O Espólio Cerâmico Romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica...

30
271 R E S U M O Os autores apresentam o resultado do estudo efectuado sobre um conjunto do espólio cerâmico da Época Romana, recolhido num acompanhamento arqueológico no Alto de São Miguel, na cidade de Alcácer do Sal, aquando da realização de trabalhos de saneamento básico efectuados em 2007 e 2008. São alvo de análise fragmentos de terra sigillata de tipo itálico, da Gália do Sul e, pela primeira vez, referenciadas para esta cidade, produções preco- ces hispânicas ou de Tipo Peñaflor, assim como outras cerâmicas características do período que se estende desde a época Tardo-Republicana até aos meados/finais do século II d.C. A B S T R A C T This paper concerns the study of several Roman ceramics found during the renewal of the sewage net system in the southeast top of the hill (Alto de São Miguel) of the town of Alcácer do Sal, in 2007 and 2008. Samian ware (terra sigillata), with origin in Italy, Gaul and in Hispania (the so called “sigillata precoce” or “Tipo Peñaflor” produced in the kilns of La Viña, Sevilla, Andalucia), were studied, as well as other ceramics that belong to the period between Late Republic and the middle of the 2 nd century AD. Entre os anos de 2007 e 2008 desenvolveu-se, no âmbito da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, um projecto de requalificação urbana que, para além de incluir arranjos paisagísticos na cidade, também previu a construção da respectiva ETAR e a renovação do seu saneamento básico. Uma das primeiras áreas de intervenção foi o Alto de S. Miguel, situado junto a um dos aces- sos do Castelo de Alcácer do Sal (Fig. 1). A abertura das valas foi apenas efectuada onde se situavam as antigas tubagens, sendo a zona afectada pelos trabalhos em causa muito restrita (60 a 80 cm de largura e 80 cm a 1 m de profun- didade). O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência EURICO DE SEPúLVEDA * MARISOL FERREIRA ** VANESSA DA MATA *** REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300

Transcript of O Espólio Cerâmico Romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica...

271

R E S U M O Osautoresapresentamoresultadodoestudoefectuadosobreumconjuntodoespólio

cerâmicodaÉpocaRomana,recolhidonumacompanhamentoarqueológiconoAltodeSão

Miguel, na cidade de Alcácer do Sal, aquando da realização de trabalhos de saneamento

básicoefectuadosem2007e2008.Sãoalvodeanálise fragmentosde terra sigillatadetipo

itálico,daGáliadoSule,pelaprimeiravez,referenciadasparaestacidade,produçõespreco-

ceshispânicasoudeTipoPeñaflor,assimcomooutrascerâmicascaracterísticasdoperíodo

queseestendedesdeaépocaTardo-Republicanaatéaosmeados/finaisdoséculoIId.C.

A B S T R A C T ThispaperconcernsthestudyofseveralRomanceramicsfoundduringthe

renewalofthesewagenetsysteminthesoutheasttopofthehill(AltodeSãoMiguel)ofthe

townofAlcácerdoSal,in2007and2008.Samianware(terrasigillata),withorigininItaly,

Gauland inHispania (thesocalled“sigillataprecoce”or“TipoPeñaflor”produced inthe

kilnsofLaViña,Sevilla,Andalucia),werestudied,aswellasotherceramicsthatbelongtothe

periodbetweenLateRepublicandthemiddleofthe2ndcenturyAD.

Entreosanosde2007e2008desenvolveu-se,noâmbitodaCâmaraMunicipaldeAlcácerdoSal, um projecto de requalificação urbana que, para além de incluir arranjos paisagísticos nacidade,tambémpreviuaconstruçãodarespectivaETARearenovaçãodoseusaneamentobásico.

UmadasprimeirasáreasdeintervençãofoioAltodeS.Miguel,situadojuntoaumdosaces-sosdoCastelodeAlcácerdoSal(Fig.1).

Aaberturadasvalasfoiapenasefectuadaondesesituavamasantigastubagens,sendoazonaafectadapelostrabalhosemcausamuitorestrita(60a80cmdelargurae80cma1mdeprofun-didade).

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência EURICODESEPúLVEDA*

MARISOLFERREIRA**

VAnESSADAMATA***

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300272

Grandepartedaáreaintervencionadaapresentousomenteníveisderevolvimento,commate-riaisforadequalquercontextoarqueológico,semestruturasassociadas,tendosidoidentificadaspeçasbastantefragmentadasedeváriasépocascronológicas(ÉpocasRomana,IslâmicaeModerna/Contemporânea).

OstrabalhosforamefectuadospeloGabinetedeArqueologiadaCâmaraMunicipaldeAlcá-cerdoSal,emcolaboraçãocomelementosdaempresamunicipalEMSUAS.

Aaberturadasvalasparaosaneamentobásicofoisupervisionadaporumadassignatárias(MF)eteveaduraçãodequatrodias.Recorde-sequeesteacompanhamentotevedeserefectuadonamedidaemqueestaobraseencontravainseridanaZonaEspecialdeProtecçãodoCastelodeAlcácerdoSal(ZEP),tendoobtidoaaprovaçãodoIGESPAR.

nãoobstante todasas restriçõesaqueesteacompanhamentoarqueológicoestevesujeito,pensámosserimportantedaraconhecermaisumconjuntodemateriaisromanosqueforamexu-madosnumaáreadacidadelocalizadabempertodoarqueossítioconsideradocomoopossívelforumdeSalacia,queseencontraimplantadojuntoaoadrodaIgrejadeSantaMariadoCastelo,tambémconhecidacomoIgrejaMatriz(Fig.2).Esteadrotinhasidoescavado,deformaalternada,nosanosde1982,1992e1993.AsestruturaseespólioreferenteaoprimeiroanodasintervençõesforamestudadosepublicadospelonossosaudosocolegaJoãoCarlosFaria(1998).

OutrofactorquepesoutambémnaelaboraçãodesteestudofoiaproximaçãodoAltodeSãoMiguelao“campodeintervençãoarqueológico”dochamadoDepósitodeÁguaque,em1976,foiescavadoporumaequipadoMuseuArqueológicoeEtnográficodoDistritodeSetúbal(MAEDS),comsubsequentepublicaçãodealgunsmateriaisdaÉpocaRomana,taiscomoacerâmicacampa-niense(Soares,1978),aterrasigillata(Dias,1978)eosvidros(Alarcão,1978).

Fig. 1 MapadacidadedeAlcácerdoSal,comindicaçãodoAltodeSãoMiguel.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 273

Escolhemos,então,dentrodoespólioobtidonoAltodeSãoMiguel,todootipodecerâmicaqueconsiderámosrepresentativadoperíododaromanização,excluídasascerâmicasditascomunseosgrandescontentorescerâmicos:asânforaseosdolia.

Maisumavez,tivemosoportunidadedeverificarasausênciasdematerialvítreo,oquenostemvindoaintrigar,àmedidaqueavançamososnossosestudossobreAlcácerdoSal,assimcomodasimportaçõesdeterrasigillatanorte-africanasclaras,queparecemnãoexistirnasáreasmaisaltasdacidadeduranteosfinaisdoséculoIetodooIId.C.,possivelmente,emdetrimentodemovimen-taçõesantrópicasmais“ribeirinhas”ocorridasnosséculosseguintes.

Aafirmaçãoquefizemosnoparágrafoanteriorconhece,noentanto,algumasexcepções,comosejamoscasosdeumfragmentodebasecomarranquedaparededeTSAf.ClaraD,daforma Hayes 58, proveniente do forum (Faria, 1998, p.192) com cronologia que abrange oséculoIVd.C.—devidoàsdimensõesdiminutasdofragmento,édealertarparaofactodeelepoder corresponder à variante Lamboglia 52B, que poderá atingir os meados do século VI(Bonifay,2004,pp.166–167)—eodetrêspequenosfragmentosdefundosexumadosnoLadoOcidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,emTSAf.ClaraA,um,eemTSAf.ClaraD,osoutrosdois(inéditos).

Fig. 2 LocalizaçãodoAltodeSãoMiguelemrelaçãoaoCastelo.

1

2

1–AltodeSãoMiguel2–CastelodeAlcácerdoSal

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300274

Seguidamente, iremos apresentar o estudo de cada tipo cerâmico, começando pela terra sigillata,que,comacerâmicacomumdeorigembética,apresentaummaiornúmerodefragmentose,subsequentemente,denMI,comosepodeverificarpeloscálculosapresentadosnoQuadro1,que foi elaboradoapartirdeumtotalde91 fragmentosencontradosnesteacompanhamento.Estes,depoisdetratadosemlaboratório,resultaramem61nMI.

Quadro 1. Número e percentagens de fragmentos e de NMI exumados no Alto de São MiguelTipo de Cerâmica Fragmentos % NMI %

Terrasigillata 32 35,17 26 42,63

CPF 6 6,59 6 9,84

Lucernas 6 6,59 5 8,19

VermelhoPompeiano 6 6,59 3 4,92

ComumBética 36 39,57 17 27,87

ImitaçãoCampaniense 5 5,49 4 6,55

TOTAL 91 100,00 61 100,00

1. Terra sigillata

noAltodeSãoMiguel,foramrecolhidos32fragmentosdeterrasigillata,quepermitiramcola-gementresi,oquedeulugar,comosepodeanalisarnoQuadro1,aumtotalfinalde30fragmentos.Destes,apurámosumnMIde26,querepresentamcercade90%doespólioreferenteaestacerâmica.

Ogrupoéconstituído,maioritariamente,porterrasigillatadetipoitálico,verificando-se,tam-bém,emboradeummodomenossignificativo,apresençadeexemplaressudgálicosehispânicos,maisprecisamentedaschamadasproduçõeshispânicasprecoces.

Quantoàclassificaçãoformaldototaldestesexemplares,verificou-seumaelevadapercenta-gem(31%)defragmentosdetodooconjuntoqueforamcatalogadoscomoindeterminados.

Verificou-seaindaumaabundânciadevariantestipológicas,peloque,exceptoemrelaçãoaduasformas,acadaexemplarfoiatribuídaumaclassificaçãodistinta.

1.1 Terra sigillata de tipo itálico

Oespóliodetipoitálicoéconstituídopor23fragmentos,ousejacercade77%dototaldoconjuntodestetipodesigillata.

nafaltadepeçasdecoradas,identificámosváriasformaslisas,depratosedetaças.noentanto,umdospratos,detipologiaindeterminada,ostentamarcadeoleirodeleituracompleta,enquantoumabase(Consp.B4.12)deumapequenataça,dostiposConsp.22–25,tem,igualmente,umamarcaemplantapedis,masapenasdeleituraprovável,vistoencontrar-sefracturadanametadeinferior.

Emrelaçãoaospratos,identificámoscincofragmentosqueseinseremnastipologiasdoCons‑pectus,sobosn.os11,121,19(doispratos)e21.

Diacronicamente,correspondem,grosso modo,aoperíodocompreendidoentre15a.C.eTibé-rio,cronologiasestasquenossãodadaspelopratoConsp.11(ASM4/2009),HorizontedeDangs-tetten15–10/9a.C.epelofragmentoASM6/2009,quecorrespondeàformaConsp.19.2,conside-radaporKenrickcomoumaformaque“probablyfallwithintherangelateAugustan-Tiberian.”(Ettlinger,1990,p.84).

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 275

Quanto às taças, apurámos cinco formas que enquadram os seis fragmentos encontradosduranteoacompanhamentodasvalasabertasparaefectivaçãodonovosistemadesaneamentodoAltodeSãoMiguel.

Talcomoaconteceucomospratos,temosdoisindivíduosquesãoclassificadostipologica-mente dentro da mesma forma, Consp. 26. no entanto, em relação a um deles (ASM 20/2009),deparámo-noscomdificuldadesacrescidas,poissurgiu-nosadúvidadeque,devidoàscaracterís-ticasdofragmento2,este,talvezpudesseserinseridonaforma27.2.2.Osrestantes4fragmentossãoassimiláveisataçasdostiposConsp.14,22,33e38.

Osdadoscronológicosquepodemosobteratravésdestesexemplaresapontamparauminter-valotemporalquesevaiestenderdeAugusto,cronologiaquenosédadapelataçaConsp.14.1,presenteemDangstetten,OberadeneHaltern(15a.C.–9d.C.),aoprincipadodenero(Consp.26.2ou27.2.2).

noespóliodeterrasigillatadetipoitálico,foramaindaexumadasseisbases,àsquaisforamatri-buídasasseguintesclassificações:ConspectusB4.12(acimareferidaporpossuirmarcadeoleiro)eB3.16,asquaiscorrespondemataças;B1.5,B2.5(doisindivíduos)eB6.3,quepertencemapratos.

ÉtambémdesalientarofactodeapeçacomonúmerodeinventárioASM16/2009apresentar,nazonaemqueestáfragmentada,umquartodecírculoquenosdáasensaçãodepoderpertenceraumfuroparaaaplicaçãodeum“gato”dechumbo,queteriacomofinalidadeareparaçãodoprato.

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

1/2009 Base,parede Taça 15 – 32 2,5 50/100d.C.BaseB.4.12

(taçasConsp.22–25)Marcadeoleiro.

3/2009 Fundo ? – – – 10a.C–10d.C. Marcadeoleiro

4/2009 Bordo,parede Prato 19 326 – 7 15–9a.C Consp.11.1.2

5/2009 Parede Taça 27 – – 4 Augusto/Tibério Ødacanelura=110Consp.33c/guilhoché

6/2009 Bordo,parede Prato 22 150 – 4 Augusto/Tibério Consp.19.2

8/2009 Bordo,parede Taça 37 89 – 3,5 1.ª½séculoId.C. Consp.26.1.2

11/2009 Bordo,parede Prato 21 170 – 3 FinaisAugustoa30d.C. Consp.21.3.2(?)

12/2009 Bordo,parede Prato 19 160 – 4 MeadosafinaisdeAugusto Consp.12.4

13/2009 Base,parede Prato 34 – 110 9,5 MeadosdeAugusto B1.5c/guilhoché

14/2009 Fundo Prato – – – – ? Reduzidasdimensões

16/2009 Base,parede Prato 19 – 80 4,5 Augusto/TibérioB2.5

VáriospratosFurodegato?

18/2009 Bordo,parede Taça 27 110 – 4 Augusto/Tibério Consp.38.31c/guilhoché

19/2009 Base,parede Prato 17 – 83 7 Augusto/Tibério B2.5c/guilhoché

20/2009 Parede Taça 27 – – 5 Tibério/nero Ønacarena=140Consp.26.2ou27.2.2

21/2009 Base,parede Prato 19 – 101 5,5 Tibério/Cláudio B6.3(?)Consp.3.1e4.6e4.7

24/2009 Bordo,parede Taça 17 140 – 6 15a.C./9a.C: Consp.14.1.5

25/2009 Bordo,parede Prato 19 180 – 5 9d.C./Tibério Consp.18.2.5

26/2009 Parede ? – – ? TipoIndeterminado

28/2009 Fundo Prato – – ? TipoIndeterminado

29/2009 Base Taça 12 – 80 – ? B3.16ReduzidasDimensões

30/2009 Bordo,parede Taça 28 – – 3,5 10a.C./FinaisdeTibério Consp.22.2.1

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300276

Estampa ITerrasigillatadetipoitálico–Pratos:ASM4/2009,6/2009,25/2009,11/2009,12/2009.TaçasASM24/2009.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 277

Estampa IITerrasigillatadetipoitálico–TaçasASM20/2009,6/2009,18/2009,30/2009,8/2009,1/2009.Ind.ASM3/2009.

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300278

Estampa IIITerrasigillatadetipoitálico–Basesdeprato:ASM13/2009,16/2009,19/2009,21/2009.Basesdetaça:ASM29/2009.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 279

1.2 Terra sigillata da Gália do Sul

OconjuntodaterrasigillataexumadanoAltodeSãoMiguelcomproveniêncianoSuldaGáliaé constituído por seis exemplares, dos quais apenas três são passíveis de atribuição tipológica,enquantoaoutrametade(correspondendoaumaparede,aumfundoeaumabase)nãoapresentaquaisquertraçosquenospermitamarriscarqualquerfiliação.

Quantoàspeçasdeatribuiçãotipológicapossível,começaremosporanalisarofragmentodebaseearranquedeparedeASM2/2009,quedeverápertenceraumapequenataçaque,pelamarcadeoleiroquepossui,noslevaaenquadrarnotipodetaçasDrag.27,nãodescartandoahipótesedeapodermosconsiderarcomoumaRitt.5.

Porsuavez,opratoASM9/2009é,semdúvida,daformaDrag.15/17.Tendoemcontaascarac-terísticasqueapresenta,nomeadamenteaexistênciaprofícuademoldurasexternas,colocamo-loden-trodafasedeproduçãodaterrasigillatadeLaGraufesenqueanterioraCláudio(Polak,2000,p.85).

Finalmente,obordocomlábiopendentedeperfiltriangulardeprato(ASM23/2009),possivel-mentedegrandesdimensões,levantou-nossériasdificuldades,poisasuaformalevar-nos-iaaindicarumaorigemdetipoitálico,dadoqueseenquadrariaperfeitamentenaformadopratoConsp.12.

Aanálisebinocularqueefectuámosàsuapastapermitiu-nosconcluirser,narealidade,umaproduçãodeterrasigillatadaGália,maisprecisamentedeLaMuette,Lyon,poisque,alémdeseruma pasta muito compacta, de fractura tendencialmente rectilínea e dura, apresentava comodesengordurantecalciteemquantidade,emboranãomuitoabundante.Assim,relativamenteàsuaclassificaçãotipológica,optámosporenquadrá-lonospratosde“grandetamanho”doEnsembleI,ServiçoIb,apontandocomoperíododasuaelaboraçãoaquelequesereportaaoiníciodaprodu-çãodestaolaria,quedevemossituaranteriormentea15a.C.“sansdoutelégèrementantérieuràceluideDangstetten(Desbat&Genin,1996,pp.52,112,est.9,pratos1–5).

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

2/2009 Base,parede Taça 13 – 32 4 Grauf. 30-50Marcadeoleiro

Drag.27oupossívelRitt.5

9/2009 Bordo,parede Prato 29 158 – 6 Grauf. Tibério/Cláudio Drag.15/17

15/2009 Fundo Prato ? – – – Grauf. SéculoId.C. Tipoindeterminado

17/2009 Base Prato 17 – – – Grauf. SéculoId.C. Tipoindeterminado

23/2009 Bordo Prato – ? – 13 LaMuette Meados/finaisdeAugusto

Lyon-LaMuetteEnsembleI

Pl9.5

27/2009 Parede ? – – – – Grauf. SéculoId.C. Tipoindeterminado

1.3 Terra sigillata hispânica precoce, Tipo Peñaflor

Oconjuntodesigillatahispânicaéconstituídoapenasportrêsfragmentos,aosquaiscorres-ponderãoomesmonMI.

Aoobservarmosestesfragmentosverificámos,quedoisdelescorrespondemaformasqueeramtípicasdasproduçõesdetipoitálico.Averificaçãodestefactolevou-nosaqueefectuássemos,então,

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300280

Estampa IVTerrasigillatahispânicaprecoce(tipoPeñaflor)–Prato:ASM10/2009;Taças:ASM7/2009,22/2009.Terrasigillatasudgálica(LaGraufesenque)–Prato:9/2009;Taça2/2009;(LaMuette)–Prato23/2009.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 281

umaobservaçãoatentadasrespectivaspastas,tendonóschegadoàconclusãodequesetratadepro-duçõesprecocesdeterra sigillatahispânica,igualmentedesignadasporsigillatadoTipoPeñaflor.

Depoisdesteexame,quefoilevadoacaboatravésdelupabinocular,podemosdefini-lascomopastas que possuem uma fractura geralmente irregular, com e.n.p. abundantes do tipo mica,quartzo,feldspatoeóxidosdeferro,moderadamenteduras,ecujacorvarianagamadosocresedosvermelhos-amarelados.

Quantoaosengobes,podemosinseri-losnosdescritosporJérezLinde(2004,p.163)paraaspeçasdeTipoPeñaflorpertencentesaoespóliosdasescavaçõesdacidadedeLacimurga,emCerrodeCogolludo(Badajoz),assimcomodasvillaeromanasde“LaTiesa”,deTorreÁguila,do“CondeI”,CastillodeGuadajíra,entreoutras,eaindadasencontradasnasreservasdoMnARdeMérida.

noquerespeitaàforma,ostrêsexemplaresdoAltodeSãoMiguelinserem-seperfeitamentenastipologiasdeMartínezedeKeay(Amores&Keay,1999)paraCelti,quepodemserassimiláveisàdoConspectus.

OexemplarASM7/2009consiste,pois,numfragmentocompostoporbordo,paredeearranquedefundodeumataçadetipoKeay14(MartínezIc).Apresentaumengobedetipoalaranjado,ligeira-mentebrilhantenointerior,nãoseencontrandoaplicadonaparedeexterior,salvojuntoaobordo.

Adiacroniadaproduçãodestaspeçasébastanteextensa,ouseja,desdeos iníciosdaEra,tendo-seprolongadoatéao3.ºquarteldoséculoId.C.,seguindoosmodelosdasformasdetipoitálico,comosededuzapartirdacaracterizaçãofeitaporSimonKeay(2000,p.200)dasfases5–6de7adaocupaçãodacidade3.

Foi identificado,também,umfragmentodebordoeparede(n.ºde inv.ASM10/2009)degrandeprato,quepossuicanelurasnaparedeinterior.

Quantoaoengobe,étotalmentediferentedodapeçaanterior,vistoacorserdeumvermelho--acastanhadocomumbrilhomuitoacentuado.

Trata-se,portanto,dentrodaclassificaçãotipológicadeKeay,daforma11(queconsidera-mosamaisaproximada)equetemváriosparalelosnasestaçõesarqueológicaslocalizadasnapro-vínciadeBadajoz(JérezLinde,2004,est.1–2,4,6,9,10,12e13;est.2–22).

Estepratoterácomocronologiaaqueapresentámosparaofragmentoanterior,istoé,durantetodaaprimeirametadedoséculoId.C.,prolongando-sepelo3.ºquartel,momentoálgidoparaodesenvolvimentodestaprodução(JérezLinde,2004,pp.173,174).

OúltimoexemplardesigillatadeTipoPeñaflorcorrespondeaumabasedetamanhopequeno(ASM 22/2009), sem qualquer característica peculiar, motivo pelo qual, por consequência, nãoconseguimosatribuirumaclassificação,emboranospareçaquesepossatratardeumapequenataça,possivelmentedeperfiltroncocónico,seacompararmoscomataçadavillaromanade“PedroFranco”,Guadajira(JérezLinde,2004,p.168,Lám.2,n.º17).

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

7/2009 Bordo,parede Taça 42 130 – 5 SéculoId.C.Cláudio/nero/Flávios Keay14/MartinezIB

10/2009 Bordo,parede Prato 23 250 – 5 SéculoId.C.Cláudio/nero/Flávios

Keay11/MartinezIIB(fazserviçocomaforma

anterior)

22/2009 Base Taça 10 – 40 6 SéculoId.C.Cláudio/nero/Flávios Péanelar

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300282

1.4 Marcas de oleiro

Apresençademarcasdeoleiroemterrasigillatanosespóliosdearqueossítiosdeocupaçãoromana constitui um importante indicativo cronológico para a datação das trocas comerciaisentreoscentrosprodutoreseosrespectivoscentrosconsumidores,osquaisseencontravamespa-lhadosporumimensoterritórioquecompreendiatodasasprovínciasdoImpérioRomano.

nopresentecaso,comoindicámossupra,identificámosapenastrêsmarcasemigualnúmerodefragmentos—duaspertencentesaoleirositálicos,enquantoaoutradizrespeitoaumoleirodaGália,maisprecisamentedeLaGraufesenque.

Passaremos,seguidamente,àanalisepormenorizadadestasmarcas,começando,emprimeirolugar,pelasdeorigemitálica,finalizandoasnossasconsideraçõescomarelacionadacomooleiroruteno.

OfragmentodefundodepratodetipologiaindeterminadacomonúmerodeinventárioASM3/2009possuiumamarcarespeitanteaooleiroPHILOSITVS L∙TITIVS(CVA-OCK,2000,n.º2230).

L. TITIVSéumoleiroqueteveasuaoficinalocalizadaemArezzo,paraoqualKenrickconta-bilizou 34 escravos que trabalharam durante um período compreendido entre 15 a.C. e, pelomenos,30d.C.

Dessesescravos,apenasoito4estãoconfirmadoscomotendolaboradonocentrooleirodeArezzo,enquanto,noquedizrespeitoaosrestantes26,asdúvidas,devariedadenatureza,nãoper-mitemcertezasquantoaoseulocaldetrabalho.

Filositoé,pois,umdosescravosdeL. TitiuscujaproveniênciaKenricknãoespecifica,emboraDanieleMalfitanaoatribuaaArezzo,aoapresentarumamarcadescobertaemSelinunte,naSicília(Kenrick,2004,p.326,Selinusn.º4).

AcronologiaapontadanoCVA-OCKparaFilositusficacompreendidaentre10a.C.e10d.C.,sendoqueanossamarcaestáinseridanumacartelaparaaqualnãoencontrámosparalelo,apesardesepoderenquadrar,deummodogenérico,notiporectangulardecantosredondosCVA-OCK451.

Porsuavez,onomedooleiroencontra-seinscritoemduaslinhas,quenãoestãoseparadasporqualquertipodetravessão,oferecendoumaleiturabastanteclaradonomedooleiro,vistoencontrar-seemexcelenteestadodeconservação.

nalinhasuperior,podemosleronomedoescravo,sendorelevanteofactodequeoPHILeoOestarememnexo,deixandooScomoseparadordeumnovonexoqueagrupaoITVeooutroS.Quantoàlinhainferior,conseguimosidentificarcomidênticafacilidadeonomeL·TITI.

QuandocomparámosamarcadoAltodeSãoMiguelcomalistadeocorrênciasdesteoleiropresentenoCVA-OCK,verificámosqueemnenhumdoscasosonomePHILOSITVSsurgecom-pleto,peloqueapenasoconhecemosporabreviaturas.Assim,tendoemcontaosexemplarespubli-cadosatéaomomento,concluímosqueagrafiaqueopunçãodeAlcácerdoSalpatenteiadeveráserinédita.Édesalientar,também,ofactodenãoencontrarmosparaleloparaesteoleironoúltimotrabalhoreferenteàcapitaldaprovíncia,AugustaEmerita.

JérezLindeapresenta-nos,apenas,aleiturareconstruídadeumpossívelpunçãodeL.TITIVS(2005,p.93,Fig.23,n.º128),quepareceseroúnicoencontrado/publicadoatéaomomento,2005,desteoleiroparaMérida.

Uma outra marca de proveniência itálica identificada no presente conjunto encontra-seimpressanofundointeriordeumabasedetaçadetipoConsp.B4.12,àqualfoiatribuídoonúmeroASM1/2009.Estamarcasuscitoualgumasdificuldadesrelativamenteàsualeituraesubsequenteidentificaçãodooleiro,pelomotivodeseencontrarfracturadaemcercademetadeepelaparticu-laridadedeestarinscritadeumamaneirapoucolegível,nasuapartefinal.Emboranosresteape-

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 283

nasapartesuperiordeduasletras,identificámo--las com o que nos parece ser um C e um·P,encontrando-se as mesmas separadas por umapontuaçãodeformacircular.Poderemos,ainda,vislumbrarosrestosdeumaoutraletra,quenospareceserumoutroP,leituraestaquenospareceviável,selevarmosemlinhadecontaa“derrapa-gem” que houve na aplicação do punção. Deacordocomestaleitura,considerámosentãoqueesta marca pode pertencer ao oleiro C·P·P,n.º1342doCVA-OCK,comoficinaemPisa,ondedeveterlaboradoentreosanosde50e100d.C.

Contudo,comofoiacimareferido,apontua-çãoutilizadanaseparaçãodasletrasédotipocir-cular, facto este que nos levantou mais algumasdúvidasquantoàatribuiçãocorrectadestamarcaaCP( )PI(SAnVS),vistoqueapontuaçãomaiscomum,eprincipalmenteutilizadaporesteoleiro,édeformatriangular.noentanto,pesounaatri-buiçãodapeçaaesteoleiroaparticularidadedeoseunomeestarinscritonumacarteladotipoOCK603(planta pedis),tãoemmodaapartirdoprinci-pado de Tibério, sendo, portanto, consentâneacomacronologiadabasedataçaondeestáinse-rida,quepodeabarcartodaasegundametadedoséculoId.C.5

Outro aspecto que considerarmos não serdespiciendofoio factodeteremsidoencontra-dasmaisdoqueumamarcadesteoleiroemAlcá-cerdoSal(Faria,1987,p.69,n.º14).

Iremos terminar a nossa análise sobre osoleirospresentesnoespólioobtidonaAltodeSãoMiguelcomamarcaqueestácolocadanofundointeriordeumataçadeterrasigillatadoSuldaGália(ASM2/2009),quedeverápertenceraooleirodeLaGraufesenque,MVRRAnVS.

Aprimeiradificuldadeasuperarfoiaqueserelacionoucomatipologiadaprópriataça,poisasdimensõesreduzidasdamesmanãopermitiramumaclassificaçãosatisfatória,pelofactodeabaseeoarranquedaparedeindiciaremumataçadeperfilatenderparaohemisférico.

Claroquehaveria,seguramente,umavariedadedetaçasqueseenquadrariamnestascaracte-rísticasmorfológicas,comosejam,asRitt.8,14easDrag.24/25e27.

Entretanto, a leitura da marca levantou-nos problemas acrescidos, pois tornava-se quaseimpossívelperceberosentidodas três letrasqueaconstituíam.Por fim,concluímosqueestas,contidasnumacarteladetiporectangularcomoscantosarredondadosededimensõesreduzidas,tinhamsidogravadascomumpunção,que,quandoaplicado,deixavaamarcainscritadeformaretrógrada6.

AleituraqueapresentamosdeЛ^VM,emqueoR,retrógrado,estámalimpressoeemnexocomoV,baseia-senaúnicamarcacomestagrafia,queencontrámosparaMurranusnorecente

Fig. 3 Marcasdeoleiro:1e2–marcasitálicas;3–marcasudgálicadeLaGraufesenque(FotografiasdeGuilhermeCardoso).

1

2

3

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300284

estudodaresponsabilidadedeMartineGenin(2007,p.557,Est.19,n.º1289.14)sobreocomplexooleirodeLaGraufesenque,noqualseinsereumamarcadotipoquedescrevemoscomoretrógrada,que,noentanto,nãoapresentaonexoentreoVeoR.

AoconsultaraobradeMarinusPolak,encontrámosumexemplardeVechtenquepossuíaumagrafiaaproximadaMV(Polak,2000,pp.276–278,Est.15,n.ºM132)aplicadanumataçaquepareceserdotipoRitt.5,oudotipoDrag.27.

Verificámos,igualmente,aexistência,nalistadas20marcasestudadas,denexosdeváriostipos,que,noentanto,nãosãoiguaisàdamarcaqueapresentamosparaoAltodeSãoMiguel.

Combasenoqueafirmámosnosparágrafosanteriores,poderemos,assim,concluirtersidoamarcadeMurranoaplicadanumataçadotipoDrag.27,muitoprovavelmente,eterumacronolo-giaqueseestenderádeTibérioaCláudio/nero,diacroniaaceiteparaesteoleiro,quesedistinguiu,principalmente,pelasuafasedeproduçãodeterrasigillatadecorada.

2. Cerâmica de paredes finas

noacompanhamentoarqueológicodeemergênciaforamexumados6fragmentosdecerâ-micadeparedesfinas,dosquais,apenasaum(ASM36/2009)—pequenaporçãodebojojuntoaobordodecopooutaça—,nãonosfoipossíveldar,dentrodastipologiasutilizadas,qualqueriden-tificação.

Atendendoaoestadomuitofragmentadodaspeças,tornou-sedifícilaatribuiçãodasrestan-tesaformasbemdefinidas.Paraultrapassaresteproblema,utilizámosfiliaçõesemoutrosestudosjápublicadossobreotemadasparedesfinas,asquaisnosparecerampertinentes.

Ofragmentodepequenaurna(ASM31/2009)queapresentaoperfildobordoatéaoarran-quedoombro, jánosera familiar,pois, em2003, tínhamosestudadoumfragmentode formaidêntica,encontradonavertentedoLadoOcidentaldoCastelodeAlcácerdoSal(Sepúlveda&alii,2003,p.390,Fig.1,n.º6).

noentanto,ascaracterísticasdapasta(castanhamuitoescura/negra)eoacabamento(paredeexterior de cor negra, com ausência de engobe e com brunido), são drasticamente diferentesdaquele,oquenoslevaapensarserestenovofragmentoinfluenciado,ainda,portécnicasdeaca-bamentodecerâmicastípicasdaúltimaIdadedoFerro.

nãoobstantearessalvaapresentadafoipornósclassificadacomosendopertencenteàformaMayetXXI(=MarabiniXXXI),comcronologiaqueapontaparaoprincipadodeAugusto.

AotermosencontradooutroparaleloparaestaformaemCosa(MarabiniMoevs,1973,p.218,n.º404),nãodeixaremosdelevantar,todavia,ahipótesedepodertratar-sedeumaproduçãobelgaemterranigra.

Fazemtambémpartedesteespólio,duasbases,umadeumcopoeoutradetaçaparaalémdoisbojosdetaçascarenadas,asquaispassaremosaanalisar.

AprimeirabasetemonúmerodeinventárioASM32/2009efoiclassificadacomoperten-centeaumcopodaformaMayetIII,tendocomoparaleloumexemplardaAlcáçovadeSantarém(Arruda&Sousa,2003,p.251,Fig.6,n.º47),emborapeseofactodeoseudiâmetroserbastantemenor.

ParaCosa,Marabini(1973,p.66eEst.7)apresenta,comoexemplosdasuaFormaVII,umconjuntodefragmentosquenosparecembemmaissemelhantesaonosso,apesardenãoconse-guirmos confirmar a possibilidade da existência de um perfil perfeitamente côncavo destabase.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 285

AcronologiaqueMayetdeterminaparaasuaFormaIIIé,principalmente,da2.ªmetadedoséculoIa.C.,emboraestainvestigadorareconheçaapossibilidadedeumapré-existênciaduranteaqueleséculo,enquantoparaMarabiniMoevselaserádo“endofthefirstquarterofthe1stcen-turyBCtotheearlyAugustanperiod”.

Porsuavez,asegundabase(ASM33/2009),apresentaumpequenopéembolachadeumataçaque,pelascaracterísticasdapastaedacor,parece-nosserpossívelassociaraduaspeçasqueestudámosprovenientesdoforno3dafiglinadoMorraçaldaAjuda,Peniche(Cardoso,Rodrigues&Sepúlveda,2006,p.272,Fig.26,n.os162e163)7.

Atendendoaofactodenãopossuirmosapartesuperiordaparededataçaedorespectivobordo,seriaarriscadoatribuirumaformadentrodaclassificaçãodeMarabinioudeMayet.Con-tudo,aassociaçãoaosdoisexemplaresdePenichepermite-nos,comreservas,enquadrá-lanaformaMayetXXXIII,nãoesquecendoqueestasbasessãocomunsaoutrostiposdetaças.

AporçãodetaçahemisféricacomonúmerodeinventárioASM34/2009pertenceàstaçasMarabini XXXVI, que esta investigadora americana dividiu em três grupos para o período deAugusto.

Atendendoaofactodeonossofragmentopossuirumacaneluraameiodapeça,definindo,assimacarena,serápossívelenglobá-lanoprimeirogrupo(A).

AformaequivalentedeMayettemonúmeroXXXIII,emboranospareçaseraformaMayetXXVI,taçacarenadacomduasasas(Mayet,1975,Est.XXVIII,n.º215),aquemaisseaproximadoperfildofragmentodoAltodeSãoMiguel,comosenãodenadasabermosdapossibilidadedaexistênciadeasas.

Mayetconsidera,comocronologiadestataçabiansada,operíodocorrespondenteaoprinci-padodeTibério,baseando-senotipodedecoraçãoqueosseusexemplaresapresentam.

Comojáafirmámosnocasodofragmentoanterior,tivemosoportunidadedeestudar,emPeniche,váriaspastasdecerâmicadeparedesfinas,decaracterísticasarenosas,quesãoidênticasàqueanalisamosequeestãotambémpresentesnoutrosarqueossítiosdoactualterritórioportu-guês:Tróia(Setúbal)evilladoMontedaChaminé(FerreiradoAlentejo),inéditos.

Todavia, na feitura da presente peça transparece uma grande preocupação estilística, namedidaemquenosapercebemosterexistidoumaescolhacriteriosanoselementosnãoplásticos,quenosparecemsertodosdomesmotamanho(médio),oqueproduziriaumefeitodecorativobemconseguido,contrariamenteaoqueacontecenormalmentecomadecoraçãode“granitadoarenoso”deépocatibério-claudiana.

Finalizaremoscomofragmentodecarenadetaçacombojo(ASM35/2009),quepoderáper-tenceraumasérievastadetaças(MarabiniXXXVI,XL,XLIV,MayetXXVII,quiçáXXVIII).

Ainexistênciadeengobe,otipodepasta(comcernecinzentomuitoescuro,originadopelarespectivacozedura)eaaparentefaltadedecoraçãoqueofragmentoapresentaafastam-nosdequalquerfiliação,especialmenteadeMayet,quetemcronologiasbemmaistardiasparaascarac-terísticasqueenunciámos.

Porsuavez,Marabini(1973,p.99)viajandoaolongodaprofícuavidadestataça,pelomenosemCosa,colocaoseuaparecimentoemépocadeAugusto,aparecimentoesteadjectivadocomo“ThewidediffusionofbowlsofFormXXXVI”,verificandooseutotaldesaparecimentodosmer-cadosnoperíodoCláudio/nero.

DecidimosincluirofragmentodeAlcácerdoSalnestaforma,apartirdosinúmerosexem-plosapresentadosparaCosa,emborasemprecomumcertograudeincerteza,tendopesadonestaescolha,também,otipodefabricoapresentado,assimcomoacronologiadasuautilização.

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300286

Estampa VCerâmicadeparedesfinas–Pequenaurna:ASM31/2009;Taças:ASM32/2009,33/2009,35/2009.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 287

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

31/2009 UrnaMayetXXI(=Marabini

XXXI)20 70 – 2

Compacta,fina

10YR3/2Augusto Paredeexteriorpolida

32/2009 CopoBaseebojo

MayetIII/Marabini

VII25 – 34 1,8

Compacta,fina

2.5YR7/8enocerne2.5Y8/8

SéculoIa.C.incluindoAugusto

Semengobe

33/2009 TaçaBaseebojo

MayetXXXIII(?) 11 – 40 2,5

Arenosacomenp

abundantes5YR7/8

1.ºterçodoséculoId.C.(?) Semengobe

34/2009Taça

hemisféricaBojo

MarabiniXXXVI

(grupoA)MayetXXVI

3 – – 1,5

Arenosacomenp

abundantes10R4/8

Augusto/Tibério

Engobedecor2.5YR2.5/2

35/2009Taça

carenadaBojo

MarabiniXXXVI

(?)29 – – 3

Compacta,fina

2.5Y8/8enocerne

5Y7/6

Augusto/Tibério

SemengobeTraçosdefogo

36/2009 Copo(?)Bojo Ind. 20 – – 1

Compactac/enp-

-quartzo7.5YR6/6

SéculoIa.C.n/desenhadaSemengobe

Traçosdefogo

3. Lucernas

naintervençãolevadaacabonoAltodeSãoMiguel,foramencontradosseisfragmentosdelucerna,cujaclassificaçãotipológicanosfoidificultada,devidoaofactodeamaioriadelesestarincompletaoudesprovidadoselementosquenosserviriamparasuaidentificação.

Mesmoassim,nãodeixámosdeadiantarhipótesesquantoàstipologiasemquesepoderãoinserir,tendoemmenteasinformaçõesquedelaspoderemosobter,asquaisser-nos-ãoimprescin-díveisnaaferiçãodaexistência,coerente,deumadiacroniadeocupaçãonaÉpocaRomanadestesítioarqueológico,quandoconjugadascomosoutrosváriostiposcerâmicosquedeigualmodoapresentamos.Estesfragmentoscorresponderão,apenas,acincoindivíduos,namedidaemqueofragmentodeorlacomvoluta(ASM74/2009),atendendoàscaracterísticasecoresdapasta(5Y8/2)edoengobe(10YR7/6),podeserperfeitamenteidênticoaoASM76/2009,quedeveráperten-ceraumalucernadotipoDressel/Lamboglia9(=Loeschcke1BeC=DeneauveIVA),comcrono-logiaquevaidesdeAugustoatéfinaisdeTibério,comprobabilidadedeseremtambémencontra-dasemcontextosdeCláudiomasjá“deformaresidual”(Morais,2005,p.322),ouatéiníciosdoséculoIId.C.(RodríguezMartín,2002,p.23).

Ofragmentodediscodecoradocomumabandadebastonetes,emrelevo,comumalarguraaproximadade10,5mm,deacordocomváriosparalelosapresentadosporMorilloCerdán(2003,pp.323,n.º20,381,382,n.º22,483,505)paraAstorga,poderápertenceraumalucernadevolu-tas,masdetipoindeterminado.Deacordocomomesmoinvestigador,estetipodedecoraçãododisco inserir-se-á, no seu “Catálogo Iconográfico”, dentro do grupo dos “motivos vegetales”(MorilloCerdán,2003,p.546,Fig.72),classificaçãoqueachamosumpoucoforçada.

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300288

Porsuavez,osrestantesfragmentospertencerãoalucernasdevolutasduplasqueseencon-tramemelevadasquantidadesemsítiosderomanizaçãoplena,durantetodooséculoId.C.,perí-ododeAugustoincluído.

DevemserinseridasnatipologiadeLoeschckenasuavariante4(=DeneauveVAouVC,=Dressel/Lamboglia11ou11b)(Ceci,2005,pp.314–320)8comvivênciasqueabrangemoespaçodetempo compreendido entre Augusto e os finais dos Júlio-Cláudios, podendo-se prolongar atéfinaisdoreinadodeDomiciano.

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.

Alt. Ø Reserv. Ø Base Esp. Média

71/2009 Bicoc/voluta

Lucernadevolutas 26,5 – – 3

C/vacúolos,c/enpraros7.5YR8/4

Augusto/finaisdeDomiciano Bicoredondo

72/2009 Bicoc/voluta

Lucernadevolutas 21 – – 2,6

Arenosac/enp

abundantes7.5YR8/4

Augusto/finaisdeDomiciano Bicoredondo

73/2009Porçãode

reservatórioc/voluta

Lucernadevolutas 25,5 – 64 4

Arenosac/enpraros5YR7/3

Augusto/finaisdeDomiciano –

74/2009 Orlac/voluta

Lucernadevolutas 15 – – 2

Compactac/enpraros

5Y8/2

Augusto/Tibério

iníciosdoséculoII

Poderápertenceraofrag.76/2009

75/2009 Disco Lucernadevolutas? – – – 3,8

Arenosac/enpraros7.5YR8/4

Augusto/finaisdoséculoId.C.

DecoradoØdodisco>62mm

76/2009Orla,

reservatórioebase

(?) 28,5 64 38 4Compacta

c/enpraros5Y8/2

Augusto/Tibério

iníciosdoséculoII

Perfilcompleto

4. Verniz vermelho pompeiano

Constam do espólio encontrado nesta intervenção/acompanhamento arqueológico, cincofragmentosdepratos,normalmenteutilizadosaolumeparaaconfecçãodealimentoseque,pelassuascaracterísticas,estãoenglobadosnotipocerâmicodenominadodeengobevermelhopom-peiano.

Parece,noentanto,tertidoestacerâmicadecozinha,outrasfunções,comosejam“diversasfasesdeproduçãodealimentos(…)usadosnoserviçodemesa”(Arruda&Viegas,2002,p.222),seatender-mosaocasodeváriospratosnãoapresentaremosseusfundoscomregistodeescurecimento.

no caso presente, dois dos fragmentos (ASM 37 e 38/2009) mostram-nos ligeiras zonasnegras,quenoslevaramapensarestaremrelacionadasapenascomcondiçõesocorridasnasuapós--deposição,enquantoosrestantestrêsforam,semdúvida,colocadossobreolume.

TantonaAlcáçovadeSantarém(Arruda&Viegas,2002,p.225)comonoteatroromanodeLisboa(Fernandes&Filipe,2007,p.237)ounavertenteocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal(Sepúlveda&alii,2003eLOCAS-IIfase)severificaestaduplautilização,emboraaspercentagensvariemdearqueossítioparaarqueossítio.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 289

nenhumaforma,contudo,dentrodastipologiasusualmenteutilizadas(AguarodOtal,1991;Manasse,1973),foipossívelidentificar,devidoanãotermosnenhumperfilcompleto,pois,estesfragmentossãoapenasdefundos.

Devidoaoseuestadofragmentado,tambémnãonosfoipossíveldeterminarosseusdiâme-tros,comexcepçãodofragmentocomonúmerodeinventárioASM39/2009.

AspeçasASM40e41/2009 levantaram-nosproblemasreferentesàspastasemqueforamproduzidas,namedidaemqueapresentavamcaracterísticasdiferentesdasoutrastrês.Estefactolevou-nosapensarquepoderiampertenceraomesmoprato,ressalvaquenãoqueremosdeixardeapontar,poistratámo-lascomoindependentesumadaoutra.

Definimos,consequentemente,doistiposdepasta,atendendoàcomposiçãopetrográficadasmesmaseàpercentagemdosmineraisconstituintes,asquaisforamsubmetidas,apenas,aumaobservaçãomediantelupabinocular.

AmbasestãoincluídasnaPasta2deAguarodOtal(1991,pp.40–41),aqualéconstituídaporabundanteselementosdeorigemvulcânica,dando-lhe,assim,umafiliaçãolocalizadanumazonaoleiraemtornodabaíadenápoles(PompeiaeHerculano).

• PastaA–texturaarenosa,compacta,muitodura,porosacomabundantespontosnegrosdegranolometriavariada(piroxenas,turmalinas),cristaisdequartzo(leitoso,fumadoehialino),hematitesraraseausênciademicas;sendodecor2.5YR6/8;

• PastaB–texturaarenosa,compacta,muitodura,porosacompiroxenas,pontosesbranquiça-dos(talcosoucalcárioqueexplodiram),cristaisdequartzo(leitoso,fumadoehialino),óxi-dosdeferrosignificativos(escurosealaranjados)eausênciademicas;decor5YR4/6.

Porsuavez,osengobesqueapresentamsão,geralmente,espessoseaplicadosdeumamaneiraquechamaremosuniforme,paratodosfragmentos,excepçãofeitaparaoASM40/2009quefoirevestidoporumengobeaplicadoemcamadasequeseescamacomfacilidade.Asuacoréuni-forme na gama do vermelho (10R 4/8), apenas com uma pequena variação para o prato ASM37/2009.

Atendendoàindefiniçãodasformas,optámosporlhesatribuirumacronologiageralcorres-pondenteaoAltoImpério.

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Pasta Engobe Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

37/2009 Prato Ind. – – >280 7 A 10R5/8 Alto-imperial nãoqueimada

38/2009 Prato Ind. – – >264 8,5 A 10R4/8 Alto-imperial Ligeiramentequeimada

39/2009 Prato Ind. 7,5 – 210 6 A 10R4/8 Alto-imperial Queimada

40/2009 Prato Ind. – – – 5 B 10R4/8 Alto-imperial Queimada

41/2009 Prato Ind. – – – 4,3 B 10R4/8 Alto-imperial Queimada

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300290

5. Cerâmica comum bética

Insere-senoconjuntodoespólioobtidonesteacompanhamentoarqueológicourbano,umgrupodecerâmicasque,devidoàscaracterísticasdaspastasqueapresenta,seoptouporenquadrá--lonaschamadascerâmicascomunsdeorigembética.

Jáem1976,JorgeAlarcãoe,maistarde,emmeadosdadécadadenoventadoséculopassado,Jeannettenolenalertavamparaaexistênciadestetipocerâmico,quandoefectuaramosseusestu-dossobreConímbrigaesobreBalsa.

nosúltimosanos,temosassistidoauminteressecadavezmaiorsobreascerâmicascomunsdeorigembética,tendosidoestudadas,querdemodomaisabrangente,porRuiMoraiseInêsVazPinto,paraossítiosarqueológicosdoAljube,Porto(Morais&Pinto,2007),Braga,(Prudêncio,2000),SãoCucufate(Pinto,2003,2004,2006)eCastelodaLousa(Morais&Pinto,2007),queremsíntesesefectuadassobrealmofarizesoriginadosnaregiãogaditanaenaregiãodovaledoGuadalquivir9.

ParaoAltodeSãoMiguel,iremosapresentarumtotalde36fragmentosdestetipodecerâ-mica,dosquais,apenas17permitiramapurarumaformadefinidaequeforamagrupadosemtrêsgruposdepastas.Estassãoequivalentes,nasuaespecificidade,àspastas9,10e12deSãoCucufate(Pinto,2003,pp.134–141),querenumerámoscomoASM1,ASM2eASM3.

Dosdiversoscomplexosoleirosquefabricaramestacerâmica,escolhemoscomoindicadorcronológicoosquenosparecemtersidomaisbemestudadosepublicadosatéaomomento,ouseja o dos Hornos del Patio del Cardenal e, especialmente, o do Hospital de las Cinco LlagasamboslocalizadosnacidadedeSevilha.

notrabalhoqueChicGarcía&GarcíaVargas(2004,pp.304,305,320,321,326)dedicaramàsproduçõescerâmicaslocalizadasnoGuadalquivirenoGenil,indicam-se,tendocomobaseonúmerodefragmentosestudados,percentagensbastanteelevadasparaascerâmicascomunsdoForno 6 (Hospital) em que “puede señalarse unos 46,6% del total de fragmentos de ánforas(Fig.26),un42,75%decomunes(Fig.27)”.Consideramestesautoresterestecentrooleiroprodu-zidodurantetodaasegundametadedoséculoId.C.,estendendo-seasuaactividadepelosiníciosdacentúriaseguinte.

Atendendoàsdificuldadesquetemosvindoafrisardainexistênciadeestratosdefinidosedas poucas dimensões dos nossos fragmentos iremos, portanto, indicar no nosso catálogo ascronologiasqueobtivemosquandoconjugámosasdestasproduçõescomostrabalhosquereferi-mosnoiníciodoestudodedicadoaestetipocerâmico.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 291

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

42/2009 Baseebojo Pote 35 – 90 5 ASM3Augusto/1.ª½do

séculoId.C.–

43/2009 Baseebojo Pote 29 – 100 6 ASM3Augusto/1.ª½do

séculoId.C.–

44/2009 Baseebojo Pote 20 – 100 3 ASM3Augusto/1.ª½do

séculoId.C.–

45/2009 Baseebojo Potinho 62 – 66 4 ASM2Augusto/1.ª½do

séculoIa.C.–

46/2009 Baseebojo Potinho 39 – 60 4 ASM1Augusto/1.ª½do

séculoId.C.–

47/2009 Baseebojo Pote 20 – 100 4 ASM1Augusto/1.ª½do

séculoId.C–

48/2009 Bordo Terrina 18 170 – 5 ASM1 Alto-imperial –

49/2009 Bordo Pote 42 70 – 5,5 ASM2 Augusto Barrilóide(?)

50/2009Bordo

earranquedeasa

Pote 35 95 – 4,5 ASM1Augusto/1.ª½do

séculoId.C–

51/2009 Asa Pote(?) – – – 5 ASM1 Alto-imperial –

52/2009 Asa Pote(?) – – – 5 ASM1 Alto-imperial –

53/2009 Baseebojo Pote 32 – 70 6 ASM1Augusto/1.ª½do

séculoId.C–

54/2009 Bojo Pote/Urna 88 – – 7 ASM1Augusto/1.ª½do

séculoId.C.

Ømáximodobojo180mm

n/desenhada

55/2009 Bicoeparede Biberão 30 – – 6 ASM1 Alto-imperial Øpossíveldobico

9mm

56/2009 Coloeombro Bilha 20 – – 6 ASM2 Alto-imperial Ødocolo23mm

57/2009 Colo Bilha 30 – – 5,6 ASM1 Augusto/Alto-imperial

Ødocolo44mm

n/desenhada

58/2009 Colo Cântaro/Jarro(?) 40 – -- 4 ASM2 Augusto/

Alto-imperial

Ødocolo60mm

n/desenhada

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300292

Estampa VICerâmicacomumbética–Potes:ASM46/2009,42/2009,44/2009,43/2009.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 293

Estampa VIICerâmicacomumbética–Potes:ASM53/2009,47/2009,50/2009,49/2009.

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300294

Estampa VIIICerâmicacomumbética–Potinho:ASM45/2009;Terrina:ASM48/2009;Biberão:ASM55/2009.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 295

6. Cerâmica de imitação de campaniense

Osquatrofragmentosquedeseguidaapresentamospossuemcomoelementocomumiden-tificadoromesmotipodepasta,quesedefinecomosendomuitodura,comenpdegranulometriamuitopequena(pontosbrancosquepoderãoserquartzoealgumasmicasdotipomoscovite),comprofusãodevacúolosalongadosdepequeníssimadimensãoedecorcinzenta(5Y6/1).Todososfragmentosapresentam,pelointerior,umengobe/verniz(?)brilhante,demáqualidade,sobreoqualnosparecetersidoaplicadoumpolimento.Asparedesexterioresestãocobertasaindaporresquíciosdeumpossívelengobecinzento-escuro,quasenegro,massembrilho.

Aspeças,nototal,constituemdoisgruposdiferentes,quantoàsuaforma,ouseja,taças(umpédetaçapequenaeumaporçãodeparedecarenadadegrandetaça)epratos,tendoamboscomoparticularidadecomumasparedesbastanteespessas(comespessurasquevãode6a9mm).Pen-samostratar-sedeimitaçõesdecerâmicacampaniensefabricadas“intuttoilbacinomediterraneooccidentaledallasecondametádelIIesoprattutonelIsec.d.C.”(Leotta,2005,p.73),copiandoformasdasproduçõesdecampanienseA,ciclodaB,eprincipalmentedaC.

Começaremosaanálisedestesfragmentospelon.ºASM77/2009,quepertenceráaumataçadaformaLamboglia2equeseencontraemelevadaprofusãonosespóliosdesítiosarqueológicoscomocupaçãoprecoceromanasituadosnoactualterritórioportuguês.

QuantoaofragmentodecarenacomparedeASM80/2009,estepertenceaumataçadegrandeespessuraquepoderemosidentificarcomaformaLamboglia33b(campanienseB-Cales?),queestápre-senteemTarragona,emestratosbemdefinidosecomcronologiasdefinaisdoséculoII/iníciosdoIa.C.,prolongando-se por todo este século (Díaz García & Otiña Hermoso, 2007, pp.104–106, 117). noentanto,nãoserádespropositadopretenderequipará-lacomoutrotipodetaçaqueéclassificadadentrodacampanienseCporLambogliacomoForma18(=Morell2622a1),vistoapresentarumainclinaçãodaparedesuperiorbastantesemelhanteaonossoexemplar.Estacomparaçãopermiteatribuir-lheumadata-çãodoséculoIa.C.,talvezmaisconsentâneacomoconjuntodasoutrascerâmicasemqueestáinserida.

Porseu lado,o fragmentodebordocomarranquedeparedeASM78/2009 inspira-senospratosMorel2277e2282–2284(=Lamboglia5–7)daproduçãodacampanienseC,aqueperten-cem quatro exemplares exumados na vertente do lado ocidental do Castelo de Alcácer do Sal(Sepúlveda&alii,2001,p.217,Fig.7,n.º27eFig.8,n.os28–30).

Estespratossãodosmaisconhecidosdaproduçãodeverniznegro,possuindocronologiasquesepodemestender,nafasedeproduçãodeimitação,pelasegundametadedoséculoIa.C.,comoéocasodosexemplaresdescobertosnacidadedeIesso,naCatalunha(PeraiIsern&GuitartiDuran,2007,p.177,Fig.2,n.ºG92–285–1).

Finalmente,ofragmentoASM79/2009levantou-nossériosproblemas,porqueapresentaumdiâmetrodesmesuradamentegrande,oquetornouaprocuradeparalelosbastantedifícil,provo-cando,aomesmotempo,a impossibilidadedelheatribuirumaforma(taça/prato?)dentrodastipologiasquetemosvindoautilizar.

Recorremos,maisumavez,aoartigosobreascerâmicasdeimitaçãoencontradasnacidadedeIesso,naprovínciaromanadaHispaniaCiterior,queapresentatrêspeçasdediâmetrosbastantemenoresereferentesataçasconsideradasporPeraiIserneGuitartiDurancomosendopassíveisde“assimilaralboloplatfondo,(...)sotalaformaLamb.16,totipresentartambéalgunessemblancesamblaformaLamb.8”(PeraiIsern&GuitartiDuran,2007,p.177,Fig.2,G01–456–39,G94–505–6eG93–351–2).

Asuacronologiafoiestabelecidacomobasenoscontextostardo-republicanos(2.ªmetadedoséculoIa.C.)escavadosnaquelacidade,queofereceramquantidadessignificativasdematerialseme-lhante.

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300296

Estampa IXCerâmicadeimitaçãodecampaniense–Prato:ASM78/2009;Taças:ASM79/2009,80/2009,77/2009.Marcasdeoleiro.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 297

Catálogo

N.º de Inv. ASM Tipo Forma

Dimensões (em mm)Pasta Cronologia Obs.

Alt. Ø Bordo Ø Base Esp. Média

77/2009 Base Taça 14 – 45 6 única 90e40a.C. –

78/2009 Bordoeparede Prato 27 270 – 6 única 2.ª½doséculoIa.C. –

79/2009 Bordoeparede Prato(?)Taça(?) 28 280 – 6 única Tardo-

-republicanas –

80/2009 Carenaeparede Taça 54 – – 9 única FinaisdoséculoIIa.C.

Ødacarena150mm

Conclusões

Oestudoqueefectuámos,emborabaseadonumespólioreduzido,mereceu-nosumasériedeconsideraçõesquenosparecerampertinentes.Iremos,pois,deummodoomaissimplificadopos-sível,enumerá-las,pensandocomelaslevantarproblemasqueseprendem,naturalmente,comoPeríodoRomanodahistóriadeAlcácerdoSal.

Oprimeirocomonãopodiadeixardeser,prende-secomalocalizaçãodosítiodoAltodeSãoMiguel.SituadonoaltodeumacolinasobranceiraaoSadoedominandolargamenteasplanurasqueseestendemparaSE,eraumlocalqueseriabemapreciadoparafixaçãodepopulações,factoestequeétestemunhadopelasestruturasencontradaspelaequipadearqueólogosdoMAEDSnoanode1976nasproximidadesdestesítio.Torna-se,pois,necessáriaaprocuradeestruturasquepermitamacontinuaçãodoestudorelacionadocomoplanourbanísticoromanodoladoorientaldacidadedeSalacia.

Esteconjuntodeu-nosaoportunidadede,pelaprimeiravez,darmosnotíciadeproduçõesdeterrasigillataprecocedoTipoPeñafloremAlcácerdoSal.

AexistênciadefluxoscomerciaisdeprodutoscomorigemnasolariasdeCeltierajáconhe-cidanoactualterritórioportuguês,designadamentenacidadedeBalsa(Viegas,2006),noteatroromanodeLisboa(Sepúlveda&Fernandes,inédito),assimcomonaCasadosBicos,emLisboa(inédito).

Outrosespóliospoderãoconterfragmentosdestacerâmica,quefoiclassificadapormuitosinvestigadorescomodevernizvermelhotardiaedecerâmicadevernizvermelhojulio-claudiano.UmadiferenteinterpretaçãodestesespóliospermitiriafornecernovosdadosparaaelaboraçãodeumacartadedifusãoparaaLusitâniaportuguesa,dasigillatahispânicaprecoce,quedeveriaacom-panharoscarregamentosdeânforas,dotipoDr.20,queeramproduzidasnosmesmosfornosdeElCortjillo(LaViña,Peñaflor),situadosnamargemdireitadoGuadalquivir.

noqueconcerneaomaterialvítreo,énotóriaafaltadeinformaçãoacercadestetipodeteste-munho.Parece-nostambémquecadanovaintervençãoarqueológicanãotemoferecido,nosmate-riaisrecolhidos,matériasuficienteparaumestudomaisaprofundadoquantoaestebemdecon-sumo, tão importante para compreender outros padrões, para além dos cerâmicos, de trocascomerciaisentreSalaciaeorestodomundoromano,ondeovidroera,então,fabricado10.

Outropontoquenoslevouareflectirsobreanaturezadesteespólioéofactodepossuirmoscerâmicasdeimitaçãodecampaniense,masnãotermosobtidopeçasgenuínasdestetipocerâ-mico.numespólioquenãochegaaumacentenadepeças,olequedecerâmicasobtidoédetal

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300298

formavariado,quese tornanotóriaestaausência.Seráquesobosalicercesdasmoradiasqueladeiam a zona intervencionada se encontrarão estas cerâmicas? Achamos, sinceramente, quesim.Porfim,nãopudemosdeixardechamaraatenção,novamente,paraalimitaçãocronológicadacolecção.Enquantoosmateriaisquedizemrespeitoàsfasestardo-republicana,augustanaeatodooséculoIeiníciosdoIIseencontrampresentesemabundância,osséculosseguintes,atéàocupaçãoislâmica,nãonosdeixaramquaisquertestemunhosmateriaisdeocupaçãodoAltodeSãoMiguel.

Maisumavez…osítioerrado,ounão!

Agradecimento

OsautoresdesejamagradeceraosDrs.GuilhermeCardoso,SeverinoRodrigueseÉlvioMelimdeSousaadisponibilidadequesemprepatentearamquandolhespedimosauxílioparaaprossecu-çãodesteartigo.

NOTAS

* Arqueólogo.AssociaçãoCulturaldeCascais.** Arqueóloga.CâmaraMunicipaldeAlcácerdoSal.*** Arqueóloga.1 AformaConspectus12foiproduzidaportodaaPenínsulaItálicaea

suadataçãocorrespondeaosHorizontesdeDangstetten-Oberaden.2 AdúvidaemrelaçãoàclassificaçãodeASM20/2009deve-seao

factodeapenaspossuirmosazonadacarena,aqualseapresentabastantemoldurada.Apresençadobordopermitiriadeterminarcommaiorcertezaasuatipologia.

3 “FortheAugustanandJulio-Claudianperiods,(…)thecontinuedproduction(…)withlarger-scaleimitationsofterra sigillata italica”.

4 CRESTIO,CHRYSAnTVS,FELIX,HILARIO,PRIMVS,ROMAnVS,SVAVISeTHYRSVS.

5 TaçasdotipoConsp.22(Augusto/Tibério);Consp.23(2.ºe3.ºquarteisdoséc.Id.C.);Consp.24(demeadosdeAugustoemdiante);Consp.25(provavelmenteAugusto/Tibério).

6 InestimáveissugestõesdoDr.ÉlvioMelimdeSousa.7 Aproveitamosaoportunidadeparacorrigiraidentificação

queapareceunoparágrafoondesereferemestesdoisexemplares.Assimondeselê“Apeçan.º9”dever-se-áler“Apeçan.º162”,talcomoondeselê“an.º10”deveráler-se“an.º163”.Pelaimprecisãocometidaapresentamosasnossasdesculpas.

8 naclassificaçãotipológicadeDressel-Lambogliaestaslucernastêmdiacroniasdeépocajúlio-claudiana,enquanto,paraDeneauve,elassãotípicasdoperíodoquecomeçacomoiníciodaEra,estendendo-seatéaosmeadosdoséculoId.C.

9 Alarcão,1976;Arruda&Viegas,2004;Carvalho,1998;Fabião,1998;Morais,2004;Quaresma,1995–1997;Sepúlveda&alii,2007.

10 OumesmodentrodaprópriaLusitânia.

BIBlIOGRAFIA

ALARCÃO,Jorgede(1978)-VidrosdocastelodeAlcácerdoSal.Setúbal Arqueológica.Setúbal.4,pp.155–170.

AGUARODOTAL,Carmen(1991)-Cerámica romana importada de cocina en la Tarraconense.Zaragoza:Institución“FernandoelCatólico”.

AMORESCARREDAnO,FernandoJ.de;KEAY,Simon(1999)-LassigillatasdeimitacióntipoPeñaflorounasériedehispánicasprecoces.InROCAROUMEnS,Mercedes;FERnÁnDEZGARCÍA,MaríaIsabel-Terra sigillata hispánica. Centros de fabricación y producciones altoimperiales. Homenaje a M.ª Ángeles Mezquíriz.Jaén:Universidad;Málaga:Universidad,pp.210–221.

ARRUDA,AnaMargarida;VIEGAS,Catarina(2002)-Ascerâmicasde“engobevermelhopompeiano”daAlcáçovadeSantarém.RevistaPortuguesadeArqueologia.Lisboa.5:1,pp.221–238.

ARRUDA,AnaMargarida;SOUSA,Elisa(2003)-CerâmicadeparedesfinasdaAlcáçovadeSantarém.Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.6:1,pp.235–286.

BELCHIOR,Claudette(1969)-Lucernasromanas de Conímbriga.Coimbra:MuseuMonográficodeConímbriga.

BOnIFAY,Michel(2004)-Études sur la céramique romaine tardive d’Afrique.Oxford:Archaeopress.

O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300 299

CARDOSO,Guilherme;RODRIGUES,Severino;SEPúLVEDA,Euricode(2006)-AolariaromanadoMorraçaldaAjuda-Peniche.Setúbal Arqueológica.Setúbal.13,pp.253–278.

CECI,Monica(2005)-Lelucerne.InGAnDOLFI,Daniela,ed.-La ceramica e i materiali di età romana.Classi, produzioni, commerci e consumi.QuadernidellaScuolaInterdisciplinaredelleMetodologieArcheologiche.Bordighera.2,pp.311–324.

CHICGARCÍA,Genaro;GARCÍAVARGAS,Enrique(2004)-AlfaresyproduccionescerámicasenlaProvinciadeSevilla.BalanceyPerspectivas.InBERnAL,Dario;LAGÓSTEnA,Lázaro-FiglinaeBaeticae.Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C–VII d.C.).Oxford:Archaeopress,1,pp.279–347.

DELGADO,Manuela(1994)-notíciasobrecerâmicasdeengobevermelhonãovitrificávelencontradasemBraga.Cadernos de Arqueologia.Braga.SérieII.10–11,pp.113–149.

DEnEAUVE,Jean(1974)-Lampes de Carthage.Paris:CnRS.

DESBAT,Armand;GEnIn,Martine;LASFARGUES,Jacques(1996)-LesproductionsdesateliersdepotiersantiquesdeLyon.Gallia.Paris.53,pp.1–249.

DIAS,LuisaFerrer(1978)-Asmarcasde“terrasigillata”docastelodeAlcácerdoSal.Setúbal Arqueológica.Setúbal.4,pp.145–154.

DÍAZGARCÍA,Moisés;OTIÑAHERMOSO,Pedro(2007)-ImportacioneseimitacionesdevajilladebarniznegroenTarragonaenlossiglosII–Ia.C.InROCAROUMEnS,Mercedes;PRInCIPAL,Jordi,eds.-Les imitacions de vaixella fina importada a la HispaniaCiterior(segles I aC–I dC).Tarragona:InstitutCatalàd’ArqueologiaClàssica,pp.99–117.

ETTLInGER,Elisabeth;HEDInGER,Bettina;HOFFMAn,Bettina;KEnRICK,PhilipM.;PUCCI,Giuseppe;ROTH-RUBI,Katrin;SCHnEIDER,Gerwulf;SCHnURBEIn,Siegmarvon;WELLS,ColinMichel;ZABEHLICKY-SCHFFEnEGGER,Susanne(1990)-Conspectus Formarum Terrae Sigillatae italico modo confectae.Bonn:Habelt.

FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol;DIOGO,AntónioManuelDias(1987)-MarcasdeterrasigillatadeAlcácerdoSal.Conimbriga.Coimbra.26,pp.61–76.

FARIA,JoãoCarlosLázaro(1998)-AlgumasnotasacercadoprovávelforumdeSalaciaImperatoria(AlcácerdoSal).Conimbriga.Coimbra.37,pp.185–199.

FARIA,JoãoCarlosLázaro(2002)-Alcácer do Sal ao tempo dos romanos.Lisboa:Colibri.

FERnAnDES,Lídia;FILIPE,Victor(2007)-CerâmicasdeengobevermelhopompeianodoteatroromanodeLisboa.Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.10:2,p.211–235.

GEnIn,Martine,ed.(2007)-La Graufesenque (Millau, Aveyron), II: sigillées lisses et autres productions.Pessac:FédérationAquitania.

JERÉZLInDE,JoséManuel(2004)-LaT.S.Hispánicaprecozo‘TipoPeñaflor’,suincidenciaenelterritorioemeritenseydosmarcasinéditasdelM.n.A.R.deMérida.Anas.Mérida.17,pp.161–178.

JERÉZLInDE,JoséManuel(2005)-La terra sigillata itálica del Museo Nacional de Arte Romano de Mérida.Mérida:MuseonacionaldeArteRomano.

KEAY,Simon;CREIGHTOn,John;REMESALRODRÍGUEZ,José(2000)-Celti.Peñaflor. The archaeology of a Hispano‑Roman town in Baetica.Exeter:UniversityofSouthampton.

LAMBOGLIA,nino(1952)-Per una classificazione preliminare della ceramica campana.Bordighera:IstitutoInternazionalediStudiLiguri.

LÓPEZMULLOR,Albert(1990)-Las cerámicas romanas de paredes finas enCataluña.Zaragoza:Pórtico.

MALFITAnA,Daniele(2004)-ItaliansigillataimportedtoSicily:theevidenceofthestamps.InPOBLOME,Jeroen;TALLOEn,Peter;BRULET,Raymond;WAELKEnS,Marc,eds.-Early Italian Sigillata. The chronological framework and trade patterns. Proceedings of the First International ROCT‑Congress, Leuven, May 7 and 8, 1999.Leuven:Peeters,pp.309–336.

CAVALIERIMAnASSE,Giuliana(1973)-Ceramicaavernicerossainterna.InFROVA,Antonio,ed.-Scavi di Luni.Roma:L’“Erma”diBretschneider,pp.278–281.

MARABInIMOEVS,MariaTeresa(1973)-The Roman thin walled pottery from Cosa (1948–1954).Roma:AmericanAcademyinRome.

MARABInIMOEVS,MariaTeresa(2006)-Cosa: the Italian sigillata.Roma:AmericanAcademyinRome.

MAYET,Françoise(1975)-Les céramiques à parois fines dans la Péninsule Ibérique.Paris:CnRS.

MORAIS,Rui(2005)-Autarcia e comércio em BracaraAugusta.Braga:UniversidadedoMinho.

MORILLOCERDÁn,Ángel(2003)-Lucernas.InAMARÉTAFALLA,MaríaTeresa,ed.-Astorga IV: lucernas y ánforas.León:Universidad,pp.16–632.

nOLEn,JeannetteU.Smit(1994)-Cerâmicas e vidros de Torre de Ares (Balsa).Lisboa:MuseunacionaldeArqueologia.

OXÉ,Auguste;COMFORT,Howard(1968)-CorpusVasorumArretinorum.A catalogue of the signatures, shapes and chronology of Italian sigillata.Bonn:Habelt.

Eurico de Sepúlveda | Marisol Ferreira | Vanessa da Mata O espólio cerâmico romano do Alto de São Miguel (Alcácer do Sal): intervenção arqueológica urbana de emergência

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 271–300300

OXÉ,Auguste;COMFORT,Howard;KEnRICK,Philip(2000)-CorpusVasorumArretinorum. A catalogue of the signatures, shapes and chronology of Italian sigillata.SecondEdition.Bonn:Habelt.

PERAIISERn,Joaquim;GUITARTIDURAn,Josep(2007)-Laceràmicad’imitacióenelsegleIaCalaciutatromanadeIesso(Guissona).Estudipreliminar.InROCAROUMEnS,Mercé;PRInCIPAL,Jordi,eds.-Les imitacions de vaixella fina importada a la HispaniaCiterior(segles I aC–I dC).Tarragona:InstitutCatalàd’ArqueologiaClàssica,pp.173–186.

PÉREZBALLESTER,José;BARROCALCAPARRÓS,MaríaCarmen(2007)-CampanienseC,cerámicasgrisesyengobadasdeimitaciónenCartagena,MazarrónyEivissa.InROCAROUMEnS,Mercedes;PRInCIPAL,Jordi,eds.-Les imitacions de vaixella fina importada a la HispaniaCiterior(segles I aC–I dC).Tarragona:InstitutCatalàd’ArqueologiaClàssica,pp.151–172.

PInTO,InêsVaz;MORAIS,Rui(2007)-Complementodecomérciodasânforas:cerâmicacomumbéticanoterritórioportuguês.InActas del Congreso Internacional Cetariae. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Antigüedad.Oxford:Archaeopress,pp.235–254.

SEPúLVEDA,Euricode;SOUSA,Élviode;FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol(2001)-CerâmicasromanasdoladoocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,2:“cerâmicasdeverniznegro”ecinzentas.O Arquéologo Português.Lisboa.SérieIV.19,pp.199–234.

SEPúLVEDA,Euricode;SOUSA,Élvio;FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol(2003)-CerâmicasromanasdoladoocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,3:paredesfinas,pastadepurada,engobevermelhopompeianoelucernas. Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.6:2,pp.383–399.

SEPúLVEDA,Euricode;SAnTOS,PatríciaA.;FARIA,JoãoCarlosLázaro;FERREIRA,Marisol(2007)-CerâmicasromanasdoladoocidentaldoCastelodeAlcácerdoSal,5:almofarizesdeproduçãobética,pesosecossoiros. Revista Portuguesa de Arqueologia.Lisboa.10:2,pp.225–284.

SOARES,Joaquina(1978)-nótulasobrecerâmicacampaniensedocastelodeAlcácerdoSal.Setúbal Arqueológica.Setúbal.4,pp.133–143.

VEGASMInGUELL,Mercedes(1973)-Cerámica común romana del Mediterráneo Occidental.Barcelona:Universidad.

VIEGAS,Catarina(2006)-A cidade romana de Balsa. (Torre de Ares ‑ Tavira): (1) Aterra sigillata.Lisboa:MunicípiodeTavira.