O Espólio Cerâmico Romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica...
-
Upload
independent -
Category
Documents
-
view
3 -
download
0
Transcript of O Espólio Cerâmico Romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica...
271
R E S U M O Osautoresapresentamoresultadodoestudoefectuadosobreumconjuntodoespólio
cerâmicodaÉpocaRomana,recolhidonumacompanhamentoarqueológiconoAltodeSão
Miguel, na cidade de Alcácer do Sal, aquando da realização de trabalhos de saneamento
básicoefectuadosem2007e2008.Sãoalvodeanálise fragmentosde terra sigillatadetipo
itálico,daGáliadoSule,pelaprimeiravez,referenciadasparaestacidade,produçõespreco-
ceshispânicasoudeTipoPeñaflor,assimcomooutrascerâmicascaracterísticasdoperíodo
queseestendedesdeaépocaTardo-Republicanaatéaosmeados/finaisdoséculoIId.C.
A B S T R A C T ThispaperconcernsthestudyofseveralRomanceramicsfoundduringthe
renewalofthesewagenetsysteminthesoutheasttopofthehill(AltodeSãoMiguel)ofthe
townofAlcácerdoSal,in2007and2008.Samianware(terrasigillata),withorigininItaly,
Gauland inHispania (thesocalled“sigillataprecoce”or“TipoPeñaflor”produced inthe
kilnsofLaViña,Sevilla,Andalucia),werestudied,aswellasotherceramicsthatbelongtothe
periodbetweenLateRepublicandthemiddleofthe2ndcenturyAD.
Entreosanosde2007e2008desenvolveu-se,noâmbitodaCâmaraMunicipaldeAlcácerdoSal, um projecto de requalificação urbana que, para além de incluir arranjos paisagísticos nacidade,tambémpreviuaconstruçãodarespectivaETARearenovaçãodoseusaneamentobásico.
UmadasprimeirasáreasdeintervençãofoioAltodeS.Miguel,situadojuntoaumdosaces-sosdoCastelodeAlcácerdoSal(Fig.1).
Aaberturadasvalasfoiapenasefectuadaondesesituavamasantigastubagens,sendoazonaafectadapelostrabalhosemcausamuitorestrita(60a80cmdelargurae80cma1mdeprofun-didade).
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência EURICODESEPúLVEDA*
MARISOLFERREIRA**
VAnESSADAMATA***
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300272
Grandepartedaáreaintervencionadaapresentousomenteníveisderevolvimento,commate-riaisforadequalquercontextoarqueológico,semestruturasassociadas,tendosidoidentificadaspeçasbastantefragmentadasedeváriasépocascronológicas(ÉpocasRomana,IslâmicaeModerna/Contemporânea).
OstrabalhosforamefectuadospeloGabinetedeArqueologiadaCâmaraMunicipaldeAlcá-cerdoSal,emcolaboraçãocomelementosdaempresamunicipalEMSUAS.
Aaberturadasvalasparaosaneamentobásicofoisupervisionadaporumadassignatárias(MF)eteveaduraçãodequatrodias.Recorde-sequeesteacompanhamentotevedeserefectuadonamedidaemqueestaobraseencontravainseridanaZonaEspecialdeProtecçãodoCastelodeAlcácerdoSal(ZEP),tendoobtidoaaprovaçãodoIGESPAR.
nãoobstante todasas restriçõesaqueesteacompanhamentoarqueológicoestevesujeito,pensámosserimportantedaraconhecermaisumconjuntodemateriaisromanosqueforamexu-madosnumaáreadacidadelocalizadabempertodoarqueossítioconsideradocomoopossívelforumdeSalacia,queseencontraimplantadojuntoaoadrodaIgrejadeSantaMariadoCastelo,tambémconhecidacomoIgrejaMatriz(Fig.2).Esteadrotinhasidoescavado,deformaalternada,nosanosde1982,1992e1993.AsestruturaseespólioreferenteaoprimeiroanodasintervençõesforamestudadosepublicadospelonossosaudosocolegaJoãoCarlosFaria(1998).
OutrofactorquepesoutambémnaelaboraçãodesteestudofoiaproximaçãodoAltodeSãoMiguelao“campodeintervençãoarqueológico”dochamadoDepósitodeÁguaque,em1976,foiescavadoporumaequipadoMuseuArqueológicoeEtnográficodoDistritodeSetúbal(MAEDS),comsubsequentepublicaçãodealgunsmateriaisdaÉpocaRomana,taiscomoacerâmicacampa-niense(Soares,1978),aterrasigillata(Dias,1978)eosvidros(Alarcão,1978).
Fig. 1 MapadacidadedeAlcácerdoSal,comindicaçãodoAltodeSãoMiguel.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 273
Escolhemos,então,dentrodoespólioobtidonoAltodeSãoMiguel,todootipodecerâmicaqueconsiderámosrepresentativadoperíododaromanização,excluídasascerâmicasditascomunseosgrandescontentorescerâmicos:asânforaseosdolia.
Maisumavez,tivemosoportunidadedeverificarasausênciasdematerialvítreo,oquenostemvindoaintrigar,àmedidaqueavançamososnossosestudossobreAlcácerdoSal,assimcomodasimportaçõesdeterrasigillatanorte-africanasclaras,queparecemnãoexistirnasáreasmaisaltasdacidadeduranteosfinaisdoséculoIetodooIId.C.,possivelmente,emdetrimentodemovimen-taçõesantrópicasmais“ribeirinhas”ocorridasnosséculosseguintes.
Aafirmaçãoquefizemosnoparágrafoanteriorconhece,noentanto,algumasexcepções,comosejamoscasosdeumfragmentodebasecomarranquedaparededeTSAf.ClaraD,daforma Hayes 58, proveniente do forum (Faria, 1998, p.192) com cronologia que abrange oséculoIVd.C.—devidoàsdimensõesdiminutasdofragmento,édealertarparaofactodeelepoder corresponder à variante Lamboglia 52B, que poderá atingir os meados do século VI(Bonifay,2004,pp.166–167)—eodetrêspequenosfragmentosdefundosexumadosnoLadoOcidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,emTSAf.ClaraA,um,eemTSAf.ClaraD,osoutrosdois(inéditos).
Fig. 2 LocalizaçãodoAltodeSãoMiguelemrelaçãoaoCastelo.
1
2
1–AltodeSãoMiguel2–CastelodeAlcácerdoSal
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300274
Seguidamente, iremos apresentar o estudo de cada tipo cerâmico, começando pela terra sigillata,que,comacerâmicacomumdeorigembética,apresentaummaiornúmerodefragmentose,subsequentemente,denMI,comosepodeverificarpeloscálculosapresentadosnoQuadro1,que foi elaboradoapartirdeumtotalde91 fragmentosencontradosnesteacompanhamento.Estes,depoisdetratadosemlaboratório,resultaramem61nMI.
Quadro 1. Número e percentagens de fragmentos e de NMI exumados no Alto de São MiguelTipo de Cerâmica Fragmentos % NMI %
Terrasigillata 32 35,17 26 42,63
CPF 6 6,59 6 9,84
Lucernas 6 6,59 5 8,19
VermelhoPompeiano 6 6,59 3 4,92
ComumBética 36 39,57 17 27,87
ImitaçãoCampaniense 5 5,49 4 6,55
TOTAL 91 100,00 61 100,00
1. Terra sigillata
noAltodeSãoMiguel,foramrecolhidos32fragmentosdeterrasigillata,quepermitiramcola-gementresi,oquedeulugar,comosepodeanalisarnoQuadro1,aumtotalfinalde30fragmentos.Destes,apurámosumnMIde26,querepresentamcercade90%doespólioreferenteaestacerâmica.
Ogrupoéconstituído,maioritariamente,porterrasigillatadetipoitálico,verificando-se,tam-bém,emboradeummodomenossignificativo,apresençadeexemplaressudgálicosehispânicos,maisprecisamentedaschamadasproduçõeshispânicasprecoces.
Quantoàclassificaçãoformaldototaldestesexemplares,verificou-seumaelevadapercenta-gem(31%)defragmentosdetodooconjuntoqueforamcatalogadoscomoindeterminados.
Verificou-seaindaumaabundânciadevariantestipológicas,peloque,exceptoemrelaçãoaduasformas,acadaexemplarfoiatribuídaumaclassificaçãodistinta.
1.1 Terra sigillata de tipo itálico
Oespóliodetipoitálicoéconstituídopor23fragmentos,ousejacercade77%dototaldoconjuntodestetipodesigillata.
nafaltadepeçasdecoradas,identificámosváriasformaslisas,depratosedetaças.noentanto,umdospratos,detipologiaindeterminada,ostentamarcadeoleirodeleituracompleta,enquantoumabase(Consp.B4.12)deumapequenataça,dostiposConsp.22–25,tem,igualmente,umamarcaemplantapedis,masapenasdeleituraprovável,vistoencontrar-sefracturadanametadeinferior.
Emrelaçãoaospratos,identificámoscincofragmentosqueseinseremnastipologiasdoCons‑pectus,sobosn.os11,121,19(doispratos)e21.
Diacronicamente,correspondem,grosso modo,aoperíodocompreendidoentre15a.C.eTibé-rio,cronologiasestasquenossãodadaspelopratoConsp.11(ASM4/2009),HorizontedeDangs-tetten15–10/9a.C.epelofragmentoASM6/2009,quecorrespondeàformaConsp.19.2,conside-radaporKenrickcomoumaformaque“probablyfallwithintherangelateAugustan-Tiberian.”(Ettlinger,1990,p.84).
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 275
Quanto às taças, apurámos cinco formas que enquadram os seis fragmentos encontradosduranteoacompanhamentodasvalasabertasparaefectivaçãodonovosistemadesaneamentodoAltodeSãoMiguel.
Talcomoaconteceucomospratos,temosdoisindivíduosquesãoclassificadostipologica-mente dentro da mesma forma, Consp. 26. no entanto, em relação a um deles (ASM 20/2009),deparámo-noscomdificuldadesacrescidas,poissurgiu-nosadúvidadeque,devidoàscaracterís-ticasdofragmento2,este,talvezpudesseserinseridonaforma27.2.2.Osrestantes4fragmentossãoassimiláveisataçasdostiposConsp.14,22,33e38.
Osdadoscronológicosquepodemosobteratravésdestesexemplaresapontamparauminter-valotemporalquesevaiestenderdeAugusto,cronologiaquenosédadapelataçaConsp.14.1,presenteemDangstetten,OberadeneHaltern(15a.C.–9d.C.),aoprincipadodenero(Consp.26.2ou27.2.2).
noespóliodeterrasigillatadetipoitálico,foramaindaexumadasseisbases,àsquaisforamatri-buídasasseguintesclassificações:ConspectusB4.12(acimareferidaporpossuirmarcadeoleiro)eB3.16,asquaiscorrespondemataças;B1.5,B2.5(doisindivíduos)eB6.3,quepertencemapratos.
ÉtambémdesalientarofactodeapeçacomonúmerodeinventárioASM16/2009apresentar,nazonaemqueestáfragmentada,umquartodecírculoquenosdáasensaçãodepoderpertenceraumfuroparaaaplicaçãodeum“gato”dechumbo,queteriacomofinalidadeareparaçãodoprato.
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
1/2009 Base,parede Taça 15 – 32 2,5 50/100d.C.BaseB.4.12
(taçasConsp.22–25)Marcadeoleiro.
3/2009 Fundo ? – – – 10a.C–10d.C. Marcadeoleiro
4/2009 Bordo,parede Prato 19 326 – 7 15–9a.C Consp.11.1.2
5/2009 Parede Taça 27 – – 4 Augusto/Tibério Ødacanelura=110Consp.33c/guilhoché
6/2009 Bordo,parede Prato 22 150 – 4 Augusto/Tibério Consp.19.2
8/2009 Bordo,parede Taça 37 89 – 3,5 1.ª½séculoId.C. Consp.26.1.2
11/2009 Bordo,parede Prato 21 170 – 3 FinaisAugustoa30d.C. Consp.21.3.2(?)
12/2009 Bordo,parede Prato 19 160 – 4 MeadosafinaisdeAugusto Consp.12.4
13/2009 Base,parede Prato 34 – 110 9,5 MeadosdeAugusto B1.5c/guilhoché
14/2009 Fundo Prato – – – – ? Reduzidasdimensões
16/2009 Base,parede Prato 19 – 80 4,5 Augusto/TibérioB2.5
VáriospratosFurodegato?
18/2009 Bordo,parede Taça 27 110 – 4 Augusto/Tibério Consp.38.31c/guilhoché
19/2009 Base,parede Prato 17 – 83 7 Augusto/Tibério B2.5c/guilhoché
20/2009 Parede Taça 27 – – 5 Tibério/nero Ønacarena=140Consp.26.2ou27.2.2
21/2009 Base,parede Prato 19 – 101 5,5 Tibério/Cláudio B6.3(?)Consp.3.1e4.6e4.7
24/2009 Bordo,parede Taça 17 140 – 6 15a.C./9a.C: Consp.14.1.5
25/2009 Bordo,parede Prato 19 180 – 5 9d.C./Tibério Consp.18.2.5
26/2009 Parede ? – – ? TipoIndeterminado
28/2009 Fundo Prato – – ? TipoIndeterminado
29/2009 Base Taça 12 – 80 – ? B3.16ReduzidasDimensões
30/2009 Bordo,parede Taça 28 – – 3,5 10a.C./FinaisdeTibério Consp.22.2.1
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300276
Estampa ITerrasigillatadetipoitálico–Pratos:ASM4/2009,6/2009,25/2009,11/2009,12/2009.TaçasASM24/2009.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 277
Estampa IITerrasigillatadetipoitálico–TaçasASM20/2009,6/2009,18/2009,30/2009,8/2009,1/2009.Ind.ASM3/2009.
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300278
Estampa IIITerrasigillatadetipoitálico–Basesdeprato:ASM13/2009,16/2009,19/2009,21/2009.Basesdetaça:ASM29/2009.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 279
1.2 Terra sigillata da Gália do Sul
OconjuntodaterrasigillataexumadanoAltodeSãoMiguelcomproveniêncianoSuldaGáliaé constituído por seis exemplares, dos quais apenas três são passíveis de atribuição tipológica,enquantoaoutrametade(correspondendoaumaparede,aumfundoeaumabase)nãoapresentaquaisquertraçosquenospermitamarriscarqualquerfiliação.
Quantoàspeçasdeatribuiçãotipológicapossível,começaremosporanalisarofragmentodebaseearranquedeparedeASM2/2009,quedeverápertenceraumapequenataçaque,pelamarcadeoleiroquepossui,noslevaaenquadrarnotipodetaçasDrag.27,nãodescartandoahipótesedeapodermosconsiderarcomoumaRitt.5.
Porsuavez,opratoASM9/2009é,semdúvida,daformaDrag.15/17.Tendoemcontaascarac-terísticasqueapresenta,nomeadamenteaexistênciaprofícuademoldurasexternas,colocamo-loden-trodafasedeproduçãodaterrasigillatadeLaGraufesenqueanterioraCláudio(Polak,2000,p.85).
Finalmente,obordocomlábiopendentedeperfiltriangulardeprato(ASM23/2009),possivel-mentedegrandesdimensões,levantou-nossériasdificuldades,poisasuaformalevar-nos-iaaindicarumaorigemdetipoitálico,dadoqueseenquadrariaperfeitamentenaformadopratoConsp.12.
Aanálisebinocularqueefectuámosàsuapastapermitiu-nosconcluirser,narealidade,umaproduçãodeterrasigillatadaGália,maisprecisamentedeLaMuette,Lyon,poisque,alémdeseruma pasta muito compacta, de fractura tendencialmente rectilínea e dura, apresentava comodesengordurantecalciteemquantidade,emboranãomuitoabundante.Assim,relativamenteàsuaclassificaçãotipológica,optámosporenquadrá-lonospratosde“grandetamanho”doEnsembleI,ServiçoIb,apontandocomoperíododasuaelaboraçãoaquelequesereportaaoiníciodaprodu-çãodestaolaria,quedevemossituaranteriormentea15a.C.“sansdoutelégèrementantérieuràceluideDangstetten(Desbat&Genin,1996,pp.52,112,est.9,pratos1–5).
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
2/2009 Base,parede Taça 13 – 32 4 Grauf. 30-50Marcadeoleiro
Drag.27oupossívelRitt.5
9/2009 Bordo,parede Prato 29 158 – 6 Grauf. Tibério/Cláudio Drag.15/17
15/2009 Fundo Prato ? – – – Grauf. SéculoId.C. Tipoindeterminado
17/2009 Base Prato 17 – – – Grauf. SéculoId.C. Tipoindeterminado
23/2009 Bordo Prato – ? – 13 LaMuette Meados/finaisdeAugusto
Lyon-LaMuetteEnsembleI
Pl9.5
27/2009 Parede ? – – – – Grauf. SéculoId.C. Tipoindeterminado
1.3 Terra sigillata hispânica precoce, Tipo Peñaflor
Oconjuntodesigillatahispânicaéconstituídoapenasportrêsfragmentos,aosquaiscorres-ponderãoomesmonMI.
Aoobservarmosestesfragmentosverificámos,quedoisdelescorrespondemaformasqueeramtípicasdasproduçõesdetipoitálico.Averificaçãodestefactolevou-nosaqueefectuássemos,então,
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300280
Estampa IVTerrasigillatahispânicaprecoce(tipoPeñaflor)–Prato:ASM10/2009;Taças:ASM7/2009,22/2009.Terrasigillatasudgálica(LaGraufesenque)–Prato:9/2009;Taça2/2009;(LaMuette)–Prato23/2009.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 281
umaobservaçãoatentadasrespectivaspastas,tendonóschegadoàconclusãodequesetratadepro-duçõesprecocesdeterra sigillatahispânica,igualmentedesignadasporsigillatadoTipoPeñaflor.
Depoisdesteexame,quefoilevadoacaboatravésdelupabinocular,podemosdefini-lascomopastas que possuem uma fractura geralmente irregular, com e.n.p. abundantes do tipo mica,quartzo,feldspatoeóxidosdeferro,moderadamenteduras,ecujacorvarianagamadosocresedosvermelhos-amarelados.
Quantoaosengobes,podemosinseri-losnosdescritosporJérezLinde(2004,p.163)paraaspeçasdeTipoPeñaflorpertencentesaoespóliosdasescavaçõesdacidadedeLacimurga,emCerrodeCogolludo(Badajoz),assimcomodasvillaeromanasde“LaTiesa”,deTorreÁguila,do“CondeI”,CastillodeGuadajíra,entreoutras,eaindadasencontradasnasreservasdoMnARdeMérida.
noquerespeitaàforma,ostrêsexemplaresdoAltodeSãoMiguelinserem-seperfeitamentenastipologiasdeMartínezedeKeay(Amores&Keay,1999)paraCelti,quepodemserassimiláveisàdoConspectus.
OexemplarASM7/2009consiste,pois,numfragmentocompostoporbordo,paredeearranquedefundodeumataçadetipoKeay14(MartínezIc).Apresentaumengobedetipoalaranjado,ligeira-mentebrilhantenointerior,nãoseencontrandoaplicadonaparedeexterior,salvojuntoaobordo.
Adiacroniadaproduçãodestaspeçasébastanteextensa,ouseja,desdeos iníciosdaEra,tendo-seprolongadoatéao3.ºquarteldoséculoId.C.,seguindoosmodelosdasformasdetipoitálico,comosededuzapartirdacaracterizaçãofeitaporSimonKeay(2000,p.200)dasfases5–6de7adaocupaçãodacidade3.
Foi identificado,também,umfragmentodebordoeparede(n.ºde inv.ASM10/2009)degrandeprato,quepossuicanelurasnaparedeinterior.
Quantoaoengobe,étotalmentediferentedodapeçaanterior,vistoacorserdeumvermelho--acastanhadocomumbrilhomuitoacentuado.
Trata-se,portanto,dentrodaclassificaçãotipológicadeKeay,daforma11(queconsidera-mosamaisaproximada)equetemváriosparalelosnasestaçõesarqueológicaslocalizadasnapro-vínciadeBadajoz(JérezLinde,2004,est.1–2,4,6,9,10,12e13;est.2–22).
Estepratoterácomocronologiaaqueapresentámosparaofragmentoanterior,istoé,durantetodaaprimeirametadedoséculoId.C.,prolongando-sepelo3.ºquartel,momentoálgidoparaodesenvolvimentodestaprodução(JérezLinde,2004,pp.173,174).
OúltimoexemplardesigillatadeTipoPeñaflorcorrespondeaumabasedetamanhopequeno(ASM 22/2009), sem qualquer característica peculiar, motivo pelo qual, por consequência, nãoconseguimosatribuirumaclassificação,emboranospareçaquesepossatratardeumapequenataça,possivelmentedeperfiltroncocónico,seacompararmoscomataçadavillaromanade“PedroFranco”,Guadajira(JérezLinde,2004,p.168,Lám.2,n.º17).
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
7/2009 Bordo,parede Taça 42 130 – 5 SéculoId.C.Cláudio/nero/Flávios Keay14/MartinezIB
10/2009 Bordo,parede Prato 23 250 – 5 SéculoId.C.Cláudio/nero/Flávios
Keay11/MartinezIIB(fazserviçocomaforma
anterior)
22/2009 Base Taça 10 – 40 6 SéculoId.C.Cláudio/nero/Flávios Péanelar
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300282
1.4 Marcas de oleiro
Apresençademarcasdeoleiroemterrasigillatanosespóliosdearqueossítiosdeocupaçãoromana constitui um importante indicativo cronológico para a datação das trocas comerciaisentreoscentrosprodutoreseosrespectivoscentrosconsumidores,osquaisseencontravamespa-lhadosporumimensoterritórioquecompreendiatodasasprovínciasdoImpérioRomano.
nopresentecaso,comoindicámossupra,identificámosapenastrêsmarcasemigualnúmerodefragmentos—duaspertencentesaoleirositálicos,enquantoaoutradizrespeitoaumoleirodaGália,maisprecisamentedeLaGraufesenque.
Passaremos,seguidamente,àanalisepormenorizadadestasmarcas,começando,emprimeirolugar,pelasdeorigemitálica,finalizandoasnossasconsideraçõescomarelacionadacomooleiroruteno.
OfragmentodefundodepratodetipologiaindeterminadacomonúmerodeinventárioASM3/2009possuiumamarcarespeitanteaooleiroPHILOSITVS L∙TITIVS(CVA-OCK,2000,n.º2230).
L. TITIVSéumoleiroqueteveasuaoficinalocalizadaemArezzo,paraoqualKenrickconta-bilizou 34 escravos que trabalharam durante um período compreendido entre 15 a.C. e, pelomenos,30d.C.
Dessesescravos,apenasoito4estãoconfirmadoscomotendolaboradonocentrooleirodeArezzo,enquanto,noquedizrespeitoaosrestantes26,asdúvidas,devariedadenatureza,nãoper-mitemcertezasquantoaoseulocaldetrabalho.
Filositoé,pois,umdosescravosdeL. TitiuscujaproveniênciaKenricknãoespecifica,emboraDanieleMalfitanaoatribuaaArezzo,aoapresentarumamarcadescobertaemSelinunte,naSicília(Kenrick,2004,p.326,Selinusn.º4).
AcronologiaapontadanoCVA-OCKparaFilositusficacompreendidaentre10a.C.e10d.C.,sendoqueanossamarcaestáinseridanumacartelaparaaqualnãoencontrámosparalelo,apesardesepoderenquadrar,deummodogenérico,notiporectangulardecantosredondosCVA-OCK451.
Porsuavez,onomedooleiroencontra-seinscritoemduaslinhas,quenãoestãoseparadasporqualquertipodetravessão,oferecendoumaleiturabastanteclaradonomedooleiro,vistoencontrar-seemexcelenteestadodeconservação.
nalinhasuperior,podemosleronomedoescravo,sendorelevanteofactodequeoPHILeoOestarememnexo,deixandooScomoseparadordeumnovonexoqueagrupaoITVeooutroS.Quantoàlinhainferior,conseguimosidentificarcomidênticafacilidadeonomeL·TITI.
QuandocomparámosamarcadoAltodeSãoMiguelcomalistadeocorrênciasdesteoleiropresentenoCVA-OCK,verificámosqueemnenhumdoscasosonomePHILOSITVSsurgecom-pleto,peloqueapenasoconhecemosporabreviaturas.Assim,tendoemcontaosexemplarespubli-cadosatéaomomento,concluímosqueagrafiaqueopunçãodeAlcácerdoSalpatenteiadeveráserinédita.Édesalientar,também,ofactodenãoencontrarmosparaleloparaesteoleironoúltimotrabalhoreferenteàcapitaldaprovíncia,AugustaEmerita.
JérezLindeapresenta-nos,apenas,aleiturareconstruídadeumpossívelpunçãodeL.TITIVS(2005,p.93,Fig.23,n.º128),quepareceseroúnicoencontrado/publicadoatéaomomento,2005,desteoleiroparaMérida.
Uma outra marca de proveniência itálica identificada no presente conjunto encontra-seimpressanofundointeriordeumabasedetaçadetipoConsp.B4.12,àqualfoiatribuídoonúmeroASM1/2009.Estamarcasuscitoualgumasdificuldadesrelativamenteàsualeituraesubsequenteidentificaçãodooleiro,pelomotivodeseencontrarfracturadaemcercademetadeepelaparticu-laridadedeestarinscritadeumamaneirapoucolegível,nasuapartefinal.Emboranosresteape-
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 283
nasapartesuperiordeduasletras,identificámo--las com o que nos parece ser um C e um·P,encontrando-se as mesmas separadas por umapontuaçãodeformacircular.Poderemos,ainda,vislumbrarosrestosdeumaoutraletra,quenospareceserumoutroP,leituraestaquenospareceviável,selevarmosemlinhadecontaa“derrapa-gem” que houve na aplicação do punção. Deacordocomestaleitura,considerámosentãoqueesta marca pode pertencer ao oleiro C·P·P,n.º1342doCVA-OCK,comoficinaemPisa,ondedeveterlaboradoentreosanosde50e100d.C.
Contudo,comofoiacimareferido,apontua-çãoutilizadanaseparaçãodasletrasédotipocir-cular, facto este que nos levantou mais algumasdúvidasquantoàatribuiçãocorrectadestamarcaaCP( )PI(SAnVS),vistoqueapontuaçãomaiscomum,eprincipalmenteutilizadaporesteoleiro,édeformatriangular.noentanto,pesounaatri-buiçãodapeçaaesteoleiroaparticularidadedeoseunomeestarinscritonumacarteladotipoOCK603(planta pedis),tãoemmodaapartirdoprinci-pado de Tibério, sendo, portanto, consentâneacomacronologiadabasedataçaondeestáinse-rida,quepodeabarcartodaasegundametadedoséculoId.C.5
Outro aspecto que considerarmos não serdespiciendofoio factodeteremsidoencontra-dasmaisdoqueumamarcadesteoleiroemAlcá-cerdoSal(Faria,1987,p.69,n.º14).
Iremos terminar a nossa análise sobre osoleirospresentesnoespólioobtidonaAltodeSãoMiguelcomamarcaqueestácolocadanofundointeriordeumataçadeterrasigillatadoSuldaGália(ASM2/2009),quedeverápertenceraooleirodeLaGraufesenque,MVRRAnVS.
Aprimeiradificuldadeasuperarfoiaqueserelacionoucomatipologiadaprópriataça,poisasdimensõesreduzidasdamesmanãopermitiramumaclassificaçãosatisfatória,pelofactodeabaseeoarranquedaparedeindiciaremumataçadeperfilatenderparaohemisférico.
Claroquehaveria,seguramente,umavariedadedetaçasqueseenquadrariamnestascaracte-rísticasmorfológicas,comosejam,asRitt.8,14easDrag.24/25e27.
Entretanto, a leitura da marca levantou-nos problemas acrescidos, pois tornava-se quaseimpossívelperceberosentidodas três letrasqueaconstituíam.Por fim,concluímosqueestas,contidasnumacarteladetiporectangularcomoscantosarredondadosededimensõesreduzidas,tinhamsidogravadascomumpunção,que,quandoaplicado,deixavaamarcainscritadeformaretrógrada6.
AleituraqueapresentamosdeЛ^VM,emqueoR,retrógrado,estámalimpressoeemnexocomoV,baseia-senaúnicamarcacomestagrafia,queencontrámosparaMurranusnorecente
Fig. 3 Marcasdeoleiro:1e2–marcasitálicas;3–marcasudgálicadeLaGraufesenque(FotografiasdeGuilhermeCardoso).
1
2
3
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300284
estudodaresponsabilidadedeMartineGenin(2007,p.557,Est.19,n.º1289.14)sobreocomplexooleirodeLaGraufesenque,noqualseinsereumamarcadotipoquedescrevemoscomoretrógrada,que,noentanto,nãoapresentaonexoentreoVeoR.
AoconsultaraobradeMarinusPolak,encontrámosumexemplardeVechtenquepossuíaumagrafiaaproximadaMV(Polak,2000,pp.276–278,Est.15,n.ºM132)aplicadanumataçaquepareceserdotipoRitt.5,oudotipoDrag.27.
Verificámos,igualmente,aexistência,nalistadas20marcasestudadas,denexosdeváriostipos,que,noentanto,nãosãoiguaisàdamarcaqueapresentamosparaoAltodeSãoMiguel.
Combasenoqueafirmámosnosparágrafosanteriores,poderemos,assim,concluirtersidoamarcadeMurranoaplicadanumataçadotipoDrag.27,muitoprovavelmente,eterumacronolo-giaqueseestenderádeTibérioaCláudio/nero,diacroniaaceiteparaesteoleiro,quesedistinguiu,principalmente,pelasuafasedeproduçãodeterrasigillatadecorada.
2. Cerâmica de paredes finas
noacompanhamentoarqueológicodeemergênciaforamexumados6fragmentosdecerâ-micadeparedesfinas,dosquais,apenasaum(ASM36/2009)—pequenaporçãodebojojuntoaobordodecopooutaça—,nãonosfoipossíveldar,dentrodastipologiasutilizadas,qualqueriden-tificação.
Atendendoaoestadomuitofragmentadodaspeças,tornou-sedifícilaatribuiçãodasrestan-tesaformasbemdefinidas.Paraultrapassaresteproblema,utilizámosfiliaçõesemoutrosestudosjápublicadossobreotemadasparedesfinas,asquaisnosparecerampertinentes.
Ofragmentodepequenaurna(ASM31/2009)queapresentaoperfildobordoatéaoarran-quedoombro, jánosera familiar,pois, em2003, tínhamosestudadoumfragmentode formaidêntica,encontradonavertentedoLadoOcidentaldoCastelodeAlcácerdoSal(Sepúlveda&alii,2003,p.390,Fig.1,n.º6).
noentanto,ascaracterísticasdapasta(castanhamuitoescura/negra)eoacabamento(paredeexterior de cor negra, com ausência de engobe e com brunido), são drasticamente diferentesdaquele,oquenoslevaapensarserestenovofragmentoinfluenciado,ainda,portécnicasdeaca-bamentodecerâmicastípicasdaúltimaIdadedoFerro.
nãoobstantearessalvaapresentadafoipornósclassificadacomosendopertencenteàformaMayetXXI(=MarabiniXXXI),comcronologiaqueapontaparaoprincipadodeAugusto.
AotermosencontradooutroparaleloparaestaformaemCosa(MarabiniMoevs,1973,p.218,n.º404),nãodeixaremosdelevantar,todavia,ahipótesedepodertratar-sedeumaproduçãobelgaemterranigra.
Fazemtambémpartedesteespólio,duasbases,umadeumcopoeoutradetaçaparaalémdoisbojosdetaçascarenadas,asquaispassaremosaanalisar.
AprimeirabasetemonúmerodeinventárioASM32/2009efoiclassificadacomoperten-centeaumcopodaformaMayetIII,tendocomoparaleloumexemplardaAlcáçovadeSantarém(Arruda&Sousa,2003,p.251,Fig.6,n.º47),emborapeseofactodeoseudiâmetroserbastantemenor.
ParaCosa,Marabini(1973,p.66eEst.7)apresenta,comoexemplosdasuaFormaVII,umconjuntodefragmentosquenosparecembemmaissemelhantesaonosso,apesardenãoconse-guirmos confirmar a possibilidade da existência de um perfil perfeitamente côncavo destabase.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 285
AcronologiaqueMayetdeterminaparaasuaFormaIIIé,principalmente,da2.ªmetadedoséculoIa.C.,emboraestainvestigadorareconheçaapossibilidadedeumapré-existênciaduranteaqueleséculo,enquantoparaMarabiniMoevselaserádo“endofthefirstquarterofthe1stcen-turyBCtotheearlyAugustanperiod”.
Porsuavez,asegundabase(ASM33/2009),apresentaumpequenopéembolachadeumataçaque,pelascaracterísticasdapastaedacor,parece-nosserpossívelassociaraduaspeçasqueestudámosprovenientesdoforno3dafiglinadoMorraçaldaAjuda,Peniche(Cardoso,Rodrigues&Sepúlveda,2006,p.272,Fig.26,n.os162e163)7.
Atendendoaofactodenãopossuirmosapartesuperiordaparededataçaedorespectivobordo,seriaarriscadoatribuirumaformadentrodaclassificaçãodeMarabinioudeMayet.Con-tudo,aassociaçãoaosdoisexemplaresdePenichepermite-nos,comreservas,enquadrá-lanaformaMayetXXXIII,nãoesquecendoqueestasbasessãocomunsaoutrostiposdetaças.
AporçãodetaçahemisféricacomonúmerodeinventárioASM34/2009pertenceàstaçasMarabini XXXVI, que esta investigadora americana dividiu em três grupos para o período deAugusto.
Atendendoaofactodeonossofragmentopossuirumacaneluraameiodapeça,definindo,assimacarena,serápossívelenglobá-lanoprimeirogrupo(A).
AformaequivalentedeMayettemonúmeroXXXIII,emboranospareçaseraformaMayetXXVI,taçacarenadacomduasasas(Mayet,1975,Est.XXVIII,n.º215),aquemaisseaproximadoperfildofragmentodoAltodeSãoMiguel,comosenãodenadasabermosdapossibilidadedaexistênciadeasas.
Mayetconsidera,comocronologiadestataçabiansada,operíodocorrespondenteaoprinci-padodeTibério,baseando-senotipodedecoraçãoqueosseusexemplaresapresentam.
Comojáafirmámosnocasodofragmentoanterior,tivemosoportunidadedeestudar,emPeniche,váriaspastasdecerâmicadeparedesfinas,decaracterísticasarenosas,quesãoidênticasàqueanalisamosequeestãotambémpresentesnoutrosarqueossítiosdoactualterritórioportu-guês:Tróia(Setúbal)evilladoMontedaChaminé(FerreiradoAlentejo),inéditos.
Todavia, na feitura da presente peça transparece uma grande preocupação estilística, namedidaemquenosapercebemosterexistidoumaescolhacriteriosanoselementosnãoplásticos,quenosparecemsertodosdomesmotamanho(médio),oqueproduziriaumefeitodecorativobemconseguido,contrariamenteaoqueacontecenormalmentecomadecoraçãode“granitadoarenoso”deépocatibério-claudiana.
Finalizaremoscomofragmentodecarenadetaçacombojo(ASM35/2009),quepoderáper-tenceraumasérievastadetaças(MarabiniXXXVI,XL,XLIV,MayetXXVII,quiçáXXVIII).
Ainexistênciadeengobe,otipodepasta(comcernecinzentomuitoescuro,originadopelarespectivacozedura)eaaparentefaltadedecoraçãoqueofragmentoapresentaafastam-nosdequalquerfiliação,especialmenteadeMayet,quetemcronologiasbemmaistardiasparaascarac-terísticasqueenunciámos.
Porsuavez,Marabini(1973,p.99)viajandoaolongodaprofícuavidadestataça,pelomenosemCosa,colocaoseuaparecimentoemépocadeAugusto,aparecimentoesteadjectivadocomo“ThewidediffusionofbowlsofFormXXXVI”,verificandooseutotaldesaparecimentodosmer-cadosnoperíodoCláudio/nero.
DecidimosincluirofragmentodeAlcácerdoSalnestaforma,apartirdosinúmerosexem-plosapresentadosparaCosa,emborasemprecomumcertograudeincerteza,tendopesadonestaescolha,também,otipodefabricoapresentado,assimcomoacronologiadasuautilização.
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300286
Estampa VCerâmicadeparedesfinas–Pequenaurna:ASM31/2009;Taças:ASM32/2009,33/2009,35/2009.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 287
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
31/2009 UrnaMayetXXI(=Marabini
XXXI)20 70 – 2
Compacta,fina
10YR3/2Augusto Paredeexteriorpolida
32/2009 CopoBaseebojo
MayetIII/Marabini
VII25 – 34 1,8
Compacta,fina
2.5YR7/8enocerne2.5Y8/8
SéculoIa.C.incluindoAugusto
Semengobe
33/2009 TaçaBaseebojo
MayetXXXIII(?) 11 – 40 2,5
Arenosacomenp
abundantes5YR7/8
1.ºterçodoséculoId.C.(?) Semengobe
34/2009Taça
hemisféricaBojo
MarabiniXXXVI
(grupoA)MayetXXVI
3 – – 1,5
Arenosacomenp
abundantes10R4/8
Augusto/Tibério
Engobedecor2.5YR2.5/2
35/2009Taça
carenadaBojo
MarabiniXXXVI
(?)29 – – 3
Compacta,fina
2.5Y8/8enocerne
5Y7/6
Augusto/Tibério
SemengobeTraçosdefogo
36/2009 Copo(?)Bojo Ind. 20 – – 1
Compactac/enp-
-quartzo7.5YR6/6
SéculoIa.C.n/desenhadaSemengobe
Traçosdefogo
3. Lucernas
naintervençãolevadaacabonoAltodeSãoMiguel,foramencontradosseisfragmentosdelucerna,cujaclassificaçãotipológicanosfoidificultada,devidoaofactodeamaioriadelesestarincompletaoudesprovidadoselementosquenosserviriamparasuaidentificação.
Mesmoassim,nãodeixámosdeadiantarhipótesesquantoàstipologiasemquesepoderãoinserir,tendoemmenteasinformaçõesquedelaspoderemosobter,asquaisser-nos-ãoimprescin-díveisnaaferiçãodaexistência,coerente,deumadiacroniadeocupaçãonaÉpocaRomanadestesítioarqueológico,quandoconjugadascomosoutrosváriostiposcerâmicosquedeigualmodoapresentamos.Estesfragmentoscorresponderão,apenas,acincoindivíduos,namedidaemqueofragmentodeorlacomvoluta(ASM74/2009),atendendoàscaracterísticasecoresdapasta(5Y8/2)edoengobe(10YR7/6),podeserperfeitamenteidênticoaoASM76/2009,quedeveráperten-ceraumalucernadotipoDressel/Lamboglia9(=Loeschcke1BeC=DeneauveIVA),comcrono-logiaquevaidesdeAugustoatéfinaisdeTibério,comprobabilidadedeseremtambémencontra-dasemcontextosdeCláudiomasjá“deformaresidual”(Morais,2005,p.322),ouatéiníciosdoséculoIId.C.(RodríguezMartín,2002,p.23).
Ofragmentodediscodecoradocomumabandadebastonetes,emrelevo,comumalarguraaproximadade10,5mm,deacordocomváriosparalelosapresentadosporMorilloCerdán(2003,pp.323,n.º20,381,382,n.º22,483,505)paraAstorga,poderápertenceraumalucernadevolu-tas,masdetipoindeterminado.Deacordocomomesmoinvestigador,estetipodedecoraçãododisco inserir-se-á, no seu “Catálogo Iconográfico”, dentro do grupo dos “motivos vegetales”(MorilloCerdán,2003,p.546,Fig.72),classificaçãoqueachamosumpoucoforçada.
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300288
Porsuavez,osrestantesfragmentospertencerãoalucernasdevolutasduplasqueseencon-tramemelevadasquantidadesemsítiosderomanizaçãoplena,durantetodooséculoId.C.,perí-ododeAugustoincluído.
DevemserinseridasnatipologiadeLoeschckenasuavariante4(=DeneauveVAouVC,=Dressel/Lamboglia11ou11b)(Ceci,2005,pp.314–320)8comvivênciasqueabrangemoespaçodetempo compreendido entre Augusto e os finais dos Júlio-Cláudios, podendo-se prolongar atéfinaisdoreinadodeDomiciano.
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.
Alt. Ø Reserv. Ø Base Esp. Média
71/2009 Bicoc/voluta
Lucernadevolutas 26,5 – – 3
C/vacúolos,c/enpraros7.5YR8/4
Augusto/finaisdeDomiciano Bicoredondo
72/2009 Bicoc/voluta
Lucernadevolutas 21 – – 2,6
Arenosac/enp
abundantes7.5YR8/4
Augusto/finaisdeDomiciano Bicoredondo
73/2009Porçãode
reservatórioc/voluta
Lucernadevolutas 25,5 – 64 4
Arenosac/enpraros5YR7/3
Augusto/finaisdeDomiciano –
74/2009 Orlac/voluta
Lucernadevolutas 15 – – 2
Compactac/enpraros
5Y8/2
Augusto/Tibério
iníciosdoséculoII
Poderápertenceraofrag.76/2009
75/2009 Disco Lucernadevolutas? – – – 3,8
Arenosac/enpraros7.5YR8/4
Augusto/finaisdoséculoId.C.
DecoradoØdodisco>62mm
76/2009Orla,
reservatórioebase
(?) 28,5 64 38 4Compacta
c/enpraros5Y8/2
Augusto/Tibério
iníciosdoséculoII
Perfilcompleto
4. Verniz vermelho pompeiano
Constam do espólio encontrado nesta intervenção/acompanhamento arqueológico, cincofragmentosdepratos,normalmenteutilizadosaolumeparaaconfecçãodealimentoseque,pelassuascaracterísticas,estãoenglobadosnotipocerâmicodenominadodeengobevermelhopom-peiano.
Parece,noentanto,tertidoestacerâmicadecozinha,outrasfunções,comosejam“diversasfasesdeproduçãodealimentos(…)usadosnoserviçodemesa”(Arruda&Viegas,2002,p.222),seatender-mosaocasodeváriospratosnãoapresentaremosseusfundoscomregistodeescurecimento.
no caso presente, dois dos fragmentos (ASM 37 e 38/2009) mostram-nos ligeiras zonasnegras,quenoslevaramapensarestaremrelacionadasapenascomcondiçõesocorridasnasuapós--deposição,enquantoosrestantestrêsforam,semdúvida,colocadossobreolume.
TantonaAlcáçovadeSantarém(Arruda&Viegas,2002,p.225)comonoteatroromanodeLisboa(Fernandes&Filipe,2007,p.237)ounavertenteocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal(Sepúlveda&alii,2003eLOCAS-IIfase)severificaestaduplautilização,emboraaspercentagensvariemdearqueossítioparaarqueossítio.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 289
nenhumaforma,contudo,dentrodastipologiasusualmenteutilizadas(AguarodOtal,1991;Manasse,1973),foipossívelidentificar,devidoanãotermosnenhumperfilcompleto,pois,estesfragmentossãoapenasdefundos.
Devidoaoseuestadofragmentado,tambémnãonosfoipossíveldeterminarosseusdiâme-tros,comexcepçãodofragmentocomonúmerodeinventárioASM39/2009.
AspeçasASM40e41/2009 levantaram-nosproblemasreferentesàspastasemqueforamproduzidas,namedidaemqueapresentavamcaracterísticasdiferentesdasoutrastrês.Estefactolevou-nosapensarquepoderiampertenceraomesmoprato,ressalvaquenãoqueremosdeixardeapontar,poistratámo-lascomoindependentesumadaoutra.
Definimos,consequentemente,doistiposdepasta,atendendoàcomposiçãopetrográficadasmesmaseàpercentagemdosmineraisconstituintes,asquaisforamsubmetidas,apenas,aumaobservaçãomediantelupabinocular.
AmbasestãoincluídasnaPasta2deAguarodOtal(1991,pp.40–41),aqualéconstituídaporabundanteselementosdeorigemvulcânica,dando-lhe,assim,umafiliaçãolocalizadanumazonaoleiraemtornodabaíadenápoles(PompeiaeHerculano).
• PastaA–texturaarenosa,compacta,muitodura,porosacomabundantespontosnegrosdegranolometriavariada(piroxenas,turmalinas),cristaisdequartzo(leitoso,fumadoehialino),hematitesraraseausênciademicas;sendodecor2.5YR6/8;
• PastaB–texturaarenosa,compacta,muitodura,porosacompiroxenas,pontosesbranquiça-dos(talcosoucalcárioqueexplodiram),cristaisdequartzo(leitoso,fumadoehialino),óxi-dosdeferrosignificativos(escurosealaranjados)eausênciademicas;decor5YR4/6.
Porsuavez,osengobesqueapresentamsão,geralmente,espessoseaplicadosdeumamaneiraquechamaremosuniforme,paratodosfragmentos,excepçãofeitaparaoASM40/2009quefoirevestidoporumengobeaplicadoemcamadasequeseescamacomfacilidade.Asuacoréuni-forme na gama do vermelho (10R 4/8), apenas com uma pequena variação para o prato ASM37/2009.
Atendendoàindefiniçãodasformas,optámosporlhesatribuirumacronologiageralcorres-pondenteaoAltoImpério.
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Pasta Engobe Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
37/2009 Prato Ind. – – >280 7 A 10R5/8 Alto-imperial nãoqueimada
38/2009 Prato Ind. – – >264 8,5 A 10R4/8 Alto-imperial Ligeiramentequeimada
39/2009 Prato Ind. 7,5 – 210 6 A 10R4/8 Alto-imperial Queimada
40/2009 Prato Ind. – – – 5 B 10R4/8 Alto-imperial Queimada
41/2009 Prato Ind. – – – 4,3 B 10R4/8 Alto-imperial Queimada
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300290
5. Cerâmica comum bética
Insere-senoconjuntodoespólioobtidonesteacompanhamentoarqueológicourbano,umgrupodecerâmicasque,devidoàscaracterísticasdaspastasqueapresenta,seoptouporenquadrá--lonaschamadascerâmicascomunsdeorigembética.
Jáem1976,JorgeAlarcãoe,maistarde,emmeadosdadécadadenoventadoséculopassado,Jeannettenolenalertavamparaaexistênciadestetipocerâmico,quandoefectuaramosseusestu-dossobreConímbrigaesobreBalsa.
nosúltimosanos,temosassistidoauminteressecadavezmaiorsobreascerâmicascomunsdeorigembética,tendosidoestudadas,querdemodomaisabrangente,porRuiMoraiseInêsVazPinto,paraossítiosarqueológicosdoAljube,Porto(Morais&Pinto,2007),Braga,(Prudêncio,2000),SãoCucufate(Pinto,2003,2004,2006)eCastelodaLousa(Morais&Pinto,2007),queremsíntesesefectuadassobrealmofarizesoriginadosnaregiãogaditanaenaregiãodovaledoGuadalquivir9.
ParaoAltodeSãoMiguel,iremosapresentarumtotalde36fragmentosdestetipodecerâ-mica,dosquais,apenas17permitiramapurarumaformadefinidaequeforamagrupadosemtrêsgruposdepastas.Estassãoequivalentes,nasuaespecificidade,àspastas9,10e12deSãoCucufate(Pinto,2003,pp.134–141),querenumerámoscomoASM1,ASM2eASM3.
Dosdiversoscomplexosoleirosquefabricaramestacerâmica,escolhemoscomoindicadorcronológicoosquenosparecemtersidomaisbemestudadosepublicadosatéaomomento,ouseja o dos Hornos del Patio del Cardenal e, especialmente, o do Hospital de las Cinco LlagasamboslocalizadosnacidadedeSevilha.
notrabalhoqueChicGarcía&GarcíaVargas(2004,pp.304,305,320,321,326)dedicaramàsproduçõescerâmicaslocalizadasnoGuadalquivirenoGenil,indicam-se,tendocomobaseonúmerodefragmentosestudados,percentagensbastanteelevadasparaascerâmicascomunsdoForno 6 (Hospital) em que “puede señalarse unos 46,6% del total de fragmentos de ánforas(Fig.26),un42,75%decomunes(Fig.27)”.Consideramestesautoresterestecentrooleiroprodu-zidodurantetodaasegundametadedoséculoId.C.,estendendo-seasuaactividadepelosiníciosdacentúriaseguinte.
Atendendoàsdificuldadesquetemosvindoafrisardainexistênciadeestratosdefinidosedas poucas dimensões dos nossos fragmentos iremos, portanto, indicar no nosso catálogo ascronologiasqueobtivemosquandoconjugámosasdestasproduçõescomostrabalhosquereferi-mosnoiníciodoestudodedicadoaestetipocerâmico.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 291
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
42/2009 Baseebojo Pote 35 – 90 5 ASM3Augusto/1.ª½do
séculoId.C.–
43/2009 Baseebojo Pote 29 – 100 6 ASM3Augusto/1.ª½do
séculoId.C.–
44/2009 Baseebojo Pote 20 – 100 3 ASM3Augusto/1.ª½do
séculoId.C.–
45/2009 Baseebojo Potinho 62 – 66 4 ASM2Augusto/1.ª½do
séculoIa.C.–
46/2009 Baseebojo Potinho 39 – 60 4 ASM1Augusto/1.ª½do
séculoId.C.–
47/2009 Baseebojo Pote 20 – 100 4 ASM1Augusto/1.ª½do
séculoId.C–
48/2009 Bordo Terrina 18 170 – 5 ASM1 Alto-imperial –
49/2009 Bordo Pote 42 70 – 5,5 ASM2 Augusto Barrilóide(?)
50/2009Bordo
earranquedeasa
Pote 35 95 – 4,5 ASM1Augusto/1.ª½do
séculoId.C–
51/2009 Asa Pote(?) – – – 5 ASM1 Alto-imperial –
52/2009 Asa Pote(?) – – – 5 ASM1 Alto-imperial –
53/2009 Baseebojo Pote 32 – 70 6 ASM1Augusto/1.ª½do
séculoId.C–
54/2009 Bojo Pote/Urna 88 – – 7 ASM1Augusto/1.ª½do
séculoId.C.
Ømáximodobojo180mm
n/desenhada
55/2009 Bicoeparede Biberão 30 – – 6 ASM1 Alto-imperial Øpossíveldobico
9mm
56/2009 Coloeombro Bilha 20 – – 6 ASM2 Alto-imperial Ødocolo23mm
57/2009 Colo Bilha 30 – – 5,6 ASM1 Augusto/Alto-imperial
Ødocolo44mm
n/desenhada
58/2009 Colo Cântaro/Jarro(?) 40 – -- 4 ASM2 Augusto/
Alto-imperial
Ødocolo60mm
n/desenhada
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300292
Estampa VICerâmicacomumbética–Potes:ASM46/2009,42/2009,44/2009,43/2009.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 293
Estampa VIICerâmicacomumbética–Potes:ASM53/2009,47/2009,50/2009,49/2009.
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300294
Estampa VIIICerâmicacomumbética–Potinho:ASM45/2009;Terrina:ASM48/2009;Biberão:ASM55/2009.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 295
6. Cerâmica de imitação de campaniense
Osquatrofragmentosquedeseguidaapresentamospossuemcomoelementocomumiden-tificadoromesmotipodepasta,quesedefinecomosendomuitodura,comenpdegranulometriamuitopequena(pontosbrancosquepoderãoserquartzoealgumasmicasdotipomoscovite),comprofusãodevacúolosalongadosdepequeníssimadimensãoedecorcinzenta(5Y6/1).Todososfragmentosapresentam,pelointerior,umengobe/verniz(?)brilhante,demáqualidade,sobreoqualnosparecetersidoaplicadoumpolimento.Asparedesexterioresestãocobertasaindaporresquíciosdeumpossívelengobecinzento-escuro,quasenegro,massembrilho.
Aspeças,nototal,constituemdoisgruposdiferentes,quantoàsuaforma,ouseja,taças(umpédetaçapequenaeumaporçãodeparedecarenadadegrandetaça)epratos,tendoamboscomoparticularidadecomumasparedesbastanteespessas(comespessurasquevãode6a9mm).Pen-samostratar-sedeimitaçõesdecerâmicacampaniensefabricadas“intuttoilbacinomediterraneooccidentaledallasecondametádelIIesoprattutonelIsec.d.C.”(Leotta,2005,p.73),copiandoformasdasproduçõesdecampanienseA,ciclodaB,eprincipalmentedaC.
Começaremosaanálisedestesfragmentospelon.ºASM77/2009,quepertenceráaumataçadaformaLamboglia2equeseencontraemelevadaprofusãonosespóliosdesítiosarqueológicoscomocupaçãoprecoceromanasituadosnoactualterritórioportuguês.
QuantoaofragmentodecarenacomparedeASM80/2009,estepertenceaumataçadegrandeespessuraquepoderemosidentificarcomaformaLamboglia33b(campanienseB-Cales?),queestápre-senteemTarragona,emestratosbemdefinidosecomcronologiasdefinaisdoséculoII/iníciosdoIa.C.,prolongando-se por todo este século (Díaz García & Otiña Hermoso, 2007, pp.104–106, 117). noentanto,nãoserádespropositadopretenderequipará-lacomoutrotipodetaçaqueéclassificadadentrodacampanienseCporLambogliacomoForma18(=Morell2622a1),vistoapresentarumainclinaçãodaparedesuperiorbastantesemelhanteaonossoexemplar.Estacomparaçãopermiteatribuir-lheumadata-çãodoséculoIa.C.,talvezmaisconsentâneacomoconjuntodasoutrascerâmicasemqueestáinserida.
Porseu lado,o fragmentodebordocomarranquedeparedeASM78/2009 inspira-senospratosMorel2277e2282–2284(=Lamboglia5–7)daproduçãodacampanienseC,aqueperten-cem quatro exemplares exumados na vertente do lado ocidental do Castelo de Alcácer do Sal(Sepúlveda&alii,2001,p.217,Fig.7,n.º27eFig.8,n.os28–30).
Estespratossãodosmaisconhecidosdaproduçãodeverniznegro,possuindocronologiasquesepodemestender,nafasedeproduçãodeimitação,pelasegundametadedoséculoIa.C.,comoéocasodosexemplaresdescobertosnacidadedeIesso,naCatalunha(PeraiIsern&GuitartiDuran,2007,p.177,Fig.2,n.ºG92–285–1).
Finalmente,ofragmentoASM79/2009levantou-nossériosproblemas,porqueapresentaumdiâmetrodesmesuradamentegrande,oquetornouaprocuradeparalelosbastantedifícil,provo-cando,aomesmotempo,a impossibilidadedelheatribuirumaforma(taça/prato?)dentrodastipologiasquetemosvindoautilizar.
Recorremos,maisumavez,aoartigosobreascerâmicasdeimitaçãoencontradasnacidadedeIesso,naprovínciaromanadaHispaniaCiterior,queapresentatrêspeçasdediâmetrosbastantemenoresereferentesataçasconsideradasporPeraiIserneGuitartiDurancomosendopassíveisde“assimilaralboloplatfondo,(...)sotalaformaLamb.16,totipresentartambéalgunessemblancesamblaformaLamb.8”(PeraiIsern&GuitartiDuran,2007,p.177,Fig.2,G01–456–39,G94–505–6eG93–351–2).
Asuacronologiafoiestabelecidacomobasenoscontextostardo-republicanos(2.ªmetadedoséculoIa.C.)escavadosnaquelacidade,queofereceramquantidadessignificativasdematerialseme-lhante.
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300296
Estampa IXCerâmicadeimitaçãodecampaniense–Prato:ASM78/2009;Taças:ASM79/2009,80/2009,77/2009.Marcasdeoleiro.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 297
Catálogo
N.º de Inv. ASM Tipo Forma
Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.
Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média
77/2009 Base Taça 14 – 45 6 única 90e40a.C. –
78/2009 Bordoeparede Prato 27 270 – 6 única 2.ª½doséculoIa.C. –
79/2009 Bordoeparede Prato(?)Taça(?) 28 280 – 6 única Tardo-
-republicanas –
80/2009 Carenaeparede Taça 54 – – 9 única FinaisdoséculoIIa.C.
Ødacarena150mm
Conclusões
Oestudoqueefectuámos,emborabaseadonumespólioreduzido,mereceu-nosumasériedeconsideraçõesquenosparecerampertinentes.Iremos,pois,deummodoomaissimplificadopos-sível,enumerá-las,pensandocomelaslevantarproblemasqueseprendem,naturalmente,comoPeríodoRomanodahistóriadeAlcácerdoSal.
Oprimeirocomonãopodiadeixardeser,prende-secomalocalizaçãodosítiodoAltodeSãoMiguel.SituadonoaltodeumacolinasobranceiraaoSadoedominandolargamenteasplanurasqueseestendemparaSE,eraumlocalqueseriabemapreciadoparafixaçãodepopulações,factoestequeétestemunhadopelasestruturasencontradaspelaequipadearqueólogosdoMAEDSnoanode1976nasproximidadesdestesítio.Torna-se,pois,necessáriaaprocuradeestruturasquepermitamacontinuaçãodoestudorelacionadocomoplanourbanísticoromanodoladoorientaldacidadedeSalacia.
Esteconjuntodeu-nosaoportunidadede,pelaprimeiravez,darmosnotíciadeproduçõesdeterrasigillataprecocedoTipoPeñafloremAlcácerdoSal.
AexistênciadefluxoscomerciaisdeprodutoscomorigemnasolariasdeCeltierajáconhe-cidanoactualterritórioportuguês,designadamentenacidadedeBalsa(Viegas,2006),noteatroromanodeLisboa(Sepúlveda&Fernandes,inédito),assimcomonaCasadosBicos,emLisboa(inédito).
Outrosespóliospoderãoconterfragmentosdestacerâmica,quefoiclassificadapormuitosinvestigadorescomodevernizvermelhotardiaedecerâmicadevernizvermelhojulio-claudiano.UmadiferenteinterpretaçãodestesespóliospermitiriafornecernovosdadosparaaelaboraçãodeumacartadedifusãoparaaLusitâniaportuguesa,dasigillatahispânicaprecoce,quedeveriaacom-panharoscarregamentosdeânforas,dotipoDr.20,queeramproduzidasnosmesmosfornosdeElCortjillo(LaViña,Peñaflor),situadosnamargemdireitadoGuadalquivir.
noqueconcerneaomaterialvítreo,énotóriaafaltadeinformaçãoacercadestetipodeteste-munho.Parece-nostambémquecadanovaintervençãoarqueológicanãotemoferecido,nosmate-riaisrecolhidos,matériasuficienteparaumestudomaisaprofundadoquantoaestebemdecon-sumo, tão importante para compreender outros padrões, para além dos cerâmicos, de trocascomerciaisentreSalaciaeorestodomundoromano,ondeovidroera,então,fabricado10.
Outropontoquenoslevouareflectirsobreanaturezadesteespólioéofactodepossuirmoscerâmicasdeimitaçãodecampaniense,masnãotermosobtidopeçasgenuínasdestetipocerâ-mico.numespólioquenãochegaaumacentenadepeças,olequedecerâmicasobtidoédetal
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300298
formavariado,quese tornanotóriaestaausência.Seráquesobosalicercesdasmoradiasqueladeiam a zona intervencionada se encontrarão estas cerâmicas? Achamos, sinceramente, quesim.Porfim,nãopudemosdeixardechamaraatenção,novamente,paraalimitaçãocronológicadacolecção.Enquantoosmateriaisquedizemrespeitoàsfasestardo-republicana,augustanaeatodooséculoIeiníciosdoIIseencontrampresentesemabundância,osséculosseguintes,atéàocupaçãoislâmica,nãonosdeixaramquaisquertestemunhosmateriaisdeocupaçãodoAltodeSãoMiguel.
Maisumavez…osítioerrado,ounão!
Agradecimento
OsautoresdesejamagradeceraosDrs.GuilhermeCardoso,SeverinoRodrigueseÉlvioMelimdeSousaadisponibilidadequesemprepatentearamquandolhespedimosauxílioparaaprossecu-çãodesteartigo.
NOTAS
* Arqueólogo.AssociaçãoCulturaldeCascais.** Arqueóloga.CâmaraMunicipaldeAlcácerdoSal.*** Arqueóloga.1 AformaConspectus12foiproduzidaportodaaPenínsulaItálicaea
suadataçãocorrespondeaosHorizontesdeDangstetten-Oberaden.2 AdúvidaemrelaçãoàclassificaçãodeASM20/2009deve-seao
factodeapenaspossuirmosazonadacarena,aqualseapresentabastantemoldurada.Apresençadobordopermitiriadeterminarcommaiorcertezaasuatipologia.
3 “FortheAugustanandJulio-Claudianperiods,(…)thecontinuedproduction(…)withlarger-scaleimitationsofterra sigillata italica”.
4 CRESTIO,CHRYSAnTVS,FELIX,HILARIO,PRIMVS,ROMAnVS,SVAVISeTHYRSVS.
5 TaçasdotipoConsp.22(Augusto/Tibério);Consp.23(2.ºe3.ºquarteisdoséc.Id.C.);Consp.24(demeadosdeAugustoemdiante);Consp.25(provavelmenteAugusto/Tibério).
6 InestimáveissugestõesdoDr.ÉlvioMelimdeSousa.7 Aproveitamosaoportunidadeparacorrigiraidentificação
queapareceunoparágrafoondesereferemestesdoisexemplares.Assimondeselê“Apeçan.º9”dever-se-áler“Apeçan.º162”,talcomoondeselê“an.º10”deveráler-se“an.º163”.Pelaimprecisãocometidaapresentamosasnossasdesculpas.
8 naclassificaçãotipológicadeDressel-Lambogliaestaslucernastêmdiacroniasdeépocajúlio-claudiana,enquanto,paraDeneauve,elassãotípicasdoperíodoquecomeçacomoiníciodaEra,estendendo-seatéaosmeadosdoséculoId.C.
9 Alarcão,1976;Arruda&Viegas,2004;Carvalho,1998;Fabião,1998;Morais,2004;Quaresma,1995–1997;Sepúlveda&alii,2007.
10 OumesmodentrodaprópriaLusitânia.
BIBlIOGRAFIA
ALARCÃO,Jorgede(1978)-VidrosdocastelodeAlcácerdoSal.Setúbal Arqueológica.Setúbal.4,pp.155–170.
AGUARODOTAL,Carmen(1991)-Cerámica romana importada de cocina en la Tarraconense.Zaragoza:Institución“FernandoelCatólico”.
AMORESCARREDAnO,FernandoJ.de;KEAY,Simon(1999)-LassigillatasdeimitacióntipoPeñaflorounasériedehispánicasprecoces.InROCAROUMEnS,Mercedes;FERnÁnDEZGARCÍA,MaríaIsabel-Terra sigillata hispánica. Centros de fabricación y producciones altoimperiales. Homenaje a M.ª Ángeles Mezquíriz.Jaén:Universidad;Málaga:Universidad,pp.210–221.
ARRUDA,AnaMargarida;VIEGAS,Catarina(2002)-Ascerâmicasde“engobevermelhopompeiano”daAlcáçovadeSantarém.RevistaPortuguesadeArqueologia.Lisboa.5:1,pp.221–238.
ARRUDA,AnaMargarida;SOUSA,Elisa(2003)-CerâmicadeparedesfinasdaAlcáçovadeSantarém.Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.6:1,pp.235–286.
BELCHIOR,Claudette(1969)-Lucernasromanas de Conímbriga.Coimbra:MuseuMonográficodeConímbriga.
BOnIFAY,Michel(2004)-Études sur la céramique romaine tardive d’Afrique.Oxford:Archaeopress.
O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 299
CARDOSO,Guilherme;RODRIGUES,Severino;SEPúLVEDA,Euricode(2006)-AolariaromanadoMorraçaldaAjuda-Peniche.Setúbal Arqueológica.Setúbal.13,pp.253–278.
CECI,Monica(2005)-Lelucerne.InGAnDOLFI,Daniela,ed.-La ceramica e i materiali di età romana.Classi, produzioni, commerci e consumi.QuadernidellaScuolaInterdisciplinaredelleMetodologieArcheologiche.Bordighera.2,pp.311–324.
CHICGARCÍA,Genaro;GARCÍAVARGAS,Enrique(2004)-AlfaresyproduccionescerámicasenlaProvinciadeSevilla.BalanceyPerspectivas.InBERnAL,Dario;LAGÓSTEnA,Lázaro-FiglinaeBaeticae.Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C–VII d.C.).Oxford:Archaeopress,1,pp.279–347.
DELGADO,Manuela(1994)-notíciasobrecerâmicasdeengobevermelhonãovitrificávelencontradasemBraga.Cadernos de Arqueologia.Braga.SérieII.10–11,pp.113–149.
DEnEAUVE,Jean(1974)-Lampes de Carthage.Paris:CnRS.
DESBAT,Armand;GEnIn,Martine;LASFARGUES,Jacques(1996)-LesproductionsdesateliersdepotiersantiquesdeLyon.Gallia.Paris.53,pp.1–249.
DIAS,LuisaFerrer(1978)-Asmarcasde“terrasigillata”docastelodeAlcácerdoSal.Setúbal Arqueológica.Setúbal.4,pp.145–154.
DÍAZGARCÍA,Moisés;OTIÑAHERMOSO,Pedro(2007)-ImportacioneseimitacionesdevajilladebarniznegroenTarragonaenlossiglosII–Ia.C.InROCAROUMEnS,Mercedes;PRInCIPAL,Jordi,eds.-Les imitacions de vaixella fina importada a la HispaniaCiterior(segles I aC–I dC).Tarragona:InstitutCatalàd’ArqueologiaClàssica,pp.99–117.
ETTLInGER,Elisabeth;HEDInGER,Bettina;HOFFMAn,Bettina;KEnRICK,PhilipM.;PUCCI,Giuseppe;ROTH-RUBI,Katrin;SCHnEIDER,Gerwulf;SCHnURBEIn,Siegmarvon;WELLS,ColinMichel;ZABEHLICKY-SCHFFEnEGGER,Susanne(1990)-Conspectus Formarum Terrae Sigillatae italico modo confectae.Bonn:Habelt.
FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol;DIOGO,AntónioManuelDias(1987)-MarcasdeterrasigillatadeAlcácerdoSal.Conimbriga.Coimbra.26,pp.61–76.
FARIA,JoãoCarlosLázaro(1998)-AlgumasnotasacercadoprovávelforumdeSalaciaImperatoria(AlcácerdoSal).Conimbriga.Coimbra.37,pp.185–199.
FARIA,JoãoCarlosLázaro(2002)-Alcácer do Sal ao tempo dos romanos.Lisboa:Colibri.
FERnAnDES,Lídia;FILIPE,Victor(2007)-CerâmicasdeengobevermelhopompeianodoteatroromanodeLisboa.Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.10:2,p.211–235.
GEnIn,Martine,ed.(2007)-La Graufesenque (Millau, Aveyron), II: sigillées lisses et autres productions.Pessac:FédérationAquitania.
JERÉZLInDE,JoséManuel(2004)-LaT.S.Hispánicaprecozo‘TipoPeñaflor’,suincidenciaenelterritorioemeritenseydosmarcasinéditasdelM.n.A.R.deMérida.Anas.Mérida.17,pp.161–178.
JERÉZLInDE,JoséManuel(2005)-La terra sigillata itálica del Museo Nacional de Arte Romano de Mérida.Mérida:MuseonacionaldeArteRomano.
KEAY,Simon;CREIGHTOn,John;REMESALRODRÍGUEZ,José(2000)-Celti.Peñaflor. The archaeology of a Hispano‑Roman town in Baetica.Exeter:UniversityofSouthampton.
LAMBOGLIA,nino(1952)-Per una classificazione preliminare della ceramica campana.Bordighera:IstitutoInternazionalediStudiLiguri.
LÓPEZMULLOR,Albert(1990)-Las cerámicas romanas de paredes finas enCataluña.Zaragoza:Pórtico.
MALFITAnA,Daniele(2004)-ItaliansigillataimportedtoSicily:theevidenceofthestamps.InPOBLOME,Jeroen;TALLOEn,Peter;BRULET,Raymond;WAELKEnS,Marc,eds.-Early Italian Sigillata. The chronological framework and trade patterns. Proceedings of the First International ROCT‑Congress, Leuven, May 7 and 8, 1999.Leuven:Peeters,pp.309–336.
CAVALIERIMAnASSE,Giuliana(1973)-Ceramicaavernicerossainterna.InFROVA,Antonio,ed.-Scavi di Luni.Roma:L’“Erma”diBretschneider,pp.278–281.
MARABInIMOEVS,MariaTeresa(1973)-The Roman thin walled pottery from Cosa (1948–1954).Roma:AmericanAcademyinRome.
MARABInIMOEVS,MariaTeresa(2006)-Cosa: the Italian sigillata.Roma:AmericanAcademyinRome.
MAYET,Françoise(1975)-Les céramiques à parois fines dans la Péninsule Ibérique.Paris:CnRS.
MORAIS,Rui(2005)-Autarcia e comércio em BracaraAugusta.Braga:UniversidadedoMinho.
MORILLOCERDÁn,Ángel(2003)-Lucernas.InAMARÉTAFALLA,MaríaTeresa,ed.-Astorga IV: lucernas y ánforas.León:Universidad,pp.16–632.
nOLEn,JeannetteU.Smit(1994)-Cerâmicas e vidros de Torre de Ares (Balsa).Lisboa:MuseunacionaldeArqueologia.
OXÉ,Auguste;COMFORT,Howard(1968)-CorpusVasorumArretinorum.A catalogue of the signatures, shapes and chronology of Italian sigillata.Bonn:Habelt.
Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300300
OXÉ,Auguste;COMFORT,Howard;KEnRICK,Philip(2000)-CorpusVasorumArretinorum. A catalogue of the signatures, shapes and chronology of Italian sigillata.SecondEdition.Bonn:Habelt.
PERAIISERn,Joaquim;GUITARTIDURAn,Josep(2007)-Laceràmicad’imitacióenelsegleIaCalaciutatromanadeIesso(Guissona).Estudipreliminar.InROCAROUMEnS,Mercé;PRInCIPAL,Jordi,eds.-Les imitacions de vaixella fina importada a la HispaniaCiterior(segles I aC–I dC).Tarragona:InstitutCatalàd’ArqueologiaClàssica,pp.173–186.
PÉREZBALLESTER,José;BARROCALCAPARRÓS,MaríaCarmen(2007)-CampanienseC,cerámicasgrisesyengobadasdeimitaciónenCartagena,MazarrónyEivissa.InROCAROUMEnS,Mercedes;PRInCIPAL,Jordi,eds.-Les imitacions de vaixella fina importada a la HispaniaCiterior(segles I aC–I dC).Tarragona:InstitutCatalàd’ArqueologiaClàssica,pp.151–172.
PInTO,InêsVaz;MORAIS,Rui(2007)-Complementodecomérciodasânforas:cerâmicacomumbéticanoterritórioportuguês.InActas del Congreso Internacional Cetariae. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Antigüedad.Oxford:Archaeopress,pp.235–254.
SEPúLVEDA,Euricode;SOUSA,Élviode;FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol(2001)-CerâmicasromanasdoladoocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,2:“cerâmicasdeverniznegro”ecinzentas.O Arquéologo Português.Lisboa.SérieIV.19,pp.199–234.
SEPúLVEDA,Euricode;SOUSA,Élvio;FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol(2003)-CerâmicasromanasdoladoocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,3:paredesfinas,pastadepurada,engobevermelhopompeianoelucernas. Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.6:2,pp.383–399.
SEPúLVEDA,Euricode;SAnTOS,PatríciaA.;FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol(2007)-CerâmicasromanasdoladoocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,5:almofarizesdeproduçãobética,pesosecossoiros. Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.10:2,pp.225–284.
SOARES,Joaquina(1978)-nótulasobrecerâmicacampaniensedocastelodeAlcácerdoSal.Setúbal Arqueológica.Setúbal.4,pp.133–143.
VEGASMInGUELL,Mercedes(1973)-Cerámica común romana del Mediterráneo Occidental.Barcelona:Universidad.
VIEGAS,Catarina(2006)-A cidade romana de Balsa. (Torre de Ares ‑ Tavira): (1) Aterra sigillata.Lisboa:MunicípiodeTavira.