Bidault solicita um novo voto de confiança a Assembléia francesa
O Conselho de Defesa Sul-Americano e a Construção da Confiança: Os Mecanismos de Transparência
Transcript of O Conselho de Defesa Sul-Americano e a Construção da Confiança: Os Mecanismos de Transparência
1
O Conselho de Defesa Sul Americano e a Construção da Confiança: Os Mecanismos de Transparência
Diego Lopes da Silva1
Resumo:
O objetivo do presente trabalho é análise da implementação e efetividade dos mecanismos de transparência no setor militar acordados no âmbito do Conselho de Defesa Sul americano (CDS) e o seu papel na construção da confiança. Realizar-se-á uma análise específica da relação entre Chile e Peru, onde tal mecanismo já foi acordado. A partir do exame dessa díade, pretende-se investigar em que medida a transparência no setor militar influenciou no relacionamento desses países. De modo a entender a da relação entre esse países, é imperioso ter em mente que seu vínculo é marcado por ressentimento e desconfiança, uma herança da Guerra do Pacífico (1879-1883). O resultado do conflito, desvantajoso para o Peru, nutriu uma rivalidade entre os países. A institucionalização da transparência militar monstra-se como uma alternativa na tentativa da consolidação da cordialidade entre esses dois países. A cooperação ocorreria através do que Jorge Dominguez chamou de Dissuasão pela Transparência: um processo dissuasório que não passa pelo acumulo de meios coercitivos, mas pela demonstração da intenção pacífica.
Palavras-chave: Segurança Regional; América do Sul; Confiança; Defesa; Conselho de Defesa Sul Americano.
A condição condutora para a criação do Estado é a incapacidade do indíviduo em
presumir com precisão o comportamento alheio. Tal imprevisibilidade da conduta do outro é o
substrato da insegurança, levando os seres sociais a contratualizarem ou pactuarem um sistema
jurídico que, por meio do monopólio legitimo da violência, possa garantir a segurança de todos2.
Dessa maneira, emerge do consenso social um sistema de leis que objetivam a garantia do
convívio salutar e da previsibilidade do comportamento alheio, assegurado pelo poder coercitivo
do aparelho estatal. Seguindo uma perspectiva kelseniana, é ressaltado aqui o papel do Direito
como sistema de organização da força e o Estado, como seu ordenamento jurídico (RESTREPO,
2011, p. 11).
A mesma dinâmica da emersão do Estado aplica-se ao ambiente internacional3. O
desenvolvimento do Direito Internacional deve-se a tentativa de criar um ambiente com um
menor grau de incerteza através do estabelecimento de regras, aumentando assim a sensação
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNICAMP-UNESP-PUC/SP). [email protected] Utilizamos aqui uma abordagem realista da construção do Estado. A preocupação com a autopreservação é o ponto central do argumento desenvolvido por Hobbes na conceitualização da pacto social. Para mais ver HOBBES (2007)3 A mesma lógica que associa a insegurança à incapacidade da presunção do comportamento do outro já nos é apontado por Aron, “O desconhecimento do semelhante que há em todo estrangeiro é uma das raízes sociais e psíquicas das distâncias entre as coletividades - isto é, das guerras”. (ARON, 1979 . p. 461)
1
2
de segurança (BULL, 2002, p. 147). Todavia, é mister apontar que, ainda que realizemos uma
analogia entre a emersão do Estado com o Direito Internacional, uma diferença é essencial. Não
se pode perder de vista o caráter anárquico do Sistema Internacional, ou seja, a ausência de uma
instância mantenedora do monopólio legítimo da violência no ambiente internacional, que tenha
a capacidade coercitiva necessária para garantir o cumprimento das leis.
O padrão de relacionamento entre as unidades do sistema internacional, conflitivo
ou cooperativo, é determinado pela percepção da segurança, de modo que a interpretação
semiótica do cenário no qual a unidade política está inserida é seu elemento formador (SAINT
PIERRE, 2002). Desse modo, a ameaça que se teme em um ambiente de insegurança é um
elemento que atua no espaço das subjetividades, pois está sujeita à maneira como a realidade
social é apreendida e interpretada pelos atores. Entretanto, é necessário que se faça, antes de
aprofundarmos nossa discussão, uma distinção conceitual no processo de formação da ameaça.
A ameaça possui duas modalidades discursivas: a ameaça enquanto discurso ativo é aquela
que é declarada, intencional, que visa dissuadir o ameaçado de cometer alguma ação a qual o
ameaçador se oponha; e enquanto discurso passivo, a formação da ameaça permite ao emissor a
não intencionalidade da ameaça, no sentido de que ela se concretiza na interpretação do receptor,
independentemente da intencionalidade do ameaçador.
Por ser, por assim dizer, fruto de uma hermenêutica da realidade social internacional, a
formação da ameaça torna o estudo da segurança internacional uma investigação das percepções.
Para Héctor Luis Saint Pierre, a ameaça é “ [...]uma representação, um sinal, uma certa
disposição, gesto ou manifestação percebida como o anúncio de uma situação indesejada ou de
risco para a existência de quem a percebe.” (SAINT PIERRE, 2002).
A discussão sobre a segurança não pode se dissociar do Estado. Ainda que algumas
abordagens não defendam a centralidade do Estado na segurança, de algum modo elas discutem
seu papel. Com vistas a entender de modo mais claro essa relação, é necessário ter em mente
dois eventos, destacados por Barry Buzan e Lene Hansen (2009). O primeiro diz respeito a
reorganização do sistema de governança dos Estados. A mudança do sistema medieval de
Estados para o sistema moderno mudou a maneira como a identidade política era entendida.
Na mudança, o que se observou foi a conformação da ideia da soberania, a qual acabou por
separar as questões religiosas das questões de Estado (OSIANDER, 2001, p. 251-257). O
segundo episódio refere-se ao nascimento do mito da nacionalidade com as revoluções francesa
2
3
e americana. A ideia de nação definiu os limites imaginários que separam o que é o interno e
externo, o nacional e o estrangeiro4 (SAINT PIERRE, 2000). A conjunção desses dois eventos,
que trouxeram os conceitos de soberania e nacionalidade à luz, determinou como os debates
entorno da segurança internacional foram desenvolvidos (BUZAN e HANSEN, 2009).
No período que procedeu-se à Segunda Guerra Mundial, as definições epistemológicas
dos Estudos de Segurança Internacional (ESI) eram relativamente claras. O foco dos estudos
deste período convergiam no âmbito militar, possuindo o Estado como príncipal preocupação.
Tal abordagem ficou conhecida como Tradicionalista. Para Stephen Walt (1991), um dos
defensores contemporâneos dessa abordagem, a Segurança Internacional enquanto campo do
conhecimento
[...] explora as condições nas quais faz-se mais provável o uso da força, as maneiras em que o uso da força afeta os indivíduos, Estados e sociedades, e a políticas específicas que os Estados adotam de modo a prepararem-se, prevenirem-se ou declararem guerra. (WALT, 1991, 212)
A abordagem Tradicionalista ganhou destaque com o desenvolvimento da Guerra Fria,
devido ao conceito de Segurança Nacional e a nuclearização do conflito. Devido a este último
fator, houve uma grande preocupação com o desenvolvimento de teorias de dissuasão nuclear.
Entretanto, já perto do fim da década de 1980, as premissas realistas dos estudos de segurança,
primordialmente político-militares, foram abaladas devido ao surgimento de novas questões na
agenda de segurança internacional (BUZAN, 1997), possibilitado pelo relativo sucesso da
distensão nuclear entre as super potências.
Com a queda na capacidade explicativa do Tradicionalismo face ao novo cenário que se
apresentava, uma abordagem à favor de uma ampliação nos temas abarcados pela agenda da
segurança começava a ocupar os vácuos explanatórios5 (OROZCO, 2006, 161-162) deixados
4 Héctor Luis Saint Pierre refere-se a guerra de independência americana (1775 - 1783) como uma revolução militar. Para ele, o aparecimento da figura do cidadão, disposto a morrer pela nação “permitiu o desenvolvimento de uma estratégia que procurava a decisão da guerra por meio do combate, da batalha final e decisiva: o ‘rolo compressor’ que caracterizou a revolução estratégica introduzida pelo exército napoleônico.” (SAINT PIERRE, 2000. p.50)5 “Em efeito, acontecimentos tão inusitados como o desaparecimento da confrontação Leste-Oeste, o vaziomaterial que deixou o oponente dissolvido, a implicação de novos atores internacionais ou a porosidadeda soberania no interior dos Estados suscitaram, entre outras coisas, a ideia de que o curso da dinâmicainternacional estava se abrindo a um horizonte mais além do mundo bipolar.” (Tradução nossa). (OROZCO, 2006, p. 161-162)
3
4
pela abordagem tradicionalista. A abordagem abrangente (widening) direcionava seus intentos
no sentido de tornar os estudos de segurança algo menos monolítico e totalizante, garantindo
diversidade em seus objetos (BUZAN, WAEVER, DE WILDE, 1998).
Como consequência dos debates epistemológicos no campo da segurança internacional, o
continente americano também começou a reavaliar suas estruturas de segurança e discutir seus
entendimentos. Os alicerces da arquitetura institucional de segurança hemisférica datam da
década de 1940, criados face à preocupação dos países da região com as ameaças externas
advindas do contexto da II Guerra Mundial (FONTANA, 2003). Nessa época, foram firmados os
principais organismos de segurança coletiva nas Américas, sendo eles a Junta Interamericana de
Defesa (JID), de 1952, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) de 1947 e o
Pacto de Bogotá.
Esses mecanismos foram desenvolvidos tendo em vista hipóteses de conflito que
envolviam ameaças clássicas do tipo militar e, durante o período da Guerra Fria, foram
utilizados de modo a fazer frente ao poderio e a influência soviética no hemisfério. Entretanto,
a nova configuração do sistema internacional do pós Guerra Fria requereu que houvesse uma
reflexão do papel da defesa face à segurança, uma vez que, com a emergência de ameaças não
convencionais, era preciso que se redefinisse o papel dessas instituições nesse novo contexto
(RUIZ BLANCO, 1998, p. 115). De acordo com Miguel Camilo Ruiz Blanco,
O final da Guerra Fria produziu o desenvolvimento complexo das relações internacionais e hemisféricas, e uma proliferação de atores na cena internacional que determinaram a configuração especial que têm hoje a problemática das sociedades nacionais e a interação estatal. (RUIZ BLANCO, 1998, p. 113)
A partir de 1991, com o estabelecimento do Compromisso de Santiago6 (OEA, 1991),
iniciou-se um processo de aproximação entre os EUA e seus vizinhos continentais com o intento
de construir pontos de vista comuns sobre segurança hemisférica e convergir os diferentes
interesses, de modo a dirimir a desconfiança que apartava os Estados Unidos e o resto do
continente (FONTANA, 2003, p. 171). Tal processo se deu por meio das chamadas Confidence
6 A Declaração de Santiago aponta a aproximação entre os países do hemisfério para diminuir os fatores de desconfiança através de uma série de medidas, que abarcariam desde o intercâmbio de informações até a cooperação em casos de catástrofes naturais. A construção da confiança hemisférica é entendida como um condicionante ao desenvolvimento social, cultural e econômico do continente, bem como uma forma de abrir novas formas de cooperação entre os países. (OEA, 2011)
4
5
Building Measures (CBM), ou Medidas de Construção da Confiança (MCC), discutidas e
implementadas no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA). Aguilar discorre
sobre o papel das Medidas de Construção da Confiança no continente americano
Nas Américas, o caminho para a cooperação se deu por meio de ações que forma eliminando suspeitas e desconfianças. A cooperação seria a essência da prevenção dos conflitos e implicou na mudança da postura ofensiva para a defensiva, fazendo com que as crises que surgissem não fossem percebidas como hostis ou perigosas, mas sim, passíveis de serem resolvidas pela diplomacia. (AGUILAR, 2010, p. 183)
As Medidas de Construção da Confiança tem como objetivo dissipar as percepções de
ameaça mútuas de um grupo de Estados através de mecanismos, por exemplo, de transparência,
limitação do arsenal militar e/ou redução dos investimentos no setor. São geralmente
implementadas gradativamente, à princípio de pontualmente, de modo que podem evoluir para
arranjos mais complexos de cooperação, como instituições coletivas de Defesa.
Em relação ao papel desempenhado pelas sub-regiões na construção da confiança, o
presente estudo destaca o Cone Sul. Situada na América do Sul, a sub-região, ainda que seja
considerada uma espaço pacífico, possui uma história marcada por rivalidades e hostilidades
entre os países que a compõem (BANDEIRA, 2003). As origens do tecido social no qual as
relações de animosidade se desenvolveram podem ser identificadas já no período de colonização
da região, em que houve uma confluência entre a herança da rivalidade luso-hispânica e a
conjuntura política mundial produziram um padrão de relacionamento conflitivo (AGUILAR,
2010, p. 19). A sub-região passou por conflitos no período de estabilização dos Estados, seja
por razões objetivas, como a Guerra do Pacífico (1879-1883), disputa entre Bolívia contra
Chile e Peru pelos direitos à parte do Deserto do Atacama, território rico em salitre e guano7,
ou por razões conduzidas em grande parte por percepções8 (AGUILAR, 2010, p. 19), como a
Guerra do Paraguai, que, como afirma Aguilar, foi “[...] fruto de desconfianças e percepções
geoestratégicas” (AGUILAR, 2010, p. 19).
A Guerra do Paraguai é significativa, pois reuniu de um mesmo lado do conflito os dois
7 Materiais estratégicos para o setor militar.8 De modo a entender melhor o papel que a percepção desempenhava nas relações entre os países da regiãotranscreve-se aqui Bueno: “A Argentina vivenciou um período de enriquecimento a partir do final do século XIX oque permitiu que o país se armasse, levando o Chile a fazer o mesmo e incomodando o império e os primeirosgovernos republicanos brasileiros” (BUENO apud AGUILAR, 2010. p.19).
5
6
maiores expoentes da Bacia da Prata: Argentina e Brasil9. A compreensão da relação argentino-
brasileira é central no esforço de se compreender os desdobramentos políticos do Cone-Sul. Tal
centralidade se justifica na influência do tipo de relacionamento travado entre os dois países
no ambiente regional. Cita-se como exemplo de reverberação da relação argentino-brasileira a
criação do Uruguai, em 1828, como um Estado-Tampão entre os paísesl, de modo a selar a paz
após o conflito armado iniciado em 182510 (BANDEIRA, 2003).
Argentina e Brasil, ao disputarem a hegemonia política e militar da Bacia do Prata, se
configuraram como competidores estratégicos. Tal disputa histórica contribuiu para a formação
de uma percepção de ameaça mútua, distanciando os países durante décadas até que uma
aproximação estável viesse ocorrer (MELLO, 1996). Como efeito dessa disputa, os arranjos
políticos da região se pautavam por uma política de equilíbrio de poder, dividindo os países da
região em blocos de interesses (BANDEIRA, 2003).
Ocasiões de aproximação e cordialidade entre os países são observadas ao longo da
história, ainda que de curta duração. Porém, uma conciliação sólida entre os rivais históricos
só seria edificada aos fins da década de 1970 com a resolução de duas questões de grande
relevância no relacionamento bilateral. A primeira refere-se a utilização dos recursos hídricos do
Rio Paraná. A Argentina sentia-se prejudicada com os planos brasileiros de construção de uma
hidrelétrica em parceria com o Paraguai. A hidrelétrica, a ser construída nas cidades de Itaipu e
Corpus, representava um incômodo para o governo argentino pois prejudicaria a navegabilidade
do Rio Paraná, além de inviabilizar os planos argentinos de também utilizar os recursos
hidrelétricos do rio. Somente sob o governo brasileiro de Figueiredo, em 1979, é colocado fim a
contenda de Itaipu-Corpus com a assinatura do Acordo Tripartite, abrindo uma nova perspectiva
de relacionamento entre os rivais históricos (VIZENTINI, 2004).
A segunda questão diz respeito aos seus respectivos programas nucleares. O
relacionamento entre os países nesse setor se mostrou complicado desde seu inicio, ao adotarem
uma postura competitiva e isolacionista. As aspirações por desenvolvimento, independência
e liderança regional se mostraram como algumas das razões que motivaram a rivalidade
9 Todavia, com o fim do conflito e a aproximação de uma perspectiva de paz, as relações entre Brasil e Argentina setornaram tensas novamente.10 Importante notar que a paz entre Argentina e Brasil foi alcançada através de um mediador britânico. Fato quemostra a existência dos interesses britânicos na região, bem como sua intervenção nos assuntos regionais. (BANDEIRA, 2003)
6
7
(OELSNER, 2005, p. 154). Com o Choque do Petróleo de 1973, os dois países intensificaram
seus programas na tentativa de diversificar suas fontes de energia, investindo largas quantidades
de capital no setor, até o ponto em que a relação bilateral entre Argentina e Brasil começou
a adotar feições de uma corrida nuclear. Nesse sentido, houve uma preocupação de ambas as
partes em evitar tal cenário devido à necessidade de manter os investimentos nos projetos que
garantissem o progresso social de seus países. Para tanto, negociações foram desenvolvidas para
uma aproximação no setor durante toda a década de 1980, até que, já no início dos anos 1990,
o Sistema Comum de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (SCCC) é estabelecido.
Tal mecanismo é ainda hoje administrado pela Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e
Controle de Materiais (ABACC), e tem por base uma política de transparência no setor nuclear,
de modo a mitigar percepções de ameaça, bem como fomentar a cooperação bilateral.
A apuração da questão nuclear, bem como o acordo em relação à utilização dos recursos
hídricos da Bacia do Prata, foram somados a redemocratização11 (AGUILAR, 2010, p. 221)
dos países do Cone Sul, fator de suma importância para o estabelecimento de uma postura
conciliatória na sub-região. A esse respeito, Aguilar afirma,O estabelecimento dos governantes civis que se seguiu, especialmente na Argentina, Brasil e Chile, e a postura que estes adotaram em prol do entendimento, dissipando as desconfianças que permearam as relações durante os governos militares, foi um fator importante que influenciou e até conduziu à modificação das relações de segurança na sub-região. (AGUILAR, 2010, p. 270)
A confluência dos fatores acima descritos acabou por tecer um ambiente fértil para a
integração regional, de maneira que, a partir da arquitetura jurídica provida pela Associação
Latino Americana de Integração (ALADI), Brasil e Argentina iniciam sua aproximação
econômica, que os levaria a formação do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Ao
transcender suas principais contendas, o Cone Sul emerge como espaço cooperativo e fecundo
ao incremento da confiança. Dessa maneira, os países da sub-região começam a erigir, a partir de
acordos bilaterais, multilaterais e no âmbito do MERCOSUL, uma rede regional de segurança.
A concatenação dos posicionamentos estratégicos e a construção de uma arquitetura
11 “O estabelecimento dos governos civis democráticos no Cone Sul e o posterior controle sobre suas ForçasArmadas serviram de base para uma maior cooperação sub-regional com a criação de mecanismos de concertação e ainstitucionalização das medias de confiança mútua” (AGUILAR, 2010. p.221)
7
8
regional de defesa consolidou-se com a criação do Conselho de Defesa Sul americano (CDS)12.
Estabelecido em 16 de dezembro de 2008 dentro do âmbito da União das Nações Sul americanas
(UNASUL), o órgão tem como objetivo constituir-se “como uma instância de consulta,
cooperação e coordenação em matéria de defesa” (Art. 1º) (CDS, 2008) Em sua carta estatutária,
acordam-se as intenções de consolidar a América do Sul como um região pacífica, democrática
e soberana. O projeto de sua criação, de iniciativa brasileira, visava a composição de um foro
multilateral no qual as diferentes visões acerca da temática da defesa fossem concatenadas a fim
de garantir a região maior autonomia frente ao cenário internacional. Tal posicionamento, na
visão de Saint Pierre (2009, p. 13), constitui-se como um ponto de inflexão no pensamento de
defesa brasileiro, historicamente marcado pelo estabelecimento de mecanismos bilaterais ou ad
hoc.
O CDS e a questão das sete bases
O primeiro desafio do CDS apresentou-se logo em seus primeiros meses de
funcionamento. Trata-se da crise diplomática desencadeada pela decisão do governo da
Colômbia de conceder aos Estados Unidos o direito de utilizar sete bases militares em seu
território no combate ao narcotráfico. A possibilidade do acordo entre Bogotá e Washington
causou desconforto entre os países da região. Tal sentimento foi manifestado na Cúpula de
Presidentes da UNASUL, de 10 de agosto de 2009, realizada em Quito (UNASUR, 2009). A
questão polarizou a região, colocando Colômbia e Peru à favor da instalação das bases, pois este
último também lida com o problema do narcotráfico, e Venezuela no extremo contrário a esta
instalação, pois via o acordo como uma movimentação norte americana como uma ameaça ao
país. O Brasil situou-se ao centro na discussão, preferindo não adotar nenhum posicionamento
mais extremo. Entretanto, apontou para a necessidade urgente de que o texto do acordo fosse
disponibilizado às nações vizinhas de modo a dirimir desconfianças e que garantias jurídicas
fossem dadas sobre os objetivos do acordo.
A questão das sete bases apresentou-se como uma das situações de maior tensão da
12 “[...] o desenho do CDS não partiu do zero. As experiências acumuladas facilitaram o esforço de consolidar os acordos existentes e identificar os âmbitos de ação possíveis e prioritários para avançar na cooperação em Defesa. Contudo, era a primeira vez que se empreendia o caminho de construir uma instância organica de caráter sul americano com tais características e em um momento de alta complexidade política regional.” (RUZ, 2010, p. 4)
8
9
última década na região (GARRÉ, 2010, p.11), colocando em xeque a efetividade do CDS
enquanto instância de resolução pacífica de conflitos. A sensibilidade da questão residia no fato
de que, ao mesmo tempo em que a Colômbia era soberana ao decidir ceder suas bases militares
para uso do governo norte americano, os países da região tinham o direito de questionar a
possível extraterritoriedade que o acordo poderia implicar (GARRÉ, 2010).
O CDS, de modo a controlar as tensões, realizou uma reunião extraordinária (CDS,
2009) em agosto de 2010, na cidade de Bariloche, Argentina, onde discutiram-se medidas para
de solucionar a crise. A necessidade da transparência nas questões militares foi o cerne das
discussões. No encontro, elaborou-se um documento chamado Propuestas de Mecanismos de
Medida de Fomento de Confianza y Seguridad de Suramérica13 (RUZ, 2010, p. 7-8) , no qual
afirma-se a imperiosidade da institucionalização de medidas de transparência na região.
A Transparência militar em pauta: a Reunião de Bariloche
O encontro de Bariloche ocupa lugar de destaque no estudo da construção da confiança
sul americana, pois teve a capacidade de converter um cenário político crítico em medidas
positivas e de consolidação do CDS como foro de diálogo e de resolução pacífica de impasses.
Além disso, sublinha-se a sensibilidade envolvendo a questão em si, ou seja, a divulgação de
informações relacionadas ao setor militar. Nilda Garré, ministra da Defesa argentina, destaca a
importância de Bariloche
A Cúpula de Bariloche demonstrou que a genuína vontade política de nossos governantes, processada pelos órgãos da UNASUL, se materializou em compromissos consensuais a nível de Estado, com medidas específicas que se traduzem em mais e melhores garantias de paz e segurança para os nossos povos. Bariloche sem dúvida se constitui como um passo transcendente e irreversível para o logro desse objetivo comum que é converter a América do Sul em uma verdadeira "Zona de Paz". (GARRÉ, 2010, p. 14)
Em Bariloche decidiu-se pela realização de uma reunião extraordinária durante a primeira
quinzena do mês de setembro de 2009 para estruturação de medidas de fomento à confiança.
13 “El documento comprende cinco áreas, que incluyen intercambio de información y transparencia sobre sistemasdedefensa; comunicación entre fuerzas militares en la frontera; mecanismos de notificación de maniobras,despliegues y ejercicios militares con países de la región y extra regionales; medidas de garantía y medidas deverificación”. (RUZ, 2010. p. 7-8)
9
10
Em cumprimento à decisão, realizaram-se duas reuniões na cidade de Quito, nos dias 15 de
setembro e 27 de novembro, nas quais discutiram ministros de Relações Exteriores e ministros
de Defesa para o estabelecimento de formas concretas de prestação de contas e medidas de
transparência. Na primeira reunião, as divergências predominaram na relutância colombiana em
divulgar o texto completo do seu acordo com os Estados Unidos, bem como na postura hesitante
dos demais países da região em compartilhar as suas informações de compra de armamentos.
Apesar das dificuldades do primeiro encontro, a segunda reunião de Quito logrou melhores
entendimentos ao convergir as opiniões entorno da criação de um Banco de Informações sobre
registro, transferência e aquisição de equipamentos e armas convencionais e o desenvolvimento
de um mecanismo de notificação e registro de acordos intra ou extra regionais em matéria de
defesa e segurança, pelo qual se apresente o texto do acordo na íntegra aos demais países da
UNASUL. Apesar das divergências iniciais, o que se buscou foi o diálogo aberto, a transparência
e acooperação de modo a dissipar as percepções de ameaça (SECRETARIA DA PRESIDENCIA
PRO TEMPORE, 2010, p. 64).
Desenvolveu-se durante o período discutido acima, um conjunto de propostas de
procedimentos para a aplicação das medidas de confiança, indicando seus prazos, meios e
instâncias competentes para o registro e intercâmbio de informações, bem como a notificações
de atividades específicas e consultas. Quatro reuniões foram realizadas de modo a estudar o
documento proveniente de Quito, a primeira delas deu-se na cidade de Manta, nos dias 26 e 27
de janeiro de 2010; a segunda realizou-se na II Reunião Ordinária da Instância Executiva do
CDS, também na cidade de Manta, nos dias 28 e 29 de janeiro de 2010; a terceira foi na reunião
do Grupo de Trabalho sobre Medidas de Fomento a Confiança e Segurança, em Quito nos dias
8 e 9 de abril; e a última celebrou-se na cidade de Guayaquil na I Reunião Extraordinária da
Instância Executiva do CDS (CDS, 2010c), em 5 de maio de 2010.
O pacote de medidas de transparência e fomenta da confiança, desenvolvido ao longo
das reuniões supracitadas, foi sancionado no dia 7 de maio. Na ocasião, a II Reunião Ordinária
do Conselho de Defesa Sul Americano (CDS, 2010a), realizada em Guayaquil, os ministros de
defesa entraram em acordo em enviar a Declaração de Guayaquil ao Conselho de Ministros de
Relações Exteriores para aprovação. Ao fim das negociações referentes ao conjunto das medidas
a serem implementadas, o que se observa é o passo dado rumo ao estabelecimento de uma paz
estável através da institucionalização das medidas de confiança, mecanismo inédito na região.
10
11
A importância do processo autônomo de elaboração das medidas e do processo de negociação é
ressaltado por Garré
Na realidade, com a aprovação dos referidos Procedimentos, de maneira inédita em nossa história regional, a totalidade das nações sul americanas são vinculadas por um esquema concreto e operacionalizado de medidas de fomento da confiança e transparência em matéria de Defesa, cujo grande valor agregado reside no fato de que as mesmas foram endogenamente desenhadas por nossos países, através de um processo de negociação que não foi em si facil, mas autêntico e plenamente consensual por todos nossos Estados. (GARRÉ, 2010, p. 13)
Ainda na reunião de 7 de maio de Guayaquil, foi aprovado o estatuto do Centro de
Estudos Estratégicos de Defesa do Conselho de Defesa Sul Americano (CEED-CDS). O
órgão, posto em funcionamento na mesma oportunidade, configura-se como uma instância
de assessoramento do Conselho, sem propriedade decisória. Sua criação visa cumprir uma
das diretrizes propostas no Plano de ação 2009-2010, no que tange a formação e capacitação
de quadros em matéria de defesa. O CEED tem o propósito de suprir a carência de um órgão
que formule o pensamento em matéria de defesa na região, de maneira que contribua na
convergência conceitual da temática e na identificação dos interesses regionais. (CDS, 2010b).
No dia 15 de julho de 2010, em Lima, capital peruana, o plano para a medição de gastos
de intercâmbio de informações é aprovado pelo CDS. No Encontro, Chile e Peru propuseram-se
a estabelecer a metodologia de maneira bilateral, a fim de constatar a viabilidade do conjunto de
medidas (CDS, 2010d). O contexto e a aproximação da díade de países é o objeto de estudo da
seção subsequente.
Os mecanismos de transparência na construção da confiança e consolidação da paz: o caso
de Chile e Peru
Antes de debruçarmo-nos sobre a relação entre Chile e Peru e analisarmos o recente
estabelecimento de mecanismos de verificação de gastos militares e notificação de acordos
entre eles, é imperioso ter em mente que a relação histórica entre Chile e Peru é marcada por
ressentimento e desconfiança, uma herança dos resultados da Guerra do Pacífico. O conflito
travado entre Chile contra Peru e Bolívia, relativo ao controle sobre o deserto do Atacama,teve
o Chile como vencedor, rendendo-lhe a anexação da província de Arica, até então pertencente ao
11
12
Peru (AGUILAR, 2010, p. 19). O fato nutriu uma rivalidade entre os países, que traduziu-se nas
relações diplomáticas e nas dinâmicas de compras de armamentos (BANDEIRA, 2003, p. 52),
apresentando momentos de distensão e recrudescimento desses sentimentos. Em 30 de julho de
2001, é iniciado um período de cordialidade entre os países. Os presidentes Alejandro Toledo,
do Peru, e Ricardo Lagos, do Chile, assinaram na ocasião a Declaração Conjunta Presidencial,
estabelecendo a Comissão Binacional Permanente de Cooperação, que reúne anualmente os
ministros de Relações Exteriores . A Comissão tem por objetivos
Fortalecimento das medidas de confiança mútua; criação do Comitê Permanente de Consulta e Coordenação Política, integrado pelo Ministros de Relações Exteriores e de Defesa do Perú e Chile (2+2), que tem por finalidade analisar e intercambiar pontos de vista a respeito de todas as matérias que digam respeitos a ambos países; Homologação do sistema de medição de gastos de Defesa em concordância com objetivo de que os gastos no setor se realizem com um máximo de transparência; constituição do Comitê de Segurança e Defesa (COSEDE), integrado por funcionários de Relações Exteriores e Defesa do Chile e Peru, com participação das Forças Armadas. (MINISTERIO DE LA DEFENSA DEL PERU, 2010, p. 184)
Como observa-se nos objetivos apontados pela Comissão, a questão dos gastos
militares é uma constante na relação entre Peru e Chile. A preocupação deve-se ao alto
investimento no setor desprendido pelo governo chileno, um dos maiores da América do Sul
(SIPRI, 2009, p. 84), que se agrava com seu histórico referente à participação da corrida
armamentista sul americana do século XIX14 (BANDEIRA, 2003, p. 52), contemporânea à
Guerra do Pacífico. A dinâmica dos gastos militares chilenos deve ser analisada tendo em
perspectiva três pontos. O primeiro deles é a questão da Lei Reservada do Cobre (LRC)
(DIARIO OFICIAL DE LA REPUBLICA DEL CHILE, 1958), de 1958, que obriga a destinação
de 10% do valor das exportações do cobre e seus derivados, produzidos pela Corporación del
Cobre (CODELCO), ao financiamento da aquisição de sistemas de armas e equipamentos, de
modo a compor o potencial bélico da nação. De todo modo, a lei fixa uma quantidade mínima de
US$ 180.000.000 (cento e oitenta mil dólares)15. O mecanismo de financiamento fixado pela Lei
14 Moniz Bandeira pontua que tal corrida armamentista não foi fruto das contendas territoriais existentes na região, as sim consequência dos interesses das grandes corporações fabricantes de armamentos, que viam na conjuntura regional um chance de criar um mercado consumidor, e do governo britânico e norte americano na exploração das jazidas de salitre de Tacna e Arica, regiões disputadas na Guerra do Pacífico. (BANDEIRA, 2003. p. 52.)15 O valor ainda passa por um ajuste baseado na variação do Índice de Preços Atacadistas dos Estados Unidos entre1987 (ano no qual a lei foi modificada, adicionando o presente ajuste), e o ano em questão.
12
13
do Cobre destina, independentemente da necessidade real de proteção de uma ameaça, um
montante de investimento ao setor bélico, levando o país a se armar. O relatório do Stockholm
International Peace Research Institute (SIPRI) de 2009 pontua que o funcionamento da Lei do
Cobre faz com que o país adquira armas, em parte, somente pela disponibilidade de recursos
(SIPRI, 2009, p.184). O segundo ponto a se discutir na análise dos gastos militares chilenos é
que grande parte do orçamento é destinado à garantia da segurança interna, à polícia. Os
Carabineros, a força policia militar do Estado, no Chile, é gerenciada pelo Ministério da Defesa.
A manutenção dessa força, ainda segundo o SIPRI (2011, p.12), caracteriza um quarto do
orçamento total usado no setor de defesa. O último ponto a ser levado em conta é os gastos
relativos ao pagamento e manutenção do dispendioso sistema de pensão das Forças Armadas
chilenas. A discussão dos gastos em defesa ganhou visibilidade em 2009 com a publicação do
relatório do SIPRI, evidenciando um aumento de 50% nos gastos com materiais de defesa nos
gastos com materiais de defesa nos países da América do Sul nos últimos dez anos (SIPRI,
2009).
O cenário chileno repercute na formulação estratégica peruana, devido a percepção
de ameaça gerada pela conjunção entre o alto investimento em defesa feito pelo Chile e o
histórico de conflito compartilhado pelos dois países. A preocupação peruana com os gastos
militares traduz-se na eleição de suas diretrizes no que tange a política de segurança regional.
Em seu Livro Branco de Defesa Nacional de 2010, o governo peruano defende, entre outros
pontos, o aperfeiçoamento e ampliação das medidas de fomento e confiança mútua e a prática
de iniciativas destinadas a promover a limitação em gastos de defesa (MINISTERIO DE LA
DEFENSA DEL PERU, 2011).
Em 2008, as relações diplomáticas se acirraram novamente devido a reivindicação
feita pelo então presidente peruano Alan García junto a Corte Internacional de Haia referente
aos limites marítimos dos países (PERU..., 2011). Apesar da tentativa peruana de tentar isolar
a questão do resto dos assuntos diplomáticos bilaterais até sua resolução, o Chile encarou o
processo de reivindicação como um ato ofensivo e decidiu por encerrar diversos mecanismos
bilaterais de cooperação, inclusive as reuniões entre os ministros da defesa e das Relações
Exteriores, conhecidas como 2+2 (ANSEJO, HERRERA, 2010, p. 84).
A Eleição de Piñera
13
14
Um nova reaproximação só ocorreria em 2010 com a eleição de Sebástian Piñera a
presidência do Chile. Piñera, ao assumir o governo, adotou uma postura amistosa para com seu
vizinho, decidindo não congelar mais as relações bilaterais. Nas datas de 19 e 20 de janeiro,
logo após sua eleição, Piñera se encontra com o presidente peruano Alán García e assinam uma
declaração conjunta na qual afirmam as intenções de estreitarem seus laços, além de tratarem
de temas de âmbito cultural, econômico, e de construção da confiança. Na declaração, os
presidentes
Ratificaram a firme vocação de paz que anima aos povos e governos do Perú e Chile e sua determinação em consolidar uma declaração de integração e confiança mútua sustentada no respeito ao direito internacional, ao rechaço ao uso da força e a solução pacífica de controvérsias. Neste sentido, decidiram recomendar ao Grupo de Trabalho bilateral encarregado de estabelecer um Sistema de Homologação de para a Medição de gastos de Defesa que reforcem seus trabalhos com o objetivo de chegar a um acordo neste importante tema no mais breve prazo possível e a fortalecer os canais de coordenação e comunicação entre as respectivas Forças Armadas. (MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES DE CHILE, 2011)
Em maio do mesmo ano, os presidentes Piñera e Garcia se encontram novamente em
Madri para a Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América Latina, Caribe e União
Européia (ALC-UE). Na ocasião, demonstrou-se a vontade política entre os governos em
normalizar as relações diplomáticas bilaterais, bem como reanimá-las (ANSEJO, HERRERA,
2010, p. 84). Ainda em maio, um encontro entre seus respectivos ministros da defesa é realizado
no âmbito da II Reunião Ordinária do Conselho de Defesa Sul Americano, em Guayaquil. A
importância da manutenção do relacionamento diplomático bilateral foi destacada, assim como
a criação de mecanismos de homologação de gastos em defesa e de encontros entre os chefes
das Forças Armadas. A atitude amistosa e de diálogo das partes na reunião ajudou a denodar a
aproximação, de modo a render resultados logo após o encontro, como a visita realizada pelo
ministro da defesa peruano Rafael Rey ao Chile. A disponibilidade chilena em receber o ministro
da defesa, a primeira desde 2008, foi percebida pelo Peru como um ato que demonstrava a
vontade política do novo presidente em estreitar os laços com o vizinho.
A necessidade pontuada historicamente da criação de um mecanismo que garantisse
maior transparência nos gastos militares entre Peru e Chile alcançou um avanço histórico em
14
15
julho de 2010. Na cidade de Lima foi realizada uma reunião técnica com fins de estabelecer um
mecanismo bilateral de prestação de contas no setor militar. O resultado foi o a instauração de
um modelo de medição de gastos em defesa ad hoc, apresentado pelo governo peruano (CDS,
2010d)(noticia suramerica). O acordo, levando em consideração a sensibilidade da informação
em questão dentro do contexto histórico da relação entre Peru e Chile, foi um marco significativo
na construção da confiança bilateral.
A partir do estabelecimento do mecanismo, a aproximação na cessou. O governo
peruano, em julho, recebeu o ministro da defesa chileno Ravinet de modo a consolidar as
aproximações já realizadas e discutir novos campos de aproximação. Na visita, acertou-se a
criação de uma força conjunta de paz para atuação nas missões da Organização das Nações
Unidas, intercâmbio de informações no que tange a desminarização das fronteiras e a criação, em
breve, de um mecanismo de ajuda mútua em caso de desastres naturais. Outro importante indício
da reconstrução da confiança entre os países foi dado pela opção de compra de helicópteros
concedida pelo Chile ao Peru. O último necessitava de imediato dos equipamentos e encontrava-
se em dificuldade para encontrá-los no mercado, devido ao pedido ter sido feito em curto prazo.
As relações bilaterais entre Chile e Peru, tendo como referência a tensão diplomática
de 2008, tiveram uma melhora notável. Em declaração à imprensa, os ministros da Relações
Exteriores, na ocasião da visita do chanceler peruano Rafael Roncagliolo ao seu homólogo
chileno Alfredo Moreno, no mês de setembro de 2011, destacaram o “ótimo nível em que se
encontram as relações bilaterais” (MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES DE CHILE,
2011). Na mesma oportunidade, ambos realçaram os progressos realizados nas medidas de
transparência de gastos militares e avaliaram o relatório emitido pelas equipes técnicas acerca
de uma metodologia comum de medição de gastos militares no marco da UNASUL, a ser
apresentado na próxima reunião do CDS.
Contudo, a continuidade do processo de aproximação é colocada em risco por alguns
fatores. O primeiro deles é o veredito da contenda envolvendo os limites marítimos dos países, a
ser divulgado em 2012 pela Corte Internacional de Haia. A aproximação entre Chile e Peru, bem
como a instalação dos mecanismo bilaterais de fomento a confiança, ainda se mostram muito
incipientes de modo a dar uma solidez no relacionamento entre os países suficiente para garantir,
por si só, a atmosfera de cooperação. O segundo fator é a eleição do presidente peruano Ollanta
Humala. Eleito no dia 5 de 2011, o presidente fez reformas drásticas nas pastas do governos,
15
16
trocando 10 ministros de uma só vez, entre eles o da defesa. A postura demonstrada pode ser
percebida como um indicativo de um posicionamento divergente do seu antecessor, Alán García.
Humala é considerado por alguns setores como nacionalista e anti-chileno, além de ter um
posicionamento rígido sobre a questão dos limites marítimos em disputa em Haia (NAVIA,
2011). Todavia, em declarações, o novo presidente adotou, até a conclusão da presente pesquisa,
uma postura de continuidade em relações ao Chile (OLLANTA..., 2011).
Conclusão
Ao longo do estudo do processo de construção da confiança sul americana, pôde-
se observar a presença de duas constantes que permearam seu desenvolvimento histórico.
A primeira delas é a importância da vontade política como elemento fundamental no
estabelecimento de arranjos de fomento a confiança. Nos processos estudados, os períodos
de maiores logros na aproximação entre os países e de consolidação de estruturas de fomento
a confiança deram-se a partir da iniciativa de membros ou chefes de governo que viam no
estreitamento dos laços com seus correligionários um modelo de desenvolvimento.
A conjunção dos posicionamentos pró-aproximação de Raul Alfonsin, na Argentina,
e de José Sarney, no Brasil, inauguraram um período novo na relação entre os dois países.
Anteriormente, ainda em relação a aproximação entre Brasil e Argentina, apontamos os
êxitos alcançados pelos presidentes Frondizi e Juscelino Kubitschek, da Argentina e do
Brasil respectivamente, no estabelecimento do Convênio de Amizade e Consulta, de 1961.
Outra situação na qual a importância da vontade política é destacada é na postura adotada
pelo presidente chileno Piñera em relação ao Peru, que, ainda que o ultimo tivesse entrado
com um processo na Corte Internacional de Haia contra o Chile, resolveu descongelar as
relações diplomáticas bilaterais com o vizinho, além de iniciar um processo bilateral inédito de
transparência nos gastos militares.
A preeminência da vontade política como elemento coadunador regional é muito bem
exemplificada no processo de criação e consolidação do Conselho de Defesa Sul Americano.
O CDS nasceu da uma iniciativa brasileira que encontrou respaldo na vontade política nos
governos da região e que, bem como na sua criação, necessitou dessa vontade política para
superar sua primeira crise, desencadeada pelo acordo entre Colômbia e Estados Unidos. A
16
17
resolução desta crise nos direciona para a segunda constante encontrada em nosso estudo.
Na reunião extraordinária do CDS realizada em Bariloche, são tratados pela primeira
vez no âmbito do Conselho mecanismos de transparência no setor militar como um modo
de solucionar a crise regional acima mencionada. Todavia, ainda que inéditos nesse foro, os
mecanismos de transparência são observados como medidas presentes no processo histórico de
construção da confiança regional em todo o período pós-guerra fria, adotando papel de destaque
em seu desenvolvimento. Na América do Sul, a transparência como medida de fomento a
confiança, ajudou a dissipar duas das maiores rivalidades regionais, sendo elas entre Argentina
e Brasil, no âmbito da ABACC, e, ainda que incipiente, entre Chile e Peru, com a criação do
mecanismo bilateral de homologação de gastos militares.
No nosso entendimento, os mecanismos de transparência solidificam as bases da
confiança, de maneira a evitar de modo mais efetivo o retorno à cenários de rivalidade e
desconfiança, configurando-se como elementos centrais na desconstrução das percepções de
ameaça no âmbito regional. De modo a entender o funcionamento da transparência no setor
militar de maneira mais didática, faz-se útil o conceito de Dissuasão pela Transparência,
elaborado por Jorge Dominguez. No entendimento de Dominguez,
Na abordagem convencional à segurança, a dissuasão é alcançada pela obtenção dos meios de repulsão de um ataque advindo de fora das fronteiras nacionais e de inflição de grandes perdas às forças de quem ataca e talvez até no país que ataca. Na abordagem cooperativa à segurança, a dissuasão é alcançada através da transparência dos procedimentos militares e da informação e através de medidsieas de construção da confiança de modo a envolver as Forças Armadas de qualquer conjunto de países. (DOMINGUEZ, 1998, p. 12)
Sendo assim, a dissuasão pela transparência é alcançada pela demonstração da intenção
pacífica, e não pelo acúmulo de meios coercitivos. Através desse ato, ocorre um processo de
dessecuritização da questão transparentada, perlaborando-a a um novo contexto em que, o que
era a razão da ameaça, agora é parte da construção da confiança.
É necessário que se destaque a importância da Reunião de Bariloche como um marco de
superação do CDS e passo significativo na construção da confiança sul americana. A reunião
demonstrou a capacidade que o órgão teve de encontrar, em um período de adversidade e
crise, uma maneira de solucionar a situação e se fortalecer, transmutando o que era um cenário
crítico em novo fôlego. Ainda mais importante é salientar que o sucesso da reunião é devido a
17
18
confluência das duas constantes salientadas em nossa conclusão, a vontade política dos governos
e a transparência, como ferramenta por essa emanada.
O relacionamento entre Peru e Chile, ainda que tenha avançado no sentido de
melhores prospectos, encontra como um obstáculo significativo a questão da Lei do Cobre.
Entende-se que, para que as relações entre a díade mantenham-se estáveis é necessária a
desvinculação do orçamento de defesa chileno dos ganhos advindos da exportação do cobre. Os
perigos dessa vinculação residem no argumento de que aumentos no orçamento de defesa podem
ocorrer devido a questões meramente mercadológicas, ocorridas por altas no preço do minério no
mercado global. Um cenário em que se vincula o orçamento de defesa à oscilações
mercadológicas, e não à necessidades reais de defesa, será um desconforto constante ao vizinho
Peru, ainda que este mantenha com o Chile mecanismos de transparência nos gastos militares.
Ainda que incipiente, a nossa análise concluiu que a relação entre os países demonstrou
mudanças positivas, primeiramente, com a chegada de Piñera ao governo chileno e sua
disposição ao diálogo sobre a questão dos gastos militares, e em segundo lugar, após o
estabelecimento da transparência no setor. Todavia, devido as condicionantes apontadas na
conclusão e ao fim do capítulo referente a relação bilateral, e ao curto distanciamento histórico, é
arriscado saber a solidez do progresso. O que se pode concluir é que, baseado em outras
experiências regionais, o estabelecimento de mecanismos de transparência representam um
indicativo expressivo de aprimoramento e estabilidade da confiança.
REFERÊNCIAS
AGUILAR, Sérgio Luiz Cruz. Segurança e defesa no Cone Sul: da rivalidade da Guerra Fria à ooperação atual. São Paulo: Porto das Ideias, 2010. ANSEJO, Daniel; HERRERA, Boris Yopo. Chile, 2010: el nuevo gobierno y sus prioridades regionales de seguridad. In: GUARNIZO, Catalina Niño; MATHIEU, Hans. (Ed.) Anuario 2011 de la seguridad regional en América Latina y el Caribe. Bogotá: Fescol. 2010. ARON, Raymond. Paz e Guerra Entre as Nações , Brasília, Universidade de Brasília, 1979 BANDEIRA, Luís Alberto Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos: conflito e integração na América do Sul – da Tríplice Aliança ao Mercosul. Rio de Janeiro: Revan, 2003
18
19
BULL, Hedley. A Sociedade Anárquica. São Paulo: Universidade de Brasília, 2002 BUZAN, Barry. Rethinking security after the Cold War. Cooperation and conflict. London, v. 32, n. 1, 1997.p. 5-28 BUZAN, Barry; WÆVER, Ole; DE WILDE, Jaap. Security: a new framework for analysis. Boulder: Lynne Rienner, 1998. BUZAN, Barry; HANSEN, Lene. The Evolution of International Security Studies. New York: Cambridge University Press, 2009. FONTANA, Andrés. Las relaciones de seguridad interamericanas. In: GRABENDORFF, Wolf (Ed.). La seguridad regional en las américas: enfoques críticos y conceptos alternativos. Bogotá: Fondo Editorial CEREC, 2003.
CDS. Declaración de Guayaquil II Reunión Ordinária. 2010. Disponível em: <http://www.cdsunasur.org/es/consejo-de-defensa-suramericano/documentos-oficiales/57-espanol/258-declaracion- de-guayaquil-ii-reunion-ordinaria-cds>. Acesso em 10 de jan. de 2012. CDS. Estatuto del Centro de Estudios Estratégicos de Defensa del Consejo de DefensaSuramericano. 2010. Disponível em: <http://www.cdsunasur.org/es/consejo-de-defensa-suramericano/documentos-oficiales/57-espanol/256-estatuto-del-centro-de-estudios-estrategicos-de-defensa-del-consejo-de-defensa-suramericano>. Acesso em dez. 2011. CDS. Estatuto do Conselho de Defesa Sul americano da Unasul. 2008. Disponível em: <http://www.cdsunasur.org/index.php?option=com_content&view=article&id=343%3Aestatuto-do-conselho-de- defesa-sul-americano-da-unasul&catid=59%3Aportugues&Itemid=189&lang=pt>. Acesso em abr. 2012. CDS. Reunión Extraordinária de Jefas y Jefes de Estado y Gobierno de la Unasur. 2009. Disponível em: <http://www.cdsunasur.org/index.php?option=com_content&view=article&id=340%3Areunion-extraordinaria-de-jefas-y-jefes-de-estado-y-de-gobierno-de-la-unasur&catid=57%3Aespanol&Itemid=189&lang=pt>. Acesso em ago.2011. CDS. Suramerica avanza en la construcción de un modelo para medir gastos de defensa. Noticias, 3 ago. 2010. Disponível em: <http://www.cdsunasur.org/es/prensa/noticias/330-suramerica-cuenta-con-nuevo-modelo-para-medir-gastos-de-defensa>. Acesso em 10 ago. 2011. DOMÍNGUEZ, Jorge. Security, peace, and democracy in Latin America and the Caribbean: Challenges for the Post-Cold War Era. In: DOMÍNGUEZ, Jorge I. (Org). International
19
20
Security and Democracy: Latin America and the Caribbean in the Post-Cold War Era. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1998. GARRÉ, Nilda. La Cumbre de Bariloche y su impacto en la consolidación de la paz y seguridad en Sudamérica. In: Cuadernos de defensa Confianza y seguridad en América del Sur.Quito: CDS UNASUR, 2010 HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2007 INTERVENÇÃO do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a reunião extraordinária do Conselho de Chefes de Estado e de Governo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) - Bariloche- Argentina, 28/08/2009. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-comunicacoes/presidente-da-republica-federativa-do-brasil/457218980804-intervencao-do-presidente-da-republica-luiz-inacio/?searchterm=Bariloche%20Conselho%20de%20Defesa> , acesso em 20 de mai. de 2011. LEY Reservada del Cobre, lei no. 13 196. Diario Oficial de la República de Chile, 29 de out. 1958 MELLO, Leonel Itaussu Almeida. Argentina e Brasil: a balança de poder no Cone Sul. São Paulo, Annablume, 1996. MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES DE CHILE. Declaración conjunta Chile-Peru. Sala de Prensa. Disponível em: http://www.minrel.gob.cl/prontus_minrel/site/artic/20110120/pags/20110120125813.php. Acesso em nov. de 2011. MINISTERIO DE LA DEFENSA DEL CHILE. Libro blanco de la defensa 2010. Disponível em: http://www.defensa.cl/archivo_mindef/Libro_de_la_Defensa/2010/2010_libro_de_la_defensa_6_Parte_Recursos_Financieros_y_Aplicados_de_la_defensa.pdf. Acesso em 02 de dez de 2011. MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES DE CHILE. Ministro Moreno recibe a Conciller de Perú. Sala de Prensa. Disponível em: http://www.minrel.gob.cl/prontus_minrel/site/artic/20110902/pags/20110902143103.php. Acesso em 02 de jan de 2011. MINISTERIO DE LA DEFENSA DEL PERU. Libro blanco de la defensa nacional 2010. Disponível em: .http://www.mindef.gob.pe/menu/libroblanco/pdf/Capitulo_I.pdf. Acesso em dez. de 2011.
20
21
NAVIA, Patricio. Ollanta humala (sin peni nio glória) en Chile. Infolatam. Santiago, 15 de jul de 2011.Disponível em:< http://www.infolatam.com/2011/06/16/ollanta-humala-sin-pena-ni-gloria-en-chile/>. Acesso em: nov. de 2011. OEA. AG/RES 1080/XXI-O/91. Democracia representativa. Washington, 05 jun. 1991. Disponível em <http://www.oas.org/xxxiiga/portugues/documentos/democracia_repres.pdf> acesso em 12 de dez. 2011. OELSNER, Andrea. International Relations in Latin América, Peace and Security in the Southern Cone. New York: Routledge, 2005 OLLANTA Humala: consolidar la amistad con Chile fue más fuerte que las cenizas volcánicas. El Mostrador, País, 15 de jul. de 2011. Disponível em: <http://www.elmostrador.cl/noticias/pais/2011/06/15/ollanta-humala-consolidar-la-amistad-con-chile-fue-mas-fuerte-que-las-cenizas-volcanicas/>. Acesso em: jul. de 2011. OROZCO,Gabriel. El Concepto de la Seguridad en La Teoría de las Relaciones Internacionales. Revista CIDOB d’Afers Internacionals, Barcelona, n. 72, 2006. OSIANDER, Andreas. Sovereignty, International Relations and the Westphalian Myth. International Organization. Vol. 55, No. 2, 2001. pp. 251-287 PERU recorre a Haia para solucionar limites marítimos com Chile. O Estado de São Paulo, Internacional. , 16 de jan. de 2008. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,peru-recorre-a-haia-para-solucionar-limites-maritimos-com-chile,110374,0.htm. Acesso em 01 de dez. de 2011. RESTREPO, Manuel Gómez. La guerra, una visión comparada desde Schmitt y Kelsen. Journal of International Law. Vol. 2, 01. Janeiro-Junho 2011. RUZ, Maria Inés. El Consejo de Defensa Suramericano a dos años de su instalación. In: GUARNIZO, Catalina Niño; MATHIEU, Hans. (Ed.) Anuario 2011 de la seguridad regional en América Latina y el Caribe. Bogotá: Fescol. 2010 RUIZ BLANCO, Miguel Camilo. Visiones de seguridad en las américas.In: GRABENDORFF, Wolf (Ed.). La seguridad regional en las américas: enfoques críticos y conceptos alternativos. Bogotá: Fondo Editorial CEREC, 2003.
21
22
SAINT PIERRE, Héctor Luis. A política armada fundamentos da guerra revolucionária. São Paulo: Editora UNESP, 2000. SAINT-PIERRE, Héctor Luis. La defensa en la politica exterior del Brasil: el Consejo Suramericano y la Estrategia nacional de Defensa. 2009. Disponível em: <HTTP://www.realinstitutoelcano.org/wps/portal/rielcano/contenido?WCM_GLOBAL_CONTEXT=/elcano/elcano_es/zonas_es/dt50-2009>. Acesso em: jun. 2010. SAINT PIERRE, Héctor Luis. Las “Nuevas Amenazas” como Subjetividad Perceptiva. RESDAL. 2002. Disponível em: http://www.resdal.org/iiichds-ponsaintpierre.pdf. Acesso em 05 de mai. 2012. SECRETARIA DA PRESIDÊNCIA PRO TEMPORE DO CDS. El proceso de adopción de medidas de confianza en suramérica. In: Cuadernos de defensa Confianza y seguridad en América del Sur. Quito: CDS UNASUR, 2010. SIPRI. SIPRI yearbook: armament, disarmament and international security. 40h. ed. Oxford: Oxford University Press, 2009. SIPRI. Budgetary priorities in Latin America: military, health and education spending. In: Insights on peace and security. nº2011/2. 2011. UNASUR. III Reunión ordinaria del consejo de jefas y jefes de Estado y de gobierno de UNASUR. 10 ago. 2009. WALT, Stephen M. The renaissance of security studies. International studies quarterly.Beverly Hills, v. 35, n. 2, p. 211-239, 1991. VIZENTINI, Paulo. A política externa do regime militar brasileiro: multilateralização, desenvolvimento e a construção de uma potência média (1964-1985). Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2004.
22