábrica de Ferro em 1895.

Juntamente com o tropeirismo que fez passar muito dinheiro por Sorocaba, mas que muito pouco ficou nas mãos dos sorocabanos, ocorreu o chamado “ciclo do algodão”.

Com a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, a Inglaterra ficou sem o algodão americano. Como a indústria de tecidos inglesas precisavam dessa matéria prima, descobre o algodão no Brasil. E a Villa do Campo Largo de Sorocaba tinha campos e mais campos com algodoeiros nativos. A “febre branca” explode na vila de Sorocaba e muitos se lançam nessa aventura de colher algodão e beneficiar as “bolotas” da planta que nascia espontaneamente nos campos.

Como o algodão nativo não aceita um sistematização de plantio, logo muitos começam a perder dinheiro. As máquinas de beneficiar o algodão, verdadeiras “engenhocas” caseiras, produziam pouco e o algodão era de péssima qualidade. Com o fim da guerra nos Estados Unidos, o algodão sorocabano despenca no mercado. E sai de cena. Durou pouco mais de 8 anos a “febre branca”. Notável desse ciclo do algodão é o surgimento de pequenas indústrias domésticas as tecelagens. Sorocaba tinha alguns homens muito inteligentes e empreendedores.

Francisco de Paula Oliveira e Abreu é um desses homens. Projeta e constrói um tear para tecer seda dos “bichos-da-seda” que criava. É a primeira indústria sorocabana e o início da indústria têxtil que vai correr o mundo com seus produtos.

A tecelagem de seda não deu muito certo. O seu criador era um homem criativo, mas cuidava muito mal da mão de obra. Os operários, na maioria escravos, quebravam as peças mais delicadas das máquinas em protesto ao mau tratamento recebido.

A Estada de Ferro Sorocabana tem um papel importante no contexto local, mas não é um fator determinante para dizer que é um ciclo ou fase econômica.

O algodão propiciou a vinda de muitos europeus, entre eles Matheus Maylaski, um dos fundadores da Estrada de Ferro Sorocabana. E as tecelagens que utilizava a mão de obra local acabaram se findando nos anos 80 do século XX.

A produção de laranja colaborou muito na vinda dos espanhóis para a região.Sorocaba teve assim três momentos importantes: o tropeirismo, o algodão e a indústria, as tecelagens nas décadas

passadas e as indústrias de alta tecnologia nos dias de hoje.São esses os ciclos econômicos que colaboraram na vinda de muitos estrangeiros para a cidade e que hoje formam

famílias tradicionais com nomes estrangeiros.

A história continua

A História de Sorocaba continua. Hoje podemos contar com Bibliotecas Públicas e Particulares, jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão que mantém um arquivo muito grande da história da cidade Sorocaba e da região, locais onde se encontram documentos da Sorocaba de hoje, com muita informação e assuntos diversos como esportes, política, educação e uma infinidade de outros dados que se queira saber.

Há também outras entidades e famílias guardando “verdadeiras relíquias” documentais da história de Sorocaba, que poderiam trazer a luz, respostas para muitas perguntas. Quem sabe um dia poderão esses “tesouros históricos” tão bem

trancafiados as "sete-chaves" serem acessados.As escolas dos primeiros ciclos básicos e do ensino superior são de tal diversidade, que se pode obter formação completa

em vários ramos do conhecimento. Sorocaba possui uma universidade importante e várias faculdades com cursos de humanidades, biológicos ou tecnológicos.

Essa é a história de Sorocaba que de trilha pré-histórica de grupos caçadores errantes há mais de 3000 mil anos encontraram o lugar certo e aqui se estabeleceram.

Graças ao destemor e bravura de homens e mulheres do passado, que tiveram a audácia de sonharem com um lugar para ser um lugar comum a tantas outras pessoas e que hoje é uma das melhores cidades em qualidade de vida do Brasil.

É também a história de muitas crianças que estudaram nos rústicos bancos escolares da “villa” e depois cidade, que se tornaram adultos importantes na história da cidade, do estado e do país. É também a possibilidade de ser de agora em diante a sua própria história.

Crianças! É conhecendo a História, que construímos o nosso futuro. E tudo se inicia nos bancos das escolas. E no presente que aprendemos as lições da História para criarmos o nosso futuro. Depende só de nós. A História nunca pára! E o futuro é hoje.

Para contatos e agendamentos de palestras sobre História de Sorocaba e Região:

Dagoberto Mebiuse.mail: [email protected]

Outros títulos e apresentações em multimídia para oEnsino Fundamental, Médio e Superior:

• Conhecendo a Arqueologia de Sorocaba e Região• O “Collegio do Lageado” e sua História

• Crianças índias, escravas e brancas.• Os Fornos do Araçoiaba 1589 a 1800

• Projeto “Trem da História” somente para o Ensino Fundamental I

Roteiros históricos de Sorocaba

Alguns sítios históricos estão desfigurados ou seu acesso fica impraticável por estarem em áreas particulares, sendo necessário um bom conhecimento desses locais, autorização para estudá-los , fotografá-los ou mapeá-los e assim tentar reconstituir o local.

Aldeamentos indígenas:Sorocaba: Itinga ( Ipanema das Pedras), Altos da Boa Vista, Éden, Campolim e imediações, Terra Vermelha e Vila

BarãoSalto de Pirapora: Itinga (lado próximo à estrada de acesso a Piedade e ao Jucurupava) Araçoiaba da Serra: Jundiaquara Imediações do morro do Guatambu Iperó: na área da atual FLONA no lado em que hoje está o assentamento dos “sem terra” até as fraldas do morro

Araçoiaba (ali existe ainda um cemitério indígena pouco explorado), o outro que ficava ao lado do atual prédio da administração foi destruído por determinação de um dos diretores da Fazenda Ipanema, para se implantar estudos de produção de caju.

Itavuvu local da instalação da Vila de São FelipeCasa de Baltasar Fernandes somente o local, a casa já não existe mais. Entrada do Jardim Sandra (parte do terreno é

ocupado por uma clínica médica e um condomínio residencial).Jardim São Carlos ver o que restou do grande cemitério indígena que ali existia.Mosteiro de São Bento e a estátua de Baltasar Fernandes. veja no interior do Mosteiro a lápide no local de

sepultamento de Baltasar Fernandes. Do lado externo admire a estátua evocando a fundação da cidade de autoria de Ettore Marangoni.

O pelourinho hoje apenas um marco de pedra na rua Arthur Martins. O Museu do Tropeiro em Brigadeiro Tobias.O bairro de AparecidinhaMuseu SorocabanoA CatedralO Mercado MunicipalA Casa da Chácara Amarela - fica enfrente ao ginásio de Esportes e ainda possui algumas casinhas da antiga senzala.Existem ainda alguns arraiais bem antigos em torno da cidade de Sorocaba, procure conhecer alguns o arraial do

Cambará é muito antigo e fica próximo da estrada que liga Sorocaba a Iperó. Um outro arraial interessante e o Jucurupava

Onde encontrar mais informações:Museu SorocabanoBiblioteca PúblicaGabinete de LeituraArquivos da Casa de Aluisio de AlmeidaMuseu do TropeiroJornais locaisEmissora de rádio e TVOutra forma é procurar pelas pessoas ou moradores antigos do local a ser visitado e conversar com eles. Leve gravador e

máquina fotográfica, anote tudo o que perguntar e as respostas.Passear pelas ruas do centro da cidade e observar os casarões que ainda restam muitas fachadas escondidas ou

modificadas pelas marquises e placas das casas de comércio. Anote as datas de construções desses casarões. Percorrer as ruas do Além Ponte e observar os belos trabalhos de alvenaria nas fachadas de muitas casas e prédios obras de

arte dos primeiros imigrantes espanhóis nas décadas de 20 e 30 do século XX.Pela parte dos fundos do Shopping Esplanada ainda é possível ter uma vista do grande vale do rio Sorocaba e os grotões da

antiga “fazenda dos Padres”, local da maior concentração de indígenas nos primeiros anos do arraial.Para facilitar suas pesquisas ou anotações utilize-se de uma ficha como a do modelo abaixo. É muito simples copiá-la para

um caderno. Enriqueça as suas observações com desenhos, mapas, ou fotografias.Depois vá juntando em forma de um caderno ou fichário. Divulgue seus trabalhos na sua escola com auxílio de seus

professores.Você estará dessa forma colaborando para a historiografia da sua cidade.Se precisar entre em contato comigo que terei o maior prazer em ajudar o seu trabalho.

Modelo de ficha de

pesquisa.Utilize um

caderno para fazer um arquivo.

BibliografiaALEIXO IRMÃO, José. Júlio Ribeiro, Ed. Cupolo, SP.(s/d)ALMEIDA, Aluisio. História de Sorocaba para Crianças, ed. Prefeitura Municipal da Cidade de Sorocaba/Codeso, 1980. BADDINI, Cássia Maria. Sorocaba no Império Comércio de Animais e Desenvolvimento Urbano. Ed. FAPESP/Anna Blume. SP - 2002BACELAR. Carlos de Almeida Prado. Viver e Sobreviver em uma Vila Colonial Sorocaba, séculos XVIII e XIX. Ed. FAPESP/Anna Blume SP. 2001BELMONTE. No Tempo dos Bandeirantes, ed. fac-similada, Col. Paulística, Governo do Estado de São Paulo, 1980CELORIA, Francis. Arqueologia, ed. Melhoramentos/Universidade de São Paulo, 1975FELICÍSSIMO JR. Jesuíno, História da Siderurgia de São Paulo, Seus Personagens, Seus Feitos, ed. esp. Inst. Geog. e Geol. de S. Paulo, 1969FLEURY, Renato Sêneca. Varnhagen o Visconde de Porto Seguro, ed. Melhoramentos, SP (s/data)LAMBERT, Jacques. Os Dois Brasis. 8ª ed. Cia. Ed. Nacional /SP - 1973GASPAR, Antônio Francisco. Minhas Memórias, ed. Cupolo SP, 1967LOURENÇO RODRIGUES, João. Um educador de Outrora. Ed. Escolas Profissionais Salesianas. SP, 1935MEBIUS, Dagoberto. Anais do 4º Encontro de Pesquisadores e Iniciação Científica UNISO, Sorocaba/SP 2001.MEBIUS, Dagoberto. Anais do 5º Encontro de Pesquisadores e Iniciação Científica UNISO, Sorocaba/SP 2002.MEBIUS, Dagoberto. Anais do III Congresso Brasileiro de História da Educação Brasileira. PUC-Curitiba/PR, 2004.MENDES, Josué Camargo. Conheça a Pré-História Brasileira, ed. Polygono/Universidade de São Paulo, 1970.MULLER, Pedro Daniel. Ensaio d'um Quadro Estatístico da Província de São Paulo 1836/1837. Typographia de Costa Silveira/ SP - 1838NARDY FILHO, Francisco. A Cidade de Itu, vol I e IV .Ed. Escolas Prof. Salesianas SP,1928 e Ed. Ottoni, Itu/SP, 2000REIS, Paulo Pereira dos. O Indígena do Vale do Paraíba, Coleção Paulística, ed. Governo do Estado de São Paulo, 1979.

ªSALAZAR, José Monteiro. O Esconderijo do Sol. 1 ed., Ministério da Agricultura, Brasília DF, 1982.STRAFORINI, Rafael. No Caminho das Tropas. Ed. TCM-Comunicações Sorocaba/SP. 2001VARGAS, Túlio. Senhor Senador Senhor Ministro. Inst. Nac. do Livro/MEC -0 Curitiba/PR - 1979VERGUEIRO, Nicolau Pereira de Campos. História da Fábrica de Ipanema e Defesa Perante o Senado, ed. UFB/ Brasília/Sen.Fed., Brasília, 1979.

Outras fontesArquivo da Marinha e Ultramar Portugal mapa do século XVIII demonstração do caminho do Viamão até a Vila de São Paulo.

VOCABULÁRIO

Adorno Aquilo com que se orna ou Bornal Um tipo de sacola de couro Catre Camas ou leitos rústicas enfeita (alguém ou algo); ornato, atavio, ou tecido rústico com alças longas onde se sobre o qual se colocava palha, peles de adornamento. levam provisões, ferramentas ou outros animais ou esteiras para servir de colchão.

Anhangá O mesmo que 'nhangá'. objetos. Uma espécie de saco que se leva o Caviúna Árvore de grande porte Ente que protege os animais, sobretudo os tiracolo. também conhecida como Jacarandá-do-mais indefesos, de caçadores ou pescadores Bruxuleante - Oscilante; que campo. Madeira nobre utilizada no fabrico inescrupulosos. bruxuleia, diz-se da luz das lamparinas e de móveis e objetos de adorno.

Audácia - Tendência que dirige e velas que não possuem um brilho fixo, mas Cuia - Recipiente geralmente ovóide incita o indivíduo a, temerariamente, que oscilam na sua luminosidade. feito de argila ou do fruto da “cuieira”, realizar ações difíceis, desprezando Buritama ou Ari Palmeira muito depois de seco, usado para esvaziar canoas, obstáculos e situações de perigo; ousadia, comum nos cerrados brasileiros de cujos beber ou transportar líquidos, farinha, intrepidez, denodo. frutos se produz também uma bebida sementes etc.

Apotribu ou apotrebu Em fermentada chamada Vinho de Buriti. Curupira Anão de cabelos “anhengatu ou tupi” lugar alem do Cambará Árvore frondosa nativa vermelhos, pés voltados para trás, usados conhecido. Sertão. do Brasil e muito comum nos campos. Sua para enganar os caçadores e destruidores

Barreiras - Nos acessos de cidade madeira foi utilizada impiedosamente para a das matas. Protegia os animais e as florestas. ou de povoação, posto fiscal que controla o produção de carvão e combustível no início “Doblones” ou dobrão 1. - Moeda trânsito ou cobra taxas de entrada de da ferrovia. portuguesa de ouro, cunhada à época de D. gêneros, mercadorias etc. No caso do Candeeiro Pequeno utensílio de João V (1ª metade do sXVIII). 2. - Antiga tropeirismo, a cobrança pela passagem ou forma variada no qual se colocava óleo moeda de ouro usada pelos espanhóisuso dos caminhos do estado. combustível vegetal ou animal e no qual Embrutecida Sofrida, endurecida

B i r a ç o i a v a Vi r a ç o i v a o u colocado um pequeno pavio de algodão, o pelo modo de vida. Muito rude.Araçoiaba, quer dizer 'lugar onde o sol se qual era aceso e produzia luz. Os candeeiros Engenhocas - Máquina de esconde'. produziam também muita fumaça, razão construção precária, que geralmente produz

Bocados um pouco de, um pela qual as paredes ficavam enegrecidas. pouco ou mal. Instrumento empírico ou pouquinho de... Carijó Grupo indígena dizimado caseiro. Com pouca tecnologia.

Bolotas Frutos capsulares do pelos brancos no século no inicio do século Faia Folha de um determinado algodão com sementes envoltas por fibras XIX, o nome 'carijó' provém das cores vegetal cujas folhas compridas servem de brancas, amareladas. Algumas são branca e preta que utilizavam como cobertura para cabanas ou pequenas conhecidas há milênios, e diversas identidade. construções.variedades são cultivadas em diferentes Casa de taipa Casa construída com Faiscar ouro - Lugar onde se cata partes do mundo, para obtenção do algodão essa técnica. A 'taipa' ainda é muito utilizada lâminas de ouro perdida no solo das minas e do óleo que se extrai das sementes. em construções rústicas no Brasil. São das minas ou nos riachos. O mesmo que

armações de varas revestidas com barro. lavrar ouro. Atividade de retirar ouro através da lavagem de pedras ou areia.

Ferrolho Pequena peça corrediça indígenas; camotim, vaso funerário. Montanístico Originado de feita de ferro usada para trancar janelas ou Inanição - Estado de esgotamento ou montanística, que era o estudo dos metais e portas. de extremo enfraquecimento, por falta de de sua natureza, seu modo de extração e

Gamela - vasilha de madeira ou de alimentos, ou defeito de assimilação dos fundição.argila, de vários tamanhos, em forma de mesmos. Muar Diz-se dos burros e mulas. alguidar ou quadrilonga, usada para dar de Indústria de Ponta Indústria que se Esses animais são híbridos, resultado do comer, para banhos, lavagens e outros fins. utiliza de tecnologias modernas, sem a cruzamento do jumento com a égua. São

Gravatá Espécie de bromélia utilização de mateiras primas poluentes ou estéreis, isto é, não procriam.parasita cujas folhas longas produzem fibras degradadoras do meio ambiente. Exemplo: Mutamba-da-várzea Árvore de que podem ser encordoadas. Indústria de material eletrônico ou de grande porte, o mesmo que Camacã.

Guerra da Tríplice-Aliança 1864 a informações. Madeira dura.1870 - Guerra empreendida pelo Brasil, Inscrições Ruprestes -- Gravado Nhangá Ente ou gênio imaginário Argentina e Uruguai contra o Paraguai. Foi e/ou esgrafiado em rochas e cavernas por que protegia a floresta e a fauna. Trazia azar um dos mais longos e sangrentos conflitos indivíduos de povos primitivos para quem o visse e os jesuítas deturparam ocorridos na América do Sul. O Brasil gastou Jurupari Ser fantástico do seu significado para diabo ou demônio.quase todo suas economias e inúmeros i m a g i n á r i o i n d í g e n a b r a s i l e i r o . Paina Tipo de algodão produzido brasileiros morreram nessa guerra. E o Representava o diabo. Só podia ser visto pela paineira. A paineira é uma árvore que Paraguai foi praticamente dizimado. Ao fim pelos homens, pois as mulheres ficavam pode viver centenas de anos, suas flores vão da guerra havia um homem em cada grupo de enlouquecidas quando o viam. Todos os do branco ao rosa-escuro. São muito comuns dez paraguaios. A História dessa guerra é instrumentos musicais deviam ficar e possuem espinhos enormes. A madeira da ainda hoje repleta de controvérsias.. escondidos dos juruparis. Pois este o usava paineira é muito mole e de pouco uso.

Hacienderos O mesmo que para enganar as mulheres. Patacões - Moedas antigas de prata, fazendeiros ou estancieiros Lusco-fusco - Momento de transição que valiam 320 réis sem valor comparatório

Içá Fêmea da formiga saúva, que entre o dia e a noite; crepúsculo vespertino; o nos dias de hoje.após acasalar-se no ar, cai ao solo onde anoitecer. Patrões - Chefe da tropa que procura construir um novo ninho. Pela época Manacá Árvore nativa do Brasil conduzia muares e tropeiros. Poderia ser o de calor intenso e logo após as chuvas no cujas flores brancas, rosas ou violáceas são dono da tropa ou apenas contratado para a verão é muito comum revoada desses insetos muito comuns nos campos e serras. Sua finalidade de conduzir. O mesmo que nos campos e até próximo a cemitérios, onde floração é mais visível nos meses de comandante.esses insetos encontram locais mais setembro a fevereiro. Pau-de-angu Árvore de folhas apropriados para seus novos formigueiros. Mateiro Pessoa que pela sua pequenas. Com muitos espinhos e cujas Chama-se também de “tanajura”. vivência em matas tem pleno conhecimento raízes eram utilizadas como purgante.

Igaçabas recipiente de barro, de matas e sertões. Conhecedores de Madeira branca e mole.geralmente. de boca larga, usada para caminhos e trilhas nas matas. Pau-vio la Árvore também guardar líquidos, farináceos e outros Meandros - Caminho tortuoso de um conhecida como Baga-de-tucano. Madeira gêneros; quiçaba, urna funerária dos curso de água muito resistente e durautilizada em

marcenaria. Hoje está em faze de denominar a queda de água do rio Sorocaba extinção. onde hoje é Votorantim. Votorantim tem

Peabiru Em nhagatu ou tupi- origem nessa palavra.guarani: caminho. Mas existem outras Voturuna Morro existente na cidade definições para a palavra, alguns autores de Araçariguama SP.sugerem que a palavra seja de origem inca. O Sopé Diz-se da parte ou do plano importante é que em qualquer língua mais próximo de uma montanha ou de um indígena antiga o sentido da palavra é morro.sempre o mesmo: caminho, trilha ou Tapadas Termo que se empregava passagem. para designar as mulheres paulista no

Pirâmide - Construção arquitetural período colonial, pelo fato de muitas delas terminada com uma ponta, geralmente de usarem uma espécie de manto ou chalé que base quadrangular, com superfícies lisas ou as cobriam quase que totalmente. Esse em degraus feitas de pedra ou tijolos, com costume tem raízes na ocupação muçulmana função funerária (como as do Antigo e do na península ibérica e que foi trazida para o Médio Império egípcio) ou religiosa (como Brasil por portugueses como uma forma de quase todas as pré-colombianas), ou ainda esconder suas filhas e mulheres da vista de no caso da “estrada do Sol” um montículo de outros homens.pedra e saibro para sinalização. Tanajura O mesmo que içá.

Prussiano Natural ou habitante da Tenra Jovem, de pouca idade, muito Prússia. Antigo estado que existiu no norte novo, muito recente, etc.da Alemanha. Seu território foi anexado ao Vasos mortuários o mesmo que

a igaçaba.Império Alemão logo após a 1 . Guerra Vossoroca ou voçoroca Enormes Mundial 1814 a 1818. A Prússia era um

buracos ou fendas em terrenos com pouca estado altamente desenvolvido e seu povo cobertura vegetal e que são provenientes de muito disciplinado. chuvas e outras causas naturais.Sarraceno O mesmo que mouro.

Dos desertos entre a Síria e a Arábia. Região do norte da África. De cor amorenada.

Taguá - Argila tingida por óxido de ferro, encontrada em terrenos erodidos por água corrente;

Tosco O mesmo que grosseiro, rude, sem polimento. Tal como veio à natureza.

Vuturaty O mesmo que 'água branca que cai', palavra tupi utilizada para