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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus de São Paulo Instituto de Artes O Processo de Aprendizagem na prática individual dos contrabaixistas: uma abordagem através da Teoria das Inteligências Múltiplas Relatório Final (Bolsa de Iniciação Cientifica FAPESP) Discente: Diego Rodrigues Furian Orientador: Profª. Dr.ª Luiza Christov São Paulo 2013

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Universidade Estadual Paulista

“Júlio de Mesquita Filho”

Campus de São Paulo

Instituto de Artes

O Processo de Aprendizagem na prática individual dos

contrabaixistas: uma abordagem através da Teoria das

Inteligências Múltiplas

Relatório Final

(Bolsa de Iniciação Cientifica FAPESP)

Discente: Diego Rodrigues Furian

Orientador: Profª. Dr.ª Luiza Christov

São Paulo

2013

DIEGO RODRIGUES FURIAN

O Processo de Aprendizagem na prática individual dos

contrabaixistas: uma abordagem através da Teoria das

Inteligências Múltiplas

Relatório Científico referente ao período de 01 de janeiro de 2013 – 30 de junho de 2013

Processo FAPESP 2012/12250 - 9

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Luiza Christov

São Paulo

201

RESUMO

O presente relatório investigou a prática individual dos instrumentistas e, particularmente, o

processo de aprendizagem da prática individual dos contrabaixistas que cursam a graduação.

Esse trabalho tem como base o conceito de prática deliberada de Ericsson et. Al (1993), a sua

fundamentação teórica sobre prática e a sua correlação entre prática e nível de performance.

Os participantes dessa pesquisa foram três estudantes do curso de bacharelado em música –

habilitação em contrabaixo acústico, que realizaram sessões de prática individual e aulas

individual de instrumento com a Prof.ª Valerie durante a aplicação da pesquisa. A coleta de

dados utilizou diferentes técnicas: 1) Diários - Entrevistas; e 2) Avaliações das aulas

individuais realizadas pela Prof.ª Valerie. As análises dos diários e as avaliaçãos das aulas

individuais foram baseadas no sistema de avaliação dos “Processofólios” de Howard Gardner

(1994) e orientou um dialogo interpretativo dos dados. A análise realizada destacou a

complexidade dos saberes e atividades mobilizadas e socializadas na prática individual e no

seu processo de aprendizagem. Para fornecer outra abordagem a essa complexidade apresento

a Teoria das Inteligências Múltiplas e faço o seu paralelo com a prática individual analisada.

Palavras chave: Prática individual; prática deliberada; processo de aprendizagem; Teoria das

Inteligências Múltiplas; Contrabaixo.

ABSTRACT

The present report investigated the individual practice of instrumentalists and, particularly, the

process of learning of individual practice of bassists who attend graduation. This work is

based on the concept of deliberate practice of Ericsson et. Al (1993), its theoretical foundation

about practice and its correlation between practice and performance level. The participants in

this research were three students of Bachelor in Music – Enabling on Double Bass, who

performed sessions of individual practice and individual instrument lessons with Prof.ª

Valerie during application of research. Various data collection techniques were employed: 1)

Diaries - Interviews and 2) evaluation of individual classes conducted by Prof. ª Valerie. The

analysis of diaries and ratings of individual classes were based on evaluation system of

"Processofólios" of Howard Gardner (1994) and conducted a dialogue for data interpretation.

The analysis highlighted the complexity of knowledge and activities mobilized and socialized

in individual practice and in their process of learning. To provide another approach to this

complexity I present the Theory of Multiple Intelligences and do your parallel with individual

practice analyzed.

Keywords: Individual practice; deliberate practice; process of learning; Theory of Multiple

Intelligences; Double bass.

Sumário

Introdução ............................................................................................................................................... 7

Capítulo 1 – Metodologia da Pesquisa .................................................................................................. 10

1.1 A Prática Deliberada, a Performance de Alto Nível e a Prática Individual................................. 10

1.1.1 Prática Deliberada: Definição, Características e Aprendizagem .......................................... 11

1.1.2 A Prática deliberada na prática individual ........................................................................... 13

1.2 Os Diários como instrumento de pesquisa e coleta de dados: definições, formatos e formas de

análise. ............................................................................................................................................... 14

1.2.1 Entrevistas – Estrutura e Procedimentos de Aplicação ........................................................ 19

1.2.1 Roteiro das Entrevistas ......................................................................................................... 20

1.3 Sistema de Avaliação de “Processofólio” ................................................................................... 21

1.4 Procedimentos da Pesquisa ......................................................................................................... 26

1.4.1 A seleção dos participantes .................................................................................................. 26

1.4.2 Elaboração do cronograma, aplicação dos diários e realização das aulas individuais ......... 28

Capítulo 2: O Processo de aprendizagem da prática individual de três estudantes: Aplicação e analise

dos dados ............................................................................................................................................... 29

2.1 Procedimentos de analises e discussões. .................................................................................... 29

2.2 O processo de aprendizagem de Mayara ..................................................................................... 30

2.2.1 Formação Musical da Mayara .............................................................................................. 31

2.2.2 O processo de aprendizagem na prática individual .............................................................. 34

2.3 O Processo de aprendizagem do Davi ......................................................................................... 49

2.3.1 Formação Musical do participante Davi .............................................................................. 50

2.3.2 O Processo de Aprendizagem de Davi ................................................................................. 53

2.4 O Processo de Aprendizagem de Camila ................................................................................... 66

2.4.1 Formação Musical da participante Camila ........................................................................... 68

2.4.2 Camila e seu processo de aprendizagem .............................................................................. 70

Capítulo 3 - Discussões e correlações entre o referencial teórico e as informações levantadas durante a

pesquisa ................................................................................................................................................. 77

3.1 Prática individual, métodos de estudo e a sua categorização como Prática Deliberada: um estudo

com cada caso. .................................................................................................................................. 78

3.2 A eficácia da prática deliberada: os três pré-requisitos. .............................................................. 81

3.3 A correlação entre Prática individual e o nível de performance. ................................................ 84

3.4 O uso dos diários como um instrumento pedagógico para a prática individual .......................... 86

3.5 O Processo de aprendizagem na prática individual considerações. ............................................ 87

3.6 A complexidade da Prática individual a mobilização de outros conhecimentos ......................... 90

3.2 A Teoria das Inteligências Múltiplas.............................................................................................. 91

3.2.1 A Origem .................................................................................................................................. 91

3.2.2 Definição e Critérios de uma Inteligência ......................................................................... 93

3.2.3 As Sete Inteligências ......................................................................................................... 95

3.2.4 A Teoria das Inteligências Múltiplas e a Prática Individual .............................................. 97

Considerações finais ............................................................................................................................ 100

Referências Bibliográficas: .................................................................................................................. 104

ANEXOS............................................................................................................................................. 106

ANEXO A – Diários e folha de instrução para o seu preenchimento ............................................. 106

ANEXO B – Sistemas de avaliação das aulas individuais de instrumento e o Sistema Pré-definido

de categorias para análise dos diários ............................................................................................. 109

ANEXO C – Entrevista com a participante Mayara ....................................................................... 111

ANEXO D – Diários das sessões de prática individual e Avaliações das aulas individuais da Mayara

......................................................................................................................................................... 120

ANEXO E – Entrevista com o Participante Davi............................................................................ 135

ANEXO F – Diários das sessões de prática individual e Avaliação das aulas individuais do Davi 142

ANEXO G – Entrevista com a participante Camila ........................................................................ 157

ANEXO H – Diários das sessões de prática individual e Avaliações das aulas individuais da Camila

......................................................................................................................................................... 168

7

Introdução

Quando iniciei meus estudos no contrabaixo acústico, a prática individual sempre me

pareceu importante e muito misteriosa. Afinal durante toda minha formação musical sempre

dediquei horas e dias de estudo na prática individual. E foi através de toda essa dedicação que

surgiram alguns mistérios e deles surgiram os primeiros questionamentos.

Os primeiros questionamentos foram decorrentes as muitas horas de estudo dedicados

apenas a prática individual que não resultaram em melhoras significativas na minha

performance musical. E através desses questionamentos surgiu a primeira pergunta: se eu

dediquei tantas horas de estudo para a realização da prática individual porque não houve

melhora?

Infelizmente não obtive respostas com essa pergunta, pelo contrário com ela foram

surgindo mais, mais, mais e mais questionamentos: Será que eu preciso dedicar mais horas de

estudo a prática individual? Eu preciso estudar tantas horas assim? Como os grandes músicos

realizam a prática individual e por quantas horas? Existe uma forma de realizar a prática

individual de maneira correta?

Esses questionamentos me fizeram procurar respostas nos métodos de instrumento e

com os professores que eu estudava e tinha acesso, essa procura trouxe uma resposta que eu

não esperava: Eles não ensinavam ou se preocupavam com a realização correta da prática

individual, eles ensinavam e se preocupavam apenas com a performance musical em si, com

os concertos, com as audições de admissões em escolas e orquestras.

Dessa resposta surgiu um grande questionamento: A maior parte dos dias da minha

formação musical eu realizo a prática individual, a performance musical em concertos ou em

audições ocorrem raramente se comparado a realização da prática individual, portanto não

seria importante ensinar e entender como realizar essa prática corretamente?

Essa questão culminou na ideia central dessa pesquisa. Hoje na condição de estudante

do último ano do curso de Bacharelado em Músico – Habilitação em Contrabaixo Acústico

obtive algumas respostas para essa pergunta, porém ainda encontro a escassez de material e

informações sobre a prática individual por parte de professores e instituição. E durante a

8

minha graduação outros alunos apresentaram os mesmos questionamentos sobre a prática

individual.

As questões formuladas anteriormente, a escassez de informação e os questionamentos

dos outros alunos direcionaram os objetivos desta pesquisa, que se propôs a investigar como

os alunos de contrabaixo acústico ao nível de graduação realizam a prática individual e como

ocorre o processo de aprendizagem nessa atividade. Mais especificamente, a pesquisa

investigou: 1) a bibliografia sobre a prática individual, para fornecer o embasamento teórico

sobre ela e para a pesquisa; 2) a prática individual dos estudantes de contrabaixo acústico da

UNESP e o seu desempenho nas aulas individuais de instrumento com a Prof.ª Valerie; 3) o

processo de aprendizagem da prática individual dos participantes da pesquisa; e 4) outras

possibilidades para abordar a prática individual e a sua complexidade.

Na revisão bibliográfica foi possível encontrar referências importantes sobre a prática

individual, como por exemplo, a de que Professores e alunos de música em geral são

conscientes da importância central desse mecanismo na sua formação, pois instrumentistas

dedicam horas de estudos dentro de sua formação e carreira como músicos profissionais à

prática, mecanismo no qual são aprendidas e refinadas as técnicas ocorrendo o aprimoramento

das habilidades musicais (ERICSSON, KRAMPE, & TESCH-RÖMER, 1993; DUKE,

SIMMONS, CASH 2009; DUKE, ALLEN, CASH, 2011; SANTIAGO, 2006).

Dentre essas referências encontrei uma pesquisa que tentava explicar a prática, sua

importância e ajudava a responder alguns dos meus questionamentos, pois ela relatava que os

músicos de excelência dedicavam mais de 10.000 horas da sua formação para a prática e

apresentava um referencial teórico que explicava a prática e a sua importância na performance

musical. Essa pesquisa foi elaborada Ericsson et. Al (1993) e apresentava o conceito de

prática deliberada e a sua correlação com a performance de alto nível. O conceito de prática

deliberada é uma das bases dessa pesquisa, pois forneceu um referencial teórico importante

sobre a prática individual.

A metodologia de pesquisa foi o estudo com os diários com abordagem qualitativa.

Investiguei três estudantes de graduação em contrabaixo acústico da UNESP que realizaram a

prática individual e aulas individuais de instrumento com a Prof.ª Valerie. A pesquisa utilizou

como métodos de coleta de dados: o diário, a entrevista e o sistema de avaliação das aulas

9

individuais e analise de dados dos diários que foram elaborados com na avaliação dos

“Processofólios” de Gardner (1995).

Para fornecer outra forma de abordagem a prática individual e sua complexidade,

apresento a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner (1994, 1995). A escolha

desta teoria se deve pela consideração da música como uma forma de inteligência e por ela

conseguir demonstrar a complexidade da atividade musical, pois ela requer uma combinação

de inteligências, para exemplificar este processo “para tornar-se um violinista bem-sucedido

requer destreza corporal-cinestésica e as capacidades interpessoais de relacionar-se com uma

audiência, muito possivelmente envolve também a inteligência intrapessoal” (Gardner, 1994).

Esta pesquisa, portanto, inicia-se com a apresentação do conceito da prática deliberada

de Ericsson, et. Al. (1993), como tema do primeiro capítulo dessa pesquisa. Em seguida

descrevo a metodologia da pesquisa para a coleta e análise de dados, procedimentos de

escolha dos participantes e aplicação da pesquisa. O segundo capítulo se trata da analise de

cada caso, a descrição dos dados e a análise da pesquisa. Em seguida, no terceiro capítulo,

apresento as discussões e considerações parciais das análises realizadas com base no

referencial teórico e da metodologia de análise. E apresento a seguir uma abordagem diferente

a prática individual fazendo uma breve descrição da Teoria das Inteligências Múltiplas e

descrevendo a prática individual através dela.

Concluo essa pesquisa, apresentando as considerações finais sobre os resultados

obtidos nessa pesquisa e questionamentos para pesquisas futuras.

10

Capítulo 1 – Metodologia da Pesquisa

1.1 A Prática Deliberada, a Performance de Alto Nível e a Prática Individual.

A pesquisa de Ericsson, Krampe & Tesch-Romer (1993) sobre a aquisição da

performance de alto nível através da prática deliberada elaborou uma fundamentação teórica

para justificar o alto nível de performance alcançado por indivíduos em diferentes domínios,

como por exemplo, xadrez, esportes e performance musical.

A sua fundamentação teórica explica o desempenho dos experts através da quantidade

acumulada e a qualidade de prática deliberada realizada pelos indivíduos, limitando o papel

das características inatas (ou herdadas) dos indivíduos, argumentando que além do talento

inato e das características e habilidades herdadas, outros fatores contribuem para a aquisição

da performance de alto nível, como por exemplo, a precocidade com que se inicia a

aprendizagem em um determinado domínio; o prolongado e gradual processo de aquisição de

conhecimento através da prática deliberada regular e extensiva; o apoio familiar; as condições

do ambiente de estudo e; a qualidade de instrução recebida.

Ericsson, et. Al. (1993) realizou dois estudos empíricos na Music Academy of West

Berlin tendo como base a sua fundamentação teórica, o primeiro estudo comparou o atual

nível de prática com antigo nível de prática entre três grupos diferentes de violinistas, sendo

um grupo de violinistas de elite com promessas de carreira internacional e dois grupos de

violinistas julgados como bons, no segundo estudo realizou a mesma comparação, mas entre

pianistas de elite e amadores. Nesses estudos eles identificaram quais atividades dos músicos

se categorizava como prática deliberada e a quantidade de horas que os músicos gastavam na

prática deliberada, e entre todos os estudos realizados a atividade mais relevante presente em

todos os grupos foi prática individual. Com a pesquisa e os estudos empíricos o autor

apresentou a grande correlação existente entre a prática deliberada e o alto nível de

performance musical, demonstrando que mudanças fisiológicas, neurais e cognitivas ocorrem

com o acúmulo de horas de prática, necessitando de 10 anos1 de estudos com a prática

deliberada para se alcançar o alto nível em performance. (ERICSSON, KRAMPE & TESCH-

ROMER, 1993; SANTIAGO, 2006)

1 Outros autores descrevem o acúmulo de prática como “10.000 horas” (SANTOS, 2009; COSTA, 2005)

11

Essa pesquisa é de grande importância para as pesquisas em música, pois foi através

dela que se instigaram diferentes pesquisas, entre elas muitos estudos empíricos que

pesquisaram a aquisição do desempenho de alto nível e a diferenças entre experts e

principiantes (SANTIAGO, 2006; COSTA, 2005).

1.1.1 Prática Deliberada: Definição, Características e Aprendizagem

A prática deliberada é definida por Ericsson, et al. (1993) como uma atividade

altamente estruturada, com metas explícitas para melhorar a performance, onde as atividades

são elaboradas especificamente para superar suas fragilidades e a sua execução é

cuidadosamente monitorada para encontrar informações de como aprimorar posteriormente a

prática. Segundo os autores a prática deliberada se distingue de outras atividades diárias e

cotidianas, nas quais o desenvolvimento pode ser um resultado indireto, como por exemplo,

“as atividades básicas necessárias para viver em uma determinada cultura são adquiridas pelas

crianças como parte normal da interação social” (ERICSSON, KRAMPE & TESCH-

ROMER, 1993).

A prática deliberada se difere de outras duas formas de atividades encontradas dentro

de um determinado domínio, sendo essas atividades o trabalho e a brincadeira. O trabalho

inclui prestação de serviço por dinheiro, performance em público, competições e outras

atividades em que a atividade seja motivada por recompensas externas. A brincadeira inclui

atividades que não tem metas explicitas e são atividades prazerosas, como por exemplo, as

crianças que brincam por longos períodos de tempo. Essas duas atividades se diferem da

prática deliberada que foi descrita anteriormente, pois a prática deliberada não tem

recompensas externas imediatas, diferente da brincadeira tem objetivos bem definidos para

alcançar e não é inteiramente prazerosa.

Segundo Ericsson, et. Al. (1993) e Lehmann et. Al. (1997) para a eficácia da prática

deliberada ela deve cumprir três pré-requisitos, dos quais apresento a seguir:

1) The Resource Constraint: A prática Deliberada requer disponibilidade de tempo

e energia do indivíduo, acesso a professores, material de treinamento e instalações

de treinamento.

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2) The Motivational Constraint: A prática Deliberada não é inerentemente

motivadora e prazerosa, os indivíduos a consideram um instrumento para alcançar

melhoras na performance. Portanto os indivíduos precisam estar envolvidos e

motivados na atividade para melhorar o desempenho antes de começar a prática

deliberada.

3) The Effort Constraint: A prática Deliberada é uma atividade que requer esforço e

pode ser sustentado apenas por um período limitado de tempo a cada dia durante

períodos determinados para não levar à exaustão. Portanto para melhorar os

ganhos da prática em longo prazo, os indivíduos devem evitar a exaustão e deve

limitar a prática a uma quantidade com o qual podem se recuperar completamente.

Além das limitações mencionadas acima, a pesquisa (ERICSSON, KRAMPE &

TESCH-ROMER, 1993) apresenta, através da revisão de estudos sobre aprendizagem e

aquisição de habilidades, algumas condições para a aprendizagem ideal e melhor desempenho

da prática:

Motivação dos indivíduos para atender a atividade e exercer um esforço para

melhorar o seu desempenho;

A atividade deve levar em conta o conhecimento preexistente do indivíduo,

para que a atividade consiga ser corretamente aprendida após um breve período

de tempo;

Os indivíduos devem receber imediatamente depois da realização das

atividades um feedback informativo e conhecer os resultados de seu

desempenho;

Os indivíduos devem executar repetidamente a mesma atividade ou atividades

semelhantes.

Portanto o autor considera a prática como prática deliberada quando cumprem esses pré-

requisitos e essas condições. Nessa pesquisa iremos nos focar nas atividades consideradas

prática deliberada que são elaboradas e utilizadas durante a prática individual e para nortear

essas informações apresento algumas dessas atividades no capítulo a seguir.

13

1.1.2 A Prática deliberada na prática individual

Além da pesquisa de Ericsson, et. Al. (1993) podemos encontrar diferentes pesquisas

sobre o aprendizado e o estudo musical que investiga a correlação entre os métodos de estudo2

e as atividades adotadas na prática e o nível de performance musical (SANTIAGO, 2006;

SANTOS, HENTSCHKE, 2009). Através desses estudos e pesquisas apresento alguns

métodos de estudo que se caracterizam como prática deliberada no estudo instrumental:

O uso de metrônomo;

O estudo rítmico (ex. contagem em voz alta e palmas);

A análise prévia da obra a ser estudada;

O estudo repetido de pequenas seções da peça;

O estudo silencioso e o estudo mental da peça;

O estudo repetido de pequenas seções da peça;

O estudo lento com aumento gradual do andamento;

A identificação e correção de erros;

Verbalização de ordens durante;

A marcação de dedilhado e dinâmicas na partitura;

Tocar escalar e exercícios

Improvisação

Outros métodos de estudo utilizados durante a prática são considerados prática

deliberada, para isso eles devem cumprir os pré-requisitos apresentados por Ericsson et. A.

(1993) e Lehman et. Al. (1997)

Nessa pesquisa iremos estudar a prática individual dos contrabaixistas realizada no

preparo de uma obra do repertório, identificando e analisando os métodos de estudo

considerados prática deliberada de cada participante e observando qual a importância desses

métodos no processo de aprendizagem da prática individual, tendo em vista a importância da

prática individual para os instrumentistas (ERICSSON, KRAMPE & TESCH-ROMER, 1993;

SANTOS, 2006; SANTOS, HENTSCHKE, 2009).

Para isso apresento a seguir a metodologia da pesquisa.

2 Santos (2006) utiliza o termo estratégia. Nessa pesquisa usaremos o tempo método.

14

1.2 Os Diários como instrumento de pesquisa e coleta de dados: definições,

formatos e formas de análise.

Para realizar diariamente o levantamento de dados sobre prática individual dos

participaram da pesquisa, foi aplicado Metodologia dos Diários. Os Diários são definidos por

Bolger et. Al. (2003) como instrumentos de auto relato usados repetidamente para examinar

experiências em andamento, oferecendo a oportunidade para investigar processos sociais,

psicológicos e fisiológicos, em situações diárias. Simultaneamente ele reconhece a

importância do contexto por trás do processo. Este procedimento tem sido adotado em

diversas áreas de pesquisa, como por exemplo: Educação, focando o desenvolvimento dos

professores; Saúde, examinando os hábitos dos pacientes; Psicologia, estudando os processos

afetivos e cognitivos; História, relatando situações de um determinado contexto; Sociologia e

Antropologia voltada para investigação de relações sociais em determinados contextos

(BOLGER, et. Al. 2003; ZACCARELLI, GODOY, 2010).

Alaszewski (2006) apresenta quatro características que constituem os diários:

1. Regularidade: O diário é organizado em torno da sequência de

entradas regulares de registros durante todo o período em que o diarista

mantém o diário.

2. Pessoal: Essas entradas são feitas por indivíduos identificáveis.

3. Contemporâneo: Os registros são feitos no momento ou perto o

suficiente do momento em que os eventos ou atividades ocorreram,

assim não há distorções quando precisa lembrar-se do fato a ser

registrado;

4. Um Registro: Os registros apontam o que o indivíduo considera

relevante e importante e podem incluir o relato de eventos, atividades,

interações, impressões ou sentimentos. Este registro usualmente tem a

forma de um documento escrito estruturado de maneira temporal,

porém com o avanço da tecnologia ele pode ser no formato de registro

de áudio ou registro áudio - visual.

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Os diários oferecem diferentes possibilidades de estudos: estudos realizados

sobre perspectivas positivistas; com um enfoque quantitativo; através de uma

abordagem qualitativa e em estudos no formato multi método (BOLGER, et. Al. 2003;

ZACCARALLI, GODOY, 2010) que utilizam medidas quantitativas e são analisadas

de forma qualitativa. Dentre essas possibilidades de estudo Alaszewski (2006)

classifica os três principais campos de pesquisas cientificas no qual são aplicados os

diários:

Pesquisas Experimentais e de Opinião: é o campo das pesquisas nas quais os

pesquisadores adotando um papel de cientista neutro testando hipóteses e teorias

através do registro e analise dos fatos com base no paradigma positivista. Neste campo

os “diários” não são a principal fonte de dados, porém ele é utilizado para superar as

limitações de outros métodos (como observação, entrevistas e questionários) quando

os mesmos não conseguem acessar os dados desejados, como por exemplo, nos

casos de eventos ou ações que são raras ou difíceis de observar. Neste campo os

diários são usados em pesquisas experimentais e de opinião sobre ações,

comportamento e estilo de vida.

Pesquisas Históricas: é o campo da pesquisa de estudo e compreensão do

passado baseados na interpretação de fontes especificas de registros, como por

exemplo, documentos escritos, registros de áudio e vídeo do passado e diários não

solicitados. Aqui os “diários” oferecem evidências aos pesquisadores sendo uma fonte

única de dados que não podem ser obtidas de outra maneira. Dentro deste campo de

pesquisa os diários são utilizados em uma variedade de áreas, como por exemplo,

pesquisas políticas, sociais e antropológicas.

Pesquisas Naturalísticas: é o campo das pesquisas nas quais indivíduos e/ou

comunidades são estudadas no seu contexto natural através da descrição das ações e

interações dos indivíduos para a interpretação das motivações, intensões e

compreensões subliminares. Nesta forma de pesquisa os “diários” são elaborados de

maneira mais aberta, de modo que minimize a influência do pesquisador nos registros.

Com isso ele oferece acesso às percepções e ao mundo dos diaristas e apresenta um

meio de explorar o conhecimento tático dos indivíduos. Dentro deste campo de

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pesquisa os diários são utilizados em áreas como pesquisas etnográficas, pesquisas

sobre comportamento e pesquisas sobre cognição.

A literatura estudada identifica diferentes formatos de diários, cuja

classificação e nomenclatura variam de autor para autor, sendo elas definidas

previamente pelo pesquisador de acordo com os objetivos da pesquisa (BOLGER,

2003; ZACCARELLI, GODOY, 2010; PLUMMER, 2001; ALASZEWSKI, 2006),

observando as características gerais dos diários encontradas nesses autores podemos

classificar os formatos utilizando a nomenclatura de Plummer (2001): a diferença

principal dos formatos está entre os diários pré-existentes e os diários solicitados

(PLUMMER, 2001), os diários pré-existentes são elaborados por indivíduos que

registram suas experiências e memórias, escolhendo livremente o que, como e quando

irá relatar. Os dados obtidos nesse formato de diário podem ser examinados

posteriormente de forma investigativa. Os diários solicitados são elaborados pelo

pesquisador que define previamente os dados ou informações que serão coletados na

pesquisa, sendo solicitado aos indivíduos participantes o depoimento nos diários sobre

os eventos, atividades ou aspectos especiais definidos anteriormente pelo pesquisador.

Este último formato é o mais usado nas pesquisas acadêmicas, pois possibilitam a

investigação dos aspectos específicos que se pretende estudar. Os diários solicitados

apresentam de acordo com o Plummer (2001) três formatos possíveis:

Solicitado: No qual é solicitado aos indivíduos que mantenham um

diário por um período de tempo, ou quando ocorre uma atividade,

evento, ou aspecto que o pesquisador deseja estudar;

Log: Envolve o preenchimento de formulários impessoais de atividades

estruturadas cronologicamente.

Diário – Entrevista: Neste formato além da utilização do diário

solicitado os pesquisadores usam entrevistas para aprofundar cada

aspecto registrado nos diários.

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As informações coletadas através dos diários podem ser analisadas de diferentes

maneiras, as mesmas são escolhidas de acordo com os objetivos da pesquisa e de qual foi

formato do diário utilizado pelo pesquisador. Alaszewski (2006) apresenta três estratégias

principais para as analises: análise numérica, análise de conteúdo e análise estrutural.

A análise numérica é mais comum nas Pesquisas Experimentais e de Opinião onde os

pesquisadores estão interessados em identificar padrões nos dados coletados e utilizam essa

análise para testar ou gerar hipóteses, possibilitando as seguintes análises dos dados:

identificação de variáveis; codificação de dados específicos referentes às variáveis para criar

números; análise estatística das variáveis.

A análise de conteúdo é utilizada nas Pesquisas Naturalísticas com um enfoque

qualitativo, através dela podemos recorrer tanto a análise de conteúdo quanto ao procedimento

da Grounded Theory. A análise de Conteúdo se refere a todas as formas de análise textual na

qual se identifica as informações contidas no texto que podem ser usadas para expressar uma

realidade externa a ele, estas informações podem ser descrições de um evento específico,

atividades ou relações de sentimentos e respostas dos indivíduos. Para a realização dessa

análise é elaborado um sistemas de categorias pré-definidas, esse sistema pode ser elaborado a

partir do referencial teórico utilizado na pesquisa ou a partir dos procedimentos propostos pela

Grounded Theory onde este sistema é gerado a partir dos dados do próprio texto, após a

elaboração desse sistema ele é aplicado aos diários gerando informações de acordo com o que

foi previamente estabelecido.

A análise estrutural explora o meio em que os indivíduos usam e estruturam seus

textos nos diários para se comunicar e apresentar a si mesmos através da análise da

conversação ou da análise da narrativa. A análise da conversação concentra-se no exame da

estrutura da fala, revelando os procedimentos utilizados pelos indivíduos para produzir e

interpretar as interações sociais em situações espontâneas do seu cotidiano, portanto com base

nas interações verbais analisam as estruturas e propriedades formais da linguagem. Esta forma

de análise em um primeiro momento se limitava a conversas cotidianas, porém atualmente ela

foi ampliada para os textos escritos incluindo os Diários (ALASZEWSKI, 2006). A análise da

narrativa entende os diários como textos que são produto da comunicação em seu ambiente

natural e examina os relatos feitos em primeira pessoa pelos indivíduos sobre suas

experiências, analisando como eles impõem ordem as suas experiências visando atribuir

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sentido a elas. Esta forma de análise foi desenvolvida para analisar textos produzidos por

entrevista, porém podem ser aplicados aos conteúdos dos diários.

Assim, nesta pesquisa, fiz a opção pela metodologia dos diários para coleta de dados,

pois ela proporciona o estudo e o levantamento das informações sobre a prática individual

dentro do contexto natural dos participantes e através dos relatos é possível acessar reflexões,

sentimentos e o conhecimento tático dos participantes da pesquisa.

Optei pelos diários utilizados dentro do campo das Pesquisas Naturalísticas, por

analisar somente a prática individual de uma obra optei pelo uso do formato do Diário –

Entrevista (que incorpora o Diário Solicitado) e com a forma de Análise de Conteúdo.

Os diários foram feitos em duas folhas A4, sendo elaborado de uma maneira que os

participantes conseguissem além de relatar a sua prática individual, eles pudessem descrever

de maneira detalhada as estratégias de estudos utilizadas por ele. Em conjunto com os diários

foi elaborada uma folha de instrução de preenchimento, conforme instruções de Alaszewski

(2006) para auxiliar os participantes. (ANEXO A)

A seguir apresento a elaboração das entrevistas utilizadas nos diários e a elaboração do

sistema pré-definido de categorias para analise dos diários será apresentado posteriormente.

19

1.2.1 Entrevistas – Estrutura e Procedimentos de Aplicação

A estrutura e o roteiro das entrevistas utilizadas na metodologia Diário-

Entrevista foram baseados nas entrevistas utilizadas por Ericsson et. Al. (1993) em sua

pesquisa sobre a prática deliberada, no qual através dela se fez o levantamento das

informações sobre a prática deliberada, a formação e outras informações dos participantes em

níveis atuais e do passado de cada um.

O roteiro das entrevistas foi dividido em duas partes, formação musical e

informações sobre a prática individual e deliberada. A primeira parte formação musical

foi elaborada para obter informações sobre a formação musical (formal e informal) dos

participantes, incluindo sequência de professores de instrumento, vivência musical (família,

trabalho), atividades musicais, sobre o ambiente de realização da prática individual e qual o

tempo aproximado gasto na prática individual. A segunda parte informações sobre a prática

individual e deliberada obteve dados acerca de quais são os métodos ou procedimentos

caracterizados como prática deliberada utilizada pelos alunos na prática individual da obra

musical, qual a finalidade dos métodos citados, quais são os fundamentos que norteiam os

mesmos, o tempo estimado gasto em cada um e qual a relevância desses métodos na

aprendizagem do instrumento.

O procedimento de aplicação das entrevistas foi idêntico para todos os

participantes da pesquisa, a entrevista foi realizada individualmente em uma única sessão

agendada previamente com cada um deles, antes da realização da entrevista foi explicado qual

era o intuito da pesquisa, foi dada a definição com exemplos de termos importantes da

pesquisa, como por exemplo, prática deliberada, após as explicações foi realizada as

entrevistas.

Apresento a seguir o roteiro utilizado nas entrevistas.

20

1.2.1 Roteiro das Entrevistas

1- Formação Musical: Investigar a formação prévia do Contrabaixista, formação

musical formal e informal e informações acerca da vivência musical:

a) Gostaria que você me falasse sobre sua formação musical (formal ou informal) antes

de ingressar no curso de Bacharelado em Contrabaixo até os dias de hoje? (Perguntar

sobre outras atividades e práticas musicais).

b) Quais são/foram os seus professores de contrabaixo?

c) Como é a sua vivência musical dentro do seu cotidiano, do seu ambiente familiar e do

seu trabalho?

d) Você poderia me falar quais são os ambiente que você realiza a prática individual e dar

uma estimativa de quantas horas você estuda contrabaixo individualmente por dia?

2- Informações sobre a Prática Deliberada: Quais são os métodos utilizados na prática

individual, o tempo gasto, como foi elaborado, porque de sua utilização e como esses

métodos interferem na aprendizagem do instrumento.

a) Quais são seus métodos de estudo que você utiliza na prática individual de uma obra?

E qual o tempo estimado gasto em cada um deles?

b) Poderia me dizer como você pensou e elaborou esses métodos de estudo? Quais

princípios e fundamentos você utilizou?

c) Alguém ensinou alguns desses métodos para você? Caso sim, poderia me indicar

quem?

d) Porque você utiliza esses métodos que você mencionou? Qual a finalidade?

e) Qual a relevância desses métodos na aprendizagem do instrumento?

21

1.3 Sistema de Avaliação de “Processofólio”

Para avaliar o desempenho dos participantes e levantar informações sobre as melhoras

e dificuldades encontradas por eles no processo de aprendizagem estudado nesta pesquisa, foi

realizada avaliações com os participantes através da análise dos diários e após as aulas

individuais de instrumentos realizadas pela Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright durante as duas

semanas de aplicação da pesquisa. Está avaliação das aulas individuais e o sistema de

categorias pré-definidas utilizados para analisar os diários (descritos anteriormente) foi

baseada no Sistema de Avaliação dos Projetos de Domínios através dos Processofólios

elaborado por Howard Gardner e seus colaboradores (1995) no programa Arts PROPEL da

Harvard Project Zero.

No ano de 1985 a Harvard Project Zero em conjunto com o Educational Testing

Service e as escolas públicas de Pittsburgh através do apoio da Divisão de Artes e

Humanidades da Fundação Rockefeller, criaram um programa com uma nova abordagem

chamado Arts PROPEL, seu objetivo ao longo dos anos era “o de desenvolver uma série de

instrumentos de avaliação que pudessem documentar a aprendizagem artística durante o

período final dos anos elementares e no segundo grau.” (GARDNER, 1995). Para desenvolver

este programa primeiramente foram delimitadas as formas de artes a ser avaliadas e quais

competências que seriam medidas. Foi decidido trabalhar com três formas de arte – Música,

arte visual e escrita imaginativa, e medir três tipos de competências:

“produção (compor ou executar música; pintar ou desenhar; escrever de forma

imaginativa ou “criativa”); percepção (efetuar distinções ou discriminações em

qualquer forma de arte – “pensar” artisticamente); e reflexão (distanciar-se das

próprias percepções ou produções, ou das de outros artistas, e procurar

entender os objetivos, métodos, dificuldades e efeitos atingidos).”

(GARDNER, 1995)

No decorrer do desenvolvimento dos instrumentos de avaliação adequados,

perceberam dois pontos importantes, sendo o primeiro que não há como avaliar competências

22

ou potenciais, sem que o aluno tenha tido alguma experiência significativa de trabalho com

meios de artísticos, isto é, “é necessário que os avaliadores artísticos examinem os alunos que

já estão empenhados em atividades artísticas” (GARDNER, 1995). O segundo ponto, os

estudantes precisam de professores familiarizados com o plano de ensino utilizado e com

capacidade de “exemplificar as habilidades e os entendimentos artísticos necessários”

(GARDNER, 1995).

Portanto, para realizar os objetivos acimas citados, foram desenvolvidos módulos

curriculares que foram vinculados a instrumentos de avaliação. Em cada forma de arte

selecionada, o Projeto Zero convocou uma equipe multidisciplinar para definir suas

competências centrais, que no caso das três formas de artes selecionadas são:

“Na escrita, nós observamos as capacidades dos alunos de criarem exemplos de

gêneros diferentes – escrever um poema, criar um diálogo para uma peça. Na

música, nós examinamos as maneiras pelas quais os alunos aprendem nos

ensaios em andamento. E na área das artes visuais, essas competências incluem

sensibilidade ao estilo, apreciação de vários padrões de composição e a

capacidade de planejar e criar um retrato ou uma natureza morta” (GARDNER,

1995).

Para cada competência central definida, foi criada uma série de exercícios nomeados

de “projeto de domínio – uma série que deve apresentar elementos perceptivos, produtivos e

reflexivos” (GARDNER, 1995), tais projetos não são módulos curriculares inteiros, porém os

mesmo devem ajustar-se bem ao currículo de arte definido.

Não foi desenvolvida uma teoria geral para criar os projetos de domínios (quais os

tipos de exercícios se qualificam, que tipo de aprendizagem pode-se esperar, entre outros),

mas eles devem incluir a maioria dos conceitos importantes dentro daquela forma de arte

selecionada. Porém é exemplificada a aplicação deles, e ocorre da seguinte maneira:

primeiramente os projetos são explorados e criticados pelos professores, após isso é realizado

uma revisão e eles são aplicados aos alunos na forma de um projeto piloto. A partir deste

23

procedimento, um sistema de avaliação preliminar é testado pelos professores. Então, repete-

se esse processo até que o projeto de domínio seja adequado a todos. Quando o projeto está

completo ele pode ser utilizado pelos professores, e ajustado de várias maneiras (para um

determinado currículo, estilo ou objetivos).

Gardner (1995) apresenta brevemente dois projetos de domínios na área das artes

visuais, sendo eles o projeto de “composição” e o da “biografia de um trabalho”. Por

apresentar ao final deste exemplo a forma de analise que é utilizada nesta pesquisa,

descreverei a “biografia de um trabalho”: os objetivos deste projeto são os de ajudar os alunos

e sintetizarem sua aprendizagem com projetos anteriores, traçando o desenvolvimento de um

trabalho completo. No primeiro encontro os alunos tem que observar um conjunto de esboços

preparados por artistas plásticos importantes antes das conclusões de suas obras e em seguida

é apresentado às obras concluídas. Depois das explorações perceptivas das obras concluídas,

os alunos devem desenhar seu quarto, de maneira que expresse alguma coisa de si mesmo,

para isso são dados diferentes materiais (papel, lápis, carvão, entre outros) e alguns materiais

pictóricos como revistas, entre outras coisas, e então os alunos se utilizam desses materiais na

preparação de um primeiro esboço, onde devem se concentrar na composição e são

incentivados a pensar como se expressar com uma variedade de elementos artísticos, para isso

são dados exemplos de como certos aspectos podem se transmitir metaforicamente uma

propriedade de um indivíduo.

No segundo encontro, os alunos examinam imagens de como artistas plásticos

renomados utilizaram metaforicamente os objetos em suas obras, e como estes objetos ou

certos elementos contem uma série de significados. Os alunos observam imagens particulares

dos artistas (ateliês ou quartos), e eles devem dizer como esses quartos podem revelar alguma

coisa sobre a visão do artista sobre seu mundo particular. Então eles retornam ao esboço

preliminar e tomam decisões provisórias sobre quais materiais e sobre o estilo, textura, entre

outros eles pretendem utilizar. Em ambos os encontros, os alunos preenchem folhas de

respostas, que refletem suas escolhas, razões e suas consequências estéticas.

No terceiro encontro, são revisados todos os esboços preliminares, avaliando se estão

satisfeito com eles, e depois iniciam o trabalho final. Há uma discussão com outras pessoas

sobre o trabalho em andamento, e então no último encontro eles concluem seus trabalhos,

criticam os outros, revisam os esboços e as folhas sobre as reflexões. O último encontro

24

apresenta as atividades que servem como um modelo para as espécies de reflexões e

informações que são utilizadas nas analises dos “processofólios”.

O termo “processofólio” (GARDNER, 1995) é o termo no qual o autor nomeia o

conhecido portfolio. O portfolio dos artistas contém geralmente apenas os seus melhores

trabalhos, aqueles pelos quais gostariam de ser julgados em competições ou avaliações. Nos

“processofólios” se “inclui não apenas os trabalhos concluídos, mas também os esboços

originais, desenhos provisórios, críticas dele mesmo e dos outros, trabalhos artísticos que ele

admira ou desgosta e que têm algo a ver com seu atual projeto” (GARDNER, 1993). No

ambiente do processofólio o papel do professor difere do ensino tradicional das artes nas

escolas, pois os professores aqui servem como exemplo de produção artística, se assimilando

o ensino dentro de um ateliê de artes clássico.

Como foi apresentado inicialmente (GARDNER, 1995), o Arts PROPEL dedicou

grande parte do seu trabalho na criação de sistemas de avaliação. O projeto de domínio

contém uma série de procedimentos de auto-avaliação, que são utilizados durante a aplicação

dele, como por exemplo, no caso do projeto “biografia de um trabalho” onde os esboços,

reflexões e trabalho final dos alunos são avaliados em várias dimensões qualitativas, como

comprometimento, habilidades técnicas, imaginação e habilidades avaliativas críticas. As

atividades da “biografia de um trabalho” também fazem parte do processofólio, onde a

avaliação deste instrumento difere da avaliação realizada dentro do projeto. Os processofólios

podem ser avaliados de várias dimensões que são de interesse para esta pesquisa, pois ajudam

a esclarecer os processos de aprendizagem dos alunos:

“...a regularidade dos apontamentos, seu aperfeiçoamento, a qualidade

global dos trabalhos finais, se está de acordo com os critérios técnicos.

E dimensões que apresentam o potencial único dos processofólios: a

consciência que o aluno tem de suas potencialidades e dificuldades; a

capacidade de refletir corretamente; a capacidade de aproveitar a

autocrítica e de fazer uso da crítica dos outros; a sensibilidade em

relação aos próprios marcos de desenvolvimentos; a capacidade de

utilizar produtivamente as lições dos projetos de domínio; a capacidade

25

de descobrir e resolver problemas; a capacidade de relacionar projetos

atuais com aqueles realizados em momentos anteriores e com aqueles

que a pessoa espera realizar no futuro; a capacidade de passar

facilmente de uma posição ou papel estético para outro, de forma

adequada.” (GARDNER, 1993)

As dimensões de avaliação dos projetos de domínios através dos processofólios

apresentadas acima são a base para a compilação e analise de dados da prática individual

nesta pesquisa. A escolha deste sistema de avaliação se deve ao fato da prática individual da

obra musical ter o formato geral do projeto de domínio que descrevi nesta seção, com os

registros nos diários e com as avaliações das aulas individuais, podemos analisar todo o

processo de criação e finalização de um trabalho, incluindo suas reflexões, ideias, dentre

outros parâmetros.

Os sistemas de avaliação foram elaborados a partir da Tabela criada por Gardner

(1995) em conjunto com a Prof.ª Valerie Albright. Depois da elaboração do sistema de

avaliação ele foi enviado para a Prof.ª Valerie para que ela pudesse ler e avaliar se concordava

com ele, após a leitura foi realizado um encontro no qual a Prof.ª Valerie e eu conseguimos

concluir o sistema de avaliação (ANEXO B).

26

1.4 Procedimentos da Pesquisa

1.4.1 A seleção dos participantes

A seleção dos participantes na metodologia dos diários está diretamente relacionada,

segundo Alaszewski (2006), às questões da pesquisa. Identificar processos de aprendizagem a

partir da prática individual dos contrabaixistas exigia, portanto, definir alguns critérios de

seleção referentes à escolha dos participantes. Portanto elegi os seguintes critérios de seleção:

1) Os contrabaixistas deveriam ser estudantes do curso de graduação em música com

habilitação em contrabaixo acústico no Instituto de Artes da UNESP. Isso porque sou

estudante dessa instituição e a Professora de instrumento que avaliou as aulas através

do sistema de avaliação das aulas individuais leciona nessa instituição;

2) Os contrabaixistas deveriam estar matriculados no componente curricular Instrumento

sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Valeria Ann Albright, professora de contrabaixo

acústico do Instituto de Artes da UNESP;

3) Os contrabaixistas deveriam ter a disponibilidade para realizar a prática individual por

duas semanas consecutivas;

4) Participação voluntária na pesquisa;

Os primeiros contatos realizados para a seleção dos contrabaixistas foram feitos

pessoalmente através de reunião com a Prof.ª Valerie. Na reunião expliquei o tema da

pesquisa, as questões e os objetivos da investigação, assim como o procedimento de coleta de

dados e os critérios para selecionar os participantes. A partir desse contato prévio, eu e a

Prof.ª Valerie pré-selecionamos quatro dos alunos do curso de bacharelado em música com

habilitação em contrabaixo da UNESP que cumpriam os critérios para participar da pesquisa.

Entrando em contato com os alunos pré-selecionados, apresentei meu projeto de

pesquisa e os convidei a serem voluntários na investigação. Nessa apresentação salientei os

seguintes aspectos: 1) temática e objetivos da pesquisa; 2) os procedimentos de coleta de

dados (entrevistas, a aplicação e os preenchimentos dos diários, avaliação das aulas

individuais e a forma de análise dos dados); e 3) a necessidade de comprometimento pessoal

dos participantes da pesquisa.

27

D entre os quatro alunos pré-selecionados na reunião com a Prof.ª Valerie, todos

manifestaram interesse em participar da pesquisa. Infelizmente após manifestar interesse um

dos alunos pré-selecionados transferiu seu curso para a Universidade Federal de Goiás o que

impossibilitou a sua participação na pesquisa. A pesquisa foi realizada com três alunos

voluntários, Mayara, Davi e Camila.

A Primeira etapa: Primeiro encontro e aplicação do Diário - Piloto

O teste com a aplicação dos diários - piloto visou garantir que os participantes

compreendessem como os diários deveriam ser preenchidos (BOLGER, et. Al. 2003). Além

de permitir realizar uma análise prévia d prática individual dos participantes, permitiu

identificar o significado atribuído pelos participantes às instruções (ALASZEWSKI, 2006).

Entrei em contato com os três participantes para agendar um encontro para explicar

detalhadamente a pesquisa e aplicar o primeiro teste com os diários, o encontro foi realizado

de maneira individual de acordo com a disponibilidade de cada estudante. Neste encontro,

tornei a explicar sobre a pesquisa e seus objetivos, apresentando um pequeno resumo das

teorias que norteiam essa pesquisa (A Prática Deliberada e a Teoria das Inteligências

Múltiplas que será abordada posteriormente) e expliquei sobre os procedimentos de coleta de

dados (os diários e a avaliação das aulas individuais através dos “processofólios”), nesse

sentido destaquei: a importância dos estudantes realizarem a prática individual durante as

duas semanas de aplicação dos diários; a importância do preenchimento dos diários durante

todos os dias de aplicação da pesquisa; a importância do comparecimento nas aulas

individuais de contrabaixo, que foram agendadas previamente com a Prof.ª Valerie.

Depois de realizar essa explicação sobre a pesquisa, comecei a aplicação do Diário –

Piloto, que ocorreu da seguinte maneira: cada participante escolheu uma obra do repertório

para trabalhar durante a aplicação; cada estudante recebeu diários para dois dias de estudos e

uma folha com instruções sobre o seu preenchimento sendo explicado cada item da folha de

instrução; cada participante foi orientado a preencher os diários – piloto por dois dias

seguidos e que após a conclusão dos dois diários eu deveria ser informado.

Através do primeiro encontro e a aplicação do Diário – Piloto eu consegui auxiliar

diretamente cada participante no preenchimento correto dos diários definitivos, além de

conseguir realizar uma análise prévia sobre a prática individual de cada um. O encontro criou

28

um vínculo de interação entre mim e os estudantes, que foram demonstrando confiança para

me relatar sobre suas experiências e pensamentos que ocorriam durante a prática individual, o

que facilitou a aplicação dos Diários definitivos. Durante esse primeiro contato, pude discutir

com os estudantes os procedimentos, as datas de aplicação dos diários definitivos e como

seria as aulas individuais durante as duas semanas de aplicação dos diários.

1.4.2 Elaboração do cronograma, aplicação dos diários e realização das aulas individuais

O procedimento de elaboração do cronograma para a aplicação dos diários e a

realização das aulas individuais de instrumento foi igual para os três participantes da pesquisa.

Primeiramente, me encontrei com a Prof.ª Valerie para saber quais datas dos meses de Abril e

Maio ela poderia agendar as aulas individuais dos alunos por duas semanas seguidas, pois

atualmente ela é Vice-Diretora do Instituto de Artes da UNESP e tem muitos compromissos

com a Instituição. Após esse encontro a Prof.ª Valerie confirmou que as aulas individuais para

pesquisa poderiam ocorrer dentro do mês de Maio.

Com a definição do mês de Maio como o período onde as aulas individuais poderiam

ser realizadas, agendei um encontro com cada um dos participantes para saber qual data

dentro desse período os alunos poderiam realizar a prática individual e frequentar as aulas

individuais por duas semanas.

A partir das datas fornecidas pelos estudantes e pela Prof.ª Valerie foi elaborado o

cronograma para cada um deles com as datas para aplicação dos diários e para a realização

das aulas individuais.

Antes da aplicação dos diários definitivos cada estudante selecionou uma obra do

repertório que seria trabalhada durante as duas semanas de aplicação da pesquisa nas sessões

de prática individual e nas aulas individuais da Prof.ª Valerie. A partir definição de cada obra

por parte dos participantes, cada um foi orientado a preencher os diários apenas com a prática

individual da obra selecionada e então receberam as orientações que estavam presentes na

folha de instrução que acompanhou os diários. Após essa orientação ocorreu a aplicação dos

29

diários de acordo com o cronograma de cada um, que será apresentado antes da análise de

cada participante no próximo capítulo.

Capítulo 2: O Processo de aprendizagem da prática individual de três

estudantes: Aplicação e analise dos dados

2.1 Procedimentos de analises e discussões.

As analises dos diários, da entrevista e das avaliações das aulas individuais serão

apresentadas e discutidas nesse capítulo do relatório. A seguir, portanto, descrevo a formação

musical dos participantes dessa pesquisa, Mayara, Davi e Camila, e a prática individual de

cada um realizada durante a aplicação da pesquisa. No contexto de formação musical

apresento a formação formal e informal dos participantes; os seus professores; e as atuações

profissionais na área de trabalho, quando for necessário a cada participante. No item seguinte,

descrevo a prática individual de cada estudante, desde as suas reflexões, planejamentos,

elaboração e aplicação até as avaliações realizadas nas aulas individuais pela Prof.ª Valerie

Ann Albright.

Durante o relato e descrição da formação e prática individual dos estudantes,

apresento trechos dos diários, das entrevistas realizadas e das avaliações das aulas individuais.

O processo de descrição da formação e da prática individual é orientado pela referência

bibliográfica realizada e pelo sistema de análise elaborado para os diários e para as aulas

individuais.

Após descrever a prática individual de cada estudante, examinarei e discutirei as

informações levantadas baseando-se no referencial bibliográfico.

30

2.2 O processo de aprendizagem de Mayara

O processo de aprendizagem de Mayara foi analisado com base nos dados empíricos

coletados nas analises dos diários através do sistema pré-definido de categorias, na entrevista

e na avaliação das aulas individuais através do sistema de avaliação das aulas individuais.

As duas semanas de aplicação da pesquisa com Mayara e com a Prof.ª Valerie Ann

Albright foram realizadas no período de 6 de maio de 2013 a 19 de maio de 2013, totalizando

14 dias de realização da prática individual, incluindo o dia onde a participante não realizou.

As aulas individuais de instrumento foram realizadas nos dias 9 de maio de 2013 e 16 de maio

de 2013. A obra selecionada pela estudante para trabalhar durante a pesquisa foi o Concerto

para Contrabaixo Acústico em Mi Maior de Karl Ditters von Dittersdorf.

Na época da pesquisa, Mayara tinha vinte e três anos e cursava o 3º ano do curso de

bacharelado em música – habilitação em contrabaixo acústico sob a orientação da Prof.ª

Valerie Ann Albright.

O processo de aprendizagem da prática individual de Mayara envolve a mobilização e

a socialização de diferentes saberes da estudante adquiridos na sua formação musical, na

prática individual, no ambiente de estudo e na interação familiar. No relato a seguir,

apresento: 1) formação musical da participante; 2) o processo de aprendizagem da prática

individual através da convergência da analise dos diários, entrevistas e avaliação das aulas

individuais.

31

2.2.1 Formação Musical da Mayara

“...eu olhei [o contrabaixo acústico] e foi amor a primeira vista...”

Mayara começou seus estudos musicais no Projeto G3 em São Paulo aos 13 anos, tinha

a intenção de estudar contrabaixo elétrico, porém nesse Projeto eles oferecem apenas aulas de

instrumentos de orquestra4, então escutou falar pela primeira vez do contrabaixo acústico

dentro deste projeto e apesar do seu interesse pelo contrabaixo não havia vagas para esse

instrumento, então iniciou seus estudos no violoncelo. Para a Mayara os instrumentos de

orquestra e o contrabaixo acústico eram novidades.

“Assim, eu não conhecia instrumento de orquestra e nunca tinha

ouvido nada assim e isso eu tinha uns 13 anos mais ou menos”

(ANEXO C. Entrevista Mayara).

As aulas no Projeto G. eram realizadas em conjunto entre todos os instrumentos de

cordas, durante essas aulas, Mayara sempre observava o contrabaixo acústico e as lições que o

professor direcionava a esse instrumento. Devido a esse grande interesse o professor a

convidou para mudar para o contrabaixo acústico. As aulas de instrumento nesse período

tinham um conteúdo básico, como corda solta e leitura de partituras, a prática com o

instrumento era realizada antes das aulas, pois a participante não tinha o instrumento, devido

ao conteúdo básico das aulas, Mayara não considerava a prática que realizava nessa época

como uma prática deliberada.

...[Mayara sobre os estudos no Projeto Guri] chegando mais cedo

para estudar [praticar] um pouco, mas nada assim de estudar mesmo,

até porque a gente não tinha muito conteúdo.... (ANEXO C.

Entrevista Mayara).

Após oito meses no Projeto G., Mayara começou a realizar os seus estudos de musica

na Escola de Música Municipal de São Paulo (Escola Municipal). Para estudar nessa

instituição é necessário realizar uma prova de admissão, Mayara teve total apoio da sua mãe e

nessa prova a participante demonstrou o seu interesse em se tornar contrabaixista através do

relato de uma conversa entra a banca e ela.

3 Programa de inclusão sociocultural de educação musical. O programa oferece cursos gratuitos de música.

4 Instrumentos de cordas (violino, viola, violoncelo, contrabaixo), Instrumentos de sopros, percussão e violão.

32

“[banca] - o que você quer ser quando crescer? E eu respondi

[Mayara] – quero tocar contrabaixo” (ANEXO C. Entrevista

Mayara).

Os estudos na Escola Municipal duraram oito anos, sendo de grande importância na

formação musical de Mayara, durante todo esse período a participante teve aulas de teoria,

percepção, contraponto, harmonia, instrumento e participação na orquestra da instituição que

tiveram grandes influências positivas quando a participante ingressou no curso de graduação

na UNESP. O seu professor de contrabaixo acústico nesse período foi o Marco A. e as aulas

de contrabaixo foram divididos em dois períodos, o primeiro período aconteceu nos dois

primeiros anos onde as aulas eram focadas nas técnicas do instrumento (posições, quadratura,

escalas e trechos de música) passadas através dos métodos de técnica que o professor

utilizava. O segundo período as aulas eram focados nas peças, e as questões técnicas eram

abordadas conforme as peças eram estudadas.

A participante também estudou música popular, no caso contrabaixo elétrico com o

professor Celso Pixin.

Mayara ingressou no curso de Bacharelado em Música – Habilitação em Contrabaixo

Acústico na UNESP no ano de 2011, nesse período ela estava no 6º ano da Escola Municipal,

como mencionado anteriormente, as aulas nessa escola, proporcionaram muitos benefícios

durante a graduação.

...[aulas na Escola Municipal]fez diferença assim

porque eu não precisei ficar me matando, ficar

naquela loucura, de ficar atrás, de estudar muito

para não se dar mal, essas coisas que eu percebi de

muitos colegas meus [alunos da UNESP]

(ANEXO C. Entrevista Mayara).

Mayara está cursando agora o 3º ano do curso e sua professora de instrumento é a

Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright.

A participante estudou música popular, música erudita, contrabaixo elétrico e acústico

ao mesmo tempo por um período, que segundo ela foi muito difícil, por fim deu prioridade ao

contrabaixo acústico, por questões de provas e testes.

33

A vivência musical da estudante começou com o ambiente familiar, através do seu

irmão que tocava um pouco de bateria, apesar de a família gostar de música a influência na

infância era baseado nas bandas de Rock das décadas de oitenta e noventa. Sendo modificada

conforme ela se inseria em outro contexto musical e gradualmente no decorrer de sua

formação musical.

...[vivência musical] foi evoluindo não né, foi

mudando, quando eu comecei a ter aula com o

Pixin, ai eu comecei a ouvir Jazz, instrumental e ai

foi mudando, quando eu conheci o Ricardinho

[marido] comecei a escutar música brasileira, todos

os ritmos brasileiros e a coisa foi mudando, ou

quando eu comecei a tocar né [contrabaixo

acústico] foi ai que eu comecei a escutar música

erudita... (ANEXO C. Entrevista Mayara).

De acordo com o relato da participante podemos ver um aspecto importante para a

estudante dentro da sua vivência e do seu ambiente musical, o seu marido, que também tem

formação musical erudita e popular e mostra ter grande influência.

Em síntese, a formação musical de Mayara apresenta três dimensões: 1) a

aprendizagem formal da música erudita através das aulas de contrabaixo acústico na Escola

Municipal e na UNESP; 2) a aprendizagem formal da música popular através das aulas de

contrabaixo elétrico com o Prof.º Celso Pixin.; e 3) como a vivência musical e o ambiente

familiar (convívio com o seu marido) transforma a formação musical da participante.

As características da formação musical da estudante influenciam a forma como

Mayara adquiriu seu conhecimento musical e como ela os mobiliza na prática individual.

34

2.2.2 O processo de aprendizagem na prática individual

O processo de aprendizagem da prática individual da estudante ocorreu através das

seguintes atividades: 1) regularidade da prática individual da obra selecionada e

comprometimento da mesma; 2) métodos de estudo e o seu planejamento, aplicação,

manutenção e aprimoramento; 3) aulas individuais e os ensinamentos da Prof.ª Valerie Ann

Albright; 4) ambiente da prática individual e convívio familiar; e 5) a procura de informações

através de recursos externos.

1) Regularidade e comprometimento

Nas duas semanas de pesquisa podemos perceber através dos diários a regularidade na

realização da prática individual da participante, dentre os 14 dias de aplicação da pesquisa a

Mayara não estudou apenas um deles. Essa regularidade é explicada pela aplicação dos

diários, pois todos os participantes foram orientados a realizar a prática individual durante

toda a pesquisa independente do tempo da sua realização.

O tempo de realização da prática individual é um aspecto muito importante, pois nele

não encontramos uma regularidade, sendo diagnosticado e relatado pela própria participante

nas duas semanas de aplicação da pesquisa.

O estudo hoje foi bem rápido também, pois tinha muita coisa para

estudar (várias músicas)... (ANEXO D, Diário Mayara dia 18)

A falta de regularidade é explicada pela carga horária da faculdade e pela rotina de

ensaios da orquestra e dos grupos de música de câmera dos quais a estudante participa, esses

compromissos prejudicam a regularidade da rotina de estudos, conforme o seguinte relato da

Mayara:

Hoje foi um dia muito cansativo! Tive ensaio e aula desde às 10h até

as 18h! tudo seguido. Fiquei muito cansado quando cheguei em

casa! (ANEXO D, Diário Mayara)

Segundo os dois relatos acima, podemos perceber dois aspectos: 1) como a grade

curricular da universidade e o ambiente de trabalho atrapalham a rotina de estudos da Mayara

e 2) o quanto a falta de regularidade no tempo prejudica o processo de aprendizagem da

35

prática individual, pois faz com que a participante deixe de realizar certos métodos de estudo

prejudicando a aprendizagem da participante, conforme mostra o relato abaixo:

Como tive pouco tempo, não fiz a escala de RÉ M (tonalidade do 1º

mov.) “Peça” [Mayara relatando sobre a música que foi estudada],

então já comecei estudando a leitura do 2º mov. (ANEXO D, Diário

Mayara dia 07)

Outro aspecto importante para o processo de aprendizagem é o comprometimento com

a realização da prática individual, como mencionado anteriormente a aluna realizou

regularmente a prática individual durante praticamente toda a pesquisa, com a exceção de

apenas um dia, e podemos perceber o grande comprometimento da aluna, pois a mesma

realizou a prática inclusive no dia das mães.

Hoje, no dia das mães fiquei o dia todo fora mas depois que voltei

para casa peguei no baixo (confesso que com um pouco de preguiça)

rsrs[risadas] (ANEXO, Diários Mayara dia 12)

Portanto podemos considerar a importância da regularidade e comprometimento na

prática individual da Mayara durante as duas semanas da pesquisa, pois possibilitou a

realização de um trabalho contínuo que favorece a aprendizagem. E como elementos externos

(grade curricular e trabalho) prejudicam a regularidade de tempo na prática individual,

dificultando aspectos da sua execução e a aprendizagem da participante.

2) Métodos de estudo

Os métodos de estudo utilizados pela Mayara durante toda a pesquisa demonstram o

papel fundamental que eles exercem no processo de aprendizagem. Segundo a analise dos

diários, das avaliações das aulas individuais e das entrevistas as aplicações dos métodos de

estudo ocorreram da seguinte forma: 1) planejamento da sessão de prática individual, tendo

como base às horas disponíveis para a sua realização, o que será estudado, o feedback da

sessão de prática anterior e o ensinamento do professor; e 2) os métodos de estudo, incluindo

elaboração, modificação e aplicação.

Como mencionado anteriormente sobre a regularidade de tempo nas sessões de prática

individual, o planejamento dos métodos de estudo é elaborado segundo a disponibilidade de

tempo da sessão de prática. Nos diários da Mayara (ANEXO D) na sessão “Descrição do

36

método de estudo” e “Tempo de estudo em cada método” podemos ver claramente como o

planejamento ocorre quando há uma grande disponibilidade para realizar a prática individual

(disponibilidade de 1 hora e meia):

Descrição do Método de Estudo:

• Escala de Ré Maior semínima = 60 (por corda -

verticalmente). Tempo de estudo deste método 30 min.

• Improviso na Escala de Ré Maior semínima = 60. Tempo

de estudo deste método 5 min.

• Estudo de trechos do 1º mov. (3 trechos em especial) –

Dittersdorf. Tempo de estudo deste método 20 min.

• Passagem do 1º mov. (Dittersdorf) lento semínima = 46.

Tempo de estudo deste método 10 min.

• Estudo do 2º mov. (por frases) (Dittersdorf). Tempo de

estudo deste método 25 min.

(ANEXO D, Diário Mayara dia 13)

E quando há ausência na disponibilidade de tempo (40 minutos):

Descrição do Método de Estudo:

• Leitura do 2º mov. (Dittersdorf). Tempo de estudo

deste método 30 min.

• Passagem do 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 50

e 60. Tempo de estudo deste método 10 min.

(ANEXO D, Diário da Mayara dia 07)

Nos dois relatos de Mayara podemos ver como a disponibilidade de tempo orienta o

planejamento da sessão prática individual e dos métodos de estudo, desde a quantidade de

métodos e o tempo gasto em cada um deles.

Através desses relatos podemos ver outro aspecto importante do planejamento, a

decisão sobre o que será estudado nas sessões de prática, durante a pesquisa a participante

37

estudou o Concerto para Contrabaixo em Ré Maior de Karl Dittersdorf, como podemos

observar nos relatos o planejamento da aluna foi baseado no estudo desse concerto, como por

exemplo, realizar a escala de Ré Maior tonalidade da obra. Sendo assim o que será estudado é

um importante aspecto do planejamento da sessão de prática de Mayara.

Outros dois aspectos fazem parte do planejamento, o feedback do aluno sobre a sessão

de prática anterior e o ensinamento do professor nas aulas individuais. O feedback é realizado

pelo próprio aluno na sessão de prática através da analise do seu aperfeiçoamento e das suas

dificuldades, com as informações desse feedback a Mayara consegue elaborar um

planejamento levando em conta essas informações e assim realiza um trabalho contínuo nas

sessões de prática. A seguir vou apresentar dois relatos que aconteceram em dias seguidos dia

6 e dia 7 onde a aluna relata um feedback e planeja os estúdios do dia posterior tendo como

base essas informações.

Dia 6:

A principio tentei passar o concerto (1º mov.) todo antes de

estudar trecho por trecho mas não deu certo. Percebi que

me desconcentrei muito e não estava nada bom. Então tive

a ideia de começar os estudos por trecho

mesmo...(ANEXO, Diário Mayara dia 6)

Dia 7:

Percebi que para um maior rendimento preciso passar desde

o início do estudo frase por frase. (Estudar bem a 1º frase e

só depois passar para a 2º). Do contrário parece que eu ródo

(rodar) e não saio do lugar! (ANEXO, Diário Mayara dia 7)

38

O ensinamento do professor é um tópico que será abordado posteriormente, mas

devido a sua importância no processo de aprendizagem ele será apresentado várias vezes no

decorrer do texto. As informações e ensinamentos passados durante as duas aulas individuais

pela Prof.ª Valerie para a aluna Mayara são incluídos no planejamento dos métodos de estudo.

Nas aulas individuais a Prof.ª Valerie ensinou alguns métodos para a aluna e a participante

incorporou eles no seu planejamento.

“...passando frase por frase no

contrabaixo e anotando os melhores dedilhados,

com isso foi ficando cansativo e então larguei o

baixo e terminei de colocar os dedilhados da forma

que a Val me falou na última aula! Rsrsrs

[risadas].” (ANEXO, Diário Mayara dia 14)

Portanto podemos perceber como a Mayara leva em consideração os aspectos

mencionados acima para elaborar o planejamento dos métodos de estudo utilizados nas

sessões de prática individual.

Os métodos de estudo utilizados no decorrer da pesquisa por Mayara são grande parte

elaborados pela estudante, com a exceção de dois dos quais um foi elaborado em conjunto

com o seu marido e o outro passado pela Prof.ª Valerie.

Os métodos de estudo elaborados por Mayara foram realizados de forma autodidata e

sem o auxilio dos seus professores de instrumento, como explicado no relato a seguir:

Bom, nenhum professor me falou isso [métodos de estudo e como

estudar]. Meu professor o Marco falava para estudar, treinar o trecho

que estava ruim e estudar, estudar eu acho que era repetir não sei...

(ANEXO C, entrevista Mayara)

Mayara leva em consideração na elaboração dos métodos de estudo a sua formação

musical e o feedback das sessões de prática individual. Dentro os métodos de estudo

39

elaborados pela estudante durante a pesquisa a realização da escala na tonalidade da obra leva

em consideração esses dois aspectos e por esse método apresentar informações sobre o

processo de aprendizagem da participante descreverei a elaboração, modificação e ideias da

Mayara sobre ele durante as duas semanas de pesquisa.

A realização da escala na tonalidade da obra é relatada desde o primeiro diário, sendo

presente durante toda a pesquisa e na entrevista, inicialmente ele era realizado através da

utilização do dedilhado padrão5, mas após identificar dificuldades nas mudanças de posição a

participante modificou esse método, então começou a realizar a escala em cada corda

individualmente visando melhorar os problemas com mudança de posição. Podemos

identificar até o momento a elaboração do método tendo como base sua formação musical

erudita e a modificação do mesmo devido ao feedback da sessão de prática, conforme relato a

seguir:

... além da escala digitação normal para fazer três oitavas

não sei o que, eu percebi que eu tinha dificuldade na

mudança de posição então eu comecei a fazer ela em uma

corda só, fazia a escala de Ré por exemplo na corda Sol,

ritmos variados né, porque eu acho necessário, desde

semínima até colcheia, tercina, semicolcheia até onde eu

consegui e fazia na corda Ré, na corda Lá e na corda Mi,

depois eu fazia a escala normal mudando de posição nas

cordas, escala e arpejo .... (ANEXO C, entrevista Mayara)

No decorrer da pesquisa, Mayara aprimorou o método novamente devido a

dificuldades e problemas encontrados no feedback das sessões de prática, esse aprimoramento

teve como base a formação de música popular da participante, pois além da realização da

escala como foi descrito anteriormente, a estudante inclui a improvisação na escala da

tonalidade da obra (técnica e estudo característico da formação de música popular),

possibilitando melhoras e o diagnósticos de novos problemas.

Para ver se as notinhas realmente estavam no “lugar”,

improvisei dentro da escala utilizando todas as cordas.

Percebi que tenho dificuldade, ou melhor, perco um pouco

5 Termo utilizado pela Mayara (ANEXO C, Entrevista Mayara) e se refere a forma como se toca a escala, nesse

caso em especifico tocar a escala tendo como base os dedilhados passados por professores e métodos (vária de professor para professor e método para método).

40

a minha referência quando eu não olho p/ o baixo.

(ANEXO, Diário Mayara dia 13)

Outro aspecto importante sobre esse método de estudo é a importância dele na prática

individual de Mayara, pois a estudante relata durante as duas semanas da pesquisa o quanto

ela gosta de realizar esse método e o quanto é frustrante não conseguir realizar o mesmo,

como mostra o relato a seguir:

Então tive de ser rápido mas o que eu gosto mesmo é de

fazer a escala, estudar os arpejos e as partes mais difíceis da

mão direita (arco). Mas infelizmente não foi possível.

(ANEXO D, Diário Mayara dia 18)

Podemos identificar nesse método a elaboração, modificação e o seu aperfeiçoamento

através da formação musical da participante (erudita e popular) e do feedback das sessões de

prática. A mudança no método e os motivos para a mudança mostram como os métodos de

estudo (instrumento para conseguir realizar a aprendizagem) é um processo de aprendizagem

por si só. Outros métodos elaborados por Mayara foram relatados na pesquisa, não irei

abordar e descrever eles, pois utilizam o mesmo procedimento do método de estudo relatado

acima.

Dentre os métodos de estudo que não foram elaborados por ela, temos o que foi

elaborado em conjunto com o seu marido. Esse método foi elaborado e pensado em conjunto

com o seu marido (músico com formação erudita e popular) durante o convívio no cotidiano,

onde os dois perceberam a necessidade da realização de sessões de prática individual eficaz,

fazendo com que os dois pensassem e elaborassem esse método de estudo.

Conversando também com o Ricardinho [Marido] que ele gosta

muito de estudar, dai ele me ajudou muito assim a como estudar, a

gente conversando um dia, dai ele falou que tinha dificuldades

também em pegar peças assim no baixo acústico tal então um dia ele

virou e falou “eu vou ficar em uma frase só o dia inteiro” e dai ele

ficou em uma frase da música o dia inteiro, não lembro qual música

que era e dai realmente aquela frase ficou muito melhor do que tava

né e dai a gente pensando a gente meu vamo estudar por frase, vamo

primeiro deixar uma frase direito para depois passar para outra. E

41

dai foi assim a gente fazendo teste tudo, a gente começou, eu

comecei a estudar assim (ANEXO C, entrevista Mayara)

O método de estudar trecho por trecho está presente em toda a pesquisa e é de grande

importância no processo de aprendizagem da aluna, através dele a aluna demonstra muitas

capacidades necessárias para uma aprendizagem eficaz, como a prática de aspectos musicais e

técnicas específicas como articulação, problemas rítmicos, frases e sonoridades, como mostra

o relato a segui:

...ainda tenho dificuldades na parte nova! Acho que é na

troca de corda (A, D e G). Amanhã vou tentar estudar este

trecho apenas mão direita (arco). (ANEXO D, Diário

Mayara dia 7)

Este método não é realizado apenas quando Mayara tem pouco tempo disponível

durante as sessões de prática, como mencionado anteriormente.

O último método presente na pesquisa que não foi elaborado por Mayara foi o

ensinado pela Prof.ª Valerie durante a primeira aula individual realizada nas duas semanas de

aplicação da pesquisa. Na aula individual a Prof.ª Valerie identificou um problema que foi

relatado no sistema de avaliação e para a aluna durante a aula.

A aluna ainda necessita de estímulo para planejar a

execução antes de pegar no instrumento. A prática comum

prevalece – pegar o contrabaixo e “sair tocando”. (ANEXO

D, Avaliação da aula individual da Mayara)

A Mayara correlaciona as informações passadas em aula pela Prof.ª Valerie com os

problemas que ela encontrou durante a execução da obra e durante as sessões de prática.

[execução da obra] Percebi que estava melhor mas parando

muito. Na aula eu fui perceber o porque! Como esses 2

últimos dias foram muito corridos não consegui colocar

meus dedilhados e dinâmica então na aula parei muito pois

lembrava desses elementos depois que fazia [executava] a

frase. Acho que sempre colococarei minhas observações na

42

partitura daqui por diante [através da análise] (ANEXO D,

Diário da Mayara dia 9).

A partir dessa correlação a aluna começa a aplicar o método de estudo de analise da

obra, sendo presente durante as sessões de prática posteriores, sendo relatado nos diários e

seus benefícios na entrevista.

Diário:

Depois comecei a estudar o 3º mov. do Dittersdorf,

passando frase por frase no contrabaixo e anotando os

melhores dedilhados, com isso foi ficando cansativo e então

larguei o baixo e terminei de colocar os dedilhados da

forma que a Val me falou na última aula! rsrsrs (ANEXO,

Diário dia 14)

Entrevista:

O que eu gosto de fazer é antes pegar a obra e uma coisa

que a Val me chamou muito a atenção e que realmente

funcionou muito nessa pesquisa que nós fizemos, no caso

do Ditters, que foi analisar ela Harmonicamente com o

piano, fazer uma analise dos movimentos harmonicamente

tal e analisar a obra e isso quando eu comecei a estudar ela

mesmo depois que eu analisei eu percebi muito mais, eu

não sei se essa é a palavra certa, muito mais afinidade com

a obra, mas parece que eu já, parece que eu entendi ela

assim harmonicamente, as frases que eu estudava eu sabia o

que estava acontecendo harmonicamente e isso da uma

interpretação muito mais ampla e muito mais efetiva da

obra, eu acho. Então eu tenho feito isso em todas as obras

que eu tenho estudado, eu tenho analisado ela primeiro né.

(ANEXO C, entrevista Mayara)

Portanto, podemos considerar através dos relatos e das descrições apresentadas acima

a influência dos métodos de estudo no processo de aprendizagem, como os métodos

elaborados pela aluna de maneira autodidata têm como base a formação musical da aluna

(erudita e popular) e o importância do feedback das sessões de prática para obter informações

43

e assim elaborar, modificar e aprimorar os métodos de modo que ela consiga realizar uma

prática individual eficaz, e como a elaboração e aplicação desses métodos são um processo de

aprendizagem por si só. Os métodos que não foram elaborados pela aluna mostram a

importância da participação de outras pessoas no processo de aprendizagem, como eles

influenciam a sessão de prática individual e a elaboração do método de estudo, como por

exemplo, o feedback da aula individual realizado pela Prof. Valerie relatados nos diários e

pela própria aluna.

3) Aulas individuais e os ensinamentos da Prof.ª Valerie Ann Albright

Durante as semanas de aplicação da pesquisa Mayara realizou duas aulas individuais

com a Prof.ª Valerie, em ambas as aulas foram trabalhados a obra selecionada pela estudante e

a partir desse trabalho foi realizado a avaliação através do sistemas de avaliação pela Prof.ª

Valerie.

A avaliação das aulas individuais apresentou informações que possibilitaram

identificar os resultados positivos e negativos obtidos pela Mayara no trabalho realizado nas

sessões de prática individual. E fazendo a correlação desses dados com os relatos obtidos

através da entrevista e dos diários obtivemos as seguintes informações: 1) A grande

correlação da prática individual da Mayara com as avaliações das aulas individuais realizadas

pela Prof.ª Valeria; e 2) A importância do feedback do professor e os ensinamentos no

processo de aprendizagem da estudante.

Nos relatos dos diários, como foi descrito anteriormente, podemos identificar o

planejamento da sessão de prática, a elaboração e aplicação dos métodos de estudo e os

relatos da aluna sobre suas melhoras e dificuldades, esses dados tem grande correlação com as

avaliações realizadas durante as aulas individuais pela Prof.ª Valerie, como por exemplo,

Mayara relata durante as duas semanas dificuldades em um trecho específico do 1º

movimento da música trabalhada durante a pesquisa:

Dia 10:

Descrição do Método de Estudo:

Passagem do 1º mov. Dittersdorf semínima = 60 e 70.

Tempo de estudo deste método 15 min.

44

Relato sobre o estudo da obra:

Já está melhor mas ainda é um pouco difícil fazer em

semínima = 70 a sequência de semicolcheias (novo -

Tobias6). (ANEXO D, Diário Mayara dia 10)

Dia 16:

Descrição do Método de Estudo:

Estudo do 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 70, 80 e

84. Tempo de estudo deste método 1h.

Relato sobre o estudo da obra:

Hoje o estudo foi bom. Procurei aumentar o tempo do 1º

mov. (Dittersdorf). Ainda tenho dificuldades nas partes

novas do Dittersdorf e nas trocas de corda muito rápida.

(ANEXO D, Diário Mayara dia 16)

Os relatos de Mayara descritos acima sobre os problemas encontrados nas sessões de

prática são os mesmos encontrados na avaliação das aulas individuais da estudante,

demonstrando a grande correlação entre a prática individual da obra com a sua execução e

avaliação durante as aulas individuais.

Primeira aula individual:

Nas semi-colcheias7, há um desencontro entre a mão

esquerda e a mão direita (alguns trechos). Trabalhar

cruzamento de cordas (ANEXO D, Avaliação aula

individual Mayara)

Segunda aula individual:

Ainda tem dificuldades com o 1o trecho no

desenvolvimento, principalmente com cruzamentos de

cordas. Recomendei o isolamento do problema, estilo

6 O Trecho novo se refere a edição URTEXT do Concerto em Mi Maior de Dittersdorf, no qual temos um trecho

novo no desenvolvimento do 1º mov. A aula usa se refere a esse trecho também como novo-Tobias, a Prof.ª se refere como 1º trecho no desenvolvimento. 7 Refere-se ao trecho novo que a Mayara cita nos diários.

45

Zimmerman. (ANEXO D, Avaliação da ula individual

Mayara)

Podemos considerar através dos relatos de Mayara e da Prof.ª Valerie a grande

correlação entre as sessões de prática individual da aluna com as execuções que foram

avaliadas nas aulas individuais. Esses relatos apontam a correlação entre prática deliberada

(nesse caso os métodos de estudos utilizados na prática individual) com o nível de

performance do instrumentista (nesse caso a performance em sala de aula) conforme apontam

as pesquisas sobre prática deliberada e performance de excelência realizadas por Ericsson, et.

Al (1993) e Lehmann, et. Al.(1997).

Durante as duas aulas individuais, Prof.ª Valeria passou o seu feedback sobre a

execução realizada pela aluna, nele havia informações sobre problemas que a professora

identificou (ex. o trecho – novo que foi relatado acima), aspectos positivos sobre a

performance na aula e novos métodos de estudo dos quais Mayara deveria praticar para

melhorar sua performance, essas informações contidas no feedback são relevantes para o

processo de aprendizagem, como por exemplo, no tópico métodos de estudo descrevemos o

método de análise que foi passado pela professora na primeira aula individual e foi

incorporado pela aluna desde então sendo presente até a segunda semana. A importância do

feedback da professora foi avaliado por ela na aula da segunda semana, pois ela avaliou a

melhora da Mayara nesse aspecto, conforme o relato abaixo:

Agora sim, a aluna planejou [analisou e planejou] uma

estratégia musical antes de executar o 2o movimento o que

deu um bom resultado. (ANEXO D, Avaliação Mayara)

Conforme os relatos e as informações apresentados acima, podemos ver a relevância

das aulas individuais no processo de aprendizagem de Mayara. Como as informações contidas

no feedback passado pela Prof.ª Valeria influenciam as sessões de prática individual da

estudante e com isso aprimorando a aprendizagem. Além da grande correlação entre as

informações contidas nos relatos dos diários da Mayara com as avaliações das aulas realizadas

pela Prof.ª Valerie.

4) Ambiente de realização da prática individual e convívio familiar

46

As sessões de prática individual realizadas pela Mayara durante as duas semanas de

pesquisa foram executadas em dois ambientes: a casa da estudante e as salas de estudo da

UNESP. O ambiente de realização da prática individual faz parte do processo de

aprendizagem, pois ele pode alterar o planejamento da sessão de prática, prejudicar o trabalho

contínuo, atrapalhar a concentração da participante e auxiliar na aprendizagem da estudante.

Durante as duas semanas de pesquisa em alguns dias a participante realizou algumas

vezes as sessões de prática individual na UNESP, podemos perceber como esse ambiente

pode alterar o planejamento da sessão de prática, pois na UNESP as salas de aula são

compartilhadas com todos os alunos de contrabaixo e todos tem acesso a elas a qualquer

momento, com isso alguns alunos entram na sala enquanto a aluna está na sessão de prática ou

estão utilizando a sala quando ela planejou estudar, conforme apresentam os dois relatos a

seguir:

Entrevista:

eu não gostava muito de estudar aqui [UNESP],

porque as vezes eu estava estudando e chegava

alguém na sala e ficava conversando e ai você vai

conversando também e acaba perdendo o foco e as

vezes você fica nem tanto tempo, mas esse tempo

que te “atrapalhou” no estudo da uma

desconcentrada em tudo. (ANEXO C, Entrevista

Mayara)

Diário:

Hoje fui estudar na Unesp (geralmente de sexta-

feira não vou), pois tinha ensaio do Per questa

bella mano com o cantor e pianista então fui mais

cedo p/ estudar. Chegando lá as salas e os baixos

estavam sendo usados e então eu tive que esperar.

Quando consegui o baixo e a sala só deu tempo de

passar os primeiros trechos do 3º mov. do

Dittersdorf. (ANEXO D, Diários Mayara dia 17)

Mayara realizava e realiza a prática também na sua casa, porém nesse ambiente a

estudante relata como ele favorece a tranquilidade e ajuda a manter a concentração. Esse

47

relato condiz com as pesquisas que citam como o ambiente de prática individual favorável

ajuda o processo de aprendizagem ocorrer de maneira eficaz (ERICSSON, et. Al. 1993;

LEHMANN, et. Al. 1997).

...mas mesmo assim eu preferia, porque é o lugar

onde eu fico mais tranquila, eu consigo ficar mais

concentrada de repente né. (ANEXO C, Entrevista

Mayara)

Podemos perceber a influência do ambiente no processo de aprendizagem, conforme

demonstram os relatos acima, um ambiente propício favorece a aprendizagem e como certos

ambientes prejudicam a aprendizagem por razões externas e assim alteram o planejamento da

sessão de prática.

O convívio familiar faz parte do processo de aprendizagem de Mayara, no caso da

aluna o convívio com seu Marido, também músico, modificou o seu dia a dia, a sua vivência

musical e teve ações diretas na prática individual da aluna. Conforme foi descrito na sessão de

métodos de estudo, um dos métodos de estudo foi elaborado pela aluna e pelo seu marido

através da interação dos dois sobre a prática individual diária. Portanto o convívio da Mayara

com o seu marido tem influência no seu processo de aprendizagem, pois através dele a

participante elaborou e modificou seu método de estudo.

5) A procura de informações através de recursos exterior

No processo de aprendizagem na prática individual de Mayara, a atividade de procurar

informações através de recursos externos, como por exemplo, métodos, gravações de áudio e

vídeos, fizeram parte do processo. Essa procura auxilia a participante a entender e a decidir

aspectos técnicos para a execução da obra, como dedilhados, articulações, arcadas, andamento

e aspectos musicais da obra, como fraseado da música e estilo. A partir das decisões desses

aspectos, Mayara modifica a execução dos métodos de estudo e a prática individual,

consequentemente a performance da obra. Durante a pesquisa a participante procurou

gravações da obra para decidir aspectos de articulação e estilo, essas decisões foram avaliadas

nas aulas individuais da participante, como mostra o relato a seguir:

Diários:

48

Assisti alguns vídeos de Contrabaixistas tocando o

2º mov. para ter articulação e dinâmica. Vi 3

versões e tentarei não fazer tão articulado nem tão

“romantico”. (ANEXO D, Diários Mayara dia 10)

Avaliação:

Agora sim, a aluna planejou uma estratégia

musical antes de executar o 2o movimento o que

deu um om resultado. (ANEXO D, Avaliação

Mayara)

49

2.3 O Processo de aprendizagem do Davi

O processo de aprendizagem de Davi foi analisado com base nos dados empíricos

coletados nas analises dos diários através do sistema pré-definido de categorias, na entrevista

e na avaliação das aulas individuais através do sistema de avaliação das aulas individuai,

como ocorreu com a participante Mayara.

As duas semanas de aplicação da pesquisa com Davi e com a Prof.ª Valerie Ann

Albright foram realizadas no período de 4 de maio de 2013 a 17 de maio de 2013, totalizando

14 dias de realização da prática individual, incluindo o dia onde a participante não realizou.

As aulas individuais de instrumento foram realizadas nos dias 10 de maio de 2013 e 17 de

maio de 2013. A obra selecionada pelo estudante para trabalhar durante a pesquisa foi o

Concerto para Contrabaixo em Fa# Maior de Serge Koussevitzky.

Na época da pesquisa, Davi tinha vinte e dois anos e cursava o 1º ano do curso de

bacharelado em música – habilitação em contrabaixo acústico sob a orientação da Prof.ª Dr.ª

Valerie Ann Albright e tinha o seu primeiro concerto solo com orquestra agendado.

O processo de aprendizagem da prática individual de Davi envolve a mobilização e a

socialização de diferentes saberes do estudante adquiridos na sua formação musical, na prática

individual, na interação social e no preparo para a realização do seu concerto solo. No relato a

seguir apresento: 1) formação musical do participante; 2) o processo de aprendizagem através

da convergência da analise dos diários, entrevistas e avaliação das aulas individuais.

50

2.3.1 Formação Musical do participante Davi

“...ah olha que interessante...”

Davi começou seus estudos musicais de forma informal aos 13 anos, estudando violão

com algumas noções de teoria musical, mudou posteriormente para o contrabaixo elétrico.

Possivelmente ele começou a estudar música devido a influência da sua mãe que tocava

violão que sempre o incentivou e uma parte de sua família que havia estudado música.

...Minha família me influencia, minha mãe tocava violão,

mas meu pai não, geralmente a família da minha mãe eles já

estudaram um pouco de música e minha mãe sempre me

incentivou... (ANEXO E, Entrevista Davi)

Estudou informalmente durante quatro anos, depois desse período, Davi começou a

frequentar as aulas de contrabaixo acústico no Projeto G. sob orientação do Prof.º Paulo B. Na

época Davi estava iniciando seus estudos no contrabaixo acústico e por isso os saberes

ensinados por esse professor eram básicos, porém eles fazem parte das técnicas utilizadas

atualmente pelo estudante.

...ai ele passava algumas coisas para mim estudar só que foi

tipo no início mesmo, por isso mesmo que essa coisa da

extensão [técnica de contrabaixo utilizado até hoje pelo

estudante] já veio dai...(ANEXO E, Entrevista Davi)

Após um ano de estudos no Projeto G. o participante ingressou na Escola Municipal

de Música de São Paulo estudando contrabaixo acústico sob a orientação do Prof.º Marco A.

B. Segundo ele as primeiras aulas de instrumento nesse período foram apenas de explicação

sobre o contrabaixo acústico e sobre a teoria que norteia a didática utilizada por esse

professor. Apesar de estudar música informalmente e formalmente antes, o Davi considera

que só a partir dessa época ele entrou na área musical.

... a primeira aula que ele deu para mim foi só explicação

falando sobre o contrabaixo, como é o instrumento, enfim

ai depois foi quando eu comecei a entrar nessa área da

música... (ANEXO E, Entrevista Davi)

51

Davi atualmente continua frequentando a Escola de Música Municipal de São Paulo

estudando sob a orientação do Prof.º Marco A. B. Paralelo com esses estudos ele está

cursando o 1º ano do curso de Bacharelado em Música – Habilitação em contrabaixo acústico

e sua professora de instrumento é a Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright.

No período em que iniciou seus estudos na Escola de Música Municipal, Davi realizou

sua primeira experiência em orquestra, ingressando em uma orquestra de cordas8. Como foi a

primeira experiência tocando em conjunto, o estudante relata algumas dificuldades, como por

exemplo, leitura, tempo, atenção e problemas em sincronia entre ler e saber onde poderia

tocar.

...tipo assim no começo eu tinha que pegar as partes e

estudar todo dia porque experiência e tocar em grupo era

difícil para mim... (ANEXO E, Entrevista Davi)

Essa primeira experiência durou cerca de um ano, após ela Davi ingressou na

Orquestra Sinfônica Jovem de Guarulhos. Na entrevista ele relata outras dificuldades

encontradas ao tocar nesse grupo, pois nele havia muitos instrumentos e isso atrapalhava a sua

escuta. Porém o repertório exigente da Orquestra possibilitou uma ótima aprendizagem

musical ao estudante. Ele participou dessa orquestra por cerca de um ano.

...mas lá foi uma boa escola [Orquestra Sinfônica Jovem de

Guarulhos], porque os repertórios que eles faziam eram

muito difíceis,... (ANEXO E, Entrevista Davi)

Desde então Davi faz parte da “Estadualzinha”9. Podemos perceber através desses

relatos a importância da experiência nas orquestras na formação musical do estudante.

Na formação musical de Davi podemos destacar também a sua participação nos

masterclasses10

. Neles o aluno teve aulas com outros professores de contrabaixo, como por

exemplo, Sérgio O., Pedro G., Ana Valéria, Catalin R., entre outros, onde foram abordados e

ensinados aspectos da performance, técnicas de arco, musicalidade e outras questões ligadas a

8 Orquestra de cordas é uma orquestra formada apenas pelos instrumentos de corda: violino, viola, violoncelo

e contrabaixo acústico. 9 “Estadualzinha” é o apelido dado a Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.

10 Aula de uma determinada disciplina dada por um especialista.

52

formação musical do estudante. Apesar de aprender com essas aulas o aluno relata limitações

nessa aprendizagem devido a restrições impostas pelo ensino do seu Prof.º Marco A. B.

Mas com o tempo eu comecei a ter restrição [com o que] as

pessoas falavam [durante as masterclass] e eu percebi que

eu tava começando a ficar meio, eu senti que tava

começando a ter uma lavagem cerebral, eu tava muito preso

na escola do meu professor da escola municipal e eu

achava que era aquilo e até mesmo porque eu me

identificava ou ele me fazia identificar... (ANEXO E,

Entrevista Davi)

Essas restrições cessaram quando Davi ingressou na UNESP, pois auxiliou o aluno a

entender o que ele precisa aprender e filtrar dos masterclasses segundo as suas necessidades e

seus critérios, conforme relatado na entrevista.

...mas agora que eu comecei a estudar na UNESP isso me

ajudou, isso esta me ajudando meio que abrir a mente e ter

mais, como eu posso dizer, a ser mais livre sabe, pensar

mais no que eu quero, pegar uma coisa da outra, o que eu

quero fazer e não ser protótipo de professor, tipo eu consigo

recolher informações e “a tudo bem aquilo não é tão ruim

assim”, entendeu, aprendi a peneirar as coisas e isso tem me

ajudado também.

Em síntese, a formação musical de Davi apresenta duas dimensões: 1) a aprendizagem

formal da música erudita através das aulas de contrabaixo acústico na Escola Municipal,

UNESP e nas suas participações nos masterclasses; e 2) a experiência musical das

participações nas orquestras.

As características da formação musical de Davi influenciam como ele adquiriu seu

conhecimento musical e os mobiliza na prática individual.

53

2.3.2 O Processo de Aprendizagem de Davi

O processo de aprendizagem da prática individual do estudante ocorreu através das

seguintes atividades: 1) regularidade da prática individual da obra selecionada e

comprometimento da mesma; 2) métodos de estudo e o seu planejamento, aplicação,

manutenção e aprimoramento; 3) aulas individuais e os ensinamentos da Prof.ª Valerie Ann

Albright; e 4) preparação para a realização do seu concerto solo com orquestra.

1) Regularidade e Comprometimento

No decorrer das duas semanas de pesquisa percebemos através dos diários a

regularidade da realização da prática individual de Davi, dentre os 14 dias de aplicação da

pesquisa o estudante não estudou apenas um deles. Essa regularidade é explicada por dois

motivos: 1) A aplicação dos diários, pois todos os participantes foram orientados a realizar a

prática individual durante toda a pesquisa independente do tempo da sua realização; e 2) A

realização do seu concerto solo com orquestra que estava agendado para alguns dias após a

pesquisa e que foi mencionado em todos os relatos nos diários. Podemos perceber através de o

relato a seguir como a orientação influenciou a regularidade da realização da prática

individual desde o primeiro dia:

...vamos ver o que vai acontecer durante o decorrer

desses dias consecutivos. (ANEXO F, Diário Davi

dia 04)

O estudante é regular no tempo de realização da prática individual, conforme os

relatos no quesito “tempo de estudo de cada método” dos diários podemos observar o tempo

destinado a prática individual da obra selecionada por Davi (ANEXO F, Diário Davi). Esse

tempo é explicado pelo próprio estudante que aprendeu no decorrer de sua formação a

diferença entre praticar muitas horas de forma errada e praticar poucas horas de maneira

correta, conforme relato a seguir:

...[sobre o tempo de estudo] ... eu comecei a pensar

e ver que para mim se eu estudar um tempo

razoável assim por dia controlado, tipo eu não

54

preciso ficar lá mil horas estudando, não isso é,

acho que sei lá, hoje eu penso assim, por exemplo,

as férias estão vindo ai, então eu planejando sei lá

2h30 por dia para [...] 2h ou 2h30 por dia, só para

ver algumas coisas e a cada dia vou vendo um

assunto diferente no contrabaixo para, assim não

sei como vai ser mas, ta umas 3h, hoje se eu tiver

3h para mim ta ótimo, se eu conseguir estudar 3h

por dia eu já sinto algo a desenvolver do estudo.

(ANEXO E, Entrevista Davi)

Esse pouco tempo destinado a realização da prática individual também é explicado

pela carga horária da faculdade, apesar de não ser relatado explicitamente nos diários, o aluno

mencionou o seu cansaço e dificuldade de se concentrar na prática individual no dia da

semana em que tem mais aulas na UNESP.

A única coisa que tenho para relatar hoje é que

precisei ter muita paciência para estudar pois já é

tarde da noite e estou um pouco cansado, mas

procurei me concentrar ao máximo para aproveitar

o dia de estudo... (ANEXO F, Diários Davi dia

08)

Segundo as informações acima, podemos perceber dois aspectos: 1) como a definição

de metas e objetivos (nesse caso os 14 dias consecutivos da pesquisa e a realização do

concerto solo) auxilia na regularidade da prática individual; e 2) como o conhecimento interno

do aluno sobre quais são as melhores maneiras de realizar a prática individual auxiliam a

regularidade no tempo destinado a ela.

Nas duas semanas de aplicação da pesquisa o aluno se mostrou comprometido com a

realização da prática individual, conforme foi relatado anteriormente o aluno foi regular na

realização e no tempo das sessões de prática durante praticamente toda a pesquisa, com a

exceção de apenas um dia que foi explicado pelo aluno:

O PARTICIPANTE RELATOU ATRAVÉS DO DIÁRIO

FOI ASSITIR AO CONCERTO DO VIOLONCELISTA

YO-YO MA. (ANEXO F, Diários Davi dia 07)

55

Podemos considerar a importância da regularidade e comprometimento na prática

individual de Davi durante a aplicação da pesquisa, pois possibilitou a realização de um

trabalho contínuo favorecendo o processo de aprendizagem do aluno. E percebemos que

fatores como metas, objetivos e conhecimento pessoal auxiliam a realização e a regularidade

da prática individual.

2) Métodos de estudo

Os métodos de estudo que Davi utilizou durante a prática individual em toda a

pesquisa são as atividades caracterizadas como prática deliberada por Ericsson et. Al (1993) e

alguns desse métodos são apresentadas por Santiago (2006) como estratégias de estudo.

Segundo a analise dos diários, da entrevista e da avaliação das aulas individuais a aplicação

dos métodos de estudo ocorre da seguinte forma: 1) planejamento da sessão de prática

individual, no caso do Davi ele tem como base a realização do seu concerto solo com

orquestra, o que será estudado, o feedback da sessão de prática anterior, o ensinamento do

professor; e 2) elaboração, aplicação, modificação e manutenção dos métodos de estudo.

Como mencionado anteriormente, Davi tinha que realizar um concerto solo com

orquestra uma semana após a aplicação da pesquisa, a realização dessa apresentação foi a base

do planejamento das sessões de prática individual do estudante. Nos diários de Davi (ANEXO

F) na sessão “Descrição do método de estudo” podemos ver como o aluno prática para a

realização do seu concerto, conforme relato a seguir:

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky apenas trabalhando os

trechos mais difíceis tecnicamente

começando com andamento lento com

concentração e estudando-os em ordem

aleatória. Tempo de estudo deste método

40:00 minutos.

Ensaio com a orquestra: 1º e 2º

movimentos. Tempo de estudo deste

56

método 1:00 hora. (ANEXO F, Diários

Davi dia 11)

Através do relato acima podemos ver como a preparação para o seu concerto solo foi a

base para o planejamento das sessões de prática individual, esse aspecto foi identificado e

relatado em todos os diários pelo próprio estudante, a seguir apresento um deles:

Hoje pensei numa forma de trabalho bem leve para

não gastar toda energia no momento do ensaio

[para realização do concerto], apenas observando

se as notas estão no lugar, afinação, condição

técnica etc., e procurando tocar da maneira mais à

vontade (ou natural), possível. (ANEXO F, Diários

Davi dia 11)

Portanto podemos perceber como a preparação e a realização do seu concerto solo

orientou o planejamento das sessões de prática individual e quais métodos de estudo seriam

utilizados.

A partir desses relatos podemos identificar outro aspecto do planejamento das sessões

de prática individual, a decisão sobre o que será estudado, durante a pesquisa Davi estudou o

Concerto em Fa# Maior de Serge Koussevitzky, como podemos observar nos diários o

planejamento do aluno foi baseado no estudo desse concerto. Portanto o planejamento de

quais aspectos técnicos (nesse caso dentro dessa obra) iriam ser estudados, foram baseados no

que o aluno decidiu estudar.

E analizando as tarefas e metodologias aplicadas hoje

concluo que, existe trechos que precisarão ser trabalhados

insistentemente, sem trégua e enquanto isto não for

resolvido deixarei a parte interpretativa a ser trabalhada

mentalmente sem contato com o instrumento para reflexão

das ideias. (ANEXO F, Diários Davi dia 07)

O feedback da sessão de prática anterior realizado pelo próprio aluno é um aspecto

fundamental no planejamento das sessões de prática do Davi. O feedback, como ocorreu com

a participante Mayara, é realizado pelo próprio aluno através da analise da sessão de prática,

identificando suas melhoras e dificuldades. Com essas informações, Davi consegue elaborar

um planejamento levando em conta essas informações. A seguir vou apresentar o relato onde

57

o aluno descreve o seu próprio feedback do planejamento dos dias anteriores, ressaltando uma

possível mudança que ele poderia fazer:

A intenção é analizar os métodos de estudo destes trechos,

para ver o resultado desde o início do trabalho (dias

anteriores) e refletir se criar um outro método de estudo

pode melhorar o processo. (ANEXO F, Diários Davi dia

15)

Os ensinamentos da Prof.ª Valerie que foram passados durante a realização das

aulas individuais é um tópico que será abordado diversas vezes no decorrer da pesquisa, mas

por fazer parte do planejamento do aluno irei descrever brevemente um deles. Na primeira

aula individual a Professora ensinou e passou um método de estudo para o aluno, o estudo

com playback, que o aluno nos dias posteriores a aula incluiu no seu planejamento, conforme

o relato a seguir:

Descrição do Método de studo:

Koussevitzky ao acompanhamento do play-back, com

muita atenção ao ritmo e afinação, ouvindo as outras vozes

do acompanhamento como referência e diálogo. Tempo de

estudo deste método 1:30 hora. (ANEXO F, Diários Davi

dia 12)

Portanto podemos perceber como Davi planeja as suas sessões de prática individual

tendo com base os aspectos mencionados acima.

Os métodos de estudo utilizados em toda a pesquisa por Davi são grande parte

elaborados pelo próprio estudante, com a exceção de um deles que foi elaborado através de

sugestões dadas pela Prof.ª Valerie.

Nos métodos elaborados pelo próprio Davi, ele leva em consideração na elaboração

deles o conhecimento de si mesmo, a sua formação musical (professores, masterclasses e

participação nas orquestras), feedback das sessões de prática individual e a preparação para a

realização do concerto solo com orquestra. O estudante consegue identificar alguns aspectos

que ele levou em consideração durante a elaboração, conforme apresenta o relato a seguir:

58

Eu fui pegando, fui colhendo as coisas assim,[...], dos que

eu colhi, alguns foram dos professores, dos amigos que

tocam comigo na orquestra, porque assim eu gosto de tocar

para as pessoas darem opiniões e ai através disso eu vou

pensando como trabalhar, professores,

masterclass.(ANEXO E, Entrevista Davi)

Dentre os métodos de estudo elaborados pelo estudante, um deles não foi relatado nos

diários apenas na entrevista. Nele o aluno executa a obra escolhida e quando encontra algum

trecho difícil ou mesmo quando encontra dificuldade na prática individual dessa obra, o aluno

para e vai tocar outra música ou realiza um improviso para relaxar e esquecer, depois ele volta

a executar esse trecho difícil. Esse método foi elaborado de forma autodidata pelo aluno que

levou em consideração o conhecimento sobre si mesmo, pois o aluno não queria se estressar,

conforme o relato a seguir:

As vezes trechos, tipo, quando eu estou estudando uma

peça tem um trecho muito difícil que não sai de jeito

nenhum, eu não tenho muita paciência, quando eu toco o

trecho e não ta saindo eu deixo aquele trecho e vou estudar

e tocar outra coisa, toco outra peça, toco o trecho de outra

peça que eu gosto, as vezes para distrair a cabeça ou uma

peça que didaticamente ela possa fazer bem para outra [Por

que foi elaborado?] Para não me estressar com o

instrumento e não ficar deprimido (ANEXO E, Entrevista

Davi)

Esse método de estudo não foi relatado nos diários, possivelmente por utilizar outras

obras musicais, improvisação e outras atividades que não são explicitamente ligadas a prática

individual da obra em questão.

Apresentarei a seguir dois métodos elaborados pelo próprio aluno dos quais ele leva

em consideração aspectos diferentes, mas que demonstram como é o seu processo de

elaboração e aplicação. E por fazer parte do processo de aprendizagem do aluno.

A execução da obra in tempo realizando rubatos e paradas nos trechos difíceis,

considera três aspectos na sua elaboração: o feedback das sessões de prática anteriores,

59

conhecimento sobre si mesmo e a preparação para o seu concerto solo. Para a execução desse

método, os trechos difíceis são identificados através do feedback das sessões de prática

anterior e a partir dele o aluno define quais trechos serão trabalhados. Nos relatos a seguir

apresento a entrevista com a descrição do método, o dia da realização da prática onde o

estudante realizou o feedback e o dia de aplicação do método de estudo a seguir:

Entrevista:

...eu geralmente não leio com o metrônomo, eu

leio devagar, porque assim as vezes tem trecho que

é difícil e eu vou meio que aumentando, faço meio

que um ralentando muitos rubatos... (ANEXO E,

Entrevista Davi)

05 dia da realização do feedback:

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky da capo ao fine, afim de

diagnosticar as qualidades e dificuldades a serem

trabalhadas com mais foco e precisão. Tempo de

estudo deste método 15:00 min.

Relato

E analizando as tarefas e metodologias aplicadas

hoje concluo que, existe trechos que precisarão ser

trabalhados insistentemente, sem trégua e enquanto

isto não for resolvido deixarei a parte interpretativa

a ser trabalhada mentalmente sem contato com o

instrumento para reflexão das ideias. (ANEXO F,

Diários Davi dia 05)

60

09 dia da realização desse método:

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 1º, 2º e 3º mov. in tempo mas

parando ocasionalmente nas partes onde ainda

eram problemas apenas para ficar como tem que

ser. Tempo de estudo deste Método 50:00 min.

(ANEXO F, Diários Davi 09)

Conforme os relatos mencionados acima podemos identificar como o feedback das

sessões de prática anteriores são levados em consideração na elaboração e modificação desse

método de estudo. O conhecimento sobre si mesmo não fica evidente no relato dp Davi nos

diários, porém o mesmo se encontra na entrevista, conforme o relato a seguir:

Para não me estressar com o instrumento e não

ficar deprimido...(ANEXO E, Entrevista Davi)

Esse método foi elaborado para auxiliar o aluno na preparação para o concerto solo

com orquestra, como pode ser observado em todos os diários e métodos utilizados por ele.

Portanto podemos perceber na a elaboração desse método que Davi considerou as

informações feedback das sessões anteriores, o conhecimento sobre si mesmo pensando em

um método que não o deixasse estressado e a sua preparação para o seu concerto.

O método de estudo executar por trechos de trás para frente leva em

consideração três aspectos: a preparação do aluno para o concerto solo, a sua formação

musical e o feedback das sessões de prática anterior. Como no método descrito anteriormente,

através das informações do feedback das sessões anteriores ele define quais serão os trechos

estudados, além de definir e equilibrar o tempo destinado a sua realização, conforme o relato a

seguir:

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky começando pelo 3º mov. e separando-o

por trechos de traz para frente até chegar no 1º mov.,

para equilibrar o trabalho dos 3 movimentos em igual

61

proporção. Tempo de estudo deste método 45:00 min.

(ANEXO F)

Nesse método podemos observar como a formação musical é utilizada na elaboração

dos seus métodos, como descrito na formação musical o estudante participou de diferentes

orquestras. Esse método foi elaborado tendo como base sua participação nessas orquestras,

conforme relato do próprio aluno:

Tive a ideia de começar de “traz para frente” com a

intenção de fazer como ocorre em alguns ensaios

orquestrais onde o maestro, perto da apresentação, separa

trechos estratégicos, para serem melhor fixados. (ANEXO

F)

Podemos identificar nos métodos descritos acima, como a elaboração, modificação e

aplicação ocorre através da formação musical do participante (nesse caso a sua participação

em orquestras), do feedback das sessões de prática, o conhecimento de si mesmo e a sua

preparação para o concerto solo. A elaboração e aplicação desses métodos é por si só um

processo de aprendizagem do aluno.

O método de estudo elaborado através da sugestão da Prof.ª Valeria foi o estudo com

play-back, ele foi ensinado para o aluno durante a primeira aula individual realizada nas duas

semanas de aplicação da pesquisa. Na aula individual a Prof.ª Valeria identificou um

problema que foi relatado na avaliação e para o aluno durante a aula, conforme o relato a

seguir:

O aluno precisa aprender a parte do

piano/orquestra para saber planejar aspectos como

dinâmica e fraseado de acordo. (ANEXO F,

Avaliação Davi)

A partir desse ensinamento da Prof.ª Valerie o aluno começa a estudar com play-back

dias após a primeira aula, sendo relatado pelo aluno inclusive os seus benefícios:

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky ao acompanhamento do

play-back, com muita atenção ao ritmo e

62

afinação, ouvindo as outras vozes do

acompanhamento como referência e

diálogo. Tempo de estudo deste método

1:30 hora.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Mesmo o play-back sendo muito preciso

ritmicamente e “quadrado” do ponto de vista

musical, procurei exercitar todos pontos

trabalhados anteriormente como se estivesse num

ensaio ao vivo. O mais interessante é que, além de

conhecer melhor a melodia do contrabaixo solo no

contexto harmônico, agora estou estudando e

conhecendo cada vez melhor a parte do

acompanhamento e pensando como um contra-

conta que ajuda a melodia principal a se localizar

de forma coerente dentro do concerto em si, como

uma peça teatral.

A descrição desse método mostra como a participação de outras pessoas faz parte da

elaboração e modificação dos métodos de estudo de Davi, nesse caso em específico como o

feedback e o ensinamento da professora foi levado em consideração pelo estudante,

auxiliando na elaboração desse método e consequentemente no seu processo de

aprendizagem.

Portanto podemos considerar através dos relatos e das descrições dos métodos de

estudo como eles são elaborados, pelo próprio aluno ou através do auxilio de outras pessoas

(nesse caso do professor), tendo como base a formação musical do aluno (a sua vivência

orquestral) e o conhecimento de si mesmo, a importância do feedback na elaboração e

manutenção dos mesmo, pois é através de suas informações o aluno identifica as suas

dificuldades. E como os métodos de estudo têm uma parte importante no processo de

aprendizagem do aluno.

3) Aulas individual e os ensinamentos da Prof.ª Valerie

Durante as semanas de aplicação da pesquisa Davi realizou duas aulas individuais

com a Prof.ª Valerie, em ambas as aulas foram trabalhados a obra selecionada pelo estudante

63

e a partir desse trabalho foi realizado a avaliação através do sistema de avaliação pela Prof.ª

Valerie, como foi realizado com a estudante Mayara.

A avaliação das aulas individuais apresentou informações que possibilitaram

identificar os resultados positivos e negativos obtidos por Davi no trabalho realizado nas

sessões de prática individual. E fazendo a correlação desses dados com os relatos obtidos

através da entrevista e dos diários obtivemos as seguintes informações: 1) A grande

correlação da prática individual do Davi com as avaliações das aulas individuais realizadas

pela Prof.ª Valeria e o trabalho contínuo realizado nas duas semanas; e 2) A importância do

feedback do professor e os ensinamentos no processo de aprendizagem da estudante.

Através dos relatos nos diários, como foi descrito anteriormente, conseguimos

identificar o planejamento da sessão de prática, a elaboração e aplicação dos métodos de

estudo e os relatos de Davi sobre suas melhoras e dificuldades, esses dados tem grande

correlação com as avaliações realizadas durante as aulas individuais pela Prof.ª Valerie. Para

exemplificar essa correlação o Davi relata durante a primeira semana dificuldades com um

trecho do 2º movimento da obra trabalhada durante a pesquisa:

Dia 4, primeira semana:

Descrição do Método de Estudo:

2º Movimento: o mesmo procedimento

anteriormente realizado, porém sempre no

tempo (60 = semínima), dando ênfase aquela

parte intermediária das ligaduras longas e dos

harmônicos do final da peça. Tempo de estudo

deste método 15:00 min. (ANEXO F, Diário

Davi)

O relato de Davi descrito acima mostra os problemas encontrados pelo aluno nesse

trecho da música durante a sessão de prática. Esse mesmo problema é diagnosticado pela

Prof.ª Valerie na avaliação da primeira aula individual do estudante e é passado o feedback

com essas informações para o aluno, conforme relato a seguir:

64

Em termos de ritmo, tende a transformar

mínimas em semínimas no 2o movimento,

mas a familiaridade com o

acompanhamento vai resolver isto.

(ANEXO F, Avaliação Davi)

Através desses relatos do problema identificado pelo próprio aluno e pela Prof.ª

Valerie na aula individual, também podemos observar como ocorreu o trabalho contínuo

durante as duas semanas sobre esse problema. Na semana seguinte o Davi relatou mais uma

vez as dificuldades com esse trecho, porém ele utiliza as sugestões e as informações do

feedback que recebeu nas aulas individuais, conforme o relato a seguir:

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 2º mov. metrônomo à 55 bpm

dando atenção e concentração à clareza dos

trechos e direção de frase. Tempo de Estudo

deste método 30:00 minutos.

Relato:

No segundo movimento, minha maior preocupação

é com a duração das notas, ligaduras e procurar

conhecer bem suas partes básicas como: tempo,

afinação, arpejos ligados e harmônicos, para saber o

que sua melodia com as dinâmicas querem expressar

tanto para o público quanto para o músico, ou seja

quero que a música fale por si mesma.(ANEXO F,

Avaliação Davi)

Além do relato apresentado acima, o aluno utiliza outros métodos de estudo para sanar

esses problemas, como por exemplo, o método de estudo com playback que foi sugerido pela

Prof.ª Valerie, como foi descrito anteriormente.

Com isso a avaliação da segunda aula individual apresenta os resultados do trabalho

contínuo realizado pelo aluno nas sessões de prática, conforme o relato a seguir:

...sanou quase todos os problemas rítmicos [2º

movimento da obra conforme avaliação anterior].

(ANEXO F, Avaliação Davi)

65

Portanto podemos perceber através dos relatos do Davi e da Prof.ª Valerie a grande

correlação entre as informações contidas nos diários com as avaliações das aulas individuais,

mais especificamente entre as sessões de prática individual do aluno com as execuções que

foram avaliadas nas aulas individuais. E a relevância das aulas individuais no processo de

aprendizagem do Davi, pois foi através das sugestões e das informações contidas no feedback

da Prof.ª Valerie que o estudante modificou a sessão de prática e seus métodos de estudo.

4) A preparação para o seu concerto solo

O processo de aprendizagem da prática individual do Davi nas duas semanas de

pesquisa tem um ponto central, a realização do seu concerto solo com orquestra. Podemos

perceber como o objetivo de realizar esse concerto estava presente nas sessões de prática

individual, como foi descrito anteriormente, desde o seu planejamento, escolha e elaboração

de métodos de estudo, inclusive nas aulas individuais como relata a própria Prof.ª Valerie em

uma das suas avaliações, conforme o relato a seguir:

Os comentários desta aula foram a respeito da

apresentação futura, sobre preparação mental e

físico, e assim saberemos mais para a frente se ele

os assimilou. (ANEXO F, Avaliação F)

Portanto podemos perceber a importância desse objetivo na prática individual do Davi,

pois auxiliou a prática individual e o processo de aprendizagem do participante.

66

2.4 O Processo de Aprendizagem de Camila

O processo de aprendizagem da prática individual da Camila foi analisado com base

nos dados empíricos coletados na analise dos diários através do sistema pré-definido de

categorias, na entrevista e na avaliação das aulas individuais através do sistema de avaliação

das aulas individuais.

As duas semanas de aplicação da pesquisa com a Camila e com a Prof.ª Valerie Ann

Albright foram previamente agendadas para ocorrer entre o período de 20 de maio de 2013 e

2 de junho de 2013, que totalizaria 14 dias de realização da prática individual. Porém na

aplicação da pesquisa ocorreram dois problemas: 1) a aluna estava passando por problemas

pessoas e de saúde; e 2) a mobilização dos estudantes do IA – UNESP que culminou na greve

dos estudantes que fez com que a aluna priorizasse outras atividades e não a realização da

pesquisa. Podemos identificar esses problemas nos relatos da aluna nos diários que foram

preenchidos e na entrevista, conforme apresento a seguir:

Relato nos diários sobre os problemas que estava passando:

Dia de estudo improdutivo (tocando, tocando, mas

não sentindo melhora, muita dificuldade de

atenção). Frustação de outras coisas se refletindo

na dificuldade de resolver problemas musicais???

(ANEXO H, Diário Camila dia 21)

Relato na entrevista sobre a prioridade de outras atividades:

Então eu posso estar achando que não é importante

eu estudar contrabaixo porque eu estou em uma

greve e fazendo isso e aquilo, correndo atrás de

coisas que eu acho mais relevantes para minha vida

agora...(ANEXO G, Entrevista Camila)

Devido a esses dois problemas a estudante não conseguiu realizar os 14 dias de

sessões de prática individual que havia sido agendado anteriormente, sendo realizado apenas

cinco sessões de prática, sendo quatro em dias diferentes da primeira semana e uma delas no

inicio da segunda semana.

67

As aulas individuais de instrumento foram agendadas e realizadas nos dias 20 de maio

de 2013 e 28 de maio de 2013. A obra selecionada pela estudante para trabalhar durante a

pesquisa foi a Tarantella de Giovanni Bottesini

Esses problemas que ocorreram com a participante Camila vão de encontro com as

pesquisas sobre os diários e suas aplicações, segundo elas, é simples desestimular os

indivíduos a preencher os diários, pois essa tarefa exige comprometimento e dedicação por

parte deles (BOLGER, et. Al. 2003; ZACCARELLI, GODOY, 2010).

Na época da pesquisa, Camila tinha vinte e quatros anos e cursava o 4º ano do curso

de bacharelado em música – habilitação em contrabaixo acústico sob a orientação da Prof.ª

Valerie Ann Albright.

O processo de aprendizagem da prática individual da Camila envolveu a mobilização

de diferentes saberes do estudante adquiridos na sua formação musical, na prática individual e

no envolvimento com os seus dois professores. No relato a seguir, apresento: 1) formação

musical da participante; 2) o processo de aprendizagem da prática individual através da

convergência da analise dos diários, entrevistas e avaliação das aulas individuais.

68

2.4.1 Formação Musical da participante Camila

“...cantava música do Caetano, achava super da hora...”

Camila começou seus estudos musicais de forma informal com a sua família em Rio

Claro aos 11 anos, começou estudando violão, pois queria tocar guitarra e rock n’ roll. O seu

primeiro professor de violão foi o seu pai que aprendia as músicas que ela queria e ensinava a

estudante.

ele tirava as músicas para mim me ensinava eu aprendia e

bla bla bla (ANEXO G, Entrevista Camila)

Quando a aluna completou 12 anos começou a ter interesse em tocar piano, por ser

mais barato começou a ter aulas de teclado. A aluna teve aulas de teclado dos 12 aos 14 anos

com a Prof.ª Aide, que tinha uma escola de música dentro da sua própria casa com o seu

marido, as aulas de teclado tinham como base métodos de teclado e de piano, como a

professora também lecionava nos cursos de flauta doce a Camila aprendeu um pouco desse

instrumento. Dentro dessa escola Aide e seu marido formavam grupos misturando alunos

iniciantes, adultos e avançados. Esses grupos tiveram grande influência na formação musical

da estudante, pois forneceu desde cedo a aluna noções de prática em conjunto, de aprender a

ouvir os outros.

E eu acho que essa convivência com eles foi essencial, isso

eu tenho clareza, [...] porque eles tinham grupos de alunos

que eles formavam [...] isso deu não só uma noção de

prática de conjunto muito cedo que foi muito importante,

mas de tocar com os outros de aprender a ouvir aprender a

encaixar sua parte dentro da dos outros, tal. (ANEXO G,

entrevista Camila)

A convivência com esses dois professores também forneceu a Camila conceitos de

música e sociedade que a própria participante só foi entender anos depois, como foi relatado

na entrevista:

...tem uns conceitos muito bons assim de música e de

sociedade para passar, que a gente não tinha nem noção que

a gente tava aprendendo as coisas que a gente tava e acho

69

que isso foi muito importante para a gente,...(ANEXO G,

entrevista Camila)

Após esse período, Camila se interessou pelo contrabaixo elétrico. Mas após assistir ao

concerto da orquestra na qual sua irmã participava encontrou um amigo que tocava

contrabaixo acústico e decidiu tocar esse instrumento, desde então a estudante toca

contrabaixo acústico.

Camila começou as aulas de contrabaixo acústico a partir dos 15 anos na escola de

música da Orquestra Sinfônica de Rio Claro, nessa escola eles ofereciam aos alunos aulas

coletivas e particulares, por opção da sua família a aluna fez aulas particulares. Estudou por

três anos nesse projeto com o Prof.º Fernando, a partir do segundo ano a aluna começou a

tocar nessa Orquestra. A participação nessa orquestra ensinou a Camila noções de como tocar

em naipe e em orquestra.

...eu tive um trabalho consideravelmente bom de

base assim, embora os grupos que eu tocasse, esse

grupo que eu tocava não fosse bom as noções que

eu tive a respeito disso foram muito boas.

(ANEXO G, Entrevista Camila)

Em 2007, Camila se mudou para São Paulo onde entrou no curso de graduação na

UNESP e entrou na escolas de música nessa cidade tendo aulas com o Prof.º Sérgio. Estudou

na UNESP nesse período apenas por seis meses, pois queria tocar em orquestra e imaginou

que não teria tempo para mais nada e trancou a graduação, continuando seus estudos apenas

na escola de música de São Paulo.

Em 2009, a aluna saiu da escola de música de São Paulo e começou suas aulas

particulares com o Prof.º Claudio, no ano seguinte a aluno regressou para essa escola e

ingressou novamente no curso de Bacharelado em Música – Habilitação em Contrabaixo

Acústico na UNESP sob orientação da Prof.ª Valerie e atualmente está no 4º ano.

Dentro desse período a aluna de diversas orquestras jovens, montagens de óperas,

trabalhos com música de câmara e começou a tocar Jazz e MPB.

70

2.4.2 Camila e seu processo de aprendizagem

Como mencionado anteriormente, devido a problemas pessoais e as atividades que

foram priorizadas pela Camila, foram realizas apenas cinco sessões de prática individual das

quatorze que haviam sido planejadas anteriormente com a aluna. Por essas razões para

analisar os dados dos diários, da entrevista e das avaliações das aulas individuais e conhecer o

processo de aprendizagem de Camila devemos levar em consideração os problemas passados

por ela.

O processo de aprendizagem da prática individual da estudante ocorreu através das

seguintes atividades: 1) Os problemas e outras prioridades com a regularidade da prática

individual; 2) Métodos de estudo, planejamento, elaboração e aprimoramento; e 3) Os

ensinamentos dos seus professores.

1) Os problemas e outras atividades com a regularidade da prática individual;

Nas duas semanas de pesquisa podemos perceber através dos diários, da entrevista e

das avaliações das aulas individuais de Camila os problemas que ocorreram durante a

pesquisa: 1) a aluna estava passando por problemas pessoas e de saúde; e 2) a prioridade de

outras atividades.

Os problemas pessoas que a aluna estava passando durante a aplicação da pesquisa

refletiu nas sessões de prática da estudante, pois a aluna realizou as sessões de prática com

problemas de concentração e sem foco de atenção nos aspectos que precisava, esse problema

com falta de concentração e foco foi causado por problemas externos, conforme o relato a

seguir:

Diário dia 20:

Muita falta de atenção. Tem sido difícil

manter o foco no que preciso na hora que

preciso. (ANEXO H, Diários Camila)

Diário dia 21:

71

Frustação de outras coisas se refletindo na

dificuldade de resolver problemas

musicais??? (ANEXO H, Diários Camila)

Através dos relatos acima podemos perceber como problemas externos e internos

prejudicam as sessões de prática individual da Camila de diferentes maneiras, como por

exemplo, a ausência de sessões de prática e a realização da prática individual sem foco de

atenção e concentração, portanto deixando de ser prática deliberada (ERICSSON, et. Al.,

1993)

A prioridade de outras atividades durante a aplicação da pesquisa também prejudicou a

regularidade das sessões de prática da participante, isso ocorreu por vários motivos: as

prioridades da própria aluna e os horários das aulas, dos ensaios e de outros trabalhos da

aluna. A própria aluna sabe desses problemas e como vai ser apresentado posteriormente

nessa analise, ela tenta lidar com as situações de horários e compromissos nas aulas

individuais. No momento irei me ater a apresentar como as outras atividades prejudicam a

execução da prática individual.

Camila relata na entrevista as dificuldades da sua carga horária na faculdade e nos seus

demais compromissos e relata as atividades que ela atualmente prioriza:

Problemas com carga horária:

...como minha agenda é sempre meio maluca eu

tenho aula em horários diferentes em quantidades

diferentes na faculdade, eu tenho ensaio...

(ANEXO G, Entrevista Camila)

Atividades priorizadas:

Então eu posso estar achando que não é importante

eu estudar contrabaixo porque eu estou em uma

greve e fazendo isso e aquilo, correndo atrás de

coisas que eu acho mais relevantes para minha vida

agora... (ANEXO G, Entrevista Camila)

Esses problemas são diagnosticados nas aulas individuais pela Prof.ª Valerie e a

mesma avalia e relata essas informações nas avaliações das aulas individuais:

72

Primeira aula:

A aluna possui uma técnica já avançada, mas a

dificuldade dela é a manutenção desta técnica

devida às muitas outras atividades que ela tem

(ANEXO H, Avaliação Camila)

Segunda aula:

Como foi dito anteriormente, a aluna possui uma

técnica já avançada, mas a dificuldade dela

continua sendo a manutenção desta técnica devida

às muitas outras atividades que ela tem. (ANEXO

H, Avaliação Camila)

Através das avaliações realizadas pela Prof.ª Valerie podemos perceber como falta de

realização das sessões de prática individual devido ao acúmulo e a priorização de outras

atividades prejudica a aprendizagem da aluna, pois prejudica a manutenção da técnica e a

aprendizagem de aspectos novos.

2) Os métodos de estudo

Nas sessões de prática relatadas pela aluna podemos observar, devido as poucos

sessões realizadas, apenas alguns métodos de estudo. Devido a descontinuidade do trabalho

não será possível identificar o processo no decorrer das duas semanas, mas será possível

apresentar os métodos a sua elaboração, suas influências e a importância no processo de

aprendizagem da prática individual.

Segundo a análise dos diários e das entrevistas podemos identificar que o método de

estudo utilizado pela aluna durante toda a pesquisa foi o “método de estudar trecho por

trecho”, nesse método a aluna prática diferentes aspectos da música, por exemplo, afinação de

um trecho específico, articulação, golpe de arco, frase musical, ponto de contato. Como

mostra o relato a seguir:

Descrição do Método de Estudo:

Estudo do tema com metrônomo (semínima pontuada = 50

até 92);

73

- Atenção à passagem lá – lá/ ré – ré/ si – sol (salto –

afinação/ articulação e colocação do acento no lugar certo

dá frase);

- Aumento progressivo do beat no metrônomo; Tempo

estimado de estudo deste método 20 min.

Estudo de arco da passagem seguinte (estudo lento com o

arco a ser usado rápido);

- Retomada e reposicionamento do arco/ ponto de contato/

quantidade de arco para staccatos e SFZ com ligaduras;

Tempo estimado de estudo deste método 10 min.

Trechos rápidos estudando devagar, progressivamente mais

rápido;

- Estudo afinação dos arpejos;

- Articulação ligaduras/ afinação cromáticos e diatônicos;

Tempo estimado de estudo deste método 30 min.

Trecho cantábile;

- dedilhado para destacar notas com tenuto (colcheia) da

primeira frase;

- estudo afinação / sustentação notas longas e ligaduras;

Tempo estimado de estudo deste método 15 min. (ANEXO

H, Diário Camila dia 20)

Esse método de estudo permeou todas as sessões de prática da aluna e tanto a sua

utilização como a sua elaboração mobiliza diferentes saberes da Camila, como apresentarei a

seguir.

Conforme foi descrito anteriormente, Camila tem uma carga horária densa que

prejudica a regularidade das sessões de prática individual e a utilização desse método de

estudo auxilia a estudante a otimizar o tempo disponível para realização das sessões de

prática, de modo que ela consiga sanar as dificuldades de execução da obra que ela encontrou,

conforme mostra o relato da própria aluna:

E eu saquei ao longo dos anos que isso era uma coisa

eficiente [método de estudo trecho por trecho], as vezes eu

quero estudar o negócio inteiro não adianta, se você tem

uma semana que tem uma hora por dia para estudar, você

vai ter que dividir aquilo e trabalhar uma página por dia, as

vezes eu to trabalhando uma página por dia no quarto dia

74

você junta duas e você já consegue um trabalho melhor e é

bem por ai. (ANEXO G, Entrevista Camila)

Através do relato acima podemos perceber como a aluna necessita de planejamento

para utilizar esse método, pois deve levar em conta o tempo disponível para realizar as

sessões de prática individual e como é necessário um feedback das sessões anteriores para

identificar quais aspectos serão trabalhados.

Camila elaborou esse método mobilizando também os saberes da sua formação

musical e das aulas individuais do Prof.º Claudio e da Prof.ª Valerie, conforme é relatado pela

própria aluna de forma muito clara. A mobilização de aspectos da formação musical nesse

caso foi o conhecimento adquirido pela aluna no preparo de outra obra musical, no qual a

aluna aprendeu e entendeu a eficácia de estudar uma música trecho por trecho, como

apresenta o relato a seguir:

Normalmente eu tento dissecar pedaços parecidos,

então eu pego o tema, a variação do tema e eu

associo isso com uma coisa que eu aprendi a fazer

estudando o Dittersdorf até morrer,..(ANEXO G,

Entrevista Camila)

Os ensinamentos passados nas aulas individuais pelos seus professores tem grande

relevância na elaboração desse método, pois cada professor ensinou formas de estudar

distintas que foram assimilados e utilizados no estudo de trecho por trecho, conforme relato

da própria aluna:

Ensinamentos do Prof.º Claudio:

o Claudio é muito metódico com isso e isso me

ajudou muito em elaborar um plano nesse sentido

de não ser tão afoita de resolver as coisas, eu acho

que nesse sentido de trabalhar em pedaços

pensando em metrônomo e bla bla bla isso é uma

coisa muito Torezan, metodologia Torezan que eu

adquiri com o tempo...(ANEXO G, Entrevista

Camila)

Ensinamentos da Prof.ª Valerie:

75

...essa coisa de parar e ficar estudando as coisas

parando na nota de chegada que é uma coisa que

eu usei aqui uns dois dias [diários] é muita coisa da

Val, a Val vai ter vários permeei-os que assim, são

metodologias dela que ela sempre passa de você

parar e ouvir a nota, cantar a nota antes de você

chegar, vai ter umas horas que pensar na nota e no

salto isso são coisas dela...(ANEXO G, Entrevista

Camila)

Conforme os relatos e as informações apresentadas acima, podemos perceber como a

estudante mobiliza diferentes saberes, como a sua formação musical (o conhecimento

adquirido através do preparo de outra obra) e a mobilização dos ensinamentos passados nas

aulas individuais por seus dois professores na elaboração desse método de estudo.

Portanto podemos perceber a complexidade da utilização desse método, devido a

mobilização de diferentes saberes desde a sua elaboração até a sua aplicação, mostrando a

importância dos métodos de estudo no processo de aprendizagem da estudante.

3) Os ensinamentos dos seus professores.

Os ensinamentos do Prof.º Claudio e da Prof.ª Valerie parece ter grande influência nos

métodos de estudo utilizados por Camila, como foi descrito anteriormente no estudo trecho

por trecho. Esses ensinamentos são passados para a aluna durante a realização das aulas

individuais de acordo com as avaliações feita pelos professores sobre como foi a performance

nas aulas, os ensinamentos são passado através de feedback com essas informações e são

assimilados pela estudante e a partir dai ocorre o processo de transformação e isso se

transforma em algo novo permeado pelos saberes da aluna com os dos dois professores, como

a própria aluna descreve:

...eu aprendi que a maneira que eu estudo hoje tem

muito haver, basicamente com o Claudio, com

certeza assim e tem muitas coisas permeadas que

são da Val, mas eu diria que basicamente uma

76

coisa Claudio digerida pela Camila...(ANEXO G,

Entrevista Camila)

Com isso podemos perceber a importância da realização das aulas individuais, pois o

feedback com as informações dos professores fazem parte do processo de aprendizagem do

aluno, no caso da Camila essas informações contidas no feedback formaram o seu modo de

realizar a prática individual, portanto o processo de aprendizagem.

77

Capítulo 3 - Discussões e correlações entre o referencial teórico e as

informações levantadas durante a pesquisa

Na analise e interpretação dos dados empíricos das sessões de prática individual de

Mayara, Davi e Camila, minha intenção foi apontar informações que pudessem fornecer bases

para compreender a prática individual dos estudantes e o seu processo de aprendizagem. A

intepretação dos dados aponta para as seguintes reflexões com base no referencial teórico:

1) A prática individual de cada um dos participantes se caracteriza como prática

deliberada.

2) A eficácia da prática deliberada: os três pré-requisitos.

3) A correlação prática individual e nível de performance.

4) O uso dos diários como um instrumento pedagógico para a prática individual.

5) O processo de aprendizagem na prática individual considerações.

6) A complexidade da prática individual: a mobilização de outras capacidades

78

3.1 Prática individual, métodos de estudo e a sua categorização como Prática

Deliberada: um estudo com cada caso.

A partir da definição de prática deliberada de Ericsson et. Al. (1993) de que ela é uma

atividade altamente estruturada, com metas explícitas para melhorar a performance, onde as

atividades são elaboradas especificamente para superar suas fragilidades e a sua execução é

cuidadosamente monitorada para encontrar informações de como aprimorar posteriormente a

prática. Podemos categorizar as sessões de prática individual de cada um dos estudantes como

prática deliberada, conforme apresentarei a seguir.

a) O caso Mayara

As sessões de prática individual de Mayara que ocorram durante as duas semanas de

aplicação da pesquisa, conforme foi descrito na análise, apresentam características de prática

deliberada. A prática individual da aluna foi estruturada em síntese da seguinte maneira:

planejamento da sessão de estudo e a utilização dos métodos de estudo.

O planejamento das sessões de prática da estudante levou em consideração

primeiramente a disponibilidade de tempo para a sua realização, após essa primeira etapa ela

planejou quais métodos de estudo utilizaria. Os métodos de estudo utilizados por Mayara são

elaborados e aplicados para melhorar a performance na obra e para auxiliar na melhoria das

suas fragilidades. A sua elaboração leva em conta a formação musical da aluna, as

informações sobre aspectos positivos e dificuldades encontrados na execução da obra obtidos

através do feedback das sessões de prática anteriores realizados pela própria aluna e das

informações contidas no feedback das aulas individuais realizadas pela Prof.ª Valerie.

Através desse breve resumo sobre a prática individual de Mayara, podemos ver como

a prática da aluna entra na definição de prática deliberada de Ericsson et. Al. (1993).

b) O caso Davi

As sessões de prática individual de Davi que ocorreram durante as duas semanas de

aplicação da pesquisa, conforme foi descrito na análise, apresentam as características de

prática deliberada. A prática individual do aluno foi estruturada em síntese da seguinte

79

maneira: a preparação do aluno para a realização do seu concerto solo, planejamento das

sessões de estudo e a utilização de métodos de estudo.

A preparação do aluno para realização do seu concerto solo permeou todas as sessões

de prática durante a pesquisa, desde o planejamento até a meta de realizar esse concerto,

estabelecida pelo próprio aluno. Com isso o planejamento das sessões de prática do Davi

levou em consideração primeiramente a realização do seu concerto solo e a disponibilidade de

tempo para a realização dessas sessões, após essa primeira etapa ele planejou quais métodos

de estudo ele utilizaria. Os métodos de estudos utilizados por Davi são elaborados e aplicados

para melhorar a performance da obra, sempre tendo em vista a realização do seu concerto

solo. A sua elaboração leva em conta a formação e a vivência musical do aluno, as

informações sobre aspectos positivos e dificuldades encontrados na execução da obra obtidas

através do feedback das sessões de prática anteriores e das informações contidas no feedback

das aulas individuais realizadas pela Prof.ª Valerie.

Através desse breve resumo sobre a prática individual do Davi, podemos ver como a

prática da aluna entra na definição de prática deliberada de Ericsson et. Al. (1993).

c) O caso Camila

As sessões de prática individual de Camila que ocorreram em apenas alguns dias

durante a aplicação da pesquisa, como foi descrito na análise, apresentam as características de

prática deliberada. A prática individual da aluna foi estruturada apenas em alguns aspectos

devido aos problemas relatados por ela, em síntese a prática é estruturada da seguinte

maneira: planejamento das sessões de prática, tendo em vista suas prioridades e outros

problemas e a utilização de métodos de estudo.

Os problemas pessoais e as outras prioridades da aluna estavam presentes na prática

individual da aluna. Com isso o planejamento das sessões de prática de Camila primeiramente

levou em consideração o tempo disponível para a sua realização, devido aos seus problemas e

outras prioridades, após essa etapa ela planejou quais métodos ele utilizaria. Os métodos de

estudo elaborados e aplicados pela aluna são voltados para melhorar a performance da obra,

tendo em vista a sua procura para resolver problemas de forma rápida. A sua elaboração leva

80

em consideração a formação musical da aluna, as informações sobre os aspectos positivos e as

dificuldades encontrados aa execução da obra obtidos através do feedback das sessões de

prática anteriores e das informações contidas no feedback das aulas individuais realizadas

pela Prof.ª Valerie e os ensinamentos dos seus dois professores.

Através desse breve resumo sobre a prática individual Camila, podemos ver como a

prática da aluna entra na definição de prática deliberada de Ericsson et. Al. (1993). No caso da

Camila, apesar da sua prática individual ser categorizada deliberada ela não é uma prática

deliberada eficaz, pois não cumpre os três critérios pré- definidas por Ericsson et. Al (1993),

como será apresentado a seguir.

d) Considerações parciais

Como podemos ver, a prática individual dos três casos podem ser definidas como

prática deliberada. Com isso podemos observar também como os próprios métodos de estudo

podem ser categorizados como prática deliberada, pois muitos dos métodos de estudo

relatados nos diários dos três participantes são apresentados por Santiago (2006) e Santos,

Hentschke (2009), como por exemplo, o uso de metrônomo, a analise prévia da obra, o

estudo repetido de pequenas seções. Portanto os próprios métodos de estudo dos participantes

como descritos anteriormente na prática individual também podem ser categorizados prática

deliberada.

81

3.2 A eficácia da prática deliberada: os três pré-requisitos.

Como foi apresentada anteriormente, a prática individual dos três estudantes são

categorizadas como prática deliberada. Porém ser definido como prática deliberada não

significa uma prática eficaz, para isso Ericsson et. Al. (1993; 1996) elaborou três pré-

requisitos para uma prática deliberada eficaz, sendo eles:

The Resource Constraint os indivíduos devem ter disponibilidade de tempo, energia,

acesso a professores, material de treinamento e instalações para praticar.

The Motivational Constraint os indivíduos devem estar envolvidos e motivados na

atividade para melhorar o seu desempenho.

The Effort Constraint os indivíduos devem evitar a exaustão e deve limitar a prática

a uma quantidade com a qual podem se recuperar completamente.

Entre os três participantes da pesquisa, Mayara e Davi cumpriram os três pré -

requisitos, portanto realizaram uma prática deliberada eficaz. Apenas a Camila não cumpriu

nenhum dos pré-requisitos, portanto não realizou uma prática deliberada eficaz. A seguir

apresento como os estudantes cumpriram ou não cumpriram esses pré-requisitos tendo como

base a analise realizada anteriormente:

a) O caso Mayara

A prática individual de Mayara realizada durante toda a pesquisa cumpriu os três pré-

requisitos. Na analise foi possível perceber que a aluna tinha tempo para estudar (mesmo que

curto, mas sempre havia disponibilidade para estudar); a aluna tem aulas regularmente com a

Prof.ª Valerie e acesso a locais adequados para a realização da prática individual, por isso

cumpre o 1º pré-requisito The Resource Constraint

O 2º pré-requisito The Motivational Constraint é cumprido pela aluna, pois ela é

motivada na realização da prática individual, ao ponto de estudar no dia das mães após passar

o dia em família e se empenha em melhorar seu desempenho, como foi apresentado na

analise.

82

A aluna não estuda até a exaustão, pelo contrário, como foi apresentada nas análises a

Mayara não estudou um dia porque estava muito cansada, isso demonstra como ela conhece

os seus limites físicos. Portanto ela cumpre o 3º pré-requisito The Effort Constraint

Com isso podemos perceber que a prática deliberada realizada pela estudante foi feita

de uma maneira eficaz.

b) O caso Davi

A prática individual realizada por Davi no decorrer das duas semanas de pesquisa

cumpriu os três pré-requisitos. Podemos perceber com a analise dos dados que o aluno tinha

tempo regularmente para estudar, frequenta regularmente as aulas de instrumento com a Prof.ª

Valerie e o Prof.º Marco B. e o aluno tem acesso a locais adequados para a realização da sua

prática individual, portanto o aluno cumpre o 1º pré-requisito The Resource Constraint.

O 2º pré-requisito The Motivational Constraint é cumprido pelo aluno, pois o aluno

é motivado e empenhado na realização da prática individual, mesmo sendo um pouco

estressante como o próprio aluno diz. E se empenhou em melhorar durante toda a aplicação da

pesquisa.

Davi é muito ciente do seu limite, como foi descrito na analise, o participante sabe

identificar por quanto tempo ele vai conseguir estudar de maneira adequada e não passa esse

limite para não se cansar ou se irritado. Portanto ele cumpre o 3º pré – requisito The Effort

Constraint

Com isso podemos perceber que a prática deliberada realizada pela estudante foi feita

de uma maneira eficaz.

c) O caso Camila

A prática individual realizada por Camila nos dias em que realizou a pesquisa não

cumpriu os três pré - requisitos. Podemos perceber através da analise que a aluna não tinha

foco devido a problemas pessoais e não tinha muito tempo para sua realização, pois estava

priorizando outras atividades. Frequenta as aulas de instrumento da Prof.ª Valerie e Prof.º

Claudio frequentemente, porém como mostra a avaliação da aula individual da aluna ela não

anda realizando trabalho continuo e mesmo tendo acesso a locais para estudar não estava

83

realizando as sessões de prática, portanto ela não cumpre o cumpre o 1º pré-requisito The

Resource Constraint.

O 2º pré-requisito The Motivational Constraint não é cumprido pela aluna, pois a

aluna priorizou outras áreas e não realizou a pratica individual.

A aluna não cumpriu o 3º pré-requisito, pois ela se sobre carregou com outras

atividades que culminaram na não realização da prática individual.

Com isso podemos perceber que mesmo a prática individual de Camila se categorizar

como prática deliberada, ela não cumpriu os três pré-requisitos e não realizou uma prática

eficaz.

e) Considerações parciais

A prática individual de todos os estudantes foi categorizada como prática deliberada,

mas aqui podemos ver a diferença de uma prática eficaz e uma ineficaz. Pois a realização das

atividades sem motivação ou cumprindo apenas certos quesitos prejudica o desempenho da

prática deliberada.

84

3.3 A correlação entre Prática individual e o nível de performance.

Segundo as discussões apresentadas até agora podemos considerar que a prática

individual dos três participantes é categorizada como prática deliberada e que a Mayara e o

Davi realizaram uma prática deliberada eficaz. Nessa discussão irei correlacionar a prática

individual dos participantes com o nível de performance tendo como base a pesquisa de

Ericsson et. Al. (1993) na qual ele correlaciona a prática deliberada (quantidade, qualidade e

outros fatores) com o nível de performance dos indivíduos.

a) O caso Mayara

Nas análises podemos ver como a prática individual realizada pela estudante nas duas

semanas da pesquisa se correlaciona com as avaliações da Prof.ª Valerie sobre as execuções

realizadas nas aulas individuais. Essa correlação mostra que os aspectos da obra que foram

trabalhados nas sessões de prática individual pela Mayara melhoraram no decorrer das duas

semanas e que problemas identificados pela Prof.ª Valerie durante a primeira semana foram

melhorados na segunda. Com isso podemos considerar a existência de correlação entre as

sessões de prática individual realizadas pela aluna com a performance realizada nas aulas

individuais (execução da obra estudada). Comprovando que a aluna realizou uma prática

deliberada eficaz. E a existência da correlação entre prática deliberada com o nível de

performance proposto por Ericsson et. Al. (1993).

b) O caso Davi

Na analise das sessões de prática individual do Davi podemos correlacionar a prática

individual do estudante com as execuções avaliadas pela Prof.ª Valerie durante aulas

individuais. Como podemos ver na analise, os aspectos trabalhos pelo aluno durante as

sessões de prática individual da obra melhoraram durante as duas semanas de pesquisa, desde

os problemas identificados pelo próprio aluno até os problemas diagnosticados pela Prof.ª

Valerie, e os problemas passados por feedback pela professora durante a primeira aula foi

melhorado na 2ª aula individual. Com isso podemos considerar a existência de correlação

entre as sessões de prática individual realizados pelo aluno com a performance realizada nas

aulas individuais (execução da obra). Comprovando que a aluna realizou uma prática

85

deliberada eficaz. E a existência da correlação entre prática deliberada com o nível de

performance proposto por Ericsson et. Al. (1993).

c) O caso Camila

Nas análises podemos ver como a prática individual realizada pela estudante durante a

pesquisa se correlaciona com as avaliações da Prof.ª Valerie sobre as execuções realizadas nas

aulas individuais e mostra como a estudante realizou uma prática individual (prática

deliberada) ineficaz conforme foi diagnosticado na discussão anterior.

Essa correlação mostra como a prática individual realizada pela estudante, no caso as

poucas sessões, a preocupação com outras coisas, a falta de concentração e a perda de foco,

fez com que a aluna não tivesse melhoras significativas durante as duas semanas de pesquisa

sendo avaliado pela própria Prof.ª Valerie dessa maneira. Com isso podemos ver que mesmo a

prática individual realizada pela aluna ser categorizada como deliberada, essa prática não é

eficaz, conforme foi diagnosticado pela própria professora, mostrando a correlação entre a

prática individual com a execução realizada nas aulas individuais.

d) Considerações parciais

Como podemos observar existe uma grande correlação entre a prática individual e as

execuções realizadas nas aulas individuais, em outras palavras a correlação entre a prática

deliberada e o nível de performance conforme a teoria proposta por Ericsson et. Al. (1993).

Entre os três casos podemos ver como ocorre uma melhora significativa na performance

quando a prática é considerada eficaz segundo os três critérios pré – definidos de Ericsson e

como a prática é considerada ineficaz quando não cumpre esses três critérios.

86

3.4 O uso dos diários como um instrumento pedagógico para a prática individual

Durante a aplicação da pesquisa e da análise dos dados empíricos dos diários, das

entrevistas e da avaliação das aulas individuais a metodologia dos diários foi citada pelos

participantes e pela Prof.ª Valerie como uma ferramenta que auxilia os estudantes no processo

de aprendizagem da prática individual. Essas informações correlacionam com os dados da

pesquisa de Lehmann et. Al. (1997) que fala sobre a possibilidade do uso dos diários na

prática deliberada para auxiliar o aluno a supervisionar sua prática, se manter concentrado e

motivado a melhorar sua performance.

Podemos perceber nos relatos da aluna Mayara como os diários podem ser usados

dessa maneira segundo palavras da própria aluna:

Mayara:

...Quando eu coloquei no papel com a sua pesquisa me

ajudou muito, pois eu consegui visualizar o que eu estava

fazendo de fato, não era uma coisa que eu ia fazendo

conforme o tempo que eu tinha, mesmo que eu pensasse nas

qualidades, nas coisas que trariam benefícios eu não tinha

definido “eu faço isso, isso, isso”... (ANEXO C, Entrevista

Mayara)

Essa citação é evidenciada pelas avaliações das aulas individuais da estudante

realizadas pela Prof. Valerie, que mostra como os diários podem ajudar no processo de

aprendizagem, pois a professora viu os benefícios dos preenchimentos dos diários, conforme

o relato abaixo.

Prof.ª Valerie sobre a 2ª aula da Mayara:

Com a prática de usar o diário de estudo, percebo que agora

há um planejamento de eficiência. (ANEXO D, Avaliação

Mayara)

Essa mesma avaliação foi feita com o participante Davi evidenciando ainda mais a

possibilidade de utilização dos diários como instrumento pedagógico no processo de

aprendizagem da prática individual, conforme o relato a seguir:

87

Prof.ª Valerie sobre a 2ª aula do Davi:

Este aspecto melhorou desde a semana passada com o

planejamento no papel. [nos diários] (ANEXO F, Avaliação

Davi)

Através dos relatos acima da Mayara e das avaliações realizadas pela Prof.ª Valerie

podemos considerar o uso dos diários como instrumento pedagógico para auxiliar o aluno na

prática individual, através da sua supervisão, planejamento, organização das ideias e procura

por melhoras. O uso dos diários dessa maneira condiz com a possibilidade de uso descrita por

Lehmann et. Al (1997).

3.5 O Processo de aprendizagem na prática individual considerações.

Através da análise dos três participantes podemos perceber como ocorreu o processo

de aprendizagem na prática individual da cada um. E com isso podemos ver que esse processo

acontece através da mobilização de diferentes saberes de cada um e através de outras

atividades que se tornam parte da prática deliberada diretamente ou indiretamente. A seguir

vou apresentar um panorama geral do processo de aprendizagem de cada um de acordo com a

análise.

a) O caso Mayara

O processo de aprendizagem da prática individual da Mayara envolveu a mobilização e a

socialização dos saberes adquiridos pela aluna na formação musical e nas sessões de prática

individual. Outras atividades estão ligados a esse processo como a interação social (no caso da

Mayara, a interação com o seu marido) e a realização das aulas individuais com a Prof.ª

Valerie, além o ambiente da realização da prática individual da aluna.

Durante a prática individual a aluna mobilizou os conhecimentos adquiridos na sua

formação musical, nesse caso a sua formação erudita e popular, As sessões de prática

ofereceram a aluna um arcabouço de informações dos anos de estudo e o mais importante o

feedback realizado pela própria aluna sobre a sua performance nas sessões de prática que a

88

auxiliaram na organização, sistematização e otimização das sessões de prática individual. A

interação com o seu marido fez com que a aluna tivesse ideias de como realizar a prática

individual e as aulas individuais ofereceram feedback e informações da Prof.ª Valerie para

ajudar a aluna nas suas dificuldades e auxiliaram a aluna de maneira rápida a aprimorar sua

performance. E como o conhecimento da aluna sobre em quais ambientes ele consegue

realizar a prática de maneira eficaz ajudou na aprendizagem

Com isso podemos ver em síntese como ocorreu o processo de aprendizagem nas sessões

prática individual da Mayara e como ela mobiliza e socializa diferentes saberes e atividades,

mostrando como a prática individual é uma atividade muito complexa.

2) O caso Davi

O processo de aprendizagem da prática individual do Davi mobilizou e socializou os

saberes adquiridos pelo aluno na formação musical, na atuação profissional e nas sessões de

prática deliberada. Outras atividades estão ligadas a esse processo como a realização do seu

concerto solo, interação social e as aulas individuais com a Prof.ª Valerie.

Durante a prática individual o aluno mobilizou o conhecimento adquirido na sua

formação musical e na atuação profissional, nesse caso os ensinamentos aprendidos através da

experiência nas orquestras em qual tocou. As sessões de prática ofereceram ao aluno um

arcabouço com as informações e ensinamentos dos anos de estudo, o conhecimento do

próprio aluno sobre quais são os suas próprios maneiras de realizar uma prática eficaz e o

feedback do próprio aluno sobre as sessões de prática o auxiliaram em todo o processo de

aprendizagem. As aulas individuais ofereceram ao aluno o feedback da Prof.ª Valerie com

sugestões de estudo e informações sobre os pontos positivos e negativos que modificaram

diretamente a prática individual do aluno. E a realização do seu concerto que permeou as duas

semanas de prática como um objetivo e uma meta a ser cumprida.

Com isso podemos ver em síntese como ocorreu o processo de aprendizagem nas sessões

prática individual do Davi e como ele mobiliza e socializa diferentes saberes e atividades,

mostrando como a prática individual é uma atividade muito complexa.

3) O caso Camila

89

O processo de aprendizagem da prática individual da Camila, mesmo não

apresentando tantas melhoras devido aos problemas já relatados, mobilizou e socializou os

saberes adquiridos pela aluna na sua formação musical e nas sessões de prática deliberada.

Outras atividades estão ligadas a esse processo como a interação e envolvimento da aluna nas

aulas individuais com a Prof.ª Valerie e com o Prof.º Claudio.

Durante a prática individual a aluna mobilizou o conhecimento adquirido na sua

formação musical, nesse caso o estudo de outra obra que havia sido realizado anos atrás. As

sessões de prática ofereceram a aluna um arcabouço de informações sobre os anos de estudo

no qual a aluna identifica qual a melhor maneira de realizar a prática individual e o feedback

realizado pela própria aluna sobre as sessões de prática que a auxiliam na elaboração,

organização e aprimoramento das sessões de prática. O envolvimento e a interação com os

seus dois professores mostra ter grande influência em como a aluna realiza a prática

individual, pois ela utiliza os ensinamentos de ambos os professores.

Com isso podemos ver em síntese como ocorreu o processo de aprendizagem nas

sessões prática individual da Camila e como ela mobiliza e socializa diferentes saberes e

atividades, mostrando como a prática individual é uma atividade muito complexa.

e) Considerações parciais

Como podemos ver o processo de aprendizagem da prática individual mobiliza e

socializa saberes da formação e da prática individual de cada um, além de outras atividades

diretamente ou indiretamente ligadas a prática individual, que varia para cada um dos casos,

pois é um processo particular e pessoal de cada um dos indivíduos.

Portanto podemos considerar o processo de aprendizagem na prática individual como

particular de cada um dos participantes da pesquisa.

90

3.6 A complexidade da Prática individual a mobilização de outros conhecimentos

A partir dessas discussões podemos ver a complexidade da prática individual, pois

além das diferentes capacidades necessárias para executar um instrumento musical, como por

exemplo, conhecimento musical, habilidade motora, capacidade lógica, a prática individual de

acordo com as análises e discussões mobilizam outras capacidades para construir o

conhecimento musical, essas capacidades são: a capacidade de compreender a si mesmo, a

capacidade de compreender e entender outras pessoas, noções de distância e espaço (através

do estudo de distância no instrumento).

A complexidade dessa atividade instigou a necessidade de encontrar outra forma de

abordar a prática instrumental (nesse caso a prática individual) que possibilitasse entender

todas essas capacidades utilizadas nessa atividade. E a partir dessa necessidade apresento um

breve estudo sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas, esse estudo se mostrou ser relevante

para situarmos o modo de estudar e aprender dos estudantes pesquisados, uma vez que

identificamos que eles mobilizam e acionam diferentes capacidades para construir o

conhecimento musical que precisam para executar o seu instrumento na prática individual.

Após a apresentação da Teoria realizarei uma breve discussão sobre a prática

individual dos participantes da pesquisa e a Teoria das Inteligências Múltiplas.

91

3.2 A Teoria das Inteligências Múltiplas

3.2.1 A Origem

No começo do século XX os franceses Alfred Binet e Théodore Simon desenvolveram

a pedido do governo Francês os primeiros testes de inteligência para identificar alguma

medida que predissesse quais crianças teriam sucesso na escola e quais fracassariam. Os testes

de inteligência foram bem sucedidos e nos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial

foi utilizado para testar mais de um milhão de recrutas americanos. A excitação que surgiu a

partir dos resultados desses testes de inteligência dentro da comunidade cientifica e na

sociedade maior, transformaram os testes de inteligência em uma forma cientificamente aceita

de mensurar o grau de inteligência dos indivíduos. O teste elaborado por Binet foi

desenvolvido e aprimorado, sendo conhecido atualmente como “teste de inteligência” e a sua

medida “quociente de inteligência (QI)”, sendo aplicadas diariamente no mundo inteiro,

evidentemente diferentes versões do teste são usadas para várias idades e em cenários

culturais diversos e a sua medida, o QI tende a exercer um considerável efeito sobre o futuro

escolar dos indivíduos, pois de fato prevê a habilidade das pessoas com matérias escolares

embora preveja pouco sobre o sucesso na vida posterior (GARDNER, 1994, 1995; BÜHRER,

2005).

Muitos críticos, como o L. L. Thurstone e J.P. Guilford, estavam insatisfeitos com o

conceito de QI e com as suas visões unitárias de inteligências – conceito de inteligência

advinda de respostas curtas para perguntas curtas que prevejam o sucesso acadêmico que

prioriza as habilidades linguística e lógico - matemática – e que acreditavam “na existência de

um conjunto de faculdades mentais primárias relativamente independentes entre si e medidas

por tarefas diferentes” (GARDNER, 1994).

Howard Gardner11

compartilhava essa insatisfação com os testes de QI e suas visões

unitárias de inteligência que priorizam as habilidades linguística e lógico-matemática, e quis

propor uma teoria que valorizasse, além das inteligências observadas nos testes de QI, outras

manifestações peculiares de inteligência. Para formular essa teoria revisou evidências de um

grande grupo de fontes:

11

Howard Gardner é psicólogo e professor da Harvard Graduate School of Education.

92

“...estudos de prodígios12

, indivíduos talentosos,

pacientes com danos cerebrais, idiots savants13

,

crianças normais, adultos normais, especialistas em

diferentes linhas de pesquisa e indivíduos de diversas

culturas.” (GARDNER, 1994)

Dentro das diferentes linhas de pesquisa ele revisou as áreas da psicologia,

neuropsicológica, antropologia, filosofia e biologia. Na área da psicologia, pesquisou: os

trabalhos realizados por Jean Piaget e sobre os seus estágios de desenvolvimento; pesquisas

sobre inteligência oriundas dos testes de inteligência; pesquisas na área psicologia do

processamento de informações (ou ciência cognitiva) (GARDNER, 1994). Nas áreas de

biologia e neuropsicológica, pesquisou: estudos referentes flexibilidade do desenvolvimento

humano, como a flexibilidade em relação a regiões especificas do sistema nervoso; os efeitos

de danos no sistema nervoso; a flexibilidade do desenvolvimento no inicio da vida; os fatores

que intermediam o desenvolvimento humano; a inteligência como uma herança genética

(GARDNER, 1994; BÜHRER, 2005). Na antropologia, pesquisou a visão antropológica sobre

as concepções de inteligência em diferentes culturas e ambientes diferentes. Na filosofia,

pesquisou estudos sobre as capacidades simbólicas humanas, sendo influenciado por

pensadores como Ernst Cassirer, Susanne Langer e Alfred North Whitehead (GARDNER,

1994).

A partir das evidências convergentes destas diversas fontes, Gardner apresentou uma

nova concepção da inteligência humana e propôs a Teoria das Inteligências Múltiplas que

afirma a existência de sete tipos diferentes de inteligência, contrariando a ideia de uma

inteligência única e hereditária resultantes dos testes de QI.

12

Indivíduos com desenvolvimento extraordinário em um determinado domínio (GARDNER,1994). 13

Indivíduos com problema mental, mas com desenvolvimento extraordinário em determinado domínio (GARDNER, 1994).

93

3.2.2 Definição e Critérios de uma Inteligência

Gardner (1994, 1995) define inteligência como “um potencial biopsicológico para

processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas

ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura.” Isto é, todos os indivíduos têm o

potencial de exercitar e desenvolver um conjunto de faculdades intelectuais do qual a espécie

é capaz, depende das oportunidades do meio circundante.

Gardner (1994) propõe oito critérios para determinar a seleção de uma inteligência,

esses critérios que abordam diferentes aspectos que contribuem para a possível existência das

inteligências múltiplas:

1) Isolamento Potencial por Dano Cerebral: Na medida em que

uma faculdade intelectual pode ser destruída ou poupada em

isolamento, em decorrência de dano cerebral, demonstra que

parece haver uma relativa autonomia de certas capacidades

isoladas.

2) A Existência de Idiots Savants, prodígios e outros indivíduos

excepcionais: A existência de indivíduos extremamente precoce

em uma (ou ocasionalmente, em mais de uma) área da

competência humana; No caso de idiot savant (e de outros

indivíduos com retardo ou excepcionais, inclusive as crianças

autistas) observamos uma única habilidade humana particular

poupada contra um fundo de desempenhos humanos medíocres ou

altamente retardados em outros domínios;

3) Uma operação central ou conjunto de operações

identificáveis: a existência de uma ou mais operações ou

mecanismos neurais de processamento de informações que

possam lidar com tipos específicos de input internos e externos;

4) Uma história desenvolvimental distintiva, aliada a um

conjunto definível de desempenho proficientes de expert

“estado final”: Uma inteligência deveria ter uma história

desenvolvimental identificável, através da qual tanto indivíduos

normais quanto talentosos passam no decorrer da ontogenia e só

se desenvolve isoladamente em pessoas incomuns;

94

5) Uma história evolutiva e a plausibilidade evolutiva: Uma

inteligência torna-se mais plausível na medida em que se pode

localizar seus antecedentes evolutivos, inclusive capacidades

compartilhadas com outros organismos;

6) Apoio de tarefas psicológicas experimentais: O apoio de testes

experimentais esclarecem o funcionamento de inteligências

candidatas, empregando tais métodos pode-se, por exemplo,

estudar, com exemplar especificidade, detalhes do processamento

linguístico ou espacial e a relativa autonomia de uma inteligência;

7) Apoio de achados psicométricos: Os testes padronizados de

inteligência (como testes de QI) permitem a observação de que as

habilidades avaliadas não contemplam o uso de todas as

capacidades do individuo;

8) Suscetibilidade à codificação em um sistema simbólico: Grande

parte da representação e da comunicação humana de

conhecimento ocorre através de sistemas simbólicos – desenhos,

letras, matemática – são sistemas simbólicos que se tornaram

importantes no mundo inteiro para a sobrevivência e a

produtividade humana. Embora uma inteligência prossiga sem seu

próprio sistema de símbolo é possível que uma característica

principal da inteligência humana seja sua gravitação “natural” em

direção à incorporação em um sistema simbólico.

Através da revisão das diversas fontes mencionadas anteriormente em conjunto com a

observação, analise e investigação desses critérios, Gardner (1994) formulou a existência de

sete tipos de inteligência: A Inteligência Linguística, A Inteligência Musical, A Inteligência

Lógico – Matemática, A Inteligência Espacial, A inteligência Corporal – Cinestésica, A

Inteligência Interpessoal, A Inteligência Intrapessoal. Apesar de ter classificado em sete

inteligências, segundo Gardner “não há e nem haverá uma lista única, irrefutável e

universalmente aceita de inteligências humanas” (1994) e nos anos posteriores foram

incluídas mais duas inteligências a sua lista: A Inteligência Naturalista e A Inteligência

Existencialista (BÜHRER, 2005).

95

Essa pesquisa terá como base as primeiras sete inteligências formuladas por Gardner,

pois as duas últimas inteligências não fazem parte da analise dos processos de aprendizagem

que foram realizadas nessa pesquisa.

3.2.3 As Sete Inteligências

Inteligência Linguística: Os componentes centrais desta inteligência compreendem a

capacidade de manipular diferentes áreas da linguagem: sintaxe, formada pela rica rede de

regras implícitas e funcionais; a semântica, que trabalha o significado da língua e a

pragmática, que aborda seu uso prática; expressão e compreensão escritas e verbais; a

capacidade de memorização; a utilização da retórica. Como exemplos de representantes do

alto nível dessa inteligência temos os políticos, os jornalistas, os professores, entre outros e

um exemplo de grau elevado dessa inteligência está o poeta que utiliza com maestria a

sintaxe, as funções pragmáticas da linguagem e a semântica (GARDNER, 1994; BÜHRER,

2005).

Inteligência Musical: É caracterizada pela sensibilidade da compreensão,

discriminação, percepção, expressão e transformação das formas musicais (ritmo, tom,

melodia, timbro dos sons). Os componentes centrais dessa inteligência são as capacidades de

produzir e apreciar ritmos, tom e timbre, apreciação das formas musicais e a expressividade

musical. Como exemplo do alto nível dessa inteligência temos os maestros, compositores,

instrumentistas (GARDNER, 1994; VIEIRA, 2005).

Inteligência Lógico-Matemática: É caracterizada pela sensibilidade com padrões e

relacionamentos lógicos: afirmação, proposição e outras funções relacionadas às inferências; a

capacidade de discernir padrões lógicos ou numéricos, a capacidade de lidar com longas

cadeias de raciocínio. Os processos utilizados por essa inteligência são a categorização,

classificação, inferência, generalização, cálculo, levantamento e averiguação de hipóteses.

Como exemplos de representantes do alto nível dessa inteligência temos os engenheiros,

matemáticos, enxadristas (GARDNER, 1994; VIEIRA, 2005).

96

Inteligência Espacial: É caracterizada pela capacidade de visualizar e representar

graficamente idéias visuais ou espaciais e de orientar-se, de forma apropriada, a partir de uma

matriz espacial. Os componentes centrais dessa inteligência são a capacidade de perceber o

mundo viso-espacial com exatidão e de realizar transformações nas próprias percepções.

Como exemplos de representantes do alto nível dessa inteligência temos os arquitetos,

profissionais da construção civil. (GARDNER, 1994; VIEIRA 2005).

Inteligência Corporal-Cinestésica: É caracterizada pela capacidade de resolver

problemas ou elaborar produtos utilizando o corpo ou partes do mesmo e seus movimentos,

de maneira altamente diferenciada, hábil e expressiva. Os componentes centrais dessa

inteligência são a capacidade de controlar os movimentos do próprio corpo, assim como a

habilidade de manipular objetos com extrema habilidade. Como exemplos de representantes

do alto nível dessa inteligência temos os atletas e os bailarinos.

Inteligência Interpessoal: É caracterizada pela capacidade de compreender o humor,

os sentimentos, as motivações e as intenções dos outros e, através delas, implementar e

realizar determinados objetivos. Os componentes centrais dessa inteligência são o

discernimento e respostas adequadas aos estados de humor, temperamentos, motivações e

desejos de outras pessoas (GARDNER, 1994; BÜHRER, 2005; VIEIRA, 2005)

Inteligência Intrapessoal: É caracterizada pela capacidade de compreender a si

mesmo, suas fraquezas, seus desejos, suas intenções e seus sentimentos. Os componentes

centrais dessa inteligência são a auto percepção de seus sentimentos, discriminação das

próprias emoções e conhecimento das forças e fraquezas pessoais. Como exemplos de

representantes do alto nível dessa inteligência temos psicólogos e filósofos.

De acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas cada uma das inteligências é

independente em um grau significativo, de acordo com Gardner (1995) esta independência

“significa que um alto nível de capacidade em uma inteligência, digamos matemática, não

requer um nível igualmente alto em outra inteligência, como linguagem ou música”, portanto

mesmo independes em um grau elas operam simultaneamente. Com essa definição qualquer

atividade ou papel cultural, seja qual for o seu grau de sofisticação, requer uma combinação

de inteligências, como exemplo Gardner (1995) apresenta as várias inteligências usadas para

tocar violino:

97

“...tocar um violino, transcende à simples inteligência musical.

Tornar-se um violinista bem-sucedido requer destreza corporal-

cinestésica e as capacidades interpessoais de relacionar-se com uma

audiência e, de maneira um pouco diferente, de escolher um

empresário; muito possivelmente, envolve também uma inteligência

intrapessoal”.

Feito a apresentação dos fundamentos Teoria das Inteligências Múltiplas e as suas

explicações para a cognição humana. A teoria “parece conter várias implicações educacionais

que merecem ser consideradas” (GARDNER, 1994), as implicações educacionais foram

abordadas anteriormente no capítulo metodologia da pesquisa, no Sistema de avaliações do

“Processofólios”. A partir de agora apresentarei os paralelos entre essa Teoria e a prática

individual dos participantes da pesquisa.

3.2.4 A Teoria das Inteligências Múltiplas e a Prática Individual

Como foi apresentada na descrição da Teoria das Inteligências Múltiplas uma

atividade simples como tocar violino envolve o uso diferentes inteligências, esse uso condiz

com a necessidade de abordar a prática individual através de todas as capacidades necessárias

para a realização dessa atividade. Por essa razão agora irei descrever as inteligências usadas

no processo de aprendizagem da prática individual dos três participantes.

Os três participantes usaram as mesmas inteligências, porém em intensidades e graus

diferentes, por isso irei apresentar todas as inteligências sem separar para cada participante.

A Inteligência Musical é presente em toda a prática individual, os métodos de estudo

de conferir a afinação, como os alunos se preocuparam com o timbre, o pensamento de cada

um da frase musical e a interpretação musical é mobilizado por essa inteligência durante a

prática individual.

A Inteligência Corporal – Cinestésica é presente ao tocar o contrabaixo, a performance

musical exige uma grande consciência corporal de todos os participantes, sincronia de todo o

98

corpo, habilidade corporal para usar partes do corpo individualmente e a interpretação não

apenas musical que faz parte da inteligência musical mas também do próprio corpo na hora de

da performance musical faz parte dessa inteligência durante a prática individual

A Inteligência Linguística é descrita por Gardner (1995) como a que mobiliza a

memória, inclusive usando exemplos de músicos. A memória é mobilizada nas sessões de

prática de diferentes maneiras, como por exemplo, decorar uma peça, decorar um dedilhado.

Portanto essa inteligência é mobilizada na prática individual.

A Inteligência Interpessoal é presente na prática individual dos participantes, pois

todos precisaram entender e compreender os ensinamentos da Prof.ª Valerie e as suas

concepções de performance musical. Portanto essa inteligência é mobilizada na prática

individual.

A Inteligência Intrapessoal é presente na prática individual de todos os estudantes,

para realizar a prática individual da maneira correta e assim ser categorizada de prática

deliberada os estudantes precisaram entender aspectos pessoais, como por exemplo, qual o

ambiente que ele consigo realizar a prática de maneira eficaz, quais exercícios vão trazer

melhorias para ele, esses aspectos só podem ser entendidos a partir do conhecimento pessoal

de cada um. Portanto essa inteligência é mobilizada na prática individual

Inteligência Espacial é presente na prática individual, pois o estudo de mudanças de

posições e o próprio tocar mobiliza o conhecimento do espaço do instrumento. Portanto essa

inteligência é mobilizada na prática individual.

Todos os participantes mobilizaram essas inteligências, porém cada um mobilizou

com intensidades e graus diferentes, como por exemplo, o processo de aprendizagem da

participante Camila envolvia o forte vínculo com os seus dois professores, no qual ela

descrevia como os saberes dos seus professores e os seus relacionamentos estavam presentes

na prática individual, esse exemplo mostra o quanto a aluna mobilizou mais a inteligência

interpessoal. Por isso cada participante mobilizou as inteligências em graus diferentes.

Com a Teoria das Inteligências Múltiplas, como foi descrito acima, podemos abordar

todas as capacidades necessárias para a performance musical, essa teoria mostra como o

99

processo de aprendizagem da prática individual dos participantes mobilizam diversas

inteligências que variam de pessoa para pessoa, como foi descrito com a Camila.

Portanto podemos considerar essa teoria uma referência importante para entender o

processo de aprendizagem da prática individual dos participantes, pois mostra ser capaz de

descrever toda a complexidade dessa atividade.

100

Considerações finais

Na introdução dessa pesquisa citei a importância da prática individual na formação dos

músicos e ao longo dela, durante a aplicação dos diários e da convivência com os

participantes essa importância foi ficando cada vez mais evidente.

A revisão bibliográfica realizada nessa pesquisa forneceu um embasamento teórico

sobre a prática e a prática individual através do conceito de prática deliberada de Ericsson et.

Al (1993) e de outras pesquisas realizadas com esse conceito (SANTIAGO, 2006;

LEHMANN et. Al., 1997). Com o conceito de prática deliberada e dos três critérios pré-

definidos: The Resource Constraint, The Motivational Constraint e The Effort

Constraint, foi possível analisar, identificar e demonstrar a eficácia da prática individual dos

três participantes da pesquisa. E o referencial teórico proposto por Ericsson sobre a correlação

entre prática deliberada e o nível de performance se mostrou correta ao final da pesquisa.

A metodologia dos diários - entrevistas e os sistemas de avaliação das aulas

individuais e de analise dos dados baseados nas avaliações dos “Processofólios” se mostraram

eficientes para realizar a pesquisa e acompanhar a prática individual dos estudantes.

Através dos diários os participantes puderam relatar as suas sessões de prática

individual da obra selecionada, a analise dos diários de cada participante realizadas através do

sistema pré-definido de categorias mostrou ser capaz de analisar a complexidade dessa

atividade e conseguiu avaliar os itens propostas por Gardner (1995) na avaliação dos

“Processofólios”.

As avaliações realizadas nas aulas individuais pela Prof.ª Valerie avaliou a

performance do aluno depois de cada semana de realização da prática individual, isso

possibilitou correlacionar a prática individual do aluno com a sua performance musical nas

aulas individuais, trazendo informações sobre as melhoras ou falhas de cada um dos

participantes. Através da convergência de todos esses dados foi possível analisar a prática

individual de cada um e identificar aspectos do processo de aprendizagem dessa atividade.

Os diários no decorrer da pesquisa se mostraram um ótimo instrumento pedagógico,

pois auxiliou os estudantes a monitorar e planejar suas sessões de prática, segundo relato da

101

Prof.ª Valerie e da participante Mayara. Essa possibilidade é destacada por Lehmann et. Al.

(1997).

Como podemos ver através da pesquisa a prática individual de cada um dos estudantes

é uma atividade particular e pessoal de cada um, onde cada um deles mobilizou seus saberes,

suas atividades e a sua própria história para desenvolver e realizar essa atividade. Portanto

essa atividade é pessoal de cada individuo.

A prática individual de cada um dos estudantes mostrou ser uma atividade estruturada

individualmente por cada um para aprimorar a sua habilidade musical, superar suas

fragilidades e melhorar a cada dia o seu nível de performance. Essa atividade condiz com o

conceito de prática deliberada de Ericsson, et. Al. (1993).

As sessões de prática individual realizadas pelos estudantes eram definidas pelo tempo

disponível para a realização das sessões de prática, e eram compostas pelas atividades que

nomeei de métodos de estudo. O tempo de estudo de todos os integrantes foi orientado pela

grade curricular da UNESP e de outros compromissos profissionais.

Os métodos de estudo são atividades elaboradas pelos próprios estudantes tendo como

base a sua formação musical, vivência musical, o feedback das sessões de prática e da aula

individual através da Prof.ª Valerie, convívio familiar e o conhecimento interpessoal, para

auxiliar o aluno a melhorar o seu nível de performance, ou superar suas dificuldades. Portanto

também são categorizados como prática delibera.

O processo de aprendizagem da prática individual mostrou como os saberes e

atividades são mobilizados nesse processo. Os saberes mobilizados foram adquiridos pelos

estudantes na formação musical (formal e informal), nas sessões de prática individual

anteriores, nas aulas individuais, na interação social e familiar. Além desses saberes certas

atividades são ligadas diretamente ou indiretamente nesse processo de aprendizagem como as

aulas individuais, como a procura por informações através de recursos externos, o preparo

para a realização de um concerto e a interação social. Esses saberes e atividades são

mobilizados e socializados para os estudantes elaborarem seus métodos de estudo, planejar a

sua sessão de prática e identificar quais os melhores meios de se realizar uma prática

deliberada eficaz.

102

Através da pesquisa foi possível ver como a convergência desses fatores culmina no

processo de aprendizagem da prática individual.

Durante a pesquisa foi possível perceber a complexidade da prática individual, pois ela

mobiliza diferentes capacidades além da habilidade musical e motora, ela mobiliza

capacidades como a compreensão de outras pessoas (interação social e com os professores),

compreensão de si mesmo (através do entendimento de qual é o melhor meio para você

aprender), entre outros. Para abordar essas outras capacidades e auxiliar em pesquisas futuras

pesquisei uma teoria cognitiva que incluísse essas capacidades.

A Teoria das Inteligências Múltiplas (GARDNER, 1994 1995) trás uma nova

possibilidade para a abordagem da prática individual. Essa nova possibilidade pode auxiliar o

entendimento da prática individual de uma forma mais abrangente e completa, através da

identificação das inteligências mobilizadas por cada individuo e através da educação das

inteligências para auxiliar no processo de aprendizagem da prática individua de cada um.

Em pesquisas futuras sobre a prática individual, o uso da Teoria das Inteligências

Múltiplas pode fornecer informações mais completas e auxiliar no processo de aprendizagem

dos estudantes.

A aplicação dessa pesquisa auxiliou a Mayara e ao Davi a entender e a otimizar a sua

prática individual, como foi relatado pela Prof,ª Valerie nas avaliações das aulas individuais e

pelos alunos na entrevista.

Com a participação da Camila podemos ver os problemas de aplicação da metodologia

dos diários, pois o preenchimento dos diários exige comprometimento e dedicação por parte

dos participantes, como foi descrito Bolger, et. Al. (2003); Zaccarelli e Godoy (2010).

A prática individual aqui estudada foi apenas por duas semanas e em apenas uma obra

musical e mostra a importância dessa atividade na formação dos músicos, a sua influência

direta na performance musical e a complexidade dessa atividade mostra como diferentes

saberes, atividades e elementos externos são mobilizados e socializados no processo de

aprendizagem.

Deste modo abrimos uma nova questão, como será a prática individual e o processo de

aprendizagem na construção completa de uma obra musical, desde a leitura inicial da peça até

103

a performance em um concerto? Como é a prática individual completa dos estudantes de

música não apenas de uma obra?

Pesquisas futuras podem responder essas perguntas e auxiliar no entendimento da

prática individual e explicar de forma mais ampla como ocorre o preparo da performance

musical dos músicos e o seu processo de aprendizagem.

104

Referências Bibliográficas:

ALASZEWSKI, A. Using diaries for social research. London: Sage, 2006.

BÜHRER, Édina A. C. A sala de aula de língua inglesa na perspectiva das inteligências

múltiplas: aplicações e implicações. Tese de Mestrado, Universidade Federal do Paraná,

Curitiba, 2005.

BOLGAR, N., DAVIS, A., RAFAELI, E. Diary methods: capturing life as it is lived.

Annual Review of Psychology, v. 54, p. 579-616, 2003.

COSTA, Raul J. E. “O caminho para a expertise”: A Prática Deliberada como

catalisador do processo de formação dos expertos em futebol. Trabalho de conclusão de

curso, Universidade do Porto, Portugal, 2005.

DUKE, A. R., SIMMONS, L. A., CASH C. D. It’s Not How Much: It’s How:

Characteristics of Practice Behavior and Redention of Performance Skills. Journal of

Research in Music Education, vol. 56, nº 4, p. 310 – 321. 2009

DUKE, A. R., CASH, C. D., ALLEN, E. S. Focus of Attention Affects Performance of

Motor Skills in Music. Journal of Research in Music Education, n.XX, p. 1-12, 2011.

ERICSSON, K. A., KRAMPE, R. T., e TESCH-RÖMER, C. The role of deliberate practice

in the acquisition of expert performance. Psychological Review, 100, n. 3, p. 363-406,

1993.

GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Porto

Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1995.

LEHMAN, A. C., ERICSSON, K. A. Research on expert performance and deliberate

practice: Implications for education of amateur musicians and music students.

Psychomusicology, n. 16, p. 40 – 58, 1997.

105

PLUMMER, K Documents of life 2. An invitation to a critical humanism. London: Sage

Publications, 2001.

VIEIRA, N. J. W. Inteligências múltiplas e altas habilidades uma proposta integradora

para a identificação da superdotação. Linhas, vol.6 n.2, Santa Catarina, 2005.

SANTIAGO, P. A integração da prática deliberada e da prática informal no aprendizado

da música instrumental. Per Musi, Belo Horizonte, n.13, p.52-62, 2006.

SANTOS, R. A. T., HENTSCHKE, L. A perspectiva pragmática nas pesquisas sobre

prática instrumental, Per Musi, Belo Horizonte, n. 19, p. 72 – 82, 2009.

ZACCARELLI, L.M., GODOY, A. S. Perspectivas do uso dos diários nas pesquisas em

organização, Cadernos EBAPA.BR, Rio de Janeiro, v.8, n. 3, artigo 10, 2010.

106

ANEXOS

ANEXO A – Diários e folha de instrução para o seu preenchimento

Diário de Estudos

Participante _____________________ Data: __/__/2013

Descrição do método de estudo Tempo de estudo em

cada método

107

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

108

Instruções para o preenchimento dos Diários

Os preenchimentos dos diários devem ser feitos logo após o termino dos estudos da

obra, para assim obter uma maior riqueza de detalhes.

Deve ser escrito com a ausência de preocupação com a forma de escrita.

Na “descrição do método de estudo” deve se especificar ao máximo qual o método

utilizado no estudo da obra, por exemplo: a repetição de trechos com o metrônomo

para aumentar a velocidade ou manter o ritmo; o estudo com afinador em certas

passagens; estudo dos padrões de arcadas; repetição do trecho para fazer a frase

musical. Deve ser preenchido com as suas palavras, de forma que reflita qual é o seu

pensamento no estudo.

A seção “Tempo de Estudo de cada Método” deve ser preenchida com o tempo

aproximado de cada método de estudo da obra.

O “Diário” é espaço destinado para o auto relato do estudo da obra, com observações,

reflexões e o que cada participante achar necessário relatar. Podendo preencher com

várias informações. Como por exemplo, estudar com falta de atenção, entender

algumas coisas do estudo do dia anterior, alguma ideia para o estudo.

Muito obrigado pelo apoio no projeto.

109

ANEXO B – Sistemas de avaliação das aulas individuais de instrumento e o Sistema Pré-

definido de categorias para análise dos diários

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

B – Busca: O aluno desenvolve o trabalho ao longo do tempo, conforme evidenciado por

tentativas de execuções produtivas e reflexivas. Ele dedica-se aos problemas encontrados na

execução com profundidade, examina o problema ou a execução de vários ângulos. (diários).

C – Invenção: O aluno resolve o problema de maneira criativa. Experimenta e arrisca com as

técnicas. Estabelece seus próprios problemas a serem resolvidos. (diários)

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar o próprio trabalho: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

110

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: O aluno trabalha bastante e se interessa por aquilo que faz. Ele

cumpre os prazos. Demonstra cuidado e atenção aos detalhes na execução nas aulas

individuais. (Aulas individuais)

B – Capacidade de trabalhar de modo independe: O aluno é capaz de trabalhar de modo

independente quando apropriado. (Diários)

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

111

ANEXO C – Entrevista com a participante Mayara

3- Formação Musical: Investigar a formação prévia do Contrabaixista, formação

musical formal e informal e informações acerca da vivência musical:

e) Gostaria que você me falasse sobre sua formação musical (formal ou informal) antes

de ingressar no curso de Bacharelado em Contrabaixo até os dias de hoje? (Perguntar

sobre outras atividades e práticas musicais).

Mayara: Eu comecei no Projeto Guri, na verdade eu fui para lá para ter aula de baixo

elétrico, não sabia que tinha baixo acústico. E dai a mulher me falou que tinha baixo acústico

e não baixo elétrico, tudo...fiquei na dúvida, acabei me inscrevendo lá. No fim não tinha vaga

no baixo acústico também e eu tive que começar do cello.

E assim, eu não conhecia instrumento de orquestra, não conhecia orquestra e nunca

tinha ouvido nada assim e isso eu tinha uns 13 anos mais ou menos. E dai comecei no cello e

vi, a gente tínhamos aulas em conjunto com todos os instrumentos de cordas e então eu

sempre fiquei de olho no contrabaixo mesmo, eu olhei e foi amor a primeira vista, mas eu tava

no cello. E dai todo intervalo eu ia lá e ouvia tudo que o professor falava para o baixo e ia lá e

ficava estudando no intervalo. Foi até que o professor viu e ai ele falou: Ahh você não quer

mudar para o baixo?. E dai eu expliquei toda a história e dai ele falou vem que eu te coloco.

Ai eu fiquei lá uns 8 meses mais ou menos no guri, tendo essas aulas tudo, chegando

mais cedo para estudar um pouco, mas nada assim de estudar mesmo, até porque a gente não

tinha muito conteúdo era bem básico mesmo era bem.. a aula era bem corda solta e leitura de

partitura, assim basicamente. Depois ai eu entrei na orquestra lá, tinha orquestra tudo dai

fiquei lá 8 meses. Ai fiz o teste para passar na Escola Municipal, que quase que eu desisto

porque quando eu cheguei lá tinha uns caras destruindo o contrabaixo, comendo, engolindo,

tocando muito e eu falei “meu deus eu vou embora”, quase que eu fui embora minha mãe não

deixou e disse “não você vai fazer”. Ai eu fui lá e toquei um hino de um país que até hoje eu

não lembro qual que é que uma mulher me deu uma das professoras do Guri ela disse “a toque

esse hino” que era basicamente em Dó Maior...era bem. Fui toquei e eu me lembro até hoje, o

menino que tocou antes de mim ele “eu não tinha baixo né, então usei o baixo de lá” o

112

menino, ele era bem mais alto, dai o espigão dele tava alto e eu nem, tão nervosa e eu acho

que eu nem lembrava do espigão, eu peguei o baixo e comecei a tocar o baixo super alto e ai o

Marco e o Max estavam na banca, e o Max falou “o que que é isso menina você não vai

abaixar esse espigão ai” todo nervoso dai eu “humm, hâââ, hummm , ta bom” ai fui abaixei,

toquei, fiquei super nervosa, o Max ficou bravo, não sei o que, não sei se ele estava estressado

no dia, só sei que ele saiu de lá falando do meu arco, da minha mão, do jeito que eu tocava

tudo e o Marco perguntou, que para mim assim é engraçado, que ele olhou no meu olho e

falou é “o que você quer ser quando crescer?” e eu falei “quero tocar contrabaixo” e eu falei

tipo assim muito natural e ele falou “então esta pode ir” e pronto sai de lá comecei a chorar,

não passei, não passei, não fui ver o resultado, ai um colega meu que fazia guri muitos anos

antes que é o Gustavo que também fazia municipal ele também fez o teste neste dia e ele ligou

para mim e disse “você passou, vem para cá, não sei o que, não sei o que” . E comecei a fazer

aulas com o Marco, as aulas foram ótimas, tive 8 anos de aulas com ele né, no começo era

bem falando sobre o instrumento, técnica, ele tinha um método com técnica baseado em

escalas, em trechinhos de músicas, as posições, a quadratura né, era bem focado nisso e ficou

uns 2 anos bem focado nisso e no arco. Dai depois disso ele começou a pegar mais e a focar

nas peças mesmos, então ele passava técnica dentro das peças. E dai começou tudo eu fui

fazendo gradativamente as peças, e a aula dele basicamente é essa, depois no inicio né tudo é

baseado nas peças, nas músicas, ele vai passando a técnica conforme isso. É dentro disso eu

participei da orquestra lá da Escola de Música Municipal, tudo fiz um tempinho, tal, teoria

que para mim foi muito importante, a teoria lá é muito boa então quando eu entrei aqui, esse é

meu terceiro ano, então há uns 3 anos atrás. É na verdade é assim eu tava na municipal ainda

terminei o colégio e ai eu resolvi ficar sem prestar vestibular e ficar só estudando, foi época

que eu estudei bastante assim e ai fiz o vestibular aqui e passei.

O que eu senti quando eu entrei aqui, foi que no primeiro ano a minha base teórica que

a Escola Municipal me proporcionou foi a melhor coisa, foi a melhor coisa mesmo, foi assim

muito bom, muito bom mesmo, fez diferença assim porque eu não precisei ficar me matando,

ficar naquela loucura de, de ficar atrás, de estudar muito para não se dar mal, essas coisas que

eu percebi em muitos colegas meus, assim muita dificuldade porque o ano é muito corrido né

difícil, assim difícil de você pegar tudo em um ano e quer dizer, quando eu entrei aqui eu

estava com 6 anos de Municipal, 6 anos Teoria, porque lá desde o começo tem teoria até o

final, então percepção, contraponto, harmonia, tudo isso me ajudou muito assim. E

113

contrapartida eu também fiz música popular né, eu também toco baixo elétrico, quando eu

entrei no Guri eu também conheci o Pixinga, que é um baixista elétrico, ele me apadrinhou

me deu aula, me deu baixo, me deu tudo. Dai eu continuei estudando baixo elétrico também

né os dois juntos e foi, e eu lembro que uma época foi muito difícil conciliar os dois muita,

então assim muita coisa como eu tava numa instituição a Escola Municipal depois aqui, então

quer queira quer não a prioridade foi para o baixo acústico, porque tinha prova, tinha não sei o

que, tal.

Diego: O que mais você poderia me falar sobre sua experiência em orquestra?

Mayara: O que eu posso te falar, é que, assim para mim é muito bom tocar em

orquestra, porque eu não tive muita oportunidade de ter essa experiência muito forte, eu vejo

de algumas pessoas que participaram já desde o início do estudo do instrumento, que por

exemplo, no Baccarelli né, você começa a estudar você toca na orquestrinha lá, você toca na

Sinfônica, você ganha muita experiência com isso, por mais que por um lado de repente possa

atrapalhar, porque seja, é muito puxado perto do que os, não é gradativamente, os alunos já

entram na paulada no repertório pesado, não é uma coisa que você vai construindo junto com

a evolução do aluno, então eu acho que isso atrapalha, mas por outro lado, a pessoa vive uma

experiência de orquestra muito grande que eu acredito que ajuda muito na parte solista

também assim no instrumento, e eu tive muita dificuldade quando eu entrei, quando eu fui

entrar na orquestra da Escola Municipal, eu já tinha uns 4 anos de instrumento, nunca tinha

tocado em orquestra nem nada ou em grupo com o baixo acústico e o que me ajudou foi que

eu já tocado em banda, então esse lance de interação, de você ouvir o outro, eu tinha mais em

relação a isso, quando eu entrei na orquestra lá, que era uma orquestra bem basiquinha, bem

tranquila, mas dava para a gente apreender, foi muito interessante porque tinha que ouvir todo

mundo, eu tinha que me ouvir, ouvir meus colegas de naipe né, mas foi pouco tempo também.

Quando eu entrei aqui eu tinha pouquíssima, ainda tenho, tenho pouco repertório de orquestra,

muito pouco, porque eu não tive essa experiência de realmente pegar os repertórios mais

puxados ou até os mais conhecidos de repente que cai em teste que cai em algumas coisas

assim, eu não tenho, alguém chega para mim e fala “ah se se”, até pouco tempo atrás eu não

tocava a letra K do Beethoven, entendeu, porque o meu Professor Marco ele achava que não

era necessário, eu até cheguei a falar com ele “A professor eu queria pegar umas partes de

114

orquestra, tudo” mas na concepção dele ele acha que quem toca Bottesini toca qualquer

repertório de orquestra, e é uma visão dele que de repente para ele funcionou, mas para mim

eu acho que não funcionou muito porque quando eu fui pegar um trecho de orquestra eu

percebi as dificuldades que eu tinha assim né, em executar assim muito difícil mesmo. E ai

aqui com a Val a gente começou a fazer tudo e mesmo assim o meu rendimento da parte

orquestral é muito diferente da parte solista, muito diferente, tenho dificuldade com a parte

orquestral, mas que agora com o Lutero lá, tudo, tenho trabalhado muito, eu tenho pensado

muito no lance de acompanhar a orquestra mesmo assim, como eu posso, que quer queira quer

não essa é a função do contrabaixo né, você leva a orquestra nas costas, você levar o tempo, o

andamento, então tudo isso tem ajudado muito, talvez ele nem saiba, mas é tem me ajudado

muito a conseguir acompanhar da maneira mais correta, ouvindo tudo, então eu acho muito

importante a prática em conjunto mesmo.

f) Quais são/foram os seus professores de contrabaixo?

Mayara: Meus professores são o Marco A. B. e a Valerie Ann Albright.

g) Como é a sua vivência musical dentro do seu cotidiano, do seu ambiente familiar e do

seu trabalho?

Mayara: Bom na família todo mundo gosta de música, mas ninguém toco nada, meu

irmão fez aula de bateria, no caso de bateria mais voltado para o Rock, minha mãe gosta

muito de Rock assim dos anos 80 e 90, e os meus pais gostam de música, mas não uma coisa

assim que eu tinha na minha casa, assim ouvia música, não é muito. Eu acho que eu comecei

a gostar de música mais pelo meu irmão, que tinha os CD’s de Rock dele lá e dai comecei a

ouvir e comecei a gostar de Rock. E hoje isso foi evoluindo, por exemplo, quando eu comecei

a ter aula com o Pixinga, foi evoluindo não né, foi mudando, quando eu comecei a ter aula

com o Pixinga, ai eu comecei a ouvir Jazz, instrumental e ai foi mudando, quando eu conheci

o Ricardinho comecei a escutar mais música brasileira, todos os ritmo brasileiros e a coisa foi

mudando, ou quando eu comecei a tocar né foi ai que eu comecei a tocar música clássica, pois

até então eu nunca tinha ouvido e assim não era uma coisa muito próxima de mim era uma

coisa mais relacionada ao instrumento, não era muito as obras orquestrais, nem tanto, era mais

o programa solista. E hoje eu ouço música muito, ouço música não sei se também por que sou

115

casada com um músico então lá em casa é música 24h, a gente gosta muito de tudo, gosta

muito de todos os tipos de música, ouve instrumental, música cantada, ouve música Brasileira

e isso só surgiu mesmo depois que eu comecei a tocar, porque antes não tinha muito. Era

pouco mesmo e hoje é diferente, é bastante, veio gradativamente conforme o estudo, ai as

músicas orquestrais foi quando eu comecei a tocar lá na Orquestra da Escola Municipal,

quando eu entrei aqui comecei a estudar as peças orquestrais e dai eu fui escutando mais né,

porque até mesmo depois de 5 anos de instrumento eu não tinha muito, muita afinidade assim

de pegar e ouvir porque gostava, era uma coisa de ouvir assim as vezes estava passando na

televisão, na Rádio Cultura, eu gostava muito de ouvir Rádio Cultura as vezes, mais nesse

sentido, mas começou mais do popular para o erudito assim.

h) Você poderia me falar quais são os ambiente que você realiza a prática individual e

dar uma estimativa de quantas horas você estuda contrabaixo individualmente por dia?

Mayara: Basicamente em casa, eu gosto de estudar em casa porque eu não tenho

muita coisa para me preocupar, tipo assim, eu não tenho muita gente que entra na sala, isso

também depois que eu casei, porque quando eu tava em casa com a minha mãe tudo ai era

mais difícil, minha mãe me chamava muito, o telefone tocava as vezes minha mãe “atende

para mim”, não tinha aquela coisa ESTOU ESTUDANDO, ESTOU ME DEDICANDO AO

MEU TRABALHO, ESTOU TRABALHANDO, não era muito assim. Então no começo era

mais difícil estudar em casa, mas mesmo assim eu preferia, porque é o lugar onde eu fico mais

tranquila, eu consigo ficar mais concentrada de repente né. Mas nesse ano eu comecei muito a

estudar aqui, porque acabou muita gente estar em orquestra não sei o que, então aqui esta

mais tranquilo algumas vezes e por causa dos horários de aula e de ensaio e de estudo, eu

tenho ficado de repente umas duas horas aqui “a toa”, então eu fico estudando entre uma aula

e outra tudo, então ta mais ou menos assim, as vezes eu estudo na minha casa que hoje é mais

tranquilo eu gosto de estudar porque eu tenho tempo de estudo, a coisa que eu mais gosto é

estudar sem ter o tempo limitado, tipo eu tenho de tal hora a tal hora, mesmo que seja muito

eu detesto estudar com tempo, eu não gosto de estudar e ficar pensando que daqui 5 minutos

eu tenho que me arrumar porque tenho que sair, mas não tenho o que fazer a realidade é essa,

a maioria dos dias você estuda no limite né, eu não tenho muito problema, eu não gostava

muito de estudar aqui, porque as vezes eu estava estudando e chegava alguém na sala e ficava

conversando e ai você vai conversando também e acaba perdendo o foco e as vezes você fica

116

nem tanto tempo, mas esse tempo que te “atrapalhou” no estudo da uma desconcentrada em

tudo. Mas hoje o meu estudo esta bem tranquilo, não estou tendo problema com nada, se

atrapalhar no estudo, sendo aqui na UNESP ou lá em casa tem sido bem tranquilo.

Diego: Tem uma estimativa de quantas horas você estuda por dia?

Mayara: Depende muito do dia, não tem assim uma regularidade, isso talvez seja

ruim, mas se for fazer uma média eu acho que umas 3h mais ou menos, tem dia que eu estudo

mais, tem dia que eu estudo menos, depende muito da disposição das aulas, dos ensaios

assim.

4- Informações sobre a Prática Deliberada: Quais são os métodos utilizados na prática

individual, o tempo gasto, como foi elaborado, porque de sua utilização e como esses

métodos interferem na aprendizagem do instrumento.

f) Quais são seus métodos de estudo que você utiliza na prática individual de uma obra?

E qual o tempo estimado gasto em cada um deles?

Mayara: O que eu gosto de fazer é antes pegar a obra e uma coisa que a Val me

chamou muito a atenção e que realmente funcionou muito nessa pesquisa que nós fizemos, no

caso do Ditters, que foi analisar ela Harmonicamente com o piano, fazer uma analise dos

movimentos harmonicamente tal e analisar a obra e isso quando eu comecei a estudar ela

mesmo depois que eu analisei eu percebi muito mais, eu não sei se essa é a palavra certa,

muito mais afinidade com a obra, mas parece que eu já, parece que eu entendi ela assim

harmonicamente, as frases que eu estudava eu sabia o que estava acontecendo

harmonicamente e isso da uma interpretação muito mais ampla e muito mais efetiva da obra,

eu acho. Então eu tenho feito isso em todas as obras que eu tenho estudado, eu tenho

analisado ela primeiro né. E ai eu faço a escala nela, faço a escala tudo e uma coisa que eu

descobri no exercício que a gente fez na sua pesquisa, foi que além da escala digitação normal

para fazer três oitavas não sei o que, eu percebi que eu tinha dificuldade na mudança de

posição então eu comecei a fazer ela em uma corda só, fazia a escala de Ré por exemplo na

corda Sol, ritmos variados né, porque eu acho necessário, desde semínima até colcheia,

tercina, semicolcheia até onde eu consegui e fazia na corda Ré, na corda Lá e na corda Mi,

depois eu fazia a escala normal mudando de posição nas cordas, escala e arpejo, as vezes eu

117

procuro tentar improvisar um pouquinho na escala e sair tocando e sair tocando o que der

assim, eu percebi que para ficar bom isso ainda é muito lento, por exemplo, eu ainda não

consigo fazer semicolcheia em 70 eu não consigo fazer isso, então eu faço mais lento a 50, a

40 semicolcheia ou só semínima e improvisando um pouco no instrumento. Depois eu pego

trecho por trecho, eu pego a primeira frase, e vou de quarenta até passar um pouquinho, sei lá

se o andamento é 90 eu vou até 100, se eu conseguir, se não eu vou evoluindo o metrônomo

gradativo passando os dias de estudo. Então eu gosto de estudar por frases, porque antes eu

queria passar a peça inteira, ficava naquela agonia de querer tocar o negócio do começo ao

fim e saia uma porcaria, saia tudo hãã, não tem foco isso, para mim não funciona tocar a peça

inteira mil vezes. Eu tenho que pegar o trecho e estudar trecho por trecho, trecho fácil e trecho

difícil, eu gosto de deixar cada trecho. Assim eu pego a primeira frase do primeiro movimento

passo ela e vou evoluindo no metrônomo, depois eu pego a segunda frase passo ela e vou

evoluindo no metrônomo, pego a terceira frase e vou fazendo assim, por enquanto meus

estudos estão assim. Depois que eu fiz as frases todas, dai sim eu toco a peça inteira também

com o metrônomo tipo 40 dai evolui no metrônomo até chegar no andamento correto e eu

gosto de passar um pouco do andamento correto, porque eu tenho problemas em

apresentações de acelerar a música e para não ter problema na hora eu faço isso. Mas é

basicamente isso por enquanto, que eu faço. O tempo de estudo gasto em cada método varia

de acordo com o dia e a disponibilidade (averiguado nos diários).

Mayara: O ruim disso é que é um estudo muito lento e as vezes não da tempo de

chegar no metrônomo o tanto que da porque se não só ficaria em uma frase um dia por

exemplo, porque demora.

g) Poderia me dizer como você pensou e elaborou esses métodos de estudo? Quais

princípios e fundamentos você utilizou?

h) Alguém ensinou alguns desses métodos para você? Caso sim, poderia me indicar

quem?

i) Porque você utiliza esses métodos que você mencionou? Qual a finalidade?

(A participante respondeu as três perguntas de uma vez)

Mayara: Bom, nenhum professor me falou isso. Meu professor o Marco falava para

estudar, treinar o trecho que estava ruim e estudar, estudar eu acho que era repetir não sei, não

era uma coisa muito especifica faça isso, isso, isso, era mais assim faça escala tudo e estude a

118

peça. A Val tem pegado muito, o que eu gostei quando comecei a ter aula com ela os trechos

que eu tinha dificuldade, ela pensava bem matematicamente como resolver, porque eu ia

muito na intuição nos meus estudos, dai por exemplo o Sol tava saindo baixo, então ela falava

para eu colocar o dedo no lugar do sol correto e ver a posição da minha mão, ver como minha

mão ta, analisar não só a nota no instrumento mas analisar meu braço, como é que tava a

situação do braço, dai fazia o movimento devagar pensando em tudo isso né, depois evoluindo

e fazendo mais rápido, tirar o braço do instrumento, colocar de novo na nota sol, para ver se o

braço ficou na posição certa porque a nota saiu desafinada, isso é um exemplo, mas assim um

estudo mais matemático.

Dai eu pensando nas duas coisas, nos dois professores e pensando no meu estudo

assim que eu tinha com o instrumento eu fui percebendo, que por exemplo, que para mim não

adiantava tocar a peça inteira, mesmo que devagar não adianta, e dai conversando também

com o Ricardinho que ele gosta muito de estudar, dai ele me ajudou muito assim a como

estudar, a gente conversando um dia, dai ele falou que tinha dificuldades também em pegar

peças assim no baixo acústico tal então um dia ele virou e falou “eu vou ficar em uma frase só

o dia inteiro” e dai ele ficou em uma frase da música o dia inteiro, não lembro qual música

que era e dai realmente aquela frase ficou muito melhor do que tava né e dai a gente pensando

a gente meu vamo estudar por frase, vamo primeiro deixar uma frase direito para depois

passar para outra. E dai foi assim a gente fazendo teste tudo, a gente começou, eu comecei a

estudar assim, então eu pego uma frase, estudo a segunda frase depois junto as duas, depois eu

passo para a terceira, junto as três, depois passo para a quarta, junto as quatro e assim por

diante e foi por ai que eu comecei a pensar assim nesses métodos, a improvisação foi boa,

porque quando eu comecei a improvisar, eu estudava improviso no baixo elétrico, por falta de

tempo eu não estudava no acústico então um dia que eu fui brincar de improvisar no acústico

eu vi que eu tocava tudo desafinado, e eu falei “porque isso, nas peças eu to relativamente

afinado e o improviso eu não toco afinado” é muito estranho isso né, porque de repente no

improviso você não tem tempo de pensar na quadratura, entendeu, você tem que improvisar,

você tem que pensar na frase, não ficar preso a quadratura, para sair afinado ou desafinado,

foi dai que eu percebi que de repente eu estudando mesmo que as vezes rapidinho, porque não

da muito tempo também, fazer pelo menos um improviso devagar mesmo no instrumento,

para juntar, o meu pensamento é fraseológico, melódico, com a quadratura do instrumento,

sem ficar me prendendo muito a isso, então juntar as duas coisas, por isso que também eu

119

comecei a estudar a partir do método do improviso, bem pouco, eu quero muito investir nisso

porque tem dado resultado mesmo pouco assim, mesmo fazendo em pouco tempo, então é

uma coisa a longo prazo que eu quero investir mais que eu acho que está dando resultado.

j) Qual a relevância desses métodos na aprendizagem do instrumento?

Mayara: Olha eu acho que foi, era uma coisa que eu não tinha muito bem definida,

porque quando eu passo para o papel uma coisa eu acho que ela fica mais definida, ela fica

mais certinha, antes não tinha muito, meio que eu não pensava muito exatamente, eu pensava

mas era uma coisa que ia fluindo. Quando eu coloquei no papel com a sua pesquisa me ajudou

muito, pois eu consegui visualizar o que eu estava fazendo de fato, não era uma coisa que eu

ia fazendo conforme o tempo que eu tinha, mesmo que eu pensa-se nas qualidades nas coisas

que trariam benefícios eu não tinha definido “eu faço isso, isso, isso” e meio que isso

começou a me incomodar um pouco, porque as vezes os dias que eu menos tive tempo de

estudar foram os dias que eu fiquei mais irritada, pois mesmo que eu pegava uns trechos eu,

eu não conseguia definir bem o que eu fazia, então eu falava vou deixar a escala de lado e vou

fazer só os trechos, e isso foi bom, o ruim é quando eu não consigo falar isso, ai quando

acontece isso eu começo a passar a peça e isso me deixa estressada, pois para mim não trás

evolução, se antes eu não faço esses métodos, sabe, então esses métodos são muito relevantes

nos meus estudo é o que faz a organização do meu estudo, é o que faz eu entender o que eu

preciso fazer para mim conseguir um resultado bom, porque se eu não consigo ter esse

pensamento do que eu consigo fazer ter um resultado bom eu vou estudando meio na doida e

isso parece que não me tras resultado, parece que eu fiz, fiz, fiz e não cheguei a lugar nenhum,

esses métodos para mim, hoje tem sido essenciais.

120

ANEXO D – Diários das sessões de prática individual e Avaliações das aulas individuais

da Mayara

Transcrição dos Diários da participante Mayara Piovezan

Obra selecionada pela participante: Concerto em Mi Maior de Karl Ditters von

Dittersdorf

Diário do Dia: 06/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Escala e arpejo semínima = 50 Ré M (escala tocada individualmente por corda e

depois adicionando o dedilhado convencional em conjunto). Tempo de estudo deste

método 1h.

Passagem por trechos (Dittersdorf) (frases) semínima = 50 a 70. Tempo de estudo

deste método 30 min.

Passagem do trecho “novo – Tobias” c/ o piano semínima = 50 a 70. Tempo de estudo

deste método 30 min.

Passagem completa do 1º mov. de Dittersdorf. Tempo de estudo deste método

semínima = 50 a 66. Tempo de estudo deste método 30 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

A principio tentei passar o concerto (1º mov.) todo antes de estudar trecho por trecho

mas não deu certo. Percebi que me desconcentrei muito e não estava nada bom. Então tive a

ideia de começar os estudos por trecho mesmo. Cada frase passei umas 3 vezes de semínima

= 50 a 70 no metrônomo. Logo em seguida percebi que o trecho “novo” do Tobias estava

muito desafinado e então gravei no piano e comecei a escutar junto. A melhora foi

IMPRESSIONANTE! Fui de semínima = 50 a 60 no metrônomo e o estudo rendeu!

Para finalizar o estudo, passei o concerto (1º mov.) inteiro de semínima = 50 a 66 no

metrônomo.

121

Percebi que ainda tenho um pouco de dificuldades nos trechos “novos – Tobias” mas

já melhorou.

Diário do Dia: 07/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Leitura do 2º mov. (Dittersdorf). Tempo de estudo deste método 30 min.

Passagem do 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 50 e 60. Tempo de estudo deste

método 10 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje o dia foi muito corrido. Só consegui estudar contrabaixo no final do da (à noite).

Isso me atrapalha, pois gosto de estudar baixo acústico pela manhã ou pela tarde (acho que

meus vizinhos também. Rs rs rs.)!

Como tive pouco tempo, não fiz a escala de Ré M (tonalidade do 1º mov.) “Peça”,

então já comecei estudando a leitura do 2º mov. Tive uns problemas no tempo, pois o Tobias

faz em 2/4 e o Franz Zeitz (versão que eu estudei) faz em 4/8 parece que eu perco a “firmeza”

no tempo! Parei muito! Então passei em blocos (1º folha e 2º folha), passando bem rapidinhos

os trechos de dificuldades (ex. sextina). Percebi que p/ um maior rendimento preciso passar

desde o início do estudo frase por frase. (Estudar bem a 1º frase e só depois p/ 2º), do

contrário parece que eu ródo (rodar) e não saio do lugar!

Depois, pra finalizar passei inteiro. (2º mov.) e então, relembrei o 1º mov. passando

em semínima = 50 e depois em semínima = 60 de uma vez só. Ainda tenho dificuldades na

parte nova! Acho que é na troca de corda (A, D e G). Amanhã vou tentar estudar este trecho

apenas mão direita (arco).

Diário do Dia: 08/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Análise do 1º mov. do Dittersdorf. Tempo de estudo deste método 1h.

122

Leitura do 2º mov. (Dittersdorf.). Tempo de estudo deste método 20 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje foi um dia muito cansativo! Tive ensaio e aula desde às 10h até as 18h! Tudo

seguido. Fiquei muito cansada quando cheguei em casa!

Então fui analisar o 1º mov. do Dittersdorf c/ a parte do piano. É uma harmona bem

simples I – V – I ! Isso me ajudou muito a “compreender a música”. (frases, dinâmicas e

etc...) gostei muito!

Daí para não ficar sem pegar no baixo passei o 2º mov. Não estava muito empolgada

para estudar trecho por trecho, então passei bem devagar umas 3 vezes. Foi bom para

relembrar o que eu tinha estudado no dia anterior.

Diário do Dia: 09/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Escala de Ré M semínima = 60 (individualmente nas cordas G, D, A e E). em

semínima, colcheia, tercina e semicolcheia. Tempo de estudo deste método 30 min.

Trechos de muita dificuldade (novos - Tobias) – saltos semínima = 50, 60, 70. 1º mov.

(Dittersdorf). Tempo de estudo deste método 15 min.

Estudo por frases (2º mov) (Dittersdorf). Tempo de estudo deste método 15 min.

Passagem do 2º mov. – Dittersdorf completo semínima = 50. Tempo de estudo deste

método 20 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje o estudo foi bom. Fiz a escala, que é algo que gosto muito de fazer antes de

estudar as frases da peça e etc. Passei um pouco corrido pelo 1º mov. pois tinha que

apresentar na aula da Val 2º mov. Percebi que estava melhor mas parando muito. Na aula eu

fui perceber o por que! Como esses 2 últimos dias foram muito corridos não consegui colocar

123

meus dedilhados e dinâmicas então na aula parei muito, pois lembrava desses elementos

depois que fazia a frase. Acho que sempre colocarei minhas observações na partitura daqui

por diante!

Diário do Dia: 10/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Passagem do 1º mov. Dittersdorf semínima = 60 e 70. Tempo de estudo deste método

15 min.

Análise do 2º mov. do Dittersdorf. Tempo de estudo deste método 30 min.

Passagem do 2º mov. Dittersdorf semínima = 40. Tempo de estudo deste método 15

min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Como o dia foi corrido, assim como a semana toda, tive pouco tempo para o estudo

então passei o 1º mov. em semínima = 60 e depois em semínima = 70. Já está melhor mas

ainda é um pouco difícil fazer em semínima = 70 a sequência de semicolcheias (novo -

Tobias). Assisti alguns vídeos de Contrabaixistas tocando o 2º mov. para ter articulação e

dinâmica. Vi 3 versões e tentarei não fazer tão articulado nem tão “romantico”.

Diário do Dia: 11/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Análise do 3º mov. (Dittersdorf). Tempo de estudo deste método 40 min.

Passagem do 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 50, 60 e 70. Tempo de estudo deste

método 30 min.

Passagem do 2º mov. (Dittersdorf) semínima = 40 e 50. Tempo de estudo de cada

método 20 min.

124

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Nesse estudo de hoje, comecei a analisar o 3º mov. do Dittersdorf e depois já dei uma

olhada nos dedilhados e na dinâmica (escrevi tudo na partitura) rsrsrs.

Depois dei uma passada no 1º e no 2º. Ambos estão bem melhores, ainda tenho alguns

probleminhas nos trechos de muita troca de corda e ficar sempre ligado na afinação.

Diário do Dia: 12/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Passagem 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 50 e 60. Tempo de estudo deste método

20 min.

Passagem 2º mov. (Dittersdorf) semínima = 40. Tempo de estudo deste método 20

min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje, no dia das mães, fiquei o dia todo fora mas depois que voltei p/ casa peguei no

baixo (confesso que com um pouco de preguiça) rs rs rs.

Dei uma passada rápida nos dois primeiros movimentos. Foi um pouco rápido mas deu

para fixar melhor as dinâmicas, articulações e é claro a percepção motora!

Agora que os movimentos estão “finalizados” na parte de decisões de dedilhados,

articulações e dinâmicas já é bem mais fácil passar o movimento todo! (do começo ao fim).

Mas sinto que a precisão na afinação tem que ser melhorada. Talvez estudando os

intervalos mais difíceis. Tentarei no próximo estudo!

125

Diário do Dia: 13/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Escala de Ré Maior semínima = 60 (por corda - verticalmente). Tempo de estudo deste

método 30 min.

Improviso na Escala de Ré Maior semínima = 60. Tempo de estudo deste método 5

min.

Estudo de trechos do 1º mov. (3 trechos em especial) – Dittersdorf. Tempo de estudo

deste método 20 min.

Passagem do 1º mov. (Dittersdorf) lento semínima = 46. Tempo de estudo deste

método 10 min.

Estudo do 2º mov. (por frases) (Dittersdorf). Tempo de estudo deste método 25 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje estudei um pouco a escala de Ré Maior, na vertical (corda por corda) *escala de

Ré Maior na corda sol, depois na D, depois na A e depois na E. Fiz isso, pois estava com um

pouco de dificuldade (afinação e leveza) nas trocas de posição. Realizei também em

semínima, colcheia, terçina e semicolcheia em semínima = 60.

Para ver se as notinhas realmente estavam no “lugar”, improvisei dentro da escala

utilizando todas as cordas. Percebi que tenho dificuldade, ou melhor, perco um pouco a minha

referência quando eu não olho p/ o baixo.

Começei passando os 3 trechos mais difíceis do 1º mov. (no metrônomo de semínima

= 50 a 76). Senti que não evolui muito (queria evoluir mais rápido). Depois passei o 1º mov.

inteiro bem devagar (pensando nas frases, articulações, dinâmica e dedilhados).

Ah, vou tentar estudar só a mão direita de alguns trechos, espero que ajude na

“definição” do som (troca de corda - rápido).

Na parte do 2º mov. já senti melhora!

126

Redefini alguns dedilhados e dinâmica passando frase por frase. Bem devagar. Foi

bom novamente, consegui finalizar a parte técnica e agora é só estudar mais um pouquinho!

Rsrsrsrs

Diário do Dia: 14/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Escala Ré Maior – semínima = 70 (na vertical – corda por corda). (DIEGO

DESCREVER A ARCADA OU CONSEGUIR COLAR A IMAGEM). Tempo de

estudo deste método 1h.

Estudo do 3º mov. – definição de dedilhado semínima = 46 e 66. Tempo de estudo

deste método 1h.

“Improviso” na escala de Ré Maior em semínima, colcheia, terçina, semicolcheia.

Semínima = 70. Tempo de estudo deste método 10 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje comecei meus estudos do Dittersdorf c/ escala. Fiz a escala de Ré Maior ainda

por corda e verticalmente p/ melhor a afinação e agilidade na mudança de posição. Percebi

que melhorei bastante depois que comecei a estudar a escala dessa forma (em termos de

afinação e agilidade).

Depois fiz um pequeno improviso dentro da escala (tocava de forma aleatória) sem

pensar em frases nem métrica, apenas para ver/comprovar que as mudanças de posição, troca

de corda e saltos estavam “no lugar”! (reconhecimento auditivo e motor).

Depois comecei a estudar o 3º mov. do Dittersdorf, passando frase por frase no

contrabaixo e anotando os melhores dedilhados, com isso foi ficando cansativo e então larguei

o baixo e terminei de colocar os dedilhados da forma que a Val me falou na última aula!

Rsrsrs. Passei os primeiros trechos no baixo em semínima = 46, 56, 66.

Diário do Dia: 15/05/2013

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

127

Infelizmente não consegui estudar o Dittersdorf hoje. Como eu havia comentado tive

um dia muito cansativo na Quarta-Feira. Ensaiei c/ a Camerata (Unesp), tive ensaio do

quinteto (a truta) de música de câmera, tive aula de análise e ensaio p/ um cachê até as 18h.

Cheguei em casa muito cansada e dormi até o dia seguinte. Fiquei chateada porque só toquei e

não consegui estudar!

Diário do Dia: 16/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Estudo do 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 70, 80 e 84. Tempo de estudo deste

método 1h.

Estudo 2º mov. (Dittersdorf) semínima = 40. Tempo de estudo deste método 15 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Hoje o estudo foi bom. Procurei aumentar o tempo do 1º mov. (Dittersdorf). Ainda

tenho dificuldades nas partes novas do Dittersdorf e nas trocas de corda muito rápida.

No segundo movimento fiz bem lento para passar os saltos grandes (afinação) e já está

mais “natural”.

De uma forma geral, está melhorando bastante, os dias de estudo estão bem produtivos

mesmo que meio rápidos o que anda me deixando ansiosa é o 3º mov., pois ele p/ mim é o

mais difícil e também as cadências que ainda não tive tempo de estudá – las.

Diário do Dia: 17/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

3º mov. (Dittersdorf) Passagem por trechos semínima = 50. Tempo de estudo deste

método 30 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

128

Hoje foi estudar na Unesp (geralmente de sexta-feira não vou), pois tinha ensaio do

Per questa bella mano com o cantor e pianista então fui mais cedo p/ estudar. Chegando lá as

salas e os baixos estavam sendo usados e então eu tive que esperar. Quando consegui o baixo

e a sala só deu tempo de passar os primeiros trechos do 3º mov. do Dittersdorf. Pra mim é o

mais difícil, pois não é muito na mão (se quiser tirar um som mais claro e bonito) e é bem

rápido! Então passei bem lento (em semínima = 50) os primeiros trechos. Logo em seguida

tive o ensaio.

Diário do Dia: 18/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Passagem do 1º mov. (Dittersdorf) semínima = 88. Tempo de estudo deste método 10

min.

Passagem por trechos (3º mov.) semínima = 50. Tempo de estudo deste método 20

min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

O estudo hoje foi bem rápido também, pois tinha muita coisa para estudar (várias

músicas).

Então tive de ser rápido mas o que eu gosto mesmo é de fazer a escala, estudar os

arpejos e as partes mais difíceis da mão direita (arco). Mas infelizmente não foi possível.

Então fiz uma passagem do 1º mov. bem rapidinha (semínima = 88) para dar uma

animada e em seguida passei para o 3º mov. estudando bem lento os trechos (frase por frase).

Diário do Dia: 19/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Estudo por frases (3º mov. - Dittesdorf) semínima = 40 e 50. Tempo de estudo deste

método 30 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

129

Hoje estudei alguns trechos do 3º mov. do Dittersdorf. Como meu tempo ficou bem

reduzido hoje, então resolvi dar uma estudada apenas no 3º mov., pois é o movimento que eu

mais estou com dificuldades!

Passando cada frase individualmente e a acelerando antes mesmo de passar p/ a

próxima, é um estudo que tem rendido bastante. Costumo tentar chegar até bem próximo do

andamento real do andamento mas se eu fizesse isso não ia dar p/ passar tudo!

Formulário para avaliação das aulas individuais – Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright

Nome do aluno: Mayara Machado Obra executada:Concerto em Ré M de K. Dittersdorf

1º aula realizada no dia 9 de maio de 2013

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

Valerie: Domina a maior parte das técnicas. Necessitará ainda de um estudo acerca da

localização dos harmônicos (mão esquerda) e a velocidade e ponto de contato necessários

para evitar falhas (mão direita). Nas semi – colcheias, há um desencontro entre a mão

esquerda e a mão direita (alguns trechos). Trabalhar cruzamento de cordas.

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

Valerie: Como ainda está na fase de leitura, a aula não fez um planejamento

musical/expressivo. Entretanto, nas ideias inerentes na música (fraseado, dinâmica) são

executados naturalmente. Falta agora planejar os lugares não tão óbvios.

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

130

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar a própria execução: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

Valerie: Avalia bem sua execução, mas tem uma tendência a correr com o andamento que

passa despercebida. Fora isto, reconhece problemas de afinação, articulação e escolha

apropriada de digitação.

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

Valerie: Com esta obra ainda não houve debate acerta de outras interpretações mas é algo que

será estimulado.

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

Valeire: É normalmente capaz de incorporar as sugestões na hora em que são feitas (na aula).

As sugestões mais complexas (as que exigem repetição) serão incorporadas durante a semana

de estudo.

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

Valerie: Este tópico não foi abordado na aula mas podemos discutir isto na próxima.

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

131

Valerie: A aluna ainda necessita de estímulo para planejar a execução antes de pegar no

instrumento. A prática comum prevalece – pegar o contrabaixo e “sair tocando”.

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

Valerie: A aluna é sensível a estes aspectos, mas como foi dito na letra E acima, não os

planeja antes de iniciar a execução.

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: A aluna estuda bastante e é interessada, embora não tenho certeza se

faz um planejamento de estudo com prioridades e metas. Nem sempre traz tudo que foi

pedido na semana anterior.

Valerie: Sim, a aluna é bastante comprometida, basta continuar planejar e estudar

eficientemente.

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

Valerie: Sabe certamente mas não sei se a aluna procura esses recursos.

132

Formulário para avaliação das aulas individuais – Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright

Nome do aluno: Mayara Machado Obra executada:Concerto em Ré M de K. Dittersdorf

2º aula realizada no dia 16 de maio de 2013

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

Valerie: A aluna trabalhou bem a questão dos harmônicos e melhorou este aspecto. Ainda

tem dificuldades com o 1o trecho no desenvolvimento, principalmente com cruzamentos de

cordas. Recomendei o isolamento do problema, estilo Zimmerman.

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

Valerie: Agora sim, a aluna planejou uma estratégia musical antes de executar o 2o

movimento o que deu um bom resultado.

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar a própria execução: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

Valerie: Está melhorando este aspecto, os problemas de andamento melhoraram. Discutimos

a escolha de digitação feita previamente pela aluna.

133

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

Valerie: Ainda não chegamos a comentar isto na aula, mas aparentemente o aluno já ouviu

gravações pois comentou sobre velocidade excessiva de algumas interpretações.

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

Valeire: A aluna é capaz de incorporar a maioria das sugestões na aula e as mais complexas

resolve durante a semana

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

Valerie: Ainda é cedo para avaliar.

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

Valerie: Com a prática de usar o diário de estudo, percebo que agora há um planejamento de

eficiência.

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

Valerie: Sim, o planejamento destes aspectos é mais ponderado. A aluna trouxe dúvidas que

apontam para uma reflexão acerca destas técnicas.

134

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: O aluno trabalha bastante e se interessa por aquilo que faz. Ele

cumpre os prazos. Demonstra cuidado e atenção aos detalhes na execução nas aulas

individuais. (Aulas individuais)

Valerie: Sim, a aluna é bastante comprometida, basta continuar planejar e estudar

eficientemente.

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

Valerie: Acredito que sim, mas não tratamos disto ainda.

135

ANEXO E – Entrevista com o Participante Davi

Transcrição da Entrevista do Participante Davi Ciriaco

1- Formação Musical: Investigar a formação prévia do Contrabaixista, formação

musical formal e informal e informações acerca da vivência musical:

a) Gostaria que você me falasse sobre sua formação musical (formal ou informal)

antes de ingressar no curso de Bacharelado em Contrabaixo até os dias de hoje?

(Perguntar sobre outras atividades e práticas musicais).

Davi: Bom, a principio eu comecei tocando violão informalmente, assim com algumas

coisas teóricas, depois baixo elétrico ai eu acho que eu fiquei [quanto tempo estudando

mesmo] aproximadamente uns 3 ou 4 anos desse jeito.

Depois eu fui ter aula com o Paulo brucolli de contrabaixo acústico e ai ele passava

algumas coisas para mim estudar só que foi tipo no início mesmo, por isso mesmo que essa

coisa da extensão [técnica de contrabaixo] já veio dai, ai depois eu fui para a municipal um

ano depois para estudar com o Marco e ele começou lá com as teorias dele de passar as peças,

a primeira aula que ele deu para mim foi só explicação falando sobre o contrabaixo, como é o

instrumento, enfim ai depois foi quando eu comecei a entrar nessa área da música e nesse

mesmo tempo eu entrei em uma orquestra de cordas, minha primeira experiência de orquestra,

tipo eu acho que era um contrabaixo e eu fiquei lá eu acho que 1 ano mais ou menos, tipo

assim no começo eu tinha que pegar as partes e estudar todo dia porque experiência e tocar

em grupo era difícil para mim, leitura, coisa de tempo eu tinha que ficar muito atento, contar

pausa eu ainda não identificava olhar o trecho e onde eu podia tocar, eu tinha que contar

pausa por pausa, enfim.

E eu entrei na Orquestra Jovem de Guarulhos que também foi dificuldade para

acostumar, pois tinha muito instrumento, tinha muita dificuldade de me ouvir, também tinha

aqueles instrumentos que não ajudavam, aquelas cordas, mas lá foi uma boa escola, porque os

repertórios que eles faziam eram muito difíceis, eu fiquei lá pouco tempo quase um ano. E

agora eu tenho outra experiência tocando na “Estadualzinha” [Orquestra Jovem do Estado de

São Paulo], com o contrabaixista Sérgio de Oliveira dando masterclass para a gente. E durante

todo esse tempo de instrumento eu tive masterclass com a Ana Valéria, com o Sérgio de

136

Oliveira teve um dia que ele deu masterclass e eu fui lá tocar para ele, com o Pedro Gadelha,

com o Catalin Rotaru eu tive masterclass com ele também uma vez em Campos do Jordão,

deixa eu ver, com um aluno americano que veio para cá e ai eles davam algumas dicas sobre,

não sei dizer sobre arco, arco mais Ana Valéria e o Sérgio principalmente sobre a técnica

deles e dai eu ficava meio apreensivo quanto a isso por causa de comentários que.

Mas com o tempo eu comecei a ter restrição as pessoas falavam e eu percebi que eu

tava começando a ficar meio, eu senti que tava começando a ter uma lavagem cerebral, eu

tava muito preso na escola do meu professor da escola municipal e eu achava que era aquilo e

até mesmo porque eu me identificava (ou ele me fazia identificar), mas enfim, mas agora que

eu comecei a estudar na UNESP isso me ajudou, isso esta me ajudando meio que abrir a

mente e ter mais, como eu posso dizer, a ser mais livre sabe, pensar mais no que eu quero,

pegar uma coisa da outra, o que eu quero fazer e não ser protótipo de professor, tipo eu

consigo recolher informações e “a tudo bem aquilo não é tão ruim assim”, entendeu, aprendi a

peneirar as coisas e isso tem me ajudado também.

E em questão de estudo meu professor sempre fala para mim, Davi você precisa

administrar bem seu tempo de estudo, só que assim ele não falava como, falava que eu tinha

que fazer as coisas, como estudar e tinha que me trancar e pensar como eu tinha que estudar,

ai eu fico pesquisando isso, nas férias e eu tenho muita dificuldade de estudar nas férias que é

tanto tempo livre que acaba me deixando [risadas], é eu não aguento estudar nas férias, até

mesmo porque assim, porque as vezes um pouquinho de pressão faz bem para mim é e dai eu

estava e falava “vou estudar para que, as aulas começam daqui dois, três meses vou deixar

mais ou menos então”, por exemplo, teve umas férias que eu estudei teve um dia que eu

estudei um tempo de 7h o dia inteiro e no dia seguinte eu fiquei uma semana sem pegar no

contrabaixo e depois eu comecei a pegar bem pouco, porque eu não aguentava pegar e estudar

contrabaixo pois não tinha algo novo sabe e eu ainda tava pesquisando era muito cansativo o

estudo, ai nesse tempo que eu fiquei sem pegar o contrabaixo tentei descobrir uma maneira de

ficar mais a vontade, assim como eu estudo sem acabar com a minha mente e meu corpo, que

o estudo é cansativo, mas um estudo que realmente rende, ai desde eu comecei a pensar e ver

que para mim se eu estudar um tempo razoável assim por dia controlado, tipo eu não preciso

ficar lá mil horas estudando, não isso é, acho que sei lá, hoje eu penso assim, por exemplo, as

férias estão vindo ai, então eu planejando sei lá 2h30 por dia para...2h ou 2h30 por dia, só para

137

ver algumas coisas e a cada dia vou vendo um assunto diferente no contrabaixo para, assim

não sei como vai ser mas, ta umas 3h, hoje se eu tiver 3h para mim ta ótimo, se eu conseguir

estudar 3h por dia eu já sinto algo a desenvolver do estudo.

Diego: Quanto tempo faz que você toca?

Davi: Deixa eu ver, assim desde quando eu comecei contrabaixo acústico 5 anos

b) Quais são/foram os seus professores de contrabaixo?

Davi: Paulo Brucolli, Marco Brucolli e Valerie Ann Albright.

c) Como é a sua vivência musical dentro do seu cotidiano, do seu ambiente familiar e

do seu trabalho?

Davi: (risadas) 24horas meu, na minha casa também, porque as vezes eles ouvem

muita música, tipo ouvem bastante, fim de semana quando ta todo mundo tem mania de

deixar rádio alto, ai no meio da semana eu to nas aulas, tem ensaio, então não tem um dia que

eu não fique sem ouvir música é incrível, tem dias que eu tenho vontade de ir para o meio do

matagal e ficar lá porque é 24h e isso fica na minha cabeça o tempo todo, as vezes para

durmir tipo, as vezes quando eu tenho dificuldade de pegar no sono geralmente eu ponho

alguma música para ver se (rsrsrs), mas é sempre assim e ai conforme os estudos, conforme

minha vivência de estudar eu vou pensando “ah olha que interessante” então eu ouça talvez

até aquelas coisa mais, mais simplesinhas só para distrair a mente, porque eu não quero pensar

em acorde eu não quero pensar em nada, porque mesmo se a música tenha três acordes lá

quero. Minha família me influencia, minha mãe tocava violão, mas meu pai não, geralmente a

família da minha mãe eles já estudaram um pouco de música e minha mãe sempre me

incentivou, teve uma época que ela falava assim, por exemplo aquela época que eu ficava com

preguiça de estudar contrabaixo, “nossa você não ta estudando, vai estudar então” ela sentia

falta disso e em questão de qualquer coisa sabe, esses dias eu andei precisando estudar de

noite em casa, assim sabe, se eu precisar acordar cedo, que minha casa é meio pequena, tipo

se eu for tocar contrabaixo lá o pessoal da rua ouve, mas enquanto a isso ninguém reclama,

todas as vezes que estudei ninguém falou “Davi toca menos ai” ou fazer o contrario como

aumentar o radio enquanto eu tava estudando.

138

d) Você poderia me falar quais são os ambiente que você realiza a prática individual

e dar uma estimativa de quantas horas você estuda contrabaixo individualmente

por dia?

Davi: Em casa onde tem um ambiente um pouco mais seco, não consigo estudar bem

em casa e meu estudo costuma render mais quando estou fora de casa do que dentro de casa,

as vezes quando eu estou sozinho em casa também, tudo mundo saiu e foi para o shopping, ai

eu to estudando e é uma maravilha, porque movimentos ou qualquer coisinha assim já me

distrai, além de casa eu já estudei na escola municipal onde tinha salas para estudar, mas era

mais um ambiente de tocar, que tinha pessoas tocando do lado, pessoas tocando no outro, tipo

você foca um pouco mais no estudo, e aqui também, eu lembro que quando eu estudava no

guri tinha um lugarzinho que eles colocavam meio que uma parede ou uma lona e eu ficava

estudando lá a manhã inteira e lá foi muito importante para mim no começo, que no começo

eu estudava tipo todo dia de segunda a sexta quatro horas por dia, 4h sabe sem parar, as vezes

parava para tomar uma água assim para ver o ambiente, até mesmo porque tinha colegas então

quando eu cansava eu ia conversar com alguém ia ver o sol e depois voltava de novo, tipo

esse ritmo foi o que me ajudou muito o ambiente era muito legal. Eu consigo estudar melhor

onde tem música assim onde tem pessoas estudando música alias tipo eu to numa sala na

faculdade ou na escola eu consigo estudar tranquilamente, em casa é mais difícil mesmo que

esteja silêncio.

Diego: Estimativa de tempo de estudo?

Davi: 2 horas.

2- Informações sobre a Prática Deliberada: Quais são os métodos utilizados na prática

individual, o tempo gasto, como foi elaborado, porque de sua utilização e como esses

métodos interferem na aprendizagem do instrumento.

a) Quais são seus métodos de estudo que você utiliza na prática individual de uma obra?

E qual o tempo estimado gasto em cada um deles?

Davi: Quando eu vou ler uma peça eu geralmente não leio com o metrônomo, eu leio

devagar, porque assim as vezes tem trecho que é difícil e eu vou meio que aumentando, faço

meio que um ralentando muitos rubatos assim e ai depois que as notas estão lidas, eu vou

procurando entender o ritmo e quando ela ta quase pronta eu procuro estudar com o

139

metrônomo, para ser sincero viu, quando as notas estão lidas tudo eu procuro estudar com o

metrônomo só para estimular o tempo, estimular a velocidade que eu quero tocar, mas o

metrônomo ele precisa...

As vezes trechos, tipo, quando eu estou estudando uma peça tem um trecho muito

difícil que não sai de jeito nenhum, eu não tenho muita paciência, quando eu toco o trecho e

não ta saindo eu deixo aquele trecho e vou estudar e tocar outra coisa, toco outra peça, toco o

trecho de outra peça que eu gosto, as vezes para distrair a cabeça ou uma peça que

didaticamente ela possa fazer bem para outra, ah tipo tem uma outra peça que tem um trecho

parecido que eu já estudei antes, ai pego essa outra peça volto a tocar, ai depois de um tempo

eu toco a outra, geralmente quando o trecho é muito difícil eu estudo assim. Questão de

afinação, dependendo do salto eu repito algum salto, mas geralmente quando acontece isso eu

procuro pensar na hora, como se eu estivesse tocando na hora, tipo preciso acertar esse salto

sem, em milésimos de segundo eu preciso saber onde esta a nota, então eu vou estudar como

se tivesse e eu procuro resolver o problema, acertar, sempre acertar, mas paciência é difícil.

Música é ruim, pensar em música quando eu to estudando em casa tipo as vezes a peça ta

legal, já li as notas tudo e a música? E as dinâmicas? Ah meu professor vê comigo. E ai o

professor dá algumas dicas e eu vou trabalhando em casa, mas assim eu consigo fazer, me

ajuda a música quando eu toco com piano, com piano eu me preocupo muito mais com a

música, com o piano eu estou ouvindo os acordes, eu sei a importância da passagem melódica

junto com o piano, isso realmente é diferente quando eu to tocando sozinho. Articulação ouvir

do 18 ao 2 min.

Diego: Tempo gasto em cada método?

Davi: Principalmente articulação uns 30 min. ou um pouco mais, afinação mais ou

menos viu, as vezes eu toco, quando eu to tocando trecho difícil e o trecho sai afinado 15 min.

Por exemplo eu to lendo uma peça que o professor e ai por exemplo eu divido ela por partes e

tal dia eu leio, por exemplo, tal página e quando eu comecei a ler o Vanhal ano passado nas

férias eu fazia assim, ou eu procurava ler um movimento por semanas, talvez uma página por

semana e isso primeira pagina eu ficava lá estudando uma semana, uma semana as vezes dava

uma lida na outra pagina só para saber e na outra semana, eu faço isso geralmente eu leio por

página ou em trechos assim, geralmente por página e eu vou arrumando e geralmente quando

você tem um trecho mais difícil pela frente eu vou estudando o trecho anterior primeiro,

140

depois eu pego o que eu não li que é mais difícil e que eu não li ainda para ler e eu procuro ler

deixar o outro pronto e a metade mais difícil eu vou fazendo meio que separado nisso mais ou

menos 1h para ler uma coisa nova, acho que uma pagina, porque eu leio e vou meio que

resolvendo algumas coisas de afinação de ritmo.

b) Poderia me dizer como você pensou e elaborou esses métodos de estudo? Quais

princípios e fundamentos você utilizou?

Davi: Isso levou um tempo, eu tenho uma coisa pessoal que eu gosto de tudo fácil,

então tipo se eu tenho alguma coisa difícil eu penso a o quê que eu faço para isso daqui ficar

mais fácil, sabe de deixar pronto mais rápido, de pensar, eu não gosto de ficar muito tempo

num trecho as vezes eu fico maluco assim, nos estudos eu penso, por exemplo, quando eu

pego outra peça que eu gosto eu vou estudar aquilo, porque aquilo vai me ajudar a tocar

aquilo mais para a frente, então as vezes não precisa nem ser peça inteira só trecho, as vezes

eu vou improvisando não sei, até mesmo assim eu penso em relação ao instrumento, como ter

mais fluência no instrumento, tocar um instrumento ter mais liberdade para tocar as coisas,

então isso eu vou pesquisando experimentando o jeito mais legal de estudar, tipo esse jeito é

legal de estudar porque me ajuda a relaxar, tipo pensar em coisas que não me deixam

estressados, mas que me deixe confortável.

c) Alguém ensinou alguns desses métodos para você? Caso sim, poderia me indicar

quem?

Davi: Não, não, eu sempre, isso é de mim mesmo, tipo pensar como eu posso pegar

um trecho e estudar, é claro que as pessoas sempre falam que tem que estudar devagar,

estudar com o metrônomo e ir aumentando o andamento, mas como eu não tenho mania de

ficar insistindo muito até mesmo para não ficar cansativo, tipo as vezes eu pego trecho difícil

vou aumentando a velocidade, as vezes sem metrônomo eu faço e vou aumentando aos pouco

e se tiver ficando difíceis depois eu paro e vou fazendo outras coisas, mas isso foi uma coisa

que eu achei que me fazia bem, para não me deixar estressado. Eu fui pegando, fui colhendo

as coisas assim, mas esse método de pensar em algo que me deixa relaxado isso foi de mim

mesmo, dos que eu colhi, alguns foram dos professores, dos amigos que tocam comigo na

orquestra, porque assim eu gosto de tocar para as pessoas darem opiniões e ai através disso eu

vou pensando como trabalhar, professores, masterclass.

141

d) Porque você utiliza esses métodos que você mencionou? Qual a finalidade?

Davi: Para não me estressar com o instrumento e não ficar deprimido, se eu tiver um

estudo muito pesado ou muito sistemático isso não me ajuda, tanto é que quando eu to

estudando alguma coisa difícil, por um momento me da uma revolta assim e eu vou

improvisando, deixa eu ver como eu falo isso, eu to tocando uma obra e de repente eu vou

tocando qualquer coisa, toco um arpejinho só para, mas é mais para respirar.

e) Qual a relevância desses métodos na aprendizagem do instrumento?

Davi: Muito importante isso me estimula a ter mais contato com o instrumento de uma

forma, como eu falei anteriormente, sabe eu procuro estudar de uma forma que eu não

dependa do instrumento, mas que assim eu pegue no instrumento e toque, então tipo é por isso

que meus estudos assim sempre pensa numa forma de brincadeira, e sim teve relevância,

porque como eu pego e vou fazendo aos poucos tem coisas que eu estudo e falo vou para um

pouco mais para frente eu pego de novo, então isso dai eu vou calculando as vezes para

quando eu preciso fazer isso, então até eu vou fazendo isso, isso, isso, para ir pegando um

pouquinho de cada para ir me ajudando, então eu vou dividindo por partes e vou pensando em

um resultado, sabe em um resultado final e vou dividindo as tarefas.

142

ANEXO F – Diários das sessões de prática individual e Avaliação das aulas individuais

do Davi

Transcrição dos Diários do Participante Davi Ciriaco

Diário do Dia: 04/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

1º Movimento: Do começo ao fim, repetindo os trechos difíceis com metrônomo no

tempo (60 = semínima). Tempo de estudo deste método 4:00 min.

Separei os trechos em particular com problemas de afinação, mudança de posição,

articulação clara das notas com metrônomo a 60 = semínima. Tempo de estudo deste

método 15:00 min.

2º Movimento: o mesmo procedimento anteriormente realizado, porém sempre no

tempo (60 = semínima), dando ênfase aquela parte intermediária das ligaduras longas

e dos harmônicos do final da peça. Tempo de estudo deste método 15:00 min.

1º e 2º Movimento: sem interrupção com a intenção de ver as qualidades adquiridas

pelo método de estudo (ensaio geral). Tempo estimado de estudo deste método 10:00

min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Nossa! Hoje foi tenso, No início do estudo dei bastante concentração da parte técnica

– como: notas longas, arco, som – afim de usar isto como preparo “físico e técnico” (kk) do

concertoo Koussevitzky. Durante o período de trabalho procurei simular a adrenalina, pressão

psicológica (até mesmo dos ensaios com a orquestra), como será a acústica do lugar e

procurando extrair do instrumento sua potência sonora ao máximo preservando a qualidade e

a fluidez da peça.

Minha maior vontade é executar a peça totalmente de memória, porque eu acredito que

isso vai me trazer mais segurança e comodidade e vou me sentir mais à vontade para realizar

minha interpretação sobre o que estou tocando, mas estou com muito medo ! Enfim, seja o

que Deus quiser (KKK). Em sumo, estou arrebentado, não aguento mais tocar vamos ver o

que vai acontecer durante o decorrer desses dias consecutivos.

143

Diário do dia: 05/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky começando pelo 3º mov. e separando-o por trechos de traz para frente

até chegar no 1º mov., para equilibrar o trabalho dos 3 movimentos em igual

proporção. Tempo de estudo deste método 45:00 min.

Koussevitzky da capo ao fine, afim de diagnosticar as qualidades e dificuldades a

serem trabalhadas com mais foco e precisão. Tempo de estudo deste método 15:00

min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

Começei os estudos preocupado com o 3º mov., por não poder tido condições de

estuda-lo no dia anterior.

Tive a ideia de começar de “traz para frente” com a intenção de fazer como ocorre em

alguns ensaios orquestrais onde o maestro, perto da apresentação, separa trechos estratégicos,

para serem melhor fixados. Logo depois fiz um “ensaio geral” do começo ao fim sem pensar

numa música feita por blocos, mas interligada musicalmente pensando na peça e na harmonia

como um todo (pelo ponto de vista imaginário). E analizando as tarefas e metodologias

aplicadas hoje concluo que, existe trechos que precisarão ser trabalhados insistentemente, sem

trégua e enquanto isto não for resolvido deixarei a parte interpretativa a ser trabalhada

mentalmente sem contato com o instrumento para reflexão das ideias.

144

Diário do Dia: 06/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 3º mov. A definição de dedilhados, com aumento da velocidade gradual

(a partir de 60 bpm a semínima), decidi experimentar um dedilhado “mais comum”,

com a intenção de se preservar a clareza das notas chegando a (100 bpm). Tempo de

Estudo deste Método 30:00 min.

Trecho das semicolcheias ligadas (3º mov.): experimentei fazer uma variação de arco

como exercício técnico do trecho. Tempo de Estudo deste método 10:00

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

No meu ponto de vista este 3º movimento da obra é o mais difícil a ser trabalhado,

porque há saltos rápidos e sua parte final é muito intensa no ponto de vista dinâmico e

técnico, sendo que, para executá-lo com o máximo de energia e concentração é necessário

dosar equilibradamente cada movimento para que a peça inteira tenha do início ao fim

consistência técnica e interpretativa.

Diário do Dia: 07/05/2013

O PARTICIPANTE RELATOU ATRAVÉS DO DIÁRIO FOI ASSITIR AO

CONCERTO DO VIOLONCELISTA YO-YO MA.

145

Diário do Dia: 08/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 3º mov. lento (semínima = 60) apenas a parte das semicolcheias ligadas,

verificando notas, precisão e afinação com “novo” dedilhado aumentando a velocidade

gradualmente. Tempo de Estudo deste Método 45:00 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

A única coisa que tenho para relatar hoje é que precisei ter muita paciência para

estudar pois já é tarde da noite e estou um pouco cansado, mas procurei me concentrar ao

máximo para aproveitar o dia de estudo, pois o resultado vem posteriormente (infelizmente),

mas valeu a pena estou bem porque estou trabalhando a peça como deve ser e já estou

pensando e “outro” método de estudo da peça.

Diário do Dia: 09/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 1º, 2º e 3º mov. in tempo mas parando ocasionalmente nas partes onde

ainda eram problemas apenas para ficar como tem que ser. Tempo de estudo deste

Método 50:00 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

Por conta das trocas de cordas, de orquestra para cordas solo, então a finalidade foi me

adaptar com a sonoridade, afinação e pesquisa de projeção em relação ao ponto de contato

“peso” do arco etc, ou seja, o intuito do trabalho foi experimental.

146

Diário do Dia: 10/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 1º, 2º e 3º mov. lento conferindo afinação de cada frase e medindo a

métrica da quantidade de arco a ser usado em cada trecho. Tempo de estudo deste

método 1:00 hora.

Koussevitzky inteiro no tempo trabalhando dinâmicas e ritenutos com a análise do

acompanhamento. Tempo de estudo deste método 1:00 hora

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

Foi um trabalho realmente pesado e que exigiu muita paciência e concentração, pois é

muito importante fazer isto para calcular quantidade de arco, distância intervalar, ponto de

contato e fixação de dedilhado na memória. Então após um período de descanso fiz a peça do

começo ao fim dos três movimentos para analizar a peça do ponto de vista interpretativo,

procurando entender e observar a linha melódica, intenção do fraseado e valorização das

dinâmicas e do ritmo.

Diário do Dia: 11/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky apenas trabalhando os trechos mais difíceis tecnicamente começando

com andamento lento com concentração e estudando-os em ordem aleatória. Tempo

de estudo deste método 40:00 minutos.

Ensaio com a orquestra: 1º e 2º movimentos. Tempo de estudo deste método 1:00

hora.

147

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra

Hoje pensei numa forma de trabalho bem leve para não gastar toda energia no

momento do ensaio, apenas observando se as notas estão no lugar, afinação, condição técnica

etc., e procurando tocar da maneira mais à vontade (ou natural), possível.

Diário do Dia: 12/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky ao acompanhamento do play-back, com muita atenção ao ritmo e

afinação, ouvindo as outras vozes do acompanhamento como referência e diálogo.

Tempo de estudo deste método 1:30 hora.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Mesmo o play-back sendo muito preciso ritmicamente e “quadrado” do ponto de vista

musical, procurei exercitar todos pontos trabalhados anteriormente como se estivesse num

ensaio ao vivo. O mais interessante é que, além de conhecer melhor a melodia do contrabaixo

solo no contexto harmônico, agora estou estudando e conhecendo cada vez melhor a parte do

acompanhamento e pensando como um contra-conta que ajuda a melodia principal a se

localizar de forma coerente dentro do concerto em si, como uma peça teatral.

Diário do Dia: 13/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 1º e 3º mov. Com metrônomo insistindo nas mesmas passagens

“arriscadas” e experimentando outros tipos de arcadas e tocando lento para conferir

articulação da mão esquerda e afinação. Tempo de estudo deste método 30:00 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

148

Os mesmos trechos “perigosos” do 1º movimento ainda precisam ser trabalhados,

porém é necessário fazê-lo com muita paciência e concentração, pois o problema está e um

pequeno vacilo das mãos, como por ex.: dedo escapando da corda, arco esbarrando em outras

cordas, etc., para resolver esses tipos de problemas precisarei de mais atenção e fazer os

trechos muito devagar.

Diário do Dia: 14/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 2º mov. metrônomo à 55 bpm dando atenção e concentração à clareza

dos trechos e direção de frase. Tempo de Estudo deste método 30:00 minutos.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

No segundo movimento, minha maior preocupação é com a duração das notas,

ligaduras e procurar conhecer bem suas partes básicas como: tempo, afinação, arpejos ligados

e harmônicos, para saber o que sua melodia com as dinâmicas querem expressar tanto para o

público quanto para o músico, ou seja quero que a música fale por si mesma.

Diário do Dia: 15/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky trechos aleatórios do 1º e 3º mov. devagar, sem metrônomo visualizando

as mudanças de posição lentamente, com andamento lento e in tempo. Tempo de

estudo deste método 30:00 método.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

149

A intenção é analizar os métodos de estudo destes trechos, para ver o resultado desde o

início do trabalho (dias anteriores) e refletir se criar um outro método de estudo pode

melhorar o processo.

Diário do Dia: 16/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 1º movimento apenas o final da primeira parte e a 2º, repetindo várias

vezes, com calma e sempre descansando após um determinado tempo de repetição.

Tempo de estudo deste método. Tempo de estudo deste método 20:00 minutos.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Nesses últimos dias estou trabalhando apenas pequenos trechos difíceis tecnicamente

para adquirir melhor precisão, clareza e segurança quando estiver realmente tocando em aula,

recital, etc., por isso estudo lento, repetição consecutiva até o corpo cansar, e depois faço uma

pausa e reinício o trecho, mas com paciência, se eu perceber que não está saindo bem hoje,

então paro e continuo no dia seguinte.

Diário do Dia: 17/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Koussevitzky 1º, 2º e 3º mov.: Primeiro olhei os trechos separados e aleatórios, em

seguida fiz cada movimento inteiro. Tempo de estudo deste método 40:00 minutos.

150

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Olhei cada trecho do concerto e focalizei na sonoridade, afinação, arcadas e

desenvoltura física, procurando ter todas as qualidades técnicas e interpretativas da maneira

mais natural e confortável.

Porém hoje percebi que mesmo fazendo esta rotina diária de trabalho da peça, ainda

existe trechos complicados e que talvez seja necessário trabalha-los mais lento (“soletrando”

nota po nota com as mãos no instrumento). Agora em contrapartida me sinto mais seguro,

conheço melhor a peça, suas indicações escritas, o efeito do contraponto da harmonia, rítmica

e desenho melódico, e o mais importante: o que o compositor quis passar para o público? O

que ele sugere para a interpretação do executante? A resposta, talvez na minha opinião, seria

juntar o “quebra-cabeças” e fazer uma “nova” música. (do ponto de vista individual,

explorando cada detalhe escrito na peça).

Formulário para avaliação das aulas individuais – Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright

Nome do aluno: Davi Ciriaco Obra executada:Concerto em Fa# menor, S. Koussevitsky

1º aula realizada no dia 10 de maio de 2013

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

Valerie: O aluno domina uma boa parte das técnicas, falta melhorar os seguintes aspectos:

Afinação: trechos isolados;

1o movimento - 2a Alla breve e cordas duplas (acorde sol menor)

3o movimento - 2

a página (Alla breve)

Vibrato: final das notas longas que antecipam saltos

151

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

Valerie: Expressa uma idéia e sentimento, mas intuitivamente, não foram planejados (ou

foram planejados muito superficialmente). O aluno precisa aprender a parte do

piano/orquestra para saber planejar aspectos como dinâmica e fraseado de acordo.

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar a própria execução: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

Valerie: O aluno consegue avaliar sim, sabe quando não gosta de alguma coisa. Mas ainda

não sabe como expressar o que não gosta especificamente, fora problemas de afinação, que

detecta e corrige rapidamente (tem um excelente ouvido). Em termos de ritmo, tende a

transformar mínimas em semínimas no 2o movimento, mas a familiaridade com o

acompanhamento vai resolver isto.

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

Valerie: Não chegamos a comentar isto na aula, mas aparentemente o aluno já ouviu

gravações e outros colegas, pois faz uma interpretação “padrão”.

152

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

Valerie: O aluno assimila as sugestões muito rapidamente, mas eu não sei se ele reflete sobre

as sugestões e faz porque gosta das idéias ou se obedece por causa do respeito da relação

professor-aluno. Isto será revelado com tempo.

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

Valerie: Ainda é cedo para avaliar.

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

Valerie: Como foi dito acima, intuitivamente, mas não é certeza que planeja o “roteiro

musical”. Definitivamente, a participação do acompanhamento no roteiro não faz parte do

planejamento ainda.

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

153

Valerie: Sim, mas a análise destes aspectos poderia ser mais detalhada e mais pessoal. Me

parece que o aluno ainda não percebeu que seu próprio gosto musical pode ser imposto na

execução da obra.

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: O aluno trabalha bastante e se interessa por aquilo que faz. Ele

cumpre os prazos. Demonstra cuidado e atenção aos detalhes na execução nas aulas

individuais. (Aulas individuais)

Valerie: Sim, o aluno é bastante comprometido, basta aprender a estudar eficientemente. Me

parece que ele não isola os problemas de forma organizada.

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

Valerie: Acredito que sim, mas não tratamos disto ainda

Formulário para avaliação das aulas individuais – Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright

Nome do aluno: Davi Ciriaco Obra executada:Concerto em Fa# menor, S. Koussevitsky

2º aula realizada no dia 17 de maio de 2013

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

154

Valerie: O aluno melhorou os aspectos técnicos como afinação nos trechos mencionados

anteriormente. Trabalhamos sonoridade visando projeção com ênfase às notas longas perto do

cavalete.

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

Valerie: O aluno preparou melhor esta parte e foi capaz de mostrar um planejamento.

Conversamos a respeito da diferença entre tocar com orquestra e com piano.

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar a própria execução: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

Valerie: O aluno se mostrou mais sistemático na sua auto-avaliação e sanou quase todos os

problemas ritmicos.

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

Valerie: Ainda não tivemos tempo para comentar isto na aula.

155

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

Valerie: Como dito anteriormente, o aluno assimila as sugestões muito rapidamente. Os

comentários desta aula foram a respeito da apresentação futura, sobre preparação mental e

físico, e assim saberemos mais para a frente se ele os assimilou.

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

Valerie: Ainda é cedo para avaliar.

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

Valerie: Como foi dito anteriormente, intuitivamente. Falta a segurança que só o tempo vai

providenciar, mas certamente o exercício de planejamento para este projeto vai ajudar.

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

Valerie: Esta reposta permanece: sim, mas a análise destes aspectos poderia ser mais

detalhada e mais pessoal. Me parece que o aluno ainda não percebeu que seu próprio gosto

musical pode ser imposto na execução da obra.

156

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: O aluno trabalha bastante e se interessa por aquilo que faz. Ele

cumpre os prazos. Demonstra cuidado e atenção aos detalhes na execução nas aulas

individuais. (Aulas individuais)

Valerie: Sim, o aluno é bastante comprometido, basta aprender a estudar eficientemente. Este

aspecto melhorou desde a semana passada com o planejamento no papel.

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

Valerie: Acredito que sim, mas não tratamos disto ainda, não tivemos tempo.

157

ANEXO G – Entrevista com a participante Camila

1- Formação Musical: Investigar a formação prévia do Contrabaixista, formação

musical formal e informal e informações acerca da vivência musical:

a) Gostaria que você me falasse sobre sua formação musical (formal ou informal) antes

de ingressar no curso de Bacharelado em Contrabaixo até os dias de hoje? (Perguntar

sobre outras atividades e práticas musicais).

Camila: Minha formação informal se deu em casa, meu pai toca violão sempre tocou desde

antes de eu nascer, então eu acho que o primeiro contato de formação musical, tanto que eu e

minha irmã tivemos foi aprender a cantar com meu pai e com a minha mãe, meu pai tocando,

minha mãe cantando, tinha um pandeiro de criança que eu tocava, então dai eu brincava com

isso, cantava música do Caetano, achava super da hora.

Dai depois de uma idade, dai a primeira coisa que eu fui querer aprender a tocar foi o

violão, em função disso provavelmente, eu queria tocar Rock n’ Roll, queria tocar guitarra

essas coisas. Fui tocar violão, não levava muito a sério, aprendi a tocar lendo acordes, assim

meio letras.com, mas eu aprendi com meu pai, foi ele que me ensinou, ele tirava as músicas

para mim me ensinava eu aprendia e bla bla bla. Tinha uma facilidade rítmica, eu percebia

com o negócio da mão direita, que eu sempre conversei muito com ele, que galera

normalmente quando vai aprender violão desse jeito bobinho daqueles diagramas de tum tum

ti ti de batida nunca usei isso, achava ridículo e não conseguia entender para que aquilo

servia.

Mas eu não levei aquilo super a sério, depois eu fui ter aula de teclado, porque eu

queria tocar piano, como várias coisas da minha vida eu fui fazer uma coisa parecida, porque

a coisa parecida era menos cara, mais acessível. Mas foi ótimo porque eu acabei indo ter aula

com a Aide que era a esposa do professor de flauta da minha irmã o Bruno Brumer e eles dois

tinham uma escola dentro da casa deles. Então o Bruno dava aula de flauta e de sax, da ainda

os dois tão vivos e ativos, e a Aide dava aula de teclado e flauta doce, então eu tinha um

pouco de flauta doce também . E tinha teclado e eu fazia método de piano, sei lá, os

Mascarenhas essas coisas no teclado e fazia os métodos de teclado também. E eu acho que

essa convivência com eles foi essencial, isso eu tenho clareza, eu e minha irmã tivemos uma

conversa recentemente sobre isso e nós temos uma clareza sobre isso porque eles tinham

158

grupos de alunos que eles formavam com alunos mais iniciantes, alunos mais avançados,

adultos tudo misturado e isso deu não só uma noção de prática de conjunto muito cedo que foi

muito importante, de tocar com os outros de aprender a ouvir aprender a encaixar sua parte

dentro da dos outros, tal. Como deu uma noção meio do que era você viver de música de uma

maneira diferente e alternativa, porque o Brumer tinha sido músico de orquestra e ele saiu

fora por opção dele, ele tinha essa postura e defendia essa postura de não querer tá la, eles

tinham e tem uma vida de perrengue assim, são super abastados muito pelo contrário, mas

forma uma galera super bem tem uns conceitos muito bons assim de música e de sociedade

para passar, que a gente não tinha nem noção que a gente tava aprendendo as coisas que a

gente tava e acho que isso foi muito importante para a gente, quando a gente saiu de lá e

minha irmã foi ter aula com outra pessoa e eu fui tocar contrabaixo, a gente teve dentro da

nossa cabeça em algum lugar que aquilo não era o único jeito de fazer a coisa, que tinha

pessoas pensando diferente quando aquilo foi voltar anos depois e hoje em dia eu tenho esse

respaldo psicológico, mas enfim.

Dai eu tive aula de [...], então deixa eu ver, eu toquei violão com 11 anos, fui ter aula

de teclado com uns 12 e tive aulas de teclado até os 14 mais ou menos, com 15 anos eu fui

tocar contrabaixo, eu queria tocar contrabaixo elétrico porque eu queria tocar metal e coisas

do tipo, acabei indo tocar erudito porque minha irmã tocava em orquestra e eu fui ver uns

concertos dela e vi um brother meu que tocava e era rockeiro tocando contrabaixo, e eu falei

“pô mó legal ele toca isso ai, deve ser legal também” já tinha ouvido uma coisa ou outra,

ouvia Jazz com o meu pai mas nem sabia o que eu tava ouvindo, achei que podia ser legal e

fui lá, vamo lá, vamos tocar isso dai e acabei gostando e acabei tocando, não toco baixo

elétrico direito até hoje, não toco Jazz direito até hoje, mas toco contrabaixo e desde então foi

isso.

Dai eu fui ter aula na escola da orquestra de Rio Claro, da Orquestra Sinfônica de Rio

Claro que tinha o projeto coletivo e tinha aulas particulares, eu fui ter aula particular direto

porque o projeto era bem faio e tanto minha irmã quanto meus pais, acharam que era uma boa

que eu fosse ter aula particular, fui ter aula particular tive aula lá por três anos, no meu

segundo ano de contrabaixo eu acho que já, acho que no final do primeiro não me lembro, eu

comecei a tocar na Orquestra Sinfônica de Rio Claro onde eu tive uma puta sorte, porque o

meu professor na época tocava lá, então eu aprendi a tocar em naipe e tive umas noções muito

159

loucas, noções muito boas do que trabalhar num naipe e tocar em orquestra de base, eu tive

um trabalho consideravelmente bom de base assim, embora os grupos que eu tocasse, esse

grupo que eu tocava não fosse bom as noções que eu tive a respeito disso foram muito boas.

Dai eu sai de lá e eu fui fazer graduação, eu entrei na ULM atual EMESP em 2007

junto com isso eu entrei na UNESP onde eu fiquei por uns 6 meses e sai fora, porque eu surtei

que queria tocar em orquestra e que não tinha tempo para fazer nada na minha vida e que

aquilo não valia nada e sai fora, fui embora, fiquei tendo aula só na EMESP, depois [...], sai

da EMESP voltei, depois fui ter aula particular voltei para a EMESP e voltei para a UNESP

em 2010 e to aqui no meu 4º ano de graduação.

Desde então eu já toquei em diversas orquestras jovens, fiz ópera, fiz trampo de

música de câmara, tentei começar a tocar Jazz, tive várias crises e é isso ai.

b) Quais são/foram os seus professores de contrabaixo?

Camila: Fernando Freitas que atualmente é spalla de Santo André e faz cachê na

OSESP e tudo mais, Sérgio de Oliveira 2007 a 2008 e desde 2009 o Claudio Torezan é o meu

professor principal de contrabaixo e de 2010 para cá também faço graduação com a Prof.ª

Valerie Ann Albright. Foram esses basicamente fora professores de festival.

c) Como é a sua vivência musical dentro do seu cotidiano, do seu ambiente familiar e do

seu trabalho?

Camila: Eu tenho uma convivência musical constante de berço assim, no sentido de

que meus pais não são músicos, mas oficialmente, mas meu pai é porque ele toca e toca para

caralho (e eu falei que não ia falar palavrão desculpa) e não sei eu sempre ouvi música e fui

criada ouvindo música e acho que isso é uma coisa muito interessante, que algumas pessoas

que eu conheço, as vezes as pessoas gostam de falar de estucar música boa ou não, mas eu

acho que não é essa a questão, que tem várias pessoas que eu conheço que tem uma

convivência familiar de não ouvir música, elas falam que os país dela não tem o costume de

parar para ouvir música, eles param para ver TV ou eles não param para ver TV, eles param

para fazer outra coisa ver futebol, tem uma convivência lá X que é o momento que eles

sentam em família para fazer. A Jéssica, por exemplo, que é aluno do Claudio tem isso, a

família dela ela falou uma vez para mim que não ouvem música e isso é inconcebível na

160

minha convivência como ser humano no mundo, porque eu sempre ouvi música, a minha mãe

ouve música enquanto ela ta trabalhando, põe uma música e ouve por oito horas seguidas,

assim coisa bizarra que eu tenho costume de fazer também. Então eu chegava em casa da

escola e minha mãe estava ouvindo Tom Jobim ou Ênio Moricone ou Gil ou Bethânia o

caralho a quatro, assim cantando e o meu pai sempre tocando, tocando choro, tocando bossa,

todas essas coisas muito boas da música brasileira foram coisas que eu tinha na minha casa

sempre, meu pai ouvia eu pus isso numa música minha inclusive, meu pai assistia os

Heineken Concert’s Live ficava ouvindo, ele dormia ouvindo, gravava e ficava vendo e eu

ficava junto, ouvia uns pedaços e durmia, via ele vendo aquilo não entendia direito, mas

mesmo sem você entender a linguagem você vai absorvendo ela, então você tem um tipo de

relacionamento afetivo diferente.

Eu tenho uma coisa meio constante, assim de ta sempre ouvindo música, procurando

música nova, ouvindo banda nova, ouvindo coisas diferentes para contrapor, então eu to

trabalhando, as vezes eu to indo para o ensaio em uma época que to muito cansada, muito

brava com meu ambiente de trabalho, em crise, eu vou ouvindo um disco do David Roland

que eu adoro muito e aquilo me faz ter força de fazer aquilo, muitas vezes eu to...to cansada e

quero ouvir sei lá, eu quero ouvir um pop de três acordes e ficar feliz, então eu tenho uma

relação muito de apoio emocional, assim eu percebo o quanto to cansada quando eu paro de

ouvir música, hoje eu percebi que eu já estava vários dias sem parar para ouvir música, tipo

não parar só parar e ouvir música uma coisa que geralmente eu tenho pouco tempo, mas

deixar a música rolando quando eu faço qualquer outra coisa que é uma coisa que eu faço

sempre.

Basicamente isso, minha irmã toca sempre e ta sempre comigo, a gente tem uma

convivência de amizade que incluí tocar junto que é muito louco e que é muito divertido. Eu

tenho amigos dentro predominantemente do meio musical, então as pessoas que eu conheci na

maior parte da minha vida fazem música e é muito bom você sair desse ciclo e conhecer

outras pessoas, ter outros diálogos e hoje eu sinto muito feliz de ter esses círculos outros para

conviver, porque eu me enlouqueço com isso, eu tive relacionamentos dentro desse circulo e

tudo dentro desse circulo e isso é meio ruim, mas ao mesmo tempo é interessante por tocar e

estar sempre indo para festival e coisas do tipo assim.

161

d) Você poderia me falar quais são os ambiente que você realiza a prática individual e dar

uma estimativa de quantas horas você estuda contrabaixo individualmente por dia?

Camila: Normalmente nos últimos quatro anos eu tenho estudado predominantemente

na UNESP, eu deixo meu baixo lá por razões físicas, tipo para não ter que ficar carregando

meu baixo, para ele estar sempre perto de mim, como minha agenda é sempre meio maluca eu

tenho aula em horários diferentes em quantidades diferentes na faculdades, eu tenho ensaio,

meu baixo fica em um lugar só e fica perto de onde eu to.

Normalmente eu tenho umas três horas por dia para estudar, não muito, dependendo do

dia eu vou ter mais, mas vamos colocar uma média de três porque uns dois dias por semana eu

posso ter cinco ou seis, mas o resto eu tenho uma média de três fazendo muito esforço

estudando em todos os buracos eu tenho três horas por dia, mas eu não as estudo

normalmente, falando honestamente não acontece, tem dias que eu tenho oito aulas, cinco

aulas eu não estudo contrabaixo.

2- Informações sobre a Prática Deliberada: Quais são os métodos utilizados na prática

individual, o tempo gasto, como foi elaborado, porque de sua utilização e como esses

métodos interferem na aprendizagem do instrumento.

a) Quais são seus métodos de estudo que você utiliza na prática individual de uma obra?

E qual o tempo estimado gasto em cada um deles?

Camila: Normalmente eu tento dissecar pedaços parecidos, então eu pego o tema, a

variação do tema e eu associo isso com uma coisa que eu aprendi a fazer estudando o

Dittersdorf até morrer, separo trechos, trabalho trechos individuais, trabalho saltos individuais

que é um problema que eu tenho em todas as peças que eu pego, problemas de salto,

problemas de afinação de determinados intervalos, então eu vou estudar aquilo trabalhando

aquilo separado, fazendo exercício de glissando até a nota de chegada, sempre tento estudar

com o metrônomo, assim porque é uma prática boa e válida porque as vezes a gente estuda

um negócio sem metrônomo e fica assim sem beat sem perceber, então estudo com

metrônomo aumentando o beat do metrônomo gradativamente apesar de eu achar isso

insuportavelmente chato eu sei que isso funciona. E tento separar as coisas embora tente

mantê-las assim que é um negócio meio Barry Green, você foca sua atenção em um dos

aspectos, por exemplo, você vai focar sua atenção em dinâmica agora porque você precisa

162

fazer dinâmica daquele trecho, mas ao mesmo tempo você não pode esquecer que ta pensando

na articulação, no arco que você vai usar para aquela articulação, tudo isso ta trabalhando

então, por exemplo, você tem que focar em uma coisa e as vezes você até percebe que outra

coisa se resolve junto sem você ter que trabalhar aquilo, pensando naquilo em função de como

seu cérebro está trabalhando, mas no geral eu acabo tendo que focar a atenção cada hora em

um pedaço, assim por exemplo, com essa peça eu tive que trabalhar muito arco no sentido de,

de...., de me adequar a ele para a articulação, porque ele é muito fácil de perder o controle, se

você começar a usar muito arco você se perde, perde tudo, vira tudo um bolo com a mesma

dinâmica e para você construir tudo, tanto da articulação para você entender as notas, os

saltos, as dinâmicas o arco é essencial.

Acho que é basicamente isso, eu tento estudar por pedaços, assim eu acho que isso é o

básico, porque apesar de eu gostar mais de tocar do que estudar, se você fica tocando o

negócio você tem que parar o tempo inteiro não adianta nada. Acho que isso foi uma coisa

que eu tive que fazer inclusive dessa vez, pois eu tinha muito pouco tempo esses dias que eu

estudei, aqui [nos diários] você vai perceber que eu estudei pouco, assim eu estudei uma hora,

duas horas no máximo, porque era o tempo que eu tinha no dia e eu estudei só isso

provavelmente, não estudei escala nada direito nesses dias em função do meu calendário.

Então eu fiz muito isso, eu acho que até da primeira vez [da aplicação dos testes dos diários]

tinha dia que eu estudei só metade da peça e outro dia eu estudei a outra metade por exemplo.

E eu saquei ao longo dos anos que isso era uma coisa eficiente, as vezes eu quero estudar o

negócio inteiro não adianta, se você tem uma semana que tem uma hora por dia para estudar,

você vai ter que dividir aquilo e trabalhar uma página por dia, as vezes eu to trabalhando uma

página por dia no quarto dia você junta duas e você já consegue um trabalho melhor e é bem

por ai.

b) Poderia me dizer como você pensou e elaborou esses métodos de estudo? Quais

princípios e fundamentos você utilizou?

c) Alguém ensinou alguns desses métodos para você? Caso sim, poderia me indicar

quem?

(A aluna respondeu duas perguntas ao mesmo tempo)

Camila: Acho meio que experiência prática ao longo dos anos, esse negócio do

Dittersdorf que eu falei é muito sério, eu aprendi muito a estudar com o Dittersdorf, quando

163

eu passei dois anos da minha vida estudando Dittersdorf, o Claudio ficava batendo nessas

teclas de trabalhar tal coisa, trabalha só essa frase, só essa frase inicial, só esse arpejo de tal

jeito, pensa o arco assim, trabalha com metrônomo e bla, bla, bla, bla, e eu lembro que do

Dragonetti pro Dittersdorf minha cabeça foi mudando nesse sentido de eu ter mais maturidade

de parar quieta e estudar o negócio direito, foi um processo inclusive de mudança de

professor, metodologia de professor, de ter uma metodologia de estudo passada pelo seu

professor e não ser só uma coisa desenfreada de sair só estudando, sai tocando e semana que

vem se ter esse negócio pronto, o Claudio é muito metódico com isso e isso me ajudou muito

em elaborar um plano nesse sentido de não ser tão afoita de resolver as coisas, eu acho que

nesse sentido de trabalhar em pedaços pensando em metrônomo e bla bla bla isso é uma coisa

muito Torezan, metodologia Torezan que eu adquiri com o tempo, essa coisa de parar e ficar

estudando as coisas parando na nota de chegada que é uma coisa que eu usei aqui uns dois

dias [diários] é muita coisa da Val, a Val vai ter vários permeei-os que assim, são

metodologias dela que ela sempre passa de você parar e ouvir a nota, cantar a nota antes de

você chegar, vai ter umas horas que pensar na nota e no salto isso são coisas dela, e essa coisa

do foco de atenção provavelmente foi a coisa que eu mais absorvi das coisas que o Barry

Green me passou aquela vez que eu tive uns master[classes] com ele, que eu tive a palestra

com ele do “The Inner Game of Music” que era esse negócio de focar a atenção numa coisa

sem perder as outras de vista, mas realmente você estabelece na sua cabeça, você tem que

pensar que você esta pensando em uma coisa só mas não é o pensar em uma coisa só que

estamos habituados a fazer na nossa vida, é uma outra coisa e você tem que estabelecer que

aquilo vai ser o normal para você a partir de agora enquanto você está estudando, e eu acho

que isso me ajuda porque eu sou muito, mega desconcentrada, assim as vezes, eu posso

consegui ta estudando eu posso as vezes está estudando 20 poucos minutos e não saber direito

o que eu to fazendo, ta tocando, hoje isso aconteceu comigo eu tava tocando parei no meio e

não sabia onde eu estava, não sabia o que eu estava fazendo assim, não tinha a menos noção,

eu tava tocando podia continuar tocando, eu acho que já tinha repetido um pedaço da música

três vezes e não tinha percebido, eu não sabia em qual pedaço que tava, então eu tenho que

tomar muito cuidado, eu acho que isso é a grande dificuldade que eu tenho, de parar e prestar

atenção no que estou fazendo naquela hora, na minha cabeça ta muito longe, eu aprendi isso,

eu aprendi que a maneira que eu estudo hoje tem muito haver, basicamente com o Claudio,

com certeza assim e tem muitas coisas permeadas que são da Val, mas eu diria que

164

basicamente uma coisa Claudio digerida pela Camila, porque o Claudio sempre espera que eu

tenha mais horas e gaste mais horas do meu dia estudando e isso normalmente não acontece,

não porque eu não acredite nele mas porque minha rotina não permite e porque eu tenho uma

mentalidade diferente dele, uma cabeça mais transtornada que ele e eu não paro quieta e fico

fazendo um monte de coisa uma em cima da outra e não da tempo. Então eu tive que pegar

coisas dele e readaptar para mim e ele readaptou coisas dele para mim e fomos aprendendo a

lidar com essas diferenças desde quanto eu tenho aulas com ele.

d) Porque você utiliza esses métodos que você mencionou? Qual a finalidade?

Camila: Tocar Música...tem que ser uma resposta melhor que isso né. Eu acho que

dentro disso que eu acabei de falar eu acho que conseguir dar conta de preparar uma peça no

menor tempo possível, talvez seria uma boa colocação, porque eu sou muito enrolada para

preparar as coisas eu toco a mesma peça um maior tempão. Mas eu acho que sim, porque se

você tem pouco tempo para preparar um coisa, tem prazos de provas, de bancas, de peças a

serem cobradas dentro do repertório de uma escola e você tem prova da escola e prova do não

sei o que lá. Aprender a usar métodos de solucionar problemas mais rápidos é uma

necessidade da minha vida, eu tenho que estudar meia hora, eu tenho que resolver todos os

problemas que tem nas minhas partes em uma semana e pow, pronto acabou, eu acho que o

sentido maior dos métodos de estudo que eu uso é tentar melhorar coisas mais rápido possível

que nem sempre é bom porque boa parte do tempo eu resolvo coisas emergenciais e não

coisas a longo prazo, então eu resolvo aquilo que eu to precisando agora e as vezes tem coisas

que podiam estar sendo resolvidas num processo mais lento que são deixados de lado e estão

sempre voltando sendo coisas emergenciais de novo, que é uma coisa complicada e confusa,

que eu precisava mudar.

e) Qual a relevância desses métodos na aprendizagem do instrumento?

Camila: Eu acho que a principal relevância é eu aprender a me virar sozinha talvez,

deixa eu tentar explicar, eu acho que a gente, a gente é criado principalmente no meio erudito

principalmente para ser dependente dos professores, em que sentido, a gente aprende técnica

de uma maneira monkey did, monkey do, uma pessoa fala, você imita e você aprende, bla,

bla, bla e bla, bla, bla, você imita, aprende, imita, aprende, e dai você vai tocar peça você

aprende interpretação por imitação e isso é uma coisa completamente absurda, porque você ta

165

aprendendo a interpretar uma peça dentro do que seu professor fala que é certo, sob quais

parâmetros ele fala que ta certo são variados para[...] o seu professor vai se basear nas

premissas do que é música clássica, do que é música barroca e tudo bem nós temos uma

linguagem a ser absorvida e isso alguém tem que te passar, alguém tem que ensinar tudo isso

e isso são coisas que eu considero, que existe muito um mal costume do músico erudito de

obedecer o que falam para ele sem pensar muito, sem colocar a própria opinião musical no

que está fazendo, então a gente tem que absorver a linguagem, pesquisar historicamente

ouvindo, ouvindo cinco mil gravações que você encontrar das coisas, para que você dentro da

linguagem que lhe pareça cabível, se você for escolher respeitar o que é uma interpretação

clássica, uma interpretação barroca pelo meio que você trabalha ou não, é também uma

escolha sua, se você quiser tocar clássico igual romântico, bixo problema é seu, se você não ta

em um lugar que exijam de você profissionalmente isso eu não tenho nada com isso, eu não

tenho nem problema com isso na verdade, mas a gente é treinado para ter problema, você não

vai poder fazer um vibrato assim, assim, assado porque ta errado, a gente tem uma coisa meio

teísta de bem ou mal, de certo ou errado, bonito e feio, dai não da para gostar de música

contemporânea porque é feio e isso eu acho que muito prejudicial você tem essa dependência

do seu professor falando o que você tem que fazer o tempo todo, você não consegue resolver

um problema técnico sozinho sem um professor falando o que você tem que estudar esse

salto lento pensando na nota de chegada, porra bicho seu professor falou isso para você cinco

vezes em cinco peças diferentes, essas coisas são todas aplicáveis, assim como a gente

aprendeu a fazer elevarei nota de apojatura começando com o arco para cima, a gente

aprende isso em algum lugar lá trás em um passado remoto quando você começa a tocar em

orquestra essas pequenas convenções de arco, por exemplo, que se usa em frases e

principalmente em orquestra chega uma hora que você não marca mais, dependendo com

quem você estiver tocando você não precisa nem marcar, dependendo com quem você marca,

mas são coisas bixo que você nem precisa conversar com o naipe, pois todo mundo já vai

fazer aquilo. E a gente aprende isso pensando sozinho, porque alguém te ensinou e aquilo fica

absorvido, linguagem dada é linguagem adquirida.

Eu acho que eu tive que ir desenvolvendo as capacidades de desenvolver os meus

problemas sozinha, eu acho que isso é uma coisa que eu penso muito. Eu tenho muita

consideração pelo que meus professores me falam, eu tenho um respeito muito especial pelos

meus professores no sentido de comprometimento por exemplo, se eu tenho crises que eu

166

quero parar de tocar e fico puta isso pode influenciar muito minha relação com o meu

trabalho, mas isso tem um tipo diferente de impacto na minha relação com as minhas aulas.

Então eu posso estar achando que não é importante eu estudar contrabaixo porque eu estou em

uma greve e fazendo isso e aquilo, correndo atrás de coisas que eu acho mais relevantes para

minha vida agora, mas eu não posso deixar de estudar contrabaixo completamente porque eu

trabalho com isso e tenho comprometimento profissional com isso, mas muito mais porque eu

tenho um comprometimento com o Claudio que ta lá numa prova amanhã. Então eu tenho um

acordo de parceria com os professores, eu acho que a gente, as pessoas não pensam muito

assim, as pessoas pensam que elas tem um compromisso meio de escolinha, de levar lição

para o professor as vezes assim, muita gente pensa a vou perguntar para o meu professor se eu

posso fazer esse teste, não sei o que, não sei o que lá, eu já tive testes que eu deixei de fazer

pelo meu professor falar que eu não deveria fazer entendeu, mas o tipo de relacionamento que

eu desenvolvi com eles ao longo dos anos é completamente diferente, é muito mais de

parceria, inclusive porque a gente tem uma relação de amizade muito grande e muito forte

tanto a Val quanto o Claudio, que não é cabível essa coisa autoritária de você ta certo e eu to

errada, a gente desenvolveu a capacidade de conversar, a partir do momento que a gente

desenvolve a capacidade de conversar com os professores eles costumam nos dar uma brecha

maior para que nós nos resolvemos sozinho, o Claudio demorou mais tempo para fazer isso

comigo, a Val tem uma postura assim com quase todos os alunos dela, de se vira vai aprender,

pega uma peça ai e aprende a tocar ela ai para o recital daqui uma semana ou duas semanas

mas você precisa tocar, mas essa mentalidade de dar a cara para bater é bom, faz bem, porque

a gente tem uma falta disso em todos os meios que a gente trabalha e que a gente estuda, o

Claudio ele é muito preocupado com as coisas, ele é preocupado se a gente vai se dar mal, se

a gente vai se machucar, se a gente vai sair bem ou mal e ele não se preocupa com isso numa

coisa de, a meus alunos vão tocar mal e vai pegar mal para mim, porque muitos professores

que eu conheço tem esse lado “aluno meu não faz isso, aluno meu não toca assim” , não eu

nunca ouvi uma coisa desse tipo do Claudio mas eu ouvi diversas vezes ele me fazendo parar

e ponderar determinadas situações considerando minha saúde mental, minha preservação

psicológica, minha preservação como ser humano, acho que isso me deu uma certa

independência conversar com eles e estabelecer respeito me deu uma independência

adquirida, hoje em dia eles esperam que eu resolva mais as coisas sozinha eles esperando isso

e eu querendo isso eu fui desenvolvendo métodos de estudo de várias coisas sozinha.

167

Então acho que é basicamente isso, eu consigo resolver muitos problemas sozinha,

claro se eu for lá e tiver aula daquilo ou uma peça que eu to tocando na orquestra vai ajudar e

vai ser melhor pois eles tem experiência naquilo, basicamente por me passar coisas que eu

nem pensei, as vezes resolvem coisas em cinco segundos e a gente demora cinco horas para

ter uma idéia, eu não tenho a menor dúvida disso e da experiência e da capacidade deles,

nesse sentido, mas se a gente nunca aprende a pensar nessas coisas sozinha a gente nunca vai

sair das cinco horas, a gente nunca via resolver nada em cinco minutos e acho que isso é o

essencial desde as últimas semanas que eu tive estudando, eu tive muito contratempo de

horário com eles, eu fiquei sem a Val porque ela foi viajar, eu fiquei uns dias sem ter aula

com o Claudio porque ele foi viajar, porque eu tive problema de horário meu, então boa parte

dessa peça foi preparada muito sozinha e a um ano ou dois, três anos atrás isso seria meio

impensável fazer uma peça dessa sozinha, tanto pelo nível técnico que eu não tinha para tocar,

como pela minha própria convicção de que eu não teria capacidade de resolver determinadas

coisas sozinhas. Então é isso.

168

ANEXO H – Diários das sessões de prática individual e Avaliações das aulas individuais

da Camila

Transcrição dos Diários da Participante Camila Hebling

Obra selecionada pelo participante: Tarantella de Giovanni Botessini

Diário do Dia: 20/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Estudo do tema com metrônomo (semínima pontuada = 50 até 92);

- Atenção à passagem lá – lá/ ré – ré/ si – sol (salto – afinação/ articulação e

colocação do acento no lugar certo dá frase);

- Aumento progressivo do beat no metrônomo; Tempo estimado de estudo deste

método 20 min.

Estudo de arco da passagem seguinte (estudo lento com o arco a ser usado rápido);

- Retomada e reposicionamento do arco/ ponto de contato/ quantidade de arco para

staccatos e SFZ com ligaduras; Tempo estimado de estudo deste método 10 min.

Trechos rápidos estudando devagar, progressivamente mais rápido;

- Estudo afinação dos arpejos;

- Articulação ligaduras/ afinação cromáticos e diatônicos; Tempo estimado de estudo

deste método 30 min.

Trecho cantábile;

- dedilhado para destacar notas com tenuto (colcheia) da primeira frase;

- estudo afinação / sustentação notas longas e ligaduras; Tempo estimado de estudo

deste método 15 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Apesar de fazer bastante tempo que não estudava a peça (mais ou menos 3 semanas)

senti maior facilidade com alguns trechos que da última vez que tinha

tocado/estudado, por talvez ter conseguido fixar parte que estudei.

A afinação decaiu muito de forma geral.

- focar estudo na afinação/clareza articulação das passagens;

- estudo com metrônomo dei mais clareza ao tema principal.

169

Muita falta de atenção. Tem sido difícil manter o foco no que preciso na hora que

preciso.

Diário do Dia: 21/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Cadência

- trabalho de afinação;

- passagem dos arpejos/peças;

- pensando fraseado e construção de acelerando; Tempo estimado de estudo deste

método 30 min.

Estudo de passagens em separado, aumentando a velocidade progressivamente; Tempo

estimado de estudo deste método 25 min.

Passagem de trecho para trecho para trabalho de transição e fraseado. Tempo estimado

de estudo deste método 30 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Dia de estudo improdutivo (tocando, tocando, mas não sentindo melhora, muita

dificuldade de atenção e... )

Frustação de outras coisas se refletindo na dificuldade de resolver problemas

musicais???

OBS de Aula:

Pensa no arco = menos arco/mais concentrado

- acentuar início ligaduras

- pensar ponto de contato – retomadas necessárias e ponto ideal para

harmônicos;

Estudar lento ajuda às dinâmicas;

Harmônicos – lugar exato do dedo/ não tirar antes!

Estudar pensando para passagens com saltos grandes, ligaduras, mudanças de região.

170

Diário do Dia: 23/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Tema – estudo com metrônomo velocidade progressiva;

- estudo arco – ponto de contato;

- Acentuação começo das frases – estudo de dinâmicas; Tempo de estudo estimado

deste método 40 min.

Estudo de trechos lentos, atentos à dinâmica, e aos glissandos exagerados nos

saltos; Tempo de estudo estimado deste método 20 min.

Trechos com salto parando na nota de chegada e repousando o arco; Tempo de

estudo estimado deste método 10 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

Foco do estudo na primeira parte da peça e trechos semelhantes de ligadura e

articulação;

Trabalho de construção de dinâmica precisa para articulação – fraseado;

171

Diário do Dia: 25/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Estudo das passagens de harmônico

- ponto de contato do arco e lugar do dedo no espelho; Tempo de estudo estimado

deste método 20 min.

Trechos com salto parando na nota de chegada, recolocação de arco; Tempo de estudo

estimado deste método 15 min.

Cadência – estudo lento, afinação e construção de frases; Tempo de estudo estimado

deste método 20 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

A ALUNA NÃO RELATOU NADA.

Diário do Dia: 27/05/2013

Descrição do Método de Estudo:

Cadência – estudo construindo as frases e afinação; Tempo estimado de estudo deste

método 20 min.

Passando o concerto todo, por trecho, lendo, articulação e dinâmicas; Tempo estimado

de estudo deste método 30 min.

Estudo dos arpejos para afinação e colocação das notas; Tempo estimado de estudo

deste método 15 min.

Diário – Auto Relato sobre o estudo da Obra:

A ALUNA NÃO RELATOU NADA

172

Formulário para avaliação das aulas individuais – Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright

Nome do aluno: Camila Hebling Obra executada:Tarantella G. Bottesini

1º aula realizada no dia 20 de maio de 2013

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

Valerie: A aluna possui uma técnica já avançada, mas a dificuldade dela é a manutenção

desta técnica devida às muitas outras atividades que ela tem. Esta obra exige um estudo quase

que diário para manter a fluência, principalmente nos trechos rápidos, ou seja, 80% da obra.

Os trechos em harmônicos exigem uma atenção maior, pois a aluna não automatizou a

posição do arco - o ponto de contato - e a velocidade da arco necessário para evitar falhas

constantes.

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

Valerie: Expressa, mas por enquanto está superando as dificuldades técnicas e para tanto não

deu uma atenção maior a esta parte. O início da obra necessita de maior atenção no

planejamento musical.

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar a própria execução: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

173

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

Valerie: É muito perspicaz neste sentido, sabe quais são as dificuldades e sabe como saná-las.

O problema, como dito acima, é falta de tempo de estudo diário.

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

Valerie: Tem comentada a respeito de outras interpretações, especialmente no que diz

respeito ao andamento da obra.

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

Valerie: A aluna assimila as sugestões muito rapidamente na aula. O desafio é como manter o

nível técnico de uma aula para a próxima.

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

Valerie: Certamente, embora não discutimos isto especificamente.

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

Valerie: Sim, a aluna, é capaz de esboçar um plano musical e seguir este plano, porém, ainda

não posso avaliar pois a obra ainda está “em construção”.

174

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

Valerie: Sim estes aspectos fazem parte do planejamento musical da aluna.

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: O aluno trabalha bastante e se interessa por aquilo que faz. Ele

cumpre os prazos. Demonstra cuidado e atenção aos detalhes na execução nas aulas

individuais. (Aulas individuais)

Valerie: Sim, a aluna é bastante comprometida, mas acredito que ela poderá ser ainda mais

eficiente no planejamento do estudo. Mesmo tendo muitas outras atividades, um roteiro de

estudo e uma análise criteriosa dos problemas específicos (como aqueles citados no bloco 1A)

seria de grande valor e ajudaria ela a manter a forma técnica.

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

Valerie: Sim, embora não tratamos disto nesta aula.

Formulário para avaliação das aulas individuais – Prof.ª Dr.ª Valerie Ann Albright

Nome do aluno: Camila Hebling Obra executada:Tarantella G. Bottesini

175

2º aula realizada no dia 28 de maio de 2013

1. Produção: Pensando na Música

Para avaliar no critério Produção, as informações estão na execução da obra musical nas aulas

individuais e nas anotações dos diários.

A – Habilidade: O aluno domina as técnicas e princípios básicos necessários para a execução

da obra. (aulas individuais).

Valerie: Como foi dito anteriormente, a aluna possui uma técnica já avançada, mas a

dificuldade dela continua sendo a manutenção desta técnica devida às muitas outras atividades

que ela tem. Ainda, os harmônicos exigem uma atenção maior. A impressão que tenho é que

ela não isolou os problemas da mão esquerda (a posição exata dos harmônicos) e os da mão

direita (ponto de contato e velocidade) para depois efetuar o estudo entre 2 notas somente

(está estudando trechos maiores que deveria)

D – Expressão: O aluno expressa uma ideia ou sentimento na execução da obra. (aulas

individuais)

Valerie: Expressa sim e este aspecto melhorou, especialmente na cadência e no trecho central

(cantábile). Agora basta dominar a técnica das partes rápidas para se expressar mais

musicalmente.

2. Reflexão: Pensando a respeito da música.

Para avaliar no critério reflexão, as informações estão nas anotações dos diários e na

observação do tipo de comentário que ele faz na sala de aula.

A – Capacidade e disposição para avaliar a própria execução: O aluno é capaz de avaliar a

própria execução. Consegue articular e justificar as potencialidades e dificuldades percebidas

em sua execução. É capaz de conversar sobre a sua execução com terminologia correta.

(Diários e nas aulas individuais).

176

Valerie: Como dito anteriormente, é muito perspicaz neste sentido, sabe quais são as

dificuldades e sabe como saná-las. O problema continua sendo falta de tempo de estudo

diário.

B – Capacidade e disposição para assumir o papel de crítico: O aluno desenvolveu a

capacidade de avaliar a execução de outros (colegas, ou interpretes com execuções

conhecidas). Conhece os padrões de qualidade da execução daquela obra. (Diários e nas aulas

individuais).

Valerie: Tem comentada a respeito de outras interpretações, especialmente no que diz

respeito ao andamento da obra mas não aprofundamos esta questão nesta aula.

C - Capacidade e disposição para utilizar críticas e sugestões: O aluno é capaz de considerar

comentários críticos e incorporar sugestões da execução as obra. (Diários e aulas individuais)

Valerie: A resposta continua a mesma da aula anterior: a aluna assimila as sugestões muito

rapidamente na aula. O desafio é como manter o nível técnico de uma aula para a próxima.

D – Capacidade de aprender a partir de execuções de outras obras: O aluno é capaz de ter

idéias e inspirações através da execução de outras obras de outros performers. (Diários e aulas

individuais)

Valerie: Certamente, embora não discutimos isto especificamente.

E – Capacidade de articular objetivos musicais: O aluno tem capacidade de articular

objetivos para uma execução, ele consegue pensar no discurso musical da obra (pensar a

execução da obra como um todo). (Diários e aulas individuais)

Valerie: Sim, a aluna, é capaz de esboçar um plano musical e seguir este plano. O plano

inclusive se tornou mais nítido nesta aula.

177

3. Percepção: Percebendo na Música

Para avaliar as capacidades perceptivas do aluno, as informações são encontradas nas escolhas

e nas observações dos comentários que faz nas aulas individuais e nos diários.

C – Consciência das propriedades e qualidades das técnicas: O aluno é sensível às

propriedades das técnicas e artifícios que utiliza em sua execução. (por exemplo: timbres de

cordas, dedilhados e arcos). (Aula individual e diária)

Valerie: Sim estes aspectos fazem parte do planejamento musical da aluna.

4. Abordagem na execução

Para avaliar a abordagem do aluno na execução, as informações são encontradas na

observação do aluno nas aulas individuais e nos diários.

A – Comprometimento: O aluno trabalha bastante e se interessa por aquilo que faz. Ele

cumpre os prazos. Demonstra cuidado e atenção aos detalhes na execução nas aulas

individuais. (Aulas individuais)

Valerie: A resposta continua sendo a mesma: sim, a aluna é bastante comprometida, mas

acredito que ela poderá ser ainda mais eficiente no planejamento do estudo. Mesmo tendo

muitas outras atividades, um roteiro de estudo e uma análise criteriosa dos problemas

específicos (como aqueles citados no bloco 1A) seria de grande valor e ajudaria ela a manter a

forma técnica.

D – Capacidade para utilizar recursos culturais: O aluno sabe onde buscar ajuda: livros,

métodos, outras interpretações, com outras pessoas. (diários e Aulas individuais)

Valerie: Sim, embora não tratamos disto nesta aula.