Numero 4 do jornal "Boa Nova".Dedicado à Vila, às festividades do Espírito Santo e ao Mestre...

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A açorianidade do Espírito Santo A invocação ao Espírito Santo nas crises sísmicas e vulcânicas EVANGELIZADORES COM ESPÍRITO Da Vila Pela Vila

Transcript of Numero 4 do jornal "Boa Nova".Dedicado à Vila, às festividades do Espírito Santo e ao Mestre...

O ESPÍRITOSANTO

VILACONJUNTO PROTEGIDO

MESTRE BOGANGOPINTOR DO ESPÍRITO SANTO

Vila de São Sebastião Editores: Dionísio Sousa, Félix Rodrigues, Paulo Barcelos Junho 201 4 - N.º 4

"E na verdade, se nisto se me pode imputar oamor de localidade, por ser este o lugar domeu nascimento, desde já peço desculpa."Ferreira Drumond - Anais da I lha Terceira.

Este não é apenas um slogan.É um objectivo que estamos a tentar cumprir em cada número.

Depois de um primeiro número de carácter informativo geral comtemas da Vila, dois números extras, um dedicado às danças doúltimo Entrudo na Vila e o outro a assinalar a cerimónia dehomenagem ao Padre Coelho e a imposição da medalha dehonra municipal. Ambos assuntos de grande interesse esignificado para a Vila.Este número quatro do BOA NOVA mantém-se claramente nestal inha de actuação.É especialmente dedicado às festividades do Espírito Santo naVila onde a devoção ao Divino assume aspectos singulares.Este tema, além do mais, permite-nos relembrar a figura derelevo na vida artística da Vila. O "mestre Bogango"( é assim queele é conhecido entre os amantes da arte). Para as pessoas daVila será sempre o Chico Bogango. Que seja.Com as fotos das suas bandeiras do Espírito Santo temos

orgulho em ilustrar as nossas páginas e aproveitamos para trazerinformações importantes sobre o homem e a sua vida.Outro aspecto de relevo neste jornal é a campanha quecomeçamos a lançar para que a Vila seja consideradaoficialmente "conjunto cultural de interesse regional"Muitos olharão quase com desdém para esse objectivo. É maisum título apenas. É verdade mas não só. Acrescentará mais umaconsagração justificada aos muitos valores que a Vila encerra.Para os tornar mais evidentes aos olhos dos seus fi lhos e dequem nos visita.Da grande transformação gráfica que este número do Boa Novarepresenta quase não será necessário falar. O facto é tãoevidente que dispensa comentários. Este é um jornal para aleitura, mas também para o prazer de olhar uma obra bastanteperfeita do ponto de vista de apresentação gráfica. O simplesfolheá-lo já traz prazer e satisfação. É o nosso orgulho, queesperamos seja parti lhado por muitos sebastianenses, podermimá-los com esta boa nova. Tão nova como boa.Mais uma palavra ainda para o naipe excepcional decolaboradores deste número do Boa Nova. Todos eles sãoaltamente representativas dos melhores valores da nossa vidacultural. Da Vila, com os textos do jornal ista, fi lho da Vila(Francisco Faria). A que se junta o nome de outro i lustre fi lhodesta terra ( o Dr. Félix Rodrigues). O também da Vila originário e

actual seu digno pároco - Pe Domingos da Graça. E o seu fi lhopor opção, Dr. João Bento, professor da escola FerreiraDrummond.Da ilha Terceira, com a colaboração preciosa de nomes deinegável relevo como o Dr. Cunha de Oliveira, o Padre Hélder daFonseca e a Dr. Antonieta Costa. E dos próprios Açores, poistodos eles têm contributos relevantes para a cultura açoriana emgeral.

BOA NOVA

Colaboradores deste número

Antonieta Costa

A. Cunha de Oliveira

Dionisio Sousa Editorial

Domingos da Graça

Doralice Sousa

Félix Rodrigues

Helder da Fonseca

João Bento A açorianidade do Espírito Santo

A doutrina do Espírto Santo

Espirito Santo: espírito de persistênciae resistência populares

A invocação ao Espírito Santo nascrises sísmicas e vulcânicas

EEVVAANNGGEELLIIZZAADDOORREESS CCOOMM EESSPPÍÍRRIITTOO

Mestre Bogango,Bandeiras no lixo.

O Espírito Santo

Composição e paginação

Da Vila Pela Vila Preço:1 Coroa €

Os fortes argumentos da Vila para ser classificada "Conjunto de conjuntos protegidos".

Primeiro ConjuntoPraça, Junta de Freguesia, Centro

Comunitário e edificios circundantes adefinir.

Segundo conjuntoLargo da Fonte, Ermida de Santana e

edifícios circundantes a definir.

Terceiro conjuntoPassal, Império e edificios circundantes

a definir.

Quarto ConjuntoRossio e edifícios circundantes a definir.

Quinto ConjuntoLargo do Passo e edificios circundantes a definir.

Sexto ConjuntoIgreja da Misericórdia, Santa Casa e edifícios

circundantes a definir.

Sétimo ConjuntoSenhora da Graça, adro e anexos.

Oitavo conjuntoSenhora da Consolação e Imperio

Qual é a ideia que está subjacenteà escolha destes oito conjuntos,como fundamento da classificaçãoda Vila como "Conjunto deconjuntos protegidos"? Em pri-meiro lugar, trata-se de uma solu-ção intermédia entre classificar aVila em bloco, na sua total idade derede de ruas, largos, praça,edifícios. O que seria descabido. Ea ideia de classificar isoladamentealguns conjuntos dispersos e nãoos considerar como partesintegrantes e valorizadoras doconjunto maior que é a Vila. Éverdade que o nexo e a ligaçãoreal entre todos eles está notraçado singular de ocupação doespaço, único no mundo darural idade açoriana. As suas ruase travessas que se entrecruzamfazem dela um verdadeiro espaçode caracteriscas e fisonomiaurbana numa área rural.A ideia é nova? Julgamos que sim.Mas é inovando que se encontramsoluções cada vez mais adequa-das à realidade da história e dopresente.Três ideias serão egrimidas comofundamento da classificação decada um dos conjuntos.O argumento histórico.O argumento da qualidade monu-mental ou artística.O argumento da adequação aoespaço.Tudo isto é matéria a aprofundar, aaplicar a cada conjunto e desen-volver em pormenor, em próximosnúmeros do Boa Nova.D.S.

A classificação da Vila como"Conjunto de conjuntos protegidos"

A GRANDE INICIATIVADO BOA NOVA

2 BOA NOVA

MESTRE BOGANGOPintor do Espírito Santo e Mestre de mil ofícios

Das numerosas conversas que mantive com pessoas da Vila queconheceram Francisco Vieira Toste - Chico Bogango,conseguimos ficar com algumas ideias claras do homem e doartista, mas continuaram a subsistir muitas incertezas e lacunas.Em primeiro lugar, o retrato que dele tratam os que o conhecerammelhor.De todos com quem fale, foi o Senhor Luís Grilo que nosdeixou uma imagem mais completa e circunstanciada da suapersonalidade. Era um homem bem apessoado, com muitoaprumo no vestir e com algumas peculiaridades. Por exemplo,deslocava-se à Praia a pé para cortar o cabelo. Nunca o fazia naVila.Usava um corte de cabelo muito al isado e apartado para oslados de uma clavície avançada.As opiniões sobre a sua pessoa e artista dividem-se entreaqueles que professam uma verdeira admiração e .quase fascíniopelos seus méritos e qualidades como o já referido Senhor LuísGrilo. Para este, Mestre Bogango foi um indivíduo com méritosexcepcionais em tudo o que fosse artes de carpintaria,marcenaria, ornamentação e pintura.As obras saiam-lhe perfeitase verdeiramente com um toque de original idade das suas mãoshábeis e da sua mente inspirada. Era um verdadeiro criador einventivo que tanto trabalhava no esboço de uma casa como numrisco para um bordado. Era um verdadeiro "autor" remata osenhor Luís Grilo. Os outros podiam copiar e imitar, mas ele eraum exímio e fecundo criador. Distribuiu às mãos cheias o seutalento de decorador por casas, igreja, andores, altares econservava a sua casa como um museu vivo com a exposiçãodos quadros e decorações que ia fazendo de que reservava parasi o original.Testemunho importante e que corrobora o que atrás fica dito é odo Tenente- Coronel Frederico Lopes( João I lhéu) que, nas suas"Notas Etnográficas," escreve:"Mestre Bugango(sic), por exemplo, de seu nome Francisco VieiraToste, hoje com perto de 90 anos, trabalha ainda na freguesia deSão Sebastião, sendo de sua autoria muitas bandeiras eestandartes. Dele também o pequeno altar que, envaidecido,costuma mostrar aos visitantes e se mantém permanentementearmado sobre a cómoda, no quarto que habita, bizarramenteornado com pinturas parietais de género idêntico à dasbandeiras".Este museu vivo que era a sua casa e a sua oficina tinha aparticularidade de atraiar as atenções de toda a gente ,nomeadeamente do rapazio que aproveitava todos asoportunidades para espreitar para dentro de casa, através dasgrades da porta, e que ele ia "enxotando" mais ou menospacientemente. A esse respeito constam algumas histórias deirreverência juvenil , como a daquele moço que, vindo à noite do"cinema" da Fonte de Bastardo, foi empurrado à socapa contra aporta dele que se abriu. Surgiu, então, o senhor Chico Bogango,increpando-o " Ah, seu grande garoto! A arrombar-me a porta.Põe-te na rua seu malandro".

Um dos factos curiosos da sua vida é o que me foi narrado pelaDra Mafalda Bretão. Em Abril de 1 974, Mestre Bogango fez umaexposição dos seus trabalhos numa agência bancária de Angra.Entretanto, ocorreu o 25 de Abri l , e na confusão que se seguiu asua exposição e os quadros ficaram esquecidos. Tempos depois,a já referida Dr. Mafalda e o marido Orlando Bretão deslocaram-se a casa do mestre Chico e notaram, admiradíssimos, que eletinha sobre a mesa numerosos "riscos" para bordaddos queproduzia para uma firma de Angra.Nas buscas que fiz, nos jornais "A União" e "Diário Insular" fuiencontrar neste último a seguinte notícia:O senhor Chico Vieira fez uma exposição dos seus trabalhos nagaleria degrau, em Angra.Quanto a datas da sua vida, como o nascimento e a sua morteninguém me conseguiu dar informações precisas. O queconseguiram adiantar foi que ele devia ter nascido por 1 900.Nas buscas que fiz fui encontrar o seguinte assento denascimento que tudo leva a supor que seja de Mestre Bogango.

É evidente que esta imagem, que já quase não é legível no écrando computador, ainda menos será depois de impressa. Por istoresumo:Aos 1 0 dias do mês de Março de 1 900 foi batizado um indivíduodo sexo masculino a quem foi dado o nome de Francisco.Seguem-se os nomes dos pais e avós. Só estes últimos é queterão algum interesse, porque talvez haja alguém que se lembredeles. Até agora não encontrei ninguém:Pai - Manuel Paiva Toste, lavradorMãe -Maria Inácia Toste, domésticaMorada - Rochão.

Outra curiosidade interessante são os anúncios nos jornais em1 960. Há de vários modelos. Este é um deles.

Note-se a particularidade de ele assinar "Mogango" e não"Bogango". Aliás, ele costumava dizer que era "Mogango" e não"Bogango". Nunca lhe fizeram a vontade.D.S.

3BOA NOVA

Antonieta Costa

Os anos passam, tempos e ideias mudam, mas cada vez parece mais actuale pertinente a mensagem implícita nos rituais do Culto do Espírito Santo.Tão escondida e disfarçada para alguns que insistem em não a ver, quantoevidente e ostentosa para outros - que mesmo vendo-a não a crêem (nem aquerem) - a sua verdade vai no entanto impondo-se, quer por força do ritual,no qual está contida, quer pela evolução natural das sociedades.Das muitas formas de contacto com o transcendente que as pessoasprocuram através da prática deste Culto, formas que variam e se multipl icamgraças à flexibi l idade que lhes é concedida e pelo modo como foiestruturado, vai sendo apurado um modelo que se impõe à restantesociedade: o da participação activa do cidadão comum na gestão de umbem social.Com a evolução da natureza humana, essa tendência de avançar para aaceitação de uma igualdade espiritual, baseada na comunhão de ideias, ater lugar naturalmente entre a população afecta ao Culto mas dirigindo asatenções para o restante universo, vai-se tornando comum e aceitável. Nãoé assim que funciona um Imperador ao criar a sua Festa? A sua inspiraçãonão lhe vem dos céus? Não a parti lha com os outros? Algum dos outros temautoridade para lhe dizer como fazer, ou para criticar o que ele fez?Questionando essa realidade colocam-se os seus actores perante um factoinsofismável: cada um deles (simples ser humano, sem qualquer preparaçãoespecífica) é responsável – líder – da acção que vincula os Céus à Terra,mediante o ritual da “coroação”. Essa verdade inultrapassável instalou-seatravés da prática, chegando agora, gradualmente, à consciência social.Mas a forma de evolução que permitiu tal salto epistemológico, não foiapenas social, nem mesmo pelo facto de se instituir através do Sagrado.Trata-se de uma evolução que se move gradualmente, afastando-se da leianimal da prevalência do poder do mais forte, deslocando-se no sentido deuma aproximação da verdade espiritual, subentendida na igualdade.E essa verdade/realidade, a verdade de que todos falam, é aquelaprogramada por aquele “Imperador”, naquela altura. Na semana seguinteserá a de outro e assim sucessivamente até que todos tenham parti lhado nasua construção com uma parcela dessa nova realidade social, multifacetadae rica de variantes.Interessa notar que este modelo não é novidade pois já está em exercício háséculos. Já é possível verificar que, pelo facto de os proclamadores destemodo de construir a verdade/realidade não serem nem “doutores” nempessoas especialmente preparadas, não incorreram em nenhum erro. Essaverdade continua a ser proclamada e parti lhada sem ser contestada, emboratendo em conta que a lição dada pelo Espírito não foi ainda creditada nemrepetida na restante sociedade. Não se ouviu ainda o eco da sua voz pelomundo. Mas não desiste, porque tem consigo a razão, a lei da evoluçãonatural. Cedo chegará a todos.1 4 de Maio de 201 4

A Doutrina do Espírito Santo

TÁXIS - VALENTIM - Telm. - 9661 94076 - 91 7224561

4 BOA NOVA

A. Cunha de Oliveira

Tratar do Espírito Santo nos Açores é o que há de maisfácil e prolífico. Não há Império (às vezes mais que um)em cada freguesia que não no-lO lembre, nem individuoque se não tenha havido com os seus símbolos. Mas,afinal, Quem deveras é, ou o que é, no fim de contas, oEspírito Santo?Lembro-me de, nos meus tempos de menino e moço,ter ouvido cantar nos serões de “Terço”, na Graciosa,assim mesmo e só assim: Espírito Santo Deus,misericórdia! Exacto: Espírito Santo Deus! Quer dizer:o Espírito Santo é Deus. Não direi que a mesma “coisa”que Deus, pois isso seria reduzi-lO à condição e

natureza de criatura. Mas, amesma Entidade, o mesmoSer, o mesmo Existir, que éDeus.Daí que todo o culto que sepossa e deva prestar aoEspírito Santo, na presença eatravés dos símbolos que Orepresentam (nós, sereshumanos, vivemos essen-cialmente de símbolos; a prin-cipiar pelo grande conjunto de

símbolos que é a nossa fala. Etc. . ), é autêntico cultoprestado a Deus e mais que acto puramente social etradicional: é verdadeiro acto de rel igião. Quer dizer:acto de ligação (ou união) espiritual com o Divino, coma Transcendência. Enfim, com Deus. E não há quemistificar nem que sair daqui: todo o culto prestado aoEspírito Santo é, precisamente, um acto de rel igião enão apenas acto de folclore ou de tradição social ecultural.Reduzir o Espírito Santo a seja o que for, menos aDeus, menos à Divindade, à Transcendência (EspíritoSanto Deus, Misericórdia!), é trair não só aquilo que aRazão nos diz possa ser o Espírito Santo, como o quenos vem dos tempos bíbl icos do Ruah Yahweh, ou seja,de que Deus: o Existente, o mais Próximo (Yahweh), éEspírito (Ruah). E só Espírito.

Nota: O autor recusa-se a observar o Acordo Ortográfico de 1 990

O Espírito Santo

Hélder Fonseca MendesO culto do Divino Espirito Santo é uma manifestação da rel igiosidade oucatol icismo popular, com a particularidade excecional de se dirigir àterceira pessoa da Santíssima Trindade, quando habitualmente esta sedirige a Cristo, a Maria ou aos Santos. Caracteriza-se pela suasimplicidade, sensibi l idade à parti lha e às necessidades alheias, pelavida comunitária, pela gratuidade, dádiva e gratidão, para com Deus, osirmãos e mesmo os «não – irmãos». É uma forma de rel igiãoinculturada, corporal, sentimental, ativa, participativa, de autogestão,rica de gestos, com apreço pela terra, as raízes, a pertença. Privi legia odom e a alegria, sobre as penitências e os sacríficos, típicos de outrosmodos da rel igiosidade popular, mesmo açoriana.Nas origens do culto popular do Espírito Santo encontramos quatrofontes: A Bíbl ia, com as suas festas de Pentecostes e toda a literaturaparaclética; a espiritual idade medieval lançada por Joaquim de Fiore edesenvolvida pelos franciscanos que a trazem para todas as ilhas dosAçores; a social, política e fi losófica, tomada pelas cortes europeias dosséculos XI I e XI I I , onde se situa D. Dinis e santa Isabel, a quem se podeatribuir a maternidade ritual dos festejos sob a forma de império; opovoamento das ilhas, a partir do final do século XV, por catól icos jámarcados cultural e cultualmente pelo espírito e ritos do Império, onde acarne, o pão e vinho eram os elementos básicos para o culto.O que distingue este culto é a sua acentuação à terceira pessoa daSantíssima Trindade. Curiosamente é a mais difíci l de representar. Comos símbolos bíbl icos da pomba e da cruz, com que encima a coroa realpassa a ser representável. A novidade que lhe é acrescentada e própriaé o modo e a dinâmica do Império. Na Bíbl ia, seria a soberania doEspírito que modifica o modo pessoal e social de viver; na tradição realeuropeia e portuguesa, aparece o Império que é do Espirito e dospobres, e não dos poderosos ou possessivos.

O culto em si é bom. As pessoas, os ideais e valores que promovemtambém. Como toda a rel igião, precisa do Evangelho para lhe darsentido e a purificar. O mesmo Espírito é também a alma e a vida daIgreja. As maiores dificuldades apareceram à hora de compaginar arelação entre o poder espiritual (hierarquia) e dos ditos imperadores,outros oficiais e ritos do Império, com a liturgia «oficial». Além disso,deve-se enquadrar o «controlo» do culto na reforma tridentina comoresposta à reforma protestante e aos abusos existentes. Apesar detodas as críticas, note-se que os protestantes nunca aceitariam esteculto. Nem os seus praticantes se considerariam como tais. A Igrejareformada também não podia aceitar tudo, quando afinal o sonho deFiori é que a Igreja fosse mais espiritual e menos carnal. Fel izmentenos Açores houve compreensão, tolerância, mas tambémadmoestações e resistências, al iás, comuns a outras práticas darel igiosidade que tem que ver mais com a moral do que com a fé.A sua implantação na sociedade açoriana vem pelas vias dopovoamento e da ação franciscana. Estas festas permitem oentendimento entre os diversos povoadores, enquadram-se numespírito de solidariedade na luta contra as dificuldades (da natureza edo isolamento geográfico e social); pela simplicidade dos elementosmateriais necessários (mais próprios de uma cultura agrária do queurbana); pela falta de uma «segurança social» organizada; pela poucaresistência do clero que incorporava em si os valores do Império com aajuda franciscana; pela resistência à dominação política fi l ipina, na

afirmação das tradições locais próprias; pelas construções de pequenosedifícios (impérios e despensas); pela importância da emigração quelevou o culto para fora, mas que de fora, o apoiou para dentro; peloagradecimento e a representação de papéis sociais em estatutosalcançados e representados no Império.Há três estações ou lugares onde as festividades decorrem: a casa, oimpério e a Igreja. Quando dizemos festividades, dizemos trabalhos,canseiras, gastos, orações, comidas, etc. Durante o ano e o tempopascal é nas casas, nas famíl ias a quem saiu o Senhor Espirito Santo, noano anterior, que decorrem os festejos. É o trabalho do imperador a quemcabe cumprir ou dar a «função». O prazer de ser imperador é o de servire de dar, nem que seja por um dia. Nas semanas à volta dos Domingosde Pentecostes (50 dias depois da Páscoa) e da Santíssima Trindade (8dias depois) é que as Irmandades, através dos seus procuradores oucomissionários, cumprem os deveres e rituais do Império, sobretudoatravés de esmolas aos irmãos e aos pobres.As festividades têm três componentes muito fortes: 1 . oração ecelebração com a coroação do imperador; 2. a comunitária, com osjantares e arraiais; 3. a social, com a distribuição de esmolas, de pão,vinho e carne aos irmãos e a todos os necessitados. O rito da coroaçãodiz que o Império do Espirito Santo é dos que são como as crianças,como os pobres, como os presos, etc. Se uma pessoa destas governa odito império, a lógica do governo é outra do que aquela que os impériosdeste mundo promove. O culto tem uma forte carga profética e política,sem qualquer pretensão de imitação de papéis ou destituição de poderesO culto foi dos Açores para a diáspora: para o Brasil no séc. XVI I I ; paraos E.U.A. no séc. XIX e para o Canadá no séc. XX, mas também foiapoiado da diáspora para as ilhas. Ainda hoje é habitual ouvir umjorgense emigrado dizer que «vai dar um gasto» à sua ilha. , isto é, quevaipromover uma festa do Espirito Santo com tudo o que isso implica de

custos e sacrifícios, na gratidão e na alegria. O culto é simples e foievoluindo desde coroas de espadão, latão, à prata; pão, vinho e carne;pequenos edifícios como capelas e pouco mais. Os devotos foramvestindo o Espírito Santo com flores nas coroas e nos bezerrosenfeitados, que foram criados em louvor do Espirito Santo para repartircom os pobres, em abundancia. Na Terceira, a festa «dos bodos» éfechada com uma corrida de touros. O modo de cozinhar de cada ilha dásopas e jantares diferentes, pelos temperos. A rainha santa Isabel quenão é representada nas ilhas, passou a sê-lo na diáspora, com meninasque são o orgulho da famíl ia e da comunidade em terra estrangeira. Nasua roupagem é uma afirmação da tradição rel igiosa e patriótica.Curiosamente, dos E.U.A. esta tradição já chegou ao sul do Pico e aoCorvo. O culto do Espírito Santo é muito importante na Igreja: é Ele quefala pelos profetas e anima a Igreja. Há movimentos carismáticos deatenção particular ao Espirito. O que é marcadamente açoriano é a formado Império, e esta é uma iniciativa tipicamente popular, onde o mesoEspirito também se manifesta. O desafio é, por um lado, não esvaziar oImpério da verdade do Espírito Santo como «pai dos pobres» e, poroutro, fazer que o Espirito Santo «impere» na sociedade e na Igreja. Éesse o sonho dos pais fundadores do Império e dos nossos persistentese resistentes antepassados.Angra, Maio, de 201 4

Espirito Santo: espírito de persistência e resistência populares

5BOA NOVA

Félix Rodrigues

Tudo o que é único geralmente vinga pela sua unicidade: cultura,manifestação rel igiosa ou paisagem natural. Nos Açores, a cultura, apaisagem vulcânica e as manifestações rel igiosas do Espírito Santoestão inequivocamente l igadas.Pouco interessa, quando o homem acabado da chegar às ilhas,completamente desconhecidas, na forma, geologia ou sismicidade,começou a evocar a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, paradomar uma natureza que se lhe começou a depararcomo impiedosa, e que, de vez em quando, pareciaque dela brotava o “fogo do inferno” quando o diaboque vivia nas suas profundezas se agitava eaparentava querer tudo derrubar.Desde o início do povoamento das ilhas, até àatual idade, que as crises sísmicas e vulcânicas abalama terra, destroem habitações e nos roubam entesqueridos. Nada de físico que se conhece é capaz defazer parar tal revolução, daí que o povo tem fortalecido nessesmomentos a sua fé, tentando domar a natureza com a ajuda doEspírito Santo e o Senhor Santo Cristo da Misericórdia.Diz-se que foi a epidemia de peste que causou milhares de mortesem São Miguel, entre os anos de 1 523 e 1 530, que grassou em SãoMiguel, causou alguns milhares de mortes e obrigou ao isolamentoda ilha durante vários anos e a epidemia que também atingiu o Faial,embora sem graves consequências nessa ilha, que contribuiu para oenraizamento do culto ao Divino Espírito Santo.A erupção vulcânica no Faial, que ficou conhecida pelo Vulcão doCabeço do Fogo, que ocorreu na noite de 1 3 de Abri l de 1 672,destruiu algumas casas, recobrindo de lava muitos campos. Ossismos associados produziram grandes danos em casas e igrejas.Dois homens que se aventuraram nas proximidades do centroeruptivo morreram. A Câmara da cidade fez então um voto perpétuode celebrar, no dia de Pentecostes, uma cerimónia solene em honrado Divino Espírito Santo se a erupção parasse. E assim sucedeuUEm 1 690, uma grande tempestade e um grande sismo causam opânico na ilha Terceira. No dia de Páscoa (26 de Março), atempestade provocou a queda de chaminés, o destelhamento decasas, a destruição das casas "palhoças" que existiam nos "bairros"da cidade e um naufrágio na baía de Angra. No dia 5 de Abri lseguinte, ainda com os angrenses mal refeitos do susto datempestade, um sismo, longo mas pouco intenso, causou uma ondade pânico, que associada às memórias recentes da erupção na ilhado Faial (1 672) e da “queda da Praia” em 1 61 4, conduziu àmultipl icação das procissões, preces contínuas e autoflagelaçõespara evitar que a ilha desaparecesse. Apesar do susto e das

mortificações, a i lhasobreviveu, tendo-secelebrado as festasdo Senhor EspíritoSanto com a muitaalegria.Em 1 800 ocorreu umgrande terramoto nazona Nordeste da ilhaTerceira, atingindo aspovoações situadasentre a Vila Nova e a

Vila de São Sebastião. A partir desse evento realiza-se na Vila deSão Sebastião a Procissão dos Abalos, que evoca como responsávelpela domesticação do evento natural o Senhor Santo Cristo daMisericórdia da Vila, em vez do Divino Espírito Santo, e que perdura

até à atual idade.Iniciou-se, na noite de 1 para 2 de Junho de 1 867, e durante muitassemanas, uma intensa atividade sísmica que só terminou cerca de ummês depois e que provocou grandes danos na freguesia do Raminho.Essa crise deu lugar a uma erupção submarina a cerca de 9 milhasnáuticas da Ponta da Serreta, na área adjacente à Baixa da Serreta,hoje conhecida por Vulcão da Serreta. Essa erupção aconteceu nomesmo local onde ocorreu a recente erupção de 1 998 e 1 999. Talerupção originou a manifestação rel igiosa da “procissão dos

abalos”, que perdura desde essa data antiga até àatual idade.No Raminho, ao contrário da maioria das procissões,onde os crentes vestem trajes mais ricos, na Procissãodos Abalos o povo sai à rua com os seus trajes detrabalho, tornando ainda mais peculiar esta aglomeraçãorel igiosa. A procissão tem um aspeto muito diferentedaquelas que se realizam na ilha: faz-se em silêncio etransportam-se apenas as coroas e as bandeiras do

Divino Espírito Santo. Chegados ao alto do Biscoito da Fajã, local ondese avista o ponto do mar onde se deu a erupção, celebra-se uma missacampal com sermão e pede-se misericórdia. A procissão regressa entãoà igreja do Raminho, com os participantes a desincorporar a procissãonas proximidades das suas casas à medida que a procissão regressa àIgreja.Em várias localidades da ilha Terceira, aquando do terramoto de 1 dejaneiro de 1 980, se voltou a evocar o Divino Espírito Santo. Na Vila deSão Sebastião, provavelmente quando ainda decorria o sismo, já oPadre Coelho de Sousa e uns quantos homens haviam montado nomeio da Praça da Vila uma mesa de madeira sobre a qual colocaramuma coroa do Espírito Santo. Após esse sismo, na freguesia, passou arealizar-se anualmente duas procissões dos abalos.Aos poucos e poucos, e dado que 1 de janeiro é um dia muito difíci l paraorganizar procissões, e também porque a memória das gentes se foiesmorecendo, esta procissão acabou por desaparecer.Pelo que se expôs, ordenado deforma cronológica, a naturezavulcânica das ilhas e a impotênciados seres humanos para enfrentareventos sísmicos ou vulcânicos,levou a que a fé na Terceira Pessoada Santíssima Trindade sefortalecesse.A evocação ao Espírito Santo assume na ilha ainda outras formas, comopor exemplo, a mil itar, associada aos símbolos do Castelo de São JoãoBaptista, cuja obra interpretativa desses símbolos será lançadabrevemente. No Castelo de São João Baptista, uma das evocações doEspírito Santo está relacionada com o símbolo H, e o ternário grego queconstitui o H. As duas barras verticais dessa letra passaram noRenascimento a simbolizar o Pai e o Filho, respetivamente. O segundo(Filho) em primeiro lugar, como a imagem ou reflexo do Modelo (Pai) e otraço que os une, o Espírito Santo.Na muralha do Castelo de São João Baptista, o Espírito Santo, aparecena harmonia da Trindade e associado a símbolos com sentido musical.As proporções dos símbolos a que me refiro poderão ter um significadomusical, mas também poderão ter uma codificação rel igiosa, pois oscristãos renascentistas comparavam a consonância pitagórica com atrindade: o uníssono (1 :1 ), o Pai, a oitava (1 :2), o Filho, e o intervalo dequinta (2:3), o Espírito Santo.Pelo povo, que assumiu o Espírito Santo como seu protetor nascatástrofes naturais, e pelos eruditos que o evocaram pela simbologiada cabalística cristã, o Espírito Santo fixou-se nas ilhas e tornou-se numculto tão autónomo, como é a autonomia açoriana.

A invocação ao Espírito Santo nas crises sísmicas e vulcânicas

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Pe. Domingos da Graça

Começamos por citar o nº 259 da Exortação Apostólica Evangell i Gaud ium (A Alegria doEvangelho) do Papa Francisco:«Evangelizadores com espírito quer dizer evangeliza-dores que se abrem sem medo àação do Espírito Santo. No Pentecostes, o Espírito faz os Apóstolos saírem de si mesmos etransforma-os em anunciadores das maravilhas de Deus, que cada um começa a entenderna própria língua. Além disso, o Espírito Santo infunde a força para anunciar a novidade doEvangelho com ousadia (parresia), em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmocontracorrente. Invoquemo-Lo hoje, bem apoiados na oração, sem a qual toda a ação correo risco de ficar vã e o anúncio, no fim de contas, carece de alma. Jesus querevangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras mas sobretudo com umavida transfigurada pela presença de Deus.»O medo e a vergonha impedem de nos abrirmos uns aos outros, revelando-nos, comsinceridade e solidariedade. Amedrontados e envergonhados, inventamos uma (in)finitudesucedânea da verdadeira ação do Espírito Santo, que nos distancia da dimensão essencialda nossa existência, fechando-nos no eu solitário dum protagonismo nervoso, quedesconhece o nós solidário do Cristianismo Misericordioso.Só quando saímos da nossa mesmidade, entendemo-nos, maravilhosamente, na nossaprópria identidade, que inclui a alteridade de todos os outros, na diversidade das suas propriedades. Frequentemente, ouvimos a expressão “Temosque ser nós próprios”, sem questionarmos os nossos hábitos inconscientes, que perpetuam o autoritarismo do poderoso ter aparente, esmagando oSaber Ser Providente.São, inuti lmente, pouco intel igentes, todas as tendenciosas tentativas das tentações que, teimam em divorciar o Espírito da ousadia do anunciar, nãosó com palavras, mas sobretudo com uma vida transfigurada, a Boa Nova do Evangelho, em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo emcontracorrente.Só discernimos o velho pecado de todas as boas novas, do Evangelho da Boa Nova, que nos cura da acédia, do desânimo, da vaidade, dopsicologismo, carente de espiritual idade, apoiando-nos na oração: «Humildemente Vos suplicamos que, participando no Corpo e Sangue de Cristo,sejamos reunidos, pelo Espírito Santo, num só Corpo.»Nada mais, hipocritamente, doentio, do que mancharmos papel com tinta multicolor, vangloriando-nos, no esconderi jo obscurantista, dum gozo, quenão reconhece a sabedoria da gratuidade, na agonia da unidade do Corpo Universal, em toda a Humanidade.Pedimos a quem escreve, que viva de acordo com o Espírito da sua escritura, pois a letra mata e só o Espírito Santo dá Vida. O culto da cultura, quenão se faz entender na linguagem da simplicidade fecunda da agricultura, i lude-se num elitismo e analfabetismo emocionais, que se distanciam dohumanismo dos ambientes rurais, regados com suor e sangue da tradição em Louvor do Divino.Quando um pai não acredita na novidade do seu próprio fi lho e este não conhece a bondade do seu legítimo pai, Quem será o Espírito Santo da BoaNova da paternidade e da fi l iação para a esponsalidade maternal desta famil iaridade?Que agoniaU Que vacuidadeU Que alegriaU que bondadeU Que mordomiaU Que novidadeU Que famíl iaU Que fraternidadeU Que freguesiaUQue comunidadeU Que diaU Que eternidadeUNão ardia na nossa interioridade o Sim de Maria, no compromisso da nossa corresponsabil idade?

Ferreira Drummond, nos Anais da I lha Terceira tem referências várias aos começos da devoção ao Espirito Santo nos Açores.Em relação ao ano de 1 508 diz que, por alvará de D. Manuel datado de 1 492 foi fundado o Hospital da Misericórdia de Angra.Acrescenta:” teve princípio em uma irmandade de Santo Espírito com bodo, que em dia de Pentecostes se dava à porta da ermida destainvocação”.Sobre 1 522 diz: Aconteceu neste ano a fatal subversão de Vila Franca na ilha de São Miguel, quando os montes do Rabaçal e doLouriçal caíram sobre ela, e a soterraram com 4 a 5000 pessoas por efeito de um espantoso terramoto. Por este extraordinárioacontecimento começaram nas ilhas dos Açores as devoções do Espírito Santo”.Embora esta pareça ser a opinião de Ferreira Drummond em nota lembra que “o Padre Maldonado afirma que estas devoçõescomeçaram nas ilhas por causa dos terramotos, logo que foram habitadas”.Noutra passagem adianta a curiosa explicação para o fim inglório do lugar de Porta Alegre. Diz ele: “Os primeiros povoadores daTerceira avançaram pela i lha até dar em um delicioso e vasto campo. E por mui parecido com os campos do Alentejo lhe chamaramPorta Alegre" Em nota acrescenta"passava este lugar de trinta vizinhos epor haver no tal lugar muitos impérioscom muitos folguedos profanos se des-truiu de tal sorte todo o lugar que sóficou nele um morador de nome ÁlvaroRodrigues”.

Ferreira Drummond e a devoção ao Espírito Santo

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EEVVAANNGGEELLIIZZAADDOORREESS CCOOMM EESSPPÍÍRRIITTOO

“Ficam-me os olhos nos céusComo doidos sem guarida.Espírito Santo de DeusSó de ti lhes vem vida.”

Coelho de Sousa, Testamento Poético

João Bento*

Quando há cerca de dez anos recebi notícia decolocação nos Açores, tive apenas algumas horas paratomar uma decisão. Nesse momento, na escola ondeleccionava, uma professora mais idosa, viajada econhecedora do arquipélago, ao tomar conhecimento domeu dilema, aconselhou-me a partir e ofereceu-me umlivro com fotografias de impérios do Espírito Santo.Lembro-me que engracei logo com aqueles edifícios sui

generis coloridos.No entanto, só hoje,com o decorrerpensativo de umadécada, me aperce-bo que me ofertarasimbolicamente umdos traços centraisda açorianidade. Foiessa a génese daconstrução da minhaaçorianidade, de memetamorfosear aço-riano e de me sentirl igado e impregnadocom as saudades

dos Açores.A cada deslocação ao continente, as palavras deNemésio ecoavam e iluminavam-se cada vez maisdentro da minha cabeça (“Só o mar é eterno enecessário.”), a geografia valia tanto ou mais que ahistória. Recordo que ressacava depressivamente com afalta do mar, das ondas, da maresia, das gaivotas, dasmarés, do calhau rolado, do horizonteUNão deixa de ser manifestamente curioso e coincidenteser eu natural de Tomar, cidade do Convento de Cristo,dos Templários e da Festa dos Tabuleiros, onde seconsagra o Espírito Santo. Estas festividades, derivadasda doutrina de Joaquim de Fiore, abade e fi lósofoital iano, e introduzidas em Portugal pela Rainha SantaIsabel, também se expandiram para os Açores, muito porculpa da presença dos franciscanos, que terãopropagado o culto.Segundo Gaspar Frutuoso, apenas 1 50 anos após oinício do povoamento, o culto do Espírito Santo já setinha general izado por todo o arquipélago. Os valores deigualitarismo, irmandade, sol idariedade, caridade eesperança fizeram com que os primeiros colonos,isolados e constrangidos pelas incertezas da vida eagruras do trabalho insular, abraçassem o culto doEspírito Santo. Na verdade, este foi e continua a ser overdadeiro traço cultural unificador das populações dasdiversas ilhas, constituindo assim um baluarte daaçorianidade.* Professor na Escola Ferreira Drummond

As três bandeiras do Mestre Bogango (Chico Bogango) queainda existem noImpério da Vila estãonum armário embru-lhadas, amarrotadas earrumadas dentro de umsaco de plástico preto(saco de lixo), como sepode ver na imagem.Só uma é que parecenão ter defeitos. Dasoutras duas, uma temrasgões no centro dabandeira mal disfarçados com uma cola adesiva cinzenta. Aoutra está rasgada nos cantos.Creio que toda a gente concordará que não será uma situaçãoa manter-se. Têm de ser restauradas e colocadas em lugar deexposição visível e adequado.A esse respeito este jornal já encetou algumas dil igências afimde se encontrar a melhor solução para o facto. Há váriashipóteses possíveis que terão de ser analisadas e ponderadascom os mordomos do Espírito Santo.Quanto à recuperação, uma técnica de restauro esteve a

examinar e a avaliar o estadode cada bandeira, devendoelaborar um orçamento para seefectuar a recuperação dasbandeiras. Também nesteaspecto os mordomos terãouma palavra decisiva noassunto.Como forma de ajudar acustear o restauro, o Boa Nova

está aberto a todas as sugestões de leitores e responsáveispara o efeito.Também aqui não há limites para a imaginação epara as mais variadas tentativas de se conseguir o resultadomais favorável e a contento, senão de todos (o que é quaseimpossível) mas da maioria dos sebastianenses informados einteressados.D.S.

Bandeiras do Chico Bogango num saco para lixoA açorianidade do Espírito Santo

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