O apagar das luzes: processo de venda da AMFORP no Brasil (1961-1965)

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III Simposio Internacional de historia de la electrificación. Ciudad de México, Palacio de Minería, 17 a 20 de marzo de 2015 O APAGAR DAS LUZES: PROCESSO DE VENDA DA AMFORP NO BRASIL (1961-1965) Angela Lúcia Ferreira [email protected] Yuri Simonini [email protected] Maria do Livramento Miranda Clementino [email protected] Grupo de Pesquisa História da Cidade, do Território e do Urbanismo - HCUrb Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Brasil O apagar das luzes: processo de venda da AMFORP no Brasil (1961-1965). (Resumo) Os problemas enfrentados pela American & Foreign Power Co. AMFORP em diversos países a partir do final da década de 1950 forçaram a empresa a se desfazer de suas propriedades internacionais. Nesse contexto, o agravamento cambial e a alta inflação desencadearam o interesse pela venda de suas subsidiárias brasileiras em 1961. Contudo, o processo foi marcado por diversos reveses, polêmicas e críticas acerca das condições originalmente acordadas, entre elas o valor a ser pago. Objetiva-se contextualizar o processo de nacionalização da AMFORP entre os anos de 1962 a 1965 e a decorrente visibilidade conferida à "empresa norte-americana", contribuindo no debate acerca das formas operacionais de aquisição de empresas multinacionais pelo Governo Federal. Com base nos documentos arrolados no Centro de Memória da Eletricidade e jornais, verifica-se que o processo aquisitivo desvelou complexas negociações com resultados favoráveis ao Brasil, além do início da integração do setor energético brasileiro sob o controle estatal. Palavras-chave: História da eletrificação, American & Foreign Power Co., Estatização do setor elétrico, Brasil. Luces que se apagan: proceso de venta de la AMFORP en Brasil (1961-1965). (Resumen) Los problemas enfrentados por la American & Foreign Power Co. AMFORPen varios países desde finales de la década de 1950 obligaron a la empresa a deshacerse de sus propiedades internacionales. En tal contexto, en 1961, la devaluación cambiaria y la elevada inflación

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III Simposio Internacional de historia de la electrificación.

Ciudad de México, Palacio de Minería, 17 a 20 de marzo de 2015

O APAGAR DAS LUZES: PROCESSO DE VENDA DA AMFORP NO

BRASIL (1961-1965)

Angela Lúcia Ferreira [email protected]

Yuri Simonini [email protected]

Maria do Livramento Miranda Clementino [email protected]

Grupo de Pesquisa História da Cidade, do Território e do Urbanismo - HCUrb

Universidade Federal do Rio Grande do Norte/Brasil

O apagar das luzes: processo de venda da AMFORP no Brasil (1961-1965). (Resumo)

Os problemas enfrentados pela American & Foreign Power Co. – AMFORP – em diversos

países a partir do final da década de 1950 forçaram a empresa a se desfazer de suas propriedades

internacionais. Nesse contexto, o agravamento cambial e a alta inflação desencadearam o

interesse pela venda de suas subsidiárias brasileiras em 1961. Contudo, o processo foi marcado

por diversos reveses, polêmicas e críticas acerca das condições originalmente acordadas, entre

elas o valor a ser pago. Objetiva-se contextualizar o processo de nacionalização da AMFORP

entre os anos de 1962 a 1965 e a decorrente visibilidade conferida à "empresa norte-americana",

contribuindo no debate acerca das formas operacionais de aquisição de empresas multinacionais

pelo Governo Federal. Com base nos documentos arrolados no Centro de Memória da

Eletricidade e jornais, verifica-se que o processo aquisitivo desvelou complexas negociações

com resultados favoráveis ao Brasil, além do início da integração do setor energético brasileiro

sob o controle estatal.

Palavras-chave: História da eletrificação, American & Foreign Power Co., Estatização do setor

elétrico, Brasil.

“Luces que se apagan”: proceso de venta de la AMFORP en Brasil (1961-1965). (Resumen)

Los problemas enfrentados por la American & Foreign Power Co. –AMFORP— en varios países

desde finales de la década de 1950 obligaron a la empresa a deshacerse de sus propiedades

internacionales. En tal contexto, en 1961, la devaluación cambiaria y la elevada inflación

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desencadenaron el interés por la venta de las sucursales brasileñas. Sin embargo, el proceso fue

muy controvertido por los diversos reveses, polémicas y críticas desatadas acerca de los términos

acordados originalmente, entre ellos la amortización de los valores. El objetivo del presente

artículo es reconstruir el contexto del proceso de nacionalización de la AMFORP entre los años

1962-1965 y la visibilidad, finalmente, conferida a la denominada "empresa norteamericana",

contribuyendo al debate sobre las formas de operación de la adquisición de empresas

multinacionales por el Gobierno Federal. Basándonos en los documentos inventariados en el

Centro de Memoria de la Electricidad y en periódicos de la época estudiada, constatamos que el

proceso de adquisición de AMFORP desvela la complejidad de las negociaciones favorables a

Brasil y el inicio del proceso de integración del sector energético brasileño bajo el control del

Estado.

Palabras clave: Historia de la electrificación, American & Foreign Power Co., Nacionalización

del sector eléctrico, Brasil.

The lights off: the AMFORP selling process in Brazil (1961-1965). (Abstract)

The problems faced by American & Foreign Power Co. – AMFORP – in several countries in the

late 1950s forced the company to dispose of its international properties. In this context, the

exchange rate deterioration and high inflation triggered interest in the sale of its Brazilian

subsidiaries in 1961. However, the process was characterized by many setbacks, controversy and

criticism about the original agreed terms, including the amount to be paid. This article aims to

contextualize the process of nationalization of AMFORP between the years 1962-1965 and the

resulting visibility given to the "U.S. company", contributing to the debate about operational

forms of multinational companies acquisition by the Federal Government. Based on the

documents listed in the Electricity Memory Center and newspapers, it appears that the

acquisition process unveiled complex negotiations with favorable results to Brazil and the

beginning of the Brazilian energy sector integration under the State control.

Key-words: History of electrification, American & Foreign Power Co., Electricity sector

nationalization, Brazil.

O Brasil, no começo da década de 1960, assistiu à consolidação de um novo modelo econômico,

com ênfase na industrialização. Denominado “Arranco”, esse processo histórico – iniciado na

década de 1930 – se caracterizou, entre outros fatores, por uma forte motivação nacionalista e

autárquica e um intervencionismo como instrumento desenvolvimentista1. Nesse sentido, o

Governo Federal orientou suas ações a fim de nacionalizar diversos setores considerados

estratégicos, como a energia elétrica. Dominado pela iniciativa privada, sobretudo estrangeira,

esse setor atendeu,

1 Buescu, 2011.

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“(...) satisfatoriamente às necessidades do País, até que as alterações estruturais por que passou a

economia brasileira, situadas com maior ênfase na aceleração do ritmo da industrialização e

ocorrentes em fase de processo inflacionário, cuja evolução não era acompanhada pela introdução

de correções adequadas no sistema econômico-financeiro".2

Com a incapacidade das empresas concessionárias em manter o contínuo desenvolvimento do

seu sistema e sem novos investimentos, o setor energético sofreu com a paralisação na expansão

das redes e na deterioração das existentes, ocasionando falhas no atendimento às necessidades

brasileiras e impondo um obstáculo ao plano desenvolvimentista do país. Esses dois fatores –

forte nacionalismo e inflação sem controle – concorreram para corroer as relações entre o Brasil

e os Estados Unidos. Essa situação se agravou quando o então governador do estado do Rio

Grande do Sul, Leonel Brizola, desapropriou as propriedades da American Foreign Power Co. –

AMFORP – em 1958, além dos problemas enfrentados pela Pernambuco Tramways and Power

Company Limited, em 1961. Os atritos levaram o Presidente João Goulart a iniciar conversações

com o Presidente Kennedy a fim de resolverem essa questão.

O governo brasileiro, se posicionando favoravelmente à compra das subsidiárias da AMFORP,

veio ao encontro da Companhia estadunidense que já havia se manifestado favorável à venda de

suas subsidiárias, uma vez que os dividendos caíram significativamente, conforme atesta o

relatório acionário da empresa, de 1961:

“Não só a depreciação da moeda brasileira continua a ter um efeito negativo sobre os lucros das

empresas, expresso em dólares, mas o aumento dos custos de operação resultante da inflação,

juntamente com atrasos em obter taxas para compensação, resultou em ganhos deficientes, em

cruzeiros”.3

Contudo, a compra das subsidiárias da AMFORP ocorreu sob um intenso debate acerca do valor

a ser pago, com mobilização dos governos brasileiro e estadunidense, que atravessou o

turbulento período de 1964-65, durante a implantação do Regime Militar no país. Contextualizar

a visibilidade conferida à "empresa norte-americana", no processo de nacionalização da

AMFORP entre os anos de 1962 a 1965 é o objetivo deste trabalho. Busca-se, assim, contribuir

no debate acerca das formas operacionais de aquisição de empresas multinacionais do setor

energético e sua relação com o Governo Federal, frente às mudanças político-econômicas

ocorridas.

Este trabalho encerra o quadro geral, engendrado pelo Grupo de Pesquisa História da Cidade, do

Território e do Urbanismo, sobre a atuação da AMFORP no território brasileiro. Inicialmente,

em 2012, o artigo “Os donos da luz: Sistemas de gestão e redes técnicas no território brasileiro.

O caso da AMFORP (1927-1939)” apresentado durante o “Simpósio Internacional

Globalización, innovación y construcción de redes técnicas urbanas en América y Europa, 1890-

1930. Brazilian Traction, Barcelona Traction y otros conglomerados financieros y técnicos”

abordou sua atuação inicial no Brasil. Em seguida, o trabalho “A penumbra da Luz: redes

técnicas brasileiras e a gestão da AMFORP entre 1952 a 1963”, elaborado em 2013 para o

2 Histórico…, 1966, p.3

3 American…, 1961, p.14. Adaptado do original: “Not only did the depreciation of the Brazilian currency continue

to have an adverse effect on the companies’ earnings, as expressed in dollars, but the rise in costs of operation

resulting from inflation, coupled with delays in obtaining compensating rate increases, resulted in deficient cruzeiro

earnings”.

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“Simpósio Internacional sobre Eletrificação e modernização social. A expansão da energia

elétrica para a periferia do capitalismo” tratou dos momentos finais da empresa estadunidense no

país.

As principais fontes de dados utilizados consistem no material arrolado no Centro de Memória

da Eletricidade, com destaque o Fundo Thibau, acervo do então ministro de Minas e Energia

Mauro Thibau (1964-1967) que contem vasta documentação do processo de venda como, por

exemplo, o relatório da Comissão de Nacionalização das Empresas Concessionárias de Serviços

Públicos – CONESP –, memorandos intergovernamentais, relatórios técnicos, minutas e diversos

escritos mimeografados. Outro importante material é o relatório elaborado pela A. B.

Scandinavian Engineering Corporation – SEC, cujo parecer foi solicitado pela Empresa Elétrica

Brasileira – ELETROBRÁS – e pela AMFORP, para avaliação do valor a ser pago pelo governo

brasileiro, de acordo com o contrato estipulado em 12 de dezembro de 1964, além da utilização

dos relatórios acionários da empresa e de bibliografia acerca do tema. Inicialmente, o trabalho

expõe uma síntese do cenário econômico brasileiro na década de 1960 para, em seguida, abordar

as conversações entre o governo brasileiro e os representantes da AMFORP. Por fim, o último

item trata da exposição pública da empresa estadunidense e da continuidade e conclusão das

negociações, encerrando as atividades da AMFORP no Brasil.

O clima econômico dos anos sessenta

Os anos 1960 marcam um momento particular da transição político-econômica do Brasil.

Contudo, convém abordar inicialmente, mesmo que maneira breve, alguns dos processos

vivenciados pelo país a partir da década de 1930 que marcaram profundamente os rumos

seguidos nas décadas seguintes. Dentre estes, notadamente, os primeiros momentos da

industrialização brasileira, que acarretou num grande fluxo populacional do campo para a cidade.

A política econômica posta em prática pelo governo de Getúlio Vargas, a partir da Revolução de

1930, gerou efeitos que resultaram não apenas na recuperação da crise de 1929, mas, num

sentido mais amplo, na formação do mercado nacional e na mudança do padrão de acumulação

de capital no país. A economia brasileira passou a transitar do antigo modelo “Primário

Exportador” (de crescimento voltado para fora), para o da Industrialização (crescimento voltado

para dentro), mudando, segundo Celso Furtado, o “Centro Dinâmico da Economia” com

alterações nas bases do antigo padrão de acumulação, que passa a se voltar para o investimento

autônomo.4

Com isso, avançou a internalização de tomada de decisões, principalmente na órbita do Estado,

ao ampliar, sobremodo, suas funções de estímulo e de indução ao desenvolvimento nacional,

com forte ampliação do gasto e do investimento públicos5. Para tanto, foi preciso radical

mudança no papel do Estado nacional em sua organização, nos instrumentos e nos meios, antes

centrados exclusivamente para uma economia primário-exportadora, dentro dos ditames liberais

do padrão ouro.

4 Furtado, 1982.

5 Cano, 2004.

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5

A despeito da Depressão e, posteriormente, da Segunda Guerra, o novo padrão da economia

acelerou o crescimento do PIB nacional, cuja taxa média anual, entre 1930 e 1970, atingiu seis

por cento, acima da média dos 4.3 por cento do período 1900-1930. Por sua vez, o PIB da

indústria atingiu no mesmo período 8.2 por cento, elevando a participação da indústria no PIB

brasileiro de 12.5 por cento para 29.3 por cento, em 19706. Essa política, e mais um grande

conjunto de novas medidas e arranjos institucionais implementados ao longo do período 1930-

1954 – além daquela recuperação e mudança no padrão de acumulação – iniciaram o processo de

integração do mercado nacional, consolidando nossa primeira etapa de industrialização, a

restringida.

Os investimentos industriais, público e privado, elevaram a capacidade produtiva do setor,

provocaram sua diversificação, com a implantação da indústria de bens de produção e de

consumo durável, e também intensificaram o comércio inter-regional no país. Com isso os

investimentos públicos em infraestrutura, passaram a ser priorizados. Essa velocidade do

crescimento econômico também acelerou a abertura de postos de trabalho na cidade e o processo

de urbanização. Segundo Wilson Cano uma urbanização suportável, dada a existência de

mecanismos de assentamento e acomodação das camadas de baixa renda, em termos de

possibilidade de uma periferização ainda próxima aos centros urbanos7. Todavia, a fiscalidade

estadual e a municipal também cresceram, não na mesma proporção da expansão urbana, mas

que, de forma ainda que parcial, elevou o gasto público urbano e a oferta de serviços sociais,

amenizando o problema social que surgiria após os anos setenta.

O governo Vargas sabia que, para integrar o mercado nacional, era preciso remover dois

importantes obstáculos: a carência da infraestrutura de transportes, de energia e de comunicações

e os impostos interestaduais, de modo a facilitar e ampliar a circulação das mercadorias no

território nacional. A infraestrutura foi expandida e, em parte, desconcentrada, ao revitalizar o

transporte ferroviário, melhorando o de cabotagem e iniciando uma ampliação da rede rodoviária

federal, impulsionada na década de 1940.

As bases produtivas da economia pressionavam no sentido de converter o processo restringido

de industrialização para o de instalação da indústria pesada. O avanço na industrialização se deu

no momento em que o Estado supriria parte da debilidade do capital privado nacional, investindo

em petróleo, aço, produtos químicos básicos, infraestrutura, bancos, transporte, energia e

telecomunicações. O setor energético deu largos passos para diminuir a dependência externa,

com a criação da Petrobrás e da Eletrobrás. Além disso, foi ampliada a rede rodoviária e

reequipada a ferroviária. Assim, o petróleo, o aço, o carvão, a energia elétrica, a indústria

química e a mineração foram objeto de vários planos e programas governamentais.

O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) fez avançar ainda mais o processo de

industrialização fomentado pelo maciço bloco de investimentos realizados entre 1956 e 1960 por

meio do Plano de Metas. Os anos iniciais da década de 1960 (1961-1964), contudo, se

caracterizam pela crise econômica, representado pelo “(...) agravamento inflacionário, a crise

6 Cano, 2007.

7 Cano, 2004.

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fiscal e financeira do Estado, a desaceleração do crescimento industrial e o esgotamento do

manejo instrumental da política econômica".8

A crise política, na esteira do agravamento do setor financeiro, significou um lapso à

continuidade de uma proposta institucional moderna e democratizante. José Wellington Germano

assim resume os principais fatores que tiveram importante papel nesta crise:

“a) a radicalização das posições dos partidos políticos com relação à orientação a ser dada nos

assuntos econômicos, políticos, nas relações externas, etc; b) a intensa politização das massas,

sobretudo urbanas, ao longo do período em que concorreram para a mencionada politização: o

episódio da renúncia de Jânio [Quadros]; as frequentes campanhas de reivindicação salarial,

quando eram realizados comícios, assembleias, greves e, por fim, o debate em tomo das reformas

de base – agrária, tributária, universitária; c) o divórcio entre o poder legislativo e o poder

executivo: de um lado o Congresso Nacional composto, boa parte, por representantes da sociedade

agrária e, por outro lado, o executivo, fortemente influenciado pelos interesses e valores ligados à

sociedade urbano-industrial".9

Foi no âmbito dessa contradição que se desenvolveram, ao mesmo tempo, a tomada de

consciência por respostas mais efetivas por parte da sociedade da gravidade dos problemas

maiores do país e o cenário para o período autoritário que o Golpe Civil-Militar se instaurou a

partir de 196410

. A partir de 1967, a orientação macroeconômica se voltou para "tudo ao capital".

A classe trabalhadora, sempre sob a justificativa de combate à inflação, sofreu um grande

arrocho salarial que, associado à reforma financeira, oportunizou, a partir de então, uma

reconcentração da renda nacional. Um desenvolvimento acelerado, e relativamente desordenado,

foi o grande legado do final da década de sessenta, sobretudo da época do “Milagre Econômico”

(1969-1973), feito a custa de enorme dívida externa.

E antes da crise atingir seu ápice em 1964-65, no qual o governo militar promoveria suas

primeiras reformas econômicas e institucionais, se fazia necessário dar continuidade às políticas

do governo anterior, notadamente ao programa de estatização das concessões públicas

brasileiras.

Negociações em movimento

De acordo com o artigo apresentado no último Simpósio Internacional de Eletricidade, Angela

Lúcia Ferreira, Alexsandro Ferreira e Yuri Simonini apontavam a crise internacional por que

passavam as subsidiárias da AMFORP, agravada com a perda da subsidiária cubana e, no plano

nacional, com os diversos problemas enfrentados pelas congêneres brasileiras. Conforme o

artigo, a inflação se mantendo em 44 por cento ao ano ocasionou uma queda de 12 por cento na

receita operacional da empresa. Para evitar a deterioração do sistema, as subsidiárias brasileiras

paralisaram o envio de dividendos à sua matriz.11

8 Cano, 1988, p.21.

9 Germano, 1989, p.27.

10 Clementino, 1995.

11 Ferreira, Silva e Simonini, 2013.

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Contudo, a encampação, sem indenização, da subsidiária sul-rio-grandense “com grande alarde

publicitário, anunciada e promovida com o caráter efetivo de um confisco”12

tornou a situação

ainda mais insustentável. Mauro Thibau – então ministro das Minas e Energia – relembra, ainda,

em seu discurso outras situações análogas: “(...) mais tarde, tentativa idêntica em relação à

subsidiária de Vitória, pelo Estado do Espírito Santo, a que se seguiu um litígio em Recife, com

o Estado de Pernambuco, em torno da indenização de parte do acervo reversível ao poder

concedente, complicavam o problema”.13

Diante de uma conjuntura desfavorável, a AMFORP começou a sinalizar a venda de suas

subsidiárias brasileiras. Em novembro de 1961, a empresa entregou uma proposta à embaixada

brasileira em Washington. O presidente da companhia, Henry B. Sargent, em carta endereçada

ao presidente Goulart, retomou alguns pontos desta proposta, principalmente no que se refere às

vantagens da aquisição para o Brasil: 1) Facilitaria a continuação dos necessários programas de

melhoramento infraestrutural sob a responsabilidade das subsidiárias; 2) Removeria os

impedimentos de investimentos privados para outras áreas por meio da eliminação da fonte de

atrito; 3) Daria às questões de nacionalização do setor energético brasileiro, uma ação racional

impediria uma intrusão do governo em empreendimentos privados; 4) Possibilitaria o

planejamento racional do setor energético com base regional e nacional; 5) Os investimentos

privados alocados poderiam migrar para outros setores, notadamente os industriais, dinamizando

a economia e servindo como catalizador para atração de novos investimentos; 6) O uso de

financiamento governamental poderia diminuir os custos; 7) o governo poderia intervir nas taxas,

adotando critérios para estabilização econômica das subsidiárias (sem o necessário incremento

dos dividendos e lucros privados); 8) O controle tarifário poderia encorajar o desenvolvimento

de determinadas áreas econômicas ou setores industriais; 9) O controle total do sistema

energético permitiria redução de custos operacionais e menor aplicação de capitais.14

A carta de intenções da AMFORP teve rápido retorno por parte do governo brasileiro. Em março

de 1962, em discurso para à Câmara do Comércio, O presidente João Goulart se posicionou a

favor da “(...) necessidade de chegar-se a uma solução construtiva em relação ao problema das

concessionárias de serviços públicos”15

. Um mês depois, em Washington, em sessão do

congresso estadunidense, manifestou novamente o desejo do Brasil em adquirir as subsidiárias

da AMFORP.

Nesta visita, o presidente Goulart se reuniu com o presidente John Kennedy para discutir essa

situação. A partir do entendimento mútuo e diante da possibilidade de resolver a questão, o

presidente Goulart instituiu, em 30 de maio de 1962, a Comissão de nacionalização das empresas

concessionárias de serviços públicos – CONESP – conforme estipulado no Decreto 1.106 de 30

12

Thibau, 1964, p.8, pasta 194. O Fundo Thibau, mencionado anteriormente, consiste num conjunto documental

dividido em várias pastas sem ordem específica ou critério na seleção do conteúdo existente. Em muitos casos,

diversos documentos, a maioria mimeografados ou cópias oficiais, foram reunidos em um único maço. Nesse

sentido, adotou-se este modelo de referência, indicando a pasta de origem e, quando possível, o título do documento

referente. 13

Thibau, 1964, p.9, pasta 194. A questão da subsidiária capixaba não apareceu nos relatos acionários da AMFORP.

Infere-se que a situação deva ter sido solucionada rapidamente. 14

Sargent, 1963, pasta 120. 15

Aquisição..., s.d., pasta 181, p.1

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de maio de 1962, cuja regulamentação consta no Decreto 1.203 de 19 de junho do referido ano.

Com membros16

de diversos setores governamentais, a CONESP objetivava analisar os serviços

a serem explorados diretamente (encampados), de acordo com as prioridades estabelecidas pelo

governo e ser o intermediário nas negociações de compra, além de responsável pela apresentação

dos planos de compra e venda tratados nas negociações. Apesar de se tratar de uma comissão de

objetivos mais amplos, a situação da AMFORP demandou uma exclusividade nos esforços para

tratar da questão.17

O relatório, entregue em 19 de fevereiro de 1963, afirma que na sétima reunião, de 23 de agosto,

os representantes da AMFORP analisaram a proposta de venda das propriedades brasileiras. Em

29 de agosto, foi instaurada uma comissão para a análise dos itens pelos engenheiros Paulo

Azevedo Romano (diretor da Divisão de águas do Ministério das Minas e Energia) e Natércio

Pereira (Chefe de Departamento da CHESF) e pelo economista Paulo Mafra (assistente do

presidente da CEMIG). Os critérios adotados pela comissão, de acordo com o a Portaria n.1,

seriam: a) custo histórico não reajustado; b) custo histórico reajustado, pela aplicação de índices

econômicos do Conselho Nacional de Economia – CNE; c) custo histórico reajustado pela

aplicação dos índices da Fundação Getúlio Vargas; e d) custo de reprodução.18

Com o parecer da comissão concluído em 10 de outubro de 1962, a CONESP adotou como

alternativa a negociação via compra das ações, ao invés da compra do acervo patrimonial, uma

vez que, oferecia “(...) vantagem de manter a integridade da organização, permitindo assim mais

completa transferência de recursos tecnológicos e gerenciais acumulados pelas companhias”19

. A

opção pela compra foi baseada em casos anteriores de venda das subsidiárias na Argentina, no

México e na Colômbia. Dentre estes, o Governo adotou como base o exemplo mexicano, por ter

apresentado condições mais vantajosas para o comprador.

Com relação aos prazos, de acordo com o Decreto 5.764 de agosto de 1943, aqueles que

possuíssem contratos de concessão assinados antes da regulamentação do Código de Águas, de

193420

, o caso de todas as subsidiárias da AMFORP, as data seriam contadas a partir da

assinatura dos novos contratos, conforme justificativa da CONESP:

“Sendo assim, não se pode deixar de considerar que não tendo os novos contratos sidos ainda

assinados, as concessionárias poderiam alegar que suas concessões continuarão em vigor até a data

em que forem assinados os aludidos contratos, salvo resolvam o Poder Concedente encampar

aquelas concessões mediante prévia indenização, conforme previsto na legislação vigente”.21

A Sugestão da CONESP pelo segundo critério, com base na correção monetária pelos índices

fixados pelo Conselho Nacional de Economia de 1959, foi recusado pela AMFORP por conter

“graves distorções”. Lançado a contraproposta de U$ 138,6 milhões com pagamento inicial de

16

General Carlos Derenhauser Júnior (presidente – depois assumiu o engenheiro Paulo Azevedo Romano), João

Pedro Gouvêa Vieira (advogado e conselheiro do BNDES), os diplomatas Mário Gibson Alves Barbosa (membro da

embaixada brasileira em Washington) e Jayme Azevedo Rodrigues e o assessor do ministro das relações exteriores

Henrique Rodrigues Valle Júnior, além dos presidentes do BNDES e da Eletrobrás. 17

Histórico..., 1963. 18

Histórico..., 1963. 19

Relatório..., 1963, p.10 20

Cf. Decreto 24.643, de 10 de julho de 1934. 21

Relatório..., 1963, p.12.

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U$ 10 milhões, prazo de 17 anos, mais 03 de carência, com reinvestimento de 75 por cento do

valor da transação e juros de 6.5 por cento da parte livre e 06 por cento da parte reinvestida.

Ainda faltavam acertos para os U$ 10 milhões de juros e créditos da empresa estadunidense e

não remetidos pelas companhias subsidiárias.22

As negociações que se seguiram apontaram para a aprovação pela AMFORP dos valores e

prazos estabelecidos e a CONESP apontava as vantagens desta negociação a longo prazo para os

interesses nacionais, bem como a viabilidade da proposta:

“A conclusão da Comissão foi a de que, de acordo com a legislação brasileira, a receita prevista

para aquela operação seria suficiente para cobrir os compromissos totais da operação, mesmo sem

considerações de melhorias facilmente efetiváveis e de positiva influência na rentabilidade, como

era a ampliação da usina de Peixoto”.23

A proposta acertada entre o Governo Brasileiro e a AMFORP pode ser resumida da seguinte

forma: valor total de U$ 135 milhões, com pagamento inicial de 10 milhões; prazo de pagamento

estipulado em 22 anos mais 03 de carência; reinvestimento de 75 por cento do valor total em

áreas econômicas diversas; e juros de seis por cento da parte livre e 6.5 por cento da parte

reinvestida. A parcela de U$ 10.4 milhões – referente aos créditos e compromissos avulsos – foi

reduzida para U$ 7.7 milhões com prazo de pagamento de 15 anos, e juros de seis por cento a.a.,

além de pagamento inicial de U$ 770.000.24

Com o relatório encaminhado em 19 de fevereiro de 1963 e diante da possibilidade da rápida

conclusão da negociação e o fim dos problemas comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos, o

Presidente João Goulart afirmava em carta endereçada ao Presidente Kennedy, em oito de março

de 1963:

“Estou convencido de que desse modo, ficam eliminadas as áreas de atrito que vinham

prejudicando o desenvolvimento de entendimentos de maior alcance, do interesse dos nossos

países, e que os propósitos expressos no comunicado conjunto resultante de nossas conversações

em Washington, estão plenamente alcançados”.25

Após extinguir a CONESP, o presidente instituiu, em 08 de abril de 1963, o Decreto n. 51.892,

constituiu uma comissão interministerial, “(...) para decidir sobre a nacionalização das empresas

concessionárias que exploravam os serviços públicos de energia ou telecomunicações”.26

Em 23 de abril do mesmo ano, foi assinado em Washington um memorando de entendimento

entre o embaixador brasileiro Roberto de Oliveira Campos e o Vice-presidente da AMFORP,

William Nardof, com cópia enviada para o ministro de Estado das Relações Exteriores, Hermes

Lima27

. Tratava-se de uma declaração de intenções com as bases de uma transação sem a parte

jurídica, mas “Essas condições serão formalizadas em contrato a ser negociado tão cedo o

Governo brasileiro designe a comissão executiva de transação”28

. O passo final seria a

22

Relatório..., 1963. 23

Histórico..., 1966, p.13. 24

Relatório..., 1963. 25

Goulart, 1963, p.1, pasta 108. 26

Histórico..., 1966, p.13. 27

Ofício 302/575, pasta 108. 28

Ofício 550.21(22), p.1, pasta 108.

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elaboração de um contrato, após o levantamento patrimonial e contábil das subsidiárias

brasileiras. Contudo, a AMFORP, que até aquele momento se manteve na penumbra dos

acontecimentos e desconhecida pelo público, foi iluminada pelos holofotes da mídia.

Um jogo de luzes e sombras

Em 28 de maio de 1963, o então ex-governador do Rio Grande do Sul e deputado federal, Leonel

Brizola deu entrevista à TV-Rio e à Rádio Mayrink Veiga. Afirmava Brizola que se tratava de

uma “decisão inaceitável” e de posse de uma cópia da ata da comissão interministerial, criticava

duramente o posicionamento do governo em manter as negociações em caráter sigiloso: “Além

dos aspectos lesivos à economia popular (...) há ainda a considerar o aspecto moral. A este

respeito, a incrível operação não se reveste de um mínimo de requisitos”29

. O valor apontado

pelo ex-governador era de U$ 188 milhões de dólares, valor “estranhamente” aceitado pelo

Governo Brasileiro, uma vez que a CONESP havia avaliado o valor em U$ 57.3 milhões. Em 30

de maio, Brizola reafirmava as críticas com base na documentação arrolada em discurso à

Câmara Federal, acarretando na abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar

os fatos.30

A repercussão foi imediata. Em discurso realizado em Juiz de Fora, o presidente João Goulart

afirmou que não se tratava de uma negociação secreta com os EUA: “Jamais permitirei qualquer

transação escusa, porque antes de se realizar qualquer negociação definitiva, o primeiro a saber

dela, em termos claros, há de ser o próprio povo brasileiro”.31

Enquanto que os ministros Almino Afonso e Hélio de Almeida32

se posicionavam publicamente

contra a compra das concessionárias, o Governo rebateu, poucos dias depois, as críticas de

Leonel Brizola, por meio do discurso do líder do governo na Câmara, Deputado Oliveira Brito:

“1) que não há nenhum prazo marcado pelo Governo para a conclusão das negociações com as

empresas estrangeiras; 2) que não foi tomada qualquer decisão conclusiva na ultima reunião de

Ministros que compõem a Comissão Ministerial encarregada de estudar o problema; 3) que não

passa de ‘um rascunho apresentado por um assessor da Conesp’ o documento anunciado pelo

Deputado Leonel Brizola como sendo a ata da última reunião da Comissão Interministerial; e 4)

que o Presidente da República ainda não deu sua aprovação a qualquer acerto”.33

Ademais, ante a possibilidade de pressão estadunidense, o ministro da Fazenda San Tiago Dantas

disse que os “(...) entendimentos para compra das empresas subsidiárias de serviço público

tiveram início ainda no período parlamentarista, na gestão do Sr. Tancredo Neves”34

. A medida

29

Brizola, 1963, p.3. 30

Cf. < http://www2.al.rs.gov.br/biblioteca/LinkClick.aspx?fileticket=ifUKGlUOtQ0%3d&tabid=3096> (O

discurso, na íntegra encontra-se na página 584). 31

Goulart, 1963, p.9 32

“O Ministro Almino Afonso disse, ontem [01 de junho], que é ‘frontalmente contrário à compra das

concessionárias do serviço público’, enquanto o Ministro Hélio de Almeida distribuiu nota à imprensa

manifestando-se em favor da nacionalização, mas contra a maneira como vem sendo feito o negócio e o Deputado

Leonel Brizola anunciava que ‘já falam em estado de sítio os que defendem essa negociata’”. Almino..., 1963, p. 5. 33

Líder..., 1963, p.4. 34

Dantas, 1963, p.12, pasta 108.

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de compra visava, segundo o ministro, solucionar o problema da deficiência energética que o

país passava, além de outras medidas como o imediato tombamento do patrimônio das empresas

concessionárias. Ademais, o valor apontado tratava-se de um teto máximo e que poderia ser

retificado após avaliação das instalações físicas.

As respostas dadas pelo Governo não aplacaram as críticas veiculadas pelos jornais. De fato, o

posicionamento nacionalista que ganhava força no país orientava a opinião pública contra as

empresas estrangeiras. Nesse sentido, questões como o valor a ser pago e a ideia de incorporação

não indenizatória foi mais evidenciado por meio do contínuo esforço dos opositores do governo,

na medida em que as críticas aumentavam o tom, ao tachar a operação, ainda em estágio inicial,

com termos pejorativos relacionados à concluios e à negócios escusos:

“Para a opinião pública, é cada dia mais evidente que se trata de um revoltante ato de traição

nacional e uma negociata espantosa, provavelmente a maior de que se tem notícia em toda a nossa

história. É um duplo escândalo. Primeiro, por se pretender comprar um acervo que virtualmente já

pertence ao povo brasileiro. Depois, por se pretender avaliar essa compra sobre uma base três vezes

mais elevada do que aquela que foi fixada pelos técnicos da Comissão de Nacionalização dos

Serviços Públicos, já feita a correção da moeda segundo os índices oficiais do Conselho Nacional

de Economia. Por isso mesmo, é com indignação que o povo brasileiro encara esse sujo e

revoltante negócio contrário aos nossos interesses e à própria soberania do Brasil”.35

A polêmica que envolveu a aquisição das subsidiárias da AMFORP acarretou num interessante

efeito colateral. De acordo com o gráfico elaborado pelo Jornal “Estado de São Paulo” (Figura

01), não havia notícia acerca das atividades da empresa estadunidense no país. Essa observação

reforça a argumentação de Ferreira, Silva e Simonini da efetividade da estratégia de anonimato

por parte da empresa36

. Porém, a “descoberta” da presença da AMFORP acirrou ainda mais os

ânimos nacionalistas.

Acerca dos principais pontos criticados, o Governo brasileiro tratou de responder no decorrer das

inúmeras sessões parlamentares, Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI´s) e discursos a fim

de tentar reverter a desfavorável repercussão de 1963. Em 12 de junho de 1963, o ministro San

Tiago Dantas defendeu alguns destes pontos, em sessão da Câmara dos Deputados, cuja primeira

questão abordava o caráter sigiloso da operação de compra. O ministro afirmou que há um

problema de datas, uma vez que as negociações se iniciaram no governo anterior, em 1961,

evoluindo em conversações diante das repercussões internas e externas, uma vez que o caso da

AMFORP serviria de modelo para as soluções de problemas ligados a investimentos estrangeiros

na área pública.37

35

Crime..., 1963, p.8 36

Ferreira, Silva e Simonini, 2013. 37

Dantas, 1963, pasta 108.

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Figura 01. Notícias relacionadas à AMFORP entre 1870-2010 Fonte: http://acervo.estadao.com.br/procura/#!/amforp/Acervo///1/1960/

Outro ponto sensível foi uma possível pressão estadunidense por meio da emenda proposta pelo

senador Bourke Blakemore Hickenlooper, no Foreign Aid Act de 1962. De acordo com o artigo

6º, a ajuda financeira estadunidense seria condicionada às relações comerciais entre os EUA e o

país solicitante e caso alguma empresa norte-americana fosse encampada sem os custos

indenizatórios, o pedido seria negado. Nesse sentido, o ministro Dantas aponta que os

entendimentos preliminares ocorreram antes da emenda, datada de primeiro de agosto de 1962

enquanto que a proposta de venda pela AMFORP e a criação da CONESP se iniciaram em 21 de

novembro de 1961 e 30 de maio de 1962, respectivamente.38

Sobre o valor a ser pago, afirmava que a AMFORP era contrária ao estipulado pela CONESP,

uma vez que a empresa solicitava um total de 149 milhões de dólares, inclusos U$ 10 milhões e

600 mil proveniente das ações e U$ 10 milhões e 400 mil de créditos de várias naturezas. Com o

desenrolar das negociações, o preço final foi estimado em U$ 135 milhões, além da redução dos

citados créditos para U$ 7 milhões e 700 mil. O ministro assim conclui: “Não houve nisso, (...),

nada que pudesse ser considerado deslize, nada que pudesse representar a aplicação de um

critério tecnicamente indefensável, mas, pelo contrário, uma negociação legítima, conduzida de

acordo com os princípios da equidade”39

. Ademais, todas as negociações, aponta Dantas foram

vantajosas para o Brasil, se comparado às realizadas em outros países, cujo exemplo utilizado foi

o prazo de pagamento: enquanto que no México e na Colômbia deveriam ser quitados em 17

anos, a CONESP estendeu para 25 anos, sendo 03 de carência.

Porém, a situação física-contábil das subsidiárias foi a que mereceu maior destaque. Tratado,

pela oposição, como “ferro-velho”, o ministro afirmava que a idade média dos equipamentos não

ultrapassava os 14 anos. Em relatório mimeografado constante no Fundo Thibau, os dados

estatísticos das subsidiárias podem assim ser apontados: Dados quantitativos: em 1930, as 10

concessionárias atendiam, em conjunto, uma ponta de carga de 74.540 quilowatts. Em 1963, a

carga total passou para 677.102 quilowatts, excluindo os dados de Pernambuco e do Rio Grande

do Sul, nesse momento já encampadas. Se incluídas (nos anos que atendiam), o somatório atingia

38

Dantas, 1963, pasta 108. 39

Dantas, 1963, p.14, pasta 108.

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806.800 quilowatts. Com estes dados, o relatório apontava salto quantitativo nas operações das

subsidiárias:

“O simples fato de terem os serviços a cargo das concessionarias crescido nessa proporção constitui

evidência de que suas instalações não podem ser compostas de ‘ferro velho’. Com efeito, para que

assim fossem, precisariam ter em sua maioria idade de ordem de 30 anos, o que importaria supor

que há 30 anos as subsidiárias da AMFORP já dispunham de instalações capazes de atender a uma

solicitação de serviço cerca de 11 vezes superior a que existia na ocasião, o que seria um absurdo

sob o pontos de vista financeiro e econômico”.40

O investimento entre 1946 a 1961 girou em torno dos U$ 220 milhões em obras e equipamentos

de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica. Destes, U$ 120 milhões foram

empregados em instalações de produção elétrica, com potência de 392.500 quilowatts, incluindo

seis hidrelétricas e duas termoelétricas. Henry, sobre essa questão, afirmava que esse valor era

maior do que dois terços do investido em outros sistemas controlados pela AMFORP41

. E se

considerar os equipamentos inutilizados, ainda de acordo relatório, 77.7 por cento da produção

de energia provinha de equipamentos novos, com média de uso de 8.8 anos (média ponderada).

Para se ter ideia da evolução da produção, da transmissão e da distribuição da AMFORP em solo

brasileiro, o relatório destacava a comparação entre os anos de 1945 e de 1962 (Quadro 1).

Quadro 1. Dados estatísticos operacionais da AMFORP

Item Unid 1945 1962

Localidades servidas nº. 323 499

População servida Hab. 5.493.900 7.552.400

Consumidores servidos nº. 373.212 1.119.629

Carga máxima horária kWh/h 163.551 766.264

Energia entregue ao sistema kWh 818.231 3.728.220

Linhas de transmissão Km 5.805 8.261

Capacidade nominal instalada em subestações

abaixadoras e de interligação kW 221.064 853.802

Fonte: Fundo..., s.d., pasta 86. Nota: No cômputo geral de 1962, foram incluídos os dados referentes a Porto Alegre e a

Pernambuco nos anos anteriores à encampação (1958 e 1961, respectivamente).

A situação se arrastou até 1964. Com o Golpe Civil-Militar, o novo governo se deparou com um

compromisso de compra aprovado e moralmente válido, porém não cumprido e crescente

deterioração dos serviços de energia elétrica em grande parte do território brasileiro42

. Houve

uma proposta por parte do Governo na permanência da companhia no país, sob condições

tarifárias justas, mas sem êxito.

40

Fundo..., s.d., p.1, pasta 86. 41

Sargent, 1963, pasta 120 42

Aquisição..., s.d., pasta 181.

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“Verificou-se, então, não mais interessar às concessionárias, nem lhes ser mais possível a retomada

tranquila dos serviços, no ponto de envenenamento a que chegaram, no passado, os acontecimentos

nos três planos de entendimento configurados nas relações de concessionárias e público

consumidor, de concessionárias e Governo e de Governo a Governo”.43

A solução apontada no relatório consistiu na manutenção da opção de compra com os seguintes

pontos: 1. Garantia de que o memorando de 22 de abril de 1963 reflita um negócio de interesse

para o Brasil; 2. Eliminação das áreas de atrito com os EUA; 3. Restabelecimento de confiança

dos meios financeiros mundiais em favor do país; 4. Atenção aos usuários brasileiros e garantias

para o bom desenvolvimento de suas atividades econômicas dependentes do setor energético.44

Para dar prosseguimento à questão, o Governo constituiu nova Comissão Interministerial, com

participação dos ministérios de Minas e Energia, Relações Exteriores, Ministro extraordinário

para o Planejamento e Coordenação Econômica e o Presidente da Eletrobrás, para reexaminar o

memorando de 22 de abril de 1963. De acordo com relatório de 18 de agosto de 1964, se fez

necessário uma atualização na redação do memorando, atualizando datas e valores.

Adotou-se o preço teto de U$ 135 milhões, sendo U$ 10 milhões à vista – até 30 dias após a

assinatura do contrato. O restante seria quitado em duas parcelas: uma de U$ 24.750 milhões em

22 anos (após três de carência e com juros de seis por cento a.a); e o restante – U$ 100.250

milhões, nas mesmas condições da parcela anterior, mas com juros de 6.5 por cento a.a. A última

parcela, entretanto, seria totalmente reinvestida na Eletrobrás pelo prazo de 20 anos, redundando

em pagamentos que se estenderiam até 2009.45

E com relação aos juros, dividendos e créditos correntes das subsidiárias, no valor de U$ 7.7

milhões, devido à AMFORP seriam transferidas para o comprador nas seguintes condições: 10

por cento do valor pago a vista, em até 30 dias da entrada em vigor do contrato; e o restante pago

em 15 anos com seis por cento a.a de juros. E a compensação financeira, no valor de U$ 10

milhões, pelas variações patrimoniais entre primeiro de janeiro de 1963 a primeiro de julho de

1964 seriam pagos em 10 anos a juros de seis por cento a.a.46

A nova redação mantinha e ampliava as vantagens anteriormente obtidas, além da adoção de

critérios mais precisos e detalhados sobre a operação de compra. E destacava:

“A análise de operação caracterizada nas suas linhas mestras ao novo Memorando é proporcionada

pela comparação dos compromissos financeiros a serem assumidos pela Eletrobrás, com os

recursos que lhe serão proporcionados pelas tarifas das Companhias de que assumirá o controle.

Esta comparação demonstra a rentabilidade da operação”.47

Ainda de acordo com o relatório, uma perícia internacional do valor contábil-patrimonial era

indispensável para a conclusão da operação. Nesse sentido, foi celebrado um contrato com a

Scandinavian Engineering Corporation em 12 de novembro de 1964. De origem sueca, a

empresa empregou engenheiros e economistas que atuaram no Brasil entre 24 de novembro de

1964 e 22 de junho de 1965, num total de 120 homens-hora (24 funcionários). Os serviços

43

Aquisição..., s.d., p.3, pasta 181. 44

Aquisição..., s.d., pasta 181. 45

Relatório..., 1964, pasta 186. 46

Relatório..., 1964, p. 13, pasta 186. 47

Relatório..., 1964, p. 13, pasta 186.

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executados consistiram no inventário físico, na verificação contábil e no cálculo do valor, em

dólares, com acompanhamento de representantes do governo brasileiro e da AMFORP. A parte

introdutória do relatório elaborado enfatizava a boa organização e veracidade do registro contábil

e as condições materiais das subsidiárias: “Achamos que a escrita de todas as Companhias se

encontra em perfeita ordem e deve ser considerada como de alto grau de satisfação. Outrossim,

verificamos que todas as instalações existem, e que, com poucas exceções, seu tamanho e

equipamentos estão de acordo com os desenhos e especificações”.48

Os dados arrolados pela Scandinavian permitem visualizar um quadro geral da estrutura

organizacional e operativo da AMFORP no Brasil, principalmente no que se refere ao volume de

usuários atendidos e à extensão da capacidade de produção, transmissão e distribuição de energia

elétrica (Quadro 2).

É interessante apontar a participação acionária arrolada pela empresa sueca (Quadro 3). Percebe-

se nítida preponderância da AMFORP, com valores superiores a 70 por cento no controle das

subsidiárias. Os menores percentuais se referem aos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e

São Paulo e pode ser explicado pela fragmentação anteriormente existente de pequenas

companhias elétricas que foram incorporadas ao contrário dos demais estados. Dessa forma, foi

necessário estabelecer maiores participações entre os acionistas minoritários, provavelmente os

donos anteriores.

Quadro 2. Dados estatísticos das subsidiárias, em 1963

Subsidiária População

(1000)

Usuários

(1000)

Energia

M.kWh

Capacidade

instalada

MW

Linhas

elétricas

(milhas)

Empregados

Cia. Força e Luz Nordeste

do Brasil (Natal/RN e

Maceió/AL)

333 52 70 5 344 370

The Pernambuco

Tramways & Power Co.

Ltd.

1.051 95 307 22 577 931

Cia. Energia Elétrica da

Bahia 964 109 314 9 797 781

Cia. Central Brasileira de

Força Elétrica (Vitória/ES) 247 36 91 13 530 391

Cia. Força e Luz de Minas

Gerais 843 138 426 33 1.024 713

Cia. Brasileira de Energia

Elétrica (Niterói/RJ) 713 122 434 74 942 930

Cia. Paulista de Força e

Luz 3.210 381 1.939 313 7.696 2.189

Cia. Força e Luz do Paraná 607 86 261 49 881 310

Cia. Energia Elétrica Rio

Grandense 599 126 267 25 704 914

The Rio Grandense Light

and Power Syd. Ltd. 135 20 33 7 166 255

Total 8.702 1.1465 3.708 550 13.661 7.784

48

Scandinavian..., 1965, p.1.

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Fonte: SCANDINAVIAN..., 1965.

Quadro 3. Controle acionário das subsidiárias da AMFORP, em 1963

Subsidiária Pertencentes a

AMFORP

Número total

de ações

Percentagem

da AMFORP

Cia. Força e Luz Nordeste do Brasil 225.000 250.000 90.000

The Pernambuco Tramways & Power Co. Ltd.

(ordinárias) 821.885 848.793 96.830

The Pernambuco Tramways & Power Co. Ltd.

(preferenciais) 1.198.706 1.200.000 99.892

Cia. Energia Elétrica da Bahia 499.955 500.000 99.991

Cia. Central Brasileira de Força Elétrica 249.930 250.000 99.972

Cia. Força e Luz de Minas Gerais 3.840.260 5.875.000 65.366

Cia. Brasileira de Energia Elétrica 1.354.685 1.925.000 70.373

Cia. Paulista de Força e Luz 15.905.445 21.300.000 74.673

Cia. Força e Luz do Paraná 1.377.790 1.550.000 88.890

Cia. Energia Elétrica Rio Grandense 454.750 473.000 96.142

The Rio Grandense Light and Power Syd. Ltd. 100.000 100.000 100.000

Fonte: SCANDINAVIAN..., 1965.

O valor calculado, após exposição de metodologia e de sua aplicação numa operação complexa,

foi de U$ 151.444 milhões, superior ao valor de compra, de U$ 135 milhões. Diante dessa

conclusão, a Scandinavian ainda estabelece que, caso fossem utilizados os parâmetros de

reconstrução adotados pelos relatos da Servix e da Christiani-Nielsen49

, a Eletrobrás teria

comprado: “(...) as instalações por 52 por cento do que teria custado um sistema completamente

novo. Levando em conta o bom estado das instalações, somos de opinião que o preço é favorável

à Eletrobrás”.50

De posse do parecer favorável da Scandinavian e acertados diversos pontos divergentes com a

AMFORP, o então presidente da Eletrobrás, Octávio Marcondes Ferraz ratifica a minuta do

contrato, elaborado em 25 de janeiro de 1965 com o seguinte preâmbulo:

“Considerando que, em 22 de abril de 1963, foram assentadas, entre o Governo Brasileiro, de um

lado, e a AMFORP e a BEPCO, de outro lado, as bases de uma operação pela qual as Vendedoras

se comprometeram, entre outras coisas, a transferir ao Governo, ou a uma agência deste

devidamente autorizada, todas as ações e créditos possuídos pelas Vendedoras na data de 31 de

dezembro de 1962 em empresas concessionárias de serviços de utilidade pública (adiante

denominadas ‘Companhias de Operação’) nos Estados Unidos do Brasil, e que a Compradora e as

Vendedoras concordaram em celebrar um contrato consubstanciando as bases estabelecidas em 22

49

Em 1962 a AMFORP contratou a Servix Engenharia S.A. e a Christiani-Nielsen Engenheiros e Construtores S.A,

para realização de inventário físico e cálculo dos valores, como primeiro passo para venda de suas subsidiárias para

o Governo Brasileiro. A empresa sueca adotou alguns parâmetros como base para seus cálculos e acrescentava que

“o relatório da Christiani-Nielsen contém informações sobre usinas geradoras e algumas subestações, enquanto o

relatório da Servix concentra-se principalmente nas linhas de transmissão, subestações e instalações de distribuição”.

Scandinavian..., 1965, p.9. 50

Scandinavian..., 1965, p.42.

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de abril de 1963, reajustando, porém, aqueles pontos dessas mesmas bases que o tempo decorrido

exigia fossem atualizadas”.51

No discurso para apresentação do projeto de lei (n.5 de 1964), o ministro Mauro Thibau

descreveu sucintamente ao Congresso52

a estrutura do histórico da negociação, enfatizando as

principais vantagens obtidas e, principalmente, dando respostas às críticas desta operação. De

acordo com o ministro, caso tivesse o Governo optado pela manutenção da AMFORP a frente

das atividades no setor elétrico, asseverava que o “dispêndio cambial resultante da remessa de

dividendos legais no regime de tarifa justa tal [forma] que o desembolso em moeda forte no

prazo previsto de 45 (quarenta e cinco) anos seria superior em mais de U$ 300.000.000”.53

Com a aprovação do projeto, transformado na Lei n.4.428, de 14 de outubro de 1964, o Governo

Brasileiro adquiriu as propriedades das subsidiárias da AMFORP. Este processo, iniciado três

anos antes marca o encerramento definitivo de 37 anos de atuação da empresa estadunidense no

país, cuja operação se estendeu por boa parte do território nacional. Encerrava-se igualmente um

período de forte ação de empresas internacionais em setores considerados estratégicos, como a

concessão de energia elétrica, em grande parte orientado pelo tom nacionalista, mas sobretudo,

pela possibilidade de levar adiante o desenvolvimento dessas áreas graças ao acúmulo de

expertise e da transferência de conhecimento propiciado por estas companhias.

Considerações finais

Wilson Cano afirma que “nenhum período foi tão importante para a sociedade brasileira como o

de 1930-1980 dado que foi nele onde ocorreram grandes transformações políticas, sociais e

econômicas, gestadas e direcionadas em prol da construção da nação”54

. O autor acrescenta:

“Nesse intervalo, mas, sobretudo, nas três primeiras décadas e meia, o desenvolvimento

econômico planejado passou a ser praticado como principal política de Estado na perspectiva de

superação do subdesenvolvimento nacional”, com maior integração do mercado interno. O

momento perpassa, assim, as duas primeiras fases da industrialização nacional: a primeira, da

industrialização “restringida” (de 1930 a 1955) e, a segunda, da industrialização “pesada” (de

1956 a 1970).

O processo de urbanização gerado colocou em cheque não somente o despreparo das cidades em

sua estrutura física e no oferecimento de infraestrutura e de serviços como os gargalos à

modernização da economia que se pretendia, com destaque ao setor energético. Para enfrentá-lo,

se desencadeia uma série de medidas centralizadoras e de cunho nacionalistas e uma discussão,

no plano político, entre posições divergentes, mostrado em trabalho anterior.55

Dessa forma, as empresas estrangeiras atuantes no Brasil ficaram na berlinda. A American &

Foreign Power Co., uma das principais concessionárias de energia elétrica desde 1927, trouxe

uma especificidade na sua forma de atuação que era a sua discrição no tocante à origem do seu

51

Minuta..., 1965, p.1, pasta 188. 52

Na cópia oficial, é tratada como a Mensagem n.10, de 1964, com número de origem 373. 53

Thibau, 1964, p.16, pasta 194. 54

Cano, 2007, p.61. 55

Ferreira, Silva e Simonini, 2013.

III Simposio Internacional de

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18

capital e, sobretudo, do seu centro decisório, nos Estados Unidos. Encoberta pelas suas

subsidiárias espalhadas no Nordeste, Sudeste e Sul do país – ao contrário da Light – a empresa se

viu forçada a se desfazer de suas propriedades quando a conjuntura político-econômica não era

mais favorável a uma operação rentável.

Nesse estudo que construiu um quadro geral da operação da AMFORP no Brasil desde a sua

configuração durante a compra de pequenas empresas, a formação de um patrimônio que se

estendeu por grande parte do território e a atuação em todas as etapas do fornecimento de energia

elétrica – produção, transmissão e consumo – exposto no primeiro trabalho56

e os debates e o

declínio de suas atividades, tratado no segundo artigo57

, conclui-se aqui o compromisso

assumido anteriormente por Ferreira, Silva e Simonini acerca da finalização da presença da

AMFORP no Brasil.

Pode-se afirmar, nesse “mar de números” e idas-e-vindas de negociações, que o processo de

compra de suas subsidiárias pelo Estado expôs a luz um posicionamento de diversos atores

nacionais e estrangeiros, mobilizando a imprensa, os poderes legislativo e executivo e a opinião

pública. Se até então a estratégia operacional consistia num ocultamento proposital com a

manutenção da Pessoa Jurídica de cada empresa adquirida pela AMFORP entre 1927 a 1939 e na

inexistência de uma identidade própria, as supostas divergências entre os valores de pagamento e

a infraestrutura existente incidiram na emergência, no “aparecimento” da empresa estadunidense

como uma corporação para o Brasil, e não mais na penumbra de suas subsidiárias, quando,

justamente, se encerrava sua atuação, num momento de grandes transformações sociais, políticas

e econômicas no país.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao HCUrb, pela disponibilização do acervo físico e digital e ao CNPq e

CAPES pelas bolsas concedidas e pelo apoio financeiro à pesquisa.

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